livro cadernos de desenho ciclovias

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ISBN: 978-85-906631-1-9

Monica Fiuza Gondim

CADERNOS DE DESENHO CICLOVIAS

2010

ISBN: 978-85-906631-1-9www.monicagondim.com.br

Autor e Editor Arq. Monica Fiuza Gondim Msc. Engenharia de Transportes COPPE Universidade Federal do Rio de Janeiro Ilustrao Monica Gondim e Camila Vale Capa Camila Vale Projeto Grfico Camila Vale e Eduardo Freire Editorao Eletrnica Eduardo Freire Breno Rocha Reviso Regina Fiuza e Jos Rosa Abreu Vale Digitalizao dos desenhos Lenidas Perdigo Patrcia Vidal Regina Falco Queiroz Renato Digenes

CADERNOS DE DESENHO CICLOVIASMonica Fiuza GondimISBN: 978-85-906631-1-9

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Aos meus pais, Efrem e Altair, que me ensinaram a usar os primeiros pedais. Aos tios queridos, Rita, Jos Raimundo e Lidinha, que me ajudaram a pedalar. A minha filha Ystatille que deu sentido ao meu caminho.

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Tive o grande prazer de escrever este livro cercada por um grupo especial de amigos a quem devo todo o encorajamento desta empreitada como Camila Vale, Ivete Abreu Vale, Geovana Cartaxo, Eduardo Freire, Thiago Veras, Alosio Ximenes, Sueli Rodrigues, Marcus Vinicius, Danielle C. Holanda, Mario Azevedo, Vnia Frank e Helio H. Holanda. Sou tambm muito grata aos colegas e alunos da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de Fortaleza - UNIFOR por todo o carinho e suporte durante o perodo de elaborao deste manual.

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Sumrio Introduo ................................................................................................................................................15 1. desenho sustentvel ...............................................................................................................................191.1 Desenho Sustentvel..................................................................................................................................... 21 1.1.1 Acessibilidade ........................................................................................................................................ 21 1.1.2 Negociabilidade...................................................................................................................................... 23 1.1.3 Eficincia de percurso ........................................................................................................................... 23 1.1.4 Segurana ............................................................................................................................................... 23 1.1.5 Conforto ambiental ................................................................................................................................ 24 1.1.6 Amenidades ........................................................................................................................................... 24

2. vIas e veculos .........................................................................................................................................272.1 Hierarquia viria ............................................................................................................................................ 28 2.1.1 Vias locais ............................................................................................................................................... 29 2.1.2 Vias coletoras ......................................................................................................................................... 29 2.1.3 Vias arteriais .......................................................................................................................................... 30 2.1.4 Vias expressas ....................................................................................................................................... 30 2.2 O desenho da via ............................................................................................................................................ 30 2.2.1 Pista de veculos ..................................................................................................................................... 31

12 | 132.2.2 Estacionamento ...................................................................................................................................... 32

3. Pedestres ................................................................................................................................................353.1 A calada......................................................................................................................................................... 36 3.1.1 Faixa de interao - FI............................................................................................................................ 37 3.1.2 Faixa de passeio - FP ............................................................................................................................. 39 3.1.3 Faixa de mobilirio urbano e arborizao - FMA ............................................................................... 39 3.1.4 Faixa de segurana - FS ....................................................................................................................... 45 3.1.5 Rampas de acesso de veculos ............................................................................................................. 45 3.1.6 Rampas de acesso de pedestres .......................................................................................................... 46 3.2 Ilhas e Canteiros Centrais ............................................................................................................................. 49

4. BIcIcletas ................................................................................................................................................514.1 Acidentes com bicicletas............................................................................................................................... 52 4.2 Infra-estrutura para a circulao de bicicletas ......................................................................................... 53 4.3 Dimenses ...................................................................................................................................................... 55

5. vIas cIclveIs ...........................................................................................................................................595.1 Sistema linear e sistema em rede............................................................................................................... 61 5.2 Condicionantes ............................................................................................................................................... 62

