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MARCELO CORDEIRO & ADVOGADOS ASSOCIADOS Quadra 108 Norte, Alameda 08, Lote 07, Palmas – TO, CEP 77.006-110 Fone (63) 3215-5621 e (63) 99973-0520 Página 1 de 18 EXCELENTÍSSIMO (A) SENHOR (A) DOUTOR (A) JUIZ (A) DE DIREITO DA ____VARA DA FAZENDA E REGISTROS PÚBLICOS DA COMARCA DE PALMAS ESTADO DO TOCANTINS DIRETÓRIO METROPOLITANO DO MOVIMENTO DEMOCRÁTICO BRASILEIRO - MDB, órgão de direção local de partido político, inscrito no CNPJ/MF sob o nº 15.719.139/0001-67, com sede na Quadra 110 Sul, Avenida Juscelino Kubitschek, Lote 13, Plano Diretor Sul, Palmas TO, CEP: 77.020-124, por meio de seus advogados que abaixo subscrevem, com endereço profissional indicado no rodapé da página, vem, à presença de Vossa Excelência, com fulcro na Lei nº 12.016/09, na Lei nº 9.394/96, na Lei nº 9.536/97, na Lei nº 11.440/06 e no artigo 206 e seguintes da Constituição da República Federativa do Brasil, e demais legislações que regem a presente matéria, para impetrar o presente MANDADO DE SEGURANÇA COM PEDIDO LIMINAR contra ato da PREFEITA DE PALMAS TOCANTINS, sra. CINTHIA ALVES CAETANO RIBEIRO, com endereço profissional na sede da Prefeitura de Palmas TO, localizada na Quadra 104 Norte, Rua NE 6, 91, Plano Diretor Norte, Palmas - TO, CEP 77.001-036, sendo a pessoa jurídica a qual a Impetrada integra o MUNICÍPIO DE PALMAS TO, inscrito no CNPJ sob nº 24.851.511/0001-85, com sede no endereço mencionado, pelos fatos e fundamentos de direito abaixo concatenados. I DA SÍNTESE FÁTICA 1. Como é cediço, recentemente, a população mundial foi acometida pela pandemia de COVID-19, o que exigiu a adoção de diversas medidas excepcionais para conter a proliferação do vírus.

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MARCELO CORDEIRO &

ADVOGADOS ASSOCIADOS

Quadra 108 Norte, Alameda 08, Lote 07, Palmas – TO, CEP 77.006-110 Fone (63) 3215-5621 e (63) 99973-0520

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EXCELENTÍSSIMO (A) SENHOR (A) DOUTOR (A) JUIZ (A) DE DIREITO DA

____VARA DA FAZENDA E REGISTROS PÚBLICOS DA COMARCA DE

PALMAS – ESTADO DO TOCANTINS

DIRETÓRIO METROPOLITANO DO

MOVIMENTO DEMOCRÁTICO BRASILEIRO - MDB, órgão de direção local de

partido político, inscrito no CNPJ/MF sob o nº 15.719.139/0001-67, com sede na

Quadra 110 Sul, Avenida Juscelino Kubitschek, Lote 13, Plano Diretor Sul, Palmas –

TO, CEP: 77.020-124, por meio de seus advogados que abaixo subscrevem, com

endereço profissional indicado no rodapé da página, vem, à presença de Vossa

Excelência, com fulcro na Lei nº 12.016/09, na Lei nº 9.394/96, na Lei nº 9.536/97, na

Lei nº 11.440/06 e no artigo 206 e seguintes da Constituição da República Federativa do

Brasil, e demais legislações que regem a presente matéria, para impetrar o presente

MANDADO DE SEGURANÇA COM PEDIDO LIMINAR

contra ato da PREFEITA DE PALMAS – TOCANTINS, sra. CINTHIA ALVES

CAETANO RIBEIRO, com endereço profissional na sede da Prefeitura de Palmas –

TO, localizada na Quadra 104 Norte, Rua NE 6, 91, Plano Diretor Norte, Palmas - TO,

CEP 77.001-036, sendo a pessoa jurídica a qual a Impetrada integra o MUNICÍPIO DE

PALMAS – TO, inscrito no CNPJ sob nº 24.851.511/0001-85, com sede no endereço

mencionado, pelos fatos e fundamentos de direito abaixo concatenados.

I – DA SÍNTESE FÁTICA

1. Como é cediço, recentemente, a população mundial foi

acometida pela pandemia de COVID-19, o que exigiu a adoção de diversas medidas

excepcionais para conter a proliferação do vírus.

