pct bra/iica/05/004 (pan desertificaÇÃo)
TRANSCRIPT
MINISTÉRIO DO MEIO
AMBIENTE
Secretaria de Extrativismo e
Desenvolvimento Rural Sustentável
Instituto Estadual de Meio
Ambiente e Recursos
Hídricos do Estado do
Espírito Santo
PCT BRA/IICA/05/004
(PAN DESERTIFICAÇÃO)
Produto C: Relatório com diagnóstico descritivo das condições atuais das ÁREAS
SUCEPTÍVEIS A DESERTIFICAÇÃO do Estado do Espírito Santo sob a ótica do eixo
temático do PAN-Brasil “ampliação sustentável da capacidade produtiva”, a partir da análise
de dados secundários existentes, buscando inclusive a atualização do Panorama de
Desertificação no Estado do Espírito Santo.
Consultor: Francisley Lucas Correia
OUTUBRO - 2011
Vitória - ES
Identificação
Consultor(a) / Autor(a): Francisley Lucas Correia
Número do Contrato: 110182, de 10/06/2010
Nome do Projeto: PAN Desertificação
Oficial/Coordenador Técnico Responsável: Gertjan B. Beekman
Data /Local: Março de 2011, Vitória
Classificação
Temas Prioritários do IICA Agroenergia e Biocombustíveis Sanidade Agropecuária
Biotecnologia e Biosegurança Tecnologia e Inovação
Comércio e Agronegócio Agroindustria Rural
Desenvolvimento Rural Recursos Naturais X
Políticas e Comércio Comunicação e Gestão do Conhecimento
Agricultura Orgânica Outros:
Modernização Institucional
Palavras-Chave: Desertificação, Sistemas Produtivos e Áreas Susceptíveis a Desertificação.
Resumo
Título do Produto:
Relatório com diagnóstico descritivo das condições atuais das ÁREAS SUCEPTÍVEIS A
DESERTIFICAÇÃO do Estado do Espírito Santo sob a ótica do eixo temático do PAN-Brasil
“ampliação sustentável da capacidade produtiva”, a partir da análise de dados secundários
existentes, buscando inclusive a atualização do Panorama de Desertificação no Estado do Espírito
Santo.
Subtítulo do Produto:
INSTITUTO INTERAMERICANO DE
COOPERAÇÃO PARA AGRICULTURA
Resumo do Produto:
Qual Objetivo Primário do Produto? Apresentar um relatório contendo um diagnóstico que descreva as condições atuais das ASD do
Estado do Espírito Santo sob a ótica do eixo temático do PAN-Brasil “ampliação sustentável da
capacidade produtiva”.
Busca também a partir da análise de dados secundários existentes a atualização do Panorama de
Desertificação no Estado do Espírito Santo.
Que Problemas o Produto deve Resolver? O principal problema a ser resolvido por este produto é a necessidade de atualização das
informações a respeito do Panorama de Desertificação nas ASD do Estado do Espírito Santo.
Como se Logrou Resolver os Problemas e Atingir os Objetivos? Logra-se atingir os objetivos a partir da identificação da situação real das ASD Capixabas sob a
ótica do eixo temático do PAN-Brasil “ampliação sustentável da capacidade produtiva”.
Quais Resultados mais Relevantes? O resultado mais relevante deste estudo é o diagnostico situacional dos principais sistemas
produtivos localizados nas ASD Capixaba, o que permite melhor entendimento do panorama da
desertificação nestas áreas. O Que se Deve Fazer com o Produto para Potencializar o seu Uso? Para potencializar o uso deste produto as demais etapas do projeto PAN Desertificação deveram
ser concretizadas.
LISTA DE SIGLAS
ASD - Áreas Susceptíveis a Desertificação
ANA - Agência Nacional de Águas
ALBESA - Alcooleira Boa Esperança S/A
ALCON - Companhia de Álcool Conceição da Barra
APA - Área de Proteção Ambiental
APPs - Áreas de Preservação Permanente
BANDES - Banco de Desenvolvimento do Espírito Santo
BNB - Banco do Nordeste do Brasil
CMDRS - Conselhos Municipais de Desenvolvimento Rural Sustentável
DISA - Conceição da Barra Usinas de Açúcar e Álcool e Biodiesel S/A
CRIDASA - Cristal Destilaria Autônoma De Álcool S/A
FETAES - Federação dos Trabalhadores na Agricultura no Estado do Espírito Santo
GTI-CD/ES - Grupo de Trabalho Interinstitucional de Combate à Desertificação
IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
IDAF - Instituto de Defesa Agropecuária e Florestal do Espírito Santo
IICA - Instituto Interamericano de Cooperação para Agricultura
IFES - Instituto Federal do Espírito Santo
IGAN - Instituto Mineiro de Gestão da Águas
INCAPER - Instituto Capixaba de Pesquisa e Extensão Rural
MDA - Ministério do Desenvolvimento Agrário
MMA - Ministério do Meio Ambiente
PAE-ES - Programa de Ação Estadual de Prevenção e Combate à Desertificação e
Mitigação dos Efeitos da Seca do Espírito Santo
PAN-Brasil - Programa de Ação Nacional de Combate à Desertificação e Mitigação dos
Efeitos da Seca
PAA - Programa de Aquisição de Alimentos
PAIS - Produção Agroecológica IntegradaSustentável
PEDEAG - Plano Estratégico de Desenvolvimento da Agricultura
PIRH-DOCE - Plano Integrado de Recursos Hídricos da Bacia Hidrográfica do Rio Doce –
PIRH/DOCE
PRONAF - Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar
PEZEE-ES - Programa Estadual de Zoneamento Econômico Ecológico do Espírito Santo
SAF - Sistema Agroflorestal
SEAG - Secretaria de Estado da Agricultura, Abastecimento, Aqüicultura e Pesca
SEAMA - Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Recursos Hídricos
SEDU - Secretaria de Estado da Educação
SEP - Secretaria de Estado de Economia e Planejamento
SETADES - Secretaria de Estado do Trabalho, Assistência e Desenvolvimento Social
TDR - Termo de Referência
UC - Unidade de Conservação
UNCCD - Convenção das Nações Unidas de Combate à Desertificação
UFES - Universidade Federal do Espírito Santo
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO.......................................................................................................... 01
2. ATUAIS CONDIÇÕES DAS ASD CAPIXABA................................................... 08
3. DOS SISTEMAS PRODUTIVOS............................................................................. 09
3.1. PECUÁRIA.................................................................................................................. 09
3.2. FRUTICULTURA....................................................................................................... 12
3.3. CAFECULTURA......................................................................................................... 16
3.4. SILVICULTURA......................................................................................................... 19
3.5. MINERAÇÃO (GRANITO)......................................................................................... 22
3.6. DAS LAVOURAS........................................................................................................ 23
3.6.1. Lavouras Temporárias.............................................................................................. 24
3.6.2. Lavouras Permanentes.............................................................................................. 28
4. QUANTO AO USO DO SOLO.................................................................................. 32
5. QUANTO AO USO DA AGUA E OS METODOS DE IRRIGAÇÃO MAIS
PRATICADOS NAS ASD CAPIXABAS.................................................................. 34
6. A AGRICULTURA FAMILIAR NAS ASD E O AMBIENTE INSTITUCIONAL
DE APOIO.................................................................................................................... 38
7. ASSISTENCIA TÉCNICA........................................................................................... 43
8. CONCLUSÃO ........................................................................................................... 45
9. REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS...................................................................... 51
RELAÇÃO DE GRÁFICOS
Gráfico 01 - Evolução da cobertura florestal no Estado do Espírito Santo........................... 1
Gráfico 02 - Evolução efetiva de bovinos nas ASD, do ano de 2006 a 2009........................ 10
Gráfico 03 - Evolução em M³ dos produtos oriundos da silvicultura no Espírito Santo....... 20
Gráfico 04 - Evolução da área de feijão plantado nas ASD, em Hectares............................ 26
Gráfico 05 - Comparativo de variação entre Produção Estadual de Feijão x Produção de
Feijão nas ASD................................................................................................. 26
Gráfico 06 - Evolução da área de aipim plantada nas ASD, em Hectares............................. 27
Gráfico 07 - Comparativo de variação entre Produção Estadual de aipim x Produção de
Aipim nas ASD................................................................................................. 27
Gráfico 08 - Evolução da área de milho plantada nas ASD, em Hectares............................ 28
Gráfico 09 - Comparativo de variação entre Produção Estadual de milho x Produção de
milho nas ASD..................................................................................................
28
Gráfico 10 - Área com plantio de cana de açúcar nas ASD, em hectare............................... 29
Gráfico 11 - Evolução da Produção de Pimenta do Reino nas ASD..................................... 31
Gráfico 12 - Comparativo de variação entre Produção Estadual de Pimenta do reino x 32
Gráfico 13 - Comparativo Plantio Direto x Aragem e Gradagem, praticados nas ASD 34
RELAÇÃO DE FIGURAS
Figura 01 - Mapa Representativo das Zonas Naturais Capixaba......................................... 08
Figura 02 - Irrigação por aspersão por canhão..................................................................... 18
Figura 03 - Localização das Principais usinas de beneficiamento da cana de açúcar na
região norte do ES............................................................................................
30
Figura 04 - Mapa Hídrico capixaba.............................................................................. 35
RELAÇÃO DE TABELAS
Tabela 01 - Uso de adubação nas ASD’s................................................................................... 3
Tabela 02 - Uso tecnologia segundo as Meso, Microrregiões e
Municípios..............................................................................................................
4
Tabela 03 - Uso de tecnologias de irrigação.............................................................................. 5
Tabela 04 - Safra do café Conilon............................................................................................. 6
Tabela 05 - Cultura frutícolas de maior expressividade com relação a área plantada............... 12
Tabela 06 - Evolução da Produção de Café nas ASD................................................................ 16
Tabela 07 - Plantio do café nas ASD......................................................................................... 16
Tabela 08 - Safras do café Conilon............................................................................................ 18
Tabela 09 - Municípios de destaque na produção de madeira (papel e celulose)...................... 21
Tabela 10 - Produção de madeira em tora para fabricação de celulose e papel nas ASD... 21
Tabela 11 - Área ocupa pelos Estabelecimentos e Lavouras nas ASD...................................... 24
Tabela 12 - Principais culturas da lavoura temporária cultivadas nas ASD, em Hectares em
no ano de 2009........................................................................................................ 25
Tabela 13 - Número de estabelecimentos agropecuários, Quantidade produzida, Área
colhida e Valor da produção por agricultura familiar e não familiar e tipo de
produção vegetal 39
Tabela 14 - Número, Área e condição dos ocupantes dos estabelecimentos............................. 40
Tabela 15 - Estabelecimentos com recepção de serviços de Assistência Técnica..................... 43
Tabela 16 - Número por atividades econômicas e orientação técnica....................................... 44
1
1 – INTRODUÇÃO
No que diz respeito aos sistemas produtivos presentes nos municípios localizados ao
norte e parte do noroeste do Espírito Santo, nota-se que, além da forte presença de atividades
agrícolas, coexistem atividades industriais e de extração mineral, dentre outras, e em franca
expansão, que são tidas como conflitantes entre si. As ações inerentes a essas atividades
econômicas refletem nessas áreas contribuindo para a degradação ambiental e, quando
associadas aos fatores naturais e sociais, complementam os critérios que determinam às
condicionantes para a existência das ÁREAS SUCEPTÍVEIS A DESERTIFICAÇÃO.
Uma das formas de analisar se uma região é susceptível à desertificação é através da
análise de indicadores básicos tais como a cobertura vegetal e degradação ambiental. Além disso,
deve-se considerar como a região em questão se apresenta ante a perspectiva das mudanças
climáticas, um dos mais significativos desafios da atualidade, posto que o quadro conjuntural
poderá apontar com indicadores que favoreçam e/ou acelerem o processo de degradação dos
recursos naturais e da desertificação aumentando a vulnerabilidade da população que vive nas
ÁREAS SUCEPTÍVEIS A DESERTIFICAÇÃO.
No que diz respeito à cobertura vegetal, segundo dados contidos no sítio eletrônico da
fundação SOS Mata Atlântica, o Estado do Espírito Santo contava em 1500 com
aproximadamente 87% de cobertura vegetal nativa, porém, em função das atividades
econômicas1, em 2006 esse número foi reduzido para aproximadamente 13% conforme gráfico
abaixo.
Gráfico 01: Evolução da cobertura florestal no Estado do Espírito Santo
Fonte: Fundação SOS Mata Atlântica – (2006)
1 Sejam elas para fins agrícolas ou para a pecuária em que a vegetação nativa é substituída por pasto, ou ainda diretamente no
caso do uso da madeira como fonte de energia (lenha e carvão).
2
No norte do estado essa ocorrência se deu de forma mais intensa em prol das
monoculturas (café e cana de açúcar principalmente), pecuária e leis de incentivos fiscais que
permitiam a troca de floresta nativa por plantios homogêneos visando atender o crescimento dos
complexos industriais, mais notadamente aqueles ligados a atividade de produção de celulose.
No tocante à degradação ambiental, a agricultura moderna na busca pelo atendimento as
altas demandas do mercado de exportação de commodities vêm contribuído de forma maciça
para o quadro de intensa degradação dos recursos naturais. Dada à necessidade de elevar o nível
da produtividade, o primeiro passo é buscar a expansão das fronteiras agrícolas com atividades
menos intensivas em capital e tecnologias, passando para atividades baseadas no uso intensivo e
indiscriminado de agrotóxicos e fertilizantes químicos, maquinário pesado e monoculturas com
base genética homogênea, sendo essa forma de ocupação dos solos agrícolas responsável por
grandes impactos ambientais comprometedores da sustentabilidade dos ecossistemas agrícolas,
tanto a médio quanto a longo prazo.
Somados a esse quadro têm-se o processo de desterritorialização de populações
tradicionais (Quilombolas, Ribeirinhos, Pescadores) e do segmento da Agricultura Familiar
Camponesa.
Como consequências da lógica extrativista desse modelo vêm à tona fenômenos tais
como a eutrofização2, a acidificação e erosão dos solos, a contaminação de aquíferos e
reservatórios de água bem como a drástica diminuição das nascentes; quanto aos complexos
industriais congêneres, encontra-se a emissão de gases associados ao efeito estufa, responsáveis
diretos pela destruição da camada de ozônio, o que compromete e modifica as condições
climáticas e conseqüentemente as atividades humanas na terra.
O modo como se dão as práticas agrícolas, principalmente àquelas relacionadas ao
preparo e cultivo do solo (queimadas, aração, gradagem e subsolagem) também contribuem para
o processo de degradação ambiental, uma vez que expõem a camada superficial da terra
sujeitando-a à ação das águas das chuvas (lixiviação), a laterização (endurecimento e
impermeabilização do solo) e até mesmo aos deslizamentos. O modelo de agricultura
22
Fenômeno causado pelo excesso de compostos químicos ricos em fósforo ou nitrogênio numa massa de água, o
que provoca aumento excessivo de algas, fomentando o desenvolvimento dos consumidores primários e
eventualmente de outros elementos da teia alimentar nesse ecossistema. Consequentemente este aumento da
biomassa leva a uma diminuição do oxigênio dissolvido, provocando a morte e consequente decomposição de
muitos organismos, diminuindo a qualidade da água e eventualmente a alteração profunda do ecossistemados rios e
lagos.
