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Page 1: História do Pensamento Econômico I

História do Pensamento Econômico I

Prof. Dr. Eduardo Gonçalves

HPE I - Prof. Eduardo Gonçalves1

Prof. Dr. Eduardo Gonçalves

[email protected]

Page 2: História do Pensamento Econômico I

David Ricardo (1772-1823)

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David Ricardo (1772-1823)

Dados Biográficos

� Inglês.� Família judia que migrou da Holanda para Inglaterra.

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� Família judia que migrou da Holanda para Inglaterra.� Aos 21 anos, casa-se com uma jovem cristã e rompe com o pai. � Operador da Bolsa de Valores de Londres. Adquire grande

fortuna antes dos 30 anos. � Nunca recebeu instrução econômica formal. Conhecimento:

leituras e reflexões. Grande capacidade analítica e consistência lógica.

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David Ricardo (1772-1823)

Influência Intelectual

� Adam Smith (leu em 1799).Teoria da população de Malthus.

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� Teoria da população de Malthus.� Lei de Say.� Filosofia Utilitarista de Bentham.

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David Ricardo (1772-1823)

Obras

� “O alto preço do ouro, uma prova da depreciação das notas bancárias” (1810)

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notas bancárias” (1810)� “Um ensaio sobre a influência de um preço baixo do

trigo nos lucros do capital, mostrando a inconveniência das restrições à importação” (1815)

� “Princípios de Economia Política e Tributação” (1817)

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David Ricardo (1772-1823)

Método/Objeto

� Método rigorosamente dedutivo (abstração sem digressão histórica ou filosófica).

� Características do sistema ricardiano:

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� Características do sistema ricardiano:� Formulação de Leis (leis são deduzidas de hipóteses

gerais, com rigor quase matemática).� Objeto de estudo: transita-se da problemática da

riqueza para distribuição (e do valor).� Economia: ciência que se ocupava da distribuição do

produto social entre as classes em que a sociedade estava dividida.

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David Ricardo (1772-1823)

Contribuições

� Rigorosa análise dedutiva e lógica.� Aperfeiçoamento da técnica de abstração.� Teoria da renda diferencial (precursora da teoria da

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� Teoria da renda diferencial (precursora da teoria da produtividade marginal da distribuição).

� Introdução da idéia de margem.� Teoria das vantagens comparativas.� Reconhecimento que a introdução das máquinas pode ser

prejudicial aos trabalhadores (substitui sua opinião anterior de que haveria ganhos para todos com aumento da demanda de trabalho, diminuição de preços e aumento de lucros).

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David Ricardo (1772-1823)

Contexto Histórico

� Revolução Industrial, no plano econômico.� Revolução Francesa, no plano político.� Capitalismo Consolidado.

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� Capitalismo Consolidado.� Arrendamento de terra (prática comum após o

cercamento dos campos).� Pano de funo

� “Corn Laws” (“Leis dos Cereais”): legislação protetora da produção nacional de grãos;

� Queda do lucro na indústria;

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David Ricardo (1772-1823)

Modelo Simples

� “Ensaio sobre lucros”: modelo simples de Ricardo.� Não possui uma teoria do valor (seria desenvolvida no

início dos Princípios).

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início dos Princípios).� Hipótese: valor de troca depende das “dificuldades de

produção”.� Unidade de medida: cereais (Dobb: “Teoria cerealífera

dos lucros”).� Classes:

� Proprietários de terras: renda da terra� Capitalistas: lucros� Trabalhadores: salários

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David Ricardo (1772-1823)

Modelo Simples

� Todos rendimentos são medidos em quantidades físicas de cereais sem recorrer a preços: mecanismos de distribuição analisados em termos reais.

� Produto Líquido: diferença entre o total produzido e todos os

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� Produto Líquido: diferença entre o total produzido e todos os custos necessários à sua obtenção.

� Salários: nível de subsistência, sem aumento nem diminuição da população.

� Lucro: diferença entre o produto do trabalho na terra marginal e o custo desse trabalho. Ou seja, a quantidade física de cereais que sobrava após deduzir a renda e os salários do produto total.

� Renda diferencial: deriva da diferença entre o produto líquido obtido pelo capital investido na terra marginal e o produto líquido obtido pelos outros capitais.

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David Ricardo (1772-1823)

Modelo Simples

� Taxa de lucro: (produto obtido – capital adiantado)/capital adiantado.

� Distribuição do produto social estava sujeita aos seguintes fatores:

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fatores:� Fertilidade do solo.� Acumulação de capital.� População.� Destreza, engenho e instrumentos empregados na agricultura.

� Preocupação de Ricardo: como evitar o estreitamento da margem de lucro com o aumento das proporções do produto destinadas ao pagamento de renda da terra e salário?

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David Ricardo (1772-1823)

Modelo Simples

� Por que a renda da terra aumentava?

� Com o aumento populacional e o decorrente aumento de demanda por alimentos e matérias-primas, toda terra fértil de

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demanda por alimentos e matérias-primas, toda terra fértil de localização acessível seria ocupada.

� ↑populacional → ↑demanda por alimentos e matérias-primas → ↑necessidade de cultivo em terras menos férteis e mais afastadas do mercado.

