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Informações Econômicas, SP, v.38, n.9, set. 2008. A ELEVAÇÃO DOS PREÇOS DAS COMMODITIES AGRÍCOLAS E A QUESTÃO DA AGROENERGIA 1 Marcos Antonio Matos 2 Evandro Scheid Ninaut 3 Rodrigo Chaer Caiado 4 José Vitor Salvi 5 1 - INTRODUÇÃO 12345 Nos últimos anos, a escalada dos preços dos alimentos resultou em discussões que mobilizaram a opinião pública no âmbito mundial. Nesse contexto, as causas das ele- vações dos preços das commodities agrícolas foram identificadas, expressando as preocupa- ções principalmente nos países, devido à ele- vação dos recursos financeiros necessários para a compra de alimentos básicos (FAO, 2008). Dentre as variáveis que resultaram no citado incremento de preços, foram listados os aumentos da demanda mundial, principalmen- te da Ásia, as elevações dos preços do petró- leo e a questão da agroenergia, destacando-se a produção de biodiesel e etanol (OLIVEIRA, 2008). Este estudo foi elaborado a partir do cruzamento estatístico entre bases de dados relacionadas à produção agrícola, ao consumo e à agroenergia, considerando-se as informa- ções disponibilizadas pelos órgãos oficiais e pela bibliografia especializada. Dessa forma, o estudo tem o objetivo de analisar as variáveis envolvidas e as suas influências na elevação dos preços das commodities agrícolas no mun- do, considerando-se o entendimento da Orga- nização das Cooperativas Brasileiras (OCB). 1 Registrado no CCTC, IE-71/2008. 2 Engenheiro Agrônomo, Mestre, Técnico de Mercados da Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB) (e-mail: [email protected]). 3 Economista, Especialista, Gerente de Mercados da Orga- nização das Cooperativas Brasileiras (OCB) (e-mail: [email protected]). 4 Graduando em Economia, Estagiário da Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB) (e-mail: rodrigo.chaer@ ocb.coop.br). 5 Engenheiro Agrônomo, Mestre, Escola Superior de Agri- cultura “Luiz de Queiroz”, Universidade de São Paulo (e-mail: [email protected]). 2 - RESULTADOS E DISCUSSÃO Os resultados deste estudo foram es- truturados em cinco etapas. A primeira procurou abordar a tendência de alta nos preços das com- modities agropecuárias, a segunda foi voltada para a análise da elevação da demanda por ali- mentos no mundo, a terceira etapa mostrou o incremento nos preços do petróleo e a quarta, a análise da matriz energética, finalizando o estudo por meio da avaliação do panorama da produção de biocombustíveis e de grãos e das considera- ções finais observadas. 2.1 - Preços dos Alimentos em Alta A elevação dos preços dos produtos alimentares ao longo dos últimos dois anos tem levantado preocupações em relação à situação alimentar e nutricional das pessoas nos países em desenvolvimento e à inflação generalizada. Destaca-se que os preços reais estão ainda abaixo do seu ápice observado em meados de 1970, contudo, as cotações atingiram eleva- ções significativas. A figura 1 apresenta a análise do índice dos preços alimentares da Organização para a Alimentação e Agricultura das Nações Unidas (FAO), considerando-se a avaliação dos seus componentes individualizados, no período compreendido entre os anos de 2000 e de 2008. Ressalta-se que o citado índice consiste de uma média de preços referente a seis grupos de commodities, abrangendo a análise de preços no cenário internacional. Em 2007, o índice da FAO mostrou um crescimento de 23,55% em relação ao ano ante- rior. Analisando-se o mês de abril de 2008, o índice apresentou um crescimento de 38,63%. Para o ano de 2006, a evolução observada foi de 8,61%. As informações descritas revelam o in cremento dos preços dos alimentos, a partir de 2007, o que estão associados à totalidade das

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Informações Econômicas, SP, v.38, n.9, set. 2008.

