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Universidade Estadual Montes Claros UNIMONTES MONTES CLAROS - MG, 22 a 25 de novembro de 2017. 1 MERCADOS DE COMMODITIES AGRÍCOLAS E EXPORTAÇÕES DE SOJA NO CENÁRIO MUNDIAL Luiz Andrei Gonçalves Pereira Universidade Estadual de Montes Claros UNIMONTES E-mail: <[email protected]>. Igor José Ferreira dos Santos Universidade Estadual de Montes Claros UNIMONTES E-mail: <[email protected]>. Resumo No comércio global, o setor de commodities agrícolas tem atendido as demandas de diversos agentes econômicos, localizados em mercados diversos no cenário mundial, para a indústria de transformação, de alimentação e de geração de (bio)energia. O objetivo deste artigo é fazer uma análise dos mercados de commodities agrícolas através da representação dos fluxos comerciais de exportações de soja em um cenário global, no período de 2001 a 2014. Os procedimentos metodológicos adotados foram à revisão de literatura, a coleta e a análise de dados secundários disponibilizados por instituições supranacionais. Nos mercados de commodities agrícolas, a soja apresenta uma participação relevante nas pautas de exportações, tendo como maiores produtores e exportadores os Estados Unidos, o Brasil e a Argentina. Palavra-chave: Commodities agrícolas. Exportações. Soja. Abstract In global trade, the agricultural commodities sector has responded to the demands of various economic agents, located in diverse markets on the world stage, for the transformation, food and bio-energy generation industries. The objective of this article is to analyze the agricultural commodity markets through the representation of commercial flows of soybean exports in a global scenario, from 2001 to 2016. The methodological procedures adopted were literature review, collection and analysis secondary data provided by supranational institutions. In the agricultural commodity markets, soybeans show a relevant participation in export patterns, with the United States, Brazil and Argentina being the largest producers and exporters. Keyword: Agricultural commodities. Exports. Soybean. INTRODUÇÃO Os estudos acerca do comércio global são importantes para compreender as dinâmicas socioeconômicas das atividades produtivas e dos fluxos comerciais de bens e

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Universidade Estadual Montes Claros – UNIMONTES – MONTES CLAROS - MG, 22 a 25 de novembro de 2017. 1

MERCADOS DE COMMODITIES AGRÍCOLAS E EXPORTAÇÕES

DE SOJA NO CENÁRIO MUNDIAL

Luiz Andrei Gonçalves Pereira

Universidade Estadual de Montes Claros – UNIMONTES

E-mail: <[email protected]>.

Igor José Ferreira dos Santos

Universidade Estadual de Montes Claros – UNIMONTES

E-mail: <[email protected]>.

Resumo

No comércio global, o setor de commodities agrícolas tem atendido as demandas de

diversos agentes econômicos, localizados em mercados diversos no cenário mundial,

para a indústria de transformação, de alimentação e de geração de (bio)energia. O

objetivo deste artigo é fazer uma análise dos mercados de commodities agrícolas através

da representação dos fluxos comerciais de exportações de soja em um cenário global, no

período de 2001 a 2014. Os procedimentos metodológicos adotados foram à revisão de

literatura, a coleta e a análise de dados secundários disponibilizados por instituições

supranacionais. Nos mercados de commodities agrícolas, a soja apresenta uma

participação relevante nas pautas de exportações, tendo como maiores produtores e

exportadores os Estados Unidos, o Brasil e a Argentina.

Palavra-chave: Commodities agrícolas. Exportações. Soja.

Abstract

In global trade, the agricultural commodities sector has responded to the demands of

various economic agents, located in diverse markets on the world stage, for the

transformation, food and bio-energy generation industries. The objective of this article

is to analyze the agricultural commodity markets through the representation of

commercial flows of soybean exports in a global scenario, from 2001 to 2016. The

methodological procedures adopted were literature review, collection and analysis

secondary data provided by supranational institutions. In the agricultural commodity

markets, soybeans show a relevant participation in export patterns, with the United

States, Brazil and Argentina being the largest producers and exporters.

Keyword: Agricultural commodities. Exports. Soybean.

INTRODUÇÃO

Os estudos acerca do comércio global são importantes para compreender as

dinâmicas socioeconômicas das atividades produtivas e dos fluxos comerciais de bens e

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serviços entre os diversos agentes econômicos localizados em diversos espaços no

mundo. E pesquisar a complexidade dos mercados de commodities é desafio devido à

volatilidade, que geralmente resulta em riscos por causa das flutuações no processo de

comercialização, em momentos de alta e de baixa nos preços, nos setores componentes

das cadeias produtivas do agronegócio.

