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PROJETO INTERDISCIPLINAR
Identidade e Política: Ética e Moral
CIRMEN – 2012
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1. TEMA GERADOR: Identidade
1.1. Recorte temático: Identidade e Política: Ética e Moral
1.2. Subtemas / Problematização(ões)
1o A – Pós-Modernidade e Escola (subtema) Problematização: A Escola é ainda formadora de cidadania?
1o B – Cibernética (subtema)
Problematização: De que maneira se estabelece a relação de ética e moral no mundo virtual?
1o C – Bioética (subtema)
Problematização: É correto estabelecer limites para a ciência?
1.3. Justificativa
A identidade individual e coletiva é marcada por atributos, que o grupo ou indivíduo elege como sendo suas
características que os distinguem. Daí a importância de se proporem procedimentos que enfatizem a participação ativa do estudante no seu próprio processo educacional, oferecendo-lhe a chance de produzir significados, a partir de uma
íntima conexão entre o objeto de ensino e a vida. Essa reflexão pode estimular o respeito pelas identidades individuais ou coletivas diferenciadas.
Considerando as múltiplas possibilidades de comunicação contemporânea e os seus efeitos sobre a
autocompreensão e a alteridade, faz-se necessário:
Proporcionar um ambiente de discussão no campo político dos valores éticos e morais no qual se constroem as identidades;
Estimular atitudes que contribuam para a construção do convívio social;
Denunciar falsas construções identitárias baseadas nas pseudocomunicações virtuais.
1.4. Objetivos
Investigar os conceitos de Identidade, Moral e Ética; Identificar como a moral e a ética interferem nas relações que definem a sociedade;
Pensar ações transformadoras para o fortalecimento da cidadania no tocante à moral e à ética.
1.5. Descritores de Aprendizagem
GERAIS:
Investigar os conceitos de Identidade, Moral e Ética; Identificar como a moral e a ética interferem nas relações que definem a sociedade;
Pensar ações a transformadoras para o fortalecimento da cidadania no tocante à moral e à ética.
POR DISCIPLINA:
Língua Portuguesa
Entende os nichos pertencentes à sua unidade federativa como ponto de vista de inserções e reproduções
sociais a partir do seu estudo analítico (para tanto se reconhece a tríade étnica formativa do país), o seu contexto social/temporal dos sujeitos e seus alcances históricos diante de uma realidade verossímil
tangível ao drama cotidiano do país em sua formação intelectual/social iminentes. Produz leitura a partir de textos didáticos e literários pertencentes à memória nacional e seus conceitos
estáveis como forma de garantir as localizações étnicas, os seus valores e lutas sociais no âmbito
excludente. Compreende-se como um sujeito integrante de uma sociedade que, a partir de seus nichos, agregam ou
segregam seu corpo social, afetivo, como marca de uma identidade subjetiva constitutiva da sua linhagem cultural.
Redação
Analisar criticamente, em diferentes tipos de textos, marcas identitárias decorrentes de interesses
políticos, ideológicos e econômicos.
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Identificar a representação dos conceitos de moral e de ética em diferentes aspectos da vida em
sociedade.
História
Analisar os diversos conceitos de Identidade, Moral e Ética, identificando-os nas relações políticas,
econômicas e sociais do Brasil e republicano. Compreender as diversas manifestações sociais do período republicano-brasileiro com desdobramento de
uma nova ética/moral que se estabelece com a proclamação.
Geografia
Analisar do ponto de vista ético polêmicos atuais sobre o meio ambiente.
Avaliar as diferentes opiniões a respeito da produção de transgênicos no que tange a tríade Fome x Saúde x Ambiente.
Sociologia
Definir o conceito de cultura a partir da Teoria Interpretativista (Clifford Geertz).
Reconhecer o exercício da consciência humana de situar-se em meio às teias de significados que a compõem como uma experiência moral e ética determinante para a construção da ação política e das
identidades sociais.
Filosofia
Identificar a política como necessária para a garantia dos valores éticos e morais;
Criticar a política partidária, a partir das considerações filosóficas em relação à ética e a moral; Reconhecer o fenômeno da identidade como inerente à construção de cada ser humano.
Química
Investigar a influência das etnias africanas na utilização de chás, infusões e similares como medicamentos. Avaliar de que forma os avanços científicos nacionais são disseminados no país.
Identificar os símbolos da Ciência Brasileira (pessoa, patentes...).
Física
Investigar como as redes sociais anulavam a hegemonia da divulgação científica dos institutos de pesquisa.
Biologia
Identificar os princípios éticos relacionados aos avanços tecnológicos que envolvem as Ciências Biológicas. Avaliar as divergências de opiniões que envolvem a Bioética.
Avaliar de que forma os avanços científicos nacionais são divulgados no país.
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1.6. Textos básicos
PELA SELEÇÃO ARTIFICIAL
A Engenharia Genética começa a produzir animais com características inexistentes na natureza: são os chamados animais transgênicos, criados e pesquisados com propósitos científicos e comerciais.
