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2019 MERCADO DE CAPITAIS Prof. José Alfredo Pareja Gomez de La Torre Prof. Maurício Leite Prof. Vilmar Siewert Júnior 2 a Edição

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Page 1: Mercado de Capitais - UNIASSELVI

2019

Mercado de capitais

Prof. José Alfredo Pareja Gomez de La TorreProf. Maurício LeiteProf. Vilmar Siewert Júnior

2a Edição

Page 2: Mercado de Capitais - UNIASSELVI

Copyright © UNIASSELVI 2019

Elaboração:

Prof. José Alfredo Pareja Gomez de La Torre

Prof. Maurício Leite

Prof. Vilmar Siewert Júnior

Revisão, Diagramação e Produção:

Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI

Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri

UNIASSELVI – Indaial.

Impresso por:

T689m

Torre, José Alfredo Pareja Gomez de La

Mercado de capitais. / José Alfredo Pareja Gomez de La Torre; Maurício Leite; Vilmar Siewert Junior. – Indaial: UNIASSELVI, 2019.

188 p.; il.

ISBN 978-85-515-0272-3

1. Mercado de capitais. – Brasil. I. Torre, José Alfredo Pareja Gomez de La. II. Leite, Maurício. III. Siewert Junior, Vilmar. IV. Centro Universitário Leonardo Da Vinci.

CDD 332.6

Page 3: Mercado de Capitais - UNIASSELVI

III

apresentaçãoO Mercado de Capitais é peça importante para qualquer atividade

econômica, seja privada ou do setor público, ele é o mercado de valores fundamental para as necessidades de poupança e investimento das economias modernas. Deste a implantação do Plano Real o mercado de capitais só vem crescendo e servindo ao desenvolvimento da economia brasileira, sendo assim parceiro das grandes mudanças e inovações da economia do Brasil.

No contexto da gestão pública o Mercado de Capitais oferece grande apoio para que a atividade pública possa conseguir executar suas atividades, principalmente a partir do momento em que este mercado adquiri mais confiança no gasto público através da Lei de Responsabilidade Fiscal, Lei Complementar nº 101, de 4 de maio de 2000.

Convidamos você a ter um aprendizado interessante e útil sobre o mundo do Mercado de Capitais e como ele pode ser de grande ajuda para a construção de suas competências profissionais. Na primeira unidade estudaremos as Políticas Econômicas e Fundamentos Financeiros necessários para se ter um entendimento sistêmico do Mercado de Capitais.

Na Unidade 2 estudaremos sobre a Estrutura e Normativa Financeira, abordando temas da Estrutura Financeira Nacional, qual a Normativa e Ética no mercado de valores. E finalmente como é que acontece a Intermediação Financeira no mercado de valores.

Na última unidade vamos conseguir identificar quais os Produtos de Investimento Financeiro mais usados, como se realiza a precificação de ativos, e como se calcula os riscos envolvidos no mercado de valores. E finalmente estudaremos sobre a Tributação de Rendimentos.

Lembre-se que estes conhecimentos, com certeza, vão lhe trazer competências profissionais que serão de grande ajuda nas suas projeções como profissional da área de gestão e finanças, seja como profissional do setor público como do privado.

Fique à vontade e aproveite o aprendizado deste caderno e do material de apoio postado na Trilha de Aprendizagem de seu Ambiente Virtual de Aprendizagem (AVA). Desejo-lhe sucesso no estudo desta disciplina, na busca de seu projeto de vida, de se formar como profissional competente.

Bons estudos!

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IV

NOTA

Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto para você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há novidades em nosso material.

Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é o material base da disciplina. A partir de 2017, nossos livros estão de visual novo, com um formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura.

O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova diagramação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo.

Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de nossas ações sobre o ambiente, apresenta também este livro no formato digital. Assim, você, acadêmico, tem a possibilidade de estudá-lo com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador. Eu mesmo, UNI, ganhei um novo layout, você me verá frequentemente e surgirei para apresentar dicas de vídeos e outras fontes de conhecimento que complementam o assunto em questão.

Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa continuar seus estudos com um material de qualidade.

Aproveito o momento para convidá-lo para um bate-papo sobre o Exame Nacional de Desempenho de Estudantes – ENADE. Bons estudos!

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VI

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VII

UNIDADE 1 – NOÇÕES ECONÔMICAS E FINANCEIRAS PARA O MERCADO DE CAPITAIS .........................................................................................................................1

TÓPICO 1 – PRINCÍPIOS ECONÔMICOS .........................................................................................31 INTRODUÇÃO .......................................................................................................................................32 NOÇÕES DE ECONOMIA ...................................................................................................................4

2.1 ECONOMIA POSITIVA E NORMATIVA ......................................................................................42.2 MICROECONOMIA E MACROECONOMIA ..............................................................................6

3 INDICADORES MACROECONÔMICOS RELEVANTES AO MERCADO DE CAPITAIS ........93.1 PRODUTO INTERNO BRUTO (PIB) ............................................................................................ 103.2 ÍNDICES DE INFLAÇÃO ............................................................................................................... 11

3.2.1 Caso prático do impacto da inflação .................................................................................... 123.3 PRODUTO INTERNO BRUTO NOMINAL (PIB NOMINAL) VERSUS PIB REAL ............. 153.4 PIB REAL POR SETORES ECONÔMICOS .................................................................................. 17

4 A TAXA DE CÂMBIO .......................................................................................................................... 194.1 INFLUÊNCIA DO BALANÇO DE PAGAMENTOS NA POSIÇÃO CAMBIAL ................... 214.2 POLÍTICA CAMBIAL ..................................................................................................................... 23

RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................................................ 29AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 30

TÓPICO 2 – PRINCÍPIOS FINANCEIROS E DE INVESTIMENTO ............................................ 331 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 332 TAXA BÁSICA DE JUROS – SELIC .................................................................................................. 33

2.1 SELIC META E TAXAS DE MERCADO ..................................................................................... 363 CONCEITOS BÁSICOS DE CÁLCULO FINANCEIRO PARA O MERCADO DE CAPITAIS .............................................................................................................................................................39

3.1 TAXA MÍNIMA DE ATRATIVIDADE (TMA) E RETORNO DO CAPITAL ........................... 403.2 O REGIME DE CAPITALIZAÇÃO SIMPLES .............................................................................. 41

3.2.1 Operações de curto prazo ...................................................................................................... 433.2.2 Exemplos de operações de curto prazo ............................................................................... 45

3.3 O REGIME DE CAPITALIZAÇÃO COMPOSTA ........................................................................ 473.4 PONDERAÇÃO DE CARTEIRA ................................................................................................... 503.5 CASE DE USO DO MERCADO DE CAPITAIS EM EMPRESAS PEQUENAS ...................... 53

RESUMO DO TÓPICO 2........................................................................................................................ 56AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 57

TÓPICO 3 – DINÂMICA DO INVESTIMENTO FINANCEIRO .................................................. 591 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 592 ANÁLISE COMPARATIVA DE VALORES MOBILIÁRIOS ....................................................... 603 FATORES DA ANÁLISE DE INVESTIMENTOS .......................................................................... 61

3.1 LIQUIDEZ ......................................................................................................................................... 613.2 NÍVEIS DE RISCO ........................................................................................................................... 62

3.2.1 Risco de mercado .................................................................................................................... 623.2.2 Risco de pagamento – crédito ............................................................................................... 64

suMário

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VIII

3.2.3 Risco de liquidez ..................................................................................................................... 654 BENCHMARK E NECESSIDADES DE INVESTIMENTO ........................................................... 67LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................... 72RESUMO DO TÓPICO 3........................................................................................................................ 75AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 76

UNIDADE 2 – ESTRUTURA E NORMATIVA FINANCEIRA ....................................................... 77

TÓPICO 1 – INTERMEDIAÇÃO FINANCEIRA .............................................................................. 791 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 792 ECONOMIA E MERCADO FINANCEIRO ..................................................................................... 80

2.1 INTERMEDIAÇÃO FINANCEIRA E SEUS INTERMEDIÁRIOS ............................................ 82RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................................................ 85AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 86

TÓPICO 2 – SISTEMA FINANCEIRO NACIONAL ....................................................................... 871 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 872 SISTEMA FINANCEIRO NACIONAL: CONCEITOS E FUNÇÕES ......................................... 87

2.1 ÓRGÃOS NORMATIVOS............................................................................................................... 912.2 ENTIDADES SUPERVISORAS ...................................................................................................... 932.3 OPERADORES FINANCEIROS .................................................................................................... 98

RESUMO DO TÓPICO 2......................................................................................................................106AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................107

TÓPICO 3 – MERCADO DE VALORES MOBILIÁRIOS..............................................................1091 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................1092 SISTEMÁTICA DO MERCADO DE VALORES MOBILIÁRIOS ............................................1103 PARTICIPANTES DO MERCADO DE CAPITAIS ......................................................................116LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................125RESUMO DO TÓPICO 3......................................................................................................................126AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................127

UNIDADE 3 – MERCADO FINANCEIRO DE CAPITAIS............................................................129

TÓPICO 1 – PRODUTOS DE INVESTIMENTO FINANCEIRO .................................................1311 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................1312 TIPOS DE INVESTIMENTO............................................................................................................132

2.1 CARACTERÍSTICAS BÁSICAS DOS PRODUTOS FINANCEIROS ......................................1322.2 TIPOS DE RISCO ...........................................................................................................................134

2.2.1 Risco de Crédito ....................................................................................................................1342.2.2 Risco de Liquidez ..................................................................................................................1342.2.3 Risco de Mercado ..................................................................................................................135

2.3 PRODUTOS DE RENDA FIXA ....................................................................................................1352.3.1 CDB – Certificado de Depósito Bancário ..........................................................................1352.3.2 LCI – Letras de Crédito Imobiliário ...................................................................................1392.3.3 Letra de Crédito do Agronegócio .......................................................................................1412.3.4 Debêntures .............................................................................................................................1422.3.5 Títulos Públicos Federais .....................................................................................................149

3 PRODUTOS DE RENDA VARIÁVEL ............................................................................................1563.1 AÇÕES .............................................................................................................................................1563.2 MERCADO DE DERIVATIVOS ...................................................................................................160

LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................163

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RESUMO DO TÓPICO 1......................................................................................................................165AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................168

TÓPICO 2 – PRECIFICAÇÃO DE ATIVOS......................................................................................1711 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................1712 CAPM – CAPITAL ASSET PRICING MODEL ...............................................................................171RESUMO DO TÓPICO 2......................................................................................................................174AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................175

TÓPICO 3 – TRIBUTAÇÃO DE RENDIMENTOS .........................................................................1771 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................1772 TRIBUTAÇÃO DE PRODUTOS DE INVESTIMENTO .............................................................177RESUMO DO TÓPICO 3......................................................................................................................183AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................184

REFERÊNCIAS .......................................................................................................................................185

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X

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UNIDADE 1

NOÇÕES ECONÔMICAS E FINANCEIRAS PARA O MERCADO

DE CAPITAIS

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM

PLANO DE ESTUDOS

A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:

• saber interpretar os principais índices econômicos relacionados ao mercado de valores;

• entender como as condições econômicas influenciam o mercado de capitais;

• saber como aplicar os instrumentos de cálculo financeiro no mercado de valores;

• discernir os referentes de mercado (benchmark) nas decisões que envolvem o mercado de valores.

Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer da unidade você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado.

TÓPICO 1 - PRINCÍPIOS ECONÔMICOS

TÓPICO 2 - PRINCÍPIOS FINANCEIROS E DE INVESTIMENTO

TÓPICO 3 - DINÂMICA FINANCEIRA DE INVESTIMENTO FINANCEIRO

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TÓPICO 1UNIDADE 1

PRINCÍPIOS ECONÔMICOS

1 INTRODUÇÃOAntes de começar, gostaria de lhe perguntar: o que é para você o mercado de

capitais? Em parte, o próprio nome consegue lhe responder. Mas se você aprofundar mais um pouco, o mercado de capitais é onde compradores e vendedores negociam seus títulos, tais como ações, certificados de depósitos, títulos da dívida pública, notas promissórias, cédulas hipotecárias etc. No mundo financeiro esses papéis com valor financeiro são conhecidos como valores mobiliários, e estão sujeitos ao rigoroso controle e regras da Comissão de Valores Mobiliários (CVM).

Essa breve definição permite-nos desenvolver mais um pouco a pergunta. O mercado de capitais permite aos agentes interessados (principalmente empresas e governo) captar recursos dos investidores e distribuir esses recursos conforme a dinâmica da própria economia, refletidos nos valores mobiliários que circulam no mercado de capitais. Isso permite a transferência de recursos monetários entre agentes investidores (com excedente de caixa/superavitários) para os agentes que estão precisando de recursos monetários para diversos fins (deficitários). Podemos dizer que há uma correlação entre a dinâmica do mercado de capitais, tanto nacional como internacional, com o constante fornecimento de recursos monetários para as diversas atividades econômicas, tais como da indústria, do comércio, governo.

Observe que nessa definição do mercado de capitais se fala várias vezes da atividade econômica. Assim, para conseguir entender e atuar no mercado de capitais, é necessário entender os princípios econômicos e financeiros que dinamizam o mercado de capitais do país e do mundo. É precisamente por esse motivo que em toda a Unidade 1 estudaremos sobre isso! Agora, vamos começar nossos estudos falando sobre economia e finanças e seu impacto na movimentação financeira. Vamos lá?

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UNIDADE 1 | NOÇÕES ECONÔMICAS E FINANCEIRAS PARA O MERCADO DE CAPITAIS

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2 NOÇÕES DE ECONOMIAQual o foco da ciência econômica? Existem várias respostas para essa

pergunta, mas existe uma que é bem interessante de se observar, a economia analisa a escassez relativa de recursos objetivando satisfazer as necessidades e desejos da sociedade. Neste caso, quando falamos de recursos, estamos focando nos recursos produtivos (matéria-prima, bens de capital, recurso humano etc.) que são negociáveis no mercado dos fatores da produção para que as empresas possam produzir e ofertar no mercado de bens e serviços e assim satisfazer as diversas necessidades e desejos das pessoas que interagem em sociedade. Segundo Samuelson e Nordhaus (2012, p. 3):

A essência da ciência econômica é compreender a realidade da escassez e, então, conceber como organizar a sociedade de modo a corresponder ao uso mais eficiente dos recursos. É nisso que reside a contribuição específica da ciência econômica.

Diante do exposto, “A essência da ciência econômica é compreender a realidade da escassez [grifo nosso]”, assim, se um bem não é escasso, nós, como consumidores, não percebemos sua real necessidade. Pense no ar que respiramos desde que nascemos até o último dia aqui neste mundo, esse é um bem essencial à vida! Mas como não é escasso, nós, como seres humanos, não nos conscientizamos de seu real valor para nos manter vivos! Isto, em termos econômicos, quer dizer que desde o momento em que um bem se torna escasso, ele se torna um bem com “valor econômico”.

Entretanto, como essa gestão da “escassez” pode ser executada na atividade econômica de um país? Essa atividade é executada por meio dos três grandes agentes econômicos (famílias/consumidores, produtores/empresas e o governo), que negociam seus interesses no mercado. Por um lado, as empresas procuram suas necessidades de produção adquirindo recurso produtivo no mercado dos fatores de produção, e por outro lado, os consumidores procuram satisfazer suas necessidades no mercado de bens e serviços.

Partindo desse conceito básico, a economia vai se focando e especializando nas suas diversas formas, partindo da economia positiva e normativa, até as duas grandes divisões da análise econômica: Microeconomia e Macroeconomia. Neste tópico não vamos aprofundar sobre esses elementos da economia, isso pode nos levar para o estudo de várias páginas! Mas vamos nos focar no essencial para conseguir entender melhor seu vínculo com as atividades do mercado de capitais.

2.1 ECONOMIA POSITIVA E NORMATIVA

Ao estudar uma série de acontecimentos econômicos, a economia se torna positiva e levanta uma série de questionamentos a serem respondidos por meio de ferramentas de análise econômica. Logo, a economia positiva analisa fatos para descrevê-los e assim conseguir responder aos questionamentos sobre o

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TÓPICO 1 | PRINCÍPIOS ECONÔMICOS

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assunto. Enquanto que a economia normativa, por sua parte, analisa as condições econômicas do momento para levantar uma série de condicionamentos que envolvem juízos de valor.

Declarações positivas são descritivas e referem-se a como o mundo é. A declaração de Norma é normativa. Declarações normativas são prescritivas e referem-se a como o mundo deveria ser. (MANKIW, 2013, p. 29)

Segundo o exposto pelo autor, a análise positiva analisa fatos, e a normativa analisa o “como” as coisas deveriam ser, observe os seguintes exemplos:

• Por que o serviço de Uber possui melhores tarifas que o serviço de táxi?• Será que para garantir um mínimo de redução da desigualdade é conveniente

aumentar o universo de pessoas sujeitas ao recebimento da Bolsa Família?• O Brasil deveria negociar com a China para reduzir as tarifas sobre as

importações?• O acordo assinado durante a greve dos caminheiros (21 de maio de 2018) de

fato aumentou a renda destes?• Uma taxa básica de juros (Selic) mais baixa aquece o consumo?• Será que para diminuir a pressão no aumento nos preços (inflação) dever-se-ia

aumentar os juros básicos da economia?

Destes questionamentos, os que abordam uma análise positiva da economia são o primeiro, o quarto e o quinto, e como economia normativa temos o segundo, o terceiro e o sexto. Conseguiu visualizar a diferença? A economia positiva analisa fatos que servem, entre outras coisas, como base para levantar uma série de hipóteses que serão de alimento para desenvolver políticas econômicas, assim, as duas (positiva e normativa) estão intimamente interligadas, observe:

[...] uma visão positiva do mundo afeta a visão normativa sobre quais políticas são necessárias. A afirmação de Polly de que o salário mínimo provoca desemprego, se verdadeira, pode levá-la a rejeitar a conclusão de Norma de que o governo deveria aumentar o salário mínimo. Além disso, as conclusões normativas não resultam apenas da análise positiva, pois também envolvem juízos de valor. (MANKIW, 2013, p. 30)

Essa diferenciação é muito importante levar em consideração, e não só para questões econômicas, mas também para situações complexas no mercado de capitais, nas finanças das empresas e em outras situações. No contexto do mercado de capitais, será que com a diminuição da taxa de juros básica (Selic) consegue-se aquecer o mercado de ações na Bolsa de São Paulo? Se diminuir a atratividade dos títulos da dívida pública (com menores juros, esses papéis se tornam menos rentáveis), consequentemente os investidores irão procurar melhor rentabilidade no mercado de ações. Eis aqui um exemplo de como a análise positiva e normativa pode ser aplicada ao mercado de capitais!

Page 16: Mercado de Capitais - UNIASSELVI

UNIDADE 1 | NOÇÕES ECONÔMICAS E FINANCEIRAS PARA O MERCADO DE CAPITAIS

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2.2 MICROECONOMIA E MACROECONOMIA

No contexto do mercado de capitais é útil entender como a Macroeconomia se torna uma ferramenta de análise efetiva para delinear políticas monetárias. No contexto macroeconômico, a política econômica utiliza os dados vindos dos grandes agregados macroeconômicos visando dinamizar a atividade econômica foco da microeconomia. Isto quer dizer que por meio da análise dos agregados macroeconômicos consegue-se dinamizar a atividade econômica dos agentes econômicos atuantes no mercado.

Observe que a Microeconomia e a Macroeconomia estão interligadas. Em termos analógicos, a Macroeconomia observa os agregados da dinâmica econômica (como se fosse o ecossistema de uma grande floresta). E a Microeconomia é a análise do comportamento individual dos agentes econômicos quando se observa as suas particularidades, isto é, o comportamento do consumidor, o comportamento da empresa e a articulação do governo na atividade econômica. Observe que sem a atividade individual dos agentes econômicos analisados na Microeconomia, simplesmente não haveria Macroeconomia.

A macroeconomia é o estudo do comportamento da economia como um todo. Examina as forças que afetam empresas, consumidores e trabalhadores no seu conjunto. A macroeconomia contrasta com a microeconomia, que estuda os preços, as quantidades e os mercados individualmente. (SAMUELSON; NORDHAUS, 2012, p. 326)

Sem uma inter-relação eficiente entre atividade microeconômica e do grande “ecossistema” macroeconômico, a dinâmica econômica perde estrutura e estaria sujeita ao impacto de diversos choques que poderiam levar até à desintegração da sociedade. Veja a seguir como a microeconomia e a macroeconomia encontram-se inter-relacionadas.

Uma maneira fácil de enxergar essa inter-relação é por meio do fluxo monetário da economia. Nesta interpretação simples do fluxo circular de uma economia apresenta-se uma visão esquemática dos agentes econômicos, na qual as decisões são tomadas pelas:

• Famílias, donas dos recursos produtivos necessários à produção, e como consumidoras, as famílias demandam os bens/serviços produzidos e ofertados pelas empresas.

• Empresas, donas dos meios de produção que compram os recursos produtivos para serem processados e transformados em bens/serviços procurados pelas famílias (consumidores).

Esses agentes interagem nos mercados de bens/serviços, nos quais as famílias procuram satisfazer suas necessidades e desejos comprando as mercadorias e serviços ofertados pelas empresas. A segunda interação destes agentes acontece no mercado de fatores de produção, no qual as famílias (como donas dos recursos produtivos) ofertam esses recursos às empresas.

Page 17: Mercado de Capitais - UNIASSELVI

TÓPICO 1 | PRINCÍPIOS ECONÔMICOS

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FIGURA 1 – FLUXO MONETÁRIO DA ECONOMIA

FONTE: Mankiw (2013, p. 24)

= Fluxo de insumos e produtos

= Fluxo de dólares

Salários,aluguéise lucro

Fatores deprodução

Trabalho,terra ecapital

Bens eserviçosvendidos

Bens eserviçoscomprados

Receita Gastos

Renda

• Produzem e vendem bens e serviços• Contratam e usam fatores de produção

• Famílias vendem• Empresas compram

• Empresas vendem• Famílias compram

• Compram e consomem bens e serviços

• Possuem e vendem fatores de produção

EMPRESAS

MERCADOSDE FATORES

DE PRODUÇÃO

MERCADOSDE BENS E SERVIÇOS

FAMÍLIAS

O conjunto externo de setas representa o fluxo de dinheiro e o conjunto interno de setas refere-se ao fluxo correspondente de insumos e produtos.

Observe que nesse fluxo monetário os Recursos Produtivos são fornecidos por meio de Remunerações, ou incentivos monetários. Recursos que logo são processados e transformados pelas Empresas em bens e serviços a serem ofertados às famílias. A seguir podemos visualizar a dinâmica do mercado dos fatores de produção:

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UNIDADE 1 | NOÇÕES ECONÔMICAS E FINANCEIRAS PARA O MERCADO DE CAPITAIS

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FIGURA 2 - RECURSOS EM TROCA DE REMUNERAÇÕES/INCENTIVOS MONETÁRIOS

FONTE: O autor

Mercado dos fatores da produção

Adquiridos pelas empresas Moeda Local – R$ Ofertados pelos donos dos recursos em troca de R$

Recursos Naturais → Moeda → AluguelRecurso Humano → Moeda → SalárioRecursos de Capital → Moeda → Lucro e JurosRecurso Tecnológico → Moeda → Royalties / RegaliasRecurso Empresarial → Moeda → Lucro

É dessa maneira que o ciclo do fluxo monetário vai se fechando continuamente, pois os donos dos recursos irão receber recurso monetário que será a fonte de renda para as famílias conseguirem consumir o que as empresas ofertarem. Observe que a análise deste fluxo monetário faz parte da microeconomia, pois ela estuda o comportamento dos interesses econômicos tanto dos consumidores como dos produtores em função da dinâmica dos mercados.

No entanto, será que esse fluxo é harmônico, sem apresentar grandes oscilações? Na vida real, a economia possui ciclos de crescimento/aquecimento e de decrescimento/crises econômicas, em função das oscilações no comportamento dos agentes econômicos. Grande parte dessas oscilações acontece pelos seguintes motivos ou vazamentos:

• Mudanças no nível de poupança das famílias - quando as famílias desejam economizar mais do que o normal haverá uma redução no fluxo monetário, logo, uma tendência em reduzir as compras às empresas. Resultado? As empresas começam a ter maiores estoques de produto e logo começam a reduzir sua produção, que por sua vez reduz a demanda de recursos produtivos, reduzindo assim a renda das famílias. Deste modo, o fluxo monetário começa a se reduzir.

• Mudanças nos tributos cobrados pelo governo - se o governo arrecadar mais do que o fluxo a que está habituado, haverá uma redução da renda das famílias a assim apresenta-se uma redução no fluxo monetário.

• Mudanças no saldo líquido da balança comercial - se há um aumento nas importações e as exportações se mantêm iguais, logo, haverá uma diminuição da renda disponível na economia, pois parte da renda das famílias vai para o exterior por meio da compra de produtos importados. Isso acontece porque essa renda paga pelos produtos importados beneficia as empresas lá de fora, no exterior, e não as empresas nacionais, logo, é um fluxo negativo.

Assim, nesses ciclos de crescimento e crises econômicas, os vazamentos do fluxo possuem um papel importantíssimo, e é aí que a análise macroeconômica começa a interagir com a microeconomia. Nesses casos, por meio da análise dos agregados econômicos (macroeconomia), o governo desenvolve suas políticas econômicas, podendo interferir no fluxo monetário para que esses vazamentos parem de acontecer, influenciando, entre outras coisas, o mercado de capitais, assim:

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TÓPICO 1 | PRINCÍPIOS ECONÔMICOS

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• Vazamento da poupança - o sistema financeiro começa a aumentar o nível de empréstimos às famílias e às empresas para incentivar o consumo e assim compensar o vazamento.

• Vazamento dos impostos - o governo pode aumentar seu gasto por meio de investimentos em infraestrutura, novas escolas etc. Assim, essa redução na renda das famílias em função ao aumento dos impostos será compensada pelo aumento do gasto público.

• Vazamento do saldo líquido da Balança Comercial - por meio de incentivos e políticas de comércio exterior, o governo pode incentivar o aumento das exportações, compensando assim esse vazamento de renda ao exterior.

Talvez você esteja se perguntando: interessante rever estes conceitos econômicos, mas qual é sua ligação com o mercado de capitais? Observe que o fluxo monetário depende de moeda para conseguir se manter tanto nos mercados de bens/serviços como no mercado dos fatores de produção. A eficiente dinâmica dessa “moeda”, em grande parte, dependerá do mercado de capitais, logo, para entender melhor a estrutura do mercado de capitais, objeto deste livro de estudos, é importante levar em consideração os conceitos econômicos básicos aqui apresentados.

É precisamente nesse foco que as políticas econômicas ajudam a que essa inter-relação seja o mais eficiente possível dentro do quadro econômico do momento. Vejamos alguns exemplos de quais podem ser os questionamentos macroeconômicos envolvidos na análise do mercado de capitais:

Está ocorrendo um período de exuberância financeira, com os preços das ações subindo rapidamente? Ou o Banco Central está utilizando a política monetária para combater os efeitos da queda dos preços da habitação e de uma crise financeira? (SAMUELSON; NORDHAUS, 2012, p. 326).

Esses questionamentos dificilmente poderiam ser levantados sem antes se ter uma prévia de indicadores dos agregados macroeconômicos, por isso eles serão estudados logo a seguir, levando em consideração o mercado de valores.

3 INDICADORES MACROECONÔMICOS RELEVANTES AO MERCADO DE CAPITAIS

Existe uma série de indicadores macroeconômicos que influenciam diretamente no mercado de capitais e outros indicadores de maneira indireta. Entre os mais relevantes, tem-se: o Produto Interno Bruto (PIB), índices de inflação (principalmente IPCA e IGP-M), taxa básica de juros (Selic), taxa de câmbio, taxa de Certificado de Depósito Interbancário (CDI) e a taxa referencial (TR).

Page 20: Mercado de Capitais - UNIASSELVI

UNIDADE 1 | NOÇÕES ECONÔMICAS E FINANCEIRAS PARA O MERCADO DE CAPITAIS

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3.1 PRODUTO INTERNO BRUTO (PIB)

Para medir o nível econômico de uma região, um dos melhores indicadores é o PIB, mas qual o significado de PIB? Em resumo, ele é a soma das riquezas geradas durante um período por região, pode ser a nível de um estado da federação brasileira, do Brasil, ou até de uma grande região, tal como da União Europeia. No caso do Brasil, o PIB é medido trimestralmente pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

DICAS

Já visitou o site do IBGE? Ele possui interessantes dados econômicos, industriais, geográficos, entre outros, que poderão ajuda-lo em diversas situações, tanto acadêmicas como profissionais. Acesse: <https://www.ibge.gov.br/index.php>.

O PIB pode ser medido desde várias perspectivas, pelo nível da renda do país, pelos fatores da produção ou pelas despesas geradas. Desde o ponto de vista da produção, o PIB é medido pela coleta dos setores da agropecuária, indústria e pela geração de serviços. Segundo fontes do Banco Mundial, no ano de 2017 a geração do PIB por setores produtivos foi: Agropecuária, 10,3%; Indústria, 20,8% e Serviços, 68,8%, conforme podemos observar a seguir:

QUADRO 1 – PIB BRASIL 2017 POR SETORES

FONTE: <https://data.worldbank.org/country/brazil>. Acesso em: 05 ago. 2018.

Geração de PIB por setores produtivos Agropecuária Indústria ServiçosSetor 10,3% 20,8% 68,8%Crescimento por setor -6,6% -3,8% -2,6%

Podemos observar que a geração do PIB do Brasil é majoritariamente gerada pelo setor de serviços, eis a importância dentro do contexto das fontes de recursos monetários para este setor. Mas será que a medição do PIB é diferente se ele é medido desde a perspectiva da geração da renda ou do consumo, e não desde a perspectiva da produção? O valor da medição feita dessa conta (PIB) será exatamente igual sob qualquer dessas perspectivas, observe a figura a seguir, nela é mostrada a geração de fluxo monetário (semelhante à estudada anteriormente), mas com a diferença de que nela se leva em consideração as diferentes perspectivas de geração do PIB.

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TÓPICO 1 | PRINCÍPIOS ECONÔMICOS

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FIGURA 3 – FLUXO MONETÁRIO E A MEDIÇÃO DO PIB

FONTE: Mankiw (2013, p. 467)

= Fluxo de insumos e produtos

= Fluxo de moedas

Salários,aluguéise lucro (=PIB)

Fatores deprodução

Trabalho,terra ecapital

Bens eserviçosvendidos

Bens eserviçoscomprados

Receita(=PIB)

Despesas(=PIB)

Renda (=PIB)

EMPRESAS

MERCADOSDE FATORES

DE PRODUÇÃO

MERCADOSDE BENS E SERVIÇOS

FAMÍLIAS

O PIB é igual ao total das despesas das famílias no mercado de bens e serviços. E é igual também ao total de salários, aluguéis e lucros pagos pelas empresas no mercado de fatores de produção.

Então, a medição do PIB sob qualquer das perspectivas mostradas na figura será igual, logo, são diversas maneiras de analisar os agregados econômicos em função dos objetivos da gestão da política econômica do momento.

3.2 ÍNDICES DE INFLAÇÃO

Seguramente você já deve ter reparado que uma nota de R$ 100,00 de hoje não consegue comprar a mesma quantidade de produtos no supermercado do que uma nota desse mesmo valor há 10 anos. Com certeza, nesse período você poderia adquirir mais produtos, mas quanto mais? Daqui a pouco vamos conferir isso, por meio dos dados estatísticos do IBGE, mas antes disso vamos rever alguns conceitos do que é mesmo a inflação.

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UNIDADE 1 | NOÇÕES ECONÔMICAS E FINANCEIRAS PARA O MERCADO DE CAPITAIS

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A inflação é basicamente a perda de poder aquisitivo de uma moeda considerando o fator tempo, no Brasil essa moeda é o R$. Em outras palavras, a inflação é a elevação dos preços na atividade econômica, segundo Samuelson e Nordhaus (2012, p. 538):

A inflação ocorre quando o nível geral de preços está aumentando. Atualmente, calculamos a inflação recorrendo a índices de preços – médias ponderadas dos preços de milhares de produtos individuais. O índice de preços ao consumidor (IPC) quantifica o custo de uma cesta de bens e serviços de mercado em relação ao custo desse conjunto em determinado ano-base.

E aqui no Brasil, quem faz monitoramento do Índice de Preços ao Consumidor (IPC)? Existem várias instituições que fazem esse monitoramento, esses índices de inflação: “[...] são calculados pelo Instituto Brasileiro de Geografia (IBGE), pela Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (FIPE) e pela Fundação Getúlio Vargas (FGV)” (BRUNI, 2009, p. 77). Em termos nacionais, o índice aplicado é o Índice de Preços ao Consumidor Amplo, o IPCA, este índice:

[...] consiste em um indicador com abrangência nacional, divulgado pelo IBGE, utilizado pelo Banco Central como parâmetro para verificação dos objetivos do Regime de Metas de Inflação desde 1999. A desagregação oficial é a seguinte: alimentação e bebidas (peso de 22,7%), habitação (peso de 16,4%), artigos de residência (peso de 5,7%), vestuário (peso de 5,4%), transportes (peso de 21,4%), saúde e cuidados pessoais (10,6%), despesas pessoais (9,4%), educação (4,8%) e comunicação (3,6%) (BRUNI, 2009, p. 78).

O índice de inflação feito pela FGV é conhecido como Índice de Preços do Mercado (IGP-M) e embora seja também uma ponderação, esta é feita por meio da medição de preços dos grandes setores da atividade econômica, se registrando a inflação desde matérias-primas, atividade agrícola e industrial até chegar ao índice de preços de consumo final. Neste caso do IGP-M é feita uma média ponderada da junção de três grandes índices de abrangência nacional: “Índice de Preços ao Produtor Amplo (IPA-M) – 60%; Índice de Preços ao Consumidor (IPC-M) – 30%; Índice Nacional de Custo da Construção (INCC-M) – 10%” (Índices e Indicadores, 2018).

3.2.1 Caso prático do impacto da inflação

Como foi observado, a inflação é o índice que mede a perda de poder de compra da atividade econômica de uma região, no caso do Brasil a inflação pode ser observada por meio dos índices IPCA, o IGP-M, entre os principais. Entretanto, como essa perda de valor pode ser visualizada? Suponha que você tem nas suas mãos uma nota de R$ 100,00, qual era o poder de compra desta nota há 10 anos? Bem menos, correto? Mas de quanto seria essa perda?

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TÓPICO 1 | PRINCÍPIOS ECONÔMICOS

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Suponha que você vai ao supermercado e com essa nota de R$ 100 consegue comprar um quilo de queijo, R$ 30,00; um quilo de arroz, R$ 3,00; 500 gramas de feijão vermelho, R$ 7,50; diversas verduras e legumes, R$ 20,00; ovos e mais outras proteínas, R$ 30,00; produtos de limpeza, R$ 9,50. O total disso seria R$ 100,00, mas quantas coisas se poderia comprar com essa mesma nota de R$ 100 há 10 anos? Levando em consideração a inflação, com certeza alguma coisa a mais, e para determinar um referencial de poder de compra dessa nota de R$ 100, temos que considerar a inflação dos últimos 10 anos e calcular o valor de compra. Para isso, vamos ter que olhar o índice histórico da inflação dos últimos anos, conforme o quadro a seguir:

QUADRO 2 – PERDA DO PODER DE COMPRA DO REAL

FONTE: Adaptado de IBGE (2018)

Valor do Poder de Compra

Anos Valor Perda depoder

Taxa de Inflação ano*2008 R$ 179,55

2009 169,64 9,91 5,84%

2010 162,20 7,44 4,59%

2011 153,03 9,17 5,99%

2012 144,07 8,96 6,22%

2013 135,72 8,35 6,15%

2014 128,54 7,19 5,59%

2015 119,97 8,57 7,14%

2016 108,37 11,61 10,71%

2017 102,86 5,50 5,35%

2018 100,00 2,86 2,86%

Lembra da fórmula de valor presente aplicada no quadro?Valor Presente: VF x (1 + i)-n , onde: VF = Valor Futuro, i = taxa de juros e n = períodos.A fórmula também poderá ser FV = PV x (1 + i)n, onde: FV= Valor futuro, PV= Valor presente.No cálculo da perda de valor do dinheiro (inflação) mostrado no quadro, trocamos “VF” pelo valor em um ano determinado e ‘i” pela taxa de inflação, exemplo:Valor referencial ano 2009 → R$ 169,64 = 179,55 x (1 + 0,0584)-1

Valor referencial ano 2010 → R$ 169,64 = 179,55 x (1 + 0,0459)-1

Valor referencial ano 2011 → R$ 169,64 = 179,55 x (1 + 0,0599)-1

E assim sucessivamente até chegar ao ano 2018, ano no qual esse valor será de R$ 100,00.Observe que na fórmula do cálculo da perda anual do valor aplica-se “n” = -1. Isso em função de que o período a ser apurado é por cada ano, logo, “n” = - 1.

ATENCAO

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Desse quadro podemos observar que esses R$ 100,00 há 10 anos podiam ter comprado mais 80% de produtos lá no supermercado nesse ano! Em termos econômico-financeiros, essa inflação histórica pode ser interpretada da seguinte maneira:

• Esses R$ 179,55 tiveram uma perda de poder de compra de 44,31% (44,31% = 35/63/85/65/65/6x 100), ou seja, R$ 100,00 = R$ 179,55 – 44,31%, seu cálculo seria assim: R$ 179,55 – 0,4431 x R$ 179,55 = R$ 179,55 – R$ 74,17 = R$ 100,00.

• A inflação média por ano desses últimos 10 anos foi de 6,0275% ao ano, vamos conferir? 6,03% = 179,55 x (1 + 0,060275)-10 ou seja, inflação média de 6,03%n ao ano.

R$ 100,00R$ 179,55

QUADRO 3 - PERDA DO PODER DE COMPRA DO REAL

FONTE: Adaptado de IBGE (2018)

Valor do Poder de Compra

Anos Valor Perda depoder

Taxa de Inflação ano*2008 R$ 179,55

2009 169,64 10,21 6,03%

2010 159,72 9,63 6,03%

2011 150,64 9,08 6,03%

2012 142,07 8,56 6,03%

2013 134,00 8,08 6,03%

2014 126,38 7,62 6,03%

2015 119,19 7,18 6,03%

2016 112,42 6,78 6,03%

2017 106,03 6,39 6,03%

2018 100,00 6,03 6,03%

Observe que em ambos os quadros o valor final desses R$ 179,55, há 10 anos, termina sendo em valores comparativos aos atuais, no ano 2018, de R$ 100,00. A única diferença é que no primeiro quadro leva-se em consideração a taxa histórica de cada ano até chegar a janeiro do ano 2018. E no segundo quadro, leva-se em consideração a taxa média da inflação durante esses 10 anos.

O mais importante deste pequeno estudo sobre a inflação é que não é possível analisar valores monetários entre diferentes períodos sem levar em consideração o fator inflação.

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TÓPICO 1 | PRINCÍPIOS ECONÔMICOS

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Os R$ 100, 00 de hoje não são os mesmos que há 10 anos. Em termos figurativos, árvores de peras e maçãs sâo praticamente iguais, elas produzem frutas semelhantes, mas não iguais. O mesmo acontece com o dinheiro, R$ 100,00 de hoje parecem iguais aos R$ 100,00 de há um ano, mas possuem um poder de compra diferente. Assim, para conseguir equiparar e avaliar o poder de compra do dinheiro em tempos diferentes, sempre é necessário ponderar a taxa de inflação.

Então, para conseguir comparar valores monetários entre dois períodos,

é básico levar em consideração a inflação. Uma vez feito isso, você poderá fazer uma análise de valor entre esses períodos, suponha entre dois anos consecutivos. Essa conscientização do valor real do dinheiro no tempo é fundamental para fazer análises comparativas nos mercados de capitais.

3.3 PRODUTO INTERNO BRUTO NOMINAL (PIB NOMINAL) VERSUS PIB REAL

Uma vez estudadas as noções básicas da inflação, vamos entrar na questão do PIB Nominal versus o Real, que envolve o fator inflação. Será que se consegue comparar o crescimento real do PIB do Brasil em função direta do valor dele em real de um ano para outro? A resposta é não, pois conforme o que acabamos de estudar sobre a inflação, o PIB Real considera o PIB Nominal menos o fator inflação desse período.

IMPORTANTE

Para visualizar melhor isto, suponha a comparação do PIB dos anos 2015 e 2016. Segundo IBGE, eis o resultado: o crescimento do PIB Nominal entre o ano 2015 e 2016 foi de 7%! Passando de R$ 5.9 trilhões para R$ 6,3 trilhões.Acesse o link: <https://agenciadenoticias.ibge.gov.br/2013-agencia-de-noticias/releases/9439-pib-recua-3-6-em-2016-e-fecha-ano-em-r-6-3-trilhoes.html>.

Mas nesses anos o Brasil não estava em recessão? A resposta é sim, o Brasil estava em recessão. Nessa época, de fato, o crescimento econômico real foi negativo, ou seja, houve decrescimento do PIB. Assim, desse crescimento monetário do PIB de 7% devemos descontar o fator da inflação, que foi de 10,6%, segundo o IBGE (2018). Considerando a inflação, qual deveria ser o PIB Real desse ano? O PIB Real será de -3,6% = 7,0% - 10.6%

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UNIDADE 1 | NOÇÕES ECONÔMICAS E FINANCEIRAS PARA O MERCADO DE CAPITAIS

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Observe que o crescimento do PIB em termos monetários cresceu 7% entre esses dois anos, porém, a economia brasileira estava de fato decrescendo. Nesse ano a inflação foi de 10,6%. Logo, essa inflação maior faz com que o poder aquisitivo da moeda perca valor em função do tempo. Deste modo, quando se comparar o PIB ao longo do tempo, sempre será feito conforme a dinâmica do PIB Real e não do PIB em valores correntes (PIB Nominal). Sintetizando, na linguagem econômica:

• O PIB do Brasil em valores correntes ou monetários é medido em R$, conhecido como PIB Nominal, exemplo: o PIB Nominal do ano 2016 foi de R$ 6,3 trilhões.

• O PIB Real é referenciado em porcentagem, leva em consideração o fator da inflação, ou seja, é apurado por meio do crescimento do PIB Nominal (em %) menos o fator da inflação em %. Exemplo: o PIB Real do ano 2016 foi de -3,6%, sinalizando um decrescimento da economia nessa proporção nesse ano.

Deste modo, em termos comparativos há o PIB Nominal, que informa o crescimento em termos correntes, em moeda Real durante um período. E o PIB Real, que informa a geração de riqueza real durante um período, se descontada a inflação.

[...] os economistas usam uma medida denominada PIB real que responde à seguinte pergunta hipotética: qual seria o valor dos bens e serviços produzidos este ano se os avaliássemos com base nos preços vigentes em algum outro ano específico no passado? Quando se avalia a produção corrente a preços fixos em níveis passados, o PIB real mostra como a produção geral de bens e serviços da economia muda com o passar do tempo. (MANKIW, 2013, p. 473)

Por motivos do foco de nossos estudos, não vamos nos aprofundar mais na comparação do PIB Nominal versus PIB Real, mas, para finalizar, vamos fazer a comparação real da economia brasileira durante os últimos anos, tanto do crescimento PIB como do crescimento do PIB per capita.

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TÓPICO 1 | PRINCÍPIOS ECONÔMICOS

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GRÁFICO 1 – CRESCIMENTO DO PIB E PIB PER CAPITA, ANOS 2000 ATÉ 2016

FONTE: <https://bit.ly/2PQ4rMx>. Acesso em: 23 out. 2018

GRÁFICO II.1 - PIB e PIB per capitaTaxa (%) de crescimento anual

10,0

8,0

6,0

4,0

2,0

0,0

-2,0

-4,0

-6,0

PIB per capitaPIB20

0020

0120

0220

0320

0420

0520

0620

0720

0820

0920

1020

1120

1220

1320

1420

1520

16

Observe que no gráfi co está exposto só PIB e não PIB Real. Em termos econômicos, quando se expõe taxas de crescimento do PIB, fi ca subentendido que esse é o PIB Real. Assim, ao fazer comparações de crescimento do PIB durante um período, neste caso, desde o ano 2000 até o ano 2016, não é necessário colocar no gráfi co “PIB Real”. Ao se observar crescimentos em termos de porcentagem (%), automaticamente esse termo “PIB” refere-se ao “PIB Real”.

3.4 PIB REAL POR SETORES ECONÔMICOS

No mercado de capitais é importante saber quais são as perspectivas de crescimento econômico, eis a relevância de conhecer os dados tanto do PIB Nominal quanto do PIB Real. Mas, além disso, para o mercado de capitais também é importante identifi car a tendência de crescimento por setores econômicos e inclusive por regiões dentro do mesmo país. Isso com o objetivo de determinar quais setores poderiam trazer melhores rendimentos aos capitais investidos nos setores de interesse.

Embora o ano 2016 produza um crescimento PIB negativo de -3.6%, ao fi nal desse mesmo ano a economia nacional já tinha sinais de uma leve melhora, se levar em consideração que no ano 2015 o PIB cresceu -3,8%. Inclusive, no último semestre do ano 2016, o PIB teve um decrescimento de -0,9%, conforme o quadro a seguir, que mostra os dados do último trimestre do ano 2016 por setores econômicos:

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UNIDADE 1 | NOÇÕES ECONÔMICAS E FINANCEIRAS PARA O MERCADO DE CAPITAIS

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QUADRO 4 – CRESCIMENTO DO PIB POR SETORES ECONÔMICOS – ÚLTIMO TRIMESTRE DO ANO 2016

FONTE: <https://bit.ly/2Ao5xdh>. Acesso em: 23 out. 2018.

PERÍODO DE COMPARAÇÃO

INDICADORES

PIB AGROPEC INDUS SERV FBCF CONS.FAM

CONS.GOV

Trimestre / trimestre imediatamente anterior (c/

ajuste sazonal)-0,9 1,0 -0,7 -0,8 -1,6 -0,6 0,1

PERÍODO DE COMPARAÇÃO

INDICADORES

PIB AGROPEC INDUS SERV FBCF CONS.FAM

CONS.GOV

Trimestre / trimestre imediatamente anterior (c/

ajuste sazonal)0,4% 1,4% 0,1% 0,1% 0,6% 0,5% -0,4%

Segundo o site do IBGE (2018), o PIB caiu 0,9% no 4º trimestre de 2016 frente ao 3º trimestre, levando-se em consideração a série com ajuste sazonal. É o oitavo resultado negativo consecutivo nesta base de comparação. A agropecuária cresceu 1,0%, enquanto que a indústria (-0,7%) e os serviços (-0,8%) recuaram.

Neste quadro podemos observar que embora o PIB tenha caído -3,6% em 2016, no último trimestre desse ano a queda já não era tão acentuada, inclusive mostra setores com sinais de uma leve recuperação, tais como a agropecuária e consumo do governo (CONS.GOV). Os setores de serviço (SERV.), de investimentos em bens de capital - Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF) - e consumo das famílias (CONS.FAM) ainda estavam em fase de decrescimento. Esses dados são importantes para marcar tendências de investimentos por setores econômicos, ao final desse ano (2016), provavelmente, o mercado de capitais estava mais ativo no setor da agropecuária que nos demais setores.

E no primeiro trimestre do ano 2018, como foi o comportamento do PIB? Segundo os dados a seguir, foram bem melhores que no final de 2016.

QUADRO 5 – CRESCIMENTO DO PIB POR SETORES ECONÔMICOS – PRIMEIRO TRIMESTRE DO ANO 2018

FONTE: <https://bit.ly/2qfjAfr>. Acesso em: 23 out. 2018.

