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 GOVERNO DO ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE SECRETARIA DE ESTADO DA AÇÃO SOCIAL (SEAS) COORDENADORIA DE PROJETOS ESPECIAIS PROJETO DE COMBATE À POBREZA RURAL (PCPR)  A Experiência do PCPR no Rio Grande do Norte RELATÓRIO DE IMPLEMENTAÇÃO (1997 – 2002) PROJETO DE COOPERAÇÃO TÉCNICA: IICA-RN  NATAL, NOVEMBRO/2002

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PCPR no Rio Grande do Norte

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  • GOVERNO DO ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE SECRETARIA DE ESTADO DA AO SOCIAL (SEAS)

    COORDENADORIA DE PROJETOS ESPECIAIS PROJETO DE COMBATE POBREZA RURAL (PCPR)

    A Experincia do PCPR no Rio Grande do Norte

    RELATRIO DE IMPLEMENTAO (1997 2002)

    PROJETO DE COOPERAO TCNICA: IICA-RN

    NATAL, NOVEMBRO/2002

  • 2

    ELABORAO

    FIDEL MARIA BRACERAS IICA/RN

    JOO MATOS FILHO UFRN

    SEBASTIO FRANCISCO DE MENEZES IICA/RN

    LCIA MARGARET FAGUNDES COPES/PAPP

    LEA DA SILVA OLIVEIRA COPES/PAPP

    APOIO ADMINISTRATIVO

    DANUSA CUSTDIO DE OLIVEIRA

    CARLOS NASCIMENTO DA SILVA

    ALDA LIBERATO

    GLEBER ALVES DE MENEZES

  • 3

    SUMRIO

    APRESENTAO 1 A EXPERINCIA COM A IMPLEMENTAO DE PROGRAMAS DE DESENVOLVIMENTO RURAL NO RIO GRANDE DO NORTE

    2 O PROCESSO DE IMPLEMENTAO DO PROJETO

    2.1 rea de atuao

    2.2 Subprojetos financiados segundo a categoria

    2.3 Beneficirios dos subprojetos

    2.4 Desempenho operacional

    2.5 Subprojetos financiados pelo PCPR/RN segundo as subcategorias

    3 ESTUDOS DE CASOS: EXPERINCIAS EXITOSAS NO PCPR DO RIO GRANDE DO NORTE

    3.1 A experincia das associaes comunitrias do municpio de Parelhas

    3.1.1 Antecedentes

    3.1.2 A trajetria da AOCC

    3.1.3 A trajetria da ACC

    3.1.4 Resultados obtidos na AOCC

    3.1.5 Resultados obtidos na ACC

    3.1.6 Gerenciamento do projeto na AOCC

    3.1.7 Gerenciamento do projeto na ACC

    3.1.8 Capital fsico e social da Comunidade Cachoeira

    3.1.9 Investimentos realizados com recursos do PCPR/RN na Comunidade Cachoeira

    3.2 A experincia do PCPR/RN em Serra Negra do Norte

    3.2.1 Antecedentes.

    3.2.2 A trajetria da experincia

    3.2.3 Execuo das obras

    3.2.4 Informaes bsicas sobre os subprojetos das barragens. .

    3.2.5 O processo de implantao das ltimas 04 barragens

    3.3. A experincia do PCPR/RN: agricultura irrigada nos assentamentos re reforma agrria

  • 4

    - Baranas

    3.3.1 reas produtoras de melo em Barana

    3.3.2 Financiamento dos projetos pelo PAPP/RN

    3.3.3 Processo de comercializao

    3.3.4 Produo anual e metas para o ano 2000

    3.3.5. Resultados alcanados

    3.3.6 Consideraes finais

    3.4. A experincia da caprino-ovinocultura no PCPR/RN

    3.4.1 Antecedentes

    3.4.2 A importncia dos subprojetos de caprino-ovinocultura no PCPR/RN

    3.4.3 Principais aspectos positivos da experincia

    3.4.4 Formas inovadoras de gesto

    3.5. A experincia da Associao de Trabalhadoras Rurais Fora e Unio

    3.5.1 Antecedentes

    3.5.2 A constituio da associao e o surgimento do subprojeto cabra

    3.5.3 Os resultados do subprojeto

    3.5.4 Lies da experincia

    3.6 A experincia das Associaes Canudos e Nova Vida

    3.6.1 Antecedentes

    3.6.2 A fortalecimento da associao e o surgimento dos subprojetos do PCPR/RN

    3.6.3 Os resultados dos subprojetos

    3.6.4 Lies da experincia

    3.7 A experincia do beneficiamento da castanha de caju no Projeto Serra do Mel

    3.7.1 Antecedentes

    4 CONSTRUINDO A METODOLOGIA DE IMPLEMENTAO DE POLTICAS PBLICAS

    4.1 Estratgia de implementao

    4.2 Procedimentos metodolgicos adotados para difuso e implementao do PCPR/RN

    4.2.1 Divulgao, Mobilizao e Capacitao

    4.2.2 Criao dos Conselhos Municipais

    4.2.3 Monitoramento e informaes gerais

    4.2.4 Implantao e acompanhamento dos subprojetos comunitrios

    4.2.5 Seminrio com a equipe tcnica do PCPR.

  • 5

    5 LIES DA EXPERINCIA

    5.1 Construo de uma nova institucionalidade

    5.2 A importncia do contexto poltico, econmico e social

    5.3 A importncia da organizao e da gesto social

    5.4 Iniciativas de desenvolvimento endgeno

    5.5 Assessoramento Tcnico Gerencial

    5.6 Fatores de xito em subprojetos especficos 6 CONCLUSO

    7 REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS 8 ANEXOS 8.1 Indicadores de Implementao 8.2 Recursos Totais do Projeto 8.3 Recursos do Emprstimo do Banco Mundial 8.4 Subprojetos Financiados por 8.5 Subprojetos Financiados por Municpios

  • 6

    APRESENTAO

    O presente relatrio contm os resultados do processo de implementao do

    Projeto de Combate Pobreza Rural no estado do Rio Grande do Norte (PCPR/RN),

    objeto do Acordo de Emprstimo 4120-BR, firmado entre o Governo do Estado e o Banco

    Mundial, cuja execuo ocorreu no perodo de 1997 a 2002.

    O PCPR reconhecido pelas organizaes multilaterais de financiamento e

    cooperao tcnica que o apoiaram e pelas organizaes nacionais que o implementaram,

    como a mais ousada estratgia de gesto descentralizada de programas e projetos dentre

    todas as experincias de desenvolvimento rural financiadas pelo Banco Mundial no

    nordeste brasileiro a partir da segunda metade da dcada de 1970.

    Na realidade, a primeira gerao de projetos financiados pelo Banco Mundial na

    regio, iniciada no Rio Grande do Norte em 1975, fundamentava-se no conceito de

    desenvolvimento rural integrado e limitava a descentralizao transferncia de

    atribuies do governo federal para o estadual, configurando, portanto, um processo de

    desconcentrao administrativa no interior da burocracia pblica.

    A segunda gerao daqueles projetos incluiu um componente denominado Apoio

    s Pequenas Comunidades Rurais (APCR), destinado ao financiamento de subprojetos

    comunitrios, desde que identificados, elaborados e executados pelas prprias

    organizaes representativas dos beneficirios. Caracterizava-se assim um primeiro

    avano em direo sociedade civil, materializado numa espcie de delegao de

    atribuies que antes eram exclusivas das organizaes governamentais, para instncias

    no-governamentais, constitudas predominantemente por associaes civis.

    Finalmente, a terceira gerao de projetos, na qual se incluiu o PCPR, aprofundou

    o alcance da descentralizao, pois alm de manter as responsabilidades anteriormente

    atribudas s associaes civis, estimulou a criao de conselhos municipais de

    desenvolvimento, aos quais foram incumbidas as tarefas de elaborao de planos anuais e

    plurianuais de desenvolvimento; assessoramento s organizaes executoras de

    subprojetos; priorizao dos subprojetos passveis de financiamento pelo PCPR;

    acompanhamento da execuo dos subprojetos aprovados; e, controle dos recursos

    financeiros conveniados.

    Em alguns municpios que se destacaram pelo seu melhor desempenho, os

    conselhos terminaram se constituindo em espaos estratgicos no somente para anlise e

  • 7

    deliberao de subprojetos financiados pelo PCPR, mas, sobretudo, para articulao de

    diversos tipos de programas e fontes de financiamento focalizadas nos municpios e

    comunidades rurais e para o desenvolvimento de experimentos inovadores de governana

    local.

    Para dar conta da complexidade desse processo, tomamos como referncia trs

    conceitos largamente utilizados nas anlises contemporneas de gesto pblica

    descentralizada e participativa, com base nos quais analisamos a experincia recente de

    implementao do PCPR no estado do Rio Grande do Norte.

    O primeiro desses conceitos, conhecido como desempenho institucional, baseia-se num modelo bem simples de governana: demandas sociais => interao poltica => governo => opo poltica => implementao. As instituies recebem subsdios do meio social e geram reaes a esse meio. Pais que trabalham fora procuram creches acessveis, comerciantes preocupam-se com furtos em suas lojas [...]. Os partidos polticos e outros grupos articulam esses interesses, e as autoridades, quanto muito, deliberam sobre o que fazer (PUTNAM, 1996, p. 24). O segundo conceito, denominado governana, sucintamente definido como o

    poder compartilhado ou a ao coletiva gerenciada (HATCHUEL, Apud FISHER, 2.002,

    p. 26).

    Finalmente, o terceiro conceito, mais recentemente difundido e de maior

    densidade terica e prtica, denominada gesto social do desenvolvimento, corresponde a

    um processo de mediao transformador que: [...] articula mltiplas escalas de poder individual e societal; trabalha a identidade de processos, refletindo e criando pautas culturais; coordena interorganizaes eficazes; promove ao e aprendizagem coletivas; comunica-se e difunde resultados; presta contas sociedade; reavalia E recria estratgias, tendo por processo, alvo e motor, o desenvolvimento, considerando dimenses tangveis e intangveis, objetivas e subjetivas, que conformam organizaes complexas e instituies. (FISHER, 2.002, p. 30). Tomando por base essa referncia terica e o grande nmero de experincias

    exitosas de implementao de subprojetos de natureza produtiva e de infra-estrutura fsica

    e social, os objetivos bsicos do relatrio foram ento direcionados para as seguintes

    questes: a) qual o desempenho dos subprojetos financiados pelo PCPR no Rio Grande do

    Norte? b) Que estudos de casos ou experincias inovadoras podem ser utilizadas como

    ilustrativas desse desempenho? c) Que progressos institucionais que esto sendo obtidos

    com as experincias de constituio e funcionamento dos conselhos municipais e de

    associaes comunitrias como instncias privilegiadas de gesto social do

    desenvolvimento?

    Para responder a essas questes, o trabalho foi organizado nos seguintes itens

    gerais, alm dessa apresentao. No item 1, fizemos uma caracterizao geral do

  • 8

    desempenho institucional do PCPR no Rio Grande do Norte, tomando como indicadores o

    ndice de cobertura do projeto em termos geogrficos e populacionais; o ndice de

    execuo e o grau de funcionamento dos subprojetos financiados. Tambm procuramos

    ilustrar o desempenho obtido pelos subprojetos com a introduo de anlises sucintas

    sobre experincias exitosas de implementao. No item 2, apresentamos um conjunto de

    estudos de casos, procurando ilustrar a diversidade dos subprojetos financiados pelo PCPR

    no Rio Grande do Norte e os seus resultados, por intermdio da anlise de estudos de

    casos exitosas de subprojetos de natureza produtiva e de infra-estrutura econmica e

    social. Finalmente, no item 3, apresentamos os avanos obtidos com a constituio e o

    funcionamento dos conselhos municipais de desenvolvimento e as associaes civis como

    instncias privilegiadas de gesto do desenvolvimento social.

