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Medicina Interna HOJE • Março de 2009 | Ano IV | Nº Trimestral MEDICINA INTERNA Hoje Manuel Pizarro Um Internista num lugar de decisão 15.º CONGRESSO NACIONAL DE MEDICINA INTERNA Funchal recebe número recorde de trabalhos

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Medicina Interna HOJE • �

Março de 2009 | Ano IV | Nº ��Trimestral

MEdIcINAINTErNA Hoje

Manuel PizarroUm Internista num lugar de decisão

15.º CONGRESSO NaCiONal dE MEdiCiNa iNtERNaFunchal recebe número recorde de trabalhos

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MEdIcINAINTErNA Hoje

4 �5.º cONGrESSO

Funchal recebe número recorde de trabalhosO �5.º congresso Nacional de

Medicina Interna, que se realiza no

Funchal, Madeira, de 4 a 7 de Março,

vai ter o maior número de trabalhos

científicos de todas as reuniões da

especialidade já realizadas no país,

ao terem sido seleccionados 774

abstracts entre os 965 recebidos para

aprovação. A maioria dos trabalhos

é de especialistas portugueses e

espanhóis.

�6 Manuel Pizarro

Um Internista num lugar de decisãoA Medicina Interna “tem-me ajudado

muito nesta vida pública”, pela

“capacidade de lidar com múltiplas

fontes de informação, seleccionado o

que é mais relevante”, quem o diz é

Manuel Pizarro, secretário de Estado

da Saúde, e Internista que, numa

entrevista sobre o seu exercício na

política, confessou à MIH sentir muito

a falta dos seus doentes.

Março de 2009 | Ano IV | Nº �� | Trimestral

Ser e parecer

Ao longo das várias edições da Medicina Interna Hoje, é comum lermos testemu-nhos da importância dos Internistas para o Sistema de Saúde português. De facto, é difícil encontrar quem não reconheça o papel relevante que os especialistas de Medicina Interna assumem, em particu-lar nos hospitais. O Secretário de Estado da Saúde, Ma-nuel Pizarro, que nos deu a honra de conceder a entrevista que se pode ler mais adiante, é uma das vozes que se destaca nesse reconhecimento, por de-sempenhar funções de responsabilida-de, para as quais a circunstância de ser, ele próprio, um Internista, tem sido um factor adjuvante.Para todos aqueles que, na sua prática diária, têm alguma dificuldade em en-tender a razão de existir um fosso tão grande entre o reconhecimento público e uma realidade pouco traduzida em ac-tos concretos, estas “massagens” ao ego têm um significado especial.É por essa razão que faz sentido recupe-

rar um repto que temos vindo a lançar e que exige o empenho de todos. Os Inter-nistas têm de saber comunicar quem são e o que fazem. Não basta que existam, ou que todos vejam neles uma trave-mestra dos cuidados de saúde, em Portugal.A verdade é que, de tão ocupados que estamos a tratar dos doentes ou a man-ter os Serviços de Urgências a funcio-nar, esquecemo-nos de que a imagem da Medicina Interna é um activo demasiado importante para ser descurado.Desenganem-se os que pensam que es-tas questões devem ser uma preocupa-ção para terceiros. A percepção pública do que os Internistas são e do que fa-zem, depende única e exclusivamente de cada um. Se o não fizermos, não vão ser outros a fazê-lo por nós.O facto de o 15.º Congresso Nacional de Medicina Interna ter sido designado como o “Congresso da Comunicação”, deve ser mais um motivo para que pen-semos neste assunto de acordo com a importância que ele tem.

Faustino Ferreira

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�5.º congresso Nacional de Medicina Interna

O �5.º congresso Nacional de Medicina Interna, que

se realiza no Funchal, Madeira, de 4 a 7 de Março, vai

ter o maior número de trabalhos científicos de todas

as reuniões da especialidade já realizadas no país, ao

terem sido seleccionados 774 abstracts entre os 965

recebidos para aprovação. A maioria dos trabalhos é

de especialistas portugueses e espanhóis.

Funchal recebe número recorde de trabalhos

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A duas semanas do Congresso, ti-nham já sido registadas 800 inscrições de congressistas, para uma reunião em que a Indústria Farmacêutica vai ter uma participação semelhante à de anos anteriores, com cinco simpósios satélite, sobre doenças cardiovascula-res, diabetes e dislipidémias.Neste 15.º Congresso vai ser atribuído o grau de sócio honorário da Socieda-de Portuguesa de Medicina Interna (SPMI) ao Internista espanhol Jaime Merino, criador da Escola Europeia de Medicina Interna, em Alicante e um dos grandes defensores da candi-datura portuguesa que foi escolhida para organizar esta iniciativa durante três anos consecutivos, dando início à itinerância desta Escola para internos

de Medicina Interna, de toda a Europa.Trata-se de uma distinção honorífica atribuída a título excepcional, já que, até à data, apenas os antigos presiden-tes da SPMI podiam ser considerados sócios honorários.Outra presença internacional vai ser a do presidente eleito da Federação Eu-ropeia de Medicina Interna, o também espanhol Ramon Pujol Farriols, para além de uma delegação da Sociedade Espanhola de Medicina Interna e da Sociedade Asturiana da especialidade, que vai organizar o próximo Congres-so Ibérico de Medicina Interna, de re-alização bienal intercalada entre Por-tugal e Espanha e que teve a primeira edição no ano passado, em Vilamoura, em simultâneo com o 14.º Congresso

Nacional de Medicina Interna. Vão ainda estar presentes 17 palestrantes internacionais, entre os quais Graham Hughes, do Reino Unido, que descre-veu a Síndrome de Hughes em 1983, uma doença auto-imune, também co-nhecida como a sídrome do “sangue grosso”.Para o presidente do Congresso, Antó-nio Caldeira Ferreira, “as reacções ao programa estão a ser muito positivas e o facto de se tratar de um evento que se realiza em moldes um pouco dife-rentes dos habituais está a gerar gran-de expectativa”.A abertura do Congresso vai ser pre-sidida pelo Secretário Regional dos Assuntos Sociais, Francisco Jardim Ramos.

Jaime Merino, criador da Escola Europeia de Medicina Interna

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Cancro

A publicação nos media de dois artigos relacionados com a radio-terapia em Portugal gerou alguma confusão sobre a situação actu-al da especialidade no país. O semanário Sol, de 29 de Março de 2008, refere no artigo “O cancro como receita” o facto de os cen-tros públicos que possuem radioterapia receberem, por sessão de tratamento, valores superiores aos pagos aos centros privados por eles subcontratados. Mais recentemente, o Express,o de 8 de No-vembro de 2008 publicou um artigo intitulado “Estado acusado de dificultar radioterapia”, dando conta dos problemas relacionados com o modelo de referenciação para tratamento actualmente em prática. Para entender todos os aspectos subjacentes aos referidos artigos, é essencial conhecer o que aconteceu no nosso país nos últimos anos e que a este assunto diz respeito.No ano de 2002, existiam em Portugal 27 aparelhos para radio-terapia externa, número marcadamente insuficiente para as ne-cessidades apontadas de cinco a seis equipamentos por milhão de habitantes. A maioria destes equipamentos estava instalada em serviços públicos que, apesar de todos os esforços, apenas con-seguiam dar resposta a parte das solicitações e, mesmo assim, à custa de tempos de espera prolongados. Desde então, a iniciativa privada deu origem a novas unidades. Du-rante algum tempo a pressão sobre o serviço público diminuiu, mas a disponibilidade de novos centros criou a possibilidade de re-ferenciar para radioterapia um maior número de doentes com indi-cação clara para tratamento. O resultado óbvio terá sido o aumento do número total de doentes que efectivamente beneficiaram com o mesmo. As listas de espera nos serviços públicos, entretanto, voltaram a aumentar. A maioria dos doentes tem proveniência de hospitais públicos, essencialmente em unidades de oncologia ou cirurgia, e foi dada a possibilidade de cada unidade criar ligações com as unidades privadas de radioterapia que, por razões geográficas ou financei-ras, lhes eram mais favoráveis. Assim se trabalhou durante algum

Tratamentos privados ou privados de tratamento?

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rui Paulo rodrigues, Médico especialista em radioterapia, coordenador da Unidade de radioterapia do Hospital cUF descobertas, em Lisboa

tempo, em que serviços privados de ra-dioterapia se estabeleceram, implantando novas tecnologias, as mais recentes na especialidade, e as usaram, de facto, com benefício também na qualidade dos servi-ços prestados.Em linha com o aumento de doentes sub-metidos a radioterapia os custos aumen-taram, não porque os privados tenham explorado o sector em termos de preços, já que sempre praticaram, no máximo, os preços impostos por portaria do Ministério da Saúde, mas apenas porque mais doen-tes foram tratados. No presente momento quer-se fazer crer que os privados estão a enriquecer à custa do sector público, mas tal afirmação é falsa. Sempre foi o Estado a impor os valores a cobrar pelos tratamen-tos efectuados.Outro pecado apontado ao sector privado é o desvio de profissionais para os seus quadros. A especialidade de radioterapia tem sido esquecida de forma sistemática, sendo os médicos desta especialidade os que têm menores expectativas de carreira, principalmente pela quase ausência de sec-tor privado. As condições de trabalho nos hospitais públicos em termos tecnológicos são por demais insuficientes. A maioria dos profissionais nas unidades públicas apenas contacta com os equipamentos tecnologi-camente mais avançados se visitarem um serviço fora de Portugal.A maior parte dos centros públicos, certa-mente por questões financeiras, continua a utilizar, até ao último fôlego, equipamentos antigos e incapazes de efectuar as técnicas

mais sofisticadas de tratamento. Quando surge a oportunidade de exercer numa unidade equipada com os aparelhos e tec-nologias mais recentes, a tentação é mais forte do que qualquer proposta financeira. O sector público não soube, não sabe e parece não estar a tentar saber como reter os especialistas nos seus quadros. Aparen-temente o expediente encontrado é a ten-tativa de destruir o sector privado usando argumentos pouco sustentáveis. Há cerca de dois anos, o Ministério da Saú-de emitiu uma circular a todas as unidades de saúde públicas, mandando que todos os doentes com indicação para radioterapia fossem referenciados apenas para as uni-dades públicas. Como se sabia antecipada-mente que a sua capacidade era inferior à procura estas, obviamente, teriam de orien-tar pelo menos parte dos doentes para as unidades privadas. Assim, passaram a ser as unidades de radioterapia do sector pú-blico a efectuar os acordos com os centros privados, embora estes acordos nunca te-nham adquirido o estatuto de concursos públicos que, aparentemente, não são obri-gatórios neste caso. Os privados, pressio-nados pelo risco de perderem uma grande quantidade de doentes viram-se forçados a descer os preços praticados. No artigo do semanário Sol esta situação é bem retrata-da. A tutela alterou também a forma de pa-gamento dos tratamentos de radioterapia. Estes eram, até essa altura, pagos de acor-do com os actos praticados e a complexi-dade de tratamentos. Desde então passou a ser pago um valor fixo para cada fracção

de tratamento, independentemente da sua complexidade, e não considerando outros actos indissociáveis do tratamento. Tendo as unidades públicas de radioterapia con-seguido negociar com os privados valores bem abaixo do que lhes é posteriormente pago pela tutela, encontraram uma forma perfeita de se financiarem, já que metade do que recebem é lucro.Alguns responsáveis da radioterapia do sector público continuam a demonizar o sector privado, apontando-lhe o lucro como único objectivo, o que é um falso argumen-to. Quanto ao facto de os privados estarem a retirar especialistas ao sector público, o que se passa é que o público não os sabe reter, não tem forma de o fazer. O argu-mento mais recente é o de que o sector privado está a alarmar a população. Não houve nenhuma campanha a informar os cidadãos sobre o que realmente se passa neste sector porque, se houvesse - e talvez devesse haver - todos iriam perceber que há realmente razões de preocupação. Mais do que isso, há razões para responsabilizar todos os que deixaram esta especialidade chegar ao ponto de desorientação e des-respeito pelos profissionais, e refiro-me a todos, médicos, físicos e técnicos, sem distinção do local onde exercem, pois todos estão a ser prejudicados por um estado de coisas que tem vindo, gradual mas firme-mente, a destruir o futuro da radioterapia portuguesa. Mais do que os profissionais é a população em geral e os doentes com can-cro em particular, os maiores prejudicados pela situação actual da radioterapia no país.

