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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE PALEOFAUNA E PALEOAMBIENTES DO PLEISTOCENO SUPERIOR NO MUNICÍPIO DE JAGUARARI, NORTE DA BAHIA MÁRCIA CRISTINA TELES XAVIER MESTRADO 2012

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE

PALEOFAUNA E PALEOAMBIENTES DO PLEISTOCENO

SUPERIOR NO MUNICÍPIO DE JAGUARARI, NORTE DA BAHIA

MÁRCIA CRISTINA TELES XAVIER

MESTRADO 2012

ii

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE

PRÓ-REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA

NÚCLEO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ECOLOGIA E CONSERVAÇÃO

MESTRADO EM ECOLOGIA E CONSERVAÇÃO

PALEOFAUNA E PALEOAMBIENTES DO PLEISTOCENO

SUPERIOR NO MUNICÍPIO DE JAGUARARI, NORTE DA BAHIA

AUTORA: MÁRCIA CRISTINA TELES XAVIER

ORIENTADOR: PROF. DR. ADAUTO DE SOUZA RIBEIRO

CO-ORIENTADOR: PROF. DR. MARIO ALBERTO COZZUOL

SÃO CRISTOVÃO, SERGIPE

FEVEREIRO, 2012

iii

FICHA CATALOGRÁFICA ELABORADA PELA BIBLIOTECA CENTRAL

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE

Xavier, Márcia Cristina Teles

X3p Paleofauna e paleoambientes do pleistoceno superior no

município de Jaguarari, norte da Bahia / Márcia Cristina

Teles Xavier ; orientador Adauto de Souza Ribeiro. – São

Cristóvão, 2012.

110 f. ; Il.

Dissertação (mestrado em Ecologia e Conservação)–

Universidade Federal de Sergipe, 2012.

O

1. Reconstrução paleoambiental. 2. Megafauna. 3.

Matéria orgânica do solo. 4. Carvão - Fragmentos. 5.

Educação patrimonial I. Ribeiro, Adauto de Souza, orient.

II. Título.

CDU: 551.583.7

iv

v

Agradecimentos

Hoje as palavras fogem e é com grande emoção que escrevo os agradecimentos,

última parte do meu trabalho. Gostaria de agradecer a todos que estiveram presentes neste

processo, especialmente:

A meu bom Deus, por ter me permitido chegar até aqui e ter proporcionado todo

equilíbrio para concluir mais esta etapa da minha vida;

A minha família, que soube suportar a saudade, distância e por transmitir doses

diárias de coragem e carinho;

Ao meu querido fêssor Adauto, por ter aceitado orientar o meu trabalho científico e

durante todo o curso, teve um carinho e atenção muito maior que professor/orientador. Foi

em todas as caronas, conversas, conselhos e até nas broncas que encontrei um amigo, um

parceiro e até o acolhimento de um pai. Fêssor meu muito obrigada, como sempre disse, o

senhor é meu orgulho!

Ao Mário Cozzuol que me recebeu tão bem em seu laboratório e partilha os sonhos

futuros;

Ao fêssor Cláudio Lisi por toda dedicação e acreditar tanto em mim. Por ter

abraçado meu projeto e trabalhado com tanto afinco, por me apresentar o fascinante mundo

da dendroecologia e muitas vezes, por ter sido meu orientador/coorientador... Eu prometo

que darei uma réplica da manchadinha, rsrs;

Aos professores revisores que contribuíram com as correções/sugestões para uma

melhor qualidade do trabalho: Kleberson Porpino, Edison Oliveira, Maria Helena Zucon,

Renato Faria, Cláudio Lisi, Susy Gouveia, Edilma Andrade, Maria Angélica;

A minhas queridas amigas Fran e Chris, por ter sido a minha família fora de casa e

ter compartilhado comigo as suas famílias. Sem elas tudo seria mais difícil. Se nada desse

certo, só o fato de ter conhecido vocês já teria valido a pena;

Ao Bruno, colega de orientação, companheiro nas mesmas angustias e

preocupações, por todas as risadas e momentos de “lavar a roupa suja”, rsrs;

A Érica pela amizade construída, por partilhar muitos momentos bons, por todas as

conversas (aquelas de caráter crítico) e por ser esta baiana arretada. Só uma baiana pra

entender outra baiana rsrs;

vi

Aos amigos de turma, especialmente Anny, Fábio, Higor Vieira, Daniel por todas

as “alterações”;

Aos amigos de laboratório, Patrício, Taiguã, Raone, Herlânia, Mônica, Jefferson,

Carolzinha, Douglas, Renato, Mariana, Francisco, Leonardo, Nayane, Ana Paula, Rodrigo,

Lucas, Priscila, Marcelo, Daniel, por todos os cafés, almoços no Resun;

As minhas estagiárias Mônica e Cleice por ter dedicado tanto tempo no meu

trabalho, pela vontade em ajudar e a torcida que tudo desse certo;

Aos amigos que mesmo de longe, estiveram bem perto com todo carinho: Mário

Dantas, Cris ruiva, Dan, Rubens, Juan, Sarinha, Adriana, Sandra, Naiara, Emília, D.

Alzenir, Harlem, Taty, Taci, Jô, Silvia;

A todos da Secretaria do Meio Ambiente em Jaguarari, especialmente ao secretário

Antônio Marcos pela confiança depositada e disposição, à Glécia, Robson, Clécio, sem o

apoio de vocês, não teria conseguido;

Ao senhor Celso, por ter permitido que a pesquisa fosse feita em sua propriedade;

A todos os moradores de Lajedo II em especial ao Devan, Neguinho, Sr. Geovane,

Renato e D. Quinininha;

A Juliana por ter dividido comigo o seu espaço e durante mais de um ano ter me

aguentado, rsrs. Sei que não sou tão fácil assim, e você só reclamou dos banhos

demorados, rsrs, você é um doce! Mimimi pra você!

A Juliana Cordeiro, pela amizade, pelas conversas e companhia na lanchonete

durante o almoço totalmente fora de horário;

A Cristiana por ter contribuído mais uma vez na minha pesquisa, por toda a

colaboração do Laboratório de Arqueologia e Paleontologia da Universidade do Estado da

Bahia;

Ao CNPQ pela bolsa concedida e ao PROCAD-NF: 23032-042965/2008-11 pelo

apoio concedido;

Ao programa de Pós-graduação em Ecologia e Conservação da Universidade

Federal de Sergipe;

E a todos que contribuíram para que esta etapa fosse concluída com sucesso!

vii

“... Refugie-se no tempo, antes que as horas passem...”.

Márcia Xavier

viii

À minha tia Dina (in memoriam),

que tanta falta faz!

ix

SUMÁRIO

RESUMO ................................................................................. Erro! Indicador não definido.

ABSTRACT ............................................................................ Erro! Indicador não definido.

Introdução Geral ............................................................................................................... 12

1.1. Considerações Gerais e Objetivos ............................................................................ 13

1.2. Quaternário: Período de Mudanças. ......................................................................... 17

1.3. Mastofauna Pleistocênica da Bahia: Histórico das pesquisas. ................................. 21

1.4. Paleoecologia e suas implicações na dinâmica ambiental da Caatinga. ................... 26

Capítulo 1. Megafauna Neopleistocênica da Caatinga ................................................... 35

Capítulo 2. Dinâmica de Vegetação e Clima no Quaternário recente .......................... 55

Capítulo 3. Considerações Finais ..................................................................................... 91

Apêndice ............................................................................................................................. 93

Anexo ................................................................................................................................ 108

x

RESUMO

Resumo: Estudos de reconstrução paleoambiental (vegetação e clima) são mais

abundantes nas regiões Sul, Sudeste e Central do Brasil utilizando pólen depositado em

sedimentos lacustres e turfeiras. Por outro lado, na região Nordeste, trabalhos análogos

são mais escassos. A partir deste tipo de estudo é possível inferir sobre os processos

ecológicos associados às comunidades vegetais e animais. Neste trabalho buscou-se

entender a dinâmica paleoambiental ocorrida em um afloramento fossilífero do tipo tanque

localizado no município de Jaguarari, o qual faz parte da Microrregião de Senhor do

Bonfim – Centro-Oeste da Bahia, em domínio de Caatinga. Para tanto, coletou-se fósseis

de mamíferos neopleistocênicos; solo e plantas para análises isotópicas (13

C). A fauna

identificada é composta por 6 taxa: Eremotherium laurillardi; Notiomastodon platensis;

Toxodontinae; Felidae; Panochthus greslebini; Equus (Amerhippus) neogeus.

Interpretações paleoambientais das características ecológicas dos taxa sugerem que este

conjunto faunístico estava associado há um ambiente com predomínio de áreas abertas em

associação com fisionomias mais fechadas. Os resultados isotópicos apontam para

estabilidade vegetacional na região até o presente, sem troca de vegetação C3 para C4 nos

locais estudados. A presença de fragmentos de carvão soterrados em várias profundidades

do solo sugere a ocorrência de paleoincêndios durante todo o Holoceno, com a possível

influência de um clima mais seco para a região. Estes incêndios podem ser de natureza

antrópica, já que foram encontrados alguns vestígios de ocupação de populações antigas na

região. A dinâmica da vegetação observada para Jaguarari, até a profundidade de solo

estudada, sugere tendência a uma vegetação arbórea dominante, desde aproximadamente

15.000 anos AP. com retorno a um clima mais úmido e provavelmente similar ao atual. A

região estudada, possivelmente, não sofreu modificação acentuada na vegetação no médio

Holoceno, quando do estabelecimento de períodos mais secos, permanecendo com áreas de

vegetação de floresta. Durante os trabalhos de escavação dos fósseis, sentiu-se a

necessidade de desenvolver um trabalho de Educação Patrimonial junto à população do

povoado de Lajedo II, para subsidiar ações de conservação dos sítios paleontológicos. Os

resultados mostraram que esta ferramenta é um instrumento capaz de fornecer informações

sobre patrimônio, noções de conservação, leis que normatizam estas práticas, as sanções

legais previstas, como também, proporcionar a construção de novos conceitos e uma

aprendizagem significativa na comunidade alvo.

Palavras Chave: Reconstrução paleoambiental; Megafauna; Matéria orgânica do solo;

Fragmentos de carvão; Educação patrimonial.

xi

ABSTRACT

Abstract: Numerous studies of paleo-environmental reconstruction (vegetation and

climate) have been carried out in southern, southeastern, and central Brazil, based on the

pollen deposited in lacustrine and peatbog sediments. Such studies are scarce in the

Brazilian Northeast, however. Studies of this type permit the development of inferences on

the ecological processes affecting local plant and animal communities. The present study

aimed to understand the paleo-environmental dynamics of a tank-type fossil outcrop in the

municipality of Jaguarari, part of the Senhor do Bonfim micro-region in central-western

Bahia state, located within the Caatinga biome. Fossils of neopleistocene mammals were

collected, together with samples of soil and plants for isotopic analyses (13

C). Six

mammalian taxa were identified: Eremotherium laurillardi, Notiomastodon platensis,

Toxodontinae, Felidae, Panochthus greslebini, and Equus (Amerhippus) neogeus. The

paleo-environmental interpretation of the ecological characteristics of these taxa indicated

that this assemblage was found with a predominantly open environment, associated with

areas of denser habitat. The isotopic analysis indicated that the vegetation of the area has

been stable up to the present day, with no exchange of C3 to C4 at the study sites. The

presence of charcoal fragments at different depths in the soil indicates the occurrence of

wildfires throughout the Holocene, possibly as a consequence of a relatively much drier

climate. The wildfires may have been anthropogenic, given that the evidence was found in

association with vestiges of ancient human populations. The dynamics of the vegetation

observed at the site to the depth excavated indicated a predominance of arboreal vegetation

since approximately 15,000 BP, finally returning to a more humid climate similar to that of

the present day. The vegetation of the study region may not have suffered major

modifications of the vegetation during the drier periods of the mid-Holocene, with forest

formations predominating. During excavations, the need for a patrimonial education

program was perceived, in order to promote measures for the conservation of

paleontological sites, together with the local population of Lajedo II village. The results of

this initiative indicated that this approach is a useful tool for the generation of information

on natural patrimony, basic concepts of conservation, the legal basis for this process and

the possible sanctions that enforce it, as well as contributing to the development of new

knowledge and perspectives in the local community.

Key words: Paleoenvironmental reconstruction; Megafauna; Organic matter on soil;

Charcoal fragments; Patrimonial education.

xii

Introdução Geral

13

1.1. Considerações Gerais e Objetivos

Há sessenta milhões de anos a América do Sul, estava isolada geograficamente, assim

como acontece atualmente com a Austrália, e os registros fósseis de mamíferos que teriam

surgido há 150 milhões de anos antes dessa data, mostram que estes se tornavam cada vez

mais variados e numerosos. Estavam isolados e teriam se originado aqui ou para cá teriam

emigrado procedentes da América do Norte, antes de nosso continente se tornar uma ilha

(CARTELLE, 1994).

Na América do Sul mudanças geográficas ocorreram com elevação dos Andes há 35

milhões de anos, e com a formação de algumas ilhas, até que por volta de 1,8 milhão de

anos houve o estabelecimento de uma ponte intercontinental, e a então ilha da América do

Sul passou a estar ligada a América do Norte por meio da América Central (WEBB, 1985;

CARTELLE, 1994; WOODBURNE, 2010). Estas pontes-de-terra (land bridges)

facilitaram a passagem da biota, permitindo migração entre as duas Américas em ambas as

direções, ocorrendo, então, uma grande competição pelo mesmo alimento e espaço

(território) (SALGADO-LABOURIAU, 1994).

Este “grande intercâmbio faunístico” possibilitado por um corredor contínuo após a

formação do istmo do Panamá facilitou as idas e vindas de faunas diferentes entre as

Américas do Norte e do Sul. Tatus e preguiças conseguiram avançar com relativo sucesso

para o norte, sendo bem sucedidos com o intercâmbio os mamíferos setentrionais: cavalos,

camelídeos, antas, carnívoros (ursos, quatis, felinos, cães) e proboscídeos levando à

extinção boa parte de seus similares sulinos (LOPES, 2004).

Contudo, por volta de dez, doze mil anos ocorreu na América do Sul e outras partes do

mundo, uma grande extinção, onde numerosas espécies aparentemente bem adaptadas, em

um tempo geológicamente curto desapareceram do continente, coincidindo com a

instabilidade climática e diminuição da temperatura. Estes fatores teriam provocado

variações ambientais como: aumento de áreas de floresta ao longo dos rios, desertificações

nas planícies, diminuição de pastagens nos cerrados (pelo menos temporariamente) e em

conseqüência a isso, redução gradual de indivíduos e nascimentos em algumas espécies

animais que apresentavam um grau elevado de especialização, sobretudo quanto ao regime

alimentar (CARTELLE, 1999)

Outros autores mencionam também a possibilidade de doenças terem ocasionado

grandes mortandades entre estes grandes animais (e.g. FERIGOLO, 1999). Nesse caso o

14

homem poderia ter contribuído, pois, pode ter introduzido na América animais domésticos

que contaminaram animais selvagens com suas doenças. Um terceiro fator pode ter sido a

caça predatória que teria levado à extinção estes animais (FUNARI & NOELLI, 2002;

CIONE et al. 2003).

Logo, é provável que os três fatores tenham atuado de maneira conjunta, pois houve,

efetivamente, mudança climática com a diminuição da área dos campos e cerrados –

habitats originais desses grandes animais – concomitante à expansão da ocupação humana,

que pode ter espalhado doenças bem como extinguido o número desses animais por meio

das caças.

Os estudos da paleofauna na America do Sul desde os achados de Charles Darwin no

Uruguai e Argentina atraíram não só a atenção da Europa para a fauna extinta no

continente americano, como também o estabelecimento da Paleontologia como ciência na

metade do século XVIII a partir dos trabalhos de Georges Cuvier (CARTELLE, 1994).

Desde então numerosos trabalhos têm sido feitos buscando identificar e descrever esta

fauna, assim como as razões que levaram a sua extinção. No Brasil tem-se encontrado

muitos fósseis de mamíferos pleistocênicos em vários estados, a exemplo os estudos

realizados por Cástor Cartelle na Bahia e Minas Gerais; Carlos de Paula Couto em quase

todo o Brasil, e Peter Lund em Minas Gerais.

No Nordeste há registros da ocorrência desta fauna em todos os estados, a exemplo de

alguns trabalhos realizados em: Alagoas (e.g. ALVIM, 1939; SILVA, 2001); Bahia (e.g.

CARTELLE, 1987; BELTRÃO & LOCKS, 1989; LESSA, 2005, XAVIER et al., 2008);

Ceará (e.g. MORAES, 1924; PAULA-COUTO, 1953; XIMENES, 1996; XIMENES &

MACHADO, 2004; XIMENES, 2006;); Maranhão (e.g. ALVIM, 1939; SIMPSON &

PAULA-COUTO, 1957); Paraíba (e.g. BERQVIST, 1993; COSTA et al., 1993;

BERQVIST et al.,1997; BARRETO et al., 2003); Pernambuco (e.g. ALVIM, 1939;

ROLIM, 1974; SILVA, 2001; OLIVEIRA et al., 2009; OLIVEIRA et al., 2010); Piauí

(e.g. GUÉRIN et al., 1993; FAURE et al., 1999); Rio Grande do Norte (e.g. OLIVEIRA et

al., 1984; PORPINO & SANTOS, 1997; PORPINO, 2000; SANTOS et al., 2001;

PORPINO & SANTOS, 2003; PORPINO et al., 2004); Sergipe (e.g. GOES et al., 2002;

DANTAS et al., 2003; DANTAS & ZUCON, 2007).

Algumas localidades onde foram encontrados fósseis da megafauna pleistocênica no

Nordeste do Brasil foram plotadas em um mapa por Viana et al. (2007), onde pode ser

vista a distribuição destas espécies por toda a região (Figura 1) sendo destacadas na figura

15

as localidades do Estado da Bahia. A mancha cinza encontrada no mapa sugere a área de

ocupação destas espécies.

Neste estudo propõe-se identificar, descrever e analisar a paleofauna extinta

encontrada no município de Jaguarari, microrregião de Senhor do Bonfim-Bahia. A região

está situada no domínio de caatinga, porém a descrição dos solos e aspectos geológicos

levanta a hipótese de ocorrência de elementos de cerrado, todavia, com as atividades

agropastoris essa vegetação mitigada praticamente foi extinta, sendo substituída por

atributos atuais de Caatinga e estágios sucessionais. A abordagem de reconstrução

paleoambiental tem por finalidade buscar indícios de mudanças e estabilidade na vegetação

que podem estar registradas na matéria orgânica dos solos (RIBEIRO, 2002).

Figura 1. Distribuição das localidades com ocorrência de megafauna pleistocênica na região Nordeste do

Brasil. A mancha cinza sugere uma área de povoamento desses animais. Destaque em vermelho para o

Estado da Bahia (Modificado de Viana et al., 2007).

16

Segundo Da Silva (2001) a microrregião de Senhor do Bonfim apresenta-se como uma

das áreas de maior potencial paleontológico do Estado da Bahia, sendo nos ambientes de

carste (cavernas) e tanques onde se depositaram grande parte das jazidas fossilíferas

pleistocênicas do Estado.

No entanto, a maior parte dos estudos está voltada para o ambiente de caverna, por

exemplo, a Toca Da Barriguda e a Toca da Boa vista no município de Campo Formoso,

onde se conhece um número maior de espécies para este tipo de ambiente.

Para os tanques localizados na região, a realidade já é diferente. Existem poucos

estudos acadêmicos, poucas coletas com o critério científico adequado, embora seja do

conhecimento da maioria que o material fóssil está sendo perdido. Esta perda é ocasionada,

tanto por agentes naturais, que tendem a degradar naturalmente os restos fósseis, como

também pela ação antrópica, onde em suas atividades agrícolas de forma não intencional

(desmatamento, preparo da terra para plantio, escavação de reservatórios de água contendo

fósseis, etc), danificam o material; ou de maneira mais perniciosa, ao realizar a coleta

indiscriminada das ossadas sem nenhum critério ou registro científico, descontextualizando

os achados.

