maria vem com as outras (região sudeste) - nº 3

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A formatura das participantes foi celebrada com muita dança, música e poesia. O grupo de estudos corporais integrais e integrados à agroecologia, Micorrizas, encantou a todas/os com a sua apresentação. Já as Danças Circulares, facilitadas por Rubens Calegari, trouxeram o resgate de costumes antigos. “A ciranda nos lembrou do tempo em que a gente era criança. Que bom seria se hoje as músicas fossem assim”, elogiou a agricultora de Vargem Grande, Cristina dos Santos. Foi feita uma dinâmica em que as agricultoras e técnicas recordaram as atividades que aconteceram desde o primeiro módulo, a fim de avaliar o PFFA e criar estratégias para o prosseguimento das atividades nos municípios. É muito importante criarmos metodologias de avaliação das atividades, cursos e oficinas que realizamos, pois possibilita o aperfeiçoamento do trabalho, a partir da escuta do coletivo. Ana Zilda Coutinho, a Ana do Mel, comenta o despertar gerado ao longo das formações: “Eu não tinha ideia do quão grave é o problema das mulheres. A gente sabe que as mulheres passam por violência, mas eu não percebia que era tão sério assim. Fiquei avaliando o que eu ensino para os meus filhos e sei que não é um trabalho que parou, é um trabalho que continua”. Parabenizamos todas vocês que participaram dessa formação! Acreditamos que estamos mais fortalecidas e organizadas para contribuirmos com o empoderamento e libertação das mulheres. A articulação a nível local, regional, estadual e nacional também se fortaleceu nesse período através da articulação com espaços representativos de mulheres, como os Grupos de Trabalhos Gênero e Agroecologia, Mulheres da Articulação Nacional de Agroecologia e Mulheres das Articulações Estaduais. De fato, o trabalho do “Mulheres e Agroecologia em Rede” continua! Na próxima etapa do projeto a nível Sudeste vão acontecer os módulos do Programa de Formação em Gestão de Empreendimentos Econômicos (PFG), voltados para grupos produtivos de mulheres. O curso busca qualificar empreendimentos econômicos populares e seus assessores, viabilizando a sustentabilidade das iniciativas. Maria vem com as outras Maria vem com as outras Nº 3, abril de 2015 – Informativo do Projeto Mulheres e Agroecologia em Rede Rede de Produtoras Rurais do Nordeste Esta publicação foi produzida como o apoio da União Européia. O conteúdo desta publicação é de exclusiva responsabilidade do Centro de Tecnologias Alternativas -CTA-ZM, e não pode , em caso algum, ser tomado como expressão das posições da União Européia. Mulheres e Agroecologia em Rede Mulheres e Agroecologia em Rede 1 4 Maria, venha com as outras! Acompanhe o nosso trabalho nas redes sociais: MULHERES E AGROECOLOGIA EM REDE MULHERESEAGROECOLOGIA.BLOGSPOT.COM Olá, companheiras! Esse é o nosso terceiro “Maria vem com as outras”, fruto do último módulo do Programa de Formação Feminismo e Agroecologia (PFFA) da Região Sudeste. Nossa turma contou com 30 agriculturas e técnicas das regiões do Vale do Jequitinhonha, Norte de Minas, Rio Doce, Leste de Minas, Região Metropolitana de Belo Horizonte, São Paulo, Rio de Janeiro e Extremo Sul da Bahia. Vamos dar destaque às principais discussões realizadas e metodologias desenvolvidas. Aproveitem esse material para realização das atividades de multiplicação em suas comunidades e também sempre que precisarem realizar trabalhos com grupos de mulheres. Boa leitura! Celebração de Formatura Eu quero respirar, eu quero é viver. A agroecologia vamos multiplicar Se não plantar não nasce Se só comer não dá A terra é da boa pra mulherada cultivar Cadê a couve que estava aqui? Dona Juju vendeu O tomate onde está? Dona Maria comeu A caderneta agroecólogica nos convenceu E até a minha renda só cresceu Cadê o frango que estava aqui? Cristina vendeu O ovo da galinha? Dona Julia deu A caderneta boa onde é que está? Nas mãos da produtora pra seu produto anotar. (Paródia das agricultoras em homenagem à Caderneta Agroecológica) O informativo “Maria vem com as outras” é uma publicação do Centro de Tecnologias Alternativas da Zona da Mata. Endereço: Sítio Alfa-Violeira, Zona Rural, Viçosa/MG – cx.pt 128 CEP: 36570-000 – Tel: (31) 3892 2000 - E-mail:[email protected] / site: www.ctazm.org.br. Texto: Nina Pinheiro. Revisão: Angélica Almeida e Raynan Nunes. Arte gráfica: Oswaldo Santana e Raynan Nunes. Tiragem: 1000 exemplares.

