mapeamento do fluxo de valor em uma empresa do...

31
Universidade Federal de Alfenas – UNIFAL-MG Engenharia Química Campus Poços de Caldas FLÁVIO FRANCISCO RIBEIRO MAPEAMENTO DO FLUXO DE VALOR EM UMA EMPRESA DO SETOR QUÍMICO Poços de Caldas 2015

Upload: doantuong

Post on 18-Nov-2018

219 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

1

Universidade Federal de Alfenas – UNIFAL-MG

Engenharia Química

Campus Poços de Caldas

FLÁVIO FRANCISCO RIBEIRO

MAPEAMENTO DO FLUXO DE VALOR EM UMA

EMPRESA DO SETOR QUÍMICO

Poços de Caldas

2015

2

FLÁVIO FRANCISCO RIBEIRO

MAPEAMENTO DO FLUXO DE VALOR EM UMA

EMPRESA DO SETOR QUÍMICO

Poços de Caldas

2015

Trabalho de Conclusão de Curso

apresentado como requisito para a

graduação em Engenharia Química da

Universidade Federal de Alfenas,

campus Poços de Caldas.

Orientador: Prof. Dr. Maicon Gouvêa de

Oliveira.

4

M484m Ribeiro , Flávio Francisco . Mapeamento do fluxo de valor em uma empresa do setor químico./ Flávio Francisco

Ribeiro; Orientação de Maicon Gouvêa de Oliveira. Poços de Caldas: 2015. 30fls.: il.; 30 cm.

Inclui bibliografias: f. 30

Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Engenharia Química ) –

Universidade Federal de Alfenas– Campus de Poços de Caldas, MG.

1. Produção Enxuta. 2. Fluxo de valor. 3. Lean Thinking I . Oliveira, Maicon Gouvêa de(orient.). II. Universidade Federal de Alfenas – Unifal. III. Título.

5

AGRADECIMENTOS

À Universidade Federal de Alfenas campus Poços de Caldas, seus

funcionários e todos os envolvidos direta e indiretamente em minha jornada,

obrigado por todas as oportunidades dadas.

À minha família pelo suporte e compreensão em todas as horas.

Ao Prof. Dr. Maicon Gouvêa de Oliveira, pela paciência e disponibilidade em

todas as horas necessárias, pelo conhecimento transmitido e confiança depositada

em mim.

6

RESUMO

Devido à grande internacionalização das empresas e seus produtos, cada dia

mais se torna necessário um planejamento e controle dos gastos de produção. Logo

após a Segunda Guerra Mundial surgiu no Japão um modo de organização que viria

a revolucionar o mercado, o Sistema Toyota de Produção ou Produção Enxuta. Esta

filosofia de produção mudou drasticamente o modo de administração das indústrias

convencionais, porém o setor químico tem uma difícil adaptação a tal filosofia já que

certa parte de seus processos de produção é empurrado. Várias ferramentas foram

desenvolvidas para auxiliar os gestores a perceber onde estão alguns desperdícios

em seus setores de trabalho, como o Mapeamento do Fluxo de Valor, que descreve

todas as etapas de um processo, mesmo esses agregando valor ao produto final ou

não. Escolheram-se as empresas do setor químico como alvo do estudo por estas

terem como um dos seus processos alguma etapa de funcionamento ininterrupto,

como fornos e caldeiras. O objetivo deste trabalho foi verificar a funcionalidade da

ferramenta Mapeamento de Fluxo de Valor em empresas deste tipo. Assim foi feito

um estudo de caso em uma empresa do setor cerâmico, onde se mapeou os

processos principais e dependentes pelos quais uma família de produtos é

submetida. Construiu-se o Fluxo de Valor atual, onde se pode observar os diferentes

tempos e etapas pelas quais as matérias primas passam, além de se constatar que

há uma etapa paralela de construção de componentes, que posteriormente

convergem e integram a produção desta família de produtos nesta indústria. O

resultado deste trabalho foi considerado satisfatório, detalhando bem o processo

como um todo, tomadas as devidas ressalvas.

