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Universidade de Brasília – UnB Centro de Ensino a Distância – CEAD Especialização em Esporte Escolar JOSÉ PAULO SANTOS Possibilidade Pedagógica da Capoeira no Programa Segundo Tempo Brasília-DF 2007

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Universidade de Brasília – UnB

Centro de Ensino a Distância – CEAD

Especialização em Esporte Escolar

JOSÉ PAULO SANTOS

Possibilidade Pedagógica da Capoeira no Programa Segundo Tempo

Brasília-DF

2007

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JOSÉ PAULO SANTOS

Possibilidade Pedagógica da Capoeira no Programa Segundo Tempo

Trabalho apresentado ao Curso de Especialização em Esporte Escolar do Centro de Educação à Distância da Universidade de Brasília em parceria com o Programa de Capacitação Continuada em Esporte Escolar do Ministério do Esporte para obtenção do título de Especialista em Esporte Escolar.

Orientador: Profº. Ms. Paulo Roberto da Silveira Lima

Brasília-DF

2007

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SANTOS, José Paulo

Possibilidade Pedagógica da Capoeira no Programa Segundo Tempo

(Nº de páginas, 41p)

Monografia (Especialização) – Universidade de Brasília. Centro de Ensino a Distância, 2007.

Palavras-chaves: 1. Capoeira 2. Programa Segundo Tempo 3. Atividade Física.

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JOSÉ PAULO SANTOS

Possibilidade Pedagógica da Capoeira no Programa Segundo Tempo

Trabalho apresentado ao Curso de Especialização em Esporte Escolar do Centro de Educação à Distância da Universidade de Brasília em parceria com o Programa de Capacitação Continuada em Esporte Escolar do Ministério do Esporte para obtenção do título de Especialista em Esporte Escolar pela Comissão formada pelos professores:

Presidente: Professor Doutora ANA CRISTINA DE DAVID

Universidade de Brasília

Membro: Professor Mestre ROSSANA BENK

Universidade de Brasília

Brasília - DF, 04 de agosto de 2007.

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Dedicatória:

Dedico aos meus alunos que, por todos

estes anos, foram os meus melhores

conselheiros. E a todos os meus amigos da

Capoeira.

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OBJETIVOS

OBJETIVO GERAL

Demosntrar que através da capoeira podemos explorar a cultura e todas as

possibilidades pedagógica, a necessidade do esporte, da educação no Programa Segundo

Tempo.

OBJETIVOS ESPECÍFICO

Identificar a importância do ensino da capoeira no Programa Segundo Tempo;

Estabelecer a relação entre a escola, cultura e a capoeira;

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Agradecimentos

Agradecemos à todos que me ajudaram nesta trajetória, e de modo especial ao

professor Paulo Roberto da Silveira Lima, pelo incentivo constante e orientação.

Aos meus filhos Marcos e Luana, com total apoio e compreensão;

Aos meus alunos que acreditaram na minha forma de ensino, de acordo com a filosofia

do Mestre Bimba, na certeza que darão continuidade ao trabalho da capoeira que é uma arte

não somente relacionada a cultura, mais sim, algo espiritual.

E um especial agradecimento para Lucineide Cristina, que é verdadeiramente uma

pessoa excepcional na minha vida;

Ao meu amigo Antônio Teodoro, pela verdadeira amizade, quando iniciamos juntos,

na prática da capoeiragem, ainda no início da década de 60.

A todos vocês o meu carinho.

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" ...As pessoas que vencem neste mundo

são as que procuram as circunstâncias de

que precisam e, quando não as encontram,

as criam."

Bernard Shaw

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RESUMO

Este trabalho visou fazer uma reflexão a cerca da capoeira numa visão de uma proposta pedagógica com o programa segundo tempo, identificar sua origem com relação aos negros vindo da África para o trabalho escravo no Brasil. Organizados em Quilombos os negros criavam suas próprias leis e culturas, daí surgiu à capoeira em nosso continente como forma de defesa contra os seus opressores. Para compreender melhor o tempo da repressão vista no código penal até a sua manifestação livremente. A prática como desporto através do criador da Capoeira Regional Baiana, Manoel dos Reis Machado, mais conhecido por Mestre Bimba, bem como a capoeira como atividade física tem relevantes valores na integração no ambiente escolar, ela oportuniza a valorização e promove os seus praticantes uma qualidade de vida adequada.

PALAVRAS CHAVES: Origem da capoeira, Programa Segundo Tempo e Atividade Física.

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SUMÁRIO

Objetivos ........................................................................................ 8

1. Introdução ......................................................................................... 14

2. Fundamentação Teórica ......................................................................................... 15

2.1 Histórias da Capoeira ................................................... 15

2.2 A repressão da Capoeira ................................................ 19

2.3. A capoeira jogada livremente. ................................................... 21

2.4. A Prática da Capoeira. ................................................... 24

2.5. Instrumentos da Capoeira ................................................... 26

2.6. Os Toques da capoeira Regional. ................................................ 30

2.7. Métodos de Ensino de Mestre Bimba. ................................................ 32

2.8.Seqüência de Ensino de Mestre Bimba ................................ 34

2.9. Capoeira Numa Visão Cultural ................................ 35

3.0. Capoeira na Escola ............................... 36

3.1. Experiência Adquirida com Programa Segundo Tempo ................................ 37

3.2. A Capoeira e a Integração Diferenciada ............................... 39

3.3. A Educação Física e a Capoeira para Terceira Idade .............................. 41

4. Conclusão ................................................................................................... 43

5. Referências Bibliográficas ..................................................................... 45

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1. INTRODUÇÃO

A proposta desta pesquisa é analisar os processos educativos formais e não-formais

presentes na capoeira, no sentido de levantar alguns aspectos importantes desses processos.

Buscamos inspiração nas formas tradicionais de ensinar-aprender utilizadas no mundo da

capoeira, sobretudo a partir das influências marcantes, por meio das manifestações culturais

existentes tanto na capoeira como no programa segundo.

Pretendemos proporcionar uma reflexão mais aprofundada para comunidade

capoeirista sobre as formas de educação, nas quais professores exercerão papeis fundamentais

para enriquecimento da vida do aluno num contexto sócio-politico-cultural.

A Educação Física, portanto, vem despertando a importância a pratica de atividade

física, e que com a nova lei de inclusão, tem beneficiado os portadores de necessidades

especiais. Onde as correntes que trabalham e buscam na arte no esporte “capoeira”,

proporciona aos portadores de necessidades especiais, a sua inclusão no mundo dito “social”,

e que outras vias vive esquecendo por muitas vezes que essa parte social é enriquecida por

uma única vontade, a do amor a vida.

O esporte é ferramenta importante para a inclusão social, principalmente para os

portadores de necessidades especiais, pois vem sendo considerada uma ajuda na recuperação

de sua auto-estima e promove maior qualidade de vida nas tarefas do dia-a-dia.

