marx e a história do pensamento econômico

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1 MARX E A HISTÓRIA DO PENSAMENTO ECONÔMICO: UM DEBATE SOBRE MÉTODO E IDEOLOGIA (texto preliminar para apresentação no Seminário de Pesquisa do IE/UFRJ) Maria Mello de Malta 1 Rodrigo Castelo INTRODUÇÃO Quando toca o sinal que anuncia o final dos cursos de apresentação do pensamento de Marx, o Livro IV de O Capital ainda não foi lido e, muitas vezes, nem mesmo mencionado. Neste texto vamos abordar exatamente esta parte da referida obra – mais conhecida pelo título de Teorias da Mais-valia – pois acreditamos que compreender o trabalho de Marx em sua totalidade implica em entender o papel integrado de seu estudo crítico da história do pensamento econômico (HPE). O estudo do autor alemão da história do pensamento econômico (HPE) perpassa toda sua obra, especialmente depois de seu contato com o trabalho de Engels Esboço de uma Crítica da Economia Política publicado no primeiro e único número dos Anais Franco-Alemães, de fevereiro de 1844. Naquele período se completou a convergência do que Lênin (1913) chamaria de as três fontes e as três partes integrantes do marxismo, o socialismo francês, a filosofia alemã e a economia política inglesa 2 . 1 Maria Mello de Malta e Rodrigo Castelo são ambos pesquisadores do LEMA/IE/UFRJ. Este texto é baseado em aulas preparadas para o curso Economia Política Marxista, oferecido pelo LEMA no âmbito do Programa Latino-americano de educação a distância (PLED). Os autores agradecem aos companheiros Mauro Iasi (ESS/UFRJ e NEP 13 de maio) e Luis Carlos Scapi (NEP 13 de maio) pelo debates acerca da temática apresentada a seguir, porém sem responsabiliza-los por quaisquer dos problemas que possam ter permanecido no trabalho. 2 “A doutrina de Marx é onipotente porque é exata. É completa e harmoniosa, dando aos homens uma concepção, integral do mundo, inconciliável com toda a superstição, com toda a reação, com toda a defesa da opressão burguesa. O marxismo é o sucessor legítimo do que de melhor criou a humanidade no

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Page 1: Marx e a história do pensamento econômico

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MARX E A HISTÓRIA DO PENSAMENTO ECONÔMICO:

UM DEBATE SOBRE MÉTODO E IDEOLOGIA

(texto preliminar para apresentação no Seminário de Pesquisa do

IE/UFRJ)

Maria Mello de Malta1

Rodrigo Castelo

INTRODUÇÃO

Quando toca o sinal que anuncia o final dos cursos de apresentação

do pensamento de Marx, o Livro IV de O Capital ainda não foi lido e,

muitas vezes, nem mesmo mencionado. Neste texto vamos abordar

exatamente esta parte da referida obra – mais conhecida pelo título de

Teorias da Mais-valia – pois acreditamos que compreender o trabalho

de Marx em sua totalidade implica em entender o papel integrado de

seu estudo crítico da história do pensamento econômico (HPE).

O estudo do autor alemão da história do pensamento econômico

(HPE) perpassa toda sua obra, especialmente depois de seu contato

com o trabalho de Engels Esboço de uma Crítica da Economia Política

publicado no primeiro e único número dos Anais Franco-Alemães, de

fevereiro de 1844. Naquele período se completou a convergência do

que Lênin (1913) chamaria de as três fontes e as três partes

integrantes do marxismo, o socialismo francês, a filosofia alemã e a

economia política inglesa2.

1 Maria Mello de Malta e Rodrigo Castelo são ambos pesquisadores do LEMA/IE/UFRJ. Este texto é baseado em aulas preparadas para o curso Economia Política Marxista, oferecido pelo LEMA no âmbito do Programa Latino-americano de educação a distância (PLED). Os autores agradecem aos companheiros Mauro Iasi (ESS/UFRJ e NEP 13 de maio) e Luis Carlos Scapi (NEP 13 de maio) pelo debates acerca da temática apresentada a seguir, porém sem responsabiliza-los por quaisquer dos problemas que possam ter permanecido no trabalho. 2 “A doutrina de Marx é onipotente porque é exata. É completa e harmoniosa, dando aos homens uma concepção, integral do mundo, inconciliável com toda a superstição, com toda a reação, com toda a defesa da opressão burguesa. O marxismo é o sucessor legítimo do que de melhor criou a humanidade no

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Nesta época Marx realizou seu primeiro estudo de economia política.

Este trabalho completo foi posteriormente publicado em 1932 sob o

nome de Manuscritos Econômico-Filosóficos, também conhecidos como

Manuscritos de Paris.

