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    tica

    e ResponsabilidadeProfissional

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    ticae Responsabilidade

    ProfissionalIgor Roberto BorgesMaria Claudia Rodrigues

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    Obra organizada pela Universidade Luterana do Brasil. Informamos que de inteiraresponsabilidade dos autores a emisso de conceitos.

    Nenhuma parte desta publicao poder ser reproduzida por qualquer meio ou forma sem aprvia autorizao da Editora da ULBRA.

    A violao dos direitos autorais crime estabelecido na Lei n .610/98 e punido pelo Artigo184 do Cdigo Penal.

    ISBN 978-85-7528-408-7

    Projeto Grco: Humberto G. SchwertEditorao: Roseli Menzen

    Capa: Juliano DallAgnolCoordenao de Produo Grca: Edison WolfImpresso: Grca da ULBRASetembro/2011

    Dados tcnicos do livroFontes: Minion Pro, Offi cina SansPapel: offset 90g (miolo) e supremo 240g (capa)Medidas: 15x22cm

    Setor de Processamento cnico da Biblioteca Martinho Lutero - ULBRA/Canoas

    Dados Internacionais de Catalogao na Publicao (CIP)

    B732e Borges, Igor Roberto. tica e responsabilidade prossional / Igor Roberto Borges, Maria Claudia Rodrigues. Canoas : Ed. ULBRA, 2011. 134p.

    1. tica prossional. 2. tica empresarial. 3. Responsabilidadesocial. I. Rodrigues, Maria Claudia. II. tulo.

    CDU: 174

    Conselho Editorial EAD

    Dris Cristina Gedrat (coordenadora)Mara Lcia MachadoAstomiro Romais

    Andra EickAndr Loureiro ChavesCtia Duizith

    Igor Roberto Borges graduado em Administrao de Empresas e especialista em GestoEmpresarial pela Universidade Luterana do Brasil (ULBRA). Atualmente, mestrando emEngenharia de Produo e Sistemas pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos (UNISINOS)e professor dos Cursos Superiores ecnolgicos, modalidades EAD e presencial.

    Maria Claudia Rodrigues graduada em urismo pela Pontifcia Universidade Catlica doRio Grande do Sul (PUCRS), especialista em Gesto Empresarial e mestra em Educao pelaUniversidade Luterana do Brasil. Professora dos Cursos Superiores ecnolgicos, modalidadesEAD e presencial.

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    Sumrio Apresentao .............................................................. 7

    1 | Introduo tica e moral ......................................... 9

    2 | Conceitos fundamentais ............................................. 25

    3 | tica e profisso ....................................................... 37

    4 | tica e empresa ........................................................ 55

    5 | Por uma cultura organizacional tica ............................ 63

    6 | Por que tica nos negcios? ........................................ 79

    7 | Contextualizao histrica da responsabilidade social ..... 89

    8 | Atuao da responsabilidade social: interna e externa ..... 97

    9 | Marketing e responsabilidade social.............................105

    10 | Responsabilidade social e o retorno social ....................115

    Referncias .............................................................129

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    Apresentao

    Ao iniciarmos nossos estudos sobre a disciplina tica e ResponsabilidadeProfissional, faz-se importante compreendermos alguns aspectos histricos quecontriburam para o estudo da tica nas organizaes. Pretendemos abordar o

    estudo da tica no contexto corporativo, nas relaes entre colegas de trabalho,

    entre empregados e empregadores, clientes internos e externos e na atuaodas empresas em relao responsabilidade social e ambiental. Este livrodivide-se em dez captulos. Assim, no primeiro captulo, Introduo tica e moral, abordaremos um breve histrico sobre a tica e a moral, apontando a

    sua evoluo. No segundo captulo, trata-se de introduzir os conceitos de tica,moral e valor, com o objetivo de diferenci-los e servir de arcabouo para nossosestudos. No terceiro captulo, apresenta-se o estudo da tica aplicada profisso.rata-se, tambm, da atuao tica e da responsabilidade do indivduo em relao

    sua profisso e ao ambiente de trabalho. J no quarto captulo, abordaremosa relao entre os indivduos e as organizaes. Apresentam-se situaes emque o funcionrio deve tomar decises que podem envolver dilemas ticos. Noquinto captulo, trataremos da cultura organizacional, conceitos e funes, eapontaremos algumas prticas para a constituio de uma cultura organizacional

    mais tica. No sexto captulo, abordaremos a tica nos negcios, e pretende-seapresentar as vantagens e desvantagens da tica nas relaes negociais. O captulo7 apresenta a contextualizao histrica da responsabilidade social, abrangendo

    a evoluo da responsabilidade social na empresa e no Brasil e seus conceitosfundamentais. O oitavo captulo apresenta a atuao da empresa em relao

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    8 Apresentao

    responsabilidade social e seus stakeholders, sua influncia em relao empresa.

    ambm se trata da responsabilidade social direcionada ao pblico interno da

    organizao, seus empregados e os dependentes destes, e o desenvolvimentode aes sociais responsveis que beneficiem a comunidade. No captulo 9,tratamos do tema marketing social, como ferramenta para divulgar e comunicaras organizaes que atuam com responsabilidade social. Nesse sentido, iremos

    apresentar os tipos de marketing social, a fim de diferenci-los em relao s suasatuaes especficas. Assim, apresentaremos o marketing filantrpico, marketingdas campanhas sociais, marketing de patrocnio de projetos sociais, marketingde relacionamento com base em aes sociais, marketing de promoes sociais.

    E, finalmente, o ltimo captulo refere-se s vantagens e aos benefcios que asempresas socialmente responsveis usufruem, entre eles o retorno social.

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    Introduo tica e moralMaria Claudia Rodrigues

    Nestecaptulo, trata-se de apresentar um breve histrico da tica. Espera-se que ao fim deste estudo o aluno tenha uma viso mais ampla da evoluohistrica da tica e compreenda que a tica se refere a um estudo da moral e dos

    comportamentos morais. Portanto, a tica refere-se ao comportamento do serhumano, estuda suas crenas, seus princpios e valores em um indivduo, grupo,

    comunidade ou empresa. Espera-se que o estudo contribua para um melhorentendimento do estudo da tica no contexto atual nas organizaes.

    A tica revisitada

    Atualmente, a expresso tica utilizada em vrios contextos. No raroouvirmos: aquele profissional no foi tico em relao a seu colega de trabalho;

    aquela empresa no tica; aquele funcionrio extremamente tico. Aexpresso usada corriqueiramente pelas pessoas, sem se pensar muito nosentido ou significado da palavra. Fala-se de ser tico, ou no ser tico, ticana empresa, tica na universidade, tica mdica. rata-se, muitas vezes, deconfundir os termos tica e moral como, quando dizemos pessoas sem tica.

    Conforme formos estudando, veremos que h uma distino entre estes dois

    termos: a tica e a moral.

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    11Introduo tica e moral

    ambm Plato segue a linha de Scrates, de uma tica da felicidade, e

    submete a moral luz da razo. J para Aristteles a moral era entendida como

    um conjunto de qualidades que definia o modo de vida e de relacionamentoentre as pessoas.

    Conforme Gonalves e Wyse (1997), com origem na Grcia antiga, o termotica compreendia que os juzos sobre o bem, a verdade, a justia deveriamser ditados e decididos de maneira livre e racional em praa pblica, naplis.Nesta sociedade, as decises a respeito da coisa pblica ou do bem comumeram debatidas por homens livres e iguais em praa pblica. Vale lembrar que

    na sociedade grega antiga os escravos, as mulheres e as crianas no tomavampartido das decises. Portanto, os debates a respeito do que se entendia porcerto ou errado, bom ou mau era debatido pelos homens, os senhores. Nestesentido, compreende-se que a tica abrange valores socialmente vigentes, dentrode um contexto histrico.

    J na sociedade medieval, ocorre um rompimento do vnculo entre tica epoltica. Segundo os autores citados, a partir do poder exercido pela Igreja, asnormas passam a ser reguladas pelo princpio do cristianismo. O cristianismo

    tem como virtudes a f e a caridade, que se traduzem nas boas intenes eno desejo em alcanar o bem para atender a vontade divina (GONALVES eWYSE, 1997, p.21).

    Nesta perspectiva, na qual Deus o juiz das aes humanas, passa a seravaliada a conscincia do que considerado bem ou mal. Assim, a culpafunciona como um mecanismo de controle, que age como um juiz, implacvelna avaliao, que tira a paz dos indivduos, fazendo como que eles paguem por

    suas faltas (GONALVES e WYSE, 1997, p.21).

    Para estes autores, esta mudana de finalidade da tica, da Antiguidade paraa sociedade medieval, constitui-se da desvalorizao da autonomia e deliberao

    humana, fragilizando a responsabilidade pessoal, ou seja, se acreditamos quetudo est predeterminado por uma ordem superior, divina, limitamos nossapossibilidade de escolha, de deciso. E se no escolhemos, como podemos serresponsveis? (GONALVES e WYSE, 1997, p.21).

    Vale lembrar que esta sociedade estava fundamentada em um modelo de

    produo feudal, ou seja, as relaes sociais caracterizavam-se por rgidahierarquia entre os senhores (proprietrios das terras) e os servos, aqueles que

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    as cultivavam (GONALVES e WYSE, 1997, p.22). O papel da Igreja era da

    manuteno do princpio da obedincia que regulava as relaes entre senhores

    e servos.

    Com a sociedade moderna nasce a burguesia, uma classe social fundamentada

    em virtudes como a laboriosidade, honradez, puritanismo, amor ptria e liberdade, em contraponto aos vcios da aristocracia: desprezo ao trabalho,ociosidade, libertinagem (GONALVES e WYSE, 1997, p.23). O trabalho passaa ser visto como uma expresso de liberdade, uma forma capaz de contribuir coma prosperidade dos negcios. Estes autores destacam que em outras sociedades o

    trabalho era visto de forma negativa, como, por exemplo, na Grcia antiga, ondeera desvalorizado por se tratar de uma funo dos escravos e servos.

