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Josane Gomes Weber Oliveira Empresas ligadas à Economia de Comunhão: uma proposta de atuação conjunta Tese de Doutorado Tese apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Administração de Empresas da PUC-Rio como requisito parcial para obtenção do grau de Doutor em Administração de Empresas. Orientador: Profa. Maria Angela Campelo de Melo Co-orientador: Prof. Roberto Cintra Martins Rio de Janeiro Dezembro de 2016

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Josane Gomes Weber Oliveira

Empresas ligadas à Economia de Comunhão:

uma proposta de atuação conjunta

Tese de Doutorado

Tese apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Administração de Empresas da PUC-Rio como requisito parcial para obtenção do grau de Doutor em Administração de Empresas.

Orientador: Profa. Maria Angela Campelo de Melo Co-orientador: Prof. Roberto Cintra Martins

Rio de Janeiro

Dezembro de 2016

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Josane Gomes Weber Oliveira

Empresas Ligadas à Economia de Comunhão:

uma proposta de atuação conjunta

Tese apresentada como requisito parcial para obtenção do grau de Doutor pelo Programa de Pós-graduação em Administração de Empresas da PUC-Rio. Aprovada pela Comissão Examinadora abaixo assinada.

Profª. Maria Angela Campelo de Melo Orientadora

Departamento de Administração – PUC-Rio

Prof. Roberto Cintra Martins Co-orientador

Departamento de Engenharia Industrial - PUC-Rio

Prof. Paulo Cesar de Mendonca Motta Departamento de Administração – PUC-Rio

Prof. Marcus Vinicius David UFJF

Profª. Maria Inês de Castro Millen CES/JF

Profª. Maria Isabel da Silva Azevedo Alvim UFJF

Profa. Mônica Herz Vice-Decana de Pós-Graduação do CCS

Rio de Janeiro, 19 de dezembro de 2016

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Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução total ou parcial do trabalho sem autorização da universidade, da autora e do orientador.

Josane Gomes Weber Oliveira

Graduou-se em Engenharia Elétrica e Administração pela UFJF

(Universidade Federal de Juiz de Fora), respectivamente em

1997 e 2000. Especialista em Gestão de Recursos Humanos pela

Faculdade Machado Sobrinho. Mestre em Engenharia de

Produção pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de

Janeiro. Desenvolveu, junto ao CRITT/UFJF (Centro Regional

de Inovação e Transferência de Tecnologia), projetos em temas

ligados à inovação tecnológica, empreendedorismo,

transferência de tecnologia e atuou na gestão da UFJF em cargos

administrativos.

Ficha Catalográfica

CDD: 658

Oliveira, Josane Gomes Weber

Empresas ligadas à economia de comunhão: uma proposta de atuação conjunta / Josane Gomes Weber Oliveira; orientadora: Maria Angela Campelo de Melo; co-orientador: Roberto Cintra Martins. – 2016.

156 f. ; 30 cm

Tese (doutorado)–Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, Departamento de Administração, 2016.

Inclui bibliografia 1. Administração – Teses. 2. Economia de comunhão.

3. Redes de empresas. 4. Ecologia organizacional. 5. Planejamento adaptativo. 6. Desenvolvimento sustentável. I. Melo, Maria Angela Campelo de. II. Martins, Roberto Cintra. III. Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro. Departamento de Administração. IV. Título.

1. Administração – Teses. 2. Economia de comunhão. 3. Redes de empresas. 4. Ecologia organizacional. 5. Planejamento adaptativo. 6. Desenvolvimento sustentável. I. Melo, Maria Angela Campelo de. II. Martins, Roberto Cintra. III. Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro. Departamento de Administração. IV. Título.

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Ao meu esposo e meus filhos,

pelo apoio, compreensão e paciência demonstrados.

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Agradecimentos

A Deus, que me permitiu realizar meu intento.

À minha orientadora Professora Maria Ângela Campelo de Melo, por ter me

apresentado a Economia de Comunhão e pelo carinho, estímulo e excelente

orientação, sem os quais não lograria êxito nessa empreitada.

Ao Professor Roberto Cintra Martins, que com sua generosa contribuição

possibilitou que eu pudesse entender melhor o objeto de minha pesquisa,

incentivando-me e orientando-me para que não me perdesse durante a caminhada.

Aos Professores Marcus Vinicius David, Maria Izabel da Silva Azevedo Alvim,

Maria Inês de Castro Millen e Paulo César de Mendonça Motta, pela

disponibilidade e contribuições preciosas para com este trabalho.