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Formação de qualidade vs clínicos estrangeiros

Em resposta ao anúncio da ministra da Saúde, Ana Jorge, de que o Ministério pretende reforçar a “importação” de médicos estrangeiros para combater a falta de clínicos em Portugal, o presidente do Conselho Nacional do Médico Interno (CNMI), Rui Guimarães, defendeu que Portugal deve dar formação de qualidade aos médicos e criar condições para não saírem do país, em vez de atrair clínicos estrangeiros.

O responsável sublinhou ainda que para Portugal virão “os mé-dicos que terão menos qualificação, com prática clínica muito duvidosa, e menos hipóteses de trabalhar noutros países”.Muitas vezes esses médicos são formados por portugueses e quando obtêm a diferenciação, o título de especialista, regres-sam ao país de origem ou a outros países onde o mercado seja mais favorável, sustentou o médico.Rui Guimarães defendeu que Portugal “tem condições de dar formação aos médicos”, que, em termos da Europa, é uma “for-mação de excelência”. A ministra da Saúde anunciou que chegaram já a Portugal 15 médicos do Uruguai, que estão a trabalhar no Instituto Nacio-nal de Emergência Médica (INEM), estando prevista a chega-da de mais 20.De Cuba deverão vir 40 médicos, por um período de três anos e para exercerem nos locais onde “há mais dificuldade em co-locar médicos”, e clínicos do Chile, que chegarão para fazer a sua especialidade durante cinco anos. “Os portugueses têm muita dificuldade em compreender que o mesmo país que durante anos e anos vetou a entrada nas fa-culdades de Medicina com numerus clausus baixos está agora a trazer médicos estrangeiros para Portugal”, frisou Rui Gui-marães.

Diabetes tipo 2 é mote de novo livroA Associação Protectora dos Diabéticos de Portugal (APDP) lançou o livro “Diabetes tipo 2 – Um Guia de Apoio e Orientação”, com o objectivo de informar e orientar os leitores na prevenção e no combate a esta doença que afecta largos milhares de portu-gueses. Alimentação, exercício físico, autovi-gilância, prevenção e aspectos psicológicos são alguns dos temas em análise.Dirigido a diabéticos, mas também a médi-cos, enfermeiros, nutricionistas, dietistas e todos os que necessitam de obter informa-ção ou complementar a sua formação na área da doença, este livro é o resultado da experiência de mais de 80 anos da APDP a

cuidar de pessoas com diabetes. A diabetes é uma doença em rápida expansão, sobretudo devido ao aumento da incidência e prevalên-cia da diabetes tipo 2. As estimativas da Fe-deração Internacional de Diabetes prevêem que em 2025 existam mais de um milhão de diabéticos, tudo indicando que esta previsão possa ainda ser ultrapassada.A luta contra a diabetes passa pela preven-ção em acções integradas na educação para a saúde, pelo diagnóstico precoce e por uma boa rede de cuidados ao diabético. Este livro pretende assim, contribuir para uma tomada de decisão consciente na área da diabetes.

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Nacional

Para promover a informação e o esclareci-mento do público sobre eventuais efeitos dos campos electromagnéticos na saúde, a REN – Redes Energéticas Nacionais editou o livro A Electricidade e a Saúde, os Cam-pos Electromagnéticos de Frequência Re-duzida – Informação para o grande público, de Paulo Liberato e Carolino Monteiro.A obra apresenta a questão de modo aces-sível, recorrendo a uma linguagem não técnica e enquadra o fenómeno em termos científicos e regulamentares.Trata-se de um documento desenvolvido no âmbito da política de responsabilidade social e resulta de um protocolo entre a REN e a Faculdade de Farmácia da Univer-sidade de Lisboa (FFUL). Insere-se num dos temas centrais da análise a gestão e comunicação de risco, recomendada pela Organização Mundial de Saúde (OMS) e pelas autoridades nacionais.A iniciativa desta edição dá seguimento ao simpósio bioCEM, realizado em Janeiro de 2008 (www.simposiobiocem.com) e promo-vido pela FFUL.Com esta obra, a REN espera contribuir activamente para as campanhas de infor-mação e esclarecimento da opinião pública sobre a matéria, porque a segurança do transporte de energia e a segurança das po-pulações são valores inegociáveis.

O professor de Economia Frank Li-chtenberg partiu de um pressuposto: quanto mais recentes fossem os medi-camentos que as pessoas consomem, estas seriam mais saudáveis e teriam maior esperança de vida. O pressupos-to foi o princípio do estudo, levado a cabo em todos os Estados dos Estados Unidos da America, que liga o consumo de medicamentos ao aumento da espe-rança média de vida numa população. A apresentação deste estudo em Portu-gal teve lugar no Fórum do Diário Eco-nómico e da Merck Sharp & Dohme sobre “Inovação em Saúde e Desenvol-vimento Global”. O investigador do Departamento nor-te-americano de Pesquisa Económica concluiu que os Estados com mais medicamentos inovadores são aqueles onde os cidadãos vivem durante mais

tempo, sendo este o factor mais impor-tante no aumento da esperança média de vida. Para chegar a esta conclusão, Frank Lichtenberg estudou a esperan-ça média de vida nos Estados Unidos, relacionando-a com o ano de aprovação oficial de cada medicamento.A inovação está relacionada com o aumento da esperança de vida, mas a despesa com o desenvolvimento de no-vos medicamentos não implica neces-sariamente um aumento nos gastos per capita com a Saúde. Porque, segundo o investigador, é possível poupar em in-ternamentos ou cirurgias, o que com-pensa o diferencial. De recordar que em Portugal, desde 2007, os medicamentos só entram nos hospitais públicos se as autoridades concluírem que o preço pedido é justo face à inovação proposta.

REN apresenta publicação sobre efeito dos campos electromagnéticos

Investir e/ou poupar?Medicamentos inovadores

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Bial lança novo medicamento no mercado português

A Bial acaba de lançar no mercado por-tuguês o PrometaxR Sistema Transdér-mico, uma nova forma de administração da Rivastigmina para o tratamento da doença de Alzheimer ligeira a moderada-mente grave. O novo medicamento é fruto de um contrato de licenciamento e consti-tui uma inovação tecnológica. PrometaxR Sistema Transdérmico apre-senta uma forma de administração trans-dérmica que permite que o princípio ac-tivo seja lentamente absorvido pela pele, evitando a passagem gastrointestinal. A posologia e administração, através da co-locação de um sistema transdérmico uma vez ao dia, facilita a adesão ao tratamento. Os ensaios clínicos realizados demonstra-ram que os doentes tratados com o novo fármaco apresentaram melhorias signifi-cativas às 24 semanas, nomeadamente nas actividades da vida diária e nos sintomas cognitivos. Os ensaios clínicos evidenciaram também a boa receptividade dos cuidadores para esta nova formulação transdérmica, com-parativamente com o mesmo medicamen-to administrado em cápsulas. A Rivastigmina é uma das substâncias acti-vas mais usadas para o tratamento da Do-ença de Alzheimer, forma mais frequente de demência nos países industrializados.

Uma influência negativa no quotidianoA doença de Alzheimer é uma doença do cérebro que se caracteriza pela perda progressiva e irreversível das capacida-des mentais, conduzindo o doente a um estado de dependência total. Neste sen-tido, a doença de Alzheimer influencia negativamente o quotidiano não só do doente, que perde progressivamente as suas capacidades, mas também do cuida-dor, alvo de um enorme desgaste físico e psicológico. A perda das capacidades cog-nitivas está associada inicialmente a um dé-fice no funcionamento e, posteriormente, à morte das células neuronais. A doença surge de uma forma insidiosa, com mani-festações relacionadas com a perda de me-mória em adultos com mais de cinquenta anos, o que faz com que as queixas sejam muitas vezes desvalorizadas quer pelo do-ente, quer pelos familiares.A causa da Doença de Alzheimer é desco-nhecida mas aceita-se que é uma doença geneticamente determinada, embora não seja hereditária, isto é, não se evidencia uma transmissão de pais para filhos. Os atrasos que muitas vezes se verificam no diagnóstico, associados à não-aceitação da doença, faz com que a terapêutica não seja instituída tão precocemente quando se-ria desejável para permitir o tratamento e o prolongamento da autonomia dos doentes.

Doença de Alzheimer

Já é possível ficar a saber as reser-vas de sangue disponíveis, através do site do Instituto Português de Sangue (IPS).No sítio www.ipsangue.org/ poderão ser encontradas as reservas disponí-veis dos diversos tipos de sangue, mas também ser confirmadas se as mensagens que, de forma regular, alertam para a falta de um outro tipo de sangue, têm ou não fundamento.Existem também reservas de san-gue nos hospitais, mas estes dados já não estão acessíveis a todos e são tratados através de outro sistema in-formático que monitoriza, de hora a hora, a situação a nível nacional.Já o sistema único que o IPS agora disponibiliza permite detectar as fa-lhas e agir em tempo útil, ou seja, antes que as reservas esgotem.

reservas de sangue podem ser consultadas online

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Os hospitais com gestão empresarial (EPE) já saldaram praticamente todas as dívidas em atraso aos fornecedores (aproximadamente 90 por cento), fa-zendo uso dos 900 milhões de euros disponibilizados pelo Governo, avançou o “Diário Económico”. «Pagámos tudo e pagámos dentro do prazo”, salientou o presidente do con-selho de administração do Hospital de Santa Maria, Adalberto Campos Fer-nandes, para quem a operação foi “um sucesso”.Também o presidente do Hospital de Évora, António Serrano, assegurou que os 13 milhões de euros em dívida já foram saldados. No entanto, considera que “o que é preciso é que na discussão sobre o financiamento hospitalar que estamos a ter com a Saúde haja condi-ções de sustentabilidade destes paga-mentos”.Entre os casos mais polémicos de hos-pitais que pagaram a totalidade das dívidas vencidas, destaca-se o Centro

Hospitalar de Setúbal que, em média, demorava 727 dias a efectuar o paga-mento aos fornecedores. Agora, as fac-turas por liquidar estão nos 84 dias.Em Aveiro, o Hospital Infante D. Pedro passou de 250 dias, em média, para 80 dias e, em Viseu, o Hospital São Teotó-nio passou de 132 para 80 dias.A Indústria Farmacêutica (IF) já confir-mou o pagamento da maioria das dívi-das com mais de 90 dias, mas optou por não avançar números concretos.

