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1 MATO GROSSO E A DEFINIÇÃO DA FRONTEIRA: DA COLONIZAÇÃO A GUERRA DA TRIPLICE ALIANÇA CONTRA O PARAGUAI ESSELIN, Paulo Marcos 1 Resumo: Nesse trabalho o autor procurou resgatar o Processo de Colonização de Mato Grosso desde o início da sua ocupação pelos espanhóis no século XVI, destacando a iniciativa de ocupar aquele território e em que condições foram implantados os primeiros núcleos populacionais em terras mato grossenses e nesse processo de ocupação contando com a participação efetiva dos padres jesuítas a serviço da coroa espanhola. Ao mesmo tempo apontar o interesse que essa região despertava nos colonos portugueses, os quais por volta da metade do século XVI, atraídos pela mão de obra indígena, chegaram ao sul do antigo Mato Grosso. Por essa época começava a competição, disputa e conflito com os polos de colonização espanhola; a princípio pelo monopólio do trabalho indígena; posteriormente, com as descobertas das minas de ouro do Cuiabá, pela posse das regiões auríferas, até o século XIX, momento em que os portugueses consolidaram a posse sobre esse território. Palavras Chave: Fronteira, Mato Grosso, Colonização, Índios, Espanhóis, Portugueses. 1 - A BACIA DO RIO DA PRATA E A OCUPAÇÃO DE ASUNCIÓN A Bacia do Rio da Prata banha territórios da Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai. Seu valor estratégico advém da sua hidrografia composta pelos rios Paraná, Paraguai e Uruguai, que nos seus cursos são alimentados por uma grande rede de afluentes. O seu potencial para a navegação e, portanto, sua importância estratégica desde o início da colonização, despertou os interesses das duas potências ibéricas, considerando-se que o Rio da Prata era um grande corredor para a circulação de homens e mercadorias em direção ao Oceano Atlântico. 1 Doutor em História (História Ibero-Americana) pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul com estágio de pós-doutorado em História pela Universidade de São Paulo. Docente da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, membro do Programa de Pós-Graduação em Estudos Fronteiriços da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul.

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Page 1: MATO GROSSO E A DEFINIÇÃO DA FRONTEIRA: DA …...Palavras Chave: Fronteira, Mato Grosso, Colonização, Índios, Espanhóis, Portugueses. 1 - A BACIA DO RIO DA PRATA E A OCUPAÇÃO

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MATO GROSSO E A DEFINIÇÃO DA FRONTEIRA: DA COLONIZAÇÃO A

GUERRA DA TRIPLICE ALIANÇA CONTRA O PARAGUAI

ESSELIN, Paulo Marcos1

Resumo:

Nesse trabalho o autor procurou resgatar o Processo de Colonização de Mato Grosso desde o

início da sua ocupação pelos espanhóis no século XVI, destacando a iniciativa de ocupar

aquele território e em que condições foram implantados os primeiros núcleos populacionais

em terras mato – grossenses e nesse processo de ocupação contando com a participação

efetiva dos padres jesuítas a serviço da coroa espanhola. Ao mesmo tempo apontar o interesse

que essa região despertava nos colonos portugueses, os quais por volta da metade do século

XVI, atraídos pela mão de obra indígena, chegaram ao sul do antigo Mato Grosso. Por essa

época começava a competição, disputa e conflito com os polos de colonização espanhola; a

princípio pelo monopólio do trabalho indígena; posteriormente, com as descobertas das minas

de ouro do Cuiabá, pela posse das regiões auríferas, até o século XIX, momento em que os

portugueses consolidaram a posse sobre esse território.

Palavras Chave: Fronteira, Mato Grosso, Colonização, Índios, Espanhóis, Portugueses.

1 - A BACIA DO RIO DA PRATA E A OCUPAÇÃO DE ASUNCIÓN

A Bacia do Rio da Prata banha territórios da Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai. Seu

valor estratégico advém da sua hidrografia composta pelos rios Paraná, Paraguai e Uruguai,

que nos seus cursos são alimentados por uma grande rede de afluentes. O seu potencial para a

navegação e, portanto, sua importância estratégica desde o início da colonização, despertou os

interesses das duas potências ibéricas, considerando-se que o Rio da Prata era um grande

corredor para a circulação de homens e mercadorias em direção ao Oceano Atlântico.

1 Doutor em História (História Ibero-Americana) pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul

com estágio de pós-doutorado em História pela Universidade de São Paulo. Docente da Universidade Federal de

Mato Grosso do Sul, membro do Programa de Pós-Graduação em Estudos Fronteiriços da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul.

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O Rio Paraguai nasce na Chapada dos Parecis, em Mato Grosso, e percorre 2.621 km

navegáveis até desembocar no Rio Paraná. No seu trajeto passa por territórios de quatro

países: Argentina, Bolívia, Brasil e Paraguai. Cortando o território sul mato-grossense a oeste,

tem como principais afluentes o Aquidauana, o Miranda e o Taquari, que no período colonial

serviram de vias de penetrações aos espanhóis e portugueses.

Ao leste de Mato Grosso do Sul, o Rio Paraná, formado pelos rios Paranaíba e Grande,

é navegável em todo o seu percurso de 420 km em território sul mato-grossense. Ao Sul,

demarca a fronteira do Brasil com a Argentina e o Paraguai. Seus principais afluentes são os

rios Tietê, Paranapanema, Iguaçu e Paraguai. Através do Tietê e do Paraná, os primeiros

colonizadores portugueses vindos de São Paulo chegaram ao Pantanal sul-mato-grossense em

busca do braço nativo e do ouro de Cuiabá. Mato Grosso do Sul é a parte do território

banhada pelos rios Paraguai e Paraná. Por essas duas vias navegáveis, no século XVI

espanhóis e portugueses adentraram e descortinaram essa região, em busca de nativos

americanos para o trabalho servil.

Desde o início do processo de descobrimento e colonização da América, a Bacia do Rio

da Prata mereceu a atenção das coroas ibéricas, como anteriormente assinalado. No raiar do

século XVI, o principal navegador espanhol Juan Diaz de Solís explorou o sul do Oceano

Atlântico e da lembrança de sua passagem resultou o nome que então recebeu o grande rio:

Rio de Solís (GADELHA, 1998).

O resultado das informações colhidas por Solís e pelos demais navegadores espanhóis

que singraram as águas desse rio redundou na perspectiva da obtenção de metais e essa

possibilidade de riquezas foi responsável pela mudança do nome do Rio de Solís para Rio da

Prata (GADELHA, 1998). A informação também objetivou a esperança de encontrar, através

de seus afluentes, uma nova rota marítima para as Índias, o que animava a Corte espanhola.

Os relatos colhidos junto aos naturais pelos navegantes davam conta de uma serra e de

um rei, cujo reino de Paytiti seria o centro produtor da prata. Logo, os espanhóis passaram a

sonhar com [...] “el Imperio del Rey Blanco que se ocultaba al final de aquellas selvas, en lo

más profundo del continente inexplorado.” (GANDIA,1933: 120).

No ano de 1536, uma armada de 14 embarcações deixou a Espanha, sob o comando do

nobre don. Pedro de Mendonza era, até então, a maior e a mais importante expedição enviada

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às Índias. Trazia a responsabilidade de lançar as bases da ocupação e colonização espanhola,

de encontrar a Serra da Prata e de controlar a navegação da foz do Rio da Prata, impedindo

que os portugueses chegassem por aquela via aos centros produtores de metais.