    A elaborao do relatrio foi baseada em distintos tipos de pesquisas -

    bibliogrfica, documental, estudos de casos e anlises de narrativas, por intermdios das

    quais foram privilegiadas a coleta, a anlise e a interpretao dos dados relacionados com

    os aspectos institucionais e operacionais e com os resultados obtidos pelos subprojetos

    financiados pelo PCPR no estado do Rio Grande do Norte.

    Parece claro no final do caminho metodolgico trilhado, que as experincias

    inovadoras financiadas pelo PCPR no Rio Grande do Norte caracterizaram-se pelos tipos

    dos subprojetos, na sua maioria de natureza produtiva ou de infra-estrutura, porm, em

    ambos os casos, com retorno econmico comprovado; pela oferta de assessoramento

    tcnico e gerencial sistemtico e desenvolvido com base em demandas sociais; pela

    presena dos conselhos municipais como instncias de priorizao, acompanhamento e

    assessoramento das associaes comunitrias e dos subprojetos por elas executados; pela

    existncia de lideranas nas comunidades rurais, com qualificao, comprometimento e

    identidade com a gesto social das associaes civis; e, fundamentalmente, pelo

    desenvolvimento de estratgias de governana local e de gesto social do

    desenvolvimento, praticadas no exerccio da discusso pblica e aberta nas reunies dos

    conselhos municipais e nas assemblias das associaes civis, cooperativas e outros tipos

    de organizaes responsveis pela implementao dos subprojetos financiados pelo PCPR

    no estado do Rio Grande do Norte.

  • 9

    1 EXPERINCIAS COM A IMPLEMENTAO DE PROGRAMAS DE DESENVOLVIMENTO RURAL NO RIO GRANDE DO NORTE

    As experincias com a implementao de programas de desenvolvimento rural no

    Rio Grande do Norte no so novas. A historiografia local registra iniciativas desta

    natureza deste a dcada de 1920, quando muitas parcerias foram feitas entre o governo do

    estado e a Igreja Catlica em apoio ao chamado Movimento Cooperativista que ento se

    instalava no estado.

    Na dcada de 1950 foi a vez do denominado Movimento de Natal, uma forma

    peculiar de ao social da Igreja Catlica do Rio Grande do Norte, que incorporando a

    estratgia de desenvolvimento comunitrio, estimulada por organismos internacionais

    como a Organizao das Naes Unidas (ONU), a Organizao dos Estados Americanos

    (OEA), o Banco Mundial e o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), realizou

    experincias de assistncia social nas reas de sade e educao de adultos no meio rural.

    Alm disso, aquele Movimento realizou importantes iniciativas de desenvolvimento

    institucional, materializadas na criao de conselhos comunitrios, organizaes no-

    governamentais executoras de polticas sociais, no estmulo constituio do Movimento

    Sindical dos Trabalhadores Rurais (MSTR) e na constituio de instituies de ensino

    superior, como a Escola de Servio Social e a Faculdade de Economia, posteriormente

    incorporadas Universidade Federal do Rio Grande do Norte.

    Na segunda metade da dcada de 1970 tiveram incio os financiamentos de

    programas de desenvolvimento rural financiados pelo Banco Mundial no nordeste

    brasileiro. O Rio Grande do Norte foi pioneiro nesta primeira gerao de financiamentos,

    cujo marco inicial foi a assinatura do Acordo de Emprstimo 1195-BR pelo Governo

    Federal e o Banco Mundial para execuo do Programa Integrado de Desenvolvimento

    Rural do Rio Grande do Norte (RURALNORTE).

    Em 1984 foi firmado o segundo Acordo de Emprstimo, desta vez para execuo

    do Programa de Apoio ao Pequeno Produtor Rural (PAPP), no qual foi includo um

    Componente de Apoio s Pequenas Comunidades Rurais (APCR), destinado ao

    financiamento de projetos comunitrios de natureza produtiva e de infra-estrutura

    econmica e social, desde que identificados, elaborados e executados pelas prprias

    organizaes representativas dos beneficirios.

    As avaliaes realizadas durante a execuo do PAPP, revelaram um baixo

  • 10

    desempenho das metas desse programa, e um saldo medocre em relao aos resultados

    esperados quanto ao fortalecimento das atividades desenvolvidas pelos produtores rurais e

    quanto superao da pobreza no meio rural do nordeste brasileiro, os quais se

    constituam nos objetivos bsicos daquele programa. Fazia exceo a esse diagnstico, o

    chamado APCR, cujo desempenho financeiro havia sido incomparavelmente mais elevado

    que os demais componentes, e cujas metas atendiam a demandas sociais concretas

    apresentadas pelas comunidades rurais atravs de suas organizaes representativas.

    Diante daquelas constataes o PAPP integralmente reformulado no final de 1993.

    Aproximadamente 90% dos seus recursos passaram a ser direcionados para o

    financiamento de projetos comunitrios, ficando os 10% restantes para a realizao de

    atividades de desenvolvimento institucional, capacitao de tcnicos e beneficirios e

    efetivao de despesas imprescindveis execuo da nova estratgia.

    Finalmente, em 1996 foi assinado o terceiro Acordo de Emprstimo, desta vez pelo

    Governo do Estado e o Banco Mundial, e no mais pelo Governo Federal, cuja crise fiscal

    j se tornava evidente, para execuo do Projeto de Combate Pobreza Rural (PCPR).

    No novo modelo de gesto adotado pelo PCPR, a estratgia de descentralizao

    avanou bastante em relao s tradicionais formas de implementao de polticas

    pblicas vigentes no nordeste brasileiro e no Rio Grande do Norte em particular. As

    clusulas contratuais do Acordo de Emprstimo ento firmado definiram a transferncia de

    responsabilidades, recursos financeiros e poder decisrio para os conselhos municipais e

    organizaes comunitrias e a instituio de novas formas de governana local com o

    objetivo de inter-relacionar os distintos subprojetos entre si e com outras polticas pblicas

    no mbito municipal, alm de estimular as comunidades e o poder municipal para o

    estabelecimento de novas formas de gesto pblica local.

    Nesse novo modelo de implementao, foram constitudas ou designadas as

    seguintes instituies gestoras: um conselho estadual, denominado Conselho de

    Desenvolvimento Rural (CDR), presidido pelo Governador do Estado e composto por

    representantes do governo e da sociedade, que deliberou sobre as diretrizes e critrios

    gerais de funcionamento do PCPR no estado e sobre os subprojetos que deveriam ser

    financiados em cada exerccio; uma Secretaria de Estado, a Secretaria de Ao Social

    (SEAS), que coordenou e supervisionou o PCPR no mbito estadual, por intermdio da

    Coordenadoria de Projetos Especiais (COPES), que tambm funcionou como Secretaria

    Executiva do CDR; 137 Conselhos Municipais de Desenvolvimento, existentes em todos

  • 11

    os municpios da rea de atuao do PCPR, que deliberaram sobre os planos municipais de

    desenvolvimento e sobre os planos operativos anuais, priorizando os subprojetos que

    deveriam ser financiados pelo PCPR em cada municpio e em cada exerccio; um conjunto

    de organizaes no-governamentais, escritrios de projetos e profissionais liberais, que

    prestaram assessoramento tcnico aos conselhos municipais e s associaes comunitrias;

    e, aproximadamente 1.400 organizaes comunitrias, legalmente constitudas e

    consideradas de utilidade pblica, que executaram os subprojetos financiados pelo PCPR.

    Algumas das responsabilidades dessas instituies foram relativamente fceis de

    implementar e no tiveram maiores implicaes sobre a estrutura de poder ou sobre a

    natureza da governabilidade local, como foi o caso da priorizao de demandas sociais

    localizadas; da identificao e elaborao de subprojetos; do assessoramento tcnico aos

    conselhos municipais e associaes comunitrias; e, da implantao e gesto dos

    subprojetos financiados pelo PCPR.

    Outras responsabilidades apresentaram maiores graus de complexidade, maiores

    dificuldades para operacionalizao e mais resistncias explcitas ou veladas por parte das

    lideranas tradicionais, como foi o caso da redistribuio de poder nos conselhos

    municipais; da garantia de diversidade poltica desses conselhos para manter um efetivo

    controle social sobre os subprojetos financiados pelo PCPR; e, da definio do status

    institucional que deve ter a participao poltica direta dos cidados e cidads neste novo

    modelo de governabilidade local.

    Que mudanas devero ocorrer nas Prefeituras e nas Cmaras Municipais se os

    conselhos municipais e as associaes comunitrias adquirirem status de instituies

    autnomas? Ser isto possvel num ambiente que traz a marca histrica do clientelismo e

    da poltica do favor?

    Os aspectos mais relevantes na experincia do Rio Grande do Norte so

    precisamente os avanos obtidos no desempenho dos subprojetos financiados pelo PCPR e

    no estabelecimento desenhos e mecanismos institucionais que possibilitaram a

    participao direta dos beneficirios e de representantes de organizaes polticas,

    religiosas e sindicais nos conselhos estadual e municipais do PCPR no Rio Grande do

    Norte.

    consenso, pois, no meio tcnico e entre as lideranas polticas, religiosas e

    sindicais, que o xito obtido com o PCPR no Rio Grande do Norte se deve em grande

    parte instituio desses mecanismos de participao direta da populao e ao

  • 12

    fortalecimento das organizaes no-governamentais de assessoramento tcnico e das

    organizaes comunitrias, tanto pelos seus resultados prticos, quanto pelo carter

    inovador.

    Alm disso, a experincia do Rio Grande do Norte tambm evidenciou que a

    capacidade de gerao de desenvolvimento local pelos projetos comunitrios financiados

    pelo PCPR est diretamente relacionada com um bom nvel de assistncia tcnica, com a

    legitimidade e o grau de organizao dos conselhos comunitrios e das associaes civis,

    com a qualidade das lideranas e com a ativa participao dos associados nos destinos das

    instituies que lhes representam.

    Essas lies fundamentais, que singularizam a experincia do Rio Grande do

    Norte, tornam-se extremamente relevantes, pois evidenciam que o exerccio continuado

    das responsabilidades pela gesto da coisa pblica e o aprendizado que extrado do

    processo de participao que da decorre, potencializa a possibilidade de maior

    participao no futuro, e assim se constitui num processo auto-alimentado de formao

    cidad que se materializa na construo de um novo padro de gesto descentralizada de

    polticas pblicas.

    Numa perspectiva mais ousada, podemos admitir que essas experincias apontam

    para as possibilidades de consolidao de novas formas de governana, em contraposio

    s tradicionais formas de implementao de polticas pblicas que se consolidaram no

    meio rural do Rio Grande do Norte, como ser demonstrado nos itens seguintes.

