mestrado regeneração maio_2008_dcv_

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UNIVERSIDADE TÉCNICA LISBOA Faculdade de Arquitectura Grandes Eventos Culturais como instrumentos de Regeneração Urbana e Ambiental O Caso de Lisboa Capital Europeia de Cultura 1994 Dário Campos Vieira Dissertação apresentada na Faculdade de Arquitectura da Universidade Tecnica de Lisboa para obtenção do grau de Mestre em Regeneração Urbana e Ambiental.

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Page 1: Mestrado regeneração maio_2008_dcv_

UNIVERSIDADE TÉCNICA LISBOA

Faculdade de Arquitectura

Grandes Eventos Culturais como instrumentos

de Regeneração Urbana e Ambiental

O Caso de Lisboa Capital Europeia de Cultura 1994

Dário Campos Vieira

Dissertação apresentada na Faculdade de Arquitectura da Universidade Tecnica de Lisboa para

obtenção do grau de Mestre em Regeneração Urbana e Ambiental.

Orientador: Professor Doutor Leonel Fadigas

Lisboa

2008

Page 2: Mestrado regeneração maio_2008_dcv_

AGRADECIMENTOS

A preencher posteriormente…

2

Page 3: Mestrado regeneração maio_2008_dcv_

SUMÁRIO

As autoridades municipais em toda a Europa Ocidental estão a tentar

impulsionar programas de regeneração dos seus centros urbanos através

de políticas culturais destinadas a atrair investimentos estrangeiros e do

turismo. Nesta procura de atrair agentes económicos do exterior, uma

variedade de políticas culturais orientadas para o desenvolvimento de

consumos culturais (programas/eventos) têm sido desenvolvidas e

comercializadas. Estas incluem o investimento em infra-estrutura culturais

pesadas como museus ou galerias de arte, e em menos aspectos físicos,

tais como exploração eventos, como e o caso da iniciativa Capital

Europeia da Cultura. Um debate polemico rodeia o uso da política cultural

com uma agenda claramente económica. Este estudo propõe-se

apresentar como as políticas culturais podem e devem servir mais do que

agendas económicas, uma vez que os seus fundamentos trazem

sinergias que devem ser aproveitadas na perspectiva da regeneração

urbana e social dos locais envolvidos pelos grandes eventos promovidos.

3

Page 4: Mestrado regeneração maio_2008_dcv_

ABSTRACT

A preencher posteriormente se o sumário estiver adequado…

4

Page 5: Mestrado regeneração maio_2008_dcv_

ÍNDICE DE MATÉRIAS

INTRODUÇÃO..................................................................................................................................... 7

1. ESTADO DA ARTE – POLITICA CULTURAL...............................................................10

1.1 POLITICA CULTURAL NOS PROCESSOS DE REGENERAÇÃO URBANA.............10

1.2 EVOLUÇÃO DA POLÍTICAS CULTURAL................................................................................11

1.2.1 Função Política e Politica........................................................................................................11

1.2.2 Função Economica na Regeneração..................................................................................11

1.2.3 Função Holísticas........................................................................................................................12

1.3 DEVENVOLVIMENTO DA POLÍTICA CULTURAL NA EUROPA....................................13

2. EFICÁCIA DA POLITICA CULTURAL.............................................................................13

2.1 EM QUE MEDIDA A POLITICA CULTURAL É EFICAZ......................................................13

2.1.1 Aspectos Positivos.....................................................................................................................13

2.1.2 Aspectos Negativos...................................................................................................................13

2.1.3 Objecvações Finais....................................................................................................................13

3. OS GRANDES EVENTOS COMO INSTRUMENTOS DE REGENERAÇÃO URBANA............................................................................................................................................. 14

3.1 GRANDES EVENTOS CULTURAIS E O SEU IMPACTO NA IMAGEM DA CIDADE19

3.1.1 Modelos de "Consumo cultural" - Infra-estrutura emblemáticas e recepção de Grandes Eventos.............................................................................................................................................22

3.2 O EVENTO ‘CIDADE EUROPEIA DA CULTURA’.................................................................24

4. CASO DE ESTUDO – LISBOA CAPITAL EUROPEIA DA CULTURA 1994 (‘LISBOA 94’).................................................................................................................................... 27

4.1 INICIATIVA ‘Lisboa 94’ COMO OPURTUNIDADE................................................................27

4.1.1 Procedimento e Lógica do Programa.................................................................................27

4.1.2 Os problemas da Área de Intervenção...............................................................................27

4.2 ANALISE DOS IMPACTOS............................................................................................................27

4.2.1 Impacto Ecomonico....................................................................................................................27

4.2.2 Impacto Físico...............................................................................................................................27

4.2.3 Impacto Social..............................................................................................................................27

5

Page 6: Mestrado regeneração maio_2008_dcv_

4.2.4 Impactos Negativos Indirectos..............................................................................................28

4.3 PROBLEMAS RESOLVIDOS........................................................................................................28

5. CONCLUSÃO............................................................................................................................ 28

6

Page 7: Mestrado regeneração maio_2008_dcv_

INTRODUÇÃO

Actualmente as nossas cidades estão a tornar-se em focos de inúmeras

pressões sociais, económicas sofrendo também de problemas ambientais. A coesão

social tem cada vez mais peso no equilíbrio urbano, visto que sem ela está amaçada

a própria base da sociedade moderna. No contexto da economia global, as cidades

tornam-se cada vez mais competitivas entre si, de modo a canalizarem capital de

modo a fomentarem o seu crescimento, canalizarem trabalhadores qualificados e

promovendo altos gastos aos consumidores. No entanto os meios e o esforço para

atingir esses objectivos obrigam a reduzir a despesa e meios nas questões locais

mais urgentes – uma vez que a degradação ambiental e a falta de políticas de

ordenamento eficazes tem prejudicado a qualidade de vida dos habitantes (e

utilizadores) da cidade. As cidades tem assim de fazer um esforço enorme para se

manterem na corrida da competitividade (economia) global, e conseguir ainda

garantir a coesão social e o desenvolvimento sustentável.