Dentre as atividades econômicas, o crescimento de 0,4% foi favorecido pela expansão de 1,4% da Agropecuária. A Indústria e os Serviços tiveram variação positiva de 0,1%. Na Indústria, houve expansão de 2,1% na atividade de Eletricidade e gás, água, esgoto e limpeza urbana e de 0,6% na Extrativa mineral (IBGE, 2018).

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TÓPICO 1 | PRINCÍPIOS ECONÔMICOS

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Os dois quadros anteriores mostram duas épocas diferentes do comportamento do PIB Real brasileiro. Isso em função das conjunturas do momento poderem marcar a diferença na hora de considerar investimentos em um dos setores econômicos. Assim, na gestão de mercado de capitais há um constante monitoramento do desempenho do PIB. Tendências do desempenho do PIB podem marcar mudanças em vários índices econômicos, entre eles a Taxa de Câmbio e a Taxa Básica de Juros (Selic), conforme iremos estudar a seguir.

4 A TAXA DE CÂMBIOA taxa de câmbio é o valor relativo da moeda nacional versus uma cesta de

outras moedas dos países com os quais o Brasil possui relações comerciais. Desde finais da década de 1990 até hoje, a tendência da taxa de câmbio está marcada pela relação da moeda nacional, R$, versus as principais moedas do comércio internacional, isto é, o dólar americano, US$, e o euro, €. Em menor peso também há uma análise da taxa de câmbio do R$ com a libra esterlina, £, a moeda do Japão, ¥, e a moeda da China, CNY. Até finais do século XX, a libra esterlina era a segunda moeda mais importante depois do US$.

A posição do câmbio mais usada aqui no Brasil é o R$ versus o US$, mas como é feita essa posição comparativa entre essas duas moedas? Fácil, veja a seguir:

• No fechamento do câmbio da sexta-feira, 17/08/2018, segundo o site do BACEN (2018), a taxa de câmbio do real versus o dólar norte-americano na posição de compra estava marcando R$ 3,9389 por US$ 1,00. Isso quer dizer que nesse dia eram necessários R$ 3,94 para adquirir um dólar americano.

Na posição cambial existem várias cotações de US$ conforme os diversos agentes que atuam nesse mercado, mas a cotação oficial é do Banco Central, conhecida como PTAX, segundo Bruni (2009, p. 79):

No Brasil, a taxa PTAX pode ser considerada como a cotação oficial do dólar norte-americano em relação ao real, sendo definida como a taxa média ponderada do dólar norte-americano, praticada no mercado de câmbio, tomando por base as operações no mercado interbancário ao longo do dia.

Há uma série de sites que mostram as posições das moedas internacionais, desde a oficial do BACEN aqui no Brasil até de sites de confiança em nível internacional, seguem:PTAX (BACEN): <https://www4.bcb.gov.br/pec/taxas/port/ptaxnpesq.asp?id=txcotacao>World Currencies da CNN: <https://money.cnn.com/data/currencies/> InfoMoney: <https://www.infomoney.com.br/mercados/cambio>

ATENCAO

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UNIDADE 1 | NOÇÕES ECONÔMICAS E FINANCEIRAS PARA O MERCADO DE CAPITAIS

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No mercado do câmbio existe a posição valorizada ou desvalorizada em função das forças do mercado. Segundo Mankiw (2013, p. 29):

Quando a taxa de câmbio muda de modo que um dólar compre mais moeda estrangeira, essa mudança é chamada valorização do dólar. Se a taxa de câmbio muda de modo que um dólar compre menos moeda estrangeira, essa mudança é chamada desvalorização do dólar. Por exemplo, quando a taxa de câmbio sobe de 80 para 90 ienes por dólar, diz-se que o dólar se valorizou.

Conforme o exposto por Mankiw, as moedas podem sofrer valorizações ou desvalorizações em função de outras moedas, conforme a dinâmica da demanda e oferta no mercado de câmbio. Nesse sentido, se o país começar a exportar ou importar mais, o que irá acontecer? Veja a seguir:

• Posição valorizada da moeda local, o R$, isso pode acontecer quando houver maior demanda de reais versus dólares. Exemplo, há um aumento no volume das exportações, logo, quando os exportadores trouxerem essas vendas ao país deverão liquidar os US$ fruto dessas vendas, devendo comprar moeda local (R$). Assim, essa dinâmica de aumento das exportações pode colocar pressão na taxa de câmbio para valorização da moeda local, o real, ou visto desde outra perspectiva, haverá uma pressão de desvalorização do US$ versus o R$.

• Posição desvalorizada da moeda local, o real isso pode acontecer quando houver maior demanda de dólares versus o real. Exemplo, há um aumento no volume das importações, logo, quando os importadores tiverem que pagar as contas de seus fornecedores lá no exterior, logo, procuram US$ no mercado de câmbio para dar conta dessas obrigações. Assim, essa dinâmica de aumento das importações pode colocar pressão na taxa de câmbio para desvalorização da moeda local, o R$, ou visto desde outra perspectiva, haverá uma pressão de valorização do US$ versus o R$.

Esse foi um exemplo simples das pressões que podem surgir no mercado de câmbio do R$ versus o US$, mas no mercado de câmbio atuam outros fatores além da Balança Comercial (exportações menos importações), há também a entrada e saída de capitais, pagamento de juros ao exterior, cobrança de lucros das empresas brasileiras no exterior, etc. Nesse sentido, quando há um aumento na entrada de US$ no país, haverá também pressão para uma valorização da moeda local, o R$. Isso acontece porque todos esses US$ entrando no país devem ser vendidos para comprar R$. Logo, esses dólares vão ficando no Banco Central do Brasil (BACEN), mas em troca de R$ circulando na economia, movimentação que é medida por meio do Balanço de Pagamentos.

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TÓPICO 1 | PRINCÍPIOS ECONÔMICOS

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4.1 INFLUÊNCIA DO BALANÇO DE PAGAMENTOS NA POSIÇÃO CAMBIAL

O saldo em divisas (cesta de diversas moedas internacionais) que vai ficando no BACEN vai se refletindo nas Reservas Internacionais do país. Assim, o que gera pressões para uma valorização ou desvalorização da moeda local são as oscilações do saldo líquido de todas as entradas e saídas de divisas ao país. Esse saldo líquido é conhecido como saldo líquido do Balanço de Pagamentos. Mas o que quer dizer Balanço de Pagamentos?

Em termos monetários, todas as atividades comerciais e financeiras que o país faz continuamente ficam registradas na conta nacional conhecida como Balanço de Pagamentos, e o resultado de todas essas movimentações é o saldo líquido do Balanço de Pagamentos, que alimenta as Reservas Internacionais quando esse saldo líquido for positivo, porém quando for negativo, vai reduzir as Reservas Internacionais. Nesse sentido, essas Reservas Internacionais têm uma função importantíssima de garantir as transações internacionais. Logo, quanto melhor for o posicionamento das Reservas Internacionais, maior estabilidade traz à taxa de câmbio. Eis a importância da gestão das entradas e saída de divisas ao país. E entre os fatores mais importantes das oscilações do saldo líquido de divisas, são tanto a Balança Comercial como a movimentação de capitais entrando e saindo do país.

Além do fato de manter uma boa posição das reservas internacionais está a questão das perspectivas dessas do saldo líquido do Balanço de Pagamento. Assim, quando há a presença de uma crise econômica prolongada, isso se reflete como um risco à dinâmica das reservas internacionais, logo, pressões para uma desvalorização da moeda local, o R$. Fato que aconteceu nos anos 2014 e 2015, nessa época o real passou praticamente de R$ 2,00 para R$ 4,00 para comprar 1,00 US$, veja a seguir a disparada do US$ nessa época:

GRÁFICO 2 – DISPARADA DO DÓLAR EM 2015

FONTE: <https://glo.bo/1mqrVZl>. Acesso em: 24 out. 2018.

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UNIDADE 1 | NOÇÕES ECONÔMICAS E FINANCEIRAS PARA O MERCADO DE CAPITAIS

22

Essa disparada do US$ no ano 2015 é um reflexo das perspectivas dos mercados de alto risco da economia brasileira, logo, se apresentou uma disparada na procura de US$, fazendo com que a posição cambial mudasse para quase R$ 4,00 por 1,00 US$ ao final do ano 2015. Isso apresentou uma tendência de produzir a possibilidade de obter um saldo líquido negativo do Balanço de Pagamentos. Lembre-se de que o Balanço de Pagamentos, na maioria dos países, é referenciado em US$ e “[...] é um demonstrativo sistemático de todas as transações econômicas entre o país e o restante do mundo. Seus componentes principais são a conta corrente e a conta financeira”. (SAMUELSON; NORDHAUS, 2012, p. 538).

Então, qualquer mudança que acontecer, ou que “tem perspectivas de acontecer”, na Balança de Pagamentos se reflete na taxa de câmbio. Assim, a correta gestão do saldo líquido desta conta nacional é fundamental à estabilidade da taxa de câmbio. Veja a seguir as contas de entrada e saída de divisas que podem influenciar o Balanço de Pagamentos:

QUADRO 6 – ENTRADA E SAÍDA DE DIVISAS

FONTE: O autor

(+/-) Saldo Líquido das Transações Correntes

Valor líquido da Balança Comercial + Valor Líquido da Balança de Serviços + Valor das Transferências Unilaterais Correntes.

(+/-) Saldo em Conta de Capital e Financeira

(+/-) Investimentos Diretos(+/-) Empréstimos

(+) Estrangeiros Investindo no país

(-) Brasileiros Investindo no Exterior.

(+) Novos Empréstimos (-) Amortizações desses Empréstimos

(+/-) Capitais de Curto Prazo (+) Entrada destes (-) Saída destes(+/-) Saldo do Balanço de

Pagamentos Saldo que vai alimentando às Reservas Internacionais

Observe que o resultado do saldo do Balanço de Pagamentos gera aumento ou redução das Reservas Internacionais, o que por sua vez se reflete na posição cambial, assim:

• Se há saldo positivo no Balanço de Pagamentos, haverá melhora nas Reservas Internacionais, logo, pressão para uma valorização da moeda nacional.

• Se há saldo negativo no Balanço de Pagamentos, haverá redução das Reservas Internacionais, logo, pressão para uma desvalorização da moeda nacional.

O resultado final do balanço internacional de pagamentos revela a posição do país em suas transações externas como um todo. As situações de déficit indicam saídas de reservas cambiais superiores às entradas, implicando geralmente queda das reservas cambiais; superávits, contrariamente, indicam ingressos líquidos de recursos, com o aumento dos estoques de ativos externos do país. (ROSSETTI, 2003, p. 888)

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TÓPICO 1 | PRINCÍPIOS ECONÔMICOS

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No contexto das moedas emergentes, o Brasil possui reservas internacionais muito sólidas, equivalentes a mais de 14 meses de importações. Segundo o Banco Central do Brasil, as reservas internacionais para o mês de julho de 2018 somaram US$ 379,44 bilhões. Esse é um dos motivos do porquê, durante os meses de junho, julho e agosto de 2018, perante a forte crise de câmbio e fortalecimento do dólar na maioria de países ao redor do mundo, o real teve uma menor desvalorização, se se comparar com outras economias emergentes, tais como a disparada do dolar na Argentina, na Turquia e outros países.

Essa condição econômica de fortes reservas internacionais ajuda a reduzir uma maior desvalorização da que já se vem experimentando no ano 2018, se se levar em consideração a conjuntura de risco político lá fora, e aqui no Brasil perante as eleições presidenciais do mês de outubro de 2018, e do crescente aumento do gasto público. Em resumo, o Brasil, ao ter ótimas reservas internacionais (reflexo da gestão do Balanço de Pagamentos), é um fator determinante de redução de risco da dinâmica econômica do país, ajudando para ter uma melhor posição cambial relativa em função das condições econômicas e políticas internacionais. Segundo Máximo (2018, s. p.),“Exportação e reserva internacional mantêm risco país em níveis baixos”.

4.2 POLÍTICA CAMBIAL

As reservas internacionais servem como ferramenta para aplicações da política cambial dos países. E em função da dinâmica própria da economia nacional, o país pode decidir como interagir com o resto do mundo. Essa política cambial é executada pelo governo, e segundo a conjuntura econômica e competitividade nacional, o governo toma a decisão da maneira mais adequada para que sua moeda possa se relacionar no mercado de câmbio.

Essa definição de como o país vai se relacionar no mercado de câmbio é feita por meio de três grandes modelos: a Taxa Cambial Flutuante, a Taxa Cambial Fixa e a Taxa de Flutuação suja.

Por meio da Taxa Cambial Flutuante o país deixa o valor da moeda flutuar conforme as próprias forças do mercado cambial atuantes. Mas quais são essas forças atuantes no mercado de câmbio? Essas forças são determinadas principalmente por dois grandes fatores:

• Pelo saldo líquido do Balanço de Pagamentos e o posicionamento das reservas internacionais, isto é, o saldo líquido de tudo o que entra no país menos o que está saindo, conforme estudamos anteriormente.

• Pelas expectativas econômicas da própria dinâmica desse saldo líquido do Balanço de Pagamentos. Essas expectativas possuem fatores tanto internos da própria economia e política nacional, como de fatores externos do resto do mundo.

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UNIDADE 1 | NOÇÕES ECONÔMICAS E FINANCEIRAS PARA O MERCADO DE CAPITAIS

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A política cambial flutuante traz algumas vantagens, mas também traz desvantagens, aí cabe ao governo ponderar e determinar se vale a pena executar este tipo de política. As vantagens é que a própria posição cambial da moeda vai determinando gradativamente como essas forças expostas acima vão se encaixando no valor relativo da taxa de câmbio. Sendo as forças do mercado um fator diário, a taxa de câmbio sofre mudanças gradativas, pequenos impactos. Mas qual poderia ser uma desvantagem?

A desvantagem é que ao deixar o câmbio exposto 100% às forças do mercado, consequentemente, a moeda nacional fica muito exposta aos grandes choques e/ou mudanças drásticas das próprias forças do mercado, principalmente da entrada e saída de capitais estrangeiros. Pelo fato de ser uma taxa flutuante, há um fator de alto risco, que pode prejudicar as exportações, quando houver uma valorização muito drástica do R$; como também pode prejudicar as importações e/ou o controle da inflação quando houver uma desvalorização drástica.

DICAS

Qual o significado de mercado de câmbio paralelo? É o mercado de câmbio informal, sem a intervenção das instituições financeiras autorizadas pelo Banco Central. Geralmente, há mercado paralelo quando a taxa de câmbio oficial está fixada num patamar artificialmente elevado. Ficou curioso? Acesse o artigo sobre o mercado paralelo na Argentina, país que há vários anos vem aplicando uma política de taxa fixa de câmbio: <http://exame.abril.com.br/mercados/noticias/dolar-paralelo-retoma-alta-apesar-nova-medida-da-argentina>

Qual o significado de divisas? É a disponibilidade de moedas estrangeiras que possui um país.

ATENCAO

Entretanto, a política de taxa cambial fixa permite ao país segurar choques muito drásticos vindos das forças do mercado de câmbio. Em função disso, muitos países ficam tentados em determinar taxas de câmbio fixas, mas será que vale a pena segurar a taxa de câmbio mesmo quando o mercado dá sinais de mudança? No curto prazo até poderia dar certo, mas no longo prazo é bem possível que não, conforme você irá ler mais adiante.

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TÓPICO 1 | PRINCÍPIOS ECONÔMICOS

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A dinâmica da política de taxa cambial fixa opera da seguinte maneira: O Banco Central define o valor fixo da taxa de câmbio, como aconteceu na primeira fase do Plano Real, lá em 1994. Nessa época, o governo fixou o valor da nova moeda, o real, em R$ 1,00 = US 1,00. Essa fixação do câmbio ajudou, e muito, a combater as pressões da hiperinflação da época. Mas será que o governo dessa época segurou o câmbio nesse valor R$ 1,00 = US 1,00 por muito tempo? O governo dessa época segurou o câmbio nesse patamar até cumprir sua meta de derrubar o excesso de inflação enraizada na economia brasileira. Mas logo após cumprir sua meta, o câmbio voltou para seu patamar flutuante.

Como norma de política econômica, uma taxa fixa é implantada por um prazo determinado para cumprir finalidades específicas. Observe que com ou sem fixação de taxas cambiais, no longo prazo as forças do mercado tomam conta das posições cambiais. Levando isso em consideração, o governo da época, com o Plano Real, desenvolveu duas grandes fases da nova moeda:

• Primeira fase: 1994 até 1998, o real ficou fixo. O objetivo disso era combater a alta inflação estrutural de época. Ao executar a estratégia de taxa de câmbio fixa, os produtos importados não iriam subir de preço, enquanto os nacionais teriam que parar de indexar seus preços à inflação. Resultado disto? Ser mais uma ferramenta para baixar a alta inflação da época.

• Segunda fase: Gradativamente a moeda nacional, o real, começou a flutuar sob as forças do mercado de câmbio. Apesar do Plano Real ter tido um tremendo sucesso em diminuir a alta inflação, gradativamente o real vinha ficando exposto demais às forças do mercado, se sobrevalorizando e ficando em um patamar artificialmente elevado.

Com o real artificialmente sobrevalorizado, formou-se uma situação de excesso de importações. Nessa conjuntura, os agentes econômicos preferiam comprar produto importado (artificialmente barato) em detrimento da oferta da produção nacional (artificialmente cara). Como a produção nacional foi ficando cara demais, as empresas começaram a vender e exportar menos. O resultado disso? Houve uma queda drástica na produção nacional e demissões em massa, ou seja, a taxa de câmbio fixa já começou a ser uma ameaça gravíssima à economia do Brasil.

Esse breve resumo histórico deixa claro que as taxas de câmbio fixas servem por tempos determinados, tais como em épocas de pressões inflacionárias altas. Assim, ter metas objetivas a serem cumpridas por um tempo determinado, com uma taxa de câmbio fixa, é uma grande vantagem.

A desvantagem é que se esta situação for mantida por períodos mais longos do que o necessário, pode elevar o risco de reduzir drasticamente as reservas internacionais, prejudicando a produção nacional e a geração de emprego, entre outras coisas.

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UNIDADE 1 | NOÇÕES ECONÔMICAS E FINANCEIRAS PARA O MERCADO DE CAPITAIS

26

Como podemos observar, tanto a política de taxas de câmbio flutuantes como a de taxas de câmbio fixas apresentam vantagens e desvantagens. A aplicação deste tipo de política depende em muito da análise conjuntural da economia. Geralmente, os países tendem a ter uma política de câmbio flutuante, mas controlando as grandes oscilações do mercado de câmbio, e no Brasil não é diferente, isso é conhecido como política cambial suja.

A política cambial suja consiste basicamente em deixar flutuar a taxa de câmbio entre duas grandes bandas. Essas duas grandes bandas possuem um teto máximo, até o qual a moeda nacional pode se desvalorizar; e um piso mínimo, até o qual a moeda nacional pode se valorizar. Fora dessa banda, o Banco Central poderá intervir no mercado de câmbio, servindo como um amortizador, até deixar as forças do mercado determinarem o percurso do câmbio, mas minimizando o impacto.

Isto quer dizer que o Banco Central do Brasil faz gestão para evitar grandes oscilações no câmbio, ou pelo menos amenizá-las. O respaldo para fazer isto são as reservas internacionais, executando intervenções no mercado, por meio de compra e venda de divisas (moeda estrangeira). Mas como é a dinâmica disto?

Se executar a compra de US$, o Banco Central (Bacen) incentiva a demanda de US$, assim, o Bacen concorre na demanda de dólares com os importadores, se apresentando uma situação de pressão de “desvalorizar” a moeda nacional. Isto é feito para combater pressões drásticas de valorização do real.

Se executar a venda de US$, o Bacen estará fazendo o efeito contrário do exposto anteriormente. Ou seja, incentiva a demanda de real e o Bacen estará concorrendo com os exportadores na venda de US$, e assim valorizando o real. Isto é feito para combater pressões drásticas de desvalorização do real.

A taxa de câmbio em finais do mês de julho de 2018 estava perto dos R$ 3,90 por US$ 1,00. Será que o dólar norte-americano já estava antes nesse patamar? A resposta é sim, conforme podemos observar no seguinte gráfico.

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TÓPICO 1 | PRINCÍPIOS ECONÔMICOS

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GRÁFICO 3 – OSCILAÇÃO DO REAL DESDE O ANO 2000 ATÉ 2014

FONTE: <https://bit.ly/2Pbb93w> Acesso: 19 ago. 2018.

1 (u

.m.c

./US$

)

1 - Taxa de câmbio - Livre - Dólar americano (venda) - diário01/01/2000 01/01/2002 01/01/2004 01/01/2006 01/01/2008 01/01/2010 01/01/2012 01/01/2014

4

3

2

1

0

3,75

3,25

2,25

1,25

0,25

2,75

1,75

0,75

3,5

2,5

1,5

0,5

GRÁFICO 4 - OSCILAÇÕES DO REAL DESDE 2014 A 2018

FONTE: <https://www.mises.org.br/Article.aspx?id=2901> Acesso 04 de nov. de 2018

BRAZILIAN REAL

SOURCE: TRANDING ECONOMICS.COM | OTC INTERBANK

2014 2015 2016 2017 2018

4,5

4

3,5

2,5

3

2

Como acabamos de estudar, existe uma série de variáveis econômicas que infl uenciam na atividade do mercado de valores, tais como as oscilações da taxa de câmbio, a infl ação do momento e a perspectiva desta mesma taxa. Mas existem outras variáveis econômicas importantes para construir nosso entendimento econômico no contexto do mercado de capitais, a serem estudadas logo no seguinte tópico. Em especial estaremos nos focando na taxa básica da economia brasileira, a Taxa Selic. Veja a seguir a infl uência da infl ação durante o primeiro semestre do ano 2018 na atividade econômica.

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UNIDADE 1 | NOÇÕES ECONÔMICAS E FINANCEIRAS PARA O MERCADO DE CAPITAIS

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IMPORTANTE

Acompanhe o artigo "IGP-M tem alta de 0,51% em julho e de 8,24% em 12 meses" publicado na Valor Econômico, disponível em: <https://www.valor.com.br/brasil/5696267/igp-m-tem-alta-de-051-em-julho-e-de-824-em-12-meses> Acesso em: 24 out. 2018.

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Neste tópico, você aprendeu que:

• O mercado de capitais permite aos agentes interessados (principalmente empresas e governo) captar recursos dos investidores e distribuir esses recursos conforme a dinâmica da própria economia, refletidos nos valores mobiliários que circulam no mercado de capitais.

• Para conseguir entender e atuar no mercado de capitais é necessário entender os princípios econômicos e financeiros que dinamizam o mercado de capitais do país e do mundo.

• A economia positiva analisa fatos que servem, entre outras coisas, como base para levantar uma série de hipóteses que servirão para desenvolver políticas econômicas.

• O governo, por meio de suas políticas econômicas, pode interferir no fluxo monetário para que as oscilações nos vazamentos parem de acontecer, influenciando, entre outras coisas, o mercado de capitais.

• Existe uma série de indicadores macroeconômicos que influenciam no mercado de capitais, entre os mais relevantes tem-se: o Produto Interno Bruto (PIB), índices de inflação (principalmente IPCA e IGP-M), taxa básica de juros (Selic), taxa de câmbio, taxa de Certificado de Depósito Interbancário (CDI) e a taxa referencial (TR).

• Banco Central do Brasil faz gestão para evitar grandes oscilações no câmbio, ou pelo menos amenizá-las. O respaldo para fazer isto são as reservas internacionais, executando intervenções no mercado, por meio de compra e venda de divisas (moeda estrangeira).

RESUMO DO TÓPICO 1

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1 Em termos econômicos o que permite, ou viabiliza, o Mercado de Capitais, e como essa “viabilização” é representada em termos de valor?

2 Qual a diferença entre economia positiva e normativa?

3 Conforme as diferenças entre economia positiva e normativa, observe as seguintes situações e defina se elas se encaixam no campo da economia positiva ou normativa.

a) Por que o serviço de delivery consegue ofertar melhores preços de pizzas que as pizzas ofertadas no restaurante?

b) Será que para aumentar o número de estudantes no Ensino Fundamental é conveniente para iniciar um programa tipo bolsa de estudos para as famílias mais pobres?

c) O Brasil deveria analisar a possibilidade de negociar acordos bilaterais com o México, visando reduzir as tarifas das mercadorias comercializadas entre esses dois países?

d) Uma taxa mais alta de juros consegue reduzir as pressões inflacionárias?

4 Qual é a ligação do fluxo monetário da economia com o mercado de capitais?

5 Suponha que a inflação histórica dos últimos anos é a apresentada no quadro a seguir, qual será o equivalente de poder de compra de R$ 1.661,36 do ano 2008? Para responder, favor preencher o quadro.

AUTOATIVIDADE

Valor do Poder de Compra

Anos Valor Perda depoder

Taxa de Inflação ano*2008 R$ 1.661,36

2009 7,00%

2010 5,00%

2011 4,90%

2012 5,80%

2013 6,50%

2014 4,00%

2015 5,00%

2016 8,00%

2017 4,00%

2018 2,00%

Nota: taxa supostaFONTE : O autor

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6 Conforme a inflação histórica exposta no exercício anterior (suposta), determine os valores médios do poder de compra dessa inflação no quadro a seguir:

7 Qual a diferença entre o PIB Nominal e o PIB Real?

8 O que é uma posição valorizada do R$ perante ao US$?

Valor do Poder de Compra

Anos Valor Perda depoder

Taxa de Inflação ano*2008 R$ 1.661,36

2009 5,21%

2010 5,21%

2011 5,21%

2012 5,21%

2013 5,21%

2014 5,21%

2015 5,21%

2016 5,21%

2017 5,21%

2018 5,21%

Nota: taxa supostaFONTE : O autor

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TÓPICO 2

PRINCÍPIOS FINANCEIROS E DE INVESTIMENTO

UNIDADE 1

1 INTRODUÇÃOPara conseguir ter uma visão sistêmica (global) da dinâmica do Mercado de

Valores, além de conhecimentos básicos de economia, é necessário entender como funciona o custo do capital - representado como taxa de juros – e como ele pode ser usado nas diversas situações que se apresentam no dia a dia deste mercado. Esse custo do capital está diretamente relacionado às decisões de investimento, conforme iremos descobrir nas seguintes linhas deste caderno de estudos.

Caro acadêmico, é importante ficar atento às dicas e sugestões de leituras, assim como a realização das autoatividades para que os conhecimentos sejam aprofundados e praticados suficientemente, afim de que possa adquirir e internalizar os conceitos necessários para sua formação.

Explore as informações apresentadas neste Livro de Estudo, buscando ampliar o conhecimento através do interesse e do empenho.

2 TAXA BÁSICA DE JUROS – SELICAs taxas de juros em uma economia vão se estabelecendo conforme

a oferta de emprestar e demanda do recurso monetário, ou seja, os agentes econômicos que tiverem capital para emprestar procuram rentabilidade pelo uso de seu capital (investimentos), isto é, geração de juros por meio de uma taxa. Entretanto, quem tiver necessidade de usar esse capital terá que pagar pelo uso desses fundos emprestados em função do tempo desses empréstimos. Entretanto, a disponibilidade e o interesse real de emprestar por parte dos investidores fica em função de dois grandes fatores:

• O nível de risco que o investidor esteja disposto a aceitar.• O nível de rentabilidade que o investidor esteja aspirando.

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UNIDADE 1 | NOÇÕES ECONÔMICAS E FINANCEIRAS PARA O MERCADO DE CAPITAIS

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Nessa lógica, quanto maior for o risco do investidor, maior a rentabilidade, ou seja, maior a taxa de juros. Por outro lado, numa situação de menor risco, o investidor terá que aceitar uma menor taxa de juros. Na dinâmica econômica do Brasil e da maioria dos países que possuem uma economia relativamente bem estruturada, a taxa com menor risco será dos papéis da dívida pública. Mas por que isso? Porque em uma economia bem estruturada há menor nível de risco de default (inadimplência) nos empréstimos emitidos pelo governo.

Quanto mais estruturada e estável for uma economia, menor será a taxa de juros da dívida pública desse país. Desde a Segunda Guerra Mundial, a dívida mais segura do mundo e de menor taxa de juros, em termos relativos, é a do Tesouro dos Estados Unidos, conhecida como a taxa FED (Federal Reserve). Comparativamente, o FED é o Banco Central dos Estados Unidos. Então, em economias bem estruturadas, a taxa de juros da dívida pública é a taxa básica! Isso é assim porque a partir dessa taxa é que o risco vai aumentando, logo, vai aumentando o custo dos juros.

No Brasil acontece igual, aqui a taxa da dívida pública é a taxa base de todas as demais taxas da economia brasileira que vão se escalonando em função de seu risco. Essa taxa com menor risco no Brasil é conhecida como Taxa Básica Selic.

A taxa que remunera exclusivamente a liquidez é aquela ofertada pelo agente econômico de menor risco, sempre representado pelo governo da nação. No Brasil, o agente é o Governo Federal e a taxa decorre das operações com títulos públicos, registradas no Sistema Especial de Liquidez e Custódia (BRUNI, p.81, 2009)

Assim, conforme o exposto por Bruni (2009) podermos dizer que a SELIC é reconhecida como a taxa básica da economia brasileira, a qual determina o custo financeiro dos títulos públicos. Deste modo, é o Governo por meio do Banco Central (BACEN) que possui a capacidade de nortear a taxa mínima da economia brasileira em função de uma série de fatores macroeconômicos, tais como:

• Pressões inflacionárias - o BACEN poderia aumentar a taxa Selic para restringir o giro monetário e assim reduzir a inflação.

• Redução da atividade econômica e desemprego - o BACEN poderia reduzir as taxas de juros para incentivar o giro monetário e ajudar a atividade econômica a se recuperar.

• Aumento da taxa de juros básica do FED (Federal Reserve) nos Estados Unidos - se a maior economia do mundo está prevendo pressões inflacionárias no seu país, esse país poderia aumentar sua taxa básica, logo, todas as economias do mundo deverão ponderar isso em função de sua própria dinâmica. Marcando uma tendência de alta das taxas básicas dos juros na maioria dos países, caso contrário as moedas locais poderiam sofrer uma desvalorização.

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TÓPICO 2 | PRINCÍPIOS FINANCEIROS E DE INVESTIMENTO

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Essa possível desvalorização pode acontecer quando a taxa de juros sobe nos EUA, porque os capitais estrangeiros investidos em diversas economias, entre elas a do Brasil, começam a emigrar para os EUA em função do aumento da rentabilidade dessa dívida “considerada” a mais segura. Assim, países como o Brasil podem sofrer uma saída de capitais de suas economias, logo, haverá maior demanda de dólar, deixando caminho para a valorização dessa moeda, o que vem acontecendo durante o ano de 2018. Desse modo, quando a FED mexe nas taxas de juros, todo o mundo fica de olho, veja a seguir:

IMPORTANTE

FED ANUNCIA AUMENTO DA TAXA DE JUROS NOS ESTADOS UNIDOS PELA SEGUNDA VEZ NO ANO

Por Karina Trevizan, G1. 13/06/2018

Federal Reserve (Fed), banco central dos Estados Unidos, anunciou nesta quarta-feira (13) a decisão de aumentar a taxa de juros no país pela segunda vez neste ano, de 1,5% a 1,75% ao ano para 1,75% a 2%.A elevação era esperada pelo mercado, já que o BC dos EUA monitora os sinais de crescimento da economia do país para conduzir o chamado aperto monetário (aumento de juros).Em maio, foram divulgados números positivos sobre o mercado de trabalho nos EUA, com criação de 223 mil postos e taxa de desemprego de 3,8% - a menor em 18 anos. Agora, a estimativa é de aumento nos índices de inflação, o que aumenta as expectativas por um movimento de alta dos juros.A última vez em que o Fed havia aumentado os juros nos EUA foi em março deste ano, na primeira reunião sob o comando de Jerome Powell. Já na reunião de maio, a decisão foi pela manutenção das taxas.

0

2

1

2,5

1,5

0,5

em%

em%

Taxas de juros nos EUA

jan 17

jan 18

fev 18

abr 1

8

mai 18

jun 18mar

18

mai 17

ago 17

jul 17

jun 17dez

17out 1

7nov 17

set 17

mar 17

abr 1

7fev

17

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UNIDADE 1 | NOÇÕES ECONÔMICAS E FINANCEIRAS PARA O MERCADO DE CAPITAIS

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No Brasil, o mercado de câmbio e a bolsa acompanham os desdobramentos da política monetária norte-americana. O mercado monitora pistas sobre o rumo dos juros nos Estados Unidos porque, com taxas mais altas, o país se tornaria mais atraente para investimentos aplicados atualmente em outros mercados, como o Brasil, motivando assim uma tendência de alta do dólar em relação ao real.Após a divulgação da decisão desta quarta, o dólar, que estava caindo, chegou a subir sobre o real, mas em seguida passou a oscilar. Já o Ibovespa se manteve em queda.

FONTE: <https://g1.globo.com/economia/noticia/fed-anuncia-aumento-da-taxa-de-juros-nos-estados-unidos.ghtml>. Acesso em: 6 nov. 2018.

2.1 SELIC META E TAXAS DE MERCADO

No contexto brasileiro, a taxa básica da economia é marcada pela “Taxa Selic”, conforme foi visto anteriormente, e em função de vários fatores internos da economia nacional e externos do cenário econômico mundial, o Banco Central do Brasil (Bacen) determina a cada dois meses a Taxa Selic Meta. Seu valor (em porcentagem):

[...] se baseia na Regra de Taylor. A Taxa Meta é definida pelo Banco Central por meio de equações algébricas, que levam em consideração a comparação entre inflação esperada e a meta de inflação, entre o produto potencial e o real, além de outras variáveis, como o câmbio. Os juros seguem o caminho da inflação esperada. Quando esta aumenta e supera a meta de inflação para o ano, o Copom aumenta os juros (BRUNI, 2009, p.77).

Assim, essas ações do Banco Central (Bacen) possuem uma série de impactos na economia real, sobre os quais o Bacen tem que ponderar o custo de oportunidade de suas ações, exemplo:

• Se o governo quiser incentivar a economia, ele poderia reduzir a Selic, o que se vem fazendo no ano de 2017 até o primeiro semestre de 2018. E o custo disto? Aos poucos poderia levar para uma tendência de aumento de juros e para uma desvalorização do Real.

• Se o governo quiser reduzir a inflação, ele deverá ser obrigado a aumentar a Selic. Desde uma perspectiva histórica, no segundo semestre do ano de 2016 a inflação estava acima de 10%, e para combater essa inflação o Bacen teve que aumentar a Selic, essa taxa ficou em um pico de 14,25% no ano de 2016, em consequência disso, à medida que a inflação ia caindo, a taxa Selic foi caindo também, até chegar em 6,50% para finais do primeiro semestre de 2018, veja a seguir:

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TÓPICO 2 | PRINCÍPIOS FINANCEIROS E DE INVESTIMENTO

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GRÁFICO 5 – TAXA SELIC DESDE 2012 ATÉ 2017

FONTE: <https://bit.ly/2zxYixB> Acesso em: 24 ago. 2018

Observe que esse gráfico é um reflexo de como o Bacen tem as ferramentas para mexer na taxa Selic. Lembre-se, a Selic Meta refere-se à taxa Selic que o Bacen, por meio do Copom (Comitê de Política Monetária do Bacen), define a cada dois meses.

IMPORTANTE

Você sabe qual é a Regra de Taylor? É uma regra que visa aplicar política monetária que pondera entre a taxa de juros básica e a inflação, segundo o artigo publicado no Estadão de São Paulo por Paulo R. Haddad, 17/nov/2009 <https://www.estadao.com.br/noticias/geral,a-crise-e-a-regra-de-taylor,467517>:A regra de Taylor, que foi adotada nas políticas monetárias de diversos países, é basicamente uma recomendação de como um banco central deve estabelecer a taxa de juros de curto prazo a fim de manter a taxa de inflação muito baixa e as recessões suaves e infrequentes. É derivada de modelos econômicos quantitativos que descrevem como a taxa de juros afeta as principais variáveis da economia. Não é uma regra normativa que deva ser prescrita em qualquer contexto histórico sem levar em conta outros fatores, tais como uma crise cambial ou a composição da demanda agregada.

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UNIDADE 1 | NOÇÕES ECONÔMICAS E FINANCEIRAS PARA O MERCADO DE CAPITAIS

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Então, seguindo várias medidas de caráter macroeconômico, o Banco Central, por meio do Copom, vai definindo a Taxa Selic em suas reuniões que acontecem a cada 45 dias, observe:

A taxa de juros fixada na reunião do Copom é a meta para a Taxa Selic (taxa média dos financiamentos diários, com lastro em títulos federais, apurados no Sistema Especial de Liquidação e Custódia), a qual vigora por todo o período entre reuniões ordinárias do Comitê. As reuniões ordinárias do Copom ocorrem a cada 45 dias. (BRUNI, 2009, p. 84).

Agora que você já sabe identificar o que é a taxa básica de juros, no caso do Brasil, a Selic, como também já consegue identificar o que significa a Selic Meta, vamos ver os diferentes níveis de taxas referenciais no mercado de capitais. Conforme temos dito anteriormente, a Selic é a taxa base, a partir dela os diversos agentes vão gerando novas taxas referenciais, inclusive dentro do próprio governo há diferentes graus de risco. Um título de dívida do Estado de Santa Catarina possui uma taxa maior que uma dívida do Tesouro Direto. Exemplificando, um título de dívida do Estado de Santa Catarina possui uma taxa maior que uma dívida do Tesouro Direto, ou seja, esse título de dívida pública (do estado de Santa Catarina) terá uma taxa de juros Selic mais seu respectivo grau de risco.

Nesse sentido, no mercado financeiro há diversos papéis de dívida sendo negociados, desde títulos de dívida do governo, títulos de dívida dos bancos comerciais, e de empresas grandes que atuam na Bolsa de São Paulo. No caso dos bancos comerciais, existe a taxa CDI, que calcula a média ponderada da taxa de juros dos Certificados de Depósitos Interbancários (CDI), conhecida também como a taxa que atua no mercado interbancário, ou seja, a CDI calcula a taxa média das operações entre instituições financeiras, que possuem um nível de risco maior que a Taxa Selic, logo, possuem uma taxa um pouco maior.

Nessa dinâmica a taxa CDI fica entre a taxa Selic e a taxa média com que os bancos emprestam seus recursos tanto a pessoas físicas como a empresas, isto é, o spread bancário. Quando os bancos estão sem problemas de liquidez, a taxa do CDI médio fica bem próxima à Selic, mas quando o setor bancário começa a apresentar sintomas de iliquidez, essa diferença entre a Selic e a CDI aumenta drasticamente. Veja a seguir o histórico das taxas de juros entre a Selic o spread bancário.

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TÓPICO 2 | PRINCÍPIOS FINANCEIROS E DE INVESTIMENTO

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FONTE: <https://bit.ly/2EIvbxy>. Acesso em: 24 out. 2018.

Diferença entre juros de aplicação e captação dos bancos e a taxa básica de juros, em %

Embora a média da taxa CDI não esteja no gráfico, ela fica entre o histórico da taxa média do spread bancário e a taxa Selic, a tendência é de ela ficar bem próxima à média da taxa Selic. Assim, se a média da taxa CDI ficar bem próxima da taxa Selic, consequentemente o spread bancário se tornará alto demais para uma economia como a do Brasil. Isso dá espaço para que no futuro o país possa realizar mudanças estruturais no custo do capital emprestado e assim reduzir drasticamente o spread bancário. Isso poderia ser de grande incentivo tanto ao consumo (empréstimos para pessoas físicas) como para empréstimos para pessoas jurídicas (empresas da indústria e do comércio) incrementarem sua produtividade.

3 CONCEITOS BÁSICOS DE CÁLCULO FINANCEIRO PARA O MERCADO DE CAPITAIS

Acabamos de estudar como a taxa de juros se estrutura aqui no Brasil, isto é, o custo de capital a partir de uma taxa base, Taxa Selic, mais o grau de risco respectivo. Assim, uma vez que conseguimos identificar o conceito base da dinâmica da taxa de juros, aqui no Brasil, estamos na fase de estudar conceitos de cálculo financeiro com foco no mercado de capitais. A primeira parte disto será entender o que significa a Taxa Mínima de Atratividade (TMA) que o investidor está disposto em aceitar perante uma opção de investimento.

GRÁFICO 6 – SPREAD BANCÁRIO X TAXA SELIC

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No mercado de capitais, os investidores procuram o melhor rendimento possível em função do risco que eles estão dispostos a correr. Assim, se o perfil de investimento é de baixíssimo risco, os investidores irão procurar investir em dívida pública, cujo rendimento referencial é a Taxa Selic, a taxa básica de juros aqui no Brasil. Entretanto, se o investidor está disposto a aceitar um maior risco, com certeza irá procurar ativos financeiros com maior rendimento, isto é, a Taxa Selic mais o risco ponderado pelo investidor.

3.1 TAXA MÍNIMA DE ATRATIVIDADE (TMA) E RETORNO DO CAPITAL

Em termos financeiros, essa taxa que os investidores estão dispostos a aceitar em função do nível de risco e rendimento desejado é conhecida como a Taxa Mínima de Atratividade (TMA). Para análise de escolhas, todo investidor procura uma taxa mínima de retorno de seu investimento, acima dessa taxa o investimento fica interessante, ou seja, a TMA é a base referencial para fazer escolhas de investimentos.

Suponha que um grupo de investidores está analisando a compra de ações de uma empresa de alimentos processados. Em função de uma série de fatores, esses investidores desejam que as ações possam gerar uma TMA de pelo menos 21%. Nesse sentido, há as seguintes hipóteses:

• Se as projeções de rendimento dessas ações representam um retorno igual ou maior que dessa TMA de 21%, logo, a compra das ações se torna interessante.

• Se as projeções de rendimento dessas ações representam um retorno menor que dessa TMA de 21então a compra das ações é rejeitada.

Observe que para analisar a TMA deve existir também, pelo menos, mais de uma alternativa de investimento. Isto quer dizer que toda vez que há uma escolha de investimento, o investidor abandona outra, ou seja, a TMA representa a análise do Custo de Oportunidade entre diversas opções de rendimentos financeiros. Os autores Pilão e Hummel (2004, p. 89) afirmam:

Ainda acerca da composição da TMA, podemos afirmar que o denominado Custo de Oportunidade é o seu ponto de partida, já que ele representa a remuneração que teríamos pelo nosso capital caso não o aplicássemos em nenhuma das alternativas de ação analisadas. Ele pode ser, por exemplo, a remuneração paga pela caderneta de poupança, ou por um fundo de investimento, ou pelo ganho que poderemos obter com determinado processo produtivo já existente em nossa empresa, etc.

Em síntese, por meio da TMA aplica-se o custo de oportunidade entre várias opções de investimento em função de uma Taxa Mínima para que os investimentos sejam “atrativos”, ou seja, a TMA. Com esses elementos de taxas referenciais, a Taxa Selic e a TMA, a seguir vamos rever alguns conceitos de cálculo financeiro de juros sob o Regime de Capitalização Simples e o Regime de Capitalização Composta.

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3.2 O REGIME DE CAPITALIZAÇÃO SIMPLES

Nesta modalidade se considera o custo do dinheiro, juros, sobre uma base fixa de capital inicial conforme a frequência de tempo da aplicação, ou seja, o cálculo de juros simples sobre um capital fixo, comumente usado no desconto de duplicatas e/ou algum outro papel de valor do mercado de capitais. A seguir vamos rever alguns conceitos que você já estudou, mas fundamentais para o cálculo das diversas aplicações com desconto disponíveis no mercado de capitais, conforme você irá estudar na Unidade 2.

O primeiro fundamento do Regime de Capitalização Simples é o cálculo dos juros simples. Este tipo de juros é apurado sempre sobre o capital inicial, sendo o cálculo da seguinte maneira: multiplica-se o capital pela taxa e pelo período estabelecido → J=PV x i x n. Onde: J = Juros, PV = Capital, i = Taxa de juros por período, n = número de períodos num tempo determinado. Lembre-se, a taxa de juros é informada em percentual, mas na hora de fazer os cálculos deve-se dividir por 100. Exemplo:

• 5% → 0,05 = 5/100• 2,5% → 0,025 = 2,5/100

Observe que a frequência dos períodos e a taxa devem estar alinhadas com o mesmo tempo da frequência, ou seja, se preciso for, deve-se converter a taxa de juros aos períodos da aplicação, e não ao contrário, por exemplo, se o prazo da aplicação for de 48 dias e os juros apresentados de 5,10% ao mês, devemos converter esses juros ao mês para dias, assim:

• 5,10% / 30 = 0,17% ao dia, logo, (i) = 0,17% ao dia, e (n) = 48 dias.

Agora, se o prazo da aplicação for de seis meses e os juros apresentados forem de 24% ao ano, neste caso devemos converter esses juros ao ano para meses, assim:

• 24% / 12 = 2% ao mês, logo, (i) = 2% ao mês, e (n) = 6 meses.

Assim, com os valores de Capital, taxa de juros e prazo da operação conforme a sequência de períodos definida, pode-se apurar diversas aplicações disponíveis no mercado financeiro, veja a seguir:

• Um certificado de depósito bancário (CDB) possui capital de R$ 3.000, taxa de juros de 2% ao mês e prazo de 50 dias, qual será o valor dos juros e valor futuro (montante) a se resgatar?

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ᵒ PV = R$ 3.000,00 ᵒ i = 2%/mês → converter de mês para dias → 2%/30 = 0,6667% ᵒ Tempo: 50 dias ᵒ Fórmula → J=PV x i x n ᵒ J = R$3.000 x 0,0667/100 x 50 ᵒ J = R$ 100,00 ᵒ M = R$ 3.100,00 (R$ 100,00 + R$ 3.000,00)

• Um certificado de depósito bancário (CDB) possui capital de R$ 29.000, taxa de juros de 20% ao ano e prazo de três trimestres, qual será o valor dos juros e valor futuro (montante) a se resgatar?

ᵒ PV = R$ 29.000,00 ᵒ i = 20%/ano → converter de ano para trimestres → 20%/4 = 5,00% ᵒ Observe que um ano possui 4 trimestres, logo, deve-se dividir essa taxa

anual de 20% para uma taxa trimestral (o ano possui 4 trimestres). ᵒ Tempo 3 trimestres, ou seja, 9 meses de prazo total → (n) = 3 (trimestres) ᵒ Fórmula → J=PV x i x n ᵒ J = R$ 29.000 x 5,00%/100 x 3 ᵒ J = R$ 4.350,00 ᵒ M = R$ 33.350 (R$ 4.350,00 + R$ 29.000,00)

Se observar estes exemplos, veremos que se aplicou o conceito de taxas equivalentes, tais como:Uma taxa de 2% ao mês é equivalente a uma taxa de 24% ao ano.Uma taxa de 6% ao trimestre é equivalente a uma taxa de 24% ao ano.Inclusive uma taxa de 0,06666667% ao dia é equivalente a uma taxa de 24% ao ano!

ATENCAO

Embora seja viável apurar o valor dos juros e o montante por meio da fórmula J=PV x i x n, existe uma maneira direta para calcular o valor do montante, ou seja, Montante = Capital Inicial + Juros. Essa fórmula pondera o fator gerador de juros de maneira direta considerando o fator tempo dentro dessa ponderação, veja a seguir:

• M=C x (1 + i x n)• Exemplo: Um investidor está procurando o valor do montante de um capital

de R$ 25.000, aplicado em 18 meses e com uma taxa de 2% ao mês, onde:• C = R$ 25.000• Taxa (i) → 2% ao mês → 0,02• Períodos (n) → 18 meses.