Graças ao transplante de genes, a Engenharia Genética começa a produzir animais com características que não
existem na natureza. Eles abrem fantásticas perspectivas à pesquisa científica, à produção de drogas difíceis de se obter e à alimentação da humanidade. São os chamados animais transgênicos, portadores de genes estrangeiros que o
homem introduziu artificialmente em seu organismo. Por Fátima Cardoso
Em menos de dez anos, eles saíram da ficção para entrar na história. Desde 1982, quando dois grupos de
pesquisadores americanos das universidades de Washington e Pensilvânia criaram camundongos gigantes, animais
antes inexistentes na natureza começaram a ser produzidos pela engenharia genética. Porcos maiores e com menos gordura, camundongos portadores de células cancerígenas ou do vírus da AIDS e camundongas produzindo leite com
uma substância para tratar ataques cardíacos já são realidade em laboratórios. Chamados animais transgênicos por carregarem em seu DNA genes "estrangeiros" vindos de outros organismos, eles são mais que um simples exercício de
criação e manipulação da vida. Os transgênicos foram criados e são pesquisados com propósitos muito bem definidos -
científicos e comerciais. Falar em animais transgênicos não significa enumerar uma lista de monstrinhos. Muitos deles têm aparência
absolutamente normal, a despeito das fantasias sobre bichos com corpo de boi e cabeça de cavalo, mesmo porque esses fazem parte de outra história. São os híbridos, simples cruzamento de duas espécies que pode produzir coisas
exóticas como a cabra-ovelha, mas nada têm a ver com o sofisticado transplante de genes. Os animais transgênicos existem por alguns motivos básicos. O primeiro é servir aos cientistas como modelos vivos para observação dos
mecanismos que regem o funcionamento dos genes.
"Num animal, o gene que nos interessa estudar fica exposto a tudo o que acontece num organismo vivo, como a ação de hormônios e de outros fatores reguladores", diz Vera Soares, professora do Departamento de Parasitologia do
Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo. Um animal desses também é capaz de funcionar como "fábrica" em larga escala de algumas drogas difíceis de se conseguir por métodos tradicionais.
A outra razão que move os criadores desses animais é econômica, e não é nova. Os transgênicos podem significar
um desenvolvimento muito rápido de uma atividade existente desde que o homem começou a domesticar e criar animais para consumo - o melhoramento genético. A vaca holandesa, que produz muito mais leite do que as outras, é
produto de anos de seleção e cruzamento entre as melhores representantes da espécie. Embora as pesquisas com animais transgênicos ainda estejam nos primeiros passos, estimativas modestas
calculam que já existem mais de mil raças de camundongos, mais de doze variedades de porcos, várias espécies de coelhos e peixes, pelo menos duas linhagens de ratos, duas ovelhas e duas vacas. Produzi-los ainda requer prática,
habilidade e muita paciência, pois as técnicas ainda não estão suficientemente desenvolvidas.
A produção de um animal transgênico começa com a escolha de um gene que se quer colocar no animal – num camundongo, por exemplo. Primeiro esse gene é clonado, ou seja, reproduzido várias vezes em bactérias. Com
centenas de genes à disposição, o cientista tem três técnicas para introdução no animal. Todas começam e terminam da mesma forma, sendo diferentes no momento de introduzir o gene "estrangeiro" no embrião. A técnica mais utilizada,
e mais desenvolvida até agora, é a microinjeção celular. Começa com a preparação das camundongas com hormônios,
para que possam ter superovulação e assim fornecer mais material ao cientista. As camundongas são cruzadas e, dali a algumas horas, os ovos (óvulos recém-fertilizados) são retirados por meio de uma microcirurgia e estes animais são
sacrificados. De um grupo de doze camundongas, o cientista retira cerca de duzentos ovos. No estágio de apenas uma célula, os ovos são postos em meio de cultura. O próximo passo é a injeção da solução que contém as cópias do gene
que se quer colocar no animal. Com uma minúscula pipeta, o cientista injeta os genes em um dos dois pró-núcleos do
ovo, auxiliado por uma pipeta de sustentação. É fundamental que o ovo ainda não se tenha dividido em mais de uma célula, pois, do contrário, nem todas as células do futuro camundongo terão o gene estranho e nem todos os seus
descendentes serão também transgênicos. Depois da injeção, os ovos são implantados, mediante uma pequena cirurgia, em camundongas preparadas para a
gravidez, cruzadas anteriormente com camundongos estéreis. Em vinte dias, quando os filhotes nascerem, o cientista faz um teste para descobrir quais deles são transgênicos, já que a margem de sucesso é entre 2 e 5 por cento dos ovos
originais. Alguns ovos não sobrevivem à injeção ou aos transplantes, e muitas vezes o gene injetado simplesmente não
"pega" no DNA do animal. Outras técnicas de fazer com que o gene estranho chegue ao DNA do embrião são a infecção por retrovírus e a
colonização por células embrionárias. Na primeira, um retrovírus é modificado e recebe o gene que o cientista quer implantar. Os embriões, já com oito células e chamados blastocistos, são postos no mesmo meio de cultura dos
retrovírus, sendo infectados e recebendo "por tabela" o novo gene. Na segunda e mais recente técnica, conhecida como
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EK ou ES, o gene é introduzido na célula embrionária, que tem capacidade de diferenciação, ou seja, multiplica-se e
coloniza o embrião posto na mesma cultura,carregando o gene para as células do futuro animal.
Todo esse aparato, embora pareça preciso, é tão delicado quanto cortar um palito de fósforo com um serrote. Na microinjeção celular, o cientista precisa de mãos muito firmes para acertar o pequeno pró-núcleo do ovo. São colocadas
várias cópias do gene justamente para aumentar a probabilidade de que alguma delas se incorpore ao DNA - num processo parecido ao da corrida dos espermatozoides para fecundar um óvulo.
Dentro de laboratórios, as vidas transgênicas já são um fato consumado, desde o começo da década de 80. Foi quando os pesquisadores Ralph Brinster, da Universidade da Pensilvânia, e Richard Palmer, da Universidade de
Washington, criaram o "supercamundongo". Eles introduziram o gene do hormônio de crescimento do camundongo sob
o controle da sequência de outro gene. O resultado foi que o camundongo passou a produzir hormônio de crescimento no fígado, em vez de produzir na glândula pituitária, o que liberou o gene estrangeiro do controle da produção de
hormônio. Os camundongos cresceram mais depressa e ficaram maiores do que o normal, mas muitas fêmeas eram estéreis. Em experimentos posteriores, os cientistas implantaram o gene do hormônio de crescimento humano em
camundongos, que novamente cresceram mais e aparentemente não tiveram problemas de reprodução.