    BOX 1 A EXPERINCIA DA IGREJA CATLICA NO PROCESSO DE IMPLEMENTAO DO

    PCPR NO RIO GRANDE DO NORTE

    Nossa presena e participao como IGREJA CATLICA no processo de implementao do PCPR no Rio Grande do Norte, ocorreu por percebermos que o programa tinha uma concepo metodolgica e filosfica que fortalecia o associativismo como principio de vida comunitria e social, valorizao dos mais pobres, possibilidade de gerao de trabalho e renda nas comunidades, permanncia das famlias rurais na terra, implantao de infra-estrutura social e produtiva de convivncia com a seca, estmulo a parcerias, participao, deciso e controle social, democratizao das polticas pblicas e combate a corrupo. Essa nossa leitura sobre o programa fruto da caminhada e experincia acumulada pela sociedade Civil Organizada, governos e prprio Banco Mundial no financiamento dos Projetos nos diversos Estados do Nordeste brasileiro, a partir dos anos 80.

    Na viso da IGREJA, nesses ltimos oito anos ocorreram mudanas substanciais nas instituies e nas finanas do PCPR no Rio Grande do Norte, grande parte delas decorrentes da intensa participao das organizaes da sociedade civil na gesto desse Projeto tanto no mbito estadual, quanto municipal e comunitrio.

    Os recursos financeiros, antes destinados ao financiamento da burocracia estatal e de grandes projetos de infra-estrutura, passaram a ser direcionados para o financiamento de projetos comunitrios identificados, elaborados e executados pelas prprias organizaes comunitrias que os demandavam. Em

  • 13

    atendimento s demandas sociais surgidos do pblico do projeto, gerando um conjunto de experincias exitosas no desenvolvimento das comunidades, principalmente no controle social dos recursos e na escolha dos projetos, que comearam a obedecer a uma lgica dos envolvidos, ou seja, dando-lhes um empoderamento de pertena daquela atividade.

    A presena da IGREJA e da FETARN como membros efetivos do Conselho de Desenvolvimento Rural (CDR), que a instncia superior de deciso do PCPR no mbito estadual, e como defensora dos interesses de um conjunto de organizaes no-governamentais, sindicais, religiosas e comunitrias, provocou uma clara diferenciao dos subprojetos que eram apresentados para apreciao e deliberao naquele colegiado. Os subprojetos assessorados por essas organizaes passaram a fazer parte de uma categoria particular, denominada projetos da FETARN e da IGREJA. O CDR, portanto, passou a ser palco de duas categorias fundamentais de subprojetos, que lhe deram vida e dinamicidade: de um lado, os subprojetos que resultavam do exerccio da democracia representativa, apoiados por deputados, prefeitos e vereadores; e, de outro, os subprojetos que resultavam do exerccio da democracia participativa, apoiados pelas organizaes da sociedade civil, onde se destacavam a Igreja Catlica e o Movimento Sindical.

    Para o representante da IGREJA, se foi relativamente fcil a conquista de espaos no CDR, esta mesma facilidade no ocorreu no mbito dos municpios; muitos dirigentes achavam que o estmulo s associaes comunitrias era uma forma de esvaziar os sindicatos, quando ns achvamos, ao contrrio, que os sindicatos deveriam se constituir como os espaos de referncia para as associaes no mbito dos municpios, como tambm muitos prefeitos achavam que era uma forma de fazer crticas e reduzir o seu poder, estimulando a participao do povo nas suas organizaes comunitrias. Felizmente, os dirigentes sindicais compreenderam e hoje temos companheiros participando em praticamente todos os conselhos municipais do PCPR e do PRONAF no Rio Grande do Norte. verdade que h poucos prefeitos que ainda mostram-se resistentes s organizaes comunitrias, ao movimento sindical e igreja, mas a grande maioria percebeu e avanou nas suas administraes e, em vrios momentos, coloca a necessidade do fortalecimento e da participao das comunidades como forma de contribuir na execuo de polticas pblicas municipais, estaduais, federais e do controle social das mesmas.

    Os resultados desse processo de participao foi importante. Naqueles municpios onde as organizaes da sociedade civil assessoraram e acompanharam com firmeza, os projetos so melhores e esto contribuindo para a gerao de renda e para a melhoria das condies de vida dos trabalhadores rurais.

    A maneira de estimular a criao dos conselhos municipais de desenvolvimento com o surgimento dos FUMAC e FUMAC-P, descentralizando responsabilidades e decises, possibilitando a partir da realidade local, priorizar aes e projetos dentro de uma viso integral do desenvolvimento do municpio, integrando polticas e projetos, dessa maneira, rompeu com a poltica clientelista e assistencialista. Por isso, Jos Procpio afirma que essa atitude trabalhada a mais eficiente, j que dignifica o homem/mulher/jovem em vez dos outros meios como cestas, bolsas, pra gente no muda; vicia as pessoas; no s os que recebem, mas os que administram; os primeiros, porque passam a depender de uma ajuda que os humilha e que incerta; os ltimos, porque muitas vezes passam a praticar a poltica do favor! Como dizia Luiz Gonzaga.

    Verifica-se pois, que uma das coisas interessantes para entender que a participao nos conselhos municipais e o trabalho com outras instituies, como prefeituras municipais e organizaes da sociedade civil, aumentam o alcance dos subprojetos. O movimento sindical foi para a linha de frente; tanto que insistimos, buscando a compreenso de outros dirigentes, hoje ningum tem coragem de dizer que estvamos errados. O exemplo de Serra Negra do Norte, onde juntou todo mundo, isto , o PCPR, a FETARN, a prefeitura, a Igreja, esto a para demonstrar como se deve trabalhar!.

    Algumas lies devem servir de experincia, afirma o representante da Igreja: i) os maiores xitos foram obtidos quando associamos a formao de parcerias entre as prefeituras e as organizaes da sociedade civil e uma boa assistncia tcnica-gerencial-pedoggica, isto , quando conseguimos influenciar na participao ativa do poder pblico local; ii) bem verdade que h possibilidade de aprofundar esse conjunto de parceria com integrao de projetos e programas, como no caso do PAPP e PRONAF do municpio de So Joo do Sabugi, apesar do PRONAF no ter controle igual ao do PAPP, mas na hora de traar os projetos e as aes, os conselhos e as comunidades sentam-se e constroem consenso na elaborao dos projetos e na priorizao das comunidades. H municpios onde essas parcerias so ainda possveis, faltando apenas um dilogo para concretizar essa realidade e h uma terceira categoria de municpio que quer continuar trabalhando na poltica do assistencialismo e do clientelismo poltico, na politicagem da

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    distribuio do favor e do controle das pessoas, inclusive h uma discusso que no projeto novo se d um tratamento diferenciado queles municpios que esto dispostos a aprofundar essa parceria com a sociedade civil ; iii) Outra ao importante a discusso da elaborao dos oramentos municipais, exigindo das organizaes alianas com aqueles vereadores comprometidos, com as demandas vindas das comunidades. Esta uma relao nova, mais importante na construo de um oramento que possa contribuir na alocao de recursos a complementar aes das comunidades. iv) o fortalecimento das associaes visualizou e tornou os sindicatos com mais fora, dando uma expresso pblica a esse importante parceiro da luta dos trabalhadores(as); ambos se fortaleceram; v) as associaes que a princpio tinham em vista s o projeto pelo projeto, ampliaram a viso de desenvolvimento integral da comunidade, buscando atuar dentro de uma viso holstica de ao. Em Caic, as Associaes levam as mais diversas autoridades para debater e esclarecer, formando uma conscincia mais crtica e consciente das famlias, construindo e contribuindo para um desenvolvimento local sustentvel da comunidade, favorecendo uma poltica pblica mais participativa e com mais controle social no municpio.

    BOX 2

    A EXPERINCIA DA FETARN NO PROCESSO DE IMPLEMENTAO DO PCPR NO RIO GRANDE DO NORTE

    A participao da FETARN no processo de implementao do PCPR no Rio Grande do Norte se inseriu na longa experincia que vinha se acumulando com o financiamento dos Projetos de Desenvolvimento Rural Integrado financiados pelo Banco Mundial nos diversos estados do nordeste brasileiro, desde 1975.

    A segunda gerao de projetos financiados pelo Banco Mundial, iniciada em 1985, com o Programa de Apoio ao Pequeno Produtor Rural (PAPP), abriu possibilidades concretas para a participao das organizaes da sociedade civil e das associaes comunitrias na identificao, elaborao e execuo de projetos comunitrios, em face da incluso de um novo componente, ento denominado Apoio s Pequenas Comunidades Rurais (APCR).

    Com a reformulao do PAPP em 1993 a participao dessas organizaes se intensificou, pois, com exceo de um percentual de aproximadamente 10 por cento para despesas administrativas, os restantes 90 por cento foram destinados ao financiamento daqueles projetos. Esta sistemtica foi seguida com o Contrato de Financiamento 4120-BR, firmado entre o Governo do Rio Grande do Norte e o Banco Mundial, que agora se encerra.

    Na viso do presidente da FETARN, Senhor Manuel Cndido, nesses ltimos oito anos ocorreram importantes mudanas nas instituies e nas finanas do PCPR no Rio Grande do Norte, grande parte delas decorrentes da intensa participao das organizaes da sociedade civil na gesto desse Projeto tanto no mbito estadual, quanto municipal e comunitrio.

    Os recursos financeiros, antes destinados ao financiamento da burocracia estatal e de grandes projetos de infra-estrutura, passaram a ser direcionados para o financiamento de projetos comunitrios identificados, elaborados e executados pelas prprias organizaes comunitrias que os demandavam. Como conseqncia, mais de 80 por cento do total dos recursos do PCPR passaram a ser investidos nas prprias comunidades, em atendimento s demandas sociais a originadas.

    A presena da FETARN como membro efetivo do Conselho de Desenvolvimento Rural (CDR), que a instncia superior de deciso do PCPR no mbito estadual, e como defensora dos interesses de um conjunto de organizaes no-governamentais, sindicais, religiosas e comunitrias, provocou uma clara diferenciao dos subprojetos que eram apresentados para apreciao e deliberao naquele colegiado. Os subprojetos assessorados por essas organizaes passaram a fazer parte de uma categoria particular, denominada projetos da FETARN. O CDR, portanto, passou a ser palco de duas categorias fundamentais de subprojetos, que lhe deram vida e dinamicidade: de um lado, os subprojetos que resultavam do exerccio da democracia representativa, apoiados por deputados, prefeitos e vereadores; e, de outro, os subprojetos que resultavam do exerccio da democracia participativa, apoiados pelas organizaes da sociedade civil, onde se destacavam a Igreja Catlica e o Movimento Sindical.

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    Para o presidente da FETARN, se foi relativamente fcil a conquista de espaos no CDR, esta mesma facilidade no ocorreu no mbito dos municpios; muitos dirigentes achavam que o estmulo s associaes comunitrias era uma forma de esvaziar os sindicatos, quando ns achvamos, ao contrrio, que os sindicatos deveriam se constituir como os espaos de referncia para as associaes no mbito dos municpios. Felizmente, os dirigentes sindicais compreenderam e hoje temos companheiros participando em praticamente todos os conselhos municipais do PCPR e do PRONAF no Rio Grande do Norte.

    O resultados desse processo de participao foi importante; naqueles municpios onde as organizaes da sociedade civil assessoraram e acompanharam com firmeza, os projetos so melhores e esto contribuindo para a gerao de renda e para a melhoria das condies de vida dos trabalhadores rurais.