Sumrio5.2.1 A bicicleta e a classe da via ................................................................................................................... 63 5.2.2 A bicicleta e a operao da via ............................................................................................................. 63 5.2.3 A bicicleta, a interseo e a faixa de travessia de pedestres ........................................................... 64 5.2.4 A bicicleta e os pontos de parada de nibus ....................................................................................... 65 5.2.5 A bicicleta e os estacionamentos ......................................................................................................... 65

6. cIclofaIxa na PIsta ...................................................................................................................................696.1 Ciclofaixa na pista com percurso linear ...................................................................................................... 72 6.2 Ciclofaixa na pista com percurso em rede ................................................................................................. 74

7. cIclofaIxa na calada ...............................................................................................................................777.1 Ciclofaixa com percurso linear..................................................................................................................... 82 7.2 Ciclofaixa com percurso em rede ................................................................................................................ 85

8. cIclovIa

................................................................................................................................................89

8.1 Ciclovia com percurso linear e em rede ..................................................................................................... 95

9. cIclovIa, cIclofaIxa e faIxa comPartIlhada ...............................................................................................999.1 Percurso linear e em rede .......................................................................................................................... 100

10. referncIas BIBlIogrfIcas ..................................................................................................................103

INtroduo

16 | 17Toda forma de mobilidade comea com o movimento do pedestre, seja o trajeto da casa para o automvel, do escritrio para o estacionamento, do carro para a loja. Mesmo o motorista, o astronauta, o aviador, o maquinista e o marinheiro tm um pouco de pedestre. A caminhada a p est presente em todas as viagens, em percursos completos ou complementares aos deslocamentos por nibus, automvel, metr, barco ou trem. A bicicleta permite a realizao de viagens mais longas. Sendo um transporte barato, acessvel a toda a populao, oferecendo maior mobilidade a pessoas de baixa renda que precisam utilizar transporte pblico para suas necessidades de deslocamento. um transporte no poluente e que ocupa pequeno espao na rede viria. Tem ainda a caracterstica de ser um veculo apreciado para o esporte e o lazer. Apesar da importncia da locomoo a p ou de bicicleta, so meios de transporte ainda pouco considerados em muitas cidades. Por este motivo, os pedestres se deparam com caladas estreitas, com muitos obstculos e sem conservao. Quanto aos ciclistas, no tm local prprio para circular, precisando disputar com os veculos um espao na via, em meio ao barulho, tenso e fumaa. O planejamento urbano e de transportes, usualmente, prioriza a circulao de longo percurso realizada por transporte motorizado. Os projetos procuram otimizar a fluidez do trfego dos veculos, principalmente automveis, atravs do alargamento de ruas, construo de viadutos, rotatrias e estacionamentos subterrneos. Os manuais de transportes, por sua vez, apresentam todas as ferramentas para o dimensionamento de pistas, raios de converso e rtulas e quase nada sobre caladas e ciclovias. H tambm toda uma regulamentao para a sinalizao destinada ao trfego de veculos e colocao de seus acessrios. Em contraste, grande parte das cidades no apresenta infra-estrutura, nem regulamentos eficientes que garantam percursos confortveis e seguros para ciclistas e pedestres, dificultando e desestimulando estas modalidades de locomoo. A prioridade dada ao automvel permitiu a expanso das cidades estendendo a distncia a ser coberta pelos pedestres e ciclistas. Os projetos urbanos passaram a alargar as vias mediante o estreitamento das caladas, aumentando a exposio do pedestre aos riscos das travessias. A re-

