limites_2008

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VERISSIMO Belo Horizonte, quinta-feira, 4/9/2008 - HOJE EM DIA - [email protected] Cultura 3. [email protected] A publici- dade vive atrás de “mí- dia” nova, ou espaços para propaganda além dos tra- dicionais. Me ocorreu que neste novo momento da vida nacional, com o ministério público e a Polícia Federal investigando, indiciando e prendendo gente que antes ninguém poderia imaginar, abriram-se oportunidades inéditas para agências e anunciantes inovadores. Os novos acusados são notícia justamente porque são sur- preendentes, e como tal atraem a atenção da im- prensa e do público. Por que não se pensar no corrupto célebre como veícu- lo publicitário? O momento favorece o marketchim inovador. Saí- mos de uma fase de impu- nidade total para uma de responsabilização parcial, ou experimental, da cor- rupção. Empresários e polí- ticos começam a ser presos com alguma regularidade. Como raramente ficam presos, as cenas de detenção espalhafatosa e saídas de- pois do habeas-corpus também espalhafatosas se repetem, com grande cober- tura grátis da imprensa. A polícia poderia ser conven- cida a colaborar, fornecen- do macacões para os deti- dos famosos como os de pi- lotos da Formula 1, com amplos espaços para grifes. Outra coisa: os dossiês. Pelo menos em tese, esses dossiês que há anos cruzam os ares e circulam pelas re- dações do país - quando não são inventados, claro - vêm em pastas, e cada pasta tem duas capas. Ou seja, quatro exemplos de mídia ainda não aproveitada. O próprio governo poderia comprar es- paço nas capas e contraca- pas dos dossiês para anun- ciar seus programas e servi- ços, já que seu público alvo é o dos chamados “formadores de opinião”.Tendo apenas o cuidado de anunciar em to- dos para não dar a impres- são de estar favorecendo ou discriminando este ou aque- le acusador ou corrupto. Outro exemplo: a revela- ção de que o banqueiro ex- traditado Cacciola estava comendo lagosta na prisão indignou muita gente mas poderia ter levado algum publicitário empreendedor a procurar o fornecedor da comida do Cacciola e sugerir uma campanha. “Torne-se cativo da nossa lagosta você também”, ou algo parecido. O próprio Cacciola poderia gravar um testemunho, ou ser convidado a fazer um programa para a TV direta- mente da prisão, com reco- mendações de pratos para pedir na cela e os vinhos cor- respondentes. Outro exemplo... Mas chega. Quem já trabalhou em publicidade sabe que uma coisa que o público não gosta é ironia demais. ` Novos espaços Pela lógica, não deve- riam existir meios cidadãos. No entanto, o projeto “Os Limites de Belo Horizonte e os Limites da Luz” revela a presença forte desta nova categoria, híbrida entre o estar e o não estar ali. Nos limites, metade de uma rua pode ser asfaltada, a outra não. Parte dela pode ser ilu- minada, a outra viver no breu. Moradores podem ter o direito de estudar na es- cola da comunidade, perto de casa, outros terem que se deslocar muito para rea- lizar a mesma tarefa... Diante de questão tão complexa, a reação das pes- soas é a mais variada. “14% dos moradores desta região utilizam comprovantes de endereços emprestados pa- ra tentar burlar a lei e ter acesso à educação, saúde e outro serviço do município vizinho. Em algumas des- tas regiões, 70% da popula- ção moram em uma cida- de, porém votam numa ci- dade vizinha. A região dos limites é uma região de grande exclusão social. A renda de seus moradores é quase 50% menor do que a média na região metropo- litana de Belo Horizonte”, exemplifica o fotógrafo Bruno Moreno, um dos idealizadores do projeto. Todas estas questões se- rão discutidas durante o lançamento do livro e aber- tura da exposição na tarde de sábado na Casa do Baile. Às 15 horas, está prevista uma mesa-redonda com as participações do pesquisa- dor José Moreira de Souza, do urbanista José Abílio Belo e da secretária-adjunta esta- dual de Desenvolvimento Regional e Política Urbana, além, é claro, dos fotógrafos envolvidos no projeto. Bruno Moreno conta que a pesquisa terá outros desdobramentos. A exposi- ção será vista nas nove re- gionais da prefeitura belo- horizontina em interessante itinerância. “As fotos serão expostas próximas aos luga- res onde foram feitas”, conta o jornalista. Do montante inicial de mais de mil cli- ques, o recorte sintético de 30 deles traz o espaço urba- no repartido em dicotomias: luz/penumbra, dentro/fora, enfim, Belo Horizonte, não- Belo Horizonte, equação e paradoxo. “Percorrer os limites é como vencê-la em sua brin- cadeira de gigante. É como ousar entendê-la através de seus lotes bicudos, casas e personagens recônditos que participam da história sem muito crédito. Pelo registro da vendedora de alfaces da região do Barreiro, do enor- me acampamento cigano que se encontra em Venda Nova, pelo solitário e miste- rioso caseiro que habita uma carroceria de cami- nhão na região oeste, os li- mites tornam-se mais próxi- mos e nítidos para o centro. Cabe ao observador desco- brir quantos e quais são os verdadeiros limites da peri- feria. Talvez nela esteja um pouco de todos os outros que a cidade possui e que se apresentam diariamente como um obstáculo para o seu equilíbrio e desenvolvi- mento”, observa o fotógrafo Artênius Daniel. No limite entre a poesia e antropolo- gia. (A.C.) ` Os Limites de Belo Horizonte e os Limites da Luz” - Exposição