meio ambiente - aspectos econômicos e tributários

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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO FACULDADE PAULISTA DE DIREITO ANTÓNIO JOSÉ DIAS RIBEIRO DA ROCHA FROTA MEIO AMBIENTE – ASPECTOS ECONÔMICOS E TRIBUTÁRIOS

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Monografia de conclusão de curso.

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PONTIFCIA UNIVERSIDADE CATLICA DE SO PAULO

60

Pontifcia Universidade Catlica de So Paulo

Faculdade Paulista de Direito

Antnio Jos Dias Ribeiro da Rocha Frota

Meio Ambiente Aspectos Econmicos e Tributrios

So Paulo

2013

Antnio Jos Dias Ribeiro da Rocha Frota

MEIO AMBIENTE ASPECTOS ECONMICOS E TRIBUTRIOS

Trabalho de Monografia Jurdica apresentado ao Curso de Graduao, como parte dos requisitos para obteno do ttulo de bacharel em Direito, na rea de Direito Tributrio e Ambiental, sob orientao do Professor-Orientador Andr Gustavo Almeida Geraldes.

SO PAULO SP

Outubro/2013

DEDICATRIA

Dedico este trabalho, primeiramente, aos meus pais, que com muita luta e dedicao conseguiram proporcionar, mesmo com todas as adversidades da vida, o melhor caminho para todos os filhos. Em segundo lugar, agradeo aos meus irmos, mesmo queles distantes, por toda a felicidade que sempre me proporcionaram, e pelo incentivo na realizao de tudo o que sempre fiz. Tambm dedico minha namorada, que com seu carinho e amor, me fez ter foras nos momentos mais importantes.

AGRADECIMENTOS

Agradeo a todos os professores desta faculdade pela construo da minha base jurdica, bem como a todos meus colegas, que tanto me auxiliaram nesta fase. Agradeo, enfim, toda esta Universidade, por ter me proporcionado os melhores anos da minha vida.

RESUMO

Atualmente, em virtude da grande devastao do meio ambiente, decorrente, dentre outros motivos, do crescente desmatamento e das constantes emisses de poluentes na atmosfera, o Direito Ambiental apresenta-se como um dos ramos jurdicos mais importantes para a efetivao do princpio constitucional da dignidade humana, haja vista que exerce suas funes com o escopo principal de prevenir e precaver danos, bem como adotar prticas de restaurao para aqueles danos j causados. Ao longo do trabalho, estudaremos os princpios do Direito Ambiental e, outrossim, os mtodos de preservao existentes do Brasil (sempre em consonncia com as determinaes impostas pela Constituio Federal), e tambm em outros pases do continente Europeu e Americano, tais como a Frana, Espanha, Alemanha, Holanda e Estados Unidos da Amrica.Em razo da sua intrnseca relao com o Direito Econmico, principalmente no que tange s suas externalidades tanto a negativa quanto a positiva percebemos que a forma mais adequada de se alcanar um meio ambiente ecologicamente equilibrado e sustentvel atingir a conscincia dos seres humanos, atravs de tcnicas estimulantes prticas beneficiadoras e desestimulantes prticas danosas que culminam na educao dos indivduos de forma gradual.

Entretanto, tais tcnicas no so to simples de serem estabelecidas, pelo que qualquer benefcio concedido necessita de um grande estudo por parte do governo Estatal. Neste sentido, surge a tributao ambiental, que tem por escopo tanto a criao de tributos para restabelecimento do ambiente nacional, bem como o remanejamento de receitas para beneficiar entes federativos que resguardem seu territrio com o intuito de manter um ambiente favorvel vida digna de sua populao. Sumrio71 Introduo

92 Meio Ambiente

142.1 - Meio Ambiente ecologicamente equilibrado

153 Princpio do Desenvolvimento Sustentvel

164 Demais Princpios do Direito Ambiental Brasileiro

174.1 Princpio da Supremacia do Interesse Pblico e da Coletividade

184.2 Princpio da Indisponibilidade do Interesse Pblico

194.3 Princpio da Interveno Estatal Obrigatria

194.4 Princpio da Participao Popular

204.5 Princpio da Funo Social e Ambiental da Propriedade

214.6 Princpio da Preveno de Danos Ambientais

224.7 Princpio da Precauo

224.8 Princpio da Responsabilizao das Condutas e Atividades Lesivas

254.9 Princpio do Usurio-Pagador, Poluidor-Pagador e Protetor-Recebedor

265 Sustentabilidade Ambiental e Desenvolvimento Econmico

296 Externalidades ambientais

317 Mtodos de preservao

338 Tributos Ambientais

378.1 ICMS Ecolgico

398.1.1 Histrico do ICMS Ecolgico no Brasil e evoluo legislativa

428.1.2 Caso Especfico de Repasse do ICMS para Municpio

438.2 TCFA (Taxa de Controle e Fiscalizao Ambiental)

448.3 Imposto Territorial Rural

458.4 IPTU Progressivo no Tempo

499 Jurisprudncias e Anlise Crtica

5410 Tendncias

5611 Consideraes Finais

58Bibliografia

60Sitiografia

1 IntroduoO foco principal desta tese, qual seja, o meio ambiente, no ser tratado somente com enfoque em assuntos cada vez mais pertinentes tais como a sustentabilidade, o uso racional dos recursos naturais e o escopo de se alcanar um ambiente ecologicamente equilibrado. A viso aqui proposta abrange uma concepo do Ambiente enquanto aspecto essencial da dignidade da pessoa humana, como fundamento do Estado Democrtico de Direito de modo que a atuao estatal, no que tange todos os modos de sua proteo, esteja sempre presente e, tambm, com relao a aspectos econmicos e tributrios que visam satisfao da preservao.Obviamente no podemos negar o quo relevante so os temas polmicos abordados hoje em dia de forma to intensa pelas diversas mdias. O descaso do ser humano para com o seu ecossistema tem causado danos irreversveis ao nosso planeta, sendo cada vez mais essencial o estabelecimento de parmetros, regras e condutas para a preveno de prticas poluidoras. O princpio da sustentabilidade tem sido alvo de milhes de pessoas, tanto fsicas quanto jurdicas, ao longo destes anos, haja vista que a busca entre o equilbrio econmico e a qualidade de vida vem se expandindo de forma gradual, medida da conscientizao dos indivduos. Entretanto, no podemos deixar de ressaltar a importncia econmica do bem ambiental, uma vez que seus recursos so fundamentais para manuteno do modo de vida contemporneo, e tambm em funo da estreita relao existente entre pobreza e degradao ambiental, o que torna o desenvolvimento econmico algo essencial para a concretizao do desenvolvimento ambiental, ou seja, sua preservao. Assim sendo, o sistema de poltica pblica ambiental no pode andar separadamente dos conceitos e fundamentos que pautam o sistema econmico atual. Juntamente com o princpio da sustentabilidade, e demais que sero explicados no presente estudo, surgiram idias (tanto por parte das empresas genericamente quanto por parte do Estado) para incentivar a preservao do meio ambiente, como, por exemplo, gratificaes concedidas a determinadas pessoas atravs de benefcios tributrios e administrativos, bem como sanes pela prtica da degradao. Dessa forma, muda-se o panorama jurdico, passando o ordenamento jurdico nacional a albergar em sua Constituio a idia de proteo ao meio ambiente.

O direito tributrio desempenha um grande papel, em virtude da explorao da finalidade social atravs da extrafiscalidade dos tributos, para consecuo do direito sustentvel, em preservao do ambiente para as presentes e futuras geraes, foco principal deste tema, quando tratado na Constituio Federal de 1988.A partir deste momento que devemos estudar o meio ambiente com enfoque em todas as nuanas tributrias e econmicas, com foco no Brasil, mas tambm com estudo de medidas adotadas em outros pases em que tal direito esteja mais evoludo, haja vista que sem as mesmas, o ambiente, como um todo, poderia estar em estado ainda mais decadente.2 Meio AmbienteNas ltimas dcadas, em funo de diversos fatores que culminaram em uma preocupao maior com o meio ambiente, este conceito foi cada vez mais reproduzido perante a sociedade para que os indivduos construam a mentalidade de que preciso cuidar e preservar a natureza do mundo em que vivemos. Entretanto, e diferentemente do que deveria ser, a maioria da populao mundial (no somente o brasileiro, obviamente) no consegue captar a essncia de tal conceito, de forma que, mesmo tendo uma concepo genrica sobre o assunto, no capaz de transformar o que foi apreendido em atitudes que demonstrem uma efetiva preocupao e alterao do status cotidiano.Na maioria das vezes a expresso meio ambiente tem sido utilizada de forma superficial pela mdia, deixando a entender que meio ambiente tem o mesmo sentido de natureza ou recursos naturais, somente. Isso faz com que a populao confunda meio ambiente com idias simples sobre defesas de animais e florestas, bem como de racionamento guas, por exemplo, retirando do assunto toda a carga poltica ou ideolgica.A respeito destas conotaes diversas quanto ao termo meio ambiente, explica o ilustre jurista dis Milar, in verbis:

Tanto a palavra meio quanto o vocbulo ambiente passam por conotaes, quer na linguagem cientfica quer na vulgar. Nenhum destes termos unvoco (detentor de um significado nico), mas ambos so equvocos (mesma palavra com significados diferentes). Meio pode significar: aritmeticamente, a metade de um inteiro; um dado contexto fsico ou social; um recurso ou insumo para se alcanar ou produzir algo. J ambiente pode representar um espao geogrfico ou social, fsico ou psicolgico, natural ou artificial. No chega, pois, a ser redundante a expresso meio ambiente, embora no sentido vulgar a palavra identifique o lugar, o stio, o recinto, o espao que envolve os seres vivos e as coisas. De qualquer forma, trata-se de expresso consagrada na lngua portuguesa, pacificamente usada pela doutrina, lei e jurisprudncia de nosso pas, que, amide, falam em meio ambiente, em vez de ambiente apenas.

