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Transcrições, textos e pesquisa: Edson Medeiros Cheuiche

Historiador do Serviço de Memoria Cultural do Hospital Psiquiátrico São Pedro

Diagramação e produção: Dennis Guedes Magalhães Assessoria de Comunicação Social

Departamento de Coordenação dos Hospitais Estaduais maio 2013

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ÍNDICE

Linha de tempo HPSP (1874 – 1957) 06 Um transitar descompromissado que agastava a urbe 33 Prática desfeita 38 Lei de criação do asilo de alienados 41 Certidão de compra e venda da área do HSP 43 Ata de lançamento da pedra fundamental do HSP 46 Fragmentos históricos da criação e inauguração do HSP 48 Notícia da inauguração do HSP – Jornal A Federação 56 Notícia da inauguração do HSP – Jornal Mercantil 59 Notícia da visita da Princesa Izabel – Jornal Mercantil 63 Colônias agrícolas 65 Tópicos históricos da inauguração da Colônia “Jacuhy” 75 A Chácara da Figueira 78 Instalação do “Posto de Psychopathas” em Porto Alegre 81 Curso de Biopsicologia 85 Escola de Enfermagem no HSP 87 Relação dos diretores do HPSP 91

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HOSPITAL PSIQUIÁTRICO SÃO PEDRO “LINHA DE TEMPO”

(1874 a 1957)

1874 – Através da Lei nº 944, de 13 de maio, foi criado o asilo de alienados em Porto Alegre na Província de São Pedro.

1876 – Em 19 de março foi lançada a pedra fundamental do asilo de alienados no terreno localizado na estrada do Mato Grosso (atual Av. Bento Gonçalves), que foi nominado de Asilo São José. Três dias após o evento o proprietário do terreno desfez o acordo da venda da área.

1879 – No governo de Carlos Thompson Flores, através da Fazenda Provincial, foi adquirido o terreno da viúva Clara Rabelo por vinte e cinco contos de réis para edificação do asilo de alienados. A área conhecida como chácara da "Saúde" estava situada na estrada do Mato Groso, com “duzentas setenta e oito braças de frente sul, da referida estrada e fundos ate o arroyo da Azenha”.

1879 – Em 02 de dezembro foi lançada a pedra fundamental do asilo de alienados na presença das autoridades e notáveis da Província de São Pedro.

1884 – Através do Ato nº 58A, de 13 de junho, foi estabelecido o Regulamento do Hospício São Pedro.

1884 – Elaborada em 16 de junho a ata da sessão da Mesa Administrativa da Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre aprovando o encargo da administração do Hospício São Pedro.

1884 – Os atos presidenciais nº 69 e nº 70, de 25 de junho, nomearam, respectivamente, os 12 Grandes Protetores e as 12 Grandes Protetoras do Hospício São Pedro.

1884 – Inaugurado o Hospício São Pedro no dia 29 de junho, domingo, às 13 horas, com a internação de 41 alienados provindos da Santa Casa (25 alienados – 14 homens e 11 mulheres) e da Cadeia Civil (16 alienados – 10 homens e 06 mulheres). O quadro de pessoal previsto era de 14 funcionários, entre os quais um

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médico, dois enfermeiros e uma enfermeira. A função de farmacêutico só foi preenchida efetivamente em1897.

1884 – Os jornais da capital da Província, “Mercantil” e “A Federação”, noticiaram a fundação do Hospício São Pedro nas suas edições de 30 de junho de 1884.

1884 – Emitido em 20 de dezembro o primeiro relatório sobre o Hospício São Pedro pelo médico diretor Carlos Lisboa ao provedor da Santa Casa, coronel Joaquim Pedro Salgado.

1884 – Ao afirmar que os alienistas recorriam a “medicina sympthomatica”, conforme registrou em seu relatório, o doutor Carlos Lisboa exibiu seu pensamento sobre a etiologia da doença mental: “Combate os sympthomas, porque ele os conhece e porque se apresentam; não vai a causa porque lhe escapa, ele a ignora”.

1885 – A visita da “Princesa Imperial Izabel, Condessa D’Eu”, ao Hospício São Pedro, em 30 de janeiro, foi notícia do jornal Mercantil, edição de 03 de fevereiro (terça-feira).

1886 – Os registros do relatório do chefe de polícia Joaquim Corrêa de Oliveira Andrade registram considerações piedosas sobre os onze alienados e quatro alienadas que ainda permaneciam na Cadeia Civil por falta de vagas no Hospício São Pedro.

1886 – O relatório emitido pelo engenheiro Álvaro Nunes Pereira, diretor da Repartição de Obras Públicas da Província de São Pedro, registrou a conclusão do 3º pavilhão do São Pedro.

1888 – Com o falecimento do diretor Carlos Lisbôa do Hospício São Pedro no dia 27 de abril, o provedor da Santa Casa indicou para médico-diretor o doutor Olympio Olinto de Oliveira.

1889 – Publicado o Ato nº 04, de 28 de novembro, do governador político do Estado, transferindo o comando administrativo do Hospício São Pedro para um médico que seria nomeado pelo Governador do Estado, com atribuição de propor todas as alterações que fossem necessárias no regulamento em vigor. Em dezembro foi indicado pelo governador o médico Francisco de Paula Dias de Castro.

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1892 – Estipulado através do Ato nº 346, de 08 de outubro, um novo Regulamento para o Hospício São Pedro na administração do médico diretor Francisco de Paula Dias de Castro. O quadro de pessoal previsto foi de 28 funcionários, entre os quais um diretor médico e um médico-adjunto, cinco enfermeiros e quatro ajudantes, três enfermeiras e três ajudantes.

1892 – O Ato nº 37, de 22 de outubro, sobre o Regulamento da Brigada Militar, estipulou no Artigo 75, como função “Das Rondas e Patrulhas”, no § 4º: “Conduzir ás respectivas estações ou postos afim de serem representados á autoridade que deve tomar conhecimento do facto: N.7 - Os que forem encontrados em estado de embriaguez ou de alienação mental, bem como os que forem encontrados a dormir nas ruas, praças, adros dos templos e logares similhantes”.

1893 - O São Pedro passou a asilar 192 alienados em um alojamento com 106 celas e 07 salas, com disponibilidade para 160 alienados.

1897 – Fundada a farmácia do São Pedro com o gerenciamento do cidadão Reinaldo Hilt. Foram manipuladas 1.361 prescrições nos primeiros cem dias de funcionamento.

1898 – Mesmo com as obras do 4º pavilhão em andamento foram iniciadas em dezembro as edificações do 5º pavilhão do São Pedro.

1900 – No município de Porto Alegre, com 85.291 habitantes, transitaram durante o ano pelo São Pedro 471 alienados, sendo 441 indigentes e 30 pensionistas, caracterizando uma modesta arrecadação financeira proporcionada pelos alienados contribuintes.

1900 - O quadro estatístico dos admitidos em 1900 no São Pedro apontou 08 alienados de 10 a 20 anos; 30 (20 a 30 anos); 42 (30 a 40 anos); 20 (40 a 50 anos); 12 (50 a 60 anos); 05 (60 a 70 anos); 01 (70 a 80 anos) e 01 (80 a 90 anos). Em relação ao estado civil, 70 alienados solteiros; 40 casados; 07 viúvos e 02 ignorados. Quanto à etnia, foram 91 alienados brancos, 16 pardos e 12 pretos. Em termos de nacionalidade foram admitidos 92 brasileiros; 14 italianos; 03 franceses; 02 portugueses; 02 espanhóis; 02 suíços; 02 polacos; 01 alemão e 01 oriental. Por fim, a situação profissional, os ofícios dos baixados: serviço doméstico com 38 alienados;

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agricultores (27); jornaleiros ou tarefeiros (23); comerciantes (08); costureiras (06); criadores (03); marítimos (02); carpinteiros (02); tanoeiros (02); empregados públicos (02); estudante (01); professor (01); militar (01); alfaiate (01); caixeiro (01) e com profissão ignorada (1).

1900 - A estatística da distribuição de pacientes arrolados por moléstias que saíram curados, melhorados, a pedido, por fugas e por óbitos, demonstrou através da classificação nosográfica utilizada, uma vasta variedade de diagnósticos compondo o cenário do intenso movimento vivido nas enfermarias do Hospício São Pedro. Os diagnósticos dos que deram alta por cura: “Lypemania simples (03H); mania aguda (03 Homens; 01 Mulheres); delirio alcoolico (04H); excitação maniaca (09H;05M); lypemania anciosa (01H); delirio de perseguição (01H); confusão mental (01H); delirio alcoolico agudo (01H); mania chronica (01H;01M)”. Os que saíram por estarem melhorados: “Idiotismo (01M); imbecilidade (01H); mania sub-aguda (01H); delirio de perseguição (03H); epilepsia (01H;01M); mania remittente (02H); lypemania simples (02H); excitação maniaca (03H;01M); delirio alcoolico (01H); megolomania (01H); mania – degeneração hereditaria (01H); mania aguda (01H); debilidade mental (01H); mania sub-aguda remittente (01M); excitação maniaca transitoria (01M); excitação maniaca remittente (01M); mania chronica (01M); allucinação do ouvido (01M); enfraquecimento mental (01M)”. Dos que fugiram: “Debilidade mental (01H); delirio alcoolico (01H); lypemania (01H); megolomania (01H); mania (01H); excitação maniaca (02H); idiotismo (01H)”. Dos que faleceram: “Nephrite (03H;03M); dysenteria (12H;02M); diarrhéa (04H;05M); marasmo (13H;04M); asphyxia por estrangulação (01H); tuberculose pulmonar (01H;01M); hemorrhagia cerebral (06H;03M); adenopathia traches-bronchica (01H); pneumonia (01H); scorbuto (01H); hepatite (01H); mal de bright (01H); consumpção (01H); septicemia (01H;02M); congestão cerebral (01H); syncope cardiaca (01M); enterite crhonica (01M); uremia (01M); gastro-enterite (01M); lezão cardiaca 01M)”.

1901 - Dentre os 128 pacientes que foram acolhidos, somente 125 permaneceram internados de acordo com a classificação patológica,

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cujas admissões foram por loucuras generalizadas (73 alienados); loucuras parciais (15); loucuras tóxicas (07); loucuras neuropáticas (04); débeis (08); idiotas (02); imbecis (02); paralisia geral progressiva (10); loucura orgânica por esclerose cerebral (03) e loucura orgânica por sífilis cerebral (01).

1901 - O “psychiatra” Dias de Castro solicitou demissão do cargo de diretor após permanecer no comando da instituição manicomial por onze anos e meio. Assumiu interinamente a direção sanitária e administrativa do hospício o clínico Tristão de Oliveira Torres, em julho de 1901.

1901 - Neste mesmo ano, em 20 de setembro, o presidente Borges de Medeiros comunicou à Assembleia dos Representantes que o Hospício São Pedro teve o acréscimo do quarto pavilhão, e que o quinto estava com as obras bem adiantadas, o que possibilitaria, depois de pronto, a instalação definitiva do “serviço hydrotherapico e electrotherapicos”, o serviço econômico e o total isolamento dos enfermos de moléstias somáticas.

1902 – Após um ano e meio como médico diretor interino do São Pedro, desde 1º de julho de 1901, o clínico Tristão de Oliveira Torres foi efetivado no cargo em 09 de dezembro de 1902. Para a vaga de médico-adjunto foi nomeado o doutor José Carlos Ferreira, diplomado pela Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro.

1903 – Através do Decreto nº 595, de 07 de fevereiro, foi organizado pelo diretor Tristão de Oliveira Torres outro Regulamento para o Hospício São Pedro. O quadro de pessoal previsto foi de 37 funcionários, entre os quais um diretor médico e um médico-adjunto, cinco enfermeiros e nove ajudantes, três enfermeiras e cinco ajudantes.

1903 - No relatório emitido pelo secretário de Estado dos Negócios das Obras Públicas, João José Pereira Parobé, endereçado ao presidente do Estado, Antônio Augusto Borges de Medeiros, ficou registrado a conclusão dos atuais seis pavilhões da ala sul do projeto original, com capacidade para 450 internos. O Hospício São Pedro, por sua grandiosidade, foi tema de cartão postal.

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1903 - Em 24 de novembro, trigésimo dia falecimento do líder político republicano Júlio Prates de Castilhos, foi inaugurada a “Galeria de Retratos dos Benfeitores do Hospício São Pedro” com a colocação de sua fotografia pintada a óleo.

1903 - A primeira legislação voltada para os alienados no Brasil foi estabelecida no dia 22 de dezembro de 1903, por meio do Decreto n° 1.132, quando o presidente brasileiro Rodrigues Alves sancionou a Resolução do Congresso Nacional. A legislação, com uma visão humanista, colocou o médico alienista como responsável pelo tratamento dos alienados e proibiu o acolhimento dos insanos nas cadeias dos municípios brasileiros. O texto da lei brasileira se espelhou na primeira lei que tratou da assistência a alienados na França, promulgada em 30 de junho de 1838.

1904 - A Lei nº 48, de 06 de dezembro, que orçou receita e despesa para 1905, confirmou a previsão do presidente Borges de Medeiros quando disponibilizou como despesa extraordinária os valores de 60:000$000 réis para a “Installação de illuminação electrica do Hospicio S. Pedro” e 150:000$000 réis para continuação de suas obras. Neste ano foram construídos no São Pedro as arcadas e o muro da grande área, bem como o "calçamento a concreto de cimento das áreas e galerias”.

1904 – Nos últimos 20 anos o movimento de alienados no Hospício São Pedro abrangeu 2.252 enfermos, sendo 1.299 nacionais e 553 estrangeiros (23,6%). Destes últimos, 354 eram homens e 199 mulheres. Nos últimos 13 anos, 433 estrangeiros procuraram tratamento no São Pedro, sendo 210 italianos, representando 48%. Este índice era semelhante aos hospícios de São Paulo e Buenos Aires.

1905 – Na administração do doutor Tristão Torres, por ocasião das admissões dos alienados no São Pedro, persistiu a ausência de familiares ou de responsáveis pelas internações, bem como de informações a respeito do histórico médico e social do paciente. Essa dificuldade para elaboração do diagnóstico foi um problema contínuo desde a inauguração do hospício, sendo motivo de constantes registros nos relatórios emitidos pelos médicos-diretores que se sucederam. A prática do abandono dos alienados no

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hospício, cujos nomes eram desconhecidos, possibilitou que fossem renomeados com a utilização de características próprias, físicas ou comportamentais.

1905 - A disparidade entre alguns municípios no pagamento dos subsídios que constavam no regulamento do São Pedro foi questionada pelo diretor Tristão Torres. Citou como exemplo “o rico e opulento município de Pelotas” que contribuiu com uma anuidade de 500$000 para o hospício, enquanto que São Leopoldo, Rio Pardo, Santa Cruz e São João do Montenegro concorreram com quantias bem mais substanciosas. Depois de Porto Alegre era de Pelotas que mais convergiram alienados, sendo 42 no final de 1905, e mesmo assim contribuía com a mesma anuidade que o município de Estrela, com 02 alienados internados no mesmo período.

1906 – O presidente do Estado, Antônio Augusto Borges de Medeiros, acompanhado do secretário do Interior e do Exterior, Protásio Alves e do diretor médico Tristão Torres, seguindo a proposta dos psiquiatras reunidos em Paris em 1889, da criação de colônias agrícolas para o acolhimento e atividade laboral dos alienados em um espaço de maior liberdade, cuja prática foi adotada no ano seguinte no Rio de Janeiro (colônias de São Bento e Conde de Mesquita, instaladas na Ilha do Governador), visitaram os sítios próximos ao São Pedro à procura de um terreno para o estabelecimento de uma colônia agrícola. O objetivo era evitar o acúmulo de insanos no manicômio, ampliar o espaço para o serviço de praxiterapia e com a produção gerada pelas atividades dos insanos diminuir o ônus financeiro no orçamento do Estado com a manutenção do São Pedro.

1906 – Foram iniciadas as obras para a instalação da usina geradora de eletricidade e a demarcação dos limites da chácara do São Pedro através do seu cercamento com aramado e moirões de granito.

1907 - Viagem do doutor Carlos Penafiel, comissionado pelo Estado, à “Colônia de Lujan”, próxima a Buenos Aires na Argentina, com o intuito de colher subsídios para o projeto de uma colônia agrícola no perímetro do São Pedro.

1907 – Instalada a rede telefônica interna no Hospício São Pedro.

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1908 – Com a exoneração do doutor Tristão Torres, por solicitação do mesmo, foi nomeado diretor do Hospício São Pedro o doutor Dioclécio Pereira da Silva, que permaneceu no comando da instituição até 1924.

1908 - O doutor Dioclécio Pereira comunicou ao secretário Protásio Alves a disponibilidade do Hospício São Pedro em aceitar a proposta da Faculdade de Medicina e Farmácia de Porto Alegre de ministrar os conhecimentos da disciplina de “Clínica Psiquiátrica” nas dependências do hospício, o que veio acontecer neste mesmo ano. Também a Faculdade de Medicina de Porto Alegre recebeu do Hospício São Pedro “o material necessário” para que se procedessem "lições de clínica psiquiátrica”.

1909 - Dentre os 543 alienados que compunha a população manicomial no São Pedro, 70 eram italianos (12,89%), 14 alemães (2,57%), 03 portugueses, 02 franceses, entre dezenas de outras nacionalidades.

1910 – Assumiram o apostolado no São Pedro, como primeira missão da Ordem no Estado do Rio Grande do Sul, as primeiras quatro Irmãs da Congregação de São José de Chambêry (França), sendo duas francesas e duas do Noviciado de Garibaldi (RS). A comunidade atingiu o ápice em atividade em 1964, quando 87 Irmãs se dedicaram aos árduos serviços exigidos no atendimento aos enfermos do hospital.

1910 – Em 1892 o São Pedro tinha 187 alienados internados; em 1900 eram 323, e em 1910 totalizavam 543. Entre 1892 e 1900 o crescimento foi de 72%, e de 1900 a 1910, de 41%. O decréscimo foi devido a forte campanha feita pelos diretores Tristão Torres e depois Dioclécio Pereira, para que as intendências pagassem ao São Pedro os valores pecuniários regulamentares para o tratamento e asilamento dos alienados que enviavam. Esta atitude dos diretores inibiu o envio indiscriminado de alienados para o São Pedro.

1911 - A disciplina de “Clínica das Moléstias Mentais” da Faculdade de Medicina de Porto Alegre continuava sendo oferecida regularmente no Hospício São Pedro.

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1911 - O Serviço Sanitário do São Pedro contava com duas Seções, respeitando a divisão por sexo: a das moléstias mentais, a cargo do médico-adjunto José Carlos Ferreira, e o das moléstias somáticas, sob a gestão dos médicos Dioclécio Pereira e José Hecker.

1912 – O tratamento da clinoterapia para alienados agitados no Hospício São Pedro, fundamentado na necessidade “do doente de toda sua energia nervosa para deter os progressos da decadência e da desorganização do cérebro”, através do repouso no leito, terminou com a agitação sonora que perturbava os alienados tranquilos.

1913 – O doutor Luiz José Guedes assumiu na vaga aberta no São Pedro pela demissão a pedido do doutor José Hecker.

1913 - O doutor José Carlos Ferreira, chefe do Serviço de Moléstias Mentais do Hospício São Pedro, registrou a presença de 23 alienados criminosos entre a população asilar.

1913 – Um novo quadro de pessoal foi estabelecido no Hospício São Pedro para o ano seguinte com 49 funcionários. Faziam parte três médicos (o diretor médico, o médico-adjunto e mais outro médico), sete enfermeiros e nove ajudantes, três enfermeiras e duas ajudantes e seis enfermeiras religiosas.

1914 – No relatório anual da direção do São Pedro enviado ao secretário do Interior e Exterior foi registrada a conveniência de se criarem enfermarias em hospitais de caridade do interior gaúcho, subvencionados pelo Estado, para os casos agudos de doentes com moléstias mentais, diminuindo as longas e penosas viagens dos alienados para Porto Alegre e consequentemente o constante aumento da população asilar no São Pedro. Os hospitais seriam escolhidos em cidades distribuídas geograficamente e não por importância política ou econômica.

1914 - O crescimento da população manicomial foi motivo de um acordo da direção do Hospício São Pedro com a Repartição das Obras Públicas para a construção de mais um pavilhão para o acolhimento dos alienados, sendo definitivamente abandonado o primitivo plano arquitetônico de edificação do São Pedro, que incluía

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mais seis pavilhões voltados para o norte e simétricos aos que estavam construídos.

1915 – Aconteceu a primeira aposentadoria no Hospício São Pedro. Após 21 anos de ofício público, o servidor foi jubilado por ter-se “inutilizado” no serviço, conforme inspeção de saúde o qual foi submetido.

