linguagem e expressão unidade 1

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  • 8/10/2019 Linguagem e Expresso Unidade 1

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    Mrcia Antonia Guedes Molina

    Comunicao e

    Expresso

    Adaptada/Revisada por Mrcia Antonia Guedes Molina

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    com satisfao que a Unisa Digital oferece a voc, aluno(a), esta apostila de Comunicao e Expresso,

    parte integrante de um conjunto de materiais de pesquisa voltado ao aprendizado dinmico e autnomo

    que a educao a distncia exige. O principal objetivo desta apostila propiciar aos(s) alunos(as) uma apre-

    sentao do contedo bsico da disciplina.

    A Unisa Digital oferece outras formas de solidificar seu aprendizado, por meio de recursos multidis-

    ciplinares, como chats, fruns, aulas web, material de apoio e e-mail.

    Para enriquecer o seu aprendizado, voc ainda pode contar com a Biblioteca Virtual: www.unisa.br,

    a Biblioteca Central da Unisa, juntamente s bibliotecas setoriais, que fornecem acervo digital e impresso,

    bem como acesso a redes de informao e documentao.

    Nesse contexto, os recursos disponveis e necessrios para apoi-lo(a) no seu estudo so o suple-

    mento que a Unisa Digital oferece, tornando seu aprendizado eficiente e prazeroso, concorrendo para

    uma formao completa, na qual o contedo aprendido influencia sua vida profissional e pessoal.

    A Unisa Digital assim para voc: Universidade a qualquer hora e em qualquer lugar!

    Unisa Digital

    APRESENTAO

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    7 E-MAILS ......................................................................................................................................................497.1 Internet .............................................................................................................................................................................497.2 O E-mail Propriamente Dito ......................................................................................................................................497.3 Resumo do Captulo ....................................................................................................................................................517.4 Atividade Proposta.......................................................................................................................................................51

    8 CONSIDERAES FINAIS ............................................................................................................... 53

    RESPOSTAS COMENTADAS DAS ATIVIDADES PROPOSTAS..................................... 55

    REFERNCIAS .............................................................................................................................................59

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    INTRODUO

    Uma lngua um lugar donde se v o mundo e em que se traam os limites do

    nosso pensar e sentir.

    Verglio Ferreira

    Caro(a) aluno(a),

    Nosso objetivo, neste trabalho, sintetizar alguns conceitos de textos relevantes para auxiliar

    o processo de produo escrita dos ingressantes no curso superior, favorecendo-lhes, tambm, uma

    orientao de como elaborar determinadas superestruturas textuais, por meio de tcnicas de escritura

    e leitura de textos modelares, bem como a competncia para a produo de textos acadmicos, possi-

    bilitando-lhes, ainda, uma orientao de como elaborar determinados textos tcnicos.

    O trabalho embasa-se em obras dos mais renomados estudiosos da Lingustica, como Jakobson

    (2001) e Vanoye (1998); dos mais importantes estudiosos da Lingustica de Texto, como Fvero (1999),

    Kock (1997), Guimares (2004) e Fiorin (2003); e em trabalhos de metodologia do trabalho cientfico, deautores de reconhecida competncia, como Severino (2001) e Lakatos e Marconi (1992).

    Os contedos esto assim organizados: primeiramente, discutiremos a questo de lngua e lin-

    guagem; depois, os elementos da comunicao e, embasados neles, as funes da linguagem. Parti-

    mos, depois, para as noes de texto, textualidade, coeso e coerncia, para, em seguida, apresentar as

    superestruturas textuais tradicionalmente reconhecidas: descrio, narrao e dissertao. Num outro

    captulo, depois de uma reviso de texto e textualidade, apresentamos a noo de intertextualidade,

    compreendendo a pardia, parfrase, estilizao e apropriao, para, ento, fazer a discusso de ficha-

    mento, resumo e resenha. Na sequncia, apresentamos a redao comercial e finalizamos a apostilacom orientaes de como escrever e-mails.

    A seleo desses contedos deve-se sua relevncia como ponto de partida para os demais tex-

    tos, embora urge salientarmos que, numa obra simples como a nossa, no temos a pretenso de traar

    todas as diretrizes possveis para o bom desenvolvimento de sua competncia escrita. Pelo contrrio,

    apresentamos aqui apenas um roteiro, um caminho inicial que dever ser percorrido pelo(a) prprio(a)

    aluno(a), desvendado e ampliado medida que seu conhecimento sobre a lngua e a produo textual

    for ampliado.

    Fruto de nossa experincia docente, as lies aqui apresentadas resultam do que foi possvel co-

    letar do prazeroso convvio com nossos(as) alunos(as) e da observao do brilhante trabalho de muitos

    colegas com quem tivemos o prazer de cruzar durante nossa jornada, especialmente, das atividades

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    docentes da minha orientadora de doutorado, Profa. Dra. Leonor Lopes Fvero, umas das maiores estu-

    diosas de Lingustica Textual no Brasil; do meu querido professor Hildebrando A. Andr, com quem tive o

    prazer de aprender a ensinar redao, e das lies subliminares a mim fornecidas pelo meu amigo, Prof.

    Leo Rcino, brilhante professor de Lngua Portuguesa.

    Espero que aproveite o contedo, que se dedique na leitura dos pontos e que faa as atividades

    aqui propostas com muito empenho.

    Um abrao cordial e bom trabalho!!!

    Profa. Mrcia A. G. Molina

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    1COMUNICAO E LINGUAGEM

    Caro(a) aluno(a),

    Neste captulo trataremos da comunicao

    verbal e aspectos da linguagem. Vamos l?

    Muitos autores costumam definir comunica-ocomo transmisso voluntria de informao(RIEGEL, 1981, p. 21), ento, responda-me: como

    se procede, ento, essa transmisso? Claro que por

    meio da linguagem. mile Benveniste (1977) asse-

    vera que a linguagem um sistema de signos so-

    cializados, remetendo-nos sua funo de comu-

    nicao.

    Vale salientar que, para que exista comunica-

    o, as pessoas envolvidas no processo precisamfazer uso de um cdigo comum, quer dizer, devem

    falar a mesma lngua. Isso significa que s h co-

    municao quando um entende o outro.

    AtenoAteno

    As lnguas so, de acordo com Vanoye(1998, p. 21), casos particulares de umfenmeno geral, ou seja, a linguagem o todo, todas as formas de comunicao,e comporta vrios cdigos, como cores,signos, assobios, cdigo Morse etc., jas lnguas so um tipo especfico delinguagem.

    1.1 Processo de Comunicao

    E agora, o que comunicao?

    A comunicao pressupe sempre a existn-

    cia de dois polos: aquele que emite a informaoe aquele que a recebe emissor/receptor, locutor/

    alocutrio, ouvinte/leitor etc. O veculo utilizado

    para a comunicao pode fazer com que esses pa-

    pis sejam intercambiveis ou no. No entanto,

    importante frisarmos que, para que haja comuni-

    cao, deve haver, pelo menos, dois seres envolvi-dos, fazendo uso dos elementos da comunicao.

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    1.2 Elementos da Comunicao

    Cdigo e Mensagem

    O emissor e o receptor, como j foi dito, de-

    vem dispor do mesmo cdigo, ou seja, do mesmosistema de signos, a fim de que a informao possa

    ser recebida e decodificada pelo receptor. Essa in-

    formao decodificada, caro(a) aluno(a), amen-sagem.

    Referente

    Riegel (1981, p. 22) assevera que

    os signos do cdigo remetem realidadetal qual percebida pelo emissor e pelo re-ceptor. O aspecto especfico dessa realida-de, que evocada por um signo do cdigo, o referente desse signo. O universo refe-rencial, exterior ao cdigo, compreendetudo aquilo que pode ser designado pelossignos e suas combinaes: seres, coisas,estados, acontecimentos, idias, etc.

    Canal de Comunicao

    necessrio um meio fsico para que a men-

    sagem possa ser veiculada para o interlocutor, ao

    qual damos o nome de canal de comunicao.

    Constituem canais de comunicao o ar, um CD,um cabo, um telefone etc.

    Esquema da Comunicao

    Preste ateno, agora:

    A somatria desses elementos resulta no se-

    guinte esquema, que apresenta os elementos in-

    dispensveis para a comunicao:

    DicionrioDicionrio

    Referente aquilo a que se refere no texto.

    Figura 1 Esquema da comunicao.

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    Agora, vamos ver o que so e quais so as

    funes da linguagem.

    A linguagem, de acordo com Jakobson

    (2001), tem toda a variedade de suas funes.

    Antes, porm, prope que recordemos que o re-metente envia uma mensagem a um destinat-rio. Para que possa ser transmitida, a mensagem

    requer um contexto (ou referente), apreensvel

    pelo destinatrio, e que seja verbal ou passvel de

    verbalizao, um cdigo comum (parcial ou total-mente) a ambos remetente e destinatrio , e, fi-

    nalmente, um contato,ou seja, um canal fsico pormeio do qual possa ser veiculada. Cada um desses

    seis elementos encerra uma funo da linguagem

    diferente, como vemos a seguir:

    1.3 As Funes da Linguagem

    CONTEXTO

    1) FUNO REFERENCIAL

    CANAL

    2) FUNO FTICA

    EMISSOR MENSAGEM RECEPTOR

    3) FUNO EMOTIVA 4) FUNO POTICA 5) FUNO CONATIVA

    CDIGO

    6) METALINGUAGEM

    Figura 2 Funes da linguagem.

    Apesar de serem seis elementos e, portan-

    to, seis funes da linguagem, normalmente asmensagens comportam mais de uma funo,

    havendo uma predominante, mas no exclusiva.Deve-se ressaltar que a estrutura da mensa-

    gem depende dessa funo predominante. Assim,

    a funo referencial (tambm chamada denota-

    tiva) est centrada no contexto (referente). Tudo o

    que se refere aos contextos situacionais ou textuais

    pertencem a esta funo.

    Ex.: Prefeitura libera a pista expressa da Mar-ginal Pinheiros (Folha de So Paulo, 16 de janeiro

    de 2007).

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    Quando a mensagem est centrada no canal,

    falamos da funo ftica. Temos, nesse caso, tudo

    o que serve para, numa comunicao, estabelecer,

    manter ou encerrar o contato.

    Ex.: Al, al, responde...

    Responde...

    J quando a mensagem prioriza o emissor,

    revelando sua personalidade, estamos frente da

    funo emotiva (ou expressiva).

    Ex.:

    No serei o poeta de um mundo caduco.Tambm no cantarei o mundo futuro.

    Estou preso vida e olho meus companheiros.

    Esto taciturnos mas nutrem grandes esperanas.

    Entre eles considero a enorme realidade.

    O presente to grande, no nos afastemos.

    No nos afastemos muito, vamos de mos

    dadas.

    (Carlos Drummond de Andrade)

    A funo potica aquela em que a prio-ridade est na prpria mensagem, colocando em

    destaque o lado palpvel dos signos (JAKOBSON,

    2001).