Aos membros do Movimento dos Focolares, em especial aqueles que se

encontram na Mariápolis Ginetta, pelo carinho e atenção com o qual fui recebida e

tratada.

À Maria Goretti Reynaud Rodrigues, responsável pelo Centro Filadélfia, cuja

prestimosa colaboração permitiu que tivéssemos acesso a todas as condições

necessárias ao trabalho de campo.

Aos colegas que caminharam comigo, tornando a jornada mais leve e possível.

Ao CNPq e à PUC-Rio, pelos auxílios concedidos, sem os quais este trabalho não

poderia ter sido realizado.

Aos amigos e parentes que torceram por mim.

À Universidade Federal de Juiz de Fora, que proporcionou as condições

necessárias para que pudesse me desenvolver como profissional e como pessoa

humana.

A todos os funcionários e professores do Departamento de Administração do

IAG/PUC-Rio pela paciência e auxílios prestados ao longo do curso.

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Resumo

Oliveira, Josane Gomes Weber; Melo, Maria Angela Campelo de.

Empresas ligadas à Economia de Comunhão: uma proposta de atuação

conjunta. Rio de Janeiro, 2016. 156 p. Tese de Doutorado – Departamento

de Administração, Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro.

A Economia de Comunhão - EdC é uma proposta alternativa à lógica

econômica da produção pela produção e compreende uma rede mundial de

pessoas e iniciativas empresariais, fundamentadas na ‘cultura da partilha’, ou seja,

da comunhão de recursos naturais, materiais e espirituais, que serão colocados em

circulação no tecido social, tendo em vista a fraternidade universal. Trata-se de

uma linha de gestão empresarial, inspirada na espiritualidade do Movimento dos

Focolares, que requer a valorização dos funcionários, uma gestão participativa, o

respeito à natureza e à ética nos relacionamentos com os stakeholderse com a

administração pública e concorrente, reclamando assim, a legalidade. A tese

propõem que é possível, desenvolver uma estrutura reticular e uma forma de

atuação conjunta para a EdC que permita seu desenvolvimento frente aos desafios

apresentados pelo ambiente turbulento (EMERY e TRIST,1965),ou seja,

complexo, incerto e marcado pela interdependência entre as partes,que caracteriza

o mundo atual, com base na teoria da Ecologia Organizacional proposta por

Trist(1976). A teoria da Ecologia organizacional propõe um tipo de estrutura

reticular flexível, onde o foco não se encontra em uma única organização, mas em

um campo mais extenso que extrapola as relações transacionais. Essa abordagem

tem como base a auto-regulação das partes e a constante negociação. Sugere-se a

utilização da metodologia de pesquisa-ação, cuja dinâmica guarda estreita

correlação com a experiência de EdC até então vivenciada. O caráter dinâmico da

EdC requer uma contínua revisão dos resultados alcançados, como preconiza o

Planejamento Adaptativo que, unindo teoria a prática, fomenta o aprendizado e a

gestão do conhecimento.

Palavras-chave

Economia de Comunhão; redes de empresas; Ecologia Organizacional;

Planejamento Adaptativo; Desenvolvimento Sustentável.

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Abstract

Oliveira, Josane Gomes Weber; Melo, Maria Angela Campelo de (Advisor).

Companies linked to the Economy of Communion: a proposal for joint

action. Rio de Janeiro, 2016. 156 p. Tese de Doutorado – Departamento de

Administração, Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro.

The Economy of Communion - EdC is an alternative proposal to the

economic logic of production through production and comprises a worldwide

network of people and entrepreneurial initiatives based on the 'culture of sharing',

that is, the communion of natural, material and spiritual resources, which Will be

put into circulation in the social fabric, in view of universal fraternity. It is a line

of business management, inspired by the spirituality of the Focolare Movement,

which requires the appreciation of employees, a participative management, respect

for nature and ethics in relationships with stakeholders and public administration

and competitors, demanding, thus, legality. The thesis proposes that it is possible

to develop a network structure and a form of joint action for the EdC that allows

its development to face the challenges posed by the turbulent environment

(EMERY and TRIST, 1965), that is, complex, uncertain and marked by the

interdependence between The parts, which characterizes the world today, based

on the theory of Organizational Ecology proposed by Trist (1976). The theory of

organizational ecology proposes a kind of flexible reticular structure, where the

focus is not on a single organization, but on a larger field that extrapolates

transactional relationships. This approach is based on the parties' self-regulation

and constant negotiation. We suggest the use of the research-action methodology,

whose dynamics are closely correlated with the EdC experience previously

experienced. The dynamic nature of the EdC requires a continuous review of the

results achieved, as recommended by Adaptive Planning, which unites theory and

practice, fosters learning and knowledge management.

