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Medicina Interna HOJE • 1 MEDICINA INTERNA Janeiro de 2007 | Ano II | Nº 3 Trimestral Hoje SPMI quer Sistema de Cuidados Integrados de AVC Manuel Delgado, Presidente da APAH Internista deve ser pivot dentro do hospital Há lacunas na reestruturação da Rede de Urgências

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Medicina Interna HOJE • 1

MEDICINAINTERNAJaneiro de 2007 | Ano II | Nº 3Trimestral

Hoje

SPMI quer Sistema de Cuidados Integrados de AVC

Manuel Delgado, Presidente da APAH

Internista deve ser pivot dentro do hospital

Há lacunas na reestruturação da Rede de Urgências

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2• Medicina Interna HOJE

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Medicina Interna HOJE • 3

MEDICINAINTERNA Hoje

4 Doença Vascular CerebralSistema de Cuidados Integrados de AVC Durante o 7.º Simpósio de Doença Vascular

Cerebral, a SPMI defendeu criação de um

Sistema de Cuidados Integrados de AVC, a

primeira causa de morte em Portugal, com 17%

do total de óbitos no País, o que constitui a taxa

mais elevada dos países europeus.

12 SPMI preocupada com lacunas da proposta ofi cialReestruturação da Rede de Urgências esquece aspectos essenciais“A Medicina Interna deve continuar a ser o mo-

tor e o suporte essencial da urgência hospitalar”,

defendeu a direcção da Sociedade Portuguesa

de Medicina Interna (SPMI) em carta enviada

ao ministro da Saúde, no âmbito da discussão

pública da Proposta de Rede de Urgências.

20 EntrevistaInternista deve ser pivot dentro do hospitalO especialista de Medicina Interna deve assumir-

-se como um pivot em cada unidade de Saúde,

articulando os conhecimentos das especialidades

médicas. Quem o diz é Manuel Delgado, presi-

dente da Associação Portuguesa dos Adminis-

tradores Hospitalares. Em entrevista à Medicina

Interna Hoje, o gestor hospitalar defende a

criação de mais incentivos à Medicina Interna.

Janeiro de 2007 | Ano I1 | Nº 3 | Trimestral

Determinação renovadaAnuncia-se, para este ano de 2007, profundas alterações na Sociedade Portu-guesa, nomeadamente na área da Saúde.A Medicina Interna está preparada para enfrentar os desafi os que se adivinham e assumir o papel de charneira que dela se esperadentro e fora dos hospitais.Numa altura que se perspectivam grandes modifi cações na forma de organizar a prestação de cuidados de Saúde no país e em que por vezes se tem a sensação de vertigem e de “desnorte”, a Medicina Interna assume uma tarefa primordial de garante da manutenção do essencial no nosso Sistema de Saúde – a aten-ção global ao doente e elevados níveis de qualidade assistencial nos nossos hospitais – e em simultâneo estará presente e contribuirá positivamente para as mudanças necessárias e inevitáveis, quer a nível da organização hospitalar, quer nas urgências, quer na integração dos cuidados de proximidade com os cuidados hospitalares, bem como na defi nição da rede de cuidados continua-dos e paliativos, e ainda na defi nição das novas tipologias para os futuros Hospi-tais. No que diz respeito à formação médica, o novo regulamento do internato médico coloca a todos os clínicos e futuros especialistas importantes desafi os que a Medicina Interna irá assumir positivamente.A Medicina Interna, especialidade pivot, como é defi nida pelo nosso entrevista-do nesta edição, Dr. Manuel Delgado, irá continuar a trabalhar com todas as es-pecialidades, em especial com a Medicina Geral e Familiar para a renovação do SNS e a melhoria sustentada da qualidade da nossa assistência médica, numa situação de crescente carência de recursos humanos e económicos.Estamos, pois, convictos que 2007 será um ano em que a Medicina Interna por-tuguesa dará mais alguns signifi cativos passos para a afi rmação da sua impres-cindibilidade. O Congresso Europeu que estamos a organizar e que decorrerá em Lisboa, no fi nal de Maio, será certamente um ponto alto deste percurso.

Faustino Ferreira

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4• Medicina Interna HOJE

O Núcleo de Estudos da Doença Vas-cular Cerebral da Sociedade Portu-guesa de Medicina Interna (SPMI) promoveu, dias 24 e 25 de Novembro, no Hotel Méridien, no Porto, o 7.º Sim-pósio de Doença Vascular Cerebral.A reunião juntou especialistas nacio-nais e estrangeiros nas áreas de Medi-cina Interna, Neurologia, Cardiologia, Medicina Familiar, Fisiatria, Cirurgia Vascular, Imuno-hemoterapia, Genéti-ca, e Nutrição.Entre os objectivos do simpósio este-ve o de conjugar esforços para a cria-ção, em Portugal, de um «Sistema de Cuidados Integrados» no AVC. Este sistema, obedecendo a um conceito internacional com menos de uma dé-cada, assenta na noção de que o com-

bate eficaz à doença vascular cerebral passa pela integração e articulação en-tre profissionais de todos os níveis dos cuidados de saúde, da prevenção ao diagnóstico e tratamento.Um dos estudos apresentados neste simpósio, analisou os casos portugue-ses de trombólise. Este trabalho, fe-chado em Outubro deste ano, analisou a eficácia de um tratamento que é ca-paz, em casos específicos, de reverter os feitos de um AVC, se aplicado nas primeiras horas de manifestação dos sintomas. O AVC é a primeira causa de morte em Portugal, com 17% do to-tal de óbitos no País, o que constitui a taxa mais elevada dos países europeus, de acordo com os dados da Organiza-ção Mundial de Saúde, divulgados este

ano, pelo que se torna determinante que os cidadãos saibam identificar os sintomas, para poderem agir com a ra-pidez que um AVC exige.

Grande participação

Este simpósio contou com a presença de médicos de várias especialidades, enfermeiros e assistentes sociais, num total de 170 participantes.Esta adesão esteve relacionada não só com a importância do tema tratado e suas repercussões sociais mas tam-bém com a abordagem multidiscipli-nar efectuada ao AVC, com o debate e confronto de opiniões em temas não consensuais e com a forma prática e interactiva com que decorreram as me-

SPMI defende criação de Sistema de Cuidados Integrados de AVC em Portugal

7.º Simpósio de Doença Vascular Cerebral

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O AVC é a primeira causa de morte em Portugal, com 17% do total de óbitos no País, o que constitui a taxa mais elevada dos países europeus.

sas redondas e as discussões de casos clínicos. Acima de tudo este Simpósio pretendeu estimular a investiga-ção clínica nesta área e a apresentação de trabalhos dela decorrente com ela relacionados.Neste encontro, concluiu-se que o principal desafio no tratamento do AVC agudo é o tempo. Tempo é cérebro. Por isso, foi realçado como é importante a chegada do doente ao hospital dentro da janela terapêutica de trom-bólise , que corresponde a três horas. No entanto, ape-nas uma pequena percentagem de doentes pode benefi-ciar deste tratamento, face a critérios de exclusão muito rigorosos. O doente vascular cerebral, mesmo que não possa beneficiar de trombólise na fase aguda, irá obter dos cuidados médicos imediatos num hospital e de pre-ferência numa Unidade de AVC, as melhores condições para uma evolução favorável, com correcção de todos os factores agravantes que possam coexistir nesta fase e que condicionam um mau prognóstico. A educação da população no sentido de aprender a reconhecer os primeiros sintomas de doença vascular cerebral e da ur-gência em colocar o doente num hospital, de forma a poder usufruir de todas as possibilidades terapêuticas, nomeadamente de trombólise nas primeiras três horas, foi definida como uma prioridade uma prioridade, a par da prevenção dos factores de risco vascular. O seu controlo é determinante na prevenção do AVC. Por esta prevenção passa uma consciencialização da po-pulação de que a hipertensão arterial aumenta cinco a dez vezes o risco de AVC e de que a obesidade, a diabe-tes, a dislipidemia ou o tabagismo duplicam o risco de AVC, e de que a associação destes factores aumenta de forma exponencial o risco vascular.

Governo abre quatro mil vagas para cuidados continuados até 2010O secretário de Estado da Segurança Social revelou,

no início de Dezembro, que nos próximos três anos

devem ser abertas 4 mil vagas para pessoas que

necessitam de cuidados especiais, apesar de a rede

só estar concluída em 2016, com 12 mil vagas.

Pedro Marques fez o anúncio em Faro, durante a

assinatura de acordos entre o Estado e as misericór-

dias de Estombar, Portimão e Silves, que permitirão

a concretização de experiências piloto de cuidados

continuados. O representante do executivo revelou

ainda que o Estado vai disponibilizar cerca de 60

milhões de euros para aquela rede em 2007, acres-

centando que “nos próximos três anos teremos um

terço das necessidades do País cobertas”, disse aos

jornalistas, à margem da cerimónia que se realizou no

Governo Civil de Faro, também com a participação

da secretária de Estado da Saúde, Cármen Pignatelli.

De acordo com a agência Lusa, Pedro Marques

adiantou que o programa acordado entre os minis-

térios da Segurança Social e da Saúde prevê quatro

fases para a cobertura da rede a nível nacional.

A rede, cujos projectos-piloto começaram a arrancar

no final de 2006, prevê a abertura de vagas em

instituições privadas de solidariedade social (IPSS) e

misericórdias para utentes acamados de média e lon-

ga duração, tanto idosos como doentes a necessitar

de cuidados continuados.

Cada um dos utentes tem um custo mensal de

referência de 800 euros, mas o preço a pagar à insti-

tuição de acolhimento é proporcional ao rendimento

auferido, com um máximo de 80 por cento do total

desse rendimento.