e lançamento de livro. Neste sába- do, às 15 horas, na Casa do Baile (Avenida Otacílio Negrão de Lima, 751. Pampulha). Entrada franca. Até 20/09. ALÉCIO CUNHA REPÓRTER O que é um limite? Sinônimo de demarcação, baliza, raia, é também índice de fronteira. No entanto, a definição lexico- gráfica com o vocábulo em estado lapidado de dicionário, é lacunar. Necessita de com- plemento bruto, a palavra em diálogo franco com a imagem. Desta maneira, apostando numa sintaxe da margem, nasceu o projeto Os Limites de Belo Horizonte e os Limi- tes da Luz”, composto por uma exposição fotográfica e um livro. A mostra será aber- ta neste sábado, a partir de 15 horas, com uma mesa-re- donda na Casa do Baile (Ave- nida Otacílio Negrão de Lima, 751. Pampulha), podendo ser conferida até dia 27. Três fotógrafos (o tam- bém jornalista Bruno More- no, repórter da Editoria de Es- portes do HOJE EM DIA, Artê- nius Daniel e Daniel Protz- ner), uma cientista política (Letícia Godinho), com apoio inicial de uma geógrafa (Luiza Barros), costuraram, em texto e visualidade, o resultado de seis anos de pesquisas. A ex- posição traz 30 fotos coloridas e alvinegras, sintetizando re- gistros de paisagens urbanas e humanas, frutos de viagens por 200 quilômetros de fron- teira urbana na capital minei- ra e região metropolitana. Apostando no silêncio e tangência da margem, o pro- jeto mostra o caos em várias regiões que, por estarem no li- mite, acabam não pertencen- do nem a um lugar nem a ou- tro. É justamente neste “en- trelugar” que a exposição e a publicação soltam seus cli- ques e reflexões. Sem deixar de lado as pessoas, já que muitas delas também estão no limite, enfrentando uma série de problemas que vão do social ao econômico. Curiosamente, o projeto começou a tomar fôlego nas salas de aula do curso de Jor- nalismo na Pontifícia Uni- versidade Católica de Minas Gerais (PUC Minas), quando os então estudantes Moreno, Daniel e Protzner propuse- ram o embrião deste projeto como monografia de final de curso. “Eu fazia estágio nu- ma organização não-gover- namental chamada Rede de Intercâmbio de Tecnologias Alternativas no bairro Ta- quaril. Toda vez que eu volta- va de lá, eu prestava atenção no belo pôr-do-sol na re- gião”, conta Moreno. E, de repente, o sol pas- sou a ter importância capital no projeto. “Fizemos o regis- tro de lugares, coisas e pes- soas que se encontram sobre a linha divisória que separa Belo Horizonte dos outros municípios da região metro- politana, sempre nos horários limites da luz: o nascer e o pôr-do-sol. E descobrimos que tínhamos na mão um projeto que transcendia o es- tético”, avalia Moreno. Inicialmente, o estudo so- bre esses limites foi aprovado na Lei Estadual de Incentivo à Cultura. “Mas, apesar da apro- vação, não conseguimos cap- tar o patrocínio. Assim, cada um foi para o seu lado cuidar das suas coisas. Até que con- seguimos aprová-lo com re- cursos do Fundo de Projetos Culturais da Lei Municipal de Incentivo”, conta Moreno. O trio, com o reforço da cientista política Letícia Godi- nho, criou o Instituto Limites, ampliando o leque de infor- mações visuais do projeto ini- cial. E fez com que os fotógra- fos e pesquisadores mergu- lhassem numa viagem pelas fronteiras íntimas da capital mineira, fronteiras que são fraturas sociais, expondo, co- mo um espelho, problemas de natureza estrutural e eco- nômica que, por sua vez, ter- minam por desaguar no terri- tório omisso da política. Bruno Moreno lembra que uma das principais preocupações deste projeto foi abarcar a essência do hu- mano. “Na época em que apresentamos a idéia na fa- culdade, algumas pessoas comentaram que nosso tra- balho tinha uma lacuna com relação à presença do huma- no. Isto fez com que nós re- dobrássemos a vigilância durante as outras fases do projeto”, conta o fotógrafo. O contato vivencial com o caos e a desordem - pequenos apocalipses cotidianos - foi fundamental na evolução do projeto. Sexta maior cidade do país em número de habi- tantes e densidade demográ- fica, Belo Horizonte tem lo- cais onde impera a dúvida. “De nada adiantam os mapas. Nessas localidades, a divisa nem sempre é certa ou fácil de reconhecer, ao contrário do que é mostrado nos ma- pas, causando uma série de problemas ligados à conota- ção urbana desordenada, confusões com o poder públi- co de diversos municípios e curiosidades cotidianas”, con- ta Bruno Moreno. Os pesquisadores cria- ram, de certa maneira, uma nova cartografia, ao trazerem ao lume a realidade destas re- giões limítrofes e provarem que espaço também pode ser sinônimo de poder. Os dados da pesquisa são reveladores: 10% dos habitantes dos quase 22 mil domicílios destas re- giões não sabem dizer em qual cidade moram. Exposição fotográfica registra os limites de Belo Horizonte CIDADE Nas cercanias, o urbano e o humano são captados ao longo de 200 quilômetros BRUNO MORENO Luzes, cores e contrastes t ê m a prefer ê ncia no bairro Casa Branca, um dos pontos mais altos de BH Ponte para o lirismo na divisa de BH com Sabará Em Ibirité, prenúncio da gente pobre e sofrida Fizemos o registro de lugares, coisas e pessoas que se encontram sobre a linha divisória que separa Belo Horizonte dos outros municípios” Trabalho denuncia o abandono e o inacabado DANIEL PROTZNER ARTÊNIUS DANIEL Saímos de uma fase de impunidade total para uma de responsabilização parcial, ou experimental, da corrupção

