linha de base - embrapa · iii) núcleo piloto; iv) experiências tecnológicas; v) meio ambiente;...

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EMPRESA BRASILEIRA DE PESQUISA AGROPECUÁRIA - EMBRAPA PROGRAMA DE APOIO À INOVAÇÃO TECNOLÓGICA E NOVAS FORMAS DE GESTÃO NA PESQUISA AGROPECUÁRIA – AGROFUTURO. BID No. 1595/OC-BR Componente 3 - Núcleos Piloto de Informação e Gestão Tecnológica para a Agricultura Familiar Linha de base Território Grande Dourados/MS Território do Sisal/BA Território do Nordeste Paraense/PA Elaborado por Doris Sayago Brasília Maio, 2007

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EMPRESA BRASILEIRA DE PESQUISA AGROPECUÁRIA - EMBRAPA

PROGRAMA DE APOIO À INOVAÇÃO TECNOLÓGICA E NOVAS FORMAS DE GESTÃO NA PESQUISA AGROPECUÁRIA – AGROFUTURO.

BID No. 1595/OC-BR

Componente 3 - Núcleos Piloto de Informação e Gestão Tecnológica para a Agricultura Familiar

Linha de base Território Grande Dourados/MS

Território do Sisal/BATerritório do Nordeste Paraense/PA

Elaborado por Doris Sayago

BrasíliaMaio, 2007

SUMÁRIO GERAL

I. INTRODUÇÃO ................................................................................................ 13

II. Território Grande Dourados / MS .................................................................... 20

III. Território do Sisal / BA .................................................................................. 65

IV. Território Nordeste Paraense / PA ............................................................... 109

V. Considerações Finais ..................................................................................... 147

VI. Referências ................................................................................................... 157

VII. ANEXOS ................................................................................................... 159

2

APRESENTAÇÃO

A Linha de Base apresenta um elenco de informações, dados e observações,

destinados a nortear as ações de instalação e acompanhamento do Núcleo Piloto de

Informação e Gestão Tecnológica para a Agricultura Familiar conduzido pela Embrapa

no âmbito do Projeto Agrofuturo - BID No. 1595/OC-BR.

Foram selecionados atores considerados relevantes para os objetivos da

pesquisa e tratados temas como: i) conformação territorial; ii) agricultura familiar;

iii) núcleo piloto; iv) experiências tecnológicas; v) meio ambiente; vi) expectativas e

visões e; vii) aspectos gerais (atuação das organizações e instituições locais,

organização, liderança, projetos, pontos de estrangulamento, demandas e parcerias).

A expectativa é de que a Linha de Base, aqui apresentada, possa orientar

adequadamente as decisões e as ações do Programa de modo referenciado no

Território contemplado. Este documento não pretende oferecer planos detalhados de

ação, mas oferecer de forma clara um diagnóstico resultante de um processo

participativo.

Para finalizar agradecemos a contribuição e apoio dos pesquisadores da

Embrapa e dos inúmeros atores locais que ofereceram o seu valioso tempo para

conceder entrevistas e participar das reuniões convocadas durante o levantamento

dos dados.

3

Listas de Tabelas

1. Território Grande Dourados / MS – Nº de Famílias Assentadas em Projetos de Reforma Agrária

2. Território Grande Dourados / MS – Índice de Desenvolvimento Humano Municipal - IDHM

3. Território Grande Dourados / MS – Aspectos Populacionais

4. Território Grande Dourados / MS – Estabelecimentos Agropecuários (ha)

5. Território Grande Dourados / MS – Demanda Social do MDA

6. Território Grande Dourados / MS – Lavoura Permanente e Temporária - 2004/05

7. Território Grande Dourados / MS – Produção de Leite e Mel - 2004/05

8. Território Grande Dourados / MS – Produtos Agrícolas - 2004

9. Território Grande Dourados / MS – Produtos Agrícolas / Frutas - 2004

10. Território Grande Dourados / MS – Principais Rebanhos 2004/05

11. Território Grande Dourados / MS – Principais Produtos Pecuários - 2004

12. Território Grande Dourados / MS – Nº Empregos Gerados por Setor da Economia

13. Território Grande Dourados / MS – Renda (R$)

14. Território Grande Dourados / MS - Saneamento Básico

15. Território Grande Dourados / MS – População Alfabetizada

16. Território Grande Dourados / MS – Educação - 2005

17. Território Grande Dourados / MS - Investimento da SDT/MDA no Território

18. Território Grande Dourados / MS - Investimento SDT/MDA nos Territórios do Estado de Mato Grosso do Sul - 2006

19. Território Grande Dourados / MS - Ações da SDT/MDA no Território - 2006

20. Território do Sisal / BA – Nº de Famílias Assentadas em Projetos de Reforma Agrária

21. Território do Sisal / BA - Aspectos Populacionais

22. Território do Sisal / BA - Índice de Desenvolvimento Humano Municipal - IDHM

23. Território do Sisal / BA - Demanda Social do MDA

24. Território do Sisal / BA - Produção de Leite e Mel - 2004/05

25. Território do Sisal / BA - Principais Rebanhos - 2004/05

26. Território do Sisal / BA - Lavoura Permanente e Temporária - 2004/05

27. Território do Sisal / BA - Produtos Agrícolas / Frutas - 2004

4

28. Território do Sisal / BA - Produtos Agrícolas - 2004

29. Território do Sisal / BA - Nº de Empregos Gerados por Setor da Economia

30. Território do Sisal / BA – Renda

31. Território do Sisal / BA - Abastecimento de Água

32. Território do Sisal / BA – Tipo de Esgotamento Sanitário e Destino do Lixo

33. Território do Sisal / BA - População Alfabetizada

34. Território do Sisal / BA - Investimento da SDT/MDA no Território

35. Território do Sisal / BA - Ações da SDT/MDA- 2006

36. Território do Nordeste Paraense / PA – Aspectos Populacionais

37. Território do Nordeste Paraense / PA – Demanda Social do MDA

38.Território do Nordeste Paraense / PA – Nº de Famílias Assentadas em Projetos

da Reforma Agrária

39.Território do Nordeste Paraense / PA - Lavoura Permanente e Temporária –

2004/05

40. Território do Nordeste Paraense / PA - Produção de Leite e Mel - 2004/05

41. Território do Nordeste Paraense / PA - Principais Rebanhos - 2004/05

42.Território do Nordeste Paraense / PA – Nº de Empregos, Renda e

Estabelecimentos por setor da Economia.

43. Território do Nordeste Paraense / PA – Saneamento Básico

44.Território do Nordeste Paraense / PA – Nº de Queimadas e Desmatamentos -

2005

45. Território do Nordeste Paraense / PA – População Alfabetizada

46. Território do Nordeste Paraense / PA - Investimento da SDT/MDA no Território

47. Território do Nordeste Paraense / PA - Ações da SDT/MDA - 2004

48. Território do Nordeste Paraense / PA - Ações da SDT/MDA - 2006

5

Listas de Figuras

1. Mapa do Estado de Mato Grosso do Sul / MS

2. Mapa dos Territórios do Estado de Mato Grosso do Sul / MS

3. Mapa do Território Grande Dourados / MS

4. Mapa Social do Território Grande Dourados / MS

5. Arrecadação de ICMS Território Grande Dourados / MS - 2005

6. Mapa Institucional do Território Grande Dourados / MS

7. Mapa do Estado da Bahia / BA – Região Sisaleira

8. Mapa dos Territórios do Estado da Bahia / BA

9. Mapa do Território do Sisal / BA

10.

Mapa Social do Território do Sisal / BA

11.

Mapa Institucional do Território do Sisal / BA

12.

Mapa do Estado do Pará / PA

13.

Mapa dos Territórios do Estado do Pará /PA

14.

Mapa do Território do Nordeste Paraense / PA

15.

Mapa Social do Território do Nordeste Paraense / PA – Primeira Parte

16.

Mapa Social do Território do Nordeste Paraense / PA – Segunda Parte(Representação da Produção e Potencialidades)

17.

Mapa Institucional do Território do Nordeste Paraense / PA

6

Listas de Quadros

1. Quadro Resumo do Território Grande Dourados / MS

2. Quadro Resumo do Território do Sisal /BA

3. Quadro Resumo do Território Nordeste Paraense /PA

7

Listas de Siglas

ADHB Atlas do Desenvolvimento Humano no Brasil

AGRAER Agência Rural de Desenvolvimento Agrário e Extensão Rural/MS

AGROFUTURO Programa de Apoio à Inovação Tecnológica e Novas Formas de Gestão na Pesquisa Agropecuária

APA Área de Proteção Ambiental

APAEB Associação de Desenvolvimento Sustentável e Solidário da Região Sisaleira/BA

APAEFA Associação de Pais e Amigos da Escola Família Agrícola Avani de Lima Cunha/BA

APEPA Associação de Pequenos Produtores Rurais, Extrativistas e Pescadores Artesanais/PA

APL Arranjo Produtivo Local

APOMS Associação dos Produtores Orgânicos de Mato Grosso do Sul

BASA Banco da Amazônia

BID Banco Interamericano de Desenvolvimento

CAR Companhia de Desenvolvimento e Ação Regional /BA

CEF Caixa Econômica Federal

CET Coordenação Estadual de Territórios/BA

CFR Casa Familiar Rural

CIAT Comissão de Instalação das Ações Territoriais

CIRAD Centro de Cooperação Internacional de Pesquisa Agronômica para o Desenvolvimento, França.

CMDRS Conselho Municipal de Desenvolvimento Rural Sustentável

CMMA Conselhos Municipais de Meio Ambiente

CODES Conselho Regional de Desenvolvimento Rural Sustentável da Região Sisaleira do Estado da Bahia

COODERSUS Cooperativa de Prestação de Serviços em Apoio ao Desenvolvimento Rural Sustentável/PA

COOPALEITE Cooperativa de Leite/ MS

COOPERAFIS Cooperativa Regional de Artesãs Fibras do Sertão/BA

COOPERE Cooperativa Valentense de Crédito Rural /BA

COOPERJOVENS Cooperativa de Produção dos Jovens da Região do Sisal / BA

COREDES Conselho Regional de Desenvolvimento Sustentável/Grande Dourados - MS

8

CPT Comissão Pastoral da Terra

CRA Centro de Recursos Ambientais/BA

DLS Desenvolvimento Local e Setorial

EBDA Empresa Baiana de Desenvolvimento Agrícola S.A

ECRAMA Escola de Formação para Jovens Agricultores

EFA Escola Familiar Agrícola

EMATER Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Pará

EMBRAPA Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária

EMBRAPA Amazônia Oriental, Belém/PA

EMBRAPA Agropecuária Oeste, Dourados/ MS

EMBRAPA Semi-Árido, Petrolina/PE

EMPAER Empresa Mato-grossense de Pesquisa, Assistência e Extensão Rural

FAD Faculdade de Dourados/MS

FANEP Fundação Sócio Ambiental do Nordeste Paraense/PA

FAPS Faculdade de Administração de Fátima do Sul/MS

FASE Federação dos Órgãos para a Assistência Social e Educacional /PA

FATILEITE Cooperativa de Leite de Fátima do Sul/MS

FATRES Fundação de Apoio aos Trabalhadores Rurais e Agricultores Familiares da Região do Sisal e Semi-árido da Bahia

FETAG - BA Federação dos Trabalhadores da Agricultura do Estado da Bahia.

FETAGRI - PA Federação dos Trabalhadores da Agricultura do Estado da Pará

FIFASUL Faculdades Integradas de Fátima do Sul/MS

FINEP Financiadora de Estudos e Projetos

FLOAGRI Projeto Floresta e Agricultura na Amazônia

FNO Fundo Constitucional do Norte

FUNAI Fundação Nacional do Índio

FUNAR Fundação Educacional para o Desenvolvimento Rural

FUNASA Fundação Nacional de Saúde

GTA Grupo de Trabalho Amazônico

IBAMA Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis

IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

ICMS Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Prestação de Serviços

IDAM Instituto de Assistência Técnica, Extensão e Desenvolvimento Rural Sustentável da Amazônia/PA

IDATERRA Instituto de Desenvolvimento Agrário, Pesquisa e Extensão Rural /MS

9

IDH Índice de Desenvolvimento Humano

IDHM Índice de Desenvolvimento Humano Municipal

IDHT Índice de Desenvolvimento Humano Territorial

IESD Instituto de Ensino Superior de Dourados/MS

IMAD Instituto de Meio Ambiente e Desenvolvimento/MS

INCRA Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária

IPLAN Instituto de Estudos e Planejamento de Mato Grosso do Sul

ITCP Incubadora Tecnológica de Cooperativas Populares da Universidade do Estado da Bahia - UNEB

MCT Ministério de Ciência e Tecnologia

MDA Ministério de Desenvolvimento Agrário

MMA Ministério de Meio Ambiente

MMNEPA Movimento das Mulheres do Nordeste Paraense/PA

MMTR Movimento de Mulheres Trabalhadoras Rurais/MS

MOC Movimento de Organização Comunitária/BA

NAFTA Acordo de Livre Comércio da América do Norte

ONG Organização não Governamental

ONU Organização das Nações Unidas

OPFCJS Organização dos Produtores Familiares do Comércio Justo e Solidário

PADEQ Projeto Alternativas ao Desmatamento e Queimadas

PROAMBIENTE Programa de Desenvolvimento Socioambiental da Produção Familiar Rural

PRODER Programa de Emprego e Renda

PRONAF Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar

PRONERA Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária

PROSISAL Projeto Desenvolvimento de componentes de edificações em fibrade sisal-argamassa a serem produzidos de forma autogestionária

PSDL Programa SEBRAE de Desenvolvimento Local

PTDRS Plano Territorial de Desenvolvimento Rural Sustentável

REPARTE Rede de Parceiros da Terra/BA

RPPN Reserva Particular do Patrimônio Natural

SAF Sistema Agroflorestal

SAGRI Secretaria Executiva de Estado de Agricultura / PA

SDT Secretaria de Desenvolvimento Territorial

SEAGRI Secretaria de Agricultura, Irrigação e Reforma Agrária /BA

SEBRAE Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas

10

SECOMP Secretaria de Combate à Pobreza e às Desigualdades Sociais

SECTI Secretaria Estadual de Ciência, Tecnologia e Inovação /BA

SEI Superintendência de Estudos Econômicos e Sociais da Bahia

SEMAGRI Secretaria Municipal de Agricultura Juriti/PA

SEMMA Secretaria Municipal de Meio Ambiente do Município

SEPLAN Secretaria do Planejamento do Estado da Bahia

SEPLANCT Secretaria de Estado de Planejamento e de Ciência e Tecnologia /MS

SICM Secretaria da Indústria, Comércio e Mineração do Estado da Bahia.

SICOOB Sistema de Cooperativas de Credito do Brasil

SIT Sistema de Informações Territoriais – SDT/MDA

SNIU Sistema Nacional de Indicadores Urbanos

STR Sindicato dos Trabalhadores Rurais

SUDECO Superintendência de Desenvolvimento do Centro - Oeste /MS

SUDENE Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste

UEMS Universidade Estadual do Mato Grosso do Sul/MS

UFGD Universidade Federal Grande Dourados /MS

UFMS Universidade Federal do Mato Grosso do Sul/MS

UNEB Universidade Estadual da Bahia/BA

UNIDERP Universidade para o Desenvolvimento do Estado e da Região do Pantanal/MS

UNIGRAN Centro Universitário Grande Dourados/MS

UNISISAL Universidade da Região Sisaleira/BA

11

AGRADECIMENTOS

O documento aqui apresentado foi realizado graças à colaboração de várias

instituições presentes nos diferentes territórios. No Território Grande Dourados,

em particular, contou-se com o apoio da Embrapa Agropecuária Oeste, da Secretaria

de Agricultura Familiar da Prefeitura de Dourados, da Associação dos Produtores

Orgânicos de Mato Grosso do Sul – APOMS, assim como da Secretaria de Meio

Ambiente do Município de Jateí - SEMMA.

No Território do Sisal, a colaboração oferecida pela Embrapa Semi-Árido e

pela Associação de Desenvolvimento Sustentável e Solidário da Região Sisaleira –

APAEB deve ser registrada. No Território do Nordeste Paraense foi fundamental a

ajuda prestada pela Embrapa Amazônia Oriental e pela Fundação Sócio Ambiental do

Nordeste Paraense - FANEP.

Um outro destaque merece ser assinalado, o processo de mobilização dos

atores territoriais durante as duas coletivas realizadas em Dourados contou com o

apoio de Milton Padovan, pesquisador da Embrapa e de Olácio Komori coordenador

técnico da APOMS e atual articulador territorial. As coletivas em Valente contaram

com o apoio de José Nilton Moreira, pesquisador da Embrapa e dos técnicos da

APAEB. E a coletiva realizada em Paragominas e Ourém contou com o apoio de

Mauricio Shimizu e Mario de Oliveira Gomes, pesquisadores da Embrapa – Amazônia

Oriental e Haroldo José Neto de Oliveira, técnico da Fundação Sócio Ambiental do

Nordeste Paraense - FANEP.

Eles em muito contribuíram para o incentivo à participação das lideranças e

demais instâncias representativas das comunidades dos Territórios.

O trabalho também beneficiou-se das entrevistas gentilmente concedidas por

cada um dos atores envolvidos na pesquisa de campo. As informações por eles

fornecidas foram importantes para captar as particularidades dos Territórios e

pincelar suas realidades.

Um agradecimento especial ao Dr. Osvaldo Kato da EMBRAPA Amazônia

Oriental pela entrevista concedida.

12

I.INTRODUÇÃO

O interesse principal ao desenvolver esta pesquisa foi buscar um quadro mais

compreensivo das entidades, das ações, dos programas e dos projetos com foco na

agricultura familiar com rebatimento territorial. E, obter uma visão mais qualificada dessa

discussão por parte das entidades locais mais atuantes nos Territórios.

O Diagnóstico da Linha de Base está estruturado em sete partes. A Introdução

apresenta, brevemente, a metodologia utilizada para o desenvolvimento do trabalho de

levantamento dos dados, mostra como foi realizada a mobilização e descreve as técnicas

empregadas no processo participativo.

As seguintes partes (II, III e IV) contêm os dados referentes aos territórios

pesquisados e descrevem sua formação e seus aspectos socioeconômicos, ambientais e

tecnológicos, apresentando o Imaginário a partir do conhecimento da política do Ministério

do Desenvolvimento Agrário - MDA, a apropriação das estratégias de territorialização por

parte dos atores locais, o conceito de núcleo piloto e a identidade expressada. Ainda são

tratadas as instituições envolvidas, as lideranças e os conflitos que servem de marco às

ações territoriais.

Finalmente apresentam-se os produtos e resultados do processo de

territorialização desenvolvido pelo MDA, discorrendo sobre a formação de capacidades,

planos, projetos e avanços no ciclo da gestão social.

Assim a segunda parte trata do Território Grande Dourados, o marco espacial e

histórico da formação do Estado de Mato Grosso do Sul com foco na conformação do

Território Grande Dourados/MS. A terceira parte refere-se ao Território do Sisal/BA e a

quarta parte ao Território do Nordeste Paraense/PA.

As Considerações Finais, Referências e Anexos são apresentados na quinta, sexta e

sétima partes respectivamente.

O Território Grande Dourados foi visitado entre os dias 13 e 20 de janeiro. Após

identificação institucional realizaram-se 14 entrevistas1 semi-estruturadas com atores

locais representantes destas instituições e demais segmentos de interesse da pesquisa

1 Ver lista em Anexo I.

13

como, por exemplo, representantes de movimentos sociais, associações, ONGs e órgãos

públicos.

Os municípios de Glória de Dourados e Jateí, além de Dourados, foram visitados

com o intuito de ter uma visão mais ampla e não apenas uma leitura restrita à cidade pólo,

permitindo conhecer outras experiências em andamento no Território.

O Território do Sisal foi visitado entre os dias 5 e 10 de fevereiro. Nele

realizaram-se 11 entrevistas2 semi-estruturadas. Foram visitadas as cidades de Valente e

Conceição do Coité.

O Território do Nordeste Paraense foi visitado entre os dias 4 e 10 de março,

realizaram-se 18 entrevistas3 semi-estruturadas e foram visitados os municípios de

Aurora do Pará, Paragominas, Ourém, Ipixuna do Pará e Mãe do Rio.

Além das informações oferecidas durante as entrevistas, muitos dos relatos

informais constam do diagnóstico, porém respeitou-se o anonimato.

2 Ver lista em Anexo II.3 Ver lista em Anexo III.

14

METODOLOGIA

A estratégia metodológica levada em prática possibilitou o contato e o intercâmbio

com os diferentes atores territoriais, com sua realidade, seus interesses e suas

aspirações e, principalmente com aqueles envolvidos com programas e projetos executados

na região, bem como na composição das Comissões de Instalação das Ações Territoriais –

CIATs e do Conselho Regional de Desenvolvimento Rural Sustentável da Região Sisaleira

do Estado da Bahia, o CODES - Sisal.

Assim, as atividades desenvolvidas, ao longo da pesquisa de campo, foram

conduzidas de maneira que a coleta de informações abrangesse o maior número possível de

representantes das instituições municipais e territoriais, evitando ao máximo a

concentração das atividades e informações com apenas os atores localizados nos

municípios sedes.

A metodologia adotada atendeu a três pontos: i) compilação e análise de

documentos técnicos, dados secundários e material bibliográfico elaborado pelo MDA e

fornecido pela Embrapa; ii) entrevistas individuais com atores-chave identificados a partir

do Plano Territorial de Desenvolvimento Rural Sustentável – PTDRS e importantes no

desenvolvimento do processo de construção do Território tanto na esfera local, estadual

como federal; iii) entrevistas coletivas realizadas com o intuito de elaborar o mapa social e

o mapa institucional do Território a partir da técnica Diagrama de Venn, descrita nos

próximos parágrafos.

- Compilação e Análise de Dados e Documentos

Foram analisados planos, relatórios e outros documentos anteriormente produzidos

no Território Grande Dourados: Plano Regional de Desenvolvimento Sustentável da

Grande Dourados (elaborado em novembro de 2001 sob a coordenação do Instituto de

Estudos e Planejamento de Mato Grosso do Sul - IPLAN e o Conselho Regional de

Desenvolvimento Sustentável – COREDES Grande Dourados), o Estudo Propositivo do

Território Grande Dourados (confeccionado pela Fundação Cândido Rondon em 2005), o

Relatório de Articulação Territorial (realizado em maio de 2006 sob a responsabilidade

do Instituto de Meio Ambiente e Desenvolvimento – IMAD), o Plano Municipal de

15

Desenvolvimento Ambiental Estratégico - PMDAE (produzido em janeiro de 2007 sob a

responsabilidade da Secretaria Municipal de Meio Ambiente da Prefeitura de Jateí –

SEMMA), o Plano Safra Territorial Grande Dourados (elaborado em 2006 sob a

responsabilidade da Fundação Cândido Rondon) e o Relatório das Ações da Secretaria

Municipal de Agricultura Familiar da Prefeitura de Dourados relativo ao período 2001-

2006.

No Território do Sisal: o Plano Safra Territorial do Sisal (realizado em abril de

2006 sob a responsabilidade da Secretaria de Desenvolvimento Territorial/MDA e da

Secretaria de Segurança Alimentar - MDS), o Estudo da Base Econômica

Territorial/Território do Sisal (elaborado em junho de 2005 sob a coordenação do MDA),

o Caderno Informativo, Conceitos & Metodologias (material elaborado a partir do

Seminário Desenvolvimento Territorial da Bahia: Uma Política Articulada realizado em

dezembro de 2004 e publicado em maio de 2005 pelo MDA) e, o livro intitulado

Territórios de Identidade: um novo Caminho para o Desenvolvimento Rural Sustentável

na Bahia (publicado pela Coordenação Estadual de Territórios- CET em 2006).

No Território do Nordeste Paraense: o Diagnóstico e Planejamento do

Desenvolvimento do Território Rural do Nordeste Paraense (elaborado em 2006 sob a

responsabilidade da Fundação Sócio Ambiental do Nordeste Paraense - FANEP), o Estudo

da Dinamização da Economia do Território Nordeste Paraense (documento da

Secretaria de Desenvolvimento Territorial do Ministério de Desenvolvimento Agrário -

SDT/MDA produzido em agosto de 2005), o Banco de Dados

INCRA/IDAM/COODERSUS (realizado em outubro de 2006 sob a responsabilidade da

Cooperativa de Prestação de Serviços em Apoio ao Desenvolvimento Rural Sustentável –

COODERSUS), o Relatório FANEP - Aurora (realizado pela Fundação Sócio Ambiental do

Nordeste Paraense - FANEP em 2006) e o Perfil dos Territórios Rurais - Território

Nordeste Paraense – PA (documento da Secretaria de Desenvolvimento Territorial do

Ministério de Desenvolvimento Agrário - SDT/MDA produzido em 2006).

16

- Entrevistas individuais

Realizadas com o objetivo de: i) obter informações mais detalhadas sobre as

dimensões abordadas no diagnóstico (social, econômica, ambiental e institucional); ii)

cruzar as informações advindas das entrevistas individuais com as coletivas; iii) apreciar

as expectativas dos atores territoriais, no tocante ao Programa Agrofuturo e, sobretudo,

à implantação do Núcleo Piloto.

- Entrevistas Coletivas

As coletivas tiveram como objetivo principal levantar dados qualitativos tendo como palco

as discussões geradas durante sua aplicação. Os objetivos secundários foram: i) informar

aos participantes sobre o Agrofuturo; ii) mostrar aos participantes a necessidade de

iniciar um processo de organização territorial entorno da implantação do Núcleo Piloto.

Os participantes foram orientados quanto às técnicas e processos a utilizar para o

cumprimento dos objetivos acima indicados, de forma que se captasse a opinião da

comunidade quanto à: i) identificação dos problemas considerados como os mais

importantes enfrentados pelo território e; ii) indicação das potencialidades do território.

A participação dos atores locais no processo de elaboração do diagnóstico foi

crucial e concretizou-se por meio de duas coletivas organizadas em cada um dos

territórios. Das reuniões resultaram valiosos subsídios não apenas para a fase do

diagnóstico como, também, para a discussão e socialização de problemas e soluções apontados

por diversos segmentos.

No caso específico do Mapeamento Institucional foram identificadas e listadas as

instituições das esferas federal, estadual e municipal consideradas, na opinião dos atores

entrevistados, como importantes e atuantes no Território. Durante a aplicação desta

técnica procurou-se fazer uma representação gráfica das instituições e de suas relações,

elaborada junto aos representantes das mesmas, permitindo complementar e aprofundar

as informações obtidas por intermédio das entrevistas.

17

Para levantar de maneira rápida e eficaz um maior leque de informações a respeito

das instituições territoriais foi aplicada a técnica Diagrama de Venn.

Esta técnica consiste na identificação e designação de lugares no cenário

territorial das instituições, segundo sua importância e atuação. A atuação é representada

graficamente de acordo com a distância que a instituição ocupa com respeito ao círculo

central que representa o Território. Assim, mais distante do círculo central menos

atuante, mais próximo do círculo mais atuante. As setas representam as relações que se

estabelecem entre as instituições, ou seja, boas, regulares ou comprometidas.

Já o Mapa Social é uma técnica que facilita o intercâmbio de informações e sua

verificação por um grupo maior de pessoas-chave. Mostra graficamente os diferentes

aspectos do território (espacial, ambiental, tecnológico, econômico, sociocultural e

institucional). O mapa serve de análise e discussão da situação atual do território por

intermédio de uma visão compartilhada que levanta os problemas e as potencialidades.

No Território Grande Dourados as entrevistas coletivas contaram com a

participação de dezessete (17) representantes institucionais reunidos na sede da Embrapa

na cidade de Dourados. As instituições presentes foram: IDATERRA/Município Douradina,

Universidade Federal Grande Dourados - UFGD/Dourados, Embrapa Agropecuária

Oeste/Dourados, APOMS, Comissão Pastoral da Terra - CPT/MS.

No Território do Sisal as técnicas foram concretizadas na sede da APAEB e da

Coopere - Cooperativa Valentense de Crédito Rural, integrante do Sistema de

Cooperativas de Crédito do Brasil / SICOOB, com participação de quatorze (14)

representantes de diversas instituições entre elas: APAEB/Valente, Rede de Parceiros da

Terra - REPARTE, CODES, Movimento de Organização Comunitária - MOC, EMBRAPA e

Casa da Cultura de Valente.

No Território do Nordeste Paraense uma primeira coletiva foi realizada no

município de Paragominas com a participação de vinte e quatro (24) pessoas de diversas

instituições, listadas a seguir: Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Pará –

EMATER, Banco do Brasil, Instituto de Assistência Técnica, Extensão e Desenvolvimento

Rural Sustentável da Amazônia - IDAM, Cooperativa de Prestação de Serviços em Apoio

ao Desenvolvimento Rural Sustentável - COODERSUS/Ipixuna do Pará, Secretaria

18

Municipal de Agricultura –SEMAGRI/Paragominas, Fundação Sócio Ambiental do Nordeste

Paraense- FANEP/Aurora do Pará, Sindicato dos Trabalhadores Rurais - STRs, Empresa

Brasileira de Pesquisa Agropecuária - EMBRAPA/Belém, Associação Água

Branca/Ulianópolis, Secretaria Municipal de Meio Ambiente –SEMMA.

Uma segunda coletiva, realizada na sede da Associação dos Trabalhadores Rurais de

Ourém, contou com a presença de quarenta e um (41) participantes. As instituições

representadas foram: Ministério de Desenvolvimento Agrário – MDA, Empresa de

Assistência Técnica e Extensão Rural do Pará – EMATER, Fundação Sócio Ambiental do

Nordeste Paraense - FANEP, Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária –

EMBRAPA/Belém, Sindicato dos Trabalhadores Rurais - STRs, Cáritas Diocesana de

Bragança, Grupo de Trabalho Amazônico - GTA, Movimento das Mulheres do Nordeste

Paraense- MMNEPA, Secretaria de Agricultura de Ourém, Associação de Quilombolas,

Associação de Pequenos Produtores Rurais, Extrativistas e Pescadores Artesanais -

APEPA, Cooperativa de Prestação de Serviços em Apoio ao Desenvolvimento Rural

Sustentável - COODERSUS-, Secretaria de Agricultura de São Domingos do Capim e

Secretaria de Agricultura de Cachoeira do Piriá.

19

II.Território Grande Dourados / MS

“Mato Grosso do Sul nasceu com a divisão de Mato Grosso, definida por lei em outubro de 1977, mas seu primeiro governo foi instalado em 1 de janeiro de 1979. Seus primeiros habitantes surgiram com a descoberta de ouro no Centro-Oeste do Brasil, no final do século XVI, e durante 400 anos a região fez parte do Estado de Mato Grosso. Por sua localização geográfica privilegiada, a região desenvolveu-se rapidamente, recebendo imigrantes portugueses, espanhóis e paraguaios, assim como mineiros, paulistas e nordestinos” (Campestrini, 2002 ).

20

SUMÁRIO

1. Marco

1.1 – Marco espacial

1.2 – Marco histórico

2. O Território do Ministério de Desenvolvimento Agrário

2.1 – Referência histórica territorial

2.2 – O território

2.3 – Mapa social

2.4 – Situação socioeconômica e ambiental predominante

2.5 - Inovação tecnológica

3 - Imaginário

3.1 - Conhecimento da política do Ministério de Desenvolvimento Agrário

3.2 - Apropriação da estratégia de territorialização por parte dos atores

3.3 - Conceito de núcleo

3.4 - Identidade expressada

4 - Ações

4.1 - Instituições envolvidas

4.2 - Lideranças no território

4.3 - Conflitos

5 - Resultados

5.1 - Formação de capacidades

5.2 - Plano (processo e estado atual)

5.3 - Avanços no ciclo de gestão social

21

1- Marco

1.1 – Marco Espacial

O Estado de Mato Grosso do Sul ocupa 18% da região Centro-Oeste. Tem uma

extensão territorial de 358.158,7 km², e está dividido em duas grandes bacias

hidrográficas: a do Rio Paraná, constituída basicamente de chapadões, planaltos e vales, e

a do Rio Paraguai, constituída de patamares, depressões e depressões interpatamares,

formando o Pantanal nas regiões chaquenha e pantaneira (SEPLANCT, 2007) (Figura 1).

A região da Grande Dourados4 caracterizada pela Bacia Sedimentar do Rio Paraná.

O relevo situa-se a uma altitude de 300 a 480 metros acima do nível do mar. Predomina o

clima tropical úmido com estação chuvosa concentrada no verão e seca no inverno. As

temperaturas dos meses mais frios situam-se entre 15º Centígrados com mínimas

absolutas entre 4 º e 6 º quando das correntes polares vindas do sul.

Caracteriza-se por apresentar solos latossólicos com predominância dos latossolos

vermelho - escuros e latossolos roxos. São solos com elevado potencial produtivo e

econômico pela diversidade de cultivos que pode comportar.

Estas características propiciam durante o ciclo de verão a produção de soja, milho,

arroz, mandioca, algodão, feijão, cana-de-açúcar. No inverno, as culturas que destacam são

do trigo, milho safrinha, girassol, sorgo, aveia, dentre outras menos expressivas (IPLAN,

2001: 10).

4 A região da Grande Dourados, definida pelo Instituto de Estudos e Planejamento de Mato Grosso do Sul – IPLAN comporta o Território Grande Dourados, acrescido do município de Maracaju.

22

Figura 1 - Mapa do Estado de Mato Grosso do Sul/MS

Fonte: www.portalbrasil.net

1.2 – Marco histórico

Mato Grosso do Sul nasceu com a divisão do Estado de Mato Grosso, definida por

lei em outubro de 1977, mas seu primeiro governo foi instalado em primeiro de janeiro de

1979. Quando do desmembramento, Mato Grosso do Sul, era conhecido como Estado de

Campo Grande e estava composto por 55 municípios que alcançavam uma população de

1.4000.000 habitantes em uma área de 357.139,9 km². Em 2000, segundo dados do IBGE,

o Estado contava com 2.075.275 habitantes, sendo que 32% da população se concentrava

no município de Campo Grande e 12,7 % na região Grande Dourados. 5

5 Observe-se que a divisão do IBGE denominada Grande Dourados não coincide com a divisão do MDA chamada de Território Grande Dourados, nem com a divisão do IPLAN/MS. Os municípios que contemplam a Região Grande Dourados, segundo IBGE, são: Caarapó, Deodápolis, Douradina, Dourados, Fátima do Sul, Glória de Dourados, Itaporã, Jateí, Laguna Carapã e Vicentina.

23

Os seus primeiros habitantes surgiram com a descoberta de ouro no Centro-Oeste

no final do século XVI, e durante 400 anos a região fez parte do Estado de Mato Grosso.

Por sua localização geográfica privilegiada, a região desenvolveu-se rapidamente,

recebendo imigrantes portugueses, espanhóis e paraguaios, assim como mineiros, paulistas

e nordestinos (http://www.seplanct.ms.gov.br).

O processo de ocupação de Mato Grosso do Sul foi promovido e implementado pelas

políticas governamentais. Na década de 40, na região de Dourados, criou-se a Colônia

Agrícola Nacional de Dourados que estimulou a ocupação desenfreada dos lotes ofertados

pelo Estado. Nas décadas seguintes houve a chegada de agricultores do sul e do sudeste

atraídos pelo valor da terra e a fertilidade do solo.

Nos anos setenta, o papel fundamental no processo de ocupação e fortalecimento

econômico da região ficou a cargo da Superintendência de Desenvolvimento do Centro-

Oeste / SUDECO, criada em 19676 com a finalidade de “povoar vazios” e incorporar novas

terras para a produção e exportação de alimentos. O resultado dessa política foi que de

1975 a 1980, foram incorporados cerca de 915.000 ha, apenas em território do atual Mato

Grosso do Sul, para produção exclusiva de soja e boi, com a supremacia da pecuária7.

A área da região de Dourados, assim como do novo estado, foi alvo de empresários

nacionais e internacionais por sua capacidade produtiva, provocando uma nova configuração

espacial não mais calcada no loteamento da Colônia Agrícola. Muitos lotes foram vendidos

consolidando-se uma nova estrutura fundiária do médio e grande proprietário. Já nos anos

90 houve uma reorganização do espaço que imprimiu diversificação na produção, entrando

em cena a suinocultura e a avicultura.

A área original da Colônia Agrícola de Dourados deu origem a vários municípios –

Glória de Dourados, Jateí, Fátima do Sul, Deodápolis e Douradina, estes compõem

atualmente a área hoje designada como Território Grande Dourados.

A Colônia criou, na opinião de alguns entrevistados, “uma agricultura familiar

diferente do assentado, gerou esse produtor ligado a soja e milho. Houve o fenômeno de

6 A SUDECO foi extinta em 1990. 7 ABREU, 2001.

24

ganhar muito dinheiro com soja e de comprar muitos lotes. A colônia japonesa entrou com

o café. Hoje tem produtor com lotes enormes”.

“A década de 70 foi o grande boom, depois veio o êxodo rural. Era comum vender

os lotes e ir para o norte. Temos os antigos, esses permanecem. Os assentados da reforma

agrária são os novos agricultores familiares dos anos 90. E tem agora o agricultor familiar

com nova concepção, mais tecnificado. Não se pode tratar igualmente os diferentes

setores da própria agricultura familiar”, completou outro entrevistado.

2 - O território do Ministério do Desenvolvimento Agrário

2.1 – Referência histórica territorial

Três divisões territoriais têm caracterizado o Estado de Mato Grosso do Sul:

i) a divisão do estado em 11 microrregiões geográficas. Dentro desta divisão o

Território Grande Dourados se enquadra na microrregião 10 composta por 15 municípios

(Amambaí, Antonio João, Aral Moreira, Caarapó, Douradina, Dourados, Fátima do Sul,

Itaporã, Juti, Laguna Carapã, Maracajú, Nova Alvorada do Sul, Ponta Porã, Rio Brilhante e

Vicentina);

ii) a divisão segundo os Conselhos Estaduais de Desenvolvimento Sustentável

identificando o grau de homogeneidade, tanto produtiva como de meio ambiente e de

infra-estrutura, composta por 13 municípios (Dourados, Maracajú, Rio Brilhante, Itaporã,

Douradina, Fátima do Sul, Jateí, Caarapó, Vicentina, Nova Alvorada do Sul, Glória de

Dourados, Deodápolis e Juti);

iii) a divisão no âmbito do Ministério de Desenvolvimento Agrário - MDA composta

por 12 municípios (Dourados, Rio Brilhante, Itaporã, Douradina, Fátima do Sul, Jateí,

Caarapó, Vicentina, Glória de Dourados, Deodápolis, Juti e o recém incorporado Nova

Alvorada do Sul8). A figura 2 mostra o mapa dos territórios do Estado de Mato Grosso do

Sul.

