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Empreendedorismo - Merenda escolar- Redes de pesquisa - Engenharia sanitária - Biodiversidade

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3MINAS FAZ CIÊNCIA - MAR. A MAIO / 2010

MINAS FAZ CIÊNCIA tem por finalidade divulgar a produção científica e tecnológica do Estado para a sociedade. A reprodução do seu conteúdo é permitida, desde que citada a fonte.

Fundação de Amparo à Pesquisado Estado de Minas Gerais

Centro de Excelência em Bioinformática, primeiro de Minas Gerais e do Brasil, fornece importante suporte às pesquisas da área da genômica.

Software inovador auxilia escolas e creches na gestão da merenda escolar proporcionado redução de custos e de desperdício.

Equipe investiga como espécies da flora e fauna se comportam com o aumento da concentração de gás carbônico na atmosfera, uma das principais consequências do aquecimento global.

HorizonTI é o primeiro fundo de capital semente de Minas Gerais a aportar recursos a uma empresa da sua área de atuação.

Projeto desenvolvido por aluna do ensino médio conquista reconhecimento inter-nacional ao propor uma forma simples e barata de descontaminação da água.

Pesquisa avalia o efeito da utilização de microminerais orgânicos na dieta de aves poedeiras sobre a produção e qua-lidade dos ovos.

Vanderli Fava de Oliveira, pesquisador da UFJF, fala sobre o aumento da demanda por profissionais dessa área e sobre a ur-gência de adequar a formação às necessi-dades do mercado.

Educação em Engenharia

Empreendedorismo

Redes de Pesquisa

Ovos de qualidade

Engenharia Sanitária

Energia

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Programa mescla aulas teóricas, práticas e visitas orientadas a fim de incentivar alunos do mestrado e do doutorado a transformarem suas pesquisas em novos negócios.

Programa da FAPEMIG destinado a apoiar pesquisas em áreas estratégicas passa por primeira avaliação e já apresenta resulta-dos benéficos para o desenvolvimento da ciência no Estado.

Fruto de uma parceria entre Cefet, UFMG e Cemig, equipamento de baixo custo e fácil instalação ajuda as pessoas a controlar o consumo de energia em casa ou no trabalho.

CEBio

Merenda escolar

Especial

Biodiversidade

Meio ambiente

Polimorfismo

Resíduos de indústrias siderúrgicas, como limalha de ferro e areia, se transformam em matéria-prima para obras de arte que chamam atenção para a importância do reaproveitamento.

Fenômeno que pode causar alteração nas propriedades dos medicamentos é estudado por grupo de pesquisadores da Unifal dentro do Programa de Pesquisa para o SUS.

Sérgio Pena, renomado pesquisador e gene-ticista, fala sobre a ciência básica no Brasil e sobre o evolucionismo e o criacionismo das agências de fomento.

Filme, livro e relatório estão entre os produtos gerados por alunos do curso de Gestão em Segurança Pública, todos eles com foco no trabalho desenvolvido pelos agentes penitenciários de BH.

Agentes penitenciários

Cientistas brasileiros

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MINAS FAZ CIÊNCIA - MAR. A MAIO / 20104

MINAS FAZ CIÊNCIA - MAR. A MAIO / 20104

ExpedienteAo leitor

MINAS FAZ CIÊNCIAAssessora de Comunicação Social e Editora: Vanessa Fagundes (MG-07453/JP)Redação: Vanessa Fagundes, Ariadne Lima (MG-09211/JP), Juliana SaragáColaboração: Desiree Antônio e Virgínia FonsecaIlustrações: Beto PaixãoRevisão: Aline BahiaProjeto gráfico/Editoração: Fazenda Comunicação & MarketingMontagem e impressão: Lastro EditoraTiragem: 15.000 exemplaresFotos: Marcelo FocadoAgradecimentos - Agradecemos a todos os colaboradores desta publicaçãoRedação - Rua Raul Pompeia, 101 - 12.º andarSão Pedro - CEP 30330-080Belo Horizonte - MG - BrasilTelefone: +55 (31) 3280-2105Fax: +55 (31) 3227-3864E-mail: [email protected]: http://revista.fapemig.br

GOVERNO DO ESTADODE MINAS GERAISGovernador: Antônio Augusto Junho Anastasia

SECRETARIA DE ESTADO DE CIÊNCIA, TECNOLOGIA E ENSINO SUPERIORSecretário: Alberto Duque Portugal

Fundação de Amparo à Pesquisado Estado de Minas Gerais

Presidente: Mario Neto BorgesDiretor Científico: José Policarpo G. de AbreuDiretor de Planejamento, Gestão e Finanças: Paulo Kleber Duarte PereiraConselho Curador:Presidente: Paulo Sérgio Lacerda BeirãoMembros: Afonso Henriques BorgesAnna Bárbara de Freitas ProiettiEvaldo Ferreira VilelaFrancisco Sales HortaGiana MarcelliniJoão Francisco de AbreuJosé Cláudio Junqueira RibeiroJosé Luiz Resende PereiraMagno Antônio Patto RamalhoPaulo César Gonçalves de AlmeidaRodrigo Corrêa de Oliveira

Capa: TratamentoFoto: Marcelo FocadoNº41 mar. a maio. 2010

No fim de maio, foi realizado em Brasília um dos eventos mais importantes da área de Ciência, Tecnologia e Inovação. A 4ª Conferência Nacional de CT&I reuniu mais de 3.500 participantes com o objetivo de discutir os rumos, as ex-pectativas e os desafios para a construção de uma política nacional para a área. Representantes de diferentes setores da sociedade, entre eles setor empresa-rial, movimentos sociais e comunidades indígenas, contribuíram com demandas e sugestões que irão compor um documento referência. O plano é entregar esse documento aos próximos governantes e disponibilizá-lo para todos os interessados via internet, de modo que ele possa continuar sendo construído e aperfeiçoado coletivamente.

Apesar da pouca cobertura da mídia, cuja atenção já estava voltada para a seleção brasileira e as poucas semanas até o início da Copa do Mundo, a Conferência tem importância estratégica para toda a sociedade. Afinal, é esse documento que irá subsidiar o planejamento para a CT&I na próxima década. Onde e como investir os recursos, quais áreas são estratégicas para o desenvol-vimento do país, o equilíbrio entre ciência básica e ciência aplicada e a revisão do arcabouço legal são exemplos de questões discutidas durante o encontro que são cruciais para o fortalecimento da produção científica e tecnológica. Esse fortalecimento gera processos e produtos competitivos e inovadores, o que contribui para o desenvolvimento econômico e social do país.

Para que os objetivos propostos sejam alcançados, é necessário que as pes-soas conheçam as propostas e participem das discussões. Afinal, quando os ci-dadãos conhecem o que se fala sobre ciência, podem tomar decisões através do voto. Mesmo que não se expressem formalmente sobre o assunto, os governan-tes têm a sensibilidade de perceber a opinião pública e isso afeta o modo como irão trabalhar ao longo de seu mandato. Faça sua parte!

E como estamos falando de cidadania, esta edição da MINAS FAZ CIÊNCIA apresenta um trabalho desenvolvido por estudantes do segundo grau que está contribuindo para a melhoria da qualidade de vida em pequenas comunidades sem acesso ao tratamento de água, especialmente aquelas localizadas na zona rural. Eles idealizaram uma tubulação construída com garrafas PET e chapas re-fletoras. Quando a água do rio passa por essa tubulação, o calor do sol elimina os micro-organismos que podem transmitir doenças como amebíase e disente-ria. O trabalho começou em 2007 com duas alunas que hoje já se formaram e teve continuidade com a colega Karoline Lopes. Pelas qualidades, o projeto foi reconhecido em várias premiações nacionais e internacionais, como o Prêmio Google, em que recebeu o primeiro lugar, e a feira internacional Intel ISEF.

Vale conferir, também, os primeiros resultados do Programa de Apoio a Re-des de Pesquisa. Este Programa reúne pesquisadores de diferentes instituições que desenvolvem pesquisas de ponta sobre temas estratégicos, como bioteris-mo, nanobiotecnologia e propriedade intelectual. Com cinco anos de existência, ele passou por sua primeira avaliação, a fim de checar se os objetivos estão sen-do cumpridos. Os primeiros resultados mostram o avanço da produção cien-tífica, a contribuição para formação de recursos humanos e vários pedidos de patentes, o que significa produtos inovadores desenvolvidos no Estado.

Outra iniciativa que vai contribuir para o desenvolvimento da ciência em Minas Gerais é a implantação do Centro de Excelência em Bioinformática (CE-Bio). Primeiro do Estado e do país, o local é equipado com computadores de alta performance que realizam a análise de informações genômicas. A análise de porções do código genético de seres vivos é a base de uma série de processos e permite desde o melhoramento da espécie, visando seu fortalecimento, até a descoberta de partes do genoma que podem estar associadas a certas doenças, o que auxilia na busca por formas mais adequadas de tratamento. Vale conferir essa e as outras reportagens. Boa leitura!

Vanessa FagundesEditora

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5MINAS FAZ CIÊNCIA - MAR. A MAIO / 2010

Cartas

Para receber gratuitamente a revista MINAS FAZ CIÊNCIA, preencha o cadastro no site http://revista.fapemig.br ou envie seus dados (nome, profis-são, instituição/empresa, endereço completo, telefone, fax e e-mail) para o e-mail: [email protected] ou para o seguinte endereço: FAPEMIG /

Revista MINAS FAZ CIÊNCIA - Rua Raul Pompéia, 101 - 12.º andar - Bairro São Pedro - Belo Horizonte/MG - Brasil - CEP 30330-080

Publicação trimestral da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais - FAPEMIGnº 40 - dez. a fev. 2010

MINAS FAZ CIÊNCIA informa que as car-tas enviadas à Redação podem ou não ser publicadas e, ainda, que se reserva o direito de editá-las, buscando não alterar o teor e preservar a ideia geral do texto.

“Parabéns pelas reportagens! O estudo sobre tumores e armazenamento de cé-lulas cancerígenas para estudo e a busca de plantas com propriedades e princípios ativos (reportagens publicadas na edição nº 39) merecem nosso elogio e a certeza de que os resultados serão satisfatórios. Vale a pena investigar e desenvolver pro-jetos científicos nessas áreas.”

Maria das Dores Limapor e-mail

“Sou leitor assíduo da revista já há um bom tempo. Trabalho em uma empresa que, para a minha felicidade, alia pesqui-sa aplicada à inovação em Minas Gerais. Daí minha simpatia pela revista e pelo que ela representa. Gostaria de parabe-nizar a equipe da revista, que mantém artigos com ótimo nível.”

Leonardo K. Shikida Belo Horizonte/MG

“Parabenizo a todos pela revista da FA-PEMIG. Desejo muito sucesso a todos que a fazem”.

Elivan CarneiroCiclista

Bananeiras / PB

“Olá! Escrevo porque fiquei sabendo por meu professor de Química sobre a revista MINAS FAZ CIÊNCIA, que sua distribui-ção é gratuita e que é de grande impor-tância pela sua qualidade geral de infor-mações para nosso aprendizado. Gostaria de parabenizar por essa iniciativa de dis-tribuir gratuitamente esse conhecimento de qualidade, pois sabemos que quanto mais pessoas informadas, instruídas e sa-tisfeitas com as oportunidades oferecidas ao seu crescimento, maior o desenvolvi-mento, a produção, a independência e a riqueza de um país.”

Kleyton Torres PaulinoEstudante / Intercursos

Montes Claros/MG

“Meu nome é Clarice e sou universi-tária da UNIFEMM, universidade em Sete Lagoas. Já tive a oportunidade de ler as revistas MINAS FAZ CIÊNCIA e considero de grande ajuda para minha formação acadêmica.”

Clarice Frade FerreiraUniversitária

Sete Lagoas/MG

“Profissionais da revista MINAS FAZ CI-ÊNCIA, gostaria muito de voltar a fazer parte do grupo que recebe esta brilhante revista. Fico feliz por ter uma pequena co-leção e os amigos que já indiquei estão muito felizes por receberem a revista.”

Vilmar Francisco TavaresContagem/MG

“Sou conhecedora da qualidade e impor-tância da revista MINAS FAZ CIÊNCIA. Valorizo cada reportagem e sempre que minha irmã recebe a investigo e leio. Re-almente considero valiosíssima esta publi-cação para leitura e pesquisa. Desde já agradeço por este presente muito bem vindo.Um abraço e que o sucesso da re-vista seja sempre exponencial.”

Marly Cristiane CostaBelo Horizonte/MG

“Antes de tudo, devo expressar o meu orgulho pelo desenvolvimento científi-co de Minas Gerais. Nesse sentido, a revista MINAS FAZ CIÊNCIA mostra-se como sendo a grande responsável por este sentimento, uma vez que é a partir da leitura deste meio de comu-nicação que consigo perceber a magni-tude dos trabalhos científicos mineiros. Espero que os recursos destinados à pesquisa sejam crescentes em Minas.”

Gilson Cássio de Oliveira Santos

Montes Claros/MG

“Agradeço a vocês por me disponibi-lizarem as edições da revista MINAS FAZ CIÊNCIA. Já estou esperando a chegada dos exemplares ansiosamen-te... Saibam que ela terá grande valia na construção da minha carreira aca-dêmica. Obrigado!”

Jomar Silva MagalhãesEstudante/Coltec

Viçosa/MG

“Primeiramente gostaria de parabeni-zar pela publicação, conheci a revista através da biblioteca da faculdade UNA, pelo exemplar de número 32 e fiquei maravilhado com a qualidade da revista. Caso seja possível gostaria de receber as próximas publicações.”

Leonardo J. GalloContagem/MG

“Gostaria de receber a revista MINAS FAZ CIÊNCIA, pois tenho enorme in-teresse nos assuntos e reportagens nela publicados.”Alexandre Faustino Gonçalves

Estudante / UNI-BHBelo Horizonte/MG

“Pela presente, venho solicitar o favor de incluir meu nome entre os assinan-tes desta grande revista que nos mos-tra o avanço de trabalhos técnicos em nosso Estado. Aqui em Viçosa, por ser um berço de cultura, tais publicações têm grande valor, pois a gama de in-formações é enorme e de boa credi-bilidade. Esperando merecer a valiosa atenção e na certeza de ser atendido, antecipo meus agradecimentos.”

Antônio Carlos Alves TorresViçosa/MG

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Engenharia

Baixa qualidade da formação e número insuficiente de profissionais podem trazer problemas para o Brasil em um futuro próximo

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Engenharia: arte de dirigir as gran-des fontes de energia da natureza para o uso e conveniência do homem. A definição de Thomas Tredgold, enge-nheiro que viveu no século XIX, con-tinua pertinente até hoje. É impossível imaginar nossas vidas sem a presença desta ciência, cuja origem confunde-se com o surgimento da civilização, se for considerada como o emprego de mé-todos e técnicas para construir, trans-formar materiais e fabricar ferramen-tas. Mas, ao longo do tempo, o perfil do profissional de Engenharia evoluiu. De construtor e solucionador de proble-mas da década de 1950, ele passou a ser um aplicador de tecnologia e hoje é um projetista de soluções.

A demanda por engenheiros é cres-cente. No entanto, os dados registra-dos no Brasil sobre a formação deste profissional são preocupantes. “Existe uma demanda anual de cerca de 60 mil engenheiros, mas se formam ape-nas 35 mil, apesar de termos uma ca-pacidade instalada para formar 90 mil. A isso, soma-se uma grande evasão de alunos, já que mais da metade deles se matriculam nos cursos de Engenharia e não o concluem. Tudo contribui para que esse profissional seja disputado no mercado brasileiro”, conta Vanderli Fava de Oliveira, doutor em Engenharia e coordenador do curso de Engenharia de Produção da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF).

O pesquisador desenvolveu um projeto cujo objetivo foi mapear os cursos existentes e levantar dados so-bre a educação em Engenharia no Esta-do de Minas Gerais. O projeto, apoia-do pela FAPEMIG, buscou responder algumas questões, por exemplo, se os cursos estão distribuídos de acordo com a demanda de cada região e se os currículos e as metodologias de ensi-no/aprendizagem são condizentes com as necessidades atuais de formação profissional.

Os resultados foram apresentados no Congresso Brasileiro de Educação em Engenharia da Associação Brasileira

de Educação em Engenharia (Abenge), da qual Oliveira é consultor. Estes da-dos serviram de base para a apresen-tação do quadro sobre a formação em engenharia no Brasil durante o Seminá-rio Ibero-americano de Educação em Engenharia, promovido pela Asibei, em português, Associação Ibero-americana de Educação em Engenharia. O evento, realizado em julho deste ano, em Belo Horizonte, reuniu profissionais, pesqui-sadores e estudantes de 11 países da América Latina e Europa.

Nas discussões, ficou clara a preo-cupação com a qualidade da formação dos profissionais da área e a necessi-dade de revisão das diretrizes curri-culares dos cursos de Engenharia. Os participantes também falaram sobre a existência de um descompasso entre a sala de aula e as exigências do merca-do, além de uma formação deficiente dos professores. Entidades represen-tativas da área tiveram a oportunidade de expor algumas preocupações, e isso mostrou que os dilemas enfrentados são parecidos. “A troca de informa-ções entre engenheiros de diferentes países beneficia o desenvolvimento tecnológico em todos os aspectos”, acredita o pesquisador.

Vanderli Fava de Oliveira também é avaliador de cursos do Sistema de Credenciamento Regional de Cursos de Graduação dos Estados Partes do Mercosul e Estados Associados (AR-CU-SUR) e membro do Programa Re-gional de Educación para el Desarrollo de Capacidades en Innovación Tecnológica y Emprendedorismo en Carreras de Inge-niería (Precitye). Financiado pelo BID, o Programa, que envolve Argentina, Bra-sil, Chile e Uruguai, tem o objetivo de produzir conhecimento para desen-volver políticas, programas e proces-sos que permitam formar engenheiros empreendedores e fomentar a criação de empresas de base tecnológica nos países envolvidos.

Nesta entrevista concedida à MI-NAS FAZ CIÊNCIA, ele fala sobre os resultados de sua pesquisa, os proble-

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mas e as possíveis soluções para me-lhorar a qualidade da formação dos engenheiros brasileiros, além de apre-sentar dados importantes e traçar o perfil atual deste profissional.

Está mesmo faltando engenheiros no Brasil?

Sim, há uma escassez de profissio-nais no país. Formam-se menos enge-nheiros do que o Brasil precisa, por isso estamos correndo atrás do prejuízo. Para nos igualarmos com a Argentina, por exemplo, teríamos que triplicar essa formação de engenheiros. A Co-reia do Sul tem 49 milhões de habitan-tes e nós temos cerca de 190 milhões. Formamos 35 mil engenheiros ao ano e a Coreia, 80 mil no mesmo período. Por aí dá para se perceber a disparidade.

O Brasil precisa de engenheiros. Para dar conta da nossa demanda te-ríamos que formar pelo menos 60 mil profissionais ao ano. O interessante é que temos capacidade instalada para formar cerca de 90 mil, ou seja, temos escolas suficientes para formar esta quantidade de profissionais. Mas existe uma alta taxa de desistência dos estu-dantes, sem falar nos profissionais que perdemos para o exterior. Nos Estados Unidos, existem cerca de 270 milhões de habitantes. Eles precisam de 100 mil engenheiros por ano, mas formam so-mente 70 mil. Isto significa que buscam 30 mil engenheiros em outros países.

Além disso, não há um despertar para a vocação. O aluno no ensino fun-damental e médio é amendrontado pela Física e Matemática e, com isso, ocorre uma desmotivação para o curso de Engenharia. Nos Estados Unidos, as es-colas já têm projetos para desenvolver esta vocação ainda no pré-primário.

Em que áreas vão atuar esses en-genheiros?

Engenharia é a forma de se traba-lhar a cadeia produtiva de produtos ou serviços. Ela é encarregada de todas as transformações, que vão desde detec-tar a necessidade até fazer com que ela seja totalmente satisfeita. Então, onde houver transformação, seja de bens ou necessidades, está o mercado de tra-balho do engenheiro. Um exemplo de

área que tradicionalmente não tinha engenheiros e hoje já tem necessidade desse profissional é a hospitalar. E o que faz um engenheiro em um hospital? Ele organiza todo o processo produtivo, melhora o fluxo de informações e faz com que o local tenha equipamentos e profissionais adequados para o proces-so fluir da melhor forma possível.

E como o senhor vê a importância da Engenharia para o desenvolvi-mento do país?

Sem engenheiro não há desenvol-vimento. O modelo atual de desenvol-vimento, globalizado, só funciona com Engenharia. Uma prova disto é que os países ricos têm mais engenheiros que países pobres. A base do desenvolvi-mento é a transformação de insumos em produtos, bens ou serviços e a base da transformação é a Engenharia.

da maioria dos cursos serem noturnos, como em Minas Gerais, por exemplo. Muitos destes alunos trabalham e o tempo para se dedicar ao estudo é pe-queno. Se o estudante não souber ad-ministrar seu tempo, a formação pode se tornar deficiente.

Recentemente, foi publicada em um grande veículo uma entrevista com o diretor da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (USP), em que ele dizia que dois terços dos engenheiros formados hoje não estão habilitados para exercer a Engenharia. Isto é fato. O que ocorre é que a for-mação tradicional já não dá mais conta do recado. Hoje, a empresa que con-trata um engenheiro não quer saber o que ele aprendeu, mas sim o que ele sabe fazer com o que aprendeu.

Então não basta apenas ter o co-nhecimento?

Não, é preciso ter competência. O conhecimento é a base para a compe-tência, mas ele tem que se juntar à ha-bilidade e a outros atributos. Estes atri-butos são muito difíceis de desenvolver na sala de aula tradicional. Isto significa que esta sala de aula tem que mudar. O desenvolvimento atual da educação su-perior não se baseia mais em conteúdo, mas em metodologia. Traçando um pa-ralelo com as empresas, podemos ob-servar o que mudou nas organizações nos últimos 50 anos. As organizações tinham como prioridade investimento em capital e instalações. Hoje, o im-portante é investir em conhecimento. O ato de “sujar a mão de graxa” foi transferido para os países em desen-volvimento. Atualmente, calcula-se o tamanho de uma empresa pelo seu ní-vel de conhecimento - é o que chama-mos de capital intelectual. Precisamos formar profissionais adequados – isso não inclui aqueles que entram na esco-la, cursam várias disciplinas e pensam que estão preparados para o mercado. Não estão. Eles têm que desenvolver uma série de outros atributos.

O que deve mudar nesta formação?Na sala de aula, os cursos de En-

genharia oferecem, no máximo, 50% do que os alunos precisam para tor-

Dos cem novos cursos de Enge-nharia que surgem por ano no país, a maioria está no setor priva-do. Isto é um problema?

