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DIREITOS , DEVERES E RESPONSABILIDADES DOS SÓCIOS SUMÁRIO: 1- Introdução; 2- Pessoas Jurídicas, 2.1- Entes personalizados e despersonalizados; 3- Sociedade Limitada; 4- Sócios, 4.1- Sócios da Sociedade Limitada; 5- Deveres dos sócios; 6- Responsabilidade dos sócios, 6.1- Responsabilidade pelas obrigações sociais, 6.2- Responsabilidade limitada, 6.3- Responsabilidade ilimitada, 6.4- Responsabilidade por irregularidades, 6.5- Responsabilidade subsidiária; 7- Direitos do sócio, 7.1- Direito de voto, 7.2- Direito de retirada, 7.3- Direito de preferência; 8- Considerações finais. 1- Introdução O Direito Comercial é uma matéria muito dinâmica no ramo do Direito Privado, o que se deve em muito ao rápido desenvolvimento tecnológico, que gera mudanças quase que cotidianas na vida das pessoas e, em todas as relações existentes entre estas. É neste passo que as relações empresariais apresentam um dinamismo que torna, podemos dizer, impossível uma situação simultânea da legislação, reguladora dessas mesmas relações. Mas, se diz ser impossível a evolução simultânea, a legislação, contando com o brilhantismo dos doutrinadores e da jurisprudência, não se deixa tornar obsoleta e não permite que toda a dinâmica dessas relações a distancie dos princípios gerais do direito. Princípios estes que dão sustentação a todo ordenamento jurídico, quais sejam: o da boa-fé, o da obrigatoriedade dos

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Page 1: Responsabilidade Dos sócios

DIREITOS , DEVERES E RESPONSABILIDADES DOS SÓCIOS

 

SUMÁRIO: 1- Introdução; 2- Pessoas Jurídicas, 2.1- Entes personalizados e despersonalizados; 3- Sociedade Limitada; 4- Sócios, 4.1- Sócios da Sociedade Limitada; 5- Deveres dos sócios; 6- Responsabilidade dos sócios, 6.1- Responsabilidade pelas obrigações sociais, 6.2- Responsabilidade limitada, 6.3- Responsabilidade ilimitada, 6.4- Responsabilidade por irregularidades, 6.5- Responsabilidade subsidiária; 7- Direitos do sócio, 7.1- Direito de voto, 7.2- Direito de retirada, 7.3- Direito de preferência; 8- Considerações finais.

 

1- Introdução

 

O Direito Comercial é uma matéria muito dinâmica no ramo do Direito

Privado, o que se deve em muito ao rápido desenvolvimento tecnológico, que gera

mudanças quase que cotidianas na vida das pessoas e, em todas as relações

existentes entre estas. É neste passo que as relações empresariais apresentam um

dinamismo que torna, podemos dizer, impossível uma situação simultânea da

legislação, reguladora dessas mesmas relações.

            Mas, se diz ser impossível a evolução simultânea, a legislação, contando com o brilhantismo dos doutrinadores e da jurisprudência, não se deixa tornar obsoleta e não permite que toda a dinâmica dessas relações a distancie dos princípios gerais do direito. Princípios estes que dão sustentação a todo ordenamento jurídico, quais sejam: o da boa-fé, o da obrigatoriedade dos contratos e da sua reciprocidade e o do não enriquecimento ilícito.             Cientes disso, e com vista em que a todo direito há uma obrigação correspondente, busca-se demonstrar no presente estudo os direitos e obrigações dos sócios na sociedade limitada, principalmente por ser esta, segundo estatísticas do próprio DNRC – Departamento Nacional de Registro do Comércio, o tipo jurídico de sociedade mais utilizado no Brasil.

Antes do novo código civil esta matéria era disciplinada pelo Decreto

n.3.708 de 10 de janeiro de 1919, que a intitulava de sociedade por quotas de

responsabilidade limitada. Com as novas determinações do código civil, passou a

ser chamada simplesmente de sociedade limitada.