Esta retirada do material fóssil do contexto tafonômico e estatigráfico, muitas vezes é

realizada pelos moradores que vivem no entorno do sítio, onde curiosos e desejosos de

maiores informações, removem-nos de forma indiscriminada.

Em estudos anteriores Xavier et al. (2008) constataram que a megafauna pleistocênica

composta de oito táxons de 07 herbívoros e 01 carnívoro identificados: Eremotherium

laurillardi (Lund, 1842) Cartelle & Bohórquez, 1982; Glyptodon clavipes Owen, 1839;

Panochthus greslebini Castellanos, 1941; Panochthus jaguaribensis Moreira, 1965;

Palaeolama major Liais, 1872; Stegomastodon waringi Holand, 1920; Toxodon platensis

Owen, 1840; Família Felidae Gray, 1821, foram encontrados em tanques da microrregião

de Senhor do Bonfim abrangendo os municípios: Andorinha, Antonio Gonçalves,

Caldeirão Grande, Campo Formoso, Filadélfia, Jaguarari, Pindobaçu, Ponto Novo, Senhor

do Bonfim.

Sendo assim, considerando que estudos adicionais para áreas de tanque se fazem

necessários, este trabalho busca: ampliar os registros tanto para a microrregião como para o

Estado; caracterizar a megafauna quanto aos seus hábitos alimentares e o ambiente onde

vivia para estabelecer sua paleoecologia, paleocronologia e conseqüentemente conhecer os

17

ambientes pretéritos e inferir se a diminuição da biodiversidade local levou a uma

diminuição da estabilidade ambiental.

A partir dessas novas informações, verificar se há indícios de mudança na paisagem no

local estudado, e em caso positivo, sugerir os possíveis agentes de mudanças, as hipóteses

que justificam estes eventos e sugerir para onde estas mudanças apontam atualmente.

Com objetivo secundário de desenvolver na comunidade local uma ação de

conservação do material estudado, propôs-se um experimento de educação patrimonial no

povoado de Lajedo II buscando transmitir conceitos básicos sobre paleontologia, fósseis da

megafauna e medidas de conservação.

1.2. Quaternário: Período de Mudanças.

Desnoyers (1829) foi o primeiro a propor o termo Quaternário para diferenciar os

estratos sobrejacentes aos sedimentos do Terciário da Bacia de Paris, sendo redefinido

posteriormente por Reboull (1833) visando incluir todos os estratos caracterizados por

vestígios de flora e fauna, cujos similares poderiam ainda hoje ser encontrados em vida

(MOURA, 2009).

Embora não existindo concordância geral entre os pesquisadores, considera-se que

este período tenha iniciado há 2,6 milhões de anos, sendo dividido em Pleistoceno e

Holoceno (este compreendendo os últimos 10 mil anos) (Tabela 1). O Quaternário

apresenta-se como o período que contém a maior quantidade de evidências paleoecológicas

e a história da civilização humana com as suas intervenções sobre os outros ecossistemas.

Não é possível afirmar que todas as paisagens atuais são datadas apenas do Quaternário,

pois algumas delas conservam traços de outros períodos como o Paleógeno e Neógeno

podendo chegar até o Cretáceo, no entanto, raras são as regiões que estiveram sujeitas a

condições estáveis, sob a ação de um único sistema morfoclimático durante o Cenozóico

nos último milhão de anos (AB’ SABER, 1969).

Sabe-se que por todo o planeta, a intensidade das variações climáticas ocorridas

durante o Quaternário produziu efeitos nas taxas de intemperismo e pedogênese, nos

regimes fluviais e nível dos oceanos, e na distribuição ecológica dos seres vivos, forçados a

migrações e adaptações a condições mutáveis. Dessas contínuas modificações nas

condições ambientais resultaram transformações mundiais na paisagem. Sendo assim, a

18

análise geomorfológica dos ambientes atuais constitui a base para a compreensão da

seqüência evolutiva da paisagem no passado geológico recente (MOURA, 2009).

Tabela 1. Escala do Tempo Geológico - 2009, baseada na International Commission on Stratigraphy (ICS)

(modificado de Silva-Filho, 2011).

Éon Era Período Época Milhões de Anos

Fanerozóico Cenozóico

Quaternário Holoceno 0,01 à atualidade

2,6 a 0,01 Pleistoceno

Neógeno Plioceno

Mioceno

5,3 a 2,6

23,0 á 5,3

Paleógeno

Oligoceno

Eoceno

Paleoceno

33,9 a 23,0

55,8 a 33,9

65,5 a 55,8

Estas mudanças ambientais, tanto espaciais quanto temporais, estão refletidas em um

complexo mosaico de paisagens, seqüências sedimentares, vestígios de floras, faunas e

artefatos humanos (LOWE & WALKER, 1984).

A distribuição da área florestal brasileira sofreu modificações cíclicas no tempo e no

espaço, sendo periodicamente substituída por formações vegetais abertas (Cerrado,

Caatinga). Nas épocas climáticas favoráveis sua expansão foi máxima, desempenhando

papel importante na intemperização química das rochas (BIGARELLA et al., 1994).

Durante o quaternário, as flutuações paleoclimáticas promoveram deslocamentos

espaciais das formações vegetais, embora, no tocante ao patrimônio florístico no

Pleistoceno, os grandes tipos de cobertura vegetal teriam sido os mesmo de hoje. O mesmo

não aconteceu em relação à fauna, onde as alterações foram maiores ocasionando a

extinção de numerosas espécies, entre elas, os grandes mamíferos terrestres característicos

deste período (BIGARELLA et al., 1994).

Estas mudanças foram possíveis porque durante o Pleistoceno ocorreram grandes

pulsações climáticas com períodos de temperatura muito baixas (glaciações) e períodos

mais quentes (interglaciações). Uma glaciação, por sua vez, pode apresentar episódios

menores, referidos como estádios e interestádios. Os estádios correspondem aos avanços

das geleiras e os interestádios, às fases de recuo dessas geleiras, causados pela elevação da

temperatura (MENDES, 1984; COX & MOORE, 1994; SALGADO-LABOURIAU, 1994).

No início do último episódio glacial pleistocênico (Würm – Wisconsin Superior), o

paleoespaço geográfico era igual ou similar ao atual, mas com o avanço da glaciação

19

desintegrou-se o caráter tropical dos climas até então predominantes na fase pré-Würm. A

implantação desta última grande época glacial foi marcada pela regressão das florestas e

ampliação das formações vegetais abertas intertropicais e subtropicais, em conseqüência da

expansão compartimentada dos climas secos sazonários, determinados pelo avanço das

correntes frias, até latitudes bem mais baixas do que as de suas extremidades atuais.

(BIGARELLA et al., 1994).

Estes intervalos glaciais e interglaciais constituem unidades geoclimáticas que

recebem nomes diferentes de acordo com as regiões em que foram descritas, sendo que, no

Brasil utiliza-se a descrição usada na América do Norte. Considera-se que em todas as

regiões do mundo, esse interglacial ou Holoceno iniciou-se há 12.000 anos chegando aos

dias atuais, mesmo em regiões que não tiveram influência direta das glaciações as quais,

ainda sim, sofreram alterações com períodos áridos ou de baixas temperaturas (Salgado-

Labouriau, 1994).

Sendo assim, profundas mudanças climáticas ou as pequenas flutuações do clima

desempenharam um papel importante no desenvolvimento da paisagem atual. Nos últimos

anos tem-se percebido que nas épocas frias do Quaternário, em grande parte das regiões

subtropicais e tropicais, teria ocorrido uma diminuição sensível da pluviosidade ou

modificação da distribuição das chuvas, generalizando-se condições de semi-aridez e

mesmo aridez, enquanto as épocas úmidas corresponderiam aos interglaciais

(BIGARELLA et al., 1994).

Durante o clima úmido desenvolveu-se um manto de decomposição formado,

principalmente, por alteração química, sobre o qual vicejou formações florestais, onde no

sul do Brasil, este manto de intemperismo atinge uma espessura usual de 5 a 15m, ou

mesmo mais, chegando ao norte do Paraná, nas imediações de Londrina a 60m. Observa-se

na transição do clima úmido para um mais seco a regressão da floresta, sendo substituída

por uma cobertura vegetal menos densa (aberta), do tipo cerrado ou Caatinga. Sob a

cobertura florestal, os solos eram protegidos contra a erosão acelerada o que não vai

acontecer sob o novo tipo de vegetação. Neste novo regime, onde as chuvas são

concentradas, os rios tendem a ser intermitentes, com grandes variações na sua descarga

havendo um progressivo aumento na carga sólida dos rios, resultante da erosão acelerada

das vertentes desprotegidas (BIGARELLA et al., 1994).

Durante os episódios de semi-aridez, as florestas ficaram restritas a refúgios enquanto

as condições climáticas permitiram sua sobrevivência. Contudo, a retração do revestimento

20

vegetal com a exposição do solo a um regime diferente de chuvas fortes e concentradas,

fez com que o manto de intemperismo formado sob condições climáticas úmidas, fosse

removido pela erosão mecânica das fases semi-áridas, ao fim do qual, a região sofreu

aplainamentos laterais (pedimentação) (KRAMER, 2002).

Para Ab’ Saber (1973), o modelo de transformação da paisagem brasileira durante o

Quaternário baseia-se no fato de que algumas rampas de pedimento estiveram

condicionadas às bruscas mudanças climáticas ocorridas no passado; e após o fim da era

glacial e o aumento da temperatura e das chuvas, as florestas foram se restabelecendo

lentamente entre 9,5 e 8,5 Ka AP, de acordo com as condições ambientais de cada região.

Crowley (1984) reconhece que apenas uma pequena quantidade dos eventos

deposicionais que caracterizam os ambientes atuais são preservadas. O registro sedimentar

é dominado por eventos raros de alta magnitude, devido à ocorrência de hiatos (fases de

não deposição e/ou de remoção pela erosão), e por isso, muitas feições identificadas em

ambientes atuais não se preservam como registro sedimentar.

Segundo Schumm (1977) a natureza incompleta de tal registro é inerente à natureza

episódica dos processos de erosão/sedimentação (conceito intimamente ligado à questão de

equilíbrio/desequilíbrio e tempo). Desta forma, a associação entre a natureza do registro

sedimentar e a dinâmica de evolução da paisagem seria a base para a reconstrução dos

períodos de estabilidade e instabilidade ambiental, fundamentação básica da

Geomorfologia do Quaternário.

Os mais importantes avanços no conhecimento do curto espaço de tempo envolvido

pelo Quaternário puderam ser obtidos a partir do desenvolvimento do método de datação

pelo Carbono 14 e estudos do fundo oceânico, onde por meio deste último, foi possível

identificar um registro sedimentar praticamente não perturbado, bastante extenso e quase

contínuo de todo o período (MOURA, 2009).

A freqüência e a amplitude das oscilações climáticas registradas dentro de um episódio

de tempo bastante curto fazem com que o Quaternário contraste bastante com os outros

períodos geológicos. A quantidade de eventos climáticos registrados nos sedimentos

oceânicos, mais do que o dobro dos glaciais e interglaciais distinguidos nos depósitos

continentais, torna este período mais que a simples ocorrência de fases quentes e frias

distribuídas por todo o registro geológico (FISCHER, 1982).

A teoria amplamente aceita para justificar a regularidade e a freqüência das oscilações

climáticas quaternárias foi elaborada por Milankovitch (1941) e baseia-se na admissão de

21

que as variações de temperatura da superfície terrestre estão relacionadas a modificações

periódicas de magnitudes variadas na órbita e no eixo terrestre. Estes mecanismos

combinados afetariam a quantidade de radiação solar recebida e seriam responsáveis pelos

efeitos climáticos.

1.3. Mastofauna Pleistocênica da Bahia: Histórico das pesquisas.

Na Bahia os estudos com material fóssil para afloramentos fossilíferos do tipo tanque

são descritos na literatura desde Paula-Couto (1953) e Simpson & Paula-Couto (1957).

Para Souza-Cunha (1966), tanques são fendas naturais, em rochas cristalinas, de

paredes íngremes e de contorno elíptico, cuja formação está relacionada à ação de águas

turbulentas no trajeto dos rios, contendo fragmentos de rochas que desgastam a superfície

cristalina. Paula-Couto (1953) sugere que este atrito constante nas fendas aumenta

progressivamente de tamanho influenciado pelo intemperismo químico do próprio rio.

Trabalhos mais recentes (BATISTA, 2002; DANTAS & TASSO, 2007; DANTAS &

ZUCON, 2007; XAVIER et al., 2008) apontam outras localidades, como também

identificam e descrevem uma fauna mais diversa do que se conhecia.

Também fazem parte dos estudos paleontológicos do Estado, trabalhos realizados em

cavernas sendo a Toca da Boa Vista a mais extensa caverna conhecida no Hemisfério Sul

(AULER, 1999) e 16ª dentre as mais extensas do mundo, possuindo 84 km de galerias

mapeadas. A Toca da Barriguda (segunda maior caverna do Brasil - com 19,5 km), a Toca

do Calor de Cima, Toca do Pitu e Toca do Morrinho, são as que mais se destacam e

constituem um sítio de grande valor científico para o Estado (AULER & SMART, 1999).

Dentre os trabalhos já realizados na Bahia podemos destacar as pesquisas realizadas

em Mairi, Central e Xique-Xique. Nestas localidades foram encontrados ossos e dentes

fósseis de mamíferos coletados pelas equipes do Museu de Arqueologia e Etnologia

(UFBA), Museu Geológico do Estado da Bahia (COM/SME), Museu Nacional (UFRJ) e

da seção de Paleontologia (DGM/DNPM). Do material coletado dois conjuntos faunísticos

das idades distintas dentro do Pleistoceno foram individualizados, sendo um mais novo que

o outro. A fauna mais recente é composta por representantes da fauna atual (cavalos,

porcos-do-mato, etc.) e outra, mais antiga, com formas já extintas (Eremotérios,

Toxodontes, etc) (LAGE, 1985).

22

Na Gruta das Onças em Caatinga do Moura, Jacobina (BA), em pesquisa realizada

pela equipe de Paleontologia da PUC-MG, foi encontrada grande quantidade de ossos de

Eremotherium laurillardi (Lund) (maior número de peças), Pampatherium paulacoutoi

Cartelle e Bohórquez, 1984, Nothrotherium maquinense Lydekker, 1889, Hoplophorus

euphractus (Lund, 1839), Smilodon populator (Lund, 1842) e restos, por identificar, de

Milodontídeo (CARTELLE & BELTRÃO, 1985).

Em Janeiro de 1993 foram coletados um molar superior e diversas peças esqueletais

na Toca da Boa Vista em associação com restos de Tayassu peccari (Fisher), Mazana sp.

e Smilodon populator Lund. Após comparação com esqueletos de Lama guanicoe (Muller)

e Lama glama (Linneus) e de Palaeolama major (Liais), as ossadas foram identificadas

como provavelmente pertencentes a, Lama guanicoe (CARTELLE, 1993).

Cartelle & Ferreira (1993) identificaram Brachyteles aracnoides (Géoffroy) em Morro

do Chapéu a partir da região rostral do crânio; em Campo Formoso identificaram

Brachyteles brasiliensis (Lund) baseado em numerosos ossos do esqueleto pós-craniano e

dois crânios completos com a maior parte da dentição. Os crânios pertencem a espécimes

macho e fêmea e a espécie extinta é 25% maior que o atual muriqui e apresenta-se como o

maior tamanho entre os primatas brasileiros.

Cartelle & Abuhid (1993) ainda a partir de material procedente de grutas da Bahia,

identificam espécies de Quirópteros fósseis: Mormoops aff. M. megalophylla*, Pteronotus

aff. P. gymnonotus*, Tonatia bidens*, Phylostomus hastatus, Chrotopterus auritus*,

Loncophylla mordax, Artibeus jamaicensis*, Desmodus rotundus, Desmodus draculae*,

Eptesicus brasiliensis, Eumops sp., Tadarida brasiliensis e Molossus molossus. Para os

autores as espécies assinaladas com asterisco (*) foram encontradas associadas à fauna

extinta de mamíferos enumerada por Lund em Lagoa Santa. As demais são identificadas

como primeiro registro fóssil para o Brasil.

Em 1989 no sítio arqueológico Toca do Aragão situado na Fazenda Aragolândia,

Município de Central foram retirados 715 kg de ossos, contendo centenas de osteodermos.

Em 1991 foram obtidos 1.500kg de ossos em uma área de 4m2, e a partir dos osteodermos

coletados foram identificadas as seguintes espécies: Pampatherium humboldti, Holmesina

sp. (Dasypodoidea); Panochthus sp., Hoplophorus sp., Glyptodon sp. (Glyptodontoidea),

distribuídas por todo o sítio e em todos os níveis estratigráficos onde foi encontrado o

material ósseo (LOCKS et al., 1993).

23

No ano de 1997, vários trabalhos foram feitos na Bahia. Abuhid (1997) estudou o

material procedente de uma gruta calcárea localizada no nordeste da Bahia, identificando

estes restos como sendo de Glossotherium aff. G. lettsomi. Vucetich (1997); Cartelle

(1997) e Monteiro (1997) registraram roedores caviomorfos para o Pleistoceno tardio da

Bahia; Locks et al. (1997) encontraram na região arqueológica de Central, uma associação

de mamíferos fósseis sub-recentes; Cartelle (1997) identificou a espécie Arctotherium

brasiliense, baseado em fósseis encontrados na Toca da Barriguda, Campo Formoso,

Bahia; Ferreira (1997) estudou restos de Stegomastodon waringi encontrados em

Nordestina durante escavações realizadas para aprofundamento de uma cacimba

pertencentes e o exemplar pertence ao IGEO-UFBA.

Lessa et al. (1997) analisaram restos fósseis de mamíferos carnívoros procedentes de

três grutas calcárias Toca dos Ossos, Brejões e Boa Vista (todas na Bahia), onde foram

reportados 15 crânios, diversos fragmentos mandibulares e ossos pós-cranianos e vários

dentes isolados, sendo possível identificar 12 (doze) espécies, sendo a maioria delas

pertencentes à Família Felidae (Smilodon populator, Felis tigrina, Felis pardalis, Felis

yagouaroundi, Felis concolor e Panthera onca), e as demais pertencentes à Família

Canidae (Protocyon troglodytes e Cerdocyon thous, à Família Mustelidae, Conepatus

semistriatus e Eira barbara), à Família Ursidae (Arctotherium brasiliensis) e à Família

Procyonidae (Procyon cancrivorus). Destas espécies S. populator, P. troglodytes e A. (P)

brasiliensis são espécies pleistocênicas extintas e as restantes são consideradas recentes,

porém ocorrentes também no Pleistoceno. Juntamente com estes carnívoros o autor

também coletou restos de Eremotherium laurillardi, Nothrotherium maquinense,

Palaeolama major e Xenorhinotherium bahiense.

Perônico et al. (2000) estudaram cropólitos de mamíferos Quaternários encontrados

nas cavernas da Toca dos Ossos e Brejões, ambos na Bahia, e Alberdi et al. (2002)

descreveram o crânio de Notiomastodon platensis (=Stegomastodon waringi) encontrado

no município de Pains, Minas Gerais, e ossos encontrados na Tocados Ossos, Bahia.

Viana et al. (2007) realizam um inventário da distribuição geográfica da megafauna

pleistocênica no Nordeste Brasileiro e apresentam um mapa de localidades (Figura 1). Os

dados referentes a nome dos municípios, numeração destes no mapa, localidades,

referencias usadas pelos autores e citadas neste trabalho contam na Tabela 2. Para o Estado

da Bahia existem outras localidades onde já foram coletados materiais os quais não

aparecem plotados no mapa, sendo listados neste trabalho.

24

Tabela 2. Municípios Baianos onde foram coletados fósseis da Megafauna Pleistocênica.