8 O município Nova Alvorada do Sul não integra os dados oficias do MDA. O seu ingresso no Território não foi oficializado. Parte dos entrevistados comentou que a incorporação está vinculada ao número de assentamentos que possui. O município Laguna Carapã também tentou ingressar no Território, porém não foi aceito por não ser expressivo na agricultura familiar, nem no número de assentados.

25

Figura 2 - Mapa dos Territórios Rurais do Estado de Mato Grosso do Sul/MS

Fonte: http://serv-sdt-1.mda.gov.br/sit/banco_mapa.php

2.2 – O Território

O território está conformado por 12 municípios: Dourados9, Rio Brilhante, Itaporã,

Caarapó, Glória de Dourados, Jateí, Fátima do Sul, Deodápolis, Douradina, Vicentina, Juti e

Nova Alvorada do Sul. Tem uma extensão territorial de 22.119 Km2, Possui uma população

de 294.338 habitantes segundo o Censo de 2000. Deste total 83% ocupa a área urbana e

apenas 17% mora na área rural. Destaca-se a cidade de Dourados por acolher 58 % dos

habitantes do Território. É o município Pólo localizado na região central do Território,

concentra as atividades econômicas e possui uma forte presença de centros

universitários10. É, também, o município com maior extensão e maior índice de população

urbana (91%.).

9 Dourados, cidade pólo foi elevada à categoria de município em 20 de dezembro de 1935. 10 Universidade Federal do Mato Grosso do Sul - UFMS, Universidade Estadual do Mato Grosso do Sul - UEMS,

Universidade Federal Grande Dourados - UFGD, Universidade para o Desenvolvimento do Estado e da Região do Pantanal – UNIDERP, Centro Universitário da Grande Dourados - UNIGRAN.

26

Território Grande Dourados

Figura 3 - Mapa do Território Grande Dourados/MS

Fonte: http://serv-sdt-1.mda.gov.br/sit/banco_mapa.php

Habitam na região 15.631 índios, 35,37 % da população indígena do estado estimada

em 44.099 mil. Estão divididos em nove (9) aldeias localizadas nas cidades de Dourados,

Caarapó, Juti, Douradina e Maracaju, ocupando uma área total de 21.274 hectares,

equivalente a 3,44% dos 617.593 mil hectares de terras ocupadas pelos indígenas em Mato

Grosso do Sul. Formam essa população as etnias: Guarani, Kaiuá e Terena.

O município de Dourados tem a maior população indígena de Mato Grosso do Sul,

distribuídas em duas (2) áreas reservadas às etnias Guarani e Terena11. Muito próxima da

cidade está a maior delas, com cerca de 12.000 habitantes distribuídos em cerca de 3.500

hectares. São essencialmente agricultores e praticam culturas de subsistência

complementando a pouca renda com trabalho externo em fazendas da região e nas usinas

de cana (Prefeitura de Dourados, 2007).

A situação dos índios na região é de profunda pobreza. Não são poucos os casos de

mendicância nas ruas, alcoolismo, fome, doença, prostituição e suicídios. Dados da

11 O primeiro indígena com título de Doutor no país é da etnia Terena e hoje trabalha na Embrapa Agropecuária Oeste - MS.

27

Fundação Nacional do Índio – FUNAI indicam que nos últimos anos registraram-se 308

suicídios de jovens com idade entre 12 e 14 anos em Mato Grosso do Sul, sendo que a

expressiva maioria das vítimas habitavam a região da Grande Dourados (IPLAN, 2001: 27-

28). Nesse sentido comentou um dos entrevistados, “infelizmente, só aparece indígena na

coluna policial. É álcool, drogas e suicídios. São índios urbanos”.

Em cinco municípios do Território Grande Dourados há presença de aldeias

indígenas, a saber: Jaguapirú, Bororó, Panambizinho, Passo Piraju e Jarará em Dourados.

Parte das aldeias Bororó e Jaguapirú ocupam o município de Itaporã. A aldeia Panambí

(Lagoa Rica) está localizada em Douradina. Já as aldeias de Tey Cuê e Gueraroka localizam-

se no município de Caarapó e na aldeia Taquara no município de Juti.

A preocupação com as populações indígenas trouxe políticas públicas direcionadas

para este segmento do Território. Assim, a Secretaria de Agricultura Familiar da

Prefeitura de Dourados executa, em parceria com o MDA, três projetos de apoio às

comunidades indígenas. O primeiro está direcionado à assistência técnica, extensão rural e

fomento agrícola com o intuito de instituir ações de segurança alimentar por intermédio da

implantação de Unidades de Quintais de Subsistência para famílias indígenas que não

dispõem de terra para cultivo. Têm sido priorizados os Pomares Consorciados e as Hortas

Domésticas. O segundo12 busca fornecer os insumos necessários para o plantio das lavouras

de subsistência referentes à safra 2006/2007, em aldeias que possuem áreas disponíveis

para pequenas lavouras nas seguintes terras indígenas do Território: Panambi (Douradina),

Tey Cuê e Gueraroka (Caarapó), Bororó, Jaguapirú, Panambizinho, Passo Piraju e Jarará

(Dourados) e Taquara (Juti). O terceiro está destinado à piscicultura com a construção de

50 viveiros de engorda de peixes nas Aldeias Bororó, Jaguapirú e Panambizinho.

Apesar desses esforços junto às comunidades indígenas, merecem espaço algumas

frases escutadas quando a questão em pauta eram os índios: “Os indígenas são opostos aos

agricultores familiares. O trabalho que é feito para eles [índios] não é o correto. Não é

liberar recurso. Devemos pegar o que eles querem fazer e jogar tecnologia para melhorar

a qualidade de vida. O milho deve voltar a eles”.

12 Parceria entre as prefeituras de Douradina e Caarapó, a FUNAI, o IDATERRA e as Unidades Agropecuária Oeste e Transferência de Tecnologia da Embrapa Dourados.

28

No território encontram-se quinze (15) assentamentos da Reforma Agrária

distribuidos em 30.257 ha e ocupados por um total de 1.278 famílias, a saber: Juti (2),

Caarapó (1), Dourados (2), Rio Brilhante (9) e Jateí (1). (Tabela 1).

Tabela 1 - Território Grande Dourados - MSNº de Famílias Assentadas em Projetos de Reforma Agrária

MunicípioÁrea do

Assentamento(ha)

Número deAssentamentos

Capacidadede Assentamentos(Nº de Famílias)

Número de Famílias

AssentadasCaarapó 1.193 1 41 41DeodápolisDouradinaDourados 5.198 2 218 217Fátima do SulGlória de DouradosItaporãJateí 2.757 1 113 82Juti 2.925 2 131 129Rio Brilhante 18.184 9 816 809Vicentina

Total 30.257 15 1.319 1.278Total dos Territórios no Estado 253.840 76 11.917 11.722MDA/Incra/SIR (2006). Nota: Dados atualizados até 30/09/2006.Fonte: SDT/MDA - SIT

No Território, também se encontram, em número menos expressivo, grupos de

quilombolas. No Estado foram identificadas 12 comunidades remanescentes de

quilombolas. Segundo dados da Fundação Cândido Rondon (2005) na cidade de Dourados há

6 famílias concentradas na comunidade de Picadinha. Nesta comunidade destaca-se a

Associação da Comunidade Negra Rural Quilombola de Dezidério Felipe de Oliveira, alvo do

Projeto Farinha de Mandioca implementado pela Prefeitura de Dourados.

Ao longo do trabalho de campo, em pouquíssimas ocasiões, houve referência aos

trabalhos feitos pelas mulheres13. Em Dourados há um grupo de mulheres que comercializa

alguns produtos: rapadura, mel e geléia de mocotó, diz um dos atores-chave. A questão de

gênero foi comentada quando houve discussão do Pronaf - Mulher: “a família já trabalha

com leite, aí ela acaba fazendo o projeto para leite, também. Mas às vezes o marido não

deixa”. Também houve menção aos trabalhos de artesanato feitos com fibra de bananeira

13 No município Rio Brilhante é expressivo o Movimento de Mulheres Trabalhadoras Rurais/MMTR-MS. Durante as reuniões não houve nenhuma representante do Movimento.

29

e bambu patrocinados pelo Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas -

SEBRAE14 que beneficiarão as famílias do assentamento Lagoa Grande em Dourados.

2.3 – Mapa Social

Na figura 4 pode-se visualizar, de maneira resumida, o conhecimento que o grupo

responsável pela técnica tem do território. Localizaram espacialmente cada um dos

municípios, mas, sobretudo demonstraram conhecimento detalhado dos fatores que nele

intervêm, fazendo uma descrição minuciosa e localizada das dinâmicas produtivas, sociais,

culturais e ambientais.

Desta maneira levantaram informações sobre a situação atual do Território nas

duas diversas potencialidades. Os participantes iniciaram a técnica com a distinção dos

doze municípios que compõem o Território. Em seguida traçaram as rodovias e hidrovias

que o atravessam, assim como a Serra de Maracaju divisora natural do Estado.

Ao longo da elaboração do desenho do mapa foram incorporando detalhes sobre a

produção de cada um dos municípios.

No centro do mapa ganhou destaque uma mancha escura que representa os solos

mais férteis. A produção de soja está concentrada nestes solos. Estão também presentes

na economia local a produção de leite, carne, frangos e suínos. Bem como projetos de

piscicultura em assentamentos e áreas indígenas e algumas agroindústrias de suínos e aves

concentradas em Dourados.

Também destacaram o Parque Estadual Ivinhema na bacia do rio Paraná,

compartilhado por três municípios, sendo que o município Jateí do Território Grande

Dourados é um deles. Já no município Glória de Dourados destacaram a produção de café

orgânico e a instalação da agroindústria de processamento de café e a parceria com uma

fecularia para o processamento da produção de mandioca orgânica sob a responsabilidade

da APOMS.

Desenharam moradias típicas das populações indígenas e quilombolas. Nos

municípios de Rio Brilhante, Juti, Jateí, Dourados e Caarapó os assentamentos ganharam

visibilidade. As universidades e a Embrapa também ganharam espaço no mapa.

14 O SEBRAE foi uma das instituições menos mencionadas durante as entrevistas. As poucas referências feitas à entidade estavam relacionadas com atividades pontuais (como o artesanato) ou como parceiro da APOMS.

30

Figura 4 - Mapa Social do Território Grande Dourados/MS

2.4 - Situação socioeconômica e ambiental predominante

O ciclo da erva mate, a ocupação de extensas áreas para a agricultura de

subsistência e a criação de gado são o marco inicial da economia do Território. Mais

recentemente, a exploração de soja, milho e trigo marca o rápido crescimento econômico.

Nas últimas três décadas a economia regional é uma das mais prósperas do país, centrada

basicamente na produão de grãos (soja e milho) e carnes (bovina, suína e aves).

Entretanto os municípios do Território se caracterizam por possuir baixo Índice de

Desenvolvimento Humano - IDH. Dos doze, dez ocupam posições no ranking estadual que

oscilam entre a 67º e 33 º posição. Onde o desempenho econômico mostrou-se maior, o IDH é

mais alto, assim o município de Dourados, destaca-se, e ocupa a quinta posição no ranking

estadual. Os índices de pobreza mais altos encontram-se nos municípios de Vicentina (41%) e

Juti (39,9%). A Tabela 2 mostra os Índices de Desenvolvimento Humano Municipal com

destaque, novamente, para o município de Dourados.

Tabela 2 - Território - Grande Dourados – MSÍndice de Desenvolvimento Humano Municipal

Município IDHMCaarapó 0,72Deodápolis 0,74Douradina 0,71Dourados 0,79Fátima do Sul 0,75Glória de Dourados 0,75Itaporã 0,71Jateí 0,72Juti 0,71Rio Brilhante 0,75Vicentina 0,73

Total 0,77ADHB - Atlas do Desenvolvimento Humano no Brasil Fonte: SDT/MDA – SIT

Segundo dados da Secretaria de Estado de Planejamento e de Ciência e Tecnologia

- SEPLANCT / MS nos últimos anos houve declínio da taxa de crescimento da população

dos municípios que compõem o Território, com exceção de Dourados que apresenta índices

de crescimento demográfico significativos (em 2006 a população estimada atingiu 186.357

habitantes, em 2000 havia 164.949 douradenses) e dos municípios Rio Brilhante15 e 15 Desmembrado em 1991, o município Nova Alvorada do Sul.

Itaporã que passaram de 22.640 e 17.045 em 2000 para 27.567 e 17.865 em 2006,

respectivamente.

Como se pode observar na Tabela 3 no Território de Dourados, 17,36% do total da

população é rural. Os municípios de Jateí (67,86 %), Douradina (42,88%) e Vicentina

(38,67%) expressam os maiores índices de população rural contra Dourados (90,89%),

Fátima do Sul (85,19%) e Deodápolis (74,33%) que apresentam maiores percentuais para

população urbana.

Tabela 3 - Território - Grande Dourados – MSAspectos Populacionais

PopulaçãoMunicípio 2000 2006

Total Rural Urbana Total VariaçãoNº (%) Nº (%) Estimativa 2000 /2006

Caarapó 20.706 6.050 29,22 14.656 70,78 19.386 -6,37Deodápolis 11.350 2.914 25,67 8.436 74,33 9.603 -15,39Douradina 4.732 2.029 42,88 2.703 57,12 4.725 -0,15Dourados 164.949 15.021 9,11 149.928 90,89 186.357 12,98Fátima do Sul 19.111 2.831 14,81 16.280 85,19 16.861 -11,77Glória de Dourados 10.035 2.827 28,17 7.208 71,83 8.665 -13,65Itaporã 17.045 5.314 31,18 11.731 68,82 17.865 4,81Jateí 4.054 2.751 67,86 1.303 32,14 3.365 -17,00Juti 4.981 1.616 32,44 3.365 67,56 4.765 -4,34Rio Brilhante 22.640 5.963 26,34 16.677 73,66 27.567 21,76Vicentina 5.779 2.235 38,67 3.544 61,33 4.667 -19,24

Total 285.382 49.551 17,36 235.831 82,64 303.826 6,46Total dos Territórios no Estado 523.329 123.277 23,56 400.052 76,44 563.868 7,75

Fonte: SDT/MDA – SIT

A região possui uma economia essencialmente agrícola que está relacionada com i) a

potencialidade dos solos, clima e hidrografia; ii) o modelo de ocupação do solo com culturas

extensivas. Apresenta dificuldade de organização da agricultura familiar, especialmente,

no processo de comercialização da sua produção e na falta de diversificação da atividade

agrícola.

Observa-se que aproximadamente 71 % dos estalecimentos rurais, com menos de

100 ha, ocupam apenas 7,2% da área total das propriedades e, no outro extremo, as

propriedades com mais de 500 ha equivalem a cerca de 10% dos estabelecimentos rurais e

ocupam 72,9 % da área total dos respectivos estabelecimentos (IBGE, 1996) (Tabela 4).

Tabela 4 - Território - Grande Dourados - MS

33

Estabelecimentos Agropecuários (ha)

Município Menos de 10 10<100 100<1.000 1.000< 10.000 > 10.000 Sem declaração

Caarapó 424 318 235 48 - -Deodápolis 185 518 141 11 - 1Douradina 158 268 55 1 - -Dourados 818 829 479 77 - -Fátima do Sul 298 454 39 - - -Glória de Dourados 141 566 96 - - -Itaporã 266 474 186 21 - -Jateí 31 256 112 59 1 -Juti 8 53 69 25 1 -Rio Brilhante 23 111 247 89 4 -Vicentina 362 444 52 1 - -

Total 2714 4291 1711 195 6 1IBGE – Censo Agropecuário 1995-96 Fonte: SEPLANCT/MS

Como constatam os dados da Prefeitura de Dourados, a ocupação desordenada das

terras para a agricultura de grande escala, as áreas de agricultores familiares, sobretudo

as localizadas em assentamentos rurais realizados em fazendas com plantio de soja, não

contam com as reservas naturais obrigatórias, os solos já apresentam sinais de degradação

por processos erosivos. Processos semelhantes podem ser observados também nas Aldeias

Indígenas e nas propriedades originadas da Colônia Nacional de Dourados. Os mananciais

de água são contaminados e, sem proteção natural, estão sujeitos ao assoreamento, as

reservas de matas nativas existentes são constantemente diminuídas extinguindo espécies

vegetais importantes.

Esse retrato foi desenhado desde o momento que os solos foram transformados em

pastagens e em áreas dedicadas à plantação de grãos, incentivados por programas federais

com grandes volumes de recursos destinados a tal fim.

O resultado é um Território fragilizado que mostra vulnerabilidade ambiental,

fragmentação econômica (divisão entre uma agricultura mecanizada e familiar), e

tratamento superficial da questão étnica (multiplicação de políticas públicas sem

tratamento eficaz da situação indígena).

Esse é um retrato recorrente de um espaço historicamente submetido ao binômio

soja/boi com forte pressão tanto nacional como internacional. Atualmente a política para

produção de biodiesel e álcool vêm sendo percebida – na visão dos atores locais, como

provável início de um novo ciclo, como exemplifica a seguinte fala: “em relação à

34

monocultura (feita em ciclos), está se acabando o ciclo da soja, a não ser pela muleta do

diesel. Entrou a cana. Vai entrar o eucalipto, outra monocultura. A gente deve

conscientizar o agricultor, segurar a desertificação”. Ainda outro entrevistado

acrescentou “talvez daqui a alguns anos vai ser eucalipto e mamona”.

De acordo com a Secretaria de Desenvolvimento Territorial (SDT, 2006) conforme

exposto na Tabela 5, os municípios do Território Grande Dourados apresentam, em

conjunto 6.011 agricultores familiares, 1.278 famílias assentadas em 15 assentamentos de

projetos da Reforma Agrária e 1.555 famílias acampadas. Em relação ao número de

agricultores familiares apresentam maior destaque os municípios de Dourados, Vicentina e

Fátima do Sul.

Tabela 5 - Território - Grande Dourados - MSDemanda Social do MDA

Município AgricultoresFamiliares

(1)

FamíliasAssentadas

(2)

FamíliasAcampadas

(3)

DemandaSocial

Caarapó 455 41 32 528Deodápolis 701 701Douradina 343 343Dourados 1.191 217 807 2.215Fátima do Sul 738 133 871Glória de Dourados 702 702Itaporã 594 594Jateí 274 82 356Juti 76 129 203 408Rio Brilhante 153 809 380 1.342Vicentina 784 784

Total 6.011 1.278 1.555 8.844Total dos Territórios no Estado 11.249 11.722 6.568 29.539

(1)IBGE. Censo Agropecuário (1995/96);(2)MDA/Incra/SIR (30/09/2006); (3)MDA/Incra/SIR (2005).Fonte: SDT/MDA – SIT

Com referência à agricultura familiar um dos técnicos da IDATERRA comentou:

“hoje a agricultura familiar [nos assentamentos] vive da pecuária de leite. Esse é o forte

deles, de aproximadamente 2000 famílias”. Outro ator salientou: “o leite está meio

penalizado pelo Estado. Ai não compensa levar para outros estados. Soja e milho recebem

grande apoio desde a Embrapa até as transnacionais Cargill e Bunge”.

Descrição semelhante é feita por um dos atores envolvidos na coletiva:

“praticamente em todo o Estado a Agricultura Familiar está presa ao leite. O agricultor

35

familiar é refém do leite, é extrativista do leite. Sem leis sanitárias, sem controle. Por

isso precisamos defender a diversificação da produção. O pessoal não entende que ter

frango, abóbora, mandioca, é renda. As famílias não compreendem isso. O leite deve ser

uma das fontes e não a única”.

Na opinião dos entrevistados “tem muito agricultor familiar plantando soja na porta

de casa e vai para o mercado para comprar a mandioca. Por isso tem muito pequeno

agricultor quebrado. Alguns não têm nem pomar”.

Finalmente um dos participantes das coletivas resumiu a situação do agricultor com

a seguinte frase: “O agricultor familiar quer acompanhar o grande, mesmo com os custos

altos. É o pequeno imitando o que faz o grande!... mas a soja é para os grandes e o leite

para os pequenos”. E ainda acrescentou: “Aqui ainda há preconceito com a agricultura

familiar. O assentado quer o lote no assentamento para tornar-se grande produtor”.

2.4.1 – Dados da produção agropecuária do Território

A lavoura permanente e a temporária apresentada pela SDT, com base nos dados do

IBGE, observa-se na Tabela 6. Nesta verifica-se que o desempenho da produção de banana

é pouco expressivo, aqui apenas referenciados os municípios de Glória de Dourados e

Itaporã.

Ainda relaciona o desempenho da produção de culturas temporárias evidenciando-se

o aumento da produção de mandioca com destaque para os municípios Deodápolis (20.000t)

e Jateí (20.000t) no ano de 2005. Contudo não se pode omitir o fato do município Rio

Brilhante ter produzido 30.000 toneladas de mandioca em 2004, sendo considerado pela

SEPLANCT como o 4◦ produtor de mandioca do Estado, e em 2005 apresentar apenas

15.000 toneladas.

Há de se destacar também a diminuição da produção de feijão. Apenas com leve

aumento, em 2005, para os municípios de Caarapó (1.800t), maior produtor de feijão do

Estado, e Rio Brilhante (1.500t). Houve uma diminuição brusca da produção do grão, em

2005, nos municípios de Fátima do Sul de 1.200t para 740t e Jateí de 864t, em 2004,

para nenhuma produção no ano seguinte.

Tabela 6 - Território - Grande Dourados - MSMunicípio Lavoura Permanente Lavoura Temporária

36

Quantidade Produzida(t) Quantidade Produzida(t)Laranja Banana Mandioca Feijão

2004 2005 2004 2005 2004 2005 2004 2005Caarapó 10.000 18.000 1.500 1.800Deodápolis 12.000 20.000 800 750Douradina 0 0 500 600Dourados 14.000 14.000 1.339 1.200Fátima do Sul 18.000 18.000 1.200 740Glória de Dourados 182 16.000 16.000 733 750Itaporã 75 75 20.000 0 1.330 1.200Jateí 16.000 20.000 864 0Juti 20.000 16.000 1.022 900Rio Brilhante 30.000 15.000 1.200 1.500Vicentina 7.000 17.000 900 900

Total 0 0 75 257 163.000 154.000 11.388 10.340Total dos Territórios

no Estado 4.224 2.941 1.392 1.748 181.000 169.000 12.336 11.040

IBGE - Produção Agrícola Municipal (2005). Fonte: SDT/MDA - SIT

A produção de leite tem importância considerável na economia do Território

chegando a produzir um total de 75.125 litros em 2005. Assume a liderança o município de

Glória de Dourados e Dourados com 16.369 e 12.480 litros respectivamente. Já na

produção de mel, o município de Dourados é o líder, em 2005, com 54.080 kg segundo

dados da SDT/MDA - SIT (Tabela 7).

Tabela 7 - Território - Grande Dourados - MS

MunicípioLeite

Quantidade Produzida (mil litros)

MelQuantidade Produzida

(kg)Leite Mel

2004 2005 Variação 2004 2005 VariaçãoCaarapó 5.330 5.703 7,00 6.996 7.485 6,99Deodápolis 9.028 9.660 7,00 3.591 3.896 8,49Douradina 2.143 2.194 2,38 1.577 1.608 1,97Dourados 12.235 12.480 2,00 52.000 54.080 4,00Fátima do Sul 2.264 2.278 0,62 3.536 4.050 14,54Glória de Dourados 14.720 16.369 11,20 6.004 6.424 7,00Itaporã 3.230 3.243 0,40 6.777 6.500 -4,09Jateí 8.929 8.949 0,22 1.450 1.515 4,48Juti 2.252 2.180 -3,20 1.378 1.400 1,60Rio Brilhante 7.729 7.879 1,94 11.230 11.578 3,10Vicentina 4.098 4.190 2,24 1.233 1.250 1,38

Total 71.958 75.125 4,40 95.772 99.786 4,19Total dos Territórios no Estado 130.183 137.296 5,46 142.072 174.784 23,02

IBGE - Produção Agrícola Municipal (2005). Fonte: SDT/MDA - SIT

A seguir, na Tabela 8, podem-se extrair as seguintes informações: a soja, o milho, o

arroz e o trigo representam a maior área colhida do Território. Assim, Dourados com a

37

maior área para soja, 157.200 ha. seguido de Rio Brilhante com 110.000 ha. Igual relação

para a área colhida de milho, Dourados com 85.150 h. e Rio Brilhante com 62.000 ha.

A área colhida para produtos como algodão, arroz, cana de açúcar, café, sorgo e

erva mate são menores, como mostra a mesma Tabela.

A título de ilustração apresenta-se o ranking de produção estadual destacando os

municípios do Território Grande Dourados: Glória de Dourados 7º produtor de café,

Douradina 9º produtor de aveia e 7º produtor de arroz. Rio Brilhante, maior produtor de

arroz, 2º produtor de cana-de-açúcar, 3º produtor de aveia e de milho, 5º produtor de

sorgo e de soja. Jateí, 8º produtor de aveia. Itaporã, 3º produtor de arroz, 4º produtor de

milho, 6º produtor de trigo, 7º produtor de aveia e 10º produtor de soja. Dourados, 6º

produtor de soja, 4º produtor de arroz, 2º produtor de milho, 2º produtor de trigo, 6º

produtor de aveia e 5º produtor de mamona. Caarapó, 5º produtor de milho e 8º produtor

de erva-mate. O nono produtor de erva-mate é o município de Juti que também ocupa o

terceiro lugar como produtor de maracujá do Estado. Fátima do Sul é o 7º produtor de

tomate e 5º produtor de uva, já Dourados é o maior produtor de tomates, 6º produtor de

abacaxi e maior produtor de uva (SEPLANCT, 2005).

A fruticultura está representada pela produção de abacaxi, uva, maracujá, melancia

e tomate. A produção destas frutas em nível municipal por área colhida e toneladas pode

ser observada na Tabela 9.

Ao observar a Tabela 10 dos principais rebanhos por municípios para os anos 2004 e

2005 percebe-se uma diferenciação clara de perfil municipal no que diz respeito aos

rebanhos bovino, bubalino e caprino. Dourados, Rio Brilhante e Jateí ocupam as três

primeiras posições nos dos períodos para rebanhos bovinos. Rio Brilhante, Caarapó e

Dourados, respectivamente, possuem o maior número de cabeças de búfalo. O rebanho de

caprinos está concentrado nos municípios de Juti, Caarapó e Dourados.

38

Tabela 8 - Território - Grande Dourados - MS Produtos Agrícolas - Ano 2004

Área Colhida (hectares) Produção (toneladas)

Municípios Erva mate Algodão Arroz

Cana-de-

açúcarCafé Milho Sorgo Soja Trigo Erva-

mate Algodão Arroz Cana-de-açúcar Café Milho Sorgo Soja Trigo

Caarapó 7 8 425 - - 50.200 - 74.000 5.000 111 14 1.282 - - 150.760 74.000 5.500Deodápolis - 650 350 - 22 4.650 30 6.000 - - 975 1.400 - 23 16.920 57 6.000 -Douradina - - 2.350 - - 7.750 - 8.000 150 - - 9.400 - - 28.525 - 13.600 180Dourados - 3 6.000 - - 85.150 250 157.200 22.500 - 1 25.200 - - 29.5118 225 179.208 22.950Fátima do Sul - 200 700 - 10 6.200 - 7.700 100 - 223 3.024 - 7 22.940 - 6.930 120Glória de Dourados

- 100 - - 100 900 - 1.776 - - 100 - - 57 3.600 - 2.516 -

Itaporã - - 5.700 - 10 36.280 - 52.000 9.000 - - 25.450 - 17 166.944 - 1144.00 9.750Jateí - 250 - - - 8.500 - 10.200 250 - 500 - - - 21.750 - 17.901 225Juti 7 24 6 293 - 8.000 180 13.000 970 109 22 11 27835 - 24.000 270 10.140 1.018Rio Brilhante - 450 15.000 10.469 - 62.000 3.800 110.000 4.000 - 900 82.800 1046.038 - 222.000 102.60 187.000 7.680Vicentina - 80 - - - 3.500 - 4950 - - 65 - - - 10.500 - 4.455 -

Total 14 1765 15.006 10.762 142 273.130 4.260 444.826 41.970 220 2.800 82.811 1.073.873 104 963.057 10.755 616.150 47.423Fonte: Secretaria de Estado de Planejamento e de Ciência e Tecnologia – SEPLANCT/MS

Tabela 9 - Território - Grande Dourados - MS Produtos Agrícolas - Ano 2004

Área Colhida (hectares) Produção (toneladas)Municípios Abacaxi Uva Maracujá Melancia Tomate Abacaxi Uva Maracujá Melancia Tomate

2000 2004 2000 2004 2000 2004 2000 2004 2000 2004 2000 2004 2000 2004 2000 2004 2000 2004 2000 2004Caarapó 1 1 1 - 18 5 215 -Deodápolis 4 2 - 1 10 -Douradina 1 - 12 -Dourados - 7 35 20 40 - 60 30 - 140 315 200 1002 - 1980 1050Fátima do Sul 2 2 12 - 2 3 18 36 48 - 24 180Glória de Dourados 2 - 4 3 5 - 60 30

Itaporã 1 1 2 1 4 - 7 - 16 24 4 10 152 - 245 -Jateí 80 - 263 2 -Juti - 10 - 60Rio Brilhante 1 1 15 7Vicentina 4 8 4 - 721 96 80

Total 9 18 42 25 1 11 148 - 77 36 259 382 258 215 60 - 2389 1260¹ - mil frutos ² - até 2000 a produção está em mil frutosFonte: SEPLANCT/MS

40

Tabela 10 - Território - Grande Dourados - MSPrincipais Rebanhos - cabeças

Bovino Bubalino Caprino Suíno* Aves*

Município 2004 2005 Variação 2004 2005 Variaçã

o 2004 2005 Variação 2003 2004 Variação 2003 2004 Variaçã

oCaarapó 160.120 152.238 -4,92 271 249 -8,12 417 410 -1,68 11.347 11.800 3,99 1.470 1.388 -5,58Deodápolis 104.920 98.790 -5,84 127 123 -3,15 175 190 8,57 8.624 9.444 9,51 152 115 -24,34Douradina 14.460 14.623 1,13 76 71 -6,58 5.558 5.377 -3,26 675 681 0,89Dourados 259.090 245.020 -5,43 241 240 -0,41 402 401 -0,25 51.814 38.672 -25,36 2.735 2.495 -8,78Fátima do Sul 16.340 17.050 4,35 133 135 1,50 9.491 14.047 48,00 1.384 1.300 -6,07Glória de Dourados 66.890 62.839 -6,06 139 150 7,91 51.527 53.352 3,54 897 872 -2,79

Itaporã 55.810 55.123 -1,23 194 198 2,06 54.745 60.310 10,17 1.176 1.048 -10,88Jateí 206.520 180.400 -12,65 31 29 -6,45 174 180 3,45 5.025 23.196 361,61 273 227 -16,85Juti 148.109 135.904 -8,24 150 137 -8,67 400 415 3,75 4.093 4.492 9,75 301 255 -15,28Rio Brilhante 247.770 227.868 -8,03 312 294 -5,77 205 200 -2,44 18.193 15.862 -12,81 404 368 -8,91Vicentina 31.082 30.300 -2,52 149 146 -2,01 155 158 1,94 13431 12.797 -4,72 460 504 9,57

Total 1.311.111 1.220.155 -6,94 1.281 1.218 -4,92 2.470 2.508 1,54 233.848 249.349 6,62 9.927 9.253 -6,78Total dos

Territórios no Estado

4.685.368 4.455.871 -4,90 3.105 3.127 0,71 6.754 6.987 3,45

IBGE - Produção Agrícola Municipal (2005). Fonte: SDT/MDA - SIT

Nota: Aves = galinhas, galos, frangos e pintos.* Fonte: SEPLANCT/MS

41

Na seqüência, os dados da SEPLANCT (2005) permitem inferências interessantes

no quadro estadual, a saber: Glória de Dourados ocupa o 4º lugar no ranking relativo a

rebanho suíno, o 6º como produtor de leite, o 8º no efetivo de aves (galinhas, galos,

frangos e pintos) e o 2º como produtor de casulo do bicho-da-seda. A Douradina

corresponde o 10º lugar como efetivo de aves, a Rio Brilhante o 7º efetivo de codornas e a

Jateí o 7º efetivo de suínos. Fátima do Sul possui o 5º efetivo em aves. Itaporã é o 6º

produtor estadual de aves e o 3º produtor de suínos. Dourados possui o 3º efetivo de

aves, o 5º efetivo de suínos e 3º efetivo de codornas, já a Caarapó corresponde o 4º

efetivo de aves do Estado.

A Tabela 11 apresenta os dados dos principais produtos pecuários do território. A

produção de ovos de galinha alcançou 3.738 dúzias em 2004, destas 2.523 corresponde ao

município de Dourados, já a produção de ovos de codornas é pouco expressiva. O casulo do

bicho-da-seda é destaque no município de Glória de Dourados com 14.720 kg, a produção

de lã atingiu a cifra de 1.665t. em 2004, distribuída em três municípios: Caarapó (584t),

Dourados (1.080t) e Jateí (1t).

Tabela 11 - Território - Grande Dourados - MSPrincipais Produtos Pecuários

Município Ovos de Galinha (mil dúzias)

Ovos de Codorna

(mil dúzias)

Casulo do Bicho-da-seda

(kg)

Lã(t)

2003 2004 2003 2004 2003 2004 2003 2004Caarapó 45 42 6 3 608 584Deodápolis 53 53 20 10Douradina 53 51 4.326 1.333Dourados 2.381 2.523 13 14 1.008 1.080Fátima do Sul 92 90 1690 248Glória de Dourados 46 42 14.692 14.720Itaporã 116 106Jateí 54 53 1 1Juti 18 18Rio Brilhante 102 709 6 6Vicentina 53 51 4.326 1.333

Total 3.013 3.738 19 19 25.060 17.647 1.617 1.665Fonte: SEPLANCT/MS

Os empregos gerados no setor industrial concentram-se, principalmente, em

Dourados e com mínima expressão nos restantes municípios do Território. De igual maneira

para o setor comércio, serviços e agropecuária (Tabela 12).

Tabela 12 - Território - Grande Dourados – MSNº de Empregos Gerados por Setor da Economia

Município Indústria Comércio Serviços AgropecuáriaCaarapó 503 286 611 499Deodápolis 77 112 406 119Douradina 6 26 334 48Dourados 5.775 7.629 10.925 1.789Fátima do Sul 72 370 895 104Glória de Dourados 99 116 333 81Itaporã 633 211 638 360Jateí 35 6 292 319Juti 4 22 97 217Rio Brilhante 706 566 1.131 1.326Vicentina 13 35 201 38

Total 7.923 9.379 15.863 4.900Total dos Territórios no Estado 17.234 13.574 24.842 12.416

SNIU. Sistema Nacional de Indicadores Urbanos (2002)Fonte: SDT/MDA - SIT

No caso da arrecadação de Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Prestação

de Serviços - ICMS, no ano de 2005, por participação em atividades como a agricultura e a

pecuária, três municípios foram destaque: o primeiro é Jateí (97,39%), o segundo é

Deodápolis ( 72,63%) e o terceiro é Vicentina ( 70,16%) (Figura 5).

Figura 5 - Território Grande Dourados: Participação das atividades econômicas Agricultura e Pecuária na Arrecadação de ICMS no ano 2005 (%)

72,63 70,16

34,64

53,63 59,80

97,39

33,14

61,79

57,61

42,49

69,59

46,85

1,00

10,00

100,00

Doura

dos

Caara

po

Itapo

Deodáp

olis

Fatim

a d

o S

ul

Jate

í

Rio

Brilh

ante

Doura

ndin

a

Glo

ria d

e D

oura

dos

Juti

Vic

en

tina

Nova A

lvora

da

Fonte: Com base em dados da SEPLA NTC - Governo do Estado do M ato Grosso do Sul

Fonte: SEPLANCT/MS

43

A maior renda per capita corresponde ao município Dourados (R$ 308,7) seguido de

Rio Brilhante (R$ 233,84) e Fátima do Sul (R$ 217,51). Já a renda de rendimentos de

trabalho concentra-se em Jateí (R$ 77,38), Rio Brilhante (R$ 74,19) e Dourados (R$

73,86). Destacam Dourados, Douradina e Rio Brilhante na renda média do chefe de família

com (R$ 759,99), (R$ 657,13) e (R$ 630,12) respectivamente (Tabela 13).

Tabela 13 - Território - Grande Dourados - MSRenda (R$)

MunicípioRenda

Per Capita(1)

Renda de Rendimentos do Trabalho

(1)

Renda Média doChefe de Família

(2)

Caarapó 169,18 71,05 487,09Deodápolis 178,56 68,84 449,35Douradina 187,94 69,88 657,13Dourados 308,07 73,86 759,99Fátima do Sul 217,51 71,98 511,84Glória de Dourados 205,09 71,40 529,22Itaporã 188,73 72,94 541,43Jateí 159,68 77,38 457,10Juti 152,03 69,84 422,82Rio Brilhante 233,84 74,19 630,12Vicentina 193,38 66,95 484,93

Total - - -(1) ADHB - Atlas do Desenvolvimento Humano no Brasil (2002). (2) IBGE - Censo Demográfico (2000).Fonte: SDT/MDA - SIT

2.4.2 – Saneamento Básico no Território

A Tabela 14 mostra importantes indicadores de saneamento básico. Do total de

78.375 domicílios particulares do Território, 71,4% estão ligados à rede geral de

abastecimento de água, 28% usam poço ou nascente. 12.9% dos domicílios estão ligados à

rede geral de esgotamento sanitário sendo que 84,3 estão cadastrados como usuários de

outras formas de esgotamento sanitário e 2,9 não possuem banheiro ou sanitário. Neste

último, Caarapó e Juti compartilham os percentuais mais baixos, isto é, 7,7 % e 6,6 %

respectivamente. Outro fator a ser observado é a proporção do destino do lixo. No

Território 78,7% dos municípios coletam o lixo e o 21,3 % destes lhe dão outro destino.