Sua utilização expressiva historicamente vem se dando em decorrência,

sobretudo do grande atrativo da limitação da responsabilidade dos sócios pelas

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obrigações da sociedade. Com esta característica básica, o patrimônio pessoal dos

empreendedores, como regra, não fica exposto a eventuais insucessos do negócio.

Outro ponto que outrora se destacou como fator de estímulo à utilização da

sociedade limitada, era a simplicidade para a sua constituição, gestão e deliberação

entre os sócios, o que foi sensivelmente alterado pelo novo código civil.

 

 2- Pessoas jurídicas

 

As pessoas jurídicas se dividem em de direito público e de direito privado

(CC/2002, art. 40). Este critério, entretanto, não é de acordo com os recursos

empregados em sua constituição, já que há pessoas jurídicas de direito privado

constituídas   exclusivamente por recursos públicos, como as empresas públicas, e

há pessoas jurídicas de direito público constituídas apenas por recursos

particulares, como, por exemplo, a Ordem dos Advogados do Brasil.

O que diferencia as pessoas jurídicas de direito público e privado é o regime

jurídico a que se submetem. As primeiras – União, estados, autarquias etc – são

encontradas no âmbito de disciplina do direito público, e as últimas, no do direito

privado. Os interesses das pessoas jurídicas de direito público são tratados com

maior importância e, por isso, a estas conferem-se   prerrogativas não oferecidas às

pessoas jurídicas de direito privado. Estas prerrogativas são relacionadas com os

princípios da supremacia e da indisponibilidade do interesse público. Em se

tratando de pessoa jurídica de direito privado, basta o inadimplemento de

obrigação emergente de contrato bilateral para que o outro contratante possa

invocar a exceção (CC/2002, art. 476); já em se tratando de pessoa jurídica de

direito público a mora deve ser superior a 90 dias, prazo   durante cujo decurso

não admite a lei a suspensão das obrigações do contratado (Lei n. 8.666/93, art. 78,

XV).

As pessoas jurídicas de direito privado são divididas em: estatais e

particulares. Esta divisão baseia-se na origem dos recursos empregados em sua

constituição. Quando o Poder Público contribui para o capital, encontram-se as

Page 3: Responsabilidade Dos sócios

estatais – sociedades de economia mista, empresas públicas criadas para

exploração de atividade econômica e fundações governamentais. As particulares

são constituídas apenas por recursos particulares, nesta se encontra a sociedade

empresária.

A fundação, a associação e a sociedade são pessoas jurídicas de direito

privado particular. Na fundação, o instituidor destaca de seu patrimônio um ou

mais bens e manifesta a vontade no sentido de que os frutos da administração deles

sejam empregados na concretização de certos fins, normalmente de relevância

cultural ou social. As associações e sociedades, todavia, têm um traço comum, que

é a união de pessoas com o mesmo objetivo buscando a realização de fins comuns.

Se esses fins são econômicos, a pessoa jurídica é uma sociedade, já se não o são,

forma-se uma associação, que pode ter objetivos culturais, sociais, políticos,

filantrópicos etc.

Os sócios de uma sociedade têm objetivos econômicos, visam o lucro. Existe

a sociedade simples e a empresária. A sociedade simples explora atividades

econômicas específicas, sua disciplina é aplicada também às sociedades

empresárias contratuais e às cooperativas. A sociedade que explora empresa é a

sociedade empresária. Esta desenvolve atividade econômica de produção ou

circulação de bens ou serviços.              

 

2.1- Entes personalizados e despersonalizados

 

A pessoa jurídica deve ser separada dos membros que a compõem. Os

sócios, assim, não são considerados os titulares de direito ou os devedores das

prestações relacionados ao exercício da atividade econômica explorada em

conjunto.

            A personalização da sociedade empresária traz conseqüências, como a

titularidade obrigacional, a titularidade processual e a responsabilidade

patrimonial. Em relação à titularidade obrigacional tem-se a aproximação da

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pessoa jurídica da sociedade empresária e de terceiros, não participando os sócios

desta relação. Quanto à titularidade processual, define-se a legitimidade da pessoa

jurídica para demandar e ser demandada em juízo. Em relação à responsabilidade

patrimonial, observa-se que através da personalização da sociedade empresária há

a separação dos patrimônios desta e dos seus sócios.

