magazine luiza consumo e cultura nas redes digitais

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PPGCOM ESPM – ESCOLA SUPERIOR DE PROPAGANDA E MARKETING – SÃO PAULO – 15 E 16 OUTUBRO DE 2012 MAGAZINE LUIZA: HORIZONTES DA CULTURA E DO CONSUMO NAS PÁGINAS DO FACEBOOK. 1 Luciana F. S. Prado 2 Mestranda em Mídia e Cultura Universidade Federal de Goiás Resumo As marcas e empresas de todos os segmentos da sociedade estão agora imersos também nas redes sociais e desta presença nasce um novo diálogo entre elas e seus consumidores. O que realmente desejam as marcas/empresas nas mensagens que pronunciam regularmente em suas páginas oficiais de relacionamento? Este trabalho busca analisar como uma grande empresa de varejo como o Magazine Luiza consegue estabelecer um contato profícuo com seus clientes/target. E quais as suas estratégias narrativas e discursivas no âmbito da persuasão e participação neste novo canal de relacionamento e também de vendas. Palavras-chave: Cultura-digital; entretenimento; consumidor-fã; consumo; persuasão.. Introdução Inscrever-se hoje nas plataformas digitais pode representar uma nova forma de ser indexável, geolocalizável, ser sujeito e objeto num trajeto de comunicação onde ele pode ser o meio, a mensagem e o emissor. Este espaço possibilita participação nos jogos comunicacionais, num campo onde empresas/marcas do “brigam” por reputação e audiência chamando o indivíduo/consumidor, a participar, “curtir as mensagens”, produzindo o próprio ato do consumo. As conversações no ciberespaço descritas por Raquel Recuero em, A conversação em rede, (Recuero: 2012), são também capazes de simular, sob muitos aspectos elementos de conversação oral. Para ela, é sempre uma conversação múltipla, espalhada, com a participação de muitos e permanece gerando novas apropriações e migrando entre diversas ferramentas. E que geram valores que compõem um alto grau de poder de capital relacional, potencialidade de se produzir visibilidade, reputação, popularidade e autoridade. A esta dinâmica das novas mídias (Cibercultura), Pierre Lévy, aponta novas formas de posicionamento frente ao consumo, determinação de escolhas, preferências pessoais nos âmbitos 1 Trabalho apresentado para GT 03: Comunicação, Consumo, Entretenimento e Cultura Digital. Coordenação: Profa. Dra. Gisela G. S. Castro. 2 Autora: Mestranda do Curso de Mídia e Cultura da UFG-GO, e-mail: [email protected]. Orientador: Dr. Santos, Goiamérico - UFG .

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PPGCOM ESPM – ESCOLA SUPERIOR DE PROPAGANDA E MARKETING – SÃO PAULO – 15 E 16 OUTUBRO DE 2012

MAGAZINE LUIZA: HORIZONTES DA CULTURA E DO CONSUMO NAS PÁGINAS DO

FACEBOOK.1

Luciana F. S. Prado 2

Mestranda em Mídia e Cultura – Universidade Federal de Goiás

Resumo

As marcas e empresas de todos os segmentos da sociedade estão agora imersos também nas redes

sociais e desta presença nasce um novo diálogo entre elas e seus consumidores. O que realmente desejam as

marcas/empresas nas mensagens que pronunciam regularmente em suas páginas oficiais de relacionamento?

Este trabalho busca analisar como uma grande empresa de varejo como o Magazine Luiza consegue

estabelecer um contato profícuo com seus clientes/target. E quais as suas estratégias narrativas e discursivas

no âmbito da persuasão e participação neste novo canal de relacionamento e também de vendas.

Palavras-chave: Cultura-digital; entretenimento; consumidor-fã; consumo; persuasão..

Introdução

Inscrever-se hoje nas plataformas digitais pode representar uma nova forma de ser

indexável, geolocalizável, ser sujeito e objeto num trajeto de comunicação onde ele pode ser o

meio, a mensagem e o emissor. Este espaço possibilita participação nos jogos comunicacionais,

num campo onde empresas/marcas do “brigam” por reputação e audiência chamando o

indivíduo/consumidor, a participar, “curtir as mensagens”, produzindo o próprio ato do consumo.

As conversações no ciberespaço descritas por Raquel Recuero em, A conversação em rede,

(Recuero: 2012), são também capazes de simular, sob muitos aspectos elementos de conversação

oral. Para ela, é sempre uma conversação múltipla, espalhada, com a participação de muitos e

permanece gerando novas apropriações e migrando entre diversas ferramentas. E que geram

valores que compõem um alto grau de poder de capital relacional, potencialidade de se produzir

visibilidade, reputação, popularidade e autoridade.

