metodologia formulacao estrategia

183
UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ECONOMIA, ADMINISTRAÇÃO E CONTABILIDADE DEPARTAMENTO DE ADMINISTRAÇÃO - PÓS-GRADUAÇÃO METODOLOGIA PARA FORMULAÇÃO DE ESTRATÉGIAS DE PRESENÇA NA INTERNET: UM ESTUDO DE CASO Isabel de Meiroz Dias Orientador: Prof. Dr. Nicolau Reinhard São Paulo 2002

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  • UNIVERSIDADE DE SO PAULO

    FACULDADE DE ECONOMIA, ADMINISTRAO E CONTABILIDADE

    DEPARTAMENTO DE ADMINISTRAO - PS-GRADUAO

    METODOLOGIA PARA FORMULAO DE ESTRATGIAS DE PRESENA NA INTERNET: UM ESTUDO DE CASO

    Isabel de Meiroz Dias

    Orientador: Prof. Dr. Nicolau Reinhard

    So Paulo

    2002

  • 2

    Reitor da Universidade de So Paulo

    Prof. Dr. Jos Adolfo Melfi

    Diretor da Faculdade de Economia, Administrao e Contabilidade

    Prof. Dr. Eliseu Martins

    Chefe do Departamento de Administrao

    Prof. Dr. Eduardo Vasconcellos

  • i

    UNIVERSIDADE DE SO PAULO

    FACULDADE DE ECONOMIA, ADMINISTRAO E CONTABILIDADE

    DEPARTAMENTO DE ADMINISTRAO - PS-GRADUAO

    METODOLOGIA PARA FORMULAO DE ESTRATGIAS DE PRESENA NA INTERNET: UM ESTUDO DE CASO

    Isabel de Meiroz Dias

    Dissertao apresentada ao Departamento de Administrao da Faculdade de Economia, Administrao e Contabilidade da Universidade de So Paulo, como requisito parcial para a obteno do ttulo de Mestre em Administrao.

    Orientador: Prof. Dr. Nicolau Reinhard

    So Paulo

    2002

  • 2

    FICHA CATALOGRFICA Dias, Isabel de Meiroz Metodologia para formulao de estratgias de presena na Internet : um estudo de caso / Isabel de Meiroz Dias. -- So Paulo : FEA/USP, 2002. p. 170 Dissertao - Mestrado Bibliografia 1. Internet (Rede de computadores) 2. Alinhamento estratgico 3. Metodologia I. Faculdade de Economia, Administrao e Contabilidade da USP. CDD 001.64404

  • i

    AGRADECIMENTOS

    Aqueles que interagiram comigo neste perodo testemunharam o grande

    desafio que este trabalho representou.

    S consegui super-lo graas ajuda inestimvel das seguintes pessoas:

    Meus pais, Etevaldo Dias e Joana Vitria de Meiroz Grilo, constantes

    propiciadores e incentivadores.

    Prof. Nicolau Reinhard, que de fato me orientou e apoiou durante a

    (longa) gestao que este trabalho demandou.

    Abel Reis e a equipe de planejamento da AgnciaClick, a quem devo

    metade do material gentico deste trabalho.

    Isabel de Meiroz Dias

  • i

    SUMRIO

    Lista de Figuras........................................................................................ iv

    Lista de Quadros ....................................................................................... v

    Lista de Siglas .......................................................................................... vi

    Resumo .................................................................................................... vii

    Abstract ................................................................................................... viii

    1 Descrio da Situao-Problema...................................................... 1

    1.1 Introduo .................................................................................... 1

    1.2 Formulao da Situao Problema ........................................... 2

    1.3 Contextualizao ......................................................................... 2

    1.4 Questes de Pesquisa ................................................................ 3

    1.5 Objetivos da Pesquisa ................................................................ 4

    1.6 Definio Conceitual e Operacional dos Termos Relevantes 5

    1.7 Delimitao................................................................................... 6

    2 Processo de formulao de estratgia............................................. 9

    2.1 Definies de estratgia ............................................................. 9

    2.2 Objetivos, Metas, Tticas.......................................................... 12

    2.3 Critrios de avaliao da estratgia ........................................ 13

    2.4 Formulao da Estratgia......................................................... 14

    2.5 Anlise Estratgica ................................................................... 16

    2.6 A escolha das fronteiras da firma............................................ 21 2.6.1 Teoria Neoclssica............................................................... 22 2.6.2 Economia dos Custos de Transao ................................... 22 2.6.3 Custos de coordenao hierrquica .................................... 23 2.6.4 Capacitao Dinmica ......................................................... 25 2.6.5 Redes Estratgicas .............................................................. 30

    2.7 Crtica aos processos existentes ............................................ 34

    3 Processo de Alinhamento Estratgico de Sistemas de Informao 36

    3.1 Definies e Abordagens ......................................................... 36

    3.2 Planejamento Estratgico e Planejamento do Sistema de Informaes.............................................................................................. 41

    3.3 Desafios para o Planejamento de Sistemas de Informao Estratgicos.............................................................................................. 43

    4 Estratgia e Internet ......................................................................... 46

  • ii

    4.1 Mercados Eletrnicos ............................................................... 46

    4.2 Possibilidades trazidas pela PI para as organizaes .......... 49 4.2.1 Reduo de custos de procura, coordenao, contratao e

    outros custos de transao entre firmas ................................................ 50 4.2.2 Formao de redes integradas de empresas ...................... 52 4.2.3 Integrao da Rede.............................................................. 54

    4.3 Implicaes para as Organizaes: Complementaridade e Reviso de Processos............................................................................. 55

    4.4 Um novo modelo de anlise..................................................... 57 4.4.1 Comparao com outras teorias de criao de valor .......... 65

    5 Metodologia da Pesquisa................................................................. 68

    5.1 Modelo da Pesquisa .................................................................. 68

    5.2 Delineamento da Pesquisa....................................................... 68

    5.3 Limitaes do Mtodo............................................................... 69

    5.4 Operacionalizao do Modelo de Pesquisa ........................... 69 5.4.1 Proposies.......................................................................... 70

    5.5 Fontes de dados ........................................................................ 74

    5.6 Mtodo de Coleta de Dados ..................................................... 74

    5.7 Anlise dos Dados .................................................................... 75

    5.8 Protocolo de Estudo de Caso .................................................. 76

    6 Apresentao do Estudo de Caso .................................................. 78

    6.1 Apresentao doFramework Metodolgico AgnciaClick.... 78

    6.2 Descrio da Fase Formulao da Estratgia de Presena 80

    6.2.1 Levantamento....................................................................... 81 6.2.2 Anlise.................................................................................. 86 6.2.3 Fechamento ......................................................................... 90

    6.3 Aplicaes da FEP em clientes da AgnciaClick................... 92

    7 Anlise do Caso................................................................................ 94

    7.1 Abordagem identificao do modelo de negcios............. 94

    7.2 Abordagem identificao da criao de valor..................... 95

    7.3 Abordagem proposio de explorao do potencial de criao de valor dos negcios eletrnicos ........................................... 97

    8 Consideraes Adicionais e Recomendaes.............................. 99

    8.1 Introduo .................................................................................. 99

    8.2 Anlise das Proposies.......................................................... 99

    8.3 Consideraes Finais ............................................................. 102

    8.4 Limitaes e Recomendaes ............................................... 104

  • iii

    9 Bibliografia ...................................................................................... 106

    Anexo I Resultado da Atividade de Consolidao ......................... 111

    Anexo II Resultado da Atividade de Benchmark ............................ 117

    Anexo III Resultado da Atividade Estudo de Mercado................... 130

    Cliente 1 .............................................................................................. 130

    Cliente 3 .............................................................................................. 137

    Anexo IV Resultado da Atividade Aplicao de Quadro de Anlise e Tendncias ................................................................................................. 146

    Cliente 1 .............................................................................................. 146

    Cliente 3 .............................................................................................. 150

    Anexo V Arquitetura de Presena .................................................... 156

    Anexo VI Resultado da Atividade de Aprovao e Priorizao da Matriz de Escopo ....................................................................................... 163

  • iv

    LISTA DE FIGURAS

    Figura 1. Metodologias Relacionadas com Estratgias na Internet 15 Figura 2. O Diamante de Porter 17 Figura 3. Cadeia de Valor de Porter 21 Figura 4. Mercados versus Hierarquias 25 Figura 5. Infraestrutura para Negcios na Era Digital 48 Figura 6. Fontes de Valor e Modelo de Negcios 72 Figura 7. Framework Metodolgico da AgnciaClick 78 Figura 8. Metodologia de Desenvolvimento de Presena da AgnciaClick 80 Figura 9. Etapas da Formulao da Estratgia de Presena 80

  • v

    LISTA DE QUADROS

    Quadro 1. Metodologias Relacionadas com Estratgias na Internet 7 Quadro 2. Diferena do contexto de elaborao de estratgias quando o foco o amanh e no o hoje 27 Quadro 3. A mudana de centro das Competncias Essenciais 32 Quadro 4. Manual para os maestros de rede 33 Quadro 5. Uma estrutura de alinhamento de necessidades de negcios e servios de informao 38 Quadro 6. Cinco abordagens sumarizadas 40 Quadro 7. Capacidades Tecnolgicas pr e ps internet 46 Quadro 8. Evoluo da utilizao da tecnologia da informao nos negcios 54 Quadro 9. Repensando a organizao tradicional 56 Quadro 10. Quadro sntese: Possibilidades da PI para as estratgias organizacionais 57 Quadro 11. Aplicaes Proeminentes da Internet na Cadeia de Valor 61 Quadro 12. Fontes de criao de valor e o conceito de modelo de negcios 64 Quadro 13. Linhas Tericas e o Conceito de Modelo de Negcios 65 Quadro 14. Roteiro para Workshop de Discovery 82 Quadro 15. Roteiro padro para o trabalho de benchmark 85 Quadro 16. O Conceito de Arquitetura de Presena 88 Quadro 17. Roteiro para Matriz de Escopo II 91

  • vi

    LISTA DE SIGLAS

    BI Inteligncia de Negcios (Business Intelligence) CE Comrcio Eletrnico CRM Gerenciamento do relacionamento com clientes (Customer

    Relationshop Management) ECR Resposta Eficiente ao Consumidor (Efficient Consumer

    Response) ECT Economia dos Custos de Transao ECT Economia dos Custos de Transao FEP Formulao da Estratgia de Presena KM Gerenciamento do Conhecimento (Knowledge Management) MDPC Metodologia de Desenvolvimento de Presena Click PESI Planejamento Estratgico de Sistemas de Informao PI Plataforma Internet PSIE Planejamento de Sistemas de Informao Estratgicos SI Sistemas de Informao TI Tecnologia de Informao

  • vii

    RESUMO

    O propsito desta pesquisa foi identificar como uma metodologia para a

    formulao da estratgia de presena de organizaes na internet aborda os

    enfoques estratgicos e mtodos analticos necessrios compreenso e

    explorao das arquiteturas de negcios viabilizadas pela plataforma

    tecnolgica da internet (PI).