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6• Medicina Interna HOJE

A internacionalização da SPMI na defesa da Medicina Interna Europeia

Como pudémos constatar pela leitura da colectânea de textos que foi recentemen-te editada pela Sociedade Portuguesa de Medicina Interna (SPMI), no livro “Me-dicina do corpo, medicina do espírito”, as preocupações dos Internistas portugue-ses com o futuro da sua especialidade são pelo menos tão antigas, quanto os 50 anos de história desta Sociedade.Contudo, essa mesma história, revela-nos que o olhar com que a Medicina Interna Portuguesa foi assistindo ao nas-cimento das várias sub-especialidades, que sucessivamente lhe foram retirando doentes, técnicas, mercado e sonhos, foi ao longo dos anos um olhar sobranceiro, de orgulho nas suas capacidades inequí-vocas de excelência clínica e dedicação persistente, que lhe motivavam a certeza de ser insubstituível no nosso sistema de Saúde.Mas Portugal foi mudando, primeiro com a Democracia e depois com a aber-tura à Europa, todos fomos tomando consciência de que já não estávamos sós, e sentindo necessidade de participar ac-tivamente numa construção Europeia, de que necessariamente a Medicina Interna também faria parte.A participação continuada do Dr. Fausti-no Ferreira nas reuniões da EFIM (Fe-deração Europeia de Medicina Interna) e da UEMS (União Europeia dos Especia-

listas Médicos) a partir de 1992 e a minha própria e de outros colegas portugueses, nas da EFIM, desde 2000, revelaram-nos contudo uma realidade diferente daquela que esperávamos encontrar.Nos países do norte da Europa, a cria-ção do tronco comum que em três anos dá o título de Internista, mas que dá acesso em mais dois anos de internato a qualquer sub-especialidade médica, tinha originado que por aquelas para-gens existissem milhares de Internistas que se orgulhavam de ser... outra coisa qualquer, excepto quando se intitulavam Internistas... nas reuniões da EFIM. Além disso, também ainda havia fatias da nossa actividade por retirar. Só em Portugal e na Grécia ainda não tinha sido criada a especialidade de Geriatria, que potencialmente nos subtrai a maio-ria dos nossos actuais doentes. E as mais recentes lógicas de gestão já tinham pro-piciado o aparecimento dos especialistas de Urgência um pouco por todo o lado. Ou seja, exceptuando os países Medi-terrânicos, onde a realidade ainda era semelhante à nossa, na restante Europa a Medicina Interna, como especialidade autónoma, estava em extinção. Com al-guma angústia dos próprios é certo, mas em extinção.E os factos comprovavam-no. Os Con-gressos da EFIM não despertavam o

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Secretário-Geral da SPMI

António Martins Baptista

interesse da Indústria Farmacêutica e mesmo em termos de participantes, dos pouco mais de mil, quatrocentos eram portugueses, outros tantos espanhóis e menos do que isso de todas as outras na-cionalidades. Se a esta visão juntarmos que estes restantes eram predominan-temente franceses, italianos, gregos e turcos, temos a noção do paupérrimo ní-vel de participação dos países do Norte nestes eventos. No Congresso da EFIM, em Berlim, dos oito mil associados da Sociedade Alemã de Medicina Interna (a maior da Europa), estavam presentes cerca de cinquenta. Marcantes neste nosso processo de tomada de consci-ência foram a extinção da especialidade de Medicina Interna na Dinamarca e na Alemanha, a primeira por decisão gover-namental e a segunda por decisão dos próprios médicos em plenário. Ou seja a pátria do conceito da Medicina Interna acabava de o extinguir.Percebemos, então, que a SPMI tinha de estar no pelotão da frente dos orgãos de decisão da Medicina Interna Europeia.Em 2002, no início da presidência do Prof. Dr. Fernando Santos, a direcção da SPMI decidiu incrementar o esforço de internacionalização das suas actividades. As premissas que basearam esta decisão não foram apenas o aumento da visibili-dade da Medicina Interna Portuguesa, embora este objectivo por si só o justifi-casse, mas principalmente a perspectiva de influenciar a própria sobrevivência da Medicina Interna Europeia.Ficou então decidido, pela Direcção da SPMI da altura, tentar conseguir a orga-nização de um Congresso Europeu e a colocação de um português na Comis-são Executiva (centro das decisões) da EFIM.

O primeiro objectivo foi conseguido à primeira tentativa, ainda em 2003, quando apresentámos a candidatura à organização do 6th Congress of EFIM, em 2007, em Lisboa, contra Barcelona, Atenas e Istambul.O segundo foi mais demorado e traba-lhoso.Entretando, em 2005, com a desistência pelo Prof. Dr. Jaime Merino da organi-zação da ESIM (Escola Europeia de Medicina Interna) em Alicante, candi-datámo-nos à organização da mesma contra Cambridge, Berna, Roma, Ate-nas e Istambul, voltando a conseguir, à primeira tentativa, trazer por dois anos, para Portugal, um dos mais importantes eventos Europeus da Medicina Interna. A primeira ESIM de Sintra decorreu já em final de Agosto passado, com apre-ciável agrado dos participantes e das Sociedades Europeias de Medicina In-terna que custearam a organização (ver www.esim.spmi.pt). Mas continuávamos a não ter ninguém no centro de decisão da Medicina Interna Europeia, com a agravante de os três médicos latinos que dominavam a Federação estarem de saída (Sereni, França; Merino, Espanha; e Malliani, Itália), ficando a mesma do-minada por médicos do Norte. Em Se-tembro último, na reunião em Katowice, Polónia, e à terceira tentativa, consegui-mos finalmente a eleição do Dr. Fausti-no Ferreira para o Conselho Executivo da EFIM (tesoureiro), conseguindo o pleno da nossa estratégia de internacio-nalização delineada há quatro anos.Além disso, fomos percebendo, ao lon-go deste processo, que tínhamos um aliado de peso em todas e cada uma das iniciativas que íamos tomando – a Espanha. Arredada há alguns anos des-

tas andanças, por vicissitudes internas, apanhou a nossa boleia e à medida que ia tendo mais protagonismo, ia-nos aju-dando nos nossos objectivos. Promove-mos já duas reuniões oficiais entre as duas sociedades, a primeira no nosso último Congresso Nacional, no Porto e a segunda em Salamanca, no Congres-so Espanhol de Medicina Interna, onde ficaram decididas várias formas de cola-boração, incluindo um Congresso Ibéri-co de dois em dois anos (o primeiro será em Vilamoura, em 2008). Cada vez mais sentimos que temos o objectivo comum de revitalizar e prestigiar a Medicina Interna na Península Ibérica, para que depois a possamos exportar para o resto da Europa.Sabemos que proporcionamos aos doen-tes uma Medicina de maior qualidade e a mais baixo custo do que os cuidados baseados apenas em sub-especialidades médicas. E estamos a trabalhar em ins-trumentos de análise clínica e económi-ca que provem aos decisores das políti-cas de Saúde esta nossa certeza.Numa altura em que os EUA fazem sair em revistas médicas uma plêiade de arti-gos sobre a necessidade de revitalizar a sua Medicina Interna moribunda, pode ser que os esforços dos países latinos convençam uma Europa seguidista, de que ainda vai a tempo de não cometer o mesmo erro. Mas para este esforço ser eficaz é necessário que os Internistas do sul (e por maioria de razão os portugue-ses) tomem consciência de que é altura de sair do imobilismo habitual e discutir activamente uma série de medidas que é urgente tomar em futuro próximo. Se não o fizermos, todo este sucesso de in-ternacionalização da SPMI não terá ne-nhuma utilidade.

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O Governo pretende criar uma boa rede de informação para que os clínicos te-nham conhecimento da situação clínica dos doentes e os possam encaminhar melhor, aumentando a acessibilidade aos serviços mais adequados, adiantou o ministro da Saúde, no 1.º Forum Nacio-nal Sobre o Doente Crónico, realizado a 11 de Dezembro, em Lisboa.Além da baixa dos preços dos medica-mentos antigos por parte da Indústria Farmacêutica, que também defendeu neste encontro, e da criação de um siste-ma de informação, que considerou fun-damental, Correia de Campos fez outras recomendações, que serviriam, nomea-damente, para minorar os efeitos nega-tivos das doenças crónicas, nos próprios doentes e no Sistema Nacional de Saúde.A propósito, Correia de Campos lem-brou alguns projectos em curso, tais como a reorganização dos cuidados pri-

O ministro da Saúde, Correia de

Campos adiantou, na sessão de

abertura do 1.º Fórum Nacional

Sobre o Doente Crónico, que, todos

os anos, 80 por cento das consultas

hospitalares são “consultas repetidas,

muitas das quais a doentes crónicos”.

1.º Fórum Nacional sobre o Doente Crónico

Correia de Camposquer rede de informação

mários, através das Unidades de Saúde Familiares. “Se nós não vencermos a ba-talha das Unidades de Saúde Familiares perdemos provavelmente a última opor-tunidade de reformar os nossos serviços de saúde primários” acrescentou.O ministro realçou ainda a importância dos Cuidados Continuados a Idosos di-zendo que “se não fizermos mais nada no Ministério da Saúde, mas fizermos só isto, teremos feito muito”.

Mais de três milhõessem resposta adequada

Quase quatro em cada dez portugueses sofrem de pelo menos uma doença cró-nica e apesar de o número de pacientes estar a crescer, a organização dos ser-viços de Saúde não está preparada para lhes dar resposta, alertou Luís Campos,

representante da Sociedade Portuguesa de Medicina Interna (SPMI), neste Fó-rum Nacional sobre o Doente Crónico.Para Luís Campos, director do serviço de Medicina IV do Hospital S. Francisco Xa-vier, em Lisboa, “o peso que os doentes crónicos têm nas urgências hospitalares ilustra a falta de capacidade dos serviços de Saúde para gerirem o tratamento des-tes pacientes, sendo apenas capazes de responder em episódios e não de uma forma contínua”.No Hospital S. Francisco Xavier, “um es-tudo realizado em 2004 demonstrou que dos doentes que recorrem à urgência mais do que quatro vezes por ano (1.792 pessoas), 72 por cento são admitidos por agudização de doenças crónicas”, por-menorizou Luís Campos.Organizado por quatro entidades, SPMI, Associação Portuguesa de Administra-dores Hospitalares (APAH), Associação

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As Doenças Autoimunes e Sistema Nervoso vão ser os temas centrais da 5.ª Reunião Anual Medinterna, que terá lugar de 25 a 27 de Janeiro de 2007 na Fundação Cupertino de Miranda, no Porto.Este encontro, presidido por Carlos Dias, presidente da Sociedade Portu-guesa de Medicina Interna (SPMI) e da Associação Medinterna, vai con-tar com a presença de especialistas nacionais e internacionais de reco-nhecido mérito científico. Entre os convidados estrangeiros, o destaque vai para Yehuda Shoenfeld (Telavive, Israel), Hans Lassmann (Viena, Áustria), David D’Cruz (Londres, Inglaterra), Munther Kha-mashta (Londres, Inglaterra), Pame-la Peterson (Londres, Inglaterra), Britta Engelhardt (Berna, Suíça), Emílio Casariego (Lugo, Espanha), Xavier Montálban (Barcelona, Es-panha), e Ricardo Fernández Rodri-guez (Lugo, Espanha). Durante a cerimónia de abertura, dia 25 de Janeiro, será homenageado o

ex-presidente da SPMI, Carlos Soa-res de Sousa. Merece também destaque a Ses-são Teórico-Prática que decorrerá dia 27, das 9h às 13h, durante a qual internos de Medicina Interna vão apresentar casos clínicos previamen-te seleccionados e que serão alvo de discussão, seguida de comentário por um grupo de especialistas. As inscrições poderão ser realizadas através dos sites www.acropole-ser-vicos.pt (item “Agenda”) e www.reu-niao-medinterna.com.A Associação Medinterna foi criada em 2001 por um grupo de internis-tas do Hospital de São João do Porto, com o objectivo principal de promo-ver a Medicina Interna e o apoio à formação pós-graduada de internos complementares. Anualmente organiza uma reunião científica mono-temática sobre Doen-ças Autoimunes, com a colaboração dos maiores especialistas nacionais nesta área e de personalidades estran-geiras reconhecidas.