A esta dinâmica das novas mídias (Cibercultura), Pierre Lévy, aponta novas formas

de posicionamento frente ao consumo, determinação de escolhas, preferências pessoais nos âmbitos

1 Trabalho apresentado para GT 03: Comunicação, Consumo, Entretenimento e Cultura Digital. Coordenação: Profa.

Dra. Gisela G. S. Castro. 2 Autora: Mestranda do Curso de Mídia e Cultura da UFG-GO, e-mail: [email protected]. Orientador: Dr. Santos,

Goiamérico - UFG

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da literatura, filmes, esportes, lazer, culinária e consumo cultural. Também podemos aduzir, nos

diálogos com características de fãs em páginas de relacionamento que ligam empresas e clientes,

que induz a proximidade e novas formas de laços de consumo. Na convergência das mídias, como

afirma Henry Jenkins (2008), “toda história importante é contada, toda marca é vendida todo

consumidor é cortejado por múltiplos suportes de mídia” (2008, p. 27).

Assim, a publicidade se afirma, fundamentalmente, por meio de estratégias de sedução do

público-alvo. Estratégias de sedução variáveis entre os caminhos do convencimento (à razão,

apolíneo) e da persuasão (sensibilidade, dionisíaco), Carrascoza (2004).

A comunicação e os novos conceitos de produtos e estilos de vida são presentificadas hoje

através de múltiplos canais. A centralidade de toda estratégia hoje no mercado tem como objetivo

reforçar, construir e defender as marcas numa competição direta com marcas concorrentes,

Francisco Gracioso (2008). Assim, as marcas apoiam-se em características subjetivas, que refletem

uma realidade social voltada para o hedonismo e a individualidade, a espetacularização, as novas

experiênciações. Tudo isto diante de uma audiência cada vez mais dispersa por diversos canais de

comunicação e plataformas que o podem acompanhar em cada momento de sua vida cotidiana.

Hoje não se espera chegar em casa para ter o momento de lazer frente a televisão, ou ir ao cinema

para ver um filme, ir até a livraria para comprar um livro. Tudo isso pode ser feito enquanto se

caminha pela rua, durante o trajeto do metrô, ou dentro de sua sala de trabalho, seja pelo celular,

pelos demais gadjets já disseminados em grande parte da população.

Estes indivíduos, inseridos dentro desta realidade transcrita acima, se tornaram pessoas do

mundo contemporâneo onde a definição de marca/produto nas suas mais variáveis definições,

incorpora a atividade de consumo como uma das várias formas de interação social. E onde o ato de

consumir diante das inúmeras informações de fácil acesso a um clique na web, tem transformado a

“guerra” pela atenção e estímulo ao apelo da marca de forma positiva cada vez mais importante

para todos os segmentos da produção. E um dos fatores que transparece com maior força na

comunicação midiática das empresas expressas em suas páginas oficiais de sites de relacionamento,

como o Faceboock, com seus clientes na última década é o pendor para uma aproximação

permanentemente voltada a conceitos que sugiram responsabilidade social, ética, valorização a

sensibilidade e beleza, mesmo o romantismo e a delicadeza do dia a dia,. A estética do belo, da

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expressão mais poética da vida, é o modelo que impera na tentativa de consolidação de um

relacionamento que tenta estimular as trocas simbólicas entre empresas e consumidores nos sites

das marcas, como no caso do Magazine Luiza, que iremos detalhar neste artigo.

A estetização da vida, o consumo simbólico e o desejo de se expressar no mundo

virtual.

Em sua obra, o Homem e o Discurso, Foucault revela que o funcionamento do discurso é

paralelo ao funcionamento de toda a sociedade industrial moderna. E esse funcionamento comporta

dois aspectos importantes à nossa reflexão: a onipotência do discurso, e a sua fragilidade.

Onipotência do discurso: é talvez a dimensão essencial da modernidade. Todos os críticos de

nossa época, marxistas ou liberais, veem na onipresença das estruturas discursivas característica do

mundo contemporâneo. Presença audiovisual do discurso da imprensa falada e escrita; presença do

discurso na propaganda política; presença do discurso nos textos e imagens publicitárias. Discurso

em vários níveis. No nível factual, ou supostamente factual; no nível da mentira consciente; no

nível da produção mitopaica subliminar. Como o discurso dos rapsodos o discurso dos mass media

é irresistível veiculador de mitos. Discurso ideológico enfim, no nível factual: a verdade

funcionando como ideologia, o discurso verídico que aliena seu destinatário na exata medida em

que é verídico. A ideologia que pode se dar ao luxo de aparecer sob a máscara da verdade: a mentira

que não precisa mais mentir. (2008, p. 12).