� Capital aplicado em lotes menos férteis ou mais capital em porções de terra já exploradas → rendimentos físicos decrescentes.

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David Ricardo (1772-1823)

Modelo Simples

“Na primeira colonização de um país rico em terras férteis, que possam ser ocupadas por qualquer indivíduo que deseje ocupá-las, o produto total, após deduzidos os gastos correspondentes ao cultivo, será o lucro do capital e

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correspondentes ao cultivo, será o lucro do capital e pertencerá ao proprietário do capital, sem qualquer dedução para a renda fundiária. (...). Assim, ao passar a cultivar terras de pior qualidade (ou situadas mais desfavoravelmente), a renda subiria na terra previamente cultivada, e precisamente na mesma extensão declinariam os lucros;” (Ricardo, “Ensaio sobre Lucros”)

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David Ricardo (1772-1823)

Modelo Simples

� Por que o salário aumentava?

� Mais trabalho era necessário para cultivar a terra.� Isso não significava que o salário era maior que o de

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� Isso não significava que o salário era maior que o de subsistência, nem que melhorou o padrão de vida dos trabalhadores.

� Proprietários de terras tendiam a ficar com parcela cada vez maior do produto social.

� Exemplo 1� Concorrência entre os capitalistas faz a renda aumentar.

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David Ricardo (1772-1823)

Modelo Simples

� Primeira Conclusão: � Renda e lucro são parte complementares do produto líquido. A

criação de renda subtrai aos lucros e nada acrescenta ao produto.� A renda fundiária nunca representa uma nova criação de renda,

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� A renda fundiária nunca representa uma nova criação de renda, mas sempre parcela de uma renda já criada.

“A renda fundiária é, pois, em todos os casos, uma porção dos lucros anteriormente obtidos da terra. Nunca constitui a renda de uma nova criação, constituindo sempre parcela de uma renda já criada.”

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David Ricardo (1772-1823)

Modelo Simples

“... se o desenvolvimento dos países, ao gerar riqueza e população, pudesse acrescentar novas porções de terra fértil cada vez que aumentasse o capital, os lucros jamais decresceriam nem aumentariam as rendas fundiárias.”

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decresceriam nem aumentariam as rendas fundiárias.”

“Os lucros gerais do capital dependem totalmente da última parcela do capital empregado na terra; por conseguinte, se os proprietários fundiários renunciassem ao total de suas rendas, não fariam com que se elevassem os lucros nem reduziriam o preço do cereal para o consumidor.”(Ricardo, “Ensaio sobre Lucros”)

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David Ricardo (1772-1823)

Modelo Simples

“Os lucros gerais do capital somente podem aumentar através da redução no valor de troca dos alimentos, redução que somente pode decorrer de três causas:(1) A queda dos salários reais do trabalho, que permitirá ao

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(1) A queda dos salários reais do trabalho, que permitirá ao agricultor levar ao mercado um excedente maior de produção;(2) As melhoras na agricultura ou nos implementos agrícolas, que também aumentarão o excedente de produção;(3) A descoberta de novos dos quais pode-se importar cereais a preços inferiores ao custo de produção interna.” (Ricardo, “Ensaio sobre Lucros”)

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David Ricardo (1772-1823)

Modelo Simples

� Conseqüências:� 1) interesses dos proprietários e dos capitalistas são

opostos;� 2) criação de renda nada acrescenta aos preços;

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� 2) criação de renda nada acrescenta aos preços;

� Segunda conclusão: medidas que podem contrabalançar a tendência de queda da taxa de lucro:� Queda do salário real.� Melhorias na agricultura.� Importação de grãos.

� Exemplo 2

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David Ricardo (1772-1823)

Modelo Simples

� Concorrência iguala todas as taxas de lucro, a tendência de queda da taxa de lucro agrícola se manifesta (se transmite) à taxa geral de lucro.

� Por que a terra marginal (pior) determina a taxa geral de lucro

HPE I - Prof. Eduardo Gonçalves19

� Por que a terra marginal (pior) determina a taxa geral de lucro na agricultura e no sistema?� Analogia entre produção agrícola e produção fabril com

máquinas de diferentes produtividades. A agricultura era comparada a um sistema fabril em que a demanda exigisse a utilização de todas as máquinas disponíveis (até as de produtividade inferior). Por que estas seriam usadas? Só seriam usadas caso houvesse igualdade da taxa de lucros. Lucros seriam regulados pela produtividade da pior máquina

� Crítica: fábrica é reprodutível e terra não é reprodutível.

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David Ricardo (1772-1823)

Principais conclusões do “Ensaio sobre Lucros”

� Taxa de lucro da agricultura depende da fertilidade do solo;� Taxa de lucro do sistema depende da taxa de lucro que se

forma na agricultura;� Ocupações de terras menos férteis e distantes determinavam a

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� Ocupações de terras menos férteis e distantes determinavam a formação da renda fundiária;

� Criação da renda é uma dedução dos lucros e nada acresce ao produto. Renda não é fruto do esforço do trabalho;

� Interesses opostos: proprietários x capitalistas;

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David Ricardo (1772-1823)

Principais conclusões do “Ensaio sobre Lucros”

� Preços agrícolas são determinados pelas condições de produção na terra que não produz renda (terra marginal) → rejeição da proposição smithiana de que os preços eram influenciados pela renda da terra;

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influenciados pela renda da terra;� Valor das mercadorias aumenta à medida que aumenta as

dificuldades de sua produção;� Lucros são regulados pela dificuldade de produção de

alimentos (negava a tese de Smith de que os lucros dependiam das oportunidades de aplicação do capital).