A entrada dos animais transgênicos na cena da pesquisa começa quando cientistas como Philip Leder e Timothy Stewart, da Universidade Harvard, em Cambridge, Massachusetts, constroem uma linhagem de camundongos
portadores de oncogenes - genes ligados ao câncer. Numa geração desses camundongos, Leder comprovou que metade das fêmeas desenvolveu câncer de mama. Além de testar novos tratamentos da doença com mais eficiência, os
pesquisadores podem entender melhor os genes que estariam ligados ao desenvolvimento do câncer. O trabalho de Philip Leder ficou famoso e suscitou polêmica por ter conseguido, em abril de 1988, a primeira patente de um animal
concedida pelo Serviço de Patentes dos Estados Unidos.
Camundongos não pegam AIDS, mas o pesquisador americano Malcom Martin, do Instituto Nacional de Alergia e Doenças Infecciosas, criou uma raça de camundongos potencialmente aidéticos injetando uma sequência de DNA,
obtida de vírus da AIDS, em ovos de camundongas, Martin obteve alguns filhotes que possuíam o vírus, embora se saiba que os camundongos não desenvolvem a doença da mesma maneira que os humanos.
Na linha de cura de doenças, uma das sensações é a raça de camundongas que produz leite com uma substância
humana chamada TPA, que dissolve coágulos sanguíneos. A raça foi criada pelos cientistas americanos do National Institute of Health e da empresa Integrated Genetics. Há outros meios mais difíceis e caros de se obter o TPA por
Engenharia Genética, mas com os animais transgênicos essa substância usada no tratamento de doenças cardíacas poderia tornar-se corriqueira. Se a ideia de tomar leite de camundonga provoca um nó no estômago, Katherine Gordon,
pesquisadora da Integrated Genetics, avisa que no próximo ano se espera produzir o TPA no leite de cabra. Pelos seus
cálculos, um rebanho de trezentas cabras poderá suprir a demanda mundial de TPA. Enquanto isso, em Edimburgo, na Escócia, cientistas tentam criar ovelhas transgênicas que produzam remédios no
leite. O objetivo dos escoceses é conseguir grandes quantidades dos fatores sanguíneos 8 e 9, fundamentais para a coagulação do sangue, que os hemofílicos não possuem. Atualmente, esses fatores são obtidos de sangue humano, um
método dispendioso e perigoso devido ao risco de contaminação pela AIDS. Bastaria, portanto, tomar o leite dessas ovelhas em lugar das injeções de fatores sanguíneos para que o hemofílico controlasse a doença. Essas proteínas
coagulantes são produzidas normalmente no fígado. A equipe escocesa quer que as ovelhas as produzam nas glândulas
mamárias, e para isso juntou o gene que comanda a fabricação do fator 9 à sequência do DNA de um gene que controla a produção de leite na ovelha.
Dentro de alguns anos, os animais transgênicos passarão dos laboratórios à mesa dos cidadãos que comem carne. Já existe um suíno que, tendo recebido o gene do hormônio de crescimento humano, se desenvolveu com maior
porcentagem de carne e menos gordura. A perspectiva que se abre para os criadores de animais cujo destino é o
abatedouro é enorme. A melhoria das raças pode chegar a peixes gigantes e frangos imunes a determinadas doenças. Todas as frentes de pesquisa com animais transgênicos têm outro horizonte em comum - os dólares. Se o
camundongo de Harvard foi patenteado, e dezenas de outros animais aguardam na fila, é porque ele pode ser vendido a outros centros de pesquisa, e sobre seus filhotes serão cobrados royalties. A empresa americana Stratagene aceita
encomendas para produzir camundongos transgênicos ao módico preço de 7 mil dólares. Os animais que secretam leite com drogas são também fonte de renda. E quanto se pode lucrar com a patente de uma raça de bois enormes com 20
ou 30 por cento a mais de carne, vendida a fazendeiros? "Esses animais vão produzir proteínas a tão baixo custo, daqui
a uns dez anos, que não vai compensar criar gado da maneira tradicional", afirma Octavio Henrique Pavan, professor do Departamento de Genética da Universidade de Campinas.
Na conhecida indigência da pesquisa brasileira, o único laboratório de animais transgênicos do país está em fase de instalação pela pesquisadora Vera Soares, da Universidade de São Paulo. No período de seis meses a um ano, ela
espera conseguir os primeiros resultados no estudo de resistência e suscetibilidade a infecções parasitárias. Se o Brasil
não correr para recuperar dezenas de anos de atraso na pesquisa com engenharia genética, pode pagar caro no futuro. "Se não se investir agora, vamos ter que comprar tecnologia de fora a um preço alto, e nem vamos ter gente treinada
para saber o que estamos comprando, prevê o geneticista Carlos Menck, do Instituto de Biociências da USP. O potencial da engenharia genética na construção de novos organismos animais é imenso. À medida que as técnicas vão sendo
aperfeiçoadas, torna-se possibilidade concreta o maior conhecimento do funcionamento dos genes e das doenças
genéticas, ao lado da produção em larga escala de remédios originários de proteínas humanas.
