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Associação dos Jovens Agricultores de Portugal

JUL|AGO|SET| 2017 | Distribuição Gratuita | Periodicidade Trimestral

JovensAgricultores #111

AJAP promove produtos agro-alimentarestradicionais de qualidade em Moçambique

Entrevista com Eurico Brilhante Dias,Secretário de Estado da Internacionalização

Diretor: Eduardo Almendra

4 ED I T OR IAL

Internacionalizar os produtos agro-alimentares portugueses

5 SAB IA Q UE

6 A T UAL IDADE

O apoio aos jovens agricultores deve ser mais orientado

DO SSIER CENT RAL- Inter nac i o na l izacao Agr o-a l imentar

7 AJAP promove produtos tradicionais portugueses em Moçambique

10« «O Programa Internacionalizar é uma prioridade nacional», entrevista com Eurico Brilhante Dias

12 «Estão reunidas as condições para o aprofundamento dos laços comerciais e de investimento entre Portugal e Moçambique», Maria Amélia Paiva

14 Parcerias Portugal-Moçambique para o investimento, Paulo Ramalho

16 Competitividade dos produtos agrícolas no mercado global, opinião de José Diogo Albuquerque

18 «A AJAP pode ser um parceiro importante de Moçambique na formação de quadros agrários», Joaquim Chissano

P ARCE IRO S AJAP

20 «Há um notável aumento de jovens que se dedicam à Agricultura», José Manuel Estiveira Gonçalves

AJAP SO U EU

22 ««É preciso que os jovens fiquem e invistam na sua terra», Filomena Rosário

INVES T IGACAO E DESENV OLV IMENT O

24 Armadilha automática para contagem da mosca da azeitona

P ARCER IAS INT ERNAC IO NAIS

26 «20% do orçamento da PAC deve ser dedicado aos jovens agricultores», entrevista com Jannes Maes

28 Inquérito �Jovens Agricultores Europeus - Construindo um setor sustentável�

31 AGENDA

03IND I C E

04

Ficha Técnica

Propriedade e Edição AJAP-Associação dos Jovens Agricultores de Portugal | Rua D. Pedro V, 108, 2º - 1269-128 Lisboa

Direção Eduardo Almendra Coordenação Editorial Nélia Silva

Redação: AJAP-Associação dos Jovens Agricultores de Portugal | Rua D. Pedro V, 108, 2º - 1269-128 Lisboa

Secretariado Olga Leitão Departamento Comercial Comunicland � Comunicação e Marketing | [email protected]

Paginação Miguel Inácio Impressão GMT Gráficos Lda | Rua João de Deus, 5-C, Venda Nova - 2700-486 Amadora

Depósito Legal nº 78606/94 Registo de Título nº 116714

Tiragem 10 000 Exemplares Periodicidade Trimestral

E-mail [email protected] URL www.ajap.pt

Distribuição Gratuita

Estatuto Editorial: consulte em www.ajap.pt

Com o apoio

E D I T O R IA L

Internacionalizar os produtos agro-alimentares portugueses

4

Internacionalizar, divulgar, abordarconsumidores, explicar as carate-rísticas organoléticas e sensoriais deprodutos agrícolas portugueses,tradicionais e de excelente qualidade,é necessariamente uma função im-portante que associações de produ-tores e empresários devem desenvol-ver além-fronteiras, nomeadamentejunto dos países da CPLP.

Um projeto da AJAP, financiado peloprograma Compete 2020, visa con-tribuir para o aumento do consumoe da notoriedade dos produtos agro-alimentares tradicionais portugueses- queijos, enchidos, presunto e azeite- nos mercados-alvo Moçambique eBrasil.

Importa explicar aos consumidoresnas provas de degustação, e essa éuma preocupação fulcral da AJAP,como são obtidos os produtos, quaisos métodos de fabrico, processos decura e maturação e, no caso do azei-te, a sua extração. Da produção, dosmétodos e processos que lhe estãoassociados, resulta um conjunto dequalidades ímpares distintivas (orga-noléticas e sensoriais) que torna estesprodutos "Gourmet".

Divulgar, promover e levar os nossosprodutos a todos os cantos do mun-do, em eventos desta natureza e ou-tros, fazem chegar o Portugal quesomos - genuínos, orgulhosos danossa história, contudo desenvol-vidos, empreendedores, inovadores- e cada vez mais exportadores.

É este dinamismo que não podemosnem devemos afrouxar, é este que-rer que tem e deve ser permanente-mente apoiado.

Neste número da Jovens Agricultorespretendemos dar cobertura a estaprimeira ação deste projeto, emMaputo - Moçambique, bem comotrazer aos nossos leitores, jovensagricultores, agricultores e outros,algumas das intervenções proferidaspelos conceituados oradores presen-tes no Fórum Qualidade e Competiti-vidade Agro-Alimentar realizado nacapital moçambicana.

Pretendemos deixar uma nota quenos parece importante à margemdeste projeto: Moçambique neces-sita muito do nosso know-how produ-tivo e tecnológico, da nossa experiên-cia nos domínios das sementes, fer-

tilizantes, agro-químicos, na área doprocessamento e comercialização.A AJAP pode ser, e é, uma excelenteporta de entrada para aquele país,juntamente com jovens empresáriosportugueses e agricultores empreen-dedores. Com alguns parceiros mo-çambicanos já identificados e a iden-tificar podemos todos fazer muitomais: produzir, exportar, contribuirpara o combate à fome e à precarie-dade num país "irmão" que tem tudopara dar certo.

Por último, quero agradecer a pre-sença do Dr. Joaquim Chissano, ex-Presidente da República de Moçam-bique, da Drª Maria Amélia Paiva, Em-baixadora de Portugal em Moçam-bique e do Dr. Eurico Brilhante Dias,Secretário de Estado da Internaciona-lização, destacando as excelentes eassertivas intervenções que realiza-ram, contribuindo para uma discus-são profícua entre Portugal e Moçam-bique, no tema Agro-alimentar.

Eduardo Almendra, Presidente da AJAP

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S A B IA Q UE

Brasil valoriza azeite português

Em 2016 as exportações portuguesas de azeite para oBrasil totalizaram 31.380 toneladas, com um valor de

cerca de 140 milhões de euros (cerca de 33% do valor dasexportações totais de azeite). No primeiro semestre de

2017, as exportações aumentaram 52,4% ,atingindo 82 milhões de euros (16.500 toneladas).

O valor das exportações nacionais de azeite para o Brasiltem aumentado de uma forma sustentada ao longo dosúltimos anos. O segmento de mercado que mais cresceno Brasil é o mercado dos azeites virgem extra, categoria

superior, de maior qualidade e valor acrescentado.Fonte: Casa do Azeite

Comércio Portugal-Moçambique

Portugal exportou para Moçambique produtos dossetores agrícola e agroalimentar, mar e florestas no valorde 43,9 milhões de � em média anual, entre 2012 e 2016,(ocupando assim a 26ª posição em relação ao total dos

países), enquanto as importações ascenderam a 35,8milhões de � (31ª posição).

De acordo com dados do INE, o número de empresasportuguesas que exportaram produtos para Moçambiquetem vindo a decrescer regularmente ao longo dos últimos

anos, passando de 2.670 em 2012 para 2.025 em 2016.O forte processo de desenvolvimento económico

registado em Moçambique foi abruptamenteinterrompido nos anos 2015 a 2017, prevendo-se a retoma

a partir de meados de 2018.Fonte: GlobalAgrimar, AICEP e INE

Vinho - exportações lusas recuperam

Portugal recupera vendas de vinho para Angola, Brasile China. No primeiro semestre de 2017, as exportações

cresceram 10%, face a igual período do ano passado, masas expedições para os países terceiros tiveram um

crescimento de 25%. No plano externo, destaque paraAngola, Brasil e China, destinos que tiveram quedas

acentuadas em 2016, e agora estão de novo florescentes.O mercado angolano foi o que mais se destacou, ao

aumentar as compras em 136%. O Brasil comprou mais79% e a China mais 29%.

Fonte: Ministério da Agricultura

A auditoria incidiu sobre os quatroEstados-Membros da UE que efetu­aram o maior volume de despesas atítulo dos jovens agricultores: França,Espanha, Polónia e Itália. Os auditoresconstataram diferenças significativasentre a gestão dos pagamentos aoabrigo do Primeiro Pilar, que propor­cionam um montante adicional de25% para os jovens agricultores paraalém dos pagamentos diretos, e ospagamentos ao abrigo do SegundoPilar, para a primeira instalação dejovens agricultores.