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AM VE AZ PR

VERISSIMO

Belo Horizonte, quinta-feira, 4/9/2008 - HOJE EM DIA - [email protected]

Cultura 3.

[email protected]

A publici-dade viveatrás de “mí-dia” nova, ouespaços parapropagandaalém dos tra-

dicionais. Me ocorreu queneste novo momento da vidanacional, com o ministériopúblico e a Polícia Federalinvestigando, indiciando eprendendo gente que antesninguém poderia imaginar,abriram-se oportunidadesinéditas para agências eanunciantes inovadores. Osnovos acusados são notíciajustamente porque são sur-preendentes, e como talatraem a atenção da im-prensa e do público.

Por que não se pensar nocorrupto célebre como veícu-lo publicitário?

O momento favorece omarketchim inovador. Saí-mos de uma fase de impu-nidade total para uma deresponsabilização parcial,ou experimental, da cor-rupção. Empresários e polí-ticos começam a ser presoscom alguma regularidade.Como raramente ficampresos, as cenas de detençãoespalhafatosa e saídas de-pois do habeas-corpustambém espalhafatosas serepetem, com grande cober-tura grátis da imprensa. Apolícia poderia ser conven-cida a colaborar, fornecen-do macacões para os deti-dos famosos como os de pi-lotos da Formula 1, comamplos espaços para grifes.