1915 – Através do Decreto nº 2.144 A, de 03 de julho, foi oficializado o Regulamento da “Colonia do Jacuhy”, localizada à margem direita do rio Jacuí, no município de São Jerônimo, que foi a primeira colônia agrícola do Hospício São Pedro. O quadro de pessoal previsto era de 23 funcionários, entre os quais quatro enfermeiros e seis ajudantes ou guardas. O médico responsável deveria visitar a Colônia pelo menos uma vez por semana ou quando se tornasse necessário, mesmo quando nela houvesse médico residente. O médico deveria prestar seus serviços profissionais também aos servidores da colônia.

1915 – Nomeado o doutor Antônio Carlos Penafiel para o cargo de médico alienista do São Pedro. Atuou no Serviço Clínico e na observação dos dezenove alienados criminosos abrigados na Instituição.

1916 - Os serviços da farmácia do Hospício São Pedro foram entregues para a Irmã Gertudes e sua ajudante Irmã Irene, ambas da Congregação São José.

1916 - Implantada no Hospício São Pedro a “Classificação da Sociedade de Neurologia, Psiquiatria e Medicina Legal” adotada no Hospital Nacional de Alienados do Rio de Janeiro.

1917 – Começaram os estudos da conveniência da organização de um laboratório de pesquisas clínicas no São Pedro. Em outubro foi inaugurado oficialmente o Serviço de Cirurgia Dentária com a nomeação do odontologista Rache Vitello, que vinha atendendo desde os fins de 1916.

1917 - Uma grande quantidade de banheiras foi instalada no São Pedro para serem utilizadas não só para os banhos higiênicos, mas também para a terapêutica dos alienados. Estes banhos, com água

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em temperatura controlada, possibilitaram que o Serviço de Balneoterapia funcionasse dia e noite. O tratamento através de banho frio para alienados em estado de “excitabilidade exagerada” tinha sido indicado pelo doutor Carlos Lisbôa em 1884.

1917 - Ao longo do ano o movimento no São Pedro foi de 878 alienados, sendo 470 homens e 408 mulheres. Dentre as doenças mentais que mais se manifestaram foram “as psycoses maníaco-depressiva, representada por 192 casos, seguindo-se a demência precoce em 171 individuos. Enquanto o maior índice de mortalidade no período de 1910 e 1917 aconteceu em 1915, representando 13,18% dentre a população transitante no São Pedro, os menores índices foram em 1911, 1912 e 1917, com os respectivos percentuais de 8,05%, 8,28% e 8,42%.

1918 - Nomeado o médico-cirurgião Octacilio Torres Rosa para o lugar de médico de moléstias intercorrentes do Hospício São Pedro.

1918 - Inaugurada a “Colonia do Jacuhy” no município de São Jerônimo. No primeiro momento foram transferidos 60 alienados do São Pedro para a Jacuí, que encerrou suas atividades em 1937 com o translado dos internos para a colônia agrícola criada em 1928 nos fundos da área do São Pedro.

1918 - Houve um movimento transitante no Hospício São Pedro de 947 alienados, sendo 135 de 1ª, 2ª e 3ª classes (14% - pensionistas) e 812 alienados de 4ª classe (86% - indigentes) incluindo os 60 alienados da Colônia do Jacuhy.

1918 - O odontologista João Rache Vitello realizou 3.200 atendimentos, com cerca de 1.400 extrações dentárias.

1918 - Em outubro foi inaugurado no São Pedro o Pavilhão de Isolamento para as insanas tuberculosas. Neste mesmo mês e no seguinte aconteceu a pandemia da “influenza Hespanhola” em Porto Alegre, acometendo de gripe 334 asilados (168 alienados e 166 alienadas) no Hospício, 47 insanos da colônia e muitos funcionários da instituição. Faleceram 21 alienados (11H;10M) e dois funcionários. O diagnóstico da causa mortis da maioria foi de pneumonia. Em dezembro houve recrudescência, quando somente três mulheres foram afetadas pela gripe. Após a epidemia todo o

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material das enfermarias foi desinfetado pelo pessoal da Diretoria de Higiene do Estado.

1918 - Um novo quadro de pessoal foi estabelecido no Hospício São Pedro para o ano seguinte com 53 funcionários, entre os quais quatro médicos (um diretor médico, um médico-adjunto, um médico psiquiatra e um médico de moléstias somáticas). Também foi estipulado o quadro de pessoal dos 22 funcionários da Colônia do Jacuí.

1919 – Seguiu em viagem de estudos para os Estados Unidos da América, comissionado pelo Governo do Estado do Rio Grande do Sul, o doutor Octacilio Torres Rosa. A viagem de um ano teve o propósito de observar as cirurgias específicas para alienados, a relação da ginecologia com as moléstias mentais e tudo que fosse útil à assistência aos alienados no Hospício São Pedro.

1919 - Os exames clínico-biológicos e bacteriológicos dos alienados do Hospício São Pedro foram executados mediante convênio com o Instituto Oswaldo Cruz da Faculdade de Medicina de Porto Alegre.

1919 - Os 25 insanos considerados delinquentes, que estavam acolhidos em 1º de janeiro no São Pedro, aumentaram para 32 no último dia do ano.

1920 - Diversas medidas foram planejadas para qualificar o atendimento aos alienados do São Pedro, dentre as quais a criação de um instituto médico-pedagógico, como uma “medida higiênica para os alienados de idade infantil” que estavam nas seções dos insanos adultos.

1920 - No decorrer do ano de 1920 foi mantida a direção do Hospício São Pedro com o médico Dioclécio Pereira na direção geral, o doutor Octacilio Torres Rosa como responsável pelas Moléstias Intercorrentes, o doutor Luiz José Guedes como alienista da 1ª Divisão (homens) e o doutor José Carlos Ferreira como médico-adjunto e alienista da 2ª Divisão (mulheres), e como almoxarife, A. Viveiros.

1921 - Na 1ª Divisão do São Pedro transitou 458 alienados, cujos diagnósticos mais frequentes foram psicoses (hetero-tóxicas)

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alcoolismo e demência precoce. Na 2ª Divisão, o movimento foi de 486 alienadas, cujo diagnóstico mais comum foi psicose maníaco-depressiva. Foram aviadas ao longo do ano na farmácia do Hospício, 12.118 fórmulas, sob a orientação da Irmã Gertudes e da assistente Irmã Beatriz.

1921 - No último dia do ano, 672 alienados permaneceram no São Pedro. Do total, três alienados tinham até 10 anos de idade e 55 alienados de 11 a 20 anos de idade.

1921 - O mapa estatístico da população da Colônia do Jacuí revelou a existência de alienados de diversas nacionalidades no último dia do ano, sendo 40 brasileiros, 08 italianos, 01 alemão, 02 polacos e 01 turco. Quanto ao estado civil existiam 41 solteiros, 08 casados, 02 viúvos e 01 com situação ignorada. Em relação as “côres”, 43 eram brancos, 06 “mixta” e 03 negros. Foi também informado o número de alienados presentes por intervalo de idade: de 11 a 20 anos (01); de 21 a 30 (14), de 31 a 40 (24), de 41 a 50 (07), de 51 a 60 (03), de 61 a 70 (02) e de 71 a 80 anos (01).

1922 - A praxiterapia continuou facilitando a manutenção administrativa da instituição. O trabalho como meio terapêutico e econômico na 1ª Divisão foi concentrado nas tarefas de limpeza da cozinha, dos refeitórios, das cavalariças, das cocheiras, da caiação e pintura dos pavilhões; na 2ª Divisão, as ocupações prevaleceram na lavanderia, nas costuras, no serviço de asseio, na pintura de utensílios, no cuidado do jardim e na pequena horta das religiosas de São José.

1922 - Novamente a direção do São Pedro sugeriu a criação de enfermarias especiais em hospitais gerais de alguns municípios do Estado. Dentre os argumentos apresentados para as autoridades do Governo do Estado, sobressaía a de que as municipalidades reuniam os alienados nos postos policiais até formarem um grupo numeroso para enviarem ao Hospício da Capital, retardando a internação e possibilitando o agravamento das moléstias com o desgaste das longas viagens dos alienados para Porto Alegre.

1922 - O Decreto nº 3.026, de 26 de setembro, autorizou a criação da Secção de Contabilidade no Hospício São Pedro, sendo contratado em outubro um guarda-livros e dois escriturários.

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1922 - No último dia do ano, o Serviço de Enfermagem do São Pedro tratou 869 alienados internados, incluindo os 98 da Colônia do Jacuhy. Atendeu com enfermeiros leigos na 1ª Divisão e com religiosas as alienadas da 2ª Divisão. Somente em 1961 os alienados indigentes do hospício foram atendidos pelas Irmãs de São José, por solicitação expressa do médico diretor Luiz Ciulla.

1923 - Um novo quadro de pessoal foi estabelecido no Hospício São Pedro com 65 funcionários, entre os quais quatro médicos (um diretor médico, um médico ajudante, um médico psiquiatra e um médico de moléstias somáticas), nove enfermeiros e onze ajudantes, uma enfermeira e dois ajudantes, e quinze enfermeiras religiosas. O quadro de pessoal da Colônia constou com 23 funcionários, cujas autoridades superiores continuavam sendo o administrador e o enfermeiro-mór.

1924 – Com o falecimento do doutor Dioclécio Pereira assumiu a direção do Hospício São Pedro o médico-adjunto José Carlos Ferreira, que permaneceu até 1926.

1924 – Através do Decreto nº 3.356, de 15 de agosto, foi estabelecido o Regulamento para a Assistência a Alienados no Estado do Rio Grande do Sul “que será ministrada no manicômio Judiciario a instituir-se; no Hospicio S. Pedro; em estabelecimentos particulares, sob a fiscalização do Estado”. O Manicômio Judiciário seria criado nas próprias dependências do Hospício São Pedro.

1924 – Por meio do Decreto nº 3.359, de 22 de agosto, foi nomeado diretor do Manicômio Judiciário o médico Jacintho Godoy.

1924 – Estabelecido novos Quadros de Pessoal do Hospício São Pedro, da Colônia do Jacuhy e do Manicômio Judiciário para o ano seguinte. O Hospício São Pedro com 83 funcionários, entre os quais cinco médicos (um diretor médico, um médico-adjunto, dois médicos alienistas e um médico de moléstias somáticas), doze enfermeiros e dezenove ajudantes, uma enfermeira e duas ajudantes, e vinte enfermeiras religiosas. A Colônia do Jacuhy continuou com 23 funcionários e o Manicômio Judiciário com oito servidores, entre os quais um diretor médico, um enfermeiro e quatro guardas.

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1925 - Criado o Regimento Interno para o Manicômio Judiciário através do Decreto nº 3.454, de 04 de abril. O Manicômio foi o segundo implantado no país (o primeiro foi no Rio de Janeiro em 1921), no dia 05 de outubro, no sexto pavilhão do prédio histórico do São Pedro. Acolheu dezesseis alienados criminosos que se encontravam internados no Hospício São Pedro. As mulheres alienadas que praticaram crimes permaneceram na secção feminina do São Pedro.

1925 – Através do Decreto nº 3.564, de 31 de dezembro, foi estipulado o Quadro de Pessoal do Manicômio Judiciário com 14 funcionários (um diretor, um administrador, um ajudante, um enfermeiro-mór, quatro enfermeiros, quatro guardas, um porteiro e um servente).

1925 – Aprovado pelo Decreto nº 3.550, de 29 de dezembro um novo Regulamento para o Hospício São Pedro, nominado a partir de então, de Hospital São Pedro, por sugestão do doutor Protásio Alves, secretário do Interior e Exterior do Rio Grande do Sul.

1925 – Aprovada a tabela do Quadro de Pessoal do Hospital São Pedro e os respectivos vencimentos. A área técnica contou com cinco médicos (um diretor médico, três médicos psiquiatras e um médico ginecologista) e três internistas. A farmácia continuava sendo atendida por uma religiosa farmacêutica e duas ajudantes religiosas.

1925 - O novo regulamento aprovado em 1925 para a instituição manicomial tratou da criação de uma escola de enfermeiros na própria instituição, mas que somente foi concretizada através do Decreto nº 7.782, de 02 de Maio de 1939, na segunda administração do médico Jacintho Godoy no Hospital São Pedro.

1925 - O movimento geral no São Pedro no primeiro dia do ano foi de 869 pacientes (316 homens e 455 mulheres) e 98 pacientes na Colônia do Jacuhy. Entraram ao longo do ano 197 homens e 140 mulheres; reentraram 49 homens e 34 mulheres; saíram por diversos motivos, 165 homens e 79 mulheres; faleceram 105 homens e 50 mulheres. A população transitante foi de 1.289 enfermos, ficando no São Pedro, no último dia do ano, aproximadamente o dobro de

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mulheres (500) sobre o de homens (276). A Colônia do Jacuhy terminou o ano com 109 homens.

1925 - A Clinica de odontologia, sob a responsabilidade do doutor Rache Vitello, embora instalada em local inadequado e com deficiência do material instrumental, proporcionou um serviço com 1.934 consultas e cerca de 4.700 procedimentos aos alienados.

1926 - O doutor Jacintho Godoy Gomes foi empossado em 11 de novembro na direção da “Assistência a Alienados no Rio Grande do Sul”, que incluiu o comando do Hospital São Pedro e do Manicômio Judiciário. Foi o início de um período de reformas profundas no São Pedro, proporcionando um novo discurso médico-psiquiátrico voltado à promoção da saúde mental e de uma nova prática terapêutica de avançada tecnologia à época.

1926 – Extintos os cargos de diretor do Hospital São Pedro e do Manicômio Judiciário, sendo substituídos pelo diretor da Assistência a Alienados. Foi elaborado um novo Quadro de Pessoal para o ano seguinte. O Hospital São Pedro contou na área técnica com o médico–diretor da Assistência, três médicos-chefes das secções de doenças mentais, um cirurgião ginecologista, um cirurgião auxiliar, um médico-chefe de laboratório, três internistas, um cirurgião dentista. A presença intensa das religiosas no São Pedro com uma farmacêutica e uma ajudante, uma enfermeira-mór e vinte e quatro enfermeiras, uma costureira e uma “roupeira”.

1927 – Durante todo o ano de 1927 foi feita uma classificação das “papeletas” (prontuários) dos internos, exigindo muitas vezes que se recorresse à identificação judiciária. A conclusão da classificação no final do ano permitiu que no primeiro dia do ano seguinte fosse colocado em execução o novo regime de papeletas e dos Livros de Admissão exigidos pelo Regulamento de Assistência a Alienados. O número de internos no final do ano de 1927 era de 1.080 alienados.

1927 – As 1ª e 2ª Divisões foram renomeadas, respectivamente, para Divisão Pinel e Divisão Esquirol, homenageando os alienistas franceses Phillipe Pinel e Jean-Étiene Dominique Esquirol.

1927 – O primeiro relatório sobre o Serviço de Cirurgia do São Pedro emitido pelo doutor Octacilio Rosa, datado de 16 de abril, registrou

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o funcionamento do almejado “grupo cirúrgico”, planejado ao longo dos anos anteriores. As condições oferecidas pelo Serviço foi motivo de orgulho não só dos médicos-cirurgiões da Instituição, mas também de outros colegas que participavam em Porto Alegre do IX Congresso Médico Brasileiro.

1927 - O objetivo primordial das imensas reformas efetuadas no prédio do São Pedro foi o de adaptar o edifício aos modernos serviços técnicos psiquiátricos e os de cunho administrativo que estavam sendo implantada no hospital. Concebido e estruturado arquitetonicamente para ser um asilo de alienados, o prédio passou a ser modificado em sua composição estrutural interna, obedecendo à funcionalidade proposta por um atualizado saber médico-psiquiátrico.

1927 - Em vésperas de deixar o comando do Estado do Rio Grande do Sul, em 25 de janeiro de 1928, o presidente do Estado Borges de Medeiros, visitou o Hospital São Pedro em 31 de dezembro de 1927.

1928 - A proposta da direção da Assistência a Alienados de reunir em terrenos adjacentes ao São Pedro todos os seus serviços, inclusive a Colônia Agrícola, foi concretizada no dia 22 de outubro de 1928, com a aquisição da Intendência Municipal da Chácara da Figueira, localizada no nos fundos do São Pedro, cuja área de 815.767,50 m² foi adquirida pela quantia de 658:702$285 réis. Incluía a atual área da Escola Superior de Educação Física da UFRGS e do Jardim Botânico, limitada atualmente a oeste e sul pela Rua Felizardo Furtado, a leste pela Avenida Cristiano Fischer e ao norte pelo prolongamento da Rua Saicã, Rua doutor José C. Bernardes e Rua eng. Antônio Carlos Tibiriçá. A Assistência a Alienados tomou posse da nova propriedade no dia 1.º de novembro, sendo incluídos na negociação todas as benfeitorias, os animais e as plantações existentes, inclusive a de eucaliptos. Foi dado o prazo de um ano para que o vendedor retirasse do imóvel as plantas e utensílios que constituíam o Horto Florestal instalado na chácara.

1928 – Por iniciativa da direção do São Pedro e do município de Porto Alegre, através de seu intendente Octávio Rocha, foi criado o Posto de Psicopatas em 1928, na região do bairro Azenha, proporcionando uma enfermaria especial de observação,

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atendimento e tratamento emergencial aos alienados. Inaugurado em 04 de setembro pelo major Alberto Bins, então Intendente Municipal de Porto Alegre, o Posto de Psicopatas existiu por dez anos, tempo em que os alienados foram resguardados de frequentarem os postos policiais da capital.

1928 – Os jornais paulistas, “Estado de São Paulo” e “Diário Nacional”, nas edições de 08 de setembro, repercutiram favoravelmente a inauguração do Posto de Psicopatas em Porto Alegre.

1928 – Visitaram o São Pedro em datas distintas o sanitarista Belizário Penna quando esteve no Estado estudando assuntos de saúde pública, e o cientista português João Coelho, delegado oficial do “Comité da Presse Médicale de Paris”, nas jornadas médicas que estavam sendo realizadas no Rio de Janeiro.

1928 - Os seis municípios que “contribuiram com maior contigente de psychopathas” durante o ano de 1928 para o acolhimento no São Pedro foram: Porto Alegre (540); Pelotas (99); Cachoeira (62); Rio Grande (58); Santa Maria (44) e Caxias (40). Os percentuais de pacientes enviados para o Hospital em relação às populações dos seus municípios foram: 1.º Caxias (população – 31.880; alienados – 40; 0,1125%), 2.º Pelotas (população – 93.350; alienados – 99; 0,106%); 3.º Rio Grande (população – 59.670; alienados – 58; 0,092%); 4.º Cachoeira (população – 67.859; alienados – 62; 0,091%) e 5.º Santa Maria (população – 52.700; alienados – 44; 0,083%).

1928 - Dos doentes estrangeiros que ingressaram no São Pedro, 18 eram italianos, 07 “polacos“, 06 russos, 05 uruguaios, 03 portugueses, 03 alemães, 03 espanhóis, 02 austríacos, 02 romenos, 02 holandeses, 01 argentino e 03 ignorados. Do total de entradas o maior percentual de alienados esteve concentrado no intervalo entre 26 a 30 anos.

1928 - Os doutores Fabio de Barros e Luiz Guedes foram os responsáveis pelas “secções de observação” das Divisões Pinel e Esquirol; as “secções de tratamento” das respectivas Divisões estiveram a cargo dos dois irmãos médicos, Raul Jobim Bittencourt e Januário Jobim Bittencourt.

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1928 - O doutor Januário Bittencourt, a partir de 30 de setembro entrou em licença por um ano para uma viagem à Europa com objetivo de aperfeiçoar seus conhecimentos em neuropsiquiatria. Como a viagem foi com todas as vantagens da função, o médico ficou com a obrigação de se atualizar em assuntos psiquiátricos que fossem do interesse do Hospital e no seu regresso apresentar um relatório de acordo com um programa pré-elaborado pela direção do São Pedro: “I. Estudo da organisação dos serviços abertos de psychiatria. O dispensario psychiatrico e sua apparelhagem laboratorial e de psychologia experimental como factor de orientação e selecção profissional e de prophylaxia das molestias mentaes. A clinica aberta e a hospitalização livre. II. estudo da organisação dos serviços da assistencia aos menores anormaes da França, Allemanha e Belgica”.

1928 - Com o afastamento do doutor Januario Bittencourt, ficou em seu lugar o doutor José Ferreira da Silva. Em outubro, o cirurgião doutor Octacilio Torres Rosa se afastou para tratamento de saúde, sendo nomeado para substituí-lo o doutor Jacy Carneiro Monteiro. O doutor José Fernandes Barbosa foi o responsável pelo Serviço Clínico da Colônia do Jacuí e das secções de crônicos das duas Divisões, sendo que a partir de outubro a secção de crônicos da Divisão Pinel ficou a cargo do doutor Waldemar Job, que tinha requerido à Secretaria do Interior e Exterior prestar serviços gratuitos ao Hospital São Pedro. As secções de pensionistas de ambas as Divisões continuaram sendo atendidas pelo doutor Luiz José Guedes, o médico com maior tempo de serviço no São Pedro. O doutorando em medicina, Henrique Faillace, e os de 5.º ano, Telemaco Estivalet Pires e Tenack Wilson de Souza, ocuparam os cargos de internos.

