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UNIVERSIDADE DE PERNAMBUCO FACULDADE DE CIÊNCIAS DA ADMINISTRAÇÃO DE PERNAMBUCO MESTRADO EM GESTÃO DO DESENVOLVIMENTO LOCAL SUSTENTÁVEL MARIA CABRAL DA COSTA ARQUITETURA SUSTENTÁVEL – SOLUÇÕES PARA RESIDENCIAS UNIFAMILIARES RECIFE 2012

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UNIVERSIDADE DE PERNAMBUCO FACULDADE DE CIÊNCIAS DA ADMINISTRAÇÃO DE PERNAMBUC O

MESTRADO EM GESTÃO DO DESENVOLVIMENTO LOCAL SUSTENT ÁVEL

MARIA CABRAL DA COSTA

ARQUITETURA SUSTENTÁVEL – SOLUÇÕES PARA RESIDENCIAS UNIFAMILIARES

RECIFE

2012

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MARIA CABRAL DA COSTA

ARQUITETURA SUSTENTÁVEL – SOLUÇÕES PARA RESIDENCIAS UNIFAMILIARES

Dissertação apresentada ao Mestrado de Desenvolvimento Local Sustentável – GDLS da Faculdade de Ciências da Administração de Pernambuco – FCAP, Unidade de Ensino Superior da Universidade de Pernambuco – UPE, como requisito parcial para a obtenção do grau de Mestre em Gestão de Desenvolvimento Local Sustentável. Orientador: Prof. Dr. Antonio Nunes Barbosa Filho

RECIFE 2012

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Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) Biblioteca Leucio Lemos

Faculdade de Ciências da Administração de Pernambuco � FCAP/UPE

C837a

Costa, Maria Cabral da.

Arquitetura sustentável: soluções para residências unifamiliares / Maria Cabral da Costa ; orientador : Antonio Nunes Barbosa Filho. � Recife, 2012.

99 f.: il. ; graf. ; tab. -

Dissertação (Mestrado) - Universidade de Pernambuco,

Faculdade de Ciências da Administração de Pernambuco, Gestão do Desenvolvimento Local Sustentável, Recife, 2012.

1. Sustentabilidade - Arquitetura. 2. Arquitetura sustentável. 2.

Construções sustentáveis. I. Barbosa Filho, Antonio Nunes. (orient). II. Título.

728.3:502.131.1 CDU (2007)

728 CDD 01-2013

Emanuella Bezerra - CRB-4/1389

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UNIVERSIDADE DE PERNAMBUCO FACULDADE DE CIÊNCIAS DA ADMINISTRAÇÃO DE PERNAMBUC O

MESTRADO EM GESTÃO DO DESENVOLVIMENTO LOCAL SUSTENT ÁVEL

MARIA CABRAL DA COSTA

ARQUITETURA SUSTENTÁVEL – SOLUÇÕES PARA RESIDENCIAS UNIFAMILIARES

RECIFE

2012

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MARIA CABRAL DA COSTA

ARQUITETURA SUSTENTÁVEL – SOLUÇÕES PARA RESIDENCIAS UNIFAMILIARES

Dissertação apresentada ao Mestrado de Desenvolvimento Local Sustentável – GDLS da Faculdade de Ciências da Administração de Pernambuco – FCAP, Unidade de Ensino Superior da Universidade de Pernambuco – UPE, como requisito parcial para a obtenção do grau de Mestre em Gestão de Desenvolvimento Local Sustentável. Orientador: Prof. Dr. Antonio Nunes Barbosa Filho

RECIFE 2012

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Maria Cabral da Costa

ARQUITETURA SUSTENTÁVEL

– SOLUÇÕES PARA RESIDENCIAS UNIFAMILIARES

Dissertação apresentada ao Mestrado de Desenvolvimento Local Sustentável – GDLS da Faculdade de Ciências da Administração de Pernambuco – FCAP, Unidade de Ensino Superior da Universidade de Pernambuco – UPE, como requisito parcial para a obtenção do grau de Mestre em Gestão de Desenvolvimento Local Sustentável.

Aprovada em: 26/12/2012 BANCA EXAMINADORA

_______________________________________________ Professor Dr. Fábio José de Araújo Pedrosa

_______________________________________________ Professor Dr. José Luiz Alves

_______________________________________________ Professor Dr. Paulo Henrique Ramalho Pereira Gama

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AGRADECIMENTOS

Ao meu orientador, professor Dr. Antonio Nunes Barbosa Filho, por todas as horas

dedicadas à condução do meu trabalho.

Aos professores Dra. Andréa Karla Pereira da Silva, Dr. Fábio José de Araújo

Pedrosa e Dr. Ivo Vasconcelos Pedrosa, pela participação e contribuição ao meu

trabalho na banca de qualificação.

Ao professor Dr. José Gilson de Almeida Teixeira Filho que se empenhou para que a

minha defesa acontecesse.

A Célia Ximenes, por toda a ajuda e horas compartilhadas na secretaria do

mestrado.

A meus pais, Cynthia e Renato, por me ajudarem em mais uma conquista.

Aos meus irmãos e sócios, João e Duilio, por todo o apoio.

Ao meu noivo Rômulo, que caminhou junto comigo ao longo de toda a jornada.

Às minhas amigas Patrícia e Eduarda que estiveram junto comigo por todos os

momentos desta realização.

A todos aqueles que me apoiaram e acreditaram na minha conquista.

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ARQUITETURA SUSTENTÁVEL – SOLUÇÕES PARA RESIDENCIAS UNIFAMILIARES

Resumo: O crescimento desordenado das cidades degrada o ambiente local e

sobrecarrega sua infra-estrutura. O Brasil é um país carente em infra-estrutura.

Faltam às residências energia elétrica, água tratada, coleta, reciclagem e destinação

corretas dos resíduos, acessibilidade e legislação voltada para a sustentabilidade.

Para agravar este quadro, o déficit habitacional do país é muito alto, ampliado pelas

residências em condições inadequadas de sobrevivência. A construção civil

consome e desperdiça toneladas de insumos todos os anos. Os materiais jogados

foras poderiam ter erguido novas residências, minimizando o impacto ambiental. A

sustentabilidade mostra que os parâmetros realizados atualmente pela construção

civil são ambientalmente inviáveis. A evolução da habitação não valorizou os

aspectos climáticos e materiais locais, resultando em uma arquitetura sem

identidade e inadequada para as condições ambientais locais.

O presente trabalho descreve o desenvolvimento da casa até que a mesma se

tornou insustentável, avaliando e determinando os aspectos de sustentabilidade

desejáveis à uma habitação. O resultado final desta pesquisa foi um roteiro para

que, seguidos os seus passos e recomendações, o projeto residencial unifamiliar

seja voltado para sua sustentabilidade.

PALAVRAS CHAVE: sustentabilidade, projeto, arquitetura, construção sustentável.

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SUSTAINABLE ARCHITECTURE – SOLUTIONS FOR SINGLE-FAMILY HOUSES

Abstract: The lack of planning in cities growth degrades local environment and

overloads its infrastructure. Brazil is a country with poor infrastructure. Homes lack

eletricity, treated water, residues collecting, recicling and appropriate destination,

acessibility and legislation inclined to sustainability. Worsenning this prospect,

Brazil’s housing shortfall is high, magnified by habitantions unsuitable for living.

Tonnes of inputs are consummed and wasted by the construcition industry. Those

materials that were thrown away could have been used to build a new home,

minimizing environmental impacts. Current construction parametres have been

proved by sustainability as environmentally impracticables. Climate and local

materials have not been put into considetation as the house evoluted, wich resulted

in an architecture without local identity and inadequate for that place.

The presente research describes homes evoltution until it became unsustainable,

assessing sustainable aspects coveted by habitations. This dissertation’s final

outcome is a guide in order to, once pursued its’ recomendations, projects for single-

family houses are sustainable.

KEY-WORDS: sustainability, project, architecture, sustainable construction.

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APRESENTAÇÃO

Nasci em 1983 em um Recife bem diferente arquitetonicamente do atual.

Moro, desde que nasci, em um prédio de onze pavimentos tipo, que era o único na

região quando foi construído, rodeado por casas com amplos jardins arborizados.

Hoje o cenário é outro. Apenas poucas casas resistem ao mercado de construção

aquecido, sendo rodeado por edifícios, sendo poucos os mais baixos que ele.

Filha de arquiteta e engenheiro civil, cresci dentro do mercado da

construção. Visitava o escritório da minha mãe e adorava brincar com as réguas e

canetinhas. Não podia ser diferente, me tornei arquiteta. Em um momento da vida,

pensei que queria fazer administração, cursei na Universidade Federal de

Pernambuco, UFPE. Na metade do curso, vi que não era aquilo que queria e

comecei a cursar, paralelamente, arquitetura na Faculdade de Arquitetura e

Urbanismo de Pernambuco, FAUPE. Me formei em 2008, meu trabalho de

graduação foi o projeto de um empreendimento residencial sustentável, intitulado

Villa Verde.

No ano seguinte ingressei no Mestrado em Desenvolvimento Local

Sustentável, pela Faculdade de Ciências da Administração de Pernambuco, da

Universidade de Pernambuco e em 2010 no MBA em Construção Sustentável, pela

Universidade Paulista, UNIP, e o Instituto Brasileiro de Extensão e Cursos, INBEC,

ambos concluídos em 2012.

Trabalho no ramo da construção civil não apenas no setor de projetos,

mas também no ramo da construção. Tenho um escritório de arquitetura em parceria

com minha mãe e mais uma sócia. Junto com meus irmãos e minha mãe, fundamos

em 2010 uma construtora, focada no mercado de residências populares, financiadas

pelo programa Minha Casa Minha Vida.

Espero, como arquiteta e construtora, poder transformar o ambiente da

cidade de forma positiva, ampliando a qualidade não apenas das construções, mas

também da cidade.

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ………..………..………..………..………..………..………..……….. 11

1.1 Justificativa ………..………..………..………..………..………..……… ..……….. 12

1.2 Objetivos ………..………..………..………..………..………..………..…… ……... 14

1.2.1 Objetivo Geral ………..…………..………..………..………..………..…………... 14

1.2.2 Objetivos Específicos ………..…………..………..………..………...…………... 14

1.3 Metodologia ………..…………..………..………..………..………..………… ....... 15

2 REFERENCIAL TEÓRICO ………..…………..………..………..………..…………. 18

2.1 Desenvolvimento Sustentável ………..…………..………..……… ..…………… 18

2.1.1 Visão sistêmica ………..………...………..………..………..………..…………... 21

2.2 Cidades Sustentáveis ………..…………..………..………..……….. ………..….. 22

2.3 Edificações ……..…………..………..……………………..………..……….. ….. 24

2.4 Análise do Ciclo de Vida do Edifício …..…………..… …..………..………..….. 27

2.5 Edifício Sustentável ………..…………..………...………..………. .………..….. 29

2.6 Certificações para Edificações Sustentáveis ..… ……..………..………..….. 30

2.7 Legislação urbana e sustentabilidade ………..……….. ………..………..….. 31

2.7.1 Legislações e normas federais ………..………..………..………..………..….. 32

2.7.1.1 Licenciamento Ambiental ………..…………..………..………..…………..….. 33

2.7.1.2 Política Nacional de Resíduos Sólidos ………..…………..……………..….. 34

2.7.1.3 Política Nacional de Conservação e Uso Racional de Energia …..…..….. 34

2.7.1.4 Agenda 21 ………..…………..………..………..………..………..…………….. 35

2.7.1.5 Associação Brasileira de Normas Técnicas ………..…………..………..…… 35

2.7.2 Legislações e normas estaduais ………..…………..………..……….……..….. 36

2.7.2.1 Agenda 21 …………………..…………..………..………..………..………..….. 36

2.7.2.2 Lei nº 14.572, de 27 de dezembro de 2011 ………..…………..………..…… 36

2.7.2.3 Lei nº 11.186, de 22 de dezembro de 1994 e Código de Segurança Contra

Incêndio e Pânico para o Estado de Pernambuco (COSCIP) ………..…………..…. 37

2.7.3. Legislações e normas municipais ………..…………..………..………..………. 38

2.7.3.1 Plano Diretor ………..…………..………..………………………….…..………. 38

2.7.3.2 Lei de Uso e Ocupação do Solo ………..…………..………..………..………. 38

2.7.3.3 Lei de Edificações e Instalações na Cidade do Recife ………..…………..… 39

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2.7.3.4 Código do Meio Ambiente e do Equilíbrio Ecológico da Cidade do Recife .. 39

2.7.3.5 Agenda 21 ………………………………...…………..………..………..………. 40

3 EVOLUÇÃO HISTÓRICA DO MORAR …………………..………..………..…… …. 41

3.1 Pré-história …………………..………..………..………………………………….. .. 41

3.2 A Civilização Antiga …………………..………..………..………………… ……… 42

3.3 A Idade Média …………………..………..………..……………………………….. . 43

3.4 A Idade Moderna …………………..………..………..……………………………. . 45

3.5 Idade Contemporânea …………………..………..………..…………………… .... 46

4 A CASA SUSTENTÁVEL ……………………………….....………..………..……… . 50

4.1 Energia ……………………………………………..…………………..………..…… 50

4.1.1 Eletrodomésticos ………………………………...……..………..………..………. 52

4.2 Água ……...……..……...……..……...…………………..………..……….. ………. 53

4.3 Especificação de Materiais …………………...……..………..… ……..………. 55

4.4 Acessibilidade ……………………...……..……...……..………..……… ..………. 57

4.5 Resíduos ……………………...……..……...……..……..………..……….. ………. 58

5 ROTEIRO PARA PROJETO ARQUITETÔNICO DE CASAS SUSTE NTÁVEIS . 62

5.1 Projetar para o clima ……………………...……….…../………..… ……..………. 63

5.1.1 Localização e aspectos geográficos …...……..……...……..……..………..…. 64

5.1.2 Aspectos Climáticos ……………………...……..……...……..……..………..… 66

5.1.2.1 Temperatura ……………………...……..……...……..……..………..………… 67

5.1.2.2 Umidade e precipitações ……………………...……..……...……..……..…… 68

5.1.2.3 Radiação Solar ……………………...……..……...……..……..………..……. 70

5.1.2.4 Ventos ………………...…...……..……...……..……..………..………..………. 72

5.1.2.5 Orientação da casa ……………………...……..……...……..……..……….. 74

5.2 Projetar para o meio ambiente social e físico … …………………...……..… 74

5.2.1 Forma da casa ……………………...……..……...……..………….……..………. 74

5.2.2 Método construtivo ……………………...……..……...………..………..………. 77

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5.3 Projetar para a hora do dia, estações do ano ou vida útil .………..………. 80

5.3.1 Paredes e cobertas ……………………...……..……...……..…….……..………. 81

5.3.2 Janelas e portas ……………………...……..……...……..……..………..………. 84

5.3.3 Escolha dos materiais ……………………...……..……...……..……..…………. 87

5.4 Tecnologias alternativas ……………………...……..……...…… ..……..………. 87

5.4.1 Produção energética ……………………...……..……...……..……..………..… 88

5.4.2 Consumo de água ……………………...……..……...……..……..………..…… 89

5.4.3 Redução, reuso e reciclagem do lixo ……………………...……..……...…….. 89

10 CONCLUSÕES ……………………...……..……...……..……..………..………….. 90

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ……………………...………..………..……… . 93

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1 INTRODUÇÃO

Não há como pensar em qualidade de vida sem pensar nas habitações.

Habitar significa morar, estabelecer residência, ter sede, estar, achar-se, consistir,

manifestar-se. A satisfação de necessidades básicas do morar está extremamente

relacionada à qualidade de vida do local, observando-se alguns pré-requisitos

essenciais para a construção da mesma, pois a casa é muito mais do que apenas

um abrigo. Devem ser estudadas, antes da construção, as condições de insolação,

ventilação, higiene, funcionalidade, meio ambiente, aproveitamento do espaço e dos

materiais disponíveis visando o planejamento de uma habitação (THOMSEN, 2005).

O desenvolvimento trouxe para a vida humana ferramentas capazes de

diminuir a mortalidade infantil, evitar e curar doenças, favorecendo o incremento da

população mundial. A introdução da mecanização liberou trabalhadores da zona

rural, fez com que estes migrassem para as cidades, em busca de oportunidades de

emprego e renda, que cresceram de forma desordenada. O aumento da população e

o êxodo para as cidades fizeram com que a necessidade de novas construções e o

consumo de matérias-primas fossem ampliadas. Com a expansão, houve um

distanciamento entre as fontes de matérias-primas e os locais de construção.

As Nações Unidas criaram a Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e

Desenvolvimento – CMMAD –, com o intuito de promover a harmonia entre o

desenvolvimento econômico e a conservação ambiental. De acordo com essa

Comissão, o Desenvolvimento Sustentável é aquele desenvolvimento capaz de

suprir as necessidades da população atual sem que seja comprometida a

capacidade do planeta de satisfazer as necessidades de suas populações futuras.

O conceito de habitação sustentável tem uma difícil implementação, pois

não depende apenas de casas e prédios construídos para ser ecologicamente

corretos, mas também de pessoas que pensem, ajam e se desenvolvam de maneira

sustentável. O presente trabalho estudou ferramentas que, uma vez utilizadas,

contribuam para tornar as residências sustentáveis.

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1.1 Justificativa

Ao longo da história da humanidade, ao passo que o homem desenvolvia

novas tecnologias, não houve a preocupação em criar máquinas, utensílios e

materiais que provocassem menor impacto ambiental ao ecossistema. Acumular

riquezas era o único aspecto a ser considerado pelo crescimento, cada vez mais

concentrado nas mãos de poucos, sem conduzir à igualdade de oportunidades ou à

justiça social. (MENDES, 2000). A miséria, a degradação e a poluição ambiental

aumentam a cada dia como resultado deste modelo econômico (CASTEL, 1998).

O desenvolvimento desregrado das cidades, de modo rápido e sem

planejamento, contribui intensamente para a deterioração do espaço urbano. A

desordem do crescimento dos municípios eleva a densidade populacional e

concentra áreas construídas, pavimentadas e industriais, dificultando a implantação

de infraestrutura, ampliando custos de urbanização e gerando desconforto ambiental

acústico, de circulação, visual e térmico. Desde a década de 1960 as principais

cidades brasileiras vêm crescendo e se adensando, modificando seus ambientes,

afetando a qualidade de vida de seus habitantes, através de modificações climáticas

e ambientais (CAMARGO, 2005).

Edificar a cidade torna a construção civil o setor que mais consome

recursos naturais e energia em todas as fases da edificação – projeto, construção,

ocupação e demolição. Este consumo significa de 20% a 50% de todos os recursos

produzidos pela sociedade e 40% dos insumos não consumidos adequadamente

viram resíduos, não sendo renováveis a maioria destes, por exemplo, pedras, areia,

concreto e aço. De toda a produção mundial de insumos a construção civil absorve o

equivalente à 30% da produção de matérias-primas, 25% da produção de água, 16%

da produção de terra e 42% da produção de energia elétrica. A geração de resíduos

também é alta: 40% das emissões mundiais de poluição do ar, 20% de toda a

poluição líquida mundial, 25% de todos os resíduos sólidos produzidos no mundo e

13% da produção mundial de outros poluentes (ARAÚJO, 2002).

Na fase de projeto as perdas podem ser caracterizadas por mudanças

nas metodologias de cálculo e ou sistemas serem superdimensionados. Durante a

construção há os materiais que podem ser entregues em quantidade inadequada,

mal armazenados, transportados de maneira incorreta, entre outros fatores. No uso

da edificação a manutenção imprópria, em menor ou maior tempo do que requerido,

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pode resultar em uso de materiais desnecessariamente. A manutenção excessiva

resulta em utilização de insumos dispensáveis enquanto a manutenção inexistente

ou reduzida resulta em reformas extensas e custosas (FORMOSO, 2003).

O consumo de recursos naturais durante a ocupação da edificação se

concentram no abastecimento de água e energia, e, em menor volume, na

manutenção. A geração de resíduos passa a ser lixo doméstico e esgoto ao invés de

Resíduo Sólido da Construção Civil, presente apenas nas reformas.

De acordo com o Programa Nacional de Conservação de Energia Elétrica

(PROCEL, 2012), 50% da energia consumida no país é gasta por edificações, nas

tarefas de refrigeração e aquecimento de ambientes, iluminação e aquecimento de

água. O consumo de energia em edifícios desenvolvidos para ser energeticamente

eficientes, pode reduzir em até 50% em relação à edificações não eficientes,

enquanto edificações existentes que passem por reformas podem ter o consumo

energético reduzido em 30%.

A oferta de água aparentemente abundante é um convite ao desperdício.

Em 2004 a ONU estabeleceu 40 litros de água por dia como suficiente para

satisfazer as necessidades básicas de uma pessoa. De acordo com o Sistema

Nacional de Informações sobre Saneamento – SNIS – o consumo médio de água

por habitante é de 145,10 litros/dia. No Brasil o consumo de água em edificações

gira em torno de 20% do total produzido, sendo acima de 50% destinada às áreas

urbanas, e apenas algumas cidades são responsáveis 80% desta despesa. Os

principais responsáveis pela perda de água são sistemas de aquecimento e

vazamentos. As perdas evitáveis, ou desperdícios, têm como principais fontes

chuveiros, bacias sanitárias e pias de cozinha. O índice total dessas perdas é de

39,8% (GONÇALVES, 2009).

Apesar do conhecimento acerca da necessidade de higiene e das

avançadas técnicas de tratamento e reciclagem de lixo e dejetos humanos

existentes, ainda é precária a destinação final dada a estes materiais no Brasil. De

acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2008

47,5% dos domicílios nacionais possuíam coleta de esgoto, tendo 28,5% das

cidades brasileiras algum tratamento de esgoto. No entanto, apenas em três cidades

o tratamento é feito em mais de 50% do esgoto coletado. No que concerne à

produção de resíduos sólidos do país, 50,8% do lixo recolhido tinham como destino

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os lixões, e apenas 17,9% dos municípios recolhiam o lixo de maneira seletiva

(BRASIL, 2008).