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  • A formatura das participantes foi celebrada com muita dana, msica e poesia. O grupo de estudos corporais integrais e integrados agroecologia, Micorrizas, encantou a todas/os com a sua apresentao. J as Danas Circulares, facilitadas por Rubens Calegari, trouxeram o resgate de costumes antigos. A ciranda nos lembrou do tempo em que a gente era criana. Que bom seria se hoje as msicas fossem assim, elogiou a agricultora de Vargem Grande, Cristina dos Santos. Foi feita uma dinmica em que as agricultoras e tcnicas recordaram as atividades que aconteceram desde o primeiro mdulo, a fim de avaliar o PFFA e criar estratgias para o prosseguimento das atividades nos municpios. muito importante criarmos metodologias de avaliao das atividades, cursos e oficinas que realizamos, pois possibilita o aperfeioamento do trabalho, a partir da escuta do coletivo. Ana Zilda Coutinho, a Ana do Mel, comenta o despertar gerado ao longo das formaes: Eu no tinha ideia do quo grave o problema das mulheres. A gente sabe que as mulheres passam por violncia, mas eu no percebia

    que era to srio assim. Fiquei avaliando o que eu ensino para os meus filhos e sei que no um trabalho que parou, um trabalho que continua.Parabenizamos todas vocs que participaram dessa formao! Acreditamos que estamos mais fortalecidas e organizadas para c o n t r i b u i r m o s c o m o empoderamento e libertao das mulheres. A articulao a nvel local, regional, estadual e nacional tambm se fortaleceu nesse perodo atravs da articulao com espaos representativos de mulheres, como os Grupos de Trabalhos Gnero e Agroecologia,

    Mulheres da Articulao Nacional de Agroecologia e Mulheres das Articulaes Estaduais. De fato, o trabalho do Mulheres e Agroecologia em Rede continua! Na prxima etapa do projeto a nvel Sudeste vo acontecer os mdulos do Programa de Formao em Gesto de Empreendimentos Econmicos (PFG), voltados para grupos produtivos de mulheres. O curso busca qualificar empreendimentos econmicos populares e seus assessores, viabilizando a sustentabilidade das iniciativas.

    Maria vem com as outrasMaria vem com as outrasN 3, abril de 2015 Informativo do Projeto Mulheres e Agroecologia em Rede

    Rede de

    Produtoras

    Rurais do

    Nordeste

    Esta publicao foi produzida como o apoio da Unio Europia. O contedo desta publicao de exclusiva responsabilidade do Centro de Tecnologias Alternativas -CTA-ZM, e no pode , em caso algum, ser tomado como expresso das posies da Unio Europia.

    Mulherese

    Agroecologia

    em Rede

    Mulherese

    Agroecologia

    em Rede

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    Maria, venha com as outras!

    Acompanhe o nosso trabalho nas redes sociais:

    MULHERES E AGROECOLOGIA EM REDE MULHERESEAGROECOLOGIA.BLOGSPOT.COM

    Ol, companheiras! Esse o nosso terceiro Maria vem

    com as outras, fruto do ltimo mdulo do Programa de Formao

    Feminismo e Agroecologia (PFFA) da Regio Sudeste. Nossa turma contou

    com 30 agriculturas e tcnicas das regies do Vale do Jequitinhonha,

    Norte de Minas, Rio Doce, Leste de Minas, Regio Metropolitana de Belo Horizonte,

    So Paulo, Rio de Janeiro e Extremo Sul da Bahia. Vamos dar destaque s principais

    discusses realizadas e metodologias desenvolvidas. Aproveitem esse material para

    realizao das atividades de multiplicao em suas comunidades e tambm

    sempre que precisarem realizar trabalhos com grupos de mulheres.