1928 - A farmácia do Hospital, administrada pelas religiosas de São José, aviaram ao longo do ano 24.989 fórmulas, sendo 24.277 para o São Pedro, 556 para a Jacuí e 156 para o Manicômio Judiciário.

1928 - O atelier de costura na Divisão Esquirol foi frequentado por um grande número de pacientes sob o comando das religiosas. A produção ao longo do ano alcançou 1.559 calças de brim, 882 blusas de mescla, 21 blusas de brim, 672 capas para colchões e 596 para

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travesseiros, 1.079 camisas para homens e 1.369 para mulheres, 1.325 lençóis de algodão, 918 fronhas de algodão, 8 aventais de algodão, 38 gorros de algodão, 12 faixas de algodão, 163 aventais de cretone, 60 gorros cretone, 12 toalhas de cretone para auscultação, 21 pares de mangas de cretone, 466 túnicas de brim, 552 túnicas de baeta, 10 aventais impermeáveis, 88 oleados para forrar camas e 29 mosquiteiros.

1928 - As receitas financeiras do Hospital São Pedro, que foram superiores as do ano anterior, provieram da “Contribuição dos pensionistas”, explicado pelo maior número de pacientes contribuintes que estavam internados na Instituição, e da “Contribuição das Intendencias”, resultado da pressão exercida pela Secretaria do Interior para que as Intendências regularizassem seus débitos com o São Pedro.

1929 – No dia 31 de janeiro de 1929, sob a orientação do doutor Jacintho Godoy e o apoio do parasitologista Raul Franco Di Primio, foi inoculado o primeiro doente no São Pedro a fim da remissão completa ou melhorada das incidências de neurossífilis. O procedimento só foi possível pela intervenção do doutor Raul Di Primio que conseguiu a presença de três pessoas inoculadas com o “hematozoário plasmódio vivax”, residentes em uma região endêmica de malária no município de Torres. O tratamento de Malarioterapia, através do impaludismo, descoberto pelo psiquiatra austríaco Julius Wagner-Jauregg, Prêmio Nobel de Medicina e Fisiologia em 1927, foi o revolucionário método terapêutico utilizado na Europa contra a bactéria “treponema pallidum”, agente etiológico da sífilis cerebral que na fase terciária da infecção (neurossífilis) causava paralisia geral.

1929 - No primeiro dia de 1929 estavam internados 1.060 insanos no São Pedro, sendo 497 homens e 563 mulheres. A população transitante ao longo do ano foi 1.795 enfermos. A cifra de altas foi de 400 pacientes, sendo 200 considerados curados, 132 melhorados, 32 sem melhoras, 17 com altas provisórias, 11 que fugiram, 02 foram transferidos para outros hospitais e 06 receberam alta por não apresentarem doença mental. O índice de cura foi de 11,1%, um pouco inferior ao do ano anterior, mas não aos percentuais de outros hospitais similares, e de 7,3% o de pacientes melhorados. Os 201

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óbitos no São Pedro representaram 11,1% da população transitante, proporção menor que a do ano anterior. A tuberculose pulmonar se constituiu como o maior agente dos falecimentos, com 39 casos, equivalente a 19, 4% dos óbitos.

1929 – O Hospital São Pedro continuou com prestígio junto à classe política do Estado do Rio Grande do Sul. No meio da tarde do dia 15 de junho, o diretor da Assistência a Alienados, doutor Jacintho Godoy, acompanhado por funcionários e dos engenheiros Antônio Siqueira, Paulo Chaves e José Rocha, encarregados das obras de remodelação do Hospital, receberam o presidente do Estado, Getúlio Vargas, do secretário do Interior e Exterior, Oswaldo Aranha, e do assistente-militar do presidente, major Krause do Canto.

1932 – O Interventor Federal no Estado do Rio Grande do Sul, José Antônio Flores da Cunha, exonerou o doutor Jacintho Godoy do cargo de diretor de Assistência a Alienados no dia 25 de novembro e nomeou através do Ato nº 440, de 25 de novembro, o doutor Luís Guedes, chefe de seção do Hospital São Pedro, para exercer interinamente a função de diretor da Assistência de Alienados.

1933 – O número de funcionários previstos para atuar no ano seguinte no Hospital São Pedro e nas duas colônias foi de 180 servidores. O pessoal técnico era constituído por um médico diretor da Assistência a Alienados, cinco alienistas chefes de seção das Divisões Pinel e Esquirol, cinco internistas, um cirurgião da Divisão Pinel e um cirurgião ginecologista da Divisão Esquirol, um cirurgião dentista, um farmacêutica religiosa e três ajudantes religiosas.

1935 – Foram construídos dois dos seis pavilhões previstos na Colônia Agrícola, situada nos fundos do Hospital São Pedro, para acolher os alienados da Colônia do Jacuí, recebendo as denominações de Pavilhão Dioclécio Pereira e Pavilhão José Carlos Ferreira, em homenagem aos dois ex-diretores do Hospital.

1837 – Transferidos os alienados da Colônia do Jacuhy para a nova Colônia Agrícola.

1837 – Neste mesmo ano, em dezembro, a jurisdição do Manicômio Judiciário passou a fazer parte da seção de Presídios e Anexos da Chefatura de Polícia, e com isto a transferência do comando de

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todas as suas atividades que até então eram supervisionadas pela Assistência de Alienados. Um prédio próprio, construído na área do São Pedro, com capacidade para 160 pacientes, acolheu o Manicômio Judiciário a partir de outubro de 1939 (o atual Instituto Psiquiátrico Forense Dr. Maurício Cardoso), dando início ao desmembramento da área original da chácara da “Saúde”.

1937 – No final de dezembro o doutor Jacintho Godoy reassumiu a direção da Assistência a Alienados permanecendo até 1951.

1937 – Adquirido um aparelho de electrocardiografia e organizado o respectivo Serviço no Hospital São Pedro pelo médico-internista Rubens Maciel.

1938 – Realizado um concurso para o preenchimento de vagas de psiquiatras no Hospital São Pedro. Foram aprovados os médicos Luiz Pinto Ciulla, Victor de Brito Velho, Mário Martins e Cyro Martins.

1838 – Criada uma nova Divisão para substituir a Secção de Pensionistas, serviço misto de pacientes. A Divisão foi nomeada de Morel, em homenagem a Benedict Augustin Morel, autor da primeira classificação das doenças mentais baseada na etiologia.

1838 – O plantão médico, obrigatório por força do Artigo 4º, § único, do Decreto nº 24.559, de 03 de julho, até então a cargo de internistas remunerados, passou a ser efetuado por um médico residente. Foi criado o Serviço Aberto (profilaxia mental) com atendimento ambulatorial, embora o relatório emitido pelo doutor Carlos Lisbôa, em 1884, tenha registrado que já praticava de forma tímida esses atendimentos no então Hospício São Pedro.

1838 – Começou a funcionar o Serviço de Assistência Social Psiquiátrico, sendo o Hospital São Pedro o primeiro estabelecimento hospitalar no Estado a possuir um serviço de assistência social. Foi concretizado o Serviço de Raios-X com a compra de um aparelho de 100.000 amperes e a nomeação do radiologista, doutor Norberto Pegas. Também foram instaladas as Secções de Oftalmologia e Otorrinolaringologia, com completa aparelhagem, que ficaram a cargo, respectivamente, dos doutores Alfredo Schermann e Ruy Osório que substituíram os doutores Gastão Torres, falecido, e o demissionário Ari Pinto.

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1838 - Foi adaptado um pavilhão para acolher o “Serviço Anatomopatológico”, com uma sala de necropsia, um gabinete de histologia e toda a aparelhagem necessária à pesquisa, e anexo uma câmara funerária.

1838 - Na área das relações corporativistas da psiquiatria gaúcha foi fundada em 28 de novembro a Sociedade de Neurologia e Psiquiatria do Rio Grande do Sul. Sua primeira diretiva teve como presidente o doutor Jacinto Godoy, como vice-presidente o doutor Fábio de Barros e como tesoureiro o doutor Cyro Martins; para constituição dos estatutos os doutores Almir Alves, Dyonélio Machado e Paulo Louzada. Todos estes médicos foram profissionais da saúde mental no Hospital São Pedro.

1838 - A Diretoria de Assistência a Alienados do Rio Grande do Sul passou a ser designada Diretoria de Assistência a Psicopatas.

1939 – Fundada a Escola Profissional de Enfermeiros do São Pedro, prevista no Regulamento de 1925. O curso, com dois anos de duração, funcionou por 14 anos, com 13 turmas, diplomando 191 alunos, entre os quais 20 Irmãs da Congregação São José. Os formandos prestaram o juramento sobre o "Livro de Esquirol".

1940 – Ministrado no Hospital São Pedro o “Curso de Biopsicologia Infantil”, onde médicos da Instituição instruíram noções básicas de neuropsiquiatria aos professores das escolas públicas. Dentre os médicos que atuavam no São Pedro e que ministraram o curso estavam os médicos Mário Martins, Jacintho Godoy, Décio de Souza, Cyro Martins, Avelino Costa, Raimundo Godinho, Ernesto La Porta, Luiz Ciulla, Brito Velho, Murillo da Silveira, Leônidas Escobar e Dionélio Machado.

1941 - Dentre os 2.250 enfermos que permaneceram no final do ano no São Pedro, 290 eram estrangeiros, sendo 188 homens, 124 mulheres e 08 crianças, equivalendo ao percentual de 12,88% da população manicomial internada no Hospital.

1943 – Foi publicado nos “Arquivos do Departamento Estadual de Saude do Rio Grande do Sul” o trabalho intitulado “Resultado do Tratamento pelo Electroshock”, efetuado no São Pedro, no primeiro semestre de 1943, pelo doutor José Barros Falcão. O tratamento

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envolveu 90 pacientes com1220 procedimentos de ECT. O resultado foi 52% de remissão total da doença, com 10 acidentes, sendo dois considerados graves. Nos pacientes diagnosticados com psicose maníaco-depressiva e esquizofrenia nas formas paranoide e catatônica foram colhidos os melhores resultados.

1944 - A partir de 02 de maio a psicocirurgia foi um dos novos procedimentos introduzido no São Pedro pelo doutor Almir Alves, nomeado cirurgião no São Pedro em 1º de fevereiro de 1927e Luiz Ciulla. No ano seguinte foi publicado nos Arquivo do Departamento Estadual de Saúde do Rio Grande do Sul o trabalho “Considerações sobre psicocirurgia. Resultado da leucotomia cerebral em dez casos”, de maio a outubro de 1944, no Hospital São Pedro, elaborado pelos médicos da instituição, Luiz Ciulla e Almir Alves, e apresentado em Montevidéu, no “1.º Congresso Sul Americano de Neurocirurgia”.

1944 - O Serviço Nacional de Doenças Mentais enviou em março ao Hospital São Pedro uma nova classificação nosológica que em 02 de maio foi adotada oficialmente.

1946 – O relatório de 1940 distinguiu o acontecimento de 11 partos, sendo 03 prematuros e um bebê nascendo morto; em 1942 ocorreram 10 partos simples e um aborto; em 1943, foram oito os partos simples; em 1944, 14 partos simples e um aborto; em 1945, 13 partos com dois prematuros e em 1946, 13 partos e um aborto.

1947 - Dos 1.554 pacientes acolhidos no São Pedro se encontrava um grupo majoritariamente de brancos, representado por um percentual de 86,16%, sendo destes 64,82% de homens. Os doentes “de côr”, representados por 13,83%, computavam 63,25% de homens.

1947 - Dentre os 17 diagnósticos mais frequentes nos enfermos admitidos no São Pedro se encontravam 407 com indicação de “esquizofrenia”, 194 pacientes com “oligofrenia”, 175 pacientes com “psicoses hétero-tóxicas”, 136 pacientes com “psicose maníaco-depressiva” e 110 pacientes com “personalidades psicopáticas”. Os diagnósticos menos comum encontrados foram de “paranóia” com 06 casos, “parafrenias e delírios crônicos alucinatórios” com 11 casos e “neuro-sífilis (síf.cerebr.; psic.-táb.) com 16 enfermos.

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1947 - Como amostragem dos relatórios mensais, o boletim de outubro registrou as ações desenvolvidas pelos diversos serviços, seções e enfermarias da Instituição. O documento com as informações foi datado em 12 de novembro constando dois atendimentos através da “penicilinoterapia”, embora outros tenham sido efetuados ao longo do ano.

1947 – O Serviço de Eletroconvulsoterapia funcionou regularmente no São Pedro. No boletim mensal de janeiro, do Serviço de Profilaxia Mental, assinado pelo doutor Murillo da Silveira, constam 40 aplicações de “Convulsoterapia pelo M. de Cerletti”. Os aparelhos de eletroconvulsoterapia do Hospital foram fabricados na própria Instituição pelo engenheiro Olmiro Ilgenfritz, supervisionado pelo psiquiatra Álvaro Murilo da Silveira.

1948 – O relatório anual do doutor Junot Barreiro, médico-chefe da Colônia Agrícola do São Pedro, registrou a composição do corpo técnico com um médico clínico residente, um médico visitador especializado em tisiologia, um odontologista, enfermeiros e atendentes. O movimento de internos no último dia do ano foi 425 pacientes indigentes e 28 pensionistas.

1948 - O aparelho de eletroencefalografia do São Pedro se tornou o primeiro e único no Estado, sendo utilizado pelos hospitais da Brigada, Exército, Pronto Socorro e outras instituições particulares de saúde. O Serviço foi instalado no São Pedro em 30 de setembro de 1948, sendo designados os médicos Dyonélio Tubino Machado e Ernesto Meirelles La Porta para organizarem e atenderem o Serviço, respectivamente como chefe e assistente.

1948 – Foi instalado no São Pedro o “Gabinete de Identificação”, em 28 de junho. O serviço foi alojado em salas localizadas no porão do prédio principal que foram adaptadas para atender a sua finalidade. Da inauguração até o último dia do ano foram identificados e fotografados 1.801 pacientes. O procedimento era uma prática corrente em todos os hospitais brasileiros de doentes mentais.

1948 - A população que transitou no São Pedro em 1948, entre os asilados e os que buscaram atendimentos psiquiátricos, ficando ou não internados, foi de 5.492 pacientes, permanecendo no último dia do ano no Hospital São Pedro, cerca de 2.300 enfermos. A colônia

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manteve um contingente majoritariamente de indigentes “tísicos e crônicos”. O movimento de doentes iniciou o ano com 400 pacientes considerados indigentes e terminou com 425 internos. O número de pacientes pensionistas passou de 12 para 13 e o Serviço de Tisiologia, que tinha 113 enfermos tuberculosos no início do ano, reduziu para 107 no final do ano.

1950 – Estabelecida a Secção de Pessoal do Hospital São Pedro. Para uma população interna de 2.881 doentes mentais existiu um quadro do Serviço Técnico com 165 servidores, entre enfermeiros, atendentes e religiosas. A proporção exata deveria ser de 280 funcionários, ou seja, um auxiliar técnico para cada dez pacientes. Houve um déficit de 115 funcionários técnicos. A falta de servidores técnicos no turno da manhã só foi suprida com o trabalho dos estudantes e praticantes da Escola Profissional de Enfermagem do Hospital São Pedro.

1950 – O movimento do Laboratório do Hospital São Pedro, coordenado pelo laboratorista Telêmaco Stivalet Pires, totalizou 17.311 exames laboratoriais em 1950, através das Secções de Química, de Microscopia e Hematologia e de Sorologia no L.C.R.

1957 – O Relatório de Atividades Gerais da Secção de Estatística do Hospital São Pedro registrou a presença de 16 psiquiatras, 20 clínicos e cirurgiões incluindo um radiologista e um laboratorista, 80 enfermeiros e 88 enfermeiras incluindo auxiliares, atendentes e religiosas, que compunham o Quadro Técnico em atividade.

1957 – Concorreram 254 pacientes às sessões de Psicoterapia de Grupo, uma nova modalidade de atendimento especializado inaugurada no Serviço Aberto.

1957 - De acordo com o Serviço de Estatística do Hospital São Pedro, a escala ascendente da população transitante, variou de 86 pacientes em 1884, para 613 em 1898, 1.494 em 1928, 3.068 em 1938, 5.492 em 1948, 6.103 em 1950 e 7.611 em 1957. No final do último ano o número de asilados era de 3.280, sendo 1.740 homens e 1.540 mulheres. A população transitante no São Pedro de 1929 a 1969 foi de 150.000 pacientes.

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1957 - Estabelecido o Curso de Formação em Psiquiatria da disciplina de Psiquiatria e Medicina Legal da Faculdade de Medicina da UFRGS, organizado pelos profs. David Zimmermann e Paulo Luiz Viana Guedes, na divisão Melanie Klein do Hospital São Pedro.

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UM TRANSITAR DESCOMPROMISSADO QUE AGASTAVA A URBE

Nos primeiros decênios do século XIX, com a chegada da família real portuguesa e da sua corte de nobres ao Rio de Janeiro em 1808, foram dados os primeiros passos para a medicalização da cidade. Neste período, enquanto alguns alienados (assim eram reconhecidos os pacientes diagnosticados com transtorno psíquico) eram acolhidos nas enfermarias da Santa Casa, outros eram “depositados” em seus porões ou nas celas da cadeia civil, distanciados do olhar público.

Em 1830, a Comissão de Salubridade da Sociedade de Medicina do Rio de Janeiro se manifestou de forma desfavorável para com esses procedimentos. O doutor José Martins da Cruz Jobim, relator da referida Comissão, revelou a necessidade de ser criado um espaço específico para o acolhimento e tratamento dos alienados.

Neste período, enquanto os insanos considerados “furiosos” permaneciam detidos, os avaliados como “mansos” se locomoviam desobrigados pelas ruas da cidade, geralmente sob a chacota da comunidade, provocando muitas vezes reações intempestivas quando insistentemente admoestados. Esta situação de confronto entre alienados e populares promoveu a apreensão do doutor José Francisco Xavier Sigaud, que em 1835 publicou no “Diário da Saúde” sua proposta de criação de um asilo de alienados no Rio de Janeiro. Todos estes eventos que caracterizaram os primórdios da medicina social no Brasil foram reforçados pelo doutor Antônio Peixoto quando apresentou sua tese “Considerações Gerais sobre a Alienação Mental”, em 1837, na Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, censurando os métodos retrógrados utilizados nos tratamentos dos alienados na Santa Casa fluminense.

Na Província de São Pedro do Rio Grande do Sul foi recorrente a prática de regulação social dos insanos, antes e após a inauguração do futuro asilo de alienados que levaria a denominação de Hospício São Pedro. A prática dos alienados andarem livres pelas ruas das cidades, sendo tratados como “bufões” e motivo de

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zombaria da população, principalmente dos jovens, foi uma realidade que permaneceu ao longo do tempo.

Essa liberalidade no transitar foi considerada uma irregularidade pública em algumas localidades da província nos anos oitenta do século XIX. De acordo com determinações estatuídas pelo poder político, através dos Códigos de Posturas de diversas Câmaras Municipais, foi estabelecida uma marginalização coagida dos alienados que transitavam descompromissados pela urbe, responsabilizando pecuniariamente os seus familiares. Excluídos dos padrões sociais os alienados foram considerados inaptos para conviverem no cotidiano e no seio da comunidade das vilas e cidades da Província de São Pedro.

O Artigo 1º da Lei Provincial nº 1.406, de 28 de dezembro de 1883, aprovou o Código de Posturas da Câmara Municipal de Santana do Livramento, de 1º de março de 1882, que determinou no Artigo 45, Capítulo II, sobre "Polícia nas Ruas":

"Vagarem pelas Ruas os loucos furiosos: multa de 12$000 réis applicado ao conjuge, pai ou filho, que estiverem a seu cargo, e se fôr escravo, o senhor”.

O Artigo 105, do Código de Posturas da Vila de Santa Vitória do Palmar, aprovado pela Lei Provincial nº 1.441, de 08 de abril de 1884, transcreveu praticamente todo o texto anterior do Código de Posturas da Câmara Municipal de Santana do Livramento em relação aos alienados, suprimindo o termo "furioso":

"Tambem não será permittido vagarem aos loucos pelas Ruas da villa, sob pena de pagar 20$000 réis da multa o conjuge, pai, filho ou irmão do louco, e se fôr escravo, o senhor”.

A condição dos alienados, não necessariamente os "furiosos", de perambularem desorientados pelos espaços urbanos das vilas e cidades da Província, também foi coibido pelos Códigos de Posturas das Câmaras de São Francisco de Paula em 1883, de Nossa Senhora do Rosário, de São João Batista de Quaraí em 1885, e da vila do Senhor Bom Jesus do Triunfo em 1887.