Nome do município Referência

Andorinha Xavier et al. (2008); Silva-Santana (2010)

Baixa Grande Ribeiro & Carvalho (2009)

Campo Formoso

Cartelle (1987); Cartelle (1993); Cartelle (1995); Cartelle &

Hartwig (1996); Auler & Smart (1999); CPRM (2005);

Auler et. al (2006); Xavier et al. (2008) Castro Alves Alvim (1939)

Central Lima & Oliveira (1992); Locks et al. (1993)

Cipó Abreu (1928)

Conceição do Coité Alvim (1939)

Coronel João Sá Dantas & Zucon (2007)

Curaçá Dantas (2004); CPRM (2005)

Filadélfia Silva-Santana (2010)

Iraquara Lessa et al. (1998); Viana (2007)

Itiúba Silva-Santana (2010)

Iuiú Renó et al. (2009)

Jaborandi Altair Sales (2010)

Jacobina Lessa et al. (1998); Faure (1999)

Jaguarari Xavier et al. (2008)

Jeremoabo Alvim (1939)

João Dourado Lessa (2005)

Matina Laboratório de Geociências – UESB (2008)

Monte Santo Gomide et al. (1987); Silva-Santana (2010)

Morro do Chapéu Lessa et al. (1998); Lessa (2005)

Mulungu do Morro Viana (2007)

Nordestina Ferreira (1997) (b)

Nova Redenção Ferreira (1997) (a)

Ourolândia Lessa et al. (1998); Auler et al. (2006)

Palmas de Monte Alto CPRM (2005); Dantas, Sanches & Tasso (2008)

Paripiranga Donato, Dantas & Barreto (2008)

Paulo Afonso Alvim (1939)

Piripiranga Viana (2007)

Poções CPRM (2005)

Quinjigue Universidade Federal da Bahia. (GEP, 2010).

Rio de Contas Alvim (1939)

Santa Brígida CPRM (2005)

Santa Luzia Alvim (1939)

Santaluz CPRM (2005)

Santo Estevão Laboratório de Arqueologia e Paleontologia da UNEB – Campus

VII (LAP/UNEB)

São Gabriel Lessa (2005)

Senhor do Bonfim Silva-Santana (2010)

Vitória da Conquista Dantas & Tasso (2007)

Xique-xique Beltrão (1989)

25

Para a Microrregião de Senhor do Bonfim (antes chamada de Vila da Rainha), Spix

e Martius em 1817-1820 em sua expedição pelo Brasil relatam achados da megafauna

pleistocênica (“animais antidiluvianos”):

Aqui e acolá, nas vargens rasas, existe camada de argila avermelhada de três a

quatro pés de altura, que os sertanejos costumam cavar até à profundidade de

alguns pés, formando caldeirões e tanques, para conservarem água da chuva; e

neles aparecem numerosas ossadas de animais antidiluvianos, porém geralmente

tão fragmentados e dispersas, que dificilmente se pode contar com o achado de

um esqueleto completo. Os ossos que aqui tivemos ocasião de colecionar em

estado de poderem ser reconhecidos foram um maxilar inferior, uma vértebra

dorsal e parte de uma omoplata de mastodonte. Outras partes, especialmente

costelas e fêmures, são aqui freqüentemente desenterradas pelos sertanejos; nós,

no entanto, não tivemos essa sorte, pois todos os pedaços que nos aparecem

estavam muito fragmentados. Também perto da |vizinha Fazenda Barriga Mole,

segundo contam os moradores, foram desenterrados dos tanques uns ossos

semelhantes, e, conforme dizem, aparece às vezes em grande quantidade. Ativas

investigações neste sertão tão pouco conhecido enriqueceriam provavelmente os

conhecimentos sobre animais antediluvianos e ainda de muitos outros fatos

importantes (SPIX & MARTIUS, 1976, p.192).

Levantamentos recentes para esta microrregião foram realizados equipe do LAP-

UNEB. Esses trabalhos de registros de sítios e coletas ainda não foram publicados estando

disponíveis sob a forma de relatórios em Da Silva (2001; 2002). Uma monografia foi

elaborada por Batista (2002) a qual incluiu a localização dos sítios visitados à época e

informações sobre as coletas efetuadas até então pelo Laboratório.

Xavier et al. (2008) organiza a coleção da paleofauna do Laboratório, coletando

quatro espécimes novos, reunindo com os existentes, sendo um total de oito, os quais

foram posteriormente identificados, descritos, catalogados e acondicionados, compondo a

coleção didática do LAP-UNEB, Tabela 3.

Silva-Santana et al. (2010) realizou um estudo visando levantar informações sobre a

Megafauna Pleistocênica para o Estado da Bahia, listando as localidades onde esta fauna já

foi encontrada.

26

Tabela 3. Municípios que compõe a Microrregião de Senhor do Bonfim, com as espécies da Megafauna

Pleistocênicas encontrada em cada localidade. Destaque em verde para os municípios onde ainda não foi

coletado material fóssil.

Taxons

An

do

rin

ha

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tôn

io

Go

nça

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*

Ca

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as*

Eremotherium laurillardi x x x x x

Gliptodon clavipes x

Panochthus greslebini x

Panochthus jaguaribensis x

Palaeolama major x x

Smilodon populator x

Stegomastodon waringi x x x x

Toxodon platensis x

* Municípios não apresentam registro de espécies coletadas para a Megafauna Pleistocênica.

1.4. Paleoecologia e suas implicações na dinâmica ambiental da Caatinga.

O período Quaternário caracteriza-se por apresentar fauna e flora composta por formas

predominantemente viventes, além de ser também a idade de surgimento do homem na

Terra (SUGUIO, 1999).

Dois importantes registros palinológicos destacam as mudanças vegetacionais e

climáticas da região da Caatinga nordestina: o registro continental da Caatinga do campo

de dunas fósseis do médio rio São Francisco/BA (DE OLIVEIRA et al., 1999), com

sedimentos datados em 10.990 anos A.P. e o registro de sedimentos marinhos, obtidos a

cerca de 90 km ao leste da cidade de Fortaleza/CE que indica que a vegetação semi-árida

de Caatinga predominou entre 42.000 e 8.500 anos A.P (BEHLING et al., 2000).

A partir de datação com potássio-argônio e paleomagnetismo, verificou-se que toda

flora moderna já existia desde o início do período, sendo os megafósseis de plantas, os

grãos de pólen, os esporos de pteridófitas, os foraminíferos e as diatomáceas achadas em

sedimentos quaternários, os mesmos dos atuais podendo ser relacionados com os gêneros

modernos, sendo possível desta forma, reconstruir os ecossistemas, estudar a sucessão da

27

vegetação de uma região e observar o seu comportamento frente às mudanças e oscilações

climáticas (SALGADO-LABOURIAU, 1994).

Com os animais vertebrados o processo não se deu da mesma forma, já que a maioria

dos grandes mamíferos terrestres extinguiu-se. Algumas espécies de tigre dente-de-sabre,

de mamute, de mastodonte, de preguiça e outros, ainda existiam há uns dez mil anos atrás.

O número de extinções é considerável e tem sido objeto de muita especulação

(SALGADO-LABOURIAU, 1994).

Visando entender os motivos que levaram a estas extinções e transformações,

atualmente tem-se lançado mão de várias técnicas de investigação, sendo uma delas os

estudos envolvendo isótopos estáveis. Estes estudos são possíveis já que determinadas

fontes específicas de alimentos tem relações com os isótopos estáveis de carbono (13

C =

razão entre 13

C/12

C permil, PDBellemita) e nitrogênio (15

N), e a composição isotópica da

dieta é incorporada a frações de tecidos do corpo, tais como colágeno e preserva-se por

milhões de anos. Devido a isso, é possível estudar a relação dos isótopos estáveis de

carbono e nitrogênio nos tecidos ósseos na reconstrução de paleodietas (SCHOENINGER,

1995).

Os isótopos de carbono provenientes da Matéria Orgânica do Solo (MOS) também

auxiliam no entendimento destes estudos, uma vez que, além de fornecerem registros das

mudanças de vegetação no passado, os valores isotópicos não são modificados com o

tempo (CERLING et al., 1989).

De posse destas informações é possível determinar a origem da MOS de plantas C3,

C4, a mistura de plantas (C3 e C4) ou CAM com base nas razões isotópicas do carbono

13C, enquanto que a datação por

14C nos permite estabelecer a cronologia.

Outra técnica que permite elucidar estas questões é a Datação por Ressonância por

SPIN Eletrônico, a qual baseia-se nos efeitos da radiação sobre o material, assim como na

determinação da concentração de elétrons desemparelhados (KINOSHITA & BAFFA,

2005).

Rastreando estes marcadores, é possível identificar a dieta destes animais e

conseqüentemente, o tipo vegetacional existente no período, e juntamente com

informações sobre morfologia dos dentes, proporção dos ossos e biomecânica do aparato

mastigatório inferir sobre a paleoecologia das espécies (BARGO et al., 2000; 2006), uma

vez que as dietas dos animais influenciam a morfologia, comportamento, interações

28

ecológicas e a história evolucionária dos mesmos (GANNES et al., 1998) e podem

responder ao status nutricional, taxa de turnover e rota biosintética (KOCK, et al. 1994).

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35

Capítulo 1. Megafauna Neopleistocênica da Caatinga

36

Interpretações Paleoecológicas da Megafauna Neopleistocênica da Microrregião de

Senhor do Bonfim – BA em uma área de Caatinga

Interpretations paleoecological and occurrence of Megafauna Neopleistocênica in

Bioma Caatinga of the Microregion of Senhor do Bonfim – Bahia, Brazil.

Abstract In the Brazilian state of Bahia, studies of fossils from tank-like deposits date

back to the 1950s, with the published work of Carlos de Paula Couto. The Senhor do

Bonfim micro-region is one of the richest fossil-producing areas of Bahia, with large

deposits of Pleistocene fossils in karst formations and tanks. Six taxa of neopleistocene

mammals were recorded in a tank in Lajedo II village in the municipality of Jaguarari –

Eremotherium laurillardi, Notiomastodon platensis, Toxodontinae indet., Felidae indet.,

Panochthus greslebini, and Equus (Amerhippus) neogeus. The paleo-environmental

interpretation of the ecological characteristics of these taxa indicated that this assemblage

was found with predominantly open habitats, associated with areas of denser vegetation.

Key words: Neopleistocenic Megafauna; Tank; Bahia.

Resumo Na Bahia os estudos com material fóssil para afloramento fossilífero do tipo

tanque são descritos na literatura desde os trabalhos de Carlos de Paula Couto na década de

1950. A microrregião de Senhor do Bonfim se apresenta como uma das áreas de maior

potencial paleontológico do Estado da Bahia, sendo nos ambientes de carste e tanques onde

se depositaram grande parte das jazidas fossilíferas pleistocênicas. Para o município de

Jaguarari foram registrados fósseis de mamíferos neopleistocênicos, localizados em um

tanque no povoado de Lajedo II com a ocorrência de seis taxa: Eremotherium laurillardi;

Notiomastodon platensis; Toxodontinae indet.; Felidae indet.; Panochthus greslebini;

Equus (Amerhippus) neogeus. Interpretações paleoambientais das características

ecológicas dos taxa sugerem que este conjunto faunístico estava associado há um ambiente

com predomínio de áreas abertas em associação com fisionomias mais fechadas.

Palavras Chave: Megafauna Neopleistocênica; Tanque; Bahia.

37

1. Introdução

Na Bahia, os estudos com material fóssil em afloramentos fossilíferos do tipo

tanque são descritos na literatura desde a década de 1950 (PAULA-COUTO, 1953;

SIMPSON & PAULA-COUTO, 1957).

Na expedição Viagem pelo Brasil, Spix e Martius (1817-1820) relatam achados

fósseis em tanques naturais na microrregião de Senhor do Bonfim, antes chamada de Vila

da Rainha.

A microrregião de Senhor do Bonfim está situada na porção Centro - Oeste da

Bahia, pertencendo ao Território Piemonte Norte do Itapicuru e é composta por nove

municípios: Andorinha, Antonio Gonçalves, Caldeirão Grande, Campo Formoso,

Filadélfia, Jaguarari, Pindobaçu, Ponto Novo, Senhor do Bonfim (Figura 01).

Segundo Silva (2001) essa microrregião se apresenta como uma das áreas de maior

potencial paleontológico do Estado da Bahia, sendo nos ambientes de carste e tanques onde

se depositaram grande parte das jazidas fossilíferas pleistocênicas do Estado.

Deste modo, o presente trabalho teve como objetivos: registrar a ocorrência de

fósseis de seis táxons da megafauna pleistocênica para um tanque no município de

Jaguarari, Bahia e discutir a paleoecologia destes táxons.

2. Materiais e Métodos

Em Janeiro de 2011 foi realizada a coleta de material fóssil no afloramento

fossilífero do tipo tanque (Tanque Lajedo II –10°21’17”S, 40°16’19”W), localizado no

povoado Lajedo II, município de Jaguarari – BA. Os fósseis coletados compõem a

Coleção Didática do Laboratório de Arqueologia e Paleontologia da Universidade do

Estado da Bahia – UNEB (LAP-UNEB).

Os fósseis foram comparados com exemplares da coleção de Paleontologia do

Museu de Ciências Naturais da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais

(PUC/MG) e do Laboratório de Paleontologia da Universidade Federal de Sergipe

(LPUFS). Constam de elementos mandibulares e algumas peças bastante fragmentadas do

esqueleto pós-craniano que apresentam diferentes tonalidades de coloração. Essa diferença

sugere variações nos padrões mineralógicos, impregnação sofrida pelo material e tempo de

exposição na superfície do tanque.

38

A sistemática dos Tardigrada segue Cartelle & De Iuliis (1995); dos

Proboscidea segue Mothé et al. (2011); dos Notoungulata segue Miño-Boilini et al. (2006);

dos Carnivora segue Paula-Couto (1979); dos Cingulata segue Porpino et al. (2004); dos

Perissodactyla segue Prado & Alberdi (2008). A descrição das peças segue, sempre que

possível Cartelle (1992).

3. Sistemática

TARDIGRADA Latham & Davies in Forster, 1795

MEGATHERIOIDEA Gray, 1821

MEGATHERIIDAE Gray 1821

EREMOTHERIUM Spillmann 1948

Eremotherium laurillardi (Lund, 1842) Cartelle & Bohórquez, 1982

Figura 02 (A-L), Figura 03 (E e G)

Material Referido: LAP 040 Porção proximal da costela; Fragmentos de ramo mandibular

LAP 104 e 105; Corpos de vértebra LAP 108, 109, 118, 126, 127, 128, 129, 130;

Cuneiforme LAP 111; Falange proximal/medial do dedo III LAP 113; Lunar LAP 114;

Navicular LAP 122; Fragmentos de molar LAP 059, 154, 155, 156, 157, 158, 159, 160 e

161.

Descrição: No fragmento do ramo mandíbular LAP 104 (Figura 02 - A) percebe-se uma

porção do alvéolo dentário, com formato quadrangular. Está ausente toda a sínfise.

O fragmento de molar LAP 155 possui formato quadrangular em corte transversal

como característico dos Megatheriinae

A falange proximal medial do dedo III direito LAP 113 (Figura 02 – F, I, L) está

desgastada, principalmente em vista dorsal. Na face ventral, a faceta articular distal

encontra-se parcialmente conservada, apresentando fratura na porção ungueal. Devido ao

desgaste ser maior na porção proximal da falange não observa-se claramente a concavidade

intermédia articular para a quilha.

Observa-se na coossificação entre a falange proximal e média, bem como

medialmente, uma faixa articular e a superfície articular distal em formato de carretel,

como diagnóstico em Eremotherium.

39

O Navicular LAP 122 (Figura 03 – E) apresenta em vista proximal a borda medial

convexa e a lateral côncava. A metade dorsal em formato de domo semi-esférico está

desgastada, expandido látero-dorsalmente. Percebe-se uma pequena porção da metade

plantar.

Comentários: Cartelle & Bohorquez (1982) estabelecem Eremotherium laurillardi como

uma espécie Panamericana. Segundo revisões taxonômicas, comparada com outras

preguiças, esta espécie apresenta uma ampla distribuição geográfica, que vai desde Nova

Jersey na América do Norte, em direção ao sul, passando pela Flórida e ao longo da costa

do Golfo do México, América Central, América do Sul desde o Norte do Peru na Costa do

Pacífico (PUJOS & SALAS, 2004) até o Rio Grande do Sul na Costa Atlântica

(CARTELLE & DE IULIIS, 1995).

Eremotherium laurillardi possivelmente tinha preferencias climáticas por

ambientes tropicais e subtropicais, o que pode ser inferido pelo seu registro limitado nos

Estados Unidos, indicando provavelmente, o limite norte de sua distribuição

(MCDONALD & LUNDELIUS, 2009).

Segundo Spillmann (1948 apud Paula Couto, 1979), Eremotherium, assim como as

demais preguiças terrícolas, seriam animais que viveriam em estepes secas, alimentando-se

de plantas xerófilas, com hábitos particularmente xilófagos.

Além de E. Laurillardi, cujos fósseis já foram encontrados em quase todos os

estados brasileiros (CARTELLE, 1994; OLIVEIRA et al., 2002), outra espécie pretencente

a subfamília Megatheriinae é encontradas no Brasil, Megatherium americanum Cuvier,

1796, com registros no Rio Grande do Sul.

Como características atribuídas à espécie, podemos citar molariformes com formato

prismático, retangulares, hipsodontes, sem esmalte e na superfície de mastigação,

acentuada aresta transversal. O material aqui descrito (e.g. dente com raiz aberta -

hipsodonte) confirma o registro realizado anteriormente.

40

PROBOSCIDEA Illiger, 1811

GOMPHOTHERIIDAE Hay, 1922

Notiomastodon platensis (Ameghino, 1888)

Figura 03 (A-D)

Material Referido: Corpos de vértebras LAP 115, 116, 121, 131; Fragmentos de molar

LAP 163, 167, 168; Fragmento de incisivo LAP 058, 169, 170 e 171.

Descrição do material: Nos fragmentos de molar LAP 163 Figura (A e D) e 167 (Figura

03 – A) observam-se cúspides pouco desgastadas, cônicas, compostas de colinas

transversais, com a presença do conulido do interlófido (?) em LAP 167.

Comentários: Em revisão recente dos Gonfotérios Sul Americanos Mothé et al. (2011)

sugerem para este táxon uma nova combinação, sugerindo o binômio Notiomastodon

platensis (Ameghino, 1888).

Desta forma, há uma redução do número de espécies dos gonfotérios na América do

Sul, passando para dois gêneros e duas espécies, apresentando distribuição geográfica ao

longo do Equador, Venezuela, Colômbia, Peru, Paraguai, Chile, Argentina, e Uruguai

(PRADO et al., 2001; GADENS-MARCON, 2008).

Como características atribuídas à espécie pode-se citar dentes com um padrão

quadrangular, com superfície oclusal apresentando duas séries longitudinais de cúspides

cônicas, compostas por colinas transversais, que permitem quando do desgaste destas,

formarem duas fileiras de figuras trifoliadas. O material aqui descrito (e.g. molar com

cúspides cônicas, com colinas transversais) apresenta a morfologia para a espécie.

41

NOTOUNGULATA Roth, 1901

TOXODONTIA Owen, 1853

TOXONDONTIDAE Owen, 1845

TOXODONTINAE (Owen 1845) Trouessart, 1898

Figura 03 (H-J)

Material Referido: Fragmento de molar LAP 165;

Descrição: O molar LAP 165 (Figura 03 – H, I, J) está fragmentado. Em vista transversal,

observa-se forma triangular, onde na face interna localiza-se o sulco anterior que divide o

molar em dois lóbulos, um anterior e outro posterior.

Na face externa (ectolofo), observa-se uma elevação próxima ao ângulo anterior do

dente, sendo percebida apenas nos M1 e M2. O dente é bilobado lingualmente sendo o

sulco interlobular recoberto por uma faixa de esmalte, característico para os toxodontídeos.

Comentários: Toxodontes eram um grupo de grandes mamíferos herbívoros endêmicos na

América do Sul e Neotrópico durante o Cenozoíco. Desde o início das descobertas fósseis

na metade do século 19 (por exemplo, OWEN, 1840), o clado está registrado para o

Pleistoceno como o mega herbívoro Toxodon difundido para a América do Sul

(MACFADDEN, 2005).

Esta ordem é a mais diversificada dentro dos ungulados nativos (BOND, 1986,

1999; BOND et al., 1995).

