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Linguagens, Códigos e suas Tecnologias - Educação Física Ensino Médio, 3ª Série Violência no Esporte

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Linguagens, Códigos e suas Tecnologias - Educação Física

Ensino Médio, 3ª Série

Violência no Esporte

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Educação Física, 3º AnoViolência no Esporte

INICIANDO A REFLEXÃO

Com o processo de civilização avançando nas sociedades, as relações humanas tornaram-se gradativamente mais complexas, ampliando a disputa de poder através do parlamento e do jogo e não mais por intermédio da violência física. As relações humanas através do jogo proporcionaram outro fator importante na sociedade ocidental, o surgimento do Esporte moderno. A passagem do jogo para o Esporte aconteceu na Inglaterra por ser um dos países mais organizados socialmente. O comportamento das pessoas era mais civilizado, a disputa de poder se dava pelas regras do Parlamento Inglês e não pela violência física. As regras que começavam a se estabelecer na sociedade inglesa foram sendo incorporadas aos jogos (práticas corporais) e tornando-os esportes, com suas regras pré – definidas.O fim da violência física e sua transposição para o jogo social é explicado por Norbert Elias com o surgimento do esporte moderno. O pesquisador faz a comparação entre as práticas de luta na Grécia antiga com os esportes da atualidade. Esta comparação entre o nível de violência verificado nos combates de jogos da Grécia antiga, ou nos torneios e jogos populares da Idade Média, e o que se revela nas provas de desporto atuais mostra a necessidade de relacionar o nível de violência permitida socialmente, a organização para o controle da violência e a formação da consciência do indivíduo. (1)

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VIOLÊNCIA NO ESPORTE

O que caracteriza o esporte moderno são as aplicações das regras, reduzindo toda e qualquer ação mais violenta. Mesmo em modalidades esportivas em que o contato físico é mais constante, o boxe, o jiu-jitsu, as lutas em geral, as regras pré-determinam muitas das ações dos praticantes. Por exemplo, para um boxeador não é permitido pela regra aplicar um golpe abaixo da linha da cintura. Se ele realizar tal golpe, será automaticamente punido com perdas de pontos. Para muitos, o contato físico entre os praticantes caracteriza-se como ato violento, mas é socialmente permitido; para outros trata-se apenas de uma modalidade esportiva. (1)Além da violência física, há a violência simbólica, que é de comportamento, podendo ser verbal, pelas ações das pessoas, ou ainda pela discriminação racial, sexual ou religiosa que existe na sociedade. Na sua grande maioria, os casos de violência, sejam elas físicas ou comportamentais, são um reflexo da violência social.Estudiosos como Samulski afirmam que nenhuma área social dá uma importância tão grande ao confronto físico como o esporte competitivo. Atletas se valem dos mais diversos recursos, inclusive machucar intencionalmente seus companheiros de profissão com o objetivo de ganhar ou ter sucesso. (2)

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A agressividade inerente ao esporte ocorre dentro de regras e condições específicas, portanto nem toda modalidade que exige aplicação de força é necessariamente violenta.Realmente, o esporte moderno, enquanto fenômeno social, não pode ser reduzido a um simples jogo, com realidade própria, conhecimentos específicos, história própria e dissociado do âmbito social e cultural em que se encontra.Balbino informa que o esporte, como o conhecemos, foi produzido sob a forma de jogos pelo povo e devolvido à população sob a forma de espetáculo. Cada um dos segmentos da sociedade se envolve com o esporte de formas diferentes, e qualquer manifestação gerada neste meio, como a agressividade, varia dependendo do significado desta atividade para as pessoas.Especificamente sobre o Futebol, Becker Jr. coloca a modalidade entre os esportes de agressão limitada, em que há confrontos e contatos diretos entre adversários; os choques podem machucá-los, mas as regras não permitem agressão direta. No entanto, existem características no Futebol que já abrigam um potencial para transgredir as regras, tais como: distância de confronto, espaço individual de interação, grau de violência e facilidade de domínio da bola. (2)

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EXERCÍCIOS

1.O pesquisador Elias Norbert estabelece uma comparação entre as lutas na Grécia Antiga e os esportes na atualidade. O que indica essa comparação?