3
convencional trata os solos como meros substratos suportes para culturas altamente extratoras de
nutrientes e exigentes em água.
A tabela abaixo demonstra que o uso de adubos químicos nas ASD’s é intensivo sendo
que 86% dos informantes os utilizam contra apenas 25,6% que se utilizam de adubos orgânicos
que são comprovadamente regenerador das propriedades físicas e químicas dos solos.
Tabela 01: uso de adubação nas ASD’s
Mesorregiões, Microrregiões e
Municípios
ADUBOS E CORRETIVOS
Informantes Químicos Orgânicos Calcário e outros corretivos
ES TOTAIS 52322 47414 27230 18341
Total das ASD’s 14009 12054 6971 4094 % relativo entre as ASD’s 86% 25,6% 22,32% Rio Bananal 1095 1058 501 447 Montanha 373 276 244 30 Mucurici 142 89 84 27 Pinheiros 352 285 256 117 Jaguaré 729 710 330 258 Pedro Canário 234 216 57 113 São Mateus 1506 1386 587 423 Água Doce do Norte 251 178 131 79 Barra de São Francisco 561 315 383 110 Ecoporanga 319 146 215 59 Mantenópolis 399 362 136 92 Alto Rio Novo 345 309 200 149 Baixo Guandu 610 485 376 122 Colatina 1762 1609 741 437 Marilândia 598 593 190 317 Pancas 685 600 320 103 São Domingos do Norte 404 374 223 213 Águia Branca 487 432 233 96 Boa Esperança 309 290 94 78 Nova Venécia 1051 890 633 290 São Gabriel da Palha 1085 1021 517 432 Vila Pavão 494 268 377 62
Fonte: IBGE (Censo Agropecuário 1995) www.ibge.gov.br-Censo agropecuário 19953
Neste sentido, alguns cuidados podem ser tomados de maneira a diminuir os desgastes
provocados pela agricultura, como o plantio em curvas de nível, que reduz a velocidade do
escoamento da água de chuva, favorecendo a sua infiltração, e a associação de diversas culturas
de diferentes extratos nas áreas onde a inclinação do terreno é acentuada.
3 Dos dados advindos do Censo Agropecuário de 1995 não constam as informações dos municípios de Vila Valério
e de Governador Lindemberg, coletados e disponibilizados a partir desta data.
4
Tabela 02. Uso tecnologia aplicada, segundo as Mesorregiões, Microrregiões e Municípios. CONSERVAÇÃO DO SOLO
MUNICÍPIOS INFORMANTES CULTIVO EM CURVA DE NÍVEL TERRACIAMENTO OUTROS
Totais ES 50.358 28.549 1.431 2.662
Totais ASD’s 15.911 6.096 380 479 % relativo entre ASD’s 38,31 2,39 Rio Bananal 827 315 44 16
Montanha 570 25 7 11
Mucurici 562 9 3 13
Pinheiros 530 53 7 38
Jaguaré 446 28 4 7
Pedro Canário 316 22 6 32
São Mateus 1431 121 85 72
Água Doce do Norte 413 450 3 -
Barra de São Francisco 1247 679 19 7
Ecoporanga 1113 174 5 5
Mantenópolis 354 411 22 -
Alto Rio Novo 335 295 - -
Baixo Guandu 788 150 10 5
Colatina 1715 924 58 88
Marilândia 382 327 4 -
Pancas 579 608 9 18
São Domingos do Norte 384 88 7 18
Águia Branca 698 494 - 1
Boa Esperança 325 39 8 63
Nova Venécia 1135 247 22 3
São Gabriel da Palha 703 455 41 20
Vila Pavão 788 164 10 3
Fonte: IBGE (Censo Agropecuário 1995)
A tabela acima demonstra que apenas 38,31% dos informantes nas ASD’s adotam a
prática de cultivo em curva de nível, que visa melhorar a infiltração de água no solo, ampliando a
oferta do lençol freático, sendo que a prática de terraciamento - que amplia exponencialmente
esta função - é insignificante, tanto nas ASD’s quanto no estado como um todo. De certo modo,
ver-se-á que algumas ações do governo do ES seguem na direção de fortalecer tais práticas.
A adoção tanto de coberturas vivas quanto de mortas soma às estratégias de ocupar ao
máximo e mais racionalmente os espaços evitando a exposição do solo, pois proporcionam uma
ampla zona de amortecimento das gotas das chuvas, a melhoria das características físicas dos
solos (estrutura, porosidade, etc.) e facilitam a infiltração. O emaranhado de sistemas radiculares
contribui também para segurar a camada superficial. Além destas práticas, o uso racional de
tecnologias apropriadas e coerentes com os usos e aptidões dos solos deve estar entre as medidas
a serem adotadas.
5
No que diz respeito às mudanças climáticas, esse processo pode ser entendido como
sendo a alteração da temperatura média da terra, através da intensificação do chamado Efeito
Estufa. Esse processo ocorre quando uma parte da radiação solar refletida pela superfície da terra
é absorvida por determinados gases presentes na atmosfera, como o dióxido de carbono, o
metano e o vapor d’água. Como conseqüência disso, o calor fica retido, não sendo assim liberado
ao espaço. No Espírito Santo as mudanças até então registradas têm provocado impacto
considerável sobre a agropecuária, e os cenários futuros são preocupantes, tornando mais do que
urgente a mudança do paradigma produtivo, o que passa necessariamente pelo desenvolvimento
de estratégias para (re)adequação ambiental dos sistemas de produção agropecuária, que devem
ter como ponto de partida a garantia da soberania e segurança alimentar da população. Secas
e/ou veranicos prolongados, irregularidade na distribuição das chuvas, surgimento e proliferação
de pragas, doenças respiratórias, já podem ser sentidos no Estado e são fenômenos que vem
sendo cada vez mais comprovados como consequências das mudanças climáticas.
Segundo dados do Sitio Eletrônico do INCAPER, em 2003 ocorreu no Espírito Santo um
longo período de estiagem causando um grande prejuízo aos pecuaristas, lavradores, indústrias
de álcool, dentre outros setores. Em 2007, a estiagem causou novamente transtornos sendo
associada a esta a morte de pelo menos 800 cabeças de gado no sul do Estado, região mais
atingida pela seca daquela época. Os agricultores capixabas, principalmente os pequenos, não
podem mais confiar nos ciclos naturais de pluviosidade para plantar e colher. Quando o
problema é o excesso de chuva, não há praticamente nada o que fazer, porém com os balanços
hídricos cada vez mais deficitários a saída é recorrer à irrigação, um processo caro e ainda não
universalizado. Em se tratando das atuais tecnologias mais usadas neste processo o quadro de
déficit hídrico só tem se ampliado, tornando os níveis dos lençóis freáticos cada vez mais baixos
uma vez que as perdas por derivação, escoamento superficial e as altas taxas de
evapotranspiração diminuem o intervalo entre irrigações, criando um círculo vicioso. Com vistas
a comprovar as afirmações anteriores, basta comparar o aumento das propriedades com irrigação
em 1995 e logo em seguida no ano de 2006. Vale reforçar que, após cinco anos, estes valores
devem ter mais que acompanhado a tendência no interstício.
Tabela 03: uso de tecnologias de irrigação
Mesorregiões, Microrregiões e Municípios
METODOS DE IRRIGAÇÃO
Inundação Infiltração Aspersão Outros
ES TOTAIS 1590 11295 386 92695
Total das ASD’s 206 2340 199 35046
Fonte: IBGE (1996)
6
Tabela 04: Número de estabelecimentos agropecuários com uso de irrigação e Área dos estabelecimentos
por método utilizado para irrigação, condição do produtor em relação às terras, fonte de água utilizada,
orientação técnica e grupos de área de lavoura
Brasil, Unidade da Federação e
Município
Método utilizado para irrigação
Inundação Sulcos Aspersão (pivô
central)
Aspersão (outros
métodos)
Localizado (gotejamento,
microaspersão, etc.)
Outros métodos
de irrigação
e/ou molhação
Brasil - 34.060 3.333 120.626 41.202 109.158
Espírito Santo - 278 100 18.207 5.492 2.770
Águia Branca – ES - 2 1 309 33 21
Água Doce do Norte – ES
- - - 51 8 14
Alto Rio Novo – ES - - - 7 3 2
Baixo Guandu – ES - 3 - 284 84 23
Barra de São Francisco - ES
- 26 1 318 136 67
Boa Esperança – ES - - 3 217 30 40
Colatina – ES - - 3 822 361 98
Ecoporanga – ES - - - 66 27 19
Governador Lindenberg - ES
- - - 401 279 6
Marilândia – ES - - - 353 258 11
Montanha – ES - - 5 103 117 39
Mucurici – ES - - 1 9 3 1
Nova Venécia – ES - 9 - 732 242 67
Pancas – ES - 8 5 326 23 62
Pedro Canário – ES - 1 5 13 16 4
Pinheiros – ES - 2 22 141 70 12
Ponto Belo – ES - 1 - 11 3 1
Rio Bananal – ES - 2 4 683 338 18
São Domingos do Norte - ES
- - 1 469 23 5
São Gabriel da Palha – ES
- - - 501 106 77
Sooretama – ES - 1 4 332 91 8
Vila Pavão – ES - - - 369 53 61
Vila Valério – ES - 5 3 920 206 62
Fonte: IBGE (2006)
Por outro lado é importante frisar que o aumento do uso de irrigação via localizada vai ao
encontro da sustentabilidade ao contrário do enorme uso ainda feito pelos métodos de aspersão.
No entanto, é importante ressaltar que o abandono de práticas de irrigação via sulcos e/ou
inundação constitui progresso importante.
7
Outro fato social cada vez mais observado nas diversas regiões das ASD é a questão do
acesso à água. Os grandes proprietários constroem grandes barragens sem que a devida reposição
dos excedentes seja capaz de garantir o fluxo original deste bem universal. Há relatos cada vez
mais recorrentes de populações à jusante destas barragens que não tem água suficiente para uso e
dessedentação de animais e irrigação. Mesmo com os processos de descentralização das
solicitações de outorga d’água são estes grandes proprietários que têm condições para pagar
profissionais de firmas particulares para elaboraram os projetos e pedidos de uso. Há indícios de
casos em que somadas as outorgas d’água liberadas em uma só bacia, não há mais possibilidade
de uso para uma grande maioria de famílias da mesma bacia - acredita-se que este seja o caso da
Bacia do Itaúnas, no norte do Estado. Desta maneira, os pequenos proprietários e populações
tradicionais são de forma direta os mais atingidos, pois tem uma baixa produtividade e pouca ou
nenhuma alternativa. Diante disto o problema ambiental torna-se, então, um problema social,
manifestado através do êxodo rural e suas consequências, como a alta concentração de terras.
Esse desequilíbrio ambiental também se reflete no campo da saúde pública, segundo o
relatório da organização não governamental ambientalista WWF divulgado há dois anos, que
relaciona a maior dispersão da malária, dengue e meningite e o surgimento, nos últimos vinte
anos, de 30 novas doenças, devido ao aumento da temperatura do planeta. Neste mesmo relatório
o Espírito Santo apresenta quadros semelhantes aos traçados para o planeta. Isso pode ser
entendido pelo fato de que as espécies – inclusive bactérias e vírus causadores de doenças –
migram quando seu ambiente original sofre alterações drásticas de temperatura. Estes seres vêm
passando por mutações genéticas que os tornam cada vez mais adaptados a novos hospedeiros e
às novas condições ambientais e, portanto, junto a nossa convivência.
Diante do exposto fica evidente a necessidade do cumprimento da legislação ambiental,
da manutenção das áreas de Reserva Legal, das APPs como também a necessidade de produção
dentro de critérios sustentáveis, por meio da adoção de práticas agrícolas também sustentáveis,
tanto para os processos produtivos como para a conservação dos solos, tendo uma visão holística
e sistêmica da propriedades como um todo. Se estas passarem a ser adequadas ambientalmente
gerarão condições de garantir a sustentabilidade dos empreendimentos e do meio ambiente de
uma forma geral.
Uma iniciativa interessante é o Programa Campo Sustentável que visa promover o
desenvolvimento sustentável da pequena e média propriedade rural, via estímulo de um conjunto
de ações integradas, voltadas para a recuperação e adequação ambiental, e para otimizar e
renovar suas áreas de produção agrícola e florestal. Participam deste programa todos os
8
municípios das ASDs exceto Pedro Canário e Vila Pavão. As ações do programa Campo
Sustentável estão diretamente relacionadas com o aumento sustentável da capacidade produtiva
dos agro ecossistemas.
Estas ações contribuem com a extensão rural no desenvolvimento do campo. O programa
visa apoiar os agricultores que desejam produzir de forma planejada, visando a diversificação da
agricultura, altos níveis de produtividade e, ao mesmo tempo, conservar e recuperar os recursos
naturais.
2 – ATUAIS CONDINÇÕES DAS ASD CAPIXABA
Para elaborar um diagnóstico descritivo que permita entender as atuais condições das
ASD Capixabas, sob a ótica do eixo temático do PAN-Brasil “Ampliação Sustentável da
Capacidade Produtiva” é necessário contextualizar alguns aspectos edáfico-climáticos e a
natureza ambiental propriamente dita dessas ASD.
Nota-se que os 24 municípios situados nestas áreas estão inseridos em três zonas naturais,
conforme demonstra a figura abaixo.
Figura 01: Mapa Representativo das Zonas Naturais Capixaba
Fonte: Unidades Naturais (EMCAPA/NEPUT, 1999) processada em GIS (FEITOZA, H.N,1998)
No que diz respeito às condições ambientais, segundo dados do Incaper, a área total das
ASD está subdividida em “Terras quentes e Terras de Temperaturas Amenas”.
A área tida como “Terras Quentes” se subdividem em “quentes, acidentadas e secas” e
“quentes, planas e secas”, sendo a primeira de maior abrangência, compreendendo os seguintes
Terras frias, acidentadas e chuvosas
Terras de temperaturas amenas, acidentadas e chuvosas Terras de temperaturas amenas, acidentadas e chuvosas/seca
Terras quentes, acidentadas e chuvosas
Terras quentes, acidentadas e transição chuvosa/seca Terras quentes, acidentadas e secas
Terras quentes, planas e chuvosas
Terras quentes, planas e transição chuvosa/seca Terras quentes, planas e secas
9
municípios: Ecoporanga, parte do município de Água Doce do Norte e Barra de São Francisco,
Vila pavão, Nova Venécia, São Domingos do Norte, Colatina, Governador Lindemberg, São
Gabriel da Palha e boa parte do município de Vila Valério e Águia Branca. Já a segunda
compreende o município de Mucurici, Ponto Belo, Montanha, Pedro Canário, Pinheiros, Boa
Esperança, Sooretama, Rio Bananal, Ecoporanga, Água Doce do Norte. As áreas tidas como
“Terras de temperaturas amenas” apresentam como característica terras acidentadas e chuvosas,
compreendendo parte do parte do município de Água Doce do Norte e de Barra de São
Francisco, a quase totalidade do município de Mantenópolis, Alto Rio Novo, Pancas e Baixo
Guandu.