É relevante observar que o Foucaut (2008) observa como se dão os mecanismos de

apropriação temática de determinados discursos, e enxerga neles um conjunto de normas e regras

inerentes ao próprio discurso. Ele não inventa um mundo sem sujeitos, mas descreve de forma

bastante real um mundo em que o sujeito está sendo, ou já foi engolido pelo discurso. Diante desta

ubiquidade do discurso ele nos remonta também o seu contraposto que é revelado como a

fragilidade, ou vulnerabilidade do discurso, pois segundo ele “o discurso é aquilo que domina o

homem com uma normatividade despótica; mas é também aquilo que deve ser excluído ou reduzido

ao silêncio” (2008, p. 13). Ou seja, Foucault nos incita a pensar que o discurso é ao mesmo tempo

soberano e prisioneiro, pois, é aquilo ao qual o homem cede é forçado a acatar, age e pensa por ele,

dita os enunciados necessários e autoriza os possíveis. Por outro lado, precede de uma exterioridade

selvagem que precisa ser sempre dominada por sistemas de interditos e domesticada por fórmulas

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de legitimação a fim de autorizar sua “aceitabilidade”, fixando-o a uma ordem vigente. E é este

aspecto do discurso que o faz, na visão de Foucault, tão vulnerável. Mesmo neste mundo “pós-

moderno”, contemporâneo “não é possível falar de qualquer coisa, nem atribuir a qualquer um o

terrível poder de enunciar. É um mundo dominado por um duplo interdito: quanto ao objeto e

quanto ao sujeito do enunciado” (ibidem, pg. 14).

No mundo contemporâneo, mediado pelas intervenções midiáticas, o discurso onipresente e

frágil, segundo as análises de Foucault, encontrou um campo ainda mais fértil que em todas as

épocas passadas. Neste tempo vivenciado pelo apelo do eterno presente, todos falam, para todos,

seguindo as leis de uma Babel recriada pelas enormes possibilidades dos canais de comunicação da

Internet. E neste turbilhão de diálogos, segundo Harvey (1993), as definições do pensamento pós-

moderno estão representadas na constatação da heterogeneidade e da diferença como forças

libertadoras, na fragmentação, indeterminação e intenso descrédito em relação a todos os discursos

universalizadores e globalizantes. A mesma linha de pensamento que propunha Foucault: a preferir

a multiplicidade à unidade, a diferença à identidade, e a entrar nos fluxos e arranjos móveis em

detrimento dos sistemas, como ressalta Lúcia Santaella (2011).

Em “Linguagens liquidas na era da mobilidade”, (2011), Santaella, incita o debate

conceitual do sujeito que está imerso nas redes sociais e que tem parte de sua subjetividade formada

neste campo, e dá corpo às ideias deleuzianas que se apoiam na complexa topologia da dobra, que

segundo ela, permite-nos um seguir labirintos, percorrer diversas camadas, realizando e tecendo

juntas coisas diferentes, em um estado de transversalidade entre planos. Diz-nos ela, “enfim, as

identidades e subjetividades são hoje multiformes, heteróclitas, descentradas, instáveis, subversivas.

Não obstante a pluralidade de caminhos, a constante de todos eles está na busca por escapar do

velho e familiar eu, aquele reconfortante ‘eu’ da filosofia humanista, da hermenêutica e da

fenomenologia” (SANTAELLA, 2011, p.88).

Como um dos autores recentes que abordam a questão da estetização das marcas Gilles

Lipovetsky (2011), nos leva à reflexão de que se vive em uma época em que criar produtos já não

basta. É necessário, segundo ele, criar uma identidade ou uma cultura da marca que se apoie nas

ferramentas de marketing, “do superinvestimento publicitário e da hipertrofia da comunicação”

(2011. pg, 95). O que para ele é uma característica e exigência da hipervisibilidade das marcas,

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numa situação onde o “branding” se põe a frente do produto e neste ponto a dimensão do imaterial

constrói mais a marca do que a fabricação material do produto. Dentro deste contexto, onde a

produção é normalmente terceirizada e transferida para países com mão de obra mais barata, o que

realmente faz a diferença para o “hiperconsumidor” (definição de Lipovetsky para o novo

consumidor), é o contato, e se possível a compra da marca agindo como um suplemento de alma, de

sonho e de identidade. Uma visão que não difere muito da concepção de Andrea Semprini, (2010),

onde é interessante observarmos que de alguns anos para cá temos assistido a uma mega dose de

injeção de estetização em todos os setores da atividade de produção e consumo e da relação

consumidor/marcas, diz ele:

práticas de artefatos culturais/ e ou de consumo. As marcas detêm uma relação

particularmente estreita com a prática de estetizar o cotidiano. Porder-se-ia pensar que não há

nada de novo e que as marcas, em sua preocupação de atrair e de seduzir seu público, sempre

cuidaram de sua aparência, e logo de sua conduta estética. Mas não é assim. Até

recentemente, há vinte anos no máximo, o universo das manifestações das marcas foi pouco

sensível às questões da estética. A escolha das formas, cores, grafismos era muito mais ditada

pelas preocupações de impacto (ler vistoso), de visibilidade (ler enfático) e de funcionalidade

(ler ordenado e claro), de informação (ler descritivo) e de economia (ler pouco elaborado).

