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MANUAL DE CASOS PRáTICOS Desenvolvimento e Cooperação Descentralizada

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MANUALde cAsospráticosdesenvolvimentoe cooperaçãodescentralizada

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Ficha técnica

edição:IMVF

conceção Gráfica:Matrioska Design, Lda

Maio 2013

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índice

Introdução ................................................................................................................ 5

Parte I – Desenvolvimento e Cooperação Descentralizada ................................... 7

1. O Desenvolvimento no centro da reflexão e da agenda global ........................... 8

2. O papel da Cooperação para o Desenvolvimento ............................................... 10

3. As mudanças nos paradigmas da Cooperação para o Desenvolvimento ........... 13

4. A Cooperação Descentralizada e o papel dos vários atores ............................... 19

Parte II – Testemunhos ......................................................................................... 25

Parte III – Casos Práticos ...................................................................................... 41

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introduçãoO crescente reconhecimento da importância de uma grande diversidade de atores para os processos de desenvolvimento tem originado um interesse renovado nas questões da coordenação, da geração de sinergias e de parcerias multiatores. As no-vas dinâmicas das políticas de cooperação internacional para o desenvolvimento re-conhecem atualmente o valor acrescentado de intervenientes como a sociedade civil, as autoridades locais ou o setor privado na promoção do desenvolvimento e no apoio às populações mais vulneráveis, sendo por isso fundamental apostar em políticas e ações que agreguem interesses, competências e vontades em prol de um mundo mais justo e equitativo.

Comprometidos com a realização de um trabalho mais estruturado e eficaz no com-bate à pobreza no âmbito das suas ações de Cooperação para o Desenvolvimento, os Municípios estão empenhados no reforço do seu papel enquanto agentes ativos de Cooperação para o Desenvolvimento, na promoção de sinergias entre projetos na-cionais e internacionais e na partilha de experiências como estratégia eficaz para a redução da pobreza ao nível global.

No entanto, apesar do reconhecimento formal do valor acrescentado destes atores, verifica-se ainda, no contexto português, um grande desconhecimento das inúmeras mais-valias que as autoridades locais transportam para a cooperação internacional, agravado pela falta de competências específicas dos técnicos nesta área e pela pouca tradição de trabalho em rede, criando constrangimentos à criação de parcerias mul-tiator (a nível nacional e internacional). Estes foram alguns dos desafios a que o pro-jeto Redes para o Desenvolvimento: Da geminação a uma cooperação mais eficiente procurou responder, através de dois objetivos centrais: (i) Promover sinergias multia-tor no âmbito de projetos de cooperação internacionais como estratégia eficaz para a redução da pobreza e para o alcance dos Objetivos de Desenvolvimento do Milénio, e (ii) Promover novos canais de comunicação entre Autoridades Locais a nível nacional e internacional, promovendo a governação democrática a nível local.

O projeto, implementado pelo Instituto Marquês de Valle Flôr em parceria com a ONGD Alemã Fine+p, o Fondo Galego da Cooperación e Solidariedade e dois municípios por-tugueses com experiência em iniciativas de cooperação internacional (Câmara Muni-cipal de Loures e Câmara Municipal da Marinha Grande), veio desafiar os Municípios Portugueses a aprofundar as tradicionais relações de Geminação para intervenções mais estruturadas e sustentáveis, com impactos diretos no desenvolvimento das co-munidades mais vulneráveis. Contando com o apoio da União Europeia e do Camões – Instituto da Cooperação e da Língua, I.P., a ação conseguiu unir 16 Municípios Portu-gueses em torno do objetivo comum de reforçar o seu papel enquanto agentes ativos de Cooperação para o Desenvolvimento.

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No âmbito do projeto, criaram-se novos canais de diálogo entre os diferentes atores da Cooperação e promoveram-se momentos de reflexão e debate, conduziu-se um trabalho de sensibilização dos eleitos municipais para as mais-valias do envolvimen-to dos seus Municípios em iniciativas de Cooperação mais eficazes, e reforçaram-se as competências técnicas dos Municípios nesta área. A criação formal da Rede Inter-municipal de Cooperação para o Desenvolvimento, a 15 de março de 2013, destaca-se como um dos principais resultados, sendo apoiada na sua dinamização pela Plata-forma Virtual www.redesparaodesenvolvimento.org, a qual funciona como página de referência na divulgação de iniciativas de Cooperação Descentralizada de Municípios portugueses, alemães, galegos e de Países de Língua Oficial Portuguesa.

O presente manual pretende apresentar alguns exemplos de casos práticos de imple-mentação da Cooperação Descentralizada, aqui entendida no seu sentido mais am-plo, sendo estes reunidos na Parte III. Na Parte I é feita uma reflexão sobre algumas questões conceptuais e globais da cooperação para o desenvolvimento, incluindo as alterações de paradigmas em curso e o papel da Cooperação Descentralizada nesse contexto. Na Parte II são apresentados alguns testemunhos e intervenções sobre a participação de múltiplos atores nos processos de desenvolvimento e de cooperação internacional.

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parte i

deseNvoLviMeNtoe cooperAçãodesceNtrALizAdA

Patrícia Magalhães Ferreira

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1. o desenvolvimento no centroda reflexão e da agenda global

Se é verdade que vivemos uma era de abundância, prosperidade e progresso sem precedentes, também é uma rea-lidade a persistência da Pobreza como um fenómeno muldimensional à esca-la mundial. O Desenvolvimento é muito mais do que aumento do rendimento ou crescimento económico, dependendo de uma diversidade de fatores onde se in-cluem as oportunidades económicas, as liberdades políticas, o acesso a serviços básicos, ou o empoderamento social, en-tre outros. Nesse sentido, o Desenvolvi-mento consiste na remoção de barreiras e restrições que limitam, de várias formas, as escolhas e oportunidades das pessoas, no seu plano individual e coletivo.

O Desenvolvimento procura satisfazer as necessidades da geração atual, sem comprometer a capacidade das gerações futuras de satisfazerem as suas próprias necessidades; significa possibilitar que as pessoas, agora e no futuro, atinjam um nível satisfatório de desenvolvimento so-cial e económico e de realização humana e cultural. Nesse sentido, é um direito Humano fundamental e uma questão de justiça social.

A atual abordagem ao Desenvolvimen-to engloba, portanto, uma multiplicidade de contributos teóricos e práticos, que se materializam nos conceitos de Desenvol-vimento Humano (ligado às necessidades básicas e fundamentais), Desenvolvimen-to Sustentável (com forte base nas ques-tões ambientais), Desenvolvimento Local, Desenvolvimento integrado (proveniente da epistemologia da complexidade), entre outros.

Desde o final dos anos 1990 que está em curso uma reformulação importante nes-ta área, apontando para a diversidade de caminhos de Desenvolvimento, para a multidimensionalidade destes processos e para o papel central que as pessoas e os cidadãos desempenham –e devem de-sempenhar – na definição e implementa-ção dos seus objetivos de Desenvolvimen-to. Por um lado, isto tem dado origem ao surgimento de novos conceitos comple-mentares, e por vezes sobrepostos, como o de bem-estar, o de felicidade, ou o de florescimento humano.

Por outro lado, os processos de globali-zação têm também contribuído para um reforço do que podemos chamar de cons-ciencialização global, em que a crescente interdependência dos fenómenos nos in-terpela para um exercício mais ativo da ci-dadania global e para a responsabilização de todos (e de cada um de nós) por ques-tões globais como é o Desenvolvimento. Atualmente é evidente que os benefícios e custos da globalização estão distribuídos de forma muito desigual, e que o aumento das desigualdades mundiais representa um fator de exclusão de grandes grupos populacionais, nomeadamente dos mais vulneráveis.

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Factos e dados

O ano de 2010 marcou a primeira vez que o número de pobres diminuiu simulta-neamente nas seis regiões do Mundo, inclusive na África Subsaariana. A maior redução verificou-se na Ásia, principalmente na China: entre 1981 e 2008, o nú-mero de chineses que sobrevive com menos de 1,25 dólares por dia diminuiu em 660 milhões. No entanto, houve menos avanços no combate à pobreza moderada (pessoas que vivem com uma renda de 1,25 a 2 USD por dia), já que esse contin-gente passou de 648 milhões de pessoas em 1981 para 1,18 mil milhões em todo o mundo.

Nos países em desenvolvimento, cerca de 22% das pessoas vivem com menos de 1,25 dólares por dia e 43% com menos de 2 dólares. A este ritmo, e tendo em con-ta o aumento populacional, aproximadamente mil milhões de pessoas continuará a viver em pobreza extrema em 2015 (o chamado “bottom billion”).

A geografia da pobreza mundial está também a alterar-se, uma vez que a maior fatia da população abaixo do limiar da pobreza – cerca de 72% - não vive atual-mente nos países mais pobres mas sim em países de rendimento médio (prin-cipalmente em países mais populosos como o Paquistão, Índia, China, Nigéria e Indonésia).

Apesar de uma evolução global positiva na maior parte dos indicadores de De-senvolvimento, os números escondem consideráveis disparidades geográficas e outras, quer entre países e regiões, quer dentro dos próprios países. As dife-renças entre estar num meio urbano ou rural, entre pertencer a uma família mais pobre ou mais rica, entre ser do sexo feminino ou masculino, entre viver em zonas de conflito ou de paz, afetam significativamente questões de Desenvol-vimento como o acesso à saúde, a frequência e conclusão do ensino básico ou a existência de saneamento.

Fontes: PNUD 2013, ONU 2011, Banco Mundial 2012

IMVF

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Em 2000, pela primeira vez, foi definida uma agenda global para o Desenvolvi-mento, com metas comuns e indicadores concretos agrupados em oito grandes ob-jetivos (os Objetivos de Desenvolvimento do Milénio – ODM1), até 2015.

A Declaração do Milénio, adotada em 2000 por todos os Estados Membros da Assembleia Geral das Nações Unidas, veio lançar um processo decisivo da co-operação global no século XXI, reforçado no Consenso de Monterrey (2002) onde o novo paradigma defendia:

(i) os ODM como metas que norteiam toda a cooperação ao nível mundial; (ii) o ultrapassar de uma mera relação doador-beneficiário para verdadeiras relações de parceria, em que os países em desenvolvimento e outros interve-nientes (como as ONG) sejam parcei-ros efetivos do Desenvolvimento e não meros recetores de ajuda; (iii) a necessidade de coerência e har-monização entre as políticas dos di-ferentes países, de forma a promover uma maior eficácia e sustentabilidade da ajuda.

Está atualmente em debate a definição de uma agenda de Desenvolvimento para o período pós-2015. Essa agenda terá de ter em conta, necessariamente, as alte-rações nos equilíbrios económicos e de poder ao nível mundial, e deverá corres-ponder a uma visão clara de resposta aos desafios multifacetados do Desenvolvi-mento.

Em discussão para a agenda global pós-2015, estão questões como: (i) a persis-tência de grandes desigualdades mun-diais; (ii) a inclusão de objetivos e metas relacionadas com desafios globais com impacto importante no Desenvolvimento, incluindo na área da segurança, da go-

vernação e dos Direitos Humanos, entre outras; ou (iii) o debate sobre os Bens co-muns da Humanidade (como a saúde ou o ambiente), ligados aos direitos e respon-sabilidades coletivas. Neste sentido, uma distribuição mais justa dos rendimentos, a equidade no acesso aos recursos e uma real igualdade nas oportunidades devem fazer parte integrante da promoção do Desenvolvimento ao nível global. Igual-mente importante é a definição dos ins-trumentos que permitirão atingir novos objetivos, incluindo os debates sobre a procura de fontes inovadoras de financia-mento do Desenvolvimento.

Independentemente do que for decidido sobre esta agenda global, a sua definição está a ser consideravelmente mais par-ticipativa do que em 2000, com a mobi-lização de vários setores e organizações para um novo quadro que se pretende o mais universal, abrangente e inclusivo possível. Parece consensual que as pes-soas deverão estar no centro da agenda, através de uma abordagem de Direitos Humanos, que reforce a importância do empoderamento, da igualdade e da não--discriminação.

2. o papel da cooperaçãopara o desenvolvimento

A Cooperação para o Desenvolvimento consiste no esforço levado a cabo conjun-tamente por países desenvolvidos e paí-ses em desenvolvimento, com a finalidade de combater as dificuldades económicas e sociais dos últimos de forma sustentá-vel e duradoura. A cooperação significa envolver as populações na definição, pla-nificação e criação do seu próprio futuro, capacitando as pessoas e comunidades para intervirem e liderarem o seu próprio processo de Desenvolvimento.

1 A saber: 1. Erradicar a Pobreza Extrema e a Fome; 2. Alcançar a Educação Primária Universal; 3. Promover a Igualdade de Gé-nero e Capacitar as Mulheres; 4. Reduzir a Mortalidade Infantil; 5. Melhorar a Saúde Materna; 6. Combater o HIV/SIDA, a Malária e outras doenças; 7. Assegurar a Sustentabilidade Ambiental; 8. Desenvolver uma parceria Global para o Desenvolvimento. Mais informação em: http://www.un.org/millenniumgoals/

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Realidade

A perceção de muitos cidadãos é que os países ricos dão gran-des percentagens do seu rendimento para ajudar outros países. Na verdade, se analisarmos os valores relativos, a grande maio-ria dos países concede menos do que 0,7% do seu rendimento, ou seja, menos de 7 euros em cada 100 é doado como Ajuda ao Desenvolvimento. Outra forma de analisarmos os números é através dos montantes per capita, já que a média recebida por cada pessoa nos países em desenvolvimento, em cada ano, é um valor muito pequeno (menos de 25 dólares).

Para além disso, os montantes de Ajuda ao Desenvolvimento são irrisórios se compararmos com outros recursos, como os lucros dos fluxos de armamento, ou os custos da intervenção externa em vários conflitos. E é muito mais barato eliminar as causas da pobreza do que responder aos seus sintomas e con-sequências.

Está também provado que os fluxos provenientes dos países em desenvolvimento para os países desenvolvidos ultrapassam, no geral, os fluxos de ajuda em sentido contrário.

Naturalmente que as pessoas do nosso país merecem ajuda e que existem bolsas de pobreza importantes na Europa. Mas não podemos escamotear o facto de vivermos num mundo único e global, em que não há ilhas isoladas de Desenvolvimento e em que os problemas são interdependentes.

Podemos ter um impacto global muito positivo nas condições de vida de milhares de pessoas, com custos muito pequenos em termos individuais. Vários estudos indicam que o montante financeiro para salvar uma vida num país desenvolvido é igual ao salvamento de muitas mais vidas num país em desenvolvi-mento.

É verdade que, por exemplo, a África Subsaariana tem registado um aumento médio do PIB acima dos 5% na última década. No entanto, estes países partem de uma base muito baixa, ou seja, o valor inicial do PIB é muito inferior, levando a que mesmo grandes percentagens de crescimento sejam valores absolutos inferiores ao crescimento nos países desenvolvidos.

A perceção dos níveis de pobreza também está distorcida, com-parando-se situações que não são comparáveis. A definição de pobreza nos países europeus nada tem a ver com as condições de pobreza nos países em desenvolvimento, muitas vezes ao nível da sobrevivência diária. Aquilo que é considerado limiar da pobreza num país europeu não é comparável com o limiar de pobreza extrema (menos de 1,25 dólares por dia) nos países em desenvolvimento.

Mito

Os países ricos fornecem grandes recursos financei-ros para a Ajuda ao Desen-volvimento, como demons-tram os números da OCDE nos últimos 50 anos (2,3 tri-liões de dólares no total).

Devemos resolver os proble-mas internos primeiro, se há tantas pessoas pobres no nosso país e na Europa.

Os países em desenvolvi-mento têm registado gran-des taxas de crescimento e, portanto, não precisam de ajuda.

As perceçÕes: Alguns Mitos & realidades

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A Cooperação para o Desenvolvimento inclui uma grande diversidade de fluxos: desde fluxos privados e donativos através de Organizações Não-Governamentais (ONG), até fluxos oficiais que incluem a Ajuda Pública ao Desenvolvimento (APD) e cujos critérios têm sido definidos no quadro da Organização para a Coope-ração e Desenvolvimento Económico (OCDE). Para além disso, verifica-se atu-almente uma profusão de financiamentos externos para muitos países ao Desenvol-vimento - incluindo a APD, empréstimos, créditos mistos, financiamentos climá-ticos, fundos privados, etc. – sendo que o principal desafio está na capacidade e vontade de canalizar estes fluxos para ob-jetivos de redução da pobreza e de Desen-volvimento.

Em termos quantitativos, a maior parte dos países doadores subscreveu o com-promisso de aumentar a Ajuda Pública ao Desenvolvimento para 0,7% do Rendi-mento Nacional Bruto (RNB) até 2015. A União Europeia reforçou este compromis-so, no Conselho Europeu de 2005, em que os países membros estabelecerem metas intermédias de 0,33% do RNB para 2006 e de 0,51% do RNB para 2010 (para os paí-ses UE 152, já que os 12 Estados Membros que aderiram à União em 2004 e 2007 comprometeram-se a uma meta de 0,17 % do RNB até 2010). No entanto, e apesar da União Europeia ser o principal doador mundial de Ajuda ao Desenvolvimento - no seu conjunto, ou seja, Comissão Euro-peia e Estados-Membros -, concedendo cerca de 55% dessa ajuda, os compromis-sos quantitativos estão longe de ser atin-gidos.

