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UNIVERSIDADE DE PERNAMBUCO FACULDADE DE CIÊNCIAS DA ADMINISTRAÇÃO DE PERNAMBUC O
MESTRADO EM GESTÃO DO DESENVOLVIMENTO LOCAL SUSTENT ÁVEL
MARIA CABRAL DA COSTA
ARQUITETURA SUSTENTÁVEL – SOLUÇÕES PARA RESIDENCIAS UNIFAMILIARES
RECIFE
2012
MARIA CABRAL DA COSTA
ARQUITETURA SUSTENTÁVEL – SOLUÇÕES PARA RESIDENCIAS UNIFAMILIARES
Dissertação apresentada ao Mestrado de Desenvolvimento Local Sustentável – GDLS da Faculdade de Ciências da Administração de Pernambuco – FCAP, Unidade de Ensino Superior da Universidade de Pernambuco – UPE, como requisito parcial para a obtenção do grau de Mestre em Gestão de Desenvolvimento Local Sustentável. Orientador: Prof. Dr. Antonio Nunes Barbosa Filho
RECIFE 2012
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) Biblioteca Leucio Lemos
Faculdade de Ciências da Administração de Pernambuco � FCAP/UPE
C837a
Costa, Maria Cabral da.
Arquitetura sustentável: soluções para residências unifamiliares / Maria Cabral da Costa ; orientador : Antonio Nunes Barbosa Filho. � Recife, 2012.
99 f.: il. ; graf. ; tab. -
Dissertação (Mestrado) - Universidade de Pernambuco,
Faculdade de Ciências da Administração de Pernambuco, Gestão do Desenvolvimento Local Sustentável, Recife, 2012.
1. Sustentabilidade - Arquitetura. 2. Arquitetura sustentável. 2.
Construções sustentáveis. I. Barbosa Filho, Antonio Nunes. (orient). II. Título.
728.3:502.131.1 CDU (2007)
728 CDD 01-2013
Emanuella Bezerra - CRB-4/1389
UNIVERSIDADE DE PERNAMBUCO FACULDADE DE CIÊNCIAS DA ADMINISTRAÇÃO DE PERNAMBUC O
MESTRADO EM GESTÃO DO DESENVOLVIMENTO LOCAL SUSTENT ÁVEL
MARIA CABRAL DA COSTA
ARQUITETURA SUSTENTÁVEL – SOLUÇÕES PARA RESIDENCIAS UNIFAMILIARES
RECIFE
2012
MARIA CABRAL DA COSTA
ARQUITETURA SUSTENTÁVEL – SOLUÇÕES PARA RESIDENCIAS UNIFAMILIARES
Dissertação apresentada ao Mestrado de Desenvolvimento Local Sustentável – GDLS da Faculdade de Ciências da Administração de Pernambuco – FCAP, Unidade de Ensino Superior da Universidade de Pernambuco – UPE, como requisito parcial para a obtenção do grau de Mestre em Gestão de Desenvolvimento Local Sustentável. Orientador: Prof. Dr. Antonio Nunes Barbosa Filho
RECIFE 2012
Maria Cabral da Costa
ARQUITETURA SUSTENTÁVEL
– SOLUÇÕES PARA RESIDENCIAS UNIFAMILIARES
Dissertação apresentada ao Mestrado de Desenvolvimento Local Sustentável – GDLS da Faculdade de Ciências da Administração de Pernambuco – FCAP, Unidade de Ensino Superior da Universidade de Pernambuco – UPE, como requisito parcial para a obtenção do grau de Mestre em Gestão de Desenvolvimento Local Sustentável.
Aprovada em: 26/12/2012 BANCA EXAMINADORA
_______________________________________________ Professor Dr. Fábio José de Araújo Pedrosa
_______________________________________________ Professor Dr. José Luiz Alves
_______________________________________________ Professor Dr. Paulo Henrique Ramalho Pereira Gama
AGRADECIMENTOS
Ao meu orientador, professor Dr. Antonio Nunes Barbosa Filho, por todas as horas
dedicadas à condução do meu trabalho.
Aos professores Dra. Andréa Karla Pereira da Silva, Dr. Fábio José de Araújo
Pedrosa e Dr. Ivo Vasconcelos Pedrosa, pela participação e contribuição ao meu
trabalho na banca de qualificação.
Ao professor Dr. José Gilson de Almeida Teixeira Filho que se empenhou para que a
minha defesa acontecesse.
A Célia Ximenes, por toda a ajuda e horas compartilhadas na secretaria do
mestrado.
A meus pais, Cynthia e Renato, por me ajudarem em mais uma conquista.
Aos meus irmãos e sócios, João e Duilio, por todo o apoio.
Ao meu noivo Rômulo, que caminhou junto comigo ao longo de toda a jornada.
Às minhas amigas Patrícia e Eduarda que estiveram junto comigo por todos os
momentos desta realização.
A todos aqueles que me apoiaram e acreditaram na minha conquista.
ARQUITETURA SUSTENTÁVEL – SOLUÇÕES PARA RESIDENCIAS UNIFAMILIARES
Resumo: O crescimento desordenado das cidades degrada o ambiente local e
sobrecarrega sua infra-estrutura. O Brasil é um país carente em infra-estrutura.
Faltam às residências energia elétrica, água tratada, coleta, reciclagem e destinação
corretas dos resíduos, acessibilidade e legislação voltada para a sustentabilidade.
Para agravar este quadro, o déficit habitacional do país é muito alto, ampliado pelas
residências em condições inadequadas de sobrevivência. A construção civil
consome e desperdiça toneladas de insumos todos os anos. Os materiais jogados
foras poderiam ter erguido novas residências, minimizando o impacto ambiental. A
sustentabilidade mostra que os parâmetros realizados atualmente pela construção
civil são ambientalmente inviáveis. A evolução da habitação não valorizou os
aspectos climáticos e materiais locais, resultando em uma arquitetura sem
identidade e inadequada para as condições ambientais locais.
O presente trabalho descreve o desenvolvimento da casa até que a mesma se
tornou insustentável, avaliando e determinando os aspectos de sustentabilidade
desejáveis à uma habitação. O resultado final desta pesquisa foi um roteiro para
que, seguidos os seus passos e recomendações, o projeto residencial unifamiliar
seja voltado para sua sustentabilidade.
PALAVRAS CHAVE: sustentabilidade, projeto, arquitetura, construção sustentável.
SUSTAINABLE ARCHITECTURE – SOLUTIONS FOR SINGLE-FAMILY HOUSES
Abstract: The lack of planning in cities growth degrades local environment and
overloads its infrastructure. Brazil is a country with poor infrastructure. Homes lack
eletricity, treated water, residues collecting, recicling and appropriate destination,
acessibility and legislation inclined to sustainability. Worsenning this prospect,
Brazil’s housing shortfall is high, magnified by habitantions unsuitable for living.
Tonnes of inputs are consummed and wasted by the construcition industry. Those
materials that were thrown away could have been used to build a new home,
minimizing environmental impacts. Current construction parametres have been
proved by sustainability as environmentally impracticables. Climate and local
materials have not been put into considetation as the house evoluted, wich resulted
in an architecture without local identity and inadequate for that place.
The presente research describes homes evoltution until it became unsustainable,
assessing sustainable aspects coveted by habitations. This dissertation’s final
outcome is a guide in order to, once pursued its’ recomendations, projects for single-
family houses are sustainable.
KEY-WORDS: sustainability, project, architecture, sustainable construction.
APRESENTAÇÃO
Nasci em 1983 em um Recife bem diferente arquitetonicamente do atual.
Moro, desde que nasci, em um prédio de onze pavimentos tipo, que era o único na
região quando foi construído, rodeado por casas com amplos jardins arborizados.
Hoje o cenário é outro. Apenas poucas casas resistem ao mercado de construção
aquecido, sendo rodeado por edifícios, sendo poucos os mais baixos que ele.
Filha de arquiteta e engenheiro civil, cresci dentro do mercado da
construção. Visitava o escritório da minha mãe e adorava brincar com as réguas e
canetinhas. Não podia ser diferente, me tornei arquiteta. Em um momento da vida,
pensei que queria fazer administração, cursei na Universidade Federal de
Pernambuco, UFPE. Na metade do curso, vi que não era aquilo que queria e
comecei a cursar, paralelamente, arquitetura na Faculdade de Arquitetura e
Urbanismo de Pernambuco, FAUPE. Me formei em 2008, meu trabalho de
graduação foi o projeto de um empreendimento residencial sustentável, intitulado
Villa Verde.
No ano seguinte ingressei no Mestrado em Desenvolvimento Local
Sustentável, pela Faculdade de Ciências da Administração de Pernambuco, da
Universidade de Pernambuco e em 2010 no MBA em Construção Sustentável, pela
Universidade Paulista, UNIP, e o Instituto Brasileiro de Extensão e Cursos, INBEC,
ambos concluídos em 2012.
Trabalho no ramo da construção civil não apenas no setor de projetos,
mas também no ramo da construção. Tenho um escritório de arquitetura em parceria
com minha mãe e mais uma sócia. Junto com meus irmãos e minha mãe, fundamos
em 2010 uma construtora, focada no mercado de residências populares, financiadas
pelo programa Minha Casa Minha Vida.
Espero, como arquiteta e construtora, poder transformar o ambiente da
cidade de forma positiva, ampliando a qualidade não apenas das construções, mas
também da cidade.
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ………..………..………..………..………..………..………..……….. 11
1.1 Justificativa ………..………..………..………..………..………..……… ..……….. 12
1.2 Objetivos ………..………..………..………..………..………..………..…… ……... 14
1.2.1 Objetivo Geral ………..…………..………..………..………..………..…………... 14
1.2.2 Objetivos Específicos ………..…………..………..………..………...…………... 14
1.3 Metodologia ………..…………..………..………..………..………..………… ....... 15
2 REFERENCIAL TEÓRICO ………..…………..………..………..………..…………. 18
2.1 Desenvolvimento Sustentável ………..…………..………..……… ..…………… 18
2.1.1 Visão sistêmica ………..………...………..………..………..………..…………... 21
2.2 Cidades Sustentáveis ………..…………..………..………..……….. ………..….. 22
2.3 Edificações ……..…………..………..……………………..………..……….. ….. 24
2.4 Análise do Ciclo de Vida do Edifício …..…………..… …..………..………..….. 27
2.5 Edifício Sustentável ………..…………..………...………..………. .………..….. 29
2.6 Certificações para Edificações Sustentáveis ..… ……..………..………..….. 30
2.7 Legislação urbana e sustentabilidade ………..……….. ………..………..….. 31
2.7.1 Legislações e normas federais ………..………..………..………..………..….. 32
2.7.1.1 Licenciamento Ambiental ………..…………..………..………..…………..….. 33
2.7.1.2 Política Nacional de Resíduos Sólidos ………..…………..……………..….. 34
2.7.1.3 Política Nacional de Conservação e Uso Racional de Energia …..…..….. 34
2.7.1.4 Agenda 21 ………..…………..………..………..………..………..…………….. 35
2.7.1.5 Associação Brasileira de Normas Técnicas ………..…………..………..…… 35
2.7.2 Legislações e normas estaduais ………..…………..………..……….……..….. 36
2.7.2.1 Agenda 21 …………………..…………..………..………..………..………..….. 36
2.7.2.2 Lei nº 14.572, de 27 de dezembro de 2011 ………..…………..………..…… 36
2.7.2.3 Lei nº 11.186, de 22 de dezembro de 1994 e Código de Segurança Contra
Incêndio e Pânico para o Estado de Pernambuco (COSCIP) ………..…………..…. 37
2.7.3. Legislações e normas municipais ………..…………..………..………..………. 38
2.7.3.1 Plano Diretor ………..…………..………..………………………….…..………. 38
2.7.3.2 Lei de Uso e Ocupação do Solo ………..…………..………..………..………. 38
2.7.3.3 Lei de Edificações e Instalações na Cidade do Recife ………..…………..… 39
2.7.3.4 Código do Meio Ambiente e do Equilíbrio Ecológico da Cidade do Recife .. 39
2.7.3.5 Agenda 21 ………………………………...…………..………..………..………. 40
3 EVOLUÇÃO HISTÓRICA DO MORAR …………………..………..………..…… …. 41
3.1 Pré-história …………………..………..………..………………………………….. .. 41
3.2 A Civilização Antiga …………………..………..………..………………… ……… 42
3.3 A Idade Média …………………..………..………..……………………………….. . 43
3.4 A Idade Moderna …………………..………..………..……………………………. . 45
3.5 Idade Contemporânea …………………..………..………..…………………… .... 46
4 A CASA SUSTENTÁVEL ……………………………….....………..………..……… . 50
4.1 Energia ……………………………………………..…………………..………..…… 50
4.1.1 Eletrodomésticos ………………………………...……..………..………..………. 52
4.2 Água ……...……..……...……..……...…………………..………..……….. ………. 53
4.3 Especificação de Materiais …………………...……..………..… ……..………. 55
4.4 Acessibilidade ……………………...……..……...……..………..……… ..………. 57
4.5 Resíduos ……………………...……..……...……..……..………..……….. ………. 58
5 ROTEIRO PARA PROJETO ARQUITETÔNICO DE CASAS SUSTE NTÁVEIS . 62
5.1 Projetar para o clima ……………………...……….…../………..… ……..………. 63
5.1.1 Localização e aspectos geográficos …...……..……...……..……..………..…. 64
5.1.2 Aspectos Climáticos ……………………...……..……...……..……..………..… 66
5.1.2.1 Temperatura ……………………...……..……...……..……..………..………… 67
5.1.2.2 Umidade e precipitações ……………………...……..……...……..……..…… 68
5.1.2.3 Radiação Solar ……………………...……..……...……..……..………..……. 70
5.1.2.4 Ventos ………………...…...……..……...……..……..………..………..………. 72
5.1.2.5 Orientação da casa ……………………...……..……...……..……..……….. 74
5.2 Projetar para o meio ambiente social e físico … …………………...……..… 74
5.2.1 Forma da casa ……………………...……..……...……..………….……..………. 74
5.2.2 Método construtivo ……………………...……..……...………..………..………. 77
5.3 Projetar para a hora do dia, estações do ano ou vida útil .………..………. 80
5.3.1 Paredes e cobertas ……………………...……..……...……..…….……..………. 81
5.3.2 Janelas e portas ……………………...……..……...……..……..………..………. 84
5.3.3 Escolha dos materiais ……………………...……..……...……..……..…………. 87
5.4 Tecnologias alternativas ……………………...……..……...…… ..……..………. 87
5.4.1 Produção energética ……………………...……..……...……..……..………..… 88
5.4.2 Consumo de água ……………………...……..……...……..……..………..…… 89
5.4.3 Redução, reuso e reciclagem do lixo ……………………...……..……...…….. 89
10 CONCLUSÕES ……………………...……..……...……..……..………..………….. 90
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ……………………...………..………..……… . 93
11
1 INTRODUÇÃO
Não há como pensar em qualidade de vida sem pensar nas habitações.
Habitar significa morar, estabelecer residência, ter sede, estar, achar-se, consistir,
manifestar-se. A satisfação de necessidades básicas do morar está extremamente
relacionada à qualidade de vida do local, observando-se alguns pré-requisitos
essenciais para a construção da mesma, pois a casa é muito mais do que apenas
um abrigo. Devem ser estudadas, antes da construção, as condições de insolação,
ventilação, higiene, funcionalidade, meio ambiente, aproveitamento do espaço e dos
materiais disponíveis visando o planejamento de uma habitação (THOMSEN, 2005).
O desenvolvimento trouxe para a vida humana ferramentas capazes de
diminuir a mortalidade infantil, evitar e curar doenças, favorecendo o incremento da
população mundial. A introdução da mecanização liberou trabalhadores da zona
rural, fez com que estes migrassem para as cidades, em busca de oportunidades de
emprego e renda, que cresceram de forma desordenada. O aumento da população e
o êxodo para as cidades fizeram com que a necessidade de novas construções e o
consumo de matérias-primas fossem ampliadas. Com a expansão, houve um
distanciamento entre as fontes de matérias-primas e os locais de construção.
As Nações Unidas criaram a Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e
Desenvolvimento – CMMAD –, com o intuito de promover a harmonia entre o
desenvolvimento econômico e a conservação ambiental. De acordo com essa
Comissão, o Desenvolvimento Sustentável é aquele desenvolvimento capaz de
suprir as necessidades da população atual sem que seja comprometida a
capacidade do planeta de satisfazer as necessidades de suas populações futuras.
O conceito de habitação sustentável tem uma difícil implementação, pois
não depende apenas de casas e prédios construídos para ser ecologicamente
corretos, mas também de pessoas que pensem, ajam e se desenvolvam de maneira
sustentável. O presente trabalho estudou ferramentas que, uma vez utilizadas,
contribuam para tornar as residências sustentáveis.
12
1.1 Justificativa
Ao longo da história da humanidade, ao passo que o homem desenvolvia
novas tecnologias, não houve a preocupação em criar máquinas, utensílios e
materiais que provocassem menor impacto ambiental ao ecossistema. Acumular
riquezas era o único aspecto a ser considerado pelo crescimento, cada vez mais
concentrado nas mãos de poucos, sem conduzir à igualdade de oportunidades ou à
justiça social. (MENDES, 2000). A miséria, a degradação e a poluição ambiental
aumentam a cada dia como resultado deste modelo econômico (CASTEL, 1998).
O desenvolvimento desregrado das cidades, de modo rápido e sem
planejamento, contribui intensamente para a deterioração do espaço urbano. A
desordem do crescimento dos municípios eleva a densidade populacional e
concentra áreas construídas, pavimentadas e industriais, dificultando a implantação
de infraestrutura, ampliando custos de urbanização e gerando desconforto ambiental
acústico, de circulação, visual e térmico. Desde a década de 1960 as principais
cidades brasileiras vêm crescendo e se adensando, modificando seus ambientes,
afetando a qualidade de vida de seus habitantes, através de modificações climáticas
e ambientais (CAMARGO, 2005).
Edificar a cidade torna a construção civil o setor que mais consome
recursos naturais e energia em todas as fases da edificação – projeto, construção,
ocupação e demolição. Este consumo significa de 20% a 50% de todos os recursos
produzidos pela sociedade e 40% dos insumos não consumidos adequadamente
viram resíduos, não sendo renováveis a maioria destes, por exemplo, pedras, areia,
concreto e aço. De toda a produção mundial de insumos a construção civil absorve o
equivalente à 30% da produção de matérias-primas, 25% da produção de água, 16%
da produção de terra e 42% da produção de energia elétrica. A geração de resíduos
também é alta: 40% das emissões mundiais de poluição do ar, 20% de toda a
poluição líquida mundial, 25% de todos os resíduos sólidos produzidos no mundo e
13% da produção mundial de outros poluentes (ARAÚJO, 2002).
Na fase de projeto as perdas podem ser caracterizadas por mudanças
nas metodologias de cálculo e ou sistemas serem superdimensionados. Durante a
construção há os materiais que podem ser entregues em quantidade inadequada,
mal armazenados, transportados de maneira incorreta, entre outros fatores. No uso
da edificação a manutenção imprópria, em menor ou maior tempo do que requerido,
13
pode resultar em uso de materiais desnecessariamente. A manutenção excessiva
resulta em utilização de insumos dispensáveis enquanto a manutenção inexistente
ou reduzida resulta em reformas extensas e custosas (FORMOSO, 2003).
O consumo de recursos naturais durante a ocupação da edificação se
concentram no abastecimento de água e energia, e, em menor volume, na
manutenção. A geração de resíduos passa a ser lixo doméstico e esgoto ao invés de
Resíduo Sólido da Construção Civil, presente apenas nas reformas.
De acordo com o Programa Nacional de Conservação de Energia Elétrica
(PROCEL, 2012), 50% da energia consumida no país é gasta por edificações, nas
tarefas de refrigeração e aquecimento de ambientes, iluminação e aquecimento de
água. O consumo de energia em edifícios desenvolvidos para ser energeticamente
eficientes, pode reduzir em até 50% em relação à edificações não eficientes,
enquanto edificações existentes que passem por reformas podem ter o consumo
energético reduzido em 30%.
A oferta de água aparentemente abundante é um convite ao desperdício.
Em 2004 a ONU estabeleceu 40 litros de água por dia como suficiente para
satisfazer as necessidades básicas de uma pessoa. De acordo com o Sistema
Nacional de Informações sobre Saneamento – SNIS – o consumo médio de água
por habitante é de 145,10 litros/dia. No Brasil o consumo de água em edificações
gira em torno de 20% do total produzido, sendo acima de 50% destinada às áreas
urbanas, e apenas algumas cidades são responsáveis 80% desta despesa. Os
principais responsáveis pela perda de água são sistemas de aquecimento e
vazamentos. As perdas evitáveis, ou desperdícios, têm como principais fontes
chuveiros, bacias sanitárias e pias de cozinha. O índice total dessas perdas é de
39,8% (GONÇALVES, 2009).
Apesar do conhecimento acerca da necessidade de higiene e das
avançadas técnicas de tratamento e reciclagem de lixo e dejetos humanos
existentes, ainda é precária a destinação final dada a estes materiais no Brasil. De
acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2008
47,5% dos domicílios nacionais possuíam coleta de esgoto, tendo 28,5% das
cidades brasileiras algum tratamento de esgoto. No entanto, apenas em três cidades
o tratamento é feito em mais de 50% do esgoto coletado. No que concerne à
produção de resíduos sólidos do país, 50,8% do lixo recolhido tinham como destino
14
os lixões, e apenas 17,9% dos municípios recolhiam o lixo de maneira seletiva
(BRASIL, 2008).
Ao analisar as grades curriculares das principais faculdades de arquitetura
e urbanismo do Recife (Universidade Federal de Pernambuco – UFPE –, a
Universidade Católica de Pernambuco – UNICAP –, a Faculdade ESUDA, a
Faculdade Maurício de Nassau e a Faculdade Damas) foi constatado que existe
apenas uma disciplina eletiva de graduação especificamente voltada para o tema, na
UNICAP, pelo que é possível afirmar que a formação do profissional de arquitetura
no Recife não é voltada para a sustentabilidade. Em alguns estados brasileiros,
como São Paulo, o mercado e a legislação local incentivam e exigem edificações
com maior eficiência ambiental, favorecendo o aparecimento de cursos voltados
para a sustentabilidade na arquitetura, a exemplo da Universidade Paulista – UNIP –
desenvolveu um curso de MBA em Construções Sustentáveis juntamente com o
Green Building Council Brasil (GBC), com o intuito de ampliar a certificação
Leadership in Energy and Environmental Design (LEED) no país, sendo este curso
lecionado também no Recife.