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M = C x (1 + i x n)

M = 25.000 x (1 + 0,02 x 18)

Fator gerador 1,36 = (1 + 0,02 x 18)

M = R$ 34.000,00 = 25.000 x 1,36

Geralmente, no uso da matemática financeira em aplicações é comum procurar o valor dos juros ou do montante (juros mais o capital). Mas se você quiser procurar o valor do Capital, ou o valor da taxa de juros (i), inclusive o número de períodos (n)? A resposta é simples, é necessário aplicar equivalência de fórmula, veja a seguir:

• Procurando o capital conhecendo os juros, ou valor presente (PV): J = PV x I x n → PV =

• Procurando o capital conhecendo o Montante, M = C x (1 + i x n). → = C → Capital =

• Procurando os juros (i) conhecendo os juros, J = PV x I x n → i = • Procurando o tempo (n) conhecendo o montante, J = PV x I x n → n=

i x nJ

(1+i x n)M

(1+i x n)M

PV x nJ

PV x iJ

Exemplo:Qual o valor da taxa por ano de um capital de R$ 12.000 aplicado numa operação que gera R$ 1.500 de juros, durante 5 meses?

PV = R$ 12.000J = R$ 1.500Tempo: 5 meses.Períodos: 5.i = 0000000→ i = 0,025 → tem-se que converter em % → 0,025x100 → 2,5%/mêsComo o exercício solicita a taxa em anos, logo essa taxa/mês tem-se que multiplicar por 12 → 2,5% x 12 = 30%.

A taxa por ano dessa aplicação será de 30%.

12.000 x 5 1.500

3.2.1 Operações de curto prazo

A maioria dos Certificados de Depósitos Bancários (CDB) é de curto prazo, e no geral, o conceito de juros simples é para apurar aplicações de curto prazo mesmo, conforme os exemplos anteriores. Um dos usos mais comuns é o cálculo de descontos sobre o principal de um valor futuro, tais como duplicatas das vendas a prazo de uma empresa por meio de factoring (venda de blocos de valores de vendas futuras), valores futuros a pagar aos fornecedores, Certificados de Depósitos Bancários (CDBs) com valores futuros, letras de câmbio etc. Todos esses papéis de valor, bem como outros, são, muitas vezes, negociados no mercado de valores.

Aplicação da fórmula:

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Em termos financeiros, o desconto é o valor a ser abatido do valor nominal (futuro) de um título de valor. Assim, esse valor abatido vem a ser a quantia a ser descontada do valor nominal de um título com valor monetário futuro, ou seja, desconta-se em função da taxa de juros e o tempo ainda faltante para liquidar a valor presente, exemplificando:

• Suponha que uma empresa esteja precisando de caixa e deseja descontar R$ 10.000 de vendas a prazo, cujo vencimento é daqui a 45 dias, a taxa de desconto que o banco cobra é de 3.5% ao mês, qual será o desconto e o valor líquido a receber?

ᵒ Valor ao vencimento: R$ 10.000, e tempo faltante para o vencimento: 45 dias. ᵒ Taxa de desconto: 3,5%/30 dias → 0,1167% ao dia. ᵒ Desconto: R$ 10.000 x 0,001167 x 45 dias → Desconto = R$ 525,00. ᵒ Valor Líquido: R$ 10.000 – R$ 525 → Valor Líquido = R$ 9.475,00.

Então, a empresa consegue levantar, hoje, R$ 9.475,00 em função do valor futuro de suas vendas ainda por cobrar.

Devemos observar que este tipo de operação é de uso quase diário na gestão do capital de giro das empresas, virando assim uma modalidade de financiamento que gera diversas opções e estratégias de uso de fundos, visando otimizar a necessidade de caixa para as operações das empresas. Para nos lembrar quando necessário, a seguir listamos alguns termos comuns às aplicações com desconto financeiro:

• Valor Nominal ou Valor de Face: Representa o valor a ser pago de um documento no vencimento, tal como: data de vencimento de uma fatura.

• Dia de Vencimento: Representa o dia quando o papel valor será liquidado.• Valor Líquido ou Valor Atual: Representa o valor a ser recebido depois de ter

aplicado o desconto financeiro do valor nominal, considerando uma taxa:• Valor Líquido = Valor Nominal – Desconto Financeiro.• Tempo ou Prazo: Representa o número de dias, exatos, entre a data de

vencimento e o dia da negociação do título valor.

QUADRO 7 - FÓRMULA DE DESCONTO SIMPLES

Desconto simples = d = N x i x nD Valor do descontoN Valor Nominali Taxa de desconton O prazo

VALOR LÍQUIDO (VL)VL = VL = N x (1 – i * n)

FONTE: O autor

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Com esta revisão de conceitos de taxas e elementos de cálculo, a seguir vamos estudar alguns exemplos usados no cotidiano do mercado financeiro para uso de fundos de curto prazo.

3.2.2 Exemplos de operações de curto prazo

No dia a dia, as empresas devem tomar decisões sobre uma série de situações, desde otimização de seus investimentos financeiros de curto prazo até otimização de seu giro de capital (caixa para suas operações), tais como:

• Será que vale a pena ter maior volume de estoques? Mas qual será o custo em juros desse aumento de necessidade de caixa operativa, capital de giro?

• Será que aumentando o prazo das vendas (contas a receber) consigo vender mais? Mas quanto mais capital de giro e custo financeiro dessa decisão?

• Será que reduzindo o prazo de pagamento aos fornecedores se consegue descontos interessantes nos valores de compra das aquisições? E o custo financeiro desse aumento no capital de giro?

Enfim, existem mais outros questionamentos que as empresas possuem na sua gestão operativa e administração da liquidez, decisões que logo irão repercutir no mercado financeiro e na demanda de fundos de curto prazo. Com foco em nosso estudo, a seguir vamos simplificar essa tomada de decisão, analisando uma situação típica: comprar à vista ou a prazo? E qual seria o custo de oportunidade de se fazer isso?

Suponha que uma empresa está analisando a opção de usar parte de seu saldo em caixa de R$ 45.000,00, para aumentar seu investimento em capital de giro, objetivando melhorar seus rendimentos financeiros, e está analisando usar esses R$ 45.000 para reduzir suas obrigações com seus fornecedores, mas procurando um desconto financeiro. Assim, a empresa, entre suas diversas contas a pagar aos fornecedores, possui um fornecedor com o qual poderia conseguir um desconto financeiro, se pagar à vista. O prazo médio de pagamento deste fornecedor é de 45 dias com um saldo a pagar médio de R$ 45.000,00.

A taxa equivalente que a empresa poderia obter no mercado financeiro em títulos negociáveis é de 12,08% ao ano. Por outro lado, se a empresa realizar as compras à vista, o fornecedor poderia lhe dar um desconto de 1,50% (negociável). Diante disso, será interessante para a empresa usar esses R$ 45.000 e pagar à vista ao fornecedor, e assim obter o desconto deste? Antes de responder, é necessário definir a TMA objeto de análise comparativa de taxas, ou seja, análise entre a TMA e a taxa real do desconto financeiro do fornecedor.

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• Neste caso, a TMA é de 12,08% ao ano, devendo ser convertida para uma taxa proporcional ao prazo das contas a pagar, isto é, 45 dias. Assim, a taxa proporcional dessa TMA é de 1.51% por cada 45 dias, isto é: 1,51% = 000000 x 45 dias.

À simples vista, esse 1,50% parece menor que a TMA de 1,51%, logo, para a empresa, será melhor manter as compras a prazo e não aumentar o investimento em capital de giro, e deixar esse saldo em títulos negociáveis. Mas será mesmo que esse desconto de 1,50% gera um menor rendimento? Vamos conferir!

• Se o fornecedor conceder um desconto de 1,5% nas compras à vista, isso vai nos dar os seguintes valores da análise financeira:

• Valor Nominal ou Valor de Face (N): Neste caso, R$ 45.000,00 em duplicatas.• Prazo da operação (N): 45 dias.• Taxa da operação (i): 1,5% a cada 45 dias → 0,03333% = • Desconto (?)

60 dias1,5%

desconto = N x i x n

d = R$ 45.000,00 x x 45

Desconto -> R$ 675,00100

0,03333%

360 dias12,08%

• Valor Líquido (?) → R$ 44.325 = R$ 45.000,00 – R$ 675,00

Agora, se o valor líquido é de R$ 44.325,00, então o rendimento do investimento real em capital de giro não é R$ 45.000,00. Esse é o valor a se pagar ao fornecedor daqui a 45 dias! Ou seja, esse é o valor nominal, ou “Face Value”. O valor do investimento comparativo em capital de giro será de R$ 44.325,00, sendo assim, a taxa desse investimento não é 1,50% em 45 dias, pela simples observação, será um pouco maior, mas de quanto?

• Juros = Capital x taxa (i) x prazo (n). Neste caso:• Juros = R$ 675,00; Capital = R$ 44.325,00, Taxa (i) → “?”; prazo (n) = 45 dias.

Então:• R$ 675,00 = R$ 44.325 x (i) x 45 dias, se fazer equivalência nesta equação, temos que:• (i) = 00000000000 → ( i ) = 0,000338409• → (i) 1,52% = 0,000338409 x 45 dias x 100• Assim, a partir de nossa análise, a empresa poderia entrar em negociações

com o fornecedor e solicitar um desconto nas compras à vista que seja de pelo menos 1,5% sobre o valor Nominal da compra a 45 dias. O importante desta análise é que:

• A empresa deverá procurar um desconto que seja igual ou maior de 1,50% pelas suas compras atuais que possuem 45 dias de prazo de pagamento, isto é:

• desconto >= 1.5% e prazo 45 dias.• A empresa poderia fazer uma proposta de desconto de 2,5%! Sendo que seu

piso máximo de negociação será 1,5%. Abaixo disso, para a empresa será melhor continuar com suas compras atuais que possuem prazo de 45 dias!

R$ 44,325 x 45 diasR$ 675,00

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Resumindo, a TMA de 12,08% será o ponto de partida para analisar o Custo de Oportunidade desta situação. Assim, se a empresa optar pelas compras à vista:

• seu custo será deixar de fazer o investimento em títulos negociáveis e perder esse rendimento financeiro,

• mas sua oportunidade será conseguir um desconto igual ou maior que 1,5% de seu fornecedor.

Essa comparação é a essência da análise de Custo de Oportunidade no mercado de valores, ou seja: ganhar uma oportunidade, “a escolha”, em detrimento da outra opção “não escolhida”. É um conceito simples e básico de economia, mas pode envolver análises bem complexas no mercado de capitais.

3.3 O REGIME DE CAPITALIZAÇÃO COMPOSTA

Nesta modalidade se considera o custo de capital, juros, sobre uma base inicial de capital – mesmo conceito do Regime de Capitalização Simples -, porém, aqui aplica-se uma sequência de tempos que somados atingem o prazo total de uma aplicação ou situação de valores monetários no percurso de tempos definidos, levando em consideração que em cada sequência os juros gerados vão se somando ao capital, produzindo-se o efeito da geração de juros sobre juros. Lembre-se, nesta modalidade “os juros compostos são somados ao principal de modo a ampliar a base de cálculo dos juros dos próximos períodos” (ZOT; CASTRO, 2015, p. 23).

Essa geração de juros sobre juros pode ser facilmente entendida conforme o seguinte quadro, onde não há capital inicial, ou seja, R$ 0,00, mas haverá aportes mensais de R$ 250,00 a partir do primeiro mês, levando em consideração juros ao mês de 1.15% e um prazo da aplicação de 40 anos!

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QUADRO 8 – PROJEÇÃO PLANEJAMENTO POUPANÇA

FONTE: O autor

Mês Juros Aporte Capital Taxa

0 0,00 1,15%

1 R$ 0,00 R$ 250,00 250,00 1,15%

2 R$ 2,88 R$ 250,00 502,88 1,15%

3 R$ 5,78 R$ 250,00 758,88 1,15%

4 R$ 8,72 R$ 250,00 1.017,38 1,15%

5 R$ 11,70 R$ 250,00 1.279,08 1,15%

6 R$ 14,71 R$ 250,00 1.543,79 1,15%

7 R$ 17,75 R$ 250,00 1.811,55 1,15%

8 R$ 20,83 R$ 250,00 2.082,38 1,15%

9 R$ 23,95 R$ 250,00 2.356,33 1,15%

10 R$ 27,10 R$ 250,00 2.633,42 1,15%

... ... ... ... ...

479 R$ 58.856 R$ 250 R$ 5.177,049 1,15%

480 R$ 59.536 R$ 250 R$ 5.236.835 1,15%

Capital Inicial R$ 0,00

Aporte Mensal R$ 250

Taxa 1,15%

Prazo 40 anos --> 480 meses

Nessa projeção, por motivos de espaço e valores repetitivos, foi omitida a geração de juros desde o mês 10 até o mês 479. Mas a ideia é que você possa enxergar a geração potencial da capitalização sob o regime de juros compostos, passando de apenas R$ 250,00 de aporte mensal para R$ 5.236.835 em 40 anos! Observe que o cálculo é simples mesmo, você só tem que calcular os juros de um mês sobre o capital base do mês anterior e somar aos juros gerados mais aporte ao capital, exemplo:

• No mês nº 9 foram gerados R$ 23,95 sobre um capital de R$ 2.082,38, ou seja: R$ 23,95 = R$ 2.082,38 x 0,0115. E esses juros gerados de R$ 23,95 vão se somar ao capital, isto é, R$ 2.356,33 = R$ 2.082,38 + R$ 23,95 + R$ 250,00.

• Esse cálculo é feito mês a mês até chegar à projeção do mês nº 480, ou seja, aos 40 anos. Observe que a geração de juros no mês nº 480 foi de R$ 59.536!

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O cálculo demonstrativo do quadro anterior é a essência do conceito dos juros compostos, desse conceito é que nascem diversas fórmulas e usos complexos de derivados financeiros aplicados no dia a dia do mercado de capitais. As fórmulas mais simples derivadas do conceito exposto no quadro são:

• Valor Futuro (FV) = PV x (1 + i)n

• Valor Futuro (FV), considerando aportes (anualidades) → VF = PV + PMT x [00000]

• Valor Presente (PV) = FV x (1 + i)-n • Valor Presente (PV), considerando parcelas = VP = PMT x [(000000)]• Onde: FV = Valor Futuro, PV = Valor Presente, PMT = parcela ou aporte, i = taxa

de juros

Então, para calcular o valor futuro de nossa projeção de poupança, qual fórmula você irá escolher? A fórmula para essa aplicação será: VP = PMT x [(00000)], veja a seguir:

i(1+i)n-1

i1+(1+i)-n

i1+(1+i)-n

FV = PV + PMT x [(0000000)] FV = 250 x [(00000000000)]

Valor Futuro FV = R$ 5.236.835

i(1+i)n-1

0,0115(1+0,0115)480-1

Se uma pessoa fizesse esse aporte de aposentadoria todos os meses durante esse número de anos, então, ao final de sua vida laboral terá para sua vida de aposentado R$ 5.236.835,00 Tudo bem, mas se se levar em consideração o fator inflação, qual seria o valor dessa aposentadoria a valores atuais? Tudo dependerá das projeções da inflação, mas suponha que a inflação média para os próximos 40 anos seja de 4,00%, logo, aplica-se:

• Valor Presente (PV) = FV x (1 + i)-n

• PV = R$ 5.236.835 x (1 + 0,04)-40 → PV = R$ 1.090.775

Embora não seja todo esse valor lá na frente, mas, em valores atuais, aposentar-se com R$ 1.090.775 é interessante mesmo! Hoje, grande parte dos valores de investimentos ao redor do mundo vem dos fundos de investimentos, os quais administram planos de investimento de pequenos investidores e de administradores de fundos de aposentados. Esses fundos compram ações, papéis de dívida dos países, mercados futuros de petróleo, e outros valores mobiliários. Em resumo, os fundos de investimento de milhões de pessoas ao redor do mundo, que por meio de suas poupanças ajudam a fazer girar o mercado de capitais de muitos países, sendo parte importante da grande alavancagem financeira para o desenvolvimento econômico, aqui no Brasil e demais países que fazem parte da economia internacional.

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3.4 PONDERAÇÃO DE CARTEIRA

Na negociação de títulos de valor, na maioria das vezes é negociada uma carteira de valores que possuem valores e datas de vencimentos diferentes. A maneira mais fácil de ilustrar isto é por meio da venda de duplicatas (vendas a prazo) de uma empresa em uma instituição financeira.

As duplicatas a receber decorrentes das vendas a prazo viram título valor e podem virar fontes de financiamento para suprir necessidades de caixa das empresas. O desconto das contas a receber é uma das maneiras mais utilizadas para conseguir fundos de curto prazo. O processo de empréstimo é simples, primeiramente, a instituição financeira avalia a qualidade dessas duplicatas, em seguida, faz uma ponderação de valores e prazos, e é cobrada uma taxa de juros em função do risco da empresa e as taxas referenciais do mercado, a qualidade das duplicatas. Vamos ver um exemplo?

A empresa “Camiseta de Verão” possui um bloco de faturas com os seguintes valores e prazos de vencimento.

QUADRO 9 - PRAZO MÉDIO DE DUPLICATAS (PMD)

FONTE: O autor

Valor vencimento em dias

Ponderação

Peso dias

1 R$ 21.400,00 9 16,89% 1,5205

2 R$ 12.280,00 17 9,69% 1,6481

3 R$ 28.350,00 19 22,38% 4,2524

4 R$ 18.340,00 28 14,48% 4,0540

5 R$ 23.700,00 40 18,71% 7,4840

6 R$ 22.600,00 52 17,84% 9,2777

R$ 126.670,00 28,24 100,00% 28,2366

Esse quadro mostra a base de cálculo sob o conceito de peso, ou ponderação, conforme o valor da venda e nº de dias. Mas nas matemáticas sempre há outras maneiras de calcular, o importante é a correta interpretação. Por exemplo, o PMD pode ser apurado da seguinte maneira:

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• PMD={(vn1.n1)+(vn2.n2)+...../(vn1+vn2+...)}• PMD = • PMD = 28,24 dias

Então, agora sabemos que a empresa irá demorar, na média, 28 dias em recuperar essas vendas a prazo. Com esse dado e, claro, a qualidade da carteira, o banco oferece uma taxa de desconto, vamos supor 2,5% ao mês. Qual será o valor líquido da operação? Simples, segue:

• Valor duplicatas: R$ 126.670.• Prazo médio (em dias): 28,2366.• Taxa de desconto: 2,5% ao mês.

Solução:

• Desconto = Valor duplicatas x Taxa de desconto x prazo.• Desconto = R$ 126.670 x 00000 x 28,2366 dias = R$ 2.980,61.• Valor Líquido a Receber = Valor duplicatas – Desconto.• Valor Líquido a Receber = R$ 126.670,00 - R$ 2.980,61.• Valor Líquido a Receber = R$ 126.670,00 - R$ 2.980,97 = R$ 123.689,39.• Então, a empresa irá receber R$ 123.689,39.

Se observar, esse valor líquido a se receber é referencial, decorrente da venda dessas duplicatas. Entretanto, no contrato desta operação financeira deverá ficar todo o detalhe de desconto de cada uma dessas duplicatas, conforme podemos observar a seguir:

R$ 126.670(R$ 21400*9)+(R$ 12280*17)+(R$ 28350*19)+(R$ 18340*28)+(R$ 23700*40)+(R$ 22600*52)

30 dias2,5/100

QUADRO 10 - CÁLCULO DETALHADO DO DESCONTO DAS DUPLICATAS

FONTE: O autor

Valor Duplicatas Vencim. dias

Valor Desconto

Taxa/Mês Taxa/dia Desconto

1 R$ 21.400,00 9 2,50% 0,0833% -R$ 160,50

2 R$ 12.280,00 17 2,50% 0,0833% -R$ 173,97

3 R$ 28.350,00 19 2,50% 0,0833% -R$ 448,88

4 R$ 18.340,00 28 2,50% 0,0833% -R$ 427,93

5 R$ 23.700,00 40 2,50% 0,0833% -R$ 790,00

6 R$ 22.600,00 52 2,50% 0,0833% -R$ 979,33

R$ 126.670,00 -R$ 2.980,61

Valor líquido R$ 123.689,39

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UNIDADE 1 | NOÇÕES ECONÔMICAS E FINANCEIRAS PARA O MERCADO DE CAPITAIS

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O foco comparativo de fazer os dois métodos de cálculo é de conferir que por meio da ponderação dos prazos, o gestor financeiro tem uma maneira de calcular rapidamente o desconto financeiro deste tipo de operação financeira, sem ter que entrar no detalhe do desconto de cada uma das duplicatas. Imagine uma operação destas que possa envolver mais de 1.000 faturas? Nesse caso o cálculo manual será operativo demais, assim, é mais fácil pegar o prazo médio ponderado e analisar as alternativas para levantar fundos. O sistema financeiro possui um tipo de produto que oferta às empresas para comprar duplicatas, o factoring.

O factoring parte do mesmo princípio, mas a grande diferença é que neste caso a empresa literalmente vende as duplicatas, se liberando de qualquer risco de falta de pagamento dos clientes. Se eles não pagarem, será o banco que deverá fazer a cobrança, eis a grande diferença. Em termos financeiros, o factoring é um produto financeiro comum que mexe com mercados futuros de títulos de valor. Eis a sua importância no contexto do mercado de valores.

DICAS

No comércio internacional tem-se diversas instituições financeiras que trabalham com factoring, tais como:Tradeshift, <https://tradeshift.com/>.GT Nexus, <http://www.gtnexus.com/>.C2FO, <https://c2fo.com/uk-en/why-c2fo/opportunity/>. PrimeRevenue, <https://primerevenue.com/>.

Todas essas instituições financeiras atuam no mercado internacional de factoring, ajudando as empresas fornecedoras ao redor do mundo na gestão de seu capital de giro, desde as grandes empresas até as pequenas.

DICAS

No mundo financeiro existe toda uma dinâmica para assegurar preços futuros, entre estes, a taxa de câmbio futura, conhecida como swap cambial. Este tipo de produto oferece garantias de preços estáveis de mercadorias comercializadas internacionalmente às empresas, ajudando-as nas suas necessidades da liquidez. Ficou curioso? O economista Fernando Nogueira faz toda uma explicação de como funcionam as operações financeiras para cobertura do risco cambiário, no seguinte site: <https://goo.gl/e415kt>.

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TÓPICO 2 | PRINCÍPIOS FINANCEIROS E DE INVESTIMENTO

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3.5 CASE DE USO DO MERCADO DE CAPITAIS EM EMPRESAS PEQUENAS

O mercado de capitais pode ser usado de diversas maneiras em função da necessidade do usuário deste mercado. A seguir vamos ver um exemplo mostrado por uma das mais prestigiosas revistas de economia em nível internacional, The Economist. Neste artigo relaciona-se como a compra de duplicatas de uma pequena empresa que vende alimentos saudáveis para uma grande cadeia de supermercados no Reino Unido consegue levantar liquidez para o giro de seu negócio.

Nesta história, o fornecedor, em função da política de pagamentos da cadeia de supermercados, é obrigado a realizar suas vendas em prazos maiores de 60 dias, porém, ele tem que pagar seus insumos à vista, apresentando um problema de capital de giro e de fluxo de caixa. Tendo como base essa história, o artigo apresenta a solução financeira para as necessidades de liquidez da empresa com o uso da Tecnologia da Informação (TI) e toda uma logística de uso de fundos, vamos dar uma olhada?

O ELO PERDIDO: A TECNOLOGIA ESTÁ REVOLUCIONANDO AS FINANÇAS DA CADEIA DE SUPRIMENTOS (SUPPLY-CHAIN)

No ano de 2015, Kiddyum, uma pequena empresa de Manchester, fornecedora de cardápios prontos congelados para crianças, assinou contrato para vender em Sainsburry’s, uma grande cadeia de supermercados britânicos. Jayne Hynes, a fundadora de Kiddyum, ficou empolgada. No entanto, o sucesso aconteceu de maneira muito rápida, o que poderia ter gerado grande impacto no fluxo de caixa dela, pois Sainsburry’s faz os pagamentos para seus fornecedores em prazos de 60 dias, e Jayne Hynes deve pagar aos fornecedores dela em somente 30 dias.

Apesar disso, de fato, a Kiddyum, a empresa dela, recebe o pagamento de suas vendas em questão de dias. Uma vez feita a aprovação de pagamento pela Sainsburry, as contas a pagar são registradas na supply-chain da plataforma financeira do supermercado, sistema de pagamentos administrada pela empresa americana PrimeRevenue. O Royal Bank of Scotland (RBS) recolhe as faturas pagas previamente pela Kiddyum. Logo, a Kiddyum tem que pagar uma

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UNIDADE 1 | NOÇÕES ECONÔMICAS E FINANCEIRAS PARA O MERCADO DE CAPITAIS

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tarifa, a qual, segundo Jayne Hynes, é dinheiro emprestado de sua própria conta, ou vendido de suas contas a receber por meio de um desconto das vendas feitas à cadeia de supermercados, transação financeira conhecida como factoring. A moderna supply-chain financeira, agora com 25 anos de experiência, permite aos fornecedores manterem-se em dia com suas capacidades de crédito - e baixar o custo financeiro do capital de giro - dos fornecedores das grandes corporações. As contas a pagar são liquidadas de seus balanços de pagamentos. Desse modo, os compradores podem esticar seus termos de pagamento (vamos supor, de 60 para 90 dias), sabendo que os fornecedores possuem menor chance de ter problemas de liquidez e interromper o fornecimento de mercadorias. Com isso, os bancos pegam ativos financeiros de baixo risco.

As definições da abundância financeira da supply-chain e sua escala não são fáceis de determinar, mas é de comum acordo que seu crescimento é muito rápido. A BCR publicações, serviço que faz reportagens sobre as finanças das contas a receber, estima que, ao final do ano 2014, o sistema financeiro e as operações de factoring tiveram “uso de fundos” em torno de US$ 48 a 60 bilhões. Thomas Olsen, da Bain, empresa consultora, apresenta (em um contexto mais amplo) que o mercado está crescendo entre 15 a 25% ao ano nas Américas (América do Norte, Central e do Sul) e entre 30 a 50% na Ásia, sendo que a indústria alimentar e do varejo são as que têm maior crescimento. A Naveed Sultan, que dirige os setores de finança comercial e de tesouraria da Citigroup, diz que o movimento financeiro da supply-chain é o setor com maior crescimento dentro da área das finanças comerciais.

A demanda insatisfeita parece ser enorme. Um novo estudo feito por Mercedes Delgado da escola de negócios de MIT (MIT’S Sloan School) e por Karen Mills, de Harvard Business School, observou que as firmas norte-americanas fornecendo outras empresas empregam 44 milhões de trabalhadores. Desses trabalhadores, 26,8 estão envolvidos no comércio internacional.

Até agora, os programas de gestão financeira vêm focando nas grandes corporações e seus fornecedores mais próximos. Entre os maiores obstáculos para o crescimento estão: conhecer seu cliente e as normas contra a lavagem de dinheiro. O Asian Development Bank (ADB) estima que há uma grande “brecha financeira” no financiamento comercial, área relacionada, de até US$ 1,5 trilhões. Anand Pande, dirigente do financiamento da supply-chain em iGTB (Intellect Global Transaction Banking - empresa que fornece tecnologia bancária), fala que o financiamento à supply-chain é “a terra dos sonhos ainda não realizados”.

Eles também enfrentam concorrência. Empresas de tecnologia estão entrando forte nas finanças da cadeia de suprimentos (supply-chain). Emprestadores on-line de recursos financeiros vêm fazendo um impacto menor, se comparar com plataformas de intermediação que estabelecem a ponte necessária entre compradores e vendedores de recursos financeiros. A PrimeRevenue, por exemplo, conecta 70 emprestadores, incluindo 50 bancos previamente cadastrados, com mais de 25.000 fornecedores com valores de contas a cobrar, superiores a US$

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7 bilhões ao mês. Innervation Finance, empresa estabelecida em Nova York, faz gestão de programas para compradores de insumos ofertando financiamento para “diversos” tipos de fornecedores (por exemplo: empresas pequenas de minorias étnicas, de mulheres, de descapacitados etc.), fornecedoras de insumos, de insumos farmacêuticos e de recursos financeiros.

Hoje, há mais bancos que vêm configurando programas. O Bank of Baroda, banco público que é o quinto maior da Índia em termos de ativos financeiros, começou a fazer isso há poucos meses. Litesh Majethia, que administra nesse banco o negócio da supply-chain, reconhece que bancos concorrentes estão entrando no negócio. No entanto, eles estão começando pelo fornecimento de recursos financeiros com foco nas pequenas e médias empresas da Índia. Essas empresas estão passando por uma brecha de US$ 400 bilhões, assim, há muito espaço para crescer e um novo sistema digitalizado é uma grande vantagem.

Os bancos, no entanto, não conseguem acompanhar de maneira rápida os avanços tecnológicos, se comparar com as grandes empresas de varejo, tal como Amazon. Simbiose é a regra. Dois grandes bancos, HSBC e Santander, vêm fazendo parcerias com Tradeshift, uma rede de faturamento, financiamento e compras que conecta mais de 1,5 milhões de compradores e fornecedores ao redor do mundo. O HSBC também vem juntando forças com GT Nexus, empresa que faz plataforma global de gerenciamento da cadeia de suprimentos (supply-chain). Os bancos podem aproveitar um novo grupo de clientes e as empresas podem encontrar, nas redes de empresas de tecnologia, financiamento de maneira mais fácil. No entanto, os bancos locais menores poderiam perder mercado enquanto o mercado continua se expandindo, pois, bancos maiores conseguem emprestar com custos financeiros mais baratos.

A tecnologia está abrindo mais possibilidades. A C2FO, outra empresa de tecnologia financeira, consegue oferecer pedidos de pagamentos dos fornecedores conforme as datas e juros que sejam mais convenientes para eles. O financiamento típico da cadeia de suprimentos (supply-chain), diz Sandy Kemper, chefe da C2FO, é muito menos flexível. Sua plataforma fica disponível para tecnologias menores, que poderiam alinhar o fluxo de dados e dinheiro de uma maneira mais próxima ao longo do fluxo das mercadorias.

FONTE: <https://www.economist.com/news/finance-and-economics/21730150-squeezed-suppliers-and-big-corporate-buyers-stand-benefit-technology>. Acesso em: 7 set. 2018.

O que a leitura do artigo traz de interessante sobre a gestão de capital de giro das empresas e o mercado financeiro? Basicamente, ele expõe as novas ferramentas financeiras disponíveis graças aos grandes avanços tecnológicos na área de TI e análise de dados. Neste caso, a cadeia de supermercados Sainsburry’s possui uma parceria com uma empresa financeira que oferece factoring (compradora de contas a receber), facilitando a necessidade de capital de giro (liquidez) de seus fornecedores, no case, a empresa Kiddyum. Hoje, o tripé cliente, mercado financeiro (factoring) e fornecedores é dinâmico e contínuo. Esse fato é facilitado pelos grandes avanços da TI e análise de dados em grande escala.

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RESUMO DO TÓPICO 2

Neste tópico, você aprendeu que:

• A disponibilidade e o interesse real de emprestar por parte dos investidores fica em função de dois grandes fatores: o nível de risco que o investidor esteja disposto a aceitar; e o nível de rentabilidade que o investidor esteja aspirando, ou seja, a taxa de rendimento.

• A taxa da dívida pública é a taxa base de todas as demais taxas da economia brasileira que vão se escalonando em função de seu risco. Essa taxa com menor risco no Brasil é conhecida como Taxa Básica SELIC.

• No mercado financeiro há diversos papéis de dívida se negociando, desde títulos de dívida do governo, títulos de dívida dos bancos comerciais, e de empresas grandes que atuam na Bolsa de Valores.

• A taxa que os investidores estão dispostos a aceitar, como nível de rentabilidade, em função do nível de risco e rendimento desejado, é conhecida como a Taxa Mínima de Atratividade (TMA).

• Um dos usos mais comuns dos juros simples é o cálculo de descontos sobre o principal de um valor futuro, muitas vezes esse tipo de título de valor é negociado no mercado de valores.

• Grande parte dos valores de investimentos ao redor de mundo vem dos fundos de investimentos, os quais administram planos de investimento de pequenos investidores e de administradores de fundos de aposentados. Sendo que o cálculo financeiro desses rendimentos é feito por meio da metodologia de capitalização composta.

• Na negociação de títulos de valor, na maioria das vezes é negociada uma carteira de valores que possuem valores e datas de vencimentos diferentes, nesses casos, aplica-se o conceito de ponderação de carteira.

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1 O que significa Taxa Selic e qual a sua relação com as demais taxas de juros da economia brasileira?

2 Em função do momento conjuntural da própria dinâmica econômica, o Banco Central tem como ferramenta o uso da Taxa Selic, que é basicamente a taxa base que define as demais taxas de juros da economia brasileira conforme o nível de risco de devedor. O Banco Central tem a gestão da Selic Meta. Explique-a.

3 Os investidores procuram rendimentos expressos em taxas, explique o que significa a Taxa Mínima de Atratividade (TMA).

4 As operações de curto prazo no mercado de capitais envolvem diversas operações, entre elas, a compra e venda de Certificados de Depósitos e factoring. Explique:

• Que tipo de cálculo financeiro essas operações utilizam?• Qual poderia ser um ponto referencial, em termos de taxas, para a tomada

de decisão.

5 Suponha que uma empresa está precisando levantar fundos para seu giro de capital e possui R$ 119.000,00 em vendas a prazo. Seu Banco Comercial consegue oferecer para ela realizar uma operação de factoring, considerando a seguinte faturação do quadro abaixo. Qual é o valor líquido que a empresa consegue levantar?

AUTOATIVIDADE

Valor Duplicatas Vencim. dias

Valor Desconto

Taxa/Mês Taxa/dia Desconto

1 R$ 16.000,00 23 2,30%

2 R$ 18.000,00 29 2,30%

3 R$ 35.000,00 35 2,30%

4 R$ 18.000,00 40 2,30%

5 R$ 18.000,00 48 2,30%

6 R$ 14.000,00 55 2,30%

R$ 119.000,00

Valor líquido

FONTE: O autor

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TÓPICO 3

DINÂMICA DO INVESTIMENTO FINANCEIRO

UNIDADE 1

1 INTRODUÇÃOO foco deste tópico é entender alguns fundamentos de análise financeira.

Neste ponto de seus estudos, ao longo de conceitos econômicos e de cálculo financeiro, você já possui a bagagem necessária para discernir quais os fundamentos importantes do mercado financeiro de capitais.

Neste último tópico da Unidade 1, a ideia é entender os principais critérios da análise de investimento de valores mobiliários (papéis com valor monetário), já nas unidades 2 e 3 o estudo focará na estrutura e normativa financeira e nos produtos, tributação de valores mobiliários e instrumentos disponíveis no mercado financeiro de capitais.

Para ter melhores elementos de análise desses tópicos interessantes, a seguir vamos estudar a dinâmica deste mercado em função das condições econômicas e critérios básicos de investimento financeiro.

Talvez esteja se perguntando o que significa mesmo “Valores Mobiliários? “Valores mobiliários são documentos emitidos por entidades públicas ou privadas. Compostos por um conjunto de direitos e deveres aos titulares e que podem ser comprados e vendidos.” <http://mercado-de-valores.info/valores-mobiliarios.html>.

ATENCAO

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UNIDADE 1 | NOÇÕES ECONÔMICAS E FINANCEIRAS PARA O MERCADO DE CAPITAIS

2 ANÁLISE COMPARATIVA DE VALORES MOBILIÁRIOSPara a escolha mais correta para seus interesses, riscos ponderados e

necessidades de rendimento, os investidores devem fazer uma análise relativa de várias opções de investimentos a serem comparadas com um referencial de investimento, mensurando os desempenhos conforme um referencial de mercado. Essa dinâmica de análise financeira é conhecida como “benchmark financeiro”. Conforme o site InfoMoney:

Na economia não é diferente. Os investidores costumam acompanhar o progresso dos ativos por meio de índices, que acabam servindo de benchmark (medida de referência) para aplicações financeiras de risco parecido. (D’ÁVILA, 2016)

Assim, esse acompanhamento de análise comparativo é determinado por meio de índices de desempenho estabelecidos pela própria economia e mercado financeiro, segundo Bruni (2009, p. 94):

O benchmark representa um referencial para comparação. A depender do produto de investimento analisado, diferente poderia ser o padrão empregado na comparação dos desempenhos.• Para produtos de investimentos que busquem acompanhar as taxas

de juros vigentes no mercado, um bom referencial ou benchmark seria o Certificado de Depósito Interbancário (CDI) ou a taxa Selic.

• Para produtos de investimento cuja rentabilidade esteja atrelada a variações da moeda, tais como os fundos cambiais, um bom benchmark seria a taxa de câmbio.

• Para produtos de investimento que busquem manter o poder de compra do dinheiro em reais, um benchmark apropriado seria o IPCA ou IGP-M, já que são índices de preços que registram a evolução dos preços como medida síntese da inflação.

• Para produtos de investimentos baseados em ações, um possível benchmark é o Ibovespa ou o IBrX, índices formados por ações mais negociadas na Bovespa e que refletem o comportamento do mercado.

Observe que todos esses índices são um reflexo do desempenho econômico do momento do investimento. Lembre-se de que seus fundamentos você estudou nos tópicos anteriores, com exceção do benchmark Ibovespa, que você irá estudar nas próximas unidades. Esses índices você pode usá-los como pontos referenciais de análise comparativa (benchmark) de investimentos.

Você se lembra da Taxa Mínima de Atratividade (TMA) estudada no tópico anterior? Essa TMA é justamente isso! Um benchmark em função de um ponto referencial de análise comparativa de desempenho de algum tipo de índice de mercado que esteja vinculado ao tipo de investimento em questão. Nesse sentido, a TMA escolhida pelo investidor ficará em função de vários elementos, sendo que há dois fundamentais: o nível de risco e o nível de rendimento desejado. Se um investidor desejar um nível de risco bem baixo, qual seria uma TMA referencial? Seria a Taxa Selic, veja a seguir:

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TÓPICO 3 | DINÂMICA DO INVESTIMENTO FINANCEIRO

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Quando associada a investimentos financeiros, a TMA costuma representar a rentabilidade do ativo livre de risco (risk-free asset) de uma economia, também chamada de “taxa livre de risco“. Normalmente considera-se como ativos livres de risco títulos públicos pós-fixados na taxa básica de juros da respectiva economia. No caso do Brasil podemos considerar como ativo livre de risco o título público “Tesouro SELIC”, antiga LFT (Letra do Tesouro Nacional), cuja rentabilidade está atrelada à taxa SELIC (PRATES, 2017).

Assim, é fundamental na análise de investimentos ter um ponto referencial que seja relativo ao investimento em questão, e em função disso, o investidor poderá determinar sua TMA. Mas quais os elementos para se escolher uma determinada TMA? Essa TMA deverá ser escolhida conforme a determinação de vários fatores, os quais vamos abordar a seguir.

3 FATORES DA ANÁLISE DE INVESTIMENTOSAntes de abordar os fatores que determinam uma TMA referencial,

devemos nos perguntar qual a definição de investimento? Em termos simples, ele é um sacrifício no presente com o objetivo de obter uma série de benefícios no futuro. Em termos análogos, o estudo de seu curso universitário é considerado um investimento! Porque no presente você está sacrificando recurso monetário e tempo livre que poderiam satisfazer suas necessidades e desejos de hoje. Entretanto, esse sacrifício irá lhe servir para adquirir conhecimento, competências e diploma que serão de muita utilidade no seu futuro, com diversos benefícios, tanto pessoais como profissionais, lá na frente.

Agora, em termos financeiros, esse sacrifício no presente (investimento) envolve três elementos importantes: liquidez disponível a ser sacrificada; risco do valor mobiliário; e rendimento financeiro, taxa de retorno. Esses três elementos geram a base para se estabelecer uma TMA de análise comparativa entre opções de investimentos: Liquidez + Risco + Retorno → Eles geram os elementos base para análise comparativa de investimentos, tal como a Taxa Mínima de Atratividade (TMA);

3.1 LIQUIDEZ

A liquidez do investimento refere-se à quantidade de valor monetário, o capital disponível para o investimento e o tempo em que se deseja recuperar esse capital. Em função disso, o investidor pondera qual a real capacidade de liquidar o valor mobiliário (papel valor), ou seja, a facilidade de vender esse “investimento” para levantar caixa, exemplificando:

• Se ele prever que irá precisar desse capital daqui a seis meses, inclusive antes disso, irá fazer um investimento de papel que possa ser facilmente convertido em caixa, com pouco valor de desconto financeiro.

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UNIDADE 1 | NOÇÕES ECONÔMICAS E FINANCEIRAS PARA O MERCADO DE CAPITAIS

• Se prever que irá precisar desse capital daqui a cinco anos, ele irá analisar opções de investimento que gerem rendimentos programados em períodos de tempos maiores, com dívidas das empresas de longo prazo ou dívidas públicas. Esses papéis até poderiam ser liquidados, mas o custo de desconto financeiro poderia ser maior.

• Se ele prever que sua necessidade de recuperar o capital seja por meio de uma análise de rendimentos de longo prazo, logo, poderia optar pela compra de ações. A capacidade de liquidar esse papel valor será mais em função do valor relativo da empresa no mercado, e isso dependerá de uma série de fatores a serem estudados nas próximas unidades. As ações sendo valores que podem oscilar muito, a decisão de investimento é feita em função das perspectivas de rentabilidade da empresa e não na necessidade de levantar caixa no curto prazo.

Assim, um dos elementos de decisão fica em função das necessidades de liquidez do investimento em questão, segundo Bruni (2009, p. 112):

A liquidez refere-se ao tempo de manutenção do investimento, podendo estar associado à dificuldade de venda ou realização dos ativos. Quanto menor a liquidez, maior o tempo do investimento ou a dificuldade para sua realização, sendo o inverso verdadeiro. Exemplo, diz-se que a liquidez de investimentos feitos em alguns imóveis é baixa, em função da maior dificuldade de vendê-los.

Observe que o autor fala de “dificuldade para sua realização”, isso se reflete no custo de liquidar um papel valor, a menor liquidez, maior será o custo do desconto financeiro desse papel. Uma vez definido o tempo de recuperação desse capital a ser investido, o seguinte elemento é ponderar o nível de risco do investimento.

3.2 NÍVEIS DE RISCO

Qual o significado de risco? Ele pode ser definido como qualquer adversidade que possa vir a acontecer, e como resultado disso, nossas perspectivas sobre um assunto sejam menores do cenário esperado. Segundo Bruni (2009, p. 112), o risco: “[...] associa-se ao acontecimento de um resultado diferente do esperado e em que geralmente as probabilidades de ocorrência dos múltiplos resultados possíveis são conhecidas”. No cenário financeiro há uma série de fatores de risco, entre eles, os mais visuais e ponderáveis: risco de mercado, risco de pagamento (crédito), risco de liquidez.

3.2.1 Risco de mercado

Existem vários fatores no mercado e isto muito depende do tipo de investimento mobiliário que esteja em avaliação. Em termos referenciais, este tipo de risco está atrelado ao comportamento do preço do ativo conforme as condições econômicas no mercado.

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TÓPICO 3 | DINÂMICA DO INVESTIMENTO FINANCEIRO

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Exemplificando, se você tiver ações de uma grande empresa que possua altos volumes de empréstimos em bancos do exterior, logo, uma valorização do dólar poderia reduzir as perspectivas de rentabilidade desta empresa, não é mesmo? O preço da ação desta empresa poderia perder valor de mercado, consequentemente, o valor do capital investido por você nessa empresa perderá valor.

Assim, para conseguir visualizar os riscos de mercado envolvidos em um determinado ativo financeiro, é necessário analisar e identificar fatores que possam vir a oscilar e impactar na dinâmica do valor desse ativo, entre os grandes fatores de risco nos mercados financeiros temos: mercado de ações, taxa de câmbio, taxa de juros, derivados futuros dos preços das commodities, entre outros.

Veja a seguir a experiência da empresa Sadia no ano 2008, nesse ano ela tinha um alto volume de investimento financeiro no mercado de preços futuros em moeda estrangeira, especificamente US$, isto é, derivados futuros dessa moeda. Quando a grande crise financeira do ano 2008 estourou nos Estados Unidos e logo se espalhou para o resto do mundo, a empresa de repente se viu em uma situação da qual não conseguiria sair. Resultado? A empresa veio a falir e seus acionistas perderam o valor de suas ações, hoje, a empresa opera sob a administração de outro grupo empresarial, segundo O Globo Economia:

DICAS

Ficou curioso sobre a Sadia? Veja o artigo aqui: <https://oglobo.globo.com/economia/derivativos-levam-sadia-prejuizo-de-248-bilhoes-em-2008-3117146>. Acesso em: 6 Nov. 2018.

Essa experiência da empresa Sadia é um claro exemplo de riscos de mercado externo, entre os grandes fatores disto tem-se: oscilações na taxa de câmbio, mudanças nas perspectivas macroeconômicas das grandes economias (Estados Unidos, União Europeia, China, entre outros), riscos na geopolítica nos países onde se tem investimentos financeiros, regulações, guerras comerciais etc.

Ao longo do ano 2018 a economia mundial vem experimentando uma deterioração nas relações comerciais dos Estados Unidos com o resto do mundo, especialmente com a China. Resultado? Alto risco de guerra comercial ao redor do mundo e grande impacto nas economias emergentes, entre elas o Brasil.

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UNIDADE 1 | NOÇÕES ECONÔMICAS E FINANCEIRAS PARA O MERCADO DE CAPITAIS

3.2.2 Risco de pagamento – crédito

Este tipo de risco está vinculado a possíveis perdas em função da falta de pagamento, seja dos clientes dos bancos comerciais, de uma grande empresa ou da dívida pública de um país, ou seja, este risco vincula a possibilidade a recursos monetários que podem não ser recebidos no momento do vencimento. Aqui podemos visualizar três grandes grupos de tipos de risco de crédito:

• Risco de crédito país. Ele mede o nível de risco que a dívida pública de um país possa ter indícios de inadimplência. Quando a economia dos países está indo muito mal, logo, eles forçam os credores a negociarem suas dívidas e seu risco país dispara, no ano 2018 isso vem acontecendo com a Argentina. Quanto menor o risco país, menor será sua taxa básica de juros, no caso do Brasil, a Selic. Os Estados Unidos são o país que possui o menor risco.

• Risco de crédito de empresas. Para diminuir o custo financeiro, as grandes empresas emitem papéis de dívida diretamente no mercado de valores, esses papéis são conhecidos como debêntures, assim, este tipo de risco de crédito mede a possibilidade de não honrar os compromissos dessas empresas. Então, se uma grande empresa começar a não pagar os vencimentos de sua dívida, os detentores desses papéis irão sofrer perdas financeiras vinculadas ao risco de crédito.

• Risco de crédito dos clientes dos bancos comerciais. Os bancos estão constantemente controlando a inadimplência de sua carteira de ativos (empréstimos para seus clientes), sendo que esses índices de inadimplência estão constantemente monitorados pelo mercado. Assim, se o mercado enxergar que a porcentagem de inadimplência está aumentando, esse índice piora e os papéis financeiros do banco (ações, debêntures, CDI’s etc.) em questão começam a perder valor de mercado.

DICAS

No mercado de capitais há uma série de ratings que medem o nível de risco dos países, das grandes empresas e das instituições financeiras, aqui no Brasil e no resto do mundo. Os ratings mais conhecidos são: Standard & Poor's, S&P; Perspectiva; Moody’s; Fitch; entre mais outras. Veja a seguir no seguinte link a classificação de risco dos países: <https://pt.tradingeconomics.com/country-list/rating>.