A formação em Engenharia já não dá mais conta da necessidade do mercado, tanto em termos de qualidade como de quantidade. O setor público ficou para trás, então se abriu espaço para a ini-ciativa privada criar cursos e vagas. Mas nós sabemos que existe o problema da qualidade. Antes de 1996, a maioria dos cursos de Engenharia estava no setor público. Hoje, cerca de 70% dos cursos ofertados estão no setor privado. Não podemos encarar isto como um pro-blema, mas sim como um fato que deve ser muito bem monitorado pela socie-dade. Um possível problema é o fato

Engenheiros formados a cada ano:Coreia: 1 para cada 625 habitantesEUA: 1 para cada 3 mil habitantesBrasil: 1 para cada 6 mil habitantes

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narem-se engenheiros. O restante ele deve adquirir em atividades como a iniciação científica, monitoria, estágio, trabalhos em grupo, enfim, atividades em que ele possa ter uma participação ativa. A participação passiva em sala de aula oferece apenas uma parte do que o aluno precisa. Temos que reformar esta questão metodológica. A quanti-dade de conhecimento que se exige para a formação hoje é muito maior e não dá para ficar aumentando o tem-po de curso. É preciso criar processos para aplicar este conhecimento. As grandes empresas fabricam mais rá-pido, com melhor qualidade e menor custo. Isto não se aplica às universida-des ainda. O processo da sala de aula é muito lento.

Este aspecto é observado tanto nas universidades públicas como nas privadas?

Não vejo diferenças, não neste aspec-to. O que predomina é a aula tradicional, como na Escola de Pontes e Calçadas, de 1747, na França, que foi a primeira escola de Engenharia do mundo. Se um professor ficar em estado latente por 300 anos e acordar de repente em uma sala de aula, ele poderá dizer “como eu falei na aula passada...” e continuar lecio-nando. Diferente do médico do século XVIII, que se acordar hoje em um centro cirúrgico não terá a menor ideia do que estará acontecendo. Isto significa que a nossa sala de aula parou no tempo. Mas já existe uma reação.

Por que aconteceu esse congela-mento, essa parada temporal da sala de aula?

Isto se deve ao fato “sei, logo en-sino”. O aluno formava-se e não de-senvolvia conhecimentos pedagógicos e educacionais para lecionar, repetindo na sala de aula o que o seu professor lhe ensinou. Não havia uma preocupa-ção com o aspecto metodológico. É preciso acelerar o processo de apren-dizagem. Não o de aprender as téc-nicas, mas o de aprender a aprender, que é o que chamamos de desenvolvi-mento de competências e habilidades a partir do conteúdo. Hoje, o aluno, na maioria das vezes, aprende só o conte-

údo, mas não sabe o que vai fazer com o que aprendeu. O estudante de Enge-nharia geralmente não sabe para que vai lhe servir as disciplinas do ciclo bá-sico, como Cálculo, Física e Química.

Isto explica o alto índice de desis-tência nos primeiros períodos?

Sim. Cerca de 50% a 55% dos alu-nos que entram no curso de Enge-nharia não se formam. Ou seja, mais da metade dos alunos que iniciam o curso não o concluem. Levantei alguns dados da Faculdade de Engenharia da UFJF desde a década de 1960 até o ano de 2006. Descobri que 42% dos alunos que se matricularam não se formaram. A maior taxa de evasão ocorre no bá-sico, entre o 1º e o 3º períodos. A par-tir do 5º período, este índice é muito pequeno, menor que 5%. Isto poderia ser resolvido com questões metodoló-gicas. Se as disciplinas do básico fossem ministradas de uma forma contextuali-zada, a evasão cairia pela metade. Por exemplo, é preciso explicar para o alu-no que ele precisa aprender mecânica porque amanhã precisará estruturar e desestruturar artefatos.

14%. A média de evasão nas federais é de 40% a 45%. Nas privadas, de 60% a 70%. Para se ter uma ideia, em média, os cursos possuem 90 vagas. Destas, 80 são preenchidas e apenas 30 alunos se formam. Vale lembrar, também, que todo curso de Engenharia tem o que chamamos de núcleo duro. Por exem-plo, na Engenharia Civil, temos a discipli-na de análise de estruturas. Na Elétrica, magnetismo e circuitos. Na Engenharia de Produção, pesquisa operacional e modelagem. Todas elas com um grande conteúdo de matemática. Muitas vezes, o aluno tem de repeti-la. Dessa forma, o tempo de formação que é previsto para cinco anos acaba chegando a cer-ca de sete anos, se acrescentarmos as repetências ocorridas no básico em Matemática e Física.

A evasão poderia ser diminuída com providências não muito complica-das. A primeira, investir na atualização do professor, principalmente o do bá-sico, de maneira que ele contextualize os seus conteúdos, o que seria ideal. Outra alternativa é criar disciplinas específicas de contextualização. Um exemplo são as disciplinas de integra-ção do conhecimento, por meio da qual o aluno vai até uma empresa saber como ela funciona, como é a fabricação dos produtos e como são prestados os serviços ou se exercita no próprio curso em Laboratórios de integração curricular e fábricas de aprendizagem que são propostas de sucesso em al-gumas Escolas de Engenharia. Tudo isso com o objetivo de mostrar como as disciplinas, principalmente as do básico, se aplicam nestes processos.

Essa parceria com empresas já é uma realidade?

Infelizmente não, são poucos os cursos que têm essa preocupação. Mas a forma como são ministradas as dis-ciplinas do básico não é um problema do Brasil, e sim do mundo todo.

O senhor disse que a metodolo-gia de ensino parou no tempo. E quanto às pesquisas na área?

Há dez anos, você poderia contar nos dedos os pesquisadores na área de educação em Engenharia. Hoje, reu-

“A formação tradicional já não dá mais conta

do recado. Hoje, a empresa que contrata

um engenheiro não quer saber o que ele

aprendeu, mas sim o que ele sabe fazer com o que

aprendeu.”

Isso ajudaria a resolver o problema?Sim. É o que chamamos de contex-

tualização do conhecimento. O nosso curso de Engenharia de Produção, por exemplo, tem três disciplinas de con-textualização, no 1º, 3º e 5º períodos, exatamente para evitarmos a perda de alunos. Isto fez com que o nosso cur-so apresentasse uma evasão de apenas

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nimos mais de cem e temos um grupo grande no Brasil, alguns em Minas Gerais, com várias propostas de investigação.

A escolha de Minas Gerais para se-diar o Seminário Ibero-americano de Educação em Engenharia é con-sequência disso?

Pode-se dizer que foi um dos fatores. A Engenharia no Brasil nunca foi muito regional. A nossa pesquisa, que se con-centrou em Minas Gerais, mostra que existem lugares que possuem cursos de Engenharia, mas na região não há deman-da de empregos. O engenheiro forma-se para atuar em qualquer lugar do país e do mundo. Podemos dizer que, hoje, a Engenharia está globalizada. O Seminá-rio Ibero-americano, em Belo Horizonte, reuniu profissionais de 11 países. Esta tro-ca de informações entre engenheiros de diferentes localidades beneficia o desen-volvimento tecnológico em todos os as-pectos. Para incentivar este intercâmbio de informações foi proposta a criação de um Espaço de Educação Superior Latino-americano, para a realização de atividades de pesquisa, desenvolvimento e transfe-rência de conhecimentos.

Quais foram os principais temas discutidos?

Eu destacaria a preocupação com a formação do professor. Se encontra-mos deficiências na formação dos enge-nheiros é porque temos que melhorar o processo de formação e atualização dos professores. Outra preocupação é a integração entre os países de manei-ra que um engenheiro do Brasil possua uma formação em igualdade com a de qualquer outro país. Não pode haver uma disparidade.

Hoje, a principal preocupação na formação dos engenheiros é qualidade. A solução seria investir em recursos humanos. Sem investir nas pessoas, de nada adiantam os laboratórios, os equi-pamentos e as instalações de última ge-ração. É preciso capacitar os professores em termos de metodologia de ensino e aprendizagem. Não falo da formação pedagógica tradicional, mas de uma for-mação em que ele tenha habilidade de ensinar utilizando todos os recursos dis-poníveis. Não é incomum entrar em uma sala de aula em que o professor tem à sua disposição um datashow de última

geração projetando o que antes era es-crito no quadro. Neste caso, a tecnologia só colaborou para que ele não sujasse as mãos de giz.

Outro problema é o da aprendiza-gem passiva. O aluno precisa fazer as coisas e não ficar só ouvindo o pro-fessor. Estudos mostram que ouvindo aprendemos 30% do conteúdo. Ouvin-do e vendo, 60%. Ouvindo, vendo e fa-zendo, este índice sobe para 90%. Com aulas interativas, o aproveitamento pode triplicar. Um detalhe importante é que estas novas metodologias vão exigir

que se faz. Por exemplo, um engenheiro ci-vil que não tem noção de como gerir uma obra com conhecimento científico não vai sobreviver no mercado se repetir o que se fazia antigamente, época em que se desperdiçava um terço dos materiais uti-lizados na construção. A gestão é que está mudando esta realidade, pois exige que o processo corra bem a ainda melhore a todo instante. O engenheiro que antes era um “resolvedor” de problemas, hoje preci-sa ser um projetista de soluções.

Existem disciplinas de gestão nos cursos de Engenharia?

A primeira palavra que o Sistema do Conselho Federal/Regionais de Engenharia, Arquitetura e Agronomia (Confea-Crea), incluiu ao alterar a sua resolução de habilitação profis-sional foi “gestão”. Assim, a gestão hoje é uma atividade reconhecida da Engenharia.

Como está Minas Gerais em rela-ção ao resto do país em termos de formação de engenheiros?

Minas Gerais foi o primeiro estado do Brasil a criar escolas de Engenharia no interior. Em 1914, já tínhamos es-colas em Ouro Preto, Itajubá e Juiz de Fora. Por muito tempo, Minas Gerais foi o Estado que possuía mais escolas na área. Depois, fomos ultrapassados por São Paulo e Rio de Janeiro. Recente-mente, Minas superou o Rio de Janeiro em número de escolas e engenheiros formados e está crescendo mais nes-te aspecto do que os outros estados, o que corrobora com o seu desenvol-vimento. Sem falar que a qualidade do ensino superior no Estado de uma ma-neira geral é muito boa. Os engenhei-ros mineiros são muito bem vistos nos outros estados.

O mercado de trabalho no Estado é grande?

O mercado de trabalho é bom nos chamados eixos das grandes BRs. Da Fernão Dias até o Vale do Aço há uma grande concentração de empregos em Engenharia. Outro eixo é o que vai de Uberlândia até Belo Horizonte e Juiz de Fora. Estes são os principais mercados em termos de empregabilidade. Mas as escolas devem mostrar que engenhei-ros são sujeitos desbravadores. Ao se

mais tempo do professor e nas escolas há uma competição desleal em relação à pesquisa e publicações. Isto toma mui-to tempo do professor e, atualmente, é o que agrega valor a ele. Lecionar não agrega valor. É preciso mudar esta vi-são sobre o valor da atividade docen-te, invertendo assim as prioridades do professor.

E empreendedorismo na formação?A formação empreendedora é fun-

damental. As empresas hoje contratam um engenheiro não como uma peça de reposição como era feito até a década de 1980. Esta formação empreendedora está ligada às competências. Se for disponibiliza-da para o aluno uma metodologia em que ele tenha a oportunidade de desenvolver suas competências e habilidades, ele natu-ralmente irá pelo caminho do empreende-dorismo. Em algumas escolas, já existe essa preocupação. As empresas juniores, por exemplo, são uma ótima maneira de for-mar empreendedores. Outra opção são convênios firmados entre universidades e empresas. A gestão também é uma preo-cupação da Engenharia. É preciso gerir o

“Cerca de 50% a 55% dos alunos que entram no curso de Engenharia não se

formam. Ou seja, mais da metade dos alunos que iniciam o curso não o concluem.”

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11MINAS FAZ CIÊNCIA - MAR. A MAIO / 2010

O crescimento do número de cursos no Estado corresponde à demanda por engenheiros e novas modalidades de Engenharia? Os currículos e as metodologias de ensino são condizentes com as ne-cessidades atuais de formação pro-fissional? Qual o nível de interação entre os setores empresariais, as escolas de Engenharia e o conse-lho profissional? Essas são algumas das perguntas que Vanderli Fava de Oliveira buscou responder com seu projeto “A Educação em Engenharia em Minas Gerais: crescimento do número de cursos e modalidades, consequências pedagógicas e mer-cado de trabalho”.

Como explica o pesquisador, que trabalha com a educação em Enge-nharia desde 1996, o projeto nasceu da falta de dados e elementos de análise sobre a área de uma manei-ra geral. As informações começaram a ser coletadas em 2005, dentro de Minas Gerais. Segundo Oliveira, essa etapa não foi fácil. “Enviamos ques-tionários para todas as escolas de Minas, mas precisávamos ficar ligan-do para obter as respostas. Também

aproveitamos eventos da área para coletar dados”, diz.

Uma das conclusões é que não há razão clara para se instituir um curso de Engenharia. Ou seja, não é porque determinada região possui minas que se criará ali um curso de Engenharia de Minas. “A escola de Engenharia mais antiga é a de Ouro Preto. Na época, queriam criar a Escola de Minas no Rio de Janeiro, mas Dom Pedro II ar-ticulou para que ela fosse criada aqui. A segunda escola criada foi a de Belo Horizonte pela simples razão de ser uma capital e também para resolver problemas urbanos. Em Itajubá, a Es-cola de Engenharia foi criada em 1913: um advogado visionário percebeu que aquele era um local estratégico pela proximidade com Rio de Janeiro e São Paulo. A consequência é que hoje o Vale da Eletrônica está em Itajubá e a universidade fomentou o desenvol-vimento da região”.

Outra prova de que a criação das escolas de Engenharia não está necessariamente ligada às necessida-des locais é o fato de que na região do Norte de Minas existem muitas mineradoras, mas não há escolas de Engenharia de Minas. Através de ma-

pas sobre os dados econômicos do Estado, a equipe contatou, também, que o número de escolas e vagas de determinada região está diretamente ligado ao tamanho de sua população e à riqueza do local.

Apesar de ter sido utilizada para avaliar os cursos em Minas Gerais, a metodologia pode ser aplicada em qualquer localidade do Brasil. De acordo com Oliveira, as publicações e o levanta-mento de dados inéditos podem con-tribuir para futuras pesquisas. “Fomos premiados pela Sociedade Mineira de Engenharia (SME), no Encontro Mineiro de Engenharia de Produção (Emepro), e no Encontro Nacional de Engenharia de Produção (Enegep). E ainda existem muitas possibilidades de estudos a partir dos dados obti-dos”, finaliza.

Juliana Saragá

formarem, os profissionais podem ir para uma cidade e fomentar o desenvolvimento local. O engenheiro não deve ser apenas mão de obra, mas um agente de desenvolvimento.

Em relação às modalidades de formação, quais podemos destacar em Minas Gerais?

Até dez anos atrás, a Engenharia Civil era o destaque. Hoje, formamos mais engenheiros de Produção. No Brasil, existem cerca de 350 cursos nesta modalidade. A segunda colocada é a Enge-nharia Elétrica, com cerca de 220 cursos, e em terceiro lugar fica a Engenharia Civil. Minas Ge-rais repete essa proporção.

Quais as modalidades estão em ascensão?Além da Engenharia de Produção, pode-se des-

tacar a chamada Engenharia Ambiental. Em 1996, não existia nenhum curso nesta modalidade. Hoje já existem cerca de 130. As engenharias de Petróleo e de Telecomunicações também estão crescendo. Mas é importante destacar que engenheiros que possuem uma formação de qualidade sempre terão espaço no mercado de trabalho.

Projeto: “A Educação em Engenharia em Minas Gerais: crescimento do número de cursos e modalidades, consequências pedagógicas e mercado de trabalho”Modalidade: Edital UniversalCoordenador: Vanderli Fava de OliveiraValor: R$16.981,13

15000

20000

25000

30000

35000

2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007

Engenheiros Formados por Ano

17.8

18

19.8

10

21.8

63

23.8

31

26.5

55

30.2

46

32.1

28

Fonte: Organizado por Vanderli Fava de Oliveira, com base em dados do INEP

Engenharia em Minas Gerais

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Por ocasião de sua vigésima sex-ta reunião o Comitê Executivo da ASSOCIAÇÃO IBERO-AMERICANA DE INSTITUIÇÕES DE EDUCAÇÃO DE ENGENHARIA – ASIBEI, com a participação de representantes da Ar-gentina, Brasil, Colômbia, Costa Rica, Chile, Equador, Espanha, Paraguai, Peru, Portugal e Uruguai, apresenta à Região Ibero-americana o resultado de sua reflexão sobre temas de especial sig-nificado e importância para atender os compromissos com a sociedade.

Sem ignorar os avanços e as rea-lizações alcançadas nos países da Re-gião é evidente que ainda persistem sensíveis necessidades e carências so-ciais, principalmente relacionadas com os temas Ambientais, Energéticos, de Infraestrutura, Saúde, Alimentação e Educação, todos eles aspectos cruciais nos quais a engenharia desempenha um papel fundamental para alcançar o desenvolvimento socioeconômico, científico, tecnológico e cultural.

Para contribuir com a solução des-tes problemas na Região faz-se mister formar engenheiros na quantidade requerida, com padrões de qualidade internacionais e com estratégias curri-culares que favoreçam a relevância lo-cal e regional de seus conhecimentos para contribuir com a urgente tarefa de reconhecer, identificar e caracteri-zar as prioridades que permitam diag-nosticar, propor, planejar e implemen-tar propostas sustentáveis em cada um dos temas mencionados.

A ASIBEI propõe como diretrizes para criação de um Espaço de Edu-cação Superior Latino-americano: a realização de atividades de pesqui-sa, desenvolvimento e transferência de conhecimentos e experiências relevantes para as necessidades da Região; a articulação de esforços e iniciativas com setores sociais, esta-tais e econômicos; a promoção da

qualidade da educação nos níveis de formação básico e médio e a intro-dução nos programas de formação de engenheiros de aspectos tais como o incentivo à cultura empreendedora, à reflexão permanente sobre a res-ponsabilidade social do engenheiro e sobre o impacto ambiental e social da prática de sua profissão.

Este é um desafio que devemos assumir em todos os nossos países e é uma obrigação conjunta dos es-tados, universidades, organizações sociais e empresariais. A ASIBEI, como Associação representativa das instituições ibero-americanas de educação de engenharia, convida as autoridades políticas e acadêmicas da Região a reconhecer, fomentar e apoiar iniciativas formuladas pelas instituições dedicadas à formação de engenheiros para ter sucesso nos objetivos propostos mediante es-tratégias e projetos que promovam a cooperação, o trabalho acadêmico solidário e a construção e difusão de conhecimentos com propósitos de desenvolvimento regional.

O ano do Bicentenário de vários dos países da Região é uma ocasião propícia para impulsionar, mediante o esforço de todos os atores políticos, acadêmicos, sociais e econômicos, a partir da história compartilhada e das forças e recursos da Região, a conso-lidação da formação de engenheiros altamente qualificados como fator de-cisivo para a solução das necessidades, carências e debilidades que retardam o acesso de nossas sociedades a níveis de desenvolvimento sustentável que promovam a equidade e o bem-estar social, favoreçam os propósitos de competitividade e inovação para con-tribuir com o desenvolvimento eco-nômico e a preservação da biodiversi-dade dos ecossistemas e dos recursos naturais de nossa Região.

Membros da ASIBEIA ASSOCIAÇÃO IBERO-AMERI-

CANA DE INSTITUIÇÕES DE EDU-CAÇÃO DE ENGENHARIA – ASIBEI, tem entre seus objetivos, estimular a busca e geração de conhecimen-tos relacionados com a educação em engenharia, e é constituída pelas associações de faculdades e escolas de engenharia dos respectivos países ibero-americanos e, em alguns casos, onde tais associações não estão cons-tituídas, por universidades que ofere-cem os ditos programas.

A ASIBEI é composta atualmente pelos seguintes membros:

Associação de Faculdades e Escolas de En-genharia, ANFEI, México

Associação Colombiana de Faculdade En-genharia, ACOFI, Colômbia

Associação Brasileira de Educação em En-genharia, ABENGE, Brasil

Associação Equatoriana de Instituições de Educação em Engenharia, ASECEI, Equador

Conselho Federal de Decanos de Enge-nharia, CONFEDI, Argentina

Conselho de Decanos de Faculdades de Engenharia, CONFEDI, Chile

Núcleo de Decanos de Engenharia, Venezuela

Conselho Nacional de Faculdades de En-genharia do Peru, CONAFIP

Universidade Politécnica de Madri, Espanha

Universidade Politécnica de Valência, Espanha

Universidade de Castilha da Mancha, Espanha

Instituto Politécnico de Setúbal, Portugal

Instituto Superior de Engenharia de Lisboa, ISEL, Portugal

Universidade da República, Uruguai

Universidade ORT, Uruguai

Universidade Católica do Uruguai

Universidade Católica de Assunção, Paraguai

Universidade Nacional de Assunção, Paraguai. Belo Horizonte, Brasil,8 de julho de 2010

Durante o Seminário Ibero-americano de Educação em Engenharia, realizado em julho, foi produzida uma Declaração de Belo Horizonte. Ela traz considerações sobre a formação em Engenharia e o futuro da área. A carta é

reproduzida abaixo, na íntegra.

MINAS FAZ CIÊNCIA - MAR. A MAIO / 201012

Declaração de Belo Horizonte

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MercadoEmpreendedorismo

Alunos de mestrado e doutorado certamente se tornarão pesquisado-res, correto? Errado. Algumas vezes, o projeto de pesquisa desenvolvido em um laboratório pode ser a semente de um novo empreendimento e uma bem sucedida carreira no setor empresa-rial. É isso que estão descobrindo os alunos inscritos no Programa Mineiro de Empreendedorismo na Pós-gradu-

TorneioTecnológico

Estudantes de pós-graduação aceitam o desafio de encontrar soluções para problemas reais

ação. Por meio desse Programa, eles participam de aulas teóricas, recebem orientações de empresários e realizam visitas técnicas – tudo para provar que ciência e tecnologia podem se trans-formar em um bom negócio.

Aluir Dias Purceno, Felipe Tadeu Fiorini Gomide e Juliana Lott Carvalho, alunos de pós-graduação da Universi-dade Federal de Minas Gerais (UFMG),

estão vivendo essa experiência. O gru-po, coordenado pelo professor do De-partamento de Química, Rochel Mon-tero Lago, desenvolveu uma pesquisa que resultou em um processo inova-dor de separação óleo-água.