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2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.1. HISTÓRIA DA CAPOEIRA

...“Eram negros tirados do seu habitat natural, colocados em porões de navios e levados

para os novos horizontes recém-descobertos pelas grandes potências européias da época.”

Para Anande, (1993), chegando à nova terra, eram repartidos entre os senhores,

marcados a ferro em brasa como gado e empilhados em sua nova moradia: as prisões

infectadas das senzalas. No Brasil, tinham uma função, dar lucros para os senhores de

engenho e transformá-la em grande produtora de riquezas para os seus senhores e para a

Coroa Portuguesa. No século XVI onde o negro era considerado mercadoria “peça”;

trabalhando em serviços árduos sobre pressão dos chicotes dos feitores, eles preparavam a

terra, plantavam a cana, colhia e produzia, com o amargor do seu sofrimento, o açúcar, doce

riqueza dos seus senhores.

Dessa maneira os negros africanos eram apartados de sua família, sem conhecer a

nova terra, eram trancafiados em senzalas, comendo rações totalmente fora de seus hábitos e

costumes, era divididos em grupos de dialetos diversos para dificultar a comunicação e

eventual a organização de fuga, torturas, ficavam doentes e subnutridos, acuados como

bichos, sem acesso a qualquer tipo de armas e totalmente vigiado, sendo assim, escravos e

muito difícil de lutar e de reagir.

Os escravos africanos nunca aceitaram a escravidão, o que lhe faltava eram condições

propicias para a luta em massa e organizada (o que veio a acontecer mais tarde).

Para Anande (1993) Com a chegada das invasões holandesas os negros vêem chegar à

possibilidade da fuga, escapulindo em massa para matas e agrestes principalmente os

nordestinos, formando os quilombos, que surgiram aproximadamente em 1597.

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Segundo Silva, (2003) ao referir-se à Zumbi dos Palmares, explicita que

Organizando-se em sociedades tribais a moda africana, os negros criam suas próprias

leis, e escolhem um rei, que naquela época tinha o nome de Ganga – Zumba, que era uma

espécie de sarcedote. Mais tarde Ganga Zumba morreu, foi substituído por Zumbi, o grande

chefe, que entrou para a historia como o maior defensor de Palmares. Silva, 2003

Diante do exposto, Zumbi do Palmares foi um marco na vida do negro, foi onde

puderam mostrar a garra de sua raça.

O Quilombo servia de liberdade, de encontros, fortalecimento e reviver com fé todas

suas manifestações culturais. O mais importante dentre eles foi o Quilombo dos Palmares

considerado a sede dos negros fugitivos.

Para então se defender e tentar encontrar momentos de felicidades surgiu uma dança

que combinava ginga com movimentos de pernas, tendo como disfarce a brincadeira que era

uma forma de negacear frente aos capatazes das fazendas de forma lúdica e bem

diversificadas os negros praticavam sua luta após a colheita do café que para os olhos dos

feitores era uma maneira de comemorar a boa safra, e assim disfarçando o ensino de uma

nova arte, a capoeira.

A capoeira quer dizer uma expressão cultural que mistura esporte, luta, dança, cultura

popular, música e brincadeira.

Foi nessa época e por essa razões, que os negros introduziram a música em seus

treinos, disfarçando-os de dança, para enganarem dos feitores e senhores.

Apesar de hoje a maioria dos estudiosos afirmarem que a capoeira foi criada no Brasil

por negros africanos, ainda há aqueles que julgam que ela foi trazida da África.

Diz Carvalho (2007), a capoeira nasceu no Brasil a partir de uma mistura de lutas,

danças e rituais de diversas partes da África. Outros acreditam que ela é uma mistura da

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cultura africana com a cultura indígena. Uma vez que os índios brasileiros, por volta de 1630,

tinham um ritual onde misturava música, dança e luta. Além da origem do termo, que a

maioria dos etnólogos acredita que seja originário do tupi-guarani, «caa» significa mato e

«puera» que significa mato rasteiro. Diziam que quando os negros fugiam iriam para o mato,

ou seja, para a «capoeira».

No entanto, há aqueles que afirmam que a capoeira é africana, pois na África existem

danças semelhantes à capoeira, como o n' angolo (a dança das zebras). Mas não é suficiente

para comprovar as origens da capoeira, pois não existe em outros países, que receberam

influência africana, manifestação semelhante.

Para Anande (1993), a capoeira surgiu no Brasil como arma em função da necessidade

do escravo se defender dos maus tratos e castigos dos seus opressores, e ao mesmo tempo

expressão e manifestação dos seus sentimentos.

Independente das suas origens, a capoeira era uma forma de resistência dos escravos,

um instrumento de libertação do negro contra um sistema dominante e opressor; a busca da

liberdade por uma raça escravizada e mal tratada pelo colonizador branco.

Segundo Anande (1993), em 1888, pelas razões históricas já conhecidas, dá-se a

Abolição da Escravatura. Com a libertação dos escravos, porém, agrava-se um imenso

problema social: o de não ter onde empregar toda aquela mão-de-obra provinda do cativeiro.

Então, sem condições de trabalho e sobrevivência, vagando pelas estradas do Rio de Janeiro,

Pernambuco e Bahia e acorrendo aos grandes centros urbanos da época, os negros encontram-

se à margem da sociedade, pois não houve por meio daqueles que propiciaram a libertação

destes, a prerrogativa de colocá-las na sociedade onde até o nosso tempo, isso fica a formação

da inclusão, integração e a inter-relação social, mostrando definitivamente que a cor corporal

ainda demonstra uma escravidão obscura na sociedade atual brasileira.

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E assim, os poderosos Senhores do Engenho, trocava a mão escrava negra pela mão

européia branca.

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2.2 A REPRESSÃO DA CAPOEIRA

Escravos fugitivos ou negros libertos marginalizados como eram chamados, surgiam à

preocupação em vigiá-los e reprimi-los. Começaram a organizar uma polícia com a finalidade

de manter a “tranqüilidade” da cidade e evitar o vicio da delinqüência.

Para Carvalho (2007), quando a família Real chegou ao Brasil, em 1808, começou o

processo de repressão à cultura negra e foi intensificada a perseguição policial. Em 1809, foi

criada a Guarda Real da Polícia na qual o Major Miguel Nunes Vidigal foi nomeado

comandante. Major Vidigal foi o verdadeiro terror dos capoeiristas, perseguia-os, espancava-

os e torturava-os na tentativa de exterminá-los.

Sem ter como conseguir o sustento, os negros empregam-se em assaltos, crimes e

emboscadas, roubando casas nobres, invadindo repartições públicas, e assim caminhavam

cada vez mais para a marginalidade, e aplicando seus golpes mortais da capoeira.