Indústria Farmacêutica não desce preços

Ainda que a totalidade da dívida com mais de 90 dias já tenha sido saldada, a Indústria Farmacêutica garante que não irá efectuar descontos. A argumen-tação é simples: “se não aumentámos os preços por os hospitais demorarem a pagar, também não os vamos reduzir por os prazos terem sido encurtados”,

justifica o director-geral da GlaxoSmi-thKline.Para o economista Pedro Pita Barros, a posição da IF é perfeitamente normal. “A Indústria vai provavelmente querer esperar algum tempo para ver se estes pagamentos representam apenas uma injecção suplementar no orçamento dos hospitais ou se o que está em causa é uma mudança consistente na relação com os fornecedores”, comentou.Daí que o economista considerou que será preciso “esperar alguns meses” até os descontos, a existirem, serem visíveis.Já os administradores hospitalares par-tilham uma perspectiva diferente, até porque estão habituados a negociar algumas vantagens quando existe uma garantia de pagamento dentro do prazo de três meses.“É normal que os hospitais tentem ob-ter condições mais vantajosas em fun-ção dos prazos de pagamento”, resumiu o presidente do Centro Hospitalar do Nordeste, Henrique Capelas.

Maioria das dívidas já foram saldadasHospitais EPE

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Um estudo realizado por Bruxelas, que pela primeira vez pediu dados a todos os Esta-dos-membros, conclui que Portugal ocupa a segunda posição na taxa de nascimentos por cesariana (33 por cento), sendo apenas suplantado pela Itália (38 por cento).Portugal volta a estar situado entre os primeiros lugares relativamente ao parto

Cesarianas na UE

instrumental, com recurso a forceps ou ventosas, apresentando uma taxa quatro vezes superior a países como a Eslovénia ou a Irlanda.O aspecto positivo está ligado à taxa de mortalidade infantil, sendo que Portugal tem uma das mais baixas da Europa (3,9 por cento).

Portugal está na segunda posição

Profissionais de saúde vão ter protocolo de actuação

Apesar de médicos e organizações não governamentais de-fenderem há muito tempo esta medida, só agora é que o Go-verno português a

inscreveu em plano nacional e vai ser elaborado um protocolo de actuação para orientar os profissionais de saúde nos casos de mutilação genital feminina (MGF).Embora não se conheça a prevalência da MGF no país, vivem em Portugal meninas e mulheres de algumas etnias oriundas da Guiné-Bissau que mantêm a prática.“Tendo em conta a perpetuação de práticas como a MGF, tor-na-se importante repensar a abordagem ao fenómeno das mi-grações, de modo a evoluir da coexistência multicultural para a experiência intercultural, reforçando a importância de reco-nhecer a diversidade cultural e, simultaneamente, promover a igualdade dos direitos individuais, independentemente das culturas”, alegam instituições públicas e organizações não

governamentais no Primeiro Programa de Acção para a Eli-minação da MGF.Profissionais de saúde, magistrados, mediadores sociocultu-rais, professores e jornalistas vão receber formação específi-ca sobre esta prática, que persiste em quase 30 países, na sua maioria africanos, mas que viajou para a Europa com os fluxos migratórios, propõe o programa de acção, que está integrado no III Plano Nacional para a Igualdade – Cidadania e Género (2007-2010).“Uma vez que são diversos os efeitos e consequências” desta prática, é necessário, preconiza o plano, “que a actuação ao nível da sensibilização, prevenção e informação ocorra tam-bém em diferentes sectores” - comunidade, saúde, educação, formação, investigação e cooperação.Segundo a Organização Mundial de Saúde, Portugal está en-tre os países de risco relativamente à prática da MGF, mas apesar disso não existe um enquadramento legal específico, nem profissionais de saúde com formação adequada, alerta um estudo apresentado por Sandra Piedade, investigadora do ISCTE.

Mutilação genital feminina

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Os centros de saúde da Admi- nistração Regional de Saúde de Lisboa e Vale do Tejo (ARSLVT) realizaram no ano passado mais 224.151 consultas programadas de Medicina Geral e Familiar do que no ano anterior, numa média de 971 atendimentos médicos por hora.A ARSLVT adianta em comunica-do que os 87 centros de saúde des-ta região – que abrange os distri-tos de Lisboa, Setúbal e Santarém, com uma população estimada de 3.378.999 habitantes – realizaram 8,5 milhões de consultas em 2007, verificando-se um aumento de 2,7 por cento em relação ao período homólogo, o que equivale a 2,5 consultas por habitante. A maioria das consultas efectua-das reporta ao distrito de Lisboa (4.970.837), seguindo-se Setúbal (2.098.916) e Santarém (1.432.607), cita o “Diário Digital”.Entre as 8.502.360 consultas reali-zadas em 2008 nos centros de saú-de, 7.155 foram de adultos, 831.033 foram pediátricas, 273.730 foram de planeamento familiar, 201.545 de saúde materna e 40.245 de do-micílios.O centro de saúde de Sacavém, com nove extensões e uma uni-dade de saúde familiar, foi o que efectuou mais consultas em 2008, ou seja, 273.633. Este centro tem cerca de 140.152 utentes inscritos.

O Centro Hospitalar de Trás-os-Mon-tes e Alto Douro (CHTMAD) anunciou o investimento de 90 milhões de euros na ampliação do serviço de urgência em Vila Real, na construção do centro oftalmológico em Peso da Régua, no serviço de gastrenterologia de Chaves e no Hospital de Lamego.Uma das grandes apostas para este ano é a abertura do centro de trata-mento oftalmológico no Hospital D. Luiz I (Peso da Régua), prevista para Março, que representa um investimen-to de cerca de um milhão de euros. No início deste ano foi publicado o concurso público para a realização de obras de ampliação da urgência e da criação de uma nova unidade de cui-dados intensivos no Hospital de São Pedro, em Vila Real. Com um investimento de seis milhões de euros, as obras deverão estar finali-zadas no prazo de um ano.Para a unidade de Vila Real será lan-çado brevemente um concurso públi-co para a construção de mais um piso, onde irá ser criada uma área de infec-

ciologia, com 24 camas, e que contará com todas as condições técnicas de isolamento para evitar a contaminação de outros doentes ou serviços. Esta obra está orçada em um milhão de euros.Prevista também para este ano está a obra de construção de um novo edifí-cio para acolher as especialidades de Pneumologia, Pediatria, Neurologia, Nefrologia e mais uma área de inter-namento de Medicina, com 24 camas, que representam um investimento de 15 milhões de euros.Chaves vai contar com um investimen-to na ordem dos 6,5 milhões de euros para a construção de um novo serviço de Gastrenterologia e para a remode-lação total do bloco operatório. Nesta unidade estão também a ser con-cluídas as obras para a área da consul-ta externa, com adaptação para a área de Obstetrícia e Pediatria autónoma.O Hospital de Proximidade de Lame-go, com um orçamento de 44 milhões de euros, deverá estar finalizado em 2010, contando com uma forte aposta na cirurgia de ambulatório.

cHTMAd anuncia investimento de 90 milhões

Novos serviços

Consultas aumentaram em relação a 2007

Lisboa e Vale do Tejo

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Portugueses colocam doenças cardiovasculares na quarta posição

Uma das conclusões do estudo é que as doenças cardiovasculares são con-sideradas pelos portugueses como a quarta doença mais grave, apesar de serem a primeira causa de morta-lidade em Portugal. A investigação, levada a cabo pela Spirituc, demons-tra também que os portugueses não estão preocupados com as arritmias cardíacas, a principal causa da morte súbita.Os resultados deste estudo demons-tram que é preciso intervir na comuni-dade geral, clarificar mitos e verdades sobre as arritmias cardíacas, e assim, permitir o desenvolvimento de estra-tégias de prevenção da morte súbita.

Por esta razão, foi apresentada a cam-panha “Bate, bate coração”, uma ini-ciativa inédita em Portugal, apadrinha-da pelo fadista Carlos do Carmo, ele próprio portador de um pacemaker, que visa sensibilizar a população em geral para as arritmias cardíacas, edu-car sobre os seus riscos e esclarecer sobre os meios de diagnóstico e trata-mentos existentes, tal como explicou Carlos Morais, Coordenador Nacional da Campanha. Na apresentação da iniciativa estive-ram presentes o Presidente do IPRC (Daniel Bonhorst), o Presidente da APAPE (João de Sousa), o Coordena-dor Nacional da Campanha “Bate, bate

coração” (Carlos Morais), o sociólogo responsável pela investigação do estu-do da Spirituc (Vítor Cavaco) e o vice-presidente da APPPC, e portador de pacemaker (Carlos Alves).Uma arritmia é uma perturbação do ritmo dos batimentos cardíacos e pode ter consequências fatais quando não tratada. Muitas vezes, as arritmias não provo-cam sintomas e, por isso, grande par-te da população em geral desconhece os seus riscos. A falta de informação é um dos principais factores que pode levar à morte inesperada, repentina e não acidental, conhecida como morte súbita.

Estudo revela desconhecimento

O Instituto Português do ritmo cardíaco (IPrc), a Associação Portuguesa de Arritmologia, Pacing e Electrofisiologia (APAPE) e a Associação Portuguesa de Portadores de Pacemakers e cdI (APPPc) divulgaram os resultados de um estudo nacional pioneiro sobre arritmias.

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Especialistas em Saúde de 28 países de todo o mundo estiveram reunidos entre 2 e 8 de Fevereiro, com o objectivo de sensibilizarem as pessoas a consumirem menos sal, em prol da saúde. A “semana sem sal”, liderada pela World Action on Salt and Health (WASH) e apoiada no nosso país pela Fundação Professor Fernando de Pádua e Institu-to Nacional de Cardiologia Preventiva, teve lugar na Austrália, Bangladesh, Botswana, Bulgária, Canadá, Caraíbas, Chile, Croácia, Cuba, Dubai, Egipto, Es-lováquia, Estados Unidos da América, Finlândia, Geórgia, Holanda, Índia, Itá-lia, Lituania, Malta, Nigéria, Paquistão,

Polónia, Portugal, Quénia, Reino Unido, Suécia e Turquia. Em Portugal, o focus da semana sem sal foram as refeições tomadas fora de casa e a conscienciali-zação dos consumidores para a ligação entre uma dieta rica em sal e o aumento do risco de acidentes vasculares cerebrais (AVC) e enfartes do miocárdio, a par com a sensibilização da indústria alimentar e de restaurantes para reduzirem a quantidade de sal utilizada na confecção de refeições.“As doenças cardiovasculares são a maior causa de morte e incapacidade em todo o mundo”, alertou o Professor Graham MacGregor, presidente da WASH e es-pecialista em cardiologia. Sal a mais

(cloreto de sódio, mas também outros sais de sódio) favorece a hipertensão e outras doenças cardiocerebrovasculares como o enfarte do miocárdio e o AVC, que conduzem milhões a mortes evitá-veis. “Se reduzirmos a quantidade de sal ingerida diariamente, em apenas alguns gramas, podemos diminuir o risco de do-ença cardiovascular”, afirmou.O Professor Fernando Pádua alertou para o facto de “o sódio também vir es-condido em todos os alimentos enlatados! O saleiro deve desaparecer da mesa, po-dendo ser substituído por ervas aromáti-cas, que Lourdes Modesto tanto tem de-fendido connosco desde os anos 60.”