Segundo o relatório, em relação aoPrimeiro Pilar, o apoio não se baseianuma avaliação adequada das ne­cessidades, não reflete o objetivogeral de incentivar a renovação dasgerações, nem sempre é concedidoaos jovens agricultores com ne­cessidades e, por vezes, beneficiaexplorações nas quais os jovens agri-cultores têm apenas um papel redu-zido. Os Estados-Membros não co­ordenam os pagamentos ao abrigodo Primeiro Pilar com o apoio paraos jovens agricultores ao abrigo doSegundo Pilar. O apoio é prestadode uma forma normalizada, que nãodá resposta a necessidades específi­cas, para além do rendimento adicio­nal. O quadro comum de acompa-nhamento e avaliação não inclui in­dicadores de resultados.

Embora o Segundo Pilar se baseie,em geral, numa avaliação vaga dasnecessidades, os seus objetivos refle­tem parcialmente o objetivo geral defomento da renovação das gerações.A ajuda está orientada mais direta­mente para as necessidades dos jo-vens agricultores no acesso a terras,capital e conhecimentos.

"É fundamental apoiar eficazmenteos jovens agricultores para que a ati-vidade agrícola seja sustentável aolongo das gerações", afirmou JanuszWojciechowski, o Membro do Tribu­nal de Contas Europeu responsávelpelo relatório. "Porém, o Tribunal en­controu poucas provas dos resultadosdestas medidas e de que ajudem efe­tivamente os jovens agricultores, prin­cipalmente devido a uma orientaçãoinsuficiente da ajuda e a indicadoresde fraca qualidade."

Os auditores recomendam que aComissão Europeia e os Estados--Membros:

- melhorem a sua lógica de inter-venção através do reforço daavaliação das necessidades eda definição de objetivos quereflitam o objetivo de promovera renovação das gerações;

- melhorem a orientação das me­didas através de melhores siste­

mas de seleção de projetos eda utilização de planos de ati-vidades;

- melhorem o acompanhamentoe a avaliação, inspirando-se nasmelhores práticas desenvolvi­das pelos Estados-Membros.

No período de 2007-2020, a UE afe­tou 9,6 mil milhões de euros de ajudapara os jovens agricultores, a fim deaumentar a competitividade dasexplorações agrícolas e promover arenovação das gerações no setoragrícola. Incluindo o cofinanciamentodos Estados-Membros ao abrigo damedida de apoio à instalação, noâmbito do Segundo Pilar, a ajudapública totaliza 18,3 mil milhões deeuros. Quase 200.000 jovens agricul­tores receberam ajuda da UE paraapoio à instalação no período de2007-2013.

O número de jovens agricultores naUE diminuiu de 3,3 milhões para 2,3milhões entre 2005 e 2013, sendo apercentagem de jovens agricultoresface ao total de agricultores ligeira­mente superior a 20%.

O relatório, datado de 29 de junho de 2017, está disponível em Português no site eca.europa.eu

O apoio aos jovens agricultoresdeve ser mais orientado

O apoio da UE aos jovens agricultores, no âmbito da PAC, é demasiadas vezes, mal definido, semque estejam especificados os resultados e o impacto, segundo um novo relatório do Tribunal deContas Europeu. Os auditores defendem que o apoio deve ser mais orientado para conseguirpromover uma renovação das gerações eficaz.

A T U A L IDADE

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Internacional izacao Agr o-al imentar

«AJAP promove produtos tradicionais portuguesesem Moçambique»

A AJAP realizou uma ação de pro-

moção dos produtos tradicionais

portugueses � queijos, enchidos,

presunto e azeite � em Maputo, no

final de agosto, no âmbito da

�Campanha Portugal Gourmet�.

Este projeto, financiado pelo pro­

grama COMPETE 2020, visa contri­

buir para aumentar a notoriedade

e o consumo dos produtos agro-

alimentares portugueses nos mer­

cados-alvo Moçambique e Brasil.

Foi coroada de êxito a missão daAJAP que visou divulgar a quali-dade dos produtos portuguesesem Moçambique, no âmbito deum projeto de internacionalização

intitulado �Campanha PortugalGourmet�, financiado pelo progra­ma COMPETE 2020.

Azeites, queijos, enchidos e pre­sunto nacionais fazem parte doportfólio de produtos que a AJAPpromove e divulga, através de pro­vas de degustação e eventos queinformam acerca das suas qua-lidades, técnicas de produção, pro­cessos de transformação e emba-lagem dos produtos. A ação reali-zada em Maputo levou os produ­tos tradicionais portugueses à Em­baixada de Portugal na capitalmoçambicana, onde centenas deconvidados provaram as iguarias

nacionais em simbiose com a cu­linária de Moçambique.

Com o intuito de enquadrar a�Campanha Portugal Gourmet�num contexto de disseminação deconhecimento, reflexão e debatesobre o setor agro-alimentar por-tuguês e as suas oportunidadesno mercado externo, a AJAP orga­nizou em paralelo o �Fórum Quali-dade e Competividade Agroalimen­tar�, no Hotel Polana, em Maputo,a 30 de agosto. O evento contoucom a participação de represen­tantes políticos e empresários por­tugueses e moçambicanos, aomais alto nível.

DOSSIER CENTRAL - Internacional izacao Agr o-al imentar

A mesa da sessão de abertura foicomposta por Eurico BrilhanteDias, Secretário de Estado da Inter-nacionalização de Portugal, MariaAmélia Paiva, Embaixadora de Por­tugal em Moçambique e FirminoCordeiro, Diretor-Geral da AJAP.

Na mesa redonda �Parcerias Por­tugal-Moçambique para o Investi­mento� participaram como orado-res António Souto, AdministradorDelegado da GAPI-SI, Licínio Pina,Presidente do Conselho de Admi-nistração do Crédito Agrícola, LuísFilipe de Castro Henriques, Presi­dente da AICEP, Miguel PoiaresMaduro, Professor Universitário eex-Ministro Adjunto e do Desen­volvimento Regional e Paulo Ra­

malho, Especialista em RelaçõesInternacionais.

Na mesa redonda �Competiti-vidade dos Produtos Agrícolas noMercado Global� estiveram pre­sentes Luís Mira da Silva, Presi­dente da INOVISA, Soares Xerinda,Presidente do Conselho deAdministração da Hidráulica deChókwe, José Diogo Albuquerque,consultor, Administrador doAgroportal e ex-Secretário de Es­tado da Agricultura e Firmino Cor­deiro, Diretor-Geral da AJAP. A me­sa foi moderada pelo jornalistaportuguês João Carlos Moleira.

A intervenção de encerramentodo Fórum foi da responsabilidade

de Joaquim Chissano, Presidenteda Fundação Joaquim Chissano eex-Presidente da República deMoçambique. O evento terminoucom um almoço onde foram servi­dos queijos, enchidos, presunto eazeite portugueses, em harmoniacom a culinária moçambicana.

«A Campanha Portugal Gourmet»faz parte de um conjunto de açõesa desenvolver pela AJAP, nospróximos meses, em Moçambiquee no Brasil e enquadra-se numaestratégia de internacionalizaçãoda agricultura Portuguesa em mer­cados com oportunidades decrescimento e que falam a nossalíngua», explica Firmino Cordeiro,Diretor-Geral da AJAP.

Revista Jovens Agricultores #111

Dr. António Souto,Administrador Delegado da GAPI-SI

Dr. João Carlos Moleira,Jornalista

Professor Doutor Miguel Poiares Maduro,Professor Universitário, ex-Ministro Adjuntoe do Desenvolvimento Regional

Dr. Luís Filipe de Castro Henriques,Presidente da AICEP

Eng.º Licínio Pina, Presidente do Conselhode Administração do Crédito Agrícola

Dr. Carlos Mucavele, Assessor do Ministroda Agricultura de Moçambique

«O ProgramaInternacionalizaré uma prioridade

nacional»

O Governo vai aprovar até ao finaldeste ano um programa para a

internacionalização da economiaportuguesa, que pretende ajudar as

PME a exportar mais e a encontrarnovos mercados. Simultaneamente,o Executivo pretende atrair a diáspora

portuguesa a investir no territórionacional. Entrevista com Eurico

Brilhante Dias, Secretário de Estadoda Internacionalização.

Quais são os grandes objetivos do "Programa Internacionalizar" aapresentar pelo Governo até final do ano?

O �Programa Internacionalizar� é uma prioridade política do XXI GovernoConstitucional, que mereceu igualmente apoio do Conselho Estratégicopara a Internacionalização da Economia (que agrega os principaisresponsáveis, públicos e privados, pela internacionalização da nossaeconomia). Os objetivos prendem-se, fundamentalmente, com:

� O aumento das exportações, reforçando a seu peso relativo no PIB;

� Alargamento da base exportadora nacional, dando especial enfoqueàs PME (pequenas e médias empresas);

� Considerando que cerca de 70% das exportações portuguesas sãopara o mercado europeu, a diversificação de mercados é outroponto importante;

� Reforço do valor acrescentado das exportações nacionais;

� Aumento do investimento português no Estrangeiro e do Stock deInvestimento Direto Estrangeiro para a capitalização e desenvolvi­mento de ativos e densificação de cadeias de valor nacionais.