A crise económica nos países do Ociden-te veio afetar consideravelmente os or-çamentos da Ajuda ao Desenvolvimento em muitos países. Nos países membros do Comité de Ajuda ao Desenvolvimento

da OCDE, esta caiu 4% em 2012, depois de um decréscimo de 2% em 2011, num valor total que representa apenas 0,29% do seu RNB. Para além disso, a ajuda à África Subsaariana desceu 7,9% de 2011 para 2012, e para os países mais pobres (os denominados Países Menos Avança-dos – PMA) decresceu 12,8%, o que sig-nifica que a maior quebra se verifica nos países que, por definição, mais precisam dessa ajuda.

Em 2012, só a Dinamarca, o Luxemburgo, a Holanda, a Noruega e a Suécia continu-am a exceder os 0,7% de APD, enquanto 15 países efetuaram cortes nos seus or-çamentos, sendo os principais decrésci-mos registados na Espanha, Itália, Por-tugal e Grécia. No entanto, outros países continuaram a apostar neste setor como elemento estratégico essencial da políti-ca externa, como foi o caso do Reino Uni-do e da Irlanda. As estatísticas continu-am a mostrar que os europeus, incluindo os portugueses, apoiam largamente os esforços de Ajuda ao Desenvolvimento, como demonstrado nos Euro-barómetros que são realizados anualmente sobre es-tas temáticas.

O esforço global de financiamento do De-senvolvimento tem vindo a crescer nos últimos anos principalmente através do surgimento e crescimento de novos doa-dores, bem como pela inovação de fontes e formas de ajuda. Verifica-se também um alargamento exponencial do número de atores envolvidos na “Ajuda Não-Pú-blica”, através da participação crescente de ONG, fundações privadas e outras en-tidades da sociedade civil na Cooperação para o Desenvolvimento.

Tal profusão de intervenientes tem con-tribuído para um agravamento da frag-mentação da Ajuda ao Desenvolvimento, ou seja, a existência de um número maior

2 Os países da UE-15 são: Áustria, Bélgica, Dinamarca, Finlândia, França, Alemanha, Grécia, Irlanda, Itália, Luxemburgo, Países Baixos, Portugal, Espanha, Suécia, Reino Unido.

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de atividades financiadas por um conjun-to de doadores de tamanho cada vez mais pequeno. Vários relatórios apontam para que existam, atualmente, mais de 27.000 projetos de Desenvolvimento em curso; em que o número de projetos num deter-minado setor num único país ultrapassa, frequentemente, várias centenas; e que um país em desenvolvimento recebe em média mais de 200 missões de doadores em cada ano. Tal implica a multiplicação de projetos com financiamentos separa-dos, modalidades de gestão e regras de procedimento diversas, vários sistemas de monitorização e avaliação, o que re-presenta um fardo considerável para as capacidades do país beneficiário. A coor-denação e complementaridade são, nes-te contexto, ainda mais importantes, sob pena de os impactos concretos no Desen-volvimento serem parcos, pouco concre-tos ou até contraproducentes.

3. As mudanças nos paradigmas da cooperação para o desenvolvimento

Os desafios atuais do Desenvolvimento num mundo globalizado vão muito para além da Ajuda ao Desenvolvimento ou do combate à pobreza entendida no seu sen-tido estrito. Incluem questões cada vez mais globais e interdependentes, como as alterações climáticas, a segurança, a governação global, o comércio, as migra-ções, a sustentabilidade energética, ou a segurança alimentar, entre outros.

A própria crise financeira iniciada em 2008 veio demonstrar que os problemas económicos são, também, problemas de Desenvolvimento e que as interdepen-dências mundiais requerem abordagens e respostas globais. Neste âmbito, a Co-operação para o Desenvolvimento tem registado dinâmicas novas e evoluções importantes nos últimos anos, no plano

internacional e multilateral, que vieram alterar o panorama global da Ajuda ao Desenvolvimento, algumas das quais aqui referidas.

a) Novos atores e doadores emergentes

A construção de uma nova geografia da ajuda internacional tem assentado, nos últimos anos, no reforço da cooperação entre países em desenvolvimento e na presença crescente de “novos” doadores ou “doadores emergentes”, como a Chi-na, Índia, Brasil, Coreia, Turquia e vários países árabes. Estes oferecem fontes alternativas de apoio aos países em de-senvolvimento, em boa parte desiludidos com os resultados da ajuda dos chama-dos “doadores tradicionais” (ou seja, dos países desenvolvidos e que fazem parte do CAD-OCDE).

Na realidade, vários destes doadores di-ficilmente podem ser considerados como “novos”, dada a presença da China e da Índia, por exemplo, durante várias déca-das em África, em setores e zonas geo-gráficas específicas. Para além disso, é frequente a referência a estes atores como uma categoria única de atores, quando estes doadores têm interesses, formas de atuação, prioridades políticas e práticas bastante diferenciadas entre si. O grupo de atores emergentes inclui potências mundiais, poderes regionais e economias em rápida industrialização, de diferentes contextos geográficos e histó-ricos, que não possuem uma agenda co-mum ou unificada. Pode afirmar-se, con-tudo, que há uma tentativa de unificar a retórica em torno da cooperação Sul-Sul pelos próprios intervenientes, enfatizan-do aspetos como a não interferência nos assuntos internos dos Estados, as rela-ções com ganhos mútuos (“win-win”), a cooperação com dinamismo e resultados práticos, etc.

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Apesar de muitos doadores emergentes estarem envolvidos numa vasta gama de atividades de cooperação que se asse-melham a atividades desenvolvidas pe-los chamados “doadores tradicionais”, parece existir um caráter distintivo rela-tivamente a dois aspetos: por um lado, a rejeição de condicionalidades políticas para a atribuição da ajuda e implementa-ção dos projetos de cooperação; por ou-tro lado, uma sobreposição, tanto teórica como prática, entre a Ajuda ao Desen-volvimento, o comércio e o investimento, combinando diversos instrumentos em pacotes de cooperação alargada. No en-tanto, a maior abertura a vários fluxos e instrumentos de financiamento do De-senvolvimento não é apanágio apenas dos doadores emergentes, sendo cada vez mais atrativa também para os doadores tradicionais (nomeadamente europeus), numa altura em que os seus orçamentos de Ajuda ao Desenvolvimento estão sob enorme pressão interna.

Estas dinâmicas originam mudanças sig-nificativas na forma como os fluxos, as relações institucionais e a governação da cooperação se organizam no contex-to global, tendo desde logo como conse-quências:- O reconhecimento de que os dados da OCDE já não captam os fluxos totais da Ajuda ao Desenvolvimento;- A necessidade de uma reflexão sobre o que constitui Ajuda ao Desenvolvimento, já que as formas e abordagens de coo-peração destes países não se encaixam, muitas vezes, naquilo que a OCDE consi-dera ser Ajuda ao Desenvolvimento;-O levantamento de questões importantes sobre a organização do sistema mundial nesta área, já que muitos destes países são simultaneamente doadores e receto-res de ajuda.

Estas alterações globais dos equilíbrios de poder entre doadores e beneficiários, e a própria diluição desta distinção em al-guns casos, levantam também questões sobre quem lidera e influencia a agenda global do Desenvolvimento.

Face a estas novas realidades, impõe-se a análise das consequências que isso terá para os chamados doadores tradicionais, como os Estados Unidos ou os países da União Europeia (incluindo Portugal), in-corporando a necessária reflexão e revi-são das estratégias e políticas de coope-ração tradicionais. Com efeito, aquilo que denominamos de relações Sul-Sul e Nor-te-Sul são conceitos cada vez mais desa-dequados à realidade, com alguns países do chamado “Sul” a adquirirem um poder económico e uma projeção de influência muito superior a alguns países do cha-mado “Norte” (nomeadamente pequenos doadores).

Os conceitos binários “Norte-Sul” ou “doadores-beneficiários” parecem estar a ser reformulados, assim, no sentido de uma maior parceria e partilha conjunta, de uma cooperação mais aberta e inclu-siva, e de uma conversação coletiva entre vários tipos de atores e de cooperação, que agora começam a olhar-se e a ana-lisar as suas próprias práticas de Coope-ração para o Desenvolvimento perante os novos contextos.

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b) da eficácia da Ajuda à eficáciado desenvolvimento

Ao longo da última década, tem-se verifi-cado uma atenção crescente para a neces-sidade de se utilizarem de melhor forma os fundos disponíveis e assim promover a eficácia da ajuda concedida. Aumentar a eficácia da Ajuda significa assegurar que a ajuda permita aos países em Desenvol-vimento melhorem o bem-estar das suas populações mais pobres. Por esta razão, a Ajuda ao Desenvolvimento tem de ser verdadeiramente canalizada para as prio-ridades de Desenvolvimento definidas pe-los países beneficiários. No cerne deste compromisso está a convicção de que os doadores não desenvolvem os países em desenvolvimento, mas que são os países em desenvolvimento que têm a respon-sabilidade primordial de promover o seu próprio Desenvolvimento.

Para que isso aconteça, os doadores e os países em desenvolvimento têm de ultrapassar a mera relação doador-be-neficiário e estabelecer verdadeiras par-cerias, em que todos sejam mutuamente responsáveis pelos resultados obtidos em termos de Desenvolvimento.

Para além disso, a ajuda realmente efi-caz é aquela que promove uma redução da dependência da ajuda, para que o ob-jetivo final seja exatamente o país deixar de precisar dessa ajuda. A realidade está ainda longe destes objetivos, verificando--se por vezes a subalternatização das prioridades de Desenvolvimento dos paí-ses àqueles que são os interesses dos pa-íses doadores, bem como fenómenos de dependência em que os projetos da coo-peração não geram sustentabilidade nos processos de Desenvolvimento.

A agenda da eficácia da ajuda, expressa nos cinco princípios acordados na Decla-ração de Paris (2005) e reforçados pela Agenda de Ação de Acra (2008) e pela Declaração de Busan (2011) – subscritos por Portugal -, representa um grande de-safio para os países doadores. O proces-so de promoção da eficácia tem também sido preconizado pela sociedade civil, que conjuntamente acordou os Princípios de Istambul e o Consenso de Seam Riap (ver Caixa).

Estes são processos complexos de longo--prazo, uma vez que desafiam interesses estabelecidos, procedimentos instalados e formas de atuação ligadas à política externa e aos equilíbrios de poder entre os próprios doadores. Implicam, por isso, um envolvimento importante ao nível po-lítico, e não apenas técnico. Nesse senti-do, importa que nos refiramos, cada vez mais, não só a eficácia da ajuda, mas a eficácia do Desenvolvimento, ou seja, dos resultados de Desenvolvimento que pre-tendemos atingir.

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caixa: princípios internacionais para a eficácia da Ajuda (Paris, Acra e Busan)

os 5 princípios de paris

Apropriação: São os países em desenvolvimento que formulam as suas próprias estratégias em matéria de Desenvolvimento, melhoramento das suas institui-ções e luta contra a corrupção. Alinhamento: Os países doadores devem alinhar o seu apoio pelos objetivos pre-vistos e utilizar sistemas locais. Harmonização: Os países doadores devem coordenar a sua ação, simplificar os seus procedimentos e partilhar informação, a fim de evitar duplicações. Gestão centrada nos resultados: Os países em desenvolvimento e os doadores devem concentrar-se em produzir – e medir – resultados. responsabilização mútua: Os doadores e os países em desenvolvimento são mutuamente responsáveis pelos resultados obtidos em matéria de Desenvolvi-mento.

compromissos orientadores adicionais definidos em Acra (2008):(i) Fortalecer o controlo do Desenvolvimento por parte dos países(ii) Construir parcerias mais eficazes e inclusivas(iii) Alcançar resultados de Desenvolvimento e prestar abertamente contas des-ses resultados

princípios acordados no iv Fórum de Alto-Nível sobre eficácia da Ajuda (Busan, 2011):

a. Apropriação das prioridades de desenvolvimento pelos países em desenvol-vimento. As parcerias para o Desenvolvimento só terão êxito se forem lideradas pelos países em Desenvolvimento, implementando abordagens adaptadas às si-tuações e às necessidades específicas de casa país.b. enfoque nos resultados. Os nossos investimentos e esforços, alinhados com as prioridades e políticas estabelecidas pelos próprios países em desenvolvimen-to, devem ter um impacto duradouro sobre a erradicação da pobreza e a redução das desigualdades, sobre o Desenvolvimento Sustentável, e sobre o reforço das capacidades dos países em desenvolvimento.c. parcerias inclusivas para o desenvolvimento. Abertura, confiança e respeito e aprendizagem mútuos, reconhecendo os papéis diferentes e complementares de todos os atores, são essenciais para parcerias eficazes em prol dos objetivos de desenvolvimento.d. transparência e responsabilização mútua. Responsabilização mútua e para com os beneficiários alvos da nossa cooperação, assim como para com nossos respetivos cidadãos, organizações, eleitores e acionistas, são fundamentais para garantir a obtenção de resultados. Práticas transparentes formam a base para uma melhor responsabilização.

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Recursos:

Declaração de Paris sobre Eficácia da Ajuda ao Desenvolvimento (2005)

Agenda de Ação de Acra (2008)

Parceria Global para a Eficácia da Cooperação para o Desenvolvimento, Busan (2011)

Princípios para a Eficácia do Desenvolvimento das Organizações da Sociedade Civil (Istambul, 2010):

• Respeitar e promover os Direitos Humanos e a Justiça Social; • Incorporar a igualdade e equidade de género, promovendo, em simultâneo, os direitos das mulheres e das raparigas; • Centrar-se no empowerment das pessoas, na apropriação e na participação democráticas;• Promover a sustentabilidade ambiental; • Praticar a transparência e a prestação de contas; • Estabelecer alianças equitativas e solidárias; • Criar e partilhar conhecimento e comprometer-se com a aprendizagem mútua; • Comprometer-se com a criação de uma mudança sustentável e positiva.

Recursos:

Princípios de Istambul Consenso de Siam Reap, 2011

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c) o desafio da coerência das políticas

A Ajuda ao Desenvolvimento não é sufi-ciente, por si só, para acabar com a pobre-za e gerar crescimento. Outras políticas sectoriais - como a política agrícola, co-mercial, de segurança e defesa, de altera-ções climáticas ou de migrações – têm um profundo impacto nos países em desen-volvimento. Isto é ainda mais importante num contexto em que as políticas internas dos países têm cada vez maior impacto no plano externo, com as interdependências globais a gerarem interligações cada vez mais profundas e complexas entre o plano local, regional e global.

Apesar de se reconhecer cada vez mais, no plano teórico, que as várias políticas prosseguidas pelos países desenvolvidos na sua política externa têm impactos con-traproducentes no Desenvolvimento glo-bal, os exemplos de incoerências continu-am a ser variados:

• Na Agricultura: a concessão de subsí-dios de exportação aos produtos agrícolas da Europa tem efeitos negativos na segu-rança alimentar e nos setores agrícolas dos países em desenvolvimento.• No comércio: as barreiras protecionis-tas ao comércio continuam a distorcer as regras da Organização Mundial de Co-mércio, correndo o risco de se agrava-rem ainda mais com a crise económica e financeira. Calcula-se que as barreiras comerciais custem a África, anualmente, cerca de 500 mil milhões de dólares, o que é cerca de dez vezes o montante de Ajuda ao Desenvolvimento atribuído ao continente.• Nas migrações: as políticas migrató-rias tendem a centrar-se numa imigração qualificada altamente seletiva, promo-vendo assim a fuga de quadros importan-tes dos países em desenvolvimento.

• Nas finanças: os fluxos ilícitos de ca-pitais dos países em desenvolvimento prejudicam as receitas internas desses países e as suas perspetivas de desen-volvimento. O relatório “Illicit Financial Flows from Developing Countries: 2001-2010”, publicado em dezembro de 2012 pela Global Financial Integrity, revela que os países em desenvolvimento perderam mais de 850 mil milhões de dólares em fluxos ilícitos para o exterior, só em 2010.

A Coerência das Políticas para o Desen-volvimento (CPD) consiste em assegurar que os objetivos do Desenvolvimento não serão debilitados pelas outras políticas com impacto externo, e se possível, que essas políticas contribuam para os mes-mos. Isto implica uma abordagem abran-gente e integrada das questões, a análise das interligações existentes e solucionar e mitigar conflitos de interesse existen-tes. Implica também conciliar interesses económicos de curto-prazo e objetivos de Desenvolvimento de longo-prazo, tendo consciência dos custos de cada opção po-lítica. Ou seja, exige grandes alterações na forma como os países desenvolvidos e as suas organizações concebem e imple-mentam a sua Cooperação para o Desen-volvimento.

O princípio da CPD está consagrado ao nível da União Europeia como um com-promisso político no âmbito do Consenso Europeu para o Desenvolvimento (2005) e como uma obrigação legal pelo Trata-do de Lisboa (art. 21 e 208). Os Estados Membros da OCDE subscreveram-no igualmente nesse quadro, na Declaração Ministerial sobre Coerência das Políti-cas para o Desenvolvimento, adotada em 2008. Nela se comprometem a promover essa coerência como uma dimensão fun-damental dos processos de decisão políti-ca, bem como a monitorizar as incoerên-cias numa base regular e sistemática.

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Assim, a contribuição de cada país para os objetivos de redução da pobreza será cada vez mais avaliada não só através da Ajuda ao Desenvolvimento, mas também na forma como uma série de políticas, para além das políticas de Cooperação e Ajuda ao Desenvolvimento, contribuem efetivamente para o objetivo global de promoção do Desenvolvimento. Isto sig-nifica, nomeadamente, respostas inte-gradas e abordagens conjuntas entre os diversos setores, políticas e intervenien-tes, para que seja possível responder aos desafios multidimensionais do Desenvol-vimento global.

4. A cooperação descentralizadae o papel dos vários atores

O conceito de cooperação descentrali-zada é normalmente utilizado de forma indiferenciada para designar realidades diferentes. Apesar de ser muito utiliza-do em documentos oficiais e na retórica das organizações dedicadas à promoção do Desenvolvimento, a realidade é que se mantém uma ambiguidade relativamente ao seu entendimento e âmbito.