    Atravs de reviso bibliogrfica identificou-se que as principais

    possibilidades trazidas pela PI para as organizaes esto relacionadas

    facilitao da integrao horizontal e vertical, propiciando a formao de

    redes estratgicas. Uma conseqncia direta a oportunidade de gerao

    de vantagem competitiva nas trs funes das organizaes: eficincia

    operacional, relacionamento com clientes e desenvolvimento de produtos.

    Para compreenso e explorao destas arquiteturas de negcios

    viabilizadas conveniente adotar a perspectiva do modelo de negcios,

    subdividido nos pblicos com os quais a organizao mantm

    relacionamento. Esta unidade de anlise congrega as diferentes vises

    presentes na literatura de estratgia a respeito da criao de valor. As quatro

    fontes de valor possibilitadas pela PI so: novidade, aprisionamento,

    complementaridade e eficincia.

    O estudo de caso da metodologia de Formulao de Estratgia de

    Presena, da Agncia Click, descreveu a abordagem desta metodologia

    para os enfoques estratgicos e mtodos analticos identificados.

  • viii

    ABSTRACT

    The goal of this research was to identify how a methodology o strategy

    formulation for the internet approaches the strategic concepts and analytical

    methods required in order to comprehend and exploit business architectures

    made possible by internet technological platform (PI).

    The main possibilities brought by the PI to the organizations are related to

    the facilitation of vertical and horizontal integration, thus making easier the

    formation of strategic networks. A direct consequence is the opportunity to

    obtain competitive advantage at the three organizational functions:

    operational efficiency, client relationship and product development.

    To comprehend and exploit these business architectures it is convenient

    to adopt the business model perspective, separated into the various publics

    with which the organization maintains a relationship. This unit of analysis

    integrates different perspectives on value creation found at the theory. The

    model suggests that the value creation potential of e-business hinges on four

    interdependent dimensions: novelty, lock-in, complementarities, and

    efficiency.

    The case study of the Presence Strategy Formulation methodology, from

    AgnciaClick, describes the approach of this methodology to the strategic

    concepts and analytical methods identified.

  • 1. DESCRIO DA SITUAO-PROBLEMA

    1

    1 DESCRIO DA SITUAO-PROBLEMA

    1.1 Introduo

    A citao a seguir visa destacar a importncia da revoluo tecnolgica

    das ltimas dcadas sobre o mundo organizacional.

    The digital economy defined by the changing characteristics of

    information, computing, and communications is now the preeminent driver

    of economic growth and social change. With a better understanding of these

    fundamental transformations, we can make wiser decisions whether we are

    investing in research, products, or services, or are adapting our laws and

    policies to the realities of a new age. Neal Lane, Assistant to the President

    for Science and Technology, April 1999 (in Brynjolfsson e Kahin, 2000, pg. 3)

    Dentro do contexto da economia digital, a internet e suas tecnologias

    relacionadas representam uma quebra de paradigma para as organizaes,

    conforme Brynjolfsson (2000) destaca no trecho a seguir.

    Although there is now a substantial body of literature on the role of

    information technology in the economy, much of it is inconclusive. The

    context is now changing as the success of the Internet and electronic

    commerce (e-commerce) introduces new issues of influence and

    measurement. Computers created a platform for the Web; the Web, in turn,

    provided an enabling platform for e-commerce. The Internet and the Web

    have also enabled profound changes in the organization of firms and in

    processes within firms.

    The Internet links information to locations, real and virtual. It links the logic

    of numbers to the expressive power and authority of words and images.

    Internet technology offers new forms for social and economic enterprise, new

    versatility for business relationships and partnerships, and new scope and

    efficiency for markets. (Brynjolfsson e Kahin, 2000, pg. 3)

  • 1. DESCRIO DA SITUAO-PROBLEMA

    2

    1.2 Formulao da Situao Problema

    Apesar do consenso quanto relevncia das novas tecnologias,

    especificamente daquelas relacionadas internet, sobre as organizaes,

    ainda existe muita discusso quanto s possibilidades que estas novas

    tecnologias trazem para as organizaes e quanto a como as organizaes

    podem se aproveitar destas tecnologias para obter vantagens competitivas.

    A citao a seguir ilustra o cerne desta discusso.

    The time has come to take a clearer view of the Internet. We need to

    move away from the rhetoric about Internet industries, e-business

    strategies, and a new economy and see the Internet for what it is: an

    enabling technology a powerful set of tools that can be used, wisely or

    unwisely, in almost any industry and as part of almost any strategy.

    (...)

    The key question is not whether to deploy Internet technology

    companies have no choice if they want to stay competitive but how to

    deploy it. (...) The Internet per se will rarely be a competitive advantage.

    Many of the companies that succeed will be ones that use the Internet as a

    complement to traditional ways of competing, not those that set their Internet

    initiatives apart from their established operations. (Porter, 2001, pg. 64)

    A proposta do estudo convergente com a viso de Porter. Todas as

    companhias j utilizam, ou vo utilizar, de alguma forma, a tecnologia da

    internet. Mas a tecnologia por si no representa vantagem competitiva. O

    diferencial est em como usar esta tecnologia de forma a alavancar a

    competitividade da organizao.

    Espera-se que este estudo de caso contribua para o entendimento dos

    processos que as organizaes podem realizar visando planejar a sua

    presena na internet.

    1.3 Contextualizao

    Paralelamente s discusses acadmicas sobre o papel da internet no

    desenvolvimento e manuteno de vantagens competitivas, o mercado vem

    desenvolvendo e implementando uma srie de iniciativas na internet. O tema

  • 1. DESCRIO DA SITUAO-PROBLEMA

    3

    central deste trabalho o processo formal de definio de iniciativas na

    internet realizado pelas empresas, isto :

    Como as empresas planejam quais sero suas aes na internet?

    Uma das empresas que tem buscado esta resposta, no papel de

    fornecedora de solues a AgnciaClick. A proposta da AgnciaClick

    integrar e entregar uma soluo completa de internet para seus clientes. Isto

    inclui sites institucionais, comrcio eletrnico, portais de contedo, intranets,

    extranets, mdia online. Ou seja, qualquer tipo de relacionamento atravs da

    internet, com qualquer um dos pblicos da organizao cliente.

    Entre os clientes da AgnciaClick esto empresas de mdio e grande

    porte, nacionais e multinacionais, com estratgias agressivas ou

    conservadoras na internet. Alguns exemplos so C&A, Multibrs, Caixa

    Econmica Federal, Globo.com.

    Um dos servios oferecidos pela AgnciaClick para seus clientes a

    Formulao de Estratgia de Presena (FEP). Trata-se de um trabalho de

    consultoria para empresas que desejem gerar ou refinar um plano de aes

    na internet. A proposta da FEP : se a empresa no sabe exatamente como

    atuar na internet, a FEP propor um plano de ao que alavanque a

    estratgia da organizao.

    O presente estudo visa analisar a FEP, enquanto processo de formulao

    da estratgia de presena de organizaes na internet, de acordo com os

    critrios de anlise encontrados na reviso bibliogrfica. A inteno

    identificar se a FEP, enquanto representante de um universo restrito de

    metodologias formais de formulao de estratgia para a internet, incorpora

    novas abordagens, se de fato contm alguma resposta s possibilidades

    trazidas para as organizaes pelas tecnologias relacionadas internet.

    importante ressaltar que no se intenciona analisar o resultado final

    gerado por esta metodologia, mas sim o processo em si, enquanto conjunto

    de atividades, mtodos, instrumentos.

    1.4 Questes de Pesquisa

    Diversos autores (Tapscott, 2001, Applegate, 2001, Amit e Zott, 2001,

    entre outros) argumentam que a compreenso e explorao das arquiteturas

  • 1. DESCRIO DA SITUAO-PROBLEMA

    4

    de negcios viabilizadas pela plataforma internet requer a incorporao de

    novos enfoques estratgicos e mtodos analticos aos processos de

    formulao de estratgia.

    A partir de uma reviso das proposies destes autores, possvel

    destacar enfoques estratgicos e mtodos analticos ausentes dos

    processos de formulao de estratgia e dos processos de alinhamento

    estratgico de sistemas de informao. Ou seja, existem lacunas nos

    processos analisados.

    O estudo busca analisar se a metodologia FEP preenche estas lacunas, e

    qual a abordagem utilizada para as mesmas. Assim, a questo de

    pesquisa :

    Como a metodologia de formulao de estratgia de presena na

    internet analisada (FEP) aborda os enfoques estratgicos e mtodos

    analticos necessrios compreenso e explorao das arquiteturas de

    negcios viabilizadas pela plataforma internet (PI)?

    1.5 Objetivos da Pesquisa

    Objetivo principal:

    Identificar a abordagem da metodologia para a formulao da

    estratgia de presena de organizaes na internet aos enfoques

    estratgicos e mtodos analticos necessrios compreenso e

    explorao das arquiteturas de negcios viabilizadas pela PI. Com base

    na anlise desta abordagem, pretende-se verificar tendncias e projetar

    alternativas, como forma de melhor-la.