A leitura dos Manuscritos é muito importante para a identificação do

processo que articula a evolução do pensamento de Marx com seus

estudos da HPE. É a partir da sua relação com os textos da economia

política clássica que o autor alemão dá corpo, no campo das idéias, a

sua percepção, já constituída por meio da prática política, do papel

central que a categoria trabalho tem no entendimento da sociedade

capitalista, elemento que marcará definitivamente sua obra.

No seu trabalho de redação de O Capital, Marx se dedica longamente

ao estudo dos autores clássicos e seus contemporâneos no campo da

economia política. Neste processo elaborou um imenso manuscrito

entre 1861 e 1863 onde constam as notas que foram referência para a

construção de Teorias da Mais-Valia, bem como os temas que se

transformaram nos livros I e III de O Capital.

Teorias da Mais-Valia é a maior e mais elaborada parte do referido

manuscrito, composto de 23 cadernos, com páginas numeradas de 1

a 1472. Aquele trabalho, também publicado sob o título de Uma

História do Pensamento Econômico, compreende os cadernos VI a XV e

o XVIII, além de mais umas 40 páginas espalhadas pelos cadernos

XX, XXI, XXII e XXIII (Rubin, 1929). Embora Marx tenha se dedicado,

naquele manuscrito, de forma mais abrangente e mais completa

exatamente a essa análise crítica das idéias dos economistas que lhe

precederam ou eram seus contemporâneos, acabou destinando-a a

ser o livro IV, o último, de O Capital.

Esta decisão de Marx parece ter fortalecido uma interpretação usual

de que a economia política clássica seria algo considerado

século XIX: a filosofia alemã, a economia política inglesa e o socialismo francês. Vamos deter-nos brevemente nestas três fontes do marxismo, que são, ao mesmo tempo, as suas três partes constitutivas.” (Lenin, 1913, p.1)

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definitivamente superado por ele, e neste sentido uma HPE, como

aquele que ele realizara, que buscasse reconstituir criticamente os

caminhos lógicos dos economistas políticos clássicos, não passaria de

uma curiosidade de eruditos. É exatamente esta interpretação que

pretendemos questionar.

A CONSTRUÇÃO DA INTERPRETAÇÃO CINDIDA ENTRE A HPE DE

MARX E SUA OBRA

De nosso ponto de vista, a idéia de que Marx teria rechaçado as

contribuições científicas da economia política inglesa enquanto base,

ainda que crítica, para os seus desenvolvimentos teóricos, origina-se

muito mais da influência da interpretação dominante de que o

trabalho de história do pensamento econômico não é parte do corpo

de desenvolvimento os novos caminhos da ciência, do que proveniente

de um estudo aprofundado do papel da HPE de Marx na totalidade de

sua obra.

Porém, como já dissemos há elementos importantes na própria

história de publicação das obras de Marx que possam ter dado espaço

para a instalação de tal interpretação como verdadeira. Já

mencionamos a decisão de Marx em posicionar seu estudo de HPE

como o livro IV de O Capital, mas ainda podemos destacar outra

questões.

Mais um elemento de reforço a esta concepção se deu por conta da

forma pela qual Teorias da Mais-Valia fora publicada. A primeira

edição do livro IV foi feita por Kautsky entre 1905-1910, portanto

mais de dez anos depois da publicação do livro III e mais de quarenta

anos depois do livro I. Além de carregar o distanciamento temporal do

restante da obra, tal versão foi posteriormente muito criticada em

virtude de seu editor ter alterado a organização dos temas conforme

indicados por Marx; a versão kautskiana também continha erros de

Page 4: Marx e a história do pensamento econômico

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interpretação associados a incompreensão da caligrafia do autor,

supressões injustificáveis de passagens do manuscrito, erros de

tradução para o alemão de passagens registradas originalmente em

outras línguas e alterações na terminologia empregada por Marx.

Assim, uma nova publicação da obra se fez necessária. Porém esta só

ocorreu cinco décadas depois, a partir do trabalho de duas décadas

realizado por pesquisadores da ex-União Soviética que se dedicaram a

estudos e investigações daquele manuscrito. O objetivo deste projeto

era levar ao público a obra seguindo os originais deixados por Marx,

além de sua orientação básica de ordenar as idéias de acordo com o

lugar que ocupavam no desenvolvimento do processo histórico, o que

não coincide necessariamente com a cronologia dos autores e obras

considerados em seu estudo. Dessa forma, Teorias da Mais-Valia

ganhou sua versão russa completa entre 1954 e 1961, enquanto a

versão alemã apareceu entre 1956 e 1962, marcando uma distância

de quase um século entre estas versões e a publicação do livro I. Note-

se, também, que boa parte do debate crítico à obra marxiana já havia

sido desenvolvido quando se tornou pública a versão mais completa

do trabalho de Marx sobre HPE.

Os problemas na publicação de Teorias da Mais-Valia, seja pela

demora de sua publicação, seja pela forma de apresentação de seu

conteúdo, não são os únicos motivos pelos quais esta parte do

trabalho de Marx fora sistematicamente colocado em segundo plano.