Assim, destacamos algumas aceções normalmente associadas a este conceito, podendo referir-se a:

1. Atividades de Cooperação para o De-senvolvimento realizadas pelas entida-des subestatais, ou seja, pelas autorida-des locais e regionais que representam o poder descentralizado, como é o caso das Câmaras Municipais. Esta é a definição com uma conceção mais restrita, poden-do ser utilizada como sinónimo de Coo-peração Intermunicipal e Inter-regional, desde que referente à cooperação entre municípios e regiões dos países desen-volvidos com os dos países em desenvol-vimento.

2. descentralização das competências e recursos dos países doadores para o ter-reno (para as Embaixadas, para as dele-gações de cooperação nos países parcei-ros, etc,), originando nesse sentido uma “Cooperação Descentralizada” na medi-da em que existe uma descentralização de competências, funções e fundos, das sedes dos doadores para o terreno. Esta expressão é, neste sentido, sinónimo da “desconcentração”, também vulgarmen-te utilizada.

3. Participação de uma multiplicidade de atores na Cooperação para o Desenvol-vimento, existindo uma descentralização de iniciativas e uma complexificação do número e variedade dos intervenientes. Um exemplo desta conceção mais am-pla é o caso português, onde é frequente referir-se a natureza descentralizada do sistema de cooperação portuguesa, na medida em que é um modelo onde inú-meros organismos e organizações (mi-nistérios sectoriais, institutos públicos, autarquias, universidades, organizações da sociedade civil, etc.) desenvolvem ati-vidades de Cooperação para o Desenvol-vimento. Neste sentido, utiliza-se tam-bém frequentemente a denominação de “cooperação multiatores”.A Cooperação Descentralizada surgiu as-sim, na sua abordagem mais ampla, no final dos anos 1980, com a Convenção de Lomé IV entre a União Europeia e os pa-íses de África, Caraíbas e Pacífico (ACP), pretendendo ultrapassar a relação quase exclusiva entre governos e administra-ções centrais de países doadores e bene-ficiários. Neste sentido, trata-se de uma abordagem da Cooperação para o Desen-volvimento caracterizada pela descentra-lização das iniciativas e da relação com os países em desenvolvimento, pela in-clusão de uma grande variedade de novos atores não-estatais e por uma verdadeira participação dos atores dos países bene-ficiários no seu próprio desenvolvimento.

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A União europeia reconhece, cada vez mais, o papel de diferentes atores no De-senvolvimento, estatais e não-estatais, tal como expresso no Consenso Euro-peu para o Desenvolvimento, de 2005. Os Acordos de Lomé, denominados a partir de 2000 de Acordos de Cotonou, englo-bam atualmente uma série de instrumen-tos para envolvimento da sociedade civil e para a Cooperação Descentralizada. A Comissão Europeia dispõe de diversos instrumentos financeiros para apoiar es-tas parcerias, dos quais o mais conhecido será porventura o programa de apoio às organizações da sociedade civil e às auto-ridades locais no Desenvolvimento (des-de 2006). Na “Agenda para a Mudança”, aprovada em dezembro de 2011, e onde se definem as linhas estratégicas do que será a política de Cooperação europeia para o Desenvolvimento nos próximos anos, afirma-se que “a UE tem também a possibilidade de colaborar mais estreita-mente com o setor privado, as fundações, a sociedade civil e as autoridades locais e regionais, que desempenham um papel cada vez mais importante no Desenvolvi-mento”.

No iv Fórum mundial de Alto-Nível so-bre eficácia da Ajuda (2011) foi reconhe-cido o papel acrescido da sociedade civil e do setor privado nestas temáticas, en-volvendo estes atores nas negociações e nos fóruns de discussão. O papel dos governos e autoridades locais são pela primeira vez referidos formalmente neste processo de debates sobre a eficácia da ajuda. No documento final – a “Parceria de Busan para uma Cooperação Eficaz para o Desenvolvimento” – é expressa-

mente referida a necessidade de alarga-mento da participação de atores estatais e não-estatais numa agenda até recente-mente dominada por um grupo restrito de atores do Desenvolvimento, forjando uma agenda global mais inclusiva, que “aceita a diversidade e reconhece os papéis dis-tintos que os diferentes atores da coope-ração podem desempenhar para apoiar o Desenvolvimento” e na qual estes atores “participam com base em objetivos co-muns, princípios compartilhados e com-promissos diferenciados”.

Também na conferência das Nações Unidas sobre desenvolvimento susten-tável, que ocorreu na cidade do Rio de Janeiro em junho de 2012 (denominada de Rio+20), com o objetivo de renovar e reafirmar a participação dos líderes dos países para assegurarem um desenvolvi-mento sustentável no planeta, foi feito um apelo para uma aliança entre os gover-nos, o setor privado e a sociedade civil na promoção do Desenvolvimento Sustentá-vel, sendo recomendado um aumento da participação destes atores nos fóruns in-ternacionais e nos processos de decisão. Encorajou-se ainda as autoridades nacio-nais, regionais, subnacionais e locais a desenvolverem estratégias e políticas que promovam as três dimensões do Desen-volvimento Sustentável: económica, social e ambiental.

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o papel dos governose autoridades locais

A Agenda Global do Desenvolvimento tem muitos pontos comuns com as agen-das da governação local, partilhando por exemplo a preocupação com o ambiente, as questões ligadas à urbanização e aos movimentos populacionais, o emprego, o desenvolvimento de infraestruturas e me-lhoria do acesso a serviços básicos, entre outros. Nesse sentido, os poderes demo-craticamente eleitos ao nível sub-nacio-nal (municípios, autoridades regionais e provinciais) têm uma vasta experiência adquirida na resolução de problemas li-gados ao Desenvolvimento, bem como na formulação de respostas locais aos pro-blemas globais. Acresce ainda a urbanização crescente, uma vez que mais de metade da população mundial vive atualmente em cidades e zo-nas urbanas, o que aumenta a relevância e as responsabilidades da governação ao nível local e regional. Calcula-se que, em 2050, a população mundial exceda os 9 biliões, com cerca de dois terços habitan-do em zonas urbanas, o que cria desafios consideráveis no que respeita à redução da pobreza e criação de condições de vida dignas para todos.

Num contexto de expansão das clas-ses médias em grande parte do mundo, os centros urbanos serão também cada vez mais relevantes para a participação democrática e a governação local in-fluenciará crescentemente os níveis na-cionais e internacionais da governação. Uma análise dos resultados relativa-mente aos Objetivos de Desenvolvimento do Milénio revela que há uma forte cor-relação entre o progresso na redução da pobreza, no acesso à saúde e à edu-cação, por um lado, e a descentraliza-ção do poder, das políticas, dos recur-sos e das competências, por outro lado.

A expressão “glocal” assume, assim, uma importância renovada, na interseção de várias abordagens e respostas aos pro-blemas que são simultaneamente locais e globais.

Sendo em si mesmos uma manifestação de exercício da governação democrática, a sua proximidade com as populações e o seu papel na articulação entre vários tipos de atores regionais e locais conferem-lhe uma mais-valia inegável na promoção de um desenvolvimento mais participativo e inclusivo. Para além disso, pela facili-dade de sensibilização e mobilização das populações, constituem agentes privile-giados também no campo da educação para o desenvolvimento e para a cidada-nia Global.

As ações de Cooperação para o Desenvol-vimento implementadas por estes interve-nientes têm sido cada vez mais reconhe-cidas, ao nível europeu e internacional. No plano internacional, a Conferência das Nações Unidas sobre Ambiente e Desen-volvimento (Rio de Janeiro 1992), a Ci-meira do Milénio (2000) e a Parceria para o Desenvolvimento assinada em Busan (2011) vêm reconhecer expressamente o papel destes atores no Desenvolvimen-to global. No âmbito da União Europeia, destaca-se a comunicação da Comissão Europeia sobre as autoridades locais como intervenientes no Desenvolvimento (2008), onde se afirma que “a maior parti-cipação, o volume dos recursos financei-ros mobilizados e a crescente pluralidade e diversidade dos intervenientes cons-tituem uma evolução que é necessário qualificar e quantificar, a fim de lançar as bases para uma abordagem coordenada em matéria de participação estruturada das autoridades locais na política de Coo-peração para o Desenvolvimento”.

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Apesar de, na prática, essa participação estar ainda longe de ser estruturada de uma forma estratégica e coordenada no plano europeu, nos últimos anos tem-se assistido a uma aposta na constituição de redes, dentro e entre países, bem como de novas parcerias multi-atores que têm contribuído para uma maior visibilidade destas ações de cooperação. Para além disso, as dificuldades financeiras que a Europa no geral atravessa vieram lançar uma atenção renovada sobre o trabalho que os atores sub-nacionais e locais têm desenvolvido no âmbito da cooperação internacional e para as potencialidades que poderão ser geradas por um maior envolvimento destes intervenientes.

A evolução do pensamento e das práti-cas sobre esta matéria salienta, por um lado, a importância de as autoridades lo-cais serem encaradas não apenas como prestadores de serviços, mas como in-tervenientes ativos na política de de-senvolvimento e como elementos cata-lisadores da mudança. Por outro lado, o tipo de cooperação desenvolvido pelas autoridades locais evoluiu também ao longo da última década, ultrapassando as ações de geminação entre cidades ou as ações de assistência de curto-prazo, com várias autarquias e poderes regio-nais a apostarem numa visão mais es-tratégica e de longo-prazo da Coopera-ção para o Desenvolvimento.

Isto deriva, em parte, de uma presença acrescida destes atores na cena inter-nacional, com a cooperação por eles de-senvolvida a tornar-se mais profissiona-lizada, com o desenvolvimento de uma série de novos instrumentos de coopera-ção e com o aumento dos fundos para a Cooperação Descentralizada.

No entanto, é preciso salientar que os montantes afetados, o grau de coopera-ção, os enquadramentos legais e as prá-ticas desta cooperação ainda diferem consideravelmente entre os vários pa-íses, nomeadamente entre os países eu-ropeus. Por exemplo, algumas autorida-des locais subscreveram o compromisso internacional de afetar pelo menos 0,7% do seu orçamento à Cooperação Descen-tralizada. Noutros países, não existe uma recolha sistemática de quais os montan-tes afetados nesta área, nem uma ava-liação de qual o seu contributo para o esforço do país no âmbito da Cooperação para o Desenvolvimento. Nomeadamen-te no caso português, enquanto alguns municípios encaram a Cooperação para o Desenvolvimento como um vetor estra-tégico da sua atuação e afirmação, nou-tros a cooperação internacional é uma atividade embrionária, ou ainda pouco desenvolvida e estruturada. A fragmen-tação destas ações também não ajuda a uma divulgação das boas práticas, que permita uma maior consciencialização sobre as mais-valias que este tipo de co-operação tem para o desenvolvimento de um país. A partilha de boas práticas en-tre vários atores e a capacitação institu-cional e técnica sobre estas matérias as-sume, por isso, uma importância crucial.

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Da mesma forma, há muito a fazer para melhorar a coordenação entre os vários níveis de governação e entre as próprias autoridades locais e regionais, de forma a que as ações de cooperação seja in-seridas numa estratégia de cooperação abrangente e integrada, onde os vários atores desempenham papéis comple-mentares segundo as suas mais-valias. Existem também muitas oportunidades a explorar na geração de sinergias com vá-rios intervenientes do setor privado e da sociedade civil. A incorporação de prin-cípios de eficácia do Desenvolvimento e de coerência das políticas consagrados internacionalmente (ver ponto anterior) pode ser um elemento importante para assegurar o compromisso para com o De-senvolvimento Global e uma maior com-plementaridade entre os vários interve-nientes locais, nos países desenvolvidos e em desenvolvimento.

Também nos países em desenvolvimento os desafios são consideráveis para as au-toridades locais. Muitos destes países es-tão envolvidos em processos de descen-tralização, onde se encara cada vez mais o reforço da boa governação local e a pres-tação de serviços públicos ao nível local como especialmente importantes para a melhoria dos indicadores sociais e de De-senvolvimento. Em vários casos, contudo, estes processos são ainda recentes, não constituindo ainda a implementação de um sistema equilibrado de governação multiníveis e com muitos aspetos a me-lhorar na interação entre o poder central e local. Para além disso, e apesar dos programas de apoio à descentralização e à governação local, as autoridades locais e regionais dos países em desenvolvi-mento têm ainda grandes dificuldades no acesso a fundos e financiamentos, parti-cularmente ao nível internacional.

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Para saber mais…

Development Effectiveness at the Local and Regional Level: Fostering synergies be-tween local and regional governments and the EU in the post-Busan era. PLATFORMA- Plataforma europeia de associações de governos locais e regionais, 2013

Autoridades Locais: Intervenientes no DesenvolvimentoComunicação da Comissão Europeia, COM(2008)626, Bruxelas, 2008

Localising the Millennium Development Goals - A guide for local authorities and par-tnersUN HABITAT, 2006

Local governments in development cooperationProceedings, Konrad-Adenauer-Stiftung in cooperation with the Council of European Municipalities and Regions (CEMR), Brussels 8-9 June 2006

Development Cooperation and Local GovernmentPolicy Paper, United Cities and Local Governments (UCLG)

Decentralised Cooperation: the role of local and regional authoritiesContributions by the UCLG Decentralised Cooperation Committee, with the participa-tion of ECDPM, 2009

European Charter on development cooperation in support of local governanceUnião Europeia, 2008

Changing the World locally: 25 success stories of development cooperation at local levelEuropean Commission, 2008

Revisión de los fundamentos de la cooperación descentralizada pública localAgustí Fernández de Losada Passols, Observatorio de Cooperación Descentralizada UE-AL, 2010

Cooperação Portuguesa: Uma Leitura dos últimos Quinze Anos de Cooperação para o Desenvolvimento 1996-2010Instituto Português de Apoio ao Desenvolvimento, 2011

A Cooperação Intermunicipal portuguesaDocumento de Trabalho, Centro de Estudos sobre África e do Desenvolvimento (CEsA), 2009

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parte ii

testeMUNHos

São aqui apresentados algunsexcertos de discursos e intervençõessobre Cooperação Descentralizada,os quais se baseiam nas apresentaçõesefectuadas no Seminário Internacional“Cooperação Descentralizada:Novos Desafios, Novas Parcerias”,realizado em Maio de 2013.

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Manuel ribeiropresidente da câmara Municipal do Maio, cabo verde

(…)

A partir dos anos 2000 com a conjuntura internacional, sobretudo a exigência dos próprios parceiros, iniciou-se uma fase em que é necessário ter uma abordagem do próprio desenvolvimento local numa lógica mais concertada e ordenada. A partir daí começou a surgir a necessidade, não só de ter uma nova abordagem em termos de planeamento do desenvolvimento local, mas também sobretudo no que diz respeito à mobilização de recursos. Isto é importante se tivermos em conta a estrutura do país e também das próprias autarquias, ao nível das receitas internas - quer as receitas a nível do município, quer ao nível do próprio estado -, uma vez que não era possível por de pé um programa bastante exigente, que significa resolver os problemas imediatos da população, sobretudo no que diz respeito acesso a infra-estruturas de base (quer o setor da educação, quer o sector da energia, da agua, do saneamento) mas também no que respeita à capacitação dos próprios recursos humanos, a nível das próprias autarquias.

Nesse aspeto, a Cooperação Descentralizada começou a surgir como uma fonte alter-nativa de financiamento a vários programas e projetos dos municípios. Inicialmente era só a questão financeira mas, pouco a pouco, começou a surgir outro aspeto fun-damental que é o intercâmbio, não só cultural mas também noutros sectores como a capacitação dos nossos recursos humanos, através de apoio dos parceiros do Norte e da assistência técnica em vários domínios (e aqui destaca-se sobretudo o planeamen-to e a elaboração dos Planos de Desenvolvimento Municipais).

Temos a consciência que, com a globalização, a concorrência para a captação de re-cursos é feroz, no acesso a fundos por exemplo da União Europeia, da cooperação espanhola, do fundo galego, da cooperação francesa e até em parte da cooperação su-íça. Praticamente para os países ACP, em cada 500 ou 600 projetos normalmente só é conseguido o financiamento para 50 ou 60 projetos de todos os concorrentes; portanto há aqui a necessidade de assegurar a competitividade de cada município que pretende ter mais recursos para a implementação dos seus programas e projetos.

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No caso concreto de Cabo Verde e em particular do Município do Maio, podemos dizer que a Cooperação Descentralizada tem dado um contributo no processo de Desenvol-vimento, não só na transferência dos recursos financeiros mas também nas parcerias dos nossos parceiros do Norte em relação não só ao Maio mas também a outros mu-nicípios. Mais que isso, a componente financeira da Cooperação Descentralizada tem dado um contributo significativo no que diz respeito a problemáticas para que possa-mos atingir os Objetivos do Milénio, em setores bastante importantes como é o caso da água, da educação para todos, ou do saneamento; assim, a Cooperação Descentra-lizada também contribui para que vários indicadores dos municípios e do próprio país melhorem, tanto no contexto da estratégia do país como respeitando o que foi fixado no quadro do milénio para 2015. Ainda podemos dizer que a Cooperação Descentrali-zada também ajuda bastante da reorganização da própria estrutura organizativa das autarquias.

