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, MAIUAL 1EC.ICO CULTURA DO MILHO 1- FATORES CLIMÁTICOS Bernardo de Carvalho Avelar * o milho e um cereal de grande importância no mundo, e seu su- cesso é baseado em seu uso direto para consumo humano e animal, alta produtividade e possibilidade de cultivo em faixa ampla de meios ambientes. As áreas de cultivo estendem-se desde a latitude de 589N, na Uni~o Soviética e Canadá, at~ 409S na Argentina, e desde abaixo do nível do mar, na regi~o do Mar cáspio, até mais de 3,600 m de altitude nos Andes peruanos. Contudo, a maior parte da cultura se desenvolve nas partes quentes das regiões temperadas, tais como o meio-oeste dos Estados Unidos (40-439N). a área do sul da Europa, em torno do rio Danúbio (45-479N), e nos subtrópicos úmidos, in- cluindo o sul da África (309S). ~Na realidade~ as variedades se distribuem entre as precoces, que \ se adaptam as zonas t empgradas de verao curto e dias longos, cuja colheita pode ser efetuada aos 3 meses, e variedades bastan- te tardias, adaptadas as regiões equatoriais úmidas, de 10 ou mais meses de ciclo. )(0 cultivo do milho praticamente não e feito em areas em que a temperatura média diária no ver~o est~ abaixo de 189C, ou a tem- peratura média noturna seja inferior a 129C. )<Verões quentes e úmidos, facilitando o desenvolvimento vege- tativo da pIanta,' aliados a inver nos seco s, tornando fáciI a c 0- lheita e armazenagem, parecem favorecer a cultura. No presente trabalho, será dada ênfase a dois aspectos climá- ticos que afetam a cultura do milho na regi~o Centro-Sul. 1.1 - CONDiÇÕES TERMICAS A semente necessita, para germlnar, de temperatura adequada aos processos metabólicos, oxigenio para a respiraçao, reservas nutritivas e água para tornar solúveis as reservas, atendendo deste modo às necessidades de crescimento e desenvolvimento da planta. v A plântula de milho tem uma temperatura mínima para a germl- naçao de 9,49C, sendo que o ótimo de germinaç~o se dá entre 24 e 309C. Quando a temperatura se constitui em fator limitante, procu- ra-se ajustar os períodos de desenvolvimento mais críticos às condições médias de temperaturas adequadas. É fato estabelecido que o crescimento e desenvolvimento de uma planta de milho se correlaciona mais com a temperatura do que com qualquer outro fator isolado. Independente das condições de luz, o crescimento da planta fica paralisado quando a temperatura desce abaixo de certo valor mínimo ou ultrapassa determinado va- lor maximo, situando-se entre estes extremos um valor ótimo de temperatura para ó desenvolvimento do milho. Estes valores esta- belecidos são: desenvolvimento mínimo entre 8-109C, ótimo a 309C e maXlmo a 409C. 'Pesquisador do Centro Nacional de Pesquisa de Milho e Sorgo - Sete Lagoas, MG. 3

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,MAIUAL 1EC.ICO CULTURA DO MILHO

1 - FATORES CLIMÁTICOS

Bernardo de Carvalho Avelar *

o milho e um cereal de grande importância no mundo, e seu su-cesso é baseado em seu uso direto para consumo humano e animal,alta produtividade e possibilidade de cultivo em faixa ampla demeios ambientes.

As áreas de cultivo estendem-se desde a latitude de 589N, naUni~o Soviética e Canadá, at~ 409S na Argentina, e desde abaixodo nível do mar, na regi~o do Mar cáspio, até mais de 3,600 m dealtitude nos Andes peruanos. Contudo, a maior parte da cultura sedesenvolve nas partes quentes das regiões temperadas, tais como omeio-oeste dos Estados Unidos (40-439N). a área do sul da Europa,em torno do rio Danúbio (45-479N), e nos subtrópicos úmidos, in-cluindo o sul da África (309S).

~Na realidade~ as variedades se distribuem entre as precoces,que \ se adaptam as zonas t em p g r ad a s de v e r ao curto e dias longos,cuja colheita pode ser efetuada aos 3 meses, e variedades bastan-te tardias, adaptadas as regiões equatoriais úmidas, de 10 oumais meses de ciclo.)(0 cultivo do milho praticamente não e feito em areas em que a

temperatura média diária no ver~o est~ abaixo de 189C, ou a tem-peratura média noturna seja inferior a 129C.