 

 

7

 

 

SUMÁRIO

1.  Introdução ............................................................................................................................................ 8 

2.  Revisão Bibliográfica ............................................................................................................................. 9 

2.1.  Produção Enxuta ..................................................................................................................... 9 

2.2.  Mapeamento do Fluxo de Valor ............................................................................................ 13 

2.3.  Escolha de uma Família de Produtos ................................................................................... 14 

2.4.  Utilizando a Ferramenta do Fluxo de Valor ........................................................................... 14 

3.  Metodologia ........................................................................................................................................... 15 

4.  Resultados .......................................................................................................................................... 17 

4.1  Fluxo de Valor Atual .............................................................................................................. 18 

4.1.1  Beneficiamento da Matéria Prima ......................................................................................... 20 

4.1.2  Produção Principal ................................................................................................................ 22 

4.1.3  Produção do Molde de Prensagem ....................................................................................... 24 

5.  Considerações Finais ........................................................................................................................... 29 

6.  Referências Bibliográficas ................................................................................................................... 31 

8

1. Introdução

 

No Japão pós Segunda Guerra Mundial, uma fábrica de automóveis se

destacava por produzir carros em massa que possuíam ótima qualidade e baixos

custos de produção. Estava sendo ali empregada a produção enxuta.

O principal ponto deste modelo de gestão é eliminar as fontes de desperdício,

que afetam diretamente os custos e o tempo de produção. Basicamente são 7 fontes

de desperdício: defeitos, superprodução, espera, transporte, excesso de

movimentação, processamento inapropriado e estoque. Tais desperdícios podem

abranger outros fatores além dos aqui citados, dependendo da filosofia da empresa.

(LIKER, 2004).

Uma ferramenta importante para melhorar a produtividade e reduzir os custos

de produção é o Mapeamento do Fluxo de Valor, que nada mais é do que a

esquematização de todos os processos da empresa, que agregam valor ou não,

para a otimização daqueles processos mais importantes e vitais e a eliminação de

partes não essenciais ou eliminação de desperdícios.

Usualmente em empresas do setor químico possuem alguns de seus

processos ditados pelo sistema de produção empurrado, onde o produto é fabricado

independente de sua demanda. Tal necessidade se dá devido ao maquinário

empregado, como destiladores, fornos e caldeiras, que demandam altíssimos

valores energéticos para entrarem em funcionamento, e que uma vez iniciado, para-

lo ou diminuir sua vazão real traria grandes perdas energéticas e assim, prejuízo

para a indústria.

As indústrias da área química sempre formaram um dos alicerces do mundo

contemporâneo, fornecendo a matéria prima para as novas tecnologias que vêm

surgindo. No ano de 2012, aproximadamente cinco trilhões de dólares foram

movimentados por tal segmento no mundo, sendo que no Brasil este valor é de

aproximadamente 157 bilhões de dólares, representando assim o quarto maior setor

industrial brasileiro com em média 2,5% do PIB nacional (ABIQUIM, 2012).

Tal segmento vem sofrendo com a crise internacional dos últimos anos, e

9

também com a explosiva alta das importações de produtos químicos, além do lento

crescimento de suas exportações, sendo o déficit de 28,1 bilhões de dólares em

2012, o que torna ainda mais importantes novos estudos e medidas para a sua

evolução e competitividade internacional.

Portanto, o objetivo deste trabalho é aplicar a ferramenta de Mapeamento do

Fluxo de Valor em uma empresa do setor químico a fim de detectar fontes de

desperdício e a principal rota de agregação de valor.

Para tanto, uma revisão sobre os conceitos de produção enxuta é necessário

para um aprofundamento teórico nesta área, buscando entender melhor os seus

princípios, o funcionamento de uma família de produtos, e o Mapeamento do Fluxo

de Valor em si.

 

 

2. Revisão Bibliográfica

2.1. Produção Enxuta

Em meados dos anos 80, a Toyota teve atenção mundial destacada, onde

ficou claro que esta empresa possuía algo que a diferenciava das demais, haja vista

a qualidade diferenciada de seus produtos e a eficiência de sua produção. Seus

carros duravam mais e requeriam muito menos reparos, e mesmo tendo de pagar os

altos salários dos operários japoneses, seus carros tinham um preço muito

competitivo (LIKER, 2004).

Ainda de acordo com LIKER (2004), a produção em massa tradicional focava

em identificar eficiências locais, onde o produto tem seu valor aumentado, ir a este

equipamento, melhorar ainda mais sua eficiência ou trocar o operador. Tal

abordagem tinha certo efeito localmente, naquele processo em especifico, mas não

na produção como um todo, já que são poucos os processos que efetivamente

agregam valor ao produto final. Sem a produção enxuta, é difícil a visão de que

grandes resultados são obtidos evitando os desperdícios e como elimina-los.

Para isto, houve o emprego de alguns princípios que foram fundamentais para

o sucesso do sistema, 14 deles são fundamentais (LIKER, 2004).