Keywords

Economy of Communion; Business Networks; Organizational Ecology;

Adaptive Planning; Sustainable Development.

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Sumário

1. Introdução 15

1.1. Objetivos 18

1.2. Limitações 18

1.3. Contribuição 18

1.4. Estrutura do trabalho 19

2. Fundamentação teórica 21

2.1. O enfoque sociotécnico 22

2.2. Ecologia Organizacional 24

2.2.1. Domínio organizacional 25

2.3. Planejamento Adaptativo 32

2.4. Pesquisa-ação 34

2.5. Redes de empresas 37

2.5.1. Governança de rede 46

2.6. Racionalidade econômica 49

2.7. Desenvolvimento sustentável 55

3. Metodologia 58

4. Economia de Comunhão na Liberdade – EdC 63

4.1. Encíclicas Sociais da Igreja 63

4.2. Movimento dos Focolares e seu carisma 72

4.3 Racionalidade de comunhão 78

4.4. Economia de Comunhão: um fenômeno empírico e atual 81

4.4.1. Vinte e Cinco anos de EdC 95

4.4.2. EdC, Economia Social, Economia Solidária e outras propostas

similares 101

4.4.3. EdC e desenvolvimento sustentável 105

4.4.4. EdC e rede de empresas 107

4.4.5. EdC sob a perspectiva da Ecologia Organizacional 111

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5. Análises e resultados 117

5.1. As empresas pesquisadas e sua adesão à gestão EdC 117

5.2. O reticulado da EdC no Brasil 120

5.3. Elementos para uma proposta de ação conjunta entre as organizações

da EdC 128

6. Conclusão 138

7. Referências bibliográficas 142

Anexos 153

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Lista de figuras

Figura 1- Simulação do ciclo de pesquisa proposto por Lewin (1965) 35

Figura 2- Tipologia de redes de empresa 43

Figura 3 - Organograma da ANPECOM 84

Figura 4 - Rede Mundial de EdC segundo Gonçalves 109

Figura 5 - Proposta de estrutura para o reticulado EdC no Brasil 131

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Lista de quadros

Quadro 1 - Princípios do Projeto Sociotécnico 23

Quadro 2 - Alguns conceitos de redes de empresas 40

Quadro 3 – Tipologia de Redes 42

Quadro 4 - Tipos de governança segundo Bernier 47

Quadro 5 - Dilema do individualismo 79

Quadro 6 - O jogo da comunhão 79

Quadro 7 - Comparação entre Economia Clássica e EDC 91

Quadro 8 - Atribuições básicas dos membros do reticulado 133

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Lista de tabelas

Tabela 1 - Faturamento anual das empresas pesquisadas em euros 60

Tabela 2– Número de colaboradores das empresas pesquisadas 60

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Lista de gráficos

Gráfico 1 - Evolução do número de empresas de EdC 96

Gráfico 2– Lucro compartilhado pelas empresas da EdC (€) 97

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“[...] Se tentares viver de amor, verá que, nessa terra

convêm que faças a tua parte. A outra, nunca se sabe se

virá, nem é necessário que venha. Às vezes, ficarás

decepcionado, porém, jamais perderás a coragem se te

convenceres de que, no amor, o que vale é amar [...]”

Chiara Lubick

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1 Introdução

Não é preciso um olhar muito atento para perceber que a desigualdade

social é uma realidade que preocupa a sociedade nesses novos tempos, tanto no

nível local como por todo o planeta, pois o modelo de desenvolvimento vigente

tem se mostrado explorador e excludente. A concepção do homo economicus, ou

seja, uma forma de ver o homem como um ser que tem como objetivo maximizar

a satisfação de seus interesses, fez com que se perdesse a noção de que ele seja

capaz de buscar o bem comum e de ser cooperativo por sua própria vontade.

Para Bruni (2011, p.1), o sistema capitalista precisa evoluir para algo novo

“salvando o mercado como lugar de criatividade e de liberdade”. As crises

financeiras e ambientais, a crescente desigualdade e a infelicidade nos países mais

ricos são sinais bastante fortes que justificam essa necessidade de mudança. As

organizações empresariais são consideradas como sistemas abertos e complexos e,

enquanto construções sociais possuem um papel fundamental na decisão de

perpetuar a lógica capitalista ou de conceber uma nova forma de agir econômico.