    Ex.:

    Vozes veladas, veludosas vozes,

    Volpias dos violes, vozes veladas,

    Vagam nos velhos vrtices velozes

    Dos ventos, vivas, vs, vulcanizadas.

    (Cruz e Souza)

    Quando ocorre a orientao para o receptor

    (destinatrio), temos a funo conativa. Por isso,nessa funo, comum observamos o emprego de

    verbos no modo imperativo, vocativos e ponto de

    exclamao.

    Ex.: Assine uma TV a cabo agora e comece a

    pagar somente depois do Carnaval.

    Finalmente, quando dada especial relevn-

    cia ao cdigo, estamos frente da funo meta-lingustica.

    Ex.: Quando falamos de funes da lingua-

    gem, queremos dizer, da possibilidade que tem a

    lngua de dar, de acordo com a inteno do falante,

    especial destaque a determinados elementos da

    comunicao.

    Nesse caso, usamos a lngua para explicar a

    prpria lngua.

    Saiba maisSaiba mais

    A funo referencial muito usada emclassificados.

    A metalingustica a de que se valem os

    dicionrios.

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    Caro(a) aluno(a),

    Neste captulo estudamos a Comunicao Humana e as Funes da Linguagem. Em relao pri-

    meira, vimos que ela pressupe sempre a existncia de dois polos: aquele que emite a informao eaquele que a recebe emissor/receptor, locutor/alocutrio, ouvinte/leitor etc. Quanto s funes da lin-

    guagem, vimos que elas so relacionadas aos elementos da comunicao e podem ser classificadas em:

    funo referencial, funo ftica, funo emotiva, funo potica, funo conativa e funo metalingus-

    tica. O importante lembrar que, muitas vezes, encontramos mais de uma funo num mesmo texto.

    Agora, querido(a) aluno(a), responda s questes abaixo:

    1. Quais so os elementos da comunicao?

    2. Quais so as funes da linguagem?

    a) Quando a prioridade da mensagem est na prpria mensagem, temos a funo_____________________.

    b) Quando a mensagem dirige-se a um receptor, enfatizando-o, temos a funo

    _____________________.

    Espero que tenha entendido bem essa questo. Ento, passemos para outro tpico importante.

    1.4 Resumo do Captulo

    1.5 Atividades Propostas

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    2TEXTO E TEXTUALIDADE

    Querido(a) aluno(a),

    Texto, etimologicamente, quer dizer tecido,ou seja, trata-se de uma trama na qual se devem

    enredar as palavras.

    J a Lingustica do Discurso procura estudar

    os textos como manifestaes lingusticas produ-

    zidas por indivduos concretos em situaes con-

    cretas, sob determinadas condies de produo

    (KOCK, 1997), entendendo-os numa situao inte-

    racionista.

    Para que melhor possamos compreend-los

    nessa perspectiva, analisemos as sequncias a se-guir:

    Para calar a boca: Rcino

    Pra lavar a roupa: Omo

    Para viagem longa: Jato

    Para difceis contas: Calculadora

    Para o pneu na lona: Jacar

    Para a pantalona: Nesga

    Para pular a onda: Litoral

    Para lpis ter ponta: Apontador

    Para o Par e o Amazonas: LtexPara parar na pamplona: Assis

    Para trazer tona: Homem - R

    Para a melhor azeitona: Ibria

    Para o presente da noiva: Marzip

    Para Adidas o Conga: Nacional

    Para o outono a folha: Excluso

    Para embaixo da sombra: Guarda-Sol

    Para todas as coisas: Dicionrio

    Para que fiquem prontas: Pacincia

    Para dormir a fronha: Madrigal

    Para brincar na gangorra: Dois

    Para fazer uma toca: Bobs

    Para beber uma coca: DropsPara ferver uma sopa: Graus

    Para a luz l na roa: 220 volts

    Para vigias em ronda: Caf

    Para limpar a lousa: Apagador

    Para o beijo da moa: Paladar

    Para uma voz muito rouca: Hortel

    Para a cor roxa: Atade

    Para a galocha: Verlon

    Para ser moda: Melancia

    Para abrir a rosa: Temporada

    Para aumentar a vitrola: SbadoPara a cama de mola: Hspede

    Para trancar bem a porta: Cadeado

    Para que serve a calota: Volkswagen

    Para quem no acorda: Balde

    Para a letra torta: Pauta

    Para parecer mais nova: Avon

    Para os dias de prova: Amnsia

    Pra estourar pipoca: Barulho

    Para quem se afoga: Isopor

    Para levar na escola: Conduo

    Para os dias de folga: NamoradoPara o automvel que capota: Guincho

    Para fechar uma aposta: Paraninfo

    Para quem se comporta: Brinde

    Para a mulher que aborta: Repouso

    Para saber a resposta: Vide - o - Verso

    Para escolher a compota: Jundia

    Para a menina que engorda: Hipofagi

    Para a comida das orcas: Krill

    Para o telefone que toca

    Para a gua l na poa

    Para a mesa que vai ser postaPara voc o que voc gosta

    Diariamente

    (REIS, 1991).

    DicionrioDicionrio

    Hoje, o termo texto tem a seguinte definio:

    s.m.1. Conjunto de palavras, frases escritas; 2.Trecho ou fragmento de obra de um autor; 3.Qualquer material escrito destinado a ser fala-do ou lido em voz alta [...].

    (HOUAISS, 2003. p. 508)

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    Quando lemos esse texto, num primeiro mo-

    mento, temos a impresso de que se trata de um

    amontoado de frases pouco significativas. Contu-

    do, se a inserirmos em seu contexto, passamos a

    entend-la como texto. Ento, vamos l: a sequn-

    cia uma composio de Nando Reis, gravada por

    Marisa Monte, intitulada Diariamente. O texto rela-ta os fatos do cotidiano de uma pessoa que vive

    numa regio urbana, possivelmente, na cidade de

    So Paulo.

    O mesmo ocorre com a seguinte sequncia:

    Por que voc Flamengo?

    E meu pai Botafogo?

    O que significa Impvido Colosso?

    Por que os ossos doem?

    Enquanto a gente dorme?Por que os dentes caem?

    Por onde os filhos saem?

    Por que os dedos murcham?

    Quando estou no banho?

    Por que as ruas enchem?

    Quando est chovendo?

    Quanto mil trilhes?

    Vezes infinito?

    Quem Jesus Cristo?

    Onde esto meus primos?

    Well, well, well Gabriel?Well, well, well?

    Por que o fogo queima?

    Por que a lua branca?

    Por que a Terra roda?

    Por que deitar agora?

    Por que as cobras matam?

    Por que o vidro embaa?

    Por que voc se pinta?

    Por que o tempo passa?

    Por que que a gente espirra?

    Por que as unhas crescem?Por que o sangue corre?

    Por que que a gente morre?

    Do qu feita a nuvem?

    Do que feita a neve?

    Como que se escreve

    Reveillon?

    Well, well, well, Gabriel.

    (DUNGA; TOLLER, 2004).

    Se no reconhecermos a sequncia, inad-vertidamente, podemos julg-la um amontoado

    de perguntas sem nexo e, portanto, um no texto.

    Contudo, novamente, temos aqui a letra de uma

    composio que Paula Toller dedicou a seu filho

    Gabriel, com as perguntas que ele, costumeira-

    mente, lhe fazia. A msica chama-se Oito anose foi

    gravada por Adriana Calcanhoto.

    Agora, preste ateno a este segmento:

    LA VARIT ET LA FANTAISIE DE MA VIEDE TOUS LES JOURSTous les jours de la semaine, je ne me lve

    jamais a la mme heure et ce nest jamaisla mme chose.Mes jours sont fous, fous, fous!Lorsque je me lve, je ne suis pas press...Je vois et je choisis, cest a? Quil fautfaire...Je djeune chaque jour un restaurantdiffrent.

    Laprs-midi je vais au cinma, ou pour lescourses, ou jouer le bowling, au bien auxshoppings...Je fais de promenade, promenade, pro-menade...Naturellement, je ne peux pas travailler!Les soirs je mamuse quelque show, outhtre, ou rendez-vous chez un ami...Les personnes ne me retrouvent jamais!(GIRAFAMANIA, 2010).

    Essa sequncia s ser texto queles quedominam a lngua em que foi escrita, o francs; os

    demais reconhecero a sequncia, mas, como no

    interagem com ela, no conseguindo depreender-

    -lhe um sentido, ser um no texto.

    Nesse sentido, seguindo os passos de Kock

    e Travaglia (1990), podemos compreender texto

    como:

    AtenoAteno

    Texto = uma unidade lingustica concreta(perceptvel pela viso ou audio), que tomada pelos usurios da lngua (falante,escritor/ouvinte, leitor), em uma situaode interao comunicativa, como uma uni-dade de sentido e preenchendo uma fun-o comunicativa reconhecvel e reconhe-cida, independentemente da sua extenso.

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    Vejamos agora, brevemente, o que coeso

    e coerncia.

    2.1 Coeso

    Leia com ateno:

    Fvero (1999, p. 10) assim define coeso: Acoeso, manifestada no nvel microtextual, refere-

    -se aos modos como os componentes do universo

    textual, isto , as palavras que ouvimos ou vemos,

    esto ligados entre si dentro de uma sequncia.

    Podemos dizer, portanto, que coeso o

    nome com que designamos as estratgias de li-

    gao utilizadas num texto para torn-lo todo, ou

    seja, o uso de elementos capazes de estabelecer

    elos, os quais podem amarrar elementos mencio-nados anteriormente no texto, ocorrendo, ento, o

    que os estudiosos chamam de anfora.

    Ex.: Fiz todos os exerccios indicados pela

    professora, mas minha amiga Carla no os fez (isto

    , no fez os exerccios).

    Podem, tambm, amarrar elementos que

    sero ainda mencionados no texto, ocorrendo, en-

    to, a chamada catfora.

    Ex.: Fui ao mercado e comprei todos os itens

    de que precisava, menos estes: arroz, batata e azei-

    te.

    Bem utilizar esses elementos auxilia bastante

    na boa escritura de uma sequncia, mas no s

    isso. Vejamos, agora, outro elemento responsvel

    pela textualidade, capaz de ajudar na produotextual.

    Vamos ver outros exemplos de textos coesos

    para voc entender bem essa questo:

    Saiba maisSaiba mais

    O texto deve ter textualidade.

    Textualidade: aquilo que converte uma sequncia lin-gustica em texto (KOCK; TRAVAGLIA, 1990), isto , sertodo, coeso e coerente para seus usurios.

    Mais de um milho de jovens esto presos no ensino fundamental

    Dados do Censo Escolar da Educao Bsica de 2011 apontam que mais de um milho de jovens esto presos noensino fundamental. Os jovenstm mais de 14 anos e encontram-se nessa posio por conta de reprovaes ou outrosfatores que impedem o ingresso no ensino mdio. O nmero de mais de um milho de alunos estacionados no ensinofundamental a diferena entre a populao com mais de 14 anos e o nmero de matriculados no ensino fundamental,que atende justamente o pblico entre 6 e 14.

    Fonte: Alberti (2012).