    Objetivos secundrios:

    Identificar a abordagem da metodologia analisada para o conceito de

    modelo de negcios

    Identificar a abordagem da metodologia analisada para as quatro

    categorias de fontes de gerao de valor (complementaridade, novidade,

    eficincia e aprisionamento)

    Identificar a abordagem da metodologia analisada para o

    relacionamento da organizao com seus diversos pblicos

  • 1. DESCRIO DA SITUAO-PROBLEMA

    5

    1.6 Definio Conceitual e Operacional dos Termos Relevantes

    Plataforma Internet: Uma rede global (fixa ou sem fio wireless) que

    conecta milhes de computadores. Ao contrrio dos servios online

    tradicionais, que so controlados centralmente, a Internet descentralizada,

    de modo que cada servidor, chamado de host, independente. Seus

    operadores podem escolher que servios da internet usar e quais servios

    locais tornar disponveis para a comunidade global. So caractersticas

    desta plataforma:

    Padres abertos permitem a conectividade global; qualquer um com

    software e hardware que permitam o acesso internet pode participar;

    A propriedade compartilhada da rede faz com que a colaborao seja

    necessria para definir e gerenciar o comrcio;

    Software e infraestrutura modular e flexvel d flexibilidade aos

    negcios;

    Custo e especializao mais baixos e prazos mais curtos para

    desenvolver solues de negcios abaixam as barreiras de entrada.

    Enfoques estratgicos: Modelo de anlise da estrutura da organizao e

    da(s) cadeia(s) nas quais a mesma participa (Arquitetura de Negcios).

    Mtodos analticos: ferramentas de identificao e avaliao das

    situaes atual e desejada da organizao, tanto internamente quanto frente

    a seus concorrentes atuais e potenciais.

    Arquiteturas de negcios: o modelo de utilizao dos recursos relevantes

    (estejam eles dentro ou fora das fronteiras da organizao) visando a

    criao de valor para seus clientes/ consumidores. Grau de integrao

    vertical e horizontal da organizao.

    Metodologia de formulao da estratgia de presena na internet: etapas,

    subdivididas em atividades, necessrias para o processo formal de

    elaborao de uma estratgia de presena

  • 1. DESCRIO DA SITUAO-PROBLEMA

    6

    Estratgia de presena: Os pontos de contato da empresa na internet, ou

    seja, as iniciativas atravs das quais a empresa abordar seus pblicos,

    visando atingir a situao desejada (objetivos da empresa, bem como seu

    posicionamento estratgico) a partir da situao atual verificada.

    Organizaes: associaes ou instituies com objetivos definidos

    1.7 Delimitao

    O presente estudo busca analisar uma metodologia de formulao de

    estratgia de presena, sem no entanto avaliar se o resultado da estratgia

    formulada atravs de tal processo eficaz para os objetivos estabelecidos

    pelas empresas. Ou seja, o foco do estudo o processo de formulao de

    estratgia, e no a estratgia em si.

    A metodologia pressupe uma empresa j existente, portanto com uma

    estratgia genrica, um ramo de atuao, linha de produtos e mercado-alvo

    j definidos. Assim sendo, uma das premissas do estudo a de que

    possvel realizar um trabalho de formulao de estratgia para a internet a

    partir de uma estratgia j existente.

    Esta premissa tambm encontrada nas metodologias de alinhamento

    estratgico de sistemas de informao (SI).

    Hackney (2000) diferencia as estratgias de SI e de Tecnologia de

    Informao (TI). Segundo o autor, a estratgia de SI orientada demanda,

    focando nos requerimentos de informao e sistemas em atingir os objetivos

    de negcios. Estas necessidades so capturadas em termos de suas

    aplicaes mais apropriadas. A estratgia de TI, por outro lado, orientada

    oferta e preocupada com a especificao da tecnologia em como entregar

    estas aplicaes (Hackney et al, 2000).

    O alinhamento de estratgias SI/ TI e negcios baseado em diversas

    premissas, listadas por Hackney et al (2000):

    1. Existe uma estratgia de negcios

    2. A estratgia de SI pode ser alinhada com a de TI

    3. As estratgias de SI e de negcios so diferentes

    4. TI uma fonte de vantagem competitiva

  • 1. DESCRIO DA SITUAO-PROBLEMA

    7

    5. Existem sistemas de informaes estratgicos

    6. Aplicaes estratgicas de TI so formalmente planejadas

    7. O planejamento de sistemas de informaes estratgicos encoraja a

    integrao organizacional

    8. O planejamento de sistemas de informaes estratgicos funciona

    Estas premissas no invalidam entretanto a importncia de um

    procedimento formal de formulao de estratgia. Mesmo com as evidncias

    empricas da freqente no implementao dos planejamentos realizados,

    Mintzberg (1994) no defende a ausncia de um processo de planejamento.

    A estratgia de uma empresa, quando observada a posteriori contem

    diversos elementos que surgiram ao longo da prpria execuo da mesma.

    Ou seja: trata-se de um processo contnuo, cclico, extremamente sensvel

    ao ambiente externo e interno da organizao. Ainda assim, um processo

    formal de planejamento importante no para criar estratgias, mas para

    programar as estratgias que j tenham, isto , para elabor-las, refin-las,

    divulg-las e operacionaliz-las.

    importante tambm distinguir a metodologia de formulao de

    estratgia de presena na internet de outras metodologias relacionadas com

    a implementao de estratgias na internet. O quadro a seguir apresenta as

    diferenas entre a FEP e algumas das principais metodologias:

    Quadro 1. Metodologias Relacionadas com Estratgias na Internet Metodologia Objetivo Questes referentes

    estratgia na internet Formulao da

    Estratgia de Presena (FEP) (AgnciaClick, 2001)

    Formular um plano de ao que defina e caracterize os pontos de contato atravs da internet com os principais pblicos da organizao

    Que aes na internet iro alavancar o posicionamento estratgico estabelecido pela empresa?

    Control Objectives for Information and related Technology (Cobit) management guidelines (Cobit, 2000)

    Controlar e auditar os 34 processos relacionados a tecnologia da informao, atravs de Modelos de Maturidade; Fatores Crticos de Sucesso; Indicadores de Objetivos Chaves; e Indicadores de Performance Chaves

    O planejamento estratgico de TI enderea os Critrios de Informao e atende os indicadores? Os Fatores Crticos de Sucesso foram abordados?

  • 1. DESCRIO DA SITUAO-PROBLEMA

    8

    Quadro 1. Metodologias Relacionadas com Estratgias na Internet Metodologia Objetivo Questes referentes

    estratgia na internet Metodologia de

    desenvolvimento de aplicaes para internet atravs de abordagem orientada a objeto -

    Unified Modeling Language (UML) (Conallen, 2000)

    Definir os fluxos de trabalho, atividades, componentes e papis da equipe em um processo de desenvolvimento de softwares para internet

    A estratgia est bem delineada, permitindo que os requerimentos das aplicaes sejam claros e no ambguos?

    Project Management Body of Knowledge (PMBOK) (PMI, 1996)

    Identificar conhecimentos e prticas nas atividades de projetos visando balancear demandas concorrentes em termos de escopo, tempo, custo e qualidade; alm das necessidades e expectativas dos envolvidos

    As atividades da FEP, enquanto processo, esto sendo cumpridas? Esto dentro do prazo? As entregas esto dentro das especificaes iniciais?

  • 9

    2 PROCESSO DE FORMULAO DE ESTRATGIA

    2.1 Definies de estratgia

    Quinn (1996) define estratgia como um padro ou plano.

    A strategy is the pattern or plan that integrates an organizations major

    goals, policies, and action sequences into a cohesive whole. A well-

    formulated strategy helps to marshal and allocate an organizations

    resources into a unique and viable posture based on its relative internal

    competencies and shortcomings, anticipated changes in the environment,

    and contingent moves by intelligent opponents (Quinn, 1996. pg.3)

    Uma caracterstica importante da estratgia, segundo Quinn, que ela

    pode ser observada tanto como definies a priori que guiam a ao ou

    como resultados a posteriori de um real comportamento de deciso.

    In most complex organizations... one would be hard pressed to find a

    complete a priori statement of a total strategy that actually is followed. Yet

    often the existence of a strategy (or strategy change) may be clear to an

    objective observer, although it is not yet apparent to the executives making

    critical decisions. (Quinn, 1996. pg.4)

    Desta forma, para entender a verdadeira estratgia, preciso olhar o real

    padro dos objetivos, polticas e principais programas em operao na

    companhia.

    Mintzberg (1996) apresenta cinco definies de estratgia, e depois

    discute algumas das inter-relaes entre elas.

    1. Estratgia como plano (plan) algum tipo de linha de ao, ou

    seqncia de atividades conscientemente intencionadas para lidar

    com uma situao. Por esta definio, as estratgias tm duas

    caractersticas essenciais: so feitas antes das aes para as quais

    se aplicam, e so desenvolvidas conscientemente e com um

    propsito definido.

  • 2. PROCESSO DE FORMULAO DE ESTRATGIA

    10

    2. Dentro desta definio, a estratgia pode ser uma armadilha (ploy)

    tambm. Neste sentido, a estratgia seria uma manobra especfica,

    visando enganar um oponente.

    Por exemplo, uma empresa pode ameaar expandir a capacidade de sua

    fbrica para desencorajar um competidor de construir uma nova fbrica. A

    real estratgia a ameaa, no a expanso da planta.

    3. Estratgia como padro (pattern) em uma seqncia de aes

    consistncia no comportamento, intencional, ou no.

    Thus, the definitions of strategy as plan and pattern can be quite

    independent of each other: plans may go unrealized, while patterns may

    appear without preconception,. (...) If we label the first definition intended

    strategy and the second realized strategy (...), then we can distinguish

    deliberate strategies, where intentions that existed previously were realized,

    from emergent strategies, where patterns developed in the absence of

    intentions, or despite them (which were unrealized) (Mintzberg, 1996. pg.

    12).

    Para Mintzberg, no existem estratgias puramente intencionais, nem

    estratgias totalmente emergentes. As estratgias se localizam no meio:

    parte planejada, parte emerge ao longo do tempo, e assim composta a

    estratgia realizada, que percebida a posteriori.

    4. Estratgia como posio (position) um meio de localizar uma

    organizao no que, segundo Mintzberg, os tericos das

    organizaes gostam de chamar um ambiente. Por esta definio, a

    estratgia se configura como a fora mediadora entre a organizao e

    o ambiente, isto , entre os contextos interno e externo.

    Esta definio compatvel com as anteriores: uma posio pode ser

    previamente selecionada e aspirada atravs de um plano (ou armadilha) e

    pode ser alcanada atravs de um padro de comportamento.

