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Março de 2007 Informe sobre a Situação e Perspectivas da Agroenergia e dos Biocombustíveis no Brasil

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Março de 2007

Informe sobre a Situação e Perspectivas da Agroenergia e dos Biocombustíveis no Brasil

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SUMÁRIO

1. MARCO CONCEITUAL E METODOLOGIA 04

2. CARACTERIZAÇÃO HISTÓRICA 05

2.1 Etanol 05

2.2 Biodiesel 08

3. Agricultura de Energia no Brasil 11

4. Matérias Primas 12

4.1 Etanol 12

4.2 Biodiesel 14

4.3 Carvão Vegetal e Lenha 17

4.4 Biogás 18

5. Produção dos Biocombustíveis no Brasil 18

5.1 Etanol 18

5.2 Biodiesel 20

6. Participação da Agroenergia na Matriz Energética Nacional (MEN) 23

7. Mudanças nas Legislações e Políticas Relativas à Agroenergia e aos Biocombustíveis

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7.1 Legislação 25

7.2 Diretrizes de política de Agroenergia 32

8. Evolução Recente da Situação e Perspectiva da Ag roenergia e Biocombustíveis

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8.1 Etanol 34

8.2 Biodiesel 36

9. Referências Bibliográficas 44

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1. MARCO CONCEITUAL E METODOLOGIA Os primeiros passos para elaborar um informe sobre a Situação e as Perspectivas da Agroenergia e dos Biocombustíveis no Brasil são delimitar o tema, definir o conceito de Agroenergia e usar uma metodologia de investigação.

Seguindo uma conceitualização feita no Plano Nacional de Agroenergia do Brasil1, consideraremos como Agroenergia, a energia proveniente de quatro cadeias produtivas: a) etanol e co-geração de energia proveniente da cana-de-açúcar; b) biodiesel de fontes lipídicas (animais e vegetais); c) biomassa florestal e seus resíduos; e d) dejetos agropecuários e da agroindústria.

Conforme se demonstra na figura abaixo, das florestas energéticas, obtêm-se diferentes formas de energia, como lenha, carvão, briquetes, finos (fragmentos de carvão com diâmetro pequeno) e licor negro. O biogás é originário da digestão anaeróbica da matéria orgânica. O Biodiesel pode ser obtido de óleos vegetais, gorduras animais ou resíduos da agroindústria. O etanol, embora possa ser obtido de outras fontes, apresenta competitividade quase imbatível quando obtido da cana-de-açúcar. E os resíduos, tanto da produção agropecuária quanto da agroindústria, bem como os dejetos desse processo, podem ser convertidos para diferentes formas secundárias de energia, como briquetes, biogás, biodiesel etc.

No entanto, este documento buscará priorizar as informações dos principais Biocombustíveis, sendo eles: o Etanol, por ser relevante para a matriz energética nacional e o Biodiesel , que neste momento está sendo colocado

1 O Plano Nacional de Agroenergia foi elaborado pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA) e lançado no dia 14 de Outubro de 2006 pelo então Ministro da Agricultura, Dr. Roberto Rodrigues.

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como foco de diversas políticas públicas no país. Também por serem os dois considerados como aqueles de maior capacidade de expansão de produção para atender à demanda no mercado mundial. Como método de analise será feita uma caracterização histórica dos Biocombustíveis escolhidos, analisará as matérias primas para a produção, a participação na matriz energética, as legislações e políticas aplicadas a estes Biocombustíveis, além das oportunidades e dos desafios para estes no Brasil. 2. CARACTERIZAÇÃO HISTÓRICA 2.1 Etanol

Desde a década de 1920 a relação do Brasil com o etanol está estabelecida. O extinto Instituto de Açúcar e Álcool (IAA) e a Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq) desempenharam papel muito importante para o crescimento do setor alcooleiro no país, ao buscar, no exterior, a melhor tecnologia então disponível para a fabricação do álcool etílico. No final dos anos de 1930 foram realizadas novas aquisições de máquinas e a Usines de Melle, instalada na França, responsável pelo desenvolvimento e pela patente do processo de fermentação com reciclo do fermento, vendeu para o Brasil aparelhos de destilação e de desidratação, instalações que foram concretizadas no País já nos anos 40.

Após a fase dos experimentos feitos no início do século XX, entre 1931 e 1961 o governo brasileiro autorizou a adição variável de 2% a 5% de etanol à gasolina. Naquele momento, era perceptível a confrontante e competitiva relação que se estabelecia entre os dois combustíveis.

No caso do Etanol também foi relevante o segundo choque do petróleo, em 1979, pois quando os preços deste apresentavam situação ascendente, o governo brasileiro incentivou a fabricação de carros movidos a álcool e decretou que o álcool seria vendido aos consumidores por 60% do valor da gasolina. Entre 1983 e 1988, esses veículos já representavam 90% da frota nacional. Porém, em meio ao forte crescimento na produção de álcool etílico, em 1986, as cotações do petróleo voltaram a cair, configurando cenário desfavorável para manter competitivo o preço do combustível renovável.

Aos poucos, o setor alcooleiro conseguiu recuperar sua estrutura, mas viu sua frota ser reduzida para 25%. Não bastasse a queda nas vendas de etanol, a indústria automobilística concentrava esforços no desenvolvimento de carros mais econômicos e mais potentes, onde a gasolina entrava como combustível favorito. Desta forma, o álcool etílico acabou ficando em segundo plano. Em 1996, a participação desses veículos na frota nacional estava em apenas 1%.

No entanto, o Brasil detinha – como ainda acontece – a excelência em pesquisa canavieira e transformou a tecnologia deste segmento em uma referência. Em meio às oscilações de mercado, o setor sucroalcooleiro passou a ganhar em produtividade, enquanto os preços do petróleo novamente

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apresentavam trajetória crescente. O fato fez a indústria automotiva ser despertada para a possibilidade dos carros bicombustíveis, dando a chance de total escolha ao consumidor.

Assim, a busca por energia renováveis e por formas de extração menos agressivas ao meio ambiente transformou o álcool na maior aposta econômica do País. Protagonista de um caminho de obstáculos, o etanol foi o primeiro a se tornar competitivo em relação ao petróleo, numa disputa acirrada, que ainda se mantém e que, por sinal, promete bons episódios.

A demanda por etanol no mercado internacional tem sido crescente nos últimos anos. O Brasil é o maior exportador neste mercado. Até meados de 2002 as exportações brasileiras de álcool eram insignificantes, mas com o crescimento da demanda por esse biocombustível no mercado internacional, o volume exportado cresceu de 565 milhões de litros em 2003, para 2,1 bilhões de litros no período de janeiro a novembro de 2005 (Secex, 2005).

O crescimento das exportações brasileiras de açúcar explica boa parte da significativa expansão do setor sucroalcooleiro nacional nos últimos anos e as perspectivas promissoras do mercado interno e externo para esse biocombustível num futuro bastante próximo. Sem dúvida, a necessidade de fornecer etanol para o mercado interno em expansão e para o mercado internacional, que anseia por fontes renováveis de energia, traz excelentes oportunidades para incrementos ainda maiores no crescimento do setor. Nos anos recentes, nota-se o aumento da produção de cana-de-açúcar e de seus produtos derivados, açúcar e etanol, tanto nas tradicionais regiões produtoras como em estados que representam novas fronteiras agrícolas para a cultura canavieira no Brasil2.

As distribuidoras de combustíveis e as redes de abastecimento caracterizam-se como os grandes agentes deste setor. A indústria sucroalcooleira produz e vende o etanol às distribuidoras; estas, por vez, repassam o etanol aos postos de abastecimento. No Brasil, não há qualquer tipo de subsídio sobre a produção e sobre a comercialização de etanol, diferentemente do que ocorre em outras nações. Ainda assim, o País possui o menor custo de produção de etanol e de açúcar no mundo3.

O mercado internacional de etanol apresenta potencial para crescer rapidamente nos próximos anos. No entanto, a natureza estratégica do produto tende a induzir algum grau de protecionismo, dificultando o acesso das vendas brasileiras e retardando as compras por parte de alguns importantes atores, como a União Européia e os Estados Unidos, que privilegiarão a produção doméstica antes de recorrer às importações. 2 Um bom exemplo de novas fronteiras agrícolas são as abertas no estado de São Paulo, Bahia e Mato Grosso do Sul, onde a maior rentabilidade da cana-de-açúcar frente ao gado fez com que os canaviais avançassem e gradualmente tomassem o lugar da pecuária. 3 O Brasil possui o menor custo de produção porque usa a cana-de-açúcar como matéria prima. Este produto possui um rendimento maior do que todas as outras matérias primas, porque possui maior concentração de sacarose. Os EUA utilizam o milho, um produto considerado altamente competitivo, porém ainda tem o custo maior, porque precisam quebrar o amido e transformar em sacarose enquanto que na cana-de-açúcar não é necessário nenhum processo de quebra, consegue-se a sacarose diretamente.

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Por outro lado, os contratos firmados entre a Petrobras e as companhias petrolíferas da Venezuela e da Nigéria, somados à expectativa do mercado japonês e aos investimentos em reprocessamento no Caribe, podem representar incremento de 4 a 5 bilhões de litros nas exportações mundiais de álcool, nos próximos oito anos. No caso específico do Caribe, este visa aos Estados Unidos por intermédio do Caribean Basin Initiative (CBI), através do qual se permite a entrada de até 7% de álcool no mercado americano por meio de países da bacia caribenha. Entre 1994 e 2004, os negócios mundiais de álcool variaram entre 3 e 4,5 bilhões de litros, de modo que as vendas internacionais representaram cerca de 12% da produção global.

Com o desenvolvimento da tecnologia automotiva flex-fuels (motores bicombustíveis), a população passa a ter um grande poder de escolha. As principais opções envolvem o derivado do petróleo, os gases naturais veiculares, conhecidos como o Gás Natural Veicular, o GNV e o etanol, extraído exclusivamente da cana-de-açúcar.

O Governo Brasileiro criou o Programa Nacional do Álcool ou Proálcool em 14 de novembro de 1975 pelo decreto n° 76.593, com o o bjetivo de estimular a produção do álcool, visando o atendimento das necessidades do mercado interno e externo e da política de combustíveis automotivos. De acordo com o decreto, a produção do álcool oriundo da cana-de-açúcar, da mandioca ou de qualquer outro insumo deveria ser incentivada por meio da expansão da oferta de matérias-primas, com especial ênfase no aumento da produção agrícola, da modernização e ampliação das destilarias existentes e da instalação de novas unidades produtoras, anexas a usinas ou autônomas, e de unidades armazenadoras.

O ProÁlcool foi um programa bem-sucedido de substituição em larga escala dos derivados de petróleo desenvolvido para evitar o aumento da dependência externa de divisas quando dos choques de preço de petróleo. De 1975 a 2000, foram produzidos cerca de 5,6 milhões de veículos a álcool hidratado. Acrescido a isso, o Programa substituiu por uma fração de álcool anidro (entre 1,1% a 25%) um volume de gasolina pura consumida por uma frota superior a 10 milhões de veículos a gasolina, evitando, assim, nesse período, emissões de gás carbônico da ordem de 110 milhões de toneladas de carbono (contido no CO2), a importação de aproximadamente 550 milhões de barris de petróleo e, ainda, proporcionando uma economia de divisas da ordem de 11,5 bilhões de dólares.

A cana-de-açúcar tem o mais alto retorno para os agricultores por hectare plantado e, como já dito, o custo de produção do açúcar no país é baixo (inferior a US$ 200/toneladas), podendo dessa maneira competir no mercado internacional. Tal mercado, entretanto, é volátil e apresenta grandes oscilações de preços.

Desde o lançamento do Proálcool, há 31 anos, a produção de álcool no país aumentou de 700 milhões de litros em 1975 para 15 bilhões de litros na safra de 2004/05. Durante esse período, os veículos movidos a álcool chegaram a atingir 85% das vendas totais no país, como no ano de 1985. Porém, devido à

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crise de abastecimento ocorrida em 1989, esse percentual reduziu-se em curto espaço de tempo para cerca de 2% e manteve-se nesse patamar até o início de 2003.

2.2 Biodiesel

As primeiras referências ao uso de óleos vegetais no Brasil datam da década de 1920. Posteriormente, algumas pesquisas foram desenvolvidas no Instituto Nacional de Tecnologia, no Instituto de Óleos do Ministério da Agricultura e no Instituto de Tecnologia Industrial de Minas Gerais. Neste último, em 1950, registraram-se estudos sobre o uso dos óleos de ouricuri, mamona e algodão em motores diesel de 6 cilindros.

A partir dos anos 70, quando o crítico cenário energético mundial4 instigou os países importadores de petróleo a reduzir sua dependência, as pesquisas sobre óleos vegetais ganharam novo impulso.