Tendo sido feita tal ressalva, cumpre estabelecer um conceito sobre o que podemos entender a respeito do meio ambiente com base na legislao, nos estudos dos juristas especializados e na ecologia, tentando trazer uma viso mais completa e mais integrada do assunto.Primeiramente, as definies trazidas por diversos dicionrios ("lugar onde se vive, com suas caractersticas e condicionamentos geofsicos; ambiente" e "aquilo que cerca ou envolve os seres vivos ou as coisas") estabeleceram o entendimento geral da populao e, inclusive, embasaram a Lei n. 6.938, de 31 de agosto de 1981, que dispe sobre a Poltica Nacional do Meio Ambiente, explicando, portanto, de maneira muito ampla e genrica sobre o tema. Aps a utilizao, inclusive pela Constituio Federal de 1988, de termos genricos e amplos, a doutrina tratou de estabelecer definies mais prprias, separando conceitos para facilitar a identificao da atividade agressora e do bem diretamente degradado.Em virtude dessa necessidade de estabelecer um conceito mais especfico e pormenorizado, temos que a doutrina, atualmente, o divide em: meio ambiente natural, meio ambiente artificial, meio ambiente cultural e meio ambiente do trabalho. Esta distino felizmente explicada pelo jurista Talden Queiroz Farias, com base no excerto que in verbis:

O meio ambiente natural ou fsico constitudo pelos recursos naturais, como o solo, a gua, o ar, a flora e a fauna, e pela correlao recproca de cada um destes elementos com os demais. Esse o aspecto imediatamente ressaltado pelo citado inciso I do art. 3 da Lei n. 6938, de 31 de agosto de 1981.O meio ambiente artificial o construdo ou alterado pelo ser humano, sendo constitudo pelos edifcios urbanos, que so os espaos pblicos fechados, e pelos equipamentos comunitrios, que so os espaos pblicos abertos, como as ruas, as praas e as reas verdes. Embora esteja mais relacionado ao conceito de cidade o conceito de meio ambiente artificial abarca tambm a zona rural, referindo-se simplesmente aos espaos habitveis, visto que nele os espaos naturais cedem lugar ou se integram s edificaes urbanas artificiais.O meio ambiente cultural o patrimnio histrico, artstico, paisagstico, ecolgico, cientfico e turstico e constitui-se tanto de bens de natureza material, a exemplo dos lugares, objetos e documentos de importncia para a cultura, quanto imaterial, a exemplo dos idiomas, das danas, dos cultos religiosos e dos costumes de uma maneira geral. Embora comumente possa ser enquadrada como artificial, a classificao como meio ambiente cultural ocorre devido ao valor especial que adquiriu.O meio ambiente do trabalho, considerado tambm uma extenso do conceito de meio ambiente artificial, o conjunto de fatores que se relacionam s condies do ambiente de trabalho, como o local de trabalho, as ferramentas, as mquinas, os agentes qumicos, biolgicos e fsicos, as operaes, os processos, a relao entre trabalhador e meio fsico. O cerne desse conceito est baseado na promoo da salubridade e da incolumidade fsica e psicolgica do trabalhador, independente de atividade, do lugar ou da pessoa que a exera.A partir destas conceituaes, importante ressaltar a viso antropocntrica do meio ambiente, como conjunto de elementos para o atendimento das necessidades principais do ser humano, inserindo-se como direito fundamental e mantenedora da dignidade do homem.Resta cristalino, portanto, que o meio ambiente o conjunto de uma srie de fatores, que sempre interligam determinados recursos e patrimnios com o homem. E esta essncia que o meio ambiente detm para com o homem foi objeto de muito desgaste ao longo do tempo, visto que poucos entendem o ambiente com a conexo inquestionvel e inexorvel do ser humano, no como utilizao do primeiro para seu bel prazer, mas sim como sua utilizao justa e racionada, para perpetuao de uma condio benfica a todos os seres deste planeta.Nesse sentido, explica Samuel Murgel Branco:(...) o homem depende da existncia de florestas e outras formaes vegetais, e estas, por sua vez, da presena de animais e microorganismos que participem de seus processos de reproduo como os insetos polinizadores, ou os pssaros, que disseminam as sementes, bem como roedores e morcegos que chegam at a enterr-las ou que promovem a reciclagem de elementos nutrientes. Por sua vez, esses insetos, pssaros e roedores dependem de predadores como aranhas, serpentes e animais carnvoros para manter suas populaes estveis. Em resumo, o homem, quer queira quer no, depende da existncia de uma natureza rica, complexa e equilibrada em torno de si. Ainda que ele se mantenha isolado em prdios de apartamentos, os ecossistemas naturais continuam constituindo o seu meio ambiente. A morte desses ecossistemas representar a morte do planeta.

Hannah Arendt, em sua famosa obra A Condio Humana, ressalta a importncia do planeta terra para a espcie humana, bem como da sua posio singular no universo, pelo menos at o presente momento, haja vista que, como dito, no se tem conhecimento da existncia de outro planeta em condies similares ao nosso. O ambiente artificial, sendo aquele que construdo pelo homem, o separa do ambiente natural, mas a sua dependncia em relao aos recursos naturais permanece a mesma. Estes permitem a sustentao da vida humana e demais espcies, porm so esgotveis. Deste modo, a sua utilizao e explorao devem ser realizadas na medida da sua sustentabilidade, respeitando a sua capacidade de renovao. Entretanto, o uso consciente de nossos recursos, na medida da sustentabilidade dos mesmos, no vem ocorrendo, pelo que a interveno humana, ao tentar beneficiar os seres humanos com as mais variadas invenes, provocou um grave desequilbrio, que se agrava diariamente.A questo que surge agora, pois, se encontra nas formas pelas quais a humanidade possa efetivamente desacelerar o aumento do dano ambiental, ou at mesmo reduz-lo de forma absoluta. Essa mudana de postura s ser possvel com o desenvolvimento de uma conscincia ecolgica por parte da humanidade. Entende-se por essa conscincia, o (re)conhecimento da fragilidade da natureza diante da interveno inconseqente do homem e da total dependncia deste em relao aquela. Isto o impele a agir guiado por um senso de responsabilidade, respeito e solidariedade, pois como foi dito, os recursos naturais so esgotveis, e se no houver uma explorao sustentvel dos mesmos, estar em risco a existncia da vida como um todo.

O Tratado de Educao Ambiental para as Sociedades Sustentveis e Responsabilidade Global, elaborado pela sociedade civil planetria em 1992 no Frum Global, durante a Conferncia das Naes Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, realizada no Rio de Janeiro, reconhece a sua importncia para a preservao ecolgica, bem como para a formao de sociedades justas e ecologicamente equilibradas, permitindo o pleno desenvolvimento da vida. Em sua introduo, o Tratado estabelece:

Consideramos que a Educao Ambiental para uma sustentabilidade eqitativa um processo de aprendizagem permanente, baseado no respeito a todas as formas de vida. Tal educao afirma valores e aes que contribuem para a transformao humana e social e para a preservao ecolgica. Ela estimula a formao de sociedades socialmente justas e ecologicamente equilibradas, que conservam entre si relao de interdependncia e diversidade. Isto requer responsabilidade individual e coletiva a nvel local, nacional e planetrio. Consideramos que a preparao para as mudanas necessrias depende da compreenso coletiva da natureza sistmica das crises que ameaam o futuro do planeta. As causas primrias de problemas como o aumento da pobreza, da degradao humana e ambiental e da violncia podem ser identificadas no modelo de civilizao dominante, que se baseia em superproduo e superconsumo para uns e subconsumo e falta de condies para produzir por parte da grande maioria. Consideramos que so inerentes crise a eroso dos valores bsicos e a alienao e a no-participao da quase totalidade dos indivduos na construo de seu futuro. fundamental que as comunidades planejem e implementem suas prprias alternativas s polticas vigentes, dentre estas alternativas est a necessidade de abolio dos programas de desenvolvimento, ajustes e reformas econmicas que mantm o atual modelo de crescimento com seus terrveis efeitos sobre o ambiente e a diversidade de espcies, incluindo a humana. Consideramos que a Educao Ambiental deve gerar com urgncia mudanas na qualidade de vida e maior conscincia de conduta pessoal, assim como harmonia entre os seres humanos e destes com outras formas de vida..Alm disso, temos que alguns ativistas informam a necessidade da existncia de polticas dos diferentes setores econmicos e sociais, com o escopo de construir uma sociedade ambientalmente equilibrada, conforme disposio do artigo 5, V da Lei 9.795/1999 todavia, para a efetivao desta ideologia, teramos que encontrar um equilbrio perante as peculiaridades do Brasil, tendo em vista todas diversidades e desigualdades regionais e sociais, o que praticamente impensvel de se conseguir.Neste diapaso, temos que essas mudanas somente sero efetivadas quando do conhecimento, por parte da humanidade em geral, de princpios fundamentais do meio ambiente, que contribuem para a compreenso da natureza, a necessidade de preserv-la e como o fazer.2.1 - Meio Ambiente ecologicamente equilibradoConforme se pode observar das noes expostas acima, fica evidente que somente aps a Constituio Federal de 1988 que o meio ambiente comeou a ser tratado de forma mais especfica e contundente, sem retirar o mrito da existncia da Lei de Poltica Nacional do Meio Ambiente, datada de 31 de agosto de 1981. Isso no aconteceu por acaso, tendo em vista que a Constituio reconheceu o direito ao meio ambiente como um direito fundamental de todos, que nada mais se verifica como uma extenso do direito vida, diferentemente do que acontecia antigamente, em que as normas jurdicas de proteo ao meio ambiente tinham amparo no direito sade, que por sua vez tem uma aplicao um pouco menos abrangente que a outra.Devemos entender o meio ambiente ecologicamente equilibrado como um bem de uso comum do povo que somente se concretizar conforme sua eficcia social; sendo certo que o seu uso se reverte ao bem-estar individual. A manuteno deste equilbrio no se refere somente ao desenvolvimento dos indivduos, mas tambm realizao da sociedade como comunidade, como relao entre todos os sujeitos.

Com base nisso, temos que a proteo ao meio ambiente, portanto, impe ao Poder Pblico e coletividade que a explorao dos recursos naturais se d maneira sustentvel, de modo que as atividades econmicas respeitem o ambiente de forma a cumprir sua funo social, haja vista que o desenvolvimento econmico no pode ocorrer em separado da preservao ambiental e das relaes com os biomas que interagem com estas atividades. Dentro desta perspectiva, necessrio se faz apontar a importncia do Desenvolvimento Econmico e Social, sendo certo que tal relao tem como idia bsica a incluso da proteo do meio ambiente como parte integrante do processo global de desenvolvimento dos pases, buscando-se a conciliao entre diversos valores igualmente relevantes, tais como o exerccio das atividades produtivas e do direito de propriedade, explorao de recursos naturais, utilizao racional dos recursos ambientais etc., o que culminaria no desenvolvimento econmico e social destes pases, tambm com base em incentivos prprios que ainda sero discutidos no presente trabalho.Desta forma, o princpio do Desenvolvimento Sustentvel, que ser objeto de maior anlise posteriormente, a norma fundamental que norteia o Direito Ambiental, servindo como base para todos os outros princpios que a seguir estudaremos.

3 Princpio do Desenvolvimento SustentvelCumpre estabelecer, primordialmente, a noo bsica deste princpio que, sem dvida alguma, serve de molde basilador para todos os outros princpios que advm do Direito Ambiental, sendo certo de que todos os mtodos de preservao indicados no presente trabalho, sem distino entre os mesmos, somente puderam ser efetivados virtude de sua existncia.