    A forma como tem sido trabalhada a mais eficiente diz o Presidente da FETARN: os outros meios, como cestas, bolsas, seja de 60, de 30 ou de 10, pra gente no muda; vicia as pessoas; no s os que recebem, mas os que administram; os primeiros, porque passam a depender de uma ajuda que os humilha e que incerta; os ltimos, porque muitas vezes passam a praticar a poltica do favor! Voc sabe que tem muita gente que procuram formas de demonstrar que o IDH de determinados municpios os tornem ainda mais miserveis?. Est pois provado que no funciona; salvo em caso de emergncia, quando no possvel esperar; porm, no pode ficar no doar; preciso preparar as pessoas para criarem seu prprio emprego e sua prpria renda; os novos governos precisa sair disso; as pessoas precisam ser responsveis por si mesmas; e um tipo de programa como o PCPR faz a diferena.

    O Rio Grande do Norte, prossegue Manuel Cndido, tem projetos muito bem sucedidos de barragens, cermicas, queijarias, beneficiamento de castanha, caprino-cultura e tantos outros, todos de natureza comunitria e funcionando muito bem! Outras experincias, que no so do PCPR, assessoradas por organizaes da sociedade civil, mostram que investimentos de 3, 4, 5 mil reais em barragens subterrneas, sistemas simplificados de irrigao e energia solar, podem gerar segurana alimentar para 2, 3, 4 ou 5 famlias, a um custo reduzidssimo, comparativamente aos 100 mil reais que tem que investir na cidade, na indstria ou no turismo, para gerar um emprego de um salrio mnimo.

    Verifica-se pois, que uma das coisas interessantes para entender que a participao nos conselhos municipais e o trabalho com outras instituies, como prefeituras municipais e organizaes da sociedade civil aumenta o alcance dos subprojetos. O movimento sindical foi para a linha de frente; tanto que insistimos, buscando a compreenso de outros dirigentes, hoje ningum tem coragem de dizer que estvamos errados. O exemplo de Serra Negra do Norte, onde juntou todo mundo, isto , o PCPR, a FETARN, a prefeitura, a Igreja, esto a para demonstrar como se deve trabalhar!.

    Entretanto, ressalta o Presidente da FETARN, um trabalho dessa natureza requer uma boa assistncia tcnica; porm, temos que ser claros: houve um desmonte da assistncia tcnica; um distanciamento do poder pblico quanto importncia da assistncia tcnica; o resultado que temos pouco mais de 100 tcnicos em plena atividade no campo. No podemos trabalhar sem uma assistncia tcnica pblica e de qualidade, seja ela estatal ou no estatal, porm, neste ltimo caso, financiada pelo Estado.

    Entretanto, os xitos obtidos no Rio Grande do Norte no teriam sido possveis se no tivssemos contado com aliados nas equipes tcnicas da coordenadoria tcnica do PAPP e das organizaes internacionais de financiamento e a cooperao tcnica do IICA. Tinham pessoas l dentro que tinham compromissos com o programa e com os problemas da populao. Isto tambm teve uma contribuio muito importante para o avano do programa no estado; essas pessoas no se limitaram a assessorar o governo, pois antes de tudo eles compreenderam que so funcionrios do Estado e no de um governo em particular. Por isso, a equipe tcnica bsica dessas organizaes foi mantida, apesar de terem mudando vrios secretrios de ao social; essa metodologia de ouvir para realizar e de discutir, que contribuiu para a permanncia da equipe, que tambm teve o apoio das organizaes da sociedade civil.

    Algumas coisas devem ficar claras como lies dessa experincia, diz Manuel Cndido: i) os maiores xitos foram obtidos, quando contamos com a formao de parcerias entre as prefeituras e as organizaes da sociedade civil, como foi o caso de Serra Negra do Norte e So Joo do Sabugi, isto , quando conseguimos uma participao ativa do poder pblico local; ii) essas parcerias so ainda possveis em vrios municpios, que, no entanto, no foram devidamente trabalhados; outros no querem; s trabalham do lado da politicagem; acho que o prximo Projeto deveria ter tratamento diferenciado; no adianta dar o mesmo tratamento em um municpio que quer formar parceria e outro que quer fazer politicagem; clientelismo; poltica do favor; assistencialismo; iii) precisamos trabalhar melhor as Cmaras Municipais: no

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    conseguiremos unanimidade das Cmaras, mas com certeza conseguiremos apoio de muitos vereadores, trabalhando junto s comunidades, levantando demandas, como o caso de Carabas; iv) o fortalecimento das associaes no enfraqueceu os sindicatos; pelo contrrio, um pblico que visita diariamente os sindicatos; ambos se fortaleceram; v) as associaes que nasceram nesse debate, tm uma viso mais ampliada; no pensam s nos projetos do PCPR; as outras, que s foram criadas para os projetos do PCPR, provavelmente morreram ou vo morrer; elas tm que ter a viso das polticas pblicas e no de uma nica poltica; vi) finalmente, com projeto ou sem projeto, com PCPR e sem PCPR, se no tiverem assessoramento de qualidade, as associaes morrero; algumas pessoas esto fazendo excelentes trabalhos; muitos vereadores esto fazendo trabalhos srios; mas a questo como nasce e se desenvolve: se nasce e se desenvolve para a politicagem, no cresce e morre, quando o apoio desaparece; se nasce e se desenvolve pensando em polticas pblicas para o municpio ou a comunidade, tem tudo para crescer; para se desenvolver; e, mais importante, para contribuir para o desenvolvimento do municpio e da comunidade onde est inserida!

    2 O PROCESSO DE IMPLEMENTAO DO PCPR

    2.1 rea de atuao

    O Projeto de Combate Pobreza Rural do Rio Grande do Norte (PCPR/RN), foi

    executado no perodo de junho de 1997 a junho de 2.000, atuou em 137 municpios ou

    aproximadamente 82% dos 167 municpios existentes no estado e atendeu diretamente s

    demandas sociais de 96 mil famlias, formuladas por intermdio de 1.400 organizaes

    comunitrias de 137 conselhos municipais de desenvolvimento rural.

    A evoluo do nmero de municpios atendidos pelo PCPR encontra-se apresentada

    na Tabela 1, a seguir:

    Tabela 1 Evoluo do nmero de municpios atendidos pelo PCPR no Rio Grande do Norte segundo os anos (1997 2002)

    NMERO DE MUNICPIOS ANOS

    SIMPLES ACUMULADO 1997 48 48 1998 57 105 1999 6 111 2000 14 125 2001 10 135 2002 02 137

    FONTE: Coordenadoria de Projetos Especiais PCPR/RN

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    2.2 Subprojetos financiados segundo a categoria

    Os investimentos de natureza produtiva e de infra-estrutura representam praticamente

    todo o universo financiado no Rio Grande do Norte, com 97,6% do nmero total de

    subprojetos e 97,9 do valor financiado (Tabela 2). Tabela 2 Nmero e valor dos subprojetos financiados pelo PCPR segundo a categoria (1997 2002)

    NMERO VALOR (R$ 1,00) CATEGORIA DOS

    SUBPROJETOS ABSOLUTO RELATIVO (%) ABSOLUTO RELATIVO

    (%) PRODUTIVO 695 38 15.536.332,61 32INFRA-ESTRUTURA 1063 59 31.613.548,17 65SOCIAL 51 3 1.197.596,02 3TOTAL 1809 100,0 48.347.476,80 100,0FONTE: Coordenadoria de Projetos Especiais/PCPR

    No entanto, a concepo bsica da maioria dos subprojetos, ainda que chamados de

    infra-estrutura, como o caso de eletrificao rural, audes e barragens, a sua articulao

    com atividades de natureza produtiva, caracterizando-os, em ltima instncia, como

    subprojetos geradores de ocupao e renda e de promoo do desenvolvimento local

    (Boxes 3 e 4).

    BOX 3

    SO JOO DO SABUGI: A ELETRIFICAO RURAL COMO INSTRUMENTO DE OCUPAO E RENDA

    Os subprojetos de eletrificao rural, implantados na bacia hidrulica do Aude Santo Antnio, no municpio de So Joo do Sabugi, na Zona Homognea do Serid do Rio Grande do Norte, so exemplos importantes da concepo articulada de infra-estrutura com atividades de natureza produtiva. O Conselho de Desenvolvimento do FUMAC-P, em reunio aberta de seus membros, decidiu priorizar a implantao de linhas de eletrificao rural, como forma de viabilizar a produo irrigada e o aproveitamento de vazantes na bacia do Aude Santo Antnio. Este aude, que j havia sido construdo pelo DNOCS h muitos anos, continuava com baixo nvel de aproveitamento, dado o alto custo dos motores a leo diesel que eram requeridos para o bombeamento da gua para irrigao. Com a eletrificao rural, as reas adjacentes, at ento subtilizadas na segunda metade do ano, quando cessava o perodo das chuvas, passaram a ser intensamente cultivadas com a plantao de cultura alimentares e de pastagem para os animais, gerando renda, ocupao e alimento para um total de 150 famlias. Alm disso, a eletrificao tem contribudo para a melhoria das condies sociais nas comunidades, possibilitando a iluminao residencial e das escolas, movimentando eletrodomsticos e equipamentos agropecurios. Subprojetos desta natureza so, portanto, capazes de desdobrar etapas potenciais do processo produtivo, viabilizando o surgimento de outras alternativas de produo anteriormente limitadas ou inexistentes.

  • 18

    BOX 4

    SERRA NEGRA DO NORTE: BARRAGENS SUBMERSVEIS COMO EXEMPLO DE GOVERNANA INFORMAL

    O exemplo que vem de Serra Negra do Norte ilustra a possibilidade e a importncia da articulao de programas, projetos e atividades de diferentes instituies em torno de um mesmo objetivo. Trata-se da construo de 11 barragens submersveis ao longo do Rio Espinharas, cuja execuo tornara-se impossvel somente com recursos do PCPR. Levantado o problema em uma reunio do Conselho Municipal do FUMAC-P, e aps identificao das alternativas de soluo entre os presentes, foi ento elaborada uma pauta de encaminhamento na qual os rgos responsveis pela gesto de polticas pblicas no mbito local se comprometeram a reunir recursos humanos, materiais e financeiros e viabilizar a construo das 11 barragens de forma conjunta e com a participao da populao diretamente envolvida. Assim decidido, reuniram-se os recursos do PCPR, da Prefeitura Municipal de Serra Negra do Norte, do Programa de Convivncia com a Seca, da FETARN, dos prprios beneficirios, e, inclusive, da Prefeitura Municipal de So Bento, no vizinho estado da Paraba, viabilizando a construo das barragens. Como conseqncia, foram obtidos os seguintes resultados: i) disponibilidade para irrigao de 440 hectares; ii) rea efetivamente irrigada de 190 hectares nos anos de 1999 e 2.000, com a produo de 340 toneladas de feijo, no valor de R$ 119 mil reais; 900 toneladas de melancia, no valor de R$ 135 mil reais; 288 toneladas de tomate, no valor de R$ 87 mil reais. Alm disso, foram plantados 6 hectares de fruteiras diversas, 9 hectares de outras culturas e 76 hectares de campineiras, possibilitando, neste ltimo caso, a melhoria da alimentao do rebanho e a produo de leite. Foi tambm bastante significativo o aumento na produo de peixe para o auto consumo e para a venda no mercado regional, atraindo pescadores de outros municpios do Rio Grande do Norte e da Paraba. Por ltimo, mas no menos importante, as barragens construdas afirmaram-se, tambm, como uma alternativa de lazer, para onde converge um grande nmero de pessoas nos finais de semana.