A equipe partiu de um problema da indústria petrolífera. Durante o processo de exploração de petróleo, é comum o aparecimento de água as-

13MINAS FAZ CIÊNCIA - MAR. A MAIO / 2010

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MINAS FAZ CIÊNCIA - MAR. A MAIO / 201014

sociada ao óleo. Embora sejam subs-tâncias que não se misturam, elas as-cendem à superfície sob a forma de uma emulsão. Essa emulsão água-óleo é caracterizada por diminutas gotas d’água dispersas no petróleo reco-bertas por uma fina camada oleosa. As duas substâncias devem ser separadas, pois a emulsão afeta negativamente todo o processo, desde a produção até o refino. Para isso, são utilizados desemulsificantes.

A maioria dos desemulsificantes utilizados atualmente são polímeros. A equipe da UFMG testou a substitui-ção desses polímeros por nanotubos de carbono aderidos à vermiculita, um mineral abundante no Brasil. Esse mi-neral tem afinidade com a água e, com a síntese de nanotubos de carbono, que possuem afinidade com o óleo, criam nanopartículas anfifílicas – mate-rial que possui em sua estrutura duas partes de polaridade diferentes asso-ciadas, uma solúvel em água e outra que recusa a água.

“Uma das vantagens dessas partí-culas é que, ao contrário dos desemul-sificantes utilizados atualmente pelas indústrias do setor, elas poderiam ser separadas da mistura magneticamente e ainda serem reutilizadas por cinco vezes, sem perder a eficiência”, com-pleta Aluir Purceno. Segundo o pesqui-sador, isso é capaz de gerar uma eco-nomia de até 80% no processo. “Para uma empresa do porte da Petrobras, que gasta anualmente cerca de US$1 bilhão para fazer a separação da emul-são água-óleo, seria uma economia de US$800 milhões”.

O projeto também resultou na criação da empresa Magnano. Purceno conta que se surpreendeu com a expe-riência. “Imaginava o embate como um curso teórico e chato. Quando cheguei lá, fui percebendo que o curso não tinha nada de teórico, muito pelo contrário, era totalmente prático. Nós vivencia-mos a construção do conhecimento e o autoconhecimento empreendedor. Todos podemos ser empreendedores, todos temos características empreen-dedoras, só nos falta despertá-las”. Para ele, o sucesso da iniciativa vai além da metodologia, e está mais relacionado

à qualidade e à experiência dos facili-tadores, que conseguem proporcionar aos alunos da pós-graduação o contato com o empreendedor dentro de cada um. O plano de inovação do grupo foi eleito o melhor da UFMG e, agora, competirá com os planos de inovação de outras universidades pelo título de Plano Inovador Vencedor do Progra-ma Mineiro de Empreendedorismo na Pós-graduação.

EmbateO Programa Mineiro de Empreen-

dedorismo na Pós-graduação é uma iniciativa que busca desenvolver habili-dades de empreendedorismo e inova-ção em alunos de cursos de mestrado e doutorado de diferentes áreas. A proposta é estimular os alunos a trans-formarem projetos testados em labo-ratórios em novos negócios, levando a pesquisa acadêmica para o mercado.

“Existe uma cultura nas universida-des de que os alunos que desenvolvem pesquisa devem se tornar professores ou cientistas. Com o Programa, eles percebem que também podem se tor-nar empresários, e se constrói uma ponte entre universidade e mercado”, defende o secretário adjunto de Ciên-cia ,Tecnologia e Ensino Superior de Minas Gerais, Evaldo Ferreira Vilela. A Secretaria, por meio do Sistema Minei-ro de Inovação (Simi) e em parceria com a FAPEMIG, o Instituto Inovação, a Fiat e a Associação Nacional de Pes-

quisa e Desenvolvimento das Empre-sas Inovadoras (Anpei), é responsável pelo projeto, que recebeu investimen-to de R$1 milhão para a capacitação dos pós-graduandos.

O Programa foi estruturado a par-tir de um método chamado Empreen-dedorismo de Base Técnológica (Em-bate). A metodologia insere equipes em situações do cotidiano de um em-preendedor e do processo de inova-ção e as desafia a encontrar soluções para problemas reais, lidando com im-previstos e buscando resultados

O Embate é um seminário viven-cial, dinâmico e participativo, com du-ração de 20 horas, que resulta na ela-boração de planos de inovação. Estes planos são o resultado de um trabalho realizado em grupos multidisciplinares com o objetivo de estruturar uma ideia ou conhecimento científico em forma de produto, serviço, tecnologia ou negócio inovador. Trata-se de um exercício que irá desenvolver nos par-ticipantes percepções, habilidades e competências.

O Programa teve início em março deste ano, com a participação de 13 universidades públicas sediadas em Minas Gerais: as federais de Juiz de Fora (UFJF), de Lavras (Ufla), de Minas Gerais (UFMG), de Ouro Preto (Ufop), de São João Del Rei (UFSJ), do Triân-gulo Mineiro (UFTM), de Uberlândia (UFU), de Viçosa (UFV), dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM), de

Foto: Marcelo Focado

Felipe Gomide, Juliana Carvalho e Aluir Purceno, alunos de pós-graduação da UFMG, desenvolveram processo inovador de separação água-óleo.

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15MINAS FAZ CIÊNCIA - MAR. A MAIO / 2010

Pesquisa e Pós-graduação que apre-sentou o Programa à Maíra Nicolau de Almeida, da área de Bioquímica. Ela considera a proposta de incentivar alunos a se tornarem empreendedores muito importante dentro do contexto atual. “Somos muito incentivados a fa-zer pesquisa e a publicar artigos cien-tíficos. Porém, se ficarmos presos a essa realidade, teremos menos opções ao terminar o curso. Ao incentivar o empreendedorismo, abrem-se portas além da docência”, opina.

Junto com Arthur Sodré, Daniel Lobato e Mary Hellen Fabres, todos alunos de pós-graduação da UFV, Maí-ra desenvolveu o projeto Laczero, uma proposta inovadora para a retirada da lactose do leite. “Este processo é im-portante em processos industriais de fabricação de doces e outros produtos derivados de leite, além de possibilitar o consumo de leite pelos intolerantes à lactose”, diz. A inovação do projeto está na forma como a lactose é pro-cessada, que difere do processo atual, tornando-o mais econômico e eco-logicamente correto. Esse foi o plano de inovação escolhido pela UFV como vencedor e irá representar a Universi-dade no Torneio final.

Vale lembrar que, em todas as fa-ses do Programa Mineiro de Empreen-dedorismo, há visitas a centros de re-ferência em inovação tecnológica em Minas. Os grupos da UFV, por exem-plo, visitaram a Acrotech, empresa que desenvolve e comercializa sementes selecionadas pré-germinadas de ma-caúba. Maíra considerou a visita muito produtiva, pois a empresa também é fruto de uma inovação científica que surgiu dentro da universidade. “Como a Acrotech é uma empresa relativa-mente nova, pudemos entender um pouco sobre o processo de implan-tação e expansão. Isso nos encoraja a iniciar um processo como esse”. Para ela, a experiência de participar do Embate foi muito enriquecedora. “Eu modifiquei bastante a forma de olhar para pesquisa e agora visualizo mais possibilidades para meu futuro”.

Juliana Saragáe Vanessa Fagundes

Alfenas (Unifal) e de Itajubá (Unifei), além das estaduais do Estado de Minas Gerais (Uemg) e de Montes Claros (Unimontes).

Novas experiênciasO Programa segue algumas etapas.

A primeira delas é a inscrição dos pós-graduandos. Em seguida, são realizados os Embates dentro das universidades, quando os alunos, após um seminário que mistura lições de comportamento empreendedor e gestão, elaboram um plano de inovação. Cada universidade seleciona seu plano vencedor, como foi o caso da Magnano na UFMG. Os 13 planos selecionados, um por uni-versidade, passam para a fase seguinte, o Torneio por Universidade. O Plano Inovador Vencedor será anunciado em outubro, durante a Inovatec, feira de inovação que será realizada no Expo-minas. O prêmio é uma visita a um centro de inovação no exterior.

O Instituto Inovação, que atua na área de gestão tecnológica, foi responsá-vel por uma consultoria e intenso traba-lho de divulgação nas universidades, com palestras de sensibilização com o tema “Inovação” para pró-reitores, coorde-nadores de cursos, professores, incuba-doras de empresas e alunos. Em seguida, foi aberta a inscrição para mestrandos e doutorandos. Mais de 160 alunos de mestrado e doutorado se inscreveram para participar da iniciativa.

Na Universidade Federal de Viçosa (UFV), foi um e-mail da Pró-reitoria de

Foto: Marcelo Focado

Foto: Instituto Inovação/Divulgação

Foto: Instituto Inovação/Divulgação

O método desenvolvido pela equipe da UFMG, que pode gerar economia de até 80%, utiliza nanotubos de carbono e vermiculita, um mineral abundante no Brasil.

Visitas a centros de inovação (acima) e a vivência de situações típicas do cotidiano de um empreendedor fazem parte do programa.

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Redes

Nanopartículas que agem exata-mente sobre as células cancerosas, tra-tamento personalizado contra o câncer de colo de útero, plantações mais re-sistentes a pragas, sequenciamento do DNA de alguns organismos. O Progra-ma de Apoio a Redes de Pesquisa da FAPEMIG completou o quinto aniversá-rio com resultados já visíveis. Para me-di-los, a Fundação iniciou em junho um processo de avaliação que teve como primeira etapa o I Seminário de Avalia-ção das Redes de Pesquisa. O evento reuniu coordenadores e pesquisadores

CrescimentoMonitoradoPrograma de Apoio a Redes de Pesquisa da FAPEMIG completa cinco anos e passa por processo de avaliação

integrantes das oito redes financiadas pela FAPEMIG a fim de que apresentas-sem resultados, trocassem experiências e levantassem possíveis soluções para dificuldades encontradas.

Segundo o presidente da FAPEMIG, Mario Neto Borges, quando foi criado, em 2005, o Programa de Apoio a Redes de Pesquisa já previa duas avaliações: uma aos três anos de duração e outra aos cinco. Aos três anos, houve uma avaliação preliminar do Programa, feita administrativamente. Agora, aos cinco anos, a avaliação será feita pelo Depar-

tamento de Avaliação da FAPEMIG e pelo próprio Conselho Curador, que o criou, para verificar se o mantém. “O Conselho Curador se debruçará sobre o Programa para fazer uma discussão cuidadosa em sua avaliação. As redes serão avaliadas individualmente e con-tinuarão sendo beneficiadas ou não, dependendo de seu desempenho”, diz Borges. As informações levantadas durante o I Seminário de Avaliação de Redes de Pesquisa serão levadas ao conhecimento do Conselho, a fim de subsidiar a avaliação.

Para o chefe do Departamento de Avaliação da FAPEMIG, Fabiano Valen-tim, a participação de todas as redes no Seminário, por meio de coordena-dores e pesquisadores integrantes, foi muito positiva. “É uma forma da FAPE-MIG interagir melhor com as redes e saber o que elas estão executando no dia-a-dia. Elas também puderam apre-sentar diversas sugestões, que serão estudadas, como, por exemplo, a cria-ção de um conselho de coordenado-res das redes. Além disso, o encontro serviu como introdução aos pesquisa-dores sobre a forma como a FAPEMIG irá avaliá-los e quais resultados a Fun-dação espera com o Programa”, diz. Segundo Valentim, o encontro apontou a necessidade de institucionalização da

MINAS FAZ CIÊNCIA - MAR. A MAIO / 201016

Foto: Rede Mineira de Bioterismo/Divulgação

Uma das redes apoiadas pela FAPEMIG é a de Bioterismo,que busca padronizar e garantir a qualidade no tratamento de animais de laboratório.

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rede, com a criação de normas inter-nas, um estatuto, um comitê gestor e reuniões periódicas.

Após o I Seminário, a avaliação das redes continuará em uma nova etapa, que deve ter início em setembro. Ela será composta por visitas técnicas às reuniões internas de cada uma. As visi-tas serão realizadas por um consultor, acompanhado de um técnico da FAPE-MIG. “Vamos acompanhar essas reuni-ões e a ideia é, posteriormente, fazer um registro das atividades das redes nos últimos três anos. Vamos visitar as instalações físicas, o local onde vai ser realizada a reunião e vamos avaliar como está o andamento das pesquisas, o relacionamento entre os membros e as atividades que estão realizando em conjunto”, explica Fabiano Valen-tim. Conforme ele esclarece, são dois tipos de avaliação. Uma, feita pelo con-sultor, refere-se ao desenvolvimento dos projetos de pesquisa de cada rede. Outra é a avaliação da infraestrutura, em que se verifica se os equipamentos estão instalados adequadamente, se os técnicos estão trabalhando e se os

bolsistas estão executando as ativida-des de pesquisa.

Segundo Valentim, há uma pro-posta que prevê um registro das ati-vidades, que vai incluir informações como a composição da rede, o que ela realizou, os resultados dos proje-tos que desenvolveu e todas as suas atividades. “A ideia é institucionalizar a rede e apresentar todo o seu corpo: quem são os dirigentes, quem são os componentes, qual é o desempenho operacional, quais resultados ela obte-ve. Pretendemos gerar um relatório a ser publicado no ano que vem, entre as comemorações dos 25 anos da FA-PEMIG”, adianta.

Para a coordenadora das Redes Mineiras de Bioterismo e Farmacolo-gia, a bióloga e professora da Univer-sidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), Vera Peters, o processo de avaliação é muito benéfico para o desenvolvi-mento e organização das redes. “O encontro realizado pela FAPEMIG foi muito valioso e deveria ser o primeiro de uma série. Foi possível aos coor-denadores se reunirem, discutirem os problemas existentes, conhecerem as formas de funcionamento das outras redes, buscarem ações conjuntas. Um benefício muito grande para a organi-zação e para os rumos que serão tra-çados”, diz. Segundo ela, a avaliação e o acompanhamento dos trabalhos é im-portante, principalmente, por se tratar de um programa novo, ainda não expe-rimentado na FAPEMIG e por muitos pesquisadores.

Experimentos de qualidade

A Rede Mineira de Bioterismo, co-ordenada por Peters, foi uma das pri-meiras a receber apoio da FAPEMIG. A Rede surgiu em 1998, a partir de um levantamento feito no Estado das condições dos biotérios ou criatórios de animais utilizados em experimentos científicos. O levantamento, financiado pela FAPEMIG, foi realizado sob consul-toria da argentina Adela Rosenkrand, à época, consultora da Organização Panamericana de Saúde (Opas). O le-vantamento revelou que em Minas Ge-rais não havia um biotério com todas

as condições necessárias, mas, em de-terminadas áreas, havia competências que poderiam se unir. Dessa forma, a Rede se estruturou inicialmente com sete biotérios que, na época, reuniam as melhores condições. “Desde então, eles vêm trabalhando para alcançar me-lhores resultados, melhores instalações, formarem recursos humanos, unifor-mizar técnicas e métodos de criação e experimentação animal”, afirma Peters.

Hoje, oito instituições formam a rede, cada uma com competência especial na criação de determinada espécie animal e com uma área de domínio, como nutrição ou microbio-logia. A Universidade Federal de Ouro Preto (Ufop), por exemplo, tem espe-cialidade na criação de cães e a Uni-versidade Federal de São João Del Rei (UFSJ) está se aperfeiçoando na cria-ção de mini-pigs (pequenos porcos). Como a demanda maior é por roe-dores, outras instituições criam, cada uma, roedores de espécies diferentes. “Procuramos nos complementar de maneira que possamos nos permutar e fornecer continuamente ao Esta-do. Cada instituição assumiu para si a responsabilidade de aprofundar seus conhecimentos em determinada área para dar assistência aos demais bio-térios participantes. É a característica típica de uma rede. Não estamos du-plicando, mas reunindo competências e colocando-as à disposição do Estado e, quem sabe depois, de outros esta-dos e regiões”, diz a coordenadora.

No caso da Rede de Biotérios, o trabalho colaborativo não acontece apenas internamente. A Rede também trabalha em parceria com outras redes de pesquisa, fornecendo animais para experimentos. A colaboração também já saiu das fronteiras do Estado. Pes-quisadores da Rede já prestaram con-sultoria em estados das regiões Norte e Nordeste e estão constantemente em contato com pesquisadores de biotérios de São Paulo. “Procuramos esse intercâmbio, fazemos trabalhos conjuntos, além de termos contato com o exterior. Mantemos contato com centros de criação de animais de países da América Latina, da América do Norte e da Europa”, revela Peters.

17MINAS FAZ CIÊNCIA - MAR. A MAIO / 2010

Foto: Cristiano Quintino

A Rede Mineira de Pesquisas em Nanobiotecnologia, com pesquisadores renomados, é referência em sua área de atuação.

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A pesquisadora destaca a impor-tância dos cuidados em biotérios para a confiabilidade dos resultados das pesquisas. “Com melhor qualidade dos animais, gera-se resultados de pesqui-sa fidedignos. Passou-se por um tempo em que se questionava muito a veraci-dade dos dados de pesquisas feitas no Brasil, justamente pela qualidade dos animais. A partir do momento em que há o refinamento das técnicas de cria-ção e utilização desses animais, têm-se resultados mais confiáveis nos experi-mentos e a credibilidade da pesquisa científica mineira e nacional aumenta”, afirma. De acordo com a bióloga, isso passa, inclusive, pela questão ética, já que a resposta fisio-biológica do ani-mal ao experimento será refletida a partir de sua qualidade de vida. “Um indivíduo sadio, tranquilo, bem cuidado, tendo adequação do estado biológico com o meio ambiente, vai responder melhor a esse meio ambiente. Quan-do damos qualidade de vida ao animal, consequentemente usamos um núme-ro menor deles e evitamos a morte desnecessária de grande parte.”

Soluções nanotecnológicas

Os ensaios com animais fazem parte da rotina da Rede Mineira de Pesquisa em Nanobiotecnologia. Segundo a vice-coordenadora da Rede, a farmacêutica e professora da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Mônica de Oliveira, os animais da Rede Mineira de Bioterismo ainda não são utilizados pela de Nanobiotecnologia, mas semi-nários como o de Avaliação das Redes, realizado pela FAPEMIG, têm papel es-sencial para proporcionar esse tipo de interação. “No caso da rede de ‘nano’, essa ferramenta é indispensável, pois precisamos de animais adequados para fazermos os ensaios. Conhecer o que as outras redes fazem foi um ponto po-sitivo da reunião que tivemos”, diz.

Para Oliveira, o encontro promovido pela FAPEMIG, além de permitir a troca de experiência entre as redes mineiras de pesquisa, foi uma oportunidade inte-ressante de conhecer as demandas da FAPEMIG e da sociedade. “A FAPEMIG injeta verba significativa nessas pesqui-

sas e tem que cobrar resultados. Nesse contato, temos possibilidade da FAPE-MIG nos trazer a demanda da sociedade, já que a Fundação tem a visão do Estado como um todo. Esse contato é essencial tanto para prestarmos contas, quanto para colhermos ideias de emprego da competência da rede.”

A Rede Mineira de Nanobiotecno-logia foi criada em 2002 e hoje é com-posta por pesquisadores de quatro instituições: UFMG, Fundação Centro Tecnológico de Minas Gerais (Cetec), Embrapa Gado de Leite e Ufop. Segun-do Mônica Oliveira, a avaliação interna também é procedimento da Rede. Um comitê gestor, formado por sete pesqui-sadores, realiza reuniões frequentes e é responsável pelas diretrizes e principais tomadas de decisão. Foi por avaliação do comitê que a Embrapa Gado de Leite passou a integrar o grupo. “Em 2007, a Embrapa entrou em contato. Avaliamos o projeto e vimos que realmente tinha afinidade com o que fazíamos e que se-ria interessante agregá-la”, relata.

A Rede atua em duas linhas de pesquisa: terapêutica e diagnóstico. Na linha de diagnóstico, as pesquisas são voltadas para o diagnóstico do câncer e de doenças infecciosas inflamatórias. Na terapêutica, os projetos têm como objetivo o tratamento do câncer, do-enças parasitárias (leishmaniose, Cha-gas e malária), e doenças infecciosas (mamite bovina e Helicobacter pylori). Uma das pesquisas resultou na criação

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Foto: Rede Mineira de Bioterismo/Divulgação

Para a coordenadora das Redes Mineiras de Bioterismo e Farmacologia, Vera Peters, a avaliação contribui para o desenvolvimento dos grupos de pesquisa.

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Ariadne Lima

de um medicamento contra o câncer, que deu origem a duas patentes e uma transferência de tecnologia para a em-presa Europharma, que agora realiza estudos a fim de colocar o produto no mercado. “Foi um projeto com os lipossomas PH sensíveis de cisplatina, um quimioterapico usado há vários anos para tratar câncer de pulmão, ca-beça e pescoço, ovário, bexiga e prós-tata. Como todo quimioterápico, ele tem como inconvenientes os efeitos tóxicos, por atacar não só as células tumorais como as sadias. A nanotec-nologia vem no intuito de reduzir essa

toxicidade e talvez aumentar a eficácia terapêutica”, explica Oliveira.

Segundo a pesquisadora, os tra-balhos da Rede contribuíram muito para despertar o interesse da em-presa na tecnologia desenvolvida. “A rede nos permitiu avançar nos estudos pré-clínicos. Quando uma empresa que está interessada vê que já temos os dados pré-clínicos, isso conta como ponto positivo, fortalece o interesse e a negocia-ção”. Oliveira destaca ainda a boa influência do Programa de Apoio a Redes da FAPEMIG nos trabalhos

do grupo. “A produção científica dobrou, em termos de publicações internacionais e os pedidos de de-pósitos de patentes aumentaram em oito vezes. O número de orien-tações de mestrado e doutorado também aumentou”, ressalta. Hoje, a Rede Mineira de Pesquisas em Nanobiotecnologia também é refe-rência em sua área de atuação, ten-do pesquisadores em destaque nos cenários nacional e internacional.

Conhecimento em rede

O Programa de Apoio a Redes de Pesquisa da FA-PEMIG foi criado em 2005 pelo Conselho Curador da Fundação. Inicialmente, cinco redes compunham o Programa. Atualmente, são oito redes estruturadas e duas em avaliação. Nos cinco anos de Programa, foram investidos R$ 32 milhões. A cada dois anos, todas as redes precisam apresentar um projeto de pesquisa cujo valor é de aproximadamente R$ 2 milhões. Apenas a Rede Mineira de Propriedade Intelectual, pela natureza do trabalho, precisa apresentar um projeto anual, cujo valor é de R$ 500 mil.

