abril de 2011 • ano v • nº19 • trimestral hoje - spmi · 2017-03-14 · medicina interna...

20
Medicina Interna Hoje 1 INTERNISTA é NUCLEAR EM QUALQUER REFORMA José Manuel Silva Bastonário da Ordem dos Médicos Abril de 2011 • Ano V • Nº19 • Trimestral Hoje Campanha alerta portugueses para a importância da Medicina Interna QUEM NãO SABE é COMO QUEM NãO Vê

Upload: others

Post on 20-Jul-2020

1 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: Abril de 2011 • Ano V • Nº19 • Trimestral Hoje - SPMI · 2017-03-14 · Medicina Interna Hoje 1 InternIsta é nuclear em qualquer reforma José manuel silva Bastonário da

Medicina Interna Hoje 1

InternIsta é nuclear em qualquer reforma

José manuel silva Bastonário da ordem dos médicos

Abril de 2011 • Ano V • Nº19 • Trimestral

Hoje

campanha alerta portugueses

para a importância da medicina Interna

quem não saBe é como quem não vê

Page 2: Abril de 2011 • Ano V • Nº19 • Trimestral Hoje - SPMI · 2017-03-14 · Medicina Interna Hoje 1 InternIsta é nuclear em qualquer reforma José manuel silva Bastonário da

2 Medicina Interna Hoje

Page 3: Abril de 2011 • Ano V • Nº19 • Trimestral Hoje - SPMI · 2017-03-14 · Medicina Interna Hoje 1 InternIsta é nuclear em qualquer reforma José manuel silva Bastonário da

Medicina Interna Hoje 3

de portas abertas

Celebrar o passado com um olhar sobre o futuro “Os Internistas estão no núcleo de qualquer reforma hospitalar”, de-fende o recém-eleito Bastonário da Ordem dos Médicos, na entrevista deste número da Medicina Interna Hoje. Mas José Manuel da Silva vai mais longe quando afirma que só os Médicos, através da sua liderança, poderão ser a solução para o proble-ma da Saúde, garantindo o aumento do valor dos cuidados de saúde em Portugal.A SPMI congratula José Manuel Silva, também ele internista, pela mensa-gem de esperança que deixa a todos os profissionais na sua assunção das funções de Bastonário e espera uma Ordem capaz de responder aos de-safios da profissão, num momento histórico tão conturbado dos pontos de vista económico e político. Queremos assinalar a sua posição sobre a possibilidade de criação de novas especialidades na área da Me-dicina Interna, quando refere que esta discussão só terá sentido se a nossa especialidade “não preencher adequadamente o campo dessas pu-tativas novas especialidades”, tanto na área da formação, como na prática clínica. O desafio está pois do lado da Medicina Interna, da forma como se afirmar em todas as suas vertentes.

ponto por ponto

Faustino Ferreira

4 raio xPorque quem não sabe é como quem não vê…

Campanha alerta portugueses para a importância da Medicina Interna

6 olho clínicoPérolas nas Doenças Auto-Imunes

Hungria e Portugal Estamos juntos

(Con)Viver com Doença Auto-Imune

SPMI e as Doenças Raras

7 primeiros passos“Crescer” como interno

de Medicina Interna Por Marta Carvalho Rebelo

8 alta vozA riqueza da experiência

Por Luís Brito Avô e Luísa Pereira - Casos Clínicos

10 uma palavra a dizerEntrevista com José Manuel Silva,

Bastonário da Ordem dos Médicos

16 depois da hora

17 do lado de cáA saúde precisa

de mais saúdePor Ana Maia

18 revelações

A organização dos hospitais por pa-tologias e não por especialidades, também defendida pelo Bastonário, é já uma tendência, e a sua maior re-levância contribuirá igualmente para o reforço do papel do internista na integração dos saberes das diferen-tes especialidades, multifacetando a sua acção e afirmando-se como um elemento transversal às diferentes patologias, em prol do doente e da qualidade assistencial.Celebrar o passado é também uma forma de olhar para o futuro, no ano em que celebramos o 60.º Aniversá-rio da SPMI, tempo de profunda crise económica, política e de valores na sociedade. Revisitamos a história da Medicina Interna em Portugal e simultaneamente compreendermos os desafios de hoje: manter a qua-lidade da prestação de cuidados médicos com a escassez de recursos que existe, sobretudo ao nível das doenças crónicas.Convidamos todos os leitores a se-guir atentamente as celebrações deste aniversário e a conhecer a exposição que estará patente na segunda metade do ano, num per-curso histórico que se funde com os passos da evolução da Saúde, no úl-timo meio século, em Portugal.

Page 4: Abril de 2011 • Ano V • Nº19 • Trimestral Hoje - SPMI · 2017-03-14 · Medicina Interna Hoje 1 InternIsta é nuclear em qualquer reforma José manuel silva Bastonário da

4 Medicina Interna Hoje

raio x

Campanha alerta portugueses para a importância da Medicina Interna

Porque quem não sabe é como quem não vê…

Ao comemorar 60 anos de existência e actividade, a Sociedade Portuguesa de Medicina Interna (SPMI) definiu como um dos seus objectivos para este ano promover uma campanha de comuni-cação dirigida à sociedade civil.“Quem não sabe é como quem não vê” abrirá a campanha que levará a Medici-na Interna junto de quem nunca ouviu falar dela, de quem nunca esteve inter-nado num Hospital nem teve contacto próximo com alguém que tenha estado. De uma forma directa mas simples, a SPMI transmitirá ao grande público no-ções essenciais sobre a especialidade, para que a Medicina Interna deixe de ser algo estranho, que se confunda, por exemplo, com a Medicina Geral e Fami-liar - outra grande área da medicina - ou com o Internato Médico, período de es-

tudo e de formação de um especialista.Para a SPMI, esta campanha é importan-te porque promove o conhecimento e a divulgação do que é a Medicina Interna e o que fazem os internistas, pondo em evidência o seu actual papel decisivo na organização da prestação de cuidados de saúde e na estruturação do sistema de saúde, bem como na incorporação na prática clínica dos avanços científicos da medicina.O internista é hoje confrontado com novos desafios colocados pelo impres-sionante crescimento do conhecimento científico, associado à evolução tecnoló-gica dos meios de diagnóstico e inter-venção terapêutica, que vieram tornar particularmente complexo o processo assistencial, quer de diagnóstico, quer de tratamento. Mas o especialista em

Medicina Interna está particularmente preparado para lidar com a complexi-dade e ser “a chave da solução para as doenças complexas”.Aos internistas, como guardiões da Me-dicina Hipocrática, cabe o papel decisivo de não permitir que, nomeadamente a nível hospitalar, se perca o rosto huma-no na assistência a quem está doente e, em simultâneo, ser o garante da segu-rança e da qualidade de todo o processo assistencial. Daí a “voz mais próxima do doente”.A comemoração dos 60 anos da Socie-dade Portuguesa de Medicina Interna é um pretexto para esta reflexão e para suscitar a curiosidade do público. Co-nhecer a especialidade para melhor compreender quem trata de nós: inter-nista, o médico do doente.