1.2 Objetivos
1.2.1 Objetivo Geral
Contribuir para a difusão dos conceitos da construção residencial
unifamiliar sustentável por meio da elaboração de um roteiro voltado para o projeto
de uma edificação mais sustentável direcionado para os profissionais do setor
produtivo em questão, em especial os de arquitetura.
1.2.2 Objetivos Específicos
� Definir e categorizar edificações, focando no tipo de edificação a ser
tratado no presente trabalho, a edificação residencial unifamiliar;
� Fazer um estudo da evolução da casa ao longo dos anos, bem como a
evolução do consumo de energia, água e geração de resíduos;
15
� Identificar as dimensões que envolvem a sustentabilidade das
edificações nas etapas de concepção, construção e uso das mesmas, focando no
consumo energético;
� Elencar, na forma de um roteiro, soluções arquitetônicas para o
desenvolvimento de projeto de edificações sustentáveis, descrevendo os passos
necessários para projetá-la, na cidade do Recife e Região Metropolitana;
� Apresentar conclusões e sugestões para trabalhos futuros.
1.3 Metodologia
Metodologia científica consiste no conjunto de normas consagradas entre
pesquisadores com as quais é possível investigar fatos de maneira planejada,
desenvolvendo-os para que se tornem uma pesquisa científica. A metodologia define
as etapas do processo a serem desenvolvidas para que haja uma plena apuração da
circunstância abordada na pesquisa (SILVA, 2005).
O projeto arquitetônico deve ser estudado de maneira que o conforto da
casa exista independente de haver energia elétrica ou não. Quanto menor for o
consumo de energia dentro de uma residência, maior será a sustentabilidade da
mesma. Para que tal fator aconteça é indispensável que, na fase conceitual do
projeto, sejam estudados os diversos aspectos da habitação, com o intuito de melhor
aproveitar os aspectos naturais de onde ela se encontra, protegendo-a das
intempéries e integrando-a com o meio ambiente natural e construído de sua
localidade. O perfeito funcionamento destas estratégias depende do clima local, do
uso da edificação e dos materiais escolhidos na construção da mesma. Podem ser
aliados ao projeto da casa tecnologias capazes de reduzir o consumo de energia e
água, reciclar as águas servidas, captar água das chuvas e destinação adequada de
esgoto.
O presente estudo foi desenvolvido por meio de pesquisa exploratória,
que tem como objetivo abordar um assunto para que o mesmo se torne mais claro
ou sejam supostos novos questionamentos acerca do mesmo, aprimorando
conhecimentos existentes (GIL, 2002).
A técnica utilizada para a dissertação em questão foi bibliográfica, uma
vez que a mesma adaptou a uma determinada localidade aspectos arquitetônicos já
antes examinados, resultando assim em novas conclusões. Tornou-se inviável
16
desenvolver a dissertação em forma de um estudo de caso, pois seriam necessários
recursos que não estão disponíveis, como tempo prolongado, dispêndio, elaboração
de maquetes e equipamentos de medição, além de softwares de simulação
disponíveis apenas em poucos centros de pesquisa.
De acordo com Gil (2002) a pesquisa bibliográfica difere das demais
metodologias por ser feita a partir do levantamento de dados anteriormente
observados por outros autores. A pesquisa bibliográfica tem como principal
vantagem tornar possível a compilação de dados mais ampla do que em uma
pesquisa por observação. A pesquisa por observação é aquela onde o autor vê,
ouve e examina os fatos que deseja estudar pessoalmente, a partir do contato direto
com a realidade. É fundamental, na pesquisa bibliográfica, ter cuidado com as fontes
de dados utilizadas e o processamento dos mesmos, para que não sejam
apresentados de maneira incorreta.
Depois de realizado o exame e seleção das fontes, foram desenvolvidos
resumos e fichamentos, e levantadas outras fontes adicionais. A organização dos
dados coletados resultou em uma revisão de literatura que foi usado para a
elaboração de um roteiro a ser seguido durante o processo de projeto de uma casa
para que características de sustentabilidade lhe sejam asseguradas, em conclusões
e em sugestões para trabalhos futuros.
A presente dissertação consiste em seis capítulos, organizados conforme
explanado em seguida.
O Capítulo 1 traz a introdução, os objetivos e a metodologia do presente
trabalho, descrevendo a justificativa para a temática abordada, que é o cenário atual
da construção civil no Brasil e os impactos causados pela indústria, além da falta de
qualificação dos profissionais do setor, em especial arquitetos, para realizar a
construção sustentável.
O Capítulo 2 relata os principais conceitos para o entendimento da
construção sustentável. São estes conceitos: Desenvolvimento Sustentável, Cidades
Sustentáveis, edificações, a análise do ciclo de vida das edificações, o que é uma
edificação sustentável, quais são as principais certificações para edificações
sustentáveis e quais as legislações urbanas brasileiras que se aplicam à edificações
e qual o nível de sustentabilidade que as mesmas abordam.
O Capítulo 3 faz um resumo da história da habitação e das cidades e a
evolução do consumo de energia, água e insumos, além do aumento na produção
17
de esgoto e lixo domésticos, descrevendo como estes fatores foram afetando na
insustentabilidade das cidades.
O Capítulo 4 apresenta quais os fatores que influenciam na
sustentabilidade de uma casa e como os mesmos devem ser desenvolvidos para
que uma residência seja sustentável. Os aspectos de sustentabilidade necessários à
uma casa e abordados no presente capitulo são: energia, água, especificação de
materiais, acessibilidade e destinação final dos resíduos.
O Capítulo 5 determina um roteiro a seguir no momento de projetar a
casas para que as mesmas possuam características sustentáveis. Os passos a
serem seguidos abordam o estudo do clima, o meio ambiente social e físico, a hora
do dia, as estacoes do ano e a vida útil e as tecnologias alternativas que podem ser
utilizadas para ampliar a sustentabilidade da residência.
O Capítulo 6 relata conclusões tidas a partir do desenvolvimento do
presente trabalho e apresenta propostas para trabalhos futuros que possam vir a
complementar o roteiro para projeto arquitetônico de casas sustentáveis proposto
pela presente dissertação.
18
2 REFERENCIAL TEÓRICO
2.1 Desenvolvimento Sustentável
As sociedades cada vez mais estão cientes da necessidade de uma
transição para um novo paradigma de desenvolvimento. O atual padrão de consumo
degrada e destrói o meio ambiente e os recursos naturais, comprometendo a
qualidade de vida das gerações futuras. Os recursos renováveis estão sendo gastos
mais rapidamente do que conseguem se restabelecer e os não renováveis estão se
esgotando. A postura da sociedade para a resolução dos problemas do presente e
do futuro partiu de uma construção teórica com base em fundamentos políticos,
sociais, econômicos e ambientais, decorrente de fatos que aconteceram
previamente (BUARQUE, 2002).
A primeira Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente
Humano acontecei em 1972, em Estocolmo, Suécia. O evento aconteceu alguns
anos após o inicio dos questionamentos acerca das limitações naturais para o
desenvolvimento do planeta, se tornando assim um marco na sustentabilidade
mundial. A declaração final do congresso foi um Manifesto Ambiental com 19
princípios, todos com o intuito de estimular a preservação e melhoria da qualidade
ambiental, conquistando uma vida futura mais digna. No mesmo ano, em seguida à
Conferência, foi criado o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente
(PNUMA), coordenando os trabalhos da ONU para a melhoria do meio ambiente.
Hoje o PNUMA tem como prioridade aspectos ambientais inerentes às catástrofes e
conflitos, a gestão dos ecossistemas, a governança ambiental, o controle nas
substâncias tóxicas, a eficiência do aproveitamento de recursos e as mudanças
climáticas (ONU, 2012).
Em 1987, o grupo de pesquisadores chamado Clube de Roma
desenvolveu o relatório chamado “Os limites do crescimento”. O relatório simulou
diferentes cenários mundiais no ano de 2100, baseados no consumo e cuidados
com o meio ambiente, prevendo o esgotamento dos recursos naturais. A escassez
de insumos resultaria no limite máximo de crescimento do planeta e,
consequentemente, na diminuição da população mundial e sua capacidade industrial
(MEADOWS, 2004).
19
O atual conceito de Desenvolvimento Sustentável surgiu em 1987, na
apresentação do Relatório Brundtland, conhecido como “Nosso Futuro Comum”,
formulado pela UNCED – Comissão Mundial da ONU sobre o Meio Ambiente e
Desenvolvimento, que determina:
Desenvolvimento Sustentável é o desenvolvimento
que vai de encontro às necessidades do presente,
sem comprometer a possibilidade das gerações
futuras irem de encontro às suas próprias
necessidades.
O relatório ressalta que em uma sociedade onde é normal existir pobreza
e desigualdade sempre estará à margem de uma crise ecológica. As oportunidades
deveriam ser iguais para todos, sem colocar em risco os ciclos naturais vitais das
águas, do ar, dos solos e dos seres vivos. O desenvolvimento sustentável preza pelo
redirecionamento dos processos de exploração, com investimentos,
desenvolvimento tecnológico e a mudança de paradigmas voltada para igualdade
social, desenvolvimento econômico e preservação ambiental (ONU, 1987).
No Rio de Janeiro, em 1992, foi realizada uma segunda Conferência das
Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento. O encontro, conhecido
como “Cúpula da Terra”, desenvolveu a Agenda 21, documento a ser seguido pelas
nações presentes, com diretrizes para a modificação os padrões de desenvolvimento
globais. As recomendações buscam promover um padrão o equilíbrio entre as
diferentes esferas da sociedade, econômica, ambiental e social, debatendo pobreza
e dívida externa como impasses para o desenvolvimento (ONU, 2012).
Uma atualização no documento “Nosso Futuro Comum”, realizada em
1992, relatou que a humanidade estava chegando ao fim dos recursos naturais
muito mais rápido do que inicialmente previsto (MEADOWS, 2005).
Em 1997 foi realizada uma sessão especial para revisar e avaliar a
implementação da Agenda 21, chamada de “Cúpula da Terra +5”. No documento
final foi recomendada a adoção de legislações para reduzir a emissão de gases que
ampliam o efeito estufa; o aumento de padrões sustentáveis de produção,
distribuição e uso energético; e ampliação da erradicação da pobreza. No mesmo
ano 37 países industrializados assinaram o documento que estabelece metas para a
redução da produção de gases estufa, o Protocolo de Kyoto (ONU, 2012).
20
De acordo com a ONU (2012) desde o estabelecimento primeira
Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Humano, ampliaram a
quantidade e qualidade dos congressos e encontros acerca do assunto. Dentre
estas estão: A Segunda Conferência da ONU sobre Assentamentos Humanos em
Istambul,1999; a Sessão Especial da Assembleia Geral sobre Pequenos Estados
Insulares em Desenvolvimento, Nova York, 1999; a Cúpula do Milênio, Nova York,
2000, e seus Objetivos de Desenvolvimento do Milênio. A Cúpula Mundial sobre
Desenvolvimento Sustentável em Johanesburgo, África do Sul, em 2002, elaborou
um balanço das realizações, desafios e novas possibilidades desde a Cúpula da
Terra de 1992. Como resultado, foi escrita a Declaração de Johanesburgo sobre
Desenvolvimento Sustentável e um Plano de Implementação para especificar as
necessidades de ação.
Dez anos depois da Cúpula de Johanesburgo, em 2012, foram
rediscutidas as questões ambientais na Conferência das Nações Unidas sobre
Desenvolvimento Sustentável, Rio +20, no Rio de Janeiro, que atraiu muito mais
empresas e pessoas interessadas no tema de sustentabilidade do que as
conferências anteriores. As ações globais em prol da sustentabilidade sofreram um
aumento, uma vez que os conceitos já estão amplamente difundidos. A Conferência
foi responsável pela redação de importantes documentos, como a Carta-
Compromisso do Pacto Global, que busca o comprometimento da iniciativa privada
com o desenvolvimento sustentável e a erradicação da pobreza (PACTO GLOBAL,
2012).
O modelo de desenvolvimento praticado pela sociedade atual leva em
conta apenas o aspecto econômico, pois o desenvolvimento social e ambiental
esbarra em resistências estruturais. O compromisso com o futuro estabelecido pelo
desenvolvimento sustentável busca crescer economicamente, conservar o meio
ambiente e promover a equidade social. As ações a serem tomadas por esse
modelo, portanto, devem ter como meta os três pilares do desenvolvimento. Deve-se
ter em mente que sempre que um dos pilares for privilegiado haverá os outros dois
serão prejudicados. Por esta razão são necessárias mudanças profundas no modelo
de desenvolvimento, tecnologia, estrutura de renda e padrão de consumo atuais. A
complexidade da adoção do desenvolvimento sustentável envolve mudanças
estruturais na sociedade que esbarram em privilégios de uma pequena parte da
população, gerando resistências sociais e políticas. Por outro lado, os avanços da
21
tecnologia permitem o crescimento econômico com menor impacto ambiental,
aliados à conscientização da sociedade sobre a necessidade de combater a
pobreza, desigualdades sociais e custos ambientais do desenvolvimento,
estimulando assim a implantação da sustentabilidade (BUARQUE, 2002).
As indústrias e empresas do chamado mercado livre enfatizam a
competição, a expansão e a dominação, portanto não consideram como custos os
impactos sociais e ambientais causados por sua produção. A economia da
sociedade humana age de forma linear, enquanto o meio ambiente se desenvolve
de maneira cíclica. Na natureza, o que é resíduo para uns é insumo para outros, ao
passo que as atividades humanas extraem recursos para transformar em produtos
que, após usados, se tornam resíduos incapazes de ser matéria-prima para um outro
produto. A sustentabilidade necessita imitar o processo cíclico natural, tornando
aquele resíduo novamente em insumo. Faz-se necessário o reprojeto de todo o
modo de produção atual (CAPRA, 1997).
2.1.1 Visão sistêmica
Existem dois ramos da ecologia, a rasa e a profunda. Na ecologia rasa o
homem é o centro de todos os valores, sendo o ecossistema apenas um instrumento
seu uso. A ecologia profunda percebe o ambiente natural como um todo, incluindo
os seres humanos, concebidos por uma teia de fenômenos interconectados e
interdependentes. O ser vivo, de acordo com a premissa organicista, representa um
sistema organizado constantemente em modificação e desenvolvimento, fazendo
parte de um sistema maior (ADAM, 2001).
Os ecossistemas são redes fechadas que recebem energia e recursos de
fora, com estruturas que mudam de acordo com as necessidades do ambiente e
seus componentes. É possível aprender com meio ambiente como viver de maneira
sustentável. Os ecossistemas possuem alguns princípios ecológicos básicos, dos
quais depende para sobreviver. Dentro da rede criada pelos sistemas o resíduo de
um ser vivo é o insumo de outro. Cada componente produz ou transforma um outro
componente em indispensável para o sistema, havendo uma continuidade de
criação, de maneira interdependente, cíclica, cooperativa, parceira e flexível,
maximizando a sustentabilidade (CAPRA, 1997).
22
Todos os elementos do planeta possuem ciclos fechados, que após a
transformação voltam à sua origem, como a água que evapora e cai nos rios e
cursos d’água ao chover, enquanto a produção energia não permite a volta de seu
insumo ao estado natural. Ao consumir esta energia o homem quebra o ciclo de
renovação da terra: o petróleo, o carvão, a lenha, que eram carbono, queimam, sem
retornar ao seu local de origem (BUTERA, 2009).
Segundo Adam (2001) em um ecossistema a reprodução e a predação
estão constantemente equilibrando o meio, adaptando-se às condições as quais se
expõe. A Hipótese de Gaia tem como base a auto-regulação dos sistemas, sendo a
Terra um grande organismo vivo que sofre com as conseqüências de qualquer
alteração provocada dentro de suas células, fazendo analogia ao corpo humano.
O meio ambiente natural é alterado pelos seres vivos para a construção
de condições de sobrevivência. O processo de habitação da terra pela vida
transformou a Terra no que ela é hoje (BUARQUE, 2002).
2.2 Cidades Sustentáveis
Para Haughton (2003) o conceito de cidade pode ser muito variável, pois
não há uma definição que satisfaça todas as circunstâncias em que as cidades se
encontram. Seja em relação ao tamanho do país ou região, de sua população, de
acordo com a sua localização, com sua relação à zona rural ou cidades maiores, as
cidades podem ser desde pequenas cidades-mercado a metrópoles. Uma pólis
corresponde à uma aglomeração de edificações com certa regularidade, onde pelo
menos 10.000 pessoas vivem, trabalham e realizam outras atividades culturais e
sociais, podendo haver variações de traçado e organização espacial, de acordo com
as necessidades de cada zona urbana.
A ação humana determinada por meio do uso do solo forma os espaços
urbanos. Infra-estrutura, transporte, zoneamento e localização de atividades são
alguns dos fatores que influenciam na ocupação do solo urbano. (ZMITROWICZ,
2011).
O espaço urbano é constituído por ambiente natural e ambiente
construído, interagindo através de dimensões econômicas, sociais e culturais. O
ambiente natural abrange ar, água, terra, clima, flora e fauna, enquanto o ambiente
construído é composto por edificações construídas pelo homem. As demais
23
dimensões do espaço urbano incluem os aspectos intangíveis da cidade, como
estilos arquitetônicos, estética, valores, comportamentos, leis e tradições da
comunidade local. O espaço urbano pode ser visto como um ecossistema, onde há
interação e interdependência, e a cidade se alimenta do ambiente natural
(HAUGHTON, 2003).
A cidade sustentável é planejada para ter equilíbrio no consumo de
matérias-primas e energia, para que os recursos naturais não se esgotem,
resgatando a qualidade de vida perdida pela falta de planejamento a longo prazo
(BRASIL, 2008).
A população e os negócios de uma cidade sustentável estão
determinados a aprimorar seus ambientes naturais, construídos e sociais, em suas
vizinhanças e na região onde se encontra inserida a urbe, favorecendo a
sustentabilidade global. O município deve preservar a sua contribuição única para o
ambiente aonde está inserido, que são seus edifícios históricos (HAUGHTON, 2003).
De acordo com Gonçalves (2006), algumas metas devem ser atingidas
para que seja possível alcançar a sustentabilidade urbana:
� Preservação de áreas naturais;
� Diminuição da densidade da cidade;
� Uso misto em bairros e edificações, tornando possível realizar as
tarefas diárias próximas à residência, aproveitando o espaço público;
� Sistemas de transportes menos poluidores;
� Eliminação de barreiras físicas para pessoas com necessidades
especiais;
� Construções que proporcionem microclimas urbanos agradáveis,
favoreçam os espaços públicos e diminuam a necessidade de refrigeração;
� Edificações projetadas e produzidas valorizando o meio ambiente;
� Redução do consumo, reuso e reciclagem de recursos;
� Ocupação de áreas degradadas da cidade;
� Aumento da qualidade ambiental da cidade;
� Ampliação do valor ambiental e socioeconômico da cidade.
Owen (2009) relata que Nova York é a cidade mais sustentável dos
Estados Unidos. Os moradores de Manhattan consomem o combustível equivalente
à média do país nos anos 1920, uma vez que 82% da população locomove-se
24
através de transporte público, de bicicleta ou a pé. Por estar localizada em uma ilha,
o espaço físico de Manhattan é limitado, sendo a casa perto do trabalho e possui
transporte público eficiente, não sendo necessário o uso de automóveis no dia-a-dia.
As restrições de espaço obrigam as residências a serem menores para que a cidade
possa abrigar mais moradores. Os imóveis menores consomem menos energia com
aquecimento, resfriamento ou iluminação além de absorveram menos recursos
naturais em sua construção.
Analisando os fatores que contribuem para cidades sustentáveis relatados
acima, torna possível relatar que o Recife está na contramão da sustentabilidade. O
pedestre anda sobre calçadas quebradas e desgastadas, sem acessibilidade
adequada para portadores de necessidades especiais. Bicicletas e pedestres
trafegam tranquilamente apenas no calçadão da Avenida Boa Viagem. As ruas, de
trafego intenso e engarrafamentos constantes, alargam para caber mais carros,
confeccionadas com material de baixa qualidade e, portanto, possuem baixa
durabilidade. O transporte público é ineficiente, havendo poucos projetos e planos
de melhorias. Alguns bairros são tipicamente comerciais, como o Recife Antigo, São
José e Santo Antônio, e outros predominantemente residenciais como Casa Forte e
Boa Viagem, de densidade alta e poucos escritórios. Muitos edifícios históricos não
possuem manutenção e cuidado adequados, se encontrando degradados e em
ruínas. Parques e praças são escassos e muitas vezes mal cuidados.
2.3 Edificações
A realização de obras seguindo com o menor custo e prazo de execução
possíveis, é a meta da construção civil. Transformar o meio ambiente natural, por
menor que esta transformação seja, resultando em criação, modificação ou
reparação através da construção civil é o que se entende por obra. Todo o resultado
de uma obra que sirva para o desenvolvimento de uma atividade e abrigue e proteja
contra intempéries é chamado de edifício (AZEREDO, 1977).
Construir edifícios envolve aspectos inerentes a cada ser humano, além
de fatores culturais, históricos e éticos. Os ambientes, transformados pelo homem ou
não, são locais de socialização do homem, permanecendo como memória das
pessoas que ali já estiveram. A organização do espaço é uma busca contínua, onde
é exercido o domínio humano sobre o meio ambiente (VALADARES, 2000).
25
O homem vive em sociedade desde os primórdios. Inicialmente buscava
proteção em cavernas, árvores e outros abrigos naturais, seguindo as estações do
ano em busca de calor e alimentos. Ao passo que avançou no domínio de técnicas
de caça, pesca e agricultura, começou a estabelecer moradia, inicialmente
desenvolvendo cabanas com peles de animais e mantas. Com o passar do tempo,
ao expandir seus conhecimentos e aprender novas técnicas o homem foi capaz de
aprimorar sua maneira de construir (VICENTINO, 1997).