            Assim, percebe-se que sócio e sociedade não são a mesma pessoa e que

apenas os bens sociais respondem, em princípio, pelas obrigações da sociedade. O

princípio da autonomia patrimonial vem da personalização das sociedades

empresárias – os sócios não respondem, em regra, pelas obrigações da sociedade.

Por causa deste princípio, investidores e empreendedores são motivados a aplicar

dinheiro em atividades econômicas arriscadas.

            A personalidade jurídica da sociedade empresária começa com o registro de

seus atos constitutivos na Junta Comercial e termina com o procedimento

dissolutório, que pode ser judicial ou extrajudicial. A simples inatividade da

sociedade não significa o seu fim, como pessoa jurídica. A dissolução inaugura-se

com um ato praticado pelo sócio ou pelo Judiciário e prossegue com a liquidação,

que busca a solução das pendências negociais da sociedade, e a partilha, que

distribui para os sócios o acervo patrimonial remanescente, caso houver. Não se

considera encerrada a sociedade dissolvida de forma ilegal, respondendo, assim, os

sócios perante os seus credores pelo ato ilícito que praticaram.

 

3- Sociedade Limitada

 

            A sociedade limitada é o tipo societário que mais se manifesta na economia

brasileira, representando hoje mais de 90% das sociedades empresárias

registradas nas Juntas Comerciais. Seu sucesso se dá devido à limitação da

responsabilidade dos sócios e à contratualidade. Como a responsabilidade do sócio

é limitada, em caso de insucesso da empresa, os sócios podem limitar suas perdas.

E através do contrato as relações entre os sócios podem ser traçadas por suas

Page 5: Responsabilidade Dos sócios

vontades, não tendo os rigores próprios do regime legal da sociedade anônima, por

exemplo.

            O Código Civil de 2002 disciplina a sociedade limitada em capítulo próprio

– arts. 1.052 a 1.087). Há também outras disposições e diplomas legais que se

aplicam à sociedade limitada, já que somente as normas do Código Civil são

insuficientes para regular todas as questões relacionadas a este tipo de sociedade.

            As regras da sociedade simples são aplicadas, em princípio, nas omissões

das normas do Código Civil. A lei das sociedades anônimas pode ser também

aplicada, mas somente se os sócios estipularem expressamente no contrato social.

Quando o Código Civil é lacunoso, poderá o juiz aplicar a lei das sociedades

anônimas, mesmo não sendo este o regime de regência supletiva.

 

4- Sócios

 

            A denominação de "sócio" é usada para nomear o membro da sociedade

empresarial. De acordo com cada tipo de sociedade, encontramos uma

denominação para o sócio. Assim, na sociedade em nome coletivo, diz-se "sócio

solidário"; na em comandita simples, tem-se o "sócio comanditado" ou "sócio

solidário" e "sócio comanditário"; na sociedade de capital e indústria, "sócio de

indústria" ao que participa com seu trabalho; na sociedade em conta de

participação, "sócio ostensivo ou oculto"; nas sociedades por quotas de

responsabilidade limitada, "sócio quotista", e na sociedade anônima o "sócio

acionista" ou simplesmente "acionista".

            Em relação à contribuição do sócio para a formação do capital social,

denomina-se "parte-capital", "contribuição social", "cota capital", recebendo

uma denominação especial apenas nas sociedades anônimas, qual seja "ação".

            Para adquirir a qualidade de sócio, dizem os tratadistas ser necessário que

os contratantes da sociedade tenham a vontade de formá-la. Ulpiano denominou

Page 6: Responsabilidade Dos sócios

esse elemento intencional de "affectio societatis" que é a "cooperação econômica"

(Ripert) ou a "vontade da colaboração ativa dos sócios" (Thaller), tendo em vista o

fim comum, a realização pelo concurso de seus capitais e da sua atividade.