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David Ricardo (1772-1823)

Valor, Lucros e Salários

� É impossível determinar lucros sem tratar do valor do produto.

� Relação entre lucros e salários

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� Há uma relação inversa.� Nada pode afetar os lucros a não ser o aumento salarial.� Salários dependem do preço dos bens de subsistência.� Preço dos bens de subsistência depende da quantidade de

trabalho empregada na terra que não gera renda.

� Por que não compensar o aumento salarial com aumento de preço, mantendo o lucro?

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David Ricardo (1772-1823)

Valor, Lucros e Salários

� Aumento das dificuldades de produção:

� Aumento do valor dos alimentosAumento do salário

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� Aumento do salário� Aumento da renda fundiária

� O que comprime o lucro na terra marginal já que nesta não se paga renda?

� Aumento da dificuldade de produção → ↑salários → ↓lucros (suposta a invariabilidade do valor do produto em face do aumento dos salários)

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David Ricardo (1772-1823)

Princípios de economia política e tributação

o Teoria do valor� Primeira seção, Ricardo critica Smith, particularmente a noção

de que o trabalho comandado determinava o valor e defende o trabalho contido como princípio de determinação do valor.

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trabalho contido como princípio de determinação do valor.� Expressa passagens em que concorda com Smith.

“Adam Smith, que definiu com tanta exatidão a fonte original do valor de troca, e que coerentemente teve de sustentar que todas as coisas se tornam mais ou menos valiosas na proporção do trabalho empregado para produzi-las, estabeleceu também uma outra medida-padrão de valor... Como medida-padrão ele se refere... não à quantidade de trabalho empregada na produção de cada objeto, mas à quantidade que este pode comprar no mercado, como se ambas fossem expressões equivalentes...” (Ricardo, Cap. I, Seção I)

Page 25: História do Pensamento Econômico I

David Ricardo (1772-1823)

Princípios de economia política e tributação

� Trabalho comandado é diferente de trabalho contido.� Exemplo

� 1 castor = 2 cervos � (castor: 1 dia de trabalho; cervo: meio dia de trabalho)

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� (castor: 1 dia de trabalho; cervo: meio dia de trabalho)� Mudanças na produtividade relativa (aumento da eficiência

com que o cervo é capturado)� 1 castor = 4 cervos� 1:2 → 1:4 (ainda que a quantidade de trabalho para pegar o

castor seja a mesma que antes)� Antes: era comandado o trabalho de dois cervos.� Depois: era comandado o trabalho de quatro cervos.� Lembrar de exemplo de Napoleoni no capítulo sobre Smith.

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David Ricardo (1772-1823)

Princípios de economia política e tributação

o Postulado de Ricardo: preço de qualquer bem só pode aumentar se for necessária maior quantidade de trabalho para o produzir em relação à que é necessária para produzir uma onça de ouro (propõe invariabilidade do valor dos metais preciosos

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de ouro (propõe invariabilidade do valor dos metais preciosos → âncora de suas proposições)

o Obs.: valor para Ricardo = proporção em que as mercadorias se trocam umas pelas outras.

o Valor = valor de troca.o Desinteresse pelo valor absoluto.o “Ensaio sobre Lucros”: valor dependia das dificuldade de

produção.o “Princípios”: valor = trabalho contido.

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David Ricardo (1772-1823)

Princípios de economia política e tributação

o Retoma a discussão entre valor de uso e valor de troca de Smith.

o Utilidade não estabelece valor.o Dada a utilidade, a escassez e quantidade de trabalho

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o Dada a utilidade, a escassez e quantidade de trabalho necessária à produção determinam o valor.

o Valor o Escassez: bens não reprodutíveis → estátua, quadros raros,

moedas e livros raros, vinhos especiais etc.o Trabalho contido.

o Ricardo, ao formular sua teoria do valor, pretendia estabelecer que valor e distribuição do produto eram independentes (variações salariais não afetam o valor).

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David Ricardo (1772-1823)

Princípios de economia política e tributação

o Só esta suposta independência permitiria que Ricardo sustentasse a relação inversa entre lucros e salários.