As cidade continuam a ser uma das principais fontes de criação de riqueza

estando desde sempre no centro do desenvolvimento social e cultual. Contudo

apesar da riqueza criada não se tem resolvido os problemas existentes. Muitos dos

novos investimentos tem sido dirigidos para novas infra-estruturas (novas expansões

da cidade), descorando a cidade existente e os núcleos tradicionais, essa falta de

investimento nesses núcleos antigos tem promovido a degradação do património

ambiental e construído, congestionamento de tráfego, e exclusão social

(desemprego, pobreza e criminalidade – excluidos da cultura da politica e da

sociedade,sendo urgente encontrar soluções e instrumentos para combater esta

divisão causadora de comflitos destruidores). Esta degradação da cidades faz com

que aos poucos a mesma deixe de ser um local o local de oportunidade e desejavel

para viver e passar os tempos livres. A degradação social e económica das cidades

promove o alastramento de áreas de subúrbios descaracterizadas, que a curto prazo

despertam fenómenos de degradação com velocidade de erosão superior aos da

cidade tradicional. O fenómeno da erosão do papel da cidade é a maior ameaça á

sociedade e ao desenvolvimento (assim como o conhecemos hoje) – devendo ser

sobre este facto que de deve abrir ampla discussão.

7

Page 8: Mestrado regeneração maio_2008_dcv_

O conceito de Regeneração Urbana surgiu nos anos sessenta na América

(E.U.A.), quando foram implementadas em muitas cidades americanas intervenções

com o objectivo de provocar mudanças sociais e económicas em tecido urbano

(existente). Na Europa este conceito (Regeneração Urbana), foi implementado mais

tarde, inúmeros programas e esforços políticos tem sido levados a cabo, mas as

intervenções tem sido fragmentadas, muitas vezes são seguidos conceitos de

mimetismo com resultados pouco eficazes (uma vez que o conceito tem de se

enquadrar localmente, não existindo programas genéricos / tipo para a sua real

aplicação), sendo muitas vezes implementados programas de Regeneração Urbana

que carecem de visão e perdem-se em intervenções pontuais que pouco ou nada

tem a ver com a essência de um processo de regeneração. É necessário um esforço

político para restaurar / reforçar o papel das cidades como lugares de integração

social e cultural, fontes de prosperidade económica e desenvolvimento sustentado –

que são a forma de construir a manutenção das bases da democracia. È dentro das

políticas de intervenção local / municipal que se começam a desenvolver políticas

integradas traduzidas em novas acções onde a política cultural funciona como

ferramenta (alavanca) á implementação de processos de regeneração (e

revitalização) estratégica no interior da cidade. A utilização de políticas culturais

como ferramentas de renovação urbana já tinha sido pratica na América (E.U.A) á

muito tempo, mudando o seu objectivo (final) ao longo do tempo. Nos anos 60 e 70

usaram-nas para resolver problemas de caracter social. Nos anos 80 e 90 as

políticas culturais ‘americanas’ concentraram-se em promover as artes como

catalisadores para a promoção e investimento. Posteriormente muitas destas

iniciativas tenderam a despresar a importância de factores sociais (coesão social)

incidendo maioritariamente na procura do crescimento económico. O resultados

destas abordagens mais economistas, e da aplicação de uma filosofias de

regeneração urbana de diferente génese - base economissista, provoca visíveis

desigualdades sociais. Por exemplo, em casos onde foram inicialmente promovidas

políticas culturais, as iniciativas com maior sucesso foram aproveitadas para a

promoção dessas áreas para as elites especulando-se os preços (subida de preços

provocando o afastamento dos ‘artistas’ (inicialmente alavanca da regeneração)que

vêem-se obrigados a procurar novos locais mais baratos para viver e trabalhar.

8

Page 9: Mestrado regeneração maio_2008_dcv_

Começou-se a interiorizar que a implementação de políticas culturais em

combinação com a realização de ‘Grandes Eventos’, deixa um legado (impacto) à

comunidade local onde foram realizados os ‘eventos’ muito mais amplo do que no

imediato período em que se realizaram. Posteriormente a realização dos grandes

eventos, as comunidades locais podem usufruir das construções e infra – estrutura

que foram edificadas para a realização dos ‘eventos’, bem como da reabilitação das

áreas urbanas que foram consideradas (de intervenção prioritária) – usufruindo

assim por um período mais alargado das despesas públicas de grande escala.

A iniciativa (Grande Evento) ‘Cidade Europeia da Cultura’, tem actuado como

incentivo para a mudança (e regeneração) de muitas cidades. Na cidade de Lisboa

os impactos mais significativos deste evento foram sentidos principalmente através

do programa de intervenção urbana ‘Sétima Colina’ – esta abordagem integrada

provocou sinergias ‘de regeneração’ que inseridas na celebração dos

acontecimentos culturais, estimularam um vasto tecido social e cultural, numa área

da cidade que desempenhou um papel significativo tanto cultural como na vida

política do nosso país nos últimos séculos. A ‘Sétima Colina’, objecto especial de

intervenção urbana na iniciativa  ‘Lisboa 94’, tendo vindo (muito impulsionada pelo

impacto deste programa associado ao grande evento ‘Lisboa 94’) a ser redescoberta

pelos lisboetas.

A concentração das actividades numa área especifica da cidade foi muito

reduzida, tendo permitido aumentar o âmbito de intervenção e os efeitos. A grande

variedade de acontecimentos e o espectro alargado das sua realizações trouxeram

para o ‘programa’ um leque de actividades associadas – publicidade, animação,

exposições, promoção, arte pública, intervenções de valorização do património

(cultural e edificado) – contribuindo para uma realização cultural que englobou

enumeras expressões artríticas, variados suportes, onde meios e ferramentas

tiveram de ser aplicadas – tornando ‘Lisboa 94’ numa ‘cidade criativa’. Há que

defenda que esta iniciativa foi além do que já havia sido tentado em Portugal pelos

Departamentos / Autoridades dedicados a regeneração urbana. Por esta razão é

interesante analisar os impactos que o programa teve nesta área, já que pode-se

considerar-se uma experiencia influenciadora conseguida pelas autoridades em

questão.