Portanto, temos que o desenvolvimento sustentvel nada mais do que a manuteno de uma relao pacfica (no conflitante), entre duas esferas importantssimas, quais sejam, a economia e o meio ambiente. O que se pretende por esta ideologia o desenvolvimento que satisfaz as necessidades presentes, sem comprometer a capacidade das geraes futuras de suprir suas prprias necessidades tal conceito foi extrado do Relatrio Brundtland (ou tambm chamado Relatrio Nosso Futuro Comum), elaborado em 1987, e que tinha por base a preocupao com relao incompatibilidade entre desenvolvimento sustentvel e os padres de produo e consumo atuais. Com base neste ideal, o desenvolvimento sustentvel, ao passo que promove a prosecuo da proteo ao meio ambiente atravs de uma nova relao ser humano meio ambiente, tambm no promove a estagnao do crescimento econmico, mas sim essa conciliao com as questes ambientais e sociais.4 Demais Princpios do Direito Ambiental BrasileiroPrimeiramente, cumpre estabelecer que os princpios constituem idias centrais de um determinado sistema inserido no complexo jurdico, determinando que o mesmo tenha um sentido lgico, harmnico, racional e coerente com a disposio social em que tal sistema se encontra. Sendo assim, o conhecimento dos princpios do Direito se torna condio essencial para sua correta aplicao.No caso do Direito Ambiental, os princpios podem ser localizados na Constituio Federal, na Lei da Poltica Nacional do Meio Ambiente (Lei n 6.938/81), nas Constituies Estaduais e tambm nas Declaraes Internacionais de Princpios, adotadas por Organizaes Internacionais, em especial as Declaraes da ONU de Estocolmo de 1972 e do Rio de Janeiro em 1992.Portanto, temos, no Direito Ambiental, os seguintes princpios (conforme extrado pela compreenso de variados entendimentos doutrinrios), que sero devidamente explicados a seguir: (i) da supremacia do interesse pblico na proteo do meio ambiente; (ii) da indisponibilidade do interesse pblico na proteo do meio ambiente; (iii) da interveno estatal obrigatria na defesa do meio ambiente; (iv) da participao popular na proteo do meio ambiente; (v) da garantia do desenvolvimento econmico e social ecologicamente sustentado; (vi) da funo social e ambiental da propriedade; (vii) da avaliao prvia dos impactos ambientais das atividades; (viii) da preveno de danos ambientais; (ix) da precauo; (x) da responsabilizao das condutas e atividades lesivas ao meio ambiente; (xi) da cooperao internacional em matria ambiental; e (xii) do usurio-pagador e do poluidor-pagador.O professor Jos Afonso da SIlva destaca a importncia que tais princpios detm, como normas de proteo do meio ambiente, in verbis:As normas constitucionais assumiram a conscincia de que o direito vida, como matriz de todos os demais direitos fundamentais da tutela do meio ambiente. Compreendeu que ele um valor preponderante, que h de estar acima de quaisquer consideraes como as de desenvolvimento, como as de respeito ao direito de propriedade, como as da iniciativa privada. Tambm estes so garantidos no texto constitucional, mas, a toda evidncia, no podem primar sobre o direito fundamental vida, que est em jogo quando se discute a tutela da qualidade do meio ambiente, que instrumento no sentido de que, atravs dessa tutela, o que se protege um valor maior: a qualidade da vida humana..Procederemos, ento, a uma explicao, de certo modo sucinta, acerca de cada um dos princpios elencados acima, para melhor compreenso sobre a importncia do direito ambiental, e a sua correlao com os sistemas econmicos e tributrios do nosso direito. Ressalta-se que um dos mais importantes princpios do Direito Ambiental mundial, qual seja, o Princpio da Sustentabilidade, ser explicado em tpico parte, tendo em vista sua estrita correlao com o desenvolvimento econmico, tambm objeto de anlise perante este estudo.4.1 Princpio da Supremacia do Interesse Pblico e da ColetividadeTal princpio, advindo do Direito Pblico atual, consiste na enfatizao da proclamao da superioridade dos interesses da coletividade com relao aos interesses privados. Existem crticas com relao a este princpio, tendo em vista que, em alguns casos, a supremacia do interesse pblico deve ter uma aplicao limitada, bem como deve ser pautada no princpio da razoabilidade e proporcionalidade, incumbindo ao administrador ponderar os interesses em jogo, uma vez que o particular deve ser reconhecido como um ser social, possuindo legtimas prerrogativas individuais.Mesmo assim, quando tratamos da proteo do meio ambiente, temos que a natureza detm carter pblico e, portanto, coletivo (pelo que, sem a mesma, no existiriam condies hbeis para a manuteno da vida neste planeta), que deve prevalecer sobre os interesses individuais, mesmo que legtimos.

4.2 Princpio da Indisponibilidade do Interesse Pblico

Em conformidade com o artigo 225 da Constituio Federal, o meio ambiente ecologicamente equilibrado tem qualificao jurdica de bem de uso comum do povo. Assim sendo, o este bem pertence coletividade e no integra patrimnio disponvel do Estado, tampouco dos particulares. Desde modo, o Estado deve realizar suas condutas sempre velando pelos interesses da sociedade, mas nunca dispondo deles, uma vez que o Estado, atravs de seus administradores, no goza de livre disposio dos bens que administra, pois o titular desses bens o povo.A indisponibilidade advm da necessidade da preservao do meio ambiente, com o escopo de garantir tal direito s geraes futuras, conforme tambm expresso no caput do artigo supracitado. Vale trazer baila que o meio ambiente, formado por um conjunto de condies, leis, influncias e interaes, de ordem fsica, qumica e biolgica, que permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas, bem insuscetvel de apropriao, tanto pelo Estado quanto pelos particulares ao contrrio dos bens corpreos que compem o meio ambiente, como por exemplo, as florestas, o solo, a gua, obviamente com as limitaes e critrios estabelecidos no nosso ordenamento jurdico.4.3 Princpio da Interveno Estatal Obrigatria

Inscrito no item 17 da Declarao de Estocolmo de 1972, bem como no artigo 227, caput da Carta Magna brasileira, tal princpio dispe que o Poder Pblico deve sempre atuar na defesa do meio ambiente, cabendo ao Estado a adoo de polticas pblicas e demais formas para o cumprimento deste dever, sem desconsiderar que deve haver, sempre, participao direta da sociedade na administrao desse patrimnio inerente nossa existncia.

Tendo em vista que a defesa do meio ambiente um dever do Estado, a atividade dos rgos e agentes estatais na promoo da preservao da qualidade ambiental passa a ser, consequentemente, de natureza compulsria, sendo vivel exigir do Poder Pblico o efetivo exerccio das competncias ambientais que lhe foram outorgadas.

Com o advento da Constituio Federal de 1988, a todos entes federativos foram atribudas competncias administrativas e legislativas, meio pelo qual possvel exigir coativamente o cumprimento efetivo de suas tarefas referentes proteo do nosso meio ambiente.

4.4 Princpio da Participao Popular

A participao popular na proteo do meio ambiente est prevista expressamente no Princpio n 10 da Declarao do Rio sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento de 1992. Pela leitura do artigo 225, caput, a sociedade tem o dever de atuar nesse sentido, atravs de 3 (trs) mecanismos de participao direta: (i) participao nos processos de criao do Direito Ambiental, com a iniciativa popular nos procedimentos legislativos, a realizao de referendos sobre leis e a atuao de representantes da sociedade civil em rgos colegiados dotados de poderes normativos; (ii) participao na formulao e execuo de polticas ambientais, por intermdio da atuao de representantes da sociedade civil em rgos colegiados responsveis pela formulao de diretrizes e pelo acompanhamento da execuo de polticas pblicas; e (iii) por intermdio do Poder Judicirio, com a utilizao de instrumentos processuais que permitem a obteno da prestao jurisdicional na rea ambiental.Entretanto, conforme exaustivamente ressaltado neste trabalho, quando tratamos a respeito da definio de meio ambiente, a participao popular efetivamente se dar somente quando houver uma poltica especfica para educao ambiental e conscientizao acerca da utilizao dos recursos naturais. Por isso a informao e todos tem direito a ela em matria de meio ambiente, conforme o artigo 5, XIV, XXXIII e XXXIV da Constituio Federal e a educao so to importantes para a preservao do meio ambiente.

4.5 Princpio da Funo Social e Ambiental da Propriedade

Constitucionalmente previsto atravs dos artigos 5, XXIII, 170, III e 186, II da Constituio Federal Brasileira, a funo social da propriedade privada encontra-se embasada no fato de que a propriedade, mesmo sendo particular, deve atender um objetivo que visa o benefcio da coletividade. De acordo com o artigo 186, II, a propriedade rural cumpre sua funo social quando, tambm, visa a proteo ao meio ambiente, impondo ao proprietrio rural o dever de exercer seu direito de propriedade em conformidade com a preservao da qualidade ambiental o que, em caso contrrio, a propriedade que detm torna-se ilegtima.

Importante ressaltar que este princpio no apenas exige que o proprietrio se abstenha de exercer prticas danosas, mas tambm impe o exerccio de atividades positivas, de modo a realmente atender ao interesse social.4.6 Princpio da Preveno de Danos Ambientais

O princpio da preveno, esculpido intrinsecamente norma do artigo 225 da atual Constituio Federal do Brasil, caracteriza-se, principalmente, pelo dever de se prevenir o risco quando h possibilidade de se estabelecer uma relao de causalidade entre eventos, atravs de conhecimentos tcnicos pelas partes. Alguns instrumentos de ao preventiva podem ser a avaliao do impacto de certos projetos sobre o ambiente, a definio de condies de explorao para instalaes industriais, testes e procedimentos de notificao prvia colocao no mercado de novos produtos, bem como o estabelecimento de valores limite para as emisses de poluentes e, de acordo com Paulo Affonso Leme Machado, tambm outros instrumentos, tais como a (i) identificao e inventrio das espcies animais e vegetais de um territrio, quanto conservao da natureza e identificao das fontes contaminantes das guas do mar, quanto ao controle da poluio; (ii) identificao e inventrio dos ecossistemas, com a elaborao de um mapa ecolgico; (iii) planejamentos ambiental e econmico integrados; (iv) ordenamento territorial ambiental para a valorizao das reas de acordo com a sua aptido; e (v) Estudo de Impacto Ambiental. Neste princpio, alguns autores tambm inserem outro princpio referente necessidade de avaliao prvia dos impactos ambientais das atividades de qualquer natureza, o qual, apesar de concordar na questo de mrito que envolva tal questo, haja vista a real necessidade de se proceder avaliao completa de todas atividades, a existncia de tal princpio apenas se torna redundante na medida em que o princpio da preveno j o prev. De toda forma, ressaltamos que para a realizao de uma avaliao confivel, necessrio se faz o Estudo de Impacto Ambiental, instrumento essencial e obrigatrio para toda e qualquer atividade suscetvel de causar significativa degradao do meio ambiente, conforme o artigo 225, 1, III da Constituio Federal de 1988.Entretanto, faz-se necessria a observao de que o princpio da preveno existe com o objetivo de acautelar os danos previsveis, tendo em vista que os danos ambientais, muitas vezes, so irreversveis e irreparveis e, ainda que reparveis, a reconstituio ao estado anterior praticamente impossvel.4.7 Princpio da Precauo

Este princpio em muito se assemelha ao princpio da preveno de danos ambientais, mas caminha em sentido referente adoo de medidas para evitar danos ao meio ambiente, danos estes futuros e incertos. Portanto, temos que a sociedade deve agir de forma a prevenir prejuzos, tal que a prtica errnea, de forma constante, consubstanciar em algo muito mais danoso e grave, caso em que seria necessria a adoo de medidas interventivas urgentes.O princpio n 15 da Declarao do Rio de Janeiro de 1992 determina, conforme o excerto colacionado abaixo:

De modo a proteger o meio ambiente, o princpio da precauo deve ser amplamente observado pelos Estados, de acordo com suas capacidades. Quando houver ameaa de danos srios ou irreversveis, a ausncia de absoluta certeza cientfica no deve ser utilizada como razo para postergar medidas eficazes e economicamente viveis para prevenir a degradao ambiental.4.8 Princpio da Responsabilizao das Condutas e Atividades Lesivas