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2. No Brasil, o governo federal, antes do surgimento do primeiro

caso de coronavírus no país, antecipou-se e editou a Lei nº 13.979, de 06 de fevereiro de

2020, que dispôs sobre “medidas para enfrentamento da emergência de saúde pública

de importância internacional decorrente do coronavírus responsável pelo surto de

2019”, em que restaram conceituadas e previstas medidas como isolamento e

quarentena.

3. Já no âmbito da cidade de Palmas – TO, o primeiro caso

confirmado da referida doença se deu em 18 de março de 2020, contexto em que foram

editados decretos estadual e municipal para evitar a proliferação do vírus e

contaminação da população.

4. Assim, as legislações em comento visavam impedir

precipuamente a aglomeração de pessoas, em harmonia com a lei federal supracitada,

fazendo uso das medidas nela previstas, mais precisamente isolamento social horizontal.

5. Todavia, inusitadamente, a Impetrada publicou o Decreto nº

1.896, de 15 de maio de 2020, que, em seu artigo 1º, inciso III, proibiu a

“comercialização de bebidas alcoólicas em todos e quaisquer estabelecimentos

varejistas, atacadistas, distribuidores e fabricantes, para pessoas físicas e jurídicas”,

sem qualquer motivação idônea para tanto.

6. Nessa esteira, afora a falta de fundamentação do ato

administrativo assinalado, o referido ato ainda foi editado por ente incompetente, haja

vista que a matéria de consumo é reservada à União, aos Estados e ao Distrito Federal.

7. Ademais, o ato nulo em evidência afronta os princípios da

liberdade de trabalho, da livre iniciativa e da ordem econômica, tendo representado

graves prejuízos aos empresários da capital, que, já prejudicados pelas medidas

restritivas de isolamento, tiveram sua atividade praticamente inviabilizada pelo último

decreto municipal.

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8. Com isso, ante o ato nulo da Impetrada, não resta ao Impetrante

outro remédio a ser utilizado que não seja recorrer ao judiciário para reconhecer a

flagrante nulidade do artigo 1º, inciso III, do Decreto Municipal nº 1.896, de 15 de maio

de 2020, com supedâneo nas teses jurídicas melhor abordadas a seguir.

II – DA FUNDAMENTAÇÃO JURÍDICA.

II.1 – DA AUSÊNCIA DE FUNDAMENTAÇÃO ESPECÍFICA PARA A

PROIBIÇÃO DE VENDA DE BEBIDA ALCOÓLICA NO ÂMBITO

MUNICIPAL. DA NULIDADE DO ATO ADMINISTRATIVO.

9. Em um primeiro momento, convém destacar que o Decreto nº

1.896, de 15 de maio de 2020, que proibiu a venda de bebidas alcoólicas, conforme

mencionado na síntese fática, não apresenta a motivação / fundamentação adequada

para tanto, revestindo-se de ato arbitrário e nulo.

10. Observa-se que, em que pese tenha sido justificada a adoção de

medidas restritivas pelo decreto em razão do “crescimento progressivo dos números de

infecções pelo novo coronavírus (COVID-19)”, a proibição impugnada não guarda

qualquer relação com esse argumento, uma vez que a venda de bebidas alcoólicas tem

respeitado as medidas sanitárias restritivas (distanciamento necessário entre as pessoas,

uso de máscaras, higienização dos produtos etc.).

11. Ora, Excelência, os atos administrativos devem ser motivados,

com o desiderato de se coibir a arbitrariedade no âmbito da administração pública, não

podendo ser restringidos direitos sem o amparo em manifesto interesse público.

12. Nesse sentido, o artigo 50, inciso I, da Lei nº 1.156/2002, do

Município de Palmas assim dispõe:

Art. 50. Os atos administrativos deverão ser motivados, com

indicação dos fatos e dos fundamentos jurídicos, quando:

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I - neguem, limitem ou afetem direitos ou interesses;

13. Com isso, para que se dê efetividade à disposição legal, não

basta que o ato contenha fundamentação genérica, mas a limitação de direitos imposta

por ele deve guardar coerência com tal motivação, sob pena de violação à norma adrede

transcrita.