Nos fluxos de mercadorias, o setor de commodities agrícolas tem atendido

as demandas, principalmente dos setores alimentícios – incluindo a alimentação de seres

humanos e de animais – e também os setores de geração de (bio)energia. Nesse

contexto, as exportações de soja atendem as demandas dos setores supracitados. Este

trabalho apresenta o seguinte problema de estudo: como as exportações de soja estão

organizadas nos fluxos globais do mercado de commodities agrícolas? O objetivo é

analisar os mercados de commodities agrícolas através da representação dos fluxos

comerciais de exportações de soja em um cenário global, no período de 2001 a 2014.

Ao considerar os procedimentos metodológicos, em um primeiro momento,

focou-se na revisão de literatura para sustentar a discussão teórico-conceitual. Em um

segundo momento, definiu o setor de exportação de soja através da classificação

internacional do Sistema Harmonizado – SH4, código 1201, produto especificado como

“soja mesmo triturada”. Desta forma, levantou-se na plataforma do Internacional Trade

Centre – ITC/Trade Map, os dados dos maiores mercados importadores de soja, que

geram as demandas. Na sequência identificou-se as exportações em quantidade medidas

por toneladas para explicar a dinâmica das exportações de soja, bem como dos países

que os agentes econômicos mais produzem soja no mundo através de dados

disponibilizados na plataforma da Organização das Nações Unidas para Alimentação e

Agricultura – FAO. No processo de organização e de publicação desses dados, utilizou-

se o software Excel 2007 e ARCGIS 9.3 para confeccionar gráficos e mapas temáticos,

principalmente na representação espacial dos mercados.

Os mercados de commodities agrícolas

Na ciência geográfica, o desenvolvimento de estudos acerca dos mercados

de matéria-prima e de produtos com baixo valor agregado contribui para a compreensão

da dinâmica econômica do funcionamento dos mercados de commodities agrícolas, nas

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quais se destacam os grãos subdivididos em arroz, trigo, cevada, milho, sorgo, feijão e

soja, formando-se a base na estrutura das cadeias produtivas do agronegócio. Para

Grynszpan (2012), a agricultura é operacionalizada por atividades relacionadas aos

negócios dentro e fora da fazenda, na medida em que existe a interdependência nas

articulações entre a produção de insumo, as linhas de financiamento, o transporte, a

armazenagem e a distribuição de produtos. Essas inter-relações envolvem a participação

dos fazendeiros, empregados, fornecedores de produtos e de serviços ao longo da cadeia

de produção, de comercialização e de entrega dos produtos.

No funcionamento do mercado de commodities, segundo Freitas e Sáfadi

(2015), as atividades agropecuárias estão sujeitas a volatilidades econômicas com

características expressas nas flutuações de preços e nos riscos ligados, principalmente,

aos fatores edafoclimáticos. O cenário de variações nos preços deixam os

agropecuaristas em uma situação de incertezas, quando se fala em preços futuros de

seus produtos e que podem ter movimentos de baixa ou de alta, porém na maioria das

vezes, as flutuações resultam em baixas nos preços.

A volatilidade nos mercados de produtos agropecuários ocorre a partir de

variações no clima, na instabilidade política, no surgimento de doenças, nos efeitos do

sistema financeiro, nas mudanças governamentais na estrutura de preços, no

desiquilíbrio na inter-relação oferta e demanda e na sazonalidade dos preços ligada à

produção. A agropecuária é geradora de insumos para as cadeias produtivas, os seus

produtos são vendidos na forma in natura e/ou com pouca transformação pela atividade

industrial, por isso são comercializados em grandes quantidades em bolsas de

mercadorias (CONTE; CORONEL; AMORIM, 2016). A composição do segmento de

commodities é bastante complexo devido às mudanças que ocorrem na estrutura de

produção e de comercialização em mercados físicos e em mercados futuros. O que são

as commodities?

Entende-se por commodities aqueles produtos genéricos que não apresentam

transformações, circunscrevendo-se as matérias-primas. Esses bens primários não

apresentam diferenças na estrutura de produção, possuem uma comercialização genérica

e sem marca específica que agrega valor ao produto (MORALES, 2008). Na concepção

de Sinnott, Nash e Torre (2010), as commodities são caracterizadas pela

comercialização de produtos sem marca, a granel (carga solta que não usa embalagem) e

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com pouco grau de processamento, não apresentando uma diferenciação qualitativa para

os compradores no mercado global.