Introduotirada de rvores dos passeios, para abrigar vagas dos automveis, reduziu o conforto ambiental dos transeuntes. Acrescente-se que os prejuzos ambientais decorrentes do uso do automvel foram repartidos por todos, usurios e no usurios. A partir da publicao do relatrio Buchanan (1968) e da ratificao da Agenda 21 em 1992, modifica-se a viso da relao entre transporte e cidade. O carro, como um dos principais responsveis pela emisso de gs carbnico no mundo, passa a ser considerado o maior vilo da poluio do ar e da degradao urbana. A locomoo feita a p ou de bicicleta, to negligenciada nos projetos urbanos e de transportes nas ltimas dcadas, torna-se objeto de interesse. Junto com o transporte pblico de passageiros so considerados prioridades, ganhando o ttulo de transporte sustentvel por serem mais equnimes, democrticos e menos poluentes. O planejamento da cidade passa a ser mais amigvel para pedestres e bicicletas, valorizando tambm nibus, bondes e metr. Contudo, para possibilitar e estimular a locomoo a p ou de bicicleta necessrio prover as cidades de uma infra-estrutura compatvel com as necessidades dos diferentes modais. Este manual tem o propsito de esboar alguns parmetros para que o desenho das vias possa dar suporte ao deslocamento de ciclistas, considerando as interfaces com os demais meios de transporte, principalmente pedestres. Para a conjugao das particularidades de locomoo de cada modalidade, este manual compatibiliza os diferentes parmetros tcnicos correlacionados a automveis, nibus, pedestres e bicicletas e prope solues para um desenho sustentvel. O propsito inserir ciclovias na rede urbana, minimizando conflitos, evitando acidentes e preservando a fluidez da circulao. As recomendaes podem ser teis tanto para a introduo de melhorias no sistema virio existente quanto para a abertura de novas vias. A pretenso colaborar para que o compartilhamento amigvel das vias por diferentes modais no permanea como uma teoria no aplicvel. O trabalho, nem de longe, esgota todas as possibilidades de interveno que seriam praticamente infindveis. Sua principal meta foi desenvolver desenhos que mostrem a possibilidade de introduo de uma infra-estrutura para bicicletas na rede viria tanto em pequenas como em grandes cidades.

Captulo 1

deSeNho SuSteNtvel

20 | 21Durante o sculo XX, o planejamento urbano adotou o automvel como principal meio de deslocamento, desconsiderando a prioridade que deveriam ter o transporte pblico de passageiros e os percursos de pedestres e ciclistas. O carro se transformou no mdulo de desenho das vias e um facilitador para a incorporao de glebas ainda desocupadas ao tecido urbano promovendo a expanso da cidade. A nova organizao do espao, com a implantao de bairros residenciais ou centros comerciais distantes, forou o aumento das viagens motorizadas para atender s necessidades dirias da populao. Este modelo de desenvolvimento levou tambm ao crescimento de reas residenciais pobres nas faixas perifricas da cidade, distantes dos centros de emprego. As classes desfavorecidas, no usurias de veculos particulares, passaram a arcar com os maiores prejuzos decorrentes do aumento da distncia dos centros de servios e comrcios, sem usufruir os benefcios do conforto e da velocidade do automvel. O crescimento do uso do veculo particular, at para pequenos percursos, levou ao aumento progressivo dos congestionamentos com prolongamento dos tempos de viagens. Colaborou tambm para a degradao ambiental urbana seja atravs da poluio atmosfrica, sonora ou visual. O crescimento das cidades aliado uma rpida motorizao contribuiu para a deteriorao das condies ambientais do planeta. A situao da resultante levou a Conferncia das Naes Unidas para o Meio Ambiente a buscar um consenso entre as naes sobre a necessidade de um novo modelo de desenvolvimento, denominado de desenvolvimento sustentvel. Neste novo modelo reconhecido o papel significativo dos transportes no desenho virio, na distribuio do uso do solo e na qualidade de vida das cidades. Assim, a partir da dcada de 1990, o planejamento urbano e de transportes passa a trabalhar com novas estratgias firmadas no documento final da Conferncia das Naes Unidas para o Meio Ambiente e o Desenvolvimento, ocorrido em 1992 no Rio de Janeiro. O documento conhecido como Agenda 21 (Senado Federal, 1997). A Agenda 21 alerta para os problemas decorrentes do aumento da taxa de motorizao, principalmente nos pases em desenvolvimento e a necessidade de otimizar os escassos recursos

