conservação e desenvolvimento sustentável

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" " " " " " " " " " " " " " " " " " " " " E E E E E E E ED ED D D D D D D D ED D D DI I Ç Ç Ç ÇÃO ÃO ÃO ÃO ÃO Ã Móbile Lojista | Agosto 2013 35 SUSTENTABILIDADE *Suelma Santos é representante nacional da The Nature Conservancy (TNC), maior organização ambiental do mundo, presente em mais de 35 países, desenvolvendo estratégias com o objetivo de proteger a natureza e preservar a vida do planeta. Conservação para a sustentabilidade Suelma Rosa dos Santos* mais de 40 anos realizou-se a primeira Conferência das Nações Unidas para tratar de meio ambiente, inaugurando o debate internacional sobre questões ambientais. Naquele momento, em que se celebrava a Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente Humano (Conferência de Estocolmo), os recursos naturais eram percebidos como inesgotáveis, portanto, a ação humana sobre a natureza não representava ameaça. Até os anos de 1970, o crescimento econômico, em especial, o desenvolvimento industrial, seguindo modelo intensivamente poluidor, era o principal objetivo dos governos nacionais. Na fase anterior à Conferência, o relatório intitulado “e Limits to Growth” apresentava, de maneira alarmante, os limites do modelo de crescimento econômico, em vigor, frente ao uso dos recursos naturais. Em Estocolmo, os países em desenvolvimento, entre eles o Brasil, ainda interpretavam as questões ambientais como opostas ao crescimento econômico. De certa maneira, esse discurso retrógrado ainda existe nos setores menos dinâmicos e competitivos da nossa economia. Vinte anos depois, o Brasil sediava a Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (Conferência Rio 92) e mudou sobremaneira o discurso político e o nível de mobilização social em defesa do meio ambiental. A Conferência Rio 92 foi o maior evento realizado no âmbito da Organização das Nações Unidas (ONU) até aquele momento, e consolidou o conceito de Desenvolvimento Sustentável, superando o conflito entre crescimento econômico, proteção ambiental e desenvolvimento social. A Conferência Rio 92 estabeleceu uma série de documentos: as Convenções sobre Mudança do Clima, Biodiversidade Biológica e Desertificação, a Carta da Terra, as Convenções sobre, as Declarações sobre Florestas e sobre Ambiente e Desenvolvimento e a Agenda 21. Pode-se dizer que a Rio 92 representou um ponto de inflexão na discussão da temática ambiental, que passaria a integrar a agenda internacional. Em especial, o evento marcou a mudança definitiva da posição do governo e da sociedade brasileira perante a importância de considerar as questões ambientais no modelo de desenvolvimento nacional. Cabe perguntar, então, o porquê dessa mudança e quais os caminhos para a construção de uma agenda sustentável nacional, que se coadune com as questões ambientais globais e que mobilize a sociedade, os agentes econômicos e o governo em seus três níveis federativos. Após a transição para a democracia, a sociedade civil pode se organizar livremente no país e todos os grandes debates nacionais, antes silenciados, emergiram. Os direitos indígenas, a questão fundiária, a inclusão social, o direito à saúde e educação universal, o acesso à seguridade social e, como não poderia deixar de ser, a questão ambiental tornam-se pauta da agenda política, o que mobilizou grupos de interesses favoráveis e contrários. Com apoio internacional, o debate ambiental interno se qualificou e o país não podia mais deixar de considerar o meio ambiente no seu objetivo de perseguir o almejado desenvolvimento. Após quarenta anos de Estocolmo e vinte do Rio de Janeiro, a Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável (Conferência Rio+20) frustrava as expectativas com o documento final “O futuro que queremos”. No entanto, a mobilização e a participação da sociedade civil e, sobretudo, dos segmentos mais dinâmicos e competitivos da economia demonstravam um novo horizonte, onde a sociedade e as empresas deveriam unir forças em favor da conservação e da sustentabilidade. Incorporar as dimensões econômicas e sociais aos objetivos de conservação, não significa alterar os objetivos de conservação, mas promover a percepção da interconexão entre as agendas econômica, social e ambiental, irremediavelmente interdependentes. A parceria entre os ambientalistas, o mercado e a sociedade na promoção da conservação potencializará os resultados, com aumento da escala, e tornará os ganhos duradouros. Em outras palavras, os resultados de conservação serão mais sustentáveis quanto mais eficientes for a mobilização e o engajamento de múltiplos parceiros para a agenda de conservação. CLARA ANGELEAS / TNC

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Incorporar as dimensões econômicas e sociais aos objetivos de conservação, não signifi ca alterar os objetivos de conservação, mas promover a percepção da interconexão entre as agendas econômica, social e ambiental, irremediavelmente interdependentes. A parceria entre os ambientalistas, o mercado e a sociedade na promoção da conservação potencializará os resultados, com aumento da escala, e tornará os ganhos duradouros. Em outras palavras, os resultados de conservação serão mais sustentáveis quanto mais efi cientes for a mobilização e o engajamento de múltiplos parceiros para a agenda de conservação.