9

Page 10: Mestrado regeneração maio_2008_dcv_

A regeneração urbana da Sétima Colina, demostra quanto importante é o papel das

sinergias ligadas a política da cultura, nos processos de mudança.

Seguido do estudo teórico, o estudo a desenvolver recairá sobre caso de Lisboa, no

contexto da contribuição da iniciativa ‘Lisboa 94’ – Capital Europeia da Cultora, o

seu impacto na regeneração urbana. Sendo analisados no seu contexto mais vasto,

e nas mudanças ocorridas, no âmbito económico, físico e social, e o modo como

foram aplicadas as políticas. Esta analise pretende entender em como a utilização

das ‘Artes’ integradas na realização dos grandes eventos (Lisboa 94) contribui para

a resolução de problemas na área de intervenção. Este estudo pretende esclarecer

genericamente, em que sentido o investimento em cultura tem impacto sobre as

perspectivas para o futuro de cidades como Lisboa, enquanto ferramenta para

resolver problemas e do papel que pode desempenar no inicio do milénio.

1. ESTADO DA ARTE – POLITICA CULTURAL

1.1 POLITICA CULTURAL NOS PROCESSOS DE REGENERAÇÃO URBANA

Regeneração Urbana é um conceito composto de inúmeras variáveis

conjugadas para um objectivo, incorporando factores económicos, ambientais,

sociais, culturais, de caracter político, tendo estes factores de ser devidamente

enquadrados e analisados segundo a localização especifica da intervenção, e os

objectivos que pretende alcançar (não existem dois programas de regeneração

iguais, para se atingir o mesmo objectivo em localizações diferentes, o programa

tem de se adaptar (ou reformular), de modo a enquadrar as condicionantes e as

características locais aos objectivos pretendidos). Muitos autores referem que o

Processo de Regeneração Urbana e único para o local onde se insere (implanta),

significando coisas diferentes nos diversos locais.

As maiores diferenças que existem entre processos de Regeneração Urbana

são caracterizadas pelo peso que é dado a determinado factos (económico, social,

físico) para se atingir os objectivos traçados - de modo a beneficiar um determinado

10

Page 11: Mestrado regeneração maio_2008_dcv_

espaço (território). A regeneração Urbana pode ser conseguida simplesmente

através de processos que reforço da reputação e imagem de um determinado

espaço urbano, cidade ou região, podendo ser feita também através de processos

de apoio á renovação física de espaços. Outros objectivos ligados a regeneração

Urbana podem ser alcançados pela dinamização do turismo e outros serviços

associados. Mesmo dentro do âmbito da aplicação de políticas, a utilização de um

tipo de política, como a cultural, poderá ter maior ou menor ênfase, mediante os

objectivos e metas traçadas.

A América (E.U.A.) foi o precursora do uso da política cultural em programas

(e estratégias) de regeneração urbana, tendo sido utilizada deste os anos 70 para

concretizar uma grande variedade de objectivos. Estes processos além da sua

componente de recuperação física dos centros das cidades, conseguiram também

provocar regeneração da comunidade, promoção de coesão social, criação de

emprego e tornar os locais de intervenção (na ‘baixa’ da cidade) locais de atracção

para novos utilizadores e moradores, reforçando a imagem da cidade na sua

competitividade com outras para a atracção de investimentos, e impulso ao turismo

e actividades associadas. Estes processos (locais) serviram de base para a criação

de consensos, num período de mudanças sociais e economia urbana (no

país(E.U.A.)).

Na Europa as autoridades não foram tão perspicaz no reconhecimento dos

benefícios que as medidas ligadas as artes (políticas culturais), poderiam beneficiar

na regeneração urbana. A política cultural, tem-se desenvolvido em fases distintas,

devendo-se analisada ‘local e sectorialmente’, de modo a entender o papel que

estas políticas tem desempenhado nas áreas urbanas, e como foram inseridas em

processos de regeneração urbana europeia.

1.1.1 Degradação Urbana e do surgimento de uma lógica económica ligada à política cultural

A partir dos anos 1970, as cidades em toda a Europa Ociental, tem sido submetidas

a um processo de reestruturação urbana. Estes processos de reestruturação urbana

deve-se a variados factores nomeadamente: a migração da industria e dos postos

de trabalho, voos de classe média para os subúrbios, mudança dos padrões de

trabalho, desenvolvimento de centros comerciais fora da cidade e um aumento e

11

Page 12: Mestrado regeneração maio_2008_dcv_

dependência do automóvel particular. O impacto destes factores é evidente,

tronando os centros urbanos menos atractivos para investir. O combinar destes

factores levou à desertificação dos centros urbanos, degradação social,

desemprego, delinquência e um aumento da pobreza da população residente. Para

contrariar este cenário económico, social e de declínio das zonas urbanas, as

políticas culturais tem vindo a ganhar posição na elaboração de programas e

processos de regeneração, através de um discurso cada vez mais elaborado em

termos económicos. Passando a estar fora de moda a abordagem prevalecente das

políticas culturais desenvolvidas a partir do ‘boom’ do pós – guerra até à década de

1970. Nesse período a política cultural foi essencialmente centrada no público “gasto

cultural”, sendo um produto cultural sem outro objectivo tendo o seu fim em si

mesmo. A administração procurou novos modelos que incorporem as forças de

mercado de modo a incrementar a volta da ‘vida activa’(dos cidadãos) aos centros

urbanos tradicionais, como modo de rentabilizar os tempos gastos entre trabalho e

lazer, passando os gastos em cultura de despesa para investimento. Surgindo um

novo enquadramento no contesto das políticas culturais, tornando o ‘investimento

cultural’ uma tendência cada vez mais comum.Este enquadramento é utilizado pelas

autoridades como meio chamar até si parceiros eficientes do sector privado

utilizando a figura do ‘investimento cultural’ para incentivar os fluxos de capital sob a

forma de parcerias público – privadas (PPP). Tendo sido iniciada uma renovação na

política cultural onde os resultados esperados são tangíveis, com retornos

quantificáveis. Esta política foi impulsionada por factores que suportava o sucesso

notório do retorno do investimento em museus, eventos, teatro e ‘industria criativa’

sob a forma de lucros, postos de trabalho e recuperação do tecido urbano. No

entanto, os críticos têm atacado o ‘investimento cultural’ das parcerias público –

privadas (utilizadas pelas políticas culturais), alegando a utilização de uma agenda

essencialmente económica, básica e dissonante dos verdadeiros problemas da

cidade, alegando a danificação do património dos centros das cidades para servir as

necessidades das empresas, e não beneficiando verdadeiramente a cultura e os

seus habitantes – devendo as autoridades públicas envolvidas assumir cada vez

mais um papel de controlo e mediação para que o capital canalizado serva também

os interesses da comunidade, nomeadamente que serva para a coesão social e

preservação e regeneração do patrocino urbano e ambiental.