2.Existem, segundo o texto, quantos tipos de violência no esporte? Quais são eles?

3.A modalidade “luta” deveria ser a mais violenta por ter um contato físico mais direto. O que determina o controle da violência nas lutas?

4.Para Samulski nenhuma área social dá uma importância tão grande ao confronto físico como o esporte competitivo. Explique tal afirmação.

5.Na atualidade, o Futebol é um esporte com alta incidência de violência. Quais as características desse esporte que favorecem a ocorrência de violência?

Imagem: Zbigniew Luchciński / ksppolonia.pl /  Creative Commons Attribution 2.0 Generic.

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CAUSAS DA VIOLÊNCIA/AGRESSIVIDADE

Os fatores significativos para a existência de comportamentos agressivos durante eventos esportivos são: o local da partida, importância da mesma, nível de rendimento dos jogadores, placar do jogo, posição e tarefa tática do jogador, comportamento do árbitro, técnicos e torcedores, além da estrutura das regras esportivas.

Também é possível que a expectativa do jogo, a observação da inimizade contra um colega, bem como ofensas verbais ou físicas, tenham probabilidade de gerar combate contra os atletas. Fora isso, o fato de estarem perdendo, associado a agravantes como perturbações emocionais do técnico, da torcida e dos colegas, a percepções do atleta em relação à família, público, treinador e outros podem desencadear comportamentos mais agressivos. (2)

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ENTENDENDO A HISTÓRIA DA VIOLÊNCIA NOS ESPORTES

Conforme as pesquisas de Elias (1992), não devemos nos surpreender com a brutalidade presente nos jogos e disputas da Antiguidade Clássica, Idade Média ou mesmo de qualquer outra época: as atividades lúdicas e passatempos costumam refletir exatamente o grau de agressividade do estágio em que determinada sociedade se encontra. Usando a Grécia como exemplo, ele explica que, nas cidades-estado, como Atenas e Esparta, os bebês fracos ou deficientes eram abandonados à própria sorte para morrer; se alguém fosse assassinado ou mutilado, cabia à família investigar o caso e se vingar do culpado. Enfim, o nível de violência na época era bem mais elevado que o atual – ou mesmo que o da Idade Média, época em que surgiram os jogos-embriões do Futebol moderno.

Os homens demonstravam sua força física, agilidade e resistência através de vitórias em grandes festivais competitivos, entre os quais o de Olímpia era o mais famoso, com o intuito de adquirir elevada posição social e política. (2)

Imagem: Public Domain.

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Pensadores e filósofos como Ésquilo, Sócrates e Demóstenes passaram por duras escolas de combate, e Platão chegou a vencer alguns festivais atléticos. Resumindo, não é possível compreender o nível de civilização nas competições de jogos se este não for relacionado com o nível geral de violência socialmente permitida.

Na Idade Média, especificamente na Grã-Bretanha, as pessoas desfrutavam de todo tipo de passatempos agressivos: rinhas de galos, duelos de touros, queimas de gatos vivos em cestos, execuções públicas, como quem vai ao cinema hoje em dia. Dada a tensão acumulada entre grupos rivais existentes naquela sociedade, não parece tão estranho que estes esperassem pelos dias santos e feriados para se envolverem em jogos que eram, na verdade, verdadeiros conflitos rituais: o futebol da Terça-Feira de Carnaval, por exemplo, era uma disputa violenta entre vizinhos que, hoje em dia, seria considerada inconcebível e inaceitável. (2)

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Nos séculos XVIII e XIX, os jogos desportivos atingiram um nível de ordem e disciplina nunca atingidos até então, e as regras estipuladas definiam os limites da violência autorizada, inclusive se a força física pode ser totalmente aplicada. Para Elias (1992), é difícil acreditar que seja mera coincidência o fato de que os passatempos violentos e pouco regulamentados dos proprietários de terras ingleses tenham ficado menos violentos e mais disciplinados justamente na época em que essa classe social renunciou à agressividade em termos políticos para promover uma rotação de poder benéfica a toda elite no Parlamento Inglês.