“...o fabricante da máquina aumentasse seu preço em

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“...o fabricante da máquina aumentasse seu preço em conseqüência de um aumento de salários, uma quantidade anormal de capital seria empregada na construção dessas máquinas, até que seu preço propiciasse somente a taxa corrente de lucros. Vemos, portanto, que as máquinas não aumentarão de preço em conseqüência de um aumento de salários.” (Ricardo, Cap. I)

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David Ricardo (1772-1823)

“...o fabricante da máquina aumentasse seu preço em conseqüência de um aumento de salários, uma quantidade anormal de capital seria empregada na construção dessas máquinas, até que seu preço propiciasse somente a taxa corrente de lucros. Vemos, portanto, que as máquinas não aumentarão de preço em conseqüência de um aumento de

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aumentarão de preço em conseqüência de um aumento de salários.” (Ricardo, Cap. I)

“O único efeito, pois, do desenvolvimento da riqueza sobre os preços, independentemente de todas as melhorias, tanto na agricultura como nas manufaturas, parece ser a elevação do preço das matérias-primas e do trabalho, deixando todas as demais mercadorias com seus preços originais, e a redução dos lucros gerias em razão da alta geral dos salários.” (Ricardo, “Ensaio sobre Lucros”)

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David Ricardo (1772-1823)

Princípios de economia política e tributação

o Na terceira seção do capítulo I, afirma que mesmo havendo lucro e renda da terra, o valor dependeria apenas do trabalho contido.

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“Suponhamos que, nos estágios primitivos da sociedade, o arco e as flechas do caçador tivessem o mesmo valor e a mesma durabilidade que a canoa e os instrumentos do pescador, sendo ambos produzidos com a mesma quantidade de trabalho. Em tais circunstâncias, o valor do gamo, produto de um dia de trabalho do caçador, seria exatamente igual ao valor do peixe capturado num dia de trabalho do pescador.” (Ricardo, Cap. I)

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“...o preço natural de um gamo seria de dois salmões, qualquer que fosse – grande ou pequena –a proporção do produto total destinada aos trabalhadores que o obtiveram.”

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“...sob quaisquer variações de salários e de lucros, e sejam quais forem os efeitos da acumulação de capital, enquanto for possível obter, com um dia de trabalho, a mesma quantidade de peixe e a mesma quantidade de caça, a relação natural de troca será de um gamo por dois salmões.” (Ricardo, Cap. I)

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David Ricardo (1772-1823)

Princípios de economia política e tributação

o Problema da medida invariável de valor“Duas mercadorias variam em valor relativo, e desejamos saber em qual delas a variação realmente ocorreu. Se compararmos o atual valor de uma delas com sapatos, meias, chapéus, ferro,

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atual valor de uma delas com sapatos, meias, chapéus, ferro, açúcar e todas as outras mercadorias, veremos que ela pode ser trocada exatamente pela mesma quantidade daqueles bens pela qual se trocava anteriormente. Se compararmos a outra com essas mesmas mercadorias, verificaremos que variou em relação a todas elas. Podemos, então, com grande probabilidade, inferir que a variação ocorreu nesta mercadoria e não naquelas com as quais comparamos.” (Ricardo, Cap. I)

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David Ricardo (1772-1823)

“Suponhamos que o dinheiro fosse essa mercadoria. Se um salmão valesse 1 libra e um gamo 2 libras, um gamo valeria dois salmões. Mas o gamo poderia passar a valer três salmões, se mais trabalho fosse necessário para caçá-lo, ou menos para capturar o peixe, ou, ainda, se essas duas causas operassem ao mesmo tempo. Se tivéssemos um padrão invariável,

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ao mesmo tempo. Se tivéssemos um padrão invariável, poderíamos facilmente verificar em que medida cada uma dessas causas influiu.” (Ricardo, Cap. I)

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David Ricardo (1772-1823)

“Quando o valor relativo das mercadorias varia, seria importante dispor de meios para averiguar com certeza qual delas diminuiu e qual aumentou em seu valor real. Isso só seria possível pela comparação de cada uma delas com algum padrão invariável de medida de valor que não fosse, ele mesmo, sujeito às flutuações às quais estão expostas as demais mercadorias.”

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flutuações às quais estão expostas as demais mercadorias.”

“...nem o ouro nem qualquer outra mercadoria pode ser uma medida perfeita do valor de todas as outras.” (Ricardo, Cap. I)

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David Ricardo (1772-1823)

Princípios de economia política e tributação

o Exemplo do problema da medida invariável de valor.

o Ricardo não encontrou uma medida invariável do valor, mas aceitou o ouro (o dinheiro) como esta medida (mesmo sabendo

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aceitou o ouro (o dinheiro) como esta medida (mesmo sabendo que não era totalmente adequado), supondo que o ouro era produzido com proporção média de capital e trabalho.

o Na seção IV e posteriores, admitiu que modificações na distribuição de renda podem afetar o valor.

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David Ricardo (1772-1823)

o Circunstâncias que modificam sua regra do valor (de que este é apenas determinado pela quantidade de trabalho necessária à sua produção):o 1) Diferentes combinações de capital.o 2) Diferentes graus de durabilidade do capital fixo.

HPE I - Prof. Eduardo Gonçalves36

o 3) Prazo diferente para recuperar o capital.o Conseqüências: variações salariais passam a influir no valor de troca

das mercadorias. o Bens com diferentes proporções capital fixo/capital circulante e com

capital de diferentes durabilidade terão preços diferentes, embora se empregue a mesma quantidade de trabalho direto.

o ↑salários → preços dos bens produzidos com baixa relação capital fixo/capital circulante aumentarão em relação aos que foram produzidos com maior relação ou proporção capital fixo/capital circulante.