Em 1980, o Conselho Nacional de Energia (CNE), por meio da Resolução nº 7, instituiu o Programa Nacional de Produção de Óleos Vegetais para fins Energéticos (Proóleo), que entre outros objetivos, pretendia, primeiramente, substituir óleo diesel por óleos vegetais em mistura de até 30% em volume e incentivar a pesquisa tecnológica para promover a produção desses óleos nas diferentes regiões do país, buscando por fim a total substituição do óleo diesel por estes.

Também na década de 80, o Brasil produzia cerca de 15% do petróleo consumido e os preços internacionais eram os mais elevados de toda a história, resultantes do segundo choque do petróleo. Nos primeiros anos de sua implementação, o Proóleo deu maior atenção à soja. A partir de 1981, ao amendoim, e em 1982 à colza e girassol. Em 1986, a ênfase passou ao dendê. A meta era, em cinco anos, produzir 1,6 milhão de metros cúbicos de óleos para fins energéticos. Contudo, a viabilidade econômica era questionável, como demonstra a Tabela 1 a seguir:

4 Nos anos 70 ocorreram dois choques de preços do Petróleo. O primeiro ocorreu em 1973, quando os países do Oriente Médio descobriram que o petróleo é um bem não-renovável. Com isso, houve uma queda na produção, elevando o preço do barril de US$ 2,90 para US$ 11,65 em apenas três meses. As vendas para os EUA e a Europa também foram embargadas nessa época devido ao apoio dado Israel na Guerra do Yom Kippur (Dia do Perdão). Dessa forma, as cotações chegaram a um valor equivalente a US$ 40 nos dias de hoje. O segundo choque ocorreu em 79, quando a paralisação da produção iraniana, conseqüência da revolução Islâmica liderada pelo aiatolá Khomeini, provocou a elevação do preço médio do barril ao equivalente a US$ 80 atuais. Os preços permaneceram altos até 1986, quando voltaram a cair. Durante a invasão iraquiana no Kuwait, o barril chegou novamente ao patamar dos US$ 40, caindo após o fim do conflito.

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Tabela 1: Relação de preços internacionais óleos ve getais/petróleo em valores para 1980

Óleo vegetal selecionado Relação de preços internacionais óleos vegetais/petróleo (em barris equivalentes)

Dendê 3,30 Girassol 3,54

Soja 3,85 Amendoim 4,54

Com a queda dos preços do petróleo a partir de 1985, a viabilidade econômica ficou ainda mais prejudicada e este programa foi progressivamente esvaziado, embora oficialmente não tenha sido desativado.

Ainda nesse período, a Secretaria de Tecnologia Industrial do Ministério da Indústria e Comércio (STI/MIC), desenvolveu e lançou o Programa Nacional de Alternativas Energéticas Renováveis de Origem Vegetal, com algumas linhas de ação relacionadas aos óleos vegetais combustíveis, que levaram ao Programa Nacional de Energia de Óleos Vegetais (Programa OVEG) voltado especificamente para a comprovação técnica do uso dos óleos vegetais em motores ciclo Diesel, com a participação de institutos de pesquisa, órgãos técnicos do Governo Federal, fabricantes de motores, fabricantes de óleos vegetais e empresas de transportes. Foram desenvolvidos testes com ésteres puros (metílico e etílico) e misturas com 30% de éster metílico de óleo de soja, matéria-prima selecionada por sua maior disponibilidade.

Em 1985, foi afirmado, que do ponto de vista técnico, os óleos vegetais constituem o substituto mais adequado com relação ao diesel, por dois motivos principais: primeiro, não exigirem grandes modificações nos motores e segundo, apresentarem alto rendimento energético, o que foi demonstrado inclusive em testes de rodagem realizados em caminhões e ônibus que acumularam mais de 1 milhão de quilômetros percorridos.

Embora os custos de produção e de transformação, calculados com base em culturas oleaginosas tradicionais de ciclo anual, fossem naquele momento desfavoráveis em relação aos derivados de petróleo, não havia dúvida de que os óleos vegetais extraídos de culturas perenes5, pouco ou ainda não exploradas no país, poderiam representar uma possibilidade interessante na substituição parcial ou total das frações mais leves do petróleo, principalmente o óleo diesel. Ademais, sua produção maciça irá resultar em grandes benefícios sociais decorrentes do alto índice de geração de emprego por unidade de capital investido.

Como resultado dessa primeira fase do biodiesel no Brasil, nos anos 80, a empresa cearense Produtora de Sistemas Energéticos (Proerg) obteve a primeira patente brasileira de biodiesel, e produziu cerca de 300 mil litros de biodiesel utilizados nos testes.

5 São aquelas culturas cuja produção se prolonga por mais de dois anos, como por exemplo, o café.

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Nos últimos anos, com a valorização dos aspectos ambientais6 e da sustentabilidade dos sistemas energéticos, o interesse neste combustível foi retomado no Brasil. Diversas instituições passaram a desenvolver atividades neste campo e algumas ações governamentais foram tomadas. Em 2002, o Ministério de Ciência e Tecnologia (MCT) constituiu a Rede de Pesquisa e Desenvolvimento Tecnológico Probiodiesel, com representantes da universidade, do governo, da indústria automotiva e de potenciais produtores de biodiesel. Essa rede promoveu diversas reuniões e por intermédio de grupos técnicos procurou avançar na avaliação das perspectivas do biodiesel para as condições brasileiras.

O Governo do Presidente Luiz Inácio Lula da Silva, criou o Programa Nacional de Produção e Uso do Biodiesel (PNPB), que organizou a cadeia produtiva, definiu as linhas de financiamento, estruturou a base tecnológica e editou o marco regulatório do novo combustível.

Em 02 de julho de 2003, a Presidência da República instituiu por meio de Decreto um Grupo de Trabalho Interministerial (GTI) encarregado de apresentar estudos sobre a viabilidade de utilização de biodiesel como fonte alternativa de energia. Como resultado, o GTI apresentou um relatório que serviu de base para o Presidente da República estabelecer o PNPB como ação estratégica e prioritária ao país.

Foi aprovado pela Comissão Executiva Interministerial, em 31 de março de 2004, o plano de trabalho que norteia as ações do PNPB . No decorrer de 2004 as ações desenvolvidas permitiram cumprir uma etapa fundamental para o PNPB que culminou com seu lançamento oficial pelo Presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva, em 06 de dezembro de 2004.

O Programa, integrado por 14 ministérios no âmbito da Comissão Executiva Interministerial (CEI), coordenada pela Casa Civil da Presidência da República, conta com a gestão operacional do Ministério de Minas e Energia.

Juntamente ao lançamento oficial do PNPB, houve o lançamento do Marco Regulatório que estabeleceu as condições legais para a introdução do biodiesel, na proporção de 2% em 2008 e 5% em 2013, no diesel comercializado no Brasil.

O Programa Nacional de Produção e Uso de Biodiesel objetiva a implementação de forma sustentável, tanto técnica, quanto econômica, da produção e uso do Biodiesel, com enfoque na inclusão social e no desenvolvimento regional, via geração de emprego e renda .

O PNPB permite a utilização de diversas oleaginosas cultivadas no País, cujo óleo vegetal, obtido por esmagamento, pode ser processado segundo diferentes rotas tecnológicas (craqueamento, transesterificação etílica ou metílica). Esta flexibilidade possibilita a participação do agronegócio e da 6 Um marco importante nessa questão dos valores ambientais foi a Eco-92 realizada no Rio de Janeiro, Brasil e que tratou principalmente de três temas: Biodiversidade, Desertificação e Mudanças Climáticas. Além disso, foi nesse encontro que se buscou introduzir a idéia de Desenvolvimento Sustentável.

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agricultura familiar e o melhor aproveitamento do solo disponível para a agricultura no País.

Independente da oleaginosa e da rota tecnológica, o biodiesel é introduzido no mercado nacional de combustíveis com especificação única e qualificação internacional. A regulação e a fiscalização são de responsabilidade da Agência Nacional do Petróleo (ANP).

Por envolver diversas áreas e para dar o suporte em assistência técnica, em 2003, o Governo Federal também criou a Rede Brasileira de Tecnologia do Biodiesel (RBTB), formada por entidades de pesquisas localizadas em 23 estados da Federação.

3. A AGRICULTURA DE ENERGIA NO BRASIL

A agricultura de energia provém de quatro fontes de biomassa: as derivadas de cultivos ricos em carboidratos ou amiláceos, que geram o etanol; as derivadas de lipídios vegetais e animais, que geram o biodiesel; a madeira, que pode gerar o metanol, briquetes ou carvão vegetal; e os resíduos e dejetos da agropecuária e da agroindústria, que podem gerar calor e energia elétrica.

O Brasil explora menos de um terço de sua área agricultável, o que constitui a maior fronteira para expansão agrícola do mundo. O potencial é de cerca de 150 milhões de hectares, sendo 90 milhões referentes à novas fronteiras, e outros 60 referentes à terras de pastagens que podem ser convertidas em exploração agrícola a curto prazo.

Existem diversas alternativas para o fornecimento de óleos vegetais para a produção de Biodiesel no Brasil, que variam de acordo com as condições regionais para a cultura apropriada das espécies oleaginosas.

Em todas elas o Brasil tem vantagens comparativas na produção e pode criar vantagens competitivas para ser líder mundial no biomercado e no mercado internacional de energia renovável.

A primeira vantagem comparativa do Brasil vem da possibilidade de incorporar novas áreas à agricultura de energia sem competir com a agricultura de alimentos e com impactos ambientais limitados ao socialmente aceito. Assim, a área de expansão dos Cerrados, a integração pecuária–lavoura, as pastagens degradadas, as áreas de reflorestamento e as atualmente marginalizadas – como o Semi-Árido Nordestino – somam cerca de 200 milhões de hectares.

A segunda vantagem comparativa decorre da possibilidade de múltiplos cultivos no ano, segundo o modelo de “janelas produtivas”. São períodos com riscos razoáveis para a cultura principal, porém aceitáveis para culturas menos exigentes de recursos hídricos – como mamona ou girassol –, o que viabiliza a agricultura de energia com custos fixos parcialmente amortizados. Os sistemas de safra e safrinha, de cultivo de inverno e de duplo cultivo de verão já são adotados na produção de grãos no País.

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A terceira vantagem advém da extensão e da localização geográfica do Brasil, cuja maior parte situa-se nas faixas tropical e subtropical. Por isso, o nosso território recebe, durante o ano, intensa radiação solar (fonte da bioenergia), além de que dispõe de grande diversidade de clima (que reduz o risco de desabastecimento por perdas de colheita). Também possui exuberante biodiversidade, o que permite várias opções associadas à agricultura de energia, selecionando-se as mais convenientes. Essa possibilidade é bastante restrita na Europa, que está na dependência de poucas espécies, como a colza e a beterraba, e nos Estados Unidos, com o milho e a soja.

Quanto às vantagens competitivas, o Brasil detém a liderança na geração e na implantação de moderna tecnologia de agricultura tropical, acumulando valioso estoque de conhecimento e vasta experiência em pesquisa, desenvolvimento, inovação e gestão de ciência e tecnologia. Além disso, tem capacidade material, humana e institucional instaladas, o que permite antever que continuará a se situar na fronteira da tecnologia para a agricultura de energia, como o é na agricultura de alimentos.

Entre os cultivos com potencial agroenergético em exploração atualmente destacam-se: cana-de-açúcar, soja, girassol, dendê, mamona e canola. Entretanto, a lista de plantas potenciais é superior a cem, das quais pelo menos dez apresentam boa potencialidade para domesticação e futura exploração comercial.

4. MATÉRIAS-PRIMAS

4.1 Etanol

Qualquer produto que contenha uma quantidade considerável de carboidratos constitui-se em matéria-prima para obtenção de álcool. Entretanto, para que seja viável economicamente, é preciso que se considere o seu volume de produção, rendimento industrial e o custo de fabricação. De acordo com o tipo de carboidratos presentes nas matérias-primas elas podem ser classificadas em três tipos descritos a seguir: � Materiais açucarados : contêm açúcares simples, ou seja, carboidratos

com seis (monossacarídeos) ou doze átomos de carbono (dissacarídeos), como glicose, frutose, e maltose. Os monossacarídeos se limitam aos sucos de frutas e são diretamente fermentescíveis, sendo utilizados apenas na produção de álcool em bebidas como vinho e sidra. Já os dissacarídeos são fermentados após uma hidrólise ocorrida pela ação da enzima invertase, produzida pelo próprio agente de fermentação. Ex.: cana-de-açúcar, beterraba açucareira, melaços, mel de abelhas e frutas;

� Materiais amiláceos : contêm carboidratos mais complexos como amido e inulina que podem ser quebrados em glicose pela hidrólise ácida ou ação de enzimas num processo denominado malteação ou sacarificação. Ex.: grãos amiláceos (milho, sorgo, cevada, trigo) raízes e tubérculos (batata, batata-doce, mandioca);

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� Materiais celulósicos : São constituídos de celulose, e apesar de estarem disponíveis em grande quantidade, não oferecem por enquanto, condições econômicas na produção de etanol, pois para tornarem-se fermentescíveis devem passar por um processo complexo de hidrólise ácida. Ex.: palha, madeira, resíduos agrícolas e de fábricas de papel.