60 anos a trabalhar pela Medicina Interna As comemorações dos 60 anos da So-ciedade Portuguesa de Medicina In-terna serão um momento de balanço do processo já longo de construção e afirmação da especialidade em Portu-gal e servirão para mostrar a história do percurso realizado de formação em comum, de partilha de saberes, de in-vestigação e de debate de ideias. Numa exposição patente em bre-ve, estarão objectos e documentos daqueles que experienciaram, em

primeira mão, o desenrolar da histó-ria da Medicina Interna em Portugal. Está prevista a edição de um número comemorativo da Medicina Interna Hoje passando em revista momentos importantes das entrevistas feitas em cada número desta publicação, desde Maio de 2006, bem como artigos de interesse que destacam o tema do per-curso da SPMI. Previsto também está o lançamento do Prémio de Jornalismo “Uma perspectiva sobre a Medicina In-

terna”, que convida à apresentação de trabalhos jornalísticos que divulguem a actividade desenvolvida por médicos internistas, em ambiente hospitalar e emergência pré-hospitalar.Em 2011, para além das actividades que marcarão dum modo especial o 60.º aniversário da SPMI, decorrerão as actividades regulares de que se desta-ca sempre o congresso anual, cuja 17.ª edição se realiza este ano no Porto de 18 a 21 de Maio.

Page 5: Abril de 2011 • Ano V • Nº19 • Trimestral Hoje - SPMI · 2017-03-14 · Medicina Interna Hoje 1 InternIsta é nuclear em qualquer reforma José manuel silva Bastonário da

Medicina Interna Hoje 5

1951Publicação em Diário do Governo do despacho do Ministério da Educação autorizando a constituição da Sociedade Portuguesa de Medicina Interna.1952Sessão inaugural da SPMI, na Sala dos Actos, da Faculdade de Medicina de Lisboa, sob a Presidência do Ministro da Educação Nacional.1954Edição n.º 1 do “Boletim da Sociedade Portuguesa de Medicina Interna”.1955Primeira reunião científica no Porto, de acordo com o desejo de descentralização das actividades.1956 Sessão Solene de Homenagem à me-mória de Egas Moniz, com a presença do Ministro da Educação, Leite Pinto. 1983Criação da especialidade de Medicina Interna na Ordem dos Médicos.1984Aprovação dos novos estatutos da SPMI, pelos quais se ficou a reger a sociedade.19851.ªs Jornadas da Sociedade Portuguesa de Medicina Interna, na Faculdade de Ciências Médicas de Lisboa.19901.º Congresso Nacional de Medicina Inter-na, no Auditório dos Hospitais Universi-tários de Coimbra. Na Assembleia Geral então realizada aprovou-se a proposta de Revisão dos estatutos da SPMI, que foram registados no ano seguinte.1991O XI Congresso da AEMIE (Association Européenne de Medecine Interne d´Ensemble) é realizado em Lisboa, no Palácio de Congressos da FIL.1992Criação do Núcleo de Estudos das Doenças Autoimunes, aprovado em Maio desse ano.1994III Congresso Nacional de Medicina Interna – Porto.Primeira edição da revista “Medicina Interna”, em Junho, sendo Director o

Dr. Barros Veloso. Retoma-se assim o modelo do “Boletim de Medicina Inter-na”, ao publicar artigos científicos da autoria dos Internistas. É hoje coorde-nada por João Sequeira. Criação dos Núcleos de Cuidados Intensivos, Estudos da Doença Vascular Cerebral e Diabetes Mellitus, em Maio e o Núcleo de Estudos de Oncologia, em Novembro. Abertura da primeira sede da SPMI em Campolide.1996V Congresso Nacional de Medicina Interna – Coimbra.1997Aquisição de sede própria no Lumiar e sua instalação no espaço actual, na Rua da Tobis Portuguesa. 1998V Congresso Nacional de Medicina Interna – Lisboa. Com a presença da Ministra da Saúde, Dr.ª Maria de Belém Roseira.1999Criação do Núcleo de Estudos sobre a infecção VIH e das Doenças do Fígado.2000 VI Congresso Nacional de Medicina Interna – Porto, que a partir desta data, passou a ter periodicidade anual.2001VII Congresso Nacional de Medicina Interna - Vilamoura. Sessão comemorativa do 50.º Aniversá-rio da SPMI presidida pelo Prof. Correia de Campos, Ministro da Saúde.2002VIII Congresso Nacional de Medicina Interna – Coimbra. Edição de “Medicina do Corpo, Medi-cina do Espírito – 50 anos de Medicina Interna”.Criação do Núcleo de Bioética Médica.2003IX Congresso Nacional de Medicina Interna – Funchal. Lançamento do website da SPMI .2004X Congresso Nacional de Medicina Interna – Vilamoura, com a presença do Presidente da República, Dr. Jorge Sam-paio, que presidiu à sessão de abertura.

2005XI Congresso Nacional de Medicina Interna – Braga, coma presença do Ministro da Saúde, Prof. Correia de Campos na sessão de encerramento. Criação do Núcleo de Organização e Gestão Hospitalar e do NIMI (Núcleo de Internos de Medicina Interna).2006XII Congresso Nacional de Medicina Interna – Porto. Início da publicação da revista “Medi-cina Interna Hoje”, um instrumento de comunicação dirigido aos responsáveis e líderes de opinião da área da saúde, como meio de promover a Medicina Interna e o seu conhecimento junto deste público específico. 9.ª edição da European School of Inter-nal Medicine, em Sintra (Academia da Força Aérea).20076th Congress of European Federation of Internal Medicine / XIII Congresso Nacional de Medicina Interna, em Lisboa, com a presença do Presidente da República, Prof. Aníbal Cavaco Silva na sessão de abertura.Criado o Núcleo de Estudos da Doença Vascular Pulmonar.10.ª edição da European School of Inter-nal Medicine, Carcavelos (Seminário da Torre D´Aguilha).2008XIV Congresso Nacional de Medicina Interna e 1º Congresso Ibérico – Vilamoura (Coimbra).2009XV Congresso Nacional de Medicina Interna – Funchal.2010XVI Congresso Nacional de Medicina Interna – Vilamoura (Lisboa), com a presença da Ministra da Saúde Dr.ª Ana Jorge.2.º Congresso Ibérico – OviedoRealizou-se a 1.ª Escola Nacional de Verão (EVERMI), em Ponte de Lima.2011Comemoração dos 60 anos da SPMI, a par da realização do seu 17.º Congresso Nacional.

GRA

ND

ES M

OM

ENTO

S

Page 6: Abril de 2011 • Ano V • Nº19 • Trimestral Hoje - SPMI · 2017-03-14 · Medicina Interna Hoje 1 InternIsta é nuclear em qualquer reforma José manuel silva Bastonário da

6 Medicina Interna Hoje

olho clínico

Hungria e Portugal estamos juntos O 5.º Congresso Português de Hipertensão, que decorreu de 17 a 20 de Fevereiro, em Vi-lamoura, contou com a colaboração inédita da Sociedade Húngara de Hipertensão, para debater os problemas relacionados com a hipertensão arterial. Desta cooperação re-sultou uma maior troca de conhecimentos, informações e experiências, que permitiu uma actualização de ambos os países no que respeita às práticas médicas e novas investi-gações na área da hipertensão. Csaba Farsang, professor húngaro, inaugu-rou o evento com uma palestra dedicada à “Inflamação vascular e função endotelial”, abrindo portas a quatro dias repletos de co-municações orais, posters, exposições e con-ferências que, para além dos temas já referi-dos, se debruçaram sobre a apneia do sono, infecção por VIH e obesidade.