A visão mais tradicional de HPE a trata, conforme já afirmamos, como

uma curiosidade de eruditos, um relato conclusivo de “erros

passados” e muitas vezes até “um apêndice incômodo que precisa ser

neutralizado” (Tolipan, 1982, p.5). Não raro, foi visto assim também o

trabalho de Marx sobre o tema.

No entanto, possuímos uma outra perspectiva sobre esta questão.

Consideramos que o conhecimento da HPE é essencial para uma

compreensão aprofundada da economia política, e ainda mais

Page 5: Marx e a história do pensamento econômico

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importante no que se refere ao sistema teórico desenvolvido pelo

revolucionário alemão. Não foi a toa que, antes de escrever a sua

própria teoria, Marx estudou meticulosamente uma rica literatura

econômica, produto do trabalho de várias gerações de economistas

europeus entre os séculos XVII e XIX. Desde sua primeira página, O

Capital é carregado de referências a autores anteriores a sua obra e a

cada passo de sua exposição, tanto em texto como em nota de rodapé,

Marx apresenta pensamentos valiosos de economistas importantes da

história do pensamento até então estabelecida. Independentemente do

quão rudimentar ou ingênua seja uma idéia econômica, Marx adota

uma postura diante daquelas obras de atenção completa e análise

diligente, valorizando-as como uma preciosa semente que possa ter

passado despercebida a uma primeira vista.

O tratamento atento e paciente que Marx deu a seus predecessores

não é para ser tomado como um capricho diletante de um especialista

em escritos econômicos antigos, mas como o caminho de acesso ao

seu laboratório do pensamento. A partir da publicação dos Grundrisse

– publicado em alemão entre 1939-1941 – e, particularmente, das

Teorias da Mais-Valia este caminho se abriu. Assim, somos capazes

de compreender como cada breve referência a Smith, Ricardo ou outro

economista que Marx distribuiu entre as notas de rodapé de O

Capital, é um resumo parcimonioso de pesquisas altamente

detalhadas contidas naquela obra, o que as faz parte orgânica de seu

texto.

A partir desta perspectiva identificamos o quanto estava claro para

Marx o quão inseparável eram as tarefas de estudar os pensadores

anteriores e construir seu próprio sistema de pensamento. Podemos

ainda afirmar que o quanto mais profundamente penetrava no

trabalho dos clássicos, mais perto chegava de sua construção original.

O MÉTODO DE MARX PARA A HISTÓRIA DO PENSAMENTO

ECONÔMICO

Page 6: Marx e a história do pensamento econômico

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Ricardo Tolipan, um importante historiador brasileiro do pensamento

econômico, escreveu uma vez que fazer HPE é recuperar “o estímulo

acadêmico à imaginação teórica e à crítica irônica do dogma e deve-se

para isto analisar o modo de construção da ciência” (Tolipan, 1982,

p.10). Na leitura do trabalho de HPE de Marx podemos perceber esta

intenção.

O interesse de Marx era ir além do ponto de entender como as idéias

econômicas se desenvolvem a partir de sua própria lógica interna. Ele

quis conhecer os processos pelos quais certas formulações teóricas

foram sendo criadas em ambientes sociais específicos. Concebia o

conhecimento científico como um tipo de produto social, e rendeu-se

à importância de considerar os espaços concretos que organizavam

este conhecimento (Nunes e Bianchi, 1999).

Neste sentido, sua abordagem para estudar o pensamento econômico

constitui-se em encará-lo como resultado de um conjunto inseparável

de observação da realidade histórica e da visão de mundo sob a qual

esta observação se realiza. Sendo assim, não se pode operar com uma

distinção entre economia como análise pura e economia como visão

dos processos sociais da base material, sendo a primeira uma análise

isenta e a segunda aquela em que entram inevitavelmente tendências

e matizes ideológicos, tal como Schumpeter (1954) trabalha. “Tal

distinção não pode ser sustentada porque a teoria econômica, na

medida em que se pretende como afirmação substancial sobre as

relações reais da sociedade, não pode deixar de incorporar a intuição

histórica, a perspectiva e a visão social de mundo, em sua formulação

e no próprio ato de julgamento do seu grau de realismo” (Dobb, 1977,

p.52).

Desta forma, o seu método de pesquisa da HPE combina o estudo do

período histórico de referência (amplamente explorado no livro I de O

Capital) com um estudo da teoria econômica elaborada até então, de

modo a compreender a produção intelectual resultante destas

influências. Esta perspectiva tem como princípio o materialismo

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histórico, em contraponto com o idealismo hegeliano. O idealismo de

Hegel afirma ser possível existir idéias provenientes de um “espírito

absoluto” sem a necessidade de uma base material que as origine.