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Os cientistas e os monstros
A polêmica nasceu junto com os primeiros camundonguinhos transgênicos. Os cientistas resolveram brincar de Deus, criando novas formas de vida, ou estão apenas trilhando o inexorável caminho do avanço da ciência? Pode-se
desfiar um longo rosário das maravilhas que os animais transgênicos são capazes de fazer, desde ampliar o conhecimento sobre doenças genéticas até produzir remédios para salvar muitas vidas humanas. O pesadelo de ver um
bicho mutante de laboratório solto pelo mundo, porém, é bem real. "A introdução de novos genes em bichos selvagens, por um possível cruzamento com animais que escapassem do laboratório, é ruim porque pode alterar o equilíbrio
gênico", diz Vera Soares, da USP. Para ela, essa mistura de animais é uma possibilidade remota, mas há quem veja
esse quadro com cores mais sombrias. "Um problema ecológico causado por um animal transgênico no meio ambiente é real, e deve ser considerado para
cada forma de vida que se cria", afirma Carlos Menck. O deputado federal Fábio Feldmann, defensor da bandeira ecológica, vê com muito receio as experiências com animais transgênicos. Ele não é contra, em princípio, mas defende a
participação da sociedade nas discussões sobre tais experimentos. Nos Estados Unidos, o debate é permanente. No final
de janeiro, a prestigiosa Smithsonian Institution colocou no ar um programa - "A trama da vida" - da sua série de televisão Smithsonian World, quase todo dedicado a essa questão. Naquele país, o maior adversário dos animais
transgênicos é Jeremy Rifkin, diretor da Fundação de Tendências Econômicas. Rifkin costuma imaginar cenários catastróficos como consequência da fuga de animais de laboratório para o mundo de fora, como o espalhamento do
genoma do vírus da AIDS pelos ratinhos transgênicos aidéticos. Mexer tão profundamente com a vida traz outro problema que não é ecológico, mas ético. Se hoje se consegue
criar raças de ratos ou porcos, manipular genes humanos parece ser uma questão de tempo e de aperfeiçoamento de
técnicas. Muitos cientistas podem ser veementemente contra, mas o potencial existe. "Em vinte anos, teremos maneiras muito eficientes de fazer uma raça humana transgênica" acredita Octavio Henrique Pavan, da Unicamp. Tudo pode
começar com a "nobre missão de curar doenças genéticas. Daí para se escolher a cor dos olhos do filho por vaidade, ou mudar a constituição do homem por motivos escusos, pode ser um passo. Para onde, ninguém sabe.
Adaptado de http://super.abril.com.br/superarquivo/1989/conteudo_111592.shtml. Acesso 07/02/2012.
IMAGINAÇÃO GEOGRÁFICA, TERRITÓRIO E
IDENTIDADE NACIONAL NO BRASIL
Resumo
Este trabalho visa a discutir a “invenção do Brasil”, identificando elementos imaginativos forjados pela elite imperial
brasileira e que se encontraram fundados em mitos territoriais e ideologias geográficas que afirmavam a existência ‘pré-
histórica’ de um espaço delimitado a ser conquistado e ocupado. Neste sentido, o mito da Ilha-Brasil, baseado em
concepções teóricas advindas da doutrina das fronteiras naturais, é aqui apresentado como aspecto central para a
análise acerca da imaginação geográfica e territorial e suas interfaces com a construção da identidade nacional no
Brasil. Além disso, observar-se-á como essa identidade nacional foi influenciada por renovadas ideologias geográficas,
que foram apresentadas a partir da visão das elites políticas acerca do espaço nacional nos distintos períodos históricos,
desvelando os elementos de criação da ‘pátria imaginária’ e seus vínculos identitários.
Introdução
No processo de construção social de identidades políticas1[1], observamos uma interação de diversos elementos,
dentre os quais cabe destacar o tripé capital: cultura, história e território, tendo este último desempenhado um papel
basilar na construção de identidades nacionais na América Latina, mais particularmente no Brasil. Em sendo as
identidades socialmente construídas, elas são, em geral, baseadas em narrativas históricas fundadas em mitos coletivos
escolhidos propositadamente por aqueles que buscam forjá-las. Vale ainda ressaltar que ‘inventar’ uma identidade
significa situar o que está dentro e o que está fora, isto é, o estabelecimento do ‘outro’ com o qual a auto-afirmação é
possível, tendo a territorialidade um papel importante nesse processo. Essa relação dialética entre o ‘dentro’ e o ‘fora’,
entre o ‘nós’ e o ‘outro’, faz parte da essência da construção de identidades; são, por assim dizer, duas partes de um
todo coerente que traz consigo significado e coesão.
O objetivo do presente trabalho é discutir os elementos imaginativos de “invenção do Brasil”, que foram
sistematizados pela elite imperial brasileira e fundados em mitos territoriais e ideologias geográficas que afirmavam a
existência ‘pré-histórica’ de um espaço delimitado a ser conquistado e ocupado. Trabalharemos aqui com um mito
territorial central: o mito da Ilha-Brasil, o qual se encontra fundamentado em concepções teóricas advindas da doutrina
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das fronteiras naturais. Ademais de desvelar os elementos de criação da ‘pátria imaginária’ e sua importância na
construção da identidade nacional no Brasil, vamos observar como essa identidade nacional veio sendo influenciada, ao
longo do século XX, por renovadas ideologias geográficas, as quais foram forjadas pelas elites dirigentes segundo suas
visões acerca do espaço nacional nos distintos períodos político-históricos.
A “invenção do Brasil”: mitos territoriais e formação da identidade nacional
Ao se falar na “invenção do Brasil”, é mister salientar o papel de imaginações geográficas na construção da
identidade nacional e a importância da doutrina das fronteiras naturais nesse processo. Antes de adentrar a história-
geográfica de imaginação/construção da identidade nacional brasileira propriamente dita, cabe aqui apresentarmos,
mesmo que de forma sucinta, subsídios elucidativos acerca dos elementos teóricos que embasam a análise.