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Page 1: Conservação e Desenvolvimento Sustentável

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Móbile Lojista | Agosto 2013

ç35

SUSTENTABILIDADE

*Suelma Santos é representante nacional da The Nature Conservancy (TNC), maior organização ambiental do mundo, presente em mais de 35 países, desenvolvendo estratégias com o objetivo de proteger a natureza e preservar a vida do planeta.

Conservação para a sustentabilidade

Suelma Rosa dos Santos*

Há mais de 40 anos realizou-se a primeira Conferência das Nações Unidas para tratar de meio ambiente, inaugurando o debate internacional sobre questões ambientais. Naquele momento, em que se celebrava a Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente Humano (Conferência de Estocolmo), os recursos naturais eram percebidos como inesgotáveis, portanto, a ação humana sobre a natureza não representava ameaça. Até os anos de 1970, o crescimento econômico, em especial, o desenvolvimento industrial, seguindo modelo intensivamente poluidor, era o principal objetivo dos governos nacionais.

Na fase anterior à Conferência, o relatório intitulado “Th e Limits to Growth” apresentava, de maneira alarmante, os limites do modelo

de crescimento econômico, em vigor, frente ao uso dos recursos naturais. Em Estocolmo, os países em desenvolvimento, entre eles o Brasil, ainda interpretavam as questões ambientais como opostas ao crescimento econômico. De certa maneira, esse discurso retrógrado ainda existe nos setores menos dinâmicos e competitivos da nossa economia.

Vinte anos depois, o Brasil sediava a Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (Conferência Rio 92) e mudou sobremaneira o discurso político e o nível de mobilização social em defesa do meio ambiental. A Conferência Rio 92 foi o maior evento realizado no âmbito da Organização das Nações Unidas (ONU) até aquele momento, e consolidou o conceito de Desenvolvimento Sustentável, superando o confl ito entre crescimento econômico, proteção ambiental e desenvolvimento social. A Conferência Rio 92 estabeleceu uma série de documentos: as Convenções sobre Mudança do Clima, Biodiversidade Biológica e Desertifi cação, a Carta da Terra, as Convenções sobre, as Declarações sobre Florestas e sobre Ambiente e Desenvolvimento e a Agenda 21.

Pode-se dizer que a Rio 92 representou um ponto de infl exão na discussão da temática ambiental, que passaria a integrar a agenda internacional. Em especial, o evento marcou a mudança defi nitiva da posição do governo e da sociedade brasileira perante a importância de considerar as questões ambientais no modelo de desenvolvimento nacional. Cabe perguntar, então, o porquê dessa mudança e quais os caminhos para a construção de uma agenda sustentável nacional, que se coadune com as questões ambientais globais e que mobilize a sociedade, os agentes econômicos e o governo em seus três níveis federativos.

Após a transição para a democracia, a sociedade civil pode se organizar livremente no país e todos os grandes debates nacionais, antes silenciados, emergiram. Os direitos indígenas, a questão fundiária, a inclusão social, o direito à saúde e educação universal, o acesso à seguridade social e, como não poderia deixar de ser, a questão ambiental tornam-se pauta da agenda política, o que mobilizou grupos de interesses favoráveis e contrários. Com apoio internacional, o debate ambiental interno se qualifi cou e o país não podia mais deixar de considerar o meio ambiente no seu objetivo de perseguir o almejado desenvolvimento.

Após quarenta anos de Estocolmo e vinte do Rio de Janeiro, a Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável (Conferência Rio+20) frustrava as expectativas com o documento fi nal “O futuro que queremos”. No entanto, a mobilização e a participação da sociedade civil e, sobretudo, dos segmentos mais dinâmicos e competitivos da economia demonstravam um novo horizonte, onde a sociedade e as empresas deveriam unir forças em favor da conservação e da sustentabilidade.

Incorporar as dimensões econômicas e sociais aos objetivos de conservação, não signifi ca alterar os objetivos de conservação, mas promover a percepção da interconexão entre as agendas econômica, social e ambiental, irremediavelmente interdependentes. A parceria entre os ambientalistas, o mercado e a sociedade na promoção da conservação potencializará os resultados, com aumento da escala, e tornará os ganhos duradouros. Em outras palavras, os resultados de conservação serão mais sustentáveis quanto mais efi cientes for a mobilização e o engajamento de múltiplos parceiros para a agenda de conservação.

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