12

Page 13: Mestrado regeneração maio_2008_dcv_

1.2 EVOLUÇÃO DA POLÍTICAS CULTURAL

1.2.1 Função Política e Politica

.......

1.2.2 Função Economica na Regeneração

......

1.2.3 Função Holística - Da economia à regeneração holística

São investidas grandes somas de dinheiro, no fornecimento de produtos / programas

culturais. A racionalidade económica quando traduzida em números brutos de lucros

ou de criação de emprego é susceptível de criar desilusões. Muitas vezes o

investimento de determinado evento cultural não tem o seu retorno no período da

sua intervenção, mas ao longo do tempo através das sinergias criadas pelo mesmo

no local da intervenção. Contudo existirá quem ganha e quem perca neste tipo de

intervenções uma vez que a enorme lista de necessidades culturais e a concorrência

dos “sítios” para cativar esses investimentos (eventos), nunca conseguirá oferecer

globalmente todas as necessidades culturais da cidade. A análise economicista

quanto ao retorno do investimento em cultura demostra facilmente que a curto prazo

(e que durante o tempo do evento) não existiu retorno e que foram poucos os frutos

que advieram daí, criando estas análises redutoras de desilusão, e aumentou o

receio de investimento propiciando o consequente abandono das políticas culturais.

A relação entre as políticas culturais e a regeneração urbana tem de dar

passos concretos no sentido de deslocar o discurso de cenários economicistas e

redutores, para acções ‘construtivas’ que desde o início incluam o desenvolvimento

de uma investigação profunda e rigorosa da relação entre a política cultural e social,

ambiental cultural urbana. Esta postura interventora requer a recolha de dados e

metodologias no que respeita à avaliação social, por oposição a visão ecomonicista,

dos impactos da política cultural. Satisfazendo assim a essencial necessidade de

resultados concretos, pois é difícil de empurrar um argumento social, se não for

acompanhado com dados concretos. A participação é a chave para a resposta. A

acessibilidade é vital para a participação, boa distribuição da informação, e uma boa

rede de transportes públicos baratos. A sustentabilidade cultural que leve a

processos de regeneração exige a consulta e posterior participação dos cidadãos,

13

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bem como a sua aceitação ou "apropriação" da infra-estrutura, evento, ou programa

em questão, não podendo existir resultados regeneradores sem esta

interdependência. A política cultural deve ainda ser mais plenamente integrada nos

processos de ordenamento do território. Bianchini (1999) explica que a formação dos

urbanistas deve ser enriquecida através da introdução de disciplinas como história

da arte e filosofia, de modo a fazer aumentar a apreciação estética e histórica e de

lhes permitir alcançar o potencial dos artistas que actuam como" produção cultural "

na cidade, de modo à adopção de uma perspectiva de “planeamento cultural”.

Somente fazendo esta caminhada se pode levar a bom termo uma visão de

cidade pós - industrial onde a política cultural (ajustada) atinja o seu potencial

regenerativo. Dentro desta visão, as cidades florescerão livres de velhos dogmas e

com livre acesso a novas ‘catedrais’ - entretenimento, educação e interacção (por

exemplo, galerias, salas de espectáculo, praças abertas e mercados). Essas

‘catedrais’ irão reflectir a vontade e os modos de vida de todos os cidadãos, numa

existência limpa, com cidadania ambiental, coesão social e servida de boas redes de

transportes públicos. Esta é a visão de uma cidade regenerada alimentada

regularmente por realização de eventos e festivais que revigoram os cidadãos,

fomentam a "cidade criativa” e constroem e alimentam uma identidade cultural. A

concretização desta visão, fará com que a crítica ao investimento nas políticas

culturais, dominada pelo debate economicista, passem a ter um âmbito de

intervenção mais lato sendo claramente maior o reconhecimento do valor intrínseco.

1.3 DEVENVOLVIMENTO DA POLÍTICA CULTURAL NA EUROPA

............................

2. EFICÁCIA DA POLITICA CULTURAL

2.1 EM QUE MEDIDA A POLITICA CULTURAL É EFICAZ

2.1.1 Aspectos Positivos

...........

2.1.2 Aspectos Negativos

14

Page 15: Mestrado regeneração maio_2008_dcv_

.....

2.1.3 Objecvações Finais

...........

3. OS GRANDES EVENTOS COMO INSTRUMENTOS DE REGENERAÇÃO URBANA

Os eventos culturais podem por vezes relembrar os habitants locais,

municípios e empreendedores do potencial da cidade. O evento pode funcionar

como um catalisador de regeneração enquanto são explorados novos futuros e pode

servir como elemento unificador, actuando como elemento fundamental para

consolidar as diferenças de classe, raciais ou étnicas (Comedia, 1996) – fumentando

a coesão social. É por estas razões que a promoção de grandes eventos por parte

das autoridades (municipais) tem sido procurada e foi descrita por Harvey como a

“mobilização do espectáculo” (Harvey, 1989 in Booth and Boyle).

A extensão dos impactos depende muito da relação que é criada entre o

evento e o anfitrião. Sparrow criou dois modelos que de acordo com a natureza

desta relação, ajudam a explicar como podem ter efeitos benéficos ou prejudiciais

(Sparrow, 1989: 255). O modelo do adventício ou invasivo, ilustrado pela figura 1

(abaixo), ilustra a invasão por parte do anfitrião ao evento, onde se impõe através de

fontes externas. Estes eventos marcadamente invasivos, por norma mudam o curso

do desenvolvimento do anfitrião, bem como a sua direcção social e económica. Eles

impõem as suas regras ao anfitrião pelo período limitado de duração do evento e por

vezes, nas fases que antecedem o evento, o que faz adiar para o futuro as

prioridades de desenvolvimento que tinham sido anteriormente determinadas.

