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1ª EDIÇÃO – JUNHO/JULHO 2011 ENCARTE ESPECIAL JST 30 ANOS

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JST 30 anos - encarte especial - edição 1

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Page 1: JST 30 anos - encarte especial - edição 1

1ª EDIÇÃO – JUNHO/JULHO 2011

ENCARTE ESPECIAL JST 30 ANOS

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JST 30 ANOS Militante relembra aspectos da constituição do JST, coloca sua importância para a organização e formação da identidade Sem Terra

98 JORNAL SEM TERRA • JUN/JUL 2011JORNAL SEM TERRA • JUN/JUL 2011

JOANA TAVARES

SETOR DE COMUNICAÇÃO

Jornal Sem Terra: O que amotivou a pesquisar o JST e quaisas principais descobertas que apesquisa trouxe?

JS- A motivação foi tentar entender asrazões que levaram à criação do JornalSem Terra, qual o contexto da época, opapel do jornal na organização do MSTe na formação da consciência dos traba-lhadores Sem Terra. O objetivo foi fazerum resgate histórico e discutir a contri-buição do JST na formação da consciên-cia dos Sem Terra do MST. As descober-tas foram impressionantes, ao perceberque o jornal nasceu antes do MST e re-gistrou um processo de gestação da or-ganização das famílias Sem Terra, numprimeiro momento no estado do RioGrande do Sul e na região Sul. Depoisdisso o jornal acompanhou e registrouem palavras e fotos a história do MST,do Brasil e da América Latina. Tornou-se um patrimônio ideológico da organi-zação. O Jornal Sem Terra, para o MST,

já é mais do que um meio de comuni-cação. É um simbolo. O militante seidentifica, tem afinidade, gosta dele.

JST- Como foi o contexto deconstituição do JST?

JS- O Jornal Sem Terra nasceu em maiode 1981, como um Boletim InformativoSem Terra, colado à realidade nacionale em especial à realidade em que viviamos trabalhadores sem-terra. Nasceu dascircunstâncias criadas pelo processo his-tórico de luta de classes em que viviamos trabalhadores brasileiros. Naqueleperíodo era ditadura militar no Brasil.

JST- Como surge o jornal?JS - O surgimento do JST e do MST foiconsequência de vários acontecimentosque se desenvolveram especialmente apartir de 1978. Vários estados com muitaluta de agricultores sem-terra se reuniampara debater, discutir os problemas eorganizar formas coletivas de superação.Assim multiplicaram as ocupações noRio Grande do Sul, Santa Catarina, São

Paulo, Mato Grosso do Sul, Paraná,Bahia, Rio de Janeiro, Goiás.

JST- O que a história do JST temde particular em relação a outrosveículos de informação?

JS- A particularidade do Jornal SemTerra é que ele nasceu em um acampa-mento sem-terra. Nasceu em 1981 na for-ma de papel-ofício no acampamento deEncruzilhada Natalino, em Ronda Alta,Rio Grande do Sul. Após cinco mesesde acampamento começou a edição doBoletim. Chamava-se Boletim Informati-vo da Campanha de Solidariedade aosAgricultores Sem Terra. Era mimeogra-fado, com tiragem de 700 exemplares,tinha 11 páginas, não havia uma clara

definição do projeto gráfico. A primeiraedição tinha na capa a “Carta dos colonosacampados em Ronda Alta” e na segundapágina foram expostas as atribuições doBoletim, que era principalmente manterconstantemente informados todos oscolaboradores da campanha de solidarie-dade, através de suas entidades, sindicatose federações de trabalhadores rurais eurbanos, comunidades de base e tambémpara ampliar a campanha de solidariedadeem nível regional, estadual e nacional. Aburguesia da época passou a utilizar osmeios de comunicação nacional paracombater a luta dos agricultores.

JST- Era uma respostados trabalhadores...

