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1 Levantamento e avaliação da literatura econômica sobre o BNDES Produto 10 Artigo Setembro de 2013

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Levantamento e avaliação

da literatura econômica

sobre o BNDES

Produto 10 Artigo

Setembro de 2013

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Levantamento e avaliação

da literatura econômica

sobre o BNDES

Pesquisa Científica nº 03/2011 – FEP/BNDES

Literatura Econômica

Pesquisadores:

Alex Luiz Ferreira

Anne Hanley

Júlio Manuel Pires

Maurício Jorge Pinto de Souza

Renato Leite Marcondes

Rosane Nunes de Faria

Sérgio Naruhiko Sakurai

Assistentes:

Guilherme Byrro Lopes

Graziella Magalhães Candido de Castro

Gustavo Foresto Crispim

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Sumário

Lista de Figuras ........................................................................................................................... 5

Lista de Tabelas ........................................................................................................................... 6

Lista de Quadros ......................................................................................................................... 7

Avaliação bibliométrica da literatura econômica acadêmica sobre o BNDES .................. 8

1. Introdução ........................................................................................................................ 8

2. Indicadores Bibliométricos ........................................................................................... 10

3. Metodologia .................................................................................................................... 11

3.1 Base de dados ............................................................................................................. 11

3.2 Método de Análise ..................................................................................................... 13

4. Resultados da Análise Bibliométrica ........................................................................... 14

4.1 Indicadores de produção .......................................................................................... 14

4.2 Indicadores de desempenho ...................................................................................... 18

4.3 Indicadores de redes.................................................................................................. 24

4. Considerações finais ...................................................................................................... 33

5. Referências Bibliográficas ............................................................................................ 34

Uma Análise Qualitativa da Literatura Econômica sobre o BNDES ............................... 40

1. Introdução ...................................................................................................................... 41

2. Metodologia ................................................................................................................... 44

1952 a 1964 ............................................................................................................................. 46

1964 a 1980 ............................................................................................................................. 52

1980 a 1990 ............................................................................................................................. 58

1990 a 2002 ............................................................................................................................. 63

2002 a 2013 ............................................................................................................................. 71

8. Considerações finais ...................................................................................................... 78

9. Referências Bibliográficas ............................................................................................ 79

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Lista de Figuras

Figura 1 - Evolução dos documentos da literatura econômica sobre o BNDES no período 1957-

2013 e instituição responsável ..................................................................................................... 14

Figura 2 - Distribuição de frequência dos documentos da literatura econômica sobre o BNDES

por número de citação ................................................................................................................. 19

Figura 3 - Evolução do número de citações dos documentos da literatura econômica sobre o

BNDES ........................................................................................................................................ 21

Figura 4 - Redes de citação dos dezessete trabalhos mais citados na base de dados .................. 25

Figura 5 - Redes de co-citação dos dezessete trabalhos mais citados ......................................... 27

Figura 6 - Três principais redes de coautoria identificadas na base de dados ............................. 30

Figura 7 - Redes de cooperação entre instituições ...................................................................... 32

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Lista de Tabelas

Tabela 1 - Documentos da literatura econômica sobre o BNDES, por tipo e Instituição responsável

pela publicação ............................................................................................................................ 15

Tabela 2 - Classificação Qualis/CAPES dos periódicos em que foram publicados artigos sobre o

BNDES, quantidade e participação no total ................................................................................ 16

Tabela 3 - Principais temáticas e períodos tratados nas obras sobre o BNDES .......................... 17

Tabela 4 - Os dezessete principais trabalhos de acordo com o número de citações recebidas ... 20

Tabela 5 - Autores mais citados e indicador de citação média por publicação ........................... 22

Tabela 6 - Porcentagem de temáticas que mais repercutiram (mais citadas) por períodos ......... 23

Tabela 7 - Análise Fatorial aplicada a rede de citações dos trabalhos mais citados.................... 29

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Lista de Quadros

Quadro 1 - Principais textos selecionados para leitura do período 1952-1964 ........................... 47

Quadro 2 - - Principais textos selecionados para leitura do período 1964-1980 ......................... 54

Quadro 3 - Principais textos selecionados para leitura do período 1980-1990 ........................... 59

Quadro 4 - Principais textos selecionados para leitura do período 1990-2002 ........................... 64

Quadro 5 - Principais textos selecionados para leitura do período 2002-2013 ........................... 73

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Avaliação bibliométrica da literatura econômica acadêmica sobre o BNDES

(1952-2013)*

Resumo: O presente trabalho realizou uma sistematização e avaliação quantitativa da literatura

econômica produzida a respeito do BNDES no período 1952-2013. Para tanto, utilizou-se uma

base de dados construída para a pesquisa que contém informações da literatura acadêmica

abrangendo artigos, teses, dissertações, livros e outros documentos. A partir dessa base, a

avaliação quantitativa foi conduzida por meio de indicadores bibliométricos de: (i) produção, que

avaliaram a quantidade e as características das publicações; (ii) impacto, como medida de

repercussão da produção; (iii) relação, que tratam de citação, co-citação e coautoria. Os resultados

da análise bibliométrica mostraram uma tendência de crescimento da publicação, especialmente

nas duas últimas décadas, além de distribuições significativamente concentradas, tanto em termos

de documentos citados, como em autores e instituições responsáveis pela publicação.

Adicionalmente, a avaliação das redes relacionais das publicações sobre o banco demonstrou uma

densidade reduzida nas redes de citação e co-autoria bem como debates isolados em determinados

temas.

Palavras-chave: BNDES, financiamento de longo prazo, banco de desenvolvimento,

economia brasileira, análise bibliométrica.

Abstract: This study conducted a systematic as well as a quantitative and appraisal of the

economic literature produced about the BNDES in the period 1952-2013. For this survey, a

database was constructed containing information on the academic literature that included articles,

book chapters, Master’s theses, doctoral dissertations, books, working papers, and other

documents. Using this database we conducted a quantitative evaluation by means of bibliometric

indicators of (i) production, addressing both the amount and characteristics of these publications,

of (ii) scholarly impact, as a measure of repercussion of production, and (iii) relational indicators,

accounting for citation, co-citation and co-authorship. The results of the bibliometric analysis

showed a growing trend in the number publications, especially in the last two decades.

Additionally, this analysis revealed that publications about the BNDES were significantly

concentrated, in terms of most cited documents, in authors that published the most, and in

institutions responsible for those publications. The review of this literature on the bank showed a

reduced network density of citation and co-authorship and few isolated debates on certain topics.

Keywords: BNDES, long-term financing, economic literature, development bank,

brazilian economy, bibliometric analysis

1. Introdução

A bibliometria foi introduzida no Brasil no início dos anos de 1970 e desde então tem

sido aplicada à literatura científica de vários campos do conhecimento (ALVARADO, 1984).

Esse tipo de análise pode ter como foco áreas do conhecimento de forma geral, ou temas

específicos dentro de uma área (ARAÚJO, 2006). Recentemente, a disponibilidade de grandes

bases de dados como Web of Knowledge aliada à diversidade de softwares específicos para análise

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bibliométrica e de redes contribuíram para o aumento significativo de estudos bibliométricos no

Brasil e no mundo.

A bibliometria constitui um instrumento importante de análise, pois possibilita a criação

de perfis de áreas de conhecimento, o mapeamento de relacionamento de autores e o

desenvolvimento de indicadores de produção e repercussão acadêmica da literatura (OKUBO,

1997; PENTEADO et al., 2003). Ademais, esse tipo de ferramenta emprega-se para avaliação do

desempenho científico de instituições de pesquisa e universidades (RUSSEAU, 1998;

PENTEADO FILHO; AVILA, 2009; LIMA et al., 2010). Quando associada com análise de redes,

a bibliometria permite aprimorar a avaliação da literatura mais relevante sobre um tema/assunto

específico (PILKINGTON; MEREDITH, 2009; MASCENA et al., 2011; LACERDA et al. 2012,

CALIXTO et al., 2012; PEREIRA et al., 2013).

No presente artigo a análise bibliométrica e de redes são empregadas conjuntamente para

mapear e analisar a literatura econômica existente sobre o Banco Nacional de Desenvolvimento

Econômico e Social (BNDES) desde sua criação na década de 1950 até o ano de 20131.

Ao completar 60 anos de existência, o BNDES revelou-se um instrumento de política

pública fundamental para a consecução de diversas metas de política de desenvolvimento

econômico, principalmente via mobilização de recursos para provisão de financiamento de longo

prazo. Essa provisão foi o motivo da criação do BNDES no início da década de 1950 e continua

sendo seu principal papel na economia brasileira. Portanto, as diferentes fases do

desenvolvimento da economia brasileira relacionam-se estreitamente à própria atuação do

BNDES, o que instiga economistas e outros pesquisadores a buscarem respostas para as várias

questões relacionadas à atuação do banco. Ademais, as diferentes abordagens teóricas sobre o

papel dos bancos de desenvolvimento mostrou-se um campo frutífero no que se refere à

elaboração de trabalhos científicos. Dessa forma, embora exista uma ampla literatura econômica

produzida a respeito do BNDES ao longo de sua existência, não há um levantamento e avaliação

do conjunto dessa literatura de forma sistemática que permita o conhecimento sobre a produção

acadêmica que trata do banco. Questões relacionadas ao tamanho desta produção, os temas mais

relevantes, os autores mais prolíficos, os trabalhos que mais repercutiram na literatura, a tendência

da produção, ainda permanecem sem respostas.

O presente artigo busca preencher essa lacuna e dessa forma gerar um panorama sobre a

literatura acadêmica existente sobre o BNDES nos últimos 60 anos. Três contribuições específicas

se sobressaem: a primeira é o levantamento das informações bibliográficas dos trabalhos que

analisaram o BNDES e também de suas referências citadas. Essas informações foram

sistematizadas em uma base de dados que agrega 919 documentos e 923 autores que investigaram

assuntos relacionados ao banco. A segunda contribuição decorreu da utilização da análise

bibliométrica, com o intuito de analisar o perfil da literatura econômica desenvolvida sobre o

banco, incorporando de forma pioneira a utilização de redes para avaliar os vínculos de citações,

co-citações e coautoria entre esses documentos.2 E por fim, a utilização de uma base de dados

1 Esse trabalho origina-se do projeto intitulado “Levantamento e avaliação da literatura econômica

acadêmica brasileira e internacional sobre o BNDES”, executado com o apoio financeiro do Banco

Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), por meio de financiamento não reembolsável

com recursos do Fundo de Estruturação de Projetos do BNDES (FEP 03/2011). O conteúdo dos estudos e

pesquisas é de exclusiva responsabilidade dos autores, não refletindo, necessariamente, a opinião do

BNDES. Para maiores informações sobre essa modalidade de financiamento, acesse o site

http://www.bndes.gov.br/programas/outros/fep.asp. 2 No Brasil, a análise bibiométrica em economia foi utilizada inicialmente por Azzoni (1998; 2000) cujos

objetivos foram à verificação do grau de repercussão dos autores, das instituições acadêmicas e das revistas

de economia, por meio da mensuração da frequência com que os trabalhos foram citados por artigos

publicados nas principais revistas brasileiras. Com o intuito de verificar de forma mais abrangente o

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interna construída de forma a considerar todos os documentos relevantes em um determinado

tema, no caso o BNDES, o que aumenta a confiabilidade da análise bibliométrica no que se refere

aos trabalhos considerados.

O artigo dividiu-se em cinco seções, incluindo esta introdução. Na seção 2 discutiu-se o

método da análise bibliométrica. Na seção 3, abordou-se a metodologia adotada, com foco na

apresentação da base de dados e na discussão dos indicadores que foram utilizados. A seção 4

apresentou-se os resultados e, por fim, as conclusões estão na seção 5.

2. Indicadores Bibliométricos

O termo bibliometria foi definido como a aplicação de métodos matemáticos e estatísticos

para medir a quantidade e o desempenho de publicações como livros, artigos e outros meios de

comunicação (PRITCHARD, 1969). A literatura reportou basicamente três tipos de indicadores

bibliométricos: quantitativos ou de produção, desempenho ou repercussão e estruturais ou

relacionais (ROUSSEAU, 1998; GAUTHIER, 1998; LUNDBERG, 2006; DURIEUX e

GEVENOIS, 2010). Não raramente, esses indicadores foram referidos na literatura com

denominações diferentes, porém relacionados ao mesmo conceito e objetivo.

Os indicadores quantitativos objetivam a métrica da produção a partir da contagem do

número de publicações, por autor, por tipo de documento e o número de publicações por

instituição de pesquisa ou país. Quando esses indicadores tornam-se disponíveis para um período

de tempo suficientemente longo, eles permitem conjecturar sobre a tendência da publicação

(DURIEUX e GEVENOIS, 2010).

Diferentemente dos indicadores de produção, os indicadores de desempenho procuram

fornecer uma medida de qualidade e repercussão da publicação, dos autores e das instituições

analisadas (DURIEUX e GEVENOIS, 2010). Por exemplo, o número de vezes que um autor, um

artigo ou uma instituição é citado constitui um indicador de repercussão ou impacto, amplamente

empregado em análises bibliométricas. Garfield (1955) apresentou a importância dos índices de

citação como fonte de informação para os pesquisadores e argumentou que, para o caso de um

artigo relevante, o índice de citação apresenta-se como uma medida do grau de influência do

artigo para outros pesquisadores.

Martin e Irvine (1983) apresentam e distinguem os conceitos de “qualidade”,

“importância” e “impacto” de uma publicação. Para os autores, não existe uma medida direta

desses aspectos, ou seja, o número de citações de uma publicação não reflete diretamente sua

qualidade ou importância, mas sim um indicador parcial de repercussão de um trabalho científico.

Outros fatores como a localização do autor, o seu prestígio na comunidade científica, o idioma

em que foi publicado e a disponibilidade da revista também podem afetar o número de citações.

Por fim, os indicadores estruturais ou relacionais mensuram as conexões entre

publicações, entre autores ou campo de pesquisa (DURIEUX e GEVENOIS, 2010). Esses

indicadores são amplamente utilizados na literatura bibliométrica principalmente nas análises de

coautoria e co-citação de artigos e documentos. A análise de co-citação tipicamente apresenta

impacto internacional dos trabalhos brasileiros, Issler e Ferreira (2004) avaliaram pesquisadores e

departamentos de economia no Brasil a partir das citações recebidas por periódicos internacionais. De outro

lado, Faria et al. (2007) estudou os determinantes das citações internacionais dos economistas brasileiros

em artigos publicados nas principais revistas brasileiras de economia. Contudo, foi apenas no trabalho de

Faria (2010) que questões associadas ao idioma da publicação e co-autoria foram exploradas. A despeito

desta literatura, não foram identificados trabalhos que seguem a estrutura de análise bibliométrica como a

conduzida no presente trabalho.

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uma rede onde os autores/documentos mais citados estão conectados pelo link de co-citação. Os

indicadores relacionais são aplicados para o mapeamento de estruturas de conhecimento e de

redes de relacionamento entre autores, documentos, instituições, e países, sendo importantes para

a identificação das parcerias entre autores ou entre instituições; e para mostrar ligações entre

temas ou áreas de pesquisa, ou mesmo tópicos emergentes em um campo do conhecimento (LIMA

et al. , 2010; OKUBO, 1997; GAUTHIER, 1998).

A análise de co-citação é um dos métodos quantitativos amplamente utilizados para a

estruturação de redes de relacionamento, sendo o foco dessas análises a identificação de padrões

estruturais de especialização no campo de pesquisa. Esse padrão pode ser avaliado tanto por meio

de análise de co-citação de autores (ACA) ou pela análise de co-citação de documentos (DCA)

(WHITE e GRIFFITH, 1981).

Small (1973) define a análise de co-citação como a frequência com que dois documentos

da literatura são citados conjuntamente por um documento posterior. Adicionalmente o autor

argumenta que quando dois artigos são frequentemente co-citados, eles são necessariamente mais

citados individualmente e os artigos mais citados individualmente representam os conceitos, os

métodos ou os experimentos chave em um campo do conhecimento. Dessa forma, o padrão da

co-citação pode ser utilizado para mapear o relacionamento entre esses conceitos chave.

White e Griffith (1981) argumentam que o mapeamento de uma área do conhecimento

pode ser realizado empregando os autores como unidade de análise e as co-citações de pares de

autores como variáveis que indicam a distância entre eles, sendo que quanto maior a frequência

em que dois autores são citados conjuntamente maior seria relação entre eles.

Neste trabalho os indicadores quantitativos da produção foram utilizados para descrever

o perfil da literatura econômica sobre o BNDES. A avaliação da literatura relevante para a

comunidade científica foi investigada por meio dos indicadores de repercussão e de redes de

citação, co-citação e coautoria.

3. Metodologia

3.1 Base de dados

O presente trabalho foi desenvolvido a partir de uma base de dados construída para

sistematizar a literatura econômica produzida a respeito do BNDES desde sua fundação. Essa

construção envolveu três fases distintas, identificação, cadastramento e classificação das obras.

Primeiramente, foi realizado um extenso trabalho de identificação da literatura

acadêmica. Essa identificação foi realizada por meio de pesquisas com temas-chave associados à

missão do BNDES de ser instrumento de financiamento de longo prazo para a realização de

investimentos3. Foram consultadas, além das referências disponibilizadas na Internet (JSTOR,

Scielo, Web of Knowledge, Science Direct, Google Acadêmico), as principais bibliotecas e

acervos brasileiros, bem como a literatura internacional sobre o BNDES. A coleta abrangeu os

periódicos acadêmicos, as teses, dissertações, livros e capítulos e textos para discussão, entre

outros4. Esse protocolo inicial de busca indicou a existência de um amplo material acadêmico.

No entanto, uma parcela significativa dos trabalhos que possuíam essas palavras-chave não se

tratava de fato do BNDES. Assim, para identificar as potenciais obras que avaliam o papel do

3 Esses temas incluem: Financiamento de longo prazo, BNDE(S), investimento de longo prazo, Banco de

desenvolvimento, financiamento de bem de capital, financiamento de infraestrutura, privatizações e

financiamento do desenvolvimento. 4 Foi criada uma categoria “outros” para incluir working papers, estudos especiais e alguns relatórios de

pesquisa.

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banco, foi executada uma primeira leitura dos documentos, selecionando aquelas que realmente

se encaixavam no objetivo da presente pesquisa e que foram alvo de estudo e leitura de forma

mais aprofundada.

A fase de cadastramento correspondeu à coleta e cadastramento das informações

bibliográficas dos documentos e informações sobre as referências citadas pelos trabalhos. As

referências bibliográficas constantes nos documentos representam um aspecto relevante da

pesquisa, em primeiro lugar, porque permitiram a identificação de novos trabalhos para compor

a base de dados e, em segundo lugar, porque possibilitaram a identificação dos documentos mais

citados entre os trabalhos acadêmicos que avaliaram o BNDES5.

Na fase de classificação os textos foram classificados de acordo com o período a que se

referem e a temática tratada. A divisão cronológica foi definida a partir das mudanças nas

formas de atuação do banco ao longo de sua história e abrange cinco subperíodos: 1952-

1964; 1964-1980; 1980-1990; 1990-2002 e 2002-20136. As temáticas tratadas foram definidas

seguindo as linhas de atuação do BNDES7. Os documentos também foram classificados quanto

ao grau de referência ao BNDES no texto. Para tal classificação foi adotado o seguinte critério,

representado por uma variável binária denominada “Grau de Referência ao BNDES”: 1 – O objeto

do estudo é a própria atuação do BNDES ou o banco ocupa papel importante no documento; 0 –

O objeto de estudo não é o BNDES ou este não é referido de maneira significativa no documento8.

Cabe ressaltar que o conjunto destas fases resultou em uma base de dados direcionada e

única de obras da literatura econômica sobre o BNDES. Trata-se de uma coletânea de trabalhos

identificados e qualificados a partir de diversas consultas a uma série de acervos e ferramentas de

buscas diferentes, além de consultas nas próprias referências bibliográficas desses documentos.

Desta forma, conseguiu-se obter informações sobre citações oriundas dos próprios documentos

que compõem a base de dados e, portanto, os documentos mais citados, que serão avaliados

posteriormente neste artigo, referem-se a trabalhos que mais repercutiram entre os trabalhos que

avaliam o BNDES. A base de dados construída foi composta por 919 trabalhos acadêmicos

publicados no período entre 1952 a junho de 20139, sendo que o BNDES foi responsável pela

publicação de 296 obras10.

5 É importante ressaltar que não foram incluídas na Base todas as referências dos artigos, mas apenas

aqueles trabalhos citados que se aproximavam dos mesmos critérios de temas-chave associados à missão

do BNDES utilizados na fase de identificação. Assim, as referências incluídas na Base de dados para cada

trabalho se constituem em referências qualificadas ao objetivo da pesquisa e, como consequência, são

também uma entrada da própria Base de dados. As citações analisadas a partir da Base mostram-se restritas

aos trabalhos que se referem ao BNDES. 6 Alguns documentos não avaliam um período específico, por exemplo, aqueles que tratam do papel teórico

dos bancos de desenvolvimento. Essas obras foram agrupadas num item denominado “atemporal”. 7 As temáticas associadas às linhas de financiamento do BNDES são: Agropecuária; Comércio, Serviços e

Turismo; Desenvolvimento Social e Urbano, Esportes e Cultura; Exportação e Inserção Internacional;

Indústria; Infraestrutura; Inovação; Meio Ambiente; Mercado de Capitais. Adicionalmente, foram criadas

três temáticas (“Privatizações”, “Teórico – Banco de desenvolvimento” e “Outros”). Cabe ressaltar que um

único documento pode tratar de mais de uma temática e abranger mais de um período. 8 Por exemplo, um documento que avaliou o papel do BNDES na geração de postos de trabalhos recebeu

classificação 1, quanto ao grau de referência. Já um documento que descreveu as fontes de financiamento

no Brasil e apenas apresentou tabelas ou figuras dos desembolsos do BNDES, sem uma avaliação crítica,

recebe classificação 0. Adicionalmente, alguns documentos que se restringem a descrição sumária da

história do BNDES também receberam classificação 0. 9 Cabe ressaltar que o documento mais antigo localizado foi publicado em 1957. Ademais, algumas

publicações do ano de 2013 já foram incorporadas à Base de dados. 10 Dessas obras, 888 (equivalente a 96,6%) foram lidas, avaliadas e classificadas conforme a metodologia

exposta, a parte restante da Base de dados é composta de coletâneas (3,4%) Entendeu-se que essas

coletâneas (livros) são relevantes dentro da Base de dados, uma vez que foram utilizadas como referências

bibliográficas em muitos documentos, ou seja, nesses casos a citação referiu-se à coletânea e não ao artigo

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3.2 Método de Análise

As informações da base de dados foram utilizadas na construção dos indicadores de

produção, de desempenho e nas redes de citação, co-citação e coautoria. As informações foram

separadas em “variáveis de características”, que são aquelas que possibilitam caracterizar a

produção, e “variáveis de classificação”, construídas a partir da classificação quanto ao período

de análise, temáticas tratadas e grau de referência ao BNDES no texto. As informações foram

analisadas por meio de estatísticas unidimensionais (por exemplo, número de publicações),

estatísticas bidimensionais, ou seja, a relação entre duas variáveis (como número de publicações

por tipo de documento), estatísticas multidimensionais, ou seja, relação entre mais de duas

variáveis (exemplo: número de publicações por tipo de documento por ano) e estatísticas que

detectam padrões de distribuição de frequência das variáveis quantitativas.

O período de análise da presente pesquisa correspondeu aos anos de 1952 a junho 2013.

Portanto, todos os indicadores referentes à quantidade como o número de citações, o número de

documentos publicados, entre outros, se referem ao estoque para o período fixado. Na literatura

de análise bibliométrica vários autores têm proposto a condução da análise para períodos de tempo

relativamente longos, considerando no mínimo 10 anos (JOHNES, 1988; VAN LEEUWEN et al.,

2003). Um período longo apresenta o benefício de reduzir a influência de fatores aleatórios na

análise, além de corresponder a um período em que existem razões substantivas para que os

documentos possam ser citados (NEDERHOF, 1988, Apud ANU, 2005).

Ademais, considerando o fato de que parcela significativa da produção publicada sobre o

BNDES se deu por meio de seus veículos de divulgação e disseminação do conhecimento como

livros, Revista do BNDES, BNDES Setorial, Working Papers, tornou-se relevante à análise de

forma separada das publicações cujo responsável foi o BNDES. Essa análise foi feita a partir de

um filtro para a instituição, ou seja, foram considerados os documentos em que o BNDES foi a

instituição responsável pela publicação. A partir desse filtro foi possível calcular os indicadores

separadamente considerando o caso em que o BNDES foi a instituição responsável pela

publicação e o caso em que outras instituições foram responsáveis. Os resultados encontrados

foram comparados por meio de alguns testes não paramétricos para comparação de médias. A

opção pelos testes não paramétricos decorreu do fato de que as distribuições das publicações,

autores, entre outras, não apresentarem aderência à normalidade, violando um dos pressupostos

para quase todos os tipos de testes de médias. Foram utilizados tantos testes para amostras

independentes como o Teste de Mann-Whitney e o Teste de Kruskal-Wallis, quanto teste para

amostras emparelhadas como o Teste de Wilcoxon11. A técnica multivariada da análise fatorial

também foi aplicada no presente trabalho com o objetivo de identificar características comuns

entre os trabalhos mais citados na base de dados12.

em específico. Contudo, já que os artigos que compõem essas coletâneas foram avaliados e classificados

entendeu-se como desnecessária a classificação da coletânea, evitando a dupla contagem. 11 O teste de Mann-Whitney é um teste alternativo ao teste t para amostras independentes e compara o

centro de localização (tendência central) das duas amostras como forma de detectar diferenças entre as duas

populações correspondentes. Já o teste de Kruskal-Wallis é uma generalização do teste de Mann- Whitney

para mais de dois grupos. A partir de amostras aleatórias de K populações, pode-se testar a hipótese da

existência de um parâmetro de localização comum a todas as populações. Finalmente, o teste de Wilcoxon

aplica-se para analisar diferenças entre duas condições no mesmo grupo de sujeitos, ou seja, é uma

alternativa ao teste t para amostra emparelhada e permite testar se as populações diferem em localização

(PESTANA e GAGEIRO, 2005). 12 A análise fatorial é um conjunto de técnicas estatísticas que permite reduzir o número original de

variáveis por meio da extração de fatores independentes, de tal forma que esses fatores possam explicar, de

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Para a obtenção das estatísticas apresentadas nas tabelas e gráficos e dos testes de média

foi utilizado o editor de dados do IBM SPSS Statistics 20. As redes de citação, co-citação e

coautoria foram elaboradas com o apoio do software UCINET 6.0 (BORGATTI et al, 2002) e

Netdraw (BORGATTI, 2002).

4. Resultados da Análise Bibliométrica

4.1 Indicadores de produção

A Figura 1 permite compreender a evolução e a tendência da literatura ao longo do

período analisado considerando separadamente os trabalhos publicados pelo próprio BNDES dos

trabalhos publicados por outras instituições. Observou-se uma tendência crescente no número

total de publicações referente à literatura econômica sobre o BNDES, verificou-se, ainda, uma

mudança considerável da tendência da série na década de 1990 e a partir do ano 2000. Até o ano

de 1969, apenas 16 publicações constam na base de dados. Nas décadas de 1970 e 1980, as

publicações referentes ao BNDES ainda foram relativamente reduzidas, apresentando média

anual de 6,35 publicações. Contudo, na década de 1990, observou-se significativo aumento nas

publicações, que apresentaram média de 17,5 publicações por ano. Essa tendência de crescimento

tornou-se mais acentuada a partir do ano 2000, quando a publicação média anual foi de 42,9, com

concentração no ano de 2010, em que foram registradas na base de dados 82 publicações. Desta

forma, percebeu-se que a taxa de crescimento das publicações sobre o BNDES, de 13,5% ao ano

nos últimos cinco anos, está acima da taxa de crescimento de elaboração de trabalhos científicos

no Brasil, que está em torno de 9,7% ao ano nos últimos cinco anos, segundo dados fornecidos

pelo SCImago Journal & Country Rank.