Termino, acrescentando que pretendemos aumentar a eficácia dosrecursos públicos através da articulação com diversos atores (agênciaspúblicas, entidades empresariais e académicas, entre outros).

O Governo pretende uma mudança progressiva na estrutura doinvestimento direto estrangeiro captado por Portugal. Quer explicar?

Nesta questão é relevante salientar que temos como objetivo captarmais e melhor investimento direto estrangeiro, colocando o foco naresolução dos gaps da cadeia de valor da produção nacional. Atrair adiáspora portuguesa como potencial investidor e valorizar a rede debeneficiários de autorização de residência para atividade de investi­mento. Concluo, referindo a importância do reforço e perceção dePortugal como país seguro, estável, inovador e moderno, com ambientepropício aos negócios, captando assim a atenção de investidoresinternacionais.

Das medidas previstas no "Programa Internacionalizar", quais as queterão impacto direto na internacionalização do setor agroalimentarportuguês?

O �Programa Internacionalizar� não dá destaque a nenhum setor deatividade específico. Como já foi referido, pretende-se definir objetivosconcretos e apostar numa articulação mais eficaz de todos os agentesenvolvidos na internacionalização da nossa economia. Sem prejuízode algumas medidas puderem ter um impacto mais direto em algunssetores (por exemplo, no caso no setor agroalimentar o acompanha­mento de barreiras à entrada de algumas mercados), a verdade é queas medidas previstas pelo programa internacionalizar são transversaisa todos os setores de atividade.

Eurico Brilhante Dias,Secretário de Estado da Internacionalização,

participou no Fórum Qualidade e CompetitividadeAgro-Alimentar, organizado pela AJAP

em Maputo, em agosto passado

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DOSSIER CENTRAL - Internacional izacao Agr o-al imentar

Revista Jovens Agricultores #111

«Os PALOP sãoefetivamente prioritáriospara as nossas empresas»

Os PALOP são mercados prioritários para a internacionalização da economiaportuguesa? Em que países dos PALOP existem as melhores oportunidadespara a internacionalização do setor agroalimentar?

O Estado não deve assumir a responsabilidade de definir mercados prio-ritários. Essa função deve ser (e é) uma função essencial das empresas edas entidades que as representam (em particular, as Associações Empre­sariais). Naturalmente, o Estado não pode (nem deve) deixar de apoiar asempresas nessa definição de mercados. Para este efeito, alguns Eixos do�Programa Internacionalizar� são fundamentais: Business and Market Intel­ligence (informação sobre mercados, oportunidade de negócio, identificaçãode tendências�), Qualificação de Recursos Humanos (de apoio à Internaci-onalização e à Gestão), Financiamento (procurando garantir melhorescondições de acesso e de operação), Apoio no Acesso aos Mercados (AICEPem Portugal e no Exterior, Rede de Embaixadas�) ou Política Comercial eCustos de Contexto.

Dentro deste enquadramento e considerando o último concurso do Portugal2020 de apoio à internacionalização de projetos conjuntos (promovidos porAssociações), podemos afirmar que os PALOP são efetivamente prioritáriospara as nossas empresas, pois são mercados onde está previsto o terceiromaior número de participações de empresas nacionais (a seguir à UE e àÁsia). Naturalmente, a afinidade cultural e linguística que temos com estesmercados assumem-se com fatores de competitividades bastante relevantes.

O Sr. Secretário de Estado participou no Fórum Qualidade e CompetitividadeAgro-Alimentar, organizado pela AJAP em Maputo, em agosto passado.Que conclusões retirou desde evento quanto ao potencial do mercadomoçambicano para investimento português?

Neste ponto felicito a AJAP pela realização do Fórum Qualidade e Compe-titividade Agro-Alimentar, em Maputo. A presença do Ex-Presidente daRepública de Moçambique, Dr. Joaquim Chissano, no evento, atesta darelevância que lhe foi dada, em Moçambique. Enquanto Secretário de Estadoda Internacionalização reiterei, em diversas ocasiões, que o atual Governoentende que as Associações Empresariais têm um papel fundamental nainternacionalização. Associações Empresariais como a AJAP, através do seudinamismo e iniciativas como o Fórum, promovem o conhecimento mútuodos mercados, identificando e divulgando oportunidades de negócio esobretudo promovendo o contato entre empresas e empresários dos Países.Encontram-se, portanto, na dianteira da internacionalização da economiaportuguesa, facilitando o acesso das empresas portuguesas a mercadosestrangeiros. No caso específico do mercado moçambicano, o Fórum tevea mais-valia de promover o networking empresarial que é indispensável parafomentar o desenvolvimento de parcerias no setor agroalimentar. Assinergias entre empresas portuguesas e moçambicanas devem ser incenti­vadas, pois são vantajosas para ambas. Moçambique, devido ao seu vastoterritório com enorme diversidade de solos e climas, tem um enormepotencial agrícola e o know-how português no âmbito da formação,qualificação, investigação aplicada, desenvolvimento de projetos,comercialização, irrigação e transferência de tecnologia poderá ter umimportante contributo no seu desenvolvimento.

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O setor do agronegócio é um dos4 pilares de desenvolvimentoapontados como prioritários peloGoverno de Moçambique e temvindo a captar um interesse cres­cente por parte das empresas por­tuguesas.

Da agricultura, à distribuição, pas­sando pela indústria transforma­dora e pelos serviços de consulto­ria e estudo/análise, as empresasportuguesas têm sondado a possi­bilidade de posicionar-se neste im­portantíssimo mercado e algunsgrupos económicos investem jáem Moçambique, como sejam ogrupo SONAE, o grupo AMORIM,o grupo Mundotêxtil (em parceriacom Mundifios e Crispim e Abreu),o grupo Entreposto, o grupo Tei-xeira de Almeida, o grupo JoãoFerreira dos Santos, o grupo Por­tucel, o grupo Visabeira, o grupoTeixeira Duarte, o grupo Soguima,para destacar alguns, que aqui seencontram, nalguns casos emparceria com empresas locais.

Mas também individualmente, en­contramos inúmeros exemplos de

fortes investimentos de empresasde capitais portugueses que apli-caram os seus recursos, os seusconhecimentos e a sua força aními­ca para singrarem em Moçam­bique e são hoje grandes produ­tores de caju, de batata, de gadoe de muitos outros produtos e atéde crocodilos. De notar que Mo-çambique dispõe de um recursomuito escasso na região da ÁfricaAustral, essencial ao desenvolvi­mento deste setor, a água. Dis-põe também de terra e de recur­sos humanos jovens que começaa qualificar e, por outro lado, man­tém com os países do Médio Ori­ente e da Ásia, para além dos seusparceiros da SADC, uma relaçãocomercial duradoura e profundao que lhe permite assegurar mer­cado para potenciais investimen­tos que venham a ultrapassar ofoco no mercado interno moçam­bicano.

Recentemente a União Europeiaacordou com a SADC um Acordode Parceria Económica - APE quepermite o aprofundamento derelações económicas e estão a ser

produzidos documentos normati­vos pelo governo Moçambicano queirão permitir a entrada no país deequipamentos e insumos necessári­os ao desenvolvimento do setoragroindustrial, à taxa zero.

Estão assim, cremos, reunidas con-dições para o aprofundamentodos laços comerciais e de investi­mento entre Portugal e Moçam­bique, neste setor pelo que, nestacomo noutras áreas, continuare-mos a apoiar as empresas portu­guesas na sua procura e apostaneste setor e nesta região. Traba-lharemos com as competentes au­toridades moçambicanas na identi-ficação de problemas críticos e naspossíveis soluções como são o aces­so às DUAT � Direito de Uso e Apro-veitamento da Terra e na sua con-cretização e valorização como for­ma de instrumento de garantiapara o acesso a crédito. Neste âm-bito particular, as linhas de finan­ciamento e instrumentos de capi-talização terão também de sersubstancialmente melhorados. Aligação aos centros de saber por­tugueses, que assegurem inova-

«Estão reunidas as condições para oaprofundamento dos laços comerciais e deinvestimento entre Portugal e Moçambique»Excerto do Discurso da Dr.ª Maria Amélia Paiva, Embaixadora de Portugal em Moçambique, na Sessãode Abertura do Fórum Qualidade e Competitividade Agro-Alimentar, realizado em Maputo, a 30 de agostode 2017.

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DOSSIER CENTRAL - Internacional izacao Agr o-al imentar

Revista Jovens Agricultores #111

ção das soluções ao longo de todaa cadeia de valor é também umaárea fundamental e de colabo-ração possível com Moçambique.Os Governos de Moçambique e dePortugal têm vindo a reafirmar aimportância estratégica da cadeiade valor agrícola para o desenvolvi­mento económico e social dos doispaíses, com vista a ter um impactopositivo nas economias dos doispaíses e para a melhoria da qua-lidade de vida das populações.