    Conforme Gonalves e Wyse (1997), na sociedade moderna o trabalho

    passa a ser associado a valores materiais, como fator econmico, salrio e poderaquisitivo. Por outro lado, o trabalho tambm identificado com as necessidadespsicolgicas do indivduo, determinando o statuse o sentimento de realizaopessoal e pertencimento a um grupo social. Ainda segundo estes autores, nasociedade moderna que se desenvolve o estudo da tica no contexto do trabalho,

    ou tica do trabalho:

    A tica do trabalhoconsiste em entender essa atividade, o trabalho,como fator fundamental construo da identidade e da realizaopessoal ao estabelecimento de uma ordem social, onde prevaleamrelaes fundadas na dignidade, na liberdade e na igualdade entreos homens. (GONALVES e WYSE, 1997, p.24)

    Sobre a sociedade moderna, Saldanha (1998) alerta para as diversas mudanassociais que colocam em reflexo temas sociais sobre os limites da tecnologia eda cincia, que influenciam a vida do ser humano. Segundo este autor, passamosde um mundo cientfico para o da tecnologia; assistimos a duas guerrasmundiais e diversas guerras menores continuam ocorrendo em nossos dias;

    questionamentos sobre as energias atmicas; debates acerca da racionalidadee do relativismo; a ecologia e as relaes do homem com a natureza so temas

    que fizeram o ser humano questionar sua conduta social.

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    13Introduo tica e moral

    A tica uma construo social, portanto alguns princpios ticos que

    valiam para uma determinada poca esto em desuso em nossos dias, ou seja,

    os princpios valem enquanto a sociedade tiver a possibilidade de ser norteadapor eles.

    Na atualidade, Leonardo Boff (2009) assinala algumas reflexes sobre umcomportamento tico e moral responsvel e altura dos desafios de nosso tempo.Vivemos em uma economia globalizada. A globalizao, segundo este autor:

    trouxe, entre outras coisas, a planetarizao da condio humana ea conscincia de que Terra e humanidade possuem destino comum.Por isso devemos enfrentar juntos o futuro como um sujeito nico.Isso nos obriga a elaborar um projeto planetrio solidrio e umagesto coletiva dos problemas, visando conferir sustentabilidade vida do planeta. (BOFF, 2009, p.81-82)

    Neste sentido, preciso pensar em um tica global, ou seja, a tica e a

    responsabilidade social por parte das organizaes deve ser pensada de formaglobal. Assim, dentro desta perspectiva, as empresas devem estar voltadas para

    os temas globais, pois sua forma de atuao pode influenciar a sociedade e omeio ambiente.

    Nesta perspectiva, tambm Morin (2011) aponta para uma tica planetria,

    pois a partir da globalizao necessrio pensar em uma tica da comunidadehumana, que respeite e integre as ticas nacionais. Assim, Morin (2011)assinala a necessidade de uma antropoltica que integre os imperativos da tica

    planetria.

    EmACarta da Terra, aprovada na Unesco em Paris, no ano 2000, quandotrata do meio ambiente global com seus recursos finitos, assinala que deve seruma preocupao comum de todas as pessoas, pois necessrio pensar em uma

    viso compartilhada de valores bsicos para proporcionar um fundamento tico comunidade mundial emergente. A seguir, apresenta-seACarta da Terra:

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    14 Introduo tica e moral

    A Carta da Terra

    PREMBULO

    Estamos diante de um momento crtico na histria da Terra, numa poca emque a humanidade deve escolher o seu futuro. medida que o mundo torna-secada vez mais interdependente e frgil, o futuro reserva, ao mesmo tempo, grande

    perigo e grande esperana. Para seguir adiante, devemos reconhecer que, no meio

    de uma magnfica diversidade de culturas e formas de vida, somos uma famliahumana e uma comunidade terrestre com um destino comum. Devemos nos juntar

    para gerar uma sociedade sustentvel global fundada no respeito pela natureza,nos direitos humanos universais, na justia econmica e numa cultura da paz.Para chegar a este propsito, imperativo que ns, os povos da Terra, declaremos

    nossa responsabilidade uns para com os outros, com a grande comunidade de vidae com as futuras geraes.

    TERRA, NOSSO LAR

    A humanidade parte de um vasto universo em evoluo. A Terra, nossolar, viva como uma comunidade de vida incomparvel. As foras da natureza

    fazem da existncia uma aventura exigente e incerta, mas a Terra providenciouas condies essenciais para a evoluo da vida. A capacidade de recuperao dacomunidade de vida e o bem-estar da humanidade dependem da preservao de

    uma biosfera saudvel com todos seus sistemas ecolgicos, uma rica variedade deplantas e animais, solos frteis, guas puras e ar limpo. O meio ambiente globalcom seus recursos finitos uma preocupao comum de todos os povos. A proteo

    da vitalidade, diversidade e beleza da Terra um dever sagrado.

    A SITUAO GLOBAL

    Os padres dominantes de produo e consumo esto causando devastaoambiental, esgotamento dos recursos e uma massiva extino de espcies.

    Comunidades esto sendo arruinadas. Os benefcios do desenvolvimento no estosendo divididos equitativamente e a diferena entre ricos e pobres est aumentando.

    A injustia, a pobreza, a ignorncia e os conflitos violentos tm aumentado e socausas de grande sofrimento. O crescimento sem precedentes da populao humana

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    15Introduo tica e moral

    tem sobrecarregado os sistemas ecolgico e social. As bases da segurana global

    esto ameaadas. Essas tendncias so perigosas, mas no inevitveis.

    DESAFIOS FUTUROS

    A escolha nossa: formar uma aliana global para cuidar da Terra e uns dos

    outros ou arriscar a nossa destruio e a da diversidade da vida. So necessriasmudanas fundamentais em nossos valores, instituies e modos de vida. Devemosentender que, quando as necessidades bsicas forem supridas, o desenvolvimentohumano ser primariamente voltado a ser mais e no a ter mais. Temos oconhecimento e a tecnologia necessrios para abastecer a todos e reduzir nossos

    impactos no meio ambiente. O surgimento de uma sociedade civil global estcriando novas oportunidades para construir um mundo democrtico e humano.Nossos desafios ambientais, econmicos, polticos, sociais e espirituais estointerligados e juntos podemos forjar solues inclusivas.

    RESPONSABILIDADE UNIVERSAL

    Para realizar estas aspiraes, devemos decidir viver com um sentido deresponsabilidade universal, identificando-nos com a comunidade terrestre comoum todo, bem como com nossas comunidades locais. Somos, ao mesmo tempo,

    cidados de naes diferentes e de um mundo no qual as dimenses local e globalesto ligadas. Cada um compartilha responsabilidade pelo presente e pelo futurobem-estar da famlia humana e de todo o mundo dos seres vivos. O esprito desolidariedade humana e de parentesco com toda a vida fortalecido quandovivemos com reverncia o mistrio da existncia, com gratido pelo dom da vida

    e com humildade em relao ao lugar que o ser humano ocupa na natureza.

    Necessitamos com urgncia de uma viso compartilhada de valores bsicospara proporcionar um fundamento tico comunidade mundial emergente.

    Portanto, juntos na esperana, afirmamos os seguintes princpios, interdependentes,visando a um modo de vida sustentvel como padro comum, atravs dos quaisa conduta de todos os indivduos, organizaes, empresas, governos e instituiestransnacionais ser dirigida e avaliada.

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    16 Introduo tica e moral

    PRINCPIOS

    I. RESPEITAR E CUIDAR DA COMUNIDADE DE VIDA1. Respeitar a Terra e a vida em toda sua diversidade.

    a. Reconhecer que todos os seres so interdependentes e cada forma devida tem valor, independentemente de sua utilidade para os sereshumanos.

    b. Afirmar a f na dignidade inerente de todos os seres humanos e nopotencial intelectual, artstico, tico e espiritual da humanidade.

    2. Cuidar da comunidade da vida com compreenso, compaixo eamor.

    a. Aceitar que, com o direito de possuir, administrar e usar os recursosnaturais, vem o dever de prevenir os danos ao meio ambiente e de

    proteger os direitos das pessoas.

    b. Assumir que, com o aumento da liberdade, dos conhecimentos e dopoder, vem a maior responsabilidade de promover o bem comum.

    3. Construir sociedades democrticas que sejam justas, participativas,sustentveis e pacficas.

    a. Assegurar que as comunidades em todos os nveis garantam osdireitos humanos e as liberdades fundamentais e proporcionem acada pessoa a oportunidade de realizar seu pleno potencial.

    b. Promover a justia econmica e social, propiciando a todos aobteno de uma condio de vida significativa e segura, que seja

    ecologicamente responsvel.

    4. Assegurar a generosidade e a beleza da Terra para as atuais e as futurasgeraes.

    a. Reconhecer que a liberdade de ao de cada gerao condicionada

    pelas necessidades das geraes futuras.b. Transmitir s futuras geraes valores, tradies e instituies que

    apoiem a prosperidade das comunidades humanas e ecolgicas da

    Terra a longo prazo.

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    17Introduo tica e moral

    II. INTEGRIDADE ECOLGICA

    5. Proteger e restaurar a integridade dos sistemas ecolgicos da Terra,com especial ateno diversidade biolgica e aos processos naturaisque sustentam a vida.

    a. Adotar, em todos os nveis, planos e regulamentaes dedesenvolvimento sustentvel que faam com que a conservao e areabilitao ambiental sejam parte integral de todas as iniciativasde desenvolvimento.

    b. Estabelecer e proteger reservas naturais e da biosfera viveis,

    incluindo terras selvagens e reas marinhas, para proteger ossistemas de sustento vida da Terra, manter a biodiversidade e

    preservar nossa herana natural.c. Promover a recuperao de espcies e ecossistemas ameaados.

    d. Controlar e erradicar organismos no nativos ou modificadosgeneticamente que causem dano s espcies nativas e ao meioambiente e impedir a introduo desses organismos prejudiciais.

    e. Administrar o uso de recursos renovveis como gua, solo, produtos

    florestais e vida marinha de forma que no excedam s taxas deregenerao e que protejam a sade dos ecossistemas.f. Administrar a extrao e o uso de recursos no renovveis,

    como minerais e combustveis fsseis de forma que minimizem oesgotamento e no causem dano ambiental grave.

    6. Prevenir o dano ao ambiente como o melhor mtodo de proteoambiental e, quando o conhecimento for limitado, assumir uma

    postura de precauo.a. Agir para evitar a possibilidade de danos ambientais srios

    ou irreversveis, mesmo quando o conhecimento cientfico forincompleto ou no conclusivo.

    b. Impor o nus da prova naqueles que afirmarem que a atividade

    proposta no causar dano significativo e fazer com que as partesinteressadas sejam responsabilizadas pelo dano ambiental.

    c. Assegurar que as tomadas de deciso considerem as consequncias

    cumulativas, a longo prazo, indiretas, de longo alcance e globais dasatividades humanas.

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    18 Introduo tica e moral

    d. Impedir a poluio de qualquer parte do meio ambiente e no

    permitir o aumento de substncias radioativas, txicas ou outras

    substncias perigosas.e. Evitar atividades militares que causem dano ao meio ambiente.