Ao analisar as grades curriculares das principais faculdades de arquitetura

e urbanismo do Recife (Universidade Federal de Pernambuco – UFPE –, a

Universidade Católica de Pernambuco – UNICAP –, a Faculdade ESUDA, a

Faculdade Maurício de Nassau e a Faculdade Damas) foi constatado que existe

apenas uma disciplina eletiva de graduação especificamente voltada para o tema, na

UNICAP, pelo que é possível afirmar que a formação do profissional de arquitetura

no Recife não é voltada para a sustentabilidade. Em alguns estados brasileiros,

como São Paulo, o mercado e a legislação local incentivam e exigem edificações

com maior eficiência ambiental, favorecendo o aparecimento de cursos voltados

para a sustentabilidade na arquitetura, a exemplo da Universidade Paulista – UNIP –

desenvolveu um curso de MBA em Construções Sustentáveis juntamente com o

Green Building Council Brasil (GBC), com o intuito de ampliar a certificação

Leadership in Energy and Environmental Design (LEED) no país, sendo este curso

lecionado também no Recife.

1.2 Objetivos

1.2.1 Objetivo Geral

Contribuir para a difusão dos conceitos da construção residencial

unifamiliar sustentável por meio da elaboração de um roteiro voltado para o projeto

de uma edificação mais sustentável direcionado para os profissionais do setor

produtivo em questão, em especial os de arquitetura.

1.2.2 Objetivos Específicos

� Definir e categorizar edificações, focando no tipo de edificação a ser

tratado no presente trabalho, a edificação residencial unifamiliar;

� Fazer um estudo da evolução da casa ao longo dos anos, bem como a

evolução do consumo de energia, água e geração de resíduos;

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� Identificar as dimensões que envolvem a sustentabilidade das

edificações nas etapas de concepção, construção e uso das mesmas, focando no

consumo energético;

� Elencar, na forma de um roteiro, soluções arquitetônicas para o

desenvolvimento de projeto de edificações sustentáveis, descrevendo os passos

necessários para projetá-la, na cidade do Recife e Região Metropolitana;

� Apresentar conclusões e sugestões para trabalhos futuros.

1.3 Metodologia

Metodologia científica consiste no conjunto de normas consagradas entre

pesquisadores com as quais é possível investigar fatos de maneira planejada,

desenvolvendo-os para que se tornem uma pesquisa científica. A metodologia define

as etapas do processo a serem desenvolvidas para que haja uma plena apuração da

circunstância abordada na pesquisa (SILVA, 2005).

O projeto arquitetônico deve ser estudado de maneira que o conforto da

casa exista independente de haver energia elétrica ou não. Quanto menor for o

consumo de energia dentro de uma residência, maior será a sustentabilidade da

mesma. Para que tal fator aconteça é indispensável que, na fase conceitual do

projeto, sejam estudados os diversos aspectos da habitação, com o intuito de melhor

aproveitar os aspectos naturais de onde ela se encontra, protegendo-a das

intempéries e integrando-a com o meio ambiente natural e construído de sua

localidade. O perfeito funcionamento destas estratégias depende do clima local, do

uso da edificação e dos materiais escolhidos na construção da mesma. Podem ser

aliados ao projeto da casa tecnologias capazes de reduzir o consumo de energia e

água, reciclar as águas servidas, captar água das chuvas e destinação adequada de

esgoto.

O presente estudo foi desenvolvido por meio de pesquisa exploratória,

que tem como objetivo abordar um assunto para que o mesmo se torne mais claro

ou sejam supostos novos questionamentos acerca do mesmo, aprimorando

conhecimentos existentes (GIL, 2002).

A técnica utilizada para a dissertação em questão foi bibliográfica, uma

vez que a mesma adaptou a uma determinada localidade aspectos arquitetônicos já

antes examinados, resultando assim em novas conclusões. Tornou-se inviável

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desenvolver a dissertação em forma de um estudo de caso, pois seriam necessários

recursos que não estão disponíveis, como tempo prolongado, dispêndio, elaboração

de maquetes e equipamentos de medição, além de softwares de simulação

disponíveis apenas em poucos centros de pesquisa.

De acordo com Gil (2002) a pesquisa bibliográfica difere das demais

metodologias por ser feita a partir do levantamento de dados anteriormente

observados por outros autores. A pesquisa bibliográfica tem como principal

vantagem tornar possível a compilação de dados mais ampla do que em uma

pesquisa por observação. A pesquisa por observação é aquela onde o autor vê,

ouve e examina os fatos que deseja estudar pessoalmente, a partir do contato direto

com a realidade. É fundamental, na pesquisa bibliográfica, ter cuidado com as fontes

de dados utilizadas e o processamento dos mesmos, para que não sejam

apresentados de maneira incorreta.

Depois de realizado o exame e seleção das fontes, foram desenvolvidos

resumos e fichamentos, e levantadas outras fontes adicionais. A organização dos

dados coletados resultou em uma revisão de literatura que foi usado para a

elaboração de um roteiro a ser seguido durante o processo de projeto de uma casa

para que características de sustentabilidade lhe sejam asseguradas, em conclusões

e em sugestões para trabalhos futuros.

A presente dissertação consiste em seis capítulos, organizados conforme

explanado em seguida.

O Capítulo 1 traz a introdução, os objetivos e a metodologia do presente

trabalho, descrevendo a justificativa para a temática abordada, que é o cenário atual

da construção civil no Brasil e os impactos causados pela indústria, além da falta de

qualificação dos profissionais do setor, em especial arquitetos, para realizar a

construção sustentável.

O Capítulo 2 relata os principais conceitos para o entendimento da

construção sustentável. São estes conceitos: Desenvolvimento Sustentável, Cidades

Sustentáveis, edificações, a análise do ciclo de vida das edificações, o que é uma

edificação sustentável, quais são as principais certificações para edificações

sustentáveis e quais as legislações urbanas brasileiras que se aplicam à edificações

e qual o nível de sustentabilidade que as mesmas abordam.

O Capítulo 3 faz um resumo da história da habitação e das cidades e a

evolução do consumo de energia, água e insumos, além do aumento na produção

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de esgoto e lixo domésticos, descrevendo como estes fatores foram afetando na

insustentabilidade das cidades.

O Capítulo 4 apresenta quais os fatores que influenciam na

sustentabilidade de uma casa e como os mesmos devem ser desenvolvidos para

que uma residência seja sustentável. Os aspectos de sustentabilidade necessários à

uma casa e abordados no presente capitulo são: energia, água, especificação de

materiais, acessibilidade e destinação final dos resíduos.

O Capítulo 5 determina um roteiro a seguir no momento de projetar a

casas para que as mesmas possuam características sustentáveis. Os passos a

serem seguidos abordam o estudo do clima, o meio ambiente social e físico, a hora

do dia, as estacoes do ano e a vida útil e as tecnologias alternativas que podem ser

utilizadas para ampliar a sustentabilidade da residência.

O Capítulo 6 relata conclusões tidas a partir do desenvolvimento do

presente trabalho e apresenta propostas para trabalhos futuros que possam vir a

complementar o roteiro para projeto arquitetônico de casas sustentáveis proposto

pela presente dissertação.

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2 REFERENCIAL TEÓRICO

2.1 Desenvolvimento Sustentável

As sociedades cada vez mais estão cientes da necessidade de uma

transição para um novo paradigma de desenvolvimento. O atual padrão de consumo

degrada e destrói o meio ambiente e os recursos naturais, comprometendo a

qualidade de vida das gerações futuras. Os recursos renováveis estão sendo gastos

mais rapidamente do que conseguem se restabelecer e os não renováveis estão se

esgotando. A postura da sociedade para a resolução dos problemas do presente e

do futuro partiu de uma construção teórica com base em fundamentos políticos,

sociais, econômicos e ambientais, decorrente de fatos que aconteceram

previamente (BUARQUE, 2002).

A primeira Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente

Humano acontecei em 1972, em Estocolmo, Suécia. O evento aconteceu alguns

anos após o inicio dos questionamentos acerca das limitações naturais para o

desenvolvimento do planeta, se tornando assim um marco na sustentabilidade

mundial. A declaração final do congresso foi um Manifesto Ambiental com 19

princípios, todos com o intuito de estimular a preservação e melhoria da qualidade

ambiental, conquistando uma vida futura mais digna. No mesmo ano, em seguida à

Conferência, foi criado o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente

(PNUMA), coordenando os trabalhos da ONU para a melhoria do meio ambiente.

Hoje o PNUMA tem como prioridade aspectos ambientais inerentes às catástrofes e

conflitos, a gestão dos ecossistemas, a governança ambiental, o controle nas

substâncias tóxicas, a eficiência do aproveitamento de recursos e as mudanças

climáticas (ONU, 2012).

Em 1987, o grupo de pesquisadores chamado Clube de Roma

desenvolveu o relatório chamado “Os limites do crescimento”. O relatório simulou

diferentes cenários mundiais no ano de 2100, baseados no consumo e cuidados

com o meio ambiente, prevendo o esgotamento dos recursos naturais. A escassez

de insumos resultaria no limite máximo de crescimento do planeta e,

consequentemente, na diminuição da população mundial e sua capacidade industrial

(MEADOWS, 2004).

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O atual conceito de Desenvolvimento Sustentável surgiu em 1987, na

apresentação do Relatório Brundtland, conhecido como “Nosso Futuro Comum”,

formulado pela UNCED – Comissão Mundial da ONU sobre o Meio Ambiente e

Desenvolvimento, que determina:

Desenvolvimento Sustentável é o desenvolvimento

que vai de encontro às necessidades do presente,

sem comprometer a possibilidade das gerações

futuras irem de encontro às suas próprias

necessidades.

O relatório ressalta que em uma sociedade onde é normal existir pobreza

e desigualdade sempre estará à margem de uma crise ecológica. As oportunidades

deveriam ser iguais para todos, sem colocar em risco os ciclos naturais vitais das

águas, do ar, dos solos e dos seres vivos. O desenvolvimento sustentável preza pelo

redirecionamento dos processos de exploração, com investimentos,

desenvolvimento tecnológico e a mudança de paradigmas voltada para igualdade

social, desenvolvimento econômico e preservação ambiental (ONU, 1987).

No Rio de Janeiro, em 1992, foi realizada uma segunda Conferência das

Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento. O encontro, conhecido

como “Cúpula da Terra”, desenvolveu a Agenda 21, documento a ser seguido pelas

nações presentes, com diretrizes para a modificação os padrões de desenvolvimento

globais. As recomendações buscam promover um padrão o equilíbrio entre as

diferentes esferas da sociedade, econômica, ambiental e social, debatendo pobreza

e dívida externa como impasses para o desenvolvimento (ONU, 2012).

Uma atualização no documento “Nosso Futuro Comum”, realizada em

1992, relatou que a humanidade estava chegando ao fim dos recursos naturais

muito mais rápido do que inicialmente previsto (MEADOWS, 2005).

Em 1997 foi realizada uma sessão especial para revisar e avaliar a

implementação da Agenda 21, chamada de “Cúpula da Terra +5”. No documento

final foi recomendada a adoção de legislações para reduzir a emissão de gases que

ampliam o efeito estufa; o aumento de padrões sustentáveis de produção,

distribuição e uso energético; e ampliação da erradicação da pobreza. No mesmo

ano 37 países industrializados assinaram o documento que estabelece metas para a

redução da produção de gases estufa, o Protocolo de Kyoto (ONU, 2012).

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De acordo com a ONU (2012) desde o estabelecimento primeira

Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Humano, ampliaram a

quantidade e qualidade dos congressos e encontros acerca do assunto. Dentre

estas estão: A Segunda Conferência da ONU sobre Assentamentos Humanos em

Istambul,1999; a Sessão Especial da Assembleia Geral sobre Pequenos Estados

Insulares em Desenvolvimento, Nova York, 1999; a Cúpula do Milênio, Nova York,

2000, e seus Objetivos de Desenvolvimento do Milênio. A Cúpula Mundial sobre

Desenvolvimento Sustentável em Johanesburgo, África do Sul, em 2002, elaborou

um balanço das realizações, desafios e novas possibilidades desde a Cúpula da

Terra de 1992. Como resultado, foi escrita a Declaração de Johanesburgo sobre

Desenvolvimento Sustentável e um Plano de Implementação para especificar as

necessidades de ação.

Dez anos depois da Cúpula de Johanesburgo, em 2012, foram

rediscutidas as questões ambientais na Conferência das Nações Unidas sobre

Desenvolvimento Sustentável, Rio +20, no Rio de Janeiro, que atraiu muito mais

empresas e pessoas interessadas no tema de sustentabilidade do que as

conferências anteriores. As ações globais em prol da sustentabilidade sofreram um

aumento, uma vez que os conceitos já estão amplamente difundidos. A Conferência

foi responsável pela redação de importantes documentos, como a Carta-

Compromisso do Pacto Global, que busca o comprometimento da iniciativa privada

com o desenvolvimento sustentável e a erradicação da pobreza (PACTO GLOBAL,

2012).

O modelo de desenvolvimento praticado pela sociedade atual leva em

conta apenas o aspecto econômico, pois o desenvolvimento social e ambiental

esbarra em resistências estruturais. O compromisso com o futuro estabelecido pelo

desenvolvimento sustentável busca crescer economicamente, conservar o meio

ambiente e promover a equidade social. As ações a serem tomadas por esse

modelo, portanto, devem ter como meta os três pilares do desenvolvimento. Deve-se

ter em mente que sempre que um dos pilares for privilegiado haverá os outros dois

serão prejudicados. Por esta razão são necessárias mudanças profundas no modelo

de desenvolvimento, tecnologia, estrutura de renda e padrão de consumo atuais. A

complexidade da adoção do desenvolvimento sustentável envolve mudanças

estruturais na sociedade que esbarram em privilégios de uma pequena parte da

população, gerando resistências sociais e políticas. Por outro lado, os avanços da

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tecnologia permitem o crescimento econômico com menor impacto ambiental,

aliados à conscientização da sociedade sobre a necessidade de combater a

pobreza, desigualdades sociais e custos ambientais do desenvolvimento,

estimulando assim a implantação da sustentabilidade (BUARQUE, 2002).

As indústrias e empresas do chamado mercado livre enfatizam a

competição, a expansão e a dominação, portanto não consideram como custos os

impactos sociais e ambientais causados por sua produção. A economia da

sociedade humana age de forma linear, enquanto o meio ambiente se desenvolve

de maneira cíclica. Na natureza, o que é resíduo para uns é insumo para outros, ao

passo que as atividades humanas extraem recursos para transformar em produtos

que, após usados, se tornam resíduos incapazes de ser matéria-prima para um outro

produto. A sustentabilidade necessita imitar o processo cíclico natural, tornando

aquele resíduo novamente em insumo. Faz-se necessário o reprojeto de todo o

modo de produção atual (CAPRA, 1997).

2.1.1 Visão sistêmica

Existem dois ramos da ecologia, a rasa e a profunda. Na ecologia rasa o

homem é o centro de todos os valores, sendo o ecossistema apenas um instrumento

seu uso. A ecologia profunda percebe o ambiente natural como um todo, incluindo

os seres humanos, concebidos por uma teia de fenômenos interconectados e

interdependentes. O ser vivo, de acordo com a premissa organicista, representa um

sistema organizado constantemente em modificação e desenvolvimento, fazendo

parte de um sistema maior (ADAM, 2001).

Os ecossistemas são redes fechadas que recebem energia e recursos de

fora, com estruturas que mudam de acordo com as necessidades do ambiente e

seus componentes. É possível aprender com meio ambiente como viver de maneira

sustentável. Os ecossistemas possuem alguns princípios ecológicos básicos, dos

quais depende para sobreviver. Dentro da rede criada pelos sistemas o resíduo de

um ser vivo é o insumo de outro. Cada componente produz ou transforma um outro

componente em indispensável para o sistema, havendo uma continuidade de

criação, de maneira interdependente, cíclica, cooperativa, parceira e flexível,

maximizando a sustentabilidade (CAPRA, 1997).

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Todos os elementos do planeta possuem ciclos fechados, que após a

transformação voltam à sua origem, como a água que evapora e cai nos rios e

cursos d’água ao chover, enquanto a produção energia não permite a volta de seu

insumo ao estado natural. Ao consumir esta energia o homem quebra o ciclo de

renovação da terra: o petróleo, o carvão, a lenha, que eram carbono, queimam, sem

retornar ao seu local de origem (BUTERA, 2009).

Segundo Adam (2001) em um ecossistema a reprodução e a predação

estão constantemente equilibrando o meio, adaptando-se às condições as quais se

expõe. A Hipótese de Gaia tem como base a auto-regulação dos sistemas, sendo a

Terra um grande organismo vivo que sofre com as conseqüências de qualquer

alteração provocada dentro de suas células, fazendo analogia ao corpo humano.

O meio ambiente natural é alterado pelos seres vivos para a construção

de condições de sobrevivência. O processo de habitação da terra pela vida

transformou a Terra no que ela é hoje (BUARQUE, 2002).

2.2 Cidades Sustentáveis

Para Haughton (2003) o conceito de cidade pode ser muito variável, pois

não há uma definição que satisfaça todas as circunstâncias em que as cidades se

encontram. Seja em relação ao tamanho do país ou região, de sua população, de

acordo com a sua localização, com sua relação à zona rural ou cidades maiores, as

cidades podem ser desde pequenas cidades-mercado a metrópoles. Uma pólis

corresponde à uma aglomeração de edificações com certa regularidade, onde pelo

menos 10.000 pessoas vivem, trabalham e realizam outras atividades culturais e

sociais, podendo haver variações de traçado e organização espacial, de acordo com

as necessidades de cada zona urbana.

A ação humana determinada por meio do uso do solo forma os espaços

urbanos. Infra-estrutura, transporte, zoneamento e localização de atividades são

alguns dos fatores que influenciam na ocupação do solo urbano. (ZMITROWICZ,

2011).

O espaço urbano é constituído por ambiente natural e ambiente

construído, interagindo através de dimensões econômicas, sociais e culturais. O

ambiente natural abrange ar, água, terra, clima, flora e fauna, enquanto o ambiente

construído é composto por edificações construídas pelo homem. As demais

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dimensões do espaço urbano incluem os aspectos intangíveis da cidade, como

estilos arquitetônicos, estética, valores, comportamentos, leis e tradições da

comunidade local. O espaço urbano pode ser visto como um ecossistema, onde há

interação e interdependência, e a cidade se alimenta do ambiente natural

(HAUGHTON, 2003).

A cidade sustentável é planejada para ter equilíbrio no consumo de

matérias-primas e energia, para que os recursos naturais não se esgotem,

resgatando a qualidade de vida perdida pela falta de planejamento a longo prazo

(BRASIL, 2008).

A população e os negócios de uma cidade sustentável estão

determinados a aprimorar seus ambientes naturais, construídos e sociais, em suas

vizinhanças e na região onde se encontra inserida a urbe, favorecendo a

sustentabilidade global. O município deve preservar a sua contribuição única para o

ambiente aonde está inserido, que são seus edifícios históricos (HAUGHTON, 2003).

De acordo com Gonçalves (2006), algumas metas devem ser atingidas

para que seja possível alcançar a sustentabilidade urbana:

� Preservação de áreas naturais;

� Diminuição da densidade da cidade;

� Uso misto em bairros e edificações, tornando possível realizar as

tarefas diárias próximas à residência, aproveitando o espaço público;

� Sistemas de transportes menos poluidores;

� Eliminação de barreiras físicas para pessoas com necessidades

especiais;

� Construções que proporcionem microclimas urbanos agradáveis,

favoreçam os espaços públicos e diminuam a necessidade de refrigeração;

� Edificações projetadas e produzidas valorizando o meio ambiente;

� Redução do consumo, reuso e reciclagem de recursos;

� Ocupação de áreas degradadas da cidade;

� Aumento da qualidade ambiental da cidade;

� Ampliação do valor ambiental e socioeconômico da cidade.

Owen (2009) relata que Nova York é a cidade mais sustentável dos

Estados Unidos. Os moradores de Manhattan consomem o combustível equivalente

à média do país nos anos 1920, uma vez que 82% da população locomove-se

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através de transporte público, de bicicleta ou a pé. Por estar localizada em uma ilha,

o espaço físico de Manhattan é limitado, sendo a casa perto do trabalho e possui

transporte público eficiente, não sendo necessário o uso de automóveis no dia-a-dia.

As restrições de espaço obrigam as residências a serem menores para que a cidade

possa abrigar mais moradores. Os imóveis menores consomem menos energia com

aquecimento, resfriamento ou iluminação além de absorveram menos recursos

naturais em sua construção.

Analisando os fatores que contribuem para cidades sustentáveis relatados

acima, torna possível relatar que o Recife está na contramão da sustentabilidade. O

pedestre anda sobre calçadas quebradas e desgastadas, sem acessibilidade

adequada para portadores de necessidades especiais. Bicicletas e pedestres

trafegam tranquilamente apenas no calçadão da Avenida Boa Viagem. As ruas, de

trafego intenso e engarrafamentos constantes, alargam para caber mais carros,

confeccionadas com material de baixa qualidade e, portanto, possuem baixa

durabilidade. O transporte público é ineficiente, havendo poucos projetos e planos

de melhorias. Alguns bairros são tipicamente comerciais, como o Recife Antigo, São

José e Santo Antônio, e outros predominantemente residenciais como Casa Forte e

Boa Viagem, de densidade alta e poucos escritórios. Muitos edifícios históricos não

possuem manutenção e cuidado adequados, se encontrando degradados e em

ruínas. Parques e praças são escassos e muitas vezes mal cuidados.

2.3 Edificações

A realização de obras seguindo com o menor custo e prazo de execução

possíveis, é a meta da construção civil. Transformar o meio ambiente natural, por

menor que esta transformação seja, resultando em criação, modificação ou

reparação através da construção civil é o que se entende por obra. Todo o resultado

de uma obra que sirva para o desenvolvimento de uma atividade e abrigue e proteja

contra intempéries é chamado de edifício (AZEREDO, 1977).

Construir edifícios envolve aspectos inerentes a cada ser humano, além

de fatores culturais, históricos e éticos. Os ambientes, transformados pelo homem ou

não, são locais de socialização do homem, permanecendo como memória das

pessoas que ali já estiveram. A organização do espaço é uma busca contínua, onde

é exercido o domínio humano sobre o meio ambiente (VALADARES, 2000).