Marx, por sua vez, anota que as idéias de uma época são expressão

intelectual das relações sociais vigentes com todas as contradições e

as influências herdadas da história da política.

Em A Ideologia Alemã (1846) Marx e Engels apresentam um raciocínio

sintético que relaciona o pressuposto materialista com sua base

histórica, afirmando que foram “forçados a começar constatando que

o primeiro pressuposto de toda a existência humana e, portanto, de

toda a história, é que os homens devem estar em condições de viver

para poder ‘fazer história’. Mas, para viver, é preciso antes de tudo

comer, beber, ter habitação, vestir-se e algumas coisas mais. O

primeiro ato histórico é, portanto, a produção dos meios que

permitam a satisfação destas necessidades, a produção da própria

vida material, e de fato este é um ato histórico, uma condição

fundamental de toda a história, que ainda hoje, como há milhares de

anos deve ser cumprida todos os dias e todas as horas para manter os

homens vivos” (Marx e Engels, 1846, p.21). Donde concluem que a

existência precede a consciência.

Combinado com este pressuposto materialista está a lógica dialética,

esta sim incorporada de Hegel. A lógica de uma construção científica é

a forma de organizar o pensamento que a produz e nada impede que

argumentos científicos que sigam uma mesma lógica possam ter

pressupostos diferentes. A lógica dialética pretende superar a lógica

formal incorporando alguns de seus princípios. Por exemplo, a lógica

dialética também trabalha com identidade, porém a trabalha

enquanto identidade de contrários, ao invés da identidade como

contraponto à diferença, conforme faz a lógica formal (Iasi, 2007).

Interessa-nos, todavia, identificar alguns princípios gerais que

possam caracterizar a dialética. Em primeiro lugar, a lógica dialética

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busca o movimento próprio do objeto estudado, pois entende que para

se compreender qualquer objeto há que se captar seu movimento.

Uma forma não apenas é. Ela “era, é e tende a ser”, estando em

movimento contínuo. É necessário também compreender a

contradição presente em todos os objetos, pois é desta contradição

interna que depende o seu movimento. Portanto, toda estrutura é

uma união de contrários. Isto torna o movimento permanente, pois

cada forma traz em si o germe de sua superação, a sua contradição.

Desta maneira, cada forma pode ser ao mesmo tempo outra sem

deixar de ser o que é. Por isto pode ser representada como uma

identidade de contrários. Finalmente, o movimento se dá por

contradições que chegam a um ponto de ruptura no qual ocorre um

salto de qualidade. Neste momento surge uma nova forma, que

supera a antiga, mas carrega alguns de seus elementos, como

também se constitui em parte do germe que gerará a sua superação,

ou seja, sua negação. Note-se que esta última negação, será a

negação de uma negação da forma imediatamente anterior, portanto

uma negação da negação.

O próprio Marx já afirmou na famosa Introdução de 1857, que o

procedimento metodológico correto é iniciar a investigação pelo real,

pelo concreto, que é a pressuposição prévia e efetiva. No entanto,

afirma que graças a uma observação mais atenta, tomamos

conhecimento de que este processo é incompleto. Não basta observar

o concreto para desvelar suas partes constituintes. Assim, se

analisarmos somente o real como se apresenta em sua aparência,

teríamos uma representação caótica do todo.

É necessário apreendermos intelectualmente o real. A questão reside

no método de apreensão da realidade concreta. Segundo Marx, o

cientista social dispõe do poder de abstração para analisar com

profundidade a realidade, chegar ao seu âmago constituinte. Desta

forma, passaríamos do concreto a abstrações cada vez mais tênues

até atingirmos as mais simples determinações. Ao chegarmos a este

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ponto teríamos que fazer a viagem de volta até chegarmos ao

concreto, agora não mais como uma representação caótica do todo,

porém como uma rica totalidade de determinações e relações diversas.

Neste caso, o concreto é concreto porque é a síntese de múltiplas

determinações, isto é, uma unidade do diverso.

Por isso o concreto aparece no pensamento como síntese, como

resultado e não como ponto de partida, ainda que seja o ponto de

partida efetivo e, portanto o ponto de partida também da intuição e da

representação. No método exclusivamente analítico, usado pelos

economistas políticos, a representação plena se perde em

determinações abstratas; no método dialético marxiano, que une

análise e síntese, as determinações abstratas conduzem à reprodução

do concreto, agora compreendido, por meio do pensamento.

Marx nos ensinou que foi por este motivo que os idealistas dialéticos,

como Hegel, caíram na ilusão de conceber o real como resultado do

pensamento, identificando na idéia a origem de tudo. Nesta visão, o

pensamento aprofundar-se-ia em si mesmo, de forma independente

da realidade, implicando que seria no campo ideal que ocorreriam as

grandes mudanças e os grandes movimentos. Alerta-nos, no entanto,

que caminhar no sentido da síntese, ou seja, do abstrato ao concreto,

é a maneira de proceder para se apropriar do concreto, para

representá-lo como concreto pensado, ou seja, para compreendê-lo.