Benedict Anderson (1991 apud MAGNOLI, 1997) coloca que: “de fato, qualquer comunidade maior que povoados
primordiais de contato pessoal direto (e talvez mesmo eles) é imaginada.” (ANDERSON, 1991, p. 6 apud MAGNOLI,
1997, p. 7). Para o autor o sentimento de pertencimento a uma comunidade política é formado a partir de
“comunidades imaginadas”, pensadas no coração administrativo da nação. Seguindo o pensamento de Anderson (1991),
Magnoli (1997) relata:
A nação, essa “comunidade imaginária”, é uma criação do nacionalismo, no sentido pleno. Ela se ergue sobre o
chão da cultura: uma língua difundida pela palavra impressa, um mercado integrado e circunscrito no território, a
crença num passado compartilhado e um sentimento de comum destino. A sua forja é a imaginação material,
promovida pelo Estado: leis, moeda, sistema educacional, administração, recenseamento, cartografia. (MAGNOLI, 1997,
p. 7).
Ainda numa perspectiva andersoniana, Baud (1999) afirma que “las fronteras nacionales son construcciones
políticas, proyecciones imaginadas del poder territorial” (BAUD, 1999, p. 42). Portanto, a imaginação e construção das
fronteiras são vistas em si como uma prática da própria identidade nacional, tendo em vista a centralidade do elemento
territorial na definição da mesma.
Criticando as propostas de Anderson, Rowe e Schelling colocam que “la debilidad del esquema propuesto por
Anderson radica precisamente en su omisión del papel que cumple la cultura popular” (ROWE e SCHELLING, 1991, p.
25 apud RADCLIFFE e WESTWOOD, 1999, p. 30). Radcliffe e Westwood (1999) reiteram a crítica afirmando que:
“Mientras las historias nacionalistas oficiales suelen suponer de antemano el esquema territorial del país (al estilo de las
geografías nacionalistas), esto contrasta con la contingencia de otros espacios de pertenencia que se expresan en las
geografías ‘populares’ de identidad” (RADCLIFFE e WESTWOOD, 1999, p. 247).
Embora as críticas ao esquema andersoniano de pensamento acerca da construção de “comunidades imaginárias”
e do seu papel na configuração de identidades nacionais sejam válidas e incitem a reflexão acerca do tema, é fato que,
na América Latina, o território e o Estado presidem a ideia de nação de cima para baixo, da elite para o povo. Em sendo
assim, a construção de maquinarias imaginárias fundadas no território que forjam a identidade nacional a partir de
geografias nacionais é fundamental para compreender o fenômeno identitário no Brasil, como se verá a seguir.
Um outro aspecto teórico de relevância quanto da análise da “invenção do Brasil” diz respeito à doutrina das
fronteiras naturais. Embora saibamos que as fronteiras são, em essência, políticas e, portanto, artificiais, não sendo
nunca naturais, a concepção da doutrina das fronteiras naturais foi um elemento importante para construção da
ideologia geográfica que viria a fundamentar a criação da identidade nacional brasileira.
A doutrina das fronteiras naturais emergiu do Direito e da Geografia, na França iluminista, no século XVIII, e
baseia-se na noção de que as nações estavam predestinadas a ocupar determinado território, circundado por “fronteiras
naturais”. O geógrafo alemão Karl Ritter, em particular, sob influência de Alexandre von Humbolt, concebeu a Terra
como um organismo vivo, no qual estaria materializada a vontade divina. O curso dos rios e a morfologia do relevo
obedeciam a tal princípio, e à ciência geográfica corresponderia a tarefa de compreender a obra do Criador por meio da
razão. De acordo com essa concepção de mundo, as fronteiras existiriam antes de sua efetiva definição e delimitação,
cabendo aos homens ‘descobri-las’ na trama da natureza.
Ao criticar a concepção naturalista das fronteiras, Magnoli (1997) assevera que “o apelo à ‘natureza’ implica
sublimação da história, a abstração da condição de ‘construções geopolíticas datadas’ – ou seja, de ‘tempos inscritos
nos espaços’ – que confere conteúdo político às fronteiras e frequentemente revela sua precária legitimidade.”
(MAGNOLI, 1997, p. 21). É ainda interessante notar que, embora a doutrina das fronteiras nacionais surja em plena
França iluminista, ela contém em si elementos definidores de percepções românticas acerca do processo histórico-
geográfico. Sobre o romantismo, presente na concepção natural das fronteiras, Magnoli (1997) escreve:
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O romantismo enraíza nas tradições imemoriais – num passado tão remoto e misterioso que só pode ser
apreendido pelos sentimentos, pela afetividade, pela emoção – a comunidade de destino sobre a qual se ergue a
nacionalidade. Nesse terreno fértil, inventaram-se as tradições e floresceram as mitologias e as mistificações nacionais.
(MAGNOLI, 1997, p. 17).
A doutrina das fronteiras naturais funcionou como elemento organizador da narrativa de construção do território
nacional brasileiro. Essa narrativa foi obra coletiva da elite imperial a partir de um olhar romântico dirigido para o
passado colonial. A intelectualidade do Império entregou-se à fabricação de uma tradição nacional, cortando e
montando peças de um quebra-cabeça da pátria imaginária. Destarte, o passado colonial foi submetido a uma completa
releitura, no intuito de iluminar os vultos anunciadores do destino nacional e de definir, por oposição aos estrangeiros,
uma nação brasileira.