Segundo o presidente da FAPEMIG, Mario Neto Borges, são várias as razões para o investimento na pesquisa em rede. “É uma tendência nacional e mundial articular grupos e instituições de pesquisa. Isso otimiza investimentos: em vez de comprar o mesmo equipa-mento para três grupos diferentes, compra-se um para a rede. Articulam-se as instituições de tal forma que elas trabalhem em conjunto. Articulam-se pesquisado-res, o que faz com que a ciência avance mais rápido,

já que, trabalhando sozinho, um pesquisador pode ter dificuldades que outro consiga resolver. Além disso, a rede torna o estado qualificado naquela área, de forma a ser um foco de excelência”, enumera.

Para Borges, o Programa de Apoio às Redes Estadu-ais foi tão bem sucedido que a Fundação ampliou o apoio às redes nacionais. Hoje a FAPEMIG participa do grupo que apóia duas redes temáticas que atuam em áreas que interessam a um conjunto de estados. Elas são financia-das pelo Conselho Nacional para o Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), o Departamento de Ciência e Tecnologia do Ministério da Saúde e algumas Fundações de Amparo à Pesquisa (FAPs). A FAPEMIG já destinou, ao todo, R$ 2 milhões às redes nacionais. A rede Nacional da Malária, com a participação de sete FAPs, entre as quais a FAPEMIG, foi a primeira a ser cria-da e já tem projetos em andamento. A Rede Nacional da Dengue tem a participação de 20 FAPs. “São quase todas, com exceção de apenas três, porque a dengue é um problema nacional”, observa o presidente.

Conheças as redes que contam com o apoio da FAPEMIG

ESTADUAIS:

Rede de Pesquisa em Oncologia de Minas GeraisIntegrantes: UFTM, UFMG, UFU.

Rede Genoma de Minas GeraisIntegrantes: Ufop, Embrapa Milho e Sorgo, UFMG, UFV, Ufla, UFU.

Rede Mineira de BiomoléculasIntegrantes: Fiocruz, Funed, Ufop, UFV, UFU, Fundação Hemominas.

Rede Mineira de Biotecnologia para o AgronegócioIntegrantes: Embrapa Milho e Sorgo, Em-brapa Gado de Leite, Epamig, UFMG, UFU,

Ufla, UFV, Centro de Pesquisa René Rachou.

Rede Mineira de BioterismoIntegrantes: UFJF, Ufla, Funed, UFMG, Centro de Pesquisa René Rachou, Ufop, UFV, UFSJ.

Rede Mineira de Farmacologia e To-xicologiaIntegrantes: Unifenas, UFJF, UFV, Ufla, Ufop.

Rede Mineira de NanobiotecnologiaIntegrantes: UFMG, Ufop, Cetec, Funed.

Rede Mineira de Propriedade IntelectualIntegrantes: UFV, UFMG, UFJF, UFSJ, Ufla, Funed, UFU, Ufop, Unifei, UFVJM, UFTM, Unifal, Unimontes,Uemg, Cefet, Cetec, Fio-

cruz, Fhemig, Epamig, Embrapa Milho e Sor-go, FAPEMIG, Biominas, Fiemg, IEL e INPI.

NACIONAIS:

Rede Nacional de Pesquisa em DengueEstados integrantes: Minas Gerais, Alagoas, Amazonas, Bahia, Ceará, Distrito Federal, Espírito Santo, Goiás, Maranhão, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Pará, Paraná, Pernambuco, Piauí, Rio de Janeiro, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul, São Paulo e Sergipe.

Rede Nacional de Pesquisa em MaláriaEstados integrantes: Minas Gerais, Amazonas, Pará, Maranhão, Mato Grosso, São Paulo e Rio de Janeiro.

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Avicultura

Quando você quebra alguns ovos para fazer um bolo ou preparar o café da manhã, deve, certamente, descartar as cascas, sem pensar muito - ou nada - na sua importância. Mas saiba que a qualidade e até o preço da dúzia de ovos à venda nos supermercados são influenciados, em alguma medida, pelo estado das cascas, já que a “embala-gem” é responsável é por assegurar a integridade dos ovos e conservar seu valor nutritivo.

Cascas quebradiças ou muito frá-geis levam não apenas à perda do pro-duto, como também podem permitir a passagem de substâncias que possam contaminá-lo. De acordo com maté-ria publicada na revista especializada “Avicultura Industrial” no ano passado, as perdas da produção causadas por problemas nas cascas variam entre 8 e 13% da produção total.

Para garantir que os ovos cheguem em bom estado aos consumidores, os produtores devem estar atentos à ali-mentação das aves, já que dela depen-dem as características dos invólucros e do próprio produto. A relação foi tema de um estudo feito por profes-sores do Departamento de Ciências Agrárias da Universidade Estadual de Montes Claros (Unimontes), que in-vestigaram como a inclusão de fontes de microminerais na dieta de aves po-edeiras poderia afetar a produtividade e qualidade dos ovos.

Com o título “Efeito da utiliza-ção de microminerais orgânicos na

Cuidado: frágil!Relação entre alimentação de galinhas poedeiras e qualidade e resistência dos ovos é tema de pesquisa feita por professores da Unimontes

dieta sobre a produção e qualidade dos ovos de poedeiras comerciais”, a pesquisa, concluída no ano passado, analisou como as galinhas metabo-lizam os minerais que ingerem e os utilizam para formar os ovos, espe-cialmente como o zinco, cobre, man-ganês e o selênio, importantes não apenas para a produção, mas também para a saúde das aves.

Essas substâncias, também chama-das microminerais devido à sua baixa concentração no sangue – cerca de 0,05% - desempenham a importante função de catalisadores nas reações químicas que ocorrem nos organis-mos dos animais, acelerando os processos, além de contri-b u í r e m direta-

mente para a constituição de ossos, cartilagens, fertilidade e para a produ-ção dos próprios ovos.

Geralmente, os microminerais são incluídos nas dietas das aves através de sais inorgânicos, compos-tos formados pela reação entre um ácido e uma base, como os óxidos, cloretos, carbonatos ou sulfatos, adi-cionados à ração.

No entanto, oferecidos desta forma, os minerais podem sofrer uma série de transformações ao passar pelo sistema digestivo dos

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Desireé Antônio

animais, tanto devido à acidez do meio quanto à possibilidade de eles reagirem com outros compostos, levando a uma menor disponibilidade para os proces-sos aos quais são necessários, resultan-do na carência desses nutrientes.

Para reverter essa situação, ha-veria duas soluções: a primeira seria oferecer mais microminerais às aves, mas isso poderia apenas aumentar o número de reações indesejadas. Já a segunda, a mais bem-sucedida de acor-do com a literatura da área, é fornecer os minerais em sua forma orgânica, especialmente em sua forma quelata-da quando são mais bem-aproveitados pelo organismo dos animais.

Os minerais quelatados são mine-rais ligados a moléculas orgânicas, aque-las formadas por cadeias de carbono. Esses compostos têm formato de anéis cíclicos. Essa forma “fechada” torna-os menos propensos à interação com outras substâncias, sendo, assim, mais estáveis e com mais chance de chegar intactos ao intestino das poedeiras.

Experimento A intenção dos pesquisadores, coor-

denados pela professora Mônica Maciel, do departamento de Ciência Agrárias da

Universidade, era averiguar se haveria al-gum aumento de produtividade e ganho de qualidade dos ovos, tanto da casca quanto a interna, quando as poedeiras passassem a ingerir os microminerais em sua forma orgânica quelatada.

Para isso, foram selecionadas 480 galinhas, mantidas em uma granja no município de Montes Claros, cedida por uma empresa do setor alimentí-cio, que custeou parte do estudo com o interesse de testar novas fórmulas de ração. Os animais tinham 62 sema-nas, idade em que começa a haver uma queda natural do ritmo de produção e também da qualidade dos ovos, até a interrupção total, por volta das 80 semanas de vida.

O grupo de animais foi divido em 30 subgrupos com 16 aves, que rece-beram seis tipos de rações diferentes: uma apenas com os microminerais na forma inorgânica, como são geralmen-te usados; outra com o a combinação de minerais na forma orgânica quelata-da; e outros quatro contendo cada um dos minerais isoladamente: cobre, zin-co, manganês e selênio. As rações con-tiam 50% dos microminerais na forma orgânica e a 50%, na inorgânica.

As rações foram servidas aos ani-mais durante cerca 12 semanas, dividas em três períodos, ao final dos quais se analisava a variação da produtividade, o peso médio dos ovos, percentagem e peso da casca, perda da produção, além do consumo médio da ração e de conversão alimentar – a taxa que mede quanto do alimento foi utilizado na geração dos ovos.

Segundo Mônica, os resultados apontaram um incremento da resis-tência da casca e adequação do peso dos ovos e de sua qualidade interna, característica medida por um índice chamado Unidade Haugh, baseado na relação entre a altura da clara e o peso dos ovos.

O uso da ração com a combina-ção de zinco, cobre e manganês e se-lênio, em sua forma orgânica gerou benefícios como a redução de 22% de ovos quebrados em comparação aos minerais usados em forma inor-gânica e 25% menos de ovos trinca-dos. Houve também um incremento

de 3% no peso dos ovos e de 3% no valor da Unidade Haugh. “Os da-dos indicaram que os microminerais quelatados podem ser uma boa so-lução para evitar os prejuízos dos produtores”, diz.

No entanto, esclarece a professo-ra, ainda há divergências na literatura científica da área sobre a relação entre o salto de produtividade e a qualidade dos ovos, já que a melhora depende de vários fatores como a linhagem das galinhas, o período de teste e, princi-palmente, de produtos diferentes no mercado. Ela esclarece, ainda, que não há previsão de quando os resultados passarão a ser aplicados na produção de rações ou mesmo qual seriam os custos das inovações em escala industrial. Para isso, serão necessários mais estudos.

Como pode demorar até que ovos com cascas mais resistentes cheguem aos supermercados, vale aproveitar algumas dicas da pesquisadora para aproveitar melhor o produto:

• Não lave os ovos. A lavagem tira sua proteção natural;

• Não guarde os ovos na porta da geladeira, local em que aumentam os riscos de contaminação;

• É possível comer ovos diaria-mente, apesar da ideia disseminada de que seriam ricos em colesterol. “Isso é um mito. Povos como os japoneses e os mexicanos comem ovos quase todos os dias e têm as taxas de coles-terol mais baixas do mundo”, exempli-fica Mônica;

• Se optar por comer ovos todos os dias, tente limitar-se a apenas um, já que se trata de um alimento que favo-rece a formação de gases intestinais;

• Para derrubar uma crença ali-mentada por nossas mães e avós, a professora avisa: ovos marrons, como os postos por galinhas caipiras, não são mais – nem menos – nutritivos do que os brancos. “A cor se deve à alimenta-ção delas, rica em capim. Qualquer gali-nha que passar a comê-lo, botará ovos amarronzados”, explica.

Melhores por mais tempo

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Engenharia Sanitária

Fácil,baratoe necessárioSistema de descontaminação de águas que utiliza garrafas PET é alternativa para comunidades sem serviço de tratamento de água

Os três anos que geralmente du-ram o Ensino Médio são lembrados pelos estudantes por recordações de muitos tipos: provas, professores, ami-gos, conversas nos intervalos das au-las. Para a ex-aluna do curso técnico em Edificações do Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Ge-rais (Cefet-MG), Karoline Elis Lopes, esse período será lembrado também como a época em que ela contribuiu para a melhoria da qualidade de vida de muitas pessoas.

Orientada pelos professores An-dréa Marques Rodrigues Guimarães, do Departamento de Biologia, e Gui-lherme Marques, do Departamento de Engenharia Civil, ela desenvolveu o projeto “Construção de um canal com garrafas PET acoplado ao con-centrador solar: sistema de contínuo de água solarizada com alternati-va para desinfecção microbiológica em estação de tratamento de água”.

Por trás do nome extenso e complicado está uma ideia simples. A iniciativa propõe a confecção de uma espécie de tubulação, similar àquela usada para levar a água das estações de tratamento até as casas, feita com garra-fas plásticas tipo PET, ligadas entre si. Essas garrafas são dispostas sobre o concentrador solar, uma estrutura de madeira em formato de “U” que serve de suporte para chapas refletoras.

O objetivo é fazer com que as garrafas recebam o máximo possível de irradiação solar, tanto aquela que incide diretamente sobre a garrafa quanto a refle-tida pela superfície metálica. Dessa forma, a água nelas contida é aquecida e descontaminada. Para potencializar o efeito do sol sobre a eliminação de micro-organismos, as garrafas são pintadas parcialmente de preto para reter mais calor.

Em linhas gerais, a tecnologia funciona assim: a água de um rio ou córrego utili-zada por uma dada comunidade passa por um processo de descontaminação bioló-gica através do aquecimento da água a determinada temperatura. A água cap-tada passa pelas garrafas e chega a um reservatório, onde é armazenada e,

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mais tarde, distribuída às casas para ser consumida. Feita de forma quase artesanal, a estação de tratamento tem custos reduzidos e ainda dá um novo destino a garrafas plásticas sem uso.

O projeto foi concebido para atender populações de baixa renda que não têm acesso à água tratada. Hoje, isso corresponde a um total de 12 milhões de casas, ou cerca de 21% das residências em todo o Brasil, de acordo com dados da Pesquisa de Saneamento Básico (PNSB) de 2008, divulgada neste ano pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Cerca de 8,6 milhões dessas casas estão localizadas na zona rural, onde os moradores têm que recorrer a poços artesianos ou ao transporte manual da água de rios e córregos próximos para suprir suas necessidades não apenas para atividades cotidianas, mas também para consumo. Sem o tratamento devido, água ingerida por essas pessoas se transforma em um veículo para a trans-missão de doenças como a amebíase, a cólera e a disen-teria, que, em estágios mais avançados e sem diagnóstico, podem levar à morte.

A professora Andréa Guimarães conta que a ideia do projeto surgiu em 2007 graças a duas ex-alunas do curso de Edificações- Júlia Parreiras e Verônica Ribeiro -, que, em uma viagem pelo interior do Estado, repararam no uso de estruturas de garrafas PET para o aquecimento de água numa casa da cidade. O aparato, instalado no telhado do local, serviria para aquecer a água usada para banhos, como uma espécie de aquecedor solar de baixo custo, permitindo a redução da conta de energia elétrica, além de tratar a água, eliminando possíveis agentes cau-sadores de doenças.

“Elas ficaram bastante empolgadas e vieram me per-guntar qual era o fundamento daquilo”, lembra Andréa. O conceito que explica o uso da tecnologia para a descon-taminação é chamado método Sodis (Solar Desinfecion ou desinfecção solar, na tradução em português). A partir da curiosidade e do interesse das estudantes, a professora

viu que aquilo poderia resultar em um projeto de pes-quisa. À época, estavam sendo ofertadas duas bolsas

para um projeto de Microbiologia, coordenado por Andréa, em parceria com outra professora do

departamento. A ideia começou a ganhar forma. Foi definido, assim, o passo a passo que deveria

ser seguido para a construção de um aparato que permitisse o tratamento da água, a bai-xo custo, por aqueles que não têm acesso a esse serviço.

A primeira atividade realizada pelas alunas foi a escolha de um local que servisse de base para pensar como seria o sistema de garrafas PET a ser adotado por uma comunidade. A intenção era descobrir quais condições prévias deveriam ser

satisfeitas para que a tecnologia fos-se aplicada. O lugar escolhido para o diagnóstico foi a cidade de Rio Aci-ma, localizada na Região Metropoli-tana de Belo Horizonte, a cerca de 34 quilômetros da capital, e banhada pelo Rio das Velhas.

A pesquisa fez um levantamento do nível de escolaridade, das condi-ções sociais e dos hábitos de higiene dos moradores, além de análises mi-crobiológicas da água usada pelas ca-sas e também do rio. O estudo serviu para comparar a capacidade de des-contaminação do sistema quando as garrafas PET são dispostas em telhas de amianto, como se faz originalmente, e quando elas são alocadas num co-letador, a principal novidade proposta pelas alunas ao método Sodis, já usado em várias partes do Brasil e do mundo para tratamento da água.

Os testes constataram que o uso do concentrador garantia uma efi-cácia de 99% de purificação da água após duas horas de exposição solar, o que não acontecia com aquelas sobre a telha de amianto. A primeira versão do coletador desenvolvido era feita de papelão, por ser mais fácil de ma-nusear e mais barato. Por outro lado, ele também apresentava desvantagens como a curta duração e baixa resis-tência a períodos de chuva, motivos pelo qual atualmente é confecciona-do com madeira.

O diagnóstico, que compôs a pri-meira fase do projeto, recebeu uma série de prêmios: o 1° lugar na cate-goria Ensino Médio do Prêmio Jovem Cientista, na edição de 2008; 2ª ° lugar na Mostratec, uma mostra de projeto interna do Cefet, em 2007; o 3° lugar na categoria Saúde na Feira Brasileira de Ciências e Engenharia (Febrace) em 2008; além do prêmio Intel ISEF (In-ternational Science and Engineering Fair), Feira Internacional de Ciência e En-genharia, promovida anualmente pela fabricante de processadores Intel.

De cara nova Com a formatura da Júlia e Verôni-

ca e sua consequente saída do projeto em 2008, foi a vez de Karoline assu-

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mir o andamento das atividades. Mais do que apenas dar prosseguimento ao que já havia sido feito, ela deveria aprimorar o sistema, acrescentando novidades a ele. Ela explica que se in-teressou pelo projeto pelo seu caráter social. “Pensar que eu poderia ajudar alguém com minha pesquisa foi minha principal motivação”, justifica.

No ponto em que recebeu o pro-jeto, Karoline teve a função de cons-truir um canal de garrafas PET que, acoplado no concentrador solar, seria capaz de manter um fluxo de água aci-ma de 50°C por mais de duas horas a fim de que ocorresse a desinfecção biológica completa.

De acordo com dados obtidos an-teriormente, já se sabia que, para que a água ficasse 100% livre de micro-organismos, ela deveria ser aquecida até pelo menos 50ºC por pelo menos duas horas. Para isso, Karoline teve que desenvolver uma série de cálculos e simulações matemáticas para deter-minar qual o fluxo de água e a vazão que atenderia essas condições e, dessa forma, definir a velocidade de filtração da água. Ela também precisou pensar em como tratar a água já utilizada an-tes dela retornar ao córrego de onde foi retirada. Além disso, ela precisou determinar qual a concavidade ideal do concentrador solar para que a gar-rafa recebesse a maior quantidade de irradiação solar possível.

Essa nova fase iniciada por Karoline marca uma preocupação maior com a

aplicação da tecnologia. Por isso, os cálculos para dimensionamento da es-tação de tratamento foram idealizados para suprir as necessidades de uma comunidade rural de dez famílias com até cinco membros, com consumo in-dividual de 47 litros de água ao dia, 55 litros por dia para os animais e outros 309 para uma horta comunitária.

Todos os aspectos matemáti-cos foram orientados pelo professor Guilherme Marques, que explica que muitos dos conceitos empregados já existiam na literatura da área e que ti-veram apenas que ser adaptados para esse caso específico. De posse dos resultados, foi possível construir uma primeira versão do sistema e realizar os testes iniciais.

O protótipo foi composto por quatro garrafas PET unidas umas às outras: o fundo de uma tinha um furo, que foi conectado à tampa de outra, também com um pequeno orifício, por onde passaria a água. Essas garrafas ficavam sobre o coletador de madei-ra, coberto de chapas metálicas. Um tanque d’água simulou o córrego que alimentaria o sistema.

O protótipo foi testado durante os meses de maio e junho do ano pas-sado no campo de futebol do campus I do Cefet, período em que ocorre a transição do outono para o inverno. O objetivo era analisar qual o risco de que o sistema fosse prejudicado pela ocorrência de dias nublados. “Os re-sultados que tivemos, mesmo nessa

época, foram muito positivos. Vimos que seria possível a sua utilização mes-mo em dias mais frios”, afirma Mar-ques. Chegou-se à conclusão de que, para garantir a total descontaminação da água, ela deveria ser mantida por cerca de seis horas nas garrafas. Para assegurar a qualidade da água devol-vida ao curso d’água após o uso, foi incluído um tanque de macrófitas, plantas aquáticas que auxiliariam o processo de purificação da água atra-vés do consumo de material orgânico utilizado por bactérias.

O projeto ainda não foi aplicado em nenhuma comunidade, mas Karoline e seus orientadores acreditam que ele po-derá ser utilizado em breve. “Os testes que fizemos ainda são em escala labo-ratorial, precisamos realizar outros em escala-piloto. Para isso, precisamos de mais investimentos”, explica. Mas, pelas estimativas preliminares, já foi possível determinar que, para uma pequena co-munidade com cerca de 500 pessoas, se-riam necessárias 144 garrafas e o custo total da implantação do sistema seria em torno de R$ 10 mil reais.

A confecção da estação seria feita pelos próprios moradores, que apren-deriam a técnica por meio de cursos promovidos pelos responsáveis pelo estudo. Elas também receberiam lições de educação ambiental e de hábitos de higiene. “O sistema está apto para o uso, mas ainda há muitas possibilidades de aprimorá-lo. Ideias não faltam”, diz Mar-ques. Sobre o futuro do projeto, adianta

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Fotos: Marcelo Focado

Maquete mostra o funcionamentoda tubulação construída com garrafas PET.

Um concentrador solar feito de madeira e chapas refletoras potencializa a ação dos raios solares que irão descontaminar a água

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que, em breve, um novo bolsista dará continuidade ao projeto do ponto em que parou Karoline, que concluiu em 2009 o segundo grau pelo Cefet-MG.

Futura cientista O impacto da experiência de gerar

um produto com finalidade social por meio da pesquisa foi tamanho que Ka-roline nem pensa antes de dizer a car-reira que deseja seguir: a científica. Seu plano é continuar ligada à área de edi-ficações, cursando a graduação em En-genharia Civil, curso para o qual pres-tará vestibular no final do ano para a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e para o Cefet. “Não tenho preferências, mas gostaria de voltar para o Cefet e, se possível, continuar envolvida com a pesquisa”, revela.