Ecologicamente estavam relacionados com ambientes abertos, cercados de corpos

d’água e hábitos pastadores (OLIVEIRA, 1999; CZERWONOGORA et al., 2003),

possuindo uma dieta com preferência por gramíneas abrasivas (MACFADDEN, 2005),

com crescimento contínuo dos dentes (CARTELLE, 1994).

A presença deste gênero já foi constatada em depósitos pleistocênicos da Argentina,

Uruguai, Paraguai, Bolívia e Brasil, pelo menos (PAULA COUTO, 1979).

Alguns autores, consideram para o Brasil a ocorrencia de três espécies

pleistocênicas de Toxodontíneos, sendo: Toxodon platensis Owen, 1840; Trigodonops

lopesi (Roxo, 1921) e Mixotoxodon larensis van Frank, 1957 (PAULA-COUTO, 1982;

CARTELLE, 1992, 1994).

42

O fóssil é aqui atribuído a um Toxodontíneo, baseado nas características do dente

bilobado lingualmente com sulco interlobular recoberto por uma faixa de esmalte.

CARNIVORA Bowdich, 1821

FELIDAE Fischer, 1817

Material Referido: Falange LAP 020.

Descrição: A falange proximal (LAP 020) apresenta um bom estado de conservação, com

suas extremidades distal e proximal presentes.

Comentários: Para a América reconhecem-se três espécies pertencentes ao gênero

Smilodon (Smilodon gracilis Cope, 1888; Smilodon fatalis Leidy, 1868; Smilodon

populator Lund, 1842) e uma pertencente ao gênero Homotherium (H. venezuelensis

Rincón, Prevosti & Parra, 2011) (Rincón et al., 2011).

Os primeiros registros de mamíferos carnívoros pleistocênicos no Brasil foram

feitos por Lund (1843) e revisados por Winge (1895-96), baseados em material coletado

em cavernas calcárias do Estado de Minas Gerais (LESSA et al., 1998).

Cartelle & Abuhid (1989) desconsideram a subdivisão da espécie S. populator em

subespécies, tendo como base somente a diferenciação de tamanho. Estes concluem que a

forma norte-americana e a sul americana, na verdade, seriam coespecíficas.

Alguns autores (e.g., KURTÉN & ANDERSON, 1980), no entanto aceitam a

diferenciação especificas entre as espécies, utilizando o nome de S. fatalis Leidy, 1869,

para o Norte da América, dada a sua prioridade sobre S. californicus Bovard, 1907.

Recentemente, S. gracilis Cope, 1880 foi reconhecido com um novo taxon, de posição

filogenética mais basal em relação às outras espécies do gênero, restrita ao final do

Plioceno - Pleistoceno Médio da América do Norte (KÜRTEN & WERDELIN, 1990).

Na América do Sul, foram encontrados fósseis de S. Populator no Equador, Peru,

Bolívia, Brasil, Argentina e Venezuela (BERTA, 1985; ZURITA et al., 2004; RINCÓN,

2006).

43

Para a Bahia foram registrados fósseis de Smilodon nos municípios de Campo

Formoso (CARTELLE, 1992); Ourolândia (CARTELLE, 1992); Caatinga do Moura –

Jacobina (CARTELLE & BOHÓRQUEZ, 1982, 1985; CARTELLE & ABUHID, 1989;

CARTELLE, 1992).

O fóssil é aqui atribuído a um Felidae em virtude de suas dimensões avantajadas,

que contrasta, visivelmente, com peças homólogas de outros Carnivora do Pleistoceno

final-Holoceno.

CINGULATA Illiger, 1811

GLYPTODONTOIDEA Simpson, 1931

GLYPTODONTIDAE Burmeister, 1879

HOPLOPHORINAE Weber, 1925

PANOCHTINI Simpson, 1945

Panochthus greslebini Castellanos, 1941

Figura 03 (F)

Material Referido: Osteodermo de carapaça LAP 162

Descrição: O osteodermo de carapaça LAP 162 (Figura 03 - F) encontra-se desgastado na

sua face externa, na qual se pode ver, parcialmente, uma ornamentação homogênea

consistindo de pequenas figuras irregulares, separadas por sulcos estreitos e rasos,

distribuídas desordenadamente, rugosas e sem a presença de uma figura central maior.

O diâmetro das figuras varia de 5 a 7 mm e a largura dos sulcos não ultrapassa 2

mm, a espessura do osteodermo varia de 10 mm a 25 mm transversalmente. Esta variação

de 15 mm encontrada na espessura do osteodermo deve-se ao fato deste estar danificado na

porção interna. Percebe-se dorsalmente nos sulcos, e ventralmente em todo osteodermo,

forames de tamanhos diminutos.

Comentários: O gênero Panochthus, o mais conhecido entre os animais da tribo

Panochtini Simpson, 1945, se distribui cronologicamente por todo o Pleistoceno

compreendendo espécies de grande tamanho (PAULA-COUTO, 1979).

44

Além do Nordeste brasileiro e Rio Grande do Sul, também possui registros no Quaternário

tardio da Argentina, Bolívia, Paraguai, Peru e Uruguai (PAULA-COUTO, 1979; PORPINO, 1999).

Habitava as savanas e alimentava-se de gramíneas (RANZI, 2000).

Para a Bahia foram registrados fósseis de Panochthus em Ourolândia (PAULA

COUTO, 1947), Itiuba (PAULA COUTO, 1957) e Jacobina (CARTELLE, 1992).

O fóssil é aqui atribuído a Panochthus cf. greslebini baseando-se na ornamentação

composta por um aglomerado de figurinhas de pequeno tamanho, de número variável,

distribuídas sem orientação preferencial, sem figura central maior e separadas entre si por

sulcos estreitos com pouca profundidade.

Ordem PERISSODACTYLA Owen, 1848

Família EQUIDAE Gray, 1821

Equus (Amerhippus) neogeus Lund, 1840

Figura (K)

Material Referido: m2 direito LAP 166.

Descrição: No fragmento m2 direito LAP 166 (Figura 03 - K) observa-se desgaste na

superfície oclusal no metacônido e metastílido e ausência de raiz.

O duplo laço é composto por metacônido e metastílido unidos, onde o primeiro é

arredondado e o segundo anguloso, concordando com o referido para a espécie. Possui

dimensões de 28 mm ântero-posterior e 17 mm línguo-vestibular.

Comentários: O registro de eqüídeos na América do Sul está bem documentado

(ALBERDI & PRADO, 1992; 1995) pela presença dos gêneros Hippidion Owen, 1869 e

Equus Hoffstetter, 1950. O primeiro está regitrado desde o Plioceno tardio até o Holoceno,

o segundo a partir do Pleistoceno médio. Conhecem-se cinco espécies de Equus

(Amerhippus): neogeus, insulatus, lasallei, andinum e santaelenae (PRADO & ALBERDI,

1994), que estão distribuídas na Colômbia, Equador, Bolívia e Brasil (BRIZUELA, 2005).

Equus (A.) neogaeus é a espécie de maior tamanho dentro do subgênero e encontra-

se registrada nas zonas de planícies da província de Buenos Aires e no Brasil, associadas à

ambientes abertos de pastagens xerófilas e solos compactos. Esta característica a diferencia

45

das outras espécies, as quais apresentam extremidades comparativamente mais robustas

(BRIZUELA, 2005).

No Brasil, Equus, tem sido registrado para os estados de Piauí, Ceará, Paraíba,

Pernambuco, Bahia, Minas gerais, Mato Grosso do Sul e Rio Grande do Sul (KERBER &

OLIVEIRA, 2008).

Para a Bahia foram registrados fósseis de Equídeos para Pedra Vermelha

(HOLLAND, 1920), Ourolândia (PAULA COUTO, 1947), Xique-Xique (PAULA

COUTO, 1953), Morro do Chapéu (CAMPOS & CAMPOS, 1976), Central (BELTRÃO &

LOCKS, 1989) e Santana (CARTELLE et al., 1989).

O fóssil é aqui atribuído a Equus (Amerhippus) neogeus com base nas

características encontradas no dente acima descrito, que apresenta caracteres diagnosticos

para a espécie.

Interpretações Paleoecológicas

É possível que a mudança na estrutura e composição do ecossistema cerrado-

caatinga, tenha ocorrido através da diminuição do ciclo pluvial e do aumento do ciclo seco,

durante a mudança climática no final do Pleistoceno, provocando variações nos

ecossistemas (CARTELLE, 1992).

Os táxons aqui identificados viviam em condições ambientais distintas das

existentes atualmente no sertão nordestino, onde predomina o clima semi-árido, altas

temperaturas, e uma cobertura vegetal escassa, composta predominantemente por plantas

xerófilas (Ribeiro & Carvalho, 2009).

A diminuição na área de Caatinga teria sido influenciada pelo aumento da

precipitação entre 15.500 a 11.800 anos, favorecendo o estabelecimento de um período

mais úmido e frio que o encontrado atualmente, contribuindo assim, para a expansão das

Florestas Amazônica e Atlântica, unidas através de corredores (DE OLIVEIRA et al.,

1999; BEHLING et al., 2000).

Do ponto de vista paleoambiental, E. laurillardi, Equus (Amerhippus) neogaeus e

Toxodontinae são associados a um habitat do tipo savana (com áreas recobertas por

gramíneas) em associação com fisionomias mais fechadas (borda de floresta) e

temperaturas mais baixas. Este fato implica em um clima mais úmido do que o atual em

certos momentos do Pleistoceno final (ARAÚJO JÚNIOR & PORPINO, 2007; RIBEIRO

46

& CARVALHO, 2009). Estas condições ambientais estariam de acordo com o modelo para

o Pleistoceno do Brasil Intertropical Extra-Amazônico proposto por Cartelle (1999).

Eremotherium laurillardi apresentava hábito pastador/ramoneador (BERGQVIST,

1993; DE IULLIS et al., 2000); enquanto P. greslebini seria pastador (Vizcaíno, 2000).

Notiomastodon platensis e Toxodontinae seriam animais de grande tamanho e

hábitos pastadores ou pastadores/ramoneadores (MACFADDEN, 2005; PRADO et al.,

2005) e ocorreriam em regiões semelhantes. Baseado em sua morfologia dental, N.

platensis apresentaria uma alimentação mista, consistindo em gramíneas, folhas e galhos

de arbustos (C3 e C4) (CARTELLE, 1992; SÁNCHEZ et al., 2003); enquanto que os

Toxodontinae alimentavam-se de gramíneas abrasivas (MACFADDEN, 2005).

A extinção dos grandes mamíferos, em função da hipótese de mudança ambiental

em todo o Brasil intertropical durante o Pleistoceno final-Holoceno (CARTELLE, 1992),

juntamente com desaparecimento de espécies de médio porte, são os possíveis fatores

envolvidos na extinção de predadores como os Felidae (PORPINO et al., 2004).

Sánches et al., (2006) sugerem a partir de análises isotópicas de carbono e oxigênio

amostradas de esmalte dentário dos táxons Hippidion Owen, 1869 e Equus (Amerhippus)

Hoffstetter, 1950, que os eqüídeos do Pleistoceno Médio apresentavam estratégias

oportunistas de forrageio. Estas podem ter contribuído para que os tornassem aptos a

viverem em diversos hábitats, e ao final do Pleistoceno teriam convergido para uma dieta

mais seletiva, restringindo seus hábitats.

Equus (amerhippus) neogaeus contém praticamente as mesmas características

morfológicas que os cavalos pastadores atuais (ALMEIDA, 2009), sendo considerado

pastador adaptado à corrida em áreas abertas (ALBERDI et al., 2003), alimentando-se de

plantas C4 (KOHN et al., 2005).

Em virtude a presença de alguns animais, tais como E. laurillardi e P. greslebini,

estes podem ser localizados no Neopleistoceno-Holoceno (PORPINO et al., 2004), ou

equivalente ao Lujanense, já que E. (A.) neogeus é considerado como um fóssil-guia do

Lujanense - Biozona Equus (Amerhippus) neogeus, no começo do Neopleistoceno (CIONE

& TONNI, 1999).

47

Conclusões

Registra-se pela primeira vez, a ocorrência de Eremotherium laurillardi (Lund,

1842) Cartelle & Bohórquez, 1982; Notiomastodon platensis (Ameghino, 1888); Felidae;

Toxodontinae; Panochthus greslebini e Equus (Amerhippus) neogeus para o municipio de

Jaguarari - BA.

A partir deste conjunto fossilífero analizado, sugere-se condições ambientais

diversas da encontrada atualmente para a região, provavelmente semelhantes àquelas

inferidas por Cartelle (1999) para o Pleistoceno do Brasil Intertropical Extra-Amazônico,

onde, durante o Pleistoceno final - Holoceno, a região compreenderia áreas abertas de

savana associadas, possivelmente, com fisionomias mais fechadas, tipo florestas.

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52

Figura 01. Mapa de localização da Microrregião de Senhor do Bonfim, com visualização dos nove

municípios. (Modificado de SEI, 2007).

53

Figura 02. Eremotherium laurillardi, Fragmentos de mandíbula (A) LAP 104, e (B) LAP 105; molariforme

LAP 155, (C) vista oclusal, (D) e interna, mostrando parte da raiz; Cuneiforme LAP 111 (E) vista distal, (H)

vista cranial, (K) vista proximal; Lunar LAP 114 (G) vista palmar, (J) vista dorsal; Falange proximal/medial

do dedo III LAP 113 (F) vista dorsal, (I) vista lateral, (L) vista distal.

54

Figura 03. Notiomastodon platensis, Fragmento de molar LAP 163 (A), vista oclusal, (D) vista labial;

fragmento de incisivo LAP 169 (B) vista transversal, (C) vista rostral; Eremotherium laurillardi LAP 122 (E)

vista proximal, (G) vista lateral; Panochthus greslebini LAP 162 (F) osteodermo isolado; Toxodontinae

Fragmento de molar LAP 165 (H) vista rostral, (I) vista oclusal, (J) vista labial; Equus (Amerhippus) neogeus

LAP 166 (K) vista oclusal.

55

Capítulo 2. Dinâmica de Vegetação e Clima no

Quaternário recente

56

DINÂMICA DE VEGETAÇÕES E CLIMA NO QUATERNÁRIO RECENTE EM

JAGUARARI – BA INFERIDA A PARTIR DOS ISÓTOPOS DE CARBONO DA

MATÉRIA ORGÂNICA DO SOLO

DYNAMICS OF VEGETATIONS AND CLIMATE IN THE RECENT QUATERNARY IN

JAGUARARI - BA INFERRED FROM CARBON ISOTOPES OF THE SOIL ORGANIC

MATTER

Abstract: Numerous studies of paleo-environmental reconstruction (vegetation and

climate) have been carried out in southern, southeastern, and central Brazil, based on the

pollen deposited in lacustrine and peatbog sediments. Such studies are scarce in the

Brazilian Northeast, however, which stimulated the development of the present study,

using carbon isotopes (13

C) from organic material found in the soil (MOS) and plants, to

provide systematic inferences on climatic variation. Soil and plant samples were collected

for isotopic analysis from three areas in the municipality of Jaguarari, located in the

Caatinga biome. The isotopic data (13

C) indicate that the region’s vegetation has been

stable in the past, and up to the present day, with no exchange of C3 to C4 at any of the

study sites. The presence of charcoal fragments at different depths in the soil indicates the

occurrence of wildfires throughout the Holocene, possibly as a consequence of a relatively

much drier climate. These wildfires may have been anthropogenic, given that the charcoal

was found in association with vestiges of the region’s ancient human populations. The

dynamics of the vegetation observed in Jaguarari to the depth excavated correspond to that

found in other studies in the Brazilian Northeast, which indicate a predominance of

arboreal vegetation since approximately 15,000 BP, eventually returning to a more humid

climate similar to that of the present day. The vegetation of the study region may not have

suffered major modifications of the vegetation during the drier periods of the mid-

Holocene, with forest formations predominating.

Key words: Caatinga; Stable isotopes; Organic matter on soil..

Resumo: Estudos de reconstrução paleoambiental (vegetação e clima) no Brasil vêm sendo

desenvolvidos em várias regiões, principalmente Sul, Sudeste e Central, utilizando pólen

depositado em sedimentos lacustres e turfeiras. Na região Nordeste, os trabalhos são mais

escassos, o que motivou o desenvolvimento deste estudo utilizando os isótopos do carbono

(13

C) da matéria orgânica do solo (MOS) e das plantas, com inferências às variações

climáticas. Foram amostrados solos e plantas para análises isotópicas em três áreas no

município de Jaguarari, em um domínio de Caatinga. Os dados isotópicos (13

C) indicam

estabilidade vegetacional na região até o presente, sem troca de vegetação C3 para C4 nos

locais estudados. A presença de fragmentos de carvão soterrados em várias profundidades

do solo sugere a ocorrência de paleoincêndios durante todo o Holoceno, com a possível

influência de um clima mais seco para a região. Estes incêndios podem ser de natureza

antrópica, já que foram encontrados alguns vestígios de ocupação de populações antigas na

região. A dinâmica da vegetação observada para Jaguarari, até a profundidade de solo

estudada, se em concordância com outros estudos no Nordeste, sugere uma vegetação

arbórea dominante, desde aproximadamente 15.000 anos AP. com um retorno a um clima

mais úmido e provavelmente similar ao atual.

Palavras Chave: Caatinga; Isótopos estáveis; Matéria orgânica do solo.

57

1. Introdução

Estudos de reconstrução paleoambiental (vegetação e clima) no Brasil,

principalmente nas regiões Sul, Sudeste e Central, têm sido mais intensamente

desenvolvidos desde o início da década de 1990. Nestes trabalhos têm-se utilizado pólens

depositados em sedimentos lacustres e turfeiras (FERRAZ-VICENTINI, 1993; LEDRU,

1993; NEVES & LORSCHEITTER, 1995; LEDRU et al., 1996, 1998; BEHLING,

1995a,1997a; FERRAZ-VICENTINI & SALGADO-LABOURIAU, 1996; BARBERI et

al, 2000), isótopos de carbono da matéria orgânica do solo (MOS) (DESJARDINS et al.,

1996; PESSENDA et al., 1996a, 1996b, 1998a, 1998b, 1998c) e dos fragmentos de carvão

encontrados nos solos (DESJARDINS et al., 1996; PESSENDA et al., 1996a; GOUVEIA

et al., 1999, 2002; SANTOS et al., 2000).

Embora os estudos paleoecológicos do Quaternário apresentem um considerável

avanço, as paleovegetações e paleoclimas presentes nos Nordeste brasileiro durante o

Pleistoceno tardio e Holoceno permanecem praticamente desconhecidos. A dificuldade em

encontrar áreas permanentemente alagadas ou sedimentos de turfa não oxidados em

domínios fitogeográficos de floresta de Caatinga em regiões Semi-Áridas representa um

dos principais obstáculos ao desenvolvimento de estudos paleoecológicos baseados na

palinologia nesta região (DE OLIVEIRA et al., 1999).

Conti e Furlan (2003) afirmam que o mosaico geobotânico brasileiro é originário do

resultado da expansão e retração das florestas, cerrados e caatingas, provocados pela

alternância de climas úmidos e secos nas regiões tropicais, durante os períodos glaciais do

Quaternário.

Esta dinâmica é ocasionada pelas diferentes capacidades de adaptação ao ambiente,

onde plantas C4 são mais resistentes a um regime de baixa disponibilidade hídrica e são

típicas de vegetações mais abertas (maior intensidade luminosa) (EHLERINGER, 1978;

NORDT et al., 1994) que plantas C3 de florestas tropicais (EHLERINGER, 1991).

O mecanismo de fixação do carbono nas plantas C3 foi descrito por Calvin &

Benson (1948). No ciclo de Calvin como foi denominado, uma molécula de CO2 é

incorporada a uma pentose com dois átomos de fósforo, a ribulose-1-5-difosfato (RUDP).

A enzima RUDP-carboxilase é fundamental na ligação da pentose ao gás CO2, formando

duas moléculas de 3-fosfoglicerato (3PGA) com 3 átomos de carbono, razão pela qual esta

via é chamada de ciclo C3.