10

• Princípio 1: Basear suas decisões estratégicas em uma filosofia de longo

prazo, mesmo em detrimento de objetivos financeiros imediatos.

Trazer para dentro da indústria a filosofia de produção enxuta, fazer

toda a comunidade empregada seguir um propósito que vem a ser muito maior do

que o simples lucro, mesmo que no primeiro instante o fluxo de dinheiro diminua.

Entender o seu papel dentro da empresa, e trabalhar para poder fazer-se evoluir

juntamente com a indústria.

• Princípio 2: Criação do Mapeamento do Fluxo de Valor para trazer os

problemas à tona.

Fazer o fluxo de valor para saber onde estão os processos que

agregam ou não valor. Tornar este fluxo de material e também de informações o

mais rápido e simples possível, evitando ao máximo pontos de desperdício.

Tornar evidente e deixar à mostra todo o processo da indústria, já que

sem isso, a melhora contínua tanto do processo quanto dos trabalhadores fica

ameaçada.

• Princípio 3: Utilização do sistema puxado para evitar altos estoques.

Entregar o produto ao cliente, quando ele necessitar, como ele

necessitar e no montante que ele precisar. A demanda de produto criada pela

clientela é um dos princípios básicos do Just-in-Time.

Evitar grandes custos de manutenção de estoque, armazenando

pequenas quantidades de material, que serão utilizados apenas quando houver a

necessidade de produção e logo após repostas.

• Princípio 4: Projetar o Mix de Produção.

Apenas um terço de toda a produção enxuta consiste em eliminar o

desperdício. Outra parte importantíssima é a de não sobrecarregar as máquinas nem

os trabalhadores com excesso de serviço. Evitar um grande desnível na ordem de

produção é geralmente um dos principais erros de empresas que estão

implementando a produção enxuta.

• Princípio 5: Construir a cultura de parar a produção para resolver os

problemas, gerando assim qualidade à todo momento.

11

A qualidade do produto vendido é o maior atrativo para fazer o cliente

continuar suas compras e o principal atrativo para novos consumidores. Utilizar-se

dos mais modernos meios para manter a qualidade é de extrema importância.

Ter máquinas que param automaticamente ao detectar um problema,

treinar um time para resolvê-los o mais rápido possível e sistemas visuais de alerta

sobre necessidade de manutenção ou supervisão do maquinário.

A filosofia de parar toda a produção e concentrar esforços para resolver

um problema assim que este aparecer além dos itens acima citados são a peça

chave para manter-se a qualidade em altos padrões.

• Princípio 6: Padronizar todos os passos da produção.

Utilizar-se de sistemas metódicos, bem explicados em todos os setores

para manter o padrão de produção. Utilizar-se do conhecimento adquirido sobre o

processo, aplicando as melhores técnicas utilizadas hoje, para poder melhorá-las

amanhã. O processo de dar ouvidos as dicas de funcionários para melhorias do

processo tem que fazer parte do processo de melhoria contínua como um todo.

• Princípio 7: Utilizar controles visuais para visualizações de problemas.

Ter sinais visuais para mostrar ao pessoal da produção quando o

produto do sistema esta saindo de acordo com as especificações ou se desviando

dela ajudará a controlar a qualidade final do produto. Quanto mais simples e objetivo

este sistema for, mais eficaz este será.

• Princípio 8: Fazer uso de tecnologias consolidadas .

Fazer uso da tecnologia para ajudar os trabalhadores, não para

substituí-los. Novas tecnologias geralmente são muito caras e de difícil

padronização de produção.

• Princípio 9: Tornar líderes pessoas que conhecem profundamente os

processos.

Treinar funcionários internos e torna-los líderes é melhor e mais

produtivo do que contratar novos colaboradores. Pessoas que já estão na empresa,

possuem a filosofia e modo de operar desta consigo, o que torna tudo mais

vantajoso e menos dispendioso.

12

• Princípio 10: Desenvolver times excepcionais que seguem a filosofia da

empresa.

Criar um ambiente onde o esforço pessoal e os valores da companhia

são difundidos. Criar times onde pessoas são devidamente valorizadas e o trabalho

em grupo é difundido trará grandes benefícios à indústria.

• Princípio 11: Ajudar os parceiros de trabalho e fornecedores a crescerem e

se desenvolverem junto com a empresa.

Praticar o bom relacionamento entre clientes, ajudando-os e

desafiando-os a crescer junto é de grande valia. Tratar os empregados da mesma

forma fará da empresa um lugar de cooperação.

