maria vem com as outras (amazônia) - nº 1

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Este folheto chega junto às mulheres borboletas trazendo as informações sobre tudo o que ocorreu no I módulo do Programa de Formação Feminismo e Agroecologia (PFFA) na Amazônia, realizado no período de 07 a 09 de maio de 2014 em Belém do Pará e executado pela Rede de Mulheres Empreendedoras Rurais da Amazônia (RMERA) e pelo GT Mulheres da ANA. Participaram mulheres do campo, da floresta e da cidade, agricultoras, pescadoras, agroextrativistas e educadoras dos nove estados da Amazônia Legal: Pará, Amapá, Maranhão, Tocantins, Mato Grosso, Roraima, Rondônia, Acre e Amazonas. Maria vem com as outras Maria vem com as outras Nº 1, julho de 2014 – Informativo do Projeto Mulheres e Agroecologia em Rede Rede de Produtoras Rurais do Nordeste Esta publicação foi produzida como o apoio da União Européia. O conteúdo desta publicação é de exclusiva responsabilidade do Centro de Tecnologias Alternativas -CTA-ZM, e não pode , em caso algum, ser tomado como expressão das posições da União Européia. Mulheres e Agroecologia em Rede Mulheres e Agroecologia em Rede O PFFA é um dos programas de formação e atividades que será executado pelo projeto Mulheres e Agroecologia em Rede, em parceria com várias organizações que desenvolvem trabalhos com mulheres e agroecologia em todo o Brasil: GT Mulheres da Articulação Nacional de Agroecologia ANA, Rede de Mulheres Empreendedoras Rurais da Amazônia RMERA, Rede de Produtoras Rurais do Nordeste, Movimento de Mulheres Camponesas, GT Gênero e Agroecologia, Movimento de Mulheres da Zona da Mata e Leste de Minas Gerais e Centro de Tecnologias Alternativas da Zona da Mata. A convergência entre o feminismo e o movimento agroecológico foi tratado neste módulo, resgatando a importância das mulheres em romper com o agronegócio como modelo de produção-distribuição- consumo, construindo novas estratégias que fortaleçam o acesso aos alimentos saudáveis e melhoria da segurança alimentar na Amazônia. Esse 1º Módulo teve como objetivo abordar questões que estruturam as desigualdades de gênero, raça e classe, trazendo o Feminismo e Agroecologia como estratégias para o enfrentamento ao modelo de desenvolvimento atual baseado no agronegócio. E assim damos início ao processo de formação 2014, numa perspectiva de fortalecimento das organizações estaduais das mulheres rurais e da sua articulação em rede na Amazônia. Os trabalhos foram iniciados com uma roda de conversa sobre Feminismo e Agroecologia. Cada participante se desenhou (caricatura) e escreveu ao lado de seu desenho dores ou discriminações que já sofreu em algum momento de sua vida, relacionados às desigualdades sociais, de gênero e de raça. A partir dessa dinâmica, iniciou-se o debate sobre as desigualdades por ser mulher, pobre e negra aprofundando o debate sobre a história do feminismo, destacando a relação da luta das mulheres e seu fazer agroecológico, considerando suas experiências de vida na agricultura familiar. Caderneta agroecológica Para anotar e não esquecer! Depois de identificar tudo que é produzido pela mulher, é hora de anotar na caderneta agroecológica tudo que é vendido, consumido, trocado, doado anotando tim, tim por tim, tim. A caderneta é um dos instrumentos adotados pelo Projeto Mulheres e Agroecologia em Rede para dar visibilidade à produção das mulheres. Desta forma, irão perceber que seu trabalho não é simplesmente uma ajuda, mas ao contrário este trabalho tem uma grande importância e precisa ser valorizado pelas mulheres e pela sociedade. Algumas participantes inclusive relataram que já fazem práticas parecidas como esta, de anotar tudo sobre seu trabalho.Através de minhas anotações descobri que cheguei a quase R$70.000,00 de minhas produções por ano. Alcinda Cadete RR Para refletir e debater: Como você percebe as desigualdades entre homens e mulheres em sua comunidade? Quais sãos as principais causas das desigualdades? Quais sãos as principais dificuldades para a agroecologia e o extrativismo? Quais são as estratégias que vêm sendo construídas em sua comunidade, grupo, associação ou movimento para enfrentar as dificuldades? E com os laços fortalecidos as mulheres borboletas saíram do Módulo com o compromisso de realizar atividades de multiplicação e socialização de conhecimentos. Por isso, o objetivo é continuar nesse processo de formação para que os grupos de mulheres possam cada vez mais avançar, empoderadas em suas organizações, em suas comunidades e territórios. Já temos a data do II módulo que será em 20, 21 e 22 de agosto de 2014, não podemos esquecer. O informativo Maria vem com as outras é uma publicação do Centro de Tecnologias Alternativas da Zona da Mata. Endereço: Sítio Alfa-Violeira, Zona Rural, Viçosa/MG cx.pt 128 CEP: 36570-000 Tel: (31) 3892 2000 - E- mail:[email protected] / site: www.ctazm.org.br. Texto: Claudia Pojo, Graça Costa, Liliam Telles, Solange Aparecida, Siumara Santos, Vanessa Schottz, Aldebaran Moura. Arte gráfica: Oswaldo Santana. Revisão: Angélica Almeida e Sandra Cunha. Tiragem: 1000 exemplares.