14. Em consonância com a previsão legal e sua interpretação, que

preserva a mens legis, segue precedente que aborda a matéria:

DIREITO ADMINISTRATIVO E PROCESSUAL CIVIL -

MOVIMENTAÇÃO DE POLICIAL MILITAR POR INTERESSE

PRÓPRIO MOTIVADA POR NECESSIDADE DE BENEFICAR

SAÚDE DA PRAÇA OU DE PESSOA DE SUA FAMÍLIA -

POSSIBILIDADE - PREVISÃO LEGAL EXPRESSA -

REQUERIMENTO INDEFERIDO - FUNDAMENTAÇÃO -

AUSÊNCIA - NULIDADE DO ATO - ANTECIPAÇÃO DA

TUTELA ESPECÍFICA - REQUISITOS DO ART. 461, § 3º,

CPC - PREENCHIMENTO. 1 - A movimentação de praça "por

interesse próprio", com o intuito de assistir pessoa enferma de

sua família é possível, uma vez satisfeitos os requisitos dos arts.

175, inciso III, § 3º, da Lei Estadual nº 5301/1969, e 8º, incisos

I a VIII, §§ 3º, 4º e 5º, da Resolução 4123/2010-PMMG. 2 - Ao

ato administrativo praticado sem a devida motivação, ou sem

coerência com ela, aplica-se a sanção de nulidade, por ofensa

ao princípio da legalidade. 3 - Demonstrados a relevância da

fundamentação do demandante e o justificado receio de

ineficácia do provimento final, impõe-se a antecipação da tutela

específica da obrigação, nos termos do art. 461, § 3º, CPC,

inclusive em face da Fazenda Pública. 4 - Agravo de

instrumento provido.

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(TJ-MG - AI: 10024130240146001 MG, Relator: Ana Paula

Caixeta, Data de Julgamento: 26/09/2013, Câmaras Cíveis / 4ª

CÂMARA CÍVEL, Data de Publicação: 01/10/2013)

15. Conforme o julgado invocado, o ato administrativo deve vir

acompanhado de motivação e guardar coerência com esta, para preservar a sua

legalidade. Ao revés, sem a adequada e devida fundamentação, o ato deve ser tido como

nulo, sendo necessária a ingerência do poder judiciário para reconhecer o referido

vício formal.

16. No caso concreto sub examine, não há qualquer motivação

específica para a proibição de vendas de bebidas alcoólicas, principalmente porque

essa comercialização já vinha sendo feita em respeito a todas as exigências do

poder executivo municipal para evitar a proliferação do vírus, como entrada restrita

de pessoas nos estabelecimentos ou atendimento somente na área externa, número

reduzido de funcionários, uso de máscaras, disponibilização de álcool em gel para

funcionários, para clientes e para limpeza de produtos, entre outras.

17. Veja que a compra de bebidas alcoólicas para consumo na

residência do consumidor não desencadeia a propagação do vírus, sendo que as

medidas de proibição de aglomeração e de distanciamento entre as pessoas nos

estabelecimentos em funcionamento que tendem a impedir a contaminação.

18. Assim, padece de nulidade o ato administrativo atacado, que,

desprovido de motivação idônea, consiste em ato ilegal e arbitrário, produzindo graves

prejuízos aos comerciantes e empresários que trabalham com a venda e distribuição de

bebidas alcoólicas.

19. Aliás, avulta-se que os locais públicos em que poderia haver o

consumo de bebida alcoólica, como restaurantes e bares, se encontram fechados, por

determinação também da Impetrada, isto é, por consectário lógico, a bebida alcoólica só

estaria sendo vendida para consumo no interior da residência do consumidor, sem

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comprometer a saúde pública e sem desrespeitar os demais decretos que proíbem a

aglomeração de pessoas.

20. Inclusive, o próprio Decreto nº 1.896, de 15 de maio de 2020,

impõe a “proibição de consumo de bebida alcoólica em qualquer estabelecimento

comercial, industrial e de serviços, bem como em todo e qualquer local público”, contra

o qual não se insurge o presente mandamus e que seria suficiente para conter a

concentração de pessoas.

21. Desse modo, conclui-se que a medida de proibição de venda de

bebidas alcoólicas é excessiva e não foi devidamente fundamentada / motivada no ato

que a determinou, oportunidade em que se pleiteia que seja reconhecida sua nulidade.

22. Por essas razões, pugna-se que seja reconhecida a nulidade do

artigo 1º, inciso III, do Decreto nº 1.896, de 15 de maio de 2020, da Prefeita de Palmas

– TO1, dada a falta de motivação do ato administrativo, com fulcro no artigo 50, inciso

I, da Lei nº 1.156/2002.