44

Tabela 14 - Território - Grande Dourados - MS

Saneamento Básico por Domicílios Particulares Permanentes

Município

Total de domicíliosparticularespermanentes

Forma de Abastecimento de Água Esgotamento Sanitário Destino do Lixo

RedeGeral (%)

Poço ouNascente

(%)

OutrasFormas

(%)

Domicílios Ligados

à Rede Geral (%)

OutrasFormas

(%)

Sem Banheiro

ou Sanitário

(%)

Coletado(%)

OutroDestino

(%)

Caarapó 5.528 69,5 28,9 1,6 0,7 91,5 7,7 71,0 29,0Deodápolis 3.172 72,6 26,3 1,1 0,4 98,2 1,4 63,3 36,7Douradina 1.293 56,8 41,1 2,1 0,2 98,8 0,9 53,0 47,0Dourados 45.176 74,1 25,5 0,4 20,5 76,8 2,7 86,9 13,1Fátima do Sul 5.618 72,3 27,6 0,1 2,3 96,3 1,5 79,0 21,0Glória de Dourados 2.963 71,7 27,8 0,4 0,1 99,1 0,7 61,8 38,2

Itaporã 4.641 66,9 31,7 1,3 6,0 88,3 5,7 69,2 30,8Jateí 1.145 43,1 52,6 4,3 8,9 87,7 3,4 38,2 61,8Juti 1.374 57,6 41,4 0,9 0,8 92,6 6,6 63,2 36,8Rio Brilhante 5.768 69,8 29,8 0,4 4,1 95,1 0,8 72,1 27,9Vicentina 1.697 57,9 41,5 0,6 0,6 98,5 0,9 48,2 51,8Total Território 78.375 71,4 28,0 0,6 12,9 84,3 2,9 78,7 21,3

IBGE. Censo Demográfico (2000).

Fonte: SDT/MDA - SIT

2.5 – Inovação Tecnológica

A agricultura familiar no Território carece de um conjunto de ações articuladas -

difusão de conceitos e experiências, geração de tecnologias regionais e assistência

técnica, cuja repercussão na renovação do processo produtivo tem sido limitada.

“Precisamos de técnicos, alguém que repasse, que busque, estamos muito sós”! É uma

expressão que identifica as limitações de uma política insuficiente e pouco adaptada às

condições do agricultor sul-mato-grossense.

Apesar do esforço do IDATERRA, o Território não dispõe de recursos humanos,

nem de apoio logístico suficientes para cobrir as expectativas e as dúvidas dos

agricultores, precisa – disse um deles, “aplicar no leite novas tecnologias, sair da teoria

das instituições de pesquisa. É possível trabalhar uma bacia leiteira sem degradar muito,

45

com agroecologia, sem químicos, com adubações verdes. Acho que tem que fazer menos

pesquisa e fazer mais prática”.

Com todas as limitações, como a falta de tecnologias mais aplicadas, os agricultores

do Território têm trilhado o caminho dos sistemas agroecológicos, sobretudo, sob a batuta

da APOMS (como será visto no item 4.2). Contudo, a agroecologia envolve muito apoio

técnico, ressalta um entrevistado e “o grande empecilho é que a assistência técnica não

consegue absorver a demanda. A pouca [assistência] que existe se dá no escritório e não

na propriedade”.

Algumas questões, resumidas aqui, foram lançadas pelos próprios entrevistados

durante as discussões sobre tecnologias: Qual tecnologia? Como treinar os agricultores?

Quem vai treinar? Homogeneizar a tecnologia? Que produto final queremos? Qual o

padrão? Qual a qualidade?!

A Embrapa auxilia com modelos sobre implantação de novas pastagens e irrigação,

não obstante, alguns informantes apontaram que o repasse às associações e às

cooperativas acontece mais por interesse de alguns técnicos e pesquisadores: “Com sete

anos na parte de leite só conheço uma pesquisadora que veio à cooperativa. Ela veio mais

para conhecer a região. Precisamos desses iluminados como assessores, poder ligar para

eles e perguntar”.

O Agrofuturo é desde já apontado como agregador de novas tecnologias,

propagador de informações ainda mais quando no horizonte dos próximos anos a chegada

do biodiesel16 é perceptível e gera expectativas entre os agricultores familiares.

3- Imaginário

3.1 - Conhecimento da política do Ministério do Desenvolvimento Agrário

O processo de implementação da política do MDA é visto ainda com algumas

fragilidades, sobretudo, a falta de apoio de algumas prefeituras/prefeitos na execução

dos projetos aprovados pela Comissão de Implantação de Ações Territoriais - CIAT e

financiados conforme linhas estabelecidas pelo Programa Nacional de Fortalecimento da

16 O município de Dourados tem prevista a instalação de 3 empresas de biodiesel (mamona e girassol).

46

Agricultura Familiar - PRONAF. Para os informantes não houve discussão de ações

coletivas e a falta de consenso entre os representantes da CIAT levou à aprovação do

Plano Territorial sem estabelecer ordem de prioridade, nem visão de conjunto. “Não se

conseguiu falar em Território”, apontou um dos informantes.

Três grandes projetos foram marco das ações territoriais. Em 2003 o foco foi a

bacia leiteira, em 2005 os viveiros de mudas e, em 2006 a construção da sede da CIAT na

escola agrícola, a compra de uma moto para a articulação e a montagem de uma Unidade de

Referência Agroflorestal.

A CIAT17 é considerada pouco atuante pela maioria dos informantes. A rotatividade,

a falta de articulação e a vertente “excessivamente” ambiental que lhe foi impressa pelo

Instituto de Meio Ambiente e Desenvolvimento - IMAD causaram descrédito entre os

atores.

A primeira dificuldade, apontaram, foi com a troca constante de interlocutores. A

segunda foi ter deixado na mão do articulador decisões que eram coletivas. E, a terceira é

não pensar o Território como um todo. As palavras de um técnico explicam melhor este

último ponto: “não podemos querer que Dourados cresça com a morte de Jateí, por

exemplo. Falta ver o Território, fazer um alinhamento. Precisamos mudar essa cultura

municipalista”. Uma ação resultante destas dificuldades foi a distribuição dos recursos

recebidos do MDA em parcelas iguais para cada município18 . Um dos participantes

descreveu esta iniciativa de “xiita”. Já outro completou: “Para Glória [de Dourados] foi

muito, para Dourados foi nada”.

Atualmente a CIAT passa por uma reestruturação onde busca transformar-se em

Agência Territorial de Desenvolvimento da Grande Dourados19. Enquanto CIAT, observou

um entrevistado, “foram cuidadas mais as questões políticas e econômicas e esquecidas as

sociais. Nessa nova etapa a intenção é segundo apontaram: “definir qual a direção que

vamos seguir se ambiental ou econômica”.

17 A CIAT é integrada por aproximadamente 30 pessoas representantes das diversas instituições territoriais. Destas, aproximadamente 15 são membros ativos.

18 Alguns municípios compraram tanques resfriadores, outros caminhões ou tratores. 19 Em 2006 foi aprovado o Estatuto e o Regimento Interno.

47

É recorrente, nas falas, associarem as políticas do MDA apenas às ações do

PRONAF e, em conseqüência, considerarem lenta demais a execução das ações, pois a

liberação dos recursos é muito burocrática.

Quando perguntados sobre a política do MDA no Território – afirmaram que as

secretarias – exceto a Secretaria de Agricultura Familiar de Dourados, pouco conhecem a

política do MDA e, faltaria mais “incentivo” para as secretarias de saúde e educação se

envolverem.

3.2 - Apropriação da estratégia de territorialização por parte dos atores

Durante as técnicas coletivas os participantes expressaram a importância da CIAT,

mas ao mesmo tempo colocaram a preocupação com a dinâmica e a falta de uma estratégia

metodológica que possa gerar, nos próximos anos, a possibilidade concreta de caminharem

com os próprios pés. Assim escutou-se deles: “o MDA foi criado para isso [fortalecer a

agricultura familiar], mas ainda há muita distância entre a teoria e a prática. O MDA e a

CIAT são dois primos que têm vontade de se conhecer”.

Para os entrevistados a relação com as prefeituras é frágil, pois somente

representantes das secretarias de agricultura e de meio ambiente estiveram presentes

nas reuniões da CIAT. Apontaram algumas prefeituras, como por exemplo, Dourados,

Glória de Dourados e Jateí como mais expressivas, com maior atuação e maior

compromisso com as ações do MDA20. A inexistência de estratégias, o

descomprometimento e a própria desarticulação da CIAT (ativa no início do processo de

territorialização, porém “paralisada” atualmente) são atitudes que provocam, segundo eles,

a desmotivação do colegiado.

Vale destacar que a possibilidade de instalação, no território, de um Núcleo Piloto

de Informação e Gestão Tecnológica despertou dentre os atores entrevistados e os

participantes das reuniões, a necessidade de ‘resgatar’ a CIAT. Surge o interesse de

manterem-se envolvidos, pois como eles próprios afirmaram: “temos que nos preparar para

20 A Prefeitura de Dourados por intermédio da Secretaria de Agricultura Familiar mantém uma carteira de projetos em parceria com a SDT/MDA.

48

fazer frente a esse processo, melhorar as relações entre os parceiros, trabalhar

interligado. Trabalhar em conjunto não é comum”.

Além destas preocupações os entrevistados ressaltaram a fragilidade no

monitoramento e acompanhamento dos projetos, e das ações prejudicadas pela falta de

estrutura física da CIAT.

3.3 - Conceito de Núcleo

Há certa dificuldade para entender o que é o Núcleo Piloto, ainda não foi

‘internalizado’ pelos atores locais. Para alguns será o “catalisador e articulador dos

diferentes atores para expressar os reais problemas que dificultam o desenvolvimento do

Território”. Outros esperam que seja uma alavanca para buscar recursos ou financiar

ações da CIAT.

Os agricultores familiares estão familiarizados com a Embrapa já que esta tem

desenvolvido projetos de pesquisa nos assentamentos do Território. Contudo ainda é cedo

para avaliar o conhecimento que os atores locais têm do Agrofuturo e do Núcleo Piloto.

Algumas respostas dos entrevistados resumiram-se na pergunta: Que núcleo? A falta de

conhecimento sobre o Núcleo foi em alguns momentos relacionada à inadequação do local

em que foi realizada a apresentação do projeto: “deveria ter sido feita na CIAT e não na

sede da Embrapa”, concluíram.

A expectativa da chegada de mais um grande projeto para a região tem despertado

incertezas. No Brasil, argumentaram os entrevistados, “há um monte de projetos e muitas

vezes nem decolam”. Uma outra fala ressalta a preocupação em relação ao local no qual

será instalado o Núcleo Piloto: “tomara que esteja errado. Acho que vai ser mais

centralizado do que pluralizado”.

Apesar da preocupação com a instalação física, merece destaque a visão de

“salvador” que o Núcleo já começa a ter. Ainda que sem conhecê-lo em profundidade, “o

Programa Agrofuturo vai ser o fechamento desse trabalho penoso que iniciamos no

Território”, comentaram esperançosos os participantes do mapeamento institucional.

Nas instituições visitadas e nas conversas com a população local, a idéia de núcleo

tem suscitado avaliações do papel, até agora, desempenhado pela Embrapa. Nos últimos

49

anos a Embrapa tem aberto canais e incentivado as articulações com os agricultores

familiares, porém como manifesto pelos próprios pesquisadores da instituição “somos um

grupo elitizado. Temos que nos envolver mais com as associações, os movimentos sociais, os

sindicatos”. Os pesquisadores percebem-se como agentes responsáveis pela inter-relação

e, ao mesmo tempo, catalisadores das capacidades institucionais. E o agricultor reflete os

esforços já empreendidos, como bem expressou um deles: “quem diria que eu ia entrar na

Embrapa!”.

Fez-se, durante uma das coletivas a seguinte pergunta: quais as principais

debilidades no processo de definição e instalação do Núcleo Piloto? As respostas foram: i)

“na prática não há ambiência nem física nem ‘psicológica’”; ii) “falta entendimento entre as

instituições para trabalhar junto”; iii) “não há nivelamento do conhecimento e das ações”;

iv) “falta estratégia para integração ao Território”. Concluíram que “o importante é não

criar expectativas. O importante é definir procedimentos, conseguir articulação com as

associações, com os agricultores familiares. O importante é fazer e aprender durante o

processo”.

3.4 Identidade expressada

Existe uma forte identidade criada entorno da agricultura familiar e dos

assentamentos da Reforma Agrária ancorada na experiência inédita da Colônia Agrícola de

Dourados. As atividades ligadas à agricultura familiar como a criação de suínos e frango

caracterizam o Território e sua diversidade, apontaram os entrevistados. Outro fator com

forte presença e considerado o carro-chefe dos assentamentos é a pecuária leiteria,

característica da região.

A degradação dos recursos naturais também foi lembrada como marca. Isto porque

todos os municípios do Território têm déficit ambiental histórico desde o ciclo da erva-

mate até o ciclo mais recente soja/gado, agregou um dos técnicos da IDATERRA.

A preocupação com questões ambientais como o desmatamento21, o assoreamento

dos rios, a poluição, o uso de agrotóxicos, a falta de fiscalização, dentre outros, têm

criado novos eixos de identidade territorial.

21 A cobertura florestal está reduzida, atualmente, a cerca de 20% da cobertura nativa original (IPLAN, 2001:37).

50

Não deixou de ser mencionado, ainda que raras vezes, o fato de ser uma região com

população indígena. Poucos entrevistados consideraram o traço indígena sinônimo de

identidade territorial. Ou seja, as populações indígenas não foram lembradas quando a

questão levantada era mencionar os aspectos mais relevantes de identidade do Território

Grande Dourados.

4 - Ações

4.1. Instituições envolvidas

Há consenso, entre os entrevistados, que as instituições mais ativas na definição do

Território e envolvidas desde o início com a política territorial do MDA, foram o

IDATERRA22, a APOMS23, as Prefeituras, o COREDES24 e os CMDRS25.

Algumas prefeituras estiveram mais presentes do que outras na figura de seus

secretários de agricultura e de meio ambiente como é o caso do município de Dourados,

Jateí e Glória de Dourados.

Havia segundo se constatou nas falas, uma atuação bastante tímida da Embrapa e

da Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul - UEMS nas reuniões da CIAT.

Ao longo da realização do mapa institucional, os atores sociais fizeram um esforço

concentrado para elaborar o quadro de instituições e suas relações, conforme já descrito.

Esses dados forneceram informações estratégicas para a compreensão da realidade de

maneira mais ágil que, permitirão posteriormente, realizar um processo de

acompanhamento e avaliação do desempenho inter e intra-institucional.

A atividade consistiu na composição gráfica das relações institucionais. Constam

somente as instituições selecionadas, por consenso, como as mais representativas do

Território. Cada uma das nove (9) instituições selecionadas foi analisada de acordo com o

22 O Instituto de Desenvolvimento Agrário, Assistência Técnica e Extensão Rural de Mato Grosso do Sul- IDATERRA mudou de nome recentemente para Agência Rural de Desenvolvimento Agrário e Extensão Rural – AGRAER. Do final da década de 1970 até 2000 era conhecida como Empresa de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural - EMPAER.

23 A Associação de Produtores Orgânicos de Mato Grosso do Sul - APOMS foi fundada em 1998. Organiza-se em núcleos regionais que formam uma rede de agroecologia.

24 O Conselho Regional de Desenvolvimento Sustentável – COREDES foi criado como órgão gestor do Plano Regional de Desenvolvimento Sustentável da Grande Dourados.

25 Conselho Municipal de Desenvolvimento Rural Sustentável – CMDRS.

51

seguinte critério: seta em dois sentidos (boa interlocução), seta em um só sentido aponta a

direção em que ocorre mais frequentemente a comunicação (interlocução regular), linha

pontilhada (interlocução comprometida ou distante).

A figura 6 serve para avaliar as formas de relacionamento e participação adotadas

pelas instituições além de possibilitar identificar as expectativas dos envolvidos. O Mapa é

reflexo das ações que estão sendo executadas no Território, porém cabe esclarecer que a

representação gráfica foi construída por uma amostra pequena dos atores territoriais,

portanto pode significar apenas uma leitura da realidade. Em resumo, a amostra é dentro

de suas limitações, representativa dos atores institucionais. A partir das posições que

ocuparam nos círculos podem-se construir diversas interpretações. Foi possível, por

exemplo, reunir as seguintes observações:

As instituições mais próximas do Território são o MDA e a APOMS desenhados no

círculo central. Seguem o IDATERRA e a CPT localizados no círculo seguinte. No extremo

deste encontramos a EMBRAPA. No penúltimo círculo as Prefeituras e no último as

universidades e as cooperativas consideradas as entidades mais distantes do Território na

lista das nove sugeridas no início da técnica.

A relação entre a EMBRAPA e as universidades apresenta-se em linhas pontilhadas

em decorrência, quiçá, da presença de alunos estagiários apoiados pela instituição em

algumas áreas de assentamentos. Mas a relação é notadamente recente, principalmente

com as demais instituições representando as expectativas dos atores na construção de

relações mais firmes e menos pontuais. A boa interlocução reflete o processo de

aproximação e de construção que a Embrapa vêm realizando na região. Com o MDA pode

ser em função do Agrofuturo e conseqüente instalação do Núcleo Piloto com claro

reconhecimento dos territórios rurais.

Percebe-se que a prefeitura mantém relação com todos os atores, mas apenas

indica uma boa interlocução com o IDATERRA, empresa de assistência técnica estadual e

com a APOMS que é uma das lideranças mais reconhecidas pelo grupo de participantes. A

relação com as cooperativas pode ser descrita como apenas em um sentido apontando o

apoio das prefeituras através de diversas políticas de capacitação e incentivo ao

cooperativismo. Os Conselhos Municipais de Desenvolvimento Rural mantêm com as

52

Prefeituras relações que pressupõem para estas últimas a viabilização e captação de

recursos federais.

Identifica-se também uma importância muito significativa para as universidades

embora sejam parcerias pontuais com a UFGD e a UEMS. Este quadro é refletido na figura

com traços pontilhados que se traduzem em relações de interlocução comprometidas ou

distantes. As cooperativas, de igual maneira, mostram-se desgastadas representando

distanciamento do Território.

Figura 6 - Mapa Institucional do Território Grande Dourados/MS

Abaixo são destacadas as impressões, com as expressões dos próprios

participantes, resultantes das discussões que foram geradas enquanto construíam o mapa.

EMBRAPA

A Embrapa é importante pela articulação que fez até agora, mas a sua atuação na

agricultura familiar é muito recente. Ela se destaca em Dourados por meio dos módulos de

53

mandioca. A Embrapa está nos assentamentos hoje. Alunos do curso de agronomia da

UFGD trabalham nos assentamentos com agricultura orgânica com apoio da Embrapa.

Quem diria que a Embrapa daria essa virada. Ninguém ia acreditar.

APOMS

O processo que ela está fazendo ninguém fez antes. Mas a atuação não é no

Território como um todo. A APOMS atua mais em Juti, Glória de Dourados, Dourados,

Fátima do Sul e Jateí. E os outros agricultores? Itaporã não deve saber da APOMS.

A APOMS está com pernas curtas, ainda está frágil. A estrutura física e técnica

ainda não estão formadas, por isso precisa de parceiros.

IDATERRA/AGRAER

É muito atuante, mas não tem estrutura. Está em todos os municípios fisicamente,

mas nem sempre efetivamente, depende muito dos técnicos e do apoio regional. Em cada

município o técnico carrega a empresa.

PREFEITURAS

São representadas pelas Secretarias de Agricultura. Em Dourados a Secretaria de

Agricultura Familiar apresenta a maior atuação. Mas no Território a importância e a

atuação das outras prefeituras se diluem. Ter ou não ter afinidade partidária ajuda e

também atrapalha.

Há muito egocentrismo e falta compromisso.

UNIVERSIDADES

Foram convidadas para as reuniões da CIAT, mas apareceram apenas algumas

pessoas. As universidades estão paradas. Podem ajudar com projetos voltados à

Agricultura Familiar, fazer como a EMBRAPA. Os professores devem direcionar suas

pesquisas e montar cursos para filhos de assentados. A UEMS teve um curso técnico mais

não deu certo.

54

CMDRS

Uns atuaram bem, outros não. Muitos são marionetes do poder público. Eles não têm

vida própria. São dependentes. Destacaram mais onde as próprias prefeituras são mais

envolvidas.

CPT

Coordena trabalhos com agricultores familiares. A sua atuação é discreta em

Dourados, Nova Alvorada e Jateí. Tem o mesmo problema da APOMS, tem potencial mais

com dificuldades de recursos humanos e financeiros.

MDA

O MDA é um divisor de águas. Hoje a agricultura familiar recebe mais incentivo.

Mas ainda as secretarias estão afastadas, às vezes são até antagônicas, precisam andar de

mãos dadas. Em alguns momentos há uma “queda de braço” entre o MDA e o IDATERRA

por questões partidárias. Temos esperança que 2007 venha com articulador.

COOPERATIVAS

As associações e as cooperativas já estiveram mais presentes. Hoje estão

desgastadas. Na sua maioria não foram formadas com a base. As Diretorias dominavam o

processo. Muitas faliram.

Falta gerenciamento e investimento, as pessoas têm boas intenções mais não tem

capacidade. Falta consciência associativa, tem muito barrismo ainda.

Uma Cooperativa que está dando certo é a FATILEITE no município de Fátima do

Sul. Também a COOPALEITE em Glória de Dourados. Precisam surgir cooperativas mais

fortalecidas para agregar valor aos produtos e explorar o grande centro consumidor que é

Dourados.

4.2 - Lideranças no território

Os depoimentos colocaram em evidência o fracasso das variadas tentativas de

articulação territorial. A pouca força da CIAT foi frequentemente associada à constante

55

mudança de articulador o que provocou descontinuidade na gestão. Definem estes

episódios como demonstrações de um processo “não amadurecido”, de uma “experiência

negativa” e de “retrocesso nas negociações institucionais”.

O tema mais constante nas falas é a experiência com agricultura orgânica

ressaltando o papel da APOMS, sendo uma associação respeitada e reconhecida pelos

atores territoriais. Conseguiu em pouco tempo liderar os projetos de agricultura familiar

agroecológica e construir em parceria com o MDA26 a rede de produtores27 agroecológicos

centralizados, dentro do Território Grande Dourados, nos municípios Glória de Dourados,

Dourados e Juti e no distrito Itanhum (município de Dourados) nos assentamentos Lagoa

Grande e Amparo28.

Mantém parceria com a Embrapa Agropecuária Oeste, a Universidade para o

Desenvolvimento do Estado e da Região do Pantanal – UNIDERP, a Comissão Pastoral da

Terra – CPT, o Instituto de Desenvolvimento Agrário, Pesquisa e Extensão Rural -

IDATERRA e o Instituto de Meio Ambiente e Desenvolvimento - IMAD. A APOMS

participa da Coordenação Nacional da Organização dos Produtores Familiares do Comércio

Justo e Solidário – OPFCJS e de vários eventos, tendo com isto muita visibilidade, mas,

sobretudo tem fortalecido o seu papel de “exemplo” dentro do Território.

Em 2006, em parceria com a prefeitura e com recursos federais foi inaugurada uma

agroindústria coletiva de processamento de café e embalagem de cereais. O projeto tem

parceria com o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas - SEBRAE/MS e

com a Fundação Educacional para o Desenvolvimento Rural - FUNAR.

Além da cultura do café, destina pequenas áreas para a fruticultura (acerola,

goiaba, manga, pinha, uva e coco anão), produção de leite e soja orgânica. A cultura da

mandioca orgânica é outro dos eixos trabalhados pelos produtores do município Glória de

Dourados chegando a cultivar em uma área de 15 hectares cerca de 400 toneladas.

26 A APOMS, ressaltaram os entrevistados, se fortalece a partir de 2005, junto ao MDA. 27 A composição atual dos núcleos da APOMS localizados no Território é de 106 produtores distribuídos da

seguinte maneira: Glória de Dourados (15), Dourados (15), Distrito Itahum no assentamento Lagoa Grande e Amparo ( 30) e em Juti ( 46).

28 A APOMS tem atuação fora do Território Grande Dourados nos municípios de Nova Andradina/Ivinhema, Itaquiraí, Ponta Porã (Assentamento Itamarati) e no Assentamento Rural Colônia Agropecuária Aspargo no município Campo Grande. E, ainda tem recebido visita de interessados nas experiências da Associação provenientes de Itália, Suíça e Japão.

56

4.3 - Conflitos

Os conflitos, destacados pelos atores, podem ser resumidos em três queixas

constantes. A primeira como descrito em item anterior, foi o “vazio” da articulação. A

segunda está vinculada à falta de gestão dentro da CIAT acostumada a “evitar atritos

para todo mundo ficar feliz” como apontou um dos técnicos. E, finalmente a terceira, diz

respeito à falta de assistência técnica, prejudicada pela falta de estrutura que impede de

acompanhar uma demanda a cada dia maior. Com relação a este último ponto sugeriram

trabalhar com Unidades Demonstrativas que lhes permitam conhecer experiências alheias

e incorporar novas estratégias e testar novas soluções.

5 - Resultados

5.1 - Formação de capacidades

A Formação de capacidades ocorre, principalmente, por intermédio de ações

pontuais da Secretaria de Agricultura Familiar de Dourados em parceria com o MDA.

Destacam-se os seguintes cursos:

• capacitação na cadeia produtiva do leite: manejo de pastagem, sanidade animal e qualidade do leite;

• associativismo e economia solidária;.• capacitação na produção de olerícolas;• capacitação na produção e armazenamento de manivas;• uso de inseticidas naturais e bio-fertilizantes;• processamento das plantas para tinturas e pomadas de uso doméstico;• capacitação no cultivo e uso de plantas medicinais; • capacitação de Técnicos e Agentes Indígenas em sistemas alternativos de

produção e valores e costumes indígenas;

O IDATERRA organiza frequentemente seminários locais e regionais para tratar

temas de capacitação rural, como por exemplo: pecuária leiteira, sanidade animal, culinária,

agroecologia, dentre outros. A APOMS promove dias de campo (visita às propriedades),

seminários e cursos de capacitação de mão-de-obra com abordagens agroecológicas.

“Nosso trabalho não termina no repasse de informações. Temos que preparar esses

atores, repensar metodologias de difusão”, foi o comentário feito por um pesquisador da

Embrapa.

57

5.1.1 – Educação no território

Conforme a Tabela 15 é possível verificar a proporção de pessoas alfabetizadas

com cinco anos ou mais de idade. O percentual de alfabetização do Território é de 86,0 %.

Possuem as taxas mais altas os municípios de Dourados (88,6%), Rio Brilhante (84,4%) e

Fátima do Sul (83,8%). A menor taxa corresponde ao município de Juti (76,1%). A

distribuição da taxa total de alfabetização segundo a área, urbana ou rural é de 84,4%

para a primeira e de 15,6 para a segunda. Na área rural, a maior taxa de alfabetização

encontra-se no município de Jateí (67,3%) e, na área urbana, em Dourados (92,1%).

Tabela 15 - Território - Grande Dourados - MSPopulação alfabetizada (5 anos ou mais de idade)

População Total > de 5 anos

Taxa de Alfabetização

Alfabetização5 anos ou mais

Município Nº (%) População Urbano.(%)

Rural (%)

Caarapó 18.459 80,4 14.845 74,2 25,8Deodápolis 10.363 81,9 8.488 75,4 24,6Douradina 4.237 82,9 3.512 59,1 40,9Dourados 148.848 88,6 131.831 92,1 7,9Fátima do Sul 17.710 83,8 14.848 85,1 14,9Glória de Dourados 9.278 83,3 7.725 71,8 28,2Itaporã 15.243 82,4 12.559 73,2 26,8Jateí 3.685 82,9 3.056 32,7 67,3Juti 4.411 76,1 3.356 70,1 29,9Rio Brilhante 20.161 84,4 17.020 74,7 25,3Vicentina 5.368 80,3 4.308 62,0 38,0

Total 257.763 86,0 221.548 84,4 15,6Total dos Territórios

no Estado 470.347 84,1 395.658 78,5 21,5

Censo IBGE 2000 e ADHB - Atlas do Desenvolvimento Humano no Brasil Fonte: SDT/MDA – SIT

De acordo com a SEPLANCT (2005), conforme exposto na Tabela 16, os municípios

apresentaram, ao total, 11.054 matrículas iniciais de educação infantil, assim distribuídas,

área urbana 10.565 e área rural 489. No ensino fundamental há, ao total, 56.214

matrículas, 51.323 na área urbana e 4.891 na área rural. 13.475 das matrículas

correspondem ao ensino médio (13.428) na área urbana e apenas (47) na área rural.

O Território conta com 4.639 professores, 6,84 % atuam na área rural e 93,16%

exercem suas funções na área urbana (Tabela 16).

58

Tabela 16 - Território - Grande Dourados - MSEducação - 2005

Matrícula Inicial ProfessoresMunicípio Infantil Ensino Fundamental Ensino Médio Infantil Ensino Fundamental Ensino Médio

Total Urbano Rural Total Urbano Rural Total Urbano Rural Total Urbano Rural Total Urbano Rural Total Urbano RuralCaarapó 849 798 51 4.280 3511 769 818 818 - 33 31 2 257 229 28 61 61 -Deodápolis 378 378 - 2.050 2.050 - 577 577 - 18 18 - 144 144 - 60 60 -Douradina 220 167 53 1.057 780 277 255 255 - 16 12 4 60 38 22 18 18 -Dourados*** 6.635 6343 292 33.211 30344 2.867 8.015 7968 47 333 314 19 1.584 1439 145 530 524 6Fátima do Sul** 739 739 - 3.148 3.148 - 963 963 - 40 40 - 205 205 - 95 95 -

Glória de Dourados* 275 275 - 1.700 1.598 102 473 473 - 16 16 - 161 143 18 67 67 -

Itaporã 485 485 - 2.608 2.608 - 767 767 - 38 38 - 184 184 - 73 73 -Jateí 185 143 42 843 628 215 165 165 - 11 7 4 46 35 11 16 16 -Juti 149 149 - 1.300 1.199 101 233 233 - 5 5 - 52 48 4 16 16 -Rio Brilhante 1.000 949 51 5.080 4520 560 938 938 - 44 39 5 276 227 49 59 59 -Vicentina 139 139 - 937 937 - 271 271 - 8 8 - 70 70 - 43 43 -

Total 11.054 10565 489 56.214 51.323 4891 13.475 13.428 47 562 528 34 3.039 2762 277 1038 1032 6% 100 95,57 4,43 100 91,30 8,70 100 99,65 0,35 100 93,95 6,05 100 90,89 9,11 100 99,42 0,58

+ Uma instituição de ensino superior: Estadual (UEMS)** Duas instituições de ensino superior: Faculdades Particulares (FIFASUL e FAPS)*** Sete instituições de ensino superior: ( UNIGRAN, UEMS-Sede, UFGD, FAD, IESD, UNIDERP)Fonte: SEPLANCT/MS

5.2 - Plano (processo e estado atual)

Antes do PTDRS fez-se um estudo propositivo de dinamização regional que teve

como referência o Plano de Estratégias de Longo Prazo para Mato Grosso do Sul – MS

2020, do governo estadual que serviu de base para o Estudo Propositivo para Dinamização

da Economia do Território Grande Dourados apresentado em 2005. A Fundação Cândido

Rondon foi contratada para elaborar esta versão levantando junto aos municípios as

potencialidades do recém criado Território. O processo de levantamento de informações e

planejamento das ações teve caráter participativo com presença de representantes locais

e estaduais e agricultores familiares.

O documento traduz-se em uma ferramenta para monitorar e acompanhar as ações

dos principais projetos aprovados na CIAT com estratégias de curto, médio e longo prazo.

Na proposta, lembraram os atores locais, há indicativos dos eixos produtivos, com

prioridade para a cadeia produtiva do leite considerada alternativa para o fortalecimento

econômico do agricultor familiar.

Portanto, resfriadores de leite, capacitação em bovinocultura de leite, compra de

equipamentos e instalação de agroindústrias de processamento são ações predominantes

no Território.

Vale a pena ressaltar que o Plano contém análises de quatro dos principais

programas estaduais implementados no Território. Assim, como indicado no texto, o

Programa Prove29 tinha instalado 194 agroindústrias das quais apenas 24% estavam em

funcionamento e 21% das famílias haviam desistido da atividade (p. 41). Já o Programa MS

Solidário30 atua em três eixos: i) produção de sementes e mudas; ii) linhas de micro-

crédito e campanhas de documentação e; iii) apoio à agroindustrialização. O Programa

Terra Nova31 concentra-se na organização e modernização das informações fundiárias, no

apoio técnico à redistribuição da terra e na implantação de infra-estrutura. Contudo, em

avaliação feita pelo IDATERRA, constante no próprio Plano, o Terra Nova limitou-se

29 O Prove é um programa de inclusão social implantado desde 1999 com o objetivo de melhorar a qualidade de vida do agricultor familiar.

30 Programa do governo popular de Mato Grosso do Sul está destinado a agricultores familiares e pescadores. MDA, Embrapa e SEBRAE são alguns dos principais parceiros do MS Solidário.

31 Apóia a implantação e regularização de assentamentos rurais, áreas indígenas e unidades de produção familiar e conta com o apoio da Fundação Nacional de Saúde- FUNASA. Nenhuma aldeia indígena do Território Grande Dourados foi contemplada.

apenas à execução de obras de infra-estrutura (abastecimento de água no assentamento

Taquara, município Brilhante e nos assentamentos PAM e PANA localizados no município

Nova Alvorada do Sul. Estes dois municípios também foram atendidos com a construção de

centros de cultura e lazer nos assentamentos São Judas Tadeu e PAM e PANA).

O Programa SEBRAE de Desenvolvimento Local - PSDL32 busca fomentar ações que

tornem os municípios do Território (Caarapó, Fátima do Sul e Rio Brilhante) auto-

sustentáveis através do desenvolvimento das vocações econômicas locais, como, por

exemplo, desenvolvimento de artesanato, formação de novas lideranças locais e

diversificação da produção rural.

Em geral, os principais problemas ainda estão enraizados na baixa capacidade de

gestão dos atores territoriais, na deficiência da assistência técnica e difusão de

tecnologias, apesar da existência de órgãos como o IDATERRA e, na inexistência de

escolas agrotécnicas profissionalizantes.

5.2.1 – Relação de Projetos / MDA no Território

Segundo o Sistema de Informações Territoriais – SIT da Secretaria de

Desenvolvimento Territorial do MDA, o Território Grande Dourados registra a aprovação

de 48 projetos (12 por ano) com investimentos que atingiram ao total, R$2.022.879,69

desde 2003 até 2006 (Tabela 17).

Tabela 17 - Território Grande Dourados - MSInvestimentos da SDT/MDA no Território

Ano Número deProjetos Valor (em R$)

2003 12 639.270,972004 12 547.899,722005 12 268.869,732006 12 566.839,27

Total Território 48 2.022.879,69Fonte: SDT/MDA - SIT

Em 2006 a cifra destinada ao Território correspondeu a R$ 566.839,27 de um

total de R$ 2.587.564,96 disponibilizados para os três territórios que compõem o Estado.

32 O PSDL é resultado do Programa de Emprego e Renda - PRODER implementado desde 1997.

61

Tabela 18 - Território Grande DouradosInvestimentos da SDT/MDA nos Territórios do Estado - 2006

Territórios Número de Projetos Valor (em R$)Cone Sul 9 1.684.630,69Da Reforma 2 336.095,00Grande Dourados 12 566.839,27

Total dos Territórios do Estado 23 2.587.564,96Fonte: Sistema de Informações Territoriais SIT - SDT/MDA

As ações da SDT nesse ano estiveram direcionadas principalmente às questões

ambientais focalizando nos seus municípios a educação ambiental, a implementação de

viveiros e mudas e o apoio ao diagnóstico ambiental territorial (Tabela 19). Os

investimentos nos anos anteriores (2003, 2004 e 2005) encontram-se no anexo I.

Tabela 19 - Território Grande Dourados Ações da SDT/MDA no Território – Ano 2006

Proponente LocalizaçãoValor

(em R$) Objeto

Fundação Cândido Rondon Grande Dourados 23.619,00 Eventos de mobilização de atores sociais e produção de relatórios de gestão.

Prefeitura Municipal de Deodápolis Deodápolis 19.000,00 Apoio às ações territoriais e de Recuperação

e Educação Ambiental.Prefeitura Municipal de Douradina Douradina 19.300,00 Apoio às ações territoriais de Recuperação e

Educação Ambiental.Prefeitura Municipal de Dourados Dourados 88.000,00 Implantação de viveiros de mudas.

Prefeitura Municipal de Fátima do Sul Fátima do Sul 19.277,00

Apoio ao Diagnóstico Ambiental e ao Monitoramento das Condições dos Recursos Naturais. Aquisição de uma motocicleta 125 Cilindrada Tipo Trial para registro georeferenciado por GPS e fotográfico de nascentes e matas ciliares existentes.

Prefeitura Municipal de Glória de Dourados

Glória de Dourados 19.280,00 Apoio às ações territoriais de Recuperação e

Educação Ambiental.Prefeitura Municipal de Glória de Dourados

Glória de Dourados 100.000,00 Apoio à produção leiteira no município de

Glória de Dourados.

Prefeitura Municipal de Itaporã Itaporã 20.240,00 Coleta e armazenamento adequado de embalagens vazias de Agrotóxicos.

Prefeitura Municipal de Jateí Jateí 5.833,27 Apoio às ações de Recuperação e Educação Ambiental.

Prefeitura Municipal de Rio Brilhante Rio Brilhante 128.800,00 Preparo do solo e plantio de culturas

agrícolas.Prefeitura Municipal de Caarapó Caarapó 104.210,00 Aquisição de máquinas e equipamentos.Prefeitura Municipal de Vicentina Vicentina 19.280,00 Apoio às ações de Recuperação e Educação

Ambiental.Total no Ano 566.839,27

Fonte: Sistema de Informações Territoriais SIT - SDT/MDA

62

5.3 - Avanços no ciclo de gestão social

Para os atores locais, a política territorial trazida pelo MDA revigorou os projetos

que existiam anteriormente, mas também propiciou uma busca de parcerias necessárias

para a construção de novos projetos.

Da necessidade de montar projetos, escolher eixos norteadores e buscar alianças

cresce, segundo afirmaram, o diálogo e a interação entre municípios distantes e atores

sociais heterogêneos, antes vistos por separado. Os conflitos – como os indicados no item

4.3, apesar de envolverem poderes locais diversos têm permitido um ganho que a maioria

reconhece: atores diversos “sentam na mesma mesa”.

Como mencionado anteriormente, a CIAT não é um espaço de diálogo reconhecido. A

expectativa, afirmaram, é que possa ser um espaço coletivo e de construção de parcerias e

não só de discussões de projetos do Pronaf.

As reuniões e assembléias aconteceram sem que o conceito de território estivesse

incorporado. Apesar do processo de formação do Território ter sido caracterizado como

participativo: “prevaleceram os interesses pessoais (prefeituras) e não os institucionais”,

concluíram os atores entrevistados.