A ELEVAÇÃO DOS PREÇOS DAS COMMODITIES AGRÍCOLAS E A QUESTÃO DA AGROENERGIA1

Marcos Antonio Matos2 Evandro Scheid Ninaut3 Rodrigo Chaer Caiado4

José Vitor Salvi5

1 - INTRODUÇÃO12345

Nos últimos anos, a escalada dos

preços dos alimentos resultou em discussões que mobilizaram a opinião pública no âmbito mundial. Nesse contexto, as causas das ele-vações dos preços das commodities agrícolas foram identificadas, expressando as preocupa-ções principalmente nos países, devido à ele-vação dos recursos financeiros necessários para a compra de alimentos básicos (FAO, 2008). Dentre as variáveis que resultaram no citado incremento de preços, foram listados os aumentos da demanda mundial, principalmen-te da Ásia, as elevações dos preços do petró-leo e a questão da agroenergia, destacando-se a produção de biodiesel e etanol (OLIVEIRA, 2008).

Este estudo foi elaborado a partir do cruzamento estatístico entre bases de dados relacionadas à produção agrícola, ao consumo e à agroenergia, considerando-se as informa-ções disponibilizadas pelos órgãos oficiais e pela bibliografia especializada. Dessa forma, o estudo tem o objetivo de analisar as variáveis envolvidas e as suas influências na elevação dos preços das commodities agrícolas no mun-do, considerando-se o entendimento da Orga-nização das Cooperativas Brasileiras (OCB).

1Registrado no CCTC, IE-71/2008. 2Engenheiro Agrônomo, Mestre, Técnico de Mercados da Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB) (e-mail: [email protected]). 3Economista, Especialista, Gerente de Mercados da Orga-nização das Cooperativas Brasileiras (OCB) (e-mail: [email protected]). 4Graduando em Economia, Estagiário da Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB) (e-mail: rodrigo.chaer@ ocb.coop.br). 5Engenheiro Agrônomo, Mestre, Escola Superior de Agri-cultura “Luiz de Queiroz”, Universidade de São Paulo (e-mail: [email protected]).

2 - RESULTADOS E DISCUSSÃO Os resultados deste estudo foram es-

truturados em cinco etapas. A primeira procurou abordar a tendência de alta nos preços das com-modities agropecuárias, a segunda foi voltada para a análise da elevação da demanda por ali-mentos no mundo, a terceira etapa mostrou o incremento nos preços do petróleo e a quarta, a análise da matriz energética, finalizando o estudo por meio da avaliação do panorama da produção de biocombustíveis e de grãos e das considera-ções finais observadas.

2.1 - Preços dos Alimentos em Alta

A elevação dos preços dos produtos

alimentares ao longo dos últimos dois anos tem levantado preocupações em relação à situação alimentar e nutricional das pessoas nos países em desenvolvimento e à inflação generalizada.

Destaca-se que os preços reais estão ainda abaixo do seu ápice observado em meados de 1970, contudo, as cotações atingiram eleva-ções significativas. A figura 1 apresenta a análise do índice dos preços alimentares da Organização para a Alimentação e Agricultura das Nações Unidas (FAO), considerando-se a avaliação dos seus componentes individualizados, no período compreendido entre os anos de 2000 e de 2008. Ressalta-se que o citado índice consiste de uma média de preços referente a seis grupos de commodities, abrangendo a análise de preços no cenário internacional.

Em 2007, o índice da FAO mostrou um crescimento de 23,55% em relação ao ano ante-rior. Analisando-se o mês de abril de 2008, o índice apresentou um crescimento de 38,63%. Para o ano de 2006, a evolução observada foi de 8,61%. As informações descritas revelam o in cremento dos preços dos alimentos, a partir de 2007, o que estão associados à totalidade das

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Figura 1 - Índice FAO de Preços dos Alimentos, no Período entre os Anos de 2000 e 2008. Fonte: FAO (2008). commodities agrícolas englobadas na figura 1.

Os produtos lácteos, carnes, cereais, óleos e gorduras têm experimentado aumento dos preços. Dado o panorama conjuntural, os gover-nos e as organizações internacionais estão plane-jando ações com a finalidade de minimizar os efei-tos da subida dos preços internacionais na econo-mia. Tais medidas incluem o auxílio às popula-ções mais vulneráveis e aos produtores rurais, pa-ra o incremento da oferta de produtos agrícolas.

A análise dos preços da soja no merca-do interno é observada na figura 2, obtida por meio de valores nominais, e da série da inflação no período.