Assim, por meio delas também pode se dar a evolução desejada. As organizações,

como sistemas abertos, não são só modificadas, mas também podem modificar o

tecido socioeconômico do qual fazem parte. (BRUNI, 2011)

A teoria organizacional, a partir dos anos 1960, passou a focalizar aspectos

como a crescente complexidade organizacional, reconhecendo as diferenças

internas nas organizações, bem como a necessidade de integração entre suas

diversas partes. Essa complexidade crescente atingiu um raio muito além do

ambiente tarefa e transacional das organizações: atingiu o ambiente contextual.

De acordo com Emery e Trist (1965), o ambiente mundial contemporâneo,

devido à relação entre seus atores, é dinâmico, marcado por um alto grau de

incerteza, complexidade e interdependência. Isso configura o tipo de ambiente

considerado turbulento.

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Ainda segundo os mesmos autores, o modelo organizacional burocrático e

hierarquizado, projetado para um ambiente menos complexo, mostra-se deficiente

para lidar com o ambiente atual em constante mudança. No nível macroscópico,

ou seja, na gestão de sistemas de larga escala, os múltiplos aspectos estão

interligados e, portanto, as consequências de uma gestão que não atende às

mudanças constantes no ambiente podem não ser as desejadas. Isso contribui para

o aparecimento de perturbações negativas no cenário socioeconômico, gerando

crises constantes. É inegável o aumento de problemas como diminuição de postos

de trabalho, inflação, poluição e aumento da violência e da pobreza.

Nesse cenário, a Economia de Comunhão – EdC surge como uma

alternativa inovadora à lógica econômica da produção pela produção e do

acúmulo de riqueza. Essa proposta compreende uma rede mundial de pessoas e

iniciativas empresariais, fundamentadas na ‘cultura da partilha’, ou seja, da

comunhão de recursos naturais, materiais e espirituais, que serão colocados em

circulação no tecido social, tendo em vista a fraternidade universal. Esse projeto

coloca o ser humano como fim último das ações econômicas. (LUBICH, 2000)

Conforme explica Chiara Lubich1 (2000), que concebeu o projeto EdC,

trata-se de uma linha de gestão empresarial, inspirada na espiritualidade do

Movimento dos Focolares, e que é apresentada como uma proposta aos

empresários. A gestão dos negócios, segundo essa linha, pede que se coloque

como centro de tudo a pessoa e os relacionamentos interpessoais, de forma a não

contrariar o amor evangélico. Para tanto, requer a valorização dos funcionários,

uma gestão participativa, o respeito à natureza e à ética nos relacionamentos com

os stakeholders e com a administração pública e concorrentes, reclamando, assim,

a legalidade.

Com origem no Movimento dos Focolares, um movimento eclesial civil

iniciado em 1943 em Trento, Itália, o projeto EdC surgiu em 1991, no Brasil e,

atualmente, reúne, em todo o mundo, centenas de empreendimentos dos mais

variados portes e setores da economia. Atualmente, o projeto está presente em

quatro continentes, contando com mais de oitocentas empresas de diferentes

1 Fundadora do Movimento dos Focolares ligado à Igreja Católica e mentora do Projeto

Economia de Comunhão.

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portes e formação jurídica. Compõem o projeto, seis polos de empresas que se

encontram operando na Argentina, Croácia, Bélgica, Itália e no Brasil, bem como

empresas fora dos polos. Existem, ainda, três polos em fase de estudo situados no

Brasil, nas Filipinas e na Alemanha. As empresas da EdC podem se afiliar a

Associações que colaboram para divulgar o projeto, agilizar a criação de novas

empresas, inclusive nos polos, e organizar escolas de empreendedores e eventos

culturais. Tais Associações atuam no Brasil, na Argentina, na Espanha, em

Portugal, na América do Norte, no Congo, na Croácia, na França e na Itália.

(EDC, 2016)

Como se trata de um projeto que existe há apenas 25 anos, está em fase de

consolidação. A estrutura da EdC é fluida e heterogênea uma vez que o

movimento é complexo e amplo e, portanto, não se enquadra nas formas padrão

de estruturação, normatização ou regulação existentes.

As empresas ligadas à EdC atuam formando redes (MARQUES, MERLO

E NAGANO, 2007) e parecem compor um tipo de domínio organizacional

(TRIST, 1976) que engloba todo o sistema social, uma vez que se trata de

populações organizacionais conectadas a uma área de preocupação societal

comum.

Assim sendo, propõem-se a tese de que é possível, desenvolver uma

estrutura reticular para a EdC que permita seu desenvolvimento frente aos

desafios apesentados pelo ambiente turbulento (Emery e Trist,1965) que

caracteriza o mundo atual, com base na teoria da Ecologia Organizacional

proposta por Trist(1976).