Na tabela a seguir serão comparados alguns substratos potenciais para produção de etanol no Brasil, considerando-se produtividade nas regiões características de produção, e quantidade média de carboidratos totais. Deve-se ter em mente que estes não devem ser os únicos parâmetros para escolha de uma matéria-prima, pois os custos da produção de etanol dependem também dos custos de cultivo, transporte e processamento além de outros aspectos não econômicos a serem considerados.

Tabela 1 - Potencialidade de algumas matérias primas açucaradas e amiláceas em carboidratos e etanol

Matéria-prima Carboidratos totais (%)

Produtividade agrícola (t/ha)

Produtividade carboidrato (t/ha)

Potencialidade em etanol (m3/ha)

Araruta 28,9 12 3,5 2,5 Batata 12 20 2,4 1,6 Batata-doce 26,1 17 4,4 3,2 Beterraba 15 15 2,2 1,6 Cana-de-açúcar 12-17 77 9,2-13 6,0 – 9,01

Inhame 26,8 25 6,7 4,8 Mandioca 34, 13,5 6,8 4,9 Milho 66 3,5 2,3 1,6 Sorgo 67 2,3 1,6 1,1 Trigo 65 2,3 1,5 1,1 1 Produção real de etanol a partir da cana-de-açúcar Fontes: BNDES. Documento de base para discussão sobre um programa de ampliação da produção de

álcool no Brasil com vistas à exportação, (Brasília, 07/2003), disponível em http://www.bndes.gov.br/conhecimento/seminario/ alcool_discussao.pdf; LEONEL, Magali and CEREDA, Marney Pascoli. Physicochemical characterization of some starchy tubers. Ciênc. Tecnol. Aliment., Jan./Apr. 2002, vol.22, no.1, p.65-69.; IBGE, DPE, COAGRO. Levantamento sistemático da produção agrícola, 2003/2004, disponível em http://www.ibge.gov.br.

A cana-de-açúcar, através do álcool e do bagaço, já representa 13,5% da matriz energética brasileira, mas poderá ter participação ainda maior quando for utilizada a palha, hoje queimada ou deixada na lavoura, podendo até duplicar sua produção sem plantar sequer um hectare a mais de cana. Embora a produção de álcool, a partir do caldo, já possua elevado padrão tecnológico, falta o melhor aproveitamento dos resíduos, especialmente da palha e do bagaço.

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4.2 Biodiesel As origens e processos de obtenção de matéria-prima para a produção de Biodiesel podem ser classificados em quatro categorias.

A variedade é muito grande e o maior desafio é escolher a oleaginosa mais adequada para explorar ao máximo as potencialidades regionais. Há algumas que ainda dependem de maior estudo e do desenvolvimento de melhores tecnologias de produção e de industrialização. Porém, outras estão pedindo passagem, apenas à espera de projetos que invistam na sua expansão. Independente da cultura, o plantio de oleaginosas para extração do biodiesel poderá significar para o Brasil, em futuro próximo, o que hoje representa a cana-de-açúcar na produção de álcool.

Além de atender a características regionais, o plantio de oleaginosas permitirá a integração com outras culturas. Com isso, seria possível potencializar o aproveitamento dos recursos da propriedade e garantir o desenvolvimento sustentável do interior do Brasil, especialmente das regiões mais remotas.

A seguir têm-se breves características das principais oleaginosas que contribuem para a produção de biodiesel no Brasil.

Mamona

A mamona é de origem tropical, possivelmente da Etiópia, no Leste da África. Ela pode ser considerada a rainha das oleaginosas para a produção do biodiesel, por ser de fácil cultivo, de baixo custo e por ter resistência à seca, sendo a cultura indicada para o Semi-Árido. A área plantada com mamona hoje no Brasil é calculada em aproximadamente 160 mil hectares. A Bahia é o maior produtor, responsável por 92% da colheita nacional, concentrada fortemente na região de Irecê. No entanto, de acordo com zoneamento agroecológico realizado, há pelo menos 406 municípios do Nordeste considerados aptos para o plantio dessa oleaginosa. Por esses dados, cerca de 4,5 milhões de hectares estariam disponíveis para o cultivo em condições de sequeiro.

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O Brasil é o terceiro maior exportador do óleo de mamona, participando com cerca de 12% do mercado mundial. Os principais clientes são Estados Unidos, Japão e Comunidade Européia.

É no biodiesel, no entanto, que o óleo de mamona poderá ter sua grande aplicação. Estimativas dão conta que a planta teria condições de fornecer mais de 60% do biodiesel em substituição ao diesel hoje utilizado no mundo.

Girassol

O biodiesel pode resgatar o cultivo do girassol no Brasil. Com alto teor de óleo nos grãos, consequentemente é a oleaginosa que dá maior rendimento por tonelada, e com a facilidade de sua extração por prensagem mecânica, é uma cultura apropriada para a pequena propriedade. É indicado para regiões onde já são produzidos grãos, como soja ou milho.

Dendê

Não existe oleaginosa que produza tanto óleo por hectare como o dendê. Sua produtividade é 10 vezes mais do que a soja. Trata-se de uma cultura com alto custo de implantação e longo período de exploração comercial. A indústria alimentícia absorve em torno de 85% da produção mundial de óleo de dendê, que em 2004 foi de 29,352 milhões de toneladas. O restante é aplicado na indústria de cosméticos, na siderurgia e em outros setores.

Algodão

A produção de biodiesel a partir do esmagamento do caroço de algodão é uma alternativa ainda pouco divulgada, mas que começa a atrair o interesse das grandes empresas, inclusive estrangeiras. Embora o Mato Grosso continue sendo o principal produtor brasileiro de pluma com cerca de 1 milhão de toneladas de algodão em caroço colhidas por ano (48% da produção doméstica), a Bahia se destaca como grande produtora da matéria-prima para óleos, o que gera segurança a essas empresas e faz com que acreditem na projeção do setor. Estudos apontam o Nordeste brasileiro como a região onde o caroço de algodão proporcionaria o biodiesel mais barato do país, com custo de R$ 0,712 pelo litro.

Amendoim

O amendoim é planta originária da América do Sul. São Paulo, destaca-se como o maior estado produtor do Brasil, o restante é produzido no Paraná, Rio Grande do Sul, Minas Gerais e Mato Grosso. Dentro do estado de São Paulo, destacam-se como regiões produtoras, Ribeirão Preto e Marília, sendo que em Ribeirão Preto, o amendoim assume uma especial importância, em função de estar entre as culturas de ciclo curto.

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Pinhão Manso

As perspectivas favoráveis da implantação racional da cultura do pinhão-manso decorrem não somente dos baixos custos de sua produção agrícola, conforme se deve esperar diante das vantagens anunciadas, mas sobretudo porque ele poderá ocupar os solos pouco férteis e arenosos, de modo geral inaptos à agricultura de subsistência, proporcionando, dessa maneira, uma nova opção econômica as regiões carentes do país.

Não há duvida de que a cultura racional do pinhão-manso, desenvolvida com o emprego de melhores técnicas, devera constituir-se entre as mais promissoras fontes de grãos oleaginosos para fins carburantes. Além do alto índice de produtividade, as maiores facilidades de seu manejo agrícola e de colheita das sementes, com relação a outras espécies como palmáceas, tornam a cultura do pinhão-manso bastante atrativa e especialmente recomendada para um programa de produção de óleos vegetais. Outros aspectos positivos referem-se à possibilidade de armazenagem das sementes por longos períodos de tempo, sem os inconvenientes da deterioração do óleo por aumento da acidez livre, conforme acontecem com os frutos de dendê ou de macaúba, os quais devem ser processados o mais depressa possível.

Babaçu

Atualmente, no Brasil, encontram-se vastos babaçuais espalhados ao sul da bacia amazônica, onde a floresta úmida cede lugar à vegetação típica dos cerrados. São os Estados do Maranhão, Piauí e Tocantins que concentram as maiores extensões de matas onde predominam os babaçus, formando, muitas vezes e espontaneamente, agrupamentos homogêneos, bastante densos e escuros, tal a proximidade entre os grandes coqueiros.

Macaúba

A macaúba é palmeira de vasta distribuição geográfica. Sua área de ocorrência estende-se desde os Estados de São Paulo e do Rio de Janeiro, passando por Minas Gerais e por todo o centro-oeste, nordeste e norte do Brasil, até ultrapassar as fronteiras, atingindo a América Central. Segundo consta no dicionário de Pio Corrêa, alguns estudiosos supõem que a macaúba chega, até mesmo, a alcançar o México.

Um quadro resumo foi elaborado para que possa se comparar entre as oleaginosas seu teor de óleo, produtividade por hectare e produção de óleo por hectare.

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Oleaginosas Teor de Óleo Produtividade (kg/ha.)

Produção de Óleo (kg/ha.)

Amendoim 50% 2.800 1.400

Mamona 45 a 55% 1.500 750

Dendê 22% 20.000 5.000

Soja 18% 2.200 600

Buriti 8% 15 a 25.000 1.000

Babaçu 66,2% - 1.000

Macaúba 20% 2.300 3.000

Pinhão Manso 48% 5.000 3.000

Girassol 38 a 48% 1.700 700

Coco da Baia 55 a 60% - 1.500

Canola 40 a 48% 1.000 750

Algodão 20 a 30% 1.800 450

Nabo Forrageiro 30 a 40% 800 380

Gergelim 40 a 50% 1.000 450

4.3 Carvão Vegetal e Lenha

Florestas

Dentro da cadeia de Agroenergia, um dos segmentos com forte representatividade é o de florestas energéticas, ou seja, aquelas cultivadas com o objetivo de obter lenha, carvão, briquetes finos e licor negro. Anualmente, as florestas plantadas geram 130 milhões de metros cúbicos de madeira em tora, conforme a Abraf. Em 2004, 42% do produzido foi destinado à energia (carvão vegetal e lenha), fazendo com que os dois participem na matriz energética nacional com 14 % e 13%, respectivamente. Porém a lenha está perdendo espaço para o briquete. A briquetagem gera um produto equivalente à lenha, só que com maior capacidade para geração de energia, devido à elevada densidade. Além do que no exterior, a lenha não é utilizada industrialmente.

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14,7 15,215,8 16,8

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2000/01 2001/02 2002/03 2003/04 2004/05 2005/06 2006/07

PRODUÇÃO DE ETANOL NO BRASIL (Milhões de m³)

4.4 Biogás

Dejetos Animais

Os dejetos dos animais sofrem um pré-tratamento no trato digestivo, que são verdadeiras câmaras naturais de fermentação anaeróbia onde se desenvolvem harmonicamente as bactérias da digestão anaeróbia. Portanto, ao se colocar estes resíduos num biodigestor, em pouco tempo haverá produção de biogás.

Na tabela a seguir será demonstrado o potencial de geração de biogás a partir de diferentes resíduos orgânicos animais:

Tabela 2 - Potencial de geração de biogás a partir de diferentes resíduos orgânicos animais Animal (Peso vivo)

kg esterco/ animal/dia

m3 biogás/ kg esterco

m3 biogás/ Kg SV

m3 biogás/ animal/dia

Bovino (500 kg) 10-15 0,038 0,094-o,31 0,36

Suíno (90 kg) 2,3 - 2,8 0,079 0,37 - 0,50 0,24

Aves (2,5 kg) 0,12 - 0,18 0,050 0,31-0,62 0,014

SV: Sólidos voláteis. Fonte: Oliveira, 1993.

5. PRODUÇÃO DOS BIOCOMBUSTIVEIS NO BRASIL

5.1 Etanol

Da produção total da cana-de-açúcar no Brasil, 15% está situada na região Norte/Nordeste e 85% na Região Centro/Sul.

Em 2005/06 a área de produção da cana-de-açúcar alcançou cerca de 5,8 milhões de hectares, totalizando mais de 408 milhões de toneladas durante a safra. Os principais estados produtores são: São Paulo com 60%, Paraná com 6%, Minas Gerais com 5,95%, Alagoas com 5,5% e Goiás com 3,6%.

