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1 UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ (UFPI) Núcleo de Referência em Ciências Ambientais do Trópico Ecotonal do Nordeste (TROPEN) Programa Regional de Pós-Graduação em Desenvolvimento e Meio Ambiente (PRODEMA) Mestrado em Desenvolvimento e Meio Ambiente (MDMA) THAIS BARBOSA REIS MEIO AMBIENTE DE TRABALHO RURAL (condições ambientais de trabalho agrícola nos cerrados piauienses) TERESINA - PIAUÍ 2010

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1

UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ

(UFPI)

Núcleo de Referência em Ciências Ambientais do Trópico Ecotonal do

Nordeste

(TROPEN)

Programa Regional de Pós-Graduação em Desenvolvimento e Meio

Ambiente

(PRODEMA)

Mestrado em Desenvolvimento e Meio Ambiente

(MDMA)

THAIS BARBOSA REIS

MEIO AMBIENTE DE TRABALHO RURAL (condições ambientais de trabalho agrícola nos cerrados

piauienses)

TERESINA - PIAUÍ

2010

2

THAIS BARBOSA REIS

MEIO AMBIENTE DE TRABALHO RURAL

(condições ambientais de trabalho agrícola nos cerrados

piauienses)

Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa Regional de Pós-Graduação em Desenvolvimento e Meio Ambiente da Universidade Federal do Piauí (PRODEMA/UFPI/TROPEN), como requisito para a qualificação de Mestre em Desenvolvimento e Meio Ambiente. Área de Concentração: Desenvolvimento do Trópico Ecotonal do Nordeste. Linha de Pesquisa: Políticas de Desenvolvimento e Meio Ambiente. Orientadora: Prof. Dra. Maria Dione Carvalho de Morais

TERESINA - PIAUÍ

2010

3

THAIS BARBOSA REIS

MEIO AMBIENTE DE TRABALHO RURAL

(condições ambientais de trabalho agrícola nos cerrados

piauienses)

COMISSÃO EXAMINADORA

_______________________________________________

Prof. Dra. Maria Dione Carvalho de Morais - UFPI

______________________________________________

Prof. Maria do Carmo Bédard

Membro

_____________________________________________

Prof. José Ribamar de Sousa Rocha

Membro

4

Ora, àquele que é poderoso para

fazer infinitamente mais do que

tudo quanto pedimos ou

pensamos, conforme o seu

poder que opera em nós.

A Ele seja a glória! Ef. 3:20

5

OFEREÇO

Aos meus pais, Zelene e Homero

À minha filha Anne

6

AGRADECIMENTOS

À Deus, pela vida, saúde e capacidade para o trabalho.

À professora orientadora Dra. Maria Dione Carvalho de Morais, pela

competência, dedicação e compartilhamento seus conhecimentos.

Ao meu pai, pelo apoio, conversas, viagens, troca de conhecimentos e

por ser um grande exemplo de vida

À minha mãe, por ser avó e mãe nos períodos de minha ausência e pela

dedicação, apoio, encorajamento, paciência e amor.

À minha filha Anne, por ser minha fonte de inspiração e por entender

minhas ausências.

Ao meu querido José Abreu, pelo amor, companheirismo, paciência e

ajuda neste trabalho.

Ao meu irmão André, pelos encontros em Uruçuí, pela ajuda e troca de

idéias.

À minha irmã Nathalie, pelo apoio, dedicação e amor.

Ao meu Danielzinho, pela alegria e amor.

Aos meus avós Nimpha, Jarbas, Zenaide e Waldomiro, pelas orações e

apoio.

Aos meus cunhados, pela amizade e encorajamento.

Aos professores, amigos e funcionários do mestrado.

Especialmente, agradeço:

A trabalhadores, trabalhadoras, empresários rurais e administradores

das fazendas Brasil Agrícola, Canel, Cimpar, Condomínio União 2000, Itália e

Progresso, os quais, nas entrevistas e conversas, possibilitaram a execução

desta pesquisa

Ao Sr. José Azevedo, técnico de segurança do trabalho, pela viagem de

pesquisa, conversas, troca de informações e amizade construída.

Ao Sr Altair Domingos Fianco, esposa e filhas, pela amizade, conversas

e troca de experiências.

Aos amigos do STTR de Uruçuí, na pessoa de Manoel Messias de

Sousa

Aos auditores e auditoras fiscais da Superintendência Regional do

Trabalho do Piauí, nas pessoas de Dr Luis Lima, Dra. Soraya, e Dra. Paula

Mazullo.

7

RESUMO

O amplo desenvolvimento do capitalismo, após a segunda metade do século XX, fez com que a sociedade incorporasse a ciência e a tecnologia no sistema de produção, com importantes desdobramentos, dentre os quais as consequências para o meio ambiente de trabalho. No setor rural brasileiro, o meio ambiente de trabalho agrícola passou gradativamente por profundas mudanças, a partir de 1950, devido à implementação de novas tecnologias na produção, as quais tomaram corpo nos anos de 1960 e 1970. No caso dos cerrados do sudoeste do Piauí a partir da segunda metade de 1980, tem início uma ocupação, que se intensificou na década de 1990, com a instalação de grandes projetos agropecuários voltados para a produção de grãos, em especial da soja, para exportação. O município de Uruçuí tem papel histórico nessa trajetória, sendo o local empírico desta pesquisa. Nesse contexto, a presente pesquisa se propôs a verificar as condições ambientais de trabalho em empresas agropecuárias de grande porte, incluídas no complexo carnes/grãos, com vistas a analisar o meio ambiente de trabalho, utilizando como recursos metodológicos observação direta com entrevistas, diário de campo e registros fotográficos. As conclusões da presente pesquisa são que as empresas agropecuárias dos cerrados piauiense vêm, ao longo dos anos, se adequando às normas ambientais laboras, destacando-se a NR 31, embora ainda apresente problemas importantes. A visão dos trabalhadores sobre o meio ambiente laboral é a de um ambiente perigoso, desprotegido, exaustivo.

Palavras-chaves: meio ambiente de trabalho, trabalhador rural, cerrados, agricultura.

8

ABSTRACT

The extensive development of capitalism after the second half of the twentieth century, meant that the company incorporates science and technology in the production system, with important consequences, among them the consequences for the working environment. In rural Brazil, the agricultural work environment has undergone profound changes gradually, from 1950, due to the implementation of new technologies in production, which took shape in the 1960s and 1970s. In the case of the ―cerrados‖ of southwestern Piauí from the second half of 1980, opened an occupation, which intensified in the 1990s with the establishment of large agricultural projects aimed at the production of grains, especially soybeans for export . The municipality has Uruçuí historic role in this trajectory, and the location of this empirical research. In this context, this research aimed to verify the environmental conditions of employment in large agricultural enterprises, including in complex meat and grain, in order to analyze the work environment, using methodological resources direct observation with interviews, field journal and photographic record. The findings of this research are that the agricultural companies of Piaui are closed over the years, adapting themselves to environmental standards work, emphasizing the NR 31, but still important problems. The sight of workers labor on the environment is an environment dangerous, unsafe, exhausting.

Key words: work environment, rural worker, ―cerrados‖, agriculture

9

LISTA DE FIGURAS

p.

Figura 01 – Distribuição geográfica do cerrado brasileiro ............................................. 30

Figura02 - A região do cerrado brasileiro ...................................................................... 31

Figura 03 – Distribuição geográfica do cerrado no Piauí ............................................... 42

Figura 04 – Distribuição das cidades do Piauí. Projeção do município de Uruçuí......... 44

Figura 05 – Distribuição geográfica as mesorregiões do Piauí ..................................... 45

Figura 06 – Fotografia do alojamento da Faz. Brasil Agrícol, em 09/02/2009 ............... 75

Figura 07 – Fotografia do alojamento da Faz. Canel com presença de

trabalhador, em 10/02/2009 .......................................................................................... 75

Figura 08 – Fotografia do alojamento da Faz. Progresso, em 05/05/2009 .................... 75

Figura 09 – Fotografia do alojamento da Faz. Itália, em 05/02/2009 ............................ 75

Figura 10 – Fotografia do banheiro da Faz. Canel, em 10/02/2009 .............................. 76

Figura 11 – Fotografia do banheiro da Faz. Itália, em 05/02/2009 ................................ 76

Figura 12 – Fotografia do banheiro da Faz. Itália, em 05/02/2009 ................................ 77

Figura 13 – Fotografia do banheiro da Faz. Progresso, em 02/05/2009 ....................... 77

Figura 14 – Fotografia do refeitório da Faz Progresso, em 02/05/2009 ........................ 78

Figura 15 – Fotografia do refeitório da Faz Itália, em 05/02/2009 ................................. 78

Figura 16 – Fotografia do refeitório da Faz Cimpar, com presença de

trabalhador, em 09/02/2009 .......................................................................................... 78

Figura 17 – Fotografia do refeitório da Faz Canel, em 10/02/2009 ............................... 78

Figura 18 – Fotografia da cozinha da Faz. Canel, com presença de cozinheira,

em 10/02/2009 .............................................................................................................. 79

Figura 19 – Fotografia da cozinha da Faz. Progresso, com presença de

cozinheiro, em 02/05/2009 ............................................................................................ 79

Figura 20 – Fotografia da cozinha da Faz. Cimpar, com presença de cozinheira,

em 09/02/2009 .............................................................................................................. 80

Figura 21 – Fotografia da cozinha da Faz. Itália ........................................................... 80

Figura 22 – Fotografia do campo de futebol da Faz. Cimpar em 09/02/2009 ............... 81

Figura 23 – Fotografia da sala de televisão da Faz. Cimpar, com presença de

trabalhador, em 09/02/2009 .......................................................................................... 81

10

Figura 24 – Fotografia da sala de televisão da Faz. Progresso, em 02/05/2009 .......... 81

Figura 25 – Fotografia da mesa de sinuca da Faz. Brasil Agrícola, em

09/02/2009 .................................................................................................................... 81

Figura 26 – Fotografia do galpão de máquinas da Faz. Itália, em 05/02/2009 .............. 82

Figura 27 – Fotografia do galpão de máquinas da galpão de máquinas. Faz.

Canel, em 10/02/2009 ................................................................................................... 82

Figura 28 – Fotografia do depósito de agrotóxico da Faz. Canel, em 10/02/2009 ........ 83

Figura 29 – Fotografia do interior do depósito de agrotóxico da Faz. Canel, em

10/02/2009 .................................................................................................................... 83

Figura 30 – Fotografia do depósito de agrotóxico da Faz. Itália, em 05/02/2009 .......... 83

Figura 31 – Fotografia do local para higienização de funcionários da Faz.

Canel, em 10/02/2009 ................................................................................................... 83

Figura 32 – Fotografia da estrada de Uruçuí para a faz. Brasil Agrícola e

Cimpar I, em 09/02/2009 ............................................................................................... 99

Figura 33– Fotografia da estrada de Uruçuí para a faz. Brasil Agrícola e Cimpar

II, em 09/02/2009 .......................................................................................................... 99

Figura 34 – Fotografia da estrada de Uruçuí para a faz. Progresso , em

02/05/2009 .................................................................................................................... 99

Figura 35 – Fotografia da estrada de Uruçuí para a faz. Progresso II, em

02/05/2009 .................................................................................................................... 99

Figura 36 – Fotografia da estrada em frente a faz. Progresso, em 02/05/2009 ............ 100

Figura 37 – Fotografia da estrada que passa pela comunidade do Sangue, em

Uruçuí, em 09/02/2009 .................................................................................................. 100

11

LISTA DE QUADROS

Quadro 1- Perfil das fazendas .......................................................................... 26 Quadro 2 – Normas Regulamentadoras do ambiente laboral .......................... 63

Quadro 5 – Convenções Internacionais de prevenção do ambiente laboral .... 64

Quadro 4 – Tipos e fatores de riscos e suas consequências ........................... 70

Quadro 5 –EPIs e sua finalidade ...................................................................... 84

Quadro 6 – Censo demográfico de Uruçuí ....................................................... 97

Quadro 7 – Produção agrícola do cerrado do Piauí em 2009 .......................... 97

Quadro 8 – Produção agrícola do município de Uruçuí em 2009 ..................... 97

Quadro 9 – Classificação dos/as trabalhadores/as sindicalizados ............. 102

Quadro 10 – Instrução dos/as trabalhadores/as sindicalizados ................. 102

Quadro 11 – funções dos/as trabalhadores/as e suas respectivas

remunerações...............................................................................................

105

12

LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1 – Escolaridade dos/as trabalhadores/as ........................................... 103

Gráfico 02: Origem social dos/as trabalhadores/as .......................................... 104

Gráfico 03: Função dos/as trabalhadores/as. ................................................... 105

Gráfico 04: Idade dos/as trabalhadores/as ....................................................... 106

13

LISTA DE ANEXOS

Anexo I- Programa do seminário sobre agrotóxicos e normas gerais de

meio ambiente de trabalho ...................................................................... 146

Anexo II Carta de Uruçuí............................................................................ 148

Anexo III Convenção Coletiva de Trabalho do Setor Graneleiro do Piauí

(2008-2009)................................................................................................ 152

Anexo IV NR 31 ...................................................................................... 160

14

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

CTPS – Carteira de Trabalho e Previdência Social

SRTE – Superintendência Regional do Trabalho e do Emprego

IBAMA – Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Renováveis

IBGE – Instituto Brasileiro de geografia e estatística

INSS – Instituto Nacional da Seguridade Social

MPT – Ministério Público do Trabalho

NRs – Normas Regulamentadoras

NRRs – Normas Regulamentadoras Rurais

OIT – Organização Internacional do Trabalho

OMS – Organização Mundial de Saúde

SPR – Sindicato dos Produtores Rurais

SRT – Superintendência Regional do Trabalho

STTR – Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais

15

SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ............................................................................................

17

2. Sobre a incorporação agrícola dos cerrados ...................................... 29

2.1 No Brasil ...............................................................................................

2.2 No Nordeste ..........................................................................................

2.3 No Piauí .................................................................................................

29

35

39

3. Meio ambiente de trabalho rural em empresas agropecuárias dos

cerrados piauienses....................................................................................

3.1 Meio ambiente e meio ambiente de trabalho ..................................

3.1.1 Meio ambiente de trabalho rural, tecnologia e os desafios

do equilíbrio ambiental laboral.............................................

3.2 Sobre a proteção legal do meio ambiente de trabalho ..................

3.2.1 NR 31 ...........................................................................................

3.3 Saúde e segurança como dimensões da dignidade de

trabalhadores/as ........................................................................................

3.4 Do meio ambiente de trabalho rural em empresas

agropecuárias do cerrado piauiense .....................................................

3.4.1 Alojamentos................................................................................

3.4.2 Instalações sanitárias ..........................................................

3.4.3 Refeitório ....................................................................................

3.4.4 Lazer ...........................................................................................

3.4.5 Manutenção das máquinas e equipamentos .........................

3.4.6 Depósito de agrotóxicos ...........................................................

3.4.7 Equipamentos de proteção individual – EPIs ........................

3.4.8 Transporte ..................................................................................

3.4.9 Anotação na carteira de trabalho ...........................................

3.4.10 Fiscalização ...........................................................................

3.4.11 Treinamentos ..........................................................................

3.4.12 Jornada de trabalho ................................................................

3.4.13 Comissão Interna de Prevenção de Acidente de Trabalho

– CIPA .............................................................................................

3.4.14 Visão dos empregadores sobre a mão de obra local ........

3.4.15 Aspectos estruturais da região de Uruçuí que afetam o

meio ambiente de trabalho rural .......................................................

50

50

55

60

65

67

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90

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93

94

96

4. O meio ambiente de trabalho na visão de trabalhadores/as

rurais..................................................................................................

4.1 Quem são esses/as trabalhadores/as .........................................

101

102

16

4.2 Meio ambiente de trabalho na visão dos/as trabalhadores/as

rurais .................................................................................................

4.2.1 Sobre jornada e ritmo de trabalho .....................................

4.2.2 O trabalho com agroquímicos: uso e (des) proteção ........

4.2.3 Sobre o uso de equipamentos de proteção individual –

EPIs .............................................................................................

4.2.4 Acidentes de trabalho e CIPA na visão de

trabalhadores/as rurais ...............................................................

4.2.5 Dos mecanismos de controle do tempo e do corpo de

trabalhadores/as rurais ................................................................

5. CONCLUSÃO .............................................................................................

106

107

114

114

125

128

137

6. REFERÊNCIAS ..........................................................................................

139

17

1. INTRODUÇÃO

Os amplos desdobramentos, sobretudo, tecnológicos, do processo

de desenvolvimento do capitalismo, na segunda metade do século XX, fizeram

com que a ciência e a tecnologia fossem, definitivamente, incorporadas ao

sistema de produção, o qual passou por inúmeras transformações causadas,

principalmente, pela ampliação das fontes de energia, aumento da

produtividade do trabalho, novas tecnologias, utilização de novas matérias.

Essas mudanças exigem, constantemente, novas formas de reestruturação e

adaptação e provocam um uso intenso do meio ambiente natural, com sérias

conseqüências para o meio ambiente de trabalho, diretamente para

trabalhadores e trabalhadoras e indiretamente à sociedade. Põe-se, assim, a

necessidade de estudar o meio ambiente de trabalho, porquanto o/a

trabalhador/a permanece, ali, grande parte da sua vida, sofrendo os seus

impactos.

Com efeito, a qualidade de vida do/a trabalhador/a está diretamente

ligada à do seu meio ambiente de trabalho, o qual, para garantir-los a

dignidade, saúde e segurança, deve ser sadio, adequado, e equilibrado.

Convém lembrar que o meio ambiente de trabalho não se restringe ao espaço

físico da empresa ou estabelecimento, sendo entendido como o local onde o/a

trabalhador/a desenvolve a atividade. O meio ambiente de trabalho é um

espaço onde todos os elementos, inter-relações e condições que influenciam o

trabalhador/a em sua saúde física e mental, comportamento e valores estão

reunidos. E não há como compreende-lo sem considerar o ponto de vista do/a

trabalhador/a, figura essencial para se caracterizar um meio ambiente como de

trabalho (ROCHA, 2002).

Assim, a característica fundamental que distingue o meio ambiente

de trabalho dos outros ambientes é justamente a ação antrópica delimitadora e

transformadora do espaço físico através do seu labor.

18

Em suma, o ambiente de trabalho constitui-se em esfera circundante do trabalho, espaço transformado pela ação antrópica. Por exemplo, uma lavoura, por mais que seja realizada em permanente contato com a terra, caracteriza-se como um meio ambiente do trabalho pela atuação humana. Em outras palavras, apesar de a natureza emprestar as condições para que o trabalho seja realizado, a mão semeia, cuida da planta e colhe os frutos da terra, implantando o elemento humano na área de produção (ROCHA, 2.002, p. 131) (grifo meu).

Convém lembrar que o meio ambiente de trabalho rural, via de

regra, constitui-se de bens ambientais que necessitam de preservação, para

que trabalhadores/as possam viver uma vida com qualidade, garantindo assim

a dignidade da pessoa, protegida, no ordenamento jurídico brasileiro, pela

Constituição Federal de 1988. Com efeito, o artigo 7º dispõe sobre direitos de

trabalhadores e trabalhadoras urbanos e rurais, além de outros que visem à

melhoria de sua condição social, como a redução dos riscos inerentes ao

trabalho, por meio de normas de saúde, higiene e segurança (inciso XXII), o

adicional de remuneração para as atividades penosas, insalubres e perigosas,

na forma da lei (inciso XXIII), e seguro contra acidentes de trabalho, a cargo do

empregador, sem excluir a indenização a que este está obrigado, quando

incorrer em dolo ou culpa (inciso XXVIII).

Para maior compreensão do meio ambiente de trabalho rural, de

que trata esta pesquisa, assente-se que a agricultura do Brasil, a partir de

1950, sofreu uma grande mudança em seu padrão tecnológico, em decorrência

da introdução, no país, do pacote tecnológico da chamado Revolução Verde1

(agrotóxicos, insumos, financiamentos, introdução de maquinários, etc.),

ocorrendo, como lembra Silva et al (2.005, p. 895), uma passagem do

―complexo rural‖ para o ―complexo agroindustrial‖2.

1 Revolução Verde refere-se à invenção e disseminação de novas sementes e práticas

agrícolas que permitiram um vasto aumento na produção em países ditos menos desenvolvidos durante as décadas de 1960 e 1970. O modelo se baseia na intensiva utilização de sementes melhoradas (particularmente híbridas), insumos industriais (fertilizantes e agrotóxicos), mecanização e diminuição do custo de manejo, além do uso extensivo de tecnologia no plantio, na irrigação e na colheita, assim como no gerenciamento de produção (BOURLAUG, 2009) 2 Complexo Rural, ligado ao capital comercial, encontrava-se atado ao comércio externo por

um produto valorizado no mercado internacional, sendo as unidades produtoras (fazendas e engenhos/usinas) quase autos-suficientes. Para realizar a produção, voltada à exportação, elas se proviam, dentro de suas possibilidades, de artesanatos e manufaturas, e produziam equipamentos rudimentares para o trabalho, e insumos simples, além de transporte, um contexto no qual a divisão social do trabalho apresentava-se bastante incipiente. É interessante

19

A partir de 1975, com o I Plano Nacional de Desenvolvimento

(PND), houve a abertura do Brasil ao comercio internacional dos produtos

agrícolas e, com isso, incentivam-se os produtores a usar enorme quantidade

de agrotóxicos, inclusive com financiamentos para isso. Dessa forma tem-se

uma grande expansão na produção agrícola, principalmente via médios e

grandes proprietários, voltada ela para a exportação.

No Brasil, esse processo de modernização agrícola foi, em grande

medida, ancorado na incorporação agrícola dos cerrados (MORAES, 2000)

,seja pela facilidade do cultivo com maquinários e facilidade de adubação e

irrigação,seja pelo baixo custo da terra. Assim, o meio ambiente de trabalho

rural, em especial nos cerrados, passou por intensas transformações.

Este processo, que se deslancha no Brasil na década de 19703,

atinge o Estado do Piauí, sobretudo na região sudoeste

a incorporação dos cerrados piauienses ao agronegócio do complexo carnes/grãos é, como foi dito, caudatária do processo que incorporou as chapadas do Centro-Oeste brasileiro e do sul do Maranhão e oeste da Bahia. O fato de a incorporação do Piauí ter-se dado mais tardiamente (embora seja o Piauí, dos estados nordestinos, o que possui maior área de cerrados), vincula-se a certas questões de âmbito interno e externo ao estado (MORAES, 2000, p 206)

No caso do sudoeste do Piauí, há antecedentes importantes dessa

expansão já na década de 1970 com a constituição de um mercado de terras

estimulado pela Sudene, através do Finor agropecuário (MONTEIRO, 1993;

MORAES, 2000). Na segunda metade dos anos 1990, esse processo se

intensificou com a instalação, na região, de grandes projetos agropecuários.

Nesse sentido, a partir de meados da década de 70 o Cerrado Piauiense começa a despertar o interesse de diversas empresas agropecuárias e investidores individuais de outros Estados para a exploração da pecuária de corte e reflorestamento com caju – destaque para o Rio Grande do Sul, Pernambuco, São Paulo e Mato Grosso – que instalaram e desenvolveram extensos projetos agropecuários na região, em

ressaltar que o desenvolvimento industrial brasileiro, indutor de mudanças no setor agropecuário, ocorreu, ao contrário dos países centrais, sem o substrato da revolução agrícola. Já o omplexo Agroindustrial – o processo histórico da passagem do denominado ―complexo agrário‖ ao ―complexo agroindustrial‖ encontra-se envolvido na substituição da economia ―natural‖ por atividades agrícolas integradas à moderna industrialização, a intensificação da divisão do trabalho e das trocas intersetoriais, a especialização da agricultura e a substituição das importações pelo mercado interno (ERTHAL, 2006) 3 Para detalhes, ver Moraes (2000)

20

decorrência das condições edafo-climáticas favoráveis ao plantio de culturas comerciais, pois permite a mecanização dos solos, conta com insumos básicos, motivados pelas jazidas de calcário e fosfato relativamente abundantes, o crédito rural, disponível por meio dos bancos oficiais (Banco do Brasil e Banco do Nordeste) e dos baixos preços das terras. Mais recentemente (início da década de 90), os investidores passaram a explorar a agricultura para a produção de grãos, arroz de sequeiro de terras altas, milho e, principalmente, soja, com a obtenção de elevada lucratividade (OLIMPIO, 2005, p. 5).

Atualmente, os grandes projetos agropecuários do complexo

carnes-grãos instalados no sudoeste do Piauí voltam-se para o cultivo de

grãos, dentre eles soja, milho e arroz, além do algodão, e utilizam tecnologias

avançadas, destacando-se, entre outros, maquinários, adubos, agrotóxicos e

sementes modificadas geneticamente, sem dizer da armazenagem da

produção. O município de Uruçuí4 tem papel histórico nessa trajetória de

incorporação dos cerrados piauienses, sendo, por isso, o local empírico desta

pesquisa5.

Com toda essa inovação na produção agrícola, o meio ambiente de

trabalho rural sofreu inúmeras mudanças, as quais atingiram diretamente a vida

do/a trabalhador/a rural. Sem dúvida, o conjunto de transformações referidas

trouxe avanços no trabalho agrícola, como a diminuição, em muitos casos, da

penosidade do trabalho, em muitas tarefas. No entanto, a utilização indevida

das tecnologias modernas da agricultura, a jornada de trabalho excessiva, a

não observação das leis de proteção à saúde e segurança do/a trabalhador/a,

a falta de infraestrutura da região, dentre outros, causam a degradação do

meio ambiente de trabalho rural, pondo a vida desses/as trabalhadores/as em

risco iminente, principalmente no que tange aos acidentes laborais, como os

decorrentes de manuseio de ferramentas manuais, máquinas e implementos,

contato com animais peçonhentos, exposição a agentes químicos, infecciosos

e parasitários endêmicos, exposição às radiações solares por longos períodos,

exposição a ruído e vibração excessivos, exposição a partículas de grãos

4 O município de Uruçuí foi sede dos primeiros testes de experimentos de pesquisa científica

sobre soja adaptada iniciada em 1978 e lançada em 1980 pela Embrapa-UEPAE-Teresina, as quais foram divulgadas no I Seminário sobre Cerrado Piauiense, que ocorreu em 1985. Além disso, Uruçuí foi um dos municípios-base do chamado Pólo de Desenvolvimento Integrado Uruçuí-Gurguéia nos anos 1990 (MORAES, 2000). 5 Em termos de territórios de desenvolvimento e territórios de desenvolvimento e de cidadania,

Uruçuí localiza-se no território Tabuleiros do Alto Parnaíba-PI

21

armazenados, exposição a fertilizantes, exposição a agrotóxicos e jornadas

extensas (SILVA et al, 2005):

Como se vê, o meio ambiente de trabalho agrícola moderno é muito

amplo e envolve vários aspectos do meio ambiente mais amplo.

A importância do estudo aprofundado do meio ambiente de trabalho, tema, ainda, tão pouco aclarado e discutido pela doutrina e jurisprudência pátria, deriva do fato de ser este o aspecto da interação do homem com o seu meio ambiente no qual se desenrola boa parte de sua vida, enquanto busca sua sobrevivência através do trabalho, cuja qualidade de vida está, por isso, em íntima dependência da qualidade desse ambiente.(PADILHA, 2002)

Com base no exposto, a presente pesquisa se propôs a verificar as

condições ambientais de trabalho em empresas agropecuárias desse

complexo, com ênfase no ponto de vista dos/as trabalhadores/as.

A problemática inicial da pesquisa pôde ser assim esboçada: diante

da tecnologia utilizada na agricultura moderna, da falta de infraestrutura da

região de Uruçuí no que tange a acesso a serviços governamentais básicos, do

choque cultural entre produtores e trabalhadores/as rurais, o meio ambiente de

trabalho rural em propriedades agrícolas do município de Uruçuí é adequado à

garantir a saúde e segurança desses/as trabalhadores/as?

No andamento da pesquisa, o problema foi sendo reformulado na

seguinte direção: quais são as condições ambientais de trabalho assalariado

em empresas agropecuárias do município de Uruçuí-PI que utilizam

tecnologias avançadas na produção?

Como pressupostos iniciais, delineou-se que o uso inadequado da

tecnologia disponível na agricultura moderna, a falta de infraestrutura na região

de Uruçuí a ponto de inibir o acesso à serviços básicos (saúde, educação,

INSS, justiça, saneamento básico) e a não compreensão do universo cultural

de trabalhadores/as comprometem as condições ambientais de trabalho,

causando danos aos/as trabalhadores/as rurais e pondo em risco a sua

dignidade, em especial a saúde e segurança do trabalho.

O objetivo geral da presente pesquisa foi analisar as condições

ambientais de trabalho assalariado em propriedades agrícolas que utilizam

tecnologia moderna na produção de grãos do cerrado piauiense, no município

de Uruçuí.

22

Os objetivos específicos foram os seguintes:

Verificar a aplicação das normas de proteção ao/a trabalhador/a

rural no que tange à saúde, segurança e dignidade.

Averiguar se há fiscalização adequada desse trabalho por meio

dos órgãos públicos;

Compreender as práticas culturais dos/as trabalhadores/as rurais

sobretudo no tocante a utilização por estes dos equipamentos de proteção

individual (EPI);

Examinar a infra-estrutura do município de Uruçuí, no que tange a

oferta de serviços básicos como saúde, educação, acesso a justiça, INSS;

Apreender a qualidade do meio ambiente de trabalho em

propriedades agrícolas do cerrado piauiense, no município de Uruçuí, inclusive

do ponto de vista dos/as trabalhadores/as.

Métodos de investigação

As primeiras sondagens no campo de estudo para a formulação do

problema de pesquisa e dos pressupostos iniciais se deram em duas viagens.

A primeira sondagem ocorreu em abril de 2008, quando visitei duas

fazendas, às quais tive acesso pela mediação do Sr. João Emanuel, que

trabalhou em Uruçuí como gerente de uma revenda de máquinas e

equipamentos para agricultura e, por essa razão, tem grande amizade com

alguns empresários rurais. Nessa ocasião, conversei com alguns proprietários

sobre os problemas de meio ambiente de trabalho da região e também com

três auditores da Superintendência Regional do Trabalho (SRT), os quais

contactei por meio da minha orientadora do mestrado, prof. Dione Morais, o

que se revelou fundamental para reunir elementos para delimitar o objeto de

estudo e reformular o desenho da pesquisa.

23

A segunda viagem ocorreu em novembro do mesmo ano, quando

participei do Seminário sobre Agrotóxicos e Normas Gerais de Meio Ambiente

de Trabalho, em Uruçuí, promovido pelo Ministério do Trabalho (anexo 1).

No período da manhã, o Seminário contou com três palestras: a

primeira sobre ―Efeitos dos agrotóxicos no organismo humano e meio ambiente

do trabalho‖, ministrada pelo Dr. Francisco Luis Lima, médico e auditor fiscal da

SRT-PI; a segunda sobre ―Responsabilidades legais quanto à saúde e

segurança no trabalho‖, ministrada pelo Dr. Edno Carvalho, procurador do

Trabalho da 22ª Região, e a terceira sobre ―Manuseio correto dos agrotóxicos e

aspectos legais do transporte, comercialização e destino final das

embalagens‖, ministrada pela dra. Ana Telma Maria Soares, coordenadora

regional de operações do Instituto Nacional de Processamento de Embalagens

Vazias (Inpev). À tarde, foram realizadas três oficinas: ―Proteção dos

trabalhadores no uso de agrotóxicos e destinação das embalagens‖; ―Direitos

e deveres dos trabalhadores rurais quanto às normas de saúde e segurança no

trabalho‖ e ―Receituário agronômico, prescrição e legislação‖.

O seminário ainda contou com debates sobre agrotóxicos e meio

ambiente de trabalho, dos quais participaram representantes do Ministério

Público do Trabalho (MPT), do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos

Recursos Naturais Renováveis (IBAMA), da Superintendência Regional do

Trabalho, dos Sindicatos dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais (STTR’s)

e do Sindicato dos Produtores Rurais. Nas discussões foi possível vislumbrar

graves problemas enfrentados por trabalhadores/as e produtores rurais na

região de Uruçuí como a ausência de posto do INSS e de representação local

da Justiça do Trabalho, dificuldades de infraestrutura (estradas precárias,

atendimento precário de saúde, falta de médicos capacitados para tratar de

problemas de saúde relacionados ao trabalho rural), situações que permitiram

uma melhor apreensão da situação do meio ambiente de trabalho rural na

referida região.

Ao final do seminário elaborou-se a Carta de Uruçuí (Anexo 2),

com compromissos firmados por representantes do MPT, IBAMA, SRT, STTR e

SPR.

24

Após as sondagens iniciais de campo, deu-se a identificação de

situações que influem no meio ambiente de trabalho rural, dentre estas, o

choque cultural entre empresas e trabalhadores/as.

Na região de Uruçuí, os produtores agrícolas modernos, os

chamados ―gaúchos‖6, vieram em sua maioria do Centro-Oeste, Sudeste, e Sul

do país. Por seu termo, a maioria dos/as trabalhadores/as rurais são da região,

tem origem social na agricultura familiar camponesa local. Assim, se os

produtores rurais chegam para a instalação de projetos voltados para a

agricultura tecnificada, a mão de obra é constituída de trabalhadores/as que

nasceram e cresceram no âmbito do campesinato, muitos/as dos quais sem o

ensino fundamental completo e sem nenhum contato, até então, com

tecnologias utilizadas no padrão de agricultura moderna que se instalou no

cerrado do Sudoeste piauiense. Isso, em certa medida, acaba por dificultar a

inserção desse/a trabalhador/a no processo produtivo da agricultura

tecnificada.

Tal empecilho não pode ser vista como mera incompetência ou

despreparo de trabalhadores/as locais. Na verdade trata-se de uma passagem

de um campesinato, como diz Moraes (2000), de ―um modo de vida entre

baixões e chapadas‖, para o trabalho assalariado em empresas agrícolas

modernas. Esse campesinato que vivia, assim, nas marcas de uma agricultura

de aprovisionamento nos baixões, associada ao uso da chapada, inclusive no

que tange ao extrativismo, vê-se às voltas com o trabalho assalariado nas

empresas agropecuárias de grande porte, instaladas nas chapadas. Mesmo

sem negar a capacidade de aprendizado e de adaptação dessa população

camponesa a novas situações, não há como ignorar diferenças importantes em

termos de lógica produtiva (aprovisionamento X mercado); escala de produção

(cultivo de tarefas X cultivo de milhares de hectares); tecnologia (agricultura de

sequeiro no sistema roça-de-toco X agricultura moderna); uso de tempo

(controle do tempo X tempo controlado); trabalho (familiar X assalariado);

6 O termo ―gaúchos‖ refere nos cerrados nordestinos, em especial, no Piauí, os novos

produtores rurais, predominantemente do Sul do país, mas não apenas do Rio Grande do Sul. Os gaúchos, a partir da década de 1980 aportaram na região, atraídos pela abundância de terras, as quais comparadas às das suas regiões de origem e bem mais baratas (MORAES, 2000)

25

autoridade (do pai X do patrão, capataz); riscos (mais ou menos conhecidos e

controlados X riscos desconhecidos e fora do controle), dentre outros.

Ante a complexidade do tema, convém assinalar que a

interdisciplinaridade é fundamental para esta abordagem. De fato,

O estudo do meio ambiente do trabalho passa hoje a ter um caráter marcadamente interdisciplinar, não se recusando a colher os subsídios de outras disciplinas e ciências. (FIQUEIREDO, 2.007, p. 32)

Assim, necessário se fazem conhecimentos de outras áreas como

direito, sociologia, antropologia, filosofia, economia, geografia, dentre outras

como se verá ao longo do texto dissertativo.

Na configuração metodológica da pesquisa, foi realizado um estudo

de caso (GOLDEMBERG, 2001; MAY, 2004) no município de Uruçuí-PI em

empresas agropecuárias. Visando a uma descrição densa (GEERTZ, 1989), a

abordagem da pesquisa teve cunho predominantemente qualitativo (ALVES-

MAZZOTI, 2004; GOLDENBERG, 2001), o que não excluiu a utilização de

informações e dados quantitativos. O conjunto de métodos empregados

compreendeu pesquisa bibliográfica e documental (MAY, 2004; SPINK, 2000,

RUIZ, 2006) e de campo (GOLDENBERG, 2001, COUTINHO, 2004).

No trabalho de campo, as técnicas utilizadas para a construção de

inferências empíricas foram observação direta (COUTINHO, 2004); diário de

campo (WITHAKER, 2008) conversas informais no cotidiano (MENEGON,

2000) e entrevistas semiestruturadas com tópicos-guia (GASKEL, 2003) com

proprietário/as, administradores/as e trabalhadores/as agrícolas de empresas

agropecuárias de Uruçuí, funcionário/as do STTR e da SRT. As entrevistas

foram gravadas, transcritas e processadas visando à análise de seu conteúdo

na perspectiva de construção de sentidos (APPOLINÁRIO, 2006), (SPINK,

2000).

O diário de campo, de suma importância para anotação de

observações feitas no cotidiano de pesquisa, foi utilizado para registro das

observações, conversas informais e entrevistas com gravações

impossibilitadas por não consentimento da pessoa entrevistada.

As entrevistas com proprietários e administradores das empresas

agropecuárias se realizaram nas próprias sedes locais das fazendas,

oportunidade em que o processo de observação direta, no trabalho de campo,

26

pode ser registrado por imagens fotográficas, alem do diário de campo.

Observaram-se, assim, as condições estruturais das fazendas, como

alojamentos, banheiros, refeitórios, cozinhas, depósito de agrotóxicos, galpões

de máquinas e espaços de lazer.

Foram visitadas seis empresas. Entrevistaram-se dois empresários

rurais de duas delas e cinco administradores, sendo um de cada uma. Através

das informações fornecidas pelos empresários e administradores, montou-se

seguinte quadro com o perfil de cada uma (quadro 1):

Empresa Nº de funcionários

Nº de funcionários temporários

1

Ha cultivados

Produtos cultivados

Ano de estabeleci-mento

Origem dos produtores

Brasil Agrícola

17 13 a 15 3.100 Soja, milho, arroz 2004 EUA

Canel 102 30 a 40 12.000 Soja, milho, arroz 1988 SP

Cimpar 24 10 2.500 Soja, milho, arroz RS

Condomínio União 2000

13 7 a 8 1.500 Soja, milho, arroz 2000 PR

Itália 30 30 9.200 Soja, milho, arroz, algodão

1994 MS

Progresso 70 10 a 20 22.000 Soja, milho, arroz, algodão

1992 MG

1. Os funcionários temporários são contratados nos períodos de plantio e colheita, com contratos de trabalho de 45 dias.

Quadro 1: Perfil das empresas do município de Uruçuí, 2009.

As entrevistas com trabalhadores/as foram feitas em suas

residências, na sede do município, e no Sindicato dos Trabalhadores e

Trabalhadoras Rurais - STTR de Uruçuí. O acesso aos trabalhadores se deu

via sindicato e através de um moto-taxista, o Sr. Sebastião, com ponto de

trabalho na rua a trás do hotel em que me hospedei. O Sr. Sebastião conhecia

vários/as trabalhadores/as e me levou às suas casas.

Na oportunidade, pude observar a infraestrutura da cidade, com

praticamente todas as ruas sem nenhum tipo de calçamento e com buracos e

valetas grandes decorrentes das chuvas. As casas dos/as trabalhadores/as

entrevistados/as localizam-se em bairros perifericos e, embora simples, são

construídas com alvenaria e com piso de cimento (somente uma era de taipa).

São casas com aparelho de televisão, de digital vídeo disc - dvd, fogão,

refrigerador doméstico, antena parabólica e móveis como sofá, cadeiras e

estantes.

27

Foram entrevistados, ao todo, dezoito trabalhadores e duas

trabalhadoras rurais de quatro empresas agropecuárias instaladas e operando

no município de Uruçuí. A pedido dos/as entrevistados/as, eles/as não são

identificados/as pelo nome, a fim de não sofrerem prejuízo na empresa onde

trabalham. Entrevistaram-se também o presidente do STTR de Uruçuí, o vice-

presidente do Sindicato dos Produtores Rurais - SPR de Uruçuí, dois auditores

fiscais da SRT-PI, um agrônomo que atua como autônomo na região, um

vendedor de produtos químicos utilizados na agricultura e o técnico de

segurança do trabalho de cada uma das fazendas pesquisadas.

Foram realizados dois relatórios parciais de pesquisa solicitados

pela orientadora no processo de orientação, acompanhamento e

(re)direcionamento. Neste relatório final, a dissertação, a exposição textual se

compõe, além da introdução, de três capítulos e conclusão e anexos.

O Capítulo I aborda elementos do processo de incorporação dos

cerrados brasileiros pela agricultura moderna, tecnificada e intensiva. Refere a

essa incorporação como o chamado ―celeiro do mundo‖, especificando o

processo no Nordeste, em especial, no Sudoeste do Piauí, tido nas narrativas-

mestras como ultima fronteira agrícola (MORAES, 2005).O Capítulo II enfoca

teoricamente o tema ―meio ambiente de trabalho‖, em sua necessária relação

com os temas teóricos meio ambiente, Direito ambiental e direito do trabalho,

e os referentes à proteção legal, saúde e segurança do trabalhador e a busca

de um meio ambiente laboral equilibrado. Nesse mesmo capítulo descreve-se o

meio ambiente de trabalho rural em empresas agropecuárias do cerrado, tendo

como base a pesquisa de campo realizada em 2009, e as condições estruturais

da região de Uruçuí que nele interferem.O Capítulo III trata da visão que

trabalhadores/as rurais das empresas agropecuárias pesquisadas têm sobre o

seu meio ambiente de trabalho rural. Neste capítulo, privilegiam-se as vozes de

trabalhadore/as, na perspectiva não apenas descritiva mas interpretativa dos

sentidos por ele/as agenciados às relações que experienciam, no sentido que

Thompson (1981) atribui ao termo experiência. Isto se escreve com base no

trabalho de observação direta realizado na pesquisa de campo, e nas

entrevistas e conversas com trabalhadores e trabalhadoras das empresas

agropecuárias abordadas na pesquisa. Busca-se, assim, trazer à tona o

28

pensamento social (STROH, 2003) do grupo investigado, frente às condições

ambientais laborais.

Por fim, na conclusão, apresentamos uma síntese do que foi

averiguado e apontamos para outras possibilidades de investigação a partir

desta pesquisa.

O presente estudo buscou realizar uma descrição densa do meio

ambiente de trabalho rural em empresas agropecuárias do cerrado piauiense,

tendo como lócus empírico o município de Uruçui, averiguando-se a partir da

análise das condições laborais de trabalhadores/as, como está sendo utilizada

a mão de obra assalariada nessas propriedades. Pretensão maior é contribuir

para o debate público dos riscos à saúde e à segurança de trabalhadores/as

rurais e da adequação do meio ambiente de trabalho rural a um padrão ideal.

29

2. SOBRE A INCORPORAÇÃO AGRÍCOLA DOS CERRADOS

O presente capítulo aborda o processo de incorporação agrícola

dos cerrados brasileiros que, como afirma Moraes (2000), são tratados, nas

narrativas-mestras de desenvolvimento, como uma passagem de um espaço

vazio a outro, preenchido pela agricultura moderna, chamado de ―celeiro do

mundo‖. Assim, será referida a incorporação dos cerrados no Centro-Sul e no

Nordeste brasileiro e, especificamente, no sudoeste do Piauí7, tido nas

mencionadas narrativas, como a ultima fronteira agrícola brasileira.

2.1 No Brasil

O bioma cerrados8 abriga pelo menos 6 mil espécies de plantas

lenhosas, com elevado grau de endemismo, e mais de 800 espécies de aves,

agregadas a uma variedade de peixes, abelhas e outros invertebrados.

Gramíneas são mais de 5 centenas, na maioria endêmicas, perdendo espaço

para os capins exóticos utilizados na formação de pastagens. A biodiversidade

do cerrado representa 5% da do planeta (MMA, 2005) e 20% brasileira.

Os cerrados brasileiro localiza-se, predominantemente, no plano

central do Brasil e constitui a segunda maior formação vegetal brasileira (fig. 1),

7 Os cerrados do sudoeste do piauiense se estendem pelos seguintes municípios: Ribeiro

Golçalves, Santa Filomena, Uruçuí, Antônio Almeida, Bertolínea, Eliseu Martins, Manoel Emídio, Landri Sales, Marcos Parente, Floriano, Guadalupe, Itaueira, Jerumenha, Barreira do Piauí, Bom Jesus, Gilbués, Monte Alegre do Piauí, Santa Luz, Palmeira do Piauí, Corrente, Cristalândia do Piauí, Cristino Castro, Baixa Grande do Ribeiro e Currais. O Estado possui outras áreas de cerrados, mas nesta investigação se volta às referidas regiões. 8 Bioma semelhante recebe o nome de savanas que se caracteriza por uma vegetação com

predominância de gramíneas, árvores esparsas e arbustos isolados ou em pequenos grupos. Normalmente, as savanas são zonas de transição entre bosques e prados, sento típicos das regiões de clima tropical com estação seca, sendo as da África o exemplo clássico e uma das mais famosas é o Serengueti, que fica na área leste do continente, próximo à Etiópia.

30

sendo a primeira a Floresta Amazônica. Com uma área de aproximadamente

dois milhões de Km², o que equivale a 22% do território nacional, ocupando a

totalidade do Distrito Federal, mais da metade dos estados de Goiás (97%),

Maranhão (65%), Mato Grosso do Sul (61%), Minas Gerais (57%) e Tocantins

(91%), além de outras unidades federativas, dentre eles o Piauí, onde

corresponde a porções distribuídas nas regiões Centro-Oeste, Centro e Norte

(MMA, 2005).

Figura 1: Distribuição geográfica dos biomas brasileiros Fonte: IBGE (2004)

Os cerrados são a segunda maior região biogeográfica do Brasil,

englobando 12 estados (fig. 2). Sua área nuclear ocupa todo o Brasil central,

31

incluindo Goiás, Tocantins, Mato Grosso do Sul, a região sul de Mato Grosso, o

oeste e norte de Minas Gerais, o oeste da Bahia e o Distrito Federal.

Prolongações dessa área nuclear, denominadas áreas marginais, estendem-se

em direção ao norte do país, alcançando o centro-sul do Maranhão e norte do

Piauí, para oeste, até Rondônia. Existem ainda fragmentos desta vegetação e

formam as áreas disjuntas do cerrado e ocupam 1/5 de São Paulo e os estados

de Rondônia e Amapá. Além disso, podem ser encontradas manchas de

cerrado incrustadas na região da caatinga, floresta atlântica e floresta

amazônica (MMA, 2005).

Uma das particularidades desse bioma é que, apesar de apresentar

uma vegetação de dossel mais baixo, dependendo de suas variações, com

árvores tortas, troncos e galhos revestidos por uma camada mais grossa e

seca, trata-se de região rica em água subterrânea, sendo a aparência das

árvores e dos arbustos mais uma proteção contra as temperaturas mais

elevadas e a baixa umidade relativa do ar que indicio de pobreza hídrica (MMA,

2005).