Diante do exposto fica evidente que as ASD Capixabas naturalmente já apresentam
restrições naturais-produtivas devido as suas terras secas e também devido aos longos períodos
de seca. Sendo assim, uma inferência pode ser feita no que tange a co-relação entre valores
anuais da produção e ampliação sustentável da capacidade produtiva, que conseqüentemente
remete a obrigatoriedade do Estado lançar um olhar mais crítico sobre a sua matriz produtiva
capixaba.
De modo geral os Sistemas de Produção instalados nas ASD estão ordenados da seguinte
forma: as culturas perenes ocupam as áreas mais planas e secas com irrigação, adubação química
e aplicação de agrotóxicos. Nas áreas quentes e acidentadas observa-se a presença do gado com
predominância dos leiteiros sobre os de corte. Observa-se também a substituição do capim nativo
pelo brachiária sp. que muitas vezes passa a ocupar as áreas de lavouras perenes abandonadas.
Ao percorrer os municípios localizados nas ASD, nota-se que as pastagens então em um
estágio de degradação avançado. Isto pode ser observado, por exemplo, na rota São Domingos
do Norte, Águia Branca à Barra de São Francisco ou pela rota São Domingos do Norte, Nova
Venécia, Vila Pavão à Barra de São Francisco e também no trecho de Linhares a Rio Bananal e
Colatina a Aimorés-MG. Nota-se também que culturas de ciclo anual são plantadas intercaladas
com as culturas perenes buscando a maximização do sistema de irrigação, todavia isso é feito
com aplicação de um mínimo de tecnologia. As terras baixas são, na sua maioria, terras
drenadas, outrora ocupadas por plantios de arroz e cultivos de vazante destinados à subsistência,
que passaram a ser ocupadas pelo gado leiteiro ou por plantios de coco, por exemplo.
Nota-se que o eucalipto vem ocupando áreas planas antes destinadas às pastagens e
culturas temporárias e hoje estudos apontam que no Espírito Santo foram plantados mais de 600
mil hectares neste processo, conforme melhor apresentado mais abaixo.
10
3 – DOS SISTEMAS PRODUTIVOS
Os principais sistemas produtivos presentes nas ASD capixabas são: Pecuária, leiteira e
de corte; Fruticultura; Cafeicultura; Silvicultura; e Atividades de Extração Mineral (granito).
3.1 – PECUÁRIA
De acordo com os dados do Censo Agropecuário 2007, a região norte das ASD é onde o
plantel do rebanho bovino se expressa de forma mais significativa, com destaque para os
municípios de Ecoporanga, Montanha, Colatina, Baixo Guandu, Nova Venécia, Barra de São
Francisco e Mucurici. De certo modo a prática desta atividade está ligada a dois fatores: o
primeiro nos primórdios de ocupação destas áreas e em segundo lugar como consequência do
programa de erradicação dos cafezais, cuja crise econômica levou os proprietários a optarem por
ela devido ao fato de demandar o menor custo para implantação na substituição.
Tanto a pecuária leiteira quanto a de corte estão presentes em todos os municípios
localizados nas ASD Capixaba. Porém alguns municípios a atividade merece destaque como, por
exemplo, Barra de São Francisco e Ecoporanga onde a pecuária vem se tornando a principal
atividade em detrimento de outras culturas, em especial do cultivo do café. A influência dos
municípios mineiros circunvizinhos, inclusive Governador Valadares, também exerce papel
importante para tal fato. Dentre as razões pode-se dizer também que está o elevado déficit
hídrico que inviabiliza outras possibilidades de atividades agrícolas, que têm a sua viabilidade na
dependência direta do uso da irrigação. Somado a isso se tem também os custos de manutenção,
os riscos ligados a produção e as oscilações de preço, fatores estes que podem ser considerados
menores que nas outras atividades agrícolas.
Conforme demonstrado no gráfico abaixo, nota-se que de 2006 a 2009, a maioria dos
municípios localizados nas ASD capixaba apresentaram uma evolução significativa dos rebanhos
de bovinos.
Gráfico 02: Evolução efetiva de bovinos nas ASD, do ano de 2006 a 2009.
Fonte: IBGE (2010)
-
500.000
Águ
ia B
ran
ca
Águ
a D
oce
do
…
Alt
o R
io N
ovo
Bai
xo G
uan
du
Bar
ra d
e Sã
o…
Bo
a Es
per
ança
Co
lati
na
Eco
po
ran
ga
Go
vern
ado
r…
Man
ten
óp
olis
Mar
ilân
dia
Mo
nta
nh
a
Mu
curi
ci
No
va V
ené
cia
Pan
cas
Pe
dro
Can
ário
Pin
hei
ros
Po
nto
Bel
o
Rio
Ban
anal
São
Do
min
gos…
São
Gab
rie
l da…
Soo
reta
ma
Vila
Pav
ão
Vila
Val
éri
o
BOVINO 2006
BOVINO 2009
11
Faz-se necessário ressaltar que esta atividade está calcada em um sistema extensivo
(subpastejo, pisoteio, ausência de correção do solo, etc.) em que as pastagens encontram-se
improdutivas. Há pouco ou nenhum investimento em renovações e fertilizações tornando-as de
baixo rendimento de peso e por isso mais demandadoras de área. Como não se adota a
arborização4, a infiltração das águas das chuvas e a fertilidade não são promovidas. A quase
totalidade das pastagens é implantada seguindo os modos convencionais e como o relevo das
regiões onde ficam localizadas as ASD em sua maioria apresenta inclinações, os métodos de
formação dos pastos utilizam-se da aração “morro abaixo” geralmente com tratores de esteiras e
lâminas frontais que retiram todo o horizonte A, que representa a fração mais fértil do solo. A
aração neste sentido promove o escoamento vertical das águas favorecidos pelos sulcos deixados
pelo trator. Nas ASD são facilmente encontradas a situação chamada popularmente de “peladô”
ou “pelador” que se trata da exposição do horizonte B e até mesmo do C - solos rasos - cuja
baixa disponibilidade de nutrientes somadas à pressão de pisoteio inviabilizam a ocupação até
mesmo por espécies como as Brachiárias sp.
Vale ressaltar que a pastagem e o café são as atividades que mais contribuem para o uso
do solo agrícola capixaba, o que conseqüentemente as colocam como sendo as que mais
exploram os recursos naturais. Segundo dados da Food and Agriculture Organization of the
United States (FAO, 2008) no livro “A Grande Sombra dos Rebanhos” o setor pecuário foi o
responsável por 18% das emissões dos gases de efeito estufa, por 9% de todo gás carbônico
emitido por fontes antrópicas (desmatamentos para áreas de pastagem ou produção de grãos),
37% do metano e 65% de todo o gás nitroso emitido.
Consequentemente torna-se extremamente importante a adoção de uma combinação de
práticas conservacionistas como terraciamentos, curvas de níveis, cordões de contorno, bacias de
retenção, caixas secas ou mesmo a adoção de Sistemas Agrossilvipastoris5 como formas já
consagradas para evitar degradação ambiental.
4A arborização é considerada um meio eficiente de promover a sustentabilidade de pastagens em regiões de
pecuária, pois as árvores podem controlar a erosão e melhorar a fertilidade do solo e consequentemente a qualidade
da forragem. Diminuindo o estresse e o consumo de energia, há maior ganho de carcaça, que gera aumento da renda
ao produtor. 5 Refere-se às técnicas de produção nas quais se integram os animais, as árvores e as pastagens numa mesma área.
Tais sistemas representam uma forma de uso da terra onde as atividades silviculturais e pecuárias são combinadas
para gerar produção de forma complementar pela interação dos seus componentes (GARCIA & COUTO,1997).
12
3.2 – FRUTICULTURA
De acordo com informações contidas no Novo Plano Estratégico de desenvolvimento da
Agricultura Capixaba – NOVO PEDEAG, a fruticultura é segunda atividade mais importante no
contexto da agropecuária estadual, atingindo aproximadamente 17% da produção total, sendo
superada apenas pela cultura do café. Deste modo é apontada como a principal responsável pela
diversificação agrícola na totalidade dos municípios localizados nas ASD capixabas o que faz
com que, conseqüentemente, contribua com o aumento da oferta de emprego e gerando
condições para o agricultor permanecer no campo.
No que diz respeito à área plantada, as culturas de maior expressão são as o mamão, a
banana, o coco, a laranja, o maracujá, a goiaba e a manga, conforme ilustra a tabela abaixo:
Tabela 05: Cultura frutícolas de maior expressividade com relação a área plantada.
MUNICIPIOS AREAS CULTIVADAS EM HECTARES
Mamão Manga Goiaba Laranja Coco Maracujá Banana
Águia Branca 0 0 - - 300 - 70
Água Doce do Norte 0 12 - 15 20 11 40
Alto Rio Novo 0 0 - - 10 - 15
Baixo Guandu 12 39 2 15 90 - 90
Barra de São Francisco - - - - 380 - 100
Boa Esperança 519 16 18 4 296 15 40
Colatina 3 53 20 30 450 - 450
Ecoporanga - - - - 40 - 30
Gov.Lindenberg - 30 - 10 580 10 580
Mantenópolis - 5 - 18 8 4 2
Marilândia - 8 - - 190 5 190
Montanha 1.500 - 8 - - 15 10
Mucurici 100 - 10 1 - - 1
Nova Venécia 35 5 - 51 150 20 80
Pancas - - - 15 100 - 70
Pedro Canário 165 - 114 20 - 3 -
Pinheiros 2.500 - 52 - - 200 6
Ponto Belo 130 - 1 - - - 2
Rio Bananal 31 - - - 436 70 60
São Domingos do Norte - - - 20 300 12 20
São Gabriel da Palha - 20 - 25 800 3 30
Sooretama 919 - - 320 400 1.800 20
Vila Pavão - - - - 85 65 48
Vila Valério 30 4 - - 1.000 5 40
TOTAL 5.944 180 225 529 5.305 2.227 1.887
Fonte: IBGE (2006)
13
Ao analisar essas culturas observa-se que a de maior destaque é a do mamão e,
sobremaneira, da variedade “Formosa’, tanto no quesito área plantada quanto no volume de
produção. A cultura está presente de forma significativa nas cidades de Mucurici, Montanha,
Pedro Canário, Pinheiros e Boa Esperança. A produção é destinada para o mercado in natura
nacional e em pequena escala para exportação. Este volume produzido coloca o Espírito Santo
no segundo lugar no ranque produtivo brasileiro.
O coco, o maracujá e a banana vêm logo depois, e apresentam características de plantio
quase que generalizadas. Insta destacar que os produtores de coco nos últimos anos passaram por
dificuldades devido à queda vertiginosa dos preços pago pela fruta e com isso muitos
praticamente abandonaram as lavouras; entretanto, com a chegada de diversas empresas com
atividades especificas neste setor, a cultura passa por um novo ciclo de desenvolvimento, fruto
das expectativas de compra com preços pré-fixados por estas indústrias. Portanto, o mercado
deixou de ser oligopsônico, fazendo com que a concorrência seja fator gerador de uma maior
estabilidade. Mesmo se considerando que apesar de possuir solo e clima favorável, a ampliação
destas áreas está inteiramente ligada a demanda gerada por estas indústrias, tendo em vista que o
consumo da fruta no verão é instável.
Os plantios do maracujá estão destinados ao atendimento do mercado in natura e, entre
2006 e 2007, com a aquisição da “Sucos Mais” pela Coca-Cola Company e mais tarde a
instalação da “Trop Brasil”, ambas em Linhares, a demanda por esta fruta gerou um aumento
significativo em termos de área plantada. Segundo diversos depoimentos de pequenos
agricultores, a política de preços praticada por elas geralmente funciona iniciando por um
estímulo e até mesmo custeio (antecipação) via contrato de compra e venda, porém os preços
diminuem drasticamente, fazendo com que muitos se sintam desencorajados de continuar com a
“parceria”. Entretanto, ainda predomina o consumo in natura, via Ceasa e mercado local, e o
abastecimento de pequenas agroindústrias familiares de fabricação de polpa. Esta cultura é
intensamente demandadora de adubos químicos e agrotóxicos, contribuindo para a poluição e
degradação dos recursos naturais.
Com relação a produção de laranja, não só as ASD mas todo o estado tem potencial e
condições mercadológicas propícias para expansão das lavouras, pois quase 90% do que é
comercializado e consumido no Estado é importado de São Paulo e de Sergipe; todavia, esta
expansão precisa ser melhor estudada tecnicamente e economicamente.
A banana apresenta um grande potencial de crescimento nas ASD, porém cabe ressaltar
que a irrigação é imprescindível para o sucesso da cultura e a água já passa a ser tratada como
14
recurso escasso nessas áreas. Municípios do entorno de Linhares começam a experimentar a
expansão desta cultura.
Mesmo aparecendo em sexto lugar no que diz respeito à área plantada, vale a pena atentar
para a cultura da manga, tendo em vista que nos últimos 9 anos o Governo Estadual, através de
um processo de demanda induzida, vem incentivando a implantação da cultura nas regiões
noroeste e norte do Espírito Santos. Hoje cerca de 70% dos municípios localizados nas ASD
possuem de forma ordenada o plantio da cultura, somando um montante de aproximadamente
100 mil mudas plantadas. Há que se levar em consideração que pré-existe uma enormidade de
pés de manguita (Ubá) que, a exemplo da Cooperativa da Agricultura Familiar de Colatina e
Região (CAF), já vem sendo comercializada para diversas empresas e processada também em
sua unidade agroindustrial.
Segundo informações do coordenador regional do Incaper responsável por essas ações,
José Carlos Grobério, “quase que a totalidade dessas mudas foram plantadas em áreas (pastos)
degradadas, o que além de ser ecologicamente mais correto apresenta maior rentabilidade
econômica quando comparado com a pecuária nas mesmas condições”. Ele ressalta também que
o grande sucesso é devido alguns fatores, tais como a compra garantida dos frutos pela Trop
Frutas, fatores climáticos, solos favoráveis e o baixo custo de implantação e manutenção da
cultura.
Para as ASD, do ponto de vista da ampliação sustentável da capacidade produtiva, é
inegável a importância dos possíveis impactos positivos destas atividades, porém torna-se
necessária a capacitação constante dos produtores no que diz respeito à utilização dos recursos
naturais e quanto às tecnologias utilizadas, uma vez que é constatada essa deficiência por parte
destes agricultores.
Existe também a possibilidade de crescimento da fruticultura como forma alternativa à
monocultura cafeeira tendo em vista que o café é a cultura de maior expressão tanto no Estado
como nas ASD e, por sua natureza, demanda um dos recursos naturais que a cada dia torna-se
mais escasso, que é a água. Entretanto esta ação é desafiadora e depende de um programa
estadual conciso e que venha ser amparado por estudos envolvendo o Zoneamento Agrícola e
sistemas apropriados de produção para o desenvolvimento da fruticultura. Caso contrário
provavelmente haverá estagnação e desestímulo à fruticultura, atividade que apresenta destaque
como excelente opção para a diversificação agrícola, sustentabilidade ambiental e segurança
alimentar.