A motivação para esta pesquisa deveu-se à importância desse tipo de

fenômeno sócio econômico e à ausência de estudos referentes às atividades de

regulação ou à governança da estrutura organizacional que envolve as empresas

ligadas ao projeto da EdC.

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1.1. Objetivos

Constitui objetivo geral deste trabalho, apresentar uma proposta de atuação

conjunta que possibilite maior sinergia e melhor compartilhamento de resultados

para as organizações ligadas à EdC, respeitando os princípios dessa proposta.

São objetivos específicos:

1. Caracterizar o projeto da EdC em seus aspectos primordiais;

2. Caracterizar as empresas pesquisadas quanto aos pressupostos

gerenciais propostos pela EdC;

3. Caracterizar a atuação das empresas ligadas à EdC à luz do conceito de

Ecologia Organizacional proposto por Trist;

4. Identificar e avaliar como se dá o processo de atuação conjunta dessas

empresas a partir da perspectiva da Ecologia Organizacional;

5. Elaborar uma proposta que aprimore essa atuação conjunta em função

das proposições da EdC.

1.2. Limitações

São objeto da pesquisa empresas ligadas à EdC no estado de São Paulo/

Brasil, a Associação Nacional por uma Economia de Comunhão - ANPECOM

(local) e a Associação Internacional por uma Economia de Comunhão - AIEC

(internacional). Os resultados alcançados refletem essa delimitação espacial.

Outro fator limitante é o inerente à própria subjetividade do método do

estudo de caso, que pode advir das interpretações tanto do pesquisador como dos

respondentes. E, ainda, a influência do pesquisador no projeto de pesquisa.

Também não houve oportunidade de se testar o modelo, embora a proposta

aqui apresentada seja encarada como um ponto de partida para um processo

constante de avaliação e redefinição do modelo de atuação, dentro de uma

perspectiva de planejamento adaptativo.

1.3. Contribuição

O presente trabalho foca a estrutura que parece se formar a partir das

empresas da EdC na Grande São Paulo, que constituem um dos elementos da rede

mundial de Economia de Comunhão. Buscou-se um melhor entendimento de

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como se dá esse processo de formação de redes interorganizacionais, em nível

local, inserido no contexto da rede mundial, de forma a possibilitar o

aperfeiçoamento dessas relações, procurando fortalecer os laços existentes entre

as empresas e os demais atores do reticulado. Ao buscar entender as relações

existentes, pretendeu-se sugerir novas ou melhores formas de relação, propondo

melhorias no aproveitamento desse reticulado de organizações, trazendo ganhos

tanto para o conjunto como para as organizações individualmente e,

consequentemente, fortalecendo o ideal proposto pela EdC.

A pesquisa aqui apresentada pretendeu contribuir para o desenvolvimento do

projeto da EdC, fomentando a troca de experiências e a cooperação entre as

empresas. Como produto indireto, também teve a intenção de contribuir para

construir um arcabouço teórico que possa auxiliar no estudo de tais fenômenos.

1.4. Estrutura do trabalho

O trabalho está dividido em seis capítulos, incluindo esta Introdução.

O segundo Capítulo trata dos referenciais teóricos utilizados como base para

as avaliações e resultados do estudo, apresentando os conceitos de Abordagem

Sociotécnica, de Ecologia Organizacional, segundo Trist, de rede de empresas, de

governança de redes e de Desenvolvimento Sustentável, definindo, assim, a

direção epistemológica utilizada, que sustentou muitas das decisões e ideias

advindas no decorrer da análise e conclusão do trabalho. Apresenta, ainda, a teoria

em torno de racionalidade econômica na busca de uma maior compreensão da

natureza inovadora e relevante da EdC dentro do contexto socioeconômico atual e

os conceitos do método de ‘pesquisa ação’ e de Planejamento Adaptativo cujo

entendimento se faz importante quando da apresentação das sugestões ao final do

trabalho.

O terceiro Capítulo trata da metodologia utilizada, ou seja, o estudo de caso,

justificando sua escolha e descrevendo os procedimentos realizados na pesquisa.