A expansão da sociedade humana ao redor do mundo teve como principal
responsável a tecnologia das edificações. Construções criam espaços habitáveis em
locais onde o clima não permite ou limita a ocupação humana. A casa é parte de um
todo, complementada com jardins, acessos, muros e portões. Estas estruturas
também fazem parte de um ambiente maior, constituído por quadras, ruas, bairros,
cidades, chegando até o planeta Terra. (ROAF, 2009).
A paisagem da cidade é essencialmente formada por edificações, sejam
estes modernos edifícios, construções antigas, palacetes, conjuntos populares ou
barracos de favelas. O espaço urbano é um complexo e contraditório sistema, onde
o homem se aproveita dos recursos naturais para se manter, sem se preocupar com
os desequilíbrios que pode estar causando ao ambiente (THOMSEN, 2005).
O homem possui necessidades espaciais variáveis ao longo de sua vida.
Conforme a idade aumenta, aumenta a necessidade de espaço até que os seus
filhos casem e saiam de casa. As casas devem ser espaços dinâmicos, que se
adaptem às necessidades de quem mora nelas (ROAF, 2009).
Azeredo (1977) afirma que segundo o plano diretor municipal há, entre
outros, cinco principais usos permitidos para uma edificação, sendo estes:
residencial, comercial, industrial, recreativo e religioso.
A Lei de Edificações e Instalações do Município do Recife (1997), relata
que habitações são construções para moradia. Os ambientes mínimos necessários
para uma residência são aqueles destinados à estar, repouso, alimentação e
higiene. Os imóveis podem ser casas, edifícios de apartamentos, pensionatos,
moradias religiosas ou estudantis, orfanatos e asilos e ter caráter unifamiliar, onde
reside apenas uma família, oumultifamiliar, onde habita mais de uma família.
A Constituição Brasileira de 1988 determina, no Artigo 6º, que são direitos
sociais dos brasileiros ter acesso à: educação, saúde, alimentação, trabalho,
moradia , lazer, segurança, previdência social, entre outros.
26
De acordo com pesquisa do Ministério das Cidades do Brasil (2011) no
ano de 2008 o déficit habitacional brasileiro correspondia a mais de 5,5 milhões de
domicílios, sendo 4,629 milhões apenas nas cidades. A comparação dos dados com
os de 2007 mostra que o déficit aumentou, pois houve queda no número de
unidades habitacionais. Para agravar esta situação, constatou-se que a faixa de
renda que representa 89,6% do déficit é formada por famílias que recebem até três
salários mínimos. Em paralelo ao déficit existem as construções sem condições de
habitação por desgaste ou precariedade de sua estrutura física. Isto implica em
famílias dividindo uma casa, moradores com dificuldade de pagar aluguel e
apartamentos alugados para muitas pessoas, e residências em edifícios sem fins
habitacionais.
A casa é o elemento físico que protege e divide espaços, tanto internos
como externos. Ao unir à casa os hábitos de seus ocupantes teremos então
moradias, cada uma delas com as características intrínsecas à seus residentes. A
habitação integra ambas a casa e a moradia ao seu ambiente urbano, seu exterior
(FOLZ, 2002).
No Brasil, as incertezas da previdência, fazem com que a casa própria
seja não apenas um local para se proteger de intempéries, mas também o único
abrigo em caso de desemprego e na velhice. Quando se constrói para a população
de baixa renda, são tratados como indispensáveis apenas teto e paredes, enquanto
a população de renda média e alta se preocupa com tamanho, conforto, localização,
infra-estrutura e outros fatores (SILVA, 1997).
Comercializar uma habitação, devido ao seu alto valor de venda, depende
de financiamentos de longo prazo e economia financeira. Por ser uma necessidade
básica do ser humano, é um bem necessário a todas as famílias, correspondendo
assim à uma parcela significativa do mercado de construção civil. Por consequência,
gera uma quantia significativa de empregos e contribui para o aumento do PIB
(SANTOS, 1999).
O projeto de uma residência é elaborado a partir da combinação de
diversos fatores: terreno, programa de ambientes, morfologia da edificação,
implantação no terreno, relação com o entorno, materiais empregados em sua
construção, entre outros. Cabe ao arquiteto analisar os anseios do futuro morador,
identificando o conforto, a segurança, a intimidade e outros fatores que possam
alterar a concepção do projeto. O resultado da interação entre arquiteto e cliente
27
deverá ser uma solução arquitetônica que satisfaça ao máximo as expectativas do
cliente, levando em conta que espaços não são elementos estáticos, mas sim
elementos que mudam conforme a necessidade de seus habitantes (CRUZ, 2006).
2.4 Análise do Ciclo de Vida do Edifício
Toda ação humana que modifique propriedades físicas, químicas e
biológicas do meio ambiente que afete a saúde, a segurança e o bem-estar da
população, suas atividades econômicas e sociais, qualquer forma de vida do
ecossistema; as condições de bem-estar e da paisagem, bem como a qualidade do
meio ambiente é um impacto ambiental (CONAMA, 1986).
A Análise de Ciclo de Vida é uma ferramenta utilizada para estimar os
impactos causados ao meio ambiente na produção de um determinado produto,
desde a concepção do mesmo até o fim de sua vida útil. São estudadas as etapas
do processo de fabricação, levando em conta energia, transporte, distribuição e
armazenamento; o uso do produto pronto, sua manutenção e substituição de peças;
e a destinação final do mesmo, seja reuso, descarte ou reciclagem. O Ciclo de Vida
de um produto sofre alterações de acordo com o ambiente onde o mesmo se insere
(TORRES, 2005)
Uma embalagem apropriada para descarte nem sempre é a melhor
alternativa, pois aquela embalagem pode possuir um maior gasto energético em sua
produção. Da mesma maneira, um componente ser 100% reciclável não
corresponde à reciclagem real do produto (GIACOMINI FILHO, 2004).
O ciclo de vida estuda uma edificação em toda sua vida útil, levando em
consideração a necessidade de manutenção da casa e seus componentes e, ao final
da sua vida útil, o estado em que a mesma encontrar-se-á e o que será feito com
ela. Desta maneira é possível avaliar a importância de cada aspecto da construção e
o impacto total causado pela mesma (ROAF, 2009).
De acordo com Degani (2002), ao pensar em um edifício como produto a
sua vida útil possui algumas etapas básicas. A primeira etapa consiste na concepção
da edificação, quando são desenvolvidos estudos de viabilidade física, econômica e
financeira e elaborados projetos, especificações e planejada a construção. A fase
que compreende a construção do edifico é a implantação, seguida pela fase de
operação do edifício, etapa onde o mesmo é ocupado por seus usuários. Durante ou
28
após a fase de uso, são feitas reposições e manutenções de componentes cuja vida
útil terminou ou cujo desempenho está comprometido, modernizando o
empreendimento. A última fase de uma edificação é sua demolição.
Para que possa ser estabelecido o ciclo de vida de um produto devem ser
identificados e quantificados todos os insumos consumidos em sua fabricação,
sejam os mesmos energéticos ou materiais, e todos os resíduos gerados pela
produção, sejam resíduos sólidos, emissões atmosféricas, efluentes líquidos ou
perdas energéticas durante toda a duração do produto, até o seu descarte. Uma vez
levantados estes dados devem ser avaliados os impactos ambientais ao longo de
toda a cadeia, incluindo as manufaturas paralelas de bens e destinação de resíduos.
Devem ser definidas as categorias de impacto estudadas, de acordo com os danos
causados (VILELA JÚNIOR, 2006).
A emissão de efluentes e a geração de resíduos sólidos ocasionam a
poluição da água e do solo, respectivamente, além dos detritos sobrecarregarem os
aterros sanitários. São também poluições causadas na construção e uso de
edifícios: a atmosférica, por emissão de material particulado respirável
especialmente na fase de implantação; sonora nas fases de implantação e
demolição; e poluição do ar interior, durante o uso do edifício, por componentes de
materiais utilizados, pelas atividades realizadas ou por equipamentos com
manutenção indevida (DEGANI, 2002).
O impacto ambiental gerado por uma construção é afetado pela escolha
dos insumos utilizados. Todos os materiais construtivos sofrem algum tipo de
transformação para serem incorporados à edificação, sendo algumas
transformações maiores e outras menores. Os processos sofridos pelos bens
consomem energia e geram resíduos, não podendo, no entanto, ser os únicos
fatores analisados em sua escolha. O impacto ambiental total não leva em
consideração apenas o impacto causado na produção de uma matéria. O dano é
minimizado ao serem analisadas as qualidades do bem e na maneira como o
mesmo pode trazer benefícios ao ser incorporado a uma construção. Alguns
materiais podem causar impactos ambientais maiores se usados em grande
quantidade, mas em quantidade moderada podem ter importantes qualidades, como
aumentar a vida útil, ampliar um vão, dando um melhor acabamento. Cada material
terá benefícios e malefícios, cabe aos projetistas analisarem as necessidades de
cada casa e as disponibilidades da região onde está inserida (ROAF, 2009).
29
2.5 Edifício Sustentável
Minimizar ou, até mesmo, eliminar impactos ambientais negativos
causados por uma edificação é o que faz um empreendimento ter um bom
desempenho ambiental (DEGANI, 2002).
Vários dos aspectos da vida moderna progrediram com o modelo de
desenvolvimento que tinha como objetivos consumir e degradar os recursos naturais
e energias. Por outro lado, foram acentuadas a poluição ambiental, a dificuldade de
circulação urbana, a desvalorização das áreas de convívio social, a degradação da
qualidade de vida da sociedade. Estes aspectos foram especialmente realçados nas
grandes metrópoles, e tem reflexo facilmente observado na cidade e sua arquitetura.
As muralhas de arranha-céus e megaconstruções resultaram na impermeabilização
dos solos e no aparecimento de microclimas dentro das cidades. Como
conseqüência do aumento da temperatura causado por este processo, os edifícios
possuem altíssimo consumo energético de operação, especialmente com
refrigeração. Tal configuração desencadeou uma crise energética, sendo necessária
a construção de usinas de força, que, não importa a matéria usada em sua
produção, tinham como conseqüências perda de biodiversidade, poluição, riscos de
segurança, entre outros. Ficou clara, então, a necessidade de mudança de
paradigma, uma vez que a escassez dos recursos coloca em risco a sobrevivência
humana. Não são as pessoas que devem se adaptar aos ambientes, mas sim os
ambientes, às necessidades das pessoas. A garantia da integridade do ser humano,
bem como de sua saúde, bem-estar, saúde e segurança estão diretamente ligadas
ao conforto e à qualidade de vida (ADAM, 2001).
A arquitetura, que hoje intensifica e agrava os efeitos climáticos, deve
voltar a projetar para proteger e dar conforto ao homem, minimizando estes efeitos.
Um projeto arquitetônico adequado a uma edificação pode trazer para o interior da
mesma um microclima diferenciado. Para que seja possível a criação de uma
temperatura interna adequada, alguns dos aspectos da edificação a ser estudados
são: orientação de acordo com a insolação e ventilação; sombreamento; forma
arquitetônica empregada; posicionamento da edificação e de suas aberturas; cores
das paredes internas, externas e telhado; entre outros fatores (MACIEL, 2002).
30
O caráter das edificações é diretamente influenciado pelo material com o
qual foram produzidas. As características de execução, a lógica das formas e a
moradia serão diferentes se uma casa for construída em adobe, tijolos de barro,
madeira, concreto, ferro, vidro ou plástico. Existem não só aspectos físicos que
influenciam nesta diferença, como clima, qualidade do ar e saúde, mas também
aspectos psicológicos. Cada um destes materiais possui um custo ambiental, que
pode ou não ser compensador (ROAF, 2009).
Dentre os elementos arquitetônicos a serem analisados para a construção
bioclimática estão em especial os materiais construtivos, devendo ser escolhidos
aqueles que diminuam a necessidade de energia com resfriamento ou aquecimento,
por possuir maior proteção térmica (MACIEL, 2002).
Materiais usados sob as condições climáticas de seu local de origem
tendem a ser duráveis, além de se tornar mais fácil encontrar mão-de-obra
especializada em utilizá-lo. Aliados à estes fatores, por percorrerem menores
distâncias de sua manufatura à obra, os gastos com transportes e a produção de
poluentes serão inferiores e haverá a ampliação da circulação de moeda, a
valorização da cultura e da identidade locais (ROAF, 2009).
As principais funções de um edifício são dar abrigo contra vento, chuva,
neve, calor e frio, segundo Roaf (2009). Quanto menos estas funções forem
cumpridas sem o auxílio de energia, mais propensa está a casa de promover um
futuro aos seus proprietários, uma vez que o fornecimento da energia elétrica, em
sua maioria, não é feito por fontes renováveis.
2.6 Certificações para Edificações Sustentáveis
A primeira certificação ambiental de edificações foi criada em 1990 na
Inglaterra, o BREEAM – Building Research Establishment Environmental
Assessment Method. Utilizada em diversos países ao redor do globo, a certificação
estrutura um checklist com o intuito de orientar projetos, desde o planejamento até a
pós-ocupação, para que o mesmo esteja de acordo com os preceitos de
sustentabilidade. O certificado aprecia diferentes uso de edificações, como
residências, comércios e indústrias, e possui manuais definidos para determinadas
localidades e um manual capaz de sofrer adaptações de acordo com as
necessidades de um lugar, o BREEAM BESPOKE (BREEAM, 2012).
31
O Green Building Council (GBC) é uma organização não governamental,
fundada em 1993 nos Estados Unidos e com sede em 127 países, responsável pela
criação, em janeiro de 1999, do LEED – Leadership in Energy and Environmental
Design. O LEED é um sistema de certificação e orientação para a construção de
edificações sustentáveis, atualmente a mais reconhecida e utilizada certificação em
todo o mundo, tendo 46 construções brasileiras já obtido o selo e outras 506 em
processo de obtenção. Assim como o BREEAM, o LEED contempla as diversas
fases da construção e diferentes tipos de construção, como residências, escolas,
escritórios e até bairros sustentáveis (USCGBC, 2012).
A certificação francesa HQE – Haute Qualité Environnementale, foi criada
em 1992 pela Association pour la Haute Qualité Environnementale (ASSOHQE),
possui uma adaptação para o Brasil, o AQUA – Alta Qualidade Ambiental, com 20
empreendimentos certificados. Trata-se de um processo de gestão do projeto para
reabilitar ou construir um empreendimento com qualidade ambiental, contemplando
as diversas fases da vida da edificação e diferentes usos (Association, 2012).
A Eletrobrás, juntamente com o Inmetro, ampliou a utilização do selo
Procel de eletrodomésticos, criando o Selo Procel Edifica. A certificação é, na
verdade, um programa de etiquetagem de desempenho energético, deixando de fora
os demais aspectos causadores de impactos das construções, tendo como foco
apenas a eficiência energética das edificações (BRASIL, 1985).
O mais recente selo brasileiro foi desenvolvido em 2010 por um banco, a
Caixa Econômica Federal, sendo chamado de Selo Casa Azul. O certificado é
voltado para empreendimentos habitacionais que possuam contribuições para a
redução de impactos ambientais, avaliados a partir de seis critérios: qualidade
urbana, projeto e conforto, eficiência energética, conservação de recursos materiais,
gestão da água e práticas sociais. As etapas do ciclo de vida da edificação
contempladas são concepção, construção, ocupação e demolição (BRASIL, 2010).
2.7 Legislação urbana e sustentabilidade
Administrar o meio ambiente urbano é uma tarefa desafiadora e
complexa. A preservação do meio ambiente e a garantia de condições dignas de
vida à população, sem exclusões sociais, são os principais desafios desta gestão. O
32
meio ambiente urbano é formado pelo meio ambiente natural e o meio ambiente
transformado pelo homem (SILVA, 1997).
Com o propósito de assegurar a gestão das cidades e o seu
funcionamento adequado, foram criados instrumentos legais e normas que
determinam parâmetros de construção, de maneira que a infraestrutura local seja
capaz de absorver e o dano ambiental seja o menor possível. A legislação brasileira
caminha a passos lentos no que concerne à arquitetura sustentável. As poucas
normas que existem não contemplam todos os aspectos sustentáveis de uma
edificação.
2.7.1 Legislações e normas federais
A Constituição Federal determina no Art. 30, inciso VIII, que a
responsabilidade de planejar e controlar o uso, parcelamento e ocupação do solo
urbano, adequando o ordenamento territorial, é do município. No Capítulo 6, Art. 255
a lei delibera que o poder público e a coletividade devem defender o meio ambiente
para que o mesmo seja aproveitado não apenas pelas gerações atuais, mas
também pelas gerações futuras.
A legislação urbanística Federal brasileira é constituída, basicamente, de
três leis que versam sobre o parcelamento do solo urbano – Lei 6.766/79; o Estatuto
da Cidade – Lei 10.257/01; e a lei de regulamentação fundiária – Lei 11.977/09.
A Lei que dispõe sobre o Parcelamento do Solo Urbano, Lei nº 6.766 de
1979, determina que o solo urbano municipal poderá ser parcelado mediante
desmembramento ou loteamento, respeitando as leis complementares estaduais e
municipais, desde que os novos terrenos tenham infraestrutura básica: esgotamento
sanitário, abastecimento de água, escoamento de águas da chuva e vias de
circulação. A lei estabelece ainda quais os casos em que o solo não poderá ser
parcelado ou edificado, afastamento especiais, documentação necessária, entre
outras providências.
O Estatuto da Cidade consolidou os Artigos 182 e 183 da Constituição
Federal, dando poderes ao município para garantir a função social da cidade. A Lei
nº 10.257 de 2001 determina que instrumentos do Direito Urbanístico devem ser
instituídos pelas cidades, como Plano Diretor, Planos Setoriais, Parcelamento do
Solo Urbano, Zoneamento, Controle de Construção, entre outros.
33
Lei nº 11.977 de 2001 versa, entre outras coisas, acerca da regularização
fundiária. Com o intuito de garantir o direito à moradia, o pleno desenvolvimento
social da propriedade urbana e o meio ambiente equilibrado, foram estabelecidas
medidas jurídicas, urbanísticas, ambientais e sociais para auxiliar a regularização de
assentamentos irregulares, dando a posse à seus ocupantes.
2.7.1.1 Licenciamento Ambiental
De acordo com o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos
Naturais Renováveis, IBAMA (2011), empreendimentos cuja instalação ou
funcionamento seja potencialmente poluidora ou destruidora do meio ambiente
necessitam de um licenciamento ambiental. Os órgãos responsáveis por este
licenciamento fazem parte do Sistema Nacional de Meio Ambiente, SISNAMA, sendo
estes o IBAMA e os Órgãos Estaduais de Meio Ambiente, em Pernambuco a
Agência Estadual do Meio Ambiente, CPRH. O IBAMA interfere em construções que
influenciem em mais de um estado, áreas de oceano, subsolo, setores de petróleo e
gás. O licenciamento ambiental deve seguir as diretrizes da Lei nº 6.938/81, a
Política Nacional do Meio Ambiente, e Resoluções CONAMA nº 001/86 e nº 237/97.
A Política Nacional do Meio Ambiente, o Sistema Nacional do Meio
Ambiente – Sisnama – e o Cadastro de Defesa Ambiental são estabelecidos pela Lei
nº 6.938 de 1981. A Política tem como objetivos melhorar, preservar e recuperar a
qualidade ambiental sem que haja prejuízo no progresso sócio-econômico.
A Resolução do Conselho Nacional do Meio Ambiente, CONAMA, nº 001
de 1986, determina os critérios, diretrizes e responsabilidades para o correto uso e
implementação do Relatório de Impacto Ambiental, RIMA, determina os tipos de
empreendimentos necessitam do RIMA, a que órgãos o mesmo deve ser submetido,
as diretrizes que o relatório deve seguir, os profissionais envolvidos no projeto, entre
outros.
O CONAMA também estabeleceu a Resolução nº 237 de 1997, com o
intuito de revisar procedimentos e critérios utilizados no licenciamento ambiental
propostos pela Resolução nº 001/86, visando a sustentabilidade. Essa resolução
determina o que é o licenciamento ambiental, a licença ambiental, os estudos
ambientais, o impacto ambiental regional e a necessidade de Licenças Prévia, de
Instalação e de Operação.
34
2.7.1.2 Política Nacional de Resíduos Sólidos
A Lei nº 12.305, de 2 de agosto de 2010 estabelece a Política Nacional de
Resíduos Sólidos, delibera quais os princípios, objetivos, instrumentos, diretrizes,
metas e ações adotados pelo Governo Federal com o intuito de gerir de maneira
integrada e ambientalmente adequada os resíduos sólidos. Alguns dos objetivos da
política são: proteger a saúde pública e a qualidade ambiental, tomando como base
a não geração, redução, reutilização, reciclagem, tratamento e disposição final
ambientalmente adequada do lixo, estimulando a produção e consumo sustentáveis,
utilizando e desenvolvendo tecnologias limpas, incentivando a indústria de
reciclagem.
O Plano Nacional de Resíduos Sólidos, também instituído pela Lei nº
12.305/10, determina que seja feito um diagnóstico da situação dos resíduos sólidos,
que proponha novos cenários; metas de redução, reuso, reciclagem; aproveitamento
energético de gases; recuperação de lixões; normas técnicas para desenvolvimento
do plano; medidas de incentivo; diretrizes de planejamento para destinação final;
como serão o controle e a fiscalização do Plano. Dentre os setores produtivos
sujeitos à elaboração do Plano, está a indústria da construção civil.
A Resolução nº 307 de 2002 do CONAMA propõe a destinação adequada
dos resíduos da construção civil e regulamenta o reuso e a reciclagem dos mesmos.
O detalhamento do processo leva em conta desde o tipo de resíduo produzido pela
obra, quem o está gerando, como e quem está efetuando seu transporte e que
destinação final ele tem recebido, propondo, nesta ordem, a redução, o reuso, a
reutilização, a reciclagem e a destinação final. Deverá ser desenvolvido um Plano de
Gerenciamento de Resíduos e Programa Municipal de Gerenciamento de Resíduos,
com o fim de gerenciar todo o processo produtivo do Resíduo da Construção Civil.