    5. Estratgia como perspectiva (perspective) seu contedo consiste

    no apenas de uma posio escolhida, mas de uma forma arraigada

    de perceber o mundo. Neste sentido, a estratgia para a

    organizao o que a personalidade para o indivduo.

  • 2. PROCESSO DE FORMULAO DE ESTRATGIA

    11

    Esta definio sugere que acima de tudo a estratgia um conceito. Mais

    que isso, um conceito compartilhado pelos membros de uma organizao,

    atravs de suas intenes e aes.

    In effect, when we are talking of strategy in this context, we are entering

    the realm of the collective mind individuals united by common thinking

    and/or behavior. A major issue in the study of strategy formation becomes,

    therefore, how to read that collective mind to understand how intentions

    diffuse through the system called organization to become shared and how

    actions come to be exercised on a collective yet consistent basis (Mintzberg,

    1996. pg. 15).

    Mintzberg defende que as cinco vises de estratgia no so

    incompatveis entre si. De fato, so complementares. Cada definio

    adiciona elementos importantes para o entendimento de estratgia, e

    encoraja a abordagem de questes fundamentais sobre as organizaes em

    geral.

    Como um plano, a estratgia lida com como os lderes tentam estabelecer

    direo para as organizaes, para coloc-las em linhas de ao

    predeterminadas. A estratgia como um plano levanta o tema da cognio

    como as intenes so concebidas no crebro humano em primeiro lugar, o

    que as intenes realmente significam. Ao estudar estratgia como um

    plano, preciso entrar na mente do estrategista, para entender o que de

    fato pretendido.

    Como armadilha, a estratgia levada ao centro da competio direta,

    onde ameaas e outras manobras so empregadas para ganhar vantagem.

    Isto coloca o processo de formao de estratgia na situao mais dinmica,

    com movimentos provocando contra movimentos e assim por diante.

    Como padro, a estratgia foca na ao, lembrando que o conceito

    vazio se no se leva o comportamento em conta. Estratgia como padro

    tambm introduz a noo de convergncia, de consistncia no

    comportamento de uma organizao. A estratgia realizada, quando

    considerada ao lado da estratgia pretendida, leva a considerar a noo de

    que estratgias podem emergir tanto quanto serem deliberadamente

    impostas.

  • 2. PROCESSO DE FORMULAO DE ESTRATGIA

    12

    Como posio, a estratgia leva a observar as organizaes em seu

    ambiente competitivo. Como eles encontram suas posies e as protegem

    de forma a enfrentar a competio. uma viso ecolgica das organizaes,

    como organismos em nichos que brigam pela sobrevivncia em um mundo

    de hostilidade e incerteza, assim como em simbiose.

    Como perspectiva, a estratgia levanta questes sobre inteno e

    comportamento em um contexto coletivo.

    Mintzberg conclui:

    Thus, strategy is not just a notion of how to deal with an enemy or a set of

    competitors or a market, as it is treated in so much of the literature and in its

    popular usage. It also draws us into some of the most fundamental issues

    about organizations as instruments for collective perception and action

    (Mintzberg, 1996. pg. 16).

    2.2 Objetivos, Metas, Tticas

    Segundo Quinn (1996), os objetivos so parte da estratgia.

    Goals (or objectives) state what is to be achieved and when results are to

    be accomplished, but they do not state how the results are to be achieved.

    All organizations have multiple goals existing in a complex hierarchy: from

    value objectives, which express the broad value premises toward which the

    company is to strive; through overall organizational objectives, which

    establish the intended nature of the enterprise and the directions in which it

    should move; to a series of less permanent goals that define targets for each

    organizational unit, its subunits, and finally all major program activities within

    each subunit. Major goals those that affect the entitys overall direction and

    viability are called strategic goals. (Quinn, 1996. pg. 3)

    Para o autor, a diferena entre ttica e estratgia est primeiramente na

    escala de ao ou na perspectiva do lder. O que parece ser uma ttica

    para o presidente da empresa, pode ser uma estratgia para o diretor de

    marketing se ela determina em ltima instancia o sucesso e viabilidade de

    sua organizao. Tticas podem ocorrer em qualquer nvel. Elas so os

    realinhamentos de curta durao, adaptativos, que resultam da interao

    com foras contrrias ao longo da execuo dos objetivos. A estratgia

  • 2. PROCESSO DE FORMULAO DE ESTRATGIA

    13

    define uma base contnua para ordenar essas adaptaes em direo a

    propsitos mais amplamente concebidos.

    2.3 Critrios de avaliao da estratgia

    A avaliao de uma estratgia no pode ser feita pela avaliao de seu

    resultado. Outros fatores, como sorte, recursos, implementao e erros dos

    concorrentes tm efeito sobre os resultados finais. Alm disso, ao se

    formular uma estratgia, no se pode usar o critrio de sucesso para avali-

    la porque o resultado ainda no sabido.

    Quinn (1996) sugere os seguintes critrios para avaliar uma estratgia:

    Objetivos claros, decisivos: todos os objetivos no precisam

    necessariamente ser escritos ou numericamente precisos, mas eles

    devem ser compreensveis e decisivos. Isto , se eles forem atingidos eles

    deveriam assegurar a contnua viabilidade e vitalidade da organizao

    frente a seus oponentes.

    Manuteno da iniciativa: a estratgia deve promover a ao e o

    comprometimento. Deve determinar o ritmo e o curso dos eventos ao

    invs de reagir a eles. Uma postura reativa prolongada abaixa a moral,

    elimina as vantagens de tempo, aumenta custos, diminui o nmero de

    opes disponveis e diminui a probabilidade de atingir sucesso suficiente

    para assegurar independncia e continuidade.

    Concentrao: a estratgia deve concentrar o poder superior no

    tempo e local mais provveis de serem decisivos. A estratgia deve definir

    precisamente o que far a empresa superior em dimenses crticas em

    relao a seus concorrentes. Uma competncia distintiva gera maior

    sucesso com menos recursos.

    Flexibilidade: a estratgia deve prever espaos para manobra. Devem

    ser planejadas alternativas (opes) de ao para diferentes cenrios, que

    levaro ao mesmo resultado final.

    Liderana coordenada e comprometida: os lderes devem ser

    motivados e escolhidos de acordo com o encontro de seus prprios

    valores e interesses com o papel que deles esperado.

  • 2. PROCESSO DE FORMULAO DE ESTRATGIA

    14

    Surpresa: a estratgia deve fazer uso de rapidez, segredo e

    inteligncia para atacar concorrentes despreparados inesperadamente.

    Segurana: Deve ser desenvolvido um sistema de inteligncia eficaz o

    suficiente para prever surpresas de seus concorrentes.

    2.4 Formulao da Estratgia

    Mintzberg e Quinn (1996) destacam duas ondas de teorias prescritivas de

    estratgia, ou seja como a estratgia deveria ser desenhada ou

    conscientemente formulada. A primeira destas ondas, a de formulao de

    estratgia, de cuja um dos principais representantes Kenneth Andrews, da

    Harvard Business School.

    Segundo Andrews (1996), o processo intelectual de formulao de

    estratgia equivale a:

    descobrir o que uma companhia pode fazer em termos de

    oportunidades ambientais;

    decidir o que ela capaz de fazer em termos de habilidade e poder; e

    combinar estes dois lados da equao em um equilbrio timo.

    O processo segundo Andrews, assume que os estrategistas so

    analiticamente objetivos em estimar a capacidade relativa de sua companhia

    e a oportunidade que vem ou antecipam em desenvolver mercados. O

    quanto eles suportam em termos de risco depende dos seus objetivos de

    lucros. Quanto mais alto forem estes objetivos, mais propensos eles devem

    estar a assumir um alto risco correspondente.

    A figura a seguir apresenta as principais etapas do processo de

    Formulao de Estratgia segundo Andrews. Trata-se basicamente de um

    processo de combinao das oportunidades e recursos, resultando em uma

    estratgia econmica.

  • 2. PROCESSO DE FORMULAO DE ESTRATGIA

    15

    Andrews, 1996.

    Figura 1. Estratgia Econmica

    Outro representante importante desta linha prescritiva de estratgia Igor

    Ansoff (1990). O modelo proposto por Ansoff em 1965 (data da edio

    original), e revisto em 1988, para o problema da formulao da estratgia

    empresarial, tem fortes referncias na teoria de anlise de investimentos.

    Ansoff discute as limitaes s teorias de investimento em ativos fixos como

    ferramenta de anlise estratgica. A argumentao do autor que as regras

    de deciso para a busca e a avaliao de produtos e mercados no so as

    mesmas para todas as empresas:

    Nossa preocupao no deve se restringir avaliao de projetos por

    regras fixas, que a principal preocupao da Teoria de Investimento, mas

    Condies e Tendncias AmbientaisEconmicasTcnicasPolticasSociais

    ComunidadeNaoMundo

    Competncia Distintiva;Capacidade (Financeira, Gerencial, Funcional,

    Organizacional);Reputao;Histria

    Oportunidades e Riscos

    IdentificaoInvestigaoAvaliao

    Recursos CorporativosEstendendo ou

    limitando oportunidadesIdentificao de

    foras e fraquezas

    Programas para aumento da capacitao

    Considerao de todas as

    combinaes

    Escolha de Produtos e MercadosEstratgia Econmica

    Avaliao para determinar melhor

    combinao de oportunidades e

    recursos

    Estratgia Econmica

    Condies e Tendncias AmbientaisEconmicasTcnicasPolticasSociais

    ComunidadeNaoMundo

    Competncia Distintiva;Capacidade (Financeira, Gerencial, Funcional,

    Organizacional);Reputao;Histria

    Oportunidades e Riscos

    IdentificaoInvestigaoAvaliao

    Recursos CorporativosEstendendo ou

    limitando oportunidadesIdentificao de

    foras e fraquezas

    Programas para aumento da capacitao

    Considerao de todas as

    combinaes

    Escolha de Produtos e MercadosEstratgia Econmica

    Avaliao para determinar melhor

    combinao de oportunidades e

    recursos

    Condies e Tendncias AmbientaisEconmicasTcnicasPolticasSociais

    ComunidadeNaoMundo

    Competncia Distintiva;Capacidade (Financeira, Gerencial, Funcional,

    Organizacional);Reputao;Histria

    Oportunidades e Riscos

    IdentificaoInvestigaoAvaliao

    Recursos CorporativosEstendendo ou

    limitando oportunidadesIdentificao de

    foras e fraquezas

    Programas para aumento da capacitao

    Considerao de todas as

    combinaes

    Escolha de Produtos e MercadosEstratgia Econmica

    Avaliao para determinar melhor

    combinao de oportunidades e

    recursos

    Estratgia Econmica

  • 2. PROCESSO DE FORMULAO DE ESTRATGIA

    16

    tambm com a formulao de regras para cada empresa (Ansoff, 1990. pg.