            O sócio pode ingressar na sociedade tanto originariamente, na sua

fundação, assinando o contrato ou ato constitutivo, como posteriormente,

subscrevendo aumento de capital ou substituindo um sócio que se retira, através de

cessão e transferência de sua contribuição social.

            Nas sociedades de pessoas, a pessoa do sócio é mais importante que a

contribuição material que este dá para a sociedade. A cessão da participação

societária depende da anuência dos demais sócios. O ingresso do sócio na

sociedade, obviamente, depende da aceitação dos outros sócios, cujos interesses

podem ser afetados.

            Nas sociedades de capital o que ocorre é o inverso, a personalidade e o

caráter do sócio são irrelevantes para a empresa explorada pela sociedade. O sócio

pode alienar sua participação societária a quem quer que seja, não dependendo da

aprovação dos demais.

            Devido à personalização da sociedade empresária, os sócios têm

responsabilidade subsidiária pelas obrigações sociais. O patrimônio do sócio não

pode ser comprometido para a satisfação de dívida da sociedade, enquanto não

exaurido o patrimônio social (CC/2002, art. 1.024). A única exceção à regra geral

está na sociedade em comum, na qual o sócio que atua como representante legal

responde diretamente.

            Waldemar Ferreira afirma que há, assim na posição dos sócios, nada menos

que situação estável, autêntico estado, no sentido próprio da expressão – estado de

sócio, existente em toda sociedade, de qualquer tipo ou natureza. Tanto a civil

quanto a comercial. Origina-se ele no instante em que ela adquire existência legal

como pessoa jurídica.

 

4.1- Sócios da sociedade limitada

Page 7: Responsabilidade Dos sócios

 

            Normalmente os sócios da sociedade limitada participam do dia-a-dia da

empresa, tomando várias deliberações em se tratando do desenvolvimento da

sociedade sem nenhuma formalidade.

            Em razão da maior importância para a sociedade e repercussão nos direitos

dos sócios e de terceiros, referente a determinadas matérias, a lei prevê algumas

formalidades quando se trata, por exemplo, da designação e destituição de

administradores e da modificação do contrato social. Os sócios para tratar de

matérias formais devem reunir-se em assembléia e cumprir exigência relativa ao

quorum deliberativo legalmente previsto para validade da decisão que tomarem.

            A realização de uma assembléia a cada ano é necessária, para tomar as

contas dos administradores, votar o balanço patrimonial e de resultados e eleger

administradores, caso se tenha exaurido o mandato por prazo determinado. Fala-

se em assembléia quando se trata de sociedade com mais de dez sócios, caso

contrário o que existe é a reunião de sócios.

 

5- Deveres dos sócios

 

O sócio, ao assinar o contrato social, contrai primeiramente a obrigação de

investir na sociedade, determinados recursos, geralmente referidos em moeda.

Falando na linguagem do direito societário: cada sócio tem o dever de integralizar

a quota do capital social que subscreveu.

Ao negociar a formação da sociedade, os sócios devem chegar a acordo

sobre o montante de recursos necessários à implantação da empresa. Caso dos

próprios sócios provenham a totalidade destes recursos, esse montante é o capital

subscrito, é a soma de dinheiro, bens ou créditos prometidos pelos sócios à

sociedade. Outro aspecto necessário de contratação dos sócios ao formar uma

sociedade, diz respeito ao momento em que os recursos prometidos devem ser

Page 8: Responsabilidade Dos sócios

entregues. O capital subscrito pode ser integralizado à vista ou a prazo. Deve os

sócios também definir a quota com que cada um se compromete na sociedade. A

quota subscrita é a prometida por cada sócio, já a quota integralizada é o

montante entregue à sociedade.

O sócio tem, assim, o dever de integralizar a quota subscrita do capital

social, nos termos do compromisso contratual assumido junto aos demais sócios.

Isto é exemplo do mecanismo dos atos de constituição de pessoa jurídica. O sócio

que não cumpre seu dever de integralizar a quota é chamado de sócio remisso. No

Código Civil de 2002 (art. 1.004) o sócio remisso passa a responder sempre pelo

dano emergente da mora, não dependendo da natureza de sua contribuição.