Situava-se então no antípoda de uma perspectiva estética, ao menos no tradicional do termo

(2010, p. 171).

O modo como chegamos a uma situação onde o consumo passou a ser representado como

uma produção e representação do simbólico enfatizando uma relação exterior com os objetos,

mediada por sensações, intuições e emoções e pelo desejo de status, felicidade e aparência, é

estudada e interpretada por diversos autores, Everardo Rocha (1995), por exemplo, nos diz que o

olhar do homem para natureza antes da revolução industrial era contemplativo, sem grande

pretensão de modificação e ação sobre o já posto. Porém, esse olhar vai se modificando, através de

uma mudança cultural, e a transformação da natureza passa a ser motivo de desejo de geração de

riqueza, segundo ele “nossa sociedade industrial é uma formidável máquina de produção”

(ROCHA, 1995, p. 125).

E dentro desta concepção estabelecida por ele, tudo deve ser intensamente produtivo e

aproveitado, inclusive o indivíduo, toda a sociedade e natureza. Com toda vida social orientada

pelo capitalismo consegue-se perceber então que se vive num estágio onde o consumo é que motiva

a produção, o sistema não se movimenta sem o gasto, tem que produzir e consumir. Para Rocha

(1995), de um modo inter-relacionado com o que diz Lipovetsk sobre os investimentos em

publicidade e valorização da marca, a publicidade está exatamente na ponte entre a produção e o

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consumo proporcionando os sentidos como marca e apoiando na instauração do desejo e da

necessidade,

a publicidade – enquanto narrativa do consumo – estabelece uma cumplicidade entre a esfera da

produção com sua serialidade, impessoalidade e sequencialidade e a esfera do consumo com sua

emotividade, significação e humanidade. [...] A publicidade, parafraseando Lévi-Strauss, pode ser

vista como uma espécie bem verdadeira de ‘totemismo hoje’. Ela é o território do ‘simbólico’

encravado no reino da razão prática (ROCHA, 1995, p. 154).

A visão do ato do consumo apresenta diversas correntes de pensamento, porém uma delas

parece se encaixar com as bases de discursos cada vez mais estetizados e emocionais nas redes

digitais e nas páginas de empresas dos mais variados segmentos, inclusive o de varejo, que até

pouco tempo somente “gritava” seus preços em anúncios de megaliquidação, ou em casos

esporádicos, criava anúncios institucionais em datas comemorativas, como dias das mães, pais ou

natal. A abordagem de autores como Everardo Rocha, Colin Campbell e Mary Douglas, do

consumo simbólico. O qual é consumo é mediado por intuições e emoções e pelo desejo de status,

felicidade e aparência. O hedonismo seria a associação de consumo e prazer, como tradução para a

felicidade. É um consumo como essencial para a realização pessoal. O “sucesso se traduz na posse

infinita de bens que, agradavelmente, conspiram para fazer perene nossa felicidade” (DOUGLAS e

ISHERWOOD, 2009, p. 11).

É essa visão que Campbell desenvolve em seu livro A ética romântica e o espírito do

consumo como um ato associado ao prazer, não mais só com a visão utilitarista ou acumulativa que

inicialmente forjaram as primeiras análises do consumo na modernidade. Campbell retroage a

reflexão acerca do nascimento do consumismo em dois séculos. Segundo Campbell, bem antes da

explosão da produção em massa no início do século XX, já desde o século XVII, seria possível

detectar a produção e consumo de produtos que poderiam ser considerados supérfluos. O que para

o autor, que apontava a ética romântica e a sensibilidade provocada que auxiliava os gastos, fazendo

o capitalismo girar e funcionar, proporcionando a dinâmica necessária ao consumismo moderno.

Esse consumidor sensível e romântico tinha como característica a busca pelo prazer e felicidade na

aquisição de bens. Consumo simbólico.

Os discursos do Magazine Luiza sob a ótica do consumo como romance.

Se Campbell estabelece que o novo consumidor tenha as características hedonistas de um

romântico, que busca antes de tudo a aproximação pelo prazer, podemos nos perguntar se isso pode

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ser viável num mundo de marca onde invariavelmente se vende “o menor preço, o maior prazo, a

entrega garantida... o mundo do varejo”. Como se estabeleceria um romance diante de tal cenário?