)<Verões quentes e úmidos, facilitando o desenvolvimento vege-ta t iv o da p Ian ta,' a li ados a inver nos seco s, t o rn an do fá c i I a c0-lheita e armazenagem, parecem favorecer a cultura.

No presente trabalho, será dada ênfase a dois aspectos climá-ticos que afetam a cultura do milho na regi~o Centro-Sul.

1.1 - CONDiÇÕES TERMICAS

A semente necessita, para germlnar, de temperatura adequadaaos processos metabólicos, oxigenio para a respiraçao, reservasnutritivas e água para tornar solúveis as reservas, atendendodeste modo às necessidades de crescimento e desenvolvimento daplanta.

v A plântula de milho tem uma temperatura mínima para a germl-naçao de 9,49C, sendo que o ótimo de germinaç~o se dá entre 24 e309C.

Quando a temperatura se constitui em fator limitante, procu-ra-se ajustar os períodos de desenvolvimento mais críticos àscondições médias de temperaturas adequadas.

É fato estabelecido que o crescimento e desenvolvimento deuma planta de milho se correlaciona mais com a temperatura do quecom qualquer outro fator isolado. Independente das condições deluz, o crescimento da planta fica paralisado quando a temperaturadesce abaixo de certo valor mínimo ou ultrapassa determinado va-lor maximo, situando-se entre estes extremos um valor ótimo detemperatura para ó desenvolvimento do milho. Estes valores esta-belecidos são: desenvolvimento mínimo entre 8-109C, ótimo a 309Ce maXlmo a 409C.

'Pesquisador do Centro Nacional de Pesquisa de Milho e Sorgo - Sete Lagoas, MG.

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MAIUAL TECIICO CULTURA DO MILHO

A temperatura do solo é hoje reconhecid2 como um dos pr~nc~-pa~s fatores, afetando o desenvolvimento e produçio do milho emmuitas regi~es do mundo, por diferentes raz~es.

Em altas altitudes do Kenia, alguns trabalhos mostram que aqueda de temperatura do solo reduz a produção. No fim da estaçãoseca, a temperatura do solo, a 7,5 cm de profundidade, é de25-269C, caindo para 16-179C quando as chuvas há muito estão es-tabelecidas. Plantando-se cedo, temperaturas mais elevadas condu-zem a um crescimento rápido e precoce e as produções finais sãoaumentadas em mais de 50%.

Em contraste, em determinadas áreas serranas do Rio Grande doSul, a temperatura do solo é baixa no fim do outono. Como o milhotem uma temperatura base de 109C, abaixo da qual ~esenvolvi~entoé pequeno, ou não se realiza, o problema e entao a elevaçao datemperatura do solo durante a parte inicial do ciclo da planta,aconselhando-se pois a não plantar demasiado cedo.

Recente trabalho em Samaru, na Nigéria, mostra que as tempe-raturas do solo, durante a estação se.ca e as primeiras chuvas,estão entre 35-409C, bem acima do ótimo para o milho, mas caempróximas do ótimo, 25-289C, depois do começo das chuvas. Nessasáreas, o milho plantado cedo, todavia, sobrepuja os plantios tar-dios, pois estes sofrem déficit hídrico, uma vez que a estaçãodas chuvas é relativamente curta.

Excetuando-se, pois pequenas áreas elevadas, as temperaturasdo ar e do solo na região Centro-Sul situam-se em níveis adequa-dos ao desenvolvimento da cultura do milho.

1.2 - CONDiÇÕES HroRICAS

Enquanto a estaçio de crescimento nas áreas temperadas e nor-malmente encurtada por baixas temperaturas e geada, a deficiênciade água é provável fator climático de maior peso, em termos delimitaçio para a'cultura em áreas tropicais.

A emergência irregular é causada normalmente pela pouca dis-ponibilidade de água no solo, embora o mesmo apresente temperatu-ra favorável.

O tempo de emergência pode ser longo bastante para deteriorara semeneira, por causa de chuvas excessivas seguidas por seca.Isto pode levar a maior acúmulo de terra e compactação do soloacima da semente e ã formação de uma crosta dura superficial, se-guida de seca, na zona das raízes, privando a planta de água ne-ces~ária ao estabelecimento .