Logo que chegaram os espanhóis ergueram, à margem direita do Rio da Prata, um

pequeno povoado ao qual deram o nome de Buenos Aires. Contudo, em pouco tempo

perderam grande parte de seus soldados, devido à resistência dos inúmeros grupos nativos

nômades que habitavam a região. Sem condições de defender o novo povoado, e temendo o

total aniquilamento dos soldados, os homens que restaram da expedição de Pedro de

Mendonza buscaram abrigo na recém fundada cidade de Nuestra Señora de Asunción, à

margem esquerda do Rio Paraguai, onde os espanhóis já haviam estabelecido uma aliança

com os cário, grupo sedentário e agricultor da população indígena guarani (GARAY, 1929).

Aliança que, segundo a historiografia clássica, serviria a ambos, na medida em que aos

espanhóis interessava a penetração e a permanência nesse território, enquanto os cário

desejavam conseguir apoio e proteção contra as repentinas investidas de seus tradicionais

inimigos originários do Chaco paraguaio, os guaycuru (SILVA NOVAIS, 2004). A partir de

então Asunción tornou-se o centro irradiador de toda a conquista espanhola na Bacia Platina.

A princípio, os espanhóis estiveram preocupados em encontrar a Serra da Prata. À

medida que os sonhos iam se desfazendo, uma vez que o cobiçado reino “del Rey Blanco” foi

encontrado por outros conquistadores, em 1545, os castelhanos de Asunción passaram a se

dedicar à agricultura, favorecidos pelas terras férteis e por abundante mão de obra indígena.

A exploração inicial da mão de obra nativa através do cuñadazgo, instituição guarani

com objetivo de sustentar a agricultura local, levou os colonos espanhóis a praticarem todos

os abusos contra os nativos que habitavam as cercanias de Asunción. Sob a pressão do

trabalho compulsório materializado nas encomiendas e do pagamento de tributos, e incapazes

pela sua fragilidade biológica diante das doenças trazidas pelos europeus, muitos nativos logo

pereceram.

Devido à falta de braços para as suas lavouras, os espanhóis sediados em Asunción

iniciaram o processo de expansão em busca de novos contingentes de trabalhadores nativos,

chegando à região que hoje corresponde ao território de Mato Grosso do Sul onde, no local

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conhecido como Itatim, fundaram a cidade de Santiago de Xerez2. Nesse mesmo território os

jesuítas organizaram reduções voltadas para a catequização dos indígenas, no intuito de

submetê-los ao poder temporal do soberano. Assim, a serviço da coroa espanhola, colonos e

jesuítas juntaram-se nas terras do atual Mato Grosso do Sul para disputarem a posse dos

nativos.

2 - A BACIA DO RIO DA PRATA: A FUNDAÇÃO DO MATO GROSSO

Pressionados pelas constantes ameaças de outras monarquias europeias interessadas em

disputar as terras recém-descobertas, em inícios dos anos 1530 os portugueses resolveram

pela divisão do litoral brasílico. Inicialmente, 15 capitanias hereditárias foram doadas à

pequena nobreza metropolitana para que desse início ao povoamento e ao desenvolvimento de

atividades econômicas capazes de atrair novos colonos, permitindo assim a busca e a

descoberta das almejadas minas de minerais preciosos (MAESTRI, 1994).

Das capitanias criadas, apenas três sobressaíram: Bahia, Pernambuco e São Vicente,

esta última ainda assim sem muito brilho, pois não tinha um produto que despertasse o

interesse da metrópole e do próprio mercado naquele início da colonização. A cana de açúcar,

que tão bem se desenvolveu no atual nordeste brasileiro, não conseguiu atrair capitais que

pudessem alavancar o seu desenvolvimento em São Vicente.

No entanto, a fundação de São Vicente tinha um objetivo estratégico, haja vista que,

situada próxima ao planalto e do Tiete, a povoação poderia e deveria tornar-se a primeira base

da expansão portuguesa na direção das supostas ou reais regiões auríferas banhadas pelo rio

Paraguai. Seria igualmente um trampolim para as minas hispânicas nos Andes. (CORTESÃO,

1958).

Os territórios da capitania de São Paulo eram pobres em minérios. Devido à abundância

das terras, elas não eram compradas nem adquiridas, mas obtidas por ordem real. Todo o

sistema de produção era baseado na servidão indígena, que se apresentava comumente como

2 A região do Itatim estava situada na altura dos paralelos 19°,5’ e 22°, tendo como limites, ao norte, o rio Mbotetey; ao sul, o rio Apa; a leste, a Serra de Maracaju e, a oeste, o rio Paraguai. Por sua vez, Santiago de Xerez foi a primeira cidade espanhola fundada em território do atual Mato Grosso de Sul. Erigida, em 1593, às margens do rio Ivinhema com contingentes oriundos de Ciudad Real e Villa Rica, em 1600 a cidade foi transferida para as margens do rio Aquidauana, cerca de 30 léguas acima de sua confluência com o rio Miranda, sendo completamente destruída por bandeirantes paulistas, em 1632 (ESSELIN, 2000: 47).

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literal sujeição escravista (GORENDER, 1978). Desse modo, como os assuncenhos, os luso-

paulistas dependiam da exploração da mão de obra indígena, única riqueza que o colono

conquistador podia possuir no contexto de uma exploração latifundiária da terra (MAESTRI,

2013). A rigor, para as duas Cortes ibéricas aquelas eram áreas marginais, onde não haviam

sido encontrados metais, tampouco a possibilidade de gerar um produto que despertasse o

interesse metropolitano. Portanto, o capital comercial centrou seus investimentos nas áreas

metalíferas e de cultivo do açúcar.

Na procura por índios de trabalho, os colonos portugueses logo estenderam o seu raio

de ação da baixada santista para o planalto paulista. Entendiam muito claramente que o êxito

da sua manutenção nesse ponto da colônia dependia, em última instância, da subordinação e

da exploração da população indígena (MONTEIRO, 1994).

Se algumas parcialidades nativas do litoral paulista perceberam as vantagens imediatas

da formação de alianças com os portugueses, particularmente nas disputas contra aldeias

rivais, muito logo descobriram claramente os efeitos nocivos de semelhantes alianças. Após

cederem parte dos índios de corda3 e de participarem de expedições para capturar cativos para

os lusitanos, as comunidades nativas aliadas foram igualmente objeto de submissão e

escravização.

Os constantes surtos de doenças contagiosas traziam igualmente sérias rupturas na

organização interna das sociedades indígenas, além de promoverem uma alta mortalidade dos

naturais. As doenças logo se transformavam em epidemias e faziam vítimas em massa, o que

reduziu a oferta de índios de trabalho para as lavouras de trigo organizadas pelos portugueses

no planalto paulista. (MONTEIRO, 1994). Diante disso os portugueses, como também já

faziam os espanhóis, passaram a buscá-los cada vez mais no interior, através dos descimentos

e bandeiras (MAESTRI, 2013). Nessa busca, chegaram ao que é hoje o Estado de Mato

Grosso do Sul.

As primeiras incursões dos conquistadores espanhóis e portugueses datam de meados do

século XVI. Transformando o território do atual Mato Grosso do Sul em verdadeiro campo de

3 “Indios de corda” eram aqueles guerreiros aprisionados em combate, no pescoço dos quais era dependurado

uma “corda” (colar) de algodão para distingui-los dos demais cativos. Contas de frutos ou ossos, presos à

“corda”, marcavam o número de luas que ele viveria. Transcorrido o período determinado o cativo era abatido

e devorado no pátio da aldeia durante complexos rituais.

