encarte especial círio de nazaré 2011

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C írio de N azaré VIRGEM DE NAZARÉ, rogai POR NÓS! ESPECIAL

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Encarte Especial Círio de Nazaré 2011 para o jornal O Liberal, publicado em 09 de outubro de 2011.

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Page 1: Encarte Especial Círio de Nazaré 2011

Belém, domingo, 9 de outubro de 2011ESPECIAL CÍRIO DE NAZARÉ

Círio de NazaréVIRGEM DE NAZARÉ, rogai POR NÓS!

E S P E C I A L

Page 2: Encarte Especial Círio de Nazaré 2011

Belém, domingo, 9 de outubro de 2011 ESPECIAL CÍRIO DE NAZARÉ

A palavra “ ladainha” origina-se do grego e significa súplica. Toda-

via, desde o início da Igreja Católica ela foi utilizada para indicar não quaisquer súplicas, mas, as que eram rezadas em conjunto pelos fiéis que iam em procissão às diversas igrejas.

A Ladainha de Nossa Senhora foi composta logo após o encerramento da Idade Média, pelo Papa Sixto V, em 1587, em face da ladainha habitualmente utili-zada pelos fiéis que freqüentavam a Santa Casa, na cidade de Loreto. Desta feita, as demais ladainhas, então existentes, foram suprimidas. Alguns dos títulos de Nossa Senhora que constam atualmente da La-dainha foram acrescentados solenemente à original por uma série de papas ao longo da história da Igreja. Os Papas Leão XIII, Pio X, Bento XV, Pio XII e João Paulo II acrescentaram novas invocações. Consta, atualmente, além da referência inicial à

Trindade e ao Agnus Dei conclusivo, de 51 invocações, com a resposta invariável ora pro nobis, isto é, rogai por nós.

Um olhar místico sobre o universo do Círio em todos os seus detalhes nos per-mite visualizar, da perspectiva do povo para a pequenez da Santinha (como cari-nhosamente a chamamos) uma verdadeira Ladainha viva de gente louvando a Nossa Senhora. Não há ensaio de nenhuma es-pécie. A multidão dos fiéis que se espreme na procissão, na corda, nas ruas e nas esqui-nas são, em sua maioria, estranhos entre si; mas, no curso do rio de gente que se forma para vê-la passar, constata-se uma orques-tra de sons, hinos, sorrisos, cores, poesia, orações e lágrimas, tudo perfeitamente harmônico e belo. O Círio possui uma ló-gica que só o céu explica, pois, apesar dos mais de dois milhões de pessoas, do calor e do pouco espaço para tanta gente, tudo dá certo; a procissão flui, independente dos planos, do querer humano, enfim, a

Ladainha acontece. Um coro de louvores a Nossa Senhora de Nazaré, Rainha da Amazônia.

Neste domingo de bênçãos e mila-gres, em que honramos a Santa Virgem e Mãe de Nazaré, O Liberal une-se aos seus leitores, em invocações e louvores a Ela tributados na oração da Ladainha. Na impossibilidade de fazê-lo em todas as 51 invocações, o faremos em 7: Santa Ma-ria, Santa Mãe de Deus, Arca da Aliança, Auxílio dos Cristãos, Rainha Concebida sem pecado original, Rainha do Santo Rosário e Rainha da Paz. Junto aos lou-vores a Nossa Senhora, lembraremos qua-tro símbolos do Círio, que nos são muito caros: as expressões artísticas, o almoço em família, o manto e a música, os quais, de certa forma, encerram também, louvo-res a Nossa Mãezinha.

Nossa Senhora de Nazaré, rogai por nós!

A L A dA I n h A E o C í r I o d En o S S A S E n h o r A de n A z A r é

Belém, domingo, 9 de outubro de 2011 ESPECIAL CÍRIO DE NAZARÉ

Edição de Arte e Diagramação: Henrique Corrêa | Consultoria de Comunicação: Márcio Wariss MonteiroFoto da capa: Cristino Martins

FOTO: IGOR MOTA

Page 3: Encarte Especial Círio de Nazaré 2011

Belém, domingo, 9 de outubro de 2011ESPECIAL CÍRIO DE NAZARÉ Belém, domingo, 9 de outubro de 2011ESPECIAL CÍRIO DE NAZARÉ

O Círio é o vitral da alma para-ense. No cristal de sua trans-parência em cores figuram-

se rostos, plasticidades, cenas, alegorias, imagens, natureza, casas, mangueiras, san-tos, homens, anjos. É uma etnodramatur-gia litúrgica de um cortejo místico torna-do mítico por sua circularidade recorrente no tempo de mais de dois séculos. Nele se entrelaçam fé e fantasia, realidade e sonho, imanência e transcendência. Todas as ar-tes compõem esse vitral atravessado pela luz de uma estética iluminada pela crença. Luz que há séculos vem do sol das almas e atravessa esse vitral e ilumina os caminhos de uma felicidade que dá sentido ao desejo dos homens.

Três signos são fundamentais no Cí-rio de Nazaré de Belém do Pará: a Ber-linda, a Corda, o Brinquedo de Miriti de Abaetetuba. A Berlinda é simboli-za a fé; a Corda simboliza a devoção; o Brinquedo de Miriti, a cultura artística. Porém a correnteza simbólica acom-panhante é constituída de: fotografia, teatro, música, cinema, pintura, poesia. Sem essa complexidade estética o Círio seria somente uma imensa romaria de caráter exclusivamente devocional. Com essa complexa hibridização, em que não se distingue plenamente o religioso e o extra-religioso, a emoção coletiva não distingue o artístico do sagrado. O sa-grado emociona pelo estético.

O Círio de Nazaré é uma catarse identitária. Todo o sentimento repri-

mido do “estar junto” se libera nessa dionisíaca celebração do barroquismo católico e, também, cultural do Pará-amazônico. Perde-se a distinção en-tre arte e realidade, religiões e crenças, povos e raças, ricos e pobres, crianças e adultos, estranhos e conhecidos, ribeiri-nhos e citadinos. A arte culinária cele-bra a carnalidade pagã. A prece consa-gra a espiritualidade cristã. O Carro dos Anjos é uma cena do paraíso na terra. O Carro dos Milagres é a barca do inferno das mazelas humanas. Os promesseiros encarnam a crença numa felicidade pos-sível. Os que puxam a Corda erram na ordenada desordem de arrastarem pelas ruas a certeza de recompor os pedaços de sua esperança feita em frangalhos no cotidiano do mundo.