Já que pela lógica de Campbell, conhecemo-nos, encantamo-nos pelas qualidades físicas e

emocionais de algo, apaixonamo-nos. Entre afetos e sensações, em busca de algo transcendental. O

consumo é um romance. Além dessas relações emocionais, materializamos o desejo através da

compra.

Na elaboração de Campbell, o Romantismo, em que a sensibilidade e a imaginação

predominam sobre a razão, proporciona a dinâmica necessária ao consumismo moderno. O

consumo sobrepõe-se além dele mesmo, ao satisfazer necessidades simbólicas e ao oferecer a

experimentação dos prazeres criados pela imaginação. Na ação do consumo, nas palavras de

Campbell: “o consumidor moderno desejará um romance em vez de um produto habitual porque

isso o habilita a acreditar que sua aquisição, e seu uso, podem proporcionar experiências que ele, até

então, não encontrou na realidade” (Ibidem, p. 130).

Neste caso, a publicidade, aliada ao consumo viria como forma de concretizar o que se

deseja ter e ser através de estratégias e apelos emocionais, empregados com o objetivo de criar a

ideia de que o público será recompensado com sensações positivas (risos, lembranças), satisfação

do ego (beleza) e/ou projeção social (reconhecimento público e status).

Devia estar claro, a partir dessa interpretação, que o espírito do consumismo moderno é tudo, menos

materialista. A idéia de que os consumidores contemporâneos têm um desejo insaciável de adquirir

objetos representa um sério mal-entendido sobre o mecanismo que impele as pessoas a querer bens.

Sua motivação básica é o desejo de experimentar na realidade os dramas agradáveis de que já

desfrutaram na imaginação, e cada ‘novo’ produto é visto como se oferecesse uma possibilidade de

concretizar essa ambição (CAMPBELL, 2001, p. 131).

E, é por isto que os discursos apresentados nas apropriações do consumo, nas interações e

experienciações que propõem incessantemente abordagens de socializações nas redes sociais nos

falam mais sobre a sociedade moderna que muitas análises, filmes e pesquisas que buscam refletir

sobre os modos de vivência e de realizações do ser no mundo contemporâneo da sociedade da

cultura do consumo do nosso século.

Se não, vejamos os dados que extraímos das conexões estabelecidas pela Rede de lojas

Magazine Luiza, entre os dias 28/05/2012 a 11/06/2012, por meio de uma ferramenta de análise de

publicações dos dados em páginas de redes sociais, o “Scup”, que realiza o monitoramento de

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relacionamento entre empresa e consumidores, serviço comercializado principalmente para grandes

empresas e voltado para seus analistas de mídias sociais, normalmente jornalistas, publicitários,

relações públicas etc. Por meio da coleta destes dados, basicamente posts da empresa visando uma

interação com aqueles que anteriormente clicaram em sua fã pag e a “curtiram”, buscamos

averiguar quais foram as principais estratégias discursivas utilizadas pelo Magazine Luiza, e destas

quais as que receberam maior participação por parte dos clientes/consumidores, dentro da

perspectiva de compartilhamento das mensagens, comentários nos posts ou mesmo simples “curtir”,

como aprovação do referido post.

Objetivos desta análise e os resultados esperados.

Os canais alternativos de comunicação (as redes sociais) cresceram em importância na

proporção direta da segmentação dos mercados. Estes canais alternativos de mídia vêm instigando a

criatividade dos publicitários brasileiros. Visamos assim, avaliar como tem se dado os discursos

persuasivos, as estratégias utilizadas para a garantia de audiências e as repercussões no volume de

diálogo entre a empresa e seus consumidores-fãs, é nossa intenção lançar um olhar e avaliar como

uma grande rede de varejo, como o Magazine Luiza tem elaborado suas estratégias discursivas em

termos de mesclar as propostas de narrativas “culturais” e de divertimento com a sua finalidade

final de venda.

O Magazine Luiza é uma das maiores lojas de varejo do país, com 53 anos de história e

mais de 600 lojas distribuídas em 16 Estados brasileiros (São Paulo, Minas Gerais, Paraná, Mato

Grosso do Sul, Goiás, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraíba, Ceará, Rio Grande do Norte,

Sergipe, Alagoas, Bahia, Pernambuco, Piauí e Maranhão). Eleita, por mais de uma vez, uma das

melhores empresas para se trabalhar, inclusive neste ano e, tem em sua história uma forte tendência

a se ligar a inovações tecnológicas, mesmo tendo ficado muitos anos presa a imagem forte de sua

diretora.

Tabela com análise de posts diários da empresa.