Para termos um sistema eficaz para a preservao e conservao do meio ambiente, necessrio se faz delinear de que forma se dar a responsabilizao dos causadores de danos ambientais, sempre com respeito aos trs sistemas de responsabilidade existentes, quais sejam, a civil, a administrativa e a penal. A independncia entre as responsabilidades civil e administrativa encontra respaldo no artigo 14, 1 da Lei 6.938/81, sendo inclusive reconhecida pelo Tribunal de Justia de So Paulo, bem como a independncia entre a civil e criminal, conforme podemos notar do excerto do Recurso Especial n. 686.486: A deciso na esfera criminal somente gera influncia na jurisdio cvel, impedindo a rediscusso do tema, quando tratar de aspectos comuns s duas jurisdies, ou seja, quando tratar da materialidade do fato ou da autoria., bem como tambm pelos artigos 1525 do Cdigo Civil e 64 do Cdigo de Processo Civil.No mbito da responsabilidade civil, temos, primeiramente, a responsabilidade objetiva do degradador com relao aos danos ambientais causados, independentemente da existncia de culpa do mesmo, conforme dispe o artigo 14, 1 da Lei 6.938/81; por outro lado, temos como regra tambm a reparao integral do prejuzo causado, propiciando a efetiva recomposio, ainda que mnima, do meio ambiente, em relao ao estado em que se encontrava antes da ocorrncia do dano. Temos, portanto, que a responsabilidade, aqui, propter rem, ou seja, ambulatria, pelo qual no se faz distino se os danos ambientais foram causados pelo atual proprietrio, ou pelos antigos.Nesse sentido, posicionou-se o Superior Tribunal de Justia, in verbis:

RECURSO ESPECIAL. FAIXA CILIAR. REA DE PRESERVAO PERMANENTE. RESERVA LEGAL. TERRENO ADQUIRIDO PELO RECORRENTE J DESMATADO. IMPOSSIBILIDADE DE EXPLORAO ECONMICA. RESPONSABILIDADE OBJETIVA. OBRIGAO PROPTER REM. AUSNCIA DE PREQUESTIONAMENTO. DIVERGNCIA JURISPRUDENCIAL NO CONFIGURADA.

Tanto a faixa ciliar quanto a reserva legal, em qualquer propriedade, includa a da recorrente, no podem ser objeto de explorao econmica, de maneira que, ainda que se no d o reflorestamento imediato, referidas zonas no podem servir como pastagens. No h cogitar, pois, de ausncia de nexo causal, visto que aquele que perpetua a leso ao meio ambiente cometida por outrem est, ele mesmo, praticando o ilcito. A obrigao de conservao automaticamente transferida do alienante ao adquirente, independentemente deste ltimo ter responsabilidade pelo dano ambiental. Recurso especial no conhecido.. (REsp 343.741-PR 2 T. STJ j. 04.06.2002 rel. Min. Franciulli Netto DJU 07.10.2002) grifo nosso.ADMINISTRATIVO. AMBIENTAL. AO CIVIL PBLICA. REA DE PRESERVAO PERMANENTE. FORMAO DA REA DE RESERVA LEGAL. OBRIGAO PROPTER REM. SMULA 83/STJ. PREJUDICADA A ANLISE DA DIVERGNCIA JURISPRUDENCIAL. SUPERVENINCIA DA LEI 12.651/12. IMPOSSIBILIDADE DE APLICAO IMEDIATA. IRRETROATIVIDADE. PROTEO AOS ECOSSISTEMAS FRGEIS. INCUMBNCIA DO ESTADO. INDEFERIMENTO.

1. A jurisprudncia desta Corte est firmada no sentido de que os deveres associados s APPs e Reserva Legal tm natureza de obrigao propter rem, isto , aderem ao ttulo de domnio ou posse, independente do fato de ter sido ou no o proprietrio o autor da degradao ambiental. Casos em que no h falar em culpa ou nexo causal como determinantes do dever de recuperar a rea de preservao permanente. 2. Prejudicada a anlise da divergncia jurisprudencial apresentada, porquanto a negatria de seguimento do recurso pela alnea "a" do permissivo constitucional baseou-se em jurisprudncia recente e consolidada desta Corte, aplicvel ao caso dos autos. 3. Indefiro o pedido de aplicao imediata da Lei 12.651/12, notadamente o disposto no art. 15 do citado regramento. Recentemente, esta Turma, por relatoria do Ministro Herman Benjamin, firmou o entendimento de que "o novo Cdigo Florestal no pode retroagir para atingir o ato jurdico perfeito, direitos ambientais adquiridos e a coisa julgada, tampouco para reduzir de tal modo e sem as necessrias compensaes ambientais o patamar de proteo de ecossistemas frgeis ou espcies ameaadas de extino, a ponto de transgredir o limite constitucional intocvel e intransponvel da 'incumbncia' do Estado de garantir a preservao e restaurao dos processos ecolgicos essenciais (art. 225, 1, I)." Agravo regimental improvido.. (REsp 327.687-SP 2 T. STJ j. 15.08.2013 rel. Min. Humberto Martins DJU 26.08.2013) grifo nosso.No mbito da responsabilidade administrativa, de carter subjetivo, temos que resulta de infrao a normas administrativas, sujeitando-se o infrator a uma sano de natureza tambm administrativa: advertncia, multa, interdio de atividade, suspenso de benefcios etc. Tais sanes so impostas aos infratores pelos prprios rgos da Administrao Direta ou Indireta da Unio, dos Estados e dos Municpios.

A Lei n 9.605/98 Lei de Crimes Ambientais regulou as infraes administrativas atravs de um captulo prprio para sua disposio, tendo sido regulamentada pelo Decreto n 3.179/99 revogado pelo Decreto 6.514/08, por meio do qual este ltimo instrumento legislativo que regulamenta o sancionamento administrativo. Atravs do caput do artigo 70 da Lei supracitada, temos que a infrao administrativa pode ser conceituada como toda ao ou omisso que viole as regras jurdicas de uso, gozo, promoo, proteo e recuperao do meio ambiente.

Por fim, a responsabilidade penal emana do cometimento de crime ou contraveno, ficando o infrator sujeito pena de perda da liberdade ou pena pecuniria. Alm da regulao atravs da Lei 9.605/98, existem algumas normas esparsas que tutelam o ambiente na esfera criminal, a exemplo da Lei n 12.651/2012 que prev a aplicao de sanes deste tipo.

A inovao do tema reporta-se consagrao da responsabilidade penal da pessoa jurdica, para a qual importa a comprovao de que a conduta dolosa foi cometida em seu interesse ou benefcio e que tenha advindo de deciso de seu representante legal ou contratual ou ainda de seu rgo colegiado.4.9 Princpio do Usurio-Pagador, Poluidor-Pagador e Protetor-RecebedorO princpio do poluidor-pagador pode ser entendido pelo fato de que os potenciais poluidores devem arcar com a responsabilidade pelo pagamento das despesas estatais relacionadas com a precauo e a preveno dos riscos ambientais, buscando evitar incidir o nus, pela sociedade, de suportar os custos da sustentao de um ambiente sadio. Este est ligado idia de internalizao de eventuais prejuzos ambientais, sem a qual seria repassada para terceiros a responsabilidade pela carga tributria necessria a garantir os riscos ambientais. O poluidor, que se apropria do lucro obtido em suas atividades poluentes, no pode externalizar negativamente a poluio que produz. Sua adequao com o direito tributrio ocorre pela instituio de multas, taxas ou contribuies.

Cabe ressaltar que a pessoa que deve arcar com a obrigao de efetuar o devido pagamento, ou seja, o poluidor, aquela que tem poder de controle sobre as condies que levam ocorrncia da poluio no caso de haver mais de um poluidor, o que pagar dever ser o chamado melhor pagador, que se consubstancia na classe mais fcil de controlar.

J o princpio do usurio-pagador (ou consumidor-pagador), muito importante na Espanha e na Alemanha nesta, com a imposio de tributos especiais (Abwassergaben), est prevista na Lei n 6.938/81 eu seu artigo 4, inciso VII, que assim dispe:

Art 4 - A Poltica Nacional do Meio Ambiente visar:VII - imposio, ao poluidor e ao predador, da obrigao de recuperar e/ou indenizar os danos causados e, ao usurio, da contribuio pela utilizao de recursos ambientais com fins econmicos..Portanto, temos que este princpio aponta que aquele que usufrui os bens de uso comum do povo deve pagar por eles entendimento este que cresceu nos ltimos anos devido s privatizaes e polticas que alteraram prestaes antigamente gratuitas do servio pblico em prestaes pagas.

Conforme explica Ricardo Lobo Torres, tal princpio se enquadra no Direito Tributrio Ambiental pela cobrana de preos pblicos consubstanciados (i) na compensao financeira pela explorao de petrleo e gs natural, de recursos hdricos para fins de gerao de energia eltrica e de outros recursos minerais no respectivo territrio, plataforma continental, mar territorial ou zona econmica exclusiva; e (ii) nas tarifas pelo uso de recursos pagos no s pelo consumidor final, mas tambm pelas empresas autorizadas a captar e extrair gua dos mananciais mediante outorga dos poderes pblicos.Sob outra vertente, surgiu um novo princpio voltado premiao de indivduos, com base nas prticas desenvolvidas pelo mesmo, que resultem na proteo ao meio ambiente. Tal princpio foi esculpido na Lei n 12.305/2010, e possibilita aos atores sociais compensao financeira pelas prticas protecionistas realizadas em favor do meio ambiente. Sendo assim, tal princpio objetiva o beneficiamento daqueles que tomem uma atitude pr-meio ambiente, indo diretamente ao encontro dos objetivos da tributao ambiental que a seguir sero estudados. Portanto, pensamos em uma sano premial em Direito Ambiental, incentivando cada dia mais as condutas ambientalmente corretas.5 Sustentabilidade Ambiental e Desenvolvimento Econmico