2.7.1.3 Política Nacional de Conservação e Uso Racional de Energia
A Lei nº 10.295 de 17 de outubro de 2001 estabelece a Política Nacional
de Conservação e Uso Racional de Energia, visando o consumo energético eficiente
e a preservação ambiental. A legislação determina os níveis máximos de consumo e
mínimos de eficiência energética para máquinas e eletrodomésticos vendidos no
35
Brasil, mesmo importados, após audiência pública com os representantes dos
fabricantes de aparelhos elétricos. Na Política fica definido que deverão ser criados
mecanismos para aumentar a eficiência energética das edificações.
2.7.1.4 Agenda 21
De 1996 a 2002 foi elaborada a Agenda 21 Brasileira, desenvolvida pela
Comissão de Políticas de Desenvolvimento Sustentável e da Agenda 21 Nacional
(CPDS). Uma vez pronta, foi transformada em Plano Plurianual do Governo (PPA
2004/2007), cujas ações estratégicas eram três: implementar a Agenda 21 nacional;
elaborar e colocar em vigor as Agendas 21 locais; fazer com que a aplicação da
Agenda 21 estivesse sempre sendo atualizada e em uso. Com o intuito de facilitar a
gestão, a Agenda foi dividida em seis eixos, sendo fundamental a participação
popular em todos eles: gestão dos recursos naturais; agricultura sustentável; cidades
sustentáveis; infra-estrutura e integração regional; redução das igualdades sociais;
ciência e tecnologia para o Desenvolvimento Sustentável (BRASIL, 2004).
2.7.1.5 Associação Brasileira de Normas Técnicas
A edificação deve permitir a acessibilidade para todas as pessoas, sejam
as mesmas portadoras de deficiência física ou não, atendendo os critérios e
parâmetros estabelecidos pela Norma de Acessibilidade, a NBR 9.050:2004. O
mobiliário, os espaços e os equipamentos urbanos devem seguir diretrizes que
contemplem várias condições de mobilidade e percepção do ambiente, permitindo o
livre acesso aos espaços para pessoas com deficiências motoras e sensoriais.
Com o intuito de melhorar o desempenho da Construção Civil a
Associação Brasileira de Normas Técnicas instituiu a NBR 15.575, Norma de
Desempenho, que deve entrar em vigor ainda no primeiro semestre de 2013. Essa
norma trata do desempenho da construção por seus materiais e o conforto térmico
por eles proporcionado; a luminosidade e ventilação de acordo com o
posicionamento da edificação no terreno e as dimensões de esquadrias; a acústica
da edificação; e o reaproveitamento da água para edificações com até cinco
pavimentos. Dentre os aspectos requeridos pela norma estão sistemas estruturais,
pisos internos, vedações, coberturas, e instalações hidro-sanitárias.
36
2.7.2 Legislações e normas estaduais
2.7.2.1 Agenda 21
A Agenda 21 de Pernambuco, de 06 de agosto de 2002, foi a primeira
Agenda a ser elaborada no país. Coordenada pela Secretaria de Ciência, Tecnologia
e Meio Ambiente, o Fórum Estadual da Agenda 21 de Pernambuco, constituído de
representantes do Governo, de entidades não-governamentais e do setor
empresarial. A Agenda teve como base cinco outros documentos: a Agenda 21
Global, a Convenção de Combate à Desertificação, a Convenção da Biodiversidade,
a Declaração do Milênio, e a Agenda 21 Brasileira. O documento relata que o
objetivo central do desenvolvimento sustentável é a elevação da qualidade de vida e
a equidade social, não importa o prazo e os pré-requisitos para atender estes
objetivos são a eficiência econômica e o crescimento econômico; com o
condicionante da conservação ambiental, permitindo a qualidade de vida inclusive
para as gerações futuras.
A Agenda 21 de Pernambuco tem foco no urbanismo em dois de seus
principais eixos: cidades sustentáveis e infra-estrutura. No primeiro eixo o
documento trata de uso e ocupação do solo; planejamento e gestão urbana;
habitação e melhoria das condições ambientais; garantia de direito de acesso às
cidades; padrões de consumo; reciclagem e coleta seletiva; prevenção, controle e
diminuição dos impactos ambientais em áreas urbanas; conservação do patrimônio
histórico; desenvolvimento sustentável dos assentamentos humanos; transporte;
abastecimento de água e esgoto. No segundo eixo o foco fica em: transporte seguro
e menos poluente; maior cobertura da energia; reavaliação dos atuais padrões de
consumo; comunicação, telecomunicações, computação e informação.
2.7.2.2 Lei nº 14.572, de 27 de dezembro de 2011
A primeira legislação de Pernambuco a prever sustentabilidade em
edificações residenciais ou não, foi a Lei nº 14.572, de 27 de dezembro de 2011,
determinando quais as construções que devem atender as novas exigências de
redução do desperdício, de reaproveitamento das águas servidas e de captação e
37
uso da água das chuvas. Uma vez que as águas reusadas não são potáveis, a
norma determina as condições de captação, armazenamento, tratamento e utilização
das águas pluviais e servidas – sendo estritamente proibido unir as tubulações
destas águas e as de água potável. A lei determina ainda a prerrogativa de utilização
de aparelhos e dispositivos que reduzam o consumo de água, como bacias
sanitárias de volume reduzido, e a instalação de hidrômetros individualizados em
habitações multifamiliares, já prevista pela Lei nº 12.609, de 22 de junho de 2004. O
não cumprimento do decreto acarreta no não licenciamento ambiental e multas, de
acordo com a capacidade do pagador.
2.7.2.3 Lei nº 11.186, de 22 de dezembro de 1994 e Código de Segurança Contra
Incêndio e Pânico para o Estado de Pernambuco (COSCIP)
A lei nº 11.186, de 22 de dezembro de 1994 estabelece a necessidade de
sistemas de segurança e pânico para edificações, dando ao Corpo de Bombeiros
Militar de Pernambuco poderes para estudar, planejar, aprovar, fiscalizar e executar
as normas adequadas para tal finalidade. A legislação faz uma classificação de
riscos de acordo com parâmetros construídos e capacidade de combater incêndios e
evacuar edificações e define classificações de uso das edificações, parâmetros que
juntos definirão o sistema de combate a incêndios a ser instalado, com o intuito de
retardar a propagação do fogo, propiciar a evacuação eficiente, alertar, combater
incêndios e proteger estruturas. O não cumprimento da normatização pode gerar
multa, interdição ou embargo da edificação.
Em 1996 foi assinada, em complementação à lei nº 11.186/94, o Código
de Segurança Contra Incêndio e Pânico para o Estado de Pernambuco. O código
enfatiza as normas estabelecidas pela legislação anterior e acrescenta outros
aspectos, determina parâmetros para definição de sistemas de segurança da
edificação; quais os sistemas de incêndio que podem ser utilizados, de extintores à
sistemas de canalização e mangueiras; a reserva mínima de água na caixa d`água
destinada à extinção de incêndios; os sistemas de evacuação da edificação,
constituído por escadas e rampas; os sistemas de sinalização e iluminação de
emergência; e as penalizações do não cumprimento do código.
2.7.3. Legislações e normas municipais
38
2.7.3.1 Plano Diretor
A ordenação territorial urbana é estabelecida pela regulamentação
conhecida como Plano Diretor. É esse instrumento que regulamenta a política de
desenvolvimento e expansão urbana do município, de maneira ordenada, garantindo
o bem-estar dos habitantes. De acordo com o Estatuto das Cidades, municípios que
possuam 20.000 habitantes ou mais devem ter seu plano, exigência que, em alguns
Estados, foi estendida para todos os municípios. (CARVALHO, 2001).
O Plano Diretor de Desenvolvimento da Cidade do Recife foi instituído
juntamente com o Sistema de Planejamento e de Informações da Cidade pela lei nº
15.547/91. De acordo com o Plano, política urbana tem como objetivos: o
desenvolvimento social e econômico da cidade; a melhoria da qualidade de vida da
população; a integração do Recife enquanto metrópole; a participação ativa no
desenvolvimento nacional; a preservação da cultura da cidade; proteger, valorizar e
usar adequadamente o meio ambiente e a paisagem urbana; a atuação dos agentes
públicos e privados atuantes na cidade no desenvolvimento urbano. O conjunto de
atividades a serem desenvolvidas visando o processo contínuo de desenvolvimento
do Recife, garantindo condições urbanas de bem-estar para a população, chama-se
gestão urbana. Dentro da gestão urbana, encontram-se os parâmetros urbanísticos
determinados pela municipalidade para a construção e uso do solo sem que haja o
comprometimento da infra-estrutura.
2.7.3.2 Lei de Uso e Ocupação do Solo
A legislação responsável pelo equilíbrio da densidade populacional e as
atividades compatíveis com os equipamentos urbanos na cidade do Recife é a Lei
de Uso e Ocupação do Solo, Lei nº 16.176/96. A presente lei determina qual o
máximo de pavimentos que dos edifícios, que usos podem ser instalados e onde,
quanto é possível construir em cada terreno de acordo com sua área e localização
na cidade, quanto de solo natural cada empreendimento deve ter, entre outros
fatores, com o intuito de preservar o perfeito funcionamento da infraestrutura uma
vez que aquela edificação esteja concluída (RECIFE, 1996).
A Lei de Uso e Ocupação do Solo é complementada pela Lei da área de
reestruturação urbana (ARU), Lei nº 16.719/2001, mais conhecida por Lei dos 12
39
Bairros. A ARU restringe os parâmetros construtivos de 12 bairros do Recife
excessivamente adensados e com a infra-estrutura sobrecarregada. Os objetivos da
legislação são: requalificar o espaço urbano coletivo; permitir usos múltiplos na área
em questão, respeitados seus limites; condicionar o uso e a ocupação do solo à
infra-estrutura, à arquitetura e à paisagem urbana; definir áreas especiais a serem
protegidas por condições ambientais, paisagem, história, cultura e condição sócio-
econômica; respeitar as características específicas de cada espaço.
2.7.3.3 Lei de Edificações e Instalações na Cidade do Recife
O Recife, em 1997, estabeleceu, em complementação à Lei de Uso e
Ocupação do Solo e, posteriormente, ao Plano diretor, a Lei nº 16.292, a Lei de
Edificações e Instalações na Cidade do Recife. Dentre os objetivos desta lei estão
regulamentar as Edificações e suas Instalações, coordenar o crescimento urbano,
regular o uso do solo, controlar a densidade construtiva, garantir a proteção ao meio
ambiente, eliminar barreiras arquitetônicas que impossibilitem o trânsito seguro de
pessoas com deficiências ou dificuldades de locomoção, determinar as dimensões
mínimas dos ambientes e suas aberturas, os acessos, os usos, o cálculo de água e
lixo, a necessidade de proteção contra incêndios, entre outros.
2.7.3.4 Código do Meio Ambiente e do Equilíbrio Ecológico da Cidade do Recife
A Lei nº 16.243, 13 de setembro de 1996, determina a política do meio
ambiente da Cidade do Recife e consolida sua legislação ambiental, defendendo o
direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, como bem essencial à
qualidade de vida, dando responsabilidade ao poder público para adotar medidas
para minimizar os danos ao meio ambiente físico. A execução da Política será feita
pelo Conselho Municipal do Meio Ambiente – COMAM; pela Secretaria de
Planejamento Urbano e Ambiental – SEPLAM; e por outros órgãos que vierem a ser
criados para tal fim. A lei estabelece diretrizes para: preservação do solo, subsolo e
das águas subterrâneas; estocagem, transporte e destinação adequada de resíduos,
tóxicos ou não; coleta seletiva de lixo separada na origem; movimentação de terras;
drenagem pluvial; garantia de esgotamento sanitário e tratamento para disposição
em efluentes; padrões de qualidade do ar e sugestões de prevenção de poluição
40
para os geradores; limites para a produção de ruídos; promoção da harmonia entre
homem e meio ambiente; proteção dos sítios ambientais e históricos; educação
ambiental; estímulo à pesquisa; necessidade de relatórios especiais para
empreendimentos que venham gerar impactos maiores; e punições do não
cumprimento da legislação.
2.7.3.5 Agenda 21
A Agenda 21 da cidade do Recife ainda está em fase de elaboração,
disponível em <http://www.recife.pe.gov.br/meioambiente/agenda21.html>. A mesma
pretende ser um pacto social, elaborado a partir de audiências públicas, discussões
temáticas e conferencias nos diversos setores da cidade para debater problemáticas
e potencialidades locais. O intuito da Agenda é definir estratégias para promover o
desenvolvimento sustentável recifense. Foi estruturada, na fase inicial de
constituição da Agenda, a Comissão Pró-Agenda 21 Local, formada por órgãos
públicos e organizações da sociedade civil.
41
3 EVOLUÇÃO HISTÓRICA DO MORAR
Projetar habitações requer um grande conhecimento não apenas de
características, valores e costumes regionais, mas também de práticas e métodos
que ampliem o bem estar humano dentro das mesmas. Para planejar habitações é
necessário um pensamento futuro, com o intuito de prever incômodos e tentar
prevení-los (THOMSEN, 2005).
Para que o homem possa intervir projetando edificações sustentáveis é
necessário o entendimento da evolução do morar e a relação desta história com o
desenvolvimento e o meio-ambiente.
3.1 Pré-história
A Pré-História humana é tida como o período compreendido entre o ano
700.000 e 4.000 antes de Cristo, quando surgiu a escrita. Este período é dividido em
três outros períodos: Paleolítico; Mesolítico; e Neolítico. Durante esta época a
capacidade criativa do homem permitiu a sua subsistência nos mais variados
ambientes e climas (PEDRO, 2005).
O primeiro período, o Paleolítico, durou até aproximadamente o ano 15
mil antes de Cristo e foi o período onde o homem viveu mais primitivamente. Sua
subsistência era garantida por caça, pesca e coleta de frutos e raízes, empregando
instrumentos de lascas de pedra, madeira e osso. Se descobriu o controle do fogo,
importante ferramenta para aquecimento, proteção e preparo de alimentos. De
tempos em tempos os grupos humanos eram obrigados a mudar de localidade, por
conta da escassez de alimento e alterações climáticas. O nomadismo foi
intensificado com a última glaciação, por volta do ano 10.000 a.C., dando início o
período Mesolítico, quando foram inventados o arco, a flecha, o arremessador de
lanças e aperfeiçoado o controle do fogo (VICENTINO, 1997). O homem dessa
época vivia em cavernas e abrigos naturais ou cabanas feitas com peles de animais
estiradas sobre estruturas primitivas de madeira (BENEVOLO, 1980).
A Idade da Pedra Polida, ou Período Neolítico, foi o último período da
Pré-História, entre 10.000 a.C. e 4.000 a.C. Aconteceu, então, a reformulação na
forma de viver dos grupos humanos, através do desenvolvimento da agricultura, da
domesticação de animais e, no final deste período, da descoberta dos metais
42
(VICENTINO, 1997). Com o poder de plantar e domesticar animais, garantindo sua
alimentação, o homem passou do nomadismo para o sedentarismo. (PEDRO, 2005).
3.2 A Civilização Antiga
Durante a transição do Período Paleolítico para o Neolítico – entre onze e
seis mil anos atrás –, iniciaram, na Mesopotâmia, sedentarizações de povos vindos
de outras partes do continente. Essas novas sociedades eram baseadas no modo
de produção agrícola, favorecido pelo desenvolvimento de um complexo sistema
hidráulico, que se beneficiava pela utilização de pântanos, evitando inundações e
garantindo o abastecimento de água durante as secas (VICENTINO, 1997).
O sedentarismo deu origem aos primeiros sistemas sociais, que hoje dão
lugar às cidades. Com ele surgiu a necessidade da energia para construir casas,
arar e semear, transportar, cozinhar, aquecer e fabricar utensílios (BUTERA, 2009).
O traçado urbano dos primeiros assentamentos, eram desenvolvidos
seguindo a ortogonalidade, bem vista até os dias atuais. As vias eram posicionadas
nos sentidos Norte-Sul e Leste-Oeste para melhor ventilação no verão e proteção do
frio no inverno (BUTERA, 2009). Não havia diferenciação construtiva entre os
templos e as casas, uma vez que as casas eram miniaturas dos templos
(BENEVOLO, 1980).
Desde a Idade Antiga as cidades em terrenos inclinados possuíam
condutores de descarga para dejetos e recolhimento de água da chuva. Em terrenos
planos, era realizado o recolhimento dos resíduos para a reutilização, depois de
secos, como fertilizantes. Conforme as cidades cresciam aumentava o mau cheiro
das ruas e a quantidade de animais atraídos pela descarga a céu aberto. As
construções do período eram consequências dos materiais disponíveis e de fácil
uso. As primeiras construções eram conjuntos de cabanas com paredes de lama e
varas de madeira, e o exterior circundado por plantações, evoluindo para casas de
tijolos de barro crus ou cozidos. A pedra somente era utilizada nas casas de ricos e
templos religiosos (BUTERA, 2009).
Em Atenas a simplicidade da disposição dos cômodos de uma casa
mostrava que elas não eram pensadas para permanência continuada, uma vez que
a maior parte do dia era vivida nas áreas públicas (BENEVOLO, 1980).
43
As janelas, ainda sem fechamento de vidro, eram situadas no alto das
paredes para ventilar e permitir a saída da fumaça ao cozinhar no verão. Durante o
inverno as pessoas tinham que escolher entre o frio ou a fuligem e fumaça
provenientes do fogo acesso. As casas possuíam terraços para recolher e
armazenar a água da chuva, como complemento da água trazida dos rios para
fontes e cacimbas no meio da cidade (BUTERA, 2009).
Por volta do 800 antes de Cristo, na fértil Península Itálica, foi fundada a
cidade de Roma. As famílias ricas dominavam grande parte das propriedades e as
funções de maior importância no governo, enquanto os plebeus eram formados por
pequenos proprietários, comerciantes e artesãos (PEDRO, 2005).
As casas dos romanos ricos eram palacetes situados no domus,
abastecidas com água do aqueduto. As habitações que não possuíam esgoto,
tinham seus dejetos recolhidos por vendedores de adubo. No século I a.C. foram
desenvolvidas as primeiras técnicas de aquecimento. A primeira, por canalizações
internas às paredes, através de onde eram conduzidas as fumaças da combustão
que acontecia em um pavimento subterrâneo. Na segunda o piso era suspenso por
pilastras, formando uma câmara subterrânea onde ocorria o aquecimento,
distribuindo o calor por canais internos às paredes. Ambas as técnicas necessitavam
de grande quantidade de carvão ou lenha e esquentavam por pouco tempo,
possuindo altos custos, sendo restrita aos ricos e prédios públicos (BUTERA, 2009).
A maioria da população romana morava na insulae, prédios com vários
andares, divididos em diversos cômodos do mesmo tamanho voltados para a rua, as
cenaculas. Os pavimentos térreos eram ocupados por lojas chamadas de tabernae
ou casas luxuosas, domus (BENEVOLO, 1980). A água e o esgoto não chegavam
aos apartamentos, tendo os moradores que subir com a água e usar banheiros
públicos ou vasos, normalmente esvaziados nas vias públicas. Para os moradores
dessas edificações era árduo cozinhar, pois não havia aberturas para sair a fumaça.
No verão o calor era intenso e no inverno o frio extremo. (BUTERA, 2009).
3.3 A Idade Média
O período histórico compreendido entre os séculos V e XV, marcados,
respectivamente, pela queda do Império Romano do Ocidente e a tomada de
Constantinopla, é a Idade Média. Nessa época aconteceu a ruptura de paradigmas
44
pela transição socioeconômica para o feudalismo e a aliança entre filosofia e
teologia, resultando na perda de vitalidade da ciência. Com a queda do Império
Romano a população migrou da cidade para o campo, praticando agricultura dentro
das vilas, de propriedade dos senhores feudais. As vilas eram divididas em três
setores: o domínio, propriedade privada do senhor feudal, onde havia um castelo
fortificado; o manso servil, lotes de terras arrendadas a camponeses; e o manso
comunal, que eram os bosques e pastos de uso comunitário (VICENTINO, 1997).
Nesse período ocorreu um retrocesso das cidades, que deixaram de ser
projetadas, tendo sido criadas e crescido aleatoriamente. O traçado sinuoso das
cidades medievais protegiam as edificações, proporcionando barreiras para o vento
e para o sol. No entanto, a falta de regularidade tornava difícil, senão impossível, a
coleta de esgoto. Os excrementos eram jogados pelas vias, consequentemente
tomadas por porcos que os consumiam. A água começou a ser distribuída a partir do
século XVI, em Londres, tendo sido até então transportada em vasos ou garrafas
desde os poços e mananciais. Um dos grandes avanços da Idade Média foi o
aquecimento, pela razão de terem sido introduzidos às habitações o fogão com
chaminé e a lareira, permitindo a saída da fumaça e a melhoria do ar na habitação. A
degradação urbana das cidades europeias durou até o início do século XIX.
(BUTERA, 2009).
Curiosamente das cidades Romanas restaram ruínas enquanto alguns
dos Feudos evoluíram e hoje são grandes metrópoles, como Paris e Londres
(BENEVOLO,1980).
Uma enorme diferença podia ser percebida entra a casa do senhor feudal
e as casas dos camponeses. Os primeiros viviam na torre mais alta da fortaleza das
cidades, em castelos de pedras, com vários pavimentos em madeira divididos em
salões e diversos aposentos. Ainda não havia vidro, portanto as janelas eram altas e
algumas com persianas, que eram fechadas enquanto as pessoas dormiam,
bloqueando a luz de fora e auxiliando no aquecimento. Os camponeses viviam em
casas com teto de estopas, com paredes de madeira ou de argila e palha aderidos à
uma grade de madeira. As únicas aberturas da casa eram uma perfuração no teto
para sair a fumaça, uma porta e uma janela. As residências tinham apenas um
cômodo, com um fogareiro ao centro, alguns bancos e um ou dois leitos para várias
pessoas. Frequentemente existia neste cômodo uma divisão para animais, que
ajudavam a aquecer o ambiente (BUTERA,2009).