    Texto 1

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    Mais de 60.000.000 de adultos no tem o Ensino Mdio

    Segundo dados do IBGE e MEC, na realidade o nmero ainda maior do que esses 60 milhes, pois no foram aqui con-tabilizados os analfabetos (15 milhes) e os com menos de 3 anos de estudo, considerados analfabetos funcionais (outros15 milhes).

    Podemos imaginar o que issosignifica para essas pessoas e para o pas como um todo. Apago de mo de obra, meno-res e piores oportunidades de empregos, gargalo no Ensino Superior com sobra de vagas e consequentemente uma grandereduo no potencial de crescimento do PIB nacional. Mas uma possvel soluo est surgindo, como veremos mais adiante.

    Vemos que as estatsticas e as autoridades educacionais no Pas so exclusivamente focadas nas crianas e jovens. Ondice principal a ser acompanhado a taxa de escolarizao, que significa verificar quantas pessoas esto no nvel escolarcorreto em relao sua idade.

    Mas, e aqueles que por um motivo qualquer abandonaram os estudos e no completaram o Ensino Mdio? So solene-mente ignorados.

    Mesmo a iniciativa privada, representada pelo belo programa TODOS PELA EDUCAO que estabeleceu 5 metas paraacompanhar a situao da Educao no Brasil, passou ao largo desse problema ao estabelecer como uma das suas 5 boasmetas para 2022:

    Meta 4 - Todo jovem com o Ensino Mdio concludo at os 19 anos.Certamente essa meta pode ser integralmente cumprida sem que um nico daqueles 60.000.000 de brasileiros conclua

    o Ensino Mdio.

    Esse um grande desafio: Permitir que milhes de brasileiros deem um salto na sua escolaridade e se incorporem aomercado de trabalho em um novo patamar.

    Em 2009 o MEC tomou uma deciso importantssima e que ainda no foi suficientemente divulgada. O ENEM vale paracertificao do Ensino Mdio, como se fosse um exame Supletivo. Isso est estabelecido na Portaria 109 de 27/03/2009,significando um direcionamento claro na linha da certificao de conhecimento.

    Art 2o. Constituem objetivos do ENEM... V- Promover a certificao de Jovens e Adultos no nvel de concluso do EnsinoMdio nos termos do artigo 38, pargrafos 1o. e 2o. da Lei das Diretrizes e Bases da Educao Nacional (LDB).

    A regra vale para os maiores de 18 anos e no depende de nenhum outro pr-requisito. Os alunos precisam atingir 400

    pontos nas provas objetivas e 500 na redao (No um ndice qualquer. a mdia do Ensino Mdio).Claramente, esse um enorme problema para um pas que pretende aumentar a escolaridade da sua populao, e

    ainda aumentar bastante o percentual de pessoas com Nvel Superior concludo. Isso sem considerar que so poucos osempregos que aceitam pessoas com escolaridade menor que o Ensino Mdio completo.

    Hoje menos de 9.000.000 de estudantes esto cursando o Ensino Mdio regular em todo o Brasil, chegando a 10,5 mi-lhes se somados aos que esto fazendo o EJA (Educao de Jovens e Adultos). Esse o contingente total administrado portodas as Secretarias de Educao de todos os estados. Comparando esse nmero com os 60 milhes anteriormente citados,vemos que a sala de aula convencional no ser soluo para esse problema.

    Tudo que aqui foi dito, parece no constar das preocupaes dos nossos governantes federais, estaduais ou munici-pais; atuais, passados ou futuros; nem de qualquer partido poltico.

    Est aberto um potencial enorme de preparao de pessoas para fazer o ENEM com o objetivo de certificao do EnsinoMdio. No incio, provavelmente de maneira tmida, mas, assim que uma boa parte desses 60.000.000 ainda com disposioe idade para aprender, perceber que duas vezes por ano poder fazer os exames de certificao e em pouco tempo concluirseus estudos de Ensino Mdio e at mesmo ingressar em uma Faculdade, essa demanda vai explodir.

    Nos dois ltimos anos, cerca de 1 milho de pessoas j fizeram o exame com essa finalidade (Basta assinalar essa opona hora da inscrio). E mais de 200 mil passaram.

    Acredito que essa demanda, caracterizada como sendo de Educao para adultos, para ser atendida por meio daEducao Distancia (EAD), com cursos preparatrios livres, desenvolvidos com mtodos baseados mais na andragogia doque na pedagogia.

    O formato das questes do ENEM, muito inteligente, privilegia o raciocnio em detrimento do decoreba. Isso essencialpara o adulto que abandonou os estudos, mas que vive, produz, trabalha e convive com esse nosso mundo de informaes.

    Assim, esse cidado vai poder se preparar na base do auto-estudo, de qualquer lugar, a qualquer momento e no seuprprio ritmo, podendo conciliar os estudos com o lar e o trabalho.

    Fonte: Milet (2012).

    Texto 2

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    2.2 Coerncia

    Veja: em ambos os textos, os elementos coe-

    sivos (grifados) foram adequadamente emprega-

    dos. A pontuao, os elementos referenciais, todos

    esto corroborando para que o texto adquira uni-

    dade.

    AtenoAteno

    Coerncia diz respeito ao sentido dotexto.

    AtenoAteno

    Quando falamos em UNIDADE, emAMARRAS, portanto, referimo-nos COE-SO!

    E do que ser que trata a noo de coerncia?

    A coerncia [...], manisfetada em grandeparte macrotextualmente, refere-se aosmodos como os componentes do univer-

    so textual, isto , os conceitos e as rela-es subjacentes ao texto de superfcie,se unem numa configurao, de maneirareciprocamente acessvel e relevante. As-sim a coerncia o resultado de processoscognitivos operantes entre os usurios eno mero trao dos textos. (FVERO, 1999,p. 10).

    Ento, a sequncia a seguir constituir texto

    para quem a entender como um classificado, con-corda?

    Vrios so os elementos responsveis pela

    coerncia. Kock e Travaglia (1990) apontam os se-

    guintes:

    a) conhecimentos: lingustico, de mundo, parti-

    lhado, do mundo em que o texto se inscreve;

    b) inferncias;

    c) fatores pragmticos;d) situacionalidade;

    e) intencionalidade;

    f) aceitabilidade;

    g) informatividade;

    h) focalizao;

    i) intertextualidade;

    j) relevncia.

    Resta-nos, ainda, especificar que os textos or-

    ganizam-se numa hierarquia de tipos de subtipos.

    Guimares (2004) ensina que, se a inteno se volta

    fundamentalmente para as estruturas internas do

    texto, fica estabelecida uma tipologia de acordo

    com a forma de estruturao, sua superestrutura,

    ou o mundo em que o texto se inscreve.

    Os textos citados como exemplos de textos

    coesos tambm so exemplos de textos com coe-

    rncia, porque tm sentido.Vamos ver um exemplo de um texto em que

    falta coerncia:

    Entendeu? Espero que sim!

    VENDE-SE

    Apartamento. 3 dorms. 2 sls. coz. rea

    serv. Moema. R$210.000. Tratar com o

    proprietrio: (33) 3333-3333.

    Sa ao meio dia e chovia. Como estava com

    fome, resolvi jantar. Depois disso, sa e fui

    tomar sol...

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    2.3 Resumo do Captulo

    Neste captulo estudamos o que texto (uma unidade de sentido) e quais so os fatores respons-

    veis pela textualidade: coeso, que diz respeito s conexes dentro do texto; e coerncias, as relaes de

    sentido do texto.

    Vamos ver se voc entendeu o que acabamos de explicar.

    2.4 Atividades Propostas

    1. Leia a sequncia a seguir e responda: um texto? Justifique sua resposta.

    2. Quais elementos so responsveis pela textualidade?

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    3AS SUPERESTRUTURAS TEXTUAIS

    Caro(a) aluno(a),

    A noo de superestrutura, emprestada de

    Van Dijk (1983), diz respeito s estruturas globais

    que caracterizam alguns tipos de textos, indepen-

    dentemente de seu contedo.

    Dessa forma, relativamente ao aspecto estru-tural, podemos inscrever os textos em: descritivos,

    narrativos e dissertativos. Essas superestruturas

    tm, como afirma Guimares (2004, p.65), carter

    convencional e so conhecidas e reconhecidas pe-

    los falantes da lngua, ou seja, uma superestrutura

    um tipo de esquema abstrato que estabelece a

    ordem global do texto, e que se compe de uma

    srie de categorias, cujas possibilidades de combi-

    nao se baseiam em regras convencionais.

    A autora informa, tambm, que, embora haja

    sempre uma estrutura dominante, o texto pode

    apresentar outras. Por exemplo, um texto predo-

    minantemente narrativo pode apresentar trechosdescritivos; o predominantemente dissertativo

    pode trazer, em alguns momentos, trechos que

    caracterizam a narrao e/ou a descrio. O impor-

    tante para um estudante do curso de Letras saber

    identificar no todo trechos dessa ou daquela estru-

    tura, cujas caractersticas agora apresentamos.

    3.1 O Texto Descritivo

    O que voc entende por descrio?

    Descrever caracterizar com detalhes obje-

    tos, locais, pessoas e situaes, apresentando as

    caractersticas deles percebidas por meio dos cin-

    co sentidos. Como atravs dos sentidos que es-tabelecemos contato com o mundo nossa volta,

    podemos dizer que essa estrutura textual a mais

    primeva, constituindo elementos vitais de nossa

    sensibilidade.

    Viso, tato, audio, paladar, olfato so os

    sentidos com que percebemos as coisas do mundo

    que se traduzem em formas, cores, texturas, chei-

    ros, sonoridades a serem descobertas. (AMARAL;

    ANTNIO, 1991, p. 19).

    Observemos agora as seguintes sequncias:

    Era um dia abafadio e aborrecido. A po-bre cidade de So Lus do Maranho pa-recia entorpecida pelo calor. Quase quese no podia sair rua: as pedras escalda-vam, as vidraas e os lampies faiscavamao sol como enormes diamantes, as pare-des tinham reverberaes de prata polida;

    as folhas das rvores nem se mexiam; ascarroas dgua passavam ruidosamente atodo o instante, abalando os prdios, e osaguadeiros, em mangas de camisa e per-nas arregaadas, invadiam sem cerimniaas casas para encher as banheiras e os po-tes. Em certos pontos no se encontravaviva alma na rua; tudo estava concentrado,adormecido; s os pretos faziam as com-pras para o jantar ou andavam no ganho.(AZEVEDO, 1997).

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    Trem das Cores

    A franja na encostaCor de laranja

    Capim rosa chO mel desses olhos luz

    Mel de cor mparO ouro ainda no bem verde da serra

    A prata do tremA lua e a estrela

    Anel de turquesaOs tomos todos danam

    MadrugaReluz neblina

    Crianas cor de romEntram no vago

    O oliva da nuvem chumboFicando

    Pra trs da manhE a seda azul do papel

    Que envolve a maAs casas to verde e rosaQue vo passando ao nos ver passar

    Os dois lados da janelaE aquela num tom de azul

    Quase inexistente, azul que no hAzul que pura memria de algum lugar

    Teu cabelo pretoExplcito objeto

    Castanhos lbiosOu pra ser exato

    Lbios cor de aaE aqui, trem das cores

    Sbios projetos:Tocar na central

    E o cu de um azulCeleste celestial

    (VELOSO, 1990).