Apesar deste quadro, as ações da Secretaria de Meio Ambiente do município de

Jateí - SEMMA têm repercussão territorial, são reconhecidas e valorizadas pelos

diferentes segmentos. Os projetos no âmbito ambiental têm marcado as ações

territoriais, sejam aqueles desenvolvidos pela Prefeitura de Dourados e destinados à

educação ambiental, sejam aqueles executados pelo IMAD e que resultaram em uma

‘marca’ ambiental sublinhada demais na opinião dos entrevistados.

A SEMMA adotou o Sítio Escola como unidade de referência de produção,

capacitação e assistência técnica. Nele confluem ações conjuntas das secretarias de

agricultura, educação e saúde. O Sítio Escola recebe apoio técnico do IDATERRA e conta

com os Conselhos Municipais de Desenvolvimento Rural Sustentável – CMDRS, os Conselhos

Municipais de Meio Ambiente – CMMAs, o Sindicato Rural de Jateí e associações locais.

O Sítio Escola é uma propriedade rural construído pela Prefeitura de Jateí, na qual

se desenvolvem atividades de educação ambiental continuada, no âmbito do Projeto Sala

63

Verde33. Boas práticas de uso e proteção do meio ambiente são repassadas,

quinzenalmente, aos alunos da rede pública de ensino estadual e municipal. Nele, observam-

se, modelos de recuperação ambiental e uso sustentável dos recursos naturais.

33 O Projeto Sala Verde é realizado em parceria com o Ministério de Meio Ambiente, a Prefeitura de Jateí e a Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul/UEMS.

64

III.Território do Sisal / BA

“Tudo é feito com um pé na terra e o olhar no campo”(Professor José Plínio de Oliveira, trecho da entrevista).

SUMÁRIO

1. Marco

1.1 – Marco espacial

1.2 – Marco histórico

2. O Território do Ministério de Desenvolvimento Agrário

2.1 – Referência histórica territorial

2.2 – O território

2.3 – Mapa social

2.4 – Situação socioeconômica e ambiental predominante

2.5 - Inovação tecnológica

3 - Imaginário

3.1 - Conhecimento da política do Ministério de Desenvolvimento Agrário

3.2 - Apropriação da estratégia de territorialização por parte dos atores

3.3 - Conceito de núcleo

3.4 - Identidade expressada

4 - Ações

4.1 - Instituições envolvidas

4.2 - Lideranças no território

4.3 - Conflitos

5 - Resultados

5.1 - Formação de capacidades

5.2 - Plano (processo e estado atual)

5.3 - Avanços no ciclo de gestão social

66

1- Marco

1.1 – Marco Espacial

A expressão nordeste semi-árido teve seu uso generalizado a partir da década de

1970 como sinônimo dos espaços caracterizados pela semi-aridez dos solos, o déficit

hídrico e a precipitação pluviométrica média anual igual ou inferior a 800 mm. Os critérios

de delimitação da área de ocorrência das secas estiveram a cargo da Superintendência do

Desenvolvimento do Nordeste - SUDENE que deixou de utilizar, a partir da constituição

de 1989, a figura de Polígono das Secas (definição instituída na década de 1930) para se

referir à área reconhecida oficialmente como área de ocorrência das secas.

Os limites do semi-árido nordestino têm passado por varias alterações em termos

de superfície territorial. Configurações determinadas pela concepção e implementação de

medidas governamentais de fortalecimento da economia, o que tem implicado na inclusão

de novos municípios na área oficial de ocorrência das secas. Essa imprecisão é decorrente

do amplo espectro da aridez, mais acentuada na parte central da região e mais tênue nas

áreas periféricas (CARVALHO, 2006).

Seja Polígono das Secas, Região Semi-árida ou área de ocorrência das secas, é

inegável que são espaços caracterizados por uma homogeneidade, mas também pela

criatividade na utilização dos solos, pela maneira de lidar com a escassez e pela tradição e

costumes sertanejos.

A economia do semi-árido esteve integrada até a década de 1960 por atividades de

baixa eficiência e baixa produtividade. As atividades atualmente desenvolvidas mudaram

expressivamente.

O cenário do semi-árido baiano também sofre câmbios, no início do século XX,

provocados pelas plantações de sisal, cultura que configura a chamada região sisaleira e

inspira o nome do Território. O cultivo do sisal – espécie altamente resistente às secas, é

desenvolvido em pequenas e médias propriedades com base principalmente na agricultura

de subsistência.

67

O Estado da Bahia é o principal produtor de sisal do País, abriga 52 municípios

produtores, e colhe anualmente cerca de 180 mil toneladas, com produtividade média de

uma tonelada por hectare. A produção de sisal e seus derivados representam 2,89 % das

exportações do Estado. São estes insumos que permitem ao Brasil liderar o ranking

mundial, com 210 mil toneladas por ano de fibra seca, metade da qual é exportada para

mercados dos países signatários do NAFTA34 (65,2%) e membros da União Européia

(34,8%)35.

De qualquer sorte, esses dados não escondem uma outra realidade. Parte dos

municípios que compõem o Território do Sisal são considerados os mais pobres do País.

Figura 7 - Mapa do Estado da Bahia /BA – Região Sisaleira

Fonte: globorural.globo.com/edic/254/generosidade_16.jpg

1.2 – Marco histórico 34 Acordo de Livre Comércio da América do Norte. 35 Consultar http://www.seplantec.ba.gov.br

68

A ocupação humana do sertão baiano acompanhou os cursos dos rios alheia aos

avanços do resto do país. Após a abolição das sesmarias a agricultura familiar surge

ocupando terras incultas caracterizando um processo irregular que só seria legalizado com

a Lei de Terras de 1850. Esta agricultura encontra na produção de cultura de subsistência

e no uso da mão-de-obra familiar seu sustento até os dias atuais apesar das condições

adversas como a escassez de água, falta de infra-estrutura básica, aridez do clima e

pressões políticas. As condições climáticas desfavoráveis fizeram do semi-árido

nordestino uma área destinada quase exclusivamente à criação extensiva de gado.

Com a chegada do sisal, na década de 1940, as condições de isolamento começaram

a mudar ocorrendo integração às políticas econômicas e sociais cujo principal marco está

referenciado nas políticas desenvolvimentistas que o Brasil assume. Nesse sentido surgem

políticas públicas focalizadas no sertão e interessadas na integração do sisal à economia

nacional através da exploração comercial da fibra do sisal, matéria-prima da região. Isto

trouxe o nascimento de novos municípios que ainda hoje são marco na produção sisaleira:

Araci em 1956, Valente em 1958 e Ichu em 1962.

Mas também, no bojo, trouxe a exploração do sertanejo por um poder político

regional pouco interessado nas mudanças sociais. O sentimento de religiosidade foi uma

das saídas encontradas para resistir tanto pressões climáticas como políticas. Muitas das

ações comunitárias e de organização atuais tiveram alicerce nos trabalhos realizados pelas

pastorais rurais da igreja católica e que atualmente são marca registrada da população

nordestina na luta contra as limitações climáticas e conseqüente escassez de recursos

naturais. Este é o cenário onde crescem algumas das lideranças do Território, como por

exemplo, a APAEB.

Para alguns autores houve um processo de diversificação da produção baiana

assentado em dois momentos. O primeiro vinculado à crise dos produtos tradicionais, como

cacau, fumo, café, algodão, sisal e mamona, que se inicia nos anos 1970, relacionados com

múltiplos fatores como pragas, falta de mercados, preços baixos, dentre outros. O

segundo atrelado ao surgimento de uma agricultura moderna com tecnologias produtivistas.

O sisal encontra, nesse momento, alicerces para conquistar espaço nos mercados

internacionais (BAHIA ANÁLISIS & DADOS, 2004).

69

2 - O território do Ministério do Desenvolvimento Agrário

2.1 – Referência histórica territorial

Além da recente divisão espacial dirigida pelo Ministério de Desenvolvimento

Agrário, Figura 8, podem-se citar algumas outras que lhe antecederam e que ainda têm

vigência. Uma delas é a divisão inspirada nos seus rios: o Território do Sisal está banhado

por duas bacias hidrográficas, a Bacia Hidrográfica do rio Itapicuru e a Bacia Hidrográfica

do rio Paraguaçu. A Primeira encontra-se inserida na região norte do estado. Possui nos

seus limites duas Áreas de Proteção Ambiental (APAs) e uma Reserva Particular do

Patrimônio Natural (RPPN). Os municípios do Território inseridos, total ou parcialmente, na

Bacia são: Araci, Cansanção, Itiúba, Monte Santo, Nordestina, Queimadas, Quijingue,

Santaluz e Tucano, Biritinga, Conceição do Coité, Teofilândia e Valente.

A Bacia do rio Paraguaçu, por sua vez, abrange 81 municípios localizados no centro-

leste do Estado. Do Território somente cinco partilham a Bacia: Candeal, Conceição do

Coité, Ichu e Retirolândia.

Outra distribuição, desta vez carimbada por fatores político-partidários é a do Pólo

Sindical que divide a região sisaleira em 15 municípios. Os municípios de Barrocas,

Biritinga, Itiúba, Lamarão e Teofilândia não fazem parte desta divisão, contudo são

contemplados na divisão territorial do MDA.

A Secretaria de Agricultura, Irrigação e Reforma Agrária, também possui

classificação própria que contempla a região sisaleira com 50 municípios assim

distribuídos: Pólo do Piemonte (15 municípios), Pólo do Nordeste (20 municípios, que

coincidem com os municípios do Território do Sisal), Pólo do Paraguaçu (20 municípios) e

Região de Iracê com três municípios.

70

Fonte: Sistema SIT – SDT/MDA

2.2 – O Território

O território está conformado por vinte (20) municípios: Araci, Barrocas, Biritinga,

Candeal, Cansanção, Conceição do Coité, Ichu, Itiúba, Lamarão, Monte Santo, Nordestina,

Queimadas, Quijingue, Retirolândia, Santaluz, São Domingos, Serrinha, Teofilândia,

Tucano e Valente. Possui uma população total de 554.711 habitantes em uma área de

20.454 km². O número de estabelecimentos rurais familiares para o Censo de 1996 era de

64.350 sendo o primeiro dos 10 territórios da Bahia (Figura 9).

Território do Sisal

71

Figura 8 - Mapa dos Territórios Rurais do Estado da Bahia

Figura 9 - Mapa do Território do Sisal /BA

Fonte: CODES – Resumo Executivo 2006

No Território do Sisal, 63% da população reside nas áreas rurais. A agricultura

familiar predomina em 93% das propriedades e equivale a 76% da população

economicamente ativa no local. 9,7% dos agricultores familiares da Bahia estão neste

território e, entre estes, 68,5% são classificados como quase sem renda. Entre os mais de

100 territórios apoiados pela MDA, é o Território com maior concentração de agricultores

familiares e onde se empregam mais pessoas por hectare, correspondendo ao dobro das

médias estadual e nacional.

Segundo dados do INCRA (2006) o número de assentamentos é de 52,

correspondendo a 2.063 famílias, que ocupam 73.585 hectares. O município com maior

numero de assentamentos é Monte Santo (26) seguido de Tucano (7) e Santaluz (5). E, o

município de Monte Santo também possui o maior numero de famílias assentadas (764)

(Tabela 20).

72

Tabela 20 – Território do Sisal /BANº de Famílias Assentadas em Projetos de Reforma Agrária

MunicípioÁrea do

Assentamento(ha)

Número deAssentamentos

Capacidadede Assentamentos(Nº de Famílias)

Número de Famílias

AssentadasAraciBarrocasBiritinga 816 1 20 20CandealCansanção 11.486 4 244 203Conceição do Coité 2.244 1 104 102IchuItiúba 4.074 4 157 153LamarãoMonte Santo 16.456 26 960 764NordestinaQueimadas 832 1 17 17Quijingue 6.846 3 191 165RetirolândiaSantaluz 8.500 5 286 266São DomingosSerrinhaTeofilândiaTucano 22.331 7 381 373Valente

Total 73.585 52 2.360 2.063Total dos Territórios no Estado 934.761 322 28.016 23.575

MDA/Incra/SIR (2006). Nota: Dados atualizados até 30/09/2006.Fonte: SDT/MDA – SIT

2.3 – Mapa Social

O mapa social desenhado pelos participantes distinguiu basicamente quatro

aspectos: o institucional, o produtivo, o ambiental e o cultural.

As entidades sejam elas da sociedade civil ou dos órgãos públicos foram

implantadas na maquete aqui reproduzida. Assim foram ganhando forma os prédios da

Prefeitura, da Associação de Desenvolvimento Sustentável e Solidário da Região Sisaleira

- APAEB36, da Universidade Estadual da Bahia - UNEB, da Empresa Baiana de

Desenvolvimento Agrícola - EBDA, da Fundação de Apoio aos Trabalhadores Rurais e

Agricultores Familiares da Região do Sisal e Semi-árido da Bahia - FATRES, das

cooperativas de produção, da Cooperativa Regional de Artesãs Fibras do Sertão -

COOPERAFIS, das associações, do sindicato, dos bancos, das ONGs, da Igreja Católica e

da Escola Familiar Agrícola – EFA.

36 Incluem a TV - Valente e a Rádio Valente FM.

73

Os 20 municípios que conformam o Território não foram nomeados, apenas um deles

ganhou destaque - o município de Valente que aparece bem no centro do Território

fazendo uma dupla com o CODES Sisal - Conselho Regional de Desenvolvimento Rural

Sustentável da Região Sisaleira.

O samba de roda, os reizados, o mutirão, o boi roubado e as festas religiosas foram

valorizados como expressões de arte, cultura e religiosidade.

Do ponto de vista ambiental alguns itens ganharam traços como, por exemplo, os

rios de Itapicuru e de Paraguaçu que banham o território. As pedras, o minérios, as olarias

e a cerâmica também estão presentes. O turismo rural como atividade que pode vir a

complementar a renda do agricultor familiar foi priorizada.

O espaço da economia foi preenchido com as referências ao feijão, mandioca e

milho. A piscicultura, a caprinocultura, a bovinocultura, a suinocultura e a apicultura foram

lembradas. O sisal é claro teve lugar de destaque (Figura 10).

2.4 - Situação socioeconômica e ambiental predominante

A população rural da Bahia é a maior do país em termos absolutos, superando até a

população rural estimada para toda a região norte do país, embora as áreas rurais do

estado tenham apresentado uma redução absoluta de população.

De acordo com dados do censo (2000) no Território do Sisal há uma concentração

da população na área rural (63%). A estimativa de crescimento da população do território,

entre os anos 2000 a 2006, é de 3,14%. Embora se observe na Tabela 21 redução da

população dos municípios de Candeal, Lamarão, Retirolândia, Serrinha, Teofilândia e uma

diminuição considerável da população total de Ichu e São Domingos.

74

Figura 10 - Mapa Social do Território do Sisal/BA )

Tabela 21 - Território do Sisal – BAAspectos Populacionais

População2000 2006

Total Rural Urbana Total Variação

Município Nº Nº (%) Nº (%) Nº 2000 /2006

Araci 47.584 31.395 65,98 16.189 34,02 49.236 3,47Barrocas 0 0 0 0 0 12.960 0Biritinga 14.641 12.294 83,97 2.347 16,03 14.656 0,10Candeal 10.121 6.704 66,24 3.417 33,76 9.674 -4,42Cansanção 31.947 22.726 71,14 9.221 28,86 32.716 2,41Conceição do Coité 56.317 28.291 50,24 28.026 49,76 59.248 5,20Ichu 5.593 2.930 52,39 2.663 47,61 3.381 -39,55Itiúba 35.543 26.679 75,06 8.864 24,94 36.383 2,36Lamarão 9.523 7.595 79,75 1.928 20,25 8.969 -5,82Monte Santo 54.552 47.326 86,75 7.226 13,25 56.962 4,42Nordestina 11.800 8.925 75,64 2.875 24,36 13.630 15,51Queimadas 24.613 14.830 60,25 9.783 39,75 25.682 4,34Quijingue 26.376 21.484 81,45 4.892 18,55 28.157 6,75Retirolândia 10.891 5.417 49,74 5.474 50,26 10.590 -2,76Santaluz 30.955 12.989 41,96 17.966 58,04 31.191 0,76São Domingos 8.526 4.815 56,47 3.711 43,53 7.237 -15,12Serrinha 83.206 37.263 44,78 45.943 55,22 75.544 -9,21Teofilândia 20.432 14.574 71,33 5.858 28,67 19.594 -4,10Tucano 50.948 32.351 63,50 18.597 36,50 54.137 6,26Valente 19.145 9.634 50,32 9.511 49,68 20.114 5,06

Total 552.713 348.222 63,00 204.491 37,00 570.061 3,14Total dos Territórios no

Estado 3.726.185 1.724.404 46,28 2.001.781 53,72 3.761.481 0,95

Fonte: SDT/MDA – SIT IBGE. Censo Demográfico 2000. Estimativa da população em 2006.

O município com maior população estimada é Serrinha (75.544 habitantes), dos

quais 55,22% estão na área urbana e 44,78 na área rural. O município de Valente possui

20.114 habitantes repartidos da seguinte forma, 49,68% na área urbana e 50,32% na área

rural. Há também um aumento destacado na população total estimada de Nordestina.

No Território do Sisal, o Índice de Desenvolvimento Humano Territorial – IDHT é

de 0,60. Em Ichu (0,68), Serrinha ( 0,66), Valente (0,66) e Santaluz (0,65), observam-se

os Índices mais altos de Desenvolvimento Humano Municipal - IDHM (Tabela 22).

Tabela 22 – Índice de Desenvolvimento Humano Municipal Território do Sisal - BA

Município IDHM

Araci 0,56

Barrocas 0,00

Biritinga 0,60

Candeal 0,61

Cansanção 0,54

Conceição do Coité 0,61

Ichu 0,68

Itiúba 0,57

Lamarão 0,61

Monte Santo 0,53

Nordestina 0,55

Queimadas 0,61

Quijingue 0,53

Retirolândia 0,63

Santaluz 0,65

São Domingos 0,62

Serrinha 0,66

Teofilândia 0,61

Tucano 0,58

Valente 0,66

Total Território 0,60 ADHB - Atlas do Desenvolvimento Humano no Brasil (2002).

Fonte: SDT/MDA – SIT

Como em todo o semi-árido nordestino, a concentração fundiária impera no

território: 70% dos estabelecimentos possuem menos de 10 hectares e ocupam apenas 11%

da área total, enquanto 53% da área é ocupada por 3,1 % dos estabelecimentos com mais

de 100 hectares. Os estabelecimentos com até 10 hectares empregam 67% de todo o

pessoal ocupado enquanto os estabelecimentos com mais de 100 hectares empregam menos

de 4% do pessoal. A renda per capita atual é de R$ 77,76 (no estado é de R$ 162,00) e a

taxa de analfabetismo é de 34,4%.

Em relação aos dados de demanda social disponibilizados pelo MDA é interessante

destacar que há no Território do Sisal, 64.350 agricultores familiares sendo que as

maiores concentrações observam-se em Monte Santo, Cansanção e Serrinha.

O número de famílias assentadas é de 2.063 com destaque ao município de Monte

Santo com 764 famílias assentadas. Segundo os referidos dados, as famílias acampadas

77

correspondem a 994 sendo que destas, 350 encontram-se no município Santaluz. Adiciona-

se aos dados aqui expostos o fato de, no Estado da Bahia, existiram 322 assentamentos da

reforma agrária que abrigam 23.575 famílias dos quais 52 encontram-se no Território do

Sisal (Tabela 23).

Tabela 23 – Território do Sisal/ BADemanda Social do MDA

Município AgricultoresFamiliares

(1)

FamíliasAssentadas

(2)

FamíliasAcampadas

(3)

DemandaSocial

Araci 5.479 5.479BarrocasBiritinga 2.714 20 214 2.948Candeal 640 640Cansanção 6.047 203 6.250Conceição do Coité 5.490 102 112 5.704Ichu 931 931Itiúba 3.554 153 3.707Lamarão 1.551 1.551Monte Santo 10.649 764 27 11.440Nordestina 1.301 1.301Queimadas 2.196 17 2.213Quijingue 4.779 165 114 5.058Retirolândia 1.207 1.207Santaluz 2.046 266 350 2.662São Domingos 726 726Serrinha 5.816 5.816Teofilândia 2.792 48 2.840Tucano 5.396 373 129 5.898Valente 1.036 1.036

Total 64.350 2.063 994 67.407Total dos Territórios no Estado 270.764 23.575 10.711 305.050

(1)IBGE. Censo Agropecuário (1995/96);(2)MDA/Incra/SIR (30/09/2006); (3)MDA/Incra/SIR (2005).Fonte: SDT/MDA - SIT

O sisal aparece associado à pastagem que serve de suporte à pecuária extensiva de

bovinos e caprinos destinados à produção de carne e leite. Das commodities, o sisal tem

destaque com 102.890 hectares plantados e uma produção de 8.7966 toneladas, seguida

do café quase inexpressivo junto com a cana-de-açúcar ( IBGE, 2004).

Destacam-se, ainda, as culturas temporais do feijão, do milho e da mandioca que

juntas ocupam 12% em contraste com as pastagens que chegam a predominar em 56% da

área.

78

A pecuária de corte ocupa o segundo lugar no ranking das atividades econômicas

rurais, sendo explorada por 66% dos proprietários e respondendo por 47%, da renda

média das famílias (VASCONCELOS DIAS, 2006).

Na Bacia do rio Itapicuru os principais impactos sobre os recursos hídricos são a

redução das taxas de infiltração de água nos solos, assoreamento das calhas fluviais,

inundações sazonais, alteração da qualidade das águas pelo lançamento de esgotos das

zonas urbanas e o risco de contaminação. Estes impactos ocorrem praticamente na maioria

dos municípios da bacia segundo dados do Centro de Recursos Ambientais - CRA do Estado

da Bahia37.

Afetam, também, o meio ambiente as atividades ligadas ao extrativismo de ouro em

Nordestina, nos garimpos da Favela e da Baixinha. Assim como atividades urbanas e

industriais de pequeno porte como, por exemplo, curtumes e matadouros que provocam

alterações na qualidade da água da bacia, através de lançamento de esgotos sanitários e

despejos industriais. As localidades mais afetadas são Queimadas, Nordestina e Tucano,

todos são municípios do Território do Sisal.

As principais fontes de poluição do rio Paraguaçu relatadas pelo CRA são: disposição

de lixo doméstico a céu aberto, exploração mineral, garimpos, remoção das matas ciliares,

desmatamentos, uso indiscriminado de pesticidas, falta de saneamento básico, entre

outras.

A derrubada e queimada da caatinga causa impactos na flora, fauna e solos.

Extensas áreas de pasto degradadas, erosão de solos, poluição dos rios foram apontados

como os principias problemas ambientais. Perante este quadro foram criadas comissões

temáticas de meio ambiente no Território que vêm organizando seminários para tratar do

assunto.

3.4.1 – Dados da produção agropecuária do Território

A produção pecuária está repartida entre caprinocultura, avicultura, bovino,

suinocultura e produção de leite. A Tabela 24 mostra que a produção de leite, no ano de

37 Conferir o Site http://www.cra.ba.gov.br

79

2005, é maior em Araci, Conceição do Coité e Serrinha. Por outro lado, a produção de leite

revela-se negativa em cinco dos municípios, a saber: Candeal, Ichu, Nordestina,

Retirolândia e Valente.

Tabela 24 - Território do Sisal /BA

LeiteQuantidade Produzida

(mil litros)

MelQuantidade Produzida(t)

Leite Mel

Município 2004 2005 Variação 2004 2005 Variação

Araci 1.827 1.918 4,98 19.350 13.545 -30,00

Barrocas 126 132 4,76 136 95 -30,15

Biritinga 926 972 4,97 11.375 7.962 -30,00

Candeal 784 691 -11,86

Cansanção 1.056 1.191 12,78 6.000 4.000 -33,33

Conceição do Coité 1.705 1.745 2,35 1.200 1.275 6,25

Ichu 128 108 -15,63

Itiúba 407 1.019 150,37 5.720 6.495 13,55

Lamarão 425 447 5,18 538 377 -29,93

Monte Santo 1.485 1.518 2,22 3.000

Nordestina 464 438 -5,60

Queimadas 838 912 8,83

Quijingue 858 954 11,19 3.000

Retirolândia 531 496 -6,59

Santaluz 910 983 8,02

São Domingos 390 408 4,62

Serrinha 1.624 1.705 4,99 20.550 14.385 -30,00

Teofilândia 340 357 5,00 12.750 8.925 -30,00

Tucano 1.056 1.089 3,13 66.872 72.600 8,57

Valente 750 711 -5,20

Total 16.630 17.794 7,00 144.491 135.659 -6,11

Total dos Territórios no Estado 286.505 287.026 0,18 313.581 393.715 25,55Fonte: SDT/MDA - SIT

A apicultura no Estado evidenciou um significativo crescimento ao longo de década

de 90 alcançando o patamar de 3.500t de mel, atraindo agricultores interessados nesta

atividade e na sua diversificação com a produção de pólen e cera. Porém apesar do

incentivo dado pelo MDA à produção de mel, os dados mostram uma participação negativa

80

na maioria dos municípios com quedas visíveis entre 2004 e 2005, com exceção de Tucano,

Itiúba e Conceição do Coité (Tabela 24). Cabe agregar, neste item, o trabalho realizado

pelo SEBRAE de valorização da apicultura através da criação de Arranjos Produtivos de

Mel desenvolvidos nos municípios de Araci e Tucano.

No caso da bovinocultura, o Território conta com quatro municípios expressivos:

Monte Santo (41.849 cabeças), Cansanção (33.980 cabeças), Conceição do Coité (33.634

cabeças) e Santaluz (33.464). Esse feito não esconde as variações negativas entre 2004 e

2005 conforme mostra a Tabela 25. O rebanho bubalino é quase inexistente, com

pouquíssimas cabeças em Serrinha e Tucano. A caprinocultura é forte em Monte Santo,

com 130 mil cabeças, Cansanção com 53.330 cabeças e Queimadas com 36.260 cabeças.

Cabe ressaltar que 12 dos 20 municípios do Território apresentam variação negativa para

caprinocultura, entre 2004 e 2005.

A avicultura, segunda a mesma tabela, é destaque nos municípios de Serrinha

(138.812) e Conceição do Coité (87.500). Registra-se redução no número de aves -

variação negativa, em cinco municípios. E há aumento do número de aves nos demais

municípios, em especial, no município de Monte Santo (178,79).

A produção de suínos ascende, em 2004, a 127.266 cabeças, sendo Dourados o

município com maior concentração (16.000). A variação entre os anos 2003 e 2004 é

negativa em quatro municípios, a saber: Candeal (-5,65), Ichu (-4,09), Itiúba (-1,50) e

Valente (-5,57).

81

Tabela 25 - Território do Sisal/BAPrincipais Rebanhos - Cabeças

Bovino Bubalino Caprino Ave* Suíno*Município 2004 2005 Variação 2004 2005 Variação 2004 2005 Variação 2003 2004 Variação 2003 2004 Variação

Araci 21.572 21.933 1,67 13.154 9.153 -30,42 79.776 83.137 4,21 6.746 7.347 8,91Barrocas 6.092 6.185 1,53 850 125 -85,29 17.645 18.395 4,25 1.328 1.568 18,07Biritinga 12.828 13.265 3,41 1.091 180 -83,50 28.860 29.955 3,79 2.953 3.138 6,26Candeal 11.330 16.518 45,79 835 768 -8,02 18.273 17.140 -6,20 2.450 2.312 -5,63Cansanção 33.315 33.980 2,00 11.548 53.330 361,81 52.180 62.095 19,00 9.345 11.109 18,88Conceição do Coité 38.900 33.634 -13,54 33.200 32.500 -2,11 81.550 87.500 7,30 13.090 13.420 2,52

Ichu 21.486 6.422 -70,11 600 552 -8,00 26.876 25.531 -5,00 4.822 4.625 -4,09Itiúba 22.755 21.264 -6,55 28.943 30.784 6,36 75.656 76.547 1,18 11.359 11.189 -1,50Lamarão 7.939 7.665 -3,45 422 57 -86,49 34.111 35.586 4,32 3.598 3.682 2,33Monte Santo 42.627 41.849 -1,83 144.000 130.000 -9,72 10.940 30.500 178,79 861 945 9,76Nordestina 7.000 6.761 -3,41 24.500 24.860 1,47 26.815 27.960 4,27 7.950 8.450 6,29Queimadas 16.000 25.517 59,48 36.000 36.260 0,72 35.200 35.020 -0,51 15.410 16.000 3,83Quijingue 23.583 25.100 6,43 12.300 13.200 7,32 13.140 15.200 15,68 683 700 2,49Retirolândia 10.500 7.264 -30,82 13.900 14.190 2,09 29.450 27.700 -5,94 4.840 4.970 2,69Santaluz 18.500 33.464 80,89 35.000 33.850 -3,29 33.450 33.490 0,12 8.980 9.500 5,79São Domingos 8.000 7.171 -10,36 11.500 11.750 2,17 22.330 22.550 0,99 4.050 4.290 5,93Serrinha 21.294 21.876 2,73 21 30 42,86 3.181 1.342 -57,81 133.556 138.812 3,94 11.702 12.280 4,94Teofilândia 10.372 11.415 10,06 3.233 1.913 -40,83 38.119 39.781 4,36 4.933 5.081 3,00Tucano 29.200 29.800 2,05 16 19 18,75 3.000 2.800 -6,67 42.300 45.600 7,80 2.870 3.100 8,01Valente 15.000 8.232 -45,12 15.600 15.890 1,86 19.000 18.500 -2,63 3.770 3.560 -5,57

Total 378.293 379.315 0,27 37 49 32,43 392.857 413.504 5,26 819.227 870.999 6,32 121.740 127.266 4,54Total dos

Territórios no Estado

3.514.685 3.575.062 1,72 3.249 2.722 -16,22 940.992 961.198 2,15

Fonte: SDT/MDA – SIT - IBGE - Produção Agrícola Municipal (2005). * Dados da SEI/SEPLAN/BA

No Território do Sisal a produção de frutas como a laranja e a banana atinge o

patamar de 1.240 e 988 toneladas respectivamente. Há uma leve queda da produção de

laranjas na safra de 2005 comparada com o ano anterior. Nota-se que os municípios com

maior produção, em 2005, são Biritinga e Serrinha. A banana, por sua vez, registrou um

leve aumento apenas no município de Montesanto, contudo o município de Tucano destaca

por possuir a maior produção (600t) (Tabelas 26).

Tabela 26 - Território do Sisal / BALavoura Permanente

Quantidade Produzida(t)Lavoura Temporária

Quantidade Produzida(t)Laranja Banana Mandioca Feijão

Município 2004 2005 2004 2005 2004 2005 2004 2005Araci 132 55 57.600 51.000 1.862 2.924Barrocas 1.495 1.700 92 2.444Biritinga 684 684 17.000 5.100 960 1.871Candeal 2.400 2.160 80 410Cansanção 10 25 100 150 42.000 39.377 2.600 3.576Conceição do Coité 11.440 10.400 440 800Ichu 3.000 2.700 120 583Itiúba 12 12 108 108 13.440 6.745 737 1.703Lamarão 66 44 3.900 1.700 309 366Monte Santo 5 15 80 100 72.000 36.000 2.160 4.350Nordestina 1.200 1.200 32 80Queimadas 1.600 1.600 65 162Quijingue 5 5 30 30 19.500 19.200 8.100 27.025Retirolândia 1.720 1.720 90 140Santaluz 2.000 2.000 90 150São Domingos 2.000 2.000 45 62Serrinha 385 385 45.000 34.000 1.022 2.880Teofilândia 2.250 6.800 1.260 1.920Tucano 15 15 600 600 80.000 70.000 3.600 27.900Valente 2.800 2.800 105 165

Total 1.314 1.240 918 988 382.345 298.202 23.769 79.511Total dos Territórios

no Estado 16.478 17.877 468.816 558.602 1.202.439 1.214.073 118.278 173.848

IBGE - Produção Agrícola Municipal (2005). Fonte: SDT/MDA – SIT

Na Tabela 27 tem-se a produção de outras frutas como: limão, manga, maracujá e

melancia. Em 2004 destacaram-se os municípios de Serrinha e Tucano com 448 e 800

toneladas, respectivamente, na produção de manga. O município de Biritinga como maior

produtor do território de melancias (1.400t), maracujá (300t) e de limão (50t). O

amendoim é produzido em apenas quatro municípios: Araci (178t), Biritinga (12t),

Teofilândia (12t) e Tucano (21t).

Tabela 27 – Território do Sisal /BAProdutos Agrícolas - 2004

Área Plantada (há) Área Colhida (há) Quantidade Produzida (T)Limão Manga Maracujá Melancia Amendoim Limão Manga Maracujá Melancia Amendoim Limão Manga Maracujá Melancia Amendoim

MunicípiosAraci - 5 35 15 296 - 5 35 15 296 - 35 210 195 178Barrocas - 1 - - - - 1 - - - - 8 - - -Biritinga 10 10 50 40 20 10 10 50 40 20 50 90 300 1.400 12Candeal - 1 - - - - 1 - - - - 3 - - -Conceição do Coité - - - 4 - - - - 4 - - - - 14 -Itiúba - 2 - 6 - - 2 - 6 - - 30 - 81 -Lamarão 1 - 3 - - 1 - 3 - - 4 - 15 - -Monte Santo - 2 - - - - 2 - - - - 60 - - -Nordestina - - - 3 - - - - 3 - - - - 9 -Queimadas - - - 12 - - - - 12 - - - - 36 -

Quijingue - 1 - - - - 1 - - - - 30 - - -Santaluz - - - 4 - - - - 4 - - - - 10 -Serrinha 4 56 10 2 - 4 56 10 2 - 20 448 60 26 -Teofilândia 1 4 - - 20 1 4 - - 20 4 32 - - 12Tucano - 20 - 80 70 - 20 - 80 70 - 800 - 240 21Valente - - - 4 - - - - 4 - - - - 10 -

Total 16 102 98 170 406 16 102 98 170 406 78 1536 585 2021 223Fonte: SEI/SEPLAN/BA

Tabela 28 – Território do Sisal /BA Produtos Agrícolas - 2004

Área Plantada (ha) Área Colhida (ha) Quantidade Produzida (t)

Sisal Milho MamonaCastanha de caju

Batata doce Sisal Milho Mamona

Castanha de caju

Batata-doce Sisal Milho

Mamona(baga)

Castanha de caju

Batata-doce

Municípios Araci 12.700 8.300 50 45 4 10.400 8.300 50 45 4 10.400 697 1.862 18 24Barrocas 4.500 1.300 4.000 1.300 4.000 65 92Biritinga 2.000 70 300 7 - 2.000 70 300 7 168 960 120 42Candeal 180 1.000 180 1.000 162 200 80Conceição do Coité 18.500 2.200 15 18.000 2.200 15 16.200 220 440 42Ichu 60 1.500 60 1.500 54 300 120Itiúba 6.400 965 270 47 10 6.400 605 150 36 10 5.440 182 737 6 100Lamarão 1.000 30 3 - 1.000 30 3 84 309 12 15Monte Santo 1.800 20 10 1.800 - 20 10 1.440 2.160 3Nordestina 4.000 320 7 4.000 320 7 3.600 16 32 14Queimadas 6.500 650 6 6.200 650 6 5.580 33 65 15Quijingue 600 27.000 26 600 27.000 26 480 4.320 8.100 8Retirolândia 6.500 450 6 6.000 450 6 5.400 45 90 12Santaluz 18.500 600 16 18.100 600 16 16.290 30 90 36São Domingos 6.500 250 6 6.100 250 6 5.490 20 45 15Serrinha 40 4.200 148 4 40 4.200 129 4 40 353 1.022 52 20Teofilândia 760 3.000 5 2 760 3.000 5 2 760 450 1.260 2 8Tucano 350 20.000 10 140 350 20.000 10 140 280 1.320 3.600 42Valente 12.500 550 12 11.500 550 12 10.350 44 105 30

Total 100.390 75.285 420 751 98 94.490 74.925 300 721 98 85.966 8.547 21.169 263 373Fonte: SEI/SEPLAN/BA

85

A área plantada de sisal, como mostra a Tabela 28, é de 100.390 hectares,

atingindo uma produção de 85.699 toneladas. Os principais municípios do Território

produtores de sisal são: Santaluz (16.290t), Conceição do Coité (16.200t), Araci (10.400t)

e Valente (10.350t).

Dentre as culturas para exportação, destaca-se a mamona com 420 hectares de

área plantada e uma produção de 21.169 toneladas, no ano de 2004, plantada em cinco

municípios, a saber: Araci, Biritinga, Itiúba, Monte Santo e Tucano.

A produção de milho representa 8.547 toneladas, sobressaindo o município de

Quinjingue (4.320t). E a castanha de caju destaca-se no município de Biritinga (120t),

representado quase metade da produção do território, que é de 263 toneladas.

Os valores relativos a empregos gerados por setor de economia são apresentados

na Tabela 29. A indústria gerou 3.224 empregos com destaque para Serrinha (1.319), o

comércio empregou 2.551 pessoas, destas 1.026, também em Serrinha. O item serviços

possibilitou 13.889 empregos com, destaque mais uma vez para Serrinha que ocupa 2.177

destes. Já a agropecuária gera 248 empregos concentrados na sua maior parte em três

municípios: Biritinga com 58, Queimadas e Serrinha com 39 cada um.

Tabela 29 - Território do Sisal / BAN ٥ Empregos Gerados por Setor da Economia

Município Indústria Comércio Serviços AgropecuáriaAraci 2 120 1.557 7BarrocasBiritinga 5 27 360 58Candeal 13 6 263 3Cansanção 26 90 648 5Conceição do Coité 557 463 1.649 26Ichu 2 5 346 1Itiúba 5 118 373 12Lamarão 0 6 113 1Monte Santo 3 50 834 8Nordestina 30 5 235 0Queimadas 7 88 817 39Quijingue 29 17 612 1Retirolândia 86 47 116 7Santaluz 80 168 1.008 19São Domingos 16 41 175 1Serrinha 1.319 1.026 2.177 39Teofilândia 226 68 561 1Tucano 39 82 1.104 7Valente 779 124 941 13

Total 3.224 2.551 13.889 248Total dos Territórios BA 23.158 28.627 110.369 18.969

Fonte: SDT/MDA - SIT SNIU. Sistema Nacional de Indicadores Urbanos (2002)

86

Em Santaluz, Valente e Retirolândia observa-se a maior renda per capita: R$ 116,12,

108,47 e 104,81. Já a renda de rendimentos do trabalho destaca-se em São Domingos

(64,67), Valente (63,55) e Santaluz (63,01). Obtêm maior renda média do chefe de

família, os seguintes municípios: Serrinha (328,74), Teofilândia (298,89) e Conceição do

Coité (279,28) (Tabela 30).