O Círio de Nazaré, na sua complexa estrutura, é um espetáculo de arte total intercorrente com a dimensão litúrgica. Todas as artes incorporam-se no ritual. Sejam as artes sobre o Círio; sejam as artes inspiradas no Círio; sejam as artes participantes do Círio; sejam as artes inerentes ao Círio. A poética do Círio é a poética da totalidade orgânica. Impos-sível separar o Círio das Artes das Artes do Círio. Arte e Círio são duas margens de um mesmo rio em que se refletem e constituem. Implicam-se, integram-se, harmonizam-se, santificam-se, esteti-zam-se, transcendem-se. Porque, no Cí-rio de Nazaré de Belém do Pará, a litur-gia se expressa pela beleza e a arte reza.

Impossível separar o Círio das Artes das Artes do Círio.JOÃO DE JESUS PAES LOUREIRO | PROFESSOR | POETA

o C í r I o das A r T E S

Belém, domingo, 9 de outubro de 2011

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Belém, domingo, 9 de outubro de 2011 ESPECIAL CÍRIO DE NAZARÉBelém, domingo, 9 de outubro de 2011 ESPECIAL CÍRIO DE NAZARÉ

Na perspectiva bíblica, a expressão “santo” significa a pessoa

ou objeto separado para o uso sagrado, em contraposição àquilo que é profano. Provém da palavra “Kadosh”, que ense-ja aquele (pessoa) ou aquilo (coisa) que Deus reservou para si. No contexto da antiga aliança podemos incluir neste rol o Templo, a Arca da Aliança, os sacer-dotes, os profetas, os reis que tivessem recebido a unção sagrada. Tais pessoas eram também denominadas de “Cris-tos”, leiam-se, os ungidos.

Jesus é o ungido, o santo por excelên-cia; daí porque é também chamado de Jesus Cristo.

A santidade de Maria dá-se exata-mente por que ela é a escolhida do Pai, aquela que Ele reservou para ser a Mãe de seu Filho, o Verbo de Deus encar-

nado para a salvação da humanidade. A partir de seu “fiat” ao projeto de Pai, que a tornaria Mãe daquele que é Santo, o Filho de Deus, Maria transformou-se na Arca da Nova Aliança, o Templo Santo onde Ele se faz presente. Por outro lado, ao descer do Espírito Santo sobre Ma-ria, a quando da Encarnação do Filho Unigênito de Deus, ela recebeu a unção santificadora daquele.

Maria também é santa porque en-cerra em si mesma a tríplice unidade com Deus: pela graça santificante que ornava o seu interior com a presença di-vina; pela missão materna de conceber em seu ventre virginal o Verbo de Deus, que se fez homem e, portanto, carne de sua carne e sangue de seu sangue; e também pela oração assídua e medita-ção interior que a acompanhou em to-dos os eventos de sua vida terrena.

Ao dirigirmos o olhar do coração a Nossa Senhora de Nazaré quando a acompanhamos em procissão pe-las ruas de Belém durante o Círio ou simplesmente quando a vemos passar por nós (seja das sacadas dos prédios, das janelas das casas, espre-midos nas esquinas e calçadas ou até mesmo pela televisão), tão pequeni-na na berlinda, a ponto de a todos tocar com emoções e lágrimas, nos é possível sentir verdadeiramente a sua santidade. Sim, de uma simples e pequena imagem, emanam para nós sentimentos de delicadeza, ternura, humildade, mansidão, bondade, bele-za interior, serenidade, solidariedade, paz, enfim, amor.

A graça santificante de Maria que dela transcende para nós, em forma de uma pequenina imagem neste dia

abençoado, possibilita-nos ver nas pes-soas este estado de graça, que ilumina a face e enche-nos de contentamento.

A todos nós, descendentes espiritu-ais de Maria, nesta cidade a ela dedica-da, que faz referência a sua santidade em seu próprio nome original “Santa Maria de Belém”, um Feliz Círio, não somente hoje, mas, que possamos vi-ver um permanente “outubro”, o sentir constante do aconchego do seu colo e do abraço do seu manto de amor.

Mãezinha do Céu, Virgem de Na-zaré, Senhora da Berlinda, Lírio Mi-moso do mais suave perfume, San-ta Maria da Belém das mangueiras, Santa Maria da Amazônia, do povo caboclo, simples e humano, solidário e pacífico, acolhedor e alegre, piedoso e generoso, religioso e familiar, rogai por nós, tão necessitados de vós.

A santidade de Maria dá-se exatamente por que ela é a escolhida do Pai, aquela que Ele reservou para ser a Mãe de seu Filho.MARIA ELISA BESSA DE CASTRO | ADVOGADA | MOVIMENTO APOSTÓLICO DA DIVINA MISERICÓRDIA

S A n TA M A r I A, r o G A I por n Ó S!

Belém, domingo, 9 de outubro de 2011 ESPECIAL CÍRIO DE NAZARÉ

FOTO: ARY SOUZA

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Belém, domingo, 9 de outubro de 2011ESPECIAL CÍRIO DE NAZARÉ

Entre as tradições do Círio de Nossa Senhora de Nazaré, o almoço está entre as princi-

pais. Desde as famílias mais pobres até as mais abastadas, católicos ou não, to-do paraense reúne a família em torno da mesa para o tradicional almoço do Círio, quando saboreiam as típicas iguarias do Pará, como a maniçoba, o pato do tucupi e as variadas sobremesas feitas de cupu-açu, bacuri e açaí. Muitas dessas receitas, originam-se da culinária indígena, as quais foram aprimoradas pelas famílias paraenses através das gerações. A comida, entretanto, é um mero componente nesta tradicional reu-nião que, por regra, só acontece após o término da procissão do Círio, isto é, quando a berlinda com a Imagem de Nossa Senhora de Nazaré chega a Ba-sílica Santuário vinda da Catedral da Sé; cuja hora é sempre incerta, poden-do terminar entre 12h e 13hs ou até as 16hs, como já aconteceu nos anos de 2000 e 2004. O importante mesmo centra-se na congregação da família.