    7. Adotar padres de produo, consumo e reproduo que protejam ascapacidades regenerativas da Terra, os direitos humanos e o bem-estarcomunitrio.

    a. Reduzir, reutilizar e reciclar materiais usados nos sistemas

    de produo e consumo e garantir que os resduos possam serassimilados pelos sistemas ecolgicos.b. Atuar com moderao e eficincia no uso de energia e contar cada

    vez mais com fontes energticas renovveis, como a energia solar ea do vento.

    c. Promover o desenvolvimento, a adoo e a transferncia equitativade tecnologias ambientais seguras.

    d. Incluir totalmente os custos ambientais e sociais de bens e servios nopreo de venda e habilitar os consumidores a identificarem produtos

    que satisfaam s mais altas normas sociais e ambientais.e. Garantir acesso universal assistncia de sade que fomente a sade

    reprodutiva e a reproduo responsvel.f. Adotar estilos de vida que acentuem a qualidade de vida e

    subsistncia material num mundo finito.

    8. Avanar o estudo da sustentabilidade ecolgica e promover ointercmbio aberto e aplicao ampla do conhecimento adquirido.

    a. Apoiar a cooperao cientfica e tcnica internacional relacionada

    sustentabilidade, com especial ateno s necessidades das naesem desenvolvimento.

    b. Reconhecer e preservar os conhecimentos tradicionais e a sabedoriaespiritual em todas as culturas que contribuem para a proteoambiental e o bem-estar humano.

    c. Garantir que informaes de vital importncia para a sadehumana e para a proteo ambiental, incluindo informao

    gentica, permaneam disponveis ao domnio pblico.

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    19Introduo tica e moral

    III. JUSTIA SOCIAL E ECONMICA

    9. Erradicar a pobreza como um imperativo tico, social eambiental.a. Garantir o direito gua potvel, ao ar puro, segurana alimentar,

    aos solos no contaminados, ao abrigo e saneamento seguro,alocando os recursos nacionais e internacionais demandados.

    b. Prover cada ser humano de educao e recursos para asseguraruma condio de vida sustentvel e proporcionar seguro social esegurana coletiva aos que no so capazes de se manter por conta

    prpria.c. Reconhecer os ignorados, proteger os vulnerveis, servir queles quesofrem e habilit-los a desenvolverem suas capacidades e alcanaremsuas aspiraes.

    10. Garantir que as atividades e instituies econmicas em todos osnveis promovam o desenvolvimento humano de forma equitativa esustentvel.

    a. Promover a distribuio equitativa da riqueza dentro das e entreas naes.b. Incrementar os recursos intelectuais, financeiros, tcnicos e sociais

    das naes em desenvolvimento e liber-las de dvidas internacionaisonerosas.

    c. Assegurar que todas as transaes comerciais apoiem o uso derecursos sustentveis, a proteo ambiental e normas trabalhistas

    progressistas.

    d. Exigir que corporaes multinacionais e organizaes financeirasinternacionais atuem com transparncia em benefcio do

    bem comum e responsabiliz-las pelas consequncias de suasatividades.

    11. Afirmar a igualdade e a equidade dos gneros como pr-requisitospara o desenvolvimento sustentvel e assegurar o acesso universal educao, assistncia de sade e s oportunidades econmicas.

    a. Assegurar os direitos humanos das mulheres e das meninas e acabarcom toda violncia contra elas.

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    20 Introduo tica e moral

    b. Promover a participao ativa das mulheres em todos os aspectos

    da vida econmica, poltica, civil, social e cultural como parceiras

    plenas e paritrias, tomadoras de deciso, lderes e beneficirias.c. Fortalecer as famlias e garantir a segurana e o carinho de todos

    os membros da famlia.

    12. Defender, sem discriminao, os direitos de todas as pessoas a umambiente natural e social capaz de assegurar a dignidade humana,a sade corporal e o bem-estar espiritual, com especial ateno aos

    direitos dos povos indgenas e minorias.a. Eliminar a discriminao em todas as suas formas, como as

    baseadas em raa, cor, gnero, orientao sexual, religio, idiomae origem nacional, tnica ou social.

    b. Afirmar o direito dos povos indgenas sua espiritualidade,conhecimentos, terras e recursos, assim como s suas prticasrelacionadas com condies de vida sustentveis.

    c. Honrar e apoiar os jovens das nossas comunidades, habilitando-os a

    cumprir seu papel essencial na criao de sociedades sustentveis.d. Proteger e restaurar lugares notveis pelo significado cultural eespiritual.

    IV. DEMOCRACIA, NO VIOLNCIA E PAZ

    13. Fortalecer as instituies democrticas em todos os nveis eprover transparncia e responsabilizao no exerccio do governo,participao inclusiva na tomada de decises e acesso justia.

    a. Defender o direito de todas as pessoas receberem informaoclara e oportuna sobre assuntos ambientais e todos os planos dedesenvolvimento e atividades que possam afet-las ou nos quaistenham interesse.

    b. Apoiar sociedades civis locais, regionais e globais e promover aparticipao significativa de todos os indivduos e organizaesinteressados na tomada de decises.

    c. Proteger os direitos liberdade de opinio, de expresso, de reunio

    pacfica, de associao e de oposio.

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    21Introduo tica e moral

    d. Instituir o acesso efetivo e eficiente a procedimentos judiciais

    administrativos e independentes, incluindo retificao e compensao

    por danos ambientais e pela ameaa de tais danos.e. Eliminar a corrupo em todas as instituies pblicas e

    privadas.

    f. Fortalecer as comunidades locais, habilitando-as a cuidar dos

    seus prprios ambientes, e atribuir responsabilidades ambientais

    aos nveis governamentais onde possam ser cumpridas mais

    efetivamente.

    14. Integrar, na educao formal e na aprendizagem ao longo da vida,os conhecimentos, valores e habilidades necessrias para um modode vida sustentvel.

    a. Prover a todos, especialmente a crianas e jovens, oportunidades

    educativas que lhes permitam contribuir ativamente para o

    desenvolvimento sustentvel.

    b. Promover a contribuio das artes e humanidades, assim como das

    cincias, na educao para sustentabilidade.

    c. Intensificar o papel dos meios de comunicao de massa no aumento

    da conscientizao sobre os desafios ecolgicos e sociais.

    d. Reconhecer a importncia da educao moral e espiritual para uma

    condio de vida sustentvel.

    15. Tratar todos os seres vivos com respeito e considerao.

    a. Impedir crueldades aos animais mantidos em sociedades humanas

    e proteg-los de sofrimento.b. Proteger animais selvagens de mtodos de caa, armadilhas e pesca

    que causem sofrimento extremo, prolongado ou evitvel.

    c. Evitar ou eliminar ao mximo possvel a captura ou destruio de

    espcies no visadas.

    16. Promover uma cultura de tolerncia, no violncia e paz.

    a. Estimular e apoiar o entendimento mtuo, a solidariedade e a

    cooperao entre todas as pessoas, dentro das e entre as naes.

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    22 Introduo tica e moral

    b. Implementar estratgias amplas para prevenir conflitos violentos e

    usar a colaborao na resoluo de problemas para administrar e

    resolver conflitos ambientais e outras disputas.c. Desmilitarizar os sistemas de segurana nacional at o nvel de uma

    postura defensiva no provocativa e converter os recursos militarespara propsitos pacficos, incluindo restaurao ecolgica.

    d. Eliminar armas nucleares, biolgicas e txicas e outras armas dedestruio em massa.

    e. Assegurar que o uso do espao orbital e csmico ajude a proteoambiental e a paz.

    f. Reconhecer que a paz a plenitude criada por relaes corretasconsigo mesmo, com outras pessoas, outras culturas, outras vidas,com a Terra e com a totalidade maior da qual somos parte.

    O CAMINHO ADIANTE

    Como nunca antes na Histria, o destino comum nos conclama a buscar umnovo comeo. Tal renovao a promessa destes princpios de A Carta da erra.

    Para cumprir esta promessa, temos que nos comprometer a adotar e promover osvalores e objetivos da carta.

    Isto requer uma mudana na mente e no corao. Requer um novo sentido de

    interdependncia global e de responsabilidade universal. Devemos desenvolver eaplicar com imaginao a viso de um modo de vida sustentvel nos nveis local,nacional, regional e global. Nossa diversidade cultural uma herana preciosa ediferentes culturas encontraro suas prprias e distintas formas de realizar esta

    viso. Devemos aprofundar e expandir o dilogo global que gerou a Carta da Terra,

    porque temos muito que aprender a partir da busca conjunta em andamento porverdade e sabedoria.

    A vida muitas vezes envolve tenses entre valores importantes. Isto podesignificar escolhas difceis. Entretanto, necessitamos encontrar caminhos paraharmonizar a diversidade com a unidade, o exerccio da liberdade com o bemcomum, objetivos de curto prazo com metas de longo prazo. Todo indivduo,

    famlia, organizao e comunidade tem um papel vital a desempenhar. As artes,

    as cincias, as religies, as instituies educativas, os meios de comunicao, asempresas, as organizaes no governamentais e os governos so todos chamados

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    23Introduo tica e moral

    a oferecer uma liderana criativa. A parceria entre governo, sociedade civil e

    empresas essencial para uma governabilidade efetiva.

    Para construir uma comunidade global sustentvel, as naes do mundo devemrenovar seu compromisso com as Naes Unidas, cumprir com suas obrigaes

    respeitando os acordos internacionais existentes e apoiar a implementao dosprincpios da Carta da Terra com um instrumento internacionalmente legalizadoe contratual sobre o ambiente e o desenvolvimento.

    Que o nosso tempo seja lembrado pelo despertar de uma nova reverncia face vida, pelo compromisso firme de alcanar a sustentabilidade, a intensificao

    dos esforos pela justia e pela paz e a alegre celebrao da vida.

    (Fonte: BOFF, Leonardo. tica e Moral a busca dos fundamentos, 2009,p.109-125.)

    Desde os povos antigos debate-se a respeito da moral e da tica. Em cada

    poca e sociedade a tica fez parte dos estudos de pensadores, com o objetivo de

    compreender o comportamento do ser humano. Vimos que o comportamento

    moral se difere conforme o contexto histrico, cultural e social em que se inseremos grupos. Portanto um comportamento moral em uma determinada poca pode

    no ser considerado tico nos tempos atuais e vice versa. Nos moldes atuais,

    as empresas tendem a preocupar-se com questes globais, pois esto inseridas

    em uma economia globalizada, assim tambm a tica possibilita tal reflexo:

    pensar em um tica planetria.