• Princípio 12: Resolver o problema pessoalmente e fisicamente.

Ao entrar em contato pessoalmente e fisicamente com o problema,

muitas vezes o resultado será mais simples e prático do que se imagina. Mesmo

gerentes de alto escalão devem ir à fonte dos problema para ter uma visão mais

especifica deste e entendê-lo melhor.

• Princípio 13: Tomar decisões vagarosamente por consenso e considerando

todas as posições, implementá-las rapidamente.

Tomar decisões sem antes estas terem sido vigorosamente estudadas

e pensados todos os pontos positivos e negativos não é recomendado. Deve-se

considerar o maior leque de opções possível, e todas estas arduamente vistas. Uma

vez tomada a decisão, sua implementação deve se dar o mais rápido possível.

• Princípio 14: Tornar-se uma organização inteligente e evolucionária.

Fazer do ambiente de trabalho e processo, algo o mais simples

possível, onde qualquer um possa observar uma falha ou desperdício. Sempre

implementar seções de aprimoramento do sistema (kaizen). Pregar a boa conduta

dos funcionários e fazê-los trabalhar em equipe, sempre evoluindo, acarretará em

uma indústria pensante e sempre em evolução.

13

2.2. Mapeamento do Fluxo de Valor

Os princípios acima mostrados nos revelam que o grande intuito de toda a

filosofia é agregar o máximo de valor, tendo o mínimo de perdas ao produto final.

Porém, para ter uma visão mais ampla do processo como um todo é importante

mapear tanto o fluxo de valor quanto o fluxo de informação necessários para a

produção (ROTHER e SHOOK, 1999).

Outro ponto a ser destacado, é que não apenas o fluxo de material deve ser

mapeado mas também o fluxo de informação. Esse fluxo deve ser tratado com a

mesma importância. Tais fluxos devem combinar-se entre si, de modo que o fluxo de

material só parta para a etapa seguinte, quando o fluxo de informação o pedir.

Fluxo de valor é toda a ação que agregue ou não valor, necessário para a

confecção de um produto, seja este qual for. Para se ter uma visão completa, deve-

se observar o processo de produção por inteiro, desde os fornecedores até o cliente.

Deve-se portanto ter uma visão ampla, considerando todos os processos e as

melhorias desses totalmente, não apenas em um setor ou máquina.

Para fazer o fluxo de valor, é necessário seguir toda a trilha de produção, a

partir do consumidor até os fornecedores. O intuito de todo o fluxo mapeado é de

uma etapa apenas ser solicitada, gerando a informação, após a outra já ter sido

concluída, e o fluxo de material seguir adiante.

Após verificar esta trilha de produção, desenha-se todos os processos e

etapas necessários para a produção atual, com o fluxo de material e de informação,

sendo esse desenho chamado de Estado Atual, e após alguns estudos e sugestões

de melhorias, ter-se-á o chamado Estado Futuro.

Com esse fluxo de valor em mãos, algumas vantagens serão observadas,

como por exemplo:

• Melhor visualização de processos individuais.

• Ajuda a mapear as fontes de desperdício.

• Fornecimento de uma linguagem comum para os processos de manufatura.

14

• Junta conceitos e técnicas enxutas, o que impede a utilização de algumas

técnicas separadamente.

• Relação entre fluxo de valor e fluxo de material intimamente ligada, dando

melhor percepção do processo total.

2.3. Escolha de uma Família de Produtos

É importante começar o mapeamento o fluxo de valor com os principais

produtos comercializados pela empresa, já que nem todos possuem o mesmo fluxo

de vendas. Identificar estes produtos e a sua família, que são os produtos que

passam por processos parecidos e utilizam o mesmo maquinário, é o primeiro passo

a ser dado.

Feita isso, a próxima etapa é articular todas as etapas do fluxo de valor,

integrando-as, pois na maioria das vezes cada setor de produção terá sua própria

visão de fluxo de valor ou agregação deste. Depois, deve-se encontrar uma pessoa

que será a responsável pelo trabalho de tornar o fluxo de valor conciso e funcional.

Tal indivíduo deve ter contato direto com o alto escalão da indústria a fim de ter

poder para fazer as mudanças realmente acontecerem.

2.4. Utilizando a Ferramenta do Fluxo de Valor

Esta ferramenta é muito útil para a empresa. Como se trata de uma forma de

linguagem, para o funcionário como para a alta gerência, deve-se praticar o uso dela

até que sua utilização seja o mais normal e corriqueiro possível.