II.2 – DA COMPETÊNCIA DOS ESTADOS E UNIÃO PARA LEGISLAR

SOBRE MATÉRIA DE CONSUMO. DA AUSÊNCIA DE COMPETÊNCIA DO

MUNICÍPIO PARA TANTO.

23. Além de não se encontrar motivado o ato que proibiu a venda de

bebidas alcoólicas no município de Palmas – TO, o ato administrativo em questão ainda

é nulo ante a evidente incompetência do município para editar normas sobre o assunto.

24. Faz-se mister salientar que a comercialização de bebidas

alcoólicas consiste em matéria de consumo, sendo competência da União, Estados e

Distrito Federal legislar sobre esta. Nesses termos, o artigo 24, inciso V e §§ 1º a 4º, da

Constituição da República Federativa do Brasil:

1 Art. 1° São adotadas, no âmbito do munícipio de Palmas, as medidas restritivas a seguir:

(...)

III - proibição da comercialização de bebidas alcoólicas em todos e quaisquer estabelecimentos

varejistas, atacadistas, distribuidores e fabricantes, para pessoas físicas e jurídicas;

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Art. 24. Compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal

legislar concorrentemente sobre:

(...)

V - produção e consumo;

(...)

§ 1º No âmbito da legislação concorrente, a competência da

União limitar-se-á a estabelecer normas gerais.

§ 2º A competência da União para legislar sobre normas gerais

não exclui a competência suplementar dos Estados.

§ 3º Inexistindo lei federal sobre normas gerais, os Estados

exercerão a competência legislativa plena, para atender a suas

peculiaridades.

§ 4º A superveniência de lei federal sobre normas gerais

suspende a eficácia da lei estadual, no que lhe for contrário.

25. Nesse compasso, por se tratar de matéria nitidamente de

consumo, a proibição de venda de bebidas alcoólicas somente podia ter sido

determinada pela União ou Estados, não sendo constitucionalmente autorizada a

edição dessa norma pelo município.

26. Com a propagação da pandemia em outras regiões no mundo, o

governo federal se antecipou e editou a Lei nº 13.979, de 06 de fevereiro de 2020, que

dispôs sobre “medidas para enfrentamento da emergência de saúde pública de

importância internacional decorrente do coronavírus responsável pelo surto de 2019”,

em que restaram conceituadas e previstas medidas como isolamento e quarentena.

27. Sucessivamente, com o implemento dessas providências em

algumas regiões do país, fez-se imprescindível a previsão dos serviços tido como

essenciais, que deveriam continuar a ser disponibilizados para a população mesmo no

quadro de isolamento e/ou quarentena, o que se fez por meio do Decreto Federal nº

10.282, de 20 de março de 2020.

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28. Por conseguinte, o artigo 3º, §1º, XII do supracitado Decreto

Federal, elencou como atividade essencial a “produção, distribuição, comercialização e

entrega, realizadas presencialmente ou por meio do comércio eletrônico, de produtos

de saúde, higiene, limpeza, alimentos, bebidas e materiais de construção”.

29. Pela simples leitura da norma, verifica-se que a

comercialização de bebidas, sem fazer qualquer ressalva às de teor alcoólico, foi

prevista como atividade essencial, que não deve ser atingida pelas medidas

impostas pelos entes municipais para conter a proliferação do vírus.

30. Nesse teor, o decreto impugnado pelo presente mandamus

não apenas foi editada por ente incompetente como também contraria a legislação

federal publicada e vigente, o que não pode ser tolerado.

31. Do mesmo modo, impende esclarecer que o Governador do

Estado do Tocantins, por meio do Decreto nº 6.070, de 18 de março de 2020, declara

"situação de Emergência no Tocantins em virtude da pandemia da COVID-19 (novo

Coronavírus)” e, posteriormente, através do Decreto nº 6.072, de 21 de março de 2020,

impõe algumas medidas para conter a propagação do vírus, como a proibição de

realização de eventos e de reuniões de qualquer natureza, de caráter público ou privado,

em que ocorra a aglomeração de pessoas, tendo sido esta vedação prorrogada por tempo

indeterminado pelo Decreto nº 6.086, de 22 de abril de 2020.

32. Sobreleva-se que, em nenhum desses atos do governo federal

e do governo estadual, restou prevista a proibição de comercialização e venda de

bebidas alcoólicas. Pelo contrário, o governo federal previu esta como sendo

atividade essencial no precitado artigo 3º, §1º, XII, do Decreto nº 10.282, de 20 de

março de 2020.