As características naturais do país nos permite ter uma ótima produtividade na produção de etanol derivado da cana-de-açúcar: entre 6.500 e 7.000 litros de etanol por hectare de cana. Em 2005/06 a produção de etanol chegou a 15,8 milhões de metros cúbicos e a expectativa é que na safra de 2006/07 a produção chegue a 16,8 milhões de m³, como se pode ver no gráfico abaixo:

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Isso significa que a produção de etanol no Brasil pode crescer rapidamente. Por exemplo, com 160.000 hectares de cana-de-açúcar (o qual representa cerca de 6% da área de cana destinada a produção de etanol atualmente no país) poderia ser possível produzir 1 bilhão de litros de etanol extras.

Para se criar uma nova usina capaz de produzir 1 bilhão de litros de etanol é necessário um investimento de US$ 1,6 bilhão. Se a usina produzir açúcar e etanol (numa proporção de 50% para cada um) ou cerca de US$ 750 milhões se for uma destilaria autônoma que produz somente etanol. A figura 2 abaixo mostra a localização das usinas de cana-de-açúcar e Etanol no Brasil e a Figura 3 mostra as usinas previstas.

Figura 2: Localização das Usinas de Açúcar e

Previstas Álcool no Brasil

Figura 3: Localização das Usinas

É difícil especificar a área disponível para a produção de cana e, conseqüentemente de etanol. Ainda existem algumas áreas passiveis de serem plantadas com cana no oeste do estado de São Paulo (onde está havendo expansão). Nas extremidades dessa região, também existe potencial para expansão da produção no Triangulo Mineiro, no sul de Goiás e leste de Mato Grosso do Sul.

No entanto, quando levamos em conta que as áreas de Cerrado também são propicias à expansão da cultura canavieira, outras regiões podem se tornar produtoras, como se tem pensado para a região chamada de Meio Norte, abrangendo o norte de Tocantins e sul do Maranhão e Piauí.

A Universidade de Campinas elaborou um plano de expansão da cana-de-açúcar no país. Para isso, considerou as restrições climáticas, de declividade e de solo. Para demonstrar as áreas onde há capacidade de expansão e onde há restrições a UNICAMP desenhou os mapas dessas áreas, que se encontram abaixo.

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MAPAS PRODUZIDOS PELA UNIVERSIDADE DE CAMPINAS MAPA 1: POTENCIAL DO SOLO PARA PRODUÇÃO MAPA 2: POTENCIAL CLIMÁTICO PARA PRODUÇÃO DE CANA-DE-AÇÚCAR DE CANA-DE-AÇÚCA R

Legenda Alto Bom Médio Impróprio MAPA 3: POTENCIAL DE PRODUÇÃO SOLO E MAPA 3: POTENCIAL DE PRODUÇÃO SOLO E CLIMA SEM IRRIGAÇÃO CLIMA COM IRRIGAÇÃO

5.2 Biodiesel

Com estudos mostrando que as reservas comprovadas de petróleo no mundo somam 1,137 trilhão de barris e permitem suprir a demanda mundial apenas por 40 anos e o avanço do efeito estufa, os países intensificaram a velocidade dos investimentos na produção do biodiesel. O Brasil assim, também entrou na rota do biodiesel.

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Alto

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2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013

Fonte: Biodiesel.gov.br

Projeções do Mercado de Biodiesel no Brasil

A ANP estima que o potencial de produção atual situa-se ao redor de 176 milhões de litros anuais de biodiesel (B100), considerando a capacidade instalada declarada pelas empresas produtoras já licenciadas. Do período de janeiro a julho de 2005, a produção nacional atingiu 70.200 litros. Em 2006, estima-se que a produção foi de 848 milhões de litros. E para o ano de 2007 a perspectiva é que a produção seja de 1.877 milhões de litros. A projeção do mercado de biodiesel é fortemente crescente a partir de 2008, como se pode ver no gráfico abaixo, quando se torna obrigatório o uso do B2 no Brasil.

Hoje temos 94 usinas no Brasil, sendo 14 já construídas e produzindo; 14 construídas, porém sem produção; 20 em construção; 34 em planejamento; e 11 Usinas Piloto. Abaixo se tem mais detalhes, por região, das usinas aqui instaladas.

Região Norte

Na região Norte se localizam 4 Usinas de Biodiesel, sendo 1 construída e produzindo, 1 construída e sem produção, 1 em construção e 1 em planejamento. A região tem capacidade de produção em 2006 e 2007 de 8 milhões de litros por ano. As matérias primas utilizadas são: ácido graxo de palma, mamona e buriti. Serão usadas futuramente também soja, algodão, pinhão manso, girassol e sebo animal.

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Região Nordeste

Na região Nordeste se localizam 21 Usinas de Biodiesel, sendo 4 construídas e produzindo, 1 construída, porém sem produção ainda, 5 em construção, 7 em planejamento e 4 usinas piloto. A região teve capacidade de produção em 2006 de 120 milhões de litros durante o ano e em 2007 estima-se que a produção atingira os 248 de litros no ano. As matérias primas utilizadas são: mamona, soja, algodão, girassol e pinhão manso.

Região Centro-Oeste

Na região Centro-Oeste se localizam 29 Usinas de Biodiesel, sendo 4 construídas e produzindo, 7 construídas, porém sem produção ainda, 7 em construção e 11 em planejamento. A região teve capacidade de produção em 2006 de 197 milhões de litros durante o ano e em 2007 estima-se que a produção atingira os 426 milhões de litros no ano. As matérias primas utilizadas são: soja, castanha do Pará, amendoim, copaíba, babaçu, girassol, nabo forrageiro.

Região Sudeste

Na região Sudeste se localizam 25 Usinas de Biodiesel, sendo 7 construídas e produzindo, 5 construídas, porém sem produção ainda, 2 em construção e 10 em planejamento. A região teve capacidade de produção em 2006 de 356 milhões de litros durante o ano e em 2007 estima-se que a produção atingira os 718 milhões de litros no ano. As matérias primas utilizadas são: soja, girassol e sebo animal.

Região Sul

Na região Sudeste se localizam 25 Usinas de Biodiesel, sendo 2 construídas e produzindo, 6 em construção, 6 em planejamento e 1 usina pilto. A região teve capacidade de produção em 2006 de 167 milhões de litros durante o ano e em 2007 estima-se que a produção atingira os 477 milhões de litros no ano. As matérias primas utilizadas são: soja,

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girassol, sebo animal, nabo forrageiro e óleos de frituras.

6. A PARTICIPAÇÃO DA AGROENERGIA NA MATRIZ ENERGÉTI CA NACIONAL (MEN)

Historicamente o Brasil detém uma forte participação de energias renováveis em sua Matriz de Energética Nacional – MEN, a qual hoje representa uma parcela de 44%, enquanto no mundo esta participação é de 14%, segundo dados do Ministério das Minas e Energia.

Esta característica se deve a uma forte participação da hidroeletricidade (14,5%), mas, principalmente, da biomassa (29,1%).

A lenha e o carvão vegetal foram representativos na MEN porém, desde a década de 80, vêm perdendo participação, substituídos principalmente pelo Gás Liquefeito de Petróleo - GLP.

As, já citadas, duas crises de petróleo, levaram um crescimento da participação da biomassa, oriunda da cana-de-açúcar, na MEN da década de 70. O que voltou a ocorrer em 2003, Com o inicio das vendas dos automóveis com tecnologia de motores flex fuel, associado a um novo aumento do preço do petróleo, quando o álcool voltou a ser competitivo, uma vez que as vendas de automóveis leves flex fuel atingiam 4,2% em 2003 e 30,5% em 2004.

Por fim, outro mercado para a biomassa surgiu no início do ano de 2005 com o biodiesel que passou a ter um mercado assegurado com a publicação da Lei nº 11.097 (13/01/2005) para os próximos 8 anos.

O histórico da MEN mostra um ganho com a eficiência, dada pela substituição de lenha por GLP e eletricidade.

Por outro lado, a substituição dos derivados de petróleo pela Biomassa e eletricidade, este último na indústria, criou uma tecnologia e uma competência nacional para minimizar a dependência externa e os impactos deste setor na economia brasileira.

Analisando o mercado futuro, num horizonte de 15 anos, existe uma tendência da MEN em que sua característica renovável se manterá no horizonte estudado, mesmo com níveis críticos do potencial hidroelétrico, visto o potencial existente de várias fontes com esta característica e as inserções e/ou desenvolvimento de tecnologias, tais como os veículos flexfuel e o biodiesel.

Estudo do Ministério de Minas e Energia - MME mostra uma redução da participação de petróleo e derivados em favorecimento da Biomassa, assim como uma redução da participação da hidroeletricidade, conforme mostra o gráfico abaixo.

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Matriz Energética Nacional

Este estudo da Matriz apresenta um mercado promissor tanto para o álcool como para o biodiesel no setor de transporte, dado um forte crescimento da frota de carros flexfuel e do mercado do diesel.

Atualmente, a participação do setor de transporte na MEN é relevante, pois cerca de 30% de toda energia consumida no Brasil em 2004 ocorreram nesse setor. Sabe-se que um sistema de transporte eficiente depende da amplitude, qualidade e da integração de sua infra-estrutura, mas também do rendimento e a taxa de ocupação dos veículos da frota nacional.

Estudos da MEN sinalizam uma perda de participação de mercado para o diesel e a gasolina no horizonte até 2020, em favorecimento à expansão do consumo de álcool hidratado, gás natural veicular e óleos vegetais para composição do biodiesel. Estas projeções de demanda de etanol exigem uma expansão de 50 novas destilarias e 3,5 Milhões ha de área plantada até 2023, o que representa investimentos da ordem de US$ 3,5 bilhões em novas destilarias, valor equivalente a uma nova refinaria de petróleo com capacidade de processamento de 300 mil bdp.

No contexto do Biodiesel, no caso de um mercado superior ao assegurado por lei, haveria a necessidade de redução dos seus custos de produção para substituir as importações de óleo diesel. Mas, uma alternativa para uma maior exploração do potencial deste setor no Brasil é pensar o setor agropecuário e as comunidades rurais auto-suficientes em relação ao diesel, com base no biodiesel. Essa é uma estratégia consistente com a abordagem de energia distribuída que se deseja dar ao Biodiesel e que explora sua característica de agregação de valor local.

A utilização do novo combustível depende, entre outros fatores, de uma relação positiva entre a energia consumida no processo de produção, e a energia disponibilizada pelo combustível produzido. É fundamental ter um balanço

2004

2005

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energético positivo para a utilização racional de derivados de biomassa como combustíveis.

Por exemplo, estudos detalhados de custos energéticos conduzidos para o etanol no contexto brasileiro, indicam que para cada unidade de energia investida na agroindústria canavieira, são produzidas cerca de 8,3 unidades de energia renovável. Comparativamente, nos EUA o etanol tem uma relação de apenas 1,3.

No Brasil, alguns estudos precursores do balanço energético na produção de biodiesel foram realizados nos anos 80. Avaliando o biodiesel de soja, determinou-se uma relação produção/consumo de 1,42. Uma avaliação preliminar mais recente para o biodiesel de soja, sem ter em conta os subprodutos, estimou uma demanda energética de 30 MJ por litro de biodiesel, resultando em uma relação produção/consumo de 1,43.

Outros estudos chegaram a um balanço energético de aproximadamente 5,6 para o dendê, e de 4,2 para a macaúba, o que confirma o potencial das palmáceas como fonte de matéria-prima, ou seja, maior produtividade e disponibilidade de resíduos de valor energético.

O Brasil dispõe de poucos estudos sobre o balanço energético do biodiesel. O tema é importante e deve ser melhor explorado para fundamentar decisões corretas.

7. MUDANÇAS NAS LEGISLAÇÕES E POLÍTICAS RELATIVAS À AGROENERGIA E AOS BIOCOMBUSTÍVEIS.

7.1 Legislação

O processo de consolidação do uso da biomassa em nossa matriz energética sempre esteve pautado em ações do Governo. Como exemplos, podem ser mencionados os marcos regulatórios de programas como o Proálcool, o Proinfa e, mais recentemente, o Programa Nacional de Produção e Uso de Biodiesel. O próprio Programa “Luz para todos” contempla a utilização de combustíveis renováveis para alimentação de geradores estacionários em regiões remotas.

Um grande incentivo que pode ser direcionado ao desenvolvimento da agroenergia é o estabelecido pela Lei nº 9.991, de 2000, a qual determina que parte da receita operacional líquida de geradoras (1%), transmissoras (2%) e distribuidoras (0,5%) de energia elétrica seja destinada ao investimento em programas de Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) no setor elétrico nacional. A partir de 2006, o percentual de recursos a ser enviado pelas distribuidoras passa a ser de 0,75% de sua receita operacional líquida, de acordo com o estabelecido também por esta Lei.

Outro marco importante é o Programa de Incentivo às Fontes Alternativas de Energia Elétrica – PROINFA, que objetiva agregar a maior diversificação

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energética possível. Coerente com o projeto de garantir ao País as bases para um crescimento que se mantenha por longo período de tempo e tenha por diretriz principal os princípios do Desenvolvimento Sustentável, o Programa prevê a contratação de 1423 MW para a fonte eólica, 1192 MW para as pequenas centrais hidroelétricas e 685 MWpara a fonte biomassa, incluindo o setor sucroalcooleiro e resíduos de madeira.