Figura 1 - Evolução dos documentos da literatura econômica sobre o BNDES no período

1957-2013 e instituição responsável

Fonte: Elaboração Própria a partir da base de dados de obras sobre o BNDES.

forma resumida, as variáveis originais. A análise fatorial pressupõe a existência de um número menor de

variáveis não observáveis e subjacentes aos dados, que indicam o que existe de comum nas variáveis

originais (PESTANA e GAGEIRO, 2005).

0

10

20

30

40

50

60

70

80

90

195

7

196

1

196

4

196

8

197

0

197

2

197

4

197

6

197

8

198

0

198

2

198

4

198

6

198

8

199

0

199

2

199

4

199

6

199

8

200

0

200

2

200

4

200

6

200

8

201

0

201

2

BNDES Outros

Page 15: Levantamento e avaliação da literatura econômica sobre o BNDES · mapear e analisar a literatura econômica existente sobre o Banco Nacional de Desenvolvimento ... do conjunto

15

Portanto, esse crescimento da literatura sobre o BNDES refletiu o maior interesse por

parte dos pesquisadores nos temas relacionados ao banco, acompanhando o próprio crescimento

dos desembolsos do BNDES nos últimos anos13. No entanto, verificou-se que o aumento da

publicação sobre o BNDES também foi resultado do aumento da produção científica em geral no

Brasil.

Ainda na Figura 1 é perceptível que até o final da década de 1980, o BNDES praticamente

não se associou significativamente à literatura que surgia a respeito do banco. Até o final da

década de 1980, a média anual das publicações patrocinadas pelo BNDES foi de apenas 0,7,

enquanto as publicações patrocinadas por outras instituições apresentou média de 4,4 publicações

por ano. Entretanto, a partir de 1990 a instituição aumentou sua participação na publicação total,

sendo responsável por parcela significativa e crescente da literatura econômica sobre o banco.

Durante a década de 1990, a média anual das publicações patrocinadas pelo BNDES foi de 4,0,

elevando-se para 16,9 a partir do ano de 2000, enquanto para as publicações patrocinadas por

outras instituições, a média anual de publicações por ano passou de 13,5, na década de 90, para

26,0, a partir dos anos 2000. Tal fato decorreu da reedição da Revista do BNDES a partir de 1994

e do apoio à publicação de livros, especialmente comemorativos. O pico de publicações do

BNDES em 2002, por exemplo, ocorreu em virtude da comemoração dos cinquenta anos do

banco, que gerou um grande número de publicações especialmente capítulos de livros.

A Tabela 1 fornece a distribuição desta produção por tipo de documento. Observou-se

que a contribuição do BNDES como responsável pela publicação em relação às outras instituições

atingiu quase um terço (32,2%) dos documentos. Ainda se notou que 43,2% das publicações

foram artigos, 21,1% capítulos de livros, 13,4% livros e a categoria “outros” totalizou 4,6% dos

documentos. Foi perceptível a predominância de artigos científicos em relação aos outros tipos

de documentos. Por fim, no que se refere às instituições, a publicação de livros e capítulos de

livros ficou concentrada no BNDES, enquanto que as teses e dissertações foram desenvolvidas

principalmente pelos centros de pós-graduação da UNICAMP e da UFRJ.

Tabela 1 - Documentos da literatura econômica sobre o BNDES, por tipo e Instituição

responsável pela publicação

Artigo

Capítulo de

livro Livro

Dissertação de

mestrado

Tese de

Doutorado

Texto para

discussão Outros TOTAL

Outros 260 88 88 84 42 26 35 623

BNDES 137 106 35 - - 11 7 296

Total 397 194 123 84 42 37 42 919

Fonte: Elaboração Própria a partir da base de dados de obras sobre o BNDES.

Avaliando apenas os artigos, pode-se identificar em quais periódicos se concentram a

produção sobre o BNDES. Os artigos relacionados ao BNDES foram publicados em 102

diferentes periódicos acadêmicos no período analisado, sendo em média 3,9 artigos por periódico.

No entanto, observou-se a concentração de artigos em poucos periódicos, sendo que 57,8% dos

periódicos acadêmicos possuíam apenas um artigo publicado. Por outro lado, apenas a Revista do

BNDES concentrou 108 artigos, o que a tornou o principal veículo de publicação sobre o banco14.

13 A correlação calculada entre os desembolsos do BNDES como proporção do PIB e o número de

publicações sobre o BNDES foi de 0,78. 14 Cabe ressaltar que entre os periódicos que mais publicaram artigos sobre o Banco estão a: Revista de

Economia Política, Economia e Sociedade, Análise econômica, The Quarterly Review of Economics and

Finance e Ensaios FEE.

Page 16: Levantamento e avaliação da literatura econômica sobre o BNDES · mapear e analisar a literatura econômica existente sobre o Banco Nacional de Desenvolvimento ... do conjunto

16

Como a literatura econômica sobre o BNDES concentrou-se em artigos publicados em

periódicos, um indicador adicional associado à qualidade dessa publicação é a classificação

Qualis/CAPES na área de Economia e áreas correlatas. A Tabela 2 mostra que dos artigos listados

na base de dados, 83,4% foram publicados em periódicos com classificação Qualis/CAPES. A

publicação em periódicos A1 totalizou 7,3%, enquanto que as classificações B1, B2 e B3

apresentaram participações semelhantes em torno de 10 a 13%. Entretanto, observou-se

concentração da publicação em revistas classificadas como B5, aproximadamente 35%. Isso

ocorreu principalmente devido à concentração das publicações na Revista do BNDES, que possui

classificação Qualis/CAPES B5 multidisciplinar.

Tabela 2 – Classificação Qualis/CAPES dos periódicos em que foram publicados artigos

sobre o BNDES, quantidade e participação no total15

Qualis Quantidade de

Publicações

Participação no total de artigos com

Qualis/CAPES

A1 29 7.3%

A2 6 1.5%

B1 51 12.8%

B2 42 10.6%

B3 47 11.8%

B4 17 4.3%

B5 138 34.8%

C 1 0.3%

Não definido 66 16.6%

Total 397 100.0%

Fonte: Elaboração Própria a partir da base de dados de obras sobre o BNDES.

Em relação aos autores que trabalharam na construção da literatura econômica sobre o

BNDES, foram identificados na base de dados um total de 923 autores. No que se referiu à

instituição de afiliação, foi verificado que 30,8% dos autores afiliaram-se ao BNDES no momento

da publicação do trabalho e 69,2% foram pesquisadores de outras instituições.

A base de dados contém 919 trabalhos e 923 autores, o que representou uma média de

0,99 trabalhos por autor. O maior número de autores do que de trabalhos refletiu a existência de

coautoria na publicação em maior grau do que a existência de autores com mais de um trabalho.

Outra medida pôde ser obtida considerando que cada coautor individualizado do documento

recebeu crédito total pelo trabalho, assim a média de textos publicados por autor foi de 1,6, sendo

que os valores variaram de um a 32 documentos por autor. Adicionalmente, 76,1% dos autores

publicaram apenas um documento durante todo o período analisado e 97,5% dos autores têm até

cinco textos publicados no período. Essa assimetria na distribuição de autores que mais publicam

foi em geral encontrada na literatura de análise bibliométrica. Isso refletiu o fato de que alguns

poucos autores se dedicaram especificamente ao tema e muitos autores contribuíram

marginalmente em termos da quantidade de publicações. O número de documentos publicados

por autor também se diferiu quando se considerou separadamente os autores afiliados ao BNDES

e autores afiliados a outras instituições, sendo que os afiliados ao BNDES publicaram maior

número de documentos em média16.

15 De acordo com a lista de Qualis/CAPES de fevereiro de 2013. 16 Realizou-se o teste não paramétrico para amostras independentes de Mann-Whitney, que permitiu

rejeitar, ao nível de significância de 1%, que as distribuições do número de documentos por autor foram

iguais em tendência central. Portanto, notou-se que a publicação por autor foi diferente considerando as

afiliações, sendo que os autores afiliados ao BNDES foram mais prolíficos.

Page 17: Levantamento e avaliação da literatura econômica sobre o BNDES · mapear e analisar a literatura econômica existente sobre o Banco Nacional de Desenvolvimento ... do conjunto

17

No que se refere ao idioma da publicação dos trabalhos sobre o BNDES, indicador do

grau de internacionalização da literatura, observou-se que aproximadamente 18,6% dos trabalhos

foram publicados em Inglês, o que sinalizou um grau relativamente elevado de

internacionalização da publicação sobre o BNDES. Tendo em vista que a instituição envolveu-se

diretamente com a questão do desenvolvimento nacional, portanto as pesquisas podem ser de

maior interesse para os veículos de divulgação internos.

No que tange às “variáveis de classificação”, a Tabela 3 apresenta o cruzamento da

classificação das temáticas com a classificação dos períodos tratados pelos documentos.

Observou-se que as temáticas Infraestrutura e Indústria tiveram participação elevada em todos os

períodos de análise, porém têm apresentado tendência de perda de participação para outras

temáticas emergentes de forma distinta. A temática Indústria apresentou uma queda mais

acentuada a partir da década de 1980, enquanto a temática Infraestrutura reduziu sua participação

apenas entre os dois primeiros períodos. Em outras palavras, a Infraestrutura mostrou-se mais

recorrente como tema de estudo em todos os períodos. Nos trabalhos que analisaram o período de

2002-2013 observou-se maior participação das temáticas como Desenvolvimento Social e

Urbano, Esporte e Cultura, Mercado de Capitais e Inovação. Em linha com o crescimento dos

aportes do banco para o setor agropecuário, as pesquisas que trataram deste tema apresentaram

um relativo aumento nos últimos períodos. Outro ponto de destaque foi a importância do tema

Privatização nos trabalhos que abordaram os períodos 1980-1990 e 1990-200217.

Tabela 3 - Principais temáticas e períodos tratados nas obras sobre o BNDES

Período

Temática 1952-1964 1964-1980 1980-1990 1990-2002 2002-2013 Total

Indústria 33.0% 34.1% 26.0% 17.6% 16.8% 23.3%

Infraestrutura 24.3% 18.2% 15.8% 14.2% 15.3% 16.8%

Privatizações 4.9% 5.5% 17.4% 19.3% 3.0% 10.0%

Desenvolvimento Social e Urbano,

Esporte e Cultura 8.2% 6.9% 6.1% 8.9% 13.6% 9.4%

Mercado de Capitais 4.1% 8.6% 7.3% 8.2% 12.4% 8.8%

Exportação e Inserção Internacional 5.3% 6.5% 6.5% 9.7% 9.9% 8.2%

Teórico - Banco de

Desenvolvimento 7.8% 7.9% 6.9% 5.5% 7.2% 6.9%

Outros 9.5% 6.5% 5.2% 6.3% 6.1% 6.6%

Inovação 0.8% 3.4% 4.8% 5.9% 8.6% 5.4%

Agropecuária 1.2% 1.7% 2.8% 2.5% 3.2% 2.4%

Meio Ambiente 0.4% 0.3% 0.8% 1.0% 2.3% 1.1%

Comércio, Serviços e Turismo 0.0% 0.0% 0.0% 0.4% 0.9% 0.4%

Total 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0%

Fonte: Elaboração Própria a partir da base de dados de obras sobre o BNDES.

17Uma vez que um documento pode tratar de mais de uma temática e também mais de um período, os

resultados da Tabela 3 devem ser avaliados com cautela. Por exemplo, podem ocorrer casos em que um

documento avaliou todos os períodos e, na década de 90, deu atenção especial ao processo de privatizações.

Na classificação foram alocados para esse documento todos os períodos e também, dentre as temáticas

tratadas, a privatização. Dessa forma por se tratarem de classificações independentes, no cruzamento dessas

duas informações (Tabela 3) o tema privatizações ressaltou-se como tratado em todos os períodos, uma vez

que não foi possível isolar o período específico em que determinada temática foi tratada em cada texto. Em

função desta limitação, os resultados da Tabela 3 são apenas um sinalizador de quais temáticas foram mais

importantes em cada subperíodo.

Page 18: Levantamento e avaliação da literatura econômica sobre o BNDES · mapear e analisar a literatura econômica existente sobre o Banco Nacional de Desenvolvimento ... do conjunto

18

Ainda com relação às estatísticas associadas à classificação das obras, outro ponto

relevante compreende o grau de referência dado pelo documento ao BNDES. Como mencionado,

foi criada uma variável binária para permitir a classificação dos textos de acordo com essa

referência. Constatou-se que a metade dos documentos que compõem a base de dados tem como

objeto de estudo a atuação do BNDES ou o banco ocupou papel importante no documento. A

outra metade incorporou documentos em que o BNDES não foi o objeto central do estudo ou este

não foi referido de maneira significativa no documento.

4.2 Indicadores de desempenho

O número de citações que um trabalho ou autor recebe dentro da base de dados foi

utilizado como um indicador de impacto, ou seja, da repercussão ou visibilidade desse trabalho

ou autor para a comunidade acadêmica e, principalmente, para a literatura econômica sobre o

BNDES. Os trabalhos mais citados serviram de referência para outros pesquisadores que

investigaram uma determinada área. Do total de 919 documentos, 59,1% não foram citados,

resultado bastante comum em Ciências Sociais Aplicadas18 (FARIA, 2008; PENDLEBURRY,

1991; HAMILTON, 1991). O maior valor para o número de citações que um trabalho recebeu foi

41.

A Figura 2 apresenta a distribuição de frequência das obras que compõem a base de dados

de acordo com o número de citações que receberam, desagregado pela instituição patrocinadora

da publicação. A assimetria da distribuição evidenciou a concentração do número de citações

abaixo da média, ou seja, concentração em poucos documentos. Essa assimetria ainda foi mais

evidente para os documentos cuja instituição responsável pela publicação não foi o BNDES.

Dentre os documentos publicados pelo BNDES, 49,7% não receberam citações, enquanto para os

documentos publicados por outras instituições, esse percentual atingiu 63,6%19.

18 Embora se tratem de bases de dados distintas, prejudicando sua comparação, o percentual de não citados

da Base de dados de documentos que tratam o BNDES é próximo do percentual encontrado por Pendleburry

(1991), que avaliou todos os “papers” publicados nos periódicos que compõem o ISI, no ano de 1984, e

suas citações acumuladas até 1988. Segundo este autor, 48% dos documentos publicados em ciências

sociais não foram citados. 19 O teste de Mann-Whitney para amostras independentes permitiu rejeitar a hipótese, com 1% de

significância, de que o número de citações por documentos foram iguais em tendência central para as

publicações BNDES e outras instituições. Portanto, pode-se afirmar que os documentos publicados pelo

BNDES foram mais citados em média que os documentos publicados por outras instituições.

Page 19: Levantamento e avaliação da literatura econômica sobre o BNDES · mapear e analisar a literatura econômica existente sobre o Banco Nacional de Desenvolvimento ... do conjunto

19

Figura 2 - Distribuição de frequência dos documentos da literatura econômica sobre o

BNDES por número de citação

Fonte: Elaboração Própria a partir da base de dados de obras sobre o BNDES.

Para analisar mais detalhadamente quais foram as publicações que receberam maior

número de citações, a Tabela 4 apresenta os dezessete documentos mais citados com seus

respectivos autores e o ano de publicação.

Page 20: Levantamento e avaliação da literatura econômica sobre o BNDES · mapear e analisar a literatura econômica existente sobre o Banco Nacional de Desenvolvimento ... do conjunto

20

Tabela 4 - Os dezessete principais trabalhos de acordo com o número de citações recebidas

Título Ano* Autor

Afiliado

ao

BNDES**

Número

de

Citações

Quinze anos de política econômica 1982 LESSA, C. Não 41

A industrialização e o desenvolvimento econômico do

Brasil

1988 BAER, W. Não 40

BNDES, 40 anos: um agente de mudanças 1992 BNDES Sim 27

A aplicação de fundos compulsórios pelo BNDES na

formação da estrutura setorial da indústria: 1952 a

1989

1994 MONTEIRO FILHA, D. C. Não 26

The Brazilian economy: growth and development 2001 BAER, W. Não 25

The Development of the brazilian steel industry 1969 BAER, W. Não 22

Privatização de recursos públicos: os empréstimos do

sistema BNDES ao setor privado nacional com

correção monetária parcial

1989 NAJBERG, S. Não 22

The changing role of the State in the Brazilian

economy 1973

BAER, W.,

KERSTENETZKY, I.,

VILLELA, A. V.

Não 21

BNDES: 50 anos de desenvolvimento 2002 BNDES Sim 21

Da substituição de importações ao capitalismo

financeiro: ensaios sobre economia brasileira

1972 TAVARES, M. C. Não 21

Fontes de recursos do BNDES 1995 PROCHNIK, M. Sim 19

O BNDE e a industrialização brasileira: 1952-1961 1981 VIANA, A. L. D. Não 18

JK e o programa de metas, 1956-1961: processo de

planejamento e sistema político no Brasil

2002 LAFER, C. Não 18

A atuação do sistema BNDES como instituição

financeira de fomento no período 1952-1996 1998 CURRALERO, C. R. B. Não 17

O papel da poupança compulsória no financiamento

do desenvolvimento: desafios para o BNDES 1994 BONELLI, R., PINHEIRO,

A. C. Sim 17

A economia política das políticas públicas: as

privatizações e a reforma do estado

1997 VELASCO JÚNIOR, L. Sim 16

A economia brasileira em marcha forçada 1985 CASTRO, A. B., SOUZA,

F. E. P.

Não 16

Outros 1302

Total (919 documentos) 1689

Fonte: Elaboração Própria a partir da base de dados de obras sobre o BNDES. *Considera-se o ano da publicação da edição que foi incorporada à base de dados.

** Considera-se a afiliação do autor no período de publicação do documento.

O livro “Quinze anos de política econômica” de Carlos Lessa e o livro “A industrialização

e o desenvolvimento econômico do Brasil” de Werner Baer foram os documentos mais citados

da base de dados, apresentando 41 e 40 citações, respectivamente20. Algumas dessas obras mais

citadas trataram de maneira mais abrangente a economia brasileira, mas também consideram o

BNDES de forma significativa. Essa característica foi observada em algumas publicações tais

como, de Werner Baer, Celso Lafer, Antonio Barros de Castro e Maria da Conceição Tavares.

Contudo, deve-se ressaltar que as citações mensuradas nestes documentos são citações oriundas

de trabalhos que também abordam o banco, portanto é de se esperar que a motivação para a citação

destes documentos seja em decorrência da análise que estes fazem sobre o BNDES e não

unicamente pelo fato do documento tratar a economia brasileira.

20 O livro BNDES, 40 anos recebeu citações tanto dos artigos que compõe a coletânea, bem como ao livro

como um todo.

Page 21: Levantamento e avaliação da literatura econômica sobre o BNDES · mapear e analisar a literatura econômica existente sobre o Banco Nacional de Desenvolvimento ... do conjunto

21

O desenvolvimento das citações de um trabalho ao longo do tempo aponta um

comportamento aproximado a de um ciclo de vida. Na figura 3 apresentam-se o comportamento

das citações dos trabalhos ao longo do tempo. Pode-se observar que o pico de citações dos

trabalhos ocorreu, em média, dois anos após a publicação dos documentos. Considerando-se as

citações acumuladas ao longo do tempo, percebe-se que em até cinco anos passados da

publicação, as obras receberam aproximadamente metade do total das citações. Nesse sentido,

como a literatura a respeito do BNDES cresceu significativamente na última década é possível

que muitos dos artigos que compõem a base de dados não tenham completo esse ciclo de citações,

isso contribui para o baixo número de citações média identificado.

Figura 3 - Evolução do número de citações dos documentos da literatura econômica sobre

o BNDES

Fonte: Elaboração Própria a partir da base de dados de obras sobre o BNDES.

Além do número de citações por documento, outro indicador relevante foi o número de

citações por autor. Os autores mais citados tornaram-se referências em suas respectivas áreas de

atuação e, dessa forma, pôde-se destacar os autores-chave da literatura econômica do BNDES.

Para os casos em que os documentos possuem mais de um autor, foi adotado o critério de que

cada autor do documento recebeu crédito total pelo trabalho.

A análise estatística mostrou que em média os autores receberam 2,6 citações, mas o

desvio-padrão elevado de 8,7 indicou alta dispersão das citações. Considerando a distribuição de

frequência dos autores de acordo com o número de citações que receberam, os resultados

evidenciaram a assimetria com concentração de autores com número de citações igual a zero,

totalizando 59,2% dos autores. Esses resultados foram coerentes com o que se tem encontrado na

literatura de análise bibliométrica em que a distribuição das citações em geral apresenta essa

assimetria, caracterizando uma situação em que poucos autores recebem muitas citações e a

grande maioria dos autores receberam poucas citações.

O número de citações diferiu consideravelmente quando se considerou a instituição de

afiliação do autor. Os autores afiliados ao BNDES apresentaram em média mais que o dobro de

5 anos47,5%

10 anos70,8%

20 anos90,1%

30 anos96,3%

0%

9%

18%

27%

36%

45%

55%

64%

73%

82%

91%

100%

0%

1%

2%

3%

4%

5%

6%

7%

8%

9%

10%

11%

0 2 4 6 8

10

12

14

16

18

20

22

24

26

28

30

32

34

36

38

41

44

46

48

50

52

Freq

uên

cia

Acu

mu

lad

a

Freq

uên

cia

da

s cit

açõ

es

receb

ida

s a

s p

ub

lica

çã

o

Quantidade de Anos após Publicação

% Citações Recebidas % Citações Recebidas Ac.

Page 22: Levantamento e avaliação da literatura econômica sobre o BNDES · mapear e analisar a literatura econômica existente sobre o Banco Nacional de Desenvolvimento ... do conjunto

22

citações que os autores afiliados a outras instituições21. Esse resultado foi explicado pelo fato que

alguns documentos escritos por afiliados ao banco foram amplamente citados por se tratarem de

importantes relatórios técnicos ou de narrativas que descrevem a história do banco. No entanto,

o número de citações por autor, como um indicador de impacto, pode apresentar alguns vieses

que devem ser minimizados. Existem autores que podem ter recebido muitas citações porque

publicaram muitos trabalhos, mas cada um desses trabalhos contou isoladamente com menor

repercussão no campo científico. Por outro lado, alguns autores, apesar de terem publicado poucos

trabalhos, podem ter produzido material importante para a comunidade acadêmica. Neste

contexto, um indicador relativo importante que pode amenizar esse viés foi o número de citações

que um determinado autor recebeu em relação ao total de artigos publicados pelo autor, ou seja,

citação média por publicação de determinado autor. Esse indicador apresentou o impacto médio

do trabalho do autor. Outro problema relacionado ao número de citações por autor foi a questão

da autocitação22. A Tabela 5 apresenta o indicador citação por publicação, assim como o número

de autocitação para os autores mais citados da base de dados.

Tabela 5 - Autores mais citados e indicador de citação média por publicação

Autores Citações Publicações

Indicador

Citações/

Publicações Autocitação

Indicador

Autocitação/

Citações

BAER, W. 135 18 7,5 30 22,2%

PINHEIRO, A. C. 118 22 5,3 33 28,0%

BNDES 70 14 5,0 1 1,4%

GIAMBIAGI, F. 70 15 4,6 10 14,3%

MONTEIRO FILHA, D. C. 68 7 9,7 6 8,8%

TORRES FILHO, E. T. 65 22 2,9 11 16,9%

LESSA, C. 52 3 17,3 0 0,0%

ALÉM, A. C. 38 5 7,6 3 7,9%

PUGA, F. P. 36 32 1,1 4 11,1%

NAJBERG, S. 35 5 7,0 1 2,9%

VELASCO JÚNIOR, L. 34 4 8,5 3 8,8%

VILLELA, A. V. 32 3 10,6 1 3,1%

SUZIGAN, W. 31 7 4,4 0 0,0%

TAVARES, M. C. 31 7 4,4 0 0,0%

PROCHNIK, M. 30 3 10,0 1 3,3%

Fonte: Elaboração Própria a partir da base de dados de obras sobre o BNDES.

Carlos Lessa destacou-se como o autor com maior indicador de citação média. Apesar de

possuir apenas três obras listadas na base de dados, o autor atingiu 52 citações, resultando em um

indicador de 17,3 citações por publicação. Ainda se destacaram nesse quesito, Annibal V. Villela,

Marta Prochnik, Dulce Monteiro Filha, Licínio Velasco Jr., Ana Claudia Além e Werner Baer.

Quanto à questão da autocitação, observou-se que o autor mais citado na base de dados também

se destacou como o autor que mais cita seus próprios trabalhos.

21 O Teste de Mann-Whitney para amostras independentes rejeitou a 1% de significância a hipótese nula de

que o número de citações por autor afiliado BNDES e afiliado a outras instituições foram iguais em

tendência central. Portanto, pode-se afirmar que o número de citações por autor se diferiram entre as

instituições, de tal forma que os autores afiliados ao BNDES foram mais citados que os autores afiliados a

outras instituições. 22 A autocitação autoral foi uma referência que o autor fez em seu próprio artigo de trabalhos publicados

por ele.

Page 23: Levantamento e avaliação da literatura econômica sobre o BNDES · mapear e analisar a literatura econômica existente sobre o Banco Nacional de Desenvolvimento ... do conjunto

23

No que tange às “variáveis de classificação” a Tabela 6 apresenta, assim como na Tabela

3, o cruzamento da classificação das temáticas com a classificação dos períodos tratados pelos

documentos, considerando agora o número de citações recebidas. O número de citações que cada

temática recebeu pode ser um indicador de repercussão do tema. Como esperado, de maneira

geral, as temáticas mais tratadas pelos autores em suas publicações também foram as mais citadas.

Observou-se, assim como na análise anterior, que as temáticas Infraestrutura e Indústria tiveram

participação elevada em todos os períodos de análise, e que também apresentaram tendência de

perda de participação. Privatizações foi outra temática que foi tratada pelos trabalhos que

repercutiram na literatura, ou seja, documentos que receberam mais de uma citação,

principalmente nas décadas de 1980-2002. A temática teórica a respeito dos bancos de

desenvolvimento, cuja maior relevância havia sido nos primeiros dois períodos, voltou a

repercutir no último período, de 2002 a 2013. Nos trabalhos que analisaram o período de 2002-

2013 observou-se maior repercussão relativa das temáticas associadas a Desenvolvimento Social

e Urbano, Esporte e Cultura e Inovação. Adicionalmente, as pesquisas que trataram do tema

Agropecuária não tiveram grande repercussão relativamente nos períodos. Ainda com relação à

temática Meio Ambiente percebeu-se que o crescimento das citações ao longo do período de

análise não acompanhou o crescimento dos trabalhos que trataram este tema, o que indicou que

as citações levam tempo.