5.ª Reunião Anual MedinternaDoenças Autoimunes e Sistema Nervoso em debate no Porto

Portuguesa de Médicos de Clínica Geral (APMCG) e pelo laboratório farmacêutico Schering Plough - o encontro contou ainda com a participação da Associação Nacional de Espondilite Anquilosante, uma associa-ção de doentes.A melhoria do tratamento dos doentes cróni-cos passa por, segundo Luís Campos, tratar estes pacientes “de uma forma integrada, centrando os cuidados em cada doente”, ou seja, passar de hospitais divididos em espe-cialidades para equipas multidisciplinares.“A educação do doente e o aumento a sua capacidade de auto-cuidado e de adesão à medicação, é outro elemento importante”, defendeu Luís Campos, salientando que “é mais económico formar o doente do que dar o medicamento maravilhoso”.O peso financeiro crescente que o tratamen-to das doenças crónicas tem nos sistemas de saúde foi outra questão em discussão no encontro, tendo Manuel Delgado, presi-dente da APAH, acentuado que os hospitais “têm de ser incentivados” a mudar de uma dedicação total ao doente agudo para aten-der também às necessidades dos pacientes crónicos.Para o responsável da APAH, o incentivo às unidades passa por alterar a forma de finan-ciamento – através do pagamento por actos praticados - para um pagamento que tenha em conta o atendimento geral de um doente, e por uma articulação diferente entre hos-pitais e centros de saúde, que “integre os cuidados à volta do doente em vez de o pôr a circular” de uns serviços para outros.

Quase quatro em cada dez portugueses sofrem de pelo menos uma doença crónica e apesar de o número de pacientes estar a crescer, a organização dos serviços de Saúde não está preparada para lhes dar resposta.

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O Núcleo de Internos de Medicina Interna (NIMI), da Sociedade Portuguesa de Medicina Interna (SPMI) rea-lizou, dia 18 de Novembro, no Porto, um curso de forma-ção sobre «Como Redigir um Artigo Médico»,A iniciativa, dirigida a médicos da especialidade de Medicina Interna em formação, abordou temas relacio-nados com a metodologia científica e a publicação de artigos em revistas médicas e científicas, nacionais ou internacionais.A publicação de artigos em revistas médicas de trabalhos de investigação científica é uma componente fundamen-tal da formação curricular de um médico interno. Com esta acção, procurou-se transmitir aos jovens médicos as regras metodológicas essenciais para o sucesso na aceita-ção de um trabalho para publicação.O curso foi orientado por Javier Rodriguez-Vera, Assis-tente Hospitalar de Medicina Interna do Centro Hospi-talar do Barlavento Algarvio, revisor de várias edições médicas.O curso «Como Redigir um Artigo Médico» marcou o iní-cio do ciclo «Cursos de Formação em Medicina Interna», organizado conjuntamente pelo NIMI e pela SPMI, tendo em vista complementar e enriquecer a formação dos espe-cialistas de Medicina Interna.

Formandos de Medicina Interna aprendem a escrever artigos científicos

O “Risco Cardiovascular” e a “Medicina Interna nos Hospitais Empresa” são dois dos temas principais a tra-tar nas 4.as Jornadas de Medicina Interna do Hospital Egas Moniz, dias 1 e 2 de Fevereiro de 2007, no Hotel Pestana Palace, em Lisboa.Este encontro, presidido pelos especialistas José Pi-menta da Graça e Alberto Mello e Silva, vai abordar ainda temas como o “Tromboembolismo: a Morte Si-lenciosa”, a “Hemorragia Digestiva”, ou a “Prática da Medicina”.O segundo dia vai ser reservado à discussão de “Estra-tégias para melhorar o Prognóstico dos Doentes com Pneumonia Nosocomial”, para além de serem tratados assuntos como a “Depressão, Ansiedade e Agitação no Doente com Patologia Médica”, ou as “Infecções Emer-gentes no Século XXI”.No final do último dia de trabalhos realiza-se ainda um Encontro de Enfermagem, em que vão ser abordadas as competências dos enfermeiros para lidar com a mor-te, e discutida a saúde dos cuidadores do doente idoso dependente.Em declarações à Medicina Interna Hoje, José Pimenta da Graça, um dos presidentes destas Jornadas adian-tou que “o principal objectivo deste encontro é o de ser um espaço de afirmação da qualidade dos Internistas do Hospital Egas Moniz, ao mostrar a sua actividade clínica e científica, e envolver os Internistas de outros hospitais nos problemas que enfrentamos e nos preo-cupam na nossa actividade clínica quotidiana da Medi-cina Interna.Outro desafio que enfrentamos é a apresentação de te-mas científicos que permitam uma actualização de co-nhecimentos que levem à participação dos Especialis-tas de Medicina Geral e Familiar dos Centros de Saúde, da área de influência do Centro Hospitalar de Lisboa Ocidental”.

4.as Jornadas de Medicina Interna do Hospital Egas Moniz

Internistas discutem papel da especialidade na abordagem a novas realidades

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A direcção da Sociedade Portuguesa de Medicina Interna (SPMI) entende que a proposta elaborada pela Comis-são Técnica de Apoio ao Processo de Requalificação das Urgências apresenta lacunas, das quais podem resultar erros graves. Numa carta enviada ao ministro da Saú-de, Correia de Campos, no âmbito da discussão pública da Proposta de Rede de Urgências, apresentada a 30 de Se-tembro, a SPMI lembra que, “nas últi-mas décadas, a Medicina Interna tem sido a placa giratória que assegura os Serviços de Urgência (SU)”, e que os internistas têm “uma responsabilidade particular e uma sensibilidade única para a discussão desta reestruturação”.

O documento alerta que os internistas, como principais executores da refor-ma das Urgências, vão ser também “os principais sacrificados, se deste proces-so não sair um melhor sistema”.

Máximos de serviço indefinidos

Para a SPMI, a proposta apresentada fica “aquém do necessário”, com vá-rios aspectos que “não foram tidos em conta na sua elaboração”. As principais falhas da proposta do Ministério da Saú-de assentam na “ausência de definição da actividade máxima aceitável para cada nível de Serviço de Urgência”, na “inexistência de um estudo de adequa-

ção dos recursos humanos existentes a esta nova realidade”, na “opção por capitações definidas para realidades de outros países, completamente distintas da portuguesa” e, por último, pela “fal-ta de definição da qualificação técnica do pessoal e sua quantificação para os diversos níveis de Serviço de Urgência previstos”.A SPMI teme que, “ao não estarem defi-nidos, em toda a proposta, os máximos e os mínimos previstos de afluência de doentes e respectivas dotações em ter-mos de pessoal”, se pode incorrer num retrocesso, em que, por exemplo, as unidades que asseguram as urgências da zona de Lisboa, podem voltar a trans-formar-se em “Hospitais de campanha”,

SPMI preocupada com lacunas da proposta oficial

Reestruturação da Rede de Urgências esquece aspectos essenciais

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“A Medicina Interna deve continuar a ser o motor e o suporte essencial da urgência

hospitalar”.

com uma afluência acima da capacidade de resposta, por força do encerramento de alguns dos pontos de atendimento actuais.A SPMI critica ainda o facto de a Comis-são que elaborou a proposta ter tomado como exemplo as realidades “de países onde a Medicina tem contornos bas-tante distintos e onde, em alguns ca-sos, os índices de qualidade global são inferiores aos de Portugal”. O critério para reorganizar o mapa das urgências obedeceu a uma capitação de 200 mil habitantes por cada Serviço de Urgência Médico-cirúrgico – como acontece na Finlândia e no Reino Uni-do – em vez de tomar como exemplo a França, onde a Medicina Interna,

como em Portugal, é também a espe-cialidade-base das Urgências, e que define uma capitação de 110 mil habi-tantes por SU.

Qualidade é essencial

Desta forma, a SPMI faz notar que “a Comissão pareceu mais preocupada com o tempo de acesso às Urgências do que com a qualidade do atendimen-to”, lembrando que, “curiosamente”, a realidade de Espanha, semelhante à portuguesa, e onde as capitações são também mais baixas, “não foi tida em consideração”.A terminar a carta a Correia de Cam-pos, a direcção da SPMI defende que

“a Medicina Interna deve continuar a ser o motor e o suporte essencial da urgência hospitalar”, concordando que “a reorganização da Rede de Urgência é uma medida estruturante do nosso Sistema de Saúde” a realizar sem de-moras, para garantir “melhores e mais acessíveis cuidados em situação de Ur-gência aos portugueses”.A SPMI sublinha que os reparos feitos à proposta de Reestruturação das Ur-gências hospitalares têm apenas como objectivo contribuir para que “a refor-ma seja um êxito”, disponibilizando toda a colaboração dos internistas por-tugueses para esse fim, tendo sempre em vista a prestação de serviços de Saúde com qualidade à população.

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Bluepharma abre delegaçãono Tagus Park

A Bluepharma, Indústria Farmacêutica SA, tem, desde finais do ano passado, uma representação permanente da empresa na zona da Grande Lisboa, através da abertura de um escritório no Núcleo Central do Tagus Park, em Oeiras.A criação desta delegação permite uma melhor articulação entre os representantes que actuam nesta área, na divulgação dos genéricos da Bluepharma junto da comunidade médica, para além de aproximar a empresa dos centros de decisão.

Coimbra com preços mais altos

Ácido acetilsalicílico mais caro fora das farmácias

O princípio activo da Aspirina® foi o que mais subiu de preço desde que passou a ser permitida a venda de medicamentos fora das farmácias. Segundo informação facultada pela agência Lusa a partir de dados disponibilizados pelo Infarmed, o ácido acetilsalicílico é o campeão dos preços altos nas novas lojas criadas pelo Ministério da Saúde. Se considerarmos um índice 100 no mo-mento da liberalização do mercado, o ácido acetilsalicílico subiu para 113,7 e a Aspirina® para 123,7. Em comparação, nas farmácias, o preço dos medicamentos su-jeitos a receita médica baixou 6 por cento em 2006 e outro tanto no início de 2007.

a existência dessas lojas é meramente residual.No período anual entre Outubro de 2005 e Setembro passado, essas lojas vende-ram 1,7 milhões de euros de medicamen-tos num total de 400 mil embalagens. Em média, cada uma das novas lojas vendeu menos de 4 embalagens de medicamen-tos por dia facturando apenas 166 euros, apesar dos preços praticados.Observa-se ainda que existe uma forte concentração da nova actividade num único grupo: a mão cheia de lojas dos hipermercados Modelo Continente é já responsável por 39 por cento das ven-das.

Para o Presidente do Conselho de Administração da Bluepharma, Paulo Barradas, a nova delegação “favorece a melhoria da gestão da equipa junto à zona de maior potencial de mercado” e traduz uma nova etapa de crescimento da empresa. Para além disso, “a escolha do Tagus Park não surge por acaso, já que estamos a falar de um parque tecnológico onde os valores da inovação e da qualidade, que nortearam a criação da Bluepharma, estão sempre presentes”.