Primeiramente, em que pese as afirmaes anteriormente elucidadas no incio deste trabalho acerta com princpio do Desenvolvimento Sustentvel, juntamente com o desenvolvimento econmico e sociela, cumpre estabelecer que a poltica de desenvolvimento sustentvel vai de encontro com os interesses do capitalismo desenfreado que vivemos, tendo em vista que, a partir da adoo de uma estratgia focada em consumo consciente, bem como em reutilizao de matria primas e produtos, garantir-se- um ambiente ecologicamente equilibrado e uma sadia qualidade de vida, no s para a presente gerao, mas tambm para as futuras, conforme estabelecido na Constituio Federal. Infelizmente, o capitalismo prega o consumismo exagerado, sem pensar no futuro, o que d margem prticas interventivas, e a urgente necessidade na aplicao desse regime sustentvel que passaremos a dispor.A Constituio Federal de 1988, atravs do seu artigo 170, estabelece que a ordem econmica tem o escopo de assegurar, a todos, existncia digna conforme os ditames da justia social. Ao dispor, em seu inciso VI, a observncia da defesa do meio ambiente, o constituinte reconheceu que o desenvolvimento das atividades econmicas devem ter em vista sempre a preocupao com a proteo ambiental.Para Andr Ramos Tavares, tal princpio indica a necessidade de estabelecer uma conciliao entre o desenvolvimento econmico e medidas de preservao, de tal maneira que a obteno do lucro esteja tambm condicionada praticas protetivas ao meio ambiente, para o alcance de um desenvolvimento sustentvel, concluindo, in verbis:A incluso da defesa do meio ambiente como princpio constitucional econmico possibilita ao Poder Pblico interferir, se necessrio, para que a explorao econmica assegure a manuteno do ecossistema atual visando, com isso, preservao dos elementos necessrios prpria preservao do homemNeste diapaso, o Supremo Tribunal Federal, ao julgar a Ao Direta de Inconstitucionalidade n 3.540, em voto valioso para o assunto em questo, proferido pelo Ministro Celso de Mello, reconheceu a importncia da conciliao entre o desenvolvimento econmico e a preservao do meio ambiente, alm de trazer baila fundamentos ligados aos princpios inerentes ao sistema (confirmando os entendimentos aduzidos acima), conforme podemos notar do seguinte excerto do acrdo:Todos tm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado. Trata-se de um tpico direito de terceira gerao (ou de novssima dimenso), que assiste a todo gnero humano (RTJ 158/205-206). Incumbe, ao Estado e prpria coletividade, a especial obrigao de defender e preservar, em benefcio das presentes e futuras geraes, esse direito de titularidade coletiva e de carter transindividual (RTJ 164/158-161). O adimplemento desse encargo, que irrenuncivel, representa a garantia de que no se instauraro, no seio da coletividade, os graves conflitos integeneracionais marcados pelo desrespeito ao dever de solidariedade, que a todos se impe, na proteo desse bem essencial de uso comum das pessoas em geral. Dourtina. A atividade econmica no pode ser exercida em desarmonia com os princpios destinados a tornar efetiva a proteo ao meio ambiente. A incolumidade do meio ambiente no pode ser comprometida por interesses empresariais nem ficar dependente de motivaes de ndole meramente econmica, ainda mais se se tiver presente que a atividade econmica, considerada a disciplina constitucional que a rege, est subordinada, dentre outros princpios gerais, quele que privilegia a defesa do meio ambiente (CF, art. 170, VI), que traduz conceito amplo e abrangente das noes de meio ambiente natural, de meio ambiente cultural, de meio ambiente artificial e de meio ambiente laboral. Doutrina. Os instrumentos jurdicos de carter legal e de natureza constitucional objetivam viabilizar a tutela efetiva do meio ambiente, para que no se alterem as propriedades e os atributos que lhe so inerentes, o que provocaria inaceitvel comprometimento da sade, segurana, cultura, trabalho e bem-estar da populao, alm de causar graves danos ecolgicos ao patrimnio ambiental, considerado este em seu aspecto fsico ou natural. A questo do desenvolvimento nacional (CF, art. 3, II) e a necessidade de preservao da integridade do meio ambiente (CF, art. 225): o princpio do desenvolvimento sustentvel como fator de obteno do justo equilbrio entre as exigncias da economia e as da ecologia. O princpio do desenvolvimento sustentvel, alm de impregnado de carter eminentemente constitucional, encontra suporte legitimador em compromissos internacionais assumidos pelo Estado brasileiro e representa fator de obteno do justo equilbrio entre as exigncias da economia e as da ecologia, subordinada, no entanto, a invocao desse postulado, quando ocorrente situao e conflito entre valores constitucionais relevantes, a uma condio inafastvel, cuja observncia no comprometa nem esvazie o contedo essencial de um dos mais significativos direitos fundamentais: o direito preservao do meio ambiente, que traduz bem de uso comum da generalidade das pessoas, a ser resguardado em favor das presentes e futuras geraes. (STF, ADI-MC 3.540/DF, Tribunal Pleno, Rel. Min. Celso de Mello. DJ 03.02.2006)

O desenvolvimento sustentvel firmado no trip social, ambiental e econmico, tendo como objetivo principal a reduo das desigualdades sociais, evitando a degradao ambiental e promovendo o crescimento econmico, sem a explorao descontrolada dos recursos naturais atravs da distribuio justa dos mesmos, do desenvolvimento da sade e da qualidade de vida com as conexes entre economia, ecologia, tecnologia, poltica e sociedade. Ainda podemos citar como exemplos de polticas sustentveis a agricultura orgnica, o manejo florestal, a reciclagem, a produo de energia limpa, entre outros que a humanidade cada vez mais tem se proposto a realizar.

A legislao ambiental brasileira alm dos supracitados artigos 170 e 225 da Constituio Federal oferece seu conceito, que tambm o objetivo do desenvolvimento sustentvel, na lei 6.938/81 (Poltica Nacional de Meio Ambiente), com base no disposto no artigo 2: A Poltica Nacional do Meio Ambiente tem por objetivo a preservao, melhoria e recuperao da qualidade ambiental propcia vida, visando assegurar, no Pas, condies ao desenvolvimento scio-econmico, aos interesses da segurana nacional e proteo da dignidade da vida humana

Dando continuidade no seu art. 4: A Poltica Nacional do Meio Ambiente visar compatibilizao do desenvolvimento econmico-social com a preservao da qualidade do meio ambiente e do equilbrio ecolgico, tambm sendo prevista na declarao do RIO/92, atravs do seu princpio n 4: "Para se alcanar o desenvolvimento sustentvel, a proteo do meio ambiente deve constituir parte integrante do processo de desenvolvimento e no pode ser considerada isoladamente em relao a ele".6 Externalidades ambientais

Para a realizao de uma anlise propriamente econmica da proteo ao meio ambiente, indispensvel adentrar ao estudo das externalidades ambientais, que correspondem aos custos e benefcios que circulam externamente no mercado, referentes s atividades de um determinado ente, sem a incorporao de tais implicaes em determinados produtos.

Isso significa dizer que alguns produtos no contemplam, em seus valores, a carga referente s vantagens ou malefcios que o mesmo possa causar sociedade.

Conforme o ente traz benefcios sociedade, sem cobrana direta pela mesma, podemos considerar tal ato como uma externalidade positiva. Entretanto, mesmo as aes benficas podem trazer consequncias negativas, ou seja, externalidades negativas, cujos exemplos mais comuns so os impactos ambientais. A falha de mercado aqui, portanto, dever ser sanada atravs de algumas polticas, implementadas pela e para a sociedade, e no exatamente pelas unidades poluidoras que obviamente no so afetadas pela prtica contrria sade e ao bem estar da humanidade.

Neste diapaso, surgem teorias econmicas com o fito de desincentivar atividades ecologicamente danosas. Duas teorias apresentam-se, de certo modo, viveis preservao do meio ambiente.

A primeira teoria, defendida por Pigou, explica a necessidade de imposio de uma taxa ao poluidor (aqui vemos, portanto, a aplicao do princpio do poluidor-pagador), na tentativa do reestabelecimentos do equilbrio paretiano.

J a segunda teoria, defendida por Ronald Coase, traz consigo um entendimento de que h a necessidade de se impor um valor aos bens em conformidade com a livre explorao e negociao das partes, de modo que se estipular quanto vale para o poluidor deixar de poluir e quanto vale para a vtima no sofrer a poluio despejada pelo primeiro, se assemelhando noo, atualmente objeto de discusso em funo do Protocolo de Kyoto, dos direitos de poluir. Tal teoria bastante criticada em virtude de no haver como estipular um valor para a degradao do meio ambiente, pois aqui tratamos no apenas da poluio em si, mas de direitos do ser humano em viver em um ambiente propcio para se ter uma vida realmente digna pelo que, se houvesse estipulao de valores, o mesmo seria impagvel.

Atravs destas colocaes, temos que as polticas ambientais devem se valer mais incisivamente dos instrumentos tributrios e econmico-financeiros, conforme explica a ilustre jurista Consuelo Yatsuda Moromizato Yoshida, com o objeto primordial de incentivar a observncia de seus princpios e preceitos, e no mbito da preveno, preferencialmente. Outro entendimento disciplinado tem por base as polticas que incorporem a dimenso ambiental no delineamento de seus princpios e preceitos, a fim de que estejam afinadas e em sintonia com as diretrizes e objetivos das polticas em geral. Em decorrncia da crescente degradao do meio ambiente, a necessidade de imposio de tributos em geral, com base nos princpios do poluidor-pagador e do usurio-pagador se revelam necessrios como forma de preveno, ainda que no suficiente para garantir a existncia de uma sociedade ambientalmente equilibrada.7 Mtodos de preservao

Apesar de no presente trabalho exaltarmos a utilizao de instrumentos econmico-tributrios para alcanarmos a sustentabilidade e, consequentemente, o meio ambiente ecologicamente equilibrado, no podemos negar a efetividade de outros sistemas fundamentais tais como os instrumentos penais e administrativos que culminaro no desincentivo s praticas de detrimento de forma geral.

A problemtica bem ressaltada por Jorge Henrique de Oliveira Souza, conforme o excerto abaixo:

A complementaridade entre esses instrumentos a disposio do Estado para a preservao ambiental salta aos olhos na seguinte ilustrao: caso determinado sistema de preservao ambiental se pautasse to-somente em uma poltica tributria, que paulatinamente vai produzindo seus resultados, no teria o Estado instrumentos para intervenes pontuais e urgentes como nos casos de problemas ambientais inesperados (ex.: o aumento da poluio atmosfrica por falta de chuvas e ventos, e a necessidade de restrio da circulao de veculos em determinadas regies, ou ainda, um derramamento de leo em um rio). dizer, os diversos instrumentos (administrativos, penais, econmicos e tributrios) se conjugam para formar um plexo coordenado, atuando de forma conjunta e complementar, para preservao do meio-ambiente).

E complementa:

() a tributao () pode ser instrumento voltado garantia do direito fundamental ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, quer quando utilizada em sua feio fiscal, quer utilizada com a finalidade extrafiscal, no qual sobressai a sua importncia na preservao do meio ambiente em razo do seu potencial de influenciar nas escolhas realizadas pela populao, sempre com vistas preservao ambiental aliada com o desenvolvimento econmico sustentvel.

O que se faz certo, portanto, que, em quaisquer das esferas supracitadas, o sistema que impera a aplicao de sanes como tcnica de desestmulo de comportamentos, bem como a aplicao de benefcios, por sua vez, como tcnica de estmulo a atitudes que ajudem preservao do meio ambiente.

As tcnicas de desestmulo visam influenciar aquele comportamento indesejado atravs da imposio de obstculos ou de consequncias prejudiciais; por outro lado, as tcnicas de estmulo no s visam premiar e conceder benefcios queles que pratiquem comportamentos desejados, mas tambm facilit-los, de modo a tornar mais atrativa a sua prtica, em desfavor dos atos que culminem na degradao do ambiente, como o caso da aplicao do ICMS Ecolgico, por exemplo, prtica que consiste em contemplar com quinhes maiores de receita de ICMS os municpios que tem legislao em favor da preservao do meio ambiente. Referente ao ICMS Ecolgico, o mesmo ser tratado com mais detalhes em momento posterior.

Enfoque do presente trabalho, a onerao da carga tributria e desonerao da carga tributria so prticas eficazes para, respectivamente, desestimular e estimular os comportamentos ambientas indesejveis e desejveis. Como prtica de onerao, temos como exemplo o IPTU progressivo no tempo, quando o imvel urbano no cumpre sua funo social (quando subutilizado ou quando no utilizado, ou nem edificado), observado sempre o respeito aos princpios da capacidade contributiva, vedao ao confisco, entre outros.

Com respeito desonerao, deve-se observar, de primeiro plano, o respeito ao princpio da isonomia, que visa a tributao justa, de forma que tais benefcios somente podero ser concedidos caso haja, efetivamente, a prtica de atividades promotoras do bem comum, que devero ser fiscalizadas por rgos competentes para tanto.