Uma ideia seminal que inspirou a concepção imaginária da nacionalidade foi a de Ilha-Brasil, a qual seria definida
geograficamente pelos cursos dos rios Paraguai, Uruguai, Guaporé e Mamoré e pelo vale drenado pelos afluentes do rio
Amazonas. É a ideia da existência, na América do Sul, de um todo geográfico e geometricamente defino e quase
insulado, o qual comporia o território natural do Brasil. Tal narrativa, inspirada em relatos e mapas de viajantes,
funcionou como mito de origem da nação. Segundo ela, o Brasil seria uma unidade natural, herdada pela colonização
portuguesa e consagrada pela Independência. Dessa forma, o conceito de território brasileiro antecipou-se à
emergência do próprio Estado nacional.
A ideia acerca da Ilha-Brasil se inseriria num contexto de transformação de relatos lendários em mito territorial
orientado por um desígnio geopolítico. Como afirma Magnoli (1997): a Ilha-Brasil teria operado na construção de uma
‘razão geográfica de Estado’ e na definição de um ‘imperativo geopolítico para os três primeiros séculos de formação
territorial do Brasil. (...) A unicidade do território colonial lusitano, fruto de segregação insular, emanava da própria
natureza. (....) O Brasil erguia-se como realidade geográfica anterior à colonização, como herança recebida pelos
portugueses. Ao invés de conquista e exploração colonial, dádiva e destino. (MAGNOLI, 1997, p. 47).
A força da noção de Ilha-Brasil encontra-se na subversão do horizonte histórico e diplomático e na substituição do
mesmo por um ordenamento ancestral. Tratados são subvertidos e uma verdade ‘pré-histórica’ é invocada em seu
lugar.
Nesse contexto, o bandeirismo é um elemento fundamental para se pensar a construção nacional no Brasil.
Considerado por alguns, como Cassiano Ricardo, como a epopeia da construção nacional, o bandeirismo leva consigo a
ideia-chave de interpenetração entre ‘colonizador’ e a terra, legitimando a inserção nas configurações territoriais
imaginárias relativas ao mito da Ilha-Brasil. Ademais, o bandeirismo também é visto, nessa perspectiva, como criador de
um proto-Estado brasileiro e de difusão territorial de uma nova soberania. Os bandeirantes são, enfim, analisados como
os ‘obscuros trabalhadores da diplomacia’, engrandecendo e dilatando o patrimônio territorial até suas ‘fronteiras
naturais’, apertando, assim, o nó do discurso mitológico.
O pressuposto do mito da Ilha-Brasil é uma suposta unidade colonial brasileira, que até hoje se manifesta com o
uso corriqueiro da expressão ‘Brasil-Colônia’, como se tivesse havido realmente uma unidade política unificada na
América portuguesa. Jamais existiu, contudo, uma unidade colonial. A América portuguesa, submetida como um todo à
soberania da Coroa, foi fragmentada em diferentes colônias. Na verdade, os contornos políticos desses territórios
flutuaram ao longo do tempo em função das estratégias administrativas adotadas em Lisboa. Não obstante, o mito da
Ilha-Brasil e a doutrina das fronteiras naturais fundiram-se na narrativa territorial brasileira, onde o ‘Brasil-Colônia’
apresenta-se como fruto. Tal narrativa territorial, construída pelas elites ilustradas do Império do Brasil, inaugurou uma
tradição cultural que ainda hoje reverbera e é elemento definidor da identidade nacional brasileira.
Dado o caráter conservador, tanto no plano político quanto no territorial, da Independência brasileira, a obra
imperial de limites combinou a força do argumento com o argumento da força, mas obedeceu a concepção geral das
“fronteiras naturais” contida no mito da Ilha-Brasil, e manipulou habilmente a noção do uti possidetis. Nesse sentido, o
Tratado de Madrid, o qual fora negociado pelo diplomata brasileiro em defesa da Coroa portuguesa, Alexandre de
Gusmão (considerado um dos patronos da diplomacia brasileira hoje), tornou-se marco de fundação do território
brasileiro. No tratado ficou acordada prevalência da ideia do uti possidetis de facto (ou seja, tem direito à propriedade
aquele que de fato ocupa o território) na definição das fronteiras entre as colônias espanholas e portuguesas,
legitimando as incursões portuguesas para bem-além da linha de Tordesilhas, aproximando-se das fronteiras míticas da
Ilha-Brasil.
Destarte, o elemento que faz o Tratado de Madrid ser considerado um marco fundador do território brasileiro está
intimamente vinculado ao mitológico. O Tratado alimentaria a ideia do território natural nacional e tem importância e
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lugar incomparáveis derivados do papel que desempenha na mitologia da nacionalidade. Ao tratar da importância do
Tratado de Madri na construção da mitologia territorial nacional, Magnoli conclui:
O Tratado de Madri une as pontas do discurso ideológico. Absorvido como chave diplomática das fronteiras
brasileiras, funciona como depositário da epopeia territorial bandeirante que reafirmou o direito primordial inscrito no
mito da Ilha-Brasil. Assim a realidade geográfica anterior à história franqueava o seu caminho, consubstanciando-se
como realidade política: o corpo da pátria. (MAGNOLI, 1997, p. 77).
Ao se pensar na construção do ‘corpo da pátria’, é importante ressaltar o caráter conservador e elitista da
construção do mesmo. Como aborda Porto-Gonçalves (2006), “no Brasil a unidade territorial foi conformada por meio
do pacto das oligarquias em torno de um monarca e de uma burocracia esclarecida de gestores estatais com formação
acadêmica em Coimbra, (Carvalho, 1996) e se fez contra os de baixo ao manter o latifúndio e a escravidão” (PORTO-
GONÇALVES, 2006, p. 162). Assim, as condições particulares da monarquia e da escravidão moldaram o discurso
identitário, impondo-lhe características ideológicas específicas: o território, e não a sociedade, emergiu como traço
definidor da nacionalidade.