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caça aos nativos, as expedições de cunho escravocrata vasculharam toda a região com o

objetivo de aprisioná-los e utilizá-los nas lavouras de trigo, no planalto paulista, ou de

mandioca, em Asunción, ou comercializá-los em outros pontos das colônias ibéricas.

Os contínuos ataques e transferências de nativos para Assunção e São Paulo, fizeram

com que a região ficasse praticamente despovoada, levando os portugueses a incursionar em

novos territórios até atingirem o extremo oeste da futura capitania de Mato Grosso, de onde

passaram atacar os nativos Coxiponé com o mesmo propósito (NEVES, 2007). Nessas

incursões, em 1718 o paulista Pascoal Moreira Cabral encontrou ouro nas margens do Rio

Coxipó Mirim e no córrego da Prainha, cabendo a ele a assinatura, em 8 de abril de 1719, da

ata da fundação do povoado de Cuiabá no local conhecido como Forquilha, às margens do

Coxipo. (SILVA, 1995).

As notícias da descoberta daqueles novos veios auríferos aceleraram o processo de

ocupação da região por colonos luso-brasileiros. Simultaneamente, acirraram o interesse da

coroa portuguesa em assegurar a conquista de um vasto território que, embora percorrido por

luso-brasileiros desde o século XVI, indiscutivelmente pertencia à Espanha, de acordo com o

Tratado de Tordesilhas.

Não por acaso, muito rapidamente o governo metropolitano decidiu nomear portugueses

de origem para os cargos administrativos mais importantes do primitivo povoado fundado por

Pascoal Moreira Cabral que, elevado à condição de vila no ano de 1727 sob a denominação de

Vila Real do Senhor Bom Jesus do Cuiabá, acabou por se constituir no principal núcleo

urbano da futura repartição do Cuiabá4 e numa das pontas da rota percorrida, entre os séculos

XVIII e XIX, pelas Monções. Dedicadas a atividades comerciais altamente lucrativas, elas

não só asseguraram as comunicações entre Mato Grosso e São Paulo, mas introduziram o

novo território nas trocas mercantis portuguesas.

Visando consolidar as conquistas territoriais no extremo oeste da colônia e fortalecer

áreas vulneráveis sujeitas ao avanço castelhano, em 1748 o Conselho Ultramarino Português

criou a capitania de Mato Grosso. Por essa época estava em discussão a problemática da

4 Devido à proximidade com os domínios espanhóis, em 1752 a Coroa portuguesa dividiu a recém-criada Capitania em duas repartições ou distritos administrativos: do Cuiabá e do Mato Grosso, fundando neste último Vila Bela da Santíssima Trindade, onde foi instalado todo o aparato administrativo metropolitano (JESUS, 2005).

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demarcação e defesa da fronteira, o que levou os representantes das Coroas portuguesa e

espanhola a negociar um novo tratado que melhor definisse os limites dos dois impérios.

3 - A BACIA DO RIO DA PRATA E O TRATADO DE MADRID

Em 13 de Janeiro de 1750 foi assinado o Tratado de Madri, que aboliu a demarcação da

linha mediana ajustada no Tratado de Tordesilhas, de 7 de junho de 1494, e determinou a raia

dos domínios das coroas ibéricas na América Meridional.

A Espanha renunciou a todos os direitos que, pelo Tratado de Tordesilhas, alegava ter

sobre as terras em posse dos portugueses na América Meridional, ao ocidente da linha

meridiana. Cedia a Portugal todas as terras e povoações da margem oriental do Rio Uruguai,

desde o Rio Ibicuí para o norte e a Aldeia de Santa Rosa, e outras quaisquer estabelecidas

pelos espanhóis na margem oriental do Rio Guaporé. (CORTESÃO, 2001). Para ficarem com

a navegação exclusiva do Prata, os espanhóis trocaram a Colônia de Sacramento pelas

missões do Uruguai, recebendo além disso a zona entre a foz do Javari e a do Japurá, na

margem esquerda do Solimões, inclusive a Aldeia de São Cristóvão. (VIANNA, 1967).

Assim, com a assinatura do Tratado de Madri, o Brasil praticamente assumiu os seus

contornos definitivos.

Em janeiro de 1751, chegou a Cuiabá o primeiro Governador da Capitania de Mato

Grosso, Dom Antonio Rolim de Moura. Portava na bagagem “Instrução da Rainha D. Maria

de Áustria” para que a presença portuguesa fosse consolidada no Oeste:

Por se ter sido entendido que Mato Grosso é a chave e o propugnáculo do Brasil pela parte do

Peru, e quanto é importante por esta causa que naquele distrito se faça população numerosa, e haja

forças bastantes para conservar os confinantes em respeito [...] deveis não só defender as terras que

os meus vassalos tiverem descoberto e ocupado e impedir que os espanhóis se não adiantem para a

nossa parte [...] (IHGMT, 2001,p. 27).

Os esforços do governador da Capitania de Mato Grosso deveriam ser concentrados na

fronteira onde a população de origem espanhola era mais numerosa e estavam localizadas as

reduções de mochos e chiquitos que, na visão dos militares portugueses, eram uma constante

ameaça à permanência e expansão lusitana naquela região. Segundo Almeida (1944), os

religiosos a serviço da Espanha mantinham, nas raias de Mato Grosso, a missão de São

Joaquim com população indígena de 1500 almas, a da Conceição com 2000 povoadores, além

da de Santa Maria Madalena com 6000.

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No período em que esteve à frente da capitania, Rolim de Moura fundou a cidade de

Vila Bela da Santíssima Trindade (1752), às margens do Rio Guaporé. Tratava-se de local

estratégico, pois a vila permitia o controle das minas de ouro e ficava junto à fronteira

espanhola. Portanto, obstaculizava o movimento castelhano e impulsionava o povoamento.

Rolim de Moura ficou à frente da Capitania de Mato Grosso por quatorze anos, tendo

concentrado sua ação na demarcação do território de acordo com as disposições do Tratado de

Madrid, principalmente quanto à fronteira do Rio Guaporé, no atual território de Mato Grosso

e Rondônia. Era por esse rio que a capitania se comunicava com mais segurança e brevidade

com a Corte. Priorizou o fortalecimento das defesas ao longo do Guaporé, fazendo retroceder

os jesuítas espanhóis que julgavam os portugueses apoiavam a invasão da capitania de Mato

Grosso. (ESSELIN, 2000).

A fronteira sul do velho Mato Grosso não mereceu atenção das autoridades portuguesas,

foi somente no governo do quarto capitão general, Luís de Albuquerque de Melo Pereira e

Cáceres, que as atenções oficiais se voltaram ao sul da capitania.

No começo do ano de 1770, notícias davam conta de que os espanhóis haviam fundado

o forte de Vila Real da Conceição, acima da boca do Rio Ipané, à margem esquerda do Rio

Paraguai. Na ótica portuguesa, eles objetivavam manter comunicação entre Asunción e as

aldeias de Mochos e Chiquitos, o que representaria perigo de expansão castelhana em direção

ao norte, ou seja, às minas de ouro de Mato Grosso (MELLO, v. 1, 1959).

Cientes de que a “manutenção da integridade territorial do Reino de Portugal

identificava-se com a manutenção de seus territórios ultramarinos, principalmente o Brasil, o

que tornava fundamental aos sucessores do Marquês de Pombal dar prosseguimento à política

por ele iniciada” (GARCIA, 2009, p.39), as autoridades portuguesas projetaram fundar um

presídio no local denominado Fecho dos Morros, à margem direita do rio Paraguai, área que,

pelo Tratado de Madrid, pertencia indiscutivelmente à Coroa espanhola. Tratava-se de local

estratégico - facilmente fortificável e suficientemente estreito para tornar as embarcações

inimigas alvo fácil dos canhões – localizado no caminho que ligava Asunción a Chiquitos e

Moxos. Isso permitiria aos lusitanos a tomada de posse das duas margens do Rio Paraguai e o

consequente controle sobre a parte superior da bacia daquele rio, dificultando o avanço

espanhol, além do estrangulamento das comunicações entre a vila de Asunción e as reduções

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de Chiquitos e Moxos. Assim, em 1775, por ordem de Luís de Albuquerque de Melo Pereira e

Cáceres, capitão general da Capitania de Mato Grosso, ergueu-se ali o Forte Coimbra.