8 Tributos Ambientais

Importante ressaltar que o termo Tributo Ambiental, to novo no sistema jurdico brasileiro, demonstra o destaque que vem ganhando a identificao da relao entre a preservao ambiental e a tributao, direcionando a atividade estatal consecuo de tal objetivo.

Os benefcios, bem como os metdos de desincentivo, originados pela existncia de tributos ambientais e aqui vamos design-lo no somente com enfoque em seu elemento de preservao ambiental, mas tambm em conformidade com o alcance a um meio ambiente ecologicamente equilibrado, seja atravs da destinao de recursos advindos do produto de sua arrecadao, seja pela conformao do comportamento humano de forma a induzi-lo prtica de condutas sadias ao meio, bem como desestimulando-o prtica de condutas prejudiciais, conforme visto acima.

Considerando o Direito Tributrio como o conjunto de normas voltadas arrecadao de receita atravs da instituio e fiscalizao de tributos no entrando nos seus respectivos mritos pode-se entender o Direito Tributrio Ambiental, por sua vez, como o conjunto de normas que exerce tal atividade sobre o influxo do valor ambiental, tanto na instituio, arrecadao ou fiscalizao dos mesmos.

Em outros pases mais desenvolvidos, tais como a Frana, Alemanha, Espanha, Dinamarca, Holanda, Blgica e Estados Unidos da Amrica, a imposio de tributos ambientais (tambm chamados de ecotaxes) tem sido duplamente vantajosa, tendo em vista que, por um lado, h estmulo do comportamento benfico individual por orientar-se de modo ecolgico, evitando tributao mais gravosa (percebemos, aqui, a aplicao do princpio do poluidor-pagador) e, por outro lado, no custoso para o Estado.

Importante ressaltar tambm a existncia da tributao existente, em outros pases, com relao emisso de poluentes (tambm chamados de green taxation), inserida em uma ideologia voltada auto-sustentabilidade dos pases, criando-se um mercado verde que explicite os custos ambientais. Atravs da anlise do sistema tributrio europeu, temos que a estrutura da tributao da Unio Europia pode ser dividida em tributos incidentes para o capital (1,4%), sobre o esforo humano (84,9%) e sobre a tributao ecolgica (13,7%), sendo fato relevante, pois vemos a importncia que a tributao ambiental est adquirindo mundialmente.

Neste diapaso, muito bem explicou o ilustre jurista Paulo Caliendo acerca dos tributos ecolgicos existentes, conforme podemos perceber do excerto colacionado abaixo:

So exemplos de tributos ecolgicos adotados por diversos pases europeus:

a) taxao de carbono (CO2 tax ou carbon tax): trata-se de um tributo incidente sobre a utilizao de energia a partir de determinado nvel de intensidade, sendo aplicvel especialmente ao comrcio e indstrias, tais como em aquecimento (heating). Prevem estas legislaes que as indstrias intensivas em uso de energia possuam uma iseno de at 98% da tributao do carbono, existindo igualmente benefcios para as indstrias que firmarem acordos de investimentos em eficincia energtica;b) tributao de dixidos (SO2 tax): trata-se de um caso de tributao complementar tributao do carbono, imposta, inclusive, por exigncias internacionais;

c) tributao dos solventes clorinados (tax on chlorinated solvents) que so altamente danosos camada de oznio e aos lenis freticos;

d) tributao de resduos slidos (waste tax) que pretende auxiliar na adoo de polticas de reciclagem e tecnologias limpas;

e) tributao sobre gases industriais (tax on industrial greenhouse gases). Este tributo procura atingir uma ampla classe de gases produzidos industrialmente tais como: HFC, PFC e SF6

Conforme a ilustre jurista Regina Helena Costa, foi elaborada uma declarao final, na ECO-92 (do Rio de Janeiro), segundo a qual houve determinao sobre quais requisitos um eficiente tributo ambiental precisa obedecer, in verbis:1) eficincia ambiental, vale dizer, que a imposio tributria efetivamente conduza a resultados positivos do ponto de vista ambiental, mediante a instituio de tributo assim orientado ou imprimindo-se a tributo j existente esse carter;

2) eficincia econmica, isto , que ostente baixo custo, que seja um tributo de baixo impacto econmico, embora conducente queles dois objetivos: gerao de recursos ambientais e/ou orientao do comportamento do contribuinte a adotar uma conduta ecologicamente correta;

3) administrao barata e simples, significando que sua exigncia no deva onerar a mquina administrativa, porque, seno, ter-se- o mesmo problema existente com o exerccio do poder de polcia; e

4) ausncia de efeitos nocivos ao comrcio e competitividade internacionais, ou seja, que o tributo ambiental no venha a provocar efeitos danosos no ciclo de consumo, no acarretando repercusso negativa do ponto de vista econmico. (grifo nosso)

No mbito brasileiro, temos que a tributao ambiental adquire carter extrafiscal conceituado pela imposio de tributos com o fim especfico de atender determinadas finalidades incentivadoras ou inibitrias de comportamentos, de modo que pode ser implementada mediante a instituio ou graduao de tributos (caso do mencionado IPTU progressivo), bem como concesso de isenes aos que promovam prticas protetivas.

Tendo em vista que a Unio detm competncia tributria mais abrangente, em virtude da designao pela Constituio Federal, a implementao de instrumentos fiscais com eficcia ambiental so mais constantes no mbito federal. Alguns exemplos desta atuao federal se fazem importantes, tais como (i) a aplicao de alquotas diferentes do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) para veculos movidos a gasolina (25% a 30%) e para veculos movidos a lcool (20 a 25%); (ii) a deduo de Imposto de Renda (IR) para importncias empregadas em projetos de reflorestamento; (iii) incentivao de servios voltados preservao ambiental, como o ecoturismo, com iseno ou concesso de incentivos fiscais, mormente quanto ao Imposto sobre Servios de Qualquer Natureza (ISSQN); e (iv) praticamente no mesmo sentido do benefcio promovido pelo IPI, conforme acima descrito, o Imposto sobre a Propriedade de Veculos Automotores tambm poder ter alquotas diferenciadas em funo da preservao ambiental atravs de veculos movidos a combustveis menos poluentes.

Importante ainda ressaltar a existncia de legislaes esparsas no Brasil, tal como a TPA (Taxa de Fiscalizao Ambiental), aplicada ao Distrito de Fernando de Noronha Pernambuco, e instituda pela Lei 10.430/1989 (modificada pela Lei 11.305/1995). Sua finalidade assegurar a manuteno das condies ambientais e ecolgicas do Arquiplago de Fernando de Noronha, incidente sobre o trnsito e a permanncia de pessoas naquelas ilhas, ou seja, tal taxa ser cobrada de todas as pessoas, no residentes ou domiciliadas no Arquiplago, que estejam em visita de carter turstico, com exceo das que estiverem a servio, ou realizando pesquisas de carter cientfico relativas fauna e flora locais, quando vinculadas ou apoiadas por instituies de pesquisa; e pessoas que estejam visitando seus parentes consanguneos, limitada a iseno at 30 dias de permanncia ou a visita a parentes afins, cuja iseno est limitada aos primeiros 15 dias de estadia.

Tal taxa encontra respaldo no artigo 145, II da Constituio Federal , deste modo, percebemos que o servio pblico prestado deve ser "singular" (ou uti singuli), destacado em unidades autnomas de utilizao, de modo a permitir-se identificar exatamente o sujeito passivo ou discriminar o usurio, no podendo ser cobrada por um servio prestado coletividade de um modo geral, ou dito de outra forma, um servio prestado difusamente, uti universi.

Feitas as ressalvas acima, passamos a destacar alguns instrumentos econmico-tributrios, assim como os citados acima, que visam a consecuo de um ambiente ecologicamente equilibrado, configurando-se como marcos importantssimo para a evoluo do Direito Tributrio Ambiental no Brasil.8.1 ICMS Ecolgico

O ICMS Ecolgico, fonte de renda muito importante para Municpios, em virtude da captao de recursos para implementao e incentivo criao de reas de preservao ambiental, atua como grande instrumento de fomento ao desenvolvimento sustentvel. Todavia, imprescindvel se faz tecer comentrios a respeito do ICMS Imposto sobre Circulao de Mercadorias e Prestao de Servios de Transporte Interestadual e Intermunicipal e de Comunicao em si, com relao sua constituio, conceituao e caractersticas.

O referido imposto, com previso constitucional esculpida em seu artigo 155, II, tem como competncia ativa os Estados e Distrito Federal, com fato gerador referente s operaes relativas circulao de mercadorias e sobre prestaes de servios de transporte interestadual e intermunicipal e de comunicao, ainda que as operaes e as prestaes se iniciem no exterior. Apesar de o ordenamento jurdico dispor que o contribuinte de tal imposto deva ser cadastrado perante o Cadastro de Contribuintes, a jurisprudncia e doutrina se solidificam no sentido de que todos os contribuintes devem pagar o ICMS quando realizar qualquer importao, mesmo que eventual e sem intuito comercial.

Sendo o ICMS de competncia ativa dos Estados e Distrito Federal, isto significa que a Constituio garantiu, a estes entes federativos, a cobrana do mesmo, sendo certo de que o exerccio de tal competncia tributria necessrio, e no facultativo. Como tal competncia no segue uma regra especfica, as alquotas podem variar, resultando em uma grande diferena no preo de determinados produtos quando comparados com diversos Estados.

Importante ter em mente que o que o fato gerador para a incidncia do imposto sobre a circulao de mercadorias e servios ocorre na menor poro territorial da diviso federativa do estado, ou seja, nos Municpios. Portanto, nada mais justo do que repassar uma porcentagem do valor arrecadado para este ente federativo. Pensando nisso, a Constituio Federal, em seu artigo 158, IV, disps, in verbis, que vinte e cinco por cento do produto da arrecadao do imposto do Estado sobre operaes relativas circulao de mercadorias e sobre prestaes de servios de transporte interestadual e intermunicipal e de comunicao. Tal determinao tambm foi regulamentada pelo artigo 3 da Lei Complementar n 63 de 11 de janeiro de 1990.

No pargrafo nico do supracitado artigo, a Constituio determinou que tais parcelas sero creditadas: trs quartos, no mnimo, na proporo do valor adicionado nas operaes relativas circulao de mercadorias e nas prestaes de servios, realizadas em seus territrios; e at um quarto, de acordo com o que dispuser lei estadual ou, no caso dos Territrios, lei federal.

Desse um quarto, destinado ao que dispuser a Lei Estadual, nasceu o ICMS Ecolgico para os Estados que preveem tal repasse.

Diante da explicao de como nasce o ICMS Ecolgico, importante se faz conceitu-lo. Assim sendo, temos que o ICMS Ecolgico pode servir como um instrumento de estmulo conservao da biodiversidade, ao passo que compensa o Municpio pelas reas Protegidas j existentes assim como incentiva a criao de novas reas Protegidas, j que considera o percentual que os municpios possuem de reas de conservao em seus territrios. Entretanto, importante destacar que, de forma geral, o critrio ambiental refletido no ICMS Ecolgico mais amplo, e abarca, alm das reas Protegidas, outros fatores como a gesto de resduos slidos, o tratamento de esgoto e outros determinados de acordo com cada lei estadual.8.1.1 Histrico do ICMS Ecolgico no Brasil e evoluo legislativa

Diante de diversas restries legais para expanso de atividades econmicas e, consequentemente, gerar maior receita de ICMS que sofriam os Municpios em virtude da presena de Unidades de Conservao e reas Protegidas, e tambm pela necessidade de conservao da biodiversidade e dos mananciais de abastecimento para municpios vizinhos, o Estado do Paran foi o primeiro a legislar sobre o assunto, como forma inicial de compensao (pela impossibilidade de proceder expanso supracitada), tendo evoludo, ao longo do tempo, para ter como objeto, incentivos econmicos e preservao do meio ambiente.