No entanto, quando falamos de ganhos nestes sectores, não podemos esquecer al-guns constrangimentos, já que cada Estado tem a sua realidade, o seu processo de de-senvolvimento, e a sua estrutura organizativa. A partir daí, por exemplo, a elaboração ou a aprovação de algumas legislações que são importantes para a mobilização de re-cursos a nível da Cooperação Descentralizada depende, em grande medida, da admi-nistração central. É o caso, entre outros exemplos, da própria lei relativa à cooperação, a lei das finanças locais, a lei da competência das organizações não-governamentais e o próprio estatuto dos municípios ou dos governos locais. Muitas vezes a aprovação dos pareceres das autarquias ou da associação que as representa não é vinculativa, pelo que verificamos alguns constrangimentos que ultrapassam a competência dos governos locais. Apesar de tudo a mobilização de meios financeiros, materiais e a capacitação dos recursos humanos nas autarquias é claramente um ganho de escala para o país, porque são recursos que mobilizamos a fundo perdido em que não acar-reta nenhum custo para o próprio Estado.

Outro aspeto em termos de constrangimento, e apresentando o caso concreto da pró-pria união europeia que é um dos maiores parceiros do nosso Estados e também das próprias autarquias, é que os projetos são financiados no máximo até 85% e por vezes os governos locais têm dificuldade, no quadro das suas receitas próprias, em mobilizar a restante percentagem para poder viabilizar os projetos.

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Para o futuro, consideramos que há aspetos que os governos locais devem defender. Nomeadamente, ter programas especificamente para a Cooperação Descentralizada dentro de alguns programas mais importantes para os países de África, Caraíbas e Pacífico (ACP), como é o caso do Fundo Europeu de Desenvolvimento, porque cada vez mais a União Europeia trabalha com os países ACP em termos de ajuda orçamental, e quando falamos deste tipo de ajuda é evidente que quem faz a gestão dos fundos é sobretudo o Ministério das Finanças e no quadro do Programa de Desenvolvimento Nacional. Outro constrangimento tem a ver, por exemplo, com a fraca capacitação, não só dos recursos humanos mas dos governos locais e também da própria sociedade ci-vil; estou a falar aqui das ações comunitárias e das outras organizações, e temos cada vez mais necessidade de capacitação dos recursos humanos no território específico, que neste caso é o território municipal.

Da nossa experiência no concelho de Maio, com cerca de 7mil habitantes, sinceramen-te o que o que nós conseguimos fazer num período de 12 anos (de 2000 a 2012) com a Cooperação Descentralizada não seria possível de atingir se calhar no dobro do tempo sem essa cooperação. Em alguns desses anos, a comparticipação dos fundos da Co-operação Descentralizada no orçamento municipal, sobretudo na componente inves-timentos públicos municipais, ultrapassa os 60%, o que dá uma ideia da dimensão e da contribuição da Cooperação Descentralizada para o processo do Desenvolvimento de um município específico e em parte do país, porque na verdade acabamos por ter hoje alguns indicadores e alguns objetivos do milénio (no sector da água, da energia e da educação, bem como no sector de saneamento) devido ao impulsionador que tem sido essa Cooperação Descentralizada. Refiro-me aos agentes ou atores do Nor-te, começando pelas autarquias, sobretudo as autarquias portuguesas; organizações não-governamentais de países como Portugal, a Espanha, França Suíça, Alemanha e Holanda; e também podemos dizer que para o futuro começa a surgir outro parceiro bastante interessante no âmbito da Cooperação Descentralizada que é a nossa diás-pora, porque Cabo Verde é um país que tem mais de 400 mil pessoas fora do país, e alguns países estão a criar programas específicos para que os cabo-verdianos de fora possam também colaborar no processo do desenvolvimento local da região onde re-sidem temporariamente ou onde têm familiares, através de fundos públicos daqueles países, mas também através de iniciativas privadas onde as próprias autarquias dão algumas facilidades e os bancos europeus fazem a montagem financeira de alguns projetos de acordo com as potencialidades, também identificadas no quadro de instru-mentos como o plano de desenvolvimento municipal.

Uma grande preocupação para o futuro, tendo em conta a realidade atual da crise económico-financeira mundial que também nos afecta, é o facto de constatarmos uma redução significativa dos fundos que pode comprometer não apenas os Objetivos do Desenvolvimento do Milénio, mas alerta também para a necessidade de ter uma refle-xão para o futuro sobre o que significa o pós-2015 sobretudo no aspeto da dinamização das economias locais e também na consolidação da própria democracia.

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Antonio Márquez camachodiretor do setor Autoridades Locais, descentralização e Governação Local,europeAid, Bruxelas

(…)

First of all, EU development cooperation already has a long history. It is important to know that already from the beginning, in the European Community in the 1950’s, the European Commission started supporting development cooperation activities. At the time, when the European Development Fund was created, it focused more on the for-mer colonies, former British and French colonies and also now Portuguese colonies. This was the first instrument supporting cooperation activities. Afterwards what we were then supporting was a group of countries that we call the African, Caribbean and Pacific countries (ACP) and we had a total of 78 countries receiving support from the European Commission through that instrument.

Then the European Commission tried to expand the EU in the 1990’s and extended its cooperation also to other areas of the world. So now we work with all developing coun-tries in Latin America, Asia, and also neighbourhood countries; it is important to un-derstand that we have different instruments and different ways of intervening in these different areas. So we still have the European Development Fund that I mentioned, the Development Cooperation Instrument which is focused on the countries that are not ACP (focused in Asia and Latin America), and we also have an instrument for neighbou-rhood countries which means countries in the South of the EU, in the Mediterranean, and also in Eastern Europe.

The EU is the biggest donor in the world. This is something that maybe is not very clearly perceived, because we are what we call 27+1, including all the member states plus the European Commission, which is managing the funds the member states give in order for the European Commission to implement. This of course one of the chal-lenges we need to face, this need to ensure there is enough complementarities and coordination and ensuring there are no overlaps in our cooperation, because when you have many donors in the EU supporting activities in these countries we may have a situation in which is difficult to be effective.

It is important to understand that we are really providing a lot of support, the Euro-pean Commission in particular, and that EU citizens really believe that the European Commission’s support is very effective or is more effective than maybe other donors. We need to make sure that despite the difficulties, as the current economic crisis in some countries is causing problems to meet the commitments they have made, we continue to progress towards Development Cooperation. This creates problems but is simultaneously a way to ensure that we work more effectively; when certain countries cannot reach a particular developing country or a particular area, maybe then we can work in another way: we can say “at this moment I can’t continue to work in a particular country because of the economic situation in my country but I still want to be involved and I know the European Commission is working there, so we may ensure cooperation, we may ensure that our know how, our experience is also taken in consideration by the European Commission for instance”. So, there are ways to explore that and to become more effective especially in a situation where we have scarce resources.

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(…)

I would like to focus more on what we do for Local Authorities and Decentralised Co-operation. For us in the European Union we see Decentralised Cooperation as a di-vision of our overall support to local authorities. We understand that if we follow a strict sense of our definition of Decentralised Cooperation, this is the cooperation that is taking place between local authorities of the European Union and local authorities from partner countries. And it also includes other dimensions. It can include civil so-ciety organisations and a wider definition of Decentralised Cooperation can also refer to cooperation between civil society organisations from both sides. So this depends on how you interpret the term but definitely for us, in that more specific sense, our sup-port to Decentralised Cooperation is linked to the overall support to local authorities.

Why local authorities? We have been developing our policy in terms of supporting local authorities and of why local authorities are important for development. In 2008, there was already indication in the European Commission, pointing out local authorities as actors for Development, which really put forward the idea that local authorities have to play an important role in Development from both sides (both local authorities from the European Union, in their projects, in their cooperation with partners, but also local authorities in partner countries). These can play a role in making Development at the local level really effective in their countries. In the last few years, we conducted what we call the ‘Structured Dialogue’ bringing together civil society, local authorities and the different European Institutions to understand better the interlinks and the inter-relations between these different actors, to see how they really have to work together and how they can put forward proposals to making our support more effective.

We are now in the 2007-2013 Programming Period and within this timeframe, for all Development Cooperation in the EU, we have a specific Thematic Programme in which we support both civil society organisations (or what we call non-state actors) and local authorities, and we are indeed supporting projects directly in partner countries. We are also supporting networking activities of civil society organisations and local authori-ties. In Europe, to really increase their capacity to discuss, to define their positions in the area of Development, and also to engage and dialogue with the European Institu-tions at different levels, we need to put forward these actors’ agenda in the main levels of discussion at the EU.

We are also supporting what we call projects for Development Education and Awa-reness Raising. These are projects that focus mainly in raising awareness of Develo-pment issues within the EU and among citizens. And these are the kind of projects that are carried out either by civil society organisations, non-state actors, or by local authorities within the EU. We think they have a special added value as they’re not just supporting a specific action or a specific activity, but they are really carrying the whole of the development cooperation of the EU. In this sense they are the instrument that allows citizens (in schools and at different levels) to really interact with these issues, to really understand and try to explain why it is important to carry out Development Cooperation.

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We think this is a very important strand of our intervention especially in a time of crisis, when citizens of EU member states may say “why is it important to continue supporting cooperation when we have our own crisis, our own difficult situations; can you explain me more why this is really relevant, why we still have to continue?”. In this sense it is a particularly important strand of activity and support.

And of course we have other programmes where we’ve been supporting local autho-rities at a regional level, like Urbal in Latin America or like Ciudad for neighbourhood countries, which are also allowed to support projects that are being carried out by local authorities and Decentralised Cooperation activities in specific regions of the world.

This is a summary of the framework until 2013, and we are now moving towards a new period. Every 7 years there is a big debate about what we are going to do in the next few years, how much money we are going to allocate, both for internal policies of the EU and for external policies and development cooperation. This process usually starts with a reflection of our own objectives, what we want to do and what we would like to achieve. In a policy paper of the European Commission we put forward our ideas and our proposals, and then we present it to member states, the European Parliament, other institutions, the committees of the regions, the economic and social committees. We expect that the direction we want to take for a particular area and operation will be endorsed by different institutions, in particular member states and the European Par-liament, so that afterwards it can be translated into a more strategic document, into instrument specific priorities, share of funds, etc.

In the specific case of overall Development Cooperation, our new Agenda for change indicated that we need to modernise european development policy and to ensure we contribute to the new post-2015 global agenda for development. (…) The agenda for change indicated we need now to have an active contribution of the EU to the debate about which will be the new global objectives, which will be the new ideas and the new agenda that will be set out at the international level. We will need in fact to contribute to them with our instruments, and once they’re defined, we need to make sure they are in the direction that is set at the global level. We also indicated we needed to target our resources more specifically and to be more effective. We need to do important things in that sense, since we indicate that countries that are already able to generate enough resources for their own development would not receive any more direct bilateral aid from the EU and instead we would have more cooperation with them on a technical and policy level, in terms of common interests, but would not deliver the direct support they were receiving up to that moment. In fact there were indications that we would then concentrate support in countries where the resources are more needed, as fragile countries and states with lower levels of Development. This is called the principle of differentiation, which is to be introduced in EU Development Cooperation in the future.

There is also the principle of concentration, in terms of concentrating support in few sectors, accordingly with a joint definition of priorities. So the EU, the European Com-mission, will come to the country and will discuss with the government “which are the areas in which you would like to focus our assistance; lets choose 3 sectors that are relevant for you, that are relevant for your development”. This does not mean that

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other sectors cannot be supported, as they can be supported by other donors, other EU donors, other countries, depending on coordination and cooperation between the Commission and the relevant countries. But as far as the Commission is concerned, as far as the support of the EU, we will focus only on 3 sectors.

For the countries that are not going to receive bilateral aid, it will be created a sepa-rate partnership instrument with this ‘different kind of cooperation’, more focused in addressing global issues and issues of common interest of the EU and these countries. Emerging countries as India or China, which are really in a process of development, therefore they can engage with the EU at a different and more strategic level. There’ll be a specific instrument in order to have this kind of new, smarter cooperation and not the classic Development Cooperation that we’ve been having with them up until now.

Another thing I would like to underline is that already in this Agenda for change was very specifically indicated that we need to work more closely with local authorities and civil society organisations in the different countries. So, it is important that in the definition of priorities these sectors are mentioned, ensuring that the identified sec-tors are really the most relevant, as are the instruments and the ways of supporting them. It is important to ensure that the voice of the local authorities and civil society organisations are heard and taken into consideration; so it is important to ensure this is not just a discussion between the Commission and the Government, but that there is this exchange at the national level with all these actors. The EU delegations in these countries have to ensure there is a wider debate and integration, in the sense that the-se actors are really integrated into the national policy making process. This is some-thing we have developed a little bit further also in other policy documents.

On the basis of this Agenda for Change and of the principles that I indicated, the Com-mission presented these proposals in December 2011 and we are now in the process of finalizing the discussions (…) and hopefully we should start already on the 1st of January 2014 our new Programming Period.

The Commission has also made a proposal very recently with another communication ‘A decent Life for All’, which is a communication on the contribution the Commission suggests the EU should make for the definition of the post-2015 global development agenda. It is important to underline that the Commission is proposing a new overall policy framework for sustainable development, including what were the Millennium Development Goals (MDGs) and all the sustainability agenda - the Rio+ 20 process that at the moment is a separate process form the MDG’s. This is one of the points the Com-mission is advancing in this communication. The important thing is that once we have the instruments in 2014 and once we have the overall post-2015 development agenda for the global level, then we will have the instruments to work with and the overall priorities (that will be wider, probably up to 2030), which means that we’ll have an overall framework to work with and to cooperate with our partners across the world.

To conclude, what do we plan to do in the next period for local authorities and for civil society organisations? The Commission is proposing a new programme specifically (as we already have a specific dedicated programme running until 2013), which will be cal-

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led ‘Civil Society Organisations and Local Authorities in Development’ with an increase in funding. That is dependent on the final decision of our Parliament and Council, but we are very confident we will get at least an increase in funding. We had approximately 1.600 million euro for the current period and now we were proposing 2 billion; and I think at least there will be some increment in the funding. This programme will con-tinue to work and we’ll try to see the way to support in a more targeted way actors in partner countries. But I would say that in terms of objectives we will continue in a not very dissimilar way to the previous period. We will still support actions in partner countries by supporting civil society organisations and local authorities including de-centralised cooperation, including projects in which local authorities and society orga-nisations from the EU are also involved. We will continue supporting Awareness Rai-sing and Development Education that are very relevant for our overall coherence and support in Development Cooperation. We proposed to continue supporting networking and regional networks, not only in Europe but also regional networks of civil society organisations and local authorities in the different regions of the world (in Latin Ame-rica, in Africa, in Asia) so that these networks can carry the voice of civil society and of local authorities to the overall development debate in the EU and also to the post-2015 global debates. In sum, the intention is to to provide support so that they can really maximize their contribution to these policy debates on development.

We have now two policy documents (EC Communications), one on civil society organi-sations which was adopted in September 2012 and another which was adopted on May 2013 on local authorities in Development. These Communications build on what the Agenda for Change has said about the importance of having a strategic relation from the eU with these two actors, in order to recognize them as development actors on their own right, to promote an enabling environment both for civil society organisa-tions and local authorities to support their involvement in the national policy making processes, in the definition of the EU programme and priorities in the different coun-tries, as well as in the international policy debates. Also to support their capacity to participate in all these debates, and there are some specificities for Local Authorities because we consider them public authorities. These actors are closer to the cities and they have this closer and extra role in terms of delivering services, convening and bringing together the different actors in the territories. In that sense, we are proposing in the communication what we call “a territorial approach to development”, in which local authorities should bring forward the issues, the assets of a particular territory in cooperation with all the other actors (not just civil society but also with private sec-tor, chambers of commerce, universities, etc.) to bring forward and see how can we develop a particular territory (and also to see if we can bring together territorial deve-lopment plans for this territory).

I would like to quote some lines from the referred Communication more specifically on what the Commission considers is the way to follow, in Portuguese:

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“A União Europeia deve adaptar o seu apoio ao papel potencial e às necessidades maiores das autoridades locais e das respetivas associações dos países parceiros. A União Europeia deve continuar a apoiar e a coordenar a Cooperação Descentralizada entre as autoridades locais da Europa e dos países parceiros, com base em parcerias institucionais a longo prazo que operem em condições de igualdade. A Cooperação Descentralizada entre as autoridades locais da União Europeia e os seus homólogos nos países terceiros pode conferir um valor acrescentado à implementação desse seu desenvolvimento, mediante um processo de aprendizagem continuado entre pares de transferência de know-how e do reforço da participação dos agentes locais no espaço público, a nível local. Reconhecendo que muitas autoridades locais europeias começa-ram a agir como doadores, a União Europeia convida-os a congregar as suas compe-tências e a participar em atividades de cooperação mais sistemáticas, tendo em vista reforçar o impacto desta cooperação a nível local, no respeito dos princípios de eficácia da Ajuda ao Desenvolvimento. A União Europeia deve mobilizar-se especialmente em prol do empoderamento destes agentes para que possam responder melhor às expec-tativas dos cidadãos e redistribuir com maior equidade os benefícios socioeconómicos a nível local. Estas ambições devem ser acompanhadas da promoção de um ambiente propício a nível nacional e local bem como de esforços para reforçar as capacidades das autoridades locais.

A nível internacional, a União Europeia deve continuar a apoiar o papel das autoridades locais, respetivas associações de autoridades locais na sensibilização para as ques-tões de desenvolvimento local e urbano, bem como na definição da agenda interna-cional de desenvolvimento pondo em primeiro plano os interesses das comunidades locais. Por seu lado, a comunidade internacional, na perspetiva da definição da agenda do desenvolvimento pós 2015, deve reconhecer da forma mais clara as responsabili-dades dos diferentes níveis da administração pública face aos problemas mundiais e locais e o contributo que estes podem dar para a sua solução”.

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olivier consolo director executivo, european NGo confederation for relief and development (coN-cord), Bruxelas

(…) We really need to project our sector - Development Cooperation actors from NGOs that encompasses development decentralised actors like local authorities and of cour-se national agencies - to a very different thinking.