João Paulo e Rose Mendes, com seus quatro filhos ( João Paulo Fº, Sérgio, Lilian e Sílvia), todos casados, seus on-ze netos, duas noras e dois genros, com-põe uma dessas famílias que fazem do almoço do Círio uma verdadeira festa familiar, quando todos se reúnem em

torno da mesa de sua casa, inclusive, os cinco netos que reside no Rio de Janei-ro e em São Paulo.

Lilian Mendes Acatauassú, uma das filhas do casal, afirma que este almo-ço, em particular, pode ser olhado por várias direções. Reunir-se em torno da mesa para comer, por exemplo, traz em si a simbologia da partilha; perspectiva que nos ensina o sentido de fraternida-de e da solidariedade. Outro elemen-to importante do almoço do Círio na família Mendes é a decoração da casa, toda em flores, que converge para uma berlinda, com a imagem de Nossa Se-nhora de Nazaré, situada no centro da mesa que, segundo Lilian, simboliza a presença da Mãe de Deus em sua famí-lia, como Mãe e Rainha. “O momento do almoço constitui também um es-paço de oração em que agradecemos a Nossa Senhora pela sua intercessão por nós junto a Jesus, seu Filho; pois, não podemos esquecer que a devoção ma-riana deve ser necessariamente cristo-cêntrica, na medida em que Maria nos leva a Cristo”, conclui.

Como em milhares de famílias para-enses, na família de João Paulo e Rose, a tradição do almoço, no dia do Círio, se mantém como um símbolo de uni-dade fraterna, em torno de Nossa Se-nhora de Nazaré.

Reunir-se em torno da mesa para comer traz em si a simbologia da partilha.

o A L M o Ço, A FA M í L I A, a T r A d I Ç Ão

Belém, domingo, 9 de outubro de 2011

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Belém, domingo, 9 de outubro de 2011 ESPECIAL CÍRIO DE NAZARÉ

S A n TA M Ã E de d E u S, r o G A I P o r n Ó S!

A Santíssima Virgem é Mãe de Deus e por nós todos in-

tercedente e intercessora! A materni-dade divina de Maria origina-se do apelativo grego “THEOTOKOS”, que nos vem carregado de tradição e amor! Por que a Santíssima Virgem é Mãe de Deus? Primeiro, porque gera na carne o Filho unigênito do Pai, isto é, o único gerado da mesma substância divina, conforme professamos no Cre-do, símbolo niceno constantinopolita-no, “gerado, não criado consusbstan-cial ao Pai” , isto é, da mesma substân-cia. Se Jesus provém da mesma subs-tância divina do Pai, logo, conclui-se que Maria é a Mãe do Filho de Deus e nossa mãe. Como nos diz o capítulo VIII da “Lumem Gentiun” do Concílio Vaticano II, mãe na ordem da graça. A Virgem Maria gerou na carne o Fi-lho de Deus. Não há, em consequên-cia, graça maior que esta! Se grande é ser mãe, com toda carga da materni-dade que daí decorre, quanto mais ser mãe do Filho de Altíssimo.

Encontramos na Sagrada Escritura o tema da maternidade divina de Ma-ria,. Na visita de Nossa Senhora a sua parenta Isabel, por exemplo, temos um testemunho claro dessa maternidade. Diz Isabel: “Como posso merecer que a mãe do meu Senhor, venha me visitar?” (Lc 1, 43). Note-se que Isabel chama a Jesus, ainda no ventre, de Senhor; o que significa “Deus”, do grego Kyrios! Tí-tulo caro aos evangelhos somente com a ressurreição do Senhor Jesus! Isabel é quem primeiro canta esse hino à mãe do meu Senhor! Encontramos outro relato na ressurreição, quando diante da incre-dulidade de São Tomé, que exige tocar as chagas do Senhor e vê-lo para crer, afirma estarrecido e com espírito de alta contemplação e, quem sabe, boquiaber-to: “Meu Senhor e meu Deus”! ( João 20, 27-28). Isabel e Tomé, desde então, nos ensinavam a cultuar a mãe de Deus.

Um santo de minha estima parti-cular e fundador dos maristas, com quem tive toda minha formação ini-cial afirmava: “Maria traz Jesus, nos braços ou no coração”. A Virgem de

Nazaré, no contexto abençoado do Círio, onde traz o menino? Nos bra-ços. E Ele, o que traz em seus braços? O mundo! O globo! Ai está Senhor do mundo! Assim, temos: Maria, Je-sus, mundo e Igreja! Não podemos fa-lar de Igreja e de cristãos sem que es-teja Maria presente! Desde o momen-to da concepção até aos pés da Cruz! O evangelho sem Maria, afirmava os bispos reunidos em Puebla em 1978, desencarna-se, fica sem sentido, vazio, oco. Tomo a liberdade de afirmar que a Igreja sem Maria, corresponde ao sermos filhos desnaturados, filhos sem mãe. A Igreja tem sua razão de ser em Maria, que nos deu o Cristo.

O dogma da maternidade divina, origina-se do grego “Thetokos”! Sua tradução literal para o português inclui e contempla “portadora de Deus”. Por-tar a Deus, ou se seja, trazer dentro de si e consigo a Deus. Na teologia calce-doniana, Maria é a Theotokos, porque seu filho Jesus é simultaneamente Deus e homem, divino e humano. Theotokos, portanto, refere-se à Encarnação, quan-

do Deus assumiu a natureza humana em Jesus Cristo, sendo isto possível gra-ças à cooperação de Maria. Ela coopera diretamente no plano da salvação.