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O Ato nº 27, de 20 de fevereiro de 1882, assinado pelo Vice-Presidente da Província, Joaquim Pedro Soares, deu “regulamento á força policial”, de conformidade com a lei 1.306 de 10 de maio de 1881. Constou dos “Serviços da Força Policial” a função de:

“Velar na execução das leis policiaes, posturas da Camara Municipal e prevenir as suas contravenções, dando conta da existencia destas ás auctoridades competentes, (...) prender os que forem encontrados em flagrante delicto ou perseguido pelo clamor publico (...) vigiar sobre a prevenção dos crimes e sobre a manutenção de ordem e tranquillidade publica, lançando mão de todos os meios que a prudencia aconselhar, afim de evitar as rixas e desordens, fazendo recolher aos corpos de guarda os embriagados que encontrar vagando ou deitados nas estradas e ruas, com offensa á moral e bons costumes".

Esta situação ficou configurada na primeira manifestação pública do então presidente José Antônio de Souza Lima em 02 de março de 1883, por ocasião da abertura da 1ª sessão da 21ª legislatura da Assembleia Legislativa Provincial, quando foi incluso o extenso balanço com o “numero dos crimes commettidos e criminosos capturados, quadros comparativos da estatistica criminal e da acção repressiva da Policia” do ano anterior, emitido em 15 de fevereiro de 1883 pelo chefe da Polícia, José Maria de Araújo. A relação da polícia com a repartição de Saúde Pública da Província foi motivo de comentário por parte de José Maria de Araújo. Anotou que as atividades policiais junto a este “serviço público é quase nulla”, se limitando apoiar às Câmaras Municipais no cumprimento dos Códigos de Posturas.

Na passagem do século XIX para o XX, a condição do alienado de caminhar livre pelas ruas de Porto Alegre ainda agastava uma sociedade considerada judiciosa e era considerado inoportuno por formadores de opinião, conforme ficou explícito na 2ª página da edição nº 107, de 11 de maio de 1900, 6ª feira, do jornal republicano “A Federação”:

“Erra pelas ruas da cidade um creoulo a quem os garotos puzeram a alcunha de Gaiola. Basta muitas vezes uma

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creança gritar esse nome, para o creoulo em altos berros proferir uma serie de obscenidades, sem o minimo respeito ao decoro publico. A’ attenção da policia recommendamos esse vagabundo, para corrigill-o si fôr um vicioso, ou mandal-o recolher ao hospicio si fôr um louco”.

Neste período, o juízo oficializado pelos códigos de posturas para o individuo considerado “vagabundo” estava muito próximo ao reputado para os alienados, mendigos e “viciosos”, pois eram “reconhecidos como vadios todos aquelles individuos que vivem á custa dos outros, sem profissão conhecida e com prejuizo dos habitantes do município”.

Referências:

Coleção das Leis e Resoluções da Província de São Pedro do RGS de 1881. Primeira Sessão da 19ª Legislatura. Tomo 34. Porto Alegre: Tipografia da Livraria Americana, 1881, Pelotas. Mapoteca / Biblioteca da Diretoria Administrativa da Secretaria de Obras Públicas e Saneamento do Estado do Rio Grande do Sul.

Coleção das Leis e Resoluções da Província de São Pedro do RGS de 1882. Segunda Sessão da 19ª Legislatura. Tomo 35. Porto Alegre: Tipografia da "Deutsche Zeitung", 1882, Porto Alegre. Mapoteca / Biblioteca da Diretoria Administrativa da Secretaria de Obras Públicas e Saneamento do Estado do Rio Grande do Sul.

Coleção das Leis e Resoluções da Província de São Pedro do RGS de 1883/1884. Primeira Sessão da 20ª Legislatura. Tomo 36. Porto Alegre: Tipografia da Reforma, 1884, Porto Alegre. Mapoteca / Biblioteca da Diretoria Administrativa da Secretaria de Obras Públicas e Saneamento do Estado do Rio Grande do Sul.

Coleção das Leis e Resoluções da Província de São Pedro do RGS de 1884. Segunda Sessão da 20ª Legislatura. Tomo 37. Porto Alegre: Tipografia da Reforma, 1885, Porto Alegre. Mapoteca / Biblioteca da Diretoria Administrativa da Secretaria de Obras Públicas e Saneamento do Estado do Rio Grande do Sul.

Coleção das Leis e Resoluções da Província de São Pedro do RGS de 1885. Primeira Sessão da 21ª Legislatura. Tomo 38. Porto Alegre: Tipografia do Conservador, Porto Alegre, 1887. Mapoteca / Biblioteca da Diretoria

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Administrativa da Secretaria de Obras Públicas e Saneamento do Estado do Rio Grande do Sul.

Coleção das Leis e Resoluções da Província de São Pedro do RGS de 1887. Segunda Sessão da 22ª Legislatura. Tomo 40. Porto Alegre: Tipografia do Conservador, Porto Alegre, 1887. Mapoteca / Biblioteca da Diretoria Administrativa da Secretaria de Obras Públicas e Saneamento do Estado do Rio Grande do Sul.

“A Federação”; edição nº 107 de 11 de maio de 1900. Acervo da Memorial Legislativo do Rio Grande do Sul.

www.sms.rio.rj.gov.br/pinel/media/pinel_origens.pdf Acessado em julho de 2011.

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PRÁTICA DESFEITA

Com a inauguração do Hospício Pedro II no Rio de Janeiro em dezembro de 1852, diversos provedores das Santas Casas de províncias brasileiras adotaram como prática o envio de “alienados” para abrigo e tratamento no manicômio da capital do Império do Brasil:

O provedor da Santa Casa de Porto Alegre, de 1847 a 1848 e de 1857 a 1858, Manoel José de Freitas Travassos, registrou nos “Apontamentos para a historia da fundação do Hospital da Santa Casa de Misericordia da cidade de Porto Alegre”, o qual elaborou e ofereceu à Mesa Administrativa da pia instituição em 1859, relatou que na gestão do provedor Lopo Gonçalves Bastos, de 1851 a 1853 foram encaminhados alienados para o Rio de Janeiro:

“Em 1851,1852 e 1853 foi Provedor o negociante e proprietario Lopo Gonçalves Bastos. Forão grandes e importantes os serviços por elle prestados em prol da Santa Casa. Entre esses occupão distincto lugar a acquisição de africanos livres para o serviço da casa, a remessa de alienados para a Côrte e outros melhoramentos, para os quaes contribuio com dinheiros seus. Se a Santa Casa desse a este benemerito Irmão uma demonstração solemne do apreço em que teve a sua administração, não faria mais do que cumprir um dever de gratidão”.

O Decreto nº 82 de 18 de julho de 1841, data da sagração e coroação do ainda adolescente imperador, que estabeleceu a criação do “Hospicio de Pedro Segundo”, priorizava a terapêutica dos insanos:

"Decreto nº 82 de 18 de Julho de 1841. - Fundando um Hospital destinado privativamente para tratamento de Alienados, com a denominação de Hospicio de Pedro II. Desejando assignalar o fausto dia de Minha Sagração com a creação de um estabelecimento de publica beneficência: Hei de bem fundar um Hospital destinado privativamente para

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tratamento de alienados, com a denominação de - Hospicio de Pedro Segundo (...)”.

O Decreto não só contrariava o método adotado pelos provedores na questão do acolhimento asilar, como também o que foi registrado no Artigo 1º do Estatuto do Pedro II, que o definia como um hospício que estava disponível ao abrigo de insanos de todo o território brasileiro:

“Artigo 1º - O Hospicio D. Pedro II é destinado para asilo, tratamento e curativo dos alienados de ambos os sexos, de todo o Império, sem distinção de condição, naturalidade e religião”.

Diante da expediente adotado por provedores das Misericórdias foi emitida uma circular do Ministério dos Negócios do Império do Brasil, publicada em setembro de 1854 e enviada às províncias, determinando que não mais enviassem os alienados crônicos para o Pedro II. A circular imperial esclarecia que o hospício estava voltado para o tratamento dos doentes mentais e não para servir como instrumento asilar. Ficava então definido que quando fosse necessário o envio de alienados por divisões administrativas do império deveria ser por ordem do seu presidente, com a prévia autorização do Ministério dos Negócios. A partir desta deliberação foi desfeita a prática comum e descomedida do envio de alienados para o Pedro II. Informalmente o conteúdo da circular também definiu os hospitais e casas de caridades existentes nas províncias como as instituições aptas para abrigarem, tratarem e curarem os alienados.

Com o impedimento de enviarem os alienados crônicos para o Hospício do Rio de Janeiro, os governantes das províncias, inclusive o de São Pedro, João Lins Viera Cansansão de Sinimbú, se inquietaram e começaram a refletir em busca de soluções para o amparo asilar dos insanos.

A decisão do Ministério dos Negócios não acabou com a possibilidade de enviarem os insanos para o Rio de Janeiro, pois a restrição era atenuava quando a solicitação de admissão de alienados fosse por interferência da autoridade maior da Província. Essa condição ficou explícita no documento que registrou o "Resumo da Receita e Despesa da Santa Casa da Misericordia do

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Rio Grande do anno compromissal de 1858 a 1859", incluso no relatório do presidente da província de São Pedro, conselheiro Joaquim Antão Fernandes Leão, quando o escrivão do pio estabelecimento, Joaquim Ribeiro da Silva Santos, lançou na rubrica da despesa:

"Comedorias para dois alienados que forão mandados para o Hospital de D. Pedro II, por intervenção do governo.....10$000 rs”.

Em 1863, mesmo com alienados de ambos os sexos abrigados na cadeia e na Misericórdia de Porto Alegre, foi inaugurado na gestão do provedor João Rodrigues Fagundes um espaço específico para o acolhimento de alienados na própria Santa Casa:

"Asylo de alienados: - No dia 02 de Dezembro ultimo foi com toda a solenidade inaugurado este estabelecimento no edificio para elle expressamente construido com as necessarias proporções e sob o mesmo plano do Hospital de caridade, de que é continuação. No pavimento superior destinado ás mulheres forão recolhidas em 1º de Janeiro do anno findo 13 alienadas; o segundo pavimento destinado para os homens recebeo 18 alienados, que com aquellas perfazem o nº de 31”.

Referências:

Coleção das Leis do Império do Brasil de 1841. Tomo IV. Parte II. Rio de Janeiro: Tipografia Nacional, Rio de Janeiro, 1864. Volume 1826, Imprensa Nacional, Brasil. Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre. Apontamentos para a História da Fundação do Hospital da Santa Casa de Misericórdia da Cidade de Porto Alegre coligido e oferecidos à Mesa da Mesma Santa Casa pelo Irmão Manoel José de Freitas Travassos em 1859. Centro Histórico-Cultural Santa Casa de Porto Alegre, 2013. http://www1.seplag.rs.gov.br/upload/1859_Joaquim_Antao_Fernandes_Leao.pdf http://www1.seplag.rs.gov.br/upload/1864_Espiridiao_Eloy_de_Barros_Pimentel.pdf

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TRANSCRIÇÃO DA LEI DE CRIAÇÃO DO HOSPÍCIO SÃO PEDRO

Lei n. 944 de 13 de maio de 1874 O BACHAREL JOÃO PEDRO CARVALHO DE MORAES, PRESIDENTE DA PROVINCIA DE S. PEDRO DO RIO GRANDE DO SUL, ETC. Faço saber a todos os seus habitantes que a Assembléa Legislativa decretou e eu sanccionei a lei seguinte: Art. 1º - Ficão concedidas á irmandade da Santa Casa de Misericordia de Porto Alegre, para a fundação de um hospicio de alienados, doze loterias que serão successivamente extrahidas com preferencia a todas as loterias votadas, á excepção da loteria concedida ao Asylo da Conceição da cidade de Pelotas pelo art. 2º da lei n. 838 de 22 de Março de 1873 e da que está correndo em beneficio das obras da igreja do Senhor dos Passos da capital. Art. 2º - O edificio não poderá ser construido sem um plano provisoriamente approvado pelo governo, que deverá ter em vista: § 1º Que o hospicio fique isolado do hospital da Santa Casa. § 2º Que seja dividido em dois lances separados, um para os alienados em tratamento, e outro para os reputados incuraveis. § 3º Que cada lance seja dividido em secções, e cada secção subdividida em classes, conforme a natureza especifica da enfermidade e a idade de infancia ou madureza dos alienados. § 4º Que as cellas destinadas aos furiosos fiquem fóra das vistas dos outros enfermos. § 5º Que o edificio tenha, quanto possivel, salas espaçosas, grandes jardins, alêas, aguas abundantes e tudo que puder concorrer para a cura e restabelecimento dos enfermos. Art. 3º - No hospicio serão recolhidos e tratados alienados de tosa as especies. § único. Nenhum individuo será admittido no estabelecimento, como alienado, seja a requerimento de particular interessado, seja por ordem da autoridade administrativa competente, sem prévia verificação do seu estado de demencia por profissionaes, que deveráõ indicar as particularidades da molestia e a necessidade de ser recolhido ao estabelecimento.

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Art. 4º - A Santa Casa de Misericordia poderá alterar o seu compromisso para organisar a administração do novo estabelecimento, sujeitando as alterações á approvação da Assembléa Provincial para dar-lhes força da lei. Art. 5º - Ficão revogadas as disposições em contrário. Mando, portanto, a todas autoridades, á quem o conhecimento e execução da referida lei pertencer, que a cumprão e fação cumprir tão interiramente como nella se contém. O Secretario desta Provincia a faça imprimir, publicar e correr. Palacio do Governo na leal e valorosa cidade de Porto Alegre aos treze dias do mez de Maio de mil oitocentos e setenta e quatro, quinquagesimo terceiro da Independencia e do Imperio. (L.S.) João Pedro Carvalho de Moraes. Nesta Secretaria do Governo foi sellada e publicada a presente lei aos 13 de maio de 1874. No impedimento do Secretario do Governo, O official-maior, José de Miranda e Castro. Referências: Colleção das Leis e Resoluções da Provincia de S. Pedro do Rio Grande do Sul, 2ª Sessão da 15ª Legislatura - Tomo XXVII - Porto Alegre: Typ. do Rio-Grandense, 1974.

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TRANSCRIÇÃO DA CERTIDÃO DE COMPRA E VENDA DA ÁREA DO HOSPÍCIO SÃO PEDRO

Nº 66 do Tomb.

Primeiro Traslado

Escriptura de compra e venda em que são partes Contractantes a Fazenda Provincial, como compradora e Dona Ma- ria Rita Clara Rabello, como vendedora, da chacara sita na estrada

do Matto Grosso, suburbios Desta Capital. - L. V. F. 85 -

Saibão quantos esta publica escritura de compra e venda virem, que no Anno do Nascimento de Nosso Senhor Jesus Christo, de mil oitocentos

Setenta e nove, aos quatro dias do mez de Novembro, nesta Leal e Valorosa Cidade de Porto Alegre, Capital da provincia de São Pedro do

Rio Grande do Sul, em meu Cartorio comparecerão as partes contra - tantes: a viuva Dona Maria Clara Rabello, proprietaria, como vendedora e o Doutor Antero Ferreira Avila, procurador fiscal da Fazenda Provincia l, reprezentando a mesma Fazenda, como

compradora, moradoras ambas as mencionadas partes nesta Cida- de e reconhecidas por mim tabellião, e pelas testemunhas adian-

te nomeadas, como sendo as próprias pessoas, do que dou fé. E pela vendedora foi dito em prezença das alludidas testemunhas que ella é senhora e possuidora Dúma chacara, com caza de mora-

dia, cercada com pomar pructifero e campo tambem cercado e mais algumas benfeitoras, conhecida pela denominação de

chacara da "Saúde", situada na estrada do Matto Grosso, su- burbios desta Capital, propriedade que houve seu finado mari-

do Amgelino Luiz Ferreira, por compra feita a Antonio da Silva Froes e sua mulher por escritura de trez de Abril de mil

oitocentos sessenta e nove e que ella vendedora houve de seu finado marido por herança e meação. Disse mais que a dita

chacara, tem duzentas setenta e oito braças de frente sul, da referida estrada e fundos ate o arroyo da Azenha, dividin- do-se pelo lado do Oeste com terras dos herdeiros de Henrique

da Silva Fróes, por um vallo que finalisa no dito arroyo em cujo fundo se divide com mattos de Semeão Damasceno

da Silva Rosa, pelo lado leste, pela sanga denomina- da do chagas e o proprietario do campo oposto, José Ricardo Coelho de Abreu, de cujo lado, afundo se d ivide digo o fundo vai muito alem do

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arroyo da Azenha, por se lhe reunir vinte e cinco braças de terras fronteiras ao campo de marcos Antonio Pacheco, as quais outrora

foram todas de mattos. Declarou que a casa de moradia da chacara, esta situada para o lado de dentro das cercas e fora

do alinhamento da estrada do Matto Grosso, e tem uma porta e cinco janellas de frente, cozinha, thelheiros, quartos para traba-

lhadores, estrebarias e outras benfeitorias. Declarou mais, a mesma senhora, que a propriedade aqui descripta possúe livre e

dezembargada de qualquer onús, obrigação ou encargos, e do mesmo modo, della faz venda, como vendida tem a Fazenda Provincial, pela quantia de vinte e cinco contos de reis que nes-

te acto recebeu em moeda nacional, de que dá plena e geral Quitação, para não ser repetida por ella vendedora nem por seus

Herdeiros e testamenteiros, e que cede e transfere a Fazenda Provincial, o Dominio, posse, d ireito, Ação e senhorio, que tinha na propriedade ora vendida, para que della se utilize

o Governo, como for de mister, e que se obriga, por sua pessoa e bens presentes e futuros, a fazer esta venda sempre firme e valiosa, e a tirar a compradora a paz e a salvo de

duvidad futuras. E pelo Doutor Procurador Fiscal, foi d ito que esta compra esta Authorisada, pelo Governo da Provin-

cia, conforme seu officio numero quinhentos quanrenta novem de dous de Outubro findo, e que a chacara

esta destinada para nella se construhir o hospicio para Alienados, ou para qualquer outro fim a que aprouver

o Governo, se não se l evar a effeito esta construção e por que esta competentemente authorisado acceita esta escr iptu-

ra com todas as suas clausulas e condições e a assi - gna, para que fique este contracto, puro e perfeito e delle possa surtir de hoje em diante, todos os effeitos juridicos.

Não paga imposto de transmissão. Decreto cinco mil Quinhentos e oitenta e um de trinta e um de Março de mil oito-

centos setenta e quatro, artigo vinte e trez. Assim jostos e concor- des m´apetirao esta escriptura, o que fiz em notas, sendo me apresentada a distribuição seguinte: A Sobrosa, em quatro de novembro de mil oitocentos setenta e nove. Pires Falcão. Dona Maria Clara Rabello, vende a Fazenda Provincial, uma chacara na estrada do Matto Grosso, suburbios desta

Cidade. Porto Alegre, quatro de Novembro de mil oitocentos se- tenta e nove. E lida-lhes esta escriptura, Aceitarão e Assi -

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gnão com as testemunhas Alludidas Mandel José de Senna e Antonio Fernandes Lima, tembem conhecidas de

mim José Pacheco Sobrosa Filho tabellião que escreveu e leu. Paga em duas estampilhas sello proporcional desta venda. Estarão duas estampilhas no valor de vinte e c inco

mil reis. Maria Clara Rabello = Antero Ferreira d´ Avila = Antonio Fernandes Lima. Manoel José de

Lima. Nada mais contem, Porto Alegre, seis de novembro de mil oitocentos setenta nove. Eu José

Pacheco Sobrosa Filho, tabelião...conferi... Em 6 de novembro de 1879.

Referência: TOMBO 24. Div isão de Administração e Controle. Departamento de Patrimônio do Estado do Rio Grande do Sul.

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TRANSCRIÇÃO DA ATA DE LANÇAMENTO DA PEDRA FUNDAMENTAL DO HOSPÍCIO SÃO PEDRO.