45
O feudalismo começou a decair depois de passadas as grandes pragas,
quando o índice de natalidade começou a superar o de mortalidade, tornando
inviável o sistema produtivo. Senhores feudais começaram a expulsar excedentes
populacionais, e estas pessoas voltaram, marginalizadas, para as cidades, que
renasceram nos burgos (VICENTINO, 1997).
Conhecido desde a antiguidade, apenas no final da Idade Média o vidro
começou a parecer nas janelas das casas da burguesia. O novo fechamento para as
janelas foi possivelmente o avanço tecnológico que proporcionou maior aumento na
qualidade de vida das habitações. As janelas envidraçadas fazem com que a casa
possa ter iluminação sem que se passasse frio. Foi possível o desenvolvimento das
primeiras estufas, evoluindo futuramente para os sistemas de aquecimento e, no
verão, o condicionamento de ar. A possibilidade do uso deste material transfere as
atividades cotidianas para dentro da casa, surgindo para tal os aposentos, cada um
com uma lareira e uma janela, exercendo diferentes funções: cozinhar, dormir,
trabalhar, receber, estudar. O aumento do consumo de lenha e carvão causado pelo
aumento do número de lareiras tornava as novas habitações restritas aos mais
abastados (BUTERA, 2009).
3.4 A Idade Moderna
A arquitetura ganhou um novo significado durante a Idade Moderna, uma
vez que foi desenvolvido um novo método de trabalho separando a concepção e o
planejamento de um imóvel de sua construção. O arquiteto desenvolvia o projeto em
detalhes e todas as decisões importantes acerca do mesmo eram definidas para que
só depois iniciasse a obra. O projeto consistia em estudo de proporções do edifício,
definição das dimensões do mesmo e especificação de materiais a serem usados
(BENEVOLO, 1980).
A importância da capitalização e do comércio foram reforçadas pelo
período de transição econômica e social do período. Surgiu uma nova classe social,
determinada a ganhar prestígio junto à aristocracia, a burguesia. A migração da
população rural para as cidades favoreceu o crescimento desta classe e dos
negócios que a mesma tomava conta (VICENTINO, 1997).
As novas cidades votlaram ao traçado originalmente ortogonal, devendo
ser capazes de crescer a qualquer momento, apenas sendo adicionados quarteirões
46
repetindo o traçado já existente. A transição entre urbe e campo passou a ser mais
sutil, pois deixaram de existir as muralhas que determinavam estes limites
(BENEVOLO, 1980).
Neste período foram significativos o surgimento e evolução dos
aquecedores. Diversos fatores influenciavam este progresso: a introdução do vidro
na arquitetura; o descobrimento da necessidade de renovação do ar para melhor
queimado óleo; a percepção da baixa proteção térmica das casas de madeira; e o
fogo em espaço fechado evita faíscas que causam incêndios. O material mais
utilizado para queima nos aquecedores era a lenha, sendo o mesmo confeccionado
por alvenaria, tijolo ou cerâmica. Usualmente a estufa era constituída por uma
reentrância para dentro da sala ou quarto de dormir a partir da cozinha, onde era
acendido o fogo, transferindo assim o calor para o outro cômodo, sem que fumaça
fosse junto. A fumaça na cozinha espanta insetos, protegendo a madeira do telhado
e as frutas secas. O volume de água utilizado por uma casa era baixíssimo. Lavava-
se apenas mãos e rosto, pois a água fria trazia perigo de doenças (BUTERA, 2009).
De acordo com Butera, 2009, a iluminação permaneceu a mesma até o
final do período: tochas para os lugares abertos, velas de sebo e cera e lâmpadas a
óleo para o interior. No final do século XVIII surgiu uma importante inovação na
iluminação. O pavio antes usado nas velas e lâmpadas a óleo foi substituído por um
outro de forma circular, contido entre dois anéis concêntricos de metal e envolto por
um tubo de vidro. O novo pavio, maior que o anterior e com menor corrente de ar,
queimava melhor o óleo, aumentando consideravelmente a luminosidade e gerando
menos fumaça. A difusão desta tecnologia, no entanto, só aconteceu no século
seguinte (BUTERA, 2009).
3.5 Idade Contemporânea
Duas Revoluções marcaram o final da Idade Moderna: a Revolução
Francesa e a Revolução Industrial. A primeira foi primordial na derrubada dos
entraves do capitalismo e na consequente ascensão da burguesia, que já dominava
os principais setores do capitalismo – financeiro, industrial e comercial –, conquistou
também o político. A segunda foi responsável por grandes avanços tecnológicos e
pelo estabelecimento do capitalismo, pois a mecanização das manufaturas trouxe
para o setor produtivo a acumulação de capitais (VICENTINO, 1997).
47
Pela primeira vez na história a taxa de natalidade superou a de
mortalidade, o que causou um significativo aumento populacional. Aliado a este
crescimento houve um aumento da produção, possível graças aos avanços
tecnológicos. Os camponeses se tornaram operários de indústrias situadas nas
margens das cidades, ampliando os territórios das mesmas. Houve o aprimoramento
nos meios de comunicação e transportes possibilitando o trânsito de quaisquer
produtos. O cenário de progresso era ilimitado, pois nenhuma solução era
permanente ou infinita (BENÉVOLO, 1980).
Benévolo (1980) relata que os novos governantes enfraqueceram as
formas de planejamento das cidades, alegando que eram relíquias do passado. Os
núcleos das cidades permaneceram os mesmos da Idade Média, formado pelas
igrejas e palácios. No entanto, as ruas deste núcleo não eram capazes de comportar
o aumento do tráfego e as casas eram pequenas. O centro passou a ser o local
onde a população mais pobre morava e os mais abastados construíram casas ao
redor da urbe. Os edifícios históricos foram abandonados e os quintais das casas
deram lugar a novas construções. As residências dos operários, não mais eram as
casas de madeira com telhado de palha, mas de tijolo com telhas de cerâmica, sem
os jardins ao redor e com os mesmos móveis primitivos das casas do campo. As
ruas iam se formando pela acumulação de edificações uma ao lado da outra, não
havendo espaço para despejar os resíduos. As ruas viraram um esgoto a céu aberto
com amontoados de lixo, ao mesmo tempo que eram a passagem de pedestres e
veículos, o local de brincadeiras de crianças e animais vagantes. Apenas no ano de
1.815 voltaram a ser planejados os assentamentos humanos.
No final do século XVIII surgiram em Londres os water closets, tanques
com assento furado e fundo que abria por meio de uma válvula, onde se enchia de
água antes do uso e se abria após, levando os dejetos para uma fossa negra. A
dificuldade do esvaziamento dos poços levou à ligação das latrinas diretamente às
redes pluviais. Alastraram-se, assim, as epidemias, pois a população usava as
águas sujas de dejetos para abastecer suas casas. Apenas em 1832, quando uma
epidemia resultou em mais de 18.000 mortos, as autoridades resolveram tentar
solucionar o problema, colocando o ponto de descarga do esgoto mais abaixo da
cidade, mudando apenas o local contaminado. A preocupação pela resolução tardia
do problema aconteceu não apenas na Inglaterra, mas também na Itália e França
(BUTERA, 2009).
48
Um novo modelo de cidade surgiu em Paris, quando construíram a
Boulevard Haussman, como eixo para novas ruas. Paralelamente foram introduzidos
novos serviços públicos, como abastecimento de água e esgoto, iluminação a gás e
transporte público puxado por cavalos. Apareceram os primeiros parques públicos,
escolas, hospitais, faculdades, quartéis e prisões (BENEVOLO, 1980).
De acordo com Butera (2009), em Paris, a demanda de água foi menor
que a esperada, uma vez que o parisiense era acostumado a se satisfazer com
apenas dois baldes de água por semana. Em Nápoles, as redes levavam a água
para as fontes públicas e poços, exceto em localidades onde a população possuía
menor renda, onde eram furados poços rasos, quase sempre contaminados pela
proximidade das fossas negras. A necessidade de higiene torna inaceitável a saída
de casa para pegar água ou livrar-se de excrementos, ampliando as redes de
abastecimento ainda no século XX. O bem, antes escasso e precioso, agora é
abundante, aumentando seu desperdício.
Albert Winsor percebeu que a instalação do gás para iluminação em rede
era mais eficiente que a individual, tornando possível a solução de problemas de
gestão da produção, fumaças e águas poluídas geradas a partir da transformação
do petróleo, tendo sido responsável pela primeira rede de iluminação instalada e em
funcionamento. A nova forma de distribuição do gás diminuiu a ocorrência de
incêndios e permitiu o aumento do número de horas trabalhadas nas fábricas. A
eficiência da nova forma de iluminação e aquecimento foi responsável pelo aumento
do consumo energético elevado em um período de 40 anos. O descobrimento do
petróleo e seu refinamento fez com que a história da iluminação e automotiva se
completem, pois se usava a querosene para iluminação e o óleo restante para
lubrificação de máquinas (BUTERA, 2009).
A Segunda Revolução Industrial, que aconteceu por volta de 1860, teve
uma velocidade muito maior que a primeira, impulsionada pela descoberta da
eletricidade, pela transformação do ferro em aço e pelo avanço dos meios de
transporte. A transformação do aço impulsionou a industrialização e foi um grande
aliado à construção civil (VICENTINO, 1997).
A iluminação elétrica teve evolução baseada em estudos científicos da
época, não sendo criação de um único inventor. A fonte inicial de energia eram as
pilhas, que precisavam ser frequentemente trocadas e eliminavam no ambiente
gases tóxicos. Os geradores elétricos convertiam energia mecânica em energia
49
elétrica e se desenvolveram de forma similar à iluminação elétrica, primeiramente o
gerador era a vapor até chegar no gerador de corrente alternada. Paralelamente ao
aperfeiçoamento da iluminação houve o desenvolvimento da lâmpada
incandescente. Depois de várias tentativas Thomas Edison resolveu estudar as
redes de iluminação à gás para formatar um sistema onde a lâmpada fosse parte de
uma rede e de baixo custo, tal qual a lâmpada a gás. O baixo rendimento dos
geradores elétricos fez com que ele os estudasse e aperfeiçoasse, aumentando sua
eficiência para 90%. A produção do calor e a fuligem causados pela iluminação a
gás foram, então, vencidos, aliados à menor necessidade de manutenção e
regulagem da iluminação elétrica. A evolução da eletricidade e da iluminação foram
importantes para que não houvesse mais a divisão entre dia e noite, ampliando a
vida noturna (BUTERA, 2009).
O aquecimento dos ambientes começou a ser distribuído internamente à
uma residência, por meio de tubulações, com base no sistema natural de circulação,
o ar quente sobe e o ar frio desce, levando os aquecedores para os porões dos
edifícios. As dimensões ampliadas dos canais de ventilação necessitou ventiladores,
sendo possível o aquecimento apenas em grandes prédios. A chegada da energia e
motores elétricos permitiu o aquecimento da água, que ia para as tubulações antes
de ar e esquentava os ambientes mais eficientemente. Aos poucos a nova solução
foi se propagando também em residências (BUTERA, 2009).
Butera (2009) relata que o consumo energético para manter o atual nível
da qualidade de vida que a tecnologia traz para as residências é altíssimo, não
apenas para que seja possível a utilização dos eletrodomésticos, mas toda a cadeia
produtiva consome energia, na extração de matéria prima, em sua produção, no
transporte, na venda, na instalação e no uso. A geração de energia produz gases
tóxicos que são lançados na atmosfera, além de consumir recursos não renováveis.
Não apenas o consumo energético é responsável pelos poluentes. O consumo de
água gera lixo orgânico misturado com produtos químicos de limpeza, além da
facilidade de uso deste recurso ser responsável por um alto desperdício. A
tecnologia trouxe consigo uma nova forma de poluição causada pelos ruídos das
máquinas agora existentes: a sonora.
50
4 A CASA SUSTENTÁVEL
Projetar e construir uma casa sustentável demanda planejamento e
dispêndio iniciais maiores. O investimento pode aumentar o valor total da obra entre
5% e 8%, sendo o retorno financeiro obtido com a valorização do imóvel e a
diminuição dos gastos com a manutenção do mesmo. Outras vantagens que a
edificação sustentável traz são a melhora na qualidade de vida dos moradores e a
preservação ambiental, pela conservação dos recursos naturais durante o uso da
casa (VENÂNCIO, 2010).
É essencial a mudança nos padrões de construir uma casa nos dias
atuais. É necessário não apenas de equipamentos que consumam menos energia
mas também de espaços físicos que requeiram reduzidas tecnologias para seu
funcionamento. Os ambientes necessitam de qualidade do ar e ventilação,
racionalização do uso da água, entre outros aspectos que serão abordados a seguir.
O presente capítulo descreve que variáveis de sustentabilidade são desejáveis a
uma residência sustentável, sendo detalhado como satisfazer estes pré-requisitos no
capítulo seguinte.
4.1 Energia
Até o final do século XIX cuidar da casa era uma atividade que exigia
muito tempo e levava as donas de casa à exaustão. Fogões eram acendidos à
lenha, geladeiras precisavam de gelo vindo das geleiras, lavar roupas era uma
atividade cansativa e demorada, a fuligem enchia a casa de sujeira tornando
complicado varrer e limpar o chão. O gás e a eletricidade possibilitaram a evolução
destes e outros utensílios domésticos – como o ar condicionado e o aquecedor para
banho – ampliaram o conforto da dona de casa e da casa propriamente dita. No
entanto, houve um expressivo aumento do consumo do gás e da eletricidade, ambos
provenientes de recursos naturais limitados (BUTERA, 2009).
A energia é amplamente utilizada no dia-a-dia de uma residência,
podendo ser proveniente de fontes não renováveis, como petróleo e gás ou de
fontes renováveis como os raios do sol, a movimentação das águas ou a força dos
ventos. É possível obter energia também através da queima, tanto de madeira – que
pode se tornar não renovável caso não haja o replantio –, quanto do gás gerado na
51
decomposição de dejetos. As formas de energia natural, a luz solar e o vento, no
entanto, sofrem variações ao longo do ano, podendo não estar presente todo o
tempo, sendo necessário o planejamento de energias alternativas em caso de chuva
ou ausência de ventos (LENGEN, 2008).
A luz do sol é capaz de proporcionar dois sistemas ecoeficientes: energia
fotovoltaica e aquecimento solar de água. O sistema fotovoltaico é formado por
células capazes de transformar a luz do sol em energia elétrica. As células
produzem tensão e corrente que são levadas para controladores de carga que
protegem o sistema de sobrecarga ao levar a energia para baterias onde é
acumulada. Da bateria a energia segue para um inversor, que transforma a energia
em corrente disponível. Este sistema tem diversas vantagens: o excedente
produzido pode ser vendido, a energia é inteiramente renovável e limpa, não produz
ruído, pode ser gerada in loco, pode ser reinstalado em outros locais. Infelizmente os
custos de implantação deste sistema ainda são altos e pouco desenvolvido no Brasil
(VENÂNCIO, 2010).
A energia produzida pelos painéis fotovoltaicos é de extrema importância
para localidades não servidas ou limitadamente atendidas pelas concessionarias.
Em todo o mundo se desenvolvem pesquisas para abaixar o custo e ampliar a
eficiência desta tecnologia. No entanto, esta tecnologia é capaz de atender uma
demanda reduzida (BUTERA, 2009).
De acordo com Venâncio (2010) o sistema de aquecimento solar de água
consiste em placas coletoras compostas por tubos de cobre, capazes de absorver o
calor do sol, por onde a água passa seguindo para um reservatório térmico onde é
armazenada. Este sistema funciona bem inclusive em dias nublados, necessitando
de sistema alternativo apenas em épocas de sol reduzido.
Este sistema pode prover tanto aquecimento quanto refrigeração.
Todavia, para que as soluções de produção de energia e aquecimento solares sejam
eficientes, as casas devem ser projetadas e construídas para que absorvam o
máximo da iluminação natural ao longo do dia (BUTERA, 2009).
Roaf (2009) relata que o impacto ambiental da edificação é significamente
reduzido com o uso de painéis fotovoltaicos e sistemas de aquecimento solar de
água, sendo possível diminuir as emissões de gás carbônico em 35% e o consumo
energético em 40%.
52
Uma forma de produzir energia limpa que vem crescendo timidamente no
Brasil é a eólica, com o aproveitamento dos ventos. O girar das hélices move uma
bobina que, através de um corpo magnético, produz corrente elétrica. Este sistema
possui vantagens similares às dos sistemas de energia fotovoltaica, mas mais
desvantagens (VENÂNCIO, 2010).
A energia eólica usualmente é feita em larga escala, mas existem
sistemas de pequena escala para residências. O método possui um desafio que é a
variabilidade dos ventos, onde pequenas alterações de velocidade afetam a geração
elétrica significativamente. Os custos iniciais de instalação são altos, mas se as
condições de tempo forem favoráveis o sistema pode vir a gerar toda a energia
consumida por uma casa. A durabilidade das turbinas é de 15 anos, e a manutenção
é apenas uma lubrificação anual, mas é um sistema que produz ruídos e não se
integra a paisagem como o fotovoltaico, sendo sempre um apêndice à edificação
(ROAF, 2009).
O Brasil é país do mundo que mais possui recursos hídricos. No entanto,
na utilização destes recursos para geração de energia, o Brasil encontra-se em
quarto, ficando atrás dos Estados Unidos, Canadá e China. Apesar do impacto inicial
causado pelas inundações, a energia hidrelétrica é considerada limpa e eficiente. Os
danos causados pela construção de uma usina hidrelétrica podem ser minimizados
reduzindo áreas inundadas, perdendo assim parte do potencial produtivo. Ainda
assim, a energia elétrica é mais barata que ambas a energia termelétrica e nuclear
(ROSA, 2007).
Entre os fatores que dificultam a expansão da tecnologia hidrelétrica
estão os custos iniciais para a instalação muito altos, pois necessita a construção de
diques e redes de transmissão, dada a distância das usinas para as cidades
(BUTERA, 2009).
4.1.1 Eletrodomésticos
De acordo com Butera (2009), 30% do consumo energético de uma casa
é gasto com eletrodomésticos. Com o aumento do gasto por resfriamento e
aquecimento este consumo torna-se-á ainda mais expressivo. O incremento dos
equipamentos que ficam em stand-by, isto é, disponíveis para serem ligados
53
rapidamente, será responsável por 10% do consumo de uma habitação no ano de
2.020 (BUTERA, 2009).
Novas tecnologias disponíveis no setor de iluminação necessitam de
menor consumo energético. Em ambientes de baixa circulação podem ser usados
sensores de presença que ligam apenas quando há movimento no local. Minuterias
podem programar a hora de acender e apagar luzes baseadas em uma rotina de
uma casa. Dimerizadores são capazes de detectar a luz do ambiente e acender as
luzes caso a iluminação esteja insuficiente. Novas lâmpadas também estão sendo
difundidas e aperfeiçoadas, como as lâmpadas fluorescentes que consomem menos
energia e duram mais tempo que as incandescentes, e as lâmpadas de Light
Emitting Diodes (LED), que consomem ainda menos energia e duram mais que as
lâmpadas fluorescentes (VENÂNCIO, 2010).
A indústria não se preocupa aproveitar elementos entre os
eletrodomésticos para desenvolver a racionalização de energia, como usar o calor
produzido pela geladeira para pré-aquecer a água da lavadora de roupas. É
fundamental a mudança de paradigmas, não apenas no usuário final, mas também
na indústria que produz estes equipamentos (BUTERA, 2009).
Os Ministérios de Minas e Energia e da Indústria e Comércio criaram em
1985 o Programa Nacional de Conservação de Energia Elétrica (Procel),
transformado em 1991 em programa de governo. Racionalizar a produção e o
consumo energético são os objetivos do Procel, tendo como consequência a
redução de desperdícios, custos e investimentos. Em 1993 foi criado o Selo Procel
Economia de Energia com o intuito de orientar, no ato da compra, os consumidores
quanto ao consumo energético dos produtos, a partir de testes de desempenho
realizados em laboratório. A certificação também estimula a produção de
equipamentos com maior eficiência, estimulando o desenvolvimento da tecnológico
local. Uma adaptação do selo foi elaborada, para que o mesmo pudesse atestar a
eficiência em edifícios, o PROVEL Edifica (PROCEL, 2012).
4.2 Água
Apenas 3% da água existente do planeta é doce, sendo os demais 97%
água salgada. Apenas 0,33% de toda a água doce está disponível e acessível para
o uso (VENÂNCIO, 2010).
54
O crescimento populacional, as mudanças climáticas, a poluição e a
interferência humana nos recursos naturais são fatores determinantes para que seja
repensado o uso da água. É necessário que se aprenda a economizar a água, torná-
la mais eficiente – usando menos para realizar a mesma tarefa –, usar a quantidade
estritamente necessária, substituir por outro material, e reaproveitar a água (ROAF,
2009).
A economia de água está ligada diretamente aos metais sanitários,
louças, equipamentos de lavagem e costumes utilizados. Nos banheiros é possível
economizar água com vasos sanitários de caixa acoplada que possuam duplo
acionamento, com três litros para dejetos líquidos e seis litros para sólidos. As
torneiras possuem, pelo menos, três sistemas que podem diminuir seu consumo:
temporizadores que abrem a torneira por um período, torneiras com sensores que
identificam quando as mãos não estão mais na frente e interrompem o fluxo de água
e os aeradores, que misturam ar na saída de água, espalhando-a e dando a
sensação de que há mais água. Tomar banho, lavar louça e lavar roupa são tarefas
que necessitam muito mais de conscientização na necessidade de redução do
consumo. O banho deve ser o mais curto possível, e sendo a água desligada
enquanto não for necessária. A mesma lógica funciona para lavar louças e roupas
manualmente. Máquinas de lavar louça e roupa devem ser econômicas e usadas
apenas quando tiverem a carga completa. Aguar as plantas deve ser feito com
regador, cobrir piscinas evita a evaporação, lavar carros e calcadas com baldes ou
água servidas também permitem reduzir muito o consumo. Realizar manutenções
preventivas e reparatórias são imprescindíveis para evitar o desperdício. Torneiras
pingando uma gota de água por segundo desperdiçam 16.790 litros por ano. O
mesmo é válido para vazamentos em encanamentos, caixas d’água e piscinas
(VENÂNCIO, 2010).