Maria é Mãe de Deus vez que é Mãe de Nosso Senhor, pois as duas naturezas (a divina e a humana) estão unidas em Nosso Senhor Jesus Cristo. A alma de Jesus Cristo, criada por Deus, é realmen-te a alma da pessoa do Filho de Deus. A humanidade de Jesus Cristo, composta de corpo e alma, é realmente a huma-nidade do Filho de Deus. E a Virgem Maria é verdadeiramente a Mãe deste Deus, revestido desta humanidade; é a Mãe de Deus feito homem.

Nossa Senhora nos convida a tocar-mos a corda de sua berlinda. Ela nos dá forças a escutarmos o Senhor e ela, tão unida e tão junta ao Filho, é capaz de acolher nossos pensamentos, nossa reta intenção e nossas orações. Ajudai-nos ó Mãe, a fazer o que o vosso Filho nos manda! O Pai eterno nos deu Ma-ria por mãe e esta nos deu o Filho de Deus para nos salvar! Acolhamos este dom de Deus, Maria!

A Virgem Maria gera na carne o Filho de Deus. Se grande é ser mãe, quanto mais ser mãe do Filho do Altíssimo.

PADRE WIREMBERG SILVA | ESTUDIOSO DE MARIOLOGIA | PáROCO DA PARÓqUIA DE SÃO JOSÉ EM BELÉM

ESPECIAL CÍRIO DE NAZARÉBelém, domingo, 9 de outubro de 2011

FOTO: MARCELO SEABRA

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Belém, domingo, 9 de outubro de 2011ESPECIAL CÍRIO DE NAZARÉ

As festividades de Nossa Se-nhora de Nazaré evocam uma tradição religiosa po-

pular de séculos e são parte de herança de fé européia trazida por nossos ancestrais. São marcantes nessas expressões populares, espe-cialmente na cultura nortista, as procissões em homenagem ao santo padroeiro ou a Nossa Senhora. Em nossa região, especialmente, tais procissões ganharam um nome único, diferente de qualquer outra parte do país: são os círios. Vale lembrar a origem da palavra como parte da herança tradicional portuguesa das procis-sões noturnas onde os fiéis empunhavam gran-des velas chamadas círios. Daí, em nossas terras, os círios deixaram de ser meros objetos alegó-ricos das procissões, para assim ganharem um novo e grandioso significado, como expressões vivas das multidões que caminham em louvor e honra ao santo homenageado.

A imagem do Círio de Nazaré evoca ainda outra imagem bíblica do Antigo Testamento quando o povo de Israel caminhava pelo deser-to rumo à terra prometida. Nessa caminhada havia a presença marcante do próprio Deus que não só liderava o povo, mas era de fato presente no maior símbolo da Sua aliança com o povo: a Arca da Aliança que trazia dentro de si as Tá-buas da Lei recebidas por Moisés no Monte Sinai. A Arca era a certeza de que Deus estava presente em meio ao povo e caminhava com aquele povo. Durante a peregrinação do povo no deserto a Arca da Aliança sempre assegurou a presença de um Deus que jamais abandona seu povo, mas sempre o enche de carinhos e cuidados. Mesmo durante a longa jornada no deserto e depois já na cidade Santa de Jerusa-lém a Arca sempre teve um lugar de destaque onde pudesse ser guardada e venerada. O gran-de Templo de Jerusalém, construído exatamen-

te para guardar a Arca durante o reinado de Sa-lomão, mostra claramente a importância que a Arca tinha para o povo, pois onde estava a Arca estava Deus.

Com o advento do cristianismo as Tábuas da Lei já não eram suficientes, pois agora já ha-via uma nova e eterna Aliança entre Deus e seu povo sob a mediação de Jesus Cristo: o Filho de Deus. A Lei escrita em Tábuas de Pedra é agora substituída por uma nova Lei escrita no coração de Deus feito homem. E essa mesma Lei do amor quer fazer morada no coração de todos os homens e mulheres de boa vontade. Agora a verdadeira Tábua da Lei não habita mais o Templo majestoso construído por mãos humanas, mas sim no coração de todo aquele que acolhe a Palavra de Deus feita carne. Maria, então, é a primeira que acolhe inteiramente a Boa Notícia de Deus tornando-se um Templo perfeito da morada do Altíssimo. Desse modo, podemos afirmar que Maria é a nova Arca da Aliança onde o Deus encarnado vem fazer a sua morada para trazer ao mundo a salvação. Maria, como a nova Arca da Aliança, evoca toda essa tradição bíblica porque ela torna-se referência para o novo povo de Deus. Uma vez que ela trouxe dentro de si a nova Tábua da Lei ela torna-se o símbolo da presença de Deus em meio ao povo. Por esse motivo a grande multi-dão que se acerca daquela pequena imagem e a conduz reverentemente em procissão relembra-nos da caminhada do povo de Deus no deserto rumo à Terra Prometida. Estamos em peregri-nação rumo à Terra Prometida. Maria é a nova Arca da Aliança que conduzida entre júbilos e aclamações dá-nos a certeza e a garantia de que Deus está conosco, pois onde está Maria está Jesus Cristo. E por essa graça única existente entre Mãe e Filho é que suplicamos incessante-mente: Arca da Aliança, rogai por nós!

A r C A da A L I A n Ç A, r o G A I P o r n Ó S!Maria é a nova Arca da Aliança. Onde está Maria está Jesus Cristo.

PADRE IDAMOR JUNIOR | DIRETOR DO CENTRO DE CULTURA EFORMAÇÃO CRISTÃ DA ARqUIDIOCESE DE BELÉM

ESPECIAL CÍRIO DE NAZARÉ Belém, domingo, 9 de outubro de 2011

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Na história e na vida da Igre-ja, se cultivou uma particu-lar atenção a figura de Ma-

ria Santíssima, Mãe de Jesus, como um verda-deiro dom e um grande tesouro. Durante a sua vida, segundo uma antiga tradição e os escritos do Novo Testamento, ela foi uma pessoa que sempre acreditou em Deus e respondeu com sua vida de fé às manifestações divinas que ela aprendeu na escuta da leitura dos textos da To-rah na Sinagoga e na fé judaica. Ela percorreu este caminho de fé em toda a sua vida, sobretu-do, no momento em que ela foi concebida sem o pecado original.