Captulo 1 - Desenho Sustentvelutilizados em infra-estrutura viria para benefcio equnime de toda a populao, evitando privilegiar apenas as classes mais favorecidas que fazem uso do automvel. O documento prope a promoo do planejamento sustentvel dos transportes em todos os pases englobando as seguintes medidas: prioridadeparaotransporteno motorizado (pedestres e bicicletas); promoodotransportecoletivo; desestmuloaousodoautomvel; reduodoconsumodeenergia. Enquanto os planos de desenvolvimento no sculo XX priorizaram a rede rodoviria, o planejamento sustentvel tem como elementos estruturantes a circulao de pedestres e ciclistas e o transporte pblico de passageiros. Mas para isso, a cidade deve desenvolver uma infra-estrutura adequada para a caminhada a p e de bicicleta, com propostas de ciclovias que se mostrem seguras e agradveis, oferecendo acessibilidade a diferentes destinos, integradas ao sistema virio e ao transporte pblico de passageiros. Este modelo de desenho virio, aqui denominado de sustentvel, pode contribuir para a reduo do trfego de veculos, reduzindo as emisses de poluio, melhoran1.1.1 Acessibilidade A cidade deve oferecer percursos prioritrios para bicicletas e pedestres interligando bairros, do a sade da populao, tornando mais agradvel o meio ambiente, mais amena a caminhada do pedestre e mais seguro o deslocamento do ciclista.

1.1 deSeNho SuSteNtvelDe acordo com Ramsay (1995), a sustentabilidade do transporte no motorizado est associada aos seguintes requisitos bsicos: Acessibilidadeadiferentessetoresda cidade; Negociabilidadenasinterseesou percursos compartilhados com outros modais; Eficinciadepercursoevitandodesviose congestionamentos; Segurananostrajetos,cruzamentose estacionamentos; Confortoambientalevitandocondies climticas penosas; Amenidadedemodoaproveruma agradvel experincia ambiental.

22 | 23reas de lazer, escolas, centros comerciais e de servios, assim como terminais de transportes. Os trajetos selecionados dentro da rede viria devem receber projetos de adequao para proporcionar segurana e conforto a seus usurios. Segundo Barton (1995), a facilidade de identificao e a qualidade das rotas so fatores significativos e determinantes na opo pelo hbito de caminhar ou pedalar. Para a implementao de percursos preferenciais para pedestres e ciclistas importante entender os diferenciados alcances de deslocamento dos diferentes modais. O raio de alcance de percurso do pedestre, geralmente, no ultrapassa 1 km ou 1,5 km, trajeto mximo que um jovem estar disposto a percorrer a p para acessar um equipamento de lazer ou um adulto para acessar uma estao ferroviria ou de metr (Quadro 1.1). Distncias maiores podem ser cobertas por bicicleta. (Quadro 1.1) Numa comparao entre as velocidades (Quadro 1.2) e as distncias percorridas por diferentes modais, observa-se que a bicicleta cobre, no mesmo intervalo de tempo, uma distncia equivalente do nibus podendo igualar ou at ser mais rpiQuadro 1.1: Percursos de pedestres Destino Escola infantil e escola primria Escola fundamental Compras dirias Compras semanais Instalaes para a terceira idade Garagens de transporte pblico Estao Campo de jogos Instalaes esportivas Local de Trabalho Quadro 1.2: Comparao entre modais de transportes Usurio Pedestre Ciclista nibus Automvel Velocidade Mdia de operao 5 km/h 15 km/h 20 km/h 30 km/h Distncia mxima (m) 600 1000 600 1000 600 600 1000 500 a 1000 1000 a 1500 1000 a 1500 Fonte: PRINZ, D., 1980

da do que o automvel em deslocamentos de curta distncia, em ambientes congestionados. (Quadro 1.2). De acordo com o manual do Geipot (1983), a distncia ideal para o transporte de bicicleta de 800m a 3km, sendo normal uma viagem de casa-trabalho de 5 a 6km. Como grande parte das viagens, realizadas em rea urbana, para distncias menores do que 3km, elas poderiam ser realizadas por bicicleta, caso houvesse uma infra-estrutura que oferecesse segurana e conforto para o ciclista.