Além do Forte Coimbra, localizado na entrada sul da capitania, região mais próxima de

Asunción, em 1776 Luís de Albuquerque também mandou construir, às margens dos rios

Barbados e Guaporé, na entrada norte da capitania e mais próximo das províncias espanholas

de Moxos e Chiquitos, o Forte Príncipe da Beira. A estratégia geopolítica é evidente, uma vez

que os dois fortes deveriam proteger as entradas sul e norte da região. Como destacou

Domingos Sávio da Cunha Garcia, a ação portuguesa acabou por estabelecer o “domínio total

sobre essa região, seja pela ocupação militar direta, com os fortes, seja pelo povoamento,

procurando fechá-la aos espanhóis” (GARCIA, 2009, p. 40-41).

Com efeito, objetivando firmar os limites da Colônia na região sul da capitania contra as

pretensões espanholas e consolidar o controle da navegação do rio Paraguai, sob as ordens do

capitão-general da Capitania de Mato Grosso, Luiz de Albuquerque, cuja ação expansionista

coincidiu com o Tratado de Santo Ildefonso (1777), que em linhas gerais manteve a fronteira

colonial fixada em 1750, após a fundação do Forte Coimbra aos poucos os portugueses

criaram uma rede de fortificações e de pequenos povoados no território correspondente ao

atual estado de Mato Grosso do Sul, exemplificada no estabelecimento, à margem direita do

rio Paraguai, do povoado de Albuquerque abrigando pequeno destacamento militar e que,

posteriormente, daria origem a Corumbá (1778), e do Porto de Ladário (CORRÊA, 1999).

Paradoxalmente, o período de expansão da construção de fortificações e da criação de

novos povoados coincidiu com a decadência da produção aurífera em Cuiabá e adjacências.

Na medida em que se esgotava a exploração do ouro, praticamente o único artigo de

exportação da capitania, Mato Grosso mergulhou numa grave crise econômica, necessitando

receber ajuda financeira de Goiás para garantir as obras de construção da defesa da fronteira

(MELLO, 1966). Apesar dos recursos extras, a Capitania não conseguiu minorar as

dificuldades dos militares e dos primeiros colonos que, incentivados pelas autoridades

coloniais, se dirigiram para Albuquerque e Corumbá a partir de 1778, persuadidos da

existência de riquezas minerais também naquelas regiões meridionais. A adaptação não se

fazia sem forte resistência. Os projetos de rápido enriquecimento foram substituídos pela

necessidade de se obter alimentos. A fome e a miséria invadiram os acampamentos daqueles

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que já enfrentavam problemas com altas temperaturas, com nuvens de mosquitos, com

doenças diversas, com ataques de nativos e o temor de uma invasão espanhola.

Enviada para os povoados nascentes, essa população de colonos, a maioria mestiços,

não tinha e não podia ter sentimento de pertencimento e amor à terra. Assim, depressa

tentavam abandonar os fortes e os povoados, só permanecendo porque eram obrigados pelas

autoridades. Para conter as ondas de fugas e deserções, de forma a garantir o trabalho regular

nas diversas frentes de trabalho, o primeiro comandante do povoado de Corumbá agiu com

violência, punindo os fugitivos e desertores com castigos corporais (MELLO, v. 1, 1959, p.

73). Em 1786, ao passar pelo povoado de Corumbá Almeida Lacerda, registrou que os

moradores são “miseráveis, que passam a vida cheios de fome e nudez; o comandante dela só

cuida em utilizar-se do suor deles. Só estão fartos das palmatórias, correntes e rodas de pau”

(ALMEIDA, 1944: 63).

A ausência de metais preciosos, as dificuldades matérias e as violências sofridas

repercutiram em Cuiabá, impedindo que novos contingentes de colonos viessem a se

estabelecer nas nascentes povoações. (ESSELIN, 2000). “Mostra disso é que, em 1791, após

quinze anos de fundação, a população de Corumbá era de 141 pessoas, das quais treze eram

trabalhadores escravizados. Possuía igualmente uma guarnição com um comandante e 82

homens, o que leva a concluir que a maioria das famílias era de militares”. (ESSELIN, 2000,

p.147). Talvez tenha sido esse o motivo que levou um viajante a definir Corumbá como local

de um “desgraçado degredo de gente infeliz, entregue à mais perfeita vadiação, vivendo em

miséria.” (MELLO, 1966 p. 122). E essa gente completamente segregada, distante dos

grandes centros, sem qualquer tipo de educação formal, desassistida nas suas necessidades

básicas, extremamente religiosas, deram origem aos primeiros habitantes do território sul -

mato – grossense.

No entanto, o Sul do antigo Mato Grosso era o centro geográfico do Cone Sul, a

Mesopotâmia da América, entre os caudalosos Paraguai e o Paraná. Além disso, os

portugueses já sabiam da existência das minas de ferro e manganês, da abundância de

recursos hídricos, o que aumentava a clareza da necessidade da sua ocupação, para que no

futuro pudessem se apossar daquelas importantes riquezas. Na expressão de Gilberto Freyre:

Entre castelhanos, firmados no Apa, e portugueses, escassamente plantados em Coimbra, e sem

apoio à retaguarda, senão a uns 1000 km ao Norte, em Cuiabá e Cáceres, a situação militar dos

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segundos era bem desfavorável. Ora, em face deste desajustamento, [...], é que cresceu de

importância aquela região, a tal ponto que veio a tornar-se a frente principal da Capitania

(FREYRE, 1978: 140).

4 - A INDEPENDÊNCIA NO PRATA: OS CONFLITOS PARAGUAI-BRASIL.

No fim do século XVIII e começo do século XIX, a situação na Europa era tensa em

consequência dos conflitos políticos e militares que envolviam as duas principais potências

mundiais, França e Inglaterra, colocando a Espanha e Portugal em campos opostos. A

dependência secular de Portugal em relação à Inglaterra obrigou Dom João de Bragança a

optar entre a tutela britânica e a adesão ao Bloqueio Continental, decretado por Napoleão

Bonaparte em 1806.

Os fatos que ocorriam na Europa rapidamente repercutiram nas colônias ibéricas,

fazendo com que a insegurança se tornasse mais evidente, com o receio de uma invasão de

parte a parte. Já em fins do século XVIII, o tenente-coronel lusitano Ricardo Franco de

Almeida Serra5 foi designado para o comando geral da fronteira sul, mantendo

cumulativamente o posto de comandante do Forte Coimbra.