A Igreja considera pecado a ruptura que fa-zemos de nossa aliança com Deus, onde cons-cientes de que certos comportamentos e pensa-mentos nos levam para fora de seus desígnios, mesmo assim o realizamos. Por isso, a Igreja convida a viver a fé cristã em escolhas coerentes na obediência e no amor a Deus, feita também por meio de provas. Assim sendo, nos apresenta de modo especial o exemplo de Maria que, no momento da concepção anunciada por meio do anjo (Lc 1, 26-38), nos ensina que muitas vezes a resposta que damos a Deus é exigente depois que renunciamos ao pecado, por isso, conside-ramos que este esforço quotidiano é chamado de SANTIFICAÇÃO.

Maria é concebida sem pecado pelo fato de que nunca disse NÃO a Deus, e desta forma

ela se torna a garantia e o modelo de que é pos-sível percorrermos um caminho de santidade em nossa humanidade. Ela é uma criatura que correspondeu plenamente ao dom de Deus no momento de sua concepção, realizando o su-peramento do mal e da morte, simbolizados na desobediência de Adão e Eva na criação do mundo. Portanto, ela será sem pecado por toda a sua existência, em um contínuo crescimento de graça, santidade, fidelidade à Deus, fideli-dade vivida a cada dia e desta forma, a nossa devoção e amor pela Mãe de Jesus em toda a Igreja ao longo de mais de dois mil anos é a certeza que se tem do grande amor que Deus realmente teve em cumprir as pequenas gran-des coisas da vida de Maria.

A concepção de Maria é o ponto de parti-da para cada reconstrução de nossa história de homens e mulheres, muitas vezes enraizadas no egoísmo e na divisão. “Deus nos escolheu – dis-se São Paulo – antes da criação do mundo, para sermos santos e imaculados no seu amor”, ou seja, imaculados por que respondemos sempre à Ele, vivendo com Ele o amor como foi a vida de Maria, concebida sem pecado.

Celebrando a festa do Círio de Nossa Se-nhora de Nazaré, possamos em modo particu-lar e profundo, viver e perceber a obra de salva-ção que o Senhor quis nos transmitir, quando santificou Maria desde a sua concepção e desta forma, quer também santificar a todos nós.

M A r I A Co n C E B I dA sem P E C A d o,r o G A I P o r n Ó S!

Celebrando a festa do Círio possamos viver e perceber obra de salvação que o Senhor quis nos transmitir.

PADRE ANDRÉ LUIZ MAIA TELES | PáROCO DA PARÓqUIA DOSAGRADO CORAÇÃO DE JESUS DO DISTRITO INDUSTRIAL

Belém, domingo, 9 de outubro de 2011 ESPECIAL CÍRIO DE NAZARÉ

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Belém, domingo, 9 de outubro de 2011ESPECIAL CÍRIO DE NAZARÉ Belém, domingo, 9 de outubro de 2011ESPECIAL CÍRIO DE NAZARÉ

Page 10: Encarte Especial Círio de Nazaré 2011

Belém, domingo, 9 de outubro de 2011 ESPECIAL CÍRIO DE NAZARÉ

Ave-Maria, cheia de graça…, Santa Maria, Mãe de Deus, ro-gai por nós…, pecadores!

Com estas palavras iniciais da 1ª e 2ª parte da oração de Ave-Maria, saudamos Nossa Senhora como fez o anjo Gabriel e a invocamos, pedindo que ela rogue por nós pecadores. Maria Santíssima é medianeira de todas as graças e nossa grande intercessora junto de Deus, o auxílio dos cristãos. Saudando Maria, aproximamo-nos dela para encontrar Jesus, como fizeram os pastores, quando Jesus nasceu em Belém, na Judeia; e invocando-a, fazemos um ato de fé, pois acreditamos que, através dela, chegamos a contemplar Jesus. Nesse sentido diz S. Bernardo que a presença de Maria na nossa vida signi-fica presença de Jesus. Se, quando dizemos: “Maria”, Ela diz “Jesus”, é porque nunca está só, Deus está com ela.

Acreditamos na importância da oração e na inter-cessão materna de Nossa Senhora, “cheia de graça”. Sabemos do Novo Testamento e da Tradição da nossa Igreja Católica que Maria sempre foi apresentada co-mo mãe querida e solícita às necessidades dos cristãos. Ela nos ampara e auxilia. A título de exemplo, basta lembrar o episódio das bodas de Caná, onde Maria, percebendo a falta de vinho, intervém junto de Jesus e diz: “Já não há vinho”! Deste modo, ela mostra-se atenta e solidária com essa situação de necessidade material dos noivos e revela também a sua função de medianeira. O evangelista S. João narra que a partir desse gesto discreto e materno de Maria resultou o milagre em que Jesus transformou a água em vinho e seus discípulos creram nele (cf. Jo 2,1-11). Maria é

a Mãe cheia de graça, auxiliadora dos cristãos e mi-sericordiosa, cuja maternidade espiritual incorpora e abraça todos os membros da Igreja de Cristo.

A celebração da festa do círio vai nos proporcionar vários momentos favoráveis para entrarmos em co-munhão com Deus e estarmos unidos uns com os ou-tros, por meio da oração; implorando humildemente, mas, com confiança, a intercessão materna de Nossa Senhora de Nazaré pelas nossas necessidades mate-riais e espirituais. À Nossa Senhora de Nazaré nos entregamos devotamente como seus filhos no Filho. Junto dela abrimos o nosso coração, tantas vezes aflito e angustiado, deixando-o falar com a nossa Mãe do

A Festa do Círio de Nossa Senhora de Nazaré, Rainha da Amazônia, celebrada neste 2º domingo de outubro, é sempre aguardada com renovada expectati-va e alegria! Por ser tão popular e cada vez mais conhe-cida, nacional e internacionalmente, a festa do Círio de Nazaré atrai e congrega milhões de pessoas numa só fé em Jesus Cristo e igual devoção a Nossa Senhora, Mãe de Jesus. Em Jesus, temos o Salvador e Aquele de Quem Maria recebeu todo mérito. Em Maria, temos a Mãe de Deus e nossa, exemplo de fé, de disponibi-lidade e fidelidade a Deus, colaborando com Ele no plano da salvação do mundo; em Maria, temos uma Mãe, mestra e pedagoga da fé, que nos convida a fazer tudo o que Jesus nos mandou (cf. Jo 2, 5).