O quarto Capítulo apresenta a Economia de Comunhão na Liberdade e

alguns conceitos importantes para sua compreensão, tais como a doutrina social

da Igreja Católica, o Movimento dos Focolares e o conceito de racionalidade de

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comunhão. Relaciona, ainda, o fenômeno EdC com outros movimentos atuais de

busca por novas soluções para a realidade socioeconômica vigente, distinguindo-a

de experiências similares, e estabelece sua relação com o Desenvolvimento

Sustentável, evidenciando seu caráter condizente com os anseios da sociedade

atual. Nesse mesmo capítulo, foi realizada uma atualização sobre o que vem

acontecendo no âmbito da EdC nos últimos anos, trazendo dados mais recentes

baseados nos últimos Relatórios de EdC e documentos fornecidos pelo

Movimento. Contém, também, algumas discussões sobre o caráter de rede da EdC

a partir de estudos já realizados sobre o tema, e a caracteriza sob a perspectiva da

Ecologia Organizacional, conforme proposta por Trist (1976).

O quinto Capítulo contém as análises e resultados obtidos neste trabalho,

iniciando pela pesquisa sobre a adesão das empresas pesquisadas aos pressupostos

gerenciais da EdC, o que possibilita uma visão acerca dos valores por elas

adotados, fundamentais para o processo de planejamento adaptativo. Segue-se a

apresentação do reticulado EdC no momento atual e a visão do pesquisador sobre

o modo de operação desse conjunto de organizações, com base nas análises dos

dados obtidos, à luz do referencial teórico. Encerra-se com aapresentação da

proposta de atuação conjunta para o reticulado.

Finalmente, na Conclusão as discussões do trabalho foram consolidadas,

incluindo-se sugestões para novas pesquisas e observações consideradas

relevantes.

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2 Fundamentação teórica

Uma teoria específica para a Economia de Comunhão está em processo de

construção, assim como o próprio fenômeno, que ainda precisa ser mais

conhecido, tornando-se objeto de pesquisas em diferentes disciplinas.

Por esse motivo, buscou-se, entre as teorias consolidadas, aquelas que

viriam embasar as análises e conclusões oriundas desta pesquisa.

O cerne deste capítulo é constituído pela teoria da Ecologia Organizacional,

conforme proposta por Eric Trist (1976), que servirá como pedra angular para a

construção dos resultados oriundos da pesquisa. É importante salientar que este

trabalho respeita o conceito original de socioecologia, conforme proposto por seu

formulador, que enfatiza a auto-regulação e as relações do domínio

organizacional. Essa visão não se relaciona com outros estudos, que focalizam

conceitos tradicionais da ecologia, como ciclo de vida e crescimento populacional

e que utilizaram o nome de socioecologia, desconhecendo as origens do conceito.

Este capítulo está estruturado da seguinte maneira: inicialmente, apresenta

a abordagem sociotécnica cujas características e princípios fundamentam, em

parte, a abordagem socioecológica. Alguns princípios desse enfoque constituem

diretrizes para o funcionamento das organizações que embasam a proposta

gerencial do projeto de EdC. Logo após, apresenta-se a teoria da Ecologia

Organizacional que, conforme mencionado, sustentará as análises e resultados da

pesquisa. Acrescenta-se à base teórica o conceito de Planejamento Adaptativo,

com o objetivo de auxiliar nos aspectos que envolvem a proposta apresentada,

uma vez que se trata de um processo de planejamento adequado à abordagem

socioecológica e ao enfrentamento das situações advindas do ambiente turbulento

dos dias atuais. Em seguida, são apresentados conceitos que auxiliarão, tanto para

uma melhor compreensão do fenômeno EdC, quanto às análises e construção da

proposta final.

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Assim, ao apresentar os conceitos de redes de empresas, pretende-se

destacar a opção pela escolha da abordagem socioecológica frente às teorias de

redes mais conhecidas, bem como ampliar o escopo teórico que fundamenta o

trabalho. Já o conceito de racionalidade econômica é fundamental para a

compreensão da nova racionalidade proposta a partir do projeto EdC, qual seja, a

racionalidade de comunhão.

Encerra o framework teórico o conceito da metodologia de pesquisa-ação,

utilizado na proposta a ser apresentada posteriormente.

2.1. O enfoque sociotécnico

A visão sociotécnica considera as organizações como sistemas abertos e

complexos (BIAZZI, 1994). Sob o enfoque sistêmico, as organizações retiram

insumos do ambiente e devolvem resultados, mantendo uma relação de equilíbrio

dinâmico com o meio. Como os sistemas abertos estão em constante troca com o

meio, definir o ambiente torna-se importante, uma vez que as organizações

influenciam e são influenciadas por ele.