Axa e Ordem dos Médicos assinam protocolo

A Axa Portugal e a Ordem dos Médicos (OM) assinaram um Protocolo de Seguros que amplia a oferta de coberturas, e a maior flexibilidade na escolha, em função das exigências e necessidades específicas dos médicos. No âmbito do acordo, foram criadas linhas de atendimento exclusivas para médicos, bem como um micro-site integrado no Portal da OM.

Com a mesma origem fica-se também a saber que a liberalização da venda de medicamentos sem receita médica pro-vocou, ainda, um fenómeno até agora inexistente em Portugal – a variação dos preços dos medicamentos consoante as regiões do País. Nesta matéria, o distri-to de Coimbra marca o ritmo com uma subida de preços da ordem dos 3 por cento.Segundo a mesma fonte, existem actu-almente 284 lojas, para além das 2 700 farmácias, onde é possível adquirir me-dicamentos. A maior parte delas funcio-nam em Lisboa e Porto. Em distritos como Beja, Évora, Portalegre e Vila Real

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Novo tratamento para cancro do pulmão

Seis hospitais portugueses, Centro Hospitalar de Coimbra, Centro Hospitalar de Vila Nova de Gaia, Centro Hospitalar de Vila Real, Hospital de Santa Maria, Hospital S. Sebastião e Hospital Pulido Valente, estão a testar um novo tratamento para o cancro do pulmão metastizado, com a utilização combinada do fármaco cetumimab, combinado com cisplatina e gemcitabina.A terapêutica inovadora está a ser aplicada no tratamento de primeira linha de 47 pessoas com cancro do pulmão metastizado, cabendo a sua avaliação a especialistas que integrem o Grupo de Estudos do Cancro do Pulmão (GECP).

Hospitais encomendamcada vez mais online

Mais de um terço dos hospitais portugueses usam a Internet para fazer encomendas de produtos (34 por cento) e uma percentagem idêntica já fez pagamentos pela mesma via (32,4 por cento), revela o estudo “A Sociedade da Informação em Portugal”, divulgado pela Tek Sapo. De acordo com o documento, apresentado em meados de Dezembro pela Agência para a Sociedade do Conhecimento (UMIC) e pelo Instituto Nacional de Estatística, a utilização da Internet nos hospitais tem-se tornado numa ferramenta

NacionalInfecciologistascontra limitaçõesà inovação farmacêutica

A limitação à introdução de medicamentos inovadores nos hospitais foi um dos temas em foco nas reuniões VIII Congresso Nacional de Doenças Infecciosas - 6.º Congresso Nacional sobre SIDA, que decorreram no Porto nos dias 8 a 11 de Outubro, organizados pela Sociedade Portuguesa de Doenças Infecciosas e pela APECS (Associação Portuguesa para o Estudo Clínico da SIDA). As reuniões contaram com o patrocínio do Alto Comissariado da Saúde, Ordem dos Médicos, Sociedade Portuguesa de Medicina Interna, Hospital de São João e Faculdade de Medicina da Universidade do Porto.Para o presidente do VIII Congresso Nacional de Doenças Infecciosas, António Vieira, os hospitais devem garantir “o acesso às novas armas terapêuticas, desde que cientificamente comprovadas, sem restrições burocrático-económicas”. Nesse sentido, o infecciologista manifestou-se contra a diminuição das comparticipação a 100% de antiretrovirais, ressalvando que a prescrição destes medicamentos deve ser reservada aos especialistas na área, de modo a assegurar que “o diagnóstico, prescrição e seguimento continuado dos indivíduos infectados pelo VIH, se pro-cessa de acordo com as normas de boas práticas”.

O Instituto Nacional da Farmácia e do Medicamento (INFARMED) apresentou no dia 6 de Dezembro, o site http://eu-drapharm.eu, através do qual os cidadãos europeus passaram a ter acesso à infor-mação relativa a todos os medicamentos aprovados por via centralizada. Este portal de informação é o primeiro grande resultado da criação do Eudra-pharm, a base de dados de todos os medi-camentos (humanos e veterinários) apro-vados no Espaço Económico Europeu. O Eudrapharm é um projecto telemático da EMEA (Agência Europeia o Medicamen-to) liderado pelo INFARMED.

mais abrangente, no que diz respeito às tarefas que ajuda a desempenhar. Uma percentagem significativa dos 198 hospitais inquiridos mostra ainda intenção de adoptar procedimentos de marcação de consulta online (43 por cento), prestação de consultas online (21 por cento) ou mesmo rastreio médico online (17 por cento). A banda larga existe em 94 por cento dos hospitais – sendo que 38 por cento das unidades consomem velocidades iguais ou superiores a 2 Mbps, cinco vezes mais que em 2004.

INFARMED apresenta base de dados europeia de medicamentos

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Internistasintegram estudo inédito no PaísA Universidade Católica está a investigar a sobrecarga emocio-nal dos profissionais de Saúde, através de um estudo inovador.O Instituto de Bioética da Universidade Católica Portuguesa (UCP) deu início a um projecto de investigação, destinado a estudar os problemas éticos do desgaste profissional e da so-brecarga emocional sofrida pelos profissionais de Saúde. Este estudo vai ter particular incidência nos serviços de Medicina Interna, Cuidados Intensivos, e Oncologia, entre outros, ca-racterizados pela assistência a um grande número de doentes em estado crítico, do qual acaba por resultar, muitas vezes, a morte.O protocolo que permitiu o desenvolvimento desta investiga-ção foi assinado a 11 de Dezembro, na Reitoria da UCP, em Lisboa, entre esta universidade, a Fundação Merck, Sharp & Dohme, e a Fundação Grünenthal, num acordo considerado “sem precedentes”.Esta pesquisa, inédita em Portugal, vai desenvolver-se durante três anos.

CHCB homenageouGarcia de OliveiraO antigo Director do Serviço de Medicina Interna do Centro Hospitalar da Cova da Beira (CHCB), Garcia de Oliveira, fale-cido há um ano, foi homenageado no início de Novembro pela administração desta unidade. A homenagem decorreu duran-te a sessão de abertura do I Congresso Médico do CHCB, na Covilhã.Para além de ocupar durante vários anos o cargo de director do Serviço de Medicina Interna do CHCB, Garcia de Oliveira foi também autarca, eleito nas listas do PS para a Assembleia Municipal da Covilhã e para a Assembleia de Freguesia do Tor-tosendo.Durante a homenagem, João Casteleiro, presidente do CHCB, lembrou uma das mensagens que marcaram o per-curso clínico de Garcia de Oliveira: “O mais importante que podemos dar a um doente é o afecto. Deixou-nos o receituá-rio do afecto”, sublinhou o actual responsável pelo hospital covilhanense, que, na sequência desta homenagem, passou a ter uma enfermaria com o nome de Garcia de Oliveira.

Medicina Interna do CHCconsagra Santana MaiaO Serviço de Medicina Interna do Centro Hospitalar de Coimbra (CHC) homenageou, em Outubro passado, Santana Maia, antigo Bastonário da Ordem dos Médicos, entre 1992 e1994, e ex-presidente da Sociedade Portuguesa de Medicina Interna (SPMI), eleito em 1996.Fundador do Serviço de Medicina Interna do Hospital dos Covões, em Coimbra, San-tana Maia sucedeu em 1974 a Bissaya Barreto como presidente da comissão instalado-ra do CHC. Até 1980, ano em que terminou o mandato à frente do grupo de hospitais, foi o impulsionador da abertura do Hospital Pediátrico de Coimbra, em 1977.Em paralelo à carreira hospitalar, Santana Maia presidiu ao Conselho Regional do Centro da OM, entre 1987 e 1992. Antes, em 1981, foi coordenador nacional da então criada especialidade de Medicina Interna, e, em 1996, foi eleito presidente da SPMI.No final da última década, o ex-Bastonário foi distinguido com a medalha de mérito da OM e com a Medalha de Ouro de Serviços Distintos do Mi-nistério da Saúde, pelo contributo dado à Medicina e à Saúde em Portugal Fora da Medicina, Santana Maia foi Governador Civil de Coimbra, de 1983 a 1985, vice–presidente da Câmara de Coimbra, em 1987, e presidente da Assembleia Muni-cipal de Coimbra em 1997.Até Maio de 2006, quando se aposentou por limite de idade, Santana Maia exerceu o cargo de director do Centro de Medicina de Reabilitação Rovisco Pais, na Tocha.

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FranciscoCarneiro Chaves

clínicos apresentados pela maioria dos doentes que recorrem ao Hospital, em grande parte resultan-tes do envelhecimento da população, gerir esses problemas numa perspectiva global, é uma tarefa para a qual os Internistas estão particularmente vo-cacionados, como consequência de uma formação adequada. Ainda que o problema clínico dominante possa exigir a intervenção de outros especialistas, sobretudo os de outras especialidades da área da Medicina Interna, será mais adequado que o façam como consultores, ainda que a intervenção desses especialistas possa, ao longo do tempo, ter uma participação maior ou menor, consoante o momen-to e as circunstâncias. Esta gestão adequada dos recursos clínicos traduz-se necessariamente em benefício económico e, o que não é menos importante, traz a inegável vantagem para o doente de lhe evitar intervenções diagnosticas ou terapêuticas que podem não ser isentas de riscos. É nesta perspectiva que o Inter-nista poderá ser um advogado do doente pelo que a sua acção não deverá restringir-se aos doentes internados nos Serviços de Medicina Interna, mas estender-se a outros Serviços, médicos ou cirúrgi-cos, de modo a que a visão global do doente esteja sempre presente.A responsabilidade crescente dos Internistas nos Serviços de Urgência, onde devem constituir a espinha dorsal desses Serviços, ou em Unidades de Cuidados Diferenciados, constitui a demonstração de que essa perspectiva de abordagem global dos problemas clínicos e da sua gestão é uma forma reconhecida de aumentar a eficácia e a eficiência na prestação dos cuidados.