    2.3 Beneficirios dos subprojetos

    Os beneficirios diretos dos subprojetos financiados pelo PCPR correspondem,

    como visto, a um total acima de 96 mil famlias, ou 288 mil pessoas, sendo 38% com

    subprojetos produtivos, 59% de infra-estrutura e 3% de natureza social (Tabela 3).

    Tabela 3 Nmero de famlias atendidas pelo PCPR/RN segundo a categoria de subprojeto

    NMERO CATEGORIA DOS SUBPROJETOS ABSOLUTO RELATIVOS(%)

    PRODUTIVO 30.186 38INFRA-ESTRUTURA 64.605 59SOCIAL 2.477 3TOTAL 96.968 100,0FONTE: Coordenadoria de Projetos Especiais/PCPR

    A populao beneficiria potencial do Estado de 1,1 milho de habitantes, assim

    considerada a populao rural e os habitantes dos municpios com at 7.500 habitantes.

    Por conseguinte, o ndice de Cobertura do Projeto (ICP) do PCPR no Rio Grande

  • 19

    do Norte, assim entendido a relao entre a populao atendida e a populao

    potencialmente beneficiria, corresponde a 26%, o que indica o elevado grau de demanda

    social insatisfeita que dever ser coberto com as polticas pblicas.

    ICP = (288.000 : 1.100.000) x 100 = 26%

    Deve ser ressaltado, neste contexto, que este indicador evidencia apenas as famlias

    diretamente atendidas com as atuais aes do PCPR, reconhecidamente muito distantes

    das necessidades de infra-estrutura fsica e social, das demandas por novos postos de

    trabalho e da superao dos elevados ndices de indigncia no interior do estado.

    Por suposto, o PCPR, isoladamente, no tem condies objetivas de superar os

    graves problemas econmicos e sociais predominantes no meio rural do Rio Grande do

    Norte, sem articulao, integrao e complementao com as demais polticas de

    desenvolvimento local. Por essa razo, as duas experincias relatadas nos Boxes 3 e 4,

    indicam um possvel caminho para o aumento da eficincia dos programas governamentais

    por intermdio da articulao institucional no nvel local, o que tem sido uma tarefa muito

    difcil nas esferas estadual e nacional face complexidade das burocracias estatais a

    existentes.

    2.4 Desempenho operacional

    O PCPR do Rio Grande do Norte apresentou, no geral, um elevado grau de

    desempenho na sua execuo. O ndice de Execuo do Projeto (IE), traduzido pela

    relao existente entre as metas realizadas e as metas programadas no Acordo de

    Emprstimo firmado entre o Governo do Estado e o Banco Mundial ficou acima do

    previsto, situando-se em 141%.

    IE = (1809:1280) x 100 = 141%

    O Grau de Funcionamento do Projeto (GF), assim entendido a relao entre o

    nmero de subprojetos em funcionamento e o nmero total de subprojetos concludos

    tambm elevado. Para os subprojetos do FUMAC e do FUMAC-P, por exemplo, o GF

    calculado foi de 94%, atestando as possibilidades objetivas que se abrem para a ampliao

  • 20

    das experincias de gesto descentralizada que vm sendo desenvolvidas com a

    participao das organizaes da sociedade civil, das administraes municipais no mbito

    local.

    GF = (978/1.031) x 100 = 94%

    No entanto, mais do que o simples funcionamento, um destaque importante na

    experincia do Rio Grande do Norte so os subprojetos que terminaram funcionando como

    um capital-semente, mediante a recuperao de parte do investimento inicial e a formao

    de uma espcie de fundo comunitrio que possibilitou a realizao de novos

    financiamentos e o atendimento de necessidades sociais bsicas dos processos produtivos,

    dificilmente atendidas pela rede bancria oficial, como a realizao de pequenos

    investimentos em mquinas, equipamentos, aquisio de sementes e medicamentos (Box

    5).

    BOX 5

    ASSOCIAO COMUNITRIA DE BOM JESUS: UM EXEMPLO DE CONSTITUIO DE FUNDO COMUNITRIO

    A Associao Comunitria de Bom Jesus est localizada no municpio de Caic, em plena regio semi-rida do Rio Grande do Norte. Foi criada no ano de 1995, com um quadro de 60 scios, tendo atualmente 53 scios atuantes. No decorrer de sua existncia, a associao firmou convnios para execuo de subprojetos produtivos e de infra-estrutura, de acordo com as demandas sociais apresentadas, discutidas e aprovadas nas assemblias gerais. Um desses convnios foi firmado com o governo do estado, com recursos do PCPR, destinados aquisio de matrizes ovinas e bovinas para distribuio com o seu quadro de associados, sem obrigao de recuperao de custos. No obstante esta regra do Projeto, a associao decidiu, em assemblia, estabelecer um esquema indito de ressarcimento, correspondente a 40% do valor de aquisio dos animais aps dois anos do recebimento. A associao possui, atualmente, um saldo de R$ 9.000,00 (nove reais), j tendo realizado investimentos na complementao dos custos de um aude e efetuado pequenos emprstimos para aquisio de mquinas, equipamentos, sementes e medicamentos. Esta experincia demonstra que, mesmo nas comunidades mais pobres, como o caso de Bom Jesus, possvel reproduzir iniciativas de desenvolvimento local. Para que isto ocorresse, foram decisivos os seguintes fatores: i) apoio financeiro do Estado, por intermdio do PCPR; ii) credibilidade da diretoria da associao; iii) existncia do Conselho Estadual de Desenvolvimento Rural (CDR), que emitiu resoluo especfica para os subprojetos de bovinocultura e apoiou a coordenao tcnica estadual na seleo de subprojetos legtimos; iv) nvel de organizao da comunidade; v) assessoramento tcnico e gerencial sistemtico; e, vi) o profundo sentido tico com que foram administrados os recursos recebidos. A Associao Comunitria de Bom Jesus deixa, como lies principais, a comprovao de que possvel um novo desenho institucional para os subprojetos no mbito comunitrio, no qual as associaes podem funcionar como instncias de apoio a subprojetos familiares, mediante um sistema de recuperao de custos que permitam, com o apoio do PCPR, a formao de fundos para investimento em novos subprojetos, identificados, planejados, executados e acompanhados pelas prprias organizaes comunitrias.

  • 21

    2.5 Subprojetos financiados pelo PCPR/RN segundo as subcategorias

    Os subprojetos financiados pelo PCPR no Rio Grande do Norte, acima

    apresentados segundo as suas categorias, compreendem uma diversidade de investimentos

    cuja natureza requer uma melhor caracterizao, de forma a identificar os subprojetos mais

    importantes dentre aqueles financiados pelo PCPR no Rio Grande do Norte, tal como

    feito a seguir:

    i) os subprojetos de abastecimento de gua, compreendem adutoras, redes de

    distribuio, audes e barragens, poos tubulares, caixas dgua,

    dessalinizadores, cisternas e chafarizes;

    ii) os subprojetos de eletrificao rural, incluem redes de transmisso e

    distribuio de energia eltrica, alm de energia solar;

    iii) os subprojetos destinados criao de animais de pequeno e mdio portes

    incluem a avicultura caseira, a suinocultura e a caprino-ovinocultura;

    iv) os subprojetos de agricultura irrigada, incluem o financiamento de sistemas

    de irrigao por gravidade, asperso e gotejamento;

    v) os subprojetos de pesca incluem pesca litornea e interior, com

    financiamento de barcos para pesca artesanal, fbricas de gelo, frigorficos,

    viveiros para criao de peixes, alm de processamento e beneficiamento

    do pescado.

    No conjunto acima apresentado, os subprojetos de eletrificao rural,

    abastecimento de gua, e criao de animais, destacam-se como os mais importantes,

    alcanando 62% do total de subprojetos financiados, como pode ser observado na Tabela

    4, abaixo.

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    Tabela 4 Nmero de subprojetos financiados pelo PCPR/RN, segundo as subcategorias

    (1997 2002) NMERO VALOR (R$ 1,00)

    CATEGORIA DOS SUBPROJETOS ABSOLUTO

    RELATIVO(%)

    ABSOLUTO RELATIVO (%)

    ABASTECIMENTO DE GUA

    743 41 21.573.079,90 45

    ELETRIFICAO 288 16 9.121.027,46 19CRIAO DE ANIMAIS 293 16 5.740.424,57 12AGRICULTURA IRRIGADA

    54 3 1.445.017,21 3

    PESCA 49 3 1.528.180,56 3CENTRO DE APOIO PRODUO

    31 2 648.679,33 1

    OUTROS 351 19 8.291.067,98 17TOTAL 1809 100,0 483.347.476,80 100,0FONTE: Coordenadoria de Projetos Especiais/PCPR

    Um fato curioso, primeira vista no revelado na Tabela 4, acima, que quase

    todos os subprojetos identificados como de criao de animais, so, na verdade, de

    caprino-cultura de corte e de leite e de ovinocultura. Esses subprojetos incluem-se entre as

    melhores experincias financiadas pelo PCPR no Rio Grande do Norte, por diversas

    razes: i) fomentaram atividades compatveis com as condies da regio semi-rida; ii)

    contriburam para melhorar a renda e a organizao social das famlias beneficirias; iii)

    diversificaram a oferta de carne e leite com mais baixo teor de colesterol; e, iv)

    contriburam para o fortalecimento das associaes comunitrias, que passaram a ter renda

    prpria e quadros dirigentes melhor capacitados em gesto associativa (Boxes 6 e 7). BOX 6

    JARDIM DO SERID: CAPRINOCULTURA DE LEITE COMO INSTRUMENTO DE PRODUO, RENDA E ORGANIZAO SOCIAL

    O exemplo que vem de Jardim do Serid ilustra a possibilidade e a importncia da articulao de programas, projetos e atividades de diferentes instituies em torno de um mesmo objetivo. Trata-se do subprojeto de caprino-cultura de leite da Associao Comunitria dos Produtores Rurais de Jardim do Serid, que vem se consolidando como uma experincia bem sucedida de criao de animais compatveis com as condies da regio semi-rida do interior do Rio Grande do Norte. So visveis nas comunidades contempladas com o subprojeto, o aumento do nmero e da produtividade do rebanho, como conseqncia da introduo de reprodutores e

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    matrizes com aptido leiteira; a construo de infra-estrutura para o armazenamento do leite; a melhoria nas instalaes e manejo dos animais na localidade, bem como o aumento de renda dos beneficirios e o fortalecimento organizacional da associao comunitria gestora do subprojeto. A qualidade da assistncia tcnica e gerencial, prestada desde a identificao e elaborao do subprojeto, foi decisiva para o xito obtido. O sistema de gerenciamento, construdo juntamente com a diretoria e os scios, feito da seguinte forma: uma comisso de compra e acompanhamento, formada pela diretoria da associao e pelo assistente tcnico, adquiriu os animais e acompanha a execuo do subprojeto; aps aquisio dos animais, composta por 52 matrizes e 07 reprodutores com aptido leiteira foi feita a distribuio entre 26 scios, ficando cada um com duas matrizes. Os reprodutores foram distribudos em pontos estratgicos de modo a minimizar as distncias e facilitar a cobertura das matrizes. O subprojeto tambm incluiu alguns equipamentos e insumos, considerados indispensveis para o incio de sua implantao, tais como: tambores e freezer destinados coleta e armazenamento do leite diariamente recebido pela associao para entrega na usina de beneficiamento; arame farpado, para construo de apriscos e reforma de cercas; e, rao para o primeiro ms. O leite est sendo adquirido pela Laticnio Caic Ltda ao preo de R$ 0,65 o litro; a associao fica com R$ 0,05 (cinco centavos) por litro de leite comercializado para os custos operacionais, repassando o restante diretamente para o produtor. Os resultados operacionais do subprojeto so os seguintes: i) produo diria de 60 litros de leite; ii) produo artesanal de queijo, iogurte, requeijo e doce para consumo domstico e venda local; iii) aumento em torno de R$ 20,00 (vinte reais) por ms na renda dos beneficirios em funo da venda do leite; iv) melhoria alimentar das famlias beneficirias; v) melhoria das instalaes e manejo do rebanho; vi) aumento do grau de associacionismo; vi) entrada na cadeia produtiva do leite, conquistando um novo nicho de mercado e tornando a atividade sustentvel.