Captulo 1 - Desenho Sustentvel1.1.2 Negociabilidade O projeto de um sistema contnuo de circulao para pedestres e ciclistas em reas edificadas de difcil resoluo devido interferncia com outros meios de transporte. Os sistemas de rotas de pedestres e ciclistas se caracterizam por no serem contnuos, mas fragmentados pela rede de trfego dos veculos motorizados que constitui a base do desenho geomtrico urbano. Normalmente, a rede de pedestres e ciclistas segue paralela de veculos. Entretanto, a sobreposio da malha contnua do transporte motorizado impera, resultando numa srie de interrupes com ocorrncia de conflitos. Para evit-los, os locais de encontro dos percursos de diferentes modais devem receber tratamento adequado de modo a no haver uma perda da continuidade dos itinerrios e garantir a prioridade de pedestres e ciclistas na negociabilidade com o trfego na via. 1.1.3 Eficincia de percurso O ciclista, assim como o pedestre, tem maior maleabilidade para circular pelas vias do que qualquer outra modalidade de transporte, sobrepondo1.1.4 Segurana Normalmente, os ciclistas utilizam vias preferenciais por terem prioridade de passagem nos cruzamentos evitando a constante necessidade de reduo da velocidade, ou parada, nas intercesses em vias locais. Atualmente, no Brasil, so as condies de falta de segurana pblica que mais restringem a opo por um percurso a p ou de bicicleta. se a todos os inconvenientes encontrados em seu trajeto. Talvez este seja um motivo para no haver preocupao com a adoo de critrios tcnicos para a construo de trajetos apropriados para a bicicleta ou para o pedestre. Desta forma, os pedestres se vem obrigados a contornar mobilirios e veculos que obstruem a passagem sobre o passeio e os ciclistas a enfrentar na pista a fria do trfego de veculos. O desenho sustentvel deve retirar obstculos e resolver conflitos para no prolongar o percurso de pedestres e ciclistas. Entretanto, deve considerar que desvios de vias congestionadas ou de grandes velocidades podem representar um aumento de caminho que, em contrapartida, oferece ganho de segurana e conforto.

24 | 25Pedestres e ciclistas preferem o risco de trafegar em grandes avenidas em meio a alta velocidade dos veculos para evitar itinerrios em vias mais vazias onde so mais vulnerveis aos assaltos. O planejamento da segurana de pedestres e ciclistas deve contar com: Adequao do desenho de modo a evitar ou resolver conflitos; Compatiblizao do uso do sistema virio entre os diferentes modais com prioridade para o transporte no motorizado; Adequao da sinalizao de advertncia para garantir a prioridade do transporte no motorizado sobre os demais veculos; Reforo da iluminao nos cruzamentos; Manuteno da pavimentao e da sinalizao de modo a garantir o mais elevado nvel de segurana. Os pontos de intimidao ou de riscos, como os cruzamentos, devem ser trabalhados com sinalizao reforada, atravs da diferenciao de pisos ou de mecanismos que reduzam a velocidade dos veculos motorizados. importante, tambm, que uma rede de circulao de pedestres e ciclistas tenha prioridade 1.1.6 Amenidades As boas condies de pavimento, arborizao e iluminao nas rotas contribuem para estimular as caminhadas e o ciclismo e garantir 1.1.5 Conforto ambiental A arborizao urbana contribui para a qualidade da paisagem e para o conforto ambiental das ruas. De acordo com Milano (1994) ela valoriza espaos de convvio social, tem papel importante na reduo da poluio visual e na melhoria das condies de sade fsica e mental da populao. A arborizao traz vrios benefcios para a cidade e em particular para os pedestres e ciclistas como: reduo da insolao direta; reduo da velocidade dos ventos; reduo da poluio atmosfrica; reduo da poluio sonora; nos servios de segurana pblica. A identificao das rotas principais facilita a implementao das rondas policiais. Entre as vantagens do reforo da segurana esto: o aumento do convvio no espao pblico, o maior dinamismo do comrcio de rua e o incremento do turismo urbano.

Captulo 1 - Desenho Sustentvelsua sustentabilidade. A colocao de mobilirio adequado oferece apoio ao usurio nas suas necessidades de descanso, comunicao e informao. O plantio de rvores ao longo das vias reduz o impacto da velocidade, do rudo e da fumaa produzida pelos veculos. A colocao de canteiros e a escolha da pavimentao podem tornar mais agradvel a paisagem, assim como a seleo de vias para a implementao de rotas, de acordo com a qualidade da arquitetura e do uso do solo, pode contribuir para tornar o percurso mais atrativo, estimulando a transferncia do transporte motorizado para o deslocamento a p ou de bicicleta.