Tabela 6 - Porcentagem de temáticas que mais repercutiram (mais citadas) por períodos

Temática/Período 1952-1964 1964-1980 1980-1990 1990-2002 2002-2013

Indústria 38,5% 34,1% 26,5% 15,4% 18,8%

Infraestrutura 31,5% 26,7% 19,5% 17,8% 15,6%

Mercado de Capitais 7,5% 12,5% 15,0% 8,0% 10,3%

Privatizações 2,6% 6,3% 22,1% 26,4% 2,6%

Exportação e Inserção Internacional 4,2% 5,2% 5,6% 12,7% 14,2%

Outros 4,8% 6,5% 7,1% 9,9% 14,4%

Teórico - Banco de Desenvolvimento 5,6% 4,1% 1,8% 3,0% 7,3%

Desenvolvimento Social e Urbano, Esporte e

Cultura 4,8% 3,1% 0,9% 2,6% 8,7%

Inovação 0,6% 1,4% 1,3% 3,5% 6,9%

Agropecuária 0,0% 0,1% 0,1% 0,5% 0,4%

Meio Ambiente 0,0% 0,0% 0,0% 0,4% 0,6%

Comércio, Serviços e Turismo 0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 0,2%

Fonte: Elaboração Própria a partir da base de dados BNDES.

Outra questão relevante associada à classificação dos documentos citados referiu-se ao

grau de referência dos textos ao BNDES. Verificou-se que em geral os documentos mais citados

também foram aqueles que tiveram o BNDES como objeto de estudo. Entre os documentos com

10 ou mais citações observou-se que 67,4% foram obras em que o BNDES apareceu de maneira

significativa no documento, já entre os documentos com zero citação apenas 40,4% tiveram o

BNDES como objeto de estudo. A média de citações dos trabalhos com elevado grau de referência

ao BNDES, que assumiu valor da variável binária igual a um, foi de 2,1. Para os trabalhos com

baixo grau de referência ao BNDES, cujo valor da variável binária foi igual a 0, a média foi de

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24

1,723. Assim, a repercussão dos trabalhos que tiveram o BNDES como objeto de estudo foi maior

que os trabalhos que não se referem ao BNDES de modo expressivo.

4.3 Indicadores de redes

Outra forma de visualizar a estrutura de citações da base de dados foi por meio das

análises de citação e co-citação dos documentos que foram amplamente utilizados na literatura

bibliométrica. A Figura 4 apresenta a rede de citações dos documentos mais citados conforme foi

detalhado na Tabela 424.

O valor da densidade da rede foi de 0,1061 indicando que apenas 10,6% de todas as

conexões possíveis foram estabelecidas na rede, o que apontou para uma rede pouco densa. Para

a construção da rede e análise dos documentos mais centrais, optou-se pelo método de Grau de

Centralidade (Centrality Degree) que considera o número de interações que os atores de uma rede

estabelecem com os outros 25 . Ademais, o tamanho do nó refletiu a frequência com que o

documento foi citado.

23 Para verificar se existiu diferença estatística entre as médias desses dois grupos foram aplicados os Testes

de Mann Whitiney, que testou se a distribuição das citações por trabalho diferem entre os dois grupos (1 e

0) e o Teste de Mediana, que testou se as medianas dos grupos foram diferentes. Em ambos os testes os

resultados permitiram rejeitar a hipótese nula, ao nível de significância de 1%, que a média ou mediana

fossem iguais. 24 Devido ao elevado número de autores com poucas citações e, portanto, a dificuldade em representá-los

em uma rede inteligível optou-se pela construção da rede considerando os 17 documentos mais citados,

sendo que esses trabalhos obtiveram mais de 15 citações. 25 O método do Grau de Centralidade também foi utilizado para a construção das redes de co-citação,

autores e parcerias institucionais.

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25

Figura 4 - Redes de citação dos dezessete trabalhos mais citados na base de dados

Fonte: Elaboração Própria a partir da base de dados BNDES

Page 26: Levantamento e avaliação da literatura econômica sobre o BNDES · mapear e analisar a literatura econômica existente sobre o Banco Nacional de Desenvolvimento ... do conjunto

26

O grau elevado de centralidade dos trabalhos de Baer (1988), Lessa (1982), Baer (2001),

BNDES (1992), Viana (1981), Najberg (1989) e Curralero (1998) apontou para maior

influência desses documentos na literatura econômica sobre o BNDES. De fato, com exceção de

Baer (2001), os outros documentos tiveram o BNDES como objeto de estudo, ou seja, analisaram

de maneira significativa a atuação do banco. Pode-se dizer que esses documentos formaram a rede

principal de citações. Observou-se ainda que alguns documentos também apresentaram grau

elevado de centralidade, caracterizando várias redes de influência local. Em outras palavras,

embora o documento seja amplamente citado, a rede de citações desse documento mostrou-se

relativamente pouco conectada aos outros documentos mais citados. Esse foi o caso, por exemplo,

dos trabalhos de Baer et al. (1973), Prochnik (1995), Monteiro Filha (1994) e BNDES (2002) que

receberam várias conexões por meio das citações de outros trabalhos que pouco se conectaram à

rede principal.

A Figura 5 apresenta a rede de co-citação construída considerando os dezessete

documentos mais citados na base de dados. A análise de co-citação tipicamente apresentou uma

rede onde os documentos mais citados conectaram-se pelo link de co-citação.

Observou-se, na parte mais densa da rede, que os trabalhos de Viana (1981) e Najberg

(1989) formaram o par de documentos com maior número de co-citação seguido por Viana (1981)

e Curralero (1998). Esses três documentos foram dissertações de mestrado que analisaram

detalhadamente a atuação do BNDES. Notou-se ainda a influência dos trabalhos de Baer (1988)

e Baer (1969) que também apresentaram alto número de co-citação e juntamente com os outros

três documentos foram considerados os trabalhos centrais, ou mais influentes da rede. Além

desses principais, ainda foram co-citados em menor grau os trabalhos de Lessa (1982), Castro

(1985), Prochnik (1995), Monteiro Filha (1994) e Velasco Júnior (1997). Dessa forma, pode-se

argumentar que esses seriam os documentos referências para os pesquisadores que investigam

sobre o BNDES.

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27

Figura 5 - Redes de co-citação dos dezessete trabalhos mais citados

Fonte: Elaboração Própria a partir da base de dados BNDES.

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28

Para avaliar de forma alternativa a relação entre os trabalhos mais citados da base de

dados, foi aplicada a técnica multivariada da análise fatorial visando agregar os trabalhos de

acordo com as citações e co-citações recebidas. O resultado da análise identificou oito autovalores

superiores à unidade, de tal forma que oito fatores podem ser usados para explicar as relações de

citações e co-citações dos trabalhos da base de dados. Esses autovalores explicaram 54% da

variância total das variáveis originais. A seguir, a Tabela 7 apresenta as cargas fatoriais

correspondentes a cada um dos oito fatores. As cargas fatoriais correspondem aos coeficientes de

correlação entre cada fator e cada um dos 17 trabalhos considerados na análise.

De maneira geral, os resultados da análise fatorial corroboraram os resultados das redes

de citação e co-citação, Figuras 4 e 5 respectivamente. De fato, verificou-se que os Fatores 1, 2 e

4 estão positivamente correlacionados com documentos que abordaram o tema BNDES de forma

explícita. O Fator 1 agregou trabalhos que tiveram como característica principal a apresentação

de estatísticas e discussão sobre as fontes de recursos para o financiamento do BNDES. O trabalho

de Prochnik (1995) apresentou correlação de 59% com o Fator 1 e descreveu a história de captação

de recursos do banco em diferentes etapas de acordo com a fonte de recurso predominante. Bonelli

e Pinheiro (1994) fizeram uma análise para um período mais curto e destacam a importância da

poupança compulsória como fonte de financiamento. O Fator 2 agregou as três dissertações de

mestrado amplamente citadas que avaliaram a atuação do BNDES, principalmente no que se

referiu ao financiamento à industrialização em diferentes períodos. Como visto os trabalhos de

Viana (1981), Najberg (1989) e Curralero (1998) formaram o conjunto de trabalhos mais co-

citados. O Fator 4 agregou a tese de doutorado de Monteiro Filha (1994) e o livro BNDES 40

anos (1992). O primeiro trabalho avaliou o papel desempenhado pelo BNDES tanto como

aparelho de Estado quanto como agente financeiro e o segundo resumiu as fontes de recursos do

banco e sua atuação até o ano de 1992, quando o BNDES completou 40 anos. O Fator 3 foi

relativamente mais correlacionado com documentos cujo os autores foram referências clássicas

quanto à economia brasileira, que foram citados conjuntamente, assim como os documentos nos

Fatores 5, 6 e 8. Como mencionado, essas obras trataram de maneira mais abrangente a economia

brasileira, mas também trataram o BNDES na publicação. O Fator 5, por exemplo, reuniu três

documentos que discutiram a industrialização brasileira e o papel do Estado. O Fator 8, por sua

vez, relacionou-se com documentos em língua inglesa publicados por Werner Baer. Portanto, os

documentos em questão trataram-se de referências clássicas sobre economia brasileira, porém

citados pela literatura internacional. De maneira geral, notou-se que grande parte dos fatores

foram correlacionados com poucos trabalhos, o que corroborou o resultado de redes locais

apresentado anteriormente. Ou seja, trabalhos que repercutiram na literatura em termos de citação,

mas possuíram pouca ligação, em termos de co-citação, com os demais documentos citados.

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29

Tabela 7 - Análise Fatorial aplicada a rede de citações dos trabalhos mais citados

Fator

Trabalhos 1 2 3 4 5 6 7 8

VIANA, A. L. D. (1981) 0.06 0.81 0.21 -0.03 0.01 -0.03 0.08 0.00

CURRALERO, C. R. B. (1998) 0.05 0.65 -0.18 0.11 -0.21 0.18 -0.32 -0.01

PROCHNIK, M. (1997) 0.59 0.21 -0.22 -0.11 0.17 -0.31 0.17 -0.14

NAJBERG, S. (1989) 0.16 0.51 0.09 0.28 0.05 -0.17 0.23 -0.08

BAER, W. (1988) -0.56 0.12 0.02 -0.32 0.32 -0.20 0.11 -0.01

BONELLI, R.; PINHEIRO, A. C. (1994) 0.68 0.15 0.06 -0.03 0.18 0.13 0.11 0.12

LAFER, C. (2002) -0.03 0.00 0.04 0.06 0.13 -0.03 -0.84 -0.05

LESSA, C. (1982) -0.17 0.14 0.70 -0.29 0.12 -0.20 -0.21 -0.15

BAER, W.; KERSTENETZKY, I.; VILLELA, A. V. (1973) -0.25 -0.12 -0.29 -0.17 0.35 0.56 0.14 -0.18

BAER, W. (2001) -0.01 -0.02 0.01 -0.15 0.07 -0.04 0.05 0.82

MONTEIRO FILHA, D. C. (1994) -0.06 0.09 -0.08 0.80 0.13 -0.15 -0.11 -0.14

BNDES (2002) -0.06 0.06 -0.07 -0.09 -0.87 0.02 0.14 -0.08

TAVARES, M. C. (1972) -0.16 0.04 0.16 -0.31 0.31 -0.05 0.21 -0.40

BNDES (1992) 0.24 -0.02 0.27 0.49 -0.13 0.19 0.34 -0.01

BAER, W. (1969) -0.50 -0.03 -0.10 0.03 0.29 0.00 0.21 0.44

VELASCO JÚNIOR, L. (1997) 0.12 0.08 0.06 -0.06 -0.10 0.79 0.00 0.01

CASTRO, A. B.; SOUZA, F. E. P. (1985) 0.09 0.05 0.77 0.13 0.02 0.13 0.12 0.08

Fonte: Elaboração Própria a partir da base de dados BNDES.

A análise de coautoria permitiu avaliar as parcerias e redes de cooperação estabelecidas

entre pesquisadores que investigaram um determinado tema. Esses autores podem ser afiliados à

mesma instituição ou podem pertencer a instituições diferentes, localizadas até mesmo em países

distintos.

Inicialmente, verificou-se que 65,1% dos documentos da base de dados foram escritos

por apenas um autor, que é um resultado bastante comum em ciências sociais. Esse percentual foi

ainda maior para os documentos cujos autores não foram afiliados ao BNDES (75,2%), já para o

caso em que pelo menos um dos autores foi afiliado ao BNDES, verificou-se que 44,1% dos

documentos não apresentaram coautoria.

Para a construção da rede de coautoria, o método utilizado também foi o Grau de

Centralidade, resultando o valor da densidade da rede de 0,21%. Esse resultado salientou que as

relações de coautoria são reduzidas para os documentos publicados sobre o BNDES.

A Figura 6 apresenta as três principais redes de coautoria identificadas na base de dados.

O tamanho do nó (circunferência) reflete a frequência com que o autor aparece em trabalhos em

coautoria. A espessura da ligação entre os autores indica a frequência com que esses

pesquisadores trabalharam conjuntamente e a cor vermelha representa os autores afiliados ao

BNDES. Observou-se a predominância dos autores afiliados ao BNDES no estabelecimento de

colaboração de coautoria. O primeiro grupo incluiu dois pesquisadores centrais que são Puga e

Torres Filho que estabeleceram uma ampla rede de coautoria. As duas outras redes menores

possuíam um autor central cada uma. Observou-se que Giambiagi foi o autor central da segunda

rede que também se conectou à rede principal. Já a terceira rede caracterizou-se por ser

relativamente mais local do que as anteriores, apresentando De Negri como autor central.

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30

Figura 6 - Três principais redes de coautoria identificadas na base de dados

Fonte: Elaboração Própria a partir da base de dados BNDES.

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31

No caso de coautoria, a instituição de afiliação dos autores foi utilizada como uma medida

de cooperação interinstitucional. A colaboração foi considerada como interna quando a coautoria

do trabalho caracterizou-se por autores afiliados à mesma instituição. Por outro lado, a

colaboração foi considerada como externa quando os autores afiliaram-se a diferentes instituições.

Dentre os trabalhos desenvolvidos em coautoria, os resultados mostraram que 60,4% dos

documentos publicados foram produzidos em redes de colaboração interna, enquanto 39,6%

resultaram de colaboração externa. Ao analisar separadamente os autores afiliados ao BNDES,

constatou-se que as redes de colaboração externa do banco mostram-se ainda mais restritas,

chegando a 22,2% dentre os documentos com coautoria.

A Figura 7 apresenta a rede de cooperação interinstitucional no desenvolvimento de

trabalhos em coautoria. O valor da densidade da rede foi de 0,0053 indicando que apenas 0,53%

de todas as conexões possíveis foram estabelecidas, o que apontou para uma rede com reduzidas

relações entre as instituições. Neste caso, o tamanho do nó (dimensão da circunferência) indica a

frequência com que a instituição foi referida em trabalhos com coautoria, como consequência da

atuação de seus afiliados, e a espessura da ligação entre as instituições denota a frequência de

coautoria entre duas instituições.

Notou-se que a rede de colaboração foi constituída de uma rede principal que conecta as

instituições nacionais mais importantes, em termos de colaboração na coautoria de trabalhos,

dentre elas o BNDES, a UFRJ, o IPEA, a UNICAMP, a UFF, a USP, a FGV-SP e a PUC-Rio.

Além dessa rede principal, verificou-se ainda a existência de algumas redes locais com destaque

para duas principais constituídas de instituições internacionais. No caso da rede local centrada na

Universidade de Illinois as demais instituições não estabeleceram parcerias de coautoria entre si.

Um padrão oposto foi observado na rede local que incluiu o Instituto de Estudos Socioeconômicos

(INESC), no qual não houve centralidade em apenas uma instituição. De fato, tratou-se de um

trabalho desenvolvido pelo INESC com coautoria de outras instituições.

No que se refere à rede principal, observou-se que o BNDES foi referido como a

instituição com maior número de trabalhos em coautoria, portanto com maior nível de

colaboração. No entanto, a colaboração interna, ou seja, entre autores do banco, foi predominante

na rede. Em termos de colaboração interinstitucional, a UFRJ sobressaiu como a principal parceira

do BNDES na coautoria dos trabalhos. Outras colaborações de parceira relevantes ocorreram

entre a UNICAMP e as seguintes instituições IPEA, UFRJ, UFF e USP.

Page 32: Levantamento e avaliação da literatura econômica sobre o BNDES · mapear e analisar a literatura econômica existente sobre o Banco Nacional de Desenvolvimento ... do conjunto

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Figura 7 - Redes de cooperação entre instituições

Fonte: Elaboração Própria a partir da base de dados BNDES

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33

4. Considerações finais

Os indicadores apresentados no presente artigo permitiram traçar de forma inédita um

perfil pormenorizado da literatura econômica sobre o BNDES e a trajetória dessa publicação.

Verificou-se uma tendência de crescimento da publicação acadêmica sobre o BNDES,

especialmente nas duas últimas décadas, com taxas superiores ao crescimento da elaboração de

trabalhos científicos no Brasil. Isso refletiu o crescimento das publicações na área de economia

de forma geral ocorrido no período e a maior atenção dada pela literatura à contribuição do

BNDES, especialmente com o crescimento dos seus desembolsos. Adicionalmente, a análise da

base de dados revelou que as publicações sobre o tema foram altamente concentradas, tanto em

termos de instituições responsáveis pela publicação, como em autores que mais publicaram.

Os resultados mostraram também que a publicação acadêmica sobre o banco concentrou-

se em artigos publicados em periódicos e capítulos de livros. Ademais, um volume significativo

de teses e dissertações foi desenvolvido, indicando que o tema recebeu atenção dos centros de

pós-graduação no país, especialmente nos programas da UNICAMP e da UFRJ.

A preocupação do BNDES em gerar informação e pesquisas sobre a sua atuação refletiu-

se nos resultados da análise bibliométrica. De maneira geral, o BNDES foi a instituição

responsável pelo maior número de publicações sobre o banco e, adicionalmente, a instituição de

afiliação de pouco mais de um quarto dos autores que produziram sobre o tema. A despeito da

atenção do banco à geração de informação e produção bibliográfica, isso produziu um grau de

endogenia na literatura.

No que se referiu à classificação dos documentos, as temáticas mais tratadas foram

Indústria e Infraestrutura, sendo essas também as mais citadas. Grande parte dos trabalhos

avaliaram esses dois temas conjuntamente. Os períodos mais tratados pelas publicações foram as

duas últimas décadas. No entanto, como esperado, os trabalhos que avaliaram os primeiros

períodos de atuação do BNDES receberam maior número de citações. Adicionalmente, verificou-

se que os documentos mais citados foram também aqueles que avaliam o papel do BNDES com

maior grau de profundidade.

Foi possível identificar um grupo de autores-chave que mais publicaram e que receberam

um elevado número de citações. As análises estatísticas evidenciaram a concentração das citações

em poucos documentos e autores. Como resultado, inferiu-se que apesar da extensa lista de

trabalhos e autores que se dedicaram ao tema, o número de documentos que repercutiu em termos

de citações na literatura foi relativamente reduzido. Ademais, a análise de redes de citação e co-

citação dos principais trabalhos indicou a existência de um expressivo número de redes locais, ou

seja, embora o documento seja relativamente mais citado, a rede desse documento não se conectou

aos outros documentos que formaram a rede principal. Essa reduzida densidade na rede de

citações também foi observada nas redes de coautoria e de parcerias institucionais entre autores.

As redes pouco densas e a reduzida citação e co-citação evidenciam um diminuto diálogo entre

os autores.

Em termos de cooperação, os autores afiliados ao BNDES publicaram relativamente mais

em coautoria e estabeleceram cooperação entre si. Por outro lado, as redes de colaboração entre

afiliados ao BNDES e autores de outras instituições foram relativamente menores que o padrão

observado para os demais autores da base de dados. A análise de redes para as instituições de

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34

afiliação dos autores revelou que a principal rede de cooperação entre pesquisadores ocorreu entre

a UFRJ e o BNDES.

De forma geral, os resultados aqui apresentados demonstram a importância e contribuição

da análise bibliométrica associada a redes para traçar o perfil da literatura referente a determinada

instituição, tema, ou área do conhecimento.

5. Referências Bibliográficas

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40

Uma Análise Qualitativa da Literatura Econômica sobre o BNDES

Resumo: O presente trabalho realiza uma sistematização e avaliação qualitativa de toda a

literatura econômica já produzida a respeito do BNDES, desde sua criação. Para tanto, utilizou-

se uma base de dados construída especificamente por esta pesquisa, que contém informações da

literatura acadêmica abrangendo artigos, teses, dissertações, livros e outros documentos. A partir

dessa base, foram selecionados os trabalhos mais representativos, a fim de conhecer as discussões

desenvolvidas por toda a literatura referente à atuação do banco. Os resultados da análise

qualitativa destacaram as discussões acerca da definição da sua organização inicial para os

primeiros anos de existência do BNDES, e incorporaram novos temas, especialmente mais

recentemente, com a própria diversificação setorial do banco. Estas características transmitem a

percepção de que seu papel e sua atuação modificaram-se ao longo do tempo, pautados pelo

contexto político e econômico nacional. A reduzida crítica ao banco parece decorrer da própria

falta de debate na literatura, embora tanto nas críticas e defesas como nas temáticas colocadas a

cada momento, seja possível notar que o BNDES foi e ainda é um importante instrumento na

consecução dos objetivos definidos pela política de desenvolvimento nacional, qualquer que seja

o conceito de desenvolvimento.

Palavras-chave: BNDES, financiamento de longo prazo, literatura econômica, banco de

desenvolvimento, economia brasileira.

Abstract: The objective of this study was to undertake a systematic as well as a qualitative

appraisal of all the economic literature produced to date about the BNDES since its creation. A

database containing information on the academic literature, which includes articles, book

chapters, Master’s theses, doctoral dissertations, books, working papers, and other documents,

was constructed specifically for this research. Using this database we selected representative

works in order to conduct a qualitative evaluation of the debates developed by all the literature

on the bank’s activities. The results highlighted the discussions on the definition of its initial

organization, during first years of existence of BNDES, and, only recently incorporated new

themes in the literature with the sectoral diversification in the bank’s lending. These

characteristics give rise to the understanding that the role and activities of the bank have changed

over time, guided by national political and economic contexts. The low level of critique of the

bank appears to be a direct consequence of the lack of debate in the literature, although it is

possible to note in the work of both critics and defenders that the BNDES has been, and still is,

an important tool in achieving the goals set by the national development policy, no matter how

the concept of development is defined.

Keywords: BNDES, long-term financing, economic literature, development bank,

Brazilian economy.

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1. Introdução

O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) assumiu um papel

relevante para o desenvolvimento econômico e social nos últimos 60 anos, em especial no aporte

de recursos de longo prazo. Acompanhando as flutuações da economia brasileira, o banco

destacou-se como importante instrumento financeiro para a consecução da política econômica em

diversas conjunturas. O crescimento dos desembolsos do banco também se associou com o

crescimento do interesse por parte dos pesquisadores por esse tema, especialmente nos últimos

anos. De fato, observa-se um significativo crescimento das publicações sobre o BNDES nas

últimas décadas.

Não obstante a centralidade da função assumida pelo banco na economia brasileira e a

existência de numerosos trabalhos acadêmicos que versam sobre a atuação do BNDES, não há na

literatura uma análise sistematizada e conjunta desta produção. Desta forma, a principal

contribuição deste trabalho é justamente realizar uma análise qualitativa abrangente e organizada

da literatura econômica produzida a respeito do BNDES no período 1952-2013, ou seja, desde

sua criação até os dias atuais.

O processo de sistematização iniciou-se por meio de um amplo levantamento das

informações bibliográficas dos trabalhos sobre o BNDES e suas referências citadas, que alcançou

quase um milhar de textos e autores26. A análise bibliométrica efetuada a partir desse banco de

dados foi o ponto de partida para identificar as características predominantes dos trabalhos sobre

o BNDES que tiveram maior repercussão27. O primeiro critério consistiu na identificação dos

trabalhos mais citados, a partir dos quais foram selecionados os textos para a leitura de acordo

com o maior grau de referência ao banco. A fundamentação teórica e a história econômica

brasileira forneceram o arcabouço para a leitura, debate, comparação e avaliação dessa literatura,

permitindo identificar os temas predominantes e como estes evoluíram ao longo do tempo. Essa

literatura selecionada é justamente o objeto de discussão detalhada nesse artigo, fornecendo uma

análise qualitativa dessa produção bibliográfica. Assim, discutiu-se e avaliou-se, de modo mais

minucioso, os temas mais destacados nos trabalhos selecionados sobre o BNDES nos seus 60

anos de sua atuação na economia e sociedade brasileira.

A existência dos bancos de desenvolvimento tem sido amplamente discutida pela

literatura, especialmente quanto ao seu papel de financiador do investimento. Valendo a teoria

clássica e, em particular, o argumento da liberalização financeira28, a intervenção governamental

no mercado de crédito tenderia a gerar resultados ineficientes, ou seja, não haveria justificativa

para a atuação dos bancos públicos de desenvolvimento. Contudo, a teoria keynesiana e, em

especial, as vertentes novo-keynesiana e pós-keynesiana apresentam argumentos que demonstram

26 Esse trabalho origina-se do projeto intitulado “Levantamento e avaliação da literatura econômica

acadêmica brasileira e internacional sobre o BNDES”, executado com o apoio financeiro do Banco

Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), por meio de financiamento não reembolsável

com recursos do Fundo de Estruturação de Projetos do BNDES (FEP 03/2011). Nessa pesquisa construiu-

se uma base de dados referente à literatura sobre o BNDES, compreendendo uma série de informações

bibliográficas e de citações sobre os documentos que a compõem. O conteúdo dos estudos e pesquisas é de

exclusiva responsabilidade dos autores, não refletindo, necessariamente, a opinião do BNDES. Para

maiores informações sobre essa modalidade de financiamento, acesse o site

http://www.bndes.gov.br/programas/outros/fep.asp 27 O artigo “Avaliação bibliométrica da literatura econômica acadêmica sobre o BNDES (1952-2013)”

faz uma análise geral da base de dados por meio de indicadores bibliométricos e de redes. Nesse referido

artigo destacamos os trabalhos e autores mais citados, principais temas abordados e as redes de citação e

coautoria da literatura sobre o BNDES ao longo dos 60 anos de produção acadêmica. 28 Vide Shaw (1973) e McKinnon (1973)

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que a existência de imperfeições no mercado financeiro e mesmo a sua própria instabilidade e

incerteza fazem com que intervenções governamentais sejam necessárias para garantir que tais

falhas sejam suprimidas ou então, que o mercado funcione de forma estável, garantindo a provisão

de financiamento mesmo em condições de recessão, quando a oferta de crédito tende a se retrair

– justificativas estas alinhadas com o argumento keynesiano de que o investimento encontra-se

fortemente sujeito à incerteza, uma vez que os empresários trabalham com expectativas de

receitas futuras. Ademais, dado que muitos investimentos geram externalidades positivas, os

financiamentos providos por bancos de desenvolvimento público seriam benéficos ao garantir que

os mesmos fossem efetivamente conduzidos.

Além destes fatores, numa perspectiva mais ampla 29 , bancos de desenvolvimento

poderiam exercer um papel mais ativo na promoção do desenvolvimento econômico não só ao

identificar e prover financiamento para setores considerados estratégicos. Desta forma, ao indicar

prioridades e estratégias e participar, ainda que indiretamente, da gestão dos novos investimentos,

os bancos de desenvolvimento poderiam ir muito além da mera atuação como solucionadores de

falhas do mercado financeiro, ou seja, poderiam ser efetivamente agentes promotores do

desenvolvimento.

