memórias de um tempo_restauro do patrimônio histórico de bagé_ casa de cultura pedro...

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Continuo usando este espaço para contar um pouco mais do nosso envolvimento, enquanto prefeito de Bagé, ...entre os anos de 2001 e 2008, nos projetos de restauro do patrimônio histórico, arquitetônico e cultural de nosso município. Um dos locais que ajudamos a restaurar foi a Vila de Santa Thereza, que já vinha sendo objeto do trabalho coordenado pela Associação Pró-Santa Thereza, grupo liderado pela inesquecível Ierecê Móglia, a dona Cecê, contando com a ação diligente da Marilu Teixeira e da Eliane Simões Pires. Elas já haviam conquistado, através do Luiz Fernando Cirne Lima, o apoio da Copesul Braskem. Somando-me à iniciativa, consegui mais recursos com a Eletrobrás, e vieram as parcerias com as Lojas Obino e com o Supermercado Peruzzo. A prefeitura também aportou verba, especialmente para viabilizar a desapropriação da casa que pertencia a Antônio, filho do Visconde de Ribeiro Magalhães, então pertencente ao empresário Aristides Kucera. A ideia era instalar ali um memorial da Vila de Santa Thereza, resgatando um pouco da obra magnífica construída pelo visionário visconde, que deixou, ainda jovem, a sua Portugal, desembarcou no Porto de Rio Grande, foi trabalhar com a família Delabary, num armazém no interior de Lavras do Sul e depois construiu as Charqueadas de Santa Thereza. Ao lado do orgulho pelo sucesso da Memórias de um tempo O BNDES, o general e o filme primeira fase do projeto, temos uma grande frustração por ele não ter sido levado adiante. As casas que eram ocupadas pelos operários da charqueada, ainda remanescentes, poderiam ser restauradas, por exemplo. Parcerias Todo o trabalho que realizamos só foi possível porque firmamos grandes parcerias e tivemos pessoas competentes, como a Jussara Carpes, além de técnicos extremamente eficientes, à frente dos projetos. Um dos nossos parceiros foi o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), o maior banco de fomento do mundo e um dos grandes responsáveis pelo notável desenvolvimento experimentado pelo Brasil nos últimos 11 anos. Nossa relação começou quando, numa reunião do conselho das estatais, representantes da Petrobrás elogiaram muito a forma como conduzíamos os projetos de restauro, sugerindo, inclusive, que nosso modelo deveria servir de referência. O financiamento, através da Lei Rouanet, aos restauros do Centro Administrativo e do Palacete Pedrinho Osório, veio do BNDES, que também reservou recursos para a revitalização e restauro da antiga Hidráulica, e tinha se comprometido em também patrocinar o restauro da Catedral de São

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Page 1: Memórias de um Tempo_Restauro do Patrimônio Histórico de Bagé_ Casa de Cultura Pedro Wayne_Palacete Pedro Osório

Continuo usando este espaço para

contar um pouco mais do nosso

envolvimento, enquanto prefeito de Bagé,

...entre os anos de 2001 e 2008, nos

projetos de restauro do patrimônio histórico,

arquitetônico e cultural de nosso município.

Um dos locais que ajudamos a restaurar foi a

Vila de Santa Thereza, que já vinha sendo

objeto do trabalho coordenado pela

Associação Pró-Santa Thereza, grupo liderado

pela inesquecível Ierecê Móglia, a dona Cecê,

contando com a ação diligente da Marilu

Teixeira e da Eliane Simões Pires.Elas já haviam conquistado, através do

Luiz Fernando Cirne Lima, o apoio da Copesul

Braskem. Somando-me à iniciativa, consegui

mais recursos com a Eletrobrás, e vieram as

parcerias com as Lojas Obino e com o

Supermercado Peruzzo. A prefeitura também

aportou verba, especialmente para viabilizar a

desapropriação da casa que pertencia a

Antônio, filho do Visconde de Ribeiro

Magalhães, então pertencente ao empresário

Aristides Kucera. A ideia era instalar ali um

memorial da Vila de Santa Thereza,

resgatando um pouco da obra magnífica

construída pelo visionário visconde, que

deixou, ainda jovem, a sua Portugal,

desembarcou no Porto de Rio Grande, foi

trabalhar com a família Delabary, num

armazém no interior de Lavras do Sul e depois

construiu as Charqueadas de Santa Thereza.Ao lado do orgulho pelo sucesso da

Memórias de um tempo

O BNDES, o general e o filme

primeira fase do projeto, temos uma grande

frustração por ele não ter sido levado adiante.