A sociedade pode cobrar o devido do sócio remisso em juízo, ou expulsá-lo.

No caso da sociedade decidir por expulsá-lo, deve restituir ao remisso as entradas

feitas, deduzidas as quantias correspondentes aos juros de mora, cláusula penal

expressamente prevista no contrato social e despesas.

É possível afirmar, mesmo a lei brasileira não o explicitando, que o sócio

tem um dever de lealdade com a própria sociedade e com os demais, manifestado

através da sua colaboração para o sucesso do empreendimento comum. È dever do

sócio colaborar com o desenvolvimento da sociedade, não podendo concorrer com

a mesma nem praticar atos que possam vir a prejudicar a limitada.

 

6- Responsabilidade dos sócios

 

6.1- Responsabilidade pelas obrigações sociais

 

Como já foi visto anteriormente, a personalização da sociedade limitada

traz a separação patrimonial entre a pessoa jurídica e seus membros, as obrigações

de um não correspondem às obrigações do outro. A regra é, assim, a da

Page 9: Responsabilidade Dos sócios

irresponsabilidade dos sócios da sociedade limitada pelas dividas sociais. Esse é o

limite de sua responsabilidade.

Com a limitação da responsabilidade dos sócios, tem-se uma socialização

entre os agentes econômicos, do risco de insucesso. É, no regime capitalista, uma

condição necessária ao desenvolvimento de atividades empresariais.

Os credores com plenas condições de negociar seus créditos, na medida em

que podem, embutir uma taxa de risco ao compor seus preços, não são lesados pela

limitação da responsabilidade dos sócios. Como ocorre com o atacadista, banco etc.

Já com os credores não negociais, a situação não é a mesma, eles não têm meios de

formar seus preços e agregam-lhes qualquer taxa de risco – como no caso do fisco,

INSS, trabalhadores e titulares do direito de indenização. Para eles, a limitação da

responsabilidade dos sócios representa comumente prejuízo.

Há casos excepcionais nos quais o sócio responde pelas dívidas da sociedade.

Um exemplo é o que diz respeito à obrigação pela formação do capital social, mas

os sócios respondem apenas depois de exaurido o patrimônio social.

 

6.2- Responsabilidade Limitada

 

            A regra que explica o nome da sociedade limitada é a de que os sócios

respondem pelas obrigações sociais dentro de certo limite. Este limite da

responsabilidade dos sócios é o total do capital social subscrito e não integralizado

(CC/2002, art. 1.052).

            Há solidariedade pela integralização do capital social entre os sócios da

sociedade limitada, isto quer dizer que os sócios são responsáveis pelo total do

capital social subscrito e não integralizado. Assim, se no contrato social da limitada

consta que o capital social se encontra totalmente integralizado, os sócios não têm

nenhuma responsabilidade pelas obrigações sociais, de natureza negocial.

 

Page 10: Responsabilidade Dos sócios

6.3- Responsabilidade Ilimitada

 

            Existem exceções à regra do direito societário. Nelas, os sócios respondem

com seu patrimônio aos credores da sociedade. A primeira exceção, já vista, é a

relacionada à obrigação dos sócios pela formação do capital social. O segundo

conjunto de exceções se relaciona à tutela dos credores que não têm meios

negociais para preservar seus interesses. São eles o credor fiscal, a seguridade

social, o empregado e o titular de direito extracontratual à indenização.

            O direito positivo brasileiro trata, dentre os credores não negociais, apenas

do credor tributário e da Seguridade Social. Somente eles podem ter tratamento

que afaste a regra da limitação da responsabilidade dos sócios. Na tutela dos

direitos dos consumidores, na proteção da

concorrênchttp://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=2058ia e na repressão à

práticas lesivas ao meio ambiente, a imputação da responsabilidade aos sócios deve

atender aos pressupostos da teoria da desconsideração da personalidade jurídica.

Os empregados e o restante dos credores não negociais devem ter os seus direitos

creditórios sujeitos à regra da autonomia patrimonial, enquanto não editada regra

que os beneficie expressamente.