Outra coisa: os dossiês.Pelo menos em tese, essesdossiês que há anos cruzamos ares e circulam pelas re-dações do país - quando nãosão inventados, claro - vêmem pastas, e cada pasta temduas capas. Ou seja, quatroexemplos de mídia aindanão aproveitada. O própriogoverno poderia comprar es-paço nas capas e contraca-pas dos dossiês para anun-ciar seus programas e servi-ços, já que seu público alvo éo dos chamados “formadoresde opinião”. Tendo apenas ocuidado de anunciar em to-dos para não dar a impres-são de estar favorecendo oudiscriminando este ou aque-le acusador ou corrupto.

Outro exemplo: a revela-ção de que o banqueiro ex-traditado Cacciola estavacomendo lagosta na prisãoindignou muita gente maspoderia ter levado algumpublicitário empreendedora procurar o fornecedor dacomida do Cacciola e sugeriruma campanha. “Torne-secativo da nossa lagosta vocêtambém”, ou algo parecido.O próprio Cacciola poderiagravar um testemunho, ouser convidado a fazer umprograma para a TV direta-mente da prisão, com reco-mendações de pratos parapedir na cela e os vinhos cor-respondentes.

Outro exemplo... Maschega. Quem já trabalhouem publicidade sabe queuma coisa que o público nãogosta é ironia demais.Á

Novosespaços

Pela lógica, não deve-riam existir meios cidadãos.No entanto, o projeto “OsLimites de Belo Horizonte eos Limites da Luz” revela apresença forte desta novacategoria, híbrida entre oestar e o não estar ali. Noslimites, metade de uma ruapode ser asfaltada, a outranão. Parte dela pode ser ilu-minada, a outra viver nobreu. Moradores podem tero direito de estudar na es-cola da comunidade, pertode casa, outros terem quese deslocar muito para rea-lizar a mesma tarefa...

Diante de questão tãocomplexa, a reação das pes-soas é a mais variada. “14%dos moradores desta regiãoutilizam comprovantes deendereços emprestados pa-ra tentar burlar a lei e teracesso à educação, saúde eoutro serviço do municípiovizinho. Em algumas des-tas regiões, 70% da popula-ção moram em uma cida-de, porém votam numa ci-dade vizinha. A região dos

limites é uma região degrande exclusão social. Arenda de seus moradores équase 50% menor do que amédia na região metropo-litana de Belo Horizonte”,exemplifica o fotógrafoBruno Moreno, um dosidealizadores do projeto.

Todas estas questões se-rão discutidas durante olançamento do livro e aber-tura da exposição na tardede sábado na Casa do Baile.Às 15 horas, está previstauma mesa-redonda com asparticipações do pesquisa-dor José Moreira de Souza,

do urbanista José Abílio Beloe da secretária-adjunta esta-dual de DesenvolvimentoRegional e Política Urbana,além, é claro, dos fotógrafosenvolvidos no projeto.

Bruno Moreno contaque a pesquisa terá outrosdesdobramentos. A exposi-ção será vista nas nove re-gionais da prefeitura belo-horizontina em interessanteitinerância. “As fotos serãoexpostas próximas aos luga-res onde foram feitas”, contao jornalista. Do montanteinicial de mais de mil cli-ques, o recorte sintético de30 deles traz o espaço urba-no repartido em dicotomias:luz/penumbra, dentro/fora,enfim, Belo Horizonte, não-Belo Horizonte, equação eparadoxo.

“Percorrer os limites écomo vencê-la em sua brin-cadeira de gigante. É comoousar entendê-la através deseus lotes bicudos, casas epersonagens recônditos queparticipam da história semmuito crédito. Pelo registro

da vendedora de alfaces daregião do Barreiro, do enor-me acampamento ciganoque se encontra em VendaNova, pelo solitário e miste-rioso caseiro que habitauma carroceria de cami-nhão na região oeste, os li-mites tornam-se mais próxi-mos e nítidos para o centro.Cabe ao observador desco-brir quantos e quais são osverdadeiros limites da peri-feria. Talvez nela esteja umpouco de todos os outrosque a cidade possui e quese apresentam diariamentecomo um obstáculo para oseu equilíbrio e desenvolvi-mento”, observa o fotógrafoArtênius Daniel. No limiteentre a poesia e antropolo-gia. (A.C.)Á

“Os Limites de Belo Horizonte eos Limites da Luz” - Exposição elançamento de livro. Neste sába-do, às 15 horas, na Casa do Baile(Avenida Otacílio Negrão de Lima,751. Pampulha). Entrada franca.Até 20/09.