Os negros circulavam pela cidade, principalmente quando tinham festas, comício,

acontecimento cívico ou qualquer atividade em que existisse aglomeração popular, e lá

estavam os capoeiristas tumultuando, aterrorizando, mas sempre vigiado pela polícia, porque

qualquer manifestação relacionado a “capoeiragem” eram presos.

De acordo com Anande (1993), surgiu o Código Penal de 1890, o qual da a

capoeiragem um tratamento especial, o qual veremos alguns trechos:

Art. “402 – Fazer nas ruas e praças públicas exercícios de agilidade e destreza corporal

conhecidos pela denominação capoeiragem; será o autuado e punido com dois a seis meses de

prisão”.

“- É considerada circunstância agravante pertencer a grupo de capoeira ou a alguma

banda ou malta.”

“- “Aos chefes e cabeças se imporá a pena em dobro (....)”

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As repressões foram mais adiante, os capoeiras que fossem pegos pela polícia eram

processados na capital federal, e assim, eram massacrados sem dor.

Foi nessa época de agitação e total repressão à capoeira, que surgiu o instrumento

berimbau, considerado uma arma perigosa. Servia como arma, pois muitos capoeiristas

traziam uma pequena foice no bolso, afiada nos dois lados, e que era enfiada no pau do

berimbau para enfrentar os soldados.

Os capoeiras não paravam de “vadiar” com a capoeiragem e cantavam músicas para

avisar que a polícia estava chegando, como:

“É vem a cavalaria / Da princesa Teodora /

Cada cavalo uma sela / Cada sela uma senhora /

Camarada vamo imbora / Pra sai dessa jogada /

A festa ta muito boa / mas vai ter muita pancada”.

Com as proibições, os capoeiras não deixaram de praticar sua luta, como defesa e suas

raízes, porém muitos morreram e muitos nasceram sonhando em ser totalmente livres para

mostrar à todos o belo jogo da capoeira.

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2.3 A CAPOEIRA JOGADA LIVREMENTE

Segundo Anande (1993), somente na década de 30 com o comando do governo

Getúlio Vargas que a capoeira poderia ser praticada livremente, porém desvinculada de

qualquer ato considerado marginal, subversivo ou agitador. Poderia ser apresentada como

qualquer festa popular, espetáculo folclórico em recintos estipulados. Como luta, deveria ser

exercida apenas como defesa pessoal e esporte, praticada em locais fechados e por pessoas

consideradas “idôneas e de bem”, devendo, assim, transformar-se em esporte nacional.

Para Cruz (2003), a capoeira mudou completamente o seu destino em 1953 depois da

exibição de um grupo de capoeiristas comandados pelo Mestre Bimba, no Palácio do governo,

a convite do então governador da Bahia, Juracy Magalhães, na presença do Presidente Getúlio

Vargas, foi também um marco para a capoeira, porque passou a ser mais valorizada e a ter

acesso a exibições em clubes, escolas, teatros etc. começando a ganhar o apoio dos políticos,

dos intelectuais, dos artistas, e do povo em geral.

A capoeira sofreu inúmeros preconceitos por parte da sociedade, por tratar-se de

constante envolvimento em brigas, perseguições que sofria da polícia, reforçado por sua

origem negra e, obviamente, pela condição de ex-escravo, pertencente a uma classe social

mais baixa.

Conforme Anande (2003) foi junto a uma série de manifestações populares que

aparecia a força e a beleza da Capoeira de Angola dando o seu grito de guerra, a qual teve em

mestre Pastinha a sua expressão máxima, o mestre da Capoeira Angola.

O mestre dos mestres da capoeiragem de angola, aquele que sentia e enxergava na

prática da capoeira muito mais que uma simples luta: ele a sentia antes de tudo como uma

seita, um maneira de ser e existir (ANANDE 1993).

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Segundo Cruz (2003), Mestre Pastinha foi o preservador da capoeira angola e criou

o Centro Esportivo de Capoeira Angola, registrando-o em 1952, na Bahia. Foi também um

grande capoeirista. Pastinha apresentou-se com seu grupo em vários estados do Brasil e

fez parte da delegação brasileira que representou o Brasil no 1º festival de artes negras em

Dakar na África realizado em abril de 1966. Com a fama no Brasil e no exterior, em 1973,

aos 84 anos, Pastinha foi despejado de sua academia pela Fundação do Patrimônio, sendo

seu espaço transformado em restaurante.

O mestre sofreu o primeiro derrame em maio de 1978, e o segundo um mês depois.

Transferido para o abrigo D.Pedro II, Pastinha morre em 13 de novembro de 1981.

A capoeira Angola caracterizava-se pela constante forma de criar os movimentos sem

nenhum estudo, baseando-se apenas nos movimentos naturais do corpo, no reflexo e na

necessidade de defender-se. A grande arma da capoeira angola revela-se mais pela defesa que

pelo o ataque sendo o seu forte a espera, a surpresa, a flexibilidade, a eficiência onde os

golpes caracterizam-se, na sua grande maioria pelos movimentos desequilibrantes e rasteiros,

no quais o lutador, trabalhando com as mãos e os pés em contato com o chão, mostra a sua

malícia e destreza no jogo de perguntas e respostas.

Por outro lado, surgiu o mestre Bimba, fundador da primeira escola de capoeira e

criador de um novo estilo, que ele chamou de Capoeira Regional Baiana. Filho de batuqueiro

famoso no bairro onde morava, mestre Bimba começou a aprender capoeira na estrada da

Liberdade, com um africano chamado Bentinho, capitão da Companhia de Navegação Baiana.

Para Anande (2003) Bimba foi o criador da Capoeira Regional, a capoeira que mestre

Bimba aprendeu e na qual militou muito tempo foi a tradicional e primitiva Capoeira de

Angola.

Mestre Bimba fundou o Centro de Capoeira Regional e Cultura Física, onde só

aceitava aluno com carteira de trabalho assinada, ou estudante, ou então se ocupasse o seu

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tempo com qualquer trabalho. Preocupado em zelar com a integridade dos alunos proibia os

alunos de freqüentar rodas de capoeira angola e de rua, para não se misturarem as possíveis

“maus elementos” que, dentro dessa nova visão, não contribuiriam em nada para a “boa

imagem da capoeira”.

Manoel dos Reis Machado, Mestre Bimba morreu aos 74 anos na cidade de Goiânia

onde morava com sua esposa e filhos, sendo hoje o mestre mais reconhecido entre todos.

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2.4 A PRÁTICA DA CAPOEIRA

A GINGA

Segundo Anande (1993) tudo começa pela ginga, ela é o movimento importante na

capoeira, pois quem não ginga não joga. Ela que proporciona ao capoeirista estar em

constante movimento para não se tornar alvo fácil do adversário.