    Boa leitura!

    Celebrao de Formatura

    Eu quero respirar, eu quero viver.A agroecologia vamos multiplicar

    Se no plantar no nasceSe s comer no d

    A terra da boa pra mulherada cultivarCad a couve que estava aqui?

    Dona Juju vendeuO tomate onde est?

    Dona Maria comeuA caderneta agroeclogica nos convenceu

    E at a minha renda s cresceuCad o frango que estava aqui?

    Cristina vendeuO ovo da galinha? Dona Julia deu

    A caderneta boa onde que est?Nas mos da produtora pra seu produto anotar.

    (Pardia das agricultoras em homenagem Caderneta Agroecolgica)

    O informativo Maria vem com as outras uma publicao do Centro de Tecnologias Alternativas da Zona da Mata. Endereo: Stio Alfa-Violeira, Zona Rural, Viosa/MG cx.pt 128 CEP: 36570-000 Tel: (31) 3892 2000 - E-mail:[email protected] / site:

    www.ctazm.org.br. Texto: Nina Pinheiro. Reviso: Anglica Almeida e Raynan Nunes. Arte grfica: Oswaldo Santana e Raynan Nunes. Tiragem: 1000 exemplares.

  • Rdio Prosa Boa e os Causos da Caderneta Agroecolgica

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    A dinmica da rdio pode ser realizada de forma simples e adaptada s realidades de vocs. Serve como um canal de dilogo com a comunidade e tambm para que as participantes pratiquem a fala em pblico e a desinibio. Pode ter o nome que as mulheres quiserem e o tema a ser trabalhado varia de acordo com a atividade proposta. Experimentem, s preciso criatividade! Usamos a Rdio Prosa Boa para conversarmos sobre a Caderneta Agroecolgica e a importncia do registro da produo das mulheres, quer seja para a venda, troca ou autoconsumo. Antes da caderneta o pessoal era manso. Depois que eu achei esta caderneta eles ficam com vergonha de levar de graa os produtos e trazem umas moedinhas. Algumas mulheres descobriram que por ms alimentavam-se de cerca de R$450,00 s da horta, provavelmente no teriam esse dinheiro para gastar no mercado, relatou uma das agricultoras.

    O hbito do registro uma importante memria da produo. Ele nos ajuda a refletir

    sobre a dinmica da propriedade e a visualizar a renda obtida ao final de cada ms.

    Como vocs observaram nas outras edies do Maria, ns escolhemos os temas mais importantes do mdulo para tratar de forma aprofundada. Falamos sobre o feminismo e sua relao com a agroecologia; abordamos como o sistema patriarcal se estrutura atravs da diviso sexual do trabalho e todas as violncias por ele geradas e destacamos a auto-organizao como importante estratgia de resistncia s opresses que sofremos.

    Segun-

    do Renata Moreno, da

    SOF (Sempre Viva Organizao

    Feminista), a Economia Feminista

    uma ferramenta que contribui para

    organizar nossa viso sobre as transformaes

    necessrias, tendo a igualdade como principio

    articulador da sociedade que se pretende construir.

    Para isso fundamental que toda sociedade assuma que

    o trabalho produtivo e o reprodutivo so interdependentes,

    possuem igual importncia e devem ser de responsabilidade

    de todos/as. Nosso objetivo que todo/as assumam que o

    trabalho domstico e de cuidados trabalho e d trabalho,

    criando estratgias para transformar a vida das mulheres.