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TÓPICO 3 | DINÂMICA DO INVESTIMENTO FINANCEIRO

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3.2.3 Risco de liquidez

O risco de liquidez de investimento mobiliário (título valor) faz referência ao tempo de vigência desse investimento e o risco de não conseguir vender, e liquidar (levantar caixa) o valor do título no presente. Nesse sentido, quanto maior o tempo do investimento, menor será a capacidade de gerar liquidez desse título valor, ou seja, a dificuldade de executar a venda e levantar liquidez. Exemplo, demora mais e custa mais (desconto maior) vender um título de longo prazo de dívida de uma empresa, que liquidar um título da dívida pública. Inclusive, dentro do contexto de títulos de dívida de uma grande empresa podem existir diferentes níveis de risco, em função das condições de pagamento. Exemplificando:

• Um título valor de cinco anos com pagamento de juros semestrais e do capital, quando de seu vencimento, será mais custoso em termos do desconto, que

• Um título de cinco anos com pagamento de juros e amortização do capital semestralmente.

Neste caso, o risco de liquidez nestes dois exemplos pondera o tempo de recuperação desses ativos financeiros, o risco de pagamento da empresa, e as condições do mercado (aceitação ou falta de mercado) para liquidar esses ativos antes de seu vencimento. Essa dificuldade será refletida no valor de desconto que o dono desse título valor estará disposto a aceitar para vender e liquidar o ativo financeiro em questão.

No mercado de capitais existem diversos tipos de títulos valor sendo negociados todos os dias, desde os mais seguros até os que possuem maior risco. Lembre-se: a maior risco, maior será também a taxa de retorno, ou a Taxa Mínima de Atratividade (TMA) exigida pelo investidor para esse tipo de título valor. No mercado de renda fixa no Brasil, quais seriam os títulos com menor risco? Os títulos de dívida pública brasileira, marcados pela Taxa Selic. E os de menor risco no mercado internacional? Os títulos de dívida pública dos Estados Unidos.

A modo de exemplo, a seguir vamos observar como, à medida que vai aumentando o nível de risco, vai aumentando também a taxa de retorno e o tempo de vencimento de títulos de renda fixa no mercado de capitais dos EUA. Esse nível de risco vai sendo medindo em função de: “(1) um mercado que minimize o prazo necessário para sua conversão em caixa e (2) segurança do principal (capital), o que significa apresentar perda nula ou baixa de valor ao longo do tempo.” (GITMAN, 2010, p. 549).

Page 76: Mercado de Capitais - UNIASSELVI

66

UNIDADE 1 | NOÇÕES ECONÔMICAS E FINANCEIRAS PARA O MERCADO DE CAPITAIS

QUADRO 11 – RISCO E RENTABILIDADE DE TÍTULOS VALORDE RENDA FIXA DOS EUA

Papel Emitente Descrição Prazo de recebimento

Risco e Retorno

Rendimento em 23/07/2017

Títulos Públicos

Treasury BillsTesouro norte-

americano

Emitidas semanalmente

em leilão, forte mercado

secundário (bens

líquidos).

4, 13 e 26 semanas.

Mínimo, quase livre

de risco.4,97%

Treasury notesTesouro norte-

americano

Taxas de juros declaradas, juros pagos

semestralemente, forte mercado

secundário (bens líquidos).

1 a 10 anos.

Risco baixo, um pouco acima dos Treasury

Bills.

5,03%

Emissões de órgãos federais

Órgãos do governo federal

Não fazem parte das

obrigações do Tesouro.

Nove meses a 30 anos.

Risco um pouco mais

elevado, mas ainda com

pouco risco.

5,17%

Títulos Privados

Certificados de Depósitos (CDs)

Bancos comerciais

Valores e vencimentos

ajustados. Elevado Mercado

Secundário.

1 mês a 3 anos.

Mais elevado do que o risco

de papéisgovernamentais

4,95%

Notas Promissórias Comerciais

Sociedade por ações

com elevado nível de crédito

Obrigações não

garantidas.3 a 270 dias.

Mais elevado do que os CDs.

5,23%

Aceites bancários Bancos

Garantia bancária para uma transição

comercial. Se quitar desconto

em relação ao preço do vencimento.

30 a 180 dias. Comparável aos CDs. 5,31%

Depósitos em eurodólares

Bancos estrangeiros

Depósitos em moeda

estrangeira. Mercado

secundário ativo.

1 dia a 3 anos

Elevado por causa da pouca

regulamentação, e pelo risco de

câmbio.

5,36%

Page 77: Mercado de Capitais - UNIASSELVI

TÓPICO 3 | DINÂMICA DO INVESTIMENTO FINANCEIRO

67

Fundos Mútuos do mercado monetário

Gestão profissional de carteira

Administração profissional de carteiras. Liquidação imediata.

Inexistente, dependendo da decisão

do investidor.

Variável, mas podendo ser mais elevado que os papéis

governamentais e do que os

CDs.

4,98%

Acordos de recompensa

(compromissadas)

Bancos e/ou distribuidoras

de valores

Acordos de recompra.

Adequado às necessidades

do comprador.

Variável 5,13%

A taxa básica de juros nesse momento era de 8,25%Rendimentos obtidos para vencimentos de três meses de cada títuloAqui foi usada uma emissão com três meses até o vencimento da National Mortage Association (Fannie Mae).Foi usado o Fidelity Cash Resenves Fund com vencimento médio de 51 dias na ausência de dados de rendimento médio.

FONTE: Adaptado de Wall Street Jornal (24 de julho de 2007, P.c6,apud Gitman, 2010, p. 571)

Nesse quadro, observe que fica bem sistematizada essa correlação entre maior prazo, menor liquidez, maior risco e maior rentabilidade, partindo da base dos títulos mais seguros do mercado de capitais dos Estados Unidos, isto é, os títulos do Tesouro (dívida pública). No Brasil, a estrutura dos títulos e seus níveis de risco são bem semelhantes aos mostrados no quadro.

4 BENCHMARK E NECESSIDADES DE INVESTIMENTOQual o objetivo do investidor no momento de levar em consideração

opções de investimento? Ele pode ter diversos objetivos de investimento, desde a necessidade de aproveitar rendimentos financeiros de um saldo disponível em caixa por um par de meses, até grandes valores de investimento com prazos maiores de cinco anos. Entretanto, como um todo, em função dos objetivos definidos, os investidores procuram uma ponderação entre risco, retorno e liquidez atrelados a um índice como benchmark financeiro para determinar a TMA desejada. Como regra de medição de risco e tempo:

Quanto menor o prazo disponível para a aplicação dos recursos ou quanto menor o nível de tolerância ao risco, mais conservadora e com maior liquidez deverá ser a alternativa de investimento sugerida. Por outro lado, investidores com prazos maiores e maiores níveis de tolerância ao risco podem colocar seus recursos em alternativas mais arrojadas, com maior risco, mas que oferecem maior perspectiva de rentabilidade futura. (BRUNI, p. 114, 2009)

Page 78: Mercado de Capitais - UNIASSELVI

68

UNIDADE 1 | NOÇÕES ECONÔMICAS E FINANCEIRAS PARA O MERCADO DE CAPITAIS

Essas opções “mais arrojadas” podem ser alternativas de investimento no mercado de ações que oferecem rentabilidades maiores que do mercado de renda fixa, mas tanto o rendimento como o valor do capital têm o risco de oscilar bastante, aí a necessidade de ter especialistas que ponderam as perspectivas do mercado de ações e assim ofertam no mercado de capitais uma série de portfólios de ações em função do nível de risco e tendências tecnológicas das empresas, não só em nível nacional, mas internacionalmente.

Assim, em função desses três fatores - risco, retorno e liquidez –, os investidores determinam o horizonte de investimento, isto é, o prazo desejado do investimento. Em termos financeiros, os investimentos de longo prazo determinam um horizonte de maior risco, com diversos cenários possíveis que podem mudar as perspectivas de retorno do título valor. No gráfico a seguir você poderá enxergar a correlação entre rentabilidade e níveis de risco apresentados nas diversas opções conforme o tipo de investimento.

GRÁFICO 7 – RELAÇÃO RISCO VERSUS RETORNO

FONTE:<https://bit.ly/2D0sypf>. Acesso em: 24 out. 2018.

Desse gráfico fica clara a correlação entre rentabilidade e risco, os papéis de renda fixa possuem um menor risco em função de sua previsibilidade dos retornos tanto do capital investido como do rendimento esperado. Embora os imóveis não possam garantir um retorno fixo, eles são considerados um referente tangível do capital investido, neste tipo de investimento o fator demora na venda gera dificuldade de levantar caixa, eis sua correlação com a sua capacidade de gerar liquidez. Já o investimento em ações é feito em função de uma análise detalhada de várias agências de classificação de risco que conseguem padronizar em níveis de risco as ações das empresas negociadas na bolsa de valores. Veja a seguir a padronização do risco de uma das grandes agências de ratings, a Standard & Poor's Brasil, tanto para empresas como para risco da dívida pública dos países.

Page 79: Mercado de Capitais - UNIASSELVI

TÓPICO 3 | DINÂMICA DO INVESTIMENTO FINANCEIRO

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QUADRO 12 - RATINGS PARA TÍTULOS DE LONGO PRAZO, EXEMPLODEBÊNTURES DE GRANDES EMPRESAS

Categoria Definição

AAAUma obrigação avaliada em ‘AAA’ tem o rating mais alto atribuído pela S&P Global Ratings. A capacidade do devedor de honrar compromissos financeiros relativos à obrigação é extremamente forte.

AAUma obrigação avaliada em ‘AA’ difere ligeiramente das obrigações com o rating mais alto. A capacidade do devedor de honrar seus compromissos financeiros relativos à obrigação é muito forte.

A

Uma obrigação avaliada em ‘A’ é de certa forma mais suscetível aos efeitos adversos de mudanças nas circunstâncias e nas condições econômicas do que as obrigações nas categorias mais altas. No entanto, a capacidade do devedor de honrar seus compromissos financeiros relativos à obrigação ainda é forte.

BBB

Uma obrigação avaliada em ‘BBB’ apresenta parâmetros de proteção adequados. No entanto, é mais provável que condições econômicas adversas ou mudanças nas circunstâncias enfraqueçam a capacidade do devedor de honrar seus compromissos financeiros relativos à obrigação.

BB;B;

CCC;CC; e C

Obrigações avaliadas em ‘BB’. ‘B’, ‘CCC’, ‘CC’ e ‘C’ apresentam características especulativas. ‘BB’ indica o menor grau de especulação e ‘C’, o maior. Embora essas obrigações provavelmente apresentem algumas características de qualidade e proteção, estas podem ser contrabalançadas por grandes incertezas ou pela maior exposição a condições adversas.

BB

Uma obrigação avaliada em ‘BB’ é menos vulnerável ao não pagamento do que outras emissões em grau especulativo. No entanto, enfrenta grandes incertezas no momento ou exposição a condições adversas de negócios, financeiras ou econômicas que poderiam afetar a capacidade do devedor de honrar seus compromissos financeiros relativos à obrigação.

CCC

Uma obrigação avaliada em ‘CCC’ é atualmente vulnerável ao não pagamento e dependente de condições favoráveis de negócios, financeiras e econômicas para o devedor honrar seus compromissos financeiros relativos à obrigação. No caso de condições adversas de negócios, financeiras ou econômicas, o devedor provavelmente não será capaz de honrar seus compromissos financeiros relativos à obrigação.

CC

Uma obrigação avaliada em ‘CC’ está, no momento, altamente vulnerável ao não pagamento. O rating ‘CC’ é atribuído quando o default ainda não ocorreu, mas a S&P Global Ratings espera que seja praticamente certo, independentemente do tempo previsto para que se concretiza.

CUma obrigação avaliada em ‘C’ é, no momento, altamente vulnerável ao não pagamento, e esperamos que a obrigação apresente senioridade relativa inferior ou recuperação total inferior àquelas das obrigações que possuem rating mais alto.

D

Uma obrigação avaliada em ‘D’ está em default do pagamento ou em descumprimento de uma promessa imputada. Para instrumentos não híbridos de capital, a categoria de rating ‘D’ aplica-se quando os pagamentos de uma obrigação não são efetuados no prazo de vencimento, salvo se a S&P Global Ratings acreditar que serão realizados dentro de cinco dias úteis na ausência de qualquer período de carência, dentro do período de carência, ou dentro de 30 dias corridos. O rating ‘D’ também será utilizado mediante o registro de uma ação de falência ou tomada de ação similar e quando o default de uma obrigação é praticamente certo, por exemplo, em função de provisões de suspensão automática (stay provisions). O rating de uma obrigação é rebaixado para ‘D’ no evento de uma oferta de troca de dívida distressed.

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70

UNIDADE 1 | NOÇÕES ECONÔMICAS E FINANCEIRAS PARA O MERCADO DE CAPITAIS

* Os Ratings de ‘AA’ a ‘CCC’ podem ser modificados pelo acréscimo de um sinal de mais (+) ou de menos (-) com o intuito de demonstrar sua posição relativa dentro das principais categorias de rating.

FONTE: <https://www.standardandpoors.com/pt_LA/delegate/getPDF?articleId=2065204&type=COMMENTS&subType=REGULATORY>.

Acesso em: 6 nov. 2018.

QUADRO 13 - MAPEAMENTO HIPOTÉTICO DE RATINGS NO BRASIL

FONTE: <https://www.standardandpoors.com/pt_LA/delegate/getPDF?articleId=1498613&type=COMMENTS&subType=REGULATORY>.

Acesso em: 6 nov. 2018.

Por último, apresenta-se o tipo de investimento que gera maior risco, mas gera também a maior rentabilidade, isto é, o negócio próprio e/ou com um grupo de sócios. É neste tipo de pequenas empresas que nascem muitos empreendimentos que logo poderiam virar grandes empresas que negociam suas ações e debêntures na bolsa de valores. Como grandes empresas ou conceito de negócios que nasceram do fruto da inovação e força de empreendimento tem-se a Microsoft, a Apple, Amazon, ultimamente Netflix etc.

Page 81: Mercado de Capitais - UNIASSELVI

TÓPICO 3 | DINÂMICA DO INVESTIMENTO FINANCEIRO

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IMPORTANTE

No âmbito nacional se tem vários exemplos, como a Weg <http://old.weg.net/br>, o empreendimento Eisenbahn que foi vendido para uma holding do setor de cervejas <https://www.eisenbahn.com.br> , entre outras. Todas essas empresas e mais outras são as geradoras de inovações e potenciais empresas que poderiam entrar no mercado de capitais.

Até aqui chegamos com nossos estudos dos fundamentos econômicos e financeiros do mercado de capitais. O foco desta unidade foi justamente isso, que você possa captar os conceitos e fundamentos para conseguir entender a base da dinâmica do mercado de capitais. Tanto no contexto das correlações do ambiente econômico, o uso de taxas referenciais usadas e a dinâmica dos horizontes prazo versus risco. Nas próximas unidades abordaremos a estrutura e normativa financeira nacional, e os produtos conforme sua precificação no mercado financeiro.

Antes de iniciar a Unidade 2, sugerimos a leitura sobre o impacto do mercado de capitais na capacidade de gerar emprego e renda na economia real nos próximos anos aqui no Brasil. Este exemplo nos mostra que o mercado de capitais possui uma correlação importantíssima com a economia real dos países. Sem a força e dinâmica deste mercado, a economia dos países seria muito menos desenvolvida. Já observou os países que se fecham à economia internacional de hoje? Eles estão anos atrás e com índices de pobreza altos.

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UNIDADE 1 | NOÇÕES ECONÔMICAS E FINANCEIRAS PARA O MERCADO DE CAPITAIS

LEITURA COMPLEMENTAR

VALOR ECONÔMICO: EXPANSÃO DO MERCADO DE CAPITAIS ACELERA EMPREGO E RENDA, DIZ ESTUDO

Ana ConceiçãoSérgio Tauhata

Silva Rosa

Um mercado de capitais mais forte no Brasil poderia criar 1,7 milhão de empregos a mais e aumentar em 11,6% a renda per capita do país ao longo de cinco anos. As estimativas fazem parte de um estudo feito pela consultoria Accenture Strategy e representam uma pequena amostra do impacto real que a implementação de uma agenda para desenvolvimento do ambiente de financiamento privado de longo prazo poderia causar.

O levantamento feito pela consultoria para a Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima) e a B3 busca desvendar os efeitos palpáveis para a economia do fortalecimento e desenvolvimento do mercado de capitais. O estudo será apresentado hoje no Congresso Brasileiro do Mercado de Capitais 2018, em São Paulo.

Segundo o documento, possibilitar a empresas de vários tamanhos acessar fontes privadas para financiamento de longo prazo, além de aumentar a própria disponibilidade de recursos a um custo menor, ajudaria as companhias a viabilizar mais projetos e expandir a produção, o que impulsionaria a criação de empregos e aumento da renda.

A pesquisa levou em conta a experiência internacional e os resultados alcançados a partir de medidas semelhantes às defendidas pela Anbima e B3. A existência de mercados de capitais desenvolvidos tem sido amplamente apontada como fator para o avanço socioeconômico dos países, pondera o estudo.

Page 83: Mercado de Capitais - UNIASSELVI

TÓPICO 3 | DINÂMICA DO INVESTIMENTO FINANCEIRO

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Cálculos feitos a partir dos dados de vários países mostram que a expansão dos mercados de ações e de títulos privados poderia levar a um aumento extra de 21%, ou R$ 294 bilhões, nos investimentos em infraestrutura entre 2018 e 2022 no Brasil. Apenas em saneamento, eletricidade, transporte e telecomunicações haveria R$ 89 bilhões adicionais. O estudo leva em conta um crescimento moderado da economia brasileira de 2% a 3% anuais, visto como mais provável pela Anbima nos próximos anos.

Outro efeito seria o aumento extra de 12% no PIB per capita, para R$ 38,8 mil em cinco anos. Sem nenhum impulso ao mercado de capitais, a Anbima prevê um PIB per capita de R$ 34,6 mil em 2022, ou seja, R$ 4 mil a menos.

Vídeo: Saiba mais sobre a agenda para impulsionar o mercado de capitais <https://www.youtube.com/watch?v=pD8FHNf2rcQ>

No cenário moderado de crescimento, o estudo mostra que, se a agenda de desenvolvimento for implementada, o valor de mercado das empresas listadas em bolsa sairia de 52,4% do PIB neste ano para 73% do PIB em 2022. O estoque de títulos privados cresceria de 27,6% do PIB para 31,2% do PIB no mesmo período. Em cinco anos, diz a pesquisa, o mercado de capitais brasileiro cresceria R$ 3,7 trilhões. Em 2029, chegaria à mesma média de um grupo de países selecionados, com 130,4% do PIB em capitalização de mercado e 38,7% do produto em títulos privados.

"Trata-se de um estudo econométrico de experiências de países que adotaram uma agenda similar. A partir dele, queremos mostrar o que pode acontecer, em um ambiente de estabilidade macroeconômica, se o país desenvolver

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74

UNIDADE 1 | NOÇÕES ECONÔMICAS E FINANCEIRAS PARA O MERCADO DE CAPITAIS

seu mercado de capitais", afirma José Eduardo Laloni, diretor da Anbima. Entre outros pontos, o trabalho também mostra que a variação de 1% no mercado teria impacto de 0,3% na renda per capita, percentual considerado relevante por Laloni.

O trabalho encomendado pela associação procura sensibilizar o futuro governo para a importância dos mercados de renda fixa e variável no desenvolvimento do país. Os dados estão sendo apresentados aos assessores econômicos dos candidatos à Presidência junto com uma agenda de propostas. As sugestões giram em torno de cinco metas: fomentar o financiamento privado de longo prazo, estimular a formação de poupança, expandir o volume de emissões e aumentar a liquidez da negociação de ativos.

Para a Anbima, a expansão do mercado de capitais é crucial num momento em que o BNDES reduz a participação no financiamento a empresas e projetos de infraestrutura, ao mesmo tempo que o acesso a crédito em canais tradicionais, como os bancos, permanece caro e escasso. "O BNDES está saindo gradativamente do mercado. É uma grande oportunidade para acelerar a participação dos recursos privados", diz José Carlos Doherty, superintendente-geral da entidade.

Gilson Finkelsztain, presidente da B3, avalia que o BNDES, sozinho, não dá conta de suprir a demanda por recursos no país. "Não há dinheiro bastante para isso. O ideal é que o banco atue como um intermediário para alavancar o setor privado no mercado de capitais", afirma.

Os números reforçam a percepção dos executivos. Com a melhora do cenário macroeconômico nos últimos dois anos, o mercado de capitais tem mostrado fôlego suficiente para ocupar o espaço deixado pelo banco estatal. Entre 2016 e 2017, a redução acumulada nos desembolsos do BNDES alcança R$ 65 bilhões, saindo de R$ 135,9 bilhões em 2015 para R$ 70,8 bilhões no ano passado. Em relação ao pico de financiamentos pelo órgão alcançando em 2013, a retração em 2017 sobe para R$ 119,6 bilhões.

Ao longo de 2017, porém, a captação de recursos por empresas brasileiras tanto no mercado de capitais doméstico quanto no exterior mais que compensou essa redução. No período, as corporações do país aceleraram as emissões de títulos de dívida e ações diante da retração do BNDES e das condições favoráveis tanto de custo de capital quanto de demanda. Com isso, conforme dados da Anbima, obtiveram R$ 307 bilhões, ou seja, R$ 122,2 bilhões a mais do que o total captado em 2016, excluindo-se os valores de emissões do Tesouro Nacional no período.

Em 2018 até julho, as emissões domésticas e externas já alcançam R$ 172,7 bilhões, incluindo a captação internacional de US$ 1,5 bilhão feita pelo Tesouro em fevereiro. O montante obtido no mercado doméstico registra avanço de 35,7% na comparação com os primeiros sete meses de 2017. No exterior, houve recuo de 26,3% no volume de recursos na mesma base de comparação.

FONTE: < https://www.valor.com.br/financas/5795941/expansao-do-mercado-de-capitais-acelera-emprego-e-renda-diz-estudo# > Acesso em 07 set. 2018.

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RESUMO DO TÓPICO 3

Neste tópico, você aprendeu que:

• O benchmark faz análise comparativa entre opções de investimento em função de uma taxa referencial de rendimento.

• Investimento é um sacrifício no presente com o objetivo de obter uma série de benefícios no futuro.

• Investimento financeiro implica sacrifício no presente (investimento), envolvendo três elementos importantes: liquidez disponível a ser sacrificada; risco do valor mobiliário; e rendimento financeiro, taxa de retorno.

• Liquidez + Risco + Retorno → Eles geram os elementos base para análise comparativa de investimentos, tal como a Taxa Mínima de Atratividade (TMA).

• À medida vai aumentando o nível de risco, vão aumentando também a taxa de retorno e o tempo de vencimento de títulos de renda fixa.

• O risco de pagamento vincula-se à possibilidade de recursos monetários poderem não ser recebidos no momento do vencimento.

• O risco de mercado está atrelado ao comportamento do preço do ativo conforme as condições econômicas no mercado.

• Os investidores procuram uma ponderação entre risco, retorno e liquidez atrelados a um índice como benchmark.

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1 O que significa “benchmark financeiro”?

2 A Taxa Mínima de Atratividade é um tipo de benchmark financeiro. Sobre a TMA, responda os itens a seguir:

a) Quais são os dois elementos fundamentais para determinar a escolha de TMA?

b) Qual seria uma TMA em que esteja implícito nela o menor nível de risco possível de um investimento aqui no Brasil?

3 O investimento no mercado de capitais é um sacrifício no presente com a expectativa de ter rendimentos monetários no futuro. Sobre o exposto, responda os itens a seguir:

a) Quais são os três elementos destes investimentos?b) O que consegue determinar esses três elementos?

4 Existem diversos tipos de riscos envolvidos nos investimentos. O que vincula o risco de pagamento (crédito)?

5 Existe uma correlação entre nível de rentabilidade e nível de risco. Se o investidor procura maior rentabilidade, ele deverá estar ciente de que isso implica maior nível de risco de recuperação do capital. Exemplo, é bem diferente comprar dívida pública dos EUA, do Brasil ou da Grécia. A de menor risco serão os papéis do Tesouro norte-americano, e a que possa envolver maior risco, pelo menos no ano de 2018, serão os papéis da dívida da Grécia. Sobre níveis de risco e tipos de investimento, cite quais são estes em função de sua correlação retorno versus risco.

AUTOATIVIDADE

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UNIDADE 2

ESTRUTURA E NORMATIVA FINANCEIRA

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM

PLANO DE ESTUDOS

A partir desta unidade, você será capaz de:

• entender a dinâmica e a importância da intermediação financeira;

• compreender a estrutura e o funcionamento do sistema financeiro nacional;

• compreender o papel dos órgãos normativos, entidades supervisoras e agentes operadores;

• identificar as características das instituições financeiras que compõem o Sistema Financeiro Nacional;

• compreender a sistemática do mercado de valores mobiliários;

• identificar e diferenciar o papel dos participantes do mercado de valores mobiliários.

Esta unidade está dividida em três tópicos. Ao final de cada um deles você encontrará atividades que auxiliarão no seu aprendizado.

TÓPICO 1 – INTERMEDIAÇÃO FINANCEIRA

TÓPICO 2 – SISTEMA FINANCEIRO NACIONAL

TÓPICO 3 – MERCADO DE VALORES MOBILIÁRIOS

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TÓPICO 1

INTERMEDIAÇÃO FINANCEIRA

UNIDADE 2

1 INTRODUÇÃOA economia mundial se desenvolve em um ambiente financeiro cada vez

mais complexo e influente. A partir desta constatação, faz-se necessário que todos os agentes econômicos (famílias, empresas e governos) identifiquem as melhores práticas e oportunidades de investimentos disponíveis a fim de equilibrar suas posições de risco nas mais diversas decisões financeiras.

As economias mais desenvolvidas têm por característica um sistema de intermediação financeira bastante diversificado e ajustado às necessidades de seus agentes econômicos, especialmente aos agentes produtivos, de forma a executar sua principal função, que é a de direcionar os recursos financeiros dos agentes superavitários para os agentes com carência de capital para investimentos. Por isso, o sistema financeiro tem sido um importante integrante da sociedade moderna.

No cenário brasileiro, a participação das instituições bancárias na intermediação financeira é historicamente elevada, uma vez que altas taxas de inflação têm obrigado os agentes econômicos a aplicarem seus recursos financeiros de forma mais intensiva para não sofrerem com a perda do poder aquisitivo da moeda. Assim, as atividades de intermediação financeira contribuem para a conciliação dos interesses dos agentes econômicos.

Neste sentido é fundamental entender, além da estrutura do mercado financeiro estudada na unidade anterior deste caderno, o funcionamento da intermediação financeira na prática, bem como o comportamento esperado em relação às políticas econômicas adotadas. Sendo assim, esta unidade tem por objetivos: compreender a estrutura e o funcionamento do sistema financeiro nacional; apresentar o papel dos órgãos normativos, entidades supervisoras e agentes operadores; identificar as características das instituições financeiras que compõe o sistema financeiro nacional; compreender a sistemática do mercado de valores mobiliários e identificar e diferenciar o papel dos participantes do mercado de valores mobiliários.

É fundamental, para que se compreenda melhor as funções e o funcionamento dos mercados, introduzir algumas noções básicas sobre o funcionamento da economia antes de tratar especificamente da intermediação financeira.

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UNIDADE 2 | ESTRUTURA E NORMATIVA FINANCEIRA

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2 ECONOMIA E MERCADO FINANCEIROA ciência econômica se preocupa com o estudo da alocação dos recursos

produtivos na economia. Esta preocupação se deve ao fato de que os indivíduos possuem necessidades, vontades e desejos diferentes uns dos outros e são ilimitados, enquanto que os recursos disponíveis na economia são escassos para atender tais necessidades em sua plenitude.

Se pensarmos nas economias modernas, os desejos de consumo das famílias estão em geral acima de sua capacidade econômica. Quando pensamos no contexto de países, fica mais fácil percebermos essa noção de escassez dos recursos, pois, afinal de contas, os fatores de produção, aqui englobados o número de pessoas disponíveis para trabalhar e os recursos naturais, financeiros e tecnológicos, são limitados.

Conforme a Comissão de Valores Mobiliários (CVM), as decisões dos agentes econômicos (famílias, empresas e governo), embora sendo agentes autônomos, estão interligadas e impactam uns aos outros (CVM, 2014). Neste contexto, temos de um lado as famílias que oferecem os insumos necessários para a produção das empresas em troca dos rendimentos (que formam a renda dessas famílias). Com essa renda, adquirem os produtos e serviços ofertados pelas empresas. O governo, por sua vez, recolhe impostos e taxas dessas famílias e empresas e devolve para a sociedade em forma de projetos sociais ou serviços básicos não ofertados pelas empresas.

Tudo isso converge para as decisões financeiras tomadas pelos agentes econômicos, em especial as de consumo, poupança e investimento. Sendo assim, necessitamos da compreensão do funcionamento do sistema financeiro como um todo. Por exemplo: uma família que pode decidir consumir menos que sua renda por uma infinidade de motivos, sejam eles para a sua segurança financeira, aposentadoria ou compra futura de bens, formando assim a poupança. Já outra família pode decidir consumir mais do que a sua renda, e, portanto, demanda recursos motivada pelo aparecimento de situações inesperadas ou mesmo por precisar investir em mais educação na expectativa de retorno futuro. Por outro lado, as empresas precisam de dinheiro para realizar sua produção, investir em máquinas, equipamentos, treinamento e novas tecnologias. Esse dinheiro pode vir, por exemplo, da poupança das famílias. O governo, por sua vez, pode, em determinado momento, ter gastos maiores que as suas despesas, tomando recursos no mercado na forma de emissão de títulos públicos, as chamadas dívidas mobiliárias. Já em outros momentos, pode gastar menos e contribuir para a formação de poupança.

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TÓPICO 1 | INTERMEDIAÇÃO FINANCEIRA

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IMPORTANTE

Os agentes econômicos que formam poupança, ou seja, consomem menos do que ganham, são chamados de “agentes superavitários”. Os agentes econômicos que consomem mais que sua renda e precisam recorrer à poupança de terceiros são conhecidos como “agentes deficitários”.

Para que o agente deficitário possa utilizar os recursos disponíveis dos agentes superavitários para realizar suas decisões de consumo ou investimento é preciso que esse fluxo de recursos entre eles seja viabilizado. Isso porque, na maioria dos casos, as necessidades de poupança e empréstimos individuais diferem em alguns aspectos, por exemplo, valor e prazo (CVM, 2014).

Mas como isso funciona na prática? Imaginemos que uma determinada família decida aplicar R$ 10.000,00 por um ano, enquanto outra queira apenas R$ 5.000,00 emprestados durante um período de seis meses. Ou então: uma empresa necessite de R$ 1.000.000,00 para investir em suas operações, seja em forma de ampliação do seu parque fabril ou compra de uma nova máquina e necessite pagar tal montante em cinco anos. Se cada poupador tivesse que encontrar um tomador de recursos com as mesmas necessidades de volume e prazo para a realização de um empréstimo, seria muito difícil a efetivação de tais operações.

Santos (1999) lembra que, na economia primitiva, os agentes econômicos superavitários entravam em contato diretamente com os agentes econômicos deficitários. No entanto, este relacionamento se constitui em um entrave à consecução fluente dos negócios, uma vez que há a necessidade de perfeita coincidência dos desejos de ambas as partes no que se refere aos valores das operações, seus prazos, suas garantias, dentre outros.

A intermediação financeira ocorre na relação entre os agentes econômicos superavitários e os deficitários. Os intermediários financeiros procuram atender às expectativas e necessidades de ambos segmentos de agentes econômicos oferecendo alternativas adequadas para guarda, aplicação de recursos e acesso a fontes de financiamento para viabilizar investimentos e consumo.

ATENCAO

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UNIDADE 2 | ESTRUTURA E NORMATIVA FINANCEIRA

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Não é difícil perceber a importância do sistema financeiro para o adequado funcionamento da economia de uma nação e, consequentemente, seu crescimento. Se, por exemplo, determinada empresa que necessita de recursos para a realização de investimentos para a produção não conseguir captá-los de forma eficiente, provavelmente ela não realizará o investimento, deixando de gerar emprego e renda. Com o papel desempenhado pelas instituições financeiras, esse problema se reduz (CVM, 2014).

Assaf Neto (2012) lembra que em economias desenvolvidas apresentam um sistema de intermediação financeira capaz de atender as necessidades de seus agentes econômicos, desempenhando sua função de direcionar recursos de unidades com carência de capital para investimento. Nesse sentido, toda economia de mercado objetiva, mediante sua estrutura de intermediação financeira, conciliar os interesses de poupadores e investidores, com o intuito de viabilizar seu crescimento econômico.

Foi para suprir a demanda de mercado que surgiram e se desenvolveram instituições especializadas em intermediar essas operações. Diante desta perspectiva, no próximo subtópico aprenderemos em que consiste efetivamente a intermediação financeira.

2.1 INTERMEDIAÇÃO FINANCEIRA E SEUS INTERMEDIÁRIOS

Inicialmente, a função do sistema financeiro era captar recursos dos agentes econômicos superavitários, pagando-lhes uma remuneração (representada pelos juros), e emprestar aos agentes econômicos deficitários, naturalmente a uma taxa de juros mais elevada, garantindo, assim, uma diferença a fim de remuneração pela intermediação dessas operações (CVM, 2014).

IMPORTANTE

A diferença dos juros cobrados dos agentes econômicos deficitários e dos juros pagos aos agentes econômicos superavitários é a renda dos intermediários financeiros, conhecida na literatura como spread financeiro.

Conforme Assaf Neto (2012, p. 8),

“os recursos da economia são movimentados no mercado, em sua maior parte, por intermediários financeiros, que trabalham de forma especializada e voltados para entrosar [...] expectativas e interesses de agentes econômicos com capacidade de poupança com os tomadores de recursos. Essa intermediação se processa pela colocação de títulos e valores econômicos no mercado por meio de instituições, como bancos, caixas econômicas, fundos de pensão, entre outras”.

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TÓPICO 1 | INTERMEDIAÇÃO FINANCEIRA

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Essas instituições concentram a poupança e a distribuem aos tomadores de recursos, atendendo, ao mesmo tempo, às necessidades de volumes financeiros e prazo de cada um. Com o passar do tempo, essas instituições foram se especializando e oferecendo outros serviços. Da mesma forma desenvolveram-se novos instrumentos, sistemas e produtos para organizar, controlar e desenvolver esse mercado (CVM, 2014).

Um intermediário financeiro, ao operar com recursos de inúmeros poupadores, atua com maior nível de divisibilidade na gestão dos recursos, permitindo negociar montantes variados com o mercado. Isso possibilita oferecer aos tomadores de fundos condições de empréstimos mais ajustadas a suas efetivas necessidades de caixa (ASSAF NETO, 2012).

É importante termos em mente que o modelo tradicional de intermediação financeira não foi capaz de suprir todas as demandas existentes no mercado. Esse processo foi sendo aprimorado ao longo de sua história. Desenvolveram-se novos ativos financeiros e características operacionais específicas para cada tipo de demanda. Essas características podem diferir em razão do prazo, tipo de instrumento utilizado para formalização da operação, pelos riscos assumidos, entre outros aspectos que delimitam o que se convencionou chamar de mercados financeiros (CVM, 2014).

Neste sentido, o aperfeiçoamento dos mecanismos da intermediação financeira contribui de forma relevante para o bem-estar econômico de um país, atuando sobre os níveis de poupança, investimento, rendas, taxas de emprego, consumo, entre outros. Conforme Assaf Neto (2012, p. 8),

a presença da atividade de intermediação financeira fundamenta-se no desequilíbrio entre o nível de poupança e investimento de uma economia. Se todos os agentes fossem capazes de gerar volume de poupança igual a seus dispêndios de capital, a existência de ativos financeiros e, consequentemente, da intermediação não seria necessária diante do equilíbrio de caixa apresentado pelos agentes.

Conforme Lagioia (2007, p. 31), “o sistema financeiro possui outros valores agregados, mas fundamentalmente aproxima os agentes superavitários dos deficitários ou vice-versa sem que os mesmos necessariamente precisem se conhecer”.

NOTA

A expressão “intermediação financeira” designa uma categoria diferenciada de serviços no âmbito das atividades terciárias de produção. Os intermediários financeiros são os prestadores desse serviço; operam um diversificado conjunto de instituições que compõem o Sistema Financeiro Nacional (GALVÃO; RIBEIRO; OLIVEIRA, 2006, p. 1).

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UNIDADE 2 | ESTRUTURA E NORMATIVA FINANCEIRA

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Na economia moderna, os intermediários financeiros se “interpõem” entre poupadores e investidores. Nesse sentido, as atividades de intermediação financeira contribuem para a conciliação dos interesses dos agentes econômicos, através do equilíbrio de prazos, valores e risco, conforme podemos observar em Santos (1999, p. 22):

• prazo: a intermediação satisfaz, pela interação entre poupadores e tomadores de recursos, as necessidades de fundos dos participantes do mercado em seus devidos prazos, permitindo uma maior oferta de crédito;

• valor: a intermediação financeira no mercado contribui para conciliar os diferentes montantes de capital investidos por aplicadores e demandados por tomadores, promovendo uma alocação mais eficiente de recursos;

• risco: os riscos são diluídos na atividade de intermediação financeira pela diversificação das carteiras, oferecendo aos agentes operações de mercado com risco menor.

As operações de mercado têm se tornado cada vez mais complexas. Com isso, os intermediários financeiros estão trabalhando de forma mais especializada, melhorando e sofisticando seu campo de atuação com intuito de ajudar as relações entre tomadores e poupadores de recursos. Alguns poupadores, por exemplo, em vez de administrarem individualmente seus portfólios, podem transferir essa tarefa para instituições especializadas, melhor preparadas tecnicamente para executarem a administração de carteiras (ASSAF NETO, 2012).

Como benefícios da intermediação financeira, Galvão, Ribeiro e Oliveira (2006) destacam a eficiência operacional, a especialização, a diluição de riscos, ganhos de eficácia e o descasamento de prazos. Neste sentido, os intermediários financeiros constituem-se, ainda, em especialistas nas negociações com títulos, o que permite oferecer operações financeiras mais sofisticadas a todos os agentes de mercado, mesmo para aqueles menos familiarizados com a dinâmica bancária.

Ao se relacionarem continuamente com os recursos financeiros de vários depositantes, os intermediários podem oferecer dinheiro rápido e a um custo de escala bem menor do que seria possível a um agente econômico que opera isoladamente. Outra vantagem oferecida pelo sistema de intermediação é a gestão do risco dos investidores, que possibilita a montagem de carteiras de ativos diversificadas e, consequentemente, de menor risco (ASSAF NETO, 2012).

Os intermediários financeiros promovem a liquidez do mercado viabilizando captações e aplicações financeiras com diferentes taxas e prazos, com o intuito de atender as demandas dos agentes econômicos em relação à natureza de suas operações. Assim os tomadores de recursos desejando prazos maiores que aqueles pleiteados pelos poupadores faz com que as instituições intermediadoras gerenciam essas demandas por meio de um eficiente planejamento e distribuição de seus fluxos de caixa (ASSAF NETO, 2012).

Após apresentarmos a dinâmica e a importância da intermediação financeira para o crescimento e o desenvolvimento da economia de um país, aprenderemos, no próximo tópico, a estrutura e o funcionamento do Sistema Financeiro Nacional (SFN).

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RESUMO DO TÓPICO 1Neste tópico, você aprendeu que:

• Os intermediários financeiros servem para reduzir os custos transacionais, para transformar empréstimos de longo prazo em dívidas a curto prazo e, com isso, proporcionar liquidez e dividir risco.

• Ocupam posição de destaque no âmbito do sistema de pagamentos os bancos comerciais, os bancos múltiplos com carteira comercial, as caixas econômicas e, em plano inferior, as cooperativas de crédito.

• Essas instituições captam depósitos à vista e, em contrapartida, oferecem a seus clientes, pessoas físicas e jurídicas, contas de depósito que são utilizadas para movimentação de recursos e para pagamentos.

• Além dessas instituições, os correspondentes bancários, tipicamente casas lotéricas, farmácias, supermercados e outros estabelecimentos varejistas, oferecem alguns serviços bancários e de pagamentos inclusive em locais não atendidos pela rede bancária convencional, atuando assim em nome dos bancos.

• Instituições do governo também concedem empréstimos e garantem ou seguram os empréstimos privados.

• Os intermediários financeiros são fortemente regulamentados. Entre as finalidades dessa regulação, estão: proteger o sistema de pagamentos, ajudar os pequenos depositantes, anular o medo de uma grande agregação do poder econômico e atender às necessidades de crédito de certos setores da economia.

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AUTOATIVIDADE

1 O que é mercado financeiro?

2 Defina intermediação financeira.

3 Qual a diferença entre agentes econômicos superavitários e deficitários?

4 O que são intermediários financeiros?

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TÓPICO 2

SISTEMA FINANCEIRO NACIONAL

UNIDADE 2

1 INTRODUÇÃOO Sistema Financeiro é um importante componente da sociedade econômica

moderna cujo papel é fundamental para o crescimento e desenvolvimento econômico de uma nação, o que explica a necessidade de conhecimento do funcionamento do sistema como um todo. No entanto, ao longo do tempo, a estrutura econômica dos países tem passado por profundas transformações, especialmente no que concerne ao mercado financeiro brasileiro.

Cabe mencionar que o sistema financeiro brasileiro possui inúmeras peculiaridades, especialmente no que tange ao fato de que o país possui fortes carências econômicas e sociais. De forma pragmática, podemos dizer que a atividade financeira brasileira é muito baixa em relação às suas necessidades de crescimento econômico e modernização da estrutura produtiva.

Dessa forma, surge a necessidade da compreensão da estrutura do Sistema Financeiro Nacional e as respectivas funções dos agentes que compõem este sistema. Sua estrutura é dividida em autoridades monetárias, normativas e fiscalizadoras, instituições financeiras públicas e privadas. Essas instituições permitem, dentro das melhores condições possíveis, a circulação de moeda entre os tomadores e poupadores de recursos na economia.

Sendo assim, este tópico tem por objetivo apresentar a estrutura do Sistema Financeiro Nacional e as principais características das instituições financeiras que o compõem.

2 SISTEMA FINANCEIRO NACIONAL: CONCEITOS E FUNÇÕESReconhece-se que todo processo de crescimento e desenvolvimento da

economia de uma nação está fortemente ligado à participação de capitais que, por meio da capacidade da formação de poupança interna do país, estão em poder dos agentes econômicos, são direcionados para os setores produtivos carentes de recursos (ASSF NETO, 2012). Essa dinâmica só é possível pela utilização de mecanismos e instrumentos disponibilizados pelos intermediários financeiros.

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Imaginemos a seguinte situação: uma determinada organização que necessite captar recursos financeiros para investimentos na sua produção, tais como infraestrutura, máquinas, equipamentos, dentre outros, não consiga fazê-lo de forma eficiente. Isso fará com que a organização desista de realizar os investimentos de que tanto necessita, acarretando, portanto, a incapacidade da organização de gerar emprego e renda. Com uma atuação eficiente por parte do sistema financeiro e das instituições financeiras, tal problema pode ser, se não eliminado, ao menos reduzido.

Cabe destacar que essa dinâmica é válida também na situação em que a empresa necessite de recursos financeiros para ajustar seu fluxo de caixa devido ao descasamento entre os valores a receber de seus clientes e os valores a pagar aos seus credores, fornecedores ou, ainda, seus colaboradores.

IMPORTANTE

Entende-se por agentes econômicos superavitários como aqueles que são capazes de gastar seus recursos financeiros em consumo e investimento menor do que a sua renda, e por agentes econômicos deficitários aqueles que assumem uma posição de tomadores de recursos financeiros no mercado, isto é, que despendem em consumo e investimento valores superiores aos de sua renda.

É em função desse processo de distribuição de recursos no mercado que se evidencia a função econômica e social do sistema financeiro. Mas você deve estar se perguntando: como esta dinâmica funciona na prática? Como e quem controla estas interações? Neste tópico iremos entender todo o funcionamento do sistema financeiro, os agentes envolvidos neste processo e suas respectivas funções. Primeiramente, necessitamos conhecer conceitualmente o que é o Sistema Financeiro Nacional, reconhecido na literatura pela sigla SFN. Então, vamos lá!

O Sistema Financeiro Nacional é entendido como um conjunto de instituições e instrumentos financeiros que visam transferir recursos dos agentes econômicos superavitários para os agentes econômicos deficitários (ASSAF NETO, 2012). É por meio do Sistema Financeiro Nacional que se viabiliza a relação entre os agentes que carecem de recursos financeiros, investimentos e os agentes que são capazes de gerar poupança e, consequentemente, condições de financiar o crescimento da economia.

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NOTA

“O Sistema Financeiro Nacional (SFN) é formado por instituições que têm como finalidade intermediar o fluxo de recursos entre os poupadores, investidores e os tomadores de recursos, em condições satisfatórias para o mercado” (HOJI, 2017, p. 25).

Conforme destacado pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM), historicamente o sistema financeiro não foi capaz de suprir todas as demandas dos agentes econômicos. Sendo assim, houve a necessidade do aprimoramento do processo de intermediação financeira, em que

desenvolveram-se novos ativos financeiros e características operacionais específicas para cada tipo de demanda. Essas características podem diferir em razão do prazo, tipo de instrumento utilizado para formalizar a operação, assunção de riscos, entre outros aspectos que delimitam o que se convencionou chamar de mercados financeiros (CVM, 2014, p. 31).

De forma geral, o sistema financeiro segmentou-se em quatro grandes mercados: mercado monetário, mercado de crédito, mercado de câmbio e mercado de capitais. O foco principal de discussão deste caderno de estudos é o mercado de capitais. No entanto, precisamos compreender que para o mercado de capitais exercer sua função de forma eficiente, é necessário que todos os demais mercados estejam em equilíbrio. Neste sentido, abordaremos de forma resumida os aspectos concernentes aos mercados monetário, de câmbio e de crédito.

Assaf Neto (2012, p. 60) destaca que

apesar de servirem de referência para o estudo do mercado financeiro, esses segmentos sugeridos de mercado muitas vezes se confundem na prática, permitindo que as várias operações financeiras interajam por um amplo sistema de comunicações. Apresentam ainda uma referência comum para as diversas negociações financeiras, a taxa de juros, entendida como a moeda de troca desses mercados.

Em Assaf Neto e Lima (2017, p. 27) podemos encontrar as seguintes definições:

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• mercado monetário - neste mercado são realizadas as operações de curtíssimo prazo, que permitem o controle da liquidez monetária da economia. São negociados nesse mercado, principalmente, os papéis emitidos pelo Tesouro Nacional e destinados à execução da política monetária do governo e aqueles emitidos com o intuito de financiar as necessidades orçamentárias da União, além de diversos títulos emitidos pelos Estados e Municípios;

• mercado de crédito – é constituído em essência pelos bancos comerciais e pelos bancos múltiplos. O objetivo básico desse mercado é o de suprir as necessidades de recursos de curto e médio prazo dos diversos agentes econômicos, seja pela concessão de créditos às pessoas físicas, seja por modalidades de empréstimos e financiamentos às empresas;

• mercado cambial – é onde ocorrem as diversas operações de compra e venda de moedas estrangeiras conversíveis. Esse mercado engloba todos os agentes econômicos com motivos para realizar operações com o exterior, como importadores e exportadores; investidores e instituições financeiras;

• mercado de capitais – é a grande fonte de recursos de longo prazo para investimentos na economia, assumindo papel relevante no processo de desenvolvimento econômico. Apresenta forte ligação entre os agentes superavitários, que possuem capacidade de poupança, e investidores carentes de recursos de longo prazo. A atuação desse mercado se processa por diversas modalidades de financiamento de longo prazo para capital de giro e capital fixo. Atua também com operações de prazo indeterminado, como aquelas que envolvem emissão e subscrição de ações.