Porém este não é, de modo nenhum, o caminho de determinação de

sua origem. A origem, o pressuposto, é a existência. É ela que

determina a essência.

Além do próprio trabalho de Marx, os textos, por exemplo, de Vladimir

Lênin (vários escritos), Henri Lefebvre (1969) e Lucien Goldman (1956)

sobre a dialética nos mostram uma variedade de formas de apresentá-

la. Não pretendemos dar origem a uma nova explicação à lógica

dialética, até porque todos os autores citados realizaram trabalhos

que jamais superaríamos. Nosso objetivo é fazer com que o leitor

Page 10: Marx e a história do pensamento econômico

10

perceba como o próprio método de Marx abre o espaço para

incorporação da dimensão da história na elaboração da ciência. O

momento histórico existe em sua dupla face: a materialidade das

relações sociais e sua expressão superestrutural. Por isso afirma que

a cada tipo de apresentação das formas de produção e reprodução

material da existência humana correspondem formas específicas de

estruturação social, além de valores e formas de apreensão da

realidade.

Fazer a história do pensamento econômico é compreender as formas

de apreensão da realidade econômica estruturada em cada tempo

histórico, fundamentalmente embebida em valores da época. Sendo

assim, o autor alemão não apenas admite a presença da visão social

de mundo na elaboração da ciência econômica, como também a revela

inseparável desta.

Marx pretendeu explicitar as formas existentes, em sua época, da

expressão das relações de produção e reprodução da vida, como

histórica e socialmente determinadas, diferentemente do que fizeram

os economistas políticos clássicos, que as naturalizaram. De seu

ponto de vista, não é entendendo as formas de pensamento que se

entende a história, mas é compreendendo a história, movida pela luta

de classes, que se compreende as formas de pensamento.

Se o método de Marx se estrutura incorporando a história como parte

essencial de sua formulação, não há como ignorarmos o papel da

história do pensamento econômico na formulação crítica da economia

política clássica que Marx pretendeu realizar. A construção intelectual

de Marx é uma composição que segue seu método e que carrega

dentro de si a economia política inglesa, sem com isso se tornar parte

dela, pois lhe agrega contradições (teóricas, históricas e política) que

dão origem ao movimento de seu pensamento sobre economia política.

A QUESTÃO DA IDEOLOGIA

Page 11: Marx e a história do pensamento econômico

11

Afirmamos até agora que, de acordo com o próprio método utilizado

por Marx, a história do pensamento econômico por ele elaborada é

parte componente de seu pensamento. Há ainda um outro caminho

de afirmação do mesmo ponto de vista que amplia nosso debate para

além do campo do marxismo, abrindo uma batalha no âmbito da

própria tradição da história do pensamento econômico.

A visão mais tradicional da história do pensamento econômico é

essencialmente referenciada em Schumpeter (1954) a partir de sua

separação analítica fundante dos possíveis caminhos para se estudar

a HPE. Na concepção de Schumpeter, a história da análise econômica

se refere à história da “evolução” dos modelos analíticos de base para

a teoria econômica; a história dos sistemas de economia política

considera a seqüência temporal dos conjuntos de políticas

econômicas que os autores sustentam sob princípios normativos

unificadores; e finalmente a história do pensamento econômico seria a

soma total das opiniões e desejos referentes a assuntos econômicos,

especialmente relativos à política governamental, que correm pelo

espírito público em determinado tempo e espaço. A sua perspectiva

sustenta que a história da análise econômica concentra o que é

fundamental para o estudo da história da teoria, na medida em que é

um recorte “limpo” das influência ideológicas presentes nas outras

partes do pensamento econômico.

Além do que já está apontado quanto a construção do próprio método

de pesquisa de Marx o trabalho deste autor afirma abertamente uma

posição contrária a esta apresentada em Schumpeter (1954). No

clássico 18 de Brumário de Luis Bonaparte (1851), Marx afirma que

“os homens fazem sua própria história, mas não a fazem como

querem, não fazem sob as circunstâncias de sua escolha e sim sob

aquelas com que se defrontam diretamente, ligadas e transmitidas

pelo passado. A tradição de todas as gerações mortas oprime como

um pesadelo o cérebro dos vivos” (Marx, 1851, p.21).

Coloca-se então a pergunta de como a tradição de todas as gerações

Page 12: Marx e a história do pensamento econômico

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mortas oprime os vivos. Apresenta-se, assim, a questão da ideologia

para o nosso debate.

Se a existência determina a consciência como é que mortos oprimem

vivos? O ponto é exatamente que as idéias não apenas existem, mas

se materializam na forma dos elementos da superestrutura,

influenciando diretamente os elementos da base econômica. Ou seja,

as representações teóricas não são somente reflexo passivo da base

econômica, mas ajudam a determinar as configurações da própria

base.