WASH

Quando me serve o café, não vem doce, eu só uso

açúcar se quiser e o que quiser. O mesmo devemos

fazer com o sal nas refeições: s.f.f. não me ponha sal na

comida, eu é que decido se quero e quanto quero usar!

comer sal a mais aumenta a pressão arterial e provoca

outras doenças.

reduzir a ingestão de sal à escala global

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Um Internista num lugar de decisão

Manuel Pizarro, secretário de Estado da Saúde

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Entrevista

A formação em Medicina Interna aju-da a ter uma visão global do sistema de Saúde?Acho que consigo abstrair-me da minha condição de Internista, para dizer que é absolutamente evidente que a Medicina In-terna tem um papel decisivo no sistema de Saúde. Desde logo naquilo que é um com-plemento muito grande do sistema, que são as unidades hospitalares. Os Internis-tas são a espinha dorsal no funcionamento de um hospital. Isto não diminui o papel das outras espe-cialidades. A gigantesca evolução científica e técnica da Medicina deve muito ao apro-fundamento das diferentes especialidades médicas, não é isso que está em causa. Mas essa evolução não tira espaço, no meu ponto de vista, à necessidade de haver médicos que, pela sua formação, pela sua praxis, fazem uma integração global dos conhecimentos das diferentes áreas em benefício da tal abordagem holística dos doentes de que tanto se fala. Os médicos quando estão a tratar pessoas estão a tratar doentes não doenças.

A distância política mudou essa visão da Medicina?Há muitos trabalhos que demonstram que a intervenção dos médicos com uma visão mais generalista é boa do ponto de vista do resultado global do funcionamento do sis-

tema, até do ponto de vista da atribuição de recursos, para não haver o desperdício da repetições de exames, que, por vezes, não conduzem a nenhum benefício real para o doente e para a sua abordagem. Existe um estudo do Prof. Pita Barros que quantifica os ganhos da Medici-na Interna para o sistema de Saúde e para a organização hospitalar. Que avaliação faz dessa análise?Esses estudos, feitos numa abordagem macroeconómica, são sempre susceptíveis de serem questionados, mas têm a enorme vantagem de irem ao encontro da literatu-ra já publicada em países anglosaxónicos como os Estados Unidos e a Inglaterra. A literatura indicia que há vantagens para a gestão do sistema com a participação de médicos com uma abordagem mais geral. Há aqui dois níveis: os Cuidados de Saúde Primários no ambulatório e os médicos de Medicina Interna na estrutura hospitalar. Mas quero realçar que nada disto retira peso às diferentes especialidades. Não poderíamos usufruir hoje das vantagens técnicas da Medicina se não fosse o desen-volvimento das diferentes especialidades. Não defendo aqui o regresso a um passa-do em que só havia médicos de medicina geral, estou é a defender a necessidade de, num presente e num futuro muito marcado pela superespecialização e pela diferencia-

ção tecnológica, não perdermos de vista a necessidade de haver médicos que mante-nham uma abordagem generalista.

Numa altura em surgem novas espe-cialidades dentro da Medicina Inter-na, sente a especialidade ameaçada?Na minha experiência pessoal, nunca sen-ti que a criação de novas especialidades a partir do corpo da Medicina Interna puses-se em causa a vastidão da intervenção do Internista, nas mais diversas áreas. Para já, há sempre uma margem imensa de coisas que sobram. Há uma área muito entusias-mante, que é a das pessoas idosas, com múltiplas patologias coexistentes, com problemas de abordagem, diagnóstico e terapêutica muito complexos, por causa das diferentes interacções das patologias de que sofrem. Essa é uma área imensa, que sobrará sempre.E depois, um Internista terá a possibi-lidade, apesar de tudo, de adquirir di-ferenciação nalgumas áreas que serão sempre áreas de interface entre algu-mas especialidades. Julgo que nunca estará definida uma fronteira exacta entre a MI e as especialidades que dela resultarem. Haverá sempre espaço para que os Internistas trabalhem conforme as suas opções pessoais e conforme as necessidades das instituições em que se inserem.

A Medicina Interna “tem-me ajudado muito nesta vida pública”,

pela “capacidade de lidar com múltiplas fontes de informação,

seleccionado o que é mais relevante”. Quem o diz é Manuel

Pizarro, secretário de Estado da Saúde e Internista que, numa

entrevista sobre o seu exercício na política, confessou à MIH

sentir muito a falta dos seus doentes.

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Não corremos o risco de passar a ter Internistas que são especialistas numa área? Nas novas especialidades sugeridas, a que tem mais propostas é a da medicina de emergência, que é um interface de várias especialidades, e a geriatria. Estas serão as que têm uma maior repercussão. Até certa altura, era muito claro qual era a di-ferenciação técnica na utilização de novos instrumentos de diagnóstico e terapêutica que justificava a existência de novas espe-cialidades. Nestas áreas isto já é porventu-ra mais difícil. Talvez por isso não há consenso sobre a criação dessas novas especialidades, ha-vendo profissionais que defendem que deviam ser criadas e profissionais que de-fendem que, ao contrário, elas deviam ser competências às quais se poderia chegar a partir do corpo de várias especialidades. Tenho tendência a acreditar que nós não devemos fazer um modelo de formação nas subespecialidades médicas que desva-lorize o que é o comum da formação em MI. Mas isso, admito, pode ser uma visão marcada pela minha experiência como In-ternista, pelo meu ângulo enviesado de ver isto, de quem está a ver do lado da MI. A questão é saber se o que nós queremos é ter médicos que sejam absolutamente exemplares do ponto de vista técnico, ou se, além de vermos isto, queremos tam-bém médicos que sejam capazes de uma

abordagem global aos problemas do do-ente. Considero que a vantagem para os doentes está nesta segunda opção e isso exige um tronco comum de MI mais ou menos desenvolvido.

Quando decidiu tornar-se Internista, foi uma opção imediata? Fiz o curso de medicina para ser psiquia-tra. E quando entrei para o Internato Geral (IG) ainda tencionava ser psiquiatra. De-pois, quando fiz o IG, este tinha uma com-ponente muito grande de MI, um terço do internato – seis meses – era de Medicina Interna. Fiz esse internato num hospital universitá-rio, com uma especialista de MI de notá-veis qualidades humanas, científicas e pe-dagógicas. E, a meio desse estágio de seis meses, estava completamente convertido à noção de que iria ser Internista.

E a Psiquiatria ficou para trás ou ain-da tem algum fascínio?Isso tem a sua piada como percurso indi-vidual, porque mais tarde tornei-me no Internista de referência do Serviço de Psi-quiatria desse hospital. Essa foi uma expe-riência muito interessante, e fiz com que no hospital passasse a haver um médico de MI que apoiava regular e sistematicamen-te o internamento e a consulta de Psiquia-tria, o que me permitiu diversificar muito a minha experiência médica e humana.

Foi uma experiência muito interessante, que, depois de deixar de ser médico nesse hospital, teve continuidade. Um colega e amigo ainda hoje faz esse trabalho.

Geralmente a psiquiatria é a especia-lidade menos permeável à entrada de outras especialidades?No caso do Hospital de S. João foi uma sim-biose muito fácil de estabelecer. Os meus colegas da Psiquiatria perceberam bem a vantagem de haver um médico com quem podiam discutir os problemas dos doentes que não eram exclusivamente do foro psi-quiátrico. Desde logo no diagnóstico. Aquilo que nós consideramos aparente-mente simples, a distinção da Medicina, da doença psiquiátrica e da doença orgânica, revela-se em muitos casos de elevada com-plexidade. Há muitas causas orgânicas de perturbações que se manifestam, sobretu-do, por alterações do comportamento. O ser humano é um todo difícil de dissociar em bocados.

A sensibilidade de Internista é essen-cial?A Medicina Interna faz apelo a valores, que hoje não sei se são os mais difundidos no conjunto da sociedade, que são os ape-los à comunicação, ao contacto com o ou-tro, à disponibilidade para ouvir as outras pessoas. Um Internista tem de gostar de fazer isso,

A Medicina Interna faz apelo a valores, que hoje não sei se são os mais difundidos no conjunto da sociedade, que são os apelos à comunicação, ao contacto com o outro, à disponibilidade para ouvir as outras pessoas.

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de se sentar e de ouvir o que os doentes lhe dizem, de falar com a família, de pro-curar nos conhecimentos e na informação que é colocada ao seu dispor pelo doente, pela família e pelo conjunto de outros exa-mes de diagnóstico, fazer um plano para abordar aquele doente em concreto. Acho isto absolutamente fascinante, mas admito que é também trabalhoso e que as pessoas hoje não estão tanto disponíveis para ouvir os outros.

A tecnologia médica não está a afastar os médicos do doente? Afasta e aproxima, sejamos absolutamente francos. Nenhum de nós poderia imaginar o exercício da Medicina sem o recurso a toda a panóplia de exames complementa-res que permite um maior rigor na abor-dagem do doente. Sabe que há hoje textos científicos que defendem, por exemplo, que a ecografia abdominal é um comple-mento útil de palpação do abdómen! Isso era um pecado capital há 20 anos. Será que devemos recusar a utilização junto da cama do doente de tecnologias que permitem au-mentar a nossa capacidade de adquirirmos informação desse doente? Acho que isso beneficia o doente. A dificuldade é como fazemos essa incorporação tecnológica, sem perdermos que cada doente é um ser humano, que está em sofrimento, que precisa de um contacto íntimo e, em espe-cífico, precisa de tempo. Isto não é possível

sem um esforço dos profissionais de saúde no seu conjunto.

A ideia de que há cada vez mais pes-soas envelhecidas, cada vez mais doentes com doenças neurodegene-rativas, quase dez por cento da popu-lação com diabetes. O Internista tem um papel muito importante neste fu-turo ou não?Considero que terá, inevitavelmente. E aliás, os discursos também não são no-vos sobre uma eventual obsulescência da MI, a realidade tem-se encarregado de os desmentir. Aquilo que nós queremos no mundo é mais pessoas que, independen-temente de beneficiarem dos contributos do conjunto das especialidades, vão preci-sar da abordagem conjunta do médico de MI, sob pena de verem o seu percurso de contacto com os serviços de Saúde trans-formado num inferno entre o cardiologista que lhes tratará do problema de coração, o pneumologista que tratará da sua doença obstrutiva, o endocrinologista que aborda-rá a diabetes e o nefrologista a quem ouvi-rá a sua opinião sobre os problemas renais. Muitos doentes vão precisar de alguém que faça a integração de todo este conjunto de problemas.Mesmo que sejamos capazes de fazer o que é mais difícil na política de Saúde, que é mudar os comportamentos das pessoas para diminuir os comportamentos de risco,

reduzir a obesidade, aumentar o exercício físico, fazer com que as pessoas comam menos gorduras, diminuir o consumo de álcool e tabaco, mesmo assim, é óbvio que ao envelhecimento das pessoas e à sua capacidade de viverem mais anos, corres-ponderá sempre uma altura em que as difi-culdades de natureza orgânica começarão a aparecer. Nós poderemos estar a aumentar a espe-rança de vida e a melhorar a qualidade des-sa vida adquirida a mais, mas temos que nos convencer que a vida é uma realidade finita.