(…) Let’s start with the challenges the world faces today. At the end of the day what the international cooperation framework is supposed to do is to help in the solving on those global challenges.

1) The first one is the one on climate change. It is really important to keep in mind that it affects not only poor countries anymore, which is always a way to look it as a very far reality, but it is more and more a reality for developed countries and that’s why OECD and others are starting to take a little bit of interest for that agenda. It is also linked to the very important question of the sustainable development model that the world should follow in the next 50 years. All the scientists and researchers and the academy tell us is that it is impossible to have a 7 billion middle class, as we understand it in western societies and economies, with the planet we have. That is the first challenge: unsustainable patterns of consumption and production that need to be dramatically transformed as soon as possible, if we believe the climate change experts.

2) Secondly, poverty. The World Bank approach has been an approach that focus all Development Cooperation to the so-called ‘bottom-billions’ – which is the one billion inhabitants that live with less than 1.25 US dollars a day. And this is the one billion that is in absolute poverty that in reality we need to face. But what the international agree-ments say about what is the core objective of international development, which is writ-ten everywhere and is in Europe very binding, is to eradicate poverty. Poverty, at large, is a concept much larger than focusing in extreme poverty ‘bottom billion’ people. And if you start to count in the globe the ‘poor’, then you have 2/3 of the world population. In the absolute terms of the United Nations, this means living with 2 US dollars a day. It is a very limited and very narrowed economic definition; there are poor in our wes-tern countries, more and more, which are also to include, and in emerging countries as well. If you take all the ‘poor’ together, official figures from official institutions show that 2/3 of the world population is living in poverty, and this is the second challenge.

3) The third challenge is inequality; the impact of inequality growing in society when we talk about living a crisis or making a decent life for all. This is a very important issue and NGO’s are focusing more and more on inequality. I’ll just give you three figures to illustrate it: (1) the family Walton, which is the owner of Wall Mart, this broad US super-market chain, owns the same capital as the 50 million poorest families in the US; (2) Indian billionaires own 22% of GDP of India, where 2/3 of the population live in poverty; (3) 33.000 people in the world have more than 100 million dollars as patrimony and capital and they don´t pay taxes (maximum average, those people pay 30% of taxes). So inequality is a big issue.

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4) Migration: millions and millions of people migrate from South to South. Most of the migrants are not invading Europe, this is an absolutely wrong approach. They are cer-tainly struggling in moving from Southern countries to Southern countries, which is a big issue for the world, and we need to address it.

5) Other problem is the “financialisation” of the economy, the concentration of finance and oligarchy that this creates in each market, and the extractive model that is dominant everywhere. The main economic model that they are following is the extractive one which has a lot of impacts in forests and environment and poor people. And more recently I’ve heard by very orthodox economists this concept of jobless growth. The main problem of today is that even when there is growth, it is jobless. It doesn’t create at all what it is su-pposed to create new jobs; that’s why we need to focus on agriculture, on small farmers, because that is where we remain in the potential of increasing productivity while keeping a lot of jobs.

6) Women suffer discrimination everywhere. I don’t want to make it long. It’s an issue in Europe, it’s an issue in the US, it’s an issue in India, it’s an issue for the world and we need to address it if we want really to change something in our societies.

7) Local conflicts: there are a number of local wars that are not visible in the media and these are dramatically increasing everywhere. So to say that we solved the problem of big wars, but the reality of many, many people is that they live under insecurity and per-manent conflict situations.

8) democratisation is a big ambition. Supposedly led by the Western democracies but looking at many places, democracy is not advancing; democratization is in a way loosing space. The promise that China would become automatically more democratic the day they would liberalise their economy… I’ve already heard that in my high school in the 80’s, but it is the biggest dictatorship in the world, whether we like it or not. So CSO poli-tical space which is linked to the democratisation issue is also under threat. I don´t want to take just Southern examples: the Russian government, legislators, the President, the auhorities, the secret services, are permanently attacking CSO’s [Civil Society Organi-zations]. It’s the same I’ve been hearing about many countries in Latin America, more specifically in Central America just to mention a specific region. So democratisation is under attack and we need to address that challenge.

These are the main challenges of the world today and what is the international coope-ration framework supposed do to? It is to solve or to contribute to the solution of those problems and challenges.

The current international cooperation framework, in a few words, is around 100 billion euro/per year of official development assistance (ODA). Compared to the 60.000 billion of the world GDP, this is only 0.15% of the global wealth we produce every year - and we won’t solve the problems of the world with 0.15% of the wealth, and these few resources are decreasing. Secondly, there are many organisations involved in the development framework today: multilateral agencies, bilateral donors, development banks, many NGO’s everywhere in the world, local authorities increasingly, many millions of citizens

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supporting the idea of international solidarity (all the polls in Europe are showing that), and increasingly the private sector. The private sector is called a ‘new actor’ but it has been always part of the aid business industry, so I don’t know why we call it a new actor in Development. And the new actors are perhaps the new agencies from the emerging economies, as bilateral aid agencies that are coming from Brazil, China, Mexico and Colombia, etc.

In terms of agenda, the international cooperation framework responds mainly to two agendas today: for 15 years the so-called Millennium Development Goals (MDG’s) - 8 goals that are almost a failure but that at least have created some awareness in our so-ciety about global challenges -, and a second agenda much more hidden, because it is very technical, which is the finance for development agenda, the so-called Doha agenda, which is not going very far, for the moment.

In summary, the development cooperation framework in the world, as we NGOs see it, is firstly a lot of good will and good intentions, there is no doubt about that. Secondly, it has very little resources; all the prudent estimations of the serious people from the international institutions indicate that we need to allocate a minimum of 8 times more resources, 800 billion, to at least effectively face the challenges of poverty, climate chan-ge and conflict. If we want to change the economic model into a more real sustainable economic model, we need to add 4 points of world GDP every year as a new investment for the great transition to a more sustainable economy. So, we are very far from the in-vestment that the world needs to mobilise to change the path. Thirdly, I would say, there are too many experts and too little politicians. That is another characteristic of our sec-tor and when you see the local authorities of Development Cooperation at least it brings more politicians than experts which is very good news for all. Fourthly, our sector is too much donor-driven. (…) This agenda should move from the OECD to the UN; that’s where it should really be set if we want to have donors and recipients in an equal footing deba-te, negotiation and discussions. For the moment, it is also too poverty focused, and not enough addressing sustainable development. There are also too many silos, and that is a plight to NGOs as well. We are very tied to automatics and we don’t dare to build new alliances that form new solutions for a more integrated response. Then finally I think it was already mentioned that there is too much short term thinking and not enough inno-vation and risk taking. These are the characteristics of the framework.

The question is “with these challenges ahead of us, how does the current framework, as it is, move to another international cooperation framework?” After 2015 (and this is a very artificial date) it is the date of the end of the MDGs, but it is also after Rio+20 big conference, a step that has been chosen to bring a new international agenda for the future. All these questions that I am raising are being debated seriously, hopefully, by everyone in the world today, to see how we can move from a much narrowed, old 20th century-oriented and post-colonial international cooperation framework, to an ambi-tious, political, modern and integrated next framework. And this is what it is at stake. (…) We are in a critical period, which is a great opportunity and a period of transition, and we believe that ‘business as usual’ is absolutely not an option.

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octavi de la varga MasHead of the development cooperation office of diputació de Barcelonaeuropean platform of Local and regional Authorities for development (Platforma)

Historically and throughout the latest years, we local governments when being invol-ved in cooperation and in international issues, were fighting to find our place in the international arena and in the field of development cooperation. And this fight was normally seen as being against NGOs or at least in competition with them. Some prac-titioners pointed out that it was as if we were taking the position of NGOs in Develop-ment, because in some cases we were competing for the same funding. Furthermore, to certain extend international agencies and the European Union (EU) placed both local governments and NGOs at the same level. So, our fight at the beginning was to say “we are public administration, we are a political body, we are elected by citizens, we are not just an administrative body which delivers services on behalf of other levels of go-vernment, we are pure government and we are public administration and that should be taken into account”. Local governments have been struggling to be heard and to be acknowledged as a political actor in its own right. Local governments have been conti-nuously highlighting that they have something to say and that they are real actors, full actors in international relations and in Development Cooperation.

On another level, it is amazing how international organizations and sometimes the EU and even some other important actors still keep on talking about Development Assis-tance, Development Aid, Development Cooperation, whilst this is not longer the main issue. It is Development, only Development. development cooperation and develop-ment aid are just instrumental to development. And this is where I consider that, as local governments, we can provide ideas, knowledge and expertise; because if you only talk about Development the approach is completely different.

We have had some allies, especially the EU. At least in its declarations and communi-cations, the EU has recognized local governments as actors in Development Coopera-tion. For example, in the so called Agenda for Change, it states that local actors are a key factor in Development, in providing social, economic and territorial development. And that is because these are the administrations that are closer to citizens, which are closer to the territory. At the end of the day we are the ones that probably know best which are the real needs and demands of citizens. Also it is easier for us to work together with other actors in the territory, either with the private sector, with the civil society, or others.

But the fact is that, in reality, “we are never invited to the party, or we arrive late”. One example is the Paris Agenda, the agenda on development effectiveness. In 2005, they were talking about appropriation, proximity, efficiency and complementarities, and there was no mention of local governments. Then we had Accra (2008) where the discussion focused on going in depth with the concept of appropriation and they again did not say anything about local governments. It was at the last minute in Busan (2011), which was closing the process of the Paris Agenda, that there was a small mention of local governments.

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there is a certain contradiction when at international level it is said that local gover-nments are key actors for providing and facilitating development, but at the end of the days we are not invited to share our views. If you are a cardinal actor in sorting out certain problems, then you should be able to provide your views.

In particular, because the local approach helps to overcome the traditional divide and gap between North and south. I mean that the problems and realities of local go-vernments are the same everywhere. Maybe there are different capacities in terms of funding, human resources or dimensions in terms of population, but the final objective is the same: it is about solving social cohesion, issues of urbanisation, issues of envi-ronment and many more. It is amazing how – and even knowing the previous – difficult has been for local governments to articulate themselves in terms of giving a common approach to Development and a common view. Only recently, by means of United Cities and Local Governments and at the European level with Platforma (the network of local and regional governments in cooperation), we have been able to work together and to go together to international fora.

It is surprising to check that the main issues of the international agenda are more or less the same issues that the local agenda tackles. For example, urbanisation is a fact; 70% of the population is already living in cities, which creates imbalances within cities but also imbalances in the surrounding territory. For us the dilemma is not between urban and rural issues; it is how you tackle together both issues because urbanisation has an impact in the rural sector. And the impact of cities in the surrounding territories is also important. It is not about migration but it is about population movements (within countries, between countries, concentration of population in certain areas). This has also consequences in terms of environment and in terms of social basic services pro-vision: how can you deliver these basic services? How can you ensure certain levels of quality of life for citizens? And eventually, how do you ensure the governance of cities in order to fight inequalities and ensure social cohesion, especially in increasingly more diverse cities with more diverse populations, with more diverse interests and different approaches to reality?.

Right now and within the previous framework, what is at stake is the Development for the next 15 or 20 years. From a local point of view, you cannot separate the Millennium development Goals from the sustainable development Goals and all of them from the urban issues. For local governments, the three of them should go together and we should aim for a global agenda. The post-2015 should not only be the agenda for de-veloping countries; it should be the agenda for all countries because the line between North and South is no longer real. You have “Souths” in the North, you have “Norths” in the South. A key example is Latin America, which has impressive macroeconomic figures. Apparently they are evolving quite well, according to certain international ins-titutions, but the gap between the richer and the poorer is increasing. So, how do you tackle this? And how do you provide solutions to these realities?.

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It is clear for Platforma that local governments are good at governance and local eco-nomic development, at capacity building of local institutions. And this can be done, not only with funding, especially in times where we are undergoing a crisis, but a lot can be done by means of knowledge transfer, technical assistance, and so on. It must be said that decentralized cooperation has been very important in Europe and it is now increasing; maybe in the Southern countries is decreasing but in other countries is increasing: in France, in the Netherlands and in the Scandinavian countries. There are many different models but there is a lot of investment going on and not only, as said before, on the basis of funding but on other basis. When talking about these questions within my province (Barcelona has 311 municipalities) and having discussions with po-liticians, nobody is questioning that local authorities should be involved in Develop-ment Cooperation and Decentralised Cooperation. There is political will. Of course, in order to ensure the existence of a public policy the political will is not enough. If you do not have a budget the public policy does not exist. However, there is a will to keep on cooperating, because cooperation, international relations and working together with other cities around the world are seen as an added value, not only for European cities, but as well as for cities within third countries.

Coming back to the initial points, we are still trying to influence the international de-velopment agenda, to influence the European Commission regarding the issues they are developing, as well as the new financial framework. We think that we have a lot to do and to lead in terms of raising awareness. We also have to explore ways of how we can work with other actors, including the private sector, and we have to work more closely with NGO’s. When talking about the private sector, it is mainly about how you involve the small and medium enterprises of your territory, how you involve the social economy of your territory in Development Cooperation and how you involve other ac-tors of your territory in this agenda. It is about how you develop a territorial strategy for Development Cooperation, in your own territory.

Because of the current social and economical state of Europe, there is a false debate at the local level which has a certain bias around the following question: “why should we keep on helping the poor in third world countries, in another city, while in your own city you have 40% of your population unemployed and not even being able to get a meal?”. On the other hand, when talking to NGOs working on social issues in your own territory, those are the ones that are more understanding on why we should keep on carrying out development cooperation. And therefore, it is probably not about big dilemmas but about looking at new alliances in order to develop our local strategies for working at the international level and working with cities in third countries in a bidirectional way.

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os casos práticos apresentados foram recolhidos no âmbito de um call for papers entre 18 de Fevereiro e 15 de Abril de 2013.

parte iii

cAsospráticosexemplos aplicadose os seus benefícios

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COOPERAÇÃO CENTRALIZADA NAS POPULAÇÕES:BENEFÍCIOS DE AÇÕES CONJUNTAS ENTRE ONGDE CÂMARAS MUNICIPAIS

Comissão Interdiocesana de Educação e Ensino (CIEE); Plan Guiné-Bissau; Caritas da Guiné-Bissau; Rádio Sol Mansi/; Mi-nistério da Educação Nacional, Ciência, Cultura, Juventude e Desportos da Guiné-Bissau; Dioceses de Bissau e Bafatá; SNV Cooperação Holandesa; Embaixada de Portugal/IPAD; UNICEF; Programa de Apoio ao Sistema Educativo Guineense (PASEG); IPAD; FEC; CIEE; Plan GB; SNV Cooperação Holan-desa; Caritas da Guiné-Bissau; Municípios de Portimão, Faro, Santa Maria da Feira, Vagos e Santarém; UNICEF.

Guiné-Bissau: Regiões de Bafatá, Cacheu, Tombali, Quínara, Oio, SAB, Biombo, Bolama-Bijagós

- 235 professores- 82 diretores e representantes de comités- 30 formadores- 33 inspectores- 21 técnicos rádio- 175 escolas- 6 rádios locais- 1 associação local

FEC - Fundação Fé e Cooperação

Cooperação Descentralizada, Eficácia, Câmaras Municipais, ONGD, Impacto

ENTIDADESENVOLVIDAS

LOCALIZAÇÃODA AÇÃO

BENEFICIÁRIOSALCANÇADOS

AUTORIA

PALAVRAS-CHAVE

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Desde 2002 que a FEC, ONGD portuguesa, atua em conjunto com as Câmaras Municipais em projetos de Educação para o Desenvol-vimento e de Cooperação. O paradigma da cooperação municipal tem vindo a alterar-se: de ações pontuais e micros, passaram a projetos plurianuais e de escala com ONGD e outras entidades. A FEC evidencia o projeto “Djunta Mon” pela eficácia da Ajuda para o Desenvolvimento, com entidades portuguesas, guineenses e 5 Câ-maras Municipais: Faro, Portimão, Santa Maria da Feira, Vagos e Santarém.

O objetivo destes contactos insere-se nos princípios subjacentes à sua metodologia de trabalho: parcerias e redes; sustentabilidade; profissionalismo e transparência. Nas visitas aos municípios, cons-tatou-se que existiam diversos constrangimentos para o estabele-cimento de relações de cooperação: i) descrédito em cooperar com países frágeis; e ii) dificuldades em legitimar junto dos munícipes/contribuintes apoios aos países, marcados pela imagem de falta de organização e de prestação de contas, em detrimento das necessi-dades das comunidades do município.

Para uma análise destes constrangimentos, a FEC promoveu o “En-contro de Cooperação Descentralizada Portugal e Guiné-Bissau: a geminação e os acordos de cooperação de Câmaras Municipais com os PALOP como instrumentos de aprendizagem na criação de capacidades no Norte e no Sul” (22/05/2003). Numa primeira fase1, o desenvolvimento de projetos plurianuais na Guiné-Bissau, com reforço de competências locais, constituiu o desafio lançado a duas Câmaras Municipais: Cascais e Santa Maria da Feira. O êxito levou a FEC a conceber um projeto de formação em serviço de professo-res, diretores e agentes da comunidade, com entidades guineen-ses, portuguesas e internacionais, entre as quais cinco Câmaras Municipais com ação em três regiões. O envolvimento das Câmaras Municipais de Faro, Portimão, Santa Maria da Feira, Vagos, San-tarém, concretizou o próprio título do projeto em crioulo: “Djunta Mon” (Juntar as mãos).