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Este informativo chega junto às mulheres trazendo as informações sobre tudo o que ocorreu no I módulo do Programa de Formação Feminismo e Agroecologia (PFFA) na Amazônia, realizado no período de 07 a 09 de maio de 2014 em Belém do Pará e executado pela Rede de Mulheres Empreendedoras Rurais da Amazônia (RMERA) e pelo GT Mulheres da ANA.

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  • Este folheto chega junto s mulheres borboletas trazendo as informaes sobre tudo o que ocorreu no I mdulo do Programa de Formao Feminismo e Agroecologia (PFFA) na Amaznia, realizado no perodo de 07 a 09 de maio de 2014 em Belm do Par e executado pela Rede de Mulheres Empreendedoras Rurais da Amaznia (RMERA) e pelo GT Mulheres da ANA. Participaram mulheres do campo, da floresta e da cidade, agricultoras, pescadoras, agroextrativistas e educadoras dos nove estados da Amaznia Legal: Par, Amap, Maranho, Tocantins, Mato Grosso, Roraima, Rondnia, Acre e Amazonas.

    Maria vem com as outrasMaria vem com as outrasN 1, julho de 2014 Informativo do Projeto Mulheres e Agroecologia em Rede

    Rede de

    Produtoras

    Rurais do

    Nordeste

    Esta publicao foi produzida como o apoio da Unio Europia. O contedo desta publicao de exclusiva responsabilidade do Centro de Tecnologias Alternativas -CTA-ZM, e no pode , em caso algum, ser tomado como expresso das posies da Unio Europia.

    Mulherese

    Agroecologia

    em Rede

    Mulherese

    Agroecologia

    em Rede

    O PFFA um dos programas de formao e atividades que ser executado pelo projeto Mulheres e Agroecologia em Rede, em parceria com vrias organizaes que desenvolvem trabalhos com mulheres e agroecologia em todo o Brasil: GT Mulheres da Articulao Nacional de Agroecologia ANA, Rede de Mulheres Empreendedoras Rurais da Amaznia RMERA, Rede de Produtoras Rurais do Nordeste, Movimento de Mulheres Camponesas, GT Gnero e Agroecologia, Movimento de Mulheres da Zona da Mata e Leste de Minas Gerais e Centro de Tecnologias Alternativas da Zona da Mata.

    A convergncia entre o feminismo e o movimento agroecolgico foi tratado neste mdulo, resgatando a importncia das mulheres em romper com o agronegcio como modelo de produo-distribuio-consumo, construindo novas estratgias que fortaleam o acesso aos alimentos saudveis e melhoria da segurana alimentar na Amaznia.

    Esse 1 Mdulo teve como objetivo abordar questes que estruturam as desigualdades de gnero, raa e classe, trazendo o Feminismo e Agroecologia como estratgias para o enfrentamento ao modelo de desenvolvimento atual baseado no agronegcio. E assim damos incio ao processo de formao 2014, numa perspectiva de fortalecimento das organizaes estaduais das mulheres rurais e da sua articulao em rede na Amaznia.

    Os trabalhos foram iniciados com uma roda de conversa sobre Feminismo e Agroecologia. Cada participante se desenhou (caricatura) e escreveu ao lado de seu desenho dores ou discriminaes que j sofreu em algum momento de sua vida, relacionados s desigualdades sociais, de gnero e de raa. A partir dessa dinmica, iniciou-se o debate sobre as desigualdades por ser mulher, pobre e negra aprofundando o debate sobre a histria do feminismo, destacando a relao da luta das mulheres e seu fazer agroecolgico, considerando suas experincias de vida na agricultura familiar.