*

Ricardo Franco tomou medidas decisivas para consolidar a presença portuguesa na

margem direita do Rio Paraguai. Em 1797, mandou construir o presídio de Miranda, para

5 Vindo de Portugal aos 32 anos, no posto de capitão de engenheiros, para participar das

demarcações de limites pertinentes ao Tratado de Santo Ildefonso (1777), comandou

sucessivamente, tendo sob sua chefia astrônomos e exploradores da categoria de Silva Pontes

e Lacerda e Almeida, as expedições de levantamento dos rios Branco, Madeira, Mamoré,

Guaporé, Paraguai e Cuiabá. Chefiou o escritório de cartografia de Vila Bela, posteriormente

Cidade de Mato Grosso. Participou por duas vezes, por morte dos respectivos titulares, da

Junta de Governo da Capitania, cujo plano de defesa conscienciosamente elaborou. Escreveu

numerosos trabalhos sobre geografia, história e transportes fluviais da capitania mato-

grossense. Quando, por duas vezes tornou-se iminente um ataque ao sul de Mato Grosso e se

fez mister a presença ali de um chefe esclarecido e intrépido, o governador fez apelo a

Ricardo Franco para que assumisse o comando daquela fronteira, a fim de conjurar o grande

perigo. Estabeleceu seu posto de comando em Coimbra, onde construiu o forte, em

substituição à velha paliçada ali existente. Sagrou-se vitoriosamente em 1801, na defesa do

forte contra uma frota de guerra de potencial dez vezes superior. Ao atacante castelhano, que

o intima a render-se ao poderio dos seus canhões, responde Ricardo Franco que preferia

sepultar-se sob as ruínas do forte a entregá-lo a inimigos da pátria. (MELO, Raul Silveira de.

Um homem do dever: Coronel Ricardo Franco de Almeida Serra. Rio de Janeiro: Biblioteca

do Exército, p.46).

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servir, na frente sul, de antemural à progressão dos castelhanos aquém do Rio Apa. Atento à

situação, em informe aos seus superiores, chamou a atenção para a necessidade imperiosa de

impedir que, de Asunción, se estabelecessem relações com as reduções de Mochos e

Chiquitos, via Rio Paraguai, procedendo-se ao fortalecimento militar de Coimbra. Com isso,

se impediria que o Sul do antigo Mato Grosso fosse incorporado ao território espanhol.

As fazendas que o comércio espanhol transportava da Europa para o Peru, através do

Golfo do México ou através de Buenos Aires, inicialmente como contrabando, chegavam

àquela riquíssima e vasta província com grande despesa e igual trabalho. De Buenos Aires, as

mercadorias eram conduzidas em carretas para as cidades de Córdoba e de Mendonza, de

onde cargueiros animais as conduziam até Potosí e outras ricas e populosas terras do centro

do Peru.

Eram seiscentas léguas por terra. O caminho atravessava as nevadas serras dos Andes,

continuavam pelo cume da cordilheira, com risco e trabalho, perdendo-se fazendas e bestas. O

transporte podia ser feito pelo rio em menor tempo e com menor fadiga caso se abrisse uma

comunicação do Rio Paraguai com a província de Chiquitos, comunicação da qual os

espanhóis se ocuparam, fundando, nas margens desse rio navegável, novos estabelecimentos

(ALMEIDA SERRA, 2002).

O início das hostilidades entre França e Inglaterra motivou portugueses e espanhóis a

combaterem na América Meridional. Em 1801, o governador do Paraguai, don Lázaro de

Ribeiro, preparou expedição de cinco goletas e vinte canoas de guerra, com um total de

seiscentos combatentes, que fundeou diante do Forte Coimbra, ainda não concluído, exigindo

a rendição e alertando que seriam mortos os que resistissem e a fortificação destruída pelas

forças sob seu comando, em número muito superior às do adversário. Durante nove dias, o

Forte permaneceu sitiado. Porém, o governador paraguaio teve frustradas as suas ambições,

recolhendo-se em Asuncion (BASTOS, 1972).

Para os habitantes da fronteira sul, a conclusão da guerra na Europa, com a derrota de

Napoleão e o estabelecimento da paz entre os beligerantes, não significou o fim das

hostilidades ou do abandono a que estava relegado aquele território, situação que perdurou até

a metade do século XIX, quando exacerbaram as disputas entre a República do Paraguai e o

Império do Brasil, ambos já independentes.

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Após a independência do Paraguai, em 1811, José Gaspar Rodríguez de Francia, eleito

primeiramente como cônsul e posteriormente como ditador temporário e perpétuo, adotou,

desde 1813, distanciamento dos hostis vizinhos do Prata, com destaque para os governos de

Buenos Aires e do Rio de Janeiro. Segundo Vivian Trías, a atitude de Francia tinha o objetivo

de preservar o “Paraguay del vendaval caótico, sangrante, que suponían las querellas

intestinas que desgarran a las otras repúblicas sudamericanas. En el léxico francista:

inmunizar al Paraguay contra el mal de la ‘anarquia.” (TRÍAS, 1975 p. 18)

Por anarquia entendia o então Presidente paraguaio o choque de interesses, necessidades

e de concepções opostos. Era a luta entre o destino semicolonial e a possibilidade de construir

uma nação soberana. Luta que expressava o enfrentamento de discórdia irreconciliável entre

as oligarquias mercantis, espanholistas e pró-portenhas, os grandes proprietários criollos de

terras e a população de chacareros e dos pueblos de índios (TRÍAS, 1975; WHITE, 1984).

Ao adotar o isolamento do Paraguai, em verdade imposto pelo bloqueio comercial

determinado pelo expansionismo portenho, Francia monopolizou a navegação dos rios

interiores, o que lhe permitiu controlar o comércio de importação e de exportação do

Paraguai, em proveito das rendas do país. Removeu os espanhóis dos cargos públicos,

nomeou paraguaios comprometidos com a independência, estatizou as terras dos

conspiradores, etc. Essas medidas impulsionaram agricultura, o artesanato e a pecuária.

Durante a longa era francista [1813-1840], o Paraguai constitui-se como república de

profundas raízes camponesas (chacareros), gozando de paz e tranquilidade invejadas pelos

vizinhos. Nascido da retaliação portenha à independência da província, o isolamento do

Paraguai terminou fortalecendo aquela sociedade de pequenos produtores, pouco voltada ao

comércio externo e refratária às disputas pela hegemonia no Prata. (MAESTRI, 2013).

Inicialmente, o Império do Brasil apoiou a independência paraguaia já que contribuía

para a não reunificação do vice-reinado do Prata em torno de Buenos Aires. Mais tarde, após

a derrota de Juan Manuel de Rosas, em Caseros, em 1852, manifestou profundo

descontentamento com a política de Carlos Antonio López de manter o controle sobre a

navegação dos navios imperiais no curso paraguaio do grande rio, haja vista ser essa

navegação fundamental para incorporar a economia do sul da Província de Mato Grosso ao

ecúmeno imperial.

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Mato Grosso, cujo território em grande parte o Paraguai, com justos motivos,

considerava como seu, era uma das províncias mais débeis do Império. Em virtude da crise da

mineração, em fins do século XVIII, e das dificuldades de acesso agravadas pelo fechamento

do Rio da Prata por Rosas, impedindo, assim, a estruturação de eventual produção mercantil

de exportação, necessariamente exportada através dos rios Paraguai, Paraná e do Prata, a

população de Mato Grosso diminuíra sensivelmente, passando de 29.801, em 1817, para

26.659, em 1858. Nessa época, a população paraguaia era de 150.000 habitantes, ou seja,

quase seis vezes maior que a do Mato Grosso uno. Além disso, a partir de 1850, foi

declinando a pecuária, então principal produção mato-grossense, sobretudo pela falta de

cavalos, o que, provavelmente, induziu os estancieiros regionais a utilizarem os indígenas

guaicurus e m’bayas para roubá-los no Paraguai.