Para os sistemas isolados, manteve-se, por mais 20 anos, a aplicação do mecanismo de rateio do alto custo de geração de energia elétrica a partir da queima de combustíveis fósseis em comunidades isoladas, localizadas principalmente na região Norte. O custo do consumo do combustível (contabilizado na chamada conta CCC) é rateado entre os consumidores de todo o país, de modo a equilibrar a tarifa de energia com a capacidade de pagamento nas regiões isoladas. Além disso, a aplicação do mecanismo de rateio foi também estendida para pequenas centrais hidrelétricas ou para geração de energia elétrica a partir de fontes alternativas, como forma de estimulá-las. Incluem-se nessas fontes a utilização do biodiesel, em substituição ao diesel, para geração termoelétrica, nos termos da Lei n° 10.848/04.

O Proálcool também é considerado como um marco na legislação de Agroenergia. A decisão sobre a produção de etanol a partir de cana-de-açúcar, além do preço do açúcar, é política e econômica, envolvendo investimentos adicionais. Tal decisão foi tomada em 1975, quando o governo federal, através do referido programa, decidiu encorajar a produção do álcool em substituição à gasolina pura, com o objetivo de reduzir as importações de petróleo, então com um grande peso na balança comercial externa. Nessa época, o preço do açúcar no mercado internacional vinha decaindo rapidamente, o que tornou conveniente a mudança de produção de açúcar para álcool.

No programa Brasileiro do Álcool, o Proálcool, destacam-se cinco fases distintas:

1ª) 1975 a 1979 – Fase inicial

O esforço foi dirigido sobretudo para a produção de álcool anidro para a mistura com gasolina. Nessa fase, o esforço principal coube às destilarias anexas. A produção alcooleira cresceu de 600 milhões de litros por ano (1975-76) para 3,4 bilhões de litros por ano (1979-80). Os primeiros carros movidos exclusivamente a álcool surgiram em 1978.

2ª) 1980 a 1985 – Fase da Afirmação

O segundo choque do petróleo (1979-80) triplicou o preço do barril de petróleo e as compras desse produto passaram a representar 46% da pauta de importações brasileiras em 1980. O governo, então, resolve adotar medidas para plena implementação do Proálcool. São criados organismos como o Conselho Nacional do Álcool - CNAL e a Comissão Executiva Nacional do Álcool - CENAL para agilizar o programa. A produção alcooleira atingiu um pico de 12,3 bilhões de litros em 1986-87, superando em 15% a meta inicial do

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governo de 10,7 bilhões de litros por ano para o fim do período. A proporção de carros a álcool no total de automóveis de ciclo Otto (passageiros e de uso misto) produzidos no país aumentou de 0,46% em 1979 para 26,8% em 1980, atingindo um teto de 76,1% em 1986.

3ª) 1986 A 1995 – Fase de Estagnação

A partir de 1986, o cenário internacional do mercado petrolífero é alterado. Os preços do barril de óleo bruto caíram de um patamar de US$ 30 a 40 para um nível de US$ 12 a 20. Esse novo período, denominado “contra-choque do petróleo”, colocou em xeque os programas de substituição de hidrocarbonetos fósseis e de uso eficiente da energia em todo o mundo. Na política energética brasileira, seus efeitos foram sentidos a partir de 1988, coincidindo com um período de escassez de recursos públicos para subsidiar os programas de estímulo aos energéticos alternativos, resultando num sensível decréscimo no volume de investimentos nos projetos de produção interna de energia. A oferta de álcool não pôde acompanhar o crescimento descompassado da demanda, com as vendas de carro a álcool atingindo níveis superiores a 95,8% das vendas totais de veículos de ciclo Otto para o mercado interno em 1985.

Os baixos preços pagos aos produtores de álcool a partir da abrupta queda dos preços internacionais do petróleo (que se iniciou ao final de 1985) impediram a elevação da produção interna do produto. Por outro lado, a demanda pelo etanol, por parte dos consumidores, continuou sendo estimulada por meio da manutenção de preço relativamente atrativo ao da gasolina e da manutenção de menores impostos nos veículos a álcool comparados aos à gasolina. Essa combinação de desestímulo à produção de álcool e de estímulo à sua demanda, pelos fatores de mercado e intervenção governamental assinalados, gerou a crise de abastecimento da entressafra 1989/90. Vale ressaltar que, no período anterior à crise de abastecimento houve desestímulo tanto à produção de álcool, conforme citado, quanto à produção e exportação de açúcar, que àquela época tinham seus preços fixados pelo governo.

A produção de álcool manteve-se em níveis praticamente constantes, atingindo 11,8 bilhões de litros na safra 1985/86; 10,5 bilhões em 1986/87; 11,5 bilhões em 1987/88; 11,7 bilhões em 1988/89 e 11,9 bilhões em 1989/90. As produções brasileiras de açúcar no período foram de 7,8 milhões de toneladas na safra 1985/86; 8,2 milhões em 1986/87; 7,9 milhões em 1987/88; 8,1 milhões em 1988/89 e 7,3 milhões de toneladas em 1989/90. As exportações de açúcar, por sua vez, reduziram-se nesse período, passando de 1,9 milhões de toneladas na safra 1985/86 para 1,1 milhão de toneladas na safra 1989/90.

Apesar de seu caráter efêmero, a crise de abastecimento de álcool do fim dos anos 1980 afetou a credibilidade do Proálcool, que, juntamente com a redução de estímulos ao seu uso, provocou, nos anos seguintes, um significativo decréscimo da demanda e, consequentemente, das vendas de automóveis movidos por esse combustível.

Deve-se acrescentar ainda outros motivos determinantes que, associados, também contribuíram para a redução da produção dos veículos a álcool. No

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final da década de 1980 e início da década de 1990, o cenário internacional dos preços do petróleo sofreu fortes alterações, tendo o preço do barril diminuído sensivelmente. Tal realidade, que se manteve praticamente como a tônica dos dez anos seguintes, somou-se à tendência, cada vez mais forte, da indústria automobilística de optar pela fabricação de modelos e motores padronizados mundialmente (na versão à gasolina). No início da década de 1990, houve também a liberação, no Brasil, das importações de veículos automotivos (produzidos, na sua origem exclusivamente na versão gasolina e diesel) e, ainda, a introdução da política de incentivos para o “carro popular” – de até 1000 cilindradas – desenvolvido para ser movido a gasolina.

A crise de abastecimento de álcool somente foi superada com a introdução no mercado do que se convencionou chamar de mistura MEG, que substituía, com igual desempenho, o álcool hidratado. Essa mistura (60% de etanol hidratado, 34% de metanol e 6% de gasolina) obrigaria o país a realizar importações de etanol e metanol (que no período entre 1989-95 superou a 1 bilhão de litros) para garantir o abastecimento do mercado ao longo da década de 1990. A mistura atendeu as necessidades do mercado e não foram constatados problemas sérios de contaminação e de saúde pública.

4ª) 1995 a 2000 – Fase de Redefinição

Os mercados de álcool combustível, tanto anidro quanto hidratado, encontram-se liberados em todas as suas fases de produção, distribuição e revenda sendo os seus preços determinados pelas condições de oferta e procura. De cerca de 1,1 milhão de toneladas de açúcar que o país exportava em 1990 passou-se à exportação de até 10 milhões de toneladas por ano (dominando o mercado internacional e barateando o preço do produto). Se questionou como o Brasil, sem a presença da gestão governamental no setor, encontrará mecanismos de regulação para os seus produtos (altamente competitivos): açúcar para o mercado interno, açúcar para o mercado externo, etanol para o mercado interno e etanol para o mercado externo. Dadas as externalidades positivas do álcool e com o intuito de direcionar políticas para o setor sucroalcooleiro, foi criado, por meio do decreto de 21 de agosto de 1997, o Conselho Interministerial do Açúcar e do Álcool - CIMA. Segundo os dados da Associação Nacional de Fabricantes de Veículos Automotores – ANFAVEA, de 1998 a 2000, a produção de veículos a álcool manteve-se em níveis de cerca de 1%. A constituição da chamada “frota verde”, ou seja, o estímulo e a determinação do uso do álcool hidratado em determinadas classes de veículos leves, como os carros oficiais e táxis, tem provocado um debate entre especialistas da área econômica, contrários aos incentivos, e os especialistas da área ambiental, favoráveis aos incentivos ao etanol. Em 28 de maio de 1998, a medida provisória nº 1.662 dispôs que o Poder Executivo elevará o percentual de adição de álcool etílico anidro combustível à gasolina obrigatório em 22% em todo o território nacional até o limite de 24%. Os produtores e centros de pesquisa testaram a mistura de álcool e óleo diesel.

Para a implementação do Proálcool, foi estabelecido, em um primeiro instante, um processo de transferência de recursos arrecadados a partir de parcelas dos preços da gasolina, diesel e lubrificantes para compensar os custos de

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produção do álcool, de modo a viabilizá-lo como combustível. Assim, foi estabelecida uma relação de paridade de preços entre o álcool e o açúcar para o produtor e incentivos de financiamento para as fases agrícola e industrial de produção do combustível. Com o advento do veículo a álcool hidratado, a partir de 1979, adotou-se políticas de preços relativos entre o álcool hidratado combustível e a gasolina, nos postos de revenda, de forma a estimular o uso do combustível renovável.

5ª) Fase Atual

Trinta e um anos depois do início do Proálcool, o Brasil vive agora uma nova expansão dos canaviais com o objetivo de oferecer, em grande escala, o combustível alternativo. O plantio avança além das áreas tradicionais, do interior paulista e do Nordeste, e espalha-se pelos cerrados. A nova escalada não é um movimento comandado pelo governo, como a ocorrida no final da década de 70, quando o Brasil encontrou no álcool a solução para enfrentar o aumento abrupto dos preços do petróleo que importava. A corrida para ampliar unidades e construir novas usinas é movida por decisões da iniciativa privada, convicta de que o álcool terá, a partir de agora, um papel cada vez mais importante como combustível, no Brasil e no mundo.

A tecnologia dos motores flex fuel veio dar novo fôlego ao consumo interno de álcool. O carro que pode ser movido a gasolina, álcool ou uma mistura dos dois combustíveis foi introduzido no País em março de 2003 e conquistou rapidamente o consumidor. Hoje a opção já é oferecida para quase todos os modelos das indústrias e, os automóveis bicombustíveis ultrapassaram pela primeira vez os movidos a gasolina na corrida do mercado interno. Diante do nível elevado das cotações de petróleo no mercado internacional, a expectativa da indústria é que essa participação se amplie ainda mais. A relação atual de preços faz com que o usuário dos modelos bicombustíveis dê preferência ao álcool.

A velocidade de aceitação pelos consumidores dos carros bicombustíveis, ou flex fuel, foi muito mais rápida do que a indústria automobilística esperava. As vendas desses veículos já superaram as dos automóveis movidos a gasolina. Os bicombustíveis representaram 49,5% do total de automóveis e comerciais leves vendidos no mês, enquanto a participação dos movidos a gasolina ficou em 43,3%, segundo a Anfavea – Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores. A preferência do mercado levou a Câmara Setorial de Açúcar e do Álcool, órgão ligado ao governo, a rever suas projeções e indicar que a participação da nova tecnologia deverá atingir 75% dos carros vendidos em 2006.

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BOX I: Lições do Programa de Etanol do Brasil

O Brasil, o maior país produtor de etanol, empreendeu o maior programa de produção de etanol baseado na cana-de-açúcar no meio dos anos 70. Durante períodos de preços baixos dos óleos, o Programa Brasileiro foi criticado por ser anti-econômico, mas hoje a indústria de etanol é reconhecida como um setor eficiente que traz benefícios substanciais para a economia do País.

Mas quais são os fatores que fizeram com que o Brasil obtivesse sucesso com o etanol?

Primeiro, o país possui em abundância terra propícia para agricultura e um clima apropriado para a cana de açúcar. Segundo, quase todos os moinhos de açúcar no Brasil podem produzir tanto etanol como açúcar. Terceiro, o Brasil alcançou investimentos significantes na produção de açúcar e no processamento de etanol. Entre 1975 e 2000, a plantação de cana-de-açúcar em São Paulo cresceu 33%, a produção de etanol cresceu 14% e

a produtividade do processo de fermentação cresceu 130%. Quarto, o Brasil tem levado vantagens na sinergia com a eletricidade e produção de energia. No momento, a co-geração de energia do bagaço supre a maioria da energia necessária para o processo de produção do biocombustivel, e também permite uma quantidade crescente de eletricidade a ser exportada. Quinto, o Governo Brasileiro forneceu incentivos, padrões técnicos ajustados, apoiou tecnologias para a produção e uso do etanol e assegurou condições apropriadas de mercado.