15
É sabido que população mundial tem se preocupado cada vez mais por uma alimentação
saudável e isso reflete na demanda por frutas tanto in natura quanto processadas fazendo com
que as taxas de crescimento deste segmento superem os demais setores econômicos. A
fruticultura também estimula Arranjos Produtivos Locais porém, é sabido que para isso há que se
instaurar uma nova cultura de trabalho interinstitucional e de cooperação com vistas a superar o
isolacionismo das organizações.
3.3 – CAFEICULTURA
Estudos indicam que a base da colonização capixaba está intimamente ligada à cultura do
café e que desde então a produção vem crescendo a cada ano, sustentando assim a sua
importância para a agricultura capixaba. Tal afirmativa se comprova com o seguinte fato: o
estado do Espírito Santo é hoje o segundo produtor de café do tipo arábica do país e o primeiro
de café conilon”, sendo este último o carro-chefe da economia agrícola capixaba. sendo
destaque, portanto, também na realidade das ASD.
16
Tabela 06: Evolução da Produção de Café nas ASD
PRODUÇÃO ANUAL (Em toneladas)
MUNICIPIOS Ano de 1997 Ano de 2000 Ano de 2003 Ano de 2006 Ano de 2009
Águia Branca 4.920 11.016 6.630 8.670 12119
Água Doce do Norte 6.936 7.846 5.416 6.615 6853
Alto Rio Novo 3.782 4.620 2.198 2.535 3462
Baixo Guandu 4.865 10.895 4.816 4.462 5244
Barra de São Francisco 10.430 13.552 7.200 4.437 5967
Boa Esperança 1.800 14.400 8.256 10.800 16738
Colatina 16.820 24.508 8.280 8.568 12388
Ecoporanga 2.989 5.320 2.930 3.264 1956
Governador Lindenberg 0 0 8.446 7.290 10418
Mantenópolis 3.110 4.592 2.447 3.702 3956
Marilândia 5.727 14.280 8.262 10.125 12492
Montanha 1.120 22.908 6.480 5.670 7500
Mucurici 302 285 138 108 42
Nova Venécia 9.918 48.000 22.680 19.200 23990
Pancas 9.742 13.612 6.840 9.919 10325
Pedro Canário 32 240 173 144 144
Pinheiros 2.933 15.840 12.600 17.520 23940
Ponto Belo 192 864 459 405 450
São Domingos do Norte 4.028 6.480 3.466 4.455 7844
São Gabriel da Palha 5.297 19.500 7.980 9.562 16159
São Roque do Canaã 5.830 8.640 4.638 5.211 6755
Sooretama 13.200 48.000 21.600 28.500 26351
Vila Pavão 5.700 25.261 8.400 12.120 13219
Vila Valério 11.136 22.500 12.600 18.832 38520
Produção Estadual 223.349 464.637 217.264 249.449 302.775
Produção nas ASD 130.809 343.159 172.935 202.114 266.832
Fonte: IBGE (2010)
Tabela 07: Plantio do café nas ASD
ÁREA PLANTADA (Em Hectares)
MUNICIPIOS Ano de 2004 Ano de 2005 Ano de
2006
Ano de
2007
Ano de
2008
Ano de
2009
Águia Branca 8500 8500 8500 8500 8080 7900
Água Doce do Norte 11400 11400 9500 9500 9115 9000
Alto Rio Novo 5250 5000 5000 5000 4870 4870
Baixo Guandu 7300 7300 7300 7300 7110 7060
Barra de São Francisco 14800 14300 7300 7000 6630 6500
Boa Esperança 4300 6000 6000 7000 6805 8800
Colatina 14200 14200 14200 14200 13530 13270
Ecoporanga 5500 5100 4800 2200 2139 2095
Governador Lindenberg 10800 10500 9000 7300 6945 6800
Mantenópolis 5800 5100 4060 4212 4180 4180
17
Continuação da Tabela 07: Plantio do café nas AS
Marilândia 9000 8700 7500 7300 6940 6800
Montanha 6000 5250 5250 5250 5104 5000
Mucurici 160 134 100 100 100 50
Nova Venécia 21000 20000 20000 20000 19442 19600
Pancas 13850 13250 13450 9450 9020 8830
Pedro Canário 250 300 150 150 150 150
Pinheiros 6500 7300 7300 8000 10500 10500
Ponto Belo 650 450 400 400 400 500
São Domingos do Norte 5500 5500 5500 5500 5230 5100
São Gabriel da Palha 12500 12500 12500 11800 11220 11000
São Roque do Canaã 5000 5000 5500 5000 4865 4775
Sooretama 20500 20000 19000 17000 15685 15400
Vila Pavão 10000 10100 10100 10300 9790 9600
Vila Valério 22500 22500 22500 22500 21400 21000
Produção Estadual 142.761 238.660 235.429 227.330 219.769 214.352
Produção nas ASD 221.260 218.384 204.910 194.962 189.250 188.780
Fonte: IBGE (2010)
Vale ressaltar que os avanços produtivos comprovados nas tabelas acima vêm sendo
conquistados a base do reforço das mesmas condições que favorecem a desertificação, ou seja, a
começar pelos materiais genéticos desenvolvidos extremamente dependentes de água com
pequena zona de exploração radicular e consequentemente baixa capacidade de suportar períodos
curtos de veranicos ou seja, raízes pouco capazes de explorar maiores profundidades e absorver a
água percolada. Estes mesmos materiais genéticos são altamente susceptíveis a pragas e doenças,
necessitando de alto emprego de agrotóxicos que contaminam os lençóis freáticos e cursos
d’água e aumentam os casos de envenenamento de pessoas. Em nome do aumento da
produtividade a todo custo sob o discurso de diminuir a necessidade de expandir ainda mais a
área plantada, é o que vem sendo observado na prática. Municípios do norte do ES que outrora
plantavam café arábica (Bourbon), indicador de regime hídrico e climático favoráveis, vêm
sentindo anos seguidos as oscilações das expectativas de safras.
Não há que negar os anos de recordes de safras, entretanto há que se fazer um balanço
acerca da sustentabilidade e buscar medidas que intensifiquem a reestruturação da atividade
cafeeira em detrimento do uso abusivo de técnicas insustentáveis de manejo das lavouras como
dito anteriormente e citando como exemplo a irrigação por sistema de aspersão por canhões,
irracional para as condições de déficits hídricos das ASD, conforme demonstra figura abaixo.
18
Figura 02: Irrigação por aspersão por canhão
Fonte: Coleta da pesquisa (Fotos tiradas pelo autor no município São Gabriel da Palha).
Outro fator preocupante para a cultura do café Conilon, que tem refletindo tanto na
produção como nos preços praticados, são as mudanças climáticas. Segundo estudos que
corroboram as afirmações anteriores, uma onda de estiagem prevalente nos três últimos anos
(2008 a 2010) no Espírito Santo tem frustrado todas as projeções anunciadas pelos Órgãos
Governamentais e empresas exportadoras, conforme mostra tabela abaixo.
Tabela 08: Safras do café Conilon.
PRODUÇÃO DO CAFÉ CONILON ( em milhões de sacas)
SAFRAS PROJETADA OCORRIDA
2007/2008 10 7,5
2008/2009 12 6,5
2009/2010 15 7,4
2010/2011 17 10
TOTAL 54 31,4
Fonte: http://www.cafepoint.com.br, adaptada pelo autor.
Essa queda se justifica tanto pelo abortamento das flores e dos frutos devido à estiagem
ocorrida no período de floração e pós-florada, quanto na queda no rendimento médio da
produção devido à desuniformidade de maturação provocada por floradas espaçadas e tardias. As
conseqüências desta estiagem se intensificaram a partir do momento em que as represas
começam secar e aos poucos as lavouras foram sendo prejudicadas.
Ainda que o estado possua uma política de armazenamento de água para ser usada na
irrigação, somada a uma difusão e adoção de métodos tecnológicos de irrigação mais racionais,
parte deste efeito certamente poderia ter sido amenizado. Entretanto, sabe-se que esta prática de
barramento d’água resolveria em parte e ainda por cima poderia encobrir por mais algum tempo
19
o círculo vicioso do modelo da agricultura convencional, retardando o tão necessário “olhar
sistêmico” que aponta para um conjunto mais complexo de medidas de recuperação e
preservação ambientais. No Espírito Santo a preocupação com o uso racional dos recursos
hídricos é ainda tímida, o que, diante de situações adversas como ora ilustrada, acarreta
significativas perdas para o agricultor e principalmente para a economia, tendo em vista a
importância desta atividade produtiva para o Estado. Portanto, o governo do Estado, ao
desenvolver um ambicioso programa de substituição da variedade comum por uma variedade
melhorada chamada de "robustão" demonstra que vai na direção contrária ao apresentar “mais,
do mesmo”, sob o discurso de que ela possui maior resistência à seca, se adequando à situação de
quase totalidade dos cafeicultores da região Norte do Estado no que diz respeito aos problemas
ligados ao déficit hídrico - é como na medicina que trata dos sintomas e não da causa das
doenças.
3.4 – Silvicultura
A silvicultura no Estado do Espírito Santo aparenta pouca expressividade tendo em vista
que representa apenas 4,14% do valor da produção vegetal no estado. Entretanto, no ano de
2006, o censo agropecuário afirma que as florestas plantadas eram responsáveis por
aproximadamente 37% da área total ocupada com a produção vegetal no Espírito. É importante
ressaltar que essa evolução é devido a expansão maciça do plantio do eucalipto.
Ao longo dos últimos 19 anos o Estado vem incentivando a implantação e expansão da
monocultura do Eucalipto. Esta atividade não se apresenta como uma alternativa para minimizar
os efeitos de desertificação. Pelo contrário, estes sistemas produtivos comprometem a
estabilidade e diversidade biológica dos ecossistemas, diminuindo assim a biodiversidade local,
além de demandar alto consumo de água, alterar a paisagem local e desencadear diversos
processos que levam a diminuição da capacidade produtiva dos solos, deixando-os mais
suscetíveis a desertificação.
Conforme aponta o gráfico abaixo, no Espírito Santo, de 1990 a 2009, os produtos
oriundos da silvicultura evoluíram de forma significativa. A produção de madeira em tora
cresceu extremamente, passando de algo em torno 1,8 milhões de metros cúbicos para próximo
de 6,4 milhões, ou seja, um crescimento de aproximadamente 353%,
20
Gráfico 03: Evolução em M³ dos produtos oriundos da silvicultura no Espírito Santo.
Fonte: Sidra IBGE
Nota-se também que a quase totalidade da madeira em tora produzida é destinada para a
fabricação de celulose e de papel. Esta produção representava em 1990, 89,95% de toda a
produção da silvicultura/ já em 2009 este representativo evoluiu para 93,83%, enquanto a
madeira para lenha tem pouca expressividade na produção da silvicultura.
A tabela abaixo mostra que a concentração da produção se localiza em três municípios,
que são Conceição da Barra, São Mateus e Aracruz; entretanto, dos 15municípios que mais
produziram madeira para fabricação de celulose e de papel no ano de 2009, 9 se localizam nas
ASDS, sendo eles:Vila Valério, Rio Bananal, Pinheiros, Montanha, Pedro Canário, Jaguaré,
Colatina, Sooretama e Alto Rio Novo.
Tabela 09: Os 15 municípios de maior destaque na produção de madeira para papel e celulose.
Município Produção e M³
Conceição da Barra – ES 2.571.472
São Mateus – ES 1.374.692
Aracruz – ES 1.128.690
Vila Valério - ES (ASD) 157.772
Linhares - ES 136.102
Rio Bananal - ES (ASD) 95.258
Pinheiros - ES (ASD) 72.631
Montanha - ES (ASD) 56.266
Pedro Canário - ES (ASD) 53.641
Jaguaré - ES (ASD) 52.726
Mucurici – ES 49.698
Colatina - ES (ASD) 37.937
Sooretama - ES (ASD) 36.695
Domingos Martins – ES 35.393
Alto Rio Novo - ES (ASD) 30.847
Fonte: IBGE (2009)
0
1.000.000
2.000.000
3.000.000
4.000.000
5.000.000
6.000.000
7.000.000
1990 1995 2000 2005 2009
M³
Produção de madeira em tora (M³)
Lenha
Madeira em tora para papel e celulose
21
Com relação aos 24 municípios localizados nas ASD Capixaba, é notório que, além do
aumento da produção de madeiras para fabricação de celulose e papel, aumentou também o
número de municípios produtores. Vale ressaltar que este aumento pode ter ligação com o fato
de que o Estado incentiva esta atividade como alternativa de produção e geração de renda. A
tabela abaixo ilustra tal situação.
Tabela 10: Produção de madeira em tora para fabricação de celulose e papel nas ASD.
Produção em M³ de Madeira em Tora para Fabricação Papel e Celulose
Municípios Ano de 1990 Ano de 1995 Ano de 2000 Ano de 2005 Ano de 2009
Águia Branca - 1.200 2.150 8.957 3.299
Água Doce do Norte - - 305 - -
Alto Rio Novo - - 34.630 3.214 30.847
Baixo Guandu - - 17.170 8.321 4.863
Barra de São Francisco - - - - -
Boa Esperança - - - 10.651 1.290
Colatina - - 6.475 11.074 37.937
Ecoporanga - - - - -
Governador Lindenberg - - - - 3.291
Mantenópolis - - 4.590 928 864
Marilândia - - 510 3.387 9.318
Montanha - - - - 56.266
Mucurici - - - - 49.698
Nova Venécia - - - - 17.961
Pancas - - 14.970 7.576 7.462
Pedro Canário 285.581 - - 151.715 53.641
Pinheiros 30.045 153.278 - 22.184 72.631
Ponto Belo - - - - -
Rio Bananal - - 93.300 4.891 95.258
São Domingos do Norte - - 3.016 1.256 9.195
São Gabriel da Palha - - 2.670 - 5.248
Sooretama - - 191.036 - 36.695
Vila Pavão - - - - -
Vila Valério - - - 314 157.772
Total 315.626 154.478 370.822 234.468 653.536
Fonte: Sidra IBGE, acessado no dia 23 de julho de 2011.
Com relação a extração vegetal, segundo o Censo Agropecuário de 2006 o Espírito Santo
apresenta números pouco expressivos, o que comprova que tais atividade tem pouca
representatividade econômica.
22
3.5 – ATIVIDADE DE MINERAÇÃO: GRANITO
O Espírito Santo é o maior exportador brasileiro de rochas ornamentais sendo
responsável por aproximadamente 75% das exportações do país. Em 2009 comercializou algo
próximo a US$ 1 bilhão para o exterior.
As regiões das ASD, situadas no Norte e Noroeste do Espírito Santo, concentram cerca
de 70% das atividades de mineração, em especial a exploração do granito. Esta atividade
demonstra ser bastante difundida e consequentemente traz consigo impactos ambientais
significativos para as áreas rurais. Em se pensando na ampliação sustentável da capacidade
produtiva, estes impactos possuem relação direta com o tema desertificação principalmente pelos
fatos ligados à perda da cobertura vegetal dos topos de morros, assoreamento de cursos d’água,
degradação das áreas de exploração, diminuição das nascentes, deslizamento de encostas, etc.,
deixando assim o solo em contato direto com a ação erosiva e cada vez susceptível a
desertificação. Na etapa de processamento das rochas há ainda o lançamento em cursos d’água
de resíduos sólidos resultantes da serragem e polimento.