ALÉCIO CUNHAREPÓRTER

O que é um limite? Sinônimode demarcação, baliza, raia, étambém índice de fronteira.No entanto, a definição lexico-gráfica com o vocábulo emestado lapidado de dicionário,é lacunar. Necessita de com-plemento bruto, a palavra emdiálogo franco com a imagem.Desta maneira, apostandonuma sintaxe da margem,nasceu o projeto “Os Limitesde Belo Horizonte e os Limi-tes da Luz”, composto poruma exposição fotográfica eum livro. A mostra será aber-ta neste sábado, a partir de15 horas, com uma mesa-re-donda na Casa do Baile (Ave-nida Otacílio Negrão de Lima,751. Pampulha), podendoser conferida até dia 27.

Três fotógrafos (o tam-bém jornalista Bruno More-no, repórter da Editoria de Es-portes do HOJE EM DIA, Artê-nius Daniel e Daniel Protz-ner), uma cientista política(Letícia Godinho), com apoioinicial de uma geógrafa (LuizaBarros), costuraram, em textoe visualidade, o resultado deseis anos de pesquisas. A ex-posição traz 30 fotos coloridase alvinegras, sintetizando re-gistros de paisagens urbanase humanas, frutos de viagenspor 200 quilômetros de fron-teira urbana na capital minei-ra e região metropolitana.

Apostando no silêncio etangência da margem, o pro-jeto mostra o caos em váriasregiões que, por estarem no li-mite, acabam não pertencen-do nem a um lugar nem a ou-tro. É justamente neste “en-trelugar” que a exposição e apublicação soltam seus cli-ques e reflexões. Sem deixarde lado as pessoas, já quemuitas delas também estãono limite, enfrentando umasérie de problemas que vãodo social ao econômico.

Curiosamente, o projetocomeçou a tomar fôlego nassalas de aula do curso de Jor-nalismo na Pontifícia Uni-versidade Católica de MinasGerais (PUC Minas), quandoos então estudantes Moreno,

Daniel e Protzner propuse-ram o embrião deste projetocomo monografia de final decurso. “Eu fazia estágio nu-ma organização não-gover-namental chamada Rede de

Intercâmbio de TecnologiasAlternativas no bairro Ta-quaril. Toda vez que eu volta-va de lá, eu prestava atençãono belo pôr-do-sol na re-gião”, conta Moreno.

E, de repente, o sol pas-sou a ter importância capitalno projeto. “Fizemos o regis-tro de lugares, coisas e pes-soas que se encontram sobrea linha divisória que separaBelo Horizonte dos outrosmunicípios da região metro-politana, sempre nos horárioslimites da luz: o nascer e opôr-do-sol. E descobrimosque tínhamos na mão umprojeto que transcendia o es-tético”, avalia Moreno.

Inicialmente, o estudo so-bre esses limites foi aprovadona Lei Estadual de Incentivo àCultura. “Mas, apesar da apro-vação, não conseguimos cap-tar o patrocínio. Assim, cadaum foi para o seu lado cuidardas suas coisas. Até que con-seguimos aprová-lo com re-cursos do Fundo de ProjetosCulturais da Lei Municipal deIncentivo”, conta Moreno.

O trio, com o reforço dacientista política Letícia Godi-nho, criou o Instituto Limites,ampliando o leque de infor-mações visuais do projeto ini-

cial. E fez com que os fotógra-fos e pesquisadores mergu-lhassem numa viagem pelasfronteiras íntimas da capitalmineira, fronteiras que sãofraturas sociais, expondo, co-mo um espelho, problemasde natureza estrutural e eco-nômica que, por sua vez, ter-minam por desaguar no terri-tório omisso da política.

Bruno Moreno lembraque uma das principaispreocupações deste projetofoi abarcar a essência do hu-mano. “Na época em queapresentamos a idéia na fa-culdade, algumas pessoascomentaram que nosso tra-balho tinha uma lacuna comrelação à presença do huma-no. Isto fez com que nós re-dobrássemos a vigilânciadurante as outras fases doprojeto”, conta o fotógrafo.