Tal mapeamento segue um esquema de evolução contínua, como mostrado

na Figura 1.

15

Figura 1: Etapas do Mapeamento do Fluxo de Valor

Observa-se que o desenho do estado futuro está em uma caixa destacada,

mostrando a importância de se ter sempre o objetivo desse desenho.

O mapa do estado atual é construído por meio de informações levantadas no

processo industrial, e no acompanhamento da operação por certo período de tempo.

Nota-se também as setas complementares entre o mapa do estado atual e estado

futuro, já que o estado futuro é pensado depois como uma melhoria do estado atual.

Pontos importantes do processo serão reforçados e partes negligenciadas virão à

tona.

A etapa final é a implementação do novo plano de trabalho, que deverá ser

descrito em uma página, dando as diretrizes da melhora, e como atingi-las.

Enquanto essa etapa é feita já se observa a necessidade de novos passos, que

virão a ser planejados e executados no próximo mapa futuro, tornando assim o

sistema sempre evolucionário e dinâmico.

3. Método  

Família de Produtos

Desenho do Estado 

Atual

Desenho do Estado 

Futuro

Plano de Trabalho 

e Implementação 

16

Neste trabalho, primeiramente houve uma revisão bibliográfica que abordou

os tópicos mais relevantes na área que abrange o Mapeamento do Fluxo de Valor.

Para um aprofundamento teórico estudou se os princípios da produção enxuta, a

escolha de uma família de produtos além do Mapeamento do Fluxo de Valor e seu

modo de utilização.

Terminada esta etapa, houve uma busca de possíveis casos na região,

buscando empresas que se encaixavam no escopo inicial do projeto, ou seja, firmas

com um de seus processos ininterrupto.

Depois de analisados os possíveis casos, constatou-se á existência de uma

empresa do setor cerâmico onde o trabalho poderia ser realizado. Feito isso, fez-se

contato com esta fábrica, com a qual a parceria deu origem a este trabalho.

Com estas etapas anteriores realizadas, reuniu-se com o diretor industrial.

Neste encontro constatou-se que tal indústria trabalha com a produção sob demanda

e não com produção puxada, na qual a ferramenta de Mapeamento do Fluxo de

Valor é mais bem utilizada. Contudo decidiu-se pelo uso de uma família de produtos

que possui uma saída contínua como rota para o Mapeamento do Fluxo de Valor.

Também viu se a necessidade de mapear o processo de usinagem pelo qual o

molde onde as peças da família são prensadas é feito.

Com a família de produtos conhecida, optou-se por dividir o Fluxo em dois,

sendo o primeiro para os processos em que a família se submete, e outro para a

fabricação do molde onde estes itens serão prensados, já que estas duas etapas se

dão em paralelo. Como não havia ainda nenhum trabalho acerca do mapeamento de

tempos ou produção dos moldes de prensagem, optou-se por mapear a fabricação

do molde desde o seu princípio, observando-se todas as etapas pelas quais este se

submete.

A primeira visita à planta foi feita no dia 29 de abril de 2015, onde com a ajuda

do responsável pela operação de beneficiamento das matérias primas foi possível

saber : numero de funcionários, tempo de ciclo, tempos de set-up ( tempo para

tornar a máquina do processo disponível para trabalho), disponibilidade da máquina

e tamanho do lote de produção para cada um dos processos envolvidos na

fabricação da família de produtos. Importante ressaltar que nesta etapa, alguns dos

dados colhidos dos processos foram obtidos por meio da experiência e know-how

dos funcionários e operadores de cada processo de forma oral, já que a utilização de

tais equipamentos ou processos se dá em apenas alguns dias do processo de

17

produção.

A segunda parte se deu em duas visitas, uma no dia 4 e outra no dia 29 de

maio, esta mais específica na área de usinagem. Assim como na etapa anterior, a

visita foi acompanhada pelos funcionários responsáveis por cada etapa, e mais uma

vez alguns tempos foram tomados de maneira oral, já que várias etapas não

estavam acontecendo no momento da visita e nem aconteceriam num momento

próximo.

Com os tempos e outros dados em mãos, partiu-se para a montagem do

mapeamento do fluxo de valor em si, utilizando-se os padrões de representação

gráfica mostradas no livro ‘Aprendendo a Enxergar’, do Lean Institute Brasil,

mostrado nas referências bibliográficas deste trabalho (ROTHER E SHOOK).