O comportamento do preço real da soja mostrou uma queda abrupta no período compre-endido entre abril de 2004 e abril de 2006. A partir dessa data, os preços reais elevaram-se significa-tivamente, passando de R$22,18 em abril de 2006 para R$47,97 em junho de 2008, alta de 116,28%. No período visualizado entre o início da análise (janeiro de 2004) e o mês de setembro de 2006, as oscilações do preço real da soja foram explicadas harmonicamente pelas variações cam-biais. A cotação do dólar mostrou uma queda sig-nificativa de 33,24%, passando de 3,13 R$.US$-1 em abril de 2004 para 2,09 R$.US$-1 nesse mes-mo mês em 2006. Nesse período, a redução no preço real da soja foi de 46,62%. Dessa forma, a valorização cambial observada explicou a queda

nos preços da soja. Contudo, a partir de 2006 foi observado

um desalinhamento entre a cotação do dólar e os preços reais da soja, devido a uma elevação signi-ficativa no valor da saca da soja, atingindo R$47,97 em junho de 2008. Em contrapartida, a cotação do dólar continuou na trajetória de redu-ção, apresentando um valor de 1,626 R$.US$-1 nesse mesmo mês de 2008 (Figura 2).

As elevações de preços descritas são explicadas por diversos fatores, em sua evolução recente nem tanto associados à elevação da de-manda no âmbito mundial, devido à crise norte-americana, mas ao crescimento asiático e dos países emergentes, bem como aos preços do petróleo e, conseqüentemente, aos custos de pro-dução agrícola, com destaque para o crescimento dos preços dos fertilizantes e dos agroquímicos. 2.2 - Aumento da Demanda por Alimentos

O aumento da demanda por alimentos

no mundo é explicado por dois fatores principais: crescimento populacional; renda dos consumido-res. Dessa forma, o incremento populacional e o crescimento econômico dos países resultaram no aquecimento da procura por diferentes tipos de alimentos.

As figuras 3 e 4 mostram a evolução do

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Figura 2 - Comportamento do Preço Real da Soja, Período 2004 a 2008¹. ¹Base: junho de 2008. Fonte CEPEA (2008) e FGV (2008). Figura 3 - Índice do Consumo Doméstico de Soja, Milho, Arroz e Trigo, Países em Desenvolvimento, Safras 1998/99 a 2007/08. Fonte: USDA (2008).

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Soja Milho Trigo Arroz

Figura 4 - Índice do Consumo Doméstico de Soja, Milho, Arroz e Trigo, Países Desenvolvidos, Safras 1998/99 a 2007/08. Fonte: USDA (2008). consumo doméstico de soja, milho, trigo e arroz, ao longo da última década nos países em desen-volvimento e desenvolvidos. No período amos-trado entre as safras 1998/99 e 2007/08, o De-partamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) apresentou a evolução do balanço de oferta e demanda das commodities agrícolas, determinado principalmente pelas mudanças na configuração da economia mundial, como o aumento da relevância das nações que apresen-tam alto potencial de crescimento do consumo de alimentos, em razão dos elevados contingentes populacionais e dos níveis ainda modestos do produto per capita.

Segundo o cenário, nos países em de-senvolvimento o consumo de soja, arroz e trigo cresceram, respectivamente, 84,7%, 9,4% e 10,4% (Figura 3), patamares acima das variações registradas pelos países ricos. Destaca-se que o milho se caracterizou como uma exceção, devido à significativa evolução da demanda nas econo-mias desenvolvidas, fato associado à produção de etanol nos Estados Unidos (Figura 4).

O incremento do consumo doméstico de alimentos, com destaque para os países emergentes, está associado à elevação da renda per capita nos últimos anos. A figura 5 mostra o crescimento do PIB chinês, em valores totais e

per capita, ao longo dos anos. No período visuali-zado, o PIB per capita apresentou um crescimen-to de 537,68%, passando de US$345,00 em 1991 para US$2.200,00 em 2007. A taxa de crescimento da economia foi positiva no período, com um valor de 11,40% no ano de 2007.

Associado ao incremento do consumo alavancado pela renda, as projeções do cresci-mento populacional mostram a tendência de manutenção das pressões sobre o balanço de oferta e demanda de commodities agropecuárias.

A figura 6 apresenta o panorama da população no mundo, considerando-se os princi-pais continentes no ano de 2005 e a respectiva projeção para 2030. A população mundial passa-rá de 6,50 bilhões de habitantes em 2005 para 8,30 bilhões na estimativa para 2030, crescimen-to de 27,69%.