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O homem vive em sociedade desde os primórdios. Inicialmente buscava

proteção em cavernas, árvores e outros abrigos naturais, seguindo as estações do

ano em busca de calor e alimentos. Ao passo que avançou no domínio de técnicas

de caça, pesca e agricultura, começou a estabelecer moradia, inicialmente

desenvolvendo cabanas com peles de animais e mantas. Com o passar do tempo,

ao expandir seus conhecimentos e aprender novas técnicas o homem foi capaz de

aprimorar sua maneira de construir (VICENTINO, 1997).

A expansão da sociedade humana ao redor do mundo teve como principal

responsável a tecnologia das edificações. Construções criam espaços habitáveis em

locais onde o clima não permite ou limita a ocupação humana. A casa é parte de um

todo, complementada com jardins, acessos, muros e portões. Estas estruturas

também fazem parte de um ambiente maior, constituído por quadras, ruas, bairros,

cidades, chegando até o planeta Terra. (ROAF, 2009).

A paisagem da cidade é essencialmente formada por edificações, sejam

estes modernos edifícios, construções antigas, palacetes, conjuntos populares ou

barracos de favelas. O espaço urbano é um complexo e contraditório sistema, onde

o homem se aproveita dos recursos naturais para se manter, sem se preocupar com

os desequilíbrios que pode estar causando ao ambiente (THOMSEN, 2005).

O homem possui necessidades espaciais variáveis ao longo de sua vida.

Conforme a idade aumenta, aumenta a necessidade de espaço até que os seus

filhos casem e saiam de casa. As casas devem ser espaços dinâmicos, que se

adaptem às necessidades de quem mora nelas (ROAF, 2009).

Azeredo (1977) afirma que segundo o plano diretor municipal há, entre

outros, cinco principais usos permitidos para uma edificação, sendo estes:

residencial, comercial, industrial, recreativo e religioso.

A Lei de Edificações e Instalações do Município do Recife (1997), relata

que habitações são construções para moradia. Os ambientes mínimos necessários

para uma residência são aqueles destinados à estar, repouso, alimentação e

higiene. Os imóveis podem ser casas, edifícios de apartamentos, pensionatos,

moradias religiosas ou estudantis, orfanatos e asilos e ter caráter unifamiliar, onde

reside apenas uma família, oumultifamiliar, onde habita mais de uma família.

A Constituição Brasileira de 1988 determina, no Artigo 6º, que são direitos

sociais dos brasileiros ter acesso à: educação, saúde, alimentação, trabalho,

moradia , lazer, segurança, previdência social, entre outros.

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De acordo com pesquisa do Ministério das Cidades do Brasil (2011) no

ano de 2008 o déficit habitacional brasileiro correspondia a mais de 5,5 milhões de

domicílios, sendo 4,629 milhões apenas nas cidades. A comparação dos dados com

os de 2007 mostra que o déficit aumentou, pois houve queda no número de

unidades habitacionais. Para agravar esta situação, constatou-se que a faixa de

renda que representa 89,6% do déficit é formada por famílias que recebem até três

salários mínimos. Em paralelo ao déficit existem as construções sem condições de

habitação por desgaste ou precariedade de sua estrutura física. Isto implica em

famílias dividindo uma casa, moradores com dificuldade de pagar aluguel e

apartamentos alugados para muitas pessoas, e residências em edifícios sem fins

habitacionais.

A casa é o elemento físico que protege e divide espaços, tanto internos

como externos. Ao unir à casa os hábitos de seus ocupantes teremos então

moradias, cada uma delas com as características intrínsecas à seus residentes. A

habitação integra ambas a casa e a moradia ao seu ambiente urbano, seu exterior

(FOLZ, 2002).

No Brasil, as incertezas da previdência, fazem com que a casa própria

seja não apenas um local para se proteger de intempéries, mas também o único

abrigo em caso de desemprego e na velhice. Quando se constrói para a população

de baixa renda, são tratados como indispensáveis apenas teto e paredes, enquanto

a população de renda média e alta se preocupa com tamanho, conforto, localização,

infra-estrutura e outros fatores (SILVA, 1997).

Comercializar uma habitação, devido ao seu alto valor de venda, depende

de financiamentos de longo prazo e economia financeira. Por ser uma necessidade

básica do ser humano, é um bem necessário a todas as famílias, correspondendo

assim à uma parcela significativa do mercado de construção civil. Por consequência,

gera uma quantia significativa de empregos e contribui para o aumento do PIB

(SANTOS, 1999).

O projeto de uma residência é elaborado a partir da combinação de

diversos fatores: terreno, programa de ambientes, morfologia da edificação,

implantação no terreno, relação com o entorno, materiais empregados em sua

construção, entre outros. Cabe ao arquiteto analisar os anseios do futuro morador,

identificando o conforto, a segurança, a intimidade e outros fatores que possam

alterar a concepção do projeto. O resultado da interação entre arquiteto e cliente

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deverá ser uma solução arquitetônica que satisfaça ao máximo as expectativas do

cliente, levando em conta que espaços não são elementos estáticos, mas sim

elementos que mudam conforme a necessidade de seus habitantes (CRUZ, 2006).

2.4 Análise do Ciclo de Vida do Edifício

Toda ação humana que modifique propriedades físicas, químicas e

biológicas do meio ambiente que afete a saúde, a segurança e o bem-estar da

população, suas atividades econômicas e sociais, qualquer forma de vida do

ecossistema; as condições de bem-estar e da paisagem, bem como a qualidade do

meio ambiente é um impacto ambiental (CONAMA, 1986).

A Análise de Ciclo de Vida é uma ferramenta utilizada para estimar os

impactos causados ao meio ambiente na produção de um determinado produto,

desde a concepção do mesmo até o fim de sua vida útil. São estudadas as etapas

do processo de fabricação, levando em conta energia, transporte, distribuição e

armazenamento; o uso do produto pronto, sua manutenção e substituição de peças;

e a destinação final do mesmo, seja reuso, descarte ou reciclagem. O Ciclo de Vida

de um produto sofre alterações de acordo com o ambiente onde o mesmo se insere

(TORRES, 2005)

Uma embalagem apropriada para descarte nem sempre é a melhor

alternativa, pois aquela embalagem pode possuir um maior gasto energético em sua

produção. Da mesma maneira, um componente ser 100% reciclável não

corresponde à reciclagem real do produto (GIACOMINI FILHO, 2004).

O ciclo de vida estuda uma edificação em toda sua vida útil, levando em

consideração a necessidade de manutenção da casa e seus componentes e, ao final

da sua vida útil, o estado em que a mesma encontrar-se-á e o que será feito com

ela. Desta maneira é possível avaliar a importância de cada aspecto da construção e

o impacto total causado pela mesma (ROAF, 2009).

De acordo com Degani (2002), ao pensar em um edifício como produto a

sua vida útil possui algumas etapas básicas. A primeira etapa consiste na concepção

da edificação, quando são desenvolvidos estudos de viabilidade física, econômica e

financeira e elaborados projetos, especificações e planejada a construção. A fase

que compreende a construção do edifico é a implantação, seguida pela fase de

operação do edifício, etapa onde o mesmo é ocupado por seus usuários. Durante ou

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após a fase de uso, são feitas reposições e manutenções de componentes cuja vida

útil terminou ou cujo desempenho está comprometido, modernizando o

empreendimento. A última fase de uma edificação é sua demolição.

Para que possa ser estabelecido o ciclo de vida de um produto devem ser

identificados e quantificados todos os insumos consumidos em sua fabricação,

sejam os mesmos energéticos ou materiais, e todos os resíduos gerados pela

produção, sejam resíduos sólidos, emissões atmosféricas, efluentes líquidos ou

perdas energéticas durante toda a duração do produto, até o seu descarte. Uma vez

levantados estes dados devem ser avaliados os impactos ambientais ao longo de

toda a cadeia, incluindo as manufaturas paralelas de bens e destinação de resíduos.

Devem ser definidas as categorias de impacto estudadas, de acordo com os danos

causados (VILELA JÚNIOR, 2006).

A emissão de efluentes e a geração de resíduos sólidos ocasionam a

poluição da água e do solo, respectivamente, além dos detritos sobrecarregarem os

aterros sanitários. São também poluições causadas na construção e uso de

edifícios: a atmosférica, por emissão de material particulado respirável

especialmente na fase de implantação; sonora nas fases de implantação e

demolição; e poluição do ar interior, durante o uso do edifício, por componentes de

materiais utilizados, pelas atividades realizadas ou por equipamentos com

manutenção indevida (DEGANI, 2002).

O impacto ambiental gerado por uma construção é afetado pela escolha

dos insumos utilizados. Todos os materiais construtivos sofrem algum tipo de

transformação para serem incorporados à edificação, sendo algumas

transformações maiores e outras menores. Os processos sofridos pelos bens

consomem energia e geram resíduos, não podendo, no entanto, ser os únicos

fatores analisados em sua escolha. O impacto ambiental total não leva em

consideração apenas o impacto causado na produção de uma matéria. O dano é

minimizado ao serem analisadas as qualidades do bem e na maneira como o

mesmo pode trazer benefícios ao ser incorporado a uma construção. Alguns

materiais podem causar impactos ambientais maiores se usados em grande

quantidade, mas em quantidade moderada podem ter importantes qualidades, como

aumentar a vida útil, ampliar um vão, dando um melhor acabamento. Cada material

terá benefícios e malefícios, cabe aos projetistas analisarem as necessidades de

cada casa e as disponibilidades da região onde está inserida (ROAF, 2009).

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2.5 Edifício Sustentável

Minimizar ou, até mesmo, eliminar impactos ambientais negativos

causados por uma edificação é o que faz um empreendimento ter um bom

desempenho ambiental (DEGANI, 2002).

Vários dos aspectos da vida moderna progrediram com o modelo de

desenvolvimento que tinha como objetivos consumir e degradar os recursos naturais

e energias. Por outro lado, foram acentuadas a poluição ambiental, a dificuldade de

circulação urbana, a desvalorização das áreas de convívio social, a degradação da

qualidade de vida da sociedade. Estes aspectos foram especialmente realçados nas

grandes metrópoles, e tem reflexo facilmente observado na cidade e sua arquitetura.

As muralhas de arranha-céus e megaconstruções resultaram na impermeabilização

dos solos e no aparecimento de microclimas dentro das cidades. Como

conseqüência do aumento da temperatura causado por este processo, os edifícios

possuem altíssimo consumo energético de operação, especialmente com

refrigeração. Tal configuração desencadeou uma crise energética, sendo necessária

a construção de usinas de força, que, não importa a matéria usada em sua

produção, tinham como conseqüências perda de biodiversidade, poluição, riscos de

segurança, entre outros. Ficou clara, então, a necessidade de mudança de

paradigma, uma vez que a escassez dos recursos coloca em risco a sobrevivência

humana. Não são as pessoas que devem se adaptar aos ambientes, mas sim os

ambientes, às necessidades das pessoas. A garantia da integridade do ser humano,

bem como de sua saúde, bem-estar, saúde e segurança estão diretamente ligadas

ao conforto e à qualidade de vida (ADAM, 2001).

A arquitetura, que hoje intensifica e agrava os efeitos climáticos, deve

voltar a projetar para proteger e dar conforto ao homem, minimizando estes efeitos.

Um projeto arquitetônico adequado a uma edificação pode trazer para o interior da

mesma um microclima diferenciado. Para que seja possível a criação de uma

temperatura interna adequada, alguns dos aspectos da edificação a ser estudados

são: orientação de acordo com a insolação e ventilação; sombreamento; forma

arquitetônica empregada; posicionamento da edificação e de suas aberturas; cores

das paredes internas, externas e telhado; entre outros fatores (MACIEL, 2002).

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O caráter das edificações é diretamente influenciado pelo material com o

qual foram produzidas. As características de execução, a lógica das formas e a

moradia serão diferentes se uma casa for construída em adobe, tijolos de barro,

madeira, concreto, ferro, vidro ou plástico. Existem não só aspectos físicos que

influenciam nesta diferença, como clima, qualidade do ar e saúde, mas também

aspectos psicológicos. Cada um destes materiais possui um custo ambiental, que

pode ou não ser compensador (ROAF, 2009).

Dentre os elementos arquitetônicos a serem analisados para a construção

bioclimática estão em especial os materiais construtivos, devendo ser escolhidos

aqueles que diminuam a necessidade de energia com resfriamento ou aquecimento,

por possuir maior proteção térmica (MACIEL, 2002).

Materiais usados sob as condições climáticas de seu local de origem

tendem a ser duráveis, além de se tornar mais fácil encontrar mão-de-obra

especializada em utilizá-lo. Aliados à estes fatores, por percorrerem menores

distâncias de sua manufatura à obra, os gastos com transportes e a produção de

poluentes serão inferiores e haverá a ampliação da circulação de moeda, a

valorização da cultura e da identidade locais (ROAF, 2009).

As principais funções de um edifício são dar abrigo contra vento, chuva,

neve, calor e frio, segundo Roaf (2009). Quanto menos estas funções forem

cumpridas sem o auxílio de energia, mais propensa está a casa de promover um

futuro aos seus proprietários, uma vez que o fornecimento da energia elétrica, em

sua maioria, não é feito por fontes renováveis.

2.6 Certificações para Edificações Sustentáveis

A primeira certificação ambiental de edificações foi criada em 1990 na

Inglaterra, o BREEAM – Building Research Establishment Environmental

Assessment Method. Utilizada em diversos países ao redor do globo, a certificação

estrutura um checklist com o intuito de orientar projetos, desde o planejamento até a

pós-ocupação, para que o mesmo esteja de acordo com os preceitos de

sustentabilidade. O certificado aprecia diferentes uso de edificações, como

residências, comércios e indústrias, e possui manuais definidos para determinadas

localidades e um manual capaz de sofrer adaptações de acordo com as

necessidades de um lugar, o BREEAM BESPOKE (BREEAM, 2012).

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O Green Building Council (GBC) é uma organização não governamental,

fundada em 1993 nos Estados Unidos e com sede em 127 países, responsável pela

criação, em janeiro de 1999, do LEED – Leadership in Energy and Environmental

Design. O LEED é um sistema de certificação e orientação para a construção de

edificações sustentáveis, atualmente a mais reconhecida e utilizada certificação em

todo o mundo, tendo 46 construções brasileiras já obtido o selo e outras 506 em

processo de obtenção. Assim como o BREEAM, o LEED contempla as diversas

fases da construção e diferentes tipos de construção, como residências, escolas,

escritórios e até bairros sustentáveis (USCGBC, 2012).

A certificação francesa HQE – Haute Qualité Environnementale, foi criada

em 1992 pela Association pour la Haute Qualité Environnementale (ASSOHQE),

possui uma adaptação para o Brasil, o AQUA – Alta Qualidade Ambiental, com 20

empreendimentos certificados. Trata-se de um processo de gestão do projeto para

reabilitar ou construir um empreendimento com qualidade ambiental, contemplando

as diversas fases da vida da edificação e diferentes usos (Association, 2012).

A Eletrobrás, juntamente com o Inmetro, ampliou a utilização do selo

Procel de eletrodomésticos, criando o Selo Procel Edifica. A certificação é, na

verdade, um programa de etiquetagem de desempenho energético, deixando de fora

os demais aspectos causadores de impactos das construções, tendo como foco

apenas a eficiência energética das edificações (BRASIL, 1985).

O mais recente selo brasileiro foi desenvolvido em 2010 por um banco, a

Caixa Econômica Federal, sendo chamado de Selo Casa Azul. O certificado é

voltado para empreendimentos habitacionais que possuam contribuições para a

redução de impactos ambientais, avaliados a partir de seis critérios: qualidade

urbana, projeto e conforto, eficiência energética, conservação de recursos materiais,

gestão da água e práticas sociais. As etapas do ciclo de vida da edificação

contempladas são concepção, construção, ocupação e demolição (BRASIL, 2010).

2.7 Legislação urbana e sustentabilidade

Administrar o meio ambiente urbano é uma tarefa desafiadora e

complexa. A preservação do meio ambiente e a garantia de condições dignas de

vida à população, sem exclusões sociais, são os principais desafios desta gestão. O

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meio ambiente urbano é formado pelo meio ambiente natural e o meio ambiente

transformado pelo homem (SILVA, 1997).

Com o propósito de assegurar a gestão das cidades e o seu

funcionamento adequado, foram criados instrumentos legais e normas que

determinam parâmetros de construção, de maneira que a infraestrutura local seja

capaz de absorver e o dano ambiental seja o menor possível. A legislação brasileira

caminha a passos lentos no que concerne à arquitetura sustentável. As poucas

normas que existem não contemplam todos os aspectos sustentáveis de uma

edificação.

2.7.1 Legislações e normas federais

A Constituição Federal determina no Art. 30, inciso VIII, que a

responsabilidade de planejar e controlar o uso, parcelamento e ocupação do solo

urbano, adequando o ordenamento territorial, é do município. No Capítulo 6, Art. 255

a lei delibera que o poder público e a coletividade devem defender o meio ambiente

para que o mesmo seja aproveitado não apenas pelas gerações atuais, mas

também pelas gerações futuras.

A legislação urbanística Federal brasileira é constituída, basicamente, de

três leis que versam sobre o parcelamento do solo urbano – Lei 6.766/79; o Estatuto

da Cidade – Lei 10.257/01; e a lei de regulamentação fundiária – Lei 11.977/09.

A Lei que dispõe sobre o Parcelamento do Solo Urbano, Lei nº 6.766 de

1979, determina que o solo urbano municipal poderá ser parcelado mediante

desmembramento ou loteamento, respeitando as leis complementares estaduais e

municipais, desde que os novos terrenos tenham infraestrutura básica: esgotamento

sanitário, abastecimento de água, escoamento de águas da chuva e vias de

circulação. A lei estabelece ainda quais os casos em que o solo não poderá ser

parcelado ou edificado, afastamento especiais, documentação necessária, entre

outras providências.

O Estatuto da Cidade consolidou os Artigos 182 e 183 da Constituição

Federal, dando poderes ao município para garantir a função social da cidade. A Lei

nº 10.257 de 2001 determina que instrumentos do Direito Urbanístico devem ser

instituídos pelas cidades, como Plano Diretor, Planos Setoriais, Parcelamento do

Solo Urbano, Zoneamento, Controle de Construção, entre outros.

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Lei nº 11.977 de 2001 versa, entre outras coisas, acerca da regularização

fundiária. Com o intuito de garantir o direito à moradia, o pleno desenvolvimento

social da propriedade urbana e o meio ambiente equilibrado, foram estabelecidas

medidas jurídicas, urbanísticas, ambientais e sociais para auxiliar a regularização de

assentamentos irregulares, dando a posse à seus ocupantes.

2.7.1.1 Licenciamento Ambiental

De acordo com o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos

Naturais Renováveis, IBAMA (2011), empreendimentos cuja instalação ou

funcionamento seja potencialmente poluidora ou destruidora do meio ambiente

necessitam de um licenciamento ambiental. Os órgãos responsáveis por este

licenciamento fazem parte do Sistema Nacional de Meio Ambiente, SISNAMA, sendo

estes o IBAMA e os Órgãos Estaduais de Meio Ambiente, em Pernambuco a

Agência Estadual do Meio Ambiente, CPRH. O IBAMA interfere em construções que

influenciem em mais de um estado, áreas de oceano, subsolo, setores de petróleo e

gás. O licenciamento ambiental deve seguir as diretrizes da Lei nº 6.938/81, a

Política Nacional do Meio Ambiente, e Resoluções CONAMA nº 001/86 e nº 237/97.

A Política Nacional do Meio Ambiente, o Sistema Nacional do Meio

Ambiente – Sisnama – e o Cadastro de Defesa Ambiental são estabelecidos pela Lei

nº 6.938 de 1981. A Política tem como objetivos melhorar, preservar e recuperar a

qualidade ambiental sem que haja prejuízo no progresso sócio-econômico.

A Resolução do Conselho Nacional do Meio Ambiente, CONAMA, nº 001

de 1986, determina os critérios, diretrizes e responsabilidades para o correto uso e

implementação do Relatório de Impacto Ambiental, RIMA, determina os tipos de

empreendimentos necessitam do RIMA, a que órgãos o mesmo deve ser submetido,

as diretrizes que o relatório deve seguir, os profissionais envolvidos no projeto, entre

outros.

O CONAMA também estabeleceu a Resolução nº 237 de 1997, com o

intuito de revisar procedimentos e critérios utilizados no licenciamento ambiental

propostos pela Resolução nº 001/86, visando a sustentabilidade. Essa resolução

determina o que é o licenciamento ambiental, a licença ambiental, os estudos

ambientais, o impacto ambiental regional e a necessidade de Licenças Prévia, de

Instalação e de Operação.

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2.7.1.2 Política Nacional de Resíduos Sólidos

A Lei nº 12.305, de 2 de agosto de 2010 estabelece a Política Nacional de

Resíduos Sólidos, delibera quais os princípios, objetivos, instrumentos, diretrizes,

metas e ações adotados pelo Governo Federal com o intuito de gerir de maneira

integrada e ambientalmente adequada os resíduos sólidos. Alguns dos objetivos da

política são: proteger a saúde pública e a qualidade ambiental, tomando como base

a não geração, redução, reutilização, reciclagem, tratamento e disposição final

ambientalmente adequada do lixo, estimulando a produção e consumo sustentáveis,

utilizando e desenvolvendo tecnologias limpas, incentivando a indústria de

reciclagem.

O Plano Nacional de Resíduos Sólidos, também instituído pela Lei nº

12.305/10, determina que seja feito um diagnóstico da situação dos resíduos sólidos,

que proponha novos cenários; metas de redução, reuso, reciclagem; aproveitamento

energético de gases; recuperação de lixões; normas técnicas para desenvolvimento

do plano; medidas de incentivo; diretrizes de planejamento para destinação final;

como serão o controle e a fiscalização do Plano. Dentre os setores produtivos

sujeitos à elaboração do Plano, está a indústria da construção civil.

A Resolução nº 307 de 2002 do CONAMA propõe a destinação adequada

dos resíduos da construção civil e regulamenta o reuso e a reciclagem dos mesmos.