33. Nesse viés, tem-se que a competência dos municípios, conforme

preconiza o artigo 30, inciso II, da Constituição da República Federativa do Brasil,

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limita-se a “suplementar a legislação federal e a estadual no que couber”, sendo

vedado ao município ingressar em matéria de consumo não abordada pela legislação

federal ou estadual e, principalmente, estando impedido o município de contrariar as

referidas legislações.

34. Por essa linha de raciocínio, cabe ao município somente editar

normas que concretizem e viabilizem as normas federais e estaduais competentes

relativas a consumo, isto é, não é lícito que o município exorbite de sua competência

para legislar sobre matéria de consumo não prevista pelos entes estaduais e federal.

35. Como exaustivamente delineado e enumerado, as normas que

preveem as medidas para evitar a proliferação do vírus no âmbito do país e estado do

Tocantins não proíbem a venda de bebida alcoólica, sendo incompetente o município de

Palmas para inaugurar legislação sobre a matéria.

36. Com o fito de corroborar os argumentos lançados na presente

peça, segue precedente que vai ao encontro da tese defendida:

PROCESSUAL CIVIL. CONSTITUCIONAL. ARGUIÇÃO DE

INCONSTITUCIONALIDADE DA LEI COMPLEMENTAR Nº

122 DO ANO DE 2012 DO MUNICÍPIO DO RIO DE

JANEIRO. INCONSTITUCIONALIDADE TRADUZIDA NA

USURPAÇÃO DE COMPETÊNCIA PARA TRATAR DA

MATÉRIA. O MUNICÍPIO DO RIO DE JANEIRO AO TRATAR

DE NORMAS RELATIVAS À PRODUÇÃO E CONSUMO DE

MERCADORIAS EXTRAPOLOU A COMPETÊNCIA

PREVISTA NAS CONSTITUIÇÕES FEDERAL E ESTADUAL.

INCONSTITUCIONALIDADE MATERIAL QUE SE

PROCLAMA, COM EFEITOS EX TUNC. EMBARGOS DE

DECLARAÇÃO. INEXISTÊNCIA DOS PRESSUPOSTOS DE

ACOLHIMENTO DOS EMBARGOS. IMPROVIMENTO AO

RECURSO. I - Analisando-se a lei municipal impugnada se

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conclui que a competência para legislar, pautada em regras da

Constituição Federal e da Constituição do Estado do Rio de

Janeiro, foi violada; II - A lei em comento trata de matéria

relativa ao consumo e, sem dúvida, traz medidas de proteção

ao consumidor não albergadas na competência da

municipalidade segundo o legislador constitucional; III - O

Município tratou de matéria reservada à União, aos Estados e

ao Distrito Federal, extrapolando sua competência legislativa,

razão pela qual se impõe o reconhecimento do vicio de

inconstitucionalidade formal; IV - Inconstitucionalidade que se

proclama, aplicando-se à declaração os efeitos ex tunc. V - O

art. 535 do CPC possibilita o acolhimento dos embargos de

declaração quando houver no acórdão, obscuridade,

contradição ou quando for omitido ponto sobre o qual devia

pronunciar-se o tribunal, descaracterizando-se como terreno

apropriado à rediscussão da matéria, acerto ou desacerto da

decisão (error in iudicando ou error in procedendo), o que

reclama veredas recursais adequadas; VI - Improvimento ao

recurso.

(TJ-RJ - ADI: 00475281120128190000 RJ 0047528-

11.2012.8.19.0000, Relator: DES. ADEMIR PAULO

PIMENTEL, Data de Julgamento: 17/02/2014, OE -

SECRETARIA DO TRIBUNAL PLENO E ORGAO ESPECIAL,

Data de Publicação: 01/04/2014 12:51)

37. Destarte, a legislação municipal que versar sobre matéria de

consumo, que é de competência da União, Estados e Distrito Federal, estará

revestida do vício de inconstitucionalidade formal e não deve subsistir.

38. Por derradeiro, tendo em vista que o Decreto nº 1.896, de 15 de

maio de 2020, em seu artigo 1º, inciso III, trata de matéria de consumo, reservada à

União, aos Estados e ao Distrito Federal, contrariando, aliás, o artigo 3º, §1º, XII, do

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Decreto Federal nº 10.282, de 20 de março de 2020, imperioso o reconhecimento de sua

nulidade.