Levando em conta o grau de agressividade presente nas sociedades de cada época, percebe-se que o esporte é uma das maiores invenções sociais realizadas sem planejar. Oferece às pessoas a excitação libertadora de uma disputa que envolve esforço físico e destreza, enquanto diminui seriamente a possibilidade de alguém se ferir gravemente durante sua prática (ELIAS, 1992). (2)

Exercícios1. Quais as possíveis causas para o aparecimento de comportamentos agressivos e da violência em jogos esportivos?2. Descreva, resumidamente, como evoluiu a violência nos jogos e disputas na Antiguidade, Idade Média e nos séculos XVIII e XIX.

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UM CASO ESPECÍFICO: A HISTÓRIA (DA VIOLÊNCIA) DO FUTEBOL

Na Grécia, em 800 a.C., praticava-se o epyskiros, base para o haspartum romano, do qual se originaram inúmeros jogos ocidentais, do Futebol ao Tênis. O haspartum, consistia de duas equipes dispostas em um campo retangular, demarcado por linhas laterais e uma linha divisória central, com o objetivo de levar a bola do jogo para além das linhas adversárias. A bola era passada de jogador em jogador e todo o tipo de truques e trapaças eram aceitos, acompanhados por manifestações bem exaltadas das torcidas.

Na Itália, uma derivação do harpastum deu origem ao gioco del calcio, em que 27 jogadores se esforçavam para fazer uma bola passar entre dois bastões. A modalidade era praticada pela elite e pelo clero. Papas como Clemente VII, Leão X e Urbano VII foram campeões no Futebol de Florença. Portanto, Karol Wojtila, o papa João Paulo II, que jogou como goleiro em um time na Cracóvia (Polônia), não foi o primeiro sumo pontífice a travar contato com esse esporte (LEAL, 2000).

A partir do século XIV, já se encontram referências seguras a um jogo de bola chamado Futebol. Nessa época, a modalidade criou tantos problemas que o rei Edward II chegou a sancionar um decreto proibindo sua prática em 13 de abril de 1314. (2)

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O jogo popular medieval de Futebol propiciava fricções entre comunidades vizinhas, corporações locais, grupos de homens e mulheres, solteiros e casados: se os temperamentos se exaltavam, as explosões de luta aberta eram praticamente certas. A população aguardava ansiosamente por eventos festivos como casamentos e feriados religiosos como a Terça-Feira de Carnaval para praticar jogos truculentos que lhes serviriam de válvula de escape para a tensão acumulada entre os grupos locais.

As tradições populares medievais eram transmitidas oralmente, de geração para geração, pelas massas iletradas. Não havia o costume de se redigir regras de jogos como o Futebol, e os filhos simplesmente jogavam como seus pais haviam jogado antes - ou, pelo menos, como pensavam que jogavam. Sem qualquer documento orientador ou árbitro, as partidas eram disputadas conforme os costumes de cada comunidade e, tanto quanto se sabe, o caráter do jogo se traduzia num confronto entre grupos diferentes. O prazer da luta era manifesto e espontâneo; a desordem e o nível relativamente elevado de violência física socialmente tolerada eram sempre os mesmos. (2)

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Apesar das várias sanções impostas, a popularidade do jogo fez com que essa versão embrionária do Futebol moderno fosse proibida em Manchester no ano de 1608, devido à grande quantidade de danos à propriedades, principalmente janelas quebradas. O jogo permaneceria duro, violento e desorganizado por 500 anos.