É assim que a Embaixada de Por­tugal em Moçambique, através daAICEP � Agência para o Investi­mento e Comércio Externo de Por­tugal, tem vindo a levar a caboiniciativas consistentes nesta áreaprioritária.

Em dezembro de 2016 organizá­mos um seminário sobre agrone-gócio que desenhámos como umtrajeto do Agricultor ao mercadopassando pela transformação, ar­mazenamento e distribuição doproduto. Abordámos então a te-

mática da relevância dos jovensagricultores na transformação dosetor agroindustrial português,tendo na altura contado exata­mente com a colaboração daAJAP, e exemplificámos com umprocesso organizativo em formade cooperativa, num território debaixa densidade, utilizando produ­tos endógenos locais, e contámostambém com o exemplo de umagrande cadeia de distribuição quecriou um clube de produtores parao aproximar de pequenos agricul­tores e assegurar a possibilidadede os integrar como seus fornece­dores. Falámos ainda de financia­mento, de desafios e de oportuni-dades. Por fim, simbolicamente,um renomado chefe de cozinha uti­lizou produtos dos expositores queconvidámos a participar nesse even­to preparando propostas de degus-tação de fusão dos dois países.

Consideramos que o evento per­mitiu dar um novo impulso para oestabelecimento de possíveisparcerias e para uma série de

ações sistemáticas no âmbito doagronegócio.

Assim, num apertado exercício degestão de recursos financeiros,produzimos informação em forma­to de mapa de estradas do investi­dor no setor agro, à qual juntámosuma lista de oportunidades denegócio. Ambos os documentosforam agora distribuídos pelos par­ticipantes nas várias missões em­presariais que por altura da FACIMse deslocam a Moçambique.

O MASA � Ministério da Agricultu­ra e Segurança Alimentar Moçam­bicano, demonstrou disponibi-lidade para colaborar com a AICEPe a Embaixada no aprofundamen­to de oportunidades de negócioe desafios do setor. Estamos mui-to disponíveis para prosseguir nodesenvolvimento deste tema atra-vés de ações práticas diversas, ali-nhando a intervenção económicae comercial e a cooperação portu­guesa com os interesses económi-cos e as empresas portuguesas.

«Parcerias Portugal-Moçambique para o investimento»Por: Paulo Ramalho, orador do �Fórum Qualidade e Competividade Agroalimentar�

Tenho-o repetido por diversas vezes,apesar de ser considerado um paíspobre, atualmente com uma popu-lação de cerca de 27 milhões de pes­soas (maioritariamente jovem), comum PIB per capita na ordem dos 411dólares americanos, Moçambique éum território de elevado potencialeconómico. E estou certo, que maistarde ou mais cedo, o destino vaitratar de confirmar esse estatuto.2030 é claramente uma meta.

Moçambique possui uma situaçãogeográfica privilegiada, cujo terri-tório possui uma extensa costa decerca de 2.470 Km, uma Zona Econó-mica Exclusiva de 586 mil Km2 e fazfronteira com seis países, Tanzânia,África do Sul, Malawi, Zâmbia, Zim­babué e Suazilândia, sendo que es­tes quatro últimos, não possuemqualquer acesso direto ao mar, peloque serão sempre potenciais cli­entes das infra-estruturas portuáriasmoçambicanas�

Acresce que, segundo estimativasde 2015, Moçambique possuirá aquarta maior reserva de gás naturaldo mundo e poderá ter reservas su­periores a 23 mil milhões de toneladasde carvão mineral, cuja exploraçãopoderá tornar o país no maior expor­tador de carvão do continente afri­cano, a médio prazo.

Sendo que é no setor agrícola, emminha opinião, que nesta altura ocu­pa cerca de 80% da sua população, ecuja produção em 2014 contribuiuapenas com 24% para o PIB nacional,que Moçambique poderá encontraro caminho mais seguro para a afir-mação do seu desenvolvimento. Ca-raterizado por uma grande diver­sidade de solos e variantes climaté-ricas, o território moçambicano pos­sui especiais condições naturais paravir a ser um grande produtor de bensalimentares. Recorde-se que Moçam­bique possui mais de 36 milhões dehectares de solo arável, dos quaissomente 10% estão a ser efetiva­mente explorados. E dos 3,3 milhõesde hectares de terreno com capa-cidade de irrigação, por esta alturanão chegarão aos 150 mil os que pos­suem infra-estruturas para o efeito.

Falta qualificação e organização àprodução agrícola moçambicana. Fal­tam infra-estruturas. Faltam investi­mentos estratégicos que para alémda produção apostem no processa­mento, na transformação e na co-mercialização, que tenham a ambiçãode atingir para além dos mercadoslocais, os mercados externos.

Um dos maiores constrangimentosao desenvolvimento económico deMoçambique, e designadamente noque respeita ao setor empresarial

agrário, reside na deficiente rede devias de comunicação que o país aindapossui, quer a nível das infra-estru-turas rodoviárias (apesar dos re­centes investimentos�), quer fer­roviárias (muito reduzida e em mauestado), o que dificulta muito o trans­porte de pessoas e bens. Todavia, oGoverno moçambicano anunciou re­centemente planos para a constru-ção de linhas férreas de norte a suldo país, numa extensão de 3.800 Km.

Ora, Moçambique integra conjunta­mente com a África do Sul, Angola,Botswana, República Democráticado Congo, Lesoto, Madagáscar,Malawi, Maurícias, Namíbia, Suazi-lândia, Tanzânia, Zâmbia e Zimbab-we, a Comunidade para o Desenvol-vimento da África Austral (SADC), ouseja, uma zona de comércio livre commais de 240 milhões de consumi­dores.

Por outro lado, as Nações Unidasestimam que a população mundial,que hoje é de cerca de 7,2 mil milhões,possa atingir os 9,6 mil milhões em2050, o que segundo a FAO poderáimplicar um aumento da produçãoalimentar na ordem dos 60% até2050, para responder às necessida-des futuras da humanidade.

Acresce que em setembro de 2015,e sob a égide da Organização das

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Paulo Ramalho e Licínio Pina, presidente do conselho de administração do Crédito Agrícola, cumprimentam Joaquim Chissanoà chegada ao �Fórum Qualidade e Competividade Agroalimentar�

DOSSIER CENTRAL Internacional izacao Agr o-al imentar

Revista Jovens Agricultores #111

Nações Unidas, foram aprovados osdenominados �Objetivos do Desen­volvimento Sustentável�, tendo osprincipais líderes mundiais assumidoo compromisso de desenvolver es­forços no sentido de até 2030 seremalcançados um conjunto de objetivose metas extensíveis a todo o planeta,de que se destacam: a erradicaçãoda pobreza, a erradicação da fome,o alcance da segurança alimentar, amelhoria da nutrição e promoção daagricultura sustentável, a garantia doacesso a uma educação inclusiva, dequalidade e equitativa, a promoçãodo crescimento económico inclusivoe sustentável, do emprego pleno eprodutivo, do trabalho digno, aconstrução de infra-estruturas resi-lientes, a promoção da industria-lização inclusiva e sustentável, o fo­mento da inovação, a redução dasdesigualdades, a criação de cidadese comunidades inclusivas, seguras,resilientes e sustentáveis, a garantiae padrões de consumo e de produ-ção sustentáveis e o reforço dosmeios de implementação e revitali-zação da parceria global para o de­senvolvimento sustentável. Esta é aestratégia mundial da nova coope-ração para o desenvolvimento. É paraeste caminho que os fundos dos doa­dores vão ser alocados nos próximos15 anos, designadamente para eco­nomias mais frágeis, como é ainda ade Moçambique.

Certo é que Portugal e Moçambiquetêm uma relação histórica de maisde 500 anos. Partilham uma línguacomum, falada por mais de 250milhões de pessoas em todo o mun­do. Fazem parte da CPLP- Comu­nidade dos Países de Língua Portu­guesa. Enquanto �líder natural� dacomunidade lusófona, Portugal temuma especial obrigação de prestarcontributos a Moçambique para queeste país irmão consiga atingir osaludidos �Objetivos de Desenvolvi­mento Sustentável�.

Daí que se há setor onde o Estadoportuguês poderia oferecer um con­tributo importante no desenvolvi­mento e sustentabilidade da econo­mia moçambicana é precisamente oagrário, promovendo ações de co-operação estratégicas em parceriacom as autoridades locais, com vistaà formação, qualificação e organi-zação da produção local, mobilizan-do inclusive as escolas agrárias, bemcomo o movimento associativo e co­operativo nacional, a partilhar as suasexperiências e conhecimentos, quedesenvolvem com sucesso em Por­tugal. A AJAP- Associação dos JovensAgricultores de Portugal, dentro dassuas limitações, tem já um históricode trabalho relevante em territóriomoçambicano a este nível, que temmerecido reconhecimentos pelaspróprias autoridades locais.