Inicialmente previsto na Constituio Estadual de 1989, a inovao jurdica foi regulamentada pela Lei Complementar (da Assembleia Legislativa do Estado) n 59 de 01 de outubro de 1991. A iniciativa do Paran contaminou outros Estados que, valendo-se da inteno de preservar o meio ambiente ao incentivar a criao de reas Protegidas e Unidades de Conservao por parte dos Municpios, promoveram alteraes legislativas no sentido de dispor uma porcentagem da arrecadao do ICMS para tal fim.

No caso de So Paulo, a legislao regulamentadora do ICMS Ecolgico somente foi aprovada em 1993, dispondo que 0,5% teria destinao especfica aos Municpios que possussem Unidades de Conservao criadas pelo Estado. Com base em informaes obtidas, no ano de 2006 o valor arrecadado com o ICMS Ecolgico foi de R$ 72.000.000,00 (setenta e dois milhes de reais). Sendo assim, resta claro que a preservao do meio ambiente tambm gera uma participao maior na receita distribuda pelo Estado, incentivando sua realizao.

Importante tambm explicar que em Minas Gerais, o ICMS Ecolgico foi introduzido pela Lei Complementar n 12.040/1995. Esta Lei trouxe algumas inovaes, tendo em vista a incluso de outros critrios, como tratamento de lixo, de esgoto, patrimnio cultural, educao, reas cultivadas, nmero de habitantes por Municpio, 50 Municpios mais populosos etc. Outra inovao diz respeito ao grau da implementao, no qual os percentuais aumentam ano a ano, causando menos impactos aos Municpios.Conforme a tabela abaixo , temos a legislao especfica que trata do ICMS Ecolgico nos Estados em que o mesmo aplicvel, com seus critrios e percentuais de aplicao.

EstadoLegislao (Obs.:)% *Critrios para Receber o ICMS Ecolgico(% do ICMS Ecolgico por critrio)

ParanLei Complementar N.o59/91Decreto Estadual N.o2.791/96Decreto Estadual N.o3.446/97Decreto Estadual N.o1.529/07Resolues da SEMA55%Municpios que possuem Mananciais de Abastecimento (2,5%)

Municpios que possuem Unidades de Conservao Municipais, Estaduais e Federais, reas Indgenas, Faxinais, RPPN`s reas de Preservao Permanente e/ou Reserva Legal (2,5%)

So PauloLei Estadual N.o8.510/9300,5%reas Especialmente protegidas (0,5%) (Recebem o benefcio apenas Unidades de Conservao Estaduais)

Minas GeraisLei Estadual N.o12.040/95 (Lei Robin Hood) revogada pela Lei Estadual N.o13.803/0011%IC ndice de Conservao referente a unidades de conservao e outras reas protegidas (incluindo RPPN) (0,5%)

ISA ndice de Saneamento Ambiental referente a aterros sanitrios, estao de tratamento de esgoto e usinas de compostagem (0,5%)

Rio de JaneiroLei Estadual N.o2.664/96Lei Estadual N.o5.100/07(o repasse comeou em 2009 e a meta que sejam repassados 2,5% do ICMS devido aos municpios at 2011, porm aumentando o percentual de forma gradativa)11% (em 2009)Unidades de Conservao (0,45%, sendo que as prefeituras que criarem suas prprias UC`s tero direito a 0,20% deste percentual)

Qualidade da gua (0,30%)

Administrao dos Resduos Slidos (0,25%)

PernambucoLei Estadual N.o11.899/00(neste Estado o imposto denominado de ICMS Scio-ambiental)115%Unidades de Conservao estaduais, municipais e federais (1%)

Usinas de Compostagem e Aterro Sanitrio (5%)

Desempenho na rea de Educao de acordo com o nmero de alunos matriculados na rede municipal (3%)

Desempenho na rea de sade relacionado com ataxa de mortalidadeinfantil (3%)

De acordo com a Receita Tributria prpria do Municpio (3%)

Mato GrossoLei Complementar N.o73/00Decreto Estadual N.o2.758/01Lei Complementar N.o157/04(86% dos municpios deste Estado recebem o ICMS Ecolgico)55%Unidades de Conservao e Terras Indgenas (5%)

Mato Grosso do SulLei Complementar N.o77/94Lei Estadual N.o2.193/00Lei Estadual N.o2.259/01Decreto Est. N.o10.478/01Portaria IMAP 001/01E outras Resolues e Portarias do IMAP55%Unidades de Conservao municipais, estaduais e federais (incluindo o entorno), terras indgenas e reas com mananciais de abastecimento pblico (5%)

AmapLei Estadual N.o322/96??ndice de Conservao do Municpio baseado nas unidades de conservao estaduais, municipais ou federais e particulares

Rio Grande do SulLei Estadual N.o11.038/9777%reas de Preservao Ambiental e aquelas inundadas por barragens exceto aquelas localizadas no municpio sede de usinas hidreltricas (7% feita uma relao entre a rea dos municpios e as reas de preservao multiplicadas por 3)

TocantinsLei Estadual N.o1.323/02Decreto Est. N.o1.666/02Resoluo COEMA N.o02/03113%Poltica Municipal de Meio Ambiente (2%)

Unidades de Conservao e Terras Indgenas (3,5%)

Controle de queimadas e combate a incndios (2%)

Conservao dos Solos (2%)

Saneamento Bsico e Conservao da gua (3,5%)

AcreLei Estadual N.o1.530/04 (neste Estado o imposto chamado de ICMS Verde)55%Unidades de Conservao e reas afetadas por elas (entorno) (5%)

CearLei Estadual N.o14.023/0722%ndice Municipal de Qualidade do Meio Ambiente (2,5%)

RondniaLei Complementar N.o147/96Decreto Est. N.o 11.908/05Decreto Est. N.o 9.78755%Unidade de Conservao federal, estadual ou municipal e terras indgenas (5%) divide-se o total das reas de UC dentro do municpio (em hectares) pelo valor total das reas de UC dentro do Estado e multiplica-se por 5%. O resultado o chamado Fundo de Participao Municipal que indica quanto o municpio ir arrecadar do ICMS Ecolgico.

Com a evoluo deste tema e a conscientizao da sociedade sobre a proteo ambiental, a ocorrncia de debates para a discusso de novas ideias algo constante, fazendo surgir a chamada educao ambiental que traz, em seu interior, princpios norteadores como a sustentabilidade. Tal mecanismo visa diminuir os anos de desrespeito ao meio ambiente, com o escopo de fazer com que todos participem da conservao da natureza e, consequentemente, da raa humana.8.1.2 Caso Especfico de Repasse do ICMS para Municpio

Podemos citar, como um dos casos mais importantes (tendo em vista o percentual de repasse realizado), o de So Jorge do Patrocnio, Municpio do Estado do Paran, no qual 30% de sua receita advinda do repasse pelo ICMS Ecolgico . Em 2008, o valor deste repasse foi de R$ 3.146.859,66 (trs milhes, cento e quarenta e seis mil oitocentos e cinquenta e nove reais e sessenta e seis centavos), tendo em vista que, neste Municpio, abriga-se parte do Parque Nacional da Ilha Grande, uma Unidade de Conservao de 78.875 hectares, criada pelo IBAMA em 1997, que protege stios arqueolgicos e j foi habitada por ndios guaranis e xets.

Com os recursos recebidos, a Prefeitura implantou programas de coleta seletiva, educao ambiental, equipou as escolas com infraestrutura de informtica e sistemas de captao de gua de chuva, construiu um hospital capacitado para cirurgias de alta complexidade, um laboratrio que realiza mais de dois exames ao ms e um parque industrial que abriga quinze empresas e gerou cerca de mil empregos nos ltimos anos.

8.2 TCFA (Taxa de Controle e Fiscalizao Ambiental)

Nos termos da Constituio Federal de 1988, taxa uma modalidade de tributo, cujo fato gerador est vinculado a uma atividade estatal. Esta atividade, por sua vez, poder consistir no exerccio do chamado poder de polcia ou na ou na utilizao, efetiva ou potencial, de servio pblico especfico e divisvel, prestado ao contribuinte ou posto sua disposio

Mais recentemente, com a promulgao da Lei 10.165/2010, surge a TCFA Taxa de Controle e Fiscalizao Ambiental cujo fato gerador o exerccio regular do poder de polcia conferido ao Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renovveis (IBAMA) para controle e fiscalizao das atividades potencialmente poluidoras de recursos naturais.

Apesar de haver muitas discusses com relao sua constitucionalidade, importante dizer que, de acordo com o acrdo proferido nos autos do RE 416.601/DF, da Relatoria do Ministro Carlos Velloso, pelo Supremo Tribunal Federal, alm da TCFA ser considerada constitucional, tambm dado enfoque importante com relao legitimidade ativa do IBAMA e seus tcnicos ambientais, no que tange lavratura de Autos de Infrao e instaurao de Processos Administrativos com o escopo de cobrar tal tributo.

Neste mesmo acrdo, se manifestou o Min. Joaquim Barbosa, entendendo que o IBAMA rgo competente para a cobrana da Taxa de Controle e Fiscalizao Ambiental, in verbis:

A competncia para a guarda e conservao do meio ambiente comum a todos os membros da Federao (art. 23, VI e VII, da Constituio). Ora, como o IBAMA rgo inerente da Unio, no h impedimento constitucional para que a entidade, ao desempenhar regularmente as respectivas funes legais pertinentes proteo ao meio ambiente, tambm seja a destinatria parafiscal do tributo que cobrado justamente com base em tal poder de polcia.

Sendo assim, e por ser matria de cunho especialmente constitucional, o Superior Tribunal de Justia, quando trata a respeito da legitimidade do IBAMA, apenas o faz quanto existncia de normas legais, conforme depreendemos do julgamento dos Embargos de Declarao em Agravo Regimental no Agravo de Instrumento n 1419767/MG, assim ementado:

AMBIENTAL. EMBARGOS DE DECLARAO EM AGRAVO REGIMENTAL EM AGRAVO. TAXA DE CONTROLE E FISCALIZAO AMBIENTAL TCFA. FISCALIZAO. IBAMA. COMPETNCIA. AUSNCIA DE OMISSO.

1. Trata-se, na origem, de Mandado de Segurana com o escopo de debater a cobrana da Taxa de Controle e Fiscalizao Ambiental (TCFA). 2. A atividade fiscalizatria desempenhada pelo IBAMA autorizada pela Lei 10.165/2000, o que legitima a cobrana da Taxa de Controle e Fiscalizao Ambiental. H precedentes no STJ que aplicam o entendimento aos revendedores de combustveis ()

Portanto, sob o ponto de vista legal, o Superior Tribunal de Justia considera vlida a aplicao da TCFA.8.3 Imposto Territorial RuralConforme depreendemos da leitura da Lei n 8.171/91, que dispe sobre a poltica agrcola, um de seus maiores objetivos a proteo ao meio ambiente, garantindo seu uso racional e estimulando a recuperao dos recursos naturais (art. 3, IV e art. 4, IV). Antes de analisarmos a questo referente ao Imposto Territorial Rural, mister se faz ressaltar a importncia do artigo 103 da supracitada Lei, tendo em vista que trata sobre os incentivos especiais concedidos aos proprietrios rurais, conforme as disposies, in verbis:

Art. 103. O Poder Pblico, atravs dos rgos competentes, conceder incentivos especiais ao proprietrio rural que:

I - preservar e conservar a cobertura florestal nativa existente na propriedade; II - recuperar com espcies nativas ou ecologicamente adaptadas as reas j devastadas de sua propriedade; III - sofrer limitao ou restrio no uso de recursos naturais existentes na sua propriedade, para fins de proteo dos ecossistemas, mediante ato do rgo competente, federal ou estadual.