Para Campos (1990) a ginga é que diferencia a capoeira das outras modalidades de

luta e tem como fidelidade o estudo do adversário e do “jogo”. Serve para preparar e desferir

os golpes de ataque e, na defesa, é responsável pelas esquivas e molejo, ajudando de forma

decisiva no reflexo, justamente por estar o capoeirista em constante movimento.

Para dar melhor ritmo aos movimentos do corpo é necessário gingar, pois através dela

o capoeirista faz o seu jogo, suas fintas, os seus disfarces para enganar o adversário. A ginga é

comparada com a marcha (andar).

OS MOVIMENTOS BÁSICOS DE DEFESA

A prioridade inicial, porém, é dada às defesas, pois a capoeira, antes de ser uma arte

para o domínio e a opressão defender-se do opressor sendo nas aulas que o aluno aprende a se

defender onde o ataque é uma simples conseqüência e continuação da defesa, embora toda

defesa seja simultaneamente um ataque.

Para Anande (1993) tudo começa pelo instinto natural da preservação de proteger o

corpo e preservar a vida livrando-se do perigo, para que: Campos (1990) diz que a defesa

nada mais é que cada comando vem do reflexo instintivo, que emana ordens aos músculos

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para que o corpo se agache, se esquive, negaceie e saia da mira do ataque do adversário,

considerando como movimentos básicos de defesa a: cocorinha, negativa, esquiva e aú.

Os movimentos básicos para que o capoeirista tenha segurança em atacar são

justamente as defesas, que por meio dela e possuindo uma melhor visão periférica,

consequentemente terá maior habilidade para desenvolver e fluir no jogo da capoeira.

OS MOVIMENTOS BÁSICOS DE ATAQUE

Após ter aprendido os movimentos de defesa o capoeirista inicia o aprendizado dos

primeiros ataques, começando por movimentos mais simples e fáceis de execução, o que dará

ao capoeirista um melhor embasamento para os movimentos mais complexos.

Os movimentos considerados de golpe em linha (retos) são: martelo, benção, ponteira,

pisão, e os golpes rodados (laterais) são: meia lua de frente, meia lua de compasso, queixada e

armada.

Para Anande (1993) o golpe de ataque requer tanto do corpo como do raciocínio do

capoeirista, pois exigem equilíbrio, objetividade, técnica e prática.

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2.5 INSTRUMENTOS DA CAPOEIRA

Campos (1990) diz que os instrumentos tem uma importância peculiar nas aulas e nas

apresentações da capoeira, ditando o ritmo em que deve-se jogar, os alunos são estimulados

pelo toque e pelo os movimentos do corpo.

BERIMBAU

O Berimbau para Silva (2003) é um cordofone que tem como característica sonora

duas notas melódicas geradas por uma corda de aço ou outro material como: tripa de carneiro

ou de pato ou ainda certo tipo de cipó, percutida por uma baqueta, com uma nota fundamental

que corresponde a corda solta e uma nota de altura superior resultante do contato de uma

pedra ou uma moeda de cobre, que a torna mais aguda em relação a fundamental.

Existem referências bibliográficas de antropólogos e arqueólogos que citam o

berimbau em pinturas de cavernas por volta de 15.000 anos antes de cristo. São também

encontradas referências do uso do berimbau no Egito por volta de 3.000 anos antes de Cristo,

em pinturas funerárias e cerimônias religiosas, inclusive para a pratica de levitação.

Para Campos (1990) (...) “a música do berimbau é uma ativadora de energia dos

lutadores e, de tal modo, se liga ao jogo que este depende inteiramente dela e é por ela

regulado (...)”.

Diante do que foi relatado por Campos (1990) é um instrumento sem dúvida

importantíssimo para a capoeira porque é através dele que dar harmonia aos movimentos.

Segundo Anande (1993) É um instrumento musical de origem africana, que se

constitui num arco musical, onde o berimbau de barriga, usado na capoeira, utiliza-se uma

cabaça como caixa de ressonância.

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Cruz (2003), faz uma citação do Mestre Pastinha sobre o berimbau, que diz o seguinte:

“(...) Não se pode esquecer do berimbau. Berimbau é o primitivo mestre. Ensina pelo som. Dá

vibração e ginga ao corpo da gente. O conjunto de percussão com o berimbau não é arranjo

moderno, não, é coisa dos princípios. Bom capoeirista, além de jogar, deve saber tocar

berimbau e cantar”.

CAXIXI

Silva (2003) fala que o Caxixi é um pequeno chocalho feito de palha ou sisal trançado

com a base de cabaça, cortada em forma circular e a parte superior reta, terminando com uma

alça da mesma palha, para que possa apoiar os dedos durante a execução do toque. No seu

interior, encontram-se algumas sementes secas que lhe dar um som característico. Quanto a

sua origem não se tem nada definido, porém, tudo leva a crer que seja oriundo dos Índios,

uma vez que, não se tem conhecimento em nenhum ritual de origem africano. O Caxixi é

utilizado como complemento na execução do toque do berimbau, junto com a baqueta e o

dobrão.

Para Campos (1990) o Caxixi é em forma de pequena cesta de vime com alça, usado

como chocalho pelo tocador de berimbau, o qual segura a peça com a mão direita, juntamente

com a baqueta, executando o toque e marcando o ritmo.

PANDEIRO

Segundo Silva (2003) o Pandeiro constitui-se numa armação circular, a qual se prende

com um pedaço de couro esticado e ao seu redor pares de arruelas de metal.

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O Pandeiro é incluso nos instrumentos africanos vindos para o Brasil por Luciano

Gallet, e serve ainda hoje em muitas danças femininas, como por exemplo: as festas de Reis.

No Brasil, o pandeiro entrou por via portuguesa e já na primeira procissão realizada na

Bahia que foi a de Corpus Christi em 13 de junho de 1549, ele se fez presente, pois era hábito

português que mais tarde foi incorporado a vida do brasileiro.

AGOGÔ

Para Silva (2003) O Agogô é um instrumento de percussão feito de ferro, de origem

Nagô, entrado no Brasil através dos africanos. O termo agogô pertence à língua ioruba e

significa sino. Os primeiros registros na capoeira foi nas escolas de Mestre Pastinha e Mestre

Canjiquinha.

Segundo o Dicionário de Capoeira escrito por Lima (2005) o Agogô é um instrumento

de percussão de origem africana, constituído por duas campânulas de ferro, o qual se percute

com uma vareta do mesmo metal, e é usado particularmente nos candomblés, baterias de

escola de samba, maracatu, conjuntos musicais.

RECO-RECO

Silva (2003) diz que o reco-reco é um instrumento musical cuja origem é atribuída aos

indígenas. Trata-se de um pedaço de madeira oca, comumente o bambu é utilizado, cujo um

dos lados é serrilhado, produzindo um som característico em virtude da fricção de uma haste

de madeira ou outro material. Atualmente na sua confecção é utilizado o metal em

substituição à madeira.