A festa do Círio deve nos re-ligar a Deus e nos levar à conversão sincera e permanente, a fazer a von-tade Dele e a seguir o exemplo de Nossa Senhora de Nazaré. Todas as gerações proclamam Maria “bem-

aventurada” e “bendita entre as mulheres”! No círio vamos louvar a Deus com Maria, porque fez nela coisas maravilhosas… Durante o Círio celebramos jubilosos a festa de Nossa Senhora, nossa Mãe e Auxiliadora, Rainha dos Céus, desejando e pedindo que ela interceda por nós, pobres pecadores e pere-grinos neste mundo, para que tenhamos um destino feliz, junto dela no Reino de Deus.

A festa do Círio é capaz de nos ajudar a alcançar a luz das bem-aventuranças, viver uma vida plena e feliz, com Deus, Nossa Senhora e todos os eleitos do Reino dos céus. Aproveitemos pois este tempo festivo, de graça, conversão e salvação, que o Círio de Nazaré nos seguir o exemplo de Nossa Senhora e de coração aberto acolher, com fé e alegria, a sua visita (como fez Isabel!), em casa, na Igreja, no local do trabalho, na rua, onde quer que estejamos… Ouçamos a mensagem de paz, amor e salvação de que Maria é portadora.

Neste dia abençoado, lembro-me de pedir a inter-cessão de Nossa Senhora especialmente por aqueles que são mais pobres e esquecidos, pelos que sofrem e vivem sem esperança, por aqueles que se recomendam às minhas orações, pelos devotos e romeiros de Nos-sa Senhora de Nazaré, pelos povos da Amazônia e, em particular, pelo povo paraense que está na origem desta grande festa religiosa, e, enfim, por todos os que dela participam incansavelmente, com fé e amor; por você, amigo leitor, e enfim, por todos nós pecadores.

Feliz Círio para todos!

Au x í L I o dos C r I S TÃo S, r o G A I P o r n Ó S!A festa do Círio é capaz de nos ajudar a alcançar a luz das bem-aventuranças.

DOM TEODORO MENDES TAVARES | BISPO AUXILIAR DA ARqUIDIOCESE DE BELÉM

ESPECIAL CÍRIO DE NAZARÉBelém, domingo, 9 de outubro de 2011

FOTO: MARCELO SEABRA

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Belém, domingo, 9 de outubro de 2011ESPECIAL CÍRIO DE NAZARÉ

Tradição das mais im-portantes para o para-ense é a roupa da Santa.

Nesta região costuma-se vestir as ima-gens de Nossa Senhora com uma roupa, o chamado manto, um dos mais belos símbolos da Festa de Nazaré. Conta a lenda, que a imagem da Santa achada pelo caboclo Plácido, vestia um manto, de cor azul, com gotas de orvalho co-mo que pérolas. Nos primeiros Círios, a Santa ganhava um manto novo de tem-pos em tempos, em face do elevado cus-to da confecção. Atualmente, a imagem que segue na procissão, dentro de uma berlinda, é envolta em um riquíssimo manto, sendo um novo para cada ano. Um verdadeiro ícone, pois encerra vários elementos místicos, que relatam partes do evangelho ou de símbolos do Círio e da Basílica Santuário.

O trabalho da confecção do manto da Santa iniciou-se pelas Filhas de Maria, irmandade que reunia jovens e senho-ras da sociedade de então, devotas da Virgem Maria, para a oração do terço e a proclamação do Evangelho. Anos depois, a confecção passou a cargo da irmã Alexandra, da Congregação das Filhas de Sant’Ana. Com a sua morte, em 1973, a confecção do manto passou a ser feita por uma ex-aluna do Colégio Gentil Bittencourt, Esther Paes França, que o teceu por longos 19 anos até sua morte. É sabido que de suas mãos saí-ram os mais belos mantos. Em 1992, o manto passou a ser realizado por reno-mados estilistas de Belém, convidados da Diretoria da Festa, cujos nomes são mantidos em segredo até as vésperas da grande procissão, quando é apresentado

ao povo e a imprensa, em meio a uma bonita cerimônia. Seu custo é bancado por doações anônimas.

Além do manto da Imagem de Nossa Senhora de Nazaré que sai na procissão, milhares de outras imagens, réplicas da-quela, em todos os tamanhos, adornam os prédios de apartamentos, as residên-cias dos paraenses e até mesmo órgãos públicos, lojas, shoppings, escolas e fa-culdades. Todas elas têm um manto, do mais simples, colorido e popular, bem ao gosto regional, até aos mais sofisticados, bordados com pedrarias, pérolas e cris-tais, de elevado valor, dependendo do material utilizado.

Thêrése Valente, 78 anos, conheci-da produtora manual de arrranjos pa-ra véu e bouquet de noivas de Belém, está há 40 ano neste mercado e há 30 confeccina mantos, sob encomen-da, para imagens de Nossa Senhora. Seu trabalho é tido como verdadeiras obras de arte, dada preciosidade e de-licadeza das peças que produz. Para ela, a confecção dos mantos é motivo de grande contentamento e possui to-do um significado. O manto, segunda Thêrèse, representa a nossa vida: “ca-da pedra colocada no bordado simbo-liza a nossa caminhada sobre a terra, tendo Maria ao nosso lado; sendo que as pedra maiores são os grandes so-frimentos e dificuldades que enfren-tamos em nossa existência. Porém, apesar do que representam, são tão lindas, vistas isoladas ou em conjunto, no todo do bordado que, ao mesmo tempo, nos permitem sentir o amor de Nossa Senhora por nós, grande e belo”, diz.

o M A n To, S í M B o Lo da V I dACada pedra colocada no bordado simboliza a nossa caminhada

sobre a terra, tendo Maria ao nosso lado.