15

Event

Page 16: Mestrado regeneração maio_2008_dcv_

Figure 1Modelo do adventício ou invasivoFonte: Sparrow (1989: 255)

Estes eventos impõem as suas regras e características ao anfitrião, já que

estão predeterminadas, ou seja, o evento é da responsabilidade de uma

organização (internacional ou independente), com regras específicas e rígidas sobre

as condições prévias exigidas, e que terão de ser desenvolvidas para que o local

seja escolhido.

Em contraste, o modelo “indígena” ou “desenvolvimento local” de um evento

fica sob controlo absoluto do anfitrião (figura 2). Desde o início que o evento é

idealizado, planeado e apoiado pelo anfitrião, que determina as regras, por norma

para seu proveito social e económico. É fácil de perceber qual dos modelos tem

mais implicações úteis para o anfitrião.

Figure 2Modelo “indígena” ou desenvolvimento local Fonte: Sparrow (1989: 256)

16

Host

Event

Host

Page 17: Mestrado regeneração maio_2008_dcv_

Sparrow também cria cenários de possíveis resultados com impacto no

turismo. Estes podem ser adaptados a determinadas áreas, e não sobre o turismo.

No primeiro cenário, há um impacto crescente na área sobre a área do grande

evento, que depressa volta ao normal depois de findo o evento (figura 3). No que

respeita à área, em termos económicos, ela pode ter um impacto crescente nas

transações comerciais, resultado de um aumento no fluxo de pessoas durante o

evento, seguido de um decréscimo para os níveis anteriores ao evento.

Figure 3Cenário 1Fonte: adaptação do modelo de Sparrow (1989: 256)

Em termos físicos, isto pode explicar o número de iniciativas de recuperação

reais que têm lugar durante o evento e o pequeno número que decorre depois do

evento, voltando ao nível de actividade normal. Ainda assim, pode ver-se como um

aumento das actividades culturais organizadas na área, que atingiria o pico durante

o evento e que regressará aos níveis anteriores ao evento. Como tal, seguindo este

17

Time

pre-event event post-event

Normal development of area

Impact of Hallmark Event

% Increase

Page 18: Mestrado regeneração maio_2008_dcv_

modelo, os benífícios para a comunidade seriam limitados à duração do evento e

não se podia considerar tal avento como uma iniciativa regeneradora.

Figure 4Cenário 2Fonte: adaptação do modelo de Sparrow (1989: 256)

O Segundo cenário transmite uma situação mais positive, onde o evento leva

à criação de uma nova plataforma de crescimento durante o evento, com um

crescimento contínuo posterior ao evento que ascende a um nível mais alto do que

teria acontecido caso o evento não tivesse existido (figura 4). Estes modelos e

cenários ilustram uma perspectiva geral para compreender, de uma forma mais

simplista, quais os resultados de ser anfitrião de um evento. Com isto em mente,

torna-se mais simples encarar a Cidade Europeia da Cultura como uma

organização, com potencial regenerador do meio urbano e social.

18

Time

pre-event event post-event

Normal development of area

Impact of Hallmark Event

% Increase

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19

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..

3.1 GRANDES EVENTOS CULTURAIS E O SEU IMPACTO NA IMAGEM DA CIDADE

Cada vez mais as cidade usam a oportunidade criada pelas ‘grandes eventos

culturais’ para melhorar e promover a sua imagem, estimular o desenvolvimento

urbano e atrair visitantes e investimentos.

A "Capital Cultural da Europa" levou a ‘Lisboa 94’ a desenvolver um programa

de regeneração estratégica único em Portugal.

Os principais objectivos eram atrair visitantes e estimular o consumo cultural

entre os residentes, enquanto posicionava ‘Lisboa’ como um destino cultural. A

promoção da imagem da cidade ‘Lisboa 94’ como um destino cultural fez melhorar

em 1994 o numero de turistas e de aumentou o numero de consumidores de

produtos culturais, contudo os efeitos físicos e sociais do programa foram mais

lentos, existindo ainda hoje reminiscências dos seus efeitos – como é exemplo da

regeneração urbana da ‘Sétima Colina’, impulsionado pelo programa ‘Lisboa 94’ que

apresenta hoje um êxito comercial e imobiliário.

As cidades desde sempre tem utilizado os grandes eventos como o Feiras

Internacionais, Exposições e eventos desportivos como forma de revitalizar as suas

economias, criar infra-estrutura e melhorar a sua imagem (Getz, 1991). Estudos

recentes apontam para uma crescente utilização de ‘Grandes Eventos’ como

ferramenta de ‘marketing’ de cidade.

Este fenómeno esta intimamente ligado ao aumento generalizado da

competição entre cidades para atrair a atenção das partes interessadas,

20

Page 21: Mestrado regeneração maio_2008_dcv_

investidores, consumidores e políticos. Como resultado da crescente integração da

economia global, um maior número de vagas são desenhadas para este ambiente

competitivo. Necessitando as cidades de encontrar formas inovadoras e criativas de

se distinguirem dos seus concorrentes.

O ‘marketing de cidade’ e muitas vezes utilizado como ferramenta para

alavancar o capital privado para as infra-estruturas e apoio a evolução dos

programas criados. Os privados podem usufruir das vantagens competitivas das

estratégicas de desenvolvimento promovidas, podendo a sua participação envolver a

criação de uma infra-estrutura ou edifício de características urbanas marcantes,

exemplo do Museu Guggenheim em Bilbau, a galeria ‘Tate Modern’ em Londes ou o

‘Baltic Flour Mills’ em Gateshead – constituindo-se como ancoras e imagens de

marca dos programas de regeneração urbana promovidos.

No entanto criar grandes marcos urbanos cria rigidez na programação de infra

– estruturas estratégicas (Paddison 1993).