Anno do Nascimento de Nosso Senhor Jesus Christo de mil oitocentos setenta e nove, quinquagesimo oitavo da Independencia e do Imperio, aos dous dias do mez de Dezembro, Aniversario Natalicio de S. M. O Imperador, o Senhor Dom Pedro Segundo, nesta Leal e Valorosa Cidade de Porto Alegre, Capital da Provincia de São Pedro do Rio Grande do Sul, achando-se presente o Exmo. Sr. Dr. Carlos Thompson Flôres, Presidente da Provincia, no terreno em que se deve levantar o edificio destinado aos alienados, sito á estrada do Matto - Grosso, suburbios desta Capital, adquirido por compra feita pela Fazenda Provincial á sua proprietaria Dona Maria Clara Rabello, para o fim de lançar a pedra fundamental do mesmo edificio, com toda a publicidade e solennidade, e estando tambem ahi presentes o Exmo. e Revmo. Sr. D. Sebastião Dias Laranjeira, Bispo desta Diocese, o Engenheiro Alvaro Nunes Pereira, encarregado da execução da planta e fiscalização da dita obra, os cidadãos Major José Antonio Coelho Junior, como presidente, João Birnfeld e Joaquim Gonçalves Bastos Monteiro, como membros da commissão nomeada pelo mesmo Exmo. Sr. para promover e administrar a mencionada obra, bem como a Ilma. Camara Municipal desta Capital, Autoridades Civis, militares e eclesiásticas e uma numerosa concurrencia de pessôas gradas, foi pelo mesmo Exmo. Sr. Presidente da Provincia, precedidas as formalidades do estylo, assentada a um metro de profundidade no centro do alicerce de alvenaria do encontro sul da porta principal do edificio, a pedra fundamental do mesmo que se denominará = Hospicio São Pedro - e se destina ao tratamento dos infelizes accommettidos de alienação mental. Em um vão aberto na dita pedra fundamental foi collocada uma caixa de zinco contendo uma de madeira, dentro da qual forão depositadas pelo mesmo Exmo. Sr. Presidente da Província moedas nacionaes de cobre, nikel, prata e ouro e todas as gazetas do dia impressa n'esta Capital, e bem assim uma folha de papel hollanda com a seguinte inscripção: "Felizmente para os Brasileiros era Sua Magestade o Senhor D. Pedro Segundo o Imperador Constitucional e Defensor Perpetuo do Brasil quando no dia dous de Dezembro de mil oitocentos setenta e nove, Aniversario Natalicio do Mesmo Augusto Senhor, n'esta Leal

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e Valorosa Cidade de Porto Alegre, Capital da Província de S. Pedro do Rio-Grande do Sul, o Exmo. Sr. Doutor Carlos Thompson Flôres, Presidente da mesma província, lançou a pedra fundamental deste edifício, em execução ao disposto na Lei Provincial nº. 944 de 13 de maio de 1874 e no § 4º do artigo 5º da de nº. 1.220 de 16 de Maio de 1879, para nelle serem tratados os infelizes accommettidos de alienação mental. Para perpetua memoria vai esta inscripção ser guardada na pedra fundamental deste edifício para que com elle vá até a mais remota posteridade." Sendo a sobredita caixa de zinco bem feichada e soldada por todos os lados para em tempo se lhe communicar a humidade e poder por este modo perpetuar-se a memoria da construção d'aquelle edificio. E sendo lançado esta pedra no logar acima mencionado foi coberta com outra preparada e ajustada para ficar assim a referida caixa de zinco no centro de ambas, e depois de betumadas as juntas com cimento de Portland, foi assentada a pedra em traço forte de cál e areia e sobre ella se continuou no mesmo acto a levantar o alicerce do edificio, formado tambem de pedra com o mesmo traço da cál e areia. E para constar mandou o Exmo. Sr. Dr. Presidente da Provincia lavrar esta acta para ser archivada na Secretaria do Governo e assignou o mesmo o Exmo. Sr. e mais autoridades e convidados presentes ao acto. Em Francisco Teixeira da Silva Lisbôa Diretor Geral servindo de Secretario de Governo a subscrevo. (seguem sessenta e sete assinaturas) Referências: Acervo do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Sul

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FRAGMENTOS HISTÓRICOS DA CRIAÇÃO E INAUGURAÇÃO DO HOSPITAL PSIQUIÁTRICO SÃO PEDRO

O Hospital Psiquiátrico São Pedro foi a primeira instituição

psiquiátrica do Estado do Rio Grande do Sul. Criado em 13 de maio de 1874 e inaugurado em 29 de junho de 1884, recebeu a denominação de Hospício São Pedro em homenagem ao santo padroeiro da província. Foi o sexto asilo/hospício de alienados implantado durante o Segundo Reinado no Brasil (1841-1889). O hospício (do latim "hospitium"; hospedeiro de doentes pobres e incuráveis) de alienados (do latim "alienus"; estranho a si mesmo ou à comunidade social) foi renomeado a partir de 1925 como Hospital São Pedro e, em 1962, Hospital Psiquiátrico São Pedro.

A urbe, concepção de espaço apolíneo, foi ocupada por

notáveis considerados judiciosos, que no propósito de instaurar organização e funcionamento social, estabeleceram padrões sanitários avalizados por processos de medicalização/higienização (discurso). Nesse ambiente considerado racional a loucura foi silenciada, institucionalizada e isolada do “centro de civilidade”, pretendido como previsível, transparente, disciplinado, purificado e opulento (prática).

A criação do asilo de alienados fez parte do procedimento de saneamento social de Porto Alegre. O artificio utilizado foi o de deslocar para a periferia da cidade os estabelecimentos que abrigaram as enfermidades, as detenções e os sepultamentos: a Santa Casa foi construída no alto da colina – “alto da Misericórdia” - circundando o núcleo populacional da cidade; o Lazareto de Variolosos estava situado no perímetro leste da cidade, na “Chácara das Bananeiras”, onde hoje estão estabelecidos os quartéis da Brigada Militar e o Presídio Central; a Casa de Correção, uma edificação pública que serviu para o encarceramento dos aviltados sociais que não se enquadravam nas normas comportamentais ditadas pela sentenciosa comunidade, foi edificada na extremidade da península que acolhia a zona urbana da sede do município, e o cemitério da Santa Casa localizado na região rural e alta do arraial da Azenha, afastado do curso natural do arroio conhecido como do

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Sabão, depois da Azenha e atualmente, canalizado, como Dilúvio ou Ipiranga. Os hospícios foram utilizados pelos médicos alienistas como espaços de observações dos insanos, confiando no propósito de que os isolando estariam afastados das prováveis causas que levaram à alienação mental. Se o hospício foi o meio na construção do saber alienista, o isolamento foi o método empregado como prática terapêutica de reabilitação mental. Na Província de São Pedro a preocupação do governo em contar com um local específico para o acolhimento e tratamento dos alienados ficou evidente através do relatório do presidente Joaquim Antão Fernandes Leão, apresentado à Assembleia Provincial, na 2ª sessão da 8ª legislatura de 05 de novembro de 1859. Lembrando aos deputados a proibição do encaminhamento de alienados para o Hospício Pedro II no Rio de Janeiro, sugeriu a criação de uma instituição de caridade especialmente voltada aos insanos da província. A construção do edifício teria a supervisão da Santa Casa da capital e o apoio financeiro do Governo Provincial:

"Hospicio de Alienados - Estando prohibida a remessa e admissão no hospicio de Pedro II dos alienados, que existem na provincia, e que forem reconhecidos incuraveis, como sejão os idiotas, imbecis, epilepticos e paraliticos dementes, que possão viver inoffensivos em qualquer parte; e não havendo nos estabelecimentos de caridade fundados na provincia accommodações apropriadas, onde possão ser conservados e tratados aqueles infelizes, com especialidade os dementes furiosos; chamo a vossa attenção sobre a necessidade de se fundar um pequeno hospicio em local apropriado, onde possão elles ser recolhidos e tratados convenientemente: este estabelecimento poderia ser feito pela Santa Casa da Caridade desta Capital, sendo para esse fim applicada somma sufficiente”.

No ano seguinte, como a população de alienados crescia rapidamente na Santa Casa de Porto Alegre, cujos insanos eram provenientes de intendências de todas as regiões da província,

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aumentou a dificuldade de acolhimento na instituição, sendo necessário abrigar insanos de ambos os sexos na cadeia civil. A decisão foi registrada no balanço anual de novembro de 1860 que foi apresentado à Assembleia Provincial pelo mesmo conselheiro Antão Fernandes Leão no seu segundo ano como presidente provincial:

"Alienados: Grandes são os embaraços com que luta o estabelecimento para proporcionar commodos adequados á essa classe de infelizes, por se limitar a 12 o numero das cellulas que alli ha sem as condições hygienicas indispensaveis á sua conservação; pelo que por mais uma vez se tem mandado reunir alguns na cadêa de Justiça, até que possão ser transferidos para o Hospital”.

Em 1864 foi registrado no relatório emitido pelo presidente da Província de São Pedro, Espiridião Eloy de Barros Pimentel, no Capítulo "Estabelecimentos de Caridade", informações do atendimento proporcionado ao longo do ano anterior pela Misericórdia de Porto Alegre: Que dentre uma população atendida de 1.012 enfermos constavam 50 alienados pobres (30 homens e 20 mulheres) e 07 particulares (05 homens e 02 mulheres). Que saíram curados 12 alienados pobres e 02 alienados particulares, falecendo 06 alienados pobres e 02 alienados particulares. Também ficou consignado no relatório de Pimentel, que no ano anterior, na administração do provedor João Rodrigues Fagundes, houve a inauguração de um local específico para o acolhimento de alienados na Santa Casa:

"Asylo de alienados: - No dia 02 de Dezembro ultimo foi com toda a solenidade inaugurado este estabelecimento no edificio para elle expressamente construido com as necessarias proporções e sob o mesmo plano do hospital de caridade, de que é continuação. No pavimento superior destinado ás mulheres forão recolhidas em 1.º de Janeiro do anno findo 13 alienadas; o segundo pavimento destinado para os homens recebeo 18 alienados, que com aquellas perfazem o n.º de 31”.

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O marechal de campo Luiz Manoel de Lima e Silva, provedor da Santa Casa de Misericórdia de 1865 a 1872, censurou em seu relatório de 1867 emitido à Mesa Administrativa, o comportamento destrutivo dos alienados asilados na pia instituição:

"Pois os infelizes que n´lles habitão, muito os enxovalhão e estragão, além do que inutilisão roupas, isto constantemente, não obstante a pontual vigilancia dos enfermeiros (...) e não impedia a continuada quebra de vidros, que traz uma grande despeza no anno, tudo causado por taes infelizes, que têm um instincto particular para a destruição”.

No último ano de sua gestão, o provedor Lima e Silva reafirmou as dificuldades administrativas e financeiras da Misericórdia proporcionadas pelo acolhimento de insanos e alertou para a prática contumaz do envio indiscriminado de alienados de toda a província para o asilo de alienados da Santa Casa, sendo que alguns alienados estavam abrigados em outros espaços da instituição:

"Estes pensionistas vitalicios são os mais pesados para o pio estabelecimento pelas despezas que fazem, e o incommodo que dão. O asilo continua repleto de alienados de ambos os sexos, e se maior fosse não chegaria para tantos infelizes, pois de todas as partes da Provincia se reclama entradas de novos (...). As antigas reclusões do pavimento térreo estão ocupadas com alienados immundos".

Foi recorrente a prática de regulação social dos insanos na província, antes e após a inauguração do asilo de alienado. As propostas discricionárias estatuídas pelo poder público através dos Códigos de Posturas de diversas Câmaras Municipais da Província de São Pedro estabeleceram uma marginalização coagida desses indivíduos “destituídos da razão”. Excluídos dos padrões sociais os alienados foram considerados inaptos para conviverem no cotidiano e em meio às comunidades das vilas e cidades da província.

O comerciante José Antônio Coelho Junior, provedor da Santa

Casa de 1873 a 1881, foi um cidadão ativo e altruísta na vida pública

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da província. Diante das circunstâncias aviltantes de acolhimento dos insanos na Misericórdia e na cadeia, Coelho Júnior sempre registrou nos relatórios exibidos à Mesa Administrativa sua consternação e inconformidade, até mesmo com a indiferença da sociedade. Através de críticas enérgicas e com insistência propôs como alternativa a criação de um asilo de alienados na província:

"Os pavimentos baixos deste edifício, únicos em que se póde collocar os loucos mais furiosos, são xadrezes escuros, frios e humidos, são verdadeiras masmorras, mais próprias por certo para fazer perder o juízo a quem o tiver do que para nellas recuperal-o (...). Ao ver-se esses infelizes sepultados nessas humildes e sombrias enxovias parece que a sociedade não quer cural os nem mesmo atenuar-lhes os seus soffrimentos, e sim que considera um crime a sua desgraça e que os quer punir com isso (...). Que tratamento podem ter na cadêa civil esses desventurados, que não seja ainda peior do que o que podem ter neste estabelecimento?! E há de continuar uma sociedade chistã e civilizada, a collocar aquelles que perderam a razão, muitas vezes por injustiças da própria sociedade, nas mesmas condições em que colloca o malvado e o criminoso (...). Não conheço, Srs., nada mais revoltante n’uma sociedade christã e civilizada, do que vêr um pai que perdeu a razão porque um assassino lhe arrancou a preciosa vida de um filho querido, ser lançado por essa sociedade na mesma enxovia em que lança o malvado. Ver um homem que perdeu a razão por injustiças da propria sociedade, ainda ser por ella lançado n’uma masmorra, e ahi terminar seus tristes dias, e no entanto estes e outros factos se dão, e se continuarão a dar, em quanto não tivermos um Asylo de alienados”.

Após liderar a exitosa campanha de criação do asilo de alienados em Porto Alegre, o provedor Coelho Júnior exerceu a presidência da primeira comissão incumbida da construção do prédio manicomial. No primeiro momento os recursos financeiros foram obtidos através da promoção de eventos sociais, de donativos e por meio da concessão da extração de doze loterias à Irmandade da Santa Casa, encarregada de implantar o asilo de insanos na

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capital, de acordo com a Lei Provincial nº 944, de 13 de maio de 1874, sancionada pelo presidente provincial João Pedro Carvalho de Moraes. No ano seguinte, através da Lei nº 988, de 27 de abril de 1875, decretada pela Assembleia Provincial e sancionada pelo presidente provincial José Antônio de Azevedo Castro, o Art. 1°, § 12, "Subvenção ás Casas de Caridade", foi autorizado o adiantamento de 25 contos de réis por conta das loterias para iniciar a edificação do asilo de alienados.

No ano seguinte foi ajustada a compra da chácara de Israel Rodrigues Barcelos para a construção do prédio do asilo de alienados. O local estava situado na "Estrada do Mato Grosso" (atual Av. Bento Gonçalves), caminho para a localidade de Nossa Senhora da Conceição de Viamão, próximo da atual Rua Vicente da Fontoura (ex-Boa Vista), no arraial do Partenon. No dia 19 de março, na presença das autoridades provinciais, dom Sebastião Dias Laranjeira, bispo da Província de São Pedro, benzeu a pedra fundamental da nova instituição manicomial que levou o nome de Hospício São José. Por motivos desconhecidos o proprietário do terreno acabou desistindo do negócio, impossibilitando a construção do asilo de alienados. Em novembro de 1879, no governo de Carlos Thompson Flores, a Fazenda Provincial comprou um terreno conhecido como chácara da “Saúde” para a edificação do hospício. A área foi adquirida da viúva Maria Rita Clara Rabello por vinte e cinco contos de réis. Afastada da urbe, a chácara tinha “2.500 palmos de frente e 3.181 palmos de fundos” e entestava ao sul com a "Estrada do Mato Grosso". Como estabelecia a lei de criação do asilo, a bucólica quinta era arborizada, rica em ar puro e água potável, onde corria a leste o arroio do Chagas e ao norte o arroio da Azenha, apta à terapêutica laboral e à segregação social da loucura. Em Porto Alegre, mesmo com a compra de um espaço específico para a construção de um asilo de alienados, permaneciam as inquietações das autoridades provinciais com as detenções dos insanos na cadeia. Em janeiro de 1882, o presidente provincial Francisco de Carvalho Soares Brandão, ao comentar no seu relatório anual as ocorrências na Repartição de Obras Públicas, relatou que de acordo com sua proposição estava concluída a

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edificação de cinco celas na cadeia civil para o exclusivo acolhimento de alienados:

"De accôrdo com o projecto e orçamento que mandei organizar pela repartição de obras públicas, determinei ao respectivo director a construcção de cinco cellulas para alienados, junto ao corpo da guarda da cadéa civil desta Capital (...) as cellulas se achão concluidas e já os alienados ahí acommodados, evitando-se os inconvenientes de sua conservação no interior da cadéa”.

Em setembro do mesmo ano, o presidente provincial José Leandro de Godoy e Vasconcelos determinou a construção imediata de um dos pavilhões projetados do hospício para o acolhimento imediato dos alienados que estavam detidos na cadeia civil:

"Para se recolherem os alienados que se acham na cadéa civil, mandei que com urgencia se preparasse um dos pavilhões desse hospicio suspendendo-se as demais construcções”.

Em fevereiro do ano seguinte, enquanto o engenheiro Álvaro Nunes Pereira, diretor da Repartição de Obras Públicas, reforçou a premência da construção de pelo menos um dos pavilhões do hospício, o chefe de Polícia José Maria de Araújo manifestou seu desconforto com a situação desagradável e perversa do encarceramento de alienados na cadeia civil da capital:

"É verdadeiramente commovedora a sorte desses desgraçados que, perdendo o uso da razão, tornam-se uma ameaça e um perigo para a communhão social, quando, ás tristezas de seu infortunio, accrescem os constrangimentos de uma reclusão incommoda e iniqua (...). Existem nesta cidade cincoenta alienados, dos quaes vinte e nove são homens e vinte e uma mulheres. Dezenove estão lançados nos quartos da Cadéa Civil e trinta e um permanecem na Santa Casa de Misericórdia”.

Do lançamento da pedra fundamental do "Asylo de Alienados”, em 02 de dezembro de 1879, aniversário de 54 anos de D. Pedro II,

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até 1903, com a conclusão das obras do sexto pavilhão, foi concluída a metade do projeto original de edificação do hospício. O provedor da Misericórdia Joaquim Pedro Salgado comunicou ao presidente provincial José Júlio de Albuquerque Barros, em 19 de junho de 1884, o aceite da Mesa Administrativa em gerir o futuro asilo de alienados. Essa situação durou até a assunção do governo republicano gaúcho, que através do Ato nº 04, de 28 de novembro de 1889, determinou que o hospício “deve estar sob as vistas directas e immediatas do Governo”, indicando no mês seguinte o médico Francisco de Paula Dias de Castro para comandar o Hospício São Pedro. Em de 29 de junho de 1884, domingo, 13 horas, foi inaugurado o Hospício São Pedro pela Mesa Administrativa da Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre, sendo liberado para visitação pública a partir das 15 horas. O evento foi comemorado com ostentação na presença das autoridades civis, militares e religiosas, dos benfeitores do asilo de alienados, dos notáveis e da imprensa da capital. Durante a solenidade o presidente Albuquerque Barros nomeou o ex-provedor José Antônio Coelho Júnior, “Grande Protector do Hospicio”. Dos atuais seis pavilhões, o Hospício São Pedro foi instalado com somente um pavilhão concluído e dois em construção. Na véspera da inauguração foram acolhidos 41 alienados, sendo 25 provindos da Santa Casa (14 homens e 11 mulheres) e 16 da cadeia civil (10 homens e 06 mulheres), sendo indicado o médico Carlos Lisbôa para responder pela direção do serviço sanitário da instituição manicomial.

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TRANSCRIÇÃO NA NOTÍCIA DA INAUGURAÇÃO DO HOSÍCIO SÃO PEDRO

A FEDERAÇÃO Órgão do Partido Republicano Escritório Rua dos Andradas n. 291 Porto Alegre, Província de São Pedro do Rio Grande do Sul Ano I – Nº148 Segunda – feira – 30 de junho de 1884 Número avulso 80 rs.

O jornal “A Federação”, órgão do Partido Republicano, fundado no dia 1º de janeiro de 1884 e cujo diretor de redação era Júlio de Castilhos, noticiou na 2ª página da edição 148, de 30 de junho do mesmo ano, o evento da inauguração do Hospício São Pedro. Semelhante o que foi publicado no “Mercantil”, também foi lembrado o fato do presidente provincial não ter citado no seu discurso “os relevantes serviços prestados ao estabelecimento pelo sr. José Antonio Coelho Junior, ex-provedor da Santa Casa”, bem como a inconveniência da festividade gastronômica que proporcionou um comportamento ruidoso por parte dos presentes, quando o momento exigia reflexão e respeito:

Hospicio S. Pedro

Hospicio S. Pedro – Inaugurou-se hontem a 1 hora da tarde, como estava annunciado , o hospicio S. Pedro.

Assitiram ao acto solemne da inauguração o que de mais selecto tem a nossa sociedade, inclusive a imprensa representada devidamente, os srs. Presidente da província, chefe de policia,

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comandante das armas e diversas outras autoridades civis e militares.

Na vespera tinham para ali sido transportados, da Santa Casa de Misericordia e da cadea publica, 41 alienados, entre homens e mulheres.

O projecto do edifício, organisado pelo sr. dr. Alvaro Nunes Pereira segundo todas as regras technicas, hygienicas e do bom gosto, comprehende quatro grandes secções, das quaes se acha uma concluida, outra quase terminada, uma ainda em construção e outra projectada, estando já promptas quarenta cellas para enfermos.

Em artigo subsequente faremos a descripção detalhada do edifício, que, depois de acabado, será um monumento glorioso para a nossa província, e um titulo de benemerência para a assembleia provincial, que promulgou a lei creadora; para o sr. dr. Carlos Tompson Flores, presidente de então, que a sanccionou; para o sr. dr. Alvaro, que confeccionou o projecto; para as diversas mesas da Santa Casa, que não o têm abandonado, e para a nossa população, que com o auxilio pecuniário tem concorrido para a continuação d’essa obra.