O projeto foi fundamental para sua opção pela ciência, e em especial pela área de exatas, mas a vocação já vinha de muito antes - de casa, mais precisamente. Sua mãe é professora de matemática e sempre lhe incen-tivou a estudar. A oportunidade de aliar estudo, prática e responsabilida-de social veio com a oferta da bolsa

Desireé Antônio

do Programa Institucional Bolsa de Iniciação Científica Júnior (PIBIC Jr.) da FAPEMIG. No Cefet, vários editais de pesquisas são lançados, e os alunos escolhem de quais gostariam de parti-cipar. São oferecidas anualmente 180 bolsas da modalidade, voltada para os estudantes do Ensino Médio, que mantêm atividades de pesquisa com a carga horária de 20 horas semanais. A bolsa tem valor de R$ 100 e duração de 12 meses. “Isso dá aos estudantes a oportunidade de se envolver com algo com que se identifiquem de fato”, diz Andréa Guimarães.

E envolvimento é algo crucial para o sucesso da pesquisa, como apren-deu Karoline. Seus orientadores faziam questão de reuniões de acompanha-mento semanais e que cada ação fosse registrada no “diário de bordo”, um ca-derno com todos os materiais, discus-sões e referências utilizadas no proje-to. “Ficamos extremamente satisfeitos com o desempenho dela e com seu comprometimento. É muito importante esse contato entre professores e alunos porque nenhum dos dois faz nada sozi-nho”, avalia Guilherme Marques.

Durante o ano em que este-ve à frente do projeto, Karoline participou de uma verdadeira maratona de feiras e eventos para expô-lo. Saiu de muitos com um prêmio em mãos. Foram 15 premiações, nacionais e interna-cionais. Um deles foi o Prêmio Google, no qual a estudante re-cebeu o primeiro lugar e o valor de US$ 10 mil, além de ter tido a chance de conhecer os Estados Unidos. Karoline revela que usará o dinheiro do prêmio para apri-morar seu inglês. “Eles disseram que deveria gastá-lo com algo que aumentasse meu conhecimento de alguma forma, e o curso será algo muito bom”.

Confira as principais premiações:

• 1° lugar na categoria Engenha-ria e suas aplicações e Prêmio Sustentabilidade Ambiental na XXI META (Mostra específica de Trabalhos e Aplicações) do Cefet –MG 2009

• 1º Lugar em Engenharia (Cate-goria Projetos Individuais) e 3º Lugar em Destaque Rigor Cientí-fico, na Febrace 2010;

• Prêmio Estudantil para Excelên-cia em Geociências da Association for Women Geoscientists e Student Awards for Geoscience Excellence;

• 3º lugar na Categoria Engenharia Ambiental na Intel ISEF (Interna-cional Science and Engineering Fair), em 2010

• Prêmio especial “National Colle-giate Inventors and Innovators Alli-ance / The Lemelson Foundation” ;

• Menção honrosa do “Internation-al Council on Systems Engineering – INCOSE”

• Prêmio Google.

Maratona de prêmios

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Fotos: Marcelo Focado

Karoline Lopes entre seus professores Andréa Guimarães e Guilherme Marques: os vários prêmios recebidos são reconhecimento ao esforço da equipe e à qualidade do trabalho.

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Segurança Pública

Agentesda

cidadaniaProjeto cria Observatório de Segurança Pública e transforma categoria de agentes prisionais em objeto de pesquisa

Aos 74 anos, Salvador Tomé da Silva, ou simplesmente “Seu Salvador”, como é conhecido, tornou-se exemplo de servidor público. Foram 47 anos de prestação de serviços no sistema prisional em Minas Gerais. O saldo: muitas histórias, homenagens e uma família de agentes penitenciários. Além dele, já aposentado, a mulher, seis dos oito filhos e dois dos 14 netos atuam no sistema. O trabalho como agente começou em 1956, mas, muito antes disso, aos cinco anos de idade, Seu Salvador já frequentava a então Penitenciária Agrícola de Neves (hoje José Maria Alckmin) para participar das festas e sessões de cinema abertas à comunidade.

O aposentado implantou e atuou nos Serviços de Saúde e Radiologia das penitenciárias José Maria Alckmin e Nelson Hungria. Aposentou-se oficialmente em 1988, mas continuou na ativa até 2006, quando completou 70 anos e teve de se afastar. Para ele, o saudosismo é natural, já que a convivência com os internos sempre foi muito amigável e, na penitenciária, eram comuns as atrações culturais abertas à população. “A penitenciária sempre foi muito boa para se trabalhar. Com 47 anos de trabalho, não tem como não sentir falta do que eu fazia. Principalmente, porque eu nunca tive problemas com isso. Criei toda a minha família em torno da penitenciária”, afirma.

A história de Seu Salvador e sua mulher foi um dos destaques do documentário “Sobre a gente”, lançado em junho deste ano. Com 1h15 de duração, o filme é composto por entrevistas com agentes penitenciários e socioeducativos (que trabalham com menores infratores) de Minas Gerais, revelando a realidade desses profissionais, suas alegrias, expectativas e mazelas. O documentário faz parte do projeto “Batendo a Tranca”, desenvolvido por professores e alunos do curso de Gestão em Segurança Pública do Centro Universitário de Belo Horizonte (UNI-BH), com apoio da FAPEMIG.

Segundo a coordenadora do projeto, Sheila Venâncio, que também coordena o curso no UNI-BH, o “Batendo a Tranca” teve o objetivo de valorizar a categoria dos agentes penitenciários e socioeducativos, transformando-a em objeto de pesquisa. Além do filme, o projeto incluiu uma série de pesquisas desenvolvidas por alunos do curso; um relatório sobre as tendências do sistema prisional brasileiro, gerado pela consultoria dos especialistas Luiz Flávio Sapori e Julita Lemgruber; e um livro sobre o projeto, que tem previsão de lançamento para março de 2011.

Para Venâncio, o documentário “Sobre a gente” foi a obra-prima do projeto. “Nunca se produziu e nunca se pesquisou sobre o agente penitenciário e socioeducativo no país. Eles são olhados como os vilões do sistema e

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Ariadne Lima

nós quisemos mostrar como essas pessoas trabalham, quais são seus dilemas, suas dificuldades e o quanto elas necessitam de atenção e qualificação. No Brasil, se pesquisa sobre o preso, sobre as prisões, mas pouca atenção se dá aos agentes. E isso é fundamental porque eles são as pessoas que têm contato mais direto com os presos e podem ressocializá-los ou não”, diz.

Segundo o diretor do filme, Guilherme Penido, o material filmado foi tão rico e extenso que o que estava previsto para ser um curta acabou se transformando em um longa-metragem. “Tínhamos 60 horas de material para transformarmos em uma”, conta. Foram quatro profissionais envolvidos, duas semanas e meia de filmagens, seis unidades prisionais visitadas, além do Comando de Operações Especiais, e 22 entrevistas selecionadas. “O resultado superou as expectativas, ficou muito bom. Além disso, foi um aprendizado de vida entrar em contato com pessoas que cuidam de uma parcela da sociedade com a qual ninguém se importa, pessoas que têm uma história de vida bacana e acreditam realmente na reinserção dos presos”, diz Penido. O filme está passando por uma reedição, com pequenos ajustes, e a proposta agora é inscrevê-lo em mostras de cinema e divulgá-lo para a imprensa.

Além do documentário, o “Batendo a Tranca” englobou pequenos projetos, desenvolvidos por alunos do curso de Gestão em Segurança Pública. Um deles propõe a elaboração de um estatuto para elencar direitos e deveres do servidor prisional. “Percebemos que precisávamos trabalhar em um documento que apresentasse direitos e deveres desses servidores. É uma categoria que trabalha sob tensão o tempo todo, sujeita à corrupção e a doenças ocupacionais, e que vive pressões para o cumprimento de metas. A ideia do estatuto é que ele possa definir limites. Isso valoriza a categoria e a fortalece”, afirma Venâncio. Segundo a coordenadora, o próximo passo será elaborar o estatuto como trabalho acadêmico e submetê-lo à avaliação da Assembleia Legislativa, a fim de verificar a possibilidade de transformá-lo em lei.

Para Venâncio, os projetos desenvolvidos com apoio da FAPEMIG terão papel importante no desenvolvimento do sistema prisional no Estado. “Vamos, inclusive, propor outros projetos relacionados ao sistema prisional, que, em ultima instância, venham fortalecer a categoria. Isso é inédito em Minas Gerais. Nunca se pensou no agente. Nos últimos anos, recebemos muita infraestrutura: viaturas, armamentos, construção de unidades. Agora é hora de investir no material humano. Precisamos investir no conhecimento desses operadores da segurança pública para ver como eles podem efetivamente ressocializar os presos e gerirem as unidades prisionais, de forma que não haja fugas e rebeliões”, diz.

Observando de pertoTambém sob coordenação da

professora Sheila Venâncio e apoiado pela FAPEMIG, foi criado no Centro Universitário o “Observatório de Segurança Pública”, que acaba de entrar em funcionamento e lançará um site em breve. Trata-se de um laboratório, composto por três ambientes, com o objetivo de ser um espaço para que os alunos interajam com a comunidade, pesquisem e divulguem o curso e seus projetos, bem como publiquem reportagens relacionadas à segurança pública. De acordo com Venâncio, a proposta central do Observatório é trabalhar a interdisciplinaridade e a conexão da segurança pública com outras áreas do conhecimento, realizando intervenções no meio social com campanhas educativas e de prevenção à criminalidade.

O projeto piloto, fruto de uma parceria com o curso de Pedagogia, vai intervir na Escola Municipal Onorinda de Barros, localizada no conjunto IAPI, em Belo Horizonte, onde será lançada uma cartilha de prevenção à criminalidade e ao uso de drogas, abordando o Estatuto da Criança e do Adolescente. “Queremos criar um resgate de cidadania, mostrando a essas crianças que elas, ao mesmo tempo, têm direitos e deveres nas suas mais diversas áreas de convivência: na comunidade, na escola, com os pais. Queremos trabalhar uma série de temas com o objetivo de mostrar a elas o quanto suas atitudes contribuem para uma sociedade ordeira, de boa convivência e redução da criminalidade”, adianta a professora. A ideia é que, posteriormente, outros cursos como Jornalismo, Produção de Multimídia, Letras, Eventos e Gestão de Recursos Humanos sejam incorporados à parceria.

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Energia

Consumosob controle

Equipamento possibilita monitorar gastos de aparelhos e ambientes em tempo real via web

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A descoberta das formas de utilização da eletricidade pelo homem pode, quase literalmente, ser comparada à descoberta do fogo. Das experiências incipientes do filósofo grego Tales de Mileto com a eletricidade à sistematização do seu emprego como fonte de alimentação de geradores e máquinas, a energia elétrica percorreu um longo e revolucionário caminho. Hoje, é item imprescindível para as atividades humanas, desde o uso residencial, responsável pelo consumo de 20% da energia no Estado de Minas Gerais, à utilização na indústria, que responde por cerca de 60%, passando pelo comércio e outros setores. Conseguir otimizar sua utilização representa, então, vantagens econômicas, além de ser um pressuposto para a melhoria de aspectos ambientais do planeta.

Partiu de um grupo de pes-quisadores mineiros uma proposta capaz de contribuir para o controle direto dos gastos de energia elétrica em residências, instituições e empresas. Eles desenvolveram um equipamento que indica, em tempo real, o consumo de energia de cada aparelho ou ambiente. O Centro de Monitoramento de Usos Finais (CMUF) é resultado de uma parceria entre a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), responsável pelo desenvolvimento do hardware e software da plataforma; o Centro Federal de Educação Tecnológica (Cefet MG), que trabalhou nas ferramentas de análise dos dados e de avaliação dos potencias de eficientização de energia; e a Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig) que definiu as melhores formas de apresentação dos resultados aos usuários, bem como as edificações a serem monitoradas nos testes.

Precisão e baixo custoO equipamento permite medir o

gasto de energia de forma distribuída, tanto por setores (andares e salas) quanto por aparelho ou conjuntos deles. Os dados são disponibilizados ao usuário em tempo real, via internet. O CMUF possibilita análises detalhadas, como a verificação imediata da carga que esteja consumindo mais energia

a cada momento, o impacto na conta de energia de cada aparelho ou área monitorada, entre outras. De acordo com um dos coordenadores da pesquisa, o professor do Departamento de Engenharia Eletrônica da UFMG, Fábio Jota, uma das questões que a nova tecnologia mais evidencia é onde e em que horários se concentra o maior gasto de energia. “Normalmente, os dados obtidos derrubam crenças”, diz. “Temos observado que o desperdício ocorre onde menos esperávamos e a medição é única forma de comprovar e quantificar isso”, completa.

O pesquisador explica que eles subdividiram as cargas por classes, atentando para as que mais consomem

energia, a fim de criar condições de fazer um “Pareto”, ou seja, identificar os 20% das cargas que consomem 80% da energia total. Assim, é possível verificar aquelas que mais provocam impacto na redução. Os resultados variam em cada edificação monitorada, mas ele cita o exemplo da sede do Departamento de Estradas de Rodagem (DER-MG) – parceiro na implantação dos medidores pilotos –, onde se constatou que o ar condicionado representa 70% da conta de energia.

Segundo Jota, a plataforma foi concebida para criar um sistema de medição e atuação de baixo custo. Em uma residência, por exemplo, os sensores são instalados na caixa de distribuição de energia elétrica, as

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Foto: Marcelo Focado

Foto: Marcelo Focado

Fábio Jota (direita), professor da UFMG, e equipe que trabalhou no desenvolvimento do CMUF.

O circuito permite o monitoramento do consumode energia elétrica e fornece dados para identificar desperdícios.

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unidades de medição são conectadas entre si por meio de uma rede de comunicação de dados e interligadas a um servidor de web, que envia as informações ao banco do CMUF na UFMG 24h por dia. “Utilizando um navegador convencional, os usuários cadastrados acessam as páginas do Centro de Monitoramento e podem visualizar por meio de gráficos o seu consumo, analisando seus dados de diversas maneiras”, conta. Além disso, é possível acionar recursos como ligar ou desligar cargas remotamente, via aparelho celular ou internet.

A viabilidade técnica e financeira do CMUF é um elemento importante tendo em vista o objetivo do grupo de atender às necessidades de redução de desperdício de energia em qualquer edificação, seja comercial, industrial ou residencial. “Por ser de baixo custo, acreditamos que possa, e até deva, ser usado inclusive em residências de baixo poder aquisitivo”, diz Jota. Inicialmente a instalação foi feita apenas em escritórios, escolas e hospitais porque os pesquisadores precisavam demonstrar como a energia é usada em setores de maior consumo e alta diversificação.

Edificação pioneira na utilização dos equipamentos de teste, a sede do DER, em Belo Horizonte, apresenta dados que comprovam a eficiência do CMUF. Segundo o engenheiro eletricista da instituição, Fernando Gomes Batista, que acompanha o projeto desde a instalação no local, em 2005, além de apontar questões técnicas, ajudando a perceber e localizar falhas no uso de energia, o monitoramento ajudou a conscientizar as pessoas sobre a necessidade de economia. Entre outras vantagens, ele cita a possibilidade de localizar perdas, identificar equipamentos ligados fora do horário de expediente, detectar equipamentos que estavam apresentando falhas ou gastando mais. No DER, eles descobriram, por exemplo, que alguns modelos de ar condicionado consumiam energia mesmo desligados e já estão sendo adotadas medidas para solucionar o caso.

Com o monitoramento e outras medidas adotadas, relacionadas à mudança de contrato, entre outras, o

DER conseguiu, nos últimos cinco anos, reduzir em 45% os gastos com energia elétrica. Isso representou uma economia de cerca de R$1,5 milhão. “Deste percentual, 20% corresponde ao que conseguimos economizar no consumo mesmo, graças ao monitoramento e conscientização”, constata Batista. O órgão se destaca como um dos que mais conseguiram cumprir as metas do Programa de Gestão Energética Estadual e o engenheiro eletricista considera que o apoio da UFMG, Cefet e Cemig foi substancial para o alcance desses números.

Da faísca à luzO projeto tem um longo histórico e,

em um trabalho multidisciplinar, já envolveu dezenas de alunos de nível técnico, da graduação e da pós-graduação (mestrado e doutorado), além de profissionais das instituições onde estão sendo feitas as medições, sob coordenação de Fábio Jota, da professora do Cefet, Patrícia Romeiro e do engenheiro da Cemig, Eduardo Carvalhaes, hoje aposentado. Jota conta que a ideia começou a se delinear a partir da constatação de que não existia, no mercado nacional ou internacional, equipamento versátil e barato para aplicações em medições distribuídas nas edificações. Diante desta demanda, visualizou-se a possibilidade de desenvolver, com base nas ideias dos sistemas de controle distribuído implementados em sua tese de doutorado defendida em 1987, uma

plataforma de sistema de baixo custo para monitoramento e controle do consumo de energia elétrica.

Aprovado pela Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), em 2002, o projeto teve sua implementação em 2004. Nesse intervalo de tempo foram concebidos todos os elementos da plataforma. Assim, logo que os recursos foram liberados, iniciaram-se as montagens que resultaram no CMUF. Em agosto de 2005, os pesquisadores fizeram a primeira instalação fora dos laboratórios da UFMG e do Cefet, no prédio do DER. Instalações em outras 13 edificações foram se sucedendo e hoje a equipe conta com mais de 400 milhões de medidas acumuladas no banco

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Erro comum: a utilização de várias conexões emum mesmo ponto contribui para o aumento do consumo de energia elétrica.

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Palavra-chave

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de dados do CMUF, abrangendo grandezas elétricas e ambientais.

Os coordenadores já entraram com pedido de patente nacional e internacional e trabalham pela produção do equipamento em escala comercial. “Este tipo de projeto tem um grande impacto no cenário nacional, já que coloca o Brasil no mesmo patamar dos países desenvolvidos na proposição de equipamentos que suportam a implantação do chamado smart grid ou redes inteligentes”, avalia Patrícia Romeiro. Com a participação do Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) e da Inova, incubadora de empresas da UFMG, foi feito um estudo de viabilidade técnica e financeira do produto e também um modelo de negócios. “A proposta de incubação de uma empresa na Inova apresentada pelo CMUF foi aprovada em primeiro lugar. Em breve, teremos uma como atender as demandas em escala comercial”, adianta Jota.

O grupo também prossegue com os estudos visando desenvolver e implantar uma versão para monitoramento e controle de câmaras de refrigeração em hemocentros, a ser instalada no Hemominas, em Belo Horizonte. Além disso, está sendo proposto o desenvolvimento de um “cabeça-de-série”– teste em laboratório, anterior ao preparo para produção industrial – da plataforma CMUF com apoio técnico e financeiro da própria Cemig e da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel).

Virgínia Fonseca

AS FAPs E O SISTEMANACIONAL DE C,T&I

Mario Neto Borges*

As Fundações Estaduais de Amparo à Pesquisa (FAPs) têm a missão de fomentar a ciência, a tecno-logia e a inovação em seus estados de origem. São órgãos ligados ao governo estadual, com orçamento definido em constituição. Em 2009, a soma desses orçamentos resultou em um valor maior que o or-çamento do Conselho Nacional de Desenvolvimen-to Científico e Tecnológico (CNPq) para o mesmo período. Isso demonstra a força e a importância destas Fundações para o setor científico brasileiro.

As modalidades de apoio variam de estado para estado, mas podemos dizer que as FAPs atuam em

quatro eixos principais. O primeiro é o da pesquisa, ou seja, o financiamento de projetos em todas as áreas do conhecimento. O segundo é o da for-mação de pesquisadores, que é feita por meio da concessão de bolsas em todos os níveis de formação. O terceiro é o da inovação, que vem sendo incentivada por meio de programas e editais que associam pesquisadores e empresas. O quarto é o da divulgação, que significa levar para a sociedade em geral os resultados alcançados por esses trabalhos. Em outras palavras, as FAPs desempenham em cada estado um papel triplo equivalente ao da Capes, do CNPq e da Finep juntos.

Elas se reúnem no Conselho Nacional das Fundações Estaduais de Am-paro à Pesquisa (Confap). O Confap é um conselho novo, com apenas quatro anos de existência, mas que já avançou em muitos aspectos. Entre eles, po-demos destacar o fortalecimento da articulação entre as 23 FAPs hoje exis-tentes no Brasil e a inserção do Conselho nos órgãos e entidades de Ciência, Tecnologia e Inovação (CT&I) nacionais. Entre os exemplos concretos dessa articulação estão as redes nacionais de pesquisa. Em 2009, foram lançados, em parceria com o CNPq e o Ministério da Saúde, editais para duas redes de pesquisa, uma sobre malária e outra sobre dengue, com a adesão de sete e 15 Fundações, respectivamente.

As FAPs em particular e o Confap no geral têm investido em diversas áreas estratégicas. Podemos destacar algumas cujas pesquisas têm apresen-tado uma expressiva produção científica nacional e internacional e que têm se transformado em avanços do setor empresarial como energias renováveis, biotecnologia, saúde e engenharias especialmente aquelas relacionadas com o potencial dos recursos naturais do Brasil.

Também existem algumas bandeiras defendidas pelo Conselho. A primeira é a consolidação do Sistema Nacional de C,T&I aperfeiçoando e fortalecendo as relações entre as diversas FAPs e entre estas e as agências federais de ciência, tecnologia e inovação. A segunda é estabelecer uma proposta de po-lítica que considere este trinômio C,T&I como uma política de estado. Dessa forma, e como terceiro aspecto, assegurar mais recursos e um arcabouço legal e de controle moderno e adequado a estas atividades que são essenciais para assegurar o desenvolvimento sustentado e a competitividade do país no cenário mundial.

Ao realizar investimentos em ciência, tecnologia e inovação, as Fundações contribuem para a diminuição da dependência tecnológica, para o fortaleci-mento da economia e a melhoria da qualidade de vida da população. Com isso, promove o desenvolvimento dos estados e do país. Os investimentos maciços e perenes em educação, ciência, tecnologia e inovação são capazes de gerar riqueza e oportunidades para as nações. Assim, é importante que a sociedade, os dirigentes e os políticos valorizem cada vez mais o trabalho que as FAPs têm a cumprir neste contexto.

*Presidente da FAPEMIG e do Confap

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Bioinformática

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Excelênciaem biotecnologiaMinas Gerais inaugura primeiro centro de bioinformática do país; local dará bases para o desenvolvimento da indústria de biotecnologia no Estado

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Minas Gerais deu um passo impor-tante para a produção científica minei-ra e também nacional com a inaugura-ção, em junho deste ano, do Centro de Excelência em Bioinformática (CEBio), local dedicado à produção, análise e armazenamento de informações bio-lógicas por meio do uso de computa-dores de alta performance. O Centro, fruto de uma parceria entre a Secre-taria de Estado de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior de Minas Gerais (Sectes-MG), a Fundação de Amparo à Pesquisa de Minas Gerais (FAPEMIG) e o Centro de Pesquisas René Rachou, unidade da Fiocruz em Minas Gerais, é o primeiro centro de excelência em bioinformática do Estado e do Brasil.