II.3 – DA OFENSA AO PRINCÍPIO DA LIBERDADE DE TRABALHO (ART. 5º,

XIII, CF). VALORES SOCIAIS DO TRABALHO E DA LIVRE INICIATIVA

(ART. 1º, IV, CF). AFRONTA AO PRINCÍPIO DA ORDEM ECONÔMICA

(ART. 170, II e V, CF).

39. A Prefeita de Palmas editou o sobredito Decreto Municipal nº

1.896, de 15/05/2020, determinando como medidas restritivas a proibição da

comercialização de bebidas alcoólicas na cidade de Palmas para pessoas físicas ou

jurídicas, independente do estabelecimento ser varejista, atacadista, distribuidora ou

fabricante, nos seguintes moldes:

“Art. 1° São adotadas, no âmbito do munícipio de Palmas, as

medidas restritivas a seguir:[...] III - proibição da

comercialização de bebidas alcoólicas em todos e quaisquer

estabelecimentos varejistas, atacadistas, distribuidores e

fabricantes, para pessoas físicas e jurídicas; [...]”

40. Restou demonstrado de forma exaustiva no tópico anterior que,

o ato em questão padece de fundamentação legal e jurídica estando eivado de nulidade,

com base na ausência de motivação da referida medida restritiva adotada pelo

Município, sob a única alegação de que a medida seria necessária em decorrência do

aumento da transmissão do vírus COVID-19 entre a população.

41. Todavia, além do vício verificado na constituição do ato

administrativo, o decreto também viola direitos e princípios fundamentais dos

comerciantes da cidade, quando diversos estabelecimentos comerciais praticam

unicamente a venda e distribuição de bebidas de teor alcoólico ou não.

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42. Inicialmente, constata-se que, após a confirmação do primeiro

caso de COVID- 19 no Município de Palmas, a Prefeita editou o Decreto Municipal nº

1.856/20, em 14 de março de 2020, visando regulamentar o isolamento horizontal na

cidade, determinando o fechamento do comércio de forma geral, possibilitando a

continuidade apenas dos serviços considerados essenciais, com base na Lei Federal nº

13.979/20.

43. Dentre os serviços considerados essenciais, encontram-se os

supermercados e demais estabelecimentos que pratiquem a venda de bebidas e

alimentos, inclusive, a produção, comercialização e distribuição de bebidas está

autorizada e amparada pelo Decreto Federal nº 10.282/2020, editado para regulamentar

a Lei Federal nº 13.979/20, in verbis:

“Art. 3º As medidas previstas na Lei nº 13.979, de

2020, deverão resguardar o exercício e o funcionamento dos

serviços públicos e atividades essenciais a que se refere o § 1º.

[...]

XII - produção, distribuição, comercialização e entrega,

realizadas presencialmente ou por meio do comércio eletrônico,

de produtos de saúde, higiene, limpeza, alimentos, bebidas e

materiais de construção; [...]”

44. Excelência, a redação do art. 3º do Decreto Federal nº 10.282/20

é assídua no tocante ao caráter essencial da produção, distribuição, comercialização e

entrega de bebidas.

45. Desde então, todos os estabelecimentos comerciais estão

seguindo os dizeres do Decreto Municipal nº 1.856/20, dispondo dos cuidados

necessários para retardar a proliferação do vírus e orientações da Organização Mundial

de Saúde - OMS, o que inclui, o uso de máscara, atendimento ao público do lado

externo do estabelecimento, filas com distanciamento de 2 (dois) metros,

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fornecimento de álcool em gel, dentre outras medidas adotadas para garantir a

segurança dos comerciantes, funcionários e clientes.

46. Ademais, é de suma importância destacar que, a primeira

medida adotada pela Prefeita foi a publicação do Decreto Municipal nº 1.856/20, sendo

que este já prevê a proibição de aglomerações e o isolamento social na cidade de

Palmas, portanto, não se justifica a proibição de venda de bebida alcoólica para evitar

as referidas aglomerações, dado que, caso sejam detectadas ou denunciadas

aglomerações, as pessoas infratoras deverão ser responsabilizadas por infringirem o

decreto vigente supracitado.

47. Nesse sentido, é desproporcional e injustificável o teor do inc.

III, do art. 1º, do Decreto 1.896/20, que não deve ser entendido como medida eficaz

para evitar aglomerações, as quais já são reprimidas nos termos do primeiro decreto

editado, por meio de fiscalização por parte da Prefeitura, que poderá adotar as medidas

sancionatórias aos infratores.