Conforme o Banco Central do Brasil - BACEN (2018a), a estrutura do Sistema Financeiro Nacional envolve três grandes subsistemas:

• Órgãos Normativos - determinam as regras gerais para o bom funcionamento do Sistema Financeiro Nacional.

• Entidades Supervisoras - atuam para que os cidadãos e os integrantes do sistema financeiro sigam as regras definidas pelos órgãos normativos.

• Operadores Financeiros - instituições que lidam diretamente com o público no papel de intermediários financeiros.

DICAS

A composição e segmentos do Sistema Financeiro Nacional podem ser acessados no seguinte link: https://www.bcb.gov.br/pre/composicao/composicao.asp

Após apresentarmos o conceito e as funções do Sistema Financeiro Nacional, aprofundaremos os estudos a respeito da composição e do papel de cada um destes subsistemas. Esta composição é proposta pelas normativas e diretrizes apresentadas pelo próprio BACEN - Banco Central do Brasil.

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2.1 ÓRGÃOS NORMATIVOS

O Sistema Financeiro Nacional é constituído por órgãos ou instituições que estabelecem as diretrizes de atuação das Entidades Supervisoras e dos Operadores Financeiros, cujo objetivo final é o controle do mercado financeiro como um todo.

Conforme Pinheiro (2012), os Órgãos Normativos exercem importante papel para todo o sistema financeiro. São estruturados de forma a promover o desenvolvimento equilibrado do país e servir aos interesses da coletividade, tendo características comuns relativas a controles hierárquicos, estabilidade no cargo de diretor, competência de regular e fiscalizar.

Os órgãos normativos “são as instituições que editam as normas que regem o sistema financeiro e fiscalizam as operações. Os órgãos normativos do SFN são o Conselho Monetário Nacional (CMN), o Conselho Nacional de Seguros Privados (CNSP) e Conselho Nacional de Previdência Complementar (CNPC)” (CARRETE; TAVARES, 2015, p. 41).

IMPORTANTE

Todos os órgãos normativos são fundamentais para o funcionamento do Sistema Financeiro Nacional. No entanto, como o foco principal da nossa disciplina é o mercado financeiro, vamos enfatizar a estrutura e as atribuições do Conselho Monetário Nacional, bem como as instituições a ele subordinadas.

O Conselho Monetário Nacional (CMN) é a autoridade máxima do Sistema Financeiro Nacional (BRITO, 2013). Conforme Cavalcante, Misumi e Rudge (2005, p. 4), o Conselho Monetário Nacional (CNM) é o órgão deliberativo de cúpula do sistema financeiro, cuja competência é “traçar as normas de política monetária em todos os seus aspectos. Funciona como um conselho da economia brasileira e supervisiona as políticas monetária, cambial, de investimento, de capital estrangeiro, de comércio exterior e fiscal”.

Salazar (2010) entende o órgão normativo como um subsistema político que é constituído pelas autoridades monetárias, no qual o Conselho Monetário Nacional (CMN) é o órgão deliberativo de cúpula do Sistema Financeiro Nacional. Tal assertiva pode ser evidenciada por sua estrutura, que é composta pelo Ministro da Fazenda, pelo Ministro do Planejamento e pelo Presidente do Banco Central do Brasil (BACEN).

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Conforme o Banco Central do Brasil (BACEN, 2018b), o Conselho Monetário Nacional (CMN), que foi instituído pela Lei 4.595, de 31 de dezembro de 1964, é o órgão responsável por expedir diretrizes gerais para o bom funcionamento do SFN. Integram o CMN o Ministro da Fazenda (Presidente), o Ministro do Planejamento, Orçamento e Gestão e o Presidente do Banco Central do Brasil. Dentre suas funções, estão: adaptar o volume dos meios de pagamento às reais necessidades da economia; regular o valor interno e externo da moeda e o equilíbrio do balanço de pagamentos; orientar a aplicação dos recursos das instituições financeiras; propiciar o aperfeiçoamento das instituições e dos instrumentos financeiros; zelar pela liquidez e solvência das instituições financeiras; coordenar as políticas monetária, creditícia, orçamentária e da dívida pública interna e externa.

O Conselho Monetário Nacional (CMN), que foi instituído pela Lei 4.595, de 31 de dezembro de 1964, é o órgão responsável por expedir diretrizes gerais para o bom funcionamento do SFN. Integram o CMN o Ministro da Fazenda (Presidente), o Ministro do Planejamento, Orçamento e Gestão e o Presidente do Banco Central do Brasil. Dentre suas funções estão: adaptar o volume dos meios de pagamento às reais necessidades da economia; regular o valor interno e externo da moeda e o equilíbrio do balanço de pagamentos; orientar a aplicação dos recursos das instituições financeiras; propiciar o aperfeiçoamento das instituições e dos instrumentos financeiros; zelar pela liquidez e solvência das instituições financeiras; coordenar as políticas monetária, creditícia, orçamentária e da dívida pública interna e externa (BACEN, 2018b, s.p.).

Junto ao Conselho Monetário Nacional funciona a Comissão Técnica da Moeda e do Crédito (COMOC), coordenada pelo presidente do BACEN, pelo presidente da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), pelo secretário executivo do Ministério da Fazenda, pelo secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, pelo secretário do Tesouro Nacional do Ministério da Fazenda e por quatro diretores do Banco Central que são indicados por seu presidente (CAVALCANTE; MISUMI; RUDGE, 2005).

Em CVM (2014), destaca-se que em conjunto com o Conselho Monetário Nacional (CMN), a Comissão Técnica da Moeda e do Crédito (COMOC) tem como atribuições o assessoramento técnico na formulação da política da moeda e do crédito do país. As matérias aprovadas são regulamentadas por meio de resoluções, normativos de caráter público, publicados no Diário Oficial da União e na página normativa do Banco Central do Brasil (BACEN).

Mellagi Filho e Ishikawa (2008) lembram que a composição do Conselho Monetário Nacional tem variado bastante ao longo de sua história. Conforme Pinheiro (2012), a atual composição do Conselho Monetário Nacional foi modificada com a instituição do Plano Real por meio da Medida Provisória nº 542, de 30/6/1994. Sendo assim, sua atual composição é formada pelo Ministro da Fazenda que preside o Conselho, pelo Ministro do Planejamento e pelo Presidente do Banco Central do Brasil (BACEN).

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TÓPICO 2 | SISTEMA FINANCEIRO NACIONAL

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O Conselho Monetário Nacional (CMN) é o órgão máximo do Sistema Financeiro Nacional. Não desempenha funções executivas e sua missão normativa básica é definir as diretrizes de funcionamento do Sistema Financeiro Nacional e formular toda a política de moeda e crédito da economia, visando atender a seus interesses econômicos e sociais (ASSAF NETO; LIMA, 2017).

ATENCAO

Conforme Assaf Neto (2012, p. 42), “estão previstas, também, Comissões Consultivas que têm por objetivo assessorar o Conselho Monetário Nacional nos assuntos que lhe forem pertinentes. Algumas das comissões consultivas em funcionamento são: Bancária, Mercado de Capitais e Mercados Futuros, Crédito Rural e Crédito Industrial, Política Monetária e Cambial etc”.

De forma geral, o Conselho Monetário Nacional (CMN) estabelece diretrizes, normas, autorizações e limites para o sistema financeiro. Vinculados a este conselho estão o Banco Central do Brasil (BACEN) e a Comissão de Valores Mobiliários (CVM), que desempenham papéis executores ao mercado financeiro e ao mercado de capitais, respectivamente, assunto que veremos a seguir.

2.2 ENTIDADES SUPERVISORAS

As Entidades Supervisoras do Sistema Financeiro Nacional têm como atribuição a edição de normas que definem os parâmetros para a transferência de recursos dos agentes superavitários (poupadores) para os agentes deficitários (tomadores), bem como o controle do funcionamento das instituições que operacionalizam a intermediação financeira (PINHEIRO, 2012, p. 65).

Cabe destacar que as entidades que têm esta função de supervisão são divididas em quatro grupos segundo os mercados ou segmentos em que atuam. Neste sentido, destaca-se que o Banco Central do Brasil (BACEN) está vinculado ao Mercado Financeiro, a Comissão de Valores Mobiliários (CVM), ao Mercado de Capitais. Já a Superintendência de Seguros Privados (SUSEP), vinculada ao Mercado de Seguros Privados e Capitalização e, por fim, a Superintendência Nacional de Previdência Complementar (PREVIC) vinculada ao Mercado de Previdência Complementar (PINHEIRO, 2012).

Carrete e Tavares (2015) lembram que somente o Banco Central do Brasil e a Comissão de Valores Mobiliários são as Entidades Supervisoras do Sistema Financeiro Nacional que estão vinculadas ao Conselho Monetário Nacional (CMN).

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Apesar das Entidades de Supervisão serem quatro, elas estão subordinadas a três conselhos normativos: Conselho Monetário Nacional (BACEN e CVM), Conselho Nacional de Seguros Privados (CNSP) e Conselho Nacional de Previdência Complementar (CNPC) (PINHEIRO, 2012).

ATENCAO

Neste sentido, assim como procedemos quando estudamos as Entidades Normativas no subtópico anterior, enfatizaremos somente as Entidades Supervisoras vinculadas ao Mercado Financeiro e ao Mercado de Capitais, sendo elas: o Banco Central do Brasil (BACEN) e a Comissão de Valores Mobiliários (CVM).

O Banco Central do Brasil (BACEN) é uma autarquia federal, vinculada ao Ministério da Fazenda, criado pela Lei 4.595, de 31/12/1964, que estabelece as suas competências e atribuições. É o responsável pelo controle da inflação no país, atua para regular a quantidade de moeda na economia que permita a estabilidade de preços, e suas atividades também incluem a preocupação com a estabilidade financeira. Para isso, o BACEN regula e supervisiona as instituições financeiras (BACEN, 2018c).

IMPORTANTE

Missão do BACEN: assegurar a estabilidade do poder de compra da moeda e um sistema financeiro sólido e eficiente (BACEN, 2018c).

Conforme Salazar (2010), o Banco Central do Brasil (BACEN), como entidade autárquica vinculada ao Ministro da Fazenda, faz cumprir as normas emanadas do Conselho Monetário Nacional (CMN). Pinheiro (2012) o considera como um órgão intermediário entre o Conselho Monetário Nacional (CMN) e as demais instituições financeiras do país, cuja finalidade é executar e fiscalizar o cumprimento de todas as normas criadas pelo próprio Conselho Monetário Nacional (CMN).

Ainda conforme Pinheiro (2012), no cumprimento de sua missão de assegurar o equilíbrio monetário, o Banco Central do Brasil (BACEN) adota os objetivos de zelar pela adequada liquidez da economia; manter as reservas internacionais do país em nível satisfatório; assegurar a formação de poupança em níveis apropriados; e garantir a estabilidade e o aperfeiçoamento do sistema financeiro.

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Sendo assim, como órgão executor do sistema financeiro e cabendo-lhe a responsabilidade de cumprir e fazer cumprir as disposições que regulamentam o funcionamento do sistema e as normas expedidas pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), é por meio do Banco Central do Brasil (BACEN) que o Estado intervém no Sistema Financeiro Nacional e, indiretamente, na economia.

Podemos destacar como principais atribuições do BACEN:• emissão de papel-moeda e moeda metálica;• execução dos serviços do meio circulante;• receber recolhimentos compulsórios e voluntários das instituições financeiras;• realizar operações de redesconto e empréstimo às instituições financeiras;• regular a execução dos serviços de compensação de cheques e outros papéis;• efetuar operações de compra e venda de títulos públicos federais;• exercer o controle de crédito;• exercer a fiscalização das instituições financeiras;• autorizar o funcionamento das instituições financeiras;• estabelecer as condições para o exercício de quaisquer cargos de direção nas

instituições financeiras;• vigiar a interferência de outras empresas nos mercados financeiros e de capitais ;• controlar o fluxo de capitais estrangeiros no país.

DICAS

Para saber mais a respeito da história do Banco Central do Brasil (BACEN), acesse: https://www.bcb.gov.br/pre/Historia/HistoriaBC/historia_BC.asp

O Banco Central do Brasil (BACEN) conduz ainda as políticas monetária, cambial, de crédito, e de relações financeiras com o exterior; a regulação e a supervisão do Sistema Financeiro Nacional (SFN); a administração do Sistema de Pagamentos Brasileiro (SPB) e os serviços do meio circulante.

A Comissão de Valores Mobiliários (CVM) é o Órgão Supervisor do Sistema Financeiro Nacional especificamente voltado para o desenvolvimento, o cumprimento das normas operativas e a fiscalização do mercado de valores mobiliários (SALAZAR, 2010). Criada em 07 de dezembro de 1976 pela Lei 6.385, tem por finalidade disciplinar, fiscalizar e desenvolver o mercado de valores mobiliários no Brasil.

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NOTA

A Comissão de Valores Mobiliários (CVM) é uma autarquia vinculada ao Ministério da Fazenda, com personalidade jurídica e patrimônio próprios, dotada de autoridade administrativa independente, ausência de subordinação hierárquica, mandato fixo e estabilidade de seus dirigentes e autonomia financeira e orçamentária (CVM, 2018).

A Comissão de Valores Mobiliários (CVM) possui sede na cidade do Rio de Janeiro e é administrada por um Presidente e quatro Diretores nomeados pelo Presidente da República, que são sabatinados e aprovados pelo Senado Federal. O Presidente e a Diretoria constituem o chamado Colegiado, que define políticas e estabelece práticas a serem implantadas e desenvolvidas pelo corpo de Superintendentes, que é a instância executiva da Comissão de Valores Mobiliários (CVM).

DICAS

Acesse a Portaria nº 327, de 11 de julho de 1977 e saiba mais sobre a legislação que suporta a Comissão de Valores Mobiliários. http://www.cvm.gov.br/export/sites/cvm/legislacao/leis-decretos/anexos/PortariaMF-327-77-regimento-da-cvm.pdf

Conforme destacado por Assaf Neto (2012, p. 43), a “CVM tem por finalidade básica a normatização e o controle do mercado de valores mobiliários, representado principalmente por ações, comercial papers e outros títulos emitidos pelas sociedades anônimas e autorizados pelo Conselho Monetário Nacional.”

Podemos destacar como principais atribuições e competências da Comissão de Valores Mobiliários (CVM):

• estímulo à formação de poupança e sua aplicação em valores mobiliários;• promoção da expansão e do funcionamento eficiente e regular do mercado

de ações e estímulo das aplicações permanentes em ações do capital social de companhias abertas sob controle de capitais privados nacionais;

• assegurar o funcionamento eficiente e regular dos mercados de bolsa e de balcão;• proteger os titulares de valores mobiliários e os investidores do mercado

contra emissões irregulares de valores mobiliários, contra atos ilegais de administradores e acionistas das companhias abertas ou de administradores de carteira de valores mobiliários e contra o uso de informação relevante não divulgada no mercado de valores mobiliários;

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• evitar ou coibir modalidades de fraude ou manipulação destinadas a criar condições artificiais de demanda, oferta ou preço dos valores mobiliários negociados no mercado;

• assegurar o acesso do público a informações sobre os valores mobiliários negociados e às companhias que os tenham emitido;

• assegurar a observância de práticas comerciais equitativas no mercado de valores mobiliários;

• assegurar a observância, no mercado, das condições de utilização de crédito fixadas pelo Conselho Monetário Nacional;

• regulamentar as matérias expressamente previstas na Lei 6.385/76 (Lei das Sociedades por Ações);

• realizar atividades de credenciamento, registro e fiscalização de auditores independentes, administradores de carteiras, analistas e consultores de valores mobiliários, agentes autônomos, entre outros;

• fiscalizar e inspecionar as companhias abertas, os fundos de investimento e demais atividades e serviços do mercado de valores mobiliários;

• apurar, mediante inquérito administrativo, atos ilegais e práticas não equitativas de administradores de companhias abertas e de quaisquer participantes do mercado de valores mobiliários, aplicando as penalidades previstas em lei.

Sendo assim, a “Comissão de Valores Mobiliários tem por finalidade contribuir para a criação de estrutura jurídica favorável à capitalização das empresas por meio do mercado de capitais de risco, fortalecimento da empresa privada nacional e defesa do acionista e investidor” (PINHEIRO, 2012, p. 68).

Além das atribuições já listadas,

a Lei ofereceu à CVM os meios materiais e institucionais necessários ao cumprimento de sua missão, notadamente: o poder normativo, através do qual a CVM regula a atuação dos diversos agentes do mercado; e o poder punitivo, através do qual, assegurado o direito de ampla defesa, permite a penalização de quem descumpre as normas baixadas pelo órgão ou de quem pratica atos fraudulentos no mercado (CVM, 2014, p. 61).

IMPORTANTE

A Comissão de Valores Mobiliários (CVM) não tem competência para determinar o ressarcimento de eventuais prejuízos sofridos pelos investidores em decorrência da ação ou omissão de agentes do mercado.

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UNIDADE 2 | ESTRUTURA E NORMATIVA FINANCEIRA

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Sendo assim, a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) tem os seguintes poderes, conforme destacado por Cavalcante, Misumi e Rudge (2005, p. 28):

• examinar livros e documentos; exigir informações e esclarecimentos; requisitar informações de qualquer órgão público, autarquia ou empresa pública; obrigar as companhias abertas a republicar demonstrativos financeiros com correções;

• apurar, mediante inquérito administrativo, atos legais e práticas não equitativas de administrações de companhias abertas e de qualquer participante do mercado; aplicar penalidades previstas;

• suspender a negociação de um título ou colocar em recesso a Bolsa de Valores; divulgar informações a fim de orientar os participantes no mercado; suspender ou cancelar registros.

Como já mencionado, a atuação da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) está diretamente vinculada ao Conselho Monetário Nacional (CMN), cuja responsabilidade é de fomento e controle do mercado de valores mobiliários. Dessa forma, sua atuação abrange três importantes segmentos financeiros do mercado: instituições financeiras, companhias de capital aberto emitentes de títulos mobiliários e investidores.

2.3 OPERADORES FINANCEIROS

A atual estrutura do sistema financeiro é caracterizada por conglomerados financeiros que foram criados em função da política de concentração bancária desenvolvida nas últimas décadas, principalmente pelas fusões e aquisições. Neste sentido, tais conglomerados financeiros, por meio das diversas instituições que estão sob o seu controle, costumam atuar nos diversos segmentos financeiros do mercado, limitando bastante a atuação de instituições independentes (ASSAF NETO, 2012).

IMPORTANTE

O Sistema Financeiro Nacional foi estruturado e regulado pela Lei de Reforma Bancária (1964), Lei de Mercado de Capitais (1965) e, mais recentemente, Lei de Criação dos Bancos Múltiplos (1988). É constituído por todas as instituições financeiras, públicas ou privadas, existentes no país (ASSAF NETO, 2012).

Conforme Assaf Neto e Lima (2017), as transferências de recursos financeiros entre poupadores e tomadores processam-se por meio de intermediários, também chamados de Instituições Financeiras ou Operadores Financeiros, que podem ser classificados em três grandes grupos: Instituições Financeiras Bancárias e não Bancárias, Sistema Distribuidor de Títulos e Valores Mobiliários.

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TÓPICO 2 | SISTEMA FINANCEIRO NACIONAL

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Vamos entender a composição e função de cada um desses grupos. Iniciaremos pelas instituições bancárias, também chamadas de instituições financeiras.

As instituições financeiras conhecidas por bancárias são aquelas a quem se permite a criação de moeda por meio do recebimento de depósitos à vista. Operam basicamente com ativos financeiros monetários que representam os meios de pagamento da economia, ou seja, dinheiro em poder do público mais depósitos à vista em bancos (MELLAGI FILHO; ISHIKAWA, 2008).

DICAS

Para relembrar os conceitos de Meios de Pagamentos (M1, M2, M3 e M4), acesse https://www.bcb.gov.br/ftp/infecon/NM-MeiosPagAmplp.pdf

Essas instituições são representadas fundamentalmente pelos bancos comerciais, bancos múltiplos, caixas econômicas, cooperativas de crédito e bancos cooperativos.

Conforme Brito (2013, p. 11), bancos comerciais “são instituições financeiras, constituídas sob a forma de sociedades anônimas, especializadas particularmente em operações de curto e médio prazos. Essas operações consistem na captação de recursos do público mediante emissões de depósitos à vista e a prazo fixo para financiamento, geralmente a curto e médio prazos à indústria, ao comércio e ao público em geral”.

Hoji (2017) destaca que os bancos comerciais, pelas suas próprias características e funções, são a base do sistema monetário. Além de prestarem serviços de natureza financeira, tais como cobrança de títulos, recebimentos de tributos, dentre outros, fazem também operações de câmbio. Ainda, por meio do crédito seletivo, repassam recursos aos tomadores, fazendo descontos de títulos e operações de abertura de crédito simples ou em conta corrente.

Conforme Cavalcante, Misumi e Rudge (2005, p. 29), bancos comerciais são

instituições monetárias por terem o poder de criação de moeda escritural. São instituições financeiras que recebem depósito à vista em contas de movimento e efetuam empréstimos de curto prazo, principalmente para capital de giro das empresas. De outra forma, prestam também serviços auxiliares, tais como cobranças mediante comissão, transferências de fundos de uma para outra praça e outros serviços.

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UNIDADE 2 | ESTRUTURA E NORMATIVA FINANCEIRA

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Os bancos, por assim dizer, vêm apresentando rápida evolução em sua estrutura de funcionamento, procurando adaptar suas operações e produtos a um mercado cada vez mais exigente e globalizado. Atualmente, trabalham de forma mais especializada, segmentando sua participação no mercado com base no volume de negócios e na forma de atendimento.

Nesta concepção destaca-se a presença dos bancos múltiplos. Mas, o que difere um banco comercial de um banco múltiplo? Então, vamos lá!

Os bancos múltiplos surgiram em função do crescimento do mercado financeiro e da necessidade de as instituições financeiras se tornarem mais ágeis e ao mesmo tempo apresentarem menores custos operacionais (ASAF NETO; LIMA, 2017).

Brito (2013, p .12) lembra que:

o Banco Central do Brasil autorizou a constituição de bancos múltiplos em 1988, por meio da Resolução nº 1.254, de 21.09.1988. A alteração estrutural permitiu aos bancos comerciais, de investimento, de desenvolvimento, sociedades de crédito imobiliário e sociedades de crédito, financiamento e investimento organizarem-se em uma única instituição financeira, com personalidade jurídica própria.

NOTA

“Os bancos múltiplos são instituições financeiras com licença para fornecer uma ampla gama de serviços bancários comerciais, operações de câmbio, de investimento, financiamento ao consumidor e outros serviços, inclusive de gerenciamento de fundos e financiamento de imóveis” (PINHEIRO, 2012, p. 75).

Assaf Neto (2012, p. 47) explica que:

O projeto do banco múltiplo prevê sua formação com base nas atividades (carteiras) de quatro instituições: banco comercial, banco de investimento e desenvolvimento, sociedade de crédito, financiamento e investimento e sociedade de crédito imobiliário. Para que uma instituição seja configurada como um banco múltiplo, ela deve operar pelo menos duas das carteiras apresentadas, uma delas necessariamente de banco comercial ou de banco de investimento.

Conforme Hoji (2017, p. 30), “as caixas econômicas integram o Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo e o Sistema Financeiro de Habitação. São instituições com objetivos sociais, que concedem empréstimos e financiamentos a programas e projetos nas áreas de habitação, assistência social, saúde, educação, trabalho, transporte urbano e esporte”.

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Dessa forma, “as caixas econômicas (federal e estaduais), assim como os bancos comerciais, podem receber depósitos à vista do público (exercendo o poder de criação de moeda escritural), além dos depósitos em cadernetas de poupança” (CAVALCANTE; MISUMI; RUDGE, 2005, p. 29). Os autores ainda explicam que as caixas econômicas atuam basicamente no financiamento habitacional e empréstimos em geral a particulares.

IMPORTANTE

Após a extinção do Banco Nacional de Habitação, a Caixa Econômica Federal absorveu seus ativos e passivos, tornando-se o agente do Governo Federal para a execução de sua política habitacional.

As cooperativas de crédito são instituições voltadas a oferecer créditos e prestar determinados serviços financeiros a seus associados, podendo ser constituídas basicamente de funcionários de uma mesma empresa ou grupos de empresas, de profissionais de determinado segmento de atividade e de empresários. De acordo com a legislação em vigor, é equiparada a uma instituição financeira, tendo seu funcionamento regulado e autorizado pelo Banco Central do Brasil (ASSAF NETO, 2012).

Tal como as cooperativas de crédito, os bancos cooperativos são de propriedade de seus associados e seguem os mesmos princípios cooperativos. No entanto, diferenciam-se pelo fato de que os bancos cooperativos são duplamente regulamentados (como bancos e como cooperativas), sendo que muitos deles possuem ações negociadas no mercado de capitais, o que faz com que sejam parcialmente detidas por não associados. Surgem a partir de cooperativas de crédito, no entanto, sua principal restrição é limitar suas operações em apenas uma Unidade da Federação (UF), o que garante a permanência dos recursos onde são gerados, impulsionando o desenvolvimento local.

O segundo grande grupo de operadores financeiros que iremos estudar é composto pelas instituições financeiras não bancárias. Conforme Mellagi Filho e Ishikawa (2008), as instituições financeiras classificadas como não bancárias são as que não apresentam capacidade de emitir moeda ou meios de pagamento, assim como as instituições financeiras que vimos anteriormente. Assaf Neto (2012) explica que as instituições financeiras não bancárias não estão legalmente autorizadas a receber depósitos à vista, inexistindo a faculdade de criação de moeda. Essas instituições trabalham basicamente com ativos não monetários, tais como ações, letras de câmbio, certificados de depósitos bancários, debêntures etc.

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Apesar de não serem consideradas instituições financeiras, exercem importante papel no mercado financeiro. Dentre as principais instituições que compõem este grupo, destacam-se os bancos de investimento e bancos de desenvolvimento.

Conforme Assaf Neto (2012), os bancos de investimento são grandes fornecedores de créditos de médio e longo prazos, suprindo o mercado com recursos para investimento em capital de giro ou então para investimento em capital fixo. Como agentes financiadores, essas instituições efetuam operações em grande montante, como repasses de recursos oficiais de crédito, repasses de recursos captados no exterior, operações de subscrição pública de valores mobiliários (ações e debêntures) e financiamento de bens de produção a profissionais autônomos.

Cabe lembrar que tais instituições não podem captar recursos por meio de depósitos à vista, assim como os efetuados pelos bancos comerciais. Sobre este aspecto, Hoji (2017, p. 30) explica que os bancos de investimentos “captam recursos por meio da emissão de Certificados de Depósito Bancário (CDBs) e Recibos de Depósito Bancário (RDBs), repasses de origem interna ou externa, ou pela venda de cotas de fundos de investimentos. São instituições especializadas em underwriting (subscrição pública de ações) e estruturação de financiamentos de projetos”.

Já os bancos de desenvolvimento têm como principal objetivo “proporcionar o suprimento oportuno e adequado dos recursos necessários ao financiamento, a médio e longo prazos, de programas e projetos que visem promover o desenvolvimento econômico e social, conforme determinação governamental” (PINHEIRO, 2012, p. 77).

O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) é o principal agente do Governo Federal, no entanto há instituições de fomento regionais, por exemplo, o Banco do Nordeste do Brasil e o Banco da Amazônia, que são controlados pelos seus respectivos governos estaduais. Devido à sua importância, daremos maior destaque ao BNDES.

IMPORTANTE

O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) é a instituição responsável pela política de investimento de longo prazo do Governo Federal, sendo a principal instituição financeira de desenvolvimento econômico e social (SALAZAR, 2010).

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“O BNDES é um órgão vinculado ao Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior e tem como objetivo apoiar empreendimentos que contribuam para o desenvolvimento do Brasil. Dessa ação resultam a melhoria da competitividade da economia brasileira e a elevação da qualidade de vida da sua população” (PINHEIRO, 2012, p. 77).

O Banco de Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) conta com duas subsidiárias que formam o chamado Sistema BNDES:

• Finame (Agência Especial de Financiamento Industrial): criada com o objetivo de financiar a comercialização de máquinas e equipamentos;

• BNDESPAR (BNDES Participações): criada com o objetivo de possibilitar a subscrição de valores mobiliários no mercado de capitais brasileiro.

DICAS

Para saber mais sobre a forma de atuação e fontes de financiamentos do BNDES, acesse: https://www.bndes.gov.br/wps/portal/site/home

Por fim, o último grupo de operadores financeiros é o Sistema Distribuidor de Títulos e Valores Mobiliários. Este sistema, como o próprio nome sugere, é composto pelas instituições que transacionam títulos e valores mobiliários, além de moedas estrangeiras. Dentre as principais instituições, destacam-se as bolsas de valores, as sociedades corretoras, as sociedades distribuidoras e os agentes autônomos de investimentos.

Conforme Cavalcante, Misumi e Rudge (2005), as bolsas de valores constituem-se como associações civis, sem fins lucrativos ou sociedades anônimas que têm por objetivo manter local adequado à realização de transações de compra e venda de títulos e valores mobiliários, em mercado livre e aberto, organizado e fiscalizado pelos seus membros, pela autoridade monetária e, em especial, pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM).

Assaf Neto (2012, p. 50) define bolsas de valores como sendo “organizações que mantêm um local onde são negociados os títulos e valores mobiliários de pessoas jurídicas públicas e privadas. Para tanto, devem apresentar todas as condições necessárias para o perfeito funcionamento dessas transações, tais como organização, controle e fiscalização”.

Além de suas funções básicas, as bolsas de valores propiciam liquidez às aplicações fornecendo um preço de referência para os ativos ali negociados por intermédio de um mercado contínuo, representado por seus pregões diários (CAVALCANTE; MISUMI; RUDGE, 2005).

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UNIDADE 2 | ESTRUTURA E NORMATIVA FINANCEIRA

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As sociedades corretoras são instituições que efetuam, com exclusividade, a intermediação financeira nos pregões das bolsas de valores (ASSAF NETO, 2012). Conforme Mellagi Filho e Ishikawa (2008, p. 132), as sociedades corretoras “operam com compra, venda e distribuição de títulos e valores mobiliários (inclusive ouro) por conta de terceiros”. Sua constituição depende de autorização do Banco Central do Brasil (BACEN) e o exercício de sua atividade depende de autorização da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) e, como tal, podem operar nos recintos das bolsas de valores e mercadorias. Dentre suas principais atuações, estão:

• efetuar lançamentos públicos de ações;• administrar carteiras e custodiar valores mobiliários;• instituir, organizar e administrar fundos de investimentos;• operar no mercado aberto e intermediar operações de câmbio.

Cavalcante, Misumi e Rudge (2005) lembram que a principal função das sociedades corretoras é promover, de forma eficiente, a aproximação entre compradores e vendedores de títulos de valores mobiliários, dando a estes negociabilidade adequada através de operações realizadas em recintos próprios (bolsas de valores). Dessa forma, exercem papel de unificação do mercado, dando segurança ao sistema e liquidez aos títulos transacionados.

NOTA

“As sociedades corretoras apresentam como principal característica operar em bolsas de valores, com títulos e valores mobiliários de negociação autorizada, comprando e vendendo títulos e valores mobiliários por conta de terceiros” (BRITO, 2013, p. 11).

Já as sociedades distribuidoras são firmas constituídas como sociedades anônimas ou sociedade por cotas de responsabilidade limitada, cuja autorização para funcionamento é dada pelo Banco Central do Brasil (BACEN) (CAVALCANTE; MISUMI; RUDGE, 2005). Conforme Assaf Neto (2012), as sociedades distribuidoras são também instituições intermediadoras de títulos e valores mobiliários, cujos objetivos básicos se assemelham bastante com as corretoras.

NOTA

“As sociedades distribuidoras têm por objetivo principal a subscrição, distribuição e/ou intermediação da colocação de títulos de valores mobiliários para venda, distribuição ou negociação, contribuindo para a captação e condução de poupança no mercado de capitais” (BRITO, 2013, p. 11).

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TÓPICO 2 | SISTEMA FINANCEIRO NACIONAL

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Por fim, conforme destacado por Assaf Neto (2012), os agentes autônomos de investimentos são pessoas físicas credenciadas pelas instituições financeiras intermediadoras (corretoras, distribuidoras, bancos e financeiras) para atuarem na colocação de títulos e valores mobiliários e outros serviços financeiros no mercado, operando em troca do recebimento de uma comissão. Esses profissionais, da mesma forma que as instituições financeiras, são fiscalizados pelo Banco Central do Brasil (BACEN) e pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM).

Neste tópico estudamos a estrutura do Sistema Financeiro Nacional e as principais características das instituições financeiras que o compõem. No próximo iremos estudar a sistemática do mercado de valores mobiliários, bem como identificar e diferenciar o papel dos participantes deste mercado.

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RESUMO DO TÓPICO 2Neste tópico, você aprendeu que:

• O Sistema Financeiro Nacional (SFN) foi institucionalizado e implementado (1964 e 1968) na economia brasileira seguindo uma orientação que privilegiou a especialização de suas instituições e mercados de acordo com áreas de captação e aplicação dos recursos mobilizados.

• A estrutura do Sistema Financeiro Nacional (SFN) pode ser dividida em órgãos normativos, entidades supervisoras e operadores financeiros.

• O Conselho Monetário Nacional (CMN) é o órgão máximo do Sistema Financeiro Nacional (SFN).

• Vinculados ao Conselho Monetário Nacional (CMN), como órgão normativo do Sistema Financeiro, encontram-se o Banco Central do Brasil (BACEN) e a Comissão de Valores Mobiliários (CVM).

• Essas três grandes instituições compõem o denominado subsistema normativo do Sistema Financeiro Nacional (SFN), responsável pelo funcionamento do mercado e de suas instituições.

• O Banco Central do Brasil (BACEN) assume cinco papéis: banco dos bancos, gestor do Sistema Financeiro Nacional (SFN), executor da política monetária, banco emissor e banco do governo.

• A Comissão de Valores Mobiliários (CVM) é uma entidade supervisora do Sistema Financeiro Nacional (SFN) especificamente voltada para o desenvolvimento, cumprimento das normas operativas e fiscalizadoras do mercado de valores mobiliários.

• As transferências de recursos financeiros entre investidores, agentes capazes de gerar poupança, captadores e agentes carentes de capital processam-se por meio de intermediários financeiros (instituições financeiras).

• As negociações com títulos públicos no mercado monetário brasileiro são controladas pelo Sistema Especial de Liquidação e Custódia (SELIC).

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AUTOATIVIDADE

1 O que é Sistema Financeiro Nacional?

2 Qual o papel do Conselho Monetário Nacional?

3 Qual a atribuição das entidades supervisoras?

4 O que faz o Banco Central do Brasil (BACEN)?

5 Qual o papel da Comissão de Valores Mobiliários (CVM)?

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TÓPICO 3

MERCADO DE VALORES MOBILIÁRIOS

UNIDADE 2

1 INTRODUÇÃOPor vezes, o mercado de crédito é insuficiente para suprir as necessidades

de financiamento dos agentes econômicos, especialmente aqueles envolvidos com as atividades produtivas. Isso pode ocorrer quando, por exemplo, uma determinada organização empresarial necessita de um volume financeiro maior do que a sua capacidade de se financiar no mercado de crédito. Ademais, o mercado de crédito possui um alto custo em função dos riscos assumidos pelas instituições financeiras (intermediários financeiros), o que pode inviabilizar os investimentos pretendidos pelas organizações.

Em geral, os investimentos nos setores produtivos demandam recursos financeiros de valores mais altos e de prazos de retorno do capital investido mais longos, o que implica automaticamente maiores riscos. Tais características têm demandado o desenvolvimento e crescimento de um mercado muito específico, o Mercado de Capitais, também conhecido como Mercado de Valores Mobiliários.

Este mercado tem sido um importante mecanismo de fonte de financiamento de longo prazo para as organizações, além de possibilitar a liquidez dos papéis negociados no mercado, criando um ciclo virtuoso para o desenvolvimento da economia como um todo. Ele é operacionalizado especialmente pelas bolsas de valores e pelas sociedades corretoras, que são supervisionadas pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM).

O mercado de capitais, por meio da bolsa de valores e das sociedades corretoras, possibilita que as empresas tenham sempre a opção de levantar capital, bem como permite que os investidores possam aplicar seus recursos financeiros a taxas de retorno mais atrativas que o mercado financeiro dito como tradicional.

O propósito deste tópico é o de promover a compreensão a respeito da sistemática do mercado de valores mobiliários, bem como identificar e diferenciar o papel dos participantes deste mercado.

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UNIDADE 2 | ESTRUTURA E NORMATIVA FINANCEIRA

2 SISTEMÁTICA DO MERCADO DE VALORES MOBILIÁRIOSQuando se estuda o mercado financeiro, pretende-se compreender as

principais características das operações nele realizadas. De forma mais específica, pretende-se conhecer os agentes econômicos envolvidos nas mais diversificadas operações, os intermediários financeiros e não financeiros, os ativos e produtos financeiros que estão sendo negociados, os meios utilizados para a captação dos recursos, a finalidade da aplicação desses recursos, os prazos das operações, a formalização de tais operações, dentre outros (CVM, 2014).

Conforme B3 - Brasil Bolsa Balcão (2017, p. 8), “quando as empresas necessitam de novos recursos para investimento em seus projetos, existe uma ampla gama de alternativas à disposição para a captação desses recursos. Inicialmente, a empresa pode optar pelo uso de recursos próprios, seja por meio da retenção ou reinvestimento do lucro, seja pela renovação de créditos já existentes”.

A CVM (2014) destaca que diante da necessidade de recursos financeiros para novos investimentos, as empresas possuem três possíveis fontes para captação. A escolha entre uma das alternativas é uma decisão financeira estratégica da empresa, que deverá avaliar os custos e benefícios de cada opção. Essas fontes de recursos podem ser:

• utilização de recursos próprios, como os lucros acumulados pela companhia;• contratação de financiamento bancário através das linhas de crédito tradicionais

ou linhas de financiamento governamentais, como o BNDES; • utilização do mercado de capitais por meio de emissão pública de títulos

diretamente aos investidores.

De acordo com B3 - Brasil Bolsa Balcão (2017, p. 8), as empresas podem “tentar obter recursos externos, de terceiros ou por meio da ampliação do seu próprio capital. Os terceiros dispostos a oferecer recursos para o financiamento dos projetos das empresas são investidores que detêm capital excedente e buscam rentabilizá-lo por meio de investimentos, por exemplo, no mercado de capitais, comprando títulos e valores mobiliários emitidos pelas empresas”.

Como observamos nos tópicos anteriores, o sistema financeiro pode ser classificado em diferentes mercados, dependendo da natureza e de suas características. Dentre eles, dois são muito bem delimitados e dificilmente geram alguma confusão sobre sua atuação na economia: o mercado monetário e o mercado cambial. No entanto, o mercado de crédito e o mercado de capitais (mercado de valores mobiliários) têm gerado certa dúvida, especialmente em função de suas características serem muito similares.

Vamos imaginar a seguinte situação: uma determinada empresa contrata um empréstimo para pagamento de longo prazo em uma instituição financeira para instalação de uma nova planta industrial. Esta operação ocorre no mercado de crédito ou no mercado de capitais? A resposta? Depende!!

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TÓPICO 3 | MERCADO DE VALORES MOBILIÁRIOS

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O que determina a característica ou então a atualização dos recursos financeiros de um mercado ou de outro não é o prazo da operação e nem a finalidade da aplicação deste recurso, mas a característica da intermediação financeira propriamente dita, o que envolve o tipo de ativo utilizado, a forma como foi captado o recurso financeiro e, por muitas vezes, o tipo de intermediário financeiro utilizado nesta operação.

Em CVM (2014, p. 34) podemos verificar que:

No mercado de crédito, as instituições financeiras captam recursos dos poupadores e os emprestam aos tomadores, assumindo o risco da operação. São remuneradas por uma diferença entre a taxa de captação e de aplicação desses recursos. No mercado de capitais, por outro lado, os agentes superavitários emprestam seus recursos diretamente aos agentes deficitários. Porém, as operações ocorrem sempre com a intermediação de uma instituição financeira. No entanto, nesse mercado, essas instituições atuam principalmente como prestadoras de serviços, estruturando as operações, assessorando na formação de preços, oferecendo liquidez, captando clientes, distribuindo os valores mobiliários no mercado, entre outros trabalhos. São remuneradas pelo serviço prestado.

Em relação ao mercado de valores mobiliários, Assaf Neto e Lima (2017) explicam que este é uma importante fonte de recursos de longo prazo para investimentos da economia, assumindo papel relevante no processo de desenvolvimento econômico. A relação entre os agentes econômicos superavitários (que possuem capacidade de poupança) e os investidores (carentes de recursos financeiros de longo prazo) se processa por diversas modalidades de financiamentos de longo prazo para capital de giro e capital fixo, atuando também com operações de prazo indeterminado, como aquelas que envolvem emissão e subscrições de ações.

Cavalcante, Misumi e Rudge (2005, p. 17) mencionam que “as operações no mercado de capitais usualmente são de longo prazo e podem envolver a compra de participação acionária no empreendimento”. É neste contexto que o presente tópico pretende apresentar a sistemática do mercado de valores mobiliários. Mas, afinal, o que é mercado de capitais? Podemos encontrar na literatura uma infinidade de definições e conceitos, mas que ao fim nos conduzem a um mesmo entendimento.

Em Pinheiro (2012, p. 174) observamos que “o mercado de capitais pode ser definido como um conjunto de instituições e de instrumentos que negociam com títulos e valores mobiliários, objetivando a canalização dos recursos dos agentes compradores para os agentes vendedores”.

A CVM (2018, p. 36) conceitua mercado de capitais “como o segmento do mercado financeiro em que são criadas as condições para que as empresas captem recursos diretamente dos investidores, através da emissão de instrumentos financeiros, com o objetivo principal de financiar suas atividades ou viabilizar projetos de investimentos”.

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UNIDADE 2 | ESTRUTURA E NORMATIVA FINANCEIRA

Já B3 (2017, p. 2) destaca que o mercado de capitais

tem como objetivo principal canalizar recursos dos agentes econômicos para a capitalização das empresas de capital aberto, por meio de operações com títulos e valores mobiliários em mercado de bolsa ou balcão. A compra e a venda de títulos e valores mobiliários pelos diversos agentes econômicos (indivíduos, empresas, fundos e instituições financeiras, por exemplo) é o que define a liquidez e o valor de mercado de tais ativos e, portanto, da empresa emissora.

Como vimos anteriormente, o surgimento do mercado de capitais ocorreu devido à incapacidade do mercado de crédito em atender às necessidades da atividade produtiva no sentido de garantir um fluxo de recursos nas condições adequadas em termos de volumes financeiros, prazos, custos, dentre outras exigibilidades. Pinheiro (2012, p. 174) destaca que o seu surgimento foi fundamentado em dois princípios:

• contribuir para o desenvolvimento econômico, atuando como o propulsor de capitais para os investimentos, estimulando a formação da poupança privada; e

• permitir e orientar a estruturação de uma sociedade pluralista, baseada na economia de mercado, permitindo a participação coletiva de forma ampla na riqueza e nos resultados da economia.

No mercado de capitais, os investidores, ao emprestarem seus recursos diretamente para as empresas, adquirem títulos chamados de valores mobiliários que representam as condições estabelecidas no negócio. Podem ser títulos de dívida, como as debêntures, onde se estabelece uma relação de crédito entre as partes tomadora e poupadora, ou podem ser títulos patrimoniais (ou de capital) em que os investidores se tornam sócios do negócio com todos os direitos e deveres inerentes, como ações. Os investidores podem adquirir esses valores mobiliários de forma direta ou indireta por meio de estruturas de investimento coletivo, como os fundos de investimentos ou clubes de investimentos.

ESTUDOS FUTUROS

Valores mobiliários, fundos de investimentos e clubes de investimentos são assuntos que serão abordados em tópico e capítulo específico deste caderno de estudos.

Para que uma empresa possa participar do mercado de capitais ela precisa, obrigatoriamente, estar listada em uma bolsa de valores. A literatura classifica esse processo como “abertura de capital”. Somente dessa forma as empresas podem ter suas ações negociadas publicamente. Sendo assim, qualquer pessoa pode se tornar acionista desta empresa, bastando comprar ações por meio de uma corretora da bolsa de valores (BM&FBOVESPA, 2018a).

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TÓPICO 3 | MERCADO DE VALORES MOBILIÁRIOS

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IMPORTANTE

É importante salientar que a abertura de capital pode ocorrer com ou sem oferta de ações no mercado.

Para a abertura de capital a empresa precisa entrar com o pedido de registro de Companhia Aberta na CVM, que é o órgão regulador e fiscalizador do mercado de capitais brasileiro. Junto a esse pedido, solicita uma autorização para realizar venda de ações ao público, conhecida como distribuição pública de ações. Essa primeira colocação pública de ações da Companhia é chamada de Oferta Pública Inicial ou IPO (sigla em inglês para Initial Public Offering).

Mas, qual o motivo e quais as vantagens para a empresa abrir o seu capital? Em BM&FBovespa (2018b, p. 4) encontramos tais justificativas:

• para captar recursos: a abertura de capital é uma fonte atrativa de financiamento, pode auxiliar na adequação da estrutura de capital alavancada e permite à empresa acessar investidores do mundo todo;

• para obter liquidez patrimonial: a abertura de capital permite ao executivo diversificar seus investimentos e patrimônio, além de possibilitar a saída de investidores, como fundos de private equity/venture capital;

• para obter visibilidade: abrir o capital melhora a imagem institucional da companhia, que ganha projeção e reconhecimento da mídia e do mercado financeiro. Vale destacar também o aumento da visibilidade com os investidores. A companhia passa a ser conhecida em âmbito nacional e, muitas vezes, internacional;

• para obter moeda de troca e referencial: a abertura de capital possibilita à empresa adquirir ativos sem utilizar recursos do caixa, ou seja, uma aquisição pode ser paga com ações da própria companhia, processo mais rápido e ágil;

• para facilitar processos de reestruturação societária: a abertura de capital pode ser uma solução para problemas relativos à estrutura societária, partilhas de heranças e processos sucessórios;

• para melhoria do relacionamento com stakeholders: com a abertura de capital, ocorre o fortalecimento da relação com funcionários, clientes, fornecedores, instituições financeiras, concorrentes, entre outros;

• para aprimorar suas práticas de governança corporativa: da preparação à abertura de capital efetivamente, a empresa deve elevar suas práticas de governança corporativa a um padrão altamente diferenciado. Esse padrão exigido pelo status de companhia aberta influencia positivamente na valorização da empresa;

• para aumentar as vantagens competitivas da sua empresa: uma companhia aberta tende a ter um diferencial competitivo em relação aos seus concorrentes ainda fechados. Quando recorre ao endividamento bancário, por exemplo, seu custo financeiro é normalmente inferior ao de uma companhia fechada. Ao negociar com um fornecedor ou cliente, também pode ter preferência pelo fato de ser aberta;

• para perenizar a sua empresa: a abertura de capital irá perenizar a sua empresa, isto é, eternizará o seu negócio, desejo de qualquer empreendedor.