Tabela 30 - Território do Sisal / BARenda (R$)

MunicípioRenda

Per Capita(1)

Renda de Rendimentos do

Trabalho(1)

Renda Média doChefe de Família

(2)

Araci 59,24 45,99 179,07Barrocas 0,00 0,00 0,00Biritinga 78,97 53,66 186,85Candeal 72,09 53,09 201,74Cansanção 56,30 38,76 182,05Conceição do Coité 94,90 59,44 279,28Ichu 97,43 56,94 236,60Itiúba 68,60 42,74 224,24Lamarão 78,01 58,61 183,65Monte Santo 47,34 33,18 157,57Nordestina 58,92 51,31 178,65Queimadas 80,70 49,78 227,28Quijingue 55,09 28,01 184,14Retirolândia 104,81 57,82 234,55Santaluz 116,12 63,01 254,98São Domingos 89,52 64,67 194,93Serrinha 103,10 58,80 328,74Teofilândia 86,00 43,18 298,89Tucano 74,36 53,54 218,74Valente 108,47 63,55 253,50

Total - - -(1) ADHB - Atlas do Desenvolvimento Humano no Brasil (2002).(2) IBGE - Censo Demográfico (2000).Fonte: SDT/MDA - SIT

2.4.2 – Saneamento Básico no Território

Dos 127.764 domicílios particulares presentes no Território, 56.943 têm acesso à

rede geral de abastecimento de água, 13.332 destes localizam-se no município de Serrinha

como se constata na Tabela 31. Em 17.632 domicílios a forma de abastecimento de água

está vinculada ao uso de poço ou nascente e quase a metade do total de domicílios (53.189)

utilizam outras formas de abastecimento.

87

Tabela 31- Território do Sisal / BAAbastecimento de ÁguaTotal de

Domicílios Forma de abastecimento Particulares Permanentes

Município Nº RedeGeral

Poço ouNascente

OutrasFormas

Araci 10.371 3.257 1.169 5.945Barrocas 0 0 0 0Biritinga 3.286 2.358 141 787Candeal 2.328 763 743 822Cansanção 7.324 2.482 1.219 3.623Conceição do Coité 13.686 6.681 1.033 5.972Ichu 1.312 751 82 479Itiúba 8.216 2.782 2.626 2.808Lamarão 1.886 449 793 644Monte Santo 12.648 1.918 1.339 9.391Nordestina 2.471 581 721 1.169Queimadas 5.766 2.703 832 2.231Quijingue 5.776 1.834 1.950 1.992Retirolândia 2.766 1.112 810 844Santaluz 7.302 3.946 507 2.849São Domingos 2.217 1.375 535 307Serrinha 19.216 13.332 1.233 4.651Teofilândia 4.325 1.210 732 2.383Tucano 11.863 6.224 1.036 4.603Valente 5.005 3.185 131 1.689

Total 127.764 56.943 17.632 53.189Total dos Territórios no Estado 874.176 537.279 140.394 196.503

IBGE. Censo Demográfico (2000).

Fonte: SDT/MDA - SIT

Os dados referentes ao destino do esgoto e lixo, mostram que existem 22.542

domicílios ligados à rede geral de esgoto sendo que os municípios com maior número de

conexões domiciliares, em ordem crescente, são: Serrinha (6.414), Tucano (3.191) e

Santaluz (2.640). Sem disponibilidade de banheiro ou sanitário encontram-se 62.795

domicílios e ainda 42.427 utilizam outras formas de esgotamento sanitário. À vista disso,

registram-se, os municípios com maior número de domicílios sem banheiro ou sanitário:

Monte Santo (9.372), Araci (5.828) e Tucano (5.722).

Em relação ao destino do lixo, 41.797 domicílios utilizam sistema de coleta e,

85.967 usam outro destino. Dentre os municípios com maior número de domicílios que

coletam o lixo destacam: Serrinha (8.216) e Conceição do Coité (7.393) embora quando

observados os dados referentes a outro destino do lixo, as cifras são altas como se pode

apreciar na Tabela 32.

88

Tabela 32 - Território do Sisal / BATipo de Esgotamento Sanitário e Destino do Lixo

Esgotamento Sanitário Destino do Lixo

MunicípioDomicílio

Ligadoà Rede Geral

OutrasFormas

Sem Banheiroou Sanitário Coletado Outro

Destino

Araci 1.824 2.719 5.828 2.967 7.404BarrocasBiritinga 261 1.061 1.964 535 2.751Candeal 5 1.096 1.227 879 1.449Cansanção 922 1.904 4.498 743 6.581Conceição do Coité 2.028 6.976 4.682 7.393 6.293Ichu 2 890 420 558 754Itiúba 659 2.696 4.861 1.764 6.452Lamarão 275 376 1.235 202 1.684Monte Santo 20 3.256 9.372 668 11.980Nordestina 2 643 1.826 429 2.042Queimadas 1.284 1.518 2.964 2.080 3.686Quijingue 10 1.846 3.920 967 4.809Retirolândia 38 1.782 946 1.319 1.447Santaluz 2.640 1.513 3.149 3.333 3.969São Domingos 760 520 937 1.470 747Serrinha 6.414 7.414 5.388 8.216 11.000Teofilândia 777 1.267 2.281 1.223 3.102Tucano 3.191 2.950 5.722 3.773 8.090Valente 1.430 2.000 1.575 3.278 1.727

Total 22.542 42.427 62.795 41.797 85.967Total dos Territórios

no Estado 205.923 354.356 313.897 408.667 465.509

IBGE. Censo Demográfico (2000).Fonte: SDT/MDA - SIT

2.5 – Inovação Tecnológica

Ao final da técnica de mapeamento social uma frase expressou o que para eles -

atores territoriais, é um dos maiores empecilhos para o desenvolvimento do Território, a

falta de tecnologia: ”a carência de tecnologia é muito grande. O que tem aqui é de 40 anos

atrás. A gente precisa produzir alimentação em período crítico”.

Algumas experiências, contudo, foram mencionadas. Os trabalhos feitos pela

COOPERJOVENS38, através da fabricação de telhas e calhas realizadas com matrizes de

argamassas reforçadas com fibras de sisal. 39 A cooperativa, cujos membros são filhos de

agricultores familiares, esteve dedicada inicialmente à reciclagem de papel e produção de

38COOPERJOVENS - Cooperativa de Produção dos Jovens da Região do Sisal é uma experiência juvenil de cooperativismo solidário reconhecida na região que atua em 13 municípios, todos eles do Território do Sisal: Araci, Cansanção, Conceição de Coité, Monte Santo, Nordestina, Queimadas, Quijingue, Retirolândia, Santaluz, São Domingos, Serrinha, Tucano e Valente. 39 A cooperativa obteve recursos da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), do Programa Habitare e, do Banco do Nordeste no âmbito do Projeto de Desenvolvimento de Componentes de Edificações em Fibra de Sisal-Argamassa / PROSISAL e, das ações da Incubadora Tecnológica de Cooperativas Populares da Universidade do Estado da Bahia (ITCP/UNEB).

89

artefatos de cimento e sisal nos municípios de Araci e Queimadas. Hoje conta com terreno

doado pela prefeitura de Retirolândia para a instalação de uma unidade de produção de

artefatos de argamassa reforçada com fibras de sisal. E, ainda dispõe de recursos do

Pronaf - MDA como pontapé inicial para o desenvolvimento de novas tecnologias.

A EMBRAPA, colocaram os entrevistados, tem desenvolvido projetos para o plantio

de mandioca, porém, “foi muito pontual e não conseguiu fazer a ponte com os produtores,

não deu treinamento mais específico”, acrescentou um sócio da APAEB.

A EMBRAPA, também, tem desenvolvido algumas ações na Escola Família Agrícola

ligadas ao sisal e ao amendoim, contudo mais uma vez os entrevistaram disseram que ditas

ações não envolvem o Território como um todo.

O projeto de tecnologias de processamento de produtos, no semi-árido, dirigido à

segurança alimentar e, desenvolvido pela EMBRAPA em parceria com a APAEB em três

municípios do Território: São domingos, Valente e Santaluz tem possibilitado o

processamento de frutas e aproveitamento dos resíduos para alimentação humana, assim

como adequação de tecnologias tradicionais da mandioca.

Vale recordar que a EMBRAPA em parceria com a EBDA tem avaliado os trabalhos

realizados nas áreas produtoras de sisal do município de Conceição do Coité na busca de

controle e prevenção de pragas e doenças nas plantações. No município, inclusive existe

uma unidade de observação de sisal híbrido. Esta ação conjunta está vinculada ao

Programa estadual Nossa Fibra que procura revitalizar a cultura do sisal enquanto ao

aumento da produtividade e qualidade da fibra oferecendo cursos de capacitação no uso

das máquinas Faustino e de assistência técnica continuada. Segundo dados da SEAGRI o

Programa de Incentivo à Lavoura do Sisal - Nossa Fibra40 beneficiou 5.874 produtores com

assistência técnica continuada em 36 municípios distribuídos nas regiões Nordeste,

Piemonte e Paraguaçu. No município de Barrocas, especificamente, em 2006, foram

capacitados 1,5 mil agricultores familiares em uma oficina tecnológica rural

(www.seagri.ba.gov.br).

40 Programa estadual da Secretaria da Agricultura, Irrigação e Reforma Agrária- SEAGRI e a Secretaria de Combate à Pobreza e às Desigualdades Sociais – SECOMP.

90

No campo da agroecologia são limitadas as experiências: “a discussão da

agroecologia aqui é muito incipiente”, agregou uma das associadas da COOPERAFIS. Outro

participante complementou: “experiências agroecológicas não trabalhamos porque não

temos tecnologia”. Mas apontaram como positiva a iniciativa do município São Domingos que

está investindo na produção de alimentos sem agrotóxicos, assim como a promoção da

primeira Feira da Agricultura Familiar em Valente. 41

Ao mesmo tempo, outra associada da COOPERAFIS ressalta o uso de corantes

naturais produzidos a partir de resíduos de árvores nativas da região (angico, jurema e

baraúna) como uma ação inovadora de uso sustentável dos recursos do semi-árido.

Algumas parcerias entre a APAEB e o MDA para desenvolver pesquisas com pinhão

manso, na tentativa de implantar culturas oleaginosas para produção de biodiesel, foram

descritas: “Há sete meses plantamos aqui em Valente, em Santaluz e São Domingos, nas

propriedades dos agricultores familiares mudas que vieram de Minas”. Este é um exemplo

de unidades demonstrativas do pinhão manso consorciado com girassol, abóbora, melancia e

palma, iniciado em 2006 como controle agroecológico de pragas e doenças.

Outra experiência destacada foi a desenvolvida pelo SEBRAE com apicultura. Os

arranjos produtivos do mel têm significado investimentos na capacitação tecnológica e

organização social. Araci e Tucano são dois dos municípios beneficiados por este projeto,

como mencionado anteriormente.

Alguns projetos desenhados pelo governo federal com repercussão estadual e

implicações territoriais merecem destaque. Um deles é o Programa de Biodiesel da Bahia

(Probiodiesel) sob responsabilidade da Secretaria Estadual de Ciência, Tecnologia e

Inovação - SECTI/BA composto por vários projetos nos quais se prioriza a implantação de

laboratórios de referência na avaliação e controle da qualidade do biodiesel, a geração de

energia em comunidades rurais e a criação da Rede Baiana de biodiesel.

Ainda neste mesmo sentido há investimentos na Rede Baiana de Biocombustíveis42

formada por diversas entidades acopladas ao Probiodiesel e interessadas na inserção da

agricultura familiar na cadeia produtiva do Biodiesel.

41 A feira de agricultura familiar foi organizada também nos municípios de Serrinha e Conceição de Coité. 42 Fundada em 2004.

91

Outro projeto, também sob a batuta do Ministério de Ciência e Tecnologia- MCT, é

a Rede de Apoio aos Arranjos Produtivos Locais - APLs da Bahia formada em parceria com

outras entidades envolvidas com APLs, como por exemplo, o SEBRAE, a Secretaria de

Agricultura, Irrigação e Reforma Agrária- SEAGRI, a Secretaria da Indústria, Comércio e

Mineração – SICM e a Secretaria do Planejamento – SEPLAN. No Estado foram

selecionados 8 APLs sendo um deles o Sisal, no município de Valente.

Com a ampliação do Programa Cabra Forte43, de grande repercussão estadual, o Pólo

Conceição do Coité, que inclui metade dos municípios do Território do Sisal: Araci,

Barrocas, Candeal Conceição do Coité, Retirolândia, Santaluz, São Domingos, Teofilândia,

Serrinha e Valente, passou a ser receptor dos benefícios oriundos do aumento da renda

vinculada a ovino-caprinocultura através de ações como a construção de infra-estrutura

hídrica e cursos de capacitação em nutrição, melhoramento genético e sanidade do

rebanho.

A Secretaria de Ciência, Tecnologia e Inovação - SECTI prevê, ainda neste ano, a

instalação de Micro usinas de extração de óleos vegetais para produção de biodiesel em

áreas de agricultura familiar que permitam produzir mamona consorciada com outros

cultivos. Há também a experiência com a construção de cisternas coletivas44 utilizando a

água de chuva acumulada para consumo. Este é um projeto que atende os municípios de

Retirolândia, Valente e Santaluz.

3- Imaginário

3.1 - Conhecimento da política do Ministério do Desenvolvimento Agrário

Depois de quase quatro anos de iniciadas as ações de desenvolvimento rural do

MDA, os entrevistados concordaram em qualificar como bem sucedida a política de

territorialização, na medida em que é vista como expressão de projetos e de aproximação

entre o poder público e a sociedade civil. Embora essa relação dependa muito das

instituições e do apoio que efetivamente deram no início do processo.

43 O Programa Cabra Forte atende 50 municípios baianos que equivalem, aproximadamente, a 35% dos municípios do semi-árido baiano. Ao total foram beneficiados 34.000 pequenos produtores (www.secomp.ba.gov.ba).

44 Com apoio do Exército norte-americano através da Winrock International, uma instituição norte-americana que apóia projetos de energia alternativa e mantém parceria com a APAEB.

92

Esta nova forma de gestão (territorial) gerou muitas expectativas e atraiu muitos e

diversos interesses nem sempre coincidentes, sinalizaram. Em outras palavras, percebeu-

se uma tensão entre dois grupos de atores – historicamente antagônicos (sociedade civil e

poder local) que a chegada do MDA exacerbou, na pretensa corrida por recursos

financeiros. Essa tensão pode ser explicada pela força da organização da sociedade civil

existente antes do MDA e pela tradição coronelista do nordeste. Ou seja, esses dois

fatores precisaram se “juntar” para receber a política federal.

Essa questão foi observada por um dos entrevistados e colocada da seguinte forma:

“o Plano Territorial de Desenvolvimento Rural Sustentável - PTDRS foi feito pela

sociedade civil. Ela se empoderou de todas as informações, enfim, o poder público não ia

[nas assembléias do CODES] e deu desequilíbrio. Quando chegou o recurso a relação

[sociedade civil e prefeituras] não estava implementada”.

Poucas prefeituras, apontaram os entrevistados, estiveram representadas e nesses

casos a conexão era feita apenas pelas Secretarias de Agricultura.

Os movimentos sociais, com tradição na região, apropriaram-se rapidamente da nova

concepção fazendo propaganda e obtendo resposta dos demais grupos sociais. Esta

mobilização provocou a reação do poder público fazendo com que alguns prefeitos

começassem a participar e incorporar a nova idéia, uma grande maioria apresentou

projetos individuais na busca de recursos do MDA e, ainda outros perderam recursos por

não “comprarem” a idéia da Secretaria de Desenvolvimento Territorial. Este quadro é

resumido por um outro entrevistado quando atenta uma resposta para a situação: “A

sociedade civil sozinha não pode e o poder público perde votos”.

A relação entre sociedade civil e sociedade civil (pensada pelos informantes como

as várias representações) também foi trazida à discussão durante as entrevistas: “às

vezes há aranhões, é uma coisa de poder. Há atritos. [As associações] Sobem no salto

alto”.

Contudo consideraram que o MDA tem ajudado a dar um equilíbrio e a diminuir

esses atritos em prol do Território e não apenas de uma parte dele - o município. Essa

política de articulação e de aproximação entre instituições é bem vista, assim como eles

próprios apontaram: “é animadora pela formação de consciência coletiva”.

93

Porém se propagou, como uma crítica à política do MDA, a repetida expressão:

“tudo se resume ao crédito, ao PRONAF”.

No Território do Sisal as ações, até então, estão centradas em alguns focos

estratégicos, definidos pelo Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social da Região

Sisaleira - CODES: o sisal, a caprino-ovinocultura, a apicultura, o artesanato e a avicultura

de quintal.

Em relação ao CODES - anterior à política do MDA, observaram o trabalho que vem

realizando apoiado pela Secretaria de Desenvolvimento Territorial – SDT. “Trabalha com o

fortalecimento das instituições. O foco do CODES é buscar meios para fortalecer as

entidades que atuam no Território” Outro entrevistado agregou: “pela metodologia do

CODES se acaba pensando em Território. Trabalhamos com a demanda. Tudo funciona no

voto, senão não é contemplado”.

Dentro do CODES “tudo é discutido”. A imagem do CODES no Território quiçá não

encontre melhor expressão do que a dita por um dos atores entrevistados: “O CODES me

entende melhor que a universidade”.

3.2 - Apropriação da estratégia de territorialização por parte dos atores

O CODES45 é uma espécie de coordenador do Território, disse um dos

entrevistados. No início diz outro: “todo mundo queria puxar para seu lado, principalmente

as prefeituras. Hoje estão vendo que é o Território e não uma cidade. Amadureceram

muitas coisas”. “A ausência de apoio do poder público local criou problemas que levaram a

perda de recursos: houve falta de diálogo entre a sociedade civil e as prefeituras,”

completou outro ator.

Mas ao mesmo tempo observam que o Território é muito grande e com interesses

muito diversos, o que faz com que as negociações e o consenso sejam difíceis, por isso a

ênfase em eleger prioridades. Ainda que sejam vistas com muitas falhas, a entrada das

políticas de territorialização e as ações da SDT são definidas como agregadoras de valor,

geradoras de renda e redutoras do êxodo rural.

45 O CODES surge em dezembro de 2002, mas suas origens remontam a 1998 nas discussões sobre convivência com o semi-árido. Os protagonistas eram a FATRES, a APAEB e o MOC. Hoje conta com representantes de aproximadamente 50 organizações entre sociedade civil e poder público.

94

O grande desafio, coloca um técnico é “neutralizar os conflitos provenientes das

visões político-partidárias. Ter parceiros para contribuir”. Citaram como exemplo a

construção do laticínio como ação de fortalecimento do território, como uma causa que foi

abraçada pelo coletivo e que superou os interesses particulares.

A compra de dois carros para auxiliar na assistência técnica realizada pela APAEB

e, conseguidos através da parceria com o MDA é também considerada como ponto forte.

Mas novamente é ressaltada a falta de comprometimento dos poderes públicos com as

questões ligadas à agricultura familiar, com destaque para os municípios de Valente e

Santaluz.

As secretarias de agricultura envolvem-se mais, porém dispõem de pouco recurso e

acabam realizando trabalhos burocráticos, complementaram.

Durante os primeiros passos no processo de territorialização, o MDA contou com

alguns parceiros locais como o Pólo Sindical, a FATRES e o MOC, entidades de longa

trajetória na região sisaleira com assessoria técnica, capacitação, formação de lideranças

e discussões sobre desenvolvimento social territorial.

Antes do CODES46 e do MDA, comentaram os entrevistados, as instituições

trabalhavam separadas. Hoje o grande desafio do CODES é trabalhar com essas

diferentes forças, ressaltaram. Já em 2003 com a parceria do MDA apostou-se nele para

promover o desenvolvimento: “o CODES cresceu, todos reconhecem que convoca, que faz

planos” conclui um dos técnicos entrevistados.

Porém outro agregou: “aqui a questão da articulação institucional é muito

emperrada. O poder público está muito afastado. Hoje já fizemos mais reuniões, mais

articulação com a secretaria de agricultura, com as outras ainda não se teve uma

articulação mais forte como com a secretaria de agricultura familiar”, completou um

membro do CODES.47 “Alguns prefeitos nem assinam os convênios e não tem acesso aos

recursos”, concluiu.

3.3 - Conceito de Núcleo

46 O coordenador executivo exerce a função de articulador territorial.47 Em nível estadual foi criada na Secretaria de Agricultura uma Superintendência de Agricultura Familiar.

95

Apesar do Projeto Agrofuturo ser pouco conhecido (a não ser entre os parceiros

locais) e a implantação do Núcleo ser considerada uma incógnita pela grande maioria dos

entrevistados, uma sorte de informações foram levantadas na pesquisa de campo.

A implantação do Núcleo provoca inquietações significativas quando levantada a

idéia de estar associado a mais um diagnóstico dentro do Território. Em busca de ganhos

de tempo e poupança de multiplicação de esforços foi lembrado o trabalho já feito pelo

CODES : “ O CODES já tem uma base de informações e demandas consensuadas. Eles

[CODES- EMBRAPA] têm que se complementar”

Em relação à “fluidez” das informações observaram que o “contato estava restrito à

EMBRAPA com a APAEB”. Daí um outro entrevistado colocou a preocupação do Agrofuturo

não ter sido discutido no CODES.

Importa também destacar que há uma preocupação com a maneira que será feita a

coordenação do Núcleo e seu arco de atuação: “o ponto de partida é a escolha dos

representantes e a escolha dos municípios”. Ou seja, sugeriram atender as demandas

diferenciadas. Mas para isto “a EMBRAPA deve falar ‘me demande’. Tem que ajudar às

pessoas e organizações aprenderem a demandar”. Outro entrevistado complementou:

“precisa de pessoas para provocar o debate”.

Ao que tudo indica, o município de Valente concentra as informações e unifica os

discursos48: “aqui uma liderança está em tudo e acaba não fazendo nada”, completou o

representante de uma entidade local.

O Núcleo, invariavelmente, colocado como braço da Embrapa no Território foi

associado ao novo papel que a empresa se propõe: “a EMBRAPA tem gerado informações

distantes dos agricultores. Ela deve traduzir essas informações científicas”. Ela

[EMBRAPA], acrescentaram: “precisa buscar parcerias nas instituições, perceber as

demandas e perceber onde cada região é carente de cada assunto”.

Na seqüência, algumas das falas nas quais os entrevistados sugerem estratégias

para a “decolagem” e bom funcionamento do Núcleo:

- “O território é muito grande daí que devemos eleger prioridades senão vamos

acabar atirando para todos os lados e ao final não ter resultados palpáveis”;

48 Não foram visitadas outras experiências em municípios vizinhos. Apenas a UNEB no município de Conceição do Coité.

96

- “Na discussão não ficou claro como vai ser a atuação do núcleo. Hoje para atuar no

Território tenho que buscar o melhor parceiro seja prefeitura, seja Banco do

Brasil”;

- “A EMBRAPA é muito a cara de Petrolina e Juazeiro, muita agricultura irrigada.

Tem que montar estratégia para ir ao agricultor familiar”;

- “A primeira apresentação do Agrofuturo foi em Salvador. O espírito dessa foi

mais para assinar convênio. Agora precisa mais em nível local, fazer

apresentações” ;

- “Se a gente não for bom articulador pode chegar para pedir informação só aquele

cara de Valente e dos arredores”;

- “Ter apenas um escritório não é interessante. Precisamos mais prática, discutindo

e pesquisando com os agricultores familiares;

- “Já cobramos do Nilton [EMBRAPA] publicitar o Núcleo. Nosso plano aqui era

chamar os secretários de agricultura de cada um dos municípios e dois ou três

representantes da sociedade civil dos municípios”.

Um dos atores ainda sugeriu uma estratégia mais detalhada dividida em três

passos: i) visibilidade e publicidade; ii) sensibilização dos órgãos públicos e da sociedade

civil (o que é [o Núcleo], o que vai fazer e onde vai trabalhar); iii) ir de fato nas

propriedades e ver de perto as necessidades dos agricultores familiares”.

3.4 Identidade expressada

Os atores fazem jus ao nome do Território que lhes acolhe. O sisal é, em primeiro

lugar, o elemento que melhor define sua identidade. Alguns até lembraram da época que o

sisal na região “era igual ao cacau do sul da Bahia, dava no mato”.

O artesanato do sisal é tido como a “imagem-marca” conhecida tanto nas áreas

rurais como nas cidades de São Paulo e Rio de Janeiro, nos desfiles de moda (colares e

bolsas) e nas peças exportadas (tapetes) para diversos países.

Outro elemento de identidade mencionado e, não menos importante, considerado

por muitos dos entrevistados como fundamental para o sisal ter toda essa visibilidade,

97

inclusive além fronteiras, é a organização. O poder de organização é marcante na região

sisaleira e teve forte presença do Pólo Sindical.

A criação do CODES, a participação no Programa de Erradicação do Trabalho

Infantil - PETI e as rádios comunitárias foram experiências mencionadas como exemplo

dessa força de organização.

4 - Ações

4.1. Instituições envolvidas

Segundo os participantes da técnica mapa institucional há uma infinidade de

instituições envolvidas com o desenvolvimento do Território do Sisal. Contudo dezesseis

(16) foram listadas como as mais importantes49 para o Território, a saber: FATRES,

CODES, COOPERE/SICOOB, APAEB, Igreja Católica, MOC, Centrais de Associações

(Arco Sertão), EBDA, Prefeituras, Rede de Escolas Familiares Agrícolas do Semi-árido,

Rádios Comunitárias (Abraço), MDA, SEBRAE50, EMBRAPA e UNEB.

Na tentativa de reduzir este número e poder completar com sucesso a técnica,

solicitou-se que fosse realizada nova seleção que permitisse trabalhar com maior precisão

a atuação de cada uma delas e as relações interinstitucionais. Assim ao final 9 instituições

foram distinguidas por consenso e trabalhadas nas suas relações, como mostra-se ao final

do item, (Figura 11).

A representação gráfica é o resultado destas relações mostradas de acordo com o

seguinte critério: seta em dois sentidos (boa interlocução), seta em um só sentido aponta a

direção em que ocorre mais frequentemente a comunicação (interlocução regular), linha

pontilhada (interlocução comprometida).

Destacam no centro do mapa quatro instituições consideradas importantíssimas na

conformação do Território, a saber: APAEB, FATRES, MOC e COOPERE/SICOOB. Todas

elas com relações identificadas com setas que indicam boa interlocução.

Pode-se destacar, ainda, a relação desenhada com setas de traços fortes que

entrelaçam o Movimento de Organização Comunitária - MOC e a Fundação de Apoio aos

49 A listagem é aleatória e não reponde a uma ordem classificatória segundo a importância. 50 O SEBRAE foi recentemente incorporado como membro do CODES.

98

Trabalhadores Rurais da Região do Sisal – FATRES. Esta é uma parceria antiga que acabou

sendo referência em nível municipal, estadual e regional por direcionar seus trabalhos aos

agricultores familiares na geração de trabalho e renda.

Fora do círculo central observam-se duas instituições, o CODES e o MDA, como

pode ser observado na figura. O primeiro localizado ainda mais perto do que o segundo, de

acordo com os entrevistados, mas não por isso deixam de ter relações de parceria, entre

si e entre as outras entidades, identificadas com setas nos dois sentidos, com exceção do

MDA e das Prefeituras que apontam uma interlocução regular que resulta da injeção de

recursos do Ministério para a realização das ações territoriais, que nem sempre encontram

recepção nas prefeituras dos municípios que conformam o Território do Sisal.

Já, no círculo mais distante do Território consta a EBDA que mantém comunicação

com o MDA, as Prefeituras e a Igreja Católica. O serviço de assistência técnica da EBDA é

considerado precário e a comunicação se dá apenas pelo suporte das Prefeituras e do MDA

como indicam as setas.

A Igreja Católica e as Prefeituras foram localizadas fora do âmbito territorial, isto

é, são consideradas instituições de importância, mas com fraco desempenho e pouca ou

nenhuma interlocução com as demais instituições mencionadas durante a construção do

mapa.

Durante a construção do mapa, os atores foram enumerando uma série de

observações de extremo valor no entendimento da dinâmica institucional territorial

sisaleira. Parte destas observações é apresentada, a seguir, conservando a fala original.

Figura 11 - Mapa Institucional do Território do Sisal /BA

99

FATRES

É inegável a importância da Fatres e seu papel no Território. O ator forte em cada

município é o sindicato. Às vezes é o único ator. A FATRES em parceria com o INCRA dá

assistência técnica em assentamentos de quatro (4) municípios do território, Santaluz,

Coité, Cansanção e Quijingue.

CODES

O CODES é o Território. Representa o Território. Tem reconhecimento pela

trajetória ainda que seja de 3-4 anos apenas. Está no processo de aprimoramento. Uma

das dificuldades enfrentadas pelo CODES é a incompreensão de alguns atores sobre a

importância dele. Ainda tem essa dificuldade dentro da sua própria diretoria e acaba não

decolando como poderia. O CODES é um projeto em construção. O que dá visibilidade ao

CODES é o instrumento democrático onde os atores participam.

Igreja Católica Prefeituras

Território do Sisal

CODES

FATRES

100

COOPERE/SICOOB

O Coopere/SICOOB tende a ter uma participação mais efetiva dentro do território

porque começa a desenvolver o trabalho com PRONAF. A COOPERE tem as limitações da

própria função. Não está fazendo mais do que o acesso ao sistema financeiro. As

cooperativas de crédito dão cidadania aos agricultores familiares marginalizados do

sistema financeiro do País. O trabalho das cooperativas é limitado ainda não estão atuando

tanto com assistência técnica. Estão deslanchando. É claro que há um avanço das

cooperativas, isso do ponto de vista econômico, mas se olhar para o aspecto social o

SICOOB faz pouco dentro da parte social, o social ainda está fora.

APAEB

Há problemas com APAEB. É o único empreendimento social aqui no território, mas

precisa se fortalecer. Se APAEB não estiver presente não se vê o lado positivo, é

realmente atuante. Ela ainda não é atuante em todos os municípios do Território. A

APAEB tem atuação local, estadual e internacional. APAEB está para a cadeia produtiva do

sisal como o SICOOB está para o acesso ao crédito.

IGREJA CATÓLICA

Há falta da Igreja Católica no Território. A atuação realmente tem decepcionado. A

Diocese de Serrinha foi criada recentemente. A discussão dela nas políticas de

desenvolvimento não tem se dado. A Igreja trabalha nos assentamentos. Em Itiúba tem a

CPT.

MOC

Tem muitos trabalhos. Todo mundo conhece. É um catalisador dos outros atores.

Aqui o MOC ajuda, dá o apoio logístico. Atua aqui há muitos anos.

EBDA

101

Existem técnicos com vontade, mas há uma ausência da EBDA. A EBDA é a

responsável estadual pela assistência técnica, mas... Pelo menos existe. A EBDA proibiu

que os técnicos participassem das reuniões do CODES, parece que vão se incluir agora. No

território a assistência técnica está complicada. Aqui a EBDA tinha boa vontade, mas não

tem recurso, está desarticulada, não têm técnicos, não tem gasolina. O Estado tem uma

assistência técnica dilapidada. Em Queimadas têm 25 mil pessoas e só um técnico. Não há

concurso público, por conta disso o MOC, REPARTE51, APAEB prestam esse serviço.

PREFEITURAS

Umas prefeituras do território avançam mais do que outras porque apesar delas não

entenderem a política de desenvolvimento territorial, algumas têm ações de

desenvolvimento nos municípios. As prefeituras tinham condição de fazer mais. Podiam

participar mais do CODES.

MDA

O MDA só aporta recurso. Complementa a renda. Faz a articulação. A Secretaria de

Agricultura Familiar está mais relacionada ao crédito. O MDA forma consciência coletiva.

4.2 - Lideranças no território

As instituições mais lembradas e consideradas protagonistas e coadjuvantes da

política federal são: a FATRES52, O MOC53 e a APAEB54. Contudo a atuação no Território

não é recente. A FATRES, segundo os entrevistados, possui destaque graças aos projetos

de capacitação e formação de lideranças e trabalhos com os conselhos municipais de

desenvolvimento rural. Além de elaborar projetos do PRONAF em parceria com o MOC e

51 A Rede de Parceiros da Terra foi fundada há 2 anos, presta assistência técnica em 8 territórios do Estado da Bahia.

52 Tem atuação em 15 dos 20 municípios do Território. Desenvolve ações conjuntamente com os STRs e os agricultores familiares. Nasceu em 1996 em Valente. E trabalha em parceria com o INCRA dando assistência técnica aos assentados em 4 municípios do território: Santaluz, Conceição do Coité, Cansanção e Quijingue.

53 Fundado em 1967 e com sede no município de Feira de Santana. O Movimento de Organização Comunitária - MOC surgiu a partir do trabalho social da Igreja Católica. A fundação do MOC, enquanto entidade autônoma data de 1970.

54 A APAEB originou-se na década de 80 ligada à Igreja Católica. Hoje conta com 540 associados e tem representação em Araci, Ichu, Serrinha e Valente, fora do território em Feira de Santana.

102

DISOP55. O MOC é conhecido pelo trabalho na região do semi-árido e principalmente pelos

projetos desenvolvidos no Território com destaque para as ações dirigidas aos jovens e

agentes multiplicadores. A APAEB conhecida como exemplo de associativismo na região

vem desenvolvendo projetos e ações nas mais diversas áreas vinculadas às cadeias

produtivas do sisal, apicultura e caprinocultura desde sua fundação.

A FATRES acompanha assentamentos e acampamentos localizados nos municípios de

Conceição do Coité, Santaluz, Biritinga, Cansanção, Queimadas e Quijingue. Também tem

parceria com o Movimento de Mulheres Trabalhadoras Rurais e o MOC - Assessoria das

Mulheres Trabalhadoras Rurais da Região. E, ainda auxilia junto com os sindicatos de

trabalhadores e trabalhadoras rurais na implementação das propostas de educação do

campo.

4.3 - Conflitos

Três questões foram destacadas pelos atores territoriais como deflagradoras de

conflitos. A primeira diz respeito à falta de adesão das prefeituras aos projetos e ações

de desenvolvimento territorial. Para alguns essa atitude é considerada como falta de

comprometimento, excesso de interesse partidário e escassa visão de coletividade. Para

outros é sinônimo de permanência do coronelismo interpretado como perda de recursos

federais destinados aos agricultores familiares.

Já a segunda está associada à falta de assistência técnica. Este fato é considerado

o grande empecilho para o acesso a novas tecnologias e melhora das condições de vida.

Embora haja numerosas instituições cuidando da assistência técnica permanece a

preocupação com a centralização desses apoios em apenas uma parte dos municípios. E

ainda há a dificuldade de multiplicar experiências de campo bem sucedidas56 e de

acompanhar os projetos já implementados. Ressaltaram inclusive a necessidade de uma

assessoria permanente dos técnicos, isto é, não apenas visitas esporádicas, mas a

permanência dos técnicos, nos assentamentos, por períodos mais longos.

55 ONG belga que atua no semi-árido nordestino. 56 A aposentadoria e a venda de mão-de-obra são duas fontes de renda comuns entre os agricultores familiares do

Território.

103

A terceira questão vincula-se à crise da maior entidade do território, a APAEB.

Uma entidade que: i) passa por situações de instabilidade ligadas à flutuação dos preços do

sisal no mercado internacional; ii) sofre pela carga de responsabilidade que nela recai,

seja pela multiplicidade de ações por ela controlada, seja pela quantidade de entidades que

lhe dão suporte financeiro tanto nacionais como internacionais e; iii) aflora pela pressão

exercida nela e por ela nas decisões da política territorial.

5 – Resultados

5.1 - Formação de capacidades

Dois projetos tiveram destaque nas falas dos entrevistados. Um deles foi a Escola

Família Agrícola57 considerada uma iniciativa bem sucedida na formação de jovens das

comunidades rurais (5ª a 8ª série) de sete (7) dos 20 municípios do Território do Sisal:

Santaluz, Queimadas, Conceição de Coité, Retirolândia, São Domingos, Serrinha e

Valente.58

O segundo, em nível universitário, é incentivado e promovido pela UNEB com o apoio

dos atores territoriais (CODES): o bacharelado em Comunicação Social com habilitação em

Jornalismo, curso com grande demanda na região, comenta um dos professores. Mas

também o curso de extensão em nível de graduação em Letras realizado em parceria com o

Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária - PRONERA ministrado em módulos

para alunos dos assentamentos da região sisaleira: “eles ficam aqui em Coité 40-45 dias e

voltam a suas casas. É nossa primeira turma de quatro (4) anos que se formará em 2010”,

concluiu o entrevistado.

Mais um exemplo de aproximação entre o campus e os agricultores familiares é o

projeto, iniciado em 2004, denominado Universidade Itinerante na Trajetória do Eixo

Euclidiano sob a coordenação do Professor José Plínio de Oliveira do Departamento de

57 A metodologia utilizada na escola é da alternância que consiste em repassar à família, em uma semana, o que foi apreendido em igual período na escola. Os alunos recebem aulas do tronco comum de ensino que são complementadas com cursos iniciais de zootecnia, agricultura, administração e engenharia rural. A escola dói inaugurada em 2006 e já formou cerca de 240 alunos.

58 A Escola Família Agrícola em Valente era administrada pela APAEB. Recentemente foi transformada em Associação de Pais e Amigos da Escola Família Agrícola Avani de Lima Cunha – APAEFA.

104

Educação59 desenvolvido em Queimadas, Cansanção e Nordestina que busca motivar a

população rural gerando pertencimento, ou como o próprio professor explica “conectar a

obra de Euclides da Cunha com o desenvolvimento sustentável solidário do semi-árido”.

A expansão do ensino superior na região sisaleira já está sendo discutida no CODES

e, em julho de 2006 foi redigida a Carta de Valente contendo a reivindicação de criação da

Universidade da região sisaleira - UNISISAL.

5.1.1 – Educação no Território

Como mostra a Tabela 33, 63,9 % da população do Território com cinco ou mais anos

de idade é alfabetizada, 45,0 % na área urbana e 55,0 na área rural.

Os municípios, a seguir, comportam as maiores taxas: Serrinha (76,2%), Ichu

(76,1%) e Valente ( 74,0%). Já o município de Araci possui a menor taxa (52,4%).