    ReflexoAtualmente, vive-se em um mercado caracterizado pela flexibilidade,

    inovao tecnolgica, rapidez na comunicao, mercados globalizados. Os

    conceitos de ticae de moral nos ajudam a entender e a se posicionar frente a

    esse mundo complexo e aos novos tempos. No mundo dos negcios, onde as

    mudanas ocorrem com tanta rapidez e em que os profissionais devem estar

    preparados para atuar sobre forte presso, podemos nos sentir inseguros frente

    a nossas antigas certezas. endo em vista que a tica e a moral se transformam

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    24 Introduo tica e moral

    de acordo com a cultura, traga um exemplo do mundo do trabalho que aponte

    como o que era considerado outrora tico hoje se modificou. raga uma das

    inmeras temticas que envolvem o mundo do trabalho hoje e problematize. Oque caracteriza hoje uma empresa socialmente responsvel? O que mudou napostura das empresas quanto a esses aspectos?

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    2

    Conceitos fundamentaisMaria Claudia Rodrigues

    Este captulo apresenta os principais conceitos sobre tica e moral com oobjetivo de introduzir ao aluno alguns conceitos fundamentais e esclarecer adiferena entre estes dois termos. rata-se, tambm, de apresentar o conceito

    de valor e a diferena entre tica, moral e direito. Espera-se que estas noessirvam de fundamento para a compreenso do estudo da tica aplicada s

    organizaes.

    2.1 tica e moralEtimologicamente, o termo tica tem sua origem na palavra grega ethos, que

    significava, inicialmente, paradeiro ou residncia comum. Mais tarde, o termopassou a ser entendido como hbito, temperamento, carter, mentalidade.

    Para Boff (2009) existe uma confuso entre os termos tica e moral. Paraeste autor, no senso comum no h uma distino entre os dois termos, que so

    tratados como sinnimos. No entanto, o autor destaca que a tica refere-se aparte da filosofia, enquanto a moral diz respeito a parte da vida concreta. Assim,a partir deste autor, pode-se conceituar tica como:

    A tica parte da filosofia. Considera concepes de fundo acercada vida, do universo, do ser humano e de seu destino, estatudo

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    26 Conceitos fundamentais

    princpios e valores que orientam pessoas e sociedades. Uma pessoa tica quando se orienta por princpios e convices. Dizemos, ento,

    que tem carter e boa ndole. (BOFF, 2009, p.37)

    J a moral, termo latino oriundo de mos, mores, adquiriu na modernidadesentido de dever. Conforme Boff, o termo moral compreendido como:

    na morada, os moradores tm costumes, tradies, hbitos, maneirae usos de organizar as refeies, os encontros, as festas, os estilosde relacionamento, que podem ser tensos e competitivos, ouharmoniosos e cooperativos. (BOFF, 2009, p.39)

    Segundo este autor, os gregos chamavam esse fenmeno de ethos (costumes,

    hbitos, comportamentos concretos das pessoas), j os latinos vo chamar de

    mores, de onde surge a palavra moral.

    Conforme Boff (2009, p.39), o processo formador da tica comea no

    ethos, ou seja, na morada, que segundo o autor pode ser a casa concreta daspessoas ou a [empresa], a comunidade, a cidade, o Estado e o planeta erra. As

    pessoas que moram nela tm valores, princpios, motivaes inspiradoras para

    o comportamento [moral]. Nesta viso, segundo Boff, a moral significa:

    A moral parte da vida concreta. Trata da prtica real das pessoasque se expressam por costumes, hbitos e valores culturalmente

    estabelecidos. Uma pessoa moral quando age em conformidade comos costumes e valores consagrados. Estes podem, eventualmente,ser questionados pela tica. Uma pessoa pode ser moral segue oscostumes at por convenincia , mas no necessariamente tica obedece a convices e princpios. (BOFF, 2006, p.37)

    Conforme Nelson Saldanha, a tica corresponde ao conjunto de todas as

    formas de normativas vigentes nas agrupaes humanas (SALDANHA,1998,

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    27Conceitos fundamentais

    p.7). Para o autor, a tica existe em cada contexto, seja cultural, social ou temporal,

    como segue:

    um conjunto de estruturas inclusive institucionais e de ideais decomportamento, que se ligam a um ideal do ser humano: o que sechama de tica, em seu sentido historicamente efetivo, um plano derelaes entre aqueles ideais de comportamento e avaliao efetivados comportamentos ocorridos. (SALDANHA, 1998, p.9)

    Nesta perspectiva, a tica constitui-se de uma disciplina terica que tem comoobjeto de estudo a moral. Neste sentido, trata de um processo de reflexo sobrea moral, os fenmenos morais, os fatos sociais regulados por normas morais

    ou submetidos a avaliaes morais (SROUR, 2005, p.306).

    Segundo Srour, a moral representa um conjunto de valores e regras decomportamento, um cdigo de conduta que coletividades adotam, que seja uma

    nao, uma categoria social, uma comunidade religiosa ou uma organizao(SROUR, 2000, p.29).

    A moral constitui-se da prtica real das pessoas que se expressam por costumes,

    hbitos cotidianos e valores consagrados. Neste sentido, uma pessoa podeapresentar um comportamento moral, porm no necessariamente tico.

    Nesta direo, Srour destaca que os fatos sociais podem ser neutros ou

    amorais, como, por exemplo, o fato de ir ao trabalho, assistir a um filme, ou o deler um livro. Para este autor, estes exemplos tornam-se fatos passveis de seremavaliados moralmente, a partir do momento em que afetam outras pessoas,

    transgredindo normas que regem o que considerado socialmente bom ou mau(SROUR, 2005, p.306). Consideremos o exemplo anterior assistir a um filme.Quando o fato de assistir a um filme passa a ser submetido a uma avaliaomoral? Vejamos o exemplo, destacado pelo autor:

    Assistir a um filme pornogrfico no computador da empresa, ao ladode colegas do sexo feminino, no amoral, imoral. Por qu? Porque fere regras de carter moral, que so corporativa e socialmente

    estabelecidas. No tocante empresa trata-se do uso inapropriado

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    28 Conceitos fundamentais

    de equipamentos; quanto s colegas, elas podem se sentirconstrangidas, para no dizer ofendidas e at mesmo assediadas

    moralmente. (SROUR, 2005, p.356)

    As relaes humanas podem conter diversas situaes em que as escolhaspodem repercutir em um fato moral, amoralou imoral. Pode-se consideraruma situao moral quando o indivduo age de forma considerada positivaem uma determinada sociedade. No entanto, em outro exemplo, em que um

    superior expe uma funcionria a uma situao humilhante, constrangedora,

    repetidas e prolongadas vezes durante sua jornada de trabalho que a leva apedir demisso de seu emprego. Neste caso, a situao imoral, caracterizandoem assdio moral, o que provavelmente levar a funcionrio a procurar osseu direitos.

    Vejamos a situao seguinte, apontada por Srour: empurrar uma pedra como p, brincando com um colega, no tem implicaes morais, mas arremess-lacontra veculos em movimento tem. Alm do delito, o ato recebe a desaprovao

    moral da coletividade(SROUR, 2000, p.28)

    Uma outra situao relatada por este autor, no contexto organizacional: emuma empresa, conduzir uma reunio de trabalho considera-se um ato amoral,

    ou seja, um fato neutro sem carter moral. No entanto, para ter carter moral,o fato de conduzir uma reunio deve ser qualificado, ou seja, deve ser algum

    juzo. Assim, conduzir uma reunio de trabalho e aproveitar a situao paraapresentar exemplos edificantes de conduta tica aos participantes (funcionrios,colaboradores, gerentes) considera-se um fato moral, de carter positivo, tanto

    para os clientes internos como para os clientes externos, pois certamente esta

    ao ir repercutir e trazer aspectos positivos para a organizao. Por outrolado, se esta reunio foi utilizada para fins fraudulentos, imprime-se um fatoimoral, de carter negativo.

    A fim de exemplificar a diferena entre o fato, moral, amoral e imoral,apresenta-se, no quadro a seguir, exemplos em que se busca comparar estasrelaes sociais. Assim, no quadro, apresentam-se situaes moral(positivo),amoral(neutro) e imoral(negativo), apontados por Srour (2000, p.27), segundo

    os padres de moral da integridade brasileira contempornea:

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    29Conceitos fundamentais

    Relao Moral Relao Amoral Relao Imoral

    Tirar fotocpias dedocumentos prprios paraensinar algum.

    Tirar fotocpias dedocumentos prprios.

    Tirar fotocpias de livroalheio sem o respectivopagamento de direitosautorais.

    Estudar e esforar-se parafazer uma boa prova, noesbanjando o dinheirodas mensalidades e nodesperdiando o seuprprio tempo e o do

    professor.

    Submeter-se a uma provaescolar.

    Colar durante a prova.

    Produzir produtosrespeitando especificaestcnicas, utilizandoenergias e matrias-primasque no degradem o meioambiente e satisfaam snecessidades dos clientes.

    Fabricar produtos parauso prprio.

    Piratear bens, ou adulterarsua composio.

    Utilizar o computador

    da organizao emque trabalha, o maiseficientemente possvel,para agregar valor amesma.

    Utilizar o computador

    da organizao em quetrabalha.

    Utilizar o computador

    da organizao em quetrabalha, para usospessoais, sem autorizao.

    Quadro 1 Padres de moral e da integridade brasileira.Fonte: adaptado de SROUR, Robert Henry. tica empresarial. Rio de Janeiro: Campus, 2000, p.27.

    Partindo-se da viso de que tica uma construo social, constituda dentro

    de um determinado universo de tempo, podemos afirmar que se baseia sobreas normas morais dos indivduos, portanto, a cincia da moral. Neste sentido,tica constitui-se de um saber ntimo, que busca aprofundar seus estudosnos princpios gerais que orientam a conduta de uma sociedade ou grupo,objetivando alcanar o bem comum, ocupando-se da coletividade. Seu papel

    o de conciliar os interesses individuais com os interesses sociais; estabeleceprincpios gerais e, como tal, no pode oferecer regras de condutas para cadaao que execute. Neste sentido, orientadora, mesmo quando expressa pelapalavra no, ou seja, ela normativa.

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    30 Conceitos fundamentais

    Atualmente, podemos pensar em ticas e no apenas um uma tica, pois

    vivemos num mundo multidimensional, onde somos multifacetados quanto

    aos vrios princpios ticos.

    tica, por sua amplitude, podemos agrupar nas seguintes definies:

    a) Pesquisa da natureza moral do ser humano com a finalidade de sedescobrir quais so suas responsabilidades e quais os meios paracumpri-las.

    b) tica, enquanto cincia ou filosofia da moral, uma reflexo que discute,problematiza e interpreta o significado dos valores morais.

    c) tica a busca pela verdade e o que o homem deve fazer luz desta

    verdade descoberta

    d) tica refere-se a princpios gerais que orientam a conduta das pessoascom o objetivo de alcanar o bem comum.

    e) tica a cincia da conduta humana, que visa a uma atuao socialresponsvel.