Para a escola sociotécnica, a organização é um sistema composto por dois

subsistemas, um técnico e outro social. O técnico corresponde aos recursos e

componentes físicos e abstratos, ou seja, objetivos, divisão do trabalho,

tecnologias utilizadas, instalações e procedimentos. Já o social é formado pelas

manifestações comportamentais dos indivíduos e grupos, como grupos informais,

cultura, clima e relações sociais e de trabalho. (EMERY e TRIST, 1960). Por esse

enfoque, para que os objetivos organizacionais sejam atingidos juntamente com o

desenvolvimento e integração dos indivíduos, é necessária a otimização conjunta

dos subsistemas técnico e social.

De acordo com Trist (1981), o projeto sóciotécnico é regido pelos princípios

listados no Quadro 1.

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Fonte: Trist (1981) in Melo (2002, p.4)

Os estudos da Escola Sociotécnica englobam três diferentes níveis: o dos

sistemas de trabalho primários, o da organização como um todo e o dos sistemas

organizacionais (macrossocial). Deve haver um tratamento harmônico e coerente

entre esses níveis para que a organização possa sobreviver e se adaptar, e os

indivíduos se integrarem e se desenvolverem.

Para atender a essas novas demandas, então, é necessário mudar o foco

para a cooperação em lugar da competição, para uma ordem negociada e flexível,

em vez de uma visão burocrática e rígida.

Eric L. Trist e Frederick E. Emery, no início dos anos 1960, classificaram

como turbulento o ambiente organizacional caracterizado pelas constantes

mutações nas demandas socioeconômicas e políticas e acelerada evolução

tecnológica, marcado pela intensificação das relações entre as organizações, pela

incerteza e complexidade. Segundo os mesmos autores, para que as organizações

Sistemas de Trabalho. A unidade básica de análise é um conjunto de atividades que

formam um todo, não a tarefa elementar taylorista.

Grupos de Trabalho. Em harmonia com o princípio anterior, o foco da análise

Sociotécnica é o grupo de trabalho responsável pelas atividades que formam um todo. Isso

requer participação e colaboração.

Auto-Regulação. O grupo exerce controle sobre o seu trabalho e sobre o processo

produtivo cabendo à supervisão o papel de controlar as condições de fronteira.

Variedade de Funções. O projeto de trabalho baseia-se na redundância de funções, não

na redundância de partes. Assim, os membros do grupo devem desenvolver múltiplas

habilidades, tornando-se capazes, em princípio, de desempenhar qualquer das funções do

grupo.

Autonomia e Liberdade de Ação. A iniciativa dos membros e a autonomia dos grupos

são incentivadas, em vez de se seguir apenas regras prescritas.

Partes Complementares. A máquina é considerada como um complemento do homem,

possibilitando a ampliação de suas funções. Também a gerencia e os funcionários são vistos

como partes que se completam.

Diversidade. Maior flexibilidade, ampliando as possibilidades de mudança, tanto para o

indivíduo como para a organização, estimulando a flexibilidade técnico-produtiva.

Quadro 1 - Princípios do Projeto Sociotécnico

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sobrevivam e se adaptem a esse ambiente, requer-se uma adaptação ativa das

organizações, o que implica a adoção de uma estrutura que lhes permita estarem

sempre prontas para se anteciparem às mudanças.

2.2. Ecologia Organizacional

Para Trist (1976), a razão básica da redução da capacidade adaptativa das

organizações burocráticas face à crescente turbulência ambiental é a incapacidade

de lidar com a incerteza, apesar de poderem lidar com o risco. Além disso, quanto

mais se investem recursos, materiais, financeiros e humanos, em programas de

previsão e enfrentamento, mais difícil torna-se mudar de direção.

Indeed at the macro level we seem to be with an increasing number of persistent

maladies, called “crises” (a word which permits current rhetoric), stock examples

being energy, the urban condition, inflation, pollution, drugs and crime, the

creaking of big government, not to speak of poverty and overpopulation in the third

world. . (TRIST, 1976, p.163)

Assim, essa condição da sociedade exige a identificação de uma nova

unidade de análise por parte das ciências sociais, ou seja, o sistema de ecologia

organizacional.

Trist (1976, p.1) introduz o conceito de ecologia organizacional que se

refere ao campo criado por organizações cujas inter-relações compõem um

sistema que abrange o campo na qual elas estão inseridas.

A abordagem socioecológica diz respeito ao entendimento de que o nível de análise

da organização foi expandido para abranger o ecossistema organizacional, ou seja,

aquele que é composto por organizações que compartilham a responsabilidade

sobre o mesmo conjunto de decisões. (Melo, 2002, p.3)

Para lidar com situações de alta complexidade e interdependência, que

caracterizam o ambiente turbulento e que, justamente por causa dessas

características, não podem ser tratadas por uma organização isolada, torna-se

necessário modificar o foco da organização para um campo mais amplo e que

extrapola as relações transacionais. Crucial, então, é a forma como se dá a relação

entre as organizações que fazem parte desse campo.