Os custos crescentes da saúde e a dificuldade de financiar esses custos constituem uma preocupação sempre presente em todos os envolvidos no pro-blema, não apenas nos directamente envolvidos na prestação de cuidados, mas também nos políticos e nos gestores que podem interferir na política de saúde. Embora existam várias propostas, quer quan-to à redução dos custos quer quanto ao financia-mento, nenhuma poderá deixar de ter em conta os princípios éticos que a prática da medicina impõe. Há uma dificuldade reconhecida em limitar a utili-zação dos meios de diagnóstico e de terapêutica, cujos custos são crescentes, sem desrespeitar esses princípios éticos e por isso a atenção e as medidas a tomar devem centrar-se nas melhorias da eficácia e da eficiência que dependem em larga medida da organização da prestação dos cuidados.A organização dos Serviços de Saúde é sempre complexa e nessa complexidade incluem-se os Hospitais. Uma forma de reduzir os custos dentro destas estruturas consiste em racionalizar os gastos, o que depende de uma organização eficiente e eficaz. Por isso os Serviços de Medicina Interna devem ser considerados estruturas centrais para a organização dos hospitais.Seja qual for o grau de diferenciação do Hospital, cabe aos Serviços de Medicina Interna uma função indispensável que se baseia numa característica fundamental da prática da Medicina Interna, a função integradora que permite a desejada visão global do doente e a integração de informações de várias origens, o que permite uma racionaliza-ção da utilização dos meios de diagnóstico e de terapêutica. Perante a complexidade dos problemas

Professor Catedrático Jubilado da Faculdade de Medicina do Porto

Os Serviços de Medicina Interna,a racionalização dos cuidadose a contenção dos custos

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18• Medicina Interna HOJE

Contrariando as previsões mais pessi-mistas dos últimos 15 anos, a Indústria Farmacêutica em Portugal tem vindo a desenvolver-se, criando condições para a sua própria sustentabilidade e crescimento. A constatação surge no livro «Inovação e Competitividade da Indústria Farmacêutica Portuguesa: Que Perspectivas?», da autoria de An-tónio Bica, Manuel Mira Godinho e Rui P. Rodrigues, editado pela Associa-ção Nacional das Farmácias.A edição de «Inovação e Competitivi-dade da Indústria Farmacêutica Por-tuguesa: Que Perspectivas?», é um projecto do Laboratório de Estudos Farmacêuticos (LEF) da ANF. A equi-pa de autores integra um farmacêutico que trabalha neste instituto, António Bica, um académico do Instituto Su-perior de Economia e Gestão, Manuel Mira Godinho, e um quadro superior da indústria farmacêutica nacional, Rui P. Rodrigues.

Investigadores traçam retrato

No livro, é traçado o retrato completo de todo o sector farmacêutico nacional, identifi cando-se os factores determi-nantes de desenvolvimento, a posição de Portugal no contexto internacional e as oportunidades de crescimento das

empresas portuguesas para os próximos anos. Entre outros temas, são referidos em detalhe aspectos relacionados com a história recente da política do medi-camento em Portugal, nomeadamente a decisão, tomada em 2003, pelo Conselho de Ministros, de considerar a Indústria Farmacêutica como «sector estratégi-co nacional», no mesmo momento em que era aprovado um vasto conjunto de medidas que alteraram o quadro regula-mentar em que operava o sector do me-dicamento no País.O livro «Inovação e Competitividade da Indústria Farmacêutica Portugue-sa: Que Perspectivas?», dirige-se em especial aos decisores e agentes rela-cionados com o sector farmacêutico, das áreas regulamentares, industrial e do marketing. Na obra, são identifica-dos alguns dos factores que poderão condicionar o sucesso ou insucesso das empresas farmacêuticas nacionais nos próximos anos, no contexto nacio-nal e internacional.

No livro, é traçado o retrato completo de todo o sector farmacêutico nacional, identifi cando-se os factores determinantes de desenvolvimento.

Indústria Farmacêutica portuguesa em livro

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20• Medicina Interna HOJE

O especialista de Medicina

Interna deve assumir-se

como um pivot em cada

unidade de Saúde, articulando

os conhecimentos das

especialidades médicas.

Quem o diz é Manuel

Delgado, presidente da

Associação Portuguesa dos

Administradores Hospitalares.

Em entrevista à Medicina

Interna Hoje, o gestor hospitalar

defende a criação de mais

incentivos à Medicina Interna.

Num momento em que há cada vez mais especialização e subespecialização na saúde, que papel atribui à Medicina Interna dentro de um hospital?Os hospitais vivem muito em função das especialidades, e o que se passa é que isto torna muito rígida a capacida-de de respondermos aos doentes. Mui-tas vezes, os doentes aparecem-nos com patologias multi-sistémicas, que influenciam vários sistemas, respirató-rio, locomotor, neurológico, o que, com o envelhecimento da população e com o aparecimento de doentes mais ido-sos, se agrava. É evidente que, neste conjunto de cenários, se mantivermos a actual divisão em especialidades com alguma rigidez em termos de resposta,

isto é prejudicial para os doentes. Essa divisão pressupõe muito mais tempos de consulta ao passar de um especia-lista para outro e, portanto, leva muito mais tempo até ao diagnóstico e até se conseguir concertar uma terapêutica, o que é prejudicial, também, do ponto de vista económico e de organização, porque são precisas mais consultas e mais tempo perdido.Portanto, o que se defende hoje em termos estratégicos é que os hospitais devem ter uma gestão mais integrada dos seus doentes, e muitos hospitais avançaram para a ideia de que o médi-co de Medicina Interna é aquele que, por opção da sua carreira, de currículo e de especialidade, tem a capacidade de concertar em termos globais o con-

Manuel Delgado, Presidente da Associação Portuguesa de Administradores Hospitalares

Internista deve ser pivot dentro do hospital

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Entrevista

dico ultra-especializado, ou super-es-pecializado numa área, e se, por acaso, para essa área tenho poucos doentes, a consequência é que a produtividade desse médico vai ser baixa, porque ele se especializou em fazer uma coisa, e eu não o posso utilizar em tarefas de carácter mais geral. Isso também acontece quando temos que fazer uma equipa de banco para uma urgência. Às vezes ficamos es-pantados quando um hospital com mil e tal médicos não consegue constituir equipas para as urgências e tem que ir contratar médicos ao exterior, e não consegue porque no seio dos hospitais o conceito de médico generalista de-sapareceu. Consequentemente, cada médico tem a sua especialidade, ou, nalguns casos, uma super-especializa-ção, e evidentemente, não faz sentido recrutar dermatologistas para estarem no banco às 2 horas da manhã, ou ou-tras especialidades. Há especialidades que, por força da sua especialização, não nos são úteis quando queremos dar flexibilidade à prestação e não têm flexibilidade sufi-

junto de afecções, de doenças ou de queixas que o doente apresenta. É ele o médico que consegue gerir melhor o doente no espaço hospitalar, permitin-do, também, solicitar a comparência da prestação de cuidados de outros espe-cialistas. Ou seja, funciona um pouco como o pivot, o gestor de uma orques-tra clínica.

O especialista em Medicina Interna é um «titular» ou o «advogado» do doente dentro do hospital?Age um pouco na qualidade de advo-gado, não no sentido de defender os direitos do doente, mas na perspectiva de velar pelo bem-estar geral e pela saúde do doente.

O papel desse médico é, também, o de fazer a ponte dentro do hospital entre os vários graus de especialização e de super-especialização?É preciso ter em conta que, muitas ve-zes, a super-especialização provoca al-guma rigidez na capacidade de oferta de serviços. Isto é, se eu tenho um mé-

ciente para nos ajudarem numa presta-ção mais generalista. Por isso é que a Medicina Interna tem uma importância transcendente nos hospitais, porque não só dá mais flexibilidade às equipas, como também nos permite enveredar por um esquema em que este médico funciona como o pivot da prestação de cuidados.

A Medicina Interna é também decisiva na melhor utilização dos meios de diagnóstico e terapêutica?Exactamente. Se o neurologista ou o cirurgião pedem um exame, muitas ve-zes esses exames podem ser sobrepos-tos, e, se houver um médico gestor do doente, este vai poder pedir apenas um determinado exame que inclua todas as necessidades clínicas.

Sente que os médicos hospitalares estão preparados para aceitar esse papel?Tenho alguma dificuldade em ver o futuro próximo, em saber se os médi-cos estão preparados, mas julgo que a

É ele Internista o médico que consegue gerir melhor o doente no espaço hospitalar, permitindo, também, solicitar a comparência da prestação de cuidados de outros especialistas.

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Esta continua a ser uma espe-cialidade pouco apelativa para os jovens internos?Não sei se a especialidade é apelativa. Te-nho ideia de que não é. E não o é por razões de natureza económica, material, não por realização intelectual ou profis-sional, porque acho que, nesse ponto, o Internista tem todas as condições para ser o profissional médico que mais realização intelectual tem na sua prestação, porque é ele que vai, perante um sintoma, integrar diferentes sistemas e subsistemas de um indivíduo. É o único que tem essa preocu-pação e essa capacidade.Agora, é evidente que a Medicina hoje está virada para as tecnologias e, em mui-tos domínios, a Medicina sem tecnologias já não consegue sobreviver. Em muitas circunstâncias, isso faz com que o jovem médico, se lhe dão capacidade de escolha, prefira enveredar por especialidades mais circunscritas, porque confina a sua activi-dade ao que ele quer, gosta e sabe e, por-tanto, tem uma aprendizagem muito mais rápida, muito menos susceptível ao erro, mas perde a visão sistémica do doente.Claro que há aqui uma razão material, é que este tipo de super-especialização em áreas técnicas geralmente favorece a capa-cidade de ganhar dinheiro, porque se uti-lizam equipamentos sofisticados, fazem-se diagnósticos ou dão-se informações muito precisas, que é aquilo que o doente gosta de ouvir, e tudo isso favorece uma socie-dade em que se gosta de saber tudo, em que todos nós somos práticos e quere-mos saber a verdade, logo no momento, de ver a doença e resolver o problema.

Nesta perspectiva, a Medicina Interna associa as coisas, é mais problemática, mais susceptível ao erro, porque trabalha com várias dimensões, não apenas com o fígado, ou com o pâncreas, ou com a mão. Tem, portanto, uma dimensão muito mais complexa. Dá muito menos dinhei-ro porque hoje os problemas da Medi-cina Interna, na maior parte das vezes, têm soluções mais comprometidas, em que não é tão fácil ver a luz ao fundo do túnel. Isto é, a prática médica, com-parativamente a outras especialidades, como na cirurgia, não é tão resolutível. Se tiver uma doença auto-inune ou um problema neurológico, um AVC, ou dia-betes, não há soluções de cura absoluta, há compromissos em que, se o doente fizer o que lhe dizem, está equilibrado. Ao passo que se partir o pé, ou for tirar o apêndice, chega ao hospital, e dez ou 15 dias depois, já passou tudo.

Nos EUA, há já preocupações em relação à não opção pela Me-dicina Interna entre os jovens internos, como é que se pode ultrapassar este problema?Tenho que confessar que não é fácil contrariar esta tendência da super-es-pecialização e tecnicização da Medicina. É paradoxal. Acho que o antídoto para isto é, desde logo, político, porque quem comanda as entradas nas especialidades fomenta ou não essas entradas, e, por exemplo, penso que as especialidades ci-rúrgicas continuam a ser favorecidas no contexto nacional, quando, actualmente, não deviam ser.

Mas há alguma razão histórica para isso?Existe uma razão histórica, que tem a ver com o peso das especialidades que se vai replicando no tempo. Isto é, se tenho mais especialistas de cirurgia, evidente-mente que os mais especialistas de uma área dão direito a mais capacidade de ter internos. Se tiver mais serviços com cirur-giões, a capacidade de ter mais internos em cirurgia é maior do que em Medicina Interna, se aí houver menos médicos.