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David Ricardo (1772-1823)

o ↑salários → ↑preços dos bens produzidos com menor razão capital-trabalho em relação aos com razão maior.

o Capital fixo/capital circulante = capital/trabalho = trabalho indireto/trabalho direto

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o Preços deixariam de ser proporcionais ao trabalho contido (violação do postulado de Ricardo).

Page 38: História do Pensamento Econômico I

David Ricardo (1772-1823)

“...em cada estágio da sociedade, as ferramentas, implementos, edificações e maquinaria empregados em diferentes atividades podem ter vários graus de durabilidade e exigir diferentes quantidades de trabalho para sua produção. Além disso, as proporções entre o capital empregado para sustentar o trabalho e o que é investido em ferramentas, maquinaria e edificações

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e o que é investido em ferramentas, maquinaria e edificações podem combinar-se de várias formas. Essa diferença no grau de durabilidade do capital fixo e as variações nas proporções em que se podem combinar os dois tipos de capital introduzem outra causa, além da maior ou menor quantidade de trabalho necessária à produção de mercadorias, das variações do valor relativo das mesmas: esta causa é o aumento ou redução do valor do trabalho.” (Ricardo, Cap. I)

Page 39: História do Pensamento Econômico I

David Ricardo (1772-1823)

“Um aumento de salários, contudo, não afetaria igualmente as mercadorias produzidas com maquinaria de desgaste rápido e as fabricadas com maquinaria de desgaste lento. Num caso, uma grande quantidade de trabalho seria continuamente transferida ao produto; no outro, a quantidade transferida seria muito pequena. Portanto, todo aumento de salários – ou, o que

HPE I - Prof. Eduardo Gonçalves39

muito pequena. Portanto, todo aumento de salários – ou, o que é a mesma coisa, toda queda nos lucros – reduzirá o valor relativo das mercadorias produzidas com capital de natureza durável, e elevará proporcionalmente o valor relativo das produzidas com capital mais perecível.” (Ricardo, Cap. I)

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David Ricardo (1772-1823)

Capital Salários Lucro Produto Taxa de Lucro Valores

I 400 200 0 600 0 1

Diferentes composições capital/trabalho em Ricardo

HPE I - Prof. Eduardo Gonçalves40

II 300 300 0 600 0 1

III 200 400 0 600 0 1

900 900 0 1800 0 3

Relações capital/trabalho:I: 400/200 = 2II: 300/300 = 1III: 200/400 = 0,5Situação inicial: lucro zeroSuposição: queda dos salários em 50%

Page 41: História do Pensamento Econômico I

David Ricardo (1772-1823)

Capital Salários Lucro Produto Taxa de Lucro Valores

I 400 100 100 600 25% 1

II 300 150 150 600 50% 1

III 200 200 200 600 100% 1

900 450 450 1800 50% 3

HPE I - Prof. Eduardo Gonçalves41

900 450 450 1800 50% 3

Capital Salários Lucro Produto Taxa de Lucro Valores

I 400 100 200 700 50% 1,17

II 300 150 150 600 50% 1

III 200 200 100 500 50% 0,83

900 450 450 1800 50% 3

(NAPOLEONI, C. O valor na ciência econômica, p. 37-38)

Page 42: História do Pensamento Econômico I

David Ricardo (1772-1823)

o Relações capital/trabalho:o I: 400/100 = 4

o Taxa de lucro = 100/400 = 0,25 o II: 300/150 = 2

o Taxa de lucro = 150/300 = 0,50o III: 200/200 = 1

o Taxa de lucro = 200/200 = 1

HPE I - Prof. Eduardo Gonçalves42

o Taxa de lucro = 200/200 = 1

o Mercadoria II tem relação capital/trabalho = média do sistema.o Mercadoria I tem relação capital/trabalho > média → taxa de lucro

< taxa geral.o Mercadoria III tem relação capital/trabalho < média → taxa de lucro

> taxa geral.o Concorrência desloca o capital dos piores investimentos (↑preços)

para melhores (↓preços) → taxa de lucro fica uniforme.

Page 43: História do Pensamento Econômico I

David Ricardo (1772-1823)

o Segunda circunstância que modifica a regra do valor de Ricardo: diferentes graus de durabilidade do capital fixo

o Efeito: aumento dos salários → aumento do valor dos bens produzidos com capital de curta duração.

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produzidos com capital de curta duração.o Dois exemplos de Hunt.o Embora tenha admitido estas influências, posteriormente ele

minimiza sua importância.

Page 44: História do Pensamento Econômico I

David Ricardo (1772-1823)

“Ao avaliar, portanto, as causas das variações no valor das mercadorias, seria errôneo omitir totalmente o efeito produzido pelo encarecimento ou barateamento do trabalho, mas seria igualmente errôneo atribuir-lhe muita importância. Assim, embora apenas ocasionalmente mencione essa causa na parte restante desta obra, considerarei todas as grandes variações que ocorrem no valor relativo das mercadorias com sendo produzidas pela

HPE I - Prof. Eduardo Gonçalves44

desta obra, considerarei todas as grandes variações que ocorrem no valor relativo das mercadorias com sendo produzidas pela maior ou menor quantidade de trabalho que, em épocas diferentes, seja necessária para produzi-las.”