 

6.4- Responsabilidade por Irregularidades

 

            O terceiro conjunto de exceções à regra da irresponsabilidade dos sócios

ocorre quando os sócios incorrem em ilícitos, sendo assim responsabilizáveis por

obrigações sociais. Isto ocorre com o sentido de sancionar as condutas ilícitas dos

sócios e compreende duas possibilidades – a deliberação dos sócios contraria à lei

ou ao contrato social, e a desconsideração da personalidade jurídica.

            Em se tratando de deliberação dos sócios contraria à lei ou ao contrato

social, o ilícito é manifesto, não se oculta pela imputação do ato à sociedade

Page 11: Responsabilidade Dos sócios

limitada. Para que o sócio seja responsabilizado (art. 1.080 CC/2002) é

indispensável tenha se manifestado por escrito, ao contribuir para a deliberação

que infringiu a lei ou o contrato.

            Na desconsideração da personalidade jurídica a ilicitude é acobertada pela

autonomia patrimonial. Apenas depois da desconsideração do ato, enquanto centro

subjetivo de direitos e obrigações é que considera-se ato ilícito e não ao ser

imputado à sociedade.

 

6.5- Responsabilidade Subsidiária

 

            A responsabilização do sócio na sanção às irregularidades praticadas na

sociedade limitada não depende do prévio exaurimento do patrimônio da

sociedade. É, portanto, uma responsabilidade direta dos sócios. Por outro lado, a

responsabilização do sócio relacionada ao cumprimento do dever de integralizar o

capital social é subsidiária, respondendo o sócio apenas quando não mais existir o

patrimônio social.

            O meio processual cabível para tornar efetiva a responsabilização é no caso

de subsidiariedade, matéria do direito falimentar. O direito cabe unicamente à

união dos credores, tendo a decretação da falência da sociedade como pressuposto.

 

7- Direitos do sócio

 

            O sócio, ao contratar a formação de sociedade limitada, ou ao ingressar

numa já constituída, aliena dinheiro, bem ou crédito de seu patrimônio para o da

sociedade, e agrega-lhe a quota social. Pelo simples fato dos sócios participarem do

capital social da sociedade limitada, adquirem direitos inerentes a esta condição.

Page 12: Responsabilidade Dos sócios

            São direitos do sócio: participar do resultado social, fiscalizar a gestão da

empresam contribuir para as deliberações sociais e retirar-se da sociedade.

Através do contrato, define-se a distribuição dos lucros, mecanismos especiais de

fiscalização da administração e hipóteses de retirada. Mas é também característica

do ato de constituição de pessoa jurídica a pronta vinculação obrigacional entre

sujeito de direito e os participantes do ato. O sócio, ao celebrar o contrato social,

"concorda" com os termos estabelecidos para o exercício dos seus direitos como

sócio.

            A participação nos resultados da empresa representa a principal motivação

para qualquer pessoa se unir a outras, já que os sócios esperam obter retorno do

capital empregado na sociedade.

            Caso o contrato social da sociedade limitada estabeleça a lei das sociedades

anônimas como diploma de regência supletiva e não disciplinar a destinação dos

resultados, pelo menos metade do lucro líquido ajustado deve ser distribuída entre

os sócios, no fim do exercício (LSA, art. 202). Mas se não for contemplada cláusula

neste sentido, a sociedade limitada será regida apenas pelo Código Civil de 2002,

no qual não existe nenhuma regra sobre destinação do resultado. Em se tratando

deste último caso, se o contrato social estabelecer que a destinação será decidida

pelos sócios, sem a fixação de nenhum percentual mínimo para os dividendos, a

distribuição dos lucros será decidida pela maioria societária.

 

7.1- Direito de Voto

 

            Esta matéria submete-se à regência supletiva das normas concernentes à

sociedade simples ou da LSA, expressa no contrato, já que o capítulo do Código

Civil de 2002 referente às limitadas não disciplina o exercício do direito de voto.