32

Figura 2: A região do cerrado brasileiro Fonte: EMBRAPA (2003)

O bioma cerrados se caracteriza, também, por suas diferentes

paisagens, que vão desde o cerradão (árvores altas, densidade maior e

composição distinta), passando pelo cerrado, este mais comum no Brasil

central (árvores baixas e esparsas), até o campo cerrado, campo sujo e campo

limpo (com progressiva redução da densidade arbórea). Ao longo dos rios há

fisionomias florestais, conhecidas como florestas de galeria ou matas ciliares.

Essa heterogeneidade abrange muitas comunidades de mamíferos e de

invertebrados, além de uma importante diversidade de micro-organismos, como

fungos, associados às plantas da região (MMA, 2005).

Os cerrados são cortados por três das maiores bacias hidrográficas

da América do Sul: Tocantins, São Francisco e Prata, isso favorece a

manutenção de uma biodiversidade surpreendente. O clima é tropical, com

33

uma estação seca pronunciada9 e a topografia da região varia entre plana e

suavemente ondulada, favorecendo a agricultura mecanizada e a irrigação.

(WWF, 2008). Os cerrados são, assim, caracterizados cientificamente como

região fitogeográfica e endafoclimática, ou seja, territórios mareados por tipos

de vegetação, solos e climas específicos, favoráveis à agricultura, o que

justifica sua decantada ―vocação agrícola‖ (MORAES, 2000).

Até os anos 1930, a extensa região hoje conhecida como cerrados

eram sertões, caracterizados por autores do pensamento social brasileiro como

interior (distante da costa), selvagem (etnicamente povoado por indígenas),

pastoril e extensivo (sem a civilização da agricultura), agricolamente pobre

(onde dificilmente se produz), ambientalmente árido (discurso da seca),

anárquico (Estado está ausente e ordem privada), deserto desabitado (baixa

densidade populacional). A partir da década de 1950 os cerrados começam a

ser descobertos e construídos como um potencial celeiro do mundo, ocorrendo

a inflexão semântica de sertão para cerrado sobretudo com base em pesquisas

pioneiras da universidade de São Paulo - USP, que determinaram a presença

de água como elemento diferenciador. No processo de modernização agrícola

que se deslanchou a partir de 1970, os cerrados passaram a ser vistos como

espaços a serem ocupados, domados, vencidos e modernizados pela moderna

tecnologia (MORAES 2000).

No dos anos 1970, acenava-se, no Programa de Metas e Bases

para a Ação do Governo com o propósito dessa incorporação que se

concretizou na mesma década, com o Plano Nacional de Desenvolvimento

(IIPNS). A base tecnológica foi a introdução, no Brasil, do pacote da Revolução

Verde, nos anos 1960, que trouxe tecnologias para a agricultura capazes de

corrigir as deficiências do solo (no caso dos cerrados, a acidez), controlar

pragas, selecionar sementes e mudas e mecanizar todas as fases do processo

produtivo (MORAES, 2000).

As políticas de incorporação dos cerrados, no Brasil, privilegiavam

produtores dotados de conhecimento tecnológico e espírito empresarial,

excluindo, assim, os ditos pequenos produtores Nesse processo, excluiram-se,

inclusive, produtores locais, pois, ao contrário do que diziam as narrativas

9 Esta estação seca, no cerrado do Sudoeste piauiense, corresponde, em regra, aos meses de

maio a outubros

34

mestras, os cerrados não eram espaços vazios, mas utilizados pelo

extrativismo vegetal para a produção de carvão e pecuária extensiva

(MORAES, 2000). Para suprir a falta de conhecimento técnico da região, o

governo e empresas privadas investiram em pesquisas.

A expansão das atividades agropecuárias nos cerrados é fenômeno bastante recente na história brasileira. Ela se deu tanto pelo aumento da área plantada quanto pelos aumentos das produtividades viabilizados pela mecanização, adubação e calagem e pelo uso de cultivares melhorados e da irrigação (ALMEIDA, 2001, p. 25)

Assim, a incorporação agrícola dos cerrados se deu pela facilidade

do cultivo com maquinários, de adubação e de irrigação e pelo baixo custo da

terra. Nesse processo, ainda na década de 1970, Brasil e Japão deram início a

um acordo de cooperação internacional para a exploração agrícola dos

cerrados brasileiros, no qual os japoneses exportariam seu potencial

econômico-tecnológico e importariam os produtos alimentares produzidos

nesse espaço territorial. No âmbito do acordo, o desenvolvimento científico e

tecnológico também foi fator determinante para alavancar a produção agrícola,

de sorte que a agricultura praticada nos cerrados brasileiros foi, desde o início,

voltada para a produção moderna, com utilização das mais novas tecnologias.

As pesquisas realizadas foram fundamentais para difundir a

tecnologia na produção agrícola, pois proporcionaram um profundo

conhecimento do ecossistema e dos solos dos cerrados e possibilitaram a

correção de suas deficiências e o desenvolvimento de plantas adaptadas ao

ambiente. Tais pesquisas foram encabeçadas pela Universidade de Brasília -

UnB e Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária - Embrapa que, em 1975

criou o Centro de Pesquisa Agropecuária dos Cerrados - Embrapa/CPAC. Além

dessas, outros centros nacionais e internacionais de pesquisas se articularam a

essa dinâmica. (MORAES, 2000).

Alguns programas e políticas foram definidas no processo de

incorporação dos cerrados, principalmente criando infraestrutura, incentivos

fiscais e crédito supervisionado. Destacam-se o Programa para o

Desenvolvimento dos Cerrados – Polocentro10, que vigorou de 1975 a 1980 e

10

O Polocentro foi criado para desenvolver a agricultura nos cerrados, vigorou de 1975 a 1980

35

atuou no Mato Grosso do Sul, Goiás, Tocantins e Minas Gerais; e o Programa

de Cooperação Nipo-Brasileira para o Desenvolvimento dos Cerrados -

Prodecer11, que vigorou de 1975 a 1980 e atuou no Mato Grosso do Sul, Goiás

e Tocantins (MORAES, 2000).

Os recursos destinados ao Polocentro abrangeram vários setores,

como energia, assistência, pesquisa e agropecuária, transporte e crédito rural,

além de outras medidas infraestruturais, como eletrificação rural, mecanização

e utilização intensiva de corretivos do solo. Isso permitiu o aumento de

produtividade média de áreas do cerrado acima da média nacional, e suas

ações estimularam a criação do Prodecer, resultante do acordo de cooperação

entre os governos brasileiro e japonês, estabelecido em 1976 pelo presidente

Geisel. A Companhia de Promoção Agrícola - Campo, empresa mista de capital

público e privado criada em 1979 por brasileiros e japoneses, para planejar,

assistir e coordenar o Prodecer, foi a responsável por sua execução.(SILVA,

2000).

Outra política governamental de grande importância para a

sustentação da agricultura nos cerrados foi a do preço mínimo, pela qual o

governo passou a adquirir grande quantidade de produção, principalmente de

arroz, soja e milho, a um preço unificado.

2.2 No Nordeste

A região de cerrados nordestinos incorporadas pela modernização

agrícola, compreende, dos pontos de vistas socioeconômico e político, o oeste

baiano, o sul do Maranhão e sudoeste do Piauí. Sua incorporação teve como

e foi concebido para os pólos de crescimento (Mato Grosso do Sul, Goiás, Tocantins e Minas Gerais). Alocou recursos para melhoria de infraestrutura já disponível e para um generoso programa de crédito subsidiado através de três linhas de crédito – fundiário, investimento e custeio – com juros baixos e sem correção monetária. Foi um programa de custo social elevado que, ao induzir a expansão da agricultura comercial nos cerrados, criou e sustentou alguns privilégios (MORAES, 2000) 11

O Prodecer também foi criado para desenvolver a agricultura nos cerrados via um acordo de de cooperação nipo-brasileiro para assentamento de colonos através de cooperativas credenciadas. Trata-se de um programa de colonização privada, com participação do Estado, promovido pelo governo japonês, com crédito supervisionado e taxas de juros reais positivas para investimento e custeio. A primeira etapa iniciou-se em 1980 em Minas Gerais, a segunda em 1987 e a terceira na década de 1990, com expansão para Tocantins, Maranhão e Piauí (MORAES, 2000)

36

causa as mudanças ocasionadas pelo processo de integração da economia

regional à nacional nos anos 196012 e resulta no que veio a ser chamado nos

anos de 1990 de novo nordeste dos cerrados (MORAES, 2000).

A área do Nordeste brasileiro é de aproximadamente 1.558.196

km², equivalente a 18% do território nacional. É a região que, apesar de possuir

a maior costa litorânea, tem os estados com a maior e menor costa litorânea13,

Bahia, com 932 km de litoral, e Piauí, com 60 km.

Uma das características importantes do relevo nordestino é a

existência de dois antigos e extensos planaltos, o Planalto da Borborema e o

Planalto da Bacia do Parnaíba14 e de algumas áreas altas e planas que formam

as chamadas chapadas, como a Chapada Diamantina e a Chapada Araripe15.

Entre essas regiões ficam algumas depressões, nas quais se localiza o sertão

semiárido. O Nordeste do Brasil apresenta temperaturas elevadas, com média

anual entre 20° a 28°C. Nas áreas situadas acima de 200m e no litoral oriental,

as temperaturas variam de 24° a 26°C. As médias anuais inferiores a 20°C

encontram-se nas áreas mais elevadas da Chapada Diamantina e da Chapada

da Borborema. O índice de precipitação anual fica entre 300 a 2.000 mm. Três

dos quatros tipos de climas do Brasil estão presentes no Nordeste: equatorial

úmido, litorâneo, tropical e tropical semiárido.

O Nordeste possui importantes bacias hidrográficas, dentre as

quais destacam-se a Bacia do São Francisco, a do Parnaíba, a do Atlantico

Nordeste Oriental, a do Atlantico Nordeste Ociental, a do Atlântico Leste. A

região compreende as seguintes Zonas Geográficas:

Meio-norte: faixa de transição entre a Amazônia e o sertão que

abrange os estados do Maranhão e Piauí, também chamada de Mata dos

Cocais, devido às palmeiras de babaçu e carnaúba, com chuva no litoral de

cerca de 2000 mm anuais, nível que mais para o leste e/ou para o interior cai

12

Sobre este processo de integração da economia regional à nacional, na década de 60, atividades urbano-industriais também ganham espaço no Nordeste (Petrobrás – Bahia, e Vale do rio Doce – Maranhão) (MORAES, 2000). 13

A região toda possui 3.338 km de praias. Está situado entre os paralelos de 01° 02' 30" de latitude norte e 18° 20' 07" de latitude sul e entre os meridianos de 34° 47' 30" e 48° 45' 24" a oeste do meridiano de Greenwich. Limita-se a norte e a leste com o Oceano Atlântico; ao sul com os estados de Minas Gerais e Espírito Santo e a oeste com o Pará, Tocantins e Goiás 14

O Planalto da Borborema localiza-se de Alagoas ao Rio Grande do Norte e o Planalto da bacia do Parnaíba localiza-se no leste da Bahia e porção oriental do Tocantins. 15

A Chapada da Diamantina localiza-se na parte central da Bahia e a Chapada do Araripe na divisa do Ceará, Piauí e Maranhão.

37

para 1500 mm anuais. No Sudoeste do Piauí, uma região mais parecida com o

sertão, só chove, em média, 700 mm por ano.

Sertão: localizado no interior da região, tem clima semiárido,

chegando, em estados como Ceará e Rio Grande do Norte a alcançar o litoral,

e, descendo mais ao sul, atinge o norte de Minas Gerais, estado da região

Sudeste. As chuvas são irregulares e escassas, com constantes períodos de

estiagem, sendo a vegetação típica a caatinga.

Agreste: faixa de transição entre a Zona da Mata e o Sertão, é,

pela localização, no alto do Planalto da Borborema, um obstáculo natural à

chegada das chuvas ao Sertão. Estende-se do sul da Bahia até o Rio Grande

do Norte e tem como principal acidente geográfico o Planalto da Borborema.

Do lado leste do planalto estão as terras mais úmidas (Zona da Mata) e do

outro lado, para o interior, o clima vai ficando cada vez mais seco (Sertão).

Zona da Mata: localizada ao leste, entre o Planalto da Borborema

e a costa, estende-se do Rio Grande do Norte ao sul da Bahia, tendo chuvas

abundantes. A zona recebeu esse nome pela cobertura da Mata Atlântica.

Nela, os cultivos de cana-de-açúcar e cacau substituíram, gradativamente, as

áreas de florestas, desde o povoamento do Brasil colonial (MMA, 2005).

A vegetação nordestina é bastante rica e diversificada, havendo da

Mata Atlântica no litoral à Mata dos Cocais no Meio-Norte ecossistemas como

manguezais, caatinga, cerrados, restingas, dentre outros, com fauna e flora

exuberantes, variadas espécies endêmicas, uma boa parte da vida no planeta

e animais ameaçados de extinção.

O processo histórico e sócio-econômico de ocupação do Nordeste

contou com economia açucareira e pecuária (Rio Grande do Norte e Alagoas),

um complexo gado-algodão-agricultura (Ceará); pólos e complexos industriais

(Sergipe e Bahia) e zona de expansão recente das fronteiras agrícolas, os

cerrados, do Oeste baiano, Sul do Maranhão e Sudoeste do Piauí (Moraes,

2000). Em décadas finais do século XX houve, porém, uma mudança das áreas

de modernização, ancoradas pelos subsistemas regionais de fronteiras

agropecuárias, para Polos de Desenvolvimento Integrado, contexto em que se

insere, em 1998, o Polo de Desenvolvimento Integrado Uruçuí-Gurgueia que

compreende o sul do Maranhão e o Sudoeste do Piauí.

38

Até os anos 1970 o Nordeste era tido como ―atrasado‖. Uma das

medidas tomadas pelo governo federal para enfrentar a situação foi a criação

de médias e grandes empresas rurais pelo Programa de Redistribuição de

Terras e de Estímulo à Agroindústria do Norte e Nordeste - Proterra, instituído

em 1973, e o Programa de Desenvolvimento de Áreas Integradas do Nordeste

– Polonordeste, estabelecido em 1974. A finalidade desses programas era

transferir o modelo industrial para o campo e modernizá-lo (MORAES, 2000).

Com efeito, a produção agropecuária nordestina sofreu profundas

mudanças a partir da década de 1970, com a introdução de culturas não

tradicionais, destacando-se a soja nos anos 1980, que se expandiu nos 1990,

destinada, em grande parte, a atender a demanda do mercado externo. Nesse

processo, a incorporação dos cerrados nordestinos deu-se em duas etapas: a

primeira a partir dos anos 1980, pela expansão da agricultura intensiva de

grãos do Centro-Oeste do Brasil em direção ao Oeste Baiano. Ali expandiu-se

rapidamente o cultivo de soja, com a participação de produtores oriundos do

Sul do país; a segunda, nas chapadas do Sul do Maranhão e Sudoeste do

Piauí, pelo cultivo de grãos, em especial da soja, atendendo os mercados do

Centro Sul do país e internacionais (MORAES, 2000).

A cultura principal na incorporação dos cerrados foi a soja, tanto no

oeste baiano, quanto no Maranhão e Piauí. Essa agricultura intensiva nos

cerrados implica um número reduzido de mão de obra e grandes extensões de

terras, além do uso de tecnologias para correção da acidez do solo, controle de

pragas e aumento de produtividade.

O oeste baiano contou com dois momentos de ordenação territorial.

O primeiro (década de 1950/60) se caracterizou por uma divisão de trabalho

entre gerais (cerrados) e sertão (vale do São Francisco, semiárido), ambos

voltados para a pecuária extensiva. O segundo momento ocorreu depois da

construção da capital federal, Brasília, que contou com a abertura de grandes

ferrovias e mudou o padrão de divisão de trabalho nos cerrados, que passou a

ter sua incorporação destinada para a agricultura intensiva, tecnificada e

mecanizada, que se deu especificamente no início dos anos 1980 (MORAES,

2000).

Essa onda modernizadora da agricultura não se preocupou com

questões ambientais e, em decorrência disso, ocorreu uma destruição

39

desenfreada da biodiversidade local. Ademais, a mudança no padrão de

trabalho na agricultura abarcou trabalhadores assalariados, expulsando, assim,

pequenos e médios produtores da região. Na década de 1990 tinha-se, no

Oeste baiano, um intenso processo de territorialização da capital, com a

acelerada expansão da cultura da soja.

A incorporação dos cerrados maranhenses teve como incentivo o

Programa de Redistribuição de Terras e de Estímulo à Agroindústria do Norte e

Nordeste - Proterra, criado em 1973 e, nos anos 1980, o Finor-Agropecuário,

pelo BNDES. Essa incorporação deu-se através de gaúchos, que introduziram

o cultivo do arroz, com vista a superar a forma de produção considerada

atrasada: a chamada agricultura de toco16, praticada por camponeses

(MORAES, 2000).

Na década de 1980, ocorre a introdução do cultivo de soja nos

cerrados do sul do Maranhão, um processo que desencadeou problemas

ambientais, fundiários, trabalhistas e danos à saúde e segurança dos

trabalhadores rurais. Implantou-se o Programa de Cooperação Nipo-Brasileira

para o Desenvolvimento do Cerrado (Prodecer) através do projeto de

Colonização Geral de Balsas (PC-GERAL), contribuindo para a atração de

investidores o incremento na produção agrícola e o baixo preço das terras.

Da mesma forma que em outros lugares, a incorporação dos

cerrados maranhenses também expulsou camponeses locais, sob a justificativa

de que teriam baixa capacidade produtiva. Assim, a incorporação dos cerrados

nordestinos se deu, principalmente, por sulistas, embora houvesse, no

processo, empresas do Centro-Oeste, Sudeste e até do próprio Nordeste.

2.3 No Piauí

O Piauí é um dos nove estados da região Nordeste do Brasil, que

forma com o Maranhão, o chamado Meio Norte ou Nordeste Ocidental.

16

Agricultura de toco é denominação corrente dado ao sistema de agricultura camponesa tradicionalmente praticada na região, no qual a vegetação baixa é cortada (ou roçada), as árvores maiores são derrubadas e após a queima, a madeira é aproveitada. Nesse sistema, planta-se um período de três a quatro anos numa mesma área, que então se deixa em descanso, partindo para outra (MORAES, 200).

40

Ocupando 252.378 km2 (16,2 %) dos 1.548.672 km2 do Nordeste brasileiro, é

o terceiro maior estado nordestino, com área inferior apenas à Bahia e ao

Maranhão, e o décimo em tamanho, do país, com 2,9 % do território nacional.

Ao Norte, limita-se com o Oceano Atlântico, na Barra das Canárias, na Ilha

Grande de Santa Isabel, município de Parnaíba e ao Sul, com Tocantins e

Bahia sendo a Chapada da Limpeza, no município de Cristalândia, o ponto

extremo. A leste, esse ponto situa-se no município de Pio IX, na nascente do

rio Marçal, na serra do Marçal com limites Ceará e Pernambuco. A oeste,

limita-se com a curva do rio Parnaíba, no município de Santa Filomena, divisa

com o Maranhão até o extremo norte. O limite com o Maranhão, o maior, é de

1492 km, e com o Tocantins, o menor, é de apenas 21 km, menos que com o

Oceano Atlântico (66 km).

O Piauí se situa entre duas regiões climáticas bem distintas: o

Sertão semiárido e a Amazônia quente e úmida, sendo uma autêntica faixa de

transição. Dessa forma, pode-se dizer que a dinâmica climática do estado

caracteriza-se por uma grande complexidade.

A classificação do relevo do Piauí agrupa cinco chapadas ou

chapadões: 1.O Arco da Fronteira, que se divide em duas secções pela

Chapada do Araripe, constituindo-se ao sul no divisor das bacias hidrográficas

do Parnaíba e do São Francisco e ao Norte separando os vales piauienses dos

cearenses; 2.Os Chapadões do Sul, que correspondem às escarpas do Arco

da Fronteira, ―que vão perdendo altitude no sentido sul-norte‖; 3.As Cuestas do

Centro, que apresentam mergulho das camadas de leste para oeste; 4.Os

Contrafortes da Ibiapaba, que são identificados como cuestas do setor norte do

Arco da Fronteira; 5.Os Morros Isolados, que apresentam as formas de

pequenas altitudes que intercalam as de maior expressão espacial.

O Estado do Piauí é um dos mais ricos do Nordeste em acumulação

de água natural de superfície, pois dispõe de cerca de 69 lagoas, com um

volume aquifero da ordem de 584 milhões de metros cúbicos. Essas lagoas se

distribuem por todo o estado, ocorrendo, com maior frequência, no Baixo

Parnaíba.

Quanto à hidrografia fluvial, o principal rio perene é o Parnaíba, que

separa/une Piauí e Maranhão e corre por 1.485 km até desembocar no Oceano

Atlântico. Sua vazão, no período de cheias, é superior a 230 m3 por segundo,

41

em Luzilândia (Baixo Parnaíba). A Bacia do Parnaíba, que ocupa 72,7% do

território piauiense, pode ser considerada a segunda, em importância, do

Nordeste, levando-se em consideração três fatores: área drenada (338.000

km²), extensão (1.485 km²) e perenidade do rio principal. Integradas a ela,

existem, no território piauiense, outros 140 rios, com mais de 5.000 Km de

extensão, dos quais 2,6 mil são perenes. O Piauí é ainda o estado brasileiro

com o maior potencial de águas subterrâneas, com reservas reguladoras de

2,5 bilhões de metros cúbicos, correspondentes aos volumes infiltrados

anualmente. Cerca de 83% da superfície estadual encontra-se sobre terrenos

sedimentares, onde se destacam os aquíferos.

A cobertura vegetal do Piauí é bastante diversificada. Dentre as

formações vegetais existentes, destacam-se as seguintes: caatinga arbórea e

arbustiva (no Leste e Sudeste do estado), cerrado e cerradão (Centro-Leste e

Sudoeste), floresta decidual (vales do Baixo e Médio Parnaíba) e formação

pioneira e mangue a aluvial (litoral). As formações vegetais são separadas por

zonas de contato, nas quais ocorrem dois ou mais tipos de associações de

plantas, constituindo agrupamentos de transição.

O Piauí possui, aproximadamente, 11,5 milhões de hectares de

cerrados que representam 5,56% dos cerrados brasileiros, correspondendo a

46% da superfície do estado e localizados em vários pontos (ARAUJO, et al,

2007) (fig. 3). Estão agrupados nos seguintes sistemas geoambientais

(MONTEIRO, 2002):

a) Vale do Gurgueia, limite leste e por isso zona de transição

entre floresta e caatinga para cerrado;

b) Chapadas do Alto Parnaíba, planaltos entre os rios

Gurgueia e Parnaíba;

c) Cabeceiras do Parnaíba, zona do alto curso do rio

Parnaíba;

d) Chapada das Mangabeiras, região fronteiriça entre a Bahia

e o Piauí, divisor de águas entre as bacias hidrográficas do São Francisco e

Parnaíba.

42

Figura 3: Distribuição geográfica dos cerrados no Piauí. Fonte: IBGE

Geomorfologicamente o que se chama de cerrados piauienses são, na verdade, estruturas tabulares de chapadões, caracterizados por uma superfície plana ou levemente ondulada, com inclinação para o noroeste da ordem de 2m a 3m/km, encontrando-se limitada por escarpas abruptas que chegam a atingir mais de 100m de altura. Essas estruturas tabulares ou chapadões possuem altitudes em torno de 600 metros e recebem o nome de serras (Uruçuí, Mundo Novo, do Congo, Calhaus, etc.) e são resultantes do processo erosivo de

43

esculturação do relevo devido, principalmente, aos diferentes graus de resistência e inclinação de sedimentos, aliados ao trabalho erosivo dos rios. (INSTITUTO DESERT, 1998, p. 125).

Atualmente, o cerrado do sudoeste do Piauí contempla 24

municípios17, dentre os quais Uruçuí (fig. 4), situado na Mesorregião do

Sudoeste Piauiense e na Microrregião do Alto do Parnaíba (fig. 5), com uma

área física de 8.578,5 km2, ou 3,57% da área total do estado, temperatura

média anual de 27°C e pluviosidade média de 1.059,7mm (AGUIAR, 2005).

17

Os cerrados piauiense se estende pelos municípios de Ribeiro Golçalves, Santa Filomena, Uruçuí, Antônio Almeida, Bertolínea, Eliseu Martins, Manoel Emídio, Landri Sales, Marcos Parente, Floriano, Guadalupe, Itaueira, Jerumenha, Barreira do Piauí, Bom Jesus, Gilbués, Monte Alegre do Piauí, Santa Luz, Palmeira do Piauí, Corrente, Cristalândia do Piauí, Cristino Castro, Baixa Grande do Ribeiro e Currais.

44

Figura 4: Distribuição das cidades do Piauí. Projeção do município de Uruçuí. Fonte: IBGE, adaptado para esta pesquisa.

45

Figura 5: Distribuição geográfica das mesorregiões do Piauí. Fonte: IBGE, 2009.

Desde o período colonial até meados do século XIX a principal

atividade econômica no Piauí foi a pecuária extensiva . No início do século XX,

46

a economia piauiense insere-se no mercado internacional pelo extrativismo

vegetal da borracha da maniçoba, cera de carnaúba e amêndoa de babaçu.

Até a década de 1970, o cerrado piauiense era considerado um vazio

estagnado e sem grande utilidade econômica (MORAES, 2000).

É no final dos anos 1970 que, no Piauí, começa a circular o

discurso da ―vocação agrícola‖ (MORAES, 2005), com a implantação de

incentivos governamentais, como o Programa de Desenvolvimento de Áreas

Integradas do Nordeste (Polonordeste). Esses programas traziam em seus

documentos o discurso da promoção de uma agricultura eficaz, com aumento

de oferta de emprego e melhoria da renda no meio rural.

Efetivamente, em 1978 chegava ao Piauí a primeira missão do Banco Mundial e, em 1981, assinavam-se os acordos de empréstimo e do projeto de ampliação da área de atuação do Polonordeste no Estado, com o nome de Projeto Vale do Parnaíba. Entre 1982 e 1986, a intervenção governamental, no meio rural piauiense, gerou, como lembra Domingos Neto (1988), intensa produção de siglas e nomes: PDRI, Perímetros Irrigados, Polonordeste, Projeto Sertanejo, Nordestão, Projeto Vale do Gurgueia, Projeto Vale do Fidalgo, Programa de Apoio ao Pequeno Produtor Rural (PAPP) etc. Na atual região dos cerrados, apenas a área restrita do Vale do Gurguéia foi contemplada (MORAES, 2000, p. 184).

Somente a partir da segunda metade de 1980 tem início uma

ocupação, que gradativamente se acelera e se intensificou nos anos 90, com a

instalação de grandes projetos agropecuários voltados para a produção de

grãos, em especial da soja, para exportação. Esse processo teve como causa

os preços extremamente baixos das terras (MONTEIRO, 2002), fato que atraiu

capitais privados e a implantação de grandes projetos agropecuários na região,

financiados pelo Fundo de Investimento do Nordeste Agropecuário - Finor

Agropecuário, que por sua vez se constituiu em um mecanismo facilitador da

aquisição de terras por empresários do Centro-Sul e do próprio Nordeste.

A incorporação dos cerrados piauienses pelo agronegócio do complexo carnes/grãos é (...), caudatária do processo que incorporou as chapadas do Centro-Oeste brasileiro e do sul do Maranhão e oeste da Bahia. O fato de a incorporação do Piauí ter-se dado mais tardiamente (embora seja, o Piauí, dos estados nordestinos, o que possui maior área de cerrados), vincula-se a certas questões de âmbito interno e externo ao estado (MORAES 2000, p 206)18.

18 Sobre as referidas questões, ver MORAES (2000).

47

O município de Uruçuí tem papel histórico nessa trajetória, pois foi

sede dos primeiros testes de experimentos de pesquisa científica sobre soja

adaptada, iniciada em 1978 e lançada em 1980 pela Embrapa-UEPAE-

Teresina, as quais foram divulgadas no I Seminário sobre Cerrado Piauiense

(1985). Além disso, Uruçuí foi um dos municípios-base do chamado Pelo de

Desenvolvimento Integrado Uruçuí-Gurguéia nos anos 1990 (MORAES, 2000).

Em 1985, houve a implementação do Programa de Apoio ao

Pequeno Produtor (PAPP), porém a ideia de vocação agrícola dos cerrados

piauienses não se concretiza com base na pequena produção, já que, os

pequenos produtores dos cerrados piauienses constituíram um setor

marginalizado pelo modelo de desenvolvimento implementado na região

(MORAES, 2000). Dessa forma, a região dos cerrados do sudoeste do Piauí

tornou-se um cenário de uma agricultura altamente moderna que utiliza as mais

novas tecnologias e se volta para a produção intensiva, no âmbito do complexo

carnes/grãos (fig. 6).

Assim, os cerrados do sudoeste do Piauí, incluindo Uruçuí, vêm, da

última década do século XX em diante, sendo locus de implementação de

projetos agroindustriais, sobretudo os voltados para exportação, devido ao

baixo custo das terras, aos solos favoráveis à mecanização, a proximidades

com o mercado externo e ao esgotamento dos solos em outras áreas do país

(AGUIAR, 2005). As atividades principais nessas propriedades são o cultivo de

grãos, como soja, milho, arroz e algodão.

O governo do Estado do Piauí (1985) anunciava, já em meados

dos [anos 19] 80, que os cerrados piauienses respondiam por 24% da produção estadual de algodão herbáceo, 14% da produção de arroz, 10% da de feijão, 10% da de milho e 9% da de mandioca. Quanto aos novos produtos, a soja e o caju apareciam como prioritários para exploração. Em relação ao caju, registrava-se então, mais de 90 mil hectares, ou 80% de toda a área cultivada. No início dos anos 90, proliferaram as falas oficiais sobre os cerrados piauienses, com o então Governo Freitas Neto incluindo em seus relatórios oficiais, o tema da incorporação dos cerrados ao processo produtivo (MORAES, 2000, p. 213)

A incorporação dos cerrados piauienses, como nas outras regiões

brasileiras, necessitava efetuar-se por meio de agricultores tidos como

48

qualificados para lidar com as tecnologias mais avançadas, no caso os

gaúchos, que iniciavam na região, na década de 1980. Esses, como se

encontra em Moraes (2000), falavam em se diferenciar dos investidores que ali

se instalaram nos anos 1970 para a execução de projetos ligados ao

reflorestamento e plantações de frutas, financiados pelo Finor e Finest mas que

não tiveram continuidade e acabaram por ser abandonados. Em contraposição

à ―era dos gaúchos‖, aquela outra ficou conhecida como ―a era dos

projeteiros‖19.

Assim, na década de 1990, o Piauí já estava inserido no processo de

incorporação dos cerrados brasileiros, sendo considerado como a última

fronteira agrícola e um celeiro capaz de produzir alimentos. Passa-se, então,

da ideia de vazio para a de um espaço preenchido pela agricultura moderna,

tecnológica e mecanizada (MORAES, 2000).

Em 1992, a Fundação CEPRO realiza um diagnóstico da região dos

cerrados piauienses, a fim de fornecer, sobre ela, um maior conhecimento

técnico-científico, de clima, solo, vegetação e recursos hídricos, tendo-se como

fator de incentivo para investidores o preço da terra e a disponobilidade de mão

de obra de baixo custo. Nos anos 1990, a região foi incluída nas metas do

Programa Brasil em Ação, do Governo Federal, como um dos Pólos de

Desenvolvimento Integrado do Nordeste, fazendo parte do Polo Balsas,

formando o Polo Uruçuí-Balsas. Em 1999, desmembrou-se, originando o Polo

de desenvolvimento Integrado Uruçuí-Gurguéia, que contou com metas

estipuladas pelo Banco do Nordeste do Brasil - BNB, abrangendo os âmbitos

econômicos, sociocultural, ambiental, de informação e conhecimento

(MORAES, 2000).

O novo Nordeste concretiza-se, na versão de um novo Piauí agrário, através [dos cerrados] de alguns atores sociais privilegiados que monopolizam o papel de dizentes de um projeto de modernização agrícola do estado apresentado como os únicos com ela condizentes (MORAES, 2000, pág. 233)

Como afirma Moraes (2000, 2003, 2005), o padrão de

desenvolvimento para a região dos cerrados piauienses não contemplou as

populações camponesas da região, as quais, devido ao avanço dos grandes

19

Para detalhamento, ver Moraes (2000)

49

projetos agropecuários que se instalaram nas chapadas20, ficaram

―encurraladas‖ nos baixões.

20

A respeito da condição camponesa nesse processo, assim como da relação do campesinato local com chapadas e baixões, ver Moraes (2000).

50

3. MEIO AMBIENTE DE TRABALHO RURAL EM EMPRESAS AGROPECUÁRIAS DO CERRADO PIAUIENSE

3.1 Meio ambiente e meio ambiente de trabalho

A Constituição Federal de 1988 trata do meio ambiente como sendo

um bem essencial à sadia qualidade de vida, garantindo a preservação do seu

equilíbrio como direito fundamental. O art. 225 dispõe que

todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações (BRASIL, 2003, p. 123).

Assim, o direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado

previsto no art. 225 da Constituição Federal é um direito fundamental de todo

cidadão, por ser inerente ao direito à vida e à qualidade de vida.

A proteção ambiental que visa a tutelar a qualidade do meio ambiente em função da qualidade de vida é uma forma de direito fundamental da pessoa humana, direito este que foi reconhecido pela Declaração do Meio Ambiente, adotada pela Conferência das Nações Unidas, em Estocolmo, em junho de 1972, cujos vinte e seis princípios constituem prolongamento da Declaração Universal dos Direitos do Homem (SILVA, 1995, p. 36).

Segundo a Lei de Política Nacional de Meio Ambiente (Lei 6.931/81),

art. 3º, I, meio ambiente é o conjunto de condições, leis, influências e

interações de ordem física, química e biológica, que permite, abriga e rege a

vida em todas as suas formas. Esse conceito é amplo e abarca dois objetos de

tutela ambiental: o imediato – a qualidade do meio ambiente em todos os seus

aspectos, e o mediato – a saúde, a segurança e o bem-estar do cidadão,

expresso nos conceitos ―vida em todas as suas formas‖ e ―qualidade de vida‖.

(MELO, 2008).

51

Não se pode olvidar que o direito ambiental tem como objeto tutelar

a vida saudável, de modo que essa classificação visa, apenas, identificar o

aspecto do meio ambiente em que valores maiores foram ou estão sendo

violados. Além disso, a natureza jurídica do bem ambiental é difusa, uma vez

que toda a sociedade é dele titular: todo ser humano tem direito a um meio

ambiente ecologicamente equilibrado.

Trata-se de um direito humano fundamental, não subordinável a

regras do direito de propriedade ou de patrões. Da mesma forma, não se

subordina a regras do Direito do Estado contra os da cidadania os quais

devem se subordinar e se transformar em razão de necessidades prementes

das humanidades, refletidos, juridicamente, na categoria dos direitos humanos

fundamentais. Como concepção de aplicação da ordem jurídica, o direito

ambiental21 penetra, transversalmente, em todos os demais ramos do Direito.

É multidimensional, apresentando dimensões humana (portanto, cultural),

ecológica, econômica que se devem harmonizar sob o conceito de

desenvolvimento sustentado. (ANTUNES, 2005).

A mesma Carta Magna fez menção ao bem ambiental, definido

como sendo todos aqueles que compõem o meio ambiente como um todo e

possuem natureza difusa e coletiva, ou seja, os que se encontram inseridos

nos aspectos cultural, artificial, laboral ou sob o óbice do ambiente natural ou

físico (MEDEIROS, 2006, p. 23). Dessa forma, segundo Melo (2008), os

aspectos do bem ambiental são:

Meio ambiente artificial, que compreende o espaço urbano

habitável constituído pelo conjunto de edificações feitas pelo homem, referindo-

se aos espaços fechados e equipamentos públicos, o qual é contemplado pela

Constituição Federal (arts. 5º, XXIII, 21, XX, 182, 225).

21

Manifestações de seres humanos por melhores condições de vida (e trabalho) assumem posição axial como fonte material deste ramo peculiar do Direito, na emergência de uma nova compreensão do ser humano, com ideais de prudência e cuidado, em uma nova ética na existência humana que deve também considerar o equilíbrio do planeta, dando origem ao ainda incipiente ramo do Direito Ambiental, o qual se espraia e influencia as demais áreas do Direito, inclusive no que tange ao meio ambiente de trabalho na perspectiva de considerar todos os seres humanos como realidade moral, o que aponta para o respeito à dignidade. (POGORELSKY, 2008).

52

Meio ambiente cultural, que compreende o patrimônio histórico,

artístico, arqueológico, paisagístico e turístico. Embora também artificial, se

difere do primeiro pelo sentido de valoração especial, sendo tutelado pela

Constituição Federal (art. 216), que estabelece como patrimônio cultural

brasileiro os bens de natureza material e imaterial, tomados individualmente ou

em conjunto, portadores de referência à identidade, à ação e à memória dos

diferentes grupos formados da sociedade brasileira, neles inclusos as formas

de expressão, os modos de criar, fazer e viver, as criações científicas, artísticas

e tecnológicas, as obras, objetos, documentos, edificações e demais espaços

destinados às manifestações artístico-culturais.

Meio ambiente natural ou físico que compreende o solo, água, ar,

fauna e flora e representa o equilíbrio dinâmico entre os seres vivos na terra e

no habitat em que vivem. A Constituição Federal brasileira estabelece que

incumbe ao poder público preservar e restaurar os processos ecológicos

essenciais e promover o manejo das espécies e ecossistemas, bem como

preservar a fauna e a flora, vedadas na forma da lei, as práticas que coloquem

em risco a sua função ecológica, provoquem a extinção de espécies ou

submetam animais à crueldade (CF, art. 225, § 1º, I, VIII).

Meio ambiente de trabalho, que compreende o local onde as

pessoas desempenham suas atividades laborais, remuneradas ou não, cujo

equilíbrio se baseia na salubridade do meio e na ausência de agentes que

comprometam a incolumidade físico-psíquica dos trabalhadores,

independentemente das condições que ostentem (homens ou mulheres,

maiores ou menores de idade, celetistas, servidores públicos, autônomos, etc)

(FIORILLO, 2003). O meio ambiente do trabalho refere a saúde e segurança do

trabalhador, sua dignidade e a justiça social.

Isto leva a pensar na interdependência necessária entre ética e

direito: dois âmbitos de conhecimento sobre o agir humano que divergem na

metodologia mas voltam-se para o mesmo objeto. Por um lado, a ética ê a

ação humana referida à intencionalidade da consciência moral22, por outro, o

22

Neste sentido, cada indivíduo singular é responsável pelo presente e pelo futuro da humanidade. Isto tem conseqüências para uma ética do respeito, e para as relações que devem ser, aí, explicitadas, entre consciência e práticas morais, autonomia e solidariedade, liberdade e responsabilidade (SÈVE, 1997). A propósito ver, ainda, Fonseca (2007), sobre a ética do cuidado em Hans Ionas, e Boff (2002) sobre o mesmo tema expresso na Carta da

53

direito toma em consideração os resultados externos da ação avaliados por

um ordenamento legal. Nesta direção, o Direito do Trabalho23 tem como foco

homens e mulheres, com vistas a disciplinar as relações travadas no campo do

trabalho humano, fixando limites e condições à sua exploração. Por seu turno,

o Direito Ambiental visa a natureza, o ecossistema, a proteção do meio

ambiente e o estabelecimento de limites à sua manipulação pelo próprio

trabalho e a preocupação com o respeito à vida. É direito sui generis, que

extrapola antigas concepções de autonomia disciplinar. Emerge em tempos

recentes, sobretudo, pela ação de movimentos sociais, no âmbito da questão

ambiental. (POGORELSKY, 2008)

Na interface entre Direito do Trabalho e Direito Ambiental24, insere-se

o direito ao meio ambiente de trabalho, este, tomado como um bem ambiental

de uso comum de homens e mulheres trabalhadore/as, e essencial à sua

sadia qualidade de vida.

O meio ambiente de trabalho está inserido no meio ambiente geral (art. 200, VIII, da constituição Federal), de modo que é impossível alcançar qualidade de vida sem ter qualidade de trabalho, nem se pode atingir meio ambiente equilibrado e sustentável ignorando o meio ambiente de trabalho (OLIVEIRA, 1998, p. 79).

Nessa direção, Amauri Mascaro Nascimento define meio ambiente

de trabalho como

Terra. 23

O trabalho, algo que diferencia homens e mulheres de outros seres vivos é o meio próprio à produção do artefato – termo de origem alemã, de artefakt/produkt, que se encontra na origem da palavra arbeit, ou seja, trabalho –. Refere os processos de controle e a manipulação dos bens naturais no atendimento a interesses humanos dos mais primários aos mais supérfluos. Na história das sociedades de classe, o trabalho subjugou homens e mulheres, seja como escravo/as, servo/as, ou trabalhadore/as assalariado/as, sempre baseado no predomínio da natureza humana sobre o meio natural não-humano, gerando por um lado benefícios e, por outro, prejuízos diversos. Nas sociedades modernas, a regulação da exploração de homens e mulheres no ambiente laboral se dá pelo Direito do Trabalho. Nesta esfera, buscam-se disciplinar as relações de trabalho subordinado, mais propriamente, no âmbito da relação empregatícia. Ultrapassa-se, assim, a visão do/a trabalhador/a como objeto jurídico (escravo/a), instituindo/a como sujeito da relação jurídica de trabalho, que põe à disposição de outrem (empregador/a) a sua força-de-trabalho em troca de salário. Próprio dos movimentos operários da Revolução Industrial do Século XIX, o surgimento histórico do Direito do Trabalho traduz o ganho de consciência operária face à exploração no mundo do trabalho, por meio de intensas lutas e importantes movimentos sociais revolucionários (POGORELSKY, 2008). 24

A propósito, ver Pogorelsky (2008).

54

um complexo máquina-trabalho: as edificações do estabelecimento, equipamentos de proteção individual, iluminação, conforto térmico, instalações elétricas, condições de salubridade ou insalubridade, de periculosidade ou não, meios de prevenção à fadiga, outras medidas de proteção ao trabalhador, jornadas de trabalho e horas extras, intervalos, descansos, férias, movimentação, armazenagem e manuseio de materiais que formam o conjunto de condições de trabalho, etc (NASCIMENTO, 2001, p. 280)

Porém, o conceito de meio ambiente de trabalho vai além da idéia

de um espaço físico ou geográfico determinado e leva em conta as relações

entre o espaço e a atividade laboral, posto que várias delas não são

desempenhadas em um único local, como, o trabalho de um caminhoneiro.

Neste caso, o meio ambiente de trabalho não se limitará ao espaço interno do

caminhão, mas alcançará todo o trajeto que percorrer até o seu destino

(FIGUEIREDO, 2007). Assim, a diversidade de atividades implica uma

variedade de ambientes laborais.

Para compreender o meio ambiente de trabalho, não se faz relação

entre meio ambiente natural e artificial, mas entre o elemento espacial (local

laboral) e o ato de trabalhar. Na verdade, alguns trabalhos são realizados em

ambientes naturais, como o de agricultores, mineradores e mergulhadores.

Ora, se concebermos o meio ambiente de trabalho restrito ao espaço físico de

uma fábrica, os demais citados seriam extintos do conceito.

O meio ambiente de trabalho não se restringe ao espaço interno da fábrica ou da empresa, mas se estende ao próprio local de moradia ou ao ambiente urbano. Mais do que isso, o meio ambiente de trabalho representa todos os elementos, inter-relações e condições que influenciam o trabalhador em sua saúde física e mental, comportamento e valores reunidos no lócus do trabalho. Com efeito, caracteriza-se pois, como a soma das influências que afetam diretamente o ser humano, desempenhando aspecto chave na prestação e performance do trabalho. Pode-se, simbolicamente, afirmar que o meio ambiente de trabalho constitui o pano de fundo das complexas relações biológicas, psicológicas e sociais a que o trabalhador está submetido (ROCHA, 2002, p. 127).

O ato de trabalhar é característica essencial do meio ambiente de

trabalho. Assim, as normas de direito ambiental do trabalho deverão se ocupar

do conjunto de fatores que afetam a saúde física e psíquica do trabalhador e

55

não somente do espaço físico onde se desenvolvem as suas atividades

laborais. Nessa perspectiva, o meio ambiente de trabalho não pode ser

compreendido como algo estático, mas como um lócus dinâmico, constituído

por todos os componentes que interagem nas relações ambientais e de

trabalho e que tomam uma forma no dia a dia laboral, como as tecnologias

empregadas, a maquinaria, as matérias primas, a clientela, o/as

trabalhadore/as, os inspetores, a disciplinarização do corpo de/ trabalhador/as,

a chefia. (ROCHA, 2002). Vale lembrar que, embora as instalações,

equipamentos, bens e maquinários sejam de propriedade privada, o meio

ambiente de trabalho constitui bem inapropriável, de natureza difusa, pois deve

ser entendido como conditio sine qua non em que se desenrola grande parte

da vida humana.

Concernente com o exposto, compreendemos que o meio ambiente

de trabalho rural, objeto do presente estudo, se dá tanto no ambiente artificial

(máquinas, equipamentos, instalações), quanto no ambiente natural (contato

direto com a terra), tendo o/a trabalhador/a rural como seu elemento

caracterizador, ele/a que o transforma com a sua energia,através do trabalho,

além das relações entre os sujeitos que, ali, interagem. Atualmente, o meio

ambiente de trabalho rural tem sido cenário de constantes mudanças

ocasionadas principalmente pela introdução de tecnologias no processo

produtivo, como no caso do cerrado piauiense.

3.1.1 Meio ambiente de trabalho rural, tecnologia e os desafios do

equilíbrio ambiental laboral

A história da industrialização demonstra o papel crucial do

desenvolvimento tecnológico no processo de mudanças drásticas que

ocorreram nas sociedades humanas (LUSTOSA, 2003).

Existe, atualmente, uma crença quase absoluta na tecnologia

moderna, considerada capaz de solucionar todo e qualquer problema que se

ponha diante do ser humano. Deposita-se assim, a máxima confiança neste

padrão tecnológico, devendo-se isso, em grande medida, à função ideológica

da manutenção dos paradigmas vigentes, relacionada a desenvolvimento e

progresso (LAYRARGUES, 1998). É certo que o desenvolvimento econômico e

56

tecnológico baseado no uso intensivo de matérias-primas e energia aumentou

a velocidade do uso dos bens naturais, transformados em recursos, sem dizer

que os rejeitos dos processos produtivos foram se acumulando no meio

ambiente, causando uma enorme degradação ambiental (LUSTOSA, 2003).

Ademais, as inovações tecnológicas provocam mudanças sociais, refletida pelo

consumo intensivo e imitativo, que torna as culturas, em medida considerável,

mais ou menos padronizadas.

Tecnologia e mudanças sociais: as inovações tecnológicas são em ultima instância mudanças culturais, que refletem, não apenas na produção imitativa, mas também no consumo imitativo: para se evitarem os custos adicionais com a adoção de novos ajustes tecnológicos às realidades do país importador, as filiais das multinacionais procedem exatamente da mesma forma que a matriz inclusive –e sobretudo – quanto à propaganda e marketing. Investe-se na difusão de valores e hábitos de consumo dos países (ditos) desenvolvidos, completando, assim, o quadro da padronização cultural mundial sob o domínio hegemônico (em especial) da cultura norte-americana (LAYRARGUES, 1998, p. 172).