Até meados do século XVII, o Futebol era uma prática bastante violenta, quando modificações foram introduzidas nos regulamentos para reduzi-la. No entanto, esse decréscimo trazia um perigo, pois o jogo poderia perder a emoção. O segredo estaria em “civilizar” a prática, promovendo um elevado nível de disputa não violenta e estabelecendo um equilíbrio que o Futebol tem conseguido manter historicamente. As grandes mudanças só viriam no princípio do século XIX, nas famosas universidades e escolas públicas inglesas.

Finalmente, em 1823, nasceu o football moderno. Em 1848, houve uma primeira tentativa de unificação de regras. Na época, eram 14 regras; depois, surgiram o impedimento, o árbitro, o goleiro como único jogador autorizado a utilizar as mãos, oarremesso lateral, escanteio, pênalti e a troca de lado na metade do tempo (antes, trocava-se após cada gol). (2)

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Somente em 1863, as universidades realmente uniformizaram as regras, justamente quando ficou proibido derrubar o adversário, bem como passar rasteiras ou chutar canelas - antes disso, era permitido chutar a perna do oponente do joelho para baixo.

Em 21/05/1904, surge a FIFA e, através dela, comprova-se a meteórica ascensão da popularidade do Futebol. Mesmo com a uniformização de regras e o surgimento da FIFA, a História mostra que o Futebol não conseguiu se livrar da violência inserida nele.

O fato é que, mesmo na elite do Futebol mundial, os problemas gerados pela agressividade se perpetuaram.

Dos anos 60 até os dias atuais, uma série de medidas tomadas pela FIFA como, por exemplo, o incentivo ao fair play (jogo limpo), visaram à redução do problema da violência. Na Copa do Mundo de 1990, por exemplo, a entidade máxima do Futebol mundial tomou diversas medidas para coibir a violência, entre elas multas em dinheiro para jogadores punidos com cartão e (nova) recomendação para que os árbitros punissem com rigor as jogadas desleais.Contudo, há fortes indícios de que não basta apenas mudar as regras do jogo e fazer com que estas sejam cumpridas rigorosamente. Faz-se necessário trabalhar o psicológico do jogador, a fim de que ele melhore comportamentos e atitudes, e ainda é preciso aumentar a exigência disciplinar por parte da comissão técnica. (2)

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APROFUNDANDO O TEMA

O Fair Play ou jogo limpo foi uma das medidas adotadas pela FIFA para diminuir o problema da violência no futebol. Pesquise e descreva exemplos de fair play e indique que valores são ressaltados com essa prática.

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VIOLÊNCIA DAS TORCIDAS

 Atualmente, na mídia esportiva, o tema violência vem ganhando constantes destaques, com episódios lamentáveis de agressões entre torcedores, com jogadores se agredindo fisicamente dentro de campo, com a presença de preconceitos raciais e de gênero.

Com a ênfase neste tema, aumentaram os estudos sobre o fanatismo esportivo e as torcidas organizadas. O fanatismo pode ser conceituado, de acordo com Pinsky (2004), como uma manifestação de grupos que se consideram detentores de uma verdade e que ela, "a sua verdade", deve prevalecer, nem que seja às custas da vida do outro. No caso do esporte, o torcedor fanático é um indivíduo, por exemplo, que é torcedor de um certo time, e tem absoluta convicção de que aquele que não é do mesmo time que o seu, não serve para nada. O outro não é adversário, mas, sim, um inimigo. Mas o perigo do fanático ou do fanatismo consiste exatamente na certeza absoluta e incontestável que ele tem a respeito de suas verdades. Ele tem uma verdade, que significa não qualquer verdade, mas “a Verdade”. O fanático não aceita discussões ou questionamentos racionais com relação àquilo que apresenta como sendo seu conhecimento. (3)

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A prática esportiva e/ou a participação em uma torcida, constitui momento de expansão das emoções reprimidas pelo meio social cotidiano. Assim, é no coletivo da torcida que o indivíduo encontra identidade e afinidade para manifestar suas repulsas e fazer coisas que não faria isoladamente. É a manifestação do sentimento de impotência e da frustração pessoal, diluídas no coletivo das arquibancadas.