“...as mercadorias... estarão sujeitas também a uma outra variação, embora menor, causada pelo aumento ou pela diminuição dos salários e dos lucros.”

Page 45: História do Pensamento Econômico I

David Ricardo (1772-1823)

Exemplo de como as taxas de lucros podem afetar o valor relativo de dois bens

o 100 trabalhadores produzem trigo em 1 anoo 100 trabalhadores produzem máquinas em 1 anoo Ambos os bens tem o mesmo valor por terem igual trabalho

HPE I - Prof. Eduardo Gonçalves45

o Ambos os bens tem o mesmo valor por terem igual trabalhoo Período de produção de 2 anos (máquina dura 2 anos).o Valor da produção de trigo em dois anos? o 200 trabalhadores.o Produção de manufaturados (envolve a produção das máquinas

e dos tecidos).� No segundo ano, há a produção de tecidos

Page 46: História do Pensamento Econômico I

David Ricardo (1772-1823)

� Valor da produção do tecido?� 200 (trabalho na produção da máquina e do tecido)� Dono das máquinas não desfruta do lucro no primeiro ano.� Valor do bem manufaturado deve exceder o valor do trigo (200

trabalhadores por ano) porque o proprietário não desfrutou do lucro no primeiro ano, reinvestindo-o no segundo ano e

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lucro no primeiro ano, reinvestindo-o no segundo ano e recebendo um lucro pelo risco e espera no negócio.

“para compensar o prazo maior que deve transcorrer até que o produto de maior valor chegue ao mercado”.

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David Ricardo (1772-1823)

Capítulo 2: Sobre a Renda da Terra

� Reafirma o que já havia dito nos “Ensaios”.� O aumento da população aumenta a necessidade de ocupar terras

menos férteis e mais distantes do mercado → ↑renda fundiária.� O aumento da renda não é causa direta da queda do lucro.� O aumento do custo salarial é que faz o lucro cair.

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� O aumento do custo salarial é que faz o lucro cair.� Os proprietários de terras são duplamente beneficiados pelo aumento

das dificuldades de produção.� Obtêm maior parcela do excedente.� Mercadoria que eles recebem (produto agrícola) possui maior valor de

troca.� Nega a segunda teoria do valor de Smith, quando diz que o trigo não

encarece por causa da renda, mas ocorre o inverso.

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David Ricardo (1772-1823)

“Na colonização de um país bem dotado de terras ricas e férteis, das quais apenas uma pequena parte necessita ser cultivada para o sustento da população, e que pode ser cultivada com o capital de que essa população dispõe, não haverá renda: ninguém pagará pelo uso da terra, enquanto ainda houver uma grande extensão não ocupada e, portanto, ao alcance de quem deseja cultivá-la.”

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portanto, ao alcance de quem deseja cultivá-la.”“Portanto, somente porque a terra não é ilimitada em quantidade nem uniforme na qualidade, e porque, com o crescimento da população, terras de qualidade inferior ou desvantajosamente situadas são postas em cultivo, a renda é paga por seu uso. Quando, com o desenvolvimento da sociedade, as terras de fertilidade secundária são utilizadas para cultivo, surge imediatamente renda sobre as de primeira qualidade: a magnitude de tal renda dependerá da diferença de qualidade daquelas duas faixas de terra.” (Ricardo, cap. 2)

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David Ricardo (1772-1823)

“Se, portanto, existisse terra fértil em quantidade muito maior do que a requerida para a produção de alimentos para uma população crescente, ou se o capital pudesse ser aplicado indefinidamente na terra antiga sem retornos decrescentes, não poderia haver elevação da renda...”

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poderia haver elevação da renda...”

“Quando a terra de qualidade inferior começa a ser cultivada, o valor de troca dos produtos agrícolas aumenta, pois torna-se necessário mais trabalho para produzi-los.” (Ricardo, Cap. II)

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David Ricardo (1772-1823)

“Portanto, a razão pela qual há aumento no valor comparativo dos produtos agrícolas é o emprego de mais trabalho para produzir a última porção obtida e não o pagamento de renda ao proprietário da terra. O valor do trigo é regulado pela quantidade de trabalho aplicada à sua produção naquela qualidade de

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de trabalho aplicada à sua produção naquela qualidade de terra, ou com aquela porção de capital que não paga renda. O trigo não encarece por causa do pagamento da renda, ao contrário, a renda é paga porque o trigo torna-se mais caro, e, como foi observado, nenhuma redução ocorreria no preço do trigo, mesmo que os proprietários de terras renunciassem à totalidade de suas rendas.”“...a renda não é parte componente do preço das mercadorias.” (Ricardo, Cap. II)

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David Ricardo (1772-1823)

Capítulo 5: Sobre os Salários

o Semelhanças com Smith: noção de fundo salarial x número de trabalhadores.

“O trabalho, como todas as outras coisas que são comparadas e vendidas e cuja quantidade pode ser aumentada ou

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“O trabalho, como todas as outras coisas que são comparadas e vendidas e cuja quantidade pode ser aumentada ou diminuída, tem seu preço natural e seu preço de mercado. O preço natural do trabalho é aquele necessário para permitir que os trabalhadores, em geral, subsistam e perpetuem sua descendência, sem aumento ou diminuição.”