Terminada esta etapa, partiu-se para as análises dos resultados.

4. Resultados

Logo no início, viu se que haveria o problema da empresa não trabalhar com

um fluxo de fabricação contínuo, mas sim sob demanda, o que diverge da aplicação

do Mapeamento do Fluxo de Valor, já que esta ferramenta é usada em fluxos

contínuos de produção. Entretanto, viu-se que havia uma família e produtos que

possuíam uma saída contínua e, portanto, uma produção contínua.

Viu-se também que há claramente duas etapas paralelas, uma de preparo da

matéria prima e outra da produção do molde onde esta peça será prensada.

Dessa forma, optou-se por mapear estes processos separadamente, os

unindo na etapa de prensagem, e todas as etapas da montagem da prensa entraram

como tempo de set-up desta, já que para esta estar apta para a produção o molde

deve estar devidamente produzido e alocado nela.

Outro ponto importante a ser ressaltado é que nesta etapa de usinagem, o

lead time para cada peça de cada molde da família varia, devido ao fato de que cada

molde necessita de diferentes peças e processos para ser fabricado, tendo em

comum apenas as etapas finais de montagem, ajustagem e montagem na prensa.

Deve-se observar também que as matérias primas são utilizadas pela família

estudada bem como por outros itens fabricados por esta empresa, o que faz com

18

que os processos que antecedem a prensagem sejam divididos com a fabricação de

outros produtos. É devido a este fato que o processo principal está representado em

duas etapas, a primeira apenas para o beneficiamento da matéria prima e a segunda

para a etapa da prensagem em si, além de um terceiro que mostra as etapas

necessárias para a montagem do molde de prensagem.

Importante ressaltar que o dia de trabalho é de 8 horas e 40 minutos na

empresa, e os tempos mostrados no Lead Time e Tempo de Produção devem ser

divididos por este valor para mostrarem quantos dias reais de trabalho devem ser

executados para se entregar o pedido.

4.1 Fluxo de Valor Atual  

Com as devidas ressalvas mencionadas, os tempos e outras informações

importantes em mãos, foi possível criar o Mapeamento do Fluxo de Valor Atual em

si, que é mostrado na Figura 2.

19

Figura 2: Fluxo de Valor Atual.

20

Pode-se observar que neste mapeamento há uma divisão em duas partes

principais, o processo principal, que consiste na produção do material refratário em

si, que também divide-se em dois, o beneficiamento da matéria prima e depois sua

conformação, a segunda parte, a usinagem do molde, que é a produção da forma

onde estes itens serão prensados.

Isto se deu já que a primeira fase pela qual a família passa é comum também

para os demais itens produzidos pela empresa.

Criou-se também um Lead Time único para o beneficiamento, outro para a

produção principal além de outro para a montagem e produção do molde.

O Lead time do Beneficiamento da matéria prima não entrou na soma do

Lead Time da Produção Principal por não demonstrar o tempo apenas das matérias

primas utilizadas na família de produtos mas sim de todas as disponíveis.

4.1.1 Beneficiamento da Matéria Prima

Nesta etapa inicial se dá o beneficiamento da matéria prima, como é possível

observar na Figura 3:

21

Figura 3: Fluxo de Valor Atual com ênfase no Beneficiamento da Matéria Prima.

22

As entregas destas matérias primas são feitas diariamente pelo fornecedor,

que a entrega calcinada (processo de pré-queima da matéria-prima), depois ela é

britada e estocada para mais tarde ser moída. Na etapa de moagem, o tamanho do

grão é reduzido e então armazenado.

A próxima etapa é o peneiramento desta matéria prima, que visa separar os

diferentes tamanhos de grãos das diferentes argilas, que serão alocados em 56 lotes

de 12 toneladas cada.

Com a inclusão de aditivos, acondicionados em um estoque de 6000

toneladas, as diferentes matérias primas serão misturadas na composição química

adequada para cada um dos itens da família de produtos a serem produzidos,

acondicionados em lotes de 4 toneladas e serão prensados posteriormente.

O beneficiamento das matérias primas, que abrangem não apenas as que

serão utilizadas na família de produtos estudada mas sim em todos os itens

produzidos pela empresa, possui o Lead Time (tempo de entrega total do produto)

de 22 dias, 21 horas e 36 minutos, porém o Tempo de Produção de 36 horas e 21

minutos, o que representa apenas 6,6% do Lead Time total.

A estocagem é a causadora de tamanho Lead Time, já que se demoraria 21

dias, 7 horas e 12 minutos para se processar toda a matéria prima armazenada.