Localizado no terceiro andar de um prédio da rua Araguari, no bairro Barro Preto, região centro-sul de Belo Horizonte, o Centro tem como ponto principal de seu trabalho o sequen-ciamento do genoma de organismos com possíveis aplicações nas áreas de saúde, biotecnologia e agropecuá-ria. O sequenciamento genômico, que consiste no desvendamento do código genético dos seres vivos, é a base para uma série de processos. Ele permite desde o melhoramento genético de espécies, visando seu fortalecimento, até a descoberta de partes do geno-ma que podem ser responsáveis por determinada doença, o que auxilia na busca por formas mais adequadas de diagnóstico e tratamento.

O trabalho executado pelo CEBio consiste em receber o material envia-do por universidades e centros de pes-quisas que realizam pesquisa genômica e utilizar a infraestrutura local – as máquinas e o conhecimento dos pro-fissionais - para a análise informatizada dos dados gerados. Um dos principais parceiros no que diz respeito ao envio de informação para processamento é a Rede Genoma de Minas Gerais, cria-da em 2001. A Rede, que reúne sete universidades, a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e o Centro de Pesquisa René Rachou, atua no estudo, produção e interpretação de dados genômicos. “Com o avanço da pesquisa genômica impulsionado por novas tecnologias, o volume de

informação aumentou muito, assim como a demanda para tratamento desses dados”, explica Guilherme Oli-veira, pesquisador do René Rachou e coordenador do CEBio.

Também são firmadas parcerias com empresas privadas, interessadas na utilização da tecnologia disponi-bilizada pelo Centro. São geralmente indústrias da área de biotecnologia ou de outros ramos ligados indireta-mente a ela, como a agroindústria ou organizações de saúde, que buscam comercializar um produto já pronto, quando a fase de desenvolvimento foi concluída. Oliveira ressalta que há empresas, ainda que em menor número, que preferem participar do processo de pesquisa desde estágios iniciais, geralmente através de finan-ciamento, dividindo as responsabilida-des com o Centro.

Nesse aspecto, o coordenador adianta que há vários acordos em an-damento e que tem percebido um inte-resse crescente por parte das empresas. Por isso, nada de esperar que o setor privado venha até o CEBio: o pesquisa-dor acredita que é importante ter uma postura ativa e ir até essas organizações para apresentar a estrutura do Centro e as suas possibilidades. “Uma das coisas que mais tenho feito ultimamente é visi-tar esses colaboradores ou clientes em potencial, tanto organizações isoladas quanto via entidades como a Federação

das Indústrias do Estado de Minas Ge-rais (Fiemg), em função do trabalho dos APLs de Biotecnologia”.

Arranjos Produtivos Locais (APL) são grupos de empresas que atuam em um mesmo segmento ou de setores re-lacionados localizadas em uma mesma região, objetivando o fortalecimento daquelas indústrias. A ideia por trás da iniciativa é possibilitar que a proximi-dade entre as empresas e a exploração das potencialidades do local produza um efeito em cadeia positivo, levando ao surgimento de novas indústrias e à for-mação de mão de obra especializada, ge-rando mais renda e empregos. Em Minas Gerais, são três os APLs de biotecnolo-gia, situados na Região Metropolitana de Belo Horizonte, em Viçosa e na Região do Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba, totalizando cerca de 120 empresas e re-ceitas da ordem de milhões de reais.

Foi observando esse dinamismo do cenário da biotecnologia no Estado, tanto de empresas quanto da pesquisa acadêmica, que Oliveira, em conversas com a Sectes-MG, notou que havia uma disparidade entre o ritmo de cresci-mento do setor e a estrutura para a obtenção de informação genômica, uma importante fonte de inovação. O conhecimento proporcionado pela pesquisa genômica gera bases para o desenvolvimento de novos produtos e soluções, permitindo novas possibilida-des de ganhos comerciais.

Foto: Marcelo Focado

Os computadores de alta performance permitem o tratamento de grandespacotes de dados, como o sequenciamento de partes do código genético de seres vivos.

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O resultado dessas primeiras con-versas, que aconteceram em 2007, foi o lançamento de um edital para a ins-talação de um centro de biotecnologia, que teria a missão de aproximar a in-dústria de biotecnologia da informação genômica. O grupo formado pelo atual coordenador, em parceria com o Cen-tro de Pesquisas René Rachou, venceu a concorrência e o Centro começou a ser instalado em 2008. A obra recebeu R$ 2,5 milhões, investidos pelo Gover-no do Estado na construção do CEBio entre 2008 e 2010.

“Quando foi instalado o Centro, houve grande interesse e apoio por parte do meio acadêmico do Esta-do, que queria trabalhar de modo integrado conosco, como parceiros em seus projetos”, explica Oliveira. Uma das manifestações desse inte-resse é a criação de dez núcleos de bioinformática em vários pontos de Minas, formando um trabalho sin-cronizado e de ajuda mútua entre seus integrantes, que incluem uni-versidades, centros de pesquisa e uma empresa privada. Financiados

pela FAPEMIG, os núcleos estão em fase de instalação.

Mais do que um espaço de auxílio à produção científica, o CEBio se configu-ra, na visão de seu coordenador, como uma instância em que a transferência de tecnologia ocorre de forma mais facilitada. “Temos muita gente compe-tente trabalhando com biotecnologia aqui. O que não temos, com um volume suficiente, é a aquisição dessa tecnolo-gia por parte das empresas. A pesquisa genômica ainda está pouco presente na iniciativa privada”, diz.

Desvendando genomas Um procedimento complexo e até

pouco tempo bastante demorado, o sequenciamento do genoma gera uma imensa quantidade de dados para serem interpretados e armazenados, já que a análise busca definir qual a sequencia das bases presentes nas moléculas de ácido desoxirribonucléico (DNA). Es-sas bases, compostos formados por ni-trogênio associado a outros elementos, existem em quatro tipos: a adenina, a timina, a guanina, a citosina, que se ligam em pares respeitando sempre a seguin-te ordem: a adenina se associa à timina e a citosina à guanina. Cada sequência de ligações específicas e diferentes de bases nitrogenadas dão origem a um gene, responsável por determinar a

produção de uma proteína específica e que, em conjunto, fornecem as caracte-rísticas do ser em que se encontram.

No caso do código genético hu-mano, os esforços para seu desven-damento deu origem a uma grande iniciativa que envolveu cientistas de todo o mundo, inclusive do Brasil. O Projeto Genoma Humano mostrou que o homem possui cerca de 30 mil genes, totalizando bilhões de pares de bases nitrogenadas para análises. É aí que se nota a importância de bioinformática, ramo da informática aplicada à geração e análise de infor-mação biológica. Com o emprego de computadores de alta capacidade e softwares específicos para tal, é pos-sível reduzir o tempo e os custos de leitura dessas bases.

A comparação feita por Guilher-me Oliveira ilustra bem a dimensão do avanço proporcionado pela bioinformá-tica: o mesmo trabalho feito pelo proje-to Genoma Humano, que consumiu de-zenas de milhões de dólares e mais de uma década de estudo, seria feito em poucos meses e com o investimento de pouco mais de cem mil dólares com a tecnologia que hoje dispõe o CEBio. Este custo, segundo o pesquisador, ten-de a cair muito em breve.

A infraestrutura do Centro inclui vários computadores de alta performan-ce, com destaque para um cluster, um aglomerado de máquinas cujos proces-sadores atuam de forma sincronizada. O cluster do local tem a capacidade de processamento equivalente a 250 computadores trabalhando juntos. A

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Fotos: Marcelo Focado

O CEBio se destaca pela infraestrutrua e também pela equipe de profissionais,que conta com programadores, webdesigners e bioanalistas, geralmente biólogos e bioinformatas.

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Desireé Antônio

capacidade de armazenamento chega a 24 terabytes, essenciais para armazenar o volume de dados gerados. Para abri-gar o computador de alta performance, cujo gabinete tem dois metros de al-tura, 1,5 metro de profundidade e um metro de largura, há uma sala especial com climatização e ar refrigerado para evitar seu superaquecimento.

Também há um cuidado especial com a segurança e manutenção dos dados, como a adoção de um sistema de no-break, que permite que haja tem-po para os computadores sejam desli-gados sem que ocorra perda de infor-mação em caso de quedas de energia. Medida parecida é tomada com o backup dos dados, feito regularmente. Todos os equipamentos juntos somam quase duas toneladas e custaram cer-ca de US$2 milhões, de acordo com o coordenador do Centro.

Aliado à estrutura física, há tam-bém o cuidado com a formação dos profissionais que nele atuam. A equipe hoje conta que com programadores, responsáveis pelo desenvolvimento de softwares, webdesigners, que cuidam da interface gráfica para visualização dos dados, e bioanalistas, geralmente bió-logos, e bioinformatas, que possuem uma formação híbrida, mesclando in-formática e biologia. Oliveira conta que, à exceção dos bioinformatas, os demais profissionais não conheciam biologia nem bioinformática, motivo pelo qual foi montado um curso espe-cial contendo noções dos dois assun-tos e seus pontos de contato. Aberta à comunidade, a capacitação, que inclui módulos teóricos e práticos, já foi promovida em duas edições.

Projetos Atualmente, o CEBio dá andamen-

to a 13 projetos nas áreas de saúde e agronegócio. Um dos de maior proje-ção é o sequenciamento de duas raças do gado zebu, a Gir e a Guzerá, com o objetivo de descobrir quais traços genéticos são responsáveis por carac-terísticas como a produtividade do animal e a qualidade do leite.

Iniciado no ano passado e executa-do em parceria com a Embrapa Gado de Leite, Universidade Federal de Minas Gerais, Empresa de Pesquisa Agropecuá-ria de Minas Gerais (Epamig) e dos Polos

de Excelência (Genética Bovina e do Lei-te), o projeto visa ao melhoramento ge-nético das raças, com o objetivo final de gerar animais melhores produtores de leite e carne, além de permitir sua rastre-abilidade genética. O estudo encontra-se na primeira fase, que consiste no sequen-ciamento genético. A ela, se seguirão aná-lises com um grupo maior de animais e, mais tarde, a definição de marcadores ge-néticos, uma espécie de “sinalizador” que permite dizer em que região do DNA estão os genes que determinam certos atributos de um ser vivo.

Outro trabalho em andamento é a caracterização molecular de bactérias, um processo que visa determinar qual micro-organismo está causando uma dada doença e, a partir disso, definir qual soro deverá ser usado para tratá-la. O modo tradicional de fazê-lo é usar um soro que, ao proporcionar a reação entre anticorpos e antígenos, permite dizer de que patógeno se trata. No en-tanto, essa técnica costuma ser demo-rada, o que é um problema quando se trata de uma epidemia, por exemplo.

A proposta do Centro é usar uma abordagem diferente, baseada na aná-lise de parte do genoma das bactérias e compará-lo com os sorotipos já ma-peados através de um programa de computador. A tecnologia poderá dar origem tanto a um software específico para a análise quanto a um kit para a realização dos testes. Os clientes po-tenciais seriam laboratórios que fazem esse tipo de exame.

Ainda entre as iniciativas em an-damento no CEBio, Oliveira cita a prospecção de enzimas de micro-organismos e de substâncias que não são cultiváveis, como a terra ou a água,

por exemplo. O método consiste em extrair o DNA desses microorganis-mos a partir de amostras ambientais a fim de descobrir atividades enzimá-ticas que possam ter alguma aplicação. “Isso alarga muito o nosso horizonte porque 95% dos organismos são não-cultiváveis”, explica. O centro também está dando prosseguimento ao se-quenciamento do Schistosoma mansoni, agente causador da esquistossomose, iniciativa empreendida desde 2001, em parceria com o Centro de Pesquisas René Rachou e com a Rede Mineira de Genoma. Um banco de dados do genoma do organismo está disponível para consulta da comunidade científica em www.schistodb.net.

Já na linha de pesquisas aplicadas ao agronegócio, há o sequenciamento de fungos causadores de ferrugem da soja, do eucalipto e do café e de patógenos que atacam peixes, como a Streptococ-cus sp., que são patógenos de animais e humanos. As pragas são responsáveis por grandes prejuízos para os produto-res do Estado. Em breve, revela o coor-denador, a cartela de projetos poderá ser dobrada. “Apenas neste ano, já sub-metemos mais de 20 projetos a editais de agências de fomento. Estamos aguar-dando os resultados.”

À comunidade acadêmica do Estado e de fora dele, o coordenador avisa que o Centro está aberto às propostas de vários tipos de parceria, desde a utili-zação dos equipamentos até o envolvi-mento mais direito com o estudo, desde seu início. Os interessados em conhecer a estrutura do local podem acessar a pá-gina www.cebio.org.br.

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Guilherme Oliveira, coordenador do CEBio: dinamismo do setor de biotecnologia impulsionou a criação do Centro, que hoje possui vários projetos em desenvolvimento e parcerias com a iniciativa privada.

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Ciência da Informação

Horado Lanche

Software desenvolvido por empresa mineira auxilia

gestão de refeições escolares, permitindo controle mais preciso

e reduzindo desperdício

O desperdício de alimentos é um dos problemas mais graves enfrentados pelo Brasil. De acordo com dados do Instituto Akatu, organização não-governamental que atua na defesa do consumo consciente, cerca de um terço da comida comprada no país é jogada no lixo. A informação, por si só aterradora, torna-se ainda mais grave se a contrastamos com outra: mais de 14 milhões de brasileiros passam fome, segundo o censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), de 2004. Toneladas de alimentos são descartadas diariamente em casas, restaurantes e até escolas, particula-res e públicas, ocasionando prejuízos ao Estado e, indiretamente, a toda a população de contribuintes.

Para tentar reduzir perdas de alimentos utilizados na produção de merendas escolares, a Teknisa, empresa especializada no desenvolvimento de softwares sediada em Belo Horizonte, criou um programa voltado para a gestão de merendas escola-res. Com o nome de SchoolMeals, o software é destinado a prefeituras que desejam administrar melhor a produção e distribuição dos alimentos usados no preparo das refeições dos estudantes e também a empresas do ramo de alimentação escolar. O projeto foi desenvolvido com o apoio da FAPEMIG dentro de seu Programa de Apoio à Pesquisa em Empresas (Pappe), iniciativa que financia projetos de inovação em diferentes áreas.

Segundo Cíntia Rios, diretora de negócios da empresa, cerca de 200 es-colas em Minas Gerais e São Paulo já implantaram o programa. A utilização

da ferramenta possibilita mensurar com mais precisão o consumo mensal de alimentos de cada escola, evitando o desperdício e permitindo o

planejamento de compras. “Devido ao processo de licitação, muitas prefeituras optam por fazer grandes compras. O software oferece

uma estimativa de quanto deve ser adquirido de cada gênero”, explica a agente de negócios da empresa Arabelle Menezes.

BenefíciosO software funciona assim: após seu uso ou alu-guel da licença, ele é instalado na “central de

merendas”, local a partir de onde serão distribuídos os alimentos.

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Lá, são cadastrados to-dos os produtos adquiridos para as merendas e elaborados os cardápios que serão servidos nas es-colas e creches abastecidas. O cadastro é discriminado de acordo com níveis dos pratos – saladas, sopas, pratos principais, sobremesas e sucos – incluídos nas merendas.

O banco de dados que acompanha a versão princi-pal do programa inclui cerca de 4.500 produtos, aos quais podem ser acrescentados outros ou retirados aqueles não utilizados. É possível incluir uma série de dados sobre os itens, como a sua safra, origem da compra e preço. Saber quais são os vendedores tem importância especial para os gestores, já que desde 2009 eles são obrigados a adquirir 30% do total de gêneros alimentícios de agricultores familiares.

Além dos produtos usados no preparo das refeições, há também 1500 receitas. A intenção é contribuir para a padronização das refei-ções oferecidas nas instituições de ensino, mas deixando uma brecha para que o cliente consiga adequar a ferramenta de acordo com suas necessidades, acrescentando ou retirando pratos.

Uma das principais funções do programa é o controle dos estoques de alimentos disponíveis nas escolas e creches. Para isso, um profissional designado por cada um desses locais instala um aplicativo do programa em um notebook, que é conectado ao computador da central de merendas para transferência desses números. O controle também pode ser feito manual-mente, quando as escolas entregam o inventário das quantidades restantes à central de merendas. Dessa forma, a prefeitura consegue saber quais gêneros estão em falta, qual o consumo médio total e per capita e determinar qual deve ser a velocidade da reposição. O SchoolMeals também permite a emissão de relatórios de vários tipos, instrumento importante para as escolas na hora de prestar contas do uso do dinheiro repassado.

Outros dois importantes recursos do software é a possibilidade de se propor refeições de acordo com um limite de gasto por aluno definido pela prefeitura, e com os valores de nutrientes adequados. O nutricionista vai elaborando o cardápio na tela e, quando o valor é ultrapassado, o sistema avisa, destacando os números.

Arabelle Menezes, nutricionista de formação, conta que essa foi uma das principais preocupações da empresa ao desenvolver o software. “Por se tratar de alimentação escolar e pelo fato de que nem sempre as escolas têm uma nutricionista à sua disposição para balancear os car-dápios, achamos que seria importante oferecer essa possibilidade”, revela. Justificando sua preocupação, há inúmeros estudos que re-lacionam a ocorrência da obesidade em crianças e adolescentes a hábitos alimentares, mantidos em casa e na escola. Apesar da orientação de médicos, muitos colégios continuam a vender salgadinhos, doces, refrigerantes e outras guloseimas, que costumam ser os preferidos dos meninos, como mostrou pesquisa feita por professores da Universidade Federal de Juiz de Fora, publicada na edição de julho e setem-bro de 2008 da HU Revista.

Feita com alunos com idade média de dez anos de idade, a pesquisa constatou que cerca de 45% deles comprava os lanches em vez de consumir os oferecidos pela escola. Em

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Desireé Antônio

resposta ao questionário aplicado pelos pesquisadores, as crianças re-conheceram que as refeições eram mais saudáveis do que as que dispo-níveis na lanchonete, mas ainda assim mantinham a compra.

Desenvolvimento Cíntia Rios, diretora de negócios

da Teknisa, conta que o SchoolMe-als começou a ser desenvolvido em 2006, quando notaram que as solu-ções oferecidas pelo mercado para a administração de cozinhas industriais não contemplavam particularidades do setor de alimentação escolar, cujo controle é mais complexo e o volume de informações, muito maior.

A elaboração do programa durou seis meses e começou com um levan-tamento das estratégias de controle de estoque utilizadas por clientes que atuavam no segmento de merendas escolares. Dessa maneira, a equipe investigou que opções poderiam ser contempladas pelo sistema em de-senvolvimento. Houve também alguns ajustes ao longo do processo como a substituição do aplicativo, que deveria ser usado inicialmente em Palm Tops, para outros usados em netbooks, mais adequados para a quantidade de dados gerada pelo trabalho. De acordo com Menezes, o software passa constante-mente por evoluções a fim de que não se torne obsoleto.

Projeto: “Software de merenda escolar”Modalidade: Programa de Apoio à Pesquisa em Empresas (Pappe)Coordenador: Wilson Lima de PaulaValor: R$34.500,00

A agente de negócios destaca que a utilização do programa é simples e demanda pouco tempo de treinamen-to. Já a implantação depende de como a contratante deseja que o procedi-mento aconteça: se a instalação for completa, um profissional vai à cidade e toma todas as providências, inclusive o cadastro dos produtos, levando tem-po um pouco maior.

Merenda escolar: entenda como funciona

O repasse das verbas para a aquisição de merendas escolares é feito pelo governo federal desde de 1954, ano em que foi criado o Programa Nacional de Alimen-tação Escolar (PNAE), direcionado à promoção da ali-mentação de estudantes do ensino público. A iniciativa visa assegurar que a merenda tenha pelo menos 20% dos nutrientes necessários à dieta diária dos alunos, com o objetivo de possibilitar melhor aprendizado e o desenvolvimento de hábitos alimentares mais saudáveis.

Até 2009, o valor repassado por aluno era de R$ 0,22. No fim do ano ele foi reajustado para R$ 0,30 por criança. Creches, escolas indígenas e quilombolas pas-saram a receber R$ 0,60 e colégios de ensino integral, R$ 0,90. Segundo dados do Fundo Nacional de Desen-volvimento de Educação, 47 milhões de estudantes são beneficiados pela medida, somando um investimento de R$ 3 bilhões. Uma parte do gasto com as refeições é

custeada pela União, e o restante fica a cargo dos gover-nos estaduais e municipais.

A verba é repassada diretamente aos estados e mu-nicípios proporcionalmente ao número de alunos do ano anterior. Sua utilização é fiscalizada pela sociedade civil através dos Conselhos de Alimentação Escolares (CAEs), em conjunto com o Fundo Nacional de Desen-volvimento da Educação (FNDE), o Tribunal de Contas da União (TCU), a Secretaria Federal de Controle Inter-no (SFCI) e o Ministério Público.

Inicialmente, o processo era de responsabilidade da administração federal, até que, em 1994, a gestão dos recursos passou a ser feita de forma descentralizada, por estados e municípios. Outra importante alteração apresentada pelo programa aconteceu em 2009, com a Lei n° 11.947, quando o benefício foi estendido também aos alunos das escolas de ensino médio.

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MercadoReaproveitamento

Limalha de ferro, sucata de cobre, areia de canal, grafite granulado. Os itens, que compõem a lista de descar-tes das indústrias siderúrgicas, quem diria, foram parar em obras de arte. Eles serviram de matéria-prima para as obras do artista plástico e professor da Escola de Guignard da Universida-de Estadual de Minas Gerais (UEMG), Eymard Brandão. As telas, montadas sobre portas de madeira em estado bruto, compuseram a exposição “Arte em Resíduos”, instalada nos meses de junho e julho no Centro Mineiro de Referência em Resíduos, da Fundação Estadual do Meio Ambiente (FEAM), e que terá itinerância por Minas Gerais e outros estados.

O trabalho, apoiado pela FAPE-MIG, foi resultado de dois anos de pesquisa, a fim de identificar as melho-res matérias-primas e seus possíveis usos. O artista descobriu, por exem-plo, que é possível pintar com limalha de ferro oxidada. O suporte em porta de madeira, chamado de prancheta no estado bruto, também foi uma inova-ção. “A porta de madeira possui uma estrutura que impede que ela empe-ne. Como lidei com materiais novos, que molham, umedecem, têm ácidos, colas e vernizes, eu precisava de uma material mais resistente”, explica Ey-mard Brandão.