O desenvolvimento tecnológico é um dos vetores fundamentais do

crescimento econômico, em grande parte guiado pelo interesse privado por

obter benefício econômico a curto prazo (LUSTOSA, 2003). Particularmente no

setor agrícola, a difusão das técnicas existentes tem sido a principal fonte de

crescimento da sua produtividade nos países ditos subdesenvolvidos25. Ocorre

que a introdução de tecnologias também causou a degradação do meio

ambiente de trabalho rural.

À medida em que a economia passa a ser cada vez mais

industrializada, as interdependências entre as atividades rurais e a industria

dão novos contornos às funções da agricultura no desenvolvimento econômico.

Os vínculos de interdependência ampliam-se na proporção em que a

agricultura se torna absorvedora do progresso técnico e a indústria se adapta

às necessidades da agricultura, fornecendo-lhe insumos e adquirindo-se

produtos (SOUZA, 2005).

25

Como lembra Moraes (2000), os próprios termos ―desenvolvidos‖ e ―subdesenvolvidos‖, empregados nesse contexto, refletem a ideologia do padrão de progresso/desenvolvimento das sociedades industriais.

57

No setor rural brasileiro, o meio ambiente de trabalho agrícola

passou gradativamente por profundas mudanças, a partir de 1950, devido à

implementação de novas tecnologias na produção. Isso se refere à invenção e

disseminação de novas sementes, máquinas, agroquímicos e práticas que

permitiram, nas décadas de 1960 e 1970, um grande aumento na produção

agrícola em países considerados menos desenvolvidos. Como base dessas

transformações a intensiva utilização de sementes melhoradas (particularmente

sementes híbridas), insumos industriais (fertilizantes e agrotóxicos),

mecanização e diminuição do custo de manejo, bem como uso intensivo de

tecnologia no plantio, na irrigação, na colheita e no gerenciamento da produção

(SANTOS, 2006). A referida Revolução Verde, assim, propiciou um incremento

brutal na produção agrícola em países não industrializados, com destaque para

Brasil e Índia.

O Brasil, a partir da década de 1970, passou a desenvolver as

próprias tecnologias através de instituições privadas e governamentais, como a

Embrapa e universidades. Assim, nos anos de 1990, essa tecnologia foi

disseminada, provocando no país um imenso desenvolvimento agrícola, com

ampliação de sua fronteira agrícola, inclusive com avanços na incorporação do

cerrado e no aumento da produtividade. Chega o Brasil, então, a ser recordista

em produtividade de soja, milho e algodão, entre outros, consolidando-se no

país à era do agrobusiness (SANTOS, 2006).

Nesse processo, a agricultura se tornou uma atividade

profundamente relacionada ao capital e à indústria, com tecnologias avançadas

no sistema de produção visando ao aumento da produtividade, sempre na

busca do maior lucro.

(...) o processo de modernização da agropecuária (...) se consubstancia na mudança da base técnica da produção nacional que se dá no pós-Segunda Guerra, mediante a importação de tratores e fertilizantes, com o fim de incrementar a atividade da agropecuária. A mudança da base técnica da produção da agropecuária pressupõe introduzir novas culturas e/ou novos cultivares, e também transformar a agropecuária extensiva em agropecuária intensiva de base mecanizada (MONTEIRO, 2002, p. 90).

Na trajetória de um crescente processo de modernização agrícola,

o meio ambiente de trabalho rural passou, nas ultimas décadas, por profundas

58

mudanças no padrão tecnológico de produção agropecuária, as quais atingiram

diretamente trabalhadores/as rurais e a sociedade.

Importa salientar, no entanto, que as transformações ocasionadas

não foram somente negativas, já que algumas tecnologias trazem melhoria ao

ambiente de trabalho, nas que compreendem a segurança e proteção à saúde

do/a trabalhador/a. Porém, outras, quando usada de forma inadequada e sem

os devidos cuidados, causam danos imensos à saúde não só de

trabalhadores/as, mas também ao meio ambiente, em sentido amplo, como no

caso a utilização inadequada, na agricultura, de produtos químicos.

É impossível vislumbrar a realidade do trabalho sem a visualização

da atividade econômica, uma vez que o trabalho humano está presente em

todas as etapas do processo produtivo. Por outro lado, não há atividade

econômica sem influência no meio ambiente (PADILHA, 2002), sendo, nos dias

atuais, a preservação do meio ambiente geral, incluindo-se o meio ambiente

de trabalho, um imperativo de sobrevivência na Terra. Dessa forma, questiona-

se: como trabalhar, produzir e preservar o meio ambiente ao mesmo tempo?

Como manter um meio ambiente de trabalho equilibrado?

No âmbito rural, por exemplo, para produzir uma lavoura é

necessário derrubar a vegetação nativa, interferir no meio ambiente natural

com produtos químicos e máquinas, modificar geneticamente sementes para

que a planta se adapte ao meio, etc. Mas, se não se produzirem alimentos para

uma população em crescimento demográfico, como alimentá-la?

As respostas a essas questões talvez sejam um dos maiores

desafios do nosso século.

Uma das alternativas para minimizar os efeitos causados ao meio

ambiente pela atividade econômica é a busca do equilíbrio entre a interferência

no meio ambiente e sua efetiva preservação. Transportando esta idéia para o

meio ambiente de trabalho que, segundo PADILHA (2001) pode ser

compreendido pela inter-relação da força do trabalho humano (energia) e sua

atividade no plano econômico, através da produção (matéria), afetando o seu

meio (ecossistema), o que se deve mesmo buscar, nessa inter-relação, é o

equilíbrio.

Dessa forma, um meio ambiente de trabalho equilibrado deve

assegurar condições mínimas para uma razoável qualidade de vida de

59

trabalhadores/as e da sociedade porventura afetada pela sua, não se limitando

à relação obrigacional (patrão-empregado) nem ao espaço físico do

estabelecimento, porque se estende ao meio e população por ele atingidos.

Oliveira (1998) afirma que assim como homens e mulheres não buscam

apenas saúde no sentido estrito, mas também anseiam por qualidade de vida

e, trabalhadores/as não desejam somente ter higiene para desempenhar suas

funções, mas também qualidade de vida no trabalho.

Não é fácil avaliar o que seja qualidade de vida, pois, segundo

Vecchia (2005), esse conceito se relaciona à autoestima e ao bem-estar

pessoal e abrange uma série de aspectos, como a capacidade funcional, o

nível socioeconômico, o estado emocional, a interação social, a atividade

intelectual, o autocuidado, o suporte familiar, o próprio estado de saúde, a

situação dos valores culturais e éticos, a religiosidade, o estilo de vida, a

satisfação com o emprego ou com atividades diárias, o ambiente em que se

vive, etc. Trata-se, assim, de uma construção subjetiva dependente de fatores

socioculturais, da faixa etária e das aspirações individuais.

Assim, qualidade de vida é um termo empregado para descrever a

qualidade das condições de vida, levando em consideração fatores como a

saúde, a educação, o bem-estar físico, psicológico, emocional e mental, a

expectativa de vida, bem como outros elementos, como família, amigos,

emprego, etc. A OMS definiu qualidade de vida como ―a percepção do

indivíduo de sua posição na vida no contexto da cultura e sistemas de valores

nos quais ele vive e em relação aos seus objetivos, expectativas, padrões e

preocupações‖. Aliás, na tentativa de buscar um instrumento que lhe medisse,

a OMS criou um projeto multicêntrico que teve como resultado a elaboração do

WHOQOL-100, um questionário composto por 100 itens (WHOQOL GROUP,

1998).

Concebe-se, destarte, a qualidade de vida como individual, porém

alguns indicadores podem, em geral expressá-la em relação a um grupo.

Nesse sentido, avaliando-se as condições de saúde (física e mental), higiene e

segurança no trabalho, afere-se um aspecto geral da qualidade de vida no

meio ambiente de trabalho.

Isso leva a supor que um meio ambiente de trabalho rural

equilibrado deve estar fundado na perspectiva de um desenvolvimento

60

sustentável da agricultura, contemplando a conservação dos recursos naturais,

a utilização de tecnologias apropriadas e a viabilidade econômica e social.

3.2 Sobre a proteção legal do meio ambiente de trabalho

A proteção legal do meio ambiente de trabalho é o conjunto de

normas que regulamentam a ação do ser humano em relação a esse ambiente,

a fim de protegê-lo e às pessoas que nele convivem. Normas jurídicas são as

de um sistema que, em caso de violação, prevê, no final, uma sanção, isto é,

uma força organizada, especialmente uma pena ou uma execução (KELSEN,

2003).

No campo jurídico, existem três critérios de valoração das normas

jurídicas: o da justiça, o da validade e o da eficácia das normas.

Segundo Bobbio (2005), quanto à justiça, uma norma justa é aquela

que atinge aos valores últimos ou finais que inspiram um determinado

ordenamento jurídico, ou seja, o bem comum.

A validade expressa a existência da norma como regra jurídica. Para

saber se uma norma é válida, é necessário investigar três aspectos: 1) se a

autoridade de quem emanou tinha o poder legítimo para fazê-lo; 2) se não foi

ab-rogada; 3) se não é incompatível com outras normas do sistema. Já a

eficácia de uma norma jurídica se dá quando as pessoas a quem esta se dirige,

seguem-lhe os preceitos. O Brasil é um dos países mais avançados do mundo

em termos de legislação ambiental, o que também ocorre com relação ao meio

ambiente do trabalho (MELO, 2008).

A Constituição Federal de 1988, assim como todas as declarações

internacionais, consagram o direito mais fundamental de homens e mulheres: o

direito à vida. Porém, segundo a Constituição Federal, no artigo 225, essa vida

tem que ter qualidade e, para isto, é necessário assegurar trabalho decente e

em condições seguras e salubres, além de garantir a todos/as o direito ao meio

ambiente equilibrado.

O artigo 170 da Carta Magna diz que a ordem econômica deve se

fundar na valorização do trabalho e na livre iniciativa, assegurando a existência

digna, conforme os ditames da justiça social, observado como princípio a

61

defesa do meio ambiente (MELO, 2008), além de garantir o direito à saúde,

segundo o artigo 196. A Constituição garante ainda reparação dos prejuízos

sofridos pelo trabalhador, como o seguro contra acidente do trabalho, a

reparação pelo trabalho penoso, insalubre e perigoso (art. 7, inc. XXVIII) e o

direito à resposta proporcional ao agravo, sem dizer da indenização material,

moral ou à imagem (art. 5, V, X). Dessa forma, o meio ambiente de trabalho,

devido à sua importância, recebe proteção constitucional adequada, a qual

precisa, no entanto, sair do papel para a prática, para efetivar a garantia

desses direitos a trabalhadores/as.

No âmbito estadual, a Constituição do Piauí traz, no capítulo VII,

normas regulamentadoras sobre o meio ambiente e incumbências para a sua

efetiva preservação, garantindo a proteção ao meio ambiente de trabalho, e

saúde. O seu art. 203, parágrafo único, dispõe que:

Art. 203. A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantidos mediante políticas sociais e econômicas que visem à extinção dos riscos26 de doenças e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e aos serviços destinados a sua promoção, proteção e recuperação, com prioridade para as atividades preventivas e de vigilância epidemiológica. Parágrafo único – O direito à saúde pressupõe: I – condições dignas de trabalho e renda, saneamento, moradia, alimentação, educação, transporte e laser; II – respeito ao meio ambiente sadio e ao controle da poluição ambiental;

Na esfera das normas institucionais infraconstitucionais, destacam-

se a Lei de Política Nacional do Meio Ambiente (Lei n. 6.938/81), a

Consolidação das Leis Trabalhistas - CLT, Portarias e Normas

Regulamentadoras, Convenções da OIT e normas penais.

A Lei de Política Nacional do Meio Ambiente (Lei n. 6.938/81) tem

grande importância para o meio ambiente do trabalho, pois define a poluição

26

Risco é uma construção social para a qual concorrem tanto disciplinas científicas, quanto grupos e classes. Tal construção é sempre mediada por valores socioculturais. Constitui-se em atributo ambíguo, indeterminado, que aponta para liminaridades e virtualidades. Refere estado de incerteza de uma situação, e encontra-se presente entre dois pólos nos processos de vida de indivíduos ou grupos. Tal fenômeno encerra pode e saber no cerne de relações de natureza política, ideológica e mágico-religiosas que conformam práticas e representações distintas. Acidentes, doenças e mortes constituem momentos de ruptura e redefinição do risco (RANGEL, 2009). Para abordagens mais amplas da sociedade de risco ver Beck (1997), Giddens (1997), e Guivant (2001).

62

como a degradação da qualidade ambiental resultante da atividade que, direta

ou indiretamente, prejudiquem a saúde, a segurança e o bem estar da

população (art. 3, III), responsabilizando o poluidor. Saliente-se que, quando a

Lei se refere a meio ambiente, devem ser entendidos também o meio ambiente

de trabalho, e o meio ambiente natural, físico e cultural.

A CLT trata, no capítulo V, da segurança e medicina do trabalho

trazendo normas que, se efetivamente cumpridas, avançarão na prevenção do

meio ambiente de trabalho. O capítulo determina obrigações das empresas

para cumprir e fazer cumprir tais normas, fornecendo equipamentos de

proteção e orientando trabalhadores/as, sob pena se sanção proporcional à

gravidade do ato. A CLT também incumbe às DRTs a competência de

fiscalizarem e punirem, com multas, a empregadores que transgredirem as

normas ambientais laborais, podendo até interditá-las, dependendo da

gravidade da transgressão.

A CLT ainda delega ao Ministério do Trabalho (MTE) a

competência de editar normas regulamentadoras sobre segurança, medicina e

higiene no trabalho, como a Portaria 3.214/77 e várias Normas

Regulamentadoras (NRs) de uso diário nos ambientes de trabalho. Aliás a

Portaria 3.214/77 foi elaborada pelo MTE que, por meio de várias NRs (quadro

2), regulamentou o meio ambiente laboral no que diz respeito à segurança,

higiene e medicina do trabalho.

Essas normas regulamentadoras foram elaboradas de forma

tripartite, com participação do governo, trabalhadores e empregadores,

representando um avanço na melhoria das condições ambientais de trabalho e

a democratização das relações laborais (MELO, 2008). As NRs e NRR são de

responsabilidade da fiscalização do MTE, através das Superintendências e

Delegacias do Trabalho. As NRs em vigência são as seguintes:

63

NR 1 Disposições gerais

NR 2 Inspeção prévia

NR 3 Embargos ou interdição

NR 4 Serviços Especializados em Engenharia de Segurança e Medicina do Trabalho

NR 5 Comissão Interna de Prevenção de Acidentes (CIPA)

NR 6 Equipamentos de Proteção Individual (EPI)

NR7 Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional (PCMSO)

NR 8 Edificações

NR 9 Programa de Prevenção de Riscos Ambientais (PPRA)

NR 10 Instalações e serviços em eletricidade

NR 11 Transporte, movimentação, armazenagem e manuseio de materiais

NR 12 Máquinas e equipamentos

NR 13 Caldeiras e vasos de pressão

NR 14 Fornos

NR 15 Atividades e operações insalubres

NR 16 Atividades e operações perigosas

NR 17 Ergonomia

NR 18 Condições e Meio Ambiente de Trabalho na Industria de Construção

NR 19 Explosivos

NR 20 Líquidos, combustíveis e inflamáveis

NR 21 Trabalho a céu aberto

NR 22 Trabalhos subterrâneos

NR 23 Proteção contra incêndios

NR 24 Condições sanitárias e de conforto nos locais de trabalho

NR 25 Resíduos industriais

NR 26 Sinalização de segurança

NR 27 Registro de profissional de Técnico de Segurança do Trabalho no Ministério do Trabalho

NR 28 Fiscalização e penalidades

NR 29 Segurança e saúde no trabalho portuário

NR 30 Segurança e saúde no trabalho aquaviário

NR 31 Segurança e saúde no trabalho na agricultura, pecuária, silvicultura, exploração florestal e aqüicultura

NR 32 Segurança e saúde no trabalho em estabelecimentos de saúde

NR 33 Segurança e saúde no trabalho em espaços confinados

NRR 1 Disposições gerais

NRR 2 Serviços Especializados em Prevenção de Acidentes no Trabalho Rural (SEPATR)

NRR 3 Comissão Interna de Prevenção de Acidentes de Trabalho Rural (CIPATR)

NRR 4 Equipamentos de Proteção Individual – EPI

NRR 5 Produtos químicos

Quadro 2: Normas Regulamentadoras do ambiente laboral Fonte: MTE (2009)

No campo internacional também existem várias convenções da

Organização Internacional do Trabalho (OIT), ratificadas pelo Brasil, que tratam

de normas de prevenção do meio ambiente de trabalho, no sentido de garantir

saúde e segurança a trabalhadores/as (quadro 3).

64

Convenção 12 sobre indenização por acidente de trabalho, ratificada em 1957

Convenção 16 sobre o exame médico das crianças – trabalho marítimo – ratificada em 1936

Convenção 19 sobre a igualdade de tratamento nos acidentes de trabalho, ratificada em 1957

Convenção 42 sobre doenças profissionais, ratificada em 1936

Convenção 45 sobre trabalho subterrâneo de mulheres, ratificada em 1938

Convenção 81 sobre a inspeção do trabalho, ratificada em 1989

Convenção 113 sobre o exame médico dos pescadores, ratificada em 1965

Convenção 115 proteção contra radiações ionizantes, ratificada em 1967

Convenção 136 proteção contra os riscos de intoxicação pelo benzeno, ratificada em 1994

Convenção 139 prevenção e controle de riscos profissionais causados pela substâncias ou agentes cancerígenos, ratificada em 1991

Convenção 148 proteção dos trabalhadores contra os riscos profissionais devido à contaminação do ar, ao ruído e às vibrações no local de trabalho, ratificada em 1983

Convenção 152 segurança e higiene nos trabalhos portuários, ratificada em 1991

Convenção 155 segurança e higiene do trabalhador e do meio ambiente de trabalho em geral, em todas as áreas da atividade econômica, ratificada em 1993

Convenção 159 reabilitação profissional e emprego de pessoas deficientes, ratificada em 1991

Convenção 161 diretrizes para orientar os serviços de saúde e segurança no trabalho, ratificada em 1991

Convenção 162 utilização do asbesto como segurança, ratificada em 1991

Convenção 164 sobre a proteção da saúde e assistência médica aos trabalhadores marítimos, ratificada em 1998

Convenção 167 sobre saúde e segurança na construção, ratificada em 2007

Convenção 170 sobre produtos químicos, ratificada em 1998

Convenção 176 sobre segurança e saúde nas minas, ratificada em 2007

Quadro 3: Convenções Internacionais de prevenção do ambiente laboral Fonte: Melo (2008)

A normatização referente à saúde e segurança no trabalho prevê

maneiras de conviver e lidar com risco, saúde e segurança no ambiente

laboral. Assim, prescreve-se um conjunto de estratégias padronizadas, ou não,

no âmbito de normas e políticas de segurança às quais subjaz um conjunto de

saberes, representações, ideologias e práticas de saúde e segurança. As

estratégias padronizadas têm significado para gerentes e trabalhadore/as e

dizem respeito a: programa de segurança; formas de participação de

trabalhadore/as; normas e procedimentos de segurança; CIPA; códigos de

segurança no espaço e no tempo e nas atividades laborativas. Assim, a

política de segurança prevê formas de controle e disciplina de trabalhadore/as,

regulando os conflitos em segurança.. Por um lado, o discurso empresarial é

racionalizador e gerenciador dos riscos. Por outro, trabalhadore/as se

submetem ou não aos riscos, conforme interesses e capital sociocultural. As

normas e procedimentos de segurança funcionam, muitas vezes, na prática,

65

através de uma linguagem silenciosa que se revela em símbolos, cores,

etiquetas. São instrumentos que regulam três tipos de conflitos: técnicos de

segurança/trabalhadores; técnicos de segurança/gerências;

trabalhadores/gerências. (RANGEL, 2009)

Na esfera penal também há algumas disposições legais

relacionadas ao meio ambiente de trabalho, como o art. 132 do Código Penal

que define como crime o ato de expor trabalhadores/as a perigo direto e

iminente, além dos crimes de perigo comum, previstos nos artigos 250 a 259.

Aplicam-se também no campo laboral as penalidades por acidentes ocorridos

com trabalhadores/as, previstos nos artigos 121 a 129 do mesmo Código.

A Lei dos Crimes Ambientais tipifica esses crimes, com suas

respectivas penas, aplicáveis também ao meio ambiente de trabalho, sem dizer

que o § 2º do art. 19 da Lei 8.213/91 considera contravenção penal a falta de

cumprimento das Normas Regulamentadoras.

Cabe ainda destacar o importante papel das negociações coletivas

laborais na busca de implementação de ambientes de trabalho sadios e

seguros e, como consequência, o ajuizamento de dissídios coletivos perante a

Justiça do Trabalho para criar normas atinentes ou interpretar as já existentes,

como fonte de regulamentação infraconstitucional da prevenção dos riscos

ambientas no trabalho (MELO, 2008).

3.2.1 NR 31

No dia 4 de março de 2005, o MTE aprovou a Norma Reguladora n°

31, que trata da segurança e da saúde na agricultura, pecuária, silvicultura,

exploração florestal e aquicultura, com o objetivo de estabelecer preceitos a

serem observados no meio ambiente de trabalho rural.

A NR 31 foi elaborada de forma tripartite, com participação do poder

público, trabalhadores e empregadores, sendo fruto de muitas lutas para a

melhoria das condições de saúde, segurança, higiene e meio ambiente de

trabalho no campo.27 Em 2006, foram realizadas em todo o Brasil, 3.119

27

Segundo Ihering (2003), o objetivo do direito é a paz, e a luta é o meio para consegui-la. Pode-se assim afirmar, sem receio, que o amor que um povo dedica a seu direito, o qual defende com energia, se determina pela intensidade do esforço e da luta que esse bem lhe

66

autuações por desrespeito às exigências estabelecidas na NR 31, contra 5.837

em 2007, de acordo com dados da MTE. Dentre essas autuações, as principais

irregularidades encontradas se relacionam ao não fornecimento dos EPI’s e à

não exigência do seu uso pelo empregador, à não disponibilização de

instalações sanitárias nas frentes de trabalho, à não realização de exame

médico admissional antes do obreiro assumir a atividade, à falta de água

potável e fresca nos locais de trabalho, à ausência de locais adequados para a

realização das refeições e à inexistência de material próprio para os primeiros

socorros.

Preceitua a NR 31 que cabe aos empregadores a garantia das

condições adequadas de trabalho, higiene e conforto, e a avaliação dos riscos

e das causas que ocasionam acidentes e doenças. Segundo a mencionada

NR, essas avaliações devem ser feitas com a participação de uma Comissão

Interna de Prevenção de Acidentes no Trabalho Rural (CIPART), criada para

esse fim. Estipula, ainda a NR que cabe ao empregador com mais de cinquenta

empregados estruturar um Serviço Especializado em Segurança e Saúde no

Trabalho Rural (SESTR), formado por engenheiros, médicos, enfermeiros,

técnicos e auxiliares de enfermagem do trabalho.

Por conseguinte, diante da variedade de exigências, um tanto

inovadoras, trazidas pela NR-31, resta ao empregador rural ou equiparado

cumprir aos regramentos para garantir a boa saúde dos seus empregados.

Dentre as providências mais importantes a serem tomadas, destacam-se as

seguintes:

a) realizar avaliações dos riscos para a segurança e a saúde dos

trabalhadores e, com base nos resultados obtidos, adotar as medidas de

prevenção e proteção adequadas;

b) analisar, com a participação da Comissão Interna de Prevenção

de Acidentes no Trabalho Rural – CIPATR, as causas dos acidentes e das

doenças decorrentes do trabalho, buscando prevenir e eliminar as

possibilidades de novas ocorrências;

custou. Os laços mais fortes entre um povo e seu respectivo direito não se formam pelo hábito, mas pelo sacrifício.

67

c) assegurar que sejam fornecidas aos trabalhadores instruções

compreensíveis em matéria de segurança e saúde, bem como toda orientação

e supervisão necessárias ao trabalho seguro;

d) adotar medidas de avaliação e gestão dos riscos, com a seguinte

ordem de prioridade: 1º) eliminação dos riscos; 2º) controle de riscos na fonte;

3º) redução do risco ao mínimo, inclusive através de capacitação; 4º) adoção

de medidas de proteção pessoal, no caso de persistirem os riscos.

A prioridade, pois, é a eliminação dos riscos à saúde do empregado,

o que não significa o simples fornecimento de EPI’s, que deve ser a última

medida a ser tomada para a neutralização deles. Tal equipamento só deve ser

usado após o empregador reduzir ao mínimo possível, ou eliminar, os riscos à

saúde do obreiro.

Necessário é verificar a importância de os produtores rurais do setor

observarem a NR 31. Cabe aqui destacar que as penalidades administrativas

pelo não cumprimento das normas estipuladas vão da possibilidade da

cominação de pesadas multas, passando pelo embargo ou interdição do

estabelecimento em situações mais graves, a aplicação de sanções penais.

Vale salientar que a NR 31 surgiu para ser um divisor de águas na

realidade do trabalho rural no Brasil, trazendo inúmeros benefícios para os

trabalhadores rurais.

3.3 Saúde e segurança como dimensões da dignidade de

trabalhadores/as.

A Constituição Federal de 1988 se erigiu sobre o princípio que

fundamenta todo o ordenamento jurídico brasileiro, a dignidade da pessoa

humana. Esse princípio concebe a pessoa humana como dotada de direitos

essenciais, sem a realização dos mesmos, não terá força suficiente para a

conformação de sua personalidade e o seu pleno desenvolvimento como

pessoa (SILVA, 2008, p. 70). Dessa forma, o simples fato de a pessoa existir

confere a ela direitos que lhe garantam um mínimo existencial.

Por ter a lei caráter abstrato, torna-se extremamente difícil definir o

que é efetivamente o âmbito de proteção da dignidade da pessoa humana. Por

68

outro lado, essa abstração contém, de forma ampla, a ideia indistinta do

humanismo como valor central das sociedades democráticas. Mas se entende,

no Brasil, que o mínimo existencial garantidor da dignidade da pessoa humana

incluem moradia, educação, formação profissional e saúde, proteção da moral

e imagem, de sorte que os direitos fundamentais elencados na Constituição

Federal se tornam a expressão da proteção dessa dignidade.

O princípio da centralidade da ordem político-social no ser humano é a conquista cultural recentíssima, atada ao desenvolvimento da democracia na história dos últimos duzentos anos e efetivamente manifestada apenas a partir de meados do século XX. A noção de que o valor central das sociedades é a pessoa humana, em sua singeleza e independente de sua riqueza ou status social, é um dos avanços jurídicos mais notáveis na história juspolítica da humanidade. É disso que trata o princípio da dignidade da pessoa humana, alçado, hoje, ao núcleo dos sistemas constitucionais mais democráticos. Nesta posição, tornou-se, de fato, o epicentro de todo o ordenamento jurídico (DELGADO, 2001, pág. 119).

A dignidade humana é, com isto, um princípio de caráter absoluto,

constituindo a base ética norteadora de toda a vida econômica e social. Como

afirma Oliveira (1998), a dignificação do trabalho inverte a ordem de

apreciação, colocando o homem como valor primeiro. Nesse sentido, tomando

a saúde como um aspecto de dignidade humana, o direito a ela é um direito

humano inerente a todo/a cidadão/ã.

No âmbito jurídico brasileiro, somente a Constituição Federal de

1988 positivou o direito à saúde como um direito humano fundamental. As

Cartas anteriores não a elevavam à condição de direito fundamental do

homem, contemplando a saúde apenas como norma de organização

administrativa.

Por muito tempo a saúde foi entendida como o estado de quem se

encontra sem doença. Somente a partir da criação da Organização Mundial de

Saúde - OMS pela Organização das Nações Unidas – ONU, na década de

1940, houve um avanço no conceito de saúde, trazido na sua carta de

fundação: a saúde é um estado de completo bem-estar físico, mental e social,

e não somente a ausência de afecções e enfermidades (SILVA, 2008).

Esse conceito de saúde passou por mudanças e, na década de 90,

foi promulgada a Lei 8.090/90 (Lei Orgânica da Saúde – LOS), que, no § 3º do

artigo 2º, determina que ―a saúde tem como determinantes e condicionantes,

entre outros, a alimentação, a moradia, o saneamento básico, o meio ambiente,

o trabalho, a renda, o transporte, o lazer e o acesso a bens e serviços

69

essenciais‖. A mesma lei dispõe no § 3º do artigo 6º que a saúde do

trabalhador é ―um conjunto de atividades que se destina, através de ações de

vigilância epidemiológica e vigilância sanitária, à promoção e proteção da

saúde dos trabalhadores, assim como visa à recuperação e reabilitação dos

trabalhadores submetidos aos riscos e agravos advindos das condições de

trabalho‖.

Dessa forma, o direito à saúde significa o direito à integridade física

e funcional (inclusive mental), a uma alimentação balanceada, ao vestuário, à

moradia, ao saneamento básico, à proteção do meio ambiente, entre outros

(SILVA, 2008). A saúde do trabalhador é uma espécie da saúde geral e sua

proteção envolve adoção de medidas de segurança e higiene no trabalho, bem

como proteção do meio ambiente de trabalho laboral. A propósito,

o elemento saúde no trabalho depende de uma série de condicionantes, não sendo entendido somente com a ausência de doenças e outros agravos. O ponto de partida deve ser o ―ambiente‖ onde estão estabelecidas as relações de trabalho, ocasionando situações que afetam e interferem com o trabalhador (ROCHA, 2002, p. 128)

A saúde do trabalhador rural deve orientar-se pela necessidade de,

além da atenção dispensada ao paciente que procura pelo serviço, promoção

de mudanças no processo de trabalho responsável pelo adoecimento, para que

o trabalhador continue trabalhando sem risco de uma recaída ou agravamento

da situação ou, ainda, evitar que outros venham a adoecer. Segundo Dias

(2006), a atenção à saúde do trabalhador requer uma atuação multiprofissional

intersetorial, inter e transdisciplinar de maneira a contemplar, em toda a sua

complexidade, a relação trabalho-saúde-doença.

No setor rural, onde se pratica a agricultura moderna, mecanizada e

voltada para a produção intensiva, têm-se duas situações: a implementação de

novas tecnologias e novas formas de organização de trabalho que intensificam

os riscos à saúde de trabalhadores/as rurais e a adoção de tecnologias

dirigidas à segurança do/a trabalhador/a rural, protegendo-o dos riscos a que

está exposto/a no seu exercício laboral.

Os fatores de riscos e possíveis agravos ou danos para a saúde de

trabalhadores/as relacionados ao trabalho rural podem ser definidas, segundo

Dias (2006), da forma como apresentada a seguir (quadro 4):

70

Tipo de risco Fator de risco Situação de trabalho Agravo ou dano para a saúde

Físico Calor Trabalho ao ar livre, sob radiação solar, junto a máquinas, motores e caldeiras; dificuldades para reposição hídrica por acesso a água ou barreiras culturais

Estresse térmico, câimbras, síncope pelo calor, fadiga pelo calor, insolação.

Frio, vento e chuva Trabalho ao ar livre Afecções de vias aéreas superiores, resfriados

Raios (descargas elétricas) Trabalho em campo aberto por ocasião de tempestades Choque elétrico

Vibração Operação de máquinas agrícolas, tratores, serra elétrica, produzindo vibração de corpo inteiro ou vibração localizada, particularmente em mãos e braços

Lombalgia, doença vascular periférica, doença osteo-muscular (DORT)

Ruído Trabalho com máquinas: tratores, colhedeiras, colocação de ferradura em animais.

Perda de audição e outros efeitos extra-auditivos decorrentes da exposição ao ruído, como distúrbio do sono, nervosismo, alteração gastrointestinais.

Radiação solar Trabalho em campo aberto por longos períodos, com exposição a radiação ultra-violeta.

Câncer

Químicos Agentes químicos diversos, fertilizantes e adubos, agrotóxicos.

Aplicação de adubos e fertilizantes, preparo de misturas e aplicação de agrotóxicos, tratamento e armazenamento de grãos,. O armazenamento e manuseio de excremento de animais podem expor o trabalhador a ácido sulfídrico e amônia. Carcinicultura

Dermatite de contato, rinites e conjuntivite, intoxicações por agrotóxicos, doenças respiratórias obstrutiva, bronquites, asma ocupacional, doença pulmonar restritiva, doença pulmonar interstical com fibrose, câncer, doença neurológica, alterações de humor e do comportamento, alterações endócrinas, alterações reprodutivas.

Biológicos Bactérias, vírus, fungos e ácaros. Picadas de animais peçonhentos.

Preparo e manuseio de rações para animais; feno elaborado, ração em decomposição, fibras de cana de açúcar, preparo de cogumelos, tratamento de aves em confinamento. Manejo de animais. Trabalho de preparo de solos, limpeza de pastos, capina e colheita.

Rinites, conjuntivite, doença respiratória obstrutiva, asma ocupacional, ―Pulmão do Agricultor‖ ou hipersensibilidade ou alveolite alérgica, febre Q, brucelose, psitaciose, tularemia, tuberculose bovina ou aviária, leptospirose, histoplasmose, raiva, picadas de cobras e aranhas, queimaduras por lagartas.

Mecânicos Ferramentas manuais cortantes, pesadas, pontiagudas

Uso de facão, foice, machado, serra, enxada, martelo, ferramentas inadequadas, adaptadas e em mau estado de conservação.

Lesões agudas: acidentes do trabalho com cortes, esmagamento, etc. Lesões crônicas: hiperceratose

Máquinas e implementos agrícolas

Acidentes de trabalho, lombalgia, DORT

Organização do Trabalho

Relação de trabalho, precarização, sazonalidade da produção que impõe sobrecarga de trabalho

Trabalho distante do domicilio do trabalhador, alojamento precário, com más condições de saneamento e conforto. Alimentação inadequada, longas jornadas de trabalho, sob forte pressão de tempo. Relações de trabalho precárias e rigidamente hierarquizadas.

Sofrimento mental, distúrbio do sono e de humor, fadiga, DORT

Quadro 4: Tipos e fatores de risco e suas conseqüências no ambiente laboral Fonte: Dias (2006, pág. 17-18)

71

Já as tecnologias que visam proteger trabalhadores/as dos riscos a

que estão expostos/as compreendem equipamentos de proteção individual

(EPIs), máquinas com cabine fechada e climatizadas - que impedem a entrada

de produtos químicos utilizados na lavoura, e proporcionam maior conforto ao

trabalhador, pulverizadores, também com cabines fechadas, climatizadas e

com filtro de carvão ativado que impede a passagem do agrotóxico para dentro

da cabine, etc. Mas, além do direito à saúde no trabalho, o/a trabalhador/a rural

também tem direito à segurança no trabalho.

O campo da segurança do trabalho constitui um conjunto de ciências

e tecnologias que visam à proteção de trabalhadores/as no seu local de

trabalho, no que se refere à questão da consciência e da higiene laboral, tendo

como objetivo básico a prevenção de acidentes. Fala-se de uma área de

engenharia e de medicina do trabalho cuja meta é identificar, avaliar e controlar

situações de risco, proporcionando um ambiente de trabalho mais seguro e

saúdavel para as pessoas.

A segurança do trabalho estuda diversas disciplinas como

introdução à segurança, higiene e medicina do trabalho, prevenção e controle

de riscos em máquinas, equipamentos e instalações, psicologia na engenharia

de segurança, comunicação e treinamento, administração aplicada à

engenharia de segurança, o ambiente e as doenças do trabalho, higiene do

trabalho, metodologia de pesquisa, legislação, normas técnicas,

responsabilidade civil e criminal, perícias, proteção do meio ambiente,

ergonomia e iluminação, proteção contra Incêndios e explosões e gerência de

riscos. Ademais, o quadro de segurança do trabalho de uma empresa compõe-

se de uma equipe multidisciplinar composta por técnico de Segurança do

trabalho, engenheiro de segurança do trabalho, médico do trabalho e

enfermeiro do trabalho, profissionais que formam o Serviço Especializado em

Engenharia de Segurança e Medicina do Trabalho - SESMT. Por seu turno,

os/as empregados/as de uma empresa constituem a Comissão Interna de

Prevenção de Acidentes - CIPA, que busca a prevenção de acidentes e

doenças decorrentes do trabalho de modo a torná-lo permanentemente

compatível com a preservação da vida e a promoção da saúde do/a

trabalhador/a.

72

No Brasil, um dos instrumentos de gestão da segurança do trabalho

é o SESMT, previsto na legislação trabalhista brasileira e regulamentado em

uma portaria do MTE, por intermédio da Norma Regulamentadora nº 4 (NR-4),

que estabelece as atribuições do serviço e determina a sua composição de

acordo com o grau de risco da atividade da empresa e a quantidade de

empregados. Os profissionais que podem integrar o SESMT são os seguintes:

• Auxiliar de enfermagem do trabalho

• Enfermeiro do trabalho

• Engenheiro de segurança do trabalho

• Médico do trabalho

• Técnico de segurança do trabalho

Destacam-se entre as principais atividades da Segurança do

Trabalho a prevenção de acidentes, a promoção da saúde e a prevenção de

incêndios. Assim, a segurança no trabalho é um aspecto de suma importância

para garantir a diminuição dos riscos inerentes à atividade laboral na

agricultura, no âmbito da concepção institucional brasileira, de promoção de

dignidade humana.

3.4 Do meio ambiente de trabalho rural em empresas agropecuárias do

cerrado piauiense.

Como visto no capítulo I desta dissertação, o processo de

incorporação das chapadas do sudoeste piauiense pela moderna agricultura

do complexo carnes/grãos promove mudanças significativas na região.

Segundo relato do ex-presidente da DRT, registrado em Moraes

(2000), o meio ambiente de trabalho em empresas agropecuárias do cerrado

piauiense foi inóspito nos inícios desse processo, vindo a apresentar melhorias

a partir da luta dos trabalhadores, com apoio do MTE:

Olha, o movimento sindical, ele não se encaixa nem tão só nessa linha [defesa do trabalhador assalariado]. É porque o movimento sindical, ele vem para defender o trabalhador assalariado, o aposentado, o agricultor familiar, o vaqueiro, o pequeno garimpeiro. Sim, mas sem dúvida alguma, ele foi provocado mesmo, ele foi nascido da situação, até digamos assim, a situação de miséria, que a gente vivia no nosso meio [hoje] melhorou um pouco, pra nossa compreensão melhorou

73

um pouquinho, pra compreensão de quem vivia lá dentro mesmo, quem tinha aquela convivência que melhorou cem por cento. Porque ninguém tinha a carteira assinada, ninguém [trabalhadores] tinha [nos locais de trabalho] sequer um tanque para depositar água de beber. Tinha que ser numa lona, num buraco, assim: passava muito barro molhado, batia e deixava ele secar e depois botava água pra ficar ali, aquele barreiro, o famoso barreiro. Então a gente obrigou que os empresários comprassem pelo menos caixa d’água, registrassem as pessoas empregadas lá, e que depositassem o Fundo de garantia, o PIS outras coisas assim. É, o essencial mesmo, é o essencial que tinha que ter. A gente, em noventa e três [1993], a gente forçou tanto pela pressão dos empregados que tava pressionando o sindicato, a gente forçou tanto a barra..., Teve. Foi comprovado. O Ministério do Trabalho veio e comprovou juntamente com a Polícia federal. Nós, o Ministério do trabalho, a Policia federal, o Sindicato passamos cinqüenta e quatro dias visitando todas as fazendas do cerrado, de Uruçuí a Bom Jesus, todas as empresas que tem aqui a gente visitou e foi comprovado, e aí, os empregadores acharam que deviam chamar todos: a categoria deles, a nossa e sentar pra discutir, porque, até aí, ninguém nunca tinha visto falar que trabalhador falava com empregador! Aí eles acharam que tavam sendo notificados pelo Ministério do Trabalho e que deveria chamar a categoria pra sentar e conversar. Aí a gente sentou e até que fez uma convenção28. A gente não fez um acordo [coletivo] NE. E, por parte deles, foi a primeira vez que fomos reconhecidos como trabalhadores com direitos. Em noventa e três. É muito recente (F. J. S., ex presidente do STR/Uruçuí. Acampamento Saponga. In MORAES, 2000, p. 285-286)

Desde então, o MTE, vem atuando na região, através de

fiscalizações e medidas judiciais, o que contribuiu para que não haja retroação

na melhoria do meio ambiente de trabalho.

A análise de conteúdo das entrevistas, as observações de campo e

os registros fotográficos tornaram possível descrever o meio ambiente de

trabalho rural em propriedades agrícolas do cerrado piauiense, à luz do que

normatizam os dispositivos legais concernentes ao termo29. A propósito, a NR

31, na seção 23.1, dispõe que o empregador rural deverá disponibilizar,

obrigatoriamente, onde houver trabalhadores/as alojados/as, áreas de vivência

com instalações sanitárias, locais para refeição, alojamentos (quando houver

permanência de trabalhadores/as no estabelecimento nos períodos entre as

28

A convenção coletiva de trabalho do setor graneleiro do Piauí, em vigor, é a de 2009-2011 (anexo 3). 29

Como visto neste capítulo, a eficácia da norma jurídica se verifica quando as pessoas aceitam e praticam os preceitos ditados na norma. Assim, nesta seção, se aborda a eficácia da NR 31 nas empresas agropecuárias do cerrado piauiense

74

jornadas de trabalho), lugar adequado para preparo de alimentos e lavanderias.

Essas áreas de vivência devem ter condições adequadas de conservação,

asseio e higiene, redes de alvenaria, madeira ou material equivalente, piso

cimentado com madeira ou material equivalente, cobertura contra as

intempéries, iluminação e ventilação adequadas (NR 31,23.2.)

Com base nessas determinações foram analisadas, nas fazendas

visitadas (Brasil Agrícola, Canel, Cimpar, Condomínio União 2000, Itália e

Progresso), as condições de alojamentos, instalações sanitárias, refeitórios,

cozinhas, lavanderias, áreas de convivência, lazer, transporte e demais

estruturas das propriedades, bem como o oferecimento gratuito de EPIs e as

medidas de proteção a trabalhadores/as e prevenção de acidentes de trabalho

adotadas.

3.4.1 Alojamentos

A NR 31 define o padrão de alojamentos a que os estabelecimentos

rurais devem se adequar.

31.23.5.130 Os alojamentos devem: a) ter camas com colchão, separadas por no mínimo um metro, sendo permitido o uso de beliches, limitados a duas camas na mesma vertical, com espaço livre mínimo de cento e dez centímetros acima do colchão; b) ter armários individuais para guarda de objetos pessoais; c) ter portas e janelas capazes de oferecer boas condições de vedação e segurança; d) ter recipientes para coleta de lixo; e) ser separados por sexo.

Todas as fazendas visitadas possuem alojamentos (fig. 6 e 7) em

conformidade com a NR 31(algumas com qualidades muito acima das

exigências legais), o mesmo se dizendo dos alojamentos femininos separados

dos masculinos. Observou-se que os alojamentos são feitos de tijolos, cobertos

com telhas e com piso de cerâmica, além de serem limpos e oferecerem

conforto aos/as trabalhadores/as

30 Essa numeração se refere à separação de seções e temas da NR 31.

75

Figura 6: Fotografia do alojamento da Faz. Figura 7: Fotografia do alojamento da Brasil Agrícola, em 09/02/2009 Faz. Canel com presença de trabalha- Fonte: Reis (2009) dor, em 10/02/2009 Fonte: Reis (2009)

As camas são beliches de ferro, madeira ou feitas de cimento (fig. 8

e 9), com colchão. Os empregados podem optar por dormir em cama ou rede,

de acordo com a preferência de cada um, sendo elas separadas por

espaçamento de um metro.

Figura 8: Fotografia do alojamento da Figura 9: Fotografia do alojamento da Faz. Progresso, em 02/05/2009 Itália, em 05/02/2009 Fonte: Reis (2009) Fonte: Reis (2009)

Das seis fazendas visitadas, constatou-se que quatro possuem

empregados e empregadas exclusivamente para efetuarem a higienização de

alojamentos. Nas outras duas, a limpeza é feita pelos próprios empregados que

utilizam os alojamentos. Observou-se também que o uso do alojamento não é

descontado no salário de empregados/as.

3.4.2 Instalações sanitárias

A NR 31 estabelece o padrão de instalações sanitárias.

31.23.3.1 As instalações sanitárias devem ser constituídas de:

76

a) lavatório na proporção de uma unidade para cada grupo de vinte trabalhadores ou fração; b) vaso sanitário na proporção de uma unidade para cada grupo de vinte trabalhadores ou fração; c) mictório na proporção de uma unidade para cada grupo de dez trabalhadores ou fração; d) chuveiro na proporção de uma unidade para cada grupo de dez trabalhadores ou fração. 31.23.3.1.1 No mictório tipo calha, cada segmento de sessenta centímetros deve corresponder a um mictório tipo cuba. 31.23.3.2 As instalações sanitárias devem: a) ter portas de acesso que impeçam o devassamento e ser construídas de modo a manter o resguardo conveniente; b) ser separadas por sexo; c) estar situadas em locais de fácil e seguro acesso; d) dispor de água limpa e papel higiênico; e) estar ligadas a sistema de esgoto, fossa séptica ou sistema equivalente; f) possuir recipiente para coleta de lixo. 31.23.3.3 A água para banho deve ser disponibilizada em conformidade com os usos e costumes da região ou na forma estabelecida em convenção ou acordo coletivo.

Observou-se, nas seis fazendas visitadas durante a pesquisa, que

as instalações sanitárias são adequados, segundo as exigências da NR 31, e

encontram-se em boas condições de higiene (figs.10 a 13). Os banheiros,

assim como os alojamentos, são construídos de tijolos, cobertos com telhas,

com alguns revestidos por azulejos e pisos de cerâmica. São equipados com

vaso sanitário, chuveiros, mictórios, pias e espelhos, além de disponibilizarem

papel higiênico. Todas as propriedades contam com empregados exclusivos

para efetuarem a higienização dos banheiros

Figura 10: Fotografia do banheiro da Faz. Figura 11: Fotografia do banheiro da Canel, em 10/02/2009 Faz. Itália, em 05/02/2009 Fonte: Reis (2009) Fonte: Reis (2009)

77

Figura 12: Fotografia do banheiro da Faz Figura 13: Fotografia do banheiro da Itália, em 05/02/2009 Faz. Progresso, em 02/05/2009 Fonte: Reis (2009) Fonte: Reis (2009)

A NR 31 também estabelece que nas frentes de trabalho, devem ser

disponibilizadas instalações sanitárias fixas ou móveis compostas de vasos

sanitários e lavatórios, na proporção de um conjunto para cada grupo de

quarenta trabalhadores ou fração, atendidos os requisitos do item 31.23.3.2,

sendo permitida a utilização de fossa seca. (31.23.3.4). Porém, no trabalho de

campo de pesquisa observou-se que, das três fazendas visitadas que têm mais

de quarenta funcionários (Fazenda Canel, Itália e Progresso), somente uma, a

Canel, atende a esse requisito.

3.4.3 Refeitório

A NR 31 estabelece o padrão para os locais de refeição.

31.23.4.1 Os locais para refeição devem atender aos seguintes requisitos: a) boas condições de higiene e conforto; b) capacidade para atender a todos os trabalhadores; c) água limpa para higienização; d) mesas com tampos lisos e laváveis; e) assentos em número suficiente; f) água potável, em condições higiênicas; g) depósitos de lixo, com tampas. 31.23.4.2 Em todo estabelecimento rural deve haver local ou recipiente para a guarda e conservação de refeições, em condições higiênicas, independentemente do número de trabalhadores.