            A regra geral é a da prevalência da vontade da maioria, computada

segundo a participação de cada sócio no capital social (CC/2002, art. 1.010). São

proporcionais o número de voto e o valor da quota ou quotas do sócio.

Page 13: Responsabilidade Dos sócios

            Quando o sócio participa de deliberação e tem um interesse contrário ao da

sociedade, a lei prescreve sua responsabilidade por perdas e danos (CC/2002, art.

1.010, § 3°). A anulabilidade da deliberação adotada não existe com a participação

do sócio titular de interesse contrário ao da sociedade, como ocorreria se houvesse

aplicação subsidiária da lei do anonimato, em que esta conseqüência é

expressamente prescrita para o voto conflitante (LSA, art. 115, § 4°).

            Nos tópicos restantes da matéria o exercício de voto pelos sócios se sujeita a

regras semelhantes nos dois regimes de regência subsidiária.

 

7.2- Direito de retirada

 

            O sócio que não tem mais a vontade de continuar na sociedade tem duas

opções em frente. A primeira é a negociação de suas quotas, devendo procurar,

entre os sócios ou junto a terceiros, alguém interessado em adquirir sua

participação societária. Se inexistir oposição de sócio com mais de ¼ do capital

social e se chegar a um acordo relativamente ao preço, formaliza-se no contrato a

substituição do sócio. Entra o cessionário e sai o que cedeu as quotas. Há aí um ato

bilateral, sem a participação da sociedade limitada.

            A segunda opção para o sócio não mais integrar a sociedade é a retirada. É

um direito inerente à titularidade de quotas sociais, denominado também recesso

ou dissidência. A retirada é o direito de o sócio se desligar dos vínculos que o unem

aos demais sócios e à sociedade, por ato unilateral de vontade. Não há, assim,

negociação. O sócio impõe a obrigação de reembolsar o valor da participação

societária à pessoa jurídica.

            O direito de retirada tem seu exercício dependente da limitada ter sido

contratada por prazo indeterminado ou determinado e de acordo com seu subtipo.

Tratando-se de sociedade limitada de vínculo instável, se contratada por prazo

indeterminado, o sócio pode retirar-se a qualquer momento (CC/2002, art. 1.029).

Já, todavia, se contratada por prazo determinado, o sócio não pode se desligar de

Page 14: Responsabilidade Dos sócios

suas obrigações contratadas sem a concordância dos outros sócios, enquanto não

vencido o prazo. Somente se houver causa justa, o juiz pode dar ordem de retirada.

Ou caso tenha sido alterado o contrato contra sua vontade, ou aprovada a

participação da limitada em incorporação ou fusão, o sócio está livre para se

desligar da sociedade.

            Nas sociedades limitadas de vínculo estável, entretanto, a retirada é

admitida apenas se for motivada, independente do prazo de duração. O sócio que

se retira tem o direito de reembolso de sua participação societária, calculado com

base no patrimônio liquido da sociedade. Quando a sociedade recebe a

manifestação do exercício do direito de retirada, define-se a referência para o

levantamento do balanço de determinação, com vistas à apuração do valor do

reembolso.

 

7.3- Direito de preferência

 

            Os sócios, após integralizar todas as quotas subscritas, podem, por maioria

simples, deliberar o aumento do capital social da limitada (art. 1.076,III). Este

aumento poderá ser feito utilizando recursos da própria sociedade – lucros ou

reservas, ou através da subscrição.

            Referente ao aumento do capital social mediante subscrição de novas

quotas, é assegurado aos sócios o direito de preferência. Nos 30 dias seguintes à

deliberação do aumento, adotada em assembléia ou reunião dos sócios, os

interessados em manter a mesma participação proporcional na sociedade devem

manifestar à administração o exercício da preferência – o prazo se conta a partir

da deliberação e tem natureza decadencial. Se o prazo vencer sem a manifestação

de um ou mais sócios, as quotas não subscritas serão oferecidas aos que o

exerceram naquele aumento, também à proporção das respectivas quotas – direito

de acrescer. Restando quotas não subscritas por desinteresse dos sócios, elas serão

oferecidas a terceiros não sócios, definidos pela administração ou pela maioria

societária.   