Segundo informações contidas no PTDRS do Território da Cidadania Norte Capixaba6, a
exploração do mármore e do granito vem ameaçando a agricultura familiar, causando
assoreamento dos cursos d’águas, perda de um patrimônio turístico, e forte degradação ambiental
e social.
Todavia, ao compararmos a degradação ambiental causada pela exploração das atividades
mineradoras, como por exemplo, com a pecuária, a mineração é quase insignificante, e
certamente traz menores prejuízos em termos de redução e destruição da área de produção de
alimentos. Porém esta constatação não a torna menos importante em termos da necessidade de
desenvolvimento de programas de recuperação ambiental e de tecnologias menos impactantes.
Para esta atividade é necessário garantir o respeito e a proteção ao meio ambiente, recuperar as
áreas que representam um passivo significativo e “invisível” aos olhos dos órgãos ambientais,
que deveriam fazer cumprir os EIA/RIMA, evitando novas agressões e acima de tudo
encontrando alternativas econômicas para o aproveitamento de resíduos gerados pelas pedreiras
e também pelas indústrias.
Diante disto torna-se necessário buscar a construção de um posicionamento de consenso
no âmbito da discussão sobre esta atividade, tendo em vista que ela vem sendo considerada como
6 Este território aborda 17 dos 24 municípios localizados nas ASD, sendo eles: Barra de São Francisco, Água Doce
do Norte, Águia Branca e Ecoporanga, Montanha, Mucurici, Ponto Belo, Pinheiros, Nova Venécia, São Gabriel da
Palha, Boa Esperança, Vila Valério, Vila Pavão, São Mateus, Jaguaré, Pedro Canário e Conceição da Barra.
23
muito importante para a matriz produtiva do ES e, sobretudo, tem uma forte expressão nas ASD
Capixabas, impulsionada pelo cenário das grandes tendências econômicas existentes no Espírito
Santo território.
3.6 – DAS LAVOURAS
No Espírito Santo a lavoura é responsável por 26,5% da área dos estabelecimentos
agropecuários, perfazendo um montante de 752.117 hectares. Desse total, 25,3% é utilizada para
lavoura temporária e 5,73% para lavoura permanente e estas representam 76,52% do valor da
produção agropecuária no Espírito Santo. Já nas ASD, as lavouras são responsáveis por
aproximadamente 18,91% da área total dos municípios, o que equivale a aproximadamente
246.111 hectares. Desse total, 15,68% é utilizada para lavoura temporária e 3,23% é utilizada
para lavoura permanente. Do ponto de vista do valor total da produção agropecuária das ASD, a
lavoura representa 68,72% (IBGE, Censo Agropecuário 2009).
24
Tabela 11: Área total ocupada pelos Estabelecimentos Agropecuários e pelas Lavouras nas ASD
MUNICÍPIOS Área Total dos
Estabelecimentos
Agropecuários (Hec)
Área Total
Plantada(Hec)
Lavoura Plantada
Permanente (Hec)
Lavoura
Temporária
Plantada (Hec)
Águia Branca 32.270,49 9.362 8.762 600
Água Doce do Norte 41.429,17 9.984 9.584 400
Alto Rio Novo 20.952,85 5.240,00 5.020,00 220,00
Baixo Guandu 74.084,48 8.610,00 7.350,00 1.260,00
Barra de São Francisco
70.465,89 11.588,00 8.061,00 3.527,00
Boa Esperança 30.315,15 16.485,00 15.145,00 1.340,00
Colatina 125.475,66 3.210,00 2.260,00 950,00
Ecoporanga 193.868,71 8.060,00 7.815,00 245,00
Governador Lindemberg
24.543,00 4.420,00 4.263,00 157,00
Mantenópolis 24.535,32 8.242,00 7.692,00 550,00
Marilândia 28.578,87 11.982,00 6.442,00 5.540,00
Montanha 97.130,29 2.457,00 256,00 2.201,00
Mucurici 38.009,52 22.795,00 20.645,00 2.150,00
Nova Venécia 108.329,17 10.607,00 9.627,00 980,00
Pancas 52.237,66 7.916,00 746,00 7.170,00
Pedro Canário 43.892,77 21.994,00 11.728,00 10.266,00
Pinheiros 70.160,50 522,00 402,00 120,00
Ponto Belo 19.851,00 925,00 563,00 362,00
Rio Bananal 18.350,04 6.141,00 5.802,00 339,00
São Domingos do Norte
25.083,78 13.372,00 12.657,00 715,00
São Gabriel da Palha 37.936,33 6.115,00 5.205,00 910,00
Sooretama 48.640,00 21.273,00 20.190,00 1.083,00
Vila Pavão 39.790,25 11.184,00 10.477,00 707,00
Vila Valério 35.697,00 23.627,00 23.427,00 200,00
TOTAL 1.301.628 246.111,00 204.119,00 41.992,00
Fonte: IPEA DATA, adaptado pelo autor.
3.6.1 – Lavouras Temporárias
Por definição, lavouras temporárias são aquelas áreas do estabelecimento utilizadas para
o cultivo de culturas de curta duração (geralmente inferior a um ano) e que só produz uma vez
pois na colheita destrói-se a planta, por exemplo: o milho, o feijão, etc.
Nas ASD as principais lavouras temporárias são: aipim, feijão e milho, conforme
apresentado na tabela abaixo.
25
Tabela 12: Principais culturas da lavoura temporária cultivadas nas ASD, em Hectares em no ano de 2009
MUNICÍPIOS Feijão Aipim Milho
Águia Branca 80 30 400
Água Doce do Norte 40 100 50
Alto Rio Novo 70 - 100
Baixo Guandu 200 50 1200
Barra de São Francisco 100 30 300
Boa Esperança 133 15 200
Colatina 180 120 600
Ecoporanga 115 250 60
Governador Lindenberg 100 50 100
Mantenópolis 32 - 40
Marilândia 70 30 200
Montanha 10 2000 50
Mucurici - 100 -
Nova Venécia 300 500 500
Pancas 100 30 150
Pedro Canário 55 500 100
Pinheiros 700 1500 200
Ponto Belo 4 350 6
Rio Bananal 350 60 350
São Domingos do Norte 130 15 140
São Gabriel da Palha 75 35 450
Sooretama 650 300 300
Vila Pavão 15 60 400
Vila Valério 70 - 100
TOTAL (Hectares) 3.579 6.125 5.996
Fonte: IBGE (2009)
No que se refere à cultura/plantio do feijão, o Espírito Santo, no ano de 1997, colheu
41.284 hectares desta cultura e, deste total, 66.903 hectares foram colhidos nas ASD. Já no ano
de 2009 a produção estadual reduziu de forma significativa e, em específico nas ASD, essa
redução foi de aproximadamente 47%, passando então para 3.579 hectares colhidos, conforme
ilustram os gráficos abaixo.
26
Gráfico 04 : Evolução da área de feijão plantado nas ASD, em Hectares.
Fonte: IPEA DATA, adaptado pelo autor
No gráfico acima chamam a atenção os municípios de Pinheiros, Rio Bananal e
Sooretama, que vão em direção contrária a tendência dos demais municípios inseridos nas ASD,
apresentando um crescimento significativo com relação ao plantio do feijão. Nova Venécia
também apresenta uma reação nesta direção, porém são necessários registros mais recentes para
que isto se confirme. O gráfico abaixo confirma a tendência geral de que a cultura do feijão nas
ASD não representa índices significativos na contribuição da produção estadual.
Gráfico 05: Comparativo de variação entre Produção Estadual de Feijão x Produção de feijão nas ASD
Fonte: IPEA DATA, adaptado pelo autor
Com relação a produção de aipim, o Espírito Santo no ano de 1997 colheu 16.345
hectares desta cultura e deste total 7.380 hectares foram colhidos nas ASD. Já no ano de 2009
essa produção reduziu de forma significativa, e em especifico nas ASD, essa redução foi de
aproximadamente 13%, passando então para 6.125 hectares produzidos, conforme ilustram os
gráficos abaixo.
0
200
400
600
800
Ano de 1997
Ano de 2000
Ano de 2003
Ano de 2006
Ano de 2009
0
20.000
40.000
60.000
80.000
Produção Total na ASD em hectares
Produção Estadual em hectares
27
Gráfico 06 : Evolução da área de aipim plantada nas ASD, em Hectares.
Fonte: IPEA DATA, adaptado pelo autor
Para os municípios do extremo norte como Mucurici, Nova Venécia, Pedro Canário,
Pinheiros e Ponto Belo a atividade está ligada à produção da farinha de mandioca mas também é
uma alternativa alimentar – principalmente nos períodos de estiagem - dos rebanhos de bovinos,
suínos e aves.
Gráfico 07: Comparativo de variação entre Produção Estadual de aipim x Produção de aipim nas ASD
Fonte: IPEA DATA, adaptado pelo autor
Em se comparando com a cultura do feijão, a produção de aipim tem uma contribuição
mais significativa para a produção estadual, porém em muito se deve ao fato de ser esta uma
cultura muito menos exigente em água e mais resistente aos períodos de estiagem, ou seja, muito
mais por isso do que por seu provável retorno econômico.
Em relação a produção de milho, o Espírito Santo, no ano de 1997, colheu 67.190
hectares desta cultura e deste total 15.070 hectares foram colhidos nas ASD. Já no ano de 2009 a
0500
1.0001.5002.0002.5003.0003.500
Ano de 1997
Ano de 2000
Ano de 2003
Ano de 2006
0
5.000
10.000
15.000
20.000
Ano de 1997 Ano de 2000 Ano de 2003 Ano de 2006Produção Total na ASD emhectares
28
produção Estadual reduziu de forma significativa e especificamente nas ASD essa redução
significou aproximadamente 60%, passando então para 5.996 hectares produzidos, conforme
ilustram os gráficos abaixo.
Gráfico 08 : Evolução da área de milho plantada nas ASD, em Hectares.
Fonte: IPEA DATA, adaptado pelo autor
Além de se assemelhar aos fatores relacionados com a cultura do feijão, a redução de área
plantada de milho está fortemente ligada à falta de políticas de garantia de preços mínimos
praticadas pelo governo federal que vem, ano após ano, importando o produto de outros países,
mantendo os preços internos a níveis desestimuladores. A ocorrência do cultivo desta cultura
está intimamente relacionada com a ampliação dos cafezais, como alternativa de “cultura
intercalar” até os dois primeiros anos, e à subsistência e componente alimentar de rebanhos,
principalmente da agricultura familiar camponesa.
Gráfico 09: Comparativo de variação entre Produção Estadual de milho x Produção de milho nas ASD
Fonte: IPEA DATA, adaptado pelo autor
3.6.2 – Lavouras Permanentes
O IBGE define as culturas permanentes como sendo “a área plantada ou em preparo para
o plantio de culturas de longa duração, tais como: café, laranja, banana, uva, cana de açúcar etc.,
que após a colheita, não necessitam de novo plantio, produzindo por vários anos consecutivos”.
0
1.000
2.000
3.000
Águ
ia B
ran
ca
Águ
a D
oce
do
No
rte
Alt
o R
io N
ovo
Bai
xo G
uan
du
Bar
ra d
e Sã
o…
Bo
a Es
per
ança
Co
lati
na
Eco
po
ran
ga
Go
vern
ado
r…
Man
ten
óp
olis
Mar
ilân
dia
Mo
nta
nh
a
Mu
curi
ci
No
va V
ené
cia
Pan
cas
Pe
dro
Can
ário
Pin
hei
ros
Po
nto
Bel
o
Rio
Ban
anal
São
Do
min
gos
do
…
São
Gab
rie
l da
Pal
ha
Soo
reta
ma
Vila
Pav
ão
Vila
Val
éri
o
Ano de 1997Ano de 2000Ano de 2003Ano de 2006Ano de 2009
010.000
20.00030.000
40.00050.000
60.00070.000
Ano de 1997 Ano de 2000 Ano de 2003 Ano de 2006 Ano de 2009Produção Total na ASD (Hectares)
29
Tendo em vista que algumas lavouras permanentes já foram apresentadas em outros momentos,
neste tópico abordaremos apenas a cana de açúcar e a pimenta do reino
No que diz respeito à cana-de-açúcar, a cultura foi implantada no Espírito Santo no
início de 1605. Com relação aos municípios localizados nas ASD, em 2009 essa cultura era
presente em todos os municípios, ocupando uma área equivalente a 30.540 hectares. De modo
geral é a lavoura que mais ocupa área no Espírito Santo e, segundo dados de 2009, essa área era
de aproximadamente 80.162 hectares, distribuídos prioritariamente no Litoral Norte e Litoral
Sul. Somando as principais lavouras alimentícias capixabas, como por exemplo arroz, feijão,
milho e mandioca, esse número ainda será menor que os apresentados pela cultura da cana. Ao
somar a área de cana de açúcar a de eucalipto, percebe-se que o ES é um estado que não prioriza
a produção de alimentos e sim a exportação de divisas e de recursos naturais (água, energia,
matéria orgânica, etc.).
Vale a pena atentar para o fato de que fatores associados à desertificação como as
mudanças climáticas e consequentemente o déficit hídrico, já tem implicações na produção de
cana. Informações contidas no NOVO PEDEAG afirmam que devido às irregularidades
climáticas ocorridas nos últimos anos houve para o Estado um prejuízo produtivo de
aproximadamente 10.000.000 de toneladas de cana.
Os dados do gráfico abaixo demonstram a forte expansão desta cultura nas ASD, sendo
presente em todos os municípios, porém possuindo mais expressão em apenas 5 dos 24
municípios que compõe as ASD.
Gráfico 10: Área com plantio de cana de açúcar nas ASD, em hectare.
Fonte: IPEA DATA, adequada pelo autor
01.0002.0003.0004.0005.0006.0007.0008.0009.000
Águ
ia B
ran
ca
Águ
a D
oce
do
…
Alt
o R
io N
ovo
Bai
xo G
uan
du
Bar
ra d
e Sã
o…
Bo
a Es
pe
ran
ça
Co
lati
na
Eco
po
ran
ga
Go
vern
ado
r…
Man
ten
óp
olis
Mar
ilân
dia
Mo
nta
nh
a
Mu
curi
ci
No
va V
en
écia
Pan
cas
Pe
dro
Can
ário
Pin
hei
ros
Po
nto
Bel
o
Rio
Ban
anal
São
Do
min
gos
do
…
São
Gab
rie
l da…
Soo
reta
ma
Vila
Pav
ão
Vila
Val
ério
Ano 2001
Ano 2004
Ano 2007
Ano 2009
30
No gráfico acima nota-se que 05 municípios se destacam com relação a cultivo de cana e
representam juntos, aproximadamente 60% da área total das ASD cultivada em 2009.