Pérolas nas Doenças Auto-ImunesAs doenças auto-imunes foram, ao longo de várias décadas, consi-deradas doenças relativamente raras, pelo que sempre se pensou a sua incidência, como fraca e de baixa relevância. Todavia, assim que nos debruçamos sobre o seu conjunto, percebemos que afec-tam já entre 5 a 10 por cento da população portuguesa, atingem um qualquer órgão e, em grande parte dos casos, assumem con-tornos graves. A complexidade e abordagem multidisciplinar que exigem, bem como a capacidade de diagnóstico e estratégia tera-pêutica difíceis, representam alguns dos desafios para aquela que é a especialidade com melhor capacidade de resposta, a Medicina Interna. O seu crescente desenvolvimento impõe, por isso mesmo, um acompanhamento e actualização dos profissionais de saúde. Foi precisamente neste âmbito que a Medinterna organizou a sua 9.ª Reunião Internacional sobre Doenças Auto-imunes, no fim do mês de Janeiro, no Porto, sob o mote “Pérolas nas Doenças Auto--Imunes”. A discussão de casos clínicos, mesas redondas, confe-rências e debates preencheram o programa científico, que contou com a participação de especialistas provenientes da Alemanha, Bélgica, Espanha, Holanda, Israel, Itália, Reino Unido e Turquia.

sPmI e as Doenças RarasRealizou-se em Tomar, nos dias 11 e 12 de Março, o II Simpósio do Núcleo de Estudos das Doenças Raras da Sociedade Portuguesa de Medicina Interna (SPMI) que reuniu especialistas nacionais e estrangeiros com o objectivo de apresentar e reflectir sobre os desafios médicos actuais no âmbito das doenças raras. Foram discutidos temas como a Genética, as Mitocondrio-patias, as Doenças Auto-inflamatórias, as Doenças Hereditárias do Colageneo ou as Dislipidemias here-ditárias. O simpósio contou com uma sessão sobre o Registo de Doenças Raras na qual participam Luís Brito Avô, coordenador do Núcleo de Estudos das Do-enças Raras da SPMI e Jordi Perez Lopes, coordenador do Núcleo de Doenças Raras da Sociedade Espanhola de Medina Interna, que apresentou o exemplo do Re-gisto de Doenças Raras da Catalunha.

(con)viver com Doença Auto-ImuneO Projecto (Con)Viver com Doença Auto-Imune, que teve origem num trabalho escolar desenvolvido na disciplina de Área Projecto, por um aluno do 12.º ano, Tiago Nunes, da Escola Secundária Augusto Cabrita, promoveu uma confe-rência, no dia 26 de Março, que contou com a participação de três internistas do Centro Hospitalar Barreiro-Montijo (CHBM), Nuno Fernandes, Joaquim Rodrigues e José Alves, entre médicos de outras especialidades, professores, a di-recção da escola e a direcção clínica do CHBM . O projecto tem como objectivos a constituição de um Grupo de Apoio Terapêutico a Crianças e Jovens com Doenças Auto-Imunes e suas famílias, com vista a contribuir para uma melhor in-tegração escolar, familiar e social, bem como sensibilizar a comunidade para as dificuldades que estes doentes en-frentam no seu dia-a-dia.

Page 7: Abril de 2011 • Ano V • Nº19 • Trimestral Hoje - SPMI · 2017-03-14 · Medicina Interna Hoje 1 InternIsta é nuclear em qualquer reforma José manuel silva Bastonário da

Medicina Interna Hoje 7

primeiros passos

“Crescer” é ser capaz de assumir ris-cos, de lidar com o desconhecido de uma nova experiência. “Crescer” como interno de Medicina Interna é uma tarefa árdua, mas deveras estimulan-te. Depois de seis anos de acrisolado estudo numa faculdade, supõe-se que já se é um jovem médico conhecedor e atrevido, capaz de tomar as decisões clínicas adequadas e, assim, salvar vidas. Contudo, não foi esse o senti-mento vivido quando comecei o meu primeiro ano de internato. Ainda me recordo de olhar para o meu tutor com profundo sentimento de admiração e desejar ser como ele, o “Doctor House” do hospital, detentor de um universo de sapiência que se estendia desde as ciências básicas até à prática clínica.Na faculdade de Medicina dedicamos grande parte do tempo a estudar ca-sos clínicos em compêndios, tendo contactos esporádicos com os doen-tes “reais”. Assim, não é surpresa que, quando se começa a prática clínica, todas as decisões sejam difíceis. Recordo-me de me sentir apreensiva com as mudanças que a passagem da faculdade para o mundo real da Medi-cina me iriam trazer, implicariam mais responsabilidades.No segundo ano do internato enfren-tamos uma panóplia de casos clínicos na consulta. Alguns simples, outros mais complicados e desafiantes. O número de turnos no serviço de ur-gências cresceu ao mesmo tempo que o número de horas de descanso dimi-nuiu, o que fez aumentar a minha von-tade de ir impreterivelmente de férias.

“crescer” como interno de Medicina InternaNos últimos dois anos de internato foi solicitado o meu apoio no ensino de estudantes de medicina. Tarefa de grande responsabilidade que aceitei com muito orgulho. Alguém um dia disse que um médico para ser com-pleto tem de saber ensinar e comu-nicar com os seus alunos e os seus doentes. Os primeiros dias foram de-dicados ao conhecimento dos alunos e das suas expectativas para o traba-lho num serviço de medicina. Finalmente o último ano do internato. Colocamos um contador de tempo no computador para fazer a contagem decrescente dos dias para o exame final da especialidade. Durante todo esse ano sente-se tensão e ansiedade, especialmente porque não queremos desiludir o nosso tutor e todos os co-legas que contribuíram para o nosso crescimento como Internistas.Agora posso olhar para trás e ver verdadeiramente o quão longe che-guei como interna e o quanto mais completa me sinto como jovem mé-dica. Estou mais confiante e assertiva quando tenho que tomar as minhas decisões clínicas. Aprendi que é im-possível ter todo o conhecimento médico, por isso, o mais importante é a nossa determinação para procurar-mos as respostas e explicações para o que ainda não sabemos.Nos últimos cinco anos compreendi que é necessário mais do que sim-ples motivação e vontade para ser um bom Internista. Existem muitas outras qualidades que são adquiridas ou desenvolvidas durante o interna-

to, como trabalhar eficazmente e de forma organizada em equipa, com a mesma determinação que se trata o ser humano que procurou a nossa ajuda num momento de verdadeiro sofrimento. Desde o primeiro dia do meu interna-to que o meu tutor me alertou para a importância da palavra “cuidar”, visto que a maioria dos nossos doentes são idosos frágeis e carentes. Por vezes não temos a cura para aquela doen-ça específica, mas o nosso trabalho deve prosseguir com objectivo pri-mordial de aliviar a dor, o sofrimento e melhorar a qualidade de vida destes doentes.Ser um bom médico não é só ter a competência para fazer o diagnósti-co certo e é certamente muito mais do que aquilo que se aprendeu na faculdade de Medicina. Só nos torna-mos verdadeiros médicos depois de termos estado no terreno e desen-volvido competências científicas e técnicas e qualidades como o senso comum, a comunicação, empatia e compaixão.Para mim é deveras gratificante verifi-car que os meus actos aliviam o sofri-mento de outro ser humano.