    43)

    A partir desta constatao, Ansoff divide a abordagem ao problema

    estratgico em dois nveis e duas etapas:

    1. Caractersticas da posio geral da empresa para gerar regras de

    deciso para busca e avaliao de oportunidades: etapa de decidir

    em que tipo de negcio a empresa est e em que tipo deveria estar.

    a. Objetivos: determinao dos padres de mensurao do

    desempenho da empresa. So as metas a serem alcanadas.

    b. Estratgia em termos de produtos e mercados: definio das

    caractersticas desejveis dos produtos e mercados. A

    estratgia indica o caminho a percorrer para se chegar a essas

    metas.

    2. Aplicao das regras a oportunidades especficas. A abordagem

    semelhante a da teoria de investimentos, porm com trs diferenas:

    o Aplicao da estratgia para permitir uma triagem das

    oportunidades;

    o Utilizao de um vetor de objetivos;

    o Emprego de medidas qualitativas adicionais para refinar a

    mensurao da rentabilidade.

    Ansoff classifica seu mtodo como sendo uma Busca Adaptativa. Isto

    obtido atravs de um enfoque em cascata. No incio, as regras possveis

    de deciso so formuladas em termos brutos, sendo posteriormente

    refinadas atravs de diversos estgios, medida em que a soluo avana.

    2.5 Anlise Estratgica

    Mintzberg e Quinn (1996) identificam uma segunda onda prescritiva de

    como a estratgia deveria ser formulada, tendo sido desenvolvida nos anos

    80. Os autores consideram que a contribuio desta corrente menos um

    novo modelo conceitual j que de fato aproveita a maior parte das

    premissas do modelo tradicional e sim uma estruturao cuidadosa dos

    tipos de anlises formais que deveriam ser realizadas para desenvolver uma

    estratgia de sucesso. Um dos resultados desta abordagem mais formal a

  • 2. PROCESSO DE FORMULAO DE ESTRATGIA

    17

    viso das estratgias se encaixando em certas classificaes genricas. As

    estratgias portanto no seriam criadas individualmente, mas sim

    selecionadas de um conjunto limitado de opes com base no estudo

    sistemtico da firma e das condies na indstria em que est inserida.

    O principal representante desta abordagem Michael Porter. Mintzberg e

    Quinn consideram que, de certa forma, as estruturas de anlise de

    estratgia de Porter so paralelas quelas de Andrews. Mas uma srie de

    elementos sistemticos e analticos, freqentemente criam um resultado que

    menos amplo e mais focado.

    Segundo Porter (1980), duas questes centrais baseiam a escolha da

    estratgia competitiva:

    1. atratividade das indstrias em termos de rentabilidade

    2. determinantes da posio competitiva dentro de uma indstria

    A primeira questo, a da atratividade das indstrias, determinada pelas

    regras da concorrncia nesta indstria. As regras da concorrncia so

    resumidas no diagrama conhecido como Diamante de Porter, representado

    na figura a seguir:

    Figura 2. O Diamante de Porter

    Ameaa de benssubstitutos

    Poder de barganhados compradores

    Poder de barganhados fornecedores

    Barreiras de Entrada

    Rivalidade entre concorrentes existentes

    Ameaa de benssubstitutos

    Poder de barganhados compradores

    Poder de barganhados fornecedores

    Barreiras de Entrada

    Rivalidade entre concorrentes existentes

  • 2. PROCESSO DE FORMULAO DE ESTRATGIA

    18

    As Barreiras de entrada se tornam mais altas quanto mais dos seguintes

    elementos estiverem presentes, e quanto maior for a intensidade destes

    elementos:

    Economias de escala

    Diferenas proprietrias de produtos

    Identidade de marca

    Custos de troca

    Requerimentos de capital

    Acesso distribuio

    Vantagens de custo absolutas (curvas de aprendizagem proprietrias,

    acesso a insumos necessrios, design de produto baixo custo proprietrio)

    Poltica governamental

    Retaliao esperada

    O Poder de barganha dos fornecedores se torna mais alto quanto mais

    dos seguintes elementos estiverem presentes, e quanto maior for a

    intensidade destes elementos:

    Diferenciao de insumos

    Custos de troca dos fornecedores e empresas na indstria

    Presena de insumos substitutos

    Concentrao dos fornecedores

    Importncia do volume para o fornecedor

    Custo relativo ao total de compras na indstria

    Impacto dos insumos em custo ou diferenciao

    Ameaa de integrao para a frente, relativamente ameaa de

    integrao para trs das empresas na indstria

    O Poder de barganha dos compradores se torna mais alto quanto mais

    dos seguintes elementos estiverem presentes, e quanto maior for a

    intensidade destes elementos:

    Alavancagem da barganha

  • 2. PROCESSO DE FORMULAO DE ESTRATGIA

    19

    o Concentrao do comprador versus concentrao da empresa

    o Volume do comprador

    o Custos de troca dos compradores relativamente aos custos de

    troca da empresa

    o Informao do comprador

    o Habilidade de integrao para trs

    Produtos substitutos

    o Sensibilidade a preo

    o Preo/ compras totais

    o Diferenas de produtos

    o Identidade de marca

    o Impacto na qualidade/ performance

    o Lucros do comprador

    o Incentivos aos tomadores de deciso

    A intensidade da rivalidade entre os competidores de uma indstria se

    torna mais alta quanto mais dos seguintes elementos estiverem presentes, e

    quanto maior for a intensidade destes elementos:

    Crescimento da indstria

    Custos fixos/ valor agregado

    Capacidade ociosa intermitente

    Diferenas de produtos

    Identidade de marca

    Custos de troca

    Concentrao e equilbrio

    Complexidade informacional

    Diversidade de competidores

    Barreiras de sada

    Segundo Porter (1986), a segunda questo central em estratgia

    competitiva a posio relativa de uma empresa dentro de sua indstria. O

    posicionamento determina se a rentabilidade de uma empresa est abaixo

    ou acima da mdia da indstria. Uma empresa que pode posicionar-se bem

  • 2. PROCESSO DE FORMULAO DE ESTRATGIA

    20

    capaz de obter altas taxas de retornos, mesmo que a estrutura industrial

    seja desfavorvel e a rentabilidade mdia da indstria seja, portanto,

    modesta.

    Para Porter, a importncia de qualquer ponto forte ou fraco que uma

    empresa possui , em ltima instncia, uma funo de seu impacto sobre o

    custo relativo ou a diferenciao.

    Os dois tipos bsicos de vantagem competitiva combinados com o escopo

    de atividades para quais uma empresa procura obt-los levam a trs

    estratgias genricas para alcanar o desempenho acima da mdia em uma

    indstria: liderana de custo, diferenciao e enfoque. A estratgia do

    enfoque tem duas variantes: enfoque no custo e enfoque na diferenciao.

    As estratgias de liderana no custo e de diferenciao buscam a

    vantagem competitiva em um limite amplo de segmentos industriais,

    enquanto a estratgia do enfoque visa a uma vantagem de custo (enfoque

    no custo) ou uma diferenciao (enfoque na diferenciao) num segmento

    estreito.

    Para Porter, o instrumento bsico para diagnosticar a vantagem

    competitiva e encontrar maneiras de intensifica-la a cadeia de valores, que

    divide uma empresa nas atividades distintas que ela executa no projeto,

    produo, marketing e distribuio de seu produto.

    As atividades de valor podem ser divididas em dois tipos, as atividades

    primrias e as atividades de suporte. As atividades primrias, listadas na

    parte de baixo da figura a seguir, so as atividades envolvidas na criao

    fsica do produto e sua venda e transferncia para o comprador bem como a

    assistncia ps-venda. Em qualquer firma, as atividades primrias podem

    ser divididas entre as cinco categorias genricas, tambm descritas na figura

    a seguir. As atividades de suporte so o apoio s atividades primrias e

    entre elas, para fornecer os insumos comprados, a tecnologia, os recursos

    humanos e as vrias outras funes da organizao.

  • 2. PROCESSO DE FORMULAO DE ESTRATGIA

    21

    Figura 3. Cadeia de Valor de Porter

    2.6 A escolha das fronteiras da firma

    Escolhas de fronteiras so decises de importncia estratgica primria.

    Se a vantagem competitiva advm de recursos valiosos e difceis de imitar,

    ento as escolhas de fronteiras definem a posse e composio destes

    recursos.

    A integrao vertical diz respeito escolha de uma forma organizacional,

    como o mercado ou a firma (hierarquia), para conduzir atividades

    econmicas. O grau de integrao vertical escolhido atravs do

    balanceamento de dois mecanismos bsicos para coordenar o fluxo de

    materiais ou servios atravs de etapas adjacentes na cadeia de valor

    agregado: os mercados e as hierarquias (Malone, Yates e Benjamin, 1987).

    Os mercados coordenam o fluxo atravs de foras de oferta e demanda e

    as transaes externas entre diferentes indivduos e firmas.

    As hierarquias coordenam o fluxo de materiais atravs de etapas

    adjacentes ao controla-lo e dirigi-lo em um nvel mais alto na hierarquia

    organizacional. Assim os compradores no selecionam um fornecedor de um

    grupo de fornecedores potenciais. Eles simplesmente trabalham com o

    fornecedor predeterminado.