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Belém, domingo, 9 de outubro de 2011 ESPECIAL CÍRIO DE NAZARÉBelém, domingo, 9 de outubro de 2011 ESPECIAL CÍRIO DE NAZARÉ

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Belém, domingo, 9 de outubro de 2011ESPECIAL CÍRIO DE NAZARÉ

A devoção à Nossa Senhora do Rosário, celebrada no dia 7 de outubro, destaca a importância

de uma oração popular da tradição Católica que, sucintamente, buscaremos relacionar com a vida contemporânea e com o Círio de Nossa Senhora de Nazaré.

Antes de tudo, é sempre importante ressaltar a orientação cristológica do Rosário, do Círio de Nazaré e de toda outra forma de culto à Virgem Maria. A letra de uma conhecida canção do Pe. Zezinho pode nos ajudar a entender o que isso significa: “O povo te chama de Nossa Senhora por causa de Nosso Senhor. O povo te chama de Mãe e Rainha, por que Jesus Cristo é o Rei do céu... Não és deusa, não és mais que Deus, mas depois de Jesus, o Senhor, neste mundo ninguém foi maior”.

A recitação do Santo Rosário, longe de ser uma prática devocional enfadonha, como pode parecer a quem desconhece seu significado, é um valioso exercício de contemplação e meditação que leva o crente a recordar Cristo com Maria, aprender Cristo de Maria, configurar-se a Cristo com Ma-ria, suplicar a Cristo com Maria, anunciar Cristo com Maria (Rosarium Virginis Mariae, 13-17).

O Rosário, desse modo, apresenta-se como uma alternativa para enfrentarmos a agitação contemporânea que nos perturba a ponto de não reconhecermos mais quem somos e esquecermos o significado último de nossa existência. Tal con-fusão desordena nossas relações com as pessoas e as coisas que nos circundam e altera radicalmente a definição de nossas prioridades e necessidades, pondo em risco a felicidade plena que tanto dese-jamos. Não devemos esquecer que somos abertura para o infinito e, assim, nossa sede de felicidade não será saciada enquanto o nosso horizonte se re-duzir à realidade terrena. É, portanto, no encontro com Cristo que nos realizamos plenamente, pois “o

mistério do homem só no mistério do Verbo en-carnado se esclarece verdadeiramente” (Gaudium et Spes, 22).

Percorrendo com Maria os mistérios gozosos, luminosos, dolorosos e gloriosos da vida de seu Fi-lho retornamos às nossas origens mais profundas, redescobrimos o sentido de nossa existência e nos abrimos para a vida em abundância prometida por Cristo, o único capaz de dissipar nossa confusão existencial e nos dar a Paz que precisamos para re-cuperar nossa identidade e reordenar nossa relação com a realidade.

O Rosário, não por acaso, é a oração que acom-panha os fiéis peregrinos ao longo da procissão do Círio de Nossa Senhora de Nazaré. Ambas as de-voções lembram que a vida humana é uma cami-nhada em que a origem, o destino e a finalidade são Cristo, Alfa e Ômega (Ap 1, 8). O Rosário e o Círio também ressaltam a companhia de Ma-ria, mãe, mestra e intercessora, que nos ajuda a nos conformarmos a seu Filho, ponto convergente de nossos desejos mais profundos.

A propósito dos nossos desejos e necessidades, a corda do Círio e os ex-votos revelam a condição indigente da nossa existência temporal e a nos-sa dependência de Cristo, aquele que pode saciar nossa inevitável sede de felicidade plena: “Vós nos fizestes, Senhor, para Ti e o nosso coração estará inquieto enquanto não encontrar repouso em Ti” (Sto. Agostinho; Confissões, I, 1).

Por tudo isso, recitar o Rosário ou partir em ro-maria no Círio de Nazaré deve ser um ato cons-ciente de empenho para que, com Maria, desper-temos do torpor daquela confusão existencial que desfigura nossa identidade e deforma nossa relação com a realidade. Caso contrário, corremos o risco de tornar o Rosário uma prática árida e tediosa e transformar a procissão do Círio de Nazaré num mero caminhar pelas ruas de Belém.

MáRCIO WARISS MONTEIRO | PROFESSOR | MOVIMENTO COMUNHÃO E LIBERTAÇÃO

r A I n h A do S A n To r o S á r I o, r o G A I P o r n Ó S!O Rosário apresenta-se como uma alternativa para enfrentarmos a agitação con-

temporânea que nos perturba a ponto de não reconhecermos mais quem somos.

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Belém, domingo, 9 de outubro de 2011 ESPECIAL CÍRIO DE NAZARÉ

A oração é o segredo da Paz. Da paz dos nossos corações em

constante combate. E também da paz do mundo que é a imagem fiel do cora-ção do homem.

Em suas aparições em Medjugorje desde 1985, Maria pede a seus filhos para não rezarem por suas próprias intenções, mas pelas intenções do co-ração dela, porque ela sabe o que é importante para salvação nossa e do mundo. Rezar pelas intenções de Ma-ria é um meio de sair da bagunça dos nossos corações, para confiar a ela nos-sas preocupações e acolher a paz e a li-bertação de Deus.

Nas suas mensagens Maria insiste sobre o que significa a oração com o co-ração. Creio que este é o segredo para receber o tesouro desta paz que trans-forma a vida. Com o tempo a nossa oração o deve mudar e ficar mais pro-funda. Não devemos somente repetir

palavras mecanicamente, mas, deixá-las entrar pouco a pouco no coração para abrir um canal de graça. Nossa Senhora é um canal que conduz a Paz do Senhor no íntimo do coração.

O Círio, um rio de Paz

Como um estrangeiro que está em Be-lém há dez meses, fico muito impressio-nado com a presença de Maria nesta cida-de. Uma presença forte e capaz de juntar pessoas diferentes, na paz e no respeito. A fé católica recebe Maria como Mãe de Jesus que atrai os filhos do Pai para apro-ximá-los do coração de seu Filho, único caminho. Nossa fé é em Jesus, fé na qual recebemos a presença de Maria ao lado de seu Filho como uma evidência. Maria é a Mãe que segura seu Filho nos braços para que nos aproximemos dele. Ela não cria uma distância e, sim, aproxima. No Círio a presença de Maria é tão natural e sim-ples, como uma evidência que faz a una-

nimidade. Nós católicos devem haurir de Maria cada vez mais um espírito de Paz, para sermos capazes de acolher todas as pessoas, como Maria o faz no Círio.