O crescimento da demanda de água para lava louças e lava roupas vai na
contra mão da sustentabilidade. Aproximadamente 15% do consumo de água de
uma residência que possua estes dois eletrodomésticos será realizado por eles
(ROAF, 2009).
O aproveitamento da água da chuva permite uma redução de até 50% do
consumo de uma casa. O armazenamento desta água, diminui a necessidade de
absorção do solo e sistemas de drenagem, auxiliando na prevenção de enchentes.
No entanto, esta água tem uso restrito nas residências, pois traz consigo a poluição
55
atmosférica. Sua utilização é possível na descarga de vasos sanitários, na lavagem
de roupas na máquina, na irrigação de jardins, na lavagem de carros e calçadas.
Sendo assim, devem haver tubulações distintas para água da chuva e da
concessionária. As primeiras águas da chuva devem ser desprezadas, uma vez que
lavam as impurezas do telhado (VENÂNCIO, 2010).
4.3 Especificação de Materiais
A escolha de materiais deve ser feita ainda na fase de projeto da
edificação. Alguns aspectos devem ser estudados na hora desta especificação, para
que os materiais sejam adequados ao tipo de construção e à região onde se planeja
construir.
É possível calcular o impacto ambiental gerado na construção de uma
residência a partir da análise dos impactos da fabricação e uso diário dos materiais
empregados na mesma. A qualidade dos produtos e a maneira como os mesmos se
integram ao projeto fazem parte da análise dos possíveis danos ambientais (ROAF,
2009).
Não devem ser especificados materiais apenas em função de estética ou
porque foram utilizados em outras obras. Materiais regionais, usualmente, são
adequados ao clima em questão. Infelizmente nem sempre isso é possível, pois às
vezes a degradação ambiental pode levar à escassez de um determinado material. É
importante manter em mente que a casa deve estar em harmonia com o meio
ambiente (LENGEN, 2008).
O processo de fabricação de um material é um determinante na
sustentabilidade do mesmo. Quanto mais processos aquele item tiver sofrido,
maiores são os gastos energéticos e resíduos gerados em sua fabricação. Deve-se,
portanto, buscar materiais que tenham sofrido o mínimo de processamento possível,
preferindo madeira a alumínio, por exemplo. É essencial, no entanto, fazer a relação
entre necessidades de projeto, durabilidade, manutenção e o material a ser utilizado.
Nem sempre um material mais adequado para um projeto ou região é o mais
adequado para outra. A durabilidade de um material faz com que seu impacto
ambiental diminua, uma vez que precisará de menos manutenção e trocas durante a
sua vida útil (ROAF, 2009).
56
Os principais objetos de estudo para a especificação de materiais são
(KEELER, 2010):
� Durabilidade dos materiais e a manutenção necessária para vida útil
plena dos mesmos;
� Eficiência dos materiais escolhidos, sendo necessário o mínimo
possível daquele material para se atingir a meta;
� Embalagem reduzida, reusável e reciclável;
� Baixo consumo de água e energia em sua geração;
� Menor processamento durante a produção, sem utilização de produtos
nocivos;
� Menor produção de resíduos em sua fabricação;
� Alto percentual de materiais reciclados em sua composição;
� Recursos naturais, quando utilizados, que sejam renováveis e tenham
o máximo aproveitamento possível;
� Baixa necessidade de limpeza e manutenção;
� Possibilidade de reuso e reciclagem dos componentes, buscando
flexibilizar o uso dos mesmos ou adaptá-los;
� Causar o mínimo de impactos ambientais em sua vida útil;
� Selecionar fornecedores próximos ao canteiro de obras, para minimizar
o impacto com transportes.
Segundo Keeler (2010), alguns materiais de demolição são reutilizáveis.
Empresas são especializadas em gestão de resíduos que coletam e processam
estes entulhos e existem depósitos com sistema de trocas de componentes
reaproveitáveis da construção civil. São alguns destes materiais o concreto, blocos
de concreto e tijolos; janelas; aparelhos sanitários; portas; ferragens; fios; materiais
provenientes da limpeza do terreno, como árvores; placas de gesso; e carpetes.
Estão disponíveis no mercado ecoprodutos focados na construção civil,
produzidos por resíduos da própria indústria e outras. Provenientes de resíduos de
construção há areias e revestimentos cerâmicos. A indústria automotiva tem como
resíduos de grande impacto os pneus, que, sendo reciclados, tornam-se piso
emborrachado. tubulações hidráulicas são produzidas a partir de reciclagem de
embalagens pet de refrigerantes e telhas fabricadas a partir de embalagens de leite
57
longa vida e diversos polímeros, como os utilizados para armazenamento de pasta
de dente (VENÂNCIO, 2010).
A disseminação da sustentabilidade fez com que algumas empresas
usassem o marketing para ocultar implicações ambientais negativas para seus
produtos. Um exemplo são produtos tidos como 100% reciclados que não relatam
retrabalhos ou resíduos de sua própria produção (KEELER, 2010).
Para fugir de enganações, deve-se procurar materiais que possuam “selo
verde” por terem sido estudados por instituições reconhecidas por ter avaliações de
ciclo de vida detalhadas dos materiais. Há, no Brasil, dois selos mais respeitados: o
Instituto Falcão Bayer e o Conselho de Manejo Florestal – FSC (VENÂNCIO, 2010).
Veja mais em <www.ifbauer.org.br> e em <br.fsc.org>.
4.4 Acessibilidade
A Lei n° 10.098 de 19 de dezembro de 2000 estabelece que as pessoas
portadoras de deficiência ou com mobilidade reduzida têm direito a utilizar espaços,
mobiliários e equipamentos urbanos, edificações, transportes e sistemas de
comunicação, devendo estes ser adaptados para utilização destas pessoas com
segurança e autonomia. A lei discorre que devem ser eliminadas quaisquer barreiras
físicas que dificultem ou impeçam os usos dos equipamentos e espaços. Devem ser
construídas e adaptadas rampas de acesso em vias, parques, estabelecimentos
comerciais e outras construções, além de ser necessária a existência de banheiros,
vagas de estacionamento, sinalizações de piso e sonoras, entre outros artifícios que
facilitem a acessibilidades de pessoas com necessidades especiais.
Os parâmetros de acessibilidade a serem adotados nos projetos são
determinados pela Norma Brasileira Registrada 9050:2004 – NBR 9050:2004 –,
desenvolvida pela Associação Brasileira de Normas Técnicas – ABNT. A
regulamentação versa não apenas a pessoas que necessitam de cadeiras de rodas
para locomoção, mas também portadores de próteses, bengalas de locomoção e
rastreamento, aparelhos de apoio, e quaisquer outros meios de auxilio, não
importando a necessidade ou a idade da pessoa. Dentre os parâmetros
estabelecidos como regra estão dimensões mínimas de banheiros, larguras de
corredores e escadas, inclinações máximas de rampas, altura de bancadas e
58
balcões, sinalizações, necessidade de equipamentos de apoio – como corrimões e
barras –, entre outros aspectos.
Durante prática da profissão de arquiteta e aprovação de projetos nas
quatro principais prefeituras da Região Metropolitana do Recife – Recife, Jaboatão
dos Guararapes, Olinda e Paulista – foi possível a percepção de alguns aspectos
quanto à exigência de cumprimento das regras de acessibilidade propostas pela
ABNT.
Os órgãos de aprovação de projetos na cidade do Recife são bem
rigorosos quanto ao cumprimento das normas da NBR 9050:2004, inclusive
demandando o cumprimento do Decreto n° 20.604 de 20 de Agosto de 2.004, que
regulamenta a construção, manutenção e recuperação das calçadas. Em Jaboatão
dos Guararapes também é necessário que sejam atendidos os parâmetros da
norma. A aprovação de projetos da prefeitura de Olinda não exige o atendimento da
norma em sua totalidade. Em Paulista as normas não são exigidas. Observa-se o
crescimento da preocupação com a mobilidade para todos, mas ainda não há uma
conscientização da população. O poder público está evoluindo para estas
necessidades e começando a exigí-las. A Caixa Econômica Federal exige das
construtoras que as normas sejam atendidas para que as mesmas obtenham
financiamento à produção, mas não para que seja feito o repasse das unidades
habitacionais.
Dentro das residências, há simples adaptações e modificações que
podem ser feitas para facilitar a vida de pessoas com limitações motoras, auditivas e
visuais. Pisos devem ser preferivelmente anti-derrapantes e sem tapetes, e quando
houver a necessidade de desníveis os mesmos devem ser chanfrados ou com
carpetes fixados nos mesmos. As escadas devem ter degraus de mesma altura e
profundidade e, preferencialmente, duas alturas de corrimão. Os ambientes devem
ter boa iluminação para que possíveis obstáculos sejam percebidos. As portas e os
banheiros devem ser um pouco maiores para que permitam a passagem e giro de
cadeiras de rodas (VENÂNCIO, 2010).
4.5 Resíduos
O lixo não mais pode mais ser entendido como aquilo que ninguém quer.
Com os recursos naturais ficando cada dia mais escassos é necessário aprender a
59
reutilizar e reciclar os resíduos. O expurgo é o resultado de qualquer transformação
de recursos naturais pelo homem. Edifícios geram resíduos ao longo do seu ciclo de
vida (VENÂNCIO, 2010).
A Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente desenvolveu a
Agenda 21 onde determina a ˜Hierarquia do Lixo˜, que são recomendações para a
gestão de resíduos, sendo estas reduzir o lixo produzido; reusar; reciclar; incinerar
aproveitando o calor para gerar energia; fazer compostagem ou reprocessamento
biológico; e, por último, enviar os resíduos para um aterro sanitário (KEELER, 2010).
A construção civil e reformas de edificações já existentes produzem um
resíduo bem diversificado e ainda pouco reaproveitado. Infelizmente é muito comum
no país que este lixo seja jogado em terrenos baldios, margens de rios e estradas ou
aterros clandestinos. O Ministério das Cidades, com o intuito de combater a
degradação ambiental provocada pelo resíduo da construção civil desenvolveu dois
volumes do manual Manejo e Gestão de Resíduos da Construção Civil, para que os
municípios cuidassem dos pequenos produtores e os grandes produtores
destinassem corretamente seus resíduos. De acordo com o primeiro volume do
manual o lixo produzido pela construção civil chega a ser o dobro do lixo domiciliar
(BRASIL, 2005).
Foi desenvolvido o conceito de “demolição sustentável”, que considera,
além das práticas de boa gestão dos resíduos, considera os benefícios sociais e
econômicos trazidos a partir desta gestão. Os objetivos do sistema de gestão são
dar destino correto aos resíduos que iriam para aterros sanitários; recuperar
materiais no meio dos entulhos para reuso e reciclagem; contribuir para a melhora
econômica e ambiental da cidade; promover a segurança e saúde do ambiente de
trabalho; usar demolições como oportunidades; preservar as edificações históricas
de uma comunidade (KEELER, 2010).
Usinas de reciclagem separam os entulhos de acordo com o material e os
trituram para que possam ser reaproveitados. Grande parte do lixo é transformado
em agregados a serem misturados ao cimento ou argamassas ou para serem
compactados em aterros ou bases de pavimentações. O reaproveitamento dos
detritos pode ser feito dentro da obra, economizando tempo, transporte e recursos
financeiros (VENÂNCIO, 2010).
Metal, vidro, concreto, asfalto e papel são os materiais provenientes da
construção civil mais reciclados. Tijolos, pedras, solo, madeiras e aparelhos
60
sanitários são os materiais mais frequentemente reutilizados. Infelizmente ainda há
materiais de difícil reciclagem e reuso, que, por causa da precária infraestrutura de
reciclagem, ainda não de baixa viabilidade econômica. São estes: tubulações de
plástico, gesso, carpetes e azulejos (KEELER, 2010).
Os resíduos produzidos durante a ocupação da edificação são,
basicamente, lixo e esgoto domésticos. O lixo doméstico é dividido em dois tipos:
lixo orgânico, formado por restos de alimentos e matérias biodegradáveis; e lixo
inorgânico: formado por vidros, latas, papel, metal, plástico, papelões e outros
materiais não biodegradáveis. O destino deste resíduo pode ser: aterros sanitários,
locais onde é espalhado intercalado por camadas por terra; incinerados,
normalmente materiais de alto risco que produzem gases tóxicos; compostagem,
utilizada para transformar lixo orgânico em adubo, com alto custo. A melhor
destinação do lixo inorgânico é a reciclagem, pois leva a matéria de volta ao ciclo
produtivo (VENÂNCIO, 2010).
Aterros sanitários são uma das formas mais nocivas de tratamento de lixo,
uma vez que o mesmo pode liberar substâncias nocivas além da barreira física
imposta pelo homem, contaminando o solo e lençóis freáticos. As contaminações
normalmente são de longo alcance, pois os contaminantes entram na cadeia
produtiva e chegam até o homem (KEELER, 2010).
As concessionárias locais deveriam coletar e tratar o esgoto, o que não é
a realidade brasileira. Ao invés de instalar sistemas alternativos de tratamento de
esgoto, as edificações despejam esgoto nos rios e mares.
Águas servidas possuem alto nível de contaminantes e bactérias,
devendo seu manuseio ser realizado com extrema cautela, portanto sistemas de
tratamento destas águas exigem manutenção e monitoramento. Há diferentes
padrões para a reciclagem de água de chuveiros e pias ou de bacias sanitárias.
Durante o projeto devem ser estabelecida a água que será reciclada e a que padrão
deve chegar (ROAF, 2009).
O esgoto doméstico é composto por águas cinzas, aquelas provenientes
de chuveiros, pias, lavatórios, tanques e lavadoras; águas negras, resultantes das
bacias sanitárias; e águas pluviais. Alguns dos sistemas alternativos de tratamento
de esgoto são (VENÂNCIO, 2010):
� Fossa séptica: consiste em um tanque subterrâneo onde o esgoto
decanta e fica a parte sólida dos resíduos;
61
� Filtro anaeróbio: é um filtro onde bactérias decompõem a matéria
orgânica e possíveis contaminantes do esgoto;
� Sumidouro: é uma caixa furada onde são lançadas as águas residuais
provenientes da fossa ou do filtro anaeróbio, que, lentamente, vai liberando esta
água no solo;
� Estações de tratamento de esgoto (ETE): são sistemas compactos de
tratamento de esgoto, que tornam a água passível de reaproveitamento ou
despejada em rios. São, usualmente, equipamentos fechados onde o esgoto passa
por diversas fases de decomposição.
62
5 ROTEIRO PARA PROJETO ARQUITETÔNICO DE CASAS SUSTE NTÁVEIS
A cultura brasileira, imediatista, comumente deixa de lado a importância
da etapa de planejamento do edifício a ser construído. O tempo demandado para o
desenvolvimento adequado desta fase normalmente é subestimado pelos
construtores e futuros usuários do imóvel. Um processo de projeto mal elaborado
leva a retrabalho durante a obra, sendo desperdiçados não apenas recursos naturais
ao realizar demolições, mas também tempo (VENÂNCIO, 2010).
O projeto arquitetônico consiste em desenhos, detalhados de tal maneira
que seja possível entender como deve ser feita a construção. O mesmo é constituído
de plantas baixas, cortes e fachadas. Nestes desenhos são determinadas as
dimensões e locação da casa e suas aberturas, vãos, pisos, escadas, e outros
elementos construtivos (LENGEN, 2008).
De acordo com Venâncio (2010) o processo de projeto não é
simplesmente desenhar a casa. O planejamento deve levar em conta as
necessidades da mesma e seus usuários, devendo estar embasado em pesquisa e
estudo. Este planejamento envolve seis fases, sendo estas:
� Ter ideias: consistem tanto em lembranças de lugares vividos no
passado e as sensações que os mesmos despertam quanto em conhecer casas e
conversar com seus proprietários a respeito do que deu certo e o que deu errado
naquele projeto. Devem ser priorizadas as opiniões das pessoas que irão habitar a
casa projetada, pois elas que conhecem suas necessidades pessoais;
� Estudar as ideias: levar para o arquiteto as ideias e requisitos para a
nova casa. Fatores como quantos e que ambientes serão necessários e os
dispêndios disponíveis para a construção devem ser discutidos nesta fase;
� Estudo preliminar: a partir das necessidades do futuro morador, o
arquiteto desenvolve um estudo preliminar, onde serão sugeridas soluções de
projeto para a casa a ser construída. A apresentação da casa ao cliente deve ser
capaz de fazê-lo imaginar o ambiente que será edificado, por meio de plantas
baixas, perspectivas a mão livre ou computadorizadas e maquetes físicas. São
debatidos então a forma física e a funcionalidade;
� Projeto aprovado: uma vez debatido o estudo preliminar são feitas as
mudanças necessárias nas plantas para a aprovação do cliente e nos órgãos
municipais competentes;
63
� Detalhamento construtivo: são detalhados os acabamentos, cores,
texturas. É uma das fases mais dispendiosas do projeto, pois alguns acabamentos
são muito caros;
� Orçamento: são contratados os demais profissionais para a construção
da casa que fazem projetos adicionais, de estrutura, hidráulica e elétrica, e
orçamentos. Não se pode começar uma obra sem saber quanto a mesma irá custar.
Projetar de maneira sustentável requer projetos interdisciplinares. Cada
membro da equipe de planejamento deve ter uma especialidade e uma função,
sendo ele responsável por seu campo de atuação. A equipe deve ser formada pelos
proprietários, especialistas de projetos – arquitetos, engenheiros estruturais, civis, ar
condicionados, hidrossanitários, construtores, empreiteiros – e, por último, pelos
usuários, zeladores e administradores. Quanto mais especificidades um
empreendimento obtiver, mais profissionais estarão trabalhando em seu
planejamento. É importante saber que não existe um projeto completamente
sustentável, mas sim o estudo dos aspectos inerentes a uma edificação, até que se
chegue à melhor opção de sustentabilidade (KEELER, 2010).
Os projetos devem prever o menor uso de energia elétrica possível,
fazendo uso de soluções arquitetônicas. O projeto das edificações deve ter como
base os seguintes princípios: projetar para o clima; projetar para o meio
ambiente social e físico; projetar para a hora do d ia, estação do ano ou vida
útil (ROAF, 2009).
Conforto ambiental e energia não são os únicos fatores a serem
desenvolvidos com a arquitetura sustentável. Outros fatores ambientais, sociais,
econômicos, urbanos e de infra-estrutura também influenciam no edifício. O
programa do projeto arquitetônico e o contexto onde ele está inserido influenciarão
diretamente no projeto. Portanto, a sustentabilidade de um projeto arquitetônico
começa nas primeiras decisões do mesmo, baseada na análise do contexto onde a
casa se insere (GONÇALVES, 2006).
5.1 Projetar para o clima
É um erro comum projetar da mesma maneira em regiões diferentes, pois
os aspectos climáticos são diferentes. Há três aspectos que devem ser estudados ao
projetar uma casa: sol, vento e chuva (LENGEN, 2008).
64
Inserir no projeto arquitetônico soluções a partir do estudo das condições
climáticas locais, como temperatura do ar, umidade, radiação solar, ventos, ruídos,
qualidade do ar e iluminação natural minimiza os impactos ambientais gerados pela
arquitetura. Elaborar uma análise climática local é um dos principais processos do
projeto de arquitetura. (GONÇALVES, 2006).
A orientação da casa é fundamental para que se tenha o melhor
aproveitamento da iluminação e ventilação natural. Na zona tropical úmida o sol da
tarde não deve esquentar as áreas de convivência da casa, tampouco os quartos,
não devendo estes ser voltados para o oeste, mas sim para leste. Os ventos devem
levar o ar através da casa de maneira que saiam pela cozinha e área de serviço,
para que o odor da comida e materiais de limpeza não entrem na casa (LENGEN,
2008).
5.1.1 Localização e aspectos geográficos
Topografia é a ciência que estuda os acidentes geográficos resultantes
dos processos geológicos e orgânicos que dão forma à Terra. O levantamento
topográfico de uma região traz informações como localização geográfica, medidas,
área, relevo e altitude, representadas em plantas baixas. O fator latitude
corresponde à distância entre um local e a linha do Equador, quanto mais distante
do equador e mais perto dos polos se estiver, menor será a temperatura do ar. A
longitude determina em qual das 24 zonas horárias está uma localidade. O fuso-
horário foi criado para que seja possível saber se é dia ou noite em um lugar, tendo
como ponto zero a cidade situada no centro do planeta, Greenwich, Inglaterra.
Altitude é a distancia vertical entre o solo e o nível do mar. Este aspecto influencia
diretamente na temperatura, pois quanto maior a altitude, menor a temperatura, pois
o ar mais rarefeito absorve menos radiação solar (LAMBERTS, 2011).
O município do Recife, com área um pouco superior a 218 km², está
localizado 08° 03' 14'' ao sul do Equador e 34º55'00'' a oeste do meridiano de
Greenwich e quatro metros acima do mar (RECIFE, 2012).
O Recife foi construído sobre uma planície flúvio-marinha, entrecortada
por diversos rios e rodeada por colinas, formando um arco de um lado a outro da
cidade (Figura 01). Os principais rios que cortam a cidade são o Capibaribe e o
Beberibe. Por ser repleta de rios, a cidade é formada por ilhas e penínsulas, além de
65
possuir várias áreas de alagamento e mangues, com alguns bairros formados por
ilhas isoladas até os dias atuais. Não é aproveitado, no entanto, o potencial das vias
fluviais para transporte alternativo, a pesar da saturação das ruas e avenidas.
Figura 01: Mapa com relevo e rios do Recife.
Fonte: Google Maps, 2012.
A vegetação, além de proporcionar sombra, auxilia na umidificação do ar,
filtra poluentes e absorve radiação solar, sendo um importante aliado para aprimorar
um microclima. O Recife possui áreas importantes de vegetação preservada, sendo
as principais delas o Jardim Botânico do Recife, no Curado, o Parque dos
Manguezais em Boa Viagem, o Parque de Dois Irmãos, na Zona Norte e a Mata do
Engenho Uchôa, na Zona Sul da cidade.