    Infraestrutura da firma

    Administrao de Recursos Humanos

    Desenvolvimento de Tecnologia

    Compras

    LogsticaInterna

    Operaes LogsticaExterna

    Marketinge Vendas

    Servio

    Margem

    Margem

    Atividadesde Suporte

    Atividades Primrias

    Cadeia de Valor de Porter

    Infraestrutura da firma

    Administrao de Recursos Humanos

    Desenvolvimento de Tecnologia

    Compras

    LogsticaInterna

    Operaes LogsticaExterna

    Marketinge Vendas

    Servio

    Margem

    Margem

    Atividadesde Suporte

    Atividades Primrias

    Infraestrutura da firma

    Administrao de Recursos Humanos

    Desenvolvimento de Tecnologia

    Compras

    LogsticaInterna

    Operaes LogsticaExterna

    Marketinge Vendas

    Servio

    Infraestrutura da firma

    Administrao de Recursos Humanos

    Desenvolvimento de Tecnologia

    Compras

    LogsticaInterna

    Operaes LogsticaExterna

    Marketinge Vendas

    Servio

    Margem

    Margem

    Atividadesde Suporte

    Atividades Primrias

    Cadeia de Valor de Porter

  • 2. PROCESSO DE FORMULAO DE ESTRATGIA

    22

    A deciso de integrao vertical tambm pode ser chamada de deciso

    de fazer ou comprar (make-or-buy), deciso de fornecimento (sourcing)

    ou ainda deciso de subcontratao (tambm conhecida como

    terceirizao).

    Uma firma representa uma combinao de produo, distribuio, venda

    e outros processos econmicos tecnologicamente distinto dentro de seus

    limites. A existncia de uma firma ou de integrao vertical requer que seja

    feito um compromisso fundamental para produzir os itens dentro da casa.

    2.6.1 Teoria Neoclssica

    Existem diversas proposies de teorias para investigar a escolha da

    forma institucional. A teoria neoclssica tradicional da firma defende que a

    firma uma funo de produo de diversos insumos. Segundo esta linha

    (por exemplo, Pindyck e Rubinfeld, 1994) os custos de produo dependem

    dos insumos, assim como do estado da tecnologia que converte os insumos

    em produtos. A deciso de comprar fora um produto ou de fabric-lo

    depende portanto nos custos de produo associados. Entretanto, a teoria

    neoclssica tradicional tm sido criticada por diversos acadmicos por ver a

    firma como uma caixa preta que simplesmente converte os insumos em

    produtos, sem considerar as implicaes comportamentais dos seres

    humanos envolvidos na produo.

    2.6.2 Economia dos Custos de Transao

    Nas ltimas dcadas do sculo passado, a Economia dos Custos de

    Transao (ECT) emergiu como uma explicao terica predominante da

    escolha de fronteira. A ECT foi sendo desenvolvida ao longo do sculo XX,

    principalmente por Coase (1937), Klein, Crawford e Alchian (1978), e

    Williamson (1975, 1985).

    O objetivo fundamental da ECT o de estudar o custo das transaes

    como o indutor dos modos alternativos de organizao da produo

    (governana), dentro de um arcabouo analtico institucional. Assim, a

    unidade de anlise fundamental passa a ser a transao, operao onde so

  • 2. PROCESSO DE FORMULAO DE ESTRATGIA

    23

    negociados direitos de propriedade. Segundo Williamson (1975), uma

    transao ocorre quando um bem ou servio transferido atravs de uma

    interface tecnologicamente separvel. Um estgio da atividade de

    processamento ou montagem termina, e outra comea.

    De acordo com a ECT, a escolha de uma forma organizacional depende

    dos custos associados com a transao entre o comprador e o vendedor.

    Estes so chamados de custos de transao. As dimenses crticas das

    transaes que influenciam a escolha da forma de governana so a

    incerteza, a freqncia e a especificidade de ativos permitindo a troca.

    A ECT argumenta e demonstra empiricamente que as escolhas de

    fronteiras so dirigidas em larga escala pela especificidade de ativos

    envolvida na troca. Ativos especficos engatilham uma ameaa de

    comportamento oportunista que requer salvaguardas contratuais caras para

    det-la. Assim, na presena de ativos especficos, a integrao vertical pode

    oferecer uma soluo de governana preferida.

    Se um produto feito por uma firma ou comprado de um fornecedor de

    fora depende ento dos custos de transao associados, isto , o grau de

    integrao vertical de uma firma seria funo dos custos de transao com o

    mercado versus os custos de coordenao.

    2.6.3 Custos de coordenao hierrquica

    Milgrom e Roberts (1992) definem os custos de transao de

    coordenao atravs de hierarquias sejam elas privadas ou

    governamentais como sendo primariamente os custos de transmitir atravs

    da hierarquia a informao inicialmente dispersa que necessria para

    determinar um plano eficiente, usando a informao para determinar o plano

    a ser implementado, e ento comunicar o plano queles responsveis por

    implement-lo. Estes custos incluem no apenas os custos diretos de

    compilar e transmitir informao, mas tambm os custos do tempo de atraso

    enquanto a comunicao est acontecendo e enquanto o centro est

    determinando o plano.

  • 2. PROCESSO DE FORMULAO DE ESTRATGIA

    24

    Segundo Daveni e Ravenscraft (1994) a integrao vertical faz com que

    surjam os custos relacionados ao fluxo da informao intra-organizacional.

    Isto , mesmo que a internalizao das trocas reduza certos custos

    relacionados transao, como publicidade (tipicamente um custo de

    informao internalizado pelo vendedor) e outras despesas de vendas, a

    integrao vertical necessita que uma hierarquia organizacional se torne

    responsvel por transferir internamente bens que eram anteriormente

    vendidos em mercados abertos. Assim, as redues nos custos de vendas

    podem ser parcialmente ou totalmente negadas por aumento nos custos

    gerenciais associados com a burocracia responsvel por maior coordenao

    interna.

    A expanso vertical aumenta o tamanho de uma organizao, implicando

    em um aumento na distncia da maior parte dos subordinados de seus

    superiores e, portanto, aumentando a distoro de comunicao.

    Ou seja, a integrao vertical, entendida como a fixao das partes de

    uma transao por um perodo pr-fixado, s reduz o saldo final de custos

    de informao se:

    1. os custos relacionados ao fluxo de informaes forem mais baixos

    do que o eventual aumento dos preos de equilbrio (ou

    diminuio, sob o ponto de vista do vendedor) gerado pela maior

    assimetria informacional em relao ao mercado; e

    2. a reduo dos custos de informao relacionados ao

    processamento das transao, relacionada adoo de um

    parceiro fixo, for maior do que o aumento dos custos relacionados

    ao fluxo de informaes.

    Milgrom e Roberts (1992) descrevem mais uma categoria de custos

    associados integrao vertical. So os Custos de motivao.

    Os custos de transao associados com o problema da motivao so de

    dois tipos. O primeiro tipo de custos so aqueles associados com a

    assimetria informacional e informaes incompletas situaes nas quais as

    partes a uma transao potencial ou real no tm toda a informao

    relevante necessria para determinar se os termos de um acordo so

    mutuamente aceitveis e se estes termos esto de fato sendo atendidos.

  • 2. PROCESSO DE FORMULAO DE ESTRATGIA

    25

    O segundo tipo de custos de transao conectados ao problema da

    motivao surge do compromisso imperfeito a inabilidade das partes de se

    ligarem para seguir atravs de ameaas e promessas que eles gostariam de

    fazer mas que, tendo feito, eles posteriormente gostariam de renunciar.

    Portanto, seguindo a anlise dos custos de transao, coordenao e

    motivao, papel da administrao assegurar-se da minimizao dos

    custos de transao, ou seja, que todas as interaes que ocorrem

    internamente so realizadas mais eficientemente do que seriam no mercado.

    Isto , as redues em custos de transaes devem ser maiores do que o

    aumento em custos administrativos e a potencial diminuio na motivao. O

    grfico a seguir ilustra o ponto timo a ser alcanado na deciso de

    integrao vertical (assumindo que os custos de produo em mercados e

    hierarquias sejam equivalentes).

    Figura 4. Mercados versus Hierarquias

    2.6.4 Capacitao Dinmica

    A discusso das capacidades dinmicas transcende a discusso das

    fronteiras da firma e avana para explicar a sobrevivncia e a rea de

    concentrao de suas atividades. A viso da capacitao dinmica surgiu a

    Integrao vertical

    Custos

    Transao

    Coordenao e Motivao

    Tamanho timo da firma

    Mercados versus Hierarquias

    Integrao vertical

    Custos

    Transao

    Coordenao e Motivao

    Tamanho timo da firma

    Mercados versus Hierarquias

  • 2. PROCESSO DE FORMULAO DE ESTRATGIA

    26

    partir da viso baseada em recursos (por exemplo, Barney, 1991). A viso

    baseada em recursos enxerga a vantagem competitiva da firma como

    relacionada posse de recursos e capacidades nicos e inimitveis, e aos

    processos de acumulao e desenvolvimento de recursos.

    O principal interesse da viso das capacidades entender o que

    distintivo nas firmas como organizaes nicas e histricas de indivduos em

    cooperao (Langlois e Foss, 1999).

    Nelson (1997) apresenta as capacidades essenciais como uma das trs

    principais caractersticas da firma, juntamente com a estratgia e a estrutura.

    Nelson (1997, pg. 263) define as competncias essenciais como the

    things that a firm is capable of doing confidently. De acordo com esta

    definio, um bloco importante do conceito das competncias a hierarquia

    de rotinas organizacionais praticadas, que definem habilidades

    organizacionais de baixo nvel e como estas so coordenadas, e o

    procedimento de deciso de alto nvel para escolher o que deve ser feito nos

    nveis mais baixos.

    A abordagem da capacitao dinmica (Teece, Pisano e Shuen, 1997)

    explora como posies valiosas de recursos so construdas e adquiridas ao

    longo do tempo. A nfase est no processo, ou seja, no mecanismo pelo

    qual as firmas acumulam e disseminam novas habilidades e capacidades

    para responder prontamente a mudanas no ambiente competitivo apesar de

    condies de dependncia de caminhos (path dependencies) e de rigidez

    nos processos tecnolgicos e organizacionais.

    Teece, et al. (1997) consideram quatro pontos de vista representativos

    para a questo da abordagem estratgica das capacidades dinmicas:

    Dierickx e Cool: a formao da estratgia pode ser identificada

    como a tarefa de fazer escolhas apropriadas sobre despesas

    estratgicas com a viso de acumular recursos e habilidades.

    Hayes, Wheelwright e Clark: o propsito da administrao

    estratgica focar a firma no desenvolvimento de competncias

    organizacionais especficas que sejam difceis para os concorrentes

    alcanarem no longo prazo.