“O preço de mercado do trabalho é aquele realmente pago por este, como resultado da interação natural das proporções entre a oferta e a demanda.”

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David Ricardo (1772-1823)

“Quando o preço de mercado do trabalho excede o preçonatural, a condição do trabalhador é próspera e feliz, e ele podedesfrutar de grande quantidade de bens de primeiranecessidade e dos prazeres da vida, e, portanto, sustentar umafamília saudável e numerosa. Quando, entretanto, pelo estímulo

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que os altos salários dão ao aumento populacional, cresce onúmero de trabalhadores, os salários baixam outra vez até seupreço natural, às vezes, por um efeito de reação, até abaixodele.”

o Destaca a diferença entre aumento salarial e o aumento derenda fundiária à medida que aumentam as dificuldades deprodução.

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David Ricardo (1772-1823)

“Existe, contudo, uma diferença essencial entre a elevação da renda e a dos salários. O aumento no valor monetário da renda é acompanhado por uma parcela maior do produto: cresce não apenas a renda monetária do proprietário da terra, mas também sua renda em trigo. (...). A sorte do trabalhador será menos favorável. É verdade que ele

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trabalhador será menos favorável. É verdade que ele receberá um salário monetário maior, mas seu salário em trigo será reduzido. (...). Se o preço do trigo aumentar 10%, os salários sempre crescerão menos, e a renda sempre mais do que 10%. Assim, a situação do trabalhador tenderá a piorar, e a do proprietário de terras, sempre a melhorar.” (Ricardo, Cap. V)

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David Ricardo (1772-1823)

“Se, portanto, todas as mercadorias aumentassem de preço, o ouro não viria de fora para comprar essas mercadorias mais caras, mas fluiria para o exterior para ser empregado com vantagem na compra dos produtos estrangeiros comparativamente mais baratos. (...). Todas as mercadorias não podem subir ao mesmo tempo, sem que haja um

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não podem subir ao mesmo tempo, sem que haja um acréscimo na quantidade de dinheiro.” (Ricardo, Cap. V)

o Razão para reafirmar sua tese de que com aumento de salários os preços não sobem: TQM e fluxos internacionais de moeda metálica.

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David Ricardo (1772-1823)

Capítulo 6: Sobre os Lucros

o Relação inversa com os salários.o Tendência de queda da taxa de lucro.o contra-tendências:

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o contra-tendências:o Aperfeiçoamento da maquinaria.o Avanços na ciência da agricultura.o Importação de grãos.

o Redução do lucro faz o ritmo da acumulação se reduzir (diminuem fonte e estímulo).

o Redução da acumulação é o resultado da exaustão dos recursos naturais: “estado estacionário”.

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David Ricardo (1772-1823)

“A tendência natural dos lucros, portanto, é diminuir, pois, com o desenvolvimento da sociedade e da riqueza, a quantidade adicional de alimentos requerida se obtém com o sacrifício de mais e mais trabalho. Essa tendência, como se os lucros obedecessem à lei da gravidade, é felizmente contida, a

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intervalos que se repetem, pelos aperfeiçoamentos das maquinarias usadas na produção dos gêneros de primeira necessidade, assim como pelas descobertas da ciência da agricultura...” (Ricardo, Cap. VI)

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Capítulo 7: Sobre o Comércio Exterior

o Importação de gêneros de primeira necessidade a preços baixos → aumento dos lucros.

“...a taxa de lucros só pode se elevar por uma redução dos

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“...a taxa de lucros só pode se elevar por uma redução dossalários, e que estes só podem cair permanentemente emconseqüência de uma queda do preço dos gêneros de primeiranecessidade... Se, portanto, por uma ampliação do comércioexterior, ou devido a melhoramentos na maquinaria, osalimentos e os bens necessários ao trabalhador puderemchegar ao mercado com preços reduzidos, os lucrosaumentarão.” (Ricardo, cap. 7)

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“Se, em vez de cultivar nosso próprio trigo ou de fabricar as roupas e outros produtos necessários ao trabalhador, descobrirmos um novo mercado do qual possamos abastecer-nos de todas essas mercadorias a um preço mais baixo, os salários diminuirão e os lucros aumentarão. Mas se as mercadorias obtidas a um preço mais baixo pela ampliação do comércio exterior ou pelos aperfeiçoamentos da maquinaria, forem artigos consumidos exclusivamente pelos ricos, nenhuma

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comércio exterior ou pelos aperfeiçoamentos da maquinaria, forem artigos consumidos exclusivamente pelos ricos, nenhuma alteração ocorrerá na taxa de lucro.” (Ricardo, cap. 7)

o Teoria das vantagens comparativaso País deve produzir bens nos quais sua desvantagem é

menor relativamente, não em termos absolutos.o Diferenças comparativas, ao invés de absolutas, no custo

como base para especialização e troca.