O detalhamento do processo leva em conta desde o tipo de resíduo produzido pela

obra, quem o está gerando, como e quem está efetuando seu transporte e que

destinação final ele tem recebido, propondo, nesta ordem, a redução, o reuso, a

reutilização, a reciclagem e a destinação final. Deverá ser desenvolvido um Plano de

Gerenciamento de Resíduos e Programa Municipal de Gerenciamento de Resíduos,

com o fim de gerenciar todo o processo produtivo do Resíduo da Construção Civil.

2.7.1.3 Política Nacional de Conservação e Uso Racional de Energia

A Lei nº 10.295 de 17 de outubro de 2001 estabelece a Política Nacional

de Conservação e Uso Racional de Energia, visando o consumo energético eficiente

e a preservação ambiental. A legislação determina os níveis máximos de consumo e

mínimos de eficiência energética para máquinas e eletrodomésticos vendidos no

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Brasil, mesmo importados, após audiência pública com os representantes dos

fabricantes de aparelhos elétricos. Na Política fica definido que deverão ser criados

mecanismos para aumentar a eficiência energética das edificações.

2.7.1.4 Agenda 21

De 1996 a 2002 foi elaborada a Agenda 21 Brasileira, desenvolvida pela

Comissão de Políticas de Desenvolvimento Sustentável e da Agenda 21 Nacional

(CPDS). Uma vez pronta, foi transformada em Plano Plurianual do Governo (PPA

2004/2007), cujas ações estratégicas eram três: implementar a Agenda 21 nacional;

elaborar e colocar em vigor as Agendas 21 locais; fazer com que a aplicação da

Agenda 21 estivesse sempre sendo atualizada e em uso. Com o intuito de facilitar a

gestão, a Agenda foi dividida em seis eixos, sendo fundamental a participação

popular em todos eles: gestão dos recursos naturais; agricultura sustentável; cidades

sustentáveis; infra-estrutura e integração regional; redução das igualdades sociais;

ciência e tecnologia para o Desenvolvimento Sustentável (BRASIL, 2004).

2.7.1.5 Associação Brasileira de Normas Técnicas

A edificação deve permitir a acessibilidade para todas as pessoas, sejam

as mesmas portadoras de deficiência física ou não, atendendo os critérios e

parâmetros estabelecidos pela Norma de Acessibilidade, a NBR 9.050:2004. O

mobiliário, os espaços e os equipamentos urbanos devem seguir diretrizes que

contemplem várias condições de mobilidade e percepção do ambiente, permitindo o

livre acesso aos espaços para pessoas com deficiências motoras e sensoriais.

Com o intuito de melhorar o desempenho da Construção Civil a

Associação Brasileira de Normas Técnicas instituiu a NBR 15.575, Norma de

Desempenho, que deve entrar em vigor ainda no primeiro semestre de 2013. Essa

norma trata do desempenho da construção por seus materiais e o conforto térmico

por eles proporcionado; a luminosidade e ventilação de acordo com o

posicionamento da edificação no terreno e as dimensões de esquadrias; a acústica

da edificação; e o reaproveitamento da água para edificações com até cinco

pavimentos. Dentre os aspectos requeridos pela norma estão sistemas estruturais,

pisos internos, vedações, coberturas, e instalações hidro-sanitárias.

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2.7.2 Legislações e normas estaduais

2.7.2.1 Agenda 21

A Agenda 21 de Pernambuco, de 06 de agosto de 2002, foi a primeira

Agenda a ser elaborada no país. Coordenada pela Secretaria de Ciência, Tecnologia

e Meio Ambiente, o Fórum Estadual da Agenda 21 de Pernambuco, constituído de

representantes do Governo, de entidades não-governamentais e do setor

empresarial. A Agenda teve como base cinco outros documentos: a Agenda 21

Global, a Convenção de Combate à Desertificação, a Convenção da Biodiversidade,

a Declaração do Milênio, e a Agenda 21 Brasileira. O documento relata que o

objetivo central do desenvolvimento sustentável é a elevação da qualidade de vida e

a equidade social, não importa o prazo e os pré-requisitos para atender estes

objetivos são a eficiência econômica e o crescimento econômico; com o

condicionante da conservação ambiental, permitindo a qualidade de vida inclusive

para as gerações futuras.

A Agenda 21 de Pernambuco tem foco no urbanismo em dois de seus

principais eixos: cidades sustentáveis e infra-estrutura. No primeiro eixo o

documento trata de uso e ocupação do solo; planejamento e gestão urbana;

habitação e melhoria das condições ambientais; garantia de direito de acesso às

cidades; padrões de consumo; reciclagem e coleta seletiva; prevenção, controle e

diminuição dos impactos ambientais em áreas urbanas; conservação do patrimônio

histórico; desenvolvimento sustentável dos assentamentos humanos; transporte;

abastecimento de água e esgoto. No segundo eixo o foco fica em: transporte seguro

e menos poluente; maior cobertura da energia; reavaliação dos atuais padrões de

consumo; comunicação, telecomunicações, computação e informação.

2.7.2.2 Lei nº 14.572, de 27 de dezembro de 2011

A primeira legislação de Pernambuco a prever sustentabilidade em

edificações residenciais ou não, foi a Lei nº 14.572, de 27 de dezembro de 2011,

determinando quais as construções que devem atender as novas exigências de

redução do desperdício, de reaproveitamento das águas servidas e de captação e

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uso da água das chuvas. Uma vez que as águas reusadas não são potáveis, a

norma determina as condições de captação, armazenamento, tratamento e utilização

das águas pluviais e servidas – sendo estritamente proibido unir as tubulações

destas águas e as de água potável. A lei determina ainda a prerrogativa de utilização

de aparelhos e dispositivos que reduzam o consumo de água, como bacias

sanitárias de volume reduzido, e a instalação de hidrômetros individualizados em

habitações multifamiliares, já prevista pela Lei nº 12.609, de 22 de junho de 2004. O

não cumprimento do decreto acarreta no não licenciamento ambiental e multas, de

acordo com a capacidade do pagador.

2.7.2.3 Lei nº 11.186, de 22 de dezembro de 1994 e Código de Segurança Contra

Incêndio e Pânico para o Estado de Pernambuco (COSCIP)

A lei nº 11.186, de 22 de dezembro de 1994 estabelece a necessidade de

sistemas de segurança e pânico para edificações, dando ao Corpo de Bombeiros

Militar de Pernambuco poderes para estudar, planejar, aprovar, fiscalizar e executar

as normas adequadas para tal finalidade. A legislação faz uma classificação de

riscos de acordo com parâmetros construídos e capacidade de combater incêndios e

evacuar edificações e define classificações de uso das edificações, parâmetros que

juntos definirão o sistema de combate a incêndios a ser instalado, com o intuito de

retardar a propagação do fogo, propiciar a evacuação eficiente, alertar, combater

incêndios e proteger estruturas. O não cumprimento da normatização pode gerar

multa, interdição ou embargo da edificação.

Em 1996 foi assinada, em complementação à lei nº 11.186/94, o Código

de Segurança Contra Incêndio e Pânico para o Estado de Pernambuco. O código

enfatiza as normas estabelecidas pela legislação anterior e acrescenta outros

aspectos, determina parâmetros para definição de sistemas de segurança da

edificação; quais os sistemas de incêndio que podem ser utilizados, de extintores à

sistemas de canalização e mangueiras; a reserva mínima de água na caixa d`água

destinada à extinção de incêndios; os sistemas de evacuação da edificação,

constituído por escadas e rampas; os sistemas de sinalização e iluminação de

emergência; e as penalizações do não cumprimento do código.

2.7.3. Legislações e normas municipais

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2.7.3.1 Plano Diretor

A ordenação territorial urbana é estabelecida pela regulamentação

conhecida como Plano Diretor. É esse instrumento que regulamenta a política de

desenvolvimento e expansão urbana do município, de maneira ordenada, garantindo

o bem-estar dos habitantes. De acordo com o Estatuto das Cidades, municípios que

possuam 20.000 habitantes ou mais devem ter seu plano, exigência que, em alguns

Estados, foi estendida para todos os municípios. (CARVALHO, 2001).

O Plano Diretor de Desenvolvimento da Cidade do Recife foi instituído

juntamente com o Sistema de Planejamento e de Informações da Cidade pela lei nº

15.547/91. De acordo com o Plano, política urbana tem como objetivos: o

desenvolvimento social e econômico da cidade; a melhoria da qualidade de vida da

população; a integração do Recife enquanto metrópole; a participação ativa no

desenvolvimento nacional; a preservação da cultura da cidade; proteger, valorizar e

usar adequadamente o meio ambiente e a paisagem urbana; a atuação dos agentes

públicos e privados atuantes na cidade no desenvolvimento urbano. O conjunto de

atividades a serem desenvolvidas visando o processo contínuo de desenvolvimento

do Recife, garantindo condições urbanas de bem-estar para a população, chama-se

gestão urbana. Dentro da gestão urbana, encontram-se os parâmetros urbanísticos

determinados pela municipalidade para a construção e uso do solo sem que haja o

comprometimento da infra-estrutura.

2.7.3.2 Lei de Uso e Ocupação do Solo

A legislação responsável pelo equilíbrio da densidade populacional e as

atividades compatíveis com os equipamentos urbanos na cidade do Recife é a Lei

de Uso e Ocupação do Solo, Lei nº 16.176/96. A presente lei determina qual o

máximo de pavimentos que dos edifícios, que usos podem ser instalados e onde,

quanto é possível construir em cada terreno de acordo com sua área e localização

na cidade, quanto de solo natural cada empreendimento deve ter, entre outros

fatores, com o intuito de preservar o perfeito funcionamento da infraestrutura uma

vez que aquela edificação esteja concluída (RECIFE, 1996).

A Lei de Uso e Ocupação do Solo é complementada pela Lei da área de

reestruturação urbana (ARU), Lei nº 16.719/2001, mais conhecida por Lei dos 12

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Bairros. A ARU restringe os parâmetros construtivos de 12 bairros do Recife

excessivamente adensados e com a infra-estrutura sobrecarregada. Os objetivos da

legislação são: requalificar o espaço urbano coletivo; permitir usos múltiplos na área

em questão, respeitados seus limites; condicionar o uso e a ocupação do solo à

infra-estrutura, à arquitetura e à paisagem urbana; definir áreas especiais a serem

protegidas por condições ambientais, paisagem, história, cultura e condição sócio-

econômica; respeitar as características específicas de cada espaço.

2.7.3.3 Lei de Edificações e Instalações na Cidade do Recife

O Recife, em 1997, estabeleceu, em complementação à Lei de Uso e

Ocupação do Solo e, posteriormente, ao Plano diretor, a Lei nº 16.292, a Lei de

Edificações e Instalações na Cidade do Recife. Dentre os objetivos desta lei estão

regulamentar as Edificações e suas Instalações, coordenar o crescimento urbano,

regular o uso do solo, controlar a densidade construtiva, garantir a proteção ao meio

ambiente, eliminar barreiras arquitetônicas que impossibilitem o trânsito seguro de

pessoas com deficiências ou dificuldades de locomoção, determinar as dimensões

mínimas dos ambientes e suas aberturas, os acessos, os usos, o cálculo de água e

lixo, a necessidade de proteção contra incêndios, entre outros.

2.7.3.4 Código do Meio Ambiente e do Equilíbrio Ecológico da Cidade do Recife

A Lei nº 16.243, 13 de setembro de 1996, determina a política do meio

ambiente da Cidade do Recife e consolida sua legislação ambiental, defendendo o

direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, como bem essencial à

qualidade de vida, dando responsabilidade ao poder público para adotar medidas

para minimizar os danos ao meio ambiente físico. A execução da Política será feita

pelo Conselho Municipal do Meio Ambiente – COMAM; pela Secretaria de

Planejamento Urbano e Ambiental – SEPLAM; e por outros órgãos que vierem a ser

criados para tal fim. A lei estabelece diretrizes para: preservação do solo, subsolo e

das águas subterrâneas; estocagem, transporte e destinação adequada de resíduos,

tóxicos ou não; coleta seletiva de lixo separada na origem; movimentação de terras;

drenagem pluvial; garantia de esgotamento sanitário e tratamento para disposição

em efluentes; padrões de qualidade do ar e sugestões de prevenção de poluição

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para os geradores; limites para a produção de ruídos; promoção da harmonia entre

homem e meio ambiente; proteção dos sítios ambientais e históricos; educação

ambiental; estímulo à pesquisa; necessidade de relatórios especiais para

empreendimentos que venham gerar impactos maiores; e punições do não

cumprimento da legislação.

2.7.3.5 Agenda 21

A Agenda 21 da cidade do Recife ainda está em fase de elaboração,

disponível em <http://www.recife.pe.gov.br/meioambiente/agenda21.html>. A mesma

pretende ser um pacto social, elaborado a partir de audiências públicas, discussões

temáticas e conferencias nos diversos setores da cidade para debater problemáticas

e potencialidades locais. O intuito da Agenda é definir estratégias para promover o

desenvolvimento sustentável recifense. Foi estruturada, na fase inicial de

constituição da Agenda, a Comissão Pró-Agenda 21 Local, formada por órgãos

públicos e organizações da sociedade civil.

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3 EVOLUÇÃO HISTÓRICA DO MORAR

Projetar habitações requer um grande conhecimento não apenas de

características, valores e costumes regionais, mas também de práticas e métodos

que ampliem o bem estar humano dentro das mesmas. Para planejar habitações é

necessário um pensamento futuro, com o intuito de prever incômodos e tentar

prevení-los (THOMSEN, 2005).

Para que o homem possa intervir projetando edificações sustentáveis é

necessário o entendimento da evolução do morar e a relação desta história com o

desenvolvimento e o meio-ambiente.

3.1 Pré-história

A Pré-História humana é tida como o período compreendido entre o ano

700.000 e 4.000 antes de Cristo, quando surgiu a escrita. Este período é dividido em

três outros períodos: Paleolítico; Mesolítico; e Neolítico. Durante esta época a

capacidade criativa do homem permitiu a sua subsistência nos mais variados

ambientes e climas (PEDRO, 2005).

O primeiro período, o Paleolítico, durou até aproximadamente o ano 15

mil antes de Cristo e foi o período onde o homem viveu mais primitivamente. Sua

subsistência era garantida por caça, pesca e coleta de frutos e raízes, empregando

instrumentos de lascas de pedra, madeira e osso. Se descobriu o controle do fogo,

importante ferramenta para aquecimento, proteção e preparo de alimentos. De

tempos em tempos os grupos humanos eram obrigados a mudar de localidade, por

conta da escassez de alimento e alterações climáticas. O nomadismo foi

intensificado com a última glaciação, por volta do ano 10.000 a.C., dando início o

período Mesolítico, quando foram inventados o arco, a flecha, o arremessador de

lanças e aperfeiçoado o controle do fogo (VICENTINO, 1997). O homem dessa

época vivia em cavernas e abrigos naturais ou cabanas feitas com peles de animais

estiradas sobre estruturas primitivas de madeira (BENEVOLO, 1980).

A Idade da Pedra Polida, ou Período Neolítico, foi o último período da

Pré-História, entre 10.000 a.C. e 4.000 a.C. Aconteceu, então, a reformulação na

forma de viver dos grupos humanos, através do desenvolvimento da agricultura, da

domesticação de animais e, no final deste período, da descoberta dos metais

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(VICENTINO, 1997). Com o poder de plantar e domesticar animais, garantindo sua

alimentação, o homem passou do nomadismo para o sedentarismo. (PEDRO, 2005).

3.2 A Civilização Antiga

Durante a transição do Período Paleolítico para o Neolítico – entre onze e

seis mil anos atrás –, iniciaram, na Mesopotâmia, sedentarizações de povos vindos

de outras partes do continente. Essas novas sociedades eram baseadas no modo

de produção agrícola, favorecido pelo desenvolvimento de um complexo sistema

hidráulico, que se beneficiava pela utilização de pântanos, evitando inundações e

garantindo o abastecimento de água durante as secas (VICENTINO, 1997).

O sedentarismo deu origem aos primeiros sistemas sociais, que hoje dão

lugar às cidades. Com ele surgiu a necessidade da energia para construir casas,

arar e semear, transportar, cozinhar, aquecer e fabricar utensílios (BUTERA, 2009).

O traçado urbano dos primeiros assentamentos, eram desenvolvidos

seguindo a ortogonalidade, bem vista até os dias atuais. As vias eram posicionadas

nos sentidos Norte-Sul e Leste-Oeste para melhor ventilação no verão e proteção do

frio no inverno (BUTERA, 2009). Não havia diferenciação construtiva entre os

templos e as casas, uma vez que as casas eram miniaturas dos templos

(BENEVOLO, 1980).

Desde a Idade Antiga as cidades em terrenos inclinados possuíam

condutores de descarga para dejetos e recolhimento de água da chuva. Em terrenos

planos, era realizado o recolhimento dos resíduos para a reutilização, depois de

secos, como fertilizantes. Conforme as cidades cresciam aumentava o mau cheiro

das ruas e a quantidade de animais atraídos pela descarga a céu aberto. As

construções do período eram consequências dos materiais disponíveis e de fácil

uso. As primeiras construções eram conjuntos de cabanas com paredes de lama e

varas de madeira, e o exterior circundado por plantações, evoluindo para casas de

tijolos de barro crus ou cozidos. A pedra somente era utilizada nas casas de ricos e

templos religiosos (BUTERA, 2009).

Em Atenas a simplicidade da disposição dos cômodos de uma casa

mostrava que elas não eram pensadas para permanência continuada, uma vez que

a maior parte do dia era vivida nas áreas públicas (BENEVOLO, 1980).

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As janelas, ainda sem fechamento de vidro, eram situadas no alto das

paredes para ventilar e permitir a saída da fumaça ao cozinhar no verão. Durante o

inverno as pessoas tinham que escolher entre o frio ou a fuligem e fumaça

provenientes do fogo acesso. As casas possuíam terraços para recolher e

armazenar a água da chuva, como complemento da água trazida dos rios para

fontes e cacimbas no meio da cidade (BUTERA, 2009).

Por volta do 800 antes de Cristo, na fértil Península Itálica, foi fundada a

cidade de Roma. As famílias ricas dominavam grande parte das propriedades e as

funções de maior importância no governo, enquanto os plebeus eram formados por

pequenos proprietários, comerciantes e artesãos (PEDRO, 2005).

As casas dos romanos ricos eram palacetes situados no domus,

abastecidas com água do aqueduto. As habitações que não possuíam esgoto,

tinham seus dejetos recolhidos por vendedores de adubo. No século I a.C. foram

desenvolvidas as primeiras técnicas de aquecimento. A primeira, por canalizações

internas às paredes, através de onde eram conduzidas as fumaças da combustão

que acontecia em um pavimento subterrâneo. Na segunda o piso era suspenso por

pilastras, formando uma câmara subterrânea onde ocorria o aquecimento,

distribuindo o calor por canais internos às paredes. Ambas as técnicas necessitavam

de grande quantidade de carvão ou lenha e esquentavam por pouco tempo,

possuindo altos custos, sendo restrita aos ricos e prédios públicos (BUTERA, 2009).

A maioria da população romana morava na insulae, prédios com vários

andares, divididos em diversos cômodos do mesmo tamanho voltados para a rua, as

cenaculas. Os pavimentos térreos eram ocupados por lojas chamadas de tabernae

ou casas luxuosas, domus (BENEVOLO, 1980). A água e o esgoto não chegavam

aos apartamentos, tendo os moradores que subir com a água e usar banheiros

públicos ou vasos, normalmente esvaziados nas vias públicas. Para os moradores

dessas edificações era árduo cozinhar, pois não havia aberturas para sair a fumaça.

No verão o calor era intenso e no inverno o frio extremo. (BUTERA, 2009).

3.3 A Idade Média

O período histórico compreendido entre os séculos V e XV, marcados,

respectivamente, pela queda do Império Romano do Ocidente e a tomada de

Constantinopla, é a Idade Média. Nessa época aconteceu a ruptura de paradigmas

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pela transição socioeconômica para o feudalismo e a aliança entre filosofia e

teologia, resultando na perda de vitalidade da ciência. Com a queda do Império

Romano a população migrou da cidade para o campo, praticando agricultura dentro

das vilas, de propriedade dos senhores feudais. As vilas eram divididas em três

setores: o domínio, propriedade privada do senhor feudal, onde havia um castelo

fortificado; o manso servil, lotes de terras arrendadas a camponeses; e o manso

comunal, que eram os bosques e pastos de uso comunitário (VICENTINO, 1997).

Nesse período ocorreu um retrocesso das cidades, que deixaram de ser

projetadas, tendo sido criadas e crescido aleatoriamente. O traçado sinuoso das

cidades medievais protegiam as edificações, proporcionando barreiras para o vento

e para o sol. No entanto, a falta de regularidade tornava difícil, senão impossível, a

coleta de esgoto. Os excrementos eram jogados pelas vias, consequentemente

tomadas por porcos que os consumiam. A água começou a ser distribuída a partir do

século XVI, em Londres, tendo sido até então transportada em vasos ou garrafas

desde os poços e mananciais. Um dos grandes avanços da Idade Média foi o

aquecimento, pela razão de terem sido introduzidos às habitações o fogão com

chaminé e a lareira, permitindo a saída da fumaça e a melhoria do ar na habitação. A

degradação urbana das cidades europeias durou até o início do século XIX.

(BUTERA, 2009).

Curiosamente das cidades Romanas restaram ruínas enquanto alguns

dos Feudos evoluíram e hoje são grandes metrópoles, como Paris e Londres

(BENEVOLO,1980).

Uma enorme diferença podia ser percebida entra a casa do senhor feudal

e as casas dos camponeses. Os primeiros viviam na torre mais alta da fortaleza das

cidades, em castelos de pedras, com vários pavimentos em madeira divididos em

salões e diversos aposentos. Ainda não havia vidro, portanto as janelas eram altas e

algumas com persianas, que eram fechadas enquanto as pessoas dormiam,

bloqueando a luz de fora e auxiliando no aquecimento. Os camponeses viviam em

casas com teto de estopas, com paredes de madeira ou de argila e palha aderidos à

uma grade de madeira. As únicas aberturas da casa eram uma perfuração no teto

para sair a fumaça, uma porta e uma janela. As residências tinham apenas um

cômodo, com um fogareiro ao centro, alguns bancos e um ou dois leitos para várias

pessoas. Frequentemente existia neste cômodo uma divisão para animais, que

ajudavam a aquecer o ambiente (BUTERA,2009).

