marcações louro

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  • 8/18/2019 marcações Louro

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    OBS:Para abordar a teoria queer, Guacira Lopes Louro, no artigo Viajantes pós-modernos, seutiliza de uma compara!o entre a caracter"stica de #deslocamento, desenraizamento etr$nsito% de um &iajante da pós-modernidade e o corpo transg'nero, com isso construindoseu argumento( )la c*ama aten!o logo no in"cio do te+to que #o que importa o andar en!o o c*egar%, uma &ez que o destino para o &iajante pós-moderno n!o i+o e tampouco

    importante( .qui se az mais importante o mo&imento e o trajeto( . pala&ra &iagem implicaem dist$ncia entre lugares, assim como a dierena entre posi/es de sujeito e culturastambm signiicam que um est0 distante do outro( )ntretanto, Louro n!o est0 interessadaapenas nesta dist$ncia e sim no que acontece dentro deste percurso, os encontros edesencontros, as partidas e c*egadas 1LO23O, p(456( . própria &iagem tem o car0ter detransormar: o corpo, a identidade, o modo de ser e estar( .ssim, a autora inicia sua argumenta!o alando sobre o in"cio da &iagem de quandoalgum indi&"duo que &em ao mundo declarado #menino% ou #menina%, os quais,dependendo do g'nero dado em consequ'ncia do seu órg!o genital, de&er0 seguir umadire!o pr-determinada( 7 o que 8udit* Butler denomina de processo de masculiniza!oou eminiza!o, reiterando-se a sequ'ncia se+o-g'nero-se+ualidade 1LO23O apud Butler,

    4996 para a manuten!o da mesma( #O ato de normear o corpo acontece no interior dalógica que sup/es o se+o como um #dado% anterior ; cultura e l*e atribui um car0ter imut0&el, a-*istórico e bin0rio(% 1LO23O, pg 4al lógica implica que esse FdadoF se+o &ai determinar o g'nero e induzir a uma Hnicaorma de desejo( Supostamente, n!o *0 outra possibilidade sen!o seguir a ordempre&ista( . airma!o # um menino% ou uma meninaF inaugura um processo demasculiniza!o ou de eminiza!o com o qual o sujeito se compromete( Para se qualiicar como um sujeito leg"timo, com um Fcorpo que importaF, no dizer de Butler, o sujeito se&er0 obrigado a obedecer ;s normas que regulam sua cultura 1B2>L)3, 49996(

    pg 4I .pesar de tudo isso, a seq'ncia desobedecida e sub&ertida( Domo n!o est0 garantida

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    e resol&ida de uma &ez por todas, como n!o pode ser decidida e determinada num sógolpe, a ordem precisar0 ser reiterada constantemente, com sutileza e com energia, demodo e+pl"cito ou dissimulado( =esmo que e+istam regras, que se tracem planos e sejamcriadas estratgias e tcnicas, *a&er0 aqueles e aquelas que rompem as regras etransgridem os arranjos( . impre&isibilidade inerente ao percurso( >al Domo numa&iagem, pode ser instigante sair da rota i+ada e e+perimentar as surpresas do incerto e

    do inesperado( .rriscar-se por camin*os n!o traados( Vi&er perigosamente( .inda quesejam tomadas todas as precau/es, n!o *0 como impedir que alguns se atre&am asub&erter as normas( )sses se tornar!o, ent!o, os al&os preerenciais das pedagogiascorreti&as e das a/es de recupera!o ou de puni!o( Para eles e para elas a sociedadereser&ar0 penalidades, san/es, reormas e e+clus/es(

    OBS: 1)SD3)V)3 O E2) G2.D3. JSS) .D=.6 ?este sentido estaria a arte queretrata corpos dentro da norma ser&indo de instruimento de manuten!o da reitera!o danorma dos corpos normati&os@ Seria a e+clus!o dos corpos que ogem ao padr!o aprópria sentena de puni!o dos mesmos@

    2m trabal*o pedagógico cont"nuo, repetiti&o e interrnin0&el posto em a!o parainscre&er nos corpos o g'nero e a se+ualidade Fleg"timosF( sso próprio da &iagem nadire!o planejada(Pg 17Uma matriz heterossexual delimita os padrões a serem seguidos e, ao mesmotempo, paradoxalmente, fornece a pauta para as transgressões. É em referência aela que se fazem não apenas os corpos que se conformam s regras de gênero esexuais, mas tam!"m os corpos que as su!#ertem.