TABELA 33 - Território do Sisal / BAPopulação alfabetizada (5 anos ou mais de idade)

População Total(5 anos ou mais)

População alfabetizada (5 anos ou mais de idade)

Município População Taxa de

Alfabetização(%)

Total Urbano (%) Rural (%)

Araci 41.258 52,4 21.635 46,3 53,7Barrocas* 0 0 0 0 0Biritinga 13.026 61,7 8.036 21,7 78,3Candeal 9.157 66,5 6.091 39,4 60,6Cansanção 28.145 58,0 16.312 37,3 62,7Conceição do Coité 50.558 70,5 35.624 55,9 44,1Ichu 5.053 76,1 3.843 52,3 47,7Itiúba 31.313 64,9 20.309 29,0 71,0Lamarão 8.564 61,4 5.256 23,6 76,4Monte Santo 48.562 53,7 26.056 18,1 81,9Nordestina 10.422 62,6 6.524 30,2 69,8Queimadas 22.000 68,6 15.082 42,3 57,7Quijingue 23.322 56,1 13.083 26,7 73,3Retirolândia 9.859 71,7 7.072 53,9 46,1Santaluz 27.853 67,5 18.812 62,9 37,1São Domingos 74.488 71,2 53.037 63,4 36,6Serrinha 7.783 76,2 5.932 46,0 54,0Teofilândia 17.969 64,1 11.519 37,7 62,3Tucano 45.603 59,9 27.299 45,1 54,9Valente 17.323 74,0 12.822 53,6 46,4

Total 492.258 63,9 314.344 45,0 55,0Total dos Territórios no Estado 3.327.725 68,3 2.271.643 60,3 39,7

IBGE. Censo Demográfico (2000). * Dado não disponibilizadoFonte: SDT/MDA - SIT

59 Campus 14 da UNEB, localizado em Conceição do Coité.

105

5.2 - Plano (processo e estado atual)

O PTDRS concentrou suas ações em seis eixos principais. O eixo da agricultura

familiar destaca o interesse na: i) revitalização da cadeia produtiva do sisal; ii)

desenvolvimento da ovino-caprinocultura; iii) desenvolvimento da apicultura; iv)

fortalecimento do artesanato regional. Na educação os principais aspectos ressaltados

são: i) formação de professores para educação do campo; ii) cursos superiores para o

semi-árido; iii) a universidade do semi-árido.

A educação ambiental, a recuperação de áreas degradadas, recuperação ambiental

da bacia do rio Itapicurú, dentre outras são as principais ações do eixo meio ambiente. No

eixo comunicação a principal ação está dirigida ao fortalecimento das entidades de

comunicação comunitária. Ainda o PTDRS dedica dois eixos às atividades relacionadas com

esporte, cultura e lazer60 e infra-estrutura61.

Contudo, algumas iniciativas pontuais - muitas vinculadas à APAEB, foram bastante

mencionadas durante as entrevistas e pensadas como pequenos “estopins” para o

desenvolvimento do Território. Considera-se necessário apontá-las brevemente.

1- A ABRAÇO - Sisal62, associação de rádio e televisão comunitárias do Território

do Sisal com forte repercussão nos municípios;

2- O Laticínio DaCabra63 que no marco do Programa Fome Zero distribui leite de

cabra para creches e famílias com problemas nutricionais;

3- A Feira de Agricultura Familiar;

4- A Cooperativa Regional de Artesãs Fibras do Sertão - COOPERAFIS com o

incentivo ao trabalho artesanal das mulheres dos municípios de Valente, Araci e

São Domingos.

5.2.1 – Relação de Projetos / MDA no Território

60 Há incentivo ao turismo rural no Território. 61 As ações deste eixo acompanham as ações do Governo Federal e Estadual de moradia, saneamento e luz. 62 Foi criada em 2004 e hoje conta com 15 emissoras filiadas. Destas 6 têm licença de funcionamento outorgada

pelo Governo Federal. Uma delas é a Valente FM. 63 É uma iniciativa da APAEB para produção de leite de cabra e derivados (queijos, doces e iogurtes).

106

Os Investimentos da Secretaria de Desenvolvimento Territorial do MDA no

Território do Sisal ascenderam a R$ 3.391.794,57, no período de 2003 a 2006 (Tabela

34). Ao longo desses anos um total de 37 projetos foram aprovados, constatando-se que

atenderam na sua maioria, deficiências de assistência técnica, organização e capacitação

de cooperativas e ações de dinamização da economia do sisal.

Tabela 34 - Território do Sisal - BAInvestimentos da SDT/MDA no Território

Ano Número de Projetos Valor (em R$)

2003 8 457.795,602004 11 1.531.725,292005 10 470.780,002006 8 931.493,68

Total Território 37 3.391.794,57Fonte: SDT/MDA (2006).

Se observada a distribuição do recurso por municípios, no ano de 2006, é possível

verificar que os mais beneficiados são: Serrinha, Itiúba e Valente (Tabela 35). Contudo,

encontram-se, ainda, numerosas ações definidas como territoriais que contemplam a

realização de estudos propositivos, avaliação de projetos, estudos de mercado, viabilidade

de empreendimentos de agroindústrias, promoção de gestão participativa e de encontros

regionais das associações de agricultores familiares, dentre outras (Anexo II).

Tabela 35 - Território do Sisal - BA Ações da SDT/MDA - Ano 2006

Proponente Localização Valor (em R$) Objeto

Fundação de Apoio aos Trabalhadores Rurais da Região Sisal

Do Sisal - BA 60.000,00 Promover processos de mobilização para a

gestão participativaPrefeitura Municipal de Araci Araci 25.000,00 Prestação de ATERPrefeitura Municipal de Itiúba Itiúba 5.000,00 Proporcionar condições de ATERPrefeitura Municipal de Itiúba Itiúba 313.000,00 Apoio à educação do campoPrefeitura Municipal de Retirolândia Retirolândia 25.000,00 Proporcionar ATERPrefeitura Municipal de Serrinha Serrinha 356.933,68 Apoio à Educação do CampoPrefeitura Municipal de Tucano Tucano 25.000,00 Proporcionar Condições de ATERPrefeitura Municipal de Valente Valente 121.560,00 Apoio à comercialização do sertão da Bahia

Total Ano 931.493,68 Total Território Do Sisal - BA 3.391.794,57 Fonte: SDT/MDA (2006).

107

5.3 - Avanços no ciclo de gestão social

A capacidade de organização, de inserção em projetos nacionais e internacionais e a

busca constante de parceiros já estavam presentes na região sisalera muito antes do início

da política de territorialização. Para os atores territoriais entrevistados o MDA é um

auxilio – muito bem visto, para aprimorar essa vocação e trazer mais visibilidade e

credibilidade aos trabalhos realizados pelas diferentes associações.

A inserção de jovens e mulheres nas atividades do território é um ponto alto da

gestão social, embora ainda esteja engatinhando e sofra de problemas relacionados com

falta de recursos e de assistência técnica, como explicado em item anterior64.

A luta pela aprovação de cursos universitários que atendam a realidade sisaleira e, a

existência de escolas família agrícola, ainda que com capacidade limitada, em Valente e

Monte Santo, são alguns dos passos dados pelos atores territoriais. A orientação das

ações territoriais não apenas para os aspectos econômicos, mas também sociais por

intermédio de mecanismos de comunicação e de formação, são sinais de avanços.

64 Em 2006 foi realizado um seminário territorial de juventude e discutidos o Pronaf - jovem e o Pronaf - mulher.

108

IV.Território Nordeste Paraense / PA

“O desafio para quem está junto com os agricultores é poder tomar decisões em conjunto. O grande desafio é dos técnicos, eles devem capacitar-se mais e saber ouvir o agricultor, respeitar o agricultor” (trecho de entrevista).

109

SUMÁRIO

1. Marco

1.1 – Marco espacial

1.2 – Marco histórico

2. O Território do Ministério de Desenvolvimento Agrário

2.1 – Referência histórica territorial

2.2 – O território

2.3 – Mapa social

2.4 – Situação socioeconômica e ambiental predominante

2.5 - Inovação tecnológica

3 - Imaginário

3.1 - Conhecimento da política do Ministério de Desenvolvimento Agrário

3.2 - Apropriação da estratégia de territorialização por parte dos atores

3.3 - Conceito de núcleo

3.4 - Identidade expressada

4 - Ações

4.1 - Instituições envolvidas

4.2 - Lideranças no território

4.3 - Conflitos

5 - Resultados

5.1 - Formação de capacidades

5.2 - Plano (processo e estado atual)

5.3 - Avanços no ciclo de gestão social

110

1. Marco1.1 – Marco espacial

Desde a época da colonização, a Amazônia brasileira tem sido alvo de uma ação

sistemática de extração de riquezas que se configurou em diferentes modos de produção e

de organização social e política. Nas últimas três décadas a Amazônia experimentou mais

transformações em seu espaço do que nos séculos que lhe precederam. Em sua vasta

extensão territorial acolhe uma grande diversidade de ecossistemas que têm sido alvo de

um modo de ocupação predatório, podendo-se destacar: i) um intenso e acelerado processo

de migração rumo às novas fronteiras agrícolas; ii) fortes incentivos fiscais e financeiros

em obras de infra-estrutura que modificaram a estrutura produtiva; iii) a passagem

abrupta de uma situação de isolamento e esquecimento por parte das políticas públicas

para uma integração rápida demais à economia regional, nacional e internacional que

provocou; iv) um intenso processo de transformação e crescimento econômico nem sempre

vantajoso para a região como um todo, nem respeitoso da heterogeneidade e diversidade

sociocultural e; vi) uma exploração desenfreada dos recursos naturais.

Todos estes fatores dão conformação a uma Amazônia que tem sofrido uma intensa

pressão antrópica decorrente das políticas de crescimento econômico incentivadas pelo

Estado que acabou por conduzir a uma degradação dos ecossistemas e à redução dramática

da cobertura vegetal da região através de ciclos repetitivos - o ciclo da borracha, o ciclo

da castanha, o ciclo da mineração, o ciclo da madeira, o ciclo da pecuária.

É neste cenário que o Estado do Pará se insere. O Pará é o segundo maior Estado do

país com uma extensão de 1.247.690 km² e 6.192.307 milhões de habitantes, destes

4.120.693 pertencem à área urbana e 2.071.614 a área rural e representa uma das mais

importantes frentes de colonização agrícola do País, portanto, no seu bojo traz sucessivos

conflitos fundiários; extração seletiva (em grandes escalas) de madeira; abertura

das florestas para implantação de pastagens; assim como as alterações nos rios

ocasionadas pela extração de minério.

Embora o Pará ocupe apenas um terço da área da Amazônia brasileira, é responsável

por mais da metade da produção de madeira, gado e minerais da região. Se 75% das

111

emissões de gás do Brasil65 decorrem do desmatamento e das queimadas na

Amazônia, o Pará tem sua cota de responsabilidade.

Num curto intervalo de tempo o Pará tem-se convertido em uma grande área de

pastagem com aumento considerável do rebanho bovino. A pecuária, hoje, é parte

integrante da paisagem dos sistemas de produção de fazendeiros e de pequenos

produtores. As atividades madeireiras e a exploração mineral caminham lado a lado, são

mais dois elementos que compõem essa paisagem.

O quadro recente da Amazônia oriental e, em decorrência do nordeste paraense, é

a convergência de vários fatores acontecidos no passado recente, como os descritos

acima, mas, sobretudo da falta de valorização e tratamento diferenciado da sua

diversidade sócio-cultural.

Figura 12 – Mapa do Estado do Pará

Fonte: www.dnit.gov.br

65 Dados do recente Relatório de Mudanças Climáticas da Organização das Nações Unidas - ONU.

112

1.2 – Marco histórico

A messorregião do Nordeste Paraense está formada por 48 municípios agrupados

em microrregiões. O Território do Nordeste Paraense é parte integrante das

microrregiões de Guamá e Paragominas.

A ocupação desta Messorregião iniciou com atividades que foram responsáveis pelo

aparecimento de vários centros urbanos, como o estabelecimento de pontos para defesa

do território e a interiorização de missões religiosas, mas a colonização por fins agrícolas

sempre foi o mais forte fator de ocupação. Apesar de concentrar um grande número de

cidades, estes centros apresentam pequenos volumes populacionais e em sua maioria

surgiram em períodos anteriores ao Ciclo da Borracha, como núcleos de comercialização de

produtos agrícolas ou extrativos (MDA, 2005).

A história do Território está vinculada de maneira direta ao processo do chamado

avanço das frentes pioneiras implementado pelo governo federal a partir da década de

setenta. Isto resultou na instalação de grandes levas de migrantes originários de outras

regiões do país no território paraense. Pequenos e grandes produtores foram atraidos

pela possibilidade de ter acesso à terra e induzidos pela produção agropecuária. Portanto,

a história do Território, confunde-se com a história de intervencão governamental e

ocupacão da floresta, com atrativos vindos dos incentivos fiscais e financiamentos

irrecusáveis que serviram de base a uma nova ordem fundiária.

As atividades econômicas estão direcionadas à exploracao florestal, à pecuária

bovina, que ocupa parte da área desmatada, à lavoura branca (milho, feijao, arroz,

mandioca) e às culturas perenes (cacau, pimenta-do-reino). Nos anos 1990, a produção

leiterira desenvolveu-se bastante no contexto da agricultura familiar. A chegada da

agroindústria leiteira está criando novos pólos de atividade para o setor. Constata-se que

os novos ciclos dominam – e em alguns casos, chegam a acompanhar as atividades

tradicionais, como é o caso do extrativismo e da mandioca. Nas frentes pionerias a

floresta é entendida pelos novos atores locais como um capital disponível para ser

trasnformado em renda, pela madeira nela contida. Isto explica as práticas típicas de

contextos onde a terra é barata e a natureza farta, que geram desmatamento e atividades

113

mais extensivas do que intensivas (SAYAGO, TOURRAND, BURSZTYN, 2004). Essa tem

sido a dinâmica do avanço da frente pioneira na Amazônia, no Pará e no nordeste paraense.

2. O Território do Ministério de Desenvolvimento Agrário

2.1 – Referência histórica territorial

O Pará está dividido, segundo critérios agroecológicos e socioeconômicos, em sete

grandes regiões: Nordeste Paraense, Sudeste do Pará, Sul do Pará, Transamazônica, Baixo

Amazonas, Cuiabá/Santarém e Estuário, incluindo a Ilha de Marajó 66 . Estas são

conhecidas como messorregiões que, por sua vez, contemplam 22 microrregiões. A

Messorregião do Nordeste Paraense é uma das mais antigas áreas de exploração agrícola

da Amazônia, em terras não inundáveis. Cobre uma área de aproximadamente 87.389,542

km², o que corresponde a 7,0% da área territorial do Estado do Pará. Colonizada por volta

de 1875, atualmente é formada pelas microrregiões Salgado, Bragantina, Cametá, Guamá e

Tomé-Açu. Seus 135 mil quilômetros quadrados (10,6% da superfície estadual) englobam

48 municípios e, de acordo com dados do IBGE (2005), concentram aproximadamente 1,6

milhões de habitantes (27% da população do Estado) (www.cpatu.embrapa.br).

Segundo a Secretaria de Recursos Hídricos do Pará, o Estado está dividido em sete

regiões hidrográficas: i) Região Costa Atlântico-Nordeste banhada pelos principais cursos

d´água da região (rios do Atlântico, rio Gurupi, rio Capim, rio Acará, rio Moju e o rio

Guamá); ii) Região Portel-Marajó; iii) Região Tocantis-Araguaia; iv) Região do Xingu; v)

Região Baixo Amazonas; vi) Região Tapajós e; vi) Região Calha Norte.

A mais recente divisão atenta para as características sócio-culturais da região

aproximando municípios com afinidade por identidade. A política de territorialização

dirigida pelo Ministério de Desenvolvimento Agrário - MDA dividiu o Estado em seis

territórios rurais: Baixo Amazonas, Nordeste Paraense, Sudeste Paraense, Sul do Pará,

Transamazônica e BR-163. A Figura 13 mostra o mapa dos territórios do Estado do Pará.

Deve-se, ainda, fazer menção a uma nova política pública liderada pelo Ministério do

Meio Ambiente - MMA, que entrará em vigor no Território, e implantará Distritos

66 Consultar VEIGA, 2004.

114

Florestais como novos modelos de desenvolvimento sustentável para a região. O município

de Paragominas sob o lema “Floresta em pé é um bom negócio” realizou, no início do mês de

maio, a primeira consulta pública sobre a criação do Distrito Florestal Sustentável de

Carajás - Paragominas.

Figura 13 – Mapa dos Territórios Rurais do Estado do Pará

Fonte: SDT/MDA – SIT

2.2 – O território

O Território está conformado por 15 municípios repartidos geograficamente em

duas microrregiões. A microrregião de Paragominas compreende três municípios: Dom

Eliseu, Paragominas e Ulianópolis. Já na microrregião do Guamá localizam-se 12 municípios:

Aurora do Pará, Cachoeira do Piriá, Capitão Poço, Garrafão do Norte, Ipixuna do Pará,

Irituia, Mãe do Rio, Nova Esperança do Piriá, Ourém, Santa Luzia do Pará, São Domingos

do Capim e São Miguel do Guamá.

115

Território do

Nordeste Paraense

Figura 14 – Mapa do Território do Nordeste Paraense

Fonte: SDT/MDA – SIT

A extensão total do território é de 53.255,30 km². Em 2006 a população, estimada

do Território alcançou a cifra de 526.194 habitantes (MDA, 2006). A população da área

rural, segundo dados do IBGE (2000), é de 237.250 habitantes contra 209.606 da área

urbana. Este dado mostra que 53 % da população total do Território tem como principal

fonte de renda, a economia ligada à agropecuária.

Os valores estimados para a população, em 2006, comparados com os dados do

censo demográfico de 2000 apresentam uma variação positiva para a maior parte dos

municípios, com exceção de Irituia (-1,44) e Mãe do Rio (-10,93) que viram sua população

diminuir de 30.518 habitantes para 30.080 e de 25.351 habitantes para 22.580

respectivamente. Na área rural encontra-se 53,09 % da população e 46,91% na área

urbana como mostra a Tabela 36. Em síntese os municípios que apresentam os maiores

percentuais de população rural são: Cachoeira do Piriá (84,50%), Irituia (80,91%) e

Ipixuna do Pará (80,15). O município Aurora do Pará (futura sede do Núcleo Piloto) ocupa o

quinto lugar (74,54%) depois de São Domingos do Capim (78,56%).

116

Tabela 36 - Território Nordeste Paraense - PAAspectos Populacionais

População

2000 Rural Urbana 2006 Variação

Município Total Nº (%) Nº (%) Total 2000 /2006

Aurora do Pará 19.728 14.706 74,54 5.022 25,46 25.174 27,61Cachoeira do Piriá 15.437 13.044 84,50 2.393 15,50 20.759 34,48Capitão Poço 49.769 28.648 57,56 21.121 42,44 52.960 6,41Dom Eliseu 39.529 15.728 39,79 23.801 60,21 50.739 28,36Garrafão do Norte 24.221 17.203 71,03 7.018 28,97 26.991 11,44Ipixuna do Pará 25.138 20.147 80,15 4.991 19,85 36.851 46,59Irituia 30.518 24.692 80,91 5.826 19,09 30.080 -1,44Mãe do Rio 25.351 6.613 26,09 18.738 73,91 22.580 -10,93Nova Esperança do Piriá 18.893 13.638 72,19 5.255 27,81 27.943 47,90Ourém 14.397 7.881 54,74 6.516 45,26 15.605 8,39Paragominas 76.450 18.210 23,82 58.240 76,18 88.877 16,26Santa Luzia do Pará 19.400 10.958 56,48 8.442 43,52 19.818 2,15São Domingos do Capim 27.405 21.528 78,56 5.877 21,44 32.231 17,61São Miguel do Guamá 41.366 16.909 40,88 24.457 59,12 47.599 15,07Ulianópolis 19.254 7.345 38,15 11.909 61,85 27.987 45,36

Total 446.856 237.250 53,09 209.606 46,91 526.194 17,75Total dos Territórios /PA 2.012.429 899.907 44,72 1.112.522 55,28 2.318.736 15,22

IBGE. Censo Demográfico 2000. Estimativa da população em 2006.Fonte: SDT/MDA - SIT

Na região se concentram mais de 20 aldeias e aproximadamente 1,5 mil indígenas

que sobrevivem da agricultura e da pecuária. O grupo indígena Tembé - Guamá localiza-se

nas nascentes do rio Guamá e a Colônia Indígena do Canindé, ocupa parte do município de

Paragominas.

Existem oito comunidades remanescentes de quilombolas no Território repartidas

em cinco municípios. O maior número de comunidades concentra-se no município Cachoeira

do Piriá conformando 130 famílias. Em São Miguel de Guamá 35 famílias convivem em uma

comunidade de remanescentes de quilombolas. Nos municípios de Capitão Poço, Itituia e

Santa Luzia do Pará registram-se um total de 170 famílias cujas comunidades ainda não

têm regularizadas suas terras (FANEP, 2006).

No ano de 2006, garantem os dados atualizados da SDT/MDA, o Território do

Nordeste Paraense comportava 15.906 agricultores familiares. Destacando-se, nos três

primeiros lugares, Irituia com 2.807, seguido de Capitão Poço com 2.654 e São Miguel do

Guamá com 2.150. O total de famílias assentadas ascende à cifra de 12.696 localizadas na

sua maior parte em Cachoeira do Piriá (3.221) e Capitão Poço (2.793). Os municípios com

117

maior concentração de famílias acampadas são Irituia (989) e Aurora do Pará (778) sob

um total de 4.112 famílias acampadas no Território ( Tabela 37).

Tabela 37 - Território Nordeste Paraense - PADemanda Social do MDA

MunicípioAgricultoresFamiliares

(1)

FamíliasAssentadas

(2)

FamíliasAcampadas

(3)

DemandaSocial

Aurora do Pará 882 632 778 2.292Cachoeira do Piriá 675 3.221 3.896Capitão Poço 2.654 2.793 297 5.744Dom Eliseu 46 224 342 612Garrafão do Norte 1.591 148 1.739Ipixuna do Pará 751 1.520 291 2.562Irituia 2.807 989 3.796Mãe do Rio 216 216Nova Esperança do Piriá 514 1.731 2.245Ourém 772 772Paragominas 190 1.666 526 2.382Santa Luzia do Pará 537 47 194 778São Domingos do Capim 2.073 268 435 2.776São Miguel do Guamá 2.150 2.150Ulianópolis 48 594 112 754

Total 15.906 12.696 4.112 32.714Total dos Territórios no Estado 72.989 101.034 12.424 186.447

(1)IBGE. Censo Agropecuário (1995/96); (2) MDA/Incra/SIR (30/09/2006); (3) MDA/Incra/SIR (2005).Fonte: SDT/MDA - SIT

O Território comporta 49 assentamentos da Reforma Agrária distribuídos da

seguinte forma: 11 em Capitão Poço, 10 em Ipixuna do Pará, 7 em Paragominas, 5 em

Ulianópolis, 5 em Aurora do Pará, 4 em Dom Eliseu, 2 em Cachoeira do Piriá, Nova

Esperança do Piriá e São Domingos do Capim e, 1 em Santa Luzia do Pará (Tabela 38).

Tabela 38 - Território Nordeste Paraense - PANº de Famílias Assentadas em Projetos de Reforma Agrária

MunicípioÁrea do

Assentamento(ha)

Número deAssentamentos

Capacidadede Assentamentos

(N de Famílias)

Número de Famílias

AssentadasAurora do Pará 29.040 5 768 632Cachoeira do Piriá 204.998 2 4.101 3.221Capitão Poço 96.429 11 2.930 2.793Dom Eliseu 15.163 4 235 224Garrafão do NorteIpixuna do Pará 68.129 10 1.776 1.520IrituiaMãe do RioNova Esperança do Piriá 109.533 2 1.845 1.731OurémParagominas 63.837 7 1.864 1.666Santa Luzia do Pará 1.452 1 56 47São Domingos do Capim 6.897 2 268 268São Miguel do GuamáUlianópolis 71.967 5 992 594

Total 667.445 49 14.835 12.696MDA/Incra/SIR (2006). Nota: Dados atualizados até 30/09/2006. Território Nordeste Paraense - PAFonte: SDT/MDA - SIT

118

2.3 – Mapa social

O mapa social elaborado pelos atores territoriais percorreu os municípios sob uma

ótica exclusivamente produtiva recolhendo somente informações das economias locais.

Assim, ao contrário do previsto na metodologia, aspectos relacionados com a distribuição

espacial e territorial, as características sociais, culturais, ambientais e institucionais

ficaram fora da discussão. Os participantes desenharam um pequeno croqui, bastante

singelo, da área que compõe o Território e nele localizaram apenas os municípios

moldurados pelas BR-316 e BR-010 (Figura 15). Posteriormente foram listando os

produtos/potencialidades em folhas separadas e destinadas a cada município.

A partir daí, e ao longo de duas horas, uma chuva de produtos “puxados pela

memória coletiva” foram construindo a “relação de produtos”. Aqui, observa-se,

claramente, a produção sob o binômio gado/mandioca. (Figura 16)

Figura 15 – Mapa Social do Território Nordeste Paraense – Primeira Parte

Ipixuna do Pará

São Domingos do Capim

Santa

São Miguel do Guamá

Santa Luzia do Pará

Cachoeira do Piriá

Capanema

Mãe do

Aurora do Pará

Ulianópolis

Dom

BR 316

BR 010

Capitão Poço

IrituiaGarrafão do Norte

Nova

Paragominas

Municípios não pertencentes ao território.

119

Figura 16 – Mapa Social do Território Nordeste Paraense – Segunda Parte / Representação da Produção e Potencialidades do Território Nordeste Paraense

120

2.4. – Situação socioeconômica e ambiental predominante

A principal atividade econômica do Território – baseada na agricultura familiar67,

está direcionada à cultura da mandioca e seus derivados, assim como às frutas, ao feijão,

ao arroz e ao milho. Dentre os 10 maiores produtores de mandioca no País, sete estão no

Estado do Pará. O segundo lugar corresponde ao município Ipixuna do Pará e o quarto a

Aurora do Pará (IBGE, 2004).

A Tabela 39 mostra em detalhe a produção de mandioca, gerando cifras que

ultrapassam as novecentas toneladas/ano. Em 2005 o município de Ipixuna do Pará

produziu 288 mil toneladas, seguido de Aurora do Pará que atingiu as 224 mil toneladas.

São cifras que superam a produção dos demais municípios.

As atividades extrativistas de origem animal e vegetal, presentes historicamente,

também mantêm espaço no Território, como por exemplo, a extração de madeira, lenha,

palmito, látex, coleta de açaí e de Castanha-do-Pará. Assim, como as culturas orientadas à

exportação como a pimenta- do- reino, a malva, o cacau e o algodão.

Em termos da produção e de acordo com as culturas apresentadas pela SDT/MDA

em base aos dados do IBGE (2005) pode-se afirmar que a fruticultura, especificamente

laranja e banana, alcançou o patamar de 193.116 toneladas, destas 162.897 correspondem à

cultura da laranja e 30.219 à cultura da banana. Como demonstra a Tabela 39 os principal

produtor de laranja é o município de Capitão Poço que lidera com bastante margem.

Cachoeira do Piriá ocupa o primeiro lugar no ranking de produção de banana no Território

do Nordeste Paraense, com 11 mil toneladas no de 2005.

Os valores destinados à produção do leite68 mostram, na Tabela 40, que o município

de Paragominas detém o primeiro lugar seguido de Dom Eliseu. Contudo, observa-se uma

variação negativa (-1,44) para o conjunto dos municípios que compõem o Território.

Ainda na Tabela 40 são observadas as taxas referentes à apicultura. Os dados

referem-se às quantidades de mel produzidas em 11 municípios durante o ano de 2005 e

suas variações. Nota-se, então, uma concentração no município Capitão Poço com 32 mil

67 Os agricultores utilizam o sistema de derruba e queima como mecanismo de fertilização, provocando, consequentemente, mais desmatamentos.

68 O Fundo Constitucional do Norte – FNO injetou recursos na produção leiteira.

121

toneladas e, em especial, uma variação negativa em Irituia (-90) com uma queda de

produção que passou de mil toneladas em 2004 para cem em 2005.

Tabela 39 - Território Nordeste Paraense - PALavoura Permanente

Quantidade Produzida(t)Lavoura Temporária

Quantidade Produzida(t)Laranja Banana Mandioca Feijão

Município 2004 2005 2004 2005 2004 2005 2004 2005Aurora do Pará 371 371 180 180 198.000 224.400 1.140 1.260Cachoeira do Piriá 168 140 11.400 11.000 25.300 24.150 324 255Capitão Poço 142.800 146.370 2.400 2.160 70.000 50.000 5.100 4.420Dom Eliseu 150 150 600 600 72.000 80.000 144 82Garrafão do Norte 10.709 10.500 2.160 1.600 42.000 39.300 3.080 1.269Ipixuna do Pará 96 96 - - 288.000 288.000 1.736 2.460Irituia 600 450 252 252 18.000 18.000 140 240Mãe do Rio 437 437 - - 27.000 36.000 405 405Nova Esperança do Piriá 1.487 1.487 2.400 2.400 25.500 30.000 990 810

Ourém 540 540 107 107 20.000 14.400 984 656Paragominas - - 4.600 4.600 61.500 60.750 150 170Santa Luzia do Pará 535 357 2.242 2.925 11.700 14.400 948 598São Domingos do Capim 100 200 3.715 3.715 44.800 49.000 320 294

São Miguel do Guamá 1.560 1.740 500 500 16.900 19.500 560 600Ulianópolis 59 59 180 180 60.000 11.900 612 -

Total 159.612 162.897 30.736 30.219 980.700 959.800 16.633 13.519Total dos Territórios no

Estado 189.062 188.831 370.719 387.677 2.688.040 2.604.970 35.235 29.745

IBGE - Produção Agrícola Municipal (2005). Fonte: SDT/MDA - SIT

Tabela 40 - Território Nordeste Paraense - PALeite

Quantidade Produzida (mil litros)

MelQuantidade Produzida(t)

Leite MelMunicípio 2004 2005 Variação 2004 2005 Variação

Aurora do Pará 3.107 3.413 9,85Cachoeira do Piriá 292 273 -6,51 300 350 16,67Capitão Poço 609 614 0,82 29.000 32.000 10,34Dom Eliseu 9.544 9.651 1,12Garrafão do Norte 680 681 0,15 680 1.000 47,06Ipixuna do Pará 6.281 5.280 -15,94 8.514 7.620 -10,50Irituia 1.255 1.297 3,35 1.000 100 -90,00Mãe do Rio 4.849 5.080 4,76Nova Esperança do Piriá 321 331 3,12 750 1.100 46,67Ourém 216 209 -3,24 15.500 17.000 9,68Paragominas 20.445 20.454 0,04 5.780 6.010 3,98Santa Luzia do Pará 414 423 2,17 1.000 1.500 50,00São Domingos do Capim 648 697 7,56 500 540 8,00São Miguel do Guamá 725 529 -27,03 1.500 2.500 66,67Ulianópolis 3.478 3.173 -8,77

Total 52.864 52.105 -1,44 64.524 69.720 8,05Total dos Territórios no

Estado 251.653 293.260 16,53 80.372 87.005 8,25

IBGE - Produção Agrícola Municipal (2005).

122

Fonte: SDT/MDA - SIT

O rebanho bovino no período de 2004/2005 apresentou variação negativa em três

municípios, a saber: Paragominas (-12,29), Ourém (-2,64) e Ulianópolis (-1,84). A pesar

destes índices, em 2005, o conjunto maior de cabeças bovinas esteve concentrado em

Paragominas (448.030), Dom Eliseu (142.543) e Ulianópolis (110.360).

A criação bubalina recuou (-14,72), em 2005, no total dos municípios do Território,

como se aprecia na Tabela 41. Os dois municípios com taxa positiva foram: Garrafão do

Norte (3,57) embora sua criação seja pouco significativa e São Miguel do Guamá (42,50) o

que se traduz em 80 cabeças de búfalo em 2004 e 114 em 2005.

Destacam na criação caprina, segundo dados do IBGE (2005), Paragominas com

2.708 cabeças, Ulianópolis com 1.920 e Dom Eliseu com 1.698 em relação ao Território que

registra um rebanho caprino de 12.485 cabeças. A taxa de variação é positiva apenas para

três municípios: Irituia, Nova Esperança do Piriá e Paragominas como se pode observar

ainda na Tabela 41.

Tabela 41 - Território Nordeste Paraense - PAPrincipais Rebanhos

Bovino Bubalino CaprinoMunicípio 2004 2005 Variação 2004 2005 Variação 2004 2005 Variação

Aurora do Pará 78.715 108.465 37,79 294 150 -48,98 1.186 1.108 -6,58Cachoeira do Piriá 12.989 16.557 27,47 0 0 0 650 580 -10,77Capitão Poço 66.000 72.388 9,68 226 140 -38,05 630 620 -1,59Dom Eliseu 128.282 142.543 11,12 160 150 -6,25 1.784 1.698 -4,82Garrafão do Norte 37.700 40.376 7,10 56 58 3,57 520 500 -3,85Ipixuna do Pará 96.292 110.001 14,24 1.083 1.058 -2,31 910 889 -2,31Irituia 68.465 71.290 4,13 300 100 -66,67 150 256 70,67Mãe do Rio 58.686 70.732 20,53 880 850 -3,41 702 700 -0,28Nova Esperança do Piriá 16.158 18.865 16,75 0 0 0 320 415 29,69

Ourém 15.800 15.383 -2,64 150 80 -46,67 210 203 -3,33Paragominas 510.807 448.030 -12,29 1.522 1.352 -11,17 2.452 2.708 10,44Santa Luzia do Pará 65.981 83.039 25,85 331 261 -21,15 785 748 -4,71

São Domingos do Capim 20.070 21.578 7,51 100 92 -8,00 40 36 -10,00

São Miguel do Guamá 34.127 42.225 23,73 80 114 42,50 120 104 -13,33

Ulianópolis 112.426 110.360 -1,84 159 150 -5,66 2.028 1.920 -5,33Total 1.322.498 1.371.832 3,73 5.341 4.555 -14,72 12.487 12.485 -0,02

Total dos Territórios no Estado 9.880.518 10.316.799 4,42 101.563 82.153 -19,11 46.462 49.930 7,46

IBGE - Produção Agrícola Municipal (2005). Fonte: SDT/MDA - SIT

123

Estatísticas, referentes a empregos por setor econômico, levantadas em 2002, são

citadas a seguir: a indústria ocupa 9.261 pessoas destacando o município de Paragominas

com 4.798 empregos vinculados a esta atividade; o comércio gera 2.361 empregos destes

1.272 correspondem ao município acima mencionado. Os serviços em geral rendem ao

Território 10.768 empregos concentrados também em Paragominas, assim como na

agropecuária que ocupa 801 pessoas (Tabela 42).

A maior renda per capita está concentrada no município de Ulianópolis (R$ 228,54)

seguido de Paragominas (R$ 166,04) e Dom Eliseu (R$145,70). A menor corresponde a

Cachoeira do Piriá (R$ 52,24). A renda média do chefe de família também está

concentrada em Ulianópolis (R$ 581,43) Paragominas (R$ 545,09) e Dom Eliseu (R$

528,68). Já a renda por rendimento do trabalho destaca-se nos dois primeiros municípios

anteriores e em Mãe do Rio: 79,37, 78,48 e 72,06 respectivamente (Tabela 42).

No que diz respeito a dados de pobreza, o município de Cachoeira do Piriá

apresenta o mais alto índice de pobreza (73,9%) dentro do Território do Nordeste

Paraense, em oposição ao município de Paragominas com o mais baixo nível, 34,5%.

O Índice de Desenvolvimento Humano do Território é de 0,6569. O Índice de

Desenvolvimento Humano Municipal oscila entre 0,55 (Cachoeira do Piriá) e 0,70 (Mãe do

Rio).

Há no Território um total 91.737 domicílios particulares dos quais 27.400 estão

ligados à rede geral de abastecimento de água. Assim, observa-se, que o maior número de

domicílios ligados à rede está localizado em Dom Eliseu (6.155), Paragominas (5.720) e

Capitão Poço (3.523). No que respeita aos domicílios com poço ou nascente os dados

indicam que 51.447 possuem esta forma de acesso à água e 12.890 usam qualquer outra

fonte.

A indicação do número de domicílios ligados à rede de esgoto é bastante baixo,

apenas 272 residências enquadram-se neste indicador. Conforme a Tabela 43, 15.486

domicílios não possuem banheiro ou sanitário e 75.979 usam outras formas de

69 O Índice de Desenvolvimento Humano do Estado do Pará é 0,73 (Atlas de Desenvolvimento Humano, 2002).

124

esgotamento. O lixo é coletado em cerca de 30 mil residências sendo que

aproximadamente 60 mil usam outro destino que não foi especificado.

Em se tratando de meio ambiente, no Território, como na Amazônia toda, a pecuária

extensiva traz conseqüências negativas no âmbito socioambiental, como o desmatamento, a

concentração de terras, a baixa ocupação de mão-de-obra, a perda de biodiversidade,

dentre outros tantos fatores.