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O feudalismo começou a decair depois de passadas as grandes pragas,

quando o índice de natalidade começou a superar o de mortalidade, tornando

inviável o sistema produtivo. Senhores feudais começaram a expulsar excedentes

populacionais, e estas pessoas voltaram, marginalizadas, para as cidades, que

renasceram nos burgos (VICENTINO, 1997).

Conhecido desde a antiguidade, apenas no final da Idade Média o vidro

começou a parecer nas janelas das casas da burguesia. O novo fechamento para as

janelas foi possivelmente o avanço tecnológico que proporcionou maior aumento na

qualidade de vida das habitações. As janelas envidraçadas fazem com que a casa

possa ter iluminação sem que se passasse frio. Foi possível o desenvolvimento das

primeiras estufas, evoluindo futuramente para os sistemas de aquecimento e, no

verão, o condicionamento de ar. A possibilidade do uso deste material transfere as

atividades cotidianas para dentro da casa, surgindo para tal os aposentos, cada um

com uma lareira e uma janela, exercendo diferentes funções: cozinhar, dormir,

trabalhar, receber, estudar. O aumento do consumo de lenha e carvão causado pelo

aumento do número de lareiras tornava as novas habitações restritas aos mais

abastados (BUTERA, 2009).

3.4 A Idade Moderna

A arquitetura ganhou um novo significado durante a Idade Moderna, uma

vez que foi desenvolvido um novo método de trabalho separando a concepção e o

planejamento de um imóvel de sua construção. O arquiteto desenvolvia o projeto em

detalhes e todas as decisões importantes acerca do mesmo eram definidas para que

só depois iniciasse a obra. O projeto consistia em estudo de proporções do edifício,

definição das dimensões do mesmo e especificação de materiais a serem usados

(BENEVOLO, 1980).

A importância da capitalização e do comércio foram reforçadas pelo

período de transição econômica e social do período. Surgiu uma nova classe social,

determinada a ganhar prestígio junto à aristocracia, a burguesia. A migração da

população rural para as cidades favoreceu o crescimento desta classe e dos

negócios que a mesma tomava conta (VICENTINO, 1997).

As novas cidades votlaram ao traçado originalmente ortogonal, devendo

ser capazes de crescer a qualquer momento, apenas sendo adicionados quarteirões

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repetindo o traçado já existente. A transição entre urbe e campo passou a ser mais

sutil, pois deixaram de existir as muralhas que determinavam estes limites

(BENEVOLO, 1980).

Neste período foram significativos o surgimento e evolução dos

aquecedores. Diversos fatores influenciavam este progresso: a introdução do vidro

na arquitetura; o descobrimento da necessidade de renovação do ar para melhor

queimado óleo; a percepção da baixa proteção térmica das casas de madeira; e o

fogo em espaço fechado evita faíscas que causam incêndios. O material mais

utilizado para queima nos aquecedores era a lenha, sendo o mesmo confeccionado

por alvenaria, tijolo ou cerâmica. Usualmente a estufa era constituída por uma

reentrância para dentro da sala ou quarto de dormir a partir da cozinha, onde era

acendido o fogo, transferindo assim o calor para o outro cômodo, sem que fumaça

fosse junto. A fumaça na cozinha espanta insetos, protegendo a madeira do telhado

e as frutas secas. O volume de água utilizado por uma casa era baixíssimo. Lavava-

se apenas mãos e rosto, pois a água fria trazia perigo de doenças (BUTERA, 2009).

De acordo com Butera, 2009, a iluminação permaneceu a mesma até o

final do período: tochas para os lugares abertos, velas de sebo e cera e lâmpadas a

óleo para o interior. No final do século XVIII surgiu uma importante inovação na

iluminação. O pavio antes usado nas velas e lâmpadas a óleo foi substituído por um

outro de forma circular, contido entre dois anéis concêntricos de metal e envolto por

um tubo de vidro. O novo pavio, maior que o anterior e com menor corrente de ar,

queimava melhor o óleo, aumentando consideravelmente a luminosidade e gerando

menos fumaça. A difusão desta tecnologia, no entanto, só aconteceu no século

seguinte (BUTERA, 2009).

3.5 Idade Contemporânea

Duas Revoluções marcaram o final da Idade Moderna: a Revolução

Francesa e a Revolução Industrial. A primeira foi primordial na derrubada dos

entraves do capitalismo e na consequente ascensão da burguesia, que já dominava

os principais setores do capitalismo – financeiro, industrial e comercial –, conquistou

também o político. A segunda foi responsável por grandes avanços tecnológicos e

pelo estabelecimento do capitalismo, pois a mecanização das manufaturas trouxe

para o setor produtivo a acumulação de capitais (VICENTINO, 1997).

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Pela primeira vez na história a taxa de natalidade superou a de

mortalidade, o que causou um significativo aumento populacional. Aliado a este

crescimento houve um aumento da produção, possível graças aos avanços

tecnológicos. Os camponeses se tornaram operários de indústrias situadas nas

margens das cidades, ampliando os territórios das mesmas. Houve o aprimoramento

nos meios de comunicação e transportes possibilitando o trânsito de quaisquer

produtos. O cenário de progresso era ilimitado, pois nenhuma solução era

permanente ou infinita (BENÉVOLO, 1980).

Benévolo (1980) relata que os novos governantes enfraqueceram as

formas de planejamento das cidades, alegando que eram relíquias do passado. Os

núcleos das cidades permaneceram os mesmos da Idade Média, formado pelas

igrejas e palácios. No entanto, as ruas deste núcleo não eram capazes de comportar

o aumento do tráfego e as casas eram pequenas. O centro passou a ser o local

onde a população mais pobre morava e os mais abastados construíram casas ao

redor da urbe. Os edifícios históricos foram abandonados e os quintais das casas

deram lugar a novas construções. As residências dos operários, não mais eram as

casas de madeira com telhado de palha, mas de tijolo com telhas de cerâmica, sem

os jardins ao redor e com os mesmos móveis primitivos das casas do campo. As

ruas iam se formando pela acumulação de edificações uma ao lado da outra, não

havendo espaço para despejar os resíduos. As ruas viraram um esgoto a céu aberto

com amontoados de lixo, ao mesmo tempo que eram a passagem de pedestres e

veículos, o local de brincadeiras de crianças e animais vagantes. Apenas no ano de

1.815 voltaram a ser planejados os assentamentos humanos.

No final do século XVIII surgiram em Londres os water closets, tanques

com assento furado e fundo que abria por meio de uma válvula, onde se enchia de

água antes do uso e se abria após, levando os dejetos para uma fossa negra. A

dificuldade do esvaziamento dos poços levou à ligação das latrinas diretamente às

redes pluviais. Alastraram-se, assim, as epidemias, pois a população usava as

águas sujas de dejetos para abastecer suas casas. Apenas em 1832, quando uma

epidemia resultou em mais de 18.000 mortos, as autoridades resolveram tentar

solucionar o problema, colocando o ponto de descarga do esgoto mais abaixo da

cidade, mudando apenas o local contaminado. A preocupação pela resolução tardia

do problema aconteceu não apenas na Inglaterra, mas também na Itália e França

(BUTERA, 2009).

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Um novo modelo de cidade surgiu em Paris, quando construíram a

Boulevard Haussman, como eixo para novas ruas. Paralelamente foram introduzidos

novos serviços públicos, como abastecimento de água e esgoto, iluminação a gás e

transporte público puxado por cavalos. Apareceram os primeiros parques públicos,

escolas, hospitais, faculdades, quartéis e prisões (BENEVOLO, 1980).

De acordo com Butera (2009), em Paris, a demanda de água foi menor

que a esperada, uma vez que o parisiense era acostumado a se satisfazer com

apenas dois baldes de água por semana. Em Nápoles, as redes levavam a água

para as fontes públicas e poços, exceto em localidades onde a população possuía

menor renda, onde eram furados poços rasos, quase sempre contaminados pela

proximidade das fossas negras. A necessidade de higiene torna inaceitável a saída

de casa para pegar água ou livrar-se de excrementos, ampliando as redes de

abastecimento ainda no século XX. O bem, antes escasso e precioso, agora é

abundante, aumentando seu desperdício.

Albert Winsor percebeu que a instalação do gás para iluminação em rede

era mais eficiente que a individual, tornando possível a solução de problemas de

gestão da produção, fumaças e águas poluídas geradas a partir da transformação

do petróleo, tendo sido responsável pela primeira rede de iluminação instalada e em

funcionamento. A nova forma de distribuição do gás diminuiu a ocorrência de

incêndios e permitiu o aumento do número de horas trabalhadas nas fábricas. A

eficiência da nova forma de iluminação e aquecimento foi responsável pelo aumento

do consumo energético elevado em um período de 40 anos. O descobrimento do

petróleo e seu refinamento fez com que a história da iluminação e automotiva se

completem, pois se usava a querosene para iluminação e o óleo restante para

lubrificação de máquinas (BUTERA, 2009).

A Segunda Revolução Industrial, que aconteceu por volta de 1860, teve

uma velocidade muito maior que a primeira, impulsionada pela descoberta da

eletricidade, pela transformação do ferro em aço e pelo avanço dos meios de

transporte. A transformação do aço impulsionou a industrialização e foi um grande

aliado à construção civil (VICENTINO, 1997).

A iluminação elétrica teve evolução baseada em estudos científicos da

época, não sendo criação de um único inventor. A fonte inicial de energia eram as

pilhas, que precisavam ser frequentemente trocadas e eliminavam no ambiente

gases tóxicos. Os geradores elétricos convertiam energia mecânica em energia

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elétrica e se desenvolveram de forma similar à iluminação elétrica, primeiramente o

gerador era a vapor até chegar no gerador de corrente alternada. Paralelamente ao

aperfeiçoamento da iluminação houve o desenvolvimento da lâmpada

incandescente. Depois de várias tentativas Thomas Edison resolveu estudar as

redes de iluminação à gás para formatar um sistema onde a lâmpada fosse parte de

uma rede e de baixo custo, tal qual a lâmpada a gás. O baixo rendimento dos

geradores elétricos fez com que ele os estudasse e aperfeiçoasse, aumentando sua

eficiência para 90%. A produção do calor e a fuligem causados pela iluminação a

gás foram, então, vencidos, aliados à menor necessidade de manutenção e

regulagem da iluminação elétrica. A evolução da eletricidade e da iluminação foram

importantes para que não houvesse mais a divisão entre dia e noite, ampliando a

vida noturna (BUTERA, 2009).

O aquecimento dos ambientes começou a ser distribuído internamente à

uma residência, por meio de tubulações, com base no sistema natural de circulação,

o ar quente sobe e o ar frio desce, levando os aquecedores para os porões dos

edifícios. As dimensões ampliadas dos canais de ventilação necessitou ventiladores,

sendo possível o aquecimento apenas em grandes prédios. A chegada da energia e

motores elétricos permitiu o aquecimento da água, que ia para as tubulações antes

de ar e esquentava os ambientes mais eficientemente. Aos poucos a nova solução

foi se propagando também em residências (BUTERA, 2009).

Butera (2009) relata que o consumo energético para manter o atual nível

da qualidade de vida que a tecnologia traz para as residências é altíssimo, não

apenas para que seja possível a utilização dos eletrodomésticos, mas toda a cadeia

produtiva consome energia, na extração de matéria prima, em sua produção, no

transporte, na venda, na instalação e no uso. A geração de energia produz gases

tóxicos que são lançados na atmosfera, além de consumir recursos não renováveis.

Não apenas o consumo energético é responsável pelos poluentes. O consumo de

água gera lixo orgânico misturado com produtos químicos de limpeza, além da

facilidade de uso deste recurso ser responsável por um alto desperdício. A

tecnologia trouxe consigo uma nova forma de poluição causada pelos ruídos das

máquinas agora existentes: a sonora.

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4 A CASA SUSTENTÁVEL

Projetar e construir uma casa sustentável demanda planejamento e

dispêndio iniciais maiores. O investimento pode aumentar o valor total da obra entre

5% e 8%, sendo o retorno financeiro obtido com a valorização do imóvel e a

diminuição dos gastos com a manutenção do mesmo. Outras vantagens que a

edificação sustentável traz são a melhora na qualidade de vida dos moradores e a

preservação ambiental, pela conservação dos recursos naturais durante o uso da

casa (VENÂNCIO, 2010).

É essencial a mudança nos padrões de construir uma casa nos dias

atuais. É necessário não apenas de equipamentos que consumam menos energia

mas também de espaços físicos que requeiram reduzidas tecnologias para seu

funcionamento. Os ambientes necessitam de qualidade do ar e ventilação,

racionalização do uso da água, entre outros aspectos que serão abordados a seguir.

O presente capítulo descreve que variáveis de sustentabilidade são desejáveis a

uma residência sustentável, sendo detalhado como satisfazer estes pré-requisitos no

capítulo seguinte.

4.1 Energia

Até o final do século XIX cuidar da casa era uma atividade que exigia

muito tempo e levava as donas de casa à exaustão. Fogões eram acendidos à

lenha, geladeiras precisavam de gelo vindo das geleiras, lavar roupas era uma

atividade cansativa e demorada, a fuligem enchia a casa de sujeira tornando

complicado varrer e limpar o chão. O gás e a eletricidade possibilitaram a evolução

destes e outros utensílios domésticos – como o ar condicionado e o aquecedor para

banho – ampliaram o conforto da dona de casa e da casa propriamente dita. No

entanto, houve um expressivo aumento do consumo do gás e da eletricidade, ambos

provenientes de recursos naturais limitados (BUTERA, 2009).

A energia é amplamente utilizada no dia-a-dia de uma residência,

podendo ser proveniente de fontes não renováveis, como petróleo e gás ou de

fontes renováveis como os raios do sol, a movimentação das águas ou a força dos

ventos. É possível obter energia também através da queima, tanto de madeira – que

pode se tornar não renovável caso não haja o replantio –, quanto do gás gerado na

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decomposição de dejetos. As formas de energia natural, a luz solar e o vento, no

entanto, sofrem variações ao longo do ano, podendo não estar presente todo o

tempo, sendo necessário o planejamento de energias alternativas em caso de chuva

ou ausência de ventos (LENGEN, 2008).

A luz do sol é capaz de proporcionar dois sistemas ecoeficientes: energia

fotovoltaica e aquecimento solar de água. O sistema fotovoltaico é formado por

células capazes de transformar a luz do sol em energia elétrica. As células

produzem tensão e corrente que são levadas para controladores de carga que

protegem o sistema de sobrecarga ao levar a energia para baterias onde é

acumulada. Da bateria a energia segue para um inversor, que transforma a energia

em corrente disponível. Este sistema tem diversas vantagens: o excedente

produzido pode ser vendido, a energia é inteiramente renovável e limpa, não produz

ruído, pode ser gerada in loco, pode ser reinstalado em outros locais. Infelizmente os

custos de implantação deste sistema ainda são altos e pouco desenvolvido no Brasil

(VENÂNCIO, 2010).

A energia produzida pelos painéis fotovoltaicos é de extrema importância

para localidades não servidas ou limitadamente atendidas pelas concessionarias.

Em todo o mundo se desenvolvem pesquisas para abaixar o custo e ampliar a

eficiência desta tecnologia. No entanto, esta tecnologia é capaz de atender uma

demanda reduzida (BUTERA, 2009).

De acordo com Venâncio (2010) o sistema de aquecimento solar de água

consiste em placas coletoras compostas por tubos de cobre, capazes de absorver o

calor do sol, por onde a água passa seguindo para um reservatório térmico onde é

armazenada. Este sistema funciona bem inclusive em dias nublados, necessitando

de sistema alternativo apenas em épocas de sol reduzido.

Este sistema pode prover tanto aquecimento quanto refrigeração.

Todavia, para que as soluções de produção de energia e aquecimento solares sejam

eficientes, as casas devem ser projetadas e construídas para que absorvam o

máximo da iluminação natural ao longo do dia (BUTERA, 2009).

Roaf (2009) relata que o impacto ambiental da edificação é significamente

reduzido com o uso de painéis fotovoltaicos e sistemas de aquecimento solar de

água, sendo possível diminuir as emissões de gás carbônico em 35% e o consumo

energético em 40%.

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Uma forma de produzir energia limpa que vem crescendo timidamente no

Brasil é a eólica, com o aproveitamento dos ventos. O girar das hélices move uma

bobina que, através de um corpo magnético, produz corrente elétrica. Este sistema

possui vantagens similares às dos sistemas de energia fotovoltaica, mas mais

desvantagens (VENÂNCIO, 2010).

A energia eólica usualmente é feita em larga escala, mas existem

sistemas de pequena escala para residências. O método possui um desafio que é a

variabilidade dos ventos, onde pequenas alterações de velocidade afetam a geração

elétrica significativamente. Os custos iniciais de instalação são altos, mas se as

condições de tempo forem favoráveis o sistema pode vir a gerar toda a energia

consumida por uma casa. A durabilidade das turbinas é de 15 anos, e a manutenção

é apenas uma lubrificação anual, mas é um sistema que produz ruídos e não se

integra a paisagem como o fotovoltaico, sendo sempre um apêndice à edificação

(ROAF, 2009).

O Brasil é país do mundo que mais possui recursos hídricos. No entanto,

na utilização destes recursos para geração de energia, o Brasil encontra-se em

quarto, ficando atrás dos Estados Unidos, Canadá e China. Apesar do impacto inicial

causado pelas inundações, a energia hidrelétrica é considerada limpa e eficiente. Os

danos causados pela construção de uma usina hidrelétrica podem ser minimizados

reduzindo áreas inundadas, perdendo assim parte do potencial produtivo. Ainda

assim, a energia elétrica é mais barata que ambas a energia termelétrica e nuclear

(ROSA, 2007).

Entre os fatores que dificultam a expansão da tecnologia hidrelétrica

estão os custos iniciais para a instalação muito altos, pois necessita a construção de

diques e redes de transmissão, dada a distância das usinas para as cidades

(BUTERA, 2009).

4.1.1 Eletrodomésticos

De acordo com Butera (2009), 30% do consumo energético de uma casa

é gasto com eletrodomésticos. Com o aumento do gasto por resfriamento e

aquecimento este consumo torna-se-á ainda mais expressivo. O incremento dos

equipamentos que ficam em stand-by, isto é, disponíveis para serem ligados

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rapidamente, será responsável por 10% do consumo de uma habitação no ano de

2.020 (BUTERA, 2009).

Novas tecnologias disponíveis no setor de iluminação necessitam de

menor consumo energético. Em ambientes de baixa circulação podem ser usados

sensores de presença que ligam apenas quando há movimento no local. Minuterias

podem programar a hora de acender e apagar luzes baseadas em uma rotina de

uma casa. Dimerizadores são capazes de detectar a luz do ambiente e acender as

luzes caso a iluminação esteja insuficiente. Novas lâmpadas também estão sendo

difundidas e aperfeiçoadas, como as lâmpadas fluorescentes que consomem menos

energia e duram mais tempo que as incandescentes, e as lâmpadas de Light

Emitting Diodes (LED), que consomem ainda menos energia e duram mais que as

lâmpadas fluorescentes (VENÂNCIO, 2010).

A indústria não se preocupa aproveitar elementos entre os

eletrodomésticos para desenvolver a racionalização de energia, como usar o calor

produzido pela geladeira para pré-aquecer a água da lavadora de roupas. É

fundamental a mudança de paradigmas, não apenas no usuário final, mas também

na indústria que produz estes equipamentos (BUTERA, 2009).

Os Ministérios de Minas e Energia e da Indústria e Comércio criaram em

1985 o Programa Nacional de Conservação de Energia Elétrica (Procel),

transformado em 1991 em programa de governo. Racionalizar a produção e o

consumo energético são os objetivos do Procel, tendo como consequência a

redução de desperdícios, custos e investimentos. Em 1993 foi criado o Selo Procel

Economia de Energia com o intuito de orientar, no ato da compra, os consumidores

quanto ao consumo energético dos produtos, a partir de testes de desempenho

realizados em laboratório. A certificação também estimula a produção de

equipamentos com maior eficiência, estimulando o desenvolvimento da tecnológico

local. Uma adaptação do selo foi elaborada, para que o mesmo pudesse atestar a

eficiência em edifícios, o PROVEL Edifica (PROCEL, 2012).

4.2 Água

Apenas 3% da água existente do planeta é doce, sendo os demais 97%

água salgada. Apenas 0,33% de toda a água doce está disponível e acessível para

o uso (VENÂNCIO, 2010).

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O crescimento populacional, as mudanças climáticas, a poluição e a

interferência humana nos recursos naturais são fatores determinantes para que seja

repensado o uso da água. É necessário que se aprenda a economizar a água, torná-

la mais eficiente – usando menos para realizar a mesma tarefa –, usar a quantidade

estritamente necessária, substituir por outro material, e reaproveitar a água (ROAF,

2009).

A economia de água está ligada diretamente aos metais sanitários,

louças, equipamentos de lavagem e costumes utilizados. Nos banheiros é possível

economizar água com vasos sanitários de caixa acoplada que possuam duplo

acionamento, com três litros para dejetos líquidos e seis litros para sólidos. As

torneiras possuem, pelo menos, três sistemas que podem diminuir seu consumo:

temporizadores que abrem a torneira por um período, torneiras com sensores que

identificam quando as mãos não estão mais na frente e interrompem o fluxo de água

e os aeradores, que misturam ar na saída de água, espalhando-a e dando a

sensação de que há mais água. Tomar banho, lavar louça e lavar roupa são tarefas

que necessitam muito mais de conscientização na necessidade de redução do

consumo. O banho deve ser o mais curto possível, e sendo a água desligada

enquanto não for necessária. A mesma lógica funciona para lavar louças e roupas

manualmente. Máquinas de lavar louça e roupa devem ser econômicas e usadas

apenas quando tiverem a carga completa. Aguar as plantas deve ser feito com

regador, cobrir piscinas evita a evaporação, lavar carros e calcadas com baldes ou

água servidas também permitem reduzir muito o consumo. Realizar manutenções

preventivas e reparatórias são imprescindíveis para evitar o desperdício. Torneiras

pingando uma gota de água por segundo desperdiçam 16.790 litros por ano. O

mesmo é válido para vazamentos em encanamentos, caixas d’água e piscinas

(VENÂNCIO, 2010).