58

As plantas de ciclo C4 foram descritas por Hatch & Slack (1966) ao descobrirem

que existia outra via de pela qual o CO2 pode ser incorporado. Neste outro mecanismo, o

ácido axalacético com quatro átomos de carbono, na presença de CO2 reage com o

fosfopiruvato (PEP), que possui três átomos de carbono. Essa reação é mediada por uma

enzima chamada de PEP-carboxilase. A capacidade dos tecidos das plantas C4 de

concentrarem CO2 atmosferico nos sítios de produção de carboidratos (céluas da bainha

vascular) é um dos parâmetros mais importantes na diferenciação das plantas C3 e C4.

Uma terceira via de fixação de CO2 é conhecida como Metabolismo Ácido

Crassuláceo (CAM), e evoluiu em muitas plantas suculentas de clima árido. Nessas

plantas, os ácidos málico e isocítrico acumulam-se nas folhas durante à noite e são

novamente convertidos em CO2 na presença de luz. As plantas CAM abrem os estômatos à

noite, quando a temperatura e a evapotranspiração diminuem, favorecendo o aumento da

umidade relativa da camada de ar que envolve a planta. O CO2 é fixado pela via C4 e é

acumulado em forma de malato. Durante o dia os estômatos permanecem fechados e o

carbono acumulado é utilizado na fotossíntese, aumentando a eficiência na utilização da

água (RAVEN et al., 1978).

As plantas C3 apresentam valores de 13

C mais negativos do que as plantas C4

(SMITH & EPSTEIN, 1971; SMITH & BROWN, 1973) e os mecanismos dos ciclos

fotossintéticos foram estudados através da composição isotópica 13

C/12

C, independente dos

estudos da fisiologia ou da anatomia da planta. Estabeleceu-se que a variação nos valores

da relação 13

C/12

C era tanto interespecífica quanto intraespecífica, podendo assim, ser

utilizada para entender o histórico dos metabolismos e do ambiente de vida das plantas

(WINTER et al., 1976; EHLERINGER, 1978).

Os valores de 13

C das plantas C3 variam de -32‰ a -22‰, com uma média de -

27‰, estando presente em aproximadamente 85% das espécies vegetais terrestres, desde as

florestas boreias até os trópicos. Nas plantas C4, os valores de 13

C variam de -9‰ a -17‰,

com uma média de -13‰, compreendendo 5% de todas as espécies vegetais, sendo que

ocorrem em 18 famílias e metade são espécies de gramíneas tropical e subtropical que

cobrem extensas áreas de savanas, campos e pântanos salgados. As espécies de plantas

CAM, são geralmente suculentas, estão distribuídas em 30 famílias, tais como

Crassulaceae, Euphorbiaceae, Orchidaceae, Bromeliaceae, Cactaceae. As espécies CAM

facultativas apresentam valores de 13

C de -10‰ a -28‰, enquanto que as espécies CAM

obrigatórias os valores isotópicos são comparáveis aos das plantas C4 (BOUTTON, 1996).

59

A utilização dos isótopos do carbono da matéria orgânica do solo (MOS) é uma

fundamental ferramenta na caracterização de vegetações atuais e passadas (BOUTTON,

1991), uma vez que, os métodos convencionais para estudo da dinâmica da vegetação atual

utilizam os parâmetros estruturais e fitossociológicos para medir os estágios sucessionais

das comunidades vegetacionais (GLENN-LEWIS et al., 1992).

Utilizando-se análises isotópicas durante a dissolução e precipitação da calcita em

solos sob condições de semi-aridez, inferiu-se que o clima no Nordeste foi mais úmido por

volta de 26.000 e 20.000 anos Antes do Presente (AP) (DEVER et al., 1987).

Czaplewski & Cartelle (1998) em cinco cavernas na Caatinga no Nordeste da

Bahia, encontraram 27 taxa de Quirópteras fósseis. Datação por 14

C do húmero de

Mormops megalophyla revelou uma idade de 20.060 anos AP e, em outra caverna, os

coprólitos e o crânio de Desmodus rotundus revelaram uma idade de aproximadamente

12.000 anos AP para os fósseis estudados. A distribuição e abundância destes fósseis,

exceto uma espécie extinta Desmodus vampire, estão relacionadas com florestas e cavernas

com alta umidade, sugerindo que as cavernas estudadas foram mais úmidas durante o

Pleistoceno tardio do que no presente.

Para um campo de dunas fósseis no Vale do Icatu, localizado entre Barra e Pilão

Arcado (BA) ou médio São Francisco, constatou-se a ocorrência de sedimentos de origem

eólica que foram datados por termoluminescência. Os resultados indicaram estabilidade

nos períodos de geração das dunas depositadas entre 10.000 e 1.000 anos AP (TATUMI et

al., 1998).

Em estudos palinológicos também no Vale do Rio Icatu, região semi-árida da

Bahia, De Oliveira et al., (1999) sugeriram mudanças na vegetação e clima durante os

últimos 11.000 anos AP para a região. Para os autores, os taxa de espécies de florestas da

Amazônia, Atlântica e de montanha, indicam um período muito úmido e de temperaturas

mais reduzidas no final do Pleistoceno (10.990 – 10.540 anos AP).

De 10.540 a 8.910 anos AP a vegetação dominada por Mauritia vinifera sugere um

progressivo aumento de temperatura e alta umidade. De 8.910 a 6.790 anos AP houve um

progressivo declínio de taxa de floresta e aumento de taxa de Caatinga e Cerrado. Até

4.535 anos AP houve um retorno a um mosaico de vegetações composta de floresta de

galeria, caatinga e cerrado, indicando um clima mais úmido. Desde então, houve um

aumento nos taxa de caatinga e de cerrado, caracterizando uma diminuição de umidade e o

60

declínio da floresta de galeria, aspecto encontrado atualmente (DE OLIVEIRA et al.,

1999).

Na região de Lage dos Negros e Abreus, norte da Bahia, Auler e Smart (2001)

estudaram depósitos de travertino fóssil e espeleotemas subaquáticos em cavernas secas da

caatinga. Esta região atualmente apresenta um dos menores índices de precipitação do

Nordeste, em torno de 490 mm anuais. Utilizando técnicas isotópicas (datação 230

Th/234

U),

os autores verificaram que durante o Quaternário ocorreram elevações no nível da água

subterrânea. O travertino foi depositado em duas fases distintas, uma fase datada em

40.000 anos AP e outra entre 21.400 anos AP até o início do Holoceno. Em duas cavernas

distintas foi datada a formação de depósitos de calcita em espeleotemas. A idade de

145.000 anos AP foi associada ao penúltimo período glacial e as de 21.000 e 17.300 anos

AP ao Último Máximo Glacial (UMG).

Estes resultados evidenciam períodos úmidos durante o UMG, contrastando com a

aridez proposta por estudos realizados na Amazônia e sudeste do Brasil. Pelo menos nas

duas últimas glaciações, o semi-árido nordestino estaria sob condições úmidas (AULER &

SMART, 2001).

A hipótese de dinâmica da paleovegetação na região Nordeste sob influência do

semi-árido e das florestas Atlântica e Amazônica necessita de uma melhor compreensão,

uma vez que a região central do Nordeste, dominada pela vegetação de caatinga,

caracteriza-se por apresentar uma grande diversidade de espécies adaptadas à semi-aridez e

ao relevo local. O domínio do semi-árido, aproximadamente 1.000.000 km2, forma um

polígono de aridez que separa duas florestas tropicais, a mata Atlântica da Amazônia. Na

transição entre a caatinga e região Amazônia ocorrem várias subformações vegetais

indefinidas de cerrado e caatinga, provavelmente associadas às mudanças climáticas

passadas (RIBEIRO, 2002).

Neste estudo, iniciou-se o estudo da dinâmica da vegetação atual e passada durante

o Pleistoceno tardio e Holoceno, utilizando os isótopos de carbono da matéria orgânica de

solos coletados em áreas com vegetação de floresta e capoeira, no domínio de Caatinga –

região Centro-Oeste da Bahia.

Nas duas áreas de estudo efetuou-se a caracterização isotópica das espécies vegetais

predominantes e procurou-se associá-las à dinâmica da vegetação atual.

61

2. Materiais e Métodos

2.1 Características geomorfológicas e climáticas da área de estudo

As amostras de solo e plantas foram coletadas em um Latossolo Amarelo (LA) no

Sítio Poço Velho, em três pontos de amostragem com vegetações distintas. Dois destes

pontos encontrava-se em uma floresta hipoxerófila de Caatinga arbórea, e o terceiro em

uma vegetação de capoeira, localizados numa propriedade particular que dista 8 km da

sede do município de Jaguarari (10° 15’ 00” S e 40° 11’ 00” W).

O município de Jaguarari possui clima semi-árido e está incluído no “Polígono das

Secas” (CPRM, 2005). Possui tipos variados de solos, sendo possível identificar:

planossolos, argissolos e neossolos litólicos eutróficos, neossolos regolíticos e nitossolos

distróficos. Apresenta vegetação variegada composta por contato cerrado-floresta

estacional e as Caatingas arbóreas abertas ou densas, ambas com ou sem palmeiras e,

ainda, o contato Caatinga-floresta estacional. O relevo local é do tipo serrano, passando a

baixadas e pediplano sertanejo, cortados pelos rios Jaguarari e do Brejo, que servem às

bacias Itapicuru e São Francisco (CPRM, 2005).

A sede do município tem altitude de 650 metros e coordenadas geográficas

10°15’00”de latitude sul e 40°11’00” de longitude oeste, e geologicamente caracteriza-se

pela ocorrência de rochas cristalinas do Complexo Itapicuru, Mairi, Tanque Novo-Ipirá e

Caraíba, além de também serem encontrados corpos graníticos e granitóides. É possível

encontrar no município três tipos de coberturas quaternárias: coberturas detrito-lateríticas,

formadas por areia com níveis de cascalho e argila e crosta laterítica, ocorrendo em

segmentos isolados nas porções central e sul do município; brecha calcífera e calcrete na

porção noroeste; e, em menor proporção, depósitos aluvionares recentes, relacionados ao

riacho da Barrinha (CPRM, 2005).

2.2 Análises do Solo

2.2.1 Amostragem e preparo do solo

Em um dos pontos de amostragem, foi feita uma trincheira de aproximadamente

150 cm x 150 cm x 300 cm de profundidade, de onde foram coletadas amostras de solo a

cada 10 cm de profundidade, sendo aproximadamente 10 kg por camada, no sentido das

62

camadas inferiores para as superiores (Figura 01). As amostras foram acondicionadas em

sacos plásticos transparentes e devidamente identificadas.

Para amostras mais profundas na trincheira (até 420 cm) utilizou-se perfuração a

trado. Estas amostras foram acondicionadas em potes plásticos devidamente identificados e

possuíam capacidade de até 250 g de solo. Foram coletadas no sentido das camadas mais

superiores para as mais inferiores. Estas amostras são aqui denominas “solo da trincheira”.

Em um segundo ponto de amostragem, foi feita apenas a perfuração a trado até 200

cm de profundidade. Estas amostras (denominadas neste trabalho “solo da capoeira”)

foram acondicionadas em potes plásticos devidamente identificados e possuíam capacidade

de até 250 g de solo. Foram coletadas no sentido das camadas mais superiores para as mais

inferiores (Figura 01).

O terceiro ponto de coleta foi em uma área de floresta, no local onde foi encontrado

um artefato lítico (machadinha semilunar). Embora o encontro tenha sido acidental, e

inicialmente fora das áreas de amostragem, optou-se por fazer uma coleta de solo para

comparação com os outros locais estudados. O perfil do solo estava exposto, e percebia-se

uma grande quantidade de fragmentos de carvão presente nas camadas (Figura 01). Fez-se

uma coleta de aproximadamente 10 kg de solo por camada, no sentido das camadas

inferiores para as superiores. Essas últimas amostras (denominadas neste trabalho “solo da

machadinha”) foram acondicionadas em sacos plásticos transparentes e devidamente

identificadas.

Não foi necessário um período prolongado de secagem das amostras, já que estas

estavam praticamente secas, mesmo nas camadas mais profundas, apresentando apenas 1%

de umidade, medida com auxilio do aparelho HigroFarm – Falker 2010.

No laboratório as amostras foram passadas em peneiras de malha grossa para o

destorroamento e obtenção da terra fina seca ao ar (TFSA). Durante o processo retirou-se,

com o auxílio de uma pinça metálica, restos de raízes, vegetação, animais presentes e

fragmentos de carvão. O peneiramento foi realizado em peneiras com malha de 2 mm para

análises granulométricas e a 0,2 mm para análises isotópicas e de carbono orgânico total.

Ao término de cada peneiramento por camada, os utensílios utilizados (peneiras,

bacias, pinças) eram lavados em água corrente com detergente neutro, água destilada, e

colocados para secar em estufa a 60° C por 1h, na tentativa de evitar a mistura de carbono

das diferentes camadas. Só depois desta etapa, seguia-se com o peneiramento da camada

seguinte. Para tanto, utilizou-se três conjuntos metálicos.

63

Figura 01. Pontos de amostragem de solos no Município de Jaguarari. (A) Vista superior da trincheira na

área de vegetação de floresta; (B) Delimitação das camadas no interior da trincheira; (C) Camadas já

demarcadas e com a presença de carvões, destacados em amarelo; (D) Vista superior do perfil da trincheira

evidenciando as camadas de solo que já foram retiradas; (E) Perfil do solo sob vegetação de floresta, onde foi

encontrada a machadinha, destaque em amarelo para os carvões encontrados no solo e que se desprenderam

das camadas, quando da limpeza do perfil; (F) Coleta de solo na área de vegetação de campo utilizando

perfuração a trado.

64

2.2.2 Análises químicas e físicas do solo

As análises físico-químicas e granulométricas das amostras de solo foram

realizadas no Instituto Tecnológico e de Pesquisas do Estado de Sergipe – ITPS. Enviaram-

se aproximadamente 250 g de solo das amostras coletadas até 300 cm na trincheira e 420

cm por perfuração a trado na trincheira, tendo assim todo o perfil de 0-420 cm.

2.2.3 Determinação do Carbono Orgânico Total do solo

Partindo-se de 8 a 11 g de TFSA peneirada a 0,2 mm, foi determinado o carbono

orgânico total, que será reportado como Carbono Total (C-total), no Laboratório de

Isótopos Estáveis – Centro de Energia Nuclear na Agricultura da Universidade de São

Paulo. Os resultados apresentados referem-se à medida de três determinações, com

precisão de 1 a 2%, sendo expressos em % de C.

2.2.4 Determinação da razão 13

C/12

C (13

C) das amostras de solo

Foram enviados aproximadamente, 11g de TFSA, peneirada a 0,2 mm, ao

Laboratório de Isótopos Estáveis – Centro de Energia Nuclear na Agricultura da

Universidade de São Paulo, para a determinação das razões isotópicas 13

C/12

C em um

espectrômetro de massas ANCA-SL, Europa Scientific. Os resultados estão expressos pela

unidade relativa “ ”, determinada em relação ao padrão internacional PDB:

(1) 1000R

RRC

PDB

PDBamostra13

Onde a razão isotópica expressa a abundância relativa entre 13

C/12

C. Os resultados

apresentados referem-se à média de três determinações, com precisão de 0,2‰.

65

2.3 Análises dos Fragmentos de Carvão

2.3.1 Amostragem e preparo dos carvões

Com o auxílio de uma pinça de aço, os fragmentos de carvão foram coletados

durante o peneiramento das amostras de solo por camada, e colocados dentro de potes

etiquetados.

2.3.2 Análise do 14

C dos carvões

Para a determinação da idade 14

C dos fragmentos de carvão, foram enviadas ao

Laboratório de Carbono 14 do Centro de Energia Nuclear na Agricultura da Universidade

de São Paulo amostras que apresentaram, por camada, um peso superior a 5g, perfazendo

um total de 6 amostras.

Amostras de carvão com peso inferior a 5g por camada serão enviadas para os EUA

para serem analisadas por AMS e complementarem os dados.

2.4 Análises da Vegetação

2.4.1 Amostragem e preparo da vegetação

A amostragem de plantas foi realizada na área de floresta e na capoeira. Coletaram-

se amostras para análise isotópica (13

C) e para identificação botânica.

As amostras destinadas para análise isotópica foram lavadas com água destilada,

secas em estufa a 60° C, moídas, peneiradas a 0,2 mm e armazenadas em potes plásticos

com a devida identificação da espécie.

Utilizou-se para as análises isotópicas apenas as folhas das plantas, coletadas a uma

altura de 1,60 cm para as espécies lenhosas, e as mais externas, para as cactáceas, que eram

rasteiras.

2.4.2 Determinação da razão 13

C/12

C (13

C) das amostras de plantas

Enviaram-se aproximadamente 1 g de amostras de plantas, secas, moídas e

peneiradas ao Laboratório de Isótopos Estáveis – Centro de Energia Nuclear na Agricultura

da Universidade de São Paulo, para a determinação da razão isotópica 13

C/12

C em um

66

espectrômetro de massas ANCA-SL, Europa Scientific. Os resultados estão expressos pela

unidade relativa “ ”, determinada em relação ao padrão internacional PDB.

3. Resultados e Discussão

3.1 Análises químicas do solo.

As características químicas do solo da trincheira encontram-se na Tabela 01 e nas

Figuras 02 e 03.

Os valores de pH em água para o solo da trincheira foram classificados como de

acidez elevada, ao longo de todo o perfil (KIEHL, 1979; COCHRANE, 1984). Os valores

ficaram compreendidos entre 4,32 a 4,78, e apresentam uma distribuição normal (Figura

02).

Valores de pH compreendidos entre 3,5 a 5,5 foram encontrados e estudados por

Gomes (1996) para três Latossolos e um Podzólico Vermelho-Amarelo localizados no

estado de Rondônia.

A acidez do solo pode estar diretamente relacionada à quantidade de matéria

orgânica presente. Os valores ficaram compreendidos na faixa de 2,45 a 11,5 g/dm3.

Observou-se um decréscimo da matéria orgânica em relação à profundidade do

solo, contudo, devido ao aporte orgânico no solo, o pH ácido se manteve constante em todo

o perfil.

Figura 02. Variação do pH do solo em água (H20) em função da profundidade (0 – 4,20 cm) em Floresta

Hipoxerófila de Caatinga Arbórea, sitio Tanque Velho, Jaguarari – Bahia.

4.2 4.3 4.4 4.5 4.6 4.7 4.8 4.9

pH

0

1

2

3

4

5

6

7

8

9

Fre

qu

en

cia

Ob

se

rva

da

67

Tabela 01. Resultado da análise de pH em água e teor de matéria orgânica no solo da trincheira.

Profundidade (cm) pH em água Matéria Orgânica (g/dm3)

0-10 4,32* 10,4

10-20 4,45 11,5**

20-30 4,42 9,80

30-40 4,45 8,08

40-50 4,54 8,31

50-60 4,55 8,31

60-70 4,57 7,28

70-80 4,53 6,13

80-90 4,55 5,44

90-100 4,56 5,78

110-120 4,68 4,63

130-140 4,74 4,98

150-160 4,77 4,17

170-180 4,78** 3,94

190-200 4,70 4,40

210-220 4,71 4,06

230-240 4,61 3,71

250-260 4,62 4,06

270-280 4,54 4,29

290-300 4,48 3,83

310-320 4,50 3,14

330-340 4,46 4,40

350-360 4,43 2,79

370-380 4,36 2,45*

390-400 4,44 3,71

410-420 4,39 3,02

*Menor valor observado; ** maior valor observado.

Figura 03. Variação do pH do solo em água (H20) em função da profundidade (0 – 4,20 cm) em Floresta

Hipoxerófila de Caatinga Arbórea, sitio Tanque Velho, Jaguarari – Bahia.

4 4,2 4,4 4,6 4,8 5

0-10

50-60

110-120

210-220

310-320

410-420

PH em Água

Profundidade (cm

)

68

3.2 Análises Granulométricas

Através dos dados apresentados na Tabela 02 e Figuras 04 e 05, verificou-se que os

solos da trincheira apresentaram textura franco - arenosa.

As camadas 0-30 cm apresentaram os maiores teores de areia 88,45%, enquanto a

camada 250-260 cm apresentou o menor teor de areia 69,79%.