Constatou-se, em todas as fazendas visitadas, que os refeitórios são

limpos e organizados (figs. 14 a 17).

78

Figura 14: Fotografia do refeitório da Figura 15: Fotografia do refeitório da Faz. Faz Progresso, em 02/05/2009 Itália, em 05/02/2009 Fonte: Reis (2009) Fonte: Reis (2009)

Figura 16: Fotografia do refeitório da Faz. Figura 17: Fotografia do refeitório da Cimpar com presença de trabalhadores, Faz. Canel, em 10/02/2009 em 09/02/2009 Fonte: Reis (2009) Fonte: Reis (2009)

As fazendas utilizam o sistema self-service e oferecem aos

trabalhadores, no almoço e no jantar, salada, arroz, feijão, macarrão, carne de

gado, frango ou porco, farofa e suco, além de, no café da manhã, pão, cuz-cuz,

bolo, leite e café, sendo a qualidade da comida elogiada pelos próprios

trabalhadores, por ocasião das entrevistas.

Observou-se ainda, em algumas fazendas, como Progresso e Canel,

que os proprietários e administradores costumam fazem suas refeições no

refeitório, junto com trabalhadores/as, obedecendo à ordem da fila.

Assim como o alojamento, a alimentação não é descontada no

salário dos trabalhadores, conforme acordado em Convenção Coletiva de

Trabalho. Observou-se também que três das fazendas pesquisadas (Canel,

Progresso e Itália), possuem orientação de nutricionista para formular o

cardápio.

79

A NR 31 estabelece que nas frentes de trabalho devem ser

disponibilizados abrigos, fixos ou móveis, que protejam os trabalhadores contra

as intempéries, durante as refeições. Porém, somente uma das fazendas

visitadas, a Canel, dispõe desse tipo de abrigo; nas demais, trabalhadores/as

relataram que almoçam dentro ou sob as próprias máquinas ou em alguma

sombra.

A NR 31 igualmente dispõe sobre os locais para o preparo das

refeições:

31.23.6.1 Os locais para preparo de refeições devem ser dotados de lavatórios, sistema de coleta de lixo e instalações sanitárias exclusivas para o pessoal que manipula alimentos. 31.23.6.2 Os locais para preparo de refeições não podem ter ligação direta com os alojamentos.

As fazendas pesquisadas possuem cozinhas equipadas com pias,

água canalizada, filtros, fogões, geladeiras e freezers para armazenar os

alimentos perecíveis, além de despensas para guardar os não perecíveis (figs.

18 a 21).

Figura 18: Fotografia da cozinha da Faz. Figura 19: Fotografia da cozinha da Faz. Canel com presença de cozinheiras, em Progresso com presença de cozinheiro, 10/02/2009 em 02/05/2009 Fonte: Reis (2009) Fonte: Reis (2009)

80

Figura 20: Fotografia da cozinha da Faz. Figura 21: Fotografia da cozinha da Faz. Cimpar com presença de cozinheira, Itália, em 05/02/2009 em 09/02/2009 Fonte: Reis (2009) Fonte: Reis (2009)

O ambiente das cozinhas é higienizado pelos/as cozinheiros/as e por

funcionários que trabalham exclusivamente na limpeza das instalações das

propriedades.

3.4.4 Lazer

A NR 31 não dispõe sobre o lazer para trabalhadores/as, porém o

parágrafo 3º do artigo 2º da Lei Orgânica da Saúde (LOS – Lei n. 8080 de

1990) prescreve que a saúde tem como determinantes e condicionantes, entre

outros, a alimentação, a moradia, o saneamento básico, o meio ambiente, o

trabalho, a renda, a educação, o transporte, o lazer e o acesso a bens e

serviços essenciais. Assim, um dos aspectos relacionados à saúde de

trabalhadores/as aponta para opções de lazer.

No que tange a lazer de funcinários/as, constatou-se que todas as

fazendas oferecem algumas opções, como campo de futebol, sala de televisão,

sala de jogos (dominó, cartas e sinuca) (figs. 22 a 25). Os horários para assistir

televisão e para jogos são sempre depois do jantar (geralmente às dezoito

horas). Os jogos de futebol nas fazendas em que o campo não tem iluminação,

ocorrem nos finais de semana e nos dias de folga dos trabalhadores, mas

naquelas com campo iluminado se dão depois do jantar.

81

Figura 22: Fotografia do campo de futebol Figura 23: Fotografia da sala de televi- da Faz. Cimpar, em 09/02/2009 são da faz. Cimpar com presença de Fonte: Reis (2009) trabalhador, em 09/02/2009 Fonte: Reis (2009)

Figura 24: Fotografia da sala de televisão Figura 25: Fotografia da mesa de sinuca. da Faz. Progresso, em 02/05/2009 da Faz. Brasil Agrícola, em 09/02/2009 Fonte: Reis (2009) Fonte: Reis (2009)

3.4.5 Manutenção das máquinas e equipamentos

A NR 31 não dispõe sobre a manutenção de máquinas e

equipamentos.

Tal manutenção, nas fazendas visitadas, é feita através de serviços

de mecânico próprio ou da cidade, além da assistência técnica oferecida pelas

empresas revendedoras de máquinas. Antes das épocas de plantio e colheita,

as máquinas são submetidas à revisão (figs. 26 e 27), mas em razão da

distância da região das fábricas, existe a dificuldade de se acharem peças para

reparos e consertos. Como elas demoram muitos dias para chegar ao local e,

na pressa de se consertar uma máquina, ocorrem reparos improvisados, o que

potencializa o risco de acidentes de trabalho.

82

Figura 26: Fotografia do galpão de Figura 27: Fotografia das máquinas em máquinas da Faz Itália, em 05/02/2009 manutenção da Faz Canel com presença de Fonte: Reis (2009) trabalhadores, em 10/02/2009 Fonte: Reis (2009)

3.4.6 Depósito de agrotóxicos

A NR 31 estabelece critérios para a armazenagem de agrotóxicos:

31.8.16 É vedada a armazenagem de agrotóxicos, adjuvantes e produtos afins a céu aberto. 31.8.17 As edificações destinadas ao armazenamento de agrotóxicos, adjuvantes e produtos afins devem: a) ter paredes e cobertura resistentes; b) ter acesso restrito aos trabalhadores devidamente capacitados a manusear os referidos produtos; c) possuir ventilação, comunicando-se exclusivamente com o exterior e dotada de proteção que não permita o acesso de animais; d) ter afixadas placas ou cartazes com símbolos de perigo; e) estar situadas a mais de trinta metros das habitações e locais onde são conservados ou consumidos alimentos, medicamentos ou outros materiais, e de fontes de água; f) possibilitar limpeza e descontaminação. 31.8.18 O armazenamento deve obedecer, as normas da legislação vigente, as especificações do fabricante constantes dos rótulos e bulas, e as seguintes recomendações básicas: a) as embalagens devem ser colocadas sobre estrados, evitando contato com o piso, com as pilhas estáveis e afastadas das paredes e do teto; b) os produtos inflamáveis serão mantidos em local ventilado, protegido contra centelhas e outras fontes de combustão.

Constatou-se que todas as fazendas visitadas possuem o depósito

de agrotóxicos de acordo com a NR 31, com estrados, fechados com cadeado

e a sinalização de perigo (fig. 28, 29 e 30), destacando-se o de uma delas, a

Canel, que além de estar em conformidade com a NR 31 dispõe de banheiros

com chuveiros, vasos sanitários e pia exclusivamente para a higienização dos

83

funcionários que trabalham com esses produtos (fig. 31), sendo a água

utilizada nessa higienização armazenada em fossa de concreto separada da

comum. Em todas as fazendas visitadas, informou-se que, após o uso dos

agroquímicos, efetuam a perfuração das embalagens, fazem a tríplice lavagem

e as enviam para o posto de coleta de embalagens de agroquímicos

localizados em Bom Jesus—PI e Balsas-MA.

Figura 28: Fotografia do depósito de agro- Figura 29: Interior do depósito de agro- tóxicos da Faz Canel, em 10/02/2009 tóxicos da Faz. Canel, em 10/02/2009 Fonte: Reis (2009) Fonte: Reis (2009)

Figura 30: fotografia do depósito de agrotó- Figura 31: Fotografia do local para higie- xicos da . Faz. Itália, em 05/02/2009 nização de funcionários da Faz. Canel, Fonte: Reis (2009) em 10/02/2009 Fonte: Reis (2009)

3.2.7 – Equipamentos de proteção individual – EPIs

O artigo 166 da CLT dispõe que a empresa é obrigada a fornecer,

gratuitamente, o equipamento de proteção individual (EPI) adequado ao risco e

em perfeito estado de conservação e funcionamento, sempre que as medidas

84

de ordem geral não ofereçam completa proteção contra as ameaças de

acidentes e danos à saúde dos/as empregados/as (PADILHA, 2001). A NR- 6

assim define equipamento de proteção individual (EPI):

6.1 - Para os fins de aplicação desta Norma Regulamentadora - NR, considera-se Equipamento de Proteção Individual - EPI, todo dispositivo ou produto, de uso individual utilizado pelo trabalhador, destinado à proteção de riscos suscetíveis de ameaçar a segurança e a saúde no trabalho.

A utilização dos EPIs somente é prevista para quando não for

possível a neutralização ou eliminação do agente agressor por outra forma.

Além disso, o fornecimento dos EPIs não exime o empregador da

responsabilidade de eliminar os riscos e danos ao meio ambiente de trabalho,

nem o excusa do pagamento de adicional de insalubridade. Particularmente no

setor rural, de acordo com a NR 31,os EPI´s que devem ser obrigatoriamente

fornecidos, segundo a função de cada trabalhador, são os abaixo relacionados

(quadro 5):

85

Tipo de proteção EPI Função do EPI Tipo de trabalho

1. Proteção da cabeça, olhos e face

1.1.capacete 1.2. chapéu ou outra proteção 1.3. protetores impermeáveis e resistentes 1.4. protetores faciais 1.5. óculos

1.1 contra impactos provenientes de queda ou projeção de objetos; 1.2. contra o sol, chuva e salpicos 1.3. para trabalhos com produtos químicos; 1.4. contra lesões ocasionadas por partículas, respingos, vapores de produtos químicos e radiações luminosas intensas; 1.5. contra lesões provenientes do impacto de partículas, ou de objetos pontiagudos ou cortantes e de respingos.

Serviços gerais e trabalhos com produtos químicos

2. óculos contra irritação e outras lesões

2.1. óculos de proteção contra radiações não ionizantes 2.2. óculos contra a ação da poeira e do pólen; 2.3. óculos contra a ação de líquidos agressivos.

2.1proteger contra radiações não ionizantes 2.2. proteger da poeira e do pólen; 2.3. proteger da ação de líquidos agressivos.

Serviços gerais, operadores de máquinas e trabalhos com produtos químicos

3. Proteção auditiva:

3.1. protetores auriculares 3.1 para as atividades com níveis de ruído prejudiciais à saúde. Operadores de máquinas

4. Proteção das vias respiratórias

4.1. respiradores com filtros mecânicos 4.2. respiradores com filtros químicos, 4.3. respiradores com filtros combinados, químicos e mecânicos, 4. aparelhos de isolamento, autônomos ou de adução de ar

4.1 para trabalhos com exposição a poeira orgânica 4.2 para trabalhos com produtos químicos; 4.3 para atividades em que haja emanação de gases e poeiras tóxicas; 4.4 para locais de trabalho onde haja redução do teor de oxigênio.

Trabalho com produtos agroquímicos trabalhadores que fazem pulverização de lavoura

5. Proteção dos membros superiores

5.1. luvas e mangas de proteção 5.1 contra lesões ou doenças provocadas por: materiais ou objetos escoriantes ou vegetais, abrasivos, cortantes ou perfurantes; produtos químicos tóxicos, irritantes, alergênicos, corrosivos, cáusticos ou solventes; materiais ou objetos aquecidos; operações com equipamentos elétricos; tratos com animais, suas vísceras e de detritos e na possibilidade de transmissão de doenças decorrentes de produtos infecciosos ou parasitários; picadas de animais peçonhentos;

Serviços gerais

6. Proteção dos membros inferiores

6.1. botas impermeáveis e antiderrapantes 6.2. botas com biqueira reforçada 6.3. botas com solado reforçado. 6.4. botas com cano longo ou botina com perneira; 6.5. perneiras 6.6. calçados impermeáveis e resistentes 6.7. calçados fechados

6.1 para trabalhos em terrenos úmidos, lamacentos, encharcados ou com dejetos de animais; 6.2 para trabalhos em que haja perigo de queda de materiais, objetos pesados e pisões de animais; 6.3 onde haja risco de perfuração 6.4 onde exista a presença de animais peçonhentos 6.5 em atividades onde haja perigo de lesões provocadas por materiais ou objetos cortantes, escoriantes ou perfurantes; 6.6 em trabalhos com produtos químicos; 6.7 para as demais atividades.

Trabalhadores que trabalham no secador, lava-jatos, com animais, com produtos químicos e no campo.

7. Proteção do corpo inteiro

7.1. aventais; 7.2. jaquetas e capas; 7.3. macacões; 7.4. coletes ou faixas de sinalização; 7.5. roupas especiais para atividades específicas (apicultura e outras).

Nos trabalhos que haja perigo de lesões provocadas por agentes de origem térmica, biológica, mecânica, meteorológica e química:

Trabalhos com produtos químicos, onde haja variação de temperatura e onde haja circulação de veículos.

8. Proteção contra quedas com diferença de nível

8.1 cintos de segurança 8.1 para trabalhos acima de dois metros, quando houver risco de queda Trabalho em secadores, ou lugares altos

QUADRO 5: EPIs e sua finalidade FONTE: Reis (2009). Elaborado para esta pesquisa

86

Na pesquisa de campo, constatou-se que as empresas fornecem,

gratuitamente, para funcionários/as: duas fardas (calça e camisa), camiseta de

manga longa, bota, máscara, luva, protetor auricular (para operadores de

máquinas) e o EPI para manusear agroquímicos, que consiste na roupa

impermeável, avental, óculos, viseira, máscara com filtro e luvas. Para os

funcionários que trabalham com altura é fornecido cinto de segurança.

A higienização do EPI para manusear agrotóxicos é realizada por

trabalhadores em três fazendas pesquisadas: Itália, Brasil Agrícola e Cimpar.

As outras três, Canel, Progresso e Condomínio União 2000, possuem

funcionários que realizam essa higienização. As fazendas visitadas dispõem de

lavanderia para lavar os EPIs.

Por ocasião das entrevistas, trabalhadores afirmaram que não levam

o EPI para lavar em casa. Em alguns casos, somente levam a farda (calça e

camisa) para lavagem doméstica nos finais de semana.

Segundo o gerente administrativo de uma fazenda, a resistência dos

empregados ao uso do EPI é uma das dificuldades enfrentadas pela gerência

no que refere a meio ambiente de trabalho rural, além da carência de

qualificação profissional dos/as trabalhadores/as, a falta de educação escolar e

a resistência às mudanças administrativas, mesmo que venham a trazer

melhorias para os/as prórpios/as:

sempre que acontece a questão do acidente do trabalho a empresa é penalizada por tudo. Mas não se nota que o empregado resiste. Mas olha, quase cem por cento deles resistem ao uso do epeí [EPI]. É no uso do cinto de segurança em altura, é no uso de luva de borracha pra mexer com eletricidade, é no uso de botina especializada, por exemplo, com biqueira de aço pra quem mexe com peso, enfim, é avental pra quem mexe com lixadeira, óculos de proteção pra quem mexe com solda, protetor auricular pra quem trabalha com máquina. Eu lhe digo o seguinte: quem trabalha com máquina, o operador, cem por cento deles resistem ao uso do protetor auricular ou do abafador. cem por cento! (Comunicação oral)31.

As fazendas utilizam a prática de advertência verbal e escrita para

obrigar trabalhadores/as a usarem o EPI. Mesmo assim, é comum que se

31

Edivaldo Júnior, gerente administrativo da Fazenda Progresso. Entrevista realizada na sede da Fazenda, em 01/05/2009, por Thais Reis.

87

recusem a usá-lo, uma resistência relatada pelos próprios trabalhadores32, que

admitem o não uso em razão do incômodo que lhes causa33.

Nota-se que esse não uso do EPI, no caso estudado, aponta para as

dimensões culturais dos/as trabalhadores. Como se sabe antropologicamente,

cultura é todo um complexo que inclui conhecimentos, crenças, arte, moral,

leis, costumes, assim como todas as capacidades e hábitos adquiridos pelo/a

homem/mulher como membro de uma sociedade (MORAIS, 1992). Nesse

sentido, a ação dos sujeitos, no mundo do trabalho, supõe dimensões culturais

que não podem ser obscurecidas.

Na pesquisa de campo, como se verá no próximo capítulo,

constatou-se que esses/as trabalhadores/as rurais, em sua maioria, são da

região e de origem social camponesa. Isso significa dizer que os/as, hoje

empregados/as das fazendas pesquisadas, nasceram e foram socializados no

universo do campesinato (MORAES, 2000), com a família cultivando a terra

para seu aprovisionamento sem a utilização de tecnologias modernas, como

agroquímicos, fertilizantes, máquinas, tratores, etc. Trata-se de pessoas que

trabalhavam, juntamente com a família, descalços ou, no máximo, de chinelos,

sem cumprir horários rigorosos, utilizando banheiros sem instalações

hidráulicas, em um ―modo de vida‖ (MORAES, p. 248, 2000) diferente do

padrão laboral das fazendas modernas.

Tais pessoas, na idade apropriada para o ingresso no mercado de

trabalho, são contratadas para trabalhar em uma fazenda moderna e nesse

momento, muitas se vêem n a obrigatoriedade de uso de vários equipamentos

e adoção de novos comportamentos: uso de botas e farda, cumprimento de

horários rigorosos, contato com tecnologia (que se não utilizada de forma

adequada, prejudicará sua saúde), uso de banheiros com instalações

32

Voltaremos ao tema no capítulo III desta dissertação. 33

Com base em Rangel (2009), lembramos que a visão racionalista empresarial desconsidera as complexas mediações culturais que incluem a ordem da experiência e do inconsciente no que tange à compreensão dos fatores de risco como predisponentes a doenças e agravos. Esta visão torna-se fator limitante no âmbito da participação social de trabalhadores e trabalhadoras na relação com os riscos do meio ambiente laboral, o que incide nas próprias práticas de educação/comunicação voltadas para a prevenção dos riscos. De fato, práticas, crenças, normas, valores dos indivíduos ou grupos estão estreitamente relacionados com níveis ou graus de consciência. A sua desconsideração leva a condutas que fundamentam tentativas infrutíferas de inculcar hábitos e induzir mudanças de comportamento.

88

hidráulicas não familiares, uso de EPI’s, etc. Assim, para esse/a trabalhador/a

se adequar ao trabalho na agricultura tecnificada, há uma enorme exigência de

integração e de mudanças importantes de comportamento.

Trata-se do desafio de se submeter a uma nova disciplinarização do

corpo, algo estranho à sua cultura, daí que, para eles, o uso de EPIs não tem

sentido e muitos a isso se recusam. Cultura, como referido por Geertz (1969)

compreende uma teia de signos e significados públicos. Aponta para uma

estrutura simbólica elaborada e negociada permanentemente por atores sociais

no âmbito e através da interação social, do encontro intersubjetivo. Como

lembra Rangel (2009), neste âmbito, desenvolvem-se complexos padrões de

condutas, normas, regras, direitos, obrigações e prescrições, estas, como

sistema estruturado de mecanismos de controle, de modo que hábitos e

comportamentos obedecem a ordens de regulação dos significados sociais

sobre as condições da ação humana e não dependem unicamente da

racionalidade dos indivíduos.

Concernente com a concepção de cultura, referida, entende-se que a

relação das pessoas com seu ambiente natural e social, produtos e objetos de

consumo é mediada por valores. Estes, por sua vez, definem as formas de

usos do ambiente, dos produtos e objetos, e a própria percepção dos riscos,

sua prevenção ou aceitação. O risco, portanto, assim como sua percepção,

não significam o mesmo para todas as pessoas ou grupos para quem fatores

ligados à experiência modulam a percepção e os modos de lidar com os riscos

(RANGEL, 2009).

É necessário, antes de tudo, uma compreensão do habitus

(BOURDIEU, 2009)34 desses trabalhadores rurais, para tornar possível a

discussão das maneiras de lidar com diferenças de hábitos de higiene, não uso

do EPI, etc. Nessa direção, não adianta cobrar taxa de um/a trabalhador/a por

―sujar‖ um determinado local, uma vez que ele precisa atribuir sentido aos

novos hábitos de higiene impostos e incorporá-los. Nem é eficaz impor

34

Pierre Bourdieu concebe habitus como sistemas de disposições as quais são duráveis e transponíveis. São estruturas estruturadas e predispostas a funcionar como princípios geradores e organizadores de práticas e representações. Podem ser objetivamente adaptadas a objetivos sem necessariamente mirar, conscientemente, seja os fins, seja o controle das operações necessárias para obtê-los (BOURDIEU, 2009).

89

advertência para trabalhadores/as que não usam EPI, pois enquanto ele não

ressignificar esse uso, não o incorporará.

Assim, compreender o modo de vida de trabalhadore/as locais como

um processo sociocultural, desnaturalizando-o, e respeitá-lo é o passo inicial

para o debate de métodos e formas de sua inclusão no meio ambiente de

trabalho da agricultura tecnificada. Assim, em razão da referida resistência

cultural, torna necessário compreender seus significados, para com eles

dialogar nas palestras, cursos, seminários e oficinas que expliquem os danos

causados pela utilização inadequada da tecnologia disponível na agricultura,

para que possam ressignificar o uso de EPIs.

3.4.8 Transporte

A NR 31 disciplina o transporte de trabalhadores/as.

31.16.1 O veículo de transporte coletivo de passageiros deve observar os seguintes requisitos: a) possuir autorização emitida pela autoridade de trânsito competente; b) transportar todos os passageiros sentados; c) ser conduzido por motorista habilitado e devidamente identificado; d) possuir compartimento resistente e fixo para a guarda das ferramentas e materiais, separado dos passageiros. 31.16.2 O transporte de trabalhadores em veículos adaptados somente ocorrerá em situações excepcionais, mediante autorização prévia da autoridade competente em matéria de trânsito, devendo o veículo apresentar as seguintes condições mínimas de segurança: a) escada para acesso, com corrimão, posicionada em local de fácil visualização pelo motorista; b) carroceria com cobertura, barras de apoio para as mãos, proteção lateral rígida, com dois metros e dez centímetros de altura livre, de material de boa qualidade e resistência estrutural que evite o esmagamento e a projeção de pessoas em caso de acidente com o veículo; c) cabina e carroceria com sistemas de ventilação, garantida a comunicação entre o motorista e os passageiros; d) assentos revestidos de espuma, com encosto e cinto de segurança; e) compartimento para materiais e ferramentas, mantido fechado e separado dos passageiros.

Na pesquisa de campo, constatou-se que apenas uma das fazendas

visitadas, a Canel, possui ônibus para transportar empregados/as. Quatro

90

delas, Condomínio União 2000, Brasil Agrícola, Cimpar e Itália, transportam os

funcionários para a cidade em camionetes e a Progresso não oferece nenhum

tipo de transporte. Neste caso, os/as trabalhadores/as vão para a cidade em

veículos próprios ou de carona com colegas.

Em duas dessas fazendas, Itália e Progresso, circulam ônibus

diariamente, da Empresa Transpiauí, às quinze horas, porém a passagem para

Uruçuí custa sete reais e os trabalhadores preferem ir de moto ou de carona.

3.4.9 Anotação na Carteira de Trabalho

Por ocasião das entrevistas com produtores e trabalhadores,

observou-se que todas as fazendas atendem o requisito legal de efetuar a

anotação na carteira de trabalho dos/as funcionários/as, inclusive dos

temporários, contratados somente para os períodos de plantio e colheita. Nota-

se, porém, que essa atitude é recente, devido às várias autuações efetuadas

pelo MTE nesta região. Um trabalhador rural, por ocasião de uma entrevista,

relatou a seguinte situação:

Trabalhador rural – Lá eu cansei de, quando eles chegava lá, quando nós não tinha carteira assinada eles mandava nós esconder no mato. Thais – A hora que o Ministério do Trabalho chegava? Trabalhador rural – É, na hora que o Ministério chegava eles falava: pode caçar um buraco pra vocês entrarem. Aí nós pá! Pro mato! Escondia dentro de caixa de coisa, de todo jeito, dentro de saco velho de adubo. Thais – E o ministério do trabalho não achava vocês? Trabalhador rural – Um dia, o ministério do trabalho com uma máquina de filmadora, sabe, viu uns cabra correndo e passando no arame. Aí, filmaram eles, lá, passando no arame, eles fizeram só filmar os caras. Tinha vez que eles não assinava, nós fazia um plantio , fazia uma colheita e eles não queria assinar a carteira de todo mundo. Agora não. Ta assinando a carteira de todo mundo, mas de primeiro eles não assinava. Aí, na hora que o ministério ia chegando eles mandava o cabra correr. (Comunicação oral)35

3.4.10 Fiscalização

Constatou-se que o MTE, através da SRT-PI, atua na região de

Uruçuí, fiscalizando e, quando necessário, autuando as propriedades rurais,

35

Trabalhador rural, 30 anos, operador de máquinas. Entrevista realizada em sua casa, em Uruçuí, em 08/02/2009, por Thais Reis.

91

um dos principais motivos pelos quais as fazendas estão se adequando à

legislação vigente, mais precisamente à NR 31. Além da fiscalização e

autuação, o MTE também se faz presente na região ministrando cursos como o

Seminário sobre Agrotóxicos e Normas Gerais de Meio Ambiente de Trabalho,

ocorrido em novembro de 200836.

3.4.11 Treinamentos

Foi constatado que, das seis fazendas pesquisadas, cinco delas

atendem ao requisito legal de qualificar funcionários/as que atuam na área de

pulverização, com cursos ministrados pelo Serviço Nacional de Aprendizagem

rural, SENAR, com duração de 24 horas. Além desse, é comum que elas

disponibilizem alguns de seus funcionários para participar de cursos oferecidos

pelas empresas que vendem produtos agropecuários, sendo escolhidos os que

trabalham diretamente com máquinas e equipamentos para participarem dos

oferecidos pelas suas revendas.

Também foi observado que o técnico de segurança do trabalho que

presta assessoria a essas fazendas promove palestras na área de segurança

do trabalho. Porém, há áreas descobertas pelos treinamentos, caso de

trabalhadores/as da área de serviços gerais, para os/as quais não se oferecem

nenhum tipo de treinamento, o mesmo se dando com auxiliares de plantio, que

lidam com sementes imunizadas, sem mencionar que os cursos são

oferecidos, seletivamente, sempre para lideranças e chefes de equipes.

Embora algumas ações do MTE no sentido de promover seminários

sobre meio ambiente de trabalho, como o referido Seminário Sobre Agrotóxicos

e Normas de Meio Ambiente de Trabalho, ocorrido em novembro de 2008, elas

são ainda ações muito tímidas diante das necessidades da região, sobretudo

quando se observa que funcionários das fazendas que investem mais em

qualificação revelam uma consciência maior sobre os perigos do trabalho

desprotegido e da importância de se usar EPI.

36

Como referido na introdução, participei desse encontro, durante a pesquisa de campo. Ver programa (Anexo 1)

92

3.4.12 Jornada de trabalho

Jornada de trabalho é o espaço de tempo durante o qual o

empregado deverá prestar serviço ou permanecer à disposição do empregador,

com habitualidade, excetuadas as horas extras (CF, art. 7º, XIII37). Sua duração

deverá ser de até 8 horas diárias, e 44 semanais; no caso de empregados que

trabalhem em turnos ininterruptos de revezamento, a jornada deverá ser de 6

horas.

Horas extras são aquelas que ultrapassam a jornada normal fixada

por lei, convenção coletiva, sentença normativa ou contrato individual de

trabalho, sendo cabível, como regra geral, para todo empregado. Todavia, há

exceções, estabelecidas na CLT, art. 5938, que declara que a duração normal

do trabalho poderá ser acrescida de horas suplementares, em número não

excedente de duas, mediante acordo escrito entre empregador e empregado,

ou mediante convenção coletiva de trabalho.

Um problema grave constatado no campo de pesquisa foi o excesso

de jornada de trabalho, principalmente na época do plantio. Segundo relato dos

trabalhadores, como se verá no próximo capítulo, nessa época eles chegam a

trabalhar até 18 horas por dia, sem direito nem ao horário de almoço.

Para o gerente administrativo de uma das fazendas visitadas, o

grande problema que eles têm com o MTE diz respeito à jornada de trabalho. O

Ministério exige que adotem a jornada permitida por lei, o que, segundo ele, é

impossível, porque o trabalho no campo depende de vários fatores como sol,

chuva, umidade, períodos curtos para plantio e colheita. Quando chega a

época do plantio tem que plantar em X dias e não tem como protelar, o mesmo

se dando com a colheita. Porém, isso não pode ser usado como justificativa

para submeter trabalhadores a jornadas de trabalho excessivas, prejudicando-

lhes a saúde e aumentando em demasia o risco de ocorrer um acidente de

trabalho, inclusive fatal.

37

Art. 7º - São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visem à melhoria de sua condição social: XIII - duração do trabalho normal não superior a oito horas diárias e quarenta e quatro semanais, facultada a compensação de horários e a redução da jornada, mediante acordo ou convenção coletiva de trabalho (Constituição Federal, 2009) 38

Art. 59 – A duração normal do trabalho poderá ser acrescida de horas suplementares, em número não excedente de 2 (duas), mediante acordo escrito entre empregador e empregado, ou mediante contrato coletivo de trabalho (CLT, 2009).

93

3.4.13 Comissão Interna de Prevenção de Acidente de Trabalho (CIPA)

Como referido por Rangel (2009), não se podem ignorar as

dimensões socioculturais da cultura do risco à saúde e segurança no trabalho,

a saber: 1/a econômica, que privilegia a monetização do risco; 2/ a política que

refere normas, procedimentos e o conjunto da tecnologia de segurança

utilizados como instrumentos de controle/resistência por gerência e

trabalhadore/as; 3/ a ideológica, na qual o risco é minimizado por mecanismos

de neutralização e pela ênfase à tecnologia de segurança; 4/ a ética, a qual

aponta para a responsabilidade com o risco como parte do código ético-

cultural do grupo39. Pode-se aduzir que tais dimensões se encontram

presentes na idéia de Comissão Interna de Prevenção de Acidentes de

Trabalho – CIPA. Segundo o art. 162 da CLT:

as empresas, de acordo com normas a serem expedidas pelo Ministério do Trabalho, estarão obrigadas a manter serviços especializados em segurança e medicina do trabalho.

O risco é regulado pelo Estado, no que tange, por exemplo, a

adicional de insalubridade e periculosidade. Mas a normatização das relações

em torno dos riscos fundamenta lutas econômicas e políticas de

trabalhadore/as e lutas sociais para proteção da saúde em meio a uma

distribuição social do risco em cujo âmbito relações de poder tornam tal

distribuição assimétrica (RANGEL, 2009), Daí, as empresas, além dos

serviços de segurança e medicina do trabalho, também serem obrigadas a

constituir a Comissão Interna de Prevenção de Acidente de Trabalho Rural,

conforme art. 163 da CLT:

Será obrigada a constituição de Comissão Interna de Prevenção de Acidente – CIPA, de conformidade com instruções expedidas pelo Ministério do Trabalho, nos estabelecimentos ou locais de obra nelas especificadas.

A CIPA será composta por representante dos empregadores,

titulares e suplentes, por eles designados, e representantes de empregados,

39

Se a aceitação social do risco obedece a critérios de ordem moral e ética, a percepção pública de qualquer política de riscos depende da padronização pública de idéias de justiça cujo conceito sofre variação cultural e social (RANGEL, 2009).

94

titulares e suplentes, eleitos por escrutínio secreto, do qual participem,

exclusivamente, os interessados, independentemente de filiação sindical. O

mandato dos membros da CIPA é de um ano, permitida uma reeleição. O

empregador designará, anualmente, entre seus representantes, o presidente

da CIPA e os empregados elegerão, entre eles, o vice-presidente, não podendo

os titulares da representação sofrer dispensa arbitrária (MELO, 2008).

Compete à CIPA elaborar o mapa de riscos, identificando os agentes

prejudiciais à saúde no ambiente de trabalho, relacionando os riscos físicos,

químicos, biológicos e os de acidente de trabalho, contando para isso com a

colaboração do Serviço Especializado em Engenharia de Segurança e

Medicina do Trabalho (SESMT). A principal meta desse serviço é promover a

saúde e proteger a integridade do/a trabalhador/a no local de trabalho, sendo

efetuado por profissionais especializados que devem agir, após comunicadas

as irregularidades ou agentes prejudiciais em determinada empresa, sob pena

de sanções penais e civis, caso ocorra acidente (BARROS, 2009).

Foi constatado que nas fazendas com mais de vinte empregados,

quatro delas (Canel, Cimpar, Itália e Progresso) têm constituída a CIPA. Os

membros da CIPA são, na maioria das vezes, pessoas que trabalham no

escritório da empresa, por terem um maior grau de instrução. Suas reuniões

geralmente são conduzidas pelo técnico de Segurança do Trabalho que presta

assessoria para essas fazendas, que seleciona os temas para serem discutidos

e, redige a ata, pois, mesmo os funcionários mais esclarecidos, desconhecem

as regras e formalidades da CIPA.

Constatou-se, porém, que os/as trabalhadores/as rurais das

fazendas40 não sabem o que é a CIPA e desconhecem sua finalidade. Dessa

forma, embora a CIPA esteja estabelecida nessas empresas por força de uma

exigência legal, ela ainda não está atingindo o seu objetivo principal, que é,

justamente, promover ações de prevenção de acidente de trabalho.

3.4.14 Visão dos empregadores sobre a mão de obra local

Os/as trabalhadores/as de origem camponesa que atuam nas

empresas agropecuárias aqui abordadas, não foram socializados no ritmo

40

Este tema será retomado no capítulo III.

95

empresarial de cumprimento de horários, com cobrança de produtividade. O

seu ritmo laboral costumeiro é diferente do imposto pelas empresas41, situação

que, do ponto de vista do empregador de origem ―sulista‖42, acaba sendo

naturalizada como diferença de origem entre nordestino e sulista.43

Eu vejo mais é o estilo de trabalho do nordestino é diferente do estilo de trabalho do sulista. O sulista acorda cinco horas da manhã, levanta, trabalha, ele tem uma rotina de trabalho diferente. As pessoas daqui elas são mais do sistema de emprego paternalista. Em todos os setores que a gente vê aqui, setor da agricultura, órgãos estaduais, federais, e isso infelizmente reflete no campo. Você tem um trabalhador lá que toda hora você tem que estar cutucando pra pessoa ir trabalhar, apesar de você, eu sempre falo pra eles que emprego quem dá é você mesmo, não sou eu. Mas a gente percebe que não há uma maldade nesse comodismo, é uma coisa que eles nasceram assim. O trabalhador daqui anda a vinte por hora, e o trabalhador do sul anda a sessenta, setenta por hora, normal. Isso é normal, aí você quer fazer ele de vinte chegar a cinquenta, é difícil, e é a realidade, sem ofender o trabalhador daqui (comunicação oral)44

De fato, a visão que empregadores e administradores têm da mão

de obra local é que ela é extremamente desqualificada. Como relata o gerente

de uma propriedade,

você não daria o seu carro de vinte mil reais [R$ 20.000,00] para um cara desses, sem instrução, sem carta de motorista dirigir. Mas nós somos obrigados a entregar nas mãos deles máquinas de oitocentos mil reais [R$ 800.000,00] porque nós não temos opção. (comunicação oral)45.

Fala-se de um intenso rodízio de trabalhadores nas fazendas. Isso é

um fator que, segundo os empregadores, os desestimula a qualificá-los.

A gente tenta priorizar o pessoal daqui até por um certo prejuízo da gente. Porque a mão de obra daqui é muito desqualificada. A gente é que tem que qualificar. Então, às vezes, a gente tem um custo caro para qualificar. E quando você qualifica o pessoal, a primeira coisa que eles fazem é trocar de fazenda, ir para outra! Então é um ônus muito caro

41

A propósito do ritmo do trabalho camponês, ver Woortman (1983). 42

Para melhor compreensão da oposição Norte/Sul no imaginário social brasileiro, ver Albuquerque (1994) 43

Sobre a oposição gaúchos/populações locais nos cerrados, ver Moraes (2000) 44

Altair Domingos Fianco, produtor e um dos proprietários do Condomínio União 2000. Entrevista realizada no escritório do Condomínio União 200, em Uruçuí, em 06/02/2009, por Thais Reis. 45

Adelar Silva, gerente de campo da fazenda Brasil Agrícola. Entrevista realizada na sede da fazenda em 10/02/2009, por Thais Reis.

96

que a gente paga aqui na região. Porque a mão de obra, aqui, ela não tem qualificação (comunicação oral)46.

Na concepção dos empregadores, além da falta de educação

escolar, os trabalhadores ―não possuem hábitos de higiene‖, o que prejudica os

alojamentos, banheiros e refeitório. De fato, observou-se nas fazendas

visitadas que nos banheiros e alojamentos havia placas com avisos para dar

descarga no vaso sanitário, manter o ambiente limpo e organizado, não sujar

as paredes, não entrar no ambiente com botas. Em uma das fazendas, o

gerente de recursos humanos informou que estão proibindo os trabalhadores

de entrar no refeitório com camiseta regata, para tentar cultivar neles ―hábitos

de boas maneiras, educação e higiene‖. Outra fazenda visitada repreende os

trabalhadores que sujam camas e ambientes e imporem multa pecuniária,

geralmente no valor de cinco reais para o trabalhador que dela sai e deixa a

farda, sem lavar.

Dessa forma, notam-se várias tentativas dos produtores de ―cultivar

o hábito de higiene‖ nos trabalhadores, as quais algumas vezes extrapolam o

bom senso, como a cobrança de taxa para os que infringem regras. Como

referido no item 4.6 deste capítulo, o processo de disciplinarização das

empresas sobre os/as trabalhadores/as rurais não dialoga com as suas

trajetórias socioculturais.

3.4.15 Aspectos estruturais do município de Uruçuí e região que

afetam o meio ambiente de trabalho rural

Uruçui encontra-se situado na Mesorregião do Sudoeste Piauiense

e na Microrregião do Alto do Parnaíba. Possui uma área física de 8.578,5 km2,

o equivalente a 3,57% da área total do Estado, com temperatura média anual

de 27°C e pluviosidade média de 1.059,7mm (Aguiar). O número e distribuição

de sua população estão demonstrados abaixo (quadro 6), com base em dados

do IBGE:

46

Altair Domingos Fianco, produtor e um dos proprietários do Condomínio União 2000. Entrevista realizada no escritório do Condomínio União 200, em Uruçuí, em 06/02/2009, por Thais Reis.

97

Município

População residente, sexo e situação do domicílio População residente de 10

anos ou mais de idade

Total Homens Mulheres Urbana Rural Total Alfa-

betizada

Taxa de

alfabe tização

(%)

Uruçuí 17.011 8.481 8.530 11.112 5.899 13.152 9.455 71.9

Quadro 6: Censo demográfico de Uruçuí. Fonte: IBGE (2000)

Conforme já explanado na Introdução e no Capíputo I desta

dissertação, os cerrados do sudoeste do piauí foram incorporados por moderna

agricultura do complexo carnes/grãos, com Uruçuí tendo papel histórico nesta

trajetória, como sede dos primeiros testes de experimentos de pesquisa

científica sobre soja adaptada, iniciada em 1988.

Na região, as atividades principais nas empresas agropecuárias

são o cultivo de grãos, tais como soja, milho, arroz e algodão. Essa produção,

em 2009, está demonstrada a seguir (quadro 7):

Culturas Área (ha) Produçã (t) Rendimento médio (kg/ha)

Soja 274.023 808.042 2.949

Arroz sequeiro 32.753 87.266 2.664

Algodão herbáceo 8.819 37.271 4.226

Milho 28.413 216.954 7.636

Feijão 5.710 4.716 826

Sorgo 2.550 6.750 2.647

Quadro 7: Produção agrícola do cerrado do Piauí 2009. Fonte: IBGE e SEPAG(2009)

No tocante ao município de Uruçuí (quadro 8) a produção de soja é

a seguinte:

Soja Arroz

Área plantada (ha)

Produção (t) R. Médio (kg/ha)

Área plantada (ha)

Produção (t) R. Médio (kg/ha)

66.538 181.404 2.726 5.455 13.215 2.423

Quadro 8: Produção de soja do município de Uruçuí 2009. Fonte: IBGE e SEPAG(2009)

Em dezembro de 2008, segundo dados sobre o PIB do Estado do

Piauí divulgados pela Fundação CEPRO e IBGE, Uruçuí liderou o ranking de

renda per capita estadual sendo a plantação de soja apontada como a principal

causa dessa mudança do município, de décimo lugar, em 2002, para primeiro,

98

no referido ranking. Os seus moradores possuem renda anual de R$ 19.471,38

(180 graus, 2008)

Porém, apesar dessa riqueza, alguns aspetos estruturais da região

também influenciam negativamente na qualidade do meio ambiente de trabalho

rural. No caso, trata-se da fragilidade do tecido institucional do município e

região47.

Um dado importante nesse quesito: não há posto do INSS em Uruçuí.

O que atende à região é a agência de Floriano48 que responde por 37

municípios. Existe, assim, uma dificuldade enorme de atender os

trabalhadores/as, principalmente por causa da distância, de sorte que quem sai

de Uruçuí às três horas da manhã, paga sessenta reais, em média, para ser

transportado em uma van49, chegando em Floriano às oito horas da manhã,

para requerer o seu benefício. Esse trabalhador volta para Uruçuí e espera

chegar a carta do INSS com o resultado da perícia, mas, os Correios não

chegam até as fazendas, então o documento vai para o Sindicato dos

Trabalhadores Rurais, que fará o contato com o requerente50.

O atendimento no INSS é agendado, via telefone, por uma central.

Porém há o problema, não raro, de o sistema estar inoperante, o que resulta

que o/a trabalhador/a não consegue ser atendido/a e tem que voltar no outro

dia. Muitas vezes, ele (ou ela) tomou dinheiro emprestado contando que iria

conseguir o benefício, mas não conseguiu, sequer, ser atendido.

Em Uruçuí também não existe representação da Justiça do

Trabalho. A que abrange o município de Uruçuí se localiza em Floriano. Dessa

forma, se um/a trabalhador/a quiser reclamar algum direito que lhe foi negado,

terá que gastar com passagens (de ida e volta) a Floriano para dar entrada na

sua reclamação, além de voltar, depois, a Floriano, para as audiências. Tudo

isso envolve um gasto muito grande para um/a trabalhador/a rural. Dessa

forma, aqueles/as que, porventura, teriam algum direito trabalhista negado,

ficam impossibilitados/as de reclamá-lo judicialmente, por não terem condições

47

Ver Vilela e Moraes, 2003. 48

Município piauiense, localizado à 200 Km de Uruçuí. 49

Nome dado a veículo com capacidade para transporte de quinze pessoas. 50

Ocorre que, aconteceu de muitos médicos peritos do INSS, quando negavam um benefício, serem violentados ou assassinados e, em razão disso os médicos conseguiram junto ao Ministério Público a edição de uma norma que diz que eles não são obrigados a conceder o resultado da perícia para o trabalhador na hora do atendimento.

99

financeiras de ingressar com uma ação em uma instância judicial localizada a

quase duzentos quilômetros de distância.

Não existe médico do trabalho em Uruçuí. Os médicos que atendem

nos hospitais e nas três clínicas particulares da região não estão preparados

para lidar com problemas do campo (intoxicação por agrotóxicos, eventuais

acidentes com máquinas, animais peçonhentos, alergias...)

Outro problema da região são as estradas. Existem três opções de

acesso a Uruçuí partindo-se de Teresina: a que passa por Bertolínea, com

aproximadamente 90 km de terra; a que vai por Antônio Almeida, conta com

cerca de 45 km de terra e a que circula pelo Maranhão, toda asfaltada. De

Uruçuí para as fazendas, somente duas das visitadas são contempladas com

asfalto até a porta. Nas demais, o acesso é feito de estradas de terras,

prejudicadas pelas chuvas e pelo trânsito constante de caminhões e carretas

(figs. 32 a 37).

Figura 32: Estrada estadual de Uruçuí Figura 33: Estrada estadual de Uruçuí para para a Faz. Brasil Agrícola e Cimpar I, a Faz. Brasil Agrícola e Cimpar II, em em 09/02/2009 09/02/2009 Fonte: Reis, 2009 Fonte: Reis, 2009

Figura 34: Estrada estadual de Uruçuí Figura 35: Estrada estadualde Uruçuí a para Faz. Progresso I, em 02/05/2009 Faz. Progresso II, em 02/05/2009 Fonte: Reis, 2009 Fonte: Reis, 2009

100

Figura 36: Estrada estadual em frente Figura 37: Estrada que passa pela a Faz. Progresso, em 02/05/2009 comunidade do Sangue, em Uruçuí, Fonte: Reis, 2009 em 09/02/2009 Fonte: Reis, 2009

101

4. O MEIO AMBIENTE DE TRABALHO NA VISÃO DE

TRABALHADORES/AS RURAIS

Para uma melhor compreensão do meio ambiente de trabalho rural,

mister se faz a apreensão da visão de trabalhadores/as sobre ele, porquanto

são figuras essenciais para a caracterização de um meio ambiente como sendo

de trabalho.

A caracterização do/a empregado/a rural tem sido motivo de

controvérsia na doutrina justrabalhista brasileira. Segundo antigo critério da

Consolidação das Leis Trabalhistas – CLT o que definia o trabalhador rural era

o método de trabalho e sua finalidade, de modo que sendo rurícola os métodos

e fins, rurícola o trabalhador.

Porém, o critério que hoje prevalece na doutrina busca ajustar-se

ao modelo geral de enquadramento obreiro clássico do direito do trabalho, qual

seja, o segmento da atividade do empregador. (DELGADO, 2009). Sendo rural

o segmento da atividade do empregador, rurícola será considerado o

trabalhador. Assim,

trabalhador rural é a pessoa física que presta serviços a tomador rural, realizando tais serviços em imóvel rural ou prédio rústico (DELGADO, 2009, p. 366)

Além do referido critério, há o de o trabalho se desenrolar em

imóvel rural ou prédio rústico. A definição de imóvel rural refere a zona

geográfica situada no campo, exterior às áreas de urbanização51, enquanto a

de prédio rústico é um conceito utilizado pela ordem jurídica para permitir o

enquadramento, como rurícola, daqueles trabalhadores que efetivamente

exercem atividade agropastoril para empregadores economicamente atados a

51

Lembramos que as definições de rural e urbano podem ser encontradas como formuladas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE da seguinte forma: a) as regiões no município não classificadas como zona urbana ou zona de Expansão Urbana, não urbanizáveis ou destinadas à limitação do crescimento urbano, utilizadas em atividades agropecuárias, agroindustriais, extrativismo, silvicultura, e conservação ambiental., b) a área de um município caracterizada pela edificação contínua e a existência de equipamentos sociais destinados às funções urbanas básicas, como habitação, trabalho, recreação e circulação. No entanto, abre-se, hoje, um debate acerca do rural e do urbano no mundo e no Brasil. Sobre o tema, relacionado à situação brasileira, ver Veiga et al (2001)

102

tais atividades campestres, porém situados em localidades que, por exceção,

ficam incrustadas no espaço urbano.