    J o sujeito moral construdo pela vida intersubjetiva e social, precisandoser educado para os valores morais e para as virtudes. Este sujeito age conformeseu entendimento sobre o que o bem e o mal, o certo e o errado. Por outrolado, o direito trata-se davia jurdica, fundamenta-se em regras sociais positivas,

    expressas num cdigo, zelado pelo Estado. Neste sentido, o direito usa a leicomo instrumento coercitivo exterior para determinar quais aes so boas equais so ms.

    No quadro a seguir, apresenta-se a diferena entre moral, tica e direito.MORAL

    Lida com o CertoX Errado

    TICALida com o Certo

    X Errado

    DIREITOLida com o Certo

    X Errado

    Modo pessoal de agir Modo social de agir Modo legal de agir

    Normas e regraspessoais

    Normas e regras sociais Normas e regras legais

    Individual Grupal e/ou coletivo Estatal e jurdico

    prtica, ao terica, avaliativa aplicativo

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    31Conceitos fundamentais

    MORALLida com o Certo

    X Errado

    TICALida com o Certo

    X Errado

    DIREITOLida com o Certo

    X Errado

    adquirida e formadaao longo da vida, porexperincias...

    Implica adeso ntima,j que a mesmaexiste previamente nasociedade, religio,cultura, profisso, implicaadeso ntima.

    imposta aos cidados;exige cumprimento,pois as leis j estoestabelecidas em cdigos

    jurdicos (civil, penal).Implica obedincia.

    guiada pelaconscincia.

    Guiada pela cultura Guiada pelas instituiespolticas

    Orienta e pune. Orientadora Punitiva

    Matria-prima da tica Constri-se a partirdo consenso de vriasmorais.

    Estatiza (torna lei)um pensamento geralou suprime a lei pelamudana de costumes

    Preventiva e saneadora Preventiva Corretiva e saneadora

    Quadro 2 Diferena entre moral, tica e direito.

    Fonte: elaborado pelo professor Dr. Honor Neto.

    2.2 ValorComo determinar o que bom ou ruim, certo ou errado? Voc saberia dizer:

    certo roubar para matar a fome? Incentivar o desarmamento no Brasil umadeciso correta ou errada para o pas? Instituir a pena de morte em nosso pas bom ou ruim para nossa sociedade? Estas so questes que exigem pensar sobre

    juzos de valores. Envolve argumentar contra ou a favor, posicionar-se frente adebates sociais, crenas, princpios e valores.

    Outro conceito relevante para nosso estudo refere-se ao termo valor. ParaSantos, atualmente a crise de valores em nossa sociedade atinge todas as reas

    do saber humano. Segundo a autora, enquanto, no sculo XVIII, observou-seuma ruptura entre a casa e o local de trabalho, atualmente a moral familiar que se aparta da moral do trabalho (SANOS, 2003, p.98). Assim, segundo aautora, nas empresas o homem ter flexibilizar-se moralmente:

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    32 Conceitos fundamentais

    Ele ter que construir um sistema aberto e habitar a desordem,mostrando a capacidade de administrar os riscos. O termo emprego

    substitudo por projetos temporrios e o remanejamento dopessoal constante, resultando em convivncia efmera (SANTOS,2003, p.98).

    Boff (2009) tambm aponta que atualmente vivemos uma grave crise devalores. Conforme este autor, difcil para a grande maioria da humanidade

    saber o que correto e o que no (BOFF, 2009, p.27). Para Boff:

    Esse obscurecimento do horizonte tico redunda numa inseguranae numa permanente tenso nas relaes sociais que tendem a seorganizar mais ao redor de interesses particulares do que ao redordo direito e da justia. (BOFF, 2009, p.27)

    O autor assinala que a crise de valores agravada pela lgica da competio

    estabelecida pelo mercado que gera excluso e a falta de cooperao entre osseres humanos. Boff alerta para o que constatou Eric Hobsbawm, na obra Erados Extremos: houve mais mudanas na humanidade nos ltimos 50 anos doque desde a Idade Mdia (BOFF, 2009, p.27). Com todas as mudanas queocorreram em nosso planeta, em que se discute desde clonagem de animais ehumana, uso tico da internet no ambiente empresarial, pedofilia, terrorismo,

    homossexualismo, entre outros temas atuais, como pensar em um discursonico sobre a tica?

    Neste sentido, Boff identifica duas vertentes que orientam a tica e a moralnas sociedades, at a atualidade: as religies e a razo. Para Boff (2009), asreligies continuam sendo os nichos de valor privilegiados para a maioria dahumanidade (BOFF, 2009, p.28). J a razo, para este autor, tentou estatuircdigos ticos universalmente vlidos:

    A fundamentao racional da tica e da moral (tica autnoma)

    representou um esforo admirvel do pensamento humano desdeos mestres gregos Scrates, Plato, Aristteles, Santo Agostinho,

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    33Conceitos fundamentais

    Toms de Aquino, Immanuel Kant at os modernos Henri Bergson,Martin Heidegger, Hans Jonas, Jrgen Habermas, Enrique Dussel

    e, entre ns, Henrique de Lima Vaz e Manfredo Oliveira. (BOFF,2009, p.29)

    Nesta perspectiva, Boff assinala que a crise cria a oportunidade de irmos srazes da tica e nos convida a descermos quela instncia na qual se formamcontinuamente valores (BOFF, 2009, p.29).

    Boff (2009, p.30) assinala que a razo, no o primeiro nem o ltimo

    momento da existncia. Na perspectiva apontada por este autor, da razoemerge a afetividade. Assim, a razo abre-se para o esprito, que omomento em que a conscincia se sente parte de um todo e que culmina nacontemplao e na espiritualidade (BOFF, 2009, p.30). Neste sentido, Boff

    destaca que a experincia de base no : penso, logo existo, mas sinto,logo existo. Na raiz de tudo no est a razo (logos), mas a paixo (pathos)(BOFF, 2009, p.30).

    Boff aponta que pela paixo (pathos), que captamos o valor das coisas.

    Assim, segundo este autor, o valor o carter precioso dos seres, aquilo que ostorna dignos de serem e os faz apetecveis. S quando nos apaixonamos vivemos

    valores. E por valores que nos movemos e somos (BOFF, 2009, p.30).

    Para Nelson Saldanha (1998, p.41) todos os valores so polticos ou nascem dapoliticidade. Para este autor, a politicidade como um conjunto de concepese de estruturas institucionais que circundam o ser humano e que do sentidoao seu comportamento. Neste sentido, o autor assinala que, de certo modo, as

    religies fazem parte deste conjunto, com o que os valores que tm raiz religiosa

    se fundam tambm naquelas estruturas (SALDANHA, 1998, p.42). Assim,para este autor:

    a interpretao entre religio e moral se revela quando observamoso carter ao mesmo tempo religioso e tico de certas noes ascese,pecado, culpa, fraternidade, comunidade. A referncia a algo sagradoque penetra tais noes e lhes d fundamento correlata de seucunho normativo e vinculante. (SALDANHA,1998, p.42)

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    34 Conceitos fundamentais

    Para Stephen Robbins (2004) os valores possuem um elemento de

    julgamento baseado naquilo que o indivduo acredita ser correto, bom ou

    desejvel (ROBBINS, 2004, p.16). Para este autor os valores so identificadosnos termos da importncia relativa que atribumos a valores como liberdade,prazer, autorrespeito, honestidade, obedincia e justia (ROBBINS, 2004,p.16). Robbins (2004) destaca a relevncia em compreender que os valores

    individuais variam entre si, desta forma esta constatao nos ajuda a entender,explicar e prever certos comportamentos dos indivduos dentro de umaorganizao.

    Vejamos no quadro a seguir, alguns tipos de valores:

    Valores Caractersticas

    existenciais

    So aqueles que tm uma relao com a nossa permanncia comoseres humanos e tambm com a possibilidade da vida no planeta Terra.Representam a dignidade e a igualdade entre os seres humanos. Podemser vitais ou econmicos.

    estticosEstabelecem relao com a subjetividade e a manifestao do eu doindivduo na construo de sua personalidade e de seu autoconceito.

    Os valores estticos podem ser sensoriais ou artsticos.

    intelectuais

    Podem ser cientficos ou culturais. Demonstram todo o potencial doser humano em relao aos meios de transformao e de trabalho,produzindo a cultura, ou seja, eles compem a capacidade do serhumano de produzir sua prpria forma de sobrevivncia. Essa tarefa deconstruo por meio do trabalho e da tcnica produz o conhecimentocientfico.

    moraisPodem ser ticos ou sociais e so ligados formao do indivduo e dacomunidade, pois envolvem os princpios morais, os contextos sociais e

    as necessidades do indivduo como membro de um grupo social.

    religiosos

    Esses valores esto relacionados com as formas de crenas, f eesperana que temos para que possamos nos realizar como sereshumanos medida que realizamos os princpios de Deus na Terra. Osvalores religiosos podem ser divinos ou profanos.

    Quadro 3 Tipos de valores.Fonte: MATTOS, Airton Pozo. tica e responsabilidade profissional, 2007, p.14.

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    35Conceitos fundamentais

    Reflexo

    Pesquise em uma organizao os seus princpios ou valores e verifique comose posiciona em relao tica e responsabilidade social e ambiental.

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    tica e profissoMaria Claudia Rodrigues

    Neste captulo tratado o tema tica aplicado ao campo profissional. rata-se,tambm, da atuao tica e da responsabilidade do indivduo em relao suaprofisso e ao ambiente de trabalho. Espera-se que no final deste captulo o aluno

    compreenda os desafios da construo de um sujeito tico, responsvel para coma sua classe profissional, comunidade, clientes e ambiente de trabalho.

    3.1 A tica e a responsabilidade profissionalPara Morin (2011, p.19) ser sujeito se autoafirmar situando-se no centro

    do seu mundo, o que literalmente expresso pela noo de egocentrismo. Para

    este autor, o sujeito carrega consigo o princpio da incluso e o da excluso,enquanto um comanda o altrusmo, o outro comanda o egosmo. Neste sentido,segundo Morin, ser sujeito associar egosmo e altrusmo.

    Assim, para Morin:

    todo olhar sobre a tica deve perceber que o ato moral um atoindividual de religao; religao com um outro, religao com uma

    comunidade, religao com uma sociedade e, no limite, religaocom a espcie humana. (MORIN, 2011, p.21-22)

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    38 tica e profisso

    Com a evoluo dos estudos da tica, expandiu-se devido s mais diversas

    interpelaes e comeou a atuar em diferentes reas, como, por exemplo, na

    rea mdica, na rea da economia, na poltica, na comunicao, entre outras.