Antonio Carlos Lopez conhecia perfeitamente a situação de Mato Grosso. Já em 1849,

avaliara com clareza a importância da navegação através do Paraguai para o aproveitamento

comercial de suas riquezas, em parte superestimadas – ouro, diamantes, baunilha, borracha e

cacau. Após a queda de Rosas e a abertura da navegação do Prata ao Paraguai, caso o governo

de Asunción permitisse o livre trânsito dos navios até o forte de Coimbra e a vila de Corumbá,

a região poderia ser economicamente revitalizada, permitindo ao governo do Rio de Janeiro

robustecer ainda mais seu poderio bélico, sem que as fronteiras entre os dois países

estivessem demarcadas (BANDEIRA, 1998).

De outro modo, o eventual fechamento total do Rio Paraguai – que jamais ocorreu –

afetaria os interesses do Império do Brasil, ao colocar em risco a integridade e a expansão do

seu território na fronteira oeste, uma vez que o rio era a via de comunicação mercantil com o

mercado mundial. Assim, a única possibilidade de transporte de mercadorias pesadas e

volumosas passava pelo estímulo, ainda que parcialmente, da economia local, completamente

estagnada.

Acrescente-se, ainda, que caso fosse fechada a navegação do Rio Paraguai a vinculação

da fronteira oeste com as demais regiões do Império só seria possível através do comércio de

caravanas animais de caríssimo custo, o que levaria o Império a correr o risco de ver a

província de Mato Grosso gravitar economicamente em torno dos círculos comerciais

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paraguaios, com tendências a se desligar da precária unidade monárquica e se juntar à

República guarani (ESSELIN, 2011).

O fato é que, a partir de Caseros;

[...] o Império do Brasil passou a exigir a livre e plena navegação do

grande rio, no curso interno ao Paraguai. Por seu lado, a República

paraguaia reivindicava para aquela concessão a definição das fronteiras

entre os dois países. Fortalecido como a primeira potência americana no

Prata, após a vitória de Rosas, o Império do Brasil resolveu impor ao

Paraguai suas posições pela força. Assim, em 1854-5 o Império brasileiro

organizou, sob o comando do experiente marinheiro e político imperial

Pedro Ferreira de Oliveira, uma expedição naval composta por trinta navios

de guerra, armados com cerca de cento e cinquenta canhões e

aproximadamente três mil soldados, cujo principal objetivo era obter a livre

navegação do Rio Paraguai e determinar as fronteiras com o Paraguai

(TEIXEIRA, 2012, p.53).

Este cenário de grave crise na região platina levou o governo paraguaio a assinar acordo

de comércio com o Império do Brasil. Tal acordo liberou a navegação do Rio Paraguai até o

porto de Corumbá, facilitou a ligação de Mato Grosso ao Rio de Janeiro e às demais

províncias do Império.

Depois de permanecer praticamente isolado por mais de 150 anos, com a abertura do Rio

Paraguai, acrescida dos esforços do Império para estabelecer canais sólidos de comunicações

e negócios na parte meridional da província, o sul do antigo Mato Grosso finalmente

começaria a conhecer um período de relativo crescimento econômico e populacional. Porém,

esse crescimento seria mais uma vez interrompido, temporariamente, pela eclosão da Guerra

da Tríplice Aliança contra o Paraguai.

5 - O MATO GROSSO E A GUERRA DO PARAGUAI

Em fins de 1864, quando eclodiu a guerra do Império contra o Paraguai, forças

comandadas pelo coronel Vicente Barrios, transportadas pelo Rio Paraguai, atracaram a pouca

distância do Forte Coimbra. O comandante do Forte, coronel Porto Carrero, depois de resistir

por uma noite aos ataques, abandonou a fortaleza e se refugiou em Corumbá, sob a alegação

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de não possuir munição em quantidade suficiente para resistir mais tempo ao inimigo, porém,

pesquisas recentes indicam que havia munição e armas suficientes para rechaçar o assalto.

Quando os oficiais e os soldados imperiais vindos do Forte Coimbra chegaram a

Corumbá, encontraram a vila tomada por um incontido pânico motivado pelas notícias de que

as forças paraguaias navegavam em direção à vila. Sabendo da invasão e da rendição da

guarnição de Coimbra, caravanas de civis e militares reuniam-se na fazenda Piraputanga, de

propriedade do Barão de Vila Maria, na estrada Albuquerque-Corumbá, de onde, “como um

carreiro de formigas carregadeiras”, se deslocavam para Corumbá, “até altas horas da noite e

mesmo já de dia”, em pequenos grupos compostos, principalmente, de “mulheres e crianças

estropiadas.” (MAIA, 1964 p. 140).

Embora Corumbá não possuísse meios para retirar toda a população, o coronel Carlos

Augusto de Oliveira, pronunciou-se pela evacuação da vila. As autoridades fugiram e

entregaram os moradores à própria sorte, sendo os militares, a quem caberia a tarefa de

compor a retaguarda de uma retirada organizada, os primeiros a se evadirem. “Em 3 de

Janeiro de 1865, a Vila foi abandonada pelo Comandante de Armas, coronel Carlos Augusto

de Oliveira e pelo tenente-coronel Carlos de Moraes Camisão, junto com o 2º Batalhão de

Artilharia, do qual era comandante” (CORRÊA, 1999, p.146).

Comandada pelo coronel Isidoro Resquim, a Divisão Norte, correspondente à segunda

frente da invasão de Mato Grosso pelos paraguaios, atravessou o Rio Apa, em Bela Vista,

atacando as colônias militares de Dourados, Miranda e Nioac, encontrando pequena

resistência apenas em Dourados, vencida facilmente. A população civil abandonou os

povoados embrenhando-se nas matas das vizinhanças.

O conflito com o Paraguai constituiu um divisor de águas no processo de ocupação da

fronteira oeste que, com o término da guerra, em 1870, e o consequente restabelecimento da

navegação pela rede hidroviária da bacia do Prata, em 1872, seria definitivamente atraída para

a órbita de interesses do capital internacional, em franca expansão no último quartel do século

XIX (CORRÊA, 1995).

Como ensina David Harvey, o capitalismo só consegue escapar de sua própria

contradição por meio da expansão de novos espaços para a acumulação, o que significa,

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simultaneamente, intensificação (de desejos e necessidades sociais, de populações totais, entre

outras) e expansão geográfica (HARVEY, 2005: 51- 62).

Nesse processo de “intensificação e expansão geográfica” das relações capitalistas as

fronteiras (e para os fins que nos interessam o Mato Grosso, em particular) devem passar por

“ajustes espaciais”, tornando-se necessária a criação de estruturas que se manifestam na forma

de recursos de transportes, instalações fabris e outros meios de produção e consumo

(HARVEY, 2005, p. 51). Um dos elementos fundamentais nesse procedimento de “ajuste” é o

estabelecimento de núcleos urbanos equipados com um conjunto de serviços básicos, que

passam a se constituir em pontos de apoio para a coleta e o escoamento da produção e em

fator de atração de trabalhadores migrantes, camponeses e indígenas expropriados de suas

terras, na medida em que estas passam a ser equivalente a capital (MARTINS, 1975, p. 47).