    Pg 4KParado+almente, ao se aastarem, azem-se ainda mais presentes( ?!o *0 comoesquec'-los, Suas escol*as, suas ormas e seus destinos passam a marcar a ronteira e olimite, indicam o espao que n!o de&e ser atra&essado( =ais do que isso, ao ousarem seconstruir como sujeitos de g'nero e de se+ualidade precisamente nesses espaos, naresist'ncia e na sub&ers!o das Fnormas regulatóriasF, eles e elas parecem e+por, commaior clareza e e&id'ncia, como essas normas s!o eitas e mantidas(

    Pg M)m sua Fimita!oF do eminino, uma drag queen pode ser re&olucion0ria( Domo umapersonagem estran*a e desordeira, uma personagem ora da ordem e da norma, elapro&oca desconorto, curiosidade e asc"nio( Je que material, traos, restos e &est"gios ela

    se az@ Domo se az@ Domo abrica seu corpo@ Onde busca as reer'ncias para seusgestos, seu modo de ser e de estar@ . quem imita@ Eue princ"pios ou normas FcitaF erepete@ Onde os aprendeu@ . drag escancara a construti&idade dos g'neros(Perambulando por um território inabit0&el, conundindo e tumultuando, sua igura passa aindicar que a ronteira est0 muito perto e que pode ser &isitada a qualquer momento( )laassume a transitoriedade, ela se satisaz com as justaposi/es inesperadas e com asmisturas(  A drag é mais  de um( =ais de uma identidade, mais de um g'nero,propositalmente amb"gua em sua se+ualidade e em seus aetos( Aeita deliberadamentede e+cessos, ela encarna a proliera!o e &i&e ; deri&a, como um &iajante pós-moderno(

    Pg 4

    >al&ez seja uma espcie de nNmade e, se assim o or, dela se poderia dizer que só temFestadia pro&isória, &ia de passagem( Seu próprio território constru"do constantementepelo mo&imento 1P)O>OapudLoPES, MM, P: 4K6( O nNmade uma ic!o pol"tica e

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    uma Figura!oF, ele se distingue do migrante e do e+ilado 1B3.JO>>,MM6( Para 3oseBraidotti, o migrante tem um Fitiner0rioF de deslocamento entre sua terra natal e outrolugar que o recebe( Seu processo o de recorrer a seus &alores de origem, ao mesmotempo em que tenta se adaptar aos do lugar de acol*ida( O e+ilado, por sua &ez, obrigado a se separar radicalmente do lugar de origem e a ele n!o pode retomar( =asambos, migrante e e+ilado, lidam com lugares de algum

    modo i+os( FO nNmade, por outro lado, se posiciona pela renHncia e desconstru!o dequalquer senso de identidade i+a QR o estilo nNmade tem a &er com transi/es epassagens, semdestinos pr-determinados ou terras natais perdidasF 1B3.JO>, MM6, Os nNmadesest!o sempre no meioF, eles Fn!o t'm passado, nem uturo, t'm apenas de&iresF, Fn!ot'm *istória, apenas a geograia 1Jeleuze e P.3?)>, 499K, p( 546(

    7 poss"&el recorrer a essas representa/es para pensar tambm os sujeitostransgressi&os de g'nero e se+ualidade( )sses sujeitos, requentemente, recusam ai+idez e a deini!o das ronteiras, e assumem a incost$ncia, a transi!o e a posi!oFentreF identidades como intensiicadoras do desejo( Viajantes pós-modernos, muitas

    &ezes, e+traem mais prazer da mobilidade e da FpassagemF do que propriamente daFc*egada a outro lugar ou ao lugar do FoutroF( Sentem-se ; &ontade no mo&imento( .transi!o, o processo, o percurso podem se constituir, no im das contas, em suae+peri'ncia mais &ital ou mais Faut'ntica%(

    pg( Personagens que transgridem g'nero e se+ualidade podem ser emblem0ticas da pós-modernidade( =as elas n!o se colocam, aqui, como um no&o ideal de sujeito( ?!o sepretende instaurar no&o projeto a ser perseguido, n!o *0 inten!o de produzir no&areer'ncia( ?ada seria mais anti-pós-rnoderno(

    pg( A visibilidade e a materialidade desses sujeitos par ecem significativas por evidenciarem, mais do que outros, o caráter inventado, cultur al e instável de todas as identidades. São significativas, ainda, por sugerir em concreta esimbolicamente possi bilidades de proliferação e multiplicação das formas de gênero e de sexualidade.

    Pg. !

     O via jante interrompe a comodidade, a bala a segur ança, suger e o descon"ecido,a ponta par a o estr an"o, o estrangeiro. Seus modos talve# se jam irr econ"ec$veis, tr ansgr essivos, distintos do

     padr ão que se con"ece. Seu lugar tr ansit%r io nem sempr e & confor tável. 'as esse pode ser tamb&m, em

    alguma medida, um lugar pr ivilegiado que l"e permite ver (e incita outr os a ver ), de modo

    in&dito, arranjos, pr áticas e destinos sociais a par entemente universais, estáveis e indiscut$veis. *ão se tr ata,

     pois, de tomar sua figur a como exemplo ou modelo, mas de entendê+ia como desesta bili#adora

    de certe#as e provocador a de novas percepçes.