Como é que isso pode mudar?Com um comando político que olhe para isto de outra maneira, e que im-ponha regras. Depois, criando incentivos nos hospitais para que os médicos de Medicina Inter-na se sintam valorizados, quer através de competências reconhecidas de co-ordenação, quer de uma remuneração que crie incentivos ao trabalho médico nestas áreas.

De que incentivos fala?Incentivos que associem a remunera-ção médica ao sucesso no tratamento de certas doenças crónicas, ou crónico-degenerativas, à HTA, diabetes, doenças auto-imunes. Para que os médicos rece-bam em função do sucesso conseguido com estes doentes, não da cura, mas do acompanhamento. Porque é aí que está o segredo crítico do sucesso desta es-pecialidade, conseguirmos com doentes aparentemente dependentes de um su-porte de saúde permanente dar qualida-de de vida, evitando que eles consumam

Medicina Internaprecisa de mais incentivos

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excessivamente medicamentos, interna-mentos ou urgências.

Já foram tentados sistemas de incentivos desse género?Não entre nós. Reconheço que não é fácil, é preciso criar uma bateria de in-dicadores sufi cientemente credíveis que informem de uma forma global sobre o percurso da pessoa. Mas isso é difícil de montar, a não ser que haja um cartão de utente, único, e que a informação circule entre os prestadores.

Mas há aqui um paradoxo, que é o de a Medicina Interna, como a Saúde Pública ou a Clínica Geral, ser um factor de poupança no sistema de Saúde…Se conseguíssemos criar condições para as pessoas virem para Medicina Interna, por essa via íamos ter uma substancial diminuição de gastos, porque o doente fi cava mais bem acompanhado na sua visão integrada. E, também, porque em muitas situações, em que o médico de Medicina Interna é fundamental, ia ser menor o consumo de cuidados. Mas reconheço que não se tem feito muito esforço nesse sentido.

formação de base e a sua preparação vai ao encontro disto, à capacidade de ver o doente na sua plenitude. É evidente que, em muitas circunstân-cias, os médicos de Medicina Interna não têm a capacidade de saber tratar, mas têm grande capacidade para perceber as inter-recorrências e as inter-relações que há entre todas as patologias que o doente tem. Eles podem ser os gestores e os dinamizadores da procura de cuida-dos de forma muito mais pertinente, e podem chamar o cirurgião, o dermato-logista, o gastrenterologista, numa pers-pectiva integrada dos cuidados.

Falta um núcleo de gestão dos doentes baseado na Medicina Interna

Dentro do hospital por parte dos outros especialistas, existe a compreensão desta importância da Medicina Interna?Os hospitais portugueses não estão ain-da muito virados para isso. Temo um paradigma ainda muito virado para as especialidades, em que cada uma tem a sua total autonomia. Não há, ainda, uma

superintendência geral sobre as especia-lidades nos hospitais. Cada especialida-de trata daquilo que sabe e manda para a porta ao lado, o que não se sabe ou mui-tas vezes, nem isso. Raramente há aquilo a que se chama uma consulta de grupo, em que vários profi s-sionais concorrem para esclarecer uma situação clínica. Uma das formas mais ro-bustas de mudar isto seria criar nos hos-pitais um núcleo de gestão dos doentes, à volta da Medicina Interna, que teria a responsabilidade de os internar, dar alta e de fazer o acompanhamento dos doentes em todo o seu percurso no hospital.

E por parte dos gestores?Os gestores têm de perceber estes mo-delos de organização, caso contrário, não passam do modelo tradicional, das 20 camas por serviço. Se perceberem esta mudança de paradigma, com cer-teza que eles próprios vão desenvolver formas organizativas novas.

É importante que sejam gestores de saúde, esta é uma questão mais clara, hoje em dia?Se não forem gestores de saúde não têm sensibilidade para estes problemas.

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A vantagem do gestor da saúde é que ele vê um pouco mais à frente, entra num sistema, mas consegue ter capacidade crítica sobre a organização da prestação. O gestor que não é da saúde olha ape-nas para as questões fi nanceiras, para as compras, alimentação, e não consegue entrar no core business da actividade, fal-ta-lhe capacidade crítica.Há quem ainda admita que possa haver gestores de outras áreas de negócio. Acho que, de forma sensata e mitigada, não faz mal nenhum, porque muitas ve-zes temos nos hospitais situações em que a gestão é corrente, comum, e nes-sas áreas faz sentido importar o conhe-cimento. Mas o core business da gestão hospitalar é mesmo a prestação de cuidados, não é a alimentação, nem a roupa, nem a gestão fi nanceira, é na prestação de cui-dados que se determinam os custos, as despesas.

Urgências não devem ser principal problema da SaúdeComo vê o trabalho da comissão que está a estudar a reestruturação das urgências hospitalares?É uma boa iniciativa ter-se criado esta comissão para estudar as urgências, até porque tudo o que tenha na base um es-tudo e uma visão minimamente objectiva

e assente em critérios técnicos é sempre bom, para não termos uma decisão polí-tica em função das circunstâncias e dos pequenos interesses, lobbies ou conveni-ência político-partidária.Não concordo que se atribua à urgência a importância que se lhe dá no sistema, mas em Portugal temos um vício de for-ma, atribuindo importância às urgências porque as temos cheias, não de casos urgentes, mas de casos que deviam ter outra sede. E daí temos problemas. As urgências não são o ponto essencial de um sistema de saúde. Pelo contrário. Nos sistemas mais organizados a urgência é uma questão marginal. Só lá vai quem tem um problema grave ou súbito.

O que é que explica tanta procura das urgências?A Medicina Geral e Familiar muito fraca, que não dá apoio às pessoas, as portas de entrada nas consultas hospitalares muito defi cientes, com marcações tardias, as listas de espera enormes, os tempos de espera por consultas, com as pessoas a interiorizaram que na urgência vão sem-pre ser observadas, que dali saem com qualquer coisa.

Que refl exões faz do trabalho já apresentado pela comissão?O grupo de trabalho apresentou o seu re-latório e, no essencial, reconheço-lhe al-gumas virtudes, no essencial ao arrumar

As urgências não são o ponto essencial de um sistema de saúde. Pelo contrário. Nos sistemas mais organizados a urgência é uma questão marginal. Só lá vai quem tem um problema grave ou súbito.

a casa em termos de níveis de urgência, básica, polivalente e intermédia. O relatório tem algumas falhas em termos de análise, por um lado no saber o que acontece às populações que vão perder a urgência, para onde é que elas vão, e, por outro lado, não estuda em profundidade, porque, se calhar, não era essa a sua mis-são, o problema do socorro no momento do acontecimento, e o transporte, que são duas questões essenciais em urgências.No essencial o trabalho tem aspectos mui-to positivos, defi ne pontos de abertura e de fecho, aumentou até o número de ur-gências, fechou algumas em locais compli-cados, como na zona centro litoral do País, o que pode provocar um afl uxo concentra-do a alguns sítios, o que não foi estudado.

E em relação à contestação que tem sido feita, que comentários faz?A contestação é natural, mas há uma regra que todos temos de assumir. Os recursos não podem estar à porta de cada um e de todos. Não é possí-vel, nem é desejável, porque não há dinheiro e porque em profissões tão melindrosas como a Medicina ou a en-fermagem exige-se muita experiência e conhecimento, e se nós dispersa-mos tudo por pequenas experiências, depois o pessoal técnico não tem com-petência. Por estas razões, é óbvio que temos que concentrar recursos, devemos ter

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cartas hospitalares que definam com rigor onde fica o quê. Infelizmente, em Portugal somos permissivos nisto, e é chocante ver um país aflito sem di-nheiro para a Saúde, dispersá-lo.Se uma população concreta está mais distante dos recursos, se isso acontece devemos compensar essa população em termos de transporte. Para além disso, as populações mais afastadas dos centros tecnológicos, devem ter um reforço de competências ao nível da medicina básica, de proximidade, em serviços comunitários.Hoje é mais fácil e mais legítimo con-centrar meios e recursos do que era há 50 anos e colocar junto das populações a medicina familiar. O médico de família não pode viver a 100 quilómetros da população, e isso tem que ser corrigido. Temos de criar condições que obriguem os profissio-nais a viver junto das populações. Há países onde a medicina familiar obriga a viver junto das populações.

Há pouco tempo, uma iniciativa comunitária de Medicina Familiar, em Mértola, foi distinguida internacionalmente. Fazem falta iniciativas destas, das comunidades, das autarquias?O País, em termos culturais, não está muito virado para a iniciativa própria,

mas mais para a dependência do Esta-do. Temos de reconhecer que muitas dessas experiências, voluntárias e es-pontâneas da comunidade, são muito importantes e devem ser acarinhadas, até para o próprio Estado as poder aplicar noutros sítios.

Concorda com a profissionalização das urgências?Tenho alguma dificuldade, porque eu concordo com equipas de emergencis-tas, mas é quando estamos a falar em urgências mesmo. Se temos as urgên-cias polvilhadas de falsas urgências, de doenças comuns, não faz sentido pensar em emergencistas. Faz sentido pensar em emergencistas numa situação de adequação à procu-ra. Se me dizem que a procura é uma mistura de situações graves e mais simples, então, estar a criar equipas de emergencistas não terá grande uti-lidade. Acho que é pôr o carro à frente dos bois.

Médicos formados pelo sector público devem retribuir formação

Tem-se falado na “desnatação” dos hospitais públicos, com a mudança de alguns médicos destes hospitais, para as novas unidades privadas. Como é que vê esta situação?Não dramaticamente. Iniciou-se, há já alguns anos, este processo com o aparecimento de grupos privados com investimentos de dimensão empresarial. A formação é feita no sector público, e é natural que os médicos que são recrutados o sejam no sector público, também. Vamos assistir de forma crescente a este re-crutamento de profissionais seniores formados. É claro que há logo uma questão importante a esclarecer: então foi o Estado a formá-los e quem vai tirar o máximo proveito deles vai ser o

Se entramos num modelo competitivo entre hospitais públicos e privados, tem que haver uma clara separação das organizações e dos seus profi ssionais, e isso não existe. Temos ainda muita duplicação de emprego.

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sector privado? Outra nota: os hospi-tais públicos podem ficar prejudicados por isto, deram formação, deram cam-po para eles terem treino, formação e conhecimento, se calhar até deram clientela, o chamado doente fideliza-do, e, se calhar, alguns desses clientes podem ser cativados para outro lado, o que não deixa de ser um risco em termos de financiamento para os hos-pitais públicos.Penso que ainda não estamos numa fase em que isso seja problemático, embora haja aqui aspectos importan-tes a resolver no futuro: as pessoas não devem ter um pé em cada lado. Se entramos num modelo competitivo en-tre hospitais públicos e privados, tem que haver uma clara separação das organizações e dos seus profissionais, e isso não existe. Temos ainda muita duplicação de emprego.

Vê alguma forma de alterar esse movimento?Penso que isto é injusto, e devia ha-ver um mecanismo de compensação. Um mínimo de anos de trabalho tal-vez fosse a solução mais adequada. A formação é feita, em grande par te, à custa do trabalho público. Um mé-dico não pode ir fazer uma formação para Paris, Nova Iorque e, depois,

voltar e ir trabalhar para um grupo privado.