Na composição dos grupos de produtos ligados ao setor de commodities,

Sinnott, Nash e Torre (2010) trabalham com dois grupos, um grupo formado pelos

recursos naturais que são os minérios, o petróleo e gás; o segundo grupo constituído de

bens produzidos a partir dos recursos naturais – por exemplo: solo e água – como é o

caso dos produtos agropecuários. Para Conte, Coronel e Amorim (2016), os principais

produtos que compõem o setor de commodities agrícolas no mercado global são: trigo,

soja, milho, café, algodão, bovinos, açúcar e etanol.

A produção e a comercialização das commodities, inclusa agropecuária,

estão atreladas ao mercado financeiro. Segundo Morales (2008), as commodities são

comercializadas nos mercados através de contratos e de opções futuras como forma de

administrar os riscos financeiros para garantia dos preços mínimos de venda e também

estabelecer margens de rentabilidade, uma vez que acabam mantendo relações entre os

bens e os serviços, principalmente os serviços financeiros. Qualquer mercadoria pode

ser considerada uma commoditie a partir do momento que o seu ativo pode

comercializado em contratos futuros e/ou em uma bolsa de valores. As commodities e

os instrumentos financeiros são interligados nas práticas de comercialização de bens

primários para atender as demandas das cadeias produtivas.

Nos mercados de produtos agrícolas, Oliveira (2016) apresenta uma

discussão relevante para a compreensão da agricultura estruturada em uma tríade que

faz parte do capitalismo monopolista mundializado através de: 1º) a produção do campo

é transformada em commodities para ser comercializada no mercado mundial,

independente do local de produção e sendo consumida pela população que tem dinheiro

para comprá-la. 2º) A regulação dos preços mundiais das commodities pelas bolsas de

mercadorias e futuros. O foco é o grupo Chicago Mercantile Exchange – CME, do qual

faz parte a bolsa de Chicago – localizada nos Estados Unidos –, que controla e forma a

base de preços mundiais de milho, soja, farelo de soja, trigo, óleo de soja, arroz, aveia,

carne suína, carne bovina, ovos, dentre outros. 3º) As empresas monopolistas

multinacionais que através de ações de suas matrizes e de suas filiais controlam também

a produção mundial de alimentos, inclusive articulando com as empresas concorrentes,

destacando-se as empresas norte-americanas Cargill e Archer Daniels Midland – ADM,

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a empresa holandesa Bunge (com sede em Nova Iorque) e a empresa francesa Louis

Dreyfus (com sede em Amsterdam). Elas atuam na produção, na industrialização, na

comercialização e no financiamento das atividades ligadas ao setor de commodities.

Na comercialização das commodities agrícolas, conforme Morales (2008), a

bolsa de Chicago (Estados Unidos da América) é uma referência internacional nas

operações de negociações de commodities agrícolas e não agrícolas (minerais) em

mercados futuros. Eles estabelecem projeções a curto e/ou longo prazo nos preços e na

articulação do volume de produção e de consumo. Para Díaz-Tinoco e Venegas-

Martínez (2001), a flexibilidade dos mercados futuros permite aos usuários (produtores,

compradores, comerciantes, especuladores, etc.) entrar e sair através da liquidez, da

alavancagem e dos baixos custos de transações guiada pela assinatura de contrato na

administração dos riscos da comercialização de produtos agrícolas nos mercados de

incertezas, bem como no comportamento dos preços. O contrato futuro determina que o

comprador ou vendedor comercialize a commoditie agrícola no preço fixado no ato de

assinatura do contrato, estabelecendo o prazo de vencimento para efetuar a liquidação. E

é preciso depositar uma margem de garantia na cobertura das flutuações dos preços que

venham ocorrer, porém não é preciso desembolsar todo o valor do contrato no ato da

compra ou da venda do ativo no mercado futuro.

Nos mercados físicos e financeiros das commodities agrícolas podem

ocorrer momentos de alta e de baixa nos preços. Segundo Waquil (2010); Bini, Canever

e Denardim (2015), os fatores que contribuem com a elevação dos preços de alimentos

são o crescimento da demanda mundial, pricipalmente das economias emergentes; a

integração dos mercados globais; as mudanças climáticas; a redução dos estoques

mundiais; queda na produção agrícola; especulação financeira; crescimento do setor de

biocombustíveis; e elevação dos preços da indústria petroquímica (derivados de petróleo

e fertilizantes) que aumentam os custos dos fretes e da mecanização da agricultura.