JS- Neste contexto começou a surgir umagrande campanha de solidariedade, naverdade era uma campanha políticanacional em defesa da luta pela terra, emdefesa dos camponeses. Então vinhampessoas do Brasil visitar o acampamentocomo forma de manifestação. Quando oCurió fechou a cerca da Encruzilhada Na-talino, aumentou mais a necessidade de

ter informações. Assim o boletim cumpriaum papel de divulgar na sociedade o queestava acontecendo no acampamento. Ou-tro objetivo era criar unidade e integraçãoentre as famílias acampadas. Ele era lidonas reuniões dos núcleos, que se reuniampor barracos, e também em assembleias.O coronel Curió tentou utilizar o métodode comunicação de massa, porém demassa urbana. Ele usava alto-falante, ossoldados distribuíam panfletos de barracosem barracos. Os conteúdos das mensagenseram para desestimular a organização e aluta das famílias que estava em marchanaquele momento. A luta ideológica jáestava travada. As reuniões, o boletiminformativo, as celebrações, assembleiaseram eficazes e assim foi cada vez maisse aglutinando pessoas em torno da lutados colonos sem-terra.

JST- No seu trabalho, vocêdistingue as fases do JST.Quais são as fases principais?

JS- A escolha de organizar fases paracontar a história do JST foi uma metodo-logia da pesquisa para facilitar a com-preensão. A pesquisa foi realizada de maiode 1981 a junho de 2000. O primeiroperíodo vai de 1981 a 1985. Podemosconsiderar a fase da gestação aonascimento do JST. Era ainda – até 1984– um boletim, que foi o reflexo e o porta-voz do que ocorria na luta pela terra, emespecial do acampamento da EncruzilhadaNatalino. Nesta fase não tinha umaperiodicidade definida, ele era elaboradoquando havia informações importantes enovas. As primeiras edições chegaram aser publicadas semanalmente. Depois do

número 17, de janeiro de 1982, ele passoua ser publicado quinzenalmente, passandoa ser mensal em julho daquele mesmoano. Notamos que havia preocupaçãocom as crianças, com a poesia e a música.Também era clara a luta contra os meiosde comunicação locais e estaduais, quementiam sobre a realidade. O boletimrefletia ainda sobre a necessidade dasfamílias organizarem-se em núcleos parafortalecer a resistência à repressão militare sobre a importância do acampamentoser dirigido pelos próprios colonos.

JST- Qual o resultado?JS- A existência do boletim nesta faseconseguiu, de certa maneira, expandiras mensagens das famílias, produzindoum efeito na sociedade. A segunda fasevai de 1986 a 1994, e corresponde aocrescimento e consolidação do MST etambém do próprio Jornal Sem Terra.O jornal passa a incorporar ainda maisa ideologia do Movimento, os princípios,

JST- Quais são os principaisobjetivos do JST?

JS- O jornal faz parte da organicidadee da formação do Movimento. O JSTpor si só não é formador da consciência.Ele é um instrumento para ajudar o MSTa fortalecer a organicidade interna. Elenão tem pernas nem bracos, não é umaestrutura orgânica em si. Depende daspernas e braços dos militantes para selocomover, movimentar e percorrer oBrasil afora espalhando as ideias, expe-riências e sonhos. A relação entre o JSTe a organicidade leva à ação, consequen-temente ajuda no processo de formaçãoda consciência. O jornal deve estar aserviço da organização, pois ele cumpresua função na medida em que traz artigosde reflexão, que orienta o militante aestudar, que promove a discussão, quecoloca os desafios do Movimento.

JST- Como o jornal ajuda afortalecer a organicidade?

JS- Ele deve provocar o militante a deba-ter nas suas instâncias e com isso geraruma mudança na sua prática. O JST éum complemento da organicidade, ondetem organicidade então ele ajuda a avan-çar, a fluir a organização. Outro objetivoé ajudar na unidade política, revelandoque a realidade e os problemas sociaissão comuns a todos os estados e regiões.Ajuda a fortalecer o processo de unidadedo Movimento, a pensar sobre a realidade.Ele é um construtor de ideias e pensa-mentos coletivos. Deve ajudar a mantera unidade política em torno de programas,planos, símbolos, ideias, estratégias, táti-cas. Explicar por meio das informações,

Jornal Sem Terra, o porta-voz do MSTajudando a compreender e analisar a reali-dade. Apontar para o futuro, os grandesdesafios, os rumos da luta, apontar o quefazer para o militante. Ele é uma espéciede porta-voz do Movimento.