De 2009 à atualidade, a FEC passou a envolver mais municípios em projetos de Educação para o Desenvolvimento (Enlaces 2007 – 2010) e de Cooperação. É possível verificar que o paradigma de coope-ração municipal está a mudar: de ações pontuais para programas plurianuais; de apoios micros para ações de ciclo de projeto; de in-tervenções com cidades geminadas para ações com impacto regio-nal e de escala; de intervenções exclusivas para consórcios com outras entidades; de ações mais concertadas dentro de cada Câ-mara Municipal. Estas mudanças evidenciam o benefício das ações conjuntas entre municípios e ONGD, sobretudo para as populações de cada país, centro da atenção destes atores, reforçando o lema eficiente de “djunta mon”.

APRESENTAÇÃODA INICIATIVA

1 Para consulta de projetos consulte o site da FEC: http://www.fecongd.org/projectos_guine.asp; http://www.fecongd.org/projectos_portugal_finalizados.asp

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A COOPERAR PARA DESENVOLVER

Câmara Municipal de Loures (Portugal); Câmara Municipal do Maio (Cabo Verde) e Instituto Marquês de Valle Flôr (Portugal)

Ilha do Maio (Cabo Verde)

Cerca de 7000 habitantes (todo o território da ilha)

Câmara Municipal de Loures

Loures, Descentralizada, Maio (ilha do), Parceria, Municípios

Constituído por uma grande diversidade cultural, o Município de Loures procurou, através da Cooperação Descentralizada, a apren-dizagem para melhor integrar e receber no seu território. Atual-mente geminada com cinco edilidades ligadas pelos laços históri-cos e património linguístico comum, a ilha do Maio destaca-se pelas parcerias estabelecidas, a eficácia, a eficiência e a sustentabilida-de de projetos implementados no terreno. A consciência do evoluir dos paradigmas ao nível da Cooperação Descentralizada e os novos desafios colocados aos atores da cooperação conduziram a que os municípios procurassem sinergias junto das Organizações Não Go-vernamentais para o Desenvolvimento a fim de garantirem o seu objetivo final: a erradicação da pobreza nos territórios cooperantes. Muitos foram os projetos que se desenvolveram e implementaram ao longo de mais 20 anos de uma cooperação de sucesso, em prol do bem-estar das populações, tendo por certo que a relação de con-fiança e a parceria entre todos os atores foi, sem dúvida, a chave para o progresso da ilha do Maio.

Hoje, Loures é um território de encontro de culturas que muita gen-te escolheu como terra de acolhimento, perfazendo, à data, cerca de 13% da sua população de origem migrante. Estamos certos de que o estabelecimento de laços de Cooperação Descentralizada foi uma das fontes pelas quais Loures melhor aprendeu a integrar as suas novas “gentes”.

Atualmente geminado com a ilha do Maio (Cabo Verde), Matola (Mo-çambique), Diu (Índia) e Água Grande (São Tomé e Príncipe), Loures procura numa base diária fomentar as suas relações de cooperação e amizade com as edilidades com quem estabeleceu os seus proto-colos de geminação.

ENTIDADESENVOLVIDAS

LOCALIZAÇÃODA AÇÃO

BENEFICIÁRIOSALCANÇADOS

AUTORIA

PALAVRAS-CHAVE

APRESENTAÇÃODA INICIATIVA

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A geminação Loures-Maio destaca-se das outras relações de Cooperação Descentralizada, de-vido à sua especificidade de implementação de projetos, nomeadamente no que diz respeito ao estabelecimento de parcerias e à sustentabilidade de resultados no terreno.

Em maio de 1993, Loures e a ilha do Maio assinaram um Protocolo de Geminação e Acordo de Co-operação baseados na existência de uma grande comunidade cabo-verdiana em Loures, de fortes laços de amizade, na vontade de combater o racismo e a xenofobia e de contribuir solidariamente para o bem-estar da população do município maiense.

E de imediato se começou a trabalhar no terreno, onde se sabia que existiriam, à partida, inúme-ras dificuldades. Algumas, infelizmente, ainda hoje subsistem, independentemente dos esforços envidados para inverter a situação.

Sendo um território com cerca de 7000 mil habitantes e com alguns recursos naturais nomea-damente o sal, o gesso, a argila e o calcário, a sua população apresenta um baixo nível de esco-laridade e consequentemente de quadros qualificados, traduzindo-se num tecido empresarial pouco dinâmico e com recurso à prática de agricultura de subsistência. Este quadro é tanto mais agravado pela ausência de infraestruturas de base, hoje, já muito colmatadas com os projetos implementados, que proporcionam condições de vida muito diferentes à população maiense.

Durante a década de 90, muitas foram as ações efetuadas com base em dotação orçamental pró-pria, em que não existia um plano concreto de ação e os resultados estavam à vista dos parceiros: pouca sustentabilidade no terreno. Agora, pretendem implementar-se projetos mais transver-sais, integrados, eficientes, mas sobretudo mais sustentáveis no terreno.

Mas nem só com boas ideias e projetos os resultados são sustentados no terreno. Para o efeito, muito contribuiu a ação dos dois Presidentes de Câmara, com características muito específicas e absolutamente singulares, que permitiram às suas equipas de técnicos municipais trabalhar de acordo com novas diretrizes e visões.

Se, por um lado, temos um presidente de um país do Sul, com um conhecimento muito intrínseco do seu território, das suas “gentes”… mas, sobretudo, com uma estratégia delineada e clara, onde todos os parceiros têm um papel a desempenhar e são fundamentais para o desenvolvimento do seu território, temos por outro um presidente de um país do Norte, ciente dos constrangimentos do parceiro e com disponibilidade de colocar todos os seus recursos e meios técnicos para ajudar ao desenvolvimento de um território “irmão”. Para isso foi preciso a visão e a capacidade de lide-rança de ambos os autarcas. Neste caso é uma combinação única, que possibilitou a implementa-ção de vários projetos no terreno que ainda hoje produzem impacto junto da população maiense.

Mas porque as autarquias não se substituem à sociedade civil, seria importante começar a fazer cada vez mais e melhor tendo em consideração os objetivos a que nos propomos.

Inicialmente, na maioria das autarquias portuguesas os projetos desenvolvidos eram sobretudo financiados quase em exclusivo com base em dotação orçamental própria, tratando-se muitas vezes de uma ajuda ocasional, pontual, nem sempre integrada ou sustentada no tempo.

Hoje, cerca de 90% dos projetos apoiados e desenvolvidos pelo Município de Loures são financia-dos por entidades externas (União Europeia, entre outras), através da submissão de propostas de projetos com base em parcerias com a sociedade civil.

A busca de novos parceiros no setor da cooperação foi essencial para continuar a alcançar os objetivos a que a Autarquia se havia proposto, mas porque se começava a criar a consciência de

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que cada ator tinha o seu papel e a sua esfera de atuação bem definido: as autarquias não podem substituir-se às organizações da sociedade civil e vice-versa. Assim se criam as verdadeiras par-cerias. E esta é uma parceria de sucesso, que resultou na assinatura de diversos protocolos de cooperação.

E muitos foram e são os projetos implementados em parceria com o Instituto Marquês de Valle Flôr.

O Projeto de Desenvolvimento Sustentado da Ilha do Maio1 foi o primeiro, em que a parceria foi colocada à prova. Sendo projeto de desenvolvimento integrado, incidiu em várias áreas, nomeada-mente: Formação Profissional, Saúde, Apoio a atividades geradoras de rendimento, Agricultura, Água e Saneamento, através do desenvolvimento e a dinamização do tecido económico da ilha; capacitação profissional de jovens desempregados e mães solteiras chefes de família; desen-volvimento da assistência médica e educação para a saúde; desenvolvimento das condições de saneamento, através do abastecimento de água e tratamento de lixos, e do desenvolvimento e aumento da produtividade agrícola com a introdução de novas técnicas. Os frutos desta nova es-tratégia estão à vista, nomeadamente nas áreas da Agricultura, da Formação Profissional e do Abastecimento de Água.

As questões ligadas ao abastecimento de água representam para Cabo Verde um eixo estratégico de intervenção. Cientes de que é uma área muito importante para a ilha do Maio e após o térmi-nus do projeto anterior, de imediato se começou a trabalhar com o Instituto Marquês de Valle Flôr para suprir a lacuna ao nível do abastecimento de água e saneamento básico. Com recurso a co-financiamento da União Europeia, o Projeto de Abastecimento de Água e Eco-Saneamento na Ilha do Maio2 previa melhorar a qualidade de vida da população da ilha, implementando mecanismos que resolvessem os constrangimentos do abastecimento de água e do saneamento básico na-quele território. E foi aqui que as maiores sinergias foram criadas entre diversas equipas técnicas dentro e fora do Município de Loures!

Considerando que este projeto requeria acompanhamento técnico muito especializado, nomea-damente no respeitante a questões relacionadas com as redes de esgotos e as ETAR, foi estabe-lecida uma parceria com os Serviços Municipalizados de Loures (SML), aliando-se assim a capa-cidade e o conhecimento técnico ao serviço da cooperação. Entre muitas atividades, destacamos: aquisição de máquina de dessalinização por osmose inversa de 250 metros cúbicos/dia, as 300 ligações domiciliárias ao sistema de abastecimento de água, a construção de cinco sistemas de correção torrencial (diques) e a construção de 150 latrinas nas comunidades mais pobres. Como garante do bom uso da água, realizaram-se junto da população mais jovem, nomeadamente nas escolas, campanhas de sensibilização e educação com apoio técnico dos SML.

Certos de que na manutenção dos equipamentos e nas instalações realizadas estava a chave para a sustentabilidade deste projeto, Loures acolheu nos seus serviços técnicos dos SML, durante um mês, estagiários vindos da ilha do Maio, proporcionando formação onjob. Para nós, técni-cos municipais, que muitas vezes nos deslocamos ao terreno, é sem dúvida um trabalho que dá particular gosto em ver os resultados no terreno. Hoje, com o projeto Programa de Reforço dos Atores Descentralizados, e com outros projetos de parceiros, a ilha do Maio tem já cobertura total de água!

Reconhecemos que trabalhamos sobretudo para as nossas populações e para o seu bem-estar, pelo que a dado momento foi necessário, conjuntamente com os parceiros, começar a contribuir efetivamente para a valorização da solidariedade e da cidadania, promovendo a educação cívica dos membros das comunidades em termos de direitos e deveres. Neste sentido, surge a Rádio Comunitária “Voz di Djar Mai”, dinamizada por uma associação comunitária.

1 Projeto cofinanciado pela União Europeia e Cooperação Portuguesa2 Projeto cofinanciado pela União Europeia e Cooperação Portuguesa

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Como meio de comunicação por excelência, a rádio comunitária é hoje a estação mais ouvida na ilha, com emissão 24 horas por dia, reduzindo as dificuldades de comunicação no município cabo--verdiano e proporcionando, entre muitas outras vantagens, as sinergias na implementação de projetos, através das campanhas de sensibilização elaboradas pela equipa da Rádio.Não poderemos falar em Cooperação Descentralizada sem um reforço de efetivo dos homólo-gos. No momento em que parte das necessidades de infraestruturas básicas na ilha do Maio estão a ser supridas, importa dotar através de recursos materiais e reforçar competências.

O Projeto Programa de Reforço dos Atores Descentralizados3 surge da necessidade com um ob-jetivo claro de contribuir para a melhoria da qualidade de vida das populações, através do forta-lecimento do poder local, quer em São Tomé e Príncipe, quer em Cabo Verde, enquanto agentes dinamizadores do desenvolvimento local e, consequentemente, nacional. Mas, para o efeito, é igualmente necessário contribuir para a promoção e a dinamização de um tecido social conscien-te e participativo nos dois territórios e contribuir para a dinamização do setor económico local, enquanto instrumento de erradicação da pobreza e motor de Desenvolvimento Sustentável.

Só através de técnicos mais capacitados e apetrechados tecnicamente poderemos ter um poder autárquico mais forte, capaz de dinamizar a sua população para as questões diretamente ligadas ao desenvolvimento do seu território, mas sobretudo mais conscientes dos seus direitos e obri-gações. Neste projeto, questões como o orçamento participativo e a elaboração de planos de de-senvolvimento local têm sido a chave para ligar o poder autárquico aos seus municípios, e assim criar um estreitamento de laços.

Em Loures e para Loures a Ilha do Maio é também referência graças ao apoio e formação presta-da na área da Criação do Serviço Municipal de Proteção Civil e Associação Humanitária de Bom-beiros Voluntários da Ilha do Maio. À data com cerca de 50 bombeiros voluntários, a Associação é uma referência na Ilha, não só pelo apoio direto que presta à população mas porque, graças à for-mação profissional do Serviço Municipal de Proteção Civil de Loures, permitiu que as condições de reabertura do aeroporto do Maio estivessem garantidas e consequentemente a mobilidade de pessoas e bens. Falar neste projeto, é falar no espírito de solidariedade que se gerou entre as corporações de Bombeiros do município de Loures e Maio, que prontamente doaram equipamen-tos e viaturas para dotar os seus colegas das condições mínimas de trabalho em prol o próximo. Este é um espírito que se pretende manter, proporcionando aos Bombeiros Voluntários do Maio o apoio e o incentivo necessário ao cumprimento do seu lema: “vida por vida”.

Julgamos que o resultado de cooperação entre estes dois municípios está à vista e patente na melhoria das condições de vida da população maiense, que residiu sobretudo na vontade política da Câmara Municipal de Loures e dos seus parceiros em colocar ao dispor da sua cidade “irmã” todos os seus recursos em prol do Desenvolvimento, promovendo uma efetiva Cooperação Des-centralizada.

É importante ter em linha de conta que estes resultados só são possíveis graças à visão que existiu ao longo dos tempos de ambos os municípios em se adaptarem e reconhecerem que no estabelecimento de parcerias, nomeadamente com a sociedade civil, poderia residir a chave para a implementação de projetos mais eficazes e sustentáveis no terreno.

Ainda que sejam muitos os desafios que se colocam hoje à cooperação intermunicipal, nome-adamente ao nível de recursos financeiros, ela deverá ser sempre encarada como importante instrumento de desenvolvimento local.

Estamos certos que juntos fazemos melhor, sempre em prol das nossas populações.

3 Projeto cofinanciado pela União Europeia e Cooperação Portuguesa

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REDE INTERMUNICIPAL DE COOPERAÇÃOCOM O TARRAFAL

Amadora, Fundão, Grândola, Marinha Grande, Moita, Montemor-o--Novo, Moura, Nisa, Setúbal, Vila Franca de Xira, Vila Real de Santo António, Tarrafal de Santiago

Portugal e Cabo Verde

Diretos – Município do Tarrafal;Indiretos - População do Tarrafal (23.786 habitantes)

Rede Intermunicipal de Cooperação do Tarrafal

Rede Intermunicipal, Cooperação, Partilha, Desenvolvimento

A cooperação intermunicipal afirma-se, hoje, como uma das me-lhores formas de Cooperação Descentralizada.

Foi com base neste pressuposto e na consciência de que os recur-sos disponíveis são cada vez mais escassos, exigindo-se cada vez mais, a sua gestão racional, que um conjunto de municípios por-tugueses e o Tarrafal, na Ilha de Santiago, em Cabo Verde, decidiu partilhar e otimizar experiências, de forma inovadora, constituindo, a 27 de setembro de 2008, uma rede de Cooperação Intermunicipal.

Esta decisão, para além de aspetos de caráter cultural e histórico, assentou ainda, no facto de cada um destes municípios ter já, in-dividualmente, relações de amizade e de cooperação com aquele município.

Esta rede caracteriza-se por uma grande flexibilidade, permitindo autonomia aos municípios, deixando intacta a sua capacidade de decisão de participar ou não, em projetos concretos, sem que daí resulte numa redução da capacidade de intervenção ou visibilidade relativamente à sua participação nesta rede.

Desde a sua criação e depois de reconhecida pelo Governo Portu-guês, esta rede tem vindo a intensificar a sua dinâmica, tendo já desencadeado e participado num conjunto de atividades, dispondo, neste momento, de instrumentos de planeamento e coordenação que lhe permitirão aprofundar a qualidade e alcance dos projetos a desenvolver ou apoiar.

ENTIDADESENVOLVIDAS

LOCALIZAÇÃODA AÇÃO

BENEFICIÁRIOSALCANÇADOS

AUTORIA

PALAVRAS-CHAVE

APRESENTAÇÃODA INICIATIVA

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A apresentação deste trabalho, de forma sucinta, visa, sobretudo, descrever a experiência, considerada inovadora.

Com o novo modelo adotado, um grupo, constituído inicialmente pelos municípios da Amado-ra, Fundão, Grândola, Marinha Grande, Moita, Montemor-o-Novo, Nisa, Setúbal, Vila Real de Santo António, Tarrafal de Santiago e, mais recentemente, com a adesão dos municípios de Moura e de Vila Franca de Xira, decidiu, espontânea e voluntariamente, passar a trabalhar em conjunto tendo, por “denominador comum”, o facto de todos os municípios portugueses terem ou desejarem ter relações de amizade e de cooperação com o município do Tarrafal, na Ilha de Santiago, em Cabo Verde.

A Cooperação Intermunicipal, enquanto modelo de relacionamento institucional entre órgãos descentralizados das administrações públicas, afirma-se, hoje, em países desenvolvidos e/ou em desenvolvimento, como uma das “melhores formas de Cooperação Descentralizada” que se estabelece a partir de “laços de parceria entre municípios de países desenvolvidos e municípios dos países em desenvolvimento numa relação de igualdade e reciprocidade” (1), cabendo-lhes um papel fundamental na elaboração de políticas públicas ao nível local. A escassez de recursos recomenda, sobremaneira, a partilha de responsabilidades e a sua gestão racional, sendo a realização de projetos, em “rede”, a opção capaz de permitir uma maior capacidade de concretização conferindo-lhes, também, um maior alcance e significado.