Já os maiores teores de argila foram apresentados pelas camadas 190-200 cm e 210-

220 cm 17,05%, enquanto a camada 0-10 cm possui o menor valor 6,48%.

O maior teor de silte foi apresentado na camada 250-260 cm com valor 13,24%, e o

menor valor, foi observado nas camadas 10-30 cm, com 2,99%.

O maior valor apresentado para a densidade aparente foi encontrado na camada

370-380 cm com 1,69 g/cm3, e o menor valor foi encontrado na camada 90-100 cm em

1,34 g/cm3

.

Tabela 02. Análises granulométricas do solo em relação à profundidade Trincheira em Floresta Hipoxerofila

no sitio Tanque Velho – Jaguarari - Bahia.

Profundidade (cm) Areia (%) Argila (%) Silte (%) Textura Densidade (g/cm3)

0-10 88,45** 6,48* 5,07 Arenoso 1,37

10-20 88,45** 8,56 2,99* Arenoso 1,39

20-30 88,45** 8,56 2,99* Areia 1,38

30-40 88,12 6,81 5,07 Areia 1,39

40-50 88,20 6,64 5,16 Areia 1,39

50-60 86,12 8,81 5,07 Areia Franca 1,40

60-70 82,12 10,81 7,07 Areia Franca 1,36

70-80 81,96 10,81 7,23 Areia Franca 1,39

80-90 81,96 12,81 5,23 Franco Arenoso 1,35

90-100 79,96 12,81 7,23 Franco Arenoso 1,34*

110-120 79,79 10,97 9,24 Franco Arenoso 1,39

130-140 77,79 13,05 9,16 Franco Arenoso 1,43

150-160 77,79 13,05 9,16 Franco Arenoso 1,46

170-180 75,79 15,05 9,16 Franco Arenoso 1,43

190-200 71,79 17,05** 11,16 Franco Arenoso 1,35

210-220 71,79 17,05** 11,16 Franco Arenoso 1,35

230-240 71,79 16,97 11,24 Franco Arenoso 1,38

250-260 69,79* 16,97 13,24** Franco Arenoso 1,39

270-280 73,79 14,97 11,24 Franco Arenoso 1,39

290-300 73,79 15,14 11,07 Franco Arenoso 1,43

310-320 77,87 13,22 8,91 Franco Arenoso 1,58

330-340 77,79 13,22 8,99 Franco Arenoso 1,64

350-360 77,79 13,22 8,99 Franco Arenoso 1,64

370-380 77,79 13,22 8,99 Franco Arenoso 1,69**

390-400 77,79 15,22 6,99 Franco Arenoso 1,65

410-420 77,79 13,22 8,99 Franco Arenoso 1,65

*Menor valor observado; ** maior valor observado.

69

Figura 04. Variação do teor areia, argila e silte em relação à profundidade do solo em Floresta Hipoxerófila

de Caatinga Arbórea. Sítio Tanque Velho – Jaguarari – Bahia. Areia (linha azul), Argila (linha vermelha),

Silte (linha verde).

A densidade aparente mostra uma tendência à formação de 2 grupos de solo com

densidades diferentes: solos que apresentam uma densidade de 1,3-1,5 g/cm3

e solos que

possuem uma densidade com valores compreendidos entre 1,55-1,7 g/cm3

(Figura 05).

A granulometria pode ser um parâmetro significativo para verificar o teor de

Carbono Orgânico Total no solo, desde que um maior teor de argila possa contribuir para o

aumento da adsorção da matéria orgânica e consequentemente do carbono total (RIBEIRO,

2002).

Contudo, deve ser utilizado com cautela, já que em estudos em latossolos de

diversas regiões no Brasil, Pessenda et al. (1996a, 1996b, 1998d) sugerem que nem sempre

os maiores teores de argila na superfície dos solos encontram-se relacionados com os

maiores teores de carbono (RIBEIRO, 2002).

0 20 40 60 80 100

0-10

20-30

40-50

60-70

80-90

110-120

150-160

190-200

230-240

270-280

310-320

350-360

390-400

Características Físicas do solo (%)

Profundidade (cm

)

70

Figura 05. Distribuição das freqüências de densidade aparente do solo coletados 42 camadas de 10 cm em

um perfil de 4.2 m de profundidade em Floresta Hipoxerófila de Caatinga Arbórea. Sítio Tanque Velho –

Jaguarari – Bahia.

3.3 Variação do Carbono Orgânico Total no solo

Nas Tabela 03 e na Figura 06 são apresentados os teores de Carbono Orgânico

Total dos solos da trincheira, capoeira e machadinha.

Foi observado um decréscimo na concentração do carbono total com o aumento da

profundidade nos solos estudados, tendência similar aos encontrados em Latossolos das

regiões Sudeste (PESSENDA et al., 1996b; GOUVEIA et al., 2002); Central (PESSENDA

et al., 1996a); Norte (Amazônia) do Brasil (GOUVEIA, 1996; PESSENDA et al., 1998a,

1998b, 1998c; RIBEIRO, 2002).

O solo de capoeira apresentou a maior concentração de carbono total ao longo do

perfil, onde o maior valor foi percebido na camada 10-20 cm com teor de 1,21% de 10 dm3

de solo. O solo que apresentou a menor concentração de carbono total ao longo do perfil

foi o solo da trincheira, que se encontra sob vegetação de floresta. A concentração de C-

total nas camadas 280-290, 300-320, 380-390 e 410-420 cm foi de 0,13% % e na camada

superficial foi de 0,60%.

1.3 1.35 1.4 1.45 1.5 1.55 1.6 1.65 1.7 1.75

Densidade (g/cm3)

0

2

4

6

8

10

12

14

16

Fre

quencia

Observ

ada

71

Tabela 03. Resultado do teor de Carbono Orgânico Total (%) em relação à profundidade. Trincheira em

Floresta Hipoxerofila e Capoeira e sítio arqueologia no sitio Tanque Velho – Jaguarari - Bahia.

Profundidade (cm) Carbono Total

(%) Profundidade (cm)

Carbono Total

(%) Profundidade (cm)

Carbono Total

(%)

Trincheira Capoeira Machadinha

- - 0-5 1,03 - -

0-10 0,60** 5-10 0,72 - -

10-20 0,54 10-20 1,21** - -

20-30 0,46 20-30 0,94 - -

30-40 0,54 30-40 0,90 30-40 0,56**

40-50 0,46 40-50 0,85 40-50 0,56**

50-60 0,44 50-60 0,71 50-60 0,51*

60-70 0,44 60-70 0,50 - -

70-80 0,45 70-80 0,63 - -

80-90 0,40 80-90 0,46 - -

90-100 0,33 90-100 0,41 - -

100-110 0,31 100-110 0,40 - -

110-120 0,26 110-120 0,38 - -

120-130 0,25 120-130 0,34 - -

130-140 0,26 130-140 0,35 - -

140-150 0,26 140-150 0,30 - -

150-160 0,23 150-160 0,29* - -

160-170 0,20 160-170 0,31 - -

170-180 0,21 170-180 0,31 - -

180-190 0,22 180-190 0,30 - -

190-200 0,25 190-200 0,34 - -

200-210 0,22 - - - -

210-220 0,22 - - - -

220-230 0,21 - - - -

230-240 0,20 - - - -

240-250 0,19 - - - -

250-260 0,15 - - - -

260-270 0,14 - - - -

270-280 0,14 - - - -

280-290 0,13* - - - -

290-300 0,14 - - - -

300-310 0,13* - - - -

310-320 0,13* - - - -

320-330 0,15 - - - -

330-340 0,14 - - - -

340-350 0,14 - - - -

350-360 0,17 - - - -

360-370 0,16 - - - -

370-380 0,16 - - - -

380-390 0,13* - - - -

390-400 0,17 - - - -

400-410 0,14 - - - -

410-420 0,13* - - - -

- Amostras não analisadas. *Menor valor observado; ** maior valor observado.

72

Figura 06. Variação do teor de Carbono Orgânico Total (%) em relação à profundidade do solo no Sítio

Tanque Velho – Jaguarari – Bahia. Trincheira (linha azul), Capoeira (linha vermelha), Machadinha (linha

verde).

Em geral, observa-se que em solos sob floresta tropical úmida apresenta um maior

teor de carbono orgânico na superfície se comparado com os solos sob vegetação de

campo, devido à maior entrada de matéria orgânica proveniente da floresta (DESJARDINS

et al, 1996; PESSENDA et al, 1998b). Entretanto, foi observado no solo de capoeira um

teor de carbono na superfície superior ao encontrado no solo sob vegetação de floresta.

Deve-se considerar que o solo sob capoeira em regeneração ou de estado de

sucessão secundária, foi coletado numa área de depressão e próximo à vegetação de

floresta, ocasionando a formação de um horizonte húmico mais enriquecido, e possível

alagamento nos períodos chuvosos. Este mecanismo, possivelmente seja o responsável

pelo maior teor de carbono na superfície de capoeira, comparado com a de floresta.

0 0,5 1 1,5

0-10

30-40

60-70

90-100

120-130

150-160

180-190

210-220

240-250

270-280

300-310

330-340

360-370

390-400

Carbono Orgânico Total (%)

Profundidade (cm)

73

3.4 Inferencia paleoincendios com ocorrência de fragmentos de carvão nos solo

Na Tabela 04, e nas Figuras 07, 08 e 09 são apresentados os resultados das massas

de carvão em função da profundidade dos solos da trincheira, capoeira e machadinha.

A presença de fragmentos de carvão foi observada em todos os pontos coletados

nas áreas da trincheira, capoeira e da machadinha, desde a superfície até as camadas mais

profundas, evidenciando a ocorrência de incêndios durante provavelmente todo o

Holoceno. Ressalta-se que o solo da área de estudo era arenoso, o que eventualmente

poderia ter facilitado o recobrimento dos fragmentos pela fauna local do solo.

Nas camadas superficiais foram encontradas quantidades significativas de

fragmentos de carvão, principalmente na área onde foi encontrada a machadinha.

No solo da trincheira observa-se que massas de até 22,92 g de carvão por 10 kg de

solo foram encontradas até aproximadamente 90 cm. Massas de pouco mais de 1g/10 kg

foram encontradas até 160 cm, e de 170 cm até a profundidade máxima, a massa de carvão

foi inferior a 1g/10 kg de solo.

Na área de capoeira todos os valores da massa de carvão encontrados no perfil

foram inferiores a 1 g/10 kg de solo. Mesmo efetuada a coleta das amostras por meio de

trado manual, um dos fatores da quantidade reduzida de carvão amostrada, os fragmentos

apareceram em todo o perfil amostrado.

A maior quantidade de massa de carvão foi amostrada no local onde a machadinha

foi encontrada, um total de 127,94 g de carvão para as três camadas analisadas.

Na área de capoeira foi encontrada uma porção de uma panela de cerâmica com

vários fragmentos de carvão. Os carvões foram coletados e serão feitas análises isotópicas

de 13

C e 14

C para verificar o tipo de vegetação que estava sendo utilizada pela população,

a idade do material, e a localização temporal da população para a região.

A partir da determinação das taxas de recobrimento destes solos após a datação por

14C dos fragmentos de carvão, será possível inferir sobre os paleoincêndios na região.

Saber se a área onde foi encontrada a machadinha era um local de queima de alimentos

(coivara), ou se estes fragmentos de carvão poderão ser associados a incêndios ocorridos

no passado, há pelo menos algumas centenas de anos, coincidindo com períodos mais

secos para o Holoceno.

74

Tabela 04. Resultados das massas de carvão coletadas em função da profundidade dos solos da trincheira,

capoeira e machadinha.

- Amostras não analisadas. *Menor valor observado; ** maior valor observado.

Profundidade (cm) Massa de carvão (g / 10 kg de solo)

Trincheira Capoeira Machadinha

0 - 10 2,41 0,157** -

10 - 20 7,07 0,073 -

20 - 30 3,14 0,042 -

30 - 40 3,96 0,100 116,3**

40 - 50 4,85 0,076 7,75

50 - 60 2,54 0,051 3,69*

60 - 70 3,55 0,049 -

70 - 80 7,50 0,025 -

80 - 90 22,92** 0,036 -

90 - 100 2,46 0,045 -

100 - 110 1,51 0,013 -

110 - 120 1,55 0,035 -

120 - 130 1,12 0,013 -

130 - 140 1,29 0,004* -

140 - 150 1,09 0,004* -

150 - 160 1,03 0,010 -

160 - 170 0,52 0,006 -

170 - 180 0,45 0,005 -

180 - 190 0,28 0,005 -

190 - 200 0,37 0,005 -

200 - 210 0,08 - -

210 - 220 0,09 - -

220 - 230 0,21 - -

230 - 240 0,03 - -

240 - 250 0,02 - -

250 - 260 0,02 - -

260 - 270 0,01* - -

270 - 280 0,06 - -

280 - 290 0,02 - -

290 - 300 0,03 - -

Total 70,18 0,754 127,94

75

Figura 07. Distribuição das massas de carvão em relação à profundidade no perfil da Trincheira.

Figura 08. Distribuição das massas de carvão em relação à profundidade no perfil da Capoeira.

0 5 10 15 20 25

20 - 30

50 - 60

80 - 90

110 - 120

140 - 150

170 - 180

200 - 210

230 - 240

260 - 270

290 - 300

Massa de carvão

(g / 10 kg de solo)

Profundidade (cm)

0 0,05 0,1 0,15 0,2

10-20 cm

30 - 40

50 - 60

70 - 80

90 - 100

110 - 120

130 - 140

150 - 160

170 - 180

190 - 200

Massa de carvão

(g/10 kg de solo)

Pro

fun

did

ad

e (cm)

76

0 50 100 150

20 - 30

50 - 60

80 - 90

110 - 120

140 - 150

170 - 180

200 - 210

230 - 240

260 - 270

290 - 300

Massa de carvão

(g/ 10 kg de solo)

Profundidade (cm

)

Figura 09. Distribuição das massas de carvão em relação à profundidade no perfil da Machadinha.

Contudo, sugere-se que os fragmentos de carvão encontrados no mesmo local do

artefato lítico (machadinha) são oriundos de paleoincêndios de origem antrópica, haja

vista, o valor elevado de massa de carvão encontrado (116,3g/10 kg de solo).

No solo da trincheira, observa-se partir de 280 cm de profundidade o aumento da

densidade de carvão (0,1 para 22 g/10 kg) até 1 m de profundidade, sugerindo grande

efeito dos paleoincêndios na área, que pode estar relacionado aos períodos mais secos no

passado. Todavia observa-se que os valores isotópicos ao longo dos perfis (Tabela 05)

indicam que a vegetação vem fechando ao longo do tempo.

3.5 Variação da composição isotópica (13

C) da matéria orgânica do solo da caatinga

A composição isotópica da Matéria Orgânica do Solo (MOS) da vegetação de

Caatinga hipoxerófila, na Tabela 05 e com valores plotados na Figura 10, refere-se à

distribuição dos valores de 13

C no perfil de 420 cm (trincheira), 200 cm (capoeira) e 60

cm (machadinha) de profundidade. Estes valores não diferem entre os solos amostrados,

77

seguindo a mesma tendência de enriquecimento isotópico em função da profundidade. A

tendência de enriquecimento de 13

C com a profundidade foi de -27‰ com sinal isotópico

da vegetação atual entre 0 - 0.5 cm, representado por uma Caatinga hipoxerófila densa. A

vegetação de Caatinga hiperxerófita apresentou valor isotópico de -24‰ ou mais aberta até

a uma profundidade de 300 cm. Boutton (1979), Cerri et al. (1994), Pessenda et al. (1996a,

1998b) atribuem esse fracionamento isotópico devido a decomposição da matéria orgânica

da liteira, seguido dos processos de mineralização da MOS e de processos associados com

a formação do húmus nos solos o qual esse fracionamento pode variar entre 0 a 2‰ .

Estudos realizados em florestas úmidas e cerrados no Brasil, em caso de mudança

ou troca de vegetação, como vistos na Amazônia de Rondônia, Brasil Central e Maranhão,

a variação é bem acentuada chegando a uma amplitude de 4‰.

O sinal isotópico da vegetação estudada variou em -28,03‰ e um desvio padrão de

6.04 ‰ com uma amplitude de -12‰ a -34‰, todavia esse valor médio é input de

Matéria Orgânica atual, o que não difere significativamente do sinal da liteira -27‰. Os

valores de 13

C obtidos para as camadas ao longo do perfil dos solos variaram entre -24 a -

27‰, são característicos de vegetação com predomínio de plantas de ciclo fotossintético

C3 tendendo a formação florestal mais fechada.

.

78

Tabela 05. Resultado do teor de δ13

C (‰) em relação à profundidade nos perfis de solo estudados.

Profundidade (cm) δ13

C (‰) Profundidade (cm) δ13

C (‰) Profundidade (cm) δ13

C (‰)

Trincheira Capoeira Machadinha

- - 0-5 -27,19* - -

0-10 -26,74* 5-10 -26,59 - -

10-20 -26,57 10-20 -26,05 - -

20-30 -26,21 20-30 -25,33 - -

30-40 -25,91 30-40 -25,40 30-40 -25,75*

40-50 -25,73 40-50 -25,34 40-50 -25,61

50-60 -25,64 50-60 -25,14 50-60 -25,39**

60-70 -25,40 60-70 -24,93 - -

70-80 -25,19 70-80 -25,02 - -

80-90 -25,01 80-90 -24,85 - -

90-100 -24,99 90-100 -24,73 - -

100-110 -24,91 100-110 -24,73 - -

110-120 -24,73 110-120 -24,54 - -

120-130 -24,66 120-130 -24,79 - -

130-140 -24,60 130-140 -24,44 - -

140-150 -24,52 140-150 -24,41 - -

150-160 -24,42 150-160 -24,06 - -

160-170 -24,34 160-170 -24,01 - -

170-180 -24,19 170-180 -24,28 - -

180-190 -24,17 180-190 -23,94** - -

190-200 -24,13 190-200 -24,24 - -

200-210 -24,15 - - - -

210-220 -24,12 - - - -

220-230 -24,15 - - - -

230-240 -24,07** - - - -

240-250 -24,19 - - - -

250-260 -24,09 - - - -

260-270 -24,11 - - - -

270-280 -24,18 - - - -

280-290 -24,13 - - - -

290-300 -24,26 - - - -

300-310 -24,15 - - - -

310-320 -24,44 - - - -

320-330 -24,30 - - - -

330-340 -24,33 - - - -

340-350 -24,51 - - - -

350-360 -24,76 - - - -

360-370 -24,70 - - - -

370-380 -24,42 - - - -

380-390 -24,50 - - - -

390-400 -24,84 - - - -

400-410 -24,76 - - - -

410-420 -24,70 - - - -

- Amostras não analisadas. *Menor valor observado; ** maior valor observado.

79

Figura 10. Variação na razão isotópica do carbono em função da profundidade do solo em Floresta

hipoxerófila do domínio de caatinga na microrregião do Senhor do Bonfim, Jaguarari – BA durante o

Holoceno. Tanque Velho, Jaguarari - Bahia

Há uma relação negativa entre o teor de carbono total no solo e valores de (13

C).

Avaliou-se essa relação por meio do teste de regressão linear, (Figura 11) e concluiu-se

que quanto menor é o valor de C-Total no solo mais enriquecido é o valor isotópico para o

solo da caatinga. Há duas interpretações para este fato: primeiro o teor de carbono total na

MOS da caatinga é extremamente baixo, e segundo o solo enriquecido de (13

C) mostra

que a MOS está praticamente mineralizado, indicando pouco ou baixa bioturbação da

fauna do solo (formigas e cupins).

Flo

resta

Capoeira

540

80

120

160

200

240

280

320

360

400

Pro

fundid

ade d

o s

olo

(cm

)

-27

-27

-26

-26

-25

-25

-24

13C (per mil)

-27

-27

-26

-26

-25

-25

-24

13C (per mil)

80

Figura 11. Regressão linear entre distribuição dos valores de isótopos de carbono do Solo (13

C) em função

do carbono total no solo de floresta, capoeira e sitio arqueológico – Tanque Velho, Jaguarari - Bahia.