O torcedor, de torcidas organizadas, não é mais um mero espectador do jogo. Em muitos casos, ele dita as regras, ele é parte do espetáculo. No grupo, ele expressa sua masculinidade, sua solidariedade, seu companheirismo, sua presença no grupo. Os torcedores representados nessas torcidas são pessoas de todas as classes sociais, que vão aos estádios pela diversão, pela viagem, pela bebida, pelo sentimento de excitação do jogo e, até, pelo prazer de atos de violência. São na maioria homens jovens, sendo que atualmente, encontramos a presença feminina, que, em episódios violentos, é protegida por seus pares, permanecendo fora dos conflitos. Vale ressaltar que, em muitos casos, a disputa por uma mulher do grupo pode ser o estopim de um acontecimento violento. (3)

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As causas da violência das torcidas de futebol estão relacionadas às “mudanças econômicas e sociais mais amplas” ocorridas no pós-guerra (Taylor apud GIULIANOTTI, 2002, p.63). A influência inglesa dominante na expansão da economia mundial e do futebol colaborou para a globalização da violência das torcidas. O futebol praticado enquanto classe operária, nos anos finais do século XIX e primeiras décadas do século XX, de âmbito local, envolvendo comunidades locais ou vizinhas, criava no torcedor-operário a falsa ideia de que ele exercia influência nas decisões do clube e considerava a agremiação como uma “democracia participativa”. Para a elite dominante que administra os clubes, o espetáculo visa atrair espectadores consumistas e não satisfazer os torcedores apaixonados. No mercado capitalista do esporte, os clubes perdem a afetividade, porém ganham a fidelidade consumista do torcedor. 

O aparecimento da televisão contribuiu para difundir os gritos de guerra, os cantos, os símbolos, os emblemas e os slogans das torcidas, fazendo acirrar ainda mais os contrastes ocultos e ampliar o confronto. (4)

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No Brasil, a história  das torcidas mostra-se culturalmente complexa. Tendo origem na década de 40. Era composta de indivíduos socialmente estabelecidos que foram substituídos ao longo dos anos pela cultura jovem, partidária e agressiva. Primeiro a torcida do Clube de Regatas Flamengo, no Rio de Janeiro, depois a torcida do Sport Club Corinthians Paulista, em São Paulo, constituíram-se em grupos que cresceram muito ao longo das décadas (GIULIANOTTI, 2002, p. 85). (4)

EXERCÍCIOS

1.Caracterize Fanatismo Esportivo.

2.O que o torcedor, de torcida organizada, expressa dentro do seu grupo?

3.O que, provavelmente, fez ampliar e acirrar os confrontos ocultos entre as torcidas?

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O QUE DIZ A LEI SOBRE A VIOLÊNCIA NOS ESPORTES?

Existe a justiça desportiva, mas esta possui autonomia administrativa exclusivamente sobre questões meramente técnicas ou de disciplina regulamentares, tais como invalidação de partidas, cassação de pontos, inversão de mando de campo ou mesmo punições de atletas. Contudo, no que se refere às infrações previstas por lei, nem se cogita deixá-las sob a jurisdição de tribunais desportivos, sendo perfeitamente cabíveis as prisões em flagrante, inquéritos e processos - mas a violência esportiva não tem relevância penal quando inserida em um contexto de tolerância social e desde que não contrarie a moral e os bons costumes locais.