4.1 Quem são esses/as trabalhadores/as rurais

Para a identificação de trabalhadores/as rurais assalariados/as de

Uruçuí foi realizado, junto ao Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras

Rurais – STTR local, um procedimento de contagem e análise das fichas de

trabalhadores/as sindicalizados/as, visando-se chegar a um número

aproximado. Porém, nas referidas fichas, não existe diferenciação entre

trabalhadores/as rurais assalariados/as e agricultores/as familiares, não tendo

sido possível obter as informações pretendidas. Mas, com as informações

coletadas, montou-se um perfil inicial da população de trabalhadores/as rurais

sindicalizados/as de Uruçuí, a qual pode ser considerada como representativa

do universo social dos abordados nesta pesquisa (quadro 9).

Categorização Quantidade %

Agricultor/a familiar 2.573 77,43%

Rendeiro/a 25 0,75%

Parceiro/a 30 0,90%

Pequeno/a proprietário/a 0 0%

Assalariado/a 0 0%

Morador/a 1 0,03%

Casa própria 0 0%

Dias cativos 125 3,76%

Não identificados 569 17,12% Quadro 9: Classificação dos/as trabalhadores/as sindicalizados52

Categorização Quantidade %

Alfabetizados/as 2389 71,89%

Analfabetos/as 873 26,27%

Não identificados/as 61 1,83% Quadro 10: Instrução dos/as trabalhadores/as rurais sindicalizados

52

Este quadro não apresenta totalização, uma vez que as categorias se interpenetram. Ex: rendeiros e parceiros podem ser, também, agricultores familiares.

103

O quadro 10 mostra o grau de escolaridade de trabalhadores/as

rurais. Mesmo 71,89% deles sendo alfabetizados, constatou-se, por pesquisa,

que esses/as trabalhadores possuem, em sua maioria, apenas o ensino

fundamental concluído.

Durante a pesquisa de campo, foram realizadas entrevistas com

vinte trabalhadores/as rurais assalariados/as (dezoito homens e duas

mulheres) de quatro fazendas de Uruçuí, que exerciam funções de serviços

gerais, operadores de máquinas (tratoristas), aplicadores de agroquímicos,

líderes de equipes (gerentes) e cozinheiras.

Diante das informações coletadas nas entrevistas puderam-se

agregar novos elementos a um perfil, como demonstrado nos gráficos a seguir:

Gráfico 1: Escolaridade dos/as trabalhadores

Como se vê no gráfico 1 os/as trabalhadores/as, em sua maioria,

completaram somente o ensino fundamental. No entanto, lidam com

tecnologias avançadas da agricultura que exigem conhecimentos técnicos para

saber os seus reais riscos.

A falta de instrução para trabalhar em propriedades que utilizam

tecnologias modernas, bem como a ausência de qualificação, são problemas

graves da região pesquisada. Os/as trabalhadores/as, socializados no modo de

vida camponês53, na agricultura familiar, pelo sistema de roça-de-toco

53

Sobre o modo de vida camponês, ver MORAES, 2000.

ensino fundamental - 75%

1º grau - 10%

2º grau - 10%

analfabeto - 5%

104

(MORAES, 2000), desconhecem o sistema produtivo em larga escala, que

emprega tecnologias modernas. Mesmo assim, sem serem submetidos à

cursos de qualificação profissional, dirigem tratores e operam máquinas das

mais modernas existentes na atualidade, inclusive com Sistema de

Posicionamento Global – GPS e demais tecnologias, além de trabalharem com

agroquímicos.

A ausência ou incompletude de educação escolar, qualificação

profissional e desconhecimento do sistema produtivo moderno trazem prejuízos

aos/as trabalhadores/as, pois a tecnologia disponível na agricultura, se não

usada de maneira adequada, afeta-lhes a saúde e a segurança, pela exposição

a riscos decorrentes do meio ambiente de trabalho, e a acidentes de trabalho.

Gráfico 2: Origem social dos/as trabalhadores/as

Como demonstra o gráfico 2, os/as trabalhadores/as rurais são, em

sua maioria, de origem social rural, da agricultura familiar, onde têm um modo

de vida distinto dos produtores rurais das empresas agropecuárias de

agricultura moderna, como apontado no Capítulo II. Assim, para se inserirem

no ambiente da agricultura tecnificada, passam por um processo de adaptação

e disciplinarização.

rural - 80%

urbana - 20%

105

Gráfico 3: Função dos/as trabalhadores/as

O gráfico 3 apresenta a distribuição das funções dos/as

trabalhadores/as nas fazendas, as quais são definidas a seguir (quadro 11)

com seus respectivos salários.

Função Descrição das atividades desenvolvidas salário

Cozinheiras cuidam do preparo das refeições nas fazendas, além da higienização dos ambientes de cozinha e refeitório.

508,00

Serviços gerais

responsabilizam-se pelos serviços mais básicos da fazenda, como carpir, roçar, auxiliar o plantio e a colheita. Geralmente têm grau de escolaridade mais baixo (alguns inclusive analfabetos) e não têm nenhum tipo de especialidade ou nunca fizeram curso profissionalizante ou treinamentos.

508,00

Operadores de máquinas

tratam de operar os tratores, máquinas e implementos. São eles que fazem o plantio, a colheita, a pulverização terrestre e os serviços de preparação da terra, como gradear, adubar, etc. Esses trabalhadores já têm um grau de escolaridade maior (ensino fundamental, alguns com o primeiro grau completo) e já fizeram treinamentos ou cursos para trabalhar com máquinas e equipamentos. É uma mão de obra mais especializada.

728,00

Motoristas dirigem os veículos das fazendas e são responsáveis pelo transporte de pessoas, refeições, documentos, etc.

728,00

Chefes de campo

lideram as equipes que trabalham no campo, diretamente com a lavoura, plantando, colhendo, pulverizando, gradeando, adubando, etc. Têm um grau de escolaridade elevado (técnicos agrícolas ou agrônomos, a maioria deles de origem sulista).

Não informado

Gerentes trabalham no escritório, na gestão da empresa. Gerenciam o setor financeiro, recursos humanos - RH, compras, etc. Dos gerentes entrevistados, todos tinham curso superior nas áreas de administração de empresas, contabilidade e agronomia, sendo a maioria de origem sulista.

Não informado

Quadro 11: funções dos/as trabalhadores/as e suas respectivas remunerações

cozinheiros/as - 9%

serviços gerais - 26%

operadores de máquinas - 39%

motoristas - 4%

chefes de campo - 9%

Gerentes - 13%

106

Gráfico 4: Idade dos/as trabalhadores/as

No gráfico 4 vê-se que a maioria dos/as trabalhadores/as

entrevistados têm até 39 anos, o que demonstra que a mão de obra rural é

jovem, por ser um tipo de trabalho, para cujo bom desempenho, necessita de

força e vigor.

4.2 Meio ambiente de trabalho na visão dos/as trabalhadores/as

Para se apreender a qualidade do meio ambiente de trabalho, é

importante compreender a visão dos trabalhadores/as sobre esse ambiente.

Com diz Rocha,

o entendimento do meio ambiente de trabalho estabelece-se com a percepção do espaço do trabalho e, mais ainda, do próprio trabalhador, na medida em que não existe tal ambiente sem o ser humano. Logo, a maquinaria, os utensílios, os meios de produção, tomados em si mesmo, não transformam um simples lócus em ambiência do trabalho. Por consequência, a necessidade do trabalho humano, em qualquer de suas formas, é condição sine qua non para converter um espaço físico em meio ambiente de trabalho (ROCHA, 2002, pág. 130). (grifo nosso).

20 a 29 anos - 40%

30 a 39 anos - 50%

mais de 40 anos - 10%

107

As entrevistas com os/as trabalhadores/as rurais tiveram como

foco, além de verificar as condições de saúde e segurança no trabalho,

apreender-lhes a percepção sobre o meio ambiente de trabalho. Assim, através

das análises de conteúdo dessas entrevistas e de conversas no cotidiano,

somadas a observações registradas no diário de campo, foi possível uma

aproximação da visão desses/as trabalhadores/as sobre o seu próprio meio

ambiente de trabalho em empresas agropecuárias de Uruçuí.

4.2.1 Sobre jornada e ritmo de trabalho

Jornada de trabalho é o lapso temporal que compreende o início do

trabalho até o seu término, acrescido dos horários em que o/a trabalhador/a

está à disposição do/a empregador/a e o tempo gasto para ir ao local de

trabalho e dele retornar.

A Constituição Federal dispõe que a jornada de trabalho não será

superior a oito horas diárias e quarenta e quatro horas semanais, facultada a

compensação e a redução da jornada mediante acordo ou convenção coletiva

de trabalho (art. 7º, XIII).

Na agricultura, é comum haver dois períodos com jornadas de

trabalho diferentes: o da safra e o da entressafra. Na entressafra,

trabalhadores/as cumprem jornada de trabalho de oito horas diárias e quarenta

e quatro horas semanais. Porém, na safra, que compreende o plantio e a

colheita, a jornada se estende por até dezoito horas diárias, conforme relatado

pelos próprios trabalhadores. Isso se dá porque os períodos para plantio e

colheita são curtos. Nas empresas agropecuárias pesquisadas, esses períodos

são de trinta a quarenta e cinco dias, em cujo âmbito é necessário fazer todo o

plantio e colheita. Além disso, a agricultura conta com imprevistos, como a

chuva, que interrompe o trabalho, quebrando-lhe o ritmo, pois a terra fica

molhada, impossibilitando a execução de serviços com tratores e máquinas.

Constatou-se no campo de pesquisa o excesso de jornada de

trabalho, principalmente na época do plantio, conforme explanado no capítulo

II. Questionados sobre a jornada de trabalho, os/as trabalhadores/as disseram

o seguinte:

108

Thais – E a jornada de trabalho, como era, lá? Trabalhador rural – Assim, porque no caso agora né, a gente não tá plantando nem colhendo, a gente pegava as seis e meia até as onze e meia e depois pegava uma e meia [13h30] e largava as cinco e meia [17h30] Thais – E quando tá em época de plantio? Trabalhador rural – Aí época de plantio a gente sai cinco, cinco e meia [da manhã], daí, meio dia para só meia hora, almoçou, ali, já prega o pau até nove, dez [21h, 22h] horas! Thais – E a noite, vocês não trabalham? Trabalhador rural – Assim, quando tá apertado que tem trocancia de turno né? Aí, tem dois turnos, um a noite e outro de dia. Thais – Aí, vocês alternam? Trabalhador rural – É, das seis às seis, pega as seis da manhã até seis da tarde, outro pega das seis da tarde as seis da manhã. Thais – Nessa época de plantio e colheita vocês têm folga todo final de semana? Trabalhador rural – Tem não. Thais – Aí, vocês ficam direto lá? Trabalhador rural – Aí, e o seguinte: folga nesse período é só de quinze [em quinze] dias ou mais a não ser que chova muito, né, e não dê pra colher ou plantar. Aí, eles liberam pra vir dormir em casa e no outro dia retorna. (comunicação oral)54

Algumas fazendas mantêm alguns serviços por vinte e quatro horas,

com organização de turnos de trabalho. Uma parte dos trabalhadores cumprem

turno das seis horas da manhã até às dezoito e a outra parte das dezoito até às

seis. Os trabalhadores nessas fazendas, relataram que fazem o turno do

período da noite em uma semana e, na seguinte, trocam e fazem o do dia.

Thais – Aí, vocês pegavam que horas o serviço? Trabalhador rural – O serviço mesmo era umas seis e meia [6h 30]. Quando era época de plantio a gente saía, tinha uma vez que a gente saiu três [03h] horas da manhã. Nós dormimo tudo no chão, não chegamos a tomar banho não, porque não dava tempo. Cinco horas [05h] de novo tinha que levantar. Aí, não dava tempo. Era perigoso porque se nós não desse ao menos uma cochilada, quando está em cima daquela máquina, ali, vai que a gente vai e cai, é pior ainda, né? Thais – Aconteceu de alguém cair? Trabalhador rural – Não, aconteceu não. Thais – Mas vocês tinham sono? Trabalhador rural – Aqui, acolá, eu dava uma cochilada. Thais – Você cochilava em cima da máquina?

54

Trabalhador rural, 25 anos, operador de máquinas. Entrevista realizada no STTR, em Uruçuí, no dia 07/02/2009.

109

Trabalhador rural – É, porque a gente trabalhava até tarde da noite, aí, cochilava, não tinha como não cochilar, não tinha jeito! Thais – Aí, você cochilava de que jeito? Trabalhador rural – Ficava lá em pé, a gente estava ali em pé. Aí, ficava olhando se estava normalizada as máquinas, lá. Thais – E quem estava dirigindo a máquina cochilava que horas? Trabalhador rural – Quem tava dirigindo não tinha tempo de cochilar não, por causa que ali é atenção direto, não tem. É direto pra não sair de cima do risco. Thais – Mas eles conseguiam ficar sem cochilar? Trabalhador rural – Conseguia, só que tinha vez: Eu trabalhava mais um amigo meu uma vez que ele parou a máquina, aí, chamaram a atenção dele. Só de sono. É porque não tem jeito da gente não cochilar, não. (comunicação oral)55

Nota-se que as jornadas de trabalho na agricultura, nesses períodos

de pico, se estendem até dezoito horas diárias, muito acima do limite

estabelecido por lei de oito horas diárias. Trabalhadores relatam que sentem

sono e cochilam enquanto trabalham porque não aguentam o ritmo imposto, o

que aumenta em demasia o risco de acidentes de trabalho, inclusive fatais.

Thais – Esses períodos de colheita e plantio, quantas horas vocês trabalhavam num dia? Trabalhador rural – Nós pegava das quatro da manhã, acordava as quatro da manhã até nove, dez da noite, as vezes onze . Depende da terra molhada. Thais – No outro dia, a mesma coisa? Trabalhador rural – Mesma coisa Thais –Isso dava quanto tempo? Trabalhador rural – Quarenta dias, de trinta e cinco a quarenta dias, fazendo vinte e dois mil hectares. A máquina faz oitenta hectares por dia, rodando bem. As plantadeiras muito grandes faz cento e poucos. Thais – E quando não estava nesse período de colheita e plantio vocês trabalhavam que horário? Trabalhador rural – Nós pegava seis e meia, seis horas [da manhã] até cinco e meia da tarde. Thais – E vocês faziam quanto tempo de almoço? Trabalhador rural – Nós descansava uma hora, às vezes menos de uma hora, não todos os casos. Quando é plantio, não tem não. Só almoça e pega [retoma] (comunicação oral)56.

Esse período de pico, em que os trabalhadores cumprem jornadas

de trabalho excessivas, se estende de trinta a quarenta e cinco dias. Ademais, 55

Trabalhador rural, 21 anos, serviços gerais. Entrevista realizada pela autora, na residência do trabalhador, em Uruçuí, no dia 08/02/2009. 56

Trabalhador rural, 27 anos, operador de máquinas. Entrevista realizada pela autora, no STTR, em Uruçuí, em 06/02/2009

110

nessa época eles não fazem horário de almoço, apenas param por cinco

minutos para a refeição e logo em seguida continuam a trabalhar. No mesmo

período, também as cozinheiras se dizem submetidas a um excesso de

jornada:

Thais – E como era a jornada de trabalho de vocês? Trabalhadora rural – Quando era plantio e colheita levantava quatro horas[ da manhã] e não parava não, ficava acordada o dia todo, porque terminava o almoço já ia fazer pra adiantar o pão, o bolo do café da manhã... Thais – Você fazia pão, bolo, tudo, sozinha? Trabalhadora rural – Sozinha, a outra pouco me ajudava, ela só ficava na limpeza. E aí era terminando o almoço já lavando a louça pra começar a janta. Cinco e meia a janta já tava na mesa. Thais – E você ia dormir que horas? Trabalhadora rural – Oito, nove da noite. Até oito e meia eu ainda tava na cozinha lavando prato.57

As cozinheiras, nesta época de pico do trabalho na agricultura,

acordam, em média, às quatro da manhã para preparar o café e só terminam o

trabalho por volta de vinte e uma horas, quando encerram as tarefas

relacionadas ao jantar.

As tarefas atribuídas a elas são o preparo dos alimentos do café

(pão, bolo, cuz cuz, café), almoço (salada, arroz, feijão, carne, suco) e jantar (o

mesmo cardápio do almoço), além da higienização da louça, ambientes da

cozinha e refeitório.

Nesse período, sobretudo, o próprio tempo para as refeições fica

comprometido, sendo feitas no próprio campo e não no refeitório.

Sobre o local onde trabalhadores que estão no campo fazem suas

refeições, os relatos foram os seguintes:

Thais – E quando vocês vão pro campo, vocês levam a comida ou vocês voltam para almoçar no refeitório? Trabalhador rural – Não, a gente come lá no campo mesmo Thais – Tem alguma sombra, algum lugar para vocês [ficarem para] comerem, onde é que vocês comem? Trabalhador rural – Debaixo das máquinas (comunicação oral)58

57

Trabalhadora rural, 35 anos, cozinheira. Entrevista realizada pela autora, no STTR de Uruçuí, em 27/04/2009. 58

Trabalhador rural, 25 anos, operador de máquinas. Entrevista realizada no STTR, em Uruçuí, em 07/02/2009.

111

Thais – E quando vocês estavam no campo, vocês voltavam para almoçar? Trabalhador rural– Não, almoçava no campo. Thais – E como é que era? Trabalhador rural – Marmitex59, quentinha. Meio dia. Thais – Mas, aí, vocês almoçavam debaixo do sol? Trabalhador rural – É, se é plantio, em cima do trator, caçava uma sombra, se era outro, encostava. Almoçava quentinha. Tipo assim, quem vai gradear no dia almoça no campo. Não tem como pegar todos [trabalhadores] e levar [para o refeitório]. Eles passaram uns dias, o Ministério do Trabalho estava aqui, aí eles levavam, [os trabalhadores] passaram uma semana almoçando na sede. Mas quem ta no campo almoça no campo. Tem o carro pra levar a comida (comunicação oral)60.

Os trabalhadores que estão no campo almoçam, lá, mesmo. Seja

dentro das máquinas, sob as máquinas, ou ao sol, pois nenhuma fazenda lhes

disponibiliza tendas ou algum tipo de proteção.

Eles relataram que nas épocas de plantio e colheita só param por

cinco minutos para a refeição, pois, se os gerentes virem a máquina parada por

muito tempo, chamam a atenção dos operadores pelo rádio. Os trabalhadores

que fazem a pulverização da lavoura, e os que trabalham como auxiliares de

plantio, em contato com as sementes imunizadas por agroquímicos, almoçam

no campo, não lavando sequer as mãos para as refeições porque a água que

levam é para beber e não para higienização.

Thais – E você comia onde? Trabalhador rural – Eu comia, lá, no tempo, mesmo. Tinha vez que nós era os últimos a comer porque nós estava naquela ponta lá. Aí, era longe. Thais – Aí, você ia comer que horas? Trabalhador rural– Ia comer umas doze horas [meio dia], doze e meia. Thais – Você já estava com fome, já? Trabalhador rural – Com uma fome danada! Thais – Vocês comiam debaixo do sol? Trabalhador rural – Debaixo do solzão, aí! Debaixo da plantadeira não dá pra ficar e, às vezes, pegava chuva no meio da roça. Aí, ficava molhado e os trator são cabinado [possuem cabines fechadas], eles não quer que suje lá dentro. Aí, não tinha como mesmo. Thais – E tinha como lavar as mãos? Trabalhador rural – Não, não (comunicação oral)61.

59

Esse termo é usado para se referir à refeição, levada pelo motorista da empresa em recipientes descartáveis, aos trabalhadores no campo. 60

Trabalhador rural, 27 anos, operador de máquinas. Entrevista realizada pela autora, no STTR, em Uruçuí, em 06/02/2009 61

Trabalhador rural, 21 anos, serviços gerais. Entrevista realizada pela autora, na residência

112

O trabalho na agricultura, por ter esses períodos de pico, necessita

de horas extras, uma vez que os períodos de plantio e colheita são curtos e

sempre acontecem imprevistos, como a chuva que deixa a terra muito molhada

e impede a entrada das máquinas para o trabalho. Porém, não houve um

esclarecimento sobre o sistema de remuneração das horas extras. O fato é que

das fazendas pesquisadas, três delas (Canel, Progresso e Itália) adotam o

banco de horas62 e efetuam o pagamento em algumas situações. As outras

efetuam a remuneração direta dessas horas. Como os empregados não

entendem o sistema do banco de horas, sentem-se prejudicados, pois

normalmente, quando chove e não tem como trabalhar no campo, as fazendas

os dispensam naqueles dias e compensam as horas-extras.

Todos os trabalhadores entrevistados afirmaram que preferem

receber as horas extras em vez de compensar. Por desconhecerem as regras

do banco de horas, sentem-se lesados quando a empresa faz a compensação,

uma vez que, para eles, as horas-extras não são pagas nem compensadas

corretamente.

Trabalhador rural – Não, eles compensavam mas as compensações deles não vale a pena, por exemplo, das quatro da manhã às nove, dez [21h, 22h], você faz uma base de dezesseis, dezessete horas por dia, certo? No final do plantio eles davam 112evar112nte horas-extras pra nós. Thais – Mas essas 112evar112nte horas, eles pagavam? Trabalhador rural – Pagavam ou tiravam em folga. Thais – E, aí, era vocês que escolhiam ou eles? Trabalhador rural – A gente que escolhia, mas era melhor pagar porque, folga: Sabe por que? Depois que terminava tudo, por exemplo, hoje é sábado né, você trabalha até meio dia, que é o normal né, o certo por lei. Aí, o gerente descontava sábado à tarde nosso Thais – Mas o sábado à tarde vocês não trabalhavam. Trabalhador rural – Pois é, eu tenho os papel aí, foi por isso que começaram a pegar birra com eles e se você não assinasse pegava advertência. Em matéria de alojamento, epeí

do trabalhador, em Uruçuí, em 08/02/2009. 62

O banco de horas é uma sistemática adotada pelo empregador para compensar todas as prorrogações de horas de trabalho do empregado com as respectivas reduções. O controle deve ser feito individualmente por intermédio de uma ficha onde se consignará periodicamente o quantum extrapolado ou mitigado em relação ao limite semanal de 44 horas. Ao final do ano o empregador terá que, necessariamente, por cobro à compensação (DALLEGRAVE NETO, 2000, p. 93)

113

[EPI], essas coisas eu não tenho o que reclamar deles, só tenho que reclamar das horas.63

Nessa perspectiva, a maneira como se faz a remuneração das

horas-extras não é explicada para os/as trabalhadores/as, mas imposta, pois

se não concordassem com o sistema ou o questionassem, corriam o risco de

levar advertência.

Thais – E a remuneração das horas-extras? Trabalhador rural – Olha, eles estavam pagando, sabe? Agora, esse mês, eles não pagaram, fizeram o seguinte: eles inventaram o banco de horas, inclusive, eu desci [veio para a acidade] essa noite e só vou voltar com quinze dias. Eles não pagaram em dinheiro, mas mandaram a gente ficar em casa, né. Thais – E, aí, vocês preferem o que? Trabalhador rural – Com certeza o dinheiro porque a gente já ganha pouco e, aí, quando... tipo eu passar quinze dias, aqui, aí, fica brabo! Thais – Mas eles não pagaram nenhuma hora-extra? Trabalhador rural – Não. Não pagaram nada, compensaram [dando folga] tudo. E não foi só pra mim não, foi pra muitos. Parte de operador e motorista tudinho foi entrado no banco de horas. (comunicação oral)64

Nesta fala, percebe-se que os/as trabalhadores/as não se sentem

esclarecidos sobre o banco de horas. O entrevistado disse que a fazenda

inventou o banco de horas, na base da ―compensação‖, ou seja, do pagamento

das horas-extras com dias de folga.

Thais – Lá vocês faziam muita hora-extra? Trabalhador rural – Fazia, mas lá era tipo banco de horas, eles davam folga, pelo menos no período que eu trabalhei 113e nunca recebi hora-extra, só compensava. Thais – Vocês preferem receber ou compensar as horas extras? Trabalhador rural – Pelo menos eu, no meu caso, é dinheiro, né. A gente já sai pra trabalhar é porque precisa de dinheiro. (comunicação oral)65

63

Trabalhador rural, 33 anos, operador de máquinas. Entrevista realizada pela autora, na residência do trabalhador, em Uruçuí, em 08/02/2009. 64

Trabalhador rural, 41 anos, motorista. Entrevista realizada pela autora, na residência do trabalhador, em Uruçuí, em 31/05/2009 65

Trabalhador rural, 25 anos, operador de máquinas. Entrevista realizada no STTR, em Uruçuí, em 07/02/2009

114

Esse sistema parece não agradar aos trabalhadores os quais dizem

preferir receber as horas-extras trabalhadas em dinheiro. Como isto não

acontece, eles se dizem insatisfeitos com a situação.

Thais – E as horas-extras, eles pagam vocês? Trabalhador rural – Hora-extra lá é um negócio de um banco de horas, lá. Thais – Como é esse banco de horas? Trabalhador rural – Banco de horas é o seguinte: eles descontam pra dar em dias pra gente ficar em casa. Thais – E vocês gostam? Trabalhador rural – Não, nós faz é zangar! Aqui tem um menino que ta com mais de semana aqui só de banco de horas. Agora teve a colheita que arrochou mesmo, tão tudinho, aí, de banco de horas, tudinho com raiva. Thais – E ninguém quer ficar em casa? Trabalhador rural – Não, o que a gente ganha lá [no trabalho], um pouco mais é nas horas-extras, né, a gente se esforça pra fazer as horas-extras, aí, quando chega no fim do mês é banco de horas! Se fosse pra gente trabalhar pra ficar em casa, a gente ficava em casa, né? Thais – Eles não pagaram nada dessa vez? Trabalhador rural – Esse mês não pagaram nada. Thais – Só compensaram? Trabalhador rural – Só (comunicação oral)66

Assim, a expectativa de que nessa época do ano, quando precisam

fazer as horas-extras, tenham a chance de ganhar um pouco mais, fica

frustrada com o padrão de compensação adotada pelo sistema do banco de

horas.

4.2.2 O trabalho com agroquímicos: uso e (des)proteção

A lei 9.974/2000, que dispõe sobre pesquisa, experimentação,

produção, embalagem e rotulagem, transporte, armazenamento,

comercialização, propaganda comercial, utilização, importação, exportação,

destino final dos resíduos e embalagens, registro, classificação, controle,

inspeção e fiscalização de agrotóxicos, conceitua agrotóxico como sendo

produtos e componentes de processos físicos, químicos ou biológicos

destinados ao uso nos setores de produção, armazenamento e beneficiamento

66

Trabalhador rural, 28 anos, serviços gerais. Entrevista realizada pela autora, na residência do trabalhador, em Uruçuí, em 31/05/2009.

115

de produtos agrícolas, pastagens, proteção de florestas nativas ou implantadas

e de outros ecossistemas, como também em ambientes urbanos, hídricos e

industriais cuja finalidade é alterar a composição da flora e da fauna, a fim de

preservá-la da ação danosa de seres vivos considerados nocivos. Também são

chamados de praguicidas, pesticidas, defensivos agrícolas, agroquímicos ou

biocidas (MORAES, et 115e, 2007)

Esses produtos são utilizados na agricultura como forma de controle

ou eliminação dos problemas decorrentes dos ataques de pragas e doenças

nas plantas cultivadas e nos animais de criação. Porém, se não aplicados de

forma adequada, causam danos ao meio ambiente e a quem os maneja.

Observou-se que as fazendas fazem a pulverização da lavoura

terrestre com equipamento do tipo autopropelido, com cabine fechada, ar

condicionado e filtro de carvão ativado (que impede a passagem do

agroquímico para dentro da cabine). Também é feita a pulverização aérea.

Entre os produtos mais usados nas lavouras, destaca-se o glifosato, um

herbicida que, segundo a sua bula, tem periculosidade II, ou seja, numa

escala67 de I a IV, ele se encontra no nível II.

Conforme informado pelos próprios trabalhadores que lidam com a

dosagem de agroquímicos e pulverização, eles fazem anualmente os exames

de sangue para verificar a taxa de colinesterase68 e que, em sua maioria, são

submetidos ao curso de 24 horas do SENAR, obrigatório para quem manipula

67

Os agrotóxicos produzidos, importados, exportados, comercializados e utilizados no Brasil devem ser registrados nos órgãos federais competente, Ministério da Agricultura, Ministério da Saúde – ANVISA e Ministério do Meio Ambiente – IBAMA (Lei 7.802, 11/07/89; Dec. 98.816, 11/01/90; Dec. 991, 24/11/93; Dec. 4.074, 04/01/02), com aplicação da metodologia de avaliação do Potencial de Periculosidade Ambiental (PPA) (Portaria IBAMA nº 84, 15/10/96). Nesse sistema, são consideradas múltiplas linhas de evidência, sendo a positividade nos testes de mutagênese, teratogênese, reprodução em mamíferos e carcinogênese decisiva para a reprovação do registro, sem entrar com evidências na classificação de perigo. Enquanto os parâmetros de persistência e bioacumulação recebem peso de evidência 2, os de transporte e a ecotoxicidade são peso 1. O resultado da ponderação conforme o sistema de classificação atribui ao produto técnico e formulado um índice quantitativo: Classe I - Produto Altamente Perigoso; Classe II - Produto Muito Perigoso; Classe III - Produto Perigoso (medianamente); Classe IV - Produto Pouco Perigoso. 68

Trata-se de uma enzima cujo papel fundamental é a regulação dos impulsos nervosos através da degradação da acetilcolina na junção neuromuscular e na sinapse nervosa. Existem duas categorias de colinesterases: a acetilcolinesterase (colinesterase verdadeira), encontrada nos eritrócitos, no pulmão e no tecido nervoso; e a colinesterase sérica, sintetizada no fígado, também chamada de pseudocolinesterase. Um valioso indicador da relação entre exposição a agrotóxicos e problemas de saúde é o nível, no sangue, da enzima colinesterase.( ___, 2009)

116

agroquímicos. Por ocasião das entrevistas com esses trabalhadores, não

houve nenhum relato de intoxicação por dosagem ou pulverização de lavoura.

O grande problema presente nas falas, relativas ao uso de

agroquímicos, diz respeito a imunização das sementes. Todos os casos de

intoxicação relatados nas entrevistas ocorreram por essa ocasião ou do plantio,

com trabalhadores auxiliares de plantio, em decorrência do contato com

sementes imunizadas.

Thais – Você tem noticia de alguém que foi intoxicado? Trabalhador rural – Os meninos esse ano, mesmo, reclamaram do veneno porque esse ano botaram demais. Pra abastecer usa máscara, mas não tem jeito do caboclo não sentir. Aí, eles se deram mal. Mas, aí, eles tiraram, até um [trabalhador], lá, do arroz, eles tiraram para não plantar mais porque tava forte demais porque todos que foram para lá se deram mal. Foi três, parece. É porque para abastecer a plantadeira sobe aquele cheiro porque tem que segurar o cano, a coisa para abastecer, aí, sobe. Thais – E quando alguém passa mal por causa do veneno, o que acontece? Trabalhador rural – Não, aí eles levam lá no escritório que tem todo tipo de remédio, manda. Se tiver ruim, leva no médico. (comunicação oral)69. Thais – E trabalhador intoxicado com agrotórixo? Trabalhador rural – Eu, mesmo, no primeiro ano que eu trabalhei, eu intoxiquei duas vezes. Thais – E como foi, o que você sentiu? Trabalhador rural – Eu senti tontice. Foi em dois mil e seis [2006]. De dois mil e seis pra dois mil e sete. Eu tava rabixando, a rabixeira fica atrás da colhedeira, da plantadeira plantando, e era veneno de arroz, era plantio de arroz. Thais – Por que plantava e passava veneno ao mesmo tempo? Trabalhador rural – Não, já era imunizada, já, tudo, colocava, lá, aí, eu comecei no outro dia, era uma segunda feira, eu plantei, ai, o que foi que eu fiz? Eu peguei e o cara da máquina do trator passou o rádio que eu tava tonto, aí veio [alguém da empresa] me pegar, eu cheguei na fazenda, tomei injeção, aí fiquei lá. Thais – Você não sabe o que era essa injeção? Trabalhador rural – Não, não senti nada, aí, no outro dia eu voltei a trabalhar. (comunicação oral)70

Como se vê, alguns trabalhadores que lidam com sementes

imunizadas tiveram problemas de intoxicação. Nesses casos o socorro

69

Trabalhador rural, 22 anos, trabalha com serviços gerais. Entrevista realizada pela autora, no STTR de Uruçuí, no dia 07/02/2009. 70

Trabalhador rural, 27 anos, operador de máquinas. Entrevista realizada pela autora, no STTR de Uruçuí, no dia 06/02/2009

117

oferecido aos trabalhadores foi a aplicação de injeção de atropina71, sem

porém esclarecê-los sobre o medicamento.

Thais – Você estava usando o equipamento quando aconteceu isso? Trabalhador rural – Eu estava de máscara. Thais – E era aquela máscara simples ou a de filtro? Trabalhador rural – Tinha as duas, mas eu tava usando a simples. (comunicação oral)72

Dentre os EPIs obrigatórios para quem trabalha com agroquímicos,

na pulverização, dosagem ou manipulação de sementes imunizadas, destaca-

se a máscara com filtro de carvão ativado, que impede a inalação do produto.

No caso de intoxicação relatado, o trabalhador usava apenas a máscara

simples73, indicada para proteger tão somente de poeira, de modo que a

intoxicação se deu por não se estar utilizando o EPI correto para o manuseio

de sementes imunizadas.

Thais – E daí? Trabalhador rural – E, aí, eu peguei, tomei essa injeção. Thais – Quem é que deu essa injeção, algum enfermeiro?

Trabalhador rural – não, foi o filho do dono, que fica no escritório. Sim, aí, peguei, continuei trabalhando, mas não fui mais pra esse serviço. Aí, quando foi um mês depois, fui rabixar milho, aí, inchou minha cara, isso aqui inchou que eu não enxerguei quase nada! Aí, passou rádio pro gerente, o gerente veio, aí, fui pro escritório. (comunicação oral)74

Pela fala deste trabalhador, no caso de intoxicação relatado, a

medicação que lhe foi ministrada não o foi por um profissional de saúde

habilitado para tal atendimento, não lhe sendo propiciada, portanto a chance de

atendimento médico.

Thais – A semente estava tratada com agroquímico?

71

A atropina é um alcalóide, encontrado na planta Atropa belladonna e outras de sua família, que interfere na ação da acetilcolina no organismo. Ele é um antagonista muscarínico que age nas terminações nervosas parassimpáticas inibido-as. 72

Trabalhador rural, 27 anos, operador de máquinas. Entrevista realizada pela autora, no STTR de Uruçuí, no dia 06/02/2009. 73

Existem dois tipos de máscaras usadas nesse tipo de trabalho na agricultura: a máscara simples que protege as vias respiratórias da poeira e alguns elementos naturais e a máscara com filtro de carvão ativado, que é própria para o manuseio de agroquímicos. 74

Trabalhador rural, 27 anos, operador de máquinas. Entrevista realizada pela autora, no STTR de Uruçuí, no dia 06/02/2009.

118

Trabalhador rural – Sim, aí, eu peguei, fui lá pro escritório. Thais – Dessa vez, de novo, você só estava com a máscara simples? Trabalhador rural – Estava com a máscara simples. E peguei, tava tudo inchado, aí, lavou com soro, aí, fiquei lá, aí teve que vir pra cidade porque parece que era três horas ou cinco horas da tarde e eu vi que tava inchando isso aqui, aí, vim no médico, aqui, peguei 118evar118nte reais, lá, no vale, aí, consultei, aí, passou remédio pra desinchar, ai, no outro dia desinchou. Passei dois dias aqui [na cidade]. Thais- Esse dinheiro eles descontaram depois? Trabalhador rural – Descontaram. A fazenda não entrou com despesa, não. Aí, passei dois dias, depois voltei a trabalhar, aí, queriam atestado. Mas eu não trouxe, não gosto de botar atestado. Aí, eles não descontaram. (comunicação oral)75

A fala aponta para uma omissão de socorro pelo empregador que,

além de não propiciar atendimento médico ao trabalhador, desconta dele o

valor do ―vale‖, ou seja, do dinheiro que recebeu adiantado para ir à cidade se

consultar com um médico.

Thais- E o médico falou se aquilo que você teve, aquele inchaço, foi alguma alergia ou intoxicação? Trabalhador rural – Sim, ele falou que era o veneno, o médico. Minha pressão alterou, que eu já tinha problema de pressão, ai alterou e, aí, eles descontou no pagamento. Eles tinham que ver que eu estava doente, mas não deram [assistência médica]. Eu tive que entrar com despesa. Transporte também não deram, fui de carona no carro [do vendedor] da semente, paguei passagem pra voltar. Thais – E aí o médico passou esse remédio, você tomou e desinchou? Trabalhador rural – Desinchou. (comunicação oral)76

De acordo com este trabalhador, ele já tinha problema de saúde, no

caso, hipertensão arterial. Assim, ele não poderia lidar com agroquímicos. Isto

tanto aponta para a possibilidade de o empregador ter conhecimento deste fato

e não tê-lo considerado, como para a possibilidade de desconhecimento dessa

condição desse trabalhador. De todo modo, no caso desta segunda

possibilidade, é de se questionar se os trabalhadores são submetidos a

exames admissionais e periódicos, bem como a forma como esses exames são

75

Trabalhador rural, 27 anos, operador de máquinas. Entrevista realizada pela autora, no STTR de Uruçuí, no dia 06/02/2009. 76

Trabalhador rural, 27 anos, operador de máquinas. Entrevista realizada pela autora, no STTR de Uruçuí, no dia 06/02/2009.

119

feitas. Além disso, nota-se que a empresa não o transportou até o local de

atendimento médico, em mais uma omissão de socorro do empregador.

Os auxiliares de plantio, como relatado nas entrevistas, somente

usam a máscara simples, trabalham com a farda (calça, camisa e bota), não

calçam luvas e, quando entram em contato com a semente ou aspiram o

cheiro, pode acontecer a intoxicação, com sintomas de inchaço da face,

tontura, vômito e diarréia. Dessa forma, tornam-se expostos a riscos de saúde

devido ao trabalho desprotegido. Há relatos sobre trabalhadores que chegaram

a desmaiar no momento em que faziam a imunização de sementes.

Thais – E, lá, você teve algum problema de intoxicação? Trabalhador rural – Não Thais – Alguém já teve, lá? Trabalhador rural – Lá, tem muito, acontece muito. Thais – E o que acontece? Trabalhador rural – Rapaz, pra rua eles [empresa] não mandam ninguém, não sabe, assim pra mandar pra médico, sabe? Eles dão uma injeção, lá, que corta o efeito. Thais – Que injeção que é essa? Trabalhador rural – Não sei que injeção que é essa. Principalmente na imunização da semente de milho, é muito forte o veneno, lá. Geralmente, tem gente caindo lá, desmaiando. Thais – Aí, a pessoa cai, desmaia, e eles dão a injeção? Trabalhador rural – Não. A pessoa se sente tonto, dá vômito, desmaia e eles dão a injeção, deita o cara, lá, um pouco. No outro dia, o cara tá lá novinho. Thais – E o cara continua trabalhando? Trabalhador rural – Continua trabalhando. Thais – E quem se sente mal, assim, está usando o epeí [EPI]? Trabalhador rural – Eu não sei se eles usavam adequadamente o epeí também, né. (comunicação oral)77

As informações constantes nas falas apontam, para a precariedade

do socorro prestado aos trabalhadores que apresentam problemas de saúde

decorrentes da própria atividade laboral. De fato, isto pode ser caracterizado

como omissão de socorro médico, no caso, o profissional competente para

prestar atendimento, prescrever medicação e orientar a condução do

tratamento. Nesse contexto, parece ser comum que trabalhadores que se

machuquem no trabalho ou adoeçam pratiquem a automedicação, por não

serem devidamente atendidos por um profissional de saúde.

77

Trabalhador rural, 33 anos, operador de máquinas. Entrevista realizada pela autora, na residência do trabalhador, em Uruçuí, em 08/02/2009

120

Trabalhadora rural – Acontecia. Meu marido mesmo andou queimando a cara, lá. Foi arrumar uns pneu lá na oficina e o fogo pegou nele, assim, na cara dele. Aí, o outro também aconteceu a mesma coisa. O gerente falou que não, que ele queria um salário maior. Thais – E, aí, o que fizeram com o teu marido, trouxeram ele aqui? Trabalhadora rural – Não, o gerente veio pra Uruçuí no outro dia e nem perguntou: ―tu quer ir na cidade‖? A gente é que perguntava um ao outro como é que faz. Um dizia – ―lava com shampoo, lava com isso ou aquilo‖. E a gente fazia. Eles não traziam o doente, aqui [cidade], pra fazer uma consulta. Thais – E, lá, vocês nunca tiveram cursos de primeiros socorros pra saber o que fazer quando acontece algum acidente? Trabalhadora rural – Não, a gente saía perguntando pra cada um: o que bebe quando esta sentindo isso? (comunicação oral)78.

Deduz-se que, a prática da automedicação está presente, também,

muitas vezes, como consequência da distância das fazendas da cidade, que se

soma à referida omissão dos empregadores ou seus representantes em

providenciar atendimento médico para o trabalhador com algum problema de

saúde. Dentre os medicamentos mais comumente usados foram observados o

biofenac79 e atropina. O biofenac é indicado para doenças reumáticas,

inflamatórias e degenerativas e a atropina funciona como antídoto nas

intoxicações por fosforados. Esses medicamentos são ministrados sem a

orientação de um profissional da saúde

Os trabalhadores auxiliares de plantio não recebem treinamento

para manipular agroquímicos porque, de fato, eles não trabalham nessa

função. Porém, ao entrar em contato com as sementes imunizadas, sem usar a

devida proteção, acabam contaminados pelo produto utilizado.

Thais – Como é que foi, você chegou na fazenda, quem é que te ensinou a trabalhar? Trabalhador rural – Eu já tinha trabalhado numa fazenda no Maranhão, aí, eu cheguei lá e o rapaz só disse o que era para fazer. Aí, eu só ficava em cima da máquina olhando se estava tudo certo. Thais — Você não teve nenhum treinamento? Trabalhador rural — não (comunicação oral)80.

78

Trabalhadora rural, 35 anos, cozinheira. Entrevista realizada pela autora, no STTR de Uruçuí, em 29/04/2009 79

Biofenac é o nome fantasia do medicamento com o princípio ativo diclofenaco dietilamônio. 80

Trabalhador rural, 21 anos, serviços gerais. Entrevista realizada pela autora, na residência do trabalhador, em Uruçuí, em 08/02/2009.

121

Thais – Vocês receberam algum tipo de treinamento, lá, para trabalhar? Trabalhador rural – Não. Thais – Para trabalhar com máquinas, para usar equipamentos? José – Não, Thais – E quando você fez o tratamento das sementes eles não falavam como tinha que usar o produto? Trabalhador rural – não, aí, eles davam só a explicação. Thais – Quem dava essa explicação? Trabalhador rural – No tempo que eu estava, lá, veio um cara não sei de onde para imunizar. Todo ano vem alguém diferente, eles explicavam só – ―você tem que fazer isso, isso e isso‖. Thais – Mas treinamento, curso, não tinha. Trabalhador rural – Não (comunicação oral)81.

Segundo as falas dos trabalhadores que imunizam as sementes,

bem como as dos auxiliares de plantio que tem contato com as sementes

imunizadas, não receberam eles treinamento, não utilizam o EPI apropriado e,

quando acontece intoxicação, não têm o socorro dos empregadores. De fato,

encontram-se expostos a riscos iminentes de saúde. Sobre o uso do EPI é do

que trataremos a seguir.

4.2.3 Sobre o uso de Equipamento de Proteção Individual – EPI.

Os EPIs (equipamentos de proteção individuais) destinam-se a

resguardar a integridade física do/a trabalhador/a durante a sua atividade. A

função dos EPIs é neutralizar ou atenuar um possível agente agressivo contra

o corpo de quem o usa, evitando lesões ou minimizando a sua gravidade, em

casos de acidentes ou exposições a riscos, além de poderem proteger contra

efeitos de substâncias tóxicas, alérgenas ou agressivas, que podem causar

doenças ocupacionais.

Os EPIs podem ser classificados em quatro grupos: proteção para a

cabeça, proteções para os membros superiores e inferiores, proteção para o

tronco e proteção das vias respiratórias e cintos de segurança (quadro 5).

Observou-se que as fazendas fornecem gratuitamente para os funcionários

duas fardas (calça e camisa), um par de botas, uma máscara, um par de luvas,

81

Trabalhador rural, 22 anos, trabalha com serviços gerais. Entrevista realizada pela autora, no STTR de Uruçuí, em 07/02/2009.

122

um par de protetor auricular (para operadores de máquinas) e o EPI para

manusear agroquímicos, que consiste na roupa impermeável, mascara com

filtro, luvas, avental, viseira e óculos.

Thais – E o pessoal usa? Trabalhador rural – Usa, é obrigatório, né, tem pessoas que se desleixam mas aí eles tiram. E usando epeí, mesmo assim tem pessoas que se sentem mal porque não é todo mundo que consegue suportar agrotóxicos, essas coisas. =75

De fato, existe resistência dos trabalhadores em utilizar tais

equipamentos. Mas percebe - se que, em fazendas que proporcionam cursos e

treinamentos para os funcionários, manifestam eles, consciência da

importância de se usar o EPI.

Trabalhador rural – Tem que usar né? Até para facilitar para a gente né? A saúde da gente, né, quem se preocupa com a saúde. (comunicação oral)82

Trabalhador rural – A gente tinha curso, assim, de proteção. De vez em quando vinham dar curso pra gente, porque a gente não entendia, né? O que a gente entendia a gente usava porque é muito bom para gente. Thais – E esses cursos eram para que? Trabalhador rural – Era pra falar sobre veneno, né? Esse negócio de doença, câncer, essas coisas causada pelo veneno. Thais – Aí, vocês entendiam direitinho? Trabalhador rural – Entendia, a maioria do pessoal entendia e tinha que usar. (comunicação oral)83.

Manifestam, ainda, consciência do perigo do trabalho com

agroquímicos sem a devida proteção e demonstram, até, um certo medo de

manipular esses produtos.

Trabalhador rural – Não. Eu não gosto de trabalhar com veneno, não. Thais – Por que você não gosta? Trabalhador rural – Porque veneno, ele, é perigoso e eu acho que não dá certo. Tem vez que eu trabalhei com veneno de matar formiga, lagarta. Aquele, lá, eu trabalhei porque só mata bicho que não tem osso. Agora os outros eu não trabalho, não. Thais – O que mata bicho que tem osso, não? Trabalhador rural – ) O que mata bicho que tem osso, não. (comunicação oral)84.

82

Trabalhador rural, 25 anos, operador de máquinas. Entrevista realizada no STTR, em Uruçuí, em 07/02/2009. 83

Trabalhador rural, 40 anos, operador de máquinas. Entrevista realizada pela autora, no STTR, em Uruçuí, em 06/02/2009

123

Mas nas fazendas em que não se oferecem treinamentos, os

funcionários relutam em usar o EPI, desconhecendo a sua importância.