Page 15: Responsabilidade Dos sócios

 

8- Considerações finais

 

Tem-se, a partir do momento em que a sociedade é constituída mediante

contrato escrito e registrado ou arquivado na Junta Comercial do Estado, o início

da existência da pessoa jurídica de direito privado. Esta sociedade, embora

composta de sócios – pessoas naturais ou pessoas jurídicas, passa a ter "vida

própria", não se confundindo com as pessoas que a compõem, assumindo

obrigações, direitos, podendo ainda ser parte em processos administrativos e em

ações judiciais.

A sociedade, nas relações negociais e operacionais na busca da consecução

de seus objetivos, assume as mais variadas obrigações perante terceiros.

Entretanto, o patrimônio pessoal dos sócios não fica totalmente exposto. Neste

sentido determina o artigo 1.052 do código que na sociedade limitada, a

responsabilidade de cada sócio é restrita ao valor de suas quotas, mas todos

respondem solidariamente pela integralização do capital social.

Para a verificação da responsabilidade dos sócios observa-se que um ponto

importantíssimo nesta questão é o capital social. A obrigação fundamental e

indispensável de cada sócio é a integralização da sua quota de capital. Quando os

sócios assinam o contrato social para constituição da sociedade, naquele ato,

subscrevem as quotas de capital com as quais passará a participar do negócio. Esta

subscrição é a manifestação formal na qual assumem a obrigação de integralizá-la,

ou seja, entrar com recursos na sociedade.

Pode-se efetivar a integralização do capital social em moeda corrente, em

bens ou com direitos a receber (títulos de crédito, etc). A efetiva responsabilidade

de cada sócio é pela integralização de sua quota, respondendo entretanto de forma

solidária com os demais, na hipótese de algum sócio não cumprir com sua

integralização.

Page 16: Responsabilidade Dos sócios

Portanto, os sócios respondem pela integralização de suas quotas de capital

e caso o capital social esteja totalmente integralizado, o patrimônio pessoal dos

sócios não responde por dívidas da sociedade.

Existindo parte do capital social não integralizada os sócios respondem

solidariamente pela quantia que falta para a completa integralização, cabendo

ação de regresso contra o sócio que efetivamente não integralizou sua parte.

Assim, em dívidas da sociedade os credores só podem executar os bens dos

sócios até o limite que falta para a integralização do capital social da empresa. Se a

sociedade falir, por exemplo, e estando o capital social totalmente integralizado, o

prejuízo é dos credores, pois o patrimônio pessoal dos sócios não pode ser

executado.

A série de direitos aos sócios conferidas, pode ser exercida individual ou coletivamente, a bem de seus interesses particulares, tanto quanto em prol da sociedade. Devendo eles estar sempre atentos e prontos a fazê-los valer em juízo ou fora dele.

Os direitos e obrigações dos sócios são pressupostos, mas também

conseqüentes da sociedade empresária, sociedade esta formada por pessoas que,

depois de adquirirem a qualidade de sócios, lhes é garantido em verdadeiro

"status", e é a partir deste que os sócios devem orientar a sua vida enquanto tal.

BIBLIOGRAFIA

ANDRADE JR., Atilla de Souza Leão Andrade. Comentários ao Novo Código Civil – Direito das Sociedades – vol. IV.1a .ed. Rio de Janeiro: Forense, 2002.

 

COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de Direito Comercial, vol. 2, 7a . ed. São Paulo: Saraiva, 2004.

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FORTES, José Carlos. Direito Empresarial. Fortaleza: Editora Fortes, 2004

Page 17: Responsabilidade Dos sócios

MARTINS, Fran. Curso de Direito Comercial. 16ª. ed. Rio de Janeiro. Forense, 1991.

 

REQUIÃO, Rubens. Curso de Direito Comercial. 20ª. ed. São Paulo. Saraiva, 1991.

* Trabalho Acadêmico elaborado pela aluna Mariana Figueiredo Franco – 2º ano do Curso de Direito da UNESP (Franca-SP)