A ‘justificação’ do custo de construção de tais marcos é apoiada pela

realização de ‘Grandes Eventos’ que tornam-se cada vez mais um aspecto

importante do interurbano concorrência (entre cidades) nos últimos anos.

A ‘justificação’ do custo de construção de tais marcos é apoiada pela

realização de ‘Grandes Eventos’ que tornam-se cada vez mais um aspecto

importante do interurbano concorrência (entre cidades) nos últimos anos. Os

‘Grandes Eventos’ fornecer um meio de adição de flexibilidade para justificar a

construção de estruturas fixas, fornecendo uma fonte de espectáculo que acrescenta

valor à imagem de um ‘marco’.

Muitas vezes os ‘Grandes Eventos’ são usados como plataforma de criação

de ‘marcos’, como no caso da ‘Exposição Universal de Sevilha – 1992’ ou os ‘Jogos

olímpicos de Barcelona - 1992’, nem sempre acompanhados de fenómenos de

regeneração urbana.

Os ‘Grandes Eventos’ representam muitas vezes um meio de atingir

objectivos estratégicos através de processos menos onerosos que ao mesmo tempo

conseguem ter uma maior cobertura e resultados de ocupação/utilização mais

favoráveis, muito devido ao evento ‘mediático’ associado que desperta o interesse

generalizado dos ‘média’.

Os ‘Grandes Eventos’ criam incentivos para o aumento do numero de

visitantes a um determinado lugar, potenciação a repetição de visitas pela realização

de uma série de diferentes eventos (associados á programação base),

21

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incrementando a criação de perfis característicos em certos lugares da cidade,

criando mercados próprios, servindo estes eventos como elemento regenerador de

zonas da cidade (abrangidas pela programação dos eventos).

Actualmente as cidades competem ferozmente para terem a honra de sediar

‘Grandes Eventos’ como Jogos Olímpicos, Campionatops do Mundo ou Exposições

Mundiais (Hall, 1992).

As cidades e os seus bairros, tornam-se no palco de um fluxo contínuo de

eventos, que levam posteriormente, á criação de festivais associados aos locais.

Com o crescimento da "economia simbólica" (Lash e Urry, 1994; Zukin, 1995)

e da " economia experimental" (Pine e Gilmore, 1999), a cultura tornou-se cada vez

mais um importante meio de consumo na cidade (Ritzer, 1999).

Harvey (1989) defende que o sucesso dos ‘Grandes Eventos’ é uma

característica do crescente recurso a este tipo de programas que se caracterizam

por um rápido volume de negócios de consumo.

Neste clima de concorrencial, os ‘Eventos Culturais’, têm surgido como um

meio de melhorar a imagem das cidades, acrescentando actividades a vida normal

das ruas da cidade, e ao mesmo tempo renova e reforça o orgulho dos cidadãos

pela sua cidade .

Zukin (1995) argumenta que a cultura é um eufemismo para a nova

representação da cidade como uma força criativa na emergente economia de

serviços… [e que]… cultura é a soma da amenidade de uma cidade que lhe

permitam competir para captar investimento e criar emprego, tornando a cultura a

sua "vantagem comparativa".

"Cultura" do ponto de vista de Zukin abrangendo todas as amenidades de

uma cidade, reflectindo o facto de que a noção de "cultura" se expandir por vários

campos; 'tradicional' e de ‘elite’, atracções em museus, teatros e salas de concertos

bem como a inclusão de elementos e eventos da cultura "popular", tais como a

música pop, moda, eventos de expressão étnica e mesmo o enquadramento de

desporto.

Tanto a ‘Cultura’ de ‘Elite’ como a mais ‘Popular’, são importantes fontes de

criação e manutenção sustentável da “marca” da cidade. A capitalização do

‘branding’, estimula a regeneração da cidade, através do aproveitamento das

vantagens do ‘capital cultural’ (existente e produzido), através da realização de

eventos culturais e construção de ‘marcos urbanos’ – garantias de competitividade.

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Uma ‘branding’ bem sucedida deve ser instantaneamente reconhecível,

demostrando o conforto coesão social, segurança, marcando a identificação de um

lugar, sendo um ponto de referencia para os consumidores e de orgulho para os

locais.

Muitos dos principais eventos culturais tornaram-se “marca” de referencia por

direito próprio, como é o caso do Festival de Edimburgo, o Festival de Cinema de

Cannes, o Carnaval de Notting Hill, entre outros. Associados aos eventos culturais

surgiu a ‘marca (brand)’ Capital Europeia da Cultura (CEC). A disputa pelo honra de

receber esta ‘marca’ é quase tão vigorosa (ao nível das candidaturas) como a

‘marca’ Jogos Olímpicos.

Por exemplo, só no Reino Unido foram 14 as cidades britânicas inscritas para

honrar sedear do evento ECC 2008.

No entanto á um paradoxo na utilização da marca ECC, uma vez que a

estratégia de utilização, tende a garantir um padrão de eventos onde as cidades

competem a lutar por paisagens culturais e urbanas similares – não apostando na

procura de fugir á rotina nem marcas pela diferença – sustentando-se dentro dum

‘espaço cultural universal’, proporcionando o mesmo referencial estético e espacial

em qualquer parte.

Existem também formatos de ‘grandes eventos culturais’ que são concebidos

essencialmente para renovar e melhorar a imagem da cidade e região, como foi o

caso do Fórum Universal das Culturas, em Barcelona 2004. Este evento concebido

exclusivamente para a cidade de Barcelona, conseguiu com o êxito alcançado gerar

interesses competitivos em levar esta ‘marca (brand)’ global no futuro a outras

cidades e regiões.

A imagem de um lugar é muito importante para atrair visitantes.

Os grandes eventos tem a capacidade de poder moldar a imagem de uma cidade ou

região, conduzindo a sua percepção favorável a potencial tomada de decisão como

destino turístico e ou investimento.