Captulo 2

vIaS e veCuloS

28 | 29O desenho das vias tem grande impacto sobre a segurana, o conforto, a atratividade e a operacionalidade dos meios de transporte. Pode estimular ou restringir a circulao cotidiana de pedestres e ciclistas. Os mais vulnerveis qualidade do desenho virio so os indivduos com alguma restrio de mobilidade como deficientes fsicos, gestantes, idosos, pessoas com compras, malas, carrinhos de beb, entre outros. Caladas desniveladas e/ou obstrudas por mobilirio urbano desestimulam a circulao a p e impedem a passagem de pessoas com cadeiras de rodas. Pistas largas induzem a maior velocidade dos veculos, ao contrrio de ruas estreitas. O estreitamento da largura tica da via atravs da arborizao urbana condiciona o motorista a dirigir mais devagar. A padronizao da pavimentao, da colocao do mobilirio urbano e da arborizao nas caladas beneficia a paisagem da rua, influenciando assim, na valorizao dos lotes e edificaes. O desenho tem tambm grande influncia na operao dos meios de transporte, podendo vir a ser coadjuvante ou responsvel pela ocorrncia de acidentes, congestionamentos ou conflitos no sistema virio. Indiretamente, influencia o desempenho das atividades econmicas e das funes urbanas que sempre dependem, de alguma forma, dos meios de transporte. O desenho tambm contribui para estimular ou desestimular o uso do automvel e em conseqncia para aumentar ou reduzir a intruso visual causada por estacionamentos e o impacto ambiental decorrente da emisso de poluentes e rudos.

2.1 hIerarquIa vIrIaAs vias urbanas obedecem a uma hierarquia segundo suas funes principais e prioridades que exigem desenhos de acordo com suas especificidades. As vias podem ser classificadas em principais, secundrias e locais, ou em expressas, arteriais, coletoras e locais. Segundo Spirn (1995) eficincia do movimento o objetivo das vias expressas e arteriais; o acesso e a qualidade do ambiente devem ter precedncia em ruas coletoras e locais. As vias paisagsticas no constituem uma classe de via, mas uma qualidade, fato de serem lindeiras a um recurso natural da paisagem. As vias paisagsticas podem ser classificadas de acordo com suas respectivas funes no sistema virio: expressa, arterial, coletora ou local.

Captulo 2 - Vias e VeculosO sistema virio , portanto, constitudo por vias de diferentes caractersticas fsicas e operacionais que so classificadas de acordo com a importncia dada a cada usurio: pedestre, bicicleta, automvel, caminhes de cargas ou transporte pblico de passageiros. 2.1.1 Vias locais So vias de trfego de carter essencialmente local, com espaos destinados circulao de pedestres separados dos veculos automotores cuja velocidade mxima desejvel de 30km/h. A solicitao de trfego tem menor influncia no dimensionamento das vias de trfego local, havendo tambm menor demanda por estacionamento. Conforme a cidade, as vias locais so bastante solicitadas por pedestres que fazem dela um espao de lazer coletivo, principalmente onde as edificaes residenciais foram projetadas com reas destinadas recreao e sem muros. As vias locais so desenhadas predominantemente para pedestres, ciclistas e automveis j que no so destinadas passagem de nibus. 2.1.2 Vias coletoras So vias principais de ligao entre duas vias arteriais e de penetrao nos bairros. Servem ao trfego de passagem e local, sendo utilizadas para o itinerrio de nibus. A velocidade mxima permitida para o transporte motorizado de 40 km/h. As vias coletoras, em contraste com as arteriais e locais, no so nem inteiramente para trfego, nem inteiramente para pessoas. Elas distribuem o trfego atravs da cidade e so intensamente utilizadas por automveis e tambm caminhes, embora sejam tambm lugares onde muitas pessoas fazem compras e trabalham. A zona poluda das ruas coletoras basicamente menor do que nas vias arteriais, devendo ser ladeada com rvores sempre que possvel.Spirn (1995) Devido passagem dos nibus, as vias coletoras so atrativas para o comrcio e os servios. Estes estabelecimentos atraem considervel nmero de pedestres, ciclistas e usurios de automveis gerando a necessidade de caladas confortveis, infra-estrutura para bicicletas e estacionamentos. A arborizao dessas vias importante para amenizar a intensidade da poluio e a temperatura ambiente.