Existe a percepção por parte do médi-co e dos decisores de que é necessária uma visão muito global?Se nós virmos as decisões tomadas nos últimos anos, vemos sempre as questões de natureza genérica, de abordagem glo-bal dos doentes, colocadas no centro do sistema.O Governo tem levado à prática a reforma dos Cuidados de Saúde Primários como um aspecto essencial da acção na área da Medicina e da Saúde, o que entronca nesta preocupação. Estou a falar para a revista da Sociedade Portuguesa de Medicina Inter-na, sou Internista, mas, como é evidente, tudo o que foi dito ainda é mais verdadeiro quando falamos da Medicina Geral e Fa-miliar, que tem a enorme vantagem de ser feita na comunidade, com o doente fora do

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hospital, próxima da família, num ambiente em que além dos cuidados de diagnóstico e terapêutica, os aspectos da prevenção e da profilaxia das doenças têm um peso ain-da maior. O que temos vindo a fazer na Medicina Ge-ral e Familiar é uma verdadeira revolução em relação à situação anterior, com a orga-nização de equipas multidisciplinares e um sistema de remuneração que premeia o de-sempenho dessas equipas, com a melhoria dos espaços físicos e dos equipamentos das Unidades de Saúde Familiares, e a re-valorização da carreira, que teve já como consequência em 2009, temos o maior nú-mero de jovens médicos a entrar na espe-cialidade desde o final dos anos 70.Alguns dos médicos que escolheram a es-pecialidade de Medicina Geral e Familiar estavam classificados nos 10 por cento com melhores notas no exame de acesso à especialidade, o que prova que esta reva-lorização da Medicina Geral Familiar está a ter efeito mesmo junto dos próprios profis-sionais de Saúde.

Há já alguns médicos interessados nas especialidades generalistas com mais vocação?Isso terá havido sempre, mas neste mo-mento há um reforço desse sentimento e isso também tem a ver com o facto de a política de Saúde ter colocado muito ênfa-se nos cuidados de saúde primários, como estruturantes do sistema.

Esta reforma dos cuidados de saúde primários vai fazer-se sentir também dentro dos hospitais?Para recolher informação absolutamen-te fundamentada é necessário que passe mais tempo. O tempo mediático e o tem-po político são tempos muito rápidos. Nós todos temos a sensação de que isto começou há muito tempo. A primeira USF ainda não tem dois anos e meio de existência, o que é pouco tempo para avaliar tendências e comportamentais globais. Há alguns dados que parecem muito en-corajadores. Por exemplo, em Santa Ma-ria da Feira, onde existem muitas USF, no hospital dizem-nos que a afluência de doentes, com origem no concelho, à ur-gência do hospital se reduziu de modo muito significativo. Isto é, as pessoas tendo, das 8 da manhã às 8 da noite nos dias úteis e ainda em alguns períodos ao fim-de-semana, facilidade de contactar o seu Médico de Família, se tiverem um episódio de doença aguda, um episódio de febre, já não vão à urgência. Faltam-nos ainda dados para perceber se este comportamento vai ser induzido no conjunto do país. Nós desejaríamos um país com menos urgências e mais con-sultas. Mas temos de ter respeito por uma visão que não é só do momento. Em Portugal só em 1999 é que nos hos-pitais passaram a existir mais consultas externas do que urgências. Portanto,

há dez anos atrás, nos hospitais portu-gueses faziam-se mais urgências do que consultas, o que é absolutamente inacre-ditável e não tinha nenhuma comparação com o que acontecia no conjunto dos ou-tros países do mundo desenvolvido. O que tem acontecido nestes últimos quatro anos é que o número de consultas externas tem aumentado de forma con-sistente, à volta de 10 por cento ao ano e o número de urgências se tem mantido estável. Hoje estaremos a fazer um pou-co mais de dez milhões de consultas ex-ternas por ano nos hospitais e cerca de seis milhões de consultas de atendimen-to em urgência. Esta relação só peca pela sua insuficiência, a desproporção devia ser maior. Faz pouco sentido e revela disfunção do sistema de Saúde, que o acesso do cidadão seja frequentemente feito pela urgência, mas quem foi médi-co num hospital até há bem pouco tem-po, como eu, sabe que para internar um doente, com elevada frequência, este era enviado à urgência. Um doente que esta-va identificado, que se sabia o que tinha, mas a porta que lhe permitia o acesso ao hospital era a porta da urgência, onde fa-zia número para o episódio de urgência, apenas com o objectivo de ser internado, o que revela que a disfunção estava ver-dadeiramente vertida no modo de orga-nizar o hospital. Julgo que temos caminhado para que isto melhore muito. Não estou em condições

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de garantir que esteja completamente re-solvido mas tenho a certeza absoluta que tem melhorado.

No espaço de uma década é possível identificar que medidas foram toma-das, para que dez anos depois a situa-ção tivesse melhorado?Penso que apesar de tudo tem havido um discurso de todos os governos, de tentar organizar melhor o acesso às urgências. Mesmo as USF, que tiveram agora um enorme desenvolvimento, e são uma ima-gem de marca do novo Serviço Nacional de Saúde, renovado e voltado para a qua-lidade dos cuidados em ambulatório, têm a sua origem em algo que foi feito há uma década atrás, que foi a criação de um Regi-me Remuneratório Experimental, em 98. O que aconteceu entretanto é que houve des-continuidades nesta política, que fez com que não produzisse efeitos a nível imedia-to. Houve descontinuidades nas mudanças dos partidos que estiveram no Governo, mas também se deve admitir que até hou-ve descontinuidades com o mesmo partido no Governo.

É preciso estar atento, neste caso em relação às USF, ao mesmo risco nos próximos dez anos?Eu tenho a convicção de que as USF são um movimento que não tem retorno. Ain-da vamos ver manifestações em algumas comunidades de cidadãos a exigir que se

faça uma USF e esse será um momento de felicidade para uma pessoa como eu, que acredita no SNS e nos Cuidados de Saúde Primários como pilar desse serviço. Há sítios onde a organização não é feita por USF, mas há modelos de abordagem da organização que são similares, onde os profissionais já faziam um trabalho de aten-dimento muito valioso. As USF institucio-nalizaram o espaço de saúde porta aberta, o trabalho em grupo, o que é essencial nos Cuidados de Saúde Primários, e que, aliás, copia o que já se passava nos hospitais com a tradição de trabalho em equipa.

Os Cuidados de Saúde Primários par-tiram muito dos profissionais, foi-lhes dada a oportunidade de serem eles a terem um protagonismo muito gran-de. É essa a chave do sucesso?O envolvimento dos profissionais é essen-cial. É muito difícil fazer uma reforma no

SNS, que tem cerca de 150 mil pessoas a trabalhar, sem ter a adesão de grande par-te desses profissionais. A experiência das USF tem-nos ensinado muito sobre a orga-nização do aparelho admnistrativo do Esta-do. Verificamos que a substituição daquilo que é o modo tradicional de organização do Estado, a tal cadeia de comando e controlo, por um modo de organização com grande autonomia, e ao mesmo tempo com uma grande responsabilização contratualizada tem revelado muitos bons resultados e os profissionais têm aderido com muito entu-siasmo. As primeiras USF tinham os líderes mais reconhecidos inter pares, mas nas candida-turas a novas USF têm continuado a surgir a um ritmo mais ou menos igual ao que acontecia anteriormente, e eu tenho visita-do diversos espaços de cuidados de saúde primários por esse país fora e encontrado muitos profissionais entusiasmados com a perspectiva de eles próprios serem incor-porados nesta reforma.

Em relação à visão estratégica do sec-tor da Saúde que há 10 anos estava exposta nos documentos e que permi-tiu produzir resultados, existe hoje a mesma preocupação para o futuro?Isso é absolutamente claro. Aliás, se vir os quatro eixos essenciais de acção deste Go-verno nesta área eles têm sido mantidos.A primeira foram os Cuidados de Saúde Primários, a segunda a criação da Rede

Houve descontinuidades nas mudanças dos partidos que estiveram no Governo, mas também se deve admitir que até houve descontinuidades com o mesmo partido no Governo.

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Nacional de Cuidados de Saúde Continu-ados – o envelhecimento da população tem como consequência a necessidade de recuperação a seguir a uma doença aguda, que não deve ser feito num hospital onde os riscos que existem são múltiplos (desde logo o mais mediatizado que é o da infec-ção nosocomial) e simultaneamente não podem ser devolvidos à comunidade de onde são originários porque precisam ain-da de apoio e de reabilitação efectiva. A terceira área tem a ver com a organiza-ção de alguns dos aspectos dos Cuidados Hospitalares, de modo a que fiquem mais próximos das necessidades dos cidadãos. A evolução que tem havido de inscritos na lista para cirurgia, no acesso a várias especialidades hospitalares, desde logo o exemplo mais paradigmático é o problema de intervenção em Oftalmologia. Mas a melhoria de acesso tem-se verificado em muitos outros domínios, como na reorga-nização da rede de urgências, que revelam uma intenção estratégica de melhoria do sistema voltado para a facilidade de aces-so dos doentes. E por último, um aspecto que é quase pecaminoso falar, mas que é um aspecto essencial: a sustentabilidade financeira do SNS. Ninguém pode ter uma

coisa que não seja capaz de pagar e o con-junto de medidas que tomámos para que o sistema seja financeiramente sustentado, adquirem neste contexto uma maior im-portância e aliás há ainda trabalho a fazer neste domínio.

Que trabalho há ainda a fazer?Recentemente foi publicada uma carta de intenções de um conjunto de sociedades científicas e da Ordem dos Médicos sobre tratamento oncológico, que aponta várias coisas, algumas das quais tiveram muito impacto público, nas dificuldades que ain-da temos e em outras, com pouco impacto público. Ainda hoje falamos de vários dados do Pla-no Nacional de Saúde, que revelam que nos cuidados oncológicos atingimos, ou es-tamos muito próximos, das metas de 2010 com os dados de 2008, o que é uma boa notícia. Mas não nos deve descansar em relação ao imenso trabalho que há ainda a fazer. Por exemplo, esse conjunto de pro-fissionais apontava para um desperdício na área do tratamento oncológico e toda a gente que conhece o sistema de Saúde percebe que há ainda áreas onde é possível optimizar a alocação de recursos, por for-

ma a fazermos as opções que beneficiem mais portugueses. Ora essas opções de racionalidade por ve-zes exigem tempo para que as pessoas per-cebam as vantagens do que lhes propomos em alternativa. As pessoas muitas vezes têm a sensação de que vão perder coisas. O exemplo da requalificação das salas de partos é talvez o mais fácil de explicar. É muito difícil explicar à população de um de-terminado concelho que a sala de partos vai encerrar, que a operação de requalificação que daí vai resultar irá culminar em benefí-cio. Na prática é muito difícil que a pessoa daquele concelho em concreto consiga perceber o benefício antes de o vivenciar. O que aconteceu nos casos da sala de par-tos, é que vivenciado o benefício, o conflito quase que se esgotou. Noutras áreas ainda precisamos de mais tempo para que as pes-soas possam vivenciar que as mudanças que estamos a introduzir têm como única preocupação melhorar a qualidade do SNS, evidentemente com princípios de racionali-dade nas despesas, mas é a mesma raciona-lidade que todos nós fazemos em geral nas nossas vidas e que um sistema tão grande como este não pode deixar de fazer, em be-nefício dos portugueses.