Tendo-se verificado a existência, em Portugal, de um conjunto de municípios com relações de amizade com o Tarrafal de Santiago, em Cabo Verde e tendo por referência o cumprimento dos Objetivos de Desenvolvimento do Milénio, foram estabelecidos contactos com todos eles com o objetivo de identificar e perspetivar a realização de projetos de cooperação conjunta, envolvendo outros agentes, em áreas como a educação e cultura, o desporto e juventude, o desenvolvimento económico, a administração autárquica ou a proteção civil, entre outras.

Realizados alguns encontros prévios, de caráter técnico e político, este grupo de municípios decidiu formalizar este novo relacionamento, visando constituir uma “rede” de cooperação, que permitisse a troca de experiências e a concretização de projetos de desenvolvimento de apoio àquele município Cabo-verdiano, assumida, institucionalmente, por todos os municípios aderentes.

Assente nos pressupostos descritos mas, também, no facto de se tratar de um município de um País lusófono, com quem partilhamos laços históricos e culturais, a formalização desta rede de cooperação veio a ter lugar a 27 de Setembro de 2008, na Marinha Grande, com a presença de autarcas de cada um dos Municípios, tendo sido adotado, unanimemente, nesta ocasião, o documento base deste relacionamento, denominado de “Acordo Intermunicipal de Cooperação com o Tarrafal”.

Foi preocupação fundamental deste conjunto de municípios, expressa em diversos momentos do texto do acordo, estabelecer, desde logo, a igualdade de condições e de tratamento entre os municípios, em particular relativamente ao Tarrafal, tentando-se que imperasse, como princí-pio básico, a ideia de que todos ajudam e todos são ajudados:

(1) IPAD, (2006), “Uma Visão Estratégica para a Cooperação Portuguesa”

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“4. Que a iniciativa de apresentação de propostas de programas ou projetos de cooperação pode ter, também, origem no Município do Tarrafal, sendo estes apreciados e debatidos do mesmo modo e sujeitos aos mesmos critérios”.

Procurou-se, por outro lado, deixar também, expressa a ideia de que todos os municípios manteriam intacta a sua capacidade de decisão quanto à participação ou não em projetos co-muns, sem prejuízo da sua condição de membros de pleno direito da rede. Assim, decidiu-se:

“5. Privilegiar a realização de programas ou projetos de cooperação por todos os Municípios em conjunto.Permitir, contudo, que alguns destes projetos possam ser apresentados e desenvolvidos por um número mais reduzido de municípios quando outros manifestem não ter possibilidade ou interesse na sua participação.(…)

(…) 7. Que, independentemente da maior ou menor intervenção individual dos Municípios, em cada um dos programas ou projetos, procurar-se-á, sempre, o seu envolvimento e referência pública, em conjunto e em igualdade de circunstâncias”.

Desde então, e não obstante todos os condicionalismos com que veio a confrontar-se desde a sua formalização, foram realizadas algumas ações de que se destacam:

• A dotação dos jardins-de-infância do Tarrafal, de diverso material didático e equipamento es-colar;• Participação na constituição do Centro de Artes e Ofícios de Trás os Montes, no Concelho do Tarrafal, que visou promover a recuperação de atividades artesanais como a olaria, a panaria ou a cestaria, enquanto forma de subsistência e geração de emprego e riqueza, em particular dirigido às mulheres e jovens daquela comunidade;• A manifestação de vontade comum, em diversas ocasiões, de apoiar o Município do Tarrafal junto dos Governos de Cabo-Verde e de Portugal, visando a reabilitação e musealização do anti-go Campo de Concentração do Tarrafal;• O reconhecimento político desta rede, pelo Governo Português, concretizado na audiência con-cedida pela Secretaria de Estado dos Negócios Estrangeiros e Cooperação, a todos os autarcas da rede;• O apetrechamento recente desta rede com o seu “Plano Estratégico”, cujo propósito funda-mental visa apoiar o aumento do índice de desenvolvimento socioeconómico do Tarrafal, assente nos seguintes eixos:

• Melhoria e equipamento das infraestruturas de ensino pré-escolar• Estabelecimento de um sistema de formação profissional• Estabelecimento de um serviço de socorros, organizado e adequado • Desenvolvimento da economia local• Reabilitação do parque habitacional• Ampliação da rede de saneamento básico• Aumento da eficiência, a eficácia e a visibilidade da ação institucional• Melhoria das condições de acesso e utilização das TIC.

A vontade dos municípios portugueses de estabelecer relações de cooperação com outros mu-nicípios de países em desenvolvimento, em particular dos Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa, não é de hoje.

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Estas relações têm sido sustentadas, ao longo dos últimos anos, fundamentalmente, em acor-dos bilaterais de “geminação” que, de forma genérica, estabelecem compromissos em áreas como a cultura e a educação, planeamento urbanístico ou o turismo, para referir apenas algu-mas e que, mercê da maior disponibilidade politica e/ou financeira, de um e de outro lado, estão sujeitas a alguma intermitência na dimensão e alcance dos projetos acordados.

Com a constituição desta rede de cooperação com o Tarrafal, este grupo de municípios, percecio-nando as vantagens do trabalho conjunto com este objetivo, partilhando e otimizando recursos, de forma aberta e flexível, quis, sobretudo, conferir estabilidade e tornar efetiva e mais eficaz a concretização de projetos de desenvolvimento naquele município Cabo-verdiano a ponto de, nalguns casos e no âmbito do conjunto de relações que cada um destes mantém, terem pas-sado a dar prioridade a este projeto.

Viu, por outro lado, na constituição desta rede, o instrumento adequado para, de uma forma planeada e coordenada, aprofundar o nível de relações de cooperação, no caso concreto, com o Tarrafal, de uma forma multilateral, tendo por referência primordial a sua contribuição para o cumprimento dos Objetivos de Desenvolvimento do Milénio.

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COOPERAÇÃO ECONÓMICA SEIXAL - BOA VISTA

Município do Seixal, Empresários do Seixal e Município da Boa Vista

Seixal (Portugal), Boa Vista (Cabo Verde)

Participantes no I Encontro “Oportunidades de Investimento em Cabo Verde”2010; Participantes no II Encontro “Oportunidades de Investimento em Cabo Verde”2011

Divisão das Migrações e Cidadania – Câmara Municipal do Seixal

Cooperação económica, cooperação intermunicipal, empreendedo-rismo, desenvolvimento, ambiente.

No âmbito das relações de cooperação existentes entre os municí-pios do Seixal e da Boa Vista e face ao contexto atual de crise eco-nómica em Portugal e de franco crescimento económico em Cabo Verde surgem agora novos desafios que se querem conducentes a um desenvolvimento socioeconómico sustentável e consistente para os dois Países e que façam face ao contexto económico de cri-se mundial. Deste modo, atendendo ao desenvolvimento de Cabo Verde e ao potencial que as empresas do Seixal e da região de Se-túbal oferecem, tendo em conta a qualidade, experiência e domínio de diversas áreas com potencialidades de investimento e que vêm colmatar necessidades da Boa Vista, têm-se envidado esforços para reforçar a cooperação entre os dois municípios, com especial enfo-que na cooperação económica envolvendo os agentes económicos das duas proveniências.

Neste contexto, os Municípios do Seixal e da Boa Vista, através do projeto de “Cooperação Económica Seixal-Boa Vista” promoveram, no Seixal, dois encontros sobre “Oportunidades de Investimento em Cabo Verde” tendo em vista o reforço da cooperação económica, a identificação de oportunidades de investimento e possibilidades de financiamento em Cabo Verde, que envolveram uma grande diversi-dade de agentes económicos da região de Setúbal.

ENTIDADESENVOLVIDAS

LOCALIZAÇÃODA AÇÃO

BENEFICIÁRIOSALCANÇADOS

AUTORIA

PALAVRAS-CHAVE

APRESENTAÇÃODA INICIATIVA

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Neste quadro e face ao interesse manifestado pelas empresas participantes nestes encontros, promoveu-se uma missão empresarial a Cabo Verde, com diversos empresários do Seixal, a fim de se realizar uma prospeção de mercado, viabilidade de investimentos e estabelecimento de contatos com entidades oficiais, empresas e sociedades de desenvolvimento local. Esta missão realizou-se em março de 2011 e incluiu uma reunião com S. Exa. o Primeiro Ministro de Cabo Verde, integrou encontros com a agência Cabo Verde Investimentos, Imobiliária Fun-diária de Habitação, Câmaras Municipais da Boa Vista e da Cidade da Praia e Sociedade de Desenvolvimento da Boa Vista e Maio.

Duas das empresas envolvidas nesta Missão já realizaram novos contatos no sentido de inves-tir na Ilha da Boa Vista nas áreas da reciclagem e do tratamento de resíduos. Sendo a área do ambiente uma das áreas de maior potencial na Ilha da Boa vista, atendendo ao facto da inefici-ência deste setor nesta ilha face à extraordinária produção de resíduos recicláveis nos hotéis e que atualmente têm tratamento insuficiente, a criação de empresas neste setor surgem como investimentos estruturantes para a qualidade de vida da Boa vista e o seu desenvolvimento sustentável ciando novas oportunidades de emprego.

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PROJETO EDUCAR PARA A PREVENÇÃO PRIMÁRIAEM SAúDE

UCCLA, União das Cidades Capitais de Língua PortuguesaAdministração do Distrito de Díli, Fundação Oriente

Comissão Europeia e Instituto Português de Apoio ao Desenvolvi-mento

Distrito de Díli (Timor-Leste)

Cerca de 110 270 pessoas, na sua maioria mulheres, jovens e crian-ças de 24 sucos do distrito de Díli.

UCCLA, União das Cidades Capitais de Língua Portuguesa

Educação, Participação, Prevenção, Saúde, Igualdade de Género

O projeto Educar para a Prevenção Primária em Saúde, foi um dos 10 projetos europeus selecionados pela Comissão Europeia para estar representado na cerimónia “Geminações e Parcerias para o Desenvolvimento”, nos Dias Europeus de Desenvolvimento que de-correram em novembro de 2008, tendo sido uma oportunidade de dar a conhecer o que propúnhamos numa fase prévia.

O projeto desenvolveu-se em 2009 e 2010 no contacto direto à por-ta de casa, em escolas, em pequenos grupos (mas também em grandes fóruns) de forma continuada e quotidiana. Com mulheres, crianças, jovens, com a população em geral. Apreciámos a confian-ça estabelecida na relação entre os ativistas de saúde comunitária e as pessoas de 24 sucos do distrito de Díli, observámos como o tema da Saúde era trabalhado de forma ampla e holística a par do escla-recimento de questões concretas. Verificámos mudanças efetivas e melhoria da Saúde Pública nas comunidades pelo desenvolvimen-to de um trabalho de proximidade que exigiu profunda participação comunitária, valorização, cidadania, empoderamento e sociabiliza-ção de saberes.

O projeto Educar para a Prevenção Primária em Saúde interveio de forma participada, capacitada e coordenada na melhoria da saúde e qualidade de vida da população do distrito de Díli.

ENTIDADESENVOLVIDAS

FINANCIAMENTO

LOCALIZAÇÃODA AÇÃO

BENEFICIÁRIOSALCANÇADOS

AUTORIA

PALAVRAS-CHAVE

APRESENTAÇÃODA INICIATIVA

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O número de pessoas atendidas e empoderadas; o trabalho diário porta a porta, de proxi-midade, acompanhamento, transmissão clara de informações, esclarecimento de dúvidas e resolução de questões concretas; a organização de atividades de saúde comunitária e escolar; a confiança estabelecida na relação entre os ativistas e as comunidades; as mudanças efetivas verificadas ao nível da melhoria da Saúde Pública superaram os resultados esperados, ten-do concretizado os seus objetivos globais (estabelecer e concretizar um programa educativo de prevenção primária em saúde, com metodologia adequada e sustentável que contribua significativamente para a promoção da saúde, saúde materna, combate de doenças infecto--contagiosas e da mortalidade infantil, com a participação da população de Díli) e específicos (formação e capacitação significativa, conjugação de esforços, constituição de uma atuação comunitária e participativa, população mais informada, envolvida e atuante, melhoria da saúde pública, promoção da sustentabilidade).

Os ativistas de Saúde Comunitária, com formação e coordenação específica e de proximidade, estabeleceram um programa de Prevenção Primária em Saúde porta a porta, organizando ati-vidades escolares e de saúde ambiental. Todo o trabalho foi desenvolvido com forte participa-ção e ligação ao poder local. Para além da parceria com a Administração do Distrito de Díli, os Chefes de Aldeia e de Suco acompanharam as atividades do projeto, tendo escrito uma Carta de Recomendação para a continuidade do mesmo. O projeto contou ainda com formadores especialistas do Ministério da Saúde, em diálogo constante com o programa ministerial SISCa.

De sublinhar ainda que as questões sociais, culturais e económicas de Timor Leste, a par com a prevenção primária em saúde e a promoção da saúde materno-infantil/saúde sexual e re-produtiva reforçaram a importância de uma abordagem coerente em igualdade de género que foi transversal no desenvolvimento de todo o projeto.Desta forma, um dos grandes resultados alcançados foi o envolvimento das comunidades e estruturas de base em cada um dos 24 sucos do distrito de Díli em ações coordenadas de esforços entre várias entidades no domínio da saúde e educação. Também é de sublinhar a co-responsabilização e a autodeterminação dos participantes e beneficiários do projeto, com o aumento significativo da população mais capacitada, participativa, informada, prevenida e exigente em matéria de Prevenção Primária em Saúde, bem como a valorização dos recursos humanos locais.

Como principal resultado destacamos, também, a integração do projeto num plano de saúde global e de longo prazo, com serviços capacitados, autónomos, dependendo essencialmente dos meios próprios de um país em vias de desenvolvimento, ao nível da Delegação de Saúde do Distrito de Díli, pelas principais atividades realizadas e pelo debate de um manual de boas práticas editado.

Em 2010, o Presidente da República de Timor Leste considerou oficialmente que o projeto Educar para a Prevenção Primária em Saúde foi “exemplar”, tendo recomendado a dissemi-nação de boas práticas a outros distritos de Timor Leste.

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PALCOS, PROJETO DE LUTA CONTRA A SIDAATRAVÉS DO TEATRO DO OPRIMIDO

URB-ÁFRICA - Associação para a Cooperação e o Desenvolvimento Urbano (ONGD fundada pela UCCLA)AMETRAMO – Associação da Medicina Tradicional de MoçambiqueCasa Madre Maria Clara de ChamanculoGrupo de Teatro do Oprimido de MaputoObra de Rua - Casa do Gaiato de MaputoTESE – Associação para o Desenvolvimento

Comissão EuropeiaInstituto Português de Apoio ao Desenvolvimento

Maputo Cidade (Distrito Municipal de Chamanculo) e Maputo Pro-víncia (Distrito de Boane) (Moçambique)

Cerca de 20967 pessoas, na sua maioria jovens do Distrito Municipal de Chamanculo e Distrito de Boane.

UCCLA, União das Cidades Capitais de Língua Portuguesa

Cidadania, Participação, HIV/SIDA, Igualdade de Género, Teatro do Oprimido

As atividades do projeto na Fase I (preparatória, de conceção de ma-teriais pedagógicos), na Fase II (aquisição de competências), com oficinas de formação de médicos tradicionais, oficinas de forma-ção de dinamizadores e oficinas de Teatro do Oprimido e na Fase III (disseminação), com as oficinas de prevenção, apresentações de Teatro Fórum, concursos escolares, rádio novela e distribuição de material preventivo e informativo foram realizadas em comunica-ção e colaboração com estruturas governamentais locais – Con-selho Municipal de Maputo, Núcleo Provincial de Combate ao HIV/SIDA da cidade de Maputo e Direção Distrital de Educação e Cultura de Nhlamankulu (Chamanculo), num grupo multi ator temático de resposta ao HIV/SIDA, que envolveu também diversas associações locais de base (Coalizão, Amodefa, Asscodecha e Acadec).

A prevenção do HIV/SIDA é um tema amplo, que envolve conheci-mentos de diferentes áreas e diversas dimensões afetivas, éticas, socioculturais, de cidadania e saúde. Também por este motivo o projeto envolveu a participação ativa de 167 dinamizadores e 103 médicos tradicionais, participantes nas oficinas de formação, su-jeitos de um processo de construção de novos conhecimentos e competências que impulsionaram todas as atividades do projeto, formulando ações, grupos de trabalho e atuando diretamente junto de adolescentes e jovens, no quotidiano.

ENTIDADESENVOLVIDAS

FINANCIAMENTO

LOCALIZAÇÃODA AÇÃO

BENEFICIÁRIOSALCANÇADOS

AUTORIA

PALAVRAS-CHAVE

APRESENTAÇÃODA INICIATIVA

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Conhecendo a questão da feminização da SIDA na África Subsaariana e o contexto sociocultu-ral em Maputo, a promoção da igualdade de género e autonomia das mulheres foi potenciada a todos os níveis: conteúdos, metodologias e informação a transmitir, estímulo à participação feminina (individual e organização coletiva), combate à violência doméstica e valorização da participação das mulheres nas atividades.

A Direção Distrital de Educação e Cultura de Nhlamankulu sublinhou a importância da parti-cipação de professores e técnicos da Direção Distrital do Ministério da Educação e Cultura em ações de formação que “dotaram os participantes de conhecimentos e competências que lhes permitiram ser atores privilegiados no combate ao HIV/SIDA e agentes ativos de prevenção de comportamentos de risco e de mudança de perceções sociais sobre a saúde e sexualidade”. A Direção do Ministério da Educação e Cultura referiu ainda que as “metodologias usadas são apropriadas em função da camada beneficiária e são aplicáveis na realidade das nossas escolas”.