A Ásia é o continente mais populoso, com 3,90 bilhões de habitantes e uma projeção de 5,00 bilhões em 2030, o que representa um crescimento de 28,21%. A África apresentará uma taxa de 66,67%, passando de 0,90 bilhão de habitantes em 2005 para 1,50 bilhão em 2030.

A análise da distribuição das popula-ções rurais e urbanas é mostrada na figura 7, conforme o observado em 2000, e as projeções para 2030. Segundo a participação das popula-

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Figura 5 - Evolução do Produto Interno Bruto Chinês, Período 1991 a 2007. Fonte: CCIBC (2008).

Figura 6 - População Mundial e por Região, 2005 e Projeção para 2030. Fonte: MAPA (2007).

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Figura 7 - Projeção de População Mundial, Rural e Urbana, 2000 e 2030. Fonte: MAPA (2007). ções urbanas e rurais no mundo, observa-se que a partir de 2010 a população urbana superará aquelas que vivem no meio rural. Dessa forma, na projeção de 2030 as participações serão de 61% para o setor urbano e 39% para o rural.

De acordo com o cenário de cresci-mento populacional, das tendências do envelhe-cimento da população e da urbanização, da ele-vação da renda e do consumo, as pressões so-bre os preços dos alimentos serão mantidas, o que justifica esforços para promover a expansão da oferta agrícola global, e que inclui, também, o apoio aos produtores dos potenciais países e a queda de barreiras comerciais pelos países de-senvolvidos, de modo a ampliar mercados para uma parcela considerável dos emergentes, com-petitivos na produção primária. 2.3 - Preços do Petróleo

O aumento nos preços dos alimentos é

agravado com a influência indireta da alta do petróleo nos insumos agrícolas, devido aos seus derivados que são utilizados na agricultura, resul-tando em redução na margem dos produtores

rurais. Os preços do petróleo influenciam for-

temente os preços das commodities agrícolas energéticas, considerando-se a produção de eta-nol a partir do milho nos EUA e a produção de biodiesel a partir da colza; tais situações foram planejadas nos países com o intuído de se redu-zir a dependência do petróleo. Contudo, o desen-volvimento do mercado de biocombustíveis nos EUA e na Europa promoveu uma possível inte-gração significativa das commodities agrícolas energéticas com os preços do petróleo (NAS-SAR, 2008).

A figura 8 apresenta a evolução dos preços do petróleo, abrangendo os preços do diesel para a Europa e América do Norte. Os preços do óleo diesel no período observado mos-traram um aumento de 75,61% na Europa, pas-sando de US$1,16 por litro em abril de 2005 para US$1,73 no mês de abril de 2008. Para a Améri-ca do Norte, a evolução foi de 49,40% no interva-lo estudado.

O preço de produtos como arroz, trigo e soja, observado nos últimos meses, relaciona-se ao aumento no custo do barril de petróleo, que também ocasiona o aumento dos agroquímicos e

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Figura 8 - Preço do Diesel na Europa e na América do Norte, 2005 a 2008. Fonte: IEA (2008). consequentemente o aumento no custo de pro-dução de alimentos (OLIVEIRA, 2008).

Considerando-se a influência dos pre-ços do petróleo nas cotações das commodities agrícolas e na inflação dos países, a análise da matriz energética mundial se torna importante. A partir dessas referências, destacam-se as proje-ções e a possibilidade da elevação da participa-ção de energias renováveis como busca para a mitigação da dependência atual dos combustíveis fósseis, como o carvão mineral e o petróleo.

O Brasil possui viabilidade econômica para a exploração do potencial agrícola, desta-cando-se a produção de etanol e de biomassa para a produção de energia, segundo a tendên-cia mundial de utilização e inserção de fontes renováveis na matriz energética. A relevante importância da agricultura na matriz energética resulta na influência direta na economia, com destaque para o Produto Interno Bruto (PIB) e para a Balança Comercial.

Observa-se na figura 9 a análise da evolução do PIB do agronegócio e a sua partici-pação percentual no PIB brasileiro ao longo dos anos. As oscilações visualizadas no PIB do agronegócio se devem às variações das cota-ções das commodities no âmbito internacional,

fato constatado em 2003, 2004 e a partir de 2007. Dessa forma, no último ano avaliado, a participação do PIB do agronegócio na econo-mia brasileira foi de 25,10%, ainda abaixo dos níveis de 2003, quando a participação foi de 28,80%.