Uma ressalva a ser dada nesta etapa é que a empresa mantém os estoques

de matérias primas altos propositalmente, já que estes produtos são minerados por

esta mesma empresa, que com a alta produtividade e estocagem tenta baixar o

custo fixo de produção destes componentes o máximo possível.

4.1.2 Produção Principal  

Na produção principal, que vem a ser a produção do tijolo refratário em si, o

processo deixa de ser puxado, e passa a seguir o movimento de First In First Out, ou

seja, o primeiro material a entrar no processo, será também o primeiro a sair deste e

seguir para a próxima etapa. O Fluxo de Valor pode ser visto melhor na Figura 4:

23

Figura 4: Fluxo de Valor Atual com ênfase no Processo Principal.

24

Após a etapa de mistura, têm-se a prensagem, cujo set-up foi considerado

todo o tempo necessário para a fabricação e ajuste do molde na prensa. Neste

processo as quatro toneladas de matérias primas previamente misturadas serão

moldadas de acordo com a característica de cada item da família de produtos,

enfornadas e queimadas em um forno de operação contínua durante, em média,

sete dias e meio.

Terminada esta etapa, as peças serão selecionadas por operadores treinados

para detectar falhar nas peças e imperfeições, que depois as acondicionam em

pallets. As peças selecionadas são embaladas e guardadas em um estoque

contendo aproximadamente 40 toneladas de peças da família estudada.

Percebeu-se que a etapa de prensagem é o processo comandante de toda a

produção, já que é através de sua demanda que as matérias primas são

processadas além de os itens fabricados empurrados, tornando assim a produção

também empurrada de acordo com o ritmo desta etapa.

O tempo total do Lead Time da etapa principal do processo foi de 11 dias, 18

horas e 14 minutos. Já o tempo total de produção foi de 11 dias, 9 horas e 21

minutos de trabalho.

O Tempo de Produção representa 96,9% do Lead Time total. Este valor foi

obtido devido ao fato de que neste trabalho não se considerou o tempo de transporte

entre uma etapa e a próxima.

Outras ressalvas também devem ser dadas neste ponto. Uma delas é que

para este Fluxo de Valor foi considerada apenas uma linha de produção, sendo que

na empresa há várias prensas que podem ser convertidas para este trabalho, uma

vez que os moldes de prensagem para tal existam, e assim o tempo de produção na

prensagem cai proporcionalmente ao número de prensas adicionadas à esta etapa.

Outra ressalva é que existe um estoque de moldes, e que não necessariamente um

molde deve ser fabricado toda a vez que uma peça irá ser prensada.

 

4.1.3 Produção do Molde de Prensagem  

Esta etapa foi mapeada seguindo-se a produção do molde de um produto em

especifico, que é um dentre muitos que formam a família de produtos estudada.

25

Como para cada objeto da família de produtos acompanhado o molde varia, decidiu-

se acompanhar a manufatura deste molde a partir do começo, para se ter o tempo

para a confecção de um molde por completo.

Como observa-se, o molde de prensagem acompanhado é composto por 6

peças, denominadas como A, B, C, D, E e F, que estão dispostas no molde como na

Figura 5:

Figura 5: Vista lateral e superior do molde de prensagem.

Neste molde, observou-se a fabricação de basicamente dois tipos de peças,

as que passam pela têmpera e que passam pela cementação, ambos tratamentos

térmicos que visam o aumento da dureza do metal. O processo como um todo pode

ser observado na Figura 6:

26

Figura 6: Vista total do fluxo de produção de um molde de prensagem.

Como pode ser visto na figura acima, as peças A e C após serem

esquadrejadas, detalhadas e furadas juntam-se com a peça B, que é faceada e

furada. Tais peças passam pela têmpera juntas. O processo pode ser observado

separadamente na Figura 7:

27

Figura 7: Vista parcial do fluxo de produção de componentes do molde de prensagem que são submetidos a têmpera.

28

Já as peças D, E são esquadrejadas, detalhadas e furadas para depois

juntarem-se com a peça F, que é faceada e detalhada. Estes três componentes são

cementados juntos posteriormente. Este processo pode ser observado

separadamente na Figura 8:

Figura 8: Vista parcial do fluxo de produção de componentes do molde de prensagem que

são submetidos a cementação.