Tabela 42 – Território Nordeste Paraense – PA

Empregos Gerados por Setor da Economia1 Renda (R$)2

Município Indústria Comércio Serviços AgropecuáriaRenda

Per Capita

Renda de Rendimentos do Trabalho

Renda Média doChefe de Família

Aurora do Pará 105 9 360 66 85,86 70,15 347,07

Cachoeira do Piriá 44 0 0 10 52,24 68,77 169,48

Capitão Poço 17 149 240 784 92,98 63,46 286,26

Dom Eliseu 1.131 291 1.520 244 145,70 71,15 528,68

Garrafão do Norte 5 7 158 0 71,13 76,18 275,81

Ipixuna do Pará 416 16 235 75 73,50 59,69 316,86

Irituia 67 47 429 45 114,92 69,53 338,25

Mãe do Rio 101 164 1.042 49 121,05 72,06 412,47Nova Esperança do Piriá 26 2 451 0 85,75 63,94 416,42

Ourém 22 7 350 19 89,86 67,73 297,73

Paragominas 4.798 1.272 2.602 801 166,04 78,48 545,09Santa Luzia do Pará 29 8 304 23 64,93 65,31 287,25São Domingos do Capim 23 18 650 70 70,34 63,99 301,96São Miguel do Guamá 1.203 267 1.716 43 122,97 63,76 451,03

Ulianópolis 1.274 104 711 369 228,54 79,37 581,43

Total 9.261 2.361 10.768 2.598 - - -1- SNIU - Sistema Nacional de Indicadores Urbanos (2002)2 - ADHB - Atlas do Desenvolvimento Humano no Brasil (2002). Fonte: SDT/MDA – SIT

125

126

Tabela 42 - Território Nordeste Paraense - PASaneamento Básico

Total de Forma de abastecimento Tipo de esgotamento sanitário e destino do lixoDomicílios de Particulares permanentes Água Esgotamento Sanitário Destino do Lixo

Município RedeGeral

Poço ouNascente

OutrasFormas

Domicílio Ligado

à Rede Geral

OutrasFormas

Sem Banheiroou Sanitário Coletado Outro

Destino

Aurora do Pará 3.918 1.163 2.385 370 2 3.037 879 411 3.507Cachoeira do Piriá 3.111 510 1.713 888 1 1.879 1.231 294 2.817Capitão Poço 10.068 3.523 4.512 2.033 16 8.805 1.247 3.661 6.407Dom Eliseu 8.870 6.155 1.197 1.518 6 7.776 1.088 3.099 5.771Garrafão do Norte 4.569 621 2.982 966 1 3.855 713 649 3.920Ipixuna do Pará 4.763 1.255 3.068 440 10 3.251 1.502 545 4.218Irituia 6.024 2.352 3.395 277 11 5.463 550 1.019 5.005Mãe do Rio 5.486 364 4.638 484 8 4.677 801 1.901 3.585Nova Esperança do Piriá 3.451 1 2.925 525 0 2.558 893 6 3.445Ourém 2.968 808 1.906 254 3 2.804 161 1.287 1.681Paragominas 16.773 5.720 9.142 1.911 186 15.019 1.568 11.990 4.783Santa Luzia do Pará 3.837 524 2.912 401 2 3.516 319 1.574 2.263São Domingos do Capim 5.106 1.659 2.701 746 9 2.740 2.357 1.148 3.958São Miguel do Guamá 8.646 2.595 4.797 1.254 15 7.681 950 2.479 6.167Ulianópolis 4.147 150 3.174 823 2 2.918 1.227 550 3.597

Total 91.737 27.400 51.447 12.890 272 75.979 15.486 30.613 61.124Total dos Territórios no

Estado 418.291 131.001 231.076 56.214 5.529 342.276 70.486 166.190 252.101

IBGE – Censo Demográfico (2000)Fonte: SDT/MDA – SIT

Os impactos da exploração madeireira, por exemplo, têm provocado a ocupação

desordenada da região, a extinção de espécies locais, a invasão de terras indígenas e o

aumento das queimadas. Segundo dados do IBAMA houve 384 focos de queimadas no

território, no período de 2000/2001, 100 destes focos se estenderam no município

Ipixuna do Pará. O município Dom Eliseu registrou o maior número de desmatamentos no

mesmo período como mostra a Tabela 44.

Tabela 44 – Número de queimadas e desmatamentos no Território do Nordeste Paraense

Território/ Municípios do Nordeste do Pará

Número de Queimadas

Número de Desmatamentos Total Área (ha) Percentual de

Desmatamento Aurora do Pará 38Cachoeira do Piriá 10Capitão Poço 56Dom Eliseu 100 17.484 3,3Garrafão do Norte 35Irituia 8Ipixuna do Pará 100 22 1.251 0,24Mãe do Rio 3Nova Esperança do Piriá 52Ourém 14Santa Luzia do Pará 51São Domingos do Capim 7São Miguel do Guamá 2Paragominas 8 40 6.989 0,36Ulianópolis 15 3.197 0,63Total Território 384 177 28.921 -

Fonte: MDA, 2005

Nas entrevistas um assunto recorrente foi o acelerado processo de degradação

ambiental e a busca de soluções por intermédio de ações, com grande investimento, como

os Programas de Desenvolvimento Socioambiental da Produção Familiar Rural –

Proambiente70, Projeto Floresta e Agricultura na Amazônia - FLOAGRI71 e o Projeto

Alternativas ao Desmatamento e às Queimadas - PADEQ, fortes aliados na recuperação

das áreas degradadas.

No Território Nordeste Paraense, o FLOAGRI tem incentivado o trabalho com os

agricultores familiares, em especial, como parceiro na definição de Planos de Manejo no 70 Programa executado pela Secretaria de Desenvolvimento Sustentável do Ministério de Meio Ambiente - MMA

em parceria com o Sistema de Crédito do Programa Nacional de Agricultura Familiar – PRONAF, do Ministério de Desenvolvimento Agrário - MDA e da Embrapa. Estão envolvidos agricultores familiares, extrativistas, pescadores artesanais, indígenas, remanescentes de quilombolas e populações tradicionais.

71 É uma parceria entre o Centro de Cooperação Internacional em Pesquisa Agronômica para o Desenvolvimento – CIRAD/França e a EMBRAPA. Apóia as ações do Proambiente e tem como parceiro territorial a FANEP.

Pólo do Rio Capim, no Município Mãe do Rio. O Proambiente tem dedicado tempo na

eliminação das queimadas adotando sistemas florestais em áreas já desmatadas, na região

de Rio Capim.

2.5 - Inovação tecnológica

Sobre a inovação tecnológica ouviram-se discursos dirigidos à importância do Pólo

Proambiente e à novidade de uma assistência técnica cujo suporte principal está baseado

nos multiplicadores agroecológicos em sistemas agroflorestais - SAF´s. A parceria da

EMBRAPA com a FANEP a partir do Pólo Proambiente permitiu levantar 78 experiências

agroecológicas no Pólo Rio Capim que contempla quatro (4) municípios do Território. Dentre

estas experiências destacam: feijão abafado, galinheiro agroecológico, piscicultura de

base familiar com ração alternativa, sistemas agroflorestais, secadores solares utilizados

para a fabricação de frutas secas.

O PADEQ presta suporte técnico da EMBRAPA a um grupo de 50 famílias dentro do

Território provocando: “intercâmbios entre os agricultores que elevam a auto-estima e

criam potencial de mudança”, afirmou um dos entrevistados.

Há um outro PADEQ executado pela FANEP: “os 2 PADQ´s ficaram muito

semelhantes”, comentou um pesquisador da EMBRAPA. A replicação com projetos não é a

preocupação central – sobretudo em um Território com tais dimensões e, sim, “com a

extrapolação dos resultados dentro de um processo participativo, de adaptação,

compatível com o interesse de cada grupo, montado junto com os agricultores” finalizou.

Cursos sobre reciclagem, produção e distribuição de mudas, árvores nativas e

exóticas, frutífera e essências florestais são oferecidos pelos técnicos das três

reconhecidas prestadoras de serviço, isto é, a FANEP, a COODERSUS e a EMATER (ver

item sobre lideranças no território) 72 .

Com recurso do MDA - 2005/2006, a EMATER identificou e adotou – como as

outras entidades de assistência técnica atuantes no Território, tecnologias que

possibilitassem a transição para a agroecologia: “fizemos a transição com milho verde que

é o forte em São Miguel do Guamá. Também fizemos com o feijão sem utilização de

72 O SEBRAE pouco interage no Território e apenas foi mencionado em casos isolados e em relação aos projetos de Desenvolvimento Local e Setorial - DLS

129

agrotóxicos, com a mandioca, com a melancia. Temos uma unidade de observação há 3 anos

em São Domingos do Capim. Em Capitão Poço temos um projeto de laranja orgânica”

explicou um dos técnicos.

Indústrias de pequeno e mediano porte têm repercussão no Território, estão

ligadas a diversos setores como, por exemplo, olearia, transformação de madeira

(laminados), derivados do leite (MANACÁ em Mãe do Rio) e Transformação da Cana de

Açúcar (PAGRISA em Dom Elizeu) (MDA, 2005).

3 - Imaginário

3.1 - Conhecimento da política do MDA

O conhecimento do processo de territorialização está diretamente associado à

execução das ações vinculadas ao PRONAF, de elaboração e implantação de projetos em

assentamentos e à idéia do MDA ser “simples repassador de recursos”.

A primeira oficina territorial aconteceu no município de Paragominas, em 2003, com

a presença de aproximadamente 200 pessoas no Sindicato dos Trabalhadores Rurais,

porém, expôs um dos informantes: “foi explicada por alto a concepção territorial. O que

ficou claro é que tínhamos tantos mil reais para trabalhar projetos”.

A situação do articulador, mesmo exercendo suas funções sem a continua e regular

remuneração de seus serviços, tem mobilizado os atores territoriais. Esta preocupação foi

expressa nas reuniões coletivas: “se o MDA resolver o problema do articulador resolverá

grande parte do nosso trabalho [articulação]. Ele tem que ajudar até na captação de

recurso, ajudar na fiscalização, na aplicação e na formação das equipes”. “Ele [articulador]

é o elo, sem ele não temos como avançar. É a pessoa que vê as diferenças e que possibilita

ajustar as ações” complementaram durante as entrevistas.

“O MDA tem pouco acompanhamento, se integra pouco com outros ministérios”, 73

sublinhou uma das entrevistadas. Também, nesse sentido, a falta de comunicação entre os

membros da CIAT e consequentemente a falta de decisões tomadas coletivamente é mais

73 Foram identificadas ações do MDA junto ao Proambiente do MMA.

130

uma das fragilidades apontadas quando perguntados sobre as ações iniciais de instalação

do Território.

As reuniões da Comissão são esporádicas e sem a presença da maioria de seus

membros: “a última reunião foi final de 2005. A CIAT fez mais ou menos 8 reuniões. São

25 membros mas não participam”.

Assim escutou-se: “Foi uma guerra [nas oficinas da CIAT], não havia junção de

esforços. A CIAT discute, discute e não anda. Cada um puxando para si”.

As dimensões do Território foram sempre lembradas e até contestadas durante as

entrevistas. Algumas das reflexões feitas nesse sentido são aqui transcritas:

- “O território é grande demais e se for dividido as ações seriam melhor trabalhadas, respeitando as diferentes vocações [dos municípios]”;

- “São 3 territórios num só. No território [municípios] os comportamentos e atitudes dos agricultores familiares são diferentes”;

- “Para ter uma discussão mais clara e interligada é bom criar comissões sub-territoriais”;

- “Os 15 municípios têm muitas particularidades. Uma ponta tem clima mais seco, solo argiloso, o linguajar diferente. A outra tem solo menos argiloso, têm mais nordestinos”;

- “O território é muito grande e os municípios com particularidades bem próprias. Ulianópolis e Paragominas não têm nada a ver com os outros”.

O MDA foi deflagrador do processo de territorialização, mas até hoje “é um

gargalo”, comentaram. Foram designados R$ 800.000,00 (oitocentos mil reais) para a

execução de projetos no Território, porém a burocracia, a inadimplência de muitos dos

municípios que o compõem e a falta de experiência das agências bancárias em lidar com

gestão territorial foram realçadas como gargalos.

A falta de comunicação entre os governos municipais e, entre estes e os

movimentos sociais foi ressaltado quando apontaram a necessidade de maior envolvimento

e colaboração das lideranças locais e institucionais, inclusive para acompanhar a gestão

territorial considerada “adormecida”.

131

“A fraca organização e a excessiva ingerência da política [políticos] traz em

conseqüência uma má gestão” analisaram e resumiram os atores territoriais.

Finalmente, o Agrofuturo e mais especificamente o Núcleo é visto como

“combustível” e acelerador do processo de territorialização. Escutou-se: a CIAT começa a

funcionar quando o Núcleo Piloto chegar à região. Ela ficou muito tempo parada. Um faz

funcionar o outro”

Porém, outro ator retomou a questão partidária na sua fala: “o Agrofuturo pode vir

a fortalecer a CIAT. As prioridades devem ser tomadas na CIAT senão cai na briga das

prefeituras. Essa disputa pode acontecer”.

3.2 – Apropriação da estratégia de territorialização por parte dos atores

A aplicação da política de territorialização e a indução ocasionada pelos fundos de

investimento do MDA conduziram à formação de parcerias que incluíram diversas

instituições públicas e privadas, paralelamente à instalação da CIAT, com o objetivo de

obter ganhos conjuntos, isto é, serem propagadores de desenvolvimento nos 15 municípios

do Território. Isso significou, na teoria, exigir maior comunicação entre os municípios e

suas instituições. Porém, na prática, a fragmentação e a distâncias tanto físicas como

econômicas, político-partidárias e culturais têm impedido a aproximação e o atendimento

das demandas municipais com repercussão territorial. O trecho de uma das entrevistas

sublinha este assunto: “o [nosso] raio de atuação é limitado, com pouca mobilidade para

trabalhar com formação, apoio a atividades produtivas. A área [do território] é muito

grande”.

Outro entrevistado apontou preocupação com as metas de capacitação colocadas

nos diversos projetos quando afirmou: “capacitar por capacitar não tem efeito nenhum.

Devem ser levantadas as demandas e as aptidões” dos municípios e de suas comunidades

sejam elas ribeirinhas, quilombolas, indígenas ou de assentados, pobres ou ricas, como

Nova Esperança do Piriá e Paragominas, acrescentaram.

Uma das falas revela essa situação: “eu percebo certo gigantismo na questão de

território. Os municípios estão em estágios diferentes”. E outro entrevistado, no mesmo

sentido, pergunta: “não seria estratégico fazer divisões menores, com equipes voltadas

132

para cada região? Os níveis de agricultura são diferentes, a região norte [do território] é

diferente da região sul”.

A apropriação da estratégia de territorialização ainda não aconteceu. As razões em

parte foram acima colocadas. Outras, também mencionadas, dizem respeito à falta de

atuação da CIAT, à falta de socialização das informações, à extensão do Território, à

população numerosa, às migrações, às baixas taxas de escolaridade. Enfim, como

apontaram durante as entrevistas coletivas: “a região do nordeste paraense precisa

trabalhar a conscientização para eles [população local] verem que pode dar certo e assumir

compromissos”, ou seja, a estratégia de territorialização carece de instrumentos que a

viabilizem.

3.3 - Conceito de núcleo

Os entrevistados, na sua maioria, mostraram interesse por este espaço, sobretudo

por ser visto como elemento agregador das ações territoriais.

Esse interesse também reflete uma busca de maiores informações sobre o Núcleo

Piloto já que muitos demandaram maiores detalhes sobre seu funcionamento e parcerias.

Há pouco incentivo à convergência de esforços e à otimização de recursos entre as

prestadoras de serviço. Inclusive – apesar do desconhecimento dos critérios de escolha e

instalação do núcleo, relataram haver certo “ciúme” entre as futuras entidades parceiras

do Agrofuturo: “acho que cada um dos atores institucionais dentro do território está

dando tiro para os lados. A questão política das prestadoras atrapalha. As articulações se

dão mais pelas pessoas do que pelas instituições” observou um dos informantes.

Quiçá a concentração de vários dos projetos em municípios repetidamente

beneficiados, que concentram não só os recursos financeiros, mas, sobretudo os olhares

dos técnicos e dos poderes locais, seja uma das razões dessa desarmonia entre algumas

das entidades-líder. As palavras de um dos entrevistados explicaram melhor esta situação:

“hoje os assentamentos são disputados pelos técnicos. Aqui os técnicos já estão sobrando”.

O cuidado, disse outro, é “para não ser [o Núcleo] mais uma coisa que chega ao Território”.

Qual o ponto forte da instalação do Núcleo Piloto no Território? Foi uma das

questões indagadas nas entrevistas. Várias das respostas são aqui retomadas:

133

- “Eu vejo o Núcleo Piloto como principal ponto de apoio para as ações territoriais e daqui a 5 anos, se a gente conseguir fazer a tal integração, o território estará funcionando”;

- “Acho que o Núcleo Piloto pelo número de pessoas e pela área territorial é pouco. Mas se a gente conseguir integrar a CIAT, a gente consegue”;

- “Eu garanto que o agricultor não vem atrás de informação. Ai não tem resultado prático. Tem que levar a tecnologia para cada ponto, para cada agricultor familiar”;

- “A primeira coisa é metodologia participativa, ou seja, ouvir mais do que falar. Temos que ouvir o que eles [agricultores familiares] têm a falar. Mas em contrapartida não podemos chegar lá e dizer temos xis dinheiro e perguntar que tu queres? Não é jogar para eles a responsabilidade de decisão”;

- “Não é apenas transferência de saberes, deve agregar tecnologia e jamais esquecer a capacitação e o acompanhamento. É importantíssima a troca de informações entre os atores envolvidos. Falar a mesma linguagem”;

- “Ideal seria visitar as experiências para orientar e ver como a gente faz. Aprendendo na prática”;

- “Não basta fazer mais um núcleo piloto. Os técnicos têm que estar diretamente envolvidos. A informação deve ser gerida de fora para dentro”.

3.4 - Identidade expressada

Um argumento bastante usado pela comunidade territorial para definir a identidade

foi a predominância da agricultura familiar. A cultura da mandioca, em especial, traz uma

marca que se expressa na farinha usada no dia-a-dia.

Embora parte dos atores considerasse que a imensidão do Território revela traços

de uma identidade que se constrói nas particularidades de cada município, há um

sentimento forte de identificação com os assentamentos do Território, como um todo.

As riquezas da floresta e suas potencialidades, mesmo que fragilizadas, são na

opinião de muitos dos entrevistados elementos de identidade.

134

4 - Ações

4.1 - Instituições envolvidas

Os atores mais envolvidos desde o início do processo de territorialização foram: o

STRs (mais atuantes Aurora do Pará, Mãe do Rio, Capitão Poço, Santa Luzia do Pará e São

Domingos do Capim). Os menos atuantes foram Ipixuna e Dom Eliseu, segundo os

entrevistados. Também participaram as Associações de Agricultores e o Movimento das

Mulheres do Nordeste Paraense - MMNEPA. As Secretarias de Agricultura com maior

destaque, tanto pela atuação como pela representatividade, foram as de Paragominas e

Santa Luzia do Pará. A Fundação Sócio Ambiental do Nordeste Paraense - FANEP e a

EMATER, são, atualmente, consideradas importantes e atuantes no Território.

O ambiente institucional é bastante diversificado, com relações ora conflitantes,

ora harmoniosas. A maneira como as instituições se articulam e o tipo de relações que se

estabelecem entre elas é refletida no mapa institucional construído a várias mãos.

A atividade consistiu na composição gráfica das relações institucionais. Constam

somente as instituições selecionadas, por consenso, como as mais representativas do

Território. Cada uma das quatorze (14) instituições selecionadas foi analisada de acordo

com o seguinte critério: seta em dois sentidos (boa interlocução), seta em um só sentido

aponta a direção em que ocorre mais frequentemente a comunicação (interlocução regular),

linha pontilhada (interlocução comprometida).

Em escala territorial cinco instituições foram consideradas como mais importes, por

consenso, para ocupar o centro do mapa institucional, a saber: o MDA, a EMATER, o GTA,

a FANEP e a FETAGRI.

Seguem em ordem de importância, os Bancos e o MMNEPA. Mas distantes

encontram-se a SEMAGRI, o COODERSUS, o INCRA e a EMBRAPA.

No antepenúltimo círculo observa-se a SAGRI, no último o SEBRAE e fora dos

círculos, a CONAB considerada na visão dos participantes uma aliada forte no futuro do

Território.

As instituições localizadas no centro do desenho mantêm relaciones de diálogo,

identificadas com as setas em duplo sentido. E, são responsáveis, em maior ou menor grau,

da formação do Território do Nordeste Paraense, com exceção da EMATER e da FETAGRI

135

cuja comunicação está representada por uma linha pontilhada que expressa seus

desencontros.

Também se observam “ruídos” na comunicação da EMBRAPA, SAGRI, SEBRAE e

SEMAGRI expressados pela interlocução comprometida das linhas não contínuas.

Ressalta no mapa a comunicação considerada excelente e representada com setas

de traços mais fortes de quatro das instituições listadas (INCRA, FETAGRI, FANEP e

MMNEPA).

136

Figura 17 – Mapa Institucional do Território do Nordeste Paraense

A seguir, transcrevem-se trechos das falas geradas durante as coletivas, expondo

assim, as impressões dos participantes enquanto construíam o mapa institucional.

INCRA

Está distante da discussão territorial, não participa das reuniões. Nunca colocou

representante na CIAT. Mas a ação do INCRA tem sido grande nos assentamentos.

EMBRAPA

De outubro/novembro do ano passado para cá, temos visto a EMBRAPA. Tem desenvolvido

ações através do PROAMBIENTE. Desenvolve experimentos e tecnologias em parceria com

outras instituições. Em Paragominas já fez muito trabalho, mas não conseguiu a

137

transferência para a agricultura familiar, é só agricultura empresarial. Em São Domingos

do Capim tem ações pontuais.

SEBRAE

Atua em Mãe do Rio, Paragominas. Precisa entrar nas ações do Território. SEBRAE diz:

aquilo é meu e é dele! A EMBRAPA e o SEBRAE têm parceria através de projetos de

divulgação de tecnologia (vitrine), muito pontual.

SAGRI

A SAGRI emperrou tudo. Está atuando, mas não resolve nada.

GTA

O Grupo de Trabalho Amazônico tem uma regional no Território. Fazem parte do núcleo

diretivo e técnico da CIAT. É conhecido pelo trabalho com o meio ambiente. Tem parceria

com a FANEP e os STRs. Participa dos encontros desde o início do Território.

MMNEPA

Está incorporando as questões de gênero com dificuldade. Mas as mulheres estão tendo

um espaço de participação. A relação do MMNEPA e a FANEP é intima.

FANEP

Tem atuação pioneira no Território através da assistência técnica. Está na região desde

1997. Possibilitou a acordada da EMATER. Levantou as demandas do Plano de

Desenvolvimento do Território.

SEMAGRI

Todas fracas. Mandamos convites para participar das reuniões, mas depende muito das

limitações partidárias.

138

FETAGRI

Já cobrou informações do Agrofuturo. Reúne cerca de 15 sindicatos. Deve-se rezar na

cartilha deles. A FETAGRI e a EMATER são os “coronéis” do Território.

COODERSUS

Concentra suas ações nos assentamentos de Irituia, Mãe do Rio, Aurora do Pará e Ipixuna.

Dá assistência técnica em aproximadamente 14 assentamentos atendendo mais ou menos 3

mil famílias. A COODERSUS trabalha em parceria com o INCRA já que presta assistência

técnica em assentamentos da reforma agrária. Pode vir a contribuir dentro da CIAT, foi

convidada a participar mais. Tem parceria com secretarias municipais (SEMAGRIs) que

envolvem áreas de atuação comum.

MDA

Foi o grande animador do processo. É grande parceiro. Dá apoio financeiro a várias

entidades do Território para ações de capacitação em agroecologia e infra-estrutura

social. Tem pouco acompanhamento da articulação e consultoria.

EMATER

Recebe apoio do MDA para trabalhar em áreas demonstrativas. Está fazendo os

diagnósticos das comunidades ribeirinhas.

CONAB

Não participa, mas tem muito a contribuir para o desenvolvimento dos agricultores

familiares, para a comercialização dos produtos.

BANCOS

O Banco da Amazônia (BASA) esteve sempre presente desde o início do processo. O

Ribamar foi muito atuante. A relação com a Caixa Econômica Federal (CEF) é encima de

projetos. A relação é difícil porque somos avaliados pela Superintendência Urbana, não

existe uma Superintendência Rural.

139

4.2 - Lideranças no território

Três instituições perfilaram-se como as lideranças mais fortes no Território, a

saber: FANEP, COODERSUS e EMATER. Todas elas foram mencionadas devido ao

trabalho de assistência técnica realizado no âmbito territorial. Neste item apenas as duas

primeiras terão destaque por não serem empresas do Estado.

A COODERSUS74 presta assistência técnica a 3.635 famílias em 14 assentamentos

dos municípios de Ipixuna do Pará (9), Mãe do Rio (1) e Aurora do Pará (4). Alguns dos

projetos por ela executados estão direcionados para a suinocultura, piscicultura,

ovinocultura, avicultura caipira, pipericultura, bovinocultura, cultivo de maracujá, cultivo

de açaí, cultivo de limão Taiti e reflorestamento,

Durante o período de 2001 a 2006 executou 1.150 projetos em Aurora do Pará,

1.121 em Ipixuna do Pará e 270 em Mãe do Rio, com recursos das linhas de crédito do

Pronaf. 75

A FANEP76 presta serviços de assistência técnica e capacitação em tecnologias

sustentáveis, ademais desenvolve atividades no âmbito do Programa de Desenvolvimento

Socio-Ambiental da Produção Familiar Rural na Amazônia – Proambiente /MMA/MDA e no

Projeto de Alternativas ao Desmatamento e Queimadas – PADEQ.

Também realiza atividades de assistência técnica junto à população dos projetos de

assentamentos de quilombolas, no município Cachoeira do Piriá (comunidades de Itamoari,

Belo Aurora, Paca e Aningal). Concentra seus esforços nos municípios de Mãe do Rio,

Aurora do Pará, Ipixuna do Pará e Capitão Poço. Em Aurora do Pará, segundo os dados da

própria Fundação, foram atendidas, no ano de 2006, 509 famílias e no município de Capitão

Poço, 352 (FANEP, 2006).

A duplicidade de ações e até a falta de comunicação entre as instituições atuantes

no território foram assuntos tratados durante a pesquisa de campo. Notou-se que as

74 Fundada em 28 de abril de 1998, tem como marco inicial a criação do Projeto Lumiar (Programa do Governo Federal de Assistência Técnica aos Projetos de Assentamentos do Incra), conta com 38 técnicos de diversas formações: veterinários, assistentes sociais, engenheiros agrônomos e engenheiros florestais.

75 Dados da COODERSUS, 2006.76 Conta com a parceria das seguintes entidades: MDA/INCRA. FETAGRI, SEMAGRI, STRs, Associação de

Produtores, MMNEPA, Ministério do Meio Ambiente -MMA e a Federação dos Órgãos para a Assistência Social e Educacional -FASE.

140

instituições não medem esforços nas tarefas pautadas, contudo muitas delas são pontuais

e em alguns casos não têm repercussão fora do raio de ação de uns poucos municípios. Ou,

como comentou um dos pesquisadores da EMBRAPA: “as demandas são iguais, mas há

diferenças culturais no território, há diferenças na colonização dos municípios que

implicam na assimilação das tecnologias de forma diferente. Isso significa utilizar

metodologias diferenciadas”.

4.3 – Conflitos

Os problemas expressam conflitos que têm origem na profunda diferença nos níveis

sociais, culturais e econômicos existentes no Território. A dinâmica do Território

Nordeste Paraense reúne tempos e espaços diferenciados entre seus municípios. De um

lado população quilombola, ribeirinha, assentada; do outro lado, municípios urbanos

inseridos na dinâmica regional com forte participação na economia, como é o caso de

Paragominas; contrastando com municípios rurais sem infra-estrutura e dependentes

econômica e institucionalmente, como por exemplo, Aurora do Pará. Este é quiçá o maior

conflito.

Outro fator gerador de conflito é pouca representatividade da CIAT. A frase dita

por um dos seus membros elucida a questão: “a CIAT na verdade sou eu, Orlando

[articulador] e o representante da FETAGRI”. Ou como disse outro entrevistado: “só há

composição, mas não participação”.

A inadimplência de algumas instituições, a situação irregular do articulador

territorial, a falta de apoio do poder público (prefeituras), a distância entre o poder

público e os movimentos sociais, a falta de organização e a multiplicação de prestadoras de

serviço que fragmentam o poder de barganha, pavimentando disputas por recursos públicos

e áreas de atuação pulverizando esforços, foram dentre outras, as situações de conflito

mais mencionadas.

5 - Resultados

5.1 - Formação de capacidades

141

A COODERSUS tem ministrado no último ano cerca de 80 cursos aos agricultores

familiares dos Projetos de Assentamento da Reforma Agrária nas mais diversas áreas:

produtiva (derivados do leite, casas de farinha, manejo de rebanho, pipericultura,

hortaliças), social (cooperativismo e associativismo) e de educação ambiental (mudas e

viveiros).

A Associação de Agricultores da Casa Familiar Rural – CFR, a Escola de Formação

para Jovens Agricultores - ECRAMA, em Santa Luzia do Pará e, a Escola Familiar Rural de

Capitão Poço são projetos de “intenção” de capacitação em educação rural, ou seja,

dependem da liberação de recursos que permitam colocá-las em funcionamento.

Estas são apenas algumas das experiências em “sala de espera” encontradas no

vasto território. Impossível resumir todas elas em tão pouco espaço.

As agências prestadoras de serviço (FANEP e COODERSUS) incluem nas suas

agendas a capacitação seja por intermédio de cursos teóricos, seja através de

experiências de campo. Este parece ser um aspecto positivo embora existam dificuldades

provocadas pelas distâncias, pela falta de comunicação e pela falta de estratégias

diferenciadas para tratar as necessidades e realidades dos atores localizados em sub-

regiões do Território.

Ao que parece esta é uma inquietação de pesquisadores e técnicos envolvidos com

projetos e programas instalados no Território. Veja-se, a seguir uma das afirmações que

melhor resume essa preocupação: “A gente trabalha nossas cabeças, a questão

participativa, a linguagem. Temos que ter sensibilidade. Isso me preocupa, temos que

discutir com o pessoal interno e não levar tanta paulada na base”.

5.1.1 – Educação

A Tabela 45 registra uma taxa de alfabetização territorial de 64,5 % para uma

população de cinco anos de idade ou mais. Do percentual total, 53,9 % corresponde à área

urbana e 46,1% à área rural.

Os municípios com as maiores taxas de alfabetização são: Paragominas (74,1%),

Irituia (72,1%), Mãe do Rio (71,6%) e São Miguel do Guamá (71,5%). A menor taxa

pertence ao município Cachoeira do Piriá (44,4 %).

142

TABELA 45 - Território do Nordeste ParaensePopulação alfabetizada (5 anos ou mais de idade)

População Total(5 anos ou mais)

População alfabetizada (5 anos ou mais de idade)

Município População Taxa de

Alfabetização(%)

Total Urbano (%)

Rural (%)

Aurora do Pará 16.712 56,7 9.483 30,7 69,3Cachoeira do Piriá 13.079 44,4 5.810 21,9 78,1Capitão Poço 43.000 59,0 25.381 47,8 52,2Dom Eliseu 33.959 67,7 22.994 62,7 37,3Garrafão do Norte 20.392 49,9 10.173 36,3 63,7Ipixuna do Pará 21.273 58,0 12.342 24,4 75,6Irituia 26.525 72,1 19.135 22,5 77,5Mãe do Rio 22.112 71,6 15.834 75,2 24,8Nova Esperança do Piriá 15.632 48,9 7.639 32,9 67,1Ourém 12.562 67,6 8.487 51,0 49,0Paragominas 65.588 74,1 48.575 80,8 19,2Santa Luzia do Pará 16.551 59,7 9.878 49,9 50,1São Domingos do Capim 23.024 60,0 13.804 28,5 71,5São Miguel do Guamá 35.795 71,5 25.609 65,1 34,9Ulianópolis 16.454 70,3 11.562 65,8 34,2

Total 382.658 64,5 246.706 53,9 46,1Total dos Territórios no Estado 1.742.381 72,7 1.265.926 61,0 39,0

IBGE. Censo Demográfico (2000). Fonte: SDT/MDA - SIT

5.2 - Plano (processo e estado atual)

O Território do Nordeste Paraense obteve investimentos do Ministério de

Desenvolvimento Agrário - MDA na ordem de R$ 886.311,30 para a execução de cinco

projetos, três em 2004 e dois em 2006.

Tabela 46 - Território Nordeste Paraense – PA

Investimentos da SDT/MDA

Ano Número de Projetos Valor (em R$)

2004 3 840.063,30

2006 2 46.248,00

Total Território 5 886.311,30

Fonte: SDT/MDA – SIT

Os municípios beneficiados no ano de 2004 foram Aurora do Pará, Capitão Poço,

Ipixuna do Pará, Irituia, Mãe do Rio, Ourém, Santa Luzia do Pará, São Domingos do Capim,

São Miguel do Guamá. Estes nove municípios desenvolveram ações idênticas destinadas ao

cumprimento de quatro focos: i) agroindústrias de mel, ii) infra-estrutura para

143

piscicultura, iii) fortalecimento das Casas Familiares Rurais e, iv) implantação de Pólos da

Comissão de Implantação das Ações Territoriais - CIAT (Tabela 47).

Também houve distribuição de aplicações destinadas apenas a ações territoriais, ou

seja, promoção de gestão participativa e elaboração de planos de desenvolvimento

sustentável coordenadas pela Federação dos Órgãos para a Assistência Social e

Educacional - FASE e a Federação dos Trabalhadores na Agricultura - FETAGRI.

Tabela 47 - Território Nordeste Paraense – PA

Ações da SDT - Ano 2004

Proponente Localização Valor (em R$) Objeto

Federação de Órgãos para Assistência Social e Educacional

Nordeste Paraense 41.000,00

Ações básicas para elaboração dos planos de desenvolvimento dos territórios rurais nos estados da região norte.

Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Estado do Pará

Nordeste Paraense 53.248,00

Promover processos de mobilização para a gestão participativa do desenvolvimento sustentável dos territórios rurais.

Secretaria Executiva de Estado de Agricultura Mãe do Rio 17.600,00

Apoio à implantação de uma agroindústria de mel e derivados apícolas e de infra-estrutura para piscicultura, fortalecimentos de casas familiares rurais e implantação de pólos da CIAT.

Secretaria Executiva de Estado de Agricultura Irituia 161.561,99

Apoio à implantação de uma agroindústria de mel e derivados apícolas e de infra-estrutura para piscicultura, fortalecimentos de casas familiares rurais e implantação de pólos da CIAT.

Secretaria Executiva de Estado de Agricultura

Capitão Poço 160.846,30

Apoio à implantação de uma agroindústria de mel e derivados apícolas e de infra-estrutura para piscicultura, fortalecimentos de casas familiares rurais e implantação de pólos da CIAT.

Secretaria Executiva de Estado de Agricultura

Aurora do Pará 46.200,00

Apoio à implantação de uma agroindústria de mel e derivados apícolas e de infra-estrutura para piscicultura, fortalecimentos de casas familiares rurais e implantação de pólos da CIAT.

Secretaria Executiva de Estado de Agricultura

São Domingos do Capim

46.200,00

Apoio à implantação de uma agroindústria de mel e derivados apícolas e de infra-estrutura para piscicultura, fortalecimentos de casas familiares rurais e implantação de pólos da CIAT.

Secretaria Executiva de Estado de Agricultura

Ipixuna do Pará 150.522,74

Apoio à implantação de uma agroindústria de mel e derivados apícolas e de infra-estrutura para piscicultura, fortalecimentos de casas familiares rurais e implantação de pólos da CIAT.

Secretaria Executiva de Estado de Agricultura Ourém 99.084,27

Apoio à implantação de uma agroindústria de mel e derivados apícolas e de infra-estrutura para piscicultura, fortalecimentos de casas familiares rurais e implantação de pólos da CIAT.

Secretaria Executiva de Estado de Agricultura

Santa Luzia do 17.600,00 Apoio à implantação de uma agroindústria de mel e

derivados apícolas e de infra-estrutura para piscicultura,

144

Pará fortalecimentos de casas familiares rurais e implantação de pólos da CIAT.

Secretaria Executiva de Estado de Agricultura

São Miguel do Guamá 46.200,00

Apoio à implantação de uma agroindústria de mel e derivados apícolas e de infra-estrutura para piscicultura, fortalecimentos de casas familiares rurais e implantação de pólos da CIAT.

Total Ano 840.063,30 Fonte: SDT/MDA (2006).

Em contrapartida no ano de 2006 os recursos investidos pelo MDA estiveram

concentrados exclusivamente em duas ações. A primeira, contemplada como territorial

centrada no apoio ao funcionamento dos escritórios da CIAT e ao levantamento das

necessidades educacionais do Território. A segunda priorizou o armazenamento e

comercialização de feijão - caupi no município de Ourém como se desprende da Tabela 48.

Tabela 48 - Território Nordeste Paraense – PA

Ações da SDT - Ano 2006

Proponente Localização Valor (em R$) Objeto

Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Estado do Pará

Nordeste Paraense - PA

22.000,00Apoio ao funcionamento dos escritórios da CIAT/Levantamento das necessidades educacionais do Território.

Prefeitura Municipal de Ourém Ourém 24.248,00 Apoio ao armazenamento e comercialização de feijão-caupi.

Total Ano 46.248,00

Fonte: SDT/MDA (2006).

Os principais eixos integradores sobre os quais se debruçam as ações territoriais

são:

- Educação/capacitação: Casa Familiar Rural e Projeto Todas as Letras apoiado pelo

Programa Nacional de Geração de Emprego e Renda – PRONERA;

- Produção: Infra-estrutura produtiva com ênfase com na suinocultura, apicultura,

piscicultura, olericultura, avicultura e na ovinocultura;

- Saneamento Básico com atenção especial à reciclagem do lixo doméstico e incentivo

à compostagem do lixo orgânico;

- Ambiental: recuperação de áreas degradadas com mudas e viveiros.

145

Neste quadro promissor de atividades territoriais muitas ações ainda nem foram

iniciadas. Aqui novamente observa-se o descompasso entre o Plano e a real implementação

das ações, muitas delas sujeitas à liberação de recursos, ao jogo de poderes e à ausência

de gestão.

5.3 - Avanços no ciclo de gestão social

Embora haja críticas sobre o processo de desenvolvimento territorial, vários pontos

foram apontados como positivos. O primeiro foi a capacitação dada aos agricultores

familiares pelas entidades de assistência técnica apesar da oferta ainda ser limitada. O

segundo refere-se ao despertar para as responsabilidades ambientais e, por último, a

atenção das políticas do MDA para as chamadas minorias sociais.

Não resta dúvida que o melhor exemplo de avanços na gestão social está ancorado na

prática de enfoques alternativos baseados na agroecologia e, no sentimento de

protagonismo do agricultor familiar, concluíram os entrevistados. Esse “clima de ganhos”

ainda não é totalmente satisfatório, apontaram os atores locais, já que procuram novas

soluções para antigos problemas como a comercialização, a falta de agroindústrias e de

agregação de valor aos produtos regionais. Um dos entrevistados concluiu: “a gente busca

agregar, ganhar força. Vemos as coisas acontecendo”.

146

V.Considerações Finais

Com base em abordagens participativas e entrevistas foram coletadas informações

junto aos atores locais que desempenham atividades-chave no desenvolvimento territorial.

Após a análise dos dados elaborou-se um quadro diagnóstico que resume, de forma auto-

explicativa, os pontos fracos e fortes do ambiente atual.

O diagnóstico permitiu ainda a identificação, no presente, dos fatos e atores

portadores de futuro, que auxiliarão a visualização dos possíveis cenários prospectivos e a

conquista do objetivo estratégico dos núcleos-piloto (Quadro 01, 02 e 03).

Pode-se inferir dos resultados da pesquisa apresentados neste trabalho que as

capacidades, tanto internas quanto externas dos Territórios, devem predominar como

indicadores de desenvolvimento rural sustentável.