O contato vivencial com ocaos e a desordem - pequenosapocalipses cotidianos - foifundamental na evolução doprojeto. Sexta maior cidadedo país em número de habi-tantes e densidade demográ-fica, Belo Horizonte tem lo-cais onde impera a dúvida.“De nada adiantam os mapas.Nessas localidades, a divisanem sempre é certa ou fácilde reconhecer, ao contráriodo que é mostrado nos ma-pas, causando uma série deproblemas ligados à conota-ção urbana desordenada,confusões com o poder públi-co de diversos municípios ecuriosidades cotidianas”, con-ta Bruno Moreno.

Os pesquisadores cria-ram, de certa maneira, umanova cartografia, ao trazeremao lume a realidade destas re-giões limítrofes e provaremque espaço também pode sersinônimo de poder. Os dadosda pesquisa são reveladores:10% dos habitantes dos quase22 mil domicílios destas re-giões não sabem dizer emqual cidade moram.

Exposição fotográfica registraos limites de Belo Horizonte

CIDADE

Nas cercanias, o urbano e o humano são captados ao longo de 200 quilômetrosBRUNO MORENO

Luzes, cores e contrastes têm a preferência no bairro Casa Branca, um dos pontos mais altos de BH

Ponte para o lirismo na divisa de BH com Sabará

Em Ibirité, prenúncio da gente pobre e sofrida

“Fizemos o registro de lugares, coisase pessoas que se encontram sobre

a linha divisória que separaBelo Horizonte dos outros municípios”

Trabalho denuncia o abandono e o inacabadoDANIEL PROTZNER

ARTÊNIUS DANIEL

“Saímos deuma fase de

impunidade totalpara uma de

responsabilizaçãoparcial, ou

experimental,da corrupção”

.TIRASHAGAR

PEANUTS

RECRUTA ZERO

TINA

MÁRIO VALE.HORÓSCOPOOSCAR QUIROGA

[email protected]

. ÁRIES (DE 21/3 A 20/4)Agora é quando as pessoasmostram a fibra de que sãofeitas. Em muitos casos, istosignificará decepção, poismuitas delas revelarão queeram boas de propaganda,mas ruins de ação e, nomomento, o que interessamesmo é a ação.

. TOURO (DE 21/4 A 20/5)Acredite na verdade, promovaa verdade, se fortaleça naverdade e, atenção! Não vaipensando que a verdade sejarelativa, pois é esta a formamais sorrateira com que acivilização promove que aspessoas se refestelem namentira.

. GÊMEOS (DE 21/5 A 20/6)Nem todas as atitudesarriscadas garantem bonsresultados, pois muitas destassão pura tolice mesmo. Porisso, ante a perspectiva decrescimento, não vá seconvencendo de que só orisco garantiria o progresso.Não é assim.

. CÂNCER (DE 21/ 6 A 20/7)As promessas sãodescumpridas sem cerimôniaalguma, este é o mundo noqual sua alma pretenderealizar seus planos. É por issomesmo que paira a sensaçãode perigo, pois nunca sepoderá saber se a promessaserá cumprida ou não.

. LEÃO (DE 21/ 7 A 22/8)Quem está com a razão?Todas as pessoas envolvidasna discussão! Porém, querazão prevalecerá? É para issomesmo que todo mundodiscute, para saber qual,dentre todas, será a razão quese tornará a suprema guia detodas as pessoas envolvidas.

. VIRGEM (DE 23/ 8 A 22/9)Antes de mais nada, seacalme! É com calma eelegância que você garantiráque as coisas procedam damelhor forma possível, semexageros nem precipitações. Éimprescindível desacelerar namesma medida daproximidade da realização.

. LIBRA (DE 23 / 9 A 22/ 10)Sábia é a pessoa queconsegue enxergar a graça nadesgraça, que transformaproblemas em soluções.Tenha certeza que estasabedoria não é privilégio deoutras pessoas, esta seencontra disponível no centrode seu próprio coração.

. ESCORPIÃO (DE 23 / 10 A 21/ 11)Você vai poder brigar quandoquiser, mas nem sempre sairáganhando das brigas. Omomento atual, por exemplo,tem adrenalina suficiente parapôr as pessoas umas contraas outras, mas neste caso,você tem pouca chancede ganhar.

. SAGITÁRIO (DE 22/ 11 A 21/ 12)Cobranças, muitas cobranças!Enquanto isso, sua alma já seamarrou em novos horizontes,deixando para trás todo oresto. Acontece apenas queesse resto não deixou vocêpara trás e faz, por isso, asdevidas cobranças.