Marta Carvalho Rebelo,5.º ano do Internato Médico com formação específica em Medicina Interna;Serviço de Medicina Interna, Hospitais da Universidade de Coimbra

Page 8: Abril de 2011 • Ano V • Nº19 • Trimestral Hoje - SPMI · 2017-03-14 · Medicina Interna Hoje 1 InternIsta é nuclear em qualquer reforma José manuel silva Bastonário da

8 Medicina Interna Hoje

CASO IMulher de 58 anos, com conectivopa-tia mista e síndrome antifosfolipídos, sob corticoterapia e ticlopidina, ad-mitida com AVC isquémico. A TAC-CE foi confirmativa; o Doppler vascular sem alterações; o ecocardiograma com fibrocalcificação mitro-aórtica, dilatação biauricular e Foramen Ova-le Patente (FOP). Iniciou terapêutica (tx) com ácido acetilsalicílico, verifi-cando-se regressão do quadro neuro-lógico. Alta, sob anticoagulação oral (ACO).

CASO IIMulher de 52 anos, com anteceden-tes de aborto espontâneo aos 28 anos, admitida por dispneia de esfor-ço, edema e dor no membro inferior esquerdo. Analiticamente: trombo-

citopénia, prolongamento do aPTT, Ac. Lúpico +. Doppler MInf: trombose fémoro-popliteia esquerda. O Ecocar-diograma indicava dilatação das cavi-dades dtas, PSAP:90 mmHg, FOP com shunt dto-esq com trombo a atraves-sar a FOP. AngioTAC torácica: TEP ma-ciço bilateral. Iniciou tx com heparina e foi realizada tromboembolectomia cirúrgica. No pós-operatório iniciou Bosentan e Varfarina. Verificou-se uma clara melhoria do quadro clí-nico. A coexistência de duas pato-logias de risco pró-trombótico: FOP e SAF foram as determinantes nas decisões tx. Cada uma delas, por si só, sustentariam uma intervenção menos efectiva. O encerramento do FOP vs tx médica está apenas re-comendado se houver recorrência de eventos e a ACO no SAF, compa-

rada com antiagregação plaquetar para o risco de AVC, também só se coloca na recorrência. Por estas ra-zões decidiu-se o encerramento na doente com TEP e não na doente com AVC. A ACO impõe-se em am-bos os casos pela coexistência dos dois factores.Impressionou-nos a vivência destes casos pelo elevado grau de acuida-de com que actualmente se tomam as decisões tx entrelaçando as evi-dências das guide-lines com o me-lhor senso clínico.

CASO III, IV E VFamília com Doença de Fabry. Re-sultados após cinco anos de tera-pêutica enzimática de substituição (TES). O diagnóstico foi estabeleci-do por critérios clínicos, actividade

alta voz

Casos Clínicos

A riqueza da experiência A experiência clínica de um internista é fascinante pela diversidade, complexidade, hierarquização dos métodos de diagnóstico, decisão terapêutica e reabilitação do doente.

Por Luís Brito Avô, Consultor de Medicina

Interna do Serviço de Medicina

do Hospital Santa Maria, Assistente da Faculdade de Medicina de Lisboa,

Coordenador do Núcleo de Doenças Raras da SPMI.

Por Luísa Pereira,Interna Complementar do 5.º Ano de Medicina Interna,S. Medicina I H. Santa Maria.

Page 9: Abril de 2011 • Ano V • Nº19 • Trimestral Hoje - SPMI · 2017-03-14 · Medicina Interna Hoje 1 InternIsta é nuclear em qualquer reforma José manuel silva Bastonário da

Medicina Interna Hoje 9

da αGAL e GL-3 urinária, biopsia cutânea e estudo genético. A evo-lução dos três pacientes sob TES foi aferida pela monitorização das manifestações neurológicas: dor neuropática, disautonomia e infil-tração do SNC/por escala de dor, provas de função autonómica e RMN. A opacidade da córnea por lâmpada de fenda e ecografia. A disfunção cardíaca pela proBNP, ECG, Ecocardiografia e RMN. A fun-ção renal pela clearance de creati-nina, proteinúria e ecografia. Regis-tou-se melhoria da dor neuropática e estabilização das opacidades cor-neanas em todos os doentes. A imagiologia do SNC agravou-se num deles, no entanto, sem expres-são clínica. Não houve progressão das alterações cardiológicas em dois deles, e agravamento no ter-ceiro. Dois doentes evoluíram para insuficiência renal terminal. Não fo-ram detectados anticorpos contra a enzima terapêutica. Esta família de doentes com a Doença de Fabry ilustra o pleno espectro clínico da doença, particularmente a linha de heterozigotas aqui expressa. Re-portamos uma nova mutação não descrita.Casos paradigmáticos da visão ho-lística do internista, da sua capaci-dade de introdução de novas tera-pêuticas e da importância actual da genómica. O acompanhamento destes doentes foi para nós de tal forma determinante que desper-

tou um particular interesse para as Doenças Hereditárias-metabólicas, que culminou com a Formação do Núcleo de Estudos de Doenças Ra-ras da SPMI.

CASO VIHomem de 73 anos, admitido para investigação de quadro com nove meses de evolução de perda pon-deral, astenia, tumefacção abdomi-nal e dor tipo “moinha” no flanco direito. Apresentava conjuntivas descoradas, adenopatia supracla-vicular esquerda, massa de consis-tência elástica dolorosa à palpação no flanco direito (6cm eØ). Resul-tados dos Exames complementa-res: Anemia (10,9); PCR 1.6; VS 52; VIH negativo; mantoux negativo; Rx trânsito intestinal: estenose ir-regular ao nível do íleon terminal; Colonoscopia: diverticulose; TC corpo: adenopatia supraclavicular esquerda; adenopatias peri-aór-ticas; nódulo no mesentério (5cm Ø) adjacente a ansa do intestino delgado. Biópsia Ecoguiada: Tumor Carcinóide bem diferenciado de origem Intestinal. Actividade NE: elevação sérica de Cromogranina A e urinária dos ácidos Hidroxi-indo-lacético e Homovanílico. Cintigrafia de Octretido: metastização tumoral múltipla. Iniciou Sandostatina e rea-lizou cirurgia em Agosto 2010, com excisão da massa. Actualmente as-sintomático, com melhoria dos mar-cadores analíticos e imagiológicos.

Casos Clínicos apresentados pelos Internistas Andrea Mateus (Interna de MI do 5.º ano), João Araújo Correia (di-rector do Serviço de Medicina do CHP/Hospital Santo António), Luísa Carvalho (assistente Hospitalar de Medicina Interna) e João Pedro Ferreira (Interno de MI do 2.º ano)

Seis casos clínicos que ilustram e sublinham a dimensão holística da Medicina Interna.