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ATABAQUE

O termo Atabaque para Silva (2003) é de origem árabe, sendo aceita por todos os

etimólogos. É um instrumento oriental muito antigo entre os persas, os árabes e os hebreus.

Embora muito divulgado nas culturas africanas, que para o Brasil trouxeram alguns tipos de

atabaques, embora os portugueses também haviam trazidos. Ainda hoje é utilizado na

capoeira e nos cultos religiosos africanos, nos candomblés, umbanda e grupos de afoxé.

Para Campos (1990) é um tipo de tambor, feito com pele de animal, distendida em

uma estrutura de madeira com formato de cone vazado nas extremidades. Percutido com as

mãos, é bastante usado nos candomblés e nas danças religiosas e populares de origem

africana.

Segundo o dicionário da Capoeira Lima explicita que o Atabaque (...) é utilizado para

marcar o ritmo das danças religiosas e evocar entidades.

Para Silva (2003) a organização dos instrumentos na roda de capoeira, varia conforme

o seu estilo; a Capoeira Regional e Capoeira Angola.

Na capoeira Regional é tradicional o uso de um berimbau no centro e dois pandeiros;

na Capoeira Angola, são usados três berimbaus dispostos lado a lado da seguinte forma: O

gunga, berimbau com a cabaça maior e com o som mais grave que dita o ritmo do jogo. O

médio, também designado berimbau por alguns grupos, é o berimbau que fica no centro e sua

função é importante na marcação, sustentando o gunga. A berimbau viola, essa é composta de

uma cabaça bem menor que os outros, que lhe dá um som mais agudo, e sua função na roda é

de animar o jogo com os seus repiques e dobrados.

A disposição ou a formação da charanga varia de acordo com o ensinamento de cada

mestre da capoeira angola.

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2.6 OS TOQUES NA CAPOEIRA REGIONAL

Na capoeira regional os toques mais importantes e mais tocados são os seguintes:

SANTA MARIA

Prado (1998) fala que o toque Santa Maria é um toque simples e rápido permitindo

jogo solto e alto, utilizado o uso de facas ou navalhas em apresentações e sempre

acompanhado por cânticos corridos e palmas.

BANGUELA

Filho (1996) relata em um de seus livros que a banguela ou banguelinha é um jogo de

corpo a corpo, treinado para a defesa de arma branca. E já para Prado (1998) “(...) é

acompanhado por cânticos, e palmas, toque constante, cadenciado e lento e com característica

calmo, com movimentos e golpes cautelosos com bastante expressão corporal”.

CAVALARIA

Prado (1998) relata que é usado neste toque somente 01 berimbau, e não é usado

pandeiro, não existem cânticos, palmas e jogo. Porque é um toque de alerta, aviso, atenção e

as características deste toque, é rápido, sem dobradas e evoluções. Agora para Filho (1996) é

um toque que permite jogo duro, pesado e violento.

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SÃO BENTO GRANDE

Segundo Filho (1996) é um jogo ao estilo Regional, jogo forte e rápido, mais para a

violência do que para o exibicionismo.

Prado (1998) diz que são usados 1,2 e 3 berimbaus, 2 pandeiros, opcionais atabaques,

acompanhado com cânticos, quadras, corridos e palmas. Toque rápido e constante e com

características de jogo com golpes e movimentos seguros e técnicos de ataque e defesa.

IÚNA

Filho (1996) diz que o toque iuna permite jogo baixo, manhoso, sagaz e coreográfico.

E Prado (1998) fala que em uma de usas obras que usa apenas 01 berimbau e 2 pandeiros, e

fala que o toque é agudo e agradável e não é acompanhado com cânticos, e com

características de jogo técnico, onde os formados, professores, contra-mestre e mestres

mostram suas habilidades, demonstrando a cintura desprezada, também relata a compra de

jogo, e no final de cada jogo os calouros aplaudem em forma de agradecimento.

IDALINA

Um toque intercalado e constante, usada também como dobrada no São Bento Grande,

simbolizando o jogo de navalha, hoje usado em apresentações. Acompanhado por cânticos

corridos e palmas, para Prado (1998). E segundo Filho (1996) o toque permite jogo alto, solto,

manhoso e rico em movimentos.

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2.7 MÉTODO DE ENSINO DE MESTRE BIMBA

O método de ensino juntamente com a seqüência ensinada pelo Mestre Bimba no

Centro de Cultura Física Regional eram muitos simples e eficientes, onde os alunos (calouros

e Formados) todos os dias ao chegarem à academia, faziam a “cintura desprezada”, uma

seqüência de golpes, contra-golpes e defesas. Em seguida o mestre pegava o seu berimbau e

tocava o toque São Bento Grande para todos e pedia sempre para os formados “puxarem” os

calouros mais velhos. Jogava alunos com alunos, formados com formados e depois alunos

com formados. O mestre Bimba tinha o cuidado de não repetir as duplas todos os dias para

não acostumarem. Na seqüência tocava o toque iúna não se jogava mais ao som do berimbau.

O “esquenta banho” chamado por ele, onde os alunos podiam escolher com quem

jogar, era um jogo violento e os alunos formados enfrentavam, às vezes, dois ou três

adversários de uma só vez. Este tipo de treino surgiu em virtude de que a academia do mestre

possuia apenas um banheiro e por estas razões os alunos ficavam “esquentando para o banho”.

Para Filho (1996) o objetivo do mestre Bimba era fazer com que estes alunos

passassem a ter responsabilidade, compromisso com a capoeira e com a vida, procurando

melhores caminhos para que no futuro sejam homens bem sucedidos.

Almeida (2002) ressalta que as raras às vezes o mestre ensinava golpes novos, ou uma

defesa, mas ficava sempre a critério dele a hora, o dia ou mês para ensinar, onde os alunos

mais interessados e desinibidos levavam vantagens, o mestre sempre atendia ensinando na

prática.

Existiam golpes proibidos nas aulas, somente os formados poderiam aplicar entre si, se

não existissem alunos na aula. O curso de Especialização também era secreto.

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Seu método segundo Almeida (2002) era muito artesanal, ele ensinava aluno por aluno

os movimentos, principalmente a ginga onde exigia do capoeirista, para ele a ginga era a parte

mais importante da pratica da capoeira.

Vale ressaltar que até o presente momento não foi falado da participação das mulheres

na capoeira. Segundo a Revista Capoeira (2001), mostra que ninguém até hoje se preocupa

em descobrir o momento exato em que a mulher iniciou na capoeira. A suposição é de que a

capoeiragem feminina começou em Salvador ou até mesmo no Rio de Janeiro.