3.1.1 Modelos de "Consumo cultural" - Infra-estrutura emblemáticas e recepção de Grandes Eventos

Uma das estratégias das políticas culturais á a promoção do ‘consumo

cultural’ acompanhada de investimentos na produção. As autoridades municipais

através da aplicação de uma política voltada para o ‘consumo cultural’, tentam

mobilizar através do desenvolvimento de uma imagem cultural vibrante e atraente a

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classe média, a alta tecnologia, e a ‘industria criativa’. As actividades culturais são

elementos comercializáveis, que em conjunto com um ambiente limpo e seguro,

clima favorável, capital social, qualidades estéticas, entre outras coisas,

caracterizam e definem uma cidade na qual há qualidade de vida. Uma imagem

atractiva é também peça essencial para a concorrência entre cidades, captar

investimentos e aumentar e o turismo. O património cultural representa uma boa

fatia (cerca de 30%) da captação do mercado turístico europeu tendo aumentado a

competitividade e o numero de destinos culturais nos últimos anos. Os principais

jogadores desta luta entre cidades e regiões são as agências de desenvolvimento

económico e promotores turísticos(Garcia, 2004). Investir em grandes infra-

estruturas como ícones de marca cultural é uma forma de chamar a atenção (muitas

vezes referida como "efeito Guggenheim - Bilbau" traduzindo a bem sucedida

intervenção e o impacto que tive para o local e região, funcionando como motor da

recuperação de toda a região empobrecida ao redor).

Um marco cultural é uma declaração de grande visibilidade para o consumo

cultural de uma cidade, podendo a cidade utiliza-lo como um símbolo/imagem

poderosa no mercado(markting de cidades). No entanto investir numa construção

marcante (para a imagem e cultura da cidade) e dispendiosa sendo um investimento

com riscos elevados que poderá deixar na cidade um embaraçoso ‘elefante branco’

que encherá a paisagem urbana, como o caso do ‘Millennium Dome de Londres.

A ‘hospedagem’ de grande eventos desportivos ou culturais, como os Jogos

Olímpicos, festivais ou a Capital Europeia da Cultura (CEC) são um complemento ou

mesmo uma alternativa estratégica para atingir a fronteira sustentável, de construir e

rentabilizar infra-estruturas e marcos de referencia global. Os grandes evento

facilitam a divulgação de uma imagem escolhida para, potenciais investidores,

turismo, e políticos: enchendo colunas e espaço televisivo, e radiofónico nacional e

internacional dedicadas á cidade e ao evento – muitos comentadores dizem que

este tipo de divulgação ‘constitui uma publicidade que não pode ser comprada (não

tem preço)’. O evento atrai o "desejo" das pessoas para a área de intervenção

aumentando o numero de visitantes, criando marcas identificativas e de orgulho para

os moradores, criando ainda massa critica para atrair técnicos superiores. Tendo

uma cidade adquirido o título 'Capital Europeia da Cultura "(ou outro evento de

acolhimento) a cidade pode apresentar-se com uma designações associadas -

Sendo uma forma de ‘hard-branding’ (grande marca) que será usada no marketing

(entre cidades). A um nível imediato, a atenção gerada, pelos grandes eventos tem

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um efeito regenerativo equivalente a uma injecção de adrenalina, aumentando o

numero de visitantes, impulsionando a economia local, aumentando o nível de

investimentos, ficando as autoridades com grandes financiamentos postos à

disposição da cidade, atingindo a cidade um estatuto que a remete para a escala

global.

3.2 O EVENTO ‘CIDADE EUROPEIA DA CULTURA’

A iniciativa ‘Capital Europeia da Cultura’ e um evento criado originalmente

com objectivo cultural, nascido de uma ‘ideia – simples e grandiosa da Ministra da

Cultura Grega, Melina Mercouri, em 1985. não resultando o inicio desta iniciativa de

um plano de desenvolvimento com vista a resolver problemas urbanos ou outros.

O evento foi concebido para ajudar a aproximar os povos dos estados -

membros da União Europeia, através da expressão de uma cultura que, na sua

evolução histórica e desenvolvimento contemporâneo, é caracterizada por terem

elementos comuns enriquecidos pela diversidade (Comissão Europeia, 1985).

O conceito foi originalmente desenvolvido por um desejo de dar à

Comunidade, mais tarde União Europeia uma ‘imagem atraente’ (Sjøholt, 1999).

Globalmente, o evento foi concebido de modo a reflectir o posicionamento cultural

da União Europeia (UE) como uma "unidade na diversidade", onde cada cidade

anfitriã exibe a sua cultura local ou nacional, partilhando elementos da "cultura

europeia"(comum).

O argumento da promoção de uma cultura europeia partilhada tem-se

transformado num dos aspectos mais importantes da política da União Europeia nos

últimos anos, sendo considerada a ‘cola’ que liga o conjunto dos estados membros

da UE (Richards, 2001).

Atenas em 1985 foi a primeira designada ‘Capital Europeia da Cultura’. Desde

então, o evento tem ‘viajado’ pelos estados membros da UE, sendo em cada ano

escolhida uma cidade europeia diferente que terá a honra de sediar o evento e a

qual será atribuido o título de Cidade Europeia da Cultura antecipando o conceito

dado pelas cidades à sua herança cultural e à dua identuidade e vitalidade cultural.

Os objectivos do evento tem tido duas grandes vertentes: uma a de tornar a

cultura das cidades acessível a um público europeu, e por outra a de criar uma

imagem da cultura europeia como um todo (Corijn e Praet, 1994). Entretanto o

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evento tem sido utilizado de formas diversas pelas cidades anfitriãs, umas vezes

apoiando e alargando o conceito original da iniciativa ECC outras vezes alterando o

conceito original – tratando as várias cidades de forma diferente a designação.

Atenas por exemplo, concentrou o evento em grandes nomes estrangeiros e ignorou

a ancestral arte grega. Florença destacou a sua própria importância histórica,

enquanto Amsterdão projectou-se a si mesma como cidade da arte europeia. Berlim

foi criticada por ter implementado uma abordagem muito elitista, ao passo que o

acontecimento em Paris foi visto dentro da normal agitação cultural da cidade. A

característica comum de todas essas cidades foi que elas foram já por si

estabelecidas com ‘Capitais Culturais’ europeias, já detentoras de grande riqueza de

equipamentos culturais.