Moraes (2005), ao falar da criação identitária nacional relata: “o Brasil não será concebido como um povo e sim
como uma porção do espaço terrestre, não uma comunidade de indivíduos mas como um âmbito espacial” (MORAES,
2005, p. 93). “O Estado será o guardião da soberania e construtor da nacionalidade, entendida como o povoamento do
país” (MORAES, 2005, p. 94). Ideologias geográficas vão ser geradoras de discursos legitimadores de uma identidade
nacional onde o Brasil é visto como um espaço a ser conquistado e ocupado1[2]. Em sendo assim, o povo é visto como
mero instrumento de construção do país, subalternos às ideias e projetos das elites. Relacionado a tal fato, observa-se
também a construção de novos mitos nacionais como o da homogeneidade étnica da identidade nacional, abordado por
Radcliffe e Westwood (1999), deixando à margem da identidade massas de índios e negros.
A política de fronteiras do Império foi uma derivação da narrativa da Ilha-Brasil, isto é, a horogênese das fronteiras
nacionais constituiu-se desde o início a partir de concepções imaginárias construídas e selecionadas coletivamente por
uma elite nacional no sentido de garantir a posse de um território imaginado como pré-existente numa “pré-proto-
história” nacional. Tais elementos sempre foram pensados a partir da ideia de geração de continuidade histórica para o
território nacional, e tendo a diplomacia imperial como elemento de desenvolvimento e maturação da mitologia
territorial nacional.
Desde a Independência, a política externa brasileira orientou-se pelo imperativo de construir a nação, o que
significou essencialmente moldar o seu território. Já no período republicado, a configuração das fronteiras nacionais
continuou sendo o mote da diplomacia nacional. É interessante aqui ressaltar que, foi no período do Império que mais
da metade do território atual brasileiro foi delimitado, 32% durante a Primeira República e somente 17% no período
colonial. Assim, quanto ao período de delimitação, os dados derrubam facilmente o mito da antiguidade das linhas
limítrofes do país: o Império é o grande período de horogênese das fronteiras nacionais. Contudo, esses mesmos dados,
ao atestarem a relevância do período imperial para a construção e consolidação territorial do Brasil, deixam claro o
porquê da ‘invenção da nação brasileira’ ter sido fundada em mitos territoriais surgidos dos imaginários geográficos das
elites desse período.
A partir do mito da Ilha-Brasil e da ideia das fronteiras naturais, observou-se a sedimentação do território enquanto
elemento básico do discurso e da identidade nacional brasileira. A formação de ideologias geográficas, ao longo do
século XX, no Brasil, se fez tendo sempre em por trás a sombra do território. Construir o país é o mote ideológico que
orienta um projeto nacional que, atravessando diferentes conjunturas e distintos atores políticos, firma-se enquanto um
dos objetivos mais importantes desde o Império. A própria ideia de construir o país dota as elites de coesão para atuar
na construção de um projeto nacional comum, o qual tem na base da identidade a própria mitologia territorial.
Nesse sentido, a interação entre o mito e a identidade, forjando o projeto nacional espacialmente apresentado, se
deu, durante o século XIX, de forma a conceber o papel catalisador da noção de “civilização”. A monarquia brasileira
via, portanto, que construir o país era levar a civilização aos sertões, ocupar o solo e subtrair os lugares da barbárie
(integrar o índio, apropriar-se da terra, etc.). Civilizar, enquanto ideologia geográfica, deveria ser entendida como uma
outra forma de qualificar a expansão territorial, no bojo do processo de invenção da nação.
A partir das primeiras décadas do século XX, observam-se no Brasil mudanças de ideologia geográfica. O papel
catalisador que a ideia de civilização cumpriu para a antiga mentalidade será agora ocupado pelo conceito de
modernização. Modernizar significa, dentre outras coisas, reorganizar e ocupar o território, valorizando-o. É importante
notar que o povo continua de fora da construção da identidade nacional ainda nesse período. O Estado Novo, liderado
por Vargas, traz em seus traços autoritários a caracterização da máxima: “tutela do povo em nome da integridade do
território”.
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Ademais, vale ressaltar que, como coloca Moraes (2005), no período do Estado Novo, alguns dos elementos
essenciais da ideologia geográfica eram a mitologização da hinterland e a emergência da temática regional como central
na interpretação do Brasil. Destarte, modernização e regionalismo passaram ser elementos coordenados dentro de um
mesmo padrão ideológico-geográfico. A mitologização da hinterland trouxe consigo a inovação valorativa do interior do
país, que passa a ser visto como matriz da brasilidade e santuário do verdadeiro caráter nacional. Nesse período, a
visão da brasilidade como sendo uma soma das culturas regionais do país gera a invenção de tradições e criação de
identidade regionais fundadas nas diversas partes do território nacional.
Somente em meados do século XX, a ideia de povo começa a ganhar alguma ressonância e significado na
discussão da identidade nacional no Brasil. Contudo, com o golpe militar em 1964, o autoritarismo espacialista retoma o
controle sobre a imaginação e construção da identidade nacional, reforçando uma visão geopolítica de atuação
governamental e identificando o Brasil ao seu território. Observa-se, nesse período, de forma cabal, o divórcio entre o
Estado e a nação que se sedimenta então.
Com o processo de redemocratização do Brasil nas últimas décadas do século XX, o qual ocorre no contexto da de
aceleração do processo de globalização, torna-se patente o desafio de repensar o Brasil enquanto uma sociedade,
requalificando a abordagem do território nacional, devendo este ser visto como um patrimônio da nação, e não sua
razão de ser. Tendo em vista a importância que o território e os mitos territoriais tiveram (e ainda têm) na ‘invenção do
Brasil’, na construção da identidade nacional brasileira, o desafio aqui citado não é nada desprezível, mas
completamente plausível e executável a partir da re-imaginação da identidade nacional em nova base, multifacetada e
multiétnica.