A experiência Brasileira passa algumas lições relevantes de políticas. Em torno das políticas mais importantes do sucesso Brasileiro estão suas exigências que a industria de automóveis produzam carros usando Biocombustíveis puros ou em misturas; subsídios para os Biocombustíveis no inicio do desenvolvimento de seu comércio; a abertura do mercado de energia para energias renováveis; apoio pela posse de moinhos de açúcar; e estimulação em atividades rurais baseadas na energia de biomassa para aumentar o investimento em áreas rurais.

Hoje, as decisões da política para o setor sucroalcooleiro estão subordinadas ao Conselho Interministerial do Açúcar e do Álcool – CIMA, cuja presidência é exercida pelo MAPA, onde também participam os Ministérios da Fazenda, de Minas e Energia e do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior. A atuação desse Conselho tem o amparo de algumas normativas, com destaque para as que tratam da obrigatoriedade da mistura do álcool anidro à gasolina e os que definem os instrumentos de política econômica por meio dos quais o Governo pode regular o mercado de álcool combustível.

Em relação ao Programa Nacional de Produção e Uso do Biodiesel, compete destacar que o mesmo foi estruturado em um tripé que busca equilíbrio entre os aspectos econômico, ambiental e social.

Com seu lançamento, em dezembro de 2004, o Governo Federal estabeleceu um conjunto de instrumentos normativos para proporcionar as bases para a sua produção e o uso comercial no País.

A Lei do Biodiesel , Lei nº 11.097/05, oriunda da aprovação pelo Congresso Nacional da MP n° 214/04, introduziu o biodiesel na matriz energética brasileira, alterando as leis 9.478, de 6 de Agosto de 1997, 9.847, de 26 de Outubro de 1999 e a 10.636, de 30 de Dezembro de 2002 e atribuiu à ANP, pela resolução ANP nº 41, de 24 de novembro de 2004 a competência para regular sua produção e comercialização. Ademais, esta lei junto com uma nova

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resolução da ANP, nº 42, de 24 de novembro de 2004, estabeleceu os percentuais mínimos de 2% e 5% de adição de biodiesel ao óleo diesel, a serem atingidos a partir de janeiro de 2008 e 2013, respectivamente.

Para regulamentar a Lei do Biodiesel, foi editado o Decreto nº 5.448/05, que autorizou a mistura de 2% de biodiesel ao óleo diesel de origem fóssil, até que a mistura se torne obrigatória a partir de 2008. Este decreto também estabeleceu a possibilidade de uso do biodiesel em percentuais superiores a 2%, mediante autorização prévia da ANP, em condições específicas, tais como: frotas veiculares cativas ou específicas; transporte aquaviário ou ferroviário; geração de energia elétrica; e processo industrial específico.

Em 23 de Setembro de 2005, o Conselho Nacional de Política Energética (CNPE) editou a Resolução n° 03, que antecipou para janeiro de 2006 a obrigatoriedade do uso de 2% de biodiesel misturado ao óleo diesel de petróleo, previsto inicialmente para janeiro de 2008, nos termos da Lei n° 11.097/95 citada anteriormente. Entretanto, tal antecipação é restrita ao biodiesel com selo “Combustível Social” e comercializada em leilões públicos, coordenados pela ANP. Essa medida é de extrema relevância para tornar viável os empreendimentos de produção de biodiesel já existentes, bem como projetos futuros, com a devida observância das metas do Governo Federal para a inclusão social e a participação da agricultura familiar.

O biodiesel a ser comercializado, seja via leilões públicos ou por meio de negociação direta entre os agentes privados, deve obedecer às especificações técnicas estabelecidas pela ANP na Resolução ANP nº 31, de 04 de novembro de 200 e da Portaria MME 483, de 3 de outubro de 2005. Essas especificações foram frutos de uma Consulta Pública que também contemplou a revisão de um conjunto de portarias que ainda não contemplavam a figura do novo combustível. Essas portarias fazem parte do pacote lançado em dezembro de 2004, que também trouxe a Medida Provisória nº 227, convertida na Lei nº 11.116, de 18 de Maio de 2005, que dispõe sobre o Registro Especial, na Secretaria da Receita Federal do Ministério da Fazenda, de produtor ou importador de biodiesel e sobre a incidência da Contribuição para o PIS/Pasep e da COFINS sobre as receitas decorrentes da venda desse produto.

Essa Lei foi regulamentada pelo Decreto nº 5.297/04, que dispõe sobre os coeficientes de redução das alíquotas de contribuição para o PIS/PASEP e da COFINS, incidentes na produção e na comercialização de biodiesel, sobre os termos e as condições para a utilização das alíquotas diferenciadas. Posteriormente esse decreto foi substituído pelo Decreto n° 5.457, de 06 de Junho de 2005, que criou o conceito de “Combustível Social” e estabeleceu níveis diferenciados de incentivos fiscais, até a completa desoneração fiscal, de forma a estimular a inclusão social e a participação da agricultura familiar na cadeia produtiva. Para ter acesso ao benefício, a indústria deve comprovar a aquisição de percentuais mínimos de matéria-prima junto a esse público, num processo que também envolve regras de preços e compromissos com a prestação de serviços de assistência técnica.

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Ademais, o Decreto n° 5.298/04 instituiu alíquota z ero de IPI na cadeia produtiva do biodiesel. Além dos benefícios tributários em âmbito federal, a Lei n° 10.848/04 inclui a possibilidade de uso do biodi esel na Conta de Consumo de Combustíveis – CCC, com vistas a compensar o custo mais elevado de combustível na geração elétrica em sistemas isolados.

Já no âmbito estadual, o Programa ainda está sendo debatido pelo Confaz, especialmente para equacionar a questão da incidência do ICMS, cujas alíquotas incidentes sobre os combustíveis fósseis apresentam grande variação. Há inclusive casos atípicos em que alíquota para o biodiesel é de 18%, enquanto a do concorrente fóssil é de apenas 12%. Embora seja de outra esfera, é importante ressaltar que a definição da política de ICMS para o biodiesel é um aspecto meritório para o desenvolvimento da produção e no uso deste combustível renovável no Brasil.

Considerando-se incentivos de ordem não-tributária a pequenos agricultores, existem basicamente dois mecanismos de apoio. De um lado, agricultores familiares têm acesso a linhas de crédito do Pronaf, por meio dos bancos que operam com esse Programa, assim como assistência técnica, prestada pelo Ministério do Desenvolvimento Agrário, em convênio com entidades públicas e privadas, ou fornecida pelas próprias empresas detentoras do selo “Combustível Social”. De forma indireta, os agricultores familiares também serão beneficiados pelo selo “Combustível Social”, pois as empresas produtoras de Biodiesel só terão tratamento tributário diferenciado se adquirirem matérias-primas desses agricultores.

Um entrave ainda por ser equacionado diz respeito às restrições à utilização da Cédula de Produto Rural como instrumento de financiamento à produção. Segundo interpretação do Banco Central, tal instrumento deve ter como lastro a produção agrícola. Como inexiste a possibilidade de estocagem da cana-de-açúcar e o álcool já é considerado produto industrializado, o setor sucroalcooleiro não tem acesso ao instrumento.

Quanto a incentivos na etapa industrial, as empresas podem contar com linhas especiais de financiamento do BNDES, Resolução BNDES nº 1.135/04, que tem um Programa de Apoio Financeiro a Investimentos em Biodiesel no âmbito do Programa de Produção e Uso do Biodiesel como Fonte Alternativa de Energia para a instalação de indústrias de biodiesel, compra de equipamentos, entre outros, atendendo a suas necessidades de investimentos fixos.

7.2 Diretrizes de política de Agroenergia

O Brasil já possui uma matriz energética com significativa participação de energias renováveis, tendo acumulado importante experiência na produção de álcool como combustível. A ampliação dessa participação na matriz, a partir do desenvolvimento da agroenergia, propicia a oportunidade de executar políticas, de cunho social, ambiental e econômico, além de alinhar-se com ações de caráter estratégico no âmbito internacional.

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A concretização da expansão da agroenergia pressupõe o alinhamento de diversas políticas governamentais, como política tributária, de abastecimento, agrícola, agrária, creditícia, fiscal, energética, de ciência e tecnologia, ambiental, industrial, de comércio internacional e de relações exteriores e, quando for o caso, do seu desdobramento em legislação específica. Exemplos desse alinhamento podem ser encontrados nos modelos tributários que privilegiem, na fase embrionária, projetos de agroenergia que necessitam de escala para sua viabilização econômica.

As diretrizes gerais dessa política são:

Desenvolvimento da agroenergia - pela expansão do setor de etanol, implantação da cadeia produtiva do biodiesel, aproveitamento de resíduos e expansão de florestas energéticas cultivadas, com abrangência nacional, objetivando a eficiência e produtividade e privilegiando regiões menos desenvolvidas.

Agroenergia e produção de alimentos – A expansão da agroenergia não afetará a produção de alimentos para o consumo interno, principalmente da cesta básica. Pelo contrário, co-produtos do biodiesel, por exemplo, torta de soja e de girassol, tendem a complementar a oferta de produtos para a alimentação humana e animal.

Desenvolvimento tecnológico - Pesquisa e desenvolvimento de tecnologias agropecuárias e industriais adequadas às cadeias produtivas da agroenergia, que proporcionem maior competitividade, agregação de valor aos produtos e redução de impactos ambientais. Concomitantemente, deverá contribuir para a inserção econômica e social, inclusive com o desenvolvimento de tecnologias apropriadas ao aproveitamento da biomassa energética em pequena escala.

Autonomia energética comunitária. Propiciar às comunidades isoladas, aos agricultores individualmente, cooperativados ou associados, e aos assentamentos de reforma agrária, meios para gerar sua própria energia, em especial nas regiões remotas do território nacional.

Geração de emprego e renda. A política de agroenergia deve constituir-se em um vetor da interiorização do desenvolvimento, da inclusão social, da redução das disparidades regionais e da fixação das populações ao seu habitat, em especial pela agregação de valor na cadeia produtiva e integração às diferentes dimensões do agronegócio.

Otimização do aproveitamento de áreas antropizadas . As culturas energéticas devem ser produzidas respeitando a sustentabilidade dos sistemas produtivos e desestimulando a expansão injustificada da fronteira agrícola ou o avanço rumo a sistemas sensíveis ou protegidos, como a floresta amazônica, a região do Pantanal, entre outras. Poderá, ainda, contribuir para a recuperação de áreas degradadas, podendo ser associadas ao seqüestro de carbono.

Otimização das vocações regionais – Incentivo à instalação de projetos de agroenergia em regiões com oferta abundante de solo, radiação solar e mão-

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de-obra, propiciando vantagens para o trabalho e para o capital, dos pontos de vista privado e social, considerando-se as culturas agrícolas com maior potencialidade.

Liderança no comércio internacional de biocombustív eis - O Brasil reúne vantagens comparativas que lhe permitem ambicionar a liderança do mercado internacional de biocombustíveis e implementar ações de promoção dos produtos energéticos derivados da agroenergia. A ampliação das exportações, além da geração de divisas, consolidarão o setor e impulsionarão o desenvolvimento do País.

Aderência à política ambiental . Os programas de agroenergia deverão aderir-se à política ambiental brasileira e estar em perfeita integração com as disposições do Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL) do Protocolo de Kyoto, aumentando a utilização de fontes renováveis, com menor emissão de gases de efeito estufa e contribuindo com a mitigação deste efeito por meio do seqüestro de carbono.

Finalmente, deverão ser atendidas demandas transversais e norteadoras, em especial os estudos de caráter socioeconômico e estratégico, os estudos prospectivos e suas conexões com temas ambientais, econômicos e sociais, objetivando a orientação na tomada de decisões. Sob o ponto de vista da gestão destas diretrizes de agroenergia, propõe-se que seja efetuada por um conselho gestor interministerial e subsidiada por grupos de especialistas.

8. EVOLUÇÃO RECENTE DA SITUAÇÃO E PERSPECTIVA DA AGROENERGIA E BIOCOMBUSTÍVEIS

O Brasil é um exemplo mundial de país bem sucedido na produção de biomassa para geração de energia. Com a promissora perspectiva de crescimento do uso de bioenergia, mais especificamente de álcool e biodiesel no mercado mundial, novos desafios produtivos e organizacionais estão sendo colocados aos agentes destes setores.

Ao longo das últimas três décadas a cadeia produtiva do álcool no Brasil desenvolveu um produto competitivo, o que foi possível graças às políticas públicas, dentre elas níveis de consumo garantidos pelas mesmas. Em relação ao biodiesel, embora com uma produção interna ainda incipiente, trata-se de uma fonte de energia da biomassa com grandes perspectivas de expansão nos próximos anos, seja pela adição de 2% no óleo do petróleo atualmente ou pela adição de 5% prevista para o início da próxima década.