. CAPRICÓRNIO (DE 22/ 12 A 20/1)Abster-se de agir não é umadas opções disponíveis e, porisso, você não precisa sepreocupar exageradamente arespeito de possíveis errosque seriam cometidos aoentrar em ação. Será fácilconsertar os erros depois.

. AQUÁRIO (DE 21/ 1 A 19/2)Este não seria o momentomais apropriado para sua almase engajar em discussões,pois temas de sua vidaprivada seriam trazidos à tonae, de fato, estes não teriamnada a ver com o queprecisaria mesmo ser discutido.

. PEIXES (DE 20/ 2 A 20/3)Pois é, quando tudo pareciaperdido, eis que o melhor desua alma ressuscita. Este é omomento em que suapresença é requerida na linhade frente, onde se devemenfrentar rupturas e desafios.Este é um processo querejuvenescerá você.

HORIZONTAIS

1. (... Foster) Diretor do filme APassagem - Porção de pêlos.2 Ter validade - Elemento decomposição: igual.3. (... Motta) Cantor da MPB -Combustível líquido natural que com adescoberta dos campos pré-sal podegerar maior rentabilidade e riscomenor ao governo.4. Moeda búlgara - Órgão deinformações dos Estados Unidos - Risca.5. (Homem-...) Filme dirigido por SamRaimi - Alguma coisa.6. (Rita ...) Roqueira brasileira -Elemento de composição: cauda.7. (Lou ...) Músico do sucesso SweetJane - Ingressar.8. (...-Margret) Atriz do filme Tommy -(... Barroso) Sambista brasileiro -Repetição de um som.9. Falha que pode ter causado oacidente com o jato da Spainair, emMadri - Sigla do Espírito Santo.10. (... Cassol) Governador deRondônia - (Chris ...) Ator do filmeOs Reis da Rua.11. Desordem - (Rodrigo ...)Apresentador do programa Ídolos,da Rede Record.

VERTICAIS

1. Esporte das brasileiras FernandaOliveira e Isabel Swan, queconquistaram o bronze em Pequim - Galho.2. (Malu ...) Atriz brasileira -Uma consoante de Nordeste.3. O alumínio, em química - Cidadeespanhola, onde foi realizado o GP daEuropa no último dia 24, vencido porFelipe Massa, agora vice-líder doCampeonato de F-1.4. Abreviatura: república - (Nelson ...)Cantor brasileiro - O pai do pai.5. Instituição que cuida de criançaspequenas - (Cem ... de Solidão) Obrade Gabriel García Márquez.6. Irmã do pai - (... Johnson) Atorbrasileiro.7. Policial - Sigla de Fundo das NaçõesUnidas para a Infância.8. Aplicação - Abreviatura: amigo -(... Gardner) Atriz do filme As Nevesdo Kilimanjaro.9. Conjunto das manifestações dacultura popular, que teve seu diacomemorado no último dia 22 - Atmosfera.10. Unidade de medida de energia dosistema c.g.s. - Sinal.11. (... Bosco) Músico da MPB -(Diana ...) Cantora americana.

Horizontais:1.Marc,tufo.2.Valer,iso.3.Ed,petróleo.4.Lev,CIA,crã.5.Aranha,al-go.6.Lee,uro.7.Reed,entrar.8.Ann,Ari,eco.9.Mecânica,ES.10.Ivo,Evans.11.Caos,Faro.

Verticais:l.Vela,ramo.2.Mader,ene.3.Al,Valência.4.Rep.,Ned,avô.5.Creche,Anos.6.Tia,Eri.7.Tira,Unicef.8.Uso,Art,Ava.9.Folclore,ar.10.Erg,aceno.11.João,Ross.

SOLUÇÃO

MALHAÇÃOGLOBO, 17H30Angelina não consegue falarcom ninguém ao telefone. Lua-na acusa Débora de estar fin-gindo. Angelina pede que Débo-ra leve para ela o remédio dapressão. Adriano suspendeGordofredo e expulsa Andréasdo colégio. O estande de Débo-ra recebe várias doações. Lua-na mente que Angelina não es-tá em sua casa.

CIRANDA DE PEDRAGLOBO, 18 HORASEduardo diz que Natércio não écapaz de amar as filhas. Elzinhachama Menelau/Cícero para al-moçar na casa dela. Uma fila demulheres se forma para ter asunhas lidas por Jovelina. SeuMemé diz para Margarida não fi-car triste por Eduardo. Natérciopede a Yara que demita Virgínia.Frau Herta diz a Aurora que Di-vina roubou o seu broche.