JST - E quais seriam osprincipais desafios?

JS- Temos muitos desafios em relaçãoao JST. Um é de natureza orgânica, queenvolve as questões de distribuição, uti-lização. Precisamos recuperar a ideia dozelador do jornal, para ele ser utilizadonas escolas, cursos de formação. Outrodesafio tem uma natureza formativa, es-tá ligado à necessidade de consolidarmosas iniciativas de comunicação já existentese criar outras maneiras para formarmos

os militantes comunicadores. Há ainda odesafio de natureza prática, financeira. Épreciso superar as dificuldades econômi-cas, buscando formas junto à militânciae aliados. Outro desafio é de naturezapolítica, garantir o acompanhamentopolítico na elaboração e produção dojornal. É uma responsabilidade políticado MST a construção de coletivos commilitantes responsáveis pelo JST.

JST- Qual a contribuição do JSTpara a formação da identidadeSem Terra e para a própria luta?

JS - O jornal em toda sua existência ecirculação cumpriu com algumas tare-fas, nos deixando lições históricas desua contribuição com a formação daconsciência dos Sem Terra organi-zados e mobilizados pelo MST. O JSTcontribuiu como ferramenta de contare registrar a história do Movimento,reflete exatamente o que é o MST.Contribuiu também como ferramentade informação dos Sem Terra, fazen-do um desvelamento da informaçãotransmitida nos meios de comunicaçãotradicionais. Em todo esse tempo, oJST só conseguiu informar os militan-tes porque teve a capacidade de colo-car-se em contato com os própriosmilitantes. Também contribuiu his-toricamente como uma ferramenta deestudo e fonte de conhecimentos ge-rais. Contribui como ferramenta deconstrução da organicidade.

JST- Qual o papel do Jornal naformação da consciência?

JS- É como se fosse o fio condutor,mas se não estiver ligado a algumacoisa, o fio não dá choque, não pro-duz a luz. Então o jornal a grossomodo é isso, o fio condutor. Mas averdadeira energia elétrica que for-ma a consciência é a combinação doselementos de formação política, or-ganicidade e mobilização. Ele ajudana denúncia dos problemas sociais dopovo brasileiro e da América Latina.Serve como ferramenta de alimentodo belo e esperança. Ajuda sendouma ferramenta de agitação e pro-paganda da luta da classe trabalha-dora. Por último, ele possui uma con-tribuição no aspecto de formação daidentidade simbólica. O jornal é maisque um meio de comunicação, ele éum símbolo para os militantes.

“O JST por si só não éformador da consciência.Ele é um instrumento paraajudar o MST a fortalecer aorganicidade interna”

“Em todo esse tempo,o JST só conseguiuinformar os militantesporque teve a capacidade decolocar-se em contato comos próprios militantes”

O MST comemora neste ano os 30 anos do Jornal Sem Terra. Criadoantes da fundação do Movimento, ele começou como um boletim desolidariedade às famílias acampadas em Ronda Alta, no Rio Grande doSul. Em 1984, passou a ser um jornal de circulação nacional, paratratar das lutas, desafios e conquistas do povo Sem Terra.O Jornal Sem Terra publica uma série de três encartes especiais paramarcar esses 30 anos de história, com o resgate de fatos importantes,elementos para reflexão, diálogo e ações. Uma delas é a campanha deassinaturas e leitura do jornal, que faremos junto à militância e à sociedade.Neste primeiro encarte, a entrevistada é Judite Stronzake, do Setor deFormação, que fez sua monografia na primeira turma do cursoPedagogia da Terra, na Universidade de Ijuí, sobre “O Jornal SemTerra e a formação da consciência do Sem Terra do MST”.Apresentamos também capas das edições do jornal na década de 1980.

a necessidade de organizar ostrabalhadores sem-terra de todo o Brasil.Procurava tratar sempre dos desafios doMST, levá-los a todos os militantes. Aterceira fase vai de 1995 a 2000, erepresenta a consolidação da identidadedo Jornal Sem Terra. Nesse período, ojornal retratou a problemática darealidade brasileira e do MST, pois omodelo de agricultura do governo foicontrário à Reforma Agrária. Nesteperíodo, o Setor de Comunicação deixoude ser sinônimo do JST, houve umavanço sobre o caráter e o entendimentodas tarefas políticas do JST e dacomunicação do Movimento.