• A falta de água nos primeiros estádios poderá, segundo algunsautores, forçar o desenvolvimento do sistema radicular, enquantoo "stress" de umidade no período de crescimento rápido, que seinicia trinta a quarenta dias após a emergência, produz a parali-zação desse crescimento, resultando em redução de rendimento.Contudo, vários experimentos mencionam que os períodos de pendoa-mento, embonecamento e polinização, geralmente sessenta a oitentadias após o plantio, foram considerados como os mais susceptíveisao déficit hídrico.

A água é fator importante, tanto pouco antes como até quatrosemanas depois do espigamento. Em diversos trabalhos, se consta-tou decréscimos em torno de 50% no rendimento, quando o "stress"de umidade ocorreu por um período de uma semana na fase de pen-doamento, e de 30% quando a água faltou após o espigamento. Dadosde campo sempre apresentam correlaç~es positivas entre chuvasneste período e rendimento final, exceto quando as precipitaçõesnão se traduzirem por água dispinível no solo em quantidades sa-tisfatórias para a planta.

Umidade e temperatura elevadas determinam o aparecimento dependões mais rapidamente que em condições de temperaturas baixas

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MAIUAL TECIICO CULTURA DO MILHO-e alta disponibilidade de agua no solo. Em contraste, elevadas

temperaturas e baixa reserva de água disponível no solo causamretardamento no espigamento, aumentando o numero de plantas esté-reis, pois ocorre má polinização, em virtude de defasagem entrependoamento e espigamento, conduzindo à formação de grãos peque-nos e escassos. A baixa polinização provém de estigmas não recep-tíveis e problemas com a viabilidade do pólen.

Em resumo, de maneira simplificada, há dois períodos críticosprincipais durante o ciclo de desenvolvimento das plantas quantoà água disponível no solo. O primeiro ocorre imediatamente após o

~ plantio, quando a planta está germinando; um longo período de se-ca nesta época pode prejudicar a germinação e haver necessidadede replante. O segundo ocorre no florescimento, quando a falta deágua pode reduzir severamente a produção.

Grande parte da região Sul apresenta boa distribuição de pre-cipitações, o mesmo não acontecendo com o Planalto Central doBrasil. Essa região apresenta distribuição irregular das precipi-tações no período chuvoso, que se estende de outubro a março, de-terminando então o aparecimento de veranicos neste período. O ve-ranico é normilmente conceituado como um período em que pratica-mente não ocorrem chuvas e a temperatura é elevada; tendo a dura-ção, geralmente, compreendia entre 10 a 25 dias, e podendo, noentanto, ser maior.

A evapotranspiração potencial é elevada, em decorrência dealta radiação solar e baixos valores de umidade relativa.

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

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1 - AVELAR, B.C. & OLIVEIRA, A.C. Influência das condições hídri-cas na cultura do sorgo. In: REUNIAO BRASILEI~A DE MILHO ESORGO. Goiânia, 1978. Anais.· s.n.t.

2 BENDIT, P. The start of growing season in northern Nigéria.Agric. Ne t e or o l , , 18:91-99.

3 - BERLATO, M.A. & SUTILI, V.R. Ecologia do milho; 11 - determi-nação das temperaturas bases do subperlodos emergência,es-pigamento de três cultivare~ de milho. In: REUNIAO BRASI-LEIRA DE MILHO E SORGO, 10. Piracicaba, 1976. Anais. s.n.t.p. 523-7.

4 - CAMARGOS, A.P. Viabilidade e limitações climáticas para a cul-tura do milho no Brasil. In: INSTITUTO BRASILEIRO DE POTAS-SA. Cultura e adubação do milho. são Paulo, 1966. p.225-45.

5 - CARR, M.K.V. & MILBOUM, G.M. Maize: climatic and physiologi-cal factores limiting yield. Span~ 19(2):65-7, 1976.

6 - ROBINS, J. S. & DOMINGO, X. E. Some effects of severe soilsmoisture deficits at specific growth stages in corn.Agron.J.~ Madison, 45(12):618-24,1953.

STEWART, J. 1. et alii. Irrigation corn and grain sorghum witha deficient water supply. Tr an e . ASAE~ St. Joseph, Mich.,18(2):270-80, 1976.

SUTILI, V.R. et alii. Ecologia do milho; I - efeitos de épo-cas de semeadura no rendimento de grãos de três cultivaresde milho em três regiões do Rio Grande do Sul. In: REUNIAOBRASILEIRA DE MILHO E SORGO, 10. Piracicaba, 1976. Anais.s.n.t. p.517-21.

9 - WOLfE, J. M. Water contraints to com p r odu c t i on in Central Bra-sil. s.1., Cornell University, 1975. Tese.

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