A superestrutura política e jurídica e a consciência social são

representação muito concreta da forma histórica com que os seres

humanos se relacionam com a natureza e entre si. Apesar dos

elementos superestruturais serem uma expressão, uma noção

determinada intelectualmente, de certa conjuntura histórica, também

a condicionam e, por longo tempo, perpetuam as formas de relação

dominantes naquele período histórico. O pensamento econômico faz

parte da consciência social de sua época e deve ser reconhecido

enquanto tal.

Na seção 15 do capítulo IV de Teorias da Mais-Valia, Marx escreve que

“para observar a conexão entre produção intelectual e a material, é

fundamental antes de tudo apreender esta não como categoria geral,

mas como forma histórica definida. Assim, por exemplo, ao modo de

produção capitalista corresponde a produção intelectual de espécie

diferente daquela do modo de produção medieval. Se não se concebe a

própria produção na forma histórica específica, é impossível entender

o que é característico na produção intelectual correspondente e a

interação entre ambas” (Marx, 1905, p.267, grifos no original).

É bastante evidente que os modos de produção duram mais tempo

que as vidas individuais dos seres humanos. O mesmo ocorre com

sua produção intelectual. Assim, mortos assombram vivos por meio

da reprodução dos sistemas de relações sociais que incluem estrutura

e superestrutura.

Page 13: Marx e a história do pensamento econômico

13

Considerando estas observações de Marx, vale a pena fazermos uma

pequena digressão sobre a concepção de ideologia. Inicialmente

podemos dizer que a expressão ideologia é comumente considerada

um sinônimo para conjunto de idéias. Se ideologia é apenas um

conjunto de idéias, se quisermos manter nosso pressuposto

materialista, coloca-se em questão quais são as relações sociais que

estão representadas neste conjunto de idéias.

A resposta mais comum é que as idéias são de uma época.

Expressam, portanto, um determinado período histórico. Como já

discutimos, a cada época histórica corresponde uma forma de

produzir e reproduzir relações sociais e a vida, porém é possível que

em cada época convivam formas diferentes de se realizar esta tarefa

social fundamental. Qual então será a forma considerada a

diferenciadora e a definidora daquele período específico?

Imediatamente pensamos: é claramente aquela maneira que for a

mais comum, a dominante. Assim, se a forma de produzir e

reproduzir a vida que representa uma época é aquela dominante,

também as idéias que a representarão serão as dominantes.

Levando em conta que a primeira forma de apresentação da

consciência social é o senso comum, fruto da alienação, por meio da

qual os indivíduos tomam as idéias instituídas como sua própria

consciência, então o conjunto de idéias dominantes de uma época se

torna sua ideologia, quando se utiliza da alienação para dominação. A

ideologia dominante é, portanto, a expressão ideal das relações

materiais dominantes.

Segundo Michael Löwy (1985), quando Marx encontra pela primeira

vez o termo ideologia nos debates da primeira metade do século XIX,

este está sendo usado no sentido de especulação metafísica que

ignorava a realidade. Ideologia ganha assim o sentido de ilusão, falsa

consciência, concepção idealista na qual a realidade é invertida e as

idéias aparecem como motor da vida real. Seria neste sentido que

Page 14: Marx e a história do pensamento econômico

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Marx utilizaria o termo em A Ideologia Alemã.

A partir desta conceituação Marx indica que o papel da ideologia é

formular concepções das relações sociais existentes nas quais elas

apareçam invertidas, naturalizá-las, obscurecer sua essência para

poder justificá-las, apresentando um interesse particular como

universal e criar o espaço para a manutenção da dominação. Para se

contrapor à ideologia, na concepção de nosso autor, existe a ciência. A

ciência teria o papel de compreender, revelar e historicizar as relações

sociais existentes, para com isso desinverter sua forma de

apresentação e abrir espaço para o questionamento da dominação.

No livro 18 de Brumário, Marx amplia o conceito de ideologia e fala

das formas ideológicas através das quais os indivíduos tomam

consciência da vida real. Ele as enumera como sendo a religião, a

filosofia, a moral, o direito, as doutrinas políticas, entre outras. Löwy

nos diz que “para Marx, claramente, ideologia é um conceito

pejorativo, um conceito crítico que implica ilusão, ou se refere à

consciência deformada da realidade que se dá através da ideologia

dominante: as idéias da classe dominante são as ideologias

dominantes na sociedade” (Löwy, 1985, p.12).