De acordo com Capez (2003), o Futebol é um esporte de violência eventual, diferenciando-o das modalidades com violência direta e necessária, como o Boxe e as artes marciais, sendo que todo jogador consente numa redução de seu nível de segurança ao praticá-lo, colocando-se numa situação de risco inerente à partida. A escolha é clara: ou o atleta se expõe aos perigos naturais do esporte ou não exerce a modalidade. Portanto, são irrelevantes para a esfera criminal todas as lesões corporaisque se originem em disputas normais da prática regular do Futebol. (2)

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Cotoveladas e “carrinhos” são ocorrências perfeitamente previsíveis e encontram-se dentro dos riscos normais do jogo. Todavia, não se toleram lesões com origens alheias ao âmbito da modalidade, pois estas não são abrangidas pela aceitação tácita dos riscos de se jogar Futebol - o que o Direito chama de consentimento do ofendido.

Por fim, para que se abra um processo na esperança de condenar judicialmente um desportista violento, é necessário que o caso se enquadre dentro de uma imputação objetiva, em que é necessário que haja uma série de fatores normativos, entre eles o conflito entre a conduta do atleta e os valores sociais; a atuação desse atleta fora do papel social que se espera dele; e a criação de um risco intolerável ao bem jurídico (leia-se, no caso, integridade física do outro praticante), seja agravada pela imputação subjetiva, ou seja, intencionalidade - dolo ou culpa. (2)

EXERCÍCIOS

1.A lei 10.671 de 2003 estabelece o Estatuto do Torcedor, nela estão as normas de proteção e defesa do torcedor. Pesquise-a e elabore um resumo com as principais características da lei para que sejam discutidas em sala de aula.2.Diferencie os comportamentos violentos considerados normais durante o jogo e aqueles que não são.

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CONSIDERAÇÕES

A história do Futebol, analisada sob o prisma da violência, serve de base para se analisar como essa questão evoluiu junto à sociedade com o passar dos séculos. É inegável que a violência bruta foi se atenuando e/ou assumindo outras formas desde a pré-História da Humanidade.

Enquanto Elias (1996) chama a atenção para o fato de que a violência no esporte e lazer é um reflexo da sociedade no exato momento em que ela se encontra, outros estudiosos observam que os esportes coletivos, entre eles o Futebol, são formas simuladas e simbólicas de se guerrear.

Juridicamente, pôde-se atestar como nossa sociedade entende, através de suas leis, a violência em campo, quadra ou qualquer outro ambiente esportivo: o atleta que lesionar intencional e premeditadamente seu colega de profissão, indo contra a conduta considerada padrão na sociedade esportiva pode, sim, ser processado judicialmente.

Portanto, a mudança de regras deve ser efetiva, acompanhando a evolução dinâmica do Futebol, em um sistema que valorize atletas. (2)

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Educação Física, 3º AnoViolência no Esporte

Faz-se necessário prestar atenção especial às jogadas que lesionam e afastam jogadores do gramado temporária ou definitivamente, além de levarem a uma demonstração cada vez menor das habilidades individuais.

Portanto, a alteração das regras é importante. Através dela, a incidência da violência dentro dos campos e quadras será menor. Contudo, somente esta mudança não será suficiente. É preciso vir acompanhada da transformação interna das pessoas/atletas. A conduta honesta é fundamental em qualquer esporte. Ela é essencial para o bom funcionamento do jogo.

A modificação comportamental influenciará a diminuição da violência nas arquibancadas, das torcidas organizadas. A conscientização das pessoas sobre a importância da torcida para os clubes e do aproveitamento do espaço para a diversão e lazer. Neste aspecto a escola tem papel fundamental. (2)

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Educação Física, 3º AnoViolência no Esporte

A ESCOLA PODE AJUDAR A DIMINUIR A VIOLÊNCIA NO ESPORTE?

A escola é o lugar na sociedade que deve permitir ao indivíduo o acesso às manifestações culturais e participação na construção de uma cidadania democrática. Dentro da escola, o esporte deve ser ensinado para todos, em igualdade de condições de participação, sem qualquer forma de discriminação. Na escola, os comportamentos e as regras da sociedade são largamente difundidos e onde também podem ser contestados, e construídas as alternativas através dos valores educativos encontrados no esporte.