E se os privados começarem eles próprios a fazer a formação?À medida que vai havendo massa crí-tica privada a sério nesta área hospita-lar, e houver condições de idoneidade dos serviços para funcionarem, não só no ensino pré-graduado, mas também, sobretudo, pós-graduado, faz sentido que as carreiras se possam desenvol-ver no sector privado, com grandes hospitais integrados numa rede de formação.

Não receia que, assim, surjam uma Medicina de primeira e outra de segunda?Penso que, para já, não haverá esse risco. Felizmente, não temos uma rede privada que faça a absorção, mais ou menos completa, das compe-tências do público, e não é fácil que isso ocorra. Agora, se em dez anos houver um forte mercado privado, aí os riscos começam a ser maiores. Mas não tenho isso no meu horizon-te. Claro que vão saindo alguns, en-quanto outros se vão formando cá, e vamos mantendo um sector público for te.

PPP só na construçãoHá pouco tempo, afirmou que as Parcerias Público-Privado (PPP) deviam limitar-se à construção dos hospitais, sem se alargarem à gestão clínica. Continua a defender essa posição? É muito difícil fazer uma parceria que englobe os dois veículos, o da cons-trução e o da exploração, porque há muita dificuldade em exercer o con-trolo e manter critérios ajustados de exploração, ainda por cima quando esta é a dez ou 15 anos. A Medicina evolui muito. Uma prática clínica que hoje é boa, daqui a uns anos já não o é, e quando faço um contrato com uma entidade, como é que eu vou prever tudo isso?Por outro lado, há sempre um risco complicado que estamos a transferir, que é o dos resultados. Isto é, se hou-ver prejuízo, financeiro, e económico, é um problema. Agora, o risco do re-sultado em Saúde é mais difícil de de-legar num privado, quando é o Estado que assume a responsabilidade pela Saúde dos portugueses.Não sou categórico sobre isto, mas precisávamos de ter mais e melhor acompanhamento, e melhores siste-mas de informação. Aliás, no episódio

Se pomos taxas moderadoras em serviços cuja opção de uso não é do doente, mas do profi ssional, aí perde sentido a sua existência. E é isso que está em causa.

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tar sempre acima disso, e nunca devemos invocar razões materiais e financeiras para condicionar a performance clínica.O que está em causa é o princípio, e este é o de que a taxa moderadora exis-te para moderar o consumo, para que o consumo desnecessário seja afastado do circuito. E, se pomos taxas moderadoras em serviços cuja opção de uso não é do doente, mas do profissional, aí perde sentido a sua existência. E é isso que está em causa.Nisto tudo, há aqui uma situação mis-teriosa: não se sabe muito bem qual é a finalidade da taxa. É evidente que, no fundo, é para receber algum dinheiro, mesmo que pouco. Portanto, presume-se que vai apanhar entre 12 e 16 milhões de euros mais, o que não é nenhuma mais valia de especial mas sempre ajuda.

Estas decisões geram insegurança nos cidadãos?Do ponto de vista político é fácil explorar demagogicamente a situação. Mas está

triste do Hospital da Amadora, e aí não foi um problema de construção, foi só de exploração, o que ficou em cima da mesa foi perceber o acompanhamento econó-mico-financeiro, não era a qualidade do serviço, nem o impacto na comunidade, que nunca foi feito.

Não há ainda um modelo…O modelo ainda não existe. Cascais vai ser o primeiro, depois Braga, mas penso que ficaremos por aí. Creio que, eventu-almente, no Hospital de Todos os Santos haverá apenas parceria na construção.

Como vê a cobrança de taxas moderadoras nos internamentos e cirurgias?Não acho que seja dramático para as po-pulações haver taxas moderadoras. Mas o problema não se põe apenas aí. O ministro e o Governo conseguiram obviar esse obs-táculo isentando muita gente. As opções clínicas nunca devem ficar sub-jugadas às questões materiais, têm que es-

aqui violado o princípio e o conceito da taxa moderadora, porque aqui não vamos à procura de uma moderação, mas de um co-pagamento e a questão política é saber quem é que deve aju-dar o sistema a ser financiado: são os doentes? Ou são todos os cidadãos? É que, enquanto a taxa é moderadora, ela faz sentido, agora, quando a trans-formo numa taxa como forma de pedir aos doentes que contribuam um pouco mais, então a questão é outra…

Que comentário faz ao trabalho da comissão que analisou, a pedido do ministro da Saúde, a sustentabilidade financeira do SNS?A comissão é asséptica, não tem opi-nião. Esperemos que a tenha na parte final do seu trabalho.O que agora há, é um elenco assépti-co de soluções, a primeira das quais é mesmo não fazer nada. Até essa apa-rece.

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As aftas são um problema que afecta grande parte da população, tendo múl-tiplas origens. A maioria das pessoas, apesar da dor e do incómodo, habitua-se a viver com estas feridas, que sur-gem com frequência na cavidade oral, recorrendo a paliativos, tais como tera-pêuticas de aplicação local, ou simples-mente “esperando que passe”.No entanto, quando associadas a outros sintomas, as aftas podem ser um sinal revelador de que uma pessoa sofre da Doença de Behçet (leia-se béchét), que afecta mais de 20% da população por-tuguesa. O diagnóstico médico aponta nesse sentido quando, para além do surgi-mento de aftas orais com uma recor-rência superior a três episódios por ano, se manifestam aftas genitais, le-

12.ª Conferência Internacional sobre Doença de Behçet

Quando as aftas são mais do que simples feridas na boca

sões oculares, lesões cutâneas (hiper-reactividade a picadas, por exemplo), doenças articulares, ou vasculites.Esta patologia, também ancestralmen-te conhecida como a Doença da Rota da Seda, pode ser tratada, se for con-venientemente diagnosticada. No Ja-pão, é a primeira causa de cegueira em adultos jovens (dos 20 aos 30 anos).Portugal organizou a 12.ª Conferência Internacional sobre Doença de Behçet, de 20 a 23 de Setembro, no Corinthia Alfa Hotel, em Lisboa. Neste evento bienal, encontraram-se cerca de 300 especialistas de todo o mundo, para conhecer os mais recentes avanços so-bre a doença e alertar a população em geral para um problema muitas vezes ignorado. Em simultâneo, decorreu a 4.ª Convenção de Doentes. A conferên-

Os médicos dos hospitais públicos vão passar a poder gerir os seus serviços onde exercem, pagando a ser pagos em função da produtividade. O anúncio foi feito pelo ministro da Saúde num encontro com di-rigentes do Ministério da Saúde realizado no dia 2 de Janeiro. Segundo explicou Cor-reia de Campos, a iniciativa irá ser concre-tizada à semelhança do que sucedeu com as unidades de saúde familiar, geridas por médicos de família agrupados em equipas.

No caso dos hospitais, cada serviço clíni-co vai poder formar uma unidade orga-nizacional autónoma, que contratualizará com a administração do hospital a pres-tação de serviços.Os médicos que aceitem este novo regi-me passarão a ter dois horários de tra-balho à escolha: 40 horas semanais, ou 20 horas. Sobre esse horário terão uma retribuição variável de acordo com o tra-balho realizado.

Médicos hospitalares vão organizar-se em equipas autónomas

cia foi presidida pelo médico Internista Jorge Crespo e contou com a Socieda-de Portuguesa de Medicina Interna en-tre as entidades organizadoras. Pela forma abrangente e integrada como tratam do doente, os especia-listas em Medicina Interna estão particularmente vocacionados para a abordagem a esta doença, que afecta vários sistemas em conjunto, reque-rendo uma visão dos pacientes como um todo, com o envolvimento de várias disciplinas médicas.

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NoruegaAr trite reumatóide prejudica vida sexualUm estudo recentemente divulgado revela que a vida sexual é consideravelmente afectada pela artri-te reumatóide, com 38% dos doentes garantirem que a actividade sexual sai prejudicada. De acordo com a pesquisa, realizada na Noruega, um em cada dez doen-tes considera que é quase impossível manter relações sexuais. Os ho-mens são os que mais se queixam de um impacto negativo da doen-ça na vida íntima. Surpr eendente -mente, a maioria dos inquiridos não apontou as dores como a principal causa para as di-ficuldades na actividade sexual, mas sim os elevados níveis de fadiga e as limitações funcionais.

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Estados UnidosPsoríase potencia doenças cardíacasDe acordo com um estudo da University of Pennsyl-vania publicado em Outubro no Journal of the American Medical Association (JAMA), os doentes com psoríase mais jovens, com menos de 30 anos, e sintomas severos, aparentam ter um risco três vezes maior de doença cardíaca, por comparação com adultos saudáveis, da mesma idade.Uma explicação para a maior propensão destes doentes em sofrerem de doenças cardíacas pode-rá estar nas alterações do sistema imunitário que estão na origem da psoríase.

InternacionalEspanhaCriada universidade para os doentes

Em meados de 2006, a Univer-sitat Autónoma de Barcelona e a Fundació Biblioteca Josep Laporte lançaram a primeira “Universidad de los pacientes” da Europa. O objectivo é facili-tar aos cidadãos a informação para que estes possam aceder em condições de igualdade a cuidados de saúde com quali-dade. Para os promotores desta iniciativa, o objectivo de criar uma “universidade para e dos doentes” reflecte “a transição do modelo de doente passivo, para um novo modelo, em que o doente se envolve em cada vez maior grau, nas estratégias de responsabilidade e abordagem da doença”.Apresentando-se como “espe-cífica e dedicada aos pacientes, familiares, cuidadores, voluntá-rios e cidadãos em geral inte-ressados em temas da saúde”, a Universidade quer “promover a modernização e a melhoria da qualidade e da assistência na saúde, mediante o desen-volvimento de actividades de informação, formação e inves-tigação”.

Mais informações em:www.universidadpacientes.org.

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O sindicato do Serviço Nacional de Saú-de do Reino Unido (NHS), alertou re-centemente para o facto de os erros de impressão em relatórios médicos pode-rem colocar a vida dos doentes em risco, devido ao outsourcing do trabalho de se-cretariado médico.O Unison, que representa os enfermeiros e o pessoal auxiliar, chamou a atenção do ministério britânico da tutela, que alertou já para os perigos de má interpretação que daqui podem podem resultar. Para poupar dinheiro, as administrações hos-pitalares estão a contratar a digitação e impressão dos relatórios no estrangeiro.

Reino UnidoErros em notas médicas põem vidas em risco

A companhia aérea alemã, Luf-thansa, criou um programa de vantagens para médicos viajan-tes, de modo a poder melhorar a assistência de emergência a bordo dos seus aviões. Para beneficiarem do sistema,

os médicos só precisam de se registarem na Lufthansa, entre-gando os documentos que com-provam a sua profissão. Logo no primeiro voo receberão um bónus de 5 mil milhas no âm-bito do programa Miles & More.