Dado o volume elevado de posts diários e informações a serem avaliadas utilizaremos nesta

tabela 50% do volume de manifestações enunciativa da empresa ou seja, dos dias 28/05/2012 ao dia

04/09/2012, detalhando em parte :

- O discurso da empresa (sua fala)

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- o número de curtir de cada post da empresa (a aceitabilidade de seus fãs)

- o número de comentários sobre o assunto (dado numérico, neste trabalho)

- o número de compartilhamentos (o que reforça a aceitabilidade da fala da empresa e o

caráter de se propagar para outras redes o que o Magazine Luiza vem tratando em sua fala).

Data:

28/05/2012

Post Magazine

Luiza

Descubra como ganhar um camisa do

Corinthians só sua !

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Data:

28/05/2012

Hoje é dia do Hambúrguer! Vamos fazer

uma brincadeira? Marque nessa foto todos

os amigos que você gostaria de dividir um

hambúrguer bem gostoso nesta data

especial.

(digite @+nome da pessoa nos

comentários desta postagem e boa

diversão).

85 77 65

28/05/2012 Pessoal, já votaram no Magazine Luiza

para o troféu Diamante do E-bit? Se você

também acha que estamos entre as

melhores lojas de comércio eletrônico do

Brasil, vote aqui:

http://maga.lu.e-bit

15 43 3

Dia 28/05 Que tal ter em casa um notebook com

processador AMD, que otimiza suas

tarefas, oferece tecnologia e desempenho?

Melhor ainda: e se você comprar um

equipamento desses por um preço

inacreditável e exclusivo nas redes

sociais?Compre no Magazine Você, sem

sair do Facebook, clicando aqui:

http://maga.lu/Jx9UD2

(foto do produto)

25 27 1

28/05/2012 Neste exato momento, está acontecendo

uma intensa troca de informações entre

duas grandes áreas em seu micro.A CPU,

responsável pelas informações lógicas e a

GPU, que trabalha todos os gráficos,

vídeos e objetos em 3D que você vê na

tela. http://maga.lu/JItfTe

(foto do produto)

23 16 1

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28/05/2012 Bom dia! A união faz a força. Conte com

seus amigos para fazer essa semana ser

perfeita.

Foto de braços se unindo (emocional)

97 23 35

29/02/2012 Bom dia! É muito importante cuidar do

corpo e fazer atividades físicas. Vocês

fazem algum tipo de exercício? (foto de

pessoas se exercitando juntas na piscina)

86 48 12

29/12/2012 Já não é a primeira vez que trago um

produto da Pósitron para vocês! Afinal,

essa marca brasileira tem surpreendido o

mercado com uma linha de lançamentos

que transformam o seu carro em um show

automotivo! (foto do produto)

11 35 0

29/05/2012 Interaja com a sua TV de um jeito

totalmente novo: experimente o futuro da

Smart TV agora. http://maga.lu/KP8z9w

(foto do produto)

25 7 0

29/05/2012 Estudantes do MIT afirmam ter

desenvolvido um algoritmo de computador

que permite reconhecer o quão real é um

sorriso. (imagens de emotions sorrindo)

15 12 1

29/05/2012 Votem no Magazine Luiza na categoria

Diamante!

13 31 0

30/05/2012 Bom dia! Os amigos são fundamentais em

nossas vidas. São irmãos que escolhemos.

Fale hoje mesmo para um amigo(a) o

quanto ele(a) é importante! (foto de 3

amigas unidas conversando)

49 4 20

30/05/2012 Você procura um Tanquinho? Ou quer

uma Lavadora? A Mueller oferece várias

opções com qualidade. Escolha a sua! :) –

(Foto do tanquinho)

7 0 0

30/05/2012 Se tem uma coisa que a saga Crepúsculo

recuperou no universo dos vampiros foi o

glamour. Os mais tradicionais podem até

torcer o nariz para vampiros que brilham

quando expostos ao sol, mas o sucesso

está aí para provar que Bella e Edward têm

química nas situações certas, não é

mesmo? (foto do secador de cabelo da

Revlon que se chama “Crepúsculo”.

19 02 0

30/05/2012 Sempre buscamos inovar na forma de

atender e estamos todos os dias atentos a

todas as necessidades de nossos clientes.

18 23 1

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E, desde que começamos a adentrar no

curioso mundo das redes sociais,

percebemos que elas também funcionam

como um canal de contato com os clientes,

para nós do varejo. E isso é oportunidade de conhecer você melhor. “CONHEÇA O CANAL DE AJUDA DO MAGAZINE LUIZA NO FACEBOOK.

(Para onde posteriormente informaram que

mandariam todas as reclamações postadas

nos comentários da página do Facebook)

30/05/2012 Você procura um Fogão? Ou quer um

Cooktop? A Mueller oferece várias opções

com qualidade. Escolha a sua! :) Foto do

produto

10 12 1

30/05/2012 Seis estudantes da Northeastern

University, em Boston, criaram uma

solução inovadora e bem mais barata do

que os atuais sistemas de alimentação

assistida. Com o iCRAFT o próprio

paciente pode controlar com movimentos

dos olhos um braço robô e, assim,

alimentar-se.