Como foi estudado, a violência no futebol não se limita aos torcedores: envolve jogadores (profissionais que são, contra outros seus iguais), alunos contra alunos.O mais preocupante é saber que certas práticas e atitudes do futebol ganham o cotidiano do povo e invadem a escola. Uma cusparada no chão, no adversário ou num galão de água, e outros gestos de desagravo demonstram sinais de incivilidade e que beiram a barbárie. São atitudes e comportamentos que deseducam a sociedade. (5)

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Educação Física, 3º AnoViolência no Esporte

Torna-se, portanto, imprescindível educar o ser humano. É preciso reconhecer a educação como uma série de práticas dirigidas à formação integral do homem e à sua plena humanização.

A escola deve desempenhar um papel importante na abordagem dos problemas recorrentes na sociedade, despertando a reflexão e favorecendo oportunidades de inclusão na sociedade através do esporte. A preocupação da Escola deve ser contribuir com a formação do homem enquanto cidadão, através de um processo pedagógico humanizante. É fundamental que a instituição de ensino repasse aos alunos valores, tais como: cooperação, solidariedade, amizade, pois, desta maneira, se tornarão adultos íntegros. Assim o cidadão será formado e capaz de organizar e praticar o lazer com maior aproveitamento, difundindo-o na comunidade. (5)

EXERCÍCIOS

1.Como deve ser tratado o esporte na escola?

2.Qual deve ser a preocupação da escola com relação à Violência no esporte?

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Educação Física, 3º AnoViolência no Esporte

REFERÊNCIA S BIBLIOGRÁFICAS

Balbino F, Miotto AM, Santos RVT. dos. A agressividade no esporte. In A.A. Machado,organizador. Psicologia do esporte: temas emergentes I. Jundiaí: Ápice; 1997. p.81-108.Becker Jr B. Manual de psicologia do esporte & exercício. Porto Alegre: Novaprova; 2000.Capez, Fernando. Consentimento do ofendido e violência desportiva: reflexos à luz da teoria da imputação objetiva. São Paulo: Saraiva, 2003.Elias, Norbert. A gênese do desporto: um problema sociológico. in A Busca da Excitação Lisboa: DIFEL, 1992._____, Norbert. Ensaio sobre o desporto e a violência. (Silva MMA, trad.). In Elias N, E.Dunning organizadores. A busca da excitação. Lisboa: Difel; 1992. p. 223-256.Leal JC. Futebol: arte e ofício. Rio de Janeiro: Sprint; 2000.GIULIANOTTI, Richard. Sociologia do futebol – dimensões históricas e socioculturais do esporte das multidões. São Paulo: Nova Alexandria, 2002. Pinsky, J. e Cols. Faces do Fanatismo. PINSKY, Jaime (Org.) São Paulo: Editora Contexto, 2004. Samulski DM. Psicologia do esporte: teoria e aplicação prática. Belo Horizonte: Imprensa Universitária/UFMG; 1992.

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Slide Autoria / Licença Link da Fonte Data do Acesso

5 Zbigniew Luchciński / ksppolonia.pl / Creative

Commons Attribution 2.0 Generic. http://commons.wikimedia.org/wiki/File:Polonia_Warszawa_vs_Jagiellonia_Bia%C5%82ystok_05-2011_1.jpg

29/03/2012

7 Public Domain. http://commons.wikimedia.org/wiki/File:Astyanax_vs_Kalendio_mosaic.jpg

29/03/2012

8 Jean-Léon Gérôme / Musée d'Orsay / Public Domain.

http://commons.wikimedia.org/wiki/File:Jean_leon_gerome_combat_de_coqs.jpg

29/03/2012

14 UEFA / GNU Free Documentation License. http://commons.wikimedia.org/wiki/File:Uefa_fair_play_2006.jpg

29/03/2012

22 Centers for Disease Control and Prevention's Public Health Image Library / Public Domain.

http://commons.wikimedia.org/wiki/File:JO_Atlanta_1996_-_Drapeau.jpg

29/03/2012

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