8.1 Etanol

O Etanol tem sido reconhecido mundialmente como o combustível alternativo e ecologicamente correto mais viável para a substituição do petróleo. Nesse contexto, tem crescido nos últimos anos a demanda pelo produto em todo o mundo, especialmente nos países desenvolvidos.

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Diversos países da União Européia, da Ásia e os Estados Unidos têm deixado evidente seu interesse em ampliar a produção e o uso do etanol. Assim, muitos investimentos têm sido feitos nesse setor e o Brasil, que é um país pioneiro no uso deste Biocombustível, tem recebido grandes alocações de recursos nacionais e estrangeiros para o setor.

Uma amostra recente do interesse dos países em investir no setor e conhecer e aproveitar a experiência do Brasil na produção e nas políticas de uso do Etanol é a criação de uma Comissão Interamericana de Etanol7 que será comandada pelo Ex-Governador do Texas, Jeb Bush, o ex-ministro da Agricultura no Brasil, Roberto Rodrigues, e o Presidente do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), Luis Alberto Moreno.

• Aspectos Econômicos

Estima-se que a capacidade instalada de produção atual de etanol no Brasil seja de 18 bilhões de litros. Considerando que o consumo interno em 2005 foi de cerca de 13,5 bilhões de litros (sendo 12,5 bilhões de litros para fim combustível e 1 bilhão de litro para fins industriais), a disponibilidade para a exportação é de cerca de 2 a 2,5 bilhões de litros de etanol, dependendo do total da produção em 2006 e de eventuais estoques.

Se levarmos em conta a capacidade total de produção, haveria potencial de exportação para 4,5 bilhões de litros, mantido o consumo interno no patamar atual. Projeta-se que em 6 ou 7 anos as exportações brasileiras de etanol estarão em 5 a 6 bilhões de litros de etanol, considerando um consumo doméstico de cerca 20 bilhões de litros para atender à demanda interna crescente impulsiona pelos carros Flex Fuel.

• Aspectos Sociais

Estima-se que cada nova usina mista (que produz açúcar e etanol) de porte médio empregue cerca de 2.000 pessoas, incluindo as áreas industrial, administrativa e agrícola.

Levando em conta que cada usina produziria cerca de 85 milhões de litros de etanol, seriam necessárias 35 usinas para fabricar 3 bilhões de litros de etanol que se projetam para exportar nos próximos anos, gerando, portanto, cerca de 70.000 postos de trabalho. Ou seja, cada 1 bilhão de litros de etanol geraria cerca de 23.000 novos postos de trabalho.

Segundos dados do próprio setor, estima-se que o total de empregos gerados no setor sucroalcooleiro no Brasil é de aproximadamente um milhão de pessoas, movimento cerca de R$ 40 bilhões por ano.

7 A Comissão é resultado de um tratado bilateral Brasil-EUA e buscará construir estratégias de médio e longo prazos para aumentar a produção e o consumo de etanol, além de promover parcerias para a pesquisa e desenvolvimento tecnológico do setor, envolvendo todos os países da América do Norte, Central e do Sul.w

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• Aspectos Ambientais

Estudos realizados no Brasil demonstraram benefícios ambientais significativos devido ao uso extensivo de mistura etanol/gasolina. Resultados positivos para esta mistura também foram obtidos em pesquisas de outros países, mesmo sendo o nível de mistura bem menor do que os 25% do caso brasileiro.

Para misturas de até 10% de etanol na gasolina, os benefícios ambientais mais representativos foram: redução de emissão de gases, como monóxido de carbono (CO), hidrocarbonetos (como benzeno e 1-3 butadieno, ambos carcinógenos), óxidos de enxofre (SOx) e materiais particulados. Dependendo das características dos motores, podem ocorrer também reduções nas emissões de Compostos Orgânicos Voláteis (VOC).

O Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL) do Protocolo de Kyoto possibilita que um país desenvolvido, com compromissos em reduzir suas emissões de gases de efeito estufa, possa compensar suas emissões por meio de projetos realizados em países em desenvolvimento. Vários projetos estão sendo desenvolvidos no Brasil, chamados de “Projetos de Créditos de Carbono”, ou “projetos de MDL”. No caso da cana-de-açúcar, há vários projetos na área de co-geração energia elétrica por meio da queima do bagaço de cana.

Já no caso do etanol, a mistura etanol/gasolina no Brasil é obrigatória por lei e, portanto, não e considerada como redução adicional de gases de efeito estufa, embora misturas superiores pudessem ser. De qualquer forma, o uso de etanol em substituição à gasolina, possibilita os países do Anexo I da Convenção do Clima reduzir emissões de gases de efeito estufa, colaborando para o cumprimento das metas de redução de emissões.

8.2 Biodiesel

Apesar da importância reconhecida do Etanol no âmbito dos biocombustíveis e das energias renováveis no Brasil, nos últimos anos o país tem se dedicado intensamente a desenvolver pesquisas, estudos, políticas e legislações sobre o BIODIESEL . Isso porque o trabalho com o Etanol vem sendo desenvolvido desde a década de 70 e possibilitando assim o desenvolvimento de uma alta tecnologia no setor e fazendo com que este produto seja altamente competitivo no mercado mundial.

Apesar do histórico de pesquisas desenvolvidas para o uso de oleaginosas para a produção de biocombustíveis, apenas recentemente, com o surgimento de novas tecnologias e novas pesquisas, do agravamento da situação ambiental e o iminente esgotamento do petróleo mundial é que este tipo de combustível tem demonstrado uma maior viabilidade. Nesse contexto, é importante considerar e discutir a viabilidade e a importância do Biodiesel sobre vários aspectos.

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• Aspectos Econômicos

Em 2002, a demanda total de diesel no Brasil foi de 39,2 milhões de metros cúbicos, dos quais 76% foram consumidos em transportes. O país importou 16,3% dessa demanda, o equivalente a US$ 1,2 bilhão. Como exemplo, a utilização de biodiesel a 5% no país, demandaria, portanto, um total de 2 milhões de metros cúbicos de biodiesel.

Considerando-se os vários setores da economia que sofrerão impactos positivos ou negativos com a implantação do biodiesel, cenários de produção, distribuição e uso devem ser estabelecidos. Um deles é apresentado pela Petrobrás quando vislumbra as mini-usinas produtoras de biodiesel, gerando mudanças na matriz energética nacional e em segmentos como o agrícola e o industrial do próprio biodiesel.

Certamente haverá um distanciamento em termos de competitividade entre unidades produtoras de biodiesel de grande e as de pequena escala. Tributação, logística de transporte e distribuição são alguns fatores determinantes para essa situação. Dessa forma as pequenas produções devem ter mercado cativo seja para uso veicular, industrial ou para geração de eletricidade.

O uso comercial do biodiesel, a partir da mistura de 2% ao diesel de petróleo, cria um mercado interno potencial nos próximos três anos de pelo menos 800 milhões de litros/ano para o novo combustível. Isto possibilitará ganhos à balança comercial com uma economia de até US$ 160 milhões/ano com a redução das importações de petróleo a partir do uso de B2. O Brasil importa atualmente 20% do biodiesel e 10% do diesel que consome. Este, por seu uso em transportes de cargas e passageiros, é o combustível mais utilizado no País –57,7% dos combustíveis líquidos –, o que representa um consumo anual de 38,2 bilhões de litros. O biodiesel pode ser utilizado ainda para a geração e abastecimento de energia elétrica em comunidades isoladas, hoje dependentes de geradores movidos a óleo diesel. Nessas regiões, poderão ser aproveitadas oleaginosas locais. O biodiesel também proporcionará mais empregos no campo e na indústria a partir do plantio das matérias-primas, da assistência técnica rural, da montagem e operação das plantas industriais para produção, do transporte e da distribuição.

Para aumentar sua competitividade, os custos de produção do biodiesel podem ser minimizados através da venda dos co-produtos gerados durante o processo de transesterificação, tais como a glicerina, adubo e ração protéica vegetal. No caso da glicerina, a receita gerada pode reduzir o custo final do biodiesel em 5 a 10 centavos de dólar por litro. Porém, o excesso de oferta gerado pela produção em grande escala do biodiesel pode causar queda em sua cotação internacional, atualmente em torno de US$ 500 a US$ 1000 por tonelada. A

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utilização de metanol ou álcool etílico como matéria-prima também representa alterações no custo final do biodiesel.

As estimativas de preço para biodiesel podem variar bastante. Pelas estimativas do International Energy Agency (IEA), a escala pode afetar em 25% o custo final do biodiesel, enquanto que o preço da matéria prima pode representar diferenças de até 50% do custo final.

Há muita controvérsia a respeito do preço final efetivo do biodiesel para o consumidor. A diferença entre as matérias-primas utilizadas na produção, assim como a escala da planta de transesterificação e a incidência tributária no produto, podem resultar em grandes distinções de custo. Essas distinções podem inclusive gerar resultados contraditórios na comparação com o preço do diesel mineral, tornando a análise muito difícil. Abaixo está um apanhado dos estudos existentes, para se ter uma idéia de quais forças atuam na composição do preço do produto.

O custo de produção envolve custos com matéria-prima (óleo vegetal e álcool), catalisador, mão-de-obra, energia, custos administrativos e financeiros (custos de capital), além da margem do produtor. Para facilitar o entendimento do custo total do biodiesel, pode-se separar a etapa agrícola, composta pela plantação e esmagamento, da industrial. Deduzindo o custo da etapa agrícola do custo de produção, obtém-se dois custos distintos: o custo do óleo e o custo de conversão. Já o custo de distribuição envolve custos de pós-produção, tais como transporte, mistura com óleo diesel, estocagem e revenda. A tributação pode-se tornar definitiva para a implementação do projeto, como principal mecanismo de atratividade, capaz de tornar o custo final do biodiesel inferior ao do diesel mineral.

Com o início da produção comercial, o Brasil torna-se um potencial exportador de biodiesel, hoje utilizado comercialmente nos Estados Unidos e em países da União Européia, onde se destaca a Alemanha, atualmente o maior consumidor mundial.

As limitações do crescimento da produção na Europa fazem com que o biodiesel brasileiro encontre oportunidades para ingressar no mercado de combustíveis desse continente.

• Aspectos Sociais

As grandes motivações para a produção de biodiesel são os benefícios sociais e ambientais que esse novo combustível pode trazer. Contudo, em razão dos diferentes níveis de desenvolvimento econômico e social dos países, esses benefícios devem ser considerados diferentemente.

O uso autorizativo do biodiesel no início de sua comercialização, o regime tributário diferenciado reconhecendo a importância da produção de oleaginosas pela agricultura familiar, principalmente de mamona e dendê nas regiões Norte, Nordeste e no Semi-Árido, e a criação do Selo Combustível Social são

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instrumentos do marco regulatório para promover a inclusão social na cadeia de produção no novo combustível.

O Selo, concedido pelo Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA), estabelece as condições para os produtores industriais de biodiesel obterem benefícios tributários e financiamentos. Para receber o Selo, o produtor industrial terá que adquirir matéria-prima de agricultores familiares, além de estabelecer contrato com especificação de renda e prazo e garantir assistência e capacitação técnica.

o Benefícios Sociais

O grande mercado energético brasileiro e mundial poderá dar sustentação a um imenso programa de geração de emprego e renda a partir da produção do biodiesel.

Estudos desenvolvidos pelos Ministério do Desenvolvimento Agrário, Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Ministério da Integração Nacional e Ministério das Cidades mostram que a cada 1% de substituição de óleo diesel por biodiesel produzido com a participação da agricultura familiar podem ser gerados cerca de 45 mil empregos no campo, com uma renda média anual de aproximadamente R$4.900,00 por emprego. Admitindo-se que para 1 emprego no campo são gerados 3 empregos na cidade, seriam criados, então, 180 mil empregos. Numa hipótese otimista de 6% de participação da agricultura familiar no mercado de biodiesel, seriam gerados mais de 1 milhão de empregos. Faz-se, a seguir, uma comparação entre a criação de postos de trabalho na agricultura empresarial e na familiar. Na agricultura empresarial, em média, emprega-se 1 trabalhador para cada 100 hectares cultivados, enquanto que na familiar a relação é de apenas 10 hectares por trabalhador. A cada 1% de participação deste segmento no mercado de biodiesel, são necessários recursos da ordem de R$ 220 milhões por ano, os quais proporcionam acréscimo de renda bruta anual ao redor de R$ 470 milhões. Ou seja, cada R$ 1,00 aplicado na agricultura familiar gera R$ 2,13 adicionais na renda bruta anual, o que significa que a renda familiar dobraria com a participação no mercado de biodiesel. Os dados acima mostram claramente a importância de priorizar a agricultura familiar na produção de biodiesel.