A partir dessas abordagens teóricas sobre os bancos de desenvolvimento, o objetivo da

análise qualitativa foi identificar como a literatura caracteriza e avalia o BNDES como instituição

financeira de desenvolvimento ao longo de sua existência. De maneira geral, identificou-se que

as preocupações da literatura se alteraram ao longo do tempo em resposta a mudanças na

economia brasileira e na política econômica. Mesmo sendo intuitivo, vale dizer de forma explicita

que é impossível separar a atuação do banco do contexto da história econômica brasileira em que

atuava. Da mesma forma, a produção acadêmica sobre o BNDES não pode ser dissociada da

própria história do banco e do contexto da economia brasileira. Ao considerar a história

econômica brasileira e do próprio banco, foi possível verificar importantes transformações na

atuação do BNDES, que se refletiram nas discussões dos trabalhos avaliados. Estas

transformações, começando com os primeiros anos do banco até o golpe militar de 1964, seguido

por um período de crescimento econômico elevado até 1980, depois pela década “perdida”, as

profundas mudanças da economia na década de 1990 e a busca de um novo desenvolvimento após

2002, demarcam diferentes períodos de atuação do banco e da própria literatura sobre o mesmo.

Ao longo da história, o BNDES surgiu para colaborar com a execução de amplos

programas de investimento em infraestrutura para superar gargalos à expansão da indústria

nacional na década de 1950 em um contexto no qual o desenvolvimento era associado à

industrialização e ao processo de urbanização. Após a superação da crise do meado da década de

1960, a questão colocada era completar a matriz industrial avançando para os setores de maior

intensidade de capital, como os setores de bens intermediários e os bens de capital na década de

1970. Grande parte desse processo completou-se no início da década de 1980, mas mesmo assim

não foi suficiente para que se alcançassem indicadores adequados de desenvolvimento e, menos

ainda de distribuição de renda. Acompanhando o debate mundial, a crise da década de 1980 e do

início dos anos 1990 questionou o papel do estado, o protecionismo e a própria existência dos

bancos de desenvolvimento. Posteriormente, o processo de democratização passou a questionar

cada vez mais o papel concentrador das políticas econômicas de crescimento e combate à inflação,

colocando em destaque a necessidade de se alterar o foco do conceito de desenvolvimento, da

industrialização para a participação de outros atores: agricultura, micro e pequenas empresas,

educação, saúde, enfim, investimentos sociais. Paralelamente ampliou-se a discussão sobre

eficiência do modelo de desenvolvimento focado em escala, elevada participação do estado e

29 Vide Hermann (2010)

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autárquico. A partir desse quadro, concentrou-se o foco no apoio à inovação, desenvolvimento

tecnológico, maior incentivo ao setor privado e a internacionalização. Em um primeiro momento

esse foco ocorreu com forte apelo à desestatização e maior participação privada, enquanto nos

últimos anos, apesar de se manter as temáticas voltou-se a uma maior intervenção do governo.

Ainda antecipando as principais conclusões deste artigo, evidenciamos que a literatura

sobre o BNDES foi um produto da sua época como também fora a própria atuação do banco. Os

trabalhos sobre os primeiros anos da formação e organização do banco tendem a apresentar uma

visão favorável em face das dificuldades operacionais e também por conta de sua atuação como

instituição importante na promoção do desenvolvimento econômico brasileiro. Enquanto a

política econômica promovia a industrialização por substituição de importações para superar os

entraves estruturais ao desenvolvimento econômico, os programas do banco que direcionavam

recursos para esta finalidade receberam uma avaliação geralmente positiva pelos autores. Quando

os programas do banco começaram a pesar sensivelmente sobre a economia brasileira,

principalmente em termos das transferências de recursos públicos para o setor privado e com o

resultado de aumentar o endividamento externo e a inflação, as políticas internas do banco que

direcionavam estes recursos tornaram-se preocupação da literatura. A produção acadêmica sobre

a década de 80, também chamada de “década perdida”, sugere que o BNDES passou por um

período de indefinições quanto à sua atuação. Quando o neoliberalismo e a privatização passaram

a ocupar a posição dominante na política econômica nacional, parte da literatura, por um lado,

passou a criticar o banco por abandonar sua missão desenvolvimentista ao passo que por outro,

saudava-o por definir um caminho novo na economia global pós-protecionista. Uma vez que o

novo paradigma econômico foi integrado no pensamento sobre o papel do Estado no processo de

desenvolvimento econômico, a preocupação da literatura deixou de lado o desenvolvimentismo

dos anos 60 e passou a ser caracterizada por estudos que realizam uma avaliação quantitativa dos

programas do banco, de início ainda apenas com análises de casos, posteriormente com a

construção de bancos de dados mais amplos. Nos últimos anos novas técnicas econométricas

ganharam participação na literatura mais recente, técnicas estas empregadas para se medir o efeito

dessas políticas, tais como eficiência das empresas e nível de emprego.

Em outras palavras, as preocupações dos acadêmicos ao estudar a atuação do banco no

passado, mesmo mais distante ou mais recente, espelharam as preocupações e debates da política

econômica nas épocas em que os estudos estavam sendo realizados. De fato, o pano de fundo dos

trabalhos foi responder a pergunta de como deve atuar uma instituição financeira de

desenvolvimento econômico. Ponderando estas tendências, entende-se, que a noção—e até a

definição—de desenvolvimento apresentou grandes mudanças ao longo destes 60 anos,

influenciando sobremaneira o debate sobre o BNDES.

Além desta breve introdução e descrição geral do artigo, a seção a seguir apresenta de

forma mais detalhada os procedimentos metodológicos referentes à construção da base de dados

sobre as obras levantadas pela pesquisa e a seleção dos textos para a análise qualitativa.

Posteriormente, nas seções seguintes, fornecemos a análise dos textos subdivididas nos períodos

1952-1964, 1964-1980, 1980-1990, 1990-2002 e 2002-2013. Por fim, as considerações finais

sintetizam os principais resultados alcançados ao longo desta pesquisa cuja principal contribuição,

conforme já mencionado anteriormente, é organizar e apresentar uma visão qualitativa de toda a

literatura já produzida sobre o BNDES.

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2. Metodologia

Para sistematizar e analisar a literatura econômica relevante sobre a atuação do BNDES

utilizou-se uma abordagem híbrida com análises quantitativa e qualitativa. A metodologia

consistiu em três principais etapas: amplo levantamento das informações bibliográficas dos

trabalhos sobre o BNDES e suas referências citadas e sistematização dessas informações em uma

base de dados. A partir dessa base, conduzimos uma análise bibliométrica para identificar e

selecionar os trabalhos mais relevantes ou de maior repercussão na literatura acadêmica. Por fim,

a literatura identificada na análise bibliométrica foi então analisada detalhadamente por meio de

uma análise qualitativa.

Essa construção da base de dados envolveu três fases distintas: identificação,

cadastramento e classificação das obras. A identificação da literatura acadêmica foi realizada por

meio de pesquisas com temas-chave associados à missão do BNDES de ser instrumento de

financiamento de longo prazo para a realização de investimentos30. Foram consultadas, além das

referências disponibilizadas na Internet (JSTOR, Scielo, Web of Knowledge, Science Direct,

Google Acadêmico), as principais bibliotecas e acervos brasileiros, bem como a literatura

internacional sobre o BNDES. A coleta abrangeu os periódicos acadêmicos, as teses, as

dissertações, os livros e capítulos, os textos para discussão, entre outros31. Esse protocolo inicial

de busca indicou a existência de um amplo material acadêmico. No entanto, uma parcela

significativa dos trabalhos que possuíam essas palavras-chave não se tratava de fato do BNDES.

Assim, para identificar as potenciais obras que avaliam o papel do banco, foi executada uma

primeira leitura dos documentos, selecionando aqueles que realmente se encaixavam no objetivo

da presente pesquisa e que foram alvo de estudo e leitura de forma mais aprofundada.

As informações bibliográficas dos documentos identificados na primeira fase, assim

como as informações sobre as referências citadas nesses documentos foram cadastradas na base

de dados. Cabe ressaltar que as referências bibliográficas constantes nos documentos

representaram um aspecto relevante da pesquisa porque permitiram a identificação de novos

trabalhos para compor a base de dados e possibilitaram a identificação dos documentos mais

citados entre os trabalhos acadêmicos que avaliaram o BNDES32.

Na fase de classificação os textos foram classificados de acordo com o período a que se

referem e a temática tratada. A divisão cronológica foi definida a partir das mudanças nas formas

de atuação do banco ao longo de sua história e abrange cinco subperíodos: 1952-1964; 1964-

1980; 1980-1990; 1990-2002 e 2002-201333. As temáticas tratadas foram definidas seguindo as

linhas de atuação do BNDES34. Os documentos também foram classificados quanto ao grau de

30 Esses temas incluem: Financiamento de longo prazo, BNDE(S), investimento de longo prazo, Banco de

desenvolvimento, financiamento de bem de capital, financiamento de infraestrutura, privatizações e

financiamento do desenvolvimento. 31 Foi criada uma categoria “outros” para incluir working papers, estudos especiais e alguns relatórios de

pesquisa. 32 É importante ressaltar que não foram incluídas na base todas as referências dos artigos, mas apenas

aqueles trabalhos citados que se aproximavam dos mesmos critérios de temas-chave associados à missão

do BNDES utilizados na fase de identificação. Assim, as referências incluídas na Base de dados para cada

trabalho se constituem em referências qualificadas ao objetivo da pesquisa e, como consequência, são

também uma entrada da própria Base de dados. As citações analisadas a partir da Base mostram-se restritas

aos trabalhos que se referem ao BNDES. 33 Alguns documentos não avaliam um período específico, por exemplo, aqueles que tratam do papel teórico

dos bancos de desenvolvimento. Essas obras foram agrupadas num item denominado “atemporal”. 34 As temáticas associadas às linhas de financiamento do BNDES são: Agropecuária; Comércio, Serviços

e Turismo; Desenvolvimento Social e Urbano, Esportes e Cultura; Exportação e Inserção Internacional;

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referência ao BNDES no texto. Para tal classificação foi adotado o seguinte critério, representado

por uma variável binária denominada “Grau de Referência ao BNDES”: 1 – O objeto do estudo é

a própria atuação do BNDES ou o banco ocupa papel importante no documento; 0 – O objeto de

estudo não é o BNDES ou este não é referido de maneira significativa no documento35.

Cabe ressaltar que o conjunto destas fases resultou em uma base de dados direcionada e

única de obras da literatura econômica sobre o BNDES. Trata-se de uma coletânea de trabalhos

identificados e qualificados a partir de diversas consultas a uma série de acervos e ferramentas de

buscas diferentes, além de consultas nas próprias referências bibliográficas desses documentos.

Desta forma, conseguiu-se obter informações sobre citações oriundas dos próprios documentos

que compõem a base de dados e, portanto, os documentos mais citados, que serão avaliados

posteriormente neste artigo, referem-se aos trabalhos que mais repercutiram entre os trabalhos

que avaliam o BNDES. A base de dados agrega 919 documentos acadêmicos publicados no

período entre 1952 a junho de 201336 e 923 autores, sendo que o BNDES foi responsável pela

publicação de 296 obras37. Essas 919 obras receberam 1.689 citações, oriundas dos próprios

documentos que compõem a base de dados, portanto, em média, os documentos receberam 1,84

citações.

No presente artigo empregamos a análise de citação de documentos, tendo em vista que

o objetivo é identificar a literatura a ser analisada. Os textos foram classificados quanto ao período

de análise, temáticas tratadas e grau de referência ao BNDES. O período de análise da presente

pesquisa correspondeu aos anos de 1952 a junho 2013. Por fim, calculamos o total de citações de

cada um dos textos.

Dois critérios de decisão foram adotados para a seleção dos documentos que comporiam

a análise qualitativa. O primeiro critério foi o maior número de citações recebidas pelo texto. O

segundo critério foi grau de importância ou a profundidade que o BNDES é discutido no

documento. Esse quesito foi medido por meio da variável binária denominada “Grau de

Referência ao BNDES, sendo que para a análise qualitativa foram selecionados apenas os

documentos cujo “Grau de Referência ao BNDES” = 1, em outras palavras, o objeto do estudo é

a própria atuação do BNDES ou o banco ocupa papel importante documento.

A leitura crítica dos textos permitiu selecionar os documentos que contribuíram para a

discussão acadêmica sobre o banco. 38 A análise qualitativa dos documentos selecionados não

pode ser dissociada da própria história do banco e do contexto da economia brasileira no período

tratado pelos textos. Ao considerar a história do banco verificaram-se importantes mudanças nas

Indústria; Infraestrutura; Inovação; Meio Ambiente; Mercado de Capitais. Adicionalmente, foram criadas

três temáticas (“Privatizações”, “Teórico – Banco de desenvolvimento” e “Outros”). Cabe ressaltar que um

único documento pode tratar de mais de uma temática e abranger mais de um período. 35 Por exemplo, um documento que avaliou o papel do BNDES na geração de postos de trabalhos recebeu

classificação 1, quanto ao grau de referência. Já um documento que descreveu as fontes de financiamento

no Brasil e apenas apresentou tabelas ou figuras dos desembolsos do BNDES, sem uma avaliação

relacionada à atuação da instituição, recebe classificação 0. Adicionalmente, alguns documentos que se

restringem a descrição sumária da história do BNDES também receberam classificação 0. 36 Cabe ressaltar que o documento mais antigo localizado foi publicado em 1957. Ademais, algumas

publicações do ano de 2013 já foram incorporadas à Base de dados. 37 Dessas obras, 888 (equivalente a 96,6%) foram lidas, avaliadas e classificadas conforme a metodologia

exposta, a parte restante da Base de dados é composta de coletâneas (3,4%) Entendeu-se que essas

coletâneas (livros) são relevantes dentro da Base de dados, uma vez que foram utilizadas como referências

bibliográficas em muitos documentos, ou seja, nesses casos a citação referiu-se à coletânea e não ao artigo

em específico. Contudo, já que os artigos que compõem essas coletâneas foram avaliados e classificados

entendeu-se como desnecessária a classificação da coletânea, evitando a dupla contagem. 38 Os textos selecionados foram lidos cuidadosamente e debatidos em várias rodadas de discussão entre os

pesquisadores.

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suas áreas de atuação, isso se refletiu nas discussões dos trabalhos avaliados. De fato, enquanto

nos primeiros anos de existência do BNDES as discussões concentraram-se na definição da sua

organização inicial, mais recentemente, com a própria diversificação setorial do banco, novos

temas passaram a ser discutidos pela literatura. A análise qualitativa buscou mapear os temas

predominantes na literatura de cada um dos períodos analisados, como esses temas estavam

relacionados aos diferentes períodos históricos do banco e da economia brasileira e quais foram

as abordagens teóricas e empíricas que embasaram a literatura econômica sobre a atuação do

BNDES.

A análise divide-se de acordo com os períodos assinalados acima. De início, a discussão

qualitativa dos textos realizada procurou contextualizar os trabalhos de acordo com uma síntese

da economia brasileira acompanhada da atuação do banco. Na sequência, os textos foram

agregados e discutidos de acordo com os principais temas abordados. Ao final de cada seção

apresenta-se uma síntese dos resultados identificados bem como, uma avaliação qualitativa crítica

da literatura do período. As seções a seguir compreendam os distintos períodos de atuação do

banco: 1952-1964; 1964-1980; 1980-1990; 1990-2002 e 2002-2013. Cada seção é iniciada com

uma breve sinopse do contexto econômico brasileiro em que o BNDES atuou e uma síntese desta

atuação. Posteriormente, segue-se a análise qualitativa da literatura sobre o período. A análise

de cada período oferece uma síntese dos maiores temas, tendências, e metodologias encontrados

na literatura específica daquele período. Esta análise não tem como fim oferecer uma crítica da

literatura nem uma análise do banco, a não ser em algumas seções, nas quais foram realizados

reflexões sobre possíveis lacunas identificadas. O objetivo deste artigo é de sintetizar o

conhecimento da ampla literatura sobre os primeiros 60 anos do BNDES de uma forma a destacar

suas tendências predominantes e sua evolução.

1952 a 1964

Entre o início dos anos 1950 e a primeira metade da década seguinte, a economia

brasileira caracterizou-se por um processo de intenso crescimento seguido por significativa

desaceleração econômica nos anos finais desse interregno, acompanhada pela deterioração de

outras variáveis macroeconômicas: aceleração da inflação, elevação do déficit público e da dívida

externa e estrangulamento externo. Na época de fundação do banco, o governo tentou

implementar um amplo conjunto de projetos de investimento na área de infraestrutura, – contando

para isso com a colaboração de recursos provenientes de órgãos de financiamento internacional –

entretanto, fracassou em virtude das crises inflacionária, externa e política. Ao curto período de

tentativa também mal sucedida de estabilização no meado da década, seguiu-se o exitoso Plano

de Metas, o qual conseguiu implementar grande parte das metas desenvolvimentistas fixadas em

sua formulação inicial. Todavia, para que as mudanças estruturais observadas, sobretudo na

infraestrutura e nos setores de bens de capital, intermediários e bens de consumo duráveis se

viabilizassem foi necessária a arregimentação de recursos – internos e externos – em proporção

incompatível com a capacidade de poupança da economia brasileira naquele momento. O

resultado disso foi um aprofundamento de diversos problemas existentes na primeira metade da

década de 1950 que comprometeram incisivamente os governos que os sucederam uma década

depois. Os governos populistas dos anos iniciais de 1960 mostraram-se incapazes, dentro do

quadro de crise do regime populista, de dar respostas adequadas aos desafios econômicos

impostos no início dos anos 1960, o que colaborou para a mudança institucional ocorrida a partir

de março de 1964.

Page 47: Levantamento e avaliação da literatura econômica sobre o BNDES · mapear e analisar a literatura econômica existente sobre o Banco Nacional de Desenvolvimento ... do conjunto

47

Dentro deste quadro econômico geral, uma das principais características foi a intervenção

crescente do Estado na política de industrialização por substituição de importações (ISI). A

política governamental para o desenvolvimento da indústria nacional foi a resposta pragmática à

escassez de reservas cambiais e à demanda crescente para insumos básicos e bens capitais, por

meio de controles cambiais e a produção nacional, inclusive estatal. A promoção da

industrialização ocorreu num contexto de escassez de capital e de fragilidade do sistema

financeiro no fornecimento de capital de longo prazo.

A insuficiência de poupança doméstica e de fluxos de capital estrangeiro para financiar

esta expansão justificou a própria criação do BNDE em 1952. A atuação dessa nova instituição

no período em questão foi marcada por seu papel central no planejamento público, desenvolvendo

competências nessa área. Para viabilizar o início das operações do banco foi criado o adicional

do imposto de renda, o qual não foi repassado integralmente nos seus primeiros anos de

funcionamento. O banco auxiliou na formulação do Plano de Metas e, posteriormente, na

avaliação de projetos e mesmo na identificação dos setores estratégicos para investimentos. O

BNDE ofereceu financiamento direto em moeda nacional e indireto por meio de avais para

financiamentos externos, sobretudo para os projetos de transporte, energia elétrica e siderurgia.

De 1957 a 1963, a melhora no fluxo de recursos para o banco permitiu que este aumentasse os

desembolsos, chegando a cerca de meio ponto porcentual do PIB. Ele continuou a apoiar o setor

de energia elétrica para resolver o problema da escassez de energia que ameaçava o crescimento

da economia, e aumentou seu financiamento da indústria siderúrgica.

A literatura sobre este período inicial abordou vários aspectos das circunstâncias políticas

e econômicas da fundação do BNDE, as características de sua estrutura administrativa e processos

de trabalho, a natureza dos financiamentos e os setores nos quais os financiamentos foram

empreendidos. Cabe destacar que para esse período as publicações quase não ocorrem sob o

patrocínio do banco, pois estas totalizaram menos de um décimo daquelas (9,0%). Entre os

diferentes veículos de publicação utilizados, os livros apresentaram-se em maior número nesses

anos de 1952 a 1964 em comparação com os demais. A participação dos livros no total de

publicações nesse período (26,4%) superou à dos restantes, apesar dos artigos já serem em maior

número (38,9%).

Os principais temas abordados pela literatura do período foram a definição e organização

da nova instituição, o papel fundamental no planejamento estratégico do desenvolvimento

econômico, o investimento em infraestrutura básica para o apoio ao setor industrial bem como

investimentos iniciais em indústrias de base e o impacto de sua atuação para o desenvolvimento

econômico do país. Estes temas apresentamos no quadro 1. Esse quadro oferece uma visão global

dos principais temas e trabalhos acadêmicos escolhidos para a análise qualitativa referente ao

período 1952-1964. O algarismo entre parênteses refere-se ao número de citações recebidas pelo

estudo.

Quadro 1 - Principais textos selecionados para leitura do período 1952-1964

Temas Subtemas Literatura Principal

Definição e Organização

Inicial

Missão desenvolvimentista

CURRALERO, 1998 (17);

LIMA, 2007 (3); ARAUJO,

2007 (8)

Ideologia heterodoxa

DIAS, 1996 (8); LIMA, 2006

(2); ARAUJO, 2007 (8);

LIMA, 2007 (3); TAVARES

et al, 2010 (3)

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Independência de pressões

políticas

LAFER, 1980 (18);

GEDDES, 1990 (2);

ARAUJO, 2007 (8); WILLIS,

1986 (8) e 2013 (0)

Dependência financeira

BAER e VILLELA, 1980 (8);

GEDDES, 1990 (2);

WILLIS, 2013 (0)

Planejamento Estratégico Definição e estudo de

prioridades setoriais

LAFER, 1980 (18); LESSA,

1982 (41); GEDDES, 1990

(2); RATTNER, 1991 (6);

DIAS, 1996 (8);

CURRALERO, 1998 (17);

DINIZ, 2004 (2); TAVARES

et al., 2010 (3)

Impacto para

Desenvolvimento

Incipiente em termos da

missão original DINIZ, 2004 (2)

Importante por ser o agente

financeiro do Plano de Metas

LESSA, 1982 (41);

MONTEIRO FILHA, 1994

(26); DIAS, 1996 (8);

TAVARES et al., 2010 (3)

Indústria de base e

Infraestrutura

Eliminar entraves, suprir

insumos básicos

VIANA, 1981 (18); LESSA,

1982 (41); MONTEIRO

FILHA, 1994 (26); DIAS,

1996 (8)

Fonte: Elaboração própria, com base nos dados da pesquisa. O algarismo entre parênteses refere-se ao número de

citações recebidas pelo estudo.

Os principais fatores subjacentes à formação do banco e a sua missão foram a falta de um

mercado de capitais que fosse capaz de fornecer capital de longo prazo ao setor industrial nacional

e a crescente intervenção do Estado na política industrial dos anos 1930 e 1940, segundo Curralero

(1998), Lima (2007) e Araújo (2007)39. A iniciativa privada tinha sido sufocada pela incerteza

sobre os retornos futuros num cenário de inflação elevada e poucos instrumentos de proteção.

Para industrializar, o Brasil precisava de capital de longo prazo para financiar os investimentos

em insumos industriais básicos e bens de capital e para investir em transporte e infraestrutura

energética para apoiar a base industrial. A missão deste banco de desenvolvimento sancionado

pelo Estado foi de assumir os riscos de investimentos em setores nos quais os riscos inerentes a

um investimento de longo prazo deprimiam os retornos esperados, desincentivando a entrada de

capital privado.

39 O papel teórico do banco de desenvolvimento é discutido em Hermann (2010). De acordo com a autora,

o banco, do ponto de vista teórico, deveria oferecer financiamento de longo prazo quando o mercado de

capitais privados não o faz e se engajando em atividades de investimento com retornos sociais que são

maiores que os retornos privados. Este tipo de análise também foi verificada em outros autores, como

Diamond (1957), Rattner (1991) e Curralero (1998), constituindo um dos argumentos centrais para

justificar a existência do BNDES até os dias de hoje. Tais argumentos retornaram a discussão com particular

intensidade nos anos 1990, como veremos mais adiante, tendo em vista justificar a permanência deste tipo

de função, mesmo com a forte redução do estado na economia. A dissertação de Curralero (1998) foi uma

das mais citadas sobre este período na história do BNDES.

Page 49: Levantamento e avaliação da literatura econômica sobre o BNDES · mapear e analisar a literatura econômica existente sobre o Banco Nacional de Desenvolvimento ... do conjunto

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A missão do banco evoluiu a partir de várias perspectivas teóricas e ideológicas e de

mudanças institucionais nas décadas que antecederam a sua formação. De acordo com Lima

(2007), baseado na história de pensamento econômico brasileiro, Araújo (2007) e Tavares et al.

(2010), baseados em debates internos ao banco por meio de relatórios e histórias orais, a criação

do banco gerou um grande debate sobre as bases ideológicas e financeiras ideais para uma

instituição financeira de desenvolvimento.40 De forma pragmática, Lessa (1982) que foi um dos

autores mais citados em seu o trabalho clássico Quinze anos de política econômica salientou que

os pontos de estrangulamento da industrialização levaram à necessidade de redistribuir recursos

para o setor público. O banco foi parte do conjunto de instrumentos de política

“desenvolvimentista”. Para Lessa (1982, p. 105), a nova instituição exerceu “uma eficiente ação

de compatibilização e aprimoramento das decisões e execução dos projetos financiados.” Do

lado tanto ideológico quanto pragmático, conforme a literatura, o banco adotou a política cepalina

de substituição de importações para diminuir a dependência do Brasil em mercados externos. O

quadro institucional desse desenvolvimentismo foi construído através de órgãos de Estado e

instrumentos de regulação e intervenção, que culminaram com o Plano de Metas. De acordo com

Lessa (Ibidem, p.105), o banco cumpriu “a função de centro de análise de programas

governamentais, constituindo-se, por mais esta razão, na peça básica da filosofia do Plano de

Metas”.

O banco foi criado para ser um banco público de desenvolvimento, que busca resultados

sociais e econômicos com externalidades positivas para a economia e para a sociedade em geral,

ampliando a oferta de capital de longo prazo. Para Geddes (1990), Araújo (2007) e Willis (2013)

o banco cumpriu esta missão em grande parte por causa do compromisso do Estado para torná-lo

independente de pressões políticas e, em seguida, pela determinação dos administradores do

banco para defender essa autonomia. Economistas das várias linhas ideológicas ocuparam a

liderança do banco e funcionários foram recrutados por suas habilidades e competências e não

pelo clientelismo. Para Baer e Villela (1980), essas decisões iniciais criaram uma cultura de

profissionalismo e flexibilidade na avaliação dos projetos e nos desembolsos de recursos. Willis

(2013, p. 43) concluiu, calcada em relatórios internos e governamentais, reportagens, e memórias

institucionais do banco, que a eficácia do BNDE resultou da cultura interna do banco, que ela

caracterizou por “an unusually strong ‘esprit de corp’ guided by a clear sense of mission.” Essa

cultura “led to effective action even in the face of occasional political pressures and the chronic

lack of funds”.

A escassez crônica de recursos decorreu da dependência financeira do banco em relação

ao governo. Isto refletia uma tensão entre os próprios interesses do Estado em manter o banco

como agente para o desenvolvimento e a disposição do Estado para pagar por esse papel,

argumentaram Baer e Villela (1980), baseado em dados sobre recursos e desembolsos do banco.

Em seus primeiros anos de existência, fundos públicos foram aprovados mas não repassados ao

banco, de forma que o BNDE não tinha os recursos para financiar os projetos aprovados, já que

recebeu apenas cerca de metade dos fundos destinados no período de 1952-195841. Devido a essa

insuficiência, concordaram todos os estudiosos, o banco concentrou-se no planejamento

estratégico. Rattner (1991) e Dias (1996) destacaram a definição de prioridades utilizadas pelo

40 O discurso de Lima (2007) sobre esta época da história do BNDE, assim como o trabalho de Diniz

(2004) sobre os anos 50, basearam-se no trabalho do Ricardo Bielschowsky, Pensamento econômico

brasileiro: o ciclo ideológico do desenvolvimentismo. 4a ed. Rio de Janeiro: Ed. Contraponto, 2000. 41 O governo Kubitschek procurou reforçar suas finanças, no entanto, essa proporção subiu para 82% em

1959.