48. A proibição da venda de bebida alcoólica irá apenas penalizar os

comerciantes que dependem dessa renda para sobreviver e sustentar sua família e

negócio, além de outros consumidores que não poderão fazer o uso de forma isolada em

suas residências sem nenhuma aglomeração.

49. Ademais, é importante prever as consequências que a

manutenção do referido decreto pode causar para a cidade, dado que a proibição poderá

gerar um comércio clandestino de bebidas alcoólicas, e até mesmo de bebidas

falsificadas que poderão por em risco a saúde da população e a segurança.

50. O Decreto Municipal nº 1.896/20 contraria frontalmente os

seguintes princípios fundamentais: i) da liberdade de trabalho, ofício ou profissão (art.

5º, inc. XIII, da CF); ii) dos valores sociais do trabalho e da livre iniciativa e (art. 1ª,

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inc. IV, da CF2); iii) da ordem econômica (art. 170, inc. II e V, da CF3), conforme

restará demonstrado a seguir.

51. Primeiramente, conforme dito alhures, o decreto em questão

viola a liberdade de trabalho e a livre iniciativa, na medida em que os empresários e

proprietários de estabelecimentos comerciais ficam restringidos no seu direito de

exercer na plenitude o empreendedorismo, tolhidos por medida governamental ilegal.

52. O princípio da livre iniciativa versa acerca da liberdade e

autonomia do comércio, como forma de controlar a intervenção estatal, mantendo-se a

essência do capitalismo.

53. Sabe-se que o comércio e as empresas de forma em geral estão

diretamente ligados as condições financeiras e econômicas regionais, garantindo,

inclusive, o recolhimento de impostos pela Administração Pública, geração de

empregos e renda.

54. O artigo 5º, em seu inciso XIII, afirma que: “[...] XIII – é livre

o exercício de qualquer trabalho, ofício ou profissão, atendidas as qualificações

profissionais que a lei estabelecer[...]”, portanto, é evidente que o decreto está violando

o livre exercício do trabalho dos proprietários e comerciantes de estabelecimentos que

comercializam, fabricam ou entregam bebidas alcoólicas, não podendo o MUNICÍPIO

DE PALMAS manter os termos do sobredito decreto, quando há decreto federal

declarando que estes estabelecimentos estão entre os serviços essenciais.

55. Desta forma, o decreto ao restringir a comercialização de

bebidas alcoólicas, acaba por esbarrar no próprio Decreto Federal nº 10.828/20

2 Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e

do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos: [...] IV - os

valores sociais do trabalho e da livre iniciativa;

3 Art. 170. A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre iniciativa, tem por

fim assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça social, observados os seguintes

princípios: [...] II - propriedade privada; [...] V - defesa do consumidor; [...]

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que regulamenta a Lei Federal nº 13.979/20, isso porque, reconhece a

essencialidade dos estabelecimentos que são responsáveis por comercializar,

distribuir e fabricar bebidas.

56. É cediço a necessidade de medidas coerentes por parte dos entes

federados para combater e retardar o avanço da pandemia, todavia, o decreto em

questão não preencheu os requisitos necessários para a validade do ato administrativo,

por evidente ausência de competência legislativa e da infringência direta dos princípios

constitucionais apontados.

57. Portanto, conclui-se, que o ponto fulcral do problema está na

ausência de competência por parte do MUNICÍPIO DE PALMAS para legislar

acerca do consumo ou proibição de bebida alcoólica pela população, juntamente

com o fato de o ato em questão afrontar os princípios constitucionais da livre

iniciativa, liberdade de trabalho e da ordem econômica, atos de restrição

praticados de forma ilegal e arbitrária através da edição do Decreto nº 1.896/20.

III –DA MEDIDA LIMINAR PLEITEADA.

58. Doutrinaria e jurisprudencialmente exige-se, para o deferimento

da competente medida liminar, exige-se a presença dos requisitos da probabilidade do

direito (fumus boni iuris) e do perigo da demora ou resultado útil do processo

(periculum in mora), para que o ato ilegal praticado seja suspenso liminarmente.

59. Esses dois requisitos estão sobejamente demonstrados no caso

presente, merecendo assim, o deferimento da medida liminar, initio litis, verifica-se a

existência de ilegalidade do ato praticado pela Autoridade Coatora, momento em

que não restou configurada a fundamentação e competência do ato administrativo

praticado, e ainda, a infringência direta de princípios constitucionais e direito dos

comerciantes.