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A questão da sustentabilidade finan-ceira revela que, em Portugal, os re-sultados em saúde são bons, mas isso custa dinheiro. Como se resolve?O que aconteceu em Portugal desde 2005 para cá foi uma completa mudança. O orça-mento do SNS em cada ano foi cumprido. Admito até que isto era fácil de fazer, mas ninguém o tinha feito antes. Não quero rei-vindicar méritos que a mim não me cabem, mas cumprir o orçamento é uma condição base dessa sustentabilidade. Não podemos ter um orçamento que, ano após ano, é furado pelos mais diversos mo-tivos, e quando, por alguma razão, não seja-mos capazes de o cumprir num ou noutro aspecto, temos de publicamente dar uma nota clara sobre porque é que isso aconte-ceu. O cumprimento do orçamento não tem nada a ver com o assunto das dívidas que existiam até há pouco tempo atrás. Se havia dívidas no início, mesmo tendo equilibrado a despesa com a receita, estas existirão no final. Só a boa gestão do SNS possibilitou a operação de liquidação das dívidas ven-cidas aos fornecedores, sem recurso ao endividamento. O que nós fizemos foi utilizar o capital so-cial dos hospitais para o reforço financeiro de um fundo nacional, para liquidar as dívi-das apenas com recurso a dinheiro que já estava no sistema de Saúde. Os hospitais tinham dívidas a fornecedores, passaram a ter dívidas a este fundo, que é um fundo pú-

blico, mas as dívidas não foram anuladas. Cada um será responsabilizado no futuro e terá que arranjar sistemas de melhoria da sua performance de produção e financeira para poder liquidá-las, agora junto do fun-do e não junto da economia real, porque o Governo entendeu e bem que nesta fase de crise financeira era muito importante que o dinheiro fosse colocado na economia de modo a viabilizar muitas empresas que es-tavam com algumas dificuldades também causadas pelo endividamento.

Há um processo negocial em curso para as Carreiras Médicas e a ministra e o secretário de Estado são médicos: esta é uma oportunidade única para criar um quadro duradouro nas Car-reiras Médicas?As Carreiras Médicas tiveram um peso muito importante no desenvolvimento da Medicina em Portugal, dos cuidados de saúde e do próprio SNS. Nós podemos di-zer que não haveria SNS com a qualidade que ele tem, se não fossem as Carreiras Médicas. Elas estão a ser negociadas com os parceiros, tentando que seja possível adequá-las à realidade, mas mantendo o seu papel na diferenciação do exercício profissional dos médicos e do estímulo ao desenvolvimento da qualificação desse exercício profissional. Estamos numa fase de diálogo com as instituições e portanto é difícil defender aqui posições que possam perturbar esse diálogo.

Há optimismo portanto? Sou muito optimista. A primeira negocia-ção sindical que fiz enquanto governante foi a negociação da portaria do regime associado ao desempenho para as USF modelo B. Nessa negociação, depois de muita discussão publica e mediática, lá con-seguimos chegar a acordo com sindicatos e representantes de todos os profissionais envolvidos, o que não é um exercício fácil. Nós conseguimos manter os princípios que precisávamos de ver vertidos nessa porta-ria e ter um acordo com a generalidade dos sindicatos. Uma combinação de rigor técnico nas propostas, mas antes de mais uma vontade política que desde logo valori-ze as Carreiras Médicas e dos profissionais de saúde, compreendendo que as carreiras são um instrumento de diferenciação téc-nica e de valorização do esforço individual que é essencial para que o serviço se de-senvolva de modo harmónico.

Quando se fala de carreiras e de regi-me remuneratório, fala-se quase sem-pre de exclusividade na área da saúde. Que visão tem enquanto médico? Todos desejaríamos um sistema onde hou-vesse uma separação clara das funções entre o público e o privado, que os profis-sionais que exercessem no público não exercessem no privado. Com o realismo das circunstâncias actuais, isso conduziria o SNS um beco sem saída, porque não haveria disponibilidade suficiente de pro-

O que aconteceu em Portugal desde 2005 para cá foi uma completa mudança. O orçamento do SNS em cada ano foi cumprido. Admito até que isto era fácil de fazer, mas ninguém o tinha feito antes.

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fissionais para assegurar o conjunto dos serviços que os portugueses esperam que o SNS lhes preste e venha a prestar no futuro. Essa discussão só se poderá colo-car num prazo de alguns anos, quando o alargamento das vagas das faculdades de Medicina produzir efeitos de disponibilida-de de recursos humanos médicos que per-mitam fazer esta discussão com sentido. Neste momento esta discussão é puramen-te académica, porque nós podemos reafir-mar os princípios que quisermos, quando chegarmos à concretização veríamos que uma decisão desse tipo inviabilizaria o fun-cionamento de muitas instituições do SNS.

Depois de anos de numerus clausus, Portugal está a “importar” médicos para colmatar a falta de profissionais no sistema? Qualquer analista que queira avaliar em concreto as políticas de entrada para as fa-culdades de medicina ao longo dos anos, poderá ver quem são os responsáveis pela situação a que chegámos hoje.

Faltou essa visão?Numa análise benigna. A situação está a ser corrigida. De 1998 até 2009, o número de entradas nas faculdades de medicina passou de cerca de 800 para cerca de 1600, às quais se vão adicionar já no próximo ano algumas vagas do novo curso de Medicina da Universidade do Algarve e um processo de crescimento continuado das vagas das outras universidades. É pois fácil de avaliar que houve uma mu-

dança e que há uma visão estratégica clara para a questão dos recursos humanos deste processo. Outro aspecto muito importante é a distribuição das vagas na formação das especialidades. Também o aumento das va-gas em Medicina Geral e Familiar tem sido feito de forma muito consistente. Nestas áreas, a limitação que temos que atender é a limitação das capacidades formativas, não podemos colocar mais vagas do que aquelas em que é possível formar com qua-lidade. Quero destacar que se há área que é in-discutível é a da qualificação da formação dos profissionais de saúde portugueses em geral e dos médicos em particular, na-quilo que diz respeito à comparação com quaisquer padrões internacionais. O país deve ter orgulho na qualificação média dos seus profissionais, que é muito elevada e temos de manter esses padrões de quali-ficação. Mas temos também que atender à necessidade de formar um número de profissionais que responda com realismo às necessidades do presente e, sobretudo, às necessidades do futuro. As necessida-des em matéria de cuidados de saúde vão aumentar, não vão diminuir.

Estes novos médicos vão conseguir emprego estável? Entrei para a Faculdade de Medicina do Porto em 1982. Já nessa altura se dizia que nós éramos muitos e não ia haver emprego para todos. O fantasma do risco do desemprego médi-co é agitado por essa Europa fora desde há

algumas décadas. A nossa vizinha Espanha teve um aparente problema de excesso de médicos e quando começaram a organizar melhor os serviços verificaram que tinham falta de médicos. Uma das razões das nossas dificuldades imediatas é hoje não existir a possibilidade de recrutar médicos em Espanha, que durante alguns anos aju-daram a sustentar uma parte das nossas instituições. A visão que tenho é que a necessidade de recursos humanos nesta área vai aumentar e não vejo que exista um risco significativo de desemprego médico em Portugal, pelo menos no médio e num prazo mais longo, nós olhamos para o mundo e vemos que a carência em recursos humanos na área da Saúde, em geral, e na área da Medicina, em especial, é de tal modo grande que se-ria quase um crime contra a Humanidade não formarmos todos os que tenhamos ca-pacidade para formar, um bom exemplo é a Medicina Dentária onde algumas centenas de profissionais portugueses exercem a sua profissão em Inglaterra.

Em termos de precariedade dos vín-culos, como vê a contratação de tare-feiros para suprir as falhas de recur-sos humanos nos hospitais?Considero que devemos ter vínculos o mais estáveis possível. Nos hospitais em-presarializados os contratos individuais de trabalho não assumem nenhum carácter precário, são contratos estáveis, com as condições de trabalho que são normais na nossa sociedade. Terá deixado de haver

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aquilo que era a nomeação para um qua-dro da função pública. Aliás há vários hos-pitais onde médicos e outros profissionais optaram por se desvincular da função pú-blica para aderir ao contrato individual de trabalho, o que revela, pelo menos, que as pessoas se sentem confortáveis com esse novo molde de funcionamento. Devemos sim evitar a precariedade de médicos ou outros profissionais, cuja vida profissional é fazer algumas horas de um trabalho descontínuo, de local em local. Era desejável que tivéssemos um sistema que permitisse que as equipas fosse cons-tituídas de forma coerente, mas para isso precisávamos de mais profissionais.

A política e a Medicina

Há neste momento dois médicos (e um economista professor da Escola Nacional de Saúde Pública) no Minis-tério da Saúde, é uma equipa “de den-tro” do sector. Este conhecimento tem tido vantagens no exercício político?O conjunto de medidas que temos vindo a desenvolver tem sempre o toque dos protagonistas em concreto. A senhora ministra tem a sua própria sensibilidade para os problemas, no entanto as medidas políticas essenciais vinham, praticamente, da acção do ministro anterior, o Prof. Cor-reia de Campos. Aliás, é muito importante que essa continuidade exista. O que se es-pera de um governo é que este mantenha o seu programa sobre o seu protagonista. As ideias são sempre mais importantes do

que as pessoas. Acontece que neste caso há um diálogo muito fácil entre a equipa governativa, mas nem estou certo que esse diálogo tenha a ver com a formação profis-sional dos seus elementos, ainda que isso possa ajudar. Seguramente que há uma vantagem que equipa inclua pessoas que, pela sua expe-riência de vida, conhecem profundamente o SNS. Isso permite que sejamos capazes de intervir com maior realismo e maior ca-pacidade às circunstâncias. Por exemplo, o

Programa de Intervenção em Oftalmologia beneficia do facto das pessoas que estão no Ministério conhecerem bem os hospi-tais e os profissionais e serem capazes de mobilizar as estruturas dos hospitais para resolver uma situação que a certa altura se tinha tornado um problema ao nível da própria imagem do país perante o conjunto dos serviços de saúde.

O hospital visto por um secretário de Estado da Saúde é muito diferente do hospital visto por um médico?Para ser franco não é muito diferente. Tive sempre a mesma noção que tenho hoje, aqui, neste lugar, que o hospital é dos uten-tes. Valorizo muito o envolvimento dos pro-fissionais. A minha prioridade é saber qual é o interesse dos cidadãos, o que as pesso-as esperam do hospital. E, felizmente, no nosso SNS há milhares de profissionais que têm esta mesma preocupação, ou seja, que o cidadão tem de estar no centro do sistema. Os hospitais existem para servir as pessoas e portanto têm de se colocar ao serviço das pessoas.