Trabalhador rural — Eu não sei para que tem que trabalhar com aquele capacete, só mesmo se cair alguma coisa do céu na cabeça. Porque não tem por que trabalhar de capacete?

No entanto, não é apenas a falta de informação o motivo para não

se usarem EPIs. De fato, mesmo com alguma consciência dos riscos do

trabalho desprotegido, trabalhadores afirmam que somente utilizam o EPI

quando o patrão ou gerente está fiscalizando ou o Ministério do Trabalho

fiscaliza as fazendas. As justificativas mais freqüentes para o não uso do EPI

são desconforto térmico (no caso do EPI usado para manusear agrotóxico) e

incômodo (no caso de protetor auricular).

Trabalhador rural – O que era pior usar era, sabe aquele bichinho velho que aperta o ouvido da gente? Ave, chega

dói,assim, do lado! (comunicação oral)85.

Thais - Vocês sentiam desconforto por causa do calor? Trabalhador rural – Ah, isso, aí, acontece muito, no curso que a gente teve um rapaz falou: ―olha é quente, é tudo mas é bom pra vocês‖. E é desconfortável mesmo, não tem jeito.(Comunicação oral)86

Com efeito, na prática, há algumas dificuldades concretas no uso de

certos equipamentos. Por exemplo, foi informado tanto por empresários quanto

por trabalhadores que os óculos utilizados para manusear agroquímico

apresentam problemas de funcionamento no clima do Piauí, de sorte que assim

que o trabalhador coloca a máscara de filtro e o óculos, devido à transpiração

ocasionada pelo calor, estes se embaçam em segundos.

84

Trabalhador rural, 28 anos, serviços gerais. Entrevista realizada pela autora, na residência do trabalhador, em Uruçuí, em 31/05/2009. 85

Trabalhador rural, 21 anos, serviços gerais. Entrevista realizada pela autora na residência do trabalhador, em Uruçuí, em 08/02/2009 86

Trabalhador rural, 33 anos, operador de máquinas. Entrevista realizada pela autora, na residência do trabalhador, em Uruçuí, em 08/02/2009.

124

Nas falas é comum afirmarem que usam o EPI, assim como que

viam vários colegas sem fazê-lo.:

Thais — Vocês recebiam o epeí [EPI]? Trabalhador rural — Recebia tudinho: a farda, a bota , protetor de ouvido, máscara. Thais — Mas você via gente sem usar? Trabalhador rural — Isso via sim. Tinha uns rapaz, lá, que faziam a dosagem do veneno, eles enfiavam a cara no caldeirão de veneno sem máscara. Ele mora bem ali. Depois você vai lá conversar com ele. (comunicação oral)87 Thais – Você via o pessoal sem epeí? Trabalhador rural – Via, muito. Eu via sem máscara, mas com aquela roupa de plástico. (comunicação oral)88

Além dos aspectos referidos, há que se considerar, ainda, o

problema da quantidade dos EPIs disponibilizados aos trabalhadores. Estes

afirmam ser comum o fato de, quando as botas estão molhadas, eles trabalham

de chinelos até que elas sequem. Isto porque todas as empresas fornecem

apenas um par de botas aos trabalhadores e, quando chove, estas ficam

molhadas. Outro elemento importante nesta resistência ao uso de EPIs é o

fato de ter a obrigação de lavá-los após o uso, o que também faz com que

alguns trabalhadores deixem de usar o EPI.

As fazendas pesquisadas possuem assessoria na área de

segurança do trabalho, sendo que o técnico de segurança promove palestras

sobre a importância do uso do EPI89. As empresas adotam o sistema de

advertências90 para trabalhadores que deixam de usar os equipamentos e os

gestores afirmam que se os utilizam mais pela coerção que pela consciência, o

que é corroborado pelos próprios trabalhadores, confirmando o que diz Rangel

87

Trabalhador rural, 32 anos, operador de máquinas. Entrevista realizada pela autora, na residência do trabalhador, em Uruçuí, em 08/02/2009 88

Trabalhador rural, 21 anos, serviços gerais. Entrevista realizada pela autora, na residência do trabalhador, em Uruçuí, em 08/02/2009. 89

Aqui convém lembrar que as formas de percepção do risco compatibilizam dois saberes: o técnico-científico: indispensável para o funcionamento da empresa, mais ou menos refinado a depender da função. Por outro lado, há o saber empírico ou de senso comum, adquirido na convivência cotidiana de trabalho. No que tange a formas de proteção contra os riscos, trabalhadore/as compatibilizam o desconforto proporcionado pelo uso dos EPIs com os saberes adquiridos no cotidiano de EPI, selecionados pelo bom senso. Neste sentido, não se pode desconsiderar o processo de transmissão cultural através do qual não é incomum que, no mundo do trabalho, operadores chefes, em geral, mais velhos e experientes, reconheçam práticas decorrentes do saber pragmático elaborado no cotidiano de trabalho como eficazes na proteção e passam cautelosamente aos mais novos (RANGEL, 2009). 90

A advertência é contemplada na convenção coletiva de trabalho que prevê, na cláusula 7, inclusive, demissão por justa causa para trabalhadore/as reincidentes.

125

(2009) sobre as pessoas tenderem a subestimar regularmente os riscos em

situações que lhes sejam familiares nas quais os riscos podem aparecer como

de baixa probabilidade:

Trabalhador rural. – Ultimamente eu usava direto porque eu não gostava de reclamação, então eu usava direto mesmo. (comunicação oral)91. Thais — E vocês usavam? Trabalhador rural — usava, senão eles vinham com advertência pra cima de nós (comunicação oral)92.

4.2.4 Acidentes de trabalho e CIPA na visão de trabalhadores/as rurais.

Uma das principais 125evar125ntes125as da modernização da

agricultura brasileira foi a substituição progressiva do trabalho manual pelo

mecanizado. A introdução de instrumentos e insumos modernos nas tarefas

agrícolas tanto ampliou a produtividade do trabalho, quanto o fez

significativamente no que tange aos tipos de acidentes laborais a que estão

sujeitos os trabalhadores rurais, antes restritos basicamente a quedas,

ferimentos com ferramentas (enxada, facão) e envenenamentos por animais

peçonhentos. A manipulação de agrotóxicos e a utilização intensa de máquinas

agrícolas aumentou consideravelmente os riscos de acidentes de trabalho para

os trabalhadores rurais em suas atividades diárias (RAMBO, 2002)

Acidente do trabalho é o que ocorre pelo exercício de uma atividade

a serviço da empresa, contra o segurado empregado, trabalhador avulso,

médico residente, causando lesão corporal ou perturbação funcional que cause

à morte ou a perda ou redução, temporária ou permanente, da capacidade para

o trabalho. Será caracterizado tecnicamente pela perícia médica do INSS,

mediante a identificação do nexo entre o trabalho e o agravo, que se considera

estabelecido quando se verificar um vínculo técnico epidemiológico entre a

atividade da empresa e a entidade mórbida motivadora da incapacidade,

elencada na Classificação Internacional de Doenças (CID).

91

Trabalhador rural, 22 anos, serviços gerais. Entrevista realizada pela autora no STTR, em Uruçuí, em 07/02/2009. 92

Trabalhador rural, 32 anos, operador de máquinas. Entrevista realizada pela autora, na residência do trabalhador, em Uruçuí, em 08/09/2009.

126

Considera-se agravo, para fins de caracterização técnica pela

perícia médica do INSS, lesão, doença, transtorno de saúde, distúrbio,

disfunção ou síndrome de evolução aguda, subaguda ou crônica, de natureza

clínica ou subclínica, inclusive morte, independentemente do tempo de latência.

Reconhecidos pela perícia médica a incapacidade para o trabalho e o nexo

entre o trabalho e o agravo, serão reconhecidas as devidas as prestações

acidentárias a que o beneficiário tenha direito (RAMBO, 2002)

Observou-se que os acidentes mais frequentes nas empresas

agropecuárias investigadas são cortes, perda de parte dos dedos em

máquinas, picada de animais peçonhentos, colisão de veículos, e intoxicação

por agroquímicos. Por ocasião das entrevistas com empregadores e

trabalhadores rurais, verificou-se que os acidentes laborais ocorridos, estão,

em grande parte, relacionados com o não uso do EPI, principalmente de botas,

luvas, máscaras, sem dizer do próprio para manuseio de agroquímicos.

A assistência prestada aos trabalhadores vítimas de acidentes, tidos

como graves, resume-se a levar o acidentado para o hospital da cidade e

providenciar os documentos necessários para a comunicação ao INSS.

Ademais, as fazendas que possuem mais de 20 empregados têm constituída a

CIPATR (Comissão Interna de Prevenção de Acidente de Trabalho Rural),

conforme relatado no Capítulo II desta dissertação.

No entanto, trabalhadores questionados sobre a finalidade da CIPA,

manifestaram não ter conhecimento a respeito. Há quem afirme ter votado,

mas que nunca soube dos resultados e que nunca participou de nenhum tipo

de curso ou treinamento promovido pela comissão.

Thais – Você tem conhecimento da presença da cipa lá? Trabalhador rural – Rapaz, nós até assinamo um negócio lá sobre isso, aí. Foi um dia que um menino, lá tinha quebrado um dedo que não era da função que ele tava. Aí fizeram uma reunião e foi falado que todo mundo tem que trabalhar só na sua função. Thais – Mas você sabe o que é que é essa cipa? Trabalhador rural – Não (comunicação oral)93

E há quem fale de procedimentos ambíguos de eleição de

representante da CIPA, na qual quem foi eleito pelos trabalhadores não

93

Trabalhador rural, 22 anos, serviços gerais. Entrevista realizada pela autora no STTR, em Uruçuí, em 07/02/2009.

127

assumiu porque a empresa decidiu por ―alguém do escritório‖. O relator deste

procedimento evidencia descrença na eficácia da CIPA na empresa:

Thais – Você tem conhecimento da atuação da cipa ? Trabalhador rural – Tem, teve até uma eleição, lá, elegeram um presidente, lá. Thais – Mas nessa eleição vocês votaram, participaram? Trabalhador rural – Participei. Nós votamos num guarda que tem, lá.

Thais – E ele ganhou? Trabalhador rural – Ganhou. Mas, aí, eles [pessoal da gestão] disseram que ele não podia ficar porque tinha que ser alguém, lá, do escritório. Aí não deixaram ele, não. Eu sei que ficou alguém, lá, do escritório como presidente. Thais – Mas esse guarda ficou como membro da cipa, mesmo sem ser presidente? Trabalhador rural – Não, ele ficou fora. Thais – E pra que serve a cipa? Trabalhador rural – Eu acho que é só pra enganar mesmo. Só pra dizer que tem. (comunicação oral)94

Há quem relate experiências anteriores em outras empresas com o

mesmo padrão de ausência de controle social95 dos trabalhadores sobre a

CIPA:

Trabalhador rural – Sim, eu trabalhava na empreiteira da Bunge96, mas dentro lá da empresa na construção, e eu via como é que era a cipa [CIPA]. Se você votasse e fosse eleito tinha por dever deles, por direito, por exigência a [trocar] uma calça rasgada, uma bota rasgada, qualquer epeí [EPI] que tivesse estragado você chegava neles lá da cipa [CIPA], aí ele pegava: ―olha, se tá estragado, nós vamos trocar‖. Se alguém voltasse ele falava: ―olha, não tenho, não dá pra atender, esse aqui dá pra trabalhar‖. Chegava e falava, mas lá na fazenda não tinha muita experiência, até de funcionário mesmo, que era mais a gente da roça, não tinha participação de cipa a fazenda. A coisa mais difícil que tem é ter uma cipa numa fazenda que funcione porque empresa, todas, tem: o presidente da cipa tem que falar, o que tiver de errado tem que falar. Thais – Então vocês não davam sugestões pra cipa do que estava errado na fazenda?

94

Trabalhador rural, 40 anos, operador de máquinas. Entrevista realizada pela autora, no STTR, em Uruçuí, em 06/02/2009 95

Controle social é um processo específico pelo qual ocorre a conformação do comportamento humano em sociedade para gerar determinada ordem social por meios indiretos, por meio das próprias pessoas implicadas no processo e também por meio de instituições sociais difusoras de padrões culturais, normativos e cognitivos (CRUBELLATE, 2004). 96

Empresa multinacional holandesa, com filial instalada em Uruçuí em 2003, onde realiza o esmagamento da soja e a extração de seus derivados, como o óleo. Esta empresa é a principal compradora a soja produzida na região de Uruçuí.

128

Trabalhador rural – Não Thais – Por quê? Trabalhador rural – Sim, não tinha explicação pra saber quem era [o representante] e quando ganhou, também não sei quem ficou. Eu sei que quem ficou em primeiro lugar foi um da portaria, não sei se... Acho que é ele, lá. (comunicação oral)97.

Como se vê, as falas expressam deficiência na eficácia da

Comissão, a começar, sobretudo, pelo quase-desconhecimento dos

trabalhadores a seu respeito. Apenas um trabalhador mostrou algum

conhecimento sobre a finalidade da CIPA:

Thais – Você tem conhecimento da presença da cipa [CIPA] lá? Trabalhador rural – tem. Thais – E o que é que e essa cipa [CIPA]? Trabalhador rural – é mais de segurança, né? Para problemas de segurança, né? Thais – E vocês dão sugestões para a cipa [CIPA] do que precisa melhorar? Trabalhador rural – Damo. Lá tem tipo um depósito para colocar sugestões, aí, a gente coloca lá. Thais – e as sugestões são atendidas? Trabalhador rural – eu já reclamei que o alojamento98 é muito quente, mas até agora esta só na promessa. (comunicação oral)99.

Ao que parece, a CIPA está estabelecida nas empresas por força

de uma exigência legal, não funcionando, de fato, no sentido de atingir seu

objetivo principal, que é promover ações de prevenção de acidente de trabalho.

4.2.5 Dos mecanismos de controle do tempo e do corpo de

trabalhadores/as rurais

A Revolução Industrial100, ocorrida no séc. XIX, impôs a

necessidade de adaptação do trabalhador a um novo ritmo de trabalho e a uma

97

Trabalhador rural, 27 anos, operador de máquinas. Entrevista realizada pela autora, no STTR, em Uruçuí, em 06/02/2009 98

Observou-se que alojamento referido nesta entrevista está dentro dos padrões exigidos pela NR 31, porém supõe-se que, pelo fato de os trabalhadores não estarem acostumados a dormir em beliches, sentem alguns tipos de desconforto. 99

Trabalhador rural, 25 anos, operador de máquinas. Entrevista realizada no STTR, em Uruçuí, em 07/02/2009. 100

A Revolução Industrial consistiu em um conjunto de mudanças tecnológicas com profundo impacto no processo produtivo em nível econômico e social. Iniciada na Inglaterra em meados do século XVIII, expandiu-se pelo mundo a partir do século XIX.

129

nova forma de organização do tempo. No Brasil, essa nova ordem passou a ser

implantada, nas principais capitais, no final do século XIX. (MELO; BONI,

2008).

No âmbito e na perspectiva dessa nova ordem que se impunha não

apenas como reorganização do trabalho, mas como um processo civilizatório,

tornou-se necessário ―civilizar‖ os trabalhadores, afastando-os do vício, do ócio,

da vadiagem, dos ambientes ―sujos‖ e ―promíscuos‖ e incutir-lhes novos hábitos

de higiene, novas formas de organização de lazer, nova orientação religiosa,

etc. Os mecanismos para tornar isso possível foram a vigilância e a sanção

(MELO; BONI 2008).

Estabelecer as presenças e as ausências, saber onde e como encontrar os indivíduos, instaurar as comunicações úteis, interromper as outras, poder a cada instante vigiar o comportamento de cada um, apreciá-lo, sancioná-lo, medir as qualidades ou os méritos. Procedimento, portanto, para conhecer, dominar e utilizar. A disciplina organiza um espaço analítico (FOULCALT, 1999, p 123).

Para Michael Foucalt, a disciplina foi essencial na implantação do

capitalismo industrial, sendo o principal fator da criação de ―corpos dóceis e

obedientes‖ (FOUCALT, 1999, p. 121), pois controla as atividades corporais e

produz indivíduos normalizados, fazendo-o pela distribuição deles no espaço,

controle das atividades, extração e acumulação do tempo e composição das

forças para obter um aparelho eficiente. Para isso, utiliza a vigilância, a norma

e o exame.

A vigilância favorece o processo produtivo e pedagógico: instituem-

se normas de ensino, sanitárias, que regulam os processos industriais. O

exame combina a vigilância e a normalização e por ele se extraem padrões,

calcula-se e mede-se, surgindo todo um saber sobre o indivíduo. Essas

relações mostram que assim se tece um poder sobre o indivíduo (BONI,1998)

No caso da presente pesquisa, os/as trabalhadores/as rurais, como

já dito, são de origem camponesa. Ao se inserirem no trabalho com agricultura

moderna e mecanizada, passam por uma disciplinarização de seus corpos que

inclui desde novos aprendizados para lidar com a reordenação do tempo de

130

trabalho, com máquinas e equipamentos agrícolas, a novas formas de habitar

(alojamentos), alimentar (refeitórios, cardápio) e higienizar-se (instalações

sanitárias, regras de higiene e limpeza do corpo e do ambiente). Dentre os

mecanismos utilizados pelos empregadores para tal disciplina, destacam-se

alguns treinamentos, a suspensão ao exercício das atividades, a aplicação de

advertências para os que não usam EPI, a cobrança de taxas para os que não

observam as normas de higiene previstas nos ambientes da fazenda e ao

controle da liberdade de ir e vir, com a proibição de ir para a cidade em outro

dia que não o de folga.

Trabalhador rural – É, ficava alojado e só vinha final de semana. Aí, escolhia de quinze em quinze dias para a gente ficar lá. Só vinha de quinze em quinze dias Thais – Vocês não tinham liberdade de vir a hora que quisessem? Trabalhador – Não, não. Só se chegasse a adoecer uma pessoa. Ai eles traziam. (comunicação oral)101.

Na prática, esse processo de disciplinarização não se impões sem

conflitos. De fato, a pesquisa flagra um momento de construção de um novo

trabalhador, da passagem do ambiente de trabalho de uma agricultura

camponesa, como agricultor, para o de força-de-trabalho na agricultura. Nesta

transição não é incomum que esses trabalhadores tenham dificuldades de se

adaptarem às novas regras do mundo do trabalho.

Por exemplo, a prática de proibir trabalhadores de irem à cidade

durante a semana, só autorizada no dia da liberação, que ocorre

semanalmente ou a cada quinze dias, se dá, segundo os próprios

trabalhadores, porque aconteceu de funcionários fazerem isso e voltarem ao

trabalho, no dia seguinte, com sono. Em uma ocasião houve um acidente com

uma máquina, devido ao cochilo do trabalhador. Então, algumas fazendas

passaram a proibir a ida deles à cidade durante a semana, impondo sanção

(advertência formal) para os que o fizerem.

Thais – E vocês tinham liberdade de sair no meio da semana, vir para cidade e voltar? Trabalhador rural – Antes tinha, se quisesse descer [ir à cidade]. Mas passou uns dias, lá, e agora é proibido descer. Se você descesse já incomodava e foi o problema porque eu saí

101

Trabalhador rural, 36 anos, operador de máquinas. Entrevista realizada pela autora, no STTR de Uruçuí, em 27/04/2009.

131

de lá. Eu cheguei a falar com o dono, com o gerente. O gerente não concordava porque o gerente não gostava de sair, ele tinha família em Floriano102, não gostava de sair. Eu mesmo não descia, não gostava de descer. Mas um dia se, precisasse vir em casa, você sabe, quem tem família sente saudades da família, né. Você passar quinze dias, pra mim é muito. Mas eu tolerava quinze dias só que eu tinha que ficar alguém que morava perto dizendo que eu não podia descer, porque eles não privavam descer na portaria, abria, mas o nome ficava lá. Thais – Aí, o nome de vocês ficava na portaria? Trabalhador rural – Ficava. Só que o meu não pegou porque eu não desci, mas os outros que desceram foi pegado, foi parece que vinte e duas pessoas, um dia, ameaçaram de assinar advertência porque saíram, porque a norma da fazenda é daquele jeito, que não podia sair. Thais – Mesmo que vocês voltassem no outro dia para trabalhar? Trabalhador rural – Isso. Só que por causa de um todos pagam. Teve uma vez que descia, aí, vinha com sono pra trabalhar e deu um acidente na máquina. Aí, eles quiseram cortar geral pra ninguém descer. Thais – Ah, porque desceu aí quando voltou estava com sono... Trabalhador rural – É, com sono, três horas da manhã. Por causa de dois operador os outros complicaram. Então, isso é geral pra não descer. Thais – Aí, só podia descer no dia da folga? Trabalhador rural – No dia da folga, eles combinavam pra sábado meio dia. Todo sábado meio dia, descia. Quando começou o plantio, aí, podia ser no sábado, na segunda, aí, só quando chovia! Se chovesse amanha de novo nós não ia. (comunicação oral)103.

Trata-se de fato de uma nova ordenação no que tange ao controle

do tempo. No padrão de trabalho na agricultura camponesa, claro está que ali,

também, a intensidade do trabalho se diferenciava orientada pela relação

inverno/verão. Mas uma diferença importante pode ser localizada no controle

do uso do próprio tempo. Daí porque os trabalhadores se revoltam com o

controle estabelecido pelas empresas sobre o direito de ir e vir e estranham o

grau de intensificação do trabalho nas épocas de pico como o plantio. É que

pois deixam esposas e filhos na cidade, para trabalhar e, quando têm

oportunidade, querem ir à cidade para ficar com eles. Assim, sentem-se

aprisionados nas fazendas, o que causa desânimo e desestímulo para

continuarem no serviço. Esse é, muito provavelmente, o fator determinante na

102 Município piauiense distante 200 Km de Uruçuí.

103 Trabalhador rural, 27 anos, operador de máquinas. Entrevista realizada pela autora, no

STTR, em Uruçuí, em 06/02/2009

132

referida rotatividade de trabalhadores alegado por empregadores, como se vê

no Capítulo II desta dissertação e que será retomado adiante, na perspectiva

dos próprios trabalhadores.

Dentre os mecanismos de disciplinarização do corpo dos

trabalhadores, alguns deles extrapolam os limites legais. Por ocasião das

entrevistas com trabalhadores e empresários ou gestores, não foi relatado

nenhum tipo de violência física, nem entre os trabalhadores, nem entre patrões

e empregados. Somente se contaram casos de brigas que não passaram de

meras discussões. Porém, em uma das fazendas visitadas, constatou-se a

prática de assédio moral, que, segundo Hirigoyen (2000) é toda e qualquer

conduta abusiva, manifestando-se sobretudo por comportamentos, palavras,

atos, gestos, escritos que possam trazer dano à personalidade, à dignidade ou

à integridade física ou psíquica de uma pessoa, pôr em risco o seu emprego ou

degradando o meio ambiente de trabalho.

Segundo relato dos trabalhadores, existe nessa fazenda um muro

denominado ―muro das cagadas‖. Quando alguém comete um erro no serviço o

proprietário escreve, no muro, o nome do trabalhador, o que fez de errado e um

comentário humilhante. Os trabalhadores disseram que o próprio nome do

proprietário também já esteve no muro por uma compra de adubo errada que

havia feito, atitude tomada, talvez, para legitimar, assim, o próprio expediente

do ―muro das cagadas‖. Se a intenção do proprietário é fazer com que os

trabalhadores não façam coisas erradas, em uma tentativa de diminuir o

prejuízo que tem com esses erros, esta prática caracteriza assédio moral por

expor trabalhadores à humilhação. E o fato de o nome do próprio empregador

constar no muro, não o desculpabiliza.

Outra prática relatada é a do uso do rádio para veicular críticas a

trabalhadores. Todos os tratores possuem o rádio e, quando um trabalhador

faz algo errado, o proprietário o humilha, verbalmente, pelo rádio. Assim, todos

os trabalhadores em máquinas, escutam os termos da humilhação.

Quando você está com o nome no ―muro das cagadas‖ ou quando o patrão chama a sua atenção no rádio, pra encarar os colegas no alojamento é muito difícil. (comunicação oral)104.

104

Trabalhador rural, 21 anos, serviços gerais. Entrevista realizada pela autora, na residência do trabalhador, em Uruçuí, em 08/02/2009.

133

Como lembra Hirigoyen (2000), as consequências da exposição de

trabalhadores a práticas de assédio moral podem ser desastrosas, como

depressão, isolamento, transtornos psicológicos, desequilíbrio da saúde

psiquica e física. Para a empresa é também calamitoso, pois o funcionário

assediado moralmente tem uma queda no seu rendimento produtivo, além de

contarem elas com rotatividade muito grande de empregados. Isso aponta para

a necessidade de se preservar a saúde mental dos trabalhadores, um dos

valores inerentes à própria dignidade da pessoa humana, princípio sobre o qual

se fundamentam os ordenamentos democráticos modernos.

No que tange à alimentação, os trabalhadores, por ocasião das

entrevistas, mostraram-se satisfeitos com sua qualidade, porém reclamaram da

repetição, no cardápio, de carne suína. Note-se que existe uma cultura regional

de rejeição à carne de porco e, em razão da referida disciplinarização, se vêem

obrigados a adquirir este hábito..

Trabalhador rural – A comida lá é o seguinte, lá eles não ligam muito pra isso não. Eu mesmo 133e com mais de três meses passando apertado. Quando vai comida sem ser carne de porco eu como, mas quando não vai eu não como não. Eu to tomando um remédio aí porque eu 133e com umas manchas no corpo, e aí eu não posso comer carne de porco, comida carregada. Thais – E você come o que daí? Trabalhador rural – Fica sem comer, porque eles não tem outra comida, aí fica sem comer mesmo. (comunicação oral)105

Na contramão dessas formas de disciplinarização de

trabalhadores/as, criam eles mecanismos de resistência, dentre os quais até

mesmo o uso de bebidas alcoólicas, de forma escondida, nas fazendas. Com

efeito, nas entrevistas com gestores e trabalhadores/as rurais, foi referida a

prática de os trabalhadores levarem bebida alcoólica para as fazendas.

Todas as fazendas proíbem a entrada e uso de bebida alcoólica nas

suas dependências internas, porém, muitos desrespeitam a regra. Por ocasião

das entrevistas com trabalhadores rurais, todos negaram levar bebida para a

fazenda, mas afirmaram saber de colegas que o fazem.

Thais – Bebida, vocês conseguiam levar bebida para lá?

105

Trabalhador rural, 28 anos, serviços gerais. Entrevista realizada pela autora, na residência do trabalhador, em Uruçuí, em 31/05/2009

134

Trabalhador rural – Rapaz, eu mesmo não. Mas eles [outros] levavam para levar para o campo à noite, e eles levavam escondido de nós, que tinham medo de nós dizer. (comunicação oral)106. Thais – Você tem conhecimento de o pessoal levar bebida na fazenda? Trabalhador rural – Alguns levavam. Thais – E aí, era proibido? Trabalhador rural – Eles proibiram. Mesmo assim tinha uns lá que levavam debaixo dos panos, lá. (comunicação oral)107. Thais – E bebida, podia levar bebida lá? Trabalhador rural – Era proibido, eles levavam, mas era proibido. Thais — O pessoal levava escondido? Trabalhador rural – O pessoal levava escondido, muito escondido mesmo porque se pegassem, mandava embora. Thais- Eles revistavam vocês? Trabalhador rural – É, tinham vezes que eles botavam gente pra olhar (comunicação oral)108.

Dessa forma, mesmo com toda a proibição que as fazendas

impõem, a bebida está presente, ainda que de forma muito escondida. Seria

ela um escape para trabalhadores submetidos a jornadas de trabalhos

excessivas, sem liberdade de sair da fazenda e experimentando inúmeras

adversidades, como o assédio moral relatado?

Observou-se, nesse processo de transição de camponês a

trabalhadores rurais assalariados em empresas agropecuárias, durante

entrevistas com trabalhadores, que eles se apresentam muito desestimulados e

desmotivados. É comum que trabalhem um tempo em uma fazenda e peçam

as contas, dizendo que já a ―abusaram‖.

Thais – Por que os trabalhadores abusam das fazendas? Trabalhador rural – Sempre tem isso, né? Inclusive até eu, também, tava com outros planos, eu até tinha falado de sair também. Acontece mesmo aquela rotina velha direto, às vezes sempre abusa dos encarregados. E os empregados reclamam da comida chegar tarde. Aí, eu fico com a cabeça agoniada, dá vontade de vir embora. Tem vez quando eu vou chegar na última pessoa lá do trecho que tá trabalhando, tem vez que é uma hora, e é a hora que eu vou almoçar também. Se fosse

106

Trabalhador rural, 21 anos, serviços gerais. Entrevista realizada pela autora, na residência do trabalhador, em Uruçuí, em 08/02/2009. 107

Trabalhador rural, 40 anos, operador de máquinas. Entrevista realizada pela autora, no STTR, em Uruçuí, em 06/02/2009 108

Trabalhador rural, 22 anos, serviços gerais. Entrevista realizada pela autora no STTR, em Uruçuí, em 07/02/2009.

135

pra pegar reto não, você entregaria mais rápido. O negócio é que tem gente pra tudo quanto é lado! (comunicação oral)109.

Percebe-se nas falas o estranhamento de muitos trabalhadores do

ritmo, da escala, das dimensões desse novo mundo do trabalho que se lhes

apresenta. É muito grande o rodízio de trabalhadores nas fazendas, o que leva,

por seu turno, empresários a se desinteressam em proporcionar cursos de

treinamento e qualificação, os quais tem custo elevado e trabalhadores que os

fazem depois pedem a conta e se mudam. Ao perguntar para trabalhadores

despedidos do emprego o que iriam fazer agora, disseram que ficariam

recebendo o seguro e, quando acabasse o dinheiro, iriam procurar um trabalho.

Não há preocupação deles de ficarem desempregados, pois falta mão-de-

obra110 na região e não existe a política de uma fazenda não contratar um

funcionário demitido, por justa causa, de outra propriedade.

Thais – Por que os trabalhadores abusam das fazendas, o que é esse abuso? Trabalhadora rural – Às vezes a gente quer, né. É muito serviço pra gente, a gente quer um salário mais ou menos e eles não dão, só dão serviço. É fim de semana, é serviço! Aí, a pessoa vai e abusa, cansa. Lá a gente adoecia. Eu fui com meu marido lá, para Sebastião Leal [município vizinho] atrás de um médico pra mim, porque se a gente adoecia eles diziam que a gente não tava doente não, era pra ir embora pra casa. Isso aconteceu muito, lá. A gente adoecia e se você não comprasse o remédio com o seu dinheiro e 135evar você até morria, lá, porque a fazenda não dava nada disso, nada! Não dava um remédio pra gente. A gente nunca teve chance de sair pra fazer uma consulta. (comunicação oral)111

As causas apontadas para o ―abuso‖112 são, pois, o excesso de

trabalho, as jornadas extensas, o ritmo acelerado, o ficar na fazenda por uma

quinzena, sem poder ir para a cidade, alojar-se longe de suas famílias. Todos,

estes, mecanismos de disciplinarização do corpo dos/as trabalhadores/as,

utilizados pelas empresas e que termina por se voltarem contra elas próprias.

109

Trabalhador rural, 41 anos, motorista. Entrevista realizada pela autora, na residência do trabalhador, em Uruçuí, em 31/05/2009 110

Em razão da região de Uruçuí ser de fronteira e estar em expansão pela incorporação da agricultura moderna e, consequentemente, instalação de novos projetos, industrias, etc., a oferta de emprego no ramo da agricultura moderna é grande e, por isso, os trabalhadores afirmam que lá não falta emprego nessa área. 111

Trabalhadora rural, 35 anos, cozinheira. Entrevista realizada no STTR de Uruçuí, em 29/04/2009 112

Termo usado pelos trabalhadores para expressar que estão cansados, enjoados do emprego.

136

Deduz-se, assim, que mesmo as fazendas possuindo uma boa

estrutura física, a visão que os trabalhadores têm sobre o meio ambiente de

trabalho rural é que é perigoso, devido ao desconhecimento dos riscos do

trabalho desprotegido e a omissão de socorro pelos empregadores. Ademais a

atividade é exaustiva, com longas jornadas, o ritmo acelerado e folgas somente

quinzenais, sendo ainda injusto, pois as horas-extras efetuadas, na visão deles,

não são devidamente remuneradas, sem dizer da restrição da liberdade de

locomoção, proibidos que ficam de saírem da fazenda. Todos estes fatores são

motivos que desestimulam os trabalhadores/as a continuarem no emprego.

137

5. CONCLUSÃO

O presente trabalho tratou do meio ambiente de trabalho rural em

empresas agropecuárias dos cerrados piauiense, focalizando as questões

ambientais, a saúde, segurança, dignidade de trabalhadores/as rurais, na

perspectiva da visão destes/as trabalhadores/as sobre o meio ambiente laboral.

Dessa forma, abordou-se a incorporação dos cerrados pela

agricultura moderna, resgatando um histórico desta ocupação no Brasil,

Nordeste e especificamente no sudoeste do Piauí.

Tratou-se teoricamente do meio ambiente de trabalho, relatando a

atual situação deste meio ambiente em propriedades dos cerrados piauiense.

Por fim, buscou-se apreender a visão de trabalhadores/as rurais sobre esse

ambiente.

As conclusões da presente pesquisa são que as empresas

agropecuárias dos cerrados piauiense vêm, ao longo dos anos, se adequando

às normas ambientais laboras, destacando-se a NR 31, embora ainda

apresente problemas importantes. A visão dos trabalhadores sobre o meio

ambiente laboral é a de um ambiente perigoso, desprotegido, exaustivo.

Ademais, existe uma diferença cultural entre trabalhadores/as e

empresários agrícolas. Estes, na maioria sulistas, têm um modo de vida

diferente daqueles, em sua maioria camponeses, oriundos da agricultura

familiar. Assim, para estes/as trabalhadores/as se inserirem no trabalho da

agricultura moderna, passam por uma disciplinarização dos seus corpos para

se adequarem aos novos padrões impostos. Este fato gera mecanismos de

defesa nos/as trabalhadores/as, que resistem a esta disciplinarização.

Portanto, um grande problema visualizado nesta pesquisa, é o

choque cultural enfrentado por empregadores e trabalhadores/as.

Para Além do que foi tratado nos limites desta pesquisa, salientamos

que ela aponta para desdobramentos como a necessidade de ampliar

discussões sobre os perigos a que trabalhadores/as estão expostos na

agricultura moderna, em especial a exposição a agrotóxicos, análises mais

138

aprofundadas sobre hábitos culturais de trabalhadores/as e empregadores;

tema capacitação com cursos e treinamentos adequados para esse/as

trabalhadore/as rurais; questões de infra-estrutura, como a própria carência da

região de serviços na área de saúde (médicos, enfermeiros, hospitais), bem

como outros aspectos da infra-estrutura da região, etc.

Além do que, temáticas tangencidas nesta dissertação as quais

carecem de aprofundamentos, como novos objetos de pesquisa: riscos e ética

da natureza no mundo do trabalho; processos de transmissão cultural que aí

se desenrolam; neutralização e naturalização dos riscos no meio ambiente de

trabalho, inclusive a neutralização do medo pela rejeição/negação, assim como

das estratégias de convivência com o medo, de sua assunção e do respeito

aos riscos; se há indícios de uma ideologia ocupacional defensiva entre

trabalhadores agrícolas dos cerrados piauienses.

Enfim, embora esta dissertação chamado a atenção para o tema

dos sentidos/significados que circulam sobre riscos, saúde e segurança no

meio ambiente de trabalho, assim como para valores sobre riscos à saúde e

suas formas de prevenção, ainda merece aprofundamentos a temática de

como a cultura organiza a experiência social em saúde e segurança, como isto

incide no meio ambiente laboral e, ainda, como as novas relações sociais no

mundo do trabalho agrícola, no Piauí vêm modificando: a/ a comunicação sobre

a saúde do trabalhador no sentido de apreender se há diálogos no mercado

simbólico de disputa de sentidos; b/a saúde do meio ambiente de trabalho e do

meio ambiente pensado mais amplamente.

139

6. REFERÊNCIAS

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146

ANEXO I

147

148

ANEXO II

149

150

151

152

ANEXO III

CONVENÇÃO COLETIVA DE TRABALHO PARA O SETOR GRANELEIRO DA REGIÃO DOS CERRADOS PIAUIENSE

(VIGÊNCIA 2008-2009) Pelo presente instrumento de Convenção Coletiva de Trabalho, com base no Art. 611 e seguintes da Consolidação das Leis do Trabalho – CLT, das Convenções Coletivas de Trabalho, que celebram entre si, de um lado, representando a categoria dos empregados rurais a FEDERAÇÃO DOS TRABALHADORES NA AGRICULTURA DO ESTADO DO PIAUÍ – FETAG/PI, CNPJ nº 06.527.360/0001-22, entidade sindical de 2º grau, sediada à Av. Frei Serafim, 1884 – centro – Teresina/PI; e os seguintes Sindicatos de Trabalhadores Rurais: URUÇUÍ/PI, CNPJ nº 41.535.006/0001-71, sediado na rua Hermes Neiva, 644, Centro, CEP nº 64.860-000, no município de Uruçuí/PI; ANTONIO ALMEIDA/PI, CNPJ nº 23.624.497/0001-14, sediado na rua Raimundo Francisco Magalhães, s/n, CEP nº 64.855-000, no município de Antonio Almeida/PI; RIBEIRO GONÇALVES/PI, CNPJ nº 06.734.734/0001-71, sediado na rua São Félix Pacheco, s/n, Centro, CEP nº 64.865-000 no município de Ribeiro Gonçalves/PI; BERTOLÍNEA/PI, CNPJ nº 06.735.559/000-46, sediado na rua Abel Batista s/n, Centro CEP nº 64.870-000, no município de Bertolínea/PI – Todos no Estado do Piauí, e do outro, representando os empregadores as seguintes Entidades Patronais: FEDERAÇÃO DA AGRICULTURA NO ESTADO DO PIAUÍ – FAEPI/PI, CNPJ nº 06.522.312/0001-41, sediada à rua 7 de Setembro, 150, centro, no município de Teresina/PI; SINDICATO RURAL DE URUÇUÍ/PI, CNPJ nº 06. 610.893/0001-73, sediado à rua Tomaz Pearce, s/n, CEP nº 86.860-000, no município de Uruçuí/PI, entidades representando os demais municípios da área de abrangência da presente Convenção Coletiva de Trabalho, ficando justo e contratado o presente negócio jurídico, no âmbito das respectivas representações, o que é regido pelas cláusulas, itens, títulos, termos e condições que se seguem: CLÁUSULA DESTAQUE: COMBATE AO TRABALHO ESCRAVO Fica convencionado o nosso repúdio ao trabalho escravo e forçado que, segundo dispõe a Convenção nº 29 da Organização Internacional do Trabalho - OIT, é o ―trabalho ou serviço exigido de um indivíduo sob ameaça de alguma punição e para o qual o dito indivíduo não se apresentou voluntariamente‖ (art. 2º). CLÁUSULA PRIMEIRA: PISO SALARIAL – Fica assegurado a todos os trabalhadores que exercem atividades agrícolas pecuárias, o pagamento de um piso salarial, a partir de 01/10/2007, sendo distribuído nas seguintes qualificações:

I. Operador de máquina especializado perceberá R$ 850,00 (oitocentos e cinqüenta reais);

II. Operador de máquina qualificado perceberá R$ 680,00 (seiscentos e oitenta reais);

III. Tratorista perceberá o valor de R$ 565,00 (quinhentos e sessenta e cinco reais);

IV. Trabalhadores rurais – perceberá o valor de R$ 462,00 (quatrocentos e sessenta e dois reais).

Parágrafo Único - Ficam vetados quaisquer descontos em folha sobre o salário do trabalhador, há menos que seja previsto em lei, Convenção Coletiva de trabalho ou autorização expressa do empregado. CLÁUSULA SEGUNDA: PAGAMENTO - O pagamento será efetuado em espécie ou cheque bancário da área de abrangência da presente convenção, e deverá ser efetivado até o quinto dia útil do mês subseqüente ao trabalho, com os devidos comprovantes, nos quais, serão discriminados a qualificação, vantagens e os descontos (no caso do INSS e taxa assistencial) na forma da lei. E o horário de seu recebimento será contado como efetiva prestação de serviço. § 1º - Caso o pagamento seja efetuado em cheque, o empregado será liberado no mesmo dia ou no 1º e 2º dias úteis subseqüentes para se deslocar até o local do saque do cheque ou a combinar entre as partes; § 2º - Em caso de atraso do salário, após o 5° dia útil do mês subseqüente, havendo conhecimento do sindicato laboral, será imediatamente comunicado ao sindicato patronal que, por meio de negociação com o patrão infrator, tentarão resolver a pendência até o 25° dia do mês. Caso não resolva dentro deste prazo, a denúncia será encaminhada a Delegacia

153

Regional do Trabalho para as providências legais, através da comissão eleita na cláusula vigésima sétima; § 3º - O pagamento em atraso, caso não seja resolvido dentro do prazo estabelecido será efetuado, atualizado monetariamente de acordo com a variação diária da poupança. CLÁUSULA TERCEIRA: JORNADA DE TRABALHO – A jornada de trabalho será de 44 (quarenta e quatro) horas semanais, acrescidas de no máximo 02 (duas) horas extras diárias. Quando ocorrerem, serão pagas de conformidade com a legislação vigente. § 1º - Fica convencionado neste ato que as horas extras trabalhadas em um dia, no plantio ou colheita de safra respectiva, poderão ser acumuladas, sendo compensadas e/ou pagas no período da entre-safra, não podendo exceder o prazo máximo de 120 (cento e vinte) dias para o referido pagamento; § 2º - O empregador deverá manter o controle rigoroso de contas das horas extras acumuladas a compensar, em duas vias, sendo uma devida ao empregado, de maneira absolutamente transparente e documentada, cabendo a sua demonstração a qualquer época em que for solicitado, por Fiscais do Ministério do Trabalho e/ou quaisquer outras instituições com poderes para tal fim; § 3º - O controle de ponto será efetivado diariamente em uma folha ou caderneta, contendo o horário trabalhado, necessariamente conferido pelo obreiro e visado pelo fiscal de campo. O citado documento, elaborado pelo sindicato dos empregados e patronal, deve prevalecer a partir da data da vigência da presente convenção; § 4º - Fica assegurado aos empregados o pagamento integral dos dias em que permanecerem à disposição da empresa, dentro da jornada de trabalho contratada, inclusive nos dias em que não houver trabalho por motivo climático, desde que os mesmos permaneçam no local de trabalho. CLÁSULA QUARTA: 13º SALÁRIO – O 13° salário será calculado e pago na forma da lei, sendo assegurado o pagamento da 1ª parcela de 50% até o dia 20 de julho. O empregado poderá através de requerimento escrito dirigido ao empregador durante o mês de janeiro solicitar que este adiantamento seja pago por ocasião do gozo das férias. CLÁUSULA QUINTA: ASSINATURA DA CTPS – Todos os trabalhadores rurais entregarão suas CTPS mediante recibo em duas vias, e serão estas assinadas e devolvidas no prazo de 48 horas de sua admissão. § 1º - A retenção da CTPS do trabalhador, após o prazo previsto no caput desta cláusula, importa em pagamento de uma multa no valor de um salário diário da categoria por dia de atraso, sendo revertida em favor do trabalhador prejudicado, com a limitação do Código Civil; § 2º - O empregador encaminhará em 07 (sete) dias ao Sindicato dos Trabalhadores Rurais do município a relação dos empregados sem CTPS, para que o Sindicato as providencie; § 3º - No dia acordado pelas partes, o Sindicato dos Trabalhadores Rurais se deslocará até a empresa com o material necessário à expedição da CTPS dos empregados relacionados pelo empregador. CLÁUSULA SEXTA – REGISTRO NO LIVRO OU FICHA DE REGISTRO DE EMPREGADO SEM CTPS - O empregado terá seu registro efetuado em livro ou ficha de registro no momento de sua admissão, não sendo a empresa, desde que cumpridas as formalidades acordadas nesta Convenção, passível de denúncia. § 1º - É de responsabilidade dos Sindicatos dos Trabalhadores Rurais o fornecimento das guias de informações sobre empregados sem CTPS, no prazo de 15 (quinze) dias a contar do recebimento da relação de empregados sem as mesmas, que deverá ser fornecida pelos empregadores, conforme Cláusula quinta § 2º; § 2º - Nas localidades onde não forem emitidas as CTPS, fica garantido que dentro do prazo de 22 (vinte e dois) dias serão emitidas, assinadas e feitas às anotações necessárias nas mesmas, ficando proibida a demissão do empregado dentro do referido prazo, sendo-lhe garantido o registro e os direitos trabalhistas desde a efetiva admissão do empregado, de acordo com o Art. 13, § 3º, da CLT. CLÁUSULA SÉTIMA: FORNECIMENTO DE EPI – O Equipamento de Proteção Individual – EPI, será fornecido gratuitamente e obrigatoriamente pelo empregador para todas as atividades sujeitas a Norma Regulamentadora nº 31 prevista na Portaria n.º 86, de 03/03/2005, do Ministério do Trabalho e Emprego, cabendo a este, a fiscalização adequada de seu uso. O empregado que se recusar a cumprir tal obrigação será advertido por 02 (duas) vezes, persistindo na recusa, estará sujeito à punição mais grave.

154

§ 1º - Serão pagos aos Assalariados Rurais, ―aqui convencionados‖, adicionais de insalubridade e/ou periculosidade, que operam em ambientes insalubres e/ou perigosos, no período do exercício das atividades, na forma e nos termos da legislação especifica; § 2º - Os Sindicatos convenentes comprometem-se a promover cursos, seminários e campanhas de esclarecimento quanto ao uso adequado do EPI’s, preferencialmente no período de entresafra.

I. O empregado poderá participar dos eventos citados acima, desde que comunique com antecedência de 07 (sete) dias ao empregador, sem prejuízo da remuneração percebida.

§ 3º - As partes comprometem-se a apoiar os programas do governo, sindicatos na área de Segurança e Saúde do Trabalho, com base na NR-31. CLÁUSULA OITAVA: FERRAMENTAS DE TRABALHOS – As ferramentas e outros instrumentos utilizados pelo empregado no exercício de suas funções, bem como, os EPI’s serão fornecidos gratuitamente pelo empregador, ficando o trabalhador responsável pelo uso adequado e devolução dos mesmos. CLÁUSULA NONA: ESCOLA – Toda propriedade rural que manter a seu serviço ou trabalhando em seus limites, 20 (vinte) ou mais famílias de trabalhadores de qualquer natureza, deverão manter espaço físico e fazer parcerias para garantir escola gratuita e de boa qualidade para os trabalhadores e seus filhos, com tantas salas de aula quantas forem necessárias para agrupar até 40 (quarenta) alunos em idade escolar por sala, ficando a empresa responsável para conseguir meios para instalação das mesmas. § 1º - Recomenda-se às empresas com mais de 25 (vinte cinco) empregados permanentes, a instalação de escolas noturnas para educação de jovens e adultos, ou a garantia de transportá-los, em veículos adequados, até a cidade mais próxima para o aperfeiçoamento e qualificação profissional dos trabalhadores. CLÁUSULA DÉCIMA: ESTABILIDADE PROVISÓRIA – Ficam assegurados aos trabalhadores abrangidos pela presente convenção, estabilidade provisória nos seguintes casos:

I. Ao empregado acidentado, estabilidade provisória de 12 (doze) meses após a alta médica mediante perícia, na forma do Art. 118 da Lei. 8.213/91;

II. Ao empregado em idade de aposentadoria, estabilidade provisória de 18 (dezoito) meses;

III. Os trabalhadores que se candidatarem às eleições sindicais, terão estabilidade provisória desde sua candidatura, até 12 (doze) meses após o termino do mandato para o qual se candidatou, caso for eleito.