    BOX 7

    JARDIM DO SERID : SUBPROJETO ARTE NOSSOS BORDADOS FINOS O Subprojeto Arte Nossos Bordados Finos, localizado no assentamento de trabalhadores rurais

    denominado Caatinga Grande, no municpio de Jardim do Serid, no estado do Rio Grande do Norte, demonstra que as possibilidades de gerao de renda no meio rural no so exclusivamente agrcolas, agropecurias ou agro-industriais. Nesse subprojeto foram investidos R$ 16.000,00 (dezesseis mil reais) destinados a aquisio de mquinas e equipamentos e capacitao da populao local na produo de bordado a mquina, atendendo diretamente demanda formulada por 20 (vinte) associados. A associao j adquiriu com recursos gerados pelo projeto uma mquina industrial, um goleiro e um armrio, que foram incorporados ao patrimnio social. Como parte da sistemtica de operao e manuteno adotadas, os integrantes do projeto tiveram dois anos de assistncia gerencial e acompanhamento sistemtico no processo de produo; fizeram cursos de gesto e qualificao em novos designs. A receita bruta anual atualmente obtida pelo subprojeto, j supera o valor financiado pelo PAPP. Dessa receita, 10% so destinados operao e manuteno das mquinas e equipamentos e ao funcionamento do sistema gerencial, sendo o restante distribudo entre os beneficirios diretos do projeto, de acordo com a sua participao na produo. Podemos ainda enumerar os seguintes resultados alcanados: a) 50% do grupo trabalha um turno no subprojeto e estuda na segunda parte do dia; b) todos os beneficirios tm pleno conhecimento do processo produtivo do bordado; c) verifica-se uma clara integrao entre as famlias do assentamento, e com outras famlias que trabalham em artesanato, residentes em outras comunidades; d) todos os beneficirios tm pleno conhecimento da sistemtica de elaborao de uma planilha de custo; e) a produo obtida reconhecida como de tima qualidade nos mercados de artesanato regional e estadual, onde os beneficirios participam regularmente de feiras de artesanato; f) a renda obtida pelos beneficirios tem sido fundamental para complementao do oramento familiar, sendo que, em alguns casos, o artesanato tem se destacado como a principal fonte de renda; h) visvel o nmero de famlias que compraram pela primeira vez ou diversificaram a compra de equipamentos, entre os quais se destacam eletrodomsticos e bicicletas; por ltimo, mas no menos importante, dois dos beneficirios diretos do subprojeto tornaram-se instrutores em outras comunidades; alm disso a associao tem recebido visitas de grupos do Rio Grande do Norte e de outros estados, que vm na busca dos ensinamentos obtidos com a experincia da associao.

  • 24

    3 ESTUDOS DE CASOS: EXPERINCIAS EXITOSAS DO PCPR NO RIO GRANDE DO NORTE

    3.1 A experincia das associaes comunitrias do municpio de Parelhas 3.1.1 Antecedentes

    A experincia da Associao dos Oleiros da Comunidade Cachoeira (AOCC) e da

    Associao Comunitria de Cachoeira (ACC), ambas no Municpio de Parelhas, evoluiu

    paralelamente ao agravamento dos problemas decorrentes da crise scio-econmica dos

    anos noventa e das secas que vm castigando a populao nordestina e norte-riograndense,

    particularmente a populao rural das regies semi-ridas onde se localiza esse municpio.

    Antes de existirem a ACC e a AOCC, os atuais associados passavam a semana

    distante do local de residncia, deslocando-se at quinze quilmetros em busca de

    oportunidades de trabalho , que de uma maneira geral se restringiam ao programa de

    emergncia mantido pelos governos federal e estadual com base numa remunerao

    inferior a meio salrio mnimo.

    Diante dessa situao, foi lanada a idia de formar uma associao com o objetivo

    de encaminhar solues para os graves problemas ento existentes. A primeira alternativa

    de trabalho sugerida foi a implantao de uma cermica comunitria, considerando a

    disponibilidade de matria-prima e o dinamismo desta atividade no prprio municpio, que

    j contava com aproximadamente 16 unidades em funcionamento.

    Aceita a sugesto, a comunidade organizou uma ida ao Povoado Juazeiro, no

    municpio de Parelhas, onde j existia uma experincia de cermica comunitria,

    administrada pela Associao dos Produtores Oleiros do Povoado Juazeiro (APROVE),

    reconhecida como o primeiro empreendimento desta natureza no municpio e na regio do

    Serid. Na comunidade Cachoeira tambm havia sido criada uma associao comunitria

    no ano de 1985, a Associao Comunitria da Cachoeira (ACC), da qual alguns dos atuais

    scios da AOCC j faziam parte.

    Com base nessas duas experincias a APROVE e a ACC a comunidade decidiu

    convidar a Cooperativa Agropecuria de Parelhas e o Servio de Apoio aos Projetos

    Alternativos Comunitrios (SEAPAC), uma organizao no-governamental ligada

    Igreja Catlica, para assessorar na constituio da associao. A cooperativa ficou

  • 25

    responsvel pela elaborao do estatuto, enquanto o SEAPAC realizou a mobilizao

    social e forneceu suporte tcnico e poltico para a constituio e funcionamento da

    organizao.

    Todo esse processo de construo social teve a participao massiva da populao

    local, sendo fruto e desejo da prpria comunidade, que teve todo esse esforo coroado de

    xito com a fundao da associao em 30/07/95 com um quadro de 51 scios, hoje

    ampliado para um total de 62 scios.

    Ao analisar o funcionamento da Cermica da Associao dos Oleiros da

    comunidade Cachoeira- AOCC, a AAC decidiu iniciar uma mobilizao objetivando

    construir uma cermica comunitria semelhante como alternativa de solucionar o

    problema de desemprego da comunidade.

    Um scio da ACC, tomou a iniciativa de mobilizar a comunidade para uma reunio

    com o objetivo de discutir a viabilidade de elaborar um projeto de cermica semelhante ao

    da AOCC.

    As pessoas que se encontravam trabalhando na cermica dos Oleiros melhoraram

    visivelmente suas condies de vida. Entretanto, o problema da comunidade no estava

    solucionado, uma vez que mais de cinqenta por cento dos moradores continuavam com

    as mesmas dificuldades, isto , passando a semana distante do local de residncia e

    deslocando-se at quinze quilmetros em busca de oportunidades de trabalho, em geral

    restritas ao programa de emergncia mantido pelos governos federal e estadual com base

    numa remunerao inferior a meio salrio mnimo.

    3.1.2 A trajetria da AOCC

    Aps a constituio legal da organizao comunitria, houve algumas assemblias

    para decidir que tipo de projeto gerava mais trabalho para a maior parte das pessoas da

    comunidade e que experincia os envolvidos tinham com a atividade. Depois de muita

    discusso, e observando esses critrios, a comunidade aprovou o subprojeto de uma

    cermica comunitria e o encaminhou ao Conselho Municipal do FUMAC, em Parelhas.

    O subprojeto foi inicialmente bastante questionado pelos membros do Conselho,

    sob o argumento de que aquele tipo de iniciativa, ao mesmo tempo que poderia fortalecer

    as experincias comunitrias, tambm prejudicaria as cermicas particulares, j instaladas

    e em pleno funcionamento.

  • 26

    Depois de muito debate, no decorrer de trs reunies, os interessados conseguiram

    convencer os conselheiros da viabilidade desse tipo de empreendimento comunitrio,

    considerando o seu potencial de desenvolvimento local nos aspectos produtivos e sociais,

    o seu impacto imediato na gerao de ocupao e renda para as famlias residentes e a

    existncia de demanda efetiva para o produto de Parelhas, em face da sua reconhecida

    qualidade dentro e fora do Rio Grande do Norte.

    Para demonstrar o grau de interesse pelo projeto, a comunidade doou um terreno

    de um hectare para funcionar a cermica e desmontou o galpo de uma olaria para em

    seguida reinstal-lo no local da implantao do subprojeto.

    A elaborao do subprojeto ficou ento sob a responsabilidade de uma equipe de

    tcnicos ligados Cooperativa Agropecuria de Parelhas, que esteve presente em todos os

    momentos da identificao, seleo, elaborao, aprovao e implantao.

    O valor total do empreendimento foi de R$ 39.573,25, dos quais R$ 35.280,00

    foram originados do Acordo firmado entre o Governo do Estado e o Banco Mundial e da

    contrapartida estadual, enquanto R$ 3.920,00, corresponderam aos recursos de

    contrapartida da comunidade.

    Os recursos originados do Acordo de Emprstimo e da contrapartida estadual

    foram destinados para obras civis, equipamentos e mquinas compreendendo: i) galpo; ii)

    fornos iii) mquina maromba para prensagem de telha; iv) mquina laminador para

    trituragem de lama; v) esteira rolante para transporte da lama; vi) bomba de vcuo; vii)

    embreagem mecnica para a mquina maromba; viii) motores eltricos trifsicos de 10 e

    40 cv; ix) carroas de mo com prateleiras de ferro para transporte de telha; x) carroas de

    mo de ferro para transporte de lama; xi) carroas de madeira para transporte de telha; xii)

    quadro de comando para os motores; xiii) mquina para solda; xiv) subestao

    transformadora de energia de 75 KVA; e, xv) bomba centrfuga.

    Os recursos da contrapartida da comunidade foram destinados para a compra de

    barro, lenha e pagamento de mo-de-obra para construo do galpo e fornos e para

    fabricao de tijolos.

    A implantao do subprojeto foi iniciada em maro de 1996 e concluda em junho

    do mesmo ano; o incio da produo se deu no dia 6 de julho de 1996, com 44 scios

    trabalhando diretamente.

  • 27

    3.1.3 A trajetria da ACC

    A trajetria da ACC se inicia com um convite ao Banco do Nordeste para uma

    reunio na comunidade com o objetivo de discutir a possibilidade de financiar um projeto

    de cermica comunitria. O banco compareceu reunio, porm alegou algumas

    dificuldades relacionadas com a sustentabilidade do projeto, decidindo no financi-lo.

    A diretoria da Associao no desistiu do seu pleito; procurou o SEAPAC para

    realizar uma reunio na comunidade com o objetivo de discutir a possibilidade de elaborar

    o projeto e buscar uma fonte alternativa para o seu financiamento.

    Concluda a reunio, o SEAPAC colocou-se a disposio da comunidade para

    ajudar a ACC a elaborar o projeto e buscar fonte de financiamento. Um scio tomou a

    iniciativa de imediato de fazer a doao de um hectare de terra para a associao construir

    a cermica.