Segundo os dados do IBGE, Censo Agropecuário de 2006, a cana-de-açúcar é a lavoura
que mais ocupa área no Espírito Santo, com 80.162 hectares em 2009, presente prioritariamente
no Litoral Norte e Litoral Sul, área maior que as principais lavouras alimentícias, como arroz,
feijão, milho e mandioca juntas (76.832 há). Foi uma das lavouras que mais expandiu no Espírito
Santo. Foi também a lavoura que mais expandiu área: apenas nos últimos 10 anos (1999/2009)
essa lavoura elevou sua área em 63,83%. Essa monocultura está nas regiões em que há
predominância dos médios e grandes estabelecimentos produtivos.
O incentivo da cultura da cana-de-açúcar vai no sentido contrário da ampliação
sustentável da capacidade de produção nas ASD. O monocultivo, queimadas, alta mecanização,
utilização intensiva de agrotóxicos e fertilizantes provocam a diminuição da biodiversidade e a
acidificação dos solos, aumentando assim a suscetibilidade destas áreas a desertificação. A
explicação para tal fato pode ser entendida quando analisamos as localizações das principais
indústrias de processamento de cana, o que consequentemente facilita todo processo de logística
e vendas. Estas unidades estão localizadas nos seguintes municípios: ALBESA – Município de
Boa Esperança; CRIDASA – Município de Pedro Canário. A DISA e ALCON, embora situadas
em Conceição da Barra, municípios que não estão inseridos nas ASD, seguem o mesmo
raciocínio para a questão da logística/proximidade da matéria-prima, conforme mostra o gráfico
abaixo:
31
Figura 03: Localização das Principais usinas de beneficiamento da cana de açúcar na região norte do ES.
Fonte: NOVO PEDEAG - Adaptado pelo autor
CRIDASA
ALCON e DISA ALBESA
APROCANA
MODENES
Em 2009, a lavoura de pimenta do reino capixaba representava aproximadamente 2.342
hectares - estes números colocam o Espírito Santo no 2° lugar nacional em área plantada, atrás
apenas do Pará. Quase que a totalidade desta cultura está localiza nas ASD, distribuída em 17
municípios capixabas que estão localizados no norte do estado, com destaque para São Mateus,
com 1.600 hectares, o que representa 68,31% da área total cultivada no ES. Essa cultura é
presente em diversos pequenos estabelecimentos agropecuários, mas também nos médios e
grandes estabelecimentos.
Em 1998 o Espírito Santo colheu 1.267 hectares desta cultura e deste total 167 ha foram
colhidos nas ASD. Já no ano de 2009 a produção estadual quase que dobrou, subindo para 2.340
hectares, sendo que a produção das ASD também superou a proporção estadual, passando para
366 hectares produzidos, conforme ilustram os gráficos abaixo.
Gráfico 11: Comparativo de variação entre Produção de Pimenta do Reino nas ASD
Fonte: IPEA DATA - adaptado pelo autor
0
50
100
150
Águ
ia B
ran
ca
Águ
a D
oce
do
…
Alt
o R
io N
ovo
Bai
xo G
uan
du
Bar
ra d
e Sã
o…
Bo
a Es
per
ança
Co
lati
na
Eco
po
ran
ga
Go
vern
ado
r…
Man
ten
óp
olis
Mar
ilân
dia
Mo
nta
nh
a
Mu
curi
ci
No
va V
ené
cia
Pan
cas
Pe
dro
Can
ário
Pin
hei
ros
Po
nto
Bel
o
Rio
Ban
anal
São
Do
min
gos…
São
Gab
rie
l da…
Soo
reta
ma
Vila
Pav
ão
Vila
Val
éri
o
Ano de 1998
Ano de 2001
Ano de 2005
32
À primeira vista este aumento pode ter tido a contribuição dos municípios em que a
atividade vem sendo implantada mais tardiamente e daqueles cuja ampliação da área plantada
apresentou incremento significativo, como Boa Esperança, Rio Bananal e Vila Valério.
Gráfico 12: Comparativo de variação entre Produção Estadual de Pimenta do reino x Produção de
Pimenta do reino nas ASD.
Fonte: IPEA DATA, adequada pelo autor
Analisando os dados apresentados com relação as áreas cultivadas com as lavouras
temporárias e permanentes, nota-se que culturas de produtos s básicos para a alimentação
humana, como o arroz e feijão, sofreram reduções drásticas no que diz respeito à área cultivada,
levando em consideração o espaço temporal compreendido entre 1999 a 2009. Paralelo a isso a
cana-de-açúcar e o eucalipto vem expandindo sua área de cultivo.
Se analisarmos onde estão concentradas as principais lavouras, nota-se que, com
exceção do café, que está presente em todo Espírito Santo, e a banana, a qual é cultivada
principalmente no Litoral Sul, as demais culturas permanentes estão prioritariamente no norte do
estado, principal área de suscetibilidade a desertificação.
4 – QUANTO AO USO DO SOLO
Dentre as práticas agrícolas preconizadas pelo modelo convencional de agricultura o
preparo do solo, conforme mencionado anteriormente, encerra operações (aração, gradagem,
plantio direto, etc.) que podem contribuir em muito para com a degradação ambiental, uma vez
que tais práticas não observam questões básicas relacionadas às propriedades físicas dos solos,
muito menos quanto a sua classificação para usos e aptidões. Este fato, aliado ao uso
indiscriminado dos agrotóxicos e formas inadequadas de uso tecnologias, expõem a camada
superficial da terra deixando-a susceptível às intempéries, cujos impactos podem se manifestar
de diversos modos, como por exemplo a salinização, lixiviação e erosão, acarretando a queda do
0
500
1.000
1.500
2.000
2.500
Ano de 1998 Ano de 2001 Ano de 2005 Ano de 2007 Ano de 2009
Produção Total na ASD…
33
potencial produtivo e a consequente diminuição de nutrientes, entre outros. Isso muitas vezes
ocorre devido a falta de conhecimento de técnicas e de tecnologia adequada por parte dos
produtores.
Os processos de aração e gradagem embora possam, por um lado, ser considerados
grandes avanços para a humanidade no sentido de permitir o aumento da produção de alimentos,
por outro, em se tratando de solos tropicais como os brasileiros, toda a base tecnológica foi
importada de países de clima temperado, onde revirar o solo a camadas mais profundas deve-se a
necessidade de mitigar os efeitos da neve. A alta atividade da fauna e flora do solo (tanto a
grande, quanto a micro), aliadas às altas horas de radiação solar, tornam nossos solos mais
susceptíveis, devido aos baixos níveis de matéria orgânica.
Conforme mostra o gráfico abaixo, a aração, somada à gradagem, é a mais utilizada nas
ASD. Entretanto, nas áreas onde a declividade permite a mecanização, é preocupante a prática de
ato nada conservacionista - a aração morro abaixo com o trator - o que torna o terreno
susceptível a desgastes, tais como erosão, voçoroca, etc.
Nestas áreas, alguns cuidados precisam ser tomados de maneira a evitar esses possíveis
desgastes, como o plantio em curvas de nível, reduzindo assim a velocidade do escoamento da
água das chuvas, bem como a associação de diversas culturas, visando evitar a exposição do
solo, etc. Uma das alternativas vem sendo a utilização das tecnologias de plantio direto, cuja
técnica consiste no plantio de espécies anteriores à cultura principal, com o objetivo de
descompactar o solo, arejando-o e melhorando a sua porosidade; desta forma, se fornece
nutrientes que vão desde o Nitrogênio (a partir de processos de fixação do Nitrogênio
atmosférico) aos demais nutrientes advindos da decomposição posterior da cultura em questão e,
por último, a roçagem da mesma, que se destinará a ser a cobertura morta. Logo em seguida, o
cultivo da cultura principal dá-se pelo uso de maquinário e implementos apropriados que
mantem a palha para proteção do solo. No entanto,
Deve-se observar que esta técnica preconiza o uso de herbicidas nos dois primeiros anos,
entretanto, as experiências levadas a cabo principalmente no sul do Brasil já demonstram que
esta prática não se faz necessária devido ao desenvolvimento de tecnologias de manejo, como o
rolo-faca e outros, que permitem o acamamento e a disposição da cobertura morta sem a
agressão da contaminação gerada por esse tipo de agrotóxico.
Apesar de esta técnica ainda não constituir hoje uma tendência geral para todas as áreas
agrícolas, agropecuárias e florestais, ela representa uma substancial redução de custos e uma
34
alternativa benéfica no que se refere à preservação e recuperação de ambientes; conforme mostra
o gráfico abaixo, ela ainda é pouco praticada nas ASD.
Gráfico 13: Comparativo entre Plantio Direto x Aragem e Gradagem, praticados nas ASD
Fonte: IBGE (2010)
5 – QUANTO AO USO DA AGUA E OS METODOS DE IRRIGAÇÃO MAIS
PRATICADOS NAS ASD CAPIXABAS.
Diferente do passado, onde os ciclos bio-geo-químicos eram capazes de fornecer uma
certa “regularidade” ao regime pluvial, a irrigação tornou-se de extrema importância para a
agricultura. Ela passou a ser responsável pelo aumento da produtividade e por garantir a
produção além de movimentar uma imensa cadeia de produtos rurais como, por exemplo,
insumos, equipamentos, transporte, comercialização, o que conseqüentemente gera riqueza e
empregos. Exemplo disto está na região Norte de Minas Gerais, onde alguns municípios
localizados em áreas semi-áridas e de elevada pobreza passaram a produzir diversos produtos, se
destacando como um maiores produtores de banana do Brasil.
Nas ASD temos um exemplo semelhante, onde os avanços tecnológicos, principalmente
a irrigação, fizeram com que as cidades crescessem rapidamente, elevando os níveis de
produtividade da fruticultura, como por exemplo o mamão, o coco, o maracujá, o palmito
pupunha e o café conilon, tornando, assim, a agricultura capixaba cada vez mais competitiva.
Segundo o Novo PEDEAG, no Espírito Santo existem aproximadamente 800 mil ha de
áreas com potenciais para irrigação, totalizando cerca de cinco vezes mais que a área atual.
Porém, em condições naturais, no que diz respeito aos recursos hídricos, é impossível irrigar toda
35
essa área e essa situação torna-se ainda mais insustentável devido ao déficit hídrico apresentado
pelo Estado, resultante das adversidades climáticas. No norte, área onde se localiza grande parte
das ASD, essa deficiência é ainda maior, muitas vezes acarretando até mesmo conflito pelo uso
da água.
Também constam no Novo PEDEAG dados apontando a irrigação como responsável por
demandar cerca de 70% de toda a água consumida. Segundo a mesma fonte, esse uso aumentou
cerca de 3,5 vezes nos últimos anos, saindo de 43 mil ha, no final da década de 80, para cerca de
150 mil ha atualmente. Ressalta-se que esta expansão da área irrigada ocorreu com pouco
incentivo governamental, com os produtores adquirindo seus próprios equipamentos.
Conforme mostra o mapa hídrico abaixo, as áreas localizadas nas ASD apresentam como
predominância clima seco, com um balanço hídrico negativo variando entre –50 a –550mm por
ano, o que evidencia a grande limitação de alternativas de uso agrícola tais como a irrigação. É
importante ressaltar que, quanto maior o déficit hídrico, maior é a probabilidade ou grau de risco
de ocorrência de seca.
Figura 04: Mapa Hídrico capixaba.
Fonte: Carta agroclimática do Espírito Santo
Se, segundo os prognósticos, a tendência é que as áreas irrigadas aumentem, e que isso
possa ser considerado um fato muito bom por significar aumento de produtividade (com sua
devida importância econômica e social), por outro lado o quadro de mudanças diagnosticado por
Balanço Hídrico
- 350 a – 550 mm
- 50 a - 350 mm
+ 50 a + 1000 mm
36
diversos estudos e por este em questão, também desperta preocupação quanto à gestão pública
dos recursos hídricos, que está em fase de implantação por parte do governo estadual, tendo em
vista a inexistência de informações mais precisas, principalmente de caráter mais localizado.
Tomando as realidades locais de cada município, cada microrregião, cada micro bacia enfim,
passar-se-á a ter informações mais adequadas às condições naturais do Estado, especialmente,
por exemplo, da região Norte, que dêem base para elaboração de projetos e manejos de irrigação
mais racionais e na direção conservacionista. O que se vê é o manejo inadequado da irrigação,
como consumo no mesmo horário, mal dimensionamento dos equipamentos, ocasionando
desperdício de água e energia, uso de tecnologias inadequadas, entre outros, conforme
mencionado anteriormente.
Nas ASD, o aumento do uso da irrigação está associado à ocorrência de períodos
prolongados de seca. Esses períodos de seca têm levado a um rápido crescimento das áreas
irrigadas principalmente nestas áreas, mas todo Estado também vem sofrendo alterações.
Segundo Christofidis (2001) de 1996 a 1999 as áreas irrigadas no estado cresceram 76%
com relação à área total irrigada no Estado, enquanto em nível nacional, em dezenove anos, de
1980 à 1999, esse acréscimo foi de 81%. Estudos desenvolvidos, principalmente em lavouras de
café irrigadas, têm demonstrado manejo inadequado da irrigação, que ocorre em momento
inadequado, em volumes insuficientes ou com sistemas aspersores do tipo canhão que
consequentemente comprometem a eficiência do uso da água.
Além do manejo incorreto dos equipamentos de irrigação, os produtores ainda não
atentam na escolha do sistema tecnológico mais adequado para as condições de pouca
disponibilidade de água. Isso faz com que, na maioria das vezes, utilizem sistemas por canhão de
aspersão sendo que este não possui potencial de economia de água quando comparado com os
sistemas de irrigação localizados.
Chamon (2002), em um dos seus estudos, verificou que é possível economizar até 56,6%
da quantia de água durante os processos de irrigação, quando são utilizados sistemas de irrigação
por microaspersão e gotejamento ao invés de sistemas por aspersão convencional do tipo canhão.
Entretanto, estudos realizados por Christofidis (2001), indicavam que apenas 9,4% de toda a área
irrigada no Estado dava-se por sistemas de irrigação localizada e 72% por aspersores do tipo
canhão, o que, alem de possuir baixa eficiência nas irrigações, contribui para um maior impacto
das irrigações sobre a disponibilidade dos recursos hídricos.
37
As irrigações do tipo localizadas além de apresentarem menor consumo de água
permitem colocar junto ao sistema radicular da planta apenas a quantidade de água necessária, o
que os torna mais eficientes tanto na distribuição quanto na aplicação da água.
Chamon (2002), afirma que no norte do Espírito Santo, região onde localiza maior parte
das ASD capixabas, o maior volume de água utilizado para a irrigação é oriundo das barragens.
Porém praticamente todas estavam mal dimensionadas, não possuindo mecanismo de controle de
saída de água, muitas não possuindo projetos técnicos e, quando possuíam, estes não
contemplavam as questões ambientais, além da capacidade de armazenamento inferior às
necessidades da irrigação.
As barragens quando construídas de forma adequada são fundamentais para os projetos
de irrigação, pois garantem o suprimento de água nos períodos mais secos do ano; porém,
quando construídas de modo inadequado, influenciam significativamente a disponibilidade de
água a jusante do barramento, principalmente quando não possibilitam o fluxo do córrego
barrado em sua vazão natural.