Foi deputado, agora é governante, no regresso à clínica leva uma nova visão da Medicina? Sente a falta da clínica? E do hospital?Tenho muitas saudades da minha clínica e dos meus doentes. Mas, enfim, isto é uma aprendizagem. Sempre estive envolvido na actividade política e de intervenção de cida-dania, mas a minha vida era, naturalmente, exercer a profissão médica. Hoje as coisas

A minha prioridade é saber qual é o interesse dos cidadãos, o que as pessoas esperam do hospital. E, felizmente, no nosso SNS há milhares de profissionais que têm esta mesma preocupação, ou seja, que o cidadão tem de estar no centro do sistema. Os hospitais existem para servir as pessoas e portanto têm de se colocar ao serviço das pessoas.

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estão completamente invertidas porque no regime jurídico português um membro do Governo não pode exercer nenhuma acti-vidade profissional remunerada. Quando aceitei este convite de fazer parte da equipa governativa, sabia quais eram as regras e vivo com elas muito confortavelmente. O que posso dizer, quando voltar ao exercí-cio da minha actividade profissional como médico, é que esta experiência de vida en-riquece-me como ser humano. Permite-me que perante alguns problemas os possa abordar com maior capacidade resolutiva e intervir melhor na realidade. Adquire-se um conhecimento dos problemas mais globais do sistema dos quais nem sempre temos noção antes de estarmos envolvidos neste patamar de decisão, que é um pata-mar muito exigente.

Foi um dos autores da Lei da Procria-ção Medicamente Assistida. Como vê a evolução que houve até agora?Quando cheguei ao Parlamento em 2005, o assunto a legislar sobre Procriação Me-dicamente Assistida tinha 17 longos anos durante os quais não tinha sido possível encontrar um consenso, que fosse ao mesmo tempo socialmente aceite e cien-tificamente válido. Sob esse ponto vista, o país percorreu um caminho. Em 2006 aprovou a nova lei, em 2007 regulamen-tou a lei e criou o Conselho Nacional de Procriação Medicamente Assistida, em 2008 desenvolveu a rede pública de consultas de infertilidade e de centros de reprodução medicamente assistida e preparamo-nos para, em 2009, aumentar o acesso dos cidadãos a essa rede públi-ca, entretanto requalificada, para permi-

tir que os cidadãos, quando não tenham em tempo útil resposta dessa rede, pos-sam ver financiado o seu tratamento no sector privado. Ou seja, foi necessário desenvolver este conjunto vasto de ins-trumentos.A opção que este Governo fez foi de de-senvolver a rede pública antes de criar um sistema de mera referência para o sector privado. É a opção correcta de quem pretende que o utente esteja no centro do sistema nacional de Saúde.Admito que essa é uma opção ideológi-ca, mas é na nossa opção. Nós entende-mos que o SNS deve estar no centro das respostas aos problemas de saúde dos cidadãos, o que não envolve nenhum preconceito contra o exercício privado da Medicina. Eu fazia Medicina no ser-viço público e tinha ao mesmo tempo um consultório privado, portanto seria a última pessoa a poder reclamar des-se preconceito, mas eu entendo que é adequado que nós valorizemos primeiro a construção de uma rede pública, que seja muito sólida e com uma grande ca-pacidade de resposta antes de permitir-mos, como vai acontecer em 2009, que ainda assim as pessoas que não possam ser atendidas na rede públicas sejam re-ferenciadas para atendimento em tempo no sector privado.Em Portugal somos muito sôfregos em relação à necessidade de resolver todos os problemas. Há dois anos e meio, a lei é de Junho de 2006, nem enquadramen-to legal havia, hoje as pessoas reclamam muitas coisas para além desse enquadra-mento, mas não há maneira de fazer as coisas, senão fazê-las correctamente. Se

eu desejaria que andassem mais rápido? Sempre. Mas, mais importante que a velocidade é o sentido em que as coisas caminham, que ele seja correcto e a solidez da sua construção. Se nós tivéssemos to-mado a decisão de permitir o financiamen-to da transferência de doentes para o sec-tor privado antes de desenvolver o sector público, há uma coisa que eu garanto que acontecia é que nunca mais se desenvolvia o sector público.

Sente a falta dos seus doentes? Em que aspectos?Muito. A pressão da vida pública é muito intensa e violenta. Mesmo que a Medi-cina seja sempre um exercício muito emocionado, porque trata um tema mui-to central: a qualidade de vida das pes-soas, tem apesar de tudo menos pressão do que a vida pública. Os meus doentes escolhiam-me o que é uma grande van-tagem. Eu aqui nem sempre serei eu o escolhido e tenho de lidar com o outro, o que é mais difícil.

Os doentes ainda o procuram?Telefonam, vão-me telefonando e pe-dindo conselho e opinião, que eu faço no registo que eu acho que é registo da pessoa amiga e não o registo do médico. A relação do médico com os seus doen-tes é uma relação muito próxima e que estravaza muito o domínio do exercício da profissão médica. Eu hoje estou mui-to pouco disponível, mas enfim ainda procuro ter o meu telemóvel aberto aos meus doentes para que me possam tele-fonar e mesmo quando não os atendo, procuro devolver a chamada mais tarde.

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Costuma ver o Dr. House, identifica-se como Internista? O Dr. House trata do aspecto mais aven-tureiro, mais romanesco da Medicina Interna, que são os diagnósticos muito complexos, aos quais se chega por ca-minhos pouco ortodoxos. O Dr. House mistura duas coisas que me agradam, a literatura policial e o exercício da Medici-na, por isso consigo achar alguma piada.No entanto, o Dr. House traduz muito pouco o que é a prática real da medicina num hospital moderno.

Não se reconhece naquele tipo de médico que faz do diagnóstico uma aventura? Há uma maneira de contar a história da nossa relação com os doentes que se pode assemelhar ao Dr. House, mas eu confesso que tenho um comportamento muito menos esotérico do que o dele e portanto tenho dificuldade em me iden-tificar com aqueles acessos de mau hu-mor que o caracterizam.

E do lado do diagnóstico, essa parte fascina-o na Medicina Interna? Essa é uma das áreas em que a Medicina Interna mais evoluiu e se modificou. O

grande desenvolvimento de sistemas de informação sobre doenças, que chegam à cabeceira do doente, em qualquer gad-get que o médico leva na mão modificou completamente o padrão do exercício da MI. Há 20 anos atrás o médico de MI era o médico que lia as revistas todas, estava muito actualizado e tinha na cabeça in-formação infindável sobre doentes e do-enças. Mesmo considerando que temos tendência em romancear o passado, no hospital contava-se uma história de um professor de medicina famoso que sabe-ria de cor mais ou menos o livro “Mil sín-dromes raros”. Quando havia um doente retirado da série do Dr. House, traduzida para a sociedade portuguesa dos anos 60 ou 70, chamava-se o Prof. Ferraz Júnior que vinha com a sua enorme experiência de ver casos clínicos e com uma cabeça onde tinha arrumado a informação.Apesar de tudo, hoje esse conhecimen-to enciclopédico do Internista é menos necessário. Hoje é mais importante reconhecer os sinais e saber utilizar os instrumentos de informação que rapi-damente nos darão elementos e pistas. Nada substitui a observação do doente, mas há maneira de utilizar a informação que o doente nos dá, seriando nos sis-

temas de informação e encaminhando muito rapidamente até à formulação de hipóteses.

O processo combina bem as duas coisas e chega-se mais rapidamente às respostas?Hoje não existe medicina sem haver médicos que vêm da enfermaria e que se sentam ao computador, vão à net, vão pesquisar numa base de dados, muitos já andam na enfermaria com palms e ou-tros instrumentos tecnológicos que per-mitem a consulta, como ver fórmulas. Não há nenhum sentido para se decorar uma imensidão de coisas, que se decora-va quando a única hipótese dessa infor-mação chegar à cabeceira do doente era ir na cabeça do médico.

Essa capacidade de gerir muita in-formação, é útil na política? Muito útil (risos). Isso tem-me ajudado muito nesta vida pública e a capacidade lidar com múltiplas fontes de informação e seleccionando aqui e ali o que parece mais relevante. Não há dúvida nenhuma que a aprendizagem do médico treina para muitas actividades, até para o exer-cício destas funções.

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Acesso a tratamentos oncológicos

Os pacientes europeus ainda enfrentam sérias desigualdades no acesso a tratamen-tos oncológicos, de acordo com um rela-tório conduzido pelo oncologista clínico Nils Wilking, do Karolinska Institute, em Estocolmo, e pelo professor de Economia da Saúde, Bengt Jonsson, da Stockholm School of Economics.O estudo, que é uma actualização de re-latórios semelhantes realizados em 2005 e 2007, estima que os custos directos do cancro são, em média, 148 euros per capita e representam 6.3 por cento do total dos gastos em saúde no conjunto dos países avaliados.O documento evidencia o aumento da in-cidência da doença na Europa, ainda que a mortalidade associada ao cancro apresente uma tendência decrescente, comprovando o impacto positivo que tiveram os progra-mas de rastreio e o desenvolvimento de novos tratamentos. Os investigadores concluíram também que o atraso na introdução de novos me-

dicamentos no mercado tem provocado a criação de disparidades ao nível da taxa de sobrevivência dos doentes.Não obstante, a quantidade de medica-mentos oncológicos aprovados aumentou de forma considerável nos últimos 10 a 15 anos. Entre 1995 e 2005, foram aprovados 25 medicamentos oncológicos, estimando-se que entre 2007 e 2012 sejam aprovados outros 50.

A situação em Portugal

No que respeita a Portugal, em Julho de 2007 existiam 87 produtos aprovados para introdução no mercado, mas só 29 estavam acessíveis aos doentes, tendo sido gastos 122 euros per capita com tratamentos de cancro. A este nível, Portugal integra o conjunto dos países com um menor número de fármacos disponíveis estando apenas à frente da Eslovénia, Dinamarca, Estónia e Polónia. Relativamente ao tempo entre a aprovação da AIM e a chegada

do medicamento ao mercado, Portugal aparece no meio da tabela europeia com uma média de 196 dias. É importante referir que Bruxelas limita o período entre a aprovação do medicamento e a sua introdução no mercado a 90 dias, no entanto, apenas 4 países cumprem este prazo.Entre os países que lideram na introdução de novos fármacos oncológicos, desta- cam-se a Alemanha, a Áustria, a França e a Suíça.Outro aspecto apontado no relatório diz respeito ao aumento, ainda que ligeiro, da taxa de incidência do cancro da mama e do cancro colo-rectal, mantendo-se ou mesmo reduzindo o número de mortes. Já o núme-ro de casos de cancro da próstata registou um aumento significativo.De acordo com o documento, que se ba-seou nos dados dos 27 Estados-membros da União Europeia e também da Islândia, Noruega e Suíça, o cancro foi responsável pela morte de 1,2 milhões de pessoas na Europa, em 2006. No mesmo ano, foram diagnosticados 2,4 milhões de novos casos, número que cor-responde a um aumento de 10 por cento em relação a 2002.Para modificar este panorama, os autores do relatório alertam para a necessidade de adoptar medidas que facilitem o acesso dos doentes aos tratamentos existentes, nomeadamente adaptar os orçamentos para a Saúde, de uma forma geral, e os or-çamentos hospitalares, em particular para incorporar a introdução de novos tratamen-tos oncológicos; introduzir financiamentos específicos para os medicamentos para o cancro e, por último, acelerar, a nível regu-latório e económico, o tempo de avaliação dos medicamentos inovadores.