66
Os censos demográficos de 2000 e 2010, constataram que a população
da cidade aumentou de 1.422.905 para 1.537.704 habitantes, o que corresponde a
um acréscimo de 8% da população. O incremento no número de habitantes
provocou mudanças morfológicas na cidade, aumentando sua densidade e
verticalização (IBGE 2012).
De acordo com a Prefeitura da Cidade do Recife, 2012, a capital do
Estado de Pernambuco é uma das três maiores cidades da região Nordeste. Por ser
o centro da Região Metropolitana do Recife a cidade é uma síntese dos aspectos da
região. A Assembleia Legislativa de Pernambuco, em 2012, ampliou a Região
Metropolitana do Recife, sendo a mesma atualmente formada por 17 municípios:
Jaboatão dos Guararapes, Olinda, Paulista, Igarassu, Goiana, Escada, Sirinhaém,
Abreu e Lima, Camaragibe, Cabo de Santo Agostinho, São Lourenço da Mata,
Araçoiaba, Ilha de Itamaracá, Ipojuca, Moreno, Itapissuma e Recife.
5.1.2 Aspectos Climáticos
Conforme relata Lamberts (2011) o homem vive dentro de um ambiente
que o faz sentir diferentes sensações, de frio, calor, umidade. Sentir em um
ambiente a sensação adequada, capaz de satisfazer uma pessoa é ter conforto
térmico. Caso a temperatura não esteja adequada, a pele humana possui
mecanismos de regulação da temperatura, que dilata vasos e provocando
transpiração ou contrai vasos e causando arrepio e tremores. A atividade
desenvolvida em um ambiente afeta diretamente a sensação térmica, uma vez que
está havendo troca de calor entre o corpo e o ambiente. Existem algumas variáveis
na percepção térmica, algumas humanas e outras ambientais. As variáveis
ambientais são temperatura do ar, temperatura radiante média, velocidade e
umidade relativa do ar, enquanto as humanas são a aceleração do metabolismo de
acordo com a atividade praticada e a vestimenta. Alguns outros fatores como sexo,
idade, raça e hábitos alimentares podem também influenciar na sensibilidade de
uma pessoa.
O clima nasce a partir da interação de diversas variáveis ambientais que
caracterizam as condições atmosféricas. Dentre as variáveis estão temperatura,
umidade, chuvas, radiação solar e ventos. Usualmente o clima é classificado em três
escalas: macroclima, mesoclima e microclima. Na primeira são observadas as
67
características de uma região, através de estações meteorológicas, por meio da
observação continuada e comparação. As alterações locais de radiação solar,
temperatura do ar, umidade e vento são contempladas em ambos o mesoclima e o
microclima. No mesoclima, correspondente à um ponto mais específico, fatores
como altos índices de poluição ou pouca vegetação influenciam no aumento de
temperatura. No microclima são tratados mais diretamente a casa em questão e seu
entorno, influenciados pela vegetação e construções vizinhas, além das outras duas
escalas climáticas (LAMBERTS, 2011).
Figura 02: Mapa com o clima de Pernambuco.
Fonte: IBGE, 2012.
A cidade do Recife está localizada entre os Trópicos de Câncer e
Capricórnio, no litoral do nordeste brasileiro, possuindo, portanto, clima tropical
quente e úmido, conforme observado na Figura 2.
O clima tropical quente e úmido caracteriza-se por um clima quente de
alta umidade do ar, com temperatura máxima de 35ºC e baixa variação de
temperatura entre o dia e a noite, e presença de bastante vegetação (LENGEN,
2008).
5.1.2.1 Temperatura
O principal fator na determinação do conforto térmico é a temperatura. A
troca de calor do corpo com o ambiente e a atuação dos mecanismos reguladores
do homem são a demonstração da sensação do conforto. A temperatura do ar
ocorre a partir da reflexão dos raios solares que, absorvidos pela superfície que
68
atingiu, se transformam em calor. De acordo com o material e cor pode-se ampliar a
reflexão ou absorção dos raios do sol, alterando o aquecimento do ar. As grandes
cidades sofrem de um fenômeno chamado Ilha de Calor, que é o aumento da
temperatura do ar, principalmente à noite, provocado pela liberação do calor
absorvido pelas edificações durante o dia, acabando com o resfriamento noturno
(LAMBERTS, 2011).
Gráfico 01: Umidade e temperatura no Recife de 01 de janeiro a 31 de dezembro de 2012.
Fonte: INMET, 2012.
A temperatura do Recife sofre poucas variações ao longo do ano. Em
2012, por exemplo, a temperatura máxima foi de 28,93ºC e a mínima foi de 21ºC
(Gráfico 01). Pela baixa variação de temperatura é possível afirmar que a cidade não
possui as quatro estações do ano bem definidas, sendo apenas um período mais
quente e outro mais ameno. Os meses mais quentes do ano são de novembro a
maio e os mais amenos de junho a setembro.
5.1.2.2 Umidade e precipitações
As condições de conforto são influenciados pela umidade do ar. A
umidade mede a quantidade de água em forma de vapor presente no ar, sendo
maior conforme a temperatura ou proximidade ao Equador, oceanos, mares, rios e
69
grandes extensões de vegetação. A topografia e a ocupação urbanas são fatores
que também podem influenciar na umidade do ar. De acordo com a temperatura do
ambiente, há um percentual máximo de umidade que o ar suporta. Uma vez
saturado, isto é, acima do limite, o vapor excedente passa para o estado líquido ao
tocar uma superfície, aumentando a temperatura da mesma. A umidade do ar
influencia na pluviometria de uma cidade e no aparecimento de nuvens
(LAMBERTS, 2011).
Gráfico 02: Precipitações no Recife de 01 de janeiro a 31 de dezembro de 2012.
Fonte: Inmet, 2012.
Recife tem uma média anual de 80% de umidade, diretamente
influenciada pela proximidade com o mar e sua temperatura quente. No Gráfico 01 é
possível observar que por poucas vezes a umidade do ar esteve abaixo de 60%,
sendo a mínima anual 55% e a máxima 93%. Os meses mais quentes do ano são os
mais secos e os mais amenos mais úmidos.
A umidade do ar também é responsável pela formação de nuvens, que
mudam de estado e voltam à superfície terrestre, em forma chuva, granizo ou neve.
Quanto mais próximo do Equador, mais umidade e, por consequência, mais chuvas
(LAMBERTS, 2011).
O Recife possui chuvas intensas, mais incidentes nos meses de junho a
setembro, que aliviam normalmente quando a temperatura começa a aumentar, em
70
setembro, conforme observado no Gráfico 02. A precipitação máxima, no ano de
2012, foi de 143mm, no mês de fevereiro, no período de mais altas temperaturas da
cidade.
5.1.2.3 Radiação Solar
A principal fonte de energia é o sol, através da radiação por meio de
ondas eletromagnéticas. A atmosfera atenua a radiação, também reduzida por
partículas em suspensão, como fumaça e poluição. A distribuição destas ondas de
forma irregular influencia os elementos do clima. Ao tocar uma superfície, a radiação
solar é em parte absorvida e a remanescente é refletida. A radiação absorvida
aquece a superfície que tocou, sendo uma importante fonte de calor. A radiação
refletida é responsável pela iluminação, pois é ela que passa pelas janelas e
aberturas (LAMBERTS, 2011).
Figura 03: Carta solar.
Fonte: LAMBERTS, 2011.
A carta solar tem aplicação prática essencial para o projeto de edificações
com maior aproveitamento da iluminação e sombreamento naturais, pois ela dispõe,
a trajetória do sol ao longo do ano e horário do dia, a altitude, ângulo do sol em
71
relação ao norte, e o azimute, ângulo entre o sol e o norte geográfico, conforme
podemos ver nas Figuras 03 e 04. Quanto menor a altitude solar, menor o trajeto
percorrido pela radiação e maior a reflexão e a incidência de radiação difusa,
portanto maior o calor (LAMBERTS, 2011).
Figura 04: Perspectiva obtida através da análise dos dados da carta solar no emisfério sul.
Fonte: LAMBERTS, 2011.
A partir da observação da carta solar da cidade do Recife (Figura 05),
observamos que o sol nasce a leste e se põe no oeste da cidade, sendo sua altitude
baixa, o que aumenta a temperatura local pois há maior incidência de radiação
indireta. Os dias são um pouco mais longos no verão do que no inverno, havendo
baixa variação de altitude do sol durante o ano, não havendo grandes diferenças de
radiação solar e, portanto, de temperatura.
72
Figura 05: Carta Solar da Cidade do Recife
Fonte: Programa Sol-Ar desenvolvido pelo Labeee, 2012
5.1.2.4 Ventos
A constante mudança de pressão na atmosfera são responsáveis pela
ocorrência dos ventos. Conforme o ar que se encontra na superfície vai aumentando
de temperatura, se expandindo, diminuindo de pressão e se elevando, dando
espaço para um ar mais denso e fresco. A circulação do ar faz com que o vento se
desloque tanto vertical quanto horizontalmente, pois há massas de ar menos
quentes e mais quentes na superfície. Próximo ao mar a troca de ar horizontal, ou
local, acontece do mar para a terra, pois a terra está mais quente e a noite o
processo é invertido. Topografia, altitude e rugosidade do solo são fatores que
alteram os ventos, pois alteram sua trajetória e velocidade, podendo canalizar ou
desviar os ventos (LAMBERTS, 2011).
No clima brasileiro a ventilação é apontada como estratégia mais eficiente
de melhoria da sensação de conforto térmico, pois facilita as trocas de calor e
73
acelera a evaporação do suor. Aproveitar eficientemente as correntes naturais de ar
auxilia também na diminuição do consumo energético. A passagem de ar através
dos edifícios é conhecida, portanto, como ventilação natural. Para tal, são
necessárias aberturas de entrada e saída de ar e diferença de pressão interna,
conforme será detalhado adiante (BITTENCOURT, 2004).
Figura 06: Rosa dos Ventos da Cidade do Recife
Fonte: Programa Sol-Ar desenvolvido pelo Labeee, 2011
A rosa dos ventos é uma ferramenta onde é possível observar a
probabilidade de ocorrência dos ventos e suas velocidades de acordo com as
estações do ano. A rosa dos ventos do Recife (Figura 06) mostra a predominância
de ventos provenientes do Sudeste e Sul durante o outono e no inverno e Sudeste,
Leste e, em menor volume, Nordeste durante a Primavera e o Verão.
Deve-se destacar que edificações são também barreiras físicas, podendo
canalizar ou desviar os ventos. É necessário atentar para a posição dos ventos para
que se possa aproveitá-los sem prejudicar aos demais habitantes da cidade. A
74
ventilação natural auxilia também na dispersão da poluição e do aquecimento
gerado pelas Ilhas de Calor (LAMBERTS, 2011)
5.1.2.5 Orientação da casa
Conforme foi possível observar a partir da análise da temperatura,
umidade, precipitação, radiação solar e ventos, o sol da manhã é melhor recebido
por um ambiente do que o sol da tarde, pois o ambiente ainda não absorveu o calor
da radiação. Sendo assim, na cidade do Recife, que possui clima quente e úmido
com baixa variação de temperatura ao longo do ano, as áreas sociais e íntimas da
habitação – salas e quartos, ambientes de uso prolongado – devem estar voltadas
para o leste, recebendo o sol matinal, e para sudeste, para que receba maior
ventilação natural. As áreas de serviço e cozinhas, por serem ambientes de menor
tempo de uso, podem estar no oeste da edificação, devendo ser projetadas para que
os ventos saiam por lá, evitando que os odores não voltem para dentro de casa.
5.2 Projetar para o meio ambiente social e físico
Uma casa é uma parcela do ambiente construído de uma cidade. Para
que esta residência seja sustentável, deve buscar o aumento da qualidade urbana e
ambiental em sua constituição. A busca da sustentabilidade deve ocorrer não
apenas em uma edificação especifica, mas também nos espaços públicos e na
região do entorno.
5.2.1 Forma da casa
A casa deve se moldar ao ambiente existente, valorizando vegetação e
elementos naturais, evitando ângulos agudos ou curvas que sejam apenas para dar
uma forma interessante ao projeto. O estudo da localização do lote tona possível
que as diretrizes do projeto sejam traçadas para valorizar aspectos locais de
insolação e ventilação. A ventilação do terreno não depende apenas da direção dos
ventos de onde o mesmo se encontra. É indispensável analisar se há barreiras
físicas, sejam estas naturais como montes e árvores, ou artificiais, construções, pois
elas influenciam na direção da ventilação e no sombreamento (VENÂNCIO, 2012).
75
Figura 07: Reflexão dos raios solares incidindo em telhados, fachadas e ruas.
Fonte: LENGEN, 2008
O modelo atual de projeto é baseado em fachadas planas e de vidro,
telhados planos e ruas de asfalto e com vegetação reduzida (FIGURA 07 A). No
momento que o sol toca a fachada de vidro reflete para as demais edificações e
ruas, quando bate no teto plano é espelhado novamente na fachada de vidro e na
via, a rua absorve o calor dos raios e o irradia para as edificações. Toda vez que o
sol toca uma superfície calor é absorvido, quanto mais este fato acontece, maior a
temperatura da área tocada. Proteger e pensar na saída do calor do ambiente são
as soluções para este problema. Em uma fachada irregular os raios solares são
menos refletidos, tetos inclinados desviam os reflexos fazendo os mesmos
diminuírem de intensidade e árvores podem proteger a via da incidência solar
(Figura 07 B). As fachadas irregulares também auxiliam na circulação do vento por
dentro da casa, pois aumentam sua movimentação. Integrar os elementos presentes
dentro do terreno é uma tarefa da localização do projeto da casa. A forma da casa
pode influenciar na integração e no conforto interno (LENGEN, 2008).
A casa faz parte de um lar. Os acessos, os jardins, os portões, os muros,
as áreas de lazer também fazem parte desta residência. O trajeto feito do portão até
o imóvel tem extrema importância, pois determina a sensação de chegar em casa. A
edificação deve estar apta a atender as demandas de seus moradores ao longo da
vida, crianças correndo e brincando, adolescentes buscando espaço próprio, adultos
e idosos e pessoas com mobilidade reduzida (ROAF, 2009).
Visto que as necessidades dos moradores de uma residência mudam ao
longo dos anos, a mesma deve prever estas modificações. Referindo o capítulo
antecedente, a residência deve ser acessível à todas as pessoas, sem importar a
A B
76
idade, o sexo ou sejam portadoras de deficiência ou mobilidade reduzida. O projeto
adequado deve prever a inexistência de barreiras físicas, para permitir o acesso à
todos.
Os espaços internos à uma casa dependem do modo de vida de seus
habitantes, os usos que lhes serão dados e até mesmo os móveis que estarão
dentro dele. Uma distribuição adequada dos cômodos pode privilegiar ambientes de
uso prolongado em detrimento de circulações, por exemplo. Um projeto deve
começar com os menores tamanhos imaginados para os compartimentos e ir
aumentando conforme o projeto permitir. Todas as opções de organização devem
ser exploradas, com a finalidade de obter a melhor solução para aquele projeto.
Diversos fatores regionais podem influenciar na forma da casa. Entre estes estão a
forma do terreno, os materiais, a mão-de-obra e sua qualificação, os dispêndios, o
tamanho da família que irá morar na casa e o clima da região (LENGEN, 2008).
As plantas baixas de residências situadas em países de clima quente
devem ter proporção que valorize a área de superfície em detrimento do volume,
pois necessitam ser liberar calor. As paredes voltadas para o sol devem receber
proteção e as aberturas devem estar em locais opostos para promover a ventilação
cruzada– que entra por um lado do cômodo e o atravessa (ROAF, 2009).
Na figura 08 é possível observar alguns exemplos eficientes de ventilação
cruzada: janelas de diferentes alturas e aberturas na parte inferior da porta, janelas
de entrada mais baixas que as de saída e árvores forcando a brisa a descer.
Figura 08: Ventilação cruzada eficiente.
Fonte: LENGEN, 2008.
Pesquisas relatam que espaços ambientalmente mais flexíveis devem ser
buscados, adaptáveis aos usos, às mudanças climáticas, aos moradores. A
acomodação das necessidades da população que usa o edifício é que vai
determinar o quanto serão requeridos os sistemas ativos de climatização. O projeto
do imóvel difere de acordo com o uso pretendido da refrigeração artificial, se for o
tempo inteiro da ocupação, se for parcial ou se excluir os sistemas de arrefecimento.
77
Observar o ruído e a poluição a partir do terreno onde será construída a casa são
determinantes do uso da ventilação natural, pois elevados níveis de ambos a
inviabilizam janelas abertas. A iluminação natural não sofre deste problema, sendo
facilmente solucionada com a colocação de vidros (GONÇALVES, 2006).
A incidência de radiação solar no edifício pode ser reduzida entre 60% e
90% fazendo o uso de vegetação. As plantas absorvem parte da radiação solar para
realizar a fotossíntese e a movimentação de ar entre folhas das retira do mesmo o
calor absorvido do sol (LAMBERTS, 2011).
A melhor proteção dos raios do sol para uma residência são as plantas e
árvores, mantendo o ar fresco em volta de sua copa. Árvores devem ser altas e
próximas das edificações para que direcionem a brisa fresca para a altura das
janelas. Cercas vivas e outras plantas podem ser posicionadas para direcionar o
vento para dentro da casa, devendo estar mais distantes para que o vento possa
voltar a descer depois de tocá-las (LENGEN, 2008).
Árvores e plantas existentes em um terreno devem ser, sempre que
possível, mantidas, pois podem auxiliar no sombreamento e resfriamento da
edificação. Árvores podem ser estrategicamente plantadas ao redor da casa para
proteger aberturas da incidência solar direta. Gramados ao redor da casa diminuem
a reflexão dos raios solares, portanto a temperatura. Jardins internos à casa podem
trazer não apenas conforto térmico, mas também visual (VENÂNCIO, 2010).
A vegetação a ser usadas nos jardins deve ser adequadas à região, pois
assim necessitará de baixa manutenção. Os jardins devem ser criados para ter baixa
demanda de água e devem ser constituídos de vários tipos de plantas, para que
uma supra as necessidades da outra. Proteger as raízes ajuda a manter a umidade
natural do solo (KEELER, 2010).
É necessário achar o equilibro entre a paisagem natural e o ambiente
construído, de forma que o segundo não destrua o primeiro. Os jardins sombreados
das casas devem seguir para as ruas, estacionamentos e parques, se encontrando
com a vegetação das praias e campos.
5.2.2 Método construtivo
O método construtivo a ser escolhido para uma edificação deve levar em
consideração os aspectos tratados a respeito de materiais construtivos no capítulo
78
passado. Alguns aspectos a serem estudados durante esta especificação são
voltados unicamente para a fase construtiva da casa, sendo importante que o
método seja facilmente adquirido, para que o construtor não dependa de um único
fornecedor, e a mão de obra local tenha treinamento adequado para trabalhar com
aquele método. As características de um material devem ser levadas em detrimento
do uso da edificação. Por exemplo, uma casa não necessita ser construída com
vigas de aço, que tem custo elevado e necessitam de mão de obra especializada,
podendo ser construída com madeira. No entanto, um teatro necessita que não haja
pilares atrapalhando a vista do palco, sendo então o material adequado. Nem
sempre o material adequado para uma residência é adequado para outra, pois há
necessidades diferentes de dimensões e manutenção. A madeira tem uma
manutenção elevada e menor durabilidade se comparada com aço, pois requer
aplicação constante de vernizes e tratamentos para aumentar sua durabilidade,
enquanto o aço necessita de proteção contra fogo e ferrugem, com menor
necessidade de aplicação.
Existem algumas técnicas construtivas alternativas que podem ser
utilizadas na construção de residências. No entanto, estas técnicas são inviáveis
para construção em larga escala, uma vez que utilizam materiais disponíveis no
terreno onde será edificado.
A taipa, também conhecida como pau-a-pique é um método de construção que
consiste em barro colocado sobre uma trama de madeira para servir de molde para
paredes, com aproximadamente cinqüenta centímetros de espessura depois de
finalizado. Devido à grande espessura de suas paredes as construções possuem
uma inércia térmica, que é a não transmissão de calor de fora para dentro da
edificação, sendo um ótimo regulador climático. Sua resistência é boa não apenas
em períodos de chuva, mas também em climas úmidos e temperaturas baixas
(CORRÊA, 2006).
O Adobe surgiu como alternativa ao uso dos tijolos comuns, pois não
fazem uso de lenha para ser queimados. Ampliando suas vantagens, os tijolos de
Adobe possuem menor custo, melhor comportamento térmico e acústico, além de
uma maior possibilidade de formas e dimensões. O Adobe consiste em um tijolo
maciço, sem furos, formado pela mistura de barro, areia, palha e água, colocados
para secar ao sol até endurecer (LOURENÇO, 2002).
79
Quando a terra para o tijolo de Adobe se encontra disponível no local
onde será realizada a obra, há uma imensa redução de custos com transporte e
combustível com tijolos. A mão-de-obra usada em sua produção não necessita de
especialização, não há consumo de energia em sua fabricação e a água consumida
com a produção destes tijolos chega a ser sessenta vezes menor que a consumida
com concreto. A grande desvantagem do método, no entanto, é a fragilidade de seu
material em contato com a água, por conta de sua composição (CORRÊA, 2006).
Figura 09: Construção em Superadobe.
Fonte: Arquivo pessoal, 2009.
A partir dos tijolos de Adobe, foi desenvolvida a técnica de Superadobe,
conforme observado na Figura 09, que consiste em encher sacos de polietileno com
argila, empilhando-os desde a fundação da edificação, permitindo construção de
paredes, com execução simples e de fácil aprendizado (ISOLDI, 2008). Pode ser
usada para o Adobe e o Superadobe a terra do local da obra, evitando custos com
transporte ou fornos à lenha para queimar os tijolos. Uma limitação vertical é imposta
pelo método, não sendo possível realizar construções com mais de um pavimento,
pois não existem outros elementos estruturais. Assim como o Adobe, o Superadobe
possui certa fragilidade com relação à água (CORRÊA, 2006).