Considerações finais
Como se pôde analisar ao longo do presente trabalho, a identidade nacional brasileira tem raízes fincadas na
imaginação geográfica da elite imperial acerca do território, tendo como fundamentação essencial a doutrina das
fronteiras naturais. A mitologia fundadora da nacionalidade, o mito da Ilha-Brasil, traz consigo elementos discursivos
que irão povoar o imaginário nacional até os dias de hoje. O elemento territorial sempre esteve presente de forma
marcante na construção identitária brasileira. Nas ideologias geográficas, forjadas pelas elites ao longo da história
nacional, o espaço foi onipresente. Tal fato encontra eco na história nacional, a qual vê a construção/invenção do
território preceder a construção do Estado nacional, que por sua vez antecede e preside a criação da própria nação.
Essa hipertrofia do territorial na construção da identidade nacional brasileira marca, como não poderia deixar de
ser, o estabelecimento do ‘outro’ com o qual, e contra o qual, a auto-afirmação da identidade nacional tornou-se
possível. A ideia, não rara, de ver o Brasil como um grande enclave na América do Sul (ou mesmo na América Latina),
encontra significação no mito fundador da identidade, da ideia da Ilha-Brasil. Destarte, o ‘outro’ e a ‘circunstância’ na
qual a identidade brasileira é conformada e imaginada estão imediatamente ligados à América hispânica, com aspectos
históricos que remetem à própria rivalidade luso-espanhola.
Por fim, vale frisar que, conforme coloca Moraes (2005): “A superação do espacialismo autoritário não deve ser a
supressão do território no ordenamento do projeto nacional, mas seu equacionamento adequado ao ideal democrático”
(MORAES, 2005, p.103). Repensar, re-imaginar, recriar, resignificar a identidade nacional, passa por um maior equilíbrio
do tripé formador da narrativa identitária (território, cultura e história), com a incorporação de novos conceitos e a
recriação de maquinarias imaginárias que venham a reinventar o próprio território e a nação brasileira.
Referências
BAUD, Michiel. Fronteras y la construcción del Estado en América Latina. In: CISNEROS, G. T. et al. Cruzando fronteras. Quito: Abya Yala, 2004. p.41-86. MAGNOLI, Demétrio. O corpo da pátria. São Paulo: Moderna/EDUNESP, 1997. MORAES, Antonio Carlos Robert. Território e História no Brasil. 2. ed. São Paulo: Annablume, 2005. PORTO-GONÇALVES, Carlos Walter. A reinvenção dos territórios: A experiência latino-americana e caribenha. In: CECEÑA, A. E. (comp.). Los desafíos de las emancipaciones en un contexto militarizado. Buenos Aires: CLACSO, 2006. p.151-197. RADCLIFFE, Sarah; WESTWOOD, Sallie. Rehaciendo la nación: Lugar identidad y política en América Latina. Quito: Abya Yala, 1999.
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ERRATA ARTIGO ORIGINAL
INCOMPLETO
Educ. Rev., Belo Horizonte(10): 3-15, dez. 1989.
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1.7. Aporte teórico para os professores
1.7.1. Texto: Identidade Nacional: Utopias e distopias – Adônis Cairo Costa.
1.7.2. Texto: “Identidades”: O que nos difere e o que nos iguala – Antônio Mateus Souza. 1.7.3. Identidade Nacional: O Brasil sob o mosaico e a adoração de si mesmo – Anna Carvalho.
2. ATIVIDADES DA 1a UNIDADE:
2.1. Cronograma de Atividades Propostas:
Divisão dos grupos e discussão dos subtemas.
ATIVIDADE DESCRIÇÃO PERÍODO/HORÁRIO LOCAL
Abertura
Aula interdisciplinar sobre cultura, seguida de debate. Professores: Anna Carvalho, Rodrigo, Adônis Cairo, Ana Cláudia, Lucas e Luiz Carlos.
03/03 (Sábado) 07 às 10h20min 10h50min às 12h30min
Teatro do Colégio Sala de aula
Coletar dados por meio de pesquisas e observações;
Ler diferentes tipos de textos;
Elaborar textos a partir do autoconhecimento.
05 a 09/03 Casa e Colégio
Elaboração de um texto que represente a pesquisa do subtema da turma.
Com base nas produções da turma, elaborar um texto dissertativo nas aulas de Redação para ser avaliado.
12 a 16/03 Colégio (Sala de aula)
Divulgação do subtema pesquisado.
1o A – Cenas teatrais, cartazes, facebook e camisa;
1o B – Cartazes;
1o C – Cartazes.
16 a 20/04
Em espaços do Colégio e internet;
No espaço dos jogos;
Nas salas de aula.
Elaboração da ficha de
participação da turma no projeto.
Os líderes do CIRMEN devem apresentar a ficha de participação da turma no projeto.
23 a 24/04 Sala de aula.
Apresentação da ficha de participação da turma para os professores e discussão com os colegas em sala de aula.
Na presença dos professores os líderes devem informar aos colegas os critérios utilizados para a avaliação do grupo.
25 a 27/04 Sala de aula.
3. AVALIAÇÃO DO PROJETO
Pesquisa individual/texto dissertativo da turma – 0,5 (meio) ponto;
Divulgação do subtema pesquisado – 0,5 (meio) ponto.
Querido Estudante:
A identidade individual e coletiva que o grupo ou indivíduo elege como uma de suas prioridades fortalece a sua participação ativa na aprendizagem,
oportunizando-lhe a produção significativa de uma conexão íntima entre o processo de ensino e a vida.
Sucesso!
Bom Trabalho!
Supervisão Pedagógica do Ensino Médio.