As casas que eram ocupadas pelos operários

da charqueada, ainda remanescentes,

poderiam ser restauradas, por exemplo. Parcerias

Todo o trabalho que realizamos só foi

possível porque firmamos grandes parcerias e

tivemos pessoas competentes, como a

Jussara Carpes, além de técnicos

extremamente eficientes, à frente dos

projetos. Um dos nossos parceiros foi o Banco

Nacional de Desenvolvimento Econômico e

Social (BNDES), o maior banco de fomento do

mundo e um dos grandes responsáveis pelo

notável desenvolvimento experimentado pelo

Brasil nos últimos 11 anos. Nossa relação

começou quando, numa reunião do conselho

das estatais, representantes da Petrobrás

elogiaram muito a forma como conduzíamos

os projetos de restauro, sugerindo, inclusive,

que nosso modelo deveria servir de

referência.O financiamento, através da Lei Rouanet,

aos restauros do Centro Administrativo e do

Palacete Pedrinho Osório, veio do BNDES, que

também reservou recursos para a

revitalização e restauro da antiga Hidráulica,

e tinha se comprometido em também

patrocinar o restauro da Catedral de São

Page 2: Memórias de um Tempo_Restauro do Patrimônio Histórico de Bagé_ Casa de Cultura Pedro Wayne_Palacete Pedro Osório

Sebastião. Como o banco não podia financiar

prefeituras, recebemos o repasse através da

Associação dos Amigos do Imba (Amimba),

onde contamos com o valioso apoio do Mário

Ney e do Nílton Vergara, ex-presidentes da

instituição. A prefeitura gerenciava as obras. Última festa

O Centro Administrativo teve a

inauguração do seu restauro como último ato

de nosso governo. Naquele entardecer/noite

de 30 de dezembro de 2008, data de meu

aniversário, reunimos um grande público para

celebrar o fim de um governo que, sem falsa

modéstia, foi de grandes realizações.

Trouxemos novamente a Bagé o grupo gaúcho

Nenhum de Nós para apresentação no largo

do Centro Administrativo, restaurado,

remodelado, revitalizado. Todos nós que

estávamos ali jamais esqueceremos a beleza

daquele momento de emoção, de celebração

da vida. De reafirmação da esperança no

futuro. Hidráulica

Quando fui ao Rio de Janeiro, solicitar ao

banco o patrocínio do restauro e revitalização

da antiga Hidráulica, projeto belíssimo

Memórias de um tempo

elaborado pela Margot Menezes Jardim,

Maria de Fátima Schimdt Barbosa, Daiane

Pena Machado e Marcelo Davi Pereira,

ocorreu-me um fato que me fez "viajar". O

BNDES já tinha financiado o Palacete Pedro

Osório e o Centro Administrativo e estava

prestes a liberar recursos para a Hidráulica.

Havia uma ligação deles com o general

Setembrino de Carvalho, Ministro da Guerra

de Artur Bernardes, um dos grandes artífices

da construção do acordo de paz que colocou

fim à revolução de 1923. Relatei que o

general chegou a Bagé pela antiga gare da

Viação Férrea, participou de encontros

durante cerca de 15 dias no palacete Pedro

Osório, costurando a paz, e se despediu da

cidade numa grande festa realizada nos

jardins da antiga Hidráulica.O general, ministro da Guerra, foi

festejado pela população quando chegou.

Ninguém mais aguentava tantas mortes nas

sucessivas revoluções daquela época. O povo

não queria mais guerras e celebrava, com o

ministro da Guerra, a retomada da paz. Todos

os prédios que recebiam recursos do BNDES

para serem restaurados abrigaram o general.Alguém comentou que essas

coincidências, que faziam "links" com o

general e o banco, poderiam se transformar

Page 3: Memórias de um Tempo_Restauro do Patrimônio Histórico de Bagé_ Casa de Cultura Pedro Wayne_Palacete Pedro Osório

num documentário. Outro, que poderíamos

montar um roteiro turístico/histórico. Um

terceiro sugeriu um curta-metragem. Eu, logo

de cara, pensei num filme. Financiado pelo

BNDES.Tenho, inclusive, uma ideia de roteiro na

cabeça. É um projeto que, seguidamente,

retorna aos meus pensamentos. Está

arquivado, não abandonado. Catedral

Infelizmente, uma das coisas que me dói

muito é que a obra da Hidráulica não teve

sequência. Deixamos tudo encaminhado,

mas... E o pior é que a não conclusão da

Hidráulica impediu que o BNDES liberasse os

Memórias de um tempo

*Esse texto faz parte de Memórias de Um Tempo, uma série publicada no Jornal Minuano de Bagé, em que procurei resgatar fatos de nossa gestão de oito anos na Prefeitura Municipal.

recursos para o restauro da Catedral de São

Sebastião. Já havíamos conseguido com o

Iphan os recursos para a elaboração do

Projeto Arquitetônico. Com o BNDES estava

acertada a liberação da verba, mesmo que

condicionada à conclusão da Hidráulica,

porque eles não poderiam financiar dois

projetos num mesmo município ao mesmo

tempo. Com a demora, caducou o patrocínio

para a Catedral.Mas, enfim, assim como as eventuais

imprecisões históricas que posso aqui ter

cometido, já que não sou um historiador, as

coisas na vida não são perfeitas...