Vejo que o povo brasileiro (e, aqui em particular, o paraense) é naturalmente afe-tuoso e carinhoso, razão porque se reco-nhece na afeição por Maria. Percebo que o Círio não é um acontecimento cultural e ou político, nem tampouco limitado a Igreja Católica, pois, nele as diferenças são esquecidas (inclusive as religiosas), para nos reunir a todos no manto de uma Mãe simples, que não é uma deusa a qual se oferece um culto, mas, uma mãe real, com a qual se vive uma relação de amor. Cada pessoa que participa do Círio pode dar o testemunho da paz recebida, que em um sentido mais amplo, torna-se uma opor-tunidade de vivermos juntos como uma única família reunida na unidade e na paz. É com este espírito que rogamos:Maria, Rainha da Paz, rogai por nós!

M A r I A, r A I n h A dA PA z, I n T E r C E d E I por n Ó S

PADRE JOÃO EUDES | SACERDOTE NA COMUNIDADE DE ALIANÇA ANAWA

DANIELLE ALMEIDA | OFICIAL DA MARINHA | MOVIMENTO DA JUVENTUDE DE NAZARÉ

No Círio a presença de Maria é tão natural e simples, como uma evidência que faz a unanimidade.

Belém, domingo, 9 de outubro de 2011 ESPECIAL CÍRIO DE NAZARÉ

FOTO: MÁRCIO WARISS

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Belém, domingo, 9 de outubro de 2011ESPECIAL CÍRIO DE NAZARÉ Belém, domingo, 9 de outubro de 2011ESPECIAL CÍRIO DE NAZARÉ

Vós Sois o Lírio Mimoso do mais suave perfume...Não consigo imaginar

o Círio de Nossa Senhora de Nazaré sem música, sem esta música. Aliás, não posso conceber a vida sem música.

Ainda me lembro quando toquei na Banda Prof. José Agostinho, em Santarém, no Círio de Nossa Senhora da Conceição e nas retretas no coreto da Praça da Matriz, na Pérola do Ta-pajós, sob a regência de meu pai Wil-son Fonseca (maestro Isoca) e de meu tio Wilde Fonseca (maestro Dororó). Que saudade!...Quando a procissão do Círio de Nossa Senhora de Nazaré se aproxima e escuto o som da banda de música é inevitável a recordação da-quele tempo. Dá um nó na garganta.

É outubro: “Lá vem a corda/Lá vem o Círio/Quanta emoção, ah!/Na multidão/Lá vem a Santa/Seu man-to é luz/Nos abençoa/Virgem Maria/Mãe de Jesus” (trecho da letra da músi-ca Corda do Círio, de minha autoria). Música, poesia e fé: isto é o Círio!

Outro dia me perguntaram como nasce uma canção, um poema, uma obra de arte? Afinal, o que vem primeiro: a letra ou a música? Respondi: depende; letra e música podem surgir ao mesmo tempo, mas podem ser produzidas em lugares e tempos bem diversos.

Vós Sois o Lírio Mimoso, por exemplo, considerado hino oficial do Círio de Nazaré, composto em 1909 pelo maranhense Euclides Farias, é um dos símbolos mais importantes des-ta grande festa, ao lado da Corda, da

Berlinda, do Manto e da Fé manifes-tada pelo povo paraense. Há quem diga que o belo hino foi dedicado à Nossa Senhora da Providência, padroeira dos Barnabitas e, a pedido do Pe. Afonso Di Giorgio, o advogado paraense Al-debaro Klautau adaptou o estribilho que hoje contém referência à Nossa Senhora de Nazaré. O certo é que o hi-no incorporou-se, a tradição do Círio, sendo dela parte inseparável.

Na verdade, o tema de uma canção ou de um poema surge como um toque de mágica. Acredito que o compositor e o poeta são instrumentos de Deus, na cria-ção da obra de arte. Creio que o texto po-ético está oculto na música para a qual se deseja elaborar alguma letra. E vice-versa, a música está escondida no poema que se pretende musicar. Basta ao compositor ou ao poeta tornar explícito o contexto implícito na partitura ou na poesia. É um processo de descoberta. Um mistério que não sei explicar. O ato de compor me parece tão espontâneo, intuitivo e vital que nem me dou conta do que acontece. De repente, a música ou a letra está cria-da. Surge de uma fagulha de inspiração. Depois, a paciência, os detalhes, o acaba-mento, que demandam técnica e dedica-ção, mas, muito prazer. Não raro, música e letra brotam ao mesmo tempo. Não sei como isso acontece. Apenas acontece. Dedo de Deus, toque de Maria. Assim o é com as músicas do Círio, que a todos tocam a alma.

E a Procissão do Círio vai chegando novamente à Basílica Santuário de Naza-ré. Mais um outubro chega ao seu ápice.

u M o L h A r M u S I C A L sobre o C í r I o

VICENTE MALHEIROS DA FONSECA | DESEMBARGADOR FEDERAL DO TRABALHO | MEMBRO DA ACADEMIA PARAENSE DE MúSICA

Dedo de Deus, toque de Maria. Assim o é com as músicas do Círio. PROCISSÃO DO CÍRIOMúsica e letra:

Vicente Malheiros da Fonseca

Quando vem outubroEm Belém

Todos cumpremA promessa

Do ano inteiroNa mais linda procissão

CírioLírio

DivinoQuanta beleza

Ah! lá vem a SantaQue anima a minha fé

Oh! Virgem Mãe Amorosa!...

Sou um promesseiroNazaré

Vem comigoPuxo a cordaVou seguro

No caminho pra Belém

CantoRezo

ContritoAve Maria

Carro dos MilagresRenova a minha fé

Oh! Virgem Mãe Adorada!...

Quando vem outubro...

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Belém, domingo, 9 de outubro de 2011 ESPECIAL CÍRIO DE NAZARÉ