E se houve setor da economia quese desenvolveu nos últimos anos emPortugal, colecionando sucessos nosmercados internacionais, foi indiscu­tivelmente o do agro-alimentar. Tam­bém por isso Moçambique é cla-ramente hoje uma oportunidade es­tratégica de investimento para asempresas portuguesas que tenhama ambição de competir no grandemercado da África Austral, e a partirdaí para outros mercados, que nestaera da globalização, estão sempre aliao lado� E quem chegar primeiro,vai pelo menos ocupando o espaço.

Sendo que também aqui, o caminhoserá sempre mais fácil se for possívelencontrar um parceiro local. EMoçambique possui já nos dias dehoje uma organização associativarepresentativa do seu tecido empre­sarial, presente em todas as provín­cias do país, como o é claramente aCTA- Confederação das AssociaçõesEconómicas de Moçambique, e daqual faz parte a FENAGRI, que é afederação representativa do tecidoempresarial agrário moçambicano,e com quem a AJAP desenvolve des­de algum tempo relações de co-operação.

Haja vontade e o caminho vai-se cons-truindo, em benefício dos dois países,Portugal e Moçambique, como nãopoderia deixar de ser�

Paulo Ramalho é especialista em Relações Internacionais e Cooperação

A mesa redonda sobre competiti-vidade no mercado global acabou ine-vitavelmente por se centrar muito nasagriculturas dos dois países, Portugale Moçambique, em particular na rela-ção destas com o desenvolvimento ea competição do mercado.

Fica claro que apesar de as agricultu­ras em Portugal e Moçambique seremdiferentes, não produzimos os mes­mos produtos, acabamos por terproblemas parecidos. Só se ganha porisso, aprendendo com a experiênciados outros.

Neste contexto, de análise entre asduas agriculturas, veio inevitavelmen-te a pergunta sobre como Portugalconseguiu que a sua agricultura pas­sasse de ser um setor subsídio-depen-dente para um setor económico res-peitado.

Esta mudança foi conseguida emgrande parte pelo sucesso da agricul­tura Portuguesa, que levou a um re­conhecimento pela sociedade. Masesse sucesso também se explica pelaspolíticas públicas levadas a cabo nosúltimos anos:

� Um investimento de fundospúblicos da Política Agrícola Co­

mum (PAC), com uma alavanca­gem forte da componente nacio­nal, que maximizaram os apoiosComunitários e com uma regu-larização dos pagamentos aosagricultores. Esta alavancagemde fundos que existiu entre 2010e 2015, foi a mais elevada nas últi-mas décadas e produziu resulta­dos: capitalização dos agriculto-res e confiança nos agentes eco-nómicos que investiam no setor.

� Uma aposta na concentração daoferta, através de venda conjuntaem estruturas agrupadas, comoas Organizações de Produtores.

� Um esforço nas políticas de apoioao escoamento de produtos: nasexportações, com uma aposta nadiplomacia económica; no merca­do interno, com o reequilíbrio dofuncionamento na cadeia alimen­tar, através de legislação e códigosvoluntários a regular as práticascomerciais desleais.

Pode a Agricultura Moçambicanaseguir um caminho parecido?

À partida as situações são muito dife-rentes. Moçambique não beneficia deuma Política Agrícola Comum como

Portugal. Tem sido beneficiado compolíticas de cooperação de países de­senvolvidos e da própria UE, mas estastêm uma multiplicidade muito grande,ao contrário da unicidade da PAC.

Há, no entanto, alguns pressupostosque se aplicam e que parecem seressenciais a uma receita para o pro­gresso de agriculturas como a deMoçambique:

Primeiro, a consciencialização que aagricultura em África é para ser levadaa sério. O desafio da alimentaçãomundial é para todos: se o atual ritmode crescimento da população mundialcontinuar, em 2050 serão necessáriosmais de 60% de alimentos. Essa procu­ra só será satisfeita de forma susten-tável se o contributo vier de todos ospaíses do globo, e não só dos paísesdesenvolvidos. Partindo, deste pres­suposto, é possível constatar que umpaís como Moçambique precisa deuma política pública de apoio à agri­cultura que seja única, vertebrada, emvez de várias ações de desenvolvimen­to soltas e espartilhadas.

Segundo, os agricultores de algumaforma necessitam de estar capitaliza­dos. Só com um mínimo de rendimen­

D O SS IER C E N T R A L - I nt er n a c i o n a l iz a ca o Ag r o - a l i me nt a r

Competitividade dos produtos agrícolasno mercado globalPor: José Diogo Albuquerque, orador do �Fórum Qualidade e Competividade Agroalimentar�

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Mesa redonda �Competitividade dos Produtos Agrícolas no Mercado Global�

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tos e de estabilidade é que se podemlançar na modernização das explo-rações, aumentar a produtividade eproduzir com um mínimo de continui-dade e planeamento para o mercado.O prémio à instalação dos jovens agri-cultores previsto na PAC é um bomexemplo de um incentivo ao arranquede uma exploração de uma formafinanceiramente sustentável.

Terceiro, o investimento nas infraes-truturas de regadio é essencial. Empaíses com temperaturas elevadas,onde a seca é uma ameaça, e os riscosdas alterações climáticas são cadavez mais inevitáveis, o regadio é amelhor forma de adaptação dasexplorações à variabilidade climática,por um lado, e a melhor ferramentapara aumentar as produtividades dasexplorações, por outro.

Quarto, a aposta no conhecimentoserá chave para que se consiga per­correr o caminho da produção e naresposta aos desafios da alimentação,no mesmo corredor que o caminhoda sustentabilidade.

Finalmente, os canais de comer-cialização terão que ser trabalhados.Para as exportações, além da neces-sária diplomacia económica, a estabili-dade no país e rigor nas regras serácondição essencial para haver estímu­lo às trocas comerciais. Para o merca­do interno, terá que haver enquadra­mento legal necessário para o bom fun-cionamento na distribuição de valorentre produção, indústria e retalho.

Mudanças como as que se falaram,não são fáceis, e envolvem decisõesde Governança importantes. Mas al­go é certo, a internacionalização nãochega, a dimensão da cooperaçãoserá uma via necessária para o forta­lecimento da Agricultura Moçambica­na, e os Agricultores Portuguesesquerem e devem poder trabalharpara um mercado conjunto, com agri-cultores Moçambicanos fortes. Osdois países não produzem os mesmosprodutos e são na realidade comple­

mentares, mas tiveram e têm proble­mas parecidos. É possível, por isso,trabalhar num ângulo de cooperaçãoentre os dois países, ajudando a tra-zer mais tecnologia, promover maisformação profissional na agriculturae mais assistência técnica.

«Os AgricultoresPortugueses querem e devem poder trabalharpara um mercadoconjunto, comagricultoresMoçambicanos fortes»

José Diogo Albuquerque é Consultor,administrador do Agroportal

e ex-Secretário de Estado da Agricultura

Gostaria de saudar a iniciativa darealização deste importante evento,que é mais um tijolo no longo econtínuo processo da edificação edesenvolvimento das relações deamizade e cooperação entre Moçam­bique e Portugal. Felicito também ostrabalhos que a Associação dos Jo-vens Agricultores de Portugal (AJAP)vem realizando nos Países membrosda CPLP e em particular em Moçam­bique, nomeadamente, no que serefere à sua cooperação com a Asso-ciação dos Jovens AgricultoresMoçambicanos (AJAM).

Conforme foi referido, a agriculturaé uma das quatro áreas prioritáriasdo Programa Quinquenal do Gover­no, sendo as outras a energia, infra-estruturas e o turismo.

Contudo, temos de reconhecer queos avultados investimentos feitosneste setor da economia ao longodos anos têm produzido resultadosmuito aquém do esperado e do dese­jado. Como prova disso, continuamosa importar alimentos básicos, tais

como hortícolas e cereais. Outro fac­to ilustrativo da insegurança alimen­tar do nosso país é dado pelos aindaelevados índices de malnutriçãocrónica que registamos nas nossascrianças.

A experiência tem vindo a demons-trar que o desenvolvimento da agri­cultura em Moçambique, como emqualquer outro país, exige uma abor­dagem holística, numa perspectivade cadeias de valor.

Formação agrícola

Em nossa opinião, a cadeia de valorna agricultura deve começar nas es­colas de agricultura, desde o nívelbásico até ao superior. É constataçãocomum que os graduados das nossasescolas de agricultura, na sua maioria,terminam a sua formação com ati­tudes e prática profissional muitorudimentares, insuficientes e inade­quadas para os transformar em ver­dadeiros produtores agrícolas.

São necessárias iniciativas e instru­mentos de apoio à iniciação empre­sarial dos graduados, que incluamfinanciamento e acompanhamentodas suas atividades, sobretudo nosprimeiros anos de atividade.

Creio que a AJAP pode ser um par­ceiro importante de Moçambique naformação de quadros agrários dota­dos de conhecimentos, atitudes epráticas profissionais à altura dasexigências do mercado nacional eregional.