O Núcleo Provincial de Combate ao HIV/SIDA da cidade de Maputo agradeceu formalmente à UCCLA pelo desenvolvimento do projeto Palcos de 2009 a 2011 em Maputo, nomeadamente pelos resultados de atuação obtidos em áreas de intervenção prioritárias e com grupos alvo prioritários, no âmbito do Plano Estratégico Nacional de Combate à Pandemia do HIV/SIDA e Estratégia de Aceleração de Prevenção às Infeções por HIV. O Núcleo Provincial de Combate ao HIV/SIDA da cidade de Maputo reconheceu igualmente as metodologias utilizadas como bastante eficazes, nomeadamente o envolvimento de jovens na interação com a comunidade; envolvimento de estruturas associativas de base; formação a médicos tradicionais na área da prevenção, feminização da epidemia e biossegurança; participação comunitária em sessões de Teatro Fórum visando a mudança de comportamentos; e, na área da comunicação, a difu-são de Rádio Novelas em rádios comunitárias.

O Palcos superou metas relativamente ao número de pessoas abrangidas e qualidade na apro-priação e desenvolvimento das principais atividades, traduzindo-se na concretização dos prin-cipais objetivos e resultados.

Todos os indicadores numéricos foram largamente maximizados pelo dinamismo dos par-ticipantes numa atuação de prevenção do HIV/SIDA desenvolvida em diversos campos, com diversos públicos de forma contextualizada e empoderada.

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PROJETO DE COOPERAÇÃO DESCENTRALIZADAVAMOS ACABAR COM A DENGUE

UCCLA, União das Cidades Capitais de Língua PortuguesaCâmara Municipal da Praia

Câmara Municipal de GuimarãesCâmara Municipal de LisboaInatelInstituto Português de Apoio ao Desenvolvimento

Município da Praia (Cabo Verde)

17 425 Alunos e 578 professores de 56 escolas do Ensino Bá-sico Integrado; 30 Técnicos da Câmara Municipal da Praia, Mi-nistério da Educação e Desporto de Cabo Verde, associações comunitárias e ONG; 30 Monitores de Jardins Infantis.

UCCLA, União das Cidades Capitais de Língua Portuguesa

Educação, Participação, Prevenção, Saúde, Dengue

A cidade da Praia, cidade mais populosa de Cabo Verde, com quase 30% da população de Cabo Verde concentrada na sua área urbana, é uma cidade com uma pequena percentagem de urbanização onde, ao longo das últimas de décadas, o cresci-mento se fez caoticamente na sua periferia, criando todas as condições para o surto da Dengue ocorrido em 2009.

Em novembro de 2009, em apenas 15 dias, cerca de 16 000 pes-soas tiveram sintomas de Dengue em Cabo Verde, a grande maioria das quais na Ilha de Santiago. É uma percentagem que quase atingiu os 10% da população.

A UCCLA respondeu ao apelo internacional para o combate ao surto da Dengue que ocorreu no município da Praia (Fase I do projeto no âmbito da ajuda humanitária de emergência, com entrega de material urgente para a limpeza urbana e proteção individual). Nessa ocasião identificou no terreno, com a Câmara Municipal da Praia, a necessidade de criar uma frente de traba-lho na sensibilização das populações para a mudança de com-portamentos, essencial para debelar a crise e prosseguindo o combate de erradicação da epidemia, evitando que se tornasse endémica.

ENTIDADESENVOLVIDAS

APOIO

LOCALIZAÇÃODA AÇÃO

BENEFICIÁRIOSALCANÇADOS

AUTORIA

PALAVRAS-CHAVE

APRESENTAÇÃODA INICIATIVA

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A Câmara Municipal da Praia identificou, também, como estratégia de atuação, privilegiar o tra-balho com as escolas - “São locais de maior concentração de crianças e jovens – constituem maioria, aprendem rápido, levam os valores aprendidos para casa e influenciam os adultos, le-vando as atividades para os bairros”.

A Fase II do projeto aqui apresentada foi desenvolvida em 2010 e contribuiu significativamente para a erradicação do surto da Dengue no município da cidade da Praia, concretizando um pro-grama educativo de prevenção primária da Dengue, com a participação das famílias, comunida-des, comunidades escolares, Jardins de Infância e escolas do Ensino Básico Integrado da cidade da Praia.

Foi também distribuído material de prevenção que contribuiu para a limpeza e higiene urbana como forma de prevenção e erradicação da Dengue na Praia, mas também na Ribeira Grande de Santiago e São Vicente.

O projeto envolveu a realização de oficinas de formação e workshops escolares para o desenvol-vimento de atividades intra-escolas, fóruns e exposições públicas, projetos escolares e comu-nitários que potenciaram a participação e o aumento de população mais informada, atuante e precursora de boas práticas e mudanças de comportamentos no âmbito da prevenção primária da Dengue. Apoiou também a limpeza e higiene urbana de acordo com as necessidades concre-tas expressas pelos municípios envolvidos no projeto.

O projeto atuou na prevenção da Dengue sustentando a eficácia de intervenções que incorporam a participação social para a erradicação de criadouros do mosquito Aedes Aegypti no período que antecede a época das chuvas.

O conceito de participação comunitária esteve diretamente ligado à cidadania, participação, em-poderamento e sociabilização de saberes. Muito mais do que “consciencializar”, “sensibilizar” e “despertar” a população, a participação requereu a valorização dos sujeitos naquilo que eles (todos nós) têm de melhor: a sua história, o seu tempo, os seus desejos, sonhos e projetos – a sua capacidade de criação.

O Projeto Vamos Acabar com a Dengue foi orientado pela Estratégia Global para Prevenção e Controle da Dengue e Febre Hemorrágica da Dengue estabelecido em 1995 pela OMS, nome-adamente reforçar capacidades através da formação e implementar um controlo integrado e seletivo do vetor por meio da participação comunitária. Teve em conta igualmente experiências e boas práticas de centros de investigação internacionais como a Fundação Oswaldo Cruz (Fio Cruz) no Brasil, Rio de Janeiro.

A participação da comunidade foi essencial para a erradicação da Dengue e foi concebida como parte integrante do programa do município.

A implementação do projeto conseguiu criar sinergias importantes entre o governo local e cen-tral, escolas e associações locais, intersectoriais – pelas diversas vereações municipais envolvi-das e comunicacionais – com o envolvimento da Rádio Educativa de Cabo Verde.

O projeto foi executado no período previsto, todas as atividades e resultados foram igualmente realizadas e cumpridos de forma bastante satisfatória, estando em condições de recomendar a metodologia desenvolvida.

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NOS JUNTE - APRENDER E CONSTRUIRDESENVOLVIMENTO, LUTAR CONTRA A POBREZA

Parceiro local: Conselho Regional de Parceiros de Santo Antão-Ca-bo VerdeONGD promotora: Monte - Desenvolvimento Alentejo Central, A.C.E;

IPAD - Instituto Português de Apoio ao DesenvolvimentoCooperação para o Desenvolvimento

Cabo Verde - Ilha de Santo Antão (concelhos de Paul, Porto Novo e Ribeira Grande)

Dirigentes, técnicos, animadores/voluntários das Associações Co-munitárias de Desenvolvimento e do Conselho Regional de Parceiros

Monte - Desenvolvimento Alentejo Central, A.C.E

Objetivo 1: erradicar a pobreza extrema e a fome

Desenvolvimento Sustentável e luta contra a pobreza

Capacitação das associações comunitárias de desenvolvimento (acd) e reforço da governança local, para apoio ao Desenvolvimento Sustentável e luta contra a pobreza, em santo antão

- Formação de formadores para o Desenvolvimento Comunitário e Luta Contra a Pobreza, incide em competências de metodologias da animação e intervenção comunitária, planeamento de projetos e, tecnologias de informação e comunicação, com particular destaque nas plataformas colaborativas de trabalho em rede;- Formação de Animadores Comunitários, num total de 36h;- Criação do Centro de Recurso para o Desenvolvimento Rural, onli-ne (http://www.moodle.monteace.pt/) e físico na Ribeira Grande- Construção de Manual de Boas Práticas em Animação Comunitá-ria em Santo Antão Cabo Verde;- Ações de disseminação das práticas Nos Junte em termos nacionais

01-10-09 a 31-10-12, 36 meses.

ENTIDADESENVOLVIDAS

FINANCIAMENTO

LOCALIZAÇÃODA AÇÃO

BENEFICIÁRIOSALCANÇADOS

AUTORIA

ODM

SETOR

OBJETIVO DAINTERVENÇÃO

ATIVIDADES

DURAÇÃO

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EIDER - EMPREENDEDORISMO E INOVAÇÃOPARA O DESENVOLVIMENTO RURAL

Parceiro local: Conselho Regional de Parceiros de Santo Antão-Ca-bo VerdeONGD promotora: Monte - Desenvolvimento Alentejo Central, A.C.E;

SP 3 PRODER, Medida da Cooperação Leader para o Desenvolvi-mento

Cabo Verde - Ilha de Santo Antão (concelhos de Paul, Porto Novo e Ribeira Grande)

Empresários e agentes de desenvolvimento local

Monte - Desenvolvimento Alentejo Central, A.C.E

Objetivo 1: Erradicar a pobreza extrema e a fome

Empreendedorismo e Desenvolvimento Empresarial

14-12-2010 a 14-12-2012, 24 meses

Reforçar competências na área da gestão empresarial e apoiar ini-ciativas geradoras de rendimentos, nos territórios rurais, do Alen-tejo Central e de Santo Antão - Cabo Verde.

- Dinamizar uma Rede de Cooperantes em Empreendedorismo Lo-cal, utilizando a plataforma do Monte http://www.moodle.monte--ace.pt, na região Alentejo Central e em Santo Antão;- Reforçar saberes e práticas dos Empresários do território de in-tervenção do Monte e do CRP-SA em áreas estratégicas ao desen-volvimento do seu negócio;- Construir e implementar a Metodologia de Apoio ao Empreende-dorismo no território de intervenção do Monte e do CRP-SA:- Realizar oficinas de apresentação da Metodologia de Apoio ao Em-preendedorismo para os empresários e outros agentes no Alentejo e Santo Antão;- Promover Workshops para o Empreendedorismo e Inovação So-cial nos territórios do Monte e do CRPSA.

ENTIDADESENVOLVIDAS

FINANCIAMENTO

LOCALIZAÇÃODA AÇÃO

BENEFICIÁRIOSALCANÇADOS

AUTORIA

ODM

SETOR

DURAÇÃO

OBJETIVO DAINTERVENÇÃO

ATIVIDADES

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BALÓI D’HORTA

Parceiro local - Conselho Regional de Parceiros de Santo Antão--Cabo VerdeONGD promotora: Monte - Desenvolvimento Alentejo Central, A.C.E;

União Europeia em Cabo Verde I Programa para Atores Não Estatais e Autoridades Locais no Desenvolvimento

Cabo Verde - Ilha de Santo Antão (concelhos de Paul, Porto Novo e Ribeira Grande)

Diretos - Agricultores e produtores locais e agentes de desenvol-vimento local; Consumidores; Indiretos - População mais pobre de Santo Antão, particularmente mulheres; os atores locais com inter-venção no território, em particular os elementos das Associações Comunitárias de Desenvolvimento, técnicos e dirigentes do CRP--SA; os consumidores na ilha e de outros territórios próximos

Monte - Desenvolvimento Alentejo Central, A.C.E

Objetivo 1: Erradicar a pobreza extrema e a fome

Empreendedorismo e Desenvolvimento Empresarial

01-03-2012 a 01-03-2014, 36 meses

- Aumentar o capital social e económico da população pobre da Ilha de Santo Antão, tendo em vista contribuir para a redução da pobreza até 2014;- Implementar e desenvolver o comércio de proximidade com pe-quenos produtores de Santo Antão, até Setembro de 2014.

- Atividades Preparatórias e de diagnóstico;- Ações de capacitação dos núcleos de produtores locais;- Criação dos núcleos de produtores Balói d’horta:- Partilha de experiências em práticas de comércio de proximidade e fileiras justas;- Criação da rede para a comercialização dos produtos;- Estratégia de comunicação e divulgação dos produtos locais;- Disseminação da Rede para a comercialização dos produtos.

ENTIDADESENVOLVIDAS

FINANCIAMENTO

LOCALIZAÇÃODA AÇÃO

BENEFICIÁRIOSALCANÇADOS

AUTORIA

ODM

SETOR

DURAÇÃO

OBJETIVO DAINTERVENÇÃO

ATIVIDADES

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GESTÃO SUSTENTÁVEL DOS RECURSOS FLORESTAISNO PARQUE NATURAL DOS TARRAFES DE CACHEU (PNTC)

Parceiro local: IBAP - Instituto da Biodiversidade e Áreas Protegi-das, Guiné-Bissau;ONGD promotora: Monte - Desenvolvimento Alentejo Central, A.C.E;

Comissão Europeia, Programa Temático de Meio Ambiente e gestão sustentável dos recursos naturais, incluindo energia; IPAD - Insti-tuto Português de Apoio ao Desenvolvimento, Cooperação para o Desenvolvimento

Guiné-Bissau, Região de Cacheu

Diretos - Associações de agricultores, madeireiros e caçadores; Ré-gulos e outros representantes do poder tradicional e local; Vigilan-tes do PNTC; Imigrantes; População residente no Parque; Indiretos - População residente no Parque Natural e população guineense

Monte - Desenvolvimento Alentejo Central, A.C.E

Objetivo 1: Erradicar a pobreza extrema e a fome

Desenvolvimento Sustentável e Luta contra a Pobreza

Combater o processo de degradação da vegetação florestal se ve-rifica na Guiné-Bissau e em particular no PNTC, através de uma gestão dos recursos naturais sustentável e participada pelas po-pulações locais. Contribuir para a conservação e a valorização da biodiversidade do parque em benefício das populações residentes, envolvendo as próprias comunidades numa gestão participada e responsabilização na conservação e utilização racional dos seus re-cursos naturais.

Redução das desflorestação e redução da degradação dos recursos naturais.

Trata-se de uma proposta de intervenção pretende constituir-se exemplar do ponto da gestão de (novos) recursos como sejam os derivados do desenvolvimento de atividades de reflorestação, a ge-ração de receitas com a comercialização de créditos de carbono, e a sua gestão com proveito para as comunidades; dinamização de atividades de ecoturismo e de observação da natureza, os quais no seu conjunto deverão contribuir para a viabilização de atividades económicas e geração de novos rendimentos que revertam para as populações e comunidades locais.

ENTIDADESENVOLVIDAS

FINANCIAMENTO

LOCALIZAÇÃODA AÇÃO

BENEFICIÁRIOSALCANÇADOS

AUTORIA

ODM

SETOR

OBJETIVO DAINTERVENÇÃO

RESULTADOS

CARACTERÍSTICASDA INTERVENÇÃO

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- Reforço da estrutura legal e institucional do sector florestal, no-meadamente pela revisão do regulamento do parque e adaptação a novas atividades de conservação e reflorestação;- Reforço da capacidade do parque nas áreas de fiscalização e técni-cas de conservação das florestas, incluindo a dinamização de ativida-des relativas à regeneração da floresta, redução da desflorestação e da degradação florestal, e de obtenção de créditos de carbono tran-sacionáveis- Valorização dos recursos florestais, nomeadamente, através do desenvolvimento de produtos florestais não lenhosos [produtos ali-mentares; medicinais; artesanato…], da dinamização do ecoturismo [alojamento, circuitos] e do desenvolvimento de um fundo financeiro (FIAL/AAGR) para apoiar iniciativas locais que contribuam para me-lhorar a qualidade de vidas das comunidades locais tendo em conta as preocupações ambientais e de conservação dos recursos do par-que [abordagens participativas]- Desenvolvimento de atividades de Educação ambiental para o De-senvolvimento Sustentável através das escolas comunitárias e esco-las EVA (escolas de valorização ambiental)

01-03-2012 a 01-03-2015, 48 meses.

A intervenção do Monte na área da Cooperação para o Desenvolvi-mento, é perspetivada como um instrumento para o combate à po-breza das comunidades rurais, e para a concretização dos Objetivos de Desenvolvimento do Milénio. Esta intervenção centra-se nos do-mínios da Boa Governação, do Reforço de Competências Organizati-vas, e do Desenvolvimento Sustentável.

Desde o inicio da sua atuação o Monte privilegia o desenvolvimento de um trabalho em parceria, com entidades publicas e privadas, com vista a promover um desenvolvimento sustentado e apropriado pelas e com as comunidades locais. A Cooperação para o Desenvolvimento constituiu uma intervenção específica e consolidada, no contexto das várias intervenções em realização pelo Monte.

A intervenção como ONGD ampliou o âmbito de atuação do Monte e permitiu a participação em plataformas e redes alargadas de par-ceiros, ao nível da Cooperação para o Desenvolvimento, reforçando competências internas, no sentido de melhor responder aos desafios que se colocam ao (des)envolvimento global dos povos.

O Centro de Recursos para o Desenvolvimento Rural – CRDR (http://www.moodle.monteace.pt/), é um dos instrumentos criados pelo Monte para apoio à atividade de Cooperação para o Desenvolvimento, com a finalidade última de reforçar competências dos diferentes ato-res e das comunidades, qualificar as intervenções e construir novas oportunidades de desenvolvimento para os territórios.

ATIVIDADES

DURAÇÃO

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Esta publicação foi produzida com o apoio da União Europeia. O seu conteúdo é da exclusiva responsabilidade do IMVF e dos seus parceiros e não pode, em caso algum, ser tomado como expressão das posições da União Europeia.