Segundo o artista, “a intenção da exposição, no sentido social, é mostrar que o resíduo é um material extrema-mente rico. A partir do momento em que ele pode ser usado como obra de arte, também poderá ser utilizado na arquitetura, na decoração, na constru-ção civil. Em vez de poluir a natureza, ele retorna para o consumo e é re-

Arte pelomeio ambiente

Ariadne Lima

Projeto: “Arte em resíduos”Modalidade: Demanda EndogovernamentalCoordenador: Demerval Alves LaranjeiraValor: R$80.000,00

aproveitado”. Para o pesquisador, a busca dos novos materiais é uma eta-pa que desperta o interesse para ou-tras pesquisas. “A arte em resíduos é uma tendência contemporânea, como é tendência contemporânea usar os mais diversificados materiais da so-ciedade de consumo e da natureza no sentido ecológico. A arte contemporâ-nea utiliza os mais diversificados tipos de materiais, inclusive aqueles que são gerados pela indústria.”

Os resíduos utilizados na cole-ção foram cedidos pela Mannesmann, onde o artista realizou visitas, a fim de conhecer os processos de geração de resíduos. “A minha intuição, o meu conhecimento e uma série de fatores me levaram a escolher determinados resíduos. Muitos deles contêm em si uma beleza plástica intrínseca”, conta Brandão, que trabalhou apenas com resíduos não-tóxicos. A exposição in-clui amostras dos materiais utilizados e todas as suas caracterizações. “É im-portante para que o público se situe

e saiba como aquele resíduo virou a obra que está exposta”, diz.

O acervo “Arte em Resíduos” se-guirá para exposição em outros luga-res. A Mannesmann é uma das institui-ções que abrigarão temporariamente a coleção, que ainda deve percorrer o interior de Minas. “Temos várias soli-citações. Ainda vamos escolher o pró-ximo local que vai acolher o evento. As peças hoje fazem parte de um pa-trimônio do Estado de Minas Gerais e não serão colocadas à venda. Uma equipe vai analisar as propostas rece-bidas e fazer um cronograma da itine-rância”, explica Brandão.

Resíduos da siderurgia são utilizados para criação de obras de arte

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Foto: Marcelo Focado

O artista plástico e professor da Escola de Guignard, Eymard Brandão.

Foto: Marcelo Focado

As peças produzidas hoje pertencem aoEstado de Minas Gerais, que vai utilizá-las em exposições itinerantes.

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Farmácia

Um dos princípios básicos da Ma-temática é que a ordem dos fatores não altera o resultado da soma ou da multiplicação. Já na Química, a histó-ria é bem diferente. O modo como os compostos se organizam é capaz de determinar as suas propriedades físico-químicas, como o ponto de ebu-lição, de fusão, solubilidade e refração da luz. Isso vale inclusive para substân-cias que tenham exatamente a mesma fórmula molecular, a mesma “receita”.

Essa versatilidade das substâncias químicas está na base de um impor-tante fenômeno chamado polimorfis-mo. A palavra, que vem do grego (poli = vários e morfos = forma), indica a pro-priedade de um composto de existir em duas ou mais formas de arranjos sólidos, graças a modos distintos da conformação de suas moléculas ou

Quando aforma importaPesquisadores investigam como mudança no arranjo de compostos afeta propriedades físico-químicas de fármacos usados no tratamento de doenças degenerativas

átomos em uma rede cristalina, estrutura que se assemelha a uma infinita fila de cubos enfileirados. As quinas desses cubos seriam os átomos ou moléculas, mantidos nessa condição devido às forças de interação entre elas. A existência do polimorfismo foi constatada, em 1788, pelo químico alemão Martin Heinrich Klaproth, considerado por muitos como o pai da química analítica. Ele identificou duas formas cristalinas diferentes do carbonato de cálcio: a calcita e a aragonita.

Como as formas polimórficas diferentes de uma subs-tância têm características diferentes, o polimorfismo desper-ta interesse especial da indústria farmacêutica. Isso porque muitos compostos utilizados como princípio ativo de me-dicamentos podem apresentar variações em seus arranjos cristalinos e, em consequência, ter um comportamento dife-rente do desejado, resultando possivelmente na redução ou mesmo na completa ineficácia de sua ação.

Foi com o objetivo de tentar compreender melhor como surgem e como se comportam as variações polifór-micas que professores do Departamento de Química da Universidade Federal de Alfenas (Unifal) investigaram ma-nifestações das formas polifórmicas cristalinas de medica-mentos utilizados na prevenção e tratamento de doenças crônico-degenerativas, como o Mal de Alzheimer e o Mal de Parkinson. Durante o desenvolvimento da pesquisa, ou-tras enfermidades passaram a ser alvo de estudos, como insuficiência cardíaca, hipertensão arterial, angina crônica, diabetes, Aids e doenças infecciosas.

O projeto foi financiado pela FAPEMIG dentro do Progra-ma Pesquisa para o SUS (PPSUS), iniciativa que busca apoiar estudos e pesquisas voltados para a promoção do desenvolvi-mento tecnológico em saúde, o fortalecimento da gestão e a maior eficiência do Sistema Único de Saúde. Mais do que saber qual a dinâmica das formas polimórficas, a pesquisa teve ainda o propósito de buscar novas variações das formas cristalinas

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desses medicamentos que fossem mais eficazes e propor uma metodologia de rotina para o controle de qualidade dos polimorfos de fármacos. Os resultados já obtidos mostraram que é possível ve-rificar a qualidade de medicamentos e matérias-primas de fármacos por meio de um procedimento relativamente simples, de baixo custo e rápido.

Pesquisa O coordenador do trabalho e pro-

fessor da Unifal, Antônio Carlos Do-riguetto, explica que para executar o projeto, a equipe escolheu um grupo de 13 substâncias, de tipos e complexida-des diferentes. Entre elas estão desde o mebendazol, um conhecido vermífugo usado contra vermes que atacam es-pecialmente o sistema gastrointestinal, até a didanosina, substância usada no combate ao vírus HIV. Todas as amos-tras foram obtidas em indústrias farma-cêuticas ou laboratórios.

O trabalho teve início em 2006 e foi concluído dois anos depois. No começo das análises para verificar a qualidade de medicamentos, a pes-quisa estava centrada no estudo do mebendazol, que possui três formas polimórficas conhecidas, sendo apenas uma terapeuticamente ativa. A próxi-ma substância analisada foi a clortali-dona, um diurético receitado em casos de hipertensão, passando pela ticlopi-dina, indicada para o tratamento de tromboses por inibir a agregação de plaquetas que impedem o fluxo san-guíneo, e a bromocriptina, usada para aliviar sintomas do Mal de Parkinson.

A pesquisa seguiu por duas linhas: a procura por um método para detec-tar as formas polimórficas e a busca de sua “fabricação”. Ambas foram de-senvolvidas ao mesmo tempo, o que possibilitou aos pesquisadores uma vi-são mais complexa do fenômeno. Para a determinação das formas polimórfi-cas foram utilizadas técnicas de difra-ção de raios X, análises microscópicas e térmicas e espectroscopia, ou seja, a análise dos processos de absorção, transmissão e difração da luz através dos corpos. Uma vez determinadas, a equipe tentou produzi-las em labora-tório a partir de técnicas como subli-

mação (passagem do estado sólido di-retamente ao líquido), recristalização a partir da evaporação de solventes, difusão de vapor, tratamento térmico, cristalização a partir do estado líquido, mudança da acidez de soluções, moa-gem e pulverização a seco.

Segundo Doriguetto, o principal de-safio no estudo de compostos polimór-ficos é a instabilidade dessas formas. “Fa-tores como a variação de temperatura, pressão e acidez do meio podem favo-recer a passagem de uma forma crista-lina a outra, alterando as propriedades físico-químicas. Ao obter informações sobre os mecanismos de mudança das formas, é possível entender em que con-dições são obtidos os polimorfos a fim de produzi-los em laboratório, buscando variações mais estáveis e potenciais apli-cações específicas”, justifica.

Banco de dados Segundo Doriguetto, a novidade do

estudo é investigar se essas técnicas são adequadas para a análise dos polimor-fos tanto nos insumos farmacêuticos como no medicamento, uma vez que elas já são utilizadas para o mesmo fim com compostos de outras naturezas. O resultado foi positivo. O pesquisa-dor conta que foi possível comprovar a eficácia do método e também produzir, em laboratório, outras formas de com-postos como o mebendazol, a clortali-dona e a ticlopidina.

“Conhecer o comportamento e a melhor forma de produção das va-riações dos polimorfos nos possibi-lita manipular as fórmulas conforme nosso objetivo. Isso pode resultar em medicamentos que cumpram melhor seu propósito e, eventualmente, apre-sentem custos mais baixos, se pro-duzidos em grande escala”, avalia. O conhecimento gerado pela pesquisa está sendo armazenado em um ban-co de dados que conterá informações sobre as propriedades dos polimorfos de fármacos. Por ora, a base de dados é alimentada e utilizada apenas pelos

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Foto: Arquivo Pessoal

Antônio Carlos Doriguetto, professor da Unifal (a direita),e equipe que participou do desenvolvimento do projeto.

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pesquisadores da Unifal. “É possível que, no futuro, ele seja disponibilizado comercialmente para outros pesquisa-dores ou laboratórios”, projeta.

Os resultados para determinação de polimorfos podem ser emprega-dos, ainda, no controle de qualidade dos fármacos, principalmente aqueles relacionados à bioequivalência e à bio-disponibilidade. Durante a pesquisa, a equipe encontrou formas cristalinas inadequadas de medicamentos utiliza-dos em doenças crônico-degenerati-vas. No entanto, para fazer afirmações mais incisivas sobre a necessidade de uma regulamentação mais rigorosa por parte da Anvisa ou sobre o estado dos remédios comercializados, seriam

conta que os exames da qualidade de sua matéria-prima apresentaram dados preocupantes quanto à forma polimórfica encontrada e, consequen-temente, sua eficácia. Por isso, está nos seus planos comunicar tais resultados aos órgãos fiscalizadores. A pesquisa com a clortadilona também resultou em artigo, que foi publicado no peri-ódico Crystal Growth & Design. Recen-temente foram publicados outros três artigos de novas formas polimórficas de substâncias usadas no combate ao vírus HIV: lamivudina e didanosina. Outros dois textos deverão ser vei-culados em publicações especializadas, um sobre o fluconazol, um fungicida, e outro sobre a mistura de uma das for-mas cristalinas do mebendazol com a nimesulida, um anti-inflamatório.

Outros três projetos com o tema polimorfismo em fármacos foram de-senvolvidos com o apoio da FAPEMIG, dois deles coordenados por Doriguet-to: “Estudos do comportamento tér-mico de materiais e moléculas orgâni-cas e inorgânicas”, aprovado no edital de apoio a Grupos Emergentes, e “Só-lidos farmacêuticos: caracterização es-trutural e polimorfismo”, aprovado no edital Universal. O terceiro, aprovado no programa de infraestrutura para Jovens Pesquisadores, é coordenado por Person Pereira Neves, membro da equipe. “Esses projetos têm possi-bilitado a continuidade das pesquisas nesse fascinante tema”, diz. Por ora, o professor já sabe que o projeto deve-rá se estender com novas substâncias nos próximos anos. “Os esforços para o estudo de fármacos podem propor-cionar uma série de benefícios, como medicamentos mais eficientes, a custos mais baixos, além de enriquecer nossa produção científica e formar recursos humanos na área”, conclui.

necessários testes com vários lotes do produto, como um controle de quali-dade, o que ainda não é feito.

A sugestão do pesquisador é que os laboratórios analisem os lotes o mais próximo possível da data de co-mercialização, pois os compostos em-pregados nos medicamentos podem sofrer transformações depois de já estocados e prestes a serem consumi-dos. “Isso evitaria transtornos para o consumidor”.

O projeto resultou, ainda, na publi-cação de um artigo em periódico cien-tífico sobre o trabalho com o meben-dazol, em que foi possível manipular as formas cristalinas no laboratório. No caso desse vermífugo, o pesquisador

Projeto: “Estudo de polimorfismo em fármacos para o controle de doenças crônico-degenerativas”Modalidade: Programa de Pesquisa para o SUS (PPSUS)Coordenador: Antônio Carlos DoriguettoValor: R$ 51.534,47

Desireé Antônio

Foto: Gláucia Rodrigues

A equipe investigou como surgem e como se comportam as variações polimórficas de alguns compostos utilizados em medicamentos. Os resultados podem ajudar no controle de qualidade dos fármacos.

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MercadoEspecial

Fundo de capital semente realiza primeiro investimento

O Fundo de Investimento em Empresas Emergentes Inovadoras (HorizonTI) foi o primeiro fundo de capital semente de Minas Gerais a aportar recursos a uma empresa de seu ramo de atuação. O investimen-to, anunciado em junho, foi em favor da e-Prime Care - Gestão de Cui-dados S/A, que atua no desenvolvi-mento de softwares para operadoras de planos de saúde, a fim de otimizar custos assistenciais da carteira de clientes, reduzir custos operacionais e melhorar a qualidade da assistência prestada, melhorando também os in-dicadores de saúde da população.

O HorizonTI, gerido pela Con-frapar, tem patrimônio aproximado de R$ 20 milhões e investe em em-presas nascentes do setor de Tecno-logia da Informação e Comunicação (TIC) no Estado. Ele foi criado den-tro do programa Inovar Semente, iniciativa da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) que conta com parceiros locais em cada Estado – em Minas Gerais, a FAPEMIG é um deles. A meta é investir em mais dez empresas nos próximos três anos.

No evento em que foi anunciado o investimento, Bernardo Portugal, da Confrapar, destacou que o Hori-zonTI é resultado da visão de agen-tes públicos de Minas Gerais que acreditaram na ideia. “A FAPEMIG é a primeira FAP do país a investir em um fundo de capital semente. Conju-gamos ciência, tecnologia e inovação com empreendedorismo e fizemos acontecer. Os investidores que acre-ditaram na ideia certamente colhe-rão os frutos”, disse.

Paulo Kleber Duarte Pereira, diretor de planejamento, gestão e finanças da FAPEMIG, destacou a im-portância da iniciativa. “É importante lembrar que fundos como esse fo-ram as principais molas propulsoras para empresas inovadoras nos Esta-dos Unidos. No Brasil, até 2004, era proibido usar recursos de agências

públicas para investir em empresas. Hoje, temos a Lei Mineira de Ino-vação, que foi um marco e prevê a constituição dos fundos. Estamos em um bom momento e o sucesso dessa iniciativa vai mostrar o quanto ela é importante e pioneira”, disse.

Segundo o secretário de ciência e tecnologia de Minas, Alberto Du-que Portugal, ações como os fundos de capital semente contribuem para preparar Minas para ser o Estado lí-der na economia do conhecimento. “Temos realizado um conjunto de ações e decisões coerentes neste sentido e a FAPEMIG tem sido um importante aliado”, disse o secretá-rio, que destacou iniciativas como o Sistema Mineiro de Inovação (Simi), os Centros de Vocação Tecnológica (CVTs) e o projeto Tecnologia, Em-preendedorismo e Inovação Aplica-dos (TEIA).

Tecnologia e saúdeSegundo Felipe Moleda Godoi,

gestor do HorizonTI, o mercado de saúde suplementar tem crescido bastante no Brasil nos últimos anos, devendo faturar mais do que R$ 60 bilhões em 2010. Nos últimos anos as grandes e médias operadoras têm investido na redução do custo administrativo e maior eficiência ge-rencial, porém pouco tem sido feito para diminuir o impacto do custo assistencial que representa uma mé-dia de 75% das receitas da indústria.

“Com o novo rol de procedi-mentos imposto pela Agência Na-cional de Saúde (ANS), por meio da Resolução Normativa n° 211 de 2010, a pressão por maiores custos será mais forte,” disse Go-doi. “Portanto, por uma questão de sobrevivência, o mercado precisará investir de forma robusta para oti-mizar esses gastos, e neste cenário nos chamou atenção a proposta da e-Prime Care, com metodologias clínicas padronizadas e sistemati-

zadas, softwares desenvolvidos em plataformas modernas, uso de vá-rios meios de comunicação como SMS, integrados em uma plataforma tecnológica que configura-se em um verdadeiro sistema de inteli-gência em saúde”. A expectativa é que essa solução represente uma redução de até 20% no custo assis-tencial das operadoras de saúde.

Segundo Leonardo Florêncio, um dos fundadores da e-Prime Care, os recursos aportados pelo HorizonTI serão fundamentais para o desenvolvimento das atividades da empresa, pois uma ideia boa não é suficiente para se tornar um negócio de sucesso. “Empreender demanda persistência, conhecimen-to técnico, múltiplas habilidades, li-derança motivacional, expertise em práticas de gestão, finanças, gestão de projetos, habilidade comercial, paciência e muita sola de sapa-to. Uma ideia é considerada boa, se, quando colocada em prática, trouxer resultados sociais, econô-micos e ambientais satisfatórios,” disse. “Com a ajuda do HorizonTI, incorporamos ao nosso dia-a-dia questões como plano de negócios, metas de resultados, alinhamento institucional, capacitação continua-da, práticas de governança corpo-rativa, conselho de administração, tudo com um só objetivo, fazer cada vez mais e melhor”.

“Antes de receber o investimen-to do HorizonTI, a e-Prime Care recebeu recursos da FAPEMIG por meio do Programa de Apoio a Pes-quisas em Empresas (Pappe). Isso significa que a Fundação, atualmen-te, tem condições de apoiar todas as etapas do desenvolvimento tec-nológico. É um ciclo virtuoso que começa com as incubadoras tecno-lógicas, passa pelo apoio à pesquisa em empresas e chega aos fundos de capital semente”, finaliza Paulo Kleber Pereira.

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O aquecimento global é um dos problemas ambientais mais discutidos na atualidade. O aumento da tempera-tura média provoca um desequilíbrio do planeta, com consequências preo-cupantes. O derretimento das geleiras polares, o aumento do nível da água do mar, o aparecimento de novas doen-ças e a transformação de regiões hoje produtivas em impróprias para a agri-cultura são apenas alguns exemplos do que significa um mundo mais quente. Várias pesquisas estão sendo desen-

Futuro preservadoPesquisa investiga as consequências do aumento da concentração de CO2 para espécies da flora

volvidas a fim de entender e buscar soluções que, no mínimo, minimizem esses efeitos. Uma delas está sendo desenvolvida no Instituto de Ciências Biológicas da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).

O trabalho, coordenado pelo pes-quisador do Departamento de Biolo-gia Geraldo Wilson Fernandes, inves-tiga os efeitos do aquecimento global na flora e fauna. “Os dados climáticos são amplamente divulgados, mas não

conhecemos as consequências re-ais do aumento da concentração de gás carbônico (CO2) para os organismos tropicais. Por isso, esse é um projeto pioneiro não só no Brasil, mas no mundo”, explica.

O ponto de partida para o es-tudo foi a definição de uma planta que serviria como modelo. A es-colhida foi a Baccharis dracunculi-folia, conhecida como alecrim-do-

Aquecimento Global

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O tema é polêmico e nem todos os cientistas con-cordam sobre suas causas e consequências. Mas para um grande número deles, o homem está diretamente relacionado às mudanças no clima do planeta. Essa é a opinião dos pesquisadores que fazem parte do Painel Intergovernamental em Mudança de Clima (IPCC), da Organização das Nações Unidas (ONU). Um estudo produzido por esse grupo mostrou que o século XX foi o mais quente dos últimos cinco séculos: a temperatura média aumentou entre 0,3º C e 0,6º C. Pode parecer pouco, mas é o suficiente para modificar o clima de uma região e afetar todas as formas de vida. O grupo adver-tiu também que, se a poluição da atmosfera continuar crescendo, a temperatura média do planeta subirá 4 graus até o fim do século.

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campo. Os motivos são vários. Essa é uma planta encontrada em todo o país, com mais de 500 es-pécies do mesmo gênero no Brasil e em outros países da América do Sul. Ela também apresenta um grande potencial invasor, ou seja, são plantas colonizadoras de ambientes degradados, já que o seu crescimento é rápido. Além disso, esta espécie possui uma enorme biodiversidade associada - ela serve como hospedeira a diversos tipos de inse-tos e fungos. “Por tudo isto, o alecrim-do-campo tem um importante papel social no ecossistema”, destaca Fernandes.

Os experimentos foram realizados nos labora-tórios da UFMG, na Serra do Cipó e também na porção Sul da Serra do Espinhaço, regiões que po-dem servir como termômetros para as mudanças climáticas. Como explica o pesquisador, os efeitos da variação de temperatura são observados primei-ro em lugares montanhosos, onde as altitudes são mais elevadas. Na UFMG, foram instaladas quatro câmaras de CO2, duas com a concentração am-biente atual do gás e duas com o dobro desta quan-tidade, simulando a atmosfera prevista para o final deste século. Hoje, a concentração gira em torno de 360 ppm (partes por milhão) e a previsão para o ano 2100 é de cerca de 720 ppm.

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Foto: Juliana Saragá

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As câmaras possuem equipamentos com sondas que medem a temperatu-ra, umidade e concentração do gás. Os dados são registrados continuamente no computador através de um progra-ma específico e avaliados diariamente. O estudo foi dividido em subprojetos: crescimento, fisiologia, nutrição e or-ganismos associados à planta modelo, cada um sob responsabilidade de um pesquisador da equipe.

Crescimento O primeiro experimento realizado

teve como objetivo verificar as res-postas de crescimento do alecrim-do-campo em atmosfera enriquecida por CO2. As plantas foram cultivadas nos dois tipos de câmaras. “Trabalhamos com um número grande de plantas e, periodicamente, medimos o seu cres-cimento. Foram examinadas a altura, número de ramos, massa seca de raiz, caule e folhas”, explica Camila Mendes de Sá, pesquisadora responsável por esta etapa do projeto. A planta, após a coleta, era dividida em caule e folhas. O material é então secado em estufa para identificação do peso seco. “Isso mostra o quanto de matéria vegetal foi produzida pela planta, ou seja, o seu real crescimento”, completa.

As coletas foram realizadas e avalia-das durante quatro meses e os resulta-dos foram surpreendentes. Observou-se que as plantas expostas à atmosfera enriquecida com CO2 cresceram bem

mais do que as expostas à atmosfera com concentração atual do gás. Se-gundo a pesquisadora, isso acontece porque o aumento do dióxido de car-bono afeta diretamente o processo de fotossíntese. “A planta precisa absorver CO2 para realizar fotossíntese e pro-duzir as substâncias nutritivas, como os açúcares. Se há um aumento da dispo-nibilidade deste gás, este processo será ampliado e, consequentemente, o cres-cimento de ramos e flores será maior”, esclarece a pesquisadora.