    A primeira sequncia, como se pode obser-

    var, um trecho do romance O mulato, de Alusio

    Azevedo. Podemos perceber com que preciso o

    autor descreve a cidade de So Lus do Maranho;trechos com sinestesias, como pedras escaldavam,

    as vidraas e os lampies faiscavam ao sol como

    enormes diamantes, as paredes tinham reverbera-

    es de prata polida, favorecem no s a leitura,

    como tambm a percepo sensorialdo texto.

    O mesmo acontece com a letra da msica

    Trem das cores, de Caetano Veloso. Em O mel des-

    ses olhos luz/E a seda azul do papel/Que envolve a

    ma, temos a impresso de sentir o gosto tantodo mel, quanto da ma; de ver o brilho dos olhos

    e de sentir a maciez do papel de seda.

    Vejamos ento, pormenorizadamente, o que

    compreende um texto descritivo.

    Caractersticas do Texto Descritivo

    Leia o seguinte fragmento (1) da obra Irace-

    ma, de Jos de Alencar:

    Iracema, a virgem dos lbios de mel, quetinha os cabelos mais negros que a asa dagrana e mais longos que seu talhe de pal-meira.

    O favo da jati no era doce como seu sor-riso; nem a baunilha recendia no bosquecomo seu hlito perfumado.

    Mais rpida que a ema selvagem, a mo-rena virgem corria o serto e as matas doIpu, onde campeava sua guerreira tribo,da grande nao tabajara. O p grcil enu, mal roando, alisava apenas a verdepelcia que vestia a terra com as primeirasguas. (ALENCAR, 1990).

    Agora, atente para o seguinte fragmento (2):

    Iracema saiu do banho; o aljfar dguaainda a roreja, como doce mangaba quecorou em manh de chuva. Enquanto re-pousa, empluma das penas do gar as fle-chas de seu arco, e concerta com o sabida mata, pousado no galho prximo, ocanto agreste. (ALENCAR, 1990).

    O primeiro fragmento descritivo e o segun-

    do, narrativo. Como identificar a descrio?

    O texto descritivo predominantemente fi-gurativo, ou seja, construdo com termos essen-cialmente concretos, evocando uma figura, um

    AtenoAteno

    Um texto descritivo estar bem produzi-do quando possibilitar essas sensaes;quando o leitor, ao proceder sua leitura,tiver a sensao de estar vendo, presen-

    ciando, sentindo o que se est descre-vendo.

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    efeito de realidade. Os textos figurativos produ-zem um efeito de realidade e, por isso, represen-

    tam o mundo, com seus seres, seus acontecimen-

    tos. (PLATO; FIORIN, 1997, p. 89).

    No fragmento 1, temos como exemplos de

    termos concretos: a morena virgem corria o serto

    e as matas do Ipu, onde campeava sua guerreira tri-bo, da grande nao tabajara. O p grcil e nu, mal

    roando etc.

    Outra caracterstica do texto descritivo que

    ele no traz mudana de situao. esttico, repre-

    senta o mundo num determinado momento, re-

    corte. Alm disso, naquela instncia em que se efe-

    tua a descrio, vrios fatos simultneos podem ser

    apresentados. Assim, Iracema, quando apreendida

    pelo narrador, apresentava simultaneamente as se-guintes caractersticas: era virgem, tinha lbios de

    mel; seus cabelos eram mais negros que a asa da

    grana e mais longos que o talhe de palmeira; seu

    sorriso era doce como o favo da jati; seu hlito era

    perfumado, era ainda mais rpida que a ema etc.

    Essas caractersticas coocorriam, estavam

    todas presentes na mesma instncia, podendo, in-

    clusive, ser invertidas no texto; por exemplo: seu

    sorriso era doce como o favo da jati; seu hlito eraperfumado, era ainda mais rpida que a ema; era

    virgem, tinha lbios de mel; seus cabelos eram

    mais negros que a asa da grana e mais longos que

    o talhe de palmeira... Isso porque no existe relao

    de anterioridade, nem de posterioridade no frag-

    mento.

    Para que se estabelea a comparao, reto-

    memos o segundo fragmento:

    Iracema saiu do banho; o aljfar dguaainda a roreja, como doce mangaba quecorou em manh de chuva. Enquanto re-pousa, empluma das penas do gar as fle-

    chas de seu arco, e concerta com o sabida mata, pousado no galho prximo, ocanto agreste. (ALENCAR, 1990).

    Esse um fragmento narrativo, pois existe

    nele uma relao de anterioridade e posteriorida-

    de: primeiro a ndia saiu do banho, depois se ps

    a repousar. A inverso dos fatos prejudicaria a se-

    quenciao do texto.

    Podemos perceber tambm, em ambos ostextos, uma diferena no emprego dos tempos ver-

    bais: no primeiro, predomina o pretrito imperfeito

    e, no segundo, o pretrito perfeito. Como a simul-

    taneidade a caracterstica do texto descritivo, os

    tempos verbais mais empregados so o presente

    do indicativo e o pretrito imperfeito do indicativo.

    Quanto organizao, podemos afirmar que

    se deve elaborar o texto descritivo espacialmente,

    isto , os elementos devem ser descritos de baixopara cima, da esquerda para a direita, de dentro

    para fora etc., para que o leitor possa, paulatina-

    mente, ir construindo a imagem daquilo que se

    est tratando.

    3.2 O Texto Narrativo

    Parafraseando Humberto Eco (1985), no Ps-

    -escrito a O nome da rosa, destacamos:

    DicionrioDicionrio

    Narrao: s.f.[] exposio oral ou escrita de umfato.

    (HOUIAISS, 2003, p. 364)

    AtenoAteno

    Narrar representar um acontecimentoou uma srie de acontecimentos reais ou

    fictcios num texto.

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    Afirma Eco (1985, p. 21):

    [...] para contar necessrio primeiramen-te construir um mundo, o mais mobiliadopossvel, at os ltimos pormenores. Cons-tri-se um rio, duas margens, e na margemesquerda coloca-se um pescador, e se esse

    pescador possui um temperamento agres-sivo e uma folha penal pouco limpa, pron-to: pode-se comear a escrever, traduzin-do em palavras o que no pode deixar deacontecer.

    Essa citao de Eco, mesmo que indireta-

    mente, permite-nos depreender que so cinco os

    elementos da narrao: narrador, personagens,

    aes, tempo e espao.

    Leia, agora, o texto a seguir, de Marina Colas-

    santi:

    Nunca descuidando do dever

    Jamais permitiria que seu marido fossepara o trabalho com a roupa mal passada,no dissessem os colegas que era espo-sa descuidada. Debruada sobre a tbua,com o olho vigilante, dava caa s dobras,desfazia pregas, aplainando punhos e pei-

    tos, afiando o vinco das calas. E a poderde ferro e goma, envolta em vapores, al-canava o ponto mximo de sua arte aoarrancar dos colarinhos liso brilho de ce-lulide.

    Impecvel, transitava o marido pelo tem-po. Que, embora respeitando ternos e ca-misas, comeou subrepticiamente a mar-car seu avano na pele e no rosto. Um dianotou a mulher um leve afrouxar-se dasplpebras. Semanas depois percebeu que,

    no sorriso, franziam-se fundos os cantosdos olhos.

    Mas foi s muitos meses mais tarde quea presena de duas fortes pregas descen-do dos lados do nariz tornou-se inegvel.Sem dizer nada, ela esperou a noite. Tendofinalmente certeza de que o homem dor-mia o mais pesado dos sonos, pegou umpaninho mido e, silenciosa, ligou o ferro.

    Observemos que, nesse texto, vislumbramosos seguintes elementos da narrao:

    a) narrador: onisciente de 3 pessoa:Jamais permitiria que seu marido fossepara o trabalho...;

    b) personagens:

    protagonista:a esposa Nodissessem os colegas que eraesposa descuidada...;

    antagonista:o marido Impecveltransitava o marido pelo tempo;

    c) aes: debruadasobre a tbua; davacaas dobras;

    d) tempo: jamaispermitiria; um dianotou a mulher; muitos meses maistarde;

    e) espao: na sua casa, em umadeterminada cidade.

    Alm desses elementos, a narrao apresen-

    ta, diferentemente da descrio, transformao.

    Caractersticas do Texto Narrativo

    No texto Nunca descuidando do dever,pode-mos perceber, entre outras, as seguintes caracters-ticas:

    a) as camisas amassadas ficavam muitobem passadas: [...] alcanava o pontomximo de sua arte ao arrancar dos cola-rinhos liso brilho de celulide.;

    b) o marido foi adquirindo rugas no rosto:[...] transitava o marido pelo tempo. Que,embora respeitando ternos e camisas,comeou subrepticiamente a marcar seuavano na pele e no rosto.

    Mas a transformao mais significativa a

    que no est explicitada, ou seja, ao perceber o ros-

    to enrugado do marido, a esposa, como um aut-

    mato, tem a inteno de pass-lo: Tendo finalmen-te certeza de que o homem dormia o mais pesado

    dos sonos, pegou um paninho mido e, silenciosa,

    ligou o ferro.

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    Alm disso, tanto quanto o texto descritivo, o

    narrativo figurativo. Lembremo-nos de que essetipo de texto construdo com palavras concretas,

    cuja funo representar o mundo. Por meio das

    figuras empregadas, podemos depreender o realsentido do texto. No caso de Nunca descuidando

    do dever, figuras como:

    [...] Jamais permitiria que seu maridofos-se para o trabalhocom a roupamal pas-sada, no dissessem os colegas que eraesposa descuidada. Debruada sobre atbua,com o olho vigilante, dava caas dobras, desfazia pregas[...].

    Permitindo-nos depreender, sublinearmente,

    uma crtica s mulheres que, nas dcadas de 1960 e1970, viviam apenas e to somente para o lar, reali-

    zando robotizadamente as atividades domsticas.

    Alm da figurativizao, na narrao, a orde-

    nao temporal. O texto deve ter uma sequencia-

    o para que o leitor possa acompanhar o desenro-

    lar das aes. Assim, vejamos:

    Jamais permitiria que seu marido fossepara o trabalhocom a roupa mal passada,

    no dissessem os colegas que era espo-

    sa descuidada. Debruada sobre a tbua,com o olho vigilante, dava caa s dobras,desfazia pregas, aplainando punhos e pei-tos [...] Um dia notou a mulher um leveafrouxar-se das plpebras. Semanas de-pois percebeu que, no sorriso, franziam-sefundos os cantos dos olhos. [...]

    Mas foi s muitos meses mais tarde quea presena de duas fortes pregas descen-do dos lados do nariz tornou-se inegvel.Sem dizer nada, ela esperou a noite. Ten-do finalmente certeza de que o homemdormia o mais pesado dos sonos, pegouum paninho mido e, silenciosa, ligou oferro.

    Fonte:www.pensador.uol.com.br.