    Por isso, precisamos compreender e conscientizar a sociedade de

    que a economia no uma relao entre nmeros e frmulas e

    sim uma relao entre pessoas. Debater a economia, elaborar

    propostas e articular aes para mostrar que a economia no

    est separada da nossa experincia cotidiana de produo do

    viver. O caminho para essa transformao continua sendo a

    nossa auto-organizao para exigir de nossos companheiros,

    familiares, filhos, empresas e do Estado, que arquem com

    suas responsabilidades: compartilhando tarefas

    domsticas e de cuidado, abrindo creches e escolas

    para nossas crianas, melhorando a qualidade da

    sade e das opes de lazer, garantindo o

    direito das mulheres autonomia

    econmica e diminuindo a jornada

    de trabalho.

    Na

    maioria das vezes as

    mulheres, que mesmo

    trabalhando fora (trabalho

    produtivo), arcam tambm com as

    responsabilidades do trabalho

    domstico (reprodutivo), ficando assim

    sobrecarregadas e sem tempo para se

    divertirem, descansarem, se dedicarem

    mais a sua formao profissional,

    para cuidarem de si mesmas e

    para participao

    poltica.

    2

    Valori-

    zar e visibilizar

    apenas o trabalho de

    mercado beneficia os homens e

    prejudica as mulheres. O trabalho

    realizado pelas mulheres, invisvel e no

    remunerado, beneficia os homens,

    governos e empresas, que usufruem dele

    sem se responsabilizarem. Desvalorizar

    o trabalho domstico e de cuidados

    sempre foi uma forma de

    controlar e oprimir as

    mulheres.

    Para entender a Economia Feminista

    nas anlises da economia tradicional, com o objetivode combater as desigualdades de gnero na organizao

    do trabalho e nas esferas produtiva e reprodutiva.

    A Economia feminista critica a diviso queexiste na sociedade capitalista entre trabalho

    de mercado (pago com dinheiro) e o trabalho domstico e de cuidados (geralmente sem

    remunerao). necessrio desconstruir essa hierarquizao, onde trabalho de mercado mais importante que o trabalho

    domstico e de cuidados, realizado em casa, no espao privado.

    So

    todas as atividades e

    responsabilidades relacionadas

    aos cuidados com o lar e as pessoas,

    animais e plantas da famlia. Por exemplo:

    administrao e limpeza da casa; pagamento

    de contas; compras; preparao das refeies;

    cuidado das crianas, jovens, idosos e doentes;

    trato dos animais, destinao dos resduos e

    cuidados com a horta para autoconsumo da

    famlia, alm de carinho e afeto. Todas essas

    atividades so fundamentais para manuteno

    da vida e da sade de todos e todas,

    porm nem sempre so divididas as

    obrigaes por todos os

    membros da casa.

    Teatro do Oprimido um mtodo criado pelo teatrlogo brasileiro

    Augusto Boal, na dcada de 60. Utilizando exerccios, jogos, improvisaes

    mulheres foram colocadas na mesma situao para observarmos e discutirmos

    e tcnicas, este mtodo busca encenar situaes de opresso e transform-las.

    abordar problemas o Teatro Frum. Por exemplo, se na comunidade

    acontece violncia domstica, pode-se usar o Teatro Frum para retratar

    esta realidade e pedir que o pblico participe da cena apontando solues para

    o problema. Com isto, a pessoa que est em uma situao de opresso

    pode encontrar um caminho para desfazer as amarras dela. Uma dinmica

    realizada no PFFA e que pode ser adaptada a qualquer situao foi a Invaso de

    territrio, na qual se encenou a atitude de um homem dentro de um nibus, que

    invadia, com cantadas desagradveis, o espao de uma mulher. Diferentes

    as diferentes reaes das participantes.

    Oficina Teatro do OprimidoOficina Teatro do OprimidoOficina Teatro do Oprimido

    trabalhos domsticos e de cuidados (considerados de mulher) Dando sequncia a esse raciocnio, trataremos aqui a economia feminista. Ela questiona o desprezo pelos

    Uma das modalidades do Teatro do Oprimido que podem ser utilizadas para

    dee co uc ii dt as d om so ?d

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