Pargrafo nico. Para os efeitos desta lei, consideram-se incentivos:

I - a prioridade na obteno de apoio financeiro oficial, atravs da concesso de crdito rural e outros tipos de financiamentos, bem como a cobertura do seguro agrcola concedidos pelo Poder Pblico; II - a prioridade na concesso de benefcios associados a programas de infra-estrutura rural, notadamente de energizao, irrigao, armazenagem, telefonia e habitao; III - a preferncia na prestao de servios oficiais de assistncia tcnica e de fomento, atravs dos rgos competentes; IV - o fornecimento de mudas de espcies nativas e/ou ecologicamente adaptadas produzidas com a finalidade de recompor a cobertura florestal; e V - o apoio tcnico-educativo no desenvolvimento de projetos de preservao, conservao e recuperao ambiental..

Em seguida, tal Lei faz meno a um grande incentivo tributrio que a iseno do Imposto Territorial Rural para reas dos imveis rurais consideradas de preservao permanente e de reserva legal, de interesse ecolgico para a proteo dos ecossistemas, como por exemplo, as APPs (reas de Preservao Ambiental).

As reas de Preservao Permanente encontram-se relacionadas no artigo 2 e no artigo 3 do Cdigo Florestal (Lei n 4.771 /65). As do artigo 2 so destinadas basicamente proteo das guas e do solo. Desta forma, apenas e to somente por se encontrarem na situao definida pela Lei j so tidas como sendo reas de Preservao Permanente.

Importante ressaltar, ainda, que a Lei 9.393/96, que dispe sobre o ITR, dispe, em seu artigo 10, 1, inciso II, que todos imveis rurais sero tributados, exceto as reas (a) de preservao permanente e de reserva legal, previstas na Lei n 12.651, de 25 de maio de 2012; (b) de interesse ecolgico para a proteo dos ecossistemas, assim declaradas mediante ato do rgo competente, federal ou estadual, e que ampliem as restries de uso previstas na alnea anterior; (c) comprovadamente imprestveis para qualquer explorao agrcola, pecuria, granjeira, aqucola ou florestal, declaradas de interesse ecolgico mediante ato do rgo competente, federal ou estadual; (d) sob regime de servido florestal ou ambiental; e (e) cobertas por florestas nativas, primrias ou secundrias em estgio mdio ou avanado de regenerao.

Isto posto, uma vez que o proprietrio no ter condies de se utilizar livremente de tais reas, o legislador considerou isent-las da incidncia do Imposto Territorial Rural (ITR) tanto para no oner-lo mais, assim como para ser efetivamente possvel melhor proteger os recursos ambientais l existentes.8.4 IPTU Progressivo no TempoA Constituio Federal de 1988 trouxe um novo conceito de propriedade, a partir da promulgao da Emenda Constitucional n 29/2000, em que este direito deixa de ser absoluto para, obrigatoriamente, cumprir sua funo social. Neste diapaso, surgiu a necessidade de criao de instrumentos para a sua realizao, entre eles, o IPTU progressivo no tempo cujo fato gerador a propriedade, o domnio til ou a posse de bem imvel, e que o seu contribuinte o proprietrio do imvel, o titular do seu domnio til ou o seu possuidor (conforme os artigos 32 e 34 do Cdigo Tributrio Nacional) previsto no artigo 182, 4, II, da CF e consolidado atravs advento do chamado Estatuto da Cidade ou Lei do Meio Ambiente Artificial (Lei n 10.257/2001), que trouxe em seu bojo a regulamentao de instrumentos de uso dos Municpios.

O artigo supracitado cristalino ao dispor que a propriedade urbana deve cumprir sua funo social, atendendo s exigncias fundamentais de ordenao da cidade, impostas atravs do Plano Diretor respectivo. Desta forma, se as propriedades urbanas no cumprirem a funo social exigida, seus proprietrios estaro sujeitos a algumas aes governamentais, entre elas, a incidncia do IPTU progressivo no tempo, como instrumento coator para que a referida funo social seja cumprida.A finalidade deste instrumento extrapola os limites da mera fiscalidade sua aplicabilidade mais ampla, podendo trazer muitos benefcios ao meio urbano, como (i) o reordenamento e requalificao do uso e ocupao do solo; (ii) a reduo da carncia de terras; (iii) o combate especulao imobiliria; (iv) investimentos em projetos de moradias e reduo dos gastos pblicos com implementao de infra-estrutura tcnica e social etc.A supracitada Lei n 10.257/2001 trouxe o conceito de funo social da propriedade urbana em seu artigo 39, dispondo que a propriedade urbana a cumprir quando do atendimento de exigncias fundamentais de ordenao da cidade acima citadas, de forma a assegurar o atendimento das necessidades dos cidados quanto qualidade de vida, justia social e ao desenvolvimento das atividades econmicas. Entretanto, o Estatuto da Cidade condede apenas diretrizes gerais a serem seguidas por cada Municpio em virtude da especificidade das mesmas e isso dever ser feito atravs da promulgao um plano diretor,que abranger a zona urbana total e que ser revisado, pelo menos, a cada 10 (dez) anos.Esta espcie de progressividade, atrativa aos Municpios em virtude do peso de sua arrecadao, tendo em vista que sua alquota poder chegar at 15% sobre o valor venal do imvel, conforme o caso.

A utilizao do IPTU progressivo no tempo deve obedecer ao disposto no artigo 7 e artigo 41, III, do Estatuto da Cidade, dependendo da existncia prvia de um plano diretor e da notificao do proprietrio de solo urbano no edificado, subutilizado ou no utilizado, sem que o mesmo tenha atendido s condies e aos prazos especificados na notificao .

Passados os prazos estipulados na notificao, que ser de um ano para apresentao do projeto de utilizao do imvel e de dois para se iniciar a sua execuo, sem que o proprietrio tenha atendido s condies nele previstas, o Municpio proceder aplicao do IPTU progressivo no tempo mediante a majorao da alquota pelo prazo de cinco anos consecutivos. Contudo, o valor da alquota a ser cobrado no fica a critrio da discricionariedade do administrador, mas dever estar nitidamente prevista em lei especfica, haja vista que tais atos administrativos no detm carter discricionrio, no podendo exceder a duas vezes o valor referente ao ano anterior, respeitada a alquota mxima de quinze por cento e, se passados cinco anos desde o incio da cobrana do IPTU progressivo no tempo sem que o proprietrio atenda funo social do solo urbano, o Municpio manter a cobrana deste tributo em sua alquota mxima at que se cumpra a referida obrigao .

plenamente justificvel a necessidade de uma lei que preveja as alquotas do IPTU progressivo no tempo a serem cobradas, afinal, o artigo 97, IV, do Cdigo Tributrio Nacional estipula que apenas a lei pode estabelecer a fixao de alquota do tributo, pois, se a fixao das alquotas ficasse a critrio do administrador, seria hiptese inegvel de ilegalidade e abuso de poder.Importante ressaltar, ainda, a existncia do IPTU Verde, poltica pblica municipal criada em dezembro de 2010 com entrada em vigor em janeiro de 2011 , existente no municpio de Guarulhos, que consiste na concesso de benefcio de 3% a 20% do imposto aos proprietrios tiverem, em suas casas, acessibilidade nas caladas, rvores plantadas, reas com gramados ou jardins, energia solar, sistema de reuso de gua da chuva, entre outros recursos. Para fins de elucidao quanto aos benefcios trazidos atravs de tal prtica, foi feito um estudo no qual foi constatada a existncia de 46 mil contribuintes, em 2010, que estavam isentos de IPTU na regio, sendo certo de que este nmero aumentar drasticamente nos prximos anos, pois, de acordo com um rgo deste municpio, a misso da Prefeitura criar um meio ambiente sustentvel e elaborar uma poltica ambiental do municpio, em conjunto com diversas secretarias e rgos da administrao municipal..

Cada medida ambiental implantada e mantida garante ao proprietrio do imvel desconto de IPTU durante cinco anos consecutivos, perodo no qual o benefcio cessa aps decorrido o prazo. Para obteno inicial dos descontos necessrio comprovao de duas ou mais medidas implantadas na propriedade, e o pedido deve ser protocolado a cada 3 (trs) anos, no rgo competente. Existe tambm a iseno de IPTU para as reas de preservao permanente (APPs), que so reas protegidas cobertas ou no por vegetao nativa com a funo de preservar recursos hdricos e a biodiversidade, entre outras coisas. Se a rea for totalmente preservada o desconto pode chegar a 100%. 9 Jurisprudncias e Anlise CrticaCom base em todos nos tributos ambientais acima expostos, separamos algumas jurisprudncias que demonstram os entendimentos dos tribunais ptrios acerca de sua utilizao, bem como os conflitos que se desenvolveram a partir da efetivao deste ramo do direito, que se encontra em evoluo.CONSTITUCIONAL. REPASSE DA VERBA AO ICMS ECOLOGICO. VERBA DESTINADA PRESERVAAO AMBIENTAL. PARQUE NACIONAL DO IGUAU.

1. A sustao do repasse da verba do ICMS ecolgico o objeto da Ao Civil Pblica como forma de coadjuvar na preservao do meio ambiente. Os Municpios envolvidos, aps inicial resistncia, parece que compreendem a importncia do Parque e motivam-se com projetos preservacionistas. 2. Por outro lado, a repartio das receitas tributrias, entre elas a referente ao ICMS Ecolgico, de dignidade constitucional, envolvendo competncia de Estado-membro, fato que aconselha o aguardo do julgamento da Ao Civil Pblica, pois a tese desenvolvida, por ora, no se apresenta suficientemente firme em sua relevncia jurdica.3. Agravo improvido.

(TRF4, Agravo de Instrumento n 199804010538851, Terceira Turma, Rel. Marga Inge Barth Tessler. DJU 24.10.2001 grifo nosso)

Ao de Indenizao movida pela Prefeitura Municipal de llhabela contra a Fazenda Estadual objetivando reparao de prejuzos que afirma causados ao Municpio com a criao do Parque Estadual de llhabela (Decreto est. n 9.414/77). Ausncia de interesse processual, por ser limitao ao direito de uso de propriedade pelo particular e tambm pelo Municpio, visando preservao de rea ambiental, sem transferncia da propriedade dos imveis ali abrangidos para o Estado de So Paulo, tampouco rea pertencente ao apelante. No mais, j h compensao financeira ao Municpio com o repasse do "ICMS ecolgico" (Lei est. n 8.510/93 que deu nova redao ao artigo 1o da Lei est. n 3.201/81), e a diminuio na arrecadao do IPTU seria prejuzo lcito e conforme ao direito, porqua