A ceremonia da inauguração foi feita com todas as etiquetas officiaes e religiosas na capella do edificio, pronunciando discursos por essa eccasião o sr. coronel Joaquim Pedro Salgado, actual provedor da Santa Casa, o sr. José Julio, que fez um minucioso historico do estabelecimento, desde a lei que o decretou até o presente, dirigindo então merecidos encomios ao sr. dr. Carlos Tompson Flores, presidente que a sanccionou e que fez esforços ingentes para que a idéa se tornasse uma realidade.

Lembrou também os serviços prestados pelo comendador João Pinto da Fonseca Guimarães, como ex-provedor da Santa Casa, e diversas medidas que, a seu ver, era necessario serem adoptadas na conclusão das obras, como tendo produzido excellentes resultados em identicos estabelecimentos fundados na America e na Europa, e muito recomendados por autoridades competentissimas que têm escripto sobre o assumpto.

Finalisada a ceremonia dirigiram-se todos os convidados para uma sala do edificio, onde se achava servida uma profusa mesa.

Ali foram trocados muitos brindes, falando os srs. Joaquim Pedro Salgado, Amaia de Gusmão, José Julio, dr. Alvaro e outros.

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O sr. dr. Alvaro recordou os relevantes serviços prestados ao estabelecimento pelo sr. José Antonio Coelho Junio, ex-provedor da Santa Casa, como reparação ao facto de não terem elles sido consignados no discurso-relatorio do sr. presidente.

Enumerou-os longamente e concluio affirmando que ninguem mais do que aquelle cidadão tinha se esforçado e dedicado sua actividade á realisação da idéa que já era um facto positivo.

O sr. presidente, respondendo, disse que tendo servido de base para parte do seu relatorio as informações ministradas pela actual directoria da Santa Casa, não lhe tinham sido dadas essas, mas que fazia suas as palavras do sr. dr. Alvaro em relação ao mesmo cidadão benemérito, e nomeava-o n’aquelle momento grande protector do hospicio.

Parecendo-nos um tanto exquisita a lembrança de fazer parte do programma de inauguração do hospicio de alienados uma mesa de doces, para dar lugar a saudações ruidosas, quando ali tão perto se achavam 41 desgraçados, cuja presença nos contristava e convidava-mos á meditação, damo-nos entretanto os parabens pelo facto de haver sido reparada uma falta, talvez commettida involuntariamente.

Á porta de entrada do edifício estava uma salva, com a qual a caridade da nossa população depositou o seu óbolo.

Uma guarda de honra achava-se postada em lugar competente e durante a tarde foi o hospicio constantemente visitado

As nomeações para os cargos da administração (...) Obs. O último parágrafo da reportagem não foi possível resgatar por estar danificado o exemplar do jornal. As tentativas de encontrar em outros acervos foram infrutíferas, pois as instituições visitadas não dispunham da referida edição. Referência: Notícia da inauguração do Hospício São Pedro publicada no jornal “A Federação” de 30 de junho de 1884. Acervo do Museu de Comunicação Social Hipólito José da Costa.

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TRANSCRIÇÃO DA NOTÍCIA DA INAUGURAÇÃO DO HOSPÍCIO SÃO PEDRO

MERCANTIL Propriedade de João Cancio Gomes Escrip. e Typ., Rua general Câmara, 49 Porto Alegre, Provincia de São Pedro do Sul Ano XI – Nº 147 Segunda–feira – 30 de junho de1884 Numero avulso 80 rs. Seccção Noticiosa Hospicio de Alienados - É a epigraphe de um artigo editorial do orgão marombista de hontem. Quem não leu tal artigo não sabe o quanto deixou de bem empregar seu tempo n'um dia de ocios.

Linguagem pura e castiça até a mais clássica puridade portugueza (seja-nos expressarmo-nos assim), elevação de idéas n'uma phrascologia toleravelmente guindada e bombastica, tudo isso seria muito bom se o artigo não perdesse pelo fundo.

Primeiramente faltou á verdade e á justiça attribuindo á patriotica Assembléa liberal e aos seus amigos a fundação do asylo.

É sabido que esse util e humanitario estabelecimento foi reclamado repetida vezes pelo nosso ilustre comprovinciano Sr. major José Antonio Coelho Junior que, no longo periodo do cargo de provedor da Santa Casa de Misericordia, conseguiu lançar a pedra fundamental e fazer cobrir o edificio.

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Não desconhecemos os serviços de seus continuadores, entre os quaes não se distinguiu menos o nosso amigo Sr. tenente-coronel João Pinto da Fonseca Guimarães. O que, porem, não toleramos é que em honra e louvor dos heróes do dia se amesquinhem os heróes da vespera.

Em segundo lugar péca o artigo, quanto á historia, afirmando que foi hontem o dia do nascimento do apostolo São Pedro. O principal redactor do orgão marombista não seria de certo o escriptor do artigo, porque, secretário nato de todas as devoções e confrarias da cidade e suburbios, não póde ignorar que a igreja celebra a 29 de junho a morte e não o nascimento dos apostolos São Pedro e São Paulo.

Pode succeder uma cousa, e é: que collaborando no orgão marombista homens de todas as seitas philosophicas e religiosas, crédulos e indifferentes, os da nova religião da humanidade e do amor talvez possuam um kalendário novo que commemore nesse dia, ao inverso de toda a christandade, não o martyrio, mas a natividade do santo.

Em terceiro lugar, notamos uma descoberta nova para medicina, e é: que a loucura provém precisa e absolutamente de uma lesão organica do cerebro! Esta é de tirar o chapéo.

Ora vejam como são as cousas. Nós que tambem somos profanos em medicina, respeitando a opinião de um distincto alienista, que nos disse: ser uma facto constatado pela sciencia a achada do cerebro do louco depois de sua morte, em estado identico ao do homem fallecido em seu juizo perfeito; suponhamos isso uma verdade.

Nossa convicção mais se robusteceu depois que lêmos o seguinte trecho de Nelaton, o sabio medico que desinteressadamente foi da França á Italia salvar o grande Garibaldi de uma amputação a que tinham condennado outras summidades medicas: "A perda de uma parte da substancia cerebral, diz elle, não implica precisamente a abolição de suas funcções; é assim que não é raro encontrar individuos curados sem incoveniente, ainda que uma parte do cerebro se lhe encontre separada da massa cerebral, ou pela acção de um instrumento contundente ou pela de instrumento cortante. Acrescentamos ainda que uma bala póde atravessar o craneo e o cerebro e o ofendido ser curado sem o menor accidente."

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Além destes e outros factos citados pelo sabio escriptor da Pathologia Cirurgica, alem de alguns excerptos que acabamos de lêr de uma obra de Janet, sabiamos de um acontecimento que muito põe em duvida a theoria da lesão do cerebro como condição necessária da loucura.

Eis o facto: Um menino com cinco annos de idade, irmão do Sr. Dr. Belchior

da Gama Lobo, recebeu um couce de um cavallo, tirando-lhe todo o parietal e pedaços das massa encephalica. Recolhido quase morto e convenientemente tratado, curou-se e veio a ser um habil estudante, como pódem attestar tres condiscipulos seus que aqui existem, e seu irmão residente em Pelotas. Esse moço, que morreu aos 30 annos de idade, chamava-se Ovidio da Gama Lobo. Mas, como apezar dos pezares, podemos estar em erro, esperamos que o sabio encyclopedista da redacção da maromba nos venha tirar as duvidas, apresentando um escripto que restabeleça a verdade no meio das opiniões encontradas nos medicos.

Está installado o Hospício São Pedro, sem duvida um dos mais importantes edificios da provincia, já pelos seus fins, já pelas suas grandes proporções e solida construção, se bem que, ressentindo-se de alguns defeitos.

As cellas do pavimento terreo deviam ser mais espaçosas e receber mais luz. São frias, talvez humidas, e muito sombrias.

A installação fez-se presentes os Srs. Conselheiro José Julio, commandante das armas e outras autoridades, provedor da Santa casa, mesarios, grande numero de familias e cavalheiros, achando-se postada á frente do edificio uma guarda de honra do 13º batalhão.

Á tarde esteve o hospicio exposto a visitação publica tendo havido grande concurrencia.

Em uma sala, do lado dos immensos corredores guarnecidos de cellas, onde os infelizes privados da razão entristeciam os visitantes, havia uma lauta mesa, onde espumava o champagne e se erguiam brindes!

Era a alegria ruidosa dos felizes escarnecendo dos desgraçados que riam ás vezes, ao ouvir os sons das bandas marciaes, um rir de tristeza que confrangia a alma e inspirava compaixão.

Ao lado dos que gemiam, ao lado dos infelizes loucos, ao lado da miseria, ressoavam os vivas e tiniam os copos dos convivas que na sua vaidade não trepidavam em escarnecer da dôr!

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Mas, se aquelles que a si arrogam as glorias de ser os fundadores daquelle hospicio, queriam brindar-se, porque não o fizeram antes da mudança dos loucos? Inaugurassem o edificio, bebessem, atroassem os ares com sua bandas de musica, e depois, fizessem transportar os loucos para aquella casa, onde devem reinar a ordem e a caridade.

A installação, feita com a pompa de hontem, não se commenta. Referência: Noticia da inauguração do Hospício São Pedro publicada na primeira página do jornal "Mercantil" de 30 de junho de 1884. Acervo do Museu de Comunicação Social Hipólito José da Costa.

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TRANSCRIÇÃO DA NOTÍCIA DA VISITA DA PRINCESA ISABEL

MERCANTIL Propriedade de João Cancio Gomes Escrip. e Typ., Rua general Câmara, 49 Porto Alegre, Provincia de São Pedro do Sul Ano XII N. 26 03 de fevereiro de1885 Numero avulso 80 rs. Seccção Noticiosa Hospicio de Alienados - No dia 30 do passado S. A. a Serenissima Princeza Imperial, acompanhada por sua comitiva e os Srs. Conselheiro presidente da provincia o Dr. director das obras publicas, visitou aquelle edificio.

No estabelecimento aguardavam S. A. provedor. Dr. Severino Prestes, mordomo, major Jeronymo Pereira Gomes e thezoureiro Manoel Soares Lisboa.

Na minuciosa visita que a augusta viajante fez á todas as dependencias do estabelecimento, acompanharam-na sempre o medico do estabelecimento, nosso amigo Sr. Dr. Carlos Lisboa e o administrador Sr. tenente-coronel Antonio Augusto da Costa.

S. A., percorreu todas as cellulas, demorando-se em uma d' ellas, no qual o inquilino offereceu-lhe um banco para descansar e deu-lhe para examinar diversos trabalhos feitos por si com miolo de pão.

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Apoz a visita, foi offerecida a S. A. pelo administrador do estabelecimento uma taça de champagne, recusando-se S. A. aceital-a e servindo-se de algumas frutas que ornavam a mesa.

Ainda assistiu a imperial viajante na sala de refeição ao jantar em commum dos alienados, abrindo com sua assignatura o livro de visitantes do Hospicio, seguindo-se as assignaturas da Exmª. Sra. Baroneza de Suruhy, conselheiro presidente da provincia e Dr. director das obras publicas.

Por mais uma vez S. A. manifestou a sua satisfação pelo modo que encontrou o estabelecimento.

Por nossa vez, acompanhados do nosso colega da Gazeta de Noticias, visitamos na manhã do 1º do corrente o edificio.

Percorremos todas as dependencias do mesmo, notando em tudo a maior ordem e limpeza possíveis.

Os generos distribuidos para o consumo dos alienados são todos de primeira qualidade.

Os pobres desherdados da sorte encontram n' aquelle estabelecimento todo o carinho possivel na pessoa do administrador, que por todos é ali querido e respeitado.

Ao retirar-nos do estabelecimento com o coração confrangido por tanta infelicidade, trouxemos a certeza de que não só o digno medico do estabelecimento, nosso amigo Dr. Carlos Lisboa, bem como o administrador, Sr. tenente-coronel Antonio A. da Costa, procuram por todas as fórmas suavisar o conjuncto de desgraças que ali se aninham. Referências: Notícia da visita da Princesa Imperial Isabel, Condessa D`Eu, ao Hospício São Pedro no dia 30 de janeiro de 1885 na segunda página do jornal "Mercantil" de 03 de fevereiro de 1885. Acervo do Museu de Comunicação Social Hipólito José da Costa.

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AS COLÔNIAS AGRÍCOLAS DO HOSPÍCIO/HOSPITAL SÃO PEDRO

As colônias agrícolas destinadas ao acolhimento e isolamento

de alienados mentais surgiram na Europa na primeira metade do século XIX como um avanço da psiquiatria e da prática terapêutica de reabilitação desenvolvida através do trabalho agrícola.

A instalação de colônias agrícolas no Brasil para o acolhimento de alienados se tornou uma realidade em 15 de fevereiro de 1890, quando no Rio de Janeiro o governo republicano provisório aprovou o Decreto nº 206 A, de 11 de janeiro do mesmo ano, desincorporando da Santa Casa de Misericórdia o Hospício D. Pedro II, que passou a ser chamado Hospício Nacional de Alienados e no início do século XX, Hospital Nacional de Alienados.

Foi então constituída a Assistência Médica Legal a Alienados que englobou o hospício e duas colônias agrícolas para insanos criadas na atual Ilha do Governador (RJ). A Colônia Conde de Mesquita e a Colônia São Bento, a primeira no antigo convento de São Bento e a segunda no local conhecido como “Ponta do Galeão”, foram dirigidas inicialmente pelo doutor Domingos Lopes da Silva Araújo. Mais tarde, estas colônias foram transferidas para a fazenda da “Taquara” em Jacarepaguá (RJ), e unificadas, cujo primeiro diretor foi o psiquiatra Carlos Mattoso Sampaio Corrêa.

Em 11 de julho de 1911, através do Decreto nº 8.834, foi criada uma colônia para alienadas no Engenho de Dentro (RJ), sob o comando do psiquiatra Simplicio de Lemos Braule Pinto.

Estas instituições agrárias, análogas às que surgiram na Europa, no século XIX, e que Philippe Pinel pensou introduzir em Bicêtre, na França, em 1801, se tornaram os primeiros espaços institucionais agrícolas destinados ao acolhimento e isolamento de alienados indigentes masculinos aptos à praxiterapia. Tinham como propósito resolver o problema da superpopulação no Hospício Nacional de Alienados e servirem como instrumentos terapêuticos de reabilitação. O doutor Juliano Moreira, no início de sua gestão como diretor-geral do Hospício Nacional de Alienados, na primeira década do século XX, foi favorável ao incremento de colônias agrícolas nos hospícios brasileiros, propondo novos modelos de colônias auxiliares que satisfizessem o discurso científico que tratava dos novos conhecimentos da medicina alienista.

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Neste mesmo período, no Hospício São Pedro, que tinha sido inaugurado em 29 de junho de 1884 em Porto Alegre, a questão da excessiva lotação de alienados na instituição, que tinha causado apreensão ao doutor Tristão de Oliveira Torres, diretor do estabelecimento de 1902 a 1908, era repassada ao do doutor Deoclécio Sertório Pereira da Silva, diretor de 1908 a 1924. Correspondências enviadas ao doutor. Protásio Alves, secretário de Estado dos Negócios do Interior e Exterior, em 27 de março e 28 de maio do primeiro ano de administração do doutor Deoclécio, mencionavam não só a preocupação com a falta de funcionários e com a estrutura do prédio, mas principalmente com a superpopulação manicomial.

Tendo como objetivo a diminuição da população da instituição e o exercício de uma ampla atividade agrária manejada por alienados em um ambiente campestre, pretensão mantida pela cúpula diretiva do São Pedro desde 1906, o Estado adquiriu uma antiga charqueada conhecida como “A Meridional”, situada à margem direita do rio "Jacuhy", em Charqueadas, no município de São Jerônimo, o qual tinha sido propriedade do “Centro Econômico”, instituição que fomentava o cooperativismo no Estado.

O jornal A Federação, edição de 14 de abril de 1914, registrou a visita efetuada pelos médicos do Hospício São Pedro e chefes de secções da secretaria de Obras Públicas ao local que seria estabelecida a colônia agrícola do São Pedro:

“Colonia de alienados – Estiveram ante-hontem, em visita ao estabelecimento denominado “A Meridional”, no municipio de S. Jeronymo, os drs. Deoclecio Pereira, diretor, e José Carlos Ferreira, medico do Hospicio S. Pedro. Em sua companhia foram os drs. Affonso Hebert e Minssen, chefes de secção, respectivamente das Directorias de Obras e Terras e Colonização da secretaria das Obras Publicas. Os visitantes foram ali recebidos pelo doutor Alvaro Nunes Pereira. Diretor do “Centro Economico”, que os acompanhou em demorada visita pelo estabelecimento, fornecendo-lhes todas as informações. Conforme temos noticiado, “A Meridional”, que pertenceu ao “Centro Economico”, foi adquirida pelo governo do

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Estado, que ali pretende instalar uma colônia de alienados”.

Neste mesmo ano foi firmada uma parceria com as Obras Públicas para que esta fizesse as modificações necessárias na área com a finalidade de fundar uma colônia agrícola para cerca de 100 alienados com assistência familiar anexa. O médico adjunto José Carlos Ferreira, no seu relatório interno ao diretor Deoclécio Pereira, em junho de 1914, mencionou a vantagem da criação de uma colônia agrícola vinculada ao São Pedro:

"A installação da colonia virá de pronto alliviar o acumulo, abrigando cerca de 80 dos asylados tranquillos e constructivos para o trabalho”.

Em 1915 foi criada a “Colônia do Jacuhy” através do Decreto nº 2.144 A, de 03 de junho, que também oficializou o Regulamento da Colônia Jacuhy.

O 1º Capitulo do Regulamento da Colônia do Jacuhy tratou dos "Fins da Colonia e seus meios de manutenção", determinando a vinculação integral da Colônia ao Hospício São Pedro. Somente seriam admitidos na Colônia os alienados que a juízo médico fossem considerados aptos ao trabalho na agricultura e na indústria, e que a produção proporcionada pelo trabalho dos insanos fosse destinada à manutenção dos dois estabelecimentos manicomiais, associando o tratamento laboral dos alienados a subtração das despesas.

"Art. 1º - A Colonia do Jacuhy, tem por fim receber insanos transferidos do Hospicio S. Pedro e capazes, a juizo medico, da exploração da agricultura e de outras industrias, como meio e tratamento. Art. 2º - A Colonia como dependencia que é do Hospicio São Pedro fica sujeita á sua direcção e regulamento, em tudo em que este lhe Art. 3.º - Será mantida pelos mesmos meios porque se mantem o Hospicio. Art. 4.º - Qualquer donativo feito á Colônia será incorporado ao patrimonio do Hospicio. Art. 5.º - A sua produção ou renda será destinada ao custeio de ambos os estabelecimentos”.

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Mesmo com a concepção de reabilitar os alienados através da laborterapia, os "chamados criminosos" não seriam admitidos, e os "não indigentes" ingressariam apenas com a permissão familiar. Também consignou o Regulamento da “Jacuhy” que a estrutura da colônia proporcionasse assistência domiciliária ou familiar aos insanos através de um contrato firmado entre o Estado e as famílias residentes no perímetro da Colônia e que fossem consideradas de "bons costumes” ou "nutricios", pactuados para o acolhimento de alienados em suas casas. Por norma regulamentar, cada "nutricio" poderia abrigar até dois alienados, devendo tratá-los "como membros de sua familia e não como fâmulos”. Determinado por regulamento específico, o Art. 70 definiu o “pessoal da colonia”, com 23 servidores, organizado pelo diretor do Hospício São Pedro:

“Pessoal da colônia Um administrador Um enfermeiro-mór Tres enfermeiros Seis ajudantes ou guardas Um chefe technico Quatro ajudantes Um chefe da divisão pecuaria Tres ajudantes Um cosinheiro e um ajudante Um continuo Um encarregado da lavagem de roupas”.

Ficou estabelecido que a visita do diretor do Hospício fosse semanal, mesmo quando houvesse na colônia um médico residente, e que o administrador deveria fixar moradia na própria colônia para que tivesse facilidade na execução de suas funções. Os vencimentos dos funcionários seriam fixados anualmente conforme verba disponível para esse fim, através de proposta elaborada pelo administrador da Colônia.

Como o Hospício São Pedro não possuía embarcação própria, o transporte entre o hospício e a colônia deveria ser através dos “vapores de carreira do Jacuhy” da Companhia de Navegação Arnt, de propriedade de Jacob Arnt, mas quando o deslocamento fosse

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para grupos de pacientes ou de um alienado em surto ou em casos de emergência, quando a presença do médico ou do diretor fosse necessária, seria utilizada a lancha de propriedade do Estado.