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David Ricardo (1772-1823)

“A Inglaterra pode estar em tal situação que, necessitando do trabalho de 100 homens por ano para fabricar tecidos, poderia, no entanto, precisar do trabalho de 120 durante o mesmo período, se tentasse produzir vinho. (...). Em Portugal, a produção de vinho pode requerer somente o trabalho de 80 homens por ano, enquanto a fabricação de tecido necessita do emprego de 90 homens durante o

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tecido necessita do emprego de 90 homens durante o mesmo tempo. (...). Embora Portugal pudesse fabricar tecidos com o trabalho de 90 homens, deveria ainda assim importá-los de um país onde fosse necessário o emprego de 100 homens, porque lhe seria mais vantajoso aplicar seu capital na produção de vinho, pelo qual poderia obter mais tecido na Inglaterra do que se desviasse parte de seu capital do cultivo da uva para a manufatura daquele produto.” (Ricardo, Cap. VII)

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Capítulo 7: Sobre o Comércio Exterior

Vinho Tecido Pv/Pt Pt/Pv

Portugal 80 90 0,88 1,13

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Inglaterra 120 100 1,20 0,83

o Portugal tem vantagem absoluta nos dois bens: produz os dois a custo menor.o Portugal tem vantagem relativa em vinho: produz vinho a custo

comparativamente menor que tecidos.o Inglaterra pode obter mais vinho importando de Portugal e este mais tecido da

Inglaterra do que se dedicar à sua produção.

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David Ricardo (1772-1823)

Tributação

o Tributos só poderiam recair sobre rendas e lucros, dado que o salário era de subsistência.

o Solução teoricamente ótima: tributação da renda fundiária, tendo em vista o papel desempenhado pelo lucro na

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tendo em vista o papel desempenhado pelo lucro na acumulação de capital.

o Por razões políticas, Ricardo defendeu base tributária mais ampla:

o Renda fundiária.o Salários (logo, indiretamente lucros).o Juros sobre títulos públicos.

o Contraria tendência clássica de defesa de impostos indiretos (evitava fraudes e evasões).

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David Ricardo (1772-1823)

Tributação

o Dívida pública cresceu muito por causa das guerras napoleônicas.o Era favorável ao seu pagamento.o Foi o primeiro a formular a idéia que seria mais tarde denominada de “Teorema

da Equivalência Ricardiana” (equivalência entre impostos e dívida como meios de financiar o gasto público).Teorema da Equivalência Ricardiana:

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o Teorema da Equivalência Ricardiana:o Para um dado montante de despesas públicas, a substituição de impostos

por dívida não gera efeito algum sobre a procura global e sobre a taxa de juros.

o A dívida adia os impostos para o futuro.o Os consumidores (que são também contribuintes) aumentariam sua

poupança (adquirem títulos públicos emitidos), antecipando a subida dos impostos futuros.

o Como a poupança privada aumenta face ao déficit público, a taxa de juro fica inalterada.

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David Ricardo (1772-1823)

Tributação

o Nome “Equivalência Ricardiana” se deve a Buchanan (1976) que atribui a Ricardo uma idéia exposta por Barro (1974) e o censura por não citar Ricardo no seu artigo.

o Embora formule a noção, ele também nega a sua validade de fato.o Contribuintes sofrem de ilusão fiscal e são enganados pelo método

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o Contribuintes sofrem de ilusão fiscal e são enganados pelo método de financiamento.

o Financiamento por dívida: contribuinte subestima suas responsabilidades fiscais (julga que está mais rico que de fato está).

o Dívida pública tinha impacto negativo sobre a poupança (conseqüentemente, sobre investimentos privados).

o Preferia a tributação à dívida pública como mecanismo de financiamento do esforço de guerra.

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David Ricardo (1772-1823)

Impactos da Introdução da Maquinaria

o Ricardo inicialmente aceitou a “teoria da compensação”.o Progresso tecnológico gera desemprego num primeiro momento no

setor em que ele ocorre e na economia como um todo.

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o Num segundo momento, novos empregos são gerados em outros setores

o Há redução dos custos em que há melhoria tecnológica e queda nos preços dos produtos, o que aumenta a renda real da economia e gera aumento de demanda. Isso também gera novos empregos.

o Na terceira edição de sua obra, ele abandona a teoria da compensação, adotando a idéia de que a introdução da maquinaria num setor pode implicar redução de emprego na economia como um todo.

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David Ricardo (1772-1823)

Impactos da Introdução da Maquinaria

o Explicou através de exemplo aritmético.o Raciocínio de Ricardo:

o Capitalista almeja aumento dos lucros, com a nova máquina.o Produto líquido da sociedade é composto por renda fundiária e lucro.o Aumento do lucro do empresário = aumento de renda líquida da sociedade.

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o Aumento do lucro do empresário = aumento de renda líquida da sociedade.o É preciso empregar certo número de trabalhadores na produção da

maquinaria.o Se estes trabalhadores tiverem sido transferidos da produção de bens de

subsistência, haverá menor produção de bens de subsistência.o Há redução da renda bruta da sociedade (excedente mais salários).o O número de trabalhadores que a economia pode manter se reduz.o Emprego decresce.

o Ricardo desafiou a visão otimista do quadro teórico clássico, em que a teoria da compensação tinha importante papel.

o Após sua morte, a teoria da compensação passou novamente a prevalecer.