CLÁUSULA DÉCIMA PRIMEIRA: DA EMPREGADA GESTANTE E LACTANTES – Fica asseguradas às trabalhadoras gestantes a proibição da despedida imotivada do emprego desde a confirmação da gravidez até 04 (quatro) meses após o parto, bem como, a licença maternidade de 120 (cento e vinte dias). § 1º - Fica garantido a trabalhadora gestante, trabalho compatível com a sua maternidade e que não seja insalubre ou perigoso, conforme orientações médicas; § 2º- Fica garantido o direito de afastamento do trabalho da trabalhadora gestante, sem desconto da remuneração, sempre que necessário para consulta médica e pré-natal devidamente comprovado; § 3º - Fica assegurado à trabalhadora rural gestante, o salário maternidade na forma prevista na lei (inciso XVIII do art. 7º da Constituição Federal); § 4º - Fica assegurado à trabalhadora o direito a dois descansos diários de meia hora, durante a jornada de trabalho para amamentação até que o filho complete 08 (oito) meses de idade. CLÁUSULA DÉCIMA SEGUNDA: LICENÇA PATERNIDADE – Fica assegurado ao trabalhador rural à licença a paternidade de 05 (cinco) dias, na forma da lei. CLÁUSULA DÉCIMA TERCEIRA: TRABALHO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE – Fica proibido o trabalho da criança e do adolescente segundo as normas da CLT, em conformidade com o Estatuto da Criança e do Adolescente e princípios constitucionais vigentes. CLÁUSULA DÉCIMA QUARTA: TRANSPORTES – No transporte dos trabalhadores e trabalhadoras serão respeitadas todas as normas de segurança. Deverão ser transportados (as) em ônibus, separados das ferramentas, defensivos agrícolas, de acordo com a legislação vigente. Quando se tratar de trabalho fora da sede, cabe ao empregador transportar os empregados de volta para a sede a fim de garantir o descanso aos empregados ou manter instalação móvel. Parágrafo Único – O empregador que, por opção, transportar o trabalhador (a) de fora da propriedade o fará, gratuitamente, em veículo apropriado para o transporte de pessoas

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(ônibus), ou outro tipo de transporte, desde que atenda às exigências de adaptação do Código Nacional de Trânsito e das Normas Regulamentadoras pertinentes, hora e local de saída e chegada do transporte, sendo o tempo gasto no percurso e espera, após, a hora marcada contando com o tempo efetivo de prestação de serviço, conforme a NR-31. CLÁUSULA DÉCIMA QUINTA: TRANSPORTE EM CASO DE ACIDENTE E EMERGÊNCIA – Os empregadores serão obrigados a prestar e a manter material no local de trabalho para os primeiros socorros aos trabalhadores (as) e filhos menores e suas esposas (os) residentes no local de trabalho, em caso de doença ou acidente de trabalho. § 1º - Os empregadores manterão nos locais de trabalho, além do material para aplicação dos primeiros socorros de acidente do trabalho, picadas de insetos e doenças, pessoas habilitadas para o atendimento aos primeiros socorros; § 2º - No caso de agravamento da doença provocada pelo acidente de trabalho ou similar, o trabalhador (a) terá direito ao transporte a unidade de saúde mais próxima, além de garantir o retorno do acidentado para a sua residência por ocasião da alta médica. CLÁUSULA DÉCIMA SEXTA: PREFERÊNCIA NA CONTRATAÇÃO DE TRABALHADORES – Os empregadores rurais darão preferência à contratação de trabalhadores e trabalhadoras dos municípios sede das empresas ou local da cultura plantada e dos municípios vizinhos. Parágrafo Único - No caso de recrutamento comprovado fora do município, o empregador estará obrigado ao cumprimento das normas de segurança do transporte, além de garantir o retorno do trabalhador ao seu município de origem, gratuitamente, quando do término do contrato de trabalho. CLÁUSULA DÉCIMA SÉTIMA: ÁGUA POTÁVEL, E ALIMENTAÇÃO – O empregador fornecerá na sede da empresa ou fazenda, para uso dos empregados, quando das refeições, local coberto e obrigatoriamente dotado de água potável, que deverá ser transportada em garrafa térmica, garantindo o padrão higiênico que deverão preencher os requisitos descritos na NR-31 § 1° - Fica obrigado à colocação de filtros para água na torneira que abastece a cozinha para o preparo dos alimentos e refeições e nos recipientes de água para uso humano; § 2° - Fica obrigado a entrega de uma garrafa térmica individual com capacidade para 05 (cinco) litros de água a cada empregado em serviço no campo, bem como se obrigarão a disponibilizar água potável e fresca em quantidade suficiente e compatível com as atividades dos (as) trabalhadores (as); § 3° Os alojamentos, refeitórios, cozinha, banheiros, sanitários e outros para os trabalhadores (as) deverão preencher os requisitos descritos na Norma Regulamentadora NR-31; § 4° – O fornecimento de alimentação não integrará o salário para qualquer fim. CLÁUSULA DÉCIMA OITAVA: ACOMPANHAMENTO SINDICAL – Fica assegurado o acesso dos diretores sindicais aos locais de trabalho, nas empresas ou fazendas, mediante comunicação e autorização prévia, desde que não interrompa a atividade laboral. O sindicato laboral deverá encaminhar o pedido de solicitação ao sindicato patronal, e este se responsabilizará pela devida comunicação aos empregadores. Em caso de não autorização, o interessado se fará acompanhar por fiscais da DRT, em se tratando em matéria de segurança e saúde do trabalhador. § 1º - Fica garantido ao trabalhador remuneração do dia não trabalhado e a integração do repouso semanal remunerado e outros direitos, quando de sua falta para participar das eleições do sindicato da categoria, e assembléia ordinária anual da categoria; § 2º - Haverá liberação dos trabalhadores sindicalizados que manifestarem o desejo de participar das assembléias gerais dos STR’s convenentes, descontados os dias faltados, sem prejuízo da gratificação natalina, férias e repouso semanal remunerado. CLÁUSULA DÉCIMA NONA: HABEAS DATA – O trabalhador rural, mediante requerimento escrito, poderá tomar conhecimentos, através de cópias de sua ficha funcional, documentos, informações e assentamentos, sendo vedado qualquer fornecimento de informações que desabone a conduta do trabalhador. CLÁUSULA VIGÉSIMA: PROIBIÇÃO DO ―GATO‖ – Fica proibida a contratação de trabalhadores pelos empregadores através de interpostos, pessoas como empreiteiros, ―gatos‖ e assemelhados, exceto as cooperativas de trabalho. CLÁUSULA VIGÉSIMA PRIMEIRA: MEIO AMBIENTE – Toda e qualquer atividade econômica desenvolvida na área de abrangência da presente Convenção obedecerá ao disposto na Constituição Federal e Legislação Ambiental, com relação ao respeito ao meio ambiente. § 1º – Fica proibido o desmatamento em círculo por potencializar a degradação ambiental pela destruição da fauna silvestre;

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§ 2º – Fica proibida a exploração em propriedades onde não apresentarem as devidas autorizações expedidas e atualizadas pelos órgãos Federais e Estaduais ambientais para a agricultura, pecuária e/ou exploração florestal. CLÁUSULA VIGÉSIMA SEGUNDA: ATESTADO MÉDICO – É assegurado pelo empregador o reconhecimento de atestados médicos e odontológicos, desde que expedidos por profissionais credenciados pelo Sistema Único de Saúde – SUS, como também, o pagamento dos dias em que o trabalhador ficou impossibilitado de trabalhar, até o limite de 15 (quinze) dias, podendo o empregador exigir a anuência do atestado por médico contratado pela empresa. Parágrafo Único - Fica determinado que o custeio do Atestado de Saúde ocupacional na admissão, demissão e periódico do empregado (a) é arcado pelo empregador, bem como qualquer exame médico complementar determinado por lei (CLT) CLÁUSULA VIGÉSIMA TERCEIRA: PRAZO DE PERMANÊNCIA NA PROPRIEDADE – Fica assegurado ao trabalhador rural empregado que reside com mulher e filhos na propriedade (empresa) que for despedido com ou sem justa causa, o direito de permanecer até 30 (trinta) dias na propriedade após demissão. CLÁUSULA VIGÉSIMA QUARTA: TAXA NEGOCIAL – O trabalhador sindicalizado, conforme autorização das Assembléias Gerais Extraordinárias promovidas pelos sindicatos conveniados, contribuirá para o sindicato circunscrito à área da empresa ou fazenda em que trabalhar, no valor de 2% (dois por cento) do vencimento que recebe, no mês de janeiro/2006 para os trabalhadores já contratados e contratados até dezembro, e demais no primeiro mês de trabalho sob a vigência desta Convenção Coletiva de Trabalho, valor que será recolhido mediante guia na conta corrente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais, no prazo máximo de 07 (sete) dias, a partir do registro desta Convenção. § 1º - Será repassado para a FETAG/PI, 15%, e para CONTAG 5%, sobre o montante do recolhimento; § 2º - Ultrapassado o prazo previsto no caput, a empresa e/ou empregador arcará com o montante devido ao STR de acordo com o número de trabalhadores empregados no período. A retenção implicará em atualização monetária pela Unidade Fiscal de Referência – UFIR; § 3º - As empresas devem fornecer a guia de recolhimento cedida pelos STR’s da categoria, contendo na mesma o número da conta bancária do Sindicato laboral, que deverá ser preenchida com o nome do empregado e o valor do desconto, no momento de seu repasse, bem como, cópia da respectiva guia bancária. CLÁUSULA VIGÉSIMA QUINTA: RESCISÃO CONTRATUAL – a rescisão do contrato de trabalho, a partir de 90 (noventa) dias de contratação, será efetuada obrigatoriamente no sindicato da categoria. CLÁUSULA VIGÉSIMA SEXTA: MEDIDA PREVENTIVA CONTRA VIOLÊNCIA NO CAMPO: Fica acordada entre as partes a promoção de campanha educativa para os trabalhadores e administradores das empresas ou fazendas e/ou função similar, quanto ao uso ilegal de qualquer tipo de armas de fogo e assemelhados no local de trabalho, durante a vigência desta convenção. CLÁUSULA VIGÉSIMA SÉTIMA: COMISSÃO DE ENTENDIMENTO E FISCALIZAÇÃO - Deverá ser constituída comissão de entendimento e fiscalização paritária com oito membros, quatro efetivos e quatro suplentes, com a finalidade de garantir o cumprimento da presente Convenção Coletiva de Trabalho. Deverá a comissão de entendimento e fiscalização ser acompanhada obrigatoriamente por representantes das categorias que as representam. § 1º - A comissão de entendimento e fiscalização devera ser instalada no primeiro mês de vigência da presente Convenção. Com registro em ata da assembléia geral de sua constituição; § 2º - Cabe a comissão de entendimento e fiscalização efetuar parecer avaliativo sobre esta convenção coletiva podendo opinar sobre a manutenção da presente convenção, bem como, tentar conciliar os conflitos individuais de trabalho. CLÁUSULA VIGÉSIMA OITAVA: CIPATR – Os empregadores ficam obrigados a cumprir, imediatamente, a Norma Regulamentadora nº 31 constante da Portaria n.º 86, de 03/032005, do então Ministério do Trabalho e Emprego, a partir de 20 (vinte) empregados. Parágrafo único: A Empresa assegurará freqüência livre de um dia por mês aos Cipeiros, Delegados e Representantes Sindicais para atividades específicas da representação, fora da empresa, sem prejuízo do cargo e salário, mediante comprovação do trabalhador. CLÁUSULA VIGÉSIMA NONA: Fica obrigado a elaboração do Programa de Gestão de Segurança, Saúde e Meio Ambiente de Trabalho Rural, conforme a NR-31, devendo os empregadores rurais ou equiparados implementarem as ações de segurança e saúde que

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visem a prevenção de acidentes e doenças decorrentes do trabalho na unidade de produção rural. CLÁUSULA TRIGÉSIMA - SEPATR - As empresas deverão manter em funcionamento o SESTR- Serviço Especializado em Segurança e Saúde do Trabalho Rural, na conformidade da NR-31, prevista na Portaria n.º 86, de 03/03/2005 do Ministério do Trabalho e Emprego, quando houver mais de 50(cinqüenta) empregados CLÁUSULA TRIGÉSIMA PRIMEIRA: DA APLICAÇÃO DE PESTICIDAS, HERBICIDAS, FUNGICIDAS E AGROTÓXICOS EM GERAL – A aplicabilidade de pesticidas, herbicidas, fungicidas e agrotóxicos em geral será efetuada em conformidade com as disposições estabelecidas em lei, norma regulamentadora rural nº 31, receituário agronômico ou em último caso previstas pelo fabricante para o uso dos produtos. § 1º – Os empregadores através do seu serviço social, acompanharão o tratamento médico dos trabalhadores acometidos por doenças advindas desses produtos; § 2º – Os empregadores inutilizarão os vasilhames ou depósitos de defensivos agrícolas, de modo que estes não possam ser utilizados para quaisquer fins, assim como, nos termos da Lei nº 9.974, se obriga a devolver os referidos vasilhames ou depósitos aos revendedores. CLÁUSULA TRIGÉSIMA SEGUNDA: TRABALHADOR ESTUDANTE – Fica assegurado o pagamento do salário ao trabalhador estudante pelo empregador, durante os dias de afastamento para exames de primeiro e segundo grau, supletivo, vestibular ou similares, e ainda por submeter-se a exames de habilitação profissional. CLÁUSULA TRIGÉSIMA TERCEIRA: DA QUALIFICAÇÃO PROFISSIONAL – Deve o empregador promover a qualificação profissional de seus empregados para a operação de equipamentos e máquinas, sem prejuízo do descanso e da remuneração devida. Parágrafo único: Os empregadores obrigam-se a liberar os empregados sem prejuízo da remuneração para participarem de cursos de qualificação profissional, desde que, os mesmos apresentem certificados ou declaração que comprove sua devida participação. CLÁUSULA TRIGÉSIMA QUARTA: SAÚDE DA TRABALHADORA RURAL E DO TRABALHADOR RURAL Será assegurados aos trabalhadores a liberação remunerada quando:

a) à mulher trabalhadora rural a liberação remunerada de 02 (dois) dias por ano, para fins de exames preventivos de câncer, mediante comprovação através do competente atestado médico; b) aos trabalhadores do sexo masculino, com mais de 40 (quarenta) anos de idade, mediante solicitação, a liberação uma vez por ano, sem prejuízo da remuneração do dia e do repouso remunerado, para submeter-se a exame preventivo de câncer da próstata.

§ 1º - Com relação à trabalhadora com mais de 40 (quarenta) anos de idade, a liberação remunerada para o fim previsto no caput, será de 02 (dois) dias por semestre; § 2º - Ficam asseguradas outras liberações adicionais, para a finalidade prevista no caput desta cláusula, decorrentes de recomendação médica; § 3º - Durante a realização de eventos como a Semana de Prevenção Interna de Acidentes, a CIPA desenvolverá ações educativas incentivando os trabalhadores e trabalhadoras a cuidarem preventivamente das doenças mencionadas nesta cláusula. .CLÁUSULA TRIGÉSIMA QUINTA: CPRR – Fica criada a Comissão Permanente Regional Rural, no âmbito da Delegacia Regional do Trabalho, de composição paritária no mínimo de três representantes do governo (DRT-PI), três representantes dos trabalhadores e três representantes dos empregadores. § 1 º - A CPRR terá as seguintes atribuições: I-Estudar e propor medidas para o controle e a melhoria das condições e dos ambientes de trabalho;

II- Realizar estudos, com base nos dados de acidentes e doenças decorrentes do trabalho rural, visando estimular iniciativas de aperfeiçoamento técnico de processos de concepção e produção de máquinas, equipamentos e ferramentas; III- Propor e participar de campanhas de Prevenção de Acidentes no Trabalho Rural; IV- Incentivar estudos e debates, visando o aperfeiçoamento permanente desta Norma Regulamentadora e de Procedimento no Trabalho Rural.

CLÁUSULA TRIGÉSIMA SEXTA: CONTRATAÇÃO DE PESSOAS DEFICIENTES

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Os empregadores devem estimular a contratação de trabalhadores (as) portadores (as) de deficiência física e portadores de necessidades especiais, para desempenhar atividades compatíveis com suas condições. CLÁUSULA TRIGÉSIMA SÉTIMA: TRABALHO EM DOMINGOS E FERIADOS Será assegurado aos empregados um descanso semanal de 24 (vinte e quatro) horas consecutivas, o qual, salvo motivo de necessidade imperiosa do serviço, deverá coincidir com o domingo, no todo ou em parte. No entanto, o trabalho prestado aos domingos, feriados, inclusive os municipais e na terça-feira de carnaval do ano de 2008, não sendo compensado, deve ser pago em dobro, sem prejuízo da remuneração relativa ao repouso semanal. CLÁUSULA TRIGÉSIMA OITAVA: MORADIA E ALOJAMENTOS – Os alojamentos, refeitórios, cozinha, banheiros, sanitários e outros para os trabalhadores (as) deverão preencher os requisitos descritos na Norma Regulamentadora NR-31.

a. Nos alojamentos as camas poderão ser substituídas por redes; b. É obrigatório ter banheiros e alojamentos individuais para as mulheres.

Parágrafo Único: O fornecimento de moradia não integrará o salário para qualquer fim. CLÁUSULA TRIGÉSIMA NONA: APURAÇÃO DE FREQÜÊNCIA - A freqüência do empregado na empresa será apurada mediante cartões de ponto ou outro tipo de controle manual, mecânico ou eletrônico, devendo o próprio empregado registrar no mesmo sua chegada e saída do trabalho, nos termos do artigo 74 da CLT; §1º - A apuração de freqüência será efetuada diariamente e independentemente da produção obtida pelo trabalhador durante sua jornada de trabalho; §2º - O cartão de ponto é de uso intransferível do trabalhador, e somente ele poderá registrar a sua entrada e saída do trabalho. CLÁUSULA QUADRAGÉSIMA: FORNECIMENTO DE REFEIÇÃO O empregador fornecerá alimentação saudável aos empregados com cardápio orientado por um (a) nutricionista. CLÁUSULA QUADRAGÉSIMA PRIMEIRA: SEGURO ACIDENTE O empregador poderá providenciar o seguro de acidente de trabalho para todos os seus empregados, nos termos do disposto no item XXVIII, do artigo 7º da Constituição Federal, podendo ser descontado do trabalhador 50% (cinqüenta por cento) do valor do seguro, desde que, o citado desconto seja devidamente autorizado pelo empregado. CLÁUSULA QUADRAGÉSIMA SEGUNDA: DA DATA BASE – Fica instituída como data-base dos empregados das empresas abrangidas por esta Convenção o dia 1º de outubro. CLÁUSULA QUADRAGÉSIMA TERCEIRA: DA VIGÊNCIA – A presente Convenção terá sua vigência no período de 01.10.2007 a 30.09.2008, podendo ser denunciada ou aditivada por iniciativa das partes interessadas. CLÁUSULA QUADRAGÉSIMA QUARTA: FORO DE COMPETÊNCIA – Os casos omissos e as controvérsias resultantes da aplicação das cláusulas aqui pactuadas serão dirimidas pela Justiça do Trabalho, com renúncia expressa a qualquer foro, por mais privilegiado que seja. CLÁUSULA QUADRAGÉSIMA QUINTA: DISPOSIÇÕES TRANSITÓRIAS - É assegurado ao trabalhador (a) rural, o direito de denunciar casos de assédio sexual e discriminação caso venha a sofrer, bem como ao empregador(a) o direito de denunciar qualquer tipo de discriminações e de situações que venham a ferir sua honra e moral. A punição prevista para o (a) praticante de assédio sexual e discriminação será de demissão por justa causa, caso o (a) praticante seja colega de trabalho da vítima e de formalização de queixa crime nos termos da lei, se o (a) denunciado (a) for superior hierárquico (a). Em ambos os casos deverão ser constituídas as comissões paritárias para a apuração das denúncias. CLÁUSULA QUADRAGÉSIMA SEXTA: DISPOSIÇÕES FINAIS – Lavrar-se-á esta Convenção Coletiva de Trabalho em 08 (oito) vias de igual teor e forma a serem assinadas pelas partes e protocoladas na Delegacia Regional do Trabalho no Estado do Piauí, repassando cópias idênticas para todos os Sindicatos e representações abaixo assinados.

Uruçuí (PI), 28 de setembro de 2007. Anfrísio de Moura Neto - - FEDERAÇÃO DOS TRABALHADORES NA AGRICULTURA DO ESTADO DO PIAUÍ – FETAG/PI Sérgio Luís Bortolozzo –- Federação da Agricultura do Estado do Piauí – FAEPI - Manoel Messias de Sousa –- SINDICATO DOS TRABALHADORES RURAIS DE URUÇUÍ/PI

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Jusivano Pereira da Silva –- SINDICATO DOS TRABALHADORES RURAIS DE ANTONIO ALMEIDA/PI Jurandir Paes Landim Rodrigues –- SINDICATO DOS TRABALHADORES RURAIS DE RIBEIRO GONÇALVES/PI Luis Assis da Rocha –- SINDICATO DOS TRABALHADORES RURAIS DE BERTOLÍNEA/PI Goethe Rommel Martins Coelho –- SINDICATO RURAL DE URUÇUÍ/PI

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ANEXO IV

NORMA REGULAMENTADORA DE SEGURANÇA E SAÚDE NO TRABALHO NA AGRICULTURA, PECUÁRIA SIL VICULTURA, EXPLORAÇÃO FLORESTAL E AQÜICULTURA - NR 31 31.1 Objetivo 31.1.1 Esta Norma Regulamentadora tem por objetivo estabelecer os preceitos a serem observados na organização e no ambiente de trabalho, de forma a tornar compatível o planejamento e o desenvolvimento das atividades da agricultura, pecuária, silvicultura, exploração florestal e aqüicultura com a segurança e saúde e meio ambiente do trabalho. 31.2 Campos de Aplicação 31.2.1 Esta Norma Regulamentadora se aplica a quaisquer atividades da agricultura, pecuária, silvicultura, exploração florestal e aqüicultura, verificadas as formas de relações de trabalho e emprego e o local das atividades. 31.2.2 Esta Norma Regulamentadora também se aplica às atividades de exploração industrial desenvolvidas em estabelecimentos agrários. 31.3 Disposições Gerais - Obrigações e Competências - Das Responsabilidades 31.3.1 Compete à Secretaria de Inspeção do Trabalho SIT, através do Departamento de Segurança e Saúde no Trabalho - DSST, definir, coordenar, orientar e implementar a política nacional em segurança e saúde no trabalho rural para: a) identificar os principais problemas de segurança e saúde do setor, estabelecendo as prioridades de ação, desenvolvendo os métodos efetivos de controle dos riscos e de melhoria das condições de trabalho; b) avaliar periodicamente os resultados da ação; c) prescrever medidas de prevenção dos riscos no setor observado os avanços tecnológicos, os conhecimentos em matéria de segurança e saúde e os preceitos aqui definidos; d) avaliar permanentemente os impactos das atividades rurais no meio ambiente de trabalho; e) elaborar recomendações técnicas para os empregadores, empregados e para trabalhadores autônomos; f) definir máquinas e equipamentos cujos riscos de operação justifiquem estudos e procedimentos para alteração de suas características de fabricação ou de concepção; g) criar um banco de dados com base nas informações disponíveis sobre acidentes, doenças e meio ambiente de trabalho, dentre outros. 31.3.1.1 Compete ainda à SIT, através do DSST, coordenar, tar e supervisionar as atividades preventivas desenvolvidas pelos órgãos regionais do MTE e realizar com a participação dos trabalhadores e empregadores, a Campanha Nacional de Prevenção de Acidentes do Trabalho Rural - CANPATR e implementar o Programa de Alimentação do Trabalhador - PAT. 31.3.2 A SIT é o órgão competente para executar, através das Delegacias Regionais do Trabalho - DRT, as atividades definidas na política nacional de segurança e saúde no trabalho, bem como as ações de fiscalização. 31.3.3 Cabe ao empregador rural ou equiparado: a) garantir adequadas condições de trabalho, higiene e conforto, definidas nesta Norma Regulamentadora, para todos os trabalhadores, segundo as especificidades de cada atividade; b) realizar avaliações dos riscos para a segurança e saúde dos trabalhadores e, com base nos resultados, adotar medidas de prevenção e proteção para garantir que todas as atividades, lugares de trabalho, máquinas, equipamentos, ferramentas e processos produtivos sejam seguros e em conformidade com as normas de segurança e saúde; c) promover melhorias nos ambientes e nas condições de trabalho, de forma a preservar o nível de segurança e saúde dos trabalhadores; d) cumprir e fazer cumprir as disposições legais e regulamentares sobre segurança e saúde no trabalho; e) analisar, com a participação da Comissão Interna de Prevenção de Acidentes no Trabalho Rural - CIPATR, as causas dos acidentes e das doenças decorrentes do trabalho, buscando prevenir e eliminar as possibilidades de novas ocorrências; f) assegurar a divulgação de direitos, deveres e obrigações que os trabalhadores devam conhecer em matéria de segurança e saúde no trabalho; g) adotar os procedimentos necessários quando da ocorrência de acidentes e doenças do trabalho; h) assegurar que se forneça aos trabalhadores instruções compreensíveis em matéria de segurança e saúde, bem como toda orientação e supervisão necessárias ao trabalho seguro;

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i) garantir que os trabalhadores, através da CIPATR, participem das discussões sobre o controle dos riscos presentes nos ambientes de trabalho; j) informar aos trabalhadores: 1. os riscos decorrentes do trabalho e as medidas de proteção implantadas, inclusive em relação a novas tecnologias adotadas pelo empregador; 2. os resultados dos exames médicos e complementares a que foram submetidos, quando realizados por serviço médico contratado pelo empregador; 3. os resultados das avaliações ambientais realizadas nos locais de trabalho. k) permitir que representante dos trabalhadores, legalmente constituído, acompanhe a fiscalização dos preceitos legais e regulamentares sobre segurança e saúde no trabalho; l) adotar medidas de avaliação e gestão dos riscos com a seguinte ordem de prioridade: 1. eliminação dos riscos; 2. controle de riscos na fonte; 3. redução do risco ao mínimo através da introdução de medidas técnicas ou organizacionais e de práticas seguras inclusive através de capacitação; 4. adoção de medidas de proteção pessoal, sem ônus para o trabalhador, de forma a complementar ou caso ainda persistam temporariamente fatores de risco. 31.3.3.1 Responderão solidariamente pela aplicação desta Norma Regulamentadora as empresas, empregadores, cooperativas de produção ou parceiros rurais que se congreguem para desenvolver tarefas, ou que constituam grupo econômico. 31.3.3.2 Sempre que haja dois ou mais empregadores rurais ou trabalhadores autônomos que exerçam suas atividades em um mesmo local, estes deverão colaborar na aplicação das prescrições sobre segurança e saúde. 31.3.4 Cabe ao trabalhador: a) cumprir as determinações sobre as formas seguras de desenvolver suas atividades, especialmente quanto às Ordens de Serviço para esse fim; b) adotar as medidas de proteção determinadas pelo empregador, em conformidade com esta Norma Regulamentadora, sob pena de constituir ato faltoso a recusa injustificada; c) submeter-se aos exames médicos previstos nesta Norma Regulamentadora; d) colaborar com a empresa na aplicação desta Norma Regulamentadora. 31.3.5 São direitos dos trabalhadores: a) ambientes de trabalho, seguros e saudáveis, em conformidade com o disposto nesta Norma Regulamentadora; b) ser consultados, através de seus representantes na CIPATR, sobre as medidas de prevenção que serão adotadas pelo empregador; c) escolher sua representação em matéria de segurança e saúde no trabalho; d) quando houver motivos para considerar que exista grave e iminente risco para sua segurança e saúde, ou de terceiros, informar imediatamente ao seu superior hierárquico, ou membro da CIPATR ou diretamente ao empregador, para que sejam tomadas as medidas de correção adequadas, interrompendo o trabalho se necessário; e) receber instruções em matéria de segurança e saúde, bem como orientação para atuar no processo de implementação das medidas de prevenção que serão adotadas pelo empregador. 31.4 Comissões Permanentes de Segurança e Saúde no Trabalho Rural 31.4.1 A instância nacional encarregada das questões de segurança e saúde no trabalho rural, estabelecidas nesta Norma Regulamentadora será a Comissão Permanente Nacional Rural - CPNR, instituída pela Portaria SIT/MTE nº 18, de 30 de maio de 2001. 31.4.2 Fica criada a Comissão Permanente Regional Rural -CPRR, no âmbito de cada Delegacia Regional do Trabalho. 31.4.3 A Comissão Permanente Regional Rural - CPRR terá as seguintes atribuições: a) estudar e propor medidas para o controle e a melhoria das condições e dos ambientes de trabalho rural; b) realizar estudos, com base nos dados de acidentes e doenças decorrentes do trabalho rural, visando estimular iniciativas de aperfeiçoamento técnico de processos de concepção e produção de máquinas, equipamentos e ferramentas; c) propor e participar de Campanhas de Prevenção de Acidentes no Trabalho Rural; d) incentivar estudos e debates visando o aperfeiçoamento permanente desta Norma Regulamentadora e de procedimentos no trabalho rural; e) encaminhar as suas propostas à CPNR; f) apresentar, à CPNR, propostas de adequação ao texto desta Norma Regulamentadora;

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g) encaminhar à CPNR, para estudo e avaliação, proposta de cronograma para gradativa implementação de itens desta Norma Regulamentadora que não impliquem grave e iminente risco, atendendo às peculiaridades e dificuldades regionais. 31.4.4 A CPRR terá a seguinte composição paritária mínima: a)três representantes do governo; b)três representantes dos trabalhadores; c)três representantes dos empregadores. 31.4.4.1 Os representantes dos trabalhadores e dos empregadores, bem como os seus suplentes, serão indicados por suas entidades representativas. 31.4.4.2 Os representantes titulares e suplentes serão designados pela autoridade regional competente do Ministério do Trabalho e Emprego. 31.4.5 A coordenação da CPRR será exercida por um dos representantes titulares da Delegacia Regional do Trabalho . 31.5 Gestão de Segurança, Saúde e Meio Ambiente de Trabalho Rural 31.5.1 Os empregadores rurais ou equiparados devem implementar ações de segurança e saúde que visem a prevenção de acidentes e doenças decorrentes do trabalho na unidade de produção rural, atendendo a seguinte ordem de prioridade: a) eliminação de riscos através da substituição ou adequação dos processos produtivos, máquinas e equipamentos; b) adoção de medidas de proteção coletiva para controle dos riscos na fonte; c) adoção de medidas de proteção pessoal. 31.5.1.1 As ações de segurança e saúde devem contemplar os seguintes aspectos: a) melhoria das condições e do meio ambiente de trabalho; b) promoção da saúde e da integridade física dos trabalhadores rurais; c) campanhas educativas de prevenção de acidentes e doenças decorrentes do trabalho. 31.5.1.2 As ações de melhoria das condições e meio ambiente de trabalho devem abranger os aspectos relacionados a: a) riscos químicos, físicos, mecânicos e biológicos; b) investigação e análise dos acidentes e das situações de trabalho que os geraram; c) organização do trabalho; 31.5.1.3 As ações de preservação da saúde ocupacional dos trabalhadores, prevenção e controle dos agravos decorrentes do trabalho, devem ser planejadas e implementadas com base na identificação dos riscos e custeadas pelo empregador rural ou equiparado. 31.5.1.3.1 O empregador ou equiparado deve garantir a realização de exames médicos, obedecendo aos prazos e periodicidade previstos nas alíneas abaixo: a) exame médico admissional, que deve ser realizado antes que o trabalhador assuma suas atividades; b) exame médico periódico, que deve ser realizado anualmente, salvo o disposto em acordo ou convenção coletiva de trabalho, resguardado o critério médico; c) exame médico de retorno ao trabalho, que deve ser realizado no primeiro dia do retorno à atividade do trabalhador ausente por período superior a trinta dias devido a qualquer doença ou acidente; d) exame médico de mudança de função, que deve ser realizado antes da data do início do exercício na nova função, desde que haja a exposição do trabalhador a risco específico diferente daquele a que estava exposto; e) exame médico demissional, que deve ser realizado até a data da homologação, desde que o último exame médico ocupacional tenha sido realizado há mais de noventa dias, salvo o disposto em acordo ou convenção coletiva de trabalho, resguardado o critério médico. 31.5.1.3.2 Os exames médicos compreendem a avaliação clínica e exames complementares, quando necessários em função dos riscos a que o trabalhador estiver exposto. 31.5.1.3.3 Para cada exame médico deve ser emitido um Atestado de Saúde Ocupacional ASO, em duas vias, contendo no mínimo: a) nome completo do trabalhador, o número de sua identidade e sua função; b) os riscos ocupacionais a que está exposto; c) indicação dos procedimentos médicos a que foi submetido e a data em que foram realizados; d) definição de apto ou inapto para a função específica que o trabalhador vai exercer, exerce ou exerceu; e) data, nome, número de inscrição no Conselho Regional de Medicina e assinatura do médico que realizou o exame.

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31.5.1.3.4 A primeira via do ASO deverá ficar arquivada no estabelecimento, à disposição da fiscalização e a segunda será obrigatoriamente entregue ao trabalhador, mediante recibo na primeira via. 31.5.1.3.5 Outras ações de saúde no trabalho devem ser planejadas e executadas, levando-se em consideração as necessidades e peculiaridades. 31.5.1.3.6 Todo estabelecimento rural, deverá estar equipado com material necessário à prestação de primeiros socorros, considerandose as características da atividade desenvolvida. 31.5.1.3.7 Sempre que no estabelecimento rural houver dez ou mais trabalhadores o material referido no subitem anterior ficará sob cuidado da pessoa treinada para esse fim. 31.5.1.3.8 O empregador deve garantir remoção do acidentado em caso de urgência, sem ônus para o trabalhador. 31.5.1.3.9 Deve ser possibilitado o acesso dos trabalhadores aos órgãos de saúde com fins a: a) prevenção e a profilaxia de doenças endêmicas; b) aplicação de vacina antitetânica. 31.5.1.3.10 Em casos de acidentes com animais peçonhentos, após os procedimentos de primeiros socorros, o trabalhador acidentado deve ser encaminhado imediatamente à unidade de saúde mais próxima do local. 31.5.1.3.11 Quando constatada a ocorrência ou agravamento de doenças ocupacionais, através dos exames médicos, ou sendo verificadas alterações em indicador biológico com significado clínico, mesmo sem sintomatologia, caberá ao empregador rural ou equiparado, mediante orientação formal, através de laudo ou atestado do médico encarregado dos exames: a) emitir a Comunicação de Acidentes do Trabalho - CAT; b) afastar o trabalhador da exposição ao risco, ou do trabalho; c) encaminhar o trabalhador à previdência social para estabelecimento de nexo causal, avaliação de incapacidade e definição da conduta previdenciária em relação ao trabalho. 31.6 Serviço Especializado em Segurança e Saúde no Trabalho Rural - SESTR 31.6.1 O SESTR, composto por profissionais especializados, consiste em um serviço destinado ao desenvolvimento de ações técnicas, integradas às práticas de gestão de segurança, saúde e meio ambiente de trabalho, para tornar o ambiente de trabalho compatível com a promoção da segurança e saúde e a preservação da integridade física do trabalhador rural. 31.6.2 São atribuições do SESTR: a) assessorar tecnicamente os empregadores e trabalhadores; b) promover e desenvolver atividades educativas em saúde e segurança para todos os trabalhadores; c) identificar e avaliar os riscos para a segurança e saúde dos trabalhadores em todas as fases do processo de produção, com a participação dos envolvidos; d) indicar medidas de eliminação, controle ou redução dos riscos, priorizando a proteção coletiva; e) monitorar periodicamente a eficácia das medidas adotadas; f) analisar as causas dos agravos relacionados ao trabalho e indicar as medidas corretivas e preventivas pertinentes; g) participar dos processos de concepção e alterações dos postos de trabalho, escolha de equipamentos, tecnologias, métodos de produção e organização do trabalho, para promover a adaptação do trabalho ao homem; h) intervir imediatamente nas condições de trabalho que estejam associadas a graves e iminentes riscos para a segurança e saúde dos trabalhadores; i) estar integrado com a CIPATR, valendo-se, ao máximo, de suas observações, além de apoiá-la, treiná-la e atendê-la nas suas necessidades e solicitações; j) manter registros atualizados referentes a avaliações das condições de trabalho, indicadores de saúde dos trabalhadores, acidentes e doenças do trabalho e ações desenvolvidas pelo SESTR. 31.6.3 Cabe aos empregadores rurais ou equiparados proporcionar os meios e recursos necessários para o cumprimento dos objetos e atribuições dos SESTR. 31.6.3.1 Os empregadores rurais ou equiparados devem constituir uma das seguintes modalidades de SESTR: a) Próprio - quando os profissionais especializados mantiverem vínculo empregatício; b) Externo - quando o empregador rural ou equiparado contar com consultoria externa dos profissionais especializados; c) Coletivo - quando um segmento empresarial ou econômico coletivizar a contratação dos profissionais especializados.

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31.6.4 O SESTR deverá ser composto pelos seguintes profissionais legalmente habilitados: a) de nível superior: 1. Engenheiro de Segurança do Trabalho; 2. Médico do Trabalho; 3. Enfermeiro do Trabalho. b) de nível médio: 1. Técnico de Segurança do Trabalho 2. Auxiliar de Enfermagem do Trabalho 31.6.4.1 A inclusão de outros profissionais especializados será estabelecida em acordo ou convenção coletiva. 31.6.5 O dimensionamento do SESTR vincula-se ao número de empregados do estabelecimento. 31.6.5.1 Sempre que um empregador rural ou equiparado proceder à contratação de trabalhadores, por prazo determinado, que atinja o número mínimo exigido nesta Norma Regulamentadora para a constituição de SESTR, deve contratar SESTR Próprio ou Externo (Coletivo) durante o período de vigência da contratação. 31.6.6 O estabelecimento com mais de dez até cinqüenta empregados fica dispensado de constituir SESTR, desde que o empregador rural ou preposto tenha formação sobre prevenção de acidentes e doenças relacionadas ao trabalho, necessária ao cumprimento dos objetivos desta Norma Regulamentadora. 31.6.6.1 O não atendimento ao disposto no subitem 31.6.6 obriga o empregador rural ou equiparado a contratar um técnico de segurança do trabalho ou SESTR Externo, observado o disposto no subitem 31.6.12 desta NR. 31.6.6.2 A capacitação prevista no subitem 31.6.6 deve atender, no que couber, ao conteúdo estabelecido no subitem 31.7.20.1 desta Norma Regulamentadora. 31.6.7 Será obrigatória a constituição de SESTR, Próprio ou Externo, para os estabelecimentos com mais de cinqüenta empregados. 31.6.8 Do SESTR Externo 31.6.8.1 Para fins de credenciamento junto a unidade regional do Ministério do Trabalho e Emprego, o SESTR Externo deverá: a) ser organizado por instituição ou possuir personalidade jurídica própria; b) exercer exclusivamente atividades de prestação de serviços em segurança e saúde no trabalho; c) apresentar a relação dos profissionais que compõem o SESTR. 31.6.8.2 O SESTR Externo deverá comunicar à autoridade regional competente do MTE no prazo de quinze dias da data da efetivação do contrato, a identificação dos empregadores rurais ou equiparados para os quais prestará serviços. 31.6.8.3 A autoridade regional competente do MTE, no prazo de trinta dias, avaliará, ouvida a CPRR, sem prejuízo dos serviços, neste período, a compatibilidade entre a capacidade instalada e o número de contratados. 31.6.8.4 O SESTR Externo poderá ser descredenciado pela autoridade regional do MTE competente, ouvida a CPRR, sempre que os serviços não atenderem aos critérios estabelecidos nesta Norma Regulamentadora. 31.6.8.5 Os empregadores rurais ou equiparados que contratarem SESTR Externo devem manter à disposição da fiscalização, em todos os seus estabelecimentos, documento atualizado comprobatório da contratação do referido serviço. 31.6.9 Do SESTR Coletivo 31.6.9.1 Os empregadores rurais ou equiparados, que sejam obrigados a constituir SESTR Próprio ou Externo, poderão optar pelo SESTR Coletivo, desde que estabelecido em acordos ou convenções coletivos de trabalho e se configure uma das seguintes situações: a) vários empregadores rurais ou equiparados instalados em um mesmo estabelecimento; b) empregadores rurais ou equiparados, que possuam estabelecimentos que distem entre si menos de cem quilômetros; c) vários estabelecimentos sob controle acionário de um mesmo grupo econômico, que distem entre si menos de cem quilômetros; d) consórcio de empregadores e cooperativas de produção. 31.6.9.2 A Delegacia Regional do Trabalho, ouvida a CPRR, credenciará o SESTR Coletivo, que deverá apresentar: a) a comprovação do disposto no item anterior;

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b) a relação dos profissionais que compõem o serviço, mediante comprovação da habilitação requerida. 31.6.9.3 O SESTR Coletivo poderá ser descredenciado pela autoridade regional competente do MTE, ouvida a CPRR sempre que não atender aos critérios estabelecidos nesta Norma Regulamentadora. 31.6.9.4 Responderão solidariamente pelo SESTR Coletivo todos os seus integrantes. 31.6.10 As empresas que mantiverem atividades agrícolas e industriais, interligadas no mesmo espaço físico e obrigados a constituir SESTR e serviço equivalente previsto na Consolidação das Leis do Trabalho - CLT, poderão constituir apenas um desses Serviços, considerando o somatório do número de empregados, desde que estabelecido em convenção ou acordo coletivo. 31.6.11 O dimensionamento do SESTR Próprio ou Coletivo obedecerá ao disposto no Quadro I desta Norma Regulamentadora. Quadro I

Nº de Trabalhadores Profissionais Legalmente Habilitados

Eng. Seg. Méd. Trab. Téc. Seg. Enf. Trab. Aux. Enf.

51 a 150 1

151 a 300 1 1

301 a 500 1 2 1

501 a 1000 1 1 2 1 1

Acima de 1000 1 1 3 1 2

31.6.12 O empregador rural ou equiparado deve contratar os profissionais constantes no Quadro I, em jornada de trabalho compatível com a necessidade de elaboração e implementação das ações de gestão em segurança, saúde e meio ambiente do trabalho rural. 31.6.13 O SESTR Externo e Coletivo deverão ter a seguinte composição mínima: Quadro II

Nº de Trabalhadores Profissionais Legalmente Habilitados

Eng. Seg. Méd. Trab. Téc. Seg. Enf. Trab. Aux. Enf.