Leia mais no meu

blog: http://maga.lu/NfLwoo

6 9 3

31/05/2012 Bom dia! Quem aqui teve vontade de ficar

só mais cinco minutinhos na cama? (Foto

de um lindo bebê dormindo)

252 24 142

31/05/2012 Compre produtos de Cine e Foto e ganhe

7% de desconto no

Hoteis.com! http://maga.lu/LKU6Z9

8 4 4

31/05/2012 Gente, vocês sabiam que suplementos

alimentares são produtos destinados a

complementar sua dieta?

Eles visam atender as necessidades de

atletas de alta performance, praticantes de

atividade física e todas as pessoas que

queiram ganhar peso, massa muscular ou

para melhora do estado de saúde geral.

Por isso, o Magazine Luiza acaba de

lançar a nova categoria de Suplementos

Alimentares. Conheça e fique em dia com

a sua saúde! http://maga.lu/M0Zz1u ;)

(foto de uma criança com alteres)

20 7 4

31/05/2012 Se você tem um amigo aprendendo a tocar

bateria, este dia da música é para ele!

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PPGCOM ESPM – ESCOLA SUPERIOR DE PROPAGANDA E MARKETING – SÃO PAULO – 15 E 16 OUTUBRO DE 2012

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Indique para seu

amigo!http://maga.lu/BateriaParaIniciantes

01/06/2012 Bom dia! Hoje é sexta-feira e também o

primeiro dia de junho! Você quer que esse

novo mês seja INCRÍVEL? Então

compartilhe esse desejo com seus amigos!

;)- (Foto produzida e alegre com casal na

praia)

58 32 36

01/06/2012 Uma pesquisa recente, feita pelo Instituto

Nacional do Câncer, nos EUA, concluiu

que quem bebe café vive mais. (foto de um

cafezinho)

33 16 22

01/06/2012 LANÇAMENTO!

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três chips no mesmo aparelho. Ele é

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02/06/2012 Neste Dia dos Namorados quer ter a

chance de ganhar uma incrível viagem

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Paris? http://maga.lu/JzmwF8

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03/06/2012 Meninos, vocês que estão navegando na

internet nesse domingão gostoso, já

decidiram que presente vão dar para suas

namoradas? Sugiro esse relógio incrível

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sociais! http://maga.lu/LfeKC1-foto

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04/06/2012 Bom dia! Estão preparados para essa

semana que é mais curta? Aproveitem

bastante! (Foto de vários gatinhos

132 16 198

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olhando para a câmera)

04/06/2012 Que tal curtir o dia dos namorados em

Paris? O Concurso Cultural “Amor nas

Alturas” vai premiar a demonstração de

amor mais criativa com um jantar a dois

na Torre Eiffel.

23 8 0

04/06/2012 Existe o site iStockphoto, que pode te

ajudar nessa tarefa. Dica dos nossos

amigos do Catraca Livre!

Quer saber mais, leia

aqui: http://maga.lu/KatORs (foto

borboleta)

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04/06/2012 Surpreenda seu amor com presentes

Nokia!

Na hora de fazer bonito na frente do amor

da sua vida, não pode faltar criatividade e

aquele impacto. (Foto do celular)

9 19 1

Posts com maior número de compartilhamento: 31/05 e 04/06/2012

Conclusão

O tema deste se propôs a uma breve análise das práticas discursivas na rede social

Facaboock de uma empresa de varejo, de porte nacional e está direcionado à análise do discurso.

Num primeiro estágio, temos como base teórica a análise do discurso, no entanto buscamos

caracterizar o funcionamento discursivo em textos publicitários, partindo da hipótese de que ações e

textos compõem uma prática discursiva ideologicamente confirmada pelas análises. Como suporte a

tal investigação fundamentamo-nos teoricamente na abordagem dos teóricos Helena Brandão,

Bakhtin, Maingueneau e Adilson Citelli.

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Quando falamos em discurso, devemos lembrar-nos da complexidade existente nele. O

discurso carrega uma dualidade que, segundo Brandão (2004), é constitutiva da linguagem, isto é,

do seu caráter ao mesmo tempo formal e atravessado por entradas subjetivas e sociais. Provoca

deslocamento nos estudos linguísticos até então batizado pela problemática colocada pela oposição

língua / fala que impôs uma linguística da língua. Já Citelli nos diz que, no caso dos anúncios (e

aqui, das falas “publicitárias” do Magazine Luiza), “o texto publicitário nasce na conjunção de

vários fatores, quer psicosociais-econômicos, quer do uso daquele enorme conjunto de efeitos

retóricos aos quais não faltam as figuras de linguagem, as técnicas argumentativas, os raciocínio”

(2002. pg, 43). Para Abreu (2006, p.25), argumentar é a arte de convencer e persuadir. Convencer é

saber gerenciar informação, é falar à razão do outro, demonstrando, provando. Persuadir é saber

gerenciar relação, é falar à emoção do outro.