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banco na tomada de decisão para orientar seus compromissos financeiros42. Tais prioridades

foram orientadas por fatores macroeconômicos (efeitos multiplicadores potenciais resultando do

investimento) e por fatores microeconômicos (estrangulamento setorial). Comitês de seleção de

tecnocratas e grupos executivos setoriais avaliaram os efeitos dos projetos sobre diferentes

aspectos da economia: balança comercial e de pagamentos, finanças públicas, natureza

complementar para outros segmentos industriais e o uso dos recursos naturais. Em seguida,

avaliaram as questões pertinentes aos limites das empresas: tecnologias selecionadas, a

participação do capital próprio, os requisitos de importação, a existência de mercado para os

produtos, capacidade administrativa e a saúde econômico-financeira da empresa. Para Diniz

(2004), esse papel de planejamento fez o BNDE tanto um mentor como um agente de execução

do Plano de Metas. Para Geddes (1990, p. 227), “o controle do banco sobre fundos permitiu ao

BNDE impor critérios de eficiência e coerência com os objetivos do plano”. Outros autores

afirmaram que a política executada pelo BNDE nesta fase de planejamento “apontava rumo à

diversificação industrial”. (TAVARES et al., 2010, p. 45)

Não havia dúvida de que o banco desempenhou o papel de agente financeiro da política

do governo, que buscava a eliminação dos impedimentos e obstáculos ao amplo desenvolvimento

industrial. Para um dos trabalhos mais citados de Monteiro Filha (1994), que analisa dados sobre

investimentos do banco ao longo das décadas, o banco forneceu o capital crítico de longo prazo

na década de 1950 para reparar as falhas de infraestrutura e definir o cenário para o investimento

na indústria de base. Nesta etapa, o banco atuou como agente do Estado ao desenvolver planos

estratégicos para o crescimento econômico e como financiador dos investimentos em

infraestrutura. Dias (1996), Lessa (1982) e Viana (1981) apontam, por meio de seus estudos

setoriais de financiamento do BNDE, que os aportes na área de infraestrutura durante o Plano de

Metas foram essenciais para o sucesso da implementação dos planos do governo brasileiro para a

industrialização nacional. De fato, à medida em que esses gargalos foram superados, o foco dos

investimentos mudou de infraestrutura para investimentos no setor de aço, produtos químicos e

fertilizantes, minerais não ferrosos e materiais de transporte. No entanto, alguns autores como

Lafer (1980), Willis (1986) e Geddes (1990) argumentaram que a capacidade do banco

implementar seus projetos foi altamente condicionada, ou de fato dependente, da vontade política

dos presidentes da República no poder.

Ao avaliar o impacto do banco na economia brasileira neste primeiro período, estudiosos

concluíram que a sua atuação na implantação da base industrial foi incipiente devido à falta de

recursos, mas que a sua contribuição ao planejamento econômico - especialmente no Plano de

Metas - e seu investimento em infraestrutura foram contribuições importantes e fundamentais.

Mesmo investindo no setor siderúrgico o bastante para ficar conhecido como o “banco do aço”

até o final do período, (DINIZ, 2004, p. 27), a atuação do banco foi mais elogiada pelo papel de

apoio à indústria. Para Viana (1981), o papel principal do banco foi investir na infraestrutura

crítica e atuar como planejador da estratégia do desenvolvimento econômico que deu ênfase

primária à industrialização. Para Lessa (1982), Monteiro Filha (1994), Dias (1996), e Curralero

(1998), o planejamento do banco foi fundamental para o sucesso do Plano de Metas. Através de

comissões que reuniram o pessoal do banco e executivos dos setores, o BNDE conduziu pesquisa

básica sobre a economia brasileira e estipulou os termos de empréstimo e taxas de juros que

criaram estímulos diferenciados para setores. Lima (2006) destacou a decisão de integrar os

economistas de várias convicções teóricas na liderança do banco para trazer uma ampla gama de

perspectivas na análise e na atuação do banco. Seu estudo da composição da liderança e do corpo

42 Rattner baseou-se numa análise qualitativa do processo interno de avaliação dos projetos e Dias nos

relatórios contemporâneos do BNDE.

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técnico do BNDE baseado em entrevistas com pessoal do banco enfatizou o papel do banco em

articular e avançar a ideologia desenvolvimentista na política econômica brasileira. Dias (1996)

e Diniz (2004) concordam que desenvolvimento significativo de recursos de capital humano

alcançados até o final da década foram essenciais para o bom desempenho do banco. Para Lafer

(1980) e Curralero (1998), o Plano de Metas foi a primeira experiência efetiva de planejamento

do desenvolvimento industrial no Brasil.

Além de sua importância como planejador estratégico, Lessa (1982) enfatizou a

importância do banco como agente financeiro para o Plano de Metas. O banco foi um dos que ele

chamou de “peças fundamentais da implantação e execução do Plano de Metas” (LESSA, 1982,

p.99). O banco, criado para fornecer crédito de longo prazo para os setores estratégicos da

economia nacional, utilizou incentivos para estimular os investimentos privados, que foram

subsidiados por meio de empréstimos a baixos juros ou através de aval de empréstimos externos

e, depois, expandiu sua presença para outras áreas. Segundo Dias (1996, p.141),

A indefinição tantas vezes sentida, nos primeiros anos de

funcionamento do BNDE, quanto ao seu papel no estímulo às chamadas

indústrias básicas havia desparecido, e ele encerra o período do Plano

de Metas como agência provedora, por excelência, de financiamento

de longo prazo e com grande experiência na análise de projetos e

controle de aplicações.

Para Tavares et al. (2010, p. 69),

não há dúvida de que, no setor público, o BNDE foi a principal

agência promotora dos investimentos realizados naqueles anos.

Inovando e apostando no futuro, o banco utilizaria seus quadros de

forma criativa, engendrando vários instrumentos de engenharia

financeira para articular projetos, recursos disponíveis e desembolsos.

Se os estudiosos enxergam o período 1952-1964 como uma “época dourada” na história

do banco como instituição financeira de desenvolvimento, alguns chamam atenção para o lado

negativo de políticas que seguiam certos rumos sem considerar seus efeitos globais. Para Viana

(1981) e Corrêa (1995), a base financeira do banco era frágil, contando com recursos de médio

prazo (até cinco anos) para oferecer financiamento de longo prazo (até vinte anos) com juros

negativos em condições inflacionárias 43 . No que diz respeito aos subsídios implícitos nos

financiamentos do BNDES nesse período cabe destacar o estudo de caso realizado por Maia

(1986, p. 139-48), o qual demonstrou um subsídio de 43% na dívida contraída por uma empresa

em 1958 e paga até 1964. Para Lessa (1982), prevalecia a quase total falta de consideração dos

desequilíbrios introduzidos pelo Plano de Metas por sua preocupação centralizada na

infraestrutura e no apoio à indústria. A produtividade agrícola estagnou; grandes variações na

renda per capita regionais permaneceram ou aumentaram; a migração interna ampliou a miséria

no espaço urbano. Ainda, segundo Lessa, o planejamento do governo e do banco não se antecipou

as consequências futuras para a desigualdade de renda e regional. Os efeitos negativos do

financiamento e da ausência de preocupações sociais e setoriais que pudessem atender melhor aos

problemas estruturais de pobreza e desigualdade são críticas que vão reaparecer nas pesquisas de

épocas posteriores, como veremos abaixo. Tavares et al. (2010, p. 82) são menos críticos em

43 Apesar dos juros reduzidos em comparação à inflação da época, o banco procurou proteger-se por meio

da indexação dos seus contratos (cláusula móvel) e participação acionária. Mesmo assim, Viana (1981, p.

227-236) afirmou que o banco operou com juros reais negativos durante esta época. Esta discussão também

ocorreu nas décadas 1970 e 1980, como veremos adiante na discussão do trabalho de Najberg (1989).

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afirmar que a concentração de recursos no triângulo Rio de Janeiro – São Paulo – Minas Gerais

ocorriam “mesmo quando previu investimentos em infraestrutura que beneficiavam outras

regiões”, pois “em termos de planejamento urbano e regional, o Brasil engatinhava, ainda não

acumulara as aptidões necessárias.”

De acordo com a literatura, que para esta época tende em sua maioria a relatar histórias

narrativas baseadas nos relatórios e dados do banco, o BNDE realizou um trabalho importante

para o planejamento estratégico e o investimento em infraestrutura e na indústria incipiente antes

do golpe militar de 1964. Nessas circunstâncias, o debate acadêmico na literatura sobre a atuação

do banco mostrou-se quase ausente, centrado em questões ideológicas e teóricas. Dessa forma, o

papel crítico da literatura revelou-se bastante reduzido decorrente também da própria formação

inicial do banco nesse período histórico e pelo fato de ter assumido dentro de poucos anos o papel

de instituição profissional e madura de financiamento ao desenvolvimento. Geddes (1990)

afirmou que o banco foi uma instituição de desenvolvimento bem sucedida não por ser em si uma

instituição impessoal, mas em grande parte porque os presidentes a apoiaram. Sua autonomia foi

ameaçada pelas desconfianças do regime militar e sua atuação foi remodelada posteriormente por

preocupações macroeconômicas, como choque do petróleo, inflação e políticas neoliberais.

Tavares et al. (2010, p. 110) afirmaram que a instabilidade política e econômica do começo dos

anos 60 resultaram na escassez de recursos do BNDE, diminuindo sua atuação e relegando ao

banco “o papel de mero coadjuvante no cenário econômico nacional.”. Em termos de lacunas,

cada aspecto do banco nesta época foi bem estudado em termos factuais — quais as posições

teóricas e ideológicas que moldaram a sua fundação, como as realidades financeiras da época

influenciaram a sua atuação, como o banco foi organizado e administrado, como ele fez a sua

análise e decisões de investimento, origem e destino dos recursos, como o seu apoio financeiro

auxiliou o Plano de Metas e em quais metas o banco estava diretamente envolvido. Entretanto,

os estudos pouco avaliam as distorções resultantes das políticas tão celebradas, que se acentuaram

após o golpe militar.

1964 a 1980

O golpe militar de março de 1964 abriu uma nova etapa no desenvolvimento econômico

brasileiro. A denominada “modernização conservadora” levada adiante pelos militares permitiu,

logo de início, que dois problemas candentes fossem enfrentados de forma relativamente

eficientes: a inflação e as reformas institucionais nos campos tributário, financeiro e do setor

externo. As mudanças legislativas nessas áreas e a redução da inflação encetadas durante o

primeiro governo militar (1964-67), juntamente com uma colaboração externa ao país bem mais

favorável, permitiram iniciar um novo ciclo de crescimento com taxas elevadas a partir dos anos

finais da década de 1960. O “milagre econômico” conseguiu compatibilizar as mais elevadas

taxas de crescimento do PIB de nossa história com inflação relativamente reduzida. No entanto,

tal trajetória viu-se obstada apenas a partir de 1974, quando as mudanças no cenário internacional

e as deficiências no aparato produtivo brasileiro no setor de bens de produção e infraestrutura

acompanhadas do esgotamento da capacidade produtiva nos principais setores obrigaram a

mudanças expressivas nas prioridades de política econômica. A resposta do novo governo que

assumiu a partir de 1974 foi a elaboração e a execução do II Plano Nacional de Desenvolvimento

(II PND), compreendendo um ambicioso conjunto de investimentos na área de infraestrutura e

bens de capital e bens intermediários. O plano objetivou, simultaneamente, segundo Lessa (1998,

p. 21) “completar a industrialização pesada” e propor um “novo Padrão de Industrialização”, no

qual os setores de bens de produção “passariam a ser os setores líderes da expansão industrial

da economia brasileira presidindo e dando o sentido de seu movimento dinâmico”.

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A partir do golpe de 1964 houve uma profunda reestruturação da regulação e participação

do Estado na economia, especialmente no setor financeiro. Além da criação do Banco Central e

do Conselho Monetário Nacional, houve uma preocupação com o financiamento da economia a

prazos mais longos. As principais estratégias privilegiadas para viabilizar os financiamentos de

longo prazo foram as seguintes: mercado de capitais e bancos de investimentos como instituições

alternativas ao BNDE 44. Uma nova legislação foi criada para fomentar o mercado de capitais a

partir de 1965. De outro lado, numa tentativa de especialização e segmentação do sistema

financeiro, criaram-se os bancos de investimento, que deveriam captar recursos internos e

principalmente externos para o empréstimo de longo prazo45. Dessa forma, procurava-se fomentar

a oferta de recursos privados para o financiamento até mesmo a prazos mais longos,

diversificando as fontes alternativas ao BNDE.

Até essa época, o banco financiava os investimentos públicos principalmente em

transporte e energia e a subscrição de ações de siderúrgicas por meio dos adicionais do imposto

de renda e reservas técnicas de companhias de seguro e capitalização46. No período considerado

nessa seção, houve uma profunda reestruturação da atuação do BNDE, alterando tanto das fontes

de recursos do banco como a aplicação nos setores da economia. Após uma retração dos

desembolsos no início dos anos 1960, houve uma forte expansão após o golpe de 1964, atingindo

no meado da década de 1970 dois pontos porcentuais do PIB em função dos novos recursos

canalizados para o banco. A reorientação do BNDE compreendeu a preocupação crescente na

aplicação dos recursos em toda a indústria, no setor privado e regionalmente. A sua vinculação

passou para o Ministério do Planejamento em 1967 e recebeu dotações orçamentárias de fundos

específicos, como o Finame, expandindo os empréstimos inicialmente no setor de transportes e

na indústria siderúrgica 47 . Ademais, o banco continuou a conceder avais para empréstimos

externos.

Como o padrão de desenvolvimento da substituição de importações manteve-se na sua

essência para o período de 1964 a 1980, a literatura econômica sobre a história do BNDE

continuou a destacar os temas já salientados para o período anterior, principalmente indústria e

infraestrutura. As mudanças da orientação da política econômica e financeira repercutiram no

crescimento da discussão do tema de mercado de capitais, que o próprio banco envolveu-se

44 Apesar de ser financiamento de longo prazo, não se considera o crédito imobiliário sob a responsabilidade

do sistema financeiro da habitação. Tais financiamentos diferem dos realizados pelo BNDE. 45 Suzigan et al. (1972, p. 366) ao analisar a listagem dos projetos contratados e os pareceres de aprovação

do BNDE e do CDI entre 1966 e 1970 notou uma participação reduzida do sistema financeiro privado nos

financiamentos industriais de longo prazo, como os bancos de investimento. De acordo com os autores:

“continuaram racionados e dependentes quase exclusivamente dos intermediários financeiros públicos. No período em análise, o

sistema financeiro privado praticamente não ofereceu alternativas para o financiamento de longo prazo. (...) foi ínfima a captação

direta de recursos no mercado de capitais, sendo também inexpressiva a colocação de títulos de dívida primária das empresas (debêntures simples ou conversíveis em ações). A obtenção de fundos de longo prazo no exterior, principalmente em agências

multilaterais e governamentais não representaram muito no total dos empréstimos, consistindo em uma área que pode vir a ser

bastante ampliada (...).” O autofinanciamento foi a principal forma de financiamento dos investimentos totais,

chegando a 80% para a automobilística e siderurgia. As siderúrgicas estatais não apresentaram projetos de

financiamento, excetuando a CSN (Idem, p. 367). Os bancos de investimento financiaram mais capital de

giro e não investimento. 46 Em termos de alocação setorial, Suzigan et al. (1972, p. 46) informam que a aplicação dos recursos na

siderurgia cresceu desde o final dos anos 1950, atingindo 71% no quadriênio 1962-65, porém reduziu-se a

8% em 1970. Os serviços de utilidade pública retornaram a receber parcela expressiva dos recursos a partir

de 1968, chegando a 41,4% nesse ano contra 46,7% da indústria de transformação. Em 1970, a participação

da indústria alcançou 59,8% e os serviços de utilidade pública 26,9% (Idem, p. 109-110). 47 A partir de 1966, o BNDE passou a administrar o Finame e posteriormente outros fundos específicos.

Tais fundos assumiram papel fundamental para o financiamento de diferentes setores industriais (ver

BERNARDINO, 2005, p. 58, e MONTEIRO FILHA, 2002, p. 420). O Finame criado em 1964 consistia

numa linha de crédito para a aquisição de bem de capital nacional por empresas pequenas e médias.

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diretamente. De modo semelhante ao período anterior, a produção acadêmica externa ao banco

mostrou-se de maior relevância para esse período em relação aos demais, pois a produção própria

da instituição ainda mantinha-se bastante reduzida, atingindo apenas 13,5% do total dos trabalhos

que discutiram esse período, ao contrário do que se observou nas décadas seguintes. Esse período

abarcou um elevado número de teses de doutorado e dissertações de mestrado, chamando a

atenção dos alunos de pós-graduação. Ressaltou-se também que grande parcela da produção

bibliográfica do período 1964-1980 concentrou-se em artigos e livros e seus capítulos,

representando 43,9% do total e 26,3%, respectivamente. Todavia, as dissertações e teses de pós-

graduação foram também relevantes nesse último período, atingindo 22,2% do total. Desse modo,

os trabalhos de mestrado e doutorado alcançaram um percentual mais elevado nesse período em

relação aos demais, principalmente para a discussão dos anos 1970.

Os principais temas abordados pela literatura do período foram: instabilidade das fontes

dos recursos e as formas de financiamento em diferentes setores, abarcando a discussão dos juros

reais negativos e da falta de incentivo ao desenvolvimento tecnológico e ambiental, e, por fim, a

questão da autonomia ou não do banco em relação ao governo federal. No quadro abaixo foi

destacado os principais textos utilizados para a discussão do período 1964-1980.

Quadro 2 - - Principais textos selecionados para leitura do período 1964-1980

Temas Subtemas Literatura Principal

Instabilidade dos recursos

Continuidade do banco MARTINS, 1985 (2)

Mudança das fontes de

recursos PROCHNIK, 1995 (19)

Expansão descentralizada BAER e VILLELA, 1980 (8)

Subsídio ao privado

BNDE agente poderoso do II

PND LESSA, 1978 (9)

BNDE destaca-se

relativamente a outros bancos

de desenvolvimento

AMSDEN, 2001 (2)

Transferência de recursos para

o setor privado NAJBERG, 1989 (22)

Autonomia do banco

Plano de Metas LAFER, 2002 (18)

Autonomia relativa

MARTINS, 1985 (2);

WILLIS, 1986 (8); EVANS,

1982 (1)

Controle do governo LESSA, 1998 (9);

CURRALERO, 1998 (17)

Desenvolvimento

tecnológico

Incentivo ao aprimoramento

tecnológico RATTNER (1991) (6)

Fonte: Elaboração própria, com base nos dados da pesquisa. O algarismo entre parênteses refere-se ao número de

citações recebidas pelo estudo.

A questão da instabilidade dos recursos para o banco acompanhou toda a década de 1960

e início dos anos 1970. Baer e Villela (1980) utilizando os relatórios e publicações do banco

afirmaram que a extinção do adicional do Imposto de Renda acentuou a dependência de verbas

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orçamentárias e recursos próprios48. Por outro lado, o destino dos recursos também se alterou,

pois se na origem o banco emprestava para o setor público na área de infraestrutura, a partir do

final dos anos 1950 a indústria passou a predominar. Ao descentralizar as operações por meio de

agentes repassadores, o banco passou a atingir um conjunto maior do território brasileiro e de

empresas até mesmo de menor porte.

Num contexto internacional desfavorável do primeiro choque do petróleo e optando por

uma estratégia de avançar o processo de industrialização, o II PND de 1974 dotou o BNDE de

recursos próprios do PIS/PASEP, garantindo um fluxo regular e crescente de receitas. Prochnik

(1995) realizou um amplo levantamento e sistematização das fontes de recursos para o banco,

tornando referência clássica. Ao analisar as diferentes fases da disponibilidade de recursos, ela

salientou que nessa terceira fase houve maior autonomia de recursos do banco (PROCHNIK,

1995, p. 147). A autonomia orçamentária permitiu menor influência política (Cf. LIMA, 2007, p.

75). Em contrapartida da expansão das fontes de recursos, o banco elevou a contribuição para o

financiamento dos investimentos privados nacionais, especialmente na área de insumos básicos e

bens de capital alinhado ao planejamento estratégico da época de concluir o processo de

substituição de importação. Num dos seus trabalhos clássicos (e mais citados) escrito ainda

durante a execução do plano e baseado em relatórios de ministros e reportagens da época, Lessa

(1998, p. 95) afirmou que a decisão de reordenar a política industrial em 1974:

[...] exigira uma profunda reordenação financeira. O agente

institucional por excelência seria o BNDE, que orientaria seus

financiamentos, suas participações e demais incentivos para os setores

prioritários e favoreceria a consolidação ou instalação de grupos

nacionais em tais áreas prioritárias49.

A avaliação de Lessa (1998) apoiou-se no programa do II PND e no acompanhamento do

andamento dos investimentos. Apesar da importância das empresas estatais para os investimentos

do II PND, elas foram alijadas do sistema BNDE, direcionadas diretamente ao exterior na busca

de recursos. Desde o meado dos anos 1960, o governo reduziu a necessidade de aportes do banco

para essas empresas por meio de uma política realista de tarifas e a busca de recursos no exterior.

Entretanto, mesmo com o abandono da política de realismo tarifário a partir de 1973, o banco

continuou apartado das estatais no II PND, como ressalta Lessa (1998).

O diagnóstico da fragilidade do setor privado nacional tanto em termos tecnológicos

como em conseguir recursos para financiar investimentos conduziu o governo a emprestar

diretamente esse setor por meio do BNDE. Vários autores destacam, como Lessa (1998, p. 96-

97), que a canalização de recursos do PIS/PASEP para o BNDE tornou o banco o principal agente

financeiro do II PND, multiplicando seus aportes com exigência de contrapartidas de recursos

próprios das empresas financiadas e das instituições bancárias públicas e privadas que repassavam

os financiamentos do BNDE. Destarte, a estratégia supôs que o conglomerado financeiro privado

formado até o início dos anos 1970 não foi suficiente para o provimento do crédito necessário. Os

grandes financiamentos deveriam manter-se com o BNDE e os médios e pequenos com os agentes

repassadores. Segundo Lessa (1998, p. 99), os riscos de inadimplência das operações com o

PIS/PASEP deveriam ser suportados pelo próprio fundo.

Para Baer e Villela (1980, p. 434), o banco tornou-se financiador e sócio do setor privado

em detrimento do aporte ao setor público, assegurando a participação privada na estratégia50. De

48 A parcela do imposto de renda terminou em 1967 e o repasse do IOF foi irregular. 49 Ver também Monteiro Filha (2002, p. 420). 50 O banco subscreveu ações de diferentes empresas por meio de subsidiárias (FIBASE, EMBRAMEC e

IBRASA) de forma a minimizar o risco dos investimentos a partir dos anos 1970, o que posteriormente foi

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acordo com Amsden (2001, p. 132), o banco também foi peça chave da estratégia do plano de

desenvolvimento da época, respondendo por parcela expressiva dos investimentos industriais em

1980. Analisando dados de diferentes bancos de desenvolvimento, a autora verificou a

contribuição do banco de desenvolvimento brasileiro superou a de outros países emergentes da

época, como Coreia, Índia e México 51 . Assim, não há discordância na literatura do papel

fundamental do BNDE na estratégia do II PND.

Já no início do plano, em face da dificuldade de fomentar o investimento privado, o

governo limitou, especialmente para o setor de bens de capital, a correção monetária máxima dos

empréstimos a 20% ao ano, assumindo o banco o risco da aceleração inflacionária. Tal estratégia

visou fortalecer o setor privado nacional, mas gerando um subsídio derivado de juros reais

negativos a partir do meado dos anos 197052. Como salienta Baer (1988), em seu livro clássico e

bastante citado A industrialização e o desenvolvimento econômico no Brasil, houve pressão do

setor privado pela indexação parcial e não plena entre 1974 e 1976. Posteriormente, a dissertação

de mestrado de Najberg (1989) demonstrou, analisando 13 mil contratos, um volume

extraordinário de recursos públicos transferidos ao setor privado na ordem de pelo menos US$

3,2 bilhões de dólares correntes entre 1975 e 1987, representando 74% do total de recursos

liberados. A aceleração da inflação agravou o problema e minou a capacidade de financiamento

do banco, pois os recursos do PIS/PASEP eram indexados plenamente. Tal desequilíbrio

fragilizou a instituição, levando a restringir a limitação da correção após 1976, evitando uma crise

ainda maior para o banco53. O trabalho de Najberg (1989) é um dos mais citados para o período,

pois consiste na referência clássica para a discussão do tema. Destarte, há um consenso na

literatura sobre a transferência de recursos ao setor privado e, posteriormente, a fragilização do

banco nos anos 1980.

Uma questão adicional levantada na literatura sobre a aplicação setorial dos recursos do

BNDE nessa época relacionou-se à destinação de recursos para o desenvolvimento tecnológico e

inovação, que consistiu em área prioritária para muitos bancos de desenvolvimento. Embora

houvesse essa preocupação nos aportes destinados a alguns setores industriais nessa época, em

muitos projetos não se observou tal preocupação. Como ressaltou o estudo coordenado por

Rattner (1991), bancos de desenvolvimento incentivam o avanço tecnológico, porém ao analisar

oito casos de empréstimos do BNDE na área de energia dos anos 1970 e início dos 1980 pouco

observou esta preocupação nos projetos financiados para esse período. Por fim, os autores

notaram também que praticamente não havia uma preocupação ambiental na avaliação dos

projetos.

O foco principal de discussão da literatura sobre o período ocorreu principalmente sobre

a própria autonomia da instituição em relação ao governo federal, que é o seu controlador. O

mecanismo de alocação dos recursos tornou-se central nessa discussão, especialmente do

direcionamento da poupança pública que nos anos 1970 se mostrou elevada. Como esperado, os

planos gerais de desenvolvimento delimitaram fortemente a atuação do banco, mas também pode

haver autonomia nas suas decisões. Para Baer e Villela (1980) não há evidência clara de que o

banco tenha capacidade efetiva de alocação dos recursos de modo independente, pois algumas

denominado de Sistema BNDES ou BNDESpar (Cf. MONTEIRO FILHA, 2002, p. 423). Quando essas

empresas se encontravam em dificuldades, o banco acabou assumindo o seu controle. 51 Deve-se notar que em 1970, a parcela do BNDE nos investimentos industriais foi menor do que a dos

respectivos bancos de desenvolvimento do México e da Coreia (Cf. AMSDEN, 2001, p. 132). 52 Ver Lessa (1998). Tal procedimento não diferia do ocorrido anteriormente nos empréstimos ao setor

público, principalmente entre 1956 e 1961, conforme Suzigan et al. (1972, p. 106). 53 Como salienta Baer (1988) havia um paralelismo com o Banco Nacional de Desenvolvimento, que

acabou extinto em 1986 durante o congelamento do Plano Cruzado quando o descompasso entre as

correções dos ativos e passivos se agravou.

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linhas de fomento são bastante automáticas (Finame) e em outras há maior capacidade de decisão

do banco, exigindo projetos e planejamento das empresas e consequentemente maior

racionalidade na alocação dos recursos. Muitas vezes, o banco acabou financiando projetos com

mais recursos do que originalmente previsto no projeto inicial, distorcendo o planejamento e a

racionalidade prévia do projeto proposto, conforme Baer e Villela (1980).