As atividades-chave de suporte da agricultura familiar, executadas pelas entidades

públicas ou privadas, no espaço territorial Grande Dourados, Sisal ou Nordeste Paraense,

devem privilegiar investimentos que conduzam à concentração de esforços de setores

relacionados à agricultura familiar nas suas diversas acepções, segundo consta no

Agrofuturo.

O objetivo que deve ser atingido, na perspectiva do Desenvolvimento Rural

Sustentável, é o reforço não só do conjunto de alianças locais, como também no sentido de

acentuar as relações tanto horizontais como verticais. Assim, ações otimizadoras que

reduzam os pontos fracos ou mesmo os superem, reforçarão a posição competitiva dos

atores territoriais.

Atenção especial também deve ser dada às oportunidades de parceria que se

apresentam nos três territórios.

No entanto, as posições competitivas dependem da capacidade dos Núcleos-Piloto

conseguirem transformar ou contornar as ameaças que afetam a capacidade de

desenvolvimento sustentável dos territórios.

Alguns dos gargalos e empecilhos comuns levantados nas entrevistas nos três

territórios emergiram como consensos:

147

A falta de socialização e promoção das atividades realizadas pelos diferentes

órgãos públicos e privados de abrangência territorial;

As dificuldades burocráticas de repasse de recursos federais, estaduais e

municipais para execução das ações territoriais;

As dificuldades burocráticas para a assinatura de convênios e parcerias entre

instituições governamentais e prestadoras de serviços, entre ministérios e

secretarias;

A replicabilidade de ações e projetos direcionados ao desenvolvimento rural

sustentável ou a falta de complementaridade entre eles;

A falta de gestão das ações territoriais impulsionadas pelas Comissões de

Instalação das Ações Territoriais, Conselhos ou Agências;

A falta de definição dos beneficiários das ações territoriais ou a

concentração em apenas um segmento destes;

A falta de articulador territorial ou a alta rotatividade dos mesmos

prejudicando o repasse das informações e a tomada de decisões de

importância para o coletivo;

A falta de acompanhamento das ações realizadas no território;

A falta de assistência técnica enquanto ação geradora de cidadania;

A falta de sistemas de avaliação qualitativa interna à gestão territorial no

âmbito das instituições responsáveis;

A “dança das cadeiras” de gerentes, coordenadores e secretários por força da

política partidária;

A duplicação de funções ou indefinição dos papéis das lideranças territoriais;

A falta de autonomia nos processos de decisão das equipes responsáveis de

projetos de âmbito territorial;

A baixa articulação entre municípios ou concentração das ações em poucos;

A falta de credibilidade junto ao público alvo de novos programas e projetos;

148

A multiplicação de diagnósticos e estudos cujos resultados não foram

repassados nem validados entre os beneficiários;

A falta interface entre os inúmeros programas e projetos de âmbito

territorial;

O diagnóstico aqui apresentado permitiu obter informações referentes à

identificação e qualificação das instituições territoriais, para o acompanhamento de

responsabilidades de gestão dos Núcleos-Piloto, por intermédio das capacidades técnicas

presentes nos municípios e dos processos que se espera gerem as ações estratégicas dos

Núcleos.

Assim, algumas recomendações emergem e precisam destaque:

1. Distinguir os níveis de apropriação dos princípios e objetivos dos Núcleos por

parte dos atores territoriais públicos e privados;

2. Identificar a geração de novos processos de planejamento expressos em

diagnósticos anteriores, planos e projetos de desenvolvimento sustentável com

enfoque na agricultura familiar;

3. Observar os novos processos de gestão dos projetos e programas de

desenvolvimento sustentável nos diferentes municípios que conformam os

territórios-foco para distinguir os projetos reais – de curto, médio e longo

prazos, das localidades com a finalidade de evitar apoiar projetos de pouco

impacto territorial ou que apenas atendam um número irrisório de agricultores

familiares;

4. Observar inquietações com respeito às dimensões territoriais – tamanho,

diversidade e heterogeneidade socioambiental da área que o compreende, no

intuito de atender as especificidades e vocações sem comprometer a visão

territorial;

5. Identificar a participação real dos agricultores familiares e das comunidades no

desenvolvimento territorial;

6. Alimentar um quadro que proporcione informações que permitam visualizar os

impactos e resultados que se derivem da implantação das ações dos Núcleos-

149

Piloto a partir de cinco vertentes includentes: a econômica, a ambiental, a social,

a institucional e a territorial.

a) A vertente econômica será dimensionada através das informações

procedentes de censos econômicos e populacionais do IBGE e informação

sistematizada de secretarias estaduais de planejamento que, na maioria dos

casos, mantém uma página atualizada na internet com dados municipais e

parcerias institucionais com vista a subsidiar ações de interesse. Os dados

do Censo Agropecuário, em curso, serão de grande valia uma vez que sejam

disponibilizados no próximo mês de agosto permitindo acesso a dados

geográficos, sociais e culturais atualizados.

b) A vertente ambiental será atingida através das ações que promovem o uso

sustentável dos recursos naturais e a conservação do meio ambiente. O

banco de dados do Ministério do Meio Ambiente - MMA e do Instituto

Brasileiro de Meio Ambiente- IBAMA são relevantes neste ponto, assim

como os dados recopilados em diversos projetos de abordagem ambiental

desenvolvidos pela Embrapa. Também os dados das secretarias municipais de

meio ambiente presentes nos territórios.

c) A vertente social será abordada por meio das ações que promovem a inclusão

social dos municípios de abrangência territorial. Observando os planos e

projetos que atendam os agricultores familiares e busquem melhorar a

qualidade de vida dos mesmos: geração de emprego e renda, acesso a

educação, saúde e saneamento básico.

d) A vertente institucional será observada através dos dados que surjam de

perguntas clássicas: quais? O que fazem? Quando? Como? Onde? Qual o

público? Com que meios? As respostas a essas questões são mapeadas e

confrontadas com os princípios e objetivos dos Núcleos-Piloto, de sorte a

eleger, entre elas (as instituições) as mais eficazes, eficientes e

transparentes para desenvolver conjuntamente as ações do componente 3 do

Agrofuturo.

150

e) A vertente territorial não é mais do que a conjugação das vertentes

anteriores e deve destacar os processos, sejam estes econômicos ou sociais

que procurem o desenvolvimento sustentável do território.

A cada uma destas vertentes correspondem macro e micro-indicadores que serão

utilizados para monitorar os municípios que compõem os três territórios selecionados para

a implantação dos Núcleos. Os micro-indicadores devem ser levantados segundo as

especificidades de cada território. Já alguns dos macro-indicadores comuns se mostram a

seguir:

Sociais:

IDHT - Índice de Desenvolvimento Humano TerritorialIDHT - Índice de Desenvolvimento Humano Territorial - Educação Mortalidade infantil até 1 ano de idade Número de leitos hospitalares Número de famílias atendidas por transferência de benefícios sociais Número de Bibliotecas Número de Ginásios de esportes e estádios Número de Escolas (ensino fundamental, médio, técnicas, agrícolas)Número de Unidades de Ensino Superior

Demográficos:Taxa de urbanização (% entre população urbana e população total)Densidade demográfica (habitantes por km2)Razão entre população masculina e população feminina População por faixa etária

Institucionais: Número médio de Conselhos Municipais Participação nos Conselhos Territoriais Transferências intergovernamentais da União

Econômicos:IDH - Índice de Desenvolvimento Humano – Renda Índice de Gini – Renda Índice de Gini – Terra Participação da agricultura no Produto Interno Bruto Rendimento médio da produção agropecuária Razão entre estabelecimentos agrícolas familiares e patronais Exportações

151

Ambientais: Abastecimento de água Disponibilidade de esgoto sanitário – rede geral Disponibilidade de coleta de lixo Drenagem dos solos Resistência à erosão Fertilidade dos solos DesmatamentosQueimadas

As recomendações e informações contidas nesta linha de base poderão subsidiar na

definição de indicadores e de estratégias - respeitando a singularidade de cada território

e dentro dele de cada município, que por sua vez permitirão o monitoramento e a constante

atualização das ações a serem empreendias de sorte a garantir:

a) Um conhecimento da dinâmica institucional (atores e ações) que envolve o

cenário (território) onde o núcleo se instala;

b) O processamento dos dados (qualitativos e quantitativos) necessários ao

cruzamento constante dos objetivos e metas com a realidade territorial e sua

utilização em planos de trabalho concretos;

c) A elaboração das saídas/alternativas de construção de futuro a partir da

instalação e funcionamento do Núcleo;

d) Uma rotina de trabalho que permita que cada ator envolvido e cada projeto

desenvolvido (nas variadas dimensões), sejam trabalhados dentro de uma

lógica territorial, porém que os resultados e avanços integrem

harmonicamente uma ação coletiva coerente a cada município;

e) Uma interação permanente com a realidade territorial que leve à correção

continua das fases anteriores. Deste modo deverão ser inseridas as mudanças

(internas/externas) que não foram ou não puderam ser observadas ou

consideradas e que podem alterar o processo de construção de futuro

(objetivos e metas dos Núcleos- Piloto);

152

Trabalha-se, então, com as fontes geradoras de eventos (atores territoriais) e suas

decorrências (ações) para facilitar o acompanhamento no tempo presente e futuro. Ou

seja, cada vez que um evento (ator territorial) ou sua decorrência (ações) se modifica, em

relação aos objetivos, metas e estratégias propostas, devem ser atualizadas permitindo

sua readequação, reduzindo desperdícios de recursos (humanos e financeiros) e

aumentando resultados positivos.

O uso de indicadores (de resultados, de eficácia ou de controle) para avaliação de

programas tem que considerar as ações e atender os objetivos neles contidos, medindo não

apenas variáveis quantitativas, mas também qualitativas geradas para esse fim. Os

indicadores não são mais do que “dedos” que sinalizam, orientam e auxiliam as tomadas de

decisão. Portanto, devem-se elaborar indicadores que atendam tanto o processo de gestão

dos territórios face a instalação dos núcleos, como indicadores de resultados. Problemas,

conflitos, integração, pontos críticos e pontos de aliança podem ser indicadores que

permitem avaliar projetos dentro de um programa.

A avaliação restrita a resultados vinculados à quantificação de eventos, cursos e

capacitações peca pela falta de observações que digam não apenas sobre o número de

beneficiários dos núcleos de informação e gestão tecnológica, mas da verdadeira

assimilação dessas informações e a real adoção de novas tecnologias. Daí a preocupação

com avaliações e monitoramentos que envolvam a parte inspiradora do componente 3 do

Agrofuturo – os atores territoriais e em especial os agricultores familiares, medindo

finalmente a qualidade dos resultados junto a estes.

153

Quadro Resumo 1 - Território Grande Dourados / MS

Dimensão Institucional

Dimensão Econômica

Dimensão Sociocultural

Dimensão Territorial

Dimensão do Conhecimento

Dimensão Ambiental

Interlocução comprometida entre os atores

Binômio Boi/soja

Pecuária de Leite

Projetos de Segurança

Alimentar com Indígenas e

Quilombolas

Gestão Participativa

Frágil

CIAT pouco atuante

Reestruturação da CIAT (Agência)

Problemas de articulação

Política de AT insuficiente

Muita demanda e pouca oferta

de AT

Pesquisas pontuais nos

assentamentos

Pouco acesso à informação

Déficit ambiental histórico

(ciclo erva-mate/ciclo soja)

Uso de Agrotóxicos

Desmatamento

Solos degradados

Poluição das águas

Situação do momento

Inicial

Identificação de Atores

Identificação de Rupturas/

Conflitos

Fatos que contribuíram

para construção do

presente

Principais processos

dinâmicos que repercutem no

presente

Identificação de Fatos

Portadores de Futuro

Descomprometimento

dos poderes locais

APOMS

MDA

Idaterra/ Agraer

EMBRAPA

Prefeituras1

Universidades2

CPT

Cooperativas

Vazio de articulação

Falta de estratégia

metodológica e gestão da CIAT

Desmotivação do Colegiado

Falta de consciência associativa

Falta de AT

Falta de metodologia de

repasse das informações

APOMSEMBRAPA

(soja/mandioca/milho)

Parceria entre MMA,

SEMMA, UEMS

Criação da Secretaria de Agricultura

Familiar -Dourados

Territorialização

Agroecologia

Plano de Estratégias de Longo Prazo-

MS-2020 (estadual)

Criação do COREDES

Desenvolvimento da Agroecologia

Resgate da CIAT com entrada do Núcleo Piloto

Escola Sítio/ Projeto Sala

Verde

Unidades de Referência

Agroflorestal

154

Quadro Resumo 2 - Território do Sisal / BA

Dimensão Institucional

Dimensão Econômica

Dimensão Sociocultural

Dimensão Territorial

Dimensão do Conhecimento

Dimensão Ambiental

Interlocução centralizada

Pecuária extensiva de

bovinos e caprinos

Sisal

Feijão mandioca /

milho

Projetos com jovens e mulheres

Rádios comunitárias

Gestão Centralizada

Falta de AT e de

Diversificação

Concentrada na recuperação

econômica do sisal

Agroecologia incipiente

Adequação de tecnologias

tradicionais da mandioca (Embrapa)

Queimadas / Derrubada da

Caatinga

Erosão/ Degradação dos

Solos

Situação do momento

Inicial

Identificação de Atores

Identificação de Rupturas/

Conflitos

Fatos que contribuíram

para construção do presente

Principais processos

dinâmicos que repercutem no

presente

Identificação de Fatos Portadores

de Futuro

Força dos Movimentos

Sociais

APAEB

EBDA

FATRES

Cooperafis

CODES

Cooperjovens

Embrapa

MDA

SEBRAE

MOC

Universidades

Coopere/

Sicoob

Crise da APAEB

Pouca Comunicação

entre CODES e APAEB

Tensão entre Sociedade Civil e Poder Público

Atritos entre Sociedade Civil

e Sociedade Civil

Organização:

APAEB

CODES

Concentração no SISAL

Territorialização

Dinâmica do CODES

APAEB

Biodiesel

Etanol

Fortalecimento do CODES

Escola Família Agrícola

Bacharelado em Comunicação

Social(UNEB/CODES)

UNISISALUniversidade Itinerante na

Trajetória do Eixo Euclidiano

155

Quadro Resumo 3 - Território do Nordeste Paraense / PA

Dimensão Institucional

Dimensão Econômica

Dimensão Sociocultural

Dimensão Territorial

Dimensão do Conhecimento

Dimensão Ambiental

Desarticulação

Pouco incentivo à

convergênciade esforços e à otimização de

recursos

Relações pessoais/

institucionais

Pecuária

Mandioca

Feijão/milho

Frutas

Indígenas

Ribeirinhos

Assentados

Quilombolas

CIAT não estruturada

Divergências

Diversidade municipal

Falta de AT

Adaptação à diversidade

Escola Familiar

Rural (intenções)

Ciclo da Borracha/Pecuarização

Desmatamento

Queimadas

Exploração madeireira

Perda da biodiversidade

Ocupação desordenada

Situação do momento

Inicial

Identificação de Atores

Identificação de Rupturas/

Conflitos

Fatos que contribuíram

para construção do presente

Principais processos

dinâmicos que repercutem no presente

Identificação de Fatos Portadores

de Futuro

Desarticulação MDA

Fetagri

Coodersus

Semagri

Incra

Sebrae

Sagri

Emater

Embrapa

Fanep

MMNEPA

Gestão Territorial

Frágil/articulador

Dimensão Territorial

Falta de diálogo entre

prestadoras de serviço

Apenas repasse de recursos

Histórico de Frente

Pioneira

Presença da Embrapa

Presença de Ongs

Presença do MDA

Programas deDesenvol.

Socio-ambiental

Proambiente/Floagri/ Padec

Instalação de Ongs

Programas de Desenvolvimento Socioambiental

Transição para agroecologia:

milho verde/feijão/mandioca

156

VI.Referências

ABREU, S. Planejamento governamental: A SUDECO no espaço mato-grossense. Contexto, propósitos e contradições. (Tese Doutorado em Geografia). São Paulo, USP, 2001.

ARAUJO, M. A contribuição da Embrapa para a implantação da política de desenvolvimento sustentável no Plano Plurianual (PPA) 2000-2003. Brasília: UnB- Centro de Desenvolvimento Sustentável, 2004. 124p.

BAHIA. Plano Safra Territorial do Sisal. Secretaria de Desenvolvimento Territorial do Ministério de Desenvolvimento Agrário - SDT/MDA e Secretaria de Segurança Alimentar do Ministério de Desenvolvimento Social - MDS, abril de 2006. 20 p.

BAHIA. Estudo da Base Econômica Territorial/Território do Sisal, MDA, junho de 2005. 49p.

BAHIA. “Desenvolvimento Territorial na Bahia”. Caderno Informativo, Conceitos & Metodologias. Salvador, Bahia: MDA, 2005. CD-Rom.

CAMPESTRINI, H. & GUIMARÃES, A. História de Mato Grosso do Sul. Campo Grande / MS: Instituto Histórico e Geográfico de Mato Grosso do Sul, 2002. 287p.

CARVALHO, O. “Nordeste Semi-árido: nova delimitação” In: Boletim Regional Informativo da Política de Desenvolvimento Regional. Ministério da Integração Nacional, Brasília, nº. 1, 2006. pp. 8-17.

COMAR, V. Relatório Articulação Territorial. IMAD/CIAT Grande Dourados, 2006. p102.

ECHEVERRI PERICO, R. & MOSCARDI CARRARA, E. Construyendo el desarrollo rural sustentable en los territorios de México. México: Instituto Interamericano de Cooperación para la Agricultura- IICA, 2005. 283p.

IBGE. Pesquisa Agrícola Municipal, 2004.

MATO GROSSO DO SUL. Plano Safra Territorial Grande Dourados. Fundação Candido Rondon, s/d. 75p

MILANEZ, A. Estudo Propositivo Território Grande Dourados. Fundação Cândido Rondon, 2005. 76p.

PARÁ. Planejamento do Desenvolvimento do Território Rural do Nordeste Paraense FANEP, 2006.

157

PARÁ Estudo da Dinamização da Economia do Território Nordeste Paraense. Secretaria de Desenvolvimento Territorial do Ministério de Desenvolvimento Agrário - SDT/MDA, agosto de 2005.

PARÁ. Banco de Dados. INCRA/IDAM/COODERSUS. 2006.

PARÁ. Relatório FANEP. Aurora do Pará, 2006.

PARÁ. Perfil dos Territórios Rurais- Território Nordeste Paraense – PA. Secretaria de Desenvolvimento Territorial do Ministério de Desenvolvimento Agrário - SDT/MDA, 2006.

SAYAGO, D., TOURRAND, J. F. , BURSZTYN, M. Amazônia: cenas e cenários. Brasília: Universidade de Brasília, 2004. 282p

SOUZA, R. “Agricultura familiar e pluriatividade no semi-árido baiano” In: Bahia Análise & Dados. Salvador: Superintendência de Estudos Econômicos e Sociais da Bahia - SEI v. 13 n◦ 4, março de 2004. 1024p.

SUPERINTENDÊNCIA DE ESTUDOS ECONÔMICOS E SOCIAIS DA BAHIA. Análise Territorial da Bahia Rural. Salvador: SEI, 2004. (Série Estudos e Pesquisas). 222p.

SUPERINTENDÊNCIA DE ESTUDOS ECONÔMICOS E SOCIAIS DA BAHIA. Recentes Transformações do Rural Baiano. Salvador: SEI, 2003. (Série Estudos e Pesquisas). 70p. VASCONCELOS DIAS, W et. al. Territórios de Identidade: um novo Caminho para o Desenvolvimento Rural Sustentável na Bahia. Bahia, Feira de Santana: Gráfica Modelo, Coordenação Estadual de Territórios - CET, 2006. 119p.

VEIGA, J.B. et.al. Expansão e Trajetórias da Pecuária na Amazônia. Brasília: Editora Universidade de Brasília, 2004. 161p.

WAQUIL, P. et.al. Para medir o desenvolvimento territorial rural: validação de uma proposta metodológica. Projeto de Pesquisa (SDT/MDA/IICA), 2007. 21p.

158

VII. ANEXOS

I. Território Grande Dourados – Mato Grosso do Sul

II. Território do Sisal - Bahia

III. Território do Nordeste Paraense - Pará

159

Anexo I

Território Grande Dourados – Mato Grosso do Sul/MS

Lista de entrevistados:

1 - Huberto Noroeste dos Santos Paschoalick Instituição: Prefeitura Municipal de Dourados Cargo: Secretario Municipal de Agricultura Familiar

2 - Olácio Mamoru Kamori Instituição: Associação dos Produtores Orgânicos de Mato Grossodo Sul – APOMS Cargo: Coordenador Técnico

3 - Milton Parron Padovam Instituição: Embrapa Dourados/MSCargo: Pesquisador

4 - Mauro Pedroso Pellegrin Instituição: Instituto de Desenvolvimento Agrário, Assistência Técnica e Extensão Rural de Mato Grosso do Sul/IDATERRA.Cargo: Técnico

5- José Carlos DiagonéInstituição: IDATERRA Cargo: Coordenador Técnico Regional

6 - Auro Akio OtsuboInstituição: Embrapa – Agropecuária Oeste/MSCargo: Pesquisador

7 - Vito ComarInstituição: Instituto de Meio Ambiente e Desenvolvimento - IMAD Cargo: Coordenador de Pesquisa

8 - Gerson Pereira Dias Instituição: Secretaria de Meio Ambiente da Prefeitura Municipal de Jateí Cargo: Secretario de Meio Ambiente

9 - Sérgio Luiz Gasparin Pimentel Instituição: Cooperativa de Leite - COOPALEITE . Município Glória de DouradosCargo: Médico Veterinário

10 - Edwin BaurInstituição: IDATERRACargo: Agente de Desenvolvimento Rural

11 - Pedro Luiz de SouzaInstituição: Associação dos Produtores Orgânicos de Mato Grosso do Sul - APOMS Cargo: Coordenador Social de Informação

160

12- Bernardino da Costa BezerraInstituição: Secretaria de Meio Ambiente até dezembro de 2006Cargo: Pesquisador da Embrapa

13- Silvana Lucato Moretti Instituição: Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul - UEMS Cargo: Professora

14- Vanilton Camacho da CostaInstituição: Comissão Pastoral da Terra – CPT/DouradosCargo: Coordenador Estadual

161

Território Grande Dourados - MSAções da SDT Ano 2003

Proponente Localização

Valor(em R$) Objeto

Prefeitura Municipal

de DeodápolisDeodápolis 50.984,94

Obras de infra-estrutura de produção e capacitação de

agricultores familiares.Prefeitura Municipal

de DouradinaDouradina 28.505,22

Aquisição de equipamentos para armazenamento de leite

resfriamento e capacitação de produtores de leite.Prefeitura Municipal

de DouradosDourados 38.238,70

Aquisição de equipamentos para armazenamento de leite

resfriado e capacitação de produtores de leite.Prefeitura Municipal

de DouradosDourados

165.273,5

0Construção de miniusina de pasteurização de leite.

Prefeitura Municipal

de Fátima do Sul

Fátima do

Sul44.101,84

Adequar a miniusina de leite através da aquisição de

equipamentos.Prefeitura Municipal

de Glória de Dourados

Glória de

Dourados42.757,82

Capacitação de agricultores, aquisição de tanques

resfriadores de leite com capacidade para 2000 litros.Prefeitura Municipal

de ItaporãItaporã 42.757,83

Aquisição de equipamentos para armazenamento de leite

resfriado e capacitação de produtores.Prefeitura Municipal

de JateíJateí 42.757,82

Capacitação dos agricultores familiares, aquisição de

tanques de expansão com capacidade de 2000 litros.Prefeitura Municipal

de Rio Brilhante

Rio

Brilhante53.997,80

Aquisição de equipamentos para a melhoria da produção e

cursos de capacitação.

Prefeitura Municipal

de CaarapóCaarapó 57.010,44

Aquisição de equipamentos para armazenamento de leite

resfriado de leite resfriado e capacitação de produtores de

leite.Prefeitura Municipal

de JutiJuti 42.757,80 Aquisição de tanques de expansão de leite in "natura".

Prefeitura Municipal

de VicentinaVicentina 30.127,26

Aquisição de tanques de expansão, para serem utilizados

pelos agricultores familiares.

Total Ano 639.270,97

Fonte: SDT/MDA (2006).

Território Grande Dourados - MSAções da SDT Ano 2004

Proponente Localização Valor Objeto

162

(em R$)

Instituto do Meio Ambiente e Desenvolvimento

Grande Dourados - MS

32.839,10Promover a troca de experiência entre agricultores familiares visando a profissionalização de suas atividades e suas organizações.

Instituto do Meio Ambiente e Desenvolvimento

Grande Dourados - MS

53.740,00Promover processos de mobilização para gestão participativa do processo de Desenvolvimento sustentável e apoiar o funcionamento do núcleo executivo.

Prefeitura Municipal de Deodápolis Deodápolis 41.925,00 Apoio à infra-estrutura de produção.

Prefeitura Municipal de Douradina Douradina 41.925,00 Apoiar a bovinocultura de leite.

Prefeitura Municipal de Dourados Dourados 30.100,00 Apoiar a bovinocultura de leite.

Prefeitura Municipal de Glória de Dourados

Glória de Dourados 41.925,00 Apoio à bovinocultura de leite e curso de agroecologia.

Prefeitura Municipal de Itaporã Itaporã 54.152,87 Apoio ao cooperativismo, bovinocultura de leite através de

agroindústria demonstrativa.Prefeitura Municipal de Jateí Jateí 74.331,00 Apoio à atividade agropecuária através da aquisição de trator.

Prefeitura Municipal de Rio Brilhante

Rio Brilhante 54.411,75 Apoio à bovinocultura de leite e aquisição de botijão de

acondicionamento de sêmen.Prefeitura Municipal de Caarapó Caarapó 39.775,00 Apoiar a bovinocultura de leite no município de Caarapó

através de veículo e implementos. Prefeitura Municipal de Juti Juti 52.675,00 Apoio à produção na aquisição de uma plantadeira e

capacitação dos agricultores na bovinocultura.Prefeitura Municipal de Vicentina Vicentina 30.100,00 Apoio às ações territoriais para agricultores familiares

Total Ano 547.899,72 Fonte: SDT/MDA (2006).

163

Território Grande Dourados - MSAções da SDT Ano 2005

Proponente Localização Valor (em R$) Objeto

Instituto de Meio Ambiente e Desenvolvimento

Grande Dourados - MS

37.797,37 Diagnóstico Ambiental, aprimoramento e visita técnica.

Prefeitura Municipal de Deodápolis Deodápolis 19.873,13 Apoio na área ambiental mediante aquisição de

equipamentos e produção de mudas.Prefeitura Municipal de Douradina Douradina 19.873,13 Apoio na área ambiental mediante aquisição de

equipamentos e produção de mudas.Prefeitura Municipal de Dourados Dourados 20.282,51 Apoio na educação ambiental e recuperação

ambiental em Dourados.

Prefeitura Municipal de Fátima do Sul

Fátima do Sul 19.873,13

Apoio na área ambiental mediante aquisição de equipamentos para promover a educação ambiental do viveiro do município.

Prefeitura Municipal de Glória de Dourados

Glória de Dourados 19.873,13 Apoio na área de educação ambiental.

Prefeitura Municipal de Itaporã Itaporã 23.704,81 Apoio na área ambiental mediante aquisição de

equipamentos para promover a educação ambiental.

Prefeitura Municipal de Jateí Jateí 28.100,00 Apoio na área ambiental mediante aquisição de equipamentos para promover a educação ambiental.

Prefeitura Municipal de Rio Brilhante Rio Brilhante 19.873,13

Aquisição de equipamentos para educação ambiental, implantação de um viveiro de mudas para recuperação ambiental.

Prefeitura Municipal de Caarapó Caarapó 19.873,13 Apoio na área ambiental mediante aquisição de

equipamentos e produção de mudas.

Prefeitura Municipal de Juti Juti 19.873,13Aquisição de equipamentos para a educação ambiental, construção de viveiro de mudas para recuperação ambiental.

Prefeitura Municipal de Vicentina Vicentina 19.873,13 Apoio na área ambiental mediante aquisição de

equipamentos e produção de núcleos.Total Ano 268.869,73 Fonte: SDT/MDA (2006).

164

Anexo IITerritório do Sisal – Estado da Bahia/BA

Lista de entrevistados:

1- José Nilton MoreiraInstituição: EMBRAPA Semi-Árido Cargo: Pesquisador

2- Gabriel Carneiro NetoInstituição: Conselho de Desenvolvimento Rural Sustentável da Região Sisalera do Estado da Bahia - CODES-Sisal

3- José Raimundo Carneiro SantosInstituição: SEBRAE - Feira de SantanaCargo: Responsável pelo Projeto de Desenvolvimento do Território Sisaleiro

4- Jovanilton Neto da SilvaInstituição: APAEB/ValenteCargo: Diretor

5- José SilvaInstituição: Fundação de Apoio aos Trabalhadores Rurais e Agricultores Familiares da Região do Sisal e Semi-árido da Bahia – FATRES FATRES/ValenteCargo: Coordenador de Projetos

6- Valdir Fiamoncini Instituição: CODES/ValenteCargo: Secretario Executivo

7- Elione Alves de SouzaInstituição: Cooperativa Regional de Artesãs Fibras do Sertão – COOPERAFIS/ ValenteCargo: Presidente

8- José Plínio de Oliveira Instituição: Universidade Estadual da Bahia – UNEB/ Conceição do Coité Cargo: Diretor do Departamento de Geografia

9- Januário de Lima CunhaInstituição: Rede de Parceiros da Terra - REPARTECargo: Técnico

10- Ivan Leite FontesInstituição: Movimento de Organização Comunitária - MOCCargo: Técnico Coordenador de Programas de Cooperação de Agricultores Familiares.

11- Cleber Silva Instituição: Abraço Sisal - Rádio Comunitária/ ValenteCargo: Técnico

165

Território do Sisal - BAAções da SDT - Ano 2003

Proponente Localização Valor (em R$) Objeto

Fundação Quinteto Violado Do Sisal 69.100,00 Valorização dos aspectos culturais de agricultores familiares.

Prefeitura Municipal de Itiúba Itiúba 25.000,00Apoiar a infra-estrutura da assistência técnica prestada aos agricultores familiares e do processo produtivo dos agricultores familiares do município.

Prefeitura Municipal de Monte Santo

Monte Santo

103.300,00

Construção de barragens e açudes de captação de água e recuperação de poços artesianos.

Prefeitura Municipal de Queimadas Queimadas 3.000,00

Proporcionar condições materiais para assistência técnica rural prestadas por técnicos da EBDA e outras entidades aos agricultores familiares do município.

Prefeitura Municipal de Serrinha Serrinha 108.000,0

0

Apoiar a comercialização dos produtos da agricultura familiar e a infra-estrutura para capacitação e assistência técnica dos agricultores familiares.

Prefeitura Municipal de Serrinha Valente 143.395,6

0

Apoiar a estruturação e o funcionamento do centro tecnológico do sisal, estruturação do conselho regional de desenvolvimento territorial.

Prefeitura Municipal de Barrocas Barrocas 3.000,00 Proporcionar condições técnicas para assistência técnica e

extensão rural aos agricultores do município.

Prefeitura Municipal de Nordestina Nordestina 3.000,00 Aquisição de um microcomputador destinado à

execução/elaboração de projetos de agricultores familiares.

Total Ano 457.795,60

Fonte: SDT/MDA (2006).

166

Território do Sisal - BA Ações da SDT Ano 2004

Proponente Localização

Valor (em R$) Objeto

Associação Comunitária de Comunicação e Cultura Valente 31.194,00 Capacitação, monitoramento e confecção de

boletins sonoros para 12 rádios comunitárias.Associação das Cooperativas de Apoio à Agricultura Do Sisal 327.652,00 Capacitação de agricultores familiares e

técnicos de cooperativas de crédito.

Associação dos Pequenos Produtores do Município de valente Valente 100.000,00

Pesquisar, validar e difundir métodos de recuperação econômica de cultura do Sisal na Bahia.

Centro de Apoio aos Intercomunitários de Santaluz Do Sisal 160,29 Capacitação de agricultores.

Centro de Apoio aos Intercomunitários de Santaluz Do Sisal 65.520,00

Apoio aos encontros regionais das centrais e associações da agricultura familiar e economia solidária.

Conselho Regional de Desenvolvimento Rural Sustentável da Região Sisaleira Do Sisal 74.350,00

Realizar Visitas de acompanhamento e oficinas de gestão e monitoramento das ações desenvolvidas pelo núcleo executivo do CODES - Sisal.

Fundação de Apoio aos Trabalhadores Rurais da Região do Sisal Valente 4.980,00 Contribuir com o CMDRS, pertencentes ao

Território do Sisal.Fundação de Apoio aos Trabalhadores Rurais da Região do Sisal Do Sisal 77.078,00 Contribuir com o CMDRS, pertencentes ao

Território do Sisal.Movimento de Organização Comunitária - MOC Do Sisal 332.246,00 Formação de educadores rurais no âmbito do

território semi-árido.

Prefeitura Municipal de Barrocas Barrocas 25.000,00Proporcionar condições operacionais para prestação de assistência técnica e extensão rural aos agricultores familiares do município.

Prefeitura Municipal de Nordestina Nordestina 35.000,00Construção de beneficiamento do mel, aquisição de equipamento para a casa de beneficiamento do mel.

Secretaria de Combate à Pobreza e às Desigualdades Sociais Cansanção 62.737,00

Apoio ao Desenvolvimento Territorial com investimentos públicos destinados a agregação de valor, comercialização cooperativismo.

Secretaria de Combate à Pobreza e às Desigualdades Sociais Ichu 17.000,00

Apoio ao Desenvolvimento Territorial com investimentos públicos destinados a agregação de valor, comercialização cooperativismo.

Secretaria de Combate à Pobreza e às Desigualdades Sociais Valente 228.808,00

Apoio ao Desenvolvimento Territorial com investimentos públicos destinados a agregação de valor, comercialização cooperativismo.

Secretaria de Combate à Pobreza e às Desigualdades Sociais Serrinha 150.000,00

Apoio ao Desenvolvimento Territorial com investimentos públicos destinados a agregação de valor, comercialização cooperativismo.

Total Ano 1.531.725,29 Fonte: SDT/MDA (2006).

167

Território do Sisal - BA

Ações da SDT - Ano 2005

Proponente Localização Valor (em R$) Objeto

Movimento de Organização Comunitária - MOC Do Sisal 49.200,00

Realização de estudos propositivos e avaliação de projetos, feiras e estudos de mercado e de viabilidade de empreendimentos agroindustriais para a dinamização econômica dos territórios na região Nordeste do Brasil.

Prefeitura Municipal de Araci Araci 40.400,00 Implementar ações de fomento a agricultura familiar , com apoio a atividade agrícolas e não –agrícolas.

Prefeitura Municipal de Biritinga Biritinga 36.000,00 Implantação de fomento a agricultura familiar. Prefeitura Municipal de Conceição do Coité

Conceição do Coité 13.800,00 Apoio à concessão de microcrédito produtivo.

Prefeitura Municipal de Itiúba Itiúba 190.000,00 Fomento a alternativas de desenvolvimento territorial com implantação de infra-estrutura.

Prefeitura Municipal de Serrinha Serrinha 18.000,00 Implantar ações de fomento a agricultura familiar.

Prefeitura Municipal de São Domingos São Domingos 52.500,00

Possibilitar as condições operacionais para a devida assistência técnica e extensão rural aos agricultores familiares do município.

Prefeitura Municipal de São Domingos São Domingos 27.980,00 Fortalecimento do processo de organização e de

comercialização dos produtos e derivados de sisal. Prefeitura Municipal de Tucano Tucano 36.000,00 Implantar ações de fomento à agricultura familiar.Prefeitura Municipal de Valente Valente 6.900,00 Apoio à concessão de microcrédito produtivo. Total Ano 470.780,00 Fonte: SDT/MDA (2006).

168

Anexo IIITerritório do Nordeste Paraense – Estado do Pará/PA

Lista de entrevistados:

1- Orlando Risuenho Alves JuniorInstituição: MDACargo: Articulador Territorial

2- Paulo Sydnei de Oliveira VieiraInstituição: EMATER - ParagominasCargo: Coordenador Local

3- Ivanildo Amaral Gonçalves Instituição: EMATER Regional - São Miguel do GuamáCargo: Supervisor Regional

4- José Torres OliveiraInstituição: Banco do Brasil/ Mãe do RioCargo: Gerente

5- Luis Vanderlei Risuenho de AlencarInstituição: Secretaria de Agricultura/ Prefeitura de IrituiaCargo: Secretário de Agricultura e Vice-Prefeito

6- Antônio Araújo de Lima Instituição: Sindicato dos Trabalhadores Rurais - STRs/ Ipixuna do ParáCargo: Presidente

7- Mario Rodrigo de Oliveira GomesInstituição: Embrapa Amazônia OrientalCargo: Pesquisador

8- Francisco de Assis da Silva AraújoInstituição: Secretaria Municipal de Agricultura - SEMAGRI/ Aurora do ParáCargo: Técnico Agrícola

9- Ronaldo Dias de CastroInstituição: Secretaria Municipal de Agricultura/ ParagominasCargo: Coordenador

10- Pedro Ferreira de AraújoInstituição: Associação de Pequenos Produtores Rurais, Extrativistas e Pescadores Artesanais - APEPA/ São Domingos do CapimCargo: Diretor

11- Maria Nazaré Reis Ghiradi Instituição: Centro de Estudos de Defesa do Negro do Pará - CEDENPA/BelémCargo: Técnica

169

12- Eduardo Lima de OliveiraInstituição: Associação de Moradores, Micros e Pequenos Produtores Rurais da Comunidade Nossa Senhora Aparecida - AMOMPAR/São Domingos do CapimCargo: Presidente

13- Maria de Jacione da Silva FreitasInstituição: Pastoral/ Mãe do RioCargo: Assessora

14- Maria de Jesus dos Santos LimaInstituição: Fundação Socioambiental do Nordeste Paraense - FANEP/Aurora do ParáCargo: Presidente

15- Haroldo José Neto de OliveiraInstituição: Fundação Socioambiental do Nordeste Paraense - FANEP/Aurora do Pará

Cargo: Técnico

16- Márcio de Paulo DiasInstituição: Cooperativa de Prestação de Serviços em Apoio ao Desenvolvimento Rural Sustentável - COODERSUS/ Mãe do Rio Cargo: Diretor/Presidente

17- Mauricio ShimizuInstituição: Embrapa Amazônia Oriental Cargo: Pesquisador

18- Osvaldo Riohey Kato Instituição: Embrapa Amazônia OrientalCargo: Pesquisador

170