    O SEAPAC elaborou o projeto, submetendo-o em seguida apreciao dos scios

    da ACC que o aprovaram por unanimidade. Por sugesto do SEAPAC, o projeto foi

    encaminhado para uma entidade de cooperao internacional, chamada, MISEREOR, que

    tem sua sede na Alemanha, e uma das instituies financiadoras das aes do SEAPAC

    no Estado do Rio Grande do Norte, para obteno de financiamento.

    A MISEREOR mesmo reconhecendo a importncia do projeto, comunicou ACC

    que no momento no havia condies de financiamento, portanto, recomendava que a

    organizao fosse ao poder pblico pleitear esses recursos. Diante disto, o SEAPAC fez

    as adaptaes necessrias ao projeto (a partir de ento denominado subprojeto, na

    linguagem do PCPR) e, encaminhou ao Conselho Municipal do FUMAC do Municpio de

    Parelhas, tendo o mesmo sido aprovado por unanimidade em dezembro de 1.997.

    A ACC foi fundada em 23 de dezembro de 1985, e em 1996, no momento da

    discusso do subprojeto tinha 142 scios. Na atualidade tem 172. Todo esse processo de

    mobilizao contou com a participao massiva dos membros da comunidade, do

    Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Parelhas, da APROVE, e da AOCC.

    O valor total do projeto foi de R$ 42.000,00, sendo R$ 31.500,00 do BIRD, R$

    6.300,00 do Estado e a contrapartida comunitria de R$ 4.200,00. Os recursos financiados

    pelo BIRD/Estado foram para as obras civis (galpo e fornos) e equipamentos compostos

    de: mquina maromba para prensagem de telha, mquina laminador para trituragem de

  • 28

    lama, esteira rolante para transporte da lama, bomba de vcuo, embreagem mecnica para

    a mquina maromba, motores eltricos trifsicos de 10 e 40 cv, carroas de mo com

    prateleiras de ferro para transporte de telha, carroas de mo de ferro para transporte de

    lama, carroas de madeira para transporte de telha, quadro de comando para os motores,

    mquina para solda, uma subestao transformadora de energia de 75 KVA e uma bomba

    centrfuga e assistncia tcnica. Os recursos de contrapartida foram para a compra de

    barro, lenha e mo-de-obra (servente), construo de galpo e fornos, e fabricao de

    tijolos. O subprojeto tambm contou com a participao do programa de convivncia com

    a seca, que aportou mo-de-obra para implantao.

    A implantao do subprojeto foi iniciada em junho de 1998 e concluda no dia 10

    de dezembro, entrando em produo no dia 24 de dezembro do mesmo ano, com 42 scios

    trabalhando diretamente.

    3.1.4 Resultados obtidos na AOCC

    Atualmente a cermica produz 368 milheiros de telhas/ms distribudos da

    seguinte forma: 30% de primeira, 60% de segunda e 10% de terceira. Para melhorar a

    produtividade, torna-se necessrio um processo de aperfeioamento tecnolgico

    objetivando aumentar a participao percentual da telha de primeira e reduzir a

    participao da telha de segunda, j que a telha de terceira est dentro dos limites

    aceitveis.

    O preo da telha vendido na cermica varia muito em funo da poca do ano. De

    julho a dezembro de 1999, quando a atividade atingiu os maiores nveis de produo e

    produtividade, como ocorre todos os anos, por ser o perodo de ausncia de chuvas, os

    preos recebidos por milheiro de telha foram de R$ 65,00 (sessenta e cinco reais) para o

    produto de primeira; R$ 45,00 (quarenta e cinco reais) para a telha de segunda e R$ 20,00

    (vinte reais) para a de terceira.

    No perodo de janeiro a junho, que a poca das chuvas, o processo produtivo

    torna-se mais difcil, h queda de produo e a tendncia dos preos de alta. Os preos

    atualmente recebidos por milheiro do produto so de R$ 80,00 (oitenta reais) para a telha

    de primeira; R$ 60,00 (sessenta reais) para a telha de Segunda; e, R$ 30,00 (trinta reais)

    para a telha de terceira.

    A receita bruta da cermica de R$ 24.000,00/ms para uma despesa de R$

    22.532,00/ms.

  • 29

    A remunerao mdia e total obtida pelos scios que trabalham diretamente no

    processo produtivo encontram-se detalhadas no Quadro 1, a seguir apresentado.

    QUADRO 1 PCPR/RN - Remunerao mdia e total obtida pelos scios da AOCC, 2000

    N DE SCIOS RENUMERAO MDIA/ SCIO

    ABSOLUTO RELATIVO (%) REMUNERAO

    168 2 4,2 336212 20 41,7 4.240240 11 22,9 2.640348 10 20,8 3.480350 5 10,4 1.750

    TOTAL 48 100,0 12.446Fonte: Pesquisa direta

    Alm dos 48 scios trabalhando diretamente na atividade, a Associao necessita

    ainda de prestadores de servios para trabalhos eventuais, contando hoje com dez pessoas

    nessa situao.

    Os trabalhadores indiretos compreendem categorias diversificadas, compostas por

    carregadores, lenhadores, caminhoneiros e caambeiros.

    Com o funcionamento da atividade os scios comearam a perceber a necessidade

    de modernizar a atividade e melhorar a qualidade e quantidade de telha, como forma de

    concorrer com as demais cermicas do municpio e garantir o trabalho dos scios.

    No caso das empresas privadas, o processo de modernizao tem servido para

    desempregar os trabalhadores e aumentar o lucro dos seus proprietrios. Todavia, no caso

    da cermica comunitria, a modernizao um exemplo evidente de melhoria da

    qualidade e quantidade da cermica, de aumento dos postos de trabalho e da remunerao

    mdia por scio do empreendimento.

    Aps a necessidade diagnosticada de modernizao, a comunidade elaborou uma

    proposta para o conselho do FUMAC-P de Parelhas, incluindo os seguintes equipamentos:

    carrinho eltrico, misturador, laminador, duas esteiras e trs motores, no valor total de R$

    17.800,00 (dezessete mil e oitocentos reais). Deste total, integralmente aprovado, R$

    13.425,00 (treze mil quatrocentos e vinte e cinco reais) originaram-se do Banco Mundial;

    R$ 2.685,00 (dois mil seiscentos e oitenta e cinco reais) do Tesouro Estadual; e, R$

  • 30

    1.790,00 (um mil setencetos e noventa reais) de contrapartida comunitria.

    Com a maturao do projeto a Associao tomou um emprstimo ao Banco do

    Brasil num valor de R$ 20.000,00 ao qual acrescentou R$ 7.000,00 de recursos prprios,

    totalizando R$ 27.000,00. Esses recursos foram destinados compra de dois caminhes

    para o transporte de argila e lenha como matria prima para o processo produtivo, os quais

    j se encontram integralmente pagos.

    Alm dos caminhes foi montada uma estrutura com recursos prprios da

    Associao, conforme especificados no quadro abaixo:

    QUADRO 2 PCPR - Investimentos com Recursos Prprios da AOCC, 2000 ELEMENTOS ADQUIRIDOS VALOR DO INVESTIMENTO (R$)

    Bomba a vcuo 2.100Galpo com prateleira 6.000Banheiro 400Fornos 2.400Quarto 1.000Piso galpo 500Mquina vulcanizar 100Material escritrio 146Estoque matria prima (argila) 40.000Carroas 650Grades 3.200Fone celular 800Transformador energia 5.500Lixeira 250Furadeira 370Motor eltrico 400Mquina de solda 270Poo amazonas instalado 1500TOTAL 92.586

    Fonte: Pesquisa Direta

    Outros resultados do projeto encontram-se ilustrados nos indicadores especificados

    no quadro abaixo e nas consideraes adiante formuladas.

  • 31

    QUADRO 3 Bens de Consumo Durvel Adquiridos pela AOCC, 2000

    BENS ADQUIRIDOS ANTES DO SUBPROJETO COM O SUBPROJETO Motocicletas 4 24 Televisores cor 6 34 Antenas parablicas 0 34 Novas casas 0 2 Reforma de casas 0 8

    Fonte: Pesquisa direta

    Alm das mudanas acima referidas, verifica-se que houve outras melhorias, entre

    as quais se incluem a compra e troca de imveis pelos scios, a construo de duas

    residncias, e a recuperao e ampliao de diversas residncias.

    A proximidade dos scios ao local de trabalho, possibilitou os seus respectivos

    retornos atividade agrcola como forma complementar de ocupao e gerao de renda.

    Trinta e dois scios plantam 32 hectares de culturas alimentares e 27 scios criam

    caprinos, ovinos e bovinos em terras prprias ou de familiares.

    As atividades de lazer tambm melhoraram, tanto pela proximidade do trabalho

    como pela melhoria da renda e das condies de vida.

    Com a aquisio dos caminhes o time de futebol, que precisava sempre de ajuda

    para os deslocamentos dos atletas, agora j no mais vivencia esse tipo de dependncia,

    em geral de carter clientelista. A prpria Associao assumiu as despesas dos

    deslocamentos, o que facilitou, por outro lado, a aquisio do material de esporte pelos

    prprios atletas.

    Surgiu nesse perodo um bloco de carnaval da Associao chamado OS 100

    JUZOS.

    A alimentao das famlias melhorou consideravelmente. Antes da Associao, os

    pais de famlia tinham que fazer duas feiras, sendo uma para o local de trabalho, que era

    distante de sua moradia, e outra para o consumo da famlia. Com isso encarecia a despesa

    e empobrecia a qualidade da alimentao. Com o surgimento da cermica os scios

    realizam uma nica feira e fazem as refeies nas suas prprias casas, onde dispem de

    uma alimentao de melhor qualidade.

    Alguns scios voltaram a estudar numa escola que funciona noite, na

  • 32

    comunidade. A alfabetizao de jovens e adultos que antes era impossvel devido a

    distncia da moradia ao local de trabalho, agora tornou-se uma realidade cada dia mais

    visvel. possvel.

    As festas da comunidade tornaram-se mais participativas, pelo fato das pessoas

    terem um poder aquisitivo maior e poderem participar de todas as realizaes

    comunitrias.

    3.1.5 Resultados obtidos na ACC

    Atualmente a cermica produz 400 milheiros de telha/ms distribudos da seguinte

    forma: 30% de primeira, 60% de segunda e 10% de terceira. Para melhorar a

    produtividade, torna-se necessrio um processo de aperfeioamento tecnolgico

    objetivando aumentar a participao percentual da telha de primeira e reduzir,

    conseqentemente a participao da telha de segunda, j que a telha de terceira est nos

    limites aceitveis.

    O preo da telha vendido na cermica varia muito em funo da poca do ano, no

    perodo de julho at dezembro, quando atinge o pique de produtividade e produo face

    ausncia de interrupo da atividade. Nesse perodo o preo da telha tende a ser mais

    baixo, comportando-se da seguinte forma: telha de primeira a R$ 65,00; de segunda a R$

    45,00; e, de terceira a R$ 20,00 o milheiro.

    No perodo de janeiro a junho que a poca das chuvas, a produo difcil, h

    queda de produo e a tendncia do preo da telha subir. Os preos praticados atualmente

    so de R$ 80,00 para a telha de primeira, R$ 60,00 para a telha de segunda e R$ 30,00

    para a telha de terceira.