O secretário do Interior e Exterior do Rio Grande do Sul, Protásio Alves, revelou no seu relatório de 1918 que no dia 28 de junho tinha sido inaugurada a “Colonia do Jacuhy” e que tinha acontecido dez dias após a transferência de 60 alienados do hospício para o novo espaço de acolhimento, possibilitando o desafogo da população manicomial que ocupava os seis prédios construídos do projeto arquitetônico original. Conforme o secretário, a liberdade aparente e o trabalho espontâneo na colônia agrícola, se não possibilitava restaurar a doença do alienado, ao menos amenizava a sua doença:

“Na Colonia a apparencia de plena liberdade, a labutação voluntaria em commum com individuos sãos, dão aos enfermos bem estar e alegria, que, se não produz a cura de casos chronicos, melhoram todavia consideravelmente a sua situação”.

Em novembro de 1926, o médico Jacintho Godoy Gomes assumiu a direção do Hospital São Pedro (assim denominado após o Regulamento de 1925) depois de dois anos de especialização em neuropsiquiataria junto ao Serviço do professor Pierre Marie, no Hospital Salpêtriére, em Paris. Preocupado com a superpopulação do São Pedro e inconformado não só com a localização longínqua da Colônia, mas com a inconsistência dos alojamentos e o abastecimento de alimentos dependendo do transporte fluvial, o doutor Godoy criou próxima ao São Pedro, em 1928, uma nova “colônia de psicopatas”.

No relatório de 1927, endereçado ao secretário de Estado dos Negócios do Interior e do Exterior, Oswaldo Aranha, o doutor Godoy, como diretor da Assistência a Alienados do Estado, apresentou o plano que visava congregar os departamentos de assistência a psicopatas existentes no São Pedro, bem como os que estavam previstos em um terreno situado no perímetro do Hospital São Pedro e que para tanto deveria ser adquirido:

“O nosso único Estabelecimento de alienados tornar-se-á por essa forma, a um tempo, hospital, hospício, colônia

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agrícola e casa de saúde, complementando a sua finalidade social com três outras modalidades de assistência a psicopatas, uma já organizada, o Manicômio Judiciário, e duas a serem instituídas: a assistência a menores anormais e a assistência familiar. Esta última poderá realizar-se em nosso hospital construindo, na periferia de suas terras, casas baratas destinadas a residência das famílias dos empregados, sob a compensação de assumirem estas a função do nutrício, isto é, abrigarem enfermos indigentes, crônicos e tranquilos, em número de um, dois e excepcionalmente três. Este será o meio de resolver a assistência familiar aos psicopatas, com dupla vantagem de prender os bons funcionários ao Estabelecimento e tornar deste modo efetiva a vigilância das terras cultivadas”.

O plano de comprar uma área adjacente ao terreno do Hospital de 83 hectares foi concretizado no ano seguinte onde foi instalada uma nova colônia agrícola. A "Chácara da Figueira", localizada nos fundos do São Pedro, foi adquirida da Intendência Municipal com reservas pecuniárias do próprio hospital. Denominada como Colônia Agrícola, a nova instituição agrária ocupou a área que hoje engloba a Escola Superior de Educação Física da UFRGS e o Jardim Botânico. Atualmente estaria limitada a oeste e sul pela rua Felizardo Furtado, que continua pela Travessa Vilela e fundos do Hospital da PUC, chegando a leste cuja divisa é a avenida Cristiano Fischer, e ao norte pelo prolongamento da rua Saicã com a rua doutor José C. Bernardes e com a rua eng. Antônio Carlos Tibiriçá. Preocupado com a superpopulação de alienados no hospital, “sendo forçoso à noite, colocar leitos e estender colchões pelos corredores, permitindo que durmam três indivíduos em uma cela sem ventilação”, o doutor Jacintho Godoy previu "construir um moderno hospital tipo pavilhonal disperso" com 600 leitos na Colônia Agrícola, distribuindo os enfermos em cinco pavilhões, conforme uma classificação nosográfica:

"90 leitos para os crônicos tranqüilos; 70 leitos para os semitranqüilos; 70 leitos para os enfraquecidos e sujos; 70 leitos para os agitados, perigosos e epilépticos; e 20 leitos para os menores”.

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A finalidade da construção dos pavilhões na colônia era descongestionar o prédio histórico do São Pedro, transferindo para eles os 127 alienados da Colônia do Jacuhy e os alienados crônicos do hospital. Os 56 pacientes do Manicômio Judiciário também seriam transferidos para um prédio próprio na colônia, junto aos pavilhões dos homens. No primeiro momento ficariam no São Pedro somente as mulheres indigentes e cerca de 100 alienados concentrados na secção de agudos, sendo que seriam conduzidos para os novos pavilhões a serem construídos na Colônia Agrícola a partir do instante que a população de mulheres alienadas crescesse e fosse necessário mais espaço nos prédios históricos. Também fazia parte do plano a edificação imediata no São Pedro com “dois pavilhões-sanatórios, para doentes contribuintes, com capacidade de 100 leitos cada um (...) sendo de prever que com as mesmas duplique a renda dos pensionistas”. O objetivo seria atingido “com a separação completa dos serviços, de modo a ficar o Estado com dois Hospitais-colônia, um para homens e outro para mulheres”. A ideia do doutor Jacintho para a construção dos prédios na Colônia Agrícola era de que fossem do “tipo pavilhonal”, ou seja, constituídos por pavilhões separados semelhantes aos que foram edificados em São Paulo, no Hospício de Juquery, contrariando o modelo “tipo caserna” projetado e construído inicialmente para o Hospício São Pedro.

Em São Paulo, neste mesmo período, as instalações do Hospital de Alienados de Juquery (1895), administrado a partir de 1923 pelo médico Antônio Carlos Pacheco e Silva, colega de estudos do Doutor Godoy na França, eram de um hospital central, três fazendas e cinco colônias agrícolas, “dispostas em uma área de 1.400 alqueires”.

Os primeiros livros de Registro de Admissão Provisória do Hospital São Pedro, instituídos na primeira administração do doutor Jacintho Godoy (1926-1932), assinalam o regresso no dia 22 de janeiro de 1937 de um grupo de mais de 60 alienados da Colônia e o encaminhamento imediato da maioria à nova colônia agrícola criada nos fundos do São Pedro. Os registros demonstram que a Instituição manteve duas colônias agrícolas por quase uma década, e permite supor, na falta de documentação específica sobre o tema, que a Colônia do Jacuhy encerrou suas atividades nesse ano de grande retorno dos insanos.

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Em 1942, mantendo a preocupação com a superpopulação do Hospital São Pedro, com “1.898 pacientes nas construções do Partenon, que, de acordo com a cubagem exigida por leito, mal comportaria os 898 excedentes do milhar”, Godoy propôs como solução para a crise populacional alienar os 83 hectares da nova Colônia Agrícola e construir outra colônia com os recursos obtidos. Pensava uma instituição manicomial de crônicos em uma cidade vizinha a Porto Alegre, dentro de uma área de 1.000 hectares própria para a agropecuária, “com dois núcleos, um masculino e outro feminino, de início com setecentos leitos para cada sexo”. Acreditava que com a criação dessa outra colônia o Estado diminuiria os gastos de manutenção com o Hospital. Caso o plano se concretizasse, o imperial prédio do hospital, após algumas reformas, somente acolheria os enfermos agudos e contribuintes, servindo também à profilaxia mental. A proposta não vingou e a Colônia próxima do São Pedro continuou a receber em precários pavilhões um contingente majoritariamente de indigentes tísicos e crônicos.

No relatório anual de 1948, o médico Junot Barreiros, responsável técnico e administrativo da Colônia Agrícola, descreveu a composição do corpo funcional do estabelecimento com um clínico residente, um médico visitador especializado em tisiologia, um dentista, doze servidores administrativos e dezessete servidores técnicos.

Uma média anual de 600 alienados, em sua grande maioria de indigentes, habitava a Colônia Agrícola. Havia um alto índice de fu-gas, bem como uma excessiva dificuldade no abastecimento de água que foi resolvida posteriormente com a instalação de um reservatório de 64 mil litros. Quanto às qualidades produtivas da Colônia, o doutor Barreiros mencionava que mesmo desenvolvendo ao máximo o trabalho na avicultura, na suinocultura, na pecuária, nos laticínios, na produção de madeira e na extração de areia, “os 86 hectares, incluindo a área edificada, não satisfazem a todas as exigências de aprovisionamento do Hospital São Pedro e Colônia”.

A área construída de 703 m2 com três pavilhões, um refeitório, uma pocilga, um estábulo, uma cocheira, uma casa para peão e sete aviários móveis, demonstra que foi frustrada a expectativa do Doutor Jacintho Godoy de construir um “moderno hospital tipo pavilhonal disperso” com 600 leitos, distribuindo os enfermos dentro de uma classificação nosográfica em cinco pavilhões:

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A censura de Godoy às construções inadequadas e à precariedade do alojamento destinado aos alienados da Colônia do Jacuhy em 1926, encontraram eco nos registros do relatório anual de 1949, do médico-chefe Barreiros, quando citava as condições dos pavilhões da Colônia Agrícola:

“Velhas instalações precárias de conforto e sem espaço não satisfazem, de modo algum, a finalidade a que são destinados”.

Ao final da exposição o Doutor Barreiros demonstrou seu desconforto quanto às expectativas para o ano vindouro:

“A perspectiva para 1950 (...) não é boa, não nos comunica fundadas esperanças (...). Ponho em relevo certos pontos, porque parecia parecer, aos que confrontassem o entusiasmo e realizações do ano de 1948, cujas messes aparecem em 1949, com as previsões de 1950, poderia parecer (...) que este núcleo trabalhador, com sua chefia à frente, esmoreceu no cumprimento de seus comuns deveres (...). Não, senhor Diretor, o esmorecimento a ninguém atingiu. Todos tem a mesma disposição para o trabalho e para produzir. São homens disciplinados moralmente, que se não deixam abater por vicissitudes transitórias. Faltam-lhes, isso sim, os meios para trabalhar. Esperam a ordem para cumprir, mas (...) como trabalhar e produzir sem o amparo e os meios de que carece?”.

A Colônia Agrícola, próxima ao Hospital São Pedro, que recebeu o nome de Juliano Moreira, brilhante alienista baiano, introdutor da escola psiquiátrica alemã no Brasil e membro fundador da Academia Brasileira de Ciências em 1916, também acolheu em suas dependências pacientes portadores de deficiências diversas, bem como os menores de idade. A Colônia teve suas funções interrompidas em meados dos anos 90 do século passado quando toda a comunidade de internos foi transferida para o atual complexo do Hospital Psiquiátrico São Pedro. Referências e fotografia: CARDOSO, Álvaro. As colônias de alienados. Retrospecto e visão futura da Colonia de Psychopathas no Engenho de Dentro. In: Annaes da Colonia de

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Psychopathas – Engenho de Dentro. Rio de Janeiro: Papelaria e Livraria Gomes Pereira, 1929, p. 47-57. GODOY, Jacintho. Psiquiatria no Rio Grande do Sul. Porto Alegre: Edição do Autor, 1955. HOSPÍCIO SÃO PEDRO - Relatório do Diretor do Hospício São Pedro ao Secretário de Estado dos Negócios do Interior e Exterior, 1914. Memória Parlamentar da Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul. HOSPITAL DE JUQUERY - Assistência aos Alienados no Estado de São Paulo. Documentário cinematográfico, 1927. Serviço de Memória do Hospital Psiquiátrico São Pedro. HOSPITAL SÃO PEDRO - Assistência a Psicopatas. Documentário cinematográfico, 1929. Serviço de Memória do Hospital Psiquiátrico São Pedro. HOSPITAL SÃO PEDRO - Arquivo, Estatística, Ofícios, Informações e Telegramas, 1947/1952. Serviço de Memória do Hospital Psiquiátrico São Pedro. HOSPITAL SÃO PEDRO - Correspondências - - SIE 3 - 045 / SIE 3 - 001 / Doc. Avulsos - cx.3. Arquivo Histórico do Rio Grande do Sul. HOSPITAL SÃO PEDRO - Livro de Registro de Admissão Provisória, 1937. Serviço de Memória do Hospital Psiquiátrico São Pedro. LEIS, DECRETOS E ATOS DO GOVERNO DO RIO GRANDE DO SUL, 1917. Oficinas Gráficas da "A Federação", 1918. Porto Alegre. Secretaria de Obras Públicas do Rio Grande do Sul. LEIS, DECRETOS E ATOS DO GOVERNO DO RIO GRANDE DO SUL, 1915. Regulamento para a Colônia Agrícola do Jacuhy (RS), de 3 de julho de 1915. Oficinas Gráficas da "A Federação", 1917. Porto Alegre. Secretaria de Obras Públicas do Rio Grande do Sul. A fotografia na escadaria do acesso principal ao prédio histórico do São Pedro registra os primeiros alienados que foram transferidos à Colônia do Jacuhy no município de São Jerônimo.

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TÓPICOS HISTÓRICOS DA INAUGURAÇÃO DA COLÔNIA JACUHY

(1918)

A inauguração da Colônia Jacuhy teve o primeiro movimento no

dia 28 de junho de 1918, às 12h30m, quando o diretor da instituição, doutor Deoclécio Sertório Pereira, acompanhado por dois médicos do estabelecimento, Luiz Guedes e Octacilio Rosa, além de um grupo de enfermeiros, se deslocaram para o novo anexo agrícola do Hospício São Pedro em São Jerônimo. Para a Colônia Jacuhy, cuja administração estava a cargo do coronel Júlio Rabello, subordinado ao diretor Deoclécio Pereira, foram transferidos os primeiros sessenta alienados do Hospício São Pedro (FOTOGRAFIA) através do vapor “Rio Grande do Sul” da Companhia de Navegação Arnt, fretado especificamente para esse fim.

Após chegar ao local o diretor Deoclécio Pereira, em nome do Governo do Estado, inaugurou oficialmente a Colônia do Jacuhy, que junto com as duas colônias que existiam no Rio de Janeiro e a do Juquery em São Paulo, constituíam uma assistência aos alienados de acordo com os padrões propostos pela influente psiquiatria europeia. O evento, de repercussão nacional, motivou telegrama do doutor Juliano Moreira, diretor do Hospital Nacional de Alienados do Rio de Janeiro, ao presidente do Estado Borges de Medeiros, felicitando pela inauguração da Jacuhy: “RIO, 1 – Congratulações sinceras inauguração colonia Jacuhy. Dr. Juliano Moreira, diretor Assistencia Alienados”. Conforme relatório do almoxarife do São Pedro, Viveiros Machado, a Colônia Agrícola, propriedade do Estado, proporcionou

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rendas desde 21 de maio de 1914, cujo valor total de 3:115$134 rs. foi depositado na conta “Depósito Particular do Tesouro do Estado”. A relação discriminada da soma apurada apontou rendimento das pastagens do potreiro (1:945$240 rs.); rendimento da ilha (180$000 rs.); aluguel de uma casa (660$000 rs.); produto de bergamotas e taquaras (30$500 rs.) e juros das quantias recolhidas (299$394 rs.). Também no mesmo período aconteceram despesas subvencionadas que inteiraram 38:572$507 rs., sendo 16:201$527 com pessoal; 13:5$230 com a instalação e 8:833$759 rs. com o custeio da Jacuhy. O ano de 1918 foi o que incrementou as despesas, pois foi quando aconteceram efetivamente as atividades da instalação da colônia, representando 69,5% do quadriênio. Com previsão de verba de 80:000$000 réis para a instalação e custeio da colônia agrícola no orçamento estadual para 1918, as edificações concluídas na Jacuhy foram coordenadas pela Repartição de Obras Públicas. Estava disponível para ocupação imediata um grande pavilhão com capacidade para cem leitos, refeitório e banheiros, as casas para os servidores e os estábulos. Como benfeitoria havia luz elétrica, canalização d’água nos cômodos dos prédios e linha telefônica entre a colônia e o hospício. O deslocamento entre capital e a colônia seria através dos vapores que transitavam no rio Jacuhy, mas com a previsão da compra de uma “lancha a vapor” para efetuar o trajeto.

A inauguração da Colônia Jacuhy foi motivo de regozijo dos médicos que atuavam no São Pedro, principalmente do doutor José Carlos Ferreira, alienista que estava no São Pedro desde 1908 e que era responsável pela 2ª Divisão de alienadas, o qual sempre considerou o trabalho, principalmente na agricultura, um precioso método terapêutico para alienados de ambos os sexos que vivessem asilados:

“O facto auspicioso, digno de panegyrio por parte de qualquer ente pensante em materia de assistencia a alienados, que assentou um marco diamantino na nossa civilização psychiatrica, levado a efeito pelo Poder Publico com a inauguração da Colonia Jacuhy a 28 de Junho e lá recolhendo sessenta alienados tranquillos e trabalhadores, vem estreitar o ambito para os homens no Hospicio S. Pedro e dar espaço ás mulheres.

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Para os doentes da mente, de hospital, variados methodos therapeuticos devem ser aproveitados em seu beneficio para a mesma especie de doentes de asylo, nenhum methodo é mais benefico do que o trabalho em suas apllicações. O methodo agricola, ao ar livre, a arte divina, é o principal entre suas modalidades. Deve tambem caber ás mulheres. A jardinagem, a horta, o pomar, devem ser por ellas trabalhados. A vida de asylo sem trabalho, mostra-lhes a prisão. A liberdade ellas vêm nas diversas variedades do trabalho, sobretudo na agricola. Troque-se-lhes o pandemonio pela situação ditosa de cultoras da terra”.

Referências: GODOY, Jacintho. Psiquiatria no Rio Grande do Sul. Porto Alegre: Edição do Autor, 1955. Secretaria de Estado dos Negócios do Interior e Exterior do Rio Grande do Sul. Relatório apresentado ao Presidente do Estado do Rio Grande do Sul, Dr. Antônio Augusto Borges de Medeiros, pelo Dr. Protásio Antônio Alves, Secretário de Estado dos Negócios do Interior e Exterior, 30 de agosto de 1919. Vol. I, Vol. II. Porto Alegre. Oficinas Gráficas d’A Federação, 1919. Acervo do Memorial Legislativo do Rio Grande do Sul. Jornal “A Federação”, 29 de junho de 1918. Acervo do Memorial Legislativo do Rio Grande do Sul. Jornal “A Federação”, 02 de julho de 1918. Acervo do Memorial Legislativo do Rio Grande do Sul. Fotografia: A fotografia na escadaria do acesso principal ao prédio histórico do São Pedro registra os primeiros alienados que foram transferidos à Colônia do Jacuhy no município de São Jerônimo.

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A CHÁCARA DA FIGUEIRA

Relatório apresentado pelo médico Jacintho Godoy como diretor da Assistência a Alienados ao secretário de Estado dos Negócios do Interior, Oswaldo Aranha, que fez parte do relatório deste ao do presidente do Estado do Rio Grande do Sul, Getulio Vargas, em 28 de agosto de 1929, que incluiu o relato da venda da Chácara da Figueira do município de Porto Alegre para o Governo do Estado. I Volume. 1929 Oficinas Gráficas d’ A Federação: Porto Alegre. Acervo do Memorial da Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul, 2011. “Chacara da Figueira – Para a execução do plano de remodelação do serviço de Assistencia a Alienados, esboçado no relatorio do anno passado e que consiste em congregar na actual chacara do Hospital São Pedro e em terras adjacentes todos os departamentos do referido serviço, foi adquirida da municipalidade de Porto Alegre pelo Governo do Estado a chacara denominada da Figueira. A transacção realisou-se em data de 22 de outubro de 1928, pela quantia de seiscentos e cincoenta e oito contos setecentos e dois mil e duzentos e oitenta e cinco réis (658:702$285), sendo lavrada a respectiva escriptura no cartorio do notario Zeferino Ribeiro. A Chacara da Figueira é situada no 3.º districto desta Capital muito proximo ao Hospital São Pedro, entre as estradas do Matto Grosso e Capitão Montanha, com a superficie medida e demarcada de 815,767,50 metros quadrados com as confrontações e caracteristicos abaixo descripto: ao Norte – por uma linha polygonal com 1160,00 metros aproximadamente, desde o becco do Felizardo até á estrada do Passo do Salso; divide-se em parte com terras que foram de herdeiros do Visconde de Pelotas, hoje pertencentes á firma Schilling Gus & Cia e em parte com terras que são ou foram de Carlos L. dos Santos; ao Sul limitada com parte do arroio do Salso, a partir da estrada do mesmo nome, com terras que são ou foram da

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viuva Emiliana Courteilh, por uma linha quebrada na extensão de 160,00 metros mais ou menos, e com o becco do Felizardo; a Leste, em toda a extensão limita-se com a estrada do Passo do Salso; e a Oeste com o becco do Felizardo e terras pertencentes ao dr. Justimiano Freire. Foram incluidas na transacção todas as benfeitorias, construcções e plantações existentes naquella data, inclusive a de eucalyptus. Concedeu-se á outorgante o prazo de um anno para fazer a remoção das plantas e utensilios que constituiam o Horto Florestal installado no immovel. A Assistencia a Alienados tomou conta de sua nova propriedade no dia 1.º de novembro, recebendo por essa occasião os animaes, utensilios agrarios e outros objectos constantes do inventario a seguir: quatro bois, quatro burros, tres mulas, quatro carroças para fornecer capim, uma carrocinha em máo estado, um arado disco, um arado com carrinho, um arado de ferro, um arado de madeira, um arado de ferro em máo estado, uma capinadeira, duas grades de ferro, um malacate (em máo estado), uma machina para cortar capim, uma machina para cortar cana, uma machina para matar formigas, um rebolo, um ancinho, um enxadão, uma machina pulverisadora, uma safa com martello, dois serrotes de mão, quatro cabos para gadanhas, quatro foices para cortar capim, cinco foices para roçar, quatro garfos, um machado, duas picaretas com cabos, um malho, tres pás de corte, tres pás de concha, seis balancinhos para carroças, um carrinho de mão, dois ancinhos para esterco, tres gadanhas com cabos, tres cangas para bois, dois pares de embornaes, uma rédea, um sovéo, tres pares de brochas, uma tiradeira, tres enxadas, correames completos para duas carroças de 3 animaes, um irrigador, uma balança decimal com pesos de 150 Kg., uma barrica de cal, meia barrica com cimento. Em seguida deram-se inicio aos primeiros trabalhos afim de dar accesso facil do Hospital á nova propriedade, bem como pôr termo ao transito publico que se fazia em todos os sentidos na antiga propriedade municipal. Assim fizeram-se duas estradas de rodagem: uma dentro da chacara do Hospital até o Becco das Olarias e outra na Chacara da Figueira, partindo do ponto terminal desse Becco até as construcções da chacara.