O crescimento da demanda de água para lava louças e lava roupas vai na

contra mão da sustentabilidade. Aproximadamente 15% do consumo de água de

uma residência que possua estes dois eletrodomésticos será realizado por eles

(ROAF, 2009).

O aproveitamento da água da chuva permite uma redução de até 50% do

consumo de uma casa. O armazenamento desta água, diminui a necessidade de

absorção do solo e sistemas de drenagem, auxiliando na prevenção de enchentes.

No entanto, esta água tem uso restrito nas residências, pois traz consigo a poluição

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atmosférica. Sua utilização é possível na descarga de vasos sanitários, na lavagem

de roupas na máquina, na irrigação de jardins, na lavagem de carros e calçadas.

Sendo assim, devem haver tubulações distintas para água da chuva e da

concessionária. As primeiras águas da chuva devem ser desprezadas, uma vez que

lavam as impurezas do telhado (VENÂNCIO, 2010).

4.3 Especificação de Materiais

A escolha de materiais deve ser feita ainda na fase de projeto da

edificação. Alguns aspectos devem ser estudados na hora desta especificação, para

que os materiais sejam adequados ao tipo de construção e à região onde se planeja

construir.

É possível calcular o impacto ambiental gerado na construção de uma

residência a partir da análise dos impactos da fabricação e uso diário dos materiais

empregados na mesma. A qualidade dos produtos e a maneira como os mesmos se

integram ao projeto fazem parte da análise dos possíveis danos ambientais (ROAF,

2009).

Não devem ser especificados materiais apenas em função de estética ou

porque foram utilizados em outras obras. Materiais regionais, usualmente, são

adequados ao clima em questão. Infelizmente nem sempre isso é possível, pois às

vezes a degradação ambiental pode levar à escassez de um determinado material. É

importante manter em mente que a casa deve estar em harmonia com o meio

ambiente (LENGEN, 2008).

O processo de fabricação de um material é um determinante na

sustentabilidade do mesmo. Quanto mais processos aquele item tiver sofrido,

maiores são os gastos energéticos e resíduos gerados em sua fabricação. Deve-se,

portanto, buscar materiais que tenham sofrido o mínimo de processamento possível,

preferindo madeira a alumínio, por exemplo. É essencial, no entanto, fazer a relação

entre necessidades de projeto, durabilidade, manutenção e o material a ser utilizado.

Nem sempre um material mais adequado para um projeto ou região é o mais

adequado para outra. A durabilidade de um material faz com que seu impacto

ambiental diminua, uma vez que precisará de menos manutenção e trocas durante a

sua vida útil (ROAF, 2009).

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Os principais objetos de estudo para a especificação de materiais são

(KEELER, 2010):

� Durabilidade dos materiais e a manutenção necessária para vida útil

plena dos mesmos;

� Eficiência dos materiais escolhidos, sendo necessário o mínimo

possível daquele material para se atingir a meta;

� Embalagem reduzida, reusável e reciclável;

� Baixo consumo de água e energia em sua geração;

� Menor processamento durante a produção, sem utilização de produtos

nocivos;

� Menor produção de resíduos em sua fabricação;

� Alto percentual de materiais reciclados em sua composição;

� Recursos naturais, quando utilizados, que sejam renováveis e tenham

o máximo aproveitamento possível;

� Baixa necessidade de limpeza e manutenção;

� Possibilidade de reuso e reciclagem dos componentes, buscando

flexibilizar o uso dos mesmos ou adaptá-los;

� Causar o mínimo de impactos ambientais em sua vida útil;

� Selecionar fornecedores próximos ao canteiro de obras, para minimizar

o impacto com transportes.

Segundo Keeler (2010), alguns materiais de demolição são reutilizáveis.

Empresas são especializadas em gestão de resíduos que coletam e processam

estes entulhos e existem depósitos com sistema de trocas de componentes

reaproveitáveis da construção civil. São alguns destes materiais o concreto, blocos

de concreto e tijolos; janelas; aparelhos sanitários; portas; ferragens; fios; materiais

provenientes da limpeza do terreno, como árvores; placas de gesso; e carpetes.

Estão disponíveis no mercado ecoprodutos focados na construção civil,

produzidos por resíduos da própria indústria e outras. Provenientes de resíduos de

construção há areias e revestimentos cerâmicos. A indústria automotiva tem como

resíduos de grande impacto os pneus, que, sendo reciclados, tornam-se piso

emborrachado. tubulações hidráulicas são produzidas a partir de reciclagem de

embalagens pet de refrigerantes e telhas fabricadas a partir de embalagens de leite

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longa vida e diversos polímeros, como os utilizados para armazenamento de pasta

de dente (VENÂNCIO, 2010).

A disseminação da sustentabilidade fez com que algumas empresas

usassem o marketing para ocultar implicações ambientais negativas para seus

produtos. Um exemplo são produtos tidos como 100% reciclados que não relatam

retrabalhos ou resíduos de sua própria produção (KEELER, 2010).

Para fugir de enganações, deve-se procurar materiais que possuam “selo

verde” por terem sido estudados por instituições reconhecidas por ter avaliações de

ciclo de vida detalhadas dos materiais. Há, no Brasil, dois selos mais respeitados: o

Instituto Falcão Bayer e o Conselho de Manejo Florestal – FSC (VENÂNCIO, 2010).

Veja mais em <www.ifbauer.org.br> e em <br.fsc.org>.

4.4 Acessibilidade

A Lei n° 10.098 de 19 de dezembro de 2000 estabelece que as pessoas

portadoras de deficiência ou com mobilidade reduzida têm direito a utilizar espaços,

mobiliários e equipamentos urbanos, edificações, transportes e sistemas de

comunicação, devendo estes ser adaptados para utilização destas pessoas com

segurança e autonomia. A lei discorre que devem ser eliminadas quaisquer barreiras

físicas que dificultem ou impeçam os usos dos equipamentos e espaços. Devem ser

construídas e adaptadas rampas de acesso em vias, parques, estabelecimentos

comerciais e outras construções, além de ser necessária a existência de banheiros,

vagas de estacionamento, sinalizações de piso e sonoras, entre outros artifícios que

facilitem a acessibilidades de pessoas com necessidades especiais.

Os parâmetros de acessibilidade a serem adotados nos projetos são

determinados pela Norma Brasileira Registrada 9050:2004 – NBR 9050:2004 –,

desenvolvida pela Associação Brasileira de Normas Técnicas – ABNT. A

regulamentação versa não apenas a pessoas que necessitam de cadeiras de rodas

para locomoção, mas também portadores de próteses, bengalas de locomoção e

rastreamento, aparelhos de apoio, e quaisquer outros meios de auxilio, não

importando a necessidade ou a idade da pessoa. Dentre os parâmetros

estabelecidos como regra estão dimensões mínimas de banheiros, larguras de

corredores e escadas, inclinações máximas de rampas, altura de bancadas e

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balcões, sinalizações, necessidade de equipamentos de apoio – como corrimões e

barras –, entre outros aspectos.

Durante prática da profissão de arquiteta e aprovação de projetos nas

quatro principais prefeituras da Região Metropolitana do Recife – Recife, Jaboatão

dos Guararapes, Olinda e Paulista – foi possível a percepção de alguns aspectos

quanto à exigência de cumprimento das regras de acessibilidade propostas pela

ABNT.

Os órgãos de aprovação de projetos na cidade do Recife são bem

rigorosos quanto ao cumprimento das normas da NBR 9050:2004, inclusive

demandando o cumprimento do Decreto n° 20.604 de 20 de Agosto de 2.004, que

regulamenta a construção, manutenção e recuperação das calçadas. Em Jaboatão

dos Guararapes também é necessário que sejam atendidos os parâmetros da

norma. A aprovação de projetos da prefeitura de Olinda não exige o atendimento da

norma em sua totalidade. Em Paulista as normas não são exigidas. Observa-se o

crescimento da preocupação com a mobilidade para todos, mas ainda não há uma

conscientização da população. O poder público está evoluindo para estas

necessidades e começando a exigí-las. A Caixa Econômica Federal exige das

construtoras que as normas sejam atendidas para que as mesmas obtenham

financiamento à produção, mas não para que seja feito o repasse das unidades

habitacionais.

Dentro das residências, há simples adaptações e modificações que

podem ser feitas para facilitar a vida de pessoas com limitações motoras, auditivas e

visuais. Pisos devem ser preferivelmente anti-derrapantes e sem tapetes, e quando

houver a necessidade de desníveis os mesmos devem ser chanfrados ou com

carpetes fixados nos mesmos. As escadas devem ter degraus de mesma altura e

profundidade e, preferencialmente, duas alturas de corrimão. Os ambientes devem

ter boa iluminação para que possíveis obstáculos sejam percebidos. As portas e os

banheiros devem ser um pouco maiores para que permitam a passagem e giro de

cadeiras de rodas (VENÂNCIO, 2010).

4.5 Resíduos

O lixo não mais pode mais ser entendido como aquilo que ninguém quer.

Com os recursos naturais ficando cada dia mais escassos é necessário aprender a

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reutilizar e reciclar os resíduos. O expurgo é o resultado de qualquer transformação

de recursos naturais pelo homem. Edifícios geram resíduos ao longo do seu ciclo de

vida (VENÂNCIO, 2010).

A Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente desenvolveu a

Agenda 21 onde determina a ˜Hierarquia do Lixo˜, que são recomendações para a

gestão de resíduos, sendo estas reduzir o lixo produzido; reusar; reciclar; incinerar

aproveitando o calor para gerar energia; fazer compostagem ou reprocessamento

biológico; e, por último, enviar os resíduos para um aterro sanitário (KEELER, 2010).

A construção civil e reformas de edificações já existentes produzem um

resíduo bem diversificado e ainda pouco reaproveitado. Infelizmente é muito comum

no país que este lixo seja jogado em terrenos baldios, margens de rios e estradas ou

aterros clandestinos. O Ministério das Cidades, com o intuito de combater a

degradação ambiental provocada pelo resíduo da construção civil desenvolveu dois

volumes do manual Manejo e Gestão de Resíduos da Construção Civil, para que os

municípios cuidassem dos pequenos produtores e os grandes produtores

destinassem corretamente seus resíduos. De acordo com o primeiro volume do

manual o lixo produzido pela construção civil chega a ser o dobro do lixo domiciliar

(BRASIL, 2005).

Foi desenvolvido o conceito de “demolição sustentável”, que considera,

além das práticas de boa gestão dos resíduos, considera os benefícios sociais e

econômicos trazidos a partir desta gestão. Os objetivos do sistema de gestão são

dar destino correto aos resíduos que iriam para aterros sanitários; recuperar

materiais no meio dos entulhos para reuso e reciclagem; contribuir para a melhora

econômica e ambiental da cidade; promover a segurança e saúde do ambiente de

trabalho; usar demolições como oportunidades; preservar as edificações históricas

de uma comunidade (KEELER, 2010).

Usinas de reciclagem separam os entulhos de acordo com o material e os

trituram para que possam ser reaproveitados. Grande parte do lixo é transformado

em agregados a serem misturados ao cimento ou argamassas ou para serem

compactados em aterros ou bases de pavimentações. O reaproveitamento dos

detritos pode ser feito dentro da obra, economizando tempo, transporte e recursos

financeiros (VENÂNCIO, 2010).

Metal, vidro, concreto, asfalto e papel são os materiais provenientes da

construção civil mais reciclados. Tijolos, pedras, solo, madeiras e aparelhos

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sanitários são os materiais mais frequentemente reutilizados. Infelizmente ainda há

materiais de difícil reciclagem e reuso, que, por causa da precária infraestrutura de

reciclagem, ainda não de baixa viabilidade econômica. São estes: tubulações de

plástico, gesso, carpetes e azulejos (KEELER, 2010).

Os resíduos produzidos durante a ocupação da edificação são,

basicamente, lixo e esgoto domésticos. O lixo doméstico é dividido em dois tipos:

lixo orgânico, formado por restos de alimentos e matérias biodegradáveis; e lixo

inorgânico: formado por vidros, latas, papel, metal, plástico, papelões e outros

materiais não biodegradáveis. O destino deste resíduo pode ser: aterros sanitários,

locais onde é espalhado intercalado por camadas por terra; incinerados,

normalmente materiais de alto risco que produzem gases tóxicos; compostagem,

utilizada para transformar lixo orgânico em adubo, com alto custo. A melhor

destinação do lixo inorgânico é a reciclagem, pois leva a matéria de volta ao ciclo

produtivo (VENÂNCIO, 2010).

Aterros sanitários são uma das formas mais nocivas de tratamento de lixo,

uma vez que o mesmo pode liberar substâncias nocivas além da barreira física

imposta pelo homem, contaminando o solo e lençóis freáticos. As contaminações

normalmente são de longo alcance, pois os contaminantes entram na cadeia

produtiva e chegam até o homem (KEELER, 2010).

As concessionárias locais deveriam coletar e tratar o esgoto, o que não é

a realidade brasileira. Ao invés de instalar sistemas alternativos de tratamento de

esgoto, as edificações despejam esgoto nos rios e mares.

Águas servidas possuem alto nível de contaminantes e bactérias,

devendo seu manuseio ser realizado com extrema cautela, portanto sistemas de

tratamento destas águas exigem manutenção e monitoramento. Há diferentes

padrões para a reciclagem de água de chuveiros e pias ou de bacias sanitárias.

Durante o projeto devem ser estabelecida a água que será reciclada e a que padrão

deve chegar (ROAF, 2009).

O esgoto doméstico é composto por águas cinzas, aquelas provenientes

de chuveiros, pias, lavatórios, tanques e lavadoras; águas negras, resultantes das

bacias sanitárias; e águas pluviais. Alguns dos sistemas alternativos de tratamento

de esgoto são (VENÂNCIO, 2010):

� Fossa séptica: consiste em um tanque subterrâneo onde o esgoto

decanta e fica a parte sólida dos resíduos;

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� Filtro anaeróbio: é um filtro onde bactérias decompõem a matéria

orgânica e possíveis contaminantes do esgoto;

� Sumidouro: é uma caixa furada onde são lançadas as águas residuais

provenientes da fossa ou do filtro anaeróbio, que, lentamente, vai liberando esta

água no solo;

� Estações de tratamento de esgoto (ETE): são sistemas compactos de

tratamento de esgoto, que tornam a água passível de reaproveitamento ou

despejada em rios. São, usualmente, equipamentos fechados onde o esgoto passa

por diversas fases de decomposição.

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5 ROTEIRO PARA PROJETO ARQUITETÔNICO DE CASAS SUSTE NTÁVEIS

A cultura brasileira, imediatista, comumente deixa de lado a importância

da etapa de planejamento do edifício a ser construído. O tempo demandado para o

desenvolvimento adequado desta fase normalmente é subestimado pelos

construtores e futuros usuários do imóvel. Um processo de projeto mal elaborado

leva a retrabalho durante a obra, sendo desperdiçados não apenas recursos naturais

ao realizar demolições, mas também tempo (VENÂNCIO, 2010).

O projeto arquitetônico consiste em desenhos, detalhados de tal maneira

que seja possível entender como deve ser feita a construção. O mesmo é constituído

de plantas baixas, cortes e fachadas. Nestes desenhos são determinadas as

dimensões e locação da casa e suas aberturas, vãos, pisos, escadas, e outros

elementos construtivos (LENGEN, 2008).

De acordo com Venâncio (2010) o processo de projeto não é

simplesmente desenhar a casa. O planejamento deve levar em conta as

necessidades da mesma e seus usuários, devendo estar embasado em pesquisa e

estudo. Este planejamento envolve seis fases, sendo estas:

� Ter ideias: consistem tanto em lembranças de lugares vividos no

passado e as sensações que os mesmos despertam quanto em conhecer casas e

conversar com seus proprietários a respeito do que deu certo e o que deu errado

naquele projeto. Devem ser priorizadas as opiniões das pessoas que irão habitar a

casa projetada, pois elas que conhecem suas necessidades pessoais;

� Estudar as ideias: levar para o arquiteto as ideias e requisitos para a

nova casa. Fatores como quantos e que ambientes serão necessários e os

dispêndios disponíveis para a construção devem ser discutidos nesta fase;

� Estudo preliminar: a partir das necessidades do futuro morador, o

arquiteto desenvolve um estudo preliminar, onde serão sugeridas soluções de

projeto para a casa a ser construída. A apresentação da casa ao cliente deve ser

capaz de fazê-lo imaginar o ambiente que será edificado, por meio de plantas

baixas, perspectivas a mão livre ou computadorizadas e maquetes físicas. São

debatidos então a forma física e a funcionalidade;

� Projeto aprovado: uma vez debatido o estudo preliminar são feitas as

mudanças necessárias nas plantas para a aprovação do cliente e nos órgãos

municipais competentes;

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� Detalhamento construtivo: são detalhados os acabamentos, cores,

texturas. É uma das fases mais dispendiosas do projeto, pois alguns acabamentos

são muito caros;

� Orçamento: são contratados os demais profissionais para a construção

da casa que fazem projetos adicionais, de estrutura, hidráulica e elétrica, e

orçamentos. Não se pode começar uma obra sem saber quanto a mesma irá custar.

Projetar de maneira sustentável requer projetos interdisciplinares. Cada

membro da equipe de planejamento deve ter uma especialidade e uma função,

sendo ele responsável por seu campo de atuação. A equipe deve ser formada pelos

proprietários, especialistas de projetos – arquitetos, engenheiros estruturais, civis, ar

condicionados, hidrossanitários, construtores, empreiteiros – e, por último, pelos

usuários, zeladores e administradores. Quanto mais especificidades um

empreendimento obtiver, mais profissionais estarão trabalhando em seu

planejamento. É importante saber que não existe um projeto completamente

sustentável, mas sim o estudo dos aspectos inerentes a uma edificação, até que se

chegue à melhor opção de sustentabilidade (KEELER, 2010).

Os projetos devem prever o menor uso de energia elétrica possível,

fazendo uso de soluções arquitetônicas. O projeto das edificações deve ter como

base os seguintes princípios: projetar para o clima; projetar para o meio

ambiente social e físico; projetar para a hora do d ia, estação do ano ou vida

útil (ROAF, 2009).

Conforto ambiental e energia não são os únicos fatores a serem

desenvolvidos com a arquitetura sustentável. Outros fatores ambientais, sociais,

econômicos, urbanos e de infra-estrutura também influenciam no edifício. O

programa do projeto arquitetônico e o contexto onde ele está inserido influenciarão

diretamente no projeto. Portanto, a sustentabilidade de um projeto arquitetônico

começa nas primeiras decisões do mesmo, baseada na análise do contexto onde a

casa se insere (GONÇALVES, 2006).

5.1 Projetar para o clima

É um erro comum projetar da mesma maneira em regiões diferentes, pois

os aspectos climáticos são diferentes. Há três aspectos que devem ser estudados ao

projetar uma casa: sol, vento e chuva (LENGEN, 2008).

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Inserir no projeto arquitetônico soluções a partir do estudo das condições

climáticas locais, como temperatura do ar, umidade, radiação solar, ventos, ruídos,

qualidade do ar e iluminação natural minimiza os impactos ambientais gerados pela

arquitetura. Elaborar uma análise climática local é um dos principais processos do

projeto de arquitetura. (GONÇALVES, 2006).

A orientação da casa é fundamental para que se tenha o melhor

aproveitamento da iluminação e ventilação natural. Na zona tropical úmida o sol da

tarde não deve esquentar as áreas de convivência da casa, tampouco os quartos,

não devendo estes ser voltados para o oeste, mas sim para leste. Os ventos devem

levar o ar através da casa de maneira que saiam pela cozinha e área de serviço,

para que o odor da comida e materiais de limpeza não entrem na casa (LENGEN,

2008).

5.1.1 Localização e aspectos geográficos

Topografia é a ciência que estuda os acidentes geográficos resultantes

dos processos geológicos e orgânicos que dão forma à Terra. O levantamento

topográfico de uma região traz informações como localização geográfica, medidas,

área, relevo e altitude, representadas em plantas baixas. O fator latitude

corresponde à distância entre um local e a linha do Equador, quanto mais distante

do equador e mais perto dos polos se estiver, menor será a temperatura do ar. A

longitude determina em qual das 24 zonas horárias está uma localidade. O fuso-

horário foi criado para que seja possível saber se é dia ou noite em um lugar, tendo

como ponto zero a cidade situada no centro do planeta, Greenwich, Inglaterra.

Altitude é a distancia vertical entre o solo e o nível do mar. Este aspecto influencia

diretamente na temperatura, pois quanto maior a altitude, menor a temperatura, pois

o ar mais rarefeito absorve menos radiação solar (LAMBERTS, 2011).

O município do Recife, com área um pouco superior a 218 km², está

localizado 08° 03' 14'' ao sul do Equador e 34º55'00'' a oeste do meridiano de

Greenwich e quatro metros acima do mar (RECIFE, 2012).

O Recife foi construído sobre uma planície flúvio-marinha, entrecortada

por diversos rios e rodeada por colinas, formando um arco de um lado a outro da

cidade (Figura 01). Os principais rios que cortam a cidade são o Capibaribe e o

Beberibe. Por ser repleta de rios, a cidade é formada por ilhas e penínsulas, além de

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possuir várias áreas de alagamento e mangues, com alguns bairros formados por

ilhas isoladas até os dias atuais. Não é aproveitado, no entanto, o potencial das vias

fluviais para transporte alternativo, a pesar da saturação das ruas e avenidas.

Figura 01: Mapa com relevo e rios do Recife.

Fonte: Google Maps, 2012.

A vegetação, além de proporcionar sombra, auxilia na umidificação do ar,

filtra poluentes e absorve radiação solar, sendo um importante aliado para aprimorar

um microclima. O Recife possui áreas importantes de vegetação preservada, sendo

as principais delas o Jardim Botânico do Recife, no Curado, o Parque dos

Manguezais em Boa Viagem, o Parque de Dois Irmãos, na Zona Norte e a Mata do

Engenho Uchôa, na Zona Sul da cidade.