    A ordenao temporal, nesse texto, ajuda o

    leitor a ir acompanhando as aes da esposa ato inesperado desfecho e, diferentemente do texto

    descritivo, a disposio dessas aes no pode ser

    alterada.

    Como a ordenao temporal de extrema re-

    levncia no texto narrativo, os tempos verbais b-

    sicos so os do subsistema do passado: pretritosperfeito, mais que perfeito e imperfeito.1

    3.3 O Texto Dissertativo

    Mas ser que, como superestrutura textual,

    dissertao s isso? Vamos ver o que dizem al-

    guns estudiosos do assunto.

    Magalhes (1980, p. 7) assevera que a disser-

    tao ocorre no plano das ideias, do conhecimen-

    to, das abstraes. Trata-se de um trabalho refle-

    xivo que consiste, de maneira geral, em organizar

    as ideias numa linha de raciocnio. Assim, ensina o

    autor, todas as vezes em que nos valemos da lin-guagem verbal para expor, defender ou contestar

    idias, estaremos utilizando o chamado discurso

    dissertativo.

    Plato e Fiorin (1997, p. 252) afirmam que

    dissertao o tipo de texto que analisa interpre-

    ta, explica e avalia os dados da realidadee relacio-

    nam algumas de suas caractersticas, revisadas a

    seguir.

    DicionrioDicionrio

    Dissertao: s.f. 1. Exposio oral ou escrita; 2.Monografia. Ensaio [...].

    (HOUAISS, 2003, p. 174)

    1 Geralmente, mas no exclusivamente. Pode-se usar, por exemplo, o presente do indicativo, com valor atemporal, instaurandoproximidade e verossimilhana ao texto.

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    Caractersticas da Dissertao

    a) um texto temtico, ou seja, discute umtema, operando, predominantemente,com termos abstratos;

    b) Mostra mudana de situao, tantoquanto a narrao;

    c) Sua ordenao lgica;

    d) O tempo bsico empregado nadissertao o presente do indicativocom valor atemporal, embora se admitao uso do pretrito perfeito e do futuro dopresente.

    Importa esclarecer que h autores que ins-

    crevem os textos dissertativos em dois tipos: expo-

    sitivos e argumentativos, os quais veremos a seguir.

    Dissertao Expositiva

    aquela cujo propsito discorrer sobre o

    assunto num sentido meramente informativo. As-

    sim, pode-se dissertar sobre a pena de morte, a

    juventude brasileira etc., sem que haja posiciona-

    mento sobre o tema.

    A importncia de Msica Popular Brasi-leira

    A importncia da Msica Popular Brasileira nocenrio de nossa cultura inegvel. Pode-seconstatar que a MPB, alm de sua relevnciacomo manifestao esttica tradutora de nos-sas mltiplas identidades culturais, apresenta--se como uma das mais poderosas formas depreservao da memria coletiva e como um

    espao social privilegiado para as leituras e in-terpretaes do Brasil. (ICCA, 2011).

    Dissertao Argumentativa

    Diferentemente da anterior, na dissertao

    argumentativa revelam-se reflexes sobre o assun-

    to, a fim de persuadir o receptor, acompanhando a

    linha de raciocnio do que exposto, a verificar se

    o raciocnio verbalizado correto e, nesse sentido,passvel ou no de aceitao.

    Uma escolha contra a mulher

    O aborto freqentemente apresentadocomo um problema de direito das mulhe-res. visto como algo desejvel para asmulheres, e como um benefcio ao qualelas deveriam ter tanto acesso quantopossvel. Na verdade, ser pr-vida visto

    como sendo contra os direitos da mulher.Se voc s vezes pensa desta forma, exa-mine os fatos apresentados aqui. Ver que,na verdade, o aborto prejudica a mulher,ignora os seus direitos, e as abusa e degra-da. Qualquer um que se preocupa com amulher far bem em conhecer estes fatos.

    Estudos de mulheres que fizeram abor-to, (veja, por exemplo, o livro do Dr. Da-vid Reardon, Aborted Women, Silent NoMore), mostram que o aborto no uma

    questo de dar mulher uma escolha. ,tragicamente, uma situao em que asmulheres sentiram que no tinham NE-NHUMA ESCOLHA, sentiram que ningumse importava com elas e com seu beb,dando-lhes alternativa alguma a no ser oaborto. A mulher sente-se rejeitada, con-fusa, com medo, sozinha, incapaz de lidarcom a gravidez - e, no meio disto tudo, asociedade diz-lhe, Ns eliminaremos o seuproblema eliminando o seu beb. Faa umaborto. seguro, fcil, e uma soluo legal.

    O fato que embora o aborto seja legal(nos Estados Unidos), ele NO seguro efcil, nem respeita a mulher. [...]. (CASTE-LES, 2002, grifo nosso).

    Podemos perceber, nesse texto, que, por

    exemplo, no trecho: na verdade, o aborto preju-dica a mulher, ignora os seus direitos, e as abusae degradaest expressa a opinio do autor e, para

    que ela seja mesmo aceita, passa ele a relacionar osmotivos que o fazem pensar assim.

    AtenoAteno

    Dissertar , de toda forma e de forma su-cinta, defender um ponto de vista, umaopinio.

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    dever moral. Outro exemplo: no passadoagia com humanidade o patro que, antesde despedir seu empregado, lhe dava umprazo para procurar nova colocao, e aoromper o contrato de trabalho lhe ofere-cia uma indenizao pelos anos de servi-os prestados. Talvez isso constitusse umdever moral ditado pela preocupao de

    justia. Mas o descumprimento de tal de-ver no provocava qualquer sano porparte do Estado. Parecendo ao legisladorconveniente transformar tal preceito deMoral em regra de Direito, impe ao pa-tro o dever de dar aviso prvio e de pres-tar indenizao ao empregado despedido.O descumprimento de tal obrigao, hoje,provoca uma sano por parte do Estado.A regra de Moral transformou-se em regrade Direito.

    Neste texto, temos, portanto:

    a) assunto:Direito;

    b) delimitao:Direito e moral;

    c) objetivo: mostrar que muitas normasmorais transformaram-se em normas ju-

    rdicas por razo de convenincia social;

    d) tpico frasal: Muitas normas, antesapenas do mbito da Moral, passaram

    ao campo do Direito pelo fato de o legis-

    lador, num momento dado, julgar con-

    veniente atribuir-lhes fora coercitiva,

    impondo uma sano para sua desobe-

    dincia;

    e) desenvolvimento(argumentos basea-dos em provas concretas):

    1. o socorro patronal obrigatrio aoempregado acidentado;

    2. a obrigao jurdica de dar avisoprvio e de prestar indenizao aoempregado despedido;

    f) concluso: A regra de Moral transfor-mou-se em regra de Direito.

    Alm disso, podemos perceber que o texto

    dissertativo tem algumas caractersticas que lheso peculiares. Vejamos quais so.

    Primeiramente, como pudemos perceber,

    trata-se de um texto temtico, ou seja, o nosso

    exemplo discute uma questo jurdica, operando,

    predominantemente, termos abstratos:

    Muitas normas, antes apenas do mbitoda Moral,passaram ao campo do Direitopelo fato de o legislador, num momento

    dado,julgarconveniente atribuir-lhes for-a coercitiva, impondo uma sano parasua desobedincia. Assim, por exemplo,no passado era altamente meritrio o fatode o patro socorrer seu empregado aci-dentado. [...] (MAGALHES, 1980, p. 16-17,grifo nosso).

    Mostra, tanto quanto a narrao, mudana

    de situao; neste texto, o autor aponta para fatos

    que passaram de atitudes morais para deveres im-

    postos pelo Direito:

    [...] Este, entretanto, observando a conve-nincia de se impor ao patro a obrigaode socorrer seu servial infortunado, crioua norma de Direito, impondo como obri-gao jurdica aquilo que no passava demero dever moral.

    [...] O descumprimento de tal obrigao,

    hoje, provoca uma sano por parte doEstado. A regra de Moral transformou-seem regra de Direito. (MAGALHES, 1980,p. 16-17).

    Sua ordenao lgica e, como j apontado,

    h no texto um tpico frasal, o desenvolvimento e

    a concluso.

    Os tempos verbais empregados nessa disser-

    tao so: pretritos perfeito e imperfeito do indi-cativo, quando o autor remete o leitor ao passado,

    e presente, quando aponta para o resultado da

    ao pretrita:

    [...] Outro exemplo: no passado agiacomhumanidade o patro que, antes de des-pedir seu empregado, lhe davaum prazopara procurar nova colocao, e ao rompero contrato de trabalho lhe oferecia uma

    indenizao pelos anos de servios pres-tados. Talvez isso constitusse um devermoral ditado pela preocupao de justia.Mas o descumprimento de tal dever noprovocavaqualquer sano por parte do

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    Estado. Parecendo ao legislador conve-niente transformar tal preceito de Moralem regra de Direito, impe ao patro odever de dar aviso prvio e de prestar in-denizao ao empregado despedido. Odescumprimento de tal obrigao, hoje,provocauma sano por parte do Estado.A regra de Moral transformou-seem re-gra de Direito. (MAGALHES, 1980, p. 16-17, grifo nosso).

    Saiba maisSaiba mais

    Conhecer as superestruturas textuais muito importante, porque orienta a lei-tura do texto!

    3.4 Resumo do Captulo

    Caro(a) aluno(a),

    Neste captulo vimos as superestruturas textuais. Aprendemos primeiramente que temos trs su-perestruturas bsicas de organizao textual: descrio, narrao e dissertao. A primeira, a descri-o, refere-se capacidade de fornecer ao leitor um retrato da situao, pessoa, lugar etc. que se deseja

    descrever. Para isso o texto deve ter, principalmente, uma organizao espacial; a segunda, a narrao,

    refere-se capacidade de fornecer ao leitor um evento, uma histria e, nesse sentido, o texto deve ter,

    predominantemente, organizao temporal. Por ltimo, vimos a dissertao. Esse um texto objetivo

    cuja organizao deve ser lgica. Ser que voc compreendeu bem esse assunto? Vamos trein-lo, ento.

    3.5 Atividades Propostas

    1. Rena todas as informaes dadas anteriormente a respeito do texto descritivo e leia a seguin-

    te poesia de Manoel Bandeira, observando os traos da descrio e explicitando-as a seguir:

    Segunda cano do beco

    Teu corpo moreno da cor da praia.Deve ter o cheiroDa areia da praia.

    Deve ter o cheiroQue tem ao mormao

    A areia da praia.

    Teu corpo morenoDeve ter o gostoDe fruta de praia.Deve ter o travo,

    Deve ter a cicaDos cajus da praia.No sei, no sei, mas

    Uma coisa me dizQue o teu corpo magro

    Nunca foi feliz.

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    2. Leia atentamente o seguinte texto, buscando visualizar nele os elementos da narrao j dis-

    cutidos. Explique-os a seguir:

    DESTA GUA NO BEBERSCarlos Drummond de Andrade

    - Por que Demtrio no se casa? Era a indagao geral! Demtrio namorava, noivava, no casava.Sete dias antes do casamento, olha a Demtrio fugindo. As verses eram mltiplas. A noiva que odespedira. Tiveram uma briga feia. Gnios incompatveis. Mal secreto. Intrigas.