Diante do cenário de diversificação da matriz energética, por meio da utilização de fontes renováveis de energia a partir da cana-de-açúcar, de florestas plantadas e de plantas oleaginosas e da importância do agronegócio na economia, diversos questionamentos foram levantados com o objetivo de analisar a correla-ção entre a produção de biocombustíveis e a de etanol no aumento dos preços dos alimentos no mundo. Para tanto, faz-se necessária a análise da eficiência produtiva das plantas utilizadas, bem como o potencial agrícola dos principais países para o entendimento da questão.

Segundo a FAO (2008), a alta nos preços dos cereais como o milho e dos óleos vegetais, que respondem por grande parte da produção de biocombustíveis, é o principal moti-vo para a expansão dos custos de importação de alimentos. Dessa forma, a crescente deman-da por biocombustíveis pode estar levando a uma alta dos preços internacionais dos alimentos.

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Figura 9 - Evolução do PIB do Agronegócio e a sua Participação do PIB do Brasil, 1994 a 2007. Fonte: CEPEA (2008). 2.4 - Biocombustíveis e Produção de Grãos

De acordo com Oliveira (2008), o preço

do milho no mercado internacional, impulsionado pelo seu uso para a produção de etanol pelos EUA, causou aumento nos preços de arroz, soja e trigo. Muitos dos produtores desses alimentos redirecionaram sua produção para milho, com diminuição nos estoques dos outros cereais, causando aumento do preço desses produtos. Contudo, para o entendimento das relações de preços faz-se necessário analisar as condições atuais brasileiras, considerando-se o cenário atual da produção de etanol, de biodiesel e a evolução da produção de grãos e demais alimen-tos.

Em relação ao panorama geral da pro-dução de biocombustíveis, a figura 10 apresenta as quantidades produzidas de biodiesel ao longo dos anos de observação.

De acordo com a ANP (2008), a produ-ção de biocombustíveis mostrou um crescimento significativo, com produção de 69,00 mil metros cúbicos em 2006 e de 402,73 mil metros cúbicos em 2007, incremento de 483,64% ao longo dos dois últimos anos. Analisando-se o ano de 2008,

visualiza-se o incremento na produção de biodie-sel nos meses de janeiro a abril, o que resulta em projeções de continuidade nas taxas de cresci-mento da produção brasileira.

Em relação à produção de etanol no Brasil, a figura 11 apresenta a evolução das quantidades obtidas de álcool e de açúcar a partir da cana-de-açúcar entre as safras 1990/91 e 2006/07. A produção dos produtos do setor su-croalcooleiro apresentou oscilações no período estudado, porém, a partir da safra 2000/01 foi observada tendência de elevação das quantida-des produzidas. Dessa forma, a produção de álcool passou de 11,52 bilhões de metros cúbicos para 17,76 bilhões na safra 2006/07, crescimento de 54,26%. No mesmo período a produção de açúcar aumentou em 302,99%, passando de 7,37 milhões de toneladas para 29,68 milhões em 2006/07.

Analisando-se a produção de etanol a partir de cana-de-açúcar no Brasil, não há corre-lação direta com os preços dos alimentos, fato explicado pela elevação da produção das com-modities agrícolas, independentemente da pro-dução de etanol (Figura 12).

A produção nacional de etanol não re-

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18.773 26.00527.158

26.718 43.401 45.370 53.98955.052 49.582

285 281 572.5781.7861.725 1.043 1.075

14.531 16.025 8.581

6.7355.1023.331

6.49016.933 17.109 22.637

0 10 20 30 40 50 60 70 80 90

100

Jan. Fev. Mar. Abril Maio Jun. Jul. Ago. Set. Out. Nov. Dez. Período

Pro

duçã

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bio

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)

2005 2006 2007 2008

12.716

11.69511.285

14.372

15.399

13.869

13.022

10.593

11.536

12.623

14.809

15.413

15.936

17.763

12.59012.685

11.515

9.000

10.000

11.000

12.000

13.000

14.000

15.000

16.000

17.000

18.000

90/91

91/92

92/93

93/94

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98/99

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00/01

01/02

02/03

03/04

04/05

05/06

06/07

Período

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álco

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17.500

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22.500

25.000

27.500

30.000

Prod

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açúc

ar (m

il t)

Álcool Açúcar

Figura 10 - Produção Mensal de Biodiesel no Brasil, Janeiro de 2005 a Abril de 2008. Fonte: ANP (2008). Figura 11 - Produção Brasileira de Álcool e de Açúcar a partir da Cana-de-açúcar, Safras 1990/91 a 2006/07. Fonte: UNICA (2008).