Registámos, no seguimento deste caso, o silêncio da sua expressão clínica – tem aqui também o inter-nista uma visão determinante de elevado sentido de alerta semioló-gico, e sendo a clínica soberana, re-observámos a notável capacidade actual de caracterização da doença, pelos meios complementares de diagnóstico, residindo o segredo da boa prática na inteligente conjuga-ção dos dados.

Page 10: Abril de 2011 • Ano V • Nº19 • Trimestral Hoje - SPMI · 2017-03-14 · Medicina Interna Hoje 1 InternIsta é nuclear em qualquer reforma José manuel silva Bastonário da

10 Medicina Interna Hoje

uma palavra a dizer

O Internista é nuclear em qualquer reforma

Apenas com um mês e meio de mandato, o recém-eleito Bastonário da Ordem dos Médicos, que escolheu a medicina interna por ser a especialidade hospitalar mais abrangente e eclética, fala à Medicina Interna Hoje sobre os seus objectivos prioritários: Qualidade da Formação Médica e do Sistema Nacional de Saúde. José Manuel Silva reclama uma Ordem mais interventiva, dinâmica, moderna e democrática e propõe rever os seus Estatutos.

José Manuel Silva | Bastonário da Ordem dos Médicos

Page 11: Abril de 2011 • Ano V • Nº19 • Trimestral Hoje - SPMI · 2017-03-14 · Medicina Interna Hoje 1 InternIsta é nuclear em qualquer reforma José manuel silva Bastonário da

Medicina Interna Hoje 11

ção interna da Ordem precisa de ser repensada.O que dissemos na resposta anterior também se aplica a esta pergunta. Mas poderia acrescentar a questão da prescrição electrónica, relativa-mente à qual todas as nossas suges-tões foram aceites, o que permitiu a realização conjunta de uma confe-rência de imprensa com o Ministério da Saúde e a Ordem dos Médicos Dentistas, traduzindo um clima de bom relacionamento e respeito mú-tuo que certamente continuará a dar frutos para o futuro.Igualmente fundamental é a actual excelente relação com os Sindica-tos e o ambiente de união e enten-dimento entre as principais orga-nizações Médicas, essencial para a reoperacionalização das Carreiras Médicas e que permitiu mais uma vi-tória da justiça e do bom senso, que foi conseguir-se evitar a fidelização compulsiva dos jovens especialistas ao SNS em condições extremamente negativas.

quais as principais linhas de revi-são dos estatutos e como será leva-do a cabo esse processo?Essa matéria encontra-se agendada na ordem de trabalhos do Conselho Nacional Executivo (CNE), mas certa-mente será constituído um Conselho de Revisão dos Estatutos, assesso-rado pelo Departamento Jurídico, para, até ao fim de 2011, elaborar uma proposta de novos Estatutos a ser aprovada em CNE e amplamente discutida pelos Colegas, ratificada no Plenário dos Conselhos Regionais e discutida com a Assembleia da Re-pública, a entidade com jurisdição sobre os Estatutos das Ordens. Se-gundo o artigo n.º 100 dos Estatutos, deverá ainda ser referendada.Pretende-se avaliar a criação de mais Secções Regionais, permitindo assim assegurar uma maior e mais equi-librada democraticidade interna e

representatividade da OM, separar claramente os poderes Executivo, Disciplinar e Fiscal, evitando acumu-lação de funções e eventuais con-flitos de interesse, garantir a repre-sentação do Conselho Nacional do Médico Interno (CNMI), com todos os direitos, no CNE, limitar os man-datos sucessivos em todos os órgãos eleitos a um máximo de dois, dina-mizar e agilizar os procedimentos de auto-regulação, reforçando o núme-ro de elementos dos Conselhos Dis-ciplinares, institucionalizar a figura de Presidente da Mesa e dar maior e mais eclética representatividade ao Plenário dos Conselhos Regionais, introduzir os cargos de Secretário- - Geral e Tesoureiro do CNE, tornar estatutariamente obrigatória a pu-blicação anual do relatório de contas da Ordem na Revista da Ordem, re-formular os Conselhos Consultivos, possibilitar que os principais cargos da Ordem dos Médicos sejam exer-cidos a tempo inteiro, com remune-ração adequada, instituir um regime de incompatibilidades, nomeada-mente impedindo acumulação de membro do CNE com cargos de no-meação governamental directa ou de dirigente sindical, etc.

é relevante a descentralização das estruturas da ordem dos médicos?Uma das queixas mais frequentes dos Colegas relativamente à Ordem é o afastamento das suas estruturas de decisão relativamente à realidade e às “bases”. Neste momento há uma grande disparidade entre as três sec-ções existentes, com o Sul a deter mais de 50 por cento dos Médicos e o Centro apenas cerca de 16 por cen-to. Criando mais Secções Regionais é possível equilibrar um pouco me-lhor estas diferenças e descentralizar a Ordem, aproximando os Centros de decisão regional das periferias e colocando representantes de novas áreas geográficas e outras realida-

os resultados eleitorais obtidos pela sua candidatura traduzem um apoio muito expressivo da classe. como interpreta estes resultados?Com grande sentido de responsabi-lidade e com a convicção de que os Médicos querem efectivamente uma Ordem mais interventiva, mais dinâ-mica, mais organizada, mais moder-na e mais democrática. Basicamente, uma Ordem que represente condig-namente a Classe Médica, que de-fenda os Médicos e os Doentes e que justifique a sua própria existência e as quotas cobradas.

quais as áreas de intervenção prio-ritária como Bastonário da ordem dos médicos? A reorganização interna da Ordem, incluindo a revisão dos anquilosados Estatutos, e uma estratégia de inter-venção externa mais firme, assertiva e construtiva e com uma maior aber-tura à Sociedade e aos Doentes. O objectivo prioritário é, num período particularmente difícil e com muitos interesses contraditórios em jogo, defender a Qualidade da Formação Médica e do Sistema Nacional de Saúde. A forma como encarámos a questão da prescrição por DCI, o do-cumento produzido, que resultou de um grande trabalho colectivo, e os resultados conseguidos são um dos exemplos da Ordem dos Médicos que pretendemos para o futuro. “a ordem vai mudar”, uma assinatu-ra forte no seu discurso de tomada de posse, que acarreta a ideia de reforma da Instituição. o que consi-dera que necessita de ser mudado e porquê?Pelo retorno que vamos tendo, pare-ce-nos que a generalidade dos Cole-gas já sente essa mudança, traduzida num novo estilo de liderança, quali-dade de intervenção, rapidez de res-posta e combatividade. Mas há ainda muito por fazer, pois toda a organiza-

Page 12: Abril de 2011 • Ano V • Nº19 • Trimestral Hoje - SPMI · 2017-03-14 · Medicina Interna Hoje 1 InternIsta é nuclear em qualquer reforma José manuel silva Bastonário da

12 Medicina Interna Hoje

des humanas no Conselho Nacional Executivo. Mais democracia e maior representatividade reforçarão a Or-dem.