Com todos estes materiais tratados, passa-se para a montagem do molde,

onde todas as peças são colocadas em uma banca, ajustadas nas dimensões da

prensa e onde se acerta tal molde, é nesta prensa em que os tijolos refratários da

família de produtos são conformados. O trajeto final que os componentes percorrem

pode ser observado na Figura 9:

29

Figura 9: Trajeto final percorrido pelos componentes do molde de prensagem.

Com estas etapas mostradas, o tempo de Lead Time para a entrega do molde

para a produção da família de produtos estudada é de 42 horas e 21 minutos, e o

tempo de produção vem a ser o mesmo, já que se supôs etapas de produção

consecutivas, considerando-se que cada processo possui apenas uma máquina

capaz de fazê-lo além dos operadores de cada etapa estarem disponíveis para início

imediato após o término da etapa anterior.

Na empresa estudada este conjunto de etapas, produção de cada peça

componente do molde de prensagem, se dá em linhas paralelas de produção, porém

para este trabalho tais condições não foram consideradas pelo fato dos processos

não seguirem um padrão de maquinários e operadores específicos e sim se darem

pelo know-how da linha de produção.

 

5. Considerações Finais

 

Este trabalho teve como principal objetivo fazer o Mapeamento do Fluxo de

Valor em uma empresa do setor químico, ramo que geralmente possui um processo

contínuo. Tal objetivo foi alcançado por meio da medida de tempos e outros

componentes pertinentes em uma indústria do setor de cerâmica refratária, em como

desejado, existia nesta empresa um processo ininterrupto, a utilização de um forno

contínuo.

30

Também vale mencionar que para este trabalho houve o desafio de se

Mapear o Fluxo de Valor de uma produção sob demanda, o que torna o trabalho

mais dificultoso já que tal ferramenta tem seu uso em produções para entrega.

O Mapeamento do Fluxo de Valor se deu por meio de visitas pessoais na

planta da indústria e as obtenções dos dados se deram de maneira oral com os

responsáveis por cada setor da produção.

Também se fez o Fluxo de Valor com apenas uma prensa, porém na indústria

há outras prensas que podem ser adaptadas para a prensagem dos produtos

estudados, desde que os moldes para tal já estejam fabricados.

No tocante a medição dos tempos da usinagem dos moldes de prensagem,

este processo que ocorre em paralelo com a produção principal mostrou-se parte

vital do trabalho, já que não existia nenhum dado semelhante nesta área na empresa

anteriormente.

Certas adaptações se fizeram necessárias em algumas etapas, como

suposições na forma de trabalho da área de usinagem, onde os processos foram

considerados sequenciais e imediatamente realizados um após o outro, sem tempos

de transporte nem estocagem.

Entretanto, entende-se que o resultado foi extremamente positivo, já que não

se possuía nenhum conhecimento acerca de tempos de produção de moldes na

indústria, e este trabalho disponibilizou tais dados para um molde especifico além de

uma clara visão da dinâmica da empresa.

Recomenda-se para trabalhos futuros a continuidade das tomadas de tempos,

desta vez para os diferentes moldes que compõem a família de produtos estudada

além da realização do Fluxo de Valor Futuro, que poderá mostrar pontos de melhora

na linha de produção, resultando assim em economia ou mais rapidez de produção

dos itens aqui analisados.

Outra melhoria sugerida é a medida do tempo de transporte entre as etapas,

já que neste trabalho não se levou isso em consideração.

Importante mencionar que a capacidade e velocidade de operação dos fornos

e/ou caldeiras podem variar dependendo do modo de condução desses, possuindo

setores da indústria que esta variação é menor e em outros maiores.

Ficou evidente que ao contrário do que imaginou-se inicialmente, a produção

ininterrupta pode não ser o ponto de estrangulamento em uma empresa do setor

químico, podendo existir outros pontos de melhora que a ser priorizados.

31

 

 

 

 

6. Referências Bibliográficas

ABIQUIM. Associação Brasileira das Indústrias Químicas. A Indústria Química

Brasileira, 2012. Disponível em:

<http://www.abiquim.org.br/pdf/indQuimica/AIndustriaQuimica-SobreSetor.pdf>

Acesso em 3.dez.2013

WOMACK, James P.; JONES, Daniel T.; ROOS, Daniel., A Máquina Que Mudou O

Mondo, 13ª ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2004.

LIKER, Jeffrey K., The Toyota Way, 14 Management Principles from the World's

Greatest Manufacturer. McGraw-Hill 2004.

ROTHER E SHOOK, Aprendendo a enxergar. 1ed. São Paulo, Lean Institute

Brasil. 1999