Um setor que tem sido pouco apoia­do é o setor privado agrícola nacional.Na realidade, o setor privado agrícolanacional é dominado por grandesempresas estrangeiras, explorandomonoculturas de rendimento, emparticular a cana do açúcar, o tabaco,produtos florestais, algodão e outrascommodities, em extensas áreas decultivo. Estas empresas possuemknow-how e capital e apenas pre­cisam do Estado para lhes disponibi­lizar a terra que precisam.

«A AJAP pode ser um parceiro importante deMoçambique na formação de quadros agrários»

Excerto do discurso do Dr. Joaquim Chissano, Presidente da Fundação Joaquim Chissano na Sessão de Encerramentodo Fórum Qualidade e Competitividade Agro-Alimentar, realizado em Maputo, a 30 de agosto de 2017.

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As grandes empresas agrícolas sãonecessárias, pois são criadoras deemprego e, se bem orientadas, po­dem ser importantes parceiros dodesenvolvimento das comunidadesdas zonas em que operam. Contudo,elas não esgotam o espaço de exis-tência e atuação de outras empresas,sobretudo as de pequena e médiadimensão, mais vocacionadas àprodução de alimentos.

Para que possam cumprir, mais cabal­mente, o seu papel no desenvolvi­mento nacional, estas empresas pre­cisam de esquemas de apoio mul-tiforme do Estado e dos parceiros,que as habilite tecnicamente, sobre­tudo nas áreas de gestão empresari­al, bem como em técnicas e tecnolo­gias de produção. Igualmente impor-tante é a necessidade de criação ouadopção de esquemas de financia­mento ou co-financiamento que es­timulem os empresários, principal­mente jovens empresários, a inves-tirem na agricultura.

Acesso aos mercados

O acesso aos mercados é outro de­safio que os pequenos produtoresenfrentam, principalmente por faltade empresas que comprem a suaprodução e lhe acrescentem valor,antes da sua entrega aos mercadosconsumidores. Estas empresas inter­mediárias desempenham um impor­tante papel nas cadeias de valor, nãosó porque constituem um mercadoseguro à produção dos agricultores,sobretudo dos pequenos agricul­tores, mas também porque podemoferecer uma remuneração mais jus­ta, e não predadora, dado que acres­centam valor à produção adquirida.

A Fundação Joaquim Chissano estáenvolvida numa iniciativa empresarialdestinada ao aumento quantitativoe qualitativo de hortícolas e não só,

produzidas por pequenos produ­tores, bem como à criação de merca­do seguro para a sua produção, den­tro da perspetiva de desenvolvimen-to de cadeia de valor.

O apoio ao setor privado deveria sero eixo principal do desenvolvimentoda agricultura em Moçambique eeste deveria ser engajado no apoioao desenvolvimento do setor fami-liar, através de mecanismos detransferência de tecnologias e com­pra da sua produção. Desenvolver aagricultura familiar é importante,mas, para o crescimento e competi­tividade do país, precisamos de de­senvolver a agricultura comercial, oagri-negócio, de modo a que sirva desuporte ao desenvolvimento do se-tor familiar e liderar o processo doalcance da auto-suficiência alimentar,em tempo histórico curto. É precisoque o pequeno produtor passe aprodutor comercial, e de pequenoempresário a médio empresário edaqui a grande empresário.

Embora Moçambique esteja a en­frentar problemas básicos de desen­volvimento da sua agricultura, as tro­cas comerciais de produtos agrícolascom Portugal é de elevada impor-tância económica. Contudo, para queessas trocas comerciais decorramcom a fluidez necessária é imperiosoque sejam encontradas e postas emprática as soluções mais adequadas.

Mobilidade de pessoas e bensna CPLP

Assim, a nível da CPLP deveria servista a possibilidade de adoção deum visto especial para investidorese estudantes, com o objetivo de fa­cilitar a mobilidade dos agenteseconómicos e bens, bem como aformação de capital humano. Umdos aspetos importantes para a mo­bilidade de pessoas e bens entre os

países tem sido as ligações aéreas.Na CPLP as ligações aéreas entre osestados-membros ainda são muitofracas, não existindo ligações diretas.Em conjunto, as companhias aérease os respetivos governos deveriamrefletir neste assunto e encontrarsoluções.

Banco de desenvolvimento

Como me referi anteriormente, o fi-nanciamento ao desenvolvimentoagrário é um dos desafios com queMoçambique se debate e para oqual é preciso encontrar soluçãoduradoura.

No caso do setor agrário, foram insti­tuídos vários fundos e garantias decrédito, mas o efeito prático dessesapoios tem sido mínimo. Isto acon­tece porque as ações realizadas têmsido isoladas. Uma forma de criar umgrande impacto e sustentabilidadedesses apoios seria através da centra-lização desses fundos e com eles criarum banco de desenvolvimento. As­sim, seria criado um único fundo degarantia para projetos, com um ele­vado impacto económico e social nonosso país.

Por outro lado, Portugal, sendo mem­bro da União Europeia, através deinstrumentos apropriados, poderiadesempenhar um papel de relevo noacesso de Moçambique a diversosfundos europeus. Mais concreta­mente Portugal poderia estudar apossibilidade de captar fundos con­cessionais existentes na União Eu­ropeia e canalizá-los para Moçam­bique, onde seriam usados comodinamizadores de relações econó-micas mais robustas entre os doispaíses, lideradas pelas respetivasorganizações do setor privado.

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A CCAM de Silves atua num vasto

concelho, do litoral ao interior do

Algarve. As assimetrias continuam

a existir na atividade económica

entre Litoral e Interior? Como se

reflete isso no vosso negócio?

As assimetrias existentes entre olitoral e o interior Algarvio não sópermanecem como se têm vindoa acentuar, criando dificuldadesao desenvolvimento económico,essencialmente na zona do barro­cal e serra algarvia. O reflexo des-tes problemas para o Crédito Agrí­cola não se coloca tanto, porque

as Caixas Agrícolas, quando foramcriadas tiveram como objetivoprincipal combater estas desigual-dades. Assim, as Caixas Agrícolasconseguem através da sua proxi-midade às populações do interiorsolucionar os seus problemas maisrapidamente do que outra qual-quer Instituição de Crédito.

A procura dos jovens por crédito

para investimento no meio rural

tem vindo a aumentar? Quais as

áreas de investimento mais rele­

vantes?

Já antes do início da crise econó-mica /financeira em 2007, tínha­mos alguns jovens com grandeapetência para se estabelecereme iniciarem um percurso dedicadoà agricultura, uns por origens fa­miliares, e outros por vocação, emuitos já com formação específicapara variadas especificidades agrí­colas. Durante o período que decor-reu desde o início da crise econó-mica/financeira até à presente da­ta, notamos um notável aumentode jovens que se dedicaram à Agri-cultura, com pequenos e médiosinvestimentos em citrinos, frutosvermelhos, vinha e novos frutos,como as romãs, abacate, etc.

Quais as culturas agrícolas com

maior crescimento no concelho de

Silves?

Nos concelhos de Silves e Lagoa,predominam os citrinos, contudojá temos jovens agricultores dedi­cados também às outras espécies,enunciadas na resposta anterior.

«O protocoloexistente entre AJAP e a nossa Caixaveio criaruma nova dinâmica»

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«Há um notável aumento de jovensque se dedicam à Agricultura»

José Manuel Estiveira Gonçalves, Presidente do Conselho de Administração da Caixa de CréditoAgrícola Mútuo de Silves, revela que 32% do crédito concedido a empresas pela instituição quelidera se destina ao setor agrícola e à agro-indústria.

P AR C E I R O S AJAP

Qual é a importância do crédito

concedido à atividade agrícola no

vosso negócio?

O Crédito concedido para fins agrí­colas e para agroindústria é pornós considerado muito significati­vo, são mais ou menos 32% docrédito concedido a empresas.

A figura do Jovem Empresário Ru­

ral, proposta pela AJAP e que está

ser legislada neste momento pelo

Ministério da Agricultura, poderá

contribuir para criar mais investi­

mento no concelho de Silves?

Estou certo que vai contribuir, nãosó para os nossos concelhos como

para todo o País em geral. Aliás, éuma figura que a sua criação pecapor tardia, por isso dou os meussinceros parabéns à AJAP, pelaexcelente iniciativa, esperandoque a mesma se concretize a breveprazo.

Que mais-valias decorrem do pro­

tocolo assinado entre o Crédito

Agrícola e a AJAP para os vossos

clientes?

Além da grande oportunidade quetivemos de conhecer os vossosserviços, foi também uma enormemais-valia, o profissionalismo dosvossos colaboradores, sempre dis-poníveis para atender os nossos

associados e clientes. O protocoloexistente entre AJAP, a Associaçãode Regantes de Silves e Lagoa e anossa Caixa, veio criar uma novadinâmica, não só no atendimento,como na resolução dos mais diver­sos problemas.