Martins (1985), Willis (1986) e Evans (1982) demonstram, calcados em dados dos

relatórios do banco, a crescente autonomização do banco em relação à estrutura burocrática

tradicional do estado, como já ocorria desde a origem do próprio banco54. Tal autonomia cresceu

em função de se tornar uma empresa pública e dos recursos que foram carreados para o banco

sem o controle direto do governo. Martins (1985, p. 83-84) denominou o BNDE de “organização

governamental autônoma”. Tal visão decorre da afirmação de uma personalidade institucional

em distintas conjunturas, do papel criativo como formulador e executor de políticas de

desenvolvimento e de relações de interesse que agrega e as metamorfoses nas políticas que

preconiza. O autor destacou vários períodos que o banco mantém sua coesão básica em face de

pressões políticas ou mesmo de grande instabilidade, principalmente na “batalha pela

sobrevivência do banco” em 1964, com apoio do Congresso (Ibidem, p.92-93). Entretanto, a partir

de 1965 o banco entrou numa outra fase, retornando a peça chave da intermediação financeira

pública de longo prazo. A dissertação de mestrado de Diniz (2004, p. 33) salientou que o BNDE

passou da condição de autarquia a empresa pública em 1971, permitindo maior autonomia ao

banco no início dos anos 1970. De outro lado, a expansão das operações e a descentralização de

recursos apontada anteriormente facilitou a ampliação dos beneficiários dos empréstimos sem

ampliar significativamente a estrutura do banco. Assim, Baer e Villela (1980, p. 432) ressaltam

que passaram a ocorrer problemas de escassez de pessoal qualificado para avaliar os projetos e

coordenação dentro das regiões e cresceu a possibilidade de influência política na escolha dos

projetos.

Esta visão mais autônoma do banco se contrapôs ao preconizado por Lessa (1998) e

Curralero (1998) em sua dissertação de mestrado, que salientaram a estreita ligação entre a ação

do banco e a orientação de política macroeconômica do governo federal, especialmente no II

PND, reduzindo a capacidade interna do banco de determinar a sua ação. Apesar das duas visões

manterem-se na literatura econômica sobre o banco, salientou-se que a autonomia não pode ser

entendida como uma independência completa e duradora da instituição em relação ao estado,

sendo assim relativa. Willis (1986) qualificou autonomia da seguinte forma: controle da geração

de fundos de recursos, nomeação dos cargos de direção, designação das prioridades e sem controle

externo dos empréstimos. Assim, ela observou que a autonomia foi exagerada e flutuou ao longo

da história do banco. De acordo com a autora, o banco demonstrou maior autonomia nos governos

civis até 1964 do que no período de ditadura militar, protegendo a administração do banco das

demandas de grupos poderosos. De acordo com a autora, a resistência da burocracia do banco à

pressão do governo militar revelou-se mais difícil. Ademais, a instabilidade institucional do

regime político e a forma de solucionar os conflitos dos grupos no poder seja civil ou militar

também se refletiram na autonomia do banco (WILLIS, 1986).

Nesse período, a literatura apontou uma crescente participação do BNDE na economia,

que culminou no II PND, direcionado ao apoio do setor privado. Os trabalhos ressaltam que o

problema inicial da falta de recursos foi resolvido por meio do estabelecimento de novas fontes,

54 Tal tese também foi defendida por Lafer (2002) para o Plano de Metas. Ele destacou uma estrutura

burocrática nova que reunia as competências do setor público, facilitando o planejamento e execução dos

projetos em sintonia com o planejamento do programa de Metas. O BNDE era um dos organismos que

permitiram maior agilidade administrativa. Geddes (1990) salienta que tal autonomia foi perdida

posteriormente, assim ela pode oscilar ao longo do tempo.

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garantindo a execução do planejamento do governo e do próprio banco. As aplicações privadas e

descentralizadas atendendo demandas regionais tornaram-se cada vez mais importantes e,

principalmente nos anos 1970, até mesmo com juros reais negativos para alguns setores, como

bens de capital. Tais transferências de recursos mostram-se consensuais na discussão bibliográfica

e em linha com a orientação da política econômica da época, embora alguns autores critiquem

esta política. O grande debate da literatura desse período consistiu no grau de autonomia da

atuação do banco, que oscilou de um mero executor da política definida pelo governo a um agente

que possuía grande capacidade de decisão de forma mais independente, revelando uma autonomia

relativa. Ainda se levantou a reduzida preocupação do banco na alocação dos recursos com o

desenvolvimento tecnológico e ambiental.

A literatura ratificou que o BNDE cumpriu o objetivo geral posto pelo planejamento do

governo daquela época, aproximando o banco das diretrizes da política econômica e reduzindo a

autonomia do banco. Uma lacuna da literatura foi que apesar das tentativas de promoção do

mercado de capitais pelo banco no período, há pouca referência à temática de mercado de capitais

nos textos selecionados para a leitura. Além do grande debate da maior ou menor autonomia do

banco, os poucos questionamentos apontados pela literatura colocaram-se, de forma pontual, ao

banco como agente da política econômica. Apesar da justificativa da necessidade de apoiar o setor

privado em setores estratégicos, que seria o “pé” mais frágil do II PND, os juros reais negativos

nos empréstimos mostram-se bastante controversos num período de aceleração da concentração

da renda no país, porém tais questões revelam-se pouco discutidas na literatura. A luz de todo o

processo de democratização e expansão das demandas sociais das últimas décadas, as decisões

tomadas no período 1964-80 revelaram-se ainda mais discutíveis. Muitas vezes, o setor

privilegiado não teve de assumir compromisso de ser competitivo com relação ao exterior, sem a

perspectiva de abertura da economia com redução de tarifas. De outro lado, na falta do BNDE

como financiador, as estatais endividaram-se no exterior, elevando enormemente o risco para o

setor público. Por fim, como o país deixou de crescer na década de 1980, os investimentos

viabilizados com os recursos transferidos pelo banco tornaram-se ociosos e até mesmo foram

abandonados. Esses desafios marcaram a atuação e a literatura na década de 1980.

1980 a 1990

O período compreendido entre os anos de 1980 a 1990 caracterizou-se, em sua maior

parte, por grandes dificuldades macroeconômicas, aceleração inflacionária e crescimento

reduzido, sendo o termo "década perdida" comumente utilizado para descrevê-lo. Após o II

choque do petróleo, com o aumento das taxas de inflação em vários países do mundo e o posterior

aumento das taxas de juros internacionais, ficou evidente o custo derivado da opção do governo

militar em financiar os investimentos do II PND via endividamento externo, especialmente das

estatais. Estes fenômenos degradaram sobremaneira as contas do Balanço de Pagamentos do país

culminando com a "crise da dívida externa", que marcou a primeira metade dos anos 80. Se, por

um lado, as políticas de aumento do superávit comercial (via desaceleração da atividade

doméstica), assim como a recuperação da economia internacional, fizeram com que as contas do

Balanço de Pagamentos se normalizassem, por outro, a inflação continuava em elevação, dando

origem às discussões sobre sua inercialidade. Ao final dos anos 1980, várias tentativas haviam

sido adotadas, todas incluindo, em maior ou menor grau, o congelamento como tentativa de conter

a espiral inflacionária. Ainda que alguns tenham apresentado êxito momentâneo, nenhum foi bem

sucedido na resolução definitiva do problema.

A instabilidade econômica restringia a possibilidade de planejamento de longo prazo das

empresas e as dificuldades fiscais restringiam ações diretas por parte do governo, como os

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investimentos públicos. Neste contexto de dificuldades econômicas, é natural que a própria

atuação do BNDES viesse a ser influenciada. Ao longo da década, os desembolsos do banco,

continuavam a se beneficiar dos recursos do PIS/PASEP e, posteriormente, do FAT. Tais

desembolsos atingiram o máximo de dois pontos porcentuais do PIB na primeira metade da

década, mas ao seu final chegou a patamar inferior a meio ponto, reforçando a modesta atuação

do banco no período.

Dos trabalhos levantados para o período, verificou-se uma mudança de foco por parte da

literatura. Esta mudança decorre de alterações no perfil de atuação do banco e que estão associadas

ao próprio contexto de instabilidade macroeconômica e restrição de recursos disponíveis. Assim,

observou-se que uma parte da literatura passou a ter como foco as limitações à provisão de

financiamento à indústria e à infraestrutura, ao passo que outra parte discutiu as próprias

modificações em sua atuação que, por sua vez, originou outras duas discussões relevantes: uma

delas, referente à significativa atuação do banco no processo de privatizações e outra, referente

aos desdobramentos destas mudanças e o (novo) papel desempenhado pelo banco no sistema

financeiro brasileiro. Outro fato que chamou a atenção é a ausência de trabalhos que discutam a

atuação social do banco, muito embora a inclusão do "S" no nome da instituição tenha ocorrido

em 1982, via instituição do Finsocial. Desta forma, ainda que essa área tenha passado a ser foco

de sua atuação, parece não ter sido foco explícito das obras referentes à atuação do banco na

década aludida.

O quadro 3 fornece os principiais conjuntos de temas e obras selecionadas para a análise

qualitativa referente ao período 1980-1990 - novamente, esclarece-se que o algarismo entre

parênteses refere-se ao número de citações recebidas pelo estudo.

Quadro 3 - Principais textos selecionados para leitura do período 1980-1990

Efeitos do financiamento

subsidiado

Empréstimos com correção

monetária parcial NAJBERG, 1989 (22)

Indefinições na atuação do

banco

Instabilidade macroeconômica

e dificuldades fiscais

DINIZ, 2004 (2);

MONTEIRO FILHA, 1994

(26); MONTEIRO FILHA,

1995 (10)

Redefinição da atuação do

banco

Planejamento estratégico e

integração competitiva

MOURÃO, 1994 (12);

COSTA, 2003 (6)

Atuação no processo de

privatizações

PELLEGRINI, 1993 (12);

MONTEIRO FILHA, 1994

(26); MONTEIRO FILHA,

1995 (10); DINIZ, 2004 (2); e

outros

Atuação do banco diante do

cenário de redefinições de

“gestão econômica”

Em função da disseminação

da liberalização econômica

HERMANN, 2002 (5);

HERMANN, 2010 (3)

Distribuição

geográfica/espacial dos

recursos

Atuação do banco na

minimização das

desigualdades regionais

SOUSA, 2003 (4);

MONTEIRO NETO, 2005 (1)

Fonte: Elaboração própria, com base nos dados da pesquisa. O algarismo entre parênteses refere-se ao número de

citações recebidas pelo estudo.

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Discutindo de forma mais específica as obras que discutem a atuação do BNDES na

referida década, conforme introduzido no parágrafo anterior, as dificuldades macroeconômicas

fizeram com que os anos 1980 se apresentassem como um período de modificação no perfil de

atuação do banco. Nessa época, o banco deixou de ser um capitalizador do setor público estatal e

passou progressivamente a desempenhar papel importante no processo de privatizações, que

atingiu seu ápice já nos anos 90. Diante desse cenário de redefinições, a dissertação de mestrado

de Diniz (2004), baseada na análise de vários indicadores financeiros e de desembolsos do

BNDES, provê evidências de que ao longo dos anos 80 e 90 o banco abandonou o papel de

fomentar a industrialização brasileira que exerceu até a década de 70, passando a priorizar as

estratégias de matriz liberal, culminando com a atribuição ao BNDES do papel de gestor do

processo de privatização. A tese de doutorado de Monteiro Filha (1994, 199555) também apontou

para uma falta de definição de prioridades do banco, em que o número de setores financiados

continuou aumentando, mas o montante aprovado sofreu queda em função do período de

dificuldades fiscais do governo. Com base na análise de diversos indicadores das empresas

beneficiadas, porém, a autora apresentou um diagnóstico positivo da atuação do banco e concluiu

que sua atuação foi importante tanto como aparelho do Estado como agente financeiro.

Se para alguns estudiosos esta década foi inicialmente caracterizada por indefinições

quanto à sua atuação, outros autores têm como foco as redefinições da atuação do banco ocorridas

ao longo da década. Segundo os estudos de Mourão (1994) e Costa (2003)56, que apresentam uma

narrativa histórica, a década de 80 representou tanto um período de reformulações internas como

também de reformulações quanto à sua forma de atuação, consubstanciadas no Planejamento

Estratégico e Integração Competitiva, a partir das quais passaram a ser priorizados os problemas

do banco (suas próprias condições financeiras, entre outros), e não os problemas dos setores, como

ocorria até então. Desta forma, as ações do banco passariam a priorizar projetos cujo foco era

modernizar o parque produtivo, reestruturar e concentrar empresas em setores com economia de

escala e investimentos voltados as exportações, sendo as privatizações norteadas com base nesta

mudança de paradigma 57 . A dissertação de mestrado de Costa (2003) também analisou o

planejamento estratégico do banco que, segundo a autora, surgiu como uma alternativa para

garantir certa independência ao mesmo (envolvendo a ampliação da base de recursos próprios,

entre outros) frente ao governo e outros órgãos estatais, assim como forma de discutir o

redirecionamento das suas atividades face à nova realidade da economia brasileira na década de

1980. De acordo com a autora, o BNDES, com seu cenário de Integração Competitiva, teria sido

um dos principais responsáveis pelo avanço e consolidação das ideias liberais no Brasil no final

da década de 1980 e na década seguinte.

Em linha com as redefinições na atuação do banco, outra parcela relevante da literatura

sobre os anos 80 analisou o papel desempenhado no processo de privatizações que, nos anos 80,

seria marcado não pela venda das empresas estatais em si (algo que viria a ocorrer somente na

década de 90), mas sim pela reprivatização, ou seja, empresas privadas que haviam recebido,

anteriormente, auxílio financeiro do banco. Nesta perspectiva, os trabalhos de Pellegrini (1993),

Monteiro Filha (1994, 1995), Diniz (2004), Bernardino (2005) e Lima (2007) podem ser definidos

55 Estes dois estudos foram aqui tratados igualmente, dado que o conteúdo dos mesmos é bastante

semelhante. O primeiro é um texto datado de 1994 e apresentado como capítulo do livro "BNDES: um

banco de ideias - 50 anos refletindo o Brasil". O segundo foi, por sua vez, lançado como artigo na Revista

do BNDES. Ambos derivam da tese de doutorado em economia da autora, defendido na UFRJ em 1994. 56 Neste contexto, o trabalho de Barretto e Arkader (1992) foi baseado numa série de entrevistas realizadas

pelos autores visando investigar até que ponto os técnicos do BNDES perceberam e incorporaram, em suas

análises, a mudança do paradigma de competitividade. 57 Esta mesma ideia foi compartilhada pelo trabalho de Pellegrini (1993).

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como trabalhos que, baseados numa narrativa histórica, discutiram de forma específica a atuação

do BNDES58. O primeiro deles teve como objetivo não só discutir a atuação histórica do banco

(o que também foi feito pelos demais estudos mencionados), mas também apresentar perspectivas

de atuação futura, dado o novo contexto do início dos anos 90. Seja como for, há de se destacar

que esta corrente da literatura realizou apenas uma descrição da atuação do banco no referido

processo, sem entrar no mérito das consequências ou qualquer outra forma de avaliação do papel

da instituição.

Outro tema importante que surgiu sobre essa década foi a atuação do BNDES no sistema

financeiro brasileiro. Hermann (2002) analisou com certa dose de pessimismo as possibilidades

de constituição de um novo modelo de financiamento de longo prazo no Brasil, anotando

características do sistema financeiro brasileiro que dificultam sua constituição – em particular, a

autora analisou de forma crítica a menor relevância atribuída ao BNDES como provedor de

financiamento de longo prazo, remetendo à mudança no perfil de atuação do banco que ocorreu

ao longo dos anos 80 e às reformas liberalizantes adotadas já ao longo dos anos 9059. Ainda

escrevendo sobre esse período, definido como de pré-liberalização financeira, Hermann (2010)

argumentou que os recursos destinados à produção de álcool, à agricultura voltada à exportação,

às pequenas e médias empresas e aos investimentos sociais mantiveram a participação dos

desembolsos na formação bruta de capital fixo (FBKF) em níveis estáveis - muito deste esforço

esteve vinculado à obtenção de novos recursos ao longo da década, como o Finsocial, a

transferência dos Fundos da Marinha Mercante para o banco e a instituição do FAT. A redução

dos desembolsos do banco e consequentemente da participação destes recursos na FBKF ocorreu

apenas a partir de 1988. A atuação do banco durante a década foi positiva, segundo Hermann

(2010), dado que o mesmo preservou suas funções tradicionais de núcleo de poupança

compulsória (dada que a competição do mercado privado não resolveu o problema de baixa

provisão de crédito para as áreas consideradas relevantes pelo banco) e provisão de recursos para

investimentos estratégicos60.

Ainda em relação às obras que analisam a atuação do BNDES no sistema financeiro

brasileiro, a dissertação de mestrado de Gorgulho (1996)61 discutiu o Programa de Capitalização

de Empresas de Base Tecnológica (Contec) do BNDES 62, à época um programa novo voltado

para o financiamento de capital de risco para pequenas e médias empresas de base tecnológica.

Após analisar uma série de indicadores referentes às fontes dos recursos, a forma de operação, o

perfil dos investimentos e os resultados alcançados, a autora argumentou que dado o reduzido

desenvolvimento do mercado de capitais e de mecanismos regulatórios e fiscais para o incentivo

a este tipo de financiamento, a experiência do Contec, conquanto tenha tido um impacto reduzido

em termos do desenvolvimento tecnológico na economia brasileira, permitiu uma efetiva elevação

58 Werneck (1989), Pinheiro e Oliveira Filho (1991), Mello (1994), Prado (1994), Pinheiro e Giambiagi

(1999) e Pinheiro (2000) também discutiram aspectos gerais da privatização no Brasil, mas sem ter como

foco a atuação do BNDES em si. Ademais, ressalta-se que o artigo de Mello (1994) foi derivado da tese de

Doutorado defendida pela autora, em 1992. O trabalho de Velasco Jr. (1997) também analisou a atuação

do BNDES no processo de privatizações, estabelecendo uma comparação dos objetivos e do ambiente

institucional entre os governos Sarney, Collor e Itamar Franco. 59 Segundo a autora, os fundos de investimento, por exemplo, que seriam relevantes nesse novo paradigma,

concentram suas aplicações em ativos de curto prazo com alta liquidez, inviabilizando-os como provedores

de crédito de longo prazo. 60 A partir de então, discutiu-se o segundo período, que foi marcado por medidas de liberalização do

mercado financeiro com a entrada de instituições estrangeiras, por exemplo. 61 Gorgulho (1997) consistiu numa versão resumida desta dissertação, conforme pode ser constatado a partir

de seu próprio resumo. 62 A tese de Doutorado de Corder (2004) também fez menções ao Contec e outros instrumentos de

financiamento à inovação no Brasil, especialmente ao longo dos anos 2000.

Page 62: Levantamento e avaliação da literatura econômica sobre o BNDES · mapear e analisar a literatura econômica existente sobre o Banco Nacional de Desenvolvimento ... do conjunto

62

no faturamento, investimento e geração de empregos nas empresas que receberam

investimentos63.

O financiamento com juros reais negativos, tema relevante na discussão do período

anterior, também se destacou como tema importante nesse. Investigando uma série de indicadores

financeiros de um conjunto muito expressivo de contratos do BNDES, Najberg (1989) analisou o

montante de recursos transferidos pelo banco ao setor privado em virtude de empréstimos

subsidiados entre 1975 e 1987, período em que se encontrava em vigor contratos com correção

monetária parcial64. Ainda que os benefícios ao setor privado tenham sido bastante significativos,

a autora apontou que essa transferência de renda teria sido feita em caráter não intencional, dado

que o objetivo fundamental era proporcionar um "seguro" para os tomadores de empréstimos no

contexto das instáveis condições daquele momento histórico, sem se imaginar que as taxas de

inflação alcançassem os patamares que alcançaram nos anos seguintes.

Além da distribuição de recursos do banco entre os setores públicos e privados, a literatura

deste período também discutiu a distribuição dos recursos entre as regiões geográficas do país.

Segundo Sousa (2003), conforme posto em prática à época pelo banco, regiões mais

desenvolvidas não deveriam receber desembolsos maiores do que as demais regiões65. Após

apresentar e discutir uma série de indicadores, o autor constata que alguns setores produtivos de

fato apresentaram deslocamento para as regiões que mais receberam recursos do banco,

corroborando a percepção de que estes atuaram de forma a direcionar os setores para as regiões

menos desenvolvidas do país. Assim, com um diagnóstico otimista, o autor concluiu que os

desembolsos parecem ter direcionado alguns setores para regiões menos desenvolvidas e gerar

dispersão da atividade. Estes resultados parecem ser respaldados pelo estudo de Monteiro Neto

(2005), segundo o qual a expansão da fronteira agropecuária e de minerais em direção às regiões

Norte, Nordeste e Centro-Oeste, como prevista no II PND, requereram investimentos elevados

(com auxílio do BNDES) para implantação da infraestrutura econômica, fazendo com que o

período 1970-1985 representasse o período de maior convergência das rendas per capita estaduais

no Brasil. Esta contribuição à desconcentração na oferta de crédito arrefeceu nos anos posteriores,

justamente quando a oferta de crédito do BNDES passou a privilegiar as regiões de maior

desenvolvimento econômico.

A discussão dos textos referentes à atuação do banco nos anos 80 sugeriu que as

indefinições macroeconômicas de fato influenciaram as obras desenvolvidas no período, como

argumentado no trabalho de Monteiro Filha (1994, 1995). Outras referências, por sua vez,

indicaram uma posterior redefinição no perfil de atuação do banco quando este passou a ter como

foco a questão da integração competitiva e o planejamento estratégico, processo em que o banco

diminuiu sua participação acionária em diversas empresas privadas e que haviam recebido suporte

financeiro do banco (reprivatização) - alguns anos depois, este processo levaria o banco a atuar

de forma relevante no processo de privatizações dos anos 90. Contudo, ainda que muitos estudos

discutissem a atuação do banco no referido processo, à exceção do trabalho de Pellegrini (1993),

pareceu não existir nenhuma corrente mais coesa da literatura definindo ou sugerindo novas áreas

de atuação do banco no período vindouro – somente para as décadas posteriores foi possível

detectar um novo padrão de atuação que, ainda que de forma indireta e discreta, passou a ser

criticada nos trabalhos de Hermann (2002) e (2010).

63 O trabalho de Pinto, de Paula e Salles (2007) também discutiu, ainda que superficialmente, a atuação do

BNDES no sistema financeiro brasileiro – em particular, o trabalho apresentou propostas de atuação do

banco quanto à provisão de financiamento para as micro, pequenas e médias empresas. 64 A existência dos contratos com correção monetária parcial também foi mencionada na tese de Doutorado

de Correa (1995). 65 Proporcionalmente ao seu respectivo PIB.

Page 63: Levantamento e avaliação da literatura econômica sobre o BNDES · mapear e analisar a literatura econômica existente sobre o Banco Nacional de Desenvolvimento ... do conjunto

63

Conforme já mencionado anteriormente, notou-se o aparente foco limitado da literatura

sobre a atuação social do banco, ainda que a atuação nesta área tenha sido incorporada às suas

funções justamente no início desta década. Em termos metodológicos, notou-se também que a

maior parte dos estudos analisados apresentou perfil descritivo/narrativo e, ainda que explorem

estatísticas referentes aos desembolsos do banco pouco fazem uso mais amplo de dados (como

Najberg), observou-se a ausência de estudos que envolvam métodos estatísticos mais rigorosos

(estimações econométricas, por exemplo), diferentemente dos estudos que passam a ser

desenvolvidos nos anos 90 e, em particular, nos anos 2000, como veremos a seguir.

1990 a 2002

Do início da década de 1990 até 2002, a economia e a sociedade brasileira passaram por

mudanças profundas. Inaugurava-se um período de intensas inflexões no campo institucional,

econômico e político, durante o qual se assistiria à hegemonia das ideias liberais, a alterações

significativas no modelo de desenvolvimento econômico, à contenção da inflação – depois de

diversos fracassos notáveis -, a crises no balanço de pagamentos e a volta ao Fundo Monetário

Internacional – em duas ocasiões. Nesse período, consolidaram-se de forma ampla e definitiva

dois processos que se iniciaram de forma tímida na década anterior: a abertura comercial e a

privatização. Foi ainda no início do período que se deu início à abertura financeira, assegurando-

se maior liberdade à entrada e saída de capitais do país. A maior inserção do Brasil nos fluxos de

comércio e de capitais internacionais, associada à redução do papel do Estado na economia,

rompendo-se com dois dos principais pilares do modelo de substituição de importações,

condicionou de forma totalmente diversa o desempenho da economia brasileira nos anos

subsequentes.

Foi neste contexto de redefinição do grau de inserção do Brasil na economia mundial e

do papel do Estado na economia que se inseriu a nova forma de atuação do BNDES. Em

consentâneo com esta experiência e com a alteração radical da perspectiva que os novos dirigentes

do país apresentaram em relação ao papel do Estado na economia nos anos 1990, o BNDES

assumiu, agora, uma função diversa de seu papel até a primeira metade da década de 1980. O

banco, que desde seu nascimento até os anos 1980, teve um papel fundamental na capitalização e

na consolidação do setor público estatal, passou a ser o gestor do processo de privatização,

oficializado como política de Estado no início do período e mantido posteriormente. Conforme

apontado por Cavalcante (2004) em sua análise das diversas formas de atuação do BNDES entre

1952 e 200266, o banco moldou seus objetivos e sua forma de atuação de acordo com o contexto

econômico e as exigências daí decorrentes em cada período histórico.

Esta constatação acerca da mudança do papel do BNDES e suas implicações apareceram

de forma extensa na bibliografia relativamente ao banco quando referida à última década do

século XX, apresentando, no entanto, algumas diferenças e nuances importantes, como veremos

adiante, notadamente no que diz respeito à maior ou menor autonomia e iniciativa detida pelo

banco nessa transformação e acerca de seu papel no processo de privatização. Intimamente

relacionada a esta discussão cabe mencionar também as críticas associadas à adesão do banco às

normas dos Acordos de Basiléia67 , assim como à utilização de critérios de mercado para a

66 O autor propôs, em sua análise da história do BNDES, uma periodização um pouco distinta da que é

comumente utilizada por outros autores: 1952-79, 1980-1993 e 1994-2002. 67 O Acordo de Basiléia I foi firmado em 1988, por mais de cem países e teve como principal propósito

prevenir ou pelo menos mitigar as crises financeiras, mediante a exigência de porcentuais mínimos de

capital próprio das instituições financeiras, visando reduzir o risco de crédito. Dentro do mesmo espírito,

Page 64: Levantamento e avaliação da literatura econômica sobre o BNDES · mapear e analisar a literatura econômica existente sobre o Banco Nacional de Desenvolvimento ... do conjunto

64

concessão de empréstimos. Um outro conjunto de estudos examinados na sequência diziam

respeito aos principais setores atendidos pelo banco, sobretudo infraestrutura, exportação e

agropecuária. Por fim, notou-se que, paralelamente à maior diversificação dos setores e áreas de

atuação do BNDES, observou-se por parte dos autores que se preocuparam em estudá-lo –

particularmente os pesquisadores ligados ao próprio banco – um interesse em avaliar sua

contribuição para o equacionamento de alguns problemas econômicos e sociais: desemprego,

produtividade, concentração regional e desenvolvimento tecnológico. Assim, no final desta seção,

de serão tecidos alguns comentários sobre tais estudos.

Como visto antes na análise bibliométrica, houve uma expansão significativa dos

trabalhos na década de 1990. Desses trabalhos, cerca de um terço (34,5%) foi produzido pelo

próprio BNDES, porcentual superior ao da década anterior. É importante notar que metade do

total são artigos e pouco mais de um quinto (21,4%) são capítulos de livros, as teses e dissertações

de pós-graduação perfizeram 12,7% das publicações e o restante referem-se a “outros tipos de

produção bibliográfica” e livros.