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Todos esses trabalhos, em que se empregaram varias centenas de carroças de cascalho e de cinza, foram executadas por turmas de doentes. Ao mesmo tempo eram refeitas as cercas da chacara da Figueira que se achavam abertas em differentes pontos, n’ uma extensão de 400 metros, gastando-se nesse trabalho 8 rolos de arame farpado. Conservaram-se no serviço da chacara, percebendo vencimentos em folha pela receita do Hospital, cinco peões, antigos trabalhadores do Municipio que continuaram alojados em pequenas habitações pertencentes ao Estabelecimento. Desse modo não foi interrompido o fornecimento de forragem aos Postos Municipaes e á Limpeza Publica, n’ um total de 620 kilos diarios. Em dezembro vieram da Colonia Jacuhy 31 porcos, dando –se inicio então á criação de suinos, para o que contruiram-se pocilgas e encerras. No mesmo mez, com turmas de operarios sob a direcção do capataz Quintino Dias de Souza, iniciaram-se obras de adaptação no velho edificio da chacara e n’um galpão de alvenaria situados ao lado da referida casa, construcções estas que, uma vez terminadas, servirão para alojar immediatamente cerca de 60 doentes tranquillos, que terão occupação no amanho das terras, dando maior desenvolvimento, com economia para o Estabelecimento, ás differentes culturas da nova propriedade agricola. Alem destas obras feitas pelo Hospital, deve ser citada a excelente estrada concluida pela municipalidade no Becco das Olarias, a pedido desta Directoria, afim de pôr em contacto facil as duas propriedades da Assistencia a Alienados”.

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INSTALAÇÃO DO “POSTO DE PSYCHOPHATAS” EM PORTO ALEGRE

Relatório apresentado pelo médico Jacintho Godoy, diretor da Assistência a Alienados, ao secretário de Estado dos Negócios do Interior, Oswaldo Aranha, que fez parte do relatório deste ao presidente do Estado do Rio Grande do Sul, Getúlio Vargas, em 28 de agosto de 1929, que incluiu os novos regramentos de internações de alienados das cidades do interior sul-rio-grandense no Hospital São Pedro e o relato da instalação do “Posto de Psychopathas” em Porto Alegre. I Volume 1929 Oficinas Gráficas d’ A Federação: Porto Alegre. Acervo do Memorial da Assembléia Legislativa do Rio Grande do Sul, 2011. “Posto de Psychophatas – No objectivo de evitar o transito de alienados pelos xadreses da Chefatura de Policia nesta cidade, como era praxe seguida até então, em data de 5 de maio de 1927 esta Directoria expediu a todas as intendencias municipaes do Estado a seguinte circular: ‘A internação no Hospital São Pedro de psychopathas procedentes dos differentes municipios do Estado, já de si penosa, em muitos casos, pelas longas viagens a que são forçados os pacientes, complica-se ainda após a chegada destes á Capital, devido a seu transito obrigado pela Chefatura de Policia. Tal pratica, entretanto, não tem mais razão de ser desde que o Decreto n.º 3.356, de 15 de agosto de 1924, do Governo do Estado do Rio Grande do Sul, incluiu os Intendentes Municipaes entre as auctoridades competentes para requisitarem a internação de pacientes no Hospital São Pedro, o que já constitue dispositivo do art. 35, § 1.º letra d do novo regulamento. É de maior vantagem, não só para o Hospital como para os pacientes, que requisiteis directamente a internação dos psychopathas de vosso municipio, avisando por telegramma ou phonogramma o dia de sua chegada a esta cidade, com nota especial quando se trate de doente agitado, afim de que sejam

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recebidos na gare da Viação Ferrêa ou no caes do Porto e dahi transportados immediatemente no automovel-ambulancia deste Estabelecimento. Em vez da guia que costumaes enviar á Chefatura de Policia, deveis fazer acompanhar cada doente apenas dois documentos: 1.) um officio endereçado á Directoria da Assistencia, requisitando a internação do paciente e em que devem constar nome, edade, raça, naturalidade, estado civil, profissão e residencia do enfermo; 2.) o certificado médico, assignado por dous facultativos. Deste ultimo documento envio incluso um modelo impresso, rogando-vos com particular empenho seja sempre respondido, na medida do possivel, o questionário relativo aos ‘Dados Commemorativos’, da maior importancia em clinica psychiatrica, quer para diagnostico, quer para o tratamento a ser instituido e difficeis de serem colhidos dos proprios doentes, na maioria dos casos. Nos municipios onde a Intendencia não dispuzer de funccionarios medicos, estou certo que não faltarão dignos profissionaes promptos a prestarem de bôa vontade o seu valioso concurso a esse relevante serviço de assistencia social’. Depois disso ficou regularisado o modo de internação dos psychopathas no Hospital São Pedro, que é feita agora directamente pelas munipalidades. Nesta Capita, graças ao espirito esclarecido do saudoso Intendente Octavio Rocha, conseguiu esta Directoria a creação de um serviço especial de psichiatria de urgencia na Assistencia Publica, organisando-se para tal fim o ‘Posto de Psychopathas’, com apparelhagem completa para ministrar os primeiros cuidados aos doentes mentaes. Este serviço que só foi inaugurado pelo actual Intendente de Porto Alegre, Major Alberto Bins, em 4 de setembro de 1928, e vem funccionando regularmente com uma media de 1 doente por dia, mereceu o applauso de ilustres especialistas patricios bem como uma moção de louvor ao Governo Municipal do Congresso Medico reunido na cidade do Rio Grande em abril de 1928. Sobre o assumpto assim se manisfestou em telegramma de 16 de setembro o eminente dr. Henrique Roxo, professor de psychiatria da Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro: ‘Dr. Jacintho Godoy, - Porto Alegre – Felicito-o bem como Governo Rio Grande idéa benemerita creação serviço observação

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alienados tratamento moldes modernos. Abraços do collega admirador amigo (a) Henrique Roxo’. O ilusttre psychiatra dr. A. C. Pacheco e Silva, Director da Assistencia a Psychopathas do Estado de São Paulo, assim se expressou em carta a esta Directoria: ‘Juquery, 10 de setembro de 1928 – Prezado amigo e collega dr. Jacintho Godoy – Respeitosas saudações – Muito lhe agradeço o seu delicado telegramma, communicando-me a installação do Posto para psychopathas no Estado do Rio Grande do Sul. A imprensa paulista deu a respeito uma pequena nota. Junto lhe envio alguns recortes de jornal com as noticias publicadas. Tenho, tambem, a satisfação de annunciar-lhe que, dentro em breve dias, estaremos com assistencia a psychopathas do Estado de São Paulo reorganisada e que muito nos temos preocupado com a questão dos posto psychiatricos..... Vejo que a orientação dos meus collegas coincide com a que tenho procurado imprimir á assistencia a alienados de São Paulo, o que muito me conforta. Mais uma vez, meus parabens sinceros pelas victorias que tem conseguido e meus votos pela continuação dos melhoramentos introduzidos pelo distincto collega no serviço de assistencia a alienados do Rio Grande do Sul. Sempre seu colega e amigo muito admirador (a) A. C. Pacheco e Silva’. São as seguintes as referencias da imprensa paulista a que alude a carta: ‘O dr. Jacintho Godoy, director geral da assistencia a alienados do Estado do Rio Grande do Sul, communicou ao dr. Pacheco e Silva, director do Hospital de Juquery, a installação naquelle Estado do primeiro posto de urgencia para internação de psychopathas, nos moldes da enfermaria que existe annexa á prefeitura de policia de Paris’. A nova organização tem por objetivo evitar a passagem dos alienados pelos xadrezes policiaes, antes da hospitalização. A installação desse posto representa um grande passo em materia de assistencia a alienados’. (Do ‘Estado de São Paulo’ de 8 de setembro de 1928, secção de Notas e Informações). ‘A proteção dos alienados no Rio Grande do Sul - O dr. Jacintho Godoy, director geral da assistencia a alienados do Estado do Rio Grande do Sul, communicou ao dr. Pacheco e Silva, director do Hospital de Juquery, a installação naquelle Estado do primeiro posto

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para internação de urgencia de psychopathas, nos moldes da enfermaria annexa á prefeitura de policia de Paris’. A nova organização tem por objetivo evitar a passagem dos alienados pelos xadrezes policiaes, antes da hospitalização. A installação desse posto representa um grande passo em materia de assistencia a alienados e vem collocar o Rio Grande do Sul em posto de destaque entre os Estados do Brasil, onde o serviço de assistencia a alienados se encontra mais adeantado’. (Do ‘Diario Nacional’, de 8 de setembro de 1928).

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CURSO DE BIOPSICOLOGIA NO HOSPITAL SÃO PEDRO – 1940

O Curso de Biopsicologia Infantil, destinado ao corpo docente das escolas públicas, foi solicitado à Direção do Hospital São Pedro pelo Dr. Bonifácio Paranhos da Costa, Diretor do Departamento Estadual de Saúde, com o apoio do Dr. Coelho de Sousa, Secretário de Educação e Saúde do Rio Grande do Sul.

Realizado no salão de conferências da Escola de Enfermagem do Hospital São Pedro, o evento foi realizado em 1940 e teve o seu desenvolvimento através de conferências didáticas proferidas pelos profissionais da saúde do Hospital São Pedro. O objetivo da realização do Curso de Biopsicologia Infantil fica explícito na palestra inaugural proferida pelo Dr. Jacintho Godoy, Diretor do Hospital São Pedro, no período de 1937 a 1951:

"(...) é mister a todo educacionista saber sobre anormais e atrasados. (...) há pequenos psicopatas nas suas primeiras manifestações mórbidas e outros, aparentemente normais, mas de julgamento falho e cujas reações de conduta revelam uma predisposição doentia. O bom educador deve suspeitar, senão fazer o diagnóstico precoce dêsses distúrbios ou ao menos distinguir anomalias e de feitos. Ele é que terá a autoridade necessária para aconselhar às famílias recorrer ao médico especializado, a fim de obter um diagnóstico preciso (...).

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Um educador ignorante dos elementos de patologia mental é moralmente responsável pelo futuro sombrio, no ponto de vista psíquico, de muitas crianças, cujos pais jamais suspeitaram, atingidos de uma doença.".

“HOSPITAL SÃO PEDRO PROGRAMA DO CURSO DE BIOPSICOLOGIA INFANTIL-1940 Ø Lição inaugural - Dr. Jacintho Godoy. Ø Introdução ao estudo da inteligência e do caráter - Dr. Décio de Souza. Ø Causas dos distúrbios da inteligência e do caráter - Drs. Ciro Martins e Avelino Costa. Ø Anormalidades da inteligência (Oligofrenias) - Drs. Raimundo Godinho e Ernesto La Porta. Ø Anormalidades do caráter - a) Constituições mórbidas e o problema da formação da personalidade. b) Estudos dos tipos anormais - Drs. Mário Martins e Luiz Ciulla. Ø Psicogênese dos sintomas corporais - Dr. Brito Velho. Ø Síndromos neurológicos - Dr. Murillo da Silveira. Ø Endocrinopatias - Dr. Leônidas Escobar. Ø Métodos de despistage dos anormais da inteligência, do caráter e da motricidade na escola - Dr. Dionélio Machado”. Fotografia: Rregistra os participantes do CURSO DE BIOPSICOLOGIA INFANTIL realizado em 1940 no Hospital São Pedro. Em primeiro plano, ao centro, está o Dr. Jacintho Godoy, Diretor do Hospital São Pedro, e a sua esquerda, o Dr. Bonifácio Paranhos da Costa, titular do Departamento Estadual de Saúde - DES. Participam da fotografia o corpo docente das escolas públicas que participou do evento e os médicos do São Pedro, Dr. Álvaro Difini, Dr. Mário Martins, Dr. Ciro Martins, Dr. Vitor de Brito Velho, Dr. Murilo da Silveira, Dr. Fernando Dornelles, Dr. Raimundo Godinho, Dr. Leônidas Escobar, Dr. Décio Soares de Souza e o Dr. Dyonélio Machado. Referências: GODOY, Jacintho. Psiquiatria no Rio Grande do Sul. Porto Alegre: Edição do autor, 1955.

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ESCOLA DE ENFERMAGEM NO HOSPITAL SÃO PEDRO

(1939/ 1952)

O Presidente do Estado do Rio Grande do Sul, Antônio Augusto Borges de Medeiros, sancionou o Decreto n.º 3.550, de 29 de dezembro de 1925, aprovando o Regulamento do Hospital São Pedro. Foi assinado em conjunto com o Secretário de Estado dos Negócios do Interior e Exterior, o médico Protásio Antônio Alves, um dos fundadores e primeiro Diretor da Faculdade Livre de Medicina e Farmácia de Porto Alegre, em 1898.

O Regulamento em seu Capítulo XIX, expresso em oito artigos, tratava da criação da Escola de Enfermeiros do Hospital São Pedro. O curso, de dois anos de duração, funcionaria nas dependências do nosocômio. O aspirante à Escola deveria saber ler, escrever e ter uma conduta ilibada. Durante a aprendizagem prática o aluno poderia atuar como auxiliar de enfermagem, recebendo hospedagem, alimentação e uma gratificação financeira.

A supervisão seria do diretor do hospital e as disciplinas desenvolvidas no curso seriam organizadas em conjunto com os médicos da instituição, com a obrigatoriedade de ministrarem, no mínimo, oito aulas mensais.

As disciplinas do curso no "1.º anno - Noções práticas de Anatomia, Physiologia, Hygiene, Technica therapeutica (1.ª parte); 2.º anno - Noções praticas de Propedeutica clinica, Curativos e

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pequena cirurgia, Technica therapeutica (2.ª parte), inclusive dirtetica.".

O certificado de conclusão seria entregue ao aluno após prestar exame perante uma comissão de médicos. O aluno habilitado seria aproveitado conforme sua classificação. Os postulantes que não frequentaram o curso teriam que se submeter aos mesmos exames. Em caso de igual classificação, a vaga seria do funcionário do hospital.

A Escola Profissional de Enfermagem do Hospital São Pedro foi concretizada no governo Cordeiro de Farias, através do Decreto n.º 7.782, de 02 de maio de 1939, quando o Diretor do Hospital São Pedro era o médico Jacintho Godoy.

Em 1938, no governo Cordeiro de Farias, uma reforma técnica possibilitou um conjunto de mudanças que vieram qualificar o quadro de pretendentes à Escola de Enfermagem. Um aumento de 50% nos salários dos auxiliares do serviço técnico, criando uma hierarquia de classes, possibilitou uma concreta ascensão funcional. A escola, que se propunha aprimorar os enfermeiros do próprio Hospital São Pedro no tratamento de transtornos psiquiátricos, passou a ser procurada por candidatos qualificados intelectualmente.

O governo provisório do Brasil, nos primeiros anos de 1930, regularizou a profissão de enfermeiro e a condição dos práticos, leigos e das religiosas.

Em 1949, o governo federal regulamentou a criação de escolas de enfermagem com dois padrões de ensino: as escolas de baixo padrão, exigindo a instrução primária dos candidatos, e as escolas de alto padrão exigindo a instrução ginasial. A lei não previa uma enfermagem especializada no tratamento mental.

A Escola funcionou por quatorze anos, com treze turmas, diplomando cento e noventa e um alunos, entre os quais vinte Irmãs da Congregação São José. Nos primeiros anos do curso, as Irmãs de São José estavam dispensadas do exame de seleção.

A relação dos primeiros vinte e quatro alunos aprovados (quinze homens e nove mulheres), dentre um total de trinta postulantes, registrava como primeiro classificado entre os homens, Roberto Moreira dos Santos, e entre as mulheres, Maria Felisbina Nunes.

Os eventos de colação de grau, quando então os formandos prestavam juramento sobre o livro “Maladies Mentales considerées sous les rapponts medical, hygienique et medico-legal” do alienista

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francês Jean Dominique Étienne Esquirol, eram noticiados pelos jornais da Capital gaúcha.

Prestigiavam as solenidades de formaturas as autoridades do Governo do Estado e do Departamento Estadual de Saúde, bem como os representantes de entidades civis, entre os quais o presidente da Cruz Vermelha Brasileira.

A Escola de Enfermagem do São Pedro, ao exigir do candidato à especialização "certo grau de instrução elementar", não se ajustava ao que estipulava o Decreto federal de 1949, que estabelecia os dois tipos de ensino de enfermagem, sem encarar diretamente a questão do tratamento mental.

O médico Jacintho Godoy, diretor do Hospital, acreditava que tal exigência não era motivo para o fechamento da Escola de Enfermagem do São Pedro. Tinha por certo que "A melhor aprendizagem não é a que se faz nas lições teóricas (...) mas resulta do convívio diário de discípulo e mestre (...) à cabeceira do enfermo, nas salas de observação (...) que a enfermagem dos doentes mentais é recrutada entre indivíduos de dotes psicológicos e vocacionais prevalentes sobre o grau de instrução escolar, propriamente dita".

A partir de 1952, o Departamento Estadual da Saúde não mais publicou o edital do concurso para a Escola de Enfermagem do Hospital São Pedro. Regulamento do Hospital São Pedro - 1925 - CAPITULO XIX Da Escola de Enfermeiros Artigo 70.° - O Hospital manterá uma Escola de Enfermeiros com o fim de prepara profissionaes. Artigo 71.° - Quem desejar frequentar a Escola de Enfermeiros, terá de prestar a titulo de aprendisagem pratica, serviços de ajudante de enfermeiro, mediante a compensação de mesa e cama. Quando escalados em serviço, e uma gratificação pro-labore. Artigo 72.° - Para esses logares podem concorrer individuos de boa conducta privada e publica que saibam ler e escrever. Artigo 73.° - O curso será de 2 annos, funccionará no Hospital sob a superintendencia do Director e constará das seguintes

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disciplinas: 1.° anno - Noções praticas da Anatomia e Physiologia, Hygiene, Technica therapéutica (1.ª parte); 2.° anno - Noções praticas de propedeutica clinica, Curativos de pequena cirurgia, Technica therapéutica (2.ª parte), inclusive dietetica. Artigo 74.° - O Director distribuirá entre os medicos e internos do Hospital as cadeiras do curso da Escola de Enfermeiros, organisando, de accordo com elles, programmas de aulas, de modo que sejam dadas num total minimo de 8 aulas por mez, em cada disciplina, exceptuado o periodo de férias. § único - Os medicos e internos do Hospital são obrigados a ministrar o ensino na Escola de Enfermeiros. Artigo 75.° - Terminado o curso e, após exames procedidos perante a commissão de medicos que ministraram o ensino, recebe o alunno approvado um certificado que o habilita á promoção, quando se derem vagas, com a classificação e merecimento, ao posto effectivo de enfermeiro. Artigo 76.° - Quando concorrer a uma vaga de enfermeiro qualquer candidato que não haja frequentado a Escola de Enfermeiros do Hospital, terá submeter-se a provas de exame, das diversas disciplinas, como se fosse alunno matriculado. Artigo 77.° - Se approvado, poderá obter logar de accordo com a classificação. Em igualdade de condições, dar-se-á preferencia para o que já trabalhar no Hospital. Referências e fotografia: GODOY, Jacintho. Psiquiatria no Rio Grande do Sul. Porto Alegre: Edição do Autor, 1955. Regulamento do Hospital São Pedro do Rio Grande do Sul de 29 de dezembro de 1925.

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