A CCAM de Silvestem 6 delegações,Lagoa, Porches,Carvoeiro, Parchal,Algoz, Alcantarilhae a Sede em Silves

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A agricultura e as atividades liga­das ao meio rural são centrais naeconomia da região, que tem dadoalguns passos positivos namodernização das exploraçõesagrícolas. «Grande parte dos agri­cultores a quem presto apoio sãoexplorações de sequeiro (olival, bo­vinos e ovinos), que vão mantendoas áreas e as culturas, mas nasexplorações de regadio tem havidoinvestimento. São agricultores nafaixa etária dos 40-50 anos, plan-taram olivais intensivos e super-intensivos, de variedades maisprodutivas do que a azeitona Gale­ga, investiram em vinha, em noguei­ras, ameixeiras, mirtilos e até naprodução de caracóis», conta Filo­mena Rosário.

Muita da dinâmica agrícola destesconcelhos é acompanhada pelogabinete da AJAP em Sousel, quepor ano submete em média 170candidaturas ao IFAP e realiza tam­bém atendimento no posto móvelna Cooperativa Agrícola de Erve-dal, Figueira e Barros. Os agriculto-

res contam desde a primeira horacom a orientação de FilomenaRosário, na elaboração de projetosde investimento agrícola parasubmissão aos apoios públicos, edesde o início do atual Programade Desenvolvimento Rural (PDR2020) o gabinete já submeteu pe­didos de apoio no montante acu­mulado de investimento para aAção 3.2.1 no valor de 1.351.914,10�,para a Ação 3.2.2. no valor de241.457,47� e para a Ação 10.2.1.1no valor de 49.794,69�.

O apoio técnico de campo aos agri-cultores é, no entanto, a mais gra-tificante de todas as tarefas. Des­de a elaboração de cadernos decampo, à ajuda na implementaçãodas medidas agroambientais ouao cumprimento das regras da Zo­na Vulnerável de Estremoz-Cano,Filomena Rosário tem um dia-a--dia preenchido e realizado.

No mês de setembro, uma dastarefas a que se dedica é a monito-rização da mosca da azeitona nos

olivais dos �seus� agricultores.«Coloco as armadilhas e todas assemanas faço a monitorizaçãoatravés da contagem dos insetoscapturados. Estamos no início damaturação da azeitona e temos deestar muito atentos à evolução dapraga, para que não gere prejuízosnos frutos», explica a técnica. «Osagricultores consultam-me bas-tante na fase de aplicação de trata­mentos fitossanitários (�) estãocada vez estão mais sensibilizadospara tratar os olivais apenas quan­do necessário e apenas com produ­tos homologados», acrescenta.

É também com orgulho que faladas análises foliares que realizanas parcelas agrícolas inseridas naZona Vulnerável de Estremoz-Canoe dos resultados obtidos junto dosagricultores: «antes aplicavam fer­tilizantes sem prestar atenção àsconsequências da poluição do soloe das águas subterrâneas, mas ago-ra já começam a estar sensibilizadospara a necessidade de controlar aquantidade de azoto aplicado».

«É preciso que os jovens fiqueme invistam na sua terra»Filomena Rosário, 42 anos, licenciada em Agricultura Sustentável, é o rosto da AJAP nos concelhos deSousel, Avis, Fronteira e parte do concelho de Estremoz, onde presta assistência técnica a cerca de 80agricultores, a um total de 44.144 hectares.

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AJAP S O U E U

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Jovens agricultores

A maioria dos jovens agricultoresinstalados nos concelhos de Sou­sel, Avis, Fronteira e Estremozprovêm de famílias com atividadeagrícola e seguem as orientaçõesprodutivas tradicionais da região� gado, olival, vinha �, mas tambémhá alguns projetos �fora da caixa�.É o caso do investimento realizadopor Sérgio Sacoto, que investiu nahelicicultura em 2009. Instalou es-tufas numa área de 8.000m2 paraa produção de caracóis e atual­mente realiza todo o processoprodutivo, embala e vende sob amarca �Caracoleta Alentejana�, in­clusive para cadeias de supermer­cados. Um projeto que contou como apoio da AJAP de Sousel.

Apesar dos casos de sucesso aolongo do PRODER, Filomena Rosá-rio lamenta que desde início doPDR2020 não tem recebido qual-quer projeto de investimento parainstalação de jovem agricultores.«Esta inércia tem certamente a vercom a descida dos montantes deapoio e com a falta de vontade dosmais jovens do concelho em fazervida na agricultura», adianta a téni­ca da AJAP.

O futuro

No entanto, é com otimismo e en­tusiasmo que vê entreabrir-se umanova perspetiva ao abrigo da figu­ra do Jovem Empresário Rural: «Afigura do Jovem Empresário Ruralé fundamental. Há potencial nas

explorações agrícolas de Souselpara aliar agricultura e turismo eoportunidades por explorar na áreado turismo de ambiente. Temostido contactos de pessoas que que-rem fazer projetos para alojamentolocal», revela. A venda de produtosalimentares transformados naregião é um motivo de atratividadepara este tipo de negócios: «háquatro lagares no concelho de Sou­sel, há adegas, hortícolas, queijarias,muito potencial para atrair turistasà região, mas é preciso que os jo-vens fiquem e invistam na sua ter­ra», isto porque Sousel é um con­celho onde sobra terra e faltampessoas, a julgar pela baixa den­sidade populacional de apenas 18habitantes/km2.

Filomena Rosário da AJAP ajudou Sérgio Sacoto no projeto de investimento de produção de caracóis

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Armadilha automáticapara contagemda moscada azeitona

Durante os últimos meses foram colocados emcampo diversos protótipos da armadilha au-tomática para contagem da mosca da azeitona,desenvolvida no âmbito do projeto ENTOMATIC.Com a colaboração dos parceiros do projeto, asarmadilhas foram distribuídas em parcelas deolival em Portugal, Espanha, Grécia e Turquia.

Estes ensaios visam a correta validação do sensorde deteção da mosca da azeitona instalado emcada armadilha. Os resultados obtidos no campocontribuem para melhorar o reconhecimento dasmoscas, levando à otimização dos dados recolhi­dos até ao momento.

Através dos testes de campo que decorrem nasdiversas zonas são registadas as sugestões dosutilizadores, com vista a melhorar a recolha dosdados e a otimizar a configuração inicial da ar­madilha, visando a sua maior eficácia.

No que se refere à comunicação entre as armadi-lhas e a plataforma de receção de dados, estatem sido extremamente satisfatória, pois o siste­ma web de recolha e gestão de dados tem vindoa recolher a informação emitida pelas diversasarmadilhas em teste.

Em Portugal foi instalado um protótipo de armadi-lha num olival na zona de Cuba, no Alentejo, a 1 deagosto. O número de insetos capturados tem sidoreduzido (ver imagem), o que pode ser explicadopelas elevadas temperaturas e baixo índice dehumidade ocorridos na Região, que conduzem aum reduzido nível de ataque da mosca.

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IN V E S T I G A C A O E DE S E N V O L V IM E N T O

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Detalhe dos dados recolhidos pela armadilha instalada na zona de Cuba, em Portugal

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Os técnicos da AJAP, uma das entidades parceiras do projeto,fizeram algumas recomendações para melhoria do protótipo,nomeadamente, a introdução de uma base de cor amarela naarmadilha, de modo a aumentar a atratividade da mesma para asmoscas; bem como a melhoria da configuração da armadilha aonível do carregamento da bateria.

Nos próximos meses serão apresentadas as conclusões dos dadosrecolhidos que ficarão disponíveis na página web do projeto:

https://www.upf.edu/web/entomatic/

Detalhe da armadilha instalada na zonade Jaén, em Espanha

Detalhe a armadilha instaladana zona de Izmir, na Turquia

O CEJA defende a criação de novasmedidas de apoio que antecipemcrises e previnam o risco emexplorações agrícolas lideradas porjovens agricultores. Que medidassão essas?

O CEJA acredita que cada região,cada exploração agrícola e cada agri-cultor são únicos. Por isso, não de­fendemos uma �receita� únicaaplicável a todos. É muito importanteque exista um leque variado de opor­tunidades e diferentes instrumentosà disposição, para que cada jovemagricultor(a) escolha a que melhorse adequa ao seu caso concreto. Al­guns exemplos são (tal como menci­onado na nossa posição sobre a PAC�Os jovens Agricultores são centraisna futura PAC�) os seguros, a criaçãode mercados de futuros, os paga­

mentos contra-cíclicos e os emprés­timos bancários específicos para jo­vens agricultores.

O CEJA defende que 10% do orçamen­to do Pilar II da PAC (Desenvolvimen­to Rural) deve ser alocado a medidasholísticas para jovens agricultores.Que medidas são essas?