    Demtrio continuava a namorar, noivar e no casar. No lhe faltavam noivas, pois era agradvel,tinha status. Quanto mais se desmanchavam seus projetos de casamento, mais apareciam mulheresdispostas ao desafio, exclamando:

    - A mim ele no deixa na porta do Mosteiro de So Bento.

    Deixava. E quanto mais deixava, mais seu prestgio crescia. Concluiu-se que era sua maneira de afir-mar-se.

    Ento Livaniuska decidiu enfrent-lo. Noivou com ele e, uma semana antes do casamento, deu-lhe

    o fora solene. Demtrio quis reagir, explicou reprter social que ele que tomara a iniciativa, masa mentira foi patente. Livaniuska foi contratada como atriz por uma emissora de TV e ficou clebre.

    Da por diante ela repetiu a carreira de Demtrio, noivando e desmanchando com inmeros cava-lheiros. No fim de cinco anos, Livaniuska e Demtrio casaram-se para sempre, como era fcil de pre-ver, mas ningum previu.

    3. Leia atentamente o texto a seguir, buscando visualizar nele os elementos da dissertao j

    discutidos. Complete o proposto na sequncia:

    Uso de lcool na gravidez traz riscos ao beb

    A ingesto de lcool durante a gravidez pode acarretar uma srie de problemas na formao dofeto. A manifestao mais severa a Sndrome Alcolica Fetal (SAF) que causa desde malformaescraniofaciais, retardamento no crescimento at a incapacidade de desenvolvimento mental.

    O fato de um grande nmero de mulheres beberem socialmente e a maioria das gestaes noserem planejadas aumentam o risco de ocorrer a SAF. Pode haver um desconhecimento do estadogestacional nos primeiros meses. Isso implica muitas vezes a exposio do embrio ao etanol, princi-palmente no perodo mais crtico e sensvel da gestao, explica Cristiana Corra, professora da Facul-dade de Cincias Farmacuticas, da Pontifcia Universidade Catlica de Campinas.

    Geralmente, a incidncia da SAF oscila entre 0,4 a 3,1 casos por 1000 nascimentos. Entre os filhos

    de mes alcolatras estima-se que 30% a 40% dos recm nascidos venham a apresentar a doena.Ainda no foi definida a quantidade mnima de lcool ingerida capaz de afetar o feto.

    As maiores conseqncias da SAF so: restrio no crescimento, com decrscimo inferior a 10%no peso e no comprimento; envolvimento do Sistema Nervoso Central, apresentando, entre outrosproblemas, disfuno comportamental, hiperatividade, dificuldade de adaptao social, e anomaliasfaciais.

    A preveno da SAF, na opinio de Corra, s ser possvel atravs de um sistema articulado deinterveno teraputica na me alcolatra, programas educacionais nas comunidades, identificaoprecoce da doena e acompanhamento das crianas afetadas pela sndrome. (CASTELES, 2002).

    Assunto: ___________________________________________________

    Delimitao: ________________________________________________Objetivo: __________________________________________________

    Tpico frasal: ______________________________________________

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    4CONSTITUIO DO TEXTO

    Relembrando a Noo de Texto

    Caro(a) aluno(a),

    Para que acompanhe bem o contedo daqui

    para frente, vamos nos lembrar das noes de texto

    e textualidade aprendidas no incio deste material.

    Texto e Textualidade

    Como vimos, texto, etimologicamente, quer

    dizer tecido, ou seja, trata-se de uma trama na qualse devem enredaras palavras.

    J a Lingustica do Discurso procura estudar

    os textos como manifestaes lingusticas produ-

    zidas por indivduos concretos em situaes con-

    cretas, sob determinadas condies de produo

    (KOCK, 1997, p. 11), entendendo-os numa situao

    interacionista.

    Para Val (1999, p. 3), texto (escrito ou falado)

    a unidade lingustica comunicativa bsicautiliza-

    da pelos falantes de uma lngua para se comunicar

    e ser bem compreendido quando comportar trs

    aspectos fundamentais: o pragmtico (atuao in-

    formacional e comunicativa), o semntico-concei-

    tual (relacionado compreenso, cognio, por-

    tanto, da coerncia) e o formal (de sua organizao,

    ou seja, de sua coeso).

    Por outro lado, discurso mais abrangente

    e, de acordo com a Anlise do Discurso de linha

    francesa, ele entendido como oespao em que

    emergem as significaes(BRANDO, 2002). Mas,o que comporta essa significao? Primeiramente,

    temos de entender que o discurso de que tratamos

    se faz na e pela lngua, ou seja, as significaes se-

    ro observadas em sua formao discursiva, soma-

    da s suas condies de produo, norteadas pela

    sua formao ideolgica.

    Dessa forma, a noo de discurso pode ser

    vista como mltipla e analis-lo , de acordo com

    Foucault (1990, p. 187), fazer desaparecer e reapa-

    recer as contradies mostrar o jogo que jogam

    entre si; manifestar como pode exprimi-las, dar-

    -lhes corpo, ou emprestar-lhes uma fugidia apa-

    rncia.Isso quer dizer que analisar um discurso

    buscar esses elementos de disperso, os diversosdiscursos que comporta, os textos que com ele dia-

    logam.

    E h vrias maneiras de os textos conversa-

    rem entre si e com os discursos, como veremos a

    seguir.

    DicionrioDicionrio

    Lingustica a cincia da linguagem.

    AtenoAteno

    Texto pode ser compreendido comouma unidade de sentido que dependede uma srie de fatores, ligados tanto coerncia quanto coeso.

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    De acordo com Kristeva (1974, p. 64) todo

    texto se constri como um mosaico de citaes.

    Todo texto absoro e transformao de um ou-tro texto , ou seja, como fala Bakhtin (1988), ne-

    nhum discurso neutro, mas sempre formado por

    outros que lhe foram anteriores no tempo, pois

    produzido por um sujeito descentrado, assumindo

    diferentes vozes sociais, que o tornam um sujeito

    histrico e ideolgico.

    Fiorin (2003, p. 32) ensina que a intertextuali-

    dade o processo de incorporao de um texto em

    outro, seja para reproduzir o sentido incorporado,seja para transform-lo. J Brando (2002, p. 76)

    aponta dois tipos de intertextualidade: uma inter-na, na qual um discurso se define por sua relaocom o discurso do mesmo campo, podendo diver-

    gir ou apresentar enunciados semanticamente vi-

    zinhos aos que autoriza sua formao discursiva; e

    uma externa, na qual o discurso define uma certarelao com outros campos.

    Kock (1986) tambm aponta a possibilidadede se observar a intertextualidade de duas manei-

    ras: em sentido amplo, que ocorre implicitamen-te, ou seja, a identificao dos textos em dilogo

    conseguida por meio de atenta observao por

    parte do leitor, porque o novo texto mantm al-

    guns aspectos, tanto formais quanto de sentido,dos originais; em sentido estrito, que pode apare-cer tanto implicitamente por meio da divulga-ode sua ideologia e retrica quanto explicita-mente por meio da revelao direta do texto doqual se origina.

    Paulino, Walty e Cury (1997) indicam oito

    possibilidades de a intertextualidade se revelar,

    isto , por meio de epgrafe, citao, referncia, alu-

    so, parfrase, pardia, pastiche e traduo. Essesautores entendem a sociedade como uma grande

    rede intertextual e do ao espao cultural um lugar

    de relevncia, pois cada produo dialoga necessa-

    riamente com outras.

    Fiorin (2003) e SantAnna (1988) apontam di-

    ferentes maneiras de a intertextualidade ocorrer. O

    primeiro identifica trs processos: a citao, a alu-

    so e a estilizao; o segundo, quatro: a pardia, a

    parfrase, a estilizao e a apropriao. Como aproposta de SantAnna que mais atende aos nossos

    propsitos, estud-la-emos pormenorizadamente

    a seguir.

    4.1 Intertextualidade

    4.2 Pardia

    Todo mundo sabe o que pardia? Vamosver o que dizem os estudiosos da Lingustica Tex-tual.

    Fvero (2003, p. 49) vai etimologia para con-ceituar o termo: Pardia significa canto paralelo(de para = ao lado de e ode = canto), incorporan-do a idia de uma cano, cantada ao lado de ou-tra, como uma espcie de contracanto. SantAnna(1988) completa, asseverando que ela tem uma

    funo catrtica, funcionando como contrapontocom os momentos de muita dramaticidade. Almdisso, a pardia faz uma reapresentao daquiloque havia sido recalcado, sendo uma nova e diferente

    maneira de ler o convencional, ou seja, um processode liberao do discurso, uma tomada de conscincia

    crtica.

    Parodia-se um texto para neg-lo, j que alinguagem, nesse tipo de produo, dupla: asvozes que dialogam nos dois discursos se cruzamtanto horizontal (produtor x receptor) quanto ver-ticalmente (texto x contexto) (FVERO, 1999).

    Temos, em nossa literatura, muitos exem-

    plos de pardia. J Soares, na poca de cassaodo ento presidente Fernando Collor de Melo, uti-lizando-se da mesma estrutura da nossa Cano do

    exlio, escreveu:

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    Cano do Exlio s Avessas

    J Soares

    Minha Dinda tem cascatasOnde canta o curi

    No permita Deus que eu tenha

    De voltar pra Macei.Minha Dinda tem coqueirosDa Ilha de Maraj

    As aves, aqui, gorjeiamNo fazem cocoric.

    O meu cu tem mais estrelasMinha vrzea tem mais cores.

    Este bosque reduzidodeve ter custado horrores.E depois de tanta planta,

    Orqudea, fruta e cip,No permita Deus que eu tenhaDe voltar pra Macei.

    [...]No meio daquelas plantas

    Eu jamais me sinto s.No permita Deus que eu tenha

    De voltar pra Macei.Pois no meu jardim tem lagos

    Onde canta o curiE as aves que l gorjeiam

    So to pobres que do d.

    Minha Dinda tem primoresDe floresta tropical.

    Tudo ali foi transplantado,Nem parece natural.Olho a jabuticabeira

    dos tempos da minha av.No permita Deus que eu tenha

    De voltar pra Macei.

    At os lagos das carpas

    So de gua mineral.Da janela do meu quartoRedescubro o Pantanal.

    Tambm adoro as palmeirasOnde canta o curi.

    No permita Deus que eu tenhaDe voltar pra Macei.

    Finalmente, aqui na Dinda,Sou tratado a po-de-l.S faltava envolver tudo

    Numa nuvem de ouro em p.E depois de ser cuidadoPelo PC, com xod,

    No permita Deus que eu tenhaDe acabar no xilindr.

    Recordemo-nos do original, de Gonalves

    Dias:

    Cano do Exlio

    Gonalves Dias

    Minha terra tem palmeiras,Onde canta o sabi;

    As aves, que aqui gorjeiam,No gorjeiam como l.