Comparou-se se havia variação na composição isotópica do carbono nas duas

amostras de solo da floresta, com valores médios de -24,71‰ e da capoeira -24,95‰,

aplicou-se o teste t = 1,217 e p = 0,228 para as médias heterocedásticas (42 x 20) e

verificou-se que não há diferença significativa na composição isotópica nas duas áreas

nativa e em regeneração. A análise da variância ANOVA mostrou também que os desvios

com e sem outliers não foram suficientes para refutar a hipótese estatística de diferença

entre as duas amostras (F = 1,477 e P = 0,285), todavia na área alterada a vegetação aberta

modifica o comportamento do fracionamento isotópico na superfície.

13 C

(‰

)

Floresta

Capoeira

Machadinha0.1 0.2 0.3 0.4 0.5 0.6 0.7

CARBONO TOTAL (%)

-27

-26.5

-26

-25.5

-25

-24.5

-24

-23.5

81

Figura 12. Composição isotópica do carbono (13

C) nas duas amostras de solo floresta (trincheira - Tvt) e

Capoeira (Tradagem - Tvc), sítio Tanque Velho, Jaguarari - Bahia

As datações de fragmentos de carvão e amostras de huminas obtidas em diversas

regiões do Brasil (e.g. Pessenda et al., 2004), estima-se que na área em estudo obtenha-se

uma idade de cerca de 15.000 anos AP na profundidade de cerca de 400cm e com base nos

valores de 13

C obtidos, verificou-se que provavelmente entre o Holoceno até o presente

não houve mudanças significativas de vegetação no local, independentemente de uma

eventual troca climática para um período mais seco. Durante o Holoceno a vegetação do

Tanque Velho começou a fechar tendendo a uma floresta mais arbórea do que no passado.

Com base nestes resultados é possível inferir uma tendência de aumento na umidade da

região (Figura 10). Esta tendência de aumento da umidade é bem pronunciada a partir de

3000 anos AP, considerando os trabalhos de Pessenda et al. (2004) no Maranhão e

Desjardins et al. (1996) em Roraima.

Em um trabalho realizado em sedimentos da Lagoa do Caçó (Maranhão), Ledru et

al. (2002) verificaram uma rápida e abrupta troca climática durante o Pleistoceno tardio

13C

(p

er

mil)

Mean

±SE

±1,96*SE 13C/12C Tvt

13C/12C Tvc

-25.40

-25.30

-25.20

-25.10

-25.00

-24.90

-24.80

-24.70

-24.60

-24.50

-24.40

82

(11.600 até aproximadamente 10.000 anos AP), relacionado com o evento “Younger

Dryas” ocorrido no Hemisfério Norte. Os autores consideram que a temperatura pode ter

diminuído cerca de 2°C neste intervalo, assim como observaram a presença significativa de

fragmentos de carvão em todo o Holoceno, indicando a ocorrência de paleoincêndios que

foram associados ao domínio de uma vegetação arbórea mais aberta.

Embora não se possa fazer inferências mais precisas pela ausência dos resultados

das datações por 14

C, sugere-se que as interpretações paleoclimáticas do presente trabalho

são comparáveis às publicadas por Ledru et al. (2002), onde verifica-se na profundidade

máxima (400cm) uma vegetação mais fechada e a possível existência de uma vegetação

mais aberta em 350-170 cm, com o retorno da umidade em 170-0 cm (Figura 10).

Pode-se relacionar também as análises paleoclimáticas do presente trabalho com o

estudo de reconstrução paleoambiental realizado por De Oliveira et al., (1999) em uma

turfeira no norte da Bahia, no Vale do Rio Icatu. Segundo os autores, no final do

Pleistoceno (10.990-10.540 anos AP), espécies características de floresta da Amazônia,

Atlântica e de montanha indicam um período muito úmido e temperaturas mais reduzidas.

De 10.540 a 8.910 anos AP, a vegetação dominada por Mauritia vinifera sugeriu um

progressivo aumento de temperatura e com alta umidade. De 8.910 a 6.790 AP houve um

progressivo declínio de taxa de floresta e aumento de taxa de caatinga e cerrado. Até 4.535

anos AP houve um retorno a um mosaico de vegetação composta de floresta de galeria,

caatinga e cerrado, indicando um clima mais úmido. De 4.535 até o presente houve um

aumento no taxa de caatinga e de cerrado, caracterizando uma diminuição de umidade e o

declínio da floresta de galeria, aspecto encontrado no ambiente atual.

Verifica-se que as interpretações ambientais do presente trabalho são similares com

as obtidas no trabalho de De Oliveira et al. (1999), onde um provável período seco

predominou na região norte da Bahia desde o início do Holoceno (cerca de 9.000 anos

AP.) até o Holoceno médio (4.000-3000 anos AP), vindo a seguir um período mais úmido

e provavelmente similar ao atual.

Vale ressaltar que no final do Pleistoceno/início do Holoceno foram inferidas

situações distintas a nível paleoclimático nas regiões sul/sudeste do Brasil. Dados

isotópicos de solos de Salitre (MG) (PESSENDA et al., 1996a, 1998d), Londrina (PR) e

Piracicaba (SP) (PESSENDA et al., 1996b, 1998d) e Jaguariúna (SP) (GOUVEIA et al.,

1999, 2002) indicaram a presença significativa de gramíneas desde cerca de 11.000 anos

AP até cerca de 4.000 anos AP, associado a presença de um clima mais seco. Dados

83

palinológicos de sedimentos lacustres também indicaram um clima seco em período

similar em localidades ao sul do Brasil (LEDRU et al., 1996; BEHLING, 1997, 1998).

Desta forma, enquanto na região sul do Brasil por volta de 11.000 anos AP até

8.000 anos AP havia o predomínio de gramíneas e clima seco em vários locais, em regiões

do nordeste e no sul da Amazônia as florestas dominavam associadas a um provável clima

úmido. A partir de aproximadamente 8.000-7.000 anos AP, um clima seco também se

instalou nas regiões nordeste e no sul e centro da Amazônia, modificando a partir de

aproximadamente 4.000-3.000 anos AP para um clima mais úmido em conjunto com

outros locais da região sul.

Esta hipótese poderá ser corroborada com as datações dos carvões encontrados nas

camadas no perfil do solo, mas, os valores dos isótopos de 13

C da MOS sugerem esta

tendência para o local de estudo.

3.6 Resultado das análises isotópicas (13

C) foliares e Carbono total (%)

Os resultados referentes à composição isotópica da vegetação nas áreas da

trincheira, capoeira e machadinha são representados na Tabela 06 e Figuras 13 e 14.

Foram coletadas 26 amostras de plantas, sendo identificadas 7 espécies, 12 gêneros

e as demais não foram identificadas.

22 plantas foram identificadas como de ciclo fotossintético C3, correspondendo a

85% das amostras analisadas, com os valores 13

C variando entre -32 a -24‰, enquanto as

plantas de ciclo fotossintético CAM corresponderam a 15% (n=4) das amostras analisadas,

com valores isotópicos variarando de -12 a -16‰ indicando mistura de plantas CAM

obrigatórias e facultativas (Tabela 6, Figura 14).

O enriquecimento isotópico da MOS em relação a profundidade pode ser explicado

pela alteração ao longo do tempo, da composição isotópica da vegetação como

consequência das variações recentes no conteúdo de 13

C no CO2 atmosférico; uma possível

decomposição diferencial dos componentes bioquímicos das plantas ou ainda, um

fracionamento isotópico durante a mineralização da MOS (DESJARDINS et al., 1996).

Os valores de C-Total apresentaram uma distribuição normal (Figura 13).

84

Tabela 06. Resultados referentes à composição isotópica da vegetação nas áreas da trincheira, capoeira e

machadinha.

Amostra Nome

Popular Nome Científico Família

C Total

Foliar (%)

(δ‰ 13C)

C3/C4

Tvc 1 Alecrim Lantana sp Verbenacaeae. 48,84 -29,02 C3

Tvc 2 Goiabeira Plinia sp Myrtaceae 42,43 -29,35 C3

Tvc 3 Macambira Bromelia laciniosa Bromeliaceae 40,35 -15,54 CAM

Tvc 4 Padaria N.I. N.I. 46,83 -29,58 C3

Tvc 5 Calumbi Mimosa sp Mimosoideae. 42,41 -33,09 C3

Tvc 6 Maria - Mole Guapira sp Nyctaginaceae 48,95 -32,34 C3

Tvc 7 Arapiraca Chloroleucon

dumosum Fabaceae 49,50 -32,14 C3

Tvc 8 Unha - de -

Gato Mimosa sp Mimosoideae 45,57 -32,28 C3

Tvc 9 Licuri Syagrus coronata Arecaceae 43,82 -29,61 C3

Tvc 10 Gramínea Panicum sp Poaceae 42,41 -30,44 C3

Tvc 11 Croatá Neoglaziovia sp Bromeliaceae 44,46 -15,58 CAM

Tvc 12 Fuso N.I. Fabaceae 45,54 -27,82 C3

Tvc 13 Pau - Santo N.I. N.I. 45,46 -31,04 C3

Tvc 14 Caatingueira Caesalpinia piramidalis Caesalpinioideae. 48,27 -27,60 C3

Tvc 15 Icó - Peludo Capparis sp3 Capparaceae 46,42 -31,46 C3

Tvc 16 Rabo – de -

Raposa N.I. Cactaceae 32,80 -12,87 CAM

Tvc 17 Icó - Liso Capparis sp2 Capparaceae 44,83 -31,90 C3

Tvc 18 Pimenta - de -

Galinha N.I. Solanaceae 39,28 -32,58 C3

Tvc 19 Pereiro Aspidospermum

pyrripholium Apocynaceae 43,28 -30,72 C3

Tvc 20 Tingui N.I. Sapindaceae 48,37 -28,39 C3

Tvc 21 Velame -

Cheiroso Croton SP Euphorbiaceae 41,96 -30,95 C3

Tvc 22 Feijão - Brabo Capparis frondosus Capparaceae 47,50 -30,13 C3

Tvc 23 Serraguela N.I. N.I. 42,54 -27,72 C3

Tvc 24 Velame Croton campestris Euphorbiaceae 41,17 -31,64 C3

Tvc 25 Caçatinga -

Preta Croton sp Euphorbiaceae 44,30 -30,61 C3

Tvc 26 Macambira -

Rasteira Bromelia sp2 Bromeliaceae 41,32 -14,46 CAM

N.I. Não identificado.

85

30 32 34 36 38 40 42 44 46 48 50 52

Carbono Total Foliar (%)

0

1

2

3

4

5

6

7

Fre

quen

cia

observ

ada

Figura 13. Distribuição do carbono total foliar de (n = 26) plantas de floresta hipoxerófila, caatinga, sítio

Tanque Velho, Jaguarari – Bahia.

-34 -32 -30 -28 -26 -24 -22 -20 -18 -16 -14 -12

13C (per mil) foliar

0

1

2

3

4

5

6

7

8

9

10

Fre

qu

en

cia

ob

se

rva

d

Figura 14. Distribuição dos valores isotópicos foliares de (n = 26) plantas de floresta hipoxerófila, em uma

área de Caatinga. Sítio Tanque Velho, Jaguarari – Bahia.

86

4. Considerações Finais

Os solos analisados apresentaram textura principalmente franca-arenosa e arenosa.

No perfil do solo da trincheira foi observado valores de pH na faixa de 4,32 a 4,78,

sendo considerado solo ácido, e valores de matéria orgânica que permitem considerá-lo

como horizonte orgânico.

Observou-se um decréscimo da concentração de carbono orgânico total com o

aumento da profundidade nos solos estudados. O solo que apresentou o maior teor de

carbono nas camadas superficiais estava localizado sob capoeira e em uma área mais baixa.

A vegetação amostrada para a área estudada foi composta de 85% de plantas do

ciclo fotossintético C3 e 15% de plantas do ciclo C4.

O solo que apresentou uma maior variação nos valores de 13

C da MOS foi o

encontrado sob vegetação de capoeira, com -27,19‰ na superfície e -24,24‰ na camada

mais profunda. Uma variação de 2,95 unidades de .

O solo que apresentou a segunda maior variação no teor de 13

C da MOS foi o

encontrado sob vegetação de floresta, com -26,74‰ na superfície e -24,70‰ na camada

mais inferior, representando uma variação de 2,04 unidades de 13

C.

Os resultados isotópicos mostram estabilidade vegetacional no local de estudo sem

troca de vegetação. É possível que tenha ocorrido no local, em períodos durante o

Holoceno e presente, a mudança de uma vegetação arbórea menos densa ou mistura de

plantas C3 e CAM com predomínio da primeira, sugerindo que provavelmente durante todo

o Holoceno um clima semelhante ao atual ocorreu na região de Jaguarari.

Possivelmente não houve na região estudada, modificação acentuada na vegetação

no Holoceno. Mesmo durante os períodos mais secos no continente, quando os

ecossistemas de cerrado e o sul da Amazônia abriram (Pessenda et al., 1998a, Gouveia

2000), na região de Jaguarari a cobertura vegetal permaneceu estável.

A razão isotópica 13

C mostra-se eficiente na caracterização de ocorrências de

mudanças de vegetações e, associada à datação radiocarbônica, mais eficaz nos estudos

paleoambientais.

87

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91

Capítulo 3. Considerações Finais

92

1. Foram descritas pela primeira vez, para o municipio de Jaguarari – BA, a ocorrência de

seis espécies de mamíferos pleistocênicos: Eremotherium laurillardi; Notiomastodon

platensis; Panochthus greslebini; Equus (Amerhippus) neogeus; Toxodontinae; Felidae.

2. A partir do conjunto fossilífero estudado, sugere-se condições ambientais semelhantes

àquelas inferidas por Cartelle (1999) para o Pleistoceno do Brasil Intertropical Extra-

Amazônico.

3. Durante o Pleistoceno final - Holoceno, a região de Jaguarari compreenderia áreas

abertas de savana associadas, possivelmente, com fisionomias mais fechadas, tipo

florestas.

4. A vegetação amostrada para a área estudada foi composta de 85% de plantas do ciclo

fotossintético C3 (vegetação de floresta) e 15% de plantas do ciclo C4 (vegetação de

campo).

5. A matéria orgânica do solo encontrada nas áreas estudadas sugere estabilidade

vegetacional, sem troca de vegetação, podendo ter ocorrido no local, em períodos

passados, uma vegetação arbórea menos densa ou mistura de plantas C3 e C4, com

predomínio da primeira.

6. Provavelmente no Holoceno, um clima semelhante ao atual ocorreu na região de

Jaguarari.

7. Na região estudada, possivelmente, não houve modificação acentuada na vegetação no

médio Holoceno, quando do estabelecimento de períodos mais secos, permanecendo com

áreas de vegetação de floresta.

8. A Educação Patrimonial, no presente trabalho, mostrou-se um instrumento capaz de

fornecer informações sobre patrimônio, noções de conservação, leis que normatizam estas

práticas, sanções legais previstas, como também, proporcionar a construção de novos

conceitos e uma aprendizagem significativa.

9. Recomenda-se, a aplicação Trabalhos de Educação Patrimonial em sítios de ocorrência

de fósseis, para subsidiar ações de conservação nos locais.

93

Apêndice

94

Educação Patrimonial como instrumento de conservação de um afloramento

fossilífero numa área de Caatinga1

Resumo

Os fósseis são importantes registros de restos de animais ou de vegetais pretéritos e de suas

atividades que se conservam nas rochas. Contudo, nem sempre recebem o tratamento

adequado, sendo manipulados de forma indevida ocasionando a perda de informações que

poderiam auxiliar nas interpretações ambientais. O presente trabalho teve como objetivo

discutir com os moradores do povoado Lajedo II, no município de Jaguarari, microrregião

de Senhor do Bonfim-BA a noção de patrimônio, a importância de se preservar o material

fossilífero, bem como as medidas que estes podem vir a tomar, quando da descoberta de

novos achados. Os resultados obtidos apontam a mudança de conceitos dos moradores e a

adoção de práticas que visam à conservação dos fósseis encontrados no afloramento

fossilífero tipo tanque numa área de Caatinga.

Resumen

Los fósiles son importantes registros de restos animales o vegetales pretéritos, y de sus

actividades que se conservan en rocas. Sin embargo, no siempre reciben el tratamiento

adecuado, siendo manipulados de forma indebida ocasionando la perdida de información

que podrían auxiliar en las interpretaciones ambientales. El presente trabajo tuvo como

objetivo discutir con los residentes del poblado Lajeado II, en el municipio de Jaguarari,

microrregión de Senhor do Bomfim-BA la noción de patrimonio, la importancia de

preservar el material fosilífero, también los cuidados a tomar en caso nuevos

descubrimientos. Los resultados obtenidos apuntan a un cambio de concepto de los mismos

y la adopción de prácticas que visan la conservación de los fósiles encontrados en los

afloramientos fosilíferos del tipo tanque en la región de Caatinga.

Palavras-chave: Conservação, Educação Patrimonial, Caatinga.

1 Artigo publicado nos Anais do V Colóquio Internacional “Educação e Contemporaneidade”, setembro de

2011.

95

1. Introdução

Este trabalho é resultado de algumas atividades desenvolvidas durante o processo de

escavação de um afloramento fossilífero tipo tanque numa área de Caatinga, para coleta de

fósseis e fará parte da dissertação de mestrado da autora, compondo um dos capítulos

voltados para a Educação.

O desenvolvimento de atividades voltadas para o ensino de Educação Patrimonial

surgiu da necessidade de fornecer subsídios para a implementação de ações de conservação

dos fósseis encontrados no tanque Lajedo II, povoado Lajedo II, localizado no município

de Jaguarari, que compõe a microrregião de Senhor do Bonfim – BA.

Nesta área, fósseis de mamíferos neopleistocênicos foram removidos do sítio

paleontológico ao longo de alguns anos sem nenhum critério científico, e transportados

sem registro há outras localidades, dificultando hoje trabalhos que visam identificar esta

fauna, bem como fazer a reconstrução paleoambiental da área.

Essa prática é prejudicial ao desenvolvimento de uma pesquisa mais sistemática, pois

impossibilita a datação do material, um estudo tafonômico mais elaborado e até mesmo,

identificação da flora existente na época, que mesmo não estando presente, pode ser

estudada pela presença dos pólens encontrados junto ao material sedimentar.

A promoção da descontextualizando dos achados se deu a partir de descoberta

acidental, quando moradores do povoado na tentativa de aumentar a capacidade de

armazenamento de água do tanque, ao fazer a limpeza do material sedimentar que este

continha, localizou os fósseis nas camadas mais profundas.

Após a remoção dos fragmentos fossilíferos do tanque, moradores locais, bem como

curiosos recém - chegados, atraídos pela “novidade” se apropriaram de partes de fosseis

retendo-os para si e dispersando de maneira irreversível, o material que deveria ser objeto

de estudo, preservação e educação das gerações futuras.

Por desconhecimento da importância histórica e cultural do material estes foram

manipulados indevidamente e importantes informações paleontológicas foram perdidas.

Desta forma, o presente trabalho teve como objetivo discutir com a população a noção

de patrimônio; discutir a importância de se preservar o material fossilífero, bem como as

medidas que eles podem vir a tomar, quando da descoberta de novos achados.

96

Para alcançar tais objetivos, foi ministrada uma palestra, exposição de um

documentário mostrando os animais inseridos nos seus habitas e a realização de uma

oficina com a confecção, em massa de modelar, de miniaturas das espécies estudadas.

1.1. Um pouco de paleontologia

A paleontologia (gr. Palaios = antigo + ontos = ser + logos = estudo) pode ser definida

como a ciência que estuda os fósseis, isto é, restos ou vestígios de animais ou de vegetais

que viveram antes dos tempos históricos e que se conservam nas rochas (MENDES, 1977).

A palavra fóssil deriva do termo “fossilis” referido pela primeira vez por Plínio (séc. I

a.C), a sua raiz “fossus”, particípio passado de “foldere” (cavar), significa literalmente “o

que se extrai cavando” (CACHÃO, 2005).