30 | 312.1.3 Vias arteriais Tm como funo principal atender s necessidades de um trfego mais pesado, composto por automveis, nibus e caminhes, com velocidade mxima de 60km. Os estacionamentos laterais ao longo da calada no so recomendados, devido aos transtornos causados fluidez do trnsito pela manobra dos veculos na pista. As vias arteriais atravessam diferentes bairros, servindo a percursos de mdia e longa distncia para o trfego motorizado. Por ser uma via de passagem tende a atrair um grande nmero de estabelecimentos de comrcio e servios que colaboram para intensificar o fluxo de nibus e automveis, como tambm de pedestres e bicicletas. Nas vias arteriais se encontram nveis mais acentuados de poluio atmosfrica, sonora e visual, do que nos demais locais da cidade, requerendo a arborizao das caladas, em ambos os lados da via, para mitigar os incmodos provenientes do transporte motorizado. Normalmente, as vias arteriais que fazem parte do sistema de rotas do transporte coletivo, necessitam adequar os pontos de parada, atravs 2.1.4 Vias expressas So vias para o trfego de passagem de longo percurso dos veculos motorizados, com velocidade mxima de 80 km/h nas reas urbanas e sem controle semafrico. Normalmente, apresentam duplo sentido de trfego, com pistas separadas por canteiro central. Para evitar acidentes, retornos e travessias de pedestres so feitos em desnvel, assim como o acesso aos lotes lindeiros ocorre por faixas laterais paralelas. da construo de baias, para minimizar seu efeito negativo na capacidade viria.

2.2 o deSeNho da vIaA via constituda por diferentes elementos, com funes distintas como: calada, pista de rolamento, estacionamento, ilha, canteiro central e at ciclovia. A dimenso de cada elemento formulada de acordo com o modal de transporte predominante. O pedestre o parmetro das caladas. A bicicleta a referncia da ciclovia. E os veculos motorizados do as dimenses das pistas. A anlise criteriosa das dimenses de cada elemento da via permite verificar se existem espa-

Captulo 2 - Vias e Veculosos ociosos nas pistas de rolamento que possam ser transferidos para o transporte no motorizado, possibilitando desta maneira a otimizao do sistema de circulao e do emprego dos recursos pblicos. A composio da via e seu dimensionamento vo ter influncia sobre a fluidez, o conforto e a segurana de todos os modais. 2.2.1 Pista de veculos A caixa de rolamento ou carrovel da via, destinada circulao de veculos motorizados, pode ser composta por uma, ou mais pistas separadas por canteiro central. A pista dividida por duas ou mais faixas de trfego que podem apresentar diferentes larguras, de acordo com a classificao da via dentro do sistema virio e sua necessidade de velocidade e fluidez de trfego. A demarcao das faixas de trfego organiza as filas de veculos, evita os deslocamentos desordenados e os riscos de acidentes. A largura da faixa de trfego pode ser calculada sobre a dimenso do tipo de veculo de uso predominante (Quadro 2.1) e sua distncia dos veculos vizinhos de acordo com a velocidade adotada. Para uma circulao e ultrapassagem com segurana e conforto a distnciaQuadro 2.1: Largura mdia de veculos motorizados Tipo de veculo Passeio pequeno porte (Fiat Mille, Ford Ka) Passeio mdio e grande porte Micronibus nibus Caminho de lixo Carreta Largura Mdia do veculo 1,80 2,10 2,25 2,40 2,40 2,55

Quadro 2.2: Afastamento entre veculos de acordo com a velocidade. Vias e velocidade Expressas (< 80km/h) Arteriais (