    Nosso cu tem mais estrelas,Nossas vrzeas tm mais flores,Nossos bosques tm mais vida,

    Nossa vida mais amores.

    Em cismar, sozinho, noite,

    Mais prazer encontro eu l;Minha terra tem palmeiras,

    Onde canta o sabi.

    Minha terra tem primores,Que tais no encontro eu c;

    Em cismar sozinho, noite Mais prazer encontro eu l;Minha terra tem palmeiras,

    Onde canta o sabi.

    No permita Deus que eu morra,Sem que eu volte para l;

    Sem que desfrute os primoresQue no encontro por c;

    Sem quinda aviste as palmeiras,Onde canta o sabi.

    O dialogismo entre os textos inquestion-

    vel, revelando, tambm, a caracterstica primordial

    da pardia: temos aqui cantos paralelos aos de

    Gonalves Dias, mas, ao mesmo tempo em que fa-

    zem com que nossa memria textual retome o ori-

    ginal, seu lado humorstico faz com que eles nunca

    se encontrem, como imagens invertidas num espe-

    lho (SANTANNA, 1988).

    Num texto acadmico, podemos fazer uso da

    pardia quando, especialmente, partindo de um

    texto original, inauguramos outro paradigma, uma

    evoluo do primeiro, numa oposio, numa crtica

    tecida com humor e ironia, expondo sua contrai-

    deologia.

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    Ex.: (1) Texto fonte:

    Salrios tm melhores reajustes em 10 anos

    Balano divulgado pelo Dieese (Departamento

    Intersindical de Estatstica e Estudos Scio-

    Econmicos) mostra que, em 2005, 72% dos

    reajustes salariais foram maiores do que a

    inflao, melhor desempenho j constatado.

    Fonte: Adaptado de www.pt.org.br.

    (2) Texto derivado:

    Eles conseguem fazer com que seus salrios

    tenham melhores reajustes em 10 anos. Balano

    divulgado pelo Dieese (Departamento de

    Infmias, Enrolao e Embuste Sem Escrpulos)

    mostra que, em 2005, 72% dos reajustes

    salariais dos polticos foram maiores do que a

    inflao, maior roubalheira e sem-vergonhice j

    constatada.

    Como se pode perceber, embora os dois textos mantenham um dilogo entre si, a pardia subverte

    o sentido do primeiro, retoma-o para o negar, para o ironizar, caminhando ao seu lado como se fosse sua

    imagem invertida. Diferente a parfrase, como veremos a seguir.

    SantAnna (1988) afirma que o termo para--phrasis (que j no grego significava continuidadeou repetio de uma sentena) pode ser conside-rado, grosso modo, uma reafirmao, por meio deoutras palavras, do mesmo sentido de uma obra

    escrita, ou seja, pode-se considerar a parfrase atraduo ou a transcrio de um texto primitivo.

    Nesse sentido, Derrida (2002) ensina que otradutor deve resgatar, absolver, resolver o tex-to original e quando cria como um pintor quecopia seu modelo. Por sua vez, Benjamin (1996,p. 108) diz que a natureza engendra semelhanas,bastando, para entender isso, pensar-se na mmica.

    Portanto, diferentemente da pardia, a par-

    frase a frase paralela, ou seja, uma releitura dooriginal. Se, na primeira, temos a ruptura, a crticasutil; na segunda, ficamos frente de uma releitura,de uma reproduo.

    Para que possamos compreend-la melhor,tomemos como exemplo a mesma Cano do exlioe vamos ver algumas parfrases elaboradas a partirdela:

    I Cano do Exlio (Casimiro de Abreu)

    Se eu tenho de morrer na flor dos anos

    Meu Deus! no seja j;

    Eu quero ouvir na laranjeira, tarde,

    Cantar o sabi!

    D-me os stios gentis onde eu brincava.

    L na quadra infantil;D que eu veja uma vez o cu da ptria,

    O cu do meu Brasil!

    Se eu tenho de morrer na flor dos anos

    Meu Deus! no seja j!

    Eu quero ouvir na laranjeira, tarde,

    Cantar o sabi!

    Quero ver esse cu da minha terra

    To lindo e to azul!

    E a nuvem cor-de-rosa que passava

    Correndo l do sul!

    4.3 Parfrase

    DicionrioDicionrio

    Parfrase: (1) sf. interpretao ou traduo emque o autor procura seguir mais o sentido dotexto que sua letra: metafrase; (2) interpretao,

    explicao ou nova apresentao de um textoque visa torn-lo mais inteligvel ou que sugerenovo enfoque para o seu sentido.

    (HOUAISS, 2001, p. 2127)

    http://www.pt.org.br/http://www.pt.org.br/
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    Quero dormir sombra dos coqueiros,

    As folhas por dossel;

    E ver se apanho a borboleta branca,

    Que voa no vergel!

    Quero sentar-me beira do riacho

    Das tardes ao cair,E sozinho cismando no crepsculo

    Os sonhos do porvir!

    Se eu tenho de morrer na flor dos anos,

    Meu Deus! no seja j;

    Eu quero ouvir na laranjeira, tarde,

    A voz do sabi!

    Quero morrer cercado dos perfumes

    Dum clima tropical,

    E sentir, expirando, as harmonias

    Do meu bero natal!

    As cachoeiras choraro sentidas

    Porque cedo morri,

    E eu sonho no sepulcro os meus amores

    Na terra onde nasci!

    Se eu tenho de morrer na flor dos anos,Meu Deus! no seja j;

    Eu quero ouvir na laranjeira, tarde,

    Cantar o sabi!

    II Cano do Exlio (Mrio Quintana)

    Minha terra no tem palmeiras

    Minha terra no tem palmeiras...

    E em vez de um mero sabi,Cantam aves invisveis

    Nas palmeiras que no h.

    III - Cano do Exlio (Mrio de Andrade)

    No permita Deus que eu morra

    Sem que volte pra So Paulo

    Sem que veja a Rua 15

    E o progresso de So Paulo

    Andr (1988) assevera que muitas so as for-

    mas como utilizamos a parfrase no texto acad-

    mico:

    a) podemos reproduzir, com outras pala-

    vras, o mesmo pensamento do texto, se-

    guindo a ordem do discurso original;b) podemos reproduzir o texto, com outras

    palavras, mas buscando esclarecer, para

    os leitores de outro nvel (nesse caso,

    portanto, motivado pelos objetivos), vo-

    cbulos ou expresses que julgamos im-

    portante elucidar;

    c) podemos, ao reproduzir o texto, ampliar

    as informaes sobre ele, seu autor, a

    obra, o estilo etc., na medida em que es-sas informaes sejam cabveis e relevan-

    tes para sua melhor compreenso;

    d) podemos, finalmente, fazer um decal-que, ou seja, seguindo a estrutura do

    texto original, substituir a ideia inicial por

    outra que com ela esteja associada.

    Assim, podem ser produzidos diversos tipos

    de textos acadmicos, como fichamentos, resumose resenhas de textos, como veremos adiante.

    Vamos agora para outra forma como pode se

    dar a intertextualidade.

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    A palavra estilizao deriva de estilo que,de acordo com Houaiss 2001,p.1254) significa o

    modo pelo qual um indivduo usa os recursos dalngua para expressar, verbalmente ou por escrito,pensamentos, sentimentos, ou para fazer declara-es, pronunciamentos etc.

    Ento, SantAnna (1988) define estilizaocomouma forma de tomar aquele estilo de outrem,estabelecendo um desviotolervel e produzindoum meio do caminho entre a pardia e a parfrase.J para Fiorin (2003),

    a estilizao a reproduo do conjuntodos procedimentos do discurso de ou-trem, isto , do estilo de outrem. Estilos de-vem ser entendidos aqui como o conjuntodas recorrncias formais tanto no plano daexpresso quanto no plano do contedo(manifestado, claro) que produzem umefeito de sentido de individualizao.

    Esclarece, ainda, Fiorin que a estilizao pode

    ser polmica ou contratual. Entendemos que a esti-lizao, em sentido estrito, pode ser uma forma dealuso, j que, ao citar, temos uma meno ao dis-curso de outrem, de maneira indireta, ou seja, pormeio da utilizao do estilo do texto de origem.

    Vamos ver, agora, a estilizao que MuriloMendes elaborou a partir da Cano de Exlio deGonalves Dias:

    Cano do Exlio

    Minha terra tem macieiras das Califrniaonde cantam gaturamos de Veneza.

    Os poetas da minha terraso pretos que vivem em torres de ametista,

    os sargentos do exrcito so monistas, cubistas,os filsofos so polacos vendendo a prestaes.

    A gente no pode dormircom os oradores e os pernilongos.

    Os sururus em famlia tm por testemunha a Gioconda.Eu morro sufocado em terra estrangeira.

    Nossas flores so mais bonitas

    nossas frutas mais gostosasmas custam cem mil ris a dzia.

    Ai quem me dera chupar uma carambola de verdadee ouvir um sabi com certido de idade!

    Quais elementos, no texto acima, nos indi-

    cam tratar-se de uma estilizao? Ao aludir ao tex-

    to de Gonalves Dias, o autor manteve, em vriosmomentos, a mesma construo sinttica do texto

    de origem.

    Ex.: sujeito + verbo transitivo direto + obje-

    to direto (orao principal):

    Minha terra tem palmeiras

    Minha terra tem macieiras da Califrnia.

    Orao subordinada adjetiva:

    Onde canta o sabi

    Onde cantam gaturamos de Veneza.

    Alm disso, mantido o presente do indicati-

    vo e, quanto ao lxico, observamos que o texto deMurilo Mendesinsere o cotidiano no esquema da

    nostalgia e que o efeito potico de distanciamento

    do modelo que obtm no elide, contudo, a reve-

    rncia irnica verdade matriz da saudade

    nacional, tornando-se, ao mesmo tempo, polmico

    e contratual.

    4.4 Estilizao

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    4.5 Apropriao

    SantAnna (1988) ensina que essa forma de

    intertexto bastante recente na crtica literria e

    chegou Literatura por meio das Artes Plsticas,especialmente pelas experincias dadastas. Tam-

    bm conhecida como assemplage (reunio, agru-

    pamento), muito prxima da colagem, ou seja,

    trata-se da reunio de materiais diversos para a

    composio de algo.

    Embora recente seu estudo, essa tcnica , de

    acordo com o autor, antiqussima, pois usa de um

    artifcio muito conhecido na elaborao artstica: o

    deslocamento, que, por meio do desvio, provocaum estranhamento.

    A apropriao pode ser de dois tipos:

    a) de primeiro grau: quando o prprioobjeto que entra em cena;

    b) de segundo grau: quando ele repre-sentado, traduzido para outro cdigo.

    O chargista e humorista Caulus fez o sabi

    voar dos versos saudosistas para a denncia eco-

    lgica, no grafismo leve e tocante do exlio de sua

    prpria palmeira:

    Em outras palavras, o artista apropriou-se do

    original e o transps para outro cdigo, fazendo

    surgir, como disse Maserani (1995) um novo texto.