    Caderneta agroecolgica

    Para anotar e no esquecer! Depois de identificar tudo que produzido pela mulher, hora de anotar na caderneta agroecolgica tudo que vendido, consumido, trocado, doado anotando tim, tim por tim, tim. A caderneta um dos instrumentos adotados pelo Projeto Mulheres e Agroecologia em Rede para dar visibilidade produo das mulheres. Desta forma, iro perceber que seu trabalho no simplesmente uma ajuda, mas ao contrrio este trabalho tem uma grande importncia e precisa ser valorizado pelas mulheres e pela sociedade. Algumas participantes inclusive relataram que j fazem prticas parecidas como

    esta, de anotar tudo sobre seu trabalho.Atravs de minhas anotaes descobri que cheguei a quase R$70.000,00 de minhas produes por ano. Alcinda Cadete RR

    Para refletir e debater:

    Como voc percebe as desigualdades entre homens e mulheres em sua comunidade?Quais sos as principais causas das desigualdades? Quais sos as principais dificuldades para a agroecologia e o extrativismo? Quais so as estratgias que vm sendo construdas em sua comunidade, grupo, associao ou movimento para enfrentar as dificuldades?

    E com os laos fortalecidos as mulheres borboletas saram do Mdulo com o compromisso de realizar atividades de multiplicao e socializao de conhecimentos. Por isso, o objetivo continuar nesse processo de formao para que os grupos de m u l h e r e s p o s s a m c a d a ve z m a i s a va n a r, empoderadas em suas organizaes, em suas comunidades e territrios. J temos a data do II mdulo que ser em 20, 21 e 22 de agosto de 2014, no podemos esquecer.

    O informativo Maria vem com as outras uma publicao do Centro de Tecnologias Alternativas da Zona da Mata. Endereo: Stio Alfa-Violeira, Zona Rural, Viosa/MG cx.pt 128 CEP: 36570-000 Tel: (31) 3892 2000 - E-mail:[email protected] / site: www.ctazm.org.br. Texto: Claudia Pojo, Graa Costa, Liliam Telles, Solange Aparecida, Siumara Santos, Vanessa Schottz, Aldebaran Moura. Arte grfica: Oswaldo Santana. Reviso: Anglica Almeida e Sandra Cunha. Tiragem: 1000 exemplares.

  • Nesse processo de transio agroecolgica foi debatido com as participantes a importncia do saber da agricultura familiar camponesa, das(os) agroextrativistas, comunidades quilombolas e indgenas que vem desenvolvendo a agroecologia na Amaznia. Atravs da produo coletiva, das trocas e relaes de reciprocidade, dos sistemas agroflorestais com a valorizao dos produtos nativos da regio, recuperando reas degradadas, margens de rios, igaraps e diversificando os quintais com espcies de frutferas e essncias florestais amaznicas.

    O Patriarcado um sistema social de dominao masculina nas esferas polticas, sociais, culturais e econmicas, que exclui e discrimina as mulheres. pautado na crena de uma superioridade masculina, na qual as mulheres devem ser submissas e vistas como objetos de satisfao sexual dos homens, reprodutoras de herdeiros e da fora de trabalho. Impe uma rgida diviso sexual do trabalho: as mulheres ficam confinadas ao mundo domstico e os homens monopolizam o mundo pblico. O patriarcado possibilita ao homem o controle da propriedade, da renda da famlia, do trabalho e da mobilidade da mulher e o destino dos filhos.O Capitalismo tem se estruturado como modo de produo dominante, baseando-se na apropriao e concentrao dos meios de produo (terra, gua, minrios, mquinas, fbricas, tecnologias entre outros), e na explorao da fora de trabalho. Como resultado, acumula riquezas para poucos e pobreza para muitos, criando e reforando condies de desigualdades de gnero, raa e classe nessa sociedade. O capitalismo se apropriou da condio de dominao masculina (patriarcado) para explorar o trabalho das mulheres. Por isso, normalmente o trabalho das mulheres menos valorizado, os salrios so menores, o que acarreta a uma dupla ou tripla jornada de trabalho (trabalho remunerado fora, em casa e de cuidados com a famlia). No campo, o trabalho das mulheres visto como ajuda, o que o torna invisvel. O trabalho domstico e de cuidados visto como papel da mulher, tendo que ser realizado por amor. Isso refora uma condio de submisso das mulheres, dificultando o acesso produo, comercializao e s polticas pblicas.