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UNIDADE 2 | ESTRUTURA E NORMATIVA FINANCEIRA

É por meio do mercado de ações, mais especificamente pela venda da participação do patrimônio líquido da empresa representados pelas suas ações, que as sociedades anônimas captam os recursos necessários ao próprio desenvolvimento das organizações, assumindo o compromisso de remunerar os seus acionistas em função do capital nela aplicado (FORTUNA, 2014).

Conforme descrito por Galvão, Ribeiro e Oliveira (2006), a prática de abertura de capital de uma empresa ocorre pelo lançamento de ações ao público, ou seja, a abertura de capital permite que a ação seja negociada em bolsas de valores.

Cabe lembrar que a abertura de capital pode decorrer da colocação de qualquer tipo de valores mobiliários na bolsa, sejam as ações, debêntures ou ainda notas promissórias. Galvão, Ribeiro e Oliveira (2006) explicam que o lançamento de ações pode ocorrer tanto por meio de uma emissão de novas ações, trazendo recursos à empresa emissora de tais ações, quanto pelo lançamento ao público de um lote de ações detido pelo acionista atual.

NOTA

A principal função do mercado de capitais é possibilitar que empresas (ou outros emissores de valores mobiliários) captem recursos diretamente do público investidor em condições mais vantajosas do que as oferecidas pelos empréstimos e financiamentos bancários para viabilizar seus projetos de investimento. Quando as companhias decidem levantar recursos dessa forma, realizam uma nova emissão de valores mobiliários no mercado (B3 - BRASIL BOLSA BALCÃO, 2017, p. 10).

A estrutura do mercado acionário pode ser dividida em dois segmentos: o mercado primário e o mercado secundário. Em Pinheiro (2012, p. 175) podemos verificar no que consistem estes dois segmentos:

• o mercado primário de ações é onde se negocia a subscrição (venda) de novas ações ao público, ou seja, no qual a empresa obtém recursos para seus empreendimentos. Quando a emissão é subscrita totalmente pelos antigos acionistas, embora seja registrada em bolsa, chama-se subscrição particular e é feita diretamente na empresa ou por meio de bolsa de valores. Nessa etapa, ocorre a primeira negociação e o dinheiro da venda vai para a empresa;

• o mercado secundário de ações é o lugar onde se transferem títulos entre investidores e/ou instituições. Portanto, torna-se uma condição para a existência do mercado primário, em que as empresas podem efetivamente obter recursos financeiros. O fator fundamental na decisão do investidor quando compra ações de novos lançamentos é a possibilidade de que, mais tarde, ao necessitar do total ou parte do capital investido, possa desfazer-se delas e reaver seu dinheiro com lucros.

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Agora você deve estar se perguntando: na prática, qual a diferença entre estes dois segmentos? A diferença básica entre o mercado primário e o mercado secundário é que o primeiro se caracteriza pelo “encaixe” de recursos na empresa, enquanto o segundo consiste na mera transação entre compradores e vendedores de ações, não ocorrendo alterações financeiras na empresa.

IMPORTANTE

Para fins didáticos, estamos dando ênfase na compra e vendas de ações. No entanto, a sistemática é a mesma para outros ativos financeiros (valores mobiliários) negociados pelas empresas, tais como debêntures, notas promissórias, dentre outros.

Pinheiro (2012) explica que o mercado primário de ações exerce a função de canalizar recursos dos que poupam para o investimento nas atividades produtivas. Já a função do mercado secundário é dar liquidez ao investidor possibilitando que, no momento em que realizar uma operação de venda, exista o comprador e vice-e-versa, o que viabilizará o crescimento do mercado primário e a consequente capitalização das empresas via mercado de ações.

Vimos que o mercado de capitais é importante para o desenvolvimento da economia do país, transforma-se em uma atraente fonte de recursos financeiros para as organizações que pretendem expandir suas operações etc. E para os investidores (poupadores), aqueles que possuem superávit em suas rendas? Há algum benefício? Com certeza! Isto fica claro em CVM (2014, p. 36):

Já do ponto de vista dos investidores, o mercado de capitais surge como alternativa às aplicações tradicionais em produtos oferecidos pelos bancos ou pelo governo. É nesse mercado que os poupadores têm a oportunidade de participar de empreendimentos que consideram interessantes, desde que dispostos a assumir riscos daí decorrentes. Espera-se, em especial nos títulos patrimoniais, uma rentabilidade superior aos investimentos tradicionais, embora com risco também superior. Isso porque, diferente do mercado de crédito, em que o risco das operações é centralizado nos bancos, no mercado de capitais o risco da operação em que os recursos são aplicados é assumido pelos próprios investidores.

A CMV (2014, p. 35) lembra ainda que:

As instituições financeiras que atuam como prestadoras de serviços não assumem a responsabilidade pelo cumprimento das obrigações estabelecidas e formalizadas entre os emissores e os investidores. Assim, a responsabilidade pelo pagamento dos juros e do principal de uma debênture, por exemplo, é da emissora e não da instituição financeira que tenha assessorado ou participado do processo de colocação dos títulos no mercado.

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UNIDADE 2 | ESTRUTURA E NORMATIVA FINANCEIRA

ESTUDOS FUTUROS

São participantes desse mercado, entre outros, os bancos de investimentos, as corretoras e distribuidoras de valores mobiliários, as entidades administradoras de mercado de bolsa de balcão, além de diversos outros prestadores de serviços.

Aprendemos como funciona a sistemática do mercado de capitais e a sua contribuição tanto como fonte de recursos para que as empresas possam investir em seus projetos na perspectiva de médio e longo prazos, quanto para o próprio desenvolvimento econômico do país. No próximo subtópico identificaremos quem são os participantes desse mercado e suas respectivas funções.

3 PARTICIPANTES DO MERCADO DE CAPITAISPara que os recursos financeiros (dinheiro) saiam da poupança dos agentes

superavitários (investidores) para o caixa das empresas (agentes que demandam de recursos financeiros para investimentos) e para que os poupadores (investidores) consigam trocar os papéis adquiridos no mercado primário (liquidez), é necessário que exista um sistema de intermediação financeira cuja composição consiste em uma diversidade de instituições, cada uma com sua função específica.

De forma mais específica, o sistema que coloca em funcionamento o mercado de capitais na sua plena harmonia é composto pelas bolsas de valores, pelas sociedades corretoras e sociedades distribuidoras, pelos agentes autônomos, pelos clubes e fundos de investimentos e pelos bancos de investimentos.

Mas, no que consiste cada uma dessas instituições? Quais as suas funções? Vejamos então cada uma delas. Começaremos pela bolsa de valores.

É por meio das bolsas de valores que o mercado de capitais é operacionalizado. Conforme Salazar (2010, p. 191), “a bolsa de valores é uma instituição de direito civil sem fins lucrativos, sendo seu patrimônio representado por títulos patrimoniais que pertencem às sociedades corretoras. As atividades da bolsa de valores são supervisionadas pela Comissão de Valores Mobiliários”.

Pinheiro (2012, p. 264) destaca que:

as bolsas de valores são instituições de caráter econômico que têm como objetivo a negociação pública mercantil de títulos e valores mobiliários, ou seja, é um local onde se compra e vende ações. Nelas ocorrem a canalização da oferta e demanda dos investidores e a publicação oficial dos preços ou cotações resultantes das operações realizadas.

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De acordo com o disposto na Resolução nº 2.690, de 28/01/2000, do Conselho Monetário Nacional (CMN), as bolsas de valores constituem-se como associações civis, sem fins lucrativos ou sociedades anônimas, e têm por objetivo social, entre outros, manter local adequado ao encontro de seus membros e à realização, entre eles, de transações de compra e venda de títulos e valores mobiliários, em mercado livre e aberto, especialmente organizado e fiscalizado por seus membros, pela autoridade monetária e, em especial, pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM) (CAVALCANTE; MISUMI; RUDGE, 2005).

Sendo assim, a bolsa de valores é uma instituição com responsabilidade e função de interesse público que proporciona um local apropriado para a realização de negócios com títulos e valores mobiliários. A razão de sua existência consiste em proporcionar liquidez aos títulos negociados no mercado de capitais, permitindo que as negociações sejam realizadas no menor tempo possível e a um preço justo de mercado, formado pelo consenso de oferta e demanda pelo próprio mercado (ASSAF NETO; LIMA, 2017).

Gallagher (2012, p. 33) destaca que:

para que o processo de formação de preços seja mais transparente e atraente, existem as assim chamadas práticas equitativas de mercado, segundo as quais todos os que comprarem e venderem ações em bolsa terão o mesmo tratamento, obedecerão aos mesmos procedimentos e terão idêntico acesso à informação. Com isso cria-se uma sistematização cada vez mais formal e pública das operações de compra e venda de ações.

A bolsa de valores propicia liquidez às aplicações fornecendo, concomitantemente, um preço de referência para os ativos ali negociados por intermédio de um mercado contínuo, representado por seus pregões diários (CAVALCANTE; MISUMI; RUDGE, 2005).

IMPORTANTE

Dar liquidez significa fazer com que o dinheiro de quem comprou o título chegue às mãos de quem vendeu, representado pela liquidação financeira, e que a titularidade do título seja trocada, ou seja, liquidação física. Por sua vez, custódia significa guarda. Isso quer dizer que o sistema de custódia é que dá a garantia de que o título realmente existe e confirma a sua titularidade (GALLAGHER, 2012, p. 33).

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UNIDADE 2 | ESTRUTURA E NORMATIVA FINANCEIRA

Conforme Galvão, Ribeiro e Oliveira (2006), dentre as principais atribuições da bolsa de valores está a de oferecer um mercado para a cotação dos títulos e valores mobiliários nelas registrados; orientar e fiscalizar os serviços prestados por seus membros; facilitar a divulgação constante de informações sobre as empresas e sobre os negócios que se realizam sob seu controle e; propiciar liquidez às aplicações de curto e longo prazos, por intermédio de um mercado contínuo, representado por seus pregões diários.

Gallagher (2012, p. 33) desta que que:

[...] para que o processo de formação de preços seja mais transparente e atraente, existem as assim chamadas práticas equitativas de mercado, segundo as quais todos os que comprarem e venderem ações em Bolsa terão o mesmo tratamento, obedecerão aos mesmos procedimentos terão idêntico acesso à informação. Com isso cria-se uma sistematização cada vez mais formal e pública das operações de compra e venda de ações.

Apesar de as bolsas de valores estarem abertas a todos os tipos de indivíduos e instituições e possuírem poder de autorregulamentação, elas estão sujeitas ao controle e à regulamentação de órgãos governamentais, tais como a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) no caso brasileiro e a Securities and Exchange Commission (SEC) no contexto norte-americano (PINHEIRO, 2012).

As sociedades corretoras de valores mobiliários são instituições típicas do mercado acionário, operando com compra, venda e distribuição de títulos e valores mobiliários (inclusive ouro) por conta de terceiros. Elas fazem a intermediação com as bolsas de valores e de mercadorias (FORTUNA, 2014).

As sociedades corretoras são instituições membros das bolsas de valores, cuja constituição depende de autorização do Banco Central do Brasil (BACEN) e o exercício de sua atividade depende de autorização da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), e como tal operam nos recintos das bolsas de valores e de mercadorias (GALVÃO; RIBEIRO; OLIVEIRA, 2006).

Conforme CVM (2014), as sociedades corretoras são constituídas sob a forma de sociedade por ações ou por cotas de responsabilidade limitada.

IMPORTANTE

As sociedades corretoras de valores mobiliários necessitam de autorização prévia do BACEN para serem constituídas, estando sujeitas à fiscalização da Bolsa de Valores, da CVM e do próprio BACEN (CVM, 2014).

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TÓPICO 3 | MERCADO DE VALORES MOBILIÁRIOS

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As sociedades corretoras são caracterizadas como instituições financeiras com múltiplas funções e até o início de março de 2009 eram as únicas instituições autorizadas a negociar em bolsas de valores. Conforme CVM (2014, p. 51):

sua principal atividade é a execução de ordens de compra e venda de ativos para seus clientes. Podem auxiliar o investidor na medida em que disponibilizam para seus clientes informações provenientes de seus departamentos técnicos ou de análise de terceiros. Podem também administrar fundos de investimentos. Em geral, cobram taxas e comissões por seus serviços.

NOTA

“As sociedades corretoras são instituições constituídas como sociedades anônimas ou sociedade por cotas de responsabilidade limitada. Sua principal função é promover, de forma eficiente, a aproximação entre compradores e vendedores de títulos e valores mobiliários, dando a eles a negociabilidade adequada em recinto próprio” (SALAZAR, 2010, p. 192).

Conforme Galvão, Ribeiro e Oliveira (2006), as sociedades corretoras são intermediárias especializadas em negociar valores mobiliários em pregões, onde executam as ordens de compra e venda de valores mobiliários. Dentre as suas principais atribuições, destacam-se: promover ou participar de lançamento público de ações; administrar e custodiar carteiras de títulos e valores mobiliários; organizar e administrar fundos e clubes de investimento; operar em bolsas de mercadorias e futuros; efetuar operações de compra e venda de metais preciosos e moedas estrangeiras e; prestar serviços de assessoria técnica em operações inerentes ao mercado financeiro.

Conforme observamos, as sociedades corretoras efetuam principalmente a intermediação financeira nas bolsas de valores. Neste sentido, Gallagher (2012, p. 36) apresenta suas principais competências:

• operar em bolsas de mercadorias e futuros, por conta própria e de terceiros;

• promover ou participar de lançamento público de ações;• administrar e custodiar carteiras de títulos e valores mobiliários;• organizar e administrar fundos e clubes de investimentos;• efetuar operações de intermediação de títulos e valores mobiliários,

bem como de moedas estrangeiras, por conta própria ou de terceiros;• efetuar operações de compra e venda de metais preciosos, por conta

própria ou de terceiros;• prestar serviços de assessoria técnica em operações e atividades

inerentes ao mercado financeiro e de capitais.

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UNIDADE 2 | ESTRUTURA E NORMATIVA FINANCEIRA

As sociedades distribuidoras de valores mobiliários constituem-se também em instituições intermediadoras na compra e venda de títulos e valores mobiliários, cujos objetivos básicos se assemelham bastante aos das corretoras (GALVÃO; RIBEIRO; OLIVEIRA, 2006). Elas também são autorizadas a funcionar pelo Banco Central do Brasil (BACEN) e pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM).

Conforme Gallagher (2012, p. 37), “as Sociedades Distribuidoras de Títulos de Valores Mobiliários (DTVM) são instituições auxiliares do sistema financeiro que participam do sistema de intermediação de títulos no mercado (ações, debêntures e outros), colocando-os à venda para o público”.

IMPORTANTE

São constituídas sob a forma de sociedade por ações ou por cotas de sociedade limitada e, em sua denominação social, deve constar obrigatoriamente a expressão “Distribuidora de Títulos e Valores Mobiliários” (CVM, 2014, p. 52).

A Decisão Conjunta de Nº 17 do Banco Central do Brasil (BACEN) e da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) de 02/03/09 autorizou as Sociedades Distribuidoras de Valores Mobiliários a operarem diretamente nos ambientes e sistemas de negociação dos mercados organizados de bolsas de valores, negociando ações. Até então as corretoras, únicas autorizadas a negociar diretamente, eram obrigadas a adquirir título patrimonial da bolsa de valores.

Dessa forma, com a liberalização por parte do Conselho Monetário Nacional (CMN), “as sociedades distribuidoras, se desejarem, podem operar em bolsa como as corretoras, bastando apenas cumprir todas as regras das bolsas e dos órgãos reguladores” (GALLAGHER, 2012, 37).

Nessas condições, Fortuna (2014, p. 40) elenca algumas das atividades executadas pelas sociedades distribuidoras:

• subscrição isolada ou em consórcio de emissão de títulos e valores mobiliários para revenda;

• intermediação da colocação de emissão de capital no mercado;• operações em bolsas de mercadorias e futuros;• operações no mercado aberto, desde que satisfaçam as condições

exigidas pelo Banco Central do Brasil (BACEN).

Cabe destacar que da mesma forma que as sociedades corretoras, as sociedades distribuidoras de valores mobiliários cobram taxas e comissões por seus serviços (CVM, 2014).

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Já os agentes autônomos de investimentos “são pessoas físicas credenciadas pelas instituições financeiras intermediadoras (corretoras, distribuidoras, bancos e financeiras) para atuar na colocação de títulos, valores e serviços financeiros junto ao público. Esses profissionais são fiscalizados pelo Banco Central do Brasil (BACEN) e pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM)” (GALVÃO; RIBEIRO; OLIVEIRA, 2006, p. 236).

Cavalcante, Misumi e Rudge (2005) classificam os agentes autônomos como uma pessoa, que pode ser física ou jurídica, uniprofissional, que tem como atividade a distribuição e a mediação de títulos e valores mobiliários, quotas de fundos de investimento e derivativos, sempre sob a responsabilidade das instituições integrantes do sistema de distribuição de valores mobiliários, e exclusivamente como preposto dessas instituições.

O vínculo desses profissionais com as instituições financeiras é representado por um contrato de prestação de serviços, e eles são remunerados por comissões de corretagem e/ou comissões de permanência sobre os negócios realizados para seus clientes de investimento. A atividade foi regulamentada pela Resolução CMN 2.838/01 e posteriormente pela CVM, através das Instruções 355 e 366, de 2002 (CAVALCANTE; MISUMI; RUDGE, 2005).

O investimento coletivo é a forma mais democrática de associar capitais. Os fundos de pensões, as entidades de previdência complementar, os fundos de investimentos, as companhias de seguros e capitalização e as companhias de investimentos são, na economia moderna, os chamados investidores institucionais. As tendências mundiais mostram que, no futuro, os fundos de pensão serão os maiores provedores de recursos para investimentos em todo o mundo (GALVÃO; RIBEIRO; OLIVEIRA, 2006).

Conforme Fortuna (2014, p, 43), investidores institucionais

não compõem uma instituição em si, mas constituem um tipo de investidor que por gerenciar recursos de terceiros, e/ou garantir suas obrigações contratuais com terceiros, deve aplicar recursos de que dispõe de acordo com regras previamente definidas pela entidade fiscalizadora do seu segmento de atividade. Podem ser agrupados em: fundos mútuos de investimentos, entidades abertas e fechadas de previdência complementar e seguradoras.

NOTA

“Fundo de Investimento é uma comunhão de recursos, constituídos sob a forma de condomínio, destinado à aplicação em carteira de títulos e valores mobiliários, bem como em quaisquer outros ativos disponíveis no mercado financeiro e de capitais” (PINHEIRO, 2012, p. 202).

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UNIDADE 2 | ESTRUTURA E NORMATIVA FINANCEIRA

A participação de pessoas físicas no mercado de capitais tem crescido consideravelmente nos últimos anos. Tal fato deve-se, principalmente, pela estabilidade da moeda e da queda dos juros, que tem influenciado o aumento da participação das pessoas físicas no mercado de renda variável. Tais fatores têm despertado o interesse dos investidores com menos conhecimento no mercado de capitais a procurar fundos de investimentos.

Fundo de Investimento é uma comunhão de recursos, captados de pessoas físicas ou jurídicas, com o objetivo de obter ganhos financeiros a partir da aplicação em títulos e valores mobiliários. Esses recursos são usados para comprar bens (títulos) que são de todos os investidores, na proporção de seus investimentos. Seu objetivo, portanto, é promover a aplicação coletiva dos recursos de seus participantes (CVM, 2014, p. 92).

CVM (2014) apresenta alguns motivos que podem levar alguém a investir com a ajuda de um fundo de investimentos: contar com a gestão do dinheiro por parte de um profissional especializado, ter acesso a uma estratégia de diversificação a custos menores ou, ainda, ter uma carteira de investimentos que não conseguiria montar sozinho. Outra grande vantagem para o investidor é a de conseguir resgatar rapidamente o seu dinheiro.

Além disso, os “Fundos de investimento possibilitam que investidores de perfil similar, com objetivo, estratégias e tolerância a riscos parecidos, concentrem recursos para aumentar seu poder de negociar e diluir os custos de administração, além de contarem com profissionais especializados, dedicados exclusivamente à gestão de recursos” (CMV, 2014, p. 93).

Você deve estar se perguntando: tem alguma desvantagem? Sim, tem uma, em especial, que é a de delegar a terceiros (administradores) seus recursos. Isto gera uma falta de autonomia na tomada de decisão e submissão a regras previamente estabelecidas e à vontade da maioria dos cotistas. Para supri-la, o investidor conta com a opção de estabelecer um Clube de Investimentos.

Nos últimos anos, as bolsas de valores, especialmente a Bolsa Brasil Balcão (B3), vem fazendo um trabalho muito importante na área educacional, com palestras e visitas de técnicos a empresas, clubes de lazer, eventos e outros locais de maior aglomeração, incentivando a formação de Clubes de Investimentos.

Clubes de Investidores são associações de pessoas, geralmente com algum tipo de afinidade, para investimento em ações. “Os clubes de investimento existem no Brasil há mais de 20 anos, mas a instabilidade econômica das últimas décadas impedia a consolidação dessa modalidade de investimento, que, por meio da poupança coletiva, dilui riscos e custos no mercado de renda variável” (GALVÃO; RIBEIRO; OLIVEIRA, 2006, p. 247).

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TÓPICO 3 | MERCADO DE VALORES MOBILIÁRIOS

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O objetivo da criação do clube de investimentos é dar dinâmica aos investimentos em ações, ampliando a participação dos investidores em bolsas de valores. Todas as operações de compra e venda de títulos e valores mobiliários são registradas sempre em nome do clube, devendo ser custodiadas em instituição autorizada a prestar este tipo de serviço (ASSAF NETO, 2012).

NOTA

“Clube de Investimento é a comunhão de recursos de, no mínimo três e no máximo 50, pessoas físicas para investimento em títulos e valores mobiliários. É, portanto, um instrumento de investimento coletivo no mercado de capitais, porém mais restrito do que um Fundo de Investimento” (CVM, 2014, p. 80).

Os clubes de investimentos correspondem a associações voluntárias de investidores que consorciam com a finalidade de realizar aplicações no mercado de capitais, administrando diretamente essas carteiras com a assistência e assessoria de instituições especializadas, tais como bancos de investimento, sociedades corretoras, dentre outras (PINHEIRO, 2012).

Assaf Neto (2012) lembra que a constituição do clube é processada mediante a aprovação e assinatura por parte dos seus membros do estatuto social, o qual regulará a conduta e procedimento de atuação.

O estatuto social do clube de investimento deve dispor, entre outros, dos seguintes assuntos: política de investimento a ser adotada, cálculo da quota a que cada membro tem direito, prazo de duração do clube, forma de resgate das quotas. O principal órgão deliberativo do clube de investimento é a assembleia geral, prevista em seu estatuto social e constituída por todos os membros (ASSAF NETO, 2012, p. 51).

IMPORTANTE

O registro e a fiscalização do clube são feitos em conjunto pela Bolsa de Valores e pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM).

Conforme (Pinheiro, 2012), para criar um clube de investimento são necessários três agentes: o administrador, que deve ser uma corretora de valores mobiliários credenciada pela bolsa de valores; o gestor, que pode ser uma pessoa ou comitê formado por três pessoas; e o representante dos condôminos. A corretora escolhida cuidará de todos os documentos e registros legais, além de zelar pelo bom funcionamento do clube.

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UNIDADE 2 | ESTRUTURA E NORMATIVA FINANCEIRA

Por fim, apresentaremos os bancos de investimentos. Conforme Galvão, Ribeiro e Oliveira (2006, p. 237):

[...] os bancos de investimentos são grandes provedores de crédito de médio e longo prazo para as empresas. Atuam no mercado primário e secundário, geralmente, em operações de maior escala, por meio de repasse de recursos oficiais de crédito, de recursos captados no exterior, operações de subscrição pública de valores mobiliários (ações e debêntures), lease-back e securitização de recebíveis, além de prestarem serviços de custódia de títulos, administração de carteiras, fianças, avais.

Assaf Neto e Lima (2017) destacam que este tipo de instituição, ao contrário dos bancos comerciais, atua com instrumentos de longo prazo, oferecendo intermediação financeira às empresas no levantamento de recursos para supri-las tanto de capital fixo quanto de capital de giro. Os bancos de investimentos costumam ainda atuar em operações de maior escala com repasses de recursos oficiais de crédito, por exemplo, do Banco Nacional de Desenvolvimento Social (BNDES), captações no exterior em moeda estrangeira para repasses internos, financiamentos de bens de produção, intermediação na colocação de títulos de dívidas emitidos por empresas etc.

Conforme podemos observar em Fortuna (2014, p. 34), os bancos de investimentos:

[...] foram criados para canalizar recursos de médio e longo prazos para suprimento de capital fixo ou de giro das empresas. Seu objetivo maior é o de dilatar o prazo das operações de financiamento, sobretudo para fortalecer o processo de capitalização das empresas, através da compra de máquinas e equipamentos e da subscrição de debêntures e ações.

Os bancos de investimentos dedicam-se também à prestação de vários tipos de serviços, como avais, custódias, fianças, administração de fundos de investimento (ASSAF NETO; LIMA, 2017).

De forma prática, os bancos de investimentos não podem manter contas correntes, como acontece nos bancos comerciais e nos bancos múltiplos. Essas instituições captam recursos pela emissão de CDBs (Certificados de Depósito Bancário) e RDBs (Recibos de Depósitos Bancários), além de captação e repasse de recursos de origem interna ou externa ou pela venda de cotas de fundos de investimentos por eles administrados.

Os bancos de investimentos devem ainda orientar, prioritariamente, a aplicação dos seus recursos repassados no fortalecimento do capital social das empresas via subscrição ou aquisição de títulos, na ampliação da capacidade produtiva da economia, via expansão ou relocalização de empreendimentos. Incentivar a melhoria da produtividade por meio da reorganização e da modernização das empresas, promover melhor ordenação da economia e maior eficiência das empresas através de fusões, cisões ou incorporações (atividades de corporate finance), assim como o desenvolvimento tecnológico, via treinamento ou assistência técnica (FORTUNA, 2014).

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TÓPICO 3 | MERCADO DE VALORES MOBILIÁRIOS

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LEITURA COMPLEMENTAR

CRIMES CONTRA O MERCADO DE VALORES MOBILIÁRIOS

Com o objetivo de preencher as lacunas então existentes na “Lei do Colarinho Branco”, a Lei nº 10.303/01 alterou a Lei nº 6.385/76, passando a prever três delitos especificamente voltados à tutela do regular funcionamento do mercado de valores mobiliários:

• Manipulação de Mercado: realizar operações simuladas ou executar outras manobras fraudulentas, com a finalidade de alterar artificialmente o regular funcionamento dos mercados de valores mobiliários em bolsa de valores, de mercadorias e de futuros, no mercado de balcão ou no mercado de balcão organizado, com o fim de obter vantagem indevida ou lucro, para si ou para outrem, ou causar dano a terceiros.

• Uso Indevido de Informação Privilegiada: utilizar informação relevante ainda não divulgada ao mercado, de que tenha conhecimento e da qual deva manter sigilo, capaz de propiciar, para si ou para outrem, vantagem indevida, mediante negociação, em nome próprio ou de terceiro, com valores mobiliários.

• Exercício Irregular de Cargo, Profissão, Atividade ou Função: atuar, ainda que a título gratuito, no mercado de valores mobiliários, como instituição integrante do sistema de distribuição, administrador de carteira coletiva ou individual, agente autônomo de investimento, auditor independente, analista de valores mobiliários, agente fiduciário ou exercer qualquer cargo, profissão, atividade ou função, sem estar, para esse fim, autorizado ou registrado junto à autoridade administrativa competente, quando exigido por lei ou regulamento.

FONTE: <http://www.investidor.gov.br/portaldoinvestidor/export/sites/portaldoinvestidor/publicacao/Livro/LivroTOP-CVM.pdf>. (2014, p.54).

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RESUMO DO TÓPICO 3

Neste tópico, você aprendeu que:

• Uma empresa não precisa ficar restrita à sua geração de lucros ou novos aportes de seus acionistas para financiar seus planos de investimentos. Pode captar recursos junto a novos investidores por meio de emissão de ações.

• O mercado de capitais é uma fonte de recursos para investimentos da economia e assume um papel relevante no processo de desenvolvimento econômico.

• Há forte ligação entre os agentes superavitários, que possuem capacidade de poupança, e os investidores carentes de recursos de longo prazo.

• Uma empresa de capital aberto é aquela que tem seus títulos negociados publicamente.

• A abertura de capital acontece com o lançamento de ações e permite que a ação de uma empresa seja negociada em bolsa.

• A abertura de capital da empresa se dá através de um IPO ou Oferta Pública Inicial (Initial Public Offering).

• No mercado primário são negociadas ações e obrigações permitindo a capitalização da empresa.

• As bolsas de valores podem se constituir como associações civis sem fins lucrativos ou sociedades anônimas cujo patrimônio é representado por títulos que pertencem às sociedades corretoras e membros.

• As bolsas de valores possuem autonomia financeira, patrimonial e administrativa, mas estão sujeitas à supervisão da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) e obedecem às diretrizes e políticas emanadas do Conselho Monetário Nacional (CMN).

• Fundo de investimentos é um condomínio de pessoas com objetivos comuns de investimento.

• Os principais participantes dos fundos de investimentos são: o administrador, que é o responsável legal pelo fundo; o gestor, que é o responsável pela rentabilidade; o auditor, que faz a auditoria independente do fundo e; o custodiante, que faz a guarda dos títulos do fundo.

• Os fundos de investimentos são fiscalizados e regulamentados pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM).

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1 O que é o mercado de capitais?

2 Qual o conceito de valores mobiliários?

3 Qual a diferença entre distribuição primária e secundária de ações?

4 O que é um fundo de investimentos?

5 O que é um clube de investimentos?

AUTOATIVIDADE

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UNIDADE 3

MERCADO FINANCEIRO DE CAPITAIS

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM

PLANO DE ESTUDOS

A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:

• conhecer os tipos de investimento financeiro;

• entender as diferenças entre os tipos de investimento;

• compreender as diversas maneiras de realizar investimentos financeiros;

• compreender o Modelos de Precificação de Ativos – CAPM;

• entender os riscos inerentes às aplicações financeiras;

• conhecer as tributações relativas aos investimentos financeiros.

Esta unidade está organizada em três tópicos. No decorrer da unidade você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado.

TÓPICO 1 – PRODUTOS DE INVESTIMENTO FINANCEIRO

TÓPICO 2 – PRECIFICAÇÃO DE ATIVOS

TÓPICO 3 – TRIBUTAÇÃO DE RENDIMENTOS

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TÓPICO 1

PRODUTOS DE INVESTIMENTO FINANCEIRO

UNIDADE 3

1 INTRODUÇÃOPrezado acadêmico! Daremos início aos nossos estudos sobre os Produtos

de Investimento Financeiro. Nesta primeira unidade, a intenção é fazer com que você compreenda os principais Produtos de Investimento Financeiro presentes no dia a dia.

Ao longo dos estudos, conheceremos os principais tipos de investimentos financeiros presentes em nosso cotidiano. Embora, para muitos, não faça parte do dia a dia a realização de certos tipos de investimento, eles estão presentes na economia e fazem parte das operações rotineiras das empresas, sendo fundamentais da economia. Você já parou para pensar que talvez a não utilização dos produtos de investimento está relacionada à falta de conhecimento sobre os mesmos? Os produtos de investimento estão mais próximos do que possamos perceber, falta conhecermos mais e criarmos uma proximidade com as modalidades de investimento. Podemos ir além da escolha usual pela poupança, obtendo rendimentos maiores e sem apostar em altos riscos, caso sejamos avessos a eles. Podemos, também, procurar maiores rendimentos, correndo mais riscos, sem sermos imprudentes. E como faremos isso? A resposta é simples: informação. Quanto mais informação e mais conhecimento sobre as modalidades de investimentos, mais simples ficará utilizar e obter benefícios desses produtos. Obter informação é mais simples do que parece, elas estão mais acessíveis do que percebemos. Quer ver? Existem sites especializados onde obtemos diversas informações sobre esses produtos, o gerente da nossa conta bancária também tem informações que nos auxiliam e, muitas vezes, até nossos amigos têm algum conhecimento sobre o assunto. É claro que, quando falamos de produtos de investimento financeiro, os profissionais é que proverão as informações mais claras e corretas. Mas informação nunca é demais, né? Quanto mais conhecermos, mais podemos questionar, formar nossa opinião e tomar melhores decisões de investimento.

Neste primeiro tópico vamos conhecer os Produtos de Investimento Financeiro, seus respectivos conceitos, compreender suas diferenças, de que maneira podemos realizar esses investimentos e seus principais riscos.

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2 TIPOS DE INVESTIMENTOOs Produtos de Investimento Financeiro, também conhecidos como

ativos financeiros, são utilizados para diversas finalidades e por diversos agentes econômicos. As famílias, as empresas, as instituições financeiras e também o próprio Estado realizam investimentos através de diversos produtos, cada qual com seus objetivos. Para começarmos a entender o que os Produtos de Investimento Financeiro representam para a economia, é importante compreender qual é a motivação para a realização de investimentos e o que são esses produtos.

Você já se perguntou por que um agente econômico realiza um investimento financeiro? Os investimentos financeiros são realizados com a finalidade de obter lucros com o dinheiro que não está sendo utilizado no momento. Vamos tomar como exemplo uma pessoa que tem rendimentos maiores que suas necessidades do dia a dia. Quando há essa sobra de capital (dinheiro), é possível alocar esses recursos em algum investimento financeiro, não deixando que esse dinheiro desvalorize com a inflação, buscando resgatar esses recursos futuramente com juros e correção monetária. Para realizar esses investimentos há diversos produtos disponíveis no mercado. Cada um possui características diferentes, possibilitando que os investidores possam escolher de acordo com suas características de investimento, suas necessidades e também suas preferências. É nesse momento que o investidor vai optar se aplicará seus recursos em renda fixa, variável, em títulos públicos etc. e qual o risco a que estará sujeito, por exemplo. A seguir, vamos estudar cada um dos principais produtos de investimento financeiro e suas características.

A partir de agora, vamos elucidar as características básicas dos Produtos de Investimento Financeiro e, logo após, vamos abordar cada um dos principais produtos, proporcionando as informações necessárias para conhecê-los.

2.1 CARACTERÍSTICAS BÁSICAS DOS PRODUTOS FINANCEIROS

Apresentaremos algumas características básicas para os Produtos de Investimento Financeiro. O primeiro deles é sua diferenciação entre: Renda Fixa e Renda Variável. Segundo Sandroni (2008), os investimentos de renda fixa são caracterizados pelo fato de terem seu rendimento (juros) discriminado anteriormente, podendo ter seu rendimento atrelado inteiramente de forma prefixada ou vinculado à correção monetária (pós-fixada), ou às variações das taxas de juros nominais. Os investimentos financeiros que possuem a característica de renda fixa são aqueles que, normalmente, têm uma remuneração (e consequentemente um risco) mais baixa e também, dependendo do investimento, uma liquidez maior, como as cadernetas de poupança, os Certificados de Depósito Bancário (CDB), títulos públicos (Tesouro Nacional, Letras do Tesouro) e títulos de crédito, e as Debêntures, por exemplo.

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Já os Produtos de Renda Variável são aqueles em que o “[...]rendimento não é prefixado, não faz parte das condições do título e varia em função das condições de mercado” (SANDRONI, 2008, p. 727). São investimentos onde não se tem conhecimento prévio dos seus retornos. Os investimentos de renda variável normalmente possuem retornos maiores que os de renda fixa, porém, como já mencionado, retornos maiores estão associados a riscos maiores (pode haver perdas maiores também) e sua liquidez depende do tipo de investimento. O investimento de renda variável mais conhecido são as ações, mas também são exemplos o câmbio, o ouro e os derivativos. Antes de prosseguirmos, é importante abordarmos uma das relações básicas presente nos investimentos (sejam eles em produtos financeiros ou não). A relação entre risco, retorno e liquidez. Certamente, em algum momento você já deve ter ouvido falar nessas três palavras. Você leu em alguma matéria de algum site, ouviu no noticiário ou alguém já conversou com você e falou algo como: “aquele investimento tem baixo risco”; “o retorno daquele investimento é alto”; ou “não tem muita liquidez para esse investimento”. Mas o que significa essa relação para os investimentos? Você já se perguntou isso?

IMPORTANTE

Risco: Segundo o Dicionário de Economia do século XXI (SANDRONI, 2008 p. 737), risco é “[...] a condição de um investidor ante as possibilidades de perder ou ganhar dinheiro”. Basicamente, risco é o quanto você está disposto a “arriscar” para ter resultados maiores financeiramente. Por exemplo, se você investe em algo com um alto risco, espera um alto retorno. Consequentemente, se você investe em produtos de baixo risco, é de se esperar retornos condizentes com esse risco. O que nos leva ao segundo ponto da relação: o Retorno: retorno é o quanto você pretende ganhar com aquele investimento. Como já foi comentado, se você pretende ter retornos maiores, deverá assumir maiores riscos, isso porque um é, normalmente, proporcional ao outro. Por fim, chegamos à Liquidez: capacidade de transformar aquele investimento em dinheiro novamente, com valor justo e condizente com o valor real do investimento. Um investimento é mais ou menos líquido, dependendo do tempo que levará para ser convertido em papel-moeda. Por exemplo: você tem dois investimentos, uma caderneta de poupança e um imóvel para vender, a liquidez dos dois investimentos é bem diferente, visto que na caderneta de poupança você pode resgatar o dinheiro (transformar em papel-moeda novamente) a qualquer momento. Já o imóvel, para você vendê-lo, conseguir o valor justo de venda e transformá-lo em papel-moeda novamente, levará muito mais tempo, pois depende de diversos fatores (demanda, aquecimento no mercado imobiliário etc.).

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Então, os investimentos sempre estarão pautados nesses três pilares: risco, retorno e liquidez. Quando estiver buscando um investimento, você poderá se perguntar: quanto eu quero me arriscar neste investimento? Com essa resposta você vai identificar o risco que está buscando no investimento, de acordo com suas preferências, necessidades e escolhas. Também é importante responder: quanto você pretende obter de lucro com o investimento? Então, você entenderá quanto retorno espera do investimento. E, por fim, deve se questionar quando precisará do dinheiro novamente? Para saber o quão líquido deve ser o investimento para atender às suas necessidades. Respondendo às três perguntas, você vai ter uma ideia de que tipo de investimento cabe ao seu perfil.

2.2 TIPOS DE RISCO

Antes de entrarmos na discussão sobre as nuances de cada tipo de produto financeiro, é importante elucidar os principais tipos de risco presentes na economia, pertinentes aos produtos de investimento financeiro. Conhecer os tipos de risco é importante para, além de conhecer os produtos, saber também os riscos inerentes a esses produtos. Em situações cotidianas você já deve ter se deparado com frases do tipo: “o risco de crédito é alto”; “há grande risco de mercado para essas ações”; “o risco de liquidez é baixo”. Mas o que significa isso? O que são esses riscos e como eles interferem nos investimentos? São questionamentos como esses que vamos sanar neste tópico.

2.2.1 Risco de Crédito

O risco de crédito é “a falta de cumprimento (pagamento) de uma contraparte à outra, em alguma operação comercial” (SANDRONI, 2008, p. 738). Basicamente, é o risco de alguém que “pegou” dinheiro emprestado não fazer o pagamento de acordo com o que foi acordado com quem emprestou o dinheiro. Na economia, normalmente, esse risco é mais presente em operações de crédito rotineiras (empréstimos e financiamentos), porém, é importante lembrarmos deste risco, pois alguns produtos de investimento financeiro estão sujeitos a correr risco de crédito.

2.2.2 Risco de Liquidez

O risco de liquidez “[...] significa a dificuldade de determinado contrato ser vendido no tempo desejado [...]” (SANDRONI, 2008, p. 738). Para os produtos de investimento financeiro, o risco de liquidez está presente quando não se consegue vender (transformar em dinheiro novamente) esses investimentos, ou não se obtém um valor justo pelos mesmos quando se pretende “liquidar” esses investimentos.

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2.2.3 Risco de Mercado

O risco de mercado “consiste na possibilidade de perdas causadas pelos impactos de flutuações de preços/índices/taxas (juros, câmbio) sobre instrumentos financeiros assumidos por uma empresa” (SANDRONI, 2008, p. 739). São as variações na economia (mercado) que podem interferir negativamente no valor de um investimento.

2.3 PRODUTOS DE RENDA FIXA

Abordaremos aqui os produtos que estão caracterizados como renda fixa. Quais são eles, suas características e principais informações pertinentes a cada produto. Você compreenderá, a partir deste tópico, as diferenças entre os produtos, onde e como investir, bem como compreender os principais benefícios de cada tipo de investimento.

2.3.1 CDB – Certificado de Depósito Bancário

Os bancos, sejam eles comerciais ou de investimento, têm em suas carteiras diversos serviços disponíveis para as pessoas. Empréstimos e financiamentos, certamente, são as operações mais conhecidas e realizadas, a fim de proporcionar o consumo das famílias e/ou o investimento por parte das empresas. Mas, você sabe como os bancos conseguem dinheiro para viabilizar essas transações? Os bancos, antes de emprestar dinheiro, precisam ter esse dinheiro, não é mesmo?

O que acontece é que o dinheiro que os bancos emprestam não é deles, mas sim de clientes que fazem investimentos em produtos de investimento financeiro. Esse também é o meio pelo qual os bancos têm lucros financeiros e sustentam suas operações, o chamado Spread bancário.

IMPORTANTE

Spread bancário é a diferença entre a taxa de juros que o banco paga para quem investe (empresta) dinheiro para o banco e a taxa de juros que o banco cobra de quem ele empresta dinheiro. Por exemplo: se você colocar seu dinheiro na poupança e receber 1% ao mês de juros, é esse dinheiro que o banco utiliza para emprestar para outros clientes, por meio de financiamentos ou empréstimos, cobrando uma taxa de juros de 9% ao mês. A diferença entre o 1% que o banco remunera para você, que investiu na poupança, e os 9% que o banco cobra de quem pegou dinheiro emprestado com ele é o Spread bancário.

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Mas como o banco faz para obter esse dinheiro? Como ele capta recursos para financiar seus investimentos em empréstimos e financiamentos, por exemplo? Existem diversas formas. As mais comuns, e significativas, são as LCIs (Letras de Crédito Imobiliário) e LCAs (Letras de Crédito do Agronegócio), que veremos a seguir, e o CDB (Certificado de Depósito Bancário). Também conhecido como depósito a prazo, o CDB é um dos instrumentos de captação de recursos dos bancos e representa um depósito a prazo realizado por um investidor para a instituição financeira (NARDINI, 2018). O que o banco faz, ao ofertar CDBs para investidores, é captar recursos com a finalidade de desenvolver suas atividades (ofertar empréstimos, financiamentos etc.). Mas o que faz o CDB ser atrativo? Neste caso, como os bancos estão “pegando emprestado” dinheiro, há uma promessa de que ao final de determinado período (período de investimento do CDB), o dinheiro seja devolvido acrescido dos juros deste mesmo período. O CDB, mesmo que seja nominado como Certificado de Depósito Bancário, é diferente daquele depósito realizado nos caixas eletrônicos, ou no atendimento dos bancos. É um produto de investimento, uma maneira de investir seu dinheiro, fazendo com que renda juros.

O CDB é um produto de investimento de renda fixa e carrega em si o risco de crédito da instituição que irá realizar o pagamento dos juros e do valor principal da aplicação aos investidores na data de resgate (caso resgatado antes do prazo final) ou ao final da aplicação. “Estão autorizados por lei a emitir CDBs os bancos comerciais, de investimento, os múltiplos, os de desenvolvimento e a Caixa Econômica Federal” (NARDINI, 2018, p. 22). Por se tratar de um produto de renda fixa, deve ser determinado o prazo de vencimento (data em que o valor principal do investimento e os juros referentes ao período serão pagos ao investidor).

Apesar de determinada uma data para “encerramento” do contrato, os juros pagos neste investimento podem ser prefixados ou pós-fixados, como veremos adiante. Os prazos servem para os bancos terem conhecimento de seus fluxos e poder utilizar essa captação de recurso para ofertar seus empréstimos e financiamentos, utilizar essa captação, de maneira geral. Imagine o que aconteceria se o banco captasse esses recursos e utilizasse, sem ter o conhecimento de quando os investidores irão receber de volta esse dinheiro, juntamente com seus juros? Certamente seria um caos no sistema financeiro, visto que os bancos poderiam ofertar mais dinheiro do que teriam capacidade de pagar de volta aos investidores em determinado período, gerando fluxos negativos no seu caixa e, possivelmente, levando a instituição à falência.

A conta é simples: se o banco capta R$ 100.000,00 reais, ele terá esse montante para utilizar nas suas atividades, poderá emprestar ou financiar R$ 100.000,00 a um (ou vários) clientes, por exemplo. Esse valor de R$ 100.000,00 provavelmente não é de apenas um investidor, mas de vários investidores. Cada investidor que investe em CDB tem um prazo de vencimento no seu investimento. Assim, o banco tem ciência de que no prazo X deverá devolver ao investidor “A” a quantia do seu contrato, acrescida dos juros do período, conforme previsto no contrato. No prazo “Y” deverá pagar ao investidor “B”, e assim por diante. Podendo então prever o montante de recursos que precisará em cada período para reembolsar os investidores pela sua captação de recursos.

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Cada contrato de CDB poderá ter um vencimento diferente. Hoje os prazos mais comuns variam em frações de três meses (três, seis, 12 meses) e dois anos, porém os títulos podem ser mais longos, por exemplo, três ou cinco anos. Mas qual é a vantagem, para o investidor e para o banco, de que esses títulos tenham um prazo de vencimento mais longo? Vamos refletir sobre isso: conforme apresentado anteriormente, há prazos devido à necessidade de gerir os fluxos e a necessidade de o banco ter os montantes financeiros necessários para a devolução do valor principal investido acrescido dos juros, certo? Logo, quanto maior for o prazo para essa devolução, mais tempo o banco tem para utilizar o recurso. O que o investidor ganha com isso? Bem, quanto maior o prazo, os bancos tendem a oferecer uma rentabilidade maior para esses CDBs. É simples, como há mais tempo para os bancos utilizarem o recurso, programarem seus fluxos de caixa e devolverem o dinheiro, há uma vantagem para eles. Logo, eles oferecem uma rentabilidade maior para que o investidor deixe por mais tempo esse dinheiro com o banco. Porém, apesar de haver esses prazos comuns, não existe um período mínimo para um CDB, indo de acordo com a necessidade do emissor, no caso, a instituição financeira que emitiu o CDB (NARDINI, 2018). Então, se investirmos em um CDB, apenas teremos o dinheiro de volta ao final do prazo estipulado no contrato? Depende. Apesar de o mais comum é o CDB ser resgatado no vencimento, há duas possibilidades de receber o valor aplicado acrescido dos juros antes do final do prazo:

• Uma delas é caso de o CDB possuir liquidez diária. Quando o contrato oferece ao investidor liquidez diária, possibilita que haja resgate, a qualquer momento, do valor principal acrescido dos juros, devolvendo, assim, o valor do principal mais os juros até a data do resgate. E o prazo de vencimento? Neste caso ele não importa muito, devido à sua característica de liquidez diária.

• Outra maneira de reaver o valor investido, mesmo que não se trate de um CDB com liquidez diária, é o investidor realizar a venda da sua posição (CDB) no mercado secundário. Porém, pode ocorrer de não haver liquidez imediata para o valor investido (caso seja um valor alto). Salvo essas duas alternativas, o investidor deverá aguardar o vencimento do CDB para que lhe seja pago o valor do investimento mais os juros incorridos no período de investimento (NARDINI, 2018).