“a ordem dos médicos também sabe como pode ser democratica-mente incómoda”, uma expressão do seu discurso de tomada de pos-se que encerra a importância da ordem dos médicos na sociedade, sobretudo, na luta pelos seus ob-jectivos. Gostaríamos que comen-tasse esta frase, com base na ideia de articulação com as organiza-ções médicas, faculdades de me-dicina, sindicatos e poder político.A pergunta responde a si mesma. Uma Ordem devidamente articu-lada com as outras organizações da Saúde e dos Médicos aumenta a sua capacidade de intervenção e influência. Mas o âmbito da frase ultrapassa as fronteiras médicas e refere-se também aos cidadãos e aos doentes, junto dos quais a Or-dem dos Médicos deve fazer che-gar a sua mensagem, com uma es-tratégia de comunicação, a fim de ultrapassar a forma demagógica e deliberadamente enviesada como muitos temas são apresentados e veiculados pelo poder político e por alguns parceiros da saúde, procurando induzir conceitos, nem sempre os mais correctos. Cabe-nos a nós fazer o nos-so trabalho e demonstrar à popula-ção as nossas razões. Com os doen-tes do nosso lado, sem estigmas de corporativismo negativo, a Ordem conseguirá ser “democraticamente muito mais incómoda”.

fissionais mais bem preparados e com uma visão mais holística que os coloca no núcleo de qualquer sistema de saúde e, por conseguin-te, no centro da reforma hospitalar.Para bem da reforma da Saúde é necessária uma maior liderança dos Médicos e os internistas es-tão particularmente aptos para a exercer. A única solução real para o problema nacional da Saúde é aumentar dramaticamente o valor dos cuidados de saúde prestados com o dinheiro que está a ser gas-to, algo que apenas pode ser con-seguido pelos Médicos.

como vê a criação de novas es-pecialidades a sair da medicina Interna?Isso só acontecerá se a Medicina Interna não preencher adequada-mente o campo dessas putativas novas especialidades, quer em termos de programa de formação, quer em termos de prática clínica.

tem defendido que uma das for-mas de poupar seria organizar os hospitais por patologias e não por serviços. De que forma esta alte-ração poderia ser concretizada? Já existem alguns exemplos no nosso país, como a Clínica da Mama, no IPO do Porto. Os cuida-dos de saúde devem ser organiza-dos em redor de condições médi-cas e dos seus ciclos de cuidados, não em serviços de especialidades que obrigam o doente que sofre de patologias multidisciplinares a per-correr múltiplos departamentos ou

a figura do Provedor do Doente é uma necessidade de associar a ordem dos médicos à prossecução da qualidade do sistema nacional de saúde? em que medida? como pode ser instituído o diálogo per-manente com os doentes?Sem qualquer mistificação, os Do-entes são efectivamente o centro de qualquer sistema de saúde. Infe-lizmente, as suas opiniões raramen-te são ouvidas pelo poder político. Na verdade, Médicos e Doentes têm os mesmos objectivos, a defesa da Qualidade do Sistema de Saúde. Por isso mesmo é essencial estabelecer um fórum de diálogo permanen-te com as associações de Doentes para assegurar a defesa intransi-gente dos anseios, necessidades e direitos dos Doentes, que configu-ram a Cidadania da Pessoa Doente. Neste sentido, propomos a criação do Provedor do Doente, persona-lidade não médica de mérito reco-nhecido que, actuando junto do Bastonário, assegure a defesa dos direitos dos Doentes e que ambos presidam ao Fórum, o qual deverá reunir regularmente.

Porquê a opção pela medicina In-terna em termos de carreira?Porque é a especialidade hospitalar mais abrangente e eclética.

que papel podem ter os Internis-tas na reforma dos hospitais?O papel que quiserem e souberem ter. Pelas características da sua es-pecialidade, para os internistas não há fronteiras médicas e são os pro-

uma palavra a dizer

“Para bem da reforma da Saúde é necessária uma maior liderança dos Médicos e os internistas estão particularmente aptos para a exercer. A única solução real para o problema nacional da Saúde é aumentar dramaticamente o valor dos cuidados de saúde prestados com o dinheiro que está a ser gasto”

Page 13: Abril de 2011 • Ano V • Nº19 • Trimestral Hoje - SPMI · 2017-03-14 · Medicina Interna Hoje 1 InternIsta é nuclear em qualquer reforma José manuel silva Bastonário da

Medicina Interna Hoje 13

MEDICINA E POLÍTICA

a recorrer à mesma instituição inú-meras vezes, com custos directos e indirectos incalculáveis. Os ganhos para o Doente e para o SNS são ób-vios.

o ministério da saúde reduziu o número de programas nacionais de prevenção e controlo de doen-ças. são apenas quatro os planos prioritários (cancro, vIH, doenças mentais e doenças cardiovascula-res). concorda?Esses quatro são claramente prio-ritários, mas outros certamente também haveria. Porém, os pro-blemas não se resolvem por existi-rem programas nacionais no papel, como seria o caso de alguns dos que agora findaram. Mais impor-tante era fazer a avaliação pública de todos os programas que exis-tiram e quais os seus resultados, ou não, as suas dificuldades e as suas limitações. Alguns programas acabaram quase da mesma forma como começaram e ninguém as-sume responsabilidades. Este é um país onde muito poucos assumem ou são obrigados a assumir as suas responsabilidades e esse é o gran-de problema nacional. Se o país ti-ver quatro programas nacionais de prevenção a funcionar adequada-mente, já é muito bom. Se estamos em crise, concentremo-nos então nesses quatro, sem esquecer que há outras patologias demasiado relevantes, como, por exemplo, a obesidade e a diabetes, que tam-bém devem merecer a atenção dos decisores políticos.

Da sua experiência hospitalar é possível que os hospitais estejam a rejeitar medicamentos por falta de dinheiro, dificultando o acesso a medicamentos inovadores?Os relatos e as notícias de que vamos tendo conhecimento e que vêm a público são infelizmente demasia-do consistentes. O que é necessário, como recentemente fez uma colega dos transplantes hepáticos pediátri-cos e a situação já está resolvida, é que esses casos sejam comunicados formalmente e com factos à Ordem dos Médicos, possibilitando-nos uma intervenção dirigida e conse-quente.Mas também é necessário gerir cada vez com maior rigor os recursos exis-tentes e limitar o desperdício ao mí-nimo, poupando no supérfluo para não faltar no essencial. Uma questão a que os Médicos devem mais aten-ção é a evitar intervencionismos que possam enquadrar-se na prática de distanásia.

os médicos vão participar na ava-liação de desempenho dos seus su-periores, neste caso, chefes e direc-tores de serviço. e a sua avaliação deverá ter um peso de 40% a 50% na nota final? concorda com esta medida?A opinião fundamentada dos ele-mentos de qualquer serviço deve naturalmente ser tida em conta na avaliação dos superiores hierárqui-cos. Na Saúde como em qualquer outro sector.