O objectivo da companhia ale-mã é o de, sempre que houver um médico inscrito a bordo de um avião, a tripulação esteja informada, podendo chamá-lo durante o voo, caso seja neces-sário.

As notas são ditadas e enviadas através de ficheiros de voz para países como a índia, África do Sul ou Filipinas. Os er-ros mais frequentes dizem respeito à confusão entre hipertensão (tensão ar-terial alta) e hipotensão (tensão arterial baixa) que, por serem palavras foneti-camente idênticas, em inglês, induzem em erro. O mesmo acontece com uro-logical (urológico) e neurological (neu-rológico), e com as dosagens, em que fifteen (15) é, muitas vezes, confundido com fifty (50).Mas o erro mais grosseiro faz com que a expressão below knee amputation (am-

putação abaixo do joelho) seja entendi-da como baloney amputation (disparate de amputação).Para o sindicato que denunciou esta si-tuação, trata-se de erros que só aconte-cem porque as administrações hospita-lares “estão desesperadas para poupar dinheiro, o que não pode ser feito à custa da segurança dos doentes”, tendo acrescentado que “as consequências destes erros de digitação são demasia-do assustadores para serem levados à conta de uma questão menor. Poderiam ser consideradas ridículas, só que, nes-te caso, o ridículo pode matar”.

AlemanhaLufhtansa com médicos de bordo

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Uma equipa de investigadores britâni-cos do King´s College, de Londres está a considerar a hipótese de as malague-tas serem um adjuvante no alívio da dor para os doentes com artrite reumatóide.Esta doença inflamatória, que afecta cerca de 600 mil pessoas no Reino Unido, causa dores nas articulações, e o próprio sono deixa de ser um pe-ríodo de repouso. A grande vantagem

O Hospital da Universidade de Norfolk e Norwich foi obrigado a gastar cente-nas de milhares de libras para comprar camas reforçadas e adaptar as instala-ções mortuárias, ao ter verifi cado que o peso dos pacientes obesos tinha aumen-tado de forma signifi cativa.Há muito que as camas normais deixa-ram de servir, por não serem sufi cien-temente resistentes para a maioria dos utentes desta unidade e a morgue teve de ser reformulada, com a instalação de câmaras frigorífi cas maiores, tudo por causa do aumento da obesidade.Para o porta-voz do hospital, Andrew

Stronach, em declarações à BBC, “esta situação é o refl exo de um problema que afecta, cada vez mais, o Serviço Nacional de Saúde britânico (NHS), e revela um problema de saúde públi-ca ligado ao peso das pessoas, com o aumento da prevalência da obesidade mórbida”. Este responsável acrescen-tou ainda que se trata “de um problema

Reino UnidoDoentes britânicos mais obesos

de dimensão considerável e preocupan-te, não apenas porque está em causa a saúde das pessoas, mas também o peso que isso representa para o orçamento do serviço de Saúde”.Um dos casos que se tornou mais co-nhecido na Grã-Bretanha foi o de Pene-lope Stapleton, que pesava 140 quilos quando morreu de ataque cardíaco, aos 61 anos. Como o caixão era demasiado grande para caber no crematório de Norwich, a família foi forçada a procu-rar uma alternativa e a fazer o funeral em Watford, a quase 200 quilómetros de distância.

Reino UnidoCientistas estudam tratamento da artrite reumatóide com malaguetas

de um analgésico concebido a partir das malaguetas é o facto de se tratar de um elemento natural, cujo princí-pio activo é a capsaicina, o fitoquímico que confere o gosto picante ao pimen-to vermelho, e que alguns estudos anteriores provaram ser eficaz na te-rapia da dor.A actual pesquisa pretende descobrir como actua a capsaicina para combater

a TNF-alfa, uma das substâncias infl ama-tórias mais conhecidas.Os cientistas lembram que as malaguetas sempre foram usadas na medicina caseira, para tratar o reumatismo, por exemplo, mas com os efeitos secundários associa-dos ao facto de ser um alimento picante.O objectivo passa por anular este incon-veniente, isolando a capsaicina sob a apresentação de um comprimido.

Cientistas estudam tratamento da artrite

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EspanhaEspecialistas exigem plano de combate ao colesterol

FrançaAnestesia geral perturba relógio biológico

Um grupo de especialistas espanhóis, recentemente reunido no Fórum Social sobre Colesterol e Doença Cardiovas-cular, concluiu que, em 2020, os níveis crescentes de colesterol podem mergu-lhar a Europa numa crise sanitária e so-cial. Este grupo, denominado “The Sto-ckholm Network”, apesar de reconhecer que a previsão pode pecar por exagero, dá como certo que o Sistema Nacional de Saúde de Espanha poderia encaixar poupanças significativas, reduzindo al-guns factores de risco que provocam as

doenças cardiovasculares, nomeadamen-te o colesterol. O médico Pedro Mata, di-rector deste fórum e membro do grupo European Action on Cholesterol, diz mes-mo que “por cada euro gasto a prevenir um enfarte do miocárdio, conseguiríamos poupar três euros no seu tratamento”Estas conclusões deixam claro o vazio que existe nas políticas e nas agendas dos governos europeus na luta contra este fac-tor de risco. Para Pedro Mata, e pegando no caso espanhol, “da mesma forma que se põe em cima da mesa uma lei para reduzir o consumo do tabaco, também se podem pôr em marcha acções para reduzir os níveis de colesterol, com as quais se conseguiria baixar o risco car-diovascular em cerca de 35%, deixando de se gastar 169 mil milhões de euros

por ano em tratamentos associados a esta doença”. Apesar de existirem nu-merosas recomendações nacionais e internacionais sobre este assunto, estas não são aplicadas na prática clínica actu-al, pelo que o director do grupo de espe-cialistas sustenta que “a solução passa por uma melhor articulação entre os cuidados de saúde primários e os espe-cializados, associada a um investimento sério na prevenção”.Actualmente, as doenças cardiovascula-res são responsáveis por 1,9 milhões de mortes anuais, só nos países da União Europeia, estimando-se que este núme-ro suba, se forem confirmadas as pre-visões sobre o aumento da prevalência da diabetes e o progressivo aumento da população.

Uma equipa de investigadores franceses do Instituto Nacional da Saúde e do Cen-tro Nacional de Investigação Científica (CNRS) concluiu que as pessoas sujei-tas a uma anestesia geral acabam por sofrer de perturbações do sono, de falta de atenção e de uma fadiga inexplicável. Ao que tudo indica, esta prática auxiliar do acto cirúrgico produz uma espécie de intervalo horário, durante o qual, para o cérebro, tudo pára. Todos os anos são feitas nove milhões de anestesias gerais em França, a uma média de 25 mil por dia, e se actualmente já é possível limitar os efeitos secundários graves, o mesmo não acontece com algumas consequên-

cias, mesmo quando as anestesias são de curta duração (20 a 30 minutos).Ainda não foi inteiramente esclareci-do se as perturbações resultam ape-nas da anestesia ou se surgem asso-ciadas aos efeitos da cirurgia em si. No entanto, elas manifestam-se mes-mo quando é feita uma anestesia geral sem acto cirúrgico, tal como no caso de uma colonoscopia.Já em estudos publicados anteriormen-te, por uma equipa dos Hospitais Uni-versitários de Estrasburgo, tinha sido avançada a hipótese de as anestesias perturbarem os ritmos circadianos, ou seja, os relógios biológicos que regulam

a alternância entre os estados de vigília e de sono, durante um período aproxima-do de 24 horas.Uma experiência realizada em ratos, pro-vou que uma anestesia de 30 minutos, praticada nas duas horas anteriores ao momento de transição entre o repouso e a actividade corresponderia, nos huma-nos, aos efeitos de um voo entre Paris e Nova Iorque. Ou seja, este jet-lag induzido, demons-trou que os efeitos da anestesia geral so-bre o relógio biológico cerebral podem explicar as dificuldades temporárias de sincronização do organismo com a hora local após uma cirurgia.

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A Medicina Preventiva representa uma área de especial interesse e de enorme potencial para o desenvolvimento da Medicina Interna, contribuindo para a sua notoriedade pública, para uma maior realização profissional dos Inter-nistas e para um mais amplo reconheci-mento pelos seus pares. As transições demográficas, epidemio-lógicas e sociais, actualmente em curso no País, conferem às medidas de preven-ção de doença e de promoção da Saúde um importante papel de influência po-sitiva em termos de redução da “carga de doença” e melhoria da “qualidade de vida” da população portuguesa . O impacto destas medidas pode con-dicionar aumentos significativos na esperança de vida, diminuição da mor-talidade nas principais causas de mor-te, redução de acidentes (viários e de trabalho), redução de consumo de ta-baco e de álcool, redução de doenças transmissíveis, redução de excesso de peso e melhorias significativas a nível de saúde mental.Contudo, o desafio da prevenção pres-supõe um claro entendimento dos be-

nefícios reais de cada estratégia e de uma rigorosa avaliação do custo/efecti-vidade de cada uma destas medidas, de forma a permitir a sua implementação racional. A revisão sistemática destes conceitos e a disseminação de reco-mendações, que estabeleçam normas de conduta necessárias ao sucesso de uma politica integrada de medicina pre-ventiva são, para isso, essenciais.A complexa integração de conhecimen-tos e técnicas, que são comuns à pra-tica da medicina clínica, com as novas ciências biomédicas que optimizam o desenvolvimento e a implementação de políticas de saúde numa perspectiva comunitária e populacional, represen-tam uma excelente oportunidade para combinar a “tradição Osleriana”, que tem vindo a caracterizar a prática da Medicina Interna, com os desafios de uma nova intervenção pública, activa e responsável em relação a questões que influenciam, de forma decisiva, a Saúde das populações – a Medicina Preventi-va.O Internista confronta-se hoje, diaria-mente, com a necessidade de minimizar

a “carga de doença”, em especial a do-ença crónica, que, no internamento ou em ambulatório é a “prova provada” de uma inadequada e muitas vezes inexis-tente politica de promoção da Saúde e de prevenção da doença. Neste domínio, onde a sua experiência e autoridade são particularmente indis-cutíveis, o Internista pressente o peso e a complexidade crescente destas pa-tologias para o sistema de saúde, e a necessidade, cada vez mais urgente, de se entregar a uma responsabilidade so-cial, até agora nunca verdadeiramente assumida, que faça o sistema de Saúde português evoluir de uma dialética de “diagnostico – tratamento”, para uma verdadeira política integrada de Saúde e bem-estar que responsabilize a socie-dade, mas também todos os seus indiví-duos, pela sua própria Saúde.O Internista é, na nossa opinião, um ele-mento essencial na criação de pontes e estratégias integradas que, envolvendo outros importantes parceiros no siste-ma de saúde, tornem efectivas políticas cujo impacto positivo é por demais evi-dente.

Medicina Interna e Medicina Preventiva

Filipe BastoCoordenador do NESTOR - Núcleo de Estudos em Organização

e Desenvolvimento de Serviços de Saúde, da SPMI

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