    O Patriarcado e o Capitalismo na vida das mulheres

    A palavra feminismo tem origem francesa e vem da palavra femme que significa mulher. Feminismo pode ser ento compreendido como tudo aquilo que diz respeito autonomia das mulheres. Porm, hoje, o feminismo uma teoria que vem analisar criticamente a sociedade capitalista e a situao das mulheres.

    Estuda as causas das desigualdades e opresso das mulheres e luta pela garantia dos direitos, atravs dos movimentos de mulheres e feministas visando transformao da sociedade e construo de novas relaes entre homens e mulheres, mulheres e mulheres. Para alm das relaes humanas, as relaes com o meio ambiente e a sociobiodiversidade no planeta Terra, trazem para o movimento feminista uma misso ampla na luta pela garantia do direito vida com dignidade em especial a todas as mulheres. Acima de tudo, o feminismo tambm uma prtica social, uma conduta, uma posio nossa, das mulheres, para denunciar e para lutar em defesa dos direitos e de um modo de vida que busca superar todos os nveis de desigualdades existentes na sociedade. Podemos dizer que o feminismo a organizao das mulheres na sociedade fazendo a luta por direitos, por igualdade e respeito s diferenas de raa, gnero e etnia, por justia ambiental entre outros, sempre enfrentando as dominaes de poder e injustias da sociedade patriarcal e capitalista. O feminismo vem transformando o mundo para mudar a vida das mulheres.

    Movimento Feminista

    Sendo o feminismo um movimento que congrega vrios movimentos sociais, grupos e movimentos de mulheres, sindicatos, partidos, universidades, pesquisadoras(es), redes e fruns, no poderia deixar de ter conflitos e alianas, afinal um espao de construo coletiva e luta por direitos, assim busca aprender a conviver com as diferenas de pensamento, prticas e posies polticas. No feminismo o que nos une so as lutas por liberdade, igualdade e autonomia das mulheres. justamente a prtica democrtica de saber conviver e respeitar as diferenas que fortalece a luta das mulheres.Mulheres do campo, trabalhadoras rurais, indgenas, ribeirinhas, quilombolas, negras, muitas se encontram em outros espaos e movimentos como, por exemplo, na ANA - Articulao Nacional de Agroecologia, na RMERA buscando garantir outra agricultura, com respeito sociobiodiversidade, com respeito vida, que garanta a segurana alimentar de suas famlias, e os espaos de auto organizao das mulheres. a prtica da Agroecologia que vai para alm do cultivo da roa, da pesca, do extrativismo, do artesanato e que vem transformando o mundo nas relaes sociais de gnero, raa e etnia como uma viso cosmo poltica.

    Para debater e refletir

    Quais so as lutas do movimento que voc participa?Quais so as lutas do movimento de mulheres que voc conhece?Estas lutas so articuladas com outros movimentos e lutas? Quais?O que podemos fazer para fortalecer o movimento feminista na nossa regio e na nossa rede?

    C o m o o b j e t i vo d e va l o r i z a r e d a r visibilidade produo e ao trabalho da m u l h e r, f o i c o n s t r u d o o M a p a d a Sociobiodiversidade. Nele cada uma retratou a sua propriedade com toda a diversidade existente, como prtica de uma agricultura familiar e agroecolgica com respeito vida.

    Mapa da Sociobiodiversidade

    As mulheres trouxeram para a roda de conversa seus mapas e as prticas da agroecologia, que a prtica da agricultura com princpios ecolgicos, que conserva os recursos naturais e respeita todo tipo de vida no planeta terra, transformando o mundo nas relaes sociais de gnero, raa

    e etnia. A agroecologia a mudana de paradigmas que rompe com todo tipo de violncia, desvalorizao e invisibilidade do trabalho das mulheres.

    A agroecologia potencializa os conhecimentos tradicionais dos povos da floresta, dos ribeirinhos, dos indgenas, dos quilombolas que leva em conta todo ciclo da natureza. Constri-se

    outra forma de pensar o mundo que j , em si, um processo transformador, libertrio e recheado de inovao.

    Agroecologia, Agricultura Sustentvel

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