A produção de oleaginosas em lavouras familiares faz com que o biodiesel seja uma alternativa importante para a erradicação da miséria no país, pela possibilidade de ocupação de enormes contingentes de pessoas. Na região semi-árida nordestina vivem mais de 2 milhões de famílias em péssimas condições de vida. A inclusão social e o desenvolvimento regional, especialmente via geração de emprego e renda, devem ser os princípios orientadores básicos das ações direcionadas ao biodiesel, o que implica dizer que sua produção e consumo devem ser promovidos de forma descentralizada e não-excludente em termos de rotas tecnológicas e matérias-primas utilizadas.

O Programa Fome Zero da Presidência da República criou o Bolsa Família, um programa de transferência de renda destinado às famílias em situação de pobreza. Os benefícios diretos concedidos pelo governo são de até R$ 95,00

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mensais por família. Se essas famílias forem incluídas no programa de biodiesel, pode haver uma economia de US$ 18,4 milhões de subsídios diretos que deixarão de ser pagos através da geração de empregos.

Com isso, a substituição de 1% de diesel mineral por biodiesel, segundo o programa de inclusão social pelo uso do biocombustível do governo, gera uma externalidade positiva de quase US$ 100 milhões em emprego e renda, que deve ser comparada à renúncia tributária subsidiada para dar competitividade ao produto.

o Empregos e Oleaginosas

O agronegócio da soja gera empregos diretos para 4,7 milhões de pessoas em diversos segmentos, de insumos, produção, transporte, processamento e distribuição, e nas cadeias produtivas de suínos e aves. Trata-se de uma produção de 52 milhões de toneladas em 20 milhões de hectares, no total, diretos e indiretos, quatro hectares por pessoa.

O dendê (palma) é muito pouco explorado no Brasil. Na Malásia viabilizou a reforma agrária. As áreas de maiores aptidões estão mapeadas pela Embrapa. Existe uma área de 69,9 milhões de ha com alta/média aptidão para o cultivo do dendê (áreas de floresta amazônica degradadas).

Para o dendê e mamona, os números de empregos diretos, e somente na produção agrícola (sem envolver toda a cadeia produtiva), são os seguintes: um exemplo para dendê, com 33 mil hectares plantados e 25 mil em produção, utiliza 3 mil empregos diretos. Na agricultura familiar “assistida”, o dendê conta com uma família para 10 hectares. Já os assentamentos previstos para mamona consideram um trabalhador para cada 10-15 há (também apenas para a produção agrícola).

No Semi-Árido, por exemplo, a renda anual líquida de uma família a partir do cultivo de cinco hectares com mamona e uma produção média entre 700 e 1,2 mil quilos por hectare, pode variar entre R$ 2,5 mil e R$ 3,5 mil.

Além disso, a área pode ser consorciada com outras culturas, como o feijão e o milho. Levantamentos indicam que, na safra 2004/05, 84 mil hectares serão cultivados com oleaginosas por agricultores familiares para a produção de biodiesel, dos quais 59 mil estão localizados no Nordeste. O cultivo da área total envolve 33 mil famílias, das quais 29 mil do Nordeste.

O Brasil possui 17 milhões de hectares de floresta nativa de babaçu, onde predomina o trabalho das mulheres (quebradeiras de coco) dentro de um sistema de exclusão social (renda de R$ 3,00/ dia, além de doenças ocupacionais). Estas florestas têm sido objeto de devastação para uso da terra para outros fins, devido à baixa renda auferida pela coleta de coco.

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o Agricultura Familiar

O Brasil possui cerca de 4,13 milhões de agricultores familiares e representam 85,2% dos estabelecimentos rurais do país. Destes, 49,6% localizam-se na região Nordeste, sendo os mais pobres. Existem 475.779 assentados no país, em 6067 assentamentos.

A agricultura familiar representa mais de 84% dos imóveis rurais do país. Ao redor de 4,1 milhões de estabelecimentos. Os agricultores familiares são responsáveis por aproximadamente 40% do valor bruto da produção agropecuária, 80% das ocupações produtivas agropecuárias e parcela significativa dos alimentos que chegam a mesa dos brasileiros, como o feijão (70%); a mandioca (84%); a carne de suínos (58%); de leite (54%); de milho (49%); e de aves e ovos (40%).

Estes produtores têm sofrido ao longo dos anos um processo de redução nas suas rendas, chegando à exclusão de trabalhadores rurais de ao redor de 100.000 propriedades agrícolas por ano, de 1985 a 1995 (IBGE, Censo Agropecuário 1995/96). Boa parcela deste processo de empobrecimento pode ser explicada pela pouca oferta e pela baixa qualidade dos serviços públicos voltados para os mesmos, os quais poderiam viabilizar a inclusão socioeconômica destes agricultores. Isso levou, no passado, a aceitar como uma realidade lamentável, que os agricultores familiares são construções sociais cujo alcance depende dos projetos em que se envolvem e das forças que são capazes de mobilizar para implementá-los.

Essa situação, derivada do seu incipiente nível organizacional, das limitações de suas bases produtivas e das formas de comercialização. Entretanto, está sendo revertida pelo MDA – que tem como área de competência a Reforma Agrária e o PRONAF – buscando, na sua missão, criar oportunidades para que as populações rurais alcancem plena cidadania, e tendo em vista a visão de futuro e ser referência internacional de soluções de inclusão social.

o Estratégia de Implementação do Programa

Considerando a diretriz básica do Governo Federal de favorecer a inclusão social e os aspectos de regionalização, propõe-se:

a) começar o programa de produção e uso racional de biodiesel em todas as regiões do país a partir da produção de óleos vegetais das espécies mais apropriadas e consolidadas localmente, para atender uma demanda de B5.

b) As ações de governo precisam ser priorizadas para a região Nordeste por concentrar o maior número de agricultores familiares e para a região Norte pelo potencial da terra, especialmente em função da possibilidade de aproveitamento de áreas degradadas.

c) Independente da região, é importante que o programa seja orientativo e não mandatório, em função de serem as demandas diferenciadas nas diversas regiões do país, a fim de se evitar uma “corrida” ao mercado, que provocaria

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uma utilização desordenada da terra, concentração da produção e maior exclusão social.

d) Importante também é se possibilitar a inserção no mercado de pequenas e médias empresas beneficiadoras descentralizadas, principalmente cooperativas. Essas empresas podem negociar o farelo resultante do processamento diretamente aos agricultores e também podem ser feitas operações de permuta entre o biodiesel e os grãos.

e) A apropriação da etapa de esmagamento dos grãos pelos agricultores associados é importante pois este irá auferir um maior preço ao óleo (seu preço é cerca de 4 vezes superior ao do grão que lhe deu origem) e também irá integrar o farelo (torta) na propriedade, diminuindo seus custos de produção e aumentando a oferta de proteína de origem animal, o que melhora o padrão nutricional da população.

f) Para a produção de oleaginosas para o biodiesel para cada região é preciso considerar que dentro de uma mesma região muitas espécies se adaptam e, portanto, essa diversidade precisa ser contemplada. Por exemplo, a região Norte pode produzir dendê, pinhão manso, pupunha, buriti etc. A região Nordeste tem grande aptidão para a mamona, mas o pinhão manso é também adaptado, o babaçu é um potencial do Maranhão e a soja já está ganhando áreas do cerrado no Maranhão e no Piauí, além de já estar consolidada na Bahia.

g) A agricultura familiar é capaz de atender plenamente às demandas no cenário proposto desde que haja acesso ao mercado de biodiesel e, principalmente, a credibilidade no programa.

• Aspectos Ambientais

Estudos indicam os males do efeito estufa e o uso de combustíveis de origem fóssil tem sido apontado como o principal responsável por isso. Melhorar as condições ambientais, sobretudo nos grandes centros metropolitanos, significa também melhorar a qualidade de vida da população e evitar gastos dos governos e dos cidadãos no combate aos males da poluição.

O Brasil vem estimulando a substituição do petróleo por combustíveis de fontes renováveis, incluindo principalmente o biodiesel, diante de sua expressiva capacidade de redução da emissão de poluentes e de diversos gases causadores do efeito estufa.

A atenção ao meio ambiente é uma das formas mais eficazes de projetar o nome de um país no cenário internacional, diante da visibilidade e da importância crescente do tema ambiental. Além disso, a produção de biodiesel possibilita pleitear financiamentos internacionais em condições favoráveis, no mercado de créditos de carbono, sob o Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL), previsto no Protocolo de Kyoto.

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A taxa de acumulação de gás carbônico (CO2) na atmosfera da Terra aumentou acentuadamente; entre 2002 e 2003, levantando entre os cientistas o temor de que os efeitos do aquecimento global possam se manifestar mais rapidamente do que o esperado.

Os níveis de CO2 - gás que é considerado o principal responsável pelo aquecimento anormal do globo - aumentaram mais de 2 ppm ao longo dos biênios 2001/2002 e 2002/2003. Nos anos anteriores, essa taxa de crescimento havia sido de 1,5 ppm, o que já era um fator elevado. As variações grandes na concentração de CO2 estão associadas com picos de atividade industrial, que intensificam a queima de petróleo e derivados, quando a liberação de carbono por decomposição de árvores supera a retirada de carbono do ar pela fotossíntese.

Por ser afeta à sustentabilidade do agronegócio brasileiro, a Embrapa vem demonstrando sua preocupação com o tema, incentivando a formação de redes e a execução de pesquisas para acompanhar circunstanciadamente este fenômeno, bem como para apontar soluções para o mesmo.

A pesquisadora Raquel Ghini da Embrapa Meio Ambiente escreveu o livro “Mudanças climáticas globais e doenças de plantas”, que enfatiza a necessidade da tomada de providências pró-ativas, evitando o aparecimento ou ressurgimento de doenças no reino vegetal. O livro está dividido em oito capítulos, que tratam das mudanças climáticas na agricultura, os efeitos dessas mudanças sobre o ciclo das relações patógeno/hospedeiro e os impactos nas doenças das plantas. Descreve o efeito do CO2 sobre as doenças das plantas e discute os métodos de pesquisa mais adequados para esses estudos.

Esta publicação estabelece, de maneira didática, a necessidade de intervenção imediata para impedir o agravamento do problema, sendo o incentivo à agroenergia uma das maneiras mais adequadas de enfrentar o desafio.

Os benefícios ambientais podem, ainda, gerar vantagens econômicas para o país. O Brasil poderia enquadrar o biodiesel nos acordos estabelecidos no protocolo de Kyoto e nas diretrizes dos Mecanismos de Desenvolvimento Limpo - MDL. Existe, então, a possibilidade de venda de cotas de carbono por meio do Fundo Protótipo de Carbono - PCF, pela redução das emissões de gases poluentes, e também de créditos de seqüestro de carbono, por meio do Fundo Bio de Carbono - CBF, administrados pelo Banco Mundial.

Ressalte-se contudo que a matriz energética brasileira é uma das mais limpas do mundo. No ano de 2001 35,9% da energia fornecida no Brasil é de origem renovável. No mundo, esse valor é de 13,5%, enquanto que nos Estados Unidos é de apenas 4,3%.

A redução das emissões de "Gases de Efeito Estufa" (dióxido de carbono, metano, clorofluorcarbonetos – CFCs - e óxidos de azoto) para a diminuição da temperatura global pode ser relevante, contudo, os valores monetários associados a possíveis créditos de carbono são ainda pequenos. Para valores

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de crédito entre US$ 1 e 5/ t de carbono evitado, estes valores corresponderiam a cerca de 3% do custo de produção.

9. Referências Bibliográficas

Plano Nacional de Agroenergia 2006 – 2011 – MAPA – 2006, Brasília.

Anuário Brasileiro da Agroenergia – Gazeta – 2006, Santa Cruz do Sul

Anuário Brasileiro da Cana-de-Açúcar – Gazeta – 2006, Santa Cruz do Sul

Anuário Brasileiro da Silvicultura – Gazeta – 2006, Santa Cruz do Sul

Diretrizes de Política de Agroenergia 2006 – 2011 – MAPA, Brasília

Biocombustíveis – Núcleo de Assuntos Estratégicos da Presidência da República, 2005, Brasília.

Ministério de Minas e Energia. Disponível em www.mme.gov.br

Agência Nacional do Petróleo. Disponível em www.anp.gov.br

BiodieselBr. Disponível em www.biodieselbr.com

Programa Nacional de biodiesel. Disponível em www.biodiesel.gov.br

Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento do Brasil. Disponível em www.agricultura.gov.br

Embrapa. Disponível em www.embrapa.br

The Promises and Challenges of Biofuels for the Poor in Developing Countries. Joachim Von Braun and R. K. Pachauri. IFPRI. 2006.