Europeus enfrentam desigualdades

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Ataques cardíacos

Os novos medicamentos anti-psicóticos não são mais seguros do que os mais antigos no que diz respeito ao risco de mor-te súbita devido a problemas cardíacos, revela um estudo que aponta o dobro do perigo.Os medicamentos antigos tinham sido associados a um acrés-cimo do risco de morte por ataque cardíaco, uma vez que o coração perde o seu ritmo normal e não consegue bombear o sangue normalmente. Os mais velhos e os mais novos anti-psicóticos também revelaram um aumento do risco de morte quando usados para tratar a agitação, a agressividade e os delí-rios dos idosos doentes com demência.O novo estudo foi conduzido num grupo muito mais amplo de adultos, com uma idade média de 46 anos e vários problemas psiquiátricos. Os medicamentos anti-psicóticos foram aprovados para tratar esquizofrenia e a doença bipolar (maníaco-depressiva) mas os médicos podem legalmente prescrevê-los para outras indica-ções. O novo e federal estudo foi publicado no New England Journal of Medicine.

Os investigadores examinaram os registos do Ten-nessee Medicaid que incidiram sobre 15 anos, termi-nados em 2005, abrangendo cerca de 44 mil utiliza-dores de antigos medicamentos anti-psicóticos como haloperidol e perto de 46 mil utilizadores dos novos fármacos, como Zyprexa® e o Risperdal®.Os novos medicamentos têm vindo a substituir larga-mente os antigos fármacos.O estudo incluiu ainda 186 mil pessoas que não esta-

vam a tomar anti-psicóticos mas tinham a mesma idade, riscos cardíacos e outras características semelhantes aos que tomam estes fármacos. Cerca de 1.900 participantes morreram de ata-que cardíaco ao longo dos 15 anos estudados. A investigação apurou que a toma dos medicamentos mais an-tigos ou dos mais recentes duplicaram o risco de morte por ata-que cardíaco. Foi apurada uma taxa de três mortes por ano por cada mil doentes.“Para mim, três mortes por mil doentes é suficientemente fre-quente. Gostaria de ter levado isso em conta para um membro da família ou um amigo”, disse o autor do estudo, Wayne Ray, da Universidade de Vanderbilt em Nashville, Tennessee.Wayne Ray defendeu que os doentes não devem simplesmente parar de tomar os medicamentos mas devem falar com os seus médicos.O investigador apurou ainda que as pessoas com esquizofrenia ou psicose não tinham grandes alternativas aos medicamentos anti-psicóticos e que esses doentes deviam fazer exames ao co-ração antes de tomarem os medicamentos.

Novos anti-psicóticos têm tantos riscos como os antigos

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Internacional

Artrite Reumatóide

A roche acaba de anunciar a aprovação

na União Europeia de um medicamento

inovador para o tratamento de doentes

com artrite reumatóide moderada a grave.

Estima-se que existem em Portugal cerca

de 40 mil pessoas com esta doença.

O novo medicamento, cuja substância activa é o tocilizumab, é o primeiro an-ticorpo monoclonal inibidor dos recep-tores da interleucina-6 (IL-6), que tem um papel fundamental no processo inflamatório, e representa uma nova abordagem no tratamento desta inca-pacitante patologia. Está indicado para doentes adultos que tiveram uma resposta inadequa-da ou foram intolerantes a terapêuti-ca prévia com um ou mais fármacos anti-reumáticos, sendo, por isso, uma nova esperança para esses doentes. A aprovação do medicamento na União Europeia baseou-se nos resul-tados do maior programa de ensaios clínicos alguma vez realizado para

um produto biológico na artrite reu-matóide. Este programa incluiu cin-co ensaios multinacionais de Fase III que demonstraram que este tra-tamento reduziu significativamente os sinais e sintomas da artrite reu-matóide. A aprovação na União Eu-ropeia segue-se a outras já recebidas noutros países, incluindo o Japão, a Índia e a Suíça.A artrite reumatóide é uma doença inflamatória crónica e progressiva das articulações e tecidos que as ro-deiam que está associada a dor inten-sa, destruição articular irreversível e complicações como fadiga e anemia. A causa exacta desta doença é desco-nhecida e não existe cura disponível.

Tratamentooferece uma nova opção aos doentes

As pessoas que dormem menos de sete horas à noite têm um risco três vezes maior de contrair uma constipa-ção do que aquelas que repousam oito horas ou mais, segundo um estudo da Universidade Carnegie Mellon de Pit-tsburgh, Pensilvânia.Cientistas da universidade estudaram os hábitos de sono de 153 pessoas durante duas semanas e depois admi-nistraram gotas nasais que incluíam o rinovírus, que provoca a constipação.“Quanto menos dorme um indivíduo, mais possibilidades tem de desenvol-ver uma constipação”, afirma o estu-do, publicado nos Anais de Medicina Interna.As pessoas estudadas gozavam de boa saúde e tinham uma idade média de 37 anos.A possível explicação para o vínculo entre a falta de sono e as constipações é que “as alterações do sono podem influenciar a regulação da citocinas pro-inflamatórias, histaminas e outros reguladores de sintomas que são libe-rados em resposta a uma infecção”, afirmam os autores do estudo.A pesquisa foi coordenada por Sheldon Cohen entre os anos de 2000 e 2004.

Falta de sono eleva riscos de constipação

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FdA autoriza farmacêuticas a informar médicos

A Food and Drug Administration (FDA) concluiu, recentemente, as directrizes que autorizam as empresas a alertar os profissionais de saúde sobre indicações não aprovadas dos seus medicamentos, uma prática bastante contestada por críticos do marketing farmacêutico. As directrizes da agência norte-ame-ricana permitem aos fabricantes far-macêuticos distribuir cópias de arti-gos médicos que descrevem usos não aprovados dos medicamentos, uma medida que poderá ajudar as empresas a expandir os mercados de fármacos e dispositivos médicos.Por lei, a Indústria está proibida de publicitar os seus medicamentos para indicações não aprovadas pela FDA. Não obstante, os médicos podem pres-crever medicamentos para outras in-

dicações, caso considerem ser o mais apropriado para a condição do doente – prescrição of f-label.«A Saúde Pública é bem servida quan-do os profissionais de saúde recebem informações médicas e científicas ver-dadeiras sobre indicações não aprova-das», argumentou a FDA, citada pela Reuters.As companhias farmacêuticas rece-beram com agrado as orientações da FDA. No seu entender, a distribuição de estudos científicos ajuda “a asse-gurar que os profissionais de saúde recebem informações médicas rigoro-sas”, deixando de estar dependentes do moroso processo de aprovação de medicamentos para outras indicações, constatou Ken Johnson, porta-voz da Pharmaceutical Research and Manu-

facturers of America. Críticos da Indús-tria Farmacêutica alegam que medida promove indicações não comprovadas Na altura em que a medida foi proposta (Fevereiro de 2008), várias foram as vo-zes que se levantaram em protesto. Os oponentes alegam que as orientações irão permitir a promoção de indicações para as quais não foram realizados tes-tes adequados.Os mais críticos argumentam que esta medida promove indicações não comprovadas de medicamentos, o que acarreta riscos para a saúde. Além disso, afirmam que a mesma medida pode levar os fabricantes de medicamentos a travar a realização de testes adicionais para novas indicações e sujeitá-los ao escrutínio da FDA para uma possível aprovação.

Indicações não aprovadas

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No maior estudo aleatório e controlado pu-blicado sobre estimulação cerebral profun-da (DBS – Deep Brain Stimulation) para a doença de Parkinson, foi revelado que a DBS é mais eficaz do que a melhor tera-pêutica médica para melhorar a qualidade de vida, os períodos de bom controlo de sintomas e a função motora em indivídu-os com a doença de Parkinson em estado avançado. O estudo, realizado em seis hos-pitais universitários e sete Veterans Affairs, e com a participação de 255 doentes, efec-tuou a comparação entre os riscos e bene-fícios da DBS e da melhor terapêutica mé-dica em doentes com Parkinson de várias idades. As conclusões foram publicadas na edição do Journal of the American Medical Association (JAMA).Os resultados do estudo revelaram que, comparados com os doentes que recebiam

a melhor terapêutica médica, ao fim de seis meses, os doentes que recebiam a DBS bi-lateral do núcleo subtalâmico ou do globo pálido com a Terapêutica Activa® DBS da Medtronic mais medicação tiveram um aumento diário do tempo no estado “liga-do” (classificado como um bom controlo de sintomas e função motora desimpedi-da), aumento do tempo sem discinesia perturbadora (movimentos involuntários) aumento dos valores da função motora, aumento dos valores da qualidade de vida global e diminuição do tempo no estado “desligado” (classificado como fraco con-trolo de sintomas e disfunção motora).“A DBS é, muitas vezes, o tratamento de eleição quando a função motora dos doen-tes de Parkinson não está bem controlada com a medicação, mas os candidatos típicos a DBS são geralmente mais novos e têm

menos co-morbilidades do que muitos dos doentes neste estudo,” afirmou William J. Marks, Jr., M.D., professor associado de neurologia da Universidade da Califórnia, São Francisco, Director do Centro para a Doença de Parkinson do Veterans Affairs Medical Center e um dos principais inves-tigadores do estudo. “Estes dados revelam que os doentes submetidos a DBS obtêm, de forma consistente, pontuações superio-res nas classificações de qualidade de vida do que os doentes que recebem a melhor terapêutica médica, até no subconjunto de doentes mais velhos do estudo. Posso antecipar que os benefícios da DBS de-monstrados neste estudo de grande escala serão muito atractivos para a comunidade neurológica numa altura em que os médi-cos consideram a DBS como uma opção de tratamento para futuros doentes.”

Journal of the American Medical Association

Estimulação cerebral profunda superior à melhor terapêutica médica

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Um maior número de passageiros mais idosos e voos mais longos vão conduzir ao aumento de problemas de saúde nos céus. Este é um alerta de investigadores norte-americanos. Desde coágulos sanguíneos a epidemias de gripe, tanto viajantes como as autori-dades devem estar alerta para os riscos e procurar minimizá-los. A compilação de diversos estudos sobre os riscos para a saúde em voos encontrou uma associação entre as viagens de avião e o tromboembolismo venoso, que ocorre quando um coágulo sanguíneo numa veia da perna atravessa o corpo até aos pul-mões. Cerca de 75 por cento dos casos de trom-boembolismo venoso, que aconteceram a bordo de um avião, estão relacionados com a falta de movimento. O risco prende-se com a altitude dos voos de longo curso, mas um estudo da equipa da Lahey Clinic

Problemas de saúde podem aumentar

Medical Center alerta que o risco se inicia ao fim de quatro horas. O risco de tromboembolismo venoso pode ser reduzido com a ingestão de muitos líquidos, caminhar ao longo da cabine ou mudar de posição, bem como usar meias de descanso.

Sob pressão

Passar longos períodos num ambiente altamente pressurizado é também pro-blemático, uma vez que, para quem tem dificuldades respiratórias, a redução de oxigénio pode conduzir a uma agudização dos sintomas. A disseminação de doenças em espaços fechados é também mais fácil. Diversos casos de infecções mais ou menos graves como a gripe, sarampo, síndrome respi-ratória aguda (SRA) e tuberculose foram reportados em voos comerciais.

Voos de longo curso

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