Além disso, esses núcleos urbanos comportariam o papel de produtores e difusores de

“sistemas simbólicos” que, enquanto instrumentos estruturados e estruturantes de

comunicação e conhecimento, cumprem, conforme Pierre Bourdieu, o papel político de

assegurar a dominação de uma classe sobre outra, contribuindo assim para a “domesticação

dos dominados” (BOURDIEU, 1989, p. 11). Como sintetizou Bertha Becker:

Os núcleos urbanos são lócus de ação político-ideológica do Estado. São a sede do aparelho de

Estado local, da Igreja e dos grupos hegemônicos da fração não-monopolista em formação na nova

sociedade local; são também o lugar da “preparação”da população para seu papel na sociedade,

onde se incorporam valores dominantes e técnicas. Neles se efetua a ressocialização dos migrantes,

cooptados principalmente através do comércio que os induz a desejar e a consumir bens, serviços e

informações. Sustentam também a imagem ideológica da fronteira como espaço onde se tem

acesso à terra, oferecendo possibilidade de apropriação de um lote urbano, e, assim, constituindo

verdadeiro regulador das tensões advindas dos movimentos de maior ou menor apropriação da

terra pelo grande capital (BECKER, 1990, p. 55)

Tudo indica que foi essa a lógica que regeu a expansão das relações capitalistas pelos

espaços interiores do continente sul-americano a partir do último quartel do século XIX,

período marcado, segundo Eric Hobsbawm, pela expansão sem precedentes de um mercado

mundial, ainda mais acentuada pelo avanço tecnológico no desenvolvimento de redes de

comunicação e transportes marítimos, fluviais e ferroviários, que incidiu de forma decisiva na

febril atividade portuária do chamado mundo desenvolvido (HOBSBAWM, 1988, p. 31).

Expansão que se deu na forma do deslocamento de frentes pioneiras sobre terras ocupadas por

populações tradicionais, sobretudo indígenas, a exemplo do ocorrido no Planalto paulista, no

Pantanal e outras áreas do território de Mato Grosso, as quais passaram a ser ideologicamente

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referidas como “espaços vazios”, mito difundido pelo Estado brasileiro e seus agentes, para

justificar e legitimar ações voltadas para a ocupação dos espaços de fronteira com base na

racionalidade econômica capitalista (BECKER, 1990).

Isso ajuda a explicar, por exemplo, os esforços das autoridades imperiais para

modernizar a estrutura urbana de Corumbá que, articulada a outros centros portuários platinos

como Buenos Aires e Montevidéu, a partir da internacionalização das águas do Rio Paraguai,

em 1872, se transformou no mais importante entreposto comercial mato-grossense, atraindo

para a porção Sul da Província expressivo contingente populacional nacional e estrangeiro,

além de significativas inversões de capitais internacionais (CORRÊA, 1995; QUEIROZ,

2011).

Como parte da estratégia de defender a fronteira com o Paraguai e, efetivamente,

incorporar o sul do antigo Mato Grosso às estruturas do Estado Nacional brasileiro, o governo

imperial construiu “uma cinta de fortins” na região, ao mesmo tempo em que, com o

propósito de resguardar a cidade de novos ataques, concentrou em Corumbá um grande

número de militares (SOUZA, s/d: 67). Em 1872, dois anos depois do comando do Exército

em operação no Paraguai ter deslocado para Corumbá o 21º Batalhão de Caçadores, 605

homens do 2º batalhão de Artilharia a Pé também passaram a residir na cidade. Em 1873,

definiu-se o deslocamento da estrutura do Trem Naval de Mato Grosso de Cuiabá para o

Porto de Ladário, mudança que determinou a criação do Arsenal de Marinha de Ladário, em

substituição ao extinto Arsenal de Marinha, anteriormente sediado em Cuiabá (MELLO,

2009, p. 34). Essa dinâmica levou grupos de mercadores encarregados de fornecer

suprimentos à tropa a se estabelecerem em Corumbá, contribuindo para o incremento do

comercio local e a posterior atração de um número maior de comerciantes (FONSECA, 1986,

v. 1).

A participação de capitais estrangeiros também contribuiu para diversificar as

atividades produtivas de Mato Grosso, inserindo-o definitivamente, como importante região

produtora de matérias-primas, na “geografia do imperialismo” desenhada pelo sistema

capitalista a partir do final do século XIX.

Por volta de 1880 iniciou-se a exploração organizada da erva mate, com a fundação da

Companhia Matte Larangeira. Exportando para o mercado platino e europeu, além de um

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rentável negócio para o tesouro estadual a Matte Larangeira foi importante fator para a

ocupação econômica e populacional da porção Sul de Mato Grosso, atraindo, na última

década do século XIX, um expressivo número de migrantes de outras partes do país, que

fixavam fazendas ou sobreviviam como pequenos proprietários na órbita da empresa

(CORRÊA FILHO, 1957). Na área sob sua influência surgiriam povoados, vilas e cidades,

entre as quais Porto Murtinho e Campanário.

Fundada às margens do rio Paraguai, em 1892, Porto Murtinho abrigou a primeira

sede da Companhia no Brasil. Contando com Mesa Alfandegária e uma bem organizada

estrutura portuária, pela cidade era escoada toda a produção para o mercado externo até 1910,

quando a Matte Larangeira alterou a rota de exportação e importação do rio Paraguai para o

rio Paraná, a partir do Porto de Guaira, transferindo sua sede para a Fazenda Campanário.

Distante 66 quilômetros de Porto Felicidade, no rio Amambaí, por volta de 1903 a vila de

Campanário agregava população fixa de 700 habitantes, dispondo de água encanada,

iluminação elétrica, farmácia, hotel, residências para funcionários e grandes armazéns para a

erva beneficiada (CABRAL, 1964). Para garantir que a produção chegasse àqueles portos, a

Matte Larangeira montou um complexo sistema de transportes fluviais e terrestres cuja

logística incluía a Estrada de Ferro Porto Murtinho – São Roque, com a qual passaria a operar

em 1906. Em 1909, após a instalação de sua sede em Guaira, a empresa agregou a essa

logística a Estrada de Ferro Guaíra - Porto Mendes, que entraria em funcionamento em 1917

(AYALA e SIMON, 1914; QUEIROZ, 2008).

Na última década do século XIX ganhou força o interesse do capital internacional pela

borracha, com belgas, ingleses e norte-americanos, entre outros, entrando na competição pelo

controle da exploração do látex em Mato Grosso e na Amazônia. De meados da década de

1890 a meados da década de 1900, sobretudo os capitalistas belgas desenvolveram uma série

de ações visando à compra ou concessão de grandes áreas de terras localizadas na fronteira

Oeste, em particular na região do Guaporé, destinadas tanto à extração da borracha, quanto à

pecuária e à industrialização dos derivados da carne bovina, a exemplo de Descalvado,

considerado o maior empreendimento agro-industrial de Mato Grosso naquele período e uma

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referência da presença estrangeira no Oeste do Brasil entre as décadas de 1880 e 19106. O fato

é que, impulsionada pela expansão da demanda de carne e couro nos mercados interno e

externo, pelo enorme estoque de gado bovino, bem como pela facilidade do escoamento pelo

rio Paraguai, entre as décadas posteriores à guerra contra o Paraguai e as décadas iniciais do

século XX a pecuária mato-grossense desenvolveu-se de forma acelerada, sobretudo no

Pantanal onde capitais estrangeiros “penetraram em massa, açambarcando terras e instalando

charqueadas” (VALVERDE, 1972: 110).

Isso indica que, em Mato Grosso, o período em questão caracterizou-se por forte

concentração fundiária, pautada na legitimação de domínios, na concessão e/ ou venda de

terras devolutas a particulares. Para tanto, foi fundamental o controle e a utilização dos

poderes públicos pelos grupos oligárquicos locais, como meio de fortalecer e ampliar seus

interesses privados (ARRUDA, 1997).