BELEZA PURAGLOBO, 19 HORASMateus joga os diamantes emum canteiro e tenta fugir, mas épreso. Olavo resgata os dia-mantes. Sônia encontra Tomáse chama uma ambulância. Be-tão decide se mudar. Luiza eFernanda contam a Débora so-bre a vaga de enfermeira volun-tária no orfanato. Guilherme diza Sônia que quer terminar o na-moro. Norma denuncia Sôniapor falsidade ideológica.

A FAVORITAGLOBO, 21 HORASPedro conta para Donatela queFlora o internou. Flora dá dinhei-ro a Dodi e o expulsa de casa.Halley procura Lara. Donatelaajuda Pedro a fugir. Zé Bob des-cobre uma empresa desativadacom o nome de Blue Diamond euma carta endereçada a Rober-val. Leonardo manda flores pa-ra Stela e ela pede para o entre-gador levar as flores para a ca-sa de Catarina. Elias e Copoladiscutem a idéia de dedicar umdia à arte em Triunfo. Pedro pe-de perdão a Flora.

OS MUTANTESRECORD, 21 HORASLuciano conta que ele é um vigiadas fronteiras de Agartha e res-ponsável por dar boas vindas apessoas do bem. Toni beija Sa-mira. Ana e Pepe dão de caracom Fúria, que mostra seus den-tes e garras. Marta e os agentesdo Depecom chegam para so-correr Fredo. Telê e Draco man-dam raios de energia e fogo nadireção de Marta, que morre.

CHAMAS DA VIDARECORD, 22 HORASIvonete fica com medo de Vil-ma e diz que Tomás e ela estãojuntos para afastar Pedro e Ca-rolina. Léo conta que Diegoquer entrar na gangue. Marretamanda Manu parar de brigarporque ela tem que se concen-trar para o racha, que vai valercinco mil reais. Vivi grita comPedro que precisa de aulas dematemática. Diego aparece noferro-velho. Carolina conta paraPedro que Beatriz vai fazer umdocumentário sobre a ganguedo ferro-velho.

CRUZADAS HOJE EM DIAHÁ 20 ANOS

NOVELAS

A nova Constituição brasileiradefiniu: terras produtivas não po-derão ser desapropriadas paraefeito de reforma agrária. Osopositores da medida aprovadatemem que fique difícil ser desa-propriada uma área mal utilizada.Os defensores afirmam que asleis ordinárias futuras especifica-rão o que é terra produtiva eaquelas ociosas ou pouco utiliza-das passíveis de desapropriação.

O Papa João Paulo II beatificouuma menina chilena de 13anos, que morreu de tuberculo-se após ter oferecido sua vida aDeus para que sua mãe retor-nasse à Igreja. Laura Vicuna,que morreu em 1904, foi decla-rada uma santa da Igreja Cató-lica pelo Papa, que disse quesua vida foi um “poema de pu-reza, sacrifício e amor filial”. Abeatificação é um passo parauma possível santidade.

Cerca de 600 estudantes radi-cais que denunciavam as “olim-píadas de guerra” se chocaramcom policiais antimotins emSeul. Enquanto que a Coréia doNorte comunista anunciou queboicotará os jogos olímpicos.

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Sistema judiciário em criseData estelar: Sol e Júpiter em trígono; Lua continua crescendo,

agora no signo de Escorpião.Enquanto isso, aqui na Terra a justiça demora para acontecer,

mas não falha. Evidentemente, esta insuperável lei não se refere àsleis da civilização, mas às de natureza cósmica, as quais, porqueprecisam de instituições mundanas de maior eficiência, provocamcrises e rupturas no sistema judiciário mundial, promovendo a ve-locidade necessária para a reinvenção da civilização. Este processoatinge seu auge no ano 2010 e, a partir de então, uma ordem me-lhor permeará os relacionamentos humanos. O tempo presente seadapta tendo em vista este futuro e, através do processo de ajuste ecompensação, muitos erros e injustiças são reparados, confirman-do a fé e esperança da parcela de nossa humanidade que não securvou ao crime, e que pagou um alto preço por causa disto.

Belo Horizonte, quinta-feira, 4/9/2008 - HOJE EM DIA - [email protected]

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