Até 500 1 1 2 1 1

500 1000 1 1 3 1 2

Acima de 1000 2 2 4 2 3

31.7 Comissão Interna de Prevenção de Acidentes do Trabalho Rural - CIPATR 31.7.1 A CIPATR tem como objetivo a prevenção de acidentes e doenças relacionados ao trabalho, de modo a tornar compatível permanentemente o trabalho com a preservação da vida do trabalhador. 31.7.2 O empregador rural ou equiparado que mantenha vinte ou mais empregados contratados por prazo indeterminado, fica obrigado a manter em funcionamento, por estabelecimento, uma CIP ATR. 31.7.2.1 Nos estabelecimentos com número de onze a dezenove empregados, nos períodos de safra ou de elevada concentração de empregados por prazo determinado, a assistência em matéria de segurança e saúde no trabalho será garantida pelo empregador diretamente ou através de preposto ou de profissional por ele contratado, conforme previsto nos subitens 31.6.6 e 31.6.6.1 desta Norma Regulamentadora. 31.7.3 A CIPATR será composta por representantes indicados pelo empregador e representantes eleitos pelos empregados de forma paritária, de acordo com a seguinte proporção mínima:

Nº de Trab. Nº de Membros 20 a 35

36 a 70

71 a 100

101 a 500

501 a 1000

Acima de1000

Representantes dos trabalhadores

1 2 3 4 5 6

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Representantes do empregador

1 2 3 4 5 6

31.7.4 Os membros da representação dos empregados na CIPATR serão eleitos em escrutínio secreto. 31.7.5 Os candidatos votados e não eleitos deverão ser relacionados na ata de eleição, em ordem decrescente de votos, possibilitando a posse como membros da CIPATR em caso de vacância. 31.7.5.1 O coordenador da CIPATR será escolhido pela representação do empregador, no primeiro ano do mandato, e pela representação dos trabalhadores, no segundo ano do mandato, dentre seus membros. 31.7.6 O mandato dos membros da CIPATR terá duração de dois anos, permitida uma recondução. 31.7.7 Organizada a CIPATR, as atas de eleição e posse e o calendário das reuniões devem ser mantidas no estabelecimento à disposição da fiscalização do trabalho. 31.7.8 A CIPATR não poderá ter seu número de representantes reduzido, bem como, não poderá ser desativada pelo empregador antes do término do mandato de seus membros, ainda que haja redução do número de empregados, exceto no caso de encerramento das atividades do estabelecimento. 31.7.8.1 Os casos em que ocorra redução do número de empregados, por mudanças na atividade econômica, devem ser encaminhados à Delegacia Regional do Trabalho, que decidirá sobre a redução ou não da quantidade de membros da CIPATR. 31.7.8.2 Nas Unidades da Federação com Comissão Permanente Regional Rural - CPRR em funcionamento esta será ouvida antes da decisão referida no subitem 31.7.8.1 desta Norma Regulamentadora. 31.7.9 A CIPATR terá por atribuição: a) acompanhar a implementação das medidas de prevenção necessárias, bem como da avaliação das prioridades de ação nos locais de trabalho; b) identificar as situações de riscos para a segurança e saúde dos trabalhadores, nas instalações ou áreas de atividades do estabelecimento rural, comunicando-as ao empregador para as devidas providências; c) divulgar aos trabalhadores informações relativas à segurança e saúde no trabalho; d) participar, com o SESTR, quando houver, das discussões promovidas pelo empregador, para avaliar os impactos de alterações nos ambientes e processos de trabalho relacionados à segurança e saúde dos trabalhadores, inclusive quanto à introdução de novas tecnologias e alterações nos métodos, condições e processos de produção; e) interromper, informando ao SESTR, quando houver, ou ao empregador rural ou equiparado, o funcionamento de máquina ou setor onde considere haver risco grave e iminente à segurança e saúde dos trabalhadores; f) colaborar no desenvolvimento e implementação das ações da Gestão de Segurança, Saúde e Meio Ambiente de Trabalho Rural; g) participar, em conjunto com o SESTR, quando houver, ou com o empregador, da análise das causas das doenças e acidentes de trabalho e propor medidas de solução dos problemas encontrados; h) requisitar à empresa cópia das CAT emitidas; i) divulgar e zelar pela observância desta Norma Regulamentadora; j) propor atividades que visem despertar o interesse dos trabalhadores pelos assuntos de prevenção de acidentes de trabalho, inclusive a semana interna de prevenção de acidentes no trabalho rural; k) propor ao empregador a realização de cursos e treinamentos que julgar necessários para os trabalhadores, visando a melhoria das condições de segurança e saúde no trabalho; l) elaborar o calendário anual de reuniões ordinárias; m) convocar, com conhecimento do empregador, trabalhadores para prestar informações por ocasião dos estudos dos acidentes de trabalho. n) encaminhar ao empregador, ao SESTR e às entidades de classe as recomendações aprovadas, bem como acompanhar as respectivas execuções; o) constituir grupos de trabalho para o estudo das causas dos acidentes de trabalho rural; 31.7.9.1 No exercício das atribuições elencadas no subitem 31.7.11, a CIPATR contemplará os empregados contratados por prazo determinado e indeterminado. 31.7.10 Cabe ao empregador rural ou equiparado: a) convocar as reuniões ordinárias e extraordinárias da CIP ATR;

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b) conceder aos componentes da CIPATR os meios necessários ao desempenho de suas atribuições; c) estudar as recomendações e determinar a adoção das medidas necessárias, mantendo a CIPATR informada; d) promover para todos os membros da CIPATR, em horário de expediente normal do estabelecimento rural, treinamento sobre prevenção de acidentes de trabalho previsto no subitem 31.7.20.1 desta Norma Regulamentadora. 31.7.11 Cabe aos trabalhadores indicar à CIPATR situações de risco e apresentar sugestões para a melhoria das condições de trabalho. 31.7.12 A CIPATR reunir-se-á uma vez por mês, ordinariamente, em local apropriado e em horário normal de expediente, obedecendo ao calendário anual. 31.7.13 Em caso de acidentes com conseqüências de maior gravidade ou prejuízo de grande monta, a CIPATR se reunirá em caráter extraordinário, com a presença do responsável pelo setor em que ocorreu o acidente, no máximo até cinco dias após a ocorrência. 31.7.14 Quando o empregador rural ou equiparado contratar empreiteiras, a CIPATR da empresa contratante deve, em conjunto com a contratada, definir mecanismos de integração e participação de todos os trabalhadores em relação às decisões da referida comissão. 31.7.15 Os membros da CIPATR não poderão sofrer despedida arbitrária, entendendo-se como tal a que não se fundar em motivo disciplinar, técnico, econômico ou financeiro. 31.7.16 Do Processo Eleitoral 31.7.16.1 A eleição para o novo mandato da CIPATR deverá ser convocada pelo empregador, pelo menos quarenta e cinco dias antes do término do mandato e realizada com antecedência mínima de 30 dias do término do mandato. 31.7.16.2 O processo eleitoral observará as seguintes condições: a) divulgação de edital, em locais de fácil acesso e visualização, por todos os empregados do estabelecimento, no prazo mínimo de quarenta e cinco dias antes do término do mandato em curso; b) comunicação do início do processo eleitoral ao sindicato dos empregados e dos empregadores, por meio do envio de cópia do edital de convocação; c) inscrição e eleição individual, sendo que o período mínimo para inscrição será de quinze dias; d) liberdade de inscrição para todos os empregados do estabelecimento, independentemente de setores ou locais de trabalho, com fornecimento de comprovante; e) garantia de emprego para todos os inscritos até a eleição; f) realização da eleição no prazo mínimo de trinta dias antes do término do mandato da CIPATR, quando houver; g) realização de eleição em dia normal de trabalho, respeitando os horários de turnos e em horário que possibilite a participação da maioria dos empregados; h) voto secreto; i) apuração dos votos imediatamente após o término da eleição, em horário normal de trabalho, com acompanhamento de um presentante dos empregados e um do empregador; j) guarda, pelo empregador, de todos os documentos relativos à eleição, por um período mínimo de cinco anos. 31.7.16.3 Havendo participação inferior a cinqüenta por cento dos empregados na votação, não haverá a apuração dos votos e deverá ser organizada outra votação que ocorrerá no prazo máximo de dez dias. 31.7.16.4 As denúncias sobre o processo eleitoral devem ser encaminhadas à Delegacia Regional do Trabalho, até trinta dias após a divulgação do resultado da eleição. 31.7.16.4.1 O processo eleitoral é passível de anulação quando do descumprimento de qualquer das alíneas do subitem 31.7.19 desta Norma Regulamentadora. 31.7.16.4.2 Compete à Delegacia Regional do Trabalho, confirmadas irregularidades no processo eleitoral, determinar a sua correção ou proceder à anulação quando for o caso. 31.7.16.4.3 Em caso de anulação, o empregador rural ou equiparado, deve iniciar novo processo eleitoral no prazo de quinze dias, a contar da data de ciência da decisão da Delegacia Regional do Trabalho, garantidas as inscrições anteriores. 31.7.16.4.4 Sempre que houver denuncia formal de irregularidades no processo eleitoral, deve ser mantida a CIPATR anterior, quando houver, até a decisão da Delegacia Regional do T rabalho. 31.7.16.4.5 Cabe à Delegacia Regional do Trabalho informar ao empregador rural ou equiparado sobre a existência de denuncia de irregularidade na eleição da CIPATR.

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31.7.16.4.6 Em caso de anulação da eleição, deve ser mantida a CIPATR anterior, quando houver, até a complementação do processo eleitoral. 31.7.17 A posse dos membros da CIPATR se dará no primeiro dia útil após o término do mandato anterior. 31.7.17.1 Em caso de primeiro mandato a posse será realizada no prazo máximo de quarenta e cinco dias após a eleição. 31.7.18 Assumirão a condição de membros, os candidatos mais votados. 31.7.19 Em caso de empate, assumirá aquele que tiver maior tempo de serviço no estabelecimento. 31.7.20 Do Treinamento 31.7.20.1 O empregador rural ou equiparado deverá promover treinamento em segurança e saúde no trabalho para os membros da CIPATR antes da posse, de acordo com o conteúdo mínimo: a) noções de organização, funcionamento, importância e atuação da CIPATR; b) estudo das condições de trabalho com análise dos riscos originados do processo produtivo no campo, bem como medidas de controle (por exemplo, nos temas agrotóxicos, maquinas e equipamentos, riscos com eletricidade, animais peçonhentos, ferramentas, silos e armazéns, transporte de trabalhadores, fatores climáticos e topográficos, áreas de vivência, ergonomia e organização do trabalho); c) caracterização e estudo de acidentes ou doenças do trabalho, metodologia de investigação e análise; d) noções de primeiros socorros; e) noções de prevenção de DST, AIDS e dependências químicas; f) noções sobre legislação trabalhista e previdenciária relativa à Segurança e Saúde no Trabalho; g) noções sobre prevenção e combate a incêndios; h) princípios gerais de higiene no trabalho; i) relações humanas no trabalho; j) proteção de máquinas equipamentos; k) noções de ergonomia. 31.7.20.2 O empregador rural ou equiparado deve promover o treinamento previsto no subitem 31.7.28 desta Norma Regulamentadora para os empregados mais votados e não eleitos, limitado ao número de membros eleitos da CIPATR. 31.7.20.3 O treinamento para os membros da CIPATR terá carga horária mínima de vinte horas, distribuídas em no máximo oito horas diárias e será realizado durante o expediente normal, abordando os principais riscos a que estão expostos os trabalhadores em cada atividade que desenvolver. 31.8 Agrotóxicos, Adjuvantes e Produtos Afins 31.8.1 Para fins desta norma são considerados: a) trabalhadores em exposição direta, os que manipulam os agrotóxicos e produtos afins, em qualquer uma das etapas de armazenamento, transporte, preparo, aplicação, descarte, e descontaminação de equipamentos e vestimentas; b) trabalhadores em exposição indireta, os que não manipulam diretamente os agrotóxicos, adjuvantes e produtos afins, mas circulam e desempenham suas atividade de trabalho em áreas vizinhas aos locais onde se faz a manipulação dos agrotóxicos em qualquer uma das etapas de armazenamento, transporte, preparo, aplicação e descarte, e descontaminação de equipamentos e vestimentas, e ou ainda os que desempenham atividades de trabalho em áreas recém-tratadas. 31.8.2 É vedada a manipulação de quaisquer agrotóxicos, adjuvantes e produtos afins que não estejam registrados e autorizados pelos órgãos governamentais competentes. 31.8.3 É vedada a manipulação de quaisquer agrotóxicos, adjuvantes e produtos afins por menores de dezoito anos, maiores de sessenta anos e por gestantes. 31.8.3.1 O empregador rural ou equiparado afastará a gestante das atividades com exposição direta ou indireta a agrotóxicos imediatamente após ser informado da gestação. 31.8.4 É vedada a manipulação de quaisquer agrotóxico, adjuvantes e produtos afins, nos ambientes de trabalho, em desacordo com a receita e as indicações do rótulo e bula, previstos em legislação vigente. 31.8.5 É vedado o trabalho em áreas recém-tratadas, antes do término do intervalo de reentrada estabelecido nos rótulos dos produtos, salvo com o uso de equipamento de proteção recomendado.

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31.8.6 É vedada a entrada e permanência de qualquer pessoa na área a ser tratada durante a pulverização aérea. 31.8.7 O empregador rural ou equiparado, deve fornecer instruções suficientes aos que manipulam agrotóxicos, adjuvantes e afins, e aos que desenvolvam qualquer atividade em áreas onde possa haver exposição direta ou indireta a esses produtos, garantindo os requisitos de segurança previstos nesta norma. 31.8.8 O empregador rural ou equiparado, deve proporcionar capacitação sobre prevenção de acidentes com agrotóxicos a todos os trabalhadores expostos diretamente. 31.8.8.1 A capacitação prevista nesta norma deve ser proporcionada aos trabalhadores em exposição direta mediante programa, com carga horária mínima de vinte horas, distribuídas em no máximo oito horas diárias, durante o expediente normal de trabalho, com o seguinte conteúdo mínimo: a) conhecimento das formas de exposição direta e indireta aos agrotóxicos; b) conhecimento de sinais e sintomas de intoxicação e medidas de primeiros socorros; c) rotulagem e sinalização de segurança; d) medidas higiênicas durante e após o trabalho; e) uso de vestimentas e equipamentos de proteção pessoal; f) limpeza e manutenção das roupas, vestimentas e equipamentos de proteção pessoal. 31.8.8.2 O programa de capacitação deve ser desenvolvido a partir de materiais escritos ou audiovisuais e apresentado em linguagem adequada aos trabalhadores e assegurada a atualização de conhecimentos para os trabalhadores já capacitados. 31.8.8.3 São considerados válidos os programas de capacitação desenvolvidos por órgãos e serviços oficiais de extensão rural, instituições de ensino de nível médio e superior em ciências agrárias e Serviço Nacional de Aprendizagem Rural - SENAR, entidades sindicais, associações de produtores rurais, cooperativas de produção agropecuária ou florestal e associações de profissionais, desde que obedecidos os critérios estabelecidos por esta norma, garantindo-se a livre escolha de quaisquer destes pelo empregador. 31.8.8.4 O empregador rural ou equiparado deve complementar ou realizar novo programa quando comprovada a insuficiência da capacitação proporcionada ao trabalhador. 31.8.9 O empregador rural ou equiparado, deve adotar, no mínimo, as seguintes medidas: a) fornecer equipamentos de proteção individual e vestimentas adequadas aos riscos, que não propiciem desconforto térmico prejudicial ao trabalhador; b) fornecer os equipamentos de proteção individual e vestimentas de trabalho em perfeitas condições de uso e devidamente higienizados, responsabilizando-se pela descontaminação dos mesmos ao final de cada jornada de trabalho, e substituindo-os sempre que necessário; c) orientar quanto ao uso correto dos dispositivos de proteção; d) disponibilizar um local adequado para a guarda da roupa de uso pessoal; e) fornecer água, sabão e toalhas para higiene pessoal; f) garantir que nenhum dispositivo de proteção ou vestimenta contaminada seja levado para fora do ambiente de trabalho; g) garantir que nenhum dispositivo ou vestimenta de proteção seja reutilizado antes da devida descontaminação; h) vedar o uso de roupas pessoais quando da aplicação de agrotóxicos. 31.8.10 O empregador rural ou equiparado deve disponibilizar a todos os trabalhadores informações sobre o uso de agrotóxicos no estabelecimento, abordando os seguintes aspectos: a) área tratada: descrição das características gerais da área da localização, e do tipo de aplicação a ser feita, incluindo o equipamento a ser utilizado; b) nome comercial do produto utilizado; c) classificação toxicológica; d) data e hora da aplicação; e) intervalo de reentrada; f) intervalo de segurança/período de carência; g) medidas de proteção necessárias aos trabalhadores em exposição direta e indireta; h) medidas a serem adotadas em caso de intoxicação. 31.8.10.1 O empregador rural ou equiparado deve sinalizar as áreas tratadas, informando o período de reentrada. 31.8.11 O trabalhador que apresentar sintomas de intoxicação deve ser imediatamente afastado das atividades e transportado para atendimento médico, juntamente com as informações contidas nos rótulos e bulas dos agrotóxicos aos quais tenha sido exposto.

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31.8.12 Os equipamentos de aplicação dos agrotóxicos, adjuvantes e produtos afins, devem ser: a) mantidos em perfeito estado de conservação e funcionamento; b) inspecionados antes de cada aplicação; c) utilizados para a finalidade indicada; d) operados dentro dos limites, especificações e orientações técnicas. 31.8.13 A conservação, manutenção, limpeza e utilização dos equipamentos só poderão ser realizadas por pessoas previamente treinadas e protegidas. 31.8.13.1 A limpeza dos equipamentos será executada de forma a não contaminar poços, rios, córregos e quaisquer outras coleções de água. 31.8.14 Os produtos devem ser mantidos em suas embalagens originais, com seus rótulos e bulas. 31.8.15 É vedada a reutilização, para qualquer fim, das embalagens vazias de agrotóxicos, adjuvantes e produtos afins, cuja destinação final deve atender à legislação vigente. 31.8.16 É vedada a armazenagem de agrotóxicos, adjuvantes e produtos afins a céu aberto. 31.8.17 As edificações destinadas ao armazenamento de agrotóxicos, adjuvantes e produtos afins devem: a) ter paredes e cobertura resistentes; b) ter acesso restrito aos trabalhadores devidamente capacitados a manusear os referidos produtos; c) possuir ventilação, comunicando-se exclusivamente com o exterior e dotada de proteção que não permita o acesso de animais; d) ter afixadas placas ou cartazes com símbolos de perigo; e) estar situadas a mais de trinta metros das habitações e locais onde são conservados ou consumidos alimentos, medicamentos ou outros materiais, e de fontes de água; f) possibilitar limpeza e descontaminação. 31.8.18 O armazenamento deve obedecer, as normas da legislação vigente, as especificações do fabricante constantes dos rótulos e bulas, e as seguintes recomendações básicas: a) as embalagens devem ser colocadas sobre estrados, evitando contato com o piso, com as pilhas estáveis e afastadas das paredes e do teto; b) os produtos inflamáveis serão mantidos em local ventilado, protegido contra centelhas e outras fontes de combustão. 31.8.19 Os agrotóxicos, adjuvantes e produtos afins devem ser transportados em recipientes rotulados, resistentes e hermeticamente fechados. 31.8.19.1 É vedado transportar agrotóxicos, adjuvantes e produtos afins, em um mesmo compartimento que contenha alimentos, rações, forragens, utensílios de uso pessoal e doméstico. 31.8.19.2 Os veículos utilizados para transporte de agrotóxicos, adjuvantes e produtos afins, devem ser higienizados e descontaminados, sempre que forem destinados para outros fins. 31.8.19.3 É vedada a lavagem de veículos transportadores de agrotóxicos em coleções de água. 31.8.19.4 É vedado transportar simultaneamente trabalhadores e agrotóxicos, em veículos que não possuam compartimentos estanques projetados para tal fim. 31.9 Meio Ambiente e resíduos 31.9.1 Os resíduos provenientes dos processos produtivos devem ser eliminados dos locais de trabalho, segundo métodos e procedimentos adequados que não provoquem contaminação ambiental. 31.9.2 As emissões de resíduos para o meio ambiente devem estar de acordo com a legislação em vigor sobre a matéria. 31.9.3 Os resíduos sólidos ou líquidos de alta toxicidade, periculosidade, alto risco biológico e os resíduos radioativos deverão ser dispostos com o conhecimento e a orientação dos órgãos competentes e mantidos sob monitoramento. 31.9.4 Nos processos de compostagem de dejetos de origem animal, deve-se evitar que a fermentação excessiva provoque incêndios no local. 31.10 Ergonomia 31.10.1 O empregador rural ou equiparado deve adotar princípios ergonômicos que visem a adaptação das condições de trabalho às características psicofisiológicas dos trabalhadores, de modo a proporcionar melhorias nas condições de conforto e segurança no trabalho. 31.10.2 É vedado o levantamento e o transporte manual de carga com peso suscetível de comprometer a saúde do trabalhador.

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31.10.3 Todo trabalhador designado para o transporte manual regular de cargas deve receber treinamento ou instruções quanto aos métodos de trabalho que deverá utilizar, com vistas a salvaguardar sua saúde e prevenir acidentes. 31.10.4 O transporte e a descarga de materiais feitos por impulsão ou tração de vagonetes sobre trilhos, carros de mão ou qualquer outro aparelho mecânico deverão ser executados de forma que o esforço físico realizado pelo trabalhador seja compatível com sua saúde, segurança e capacidade de força. 31.10.5 Todas as máquinas, equipamentos, implementos, mobiliários e ferramentas devem proporcionar ao trabalhador condições de boa postura, visualização, movimentação e operação. 31.10.6 Nas operações que necessitem também da utilização dos pés, os pedais e outros comandos devem ter posicionamento e dimensões que possibilitem fácil alcance e ângulos adequados entre as diversas partes do corpo do trabalhador, em função das características e peculiaridades do trabalho a ser executado. 31.10.7 Para as atividades que forem realizadas necessariamente em pé, devem ser garantidas pausas para descanso. 31.10.8 A organização do trabalho deve ser adequada às racterísticas psicofisiológicas dos trabalhadores e à natureza do trabalho a ser executado. 31.10.9 Nas atividades que exijam sobrecarga muscular estática ou dinâmica devem ser incluídas pausas para descanso e outras medidas que preservem a saúde do trabalhador. 31.11 Ferramentas Manuais 31.11.1 O empregador deve disponibilizar, gratuitamente, ferramentas adequadas ao trabalho e às características físicas do trabalhador, substituindo-as sempre que necessário. 31.11.2 As ferramentas devem ser: a) seguras e eficientes; b) utilizadas exclusivamente para os fins a que se destinam; c) mantidas em perfeito estado de uso. 31.11.3 Os cabos das ferramentas devem permitir boa aderência em qualquer situação de manuseio, possuir formato que favoreça a adaptação à mão do trabalhador, e ser fixados de forma a não se soltar acidentalmente da lâmina. 31.11.4 As ferramentas de corte devem ser: a) guardadas e transportadas em bainha; c) mantidas afiadas. 31.12 Máquinas, equipamentos e implementos 31.12.1 As máquinas, equipamentos e implementos, devem atender aos seguintes requisitos: a) utilizados unicamente para os fins concebidos, segundo as especificações técnicas do fabricante; b) operados somente por trabalhadores capacitados e qualificados para tais funções; c) utilizados dentro dos limites operacionais e restrições indicados pelos fabricantes. 31.12.2 Os manuais das máquinas, equipamentos e implementos devem ser mantidos no estabelecimento, devendo o empregador dar conhecimento aos operadores do seu conteúdo e disponibilizá-los sempre que necessário. 31.12.3 Só devem ser utilizadas máquinas, equipamentos e implementos cujas transmissões de força estejam protegidas. 31.12.4 As máquinas, equipamentos e implementos que ofereçam risco de ruptura de suas partes, projeção de peças ou de material em processamento só devem ser utilizadas se dispuserem de proteções efetivas. 31.12.5 Os protetores removíveis só podem ser retirados para execução de limpeza, lubrificação, reparo e ajuste, ao fim dos quais devem ser, obrigatoriamente, recolocados. 31.12.6 Só devem ser utilizadas máquinas e equipamentos móveis motorizados que tenham estrutura de proteção do operador em caso de tombamento e dispor de cinto de segurança. 31.12.7 É vedada a execução de serviços de limpeza, de lubrificação, de abastecimento e de manutenção com as máquinas, equipamentos e implementos em funcionamento, salvo se o movimento for indispensável à realização dessas operações, quando deverão ser tomadas medidas especiais de proteção e sinalização contra acidentes de trabalho. 31.12.8 É vedado o trabalho de máquinas e equipamentos acionados por motores de combustão interna, em locais fechados ou sem ventilação suficiente, salvo quando for assegurada a eliminação de gases do ambiente.

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31.12.9 As máquinas e equipamentos, estacionários ou não, que possuem plataformas de trabalho, só devem ser utilizadas quando dotadas escadas de acesso e dispositivos de proteção contra quedas. 31.12.10 É vedado, em qualquer circunstância, o transporte de pessoas em máquinas e equipamentos motorizados e nos seus implementos acoplados. 31.12.11 Só devem ser utilizadas máquinas de cortar, picar, triturar, moer, desfibrar e similiares que possuírem dispositivos de proteção, que impossibilitem contato do operador ou demais pessoas com suas partes móveis. 31.12.12 As aberturas para alimentação de máquinas, que estiverem situadas ao nível do solo ou abaixo deste, devem ter proteção que impeça a queda de pessoas no interior das mesmas. 31.12.13 O empregador rural ou equiparado deve substituir ou reparar equipamentos e implementos, sempre que apresentem defeitos que impeçam a operação de forma segura. 31.12.14 Só devem ser utilizadas roçadeiras que possuam dispositivos de proteção que impossibilitem o arremesso de materiais sólidos. 31.12.15 O empregador rural ou equiparado se responsabilizará pela capacitação dos operadores de máquinas e equipamentos, visando o manuseio e a operação seguros. 31.12.16 Só devem ser utilizados máquinas e equipamentos motorizados móveis que possuam faróis, luzes e sinais sonoros de ré acoplados ao sistema de câmbio de marchas, buzina e espelho trovisor. 31.12.17 Só devem ser utilizados máquinas e equipamentos que apresentem dispositivos de acionamento e parada localizados de modo que: a) possam ser acionados ou desligados pelo operador na sua posição de trabalho; b) não se localizem na zona perigosa da máquina ou equipamento; c) possam ser acionados ou desligados, em caso de emergência, por outra pessoa que não seja o operador; d) não possam ser acionados ou desligados involuntariamente pelo operador ou de qualquer outra forma acidental; e) não acarretem riscos adicionais. 31.12.17.1 Nas paradas temporárias ou prolongadas o operador deve colocar os controles em posição neutra, acionar os freios e adotar todas as medidas necessárias para eliminar riscos provenientes de deslocamento ou movimentação de implementos ou de sistemas da máquina operada. 31.12.18 Só devem ser utilizadas as correias transportadoras que possuam: a) sistema de frenagem ao longo dos trechos onde possa haver acesso de trabalhadores; b) dispositivo que interrompa seu acionamento quando necessário; c) partida precedida de sinal sonoro audível que indique seu acionamento; d) transmissões de força protegidas com grade contra contato acidental; e) sistema de proteção contra quedas de materiais, quando instaladas em altura superior a dois metros; f) sistemas e passarelas que permitam que os trabalhos de manutenção sejam desenvolvidos de forma segura; g) passarelas com guarda-corpo e rodapé ao longo de toda a extensão elevada onde possa haver circulação de trabalhadores; h) sistema de travamento para ser utilizado quando dos serviços de manutenção. 31.12.19 Nos locais de movimentação de máquinas, equipamentos e veículos, o empregador rural ou equiparado deve estabelecer medidas que complementem: a) regras de preferência de movimentação; b) distância mínima entre máquinas, equipamentos e veículos; c) velocidades máximas permitidas de acordo com as condições das pistas de rolamento. 31.12.20 Só podem ser utilizadas motosserras que atendam os seguintes dispositivos: a) freio manual de corrente; b) pino pega-corrente; c) protetor da mão direita; d) protetor da mão esquerda; e) trava de segurança do acelerador; 31.12.20.1 O empregador rural ou equiparado deve promover a todos os operadores de motosserra treinamento para utilização segura da máquina, com carga horária mínima de oito horas, com conteúdo programático relativo à utilização segura da motosserra, constante no Manual de Instruções. 31.13 Secadores

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31.13.1 Os secadores devem possuir revestimentos com material refratário e anteparos adequados de forma a não gerar riscos à segurança e saúde dos trabalhadores. 31.13.2 Para evitar incêndios nos secadores o empregador rural ou equiparado deverá garantir a: a) limpeza das colunas e condutos de injeção e tomada de ar quente; b) verificação da regulagem do queimador, quando existente; c) verificação do sistema elétrico de aquecimento, quando existente. 31.13.2.1 Os filtros de ar dos secadores devem ser mantidos limpos. 31.13.3 Os secadores alimentados por combustíveis gasosos ou líquidos devem ter sistema de proteção para: a) não ocorrer explosão por falha da chama de aquecimento ou no acionamento do queimador; b) evitar retrocesso da chama. 31.14 Silos 31.14.1 Os silos devem ser adequadamente dimensionados e construídos em solo com resistência compatível às cargas de trabalho. 31.14.2 As escadas e as plataformas dos silos devem ser construídas de modo a garantir aos trabalhadores o desenvolvimento de suas atividades em condições seguras. 31.14.3 O revestimento interno dos silos deve ter características que impeçam o acumulo de grãos, poeiras e a formação de barreiras. 31.14.4 É obrigatória a prevenção dos riscos de explosões, incêndios, acidentes mecânicos, asfixia e dos decorrentes da exposição a agentes químicos, físicos e biológicos em todas as fases da operação do silo. 31.14.5 Não deve ser permitida a entrada de trabalhadores no silo durante a sua operação, se não houver meios seguros de saída ou resgate. 31.14.6 Nos silos hermeticamente fechados, só será permitida a entrada de trabalhadores após renovação do ar ou com proteção respiratória adequada. 31.14.7 Antes da entrada de trabalhadores na fase de abertura dos silos deve ser medida a concentração de oxigênio e o limite de explosividade relacionado ao tipo de material estocado. 31.14.8 Os trabalhos no interior dos silos devem obedecer aos seguintes critérios: a) realizados com no mínimo dois trabalhadores, devendo um deles permanecer no exterior; b) com a utilização de cinto de segurança e cabo vida. 31.14.9 Devem ser previstos e controlados os riscos de combustão espontânea e explosões no projeto construtivo, na operação e manutenção. 31.14.10 O empregador rural ou equiparado deve manter à disposição da fiscalização do trabalho a comprovação dos monitoramentos e controles relativos à operação dos silos. 31.14.11 Os elevadores e sistemas de alimentação dos silos devem ser projetados e operados de forma a evitar o acúmulo de poeiras, em especial nos pontos onde seja possível a geração de centelhas por eletricidade estática. 31.14.12 Todas as instalações elétricas e de iluminação no interior dos silos devem ser apropriados à área classificada. 31.14.13 Serviços de manutenção por processos de soldagem, operações de corte ou que gerem eletricidade estática devem ser precedidas de uma permissão especial onde serão analisados os riscos e os controles necessários. 31.14.14 Nos intervalos de operação dos silos o empregador rural ou equiparado deve providenciar a sua adequada limpeza para remoção de poeiras. 31.14.15 As pilhas de materiais armazenados deverão ser dispostas de forma que não ofereçam riscos de acidentes. 31.15 Acessos e Vias de Circulação 31.15.1 Devem ser garantidos todas as vias de acesso e de circulação internos do estabelecimento em condições adequadas para os trabalhadores e veículos. 31.15.2 Medidas especiais de proteção da circulação de veículos e trabalhadores nas vias devem ser tomadas nas circunstâncias de chuvas que gerem alagamento e escorregamento. 31.15.3 As vias de acesso e de circulação internos do estabelecimento devem ser sinalizadas de forma visível durante o dia e a noite. 31.15.4 As laterais das vias de acesso e de circulação internos do estabelecimento devem ser protegidas com barreiras que impeçam a queda de veículos. 31.16 Transporte de Trabalhadores 31.16.1 O veículo de transporte coletivo de passageiros deve observar os seguintes requisitos: a) possuir autorização emitida pela autoridade de trânsito competente; b) transportar todos os passageiros sentados;

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c) ser conduzido por motorista habilitado e devidamente identificado; d) possuir compartimento resistente e fixo para a guarda das ferramentas e materiais, separado dos passageiros. 31.16.2 O transporte de trabalhadores em veículos adaptados somente ocorrerá em situações excepcionais, mediante autorização prévia da autoridade competente em matéria de trânsito, devendo o veículo apresentar as seguintes condições mínimas de segurança: a) escada para acesso, com corrimão, posicionada em local de fácil visualização pelo motorista; b) carroceria com cobertura, barras de apoio para as mãos, proteção lateral rígida, com dois metros e dez centímetros de altura livre, de material de boa qualidade e resistência estrutural que evite o esmagamento e a projeção de pessoas em caso de acidente com o veículo; c) cabina e carroceria com sistemas de ventilação, garantida a comunicação entre o motorista e os passageiros; d) assentos revestidos de espuma, com encosto e cinto de segurança; e) compartimento para materiais e ferramentas, mantido fechado e separado dos passageiros. 31.17 Transporte de cargas 31.17.1 O método de carregamento e descarregamento de caminhões deve ser compatível com o tipo de carroceria utilizado, devendo ser observadas condições de segurança durante toda a operação. 31.17.2 As escadas ou rampas utilizadas pelos trabalhadores, para carregamento e descarregamento de caminhões, devem garantir condições de segurança e evitar esforços físicos excessivos. 31.17.3 Nos caminhões graneleiros abertos deve ser proibido que os trabalhadores subam sobre a carga em descarregamento. 31.18 Trabalho com Animais 31.18.1 O empregador rural ou equiparado deve garantir: a) imunização, quando necessária, dos trabalhadores em contato com os animais; b) medidas de segurança quanto à manipulação e eliminação de secreções, excreções e restos de animais, incluindo a limpeza e desinfecção das instalações contaminadas; c) fornecimento de desinfetantes e de água suficientes para a adequada higienização dos locais de trabalho. 31.18.2 Em todas as etapas dos processos de trabalhos com animais devem ser disponibilizadas aos trabalhadores informações sobre: a) formas corretas e locais adequados de aproximação, contato e imobilização; b) maneiras de higienização pessoal e do ambiente; c) reconhecimento e precauções relativas a doenças transmissíveis. 31.18.3 É proibida a reutilização de águas utilizadas no trato com animais, para uso humano. 31.18.4 No transporte com tração animal devem ser utilizados animais adestrados e treinados por trabalhador preparado para este fim. 31.19 Fatores Climáticos e Topográficos 31.19.1 O empregador rural ou equiparado deve: a) orientar os seus empregados quanto aos procedimentos a serem adotados na ocorrência de condições climáticas desfavoráveis; b) interromper as atividades na ocorrência de condições climáticas que comprometam a segurança do trabalhador; c) organizar o trabalho de forma que as atividades que exijam maior esforço físico, quando possível, sejam desenvolvidas no período da manhã ou no final da tarde. 31.19.2 O empregador rural ou equiparado deve adotar medidas de proteção, para minimizar os impactos sobre a segurança e saúde do trabalhador, nas atividades em terrenos acidentados. 31.20 Medidas de Proteção Pessoal 31.20.1 É obrigatório o fornecimento aos trabalhadores, gratuitamente, de equipamentos de proteção individual (EPI), nas seguintes circunstâncias: a) sempre que as medidas de proteção coletiva forem tecnicamente comprovadas inviáveis ou quando não oferecerem completa proteção contra os riscos decorrentes do trabalho; b) enquanto as medidas de proteção coletiva estiverem sendo implantadas; c) para atender situações de emergência. 31.20.1.1 Os equipamentos de proteção individual devem ser adequados aos riscos e mantidos em perfeito estado de conservação e funcionamento. 31.20.1.2 O empregador deve exigir que os trabalhadores utilizem os EPIs.

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31.20.1.3 Cabe ao empregador orientar o empregado sobre o uso do EPI. 31.20.2 O empregador rural ou equiparado, de acordo com as necessidades de cada atividade, deve fornecer aos trabalhadores os seguintes equipamentos de proteção individual: a) proteção da cabeça, olhos e face: 1. capacete contra impactos provenientes de queda ou projeção de objetos; 2. chapéu ou outra proteção contra o sol, chuva e salpicos 3. protetores impermeáveis e resistentes para trabalhos com produtos químicos; 4. protetores faciais contra lesões ocasionadas por partículas, respingos, vapores de produtos químicos e radiações luminosas intensas; 5. óculos contra lesões provenientes do impacto de partículas, ou de objetos pontiagudos ou cortantes e de respingos. b) óculos contra irritação e outras lesões : 1. óculos de proteção contra radiações não ionizantes; 2. óculos contra a ação da poeira e do pólen; 3. óculos contra a ação de líquidos agressivos. c) proteção auditiva: 1. protetores auriculares para as atividades com níveis de ruído prejudiciais à saúde. d) proteção das vias respiratórias: 1. respiradores com filtros mecânicos para trabalhos com exposição a poeira orgânica; 2. respiradores com filtros químicos, para trabalhos com produtos químicos; 3. respiradores com filtros combinados, químicos e mecânicos, para atividades em que haja emanação de gases e poeiras tóxicas; 4. aparelhos de isolamento, autônomos ou de adução de ar para locais de trabalho onde haja redução do teor de oxigênio. e) proteção dos membros superiores; 1. luvas e mangas de proteção contra lesões ou doenças provocadas por: 1.1. materiais ou objetos escoriantes ou vegetais, abrasivos, cortantes ou perfurantes; 1.2. produtos químicos tóxicos, irritantes, alergênicos, corrosivos, cáusticos ou solventes; 1.3. materiais ou objetos aquecidos; 1.4. operações com equipamentos elétricos; 1.5. tratos com animais, suas vísceras e de detritos e na possibilidade de transmissão de doenças decorrentes de produtos infecciosos ou parasitários. 1.6. picadas de animais peçonhentos; f) proteção dos membros inferiores; 1. botas impermeáveis e antiderrapantes para trabalhos em terrenos úmidos, lamacentos, encharcados ou com dejetos de animais; 2. botas com biqueira reforçada para trabalhos em que haja perigo de queda de materiais, objetos pesados e pisões de animais; 3. botas com solado reforçado, onde haja risco de perfuração. 4. botas com cano longo ou botina com perneira, onde exista a presença de animais peçonhentos; 5. perneiras em atividades onde haja perigo de lesões provocadas por materiais ou objetos cortantes, escoriantes ou perfurantes; 6. calçados impermeáveis e resistentes em trabalhos com produtos químicos; 7. calçados fechados para as demais atividades. g) proteção do corpo inteiro nos trabalhos que haja perigo de lesões provocadas por agentes de origem térmica, biológica, mecânica, meteorológica e química: 1. aventais; 2. jaquetas e capas; 3. macacões; 4. coletes ou faixas de sinalização; 5. roupas especiais para atividades específicas (apicultura e outras). g) proteção contra quedas com diferença de nível. 1. cintos de segurança para trabalhos acima de dois metros, quando houver risco de queda. 31.20.3 Cabe ao trabalhador usar os equipamentos de proteção individual indicados para as finalidades a que se destinarem e zelar pela sua conservação. 31.20.4 O Ministério do Trabalho e Emprego poderá determinar o uso de outros equipamentos de proteção individual, quando julgar necessário. 31.21 Edificações Rurais

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31.21.1 As estruturas das edificações rurais tais como armazéns, silos e depósitos devem ser projetadas, executadas e mantidas para suportar as cargas permanentes e móveis a que se destinam. 31.21.2 Os pisos dos locais de trabalho internos às edificações não devem apresentar defeitos que prejudiquem a circulação de trabalhadores ou a movimentação de materiais. 31.21.3 As aberturas nos pisos e nas paredes devem ser protegidas de forma que impeçam a queda de trabalhadores ou de materiais. 31.21.4 Nas escadas, rampas, corredores e outras áreas destinadas à circulação de trabalhadores e à movimentação de materiais, que ofereçam risco de escorregamento, devem ser empregados materiais ou processos antiderrapantes. 31.21.5 As escadas, rampas, corredores e outras áreas destinadas à circulação de trabalhadores e à movimentação de materiais, devem dispor de proteção contra o risco de queda. 31.21.6 As escadas ou rampas fixas, que sejam dotadas de paredes laterais, devem dispor de corrimão em toda a extensão. 31.21.7 As coberturas dos locais de trabalho devem assegurar proteção contra as intempéries. 31.21.8 As edificações rurais devem: a) proporcionar proteção contra a umidade; b) ser projetadas e construídas de modo a evitar insolação excessiva ou falta de insolação; c) possuir ventilação e iluminação adequadas às atividades laborais a que se destinam. d) ser submetidas a processo constante de limpeza e desinfecção, para que se neutralize a ação nociva de agentes patogênicos; e) ser dotadas de sistema de saneamento básico, destinado à coleta das águas servidas na limpeza e na desinfecção, para que se evite a contaminação do meio ambiente. 31.21.9 Os galpões e demais edificações destinados ao beneficiamento, ao armazenamento de grãos e à criação de animais devem possuir sistema de ventilação. 31.21.10 As edificações rurais devem garantir permanentemente segurança e saúde dos que nela trabalham ou residem. 31.22 Instalações Elétricas 31.22.1 Todas as partes das instalações elétricas devem ser projetadas, executadas e mantidas de modo que seja possível prevenir, por meios seguros, os perigos de choque elétrico e outros tipos de acidentes. 31.22.2 Os componentes das instalações elétricas devem ser protegidos por material isolante. 31.22.3 Toda instalação ou peça condutora que esteja em local acessível a contatos e que não faça parte dos circuitos elétricos deve ser aterrada. 31.22.4 As instalações elétricas que estejam em contato com a água devem ser blindadas, estanques e aterradas. 31.22.5 As ferramentas utilizadas em trabalhos em redes energizadas devem ser isoladas. 31.22.6 As edificações devem ser protegidas contra descargas elétricas atmosféricas. 31.22.7 As cercas elétricas devem ser instaladas de acordo com as instruções fornecidas pelo fabricante. 31.23 Áreas de Vivência 31.23.1 O empregador rural ou equiparado deve disponibilizar aos trabalhadores áreas de vivência compostas de: a) instalações sanitárias; b) locais para refeição; c) alojamentos, quando houver permanência de trabalhadores no estabelecimento nos períodos entre as jornadas de trabalho; d) local adequado para preparo de alimentos; e) lavanderias; 31.23.1.1 O cumprimento do disposto nas alíneas "d" e "e" do subitem 31.23.1 somente é obrigatório nos casos onde houver trabalhadores alojados. 31.23.2 As áreas de vivência devem atender aos seguintes requisitos: a) condições adequadas de conservação, asseio e higiene; pab) redes de alvenaria, madeira ou material equivalente; c) piso cimentado, de madeira ou de material equivalente; d) cobertura que proteja contra as intempéries; e) iluminação e ventilação adequadas. 31.23.2.1 É vedada a utilização das áreas de vivência para fins diversos daqueles a que se destinam.

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31.23.3 Instalações Sanitárias 31.23.3.1 As instalações sanitárias devem ser constituídas de: a) lavatório na proporção de uma unidade para cada grupo de vinte trabalhadores ou fração; b) vaso sanitário na proporção de uma unidade para cada grupo de vinte trabalhadores ou fração; c) mictório na proporção de uma unidade para cada grupo de dez trabalhadores ou fração; d) chuveiro na proporção de uma unidade para cada grupo de dez trabalhadores ou fração. 31.23.3.1.1 No mictório tipo calha, cada segmento de sessenta centímetros deve corresponder a um mictório tipo cuba. 31.23.3.2 As instalações sanitárias devem: a) ter portas de acesso que impeçam o devassamento e ser construídas de modo a manter o resguardo conveniente; b) ser separadas por sexo; c) estar situadas em locais de fácil e seguro acesso; d) dispor de água limpa e papel higiênico; e) estar ligadas a sistema de esgoto, fossa séptica ou sistema equivalente; f) possuir recipiente para coleta de lixo. 31.23.3.3 A água para banho deve ser disponibilizada em conformidade com os usos e costumes da região ou na forma estabelecida em convenção ou acordo coletivo. 31.23.3.4 Nas frentes de trabalho, devem ser disponibilizadas instalações sanitárias fixas ou móveis compostas de vasos sanitários e lavatórios, na proporção de um conjunto para cada de quarenta trabalhadores ou fração, atendidos os requisitos do item 31.23.3.2, sendo permitida a utilização de fossa seca. 31.23.4 Locais para refeição 31.23.4.1 Os locais para refeição devem atender aos seguintes requisitos: a) boas condições de higiene e conforto; b) capacidade para atender a todos os trabalhadores; c) água limpa para higienização; d) mesas com tampos lisos e laváveis; e) assentos em número suficiente; f) água potável, em condições higiênicas; g) depósitos de lixo, com tampas. 31.23.4.2 Em todo estabelecimento rural deve haver local ou recipiente para a guarda e conservação de refeições, em condições higiênicas, independentemente do número de trabalhadores. 31.23.4.3 Nas frentes de trabalho devem ser disponibilizados abrigos, fixos ou moveis, que protejam os trabalhadores contra as intempéries, durante as refeições. 31.23.5 Alojamentos 31.23.5.1 Os alojamentos devem: a) ter camas com colchão, separadas por no mínimo um metro, sendo permitido o uso de beliches, limitados a duas camas na mesma vertical, com espaço livre mínimo de cento e dez centímetros acima do colchão; b) ter armários individuais para guarda de objetos pessoais; c) ter portas e janelas capazes de oferecer boas condições de vedação e segurança; d) ter recipientes para coleta de lixo; e) ser separados por sexo. 31.23.5.2 O empregador rural ou equiparado deve proibir a utilização de fogões, fogareiros ou similares no interior dos alojamentos. 31.23.5.3 O empregador deve fornecer roupas de cama adequadas às condições climáticas locais. 31.23.5.4 As camas poderão ser substituídas por redes, de acordo com o costume local, obedecendo o espaçamento mínimo de um metro entre as mesmas. 31.23.5.5 É vedada a permanência de pessoas com doenças infectocontagiosas no interior do alojamento. 31.23.6 Locais para preparo de refeições 31.23.6.1 Os locais para preparo de refeições devem ser dotados de lavatórios, sistema de coleta de lixo e instalações sanitárias exclusivas para o pessoal que manipula alimentos. 31.23.6.2 Os locais para preparo de refeições não podem ter ligação direta com os alojamentos. 31.23.7 Lavanderias

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31.23.7.1 As lavanderias devem ser instaladas em local coberto, ventilado e adequado para que os trabalhadores alojados possam cuidar das roupas de uso pessoal. 31.23.7.2 As lavanderias devem ser dotadas de tanques individuais ou coletivos e água limpa. 31.23.8 Devem ser garantidas aos trabalhadores das empresas contratadas para a prestação de serviços as mesmas condições de higiene conforto e alimentação oferecidas aos empregados da contratante. 31.23.9 O empregador rural ou equiparado deve disponibilizar água potável e fresca em quantidade suficiente nos locais de trabalho. 31.24.10 A água potável deve ser disponibilizada em condições higiênicas, sendo proibida a utilização de copos coletivos. 31.24.11 Moradias 31.24.11.1 Sempre que o empregador rural ou equiparado fornecer aos trabalhadores moradias familiares estas deverão possuir: a) capacidade dimensionada para uma família; b) paredes construídas em alvenaria ou madeira; c) pisos de material resistente e lavável; d) condições sanitárias adequadas; e) ventilação e iluminação suficientes; f) cobertura capaz de proporcionar proteção contra intempéries; g) poço ou caixa de água protegido contra contaminação; h) fossas sépticas, quando não houver rede de esgoto, afastadas da casa e do poço de água, em lugar livre de enchentes e a jusante do poço. 31.24.11.2 As moradias familiares devem ser construídas em local arejado e afastadas, no mínimo, cinqüenta metros de construções destinadas a outros fins. 31.24.11.3 É vedada, em qualquer hipótese, a moradia coletiva de famílias. ANEXO II - PRAZOS PARA OBRIGATORIEDADE DE OBSERVÂNCIA DOS ITENS DA NR-31 1. Prazo de dois anos: subitens 31.10.5, 31.10.6, 31.12.3, 31.12.4, 31.12.6, 31.12.9, 31.12.11, 31.12.14, quando se tratarem de máquinas móveis motorizadas ou implementos agrícolas. 2. Prazo de um ano: subitens 31.6.3.1 "b" e "c", 31.6.6, 31.6.6.1, 31.6.6.2, 31.6.8.1, 31.6.8.2, 31.6.8.3, 31.6.8.4, 31.6.8.5, 31.6.9.1, 31.6.9.2, 31.6.9.3, 31.6.9.4, 31.6.13, 31.10.5, 31.10.6, 31.12.3, 31.12.4, 31.12.6, 31.12.9, 31.12.11, 31.12.14, 31.12.15, 31.12.17, 31.12.18, 31.12.20.1, 31.13.1, 31.13.2, 31.13.2.1, 31.13.3, 31.14.1, 31.14.2, 31.14.3, 31.14.4, 31.14.5, 31.14.6, 31.14.7, 31.14.8, 31.14.9, 31.14.10, 31.14.11, 31.14.12, 31.14.13, 31.14.14, 31.14.15, 31.21.1, 31.21.4, 31.21.5, 31.21.7, 31.21.8, 31.21.9, 31.21.10, excetuando-se as situações previstas no item 1 deste anexo. 3. Prazo de cento de oitenta dias: subitens 31.6.3.1 "a", 31.6.5, 31.6.5.1, 31.6.7, 31.6.11, 31.6.12, 31.7.20.1, 31.7.20.2, 31.7.20.3, 31.10.3, 31.23.1, 31.23.1.1, 31.23.2, 31.23.2.1, 31.23.3, 31.23.3.1, 31.23.3.1.1, 31.23.3.2, 31.23.3.3, 31.23.3.4, 31.23.4.1, 31.23.4.2, 31.23.4.3, 31.23.5.1, 31.23.5.2, 31.23.5.3, 31.23.5.4, 31.23.5.5, 31.23.6.1, 31.23.6.2, 31.23.7.1, 31.23.7.2, 31.23.11.1, 31.23.11.2, 31.23.11.3. 4. Imediata: subitem 31.12.2, para máquina adquirida após a publicação desta norma. 5. Após o fim do mandato das Comissões Internas de Prevenção de Acidente do Trabalho Rural - CIPATR em funcionamento na data de publicação desta norma: subitens: 31.7.1, 31.7.2, 31.7.2.1, 31.7.3, 31.7.4, 31.7.5, 31.7.5.1, 31.7.6, 31.7.7, 31.7.8, 31.7.8.1, 31.7.8.2, 31.7.9, 31.7.9.1, 31.7.10, 31.7.11, 31.7.12, 31.7.13, 31.7.14, 31.7.15, 31.7.16, 31.7.16.1, 31.7.16.2, 31.7.16.3, 31.7.16.4, 31.7.16.4.1, 31.7.16.2, 31.7.16.4.3, 31.7.16.4.4, 31.7.16.4.5, 31.7.16.4.6, 31.7.17, 31.7.17.1, 31.7.18, 31.7.19. 6. Prazo de noventa dias: demais itens.