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Os censos demográficos de 2000 e 2010, constataram que a população

da cidade aumentou de 1.422.905 para 1.537.704 habitantes, o que corresponde a

um acréscimo de 8% da população. O incremento no número de habitantes

provocou mudanças morfológicas na cidade, aumentando sua densidade e

verticalização (IBGE 2012).

De acordo com a Prefeitura da Cidade do Recife, 2012, a capital do

Estado de Pernambuco é uma das três maiores cidades da região Nordeste. Por ser

o centro da Região Metropolitana do Recife a cidade é uma síntese dos aspectos da

região. A Assembleia Legislativa de Pernambuco, em 2012, ampliou a Região

Metropolitana do Recife, sendo a mesma atualmente formada por 17 municípios:

Jaboatão dos Guararapes, Olinda, Paulista, Igarassu, Goiana, Escada, Sirinhaém,

Abreu e Lima, Camaragibe, Cabo de Santo Agostinho, São Lourenço da Mata,

Araçoiaba, Ilha de Itamaracá, Ipojuca, Moreno, Itapissuma e Recife.

5.1.2 Aspectos Climáticos

Conforme relata Lamberts (2011) o homem vive dentro de um ambiente

que o faz sentir diferentes sensações, de frio, calor, umidade. Sentir em um

ambiente a sensação adequada, capaz de satisfazer uma pessoa é ter conforto

térmico. Caso a temperatura não esteja adequada, a pele humana possui

mecanismos de regulação da temperatura, que dilata vasos e provocando

transpiração ou contrai vasos e causando arrepio e tremores. A atividade

desenvolvida em um ambiente afeta diretamente a sensação térmica, uma vez que

está havendo troca de calor entre o corpo e o ambiente. Existem algumas variáveis

na percepção térmica, algumas humanas e outras ambientais. As variáveis

ambientais são temperatura do ar, temperatura radiante média, velocidade e

umidade relativa do ar, enquanto as humanas são a aceleração do metabolismo de

acordo com a atividade praticada e a vestimenta. Alguns outros fatores como sexo,

idade, raça e hábitos alimentares podem também influenciar na sensibilidade de

uma pessoa.

O clima nasce a partir da interação de diversas variáveis ambientais que

caracterizam as condições atmosféricas. Dentre as variáveis estão temperatura,

umidade, chuvas, radiação solar e ventos. Usualmente o clima é classificado em três

escalas: macroclima, mesoclima e microclima. Na primeira são observadas as

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características de uma região, através de estações meteorológicas, por meio da

observação continuada e comparação. As alterações locais de radiação solar,

temperatura do ar, umidade e vento são contempladas em ambos o mesoclima e o

microclima. No mesoclima, correspondente à um ponto mais específico, fatores

como altos índices de poluição ou pouca vegetação influenciam no aumento de

temperatura. No microclima são tratados mais diretamente a casa em questão e seu

entorno, influenciados pela vegetação e construções vizinhas, além das outras duas

escalas climáticas (LAMBERTS, 2011).

Figura 02: Mapa com o clima de Pernambuco.

Fonte: IBGE, 2012.

A cidade do Recife está localizada entre os Trópicos de Câncer e

Capricórnio, no litoral do nordeste brasileiro, possuindo, portanto, clima tropical

quente e úmido, conforme observado na Figura 2.

O clima tropical quente e úmido caracteriza-se por um clima quente de

alta umidade do ar, com temperatura máxima de 35ºC e baixa variação de

temperatura entre o dia e a noite, e presença de bastante vegetação (LENGEN,

2008).

5.1.2.1 Temperatura

O principal fator na determinação do conforto térmico é a temperatura. A

troca de calor do corpo com o ambiente e a atuação dos mecanismos reguladores

do homem são a demonstração da sensação do conforto. A temperatura do ar

ocorre a partir da reflexão dos raios solares que, absorvidos pela superfície que

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atingiu, se transformam em calor. De acordo com o material e cor pode-se ampliar a

reflexão ou absorção dos raios do sol, alterando o aquecimento do ar. As grandes

cidades sofrem de um fenômeno chamado Ilha de Calor, que é o aumento da

temperatura do ar, principalmente à noite, provocado pela liberação do calor

absorvido pelas edificações durante o dia, acabando com o resfriamento noturno

(LAMBERTS, 2011).

Gráfico 01: Umidade e temperatura no Recife de 01 de janeiro a 31 de dezembro de 2012.

Fonte: INMET, 2012.

A temperatura do Recife sofre poucas variações ao longo do ano. Em

2012, por exemplo, a temperatura máxima foi de 28,93ºC e a mínima foi de 21ºC

(Gráfico 01). Pela baixa variação de temperatura é possível afirmar que a cidade não

possui as quatro estações do ano bem definidas, sendo apenas um período mais

quente e outro mais ameno. Os meses mais quentes do ano são de novembro a

maio e os mais amenos de junho a setembro.

5.1.2.2 Umidade e precipitações

As condições de conforto são influenciados pela umidade do ar. A

umidade mede a quantidade de água em forma de vapor presente no ar, sendo

maior conforme a temperatura ou proximidade ao Equador, oceanos, mares, rios e

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grandes extensões de vegetação. A topografia e a ocupação urbanas são fatores

que também podem influenciar na umidade do ar. De acordo com a temperatura do

ambiente, há um percentual máximo de umidade que o ar suporta. Uma vez

saturado, isto é, acima do limite, o vapor excedente passa para o estado líquido ao

tocar uma superfície, aumentando a temperatura da mesma. A umidade do ar

influencia na pluviometria de uma cidade e no aparecimento de nuvens

(LAMBERTS, 2011).

Gráfico 02: Precipitações no Recife de 01 de janeiro a 31 de dezembro de 2012.

Fonte: Inmet, 2012.

Recife tem uma média anual de 80% de umidade, diretamente

influenciada pela proximidade com o mar e sua temperatura quente. No Gráfico 01 é

possível observar que por poucas vezes a umidade do ar esteve abaixo de 60%,

sendo a mínima anual 55% e a máxima 93%. Os meses mais quentes do ano são os

mais secos e os mais amenos mais úmidos.

A umidade do ar também é responsável pela formação de nuvens, que

mudam de estado e voltam à superfície terrestre, em forma chuva, granizo ou neve.

Quanto mais próximo do Equador, mais umidade e, por consequência, mais chuvas

(LAMBERTS, 2011).

O Recife possui chuvas intensas, mais incidentes nos meses de junho a

setembro, que aliviam normalmente quando a temperatura começa a aumentar, em

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setembro, conforme observado no Gráfico 02. A precipitação máxima, no ano de

2012, foi de 143mm, no mês de fevereiro, no período de mais altas temperaturas da

cidade.

5.1.2.3 Radiação Solar

A principal fonte de energia é o sol, através da radiação por meio de

ondas eletromagnéticas. A atmosfera atenua a radiação, também reduzida por

partículas em suspensão, como fumaça e poluição. A distribuição destas ondas de

forma irregular influencia os elementos do clima. Ao tocar uma superfície, a radiação

solar é em parte absorvida e a remanescente é refletida. A radiação absorvida

aquece a superfície que tocou, sendo uma importante fonte de calor. A radiação

refletida é responsável pela iluminação, pois é ela que passa pelas janelas e

aberturas (LAMBERTS, 2011).

Figura 03: Carta solar.

Fonte: LAMBERTS, 2011.

A carta solar tem aplicação prática essencial para o projeto de edificações

com maior aproveitamento da iluminação e sombreamento naturais, pois ela dispõe,

a trajetória do sol ao longo do ano e horário do dia, a altitude, ângulo do sol em

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relação ao norte, e o azimute, ângulo entre o sol e o norte geográfico, conforme

podemos ver nas Figuras 03 e 04. Quanto menor a altitude solar, menor o trajeto

percorrido pela radiação e maior a reflexão e a incidência de radiação difusa,

portanto maior o calor (LAMBERTS, 2011).

Figura 04: Perspectiva obtida através da análise dos dados da carta solar no emisfério sul.

Fonte: LAMBERTS, 2011.

A partir da observação da carta solar da cidade do Recife (Figura 05),

observamos que o sol nasce a leste e se põe no oeste da cidade, sendo sua altitude

baixa, o que aumenta a temperatura local pois há maior incidência de radiação

indireta. Os dias são um pouco mais longos no verão do que no inverno, havendo

baixa variação de altitude do sol durante o ano, não havendo grandes diferenças de

radiação solar e, portanto, de temperatura.

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Figura 05: Carta Solar da Cidade do Recife

Fonte: Programa Sol-Ar desenvolvido pelo Labeee, 2012

5.1.2.4 Ventos

A constante mudança de pressão na atmosfera são responsáveis pela

ocorrência dos ventos. Conforme o ar que se encontra na superfície vai aumentando

de temperatura, se expandindo, diminuindo de pressão e se elevando, dando

espaço para um ar mais denso e fresco. A circulação do ar faz com que o vento se

desloque tanto vertical quanto horizontalmente, pois há massas de ar menos

quentes e mais quentes na superfície. Próximo ao mar a troca de ar horizontal, ou

local, acontece do mar para a terra, pois a terra está mais quente e a noite o

processo é invertido. Topografia, altitude e rugosidade do solo são fatores que

alteram os ventos, pois alteram sua trajetória e velocidade, podendo canalizar ou

desviar os ventos (LAMBERTS, 2011).

No clima brasileiro a ventilação é apontada como estratégia mais eficiente

de melhoria da sensação de conforto térmico, pois facilita as trocas de calor e

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acelera a evaporação do suor. Aproveitar eficientemente as correntes naturais de ar

auxilia também na diminuição do consumo energético. A passagem de ar através

dos edifícios é conhecida, portanto, como ventilação natural. Para tal, são

necessárias aberturas de entrada e saída de ar e diferença de pressão interna,

conforme será detalhado adiante (BITTENCOURT, 2004).

Figura 06: Rosa dos Ventos da Cidade do Recife

Fonte: Programa Sol-Ar desenvolvido pelo Labeee, 2011

A rosa dos ventos é uma ferramenta onde é possível observar a

probabilidade de ocorrência dos ventos e suas velocidades de acordo com as

estações do ano. A rosa dos ventos do Recife (Figura 06) mostra a predominância

de ventos provenientes do Sudeste e Sul durante o outono e no inverno e Sudeste,

Leste e, em menor volume, Nordeste durante a Primavera e o Verão.

Deve-se destacar que edificações são também barreiras físicas, podendo

canalizar ou desviar os ventos. É necessário atentar para a posição dos ventos para

que se possa aproveitá-los sem prejudicar aos demais habitantes da cidade. A

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ventilação natural auxilia também na dispersão da poluição e do aquecimento

gerado pelas Ilhas de Calor (LAMBERTS, 2011)

5.1.2.5 Orientação da casa

Conforme foi possível observar a partir da análise da temperatura,

umidade, precipitação, radiação solar e ventos, o sol da manhã é melhor recebido

por um ambiente do que o sol da tarde, pois o ambiente ainda não absorveu o calor

da radiação. Sendo assim, na cidade do Recife, que possui clima quente e úmido

com baixa variação de temperatura ao longo do ano, as áreas sociais e íntimas da

habitação – salas e quartos, ambientes de uso prolongado – devem estar voltadas

para o leste, recebendo o sol matinal, e para sudeste, para que receba maior

ventilação natural. As áreas de serviço e cozinhas, por serem ambientes de menor

tempo de uso, podem estar no oeste da edificação, devendo ser projetadas para que

os ventos saiam por lá, evitando que os odores não voltem para dentro de casa.

5.2 Projetar para o meio ambiente social e físico

Uma casa é uma parcela do ambiente construído de uma cidade. Para

que esta residência seja sustentável, deve buscar o aumento da qualidade urbana e

ambiental em sua constituição. A busca da sustentabilidade deve ocorrer não

apenas em uma edificação especifica, mas também nos espaços públicos e na

região do entorno.

5.2.1 Forma da casa

A casa deve se moldar ao ambiente existente, valorizando vegetação e

elementos naturais, evitando ângulos agudos ou curvas que sejam apenas para dar

uma forma interessante ao projeto. O estudo da localização do lote tona possível

que as diretrizes do projeto sejam traçadas para valorizar aspectos locais de

insolação e ventilação. A ventilação do terreno não depende apenas da direção dos

ventos de onde o mesmo se encontra. É indispensável analisar se há barreiras

físicas, sejam estas naturais como montes e árvores, ou artificiais, construções, pois

elas influenciam na direção da ventilação e no sombreamento (VENÂNCIO, 2012).

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Figura 07: Reflexão dos raios solares incidindo em telhados, fachadas e ruas.

Fonte: LENGEN, 2008

O modelo atual de projeto é baseado em fachadas planas e de vidro,

telhados planos e ruas de asfalto e com vegetação reduzida (FIGURA 07 A). No

momento que o sol toca a fachada de vidro reflete para as demais edificações e

ruas, quando bate no teto plano é espelhado novamente na fachada de vidro e na

via, a rua absorve o calor dos raios e o irradia para as edificações. Toda vez que o

sol toca uma superfície calor é absorvido, quanto mais este fato acontece, maior a

temperatura da área tocada. Proteger e pensar na saída do calor do ambiente são

as soluções para este problema. Em uma fachada irregular os raios solares são

menos refletidos, tetos inclinados desviam os reflexos fazendo os mesmos

diminuírem de intensidade e árvores podem proteger a via da incidência solar

(Figura 07 B). As fachadas irregulares também auxiliam na circulação do vento por

dentro da casa, pois aumentam sua movimentação. Integrar os elementos presentes

dentro do terreno é uma tarefa da localização do projeto da casa. A forma da casa

pode influenciar na integração e no conforto interno (LENGEN, 2008).

A casa faz parte de um lar. Os acessos, os jardins, os portões, os muros,

as áreas de lazer também fazem parte desta residência. O trajeto feito do portão até

o imóvel tem extrema importância, pois determina a sensação de chegar em casa. A

edificação deve estar apta a atender as demandas de seus moradores ao longo da

vida, crianças correndo e brincando, adolescentes buscando espaço próprio, adultos

e idosos e pessoas com mobilidade reduzida (ROAF, 2009).

Visto que as necessidades dos moradores de uma residência mudam ao

longo dos anos, a mesma deve prever estas modificações. Referindo o capítulo

antecedente, a residência deve ser acessível à todas as pessoas, sem importar a

A B

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idade, o sexo ou sejam portadoras de deficiência ou mobilidade reduzida. O projeto

adequado deve prever a inexistência de barreiras físicas, para permitir o acesso à

todos.

Os espaços internos à uma casa dependem do modo de vida de seus

habitantes, os usos que lhes serão dados e até mesmo os móveis que estarão

dentro dele. Uma distribuição adequada dos cômodos pode privilegiar ambientes de

uso prolongado em detrimento de circulações, por exemplo. Um projeto deve

começar com os menores tamanhos imaginados para os compartimentos e ir

aumentando conforme o projeto permitir. Todas as opções de organização devem

ser exploradas, com a finalidade de obter a melhor solução para aquele projeto.

Diversos fatores regionais podem influenciar na forma da casa. Entre estes estão a

forma do terreno, os materiais, a mão-de-obra e sua qualificação, os dispêndios, o

tamanho da família que irá morar na casa e o clima da região (LENGEN, 2008).

As plantas baixas de residências situadas em países de clima quente

devem ter proporção que valorize a área de superfície em detrimento do volume,

pois necessitam ser liberar calor. As paredes voltadas para o sol devem receber

proteção e as aberturas devem estar em locais opostos para promover a ventilação

cruzada– que entra por um lado do cômodo e o atravessa (ROAF, 2009).

Na figura 08 é possível observar alguns exemplos eficientes de ventilação

cruzada: janelas de diferentes alturas e aberturas na parte inferior da porta, janelas

de entrada mais baixas que as de saída e árvores forcando a brisa a descer.

Figura 08: Ventilação cruzada eficiente.

Fonte: LENGEN, 2008.

Pesquisas relatam que espaços ambientalmente mais flexíveis devem ser

buscados, adaptáveis aos usos, às mudanças climáticas, aos moradores. A

acomodação das necessidades da população que usa o edifício é que vai

determinar o quanto serão requeridos os sistemas ativos de climatização. O projeto

do imóvel difere de acordo com o uso pretendido da refrigeração artificial, se for o

tempo inteiro da ocupação, se for parcial ou se excluir os sistemas de arrefecimento.

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Observar o ruído e a poluição a partir do terreno onde será construída a casa são

determinantes do uso da ventilação natural, pois elevados níveis de ambos a

inviabilizam janelas abertas. A iluminação natural não sofre deste problema, sendo

facilmente solucionada com a colocação de vidros (GONÇALVES, 2006).

A incidência de radiação solar no edifício pode ser reduzida entre 60% e

90% fazendo o uso de vegetação. As plantas absorvem parte da radiação solar para

realizar a fotossíntese e a movimentação de ar entre folhas das retira do mesmo o

calor absorvido do sol (LAMBERTS, 2011).

A melhor proteção dos raios do sol para uma residência são as plantas e

árvores, mantendo o ar fresco em volta de sua copa. Árvores devem ser altas e

próximas das edificações para que direcionem a brisa fresca para a altura das

janelas. Cercas vivas e outras plantas podem ser posicionadas para direcionar o

vento para dentro da casa, devendo estar mais distantes para que o vento possa

voltar a descer depois de tocá-las (LENGEN, 2008).

Árvores e plantas existentes em um terreno devem ser, sempre que

possível, mantidas, pois podem auxiliar no sombreamento e resfriamento da

edificação. Árvores podem ser estrategicamente plantadas ao redor da casa para

proteger aberturas da incidência solar direta. Gramados ao redor da casa diminuem

a reflexão dos raios solares, portanto a temperatura. Jardins internos à casa podem

trazer não apenas conforto térmico, mas também visual (VENÂNCIO, 2010).

A vegetação a ser usadas nos jardins deve ser adequadas à região, pois

assim necessitará de baixa manutenção. Os jardins devem ser criados para ter baixa

demanda de água e devem ser constituídos de vários tipos de plantas, para que

uma supra as necessidades da outra. Proteger as raízes ajuda a manter a umidade

natural do solo (KEELER, 2010).

É necessário achar o equilibro entre a paisagem natural e o ambiente

construído, de forma que o segundo não destrua o primeiro. Os jardins sombreados

das casas devem seguir para as ruas, estacionamentos e parques, se encontrando

com a vegetação das praias e campos.

5.2.2 Método construtivo

O método construtivo a ser escolhido para uma edificação deve levar em

consideração os aspectos tratados a respeito de materiais construtivos no capítulo

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passado. Alguns aspectos a serem estudados durante esta especificação são

voltados unicamente para a fase construtiva da casa, sendo importante que o

método seja facilmente adquirido, para que o construtor não dependa de um único

fornecedor, e a mão de obra local tenha treinamento adequado para trabalhar com

aquele método. As características de um material devem ser levadas em detrimento

do uso da edificação. Por exemplo, uma casa não necessita ser construída com

vigas de aço, que tem custo elevado e necessitam de mão de obra especializada,

podendo ser construída com madeira. No entanto, um teatro necessita que não haja

pilares atrapalhando a vista do palco, sendo então o material adequado. Nem

sempre o material adequado para uma residência é adequado para outra, pois há

necessidades diferentes de dimensões e manutenção. A madeira tem uma

manutenção elevada e menor durabilidade se comparada com aço, pois requer

aplicação constante de vernizes e tratamentos para aumentar sua durabilidade,

enquanto o aço necessita de proteção contra fogo e ferrugem, com menor

necessidade de aplicação.

Existem algumas técnicas construtivas alternativas que podem ser

utilizadas na construção de residências. No entanto, estas técnicas são inviáveis

para construção em larga escala, uma vez que utilizam materiais disponíveis no

terreno onde será edificado.

A taipa, também conhecida como pau-a-pique é um método de construção que

consiste em barro colocado sobre uma trama de madeira para servir de molde para

paredes, com aproximadamente cinqüenta centímetros de espessura depois de

finalizado. Devido à grande espessura de suas paredes as construções possuem

uma inércia térmica, que é a não transmissão de calor de fora para dentro da

edificação, sendo um ótimo regulador climático. Sua resistência é boa não apenas

em períodos de chuva, mas também em climas úmidos e temperaturas baixas

(CORRÊA, 2006).

O Adobe surgiu como alternativa ao uso dos tijolos comuns, pois não

fazem uso de lenha para ser queimados. Ampliando suas vantagens, os tijolos de

Adobe possuem menor custo, melhor comportamento térmico e acústico, além de

uma maior possibilidade de formas e dimensões. O Adobe consiste em um tijolo

maciço, sem furos, formado pela mistura de barro, areia, palha e água, colocados

para secar ao sol até endurecer (LOURENÇO, 2002).

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Quando a terra para o tijolo de Adobe se encontra disponível no local

onde será realizada a obra, há uma imensa redução de custos com transporte e

combustível com tijolos. A mão-de-obra usada em sua produção não necessita de

especialização, não há consumo de energia em sua fabricação e a água consumida

com a produção destes tijolos chega a ser sessenta vezes menor que a consumida

com concreto. A grande desvantagem do método, no entanto, é a fragilidade de seu

material em contato com a água, por conta de sua composição (CORRÊA, 2006).

Figura 09: Construção em Superadobe.

Fonte: Arquivo pessoal, 2009.

A partir dos tijolos de Adobe, foi desenvolvida a técnica de Superadobe,

conforme observado na Figura 09, que consiste em encher sacos de polietileno com

argila, empilhando-os desde a fundação da edificação, permitindo construção de

paredes, com execução simples e de fácil aprendizado (ISOLDI, 2008). Pode ser

usada para o Adobe e o Superadobe a terra do local da obra, evitando custos com

transporte ou fornos à lenha para queimar os tijolos. Uma limitação vertical é imposta

pelo método, não sendo possível realizar construções com mais de um pavimento,

pois não existem outros elementos estruturais. Assim como o Adobe, o Superadobe

possui certa fragilidade com relação à água (CORRÊA, 2006).