Mas com esse crescimento acima do normal, a planta terá uma qualidade nu-tricional menor, já que o carbono incor-porado por ela, em forma de CO2, faz com que a produção de fibras aumente e a proteína fique mais diluída, ou seja, em menor disponibilidade. “Isto preju-dicará os organismos associados, como por exemplo, os insetos que dela se ali-mentam. Eles podem ficar mal nutridos e precisarão comer uma maior quantidade para suprirem esta deficiência. Isso cau-sará um provável efeito em cadeia, que deve afetar outros níveis tróficos, como os animais que se alimentam deste inse-to e assim por diante”, prevê. Além disto, a pesquisadora explica que o aumento do carbono faz com que as folhas e caule fiquem mais duros, reação que dificultará a decomposição do vegetal, alterando a ciclagem de nutrientes no ambiente. A ciclagem é o processo responsável por recolocar os nutrientes das plantas, de-compostas por fungos e bactérias nova-

mente no ambiente, disponibilizando-os para outros organismos.

Fisiologia e nutriçãoA fisiologia vegetal é a área da bo-

tânica que estuda os mecanismos pe-los quais as plantas crescem, se desen-volvem, percebem e interagem com o ambiente em que estão inseridas. Para esta etapa do projeto, ainda em anda-mento, estão sendo analisadas duas plantas do mesmo gênero: a Bacaris dracunculifolia, cujo perfil é invasor, e a Baccharis platypoda, restrita a gran-des altitudes, portanto sem compor-tamento invasor. O estudo pretende responder a pergunta: o que torna uma espécie invasora e a outra não, já que elas são parentes tão próximas?

“As plantas com perfil invasor têm grande capacidade de disseminação em ambientes naturais, ou mesmo nos modificados pelo homem. Elas podem dominar pastagens, áreas de agricultu-ra, terrenos baldios e bordas de estra-das, causando prejuízos, por exemplo, na colheita”, esclarece Newton Pimen-tel, pesquisador responsável pelas ava-liações fisiológicas. Absorção de CO2, água e taxa de respiração são alguns dos itens avaliados e registrados em um aparelho chamado canalizador de fotossíntese portátil. Outro equipa-mento, o fluorômetro, capta o nível de clorofila existente na planta através de feixes de luz. Os resultados devem ser concluídos nos próximos meses.

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Fotos: Juliana Saragá

Canalizador de fotossíntese portátil, equipamento que mede, entre outros, a absorção de CO2. Ao lado, professor Geraldo Fernandes (centro) e equipe envolvida no desenvolvimento do projeto.

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Geraldo Fernandes explica que o conhecimento a ser obtido é funda-mental para medidas sólidas de conser-vação e manejo tanto das espécies com potencial invasor como daquelas raras e em perigo de extinção. “O domínio da paisagem por espécies invasoras pode deixar o ambiente empobrecido e pro-duzindo menos recursos para as comu-nidades, inclusive o homem. A utilização deste conhecimento mais aprofundado permite a adoção rápida de medidas de controle mais precisas”.

Outra importante parte do estu-do foi a análise nutricional das plantas relacionada ao solo, já que este tam-bém deve ser afetado pelo aumento do CO2. As mudanças climáticas acar-retarão uma deposição de compostos tóxicos na terra através das chuvas, as-sociadas à poluição. “O objetivo foi in-vestigar a reação da nossa planta mo-delo aos tipos extremos de solo. Para isso trabalhamos desde o solo mais pobre, com poucos nutrientes e gran-de quantidade de compostos tóxicos, como os campos rupestres (cerrado), até solos muito ricos com grande ca-pacidade de fertilidade, encontrados em campos agriculturáveis”, explica o pesquisador Daniel Negreiros.

O resultado observado foi uma clara relação negativa entre sobre-vivência e crescimento. Com o solo pobre, a planta cresce pouco, mas sobrevive por mais tempo. Em solo fértil ela tem um crescimento maior e menos tempo de sobrevivência. “O vantajoso é que esta espécie apresenta adaptações e pode colonizar desde o ambiente mais pobre até o mais fértil”,

ressalta Negreiros. Segundo o pesqui-sador, este resultado também serve com um alerta para o futuro, pois é provável que muitas espécies rígidas (não-adaptadas ou menos plásticas) sejam as primeiras a serem extintas. Outra hipótese é que plantas adap-tadas, como o alecrim-do-campo, do-minem os ambientes e até se tornem pragas, transformando paisagens, atu-almente diversificadas, e mudando os perfis ambientais.

Fungos endofíticosOs fungos endofíticos são organis-

mos que vivem nos tecidos internos da planta sem causar nenhum tipo de dano. Eles têm despertado interesse dos pesquisadores devido ao seu po-tencial no controle biológico de pragas e doenças ou mesmo como alternati-vas de melhoramento da resistência de plantas, especialmente aquelas de inte-resse econômico (café, soja, mandioca, cacau, morango). Isso porque eles pro-tegem a planta hospedeira contra os herbívoros, organismos patogênicos e condições ambientais consideradas prejudiciais ao crescimento, tais como a estiagem e elevadas temperaturas.

“Estamos investigando os fungos presentes no alecrim-do-campo porque acreditamos que em um cenário com aumento de CO2, a diversidade destes organismos diminua”, explica a pesqui-sadora Yumi Oki, responsável pelo es-tudo. O objetivo é avaliar quais destes fungos resistiriam ao aumento deste gás e como eles podem beneficiar os vegetais no ambiente futuro. “É possível que encontremos algum tipo de fungo

que maximize a resistência das plantas”, observa. A pesquisadora explica que as plantas reconhecem estes organismos como parte delas, então será possível inocular, ou seja, inseri-los nos vegetais sem causar danos. “É um processo com baixo custo e uma alternativa de pre-servação da espécie”, sugere.

Os trabalhos da equipe não param por aí. Uma etapa futura do projeto é investigar o efeito direto do aque-cimento global sobre a fauna. Para isto pretende-se verificar se as plan-tas que estão crescendo em ambiente enriquecido pelo CO2 são mais ata-cadas pelos insetos. Outra questão a ser analisada é a atuação benéfica dos componentes químicos das plantas, já que existem várias substâncias que as protegem contra radiação “É impor-tante observar que o projeto buscou cercar o problema, desde os aspectos nutricionais, de desenvolvimento, fi-siologia e organismos associados, até simulações de ambientes futuros. Tudo isto nos fornece um bioindicador am-biental de mudança climática, muito importante para tomarmos medidas preventivas”, finaliza o coordenador.

Projetos: “Dimensões ecológicas e climáticas da biodiversidade em Baccharis: de moléculas a organismos” e “Mudanças climáticas globais: efeitos do enriquecimento com o CO2 na biodiversidade”Modalidade: Edital Pronex e Demanda UniversalCoordenador: Geraldo Wilson FernandesValor: R$551.715,62

Juliana Saragá

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Fotos: Juliana Saragá

Câmaras de CO2 construídas na UFMG testam o comportamento das plantascom diferentes concentrações do gás na atmosfera. Ao lado, testes com fungosendofíticos presentes no alecrim-do-campo.

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PARCERIAS COM EMPRESASJÁ TÊM RESULTADOS

A indução e o fomento à inovação também fazem parte da missão da FAPEMIG. Para isso, a Fundação mantém um diálogo com empresas que têm interesse em investir em ciência e tecnologia. O resultado é que, em 2010, quatro editais, frutos de parceria entre o governo e o setor empresarial, foram lançados pela Fundação: a chamada de proposta 01/2010, em parceria com a Vale; os editais 11/2010 e 12/2010, em parceria com a Whirl-pool; e o edital 13/2010, em parceria com a Fiat. Por meio deles, será investido cerca de R$45 milhões para o desenvolvimento de projetos com foco em inovação.

A novidade foi a realização de seminários técnicos para esclarecer dúvidas e orientar a elaboração de propostas. Os pesquisadores das áreas tema dos editais que possuíam cadastro na FAPEMIG foram convidados a participar. Neste encontro, após uma apre-sentação dos parceiros e do edital, um grupo formado por representantes da empresa e da Fundação colocavam-se à disposição dos presentes para responder as perguntas. De acordo com Mario Neto Borges, presidente da FAPEMIG, o objetivo geral dos se-minários técnicos é estimular a apresentação de propostas e divulgar as parcerias. “Esse trabalho conjunto é importante porque incentivar a articulação entre três elos - empresa privada, meio acadêmico e governo - que historicamente têm deficiências de comunicação”, opina.

O seminário mais recente teve como tema o edital da Fiat. “O sucesso do Seminário surpre-endeu nossas expectativas. Mestres e doutores renomados se mostraram engajados no projeto, apresentando questionamentos e intenções de propostas extremamente relevantes e em sintonia com o que esperamos”, conta João Ciaco, diretor de Publicidade e Marketing de Relacionamento da Fiat Automóveis. Ele completa: “A parceria com a FAPEMIG possibilita a aproximação entre a Fiat e as instituições de ensino do Estado, o que nos per-mite fomentar a geração do conhecimento aplica-do, promovendo a inovação”.

Atualmente, os editais em parceria com a Vale e a Whirlpool encontram-se em fase de análise e julgamento enquanto o edital com a Fiat ainda recebe propostas – o prazo máximo é 30 de setembro.

MercadoNotas

De 25 a 30 de julho, a Sociedade Brasi-leira para o Progresso da Ciência (SBPC) re-alizou sua 62ª reunião, que teve como tema central as Ciências do Mar. O encontro foi realizado na Universidade Federal do Rio Grande do Norte, em Natal (RN). Durante esses cinco dias, estudantes, pesquisadores e outros profissionais ligados à área da ciên-cia, tecnologia e inovação participaram de palestras, apresentações de trabalhos, entre muitas outras atividades.

Durante a reunião, foi realizada a feira Expotec, uma grande mostra de ciência e tecnologia. Pelo segundo ano consecutivo, a FAPEMIG esteve presente na feira, que registrou uma média de seis mil visitantes por dia. Em seu estande institucional, a Fun-dação apresentou suas linhas de apoio, as

FAPEMIG MARCA PRESENÇANA 62ª REUNIÃO DA SBPC

oportunidades de bolsas para estudantes e seu programa de divulgação científica Minas Faz Ciência, composto por revista e vídeos.

Neste ano, a FAPEMIG também apre-sentou em seu estande o projeto “Animais peçonhentos – conhecer e não temer”, da Fundação Ezequiel Dias (Funed). O projeto, que recebeu apoio da FAPEMIG dentro de seu edital de popularização da ciência, é composto por banners explicati-vos e réplicas de serpentes que ajudam a demonstrar a diferença entre cobras pe-çonhentas e não peçonhentas. Além disso, o projeto é ponto de partida para falar sobre a importância desses animais para a ciência e alguns dos resultados já obtidos a partir de seu estudo, como medicamen-tos para hipertensão.

NÚCLEO DE DIFUSÃO CIENTÍFICA COMEÇA A SE ESTRUTURAR

Divulgar a ciência, a tecnologia e a inovação para o público leigo por meio de diferentes meios de comunicação que incluem rádio, TV e internet. Essa será a missão do Programa de Comu-nicação Científica, Tecnológica e de Ino-vação (PCCT) da FAPEMIG. O primeiro passo para sua implantação foi dado em julho, com o lançamento do edital do Programa que convidava profissionais da área a se candidatar a uma vaga na equipe. Ao todo, 58 propostas foram recebidas para análise.

Os candidatos já realizaram uma pro-va prática, que simulou uma coletiva com pesquisadora. A equipe de julgamento irá avaliar a capacidade de síntese, correção e o uso dos elementos textuais próprios de cada veículo de comunicação. A previsão é que o resultado seja divulgado em outu-bro para que o grupo comece seu traba-lho ainda em 2010. “A divulgação da ciên-cia, dos avanços proporcionados por ela e também dos conflitos gerados faz parte da missão da FAPEMIG. Essa nova equipe de profissionais formará um núcleo de produção em jornalismo científico que irá contribuir para a democratização do conhecimento”, opina a assessora de co-municação social da FAPEMIG e coorde-nadora geral do PCCT, Vanessa Fagundes.

Foto: Vanessa Fagundes

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Estande da FAPEMIG na reunião da SBPC apresentou as modalidades de apoio e o programa de divulgação científica da Fundação.

Seminário técnico Fiat. Após apresentação, pesquisadores tiraram dúvidas com a empresa.

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49MINAS FAZ CIÊNCIA - MAR. A MAIO / 2010

RUMOS E DESAFIOS PARAUMA POLÍTICA NACIONAL DE CT&I

Qual deve ser a política científica brasileira para os próximos dez anos? O que fazer para torná-la uma política de estado, e não de governo? Como envol-ver os diferentes setores da sociedade nessa discussão? Essas foram algumas das questões que orientaram os deba-tes realizados durante a 4ª Conferência Nacional de Ciência, Tecnologia e Inova-ção (4ª CNCTI), evento que reuniu, em Brasília, no mês de maio, mais de 3.500 participantes entre políticos, gestores, pesquisadores, empresários, atores da sociedade civil organizada e estudantes.

As conferências são organizadas como arenas consultivas. As três primei-ras foram realizadas nos anos de 1985, 2001 e 2005. A 4ª edição trouxe como novidade a introdução do tema da sus-tentabilidade e o papel da ciência na bus-ca por um desenvolvimento equilibra-do. A 4ª CNCTI foi dividida em quatro grandes eixos: Sistema nacional de CT&I; Inovação na sociedade e nas empresas; Pesquisa, desenvolvimento e inovação em áreas estratégicas; e CT&I para o desenvolvimento social. Entre os temas mais debatidos pelos participantes estão a necessidade de um arcabouço legal adequado para a área e a importância do investimento em educação para a cons-trução de uma cultura científica.

Agora, o desafio é dar prosseguimen-to aos debates e às propostas apresen-tadas, de modo que as discussões não se limitem à Conferência. O secretário geral da 4ª CNCTI, Luiz Davidovich, acredita que isso é fundamental para ga-rantir que os anseios de diversos setores sejam contemplados. Ele conversou com a revista MINAS FAZ CIÊNCIA duran-te o Fórum dos conselhos nacionais de Secretários Estaduais para Assuntos de CT&I (Consecti) e das Fundações Es-taduais de Amparo à Pesquisa (Confap), realizado em junho, no Rio de Janeiro.

Em sua opinião, quais foram os principais pontos positivos da 4ª CNCTI?

Um grande ponto positivo desen-volvido, durante a Conferência, foi a

arte da soma. Durante os três dias de evento, contamos com a presença de pessoas de vários setores da socie-dade: da indústria, da área acadêmica, representantes de comunidades indí-genas, pessoas ligadas a sindicatos e a movimentos sociais. Enfim, todos esses agentes tiveram a inteligência coletiva de buscar consensos para subsidiar uma futura política de es-tado na área de CT&I. Acho que foi positiva essa formação de consen-sos e a conscientização dos agentes de que é importante focar em temas que podem ter forte apoio de vários setores da sociedade. Isso já está ten-do reflexos positivos. Se olharmos as últimas ações de governo vamos perceber que elas estão fortemente relacionadas a questões que foram debatidas nos últimos meses. Por exemplo, a questão da autonomia universitária, dos marcos legais para a área de CT&I e da biodiversidade, que já foi motivo de problemas no passado devido a vários conflitos que dificultavam a pesquisa científica, por exemplo, na Amazônia. O poder de compra do estado foi uma outra questão debatida na Conferência que já está sendo atacada pelo governo. Ou seja, antes mesmo da preparação do documento final da Conferência, já estamos tendo respostas para ques-tões colocadas durante o encontro. Isso também é um sucesso, um ponto extremamente positivo.

Qual é o próximo passo?Temos que trabalhar, agora, para

que esse sucesso se estenda para os próximos anos e para que esse con-senso criado durante a Conferência contribua para a formação de uma política de estado. Eu estou bastante otimista, pois não é todo dia que as propostas conseguem apoio da co-munidade cientifica, de empresários, da comunidade indígena, de movi-mentos sociais... É preciso aproveitar isso para elaborar uma proposta for-te. Vamos criar, agora, um mecanismo

de consulta à sociedade e aos par-ticipantes da Conferência, de modo que a construção do documento final seja um empreendimento coletivo. Esse documento será uma referên-cia, vamos divulgá-lo amplamente. Se ficar pronto antes das eleições, cer-tamente será entregue aos candida-tos. Ele vai ser divulgado para toda a sociedade brasileira, vamos colocá-lo na internet e disponibilizá-lo para consultas. Nós esperamos, evidente-mente, que os futuros presidentes, governadores e prefeitos levem em consideração o que foi proposto na Conferência.

Qual sua sugestão para que os debates sobre um plano nacional de CT&I continuem?

Em primeiro lugar, vale dizer que tanto o Consecti quanto o Confap são muito importantes nesse pro-cesso de consolidação das propostas. Sabemos que os dois conselhos vão participar ativamente e, ao fazer isso, não só vão trazer para os estados os resultados das discussões como vão alimentar essas discussões. É isso que ocorrerá em um primeiro momento. Chegaremos, então, ao documento final. Quando pronto, é importante a atuação das entidades para que as re-comendações coletivas sejam de fato seguidas e realizadas pelos futuros go-vernos. O mecanismo é esse. A mobi-lização posterior é importante.

A Conferência reuniu mais de três mil participantes que discutiram a política de CT&I para a próxima década.

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Cientistas brasileiros

O pesquisador Sérgio Danilo Junho Pena é conhecido inter-nacionalmente por seus estudos sobre variabilidade genética e diagnóstico a partir da análise do DNA. Professor titular do Depar-tamento de Bioquímica e Imuno-logia da UFMG, ele também se destaca pelo trabalho de divulga-ção científica: desde 2006, publica na página da Ciência Hoje (http://cienciahoje.uol.com.br/colunas/deriva-genetica) a coluna “Deriva Genética”, em que aborda temas sobre ciências da vida, especial-mente genética e evolução. Pena participou de uma discussão so-bre os desafios da ciência básica durante a Conferência Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação, realizada em maio em Brasília. Após sua palestra, concedeu en-trevista à MINAS FAZ CIÊNCIA.

Em sua palestra, o senhor falou de um modelo criacionista atual-mente seguido pelas agências de fomento. O que significa isso?

Na natureza, a vida evolui por sele-ção natural. Se você olhar as formas de vida existentes, até parece que alguém as desenhou, mas, na verdade, elas evo-luíram por processos aleatórios e de seleção natural. E acho que esse mo-delo deveria ser aplicado na ciência. Atualmente, as agências de fomento à pesquisa pedem que o projeto seja en-caminhado já com objetivos extrema-mente bem definidos, cronograma e, muitas vezes, os resultados esperados. E isso não faz sentido, pois a pesquisa se baseia na descoberta. Como você poderia saber o que vai descobrir? A ideia do químico Linus Pauling, um dos maiores químicos do século XX, exemplifica isso muito bem. Pergun-taram como ele tinha boas ideias e ele respondeu que tinha várias ideias e descartava as ruins. Esse é um processo tipicamente evolu-cionista darwiniano: ele tem geração de diversidade (um monte de ideias) e seleção natural (descarta as ruins). Mas como descartar as ruins? A única maneira é por experimentação. E para isso é necessário dinheiro. As agên-

cias devem estar prontas, assim, para oferecer financiamento para teste de todas as ideias, mesmo que não exista certeza sobre os resultados.

Quais as consequências desse modelo criacionista?

Ele gera uma ciência de baixa inven-tividade. Se você já tem que prever o resultado, como ela será inventiva? Exis-te um astrônomo americano que fala isso em contexto de evolução. Ele diz a evolução por seleção natural é uma filosofia de inteligência e que o criacio-nismo é uma filosofia de ignorância. Eu acho que isso se aplica à ciência. Para a ciência ser inteligente, ela tem que ser evolutiva. Fiquei satisfeito de ver que al-gumas agências já estão apostando nis-so, financiando projetos de longo prazo, de 11 anos, cujo final pode ser bem di-ferente do previsto inicialmente.

Então não existem grandes obstáculos para que as agências sigam um outro modelo, correto?

Correto. As agências, obviamen-te, lidam com dinheiro público e isso exige uma grande responsabilidade. Ela não pode sair custeando ideias loucas. Por isso, acredito que é importante a agência analisar não só aquela proposta, mas a trajetória do cientista. Ver se é um cientista em que vale a pena apos-tar porque já demonstrou criatividade no passado. Hoje, as agências olham o projeto atual e não verificam a história pregressa do cientista, não olham o re-latório técnico de seu último projeto, não conferem o que ele fez ou deixou de fazer. Elas se baseiam apenas naquele projeto ali e no currículo Lattes, no nú-mero de publicações (o que não avalia também a qualidade). É muito impor-tante apostar nos cientistas que já se mostraram talentosos no passado.

O senhor comentou em sua fala que um dos problemas da ci-ência básica, hoje, é a baixa criati-vidade e inovação. O que poderia ajudar a solucionar tal problema?

Uma maneira é a mudança de crité-rios para avaliação de artigos, o que muda os critérios de ciência. Hoje, no Brasil, todo mundo se queixa de falta de dinhei-

ro. Mas houve uma grande pulverização de recursos e pessoas que em outros países jamais receberiam dinheiro para pesquisa aqui estão recebendo. As agên-cias têm que exigir qualidade da pesquisa e concentrar um pouco mais os recursos. Elas querem dar um pouquinho para to-dos, mas existem grupos que precisam de muitos recursos para fazer ciência de alta qualidade para, quem sabe, alcançarmos o sonho do Nobel brasileiro.

Além disso, nossa pesquisa tem sido baseada exclusivamente na pós-graduação, em alunos de mestrado e doutorado. Por outro lado, se tivermos mais alunos de pós-doutorado, conse-guimos fazer mais pesquisas de risco. É o que se observa nos Estados Unidos e na Europa: pesquisa baseada princi-palmente em pós-doutorado. Tem uma história interessante que eu vivi, com um novo catedrático de bioquímica da Universidade British Columbia na década de 1980. Ele observou que a qualidade da produção científica do departamento estava ruim. O que fez? Fechou o programa de pós-graduação por um tempo e só contratou pós-doutorandos. Deu certo. Mas o pós-doutorando não pode ser aquele que continua no mesmo laboratório, fazen-do a mesma tese. Tem que trocar.

O Brasil é um mosaico científico: zonas de alto desenvolvimento, de bai-xo desenvolvimento... As agências não precisam substituir o modelo atual por um novo, e sim adicionar alterna-tivas novas ao modelo do passado que tem funcionado bem.

MINAS FAZ CIÊNCIA - MAR. A MAIO / 201050

Foto: Charles Damasceno

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