    Desta forma, passou a ser conhecida como ticas aplicadas: biotica, tica da

    informao, tica econmica e empresarial, tica dos negcios, tica da cincia

    e da tecnologia e tica das profisses.

    A expresso profisso significa ato ou efeito de professar1, ou, ainda,

    atividade ou ocupao especializada, da qual se podem tirar os meios de

    subsistncias2.

    Para Lopes de S, na atualidade, o conceito de profisso significa: trabalhoque se pratica com habitualidade a servio de terceiros, ou seja, prtica constante

    de um ofcio (LOPES DE S, 2001, p.130).

    Ao escolher uma profisso, um conjunto de deveres profissionais passa a fazer

    parte da rotina deste profissional. Ao completar a sua formao profissional, o

    indivduo faz um juramento e compromete-se com sua categoria profissional

    onde ir ingressar. Conforme Glock e Goldim, este ato caracteriza o aspecto

    moral da chamada tica profissional, esta adeso voluntria a um conjuntode regras estabelecidas como sendo as mais adequadas para o seu exerccio

    (GLOCK e GOLDIM, 2005, p.2).

    Para Antonio Lopes de S (2001) a profisso tem utilidade para o indivduo,

    e constitui-se de uma expresso social e moral. Na perspectiva deste autor a

    profisso como exerccio habitual de uma tarefa, a servio de outras pessoas,

    insere-se no complexo da sociedade como uma atividade especfica. Esta ao

    traz benefcios para quem pratica a profisso e para quem recebe os frutos

    do trabalho.

    Neste sentido, as relaes de trabalho devem conter uma conduta condizente

    com os princpios ticos da classe social a que pertence o profissional. Para Lopes

    1 FERREIRA, Aurlio Buarque de Holanda.| Miniaurlio:o minidicionrio da lngua portuguesa. Curitiba:Ed. Positivo, 2008.

    2 FERREIRA, Aurlio Buarque de Holanda.| Miniaurlio:o minidicionrio da lngua portuguesa. Curitiba:Ed. Positivo, 2008.

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    39tica e profisso

    de S (2001, p.137) o comportamento dos profissionais pode ser observado em

    diversas modalidades em que se processa, tais como:

    perante o conhecimento;

    perante o cliente;

    perante o colega;

    perante a classe;

    perante a sociedade;

    perante a ptria;

    perante a prpria humanidade como conceito global.

    3.2 tica aplicadaPara Antonio Lopes de S os deveres do profissional so todas as capacidades

    necessrias ou exigveis para o desempenho eficaz da profisso (S, 2001, p.148).Neste sentido, a tica profissional refere-se a algo mais amplo, enquanto a tica

    profissional aplicada a determinada profisso, como algo mais restrito (S,

    2001, p.148). Assim, podemos falar de uma tica aplicada contabilidade, ou gesto financeira. Segundo este autor, aps a escolha por uma profisso, inicia-se um compromisso entre o indivduo e o trabalho que se prope a realizar.al compromisso, essencial, est principalmente volvido para a produo com

    qualidade (S, 2001, p.149).

    O autor tambm aponta que o profissional tem o dever de conhecer a suaprofisso e a tarefa que ir realizar, e, alm de saber execut-la com qualidade,

    necessrio a prtica de uma conduta lastreada em valores. Assim, a escolhapela profisso envolve deveres: de conhecer a profisso (conhecimento); deverde executar a profisso de forma adequada (qualidade).

    Segundo este autor, aps a eleio de uma profisso, a pessoa se comprometecom todo um agregado de deveres ticos, pertinentes e compatveis com aescolha da tarefa a ser desempenhada (S, 2001, p.148). Assim, o autor apontaque se deve consultar a conscincia, para sabermos se a tarefa nos agrada e setemos condies de realiz-la. S assinala que no basta escolher a profisso,

    preciso estar estimulado a exercer as tarefas e identificar-se com a profissoescolhida. S destaca um trecho da vida de Mozart, para exemplificar a eleio

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    40 tica e profisso

    de uma tarefa habitual, que para este autor deve ser natural, precisa fluir como

    algo que traz bem-estar, e no uma obrigao imposta que se faz pesada e da

    qual se deseja logo se livrar (S, 2001, p.150). No quadro a seguir, destaca-seum trecho que ilustra o pensamento de S (2001), em relao capacidade deescolha:

    Capacidade de escolha

    Esta saga didtica, sobre a capacidade de escolha, atribui-se vida de Mozart e de umaluno que lhe perguntava sempre o que deveria compor, ao que o mestre respondia:

    preciso esperar. Um dia, o aluno, impaciente, retrucou afirmando que ele, Mozart, j

    compunha aos cinco anos de idade, ao que o gnio da msica respondeu: Mas eu nuncaperguntei a ningum sobre o que deveria compor.

    Quadro 4 Capacidade de escolha.Fonte: S, Antonio Lopes de. tica profissional, 2001, p.150.

    O autor assinala: Quando a seleo da tarefa est de acordo com umaconscincia identificada com a escolha, dificilmente ocorrem as transgressesticas, porque estas seriam violaes da vontade, contrrias ao prprio ser

    (S, 2001, p.150).Para este autor, o dever da execuo de tarefas tambm deve estar atrelado s

    virtudes exigveis, que envolvem as virtudes do ser aplicadas ao relacionamentocom pessoas, com a classe, com o Estado, com a sociedade, com a ptria (S,2001, p.153).

    Este autor assinala como virtudes bsicas de um profissional o zelo, ahonestidade, o sigilo e a competncia. Complementares a estas virtudes esto:a virtude de orientao e assistncia ao cliente, que deve ser realizada de forma

    tica; a virtude do coleguismo, que se fundamenta na fraternidade profissional,baseada nos preceitos da moral e do direito; a tica classista, que busca difundiro conhecimento, incluindo a atuao do profissional em funes de pesquisasde literatura, de magistrio, entre outras; a tica e remunerao; a tica daresposta.

    S tambm assinala o dever com o micro e o macrossocial, pois necessrioter uma viso de toda a sociedade que nos cerca:

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    41tica e profisso

    Quando a conscincia profissional se estrutura em um trgono,formado pelos amores profisso, classe e sociedade, nada

    existe a temer quanto ao sucesso da conduta humana; o dever passaa ser uma simples decorrncia das convices plantadas nas reasrecnditas do ser, ali depositadas pelas formaes educacionaissadias. (S, 2001, p.159)

    Conforme o autor, os deveres impem-se e passam a governar a ao

    do indivduo perante seu cliente, seu grupo, seus colegas, a sociedade, o

    Estado e especialmente perante sua conformao metal e espiritual (S,2001, p.148).

    3.3 O profissional no ambiente de trabalhoPara S, o profissional, como empregado, tem sua tica voltada ao

    compromisso com as finalidades empresariais ou institucionais especficas, em

    geral, e, em especial, dentro dos limites de sua responsabilidade e autoridade

    (2001, p.168).

    Conforme Srour (2000), citando Max Weber, existem duas teorias ticas: a

    tica da convico e a tica da responsabilidade.

    A tica da convico, tambm entendida como deontologia, diz respeito ao

    cumprimento de obrigaes. Segundo Srour, esta uma teoria em que a tica

    se pauta em valores e normas previamente estabelecidos, cujo efeito primeiro

    consiste em moldar as aes que devero ser praticadas (SROUR, 2000, p.51).

    Segundo este autor, a deontologia, divide-se em duas vertentes, a do princpioe a da esperana:

    A do princpio, que se atm rigorosamente s normas estabelecidas,num deliberado desinteresse pelas circunstncias, e cuja mxima

    sentencia: Respeite as regras haja o que houver. A da esperana,que se ancora em ideais, moldada por uma f capaz de mover

    montanhas, e cuja mxima preconiza: Os sonhos antes de tudo.(SROUR, 2000, p.51)

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    Conforme o autor, essas duas vertentes correspondem a modulaesde deveres, preceitos, dogmas ou mandamentos introjetados pelos agentes

    ao longo dos anos (SROUR, 2000, p.51). Neste sentido, o autor assinala

    que, embora as obrigaes se imponham aos agentes, estes no perdem seu

    livre-arbtrio e, portanto, podem escolher seguir outros caminhos, diferentes

    daqueles dos imperativos morais. Por outro lado, o autor destaca que os

    cdigos morais traduzem valores, normas e vo sendo aplicados pelos agentes

    a situaes concretas (...), que servem como manuais de instrues a seguir

    nas mais diversas ocorrncias (SROUR, 2000, p.51).Vejamos, no quadro a seguir, o exemplo dado por este autor para a tica da

    convico:

    O cnsul portugus Aristides de Souza Mendes, lotado no porto francs de Bordeaux,preferiu ter compaixo a obedecer cegamente a seu governo e regeu seu comportamentopela tica da convico. Priorizou a seus riscos e custos um valor em relao aooutro.Diante do avano do exrcito alemo, em junho de 1940, salvou a vida de 30 mil

    pessoas, entre as quais 10 mil judeus, ao emitir vistos de entrada em Portugal aqualquer um que pedisse, num ritmo frentico.

    Quadro 5 tica da convico.Fonte: SROUR, 2000, p.51.

    J a tica da responsabilidade, conhecida como teleologia, diz respeito a

    nossa responsabilidade por tudo que fazemos. Neste sentido, Srour assinala

    que os agentes avaliam os efeitos previsveis que uma nao produz; contam

    obter resultados positivos para a coletividade; e ampliam o leque de escolhas

    (SROUR, 2000, p.52). Nesta abordagem decises de ordem poltica e financeira

    so tomadas, a fim de evitar um mal maior para uma coletividade.

    No quadro a seguir, duas situaes em que se preconizou a tica da

    responsabilidade, destacada por Srour:

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    A) Diante da queda acentuada das receitas, um dos cenrios possveis o da fortereduo das despesas com o consequente corte de pessoal. O que fazer? Manter odispndio representado pela folha de pagamento e agravar a crise (talvez at pedirconcordata), ou diminuir o desembolso e devolver empresa o flego necessrio paratentar ficar tona na tormenta? Vale dizer, cabe ou no sacrificar alguns tripulantes

    para tentar assegurar sobrevida ao resto da tripulao e ao prprio navio? E o que maisinteressa do ponto de vista social? Uma empresa que feche as portas ou uma empresaque gere riquezas?