A história curiosa da reverenciada “Maria Doze Homem”, freqüentava as rodas de

capoeira do Cais Dourado e da rampa do Mercado Modelo (Salvador-BA). Ela ficou

conhecida pelas façanhas e pelo fato o qual ganhou seu apelido, foi que nocauteou de uma só

vez doze homens que se intrometeram no seu caminho. Valente e corajosa exibia seu molejo e

sua mandinga nas rodas e não tinha medo de aplicar seus golpes implacáveis (REVISTA

CAPOEIRA 2001).

Segundo a revista Praticando Capoeira (2001) Nestor relata que “(...) as mulheres tão

marginalizadas quanto os homens capoeiristas, assim como toda a cultura e o povo negro

daquela época”. Diante do exposto, as mulheres na capoeira eram poucas citadas em obras,

para o mestre Bimba criador da capoeira regional não treinava com ele mulheres, porque

diziam que a capoeira era “vadiação”, “malandragem”, e os treinamentos requeria muita força

e dedicação.

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2.8 SEQUÊNCIA DE ENSINO DE MESTRE BIMBA

Almeida (2002) diz que a seqüência de ensino eram destinados aos alunos iniciantes, é

um método para calouros, sendo seu objetivo criar uma consciência no aluno da necessidade

de sempre que atacado aplicar uma defesa e um contra-ataque criando assim uma situação de

jogo e se condicionando para tal, utilizando-se somente golpes comuns, para fácil

aprendizagem do calouro.

Ela é o ABC do capoeirista como diz Almeida (2002), na seqüência o treino era

realizado em duplas, simulando um verdadeiro jogo de capoeira, utilizando os 17 movimentos

que mais aparecem em um confronto verdadeiro.

Na academia de mestre Bimba, por força de tempo e pressa de alguns formados, surgiu

um modo mais simplificado de se fazer a seqüência e que passou a ser mais conhecida, porém

a seqüência completa, original, é a ideal para o desenvolvimento do aluno, passando a ser

exigida pelo mestre nos cursos de especialização.

O curso de especialização era marcado com uma emboscada, uma verdadeira guerra,

treinamento de guerrilha. O mestre colocava quatro ou cinco alunos para pegar um. O aluno

que estivesse sozinho tinha que jogar, lutar e também correr, saber correr para não se pego

pelos mesmos (ALMEIDA, 2002).

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2.9 CAPOEIRA NUMA VISÃO CULTURAL

O MACULELÊ

Segundo a Revista Ginga Capoeira (2001) escrita por Tânia Voss, o Maculelê é mais

conhecido como dança, mas, na realidade, é uma luta, surgiu como luta. Segundo a lenda, em

uma determinada tribo era escolhido um dia por mês para caçar, e nesse dia os homens saiam,

e as mulheres ficavam sozinhas.

Mas num desses dias de caça, um dos guerreiros da tribo ficou, não saiu para caçar. As

outras tribos, que já estavam de olho nas mulheres que ficavam sozinhas, invadiram e

aprisionaram as mulheres. Mas esse único guerreiro que ficou nesse dia pegou um pedaço de

pau e lutou contra os invasores até a morte, defendendo as mulheres da tribo. Quando os

outros guerreiros chegaram da caça, o encontrou morto para defender as mulheres. E a partir

dessa história, todos os dias de caça eram comemorados com dança que representava a luta do

guerreiro para salvar as mulheres.

No Ôlelê Maculelê, Emília Biancardi (2000) escreve: “Conta-se até que, quando um

escravo queria fugir, uma roda de maculelê era imediatamente formada por seus

companheiros, com a finalidade de distrair os feitores e facilitar a evasão, o que bem

demonstra a popularidade e a aceitação do folguedo na zona rural. (...) o maculelê, por sua

vez, está vinculado às festas em louvor a Nossa Senhora da Conceição (...). E concluiu que o

maculelê tem origem africana e que, a exemplo de outras manifestações artísticas do negro,

sofreu forte influencia local e adaptações culturais no decorrer dos anos”.

Diante do que foi exposto pela autora, acredito, porém que como tantas outras

expressões culturais africanas, o macululê caracteriza-se, sobretudo, como um divertimento de

escravos e seus descendentes, sobressaindo seu aspecto, já acentuado, de dança dramática.

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O maculelê hoje é considerado como folclore brasileiro e parte importante na das

apresentações na capoeira regional. No maculelê moderno é usado bastões feito de madeira,

ou facões, dançado ao som dos atabaques. Para representar melhor a origem do maculelê os

capoeiristas usam saias feitas de sacos e pinturas no corpo.

Uma das músicas mais conhecidas:

...“ Sou eu, sou eu, sou eu maculelê sou eu /

Nós viemos de Mato Grosso da senzala para o arraial...”

PUXADA DE REDE

Na Revista Ginga Capoeira (2001), Haroldo Oliveira relata que a puxada de rede,

também conhecida no litoral paulista como Picaré, é uma pescada de arrastão a beira mar,

prática bastante comum que ocorre principalmente à noite, quando os cardumes vêm se

alimentar mais próximos da costa. A rede é estendida da beira mar para dentro, até a altura do

último homem, então, caminham por uma longa extensão da praia, e pelo fato de ser realizada

ao longo da praia, sua prática não é predatória.

E ela se une a capoeira para defesa e proteção contra os inimigos e malfeitores em

ataques surpresa. Sempre haviam guerreiros na vigília, que se dedicavam à prática da

capoeira, ficando estas, extremamente ligadas e irmanadas, pois pertencem ao tronco de uma

mesma raiz.

No Dicionário da Capoeira Lima (2005) diz que a puxada de rede é uma peça teatral,

encenada por capoeiristas, que simula uma pescaria e, geralmente é, demonstrada em

apresentações e cerimônias de batismo.

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3.0 A CAPOEIRA NA ESCOLA

A capoeira é uma excelente atividade física e de uma riqueza sem precedentes para

ajudar na formação integral do aluno. Ela atua de maneira direta e indireta sobre os aspectos

cognitivo, afetivo, social e motor. A sua riqueza estão nas várias formas de ser contemplada

na escola, onde o aluno, através de sua prática ordenada, poderá assimilá-la e atuar nas linhas

com as quais se identifica.

Segundo Campos (1990) existem vários tipos de capoeira que o aluno pode se

identificar tais são:

Capoeira Luta: que representa para o autor a origem e sobrevivência através dos

tempos na sua forma mais natural como instrumento de defesa pessoal genuinamente

brasileiro. Deverá ser ministrado com o objetivo de capoeira combate e de defesa.

E a Capoeira Dança e Arte é para ele a arte que se faz presente através da música,

ritmo, canto, instrumento, expressão corporal, criatividade de movimentos, assim como um

riquíssimo tema para as artes plásticas, literaturas e cênicas. Na dança, as aulas são dirigidas

no sentido de aproveitar os movimentos da capoeira, desenvolvendo flexibilidade, agilidade,

destreza, equilíbrio e coordenação em busca da coreografia e satisfação pessoal.