Vamos até mais longe, defendendoque 20% do orçamento da PAC sejaalocado a medidas para os jovensagricultores e à renovação degerações na agricultura, indepen­dentemente da estrutura da próximaPAC. De modo geral, defendemosque todas as medidas da PAC deemprioridade aos jovens agricultores.Significa que queremos avaliar osefeitos que todas as medidas têmnos jovens agricultores e ver se há

mais alguma coisa que possamosfazer (tal como temos o top-up nospagamentos diretos). Alguns instru­mentos com enfoque nos jovens agri-cultores são as start-up e as ajudasao investimento. Também queremosque a futura PAC dê prioridade àformação e à transferência de conhe-cimento entre agricultores. Além dis­so, a criação de um �sistema de mo­bilidade da terra�, a aplicar por cadaEstado-membro, facilitará o acessodos jovens à terra no futuro.

Dê exemplos de medidas que po­dem facilitar o acesso dos jovens àterra�

Temos de nos focar tanto em medi­das concretas, como nos efeitos dapolítica em geral. Por isso, pedimosque as medidas e o dinheiro da PAC

«20% do orçamento da PAC deve ser dedicadoaos jovens agricultores»

Jannes Maes, novo Presidente de Conselho Europeu de Jovens Agricultores (CEJA), quer que a futuraPolítica Agrícola Comum dê prioridade à formação e à transferência de conhecimento entre agricultorese aposta na criação de um �sistema de mobilidade da terra� que facilite o acesso dos jovens à terra.

P AR C ER IAS IN T ER N A C I O N A I S

Jannes Maes, o novo Presidente do CEJA, nasceu em 1991 numa quinta de criação de gado e ovelhas em Aalter, na Flandres, Bélgica.Tem um bacharelato em Agricultura e é gerente de uma vacaria em Axel, na Holanda.

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sejam canalizados para agricultoresativos e profissionais. É claro que naconjuntura atual, onde os pagamen­tos diretos estão ligados à terra, istoestimularia o acesso dos jovens, agri-cultores ativos, à terra. Algumas pro­postas concretas do CEJA visam pro­mover novos modelos de colabora-ção entre gerações de agricultores,através de �agricultura partilhada�,parcerias, leasings de longo prazo ea criação de um serviço de mobilida-de da terra. Além disso, também suge-rimos que exista uma ligação obri-gatória entre o acesso à terra e a defi-nição de agricultor ativo; que sejamcriados apoios para a sucessão gera­cional nas explorações agrícolas oupara o planeamento da transição, bemcomo a adoção a nível europeu dodireito de preferência aos jovens agri­cultores no acesso à terra cultivável.

O CEJA pede mais e melhores condi-ções de acesso ao crédito para osjovens agricultores. É possível legis­lar nesse sentido a nível europeu?

O acesso à terra e ao crédito têmsido, historicamente, legislados ao

nível de cada Estado-Membro. Parao CEJA é vital que sejam usadas todasas possibilidades a nível europeu paraaumentar o acesso dos jovens agri­cultores à terra e ao crédito. Por isso,devemos olhar com desconfiançapara qualquer política europeia quevá em sentido contrário (inclusiveconsiderando os efeitos indiretos daspolíticas). Defendemos que o BancoEuropeu de Investimento podedesempenhar um papel importantena promoção da criação de instru­mentos financeiros específicos paraos jovens agricultores em todos osEstados-membros. A PAC deve sercapaz de adotar os instrumentos ade-quados para que os jovens agricul­tores giram os seus riscos, reduzindodeste modo os efeitos da volatilidadedos preços no seu rendimento. Alémdisso, o CEJA vai estar fortementeenvolvido na tentativa europeia defortalecer a posição dos agricultoresna cadeia de abastecimento alimen­tar. Denunciar práticas comerciaisinjustas e aumentar o poder negocialdos agricultores durante as nego-ciações também são prioridades doCEJA.

Qual é o legado que quer deixar en­quanto presidente do CEJA?

Definimos para os próximos anosum programa político assente emdois pilares: por um lado, queremoster uma posição forte nos temaspolíticos da atualidade (PAC, Brexit,a cadeia de abastecimento alimentar,alterações climáticas, etc). Por outrolado, reconhecemos que os jovensagricultores vão continuar a ser umgrupo vulnerável no futuro. Por isso,queremos fortalecer o CEJA enquan­to organização, para que os jovensagricultores europeus de hoje e deamanhã sintam que têm uma voz adefende-los em Bruxelas e noutrasinstâncias internacionais.

«Queremos fortalecer o CEJAenquanto organização»

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Acesso à terrae baixo rendimentosão barreirasaos jovensagricultores

Um inquérito realizado à escala eu­ropeia pelo CEJA, em parceria coma empresa DeLaval, procurou conhe-cer a opinião dos jovens agricultoreseuropeus sobre a sustentabilidadedo setor agrícola, os desafios que en­frentam e as oportunidades que têm.

Os jovens agricultores inquiridos res-ponderam que as maiores barreirasà atividade são a dificuldade de aces­so à terra, o baixo nível de rendimen­to e a burocracia. Já a sustentabilida-de da atividade depende, na opiniãodos 978 inquiridos, sobretudo deuma competição justa nos mercadosglobais, da disponibilidade de di-

nheiro para investir na expansão daárea agrícola nas suas explorações,de mais conhecimento e de tecnolo­gia de apoio à gestão.

O inquérito releva que a maior partedos jovens agricultores europeus temconsciência da necessidade de pro­teger o ambiente e da sua respon-sabilidade nessa matéria. Mais ainda,reconhecem que um ambiente sau­dável é benéfico para a sua atividade,porque permite um incremento dabiodiversidade, a proteção dos recur­sos naturais e a melhoria da efici-ência. No entanto, para proteger oambiente, os jovens agricultores ne­cessitam de medidas práticas e exe-quíveis nas suas quintas, de apoio aoinvestimento, de políticas coerentesentre si aos vários níveis - comunitário,nacional e regional - e que a opiniãopública reconheça a importância dosbens públicos que fornecem à so­ciedade.

O mundo rural na União Europeia

deve ser um território onde as pes­soas possam viver e trabalhar livre­mente, com políticas que incentivema criação de emprego e o investimen­to na economia local. «Tornar as áreasrurais mais viáveis significa que os agri-cultores precisam de ter à disposiçãoum conjunto de serviços que tambémbeneficiam toda a comunidade, comoa banda larga, escolas, creches e umarede de transportes», adiantam asentidades promotoras do inquérito.

O relatório que resultou deste in­quérito foi divulgado numa confe-rência realizada no Parlamento Eu­ropeu, no final de setembro, e con­tou com a presença de agricultores,ONG, associações e entidades oficiaisao mais alto nível. O Comissário Eu­ropeu da Agricultura, Phil Hogan, queesteve presente, afirmou: «precisa-mos de uma abordagem construtivaentre os Estados-Membros e a Comis-são. O acesso ao financiamento é im­portante. Os jovens agricultores mere­cem mais apoios».

Inquérito �Jovens Agricultores Europeus- Construindo um setor sustentável�

Fonte: CEJA/ DeLaval

2017

Fruit Attraction18 a 20 de outubroIFEMA, MadridEspanhawww.ifema.es/fruitattraction_06/

Simpósio Proteção das Plantasda SCAP26 e 27 de outubro Escola Superior Agrária de Santarémwww.scap.pt

I Congresso Luso-Brasileirode Horticultura 1 a 4 de novembro, ISCTE, Lisboahttp://clbhort2017.com/

Agri Milk Show3 a 5 de novembroEXPONORLeça da Palmeira, Matosinhoswww.agrimilkshow.com

AGRITECHNICA12 a 19 novembroHannover, Alemanhawww.agritechnica.com

TecFreshFeira Tecnológica para Frutase Hortícolas16 a 18 de novembroCNEMA, Santarémwww.cnema.pt

SITEVI28 a 30 de novembroMontpellier, Françawww.sitevi.com

2018

V Congresso Ibérico de Apicultura1 a 3 de fevereiroFaculdade de Farmácia da Univer­sidade de Coimbrawww.uc.pt/ffuc/congresso_iberico_de_apicultura

2º Simpósio Nacional de CulturasAgroindustriais02 de fevereiroSantarémwww.scap.pt

Fruit Logistica7 a 9 de fevereiroBerlim, Alemanhawww.fruitlogistica.com

FIMA Agrícola20 a 24 de fevereiroSaragoça, Espanhawww.feriazaragoza.com

Frutitec-Hortitec9 a 11 de marçoExposalão, Batalhawww.exposalao.pt

24H Agricultura Syngenta7 e 8 de abrilEscola Superior Agrária do InstitutoPolitécnico de Viana do CasteloRefóios do Limawww.aphorticultura.pt/24h-agricultura.html

XV Simpósio Internacionalde Tomate Processado11 a 15 de junhoAtenas, Gréciawww.13thworldtomatocongress.gr

31 agen

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