Nas duas peças que selecionamos dos posts de04, dos 15 dias de análise e monitoramento no

Faceboock do Magazine Luiza, fica nítida a necessidade do enunciador de envolver o consumidor

não só com o produto, mas também com o contexto que o apresenta. Fica nítido que o fã, o

consumidor e produtor de discursos nas páginas da empresa/marca, nos casos em que verificamos,

se sentem muito mais envolvidos e prontos a partilhar e a reproduzir os enunciados propagados pela

empresa quando o discurso trata de algo emocional, sentimental ou ligado ao humor, vide exemplo

do dia 31/05/2012, onde a fala da empresa em nada se liga ao fator venda, negócios ou

oportunidades, simplesmente mostra e diz sobre a ternura na foto e no enunciado: “Bom dia! Quem

aqui teve vontade de ficar só mais 5 minutinhos na cama?”. O mesmo ocorreu no texto e imagem 2,

do dia 04/06/2012, onde a forma imagética e o enunciado caminham também para o emocional e o

relacional entre as pessoas: “Bom dia ! Estão preparados para a semana que é mais curta.

Aproveitem bastante”. Neste caso ainda se promove a lembrança do bom hedonismo, onde uma

semana mais curta nos remete a lazer, momentos felizes e relaxamento.

Há muito ainda a se estudar e verificar sobre como e por meio de quais estratégias as

empresas conseguiram agregar mais valor aos seus discursos utilizando as ferramentas das redes

sociais, várias ações de promoções culturais como inclusive o Magazine Luiza já iniciava no

período, oferecendo uma promoção que levaria um casal para a Torre Eiffel, mas que ainda não

havia decolado como grande propagação na rede é uma das estratégias que mais tem sido utilizadas,

mas sabemos também, e verificamos neste estudo, que as “ofertas”, a demonstração dos produtos e

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promoções, continuam a fazer parte do discurso publicitário mesmo nas páginas de relacionamento

e que surtem também seus efeitos. Fica como resultado final deste breve artigo a consciência de que

o consumidor deseja cada vez mais ser um propagador de ideias, mas que de produtos e promoções!

E é por meio deste discurso e com esta linguagem que a empresa pode alcançar o maior número de

pessoas dentro da rede nas suas inserções diárias e diálogos com seus fãs, em resumo, o consumidor

quer um pouco mais de romance na sua vida.

Bibliografia

ABREU, Antônio Suarez. A Arte de Argumentar. São Paulo: Cotia, 2006.

BRANDÃO, Helena. Introdução à Análise do Discurso. São Paulo: Unicamp, 2004.

CAMPBELL, Colin. A ética romântica e o espírito do consumismo moderno. Rio de Janeiro: Rocco, 2001.

CARRASCOZA, João Agnello. Razão e sensibilidade no texto publicitário. São Paulo: Futura, 2004

CITELLI, Adilson. Linguagem e Persuasão. São Paulo: Ática, 2002.

DOUGLAS, Mary e ISHERWOOD, Baron. O mundo dos bens. Rio de Janeiro: Editora UFRJ, 2009.

FOUCAULT, Michael. O homem e o Discurso (A Arqueologia de Michael Foucault), Rio de Janeiro:

Tempo Brasileiro, 2008.

HARVEY, David. A Condição Pós-moderna. São Paulo: Editora Loyola, 1993.

LÉVY, Pierre. Cibercultura. São Paulo: Editora 34, 1999.

Lipovetsky, Gilles. A Cultura Mundo- resposta a uma sociedade desorientada. São Paulo: Ed. Schwarcz,

2011.

MAINGUENEAU, Dominique. Novas Tendências da Análise do Discurso.SP:Unicamp,1997.

RECUERO, Raquel. Redes sociais na internet. Porto Alegre: Sulina, 2010.

_____. A Conversação em rede. Comunicação mediada pelo computador e redes sociais na internet.

Porto Alegre: Sulina, 2012.

SANTAELLA, Lúcia. Linguagens líquidas na era da mobilidade. São Paulo: Paulus, 2011.

SEMPRINI, Andrea. A Marca pós-moderna: poder e fragilidade da marca na sociedade

contemporânea. Trad. Elizabeth Leone. São Paulo: Estação das Letras e Cores, 2010.

ROCHA, Everardo. A sociedade do sonho. Rio de Janeiro: Mauad, 1995.