A esse respeito há que se acrescentar, ainda, que a criação de empresas com o objetivo

de comprar grandes extensões de terras, as quais muitas vezes extrapolavam os próprios

limites dos Estados Nacionais, despertou a atenção do governo central, receoso dos riscos à

soberania nacional que poderiam resultar do domínio territorial exercido pelos novos agentes

do capital internacional, numa região de fronteira marcada pela multiplicidade de interesses

político-econômicos intra-regionais e internacionais, e praticamente fora do controle dos

aparelhos estatais. Percorrendo o vale do Guaporé em duas viagens de estudos, realizadas em

1899 e 1906, o engenheiro Manoel Esperidião da Costa Marques teceu impressões pouco

lisonjeiras sobre a região: “Não há ordem no Baixo Guaporé e, portanto, não há segurança de

vida nem de propriedade”. Quanto à exportação da “goma elástica”, informava o engenheiro

que “infelizmente ali a Bolívia nos vai levando vantagem”, pois ao invés de levarem a sua

produção à mesa de renda em Corumbá, devido às grandes distâncias a serem percorridas e à

precariedade dos meios de transportes a maioria dos extratores optava por vendê-la

diretamente nos barracões: “[...] e tudo vai para a Bolívia, e alguns exportadores ainda

justificam, na alfândega de Porto Soares, a procedência do Brasil para eximir-se também do

pagamento dos direitos da Bolívia” (MARQUES, 1908:, p.12-13).

6 Para maiores detalhes sobre o empreendimento de Descalvado e a presença do capital belga em Mato Grosso, ver GARCIA, 2009 e STOLS, 1987.

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Situação semelhante ocorria na fronteira com o Paraguai, um importante consumidor

do gado bovino produzido no Sul de Mato Grosso, ali introduzido ilegalmente por “mascates”

que, em troca, recebiam cavalos, mulas e sal. Prática verificada desde a década de 1850, mas

que se expandiria após 1870 devido à devastação do território paraguaio pela guerra

(WILCOX 1992, p. 131), esse comércio ilegal ainda perduraria por várias décadas, como

sugere o artigo publicado no jornal mato-grossense A Reacção, em 30 de outubro de 1902:

O comércio entre Mato Grosso e o Paraguai consiste principalmente, como os de todas as regiões

remotas e pouco adiantadas do interior do continente, em permutas diretas, sem intervenção de

moeda propriamente dita. Os fazendeiros e boiadeiros que freqüentam o departamento de vila

Concepción, encontram aí mercado seguro para o gado que introduzem, e levam em câmbio

mercadorias de que necessitam (A Reacção 1902: 3-4).

Falta de segurança, contrabando, dificuldades de acesso e, sobretudo, a deficiência das

comunicações com a Capital do país eram alguns dos desafios que ainda precisavam ser

enfrentados, para que fosse possível concluir as tentativas, iniciadas no século XVIII, de

transformar Mato Grosso no “ante mural” para a defesa do país e integrá-lo definitivamente

ao restante da nação. Tarefa de tamanha envergadura levou à articulação de um conjunto de

instituições e saberes em torno de objetivos e projetos comuns. Temas relacionados ao

reconhecimento e à exploração racional do território nacional, à “fixação de colonos ao solo”,

à demarcação das fronteiras e às grandes obras de viação e comunicação, ou seja, as reais

condições para a retomada das obras da Ferrovia Madeira-Mamoré ou da construção Ferrovia

Noroeste do Brasil, bem como a viabilidade de estender as comunicações telegráficas àquelas

regiões, passaram a ser amplamente discutidos em instituições como o Clube de Engenharia e

a Sociedade de Geografia do Rio de Janeiro, fundadas em 1880 e 1883, respectivamente.

Após a guerra com o Paraguai, quando ficou patente a vulnerabilidade do trajeto

fluvial platino, foram traçados diversos planos viários cujo intuito era “alcançar Mato Grosso

por uma grande linha estratégica, que permitisse ao governo central levar mais facilmente a

sua ação política e militar até as fronteiras meridionais e ocidentais do país” (AZEVEDO,

1950, p. 143). Acrescente-se, que a idéia de conjugar, no Sul da Província, um ramal

ferroviário a uma linha do telégrafo fazia parte do ideário dos poderes locais e de diversos

estadistas e técnicos do Segundo Reinado, que a partir de 1888 iniciaram a construção de uma

linha telegráfica ligando a Corte a Cuiabá e esta a Corumbá (MARTINS JUNIOR, 2001).

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A instabilidade política dos primeiros anos republicanos tornou mais urgente, ao

Governo Federal, transportar seu pensamento a todos os cidadãos, “estreitando as

comunicações com os Estados que ainda se encontravam “à margem da nação brasileira”

(Missão Rondon, 1916, p. 39). Em Mato Grosso essa urgência era maior, dada à sua posição

estratégica para a defesa da fronteira e a fragilidade do poder estadual, devido à seqüência de

conflitos armados entre grupos políticos rivais.

Além da ampliação da rede de comunicações naquela direção, o projeto republicano

previa da retomada da idéia de transferir a Capital Federal para o Planalto Central, até a

ocupação econômica do interior dos Estados da atual região Centro-Oeste e da Amazônia

mediante estímulos à imigração estrangeira e à fixação do “trabalhador nacional” em colônias

agrícolas. “Muito recomendável é também”, destacou o Marechal Deodoro da Fonseca, “a

catequese das tribos indígenas que [...] invadem terras cultivadas [...] e assim estorvam o

trabalho agrícola da população civilizada, cumprindo envidar esforços para [...] atraí-las para

o trabalho (MENSAGEM PRESIDENCIAL, 1891). Do ponto de vista político e militar,

convinha obter o máximo conhecimento geográfico da área, realizar o levantamento de suas

potencialidades econômicas, de seus recursos naturais e humanos, a fim de que fosse possível

elaborar a “Carta Geral da República” (MINISTÉRIO DA GUERRA, 1907: 8).

Fundamentais nesse processo foram as Comissões Telegráficas comandadas por

Cândido Rondon, entre 1900 e 1915. Por meio delas, em torno de cada estação telegráfica o

Serviço de Proteção aos Índios e Localização de Trabalhadores Nacionais (SPILTN) passou a

fixar núcleos de “atração” de um grande número de “patrícios nossos aborígenes” para que,

“mansamente afeiçoados à nossa gente” e sob a “proteção fraternal da República”, se

tornassem não só “aptos a prosseguir espontaneamente na sua evolução”, mas a “estabelecer

uma relação de associação com o Estado”, da qual resultaria “sua rápida incorporação à nossa

sociedade” (COMISSÃO DE LINHAS TELEGRÁFICAS ESTRATÉGICAS DE MATO

GROSSO AO AMAZONAS, 2º vol., 1910 p.97-98). Por outro lado, referindo-se às estradas

construídas nas zonas percorridas pelas comissões sob seu comando, afirmou Rondon, em

entrevista concedida ao jornalista Edilberto Coutinho em 1957, que se tratava de estabelecer

um conjunto de comunicações capaz de integrar uma “vasta porção ainda isolada do nosso

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território ao restante da nação, tornando o Mato Grosso apto para a defesa das fronteiras do

país” (COUTINHO, 1975 p. 73).

Numa ótica geopolítica de defesa da fronteira, no conjunto esses trabalhos serviram de

referência para o processo de nacionalização das populações indígenas, apontadas como

“muralhas do sertão” (FARAGE, 1991), bem como para inúmeros projetos de colonização e

integracionistas que, sob o estimulo do Estado e do aporte de grandes somas de capitais,

foram levados adiante nos atuais Estados de Rondônia, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul ao

longo do século XX, a exemplo do programa varguista da “Marcha para o Oeste”, do Plano

Nacional de Ocupação do Cerrado do governo Juscelino Kubitschek, além das políticas de

integração nacional e de defesa das fronteiras do regime militar implantado no país entre 1964

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