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19811982

19831984

19851986

19871988

19891990

19911992

19931994

19951996

19971998

19992000

20012002

20032004

20052006

20072008

Período (ano)

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Prod

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cana

-de-

açúc

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ilhão

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Produção de grãos Produção de cana-de-açúcar

Figura 12 - Evolução da Produção Brasileira de Grãos e de Cana-de-açúcar, 1977 a 2008. Fonte: CONAB (2008). sultou em queda nas quantidades de grãos pro-duzidos internamente. Dessa forma, a cultura da cana-de-açúcar não concorre em área com as demais culturas, visto o ritmo acelerado de cres-cimento de grãos.

Além da relativa ausência de concor-rência entre as culturas, observa-se o crescimen-to da produtividade dos grãos no Brasil (Figura 13). A produção agrícola apresentou tendência de crescimento linear ao longo dos anos, pas-sando de 57,90 milhões de toneladas em 1990/91 para 143,28 milhões nas projeções da safra 2007/08, evolução de 147,46%. Já a área plantada apresentou oscilações no período anali-sado, mostrando um crescimento de 24,29%, o que revela o incremento da produtividade agríco-la no Brasil nas últimas décadas.

Na perspectiva em foco, a figura 14 au-xilia na análise da evolução da participação das áreas com grãos, cana-de-açúcar, pastagens, café, frutíferas e olerícolas.

As áreas destinadas às pastagens apresentam preponderância absoluta em relação às demais utilizações da terra, destacando-se a diminuta participação das áreas com cana-de-açúcar. Dessa forma, a produção de etanol a par-tir da cana-de-açúcar não apresentou influência

na produção de alimentos, devido à ausência de competição por área e pela eficiência do Brasil no setor.

As evoluções na produção de commo-dities energéticas e não energéticas, bem como o incremento das produtividades e as projeções de potencial agrícola, revelam o equívoco da asso-ciação da produção brasileira de biocombustíveis nas pressões sobre os preços dos alimentos no mundo.

A figura 15 mostra as áreas agricultá-veis nos principais países agrícolas e a quantida-des de áreas não usadas e pastagens, que pode-riam ser inseridas na produção de alimentos.

O Brasil possui o potencial para se consolidar como o maior País agrícola do mundo, devido à disponibilidade de terras aráveis. Dessa forma, a produção agrícola brasileira (grãos, fru-tas e cana-de-açúcar) está presente em 62,98 milhões de hectares, sendo ainda disponível 330,82 milhões de hectares de pastagens e ter-ras não utilizadas. Os EUA aparecem na segun-da posição, sendo o atual maior produtor mundial em termos de quantidades produzidas. Quando se observam as áreas em uso, a Índia e a China apresentam montantes superiores de áreas des-tinadas à produção agrícola. A Rússia figura na

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y = 4505,7x + 51424R2 = 0,91

y = -3,05x4 + 107,66x3 - 1131,3x2 + 3939,3x + 34268R2 = 0,93

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32,5

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52,5

55,0

90/91 91/92 92/93 93/94 94/95 95/96 96/97 97/98 98/99 99/00 00/01 01/02 02/03 03/04 04/05 05/06 06/07 07/08

Período (safra)

Área

pla

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a (m

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Prod

ução

de

grão

s (m

ilhão

t)

Área plantada Produção de grãos

0

10

20

30

40

50

60

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100

2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007

Período (ano)

Rep

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)

Pastagens Grãos Cana-de-açúcar Café Frutíferas e olerícolas

Figura 13 - Produção Brasileira de Grãos e Área Plantada, entre as Safras 1990/91 e as Projeções para a Safra 2007/08. Fonte: CONAB (2008). Figura 14 - Evolução da Área Destinada à Produção de Grãos, Cana-de-açúcar, Carne, Frutíferas e Olerícolas, 2001 a 2007. Fonte: CONAB (2008).