6 – A AGRICULTURA FAMILIAR NAS ASD E O AMBIENTE INSTITUCIONAL DE
APOIO
Em todo o Brasil, segundo o Censo do IBGE, a agricultura familiar brasileira conta com
mais de 4,3 milhões de unidades - 84% do total de estabelecimentos rurais. Este segmento
produtivo responde por 10% do Produto Interno Bruto (PIB), 38% do Valor Bruto da Produção
Agropecuária e por 74,4% da ocupação de pessoal no meio rural (12,3 milhões de pessoas).
A agricultura familiar deve ser tomada como público prioritário para as ações de combate
à desertificação uma vez que se trata de setor estratégico para o desenvolvimento sustentável.
Este segmento preserva mais, produz alimentos e serviços ambientais, além de movimentar suas
economias nas localidades gerando assim uma circulação endógena de divisas ao invés daquela
do modelo do agronegócio que é, sobremaneira, exportador de divisas e concentrador de renda.
No Espírito Santo, a agricultura familiar é formada por 67.403 unidades, o que
corresponde a 80% dos estabelecimentos agropecuários do estado. Segundo o Censo
Agropecuário 2006 do IBGE, essas propriedades ocupam apenas 34% da área e respondem por
71% da produção estadual de arroz, 77% da de feijão, 72% da de milho e 54% da produção de
café. A agricultura familiar é responsável por 45% do valor bruto da produção agropecuária e
por 64% do pessoal ocupado no meio rural capixaba.
38
Comparativamente, em se tratando, por exemplo, do valor da produção vegetal total nas
ASD’s a Agricultura Familiar gerou, no ano de 2006, a quantia de R$ 212.389.800 contra R$
229.471.932 produzidos pela agricultura patronal/empresarial. O que à primeira vista parece um
empate técnico, deve ser considerado sob o ponto de vista de que apesar de haver um maior
número de estabelecimentos rurais da Agricultura Familiar, a área ocupada por estes é quase
duas vezes menor, conferindo maior eficácia e eficiência produtiva.
Tabela 13: Número de estabelecimentos agropecuários, Quantidade produzida, Área colhida e Valor da
produção por agricultura familiar e não familiar e tipo de produção vegetal. Brasil, Unidade da Federação e Município Tipo de agricultura
Brasil Agricultura familiar - lei 11.326 17.665.267.047 Agricultura não familiar 30.525.763.577
Espírito Santo Agricultura familiar - lei 11.326 598.209.236 Agricultura não familiar 524.001.966
Águia Branca – ES Agricultura familiar - lei 11.326 9.478.503 Agricultura não familiar 5.334.388
Água Doce do Norte – ES Agricultura familiar - lei 11.326 4.316.911 Agricultura não familiar 2.972.807
Alto Rio Novo – ES Agricultura familiar - lei 11.326 3.227.416 Agricultura não familiar 1.912.128
Baixo Guandu – ES Agricultura familiar - lei 11.326 5.179.079 Agricultura não familiar 8.646.096
Barra de São Francisco – ES Agricultura familiar - lei 11.326 12.133.809 Agricultura não familiar 4.151.133
Boa Esperança – ES Agricultura familiar - lei 11.326 5.209.730 Agricultura não familiar 5.946.448
Colatina – ES Agricultura familiar - lei 11.326 18.102.399 Agricultura não familiar 19.519.896
Ecoporanga – ES Agricultura familiar - lei 11.326 3.093.730 Agricultura não familiar 1.007.099
Governador Lindenberg – ES Agricultura familiar - lei 11.326 13.627.445 Agricultura não familiar 15.988.017
Mantenópolis – ES Agricultura familiar - lei 11.326 3.794.508 Agricultura não familiar 2.298.181
Marilândia – ES Agricultura familiar - lei 11.326 11.132.586 Agricultura não familiar 14.908.582
Montanha – ES Agricultura familiar - lei 11.326 3.279.824 Agricultura não familiar 5.250.197
Mucurici – ES Agricultura familiar - lei 11.326 1.117.580 Agricultura não familiar 322.287
Nova Venécia – ES Agricultura familiar - lei 11.326 14.325.448 Agricultura não familiar 22.388.246
Pancas – ES Agricultura familiar - lei 11.326 13.862.684 Agricultura não familiar 11.783.919
Pedro Canário – ES Agricultura familiar - lei 11.326 545.643 Agricultura não familiar 151.728
Pinheiros – ES Agricultura familiar - lei 11.326 4.336.008 Agricultura não familiar 9.738.956
Ponto Belo – ES Agricultura familiar - lei 11.326 484.884 Agricultura não familiar 269.754
Rio Bananal – ES Agricultura familiar - lei 11.326 27.332.193 Agricultura não familiar 23.719.642
São Domingos do Norte – ES Agricultura familiar - lei 11.326 8.941.370 Agricultura não familiar 6.499.535
São Gabriel da Palha – ES Agricultura familiar - lei 11.326 11.090.157 Agricultura não familiar 11.888.265
Sooretama – ES Agricultura familiar - lei 11.326 8.131.189 Agricultura não familiar 23.362.510
39
Vila Pavão – ES Agricultura familiar - lei 11.326 6.172.808 Agricultura não familiar 7.291.213
Vila Valério – ES Agricultura familiar - lei 11.326 23.473.896
Agricultura não familiar 24.120.905
Fonte: IBGE (2006)
Conforme a tabela abaixo, as ASD ainda apresentam um considerável contingente de
pessoas na condição de arrendatários, parceiros, assentados sem titulação definitiva,
ocupantes/posseiros e produtores sem terra, o que reforça os dados de concentração fundiária
acima citados e denota a urgência de implantação de políticas públicas de Reforma Agrária e
Regularização Fundiária, além da disponibilização de crédito.
Tabela 14: Número, Área e condição dos ocupantes dos estabelecimentos Agropecuários.
Brasil, Unidade da Federação e Município Condição do produtor
Brasil Proprietário 3.946.276
Assentado sem titulação definitiva 189.191
Arrendatário 230.110
Parceiro 142.531
Ocupante 412.357
Produtor sem área 255.024
Espírito Santo Proprietário 76.079
Assentado sem titulação definitiva 1.952
Arrendatário 910
Parceiro 2.872
Ocupante 1.945
Produtor sem área 598
Águia Branca – ES Proprietário 1.079
Assentado sem titulação definitiva 9
Arrendatário 1
Parceiro 1
Ocupante 1
Produtor sem área -
Água Doce do Norte – ES Proprietário 956
Assentado sem titulação definitiva -
Arrendatário 1
Parceiro 61
Ocupante 16
Produtor sem área 9
Alto Rio Novo – ES Proprietário 554
Assentado sem titulação definitiva 10
Arrendatário -
Parceiro 1
Ocupante -
Produtor sem área -
Baixo Guandu – ES Proprietário 1.160
Assentado sem titulação definitiva -
Arrendatário 5
Parceiro 1
Ocupante 6
Produtor sem área 1
Barra de São Francisco – ES Proprietário 2.212
Assentado sem titulação definitiva -
Arrendatário 5
40
Parceiro 11
Ocupante 13
Produtor sem área 9
Boa Esperança – ES
Proprietário 560
Assentado sem titulação definitiva -
Arrendatário -
Parceiro 4
Ocupante 9
Produtor sem área -
Colatina – ES Proprietário 1.794
Assentado sem titulação definitiva -
Arrendatário 3
Parceiro 43
Ocupante 7
Produtor sem área 4
Ecoporanga – ES Proprietário 1.452
Assentado sem titulação definitiva 162
Arrendatário 14
Parceiro 15
Ocupante 32
Produtor sem área 4
Governador Lindenberg – ES Proprietário 622
Assentado sem titulação definitiva -
Arrendatário -
Parceiro 3
Ocupante -
Produtor sem área -
Mantenópolis – ES Proprietário 748
Assentado sem titulação definitiva -
Arrendatário 9
Parceiro 6
Ocupante -
Produtor sem área 1
Marilândia – ES Proprietário 721
Assentado sem titulação definitiva -
Arrendatário -
Parceiro -
Ocupante 1
Produtor sem área -
Montanha – ES Proprietário 661
Assentado sem titulação definitiva 95
Arrendatário 28
Parceiro 39
Ocupante 59
Produtor sem área 29
Mucurici – ES Proprietário 436
Assentado sem titulação definitiva -
Arrendatário 3
Parceiro -
Ocupante 1
Produtor sem área -
Nova Venécia – ES Proprietário 1.870
Assentado sem titulação definitiva 156
Arrendatário 2
Parceiro 3
Ocupante 14
Produtor sem área -
41
Pancas – ES Proprietário 1.552
Assentado sem titulação definitiva 32
Arrendatário -
Parceiro 27
Ocupante 11
Produtor sem área 12
Pedro Canário – ES Proprietário 391
Assentado sem titulação definitiva -
Arrendatário 3
Parceiro -
Ocupante 1
Produtor sem área -
Pinheiros – ES Proprietário 621
Assentado sem titulação definitiva -
Arrendatário 7
Parceiro 37
Ocupante 1
Produtor sem área 30
Ponto Belo – ES Proprietário 267
Assentado sem titulação definitiva 87
Arrendatário 1
Parceiro -
Ocupante -
Produtor sem área -
Rio Bananal – ES Proprietário 1.471
Assentado sem titulação definitiva 1
Arrendatário 2
Parceiro 30
Ocupante 1
Produtor sem área -
São Domingos do Norte – ES Proprietário 812
Assentado sem titulação definitiva -
Arrendatário -
Parceiro 24
Ocupante 4
Produtor sem área -
São Gabriel da Palha – ES Proprietário 1.163
Assentado sem titulação definitiva 55
Arrendatário 6
Parceiro 38
Ocupante 4
Produtor sem área -
Sooretama – ES Proprietário 554
Assentado sem titulação definitiva 2
Arrendatário 7
Parceiro 37
Ocupante 1
Produtor sem área -
Vila Pavão – ES Proprietário 1.054
Assentado sem titulação definitiva 8
Arrendatário 8
Parceiro 1
Ocupante 89
Produtor sem área 3
Vila Valério – ES Proprietário 1.383
Assentado sem titulação definitiva 1
Arrendatário 1
Parceiro 77
Ocupante 12
42
Produtor sem área 17
Fonte: IBGE (2006).
7 - ASSISTÊNCIA TÉCNICA E EXTENSÃO RURAL
Os serviços de Assistência Técnica e Extensão Rural-ATER, embora sendo de difícil
captação a partir de dados secundários, ainda não são universalizados no Brasil e nem no ES.
Tanto do ponto de vista de pessoal qualificado em quantidade como também de condições
objetivas de trabalho, estes serviços amargam historicamente um grande déficit, dada a opção
histórica de transferência de renda para as cidades. As duas tabelas que seguem, sendo a primeira
do Censo Agropecuário de 1995 e a segunda de 2006, demonstram que estes serviços foram
ampliados porém ainda não são universais mesmo com a concordância geral de que eles são
fundamentais para a ampliação da capacidade produtiva das ASD.
Tabela nº. 15: Estabelecimentos com recepção de serviços de Assistência Técnica
Municípios Informantes Área (ha) Estabelecimentos com uso de assistência técnica
Produção
Vegetal
Produção
Animal
Gover-
namental
Própria Outra
Rio Bananal 1321 48350 157 146 22 130 19 11
Montanha 772 97130 305 173 221 103 202 21
Mucurici 731 98010 82 28 75 36 36 18
Pinheiros 600 70161 189 147 120 140 61 5
Conceição da Barra 529 79057 130 107 59 84 44 5
Jaguaré 868 43509 69 52 46 48 16 8
Pedro Canário 346 43893 265 215 172 233 30 5
São Mateus 2443 224512 481 377 192 365 106 21
Água Doce do Norte 955 41429 29 22 11 15 12 2
Barra de São Francisco 2205 70466 165 134 95 125 39 5
Ecoporanga 1411 193869 181 50 159 121 58 11
Mantenópolis 691 24535 59 50 16 49 10 -
Alto Rio Novo 483 20953 216 211 37 213 3 1
Baixo Guandu 1088 74084 411 351 252 398 17 -
Colatina 2470 125476 353 301 151 261 80 24
Marilândia 696 28579 112 109 13 107 5 -
Pancas 1133 52238 137 130 49 86 51 5
São Domingos do Norte 629 25084 151 134 78 121 15 20
Águia Branca 950 32270 106 92 25 102 8 2
Boa Esperança 454 30315 101 91 31 72 34 1
Nova Venécia 1883 108329 328 275 176 268 59 8
São Gabriel da Palha 1464 47936 361 304 117 260 76 56
Vila Pavão 1063 39790 79 63 31 68 10 2
24.122 1.580.185 4.388 3.499 2.117 3.337 981 229
Fonte: IBGE (2006)
43
Tabela nº. 16: Número por atividades econômicas e orientação técnica.
Brasil, Unidade da Federação e
Município
Orientação técnica
Ocasionalmente Regularmente Não recebeu
Brasil 662.564 482.452 4.030.473
Espírito Santo 13.605 8.227 62.524
Águia Branca - ES 188 115 788
Água Doce do Norte - ES 50 22 971
Alto Rio Novo - ES 54 23 488
Baixo Guandu - ES 238 107 828
Barra de São Francisco - ES 188 71 1.991
Boa Esperança - ES 87 117 369
Colatina - ES 232 121 1.498
Ecoporanga - ES 180 113 1.386
Governador Lindenberg - ES 105 94 426
Mantenópolis - ES 82 36 646
Marilândia - ES 246 88 388
Montanha - ES 152 277 482
Mucurici - ES 89 30 321
Nova Venécia - ES 329 253 1.463
Pancas - ES 108 84 1.442
Pedro Canário - ES 95 112 188
Pinheiros - ES 153 78 465
Ponto Belo - ES 31 22 302
Rio Bananal - ES 200 303 1.002
São Domingos do Norte - ES 109 106 625
São Gabriel da Palha - ES 301 82 883
Sooretama - ES 94 78 429
Vila Pavão - ES 96 111 956
Vila Valério - ES 282 149 1.060
3689 2592 19397
Fonte: IBGE (2006)
Segundo o Censo Agropecuário de 2006, apenas 2.592 estabelecimentos receberam
serviços de ATER regularmente, contra 3.689 que os receberam ocasionalmente, e contra o
contingente de 19.397 estabelecimentos rurais que não receberam estes serviços.
Ainda que o Censo só leve em consideração os serviços oficiais de ATER, há diversas
organizações nas ASD que já desenvolvem esta atividade há muitos anos, como a Associação
dos Pequenos Agricultores do Espírito Santo-APAGEES, do Movimento dos Pequenos
Agricultores; a COOPTRAES, ligada aos assentamentos do Movimento dos Sem Terra; a
Associação de Programas em Tecnologias Alternativas-APTA, além da Agroplan, Chão Vivo e
outras tantas que já encaminharam ou estão em vias de serem credenciadas junto ao Conselho
Estadual de Desenvolvimento Rural Sustentável-CEDRS.