80
Figura 10: Treliça espacial em bambu, a ser coberta por lona.
Fonte: Arquivo pessoal, 2009.
Muito utilizado na arquitetura asiática, o bambu é um excelente material
construtivo (Figura 10). Sua exploração pode colaborar e muito na preservação dos
recursos naturais, pois são as plantas de mais rápido crescimento do planeta. O
bambu, por suas características estruturais, possui uma resistência superior à do
aço, com sua compressão, flexão e tração tendo sido amplamente ensaiadas em
laboratório. O bambu pode ser aplicado em quase todas as partes de uma edificação
– piso, paredes, pilares, telhados, portas e janelas – com um ótimo isolamento
térmico e acústico e leveza e flexibilidade que nenhum outro elemento construtivo
possui. A amarração entre diferentes varas de bambu pode ser feita de diversas
maneiras: com amarras de tiras de bambu, encaixe de canos de bambu, conexões
com pinos e nós de aço. O bambu não é, no entanto, normatizado cientificamente, o
que dificulta a sua produção em larga escala (OLIVEIRA, 2006).
5.3 Projetar para a hora do dia, estações do ano ou vida útil
A função de abrigo da casa tem como objetivo proteger o homem do sol,
da chuva e dos ventos. Muitas vezes os recursos naturais são mal aproveitados, não
sendo beneficiada a residência pelos pontos positivos nem amenizados ou
corrigidos os negativos. As condições locais devem ser equilibradas e integradas ao
meio ambiente, através dos tetos, pisos e paredes (LENGEN, 2008).
81
5.3.1 Paredes e cobertas
As paredes das residências situadas em clima tropical úmido devem ser
delgadas, para evitar que retenham umidade. Impedir que os raios de sol toquem
diretamente as paredes é importante para amenizar a temperatura interna da casa,
pois conforme vai recebendo sol vai absorvendo o calor e esquentando de fora pra
dentro, até que o calor passe para o ambiente. Usar telhados altos e com beirais
amplos, colocar árvores e plantas para proteger as paredes, voltar as paredes mais
compridas para o norte e o sul ou pintar a casa de branco são bons artifícios para
esta proteção (LENGEN, 2008).
As tecnologias atuais fazem com que poucos sejam os projetos que as
paredes possuem função estrutural. No entanto, as paredes continuaram compactas.
Paredes constituídas por cobogós, protegem o ambiente interno do sol sem barrar
os ventos (Figura 11). Podem ser utilizados com a mesma função os para-sóis e
muxarabis. As portas devem ter elementos vazados, para a entrada da ventilação e
da luz. Estas ferramentas precisam amparar não apenas o sol mas também as
chuvas (HOLANDA, 1976).
Figura 11: Três tipos diferentes de cobogós, do tradicional aos retrôs.
Fonte: STRUCKEL, 2012.
As paredes da casa devem ser protegidas da incidência direta do sol, do
calor, das chuvas e da umidade. Terraços, varandas, pérgolas, jardins sombreados
são formas mais comum de proteger as paredes. A arquitetura moderna criou
82
platibandas que transformam a fachada em um plano, estando este exposto ao sol
(HOLANDA, 1976).
Figura 12: Edifício Parque Guinle, Rio de Janeiro.
Fonte: HOMRICH, 2012.
Um prédio muito interessante e que serve de exemplo de como proteger
fachadas é o Edifício Parque Guinle, no Rio de Janeiro (Figura 12). Sua fachada
principal, voltada para um jardim com árvores frondosas, é toda protegida por um
terraço, com diferentes tipos de fechamento. O arquiteto Lúcio Costa deixou
varandas abertas mas também protegeu-as com cobogós de diferentes tipos e
pérgolas, deixando sempre espaços abertos para a apreciação da paisagem.
Em climas tropicais e úmidos os telhados deverão ser inclinados, para
aumentar a reflexão dos raios solares. Outros artifícios de projeto também podem
ser usados para proteger as paredes da incidência direta do sol: telhados que
passem além das paredes, formando beirais; árvores que produzam sombras;
colocação de plantas que subam na fachada e a protejam do sol; pintar de branco as
paredes e tetos; projetar fachadas irregulares que protejam a si mesmas; tetos
inclinados que reflitam a luz de forma irregular e permitam que a chuva escorra.
Edificações próximas e com muitas janelas em vidro refletem calor, assim como
espelhos d’água muito próximos e pisos externos escuros (LENGEN, 2008).
O telhado pode ser pintado com cores claras e reflexivas, ajudando a
diminuir a temperatura interna da residência em até 6°C, pois a cor branca reflete
83
até 80% dos raios solares. Uma alternativa ao branco são as paredes e telhados
verdes, grandes aliados ao resfriamento interno do ambiente. As telhas são
substituídas por um sistema de drenagem e terra para plantio, recebendo plantas de
porte adequado, podendo ser também estendido para as paredes. A adição de um
jardim à coberta das edificações favorece a queda de temperatura interna aos
ambientes, reduzindo o consumo energético. Outros fatores aliados deste recurso
são melhora acústica, auxilio no controle da água das chuvas e consumo de cinco
quilos de gás carbônico por metro quadrado de coberta (VENÂNCIO, 2010).
Criar vazados entre o telhado e a laje ou forro auxiliam também a
diminuição de temperatura interna à edificação, podendo ser também aberturas
protegidas para dentro da residência, como lanternins, claraboias e chaminés. A
coberta mais eficiente em termos de absorção do calor ainda é a telha cerâmica.
Pés-direitos altos distanciam o ar quente da área habitada, dando maior conforto
(HOLANDA, 1976).
Figura 13: Casa onde se utilizam bem os recursos de proteção das paredes e telhados.
Fonte: ARKOUS, 2012.
É possível observar vários aspectos de proteção das paredes da casa na
figura 13. O entorno da edificação foi feito com jardins, gramados em alguns locais e
vegetação de porte médio em outras, de maneira que protegesse as paredes do sol.
84
Na frente da residência há um espelho d`água sombreado, diminuindo a temperatura
do vento no momento em que ele penetra na casa. As paredes são revestidas em
madeira, material que não retém calor excessivamente. Os beirais são amplos,
gerando uma sombra imediatamente antes às paredes, estando os vidros da
incidência solar direta por este sombreamento. As cobertas, em telhado verde,
ajudam a diminuir a temperatura interna da casa. No pavimento superior é possível
observar um pequeno vão entre o telhado verde e a residência, formando um
telhado ventilado.
5.3.2 Janelas e portas
Aberturas são elementos importantes para que a iluminação e a
ventilação naturais sejam valorizadas e adequadas. Janelas grandes entram muita
luz, mas também mais calor. Orientar a casa para o lado que o sol nasce faz com
que a mesma receba mais luz natural. O projeto deve ser estudado para que a luz
que entra não seja nem exagerada nem pouca, estando as aberturas em
conformidade com a ventilação (Figura 14). Ambientes com luz reduzida são
propícios à aparição de ácaros, fungos, vírus e bactérias (LENGEN, 2008).
Figura 14: Aberturas e proteções contra a iluminação excessiva.
Fonte: LENGEN, 2008.
Conforme relata Lengen (2008) utilizar cores claras no projeto, tanto
internamente quanto externamente, amplia a reflexão dos raios solares e, por
consequência, melhora a iluminação. Os materiais para pisos e paredes devem ser
escolhidos com cautela, pois se forem muito reflexivos irão fazer com que o
85
ambiente tenha muita luz, enquanto barreiras externas à edificação, como árvores e
outras edificações, podem prejudicar a entrada de luz em um cômodo. Pisos
externos escuros absorvem o calor e o levam à edificação conforme o calor vai se
dissipando. O excesso de vidro nas janelas pode prejudicar também aos vizinhos,
por refletir os raios solares para as construções adjacentes.
O vento precisa de um lugar para entrar e outro para sair, para que haja
renovação de ar – sai o vento quente e fica o fresco. A melhor solução para tal é a
ventilação cruzada, onde haja uma janela em cada lado do ambiente, estando do
lado onde o vento entra a janela baixa e do outro, preferencialmente, uma janela
alta, para que o vento quente saia. A posição das janelas é importante para que se
aproveite a brisa fresca e retire o ar quente de um ambiente. Entradas de ar devem
sempre estar mais baixas que as saídas, senão o vento que irá entrar será mais
quente que o vento que já está dentro do ambiente. Antes da entrada do vento
podem estar posicionados uma área sombreada – uma varanda ou beiral – ou um
espelho d’água, para auxiliar na diminuição da temperatura dos ventos, aumentando
o conforto interno (VENÂNCIO, 2010).
Caso a única solução adequada para ventilação resulte em luz demais
podem ser usados diferentes modelos de janelas para que se resolva o problema
(Figura 15). As soluções mais comuns de amparo são cortinas e persianas, podendo
também ser treliças, plantas e para-sóis. A altura das janelas varia de acordo com o
uso, para que a ventilação não atrapalhe as atividades realizadas em um ambiente,
como o vento apagar o fogo do fogão, e para que o ar circule melhor. Portas com
venezianas funcionam melhor como ferramentas de ventilação cruzada quando as
venezianas são mais próximas ao piso, para que o ar fresco venha de baixo e saia
pelas janelas mais altas. (LENGEN, 2008).
Figura 15: Acabamentos de folhas de portas e janelas: madeira, treliça, veneziana e vidro.
Fonte: LENGEN, 2008.
Alguns elementos chaves importantes devem ser observados ao se
projetar janelas, compatibilizando iluminação e ventilação. São estes (ROAF, 2009):
86
• Projetar iluminação para o centro da casa, com claraboias, aberturas
internas, dutos de iluminação, tetos de vidro e outros artifícios;
• Ter em mente que as janelas não devem ser excessivas, nem em
tamanho, nem em quantidade, e protegidas da luz direta do sol;
• Fazer uso de janelas adequadas ao clima e às necessidades de
iluminação e ventilação, como janelas de folha dupla, sendo uma em
venezianas que deixam passar mais ventilação que luz, e outra de vidro,
que protege do frio e deixa os raios do sol entrar (Figura 16);
• Escolher os materiais adequados para as janelas, para que durem mais e
necessitem de menor manutenção;
• Estudar os reflexos dentro dos ambientes, para que os mesmos não
fiquem excessivamente iluminados e, consequentemente, quentes;
• Aproveitar a vista da janela, sem deixar que ela não possa ser descoberta
ao chegar próximo da janela;
• Planejar as janelas para que não atrapalhem possíveis mucanças no
layout da casa, podendo estar próximos a ela um sofá ou uma cômoda;
• Proteger a privacidade, com janelas que não deixem devassada a vida na
casa para os que passam na rua;
• Graduar os níveis de iluminação natural em diferentes ambientes, criando
um jogo de sombra e luz e valorizando a iluminação conforme o uso.
Figura 16: Janelas antigas de folha dupla, combinando passagem de ventilação e iluminação.
Fonte: Turismo Vale do Café, 2012.
87
5.3.3 Escolha dos materiais
Foi detalhado, no capítulo antecedente, como a escolha dos materiais é
importante frente à de sustentabilidade da casa. O principal desafio nesta
especificação é apropriar-se dos benefícios de um material em detrimento da
necessidade de uma edificação. Isto é, nem sempre o material adequado é aquele
conhecido como ecologicamente correto ou alternativo. O recurso deve ser estudado
como será naquela residência e se é ou não viável para satisfazer aquelas
necessidades específicas (GONÇALVES, 2006).
Usar certificações de materiais como base para a escolha é uma boa
forma de assegurar o menor impacto dos produtos designados. Junto com materiais
certificados vem um resumo com as características e informações para execução da
instalação do mesmo. Ainda assim, é indispensável que os profissionais estudem
para que adquiram experiência própria (KEELER, 2010).
5.4 Tecnologias alternativas
Uma residência sustentável não pode deixar nenhum aspecto
aproveitável ser desperdiçado, como pode ser observado na figura 17. A água das
chuvas é recolhida pelas calhas, a luz do sol é captada por painéis solares e os
dejetos viram adubo, integrando o ambiente construído com o natural.
Figura 17: Aproveitamento ideal dos recursos em uma residência.
88
Fonte: LENGEN, 2008.
5.4.1 Produção energética
Os sistemas mais comuns de aproveitamento da radiação solar para
redução de consumo energético são os painéis fotovoltaicos e os sistemas de pré-
aquecimento de água, consoante explanado no capítulo anterior.
Sistemas de geração de energia a partir dos raios solares podem atender
de 30% a 70% das necessidades de uma casa. Aproveitar a luz do sol para gerar
energia requer a observação de alguns aspectos climáticos e técnicos locais para
sua viabilidade (ROAF, 2009):
• O clima, o trajeto e a intensidade solar locais ao longo do ano;
• A produção energética necessária para abastecer uma edificação ao
longo do ano, garantindo o conforto térmico de seus habitantes;
• Quais as exigências dos equipamentos captadores de luz solar para a
eficiência de sua produção;
• Os sombreamentos que árvores e edificações podem provocar.
5.4.2 Consumo de água
No capítulo precedente foi destacada a indispensabilidade da redução no
consumo de água, uma vez que o recurso na forma potável está em escassez. As
medidas de conservação de água muitas vezes são atreladas à redução dos
padrões e mudança de hábitos. No entanto, o desempenho dos equipamentos é na
verdade o principal redutor de consumo. Economizar requer fazer uso com menor
frequência, o que é válido. No entanto, o ideal é tornar o uso mais eficiente,
realizando com menos água uma determinada tarefa. Algumas tecnologias são
capazes de misturar água e ar reduzindo o fluxo de água sem diminuir a eficiência
do sistema. É possível tanto reaproveitar quanto reciclar a água, sendo que o
primeiro processo requer menor tratamento. As águas usadas provenientes das
torneiras, chuveiros, bacias sanitárias, banheiras, lavadoras de roupas e louças
adquirem substâncias depois do seu uso como sabonetes e sabões, óleos, produtos
89
químicos, excrementos humanos e matéria orgânica. Por conta da presença de
impurezas esta água pode ser reutilizada para fins não potáveis depois de passar
por tratamentos de purificação. A água pode ser reusada para descargas, aguar
jardins, lavar calçadas e carros. Assim como as águas residuais, a água da chuva
não é pura, pois retém a poluição urbana, podendo ser captada através dos telhados
e pisos elevados e utilizada para os mesmos fins que a água servida (ROAF, 2009).
A captação da água da chuva a partir de jardins amplia sua qualidade,
pois o solo e as raízes filtram-na. Quanto mais rápido o crescimento de uma planta,
mais ela filtrará o solo, incorporando as impurezas à sua biomassa (KEELER, 2010).
5.4.3 Redução, reuso e reciclagem do lixo
O lixo doméstico e os resíduos da construção civil trazem impactos ao
ambiente diariamente. No capítulo passado foi descrito como o descarte inadequado
traz poluição aos solos, águas e ar. Os contaminantes seguem nos seres vivos,
entrando na cadeira alimentar e chegando ao corpo humano. Reduzir a produção de
lixo parte na compra de produtos cuja embalagem seja reutilizável ou biodegradável.
Reusar significa dar novo uso àquele produto ou embalagem, como transformar
garrafas de vidro em vasos de plantas. Reciclar requer a separação do lixo para que
o mesmo seja direcionado à empresas que usem o mesmo como matéria prima.
10 CONCLUSÕES
A dificuldade de implementação da sustentabilidade percorre toda a
cadeia produtiva, a começar pelo poder público, em especial municipal, que não
legisla a favor do tema. Corroborando com esta afirmação, está o fato que a cidade
ainda não elaborou uma Agenda 21.
Por experiência profissional, o mercado da construção civil na cidade do
Recife, segundo a ótica das construtoras, tem como objetivo principal edificar no
menor tempo hábil e com o mínimo de dispêndio, maximizando o lucro do
empreendimento. Para o consumidor deste mercado, são tidos como valor
agregado: grife da construtora responsável pelo empreendimento; bairro onde o
empreendimento está inserido; dimensão da unidade habitacional e revestimentos
utilizados na mesma; quantidade de vagas de garagem disponíveis para cada
unidade habitacional; muitas unidades habitacionais em um empreendimento, para
90
minimizar o condomínio e o custo individual de manutenção; e área de lazer
disponível no empreendimento.
No mercado local ainda não existe a compreensão, nem por parte dos
empreendedores tampouco de seus compradores, dos benefícios de se construir de
maneira sustentável. Há, tão somente, o conhecimento de que o custo inicial será
maior, mas não a valorização do empreendimento e diminuição o custo fixo durante
o uso da edificação contribuindo para a diminuição do consumo de matérias primas
e para conforto dos ocupantes da edificação durante sua fase de uso. Mais uma vez,
esbarra-se na mudança de paradigmas para mudar a forma de projetar e construir
das habitações. Não se pode ter o foco só o retorno financeiro do empreendimento,
uma vez que construir sustentável requer um maior custo inicial. O usuário final deve
começar a cobrar as sustentabilidade, uma vez que será o maior beneficiado.
A fase de projetos é subestimada pelos construtores, fator que acarreta
prejuízos tanto ambientais quanto econômicos. A consonância entre projetos é
inexistente, não sendo os mesmos desenvolvidos simultaneamente, o que termina
gerando modificações. Modificações em projetos ainda na fase de planejamento tem
custos menores, apenas de projetistas. Mudanças durante a obra, no entanto,
resultam no retrabalho e na geração de resíduos – em uma indústria altamente
poluidora.
Edificações sustentáveis requerem projetos desenvolvidos muito antes do
início das obras dos quais façam os profissionais de todas as especialidades a
serem tratadas na edificação. Para que uma edificação seja sustentável, ela precisa
ser planejada como tal e não depende apenas de tecnologia. A arquitetura é capaz
de projetar habitações que sem a influência de outros equipamentos tenha um
menor consumo de energia com uma melhor qualidade de seu ambiente, interno e
externo.
O déficit na demanda por materiais certificados é um empecilho para que
os mesmos se desenvolvam. Os custos altos, dada à baixa procura, não permite que
os mesmos sejam desenvolvidos em larga escala, encarecendo-os ainda mais. A
falta de integração entre os provedores de matéria-prima da cadeia produtiva é
prejudicada tanto pela baixa atuação do poder público quanto falta de interesse dos
próprios fornecedores. O mercado começou a se desenvolver pela pequena
quantidade de consumidores que procuram produtos sustentáveis. Existem
dificuldades a serem superadas neste processo de mutação, uma vez que a
91
indústria ainda não está adaptada aos métodos construtivos. Um bom exemplo desta
falta de consonância dos fornecedores dos materiais é construir com blocos de
concreto.
A fabricação de blocos de concreto é feita sem que o bloco precise ir ao
forno à lenha como nos blocos cerâmicos. Este fator, além de economizar a lenha,
faz com que não haja dilatação e deformação dos blocos, sendo o material final
muito mais uniforme. Por ser mais uniforme, não é necessário rebocar, apenas
passar uma camada fina de gesso, emassar e pintar. A obra de uma residência em
blocos de concreto é extremamente limpa, pois os blocos possuem uma modulação.
Existem três tamanhos de blocos, todos com a altura de dezenove centímetros,
sendo o primeiro com 14, o segundo com 29 e o terceiro com 44 centímetros que, ao
acrescentar o rejunte de um centímetro, tornam-se múltiplos de 15 centímetros – 15,
30 e 44. Como o projeto segue esta modulação, os blocos se encaixam como se
fossem lego, não havendo quebra de tijolos, o que resulta em uma obra
extremamente limpa. Os blocos possuem o centro vazado, para que no momento em
que estiverem sendo erguidas as paredes, sejam passadas as tubulações,
praticamente eliminando a quebra de paredes que geram resíduos e retrabalho.
No momento de escolher o piso, no entanto, o método encontra
problemas. Na indústria brasileira não há uma cerâmica que se enquadre na
modulação de quinze centímetros. Todas, para que não possam ser facilmente
substituídas pelas concorrentes, possuem tamanhos imediatamente acima ou abaixo
dos trinta ou quarenta e cinco centímetros que seriam a modulação. Não havendo
modulação, perde-se tempo e material com o corte de cerâmicas para cantos de
paredes. Seguindo a modulação, são deixados espaços corretos para a colocação
de caixas de ar condicionado medindo 60 centímetros de largura por 40 de altura. O
mercado local, no entanto, não disponibiliza caixas de ar condicionado que se
enquadrem nestas dimensões. Todas são maiores, sendo necessário o corte de
blocos para que elas sejam assentadas.
Uma técnica construtiva com a qual estão sendo construídas casas
populares e gera muito menos resíduos que outras tecnologias, poderia ter o
aproveitamento maior de suas vantagens com simples modificações dentro da
própria indústria. A racionalização da construção está longe de ser alcançada no
Brasil. O desperdício não é tratado como um problema, mas como um fato normal e
necessário. Poucos são os resíduos reusados e reciclados na indústria.
92
É possível, através da arquitetura, melhorar a qualidade dos projetos para
que as edificações possuam características sustentáveis. Muitas das ferramentas
consistem em estudar métodos de construção passado e adaptá-las à realidade
atual. Obviamente torna-se inviável construir em larga escala casas rodeadas por
terraços em uma cidade que carece de terrenos e tomada por arranha-céus. Mas os
edifícios podem ganhar jardineiras, brises, portas e janelas em veneziana com vidro,
vidros com películas que reflitam o calor, jardins e tetos jardins para amenizar o
microclima, entre outras ferramentas trazidas no presente trabalho.
Desenvolver projetos que protejam a edificação da ação solar direta e
permitam a ventilação natural já melhora a qualidade ambiental da casa. Para os
elementos que não conseguirem ser melhorados sustentavelmente apenas
arquitetonicamente serão buscadas tecnologias alternativas para tal. Deve-se ter em
mente que, quanto mais aspectos forem contemplados, maior será o desempenho
da residência e maior sua sustentabilidade.
Como sugestão para trabalhos futuros, fica a elaboração de um check-list,
no estilo de um questionário, contemplando os elementos detalhados no roteiro do
presente trabalho, de maneira que facilite a percepção dos elementos existentes no
terreno onde será construída a casa e que aspectos poderão ser aproveitados e
desenvolvidos no intuito de ampliar a sustentabilidade da residência.
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