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60. Em segundo plano, sabe-se que as bebidas alcoólicas possuem

prazo de validade, e que os produtos que estiverem na iminência de vencer não poderão

ser comercializados, caso a presente liminar não seja concedida para suspender a

vigência do inc. III, do art. 1º, do Decreto nº 1.896/20.

61. Desta forma, é evidente que por serem produtos voltados para o

consumo possuem prazo de validade, e o vencimento destes dentro das prateleiras dos

estabelecimentos ocasionará em prejuízos imensuráveis aos comerciantes e

empreendedores, os quais, até segunda ordem, encontram-se proibidos de dar

continuidade às atividades laborais que envolvam comércio e entrega de bebidas com

teor alcoólico.

62. Nesse diapasão, até que o presente writ seja efetivamente

processado e julgado, os produtos estarão correndo o risco de vencerem e

consequentemente se tornarem inadequados para consumo, demonstrando-se a urgência

na concessão da presente medida liminar.

63. Por sua vez, o art. 7º, III, da Lei 12.016/09, estabelece que:

Art. 7o. Ao despachar a inicial, o juiz ordenará: (...) III – que se

suspenda o ato que deu motivo ao pedido, quando houver

fundamento relevante e do ato impugnado puder resultar a

ineficácia da medida, caso seja finalmente deferida, sendo

facultado exigir da Impetrante caução, fiança ou depósito, com

o objetivo de assegurar o ressarcimento à pessoa jurídica.

64. Desta forma, resta sobejamente demonstrado no presente

Mandado de Segurança o preenchimento dos requisitos autorizadores da concessão da

medida liminar, para que seja determinada a SUSPENSÃO dos efeitos do inc. III, do

art. 1º, do referido decreto, para determinar que os estabelecimentos voltem a

comercializar e entregar bebidas alcoólicas, ante a nulidade do ato administrativo

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praticado pelo MUNICÍPIO DE PALMAS e para fins de rechaçar as consequências de

cunho econômico ocasionadas aos comerciantes.

IV – DOS REQUERIMENTOS

65. Ante o exposto, diante dos argumentos aduzidos no presente

mandado de segurança, o Impetrante requer à Vossa Excelência:

a) A suspensão, inaudita altera pars, do artigo 1º, inciso

III, do Decreto nº 1.896, de 15 de maio de 2020, permitindo

que os estabelecimentos voltem a comercializar, distribuir e

entregar bebidas alcoólicas, ante a ausência de motivação e

competência do Município de Palmas para vedar tal atividade,

bem como afronta aos princípios constitucionais previstos nos

artigos 1º, inc. IV, 5º, inc. XII e 170, inc. II e V, todos da

Constituição Federal da República Federativa do Brasil, e ainda,

para se evitar que os comerciantes sofram prejuízos de cunho

financeiro em razão da perda de validade dos produtos até

decisão ulterior, já que presentes, então, os requisitos

insculpidos no artigo 7º, inciso III, da Lei nº 12.016/09

(relevância dos fundamentos e perigo de ineficácia da medida);

b) A notificação da autoridade coatora, no endereço

constante de sua qualificação, para prestar as informações no

prazo de 10 (dez) dias, conforme determina o art. 7º, I da Lei

12.016/09;

c) Que, após serem prestadas as informações devidas pela

autoridade coatora, seja dada vista dos autos ao MINISTÉRIO

PÚBLICO DO ESTADO DO TOCANTINS para emissão de

parecer, com esteio no artigo 12, caput, da Lei nº 12.016/09;

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d) Ao final, em confirmação da liminar, seja

CONCEDIDA A SEGURANÇA, para reconhecer a nulidade

do artigo 1º, inciso III, do Decreto nº 1.896, de 15 de maio de

2020, permitindo a comercialização de bebidas alcoólicas em

todos e quaisquer estabelecimentos varejistas, atacadistas,

distribuidores e fabricantes, para pessoas físicas e jurídicas, no

âmbito do município de Palmas – TO.

Dá-se a presente causa o valor de R$ 1.000,00 (mil reais), para

efeitos fiscais.

Nestes termos,

Requer deferimento.

Palmas -TO, 18 de maio de 2020.

DANIELE TAVARES ALVES

OAB/TO nº 8.037

DANIELA IGNÁCIO GAGOSSIAN

OAB/TO nº 6.589