  • 2. PROCESSO DE FORMULAO DE ESTRATGIA

    27

    Prahalad e Hamel: no longo prazo, a competitividade deriva de

    uma habilidade para construir, com menor custo e mais

    rapidamente que os concorrentes, as competncias essenciais que

    geram produtos no antecipados.

    Chandler: questo crtica da manuteno, atualizao,

    integrao e difuso de capacidades organizacionais crticas

    atravs da organizao.

    A viso de Hamel e Prahalad (1995), de que, partindo do princpio de

    que a competio pelo futuro uma competio pela participao nas

    oportunidades, e no pela participao no mercado, j que o mercado de

    hoje, no passado era apenas uma oportunidade, os autores sugerem que as

    empresas precisam buscar dentro delas mesmas as habilidades ou

    competncias que possam gerar uma participao nas oportunidades

    futuras. Analisando o portflio especfico de competncias de uma empresa,

    possvel identificar que oportunidades ela est singularmente posicionada

    para explorar.

    Seguindo esse princpio, as empresas devem tentar identificar que novas

    competncias tero que desenvolver e que modificaes tero que

    incorporar sua definio de mercados servidos para poder aumentar sua

    participao nas oportunidades futuras.

    O quadro a seguir apresenta as principais diferenas, na viso de Hamel

    e Prahalad entre a elaborao de estratgias com foco no futuro que,

    segundo os autores, a viso das competncias essenciais, e com foco no

    presente, que so as outras vises de estratgia.

    Quadro 2. Diferena do contexto de elaborao de estratgias quando o foco o amanh e no o hoje

    Hoje Amanh Razo

    Unidade de Negcios

    Competncias da Corporao

    A competio pelo futuro uma competio inter-empresas. A competio pelo futuro tem que ser uma responsabilidade da corporao e no apenas uma responsabilidade de cada unidade de negcios. As competncias necessrias para ter acesso arena de novas oportunidades podem estar espalhadas por inmeras unidades de negcios e cabe corporao reunir essas competncias no momento apropriado dentro da organizao.

  • 2. PROCESSO DE FORMULAO DE ESTRATGIA

    28

    Quadro 2. Diferena do contexto de elaborao de estratgias quando o foco o amanh e no o hoje

    Hoje Amanh Razo

    Sistemas Isolados

    Sistemas Integrados

    Muitas das novas oportunidades mais interessantes exigem a integrao de sistemas complexos, e no a inovao em torno de um produto isolado. A necessidade de reunir e harmonizar tecnologias altamente dspares entre si, administrar um processo detalhado de definio de padres, estabelecer alianas com fornecedores de produtos complementares, cooptar rivais em potencial e ter acesso mais ampla variedade possvel de canais de distribuio mostra que a competio tanto uma batalha entre coalizes concorrentes e freqentemente sobrepostas quanto uma batalha entre empresas isoladas.

    Velocidade Perseverana A liderana em setores fundamentalmente novos raramente construda em menos de dez ou quinze anos, sugerindo que a perseverana pode ser to importante quanto a velocidade na batalha pelo futuro.

    Arenas Estruturadas

    Arenas No Estruturadas

    A desregulamentao, a globalizao, as revolues fundamentais na cincia e a importncia estratgica da tecnologia da informao esto tornando indistintas as fronteiras de uma grande variedade de setores.

    Competio em Um Estgio

    Competio em Vrios Estgios

    Seja qual for a corrida, ela ocorre em trs estgios distintos e sobrepostos: competio pela previso do futuro do setor e liderana intelectual, competio pelo encurtamento dos caminhos de migrao e competio pela posio e participao no mercado.

    Os trs estgios da competio pelo futuro seriam:

    A competio pela previso do futuro do setor e liderana intelectual

    se trata da competio pela compreenso mais aprofundada do que a dos

    concorrentes das tendncias e descontinuidades (tecnolgicas,

    demogrficas, de regulamentao ou de estilo de vida) que poderiam ser

    usadas para transformar as fronteiras do setor e criar um novo espao

    competitivo.

    A competio pelo encurtamento dos caminhos de migrao est

    entre a batalha pela liderana intelectual e a batalha pela participao no

    mercado, e representa a batalha pela influncia no direcionamento do

    desenvolvimento do setor (a batalha pelo controle e encurtamento dos

    caminhos de migrao). Se no primeiro estgio, a competio visa

    imaginar uma nova arena de oportunidades, no segundo estgio, visa

    moldar ativamente o surgimento dessa futura estrutura do setor em

    benefcio prprio.

  • 2. PROCESSO DE FORMULAO DE ESTRATGIA

    29

    A competio pela posio e participao no mercado j se d dentro

    de parmetros extremamente bem definidos de valor, custo, preo e

    servio.

    Na viso de Hamel e Prahalad, s atravs do desenvolvimento e estmulo

    de competncias essenciais que a alta gerncia pode garantir a

    continuidade do empreendimento.

    Uma competncia um conjunto de habilidades e tecnologias, e no uma

    nica habilidade ou tecnologia isolada.

    Uma competncia especfica de uma organizao representa a soma do

    aprendizado de todos os conjuntos de habilidades tanto em nvel pessoal

    quanto de unidade organizacional.

    Portanto, o objetivo concentrar a ateno da gerncia nas competncias

    localizadas no centro, e no na periferia, do sucesso competitivo a longo

    prazo. Para ser considerada uma competncia especfica da organizao,

    uma habilidade precisa passar em trs testes:

    Valor percebido pelo cliente: Uma competncia essencial precisa dar uma

    contribuio desproporcional para o valor percebido pelo cliente. As

    competncias essenciais so as habilidades que permitem empresa

    oferecer um benefcio fundamental ao cliente.

    O fato de uma competncia essencial dar uma contribuio importante

    para o valor percebido pelo cliente no implica que ser visvel aos seus

    olhos ou facilmente compreendida pelo cliente.

    Portanto, qualquer conjunto de habilidades que gere uma vantagem

    significativa em termos de custos para o fornecimento de um determinado

    benefcio ao cliente tambm pode ser denominado competncia essencial.

    Diferenciao entre concorrentes: para ser qualificada como uma

    competncia essencial, uma capacidade precisa ser competitivamente nica.

    Em suma, h uma diferena entre competncias necessrias e

    competncias diferenciais. No faz muito sentido definir uma competncia

    como essencial se ela for onipresente ou puder ser facilmente copiada pelos

    concorrentes.

    Capacidade de expanso: ao definir as competncias essenciais, os

    gerentes precisam empenhar-se arduamente para abstrair a configurao de

  • 2. PROCESSO DE FORMULAO DE ESTRATGIA

    30

    um produto especfico ao qual a competncia est associada no momento e

    imaginar como a competncia poderia ser aplicada em novas arenas de

    produtos.

    Apesar da clareza com que Hamel e Prahalad defendem o conceito das

    competncias essenciais, no oferecem uma esquematizao que possibilite

    a sua aplicao prtica. Uma forma de aplicao dessas idias seria

    combinar o conceito das competncias essenciais ao planejamento

    estratgico da empresa, mais especificamente etapa da anlise interna.

    Assim, juntamente com a identificao dos pontos fortes, pontos fracos e

    fatores crticos de sucesso, que seriam focos de anlise mais voltados para

    o presente, seriam identificadas as competncias essenciais, em um foco de

    anlise mais voltado para o futuro. exatamente assim que Mintzberg e

    Quinn (1996) enxergam o conceito das competncias essenciais dentro de

    um processo de formulao de estratgia: como um complemento ao

    processo tradicional de planejamento estratgico.

    2.6.5 Redes Estratgicas

    Redes estratgicas so laos interorganizacionais estveis que so

    estrategicamente importante para as firmas envolvidas. Elas podem tomar a

    forma de alianas estratgicas, joint ventures, parcerias cliente-fornecedor

    de longo prazo, entre outras (Gulati, Nohria e Zaheer, 2000).

    Nas redes estratgicas os mecanismos de governana de mercado e de

    hierarquias coexistem, aumentando significativamente o leque de arranjos

    organizacionais possveis para a criao de valor.

    Segundo Lorenzoni e Lipparini (1999), as parcerias so motivadas, entre

    outras coisas, pela necessidade de atingir a eficincia de produo,

    compartilhar riscos de pesquisa e desenvolvimento, ganhar acesso a novos

    mercados e habilidades, e atingir compresso de tempo no desenvolvimento

    de novos produtos e na pesquisa por novas oportunidades tecnolgicas.

    Gulati et al. (2000) enumeram as seguintes vantagens de uma rede

    estratgica:

  • 2. PROCESSO DE FORMULAO DE ESTRATGIA

    31

    Provm firma o acesso a informao, recursos, mercados e

    tecnologias;

    Geram economias de aprendizagem, escala e escopo;

    Permitem que as firmas atinjam objetivos estratgicos, tais como o

    compartilhamento de risco e a terceirizao de estgios na cadeia de valor

    e de funes organizacionais.

    Atravs de estudo emprico, Lorenzoni e Lipparini (1999) formularam duas

    proposies a respeito das redes estratgicas:

    As firmas lderes da rede podem potencialmente reduzir os custos

    gerais de coordenao e produo de uma rede atravs de

    relacionamentos mltiplos, repetitivos e baseados na confiana com seus

    principais fornecedores.

    Estes relacionamentos favorecem o acesso firma lder da rede a

    capacidades complementares e conhecimento especializado com efeitos

    positivos na rede como um todo.

    Hcki e Lighton (2001) apresentam uma pesquisa emprica cujos

    resultados demonstram que as empresas que lideram uma rede de negcios

    (os network orchestrators) tm resultados superiores aos concorrentes:

    Charles Schwab, Cisco Systems, CNET Networks, eBay, E*Trade, Palm,

    and other members of the first generation of network orchestrators have

    outperformed their peers leaders in their industries in most key measures

    of revenue growth and the creation of shareholder value. More impressive,

    they achieved such growth and value creation with smaller asset bases and

    higher employee productivity (pg. 2).

    Uma possvel implicao da crescente colaborao entre os agentes da

    rede seria a concentrao de cada um deles na manuteno e

    desenvolvimento de suas competncias essenciais. O estudo de Lorenzoni e

    Lipparini (1999) mostrou que ao longo do tempo os lderes da rede focaram-

    se no que consideravam ser suas competncias estratgicas.