    A receita bruta da cermica de R$ 24.000,00/ms para uma despesa de R$

    22.532,00/ms.

    A remunerao mdia e total obtida pelos scios que trabalham diretamente no

    processo produtivo encontra-se detalhadas no quadro 4, a seguir apresentado.

  • 33

    QUADRO 4 PCPR/RN - Remunerao mdia e total obtida pelos scios da ACC-2000

    demonstrativo de pessoas ocupadas e remuneraes N DE PESSOAS REMUNERAO MDIA

    MENSAL POR SCIO ABSOLUTO RELATIVO(%) REMUNERAO

    TOTAL

    168 7 16,7 1.176212 5 11,9 1.060240 20 47,6 4.800384 10 23,8 3.840

    TOTAL 42 100,0 10.876Fonte: pesquisa direta

    Alm dos 42 scios trabalhando diretamente na atividade, a Associao necessita

    ainda de prestadores de servios para trabalhos eventuais, contando hoje com 30 pessoas

    nessa situao.

    Com o funcionamento do subprojeto, os scios comearam a perceber a

    necessidade de modernizar a atividade e melhorar a qualidade e quantidade de telha,

    como forma de concorrer com as demais cermicas do municpio e garantir o trabalho dos

    scios.

    No caso das empresas privadas, o processo de modernizao tem servido para

    desempregar os trabalhadores e aumentar o lucro dos seus proprietrios. Todavia, no caso

    da cermica comunitria, a modernizao um exemplo evidente de melhoria da

    qualidade e quantidade da cermica, de aumento dos postos de trabalho e da remunerao

    mdia por scio do empreendimento.

    Aps a necessidade diagnosticada de modernizao, a comunidade elaborou um

    projeto para o conselho do FUMAC-P de Parelhas, encaminhando um projeto incluindo os

    seguintes equipamentos: carrinho eltrico, misturador, laminador, duas esteiras e trs

    motores, no valor total de R$ 17.800,00, sendo R$ 13.425,00 do Banco Mundial, R$

    2.685,00 do Estado e R$ 1.790,00 de contrapartida comunitria.

    Apesar do pequeno espao de tempo de funcionalidade do subprojeto a associao

    j ampliou sua estrutura operacional com recursos prprios conforme quadro 5 a seguir.

  • 34

    QUADRO 5 PCPR/RN Investimentos com recursos prprios da ACC 2000

    ELEMENTOS ADQUIRIDOS VALOR DOS INVESTIMENTOS (R$) Bomba vcuo 2.300Galpo com prateleira 4.000Banheiro 500Fornos 2.000Estoque de matria prima (argila) 20.000Lenha 350Carroas 700Grades 3.200Fone celular 240Furadeira 100Motor eltrico 450Esteira 360Laminador 500Eixo 250Helicide 250Caixa dgua 1.000Poo tubular 4.200Total de Investimentos 40.400

    Fonte: Pesquisa Direta

    Outros resultados do projeto esto ilustrados nos indicadores especificados no

    Quadro 6 e nas consideraes adiante formuladas: QUADRO 6 PCPR/RN Bens de Consumo Durvel Adquiridos pela ACC 2000

    BENS ADQUIRIDOS ANTES DO SUBPROJETO APS SUBPROJETO Motocicletas Televisores cor Antenas parablicas 5 Novas casas 2 Reforma de casas 7 Compra de terra 30 ha

    Fonte: Pesquisa Direta

    Verifica-se, alm dos indicadores acima, que houve outras melhorias, entre as

    quais se incluem a compra e troca de imveis pelos scios, a construo de duas

    residncias, e a recuperao e ampliao de residncias de vrios scios.

    A proximidade dos scios ao local de trabalho, levou as pessoas a voltarem

    atividade agrcola como forma alternativa de ocupao e gerao de renda. Dezenove

    scios plantam 30 hectares de culturas alimentares e 20 scios criam caprinos, ovinos,

  • 35

    bovinos e aves. Todos os scios moram em suas terras e/ou em terras de familiares.

    As atividades de lazer tambm melhoraram, tanto pela proximidade do trabalho

    como pela melhoria da renda e das condies de vida.

    O time de futebol, que precisava sempre de ajuda para o deslocamento dos atletas

    agora j no mais precisa dessa ajuda clientelista. A prpria Associao banca os

    deslocamentos, facilitando a aquisio do material de esporte pelos atletas.

    Surgiu nesse perodo um bloco de carnaval da Associao chamado de N

    CEGOS.

    A alimentao das famlias melhorou consideravelmente. Antes da Associao, os

    pais de famlia tinham que fazer duas feiras, sendo uma para o local de trabalho, que era

    distante de sua moradia, e outra para ficar em casa. Com isso encarecia a despesa e

    empobrecia a qualidade da alimentao. Com o surgimento da cermica feita uma s

    feira; os scios vo almoar em casa e agora tm uma alimentao de melhor qualidade.

    Alguns scios voltaram a estudar numa escola que funciona noite, na

    comunidade. A alfabetizao de jovens e adultos agora possvel. Antes isto no era

    possvel devido a distncia da moradia ao local de trabalho.

    As festas da comunidade tornaram-se mais participativas, pelo fato das pessoas

    terem um poder aquisitivo maior e poderem participar de todas as realizaes

    comunitrias.

    Foi criada uma lanchonete que gerenciada por cinco mulheres da comunidade.

    3.1.6 Gerenciamento do projeto na AOCC

    O gerenciamento do projeto feito atravs da Associao com base em um padro

    especfico de diviso de trabalho entre os scios, onde as decises so tomadas de forma

    participava, em assemblia geral, ficando as responsabilidades assim distribudas:

    a) o presidente responsvel pela compra da matria prima e venda da telha;

    b) o tesoureiro se responsabiliza por todo o setor financeiro e contbil;

    c) o secretrio responsvel pela elaborao das atas das assemblias; pela

    contagem das telhas por ocasio da retirada do forno; e, pela higiene do local

    de produo;

  • 36

    d) o gerente coordena todo o setor de produo;

    e) o mecnico o responsvel pela operao e manuteno das mquinas e equipamentos.

    Todo esse processo s teve xito devido a um conjunto de fatores que caracterizam a

    ao coletiva naquela localidade, entre os quais se destacam a unio entre os scios; a

    experincia e conhecimento da atividade desenvolvida; a moradia prxima ao trabalho; o

    apoio e assistncia tcnica, gerencial e pedaggica prestados por instituies do Estado e

    da Sociedade Civil, entre as quais se destacam o PAPP, SEAPAC e a CAPESA, que

    sempre estiverem presentes na comunidade.

    As dificuldades so representadas pelas altas cargas tributrias, onde o ICMS assume

    posio preponderante, com 63,4% das taxas, impostos e contribuies geradas pelo

    subprojeto, conforme podem ser visualizadas no quadro abaixo:

    Quadro 7 PCPR - Demonstrativo das Taxas, Impostos e Contribuies Geradas pelos

    Sub-projetos ANUAL (R$)

    DISCRIMINAO MENSAL (R$) ABSOLUTA RELATIVA (%)

    ICMS 1.230 14760 63,4IBAMA 1656 7,1PIS 125 1500 6,4CSSL 218 2616 11,2IRPJ 230 2760 11,9TOTAL 23292 100,0

    Fonte: Pesquisa Direta

    A matria-prima principal, composta por argila e lenha encontra-se encontra-se

    escassa e muito distante; falta capital de giro para facilitar a comercializao; a lenha vai

    ser um grande problema devido a fiscalizao do IBAMA, sendo necessria a utilizao

    do gs natural para queima da telha; as estradas so de m qualidade dificultando o acesso

    dos carros; falta um trator para melhorar a argila e uma mquina maior para d maior

    produo; permanece o problema da comercializao, pois as telhas continuam sendo

    vendidas ao atravessador e no ao consumidor direto.

    3.1.7 Gerenciamento do projeto na ACC

    O gerenciamento do projeto feito atravs da Associao com base na diviso de

    trabalho entre os scios, a seguir caracterizada:

    a) o presidente responsvel pela compra da matria prima e venda da telha;

  • 37

    b) o tesoureiro se responsabiliza por todo o setor financeiro e contbil;

    c) o secretrio responsvel pela elaborao das atas das assemblias; pela

    contagem das telhas por ocasio da retirada do forno; e, pela higiene do local

    de produo;

    d) o gerente coordena todo o setor de produo;

    e) o mecnico o responsvel pela operao e manuteno das mquinas e

    equipamentos.

    Todo esse processo s teve xito devido a alguns fatores: unio entre os scios;

    experincia e conhecimento da atividade desenvolvida; moradia prxima ao trabalho;

    apoio e assistncia tcnica, gerencial e pedaggica prestados por instituies do Estado e

    da Sociedade Civil, entre as quais se destacam o PAPP, SEAPAC e a CAPESA, que

    sempre estiverem presentes na comunidade.

    As dificuldades so representadas pelas altas cargas tributrias, conforme podem

    ser visualizadas no quadro 7 abaixo:

    QUADRO 8 PCPR Demonstrativo das Taxas, Impostos e Contribuies Geradas Pelos

    Subprojetos. DISCRIMINAO MENSAL (R$) ANUAL (R$)

    ICMS 1.230 14.760IBAMA 1.656COFINS 580 6.960PIS 125 1.500CSSL 218 2.616IRPJ 230 2.760TOTAL 30.272Fonte: Pesquisa direta

    A matria-prima principal, composta por argila e lenha, muito distante; falta

    capital de giro para facilitar a comercializao; a lenha vai ser um grande problema devido

    a fiscalizao do IBAMA, sendo necessria a utilizao do gs natural para queima da

    telha; as estradas so de m qualidade dificultando o acesso dos carros; falta um trator para

    melhorar a argila e uma mquina maior para d maior produo; permanece o problema da

    comercializao, pois as telhas continuam sendo vendidas ao atravessador e no ao

    consumidor direto.

  • 38

    3.1.8 Capital fsico e social da Comunidade Cachoeira

    professores do estado ganham trs salrios mnimos, 2 professores do municpio- ganham dois salrios mnimos cada e 7 Auxiliar de Servios Gerais do Estado e Municpio- ganham 1,5

    salrios/cada

    2 telefonistas do posto telefnico do municpio ganham um salrio/cada; 1 vigilante do estado ganham um salrio; 1 queijeira comunitria que ocupa duas pessoas com ganho de 2,5

    salrios/cada, e uma renda bruta mensal de R$ 5.500;

    2 bares; 2 mercearias; 1 creche; 1quadra de futsal e voleibol; 55 aposentados que ganham um salrio mnimo/cada; pastoral da Criana que acompanha 28 crianas de 0 a 6 anos; e, ainda da

    orientaes bsicas de sade e evangelizao a 23 famlias;

    1 pocilga onde trabalham cinco mulheres; 1 projeto de remdios caseiros que gera trabalho para seis mulheres e uma

    renda media de R$ 40,00/ms /mulher;

    seresta quinzenal; Escola de 1 a 4 srie; Escola de alfabetizao de jovens e adultos; Posto de sade; 8 poos tubulares; 20poos amazonas; 1 caixa de gua.

    3.1.9 Investimentos realizados com recursos do PCPR na Comunidade Cachoeira

    Construo da sede da Associao;

  • 39

    Ampliao da queijeira; Depsito de rao; Caixa de gua de 24.000 litros; Pocilga; Abastecimento dgua; 02 poos amazonas; 02 cata-ventos