Outra característica presente nos CDBs é a existência, em alguns casos, de um período de carência. Como já foi dito, CDBs com liquidez diária acabam por dificultar a previsibilidade dos fluxos de caixa da instituição que captou o recurso, portanto, alguns contratos de CDB possuem um período de carência. Passado esse período, o CDB passa a ter liquidez diária. A carência faz com que haja maior previsibilidade e a instituição que captou o recurso possa ter mais segurança ao trabalhar com o recurso captado.

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Mas qual a diferença entre escolher por um CDB com liquidez diária ou não? Essa é uma pergunta fácil de se responder. Como os CDBs que possuem liquidez diária geram incertezas para a instituição de quanto e quando o investidor solicitará o dinheiro do investimento, elas oferecem esses contratos com uma rentabilidade inferior àquelas dos CDBs em que o investidor só pode resgatar o valor aplicado ao final do prazo contratado. Outro questionamento recorrente é relacionado a qual a remuneração se recebe investindo em um CDB? No caso dos CDBs, há duas maneiras pelas quais o investidor é remunerado. Veja só, o contrato pode estabelecer uma remuneração fixa, o que chamamos de CDB com taxa prefixada, ou pode conhecer a remuneração com exatidão, apenas no momento do resgate, o que chamamos de CDB com taxa pós-fixada. Por exemplo: ao investir R$ 10.000,00 em um CDB prefixado que remunere a uma taxa de 7,5% a.a., ao final de um ano você sabe que receberá (antes de impostos) R$ 750,00. Cabe aqui lembrar que há incidência de IR sobre rendimento financeiro, como veremos no Tópico 3 desta unidade. Os CDBs com taxas pós-fixadas normalmente utilizam a Taxa DI como taxa de juros referência, desta forma, o CDB é remunerado a partir de um percentual dessa taxa. Portanto, um CDB pode remunerar 103% da Taxa DI. Mas o que significa isso? Significa que o investidor receberá, no momento do resgate, uma remuneração equivalente a 103% da Taxa DI observada no período entre a emissão do CDB e o seu resgate, além do seu valor principal investido (NARDINI, 2018).

DICAS

Você pode simular o cálculo do CDB, seja pré ou pós-fixado e também comparar com o rendimento de outros investimentos. Acesse:<https://www.euqueroinvestir.com/calculadora-dos-melhores-investimentos/?utm_expid=.WXaDzIwvRNW1BrJhs7ywSg.1&utm_referrer=https%3A%2F%2Fwww.google.com%2F>.

IMPORTANTE

A Taxa DI é comumente utilizada nos contratos de CDB, pois ela é calculada utilizando-se o custo de captação dos bancos em operações de empréstimo entre si. Por esse motivo ela é importante para a indexação das operações de dívida das instituições financeiras, que é o caso do CDB. (NARDINI, 2018).

Porém, a Taxa DI não é o único indexador utilizado nas operações de CDB pós-fixado. Apesar de ser a mais comum, em alguns casos podem ser utilizadas a TR (Taxa Referencial) ou a Taxa Selic.

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Bastante detalhe, não é mesmo? Sim, como todo tipo de produto de investimento financeiro, o CDB tem suas particularidades e é importante conhecer cada uma para compreender o seu funcionamento. Ele é um instrumento bastante utilizado pelas instituições financeiras para captação de recursos, por isso sua importância. Agora, antes de seguirmos com o conteúdo, vamos recapitular alguns pontos importantes referentes ao CDB: até aqui compreendemos o que é o CDB, bem como os motivos que levam as instituições a emitirem CDBs, de que forma os investidores são remunerados e algumas características fundamentais de funcionamento deste investimento.

2.3.2 LCI – Letras de Crédito Imobiliário

Outra maneira de investir em renda fixa no Brasil são as chamadas Letras de Crédito Imobiliário. Basicamente, elas são um instrumento de crédito criado pelo Banco Central com o objetivo de possibilitar a captação de recursos financeiros pelas diversas entidades que participam da cadeia produtiva de setores da economia. Além das LCIs, há outro instrumento: as LCAs (Letras de Crédito do Agronegócio), que veremos mais adiante. O governo possibilitou, através desses dois mecanismos, um investimento no qual pessoas físicas ou jurídicas pudessem aplicar seus recursos, fazendo com que, na outra ponta destas operações, dois importantes setores da economia adquirissem recursos para seu financiamento (NARDINI, 2018). O que acontece nestes investimentos é que o recurso dos mesmos é canalizado e voltado para o desenvolvimento destes setores na economia (no caso, os setores Imobiliário e do Agronegócio). A LCI foi criada em 2004 e pode ser emitida por uma instituição financeira devidamente autorizada pelo Banco Central, além das instituições que normalmente podem emitir títulos de renda fixa (bancos comerciais, múltiplos e Caixa Econômica), também as sociedades de crédito imobiliário, associações de poupança e empréstimo, companhias hipotecárias, entre outras, podem fazer emissão desse título (NARDINI, 2018). Qual a importância deste investimento para a economia? Vamos refletir sobre o que acabamos de ver. As LCIs são um título de renda fixa, no qual o objetivo é a captação de recursos para o investimento no setor imobiliário. Se pensarmos de uma maneira simplificada, é como se você (investidor) estivesse fazendo um empréstimo de dinheiro para a instituição que emite o título. Você empresta o dinheiro para a instituição, o que é feito por meio de um contrato com as informações da transação, no qual são informados prazo, taxa de juros, valor “emprestado” etc. Para você é uma maneira de investir e ter um retorno financeiro sobre o capital que você deseja aplicar neste investimento. Para as instituições que emitem a LCI, uma maneira de financiar investimentos no setor imobiliário. Diferentemente de um CDB, por exemplo, o LCI e a LCA têm suas finalidades definidas.

Uma característica importante da LCI é que a mesma deve ser garantida por meio de um lastro. Quando a instituição faz a emissão desses papéis, ela deve apresentar uma garantia (alienação fiduciária ou hipoteca) de imóvel. Essa é uma característica muito importante, pois o montante dos créditos imobiliários

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deve ser igual ou maior que o montante das emissões. Não havendo esse lastro, a instituição não pode fazer emissão desses títulos (NARDINI, 2018). Qual a importância de haver esse lastro? Quando as operações estão lastreadas, ou seja, possuem uma garantia, o risco do investimento é consideravelmente reduzido, fazendo com que a aplicação de montantes financeiros no investimento tenha muito mais segurança. Em contrapartida, os retornos também são inferiores. Porém, de acordo com os propósitos de investimento de cada investidor, não deixa de ser uma opção a ser considerada para investimento.

Outra característica importante deste investimento são os prazos. Geralmente variam entre seis meses e três anos, porém, alguns papéis têm prazos maiores. A única ressalva é que os prazos de emissão não podem ser superiores a nenhum dos seus lastros, isso é previsto em lei, e, desta forma, sempre haverá um lastro válido para a operação. Também há prazos mínimos para o vencimento do papel: 90 dias, caso o contrato não preveja atualização através de índices de preços e no caso de haver tal atualização, 12 meses. Já se for estipulada uma atualização mensal por meio de um índice, este prazo é de 36 meses (NARDINI, 2018). Esse investimento poderá ser liquidado apenas no vencimento ou, então, quando prever no contrato, ele poderá ter liquidez diária também. O responsável por fazer o pagamento para o investidor é a própria instituição emissora do título (ANBIMA). Por se tratar de um instrumento de renda fixa, seguro e que não apresenta uma remuneração muito alta, os investidores, normalmente, vão utilizar este tipo de investimento como uma maneira de não deixar o dinheiro desvalorizar (tendo algum retorno sobre o mesmo) e, em muitos casos, não buscando arriscar perder dinheiro. Aliás, os investimentos de renda fixa por concepção têm essa característica (implícita). São utilizados como forma de não deixar o dinheiro desvalorizar, possibilitando a segurança desses recursos.

NOTA

ANBIMA é a Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais. A entidade tem a missão de Fortalecer a representação do setor e apoiar a evolução de um mercado de capitais capaz de financiar o desenvolvimento econômico e social local e influenciar o mercado global. Para conhecer mais sobre a ANBIMA, acesse: http://www.anbima.com.br/pt_br/pagina-inicial.htm

Voltando às características da LCI, elas podem ter taxas de juros prefixadas ou pós-fixadas. No caso de uma LCI prefixada, o investidor já saberá qual será a remuneração recebida ao final da aplicação, pois esse valor não será alterado até o momento do resgate. Já no caso de a taxa de rendimento ser pós-fixada, os juros serão conhecidos apenas no vencimento da aplicação. Para referência de remuneração da LCI é utilizada a Taxa DI (NARDINI, 2018). Então, qual será a remuneração deste investimento? Bem, isso depende, e é importante salientar que as LCIs estão isentas de IR, como será apresentado mais adiante.

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Quando falamos de investimentos, principalmente em renda fixa, quanto mais tempo os tomadores desses recursos puderem “ficar” com esse dinheiro, ou seja, quanto maior for o prazo da aplicação, maior será o retorno oferecimento pelo emissor do título. Além do prazo, outro fator que influencia na remuneração é o capital aplicado, ou seja, se você aplicar R$ 5.000,00, a remuneração será 80% do CDI. Caso você aplique valores mais altos, o banco pode oferecer remunerações maiores, de acordo com as regras internas dos bancos, levando em consideração também o tempo da aplicação, como já comentado. No caso das LCIs, além do prazo, a possibilidade de resgate antecipado é também um fator que influencia na remuneração oferecida pela instituição emissora. Desta forma, letras com prazos maiores para seu vencimento e que não possuam resgate antecipado, serão aquelas nas quais os emissores vão oferecer uma remuneração superior (NARDINI, 2018).

2.3.3 Letra de Crédito do Agronegócio

Da mesma maneira que as LCIs, as LCAs constituem uma forma de obtenção de recursos para oferecer dinheiro para as empresas realizarem investimentos no setor produtivo, neste caso, no agronegócio. Como grande parte do investimento nesses setores é realizado por meio de capital obtido junto aos bancos, a LCA também é uma maneira de o banco captar esse dinheiro para oferecer posteriormente à investidores do Agronegócio (NARDINI, 2018). Você deve estar se perguntando agora, caro acadêmico, se esses setores vivem apenas dos recursos disponibilizados pelas instituições privadas. É claro que não! A LCA, criada em 2004, possibilita que instituições públicas e privadas captem recursos para disponibilizá-los ao financiamento das atividades do agronegócio (NARDINI, 2018). Desta forma, ela se caracteriza como uma importante forma de investimento, visto que, além de possibilitar retornos para quem está “emprestando” dinheiro para a instituição, esse dinheiro gera possibilidades de investimento em uma das áreas produtivas que tem grande impacto no Brasil, o agronegócio.

Semelhante à LCI, a LCA também precisa que seu valor seja lastreado, ou seja, garantido por um ou mais créditos (neste caso referente ao agronegócio) que sejam de propriedade da instituição que está emitindo o papel. No caso do agronegócio, os lastros estão associados ao crédito rural de diversas maneiras, por exemplo: direcionados à industrialização ou beneficiamento de produtos e insumos agropecuários e sua comercialização, e ainda podem estar relacionados a máquinas e implementos ligados à produção agropecuária. Este lastro não pode representar um valor inferior ao valor do título emitido, devendo assim garantir seu valor em totalidade, e os prazos dessas garantias devem ser iguais, ou maiores, aos prazos dos títulos em questão (NARDINI, 2018).

Como podemos observar, as LCAs e as LCIs são muito semelhantes, o que difere é o destino dos recursos captados. Agora que já adentramos um pouco no estudo da importância das LCAs, podemos entender das suas outras características, como prazo e taxas aplicados no mercado e de que maneira isso influencia na sua atratividade e utilização no mercado.

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Os prazos mínimos praticados para os investimentos em LCA são de 90 dias, quando não se tem a atualização do título por meio de índices de preços. Quando houver atualização anual do papel por meio de um índice de preços, esse prazo mínimo é de 12 meses para a aplicação. A LCA pode, da mesma forma que a LCI, ter em seu contrato a possibilidade do resgate diário da aplicação (respeitando aqui seus prazos mínimos), ou então pode ser resgatada na data do seu vencimento. Já as taxas pelas quais os investimentos vão ser remunerados podem ser pré ou pós-fixadas, ou seja, não há um padrão para essas emissões, podendo atender a diferentes necessidades e objetivos do investidor (NARDINI, 2018).

O rendimento desse tipo de investimento, como de qualquer outro investimento de renda fixa, está atrelado a duas premissas básicas: tempo de aplicação (prazo de resgate) e possibilidade de resgate antecipado ou não. Sempre que houver a possibilidade de o investidor solicitar o dinheiro antes do prazo contratado, a remuneração oferecida será menor. Da mesma forma, quanto maior for o prazo do investimento, maior será a remuneração oferecida pelos emissores do papel. Outra variável importante é a não incidência de IR para essas aplicações, como será abordado posteriormente. E, da mesma forma que as LCIs, outro fator que influencia na remuneração é o capital aplicado, ou seja, se você aplicar R$ 5.000,00 a remuneração será, por exemplo, 80% do CDI; já se você aplicar valores mais altos, o banco poderá oferecer remunerações maiores, de acordo com as regras internas dos bancos e levando em consideração o tempo da aplicação, como já comentado.

Antes de prosseguirmos, é importante abrirmos um parêntese e ressaltarmos as principais diferenças entre as LCIs e LCAs. Vimos até aqui que são dois investimentos muito similares (prazos, tipo de remuneração, liquidez etc.), e, sim, eles são realmente muito similares, mas têm suas distinções e é importante frisá-las. Além da destinação, que é para duas áreas distintas (imobiliário e agronegócio), podemos ressaltar como sua principal diferença o lastro utilizado para cada operação. Sua outra distinção importante refere-se às instituições que estão autorizadas a emitir os dois tipos de papel. As LCIs têm um menor número de instituições autorizadas, muito pelas próprias peculiaridades dos financiamentos para o qual esses recursos são destinados, já as LCAs podem ser emitidas por qualquer instituição financeira (NARDINI, 2018).

2.3.4 Debêntures

Como já vimos até aqui, os produtos de investimento financeiro têm alguns objetivos primordiais, como a captação de recursos para disponibilizar financiamento. Se observarmos a partir da ótica da instituição que emite o título, essa captação de recursos passa a ser a fonte de novos investimentos que serão realizados pela mesma. Os bancos, por exemplo, emitem esses títulos para poder emprestar dinheiro (financiar) para outras empresas e assim obter lucros financeiros por meio dessa intermediação (Spread).

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As empresas, por sua parte, vão buscar os bancos para injetar capital e desenvolver suas atividades. Elas captam recursos financeiros com instituições credoras com diversas finalidades, desde obter capital de giro, financiar projetos, compra de máquinas etc. As empresas buscam esse financiamento por meio de instituições financeiras e também diretamente com investidores. Até agora tínhamos observado produtos cujas emissões eram feitas por instituições financeiras, com objetivo de obter recursos para disponibilizar financiamento para empresas, por exemplo. Porém, o mercado de capitais proporciona mais do que apenas esse tipo de transação (no qual há necessidade de intermediação).

Apesar de ser de suma importância esse papel das instituições financeiras e ser tradicionalmente utilizado para obtenção de financiamento, ao observarmos empresas com um porte maior, estas podem buscar os recursos diretamente no mercado de capitais, sem necessitar, obrigatoriamente, dos recursos provenientes das instituições financeiras. Esses movimentos das empresas no mercado de capitais interagem diretamente com os investidores. Esses investidores são tanto investidores individuais como de fundos de pensão, fundos de investimento, seguradoras, dentre outros, residentes ou não no Brasil (NARDINI, 2018). Mas o que isso representa para as empresas? Quando estamos observando o mercado, e os produtos de investimento, temos que avaliar algumas coisas importantes, por exemplo: os objetivos das empresas com a captação desses recursos, o tempo no qual a empresa irá ter retornos desses investimentos ou quando vai precisar utilizar os recursos investidos. Veja bem, são sempre dois pontos de vista: um é o de investidor, ou seja, aquele que está “emprestando” dinheiro, e o outro é daquele que precisa do dinheiro. Em diversos momentos as empresas serão as duas partes, em produtos de investimento diferentes. Mas, como assim? É simples: ora as empresas irão emprestar dinheiro (seja para os bancos, seja diretamente para empresas, ou seja, vão ser financiadores de investimentos para terceiros), ora irão captar recursos (seja dos bancos ou de outras empresas) para financiar os seus próprios projetos e necessidades. O que temos que visualizar aqui é que esses dois lados, ou duas pontas, como podemos observar, sempre vão existir. Em se tratando de investimentos, alguém (empresa, pessoa etc.) precisará do dinheiro e alguém poderá emprestar esse dinheiro. O ponto que vamos abordar agora é que, nem sempre, para conseguir o dinheiro “emprestado”, as empresas precisam dos bancos. Elas podem captar dinheiro diretamente, via mercado de capitais.

Neste momento, veremos uma das formas de as empresas realizarem este processo, as chamadas debêntures. As debêntures são a representação de uma dívida que a empresa emite. Elas são títulos de crédito que representam a dívida da empresa. É um instrumento corporativo para captação de dinheiro diretamente com investidores, via mercado de capitais, sem a necessidade de recorrer a terceiros (bancos, por exemplo) para obtenção de financiamento para seus projetos e atividades. Quem compra as debêntures são pessoas interessadas (investidores) em emprestar recursos para a empresa em questão, sendo que em troca, como nos demais investimentos, receberá uma remuneração pela “aplicação” deste capital ou pela compra deste título (debênture) da empresa em questão (NARDINI, 2018).

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Como nos demais tipos de investimento, existe uma remuneração (juros), em cima do capital emprestado e, ao final de um prazo especificado em contrato, o investidor receberá o montante investido acrescido dos juros acordados via contrato. As debêntures também são títulos de renda fixa, onde o objetivo do investidor é obter remuneração, que neste caso é paga diretamente pela empresa que as emitiu por ter “emprestado” seu capital por um determinado prazo e taxa de juros acordados em contrato, para que a empresa pudesse captar o montante necessário para suas necessidades (NARDINI, 2018). “O principal documento legal em uma emissão de debêntures é a escritura de emissão, de onde constam todas as informações relativas ao título de dívida” (NARDINI, 2018, p. 28)

DICAS

Para visualizar uma Escritura de Emissão de Debêntures, você pode acessar o modelo da ANBIMA, disponível em: < http://www.anbima.com.br/data/files/E0/A1/B2/F3/532085106351AF7569A80AC2/ModelodeEscrituradeEmissaoDebentures-GTPadroniza-caoANBIMA29-10-15_1_.pdf>.Os dados que estão presentes neste documento são, basicamente:

• Identificação da companhia emissora da debênture.• Data de vencimento.• Valor nominal unitário de cada debênture.• Taxa de juros.• Periodicidade de pagamento dos juros.• Datas e condições de pagamento do valor principal.• Uso pretendido dos recursos.• Obrigações da companhia emissora, além de outras informações.

Este documento é, de fato, um contrato assinado entre quem está emprestando o dinheiro e a empresa que está pegando o dinheiro emprestado, ou seja, investidor e devedor. No caso deste documento, assinam a empresa emissora das debêntures e um agente fiduciário que representa todos os interessados (investidores que emprestam dinheiro para a empresa), que na maioria dos casos é uma instituição financeira (corretora ou distribuidora de valores mobiliários) contratada para ser a responsável por essa e outras atividades, e em nome dos debenturistas, pelo que se faz necessário referente a esse investimento (NARDINI, 2018).

Diferentemente das LCIs e LCAs que vimos até agora (que têm garantias obrigatórias), a oferta ou não de garantias é determinada pela companhia emissora e seus assessores financeiros na estruturação do título (debênture) (NARDINI, 2018). As debêntures são classificadas de acordo com as garantias que possuem, desta forma, temos mais de um tipo de debênture negociada e emitida pelas empresas. Por exemplo:

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• Debêntures com garantia real: oferecem aos investidores como garantia ativos específicos (podendo ser um ou mais ativos) e esses ativos ficam vinculados ao título (debênture) até que sejam cumpridas todas as obrigações legais pela companhia emissora (vencimento).

• Debêntures com garantias flutuantes: neste caso, a garantia são todos os ativos da companhia emissora, porém não há vinculação de ativos específicos para garantir a debênture em questão. Apesar de representar uma garantia sobre o título emitido, é uma garantia mais “fraca” que a garantia real, justamente por não vincular ativos específicos à garantia da debênture.

• Debêntures quirografárias: essas debêntures não oferecem nenhum tipo de garantia e não conferem aos debenturistas nenhum privilégio em relação aos ativos da empresa que emite a debênture.

• Debêntures subordinadas: são debêntures também sem garantia (como as quirografárias), e que em caso de falência estarão atrás de todas as outras debêntures na ordem de recebimento do valor devido.

Todos esses tipos de debêntures são debêntures simples (o tipo mais comum), que são puramente títulos de renda fixa. A diferença dos tipos de debêntures acima citados está apenas na ordem de recebimento do valor em caso de falência da empresa.

Vamos olhar o processo completo e ficará mais fácil de entender o porquê das garantias. As debêntures representam títulos de dívida emitidos pelas empresas com a finalidade de captar recursos financeiros no mercado de capitais. Os contratos são firmados conforme a escritura de emissão de debêntures e lá estão as informações do valor do título, taxas, prazos etc., que são as informações de como a empresa que captou recursos irá devolvê-los aos investidores. Apesar de haver esse contrato, toda empresa está sujeita a imprevistos e pode falir um dia. As garantias associadas às debêntures servem para que, em caso de falência, o investidor tenha certeza de que irá receber o valor investido na debênture. Neste caso:

• O contrato que prevê garantias reais será o primeiro a ser liquidado em caso de falências, pois há ativos específicos da empresa que emitiu as debêntures relacionados ao título, logo, em caso de falência, quando esses ativos forem vendidos, o dinheiro deverá ser direcionado aos investidores que têm debêntures com garantias reais.

• O segundo contrato a ser liquidado serão as debêntures com garantias flutuantes. Como ela não tem ativos específicos relacionados aos contratos, dependerá da liquidação de todos os contratos com garantias reais e caso ainda restarem ativos e dinheiro para liquidação desses contratos, serão então realizados.

• Logo após vêm as debêntures quirografárias, que não têm garantias, porém, em caso de falência, serão quitadas logo após as debêntures com garantias flutuantes.

• Por último, em caso de falência, serão liquidadas as debêntures subordinadas que só têm preferência sobre os acionistas da empresa.

Como já mencionado, a maioria das debêntures é puramente de renda fixa. Mas há também as chamadas debêntures conversíveis e as permutáveis, que têm um elemento de renda variável associado aos seus contratos.

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As debêntures conversíveis têm em seus contratos estipulada a troca delas por ações da empresa emissora, com preço preestabelecido, durante um período ou em datas determinadas. Neste caso, além das diversas informações presentes nos contratos de debêntures, há também uma razão, ou preço de conversão, que representa o número de ações da empresa emissora da debênture pelo qual aquele papel poderá ser “trocado” (NARDINI, 2018).

Por exemplo, a escritura de emissão pode especificar que uma debênture com denominação unitária de R$ 1.000,00 pode ser conversível em 33 ações da companhia. Dividindo-se o valor nominal da debênture pelo número de ações correspondentes, encontramos o preço de conversão, que nesse exemplo é de R$ 30,30 (NARDINI, 2018, p. 30).

Assim, o investidor poderá escolher entre continuar com a debênture e receber o que foi acordado no contrato (juros e prazos), ou então realizar a conversão das debêntures e passar a ser acionista da empresa.

Já as debêntures permutáveis emitidas por uma empresa podem ser trocadas por ações de emissão de outra empresa e são bastante semelhantes às debêntures conversíveis. Os dois tipos de debêntures, como já mencionado, possuem um elemento de renda variável. Resumidamente, se o preço da ação no mercado estiver acima do negociado no contrato da debênture, o investidor poderá escolher por trocar as debêntures por ações. Desta forma, pode-se mencionar que esses tipos de debêntures são constituídos por características de renda fixa e também variável, sendo assim “híbridos” (NARDINI, 2018).

Até aqui pudemos entender as características das debêntures e o porquê de as empresas emitirem esse tipo de papel no mercado. O que nos falta ainda é entender de que forma esses papéis chegam às mãos dos investidores. Basicamente, entender como é que os investidores passam a ficar sabendo que existem debêntures à venda no mercado. Como vimos, lembre-se, as debêntures representam títulos de dívida da empresa. Logo, como os investidores sabem que as empresas estão “vendendo dívida” para captar recursos?

Existem duas maneiras de se lançar debêntures no mercado. Uma delas é por meio de uma oferta pública de debêntures e outra uma oferta privada das mesmas. Ou seja, com intermédio de uma instituição financeira, normalmente, as empresas fazem a emissão e venda desses títulos, por meio de dois tipos de ofertas (NARDINI, 2018).

• As ofertas públicas requerem uma série de requisitos, conforme instrução CVM 400/03, que normatiza esse tipo de operação. Neste caso, é realizada a produção e distribuição de um “prospecto de distribuição”, onde estão todas as características dessas debêntures ofertadas. Neste prospecto constam informações como: companhia emissora, finalidade dos recursos, custo da emissão, riscos etc. Este documento é um informativo sobre o título em questão que será distribuído aos potenciais investidores. Porém, uma oferta pública tem mais de uma maneira de ser realizada. Há também a possibilidade de

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a empresa realizar uma oferta pública com esforços restritos. Neste caso, as regras são mais flexíveis, o que faz com que os custos envolvidos na emissão se tornem mais baratos para a empresa. A distribuição é restrita para um grupo de 75 investidores, já a colocação dos papéis, ou seja, quem irá investir, não pode ser um grupo maior do que 50 investidores. Por isso, “esforços restritos”. A emissão é mais barata e a abrangência é menor, como podemos observar. Além dessa restrição da quantidade de investidores, esses papéis só podem ser destinados a investidores profissionais e esse tipo de emissão é regido pela norma da CVM 476/09 (NARDINI, 2018).

• A outra maneira de ofertar as debêntures é a oferta privada dos papéis. A empresa emissora seleciona os investidores para os quais será feita a oferta desses títulos e não há oferta dos mesmos para o público. Os custos são menores ainda do que os das ofertas públicas de esforços restritos, não há necessidade de registro da emissão junto à CVM. Porém, a quantidade de recursos captados também tende a ser inferior.

NOTA

A Comissão de Valores Mobiliários – CVM, órgão regulador do mercado de capitais, tem uma série de regulamentações conhecidas como as Instruções CMV. Cada uma delas possui um número, semelhante a uma lei, e traz um conteúdo regulamentando o mercado de capitais. Por exemplo: a CVM 400/03 “Dispõe sobre as ofertas públicas de distribuição de valores mobiliários, nos mercados primário ou secundário, e revoga a Instrução 13/80 e a Instrução 88/88”. Já a CVM 476/09 “Dispõe sobre as ofertas públicas de valores mobiliários distribuídas com esforços restritos e a negociação desses valores mobiliários nos mercados regulamentados”.Você conhecerá mais a respeito da CVM ao pesquisar outras instruções. Acesse: http://www.cvm.gov.br/legislacao/index.html

Observe, caro acadêmico, que mesmo a empresa não precisando captar o recurso de um terceiro (como um banco, por exemplo), ela precisará da instituição financeira para fazer a emissão e controle desses títulos. Para os investidores, a instituição financeira atua também como agente fiduciário no caso da assinatura dos contratos etc.

Como nos diversos produtos de renda fixa, uma taxa é especificada no contrato e, como já vimos também nos demais instrumentos de renda fixa, ela pode ser pré ou pós-fixada. Essa taxa irá dizer aos investidores qual será o rendimento do seu investimento. No caso das debêntures, um número pequeno de papéis terá uma taxa prefixada e a grande maioria é negociada com uma taxa pós-fixada, normalmente com vinculação à Taxa DI. Neste caso, há duas maneiras de se negociar a taxa de remuneração das debêntures. Em uma delas, a taxa é pós-fixada,

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sendo pago um percentual da taxa DI, por exemplo, o contrato prevê que será pago 110% da Taxa DI. Outra maneira é utilizando-se de um Spread acima da Taxa DI, ou seja, se o investimento paga a Taxa DI + 3% a.a. (por exemplo) (NARDINI, 2018).

Há ainda outra maneira de remuneração que vem sendo utilizada que remunera as debêntures, atrelando a elas um índice de variação de preços como IGP-M ou IPCA, por exemplo. Remunera os investidores através da variação de preço e de um percentual fixo, semelhante ao que vemos quando a remuneração é a da Taxa DI + Spread. No caso da variação atrelada a um índice, ocorre que o montante inicial é reajustado conforme o índice, e o investidor recebe o valor corrigido e a taxa de juros acrescida de acordo com o contrato (NARDINI, 2018).

Vimos, então, as principais características deste tipo de investimento e o que você, acadêmico, deve ser perguntar é: o que faz o investidor comprar debêntures? Por que investir na dívida de uma empresa? E qual o risco desse investimento? É verdade que, em todo investimento, o investidor busca ter o maior retorno possível. Quem não quer ter o maior retorno possível com um investimento, não é mesmo? É claro que quanto maior for o risco, há uma tendência de maior ser o retorno também. No caso das debêntures, como o risco está associado à possibilidade de a empresa cumprir ou não com suas obrigações financeiras, o investidor busca informações sobre o risco nos Ratings, ou seja, na avaliação dos Ratings relacionados às empresas. Então, de acordo com a avaliação da empresa através desses Ratings, o investidor terá uma noção de qual risco estará assumindo. Quanto melhor for o Rating associado à empresa, menor será o risco que o investidor estará assumindo. Logicamente, quanto maior for o risco percebido e que o investidor irá assumir, ele irá procurar uma remuneração melhor para esse investimento.

As debêntures ainda têm uma peculiaridade frente a outros investimentos financeiros e, além dos modelos vistos até aqui, ainda há uma outra modalidade, chamada: debêntures incentivadas. As debêntures incentivadas são uma iniciativa do Governo Federal, instituída em 2011, que tem por objetivo o fomento de setores primordiais para o desenvolvimento do país. São debêntures emitidas com um propósito específico: captar recursos para infraestrutura, ou seja, executar projetos de investimento em infraestrutura ou também de produção econômica intensiva em pesquisa, desenvolvimento e inovação em áreas de suma importância para o Governo Federal. Essas debêntures são emitidas por concessionárias, permissionárias, autorizatárias ou arrendatárias, ou ainda, sociedades de propósito específico (NARDINI, 2018). Mas, por que o governo incentiva empresas a emitir debêntures? O que o governo ganha com isso? E, principalmente, o que as empresas e os investidores ganham com isso? Vamos por partes, começamos com o Governo. As debêntures incentivadas são para áreas específicas e visam o desenvolvimento em setores relacionados à infraestrutura do país. Os setores nos quais o governo atua incentivando as debêntures são vitais para a economia e, caso não haja empresas investindo, muito provavelmente o governo terá que investir, ou então serão áreas nas quais faltarão investimentos. Portanto, o governo, a partir do incentivo para

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debêntures, ganha “parceiros” para o desenvolvimento dessas áreas. Do outro lado temos as empresas, que ao utilizarem desse mecanismo, possuem agora “incentivos” para a realização de seus projetos.

Os setores nos quais há esse incentivo são definidos pela Lei nº 8.874/16, na qual estão relacionados os setores prioritários para essas emissões de debêntures, que são: logística e transportes, mobilidade urbana, energia, telecomunicações, radiodifusão, saneamento básico e irrigação (NARDINI, 2018).

Vimos que para o governo é uma maneira de realizar mais projetos em mais áreas, incentivando empresas a realizar esses projetos por meio de captação de recursos via debêntures incentivadas. O que não respondemos ainda é qual benefício para o investidor neste papel. Pois bem, o diferencial primordial nessa operação é um benefício tributário sobre os rendimentos que são pagos aos investidores (NARDINI, 2018).

Para que seja possível esse investimento, vamos atentar a algumas características diferentes das que vimos até agora, por exemplo: remuneração por meio de taxa prefixada ou ter vínculo com uma variação de preços ou à TR, sendo vetada a remuneração por qualquer taxa pós-fixada; pagamentos periódicos de juros devem ocorrer em intervalos mínimos de 180 dias; prazo médio ponderado (tempo médio para recebimento do principal e dos juros) deve ser superior a quatro anos; títulos não podem ser recomprados pelo emissor durante os primeiros 24 meses de investimento; restrições para sua liquidação antecipada; e também uma exigência quanto à prestação de contas do destino dos recursos captados, bem como os gastos efetivamente relacionados aos projetos para os quais foram captados. Essas exigências permeiam a emissão das debêntures incentivadas, e para que possam ser emitidas deve ainda, além do cumprimento das exigências, haver aprovação do ministério responsável pelo setor primário ao qual o projeto se enquadra, só então podem ser efetivamente emitidas e adquiridas por investidores (NARDINI, 2018).

2.3.5 Títulos Públicos Federais

Até então estudamos diversos produtos de investimento que são considerados privados, ou seja, todos eles são emitidos por instituições privadas, com o objetivo de captar recursos para atender às suas necessidades. Os Títulos Públicos Federais, ou só títulos públicos, têm a mesma finalidade (captar recursos), porém são emitidos pelo governo e, desta forma, o destino dos recursos é atender às necessidades de recursos do governo.

Mas o governo já não cobra diversos impostos, taxas e outras coisas para captar recursos? Sim, o governo tem diversas formas de obter recursos financeiros, e os títulos públicos são utilizados basicamente quando os impostos, taxas e contribuições, que são pagos tanto por pessoas jurídicas como físicas, não são suficientes para cobrir com as suas despesas. Neste caso, quando essas arrecadações

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não atingem a necessidade do governo, ele emite títulos públicos para cobrir essa necessidade de recursos. Quais títulos são esses? Quais suas características? Onde são negociados? Bem, essas são perguntas que responderemos a partir de agora, a fim de compreender esse importante mecanismo do governo para obtenção de recursos e também importante produto de investimento financeiro que temos no Brasil.

Como vimos até aqui, temos títulos pré e pós-fixados, e no caso dos títulos públicos não é diferente. São cinco os títulos negociados hoje pelo Tesouro Nacional (BRASIL, 2018), dois deles prefixados e três pós-fixados:

• Tesouro prefixado (LTN).• Tesouro prefixado com juros semestrais (NTN-F).• Tesouro Selic (LFT).• Tesouro IPCA+ com juros semestrais (NTN-B).• Tesouro IPCA+ (NTN-B Principal).

A tabela a seguir apresenta as principais características de cada título, quanto ao seu rendimento e sua remuneração.

TABELA 1 – CARACTERÍSTICAS DOS TÍTULOS PÚBLICOS FEDERAIS

FONTE: Brasil (2018, s.p).

Título Rendimento Remuneração do título

Prefixados

Tesouro Prefixado 20XX (LTN) Taxa Contratada Somente no vencimento

Tesouro Prefixado com Juros Semestrais 20XX (NTN-F) Taxa Contratada Semestral e no vencimento

Pós-fixados indexados à Inflação

Tesouro IPCA+ 20XX (NTN-B Principal) IPCA + Taxa Contratada Somente no vencimento

Tesouro IPCA+ com Juros Semestrais 20XX (NTN-B) IPCA + Taxa Contratada Semestral e no vencimento

Pós-fixados à Taxa Selic

Tesouro Selic 20XX (LFT) Selic + Taxa Contratada Somente no vencimento

Dos investimentos que vimos até agora, certamente os títulos públicos são os mais simples. É importante salientar que os títulos públicos podem ser liquidados antecipadamente, mas sua remuneração será inferior à contratada.

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• LTN – Tesouro Prefixado - este título oferece ao investidor um retorno nominal predefinido, que será sempre de R$ 1.000,00, no seu vencimento (NARDINI, 2018). Como assim, sempre de R$ 1.000,00? A LTN possui um fluxo de pagamentos simples, ou seja, é feita uma aplicação e ao final do prazo o investidor recebe R$ 1.000,00. O que acontece é que é feito um cálculo, trazendo a valor presente o montante de R$ 1.000,00, para se calcular quanto, descontada a remuneração, “custa” esse título de R$ 1.000,00 na data de hoje, e este é o valor da LTN que, ao final do prazo, será resgatada por R$ 1.000,00 (NARDINI, 2018). A figura a seguir apresenta o fluxo de pagamento deste título:

FIGURA 1 – FLUXO DE PAGAMENTOS LTN

FONTE: Brasil (2018, s.p).

Para facilitar, vamos a um exemplo: uma LTN foi comprada em 02/01/2019, o rendimento oferecido é de 9,32%a.a., com vencimento em 01/01/2022. Sabemos que o valor recebido no vencimento será de R$ 1.000,00, portanto o que precisamos calcular aqui é quanto será investido na compra deste título. A fórmula para chegar a esse valor é a seguinte:

Valor de VendaPreço =(1 + Taxa) 252

du

Na qual: • preço - é o preço do título na data de compra, que é o que queremos descobrir;• valor de venda é R$ 1.000,00;• taxa - é o rendimento oferecido pelo título;• du - são os dias úteis entre a data de compra e o vencimento.

No nosso exemplo, são decorridos 755 dias úteis entre a compra e o vencimento, portanto a fórmula fica assim:

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R$ 1.000,00Preço =(1 + 0,0932) 252

755

O resultado é: R$ 765,69, ou seja, no dia 02/01/2019 o investidor compraria a LTN por R$ 765,69 para receber no vencimento (01/01/2022) os R$ 1.000,00.

DICAS

A utilização de 252 dias úteis em um ano é uma convenção utilizada desde a década de 80 quando o Banco Central definiu que, para fins de aplicações financeiras, seriam utilizados 252 dias úteis em um ano.

Mas o que vai definir efetivamente quanto o investidor vai receber pelo título? Bem, como já vimos, nos títulos de renda fixa, quanto maior o prazo investido, maior tende a ser a remuneração oferecida pelos emissores. No caso da LTN não é diferente: quanto maior for o prazo, maior tende a ser a taxa oferecida pelo Tesouro Nacional para remuneração. Neste caso, como o valor a ser recebido sempre será de R$ 1.000,00 quanto maior o prazo, menos o investidor terá que dispender na compra para investir na LTN.

• NTN-F - Tesouro Prefixado com Juros Semestrais - semelhante à LTN, esse título também tem um valor final de resgate de R$ 1.000,00. Ou seja, é pago um valor hoje para que no seu vencimento o investidor receba R$ 1.000,00 por NTN-F negociada. A diferença é que, na NTN-F, há um pagamento de juros semestral equivalente a 10% a.a., ou 4,8808% ao semestre (taxa equivalente). Essa taxa de juros referente ao pagamento dos cupons (pagamentos dos juros semestrais) é padrão para todas as aplicações em LTN-F e é calculado sobre o valor nominal da aplicação, ou seja, sobre os R$ 1.000,00 (NARDINI, 2018). Qual minha vantagem, então? Bem, neste caso há um pagamento semestral de juros, ou seja, a cada seis meses o investidor receberá juros pelo capital investido em NTN-F e ao final haverá o resgate do principal. Logo, a rentabilidade deste título é paga de forma fracionada, diferente da LTN, na qual o investidor só recebe sua remuneração no vencimento do título. O fluxo de pagamento é diferente do que vimos na LTN, como pode ser observado na figura a seguir:

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TÓPICO 1 | PRODUTOS DE INVESTIMENTO FINANCEIRO

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FIGURA 2 – FLUXO DE PAGAMENTOS NTN-F

FONTE: Brasil (2018, s.p).

Investidor realiza a compra etransfere os recursos

Investidor recebe o retorno deseu investimento

Valor de Face ou Nominal(Valor investido +Rentabilidade)

ÚltimoCupom

Data deVencimento

Cupomn

Taxa anual de cupom: 10%

Taxa de Juros efetiva no períodoSemestre 1 Semestre 2 Semestre 3

Cupom 1 Cupom 2 Cupom 3Data daCompra

ValorInvestido

PreçoUnitário

A figura representa o valor investido, o pagamento dos cupons ao longo do período de investimento e, ao final do período de investimento, o recebimento do valor de face do título (R$ 1.000,00). Por exemplo: se o investidor compra uma NTN-F a R$ 960,67 em janeiro de 2019 e o vencimento da mesma será em janeiro de 2024, ele receberá cupons de juros duas vezes ao ano (janeiro e julho) e no vencimento receberá R$ 1.000,00, que é o valor nominal do título no qual ele investiu.

• LFT – Tesouro Selic - como o próprio nome sugere, este título público tem sua rentabilidade atrelada à Taxa Selic acumulada no período de investimento, acrescido ou não de uma taxa de ágio (ou deságio), que pode ser acordada no momento da compra. Como este já não é mais um título prefixado, sua remuneração exata só será conhecida no momento do vencimento do título. Seu fluxo de pagamento é semelhante ao da LTN, como podemos observar a seguir:

FIGURA 3 – FLUXO DE PAGAMENTOS LFT

FONTE: Brasil (2018, s.p).

Valor deResgate

Investidor recebe o retornode seu investimento

Investidor realiza a compra etransfere os recursos

Taxa de Juros efetiva no período (Selic)

Principal

Juros

Data deVencimento

Data daCompra

Principal

PreçoUnitário

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UNIDADE 3 | MERCADO FINANCEIRO DE CAPITAIS

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Dada sua simplicidade, esse título tem algumas características importantes a serem mencionadas, por exemplo, sua baixa volatilidade do valor de mercado, sendo indicado para investidores que se consideram conservadores e também para aqueles que não têm certeza de quando precisarão resgatar o título, visto que o Tesouro Nacional recompra, pelo seu valor de mercado, o título mesmo antes do vencimento. (BRASIL, 2018, s.p).

Vamos a um exemplo: suponha que um título LFT tenha sido comprado em 15/01/2010 pelo valor de R$ 4.112,41 e vendido em 07/03/2013. O valor atualizado será calculado em função da variação da Taxa Selic, que pode ser encontrada no site do Banco Central. No nosso exemplo, essa variação foi de 34,10% no período, o que resultou em um valor de resgate do título, no vencimento, de R$ 5.514,74. Portanto, o investidor recebeu por esse investimento R$ 1.401,33 (BRASIL, 2018, s.p).

Os títulos podem ser negociados com ágio ou deságio no momento da compra, isso significa dizer que a rentabilidade oferecida é superior ou inferior à Taxa Selic. Por exemplo, se o título está sendo negociado com ágio, a rentabilidade oferecida é inferior à Selic. Logo, quando o título é negociado com deságio, a rentabilidade oferecida é superior. Isso reflete no valor pago pelo título: com deságio, está sendo pago um valor menor que o valor nominal; e com ágio, um valor maior que o nominal, refletindo a diferença entre a rentabilidade e a Taxa Selic.

• NTN-B – Tesouro IPCA+ com Juros Semestrais - este título, também pós-fixado, oferece uma taxa de juros previamente definida, e somada a essa taxa a variação do IPCA - Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo, ou seja, é um título que está atrelado à inflação. A taxa de juros predefinida para o pagamento dos cupons é de 6% a.a., ou 2,96% ao semestre (taxa equivalente). O fluxo de pagamentos é semelhante à NTN-F, conforme figura seguinte:

FIGURA 4 – FLUXO DE PAGAMENTOS NTN-B

FONTE: Brasil (2018, s.p)

Investidor realiza a compra etransfere os recursos

Investidor recebe o retorno deseu investimento

(Valor Investido +Rentabilidade)

Valor de Face ou Nominal

ÚltimoCupom

Data deVencimentoTaxa de Juros efetiva no período

Taxa anual de cupom: 6%

CupomnCupom 1 Cupom 2 Cupom 3

Semestre 1 Semestre 2 Semestre 3

Data daCompra

ValorInvestido

PreçoUnitário

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TÓPICO 1 | PRODUTOS DE INVESTIMENTO FINANCEIRO

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Neste caso, há o pagamento dos cupons ao longo do período e, ao final, o resgate do principal, atualizado pelo IPCA. O título é interessante para quem quer manter o poder de compra do dinheiro ao longo dos anos e a rentabilidade real do investimento será dada pela taxa negociada na compra do título. Seu valor de mercado varia conforme oferta e demanda, o que significa que a remuneração oferecida no momento da compra irá variar. E o que isso significa? Suponha que uma NTN-B seja negociada com uma taxa de rendimento 5,50% a.a. O investidor pagará um preço superior ao valor nominal, o que fará com que sua rentabilidade final seja de 5,50%, recebendo os cupons de aproximadamente 2,96% ao semestre. Ocorrerá, então, que o investidor terá uma rentabilidade (conforme negociada) de 5,50% acima da inflação (caso fique com o título até o vencimento).

• Tesouro IPCA + (NTN-B Principal) - Outra forma de manter o poder aquisitivo do dinheiro é investir em NTN-B Principal. Esse título é quase idêntico ao NTN-B, com a diferença de que não há pagamento de juros semestralmente, sendo o valor do investimento a ser resgatado no seu vencimento negociado no momento da compra pelo investidor. O fluxo de pagamento é simples, pois há apenas a compra e o pagamento do título no vencimento, observe:

FIGURA 5 – FLUXO DE PAGAMENTOS NTN-B PRINCIPAL

FONTE: Brasil (2018, s.p)

Taxa de juros pactuada no momento dacompra mais a variação do IPCA no período

Data daCompra

Valor de Face

Data deVencimento

PreçoUnitário

ValorInvestido

Investidor recebe o retornode seu investimento

Investidor realiza a compra e transfere os recursos

O valor final resgatado pelo investidor será a taxa negociada acrescida da inflação (IPCA) do período transcorrido entre a compra e o resgate do título. Neste caso, apesar de o investidor não saber qual será o valor final do seu investimento (em dinheiro), ele saberá que vai ser o percentual pactuado acima da inflação do período, o que faz com que ele receba uma remuneração e mantenha o poder aquisitivo do dinheiro investido.

Essas foram as explicações referentes aos títulos públicos federais oferecidos pelo governo para os investidores.

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UNIDADE 3 | MERCADO FINANCEIRO DE CAPITAIS

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DICAS

O Tesouro Direto disponibiliza informações completas sobre rentabilidade dos seus investimentos em: <http://www.tesouro.fazenda.gov.br/tesouro-direto-calculadora>.Neste mesmo link também é possível simular cálculos do rendimento das aplicações.

IMPORTANTE

Visto as características dos principais títulos de renda fixa (privados e públicos), podemos nos perguntar: qual a vantagem de um investidor procurar os títulos públicos e não os títulos privados? Uma das respostas é o fator risco, que veremos em um tópico específico. Mas, o que podemos refletir aqui é: tenho mais riscos investindo no governo? Ou em uma instituição privada? Quem tem maior probabilidade de não me pagar o investimento? Neste caso a resposta é clara: o governo disponibiliza as opções de investimento mais seguras no mercado, o que faz com que um motivo pela sua procura possa ser esse. Porém, a remuneração é baixa! Sim, como todos títulos de renda fixa, a remuneração não é muito “alta”, por assim dizer, mas isso faz parte das características dos investimentos como um todo: quanto maior o risco, maior o retorno e assim por diante.

3 PRODUTOS DE RENDA VARIÁVELAté aqui estudamos os principais produtos de investimento em renda fixa.

Agora, abordaremos os produtos que estão caracterizados como renda variável. Quais são eles, suas características e principais informações pertinentes a cada produto. Você irá compreender as diferenças entre os produtos, onde e como investir, bem como os principais benefícios de cada tipo de investimento.