A Capoeira Folclore é assim representada por ele como uma expressão popular que faz

parte da cultura brasileira e que deve ser preservada, promovendo a participação dos alunos na

parte pratica como teórica.

Capoeira Esporte é vista como modalidade desportiva institucionalizada em 1972 pelo

Conselho Nacional de desportos, ela mesma deverá ter um enfoque especial para competição,

estabelecendo-se treinamentos físicos, técnicos e táticos (CAMPOS 1990).

E a mais importante para o contexto escolar é a capoeira educação segundo Campos

(1990) que se apresenta como um elemento importantíssimo para a formação integral do

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aluno, desenvolvendo o físico, caráter, personalidade, e influenciando nas mudanças de

comportamento, proporcionando ainda um auto-conhecimento e uma analise critica das suas

potencialidades e limites.

Capoeira como lazer para o autor representa como pratica não formal através das

“rodas” espontâneas, realizadas nas praças, praias, colégios, universidades, festas, etc.

A capoeira na escola deverá ser ensinada de forma lúdica, deixando que o educando

busque a sua identificação em qualquer destas formas citadas, ou até mesmo como fonte de

pesquisa. A capoeira pode ser praticada de várias formas. Cabe ao professor um papel

relevante, orientando e estimulando para que o aluno possa aproveitar ao máximo toda a sua

potencialidade.

A metodologia de ensino não terá somente um aspecto técnico de aprender

determinada forma de luta e de esporte; o ensino dos golpes e seqüências deverá ser

acompanhado da transmissão de todos os elementos que envolvam a sua cultura, história, e

evolução. O aluno precisa se interagir, jogando, cantando e tocando, necessitando sempre do

bom relacionamento professor / aluno.

Segundo artigo da Revista Sprint (1999) de José Falcão, escreve: “Nos últimos dez

anos, a capoeira adentrando as instituições escolares de forma bem peculiar, entretanto, o

ponto basilar desta questão não recai em promover uma mudança dos conteúdos da Educação

Física, mas fornecer subsídios para uma reflexão acerca da forma como eles são ministrados.

E concluindo o autor fala ainda que nas escolas, a capoeira pode, a partir dos seus agentes, ser

reduzida ou ampliada, preservada ou modificada. Ainda que a capoeira defina, grosso modo,

os limites dos usos sociais que podem ser feitos dela, a partir de suas propriedades intrínsecas,

ela se presta a muitas utilizações. Tudo vai depender da ênfase dada a cada uma de suas

características intrínseca”.

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Campos (1990), aborda questões pedagógicas relacionadas a prática da capoeira como

Educação Física e apresenta um planejamento de atividades desde a 5ª até a 8ª série do ensino

médio, e fala sobre o desenvolvimento das qualidades físicas a partir dos fundamentos da

capoeira.

A Capoeira está inserida nos Jogos Escolares Brasileiros - JEB’s, desde 1985 o

incremento se deu através da implantação de aspectos que valorizavam dimensões artístico-

culturais desta modalidade. Foi acrescentado seminário, que representa a oportunidade do

estudante demonstrar o seu conhecimento teórico sobre a capoeira, e a conferencia dos

mestres, em que são apresentados e debatidos temas relevantes referentes à capoeira.

Com a implantação da capoeira nos JEB’s e estudos já realizados sobre a capoeira,

alguns projetos e propostas já foram apresentadas às Instituições Superiores de Ensino, na

área da Educação Física para inserirem em seus currículos escolares a Metodologia da

Capoeira, conjuntamente nas escolas públicas.

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3.1 EXPERIÊNCIAS ADQUIRIDA NO PROGRAMA SEGUNDO TEMPO.

No Instituto Bombeiros Amigos da Vida, (I.B.A.V), foi onde obtive oportunidade de

coordenar e trabalhar com a capoeira para jovens entre a idade de 07 a 17 anos. Durante 2

anos passei a perceber que na instituição, existiam vários jovens que à violência se

manifestava em determinadas brincadeiras, foi então que introduzi a capoeira como forma

lúdica para nossas crianças, para minha surpresa, das 422 crianças que freqüentavam o

núcleo cerca de 80%, optaram pela pratica da capoeira, durante um ano passei a observar o

comportamento dos mesmos, com a utilização da teoria desenvolvida através da motivação

múltiplas da inteligência. Teoria esta desenvolvida por um grupo de pesquisadores na década

dos anos 80, da universidade de Haward, liderado pelo psicólogo, Howard Gardener.

Usando as técnicas por ele desenvolvidas, observei que cada um dos alunos

apresentava nas aulas de capoeira de acordo com a teoria as seguintes inteligências:

Lingüística: Sensibilidade para os sons e significados de palavras; Musical: Habilidade para

produzir e ou reproduzir música, sensibilidade para ritmos, texturas e timbre; Lógico-

matemático: É a habilidade para lidar com séries de raciocínio, para reconhecer problema e

resolve-los; Intrapessoal: Habilidade para ter acesso aos próprios sentimentos, sonhos e

idéias; Inteligência Espacial: É a inteligência (a capacidade de perceber/percepção periférica

espaço e tempo; Cinestêsica: É a habilidade para usar a coordenação grossa e fina em

esportes, artes cênicas ou plásticos; Interpessoal: Habilidade para entender e responder

adequadamente a humores e motivações (WIKIPEDIA, 2007).

Depois de um ano os resultados alcançados foram surpreendente, o comportamento

destas crianças fora do núcleo teve uma melhora com relação às atividades em sala de aula

com base na apresentação dos boletins e informações obtidas através dos pais.

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Na capoeira procurei desenvolver uma metodologia de ensino, em que fossem

trabalhadas todas estas fases das aprendizagens e cada aluno tinha uma peculiaridade a ser

desenvolvida, ou seja, o lado, emocional, a lingüística, na musica, na matemática, espacial e

corporal.

A capoeira tem um instrumento, interdisciplinar que aplicado no dia, dia com certeza

mudará no ensino aprendizagem do aluno, por exemplo, quando o professor diz para o aluno

que todo movimento num jogo deve ser aproveitado ele está utilizando a lei de Lavoisier, que

diz que na natureza nada se perde tudo se transforma. E este exemplo cito nas aulas para que o

aluno facilite a memorização da matéria dada pelo professor em sala de aula.

Importante ressaltar que a cada exemplo dado eu sempre cito uma forma e seu autor ou

inventor sempre trabalhando os aspectos psicopedagogicos.

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3.2 A CAPOEIRA E A INTEGRAÇÃO DIFERENCIADA

Sendo a capoeira uma atividade de inclusão social jamais poderia esquecer da

participação dos portadores de necessidades especiais, cabendo aos professores adquirir

conhecimento especifico para desenvolver as habilidades tanto cognitivas e motoras através

do ritmo, ou seja, do jogo da capoeira.