O conceito de ideologia segue um longo percurso na tradição marxista

e vai sendo modificado em cada nova acepção. Lênin e Gramsci são os

mais famosos autores marxistas que formulam novas concepções em

torno no termo ideologia. Neste sentido, não é simples abrir uma

discussão sobre ideologia em Marx sem se deixar influenciar pelo

andamento da discussão marxista. Afinal, estamos aqui afirmando

que a produção intelectual de cada época vai ser assombrada pelas

idéias e pela história que a precedeu e que lhes são contemporâneas.

Buscando respeitar o sentido que Marx deu ao termo ideologia,

gostaríamos aqui de usar um recurso didático estabelecendo dois

conceitos distintos para o nosso trabalho: ideologia e visão social de

mundo. O conceito de visão social de mundo se diferenciaria daquele

Page 15: Marx e a história do pensamento econômico

15

de ideologia por não carregar em si o objetivo de dominação, porém

mantém a noção de historicidade e de perspectiva social em seu

significado. Neste sentido, ideologia e visão de mundo seriam

conceitos muito próximos, cuja única diferença seria o sentido de

dominação que o primeiro possuiria.

Tal recurso nos serve para afirmar que a Marx não escapa que a

ciência não tem como se separar da visão de mundo daquele que a

formula, sem implicar que todo cientista tenha um projeto de

dominação por trás de seu trabalho, ainda que alguns o possam ter.

Em sua crítica a Henri Storch, economista político francês da

primeira metade do século XIX, o posicionamento de nosso autor é

bem direto, pois afirma que:

“da forma específica da produção material resulta: 1)

determinada estrutura da sociedade e 2)

determinada relação dos homens com a natureza. As

duas determinam o governo e a visão intelectual dos

homens. Em conseqüência, também o gênero da

produção intelectual”. (Marx, 1905, p.267)

Neste contexto, Marx denuncia a incapacidade de Storch de

compreender a produção intelectual, até porque este autor a define

como associada às atividades profissionais relacionadas com a classe

dominante, sem compreender que estas últimas existem e se definem

especificamente naquela determinada estrutura histórica por ele

vivenciada. A partir disso Marx conclui que um historiador das idéias

que não concebe a própria produção material no domínio histórico e a

ultra-generaliza, priva-se da única base que o possibilitaria entender

os componentes ideológicos da classe dominante e ainda a produção

intelectual crítica a esta formação social.

A HISTÓRIA DO PENSAMENTO ECONÔMICO, POR KARL MARX

Page 16: Marx e a história do pensamento econômico

16

O trabalho de HPE de Marx é revolucionário em sua época dada a

complexidade de seu método e a sua consciência de que boa parte da

produção intelectual sobre economia não passava de uma produção

ideológica que rompia o compromisso científico. Neste sentido, o

estudo detalhado de autores das mais variadas origens e influências

era o caminho para reconstituir a linha científica da economia

política. Por isso, Marx fez questão de diferenciar os economistas

políticos clássicos dos economistas vulgares. Esta diferenciação está

presente no posfácio da 2ª edição alemã e em algumas notas de

rodapé de O capital, porém é mais claramente exposta no item 5 do

Adendo à terceira parte de Teorias da Mais-Valia.

Neste ponto de seu trabalho o autor alemão está se questionando

sobre as formas de apresentação de como são formados os preços das

mercadorias pelos clássicos e pelos vulgares. Marx aponta que os

clássicos buscam a identificação da origem dos rendimentos do

capital, do trabalho e da terra no reino da produção. Neste processo

acabam por identificar contradições nas relações sociais e no próprio

pensamento por eles construído, enfrentando as dificuldades de se

produzir ciência. Os economistas vulgares procuraram dar uma

aparência suave ao processo por meio do qual surgem os diferentes

tipos de rendimento. Preferiram falar em juros, ao invés de lucros,

para desconectar a relação entre produção e o rendimento do capital.

Acabaram por intencionalmente se tornarem apologetas e realizaram

tentativas extenuantes de apagar a existência das idéias que

contivessem contradições. O caminho de distanciamento da ciência

vai se tornando tão evidente que autores como Frederic Bastiat,

contemporâneo de Ricardo, vão recorrer a explicações divinas para

dar conta da origem da renda da terra, bem como se utilizam de

argumentações morais e religiosas para explicar a diferença existente

na distribuição da propriedade privada. Com este tipo de recurso os

economistas vulgares rompem inclusive com o projeto

liberal/iluminista de construção de uma ciência cujo modo de

entendimento da ordem econômica e social pretendia expulsar

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definitivamente a explicação divina de seu seio.

Marx, porém, realizava uma obra de crítica à economia política, o que

significava que os economistas clássicos não estavam salvos da

virulência de seus argumentos. A questão da economia política

clássica estava em outro âmbito. Havia sim um compromisso em

explicar a realidade no trabalho daqueles autores. Porém, não

estavam interessados em verificar como cada uma daquelas formas

sociais que estudavam haviam se materializado da exata maneira em

que se apresentavam para eles. Todos aqueles autores tomavam cada

um dos objetos que analisavam como premissas dadas, pontos de

partida inquestionáveis. Assim, “a falha dos economistas clássicos era

que não concebiam a forma básica do capital, isto é, a produção

desenhada para se apropriar do trabalho de outras pessoas, como

uma forma histórica, mas como uma forma natural da produção

social; a análise levada a frente pelos próprios economistas clássicos

acabou por pavimentar o caminho para a refutação desta concepção.”