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Principais países

Áre

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Agricultura Pastagem e terras não usadas

Figura 15 - Análise da Disponibilidade de Terras Aráveis nos Principais Países. Fonte: FAO (2008); ICONE (2008). seqüência, com potencial de se alavancar a pro-dução interna, considerando-se a possibilidade de serem incorporados 164,73 milhões de hecta-res para a produção agrícola (Figura 15).

Outro ponto de destaque nas discus-sões da produção de biocombustíveis diz respei-to à sustentabilidade dos programas incentivados nos demais países. A figura 16 apresenta a análi-se da eficiência na produção de álcool em função da planta utilizada nos diversos países produto-res.

A produção de álcool no Brasil apre-senta maior produtividade, com uma quantidade produzida de 7 mil litros por hectare. O milho nos EUA, alvo de críticas em relação à pressão nos preços dos alimentos, mostra uma produtividade de 3,80 mil litros, redução de 45,71% quando comparada à cana-de-açúcar no Brasil (Figura 16).

Além da produtividade na produção de etanol, deve-se considerar o balanço energético do sistema de produção, caracterizado pela relação entre a quantidade de energia renovável e a obtida por unidade de energia fóssil gasta no ciclo de produção. Dessa forma, o balanço e-nergético do etanol brasileiro produzido a partir

da cana-de-açúcar é 4,50 vezes superior em relação ao do etanol produzido de beterraba e de trigo. Analisando-se o etanol de milho, a rela-ção de superioridade a favor do produto brasilei-ro é de aproximadamente sete vezes (ICONE, 2008).

Com a elevação nos preços do petró-leo, os EUA adotaram a estratégia de subsidiar os agricultores que cultivam a energia, a partir da cultura do milho. Dessa forma, esses mesmos agricultores nos EUA têm cultivado milho em detrimento da soja e do trigo e, em função dos subsídios, aproximadamente 32,08% da produ-ção de milho será destinada para a produção de etanol na safra 2008/09, frente aos gêneros ali-mentícios e alimentação animal.

Observa-se na figura 17 a análise da produção de soja e de milho nos EUA, entre as safras 2003/04 e as estimativas para a safra 2007/ 08. A partir da safra 2006/07 observa-se comportamento oposto entre a produção de mi-lho, que se elevou em 9,48%, e a produção de soja, que foi reduzida em 7,33%. Tal observação se deve ao avanço da cultura do milho sobre a soja, em função dos incentivos para a produção de etanol.

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Cana - Brasil Beterraba - UE Cana - India Milho - EUA Mandioca -Tailândia

Trigo - UE

Países e plantas utilizadas

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2003/04 2004/05 2005/06 2006/07 2007/081 2007/082

Safra

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Pro

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Soja em grão Milho

Produção de etanol de milho

Figura 16 - Análise de Produtividade na Produção de Álcool por Hectare Plantado. Fonte: ICONE (2008). ¹Levantamento de março. ²Levantamento de abril. Figura 17 - Evolução da Produção de Soja e de Milho nos EUA, Safras 2003/04 a 2007/08. Fonte: USDA (2008).

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Considerando-se as quantidades utiliza das de milho para a produção de etanol, com uma projeção do uso de 102 milhões de toneladas na safra 2008/09 e a baixa produtividade por hectare, a produção de etanol nos EUA pode estar contri-buindo para a pressão nos preços dos alimentos, porém com intensidade abaixo do efeito observa-do pelas elevações da demanda e pelas variações no preço do petróleo no mundo, conforme avalia-ção realizada neste estudo.

A despeito do cenário descrito, no curto prazo, as commodities como soja, milho, café e suco de laranja apresentaram relevantes reduções nos preços internacionais. Tal fato foi explicado pela queda das cotações do barril de petróleo e pela liquidação de alguns contratos nos Mercados Futuros por parte dos fundos de investimento. Como exemplo, no mês de julho de 2008, o barril do petróleo atingiu a cotação recorde de US$145,00 passando para valores abaixo de US$120,00 no início de agosto do mesmo ano (FUTURE SOURCE, 2008). Outro aspecto da re-dução dos preços está relacionado ao clima favo-rável nas regiões produtoras nos EUA, principal-mente nos estados de Iowa, Illinois e Missouri (CEPEA, 2008).