    Prahalad e Ramaswamy (2000) tambm compartilham da viso da rede

    de negcios (cuja os autores nomeiam extended enterpise), e a

    complementam acrescentando a importncia do papel do consumidor ou

    cliente nesta rede. Os autores defendem que a competncia hoje uma

  • 2. PROCESSO DE FORMULAO DE ESTRATGIA

    32

    funo do conhecimento coletivo disponvel para todo o sistema, uma rede

    avanada de fornecedores tradicionais, manufaturas, parceiros, investidores

    e consumidores/ clientes. O quadro a seguir sintetiza a viso dos autores:

    Quadro 3. A mudana de centro das Competncias Essenciais A empresa Famlia/ rede de

    empresas Enhanced Network

    Unidade de Anlise A empresa O empreendimento estendido: a empresa, seus fornecedores e seus clientes

    Todo o sistema: a empresa, seus fornecedores, parceiros, e consumidores

    Recursos O que estiver disponvel dentro da empresa

    Acesso a competncias e investimentos de outras empresas

    Alm dos anteriores, acesso s competncias dos consumidores e seus investimentos de tempo e esforo

    Base de acesso competncia

    Processos internos, especficos da empresa

    Acesso privilegiado a empresas dentro da rede

    Infraestrutura para dilogo ativo e contnuo com diversos consumidores

    Valor agregado dos administradores

    Alimentar e construir competncias

    Administrar parcerias colaborativas

    Aproveitar a competncia do consumidor, administrar experincias personalizadas e formar as expectativas do consumidor

    Criao de valor Autnoma Colaborada com parceiros

    Colaborada com parceiros e com consumidores ativos

    Fontes de tenso gerencial

    Autonomia da unidade de negcios vs. Alavancagem de competncias essenciais

    O parceiro tanto colaborador quanto competidor pelo valor

    O consumidor tanto colaborador quanto competidor pelo valor

    Prahalad e Ramaswamy, 2000

    A complexidade da coordenao dos relacionamentos em uma rede

    estratgica destacar o papel de um dos participantes da rede como

    maestro, o fornecedor do contexto em que a rede atua. Hcki e Lighton

    (2001) descrevem o conceito de network orchestrators, os maestros da

    rede, similar ao que Tapscott (2001) chama de context provider. Os autores

    descrevem o papel destes maestros como sendo aqueles participantes da

  • 2. PROCESSO DE FORMULAO DE ESTRATGIA

    33

    rede que tem um relacionamento forte e prximo com o consumidor final dos

    produtos da rede.

    The sheer weight of the market preference for the platform rather than

    any alliance, agreement, or inducement offered by the platforms proprietor

    is the source of its influence over the economic webs existing members and

    of its ability to attract new ones (pg. 6).

    Segundo Hck e Lighton, as razes pelas quais outras empresas decidem

    participar da rede depende das suas chances de conseguir trs coisas:

    1. ganhar acesso para o conhecimento e expertise que o maestro deriva

    de sua perspectiva nica nas internaes com os outros membros da

    rede;

    2. realizar as eficincias que advm do compartilhamento de ativos dos

    membros da rede;

    3. no caso de um negcio de servios, obter acesso privilegiado aos

    consumidores do prprio maestro.

    A tabela a seguir, retirada de Hcki e Lighton descreve os principais tipos

    de rede e suas caractersticas:

    Quadro 4. Manual para os maestros de rede Foco da rede Papel do maestro Estrutura da rede Relacionamento

    com os parceiros Comunidade (ex.: eBay)

    Promover ampla troca de produtos e informaes atravs de grande comunidade de consumidores

    Permitir que a estrutura seja formada pela comunidade de consumidores que pode mesmo escolher fornecedores de servio de fora da rede

    Co-gerenciar com a comunidade: reforar as regras bsicas, mas permitir que os consumidores dirijam a maior parte das atividades

    Cadeia de Valor (ex.: Cisco e Palm)

    Assegurar desenho eficaz de produto bem como a sua entrega, com base nos requerimentos do consumidor

    Integrar e alinhar a cadeia de valor tradicional em torno das necessidades dos consumidores

    Gerenciar em conjunto com parceiros: o maestro altamente dependente da cooperao com parceiros

  • 2. PROCESSO DE FORMULAO DE ESTRATGIA

    34

    Servios de conhecimento (ex.: Charles Schwab, E*Trade

    Desempenhar papel dominante ao fornecer o portfolio de servios; acrescentar parceiros para completar a oferta ao consumidor

    Criar servios modulares e desenhar um mix de fornecedores de servios que permita ao maestro responder eficientemente a novas oportunidades

    Forar uma rgida estrutura de gerenciamento aos parceiros que tambm podem ser concorrentes para atingir relacionamento prximo sem se tornar dependente Hcki e Lighton, 2001.

    Gulati et al. (2000) chamam a ateno tambm para os possveis efeitos

    perversos de uma rede. As firmas participantes podem ficar presas em

    relacionamentos no produtivos ou deixar de formar parcerias com outras

    firmas viveis. Assim sendo, a rede de relacionamentos de uma firma fonte

    tanto de oportunidades quanto de restries. medida em que o ambiente

    econmico se torna mais competitivo, a rede de uma firma cresce em

    importncia estratgica.

    2.7 Crtica aos processos existentes

    O foco deste estudo so os processos de formulao de estratgia. Ou

    seja, um processo formal de planejamento, que visa a composio algum

    tipo de linha de ao, ou seqncia de atividades conscientemente

    intencionadas para lidar com uma situao.

    Segundo Mintzberg e Quinn (1996), diversas premissas esto embutidas

    na teoria de Andrews para o processo de estratgia, que tambm podem ser

    encontradas em outras teorias prescritivas de estratgia:

    Clara distino entre a formulao e a implementao de estratgia

    (de fato, entre pensar e fazer);

    A crena de que a estratgia (ou ao menos a estratgia pretendida)

    deveria ser explcita;

    A noo de que a estrutura deveria seguir a estratgia (em outras

    palavras, ser desenhada de acordo com ela);

    A estratgia emana da liderana formal da organizao.

    Mintzberg (1994) critica os processos de formulao de estratgia por

    acreditar que estes no so representativos da forma como a estratgia

  • 2. PROCESSO DE FORMULAO DE ESTRATGIA

    35

    criada nas organizaes. Cita inclusive diversas evidncias empricas da

    freqente no implementao dos planejamentos realizados.

    Apesar disso, o autor no defende a ausncia de um processo de

    planejamento. A estratgia de uma empresa, quando observada a posteriori

    contm diversos elementos que surgiram ao longo da prpria execuo da

    mesma. Ou seja: trata-se de um processo contnuo, cclico, extremamente

    sensvel ao ambiente externo e interno da organizao. Ainda assim, um

    processo formal de planejamento importante no para criar estratgias,

    mas para programar as estratgias que j tenham, isto , para elabor-las,

    refin-las, divulg-las e operacionaliz-las.

  • 36

    3 PROCESSO DE ALINHAMENTO ESTRATGICO DE SISTEMAS DE INFORMAO

    3.1 Definies e Abordagens

    Sannes (1994) entende a problemtica do alinhamento entre a Estratgia

    e os Sistemas de Informao e Tecnologia de Informao (SI/TI) como

    sendo uma questo de alinhamento entre necessidades de negcios e

    servios de informao.

    Necessidades de negcios seriam as necessidades de informao das

    pessoas, em termos de acesso, processamento e troca de informaes

    durante seu trabalho.

    Servios de informao seriam os servios que um pessoa pode utilizar

    para satisfazer suas necessidades de informao. Os servios incluem

    tecnologia (a infraestrutura tcnica), funes (ferramentas e aplicativos para

    o usurio final), informao (bancos de dados), e apoio em como utilizar os

    servios de informao.

    Earl (1993) utiliza a definio de Planejamento Estratgico de Sistemas

    de Informao como sendo o processo de decidir os objetivos para

    computao organizacional e identificar potenciais aplicaes de

    computador que a organizao deveria implementar.

    Sannes (1994) enxerga na literatura diferentes abordagens para o

    alinhamento de servios de informao e necessidades do negcio:

    Estratgias ligadas ou integradas e planejamento estratgico:

    argumenta que o propsito do plano ou da estratgia de sistemas de

    informao identificar sistemas de informao que atendam s

    necessidades do negcio. A pesquisa emprica indica que esta abordagem

    de valor limitado. O planejamento integrado, uma abordagem na qual o

    planejamento do negcio e o planejamento dos sistemas de informao

    so realizados simultaneamente e os processos so indistinguveis, teve

    alguns mritos empricos. Este tipo de abordagem geralmente visa apoiar

  • 3. PROCESSO DE ALINHAMENTO ESTRATGICO DE SISTEMAS DE INFORMAO

    37

    o alinhamento no nvel estratgico. A falta de mritos empricos indica que

    alinhamento no nvel estratgico insuficiente para o alinhamento nos

    nveis mais baixos.

    Alinhamento da funo de servios de informao com a organizao

    do negcio: enfatiza mecanismos que integram ou ligam mais fortemente

    as duas organizaes. A parceria entre a organizao dos servios de

    informao e os gerentes de linha pode ser descrita em termos do

    contexto e aes da relao: Parceria em contexto refere-se ao grau de

    benefcios mtuos, compromisso, e predisposio que determinam a

    durabilidade esperada da relao; Parceria em ao reflete a habilidade

    de influenciar os fatores que afetam a relao diria de trabalho. Estes

    fatores so a quantidade de conhecimento compartilhado, o grau de

    dependncia mtua em competncias distintas e recursos, e a

    necessidade de ligao dos processos organizacionais.

    Integrao dos processos de negcios e dos servios de informao:

    os sistemas de informao podem ser construdos nos pilares que

    suportam ou formam a estratgia competitiva do negcio. Analisa o

    impacto na tecnologia de informao nas realidades de negcios e forma

    direes para o uso dos sistemas de informao. Uma outra abordagem

    nesta categoria o redesenho dos processos de negcios, que enxerga a

    tecnologia da informao como a base para a inovao nos processos de

    negcios. So abordagens mais voltadas para o nvel gerencial.