    B) Acossada por uma dvida de cerca de 250 milhes de dlares, a Arisco uma dasmais importantes empresas de alimentos do pas, sediada em Goinia, vendeu fbricasvelhas e terrenos. Desfez a sociedade com a Visagis (dona da Visconti) e, com ela,

    sua participao na Fritex. Interrompeu um acordo de distribuio dos inseticidas SBP,mantido com a Clorox, e reduziu o nmero de funcionrios de 8.200 para 5.800.

    s vsperas de alcanar seu primeiro bilho de reais em vendas anuais, a Arisco estavase preparando para acolher um novo scio e virtual controlador. Por isso teve de aliviaro excesso de carga e ficar enxuta.Em fevereiro de 2000, a empresa foi comprada pelo grupo norte-americano Bestfoods,um dos maiores do mundo no setor de alimentos, por US$ 490 milhes. A Bestfoodstambm assumiu o passivo de US$ 262 milhes.

    Ao transferir o controle para uma companhia mundial, a famlia Queiroz explicou que aBestfoods poderia dar sustentao aos planos de expanso da Arisco, alm de guardar

    simetria e coincidncia de mtodos em relao estratgia empresarial adotada pelogrupo goiano.

    Quadro 6 tica da responsabilidade.Fonte: SROUR, 2000, p.51.

    As duas situaes descritas referem-se tica da responsabilidade, que,segundo Srour (2000, p.54), busca analisar as situaes concretas e antecipaas repercusses que uma deciso pode provocar em relao coletividade.

    Conforme o autor, a tica da responsabilidade divide-se em utilitarista e dafinalidade.

    Segundo Srour (2000, p.54), a vertente utilitarista exige que as aes

    produzam o mximo de bem para o maior nmero (...), que possam combinaro critrio da eficcia com a maior abrangncia populacional (equidade).

    J na vertente da finalidade, segundo este autor, trata de determinar que a

    bondade dos fins justifica as aes empreendidas e dispe que todas as medidas

    necessrias sero tomadas (SROUR, 2000, p.54).

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    No quadro a seguir, apresentam-se as duas teorias assinaladas por Srour:

    tica da convico tica da responsabilidadeDecises decorrem da aplicao de umatbua de valores preestabelecidos.

    Decises decorrem de deliberao, emfuno de uma anlise das circunstncias.

    Mxima: Faa algo porque ummandamento.

    Mxima: Somos responsveis por aquiloque nossos atos provocam.

    Vertente de princpio: Respeite asregras haja o que houver.

    Vertente da finalidade: Alcance osobjetivos custe o que custar.

    Vertente da esperana: Os sonhos antes

    de tudo.

    Vertente utilitarista: Faa o maior bem

    para mais gente.

    Quadro 7 tica da convico e da responsabilidade.Fonte: SROUR, 2000, p.55.

    A partir destas duas teorias, a tica da convico e a da responsabilidadefundamentam-se nas tomadas de decises. Vejamos situaes destacadas por

    Srour (2000), na perspectiva destas duas teorias.

    No quadro a seguir, apresentamos alguns exemplos assinalados por Srour(2000), em que a tomada de deciso se d a partir da tica da convico:

    Como sou me, devo cuidar dos meus filhos e tenho de dedicar-me famlia.Como sou brasileiro, sinto-me obrigado a amar a minha ptria e defend-la se ela foragredida.Como sou empregado, tenho de vestir a camisa da empresa.Como sou aluno, cumpre-me respeitar os meus mestres e seguir as orientaes de minhaescola.Como tenho compromisso marcado, no posso me atrasar.

    Quadro 8 tica da convico.Fonte: SROUR, 2000, p.58.

    Para Srour, os imperativos na teoria da convico referem-se hiptese de

    que uma autoridade superior avalizou tais preceitos, no que tange s revelaesdivinas, sagradas escrituras, ensinamentos da Igreja ou dos mais velhos, costumesimemoriais que definem o que apropriado fazer e o que no apropriado fazer,credos organizacionais (SROUR, 2000, p.58).

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    Por outro lado, na perspectiva de quem se orienta por uma tica da

    responsabilidade, Srour (2000) assinala algumas situaes comparativas com a

    tica da convico, conforme o quadro 9, a seguir:

    Como tenho um compromisso marcado, vale a pena no me atrasar; caso contrrio,irei comprometer a atividade que me confiaram, posso prejudicar a firma que meemprega e isso pode afetar minha carreira.

    Como sou aluno, sensato no perturbar as aulas, concentrar-me nos estudose respeitar as regras vigentes; caso contrrio, isso vai atrapalhar os outros e, porextenso, pode me criar problemas.

    Como sou motorista, de interesse meu e dos demais que existam regras detrnsito e que sejam obedecidas, para circular em paz, evitar acidentes e no correr

    riscos de vida. Como sou empregado, importante me empenhar com seriedade para no atrapalhar oservio dos outros, comprometer os resultados a serem alcanados e minha promoo,ou provocar sem pensar minha prpria demisso.

    Como sou brasileiro, faz sentido ser patriota, principalmente se minha conduta pudercontribuir para o pas e me fizer sentir fazendo parte da mesma identidadecom meusconterrneos.

    Quadro 9 tica da responsabilidade.Fonte: SROUR, 2000, p.59.

    3.4 Cdigos de tica profissionalEm nossa sociedade existem diversos cdigos de tica profissional, que

    servem para reger um grupo social. Seja de administradores, mdicos, jornalistas,arquitetos, engenheiros, funcionrios pblicos, entre outros. Neste sentido, possvel falarmos de uma moral profissional na medida em que ocorrem relaesentre os profissionais de hierarquias diferentes (dirigentes e subalternos) ou

    de mesmas hierarquias. Assim, necessrio um cdigo de tica que reja umaprofisso.

    Os cdigos de tica profissionais so organizados pelos Conselhos Regionais

    Profissionais que estabelecem seus prprios cdigos. No caso de profissionaisque trabalham como empregados, estes devem seguir tanto seus cdigos de ticaprofissional regional como o cdigo de tica da empresa em que atuam.

    A seguir, apresenta-se o cdigo de tica do profissional administrador deempresas.

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    Cdigo de tica Profissional do Administrador3

    (Aprovado pela Resoluo Normativa CFA n. 353, de 9 de abril de 2008)

    PREMBULO

    I De forma ampla a tica definida como a explicitao terica do fundamento

    ltimo do agir humano na busca do bem comum e da realizao individual.

    II O exerccio da profisso de administrador implica compromisso moralcom o indivduo, cliente, empregador, organizao e com a sociedade, impondo

    deveres e responsabilidades indelegveis.

    III O Cdigo de tica Profissional do Administrador (CEPA) o guiaorientador e estimulador de novos comportamentos e est fundamentado em um

    conceito de tica direcionado para o desenvolvimento, servindo simultaneamente deestmulo e parmetro para que o administrador amplie sua capacidade de pensar,visualize seu papel e torne sua ao mais eficaz diante da sociedade.

    CAPTULO I DOS DEVERES

    Art. 1 So deveres do administrador:

    I exercer a profisso com zelo, diligncia e honestidade, defendendo os direitos,

    bens e interesse de clientes, instituies e sociedades sem abdicar de sua dignidade,prerrogativas e independncia profissional, atuando como empregado, funcionriopblico ou profissional liberal;

    II manter sigilo sobre tudo o que souber em funo de sua atividadeprofissional;

    III conservar independncia na orientao tcnica de servios e em rgosque lhe forem confiados;

    3 Disponvel em: http://www.cfa.org.br/arquivos/selecionaitem.php?p=selecionaitem.|

    php&coditem=63, acessado em: 20/6/2011, s 19h47in. Aprovado na 5 reunio plenria do CFA,realizada no dia 4 de abril de 2008. Adm. Roberto Carvalho Cardoso presidente do CFA CRA/SP n. 097.

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    47tica e profisso

    IV comunicar ao cliente, sempre com antecedncia e por escrito, sobre ascircunstncias de interesse para seus negcios, sugerindo, tanto quanto possvel,

    as melhores solues e apontando alternativas;

    V informar e orientar o cliente a respeito da situao real da empresa a queserve;

    VI renunciar, demitir-se ou ser dispensado do posto, cargo ou emprego, se,por qualquer forma, tomar conhecimento de que o cliente manifestou desconfianapara com o seu trabalho, hiptese em que dever solicitar substituto;

    VII evitar declaraes pblicas sobre os motivos de seu desligamento, desde

    que do silncio no lhe resultem prejuzo, desprestgio ou interpretao errneaquanto sua reputao;

    VIII esclarecer o cliente sobre a funo social da organizao e a necessidadede preservao do meio ambiente;

    IX manifestar, em tempo hbil e por escrito, a existncia de seu impedimentoou incompatibilidade para o exerccio da profisso, formulando, em caso de dvida,consulta ao CRA no qual esteja registrado;

    X aos profissionais envolvidos no processo de formao do administrador,cumpre informar, orientar e esclarecer sobre os princpios e normas contidas nesteCdigo.

    XI cumprir fiel e integralmente as obrigaes e os compromissos assumidos,relativos ao exerccio profissional;

    XII manter elevados o prestgio e a dignidade da profisso.

    CAPTULO II DAS PROIBIES

    Art. 2 vedado ao administrador:

    I anunciar-se com excesso de qualificativos, admitida a indicao de ttulos,cargos e especializaes;

    II sugerir, solicitar, provocar ou induzir divulgao de textos de publicidadeque resultem em propaganda pessoal de seu nome, mritos ou atividades, salvo seem exerccio de qualquer cargo ou misso, em nome da classe, da profisso ou de

    entidades ou rgos pblicos;

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    III permitir a utilizao de seu nome e de seu registro por qualquer instituio

    pblica ou privada onde no exera pessoal ou efetivamente funo inerente

    profisso;

    IV facilitar, por qualquer modo, o exerccio da profisso a terceiros, no

    habilitados ou impedidos;

    V assinar trabalhos ou quaisquer documentos executados por terceiros ouelaborados por leigos alheios sua orientao, superviso e fiscalizao;

    VI organizar ou manter sociedade profissional sob forma desautorizadapor lei;

    VII exercer a profisso quando impedido por deciso administrativa doSistema CFA/CRAs transitada em julgado;

    VIII afastar-se de suas atividades profissionais, mesmo temporariamente,sem razo fundamentada e sem notificao prvia ao cliente ou empregador;

    IX contribuir para a realizao de ato contrrio lei ou destinado a fraud-

    la, ou praticar, no exerccio da profisso, ato legalmente definido como crime oucontraveno;

    X estabelecer negociao ou entendimento com a parte adversa de seu cliente,

    sem sua autorizao ou conhecimento;

    XI recusar-se prestao de contas, bens, numerrios, que lhes sejamconfiados em razo do cargo, emprego, funo ou profisso, assim como sonegar,

    adulterar ou deturpar informaes, em proveito prprio, em prejuzo de clientes,de seu empregador ou da sociedade;

    XII revelar sigilo profissional, somente admitido quando resultar em prejuzoao cliente ou coletividade, ou por determinao judicial;

    XIII deixar de cumprir, sem justificativa, as normas emanadas dos ConselhosFederal e Regionais de Administrao, bem como atender s suas requisies

    administrativas, intimaes ou notificaes, no prazo determinado;

    XIV pleitear, para si ou para outrem, emprego, cargo ou funo que estejasendo ocupado por colega, bem como praticar outros atos de concorrncia

    desleal;

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    49tica e profisso

    XV obstar ou dificultar as aes fiscalizadoras do Conselho Regional de

    Administrao;

    XVI usar de artifcios ou expedientes enganosos para obteno de vantagensindevidas, ganhos marginais ou conquista de contratos;

    XVII prejudicar, por meio de atos ou omisses, declaraes, aes ouatitudes, colegas de profisso, membros dirigentes ou associados das entidadesrepresentativas da categoria.