Através da minha experiência pude notar que o grande problema está na família, que

muitas vezes camuflam seus entes queridos para não mostrá-los aos outros, e com isso

dificulta o trabalho das crianças.

Gostaria de ressaltar que não existe dentro da capoeira movimentos delimitados, e sim

de acordo com as capacidades físicas e motoras de cada um.

Não podemos exigir dos alunos especiais movimentos completos na capoeira,

deixando assim o aluno livre para que possa se desenvolver.

A Educação Física tem muito a oferecer às pessoas portadoras de diversos tipos de

deficiência, nas mais variadas formas de atividade. Seguramente, é capaz de promover maior

integração social do deficiente, provocando seu interesse pelo Esporte e pela própria

graduação profissional.

Segundo a revista CONFEF (2003), diz que a atenção do Profissional de Educação

Física pelo trabalho com portadores de deficiências é relativamente nova, assim como faz

pouco tempo que a sociedade como um todo começou a encarar a questão. E fala ainda sobre

os cursos de graduação que estão formando sua base teórica, porém uma série de

acontecimento espelha e vem produzindo uma mudança gradativa na maneira de encarar e

tratar o portador de deficiência, para o qual a atividade física pode significar melhores

condições de vida e maior inserção social.

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Márcia Cardoso, professora graduada em Educação Física diz na revista CREF7

(2005) que com as mudanças na área educacional, à atividade física também evoluiu, hoje,

com a lei 10.328/2001 e a lei 9.394/96, a Educação Física integra a proposta pedagógica da

escola, e é componente curricular obrigatório da Educação Básica. Portanto, não existindo

mais dispensa por atestado médico e nem por nenhum outro motivo devendo ser as aulas

adaptadas às necessidades dos alunos.

Nesta visão, entra a Educação Física Inclusiva, alcançando assim os Portadores de

Necessidades Educativas Especiais (PNEE) participando ativamente da aula, logicamente

com as suas potencialidades sendo trabalhadas e suas limitações sendo respeitadas dentro do

grupo.

Para Sérgio Cavalcante, que diz na revista CONFEF (2003): (...) a história nos mostra

que o portador de deficiência tem tido momentos distintos em seu relacionamento social. Há

momentos marcados por rejeições, outros por segregações, sendo muitas vezes visto como

vítima, ocorrendo assim o protecionismo exacerbado.

Este movimento de conscientização veio a ter no Esporte um forte aliado, com o

interesse despertado pela participação de atletas brasileiros nos Jogos Para-olímpicos e no

Parapan-americano.

A popularização e a desmistificação da condição do deficiente têm sido levadas à

reflexão em outros importantes setores da sociedade, como por exemplo, os filmes: O Óleo de

Lorenzo, Mr. Holland, O Oitavo Dia, dentre outros.

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3.3 A EDUCAÇÃO FÍSICA E A CAPOEIRA PARA TERCEIRA IDADE

A atividade física é qualquer movimento corporal produzido por músculos e que

resulta em maior dispêndio de energia (MCARDLE 1996).

O treinamento físico habitual facilita a retenção protéica e pode retardar a redução no

peso corporal magro e na força observada com o envelhecimento. Em um estudo recente,

homens sadios entre 60 e 72 anos de idade eram treinados por 12 semanas, com um programa

padronizado de treinamento com resistência que utilizava cargas equivalentes a 80% de 1-RM

(MCARDLE 1996).

Segundo McArdle (1996), A força máxima de homens e mulheres em geral é

alcançada entre os 20 e 30 anos de idade, época em que a área muscular em corte transversal

costuma ser máxima. Daí por diante, observa-se um declínio progressivo na força da maioria

dos grupos musculares. Este declínio é de pelo menos 16,5 na força muscular após a terceira

idade.

Fazer atividade física regularmente, seja em qualquer modalidade produz

aprimoramentos fisiológicos, independentemente da idade.

A capoeira para idosos ajuda a ter um envelhecimento saudável, produzindo melhoras

na auto-estima, na circulação sanguínea, juntamente com a pressão arterial, proporcionando

uma boa qualidade de vida.

Hoje a CAPOTERAPIA, idealizada por Gilvan de Andrade que hoje é uma terapia

corporal trabalhada com a terceira idade, usando os movimentos da capoeira.

O sedentarismo aliado às doenças cardiovasculares e respiratórias acelera a

mortalidade, principalmente na fase adulta e nos idosos. A capoeira proporciona o bem estar

físico e espiritual dos idosos nesse momento particular de suas vidas, a melhora o

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condicionamento físico e a reabilitação física, corrigindo desvios e doenças degenerativas,

segundo relatos de médicos e Profissionais de Educação Física.

Sem desconhecer as limitações físicas da terceira idade, a capoterapia mobiliza a

energia latente e permite a reinclusão social pelo convívio em grupo, pela recuperação da

auto-estima e do estresse e, sobretudo pela felicidade proporcionada por uma pratica física

que revigora o corpo e a mente.

Segundo relato da praticante da Capoterapia, como a Senhora Joana de Almeida de 80

anos diz que se transformou depois que conheceu a capoeira, colocando: “Estou mais agitada,

sim, mas disposta, porque redescobri meu corpo e sei que meu limite vai muito além do que

eu julgava”, assim a Capoterapia para os idosos resgata a vontade de viver, e o bem está social

e sua auto-estima.

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4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este trabalho teve como finalidade trazer uma abordagem sistêmica da origem da

capoeira, bem como as manifestações através de um povo oprimido, destacando sobre tudo o

valor da capoeira como pratica esportiva dentro do contexto escolar. Enfatizando sua pratica

na escola como arte e luta, visando a aprendizagem histórica de seus ancestrais e

fundamentos.

Procuramos resgatar a origem do negro escravo e suas crendices, valorizando assim a

cultura afro brasileira.

Os méritos obtidos nesse trabalho foram as transformações e a valorização desse

esporte, através do poder público. Tendo hoje uma visão amplamente reconhecida dos valores

que a capoeira possui perante o desenvolvimento psicomotor do cidadão.

A mesma tem como principal finalidade a inclusão social aos portadores de

necessidades especiais e alcançando até mesmo a terceira idade como, por exemplo, na

capoterapia.

Temos como objetivo focalizar a capoeira como um esporte reconhecido e retirando a

imagem de um esporte marginalizado, procurando inserir-la futuramente no esporte de alto

rendimento.

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5. REFERÊNCIAS

Areais, Anande. O que é Capoeira. 4.edição ed. da tribo. 1983

Almeida, Raimundo César Alves de. A Saga do Mestre Bimba 2002 Salvador/BA. Ed.

Ginga Associação de Capoeira

Campos Hélio. Capoeira na Escola. 1990 Salvador / BA: Presscolor

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