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Figura 10: Treliça espacial em bambu, a ser coberta por lona.

Fonte: Arquivo pessoal, 2009.

Muito utilizado na arquitetura asiática, o bambu é um excelente material

construtivo (Figura 10). Sua exploração pode colaborar e muito na preservação dos

recursos naturais, pois são as plantas de mais rápido crescimento do planeta. O

bambu, por suas características estruturais, possui uma resistência superior à do

aço, com sua compressão, flexão e tração tendo sido amplamente ensaiadas em

laboratório. O bambu pode ser aplicado em quase todas as partes de uma edificação

– piso, paredes, pilares, telhados, portas e janelas – com um ótimo isolamento

térmico e acústico e leveza e flexibilidade que nenhum outro elemento construtivo

possui. A amarração entre diferentes varas de bambu pode ser feita de diversas

maneiras: com amarras de tiras de bambu, encaixe de canos de bambu, conexões

com pinos e nós de aço. O bambu não é, no entanto, normatizado cientificamente, o

que dificulta a sua produção em larga escala (OLIVEIRA, 2006).

5.3 Projetar para a hora do dia, estações do ano ou vida útil

A função de abrigo da casa tem como objetivo proteger o homem do sol,

da chuva e dos ventos. Muitas vezes os recursos naturais são mal aproveitados, não

sendo beneficiada a residência pelos pontos positivos nem amenizados ou

corrigidos os negativos. As condições locais devem ser equilibradas e integradas ao

meio ambiente, através dos tetos, pisos e paredes (LENGEN, 2008).

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5.3.1 Paredes e cobertas

As paredes das residências situadas em clima tropical úmido devem ser

delgadas, para evitar que retenham umidade. Impedir que os raios de sol toquem

diretamente as paredes é importante para amenizar a temperatura interna da casa,

pois conforme vai recebendo sol vai absorvendo o calor e esquentando de fora pra

dentro, até que o calor passe para o ambiente. Usar telhados altos e com beirais

amplos, colocar árvores e plantas para proteger as paredes, voltar as paredes mais

compridas para o norte e o sul ou pintar a casa de branco são bons artifícios para

esta proteção (LENGEN, 2008).

As tecnologias atuais fazem com que poucos sejam os projetos que as

paredes possuem função estrutural. No entanto, as paredes continuaram compactas.

Paredes constituídas por cobogós, protegem o ambiente interno do sol sem barrar

os ventos (Figura 11). Podem ser utilizados com a mesma função os para-sóis e

muxarabis. As portas devem ter elementos vazados, para a entrada da ventilação e

da luz. Estas ferramentas precisam amparar não apenas o sol mas também as

chuvas (HOLANDA, 1976).

Figura 11: Três tipos diferentes de cobogós, do tradicional aos retrôs.

Fonte: STRUCKEL, 2012.

As paredes da casa devem ser protegidas da incidência direta do sol, do

calor, das chuvas e da umidade. Terraços, varandas, pérgolas, jardins sombreados

são formas mais comum de proteger as paredes. A arquitetura moderna criou

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platibandas que transformam a fachada em um plano, estando este exposto ao sol

(HOLANDA, 1976).

Figura 12: Edifício Parque Guinle, Rio de Janeiro.

Fonte: HOMRICH, 2012.

Um prédio muito interessante e que serve de exemplo de como proteger

fachadas é o Edifício Parque Guinle, no Rio de Janeiro (Figura 12). Sua fachada

principal, voltada para um jardim com árvores frondosas, é toda protegida por um

terraço, com diferentes tipos de fechamento. O arquiteto Lúcio Costa deixou

varandas abertas mas também protegeu-as com cobogós de diferentes tipos e

pérgolas, deixando sempre espaços abertos para a apreciação da paisagem.

Em climas tropicais e úmidos os telhados deverão ser inclinados, para

aumentar a reflexão dos raios solares. Outros artifícios de projeto também podem

ser usados para proteger as paredes da incidência direta do sol: telhados que

passem além das paredes, formando beirais; árvores que produzam sombras;

colocação de plantas que subam na fachada e a protejam do sol; pintar de branco as

paredes e tetos; projetar fachadas irregulares que protejam a si mesmas; tetos

inclinados que reflitam a luz de forma irregular e permitam que a chuva escorra.

Edificações próximas e com muitas janelas em vidro refletem calor, assim como

espelhos d’água muito próximos e pisos externos escuros (LENGEN, 2008).

O telhado pode ser pintado com cores claras e reflexivas, ajudando a

diminuir a temperatura interna da residência em até 6°C, pois a cor branca reflete

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até 80% dos raios solares. Uma alternativa ao branco são as paredes e telhados

verdes, grandes aliados ao resfriamento interno do ambiente. As telhas são

substituídas por um sistema de drenagem e terra para plantio, recebendo plantas de

porte adequado, podendo ser também estendido para as paredes. A adição de um

jardim à coberta das edificações favorece a queda de temperatura interna aos

ambientes, reduzindo o consumo energético. Outros fatores aliados deste recurso

são melhora acústica, auxilio no controle da água das chuvas e consumo de cinco

quilos de gás carbônico por metro quadrado de coberta (VENÂNCIO, 2010).

Criar vazados entre o telhado e a laje ou forro auxiliam também a

diminuição de temperatura interna à edificação, podendo ser também aberturas

protegidas para dentro da residência, como lanternins, claraboias e chaminés. A

coberta mais eficiente em termos de absorção do calor ainda é a telha cerâmica.

Pés-direitos altos distanciam o ar quente da área habitada, dando maior conforto

(HOLANDA, 1976).

Figura 13: Casa onde se utilizam bem os recursos de proteção das paredes e telhados.

Fonte: ARKOUS, 2012.

É possível observar vários aspectos de proteção das paredes da casa na

figura 13. O entorno da edificação foi feito com jardins, gramados em alguns locais e

vegetação de porte médio em outras, de maneira que protegesse as paredes do sol.

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Na frente da residência há um espelho d`água sombreado, diminuindo a temperatura

do vento no momento em que ele penetra na casa. As paredes são revestidas em

madeira, material que não retém calor excessivamente. Os beirais são amplos,

gerando uma sombra imediatamente antes às paredes, estando os vidros da

incidência solar direta por este sombreamento. As cobertas, em telhado verde,

ajudam a diminuir a temperatura interna da casa. No pavimento superior é possível

observar um pequeno vão entre o telhado verde e a residência, formando um

telhado ventilado.

5.3.2 Janelas e portas

Aberturas são elementos importantes para que a iluminação e a

ventilação naturais sejam valorizadas e adequadas. Janelas grandes entram muita

luz, mas também mais calor. Orientar a casa para o lado que o sol nasce faz com

que a mesma receba mais luz natural. O projeto deve ser estudado para que a luz

que entra não seja nem exagerada nem pouca, estando as aberturas em

conformidade com a ventilação (Figura 14). Ambientes com luz reduzida são

propícios à aparição de ácaros, fungos, vírus e bactérias (LENGEN, 2008).

Figura 14: Aberturas e proteções contra a iluminação excessiva.

Fonte: LENGEN, 2008.

Conforme relata Lengen (2008) utilizar cores claras no projeto, tanto

internamente quanto externamente, amplia a reflexão dos raios solares e, por

consequência, melhora a iluminação. Os materiais para pisos e paredes devem ser

escolhidos com cautela, pois se forem muito reflexivos irão fazer com que o

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ambiente tenha muita luz, enquanto barreiras externas à edificação, como árvores e

outras edificações, podem prejudicar a entrada de luz em um cômodo. Pisos

externos escuros absorvem o calor e o levam à edificação conforme o calor vai se

dissipando. O excesso de vidro nas janelas pode prejudicar também aos vizinhos,

por refletir os raios solares para as construções adjacentes.

O vento precisa de um lugar para entrar e outro para sair, para que haja

renovação de ar – sai o vento quente e fica o fresco. A melhor solução para tal é a

ventilação cruzada, onde haja uma janela em cada lado do ambiente, estando do

lado onde o vento entra a janela baixa e do outro, preferencialmente, uma janela

alta, para que o vento quente saia. A posição das janelas é importante para que se

aproveite a brisa fresca e retire o ar quente de um ambiente. Entradas de ar devem

sempre estar mais baixas que as saídas, senão o vento que irá entrar será mais

quente que o vento que já está dentro do ambiente. Antes da entrada do vento

podem estar posicionados uma área sombreada – uma varanda ou beiral – ou um

espelho d’água, para auxiliar na diminuição da temperatura dos ventos, aumentando

o conforto interno (VENÂNCIO, 2010).

Caso a única solução adequada para ventilação resulte em luz demais

podem ser usados diferentes modelos de janelas para que se resolva o problema

(Figura 15). As soluções mais comuns de amparo são cortinas e persianas, podendo

também ser treliças, plantas e para-sóis. A altura das janelas varia de acordo com o

uso, para que a ventilação não atrapalhe as atividades realizadas em um ambiente,

como o vento apagar o fogo do fogão, e para que o ar circule melhor. Portas com

venezianas funcionam melhor como ferramentas de ventilação cruzada quando as

venezianas são mais próximas ao piso, para que o ar fresco venha de baixo e saia

pelas janelas mais altas. (LENGEN, 2008).

Figura 15: Acabamentos de folhas de portas e janelas: madeira, treliça, veneziana e vidro.

Fonte: LENGEN, 2008.

Alguns elementos chaves importantes devem ser observados ao se

projetar janelas, compatibilizando iluminação e ventilação. São estes (ROAF, 2009):

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• Projetar iluminação para o centro da casa, com claraboias, aberturas

internas, dutos de iluminação, tetos de vidro e outros artifícios;

• Ter em mente que as janelas não devem ser excessivas, nem em

tamanho, nem em quantidade, e protegidas da luz direta do sol;

• Fazer uso de janelas adequadas ao clima e às necessidades de

iluminação e ventilação, como janelas de folha dupla, sendo uma em

venezianas que deixam passar mais ventilação que luz, e outra de vidro,

que protege do frio e deixa os raios do sol entrar (Figura 16);

• Escolher os materiais adequados para as janelas, para que durem mais e

necessitem de menor manutenção;

• Estudar os reflexos dentro dos ambientes, para que os mesmos não

fiquem excessivamente iluminados e, consequentemente, quentes;

• Aproveitar a vista da janela, sem deixar que ela não possa ser descoberta

ao chegar próximo da janela;

• Planejar as janelas para que não atrapalhem possíveis mucanças no

layout da casa, podendo estar próximos a ela um sofá ou uma cômoda;

• Proteger a privacidade, com janelas que não deixem devassada a vida na

casa para os que passam na rua;

• Graduar os níveis de iluminação natural em diferentes ambientes, criando

um jogo de sombra e luz e valorizando a iluminação conforme o uso.

Figura 16: Janelas antigas de folha dupla, combinando passagem de ventilação e iluminação.

Fonte: Turismo Vale do Café, 2012.

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5.3.3 Escolha dos materiais

Foi detalhado, no capítulo antecedente, como a escolha dos materiais é

importante frente à de sustentabilidade da casa. O principal desafio nesta

especificação é apropriar-se dos benefícios de um material em detrimento da

necessidade de uma edificação. Isto é, nem sempre o material adequado é aquele

conhecido como ecologicamente correto ou alternativo. O recurso deve ser estudado

como será naquela residência e se é ou não viável para satisfazer aquelas

necessidades específicas (GONÇALVES, 2006).

Usar certificações de materiais como base para a escolha é uma boa

forma de assegurar o menor impacto dos produtos designados. Junto com materiais

certificados vem um resumo com as características e informações para execução da

instalação do mesmo. Ainda assim, é indispensável que os profissionais estudem

para que adquiram experiência própria (KEELER, 2010).

5.4 Tecnologias alternativas

Uma residência sustentável não pode deixar nenhum aspecto

aproveitável ser desperdiçado, como pode ser observado na figura 17. A água das

chuvas é recolhida pelas calhas, a luz do sol é captada por painéis solares e os

dejetos viram adubo, integrando o ambiente construído com o natural.

Figura 17: Aproveitamento ideal dos recursos em uma residência.

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Fonte: LENGEN, 2008.

5.4.1 Produção energética

Os sistemas mais comuns de aproveitamento da radiação solar para

redução de consumo energético são os painéis fotovoltaicos e os sistemas de pré-

aquecimento de água, consoante explanado no capítulo anterior.

Sistemas de geração de energia a partir dos raios solares podem atender

de 30% a 70% das necessidades de uma casa. Aproveitar a luz do sol para gerar

energia requer a observação de alguns aspectos climáticos e técnicos locais para

sua viabilidade (ROAF, 2009):

• O clima, o trajeto e a intensidade solar locais ao longo do ano;

• A produção energética necessária para abastecer uma edificação ao

longo do ano, garantindo o conforto térmico de seus habitantes;

• Quais as exigências dos equipamentos captadores de luz solar para a

eficiência de sua produção;

• Os sombreamentos que árvores e edificações podem provocar.

5.4.2 Consumo de água

No capítulo precedente foi destacada a indispensabilidade da redução no

consumo de água, uma vez que o recurso na forma potável está em escassez. As

medidas de conservação de água muitas vezes são atreladas à redução dos

padrões e mudança de hábitos. No entanto, o desempenho dos equipamentos é na

verdade o principal redutor de consumo. Economizar requer fazer uso com menor

frequência, o que é válido. No entanto, o ideal é tornar o uso mais eficiente,

realizando com menos água uma determinada tarefa. Algumas tecnologias são

capazes de misturar água e ar reduzindo o fluxo de água sem diminuir a eficiência

do sistema. É possível tanto reaproveitar quanto reciclar a água, sendo que o

primeiro processo requer menor tratamento. As águas usadas provenientes das

torneiras, chuveiros, bacias sanitárias, banheiras, lavadoras de roupas e louças

adquirem substâncias depois do seu uso como sabonetes e sabões, óleos, produtos

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químicos, excrementos humanos e matéria orgânica. Por conta da presença de

impurezas esta água pode ser reutilizada para fins não potáveis depois de passar

por tratamentos de purificação. A água pode ser reusada para descargas, aguar

jardins, lavar calçadas e carros. Assim como as águas residuais, a água da chuva

não é pura, pois retém a poluição urbana, podendo ser captada através dos telhados

e pisos elevados e utilizada para os mesmos fins que a água servida (ROAF, 2009).

A captação da água da chuva a partir de jardins amplia sua qualidade,

pois o solo e as raízes filtram-na. Quanto mais rápido o crescimento de uma planta,

mais ela filtrará o solo, incorporando as impurezas à sua biomassa (KEELER, 2010).

5.4.3 Redução, reuso e reciclagem do lixo

O lixo doméstico e os resíduos da construção civil trazem impactos ao

ambiente diariamente. No capítulo passado foi descrito como o descarte inadequado

traz poluição aos solos, águas e ar. Os contaminantes seguem nos seres vivos,

entrando na cadeira alimentar e chegando ao corpo humano. Reduzir a produção de

lixo parte na compra de produtos cuja embalagem seja reutilizável ou biodegradável.

Reusar significa dar novo uso àquele produto ou embalagem, como transformar

garrafas de vidro em vasos de plantas. Reciclar requer a separação do lixo para que

o mesmo seja direcionado à empresas que usem o mesmo como matéria prima.

10 CONCLUSÕES

A dificuldade de implementação da sustentabilidade percorre toda a

cadeia produtiva, a começar pelo poder público, em especial municipal, que não

legisla a favor do tema. Corroborando com esta afirmação, está o fato que a cidade

ainda não elaborou uma Agenda 21.

Por experiência profissional, o mercado da construção civil na cidade do

Recife, segundo a ótica das construtoras, tem como objetivo principal edificar no

menor tempo hábil e com o mínimo de dispêndio, maximizando o lucro do

empreendimento. Para o consumidor deste mercado, são tidos como valor

agregado: grife da construtora responsável pelo empreendimento; bairro onde o

empreendimento está inserido; dimensão da unidade habitacional e revestimentos

utilizados na mesma; quantidade de vagas de garagem disponíveis para cada

unidade habitacional; muitas unidades habitacionais em um empreendimento, para

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minimizar o condomínio e o custo individual de manutenção; e área de lazer

disponível no empreendimento.

No mercado local ainda não existe a compreensão, nem por parte dos

empreendedores tampouco de seus compradores, dos benefícios de se construir de

maneira sustentável. Há, tão somente, o conhecimento de que o custo inicial será

maior, mas não a valorização do empreendimento e diminuição o custo fixo durante

o uso da edificação contribuindo para a diminuição do consumo de matérias primas

e para conforto dos ocupantes da edificação durante sua fase de uso. Mais uma vez,

esbarra-se na mudança de paradigmas para mudar a forma de projetar e construir

das habitações. Não se pode ter o foco só o retorno financeiro do empreendimento,

uma vez que construir sustentável requer um maior custo inicial. O usuário final deve

começar a cobrar as sustentabilidade, uma vez que será o maior beneficiado.

A fase de projetos é subestimada pelos construtores, fator que acarreta

prejuízos tanto ambientais quanto econômicos. A consonância entre projetos é

inexistente, não sendo os mesmos desenvolvidos simultaneamente, o que termina

gerando modificações. Modificações em projetos ainda na fase de planejamento tem

custos menores, apenas de projetistas. Mudanças durante a obra, no entanto,

resultam no retrabalho e na geração de resíduos – em uma indústria altamente

poluidora.

Edificações sustentáveis requerem projetos desenvolvidos muito antes do

início das obras dos quais façam os profissionais de todas as especialidades a

serem tratadas na edificação. Para que uma edificação seja sustentável, ela precisa

ser planejada como tal e não depende apenas de tecnologia. A arquitetura é capaz

de projetar habitações que sem a influência de outros equipamentos tenha um

menor consumo de energia com uma melhor qualidade de seu ambiente, interno e

externo.

O déficit na demanda por materiais certificados é um empecilho para que

os mesmos se desenvolvam. Os custos altos, dada à baixa procura, não permite que

os mesmos sejam desenvolvidos em larga escala, encarecendo-os ainda mais. A

falta de integração entre os provedores de matéria-prima da cadeia produtiva é

prejudicada tanto pela baixa atuação do poder público quanto falta de interesse dos

próprios fornecedores. O mercado começou a se desenvolver pela pequena

quantidade de consumidores que procuram produtos sustentáveis. Existem

dificuldades a serem superadas neste processo de mutação, uma vez que a

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indústria ainda não está adaptada aos métodos construtivos. Um bom exemplo desta

falta de consonância dos fornecedores dos materiais é construir com blocos de

concreto.

A fabricação de blocos de concreto é feita sem que o bloco precise ir ao

forno à lenha como nos blocos cerâmicos. Este fator, além de economizar a lenha,

faz com que não haja dilatação e deformação dos blocos, sendo o material final

muito mais uniforme. Por ser mais uniforme, não é necessário rebocar, apenas

passar uma camada fina de gesso, emassar e pintar. A obra de uma residência em

blocos de concreto é extremamente limpa, pois os blocos possuem uma modulação.

Existem três tamanhos de blocos, todos com a altura de dezenove centímetros,

sendo o primeiro com 14, o segundo com 29 e o terceiro com 44 centímetros que, ao

acrescentar o rejunte de um centímetro, tornam-se múltiplos de 15 centímetros – 15,

30 e 44. Como o projeto segue esta modulação, os blocos se encaixam como se

fossem lego, não havendo quebra de tijolos, o que resulta em uma obra

extremamente limpa. Os blocos possuem o centro vazado, para que no momento em

que estiverem sendo erguidas as paredes, sejam passadas as tubulações,

praticamente eliminando a quebra de paredes que geram resíduos e retrabalho.

No momento de escolher o piso, no entanto, o método encontra

problemas. Na indústria brasileira não há uma cerâmica que se enquadre na

modulação de quinze centímetros. Todas, para que não possam ser facilmente

substituídas pelas concorrentes, possuem tamanhos imediatamente acima ou abaixo

dos trinta ou quarenta e cinco centímetros que seriam a modulação. Não havendo

modulação, perde-se tempo e material com o corte de cerâmicas para cantos de

paredes. Seguindo a modulação, são deixados espaços corretos para a colocação

de caixas de ar condicionado medindo 60 centímetros de largura por 40 de altura. O

mercado local, no entanto, não disponibiliza caixas de ar condicionado que se

enquadrem nestas dimensões. Todas são maiores, sendo necessário o corte de

blocos para que elas sejam assentadas.

Uma técnica construtiva com a qual estão sendo construídas casas

populares e gera muito menos resíduos que outras tecnologias, poderia ter o

aproveitamento maior de suas vantagens com simples modificações dentro da

própria indústria. A racionalização da construção está longe de ser alcançada no

Brasil. O desperdício não é tratado como um problema, mas como um fato normal e

necessário. Poucos são os resíduos reusados e reciclados na indústria.

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É possível, através da arquitetura, melhorar a qualidade dos projetos para

que as edificações possuam características sustentáveis. Muitas das ferramentas

consistem em estudar métodos de construção passado e adaptá-las à realidade

atual. Obviamente torna-se inviável construir em larga escala casas rodeadas por

terraços em uma cidade que carece de terrenos e tomada por arranha-céus. Mas os

edifícios podem ganhar jardineiras, brises, portas e janelas em veneziana com vidro,

vidros com películas que reflitam o calor, jardins e tetos jardins para amenizar o

microclima, entre outras ferramentas trazidas no presente trabalho.

Desenvolver projetos que protejam a edificação da ação solar direta e

permitam a ventilação natural já melhora a qualidade ambiental da casa. Para os

elementos que não conseguirem ser melhorados sustentavelmente apenas

arquitetonicamente serão buscadas tecnologias alternativas para tal. Deve-se ter em

mente que, quanto mais aspectos forem contemplados, maior será o desempenho

da residência e maior sua sustentabilidade.

Como sugestão para trabalhos futuros, fica a elaboração de um check-list,

no estilo de um questionário, contemplando os elementos detalhados no roteiro do

presente trabalho, de maneira que facilite a percepção dos elementos existentes no

terreno onde será construída a casa e que aspectos poderão ser aproveitados e

desenvolvidos no intuito de ampliar a sustentabilidade da residência.

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