Esta terminologia ainda hoje é utilizada e compreende os restos de organismos como

ossos e dentes, tecidos moles, estruturas biogênicas formados à partir das atividades dos

seres quando vivos, como por exemplo pegadas, perfurações, escavações, coprólitos, ovos

e gastrólitos (TIMM; KISCHLAT, 2005).

A paleontologia é considerada como ciência só a partir do século XIX, mas estudos e

observações paleontológicas não são recentes, podendo ser observadas interpretações

desde a antiguidade clássica, onde os filósofos utilizavam os fósseis para obter as

informações que precisavam (MENDES, 1977).

Hoje é sabido que o clima é um fator que atua diretamente no processo de fossilização

e este é sem dúvidas, um dos condicionantes que mais influenciam o ambiente. O clima

pode permanecer mais estável ou variar com o tempo, e exerce influência na distribuição

geográfica e diversificação dos organismos (MENDES, 1988).

Com a instalação de climas mais secos ou, mesmo, áridos, houve, ainda no Pleistoceno

ou talvez já no sub-Recente, profunda modificação na geografia regional, com o

desaparecimento de tais lagoas e entulhamentos das respectivas bacias (AB’SABER,

1956).

De acordo com Souza-Cunha (1966) o termo cacimba não é propriamente um

acidente natural e sim, resultado do trabalho humano, geralmente de escavações no fundo

seco de antigas lagoas que ocupavam depressões topográficas naturais do terreno; e tanque,

seria o resultado de estruturas resultantes de fendas naturais, em rochas cristalinas, de

paredes íngremes e de contorno elíptico.

97

Neste trabalho, o afloramento fossilífero encontrado no povoado Lajedo II trata-se

de um tanque (Figura 01).

Sendo que os restos esqueletais cranianos e pós-cranianos encontrados no local de

estudo são atribuídos a megafauna, que segundo Bergqvist (2002) a definição mais

apropriada para mamíferos fósseis seria: todos aqueles Sinapsidas cuja articulação entre o

crânio e a mandíbula é feita pelos ossos escamosal e dentário.

Embora os ossos craniais sejam de difícil conservação, pois são muito frágeis e se

quebram com facilidade, com algumas exceções encontra-se um crânio inteiro, resta

classificá-los baseados em outras características.

Também é possível Identificar os mamíferos por meio de seus outros ossos, tais como

os ossos longos, que são bem característicos ao grupo, as vértebras, como também a sua

dentição. A identificação por meio destes outros materiais é bastante eficiente, pois ossos

longos, vértebras e dentes abundam nos registros fossilíferos, haja vista, são formados por

partes duras onde a sua fossilização é possível e fica-se preservado por mais tempo

(PAULA-COUTO, 1979).

1.2. Patrimônio e Educação Patrimonial

Conceito de patrimônio normalmente está relacionado com a herança paterna, ou seja,

aos bens materiais transmitidos de pai para filho. A extensão do seu uso tutela e protege

antiguidades nacionais às quais era atribuído significado para a história da nação

(TEIXEIRA et al., 2004, p. 02).

Embora o uso deste termo tenha sido ampliado, geralmente está relacionado aos bens

culturais de um povo, associado às produções humanas, não apenas os bens imóveis, mas

também os bens móveis, tais como acervos de museus e documentos textuais (TEIXEIRA

et al., 2004, p. 02).

Extrapolando um pouco este conceito, os achados paleontológicos são considerados

como patrimônio nacional, uma vez que para regulamentar as questões do patrimônio

brasileiro no que se refere aos fósseis, foram criados uma série de leis, decretos-leis e

portarias para assegurar a proteção destes (BRASIL, 1988).

Para tanto, na Constituição da Republica Federativa do Brasil quando da sua

promulgação em 1988, foi criado um capitulo próprio no que se refere ao Meio Ambiente e

em 12.02.1998, dez anos depois, foi aprovada a Lei 9605 – Lei de Crimes Ambientais, que

98

dispõe sobre as sanções penais e administrativas aplicáveis às condutas e atividades lesivas

ao meio ambiente.

Esta lei é influente por:

representar significativo avanço na tutela do ambiente, pro inaugurar uma

sistematização das sanções administrativas e por tipificar organicamente os

crimes ecológicos” (BOCCASIUS-SIQUEIRA, 2002).

Os artigos 20º, 23º e 24º da Constituição de 1988 indicam que os fósseis são bens da

União e que o estado é responsável na defesa do patrimônio natural do país. Os jazidos

fossilíferos são enquadrados como bens da União disposto nos incisos I, IX e X do artigo

20º.

Como conceito de registro de vida do passado, preservado graças a um processo de

mineralização, pode-se enquadrar os fósseis no inciso IX e /ou X deste mesmo artigo:

Artigo 20º. São bens da União:

I - os que atualmente lhe pertencem e os que lhe vieram a ser atribuídos;IX - os

recursos minerais, inclusive os do subsolo; X - as cavidades naturais

subterrâneas e os sítios arqueológicos e pré-históricos.

Artigo 23º. É competência comum da União, dos Estados, do Distrito Federal e

dos Municípios: III - proteger os documentos, as obras e outros bens de valor

histórico, artístico e cultural, os monumentos, as paisagens notáveis e os sítios

arqueológicos; IV - impedir a evasão, a destruição e descaracterização de obras

de arte e de outros bens de valor histórico, artístico e cultural;

Artigo 24º. Compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal legislar

corretamente sobre: VII - proteção ao patrimônio histórico, cultural, turístico e

paisagístico; VIII - responsabilidade por dano ao meio ambiente, ao consumidor,

a bens e direitos de valor artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico.

Artigo 216º. Constitui patrimônio cultural brasileiro os bens de natureza material

e imaterial, tomados individualmente ou em conjunto, portadores de referência à

identidade, à ação, à memória dos diferentes grupos formadores da sociedade

brasileira, nos quais se incluem: V - os conjuntos urbanos e sítios de valor

histórico, paisagístico, artístico, arqueológico, paleontológico, ecológico e

científico (BRASIL, 1988).

Diante do exposto, é notório que os estudos e as atividades que envolvam os fósseis

devem ser realizados por um paleontólogo, que são profissionais preparados a

desenvolverem a atividade específica de intervenção. Estas ações podem ser de caráter

científico, educacional e cultural, sendo reguladas nas conformidades e requisitos

estabelecidos por leis próprias e ligada a instituições sérias de pesquisa.

No tocante à Educação Patrimonial, estes profissionais devem promover um ensino

(formal e não formal) que possibilite a construção de conceitos e práticas que visem à

preservação e conservação do material fóssil.

99

O que nos faz pensar que “A prática educativa exige comunicação em múltiplas

linguagens e, também, exige a competência de conhecer a multiplicidade de significados

de significações dessas linguagens (FREIRE, 2001)”.

Podendo assim, evitar uma exploração geradora de impactos e em desacordo com a

legislação vigente ou com as técnicas que são indispensáveis para um melhor

aproveitamento das informações.

Em se tratando de fósseis é considerado impacto toda extração ilegal, feita de forma

não criteriosa realizada por pessoas não capacitadas, tratamento inapropriado das peças e

acondicionamento irregular do material.

Onde a Lei nº 9.605 de 12 de fevereiro de 1998 prevê sanções para crimes ambientais,

protegendo assim, o patrimônio natural:

Seção III. Da Poluição e outros Crimes Ambientais.

Artigo 55º. Executar pesquisa, lavra ou extração de recursos minerais sem a

competente autorização, permissão, concessão ou licença, ou em desacordo com

a obtida. Pena: detenção, de seis meses a um ano, e multa (BRASIL, 1998).

2. Metodologia

A escavação paleontológica no sítio Lajedo II ocorreu nos dias 17 a 21 de Janeiro de

2011. Esta tinha como objetivo o resgate de ossadas de mamíferos neopleistocênicos

encontrados no interior do tanque, como também, fragmentos localizados no entorno deste.

Os moradores do povoado haviam sido informados uma semana antes, que durante os

próximos dias, trabalhos paleontológicos de cunho científico estariam acontecendo.

Na data acima citada, antes de dar início aos trabalhos de escavação, a população do

povoado Lajedo II foi reunida em frente à casa de uma moradora e em seguida,

apresentado o plano de trabalho que seria desenvolvido ao longo da semana.

No primeiro e segundo dia, ao longo dos trabalhos de escavação, sem a presença de

questionários, algumas perguntas foram feitas aos moradores buscando perceber o nível de

entendimento que eles tinham sobre o que estudava a paleontologia, o que eram os fósseis

ali encontrados, que espécies animais eles achavam que pertenciam às ossadas, e quais os

cuidados que eles deveriam ter para salvaguardar estes achados.

100

Embora não tenha sido aplicado questionário, as perguntas dirigidas aos morados

haviam sido elaboradas com antecedência, buscando integrar os novos conhecimentos de

Ensino de Ciências e Paleontologia; Educação Patrimonial; Aprendizagem Significativa e

Novas Tecnologias.

Para tanto, foram utilizadas como referencias livros, artigos científicos nos temas de

interesse, revistas, leituras e informações sobre a história do município de Jaguarari – BA e

sobre o povoado Lajedo II.

O método utilizado na obtenção dos dados foi a pesquisa qualitativa, pois esta tem

como objetivo verificar a eficiência dos questionamentos como forma de compreensão

particular do objeto de estudo (MARTINS; BICUDO, 1989). Optou-se por não aplicar

questionário na tentativa de não coibir e influenciar as respostas dos moradores, como

também, por acreditar que perguntas feitas de forma informal, poderiam facilitar as

respostas e aproximá-los da pesquisadora.

Ao término do segundo dia, novamente os moradores foram reunidos. Foram

mostradas algumas imagens dos animais que existiram na região no período pleistocênico e

algumas informações fornecidas, tais como a ecologia destes.

Estas informações foram antecipadas, pois, estes estavam bastante curiosos em relação

ao conteúdo da palestra do dia seguinte, como também, bastante surpresos com tudo que já

tinha sido dito sobre os achados que estavam acontecendo durante as escavações.

À medida que os fragmentos fósseis eram resgatados, informações sobre as peças

eram passadas, tais como, a que possível animal pertencia, o tamanho apresentado, o

habito alimentar que possuíam. Sempre ressaltando que, dados conclusivos só seriam

obtidos quando estas informações fossem confrontadas com as existentes na literatura

especializada.

No terceiro dia de escavação, os trabalhos foram encerrados mais cedo e a população

do povoado foi reunida em frente casa de uma moradora, a fim de assistirem a uma

palestra sobre a Megafauna Pleistocênica e Educação Patrimonial. Com o auxilio de um

DataShow a palestra desenvolvida utilizando-se o software da Microsoft – PowerPoint,

versão 2007 foi projetada na parede da casa. A palestra continha hipertextos apresentando

figuras estáticas e animadas, como também um pequeno documentário mostrando uma

reconstrução destes animais em seus habitats.

101

A palestra contou com a presença dos representantes oficiais da Secretaria do Meio

Ambiente do município de Jaguarari - BA, sendo o Secretário e Diretores do Meio

Ambiente, como também, com a presença dos Líderes Comunitários do povoado Lajedo II.

No quarto dia, foi ministrada uma oficina para que eles confeccionassem utilizando

massa de modelar, os animais que mais tinham chamado a atenção. Eles poderiam utilizar

como referencia tanto as imagens projetadas durante a palestra, quanto os animais que

apareceram no vídeo. Embora esta prática fosse destinada as crianças, houve a participação

da maioria dos adultos presentes no local.

À medida que estes iam confeccionando seu animal, eles estavam sendo entrevistados

sobre as impressões da palestra do dia anterior e de todas as atividades que estava

acontecendo ao longo dos dias e questionados sobre a escolha do animal. Todas as

perguntas e respostas foram filmadas com o auxilio de uma câmera filmadora digital.

Quando todos os moradores participantes na oficina terminaram de confeccionar seu

animal, houve uma votação para escolher quais as três melhores produções. Em seguida

foi realizada uma premiação simbólica do primeiro, segundo e terceiro colocado (Figura

02).

Ao término das escavações no quinto dia, cada morador envolvido nos trabalhos de

escavação e nas atividades desenvolvidas ao longo da semana, foi entrevistado de forma

individual e perguntado sobre as impressões que tiveram e se tinham sugestões para

trabalhos futuros.

Durante os cinco dias de atividades desenvolvidas no povoado, tanto atividades mais

técnicas (escavações realizadas dentro do tanque e na sua área de entorno e palestra),

quanto à atividade lúdica (oficina), foram filmadas para composição de um documentário e

fotografadas para uma exposição.

O documentário bem como a exposição das fotos das atividades realizadas, ainda será

produzido.

3. Resultados e Discussão

Os resultados das atividades de Educação Patrimonial foram satisfatórios, pois ao

término dos trabalhos pôde-se perceber que os moradores do povoado Lajedo II haviam

modificado e adquirido novos conceitos sobre os temas discutidos.

102

O ato pedagógico pode, então, ser definido como uma atividade sistemática de

interação entre seres sociais, tanto no nível do intrapessoal como no nível da

influencia do meio, interação essa que se configura numa ação exercida sobre

sujeitos visando provocar neles mudanças tão eficazes que os tornem elementos

alvos desta própria ação exercida (ARANHA, 1996).

Esta aquisição de novos conceitos foi perceptível quando novamente perguntados

sobre os temas, os moradores já apresentavam resposta com os conteúdos abordados nas

atividades desenvolvidas.

Foram repetidas as mesmas perguntas, tais como: “O que são fósseis?”, “Qual o

processo de formação dos fósseis?”, “Que medidas podem ser tomadas para que haja

conservação dos fósseis como do sítio paleontológico que eles estão inseridos?”,

“Sabendo que eles são considerados patrimônio, podem ser comercializados”, “Quando

novas descobertas na região fossem realizadas, que tipo de atitude eles deveriam tomar?”.

Ficou evidenciada também, uma aprendizagem significativa, quando os participantes

deram abertamente suas opiniões sobre o objeto de estudo e a partir de suas respostas,

pode-se perceber que estas validavam a metodologia proposta.

Esta mudança de conceitos e atitude vista nos moradores é resultado da total

integração nas atividades. Os participantes se mostraram interessados em todo o momento,

tanto em atuar ativamente na escavação, na coleta dos fósseis, quanto nas atividades

voltadas para Educação Patrimonial.

Durante a palestra se mantiveram atentos o tempo inteiro, tecendo entre si comentários

sobre tudo que foi visto. Mostraram-se surpresos ao ver as imagens dos animais, como

também em saber do tamanho que eles apresentavam.

E ficaram curiosos ao perceber que na região existiram animais tão diferentes do que

existe hoje, principalmente descobrir a presença de alguns que hoje só existem em regiões

mais frias.

Assim, ficaram evidentes as mudanças que a região sofreu, porque foi possível a

formação dos fósseis naquela área, porque estes podem ser encontrados nos dias de hoje, e

a necessidade de conservação destes achados.

Estes puderam concluir que dificilmente as condições que originaram os fósseis da

megafauna neopleistocênica naquele sítio serão repetidas em outro lugar, e que os animais

que ali são encontrados, guardam informações particulares que precisam ser estudadas,

para possibilitar o entendimento das mudanças ocorridas na região.

103

Lamentaram profundamente o desconhecimento dos fósseis enquanto patrimônio e da

sua importância para os estudos de paleontologia, e afirmaram que se fosse sabido na

época dos achados o que eles sabiam hoje, não só não teriam deixados que curiosos

levassem o material, como também, teriam dado um tratamento diferente as peças.

Sabendo destas singularidades, tinham consciência da necessidade de proteção do

sítio, bem como as medidas que poderiam tomar, quando da descoberta de novos sítios,

haja vista, a região ser rica em afloramentos fossilíferos.

Uma das atitudes informadas foi procurar a Secretária do Meio Ambiente no

município de Jaguarari - BA, onde esta entraria em contato com os profissionais

competentes em estudá-los; como também, estes se dirigissem a universidade mais

próxima, sendo a Universidade do Estado da Bahia – UNEB Campus VII, procurando a

responsável pelo Laboratório de Arqueologia e Paleontologia – LAPUNEB, até mesmo,

informarem a pesquisadora autora do presente trabalho.

Estas medidas deverão ser adotas sempre que novos achados forem realizados, e que

jamais estes comercializassem as peças, pois irão incorrer em um crime ambiental e serão

penalizados por esta prática.

Um dos resultados observações que mais chamou atenção foi em relação valorização

do povoado. Os moradores sentiram-se privilegiados em relação à pesquisa e mostraram

profundo interesse em conservar o local, pois perceberam mais que a importância do

material histórico ali contido, a construção de uma identidade local.

Durante os trabalhos houve uma integração muito forte entre a pesquisadora e os

moradores, mas, mais ainda entre os próprios moradores, que incentivados com as

descobertas, traçavam metas e formas de organização para manter os ensinamentos

adquiridos presente no seu cotidiano.

Foi percebido o interesse em algumas crianças de aprofundar os estudos em

paleontologia quando chegassem à universidade.

Também foram desconstruídos alguns conceitos errôneos que haviam sido passados

aos moradores. Para estes, as ossadas ali encontradas eram pertencentes aos dinossauros.

Durante a palestra e conversas informais foi explicada a diferença entre os dinossauros e os

mamíferos ali encontrados, como também a diferenças entre os períodos geológicos que

cada espécie estava situada.

104

Outro conceito equivocado que estes possuíam, era que os fósseis possuíam

propriedades medicinais e que desta forma, podiam se utilizados na produção de

medicamentos naturais ou tivessem qualquer propriedade curativa.

Durante a oficina, os moradores mostraram-se mais falantes, até porque, já se sentiam

mais seguros quanto aos assuntos abordados, e através desta, puderam expressar suas

observações.

Chamaram a atenção algumas miniaturas confeccionadas por eles. Em uma delas foi

representado um carnívoro predando um herbívoro mostrando a compreensão da interação

presa/predador. Em outras, ficou evidenciado a estrutura corporal, e até o comportamento,

onde foi representado como o animal se mantinha em pé como forma de afugentar

predadores.

4. Considerações Finais

Com base no que foi exposto, fica evidente que trabalhos de Educação Patrimonial

precisam ser realizados em sítios de ocorrência de fósseis, para subsidiar ações de

conservação nos locais.

Estas ações serão possíveis e mais eficazes, quando as informações disponibilizadas

aos moradores de cada região, forem postas em práticas, uma vez, serem eles, geralmente,

as primeiras pessoas a ter contato com os fósseis.

Desta forma, é necessário que o conhecimento seja passado de forma clara e objetiva,

buscando a compreensão de todos, aproximando-os do meio científico e fazendo parcerias

com estes.

Assim, a Educação Patrimonial é um instrumento capaz de fornecer informações sobre

patrimônio, noções de conservação, leis que normatizam estas práticas, as sanções legais

previstas, como também, proporcionar a construção de novos conceitos e uma

aprendizagem significativa.

Os fósseis coletados da megafauna neopleistocênica no povoado Lajedo II, município

de Jaguarari, na microrregião de Senhor do Bonfim – BA, serão depositados e integrarão a

Coleção Didática do Laboratório de Arqueologia e Paleontologia da Universidade do

Estado da Bahia – Campus VII.

105

5. Agradecimentos

Sou especialmente agradecida aos moradores do povoado de Lajedo II pelo carinho e

total participação nas atividades, onde sem eles este trabalho não seria possível; ao

Secretário do Meio Ambiente do município de Jaguarari- BA, Antônio Marcos Gomes do

Nascimento pelo apoio logístico; a Glécia Gama pelo acolhimento; a Robson Marques pelo

auxílio nas atividades em campo, incentivo e apoio durante todo o processo; a Juan Pedro

pelo apoio irrestrito; ao CNPq pela bolsa de fomento à pesquisa.

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Figura 01. Tanque do Sítio Lajedo II, no povoado de Lajedo II, município de Jaguarari -

BA. (Foto: Márcia Xavier, 2011).

107

Figura 02. Miniaturas feitas em massa de modelar, confeccionadas pelos moradores do

povoado Lajedo II durante a oficina ministrada. A - miniaturas sendo entregues para

votação. B - votação das três melhores miniaturas. (Fotos: Márcia Xavier, 2011).

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Anexo

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