3.1 AÇÕES

Um dos principais instrumentos de renda variável são as ações. As ações são pequenas partes do capital social de uma empresa. Mas de que empresa? Ações não são partes de qualquer empresa, mas sim de empresas que possuem característica de Capital Aberto, as conhecidas Sociedades Anônimas – S.A.

Por representarem pequenas partes da empresa, as ações fazem com que o investidor seja, de certa forma, “dono” da empresa. Ele se torna participante da sociedade, o que lhe dá alguns direitos tanto sobre os ativos quanto dos resultados obtidos pela empresa. O investidor de ações não tem a propriedade dos ativos da empresa, mas através das ações os investidores participam dos resultados das empresas e os administradores tomam decisões visando a melhora do resultado

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TÓPICO 1 | PRODUTOS DE INVESTIMENTO FINANCEIRO

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de seus investidores (aqueles que acreditam que a empresa irá prosperar e suas ações vão valorizar) (NARDINI, 2018).

Até aqui, quando falamos de renda fixa, observamos formas de investimento nas quais empresas buscam capital de terceiros, o que na composição de capital da empresa representa o capital de terceiros. As ações figuram como capital próprio, na composição de capital, visto que quando um investidor compra ações, ele não está “emprestando” dinheiro para a empresa em troca de juros e resgate futuro do seu capital, mas sim está “comprando” uma parte da empresa (ação). Os investidores que compram essas partes da empresa acreditam que a empresa irá prosperar e, por meio disso, eles irão obter retornos financeiros advindos dessas ações. Esses retornos podem ser com a venda da ação para outro investidor ou também de distribuições de lucros obtidos pelas empresas.

Mas onde nós, enquanto investidores, podemos comprar essas partes de empresas? Como já vimos, para todos os tipos de investimento, temos um canal onde podemos encontrar os produtos e investir, e com as ações não é diferente. No Brasil, quem é responsável por esse mercado é a B3 (Brasil, Bolsa, Balcão), que até poucos anos era conhecida como BM&F Bovespa – Bolsa de Mercados e Futuros Bovespa. As ações são negociadas pelo mundo todo, em diversos países, por entidades responsáveis por esse mercado. As principais são: NYSE (Bolsa de Valores de Nova York), NASDAQ (Associação Nacional de Corretores de Títulos de Cotações Automáticas), que tem sede em Nova York, Tokyo Stock Exchange (Bolsa de Valores de Tóquio), LSE – London Stock Exchange (Bolsa de Valores de Londres) e Euronext (Bolsa de Valores dos Estados Unidos e da Europa).

As ações negociadas nas bolsas de valores são importantes formas de, em primeiro momento, empresas obterem recursos para seu financiamento e, após isso, de investidores obterem retornos financeiros. É importante deixar claro que a empresa só recebe dinheiro quando emite ações e as vende pela primeira vez ao mercado. E esse processo conhecido como IPO – Initial Public Offering – trata das ofertas públicas iniciais, é quando a empresa vende ao mercado suas ações. Após esse momento, são investidores negociando com outros investidores, buscando resultados financeiros para eles.

Vamos ver se entendemos o processo? É o seguinte: a empresa abre seu capital buscando investidores e recursos, vendendo “partes” da empresa (ações). Este processo é realizado e é feita a Oferta Pública Inicial, as “IPO”, das ações para o mercado. Quando a empresa vender todas as ações que disponibilizou ao mercado, o investimento nesse produto passa a ser entre os investidores, ou seja, não vai mais dinheiro para a empresa, mas sim de investidor para investidor. Este é conhecido como Mercado Secundário.

Até aqui tudo certo, mas e aí? Como assim, o investidor tem parte da empresa? O que é isso? Por que é diferente? Primeiro, como o investidor compra uma pequena parte da empresa, ele tem certos direitos. Esses direitos vão de acordo com o tipo de ação no qual ele investe. Mas que negócio é esse de tipo?

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UNIDADE 3 | MERCADO FINANCEIRO DE CAPITAIS

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As ações são divididas entre Ações Ordinárias e Ações Preferenciais. Cada tipo de ação tem uma característica quanto à participação do acionista nas decisões da empresa, recebimento de dividendos etc.

• Ações Ordinárias (ON) conferem ao acionista o direito a voto nas assembleias de acionistas. Esses acionistas têm voz ativa nas assembleias e podem influenciar as decisões da empresa, influenciar a gestão, propor mudanças etc.

• Já as Ações Preferenciais (PN) dão aos acionistas preferência no recebimento de dividendos e, por outro lado, não conferem direito a voto nas assembleias (NARDINI, 2018). A letra N da sigla se refere a Nominativas, pois os papéis são “nominais” ao investidor.

Então, como os investidores escolhem? Bom, o investidor que quer ter alguma influência na empresa em que está investindo vai optar por comprar ações Ordinárias; já aqueles que não querem se envolver e querem ter prioridade no recebimento de dividendos, investirão nas ações Preferenciais.

Como saber em que tipo de ação estou investindo? As ações têm códigos, por exemplo: VALE3, BVMF3, ITUB4, BBDC4 etc. No caso da Bolsa Brasileira, quando as ações têm 3 no final, representam Ações Ordinárias; quando o número final é 4, representam Ações Preferenciais. Além dessas duas nomenclaturas, há outras que também representam ações preferenciais e ordinárias (NARDINI, 2018).

DICAS

Para entender melhor a nomenclatura das ações, acesse:<https://www.infomoney.com.br/onde-investir/noticia/2164854/comecando-agora-entenda-o-significado-e-como-sao-formados-os-codigos-das-acoes->. Acesso em 13 fev. 2019.

Já sabemos que podemos comprar ações preferenciais ou ordinárias, mas onde vamos comprar essas ações? A resposta é simples: na B3 - Brasil, Bolsa, Balcão, anteriormente conhecida como BM&F BOVESPA. Com a era totalmente digitalizada, não existe mais um lugar “físico” onde você vai com seu dinheiro para comprar ações. Mas já foi, sabia? Hoje, para comprar ações você precisará de um intermediário, corretoras de títulos e valores mobiliários, distribuidora de títulos e valores mobiliários, agências bancárias etc. O investidor buscará uma instituição autorizada a operar em bolsa de valores. Esses intermediários receberão as “ordens” do investidor para comprar ou vender ações e então realizarão essas ordens com a bolsa tendo a responsabilidade de criar essa ponte entre Mercado e Investidor (NARDINI, 2018).

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TÓPICO 1 | PRODUTOS DE INVESTIMENTO FINANCEIRO

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Para investidores individuais é comum a utilização de um Home Broker, que nada mais é que um sistema onde o investidor opera suas negociações, enviando ordens de compra e venda. Estas ordens são recebidas pela corretora, por meio desse home broker, e então a corretora realiza as operações na Bolsa (NARDINI, 2018).

Agora que sabemos quais são as ações e onde comprá-las, como ganhar dinheiro com isso? Existe mais de uma maneira de ganhar dinheiro com as ações, vamos aprender um pouco como o investidor ganha (ou perde) dinheiro com a aplicação de recursos financeiros em ações. Primeiro é importante observar que, como a ação representa uma parte da empresa, quando a empresa obtém lucros, o investidor possui direito a uma parte do lucro obtido. Essa distribuição de lucros é chamada de dividendos, ou seja, empresas de capital aberto que tiverem resultados positivos devem distribuí-los com seus acionistas conforme o que constar em seus Estatutos Sociais. Mas não é todo o lucro que é distribuído, afinal, as empresas precisam reinvestir dinheiro para continuar crescendo. O que é distribuído é parte do lucro obtido no exercício e cada acionista receberá dividendos de acordo com sua participação no capital da empresa (NARDINI, 2018). Atualmente, as empresas são obrigadas a distribuir, pelo menos, 25% do seu lucro líquido, podendo distribuir muito mais de acordo com o que for preestabelecido em seu estatuto social e objetivos da empresa.

Outra maneira de ganhar dinheiro com ações é com o pagamento de juros sobre o capital próprio. Essa remuneração se refere ao pagamento de juros sobre o lucro que foi retido em exercícios anteriores, é remunerado o valor que foi retido pela empresa (não repassado aos acionistas no exercício anterior, por exemplo), mas que não foi utilizado nos planos de investimento da empresa (NARDINI, 2018).

Também é possível receber bonificações, seja em dinheiro ou em ações, essas bonificações são resultado de um movimento de transformação de reservas de lucros em capital social da empresa, os investidores então recebem mais ações, ou uma bonificação em dinheiro referente a esse processo. Isso não altera o valor total que cada investidor possui em ações, mas o valor de mercado da ação diminui (devido ao aumento do número de ações) (NARDINI, 2018).

Por fim, a maneira mais conhecida de obtenção de retornos financeiros por meio de ações é o ganho de capital. Ganho de capital é a diferença entre o valor que o investidor pagou na compra da ação e ganhou quando vendeu a ação. Esse ganho é normalmente bem superior aos ganhos dos investimentos de renda fixa, visto que esse valor depende de diversos fatores econômicos e próprios da empresa.

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UNIDADE 3 | MERCADO FINANCEIRO DE CAPITAIS

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3.2 MERCADO DE DERIVATIVOS

Dos instrumentos de renda variável, outro destaque, além as ações, são os derivativos. Por definição: “um derivativo é um ativo ou instrumento financeiro, cujo preço deriva de um ativo ou instrumento financeiro de referência ou subjacente” (FORTUNA, 2014, p. 681). O mercado de derivativos é um mercado de liquidação futura, ou seja, suas negociações são feitas hoje, mas sua liquidação é para uma data futura e ele se divide em quatro: Mercado de Futuros, Mercado a Termo, Operação com Opções e Contratos de Swaps.

Quando dizemos que ele deriva de outro ativo ou instrumento financeiro, estamos falando das próprias ações, índices de preços, dólar, commodities etc. Ou seja, para que o derivativo exista, primeiro é preciso que exista esse ativo. Neste caso, pode existir um derivativo de uma ação, um derivativo de dólar, de soja etc.

Os derivativos têm características básicas, por exemplo: não precisam de um dispêndio de capital inicial para investimento, ou esse gasto pode ser bem inferior a realizar um investimento no ativo principal referente àquele derivativo; ele será liquidado em data futura, ou seja, os contratos são pactuados para serem liquidados no futuro, seja daqui alguns dias até alguns anos; e o valor desse derivativo vai se alterar em resposta às mudanças de mercado que influenciam aquele derivativo, por exemplo, um contrato de derivativo de dólar terá seu valor ajustado conforme aumento ou diminuição do dólar (LIMA et al., 2012).

Se podemos investir no ativo principal, por que algum investidor investe no que é derivado desses ativos? Bem, esse é o ponto central dos derivativos. Os derivativos são amplamente utilizados pelos investidores para eles se protegerem de eventuais riscos de oscilações de preços, taxas de juros e variações cambiais, por exemplo. Vamos a um exemplo: se uma empresa precisará pagar R$ 100.000,00 dólares daqui a quatro meses para um de seus fornecedores, ela poderá realizar um contrato de derivativo hoje, contratando a compra de R$ 100.000,00 dólares em data futura. Essa ação da empresa irá fixar o preço do dólar, ou seja, independentemente do preço do dólar no futuro, o seu contrato de derivativo garante que a taxa de conversão entre reais e dólares será a acordada hoje. Mas essa não é a única maneira de utilizar o mercado de derivativos, apesar de ser uma das principais. Os derivativos são utilizados com três diferentes propósitos: Hedge (Proteção), Arbitragem e Especulação.

Os investidores conhecidos como Hedgers, ou seja, aqueles que utilizam o mercado de derivativos para fazer Hedge, são os que buscam se proteger do risco de mudanças futuras nas variáveis de mercado. Já os arbitradores são aqueles que negociam os derivativos em mercados distintos, eles encontram distorções de preços entre mercados e se favorecem disso para obter lucros, comprando derivativos no mercado “A” e vendendo no Mercado “B” e vice-versa. Por fim, especuladores são aqueles que buscam o lucro com posições que acham favoráveis, os especuladores investirão em contratos derivativos nos quais eles imaginam que vão obter ganhos. De maneira simplificada, não possuem nenhum

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TÓPICO 1 | PRODUTOS DE INVESTIMENTO FINANCEIRO

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interesse no ativo objeto do derivativo, ao contrário dos Hedgers, que têm esse interesse. (LIMA et al., 2012)

Caro acadêmico! Agora que entendemos quem e por que esses investidores utilizam os derivativos, vamos definir as características de seus tipos: Futuros, a Termo, Opções e Swaps.

Os contratos futuros e a termo são muito semelhantes, basicamente são

compromissos de compra/ou venda de determinado ativo em data futura, por um preço acordado. Sua utilização é comum para produtores e compradores que desejam se proteger das variações de preços. Com a utilização de contratos futuros e a termo, as partes asseguram que, em uma data futura, os valores pagos/recebidos pelos produtos serão os acordados hoje. A principal diferença deles é a existência de um ajuste diário dos contratos futuros, ou seja, quando são negociados contratos futuros, a parte que naquele dia teve uma variação desfavorável precisará pagar as variações do valor do contrato diariamente (LIMA et al., 2012).

As opções são contratos que dão direitos a quem investe nelas. Existem dois tipos: opções de compra e opções de venda. As opções de compra dão direito ao investidor de ter a opção de comprar os ativos negociados naquela opção; as opções de venda dão o direito ao investidor de vender os ativos negociados naquele contrato de opções. Mas o que é ter o direito de executar a opção? É poder ter a escolha de comprar ou não (ou vender ou não) o ativo objeto daquela ação. Por exemplo, uma opção de compra de um determinado lote de ações de uma ação da Petrobras a um preço determinado em uma data futura. Ao comprarmos essa opção, poderemos ou não executá-la e comprar essas ações. Isso dependerá do preço de mercado desse ativo e suas variações até o fim deste contrato (LIMA et al., 2012).

Então, podemos achar que opções são fantásticas, pois nunca perderemos dinheiro, visto que podemos escolher comprar/ou vender ou não esses ativos. Caro acadêmico, para que esses contratos sejam possíveis, existe um prêmio a ser pago por cada opção, e assim, quem as vende recebe esse prêmio. Caso o investidor opte por não executar a sua opção, o vendedor da opção recebe esse prêmio por “dar” esse direito ao investidor.

Por fim, os contratos de Swap são trocas de rentabilidades entre indicadores diferentes. No caso do Swap, o investidor e a instituição financeira negociam a troca da rentabilidade de um investimento pela de outro indicador, por exemplo, variação do dólar e CDI. E como isso funciona? O investidor faz um contrato de Swap com a instituição financeira, atrelando variações de dois índices, ou seja, há uma troca de riscos entre dois índices e, desta forma, o investidor está se protegendo de eventuais variações (cambiais, taxa de juros etc.).

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UNIDADE 3 | MERCADO FINANCEIRO DE CAPITAIS

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IMPORTANTE

Caro acadêmico: você sabe o que é um rating e para que ele serve?Um rating é uma nota que as agências internacionais de classificação de risco de crédito atribuem a um emissor (país, empresa, banco) de acordo com sua capacidade de pagar uma dívida. Ele serve para que investidores saibam o grau de risco dos títulos de dívida que estão adquirindo. Em geral, são três grandes níveis: grau de investimento (país seguro de investir), grau especulativo (risco de inadimplência) e default (quando o país declara moratória). As principais agências no mundo são a Standard & Poor’s (S&P), a Fitch e a Moody’s, que levam em conta indicadores como gastos do governo, dívida externa e política monetária. Essas notas influenciam decisões de investimento no mercado internacional e a tendência é que, ao receber a classificação, o país atraia mais recursos estrangeiros. Além disso, cai o custo do governo, até mesmo o de empresas privadas para captar recursos no exterior.Você poderá avançar seus conhecimentos a respeito lendo este material na íntegra. Para isso, acesse: https://oglobo.globo.com/economia/entenda-que-um-rating-para-que-ele-serve-10238064.

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TÓPICO 1 | PRODUTOS DE INVESTIMENTO FINANCEIRO

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LEITURA COMPLEMENTAR

ENTENDA EM CINCO PASSOS O QUE SÃO OS DERIVATIVOSTAMBÉM CONHECIDOS COMO “OPERAÇÕES DE HEDGE”, ELES

TRAZEM PROTEÇÃO AO MERCADO FINANCEIRO

Lys Silva

O uso de derivativos vem se tornando cada vez mais comum no Brasil. Sua principal utilidade é a proteção de contratos, dívidas ou fluxo de caixa contra variação cambial ou outro tipo de exposição e proporcionam previsibilidade ao balanço das empresas.

Em um momento de grande oscilação cambial, empresas de diversos portes podem se proteger com a inclusão de derivativos em sua estratégia financeira. Neste ano, por exemplo, a moeda americana subiu 42% frente ao real e quem utilizou derivativo conseguiu mitigar os efeitos dessa oscilação.

Em 2012, a média mensal de operações registradas na Cetip com Termo de Moedas, muito utilizado por importadores e exportadores, era de aproximadamente U$ 20 bilhões. Em 2013, com o crescimento da oscilação do câmbio, esse valor começou a subir. Atualmente, esse instrumento movimenta mais de U$ 30 bilhões em contratos de empresas que estão se protegendo no Brasil.

Diante da complexidade do tema, a Cetip preparou respostas para cinco dúvidas muito comuns quando o assunto são os derivativos:

1) O que é derivativo? Derivativo é um instrumento financeiro cujo valor final depende (deriva), total

ou parcialmente, do valor de outro ativo, que pode ser uma ação, moedas, juros, entre outros.

2) E para que ele serve? No segmento em que a Cetip atua – mercado de balcão –, ele é utilizado

principalmente para fins de gestão de risco das empresas e proteção contra oscilações indesejadas – estratégia conhecida como hedge. Além disso, no mercado de balcão, os contratos de derivativos podem ser customizados de acordo com a necessidade de cada empresa ou pessoa física.

3) É arriscado usar derivativos? O derivativo é extremamente útil e benéfico dentro da estratégia das empresas,

desde que utilizado como instrumento de proteção contra oscilações futuras oriundas de riscos de mercado existentes no balanço das empresas. Usado adequadamente, o instrumento elimina os riscos da operação.

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UNIDADE 3 | MERCADO FINANCEIRO DE CAPITAIS

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4) Quais são os principais tipos de derivativos? O Contrato a Termo é uma das modalidades mais utilizadas e permite à

empresa “travar” a cotação do dólar ou alguma outra moeda (ou ainda algum outro ativo, por exemplo, uma commodity) em um valor determinado a ser pago em uma data futura. Assim, a empresa garante que suas despesas ou ganhos futuros em dólar terão cotação predeterminada, evitando prejuízos.

Já os contratos de Swap possibilitam que uma empresa troque o indexador de sua dívida, ou seja, o fator que determina quanto será pago em troca do empréstimo por um outro indexador mais coerente com os ativos da empresa. Na parte prática, isso significa que uma empresa pode, por exemplo, trocar seu risco de exposição cambial para uma taxa de juros em reais, pré ou pós-fixada.

Outros tipos de derivativos são as Opções. Com elas a empresa adquire o direito de comprar ou vender um ativo por um determinado preço em uma data futura. A empresa não é obrigada a concretizar a compra ou venda na data prevista, caso o cenário não se revele vantajoso como o esperado. Para ter esse direito no mercado de opções, a empresa paga um prêmio no início da operação.

5) Como é este mercado no Brasil e no mundo? No Brasil, os principais ativos dos contratos no mercado de derivativos de

balcão são as moedas, seguidas por juros. Dos contratos registrados na Cetip, 67% são cambiais, 21% juros, 9% ações, 3% outros.

Já no exterior, segundo dados do Banco de Compensações Internacionais (BIS, na sigla em inglês), os principais indexadores dos contratos derivativos de balcão são os juros, com 82,20%, seguidos por moedas, 12,34%, ações, 1,28%, e outros com 4,18%.

FONTE: <https://www.infomoney.com.br/onde-investir/acoes/noticia/4435147/entenda-passos-que-sao-derivativos>. Acesso em: 21 dez. 2019.

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Neste tópico, você aprendeu que:

• Risco de crédito é o não pagamento por uma empresa das suas obrigações em alguma operação comercial.

• Risco de liquidez está associado a não conseguir vender (transformar em dinheiro novamente) investimentos, ou não se obtém um valor justo pelos mesmos quando se pretende “liquidar” esses investimentos.

• Risco de mercado consiste na possibilidade de perdas causadas pelos impactos de flutuações de preços/índices/taxas (juros, câmbio) sobre instrumentos financeiros assumidos por uma empresa.

• CDB significa: Certificado de Depósito Bancário e é considerado um depósito a prazo. É um investimento de Renda Fixa.

• As instituições financeiras emitem CDBs com o objetivo de captar recursos junto ao mercado para viabilizar suas atividades.

• Os prazos de investimento variam de contrato para contrato. Há contratos de três, seis e 12 meses, da mesma forma que vemos contratos de dois, três ou cinco anos.

• O CDB geralmente só pode ser resgatado no vencimento do contrato, mas há casos em que há liquidez diária do mesmo.

• A taxa pela qual o CDB irá remunerar o investidor pode ser prefixada ou pós-fixada.

• LCI é uma Letra de Crédito Imobiliário emitida pelas instituições financeiras com o objetivo de captar recursos para investimentos no setor imobiliário. É um título de renda fixa, no qual os prazos de investimento variam de seis meses a três anos, porém existe a possibilidade de títulos com vencimentos ainda maiores. Seu rendimento é realizado de maneira prefixada ou pós-fixada.

• Existe a necessidade de um lastro para a instituição poder emitir LCIs e pode haver LCIs com possibilidade de resgate diário, sempre respeitando o tempo mínimo de investimento.

• LCA é uma Letra de Crédito do Agronegócio emitida pelas instituições financeiras com o objetivo de captar recursos para investimentos no setor de agronegócio. É um título de renda fixa, no qual os prazos de investimento variam, com prazo mínimo de 90 dias para títulos sem reajuste por índice de

RESUMO DO TÓPICO 1

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preços e 12 meses quando houver reajuste anual. Seu rendimento é realizado de maneira pré ou pós-fixada.

• Existe a necessidade de um lastro para a instituição poder emitir LCAs e pode haver LCAs com possibilidade de resgate diário, sempre respeitando o tempo mínimo de investimento.

• As debêntures representam títulos de dívida emitidos pelas empresas e seu objetivo é a captação de recursos para determinados fins.

• O documento que determina as características da debênture é conhecido como escritura de emissão.

• A emissão mais comum é de debêntures simples puramente de renda fixa, porém em alguns casos elas podem ter elementos de renda variável, como é o caso das debêntures conversíveis e das debêntures permutáveis.

• As debêntures simples se categorizam conforme suas garantias, sendo elas: com garantia real, com garantia flutuante, quirografárias e subordinadas. Existem também conversíveis e permutáveis, que carregam elementos de renda variáveis e, por fim, temos as debêntures incentivadas.

• As debêntures incentivadas são aquelas em que as empresas recebem incentivos do governo para serem emitidas, pois visam à execução de projetos em áreas essenciais para o desenvolvimento econômico, como: energia, logística e transportes, mobilidade urbana etc.

• Apesar de poder haver debêntures com taxas prefixadas, a grande maioria é negociada a taxas pós-fixadas e com sua vinculação à Taxa DI. No caso das debêntures incentivadas não pode haver emissão com taxas pós-fixadas.

• As debêntures são emitidas pelas empresas, normalmente com intermediação de uma instituição financeira que atua como agente fiduciário aos investidores.

• Os títulos públicos federais são: LTN, NTN - F, LFN, NTN-B e NTN – B Principal.

• São divididos em títulos prefixados (LTN e NTN – F) e pós-fixados (LFN, NTN-B e NTN-B Principal).

• O LTN é remunerado no vencimento a uma taxa prefixada.

• A NTN-F é remunerada por meio de cupons semestrais de 4,8808%, e o valor principal resgatado no vencimento.

• A LFN é atrelada à variação da Taxa Selic no período transcorrido entre a compra e o vencimento e resgatado no vencimento.

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• A NTN-B e NTN-B Principal são atreladas ao índice de inflação (IPCA) e remuneram um percentual acima da inflação transcorrida no período. A diferença é que a NTN-B tem pagamento de cupons semestrais e a NTN-B Principal não tem.

• Ações são pequenas partes de uma empresa de capital aberto vendidas nas bolsas de valores e quem as compra (acionistas) se torna dono de uma parte da empresa.

• As ações são divididas entre Ordinárias e Preferenciais.

• As Ordinárias dão direito a voto ao acionista.

• As Preferenciais garantem preferência no recebimento de dividendos pelos acionistas.

• Para comprar ações é preciso procurar por instituições autorizadas para operar com ações.

• A remuneração do investidor é por meio de ganhos de capital, dividendos, juros sobre capital ou bonificações.

• Os derivativos recebem esse nome pois são atrelados a um ativo objeto, tendo seu preço derivado deste ativo e são investimentos com liquidação futura.

• São quatro os tipos de derivativos: a termo, futuros, opções e contratos de swap.

• Os agentes investem em derivativos com três finalidades: Hedge, Arbitragem e Especulação.

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1 De que forma as empresas são afetadas pelos diferentes tipos de risco estudados?

2 Qual a finalidade do CDB para as instituições financeiras?

3 Por que existem CDBs com prazos diferentes e qual a vantagem desses títulos?

4 Como é feita a remuneração dos CDBs para os investidores?

5 Qual a finalidade das LCI para as instituições que as emitem?

6 Qual a remuneração das LCIs? 7 Qual o prazo mínimo de investimento em LCI e em que momento o

investidor pode resgatar o título?

8 Qual a finalidade das LCA para as instituições que as emitem?

9 Qual a remuneração das LCAs?

10 Qual o prazo mínimo de investimento em LCA e em que momento o investidor pode resgatar o título?

11 O que é uma Debênture?

12 Quais são os tipos de debêntures que temos no mercado?

13 O que são e para que servem Debêntures Incentivadas?

14 Quais são os títulos públicos federais?

15 Quais as principais diferenças entre os títulos públicos federais?

16 Qual a finalidade dos Títulos Públicos Federais?

17O que é uma Ação?

18 De que forma o investidor ganha dinheiro com as ações?

19 Qual a diferença entre ações preferenciais e ordinárias?

AUTOATIVIDADE

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20 O que é um Derivativo?

21 Por que os investidores procuram os derivativos?

22 Quais os tipos de derivativos mais comuns no Brasil?

23 Quais as quatro modalidades de derivativos?

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TÓPICO 2

PRECIFICAÇÃO DE ATIVOS

UNIDADE 3

1 INTRODUÇÃOConhecer os tipos de investimento é importante. Porém, para conhecer

ainda mais sobre os investimentos você precisa ir além. São diversos aspectos que o levarão a obter um know-how aprofundado a respeito dos investimentos financeiros. Conhecer os tipos de investimento é apenas um dos aspectos que você precisará saber para entender deste mundo.

Outro item importante é saber avaliar um investimento; investir por investir pode não trazer o retorno esperado. É muito importante entender como avaliar esse investimento. Quando falamos de avaliação, devemos sobrepor a ideia de apenas entender se terá retorno financeiro ou não, pois é preciso ir além disso. Empresas usam produtos de investimento, muitas vezes, sem objetivo de obter lucros, como é o exemplo dos Hedges feitos através de derivativos.

Neste ponto, uma das maneiras de observar os investimentos e avaliá-los é através do CAPM. Ele é baseado na ideia de que o investidor busca riscos compatíveis com os tipos de investimento, ou seja, na premissa de que para assumir um risco é preciso obter maior rentabilidade do que se realizássemos investimentos com baixo ou nenhum risco. É claro que existem outras maneiras, porém o CAPM, que veremos a seguir, é uma bastante utilizada no mercado.

2 CAPM – CAPITAL ASSET PRICING MODEL

No mercado de capitais e nas finanças, um dos aspectos mais importantes, quanto aos investimentos, é a mensuração dos componentes básicos de uma avaliação de ativos: risco e retorno. Para tanto, é amplamente utilizado um modelo de precificação de ativos conhecido como CAPM – Capital Asset Pricing Model. Este modelo, derivado da teoria do portfólio, busca uma resposta de como esses componentes básicos devem ser relacionados e mensurados na avaliação do ativo (ASSAF NETO, 2012).

Além de ser amplamente utilizado nas várias operações do mercado de capitais e no processo de decisão em condições de risco, por meio do CAPM também é possível encontrar a taxa de retorno buscada pelos investidores. Por

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172

UNIDADE 3 | MERCADO FINANCEIRO DE CAPITAIS

meio do coeficiente beta gerado pelo modelo é possível reconhecer a remuneração adequada do ativo para suprir adequadamente seu risco sistemático (ASSAF NETO, 2012). Das hipóteses levantadas para o modelo, segundo Assaf Neto (2012), as mais importantes são:

• a eficiência informativa do mercado, que atinge igualmente a todos os investidores;

• as taxas, impostos ou qualquer outra restrição para os investimentos não existem;• os investidores, que têm a mesma percepção com relação a desempenho dos ativos;• a existência de uma taxa de juros de mercado livre de risco.

Essas hipóteses possibilitam importantes conclusões sobre o processo de avaliação de ativos, não são restritivas e têm como objetivo descrever melhor um modelo financeiro. Mesmo que não sejam constatadas na realidade de mercado, não são suficientemente rígidas para invalidar o modelo (ASSAF NETO, 2012).

“O CAPM oferece conceitos válidos e aceitos para a estimativa do custo de oportunidade do capital próprio. Ele foi desenvolvido por Willian Sharpe e é considerado, teoricamente, uma das melhores alternativas para a apuração da taxa de retorno requerida pelos investidores” (FORSTER, 2009, p. 72). Ele é baseado na ideia de que o investidor quer ter de retorno uma remuneração de baixo risco, conhecida como a Taxa Mínima de Atratividade (TMA) do investimento e, além dessa taxa, deseja ainda receber um prêmio, uma taxa além da TMA, pelo risco da aplicação que ele está fazendo (CASAROTTO FILHO; KOPITTKE, 2010).

Matematicamente falando, temos a fórmula: E(R) = Rf + Beta [E(Rm) – Rf]Onde:

• E(R) = Remuneração esperada para a ação ou recursos próprios no projeto.• Rf = Taxa livre de risco (Risk Free).• E(Rm) = Retorno esperado para o mercado.• Beta = Medida de risco não diversificável (para um segmento ou empresa).

Como Rf é comum considerarmos o retorno de um título do governo, pois seu risco é, teoricamente, o menor do mercado. A possibilidade de investir nesse título e não ter o dinheiro de volta é mínimo e, desta forma, para cálculo do CAPM se utiliza essa taxa. Já como E(Rm) é considerado o retorno de uma bolsa de valores e o beta pode ser calculado, seja para empresas ou segmentos, os dados utilizados devem ser históricos de Retornos de Mercado e investimentos livres de risco (CASAROTTO FILHO; KOPITTKE, 2010).

Se considerarmos 8% a.a. como TMA e um retorno de mercado (E(Rm)) de 12%a.a. e tivermos um beta de 1,5 o retorno esperado será: E(R) = 8+1,5(12-8) = 14%.

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TÓPICO 2 | PRECIFICAÇÃO DE ATIVOS

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DICAS

Para conhecer como o índice beta é calculado você pode acessar:<https://hcinvestimentos.com/2011/12/20/indice-beta/> .

Algumas informações importantes a se salientar são a influência do índice beta no modelo. Um índice beta 0 indica que o segmento é estável. Se o índice for um, indica que o segmento tem um retorno que acompanha a média da bolsa. Setores mais dinâmicos têm beta maior que um, representando maiores riscos. Outro fator importante é a própria aversão ao risco do investidor: quanto maior for essa aversão, maior será a sua resistência em trocar um investimento seguro. Por fim, as implicações do imposto de renda devem ser atentadas, pois a taxa mínima de atratividade e a taxa de desconto devem ser consideradas líquidas de imposto de renda (CASAROTTO FILHO; KOPITTKE, 2010).

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Neste tópico, você aprendeu que:

• CAPM é considerado, teoricamente, uma das melhores alternativas para a apuração da taxa de retorno requerida pelos investidores.

• O CAPM é baseado na ideia de que o investidor quer ter como retorno uma remuneração de baixo risco, conhecida como a Taxa Mínima de Atratividade (TMA) do investimento, e além dessa taxa, ele deseja ainda receber um prêmio, uma taxa além da TMA, pelo risco da aplicação que ele está fazendo.

• A fórmula do modelo CAPM é: E(R) = Rf + Beta [E(Rm) – Rf] Onde: ◦ E(R) = Remuneração esperada para a ação ou recursos próprios no projeto. ◦ Rf = Taxa livre de risco (Risk Free). ◦ E(Rm) = Retorno esperado para o mercado. ◦ Beta = Medida de risco não diversificável (para um segmento ou empresa).

RESUMO DO TÓPICO 2

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AUTOATIVIDADE

1 O que é CAPM?

2 Por que o CAPM é amplamente utilizado?

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TÓPICO 3

TRIBUTAÇÃO DE RENDIMENTOS

UNIDADE 3

1 INTRODUÇÃOCaro acadêmico! Agora que já conhecemos os investimentos e uma das

maneiras de avalia-los, precisamos entender também qual será nosso retorno líquido com esses investimentos. Como todos sabemos, no Brasil temos diversos impostos e taxas a pagar. Para os investimentos não é muito diferente. Cada investidor deve estar ciente de que, para os diversos tipos de investimento, ele estará sujeito ao pagamento de impostos sobre os rendimentos.

Cada tipo de investimento possui regras próprias para recolhimento de impostos. Isso se deve ao fato de que cada um tem um objetivo diferente, não apenas para o investidor, mas para o mercado também. Podemos usar como exemplo as LCIs e LCAs, que são investimentos criados para os bancos captarem recursos para financiarem os mercados imobiliário e de agronegócio.

Desta maneira, compreender “o quanto iremos pagar pelos nossos rendimentos” figura em outra parte muito importante do conhecimento sobre os investimentos financeiros. Neste tópico, então, vamos conhecer a tributação destes rendimentos.

2 TRIBUTAÇÃO DE PRODUTOS DE INVESTIMENTOAgora que já conhecemos os produtos de investimento financeiro,

vamos entender como funciona a tributação para cada tipo de investimento. Desde os investimentos de renda fixa aos de renda variável, há características de tributação específicas para cada. Tanto para pessoa física e jurídica, cada produto de investimento financeiro possui regras para tributação. Vamos estudar agora, caro acadêmico, como esses investimentos são afetados pela tributação e qual é a tributação para esses investidores.

As LCIs e LCAs têm uma característica comum, que é a não tributação de imposto de renda sobre os investimentos realizados por pessoas físicas, e este é um dos fatores que confere popularidade a esses investimentos. Já os investidores pessoa jurídica que investem em LCIs e LCAs têm a aplicação do imposto de renda conforme o prazo da aplicação. Como vimos, os retornos são maiores quanto maior for o tempo de aplicação, no caso da tributação, quanto maior for o prazo, a alíquota aplicada é menor. A tabela a seguir apresenta as alíquotas aplicadas aos investidores pessoa jurídica nas LICs e LCAs:

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UNIDADE 3 | MERCADO FINANCEIRO DE CAPITAIS

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TABELA 2 - ALÍQUOTA DE IMPOSTO DE RENDA SOBRE LCI E LCA

FONTE: Nardini (2018, p. 21)

Prazo de Aplicação AlíquotaAté 180 dias 22,5%

Entre 181 e 360 dias 20,0%Entre 361 e 720 dias 17,5%Acima de 720 dias 15,0%

A base para o cálculo do imposto é a renda auferida com a aplicação, ou seja, é a diferença do valor pago pelo investimento e do valor resgatado ao final do prazo, e a tributação ocorre na fonte. A responsabilidade pelo recolhimento desse imposto fica a cargo da instituição que emitiu o título (NARDINI, 2018).

Já os CDBs, diferentemente das aplicações em LCIs e LCAs, não têm alíquota zero para investidores pessoa física. Seu rendimento bruto é tributado de acordo com o tempo de aplicação (NARDINI, 2018), que pode ser diferente do vencimento contratado no título, pois, como vimos, o CDB pode ser resgatado antecipadamente ou então na sua data de vencimento. A responsabilidade do recolhimento também é do emissor do título. E como as LCIs e LCAs, o imposto é recolhido sobre a renda da aplicação. A tabela a seguir apresenta as alíquotas aplicadas aos investidores:

TABELA 3 - ALÍQUOTA DE IMPOSTO DE RENDA SOBRE CDB

FONTE: Nardini, (2018, p. 26)

Prazo de Aplicação AlíquotaAté 180 dias 22,5%

Entre 181 e 360 dias 20,0%Entre 361 e 720 dias 17,5%Acima de 720 dias 15,0%

Além do imposto de renda, os investidores podem ter outras taxações ao optarem por resgatar o título nos primeiros 30 dias contados da data da aplicação. Para investimentos resgatados a partir de 30 dias o IOF é zero e o investidor paga apenas o imposto de renda para o valor auferido com o investimento (NARDINI, 2018). Já durante os 30 dias a cobrança de IOF é regressiva conforme o número de dias transcorridos entre a aplicação e o resgate. A tabela seguinte apresenta a alíquota de IOF durante os 30 dias:

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TÓPICO 3 | TRIBUTAÇÃO DE RENDIMENTOS

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Prazo de Aplicação AlíquotaAté 180 dias 22,5%

Entre 181 e 360 dias 20,0%Entre 361 e 720 dias 17,5%Acima de 720 dias 15,0%

TABELA 4 – IOF APLICADO AOS CDBS COM RESGATE EM ATÉ 30 DIAS

FONTE: Nardini, (2018, p. 27)

Dia Alíquota Dia Alíquota Dia Alíquota

1 96% 11 63% 21 30%

2 93% 12 60% 22 27%

3 90% 13 56% 23 23%

4 86% 14 53% 24 20%

5 83% 15 50% 25 16%

6 80% 16 46% 26 13%

7 76% 17 43% 27 10%

8 73% 18 40% 28 6%

9 70% 19 36% 29 3%

10 66% 20 33% 30 0%

Dos instrumentos de renda fixa, as debêntures, por terem o pagamento de juros periódico, contam com um esquema de recolhimento de imposto sobre os pagamentos de juros periódicos de acordo com a tabela. Por exemplo: se o primeiro pagamento correr entre 180 dias, a alíquota é uma; se o segundo correr entre 181 e 360 dias, é outra, e assim por diante. Elas, em geral, não se beneficiam de isenção de imposto de renda sobre os rendimentos. Como os demais instrumentos de renda fixa, o recolhimento é na fonte e de responsabilidade do emissor do título (NARDINI, 2018). Confira as alíquotas de imposto aplicadas às debêntures.

TABELA 5 - ALÍQUOTA DE IMPOSTO DE RENDA SOBRE DEBÊNTURES

FONTE: Nardini, (2018, p. 35)

As debêntures incentivadas têm um tratamento diferente com relação ao imposto de renda. Para investidores pessoa física e não residentes, têm alíquota zero sobre os rendimentos. Para pessoa jurídica é aplicada a alíquota de 15%.

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UNIDADE 3 | MERCADO FINANCEIRO DE CAPITAIS

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Por fim, dos instrumentos de renda fixa, os títulos públicos têm incidência de imposto de renda bastante semelhante aos demais. Não contam com isenção e o imposto é aplicado sobre os rendimentos conforme a tabela. Para investimentos com pagamentos periódicos de juros, a alíquota é aplicada de forma semelhante à das debêntures: se o primeiro pagamento correr entre 180 dias, a alíquota é uma; se o segundo correr entre 181 e 360 dias é outra, e assim por diante. O recolhimento também é na fonte e a responsabilidade é da fonte pagadora, ou seja, do emissor do título (NARDINI, 2018). A tabela seguinte apresenta o prazo e as alíquotas pagas pelos investidores conforme o rendimento auferido.

TABELA 6 - ALÍQUOTA DE IMPOSTO DE RENDA SOBRE TÍTULOS PÚBLICOS

Prazo de Aplicação AlíquotaAté 180 dias 22,5%

Entre 181 e 360 dias 20,0%Entre 361 e 720 dias 17,5%Acima de 720 dias 15,0%

FONTE: Nardini, (2018, p. 45)

De forma semelhante ao CDB, os investidores que resgatarem seus títulos num período inferior a 30 dias de aplicação estão sujeitos ao IOF, conforme ilustrado a seguir:

TABELA 7 – IOF APLICADO AOS TÍTULOS PÚBLICOS COM RESGATE EM ATÉ 30 DIAS

FONTE: Nardini, (2018, p. 45)

Dia Alíquota Dia Alíquota Dia Alíquota

1 96% 11 63% 21 30%

2 93% 12 60% 22 27%

3 90% 13 56% 23 23%

4 86% 14 53% 24 20%

5 83% 15 50% 25 16%

6 80% 16 46% 26 13%

7 76% 17 43% 27 10%

8 73% 18 40% 28 6%

9 70% 19 36% 29 3%

10 66% 20 33% 30 0%

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TÓPICO 3 | TRIBUTAÇÃO DE RENDIMENTOS

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Além dessas regras comuns a quase todos os títulos de renda fixa, os títulos públicos têm uma particularidade: para investidores não residentes e fundos de investimento exclusivos para não residentes (mínimo de 98% dos recursos aplicados em títulos públicos federais), o imposto tem alíquota zero e na liquidação das operações de câmbio, que tem finalidade de ingresso de recursos para aplicação em títulos públicos, também o IOF tem alíquota zero (NARDINI, 2018).

Os títulos de renda fixa, como podemos observar, têm muitas semelhanças quanto à cobrança de imposto de renda. As principais distinções são as LCIs e LCAs, nas quais os investidores pessoa física estão isentos de imposto; os demais produtos, apesar de suas particularidades, têm regras em comum.

Agora vamos passar para os investimentos em renda variável, as ações e os derivativos. Estes sim, têm maiores diferenças quando comparados aos títulos de renda fixa. Sobre as ações, é importante salientar que o fato gerador do imposto não é o fato de você ter o dinheiro aplicado nas ações, mas sim o ganho auferido com ações (venda das ações). Isso quer dizer que as alíquotas só serão aplicadas no momento em que existirem esses ganhos. A alíquota aplicada aos ganhos auferidos com as ações é de 15% sobre o ganho líquido. Além do valor de compra (no caso de ganho pela venda da ação), o investidor pode considerar também a taxa de corretagem para cálculo do lucro obtido. Há também uma cobrança de 0,005% sobre o valor da operação, valor este que é retido na fonte (NARDINI, 2018).

Essa é a regra básica para operações fechadas de compra e venda em dias distintos. Quando existirem operações no mesmo dia, a regra de compra e venda é diferente. Para essas operações, chamadas de Day-trade, a alíquota é de 20% e é cobrado 1% sobre o valor da operação (imposto de renda retido na fonte) (NARDINI, 2018).

Outra característica dos impostos sobre as ações é que para investidores pessoa física há isenção de imposto de renda para ganhos inferiores a R$ 20.000,00. É importante salientar que este valor não é por operação e sim por valor total de movimentação financeira por pessoa física. Caso o valor for superior, é aplicada alíquota de 15% sobre o total de movimentação, de acordo com a regra já mencionada acima. Já nas operações Day-trade essa regra não se aplica, não havendo isenção nessas operações (NARDINI, 2018).

O recolhimento do imposto de renda também é diferente do que o aplicado aos investimentos de renda fixa; o recolhimento do imposto é de responsabilidade do investidor, sendo ele responsável por calcular o imposto devido e realizar o pagamento do mesmo por meio de um Documento de Arrecadação de Receitas Federais (DARF). Este deve ser pago até o último dia útil do mês subsequente ao mês no qual o investidor realizou os ganhos. O valor retido na fonte deve ser deduzido do valor do cálculo do imposto pelo investidor (NARDINI, 2018).

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UNIDADE 3 | MERCADO FINANCEIRO DE CAPITAIS

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Como vimos, caro acadêmico, a venda das ações não é a única maneira de o acionista auferir lucros com esse investimento. Temos os dividendos e os juros sobre o capital próprio. Os dividendos estão isentos de imposto de renda, pois, como eles são pagos a partir do lucro líquido da empresa, já houve incidência de imposto de renda nesse valor (pagos pela companhia). E os juros sobre capital próprio têm incidência de imposto de renda a uma alíquota de 15%, tributados na fonte e, portanto, o valor que o acionista receberá já será o valor sem o imposto (NARDINI, 2018).

Nosso último produto são os derivativos. Assim como as ações, são instrumentos de renda variável. Os derivativos têm incidência de IOF, imposto de renda e, em alguns casos, também PIS e COFINS, quando forem empresas financeiras. De forma mais abrangente, a tributação das operações são o IOF e o imposto de renda. O IOF é cobrado independentemente da realização de lucros com a operação. É recolhido normalmente pela instituição financeira e o valor incide sobre a emissão, transmissão, pagamento ou resgate do título negociado (LIMA et al., 2012).

Já o imposto de renda segue a regra igual ao mercado de ações: 15% sobre os ganhos auferidos com as operações, neste caso de derivativos, e 0,005% retidos na fonte. E no caso de operações Day-trade, alíquota de 20% com 1% retido na fonte. Da mesma forma, o responsável pelo pagamento das obrigações é o investidor. A exceção são as operações de Swap, onde a tributação segue a tabela utilizada pelos investimentos em renda fixa e o imposto é calculado com base no tempo de aplicação sobre o valor do ganho auferido (LIMA et al., 2012). Veja as alíquotas na tabela seguinte:

TABELA 8 - ALÍQUOTA DE IMPOSTO DE RENDA SOBRE OPERAÇÕES DE SWAP

FONTE: Nardini, (2018, p. 53)

Prazo de Aplicação AlíquotaAté 180 dias 22,5%

Entre 181 e 360 dias 20,0%Entre 361 e 720 dias 17,5%Acima de 720 dias 15,0%

No caso dos Swaps, o responsável pelo recolhimento é a instituição na qual foi contratada a operação e o imposto de renda é retido na fonte, diferente dos outros tipos de investimentos em derivativos onde o investidor é o responsável por apurar seu imposto devido (LIMA et al., 2012).

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Neste tópico, você aprendeu que:

• Os instrumentos de renda fixa têm incidência de imposto de renda e as alíquotas vão reduzindo conforme o prazo de aplicação.

• O IR dos investimentos em renda fixa é retido na fonte.

• Investidores pessoa física têm isenção de imposto de renda em LCIs e LCAs.

• Para os investimentos em CDB e Títulos Públicos Federais há incidência de IOF caso os investimentos sejam resgatados em até 30 dias. A alíquota de incidência de IOF vai reduzindo a cada dia, durante os 30 dias, e a partir do 30º dia a alíquota é 0.

• O pagamento da tributação dos investimentos em renda fixa é de responsabilidade do emissor do título.

• As ações têm imposto de renda retido na fonte e imposto de renda sobre os ganhos de capital, que devem ser pagos via DARF pelo investidor.

• Investidores pessoa física que auferirem ganhos inferiores a R$ 20.000,00 no mês estão isentos de imposto de renda.

• Operações Day-Trade têm alíquota diferente de imposto de renda.

• Os derivativos têm regras semelhantes às aplicadas nas ações.

• As operações de Swap, mesmo sendo operações de derivativos, seguem a tributação dos investimentos em renda fixa.

RESUMO DO TÓPICO 3

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AUTOATIVIDADE

1 Como funciona a tributação do imposto de renda nos investimentos em renda fixa?

2 Qual a diferença de tributação entre operações normais e Day-trade no mercado de renda variável?

3 Como é a tributação dos derivativos?

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