O quadro 4 abaixo permite obter uma visão de conjunto dos principais temas e trabalhos

acadêmicos selecionados para a análise qualitativa referente ao período 1990-2002.

Quadro 4 - Principais textos selecionados para leitura do período 1990-2002

Temas Subtemas Literatura Principal

Novo papel do BNDES nos

anos 1990

A partir dos anos 1990, em

vista do novo papel do Estado

na economia, quais as novas

funções que deveriam caber

ao banco

BONELLI e PINHEIRO,

1994 (17); PRATES,

CINTRA e FREITAS, 2000

(14); CURRALERO, 1998

(17); TORRES FILHO, 2007

(14); CAVALCANTE, 2004

(1); HERMANN, 2010 (3);

DINIZ, 2004 (3); LIMA, 2007

(2); GUTH, 2006 (5)

Privatizações

BNDES como agente "neutro"

e eficiente na gestão do

processo de privatização

VELASCO JR., 1997 (16);

PINHEIRO e GIAMBIAGI,

1992 (10), 1994 (11) e 1997

(10); MELLO, 1992 (12);

ALÉM, 1998 (12); ANUATTI

NETO et al., 2003 (3);

BERNARDINO, 2005 (6)

Perspectiva crítica

Perspectiva negativa sobre a

privatização e sobre a forma

de atuação do BNDES

DINIZ, 2004 (2); BIONDI,

2003 (6)

Papel ativo do BNDES

Mudanças no papel do

BNDES foram, em grande

parte, instigadas pelas

discussões dentro do próprio

banco

MOURÃO, 1994 (12);

DINIZ, 2004 (2); VELASCO

JÚNIOR, 1997 (16)

aperfeiçoamentos e imposições mais estritas foram estabelecidas nos Acordos de Basiléia II e III,

concluídos em 2004 e 2010, respectivamente.

Page 65: Levantamento e avaliação da literatura econômica sobre o BNDES · mapear e analisar a literatura econômica existente sobre o Banco Nacional de Desenvolvimento ... do conjunto

65

Acordos de Basiléia Impactos desses acordos sobre

a atuação do BNDES

PRADO e MONTEIRO

FILHA, 2005 (10); GUTH,

2006 (5); SOBREIRA e

MARTINS, 2011 (2)

Estímulo às exportações:

BNDES-exim

Análise do papel do BNDES

na promoção de exportações

durante os governos FHC

ALÉM, 1998 (12); PRATES,

CINTRA e FREITAS, 2000

(14); CATERMOL, 2005 (8)

Agropecuária

Atuação no financiamento ao

setor primário, compensando,

em parte a redução dos

recursos do Sistema Nacional

de Crédito Rural

FAVERET FILHO et al.,

2001 (1)

Importância do BNDES

para a FBKF

O BNDES e sua importância

para a taxa de investimento da

economia

PLATTEK, 2001 (5)

Impacto sobre a

produtividade das empresas

Empréstimos do BNDES

tiveram papel positivo ou

negativo sobre a

produtividade das empresas

OTTAVIANO e SOUSA,

2008 (6); SOUSA, 2010 (2)

Desconcentração de renda

regional

Atuação do banco na

minimização das

desigualdades regionais

SOUSA, 2003 (4)

Impacto sobre o emprego Atuação do banco na geração

de postos de trabalho

ALÉM, 1998 (12); PEREIRA,

2007 (7)

Fonte: Elaboração própria, com base nos dados da pesquisa. O algarismo entre parênteses refere-se ao número de

citações recebidas pelo estudo.

Destacou-se, em primeiro lugar, a ampliação expressiva do número de temas tratados na

literatura especializada, o que, por certo, encontra-se diretamente relacionado à abertura do leque

de atuação do BNDES, impondo-se ao próprio banco e pleiteando-se dele um conjunto de

preocupações bem mais abrangente do que nas décadas anteriores. O outro destaque referiu-se ao

número significativo de citações recebidas por alguns autores em particular, evidenciando o papel

proeminente exercido por determinados autores e estudos no debate sobre o banco nesse período.

A questão mais ampla acerca da mudança na forma de atuação do BNDES dizia respeito

a sua posição no sistema financeiro brasileiro no novo contexto marcado pela hegemonia das

ideias liberais. Para alguns autores como Bonelli e Pinheiro (1994), Prates, Cintra e Freitas (2000),

Diniz (2004) e Guth (2006) – estes dois últimos numa perspectiva bem mais crítica, como se

detalhou a seguir – a íntima conexão do banco com o modelo pretérito de desenvolvimento, no

âmbito do qual desempenhou seu importante papel de forma competente, não implicou em

qualquer empecilho para que ele continuasse a atuar de forma relevante nos "tempos liberais",

como principal articulador e financiador de grandes projetos de investimento, cabendo destaque

aos financiamentos dos projetos de infraestrutura. O estudo de Hermann (2010) reforçou tal linha

de argumentação. Ao analisar o papel do BNDES durante o período de liberalização financeira, a

autora constatou, a partir de uma análise ampla e consistente da evolução do padrão de

financiamento da economia brasileira desde os anos 1960, que, ao contrário do que a princípio

poderia se pensar, houve uma reação modesta dos mercados de crédito e de capital privados entre

1990 e 2006, ao mesmo tempo em que ocorreu uma ampliação da participação relativa do banco

Page 66: Levantamento e avaliação da literatura econômica sobre o BNDES · mapear e analisar a literatura econômica existente sobre o Banco Nacional de Desenvolvimento ... do conjunto

66

no mercado de crédito nacional e no tocante à formação bruta de capital fixo68. Outra linha de

análise sobre a atuação do BNDES nos anos 1990 foi encontrada em Guth (2006), o qual se

referindo de forma mais ampla à atuação do papel do BNDES ressaltou que, nos anos 90, o

BNDES afastou-se de seu papel de banco de desenvolvimento na medida em que passou a

priorizar o lucro e a redução de riscos em detrimento dos benefícios socioeconômicos que eram

priorizados anteriormente. Com isso, o banco deixou de financiar importantes setores sub-

atendidos pelo setor privado: infraestrutura, P&D e nova e pequenas empresas69. Ainda que de

forma não tão veemente, Lima (2007) caminhou em sentido semelhante ao adotar uma postura

crítica quanto às alterações sofridas nos anos 1990, quando o banco deixa de priorizar os objetivos

iniciais da instituição.

Uma linha de crítica correlata a esta diz respeito à inadequação do BNDES se ver

subordinado às regras dos Acordos de Basiléia, tendo em vista as limitações que este tipo de

instituição financeira se vê submetida – comprometendo seu objetivo de promoção do

desenvolvimento econômico – sem que ela esteja relacionada ao risco de provocar qualquer crise

sistêmica, que é o intuito principal dos Acordos. Este tipo de argumentação foi encontrada em

autores como Prado e Monteiro Filha (2005) e Guth (2006). Já Sobreira e Martins (2011)

apresentaram uma visão diferenciada, ao mostrarem que a adoção das regras dos Acordos de

Basiléia por parte do BNDES teve pouco impacto sobre suas operações (medidas pelo volume de

desembolsos e pela ampliação da rede influência do banco), não o impedindo de executar suas

funções de forma ampliada e satisfatória no período 1998-201070.

É curioso que em relação ao tema da privatização, tão estudado para esse período, pouco

tenha sido dito sobre a atuação do BNDES. A maioria dos estudos sobre a privatização procurou

descrever, apenas, esse processo em si, sem examinar o papel do banco. Ou seja, escapou ao foco

analítico dos estudiosos a preocupação com a avaliação de como o BNDES atuou na privatização,

tomando-o, basicamente, como um agente dotado de competência técnica, mas neutro no

processo. Típico desta abordagem, dentre os mais citados, estiveram os trabalhos de Velasco Jr.

(1997), Mello (1992), Anuatti-Neto et al. (2003) e Pinheiro e Giambiagi (1992, 1994; 199771). Os

trabalhos de Pinheiro e Giambiagi, minuciosos e bem fundamentados empiricamente, ainda

procuraram apresentar uma série de dados com o objetivo de caracterizar o processo de

privatizações no período. No entanto, os documentos não fizeram uma avaliação do papel do

BNDES neste processo, a referência limitou-se a apresentar o banco como gestor do Programa

Nacional de Desestatização (PND). Adicionalmente, os autores argumentaram que uma

68 Segundo seus cálculos, os desembolsos do BNDES em relação ao saldo total de crédito do sistema

financeiro brasileiro evoluíram de cerca de 3% entre 1989/94 para 5% entre 1995/98, chegando a 8% no

período 1999-2006. Já o crescimento da participação relativa dos desembolsos do BNDES na formação

bruta de capital fixo ampliou-se de forma mais significativa, de 3,1% em 1989 para 13,3% entre 2004/06.

(HERMANN, 2010, p. 204). 69 Relativamente a este ponto cabe destacar o estudo de Pinto (s/d), o qual procurou apresentar e discutir o

Programa de Capitalização de Empresas de Base Tecnológica (Contec), do BNDES, voltado para o

financiamento de capital de risco para pequenas e médias empresas de base tecnológica. A autora concluiu

que conquanto tenha tido um impacto reduzido em termos do desenvolvimento tecnológico na economia

brasileira, permitiu uma efetiva elevação no faturamento, investimento e geração de empregos nas empresas

que receberam recursos do banco. 70 Ao contrário do que ocorreu com outra instituição financeira pública analisada, o Banco do Nordeste do

Brasil (BNB), cuja submissão às regras dos Acordos de Basiléia implicou em “profunda reestruturação de

sua estratégia operacional”, tendo “sua capacidade emprestadora substancialmente reduzida, o que

prejudicou imensamente o exercício de suas funções” nos anos imediatamente posteriores à implementação

das normas (SOBREIRA e MARTINS, 2011, p. 372). 71 Pinheiro e Giambiagi (1997) realizaram basicamente uma releitura e atualização dos argumentos

apresentados pelos mesmos autores no trabalho anterior.

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67

importante contribuição do BNDES no PND foi manter o alto nível de transparência do processo

de venda das empresas estatais, mas sem analisar especificamente como ele teria desempenhado

seu papel (PINHEIRO E GIAMBIAGI, 1992). Da mesma forma, o trabalho de Anuatti-Neto et

al. (2003) propuseram a avaliar o processo de privatização ocorrido no Brasil entre 1991 e 2000

no que diz respeito ao aumento de eficiência da economia. No entanto, a atuação do BNDES no

processo não foi avaliada. Já em Bernardino (2005) verificou-se uma postura semelhante aos

outros trabalhos já analisados nos períodos anteriores: procuram demonstrar de forma acrítica a

evolução e a importância do banco para o país, incluindo-se sua competência na gestão do

processo de privatização. Nesse sentido, trabalhos como o de Diniz (2004) constituem-se em

exceção. Em sua dissertação de mestrado, a qual procura mesclar narrativa histórica e análise de

documentos do próprio banco, a autora apresentou uma visão bastante negativa sobre a

participação do banco na privatização: fazendo menção aos escândalos de 1998/99, à reduzida

importância da função social do Banco, acusando-o de “manipular a opinião pública a favor da

venda das estatais” (DINIZ, 2004, p. 107) e criticou os valores despendidos com as consultorias

e auditorias contratadas por altos valores para a concretização do processo de privatização. Mas

quando se trata de apreciações desfavoráveis ao processo de privatização e à forma de atuação do

BNDES nesse processo, dificilmente algum trabalho irá superar o livro de Aloysio Biondi (2003).

Utilizando dados, estudos e declarações de dirigentes do BNDES, o autor avalia de forma bastante

desfavorável à condução do processo. A principal crítica à atuação do BNDES referiu-se à oferta

de créditos em condições privilegiadas para as empresas participantes do processo de privatização

– todas elas de grande porte e várias multinacionais –, tanto para a própria compra das empresas

quanto para os investimentos posteriores, isentando-as da necessidade de aporte de recursos

próprios, ao mesmo tempo em que “a própria concentração dos empréstimos do BNDES a esses

‘compradores’ implicou, na prática, em que as demais áreas e centenas de milhares de empresas

continuassem às voltas com a falta de crédito” (BIONDI, 2003, p. 28).

Outra vertente desta discussão, ainda relacionada ao tema da privatização e da mudança

do papel do BNDES na economia brasileira, relacionou o papel de participante ativo ou passivo

do BNDES na definição desta nova forma de atuação. A grande maioria dos autores, como os

acima citados, considerou que o banco tão somente implementou as políticas do governo,

seguindo as orientações emanadas dos centros de decisão superiores. Todavia, outros textos –

principalmente de técnicos do BNDES, como, por exemplo, Mourão (1994) – procuraram realçar

o papel de protagonista exercido pelo banco na definição da estratégia de privatização. Nesta

mesma linha, Fernandez (2006) afirmou que o BNDES, como uma das instituições centrais do

Estado brasileiro, desempenhou papel proeminente na definição dos novos rumos da economia

brasileira a partir do final dos anos 1980. A autora atribuiu ao banco grande poder antecipatório

e de influência sobre as políticas públicas mais amplas, chamando a atenção para a

recorrente capacidade [do BNDES] de se antecipar aos programas

governamentais, que posteriormente entraram para a agenda do país e

foram colocados em prática, assim como seu papel fundamental na

concretização destas políticas (FERNANDEZ, 2006, p. 3).

Exemplo maior citado pela autora foi a estratégia da “Integração Competitiva” elaborada

pelo BNDES, “independentemente do Governo Federal” nos anos 1980 e que se constituiu na

pedra de toque dos governos subsequentes dos anos 1990. Diniz (2004) também argumentou na

mesma direção: o banco, ao abandonar a função de financiar o desenvolvimento econômico

brasileiro e passar a priorizar as estratégias de matriz liberal ao longo dos anos 80 e 90, e assumir

o papel de gestor do processo de privatização, não o fez de forma totalmente condicionada. A

postura de seus técnicos nessas transformações não foi passiva e sim de colaboração ativa em

todos os momentos. Um dos trabalhos mais citados nesse período, de Velasco Júnior (1997),

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também argumentou na mesma direção. Neste estudo, que se constitui como referência essencial

para entender o processo de privatização ocorrido na primeira metade dos anos 1990, em virtude

da qualidade de sua análise, o autor atribuiu um papel decisivo ao BNDES na definição do

programa de privatização, num momento no qual “não havia um consenso na sociedade

brasileira, no período do governo Sarney, sobre uma mudança do papel desenvolvimentista do

Estado” (VELASCO Jr., 1997, p. 9). Desta forma, “pode-se dizer que as privatizações foram

condicionadas pela ação auto-interessada de uma agência governamental específica, a qual

definiu e implementou estrategicamente uma política pública” (Ibidem, p. 9-18).

Tal papel do banco foi importante para que a ele fosse atribuída função primordial na

privatização ocorrida nos anos 1990. Todavia, observou-se, na sequência da argumentação de

Velasco Júnior, que, uma vez que o processo de privatização alcançou consenso político nos

governos do início dos anos 1990, o papel do BNDES, doravante, praticamente “desapareceu” de

sua análise. Ou seja, depreendeu-se da análise do autor que, ao papel ativo que o banco teve nos

anos 80 como “ponta de lança” da proposta de privatização, seguindo, na década seguinte, função

passiva de mero executor das políticas definidas pelo executivo federal.

Além da privatização, o BNDES exerceu papel relevante no provimento dos recursos

necessários para a realização de parte expressiva dos investimentos das empresas agora

privatizadas, retomando, agora por outras vias, seu papel como financiador do setor de

infraestrutura. De fato, o BNDES, a despeito de todas as profundas mudanças em curso,

permaneceu como o principal e quase exclusivo agente financiador de longo prazo na economia

brasileira. A esperança que se alimentava de que com a abertura financeira constituir-se-iam

linhas de financiamento de longo prazo não se concretizou (PRATES, CINTRA e FREITAS,

2000; HERMANN, 2010). Não deixa de ser interessante observar, como fez Fernandez:

Que o BNDES [...] poderia, tal como aconteceu com várias

empresas estatais, ter sido privatizado ou extinto. Contudo, não só isso

não ocorreu, como ele tornou-se peça fundamental na concretização

das medidas liberalizantes, implementadas no Brasil na década de 90.

(FERNANDEZ, 2006, p. 4).

Nesse sentido, uma observação constante na literatura em geral diz respeito à necessidade

de intervenção estatal no setor de infraestrutura, em vista dos grandes hiatos entre as taxas de

retorno privada e social. Trabalhos como o de Bonelli e Pinheiro (1994) caminharam nessa

direção ao se proporem a examinar os problemas de infraestrutura e de financiamento do setor,

destacando o papel do BNDES. A partir da apresentação dos dados de investimento, desembolsos

e concessões de empréstimos do sistema BNDES eles concluíram que o papel do banco

continuava relevante no novo contexto econômico. No tocante ao financiamento da área de

infraestrutura caberia, segundo Garcia (1996), outro papel importante ao BNDES. De acordo com

o autor o project finance surgiu, como uma alternativa de viabilizar os investimentos em

infraestrutura, sem incorrer no problema do déficit público ou externo. No que se referiu à

participação do BNDES, Garcia (1996, p. 15) destacou que o banco é “claramente a instituição

que melhores condições têm no país de analisar projetos de infraestrutura, atestando a

viabilidade econômica e financeira, identificando riscos envolvidos e classificando os diversos

projetos”.

Conforme comentado sumariamente no início deste tópico, um dos mais graves

problemas vividos pela economia brasileira na segunda metade da década de 1990 foram as crises

cambiais, em grande parte relacionadas ao ressurgimento, depois de mais de uma década de saldos

positivos, de déficits na balança comercial, os quais agravaram sobremaneira o déficit em conta

corrente. Assim, uma das preocupações fundamentais das autoridades econômicas passou a ser a

amenização desses saldos negativos, principalmente tendo em vista o quadro de aguda

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instabilidade da economia mundial nesse período. O BNDES foi “recrutado” para colaborar neste

esforço, buscando incrementar a capacidade competitiva das empresas brasileiras voltadas para o

segmento externo mediante o provimento de condições mais favoráveis de pagamento dos

compradores internacionais. A avaliação geral do papel do BNDES no estímulo às exportações,

por meio do BNDES-exim, foi bastante positiva, como em Além (1998) e mesmo em Prates,

Cintra e Freitas (2000), embora estes autores ressalvem que os benefícios desse programa se

concentraram em empresas de grande porte, crítica essa que foi atenuada ao se observar que isto

ocorreu a despeito dos esforços do banco em ampliar o leque de empresas exportadoras. No

entanto, a partir de uma análise mais minuciosa e utilizando uma base empírica mais ampla,

Catermol (2005) examinou a evolução e o papel desempenhado pelas linhas de financiamento às

exportações do BNDES desde a sua criação, em 1990, até 2005. Neste estudo, a relevância maior

dos desembolsos do BNDES-exim evidenciava-se por se destinarem, em sua maior parte, ao

financiamento das exportações de bens manufaturados de maior valor agregado, sobretudo bens

de capital de alto conteúdo tecnológico, com destaque para o setor de aeronaves72. A partir de

1997, e com maior ênfase de 2003 em diante, ampliou-se o financiamento de exportações de bens

e serviços brasileiros para projetos de engenharia e construção em países da América Latina.

O grande aumento da participação do banco em prover recursos para o financiamento de

investimentos na agropecuária também chamou a atenção dos estudiosos. Faveret Filho,

Grigorovski, Lima e Paula (2001), com base em uma ampla base de dados, argumentaram que a

grande importância dos recursos do BNDES para este fim, nos anos 1990, foram um contraponto

à expressiva redução da oferta de crédito provido pelo Sistema Nacional de Crédito Rural

(SNCR). Em valores constantes, os desembolsos do BNDES para o setor agropecuário

expandiram-se de R$ 206 milhões para R$ 1.343 milhões entre 1990 e 1999, cabendo destaque

ao incremento observado entre 1990 e 1994, em virtude da criação do Programa Finame Agrícola.

O artigo apresentou, em termos gerais, uma perspectiva bastante positiva sobre a atuação do

BNDES no crédito rural, ressaltando não só o significativo volume de desembolsos para o setor

quanto os diversos programas criados pelo Banco 73 . No entanto, também não deixaram de

ressaltar pelo menos um aspecto negativo que corresponde ao impacto desfavorável sobre o

crédito agrícola da adoção das novas regras associadas à adesão do Brasil ao Acordo da Basiléia.

Todavia, o rol de problemas vivenciados pela economia brasileira era muito mais amplo,

não se restringindo à crise cambial. Questões como a reduzida taxa de investimento, a necessidade

de aumento da produtividade e o elevado nível de desemprego então vigente condicionaram

também a elaboração de estudos voltados para avaliar a participação do BNDES na amenização

desses problemas. Tais estudos, alicerçados em ampla base de dados, permitiram lançar luz sobre

tais aspectos importantes da atuação do BNDES nos anos 1990. Visando tal objetivo, destacaram-

se os estudos de Plattek (2001), Ottaviano e Sousa (2008), Sousa (2010) e Pereira (2007). Plattek

(2001) propôs a avaliar a importância dos desembolsos do BNDES para a formação bruta de

capital fixo da economia brasileira nos anos 1990, concluindo que os desembolsos do BNDES

como proporção da FBCF ampliaram-se nos anos 90, de 3,3% para 5,9%. Entre 1991 e 1996

permaneceu relativamente constante, em torno de 4,3%, ampliando-se em 1997 e 1998, quando

alcançou 6,3% para recuar em 1999 (5,9%).

Enquanto a maioria dos estudos procurou entender as condições que influenciaram a

atuação do BNDES, alguns estudos buscaram medir o impacto das atividades do BNDES na

produtividade empresarial. O estudo de Ottaviano e Sousa (2008), voltado à análise da relação

72 O caso da Embraer foi citado como um exemplo paradigmático de como o apoio do BNDES à

comercialização revelou-se fundamental para a inserção internacional e ampliação das vendas externas da

empresa. 73 Em abril de 2000, estavam em operação 20 programas especiais para o setor agroindustrial (p. 80).

Page 70: Levantamento e avaliação da literatura econômica sobre o BNDES · mapear e analisar a literatura econômica existente sobre o Banco Nacional de Desenvolvimento ... do conjunto

70

entre as atividades do BNDES e a produtividade das empresas brasileiras chegou a resultados não

triviais, ao apontar um impacto negativo para os projetos menores e positivo para os maiores.

Foram estimadas diversas especificações de modelos econométricos com variáveis de controle

distintas e um modelo de Propensity Score Matching (PSM), esse último permitiu que as empresas

beneficiárias fossem comparadas às empresas não beneficiarias a elas idênticas. Cabe ressaltar,

que o trabalho apresentou uma descrição detalhada dos diferentes procedimentos utilizados, e

diferiu dos trabalhos até então mencionados por dar uma caráter testável as afirmativas associadas

a importância do banco.

Com base nestes resultados, os autores concluíram que os

empréstimos concedidos via BNDES automático foram utilizados para

implementar projetos de relativa baixa qualidade, baseados em

tecnologias velhas. Contudo, os empréstimos concedidos via Finem

foram aplicados para implementar projetos de melhor qualidade,

baseados em tecnologias novas” (OTTAVIANO e SOUSA, 2008, p.

380).

Sousa (2010), com o mesmo objetivo, mas utilizando metodologia distinta de Ottaviano

e Sousa (2008) – com o qual dialoga–, procurou chamar a atenção para os efeitos do

financiamento do BNDES na redução dos diferentes custos de implementação (custos de P&D

para desenvolvimento de novos produtos e custos fixos de produção) e seus impactos sobre a

produtividade da economia. Os dados empíricos coletados, abrangendo o período 1996-2003,

baseiam-se numa amostra de mais de 2.200 empresas que receberam financiamento do BNDES

comparativamente a cerca de 15.000 que não foram beneficiadas. O resultado do teste

econométrico realizado pelo autor evidenciou que

não há sinais de qualquer impacto sobre a produtividade das empresas,

visto que não há parâmetro sequer que seja significativamente

diferente de zero. Portanto, não é possível rejeitar a hipótese de que os

financiamentos do BNDES não tenham qualquer impacto, positivo ou

negativo, na produtividade das empresas” (SOUSA, 2010, p. 30-31).

Outros estudos buscaram avaliar o impacto do BNDES sobre algumas variáveis

econômicas importantes. Um, de Sousa (2003), buscou mensurar a atuação do BNDES na

desconcentração de renda regional. Texto extremamente técnico e minucioso, esse procurou

medir não só o impacto dos empréstimos do BNDES entre os estados, mas também setorialmente.

Sua conclusão foi que “o BNDES teve uma política eficaz do ponto de vista regional para a

indústria de transformação, pois a maior parte dos setores foi influenciada positivamente por sua

estratégia de fomento entre 1985 e 1996/97” (SOUSA, 2003, p. 18). Outra pesquisa, realizada

por Pereira (2007), buscou avaliar os efeitos dos aportes de recursos do BNDES sobre o emprego

nas empresas financiadas. De maneira geral os resultados indicaram que as empresas apoiadas

pelo BNDES geraram, ao longo do tempo, mais empregos do que as não apoiadas, se comparados

grupos com perfil de portes semelhantes. O autor também destacou o caráter anticíclico do efeito

do aporte do BNDES, uma vez que no ano de 2003 (ano de baixo crescimento) ocorreu uma

evolução positiva no emprego nas empresas apoiadas.

De forma sumária, podemos dizer que as novas condições nas quais o BNDES passou a

atuar nos anos 1990 condicionaram fortemente seu desempenho e receberam maior atenção por

parte dos pesquisadores nos estudos realizados sobre esta década. Tais estudos envolveram, de

um lado, a análise da manutenção de sua principal função na economia brasileira desde a sua

criação nos anos 1950 – principal provedor de financiamento de longo prazo, notadamente para

os investimentos em infraestrutura – e, de outro, a agregação de outras responsabilidades ao

Banco que no passado inexistiam ou tinham menor importância como o gerenciamento do

Page 71: Levantamento e avaliação da literatura econômica sobre o BNDES · mapear e analisar a literatura econômica existente sobre o Banco Nacional de Desenvolvimento ... do conjunto

71

programa de privatizações, o estímulo às exportações, o incremento da produtividade e o

financiamento às pequenas e médias empresas de base tecnológica. Uma dessas novas

responsabilidades que recebeu maior atenção da bibliografia diz respeito ao papel do BNDES

como gestor do processo de processo de privatização. Outra constatação importante relacionou-

se ao esforço realizado por alguns autores para avaliar o desempenho do BNDES em relação a

alguns objetivos específicos como aumento da produtividade, do emprego, do investimento e

desconcentração regional. Tais temas refletiram o conjunto mais amplo de “cobranças” que a

sociedade passou a ter em relação ao BNDES, deixando de considerá-lo apenas como um agente

financeiro de longo prazo, atribuindo-lhe responsabilidades bem mais amplas.

Quando se considerou de forma crítica a literatura acadêmica sobre o BNDES nos anos

1990 ressaltou-se, em primeiro lugar, o número reduzido de trabalhos que se deteve

especificamente ao papel do banco no processo de privatização. Embora esse tema aparecesse

com maior frequência entre todos os temas analisados no período e se fizesse menção ao BNDES

como gestor do processo, houve muito pouca análise sobre o desempenho efetivo dessa instituição

na privatização. Por fim, cabe apontar outra lacuna significativa na literatura sobre o banco

relacionada à ausência de uma reflexão mais profunda sobre a atuação do BNDES na área social,

embora esse objetivo conste de forma permanente quando consultados os documentos da

instituição. Apesar da expansão das áreas de atuação do banco e das avaliações da literatura, tal

tendência continuou a ocorrer no período seguinte, decorrente talvez da própria necessidade de

atender as demandas mais amplas da sociedade.