Depois do veto do Presidente da república ao diploma que previa, entre outras questões, a generali-zação da prescrição por Denomi-nação comum Internacional, acha que o assunto está encerrado? Ainda não, na medida em que estão duas propostas de Lei em discussão na Assembleia da República, onde já fomos recebidos e deixámos um do-cumento fundamentado com a posi-ção da Ordem dos Médicos. Vamos

Page 14: Abril de 2011 • Ano V • Nº19 • Trimestral Hoje - SPMI · 2017-03-14 · Medicina Interna Hoje 1 InternIsta é nuclear em qualquer reforma José manuel silva Bastonário da

14 Medicina Interna Hoje

manter a intervenção nesta matéria e já pedimos audiências a todos os partidos políticos com representação parlamen-tar para discutir esta e outras relevantes questões da saúde.

quais são as suas considerações quando assiste à emergência e estabelecimento de um sistema privado de saúde cada vez mais forte em Portugal, sustentado pela figura legal dos seguros de saúde, em relação ao “velho” sns? como prevê a coexistência destas duas realidades?Os seguros de Saúde levam, naturalmen-te, à expansão do sistema privado de saúde. Existe um espaço próprio para o sector privado, que pode funcionar como complementaridade ou em alternativa ao sector público. Porém, o Estado nunca poderá abdicar de um SNS forte e orga-

nizado, pois é a única forma de o regular efectivamente. Os problemas e dificulda-des das PPP em Portugal demonstram bem a complexidade das relações entre o sector público e o sector privado e dão sustentabilidade à afirmação da OMS de que um Estado mal organizado corre menos riscos económicos e de qualida-de, sendo simultaneamente financiador e prestador, do que sendo apenas finan-ciador dos cuidados de saúde.

como encara o problema da falta de médicos em Portugal e como o relacio-na com o aumento de numerus clausus nas universidades e com a contratação de médicos estrangeiros e reformados?A abertura de mais vagas nas Faculda-des de Medicina não resolve o presen-te problema da falta de médicos, que

uma palavra a dizer

apenas tem solução melhorando a organização do SNS, estimulando os médicos a permanecer no sector público, recorrendo à experiência e disponibilidade dos reformados, logicamente com uma recompensa minimamente aceitável, e contratu-alizando algumas soluções com o sector privado.Desde que se cumpra a legislação em vigor e não se coloquem quais-quer médicos, estrangeiros ou não, a exercer funções para as quais não têm a devida competência, não há problemas com a contratação de Médicos estrangeiros para colmatar falhas temporárias.O actual numerus clausus já exce-de as necessidades futuras do país, pelo que deverá ser reequacionado em função de um estudo sobre de-mografia médica, que a Ordem irá patrocinar, nomeadamente através dos Colégios das Especialidades. É igualmente essencial repensar o número de Faculdades de Medicina. O excesso de Médicos é prejudicial à Qualidade e aos Doentes.

a requalificação das carreiras mé-dicas poderá equilibrar o sistema e permitir maior igualdade na ofer-ta de serviços de saúde em ambos sistemas, público e privado?Evidentemente, por isso os Sindi-catos e a Ordem estão igualmente empenhados na reposição e reope-racionalização de Carreiras Médicas modernas e adequadas às actuais exigências do Sistema de Saúde. O desrespeito pelas Carreiras Médi-cas, que começou entre os próprios médicos, é um importante factor de degradação do SNS e de desmotiva-ção e fuga de médicos para o sec-tor privado. Logicamente, o sistema de Carreiras, porque benéfico para a formação contínua, para a Quali-dade e para os Doentes, e porque essencial para a hierarquia técnico-científica de qualquer serviço ou instituição, deve ser partilhado pe-los sectores público e privado.

Page 15: Abril de 2011 • Ano V • Nº19 • Trimestral Hoje - SPMI · 2017-03-14 · Medicina Interna Hoje 1 InternIsta é nuclear em qualquer reforma José manuel silva Bastonário da

Medicina Interna Hoje 15

Page 16: Abril de 2011 • Ano V • Nº19 • Trimestral Hoje - SPMI · 2017-03-14 · Medicina Interna Hoje 1 InternIsta é nuclear em qualquer reforma José manuel silva Bastonário da

16 Medicina Interna Hoje

ProPriedade

director

Faustino Ferreira•

edição e redacção

Edifício Lisboa Oriente, Av. Infante D. Henrique,

nº 333 H, 4º Piso, Escritório 491800-282 Lisboa

Telef. 21 850 81 10 • Fax 21 853 04 26Email: [email protected]

•Impressão

RPO Produção Gráfica, Lda.Trav. José Fernandes, nº17 A/B

1300 - 330 Lisboa•

Periodicidade: trimestralTiragem: 4.000 exemplares

•Distribuição gratuita aos associados

da Sociedade Portuguesa de Medicina InternaAssinatura anual: 8 euros

•Depósito Legal nº 243240/06

Isento de Registo na ERCao abrigo do artigo 9º

da Lei de Imprensa nº 2/99, de 13 de Janeiro

•Sociedade Portuguesa

de Medicina InternaRua da Tobis Portuguesa, nº 8 - 2º sala 7/9

1750-292 LisboaTel. 21 752 0570 / 8 • Fax 21 752 0579

[email protected] NIF: 502 798 955

•www.spmi.pt

16 Medicina Interna Hoje

depois da hora

Pesquisar, recolher e preservar sessenta anos de recordações não é tarefa fácil. Que o diga João Moreira Santos, autor e coor-denador do projecto “60 Anos de História & Memória em Exposição”, dedicado às co-memorações da data que assinala mais uma década de aniversário da Sociedade Portu-guesa de Medicina Interna. Mais que um partilhar de percurso, daquela que de tão diversas formas contribuiu para o avanço da ciência médica em Portugal, esta iniciativa nasce com o intuito de for-necer à SPMI contornos palpáveis para todo um conjunto de memórias que reflectem a sua presença e evolução no nosso país. As-sim, estruturou-se a exposição em torno de cinco eixos principais: Presidentes; História

Viagem ao centro da Sociedade

Cronológica; Actividades – Sessões, Jorna-das, Congressos & Publicações; Internacional e Institucional. Do espólio fazem parte fotografias de perso-nalidades, painéis expositores de documen-tos históricos e correspondência – incluindo uma carta de Egas Moniz –, convites, cartazes de congressos e encontros científicos, objec-tos dos primeiros anos de contabilidade da sociedade, como Livros de Caixa e Livros de Razão, entre vários outros que despertam no visitante sensações de curiosidade, desco-berta e nostalgia. Este projecto resulta não só de uma inves-tigação interna como de uma forte compo-nente de pesquisa em pontos como a Biblio-teca Nacional de Lisboa ou a Torre do Tombo.