44
8 – CONCLUSÃO
O Estado do Espírito Santo caracteriza-se por apresentar um quadro natural diversificado,
permitindo a sua estratificação em três grandes regiões: região litorânea, ocupando cerca de 5%
da área estadual, região de tabuleiros, com aproximadamente 25% da área, e região elevada de
interior, ocupando cerca de 70% da área estadual. Nesta última região concentram-se as
pequenas propriedades rurais, situadas em sua maioria em relevo acidentado, com problemas
mais graves de degradação dos recursos naturais.
A ocupação do solo para o desenvolvimento de atividades agrícolas ocorreu,
historicamente, de forma predatória em relação aos recursos naturais, através do desmatamento
indiscriminado das áreas, sem o planejamento correto do uso do solo e sem a utilização de
práticas conservacionistas adequadas. Estes fatos têm trazido uma série de conseqüências
econômicas e sociais ao produtor rural, ao setor público e a toda sociedade capixaba, como
redução da área cultivada e da capacidade produtiva do solo, escassez de madeira, assoreamento
de cursos d'água, enchentes, irregularidade no fluxo d'água, poluição física e química da água,
destruição de estradas e outros bens públicos, entre outros.
A degradação do solo nas áreas agrícolas no Estado concentra-se nas atividades de
pastagens e de café, especialmente na região Noroeste, devido à fragilidade dos solos, elevada
erosividade das chuvas e a pouca cobertura vegetal das áreas durante o ano. Segundo estimativas
feitas por ES-ECO 92, existem cerca de 600.000 ha de solos degradados no Estado. Atualmente,
esta área deve ser maior em função do aumento nos níveis de degradação, principalmente em
pastagens.
Nas lavouras de café, os principais problemas ocorrem devido à erosão causada
principalmente pelo uso de áreas excessivamente íngremes, excesso de capinas químicas,
plantios antigos com baixa densidade, e baixo uso de práticas conservacionistas eficientes.
Nas áreas de pastagens, a degradação do solo ocorre principalmente em função da
compactação do solo, provocada pela implantação incorreta da pastagem plantada (uso de
forrageiras inadequadas, baixo uso de corretivos, plantio morro abaixo, etc.), ausência de
correção do solo nas pastagens naturais e do manejo inadequado relativo à alta taxa de lotação,
havendo excessivo pastejo e pisoteio pelo gado bovino. Destaca-se também a intensa erosão que
ocorre durante o processo de formação ou renovação da pastagem, quando o preparo do solo é
feito no sentido do declive (“morro abaixo”).
45
Em condições localizadas, as atividades olerícolas têm provocado acentuada erosão em
áreas de relevo acidentado, devido, principalmente, ao preparo do solo e disposição dos canteiros
no sentido do declive e dimensionamento inadequado da irrigação.
As estradas também tem sido um dos principais agentes de degradação do solo agrícola,
servindo de foco inicial para a erosão que se espalha pela lavoura e termina com o assoreamento
dos canais d'água e reservatórios. O inverso também é verdadeiro na medida em que a erosão nas
áreas agricultáveis danifica as estradas. O estado ruim das estradas, principalmente no período
chuvoso, deve-se, basicamente, a carência de obras complementares que tenham por finalidade
minimizar a velocidade das enxurradas, como as caixas secas e bacias de retenção e infiltração.
Na região Norte, onde se concentram os solos de tabuleiros costeiros, os principais
problemas referem-se à compactação natural do solo na sub superfície, além de sua
suscetibilidade à compactação superficial pelo uso de moto-mecanização pesada, principalmente
em áreas com culturas anuais.
Entre os fatores que influem na degradação do solo, o manejo é um dos mais importantes,
pois implica uma seqüência de operações que envolvem escolha da planta e área a ser cultivada,
dos sistemas de plantio, dos tratos culturais, entre outras. O manejo, além de atuar efetivamente
no processo degradativo, é seguramente aquele que mais pode ser modificado pelo agricultor.
Dentre os inúmeros benefícios que podem ser trazidos pela recuperação e conservação dos
solos, destacam-se os seguintes: aumento da produtividade e da área disponível para uso
agrícola, redução no custo de manutenção das estradas, maior período de disponibilidade de água
nas épocas secas, redução do assoreamento dos mananciais e cursos de água, diminuição da
intensidade e freqüência de enchentes e secas.
As possíveis razões do baixo uso de práticas conservacionistas ou das agressões ao solo
são: insistência dos órgãos oficiais de pesquisa e extensão rural na difusão de um modelo
amplamente degradador e concentrador de riquezas, pouco conhecimento pelos agricultores das
alternativas e da legislação ambiental propriamente dita, pouca percepção do processo de
degradação do solo e seus efeitos pelo produtor, desconhecimento de práticas simples de
conservação do solo, implantação incorreta de práticas conservacionistas, prioridade na alocação
de mão-de-obra em atividades econômicas, descapitalização do produtor e pouca disponibilidade
de sementes e mudas de plantas nativas coadjuvantes.
Desde os primórdios da humanidade, o homem mantém uma relação muito forte com a
água, especialmente com as chuvas, expressa no seu comportamento social, cultural e
econômico, dada a sua importância na sobrevivência da espécie. A água constitui-se no principal
46
insumo da vida e, especialmente, no meio rural continua sendo o principal fator para o sucesso
da produção agrícola.
A existência de aproximadamente 600.000 hectares de áreas degradadas no Espírito
Santo pode ser considerada como um forte limitador da expansão de culturas existentes e mesmo
para a diversificação. A escassez hídrica em algumas regiões impõe limitações sérias ao bom
desempenho de atividades consideradas importantes, como a cafeeira, a pecuária, a fruticultura e
a cana-de-açúcar.
Desta forma, nos municípios que compõem o núcleo de desertificação, as práticas da
agricultura, pecuária e mineração acompanharam o enredo da história regional, mas deixaram
como legado um cenário de degradação ambiental, que tem entre suas principais causas o manejo
inadequado dos recursos naturais, água, solo e vegetação, gerando uma paisagem chocante que
se torna ainda mais agressiva quando se concebe que, embora havendo uma predisposição
natural, sua conformação atual foi delapidada pela ação humana.
Outras fragilidades apontadas neste cenário são: baixa produtividade, solos degradados,
assistência técnica deficiente, êxodo rural dos jovens, resistência às mudanças, cultura arraigada
da monocultura; estiagem prolongada, qualidade da produção, diminuição da renda (aquisição de
tecnologia), dificuldades na transição de sistema (para outro sistema (orgânico) ou atividades),
dificuldades de custeio e financiamento.
Por outro lado o ES apresenta potencialidades como: clima favorável para a
diversificação de culturas, predominância de pequenas e médias propriedades, presença de várias
organizações sociais, presença de vários assentamentos, maioria das propriedades eletrificadas e
servidas por estradas, facilidade em contratar maquinário, existências de cooperativas de leite e
café, resistência e persistência principalmente da agricultura familiar em querer ficar no campo
com qualidade de vida.
No entanto o presente estudo demonstrou que, embora haja um cenário de
potencialidades, por outro, quando se compara o volume de investimentos do governo estadual
nos grandes projetos da monocultura de cana e eucalipto; no setor da mineração; no setor da
fruticultura agroindustrial; na criação de corredores de escoamento da produção visando os
portos que incentivam e direcionam a produção para a agroexportação e por último no
atrelamento dos órgãos oficiais de pesquisa e extensão rural ao papel de divulgadores do modelo
convencional de agricultura, recobre de dúvidas todas as iniciativas/programas/políticas públicas
apontadas neste estudo, partindo inclusive do próprio volume de recursos alocados para elas.
47
O quadro que o presente estudo apontou corrobora para a afirmação inicial de que há um
intenso conflito entre a real necessidade de produção de alimentos7 em quantidade e com
qualidade e os grandes projetos do agronegócio - demandantes em terra, água e
tecnologicamente poupadores de mão de obra - que podem ser apontados como responsáveis não
apenas pelo grande passivo ambiental apontado no decorrer deste diagnóstico, mas também pelo
enorme passivo social e cultural do Espirito Santo uma vez que desterritorializam povos
tradicionais e comunidades de agricultores familiares, ocasionando uma intensa erosão cultural e
os já tão propalados efeitos nos centros urbanos.
Se por um lado a existência da agricultura familiar, que percentualmente significa mais
de 70% do número de estabelecimentos rurais com até 100 há, é muitas vezes colocada como
“grande potencial do ES”, por outro a realidade é que ela ocupa aproximadamente apenas 40%
da área rural total do estado, número este que se for analisado na perspectiva histórica apontará o
constante e paulatino processo de concentração fundiária. Este dado deve ser tomado no sentido
de reforçar a necessidade de políticas públicas de incentivo a este segmento conforme apontam o
NOVO PEDEAG, mas, sobretudo com valores investidos em proporções dezenas de vezes
maiores do que as atuais.
Outra questão que se deve levar em consideração é o fato da diminuição das opções para
a agricultura familiar que vem sendo restringida cada vez mais no processo de integração aos
complexos agroindustriais, que continuará mantendo a sua condição de dependência (quase
subordinação). Este tem sido o foco dos chamados Arranjos Produtivos Locais, mas fica a
pergunta: se eles já partem de uma base não sustentável de “alimentação” e uma via injusta de
“retroalimentação”, como ficam as economias locais? Ao invés de dar incentivos fiscais e
financiamentos às estas grandes agroindústrias é preciso que os governos, em suas três
dimensões, gerem melhorias – condições de acesso e volume de recursos investidos - nas
políticas públicas de crédito e de aquisição de alimentos (PAA e PNAE), além de atentarem para
criar as condições para armazenagem, vias de escoamento, logística e divulgação maciça destas
políticas que, somadas ao incentivo às pequenas agroindústrias (CAF em Colatina) e às feiras
livres (e agroecológicas de São Mateus), além de pequenos mercados da agricultura familiar
(MPA e ASSEMAF em São Gabriel da Palha) permitam que a agricultura familiar possa ocupar
mais elos da cadeia produtiva e com isso se apropriar mais dos resultados de seu trabalho. Estas
7Vide gráficos de diminuição da área plantada de milho, feijão e aipim nas ASD.
48
devem ser ações concretas para a construção dos Arranjos Produtivos Locais mais sustentáveis
e emancipadores.
No ES já existem inúmeras experiências agroecológicas-orgânicas exitosas que já
comprovaram sua viabilidade nas dimensões econômica, ambiental, social, cultural e
tecnológica. No entanto se se comparar os investimentos e estímulos dados aos profissionais da
pesquisa e extensão rural que são designados para este trabalho àqueles dados aos que estão a
serviço da difusão do modelo convencional, nota-se que não há a real intenção do Estado em
atacar as principais causas da Desertificação.
Quando tratamos dos órgãos ambientais oficias que deveriam estar à frente dos processos
de educação ambiental, da fiscalização que pune os reais poluidores e degradadores do meio
ambiente e se analisam as reais condições objetivas de trabalho, seja o número de profissionais, a
existência de equipamentos necessários, transporte, baixa remuneração, sobrecarga de trabalho e,
por último, o conflito entre a missão que devem desempenhar e os interesses dos representantes
dos grandes projetos no ES, reforça-se também que, se realmente se quer combater a
Desertificação, o próprio Estado tem que passar a ser um Estado que garanta os Direitos, sejam
eles ambientais, alimentares, de segurança, etc.
Ao invés de utilizar monoculturas em larga escala como alternativa, o Estado deveria
incentivar modelos produtivos baseados numa perspectiva que busque o equilíbrio ecológico. Os
Sistemas Agroflorestais (SAFs) tem se mostrado como um sistema produtivo eficiente na
recuperação da capacidade produtiva dos agro ecossistemas e se adequa ao uso e aptidão de
todos os solos capixabas. O IBGE ainda não tem dados de quantidade e valor relacionados aos
produtos provenientes destes sistemas, porém as experiências existentes e implantadas têm
mostrado bons resultados, tanto do ponto de vista ecológico como econômico.
Este sistema produtivo trabalha com a recuperação dos solos, com as plantas nativas da
região, com o conhecimento local, onde a diversidade biológica possibilita o maior
aproveitamento dos recursos naturais (luz, solo, água e nutrientes) em função das diferentes
características e necessidades nutricionais de cada espécie dentro do sistema. Estas experiências
estão pulverizadas e faltam incentivos por parte do Estado para potencializar a atividade,
enquanto que em vários países tropicais os SAFs tem se tornado referência para políticas
públicas.
Ao analisar o panorama da Desertificação encontrado nos municípios que compõe as
ASD’s, as práticas da agricultura, pecuária e mineração acompanharam o enredo da história
regional, mas deixaram como legado um cenário de degradação ambiental, que tem entre suas
49
principais causas o manejo inadequado dos recursos naturais tais como água, solo e vegetação,
gerando uma paisagem que se torna ainda mais agressiva quando se concebe que, embora
havendo uma predisposição natural, sua conformação atual foi dilapidada pela ação humana.
Sendo assim, os principais desafios a serem enfrentados pelo programa serão, sem
sombra de dúvidas, a resistência às mudanças, a cultura arraigada da monocultura; dificuldades
na transição de sistema (para outro sistema (orgânico/agroecológico) ou atividades). Também é
notória a necessidade de sensibilização por parte do poder público estadual, uma vez que as
ações governamentais estão baseadas na dinamização das atividades econômicas ligadas as
monoculturas em larga escala, ao invés modelos produtivos baseados numa perspectiva que
busque o equilíbrio ecológico, o que faz com que experiências sustentáveis, como os modelos de
SAF’s, estejam pulverizadas por falta de incentivo por parte do Estado para potencializar as
atividades.
9 – REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS
ANDRADE, C.M.S.; GARCIA, R.; COUTO, L.; PEREIRA, O.G. Fatores Limitantes ao
Crescimento do Capim-Tanzânia em um Sistema Agrossilvipastoril com Eucalipto, na Região
dos Cerrados de Minas Gerais. Revista Brasileira de Zootecnia. Viçosa-MG, 30(4):1178-1185,
2001.
CHAMON, O. Estudo comparativo da demanda de água e do manejo em sistemas de
irrigação em lavouras de café. 2002. 135 f. Dissertação (Mestrado em Engenharia Ambiental) -
Programa de Pós-graduação.
Graduação em Engenharia Ambiental, Universidade Federal do Espírito Santo, Vitória-ES, 2002.
Christofidis, D. Os recursos hídricos e a prática da irrigação no Brasil e no mundo. Irrigação e
Tecnologia Moderna, Brasília, n.49, 2001.
Christofidis, D. Irrigação, a fronteira hídrica e a produção de alimentos. Irrigação e Tecnologia
Moderna, Brasília, n.54, 2002.
http://www.cafepoint.com.br/cadeia-produtiva/espaco-aberto/a-seca-no-espirito-santo-e-a-
producao-de-cafe-conilon-49831n.aspx
http://hidrometeorologia.incaper.es.gov.br, acessado em 24 de maio de 2011
http://www.incaper.es.gov.br/pedeag/diagnostico.htm, acessado em 20 de junho de 2011
http://www.ipeadata.gov.br, acessada no dia 19 de maio de 2011