O declínio dos preços de produtos agrícolas, na concepção de Waquil

(2010) está interligado ao excesso de oferta em decorrência da desregulação, da

ausência de barreiras a entrada de produtores nos países periféricos associada à lentidão

na demanda e a substituição de produtos naturais por produtos sintéticos artificiais. A

concentração das demandas em um pequeno número de agentes econômicos, nos quais

se destacam as trading companies e redes de supermercados, que capturam e controlam

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os preços das commodities e criam obstáculos para o processamento de bens daqueles

produtores que não possuem os canais de comercialização adequados.

No cenário do setor de commodities agrícolas, observa-se a participação dos

agentes econômicos (pessoas, empresas e Estados) no processo de compras e vendas de

bens e serviços nos mercados físicos (“real”) e nos mercados futuros (“virtual”). Nesse

contexto na seção seguinte, discutiu-se o agronegócio e o papel das empresas

multinacionais na organização dos fluxos de comércio e as exportações de soja nos

mercados globais.

Agronegócio, empresas multinacionais e exportações de soja nos mercados globais

Para discutir a organização dos fluxos das exportações de soja nos mercados

globais, torna-se necessário pontuar a abordagem do agronegócio na ciência geográfica.

Para Wallace (1985), os estudos geográficos acerca do agronegócio são incipientes e

são publicados de forma fragmentada, porém é um campo a ser explorado por geógrafos

em quarto dimensões nas economias desenvolvidas e em desenvolvimento: 1) a

significância da produção global de alimentos; 2) a industrialização da produção

agrícola; 3) a sobreposição da produção e da industrialização de alimentos na

interpretação da agricultura contemporânea; 4) a aplicação da bioteconologia na

manipulação da vida animal e vegetal no sistema agroalimentar. É importante destacar

que os quarto tópicos citados anteriormente, podem ser abordados na perspectiva da

agricultura moderna (científica) e da agricultura tradicional, pricipalmente nas

diferenciações da estrutura produtiva, do acesso aos financiamentos (créditos) e das

formas de ingressos dos seus produtos no mercados.

O setor do agronegócio está estruturado na agricultura científica e

commercial, segundo Wallace (1985), desenvolveu-se, a partir da década de 1960, por

meio das rápidas transformações na estrutura produtiva da agricultura com o uso de

fertilizantes, de tratores e de insumos agrícolas na estrutura produtiva das empresas

ligadas ao agronegócio. Essas companhias inovaram na estrutura produtiva e na

comercialização de produtos in natura e de produtos alimentícios manufaturados, nos

quais se destacam a publicidade dos alimentos congelados vendidos em grandes redes

de supermercados.

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As grandes corporações multinacionais do setor do agronegócio controlam à

estrutura produtiva e a comercialização dos produtos agroalimentares nos mercados

globais. Na concepção de Goldberg (1981), as empresas do agronegócio desenvolvem

as habilidades nos conhecimentos de funções operacionais específicas e na coordenação

dos posicionamentos estratégicos nos sistemas nacionais e internacionais de

commodities, interligando o sistema agroalimentar global. As empresas multinacionais

centralizam e coordenam as funções de acesso dos produtos aos mercados, de aquisição

de matérias-primas, de fornecimento de tecnologia, de infraestrutura logística, de

controle financeiro (créditos e compras) e de gerenciamentos de riscos nas cadeias de

produtos agroalimentícios, implementando um sistema de preços mais equitativos para

os produtores e consumidores.

É notório o papel das empresas trading companies multinacionais na

viabilização da produção e da comercialização das commodities agrícolas nos mercados

mundiais. Ao discutir a centralidade das commodities, Wilkinson (2010) pontua que os

mercados dos agronegócios desenvolveram estratégias para atender demandas

crescentes por alimentos básicos nos países desenvolvidos e em desenvolvimento. No

segundo mercado citado anteriormente, na Ásia destaca-se a China que aumentou a

demanda por commodities agrícolas ligadas aos setores de grãos, de oleaginosos e de

proteína animal, focando-se também em importações de produtos oriundos do complexo

da soja. Sendo a soja mesmo triturada objeto de estudo deste artigo, classificada pelo

SH4 (nº 1201).