Outro aspecto relevante a ser destacado relativamente à literatura referente ao período

aqui delimitado diz respeito à nítida predominância de trabalhos empíricos, lastreados em

extensivo levantamento de dados quantitativos, visando avaliar a atuação do banco nas áreas

específicas acima mencionadas. Em menor proporção, podemos identificar estudos que

privilegiam a narrativa histórica e também, nos anos finais de nosso interregno, de alguns

trabalhos econométricos, em compasso com a evolução expressiva do conhecimento na área de

métodos quantitativos e com as facilidades propiciadas pelo avanço da informática.

2002 a 2013

O período de 2002 a 2013 dividiu-se entre o período de bonança da economia mundial

que se estendeu de 2003 até o estouro da crise em 2008 e o período pós-crise no qual o país ainda

se encontra.

O primeiro período caracterizou-se, principalmente, pela consolidação do processo de

estabilização na economia brasileira. Do ponto de vista da gestão macroeconômica mantiveram-

se o tripé de metas de inflação, superávit primário e taxa de câmbio flutuante; mas algumas

diferenças em relação ao governo anterior devem ser destacadas como a realização de algumas

reformas microeconômicas, com destaque para aquelas que ampliaram as garantias e segurança

no sistema financeiro como a lei de falências, o crédito consignado, entre outras. Verificou-se

também maior eficácia das políticas sociais consolidadas no programa Bolsa Família e políticas

educacionais que ampliaram o acesso à educação, com destaque para o ensino superior; além de

políticas que estimularam e facilitaram a formalização de empresas e emprego e as parcerias

público-privadas. Este conjunto de medidas contribuiu para uma ligeira retomada do crescimento,

redução das taxas de desemprego, melhoria na distribuição de renda, ampliação significativa nas

Page 72: Levantamento e avaliação da literatura econômica sobre o BNDES · mapear e analisar a literatura econômica existente sobre o Banco Nacional de Desenvolvimento ... do conjunto

72

operações de crédito da economia74 e fortalecimento do mercado de capitais, o que se constatou

pelo volume crescente de emissões primárias de ações e debêntures.

A eclosão da crise mundial em 2008 reverteu a elevação das taxas de crescimento

econômico no Brasil assim como a participação do mercado de capitais e do crédito privado como

fonte de financiamento do investimento. A política econômica sofreu uma ruptura e o objetivo

central passou a ser a reação à crise com a utilização de todos os instrumentos disponíveis: redução

de impostos, ampliação de gastos públicos, estímulos ao investimento e consumo; expansão do

crédito pelos bancos públicos, reduções significativas das taxas de juros, entre outros.

Até o ano de 2008, a maior aproximação do mercado privado de capitais ao financiamento

de longo prazo permitiu a retração na participação do BNDES nas operações totais de crédito da

economia. No entanto, já em 2007, conforme destacado por Oliva e Zendron (2010), o

financiamento e o apoio à estruturação de projetos no PAC (Programa de Aceleração do

Crescimento) e no PDP (Programa de Desenvolvimento Produtivo) passaram a fazer parte das

políticas operacionais do BNDES que passou a ser o ator central da política de desenvolvimento

e sustentação do investimento no país. A crise financeira mundial de 2008 colocou em destaque

o papel anticíclico do banco e seu esforço para sustentar as taxas de investimento e crescimento

em um contexto de retração das fontes externas, do mercado de capitais e da disposição dos

bancos privados em continuarem a expansão do crédito. As dimensões do banco se ampliaram e

este se tornou um dos maiores bancos de desenvolvimento do mundo, o que requer uma definição

de fontes de recursos adequadas para sustentar a sua atuação.

Dentro desse contexto, destacaram-se as principais questões de pesquisa que têm sido

levantadas e discutidas na literatura econômica no período em questão 75 . No plano teórico

prevaleceu o questionamento ao papel dos bancos de desenvolvimento, em geral, e do BNDES

em particular. Essa discussão é, em maior ou menor grau, evidente nos diversos trabalhos mais

citados na análise bibliométrica que apresentaram desde questões relacionadas ao funding do

BNDES e a capacidade de expansão do crédito por meio de fontes como o FAT ou outros recursos

de fundos federais até uma perspectiva mais radical de questionamento da própria necessidade de

um banco de desenvolvimento nos moldes do BNDES. No âmbito dos trabalhos empíricos, como

resultado dos avanços computacionais e disponibilização de maiores bases de dados, foi evidente

a preocupação dos pesquisadores em avaliar os possíveis efeitos da atuação do BNDES, via

financiamento ou participação como acionista minoritário, em variáveis como emprego formal,

produtividade da economia e desempenho das empresas. E, por fim, vale destacar que diversos

trabalhos buscaram subsidiar a própria atuação do banco, sendo a questão do apoio do BNDES à

internacionalização das empresas brasileiras tema de significativa repercussão no período

considerado. O quadro 5 apresenta esse de conjunto de temas e trabalhos acadêmicos, que foram

os principais selecionados para a análise qualitativa referente ao período 2002-201376.

74 Mantega (2005) caracterizou esse novo ciclo de desenvolvimento como um processo de transformação

estrutural baseado no aumento da demanda e da oferta agregada, no progresso técnico e na diversificação

das exportações. 75 Nesse período, os artigos continuaram a ser mais representativos (42,6%), porém os capítulos de livros

ganharam maior importância relativa (33,0%). 76 O algarismo entre parênteses refere-se ao número de citações recebidas pelo estudo.

Page 73: Levantamento e avaliação da literatura econômica sobre o BNDES · mapear e analisar a literatura econômica existente sobre o Banco Nacional de Desenvolvimento ... do conjunto

73

Quadro 5 - Principais textos selecionados para leitura do período 2002-2013

Temas Subtemas Literatura Principal

O papel dos Bancos de

Desenvolvimento

Bancos públicos e os de

desenvolvimento inibem o

desenvolvimento do

mercado financeiro

PINHEIRO, 2006 (5)

Falta de transparência e de

competição favorece a

influência de fatores

políticos

ARIDA, 2005 (2);

PINHEIRO, 2006 (5)

Redução das incertezas,

mercado financeiro privado

tenderia a crescer e eliminar

as justificativas para

existência dos bancos

públicos

BACHA, 2007 (3)

O crédito direcionado pelo

BNDES é complementar ao

mercado privado

TORRES FILHO, 2006 (11) e

2009 (10); FREITAS, 2011

(4); HERMANN, 2010 (3)

Fortalecimento do mercado de

capitais depende de iniciativas

do sistema BNDES

TORRES FILHO, 2005 (1)

Fontes de recursos estáveis e

autônomas criam condições

favoráveis para a atuação

anticíclica do BNDES

TORRES FILHO, 2005 (1)

Alocação dos Recursos

SCHAPIRO, 2012b (-) ;

MANSUETO e

SCHNEIDER, 2012 (-)

Aportes de Tesouro

GIAMBIAGI et al., 2009 (5);

LAMENZA, PINHEIRO e

GIAMBIAGI , 2011 (2);

PROCHNIK, MACHADO,

2008 (11); PEREIRA et al.,

2011 (1)

Avaliação Empírica da

Política do Banco Perfil dos Empréstimos

COELHO e DE NEGRI, 2011

(6); SOBREIRA e

MARTINS, 2011 (2);

LAZZARINI, 2012 (1);

PRADO e MONTEIRO

FILHA, 2005 (10);

PINHEIRO, 2006 (5);

COUTINHO et al., 2009 (2)

Page 74: Levantamento e avaliação da literatura econômica sobre o BNDES · mapear e analisar a literatura econômica existente sobre o Banco Nacional de Desenvolvimento ... do conjunto

74

Impacto dos Empréstimos

REIFF, GALVÃO DOS

SANTOS E ROCHA, 2007

(4); PEREIRA, 2007 (0);

COELHO e DE NEGRI, 2011

(6); SOUSA, 2010 (2);

LAZZARINI e

MUSACCHIO, 2010 (3)

Indústria, exportações e

infraestrutura

Internacionalização e

Integração Regional

ALÉM e CAVALCANTI,

2005 (12); ALÉM e

GIAMBIAGI, 2010 (2);

CATERMOL, 2005 (8);

MENDONÇA, WEGNER E

DE DEOS, 2010 (1);

NOVOA, 2009 (2);

CARVALHO, 2011 (1);

RAMALHO, CAFÉ E

COSTA , 2010 (0)

Fonte: Elaboração própria, com base nos dados da pesquisa. O algarismo entre parênteses refere-se ao número de

citações recebidas pelo estudo.

O debate sobre o papel dos bancos de desenvolvimento abarcou diferentes argumentos: a

presença do BNDES restringia a possibilidade de expansão do mercado de capitais assim como

limitava a redução dos spreads e das taxas de juros. Pinheiro (2006) destacou que os bancos

públicos e os de desenvolvimento acabam sendo inibidores do desenvolvimento do mercado

financeiro (argumentação semelhante à Teoria da Repressão Financeira). No entanto, Yeyati,

Micco e Panizza (2004), por meio de uma extensa revisão da literatura sobre o papel dos bancos

públicos e análises empíricas adicionais, concluíram que não existem fortes evidências de que

bancos públicos impedem o desenvolvimento do setor financeiro, tampouco foram encontradas

evidências empíricas que corroboram o argumento de que os bancos públicos promovem o

desenvolvimento financeiro em países em que o setor financeiro e as instituições são frágeis.

Arida (2005) questionou a funcionalidade dos mecanismos compulsórios de financiamento do

investimento, com destaque para o FGTS e o FAT, assim como seus mecanismos de gestão e

precificação, sugerindo uma maior participação de instituições privadas de forma que seus custos

reflitam uma estrutura a termo da taxa de juros no país e não decisões arbitrárias, ampliando a

eficiência na gestão e alocação dos recursos. Tanto Arida (2005) como Pinheiro (2006)

destacaram que a falta de transparência de critérios e de competição favoreceu a influência de

fatores políticos com menor eficiência na alocação dos recursos, como destacado, também, nos

resultados de Lazzarini et al. (2012). Schapiro (2012a) compara a questão da transparência e

accountability com outras instituições públicas, como o Banco Central que persegue uma política

clara e tem autonomia para perseguir seus objetivos. Essa forma de comportamento institucional,

segundo o autor, legitima a própria atuação e a capacidade de resposta à perseguição dos

objetivos. Contudo, o autor apresentou possibilidades e propostas de reformas não apenas

objetivando a melhora de comunicação, mas permitindo a apresentação das políticas perseguidas.

Bacha (2007) questionou qual papel caberia aos bancos públicos em um contexto de normalização

financeira. De acordo com o autor, uma das justificativas para os bancos públicos decorreria de

problemas associados à incerteza jurisdicional que contrairia o crédito privado, em especial o de

longo prazo, e motivaria a criação de bancos públicos para superar esse problema. A inflação

Page 75: Levantamento e avaliação da literatura econômica sobre o BNDES · mapear e analisar a literatura econômica existente sobre o Banco Nacional de Desenvolvimento ... do conjunto

75

também estimularia ainda mais a criação desses bancos. Com a redução das incertezas, o mercado

financeiro privado tenderia a crescer e eliminar as justificativas para existência dos bancos

públicos. Segundo o autor dever-se-ia reduzir tanto o número de bancos, iniciando-se pelos

bancos estaduais, bancos de desenvolvimento regional, entre outros; como seus tamanhos e forma

de operação mais pautada pelos mecanismos de mercado tanto na alocação dos recursos como na

determinação dos custos; ou seja, concordou com os argumentos de Arida e Pinheiro. O BNDES

ainda teria um papel relevante enquanto não se desenvolvesse de forma adequada mecanismos de

financiamento de longo prazo na economia.

Alguns trabalhos, dentre os mais citados, buscaram mostrar que o crédito direcionado

pelo BNDES era complementar ao mercado privado, tendo em vista que alguns tipos de

investimentos como em infraestrutura, P&D e inovação que se caracterizam por alto risco, longo

prazo de maturação e retorno sempre necessitarão de funding especial ou esquemas de garantia

fornecidos pelo setor público (TORRES FILHO, 2006 e 2009; FREITAS, 2011; HERMANN,

2010) Além disso, grande parte do fortalecimento do mercado de capitais dependeria das próprias

iniciativas do sistema BNDES, por meio da aquisição de participações minoritárias e apoio ao

lançamento de títulos no mercado. Outro aspecto importante foi o papel anticíclico do banco,

como destacado em Torres Filho (2005) que argumentou que o fato de as fontes de recursos do

BNDES serem estáveis e autônomas, criam condições favoráveis à atuação do banco de forma

anticíclica. Portanto, o debate sobre a missão do banco de assumir os riscos de investimentos em

setores nos quais o capital privado não tem interesse em financiar, tema amplamente abordado na

literatura referente ao período de 1952 – 1964, retorna com relevância na literatura deste século

ainda que os setores que necessitam de funding especial tenham mudado. Schapiro (2012b)

destacou que o BNDES tem vivenciado nas últimas décadas uma importante experiência de

aprendizado, melhorando sua capacidade de financiar empresas inovadoras. O autor argumenta

que as novas ferramentas de incentivo a inovação e P&D representam uma quebra de paradigma,

quando o banco atuava apenas no financiamento de capital em ativos físicos para grandes

empresas. Mansueto e Schneider (2012) também discutem a alocação dos recursos, objetivando

a adoção de políticas industriais mais descentralizadoras e em empresas de intensidade

tecnológica mais alta.

O contínuo crescimento da importância do BNDES colocou em destaque outros assuntos

como a redução da capacidade do banco financiar sua expansão por meio de fontes como o FAT

ou outros recursos de fundos federais. (GIAMBIAGI et al., 2009; PROCHNIK, MACHADO,

2008). O problema do gap de recursos se tornou ainda mais relevante no contexto de maior

dificuldade de captação de recursos externos após a crise internacional e com a redução dos

spreads e o aumento dos prazos que reduziu o retorno das operações, ampliando o peso dos

repasses do Tesouro Nacional (TN), conforme destacado por Giambiagi et al. (2009). Esta maior

dependência do TN instigou algumas questões: a capacidade do Tesouro aportar recursos de

acordo com o montante de expansão das operações do BNDES e o crescimento das funções que

este assumiu; o risco de estabilidade dos recursos, e o custo fiscal das operações comparando-se

os custos de captação com as taxas dos empréstimos. Isso pode colocar em risco tanto a avaliação

do TN quanto a do BNDES. Se por um lado existe grande debate midiático sobre esse tema, por

outro lado poucas contribuições acadêmicas sobre a questão foram encontradas provavelmente

por se tratar de um tema recente. Segundo Pereira et al. (2011), tais aportes do TN ao banco

apontaram para importantes ganhos fiscais no curto e longo prazo nas operações de

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76

empréstimos77. Se por um lado houve ampliação do nível de investimentos no país e ação positiva

do banco, como importante fornecedor de crédito de longo prazo, ocorreu também a defesa da

maior transparência e discussão sobre as implicações fiscais, alocativas e distributivas dos

empréstimos do banco. Algumas outras questões para reflexão levantadas por Giambiagi et al.

(2009) e Lamenza, Pinheiro e Giambiagi (2011) foram relacionadas à definição do tamanho do

banco, à como alcançar a redução do spread e alongamento de prazos e como se dará a

combinação de diversas fontes que serão necessárias para compor o funding do banco, em um

contexto de “restrição orçamentária” caso as autoridades fazendárias não estendam novas linhas

de crédito ao BNDES. Uma análise empírica com base em simulação de cenários foi conduzida

por Lamenza, Pinheiro e Giambiagi (2011). Sob a hipótese de ausência de novas captações com

o Tesouro Nacional, o BNDES voltaria a ser uma instituição que empresta valores da ordem de

R$ 90 bilhões a R$ 100 bilhões por ano em termos reais até 2020. Nesse caso, a dívida do BNDES

com o Tesouro diminuiria de 7,6% do PIB em 2011 para 3,8% do PIB em 2020.

Um tema que ganhou destaque neste período no debate sobre a atuação do banco foi a

exigência de adaptação do BNDES aos Acordos de Basiléia e as práticas operacionais e de gestão

de risco nelas envolvidos. Um artigo bastante citado foi o de Prado e Monteiro Filha (2005), já

introduzido na discussão do período anterior, que destaca a incompatibilidade da aplicação das

regras de Basiléia a bancos de desenvolvimento e, ao BNDES, em particular, uma vez que os

mesmos não captam depósitos e, portanto, não significam risco sistêmico. Além disso, a adoção

dessas práticas inviabilizaria a atuação desses bancos como instrumentos de implantação de

políticas de desenvolvimento, uma vez que os mesmos precisam focar, muitas vezes, em setores

e empresas não priorizados pelo sistema financeiro tradicional, o que significaria maiores riscos

e dificuldades em se adaptar as exigências de Basiléia. Sobreira e Martins (2011) em uma análise

empírica abordaram o mesmo tema e concluíram que a adaptação aos Acordos de Basileia I não

representou para o BNDES um impedimento para a execução de suas funções, sendo o

desembolso crescente no período analisado. No entanto, a estratégia operacional privilegiou o

financiamento para empresas de baixo risco78, gerando provavelmente um viés de seleção.

Tomando a questão de que o banco é um instrumento para política industrial e tecnológica

e que busca atuar em mercados incompletos, diversos trabalhos buscaram avaliar mais

precisamente se o BNDES efetivamente conseguiu mitigar esses problemas. Analisando pelo lado

dos tomadores de recursos do BNDES, Lazzarini et al. (2012) mostraram que o banco tem

financiado empresas que seriam atendidas pelo mercado privado e de um ponto de vista da

economia política o BNDES não tem sistematicamente socorrido empresas em situações

financeiras complicadas, no entanto as firmas que fazem doações para campanhas políticas de

candidatos que ganham a eleição têm maior probabilidade de receberem fundos na forma de

empréstimos do BNDES. Vários trabalhos destacaram, porém, o caráter bastante concentrador

dos empréstimos dos bancos públicos que acabam privilegiando as grandes empresas, sinalizando

que estes, longe de corrigirem falhas de mercado, buscaram uma atuação baseada em reduzidos

riscos semelhante aos bancos privados, como destacado por Prado e Monteiro Filha (2005) que

atribuiu esse fato às regras muito conservadoras na gestão de risco do BNDES que levou a este

comportamento. Contudo, conforme destacado em Coutinho et al. (2009) o BNDES conseguiu

ampliar de maneira significativa sua operação junto a micro e pequena empresas por meio de

programas específicos voltados para o microcrédito produtivo orientado que busca facilitar o

77 Não apenas com a remuneração do capital pela TJLP, mas também via distribuição de lucros do BNDES

e expansão da atividade econômica que resulta em aumento da arrecadação tributária, superando a

remuneração via SELIC. 78 Schapiro (2012a, p.11) também compara a carteira do BNDES e outras instituições públicas e privadas

por faixa de risco.

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77

acesso do microempreendedor, a desburocratização do acesso por meio do Cartão BNDES, e a

constituição de colateral para facilitar o acesso ao crédito por meio do FGI (Fundo Garantidor

para Investimentos). Com esses instrumentos os autores mostraram a rápida expansão do

montante de concessões de empréstimos do banco para as micro e pequenas empresas ao final da

década passada.

No período 2002-2013 também percebeu-se crescente importância dada pelos

pesquisadores ao desenvolvimento de estudos empíricos, baseados em hipóteses fundamentadas

teoricamente, que avaliam os impactos das ações do BNDES em diferentes dimensões da

economia brasileira. A maior disponibilidade de microdados aliada ao desenvolvimento

tecnológico de softwares estatísticos para o processamento dessas informações tem possibilitado

o desenvolvimento de trabalhos econométricos em diversas áreas da economia, e isso foi refletido

também na literatura sobre o BNDES.

O impacto das ações do BNDES no emprego formal avaliados em Reiff, Galvão dos

Santos e Rocha (2007), cuja questão principal foi como os desembolsos do BNDES favorecem o

emprego formal dos municípios, e em Pereira (2007), que investigou também o efeito das ações

do BNDES no emprego formal considerando a análise por empresa e não por município. Ambos

os trabalhos encontraram impactos positivos dos desembolsos do BNDES na geração de emprego

formal. Sousa (2010) colocou em questão como os financiamentos do BNDES podem impactar a

produtividade de uma empresa e salientou a relevância da produtividade para o crescimento

econômico, porém em seu modelo econométrico não encontrou sinais de impacto dos

financiamentos sobre a produtividade das empresas. Já Coelho e De Negri (2011) observaram que

o financiamento do BNDES afetou positivamente as taxas de crescimento da produtividade total

dos fatores (PTF), a produtividade do trabalho, o número de empregados e a receita líquida de

vendas. Ademais, as firmas mais beneficiadas pelo financiamento do BNDES foram as que

possuem Produtividade Total dos Fatores elevada. Além do impacto do financiamento do BNDES

nos indicadores da economia e das empresas, os impactos da participação do BNDES como

acionista minoritário, via BNDESPAR, no retorno dos ativos das empresas também foi questão

de pesquisa no artigo de Lazzarini e Musacchio (2010).

E, por fim, vale destacar que diversos trabalhos buscaram subsidiar a atuação do banco.

Uma área de crescimento no período recente foi o apoio à internacionalização das empresas

brasileiras. Além e Cavalcanti (2005) por meio de uma análise descritiva apresentaram e

discutiram as principais abordagens teóricas que buscam explicar o processo de

internacionalização das empresas. Segundo Além e Cavalcanti (2005) e Além (2010) a

internacionalização justificou-se pela a maior inserção externa em termos de comércio

internacional (exportações), aproximação com novas tecnologias, inserção em cadeias produtivas

globais, entre outros benefícios que possibilitaram o crescimento das empresas nacionais, a maior

geração de emprego e renda no país e a redução da vulnerabilidade externa. Estes trabalhos ao

analisarem os benefícios e críticas associadas ao processo de internacionalização buscaram

fundamentar e colaborar para a definição da atuação do BNDES no processo de

internacionalização dos grupos nacionais, o que passou pela formação dos grandes grupos

nacionais, por meio de fusões e aquisições, como o financiamento de investimentos externos. A

atuação do BNDES no financiamento das vendas externas, por meio das linhas de financiamento

à exportação, também foi tema de discussão em Catermol (2005), enquanto a atuação do BNDES

como financiador de projetos de infraestrutura para integração regional da América do Sul foi

discutida em Mendonça, Wegner e De Deos (2010), Novoa (2009) e Carvalho (2011). Vale

destacar que o apoio à internacionalização dos grupos nacionais passou a fazer parte do

Planejamento Corporativo do banco para o período 2009-14, conforme Ramalho, Café e Costa

(2010).

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78

Ainda no contexto de estudos que subsidiam a atuação do banco, destacaram-se estudos

que se concentram em análises setoriais descritivas para elaborar diagnósticos e identificar

possibilidades de atuação do BNDES para o fortalecimento dos setores ou superação dos

problemas existentes. A maior parte dos trabalhos encontrados na análise bibliométrica sobre o

tema indústria e infraestrutura encaixaram-se nestas preocupações de realizar diagnósticos,

levantar as perspectivas e possibilidades de atuação do BNDES ou ainda realizar avaliações do

impacto da atuação do banco nos diferentes setores. Ou seja, trataram-se basicamente de estudos

para subsidiar a atuação dos policy do banco.

Assim, na revisão da literatura sobre o BNDES neste século pôde-se destacar,

inicialmente, o grande crescimento do número de publicações sobre o banco, tanto de

profissionais internos como externos. Vale destacar uma clara distinção entre os tipos de

trabalhos. Os artigos publicados na Revista do BNDES e em outras formas de divulgação apoiadas

pelo banco concentraram-se no desenvolvimento de estudos para subsidiar a ação do banco e/ou

na proposição de políticas, ou ainda para apresentar a evolução das políticas e as reações ou

defesas às críticas realizadas à atuação do BNDES79. Já os trabalhos de pesquisadores externos

ao banco e, em outros veículos de divulgação, apresentaram uma abordagem mais crítica na

análise da atuação do banco, focando em temas como seu impacto fiscal, a concorrência com

fontes privadas, o impacto negativo sobre a taxa de juros e o spread, entre outros. A revisão

realizada mostrou uma situação muito polarizada segundo a origem dos autores e o veículo de

divulgação para definir o posicionamento em relação à atuação do BNDES.

8. Considerações finais

O objetivo central do artigo foi apresentar uma visão organizada e abrangente de toda a

literatura econômica já produzida sobre o BNDES, desde sua criação. Para tal, realizou-se um

levantamento exaustivo culminando em quase mil obras e autores, a partir do qual os textos sobre

a atuação do banco foram selecionados e avaliados, culminando com uma avaliação qualitativa

desta produção.

Conforme pode ser constatado a partir da avaliação qualitativa, a literatura sobre o

BNDES refletiu essencialmente o debate e as preferências ideológicas de cada governo, ao longo

da história. Ainda que sua autonomia relativa variasse a cada período, o BNDES colocou-se como

um executor das políticas de governo, sendo considerado pela maior parte das publicações como

eficiente nas funções para as quais foi designado. A literatura econômica acompanhou o embate

político e os diferentes conceitos de desenvolvimento que evoluíram ao longo das décadas da sua

história. Muitas vezes, as publicações patrocinadas pelo banco preocuparam-se em realizar

diagnósticos, perspectivas e possibilidades de atuação do BNDES. Mesmo quando avaliaram o

impacto da política do BNDES para algum setor, procuraram subsidiar as decisões do banco.

Assim, a maior parte da literatura interna e parte da externa à instituição procurou justificar ou

defender determinada ação em linha com o esforço em colocar em prática os objetivos a ele

definidos na política de desenvolvimento nacional, caracterizando-se pela ausência de

questionamentos da política. As críticas são apresentadas, em sua maior parte, pelos trabalhos

desenvolvidos por autores externos ao banco, que defendem posições diferentes sobre como deve

ser promovido o desenvolvimento nacional. Com isso, a postura crítica ou defensiva sobre a

atuação do banco variou conforme os próprios objetivos da política nacional e seus mandatários.

79 Essas publicações não se sujeitam à revisão por pareceristas externos como ocorre na academia.

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79

Contudo, tanto pelas críticas como pelas defesas e as temáticas colocadas a cada momento,

verificou-se que o BNDES foi e ainda é um importante instrumento na consecução dos objetivos

definidos pela política de desenvolvimento nacional, qualquer que seja o conceito de

desenvolvimento implícito.

Mesmo os textos externos ao banco não geraram, na maioria das vezes, um debate crítico

ao objeto de estudo, repercutindo relativamente pouco. A reduzida crítica decorreu da ausência

de debate dentro da própria academia, dificultada pela própria diversidade de temas tratados nos

textos especialmente nos últimos períodos. Notou-se que foram de fato poucos os temas

discutidos por diversos autores. Essa observação pode ser corroborada tanto por meio da análise

bibliométrica quanto da qualitativa. Por fim, os temas foram discutidos de forma isolada e quando

houve mais autores e trabalhos estes apresentaram grande convergência nos resultados ou

dificuldade para se avaliar uma efetiva distinção entre eles.

Os resultados obtidos por meio desta pesquisa são relevantes não só por levantar toda

uma literatura vasta que, até então, não havia sido completamente organizada. Além desta

contribuição, este artigo agrega à literatura sobre o BNDES ao apresentar uma visão geral da sua

atuação, apresentando uma descrição da evolução das obras ao longo do tempo e uma discussão

da visão de diversos autores. Essas discussões contribuem para o aperfeiçoamento da atuação do

banco, dado o seu objetivo de fomentar o desenvolvimento econômico e social.

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