(Marx, 1905, p. 1538, grifos no original)

A preocupação principal da obra de história do pensamento

econômico de Marx não era um confronto dos métodos em si. A

abertura de Teorias da Mais-Valia já nos indica o corte analítico

crítico por meio do qual será feito o trabalho de HPE de Marx. Em sua

Observação Geral, que consta no início do livro IV de O Capital, afirma

que todos os economistas incorrem no erro de não examinarem a

mais-valia enquanto tal, pura, mas nas formas especiais de lucro e de

renda fundiária. Sendo assim, torna-se explícito que estudar o

pensamento econômico para Marx tinha como função compreender as

formulações teóricas anteriores com o objetivo de identificar seus

limites, fazer a crítica e desenvolver sua própria teoria neste processo

de estudo.

As questões que buscou estudar nos clássicos podem ser

identificadas na longa lista de capítulos e adendos, todos divididos em

inúmeros subitens, que formam o livro IV. Apesar dos 24 capítulos e

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26 adendos, os temas perseguidos por Marx são poucos e bem

articulados: a abordagem da origem e da distribuição da renda, do

lucro, dos juros e dos salários em articulação com a questão do valor,

bem como a concepção do processo de acumulação e com ela as

noções da composição orgânica do capital e da produtividade. Não é

coincidência que estes sejam os mesmos temas presentes nos três

primeiros livros de O Capital, nos quais Marx expõe a sua própria

explicação crítica para a produção e reprodução do sistema

capitalista.

A pesquisa de HPE elaborada por Marx seguiu a estrutura teórico-

conceitual apresentada no pensamento econômico, primordialmente

científico, produzida entre os séculos XVII e XIX. Nela mapeou-se os

principais debates que Marx considerou fundamentais para construir

sua própria contribuição interpretativa e que são alguns dos

principais temas da economia política marxista até os dias atuais.

Teorias da Mais-Valia ganha este título porque busca identificar como

tantos autores se aproximaram da questão da mais-valia sem

identificá-la em sua complexidade. O conceito de excedente é a

primeira formulação que indica a presença de uma reprodução de

riqueza em volume maior que aquela que fora necessária para

produzi-la. Deste ponto de partida iniciam-se as questões sobre de

onde vem esta riqueza e, associada a ela, a pergunta sobre para quem

deve ir tal riqueza. As respostas a estas questões originárias do

projeto da economia política estão mapeadas desde as contribuições

de William Petty, dos fisiocratas e de David Hume passando, por

Adam Smith, James Steuart, chegando a David Ricardo, Rodbertus,

Thomas Malthus, Robert Torrens, James Mill e seu filho John Stuart

Mill. Nenhuma delas satisfaz a Marx, por isso se tornam sua

referência crítica.

Neste sentido, a proposta de leitura da HPE por Marx é parte

essencial de sua construção crítica. Estudar a forma de apreensão da

realidade capitalista expressa pelos cientistas sociais de sua época era

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o caminho de acesso à compreensão histórica dos problemas se sua

época. Sem abrir mão de ser um homem do seu tempo, Marx introduz

a contradição no pensamento dominante com que se confrontara e

constrói uma síntese única que se expressa em sua forma de

interpretação das relações sociais vigentes.

CONCLUSÃO

O Capital em seus quatro livros é o resultado do esforço de Marx de

propor uma nova leitura da realidade estrutural e superestrutural em

que vivia, abrindo a perspectiva de um questionamento das formas de

organização da produção e reprodução da vida no capitalismo e com

ela das idéias que a representam. Sua pesquisa da HPE é parte

constitutiva deste projeto, especialmente porque esta representa a

consciência e a ciência social do sistema que buscava compreender e

superar.

Esta compreensão integrada do trabalho de Marx torna fundamental

a tarefa de estudar a história do pensamento econômico elaborada

por ele, tanto para o entendimento contextualizado de sua obra,

quanto para inserí-lo de maneira adequada da HPE. Nosso autor é um

pensador do seu tempo, com os limites e as possibilidades que sua

visão de mundo abriram para ele. Também, como todo grande

cientista de seu tempo, contribuiu de maneira crítica para elaborar

uma interpretação do capitalismo. Tal interpretação permanece como

referência fundamental para compreender atualidade. Afinal, por mais

tempo que tenha passado entre a produção intelectual de Marx e os

dias de hoje, a ordem histórica vigente permanece sendo a ordem

capitalista.

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