SPMI assinala 60 anos com exibição de espólio histórico

consultora comercial

Sónia [email protected]

Tel.: 96 150 45 80

Tel. 21 850 81 10 - Fax 21 853 04 26

Page 17: Abril de 2011 • Ano V • Nº19 • Trimestral Hoje - SPMI · 2017-03-14 · Medicina Interna Hoje 1 InternIsta é nuclear em qualquer reforma José manuel silva Bastonário da

Medicina Interna Hoje 17

A saúde precisa de mais saúdePor Ana Maia*

São muitas as vozes que não hesitam em dizer que falta saúde à saúde em Portugal. Todos os dias jornais, rádio e televisão passam notícias que espelham a confusão do que se passa no Serviço Nacional de Saúde. Faltam médicos nos hospitais e, nos centros de saúde, mul-tiplicam-se os relatos de utentes sem médico de família. Mais do que apontar culpas, são precisas soluções eficazes. E isso nem sempre quer dizer rapidez. Um clínico pode demorar seis ou mais anos a formar e a opção de contratar médicos estrangeiros também não é imediata. Mas há algo que está na mão de todos nós e que pode ser colocado já em prá-tica: responsabilidade social. Os utentes do Serviço Nacional de Saúde têm de ser responsáveis nas opções que fazem. Recorrer às urgências de um hospital, quando não se trata de uma verdadei-ra urgência, é estar a esgotar recursos humanos e materiais sem necessidade, é alongar as horas infindáveis à espera para se ser atendido. Muitos pergun-tarão o que mais podem fazer se não conseguem uma resposta nos centros de saúde. É possível consegui-lo se houver organização, se perceberem que o mal de que padecem talvez possa ser tratado em casa e, só quan-do isso não acontece, recorrer então a um médico. Mas não se pode ilibar os responsáveis da Saúde daquilo que

do lado de cá

são as suas obrigações. É preciso cru-zar dados, actualizar listas de utentes, retirar destas os que já faleceram ou que simplesmente já não moram na-quela zona. Com isto, certamente as listas de utentes de cada médico fi-carão mais reduzidas. Mas, acima de tudo, seria possível perceber a reali-dade que os acompanha e dar melhor resposta aos que ficam. Desta forma, muito provavelmente os hospitais ficariam mais libertos de urgências que não são reais e poderiam estar ao lado dos doentes que precisam. Situações graves que não podem ser números. São pessoas que têm um rosto, um nome, que querem alguém que as oiça. Acima de tudo querem sentir-se seguidas e não ter de repetir o seu historial clínico a cada médico diferente que as aborda para saber como estão. São doentes e famílias que querem saber com quem po-dem falar e, ao receber uma respos-ta, aquele médico sabe tudo o que se passou até ao momento, e tudo o que ainda estará por vir. É aqui que o médico Internista tem um papel fundamental. Não só porque tem ca-pacidade para ver o doente como um todo, mas porque deve ser o interlo-cutor entre as diversas especialidades que se possam cruzar durante o trata-mento. É fundamental, porque deve

ser o tradutor do doente, fazê-lo per-ceber o que se passa, fazê-lo sentir-se verdadeiramente acompanhado. Em 2009, a Administração Central dos Serviços de Saúde tinha o registo de 2.331 internistas em Portugal. Ordem dos Médicos e sindicatos são unâni-mes em dizer que o número é insufi-ciente para as necessidades. É preciso prestigiar a especialidade, cativar os internos para que esta opção este-ja no topo da lista das escolhas dos jovens clínicos portugueses. Faça-se a discriminação positiva, criem-se mais vagas, promova-se a formação daqueles que já estão no terreno. Os médicos seniores têm também aqui um papel essencial na divulgação da especialidade, o de mostrar a impor-tância de uma especialidade funda-mental na centralização do doente no paradigma da saúde.

Ana Maia*Jornalista32 anosLicenciada em Ciências da Comunica-ção pela Universidade Autónoma de Lisboa. Enquanto jornalista, acompa-nha a área da Saúde há quatro anos e meio. Fez parte do extinto jornal 24 horas e é actualmente jornalista do Diário de Notícias.

É preciso prestigiar a especialidade, cativar os internos para que esta opção esteja no topo da lista das escolhas dos jovens clínicos portugueses.

Page 18: Abril de 2011 • Ano V • Nº19 • Trimestral Hoje - SPMI · 2017-03-14 · Medicina Interna Hoje 1 InternIsta é nuclear em qualquer reforma José manuel silva Bastonário da

18 Medicina Interna Hoje

revelações

O ano de 2011 assinala o 17.º Congresso Nacional de Medicina Interna, um dos eventos médicos de maior envergadu-ra do país, que vai decorrer no Porto, no Centro de Congressos da Alfândega, en-tre os dias 18 e 21 de Maio. A ocasião e escolha do local irão permitir, não só que se reviva a beleza da cidade, como que se perspectivem novos traços para um futu-ro da saúde que se pretende com objecti-vos unos e claros, a nível nacional. Inspirado na arquitectura da região por-tuense, marcada pelas diversas pontes que unem as suas margens, o evento organiza-se em torno da ideia paralela da Medicina Interna enquanto elo de ligação dos vários saberes médicos. Nos mesmos moldes, surge o Congresso, em si, como ponto de encontro para especialistas de renome internacional, de centros de experiência mundiais e europeus. Arte, cultura e ciência entrelaçam-se, assim, num programa que irá incluir a passagem obrigatória pelo Mercado Ferreira Borges, a Igreja de S. Francisco, o Palácio da Bolsa e a Casa da Música.

Ao longo de quatro dias de partilha e troca de experiências, serão as patologias com forte impacto na prática clínica a constituir- - se como um dos principais focos desta iniciativa, em temas como “Diabetes Melli-tus: A doença do Século” ou “A Hipertensão Arterial como Doença Sistémica”. Uma ou-tra aposta residirá nas comunicações livres e sessões de posters, com o intuito de se promover o espaço e a oportunidade de exposição científica nacional. Nesta edição, destaque ainda para os as-suntos de ordem socioprofissional e po-lítica, como os que subjazem às sessões plenárias “O Internista como Gestor do Doente Hospitalar” e “A Governação dos Hospitais” ou à reunião temática “Terapêu-ticas Biológicas nas Doenças Auto-imunes – Indicações actuais e experiências off label”, do Núcleo de Estudos de Doenças Auto-imunes.O evento será precedido por dois dias des-tinados a cursos pré-congresso, nos Hospi-tais de São João e de Santo António, e no Seminário de Vilar, com inscrições limita-das e destinadas exclusivamente a sócios.

agenda

Eventos Médicos

Maio: mês de Arte, Cultura e Medicina Interna

II conGresso nacIonal De auto-Imu-nIDaDe | XvII reunIão anual Do neDaI28 a 30 de abril de 2011Ria Park Hotel, AlmancilInformações: Site www.nedai.org

12tH conGress of tHe euroPean assocIatIon for PallIatIve care18 a 21 de maio de 2011 Centro de Congressos de Lisboa, LisboaInformações: Site www.eapc-2011.org

17.º conGresso nacIonal De meDIcI-na Interna18 a 21 de maio de 2011 Alfândega do Porto, PortoInformações: Telf. 217 520 570Fax 217 520 579Email: [email protected]: www.spmi.pt/17congresso

5.º encontro nacIonal De Internos De meDIcIna Interna18 e 19 de Junho Museu D. Diogo de Sousa, Braga Organização: NIMIInformações: Telf. 91 530 48 15 | 96 992 81 64 Email: [email protected]ções: http://www.nimi-spmi.org/

Page 19: Abril de 2011 • Ano V • Nº19 • Trimestral Hoje - SPMI · 2017-03-14 · Medicina Interna Hoje 1 InternIsta é nuclear em qualquer reforma José manuel silva Bastonário da

Medicina Interna Hoje 19

Page 20: Abril de 2011 • Ano V • Nº19 • Trimestral Hoje - SPMI · 2017-03-14 · Medicina Interna Hoje 1 InternIsta é nuclear em qualquer reforma José manuel silva Bastonário da

20 Medicina Interna Hoje