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4 JORNAL SEM TERRA • JUN/JUL 2011

30 anos JST

Exalta o povo brasileiroPela ordem e decisão

A saga de um povo guerreiroDe um país de tradição

E o Jornal Sem Terra é parceiroPor uma nova comunicação.

São três décadas de históriaDando voz ao camponêsDivulgando na memória

Afrontando o Estado burguêsO JST é a trajetória

E o povo é quem o fez.

Parabéns por 30 anosDe valores carregados

Aqui nós comemoramosAs vitórias nos estados

Vemos sonhos realizadosE os Sem Terra informados.

Um jornal de tradiçãoDe cultura e valor

Que resgata a educaçãoDe nosso povo trabalhador

E convida a naçãoA ser nosso zelador.

Hildebrando Silva de Andrade,militante do MST RN

O encarte especial JST 30 anos faz parteda campanha de leitura e assinaturas doJornal Sem Terra. O lema da campanha éJornal Sem Terra: Por umacomunicação dos trabalhadores etrabalhadoras. Leia e assine!

A campanha tem dois eixos: estimulara leitura e ampliar o número de assinantes.A meta é fazer 5.000 novas assinaturas dojornal, entre agosto deste ano e o 6ºCongresso Nacional do MST, em 2012.Faça a sua parte!

O encarte especial apresentará nas suastrês edições depoimentos de militantes doMST, amigos do Movimento e leitoressobre a importância do jornal. A publicaçãofaz parte da trajetória de todos que fazemparte do Movimento.

Encarte especial faz parte da campanha de leitura e assinaturas do Jornal Sem Terra

Por uma comunicação dos trabalhadores e trabalhadoras

Mande depoimentos, textos, poemas e fotos para aspróximas edições para [email protected]. Quandovocê leu o JST pela primeira vez? O que vocêachou? Qual a contribuição para a sua militância?Entre também para a história do nosso jornal!

“Nesses 30 anos, o Jornal Sem Terrase consolidou como parte do MST.

Temos muitos outros materiais quecirculam entre nós, mas não

estamos dando conta daimportância do jornal para o

acampado novo, para quem vaiconhecer a luta pela Reforma

Agrária e também para a unidadeentre todos do Movimento”.

Izabel Grein, MST PR

“Entrei no MST pela porta deentrada do Jornal. Fui convidada pelaslideranças para ser zeladora do JST emRondônia. Divulgava o jornal para os aliados,mandava notícias do estado e buscavagarantir para que ele chegasseaté à base dos acampamentos”.

Itelvina Masioli – Setorde Relações Internacionais

“O Jornal Sem Terra foi nestes 30 anos e continuasendo uma ferramenta importante de luta pela

Reforma Agrária e na luta de classe. Nesses 30anos fez combate permanente contra o latifúndio,contra a monocultura agro-exportadora e contra

todo o tipo de violência e injustiça cometidacontra os que lutam pela Reforma Agrária e contra

todas as injustiças cometidas contra a classetrabalhadora em qualquer parte do mundo.

Defender, fortalecer e ampliar o Jornal Sem Terra énossa tarefa militante”

Jaime Amorim – MST PE

“A mídia não trata das lutas dos trabalhadores.Ou não é notícia, ou tratam para criminalizar.Assim, uma publicação como o Jornal Sem Terracumpre dois papéis: ser umcontraponto à mídia conservadorae trazer informações de temas tãoimportantes como a lutapela Reforma Agrária, a realidadeda agricultura familiar,o combate ao latifúndio”.

Altamiro Borges,jornalista, membro do

Comitê Central do PCdoB

“Leio sempre o Jornal Sem Terrinha. Gosto muitodos textos, mas às vezes eu não entendo. Aí eupergunto pra minha mãe ou alguma educadora.Acho importante ter um jornal para as crianças,porque mesmo as crianças que não sabem podemaprender coisas novas. Acho que o jornal poderiater mais brincadeiras”.

Gabriel Sarmento Martins, Comuna da TerraDom Tomás Balduíno, em Franco da Rocha (SP)