Existem elementos comuns nas abordagens adoptadas pelas cidades para

acolher a ECC, como o ‘festival ‘modelo’’, (Florença '86 e Dublin '91), 'workshop tipo'

(Amsterdão ’87 e W. Berlim '88), e "a exploração da criação tradição' (Madrid).

A viragem do evento ECC veio com a designação de Glasgow, em 1990, um

exemplo de ‘implementação – infra-estrutural’ do conceito, que foi também

característico de Lisboa'94 e Atenas 85. De referir que, Glasgow (ao contrário seus

antecessores) não era uma cidade capital nem se encontrava nos destinos culturais

da Europa. Glasgow venceu a nomeação contra a concorrência de outras cidades,

em grande medida, pelo grande apoio comercial dos patrocinadores e pelo facto de

tencionava utilizar o evento para estimular a regeneração urbana e impulsionar a

imagem de Glasgow como uma cidade cultural.

Apesar do principal objectivo ser o realçar da riqueza e diversidade cultural

das cidades da Europa, dando ao mesmo tempo enfase à sua herança cultural e à

vitalidade das artes, criando uma união entre os povos da Europa, depressa se

tornou evidente que o impacto da Cidade Europeia da Cultura ia além desta ligação

educacional (Comissão da Europa, 1997:2).

Glasgow iniciou um modelo de regeneração urbana, impulsionado pela

imagem e sinergias trazidas pelo evento ECC, que se tronou modelo para outras

cidades.

O evento ECC no contexto da política cultural europeia, marca a ‘era do

‘marketing’ de cidade’ - meados de 1980 até hoje.

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Esta nova ‘era’ marca um deslocamento das preocupações das políticas

sociais da década de 1970 para políticas voltadas para o desenvolvimento

económico e social ligado á regeneração urbana.

Sendo visível a substituição dos objectivos puramente cultuais dos recentes

anfitriões do evento ECC, por objectivos que conjugados com o ‘markting’ de cidade

e políticas culturais promovam (em conjunto com os objectivos culturais do evento)

reordenamento urbano e a regeneração urbana da cidade.

O evento ECC em Glasgow ’90 foi considerado um êxito económico

principalmente no que diz respeito a despesas dos turistas.

Em Helsínquia sendo uma das capitais da eurioopa nenos conhecida queria

colocar-se no mapa cultural da Europa com o evento, tendo Helsínquia 2000 dois

grandes objectivos: “melhorar a qualidade de vida dos habitantes e aumentar a

conscientização internacional da cultura finlandesa“.

O evento ECC, Porto 2001 não foi tão bem sucedido em numero de visitantes

como Lisboa 1994, no entanto consegui alargar a plateia cultural para o Porto.

Em Bruges (ECC em 2002), uma cidade que já atrai muitos visitantes (cerca

de 3 milhões de visitantes por ano), o objectivo era convencer os visitantes a

pernoitar na cidade - aumentando assim o impacto económico do turismo na cidade.

Outro objectivo que se pretendia atingir no evento ECC em Bruges 2002, era

o de mudar a imagem de uma cidade que apesar do seu longo passado histórico

tinha igualmente para oferecer elementos culturais contemporâneos, tendo sido um

objectivo partilhado no evento ECC em Salamanca 2002.

O evento Cidade Europeia da Cultura deu às cidades a oportunidade de se

‘publicitarem’ e melhorarem a sua imagem tanto ao nível nacional como Europeu e

representa uma espécie de elemento regenerados para as principais áreas em redor

das quais se realizaram os eventos. À medida que o programa se desenvolveu ao

longo dos anos, deixou de ser um simples elemento de desenvolvimento de redes

culturais, e passou a afectar diversas áreas da competência da Comissão, tais como

a regeneração urbana, a formação e o turismo. Este aspecto reflectiu-se ao nível

dos apoios financeiros, que passaram de 108 mil euros em 1985 para 400 mil em

1994 (Myerscough, 1994: 4), sendo disponibilizados entre 2000 e 2004 cerca de 6,5

milhões de euros para a iniciativa ECC.

A designação “Cidade Europeia da Cultura” tem-se tornado ao longo dos

anos uma ferramenta versátil das políticas culturais, capaz de alcançar objectivos

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múltiplos. Apesar de haverem condições estipuladas para que uma candidatura seja

considerada como válida, estas são abrangentes, não são restritas e têm muito em

conta os efeitos na população local. Por exemplos, organização de projectos

culturais específicos concebidos para atrair os jovens às artes, aumentar da coesão

social, desenvolver um turismo cultural inovador e de alta qualidade tendo em conta

a gestão da herança cultural da cidade numa base sustentável indo ao encontro do

interesse dos visitantes e da população local.

A principal Razão do sucesso do evento ‘Cidade Europeia da Cultura’ tem

sido a utilização do modelo flexível, que permite a cidade candidata uma liberdade

de interpretação que reflicta as necessidade e aspirações especificas adaptadas a

cada cidade.

Através da Rede de Cidades Europeias da Cultura, criada em 1991, e

possível aos profissionais envolvidos na organização do evento comparar os

resultados. Podendo ser estudadas as aspirações, os sucessos, os problemas e o

legado os programas especiais. O encontro entre as organizações das CECs

passadas e as futuras permite discutir os sucessos e falhas dos projectos,

permitindo que os aspectos negativos sejam evitados e que os aspectos positivos

sejam maximizados.

4. CASO DE ESTUDO – LISBOA CAPITAL EUROPEIA DA CULTURA 1994 (‘Lisboa 94’)

4.1 INICIATIVA ‘Lisboa 94’ COMO OPURTUNIDADE

4.1.1 Procedimento e Lógica do Programa

...............

4.1.2 Os problemas da Área de Intervenção

...............

4.2 ANALISE DOS IMPACTOS...............

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4.2.1 Impacto Ecomonico...............

4.2.2 Impacto Físico...............

4.2.3 Impacto Social...............

4.2.4 Impactos Negativos Indirectos...............

4.3 PROBLEMAS RESOLVIDOS...............

5. CONCLUSÃO

...............

29