Contudo, no longo prazo os preços das commodities continuam pressionados pela eleva-ção da demanda, com ênfase nos países emer-gentes, o que tem resultado em queda nos níveis dos estoques no mundo. Com a elevação do con-

sumo o mundo se vê forçado a aumentar significa-tivamente a produção agropecuária e, devido à produção de etanol a partir do milho nos EUA e à disponibilidade de áreas agricultáveis no mundo, o citado crescimento fica principalmente para o Bra-sil (PORTAL DO AGRONEGÓCIO, 2008).

3 - CONCLUSÕES

As pressões inflacionárias que resulta-

ram na elevação dos preços das commodities agropecuárias estão relacionadas a fatores da conjuntura global. Dentre elas destacam-se ele-vação da renda, do crescimento populacional, do consumo, das variações nos preços do petróleo e da produção de etanol nos EUA.

Nesse contexto, o Brasil se apresenta com capacidade potencial para expandir a oferta dessas commodities, devido à eficiência do agro-negócio e da disponibilidade de área para se consolidar como o principal País agropecuá-rio,seja para a produção de alimentos, seja para a produção de biocombustíveis. Para tanto, des-tacam-se as barreiras comerciais e os subsídios dos países desenvolvidos, a infra-estrutura precá-ria, a elevada carga tributária e a dependência dos insumos no Brasil os fatores que têm elevado os custos de produção das culturas e, conse-quentemente, perda de renda dos produtores rurais.

LITERATURA CITADA

AGÊNCIA NACIONAL DO PETRÓLEO, GÁS NATURAL E BIOCOMBUSTÍVEIS - ANP. Ministério de Minas e Ener-gia. Dados estatísticos mensais: vendas de combustíveis. Disponível em: <http://www.anp.gov.br/petro/dados_-estatisticos.asp>. Acesso em: 19 maio 2008. CÂMARA DE COMÉRCIO E INDÚSTRIA BRASIL/CHINA - CCIBC. Portal de negócios com a China: uma parceria estratégica Brasil - China. Disponível em: <http://www.camarabrasilchina.com.br/pg_dinamica/bin/pg_dinamica.php>. Acesso em: 8 jun. 2008. CENTRO DE ESTUDOS AVANÇADOS EM ECONOMIA APLICADA - CEPEA. Agromensal. Universidade de São Paulo, Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”. Disponível em: <http://www.cepea.usp.br>. Acesso em 24 fev. 2008. COMPANHIA NACIONAL DE ABASTECIMENTO - CONAB. Central de informações agropecuárias: conjuntura agropecuária. Disponível em: <http://www.conab.gov.br>. Acesso em: 24 fev. 2008.

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A ELEVAÇÃO DOS PREÇOS DAS COMMODITIES AGRÍCOLAS E A QUESTÃO DA AGROENERGIA

RESUMO: A escalada dos preços dos alimentos resultou em discussões que mobilizaram a

opinião pública no âmbito mundial. Este estudo foi elaborado a partir das fontes primárias das bases de dados e tem o objetivo de analisar as variáveis envolvidas e as suas influências na elevação dos preços dessas commodities. Este crescimento da renda, da população, do consumo, dos preços do petróleo e as condições climáticas influenciaram diretamente nas cotações. Nesse contexto, o Brasil apresenta capacidade potencial para expandir a oferta das commodities, devido à eficiência do agronegócio e à disponibilidade de área.

Palavras-chave: agronegócio, preços, cooperativismo.

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AGRICULTURAL COMMODITIES PRICE RISES AND THE ISSUE OF AGROENERGY

ABSTRACT: The global food price surge has stirred debates that have mobilized public opin-

ion worldwide. Through the use of primary source databases, this study examined the factors that con-tributed to the growth of agricultural commodity prices on world markets. This trend is explained by rising incomes, population growth, increased consumption, oil price variations and weather. Within this context, Brazil has potential capacity to expand the commodity market in virtue of the country’s efficient agribusi-ness production and availability of arable land.

Key-words: agribusiness, prices, cooperativism, Brazil.

Recebido em 30/06/2008. Liberado para publicação em 14/08/2008.