Antes de abordar as exportações, primeiramente é preciso fazer uma

caracterização dos mercados globais que demandam soja por meio das importações, ou

seja, são as importações que estimulam as exportações. No cenário econômico das

importações de soja, considerando a quantidade acumulada no período de 2001 a 2014,

o mercado chinês foi o que mais comprou soja de produtores e/ou de empresas

multinacionais, representando 48% das importações mundiais. Em seguida os

compradores da Holanda, Japão, Alemanha, México e Espanha importaram na faixa

entre 3,8% a 4,9% da quantidade em toneladas de soja. Enquanto os agentes

econômicos localizados em países como Reino Unido, Bélgica, Portugal, Turquia,

Coréia do Sul, Itália, Indonésia, Tailândia e Taiwan compraram do exterior a quantidade

que varia entre 1,0% a 2,3% da quantidade de soja em toneladas. Já os mercados dos

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demais países importaram individualmente quantidade em tonelada de soja inferior a

0,9%. Essas informações são mostradas no Mapa 1.

As importações geram as demandas pela produção e pelas exportações de

soja no espaço geográfico mundial. Antes de abordar as vendas de soja para o exterior,

torna-se necessário discutir a estrutura da produção dessa commoditie no mercado

internacional. Na análise da produção de soja por países, considerando a quantidade

acumulada no período de 2001 a 2014, observa-se que os produtores dos colheram

36,5% da soja mundial. Em seguida os agricultores/empresas brasileiros produziram

26,1%. Enquanto a produção da soja Argentina representa 17,7% no cenário global. O

grupo formado de produtores canadenses, paraguaios, indianos e chineses produziram

quantidades que variam de 1,6% a 6,4% da produção de soja no mundo. Os demais

produtores localizados em países distintos produziram individualmente quantidade em

tonelada de soja inferior a 0,8% (Vide Mapa 2).

Na política agrícola mundial os produtores e/ou as empresas agrícolas,

incluindo as tranding companies, colheram, estocaram e venderam a soja para os

agentes econômicos localizados em países que demandam esse produto para

alimentação humana e de animal, para revender e para a geração de energia. Neste

contexto, a exportação de soja através de ações dos agentes econômicos norte-

americanos representou 42,7% da quantidade em toneladas no mercado mundial. Na

sequência a exportação de soja originária do território brasileiro teve uma participação

de 34,3% da quantidade em tonelada, compondo o comércio internacional. A soja

exportada pelos argentinos compôs 10,9% das trocas globais nesse segmento. Os grupos

de exportadores localizados na Holanda, Uruguai, Canadá e Paraguai têm participado

das exportações de soja com quantidade em toneladas que varia entre 1,4% a 4,3%. Os

demais exportadores localizados em países diversos venderam para o exterior,

quantidades individuais inferiores a 0,7%. Essas informações são mostradas na

representação espacial dos países exportadores no Mapa 3.

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Mapa 1 – Importações de soja por países, acumulado no período de 2001 a 2014 (toneladas)

Fonte: International Trade Centre – ITC/Trade Map, 2017. Org. PEREIRA, L. A. G., 2017.

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Mapa 2 – Produção de soja por países, acumulado no período de 2001 a 2014 (toneladas)

Fonte: Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura – FAO, 2017. Org. PEREIRA, L. A. G., 2017.

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Mapa 3 – Exportações de soja por países, acumulado no período de 2001 a 2014 (toneladas)

Fonte: International Trade Centre – ITC/Trade Map, 2017. Org. PEREIRA, L. A. G., 2017.

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Nas demandas dos mercados físicos, considerando também os mercados

futuros, a soja faz parte da cultura alimentar (humana e animal) e também da geração de

energia renovável (bioenergia) no mundo. Nessa dinâmica, a emergência econômica

chinesa, tornou esse país o maior importador de commodities do mundo, incluindo

também a soja. Os produtores e/ou empresas norte-americanos, brasileiros e argentinos

concentraram cerca de 80,3% da produção e aproximadamente 87,9% das exportações

de soja em tonelada no mercado mundial.

Considerações Finais

O mercado de commodities agrícolas é volátil devido à influência de fatores

políticos, econômicos e sociais, que podem influenciar positiva ou negativamente nos

preços durante o processo de comercialização no mercado físico, com a alta ou a baixa

nos valores financeiros comercializados. Nesse ambiente de incertezas, os produtores

e/ou empresas comercializam – comprando e vendendo – nos mercados futuros, como

forma de minimizar os riscos relacionados aos preços. O fato de a soja ser uma

commoditie, ela está sujeita também à volatilidade. Na estrutura complexa de

comercialização de soja, a sua importação está concentrada no mercado chinês.

Enquanto as estruturas produtivas e as exportações centralizaram-se nos agentes

econômicos norte-americanos, brasileiros e argentinos. Isso mostra a monopolização da

cadeia produtiva e da comercialização do agronegócio no mundo global.

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