    CAPTULO III DOS DIREITOSArt. 3 So direitos do administrador:

    I exercer a profisso independentemente de questes religiosas, raa,

    sexo, nacionalidade, cor, idade, condio social ou de qualquer natureza

    discriminatria;

    II apontar falhas nos regulamentos e normas das instituies, quando as

    julgar indignas do exerccio profissional ou prejudiciais ao cliente, devendo, nesse

    caso, dirigir-se aos rgos competentes, em particular ao Tribunal Regional detica dos Administradores e ao Conselho Regional de Administrao;

    III exigir justa remunerao por seu trabalho, a qual corresponder s

    responsabilidades assumidas a seu tempo de servio dedicado, sendo-lhe livre

    firmar acordos sobre salrios, velando, no entanto, pelo seu justo valor;

    IV recusar-se a exercer a profisso em instituio pblica ou privada onde as

    condies de trabalho sejam degradantes sua pessoa, profisso e classe;

    V participar de eventos promovidos pelas entidades de classe, sob suas

    expensas ou quando subvencionados os custos referentes ao acontecimento;

    VI a competio honesta no mercado de trabalho, a proteo da propriedade

    intelectual sobre sua criao, o exerccio de atividades condizentes com sua

    capacidade, experincia e especializao.

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    CAPTULO IV DOS HONORRIOS PROFISSIONAIS

    Art. 4 Os honorrios e salrios do administrador devero ser fixados, porescrito, antes do incio do trabalho a ser realizado, levando-se em considerao,entre outros, os seguintes elementos:

    I vulto, dificuldade, complexidade, presso de tempo e relevncia dos trabalhosa executar;

    II possibilidade de ficar impedido ou proibido de realizar outros trabalhosparalelos;

    III as vantagens de que, do trabalho, se beneficiar o cliente;IV a forma e as condies de reajuste;

    V o fato de se tratar de locomoo na prpria cidade ou para outras cidadesdo Estado ou do pas;

    VI sua competncia e renome profissional;

    VII a menor ou maior oferta de trabalho no mercado em que estivercompetindo;

    VIII obedincia s tabelas de honorrios que, a qualquer tempo, venhama ser baixadas, pelos respectivos Conselhos Regionais de Administrao, comomnimos desejveis de remunerao.

    Art. 5 vedado ao administrador:

    I receber remunerao vil ou extorsiva pela prestao de servios;

    II deixar de se conduzir com moderao na fixao de seus honorrios,devendo considerar as limitaes econmico-financeiras do cliente;

    III oferecer ou disputar servios profissionais, mediante aviltamento dehonorrios ou em concorrncia desleal.

    CAPTULO V DOS DEVERES ESPECIAIS EM RELAO AOS COLEGAS

    Art. 6 O administrador dever ter para com seus colegas a considerao, oapreo, o respeito mtuo e a solidariedade que fortaleam a harmonia e o bomconceito da classe.

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    Art. 7 Com relao aos colegas, o administrador dever:

    I evitar fazer referncias prejudiciais ou de qualquer modo desabonadoras;II recusar cargo, emprego ou funo, para substituir colega que dele tenha

    se afastado ou desistido, visando preservao da dignidade ou aos interesses daprofisso ou da classe;

    III evitar emitir pronunciamentos desabonadores sobre servio profissionalentregue a colega;

    IV evitar desentendimentos com colegas, usando, sempre que necessrio, o

    rgo de classe para dirimir dvidas e solucionar pendncias;V tratar com urbanidade e respeito os colegas representantes dos rgos de

    classe, quando no exerccio de suas funes, fornecendo informaes e facilitando

    o seu desempenho;

    VI na condio de representante dos rgos de classe, tratar com respeito eurbanidade os colegas administradores, investidos ou no de cargos nas entidades

    representativas da categoria, no se valendo dos cargos ou funes ocupados paraprejudicar ou denegrir a imagem dos colegas, no os levando humilhao ouexecrao;

    VII auxiliar a fiscalizao do exerccio profissional e zelar pelo cumprimentodo CEPA, comunicando, com discrio e fundamentadamente aos rgoscompetentes, as infraes de que tiver cincia.

    Art. 8 O administrador poder recorrer arbitragem do Conselho Regional

    de Administrao nos casos de divergncia de ordem profissional com colegas,quando for impossvel a conciliao de interesses.

    CAPTULO VI DOS DEVERES ESPECIAIS EM RELAO CLASSE

    Art. 9 Ao administrador caber observar as seguintes normas com relao

    classe:

    I prestigiar as entidades de classe, propugnando pela defesa da dignidade e

    dos direitos profissionais, a harmonia e a coeso da categoria;

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    II apoiar as iniciativas e os movimentos legtimos de defesa dos interesses da

    classe, participando efetivamente de seus rgos representativos, quando solicitado

    ou eleito;

    III aceitar e desempenhar, com zelo e eficincia, quaisquer cargos ou funes,

    nas entidades de classe, justificando sua recusa quando, em caso extremo, achar-seimpossibilitado de servi-las;

    IV servir-se de posio, cargo ou funo que desempenhe nos rgos de classe,

    em benefcio exclusivo da classe;

    V difundir e aprimorar a Administrao como cincia e como profisso;

    VI cumprir com suas obrigaes junto s entidades de classe s quais seassociou, inclusive no que se refere ao pagamento de contribuies, taxas eemolumentos legalmente estabelecidos;

    VII acatar e respeitar as deliberaes dos Conselhos Federal e Regional deAdministrao.

    CAPTULO VII DAS INFRAES DISCIPLINARESArt. 10 Constituem infraes disciplinares sujeitas s penalidades previstas no

    Regulamento do Processo tico do Sistema CFA/CRAs, aprovado por ResoluoNormativa do Conselho Federal de Administrao, alm das elencadas abaixo, todoato cometido pelo profissional que atente contra os princpios ticos, descumpra

    os deveres do ofcio, pratique condutas expressamente vedadas ou lese direitosreconhecidos de outrem:

    I praticar atos vedados pelo CEPA;II exercer a profisso quando impedido de faz-lo ou, por qualquer meio,

    facilitar o seu exerccio aos no registrados ou impedidos;

    III no cumprir, no prazo estabelecido, determinao de entidade da profissode Administrador ou autoridade dos Conselhos, em matria destes, depois deregularmente notificado;

    IV participar de instituio que, tendo por objeto a administrao, no esteja

    inscrita no Conselho Regional;

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    V fazer ou apresentar declarao, documento falso ou adulterado, perante

    as entidades da profisso de administrador;

    VI tratar outros profissionais ou profisses com desrespeito e descortesia,provocando confrontos desnecessrios ou comparaes prejudiciais;

    VII prejudicar deliberadamente o trabalho, obra ou imagem de outroadministrador, ressalvadas as comunicaes de irregularidades aos rgoscompetentes;

    VIII descumprir voluntria e injustificadamente com os deveres do ofcio;

    IX usar de privilgio profissional ou faculdade decorrente de funo de formaabusiva, para fins discriminatrios ou para auferir vantagens pessoais;

    X prestar, de m-f, orientao, proposta, prescrio tcnica ou qualquer

    ato profissional que possa resultar em dano s pessoas, s organizaes ou a seusbens patrimoniais.

    CAPTULO VIII DAS DISPOSIES FINAIS

    Art. 11 Caber ao Conselho Federal de Administrao, ouvidos os ConselhosRegionais e a categoria dos profissionais de Administrao, promover a reviso ea atualizao do CEPA, sempre que se fizer necessrio.

    Art. 12 As regras processuais do processo tico sero disciplinadas emRegulamento prprio, no qual estaro previstas as sanes em razo de infraescometidas ao CEPA.

    Art. 13 O Conselho Federal e os Conselhos Regionais de Administrao

    mantero o Tribunal Superior e os Tribunais Regionais, respectivamente,objetivando o resguardo e a aplicao do CEPA.

    Art. 14 dever dos CRAs dar ampla divulgao ao CEPA.

    ReflexoA partir do contedo estudado neste captulo, argumente sobre o motivo

    pelo qual os profissionais devem seguir cdigos de tica profissional no exercciode suas funes.

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    tica e empresaMaria Claudia Rodrigues

    Neste captulo, trata-se de abordar a relao entre os indivduos e asorganizaes. Apresentam-se situaes em que o funcionrio deve tomar decisesque podem envolver dilemas ticos. Espera-se que o aluno compreenda que no

    existe apenas uma tica, ou um comportamento moral, mas que, dependendoda situao, possibilita refletir sobre o contexto individual e o coletivo, sobre o

    que certo ou errado, dentro de contextos especficos.

    4.1 Teoria tica e processos de decisoPara Robbins (2004), a partir da dcada de 1980, os movimentos que

    ocorreram no mundo dos negcios, por parte da competio globalizada,ocasionaram nas organizaes uma mudana de paradigma como, por exemplo,desfazer de polticas tradicionais baseadas na segurana no emprego, no tempono cargo ou na remunerao (ROBBINS, 2004, p.11).

    Segundo este autor, este no apenas um privilgio das empresas norte-americanas. ambm as empresas brasileiras buscam adequar-se s mudanas,em um mundo cada vez mais competitivo. O enxugamento de setores, atransferncia de operaes para pases que demandam custos menores, a venda

    ou fuso com empresas com capital financeiro mais saudvel, a substituio de

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    funcionrios fixos por temporrios fazem parte das operaes no mundo dos

    negcios.

    Na perspectiva de Robbins, essas mudanas resultaram em declnio da

    lealdade dos funcionrios, gerando um sentimento de no comprometimento

    com a empresa. Para este autor, o desafio dos gestores est em motivar

    os trabalhadores menos comprometidos e, ao mesmo tempo, manter a

    competitividade global das organizaes (ROBBINS, 2004, p.13).

    Nesta direo, outro desafio aponta