    Nesse sentido, podemos dizer que, ao fazer uso da

    apropriao, o artista est querendo desarrumar,

    inverter, interromper a normalidade cotidiana e

    chamar a ateno para alguma coisa.(SANTANNA,

    1988,p. 45).

    Jos Paulo Paes, no melhor estilo do sinte-

    tismo antidiscursivo das grandes vanguardas mo-

    dernistas, fez o resumo da poesia, despojando-a de

    acessrios:

    Fonte: www.comcienci0a.br/carta/migracoes.

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    L ?

    Ah !

    Sabi...

    Pap...

    Man...

    Sof...

    Sinh...

    C ?

    Bah !

    Estudando os quatro elementos revistos,

    SantAnna (1988) uniu-os em dois conjuntos, che-

    gando seguinte correlao:

    Parfrase Pardia

    Estilizao Apropriao

    (conjunto das similaridades) (conjunto das diferenas)

    Saiba maisSaiba mais

    Parfrase um texto paralelo pardia um contracanto!

    4.6 Resumo do Captulo

    Caro(a) aluno(a),

    Neste captulo estudamos o que intertextualidade, avaliando as definies de vrios estudiosos

    sobre o assunto. Depois, ancorados em Santanna (1988), adotamos sua proposta. Esse autor, diz que

    intertextualidade pode manifestar-se de quatro maneiras distintas: por parfrase, por pardia, por estili-

    zao e por apropriao.

    Vamos retomar agora essas noes, para que voc fixe bem o contedo.

    4.7 Atividade Proposta

    1. Responda:

    a) O que intertextualidade?

    b) Compare: pardia x parfrase.

    Agora, veremos como esses elementos interagem na construo do texto acadmico.

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    5O TEXTO ACADMICO

    Caro(a) aluno(a),

    Os textos produzidos no mundo acadmico

    podem ser feitos ora por meio da similaridade, ora

    da diferena. Veremos como se comportam e como

    produzir: o fichamento, o resumo e a resenha. Va-

    mos ver, agora, o que compreende cada um deles.

    5.1 Fichamento

    Observe:

    Para que fichemos qualquer obra, necess-

    ria, antes de tudo, uma leitura atenta daquilo que

    se deseja fichar. Ruiz (1980, p. 70) aconselha:

    Ento, para que faamos um bom fichamen-

    to, preciso seguir algumas etapas:

    a) ler atentamente uma primeira vez o tex-

    to na ntegra, grifando as palavras desco-

    nhecidas e procurando-as no dicionrio;

    b) ler uma segunda vez, munidos com lpis,

    para sublinhar os trechos mais importan-

    tes.

    Andrade e Henriques (1992) informam que

    importante sublinhar um texto, para:

    a) assimil-lo melhor;

    b) memoriz-lo;

    c) preparar uma reviso rpida do assunto;

    d) aplicar em citaes;

    e) resumir, esquematizar ou fichar.

    De acordo com esses autores, a tcnica desublinhar compreende, depois das leituras sugeri-

    das:

    a) identificao da ideia-ncleo de cada pa-rgrafo;

    b) indicao, com uma linha vertical colo-cada margem, dos tpicos mais impor-tantes;

    c) colocao de um ponto de interrogao margem do texto, para indicar casos dediscordncia e passagens obscuras;

    d) leitura do que foi sublinhado para ver seh sentido;

    e) reconstruo do texto, tomando os tre-chos sublinhados como base.

    Os autores tambm recomendam que: [...] h

    de se sublinhar o estritamente necessrio, evitan-do-se argumentaes, exemplificaes, citaes

    etc. (ANDRADE; HENRIQUES, 1992).

    No basta ir s aulas para garantirpleno xito nos estudos. preciso

    ler e, principalmente, ler bem. Quem

    no sabe ler, no saber resumir, no

    saber tomar apontamentos e, final-

    mente, no saber estudar.

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    Depois desse primeiro passo, procede-se, en-

    to, ao fichamento.

    Hoje, com a facilidade do computador, pode-

    mos utilizar uma pasta especialmente aberta para

    salvar esse tipo de documento. Quem no dispe

    desse recurso, deve usar fichas, vendidas em pape-

    laria em trs formatos: 7,5 x 12,5; 10,5 x 15,5 e 12,5 x20,5. A de tamanho mdio, no nosso ponto de vis-

    ta, a ideal, porque cabe numa caixa de sapatos,

    por exemplo, se a quisermos arquivar.

    Devemos utilizar uma ficha (ou uma pgina

    de computador) para cada tpico ou assunto, cui-

    dadosamente anotado. Deve-se, tambm, evitar

    escrever no verso das fichas, por uma questo de

    praticidade.

    A estrutura da ficha deve ser a seguinte:

    a) cabealho, com a identificao do assun-

    to (ttulo geral, ttulo especfico, nmero

    do ttulo etc.);

    b) indicao da fonte da qual se extrai o fi-

    chamento, de acordo com as normas daAssociao Brasileira de Normas Tcnicas

    (ABNT);

    c) corpo da ficha, compreendendo anota-

    es ou comentrios.

    Exemplo:

    Ttulo geral (da obra) Ttulo especfico (do captulo) N (da ficha)

    Fonte bibliogrfica: (de acordo com a ABNT)

    Corpo: (ASSUNTO)

    De acordo com os propsitos, a ficha pode ser:

    1. bibliogrfica:a que contm, alm da bibliografia, um pequeno comentrio da obra ou departe da obra;

    Exemplo:

    A inter-ao pela linguagemIntroduo:

    As diferentes concepes de linguagemN 1.0

    KOCK, Ingedore Villaa.A inter-ao pela linguagem.So Paulo: Contexto, 1997.

    No captulo introdutrio desta obra, a autora discorre a respeito das vrias concepes de lin-

    guagem, apondo a Lingustica do Sistema com a Lingustica do Discurso.

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    2. de citao: a que contm a transcrio fiel de trechos ou frases da obra consultada, normal-mente, aquelas grifadas como as mais importantes na instncia da leitura. Na citao, deve-se

    observar:

    a) o uso de aspas;

    b) a referncia da pgina da qual foi retirada a citao;

    c) o uso de [...] para marcar que o trecho foi recortado.

    Exemplo:

    A inter-ao pela linguagemIntroduo:

    As diferentes concepes de linguagemN 1.0

    KOCK, Ingedore Villaa. A inter-ao pela linguagem.So Paulo: Contexto, 1997.

    A linguagem humana tem sido concebida, no curso da Histria, de maneiras bastante diversas, quepodem ser sintetizadas em trs principais:

    a) como representao [...]

    b) como instrumento [...]

    c) como forma [...].

    (p. 9)

    3. de resumo: a que contm uma parfrase do trecho lido. O resumo pode ser apresentado

    como esboo ou como sumrio:

    a) como esboo: apresenta a mesma estrutura do texto citado, com as palavras-chave, ttulos

    e subttulos, procedendo-se a um resumo dele;

    b) como sumrio: topicalizam-se os itens julgados mais relevantes.

    Exemplos:

    a) Como esboo:

    A inter-ao pela linguagemIntroduo:

    As diferentes concepes de linguagemN 1.0

    KOCK, Ingedore Villaa.A inter-ao pela linguagem.So Paulo: Contexto, 1997.

    A autora, nesta Introduo, apresenta, sintetizadas, trs das principais maneiras como vem sendo

    concebida a linguagem humana, na Histria, ou seja, como representao, como instrumento e como

    forma.

    (p. 9)

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    b) Como sumrio:

    A inter-ao pela linguagemIntroduo:

    As diferentes concepes de linguagemN 1.0

    KOCK, Ingedore Villaa. A inter-ao pela linguagem.So Paulo: Contexto, 1997.

    Linguagem humana: Histria: concepo de trs maneiras bastante diversas:a) como representao...

    b) como instrumento...

    c) como forma...

    (p. 9)

    Voc sabe o que resumir?

    Resumir um texto ensina a relacionar as

    ideias, entender com clareza o assunto e perceber

    o sentido prprio do figurado que os vocbulos

    podem adquirir numa produo textual.

    Para se realizar um resumo, seguem-se osmesmos passos do fichamento, isto , antes de

    tudo:

    a) ler atentamente uma primeira vez o tex-

    to na ntegra, grifando as palavras desco-

    nhecidas e procurando-as no dicionrio;

    b) ler uma segunda vez, munidos com lpis,

    para sublinhar os trechos mais importan-

    tes.

    E mais:

    c) ficar atento para as palavras de ligao

    que organizam de forma lgica o racio-

    cnio, tais como: assim sendo, alm do

    mais, pois, em decorrncia etc.; e as que

    modificam os ficar atento enunciados:

    mais que tudo, no, nunca etc.

    Quando temos de resumir um texto, porexemplo, o ideal que o faamos por partes, ou

    seja, que elaboremos o resumo de cada captulo.

    AtenoAteno

    De toda maneira, quando fazemos um fi-chamento, estamos fazendo uma peque-na parfrase do texto.

    5.2 Resumo

    AtenoAteno

    Resumir , de acordo com Andr (1988,p. 105) reproduzir em poucas palavras oque o autor expressou amplamente. Tra-ta-se de um treinamento essencial para

    quem deseja comunicar-se de forma or-ganizada, pois quem resume um texto levado a depreender o que lhe essen-cial e o que lhe secundrio.

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    O bom resumo deve, de acordo com Andr

    (1988,p.106), conservar os traos do estilo do tex-

    to original, como por exemplo, nvel de linguagem,

    ironia, humor, vivacidade, etc. Por outro lado, no

    devemos opinar ou criticar: o procedimento de

    resumo e no de resenha ou de interpretao.

    Quanto extenso, normalmente esta esta-

    belecida por quem o faz ou por quem o solicita, de-

    pendendo dos objetivos visados, mas, normalmen-

    te, um bom resumo contm de 10 a 15 por cento

    do texto original.

    A escola e sua finalidade

    A finalidade da escola educar e ensinar. Ensinar ministrar conhecimento

    e experincias. A educao ao formadora da personalidade humana, que fa-

    culta ao indivduo alcanar, com sua atividade, a meta de sua vida.A educao e o ensino devem ter um escopo: formar integralmente o ho-

    mem (no esprito e no corpo) a fim de que consiga, na luta de todos os dias, viver

    feliz e satisfeito por saber que trilha o melhor caminho com os melhores recursos,

    dentro do bem-estar da comunidade.

    Embora a funo especfica da escola seja ensinar, cumpre-lhe tambm, e

    por lei, educar. A escola que no educa perniciosa (ANDR, 1988).

    Vamos agora, proceder ao resumo, seguindo

    as etapas especificadas:

    1. Leitura atenta e a tcnica de sublinhar as

    palavras-chave:

    A finalidade da escola educar e ensinar. En-

    sinar ministrar conhecimento e experincias. A

    educao ao formadora da personalidade hu-mana, que faculta ao indivduo alcanar, com sua

    atividade, a meta de sua vida.

    A educao e o ensino devem ter um esco-

    po: formar integralmente o homem (no esprito e

    no corpo) a fim de que consiga, na luta de todos

    os dias, viver feliz e satisfeito por saber que trilha o

    melhor caminho com os melhores recu