Como salienta Melo (2002, p.8), a Ecologia Organizacional, da mesma

forma que a Abordagem Sociotécnica, tem como base os princípios de auto-

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regulação das partes em oposição aos controles hierárquicos, externos e

centralizados. Também, fundamenta-se no princípio de mínima especificação

crítica pelo qual a unidade de ordem superior somente deve explicitar para cada

unidade inferior as especificações críticas mínimas, fazendo com que nenhuma

organização de ordem superior se ocupe de funções que podem ser assumidas por

outras de ordem menos abrangente, conforme o princípio da subsidiariedade.

Conforme Melo (2002, p.8),

A regulação socioecológica baseia-se na interdependência das organizações, as

quais, para sobreviverem em um ambiente com alto grau de incerteza, precisam se

apoiar em uma constante negociação de papéis, objetivos e vantagens mútuas,

definidos a partir de valores compartilhados. Isso só é obtido com o apoio de um

processo de aprendizado.

As decisões tomadas pelas organizações obedecem a uma ordem negociada,

que conduza ao consenso, compartilhando valores, permitindo lidar com

interesses divergentes, o que conduz a uma ênfase nos aspectos normativos.

A forma de estruturação das organizações segundo a visão socioecológica

tem caráter reticular. Fazendo um paralelo entre o sistema Sociotécnico e o da

Ecologia Organizacional, Trist (1976) diz que o conceito de rede social é tão

básico para a compreensão dos sistemas de Ecologia Organizacional como os

grupos primários de trabalho são para entender a simples organização, e que as

relações de interface são tão fundamentais para esses sistemas tanto quanto as

relações superior/subordinado o são para as organizações burocráticas.

Para a abordagem socioecológica, um ponto fundamental é a definição dos

domínios organizacionais, ou seja, o campo de ação dos diferentes atores

pertencentes ao ecossistema.

2.2.1. Domínio organizacional

Trist (1976) define domínio organizacional como um campo mais amplo do

que o conjunto organizacional, ou seja, do que a organização focal e as demais

organizações com as quais se relaciona diretamente. Esse domínio contém outras

entidades com as quais a organização não mantém contato.

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Segundo o mesmo autor, os domínios são considerados sistemas sociais

funcionais, ocupando uma posição entre a simples organização e a sociedade. Tais

domínios são relativos a ‘populações organizacionais’ que possuem algum tipo de

associação ou conexão com um conjunto de preocupações societais comuns. Os

problemas, em geral, envolvem questões multifacetadas cujo enfrentamento seria

impossível para uma única organização, ou seja, meta-problemas. Meta-

problemas, conforme explica Melo (2002), são problemas de ordem superior que

afetam um grande número de indivíduos que possuem interesses variados e

conflitantes abrangendo assim, incontáveis conexões entre meios e fins.

Os domínios possuem caráter de rede, bem como características que

envolvem a evolução de uma ordem negociada baseada na colaboração, em vez de

competição.

Trist (1976) estabelece algumas características desses domínios:

Possuem estruturas de diferentes tamanhos, apropriadas ou não para

áreas do problema;

Possuem fronteiras que podem ser amplas ou estreitas;

Podem ter direção, ou seja, mantêm-se isolados ou procuram

aproximar-se de outros domínios.

Trist (1976) exemplifica algumas das propriedades desses domínios de

forma a melhor esclarece-las. Assim, os limites ou fronteiras podem ser estreitos,

quando se pensa em hospitais, em lugar de um sistema de saúde, ou muito amplos,

quando se pensa no sistema industrial como um todo, por exemplo. O mais

importante, porém, é que eles possuem uma identidade que, se não for

reconhecida, pode levar a erros que atingirão todas as dimensões. Portanto, é

fundamental saber reconhecer a identidade de um domínio, o que não é trivial.

O processo de descobrir a identidade bem como a formação dos domínios,

baseia-se em atos de apreciação, ou seja, um processo complexo que une

julgamento de valor e julgamento da realidade, que também é cognitivo e tem

significados. A apreciação orienta as percepções sociais em termos de como se

interpretam os ‘mundos’ do domínio, para então estabelecer sua identidade e

tomar decisões acerca de sua estrutura, seus limites, sua direção e sua magnitude.

Esses atos de apreciação precisam ser constantemente revistos, considerando a

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rapidez das mudanças ambientais, sua complexidade e relações de

interdependência.

Quando um meta-problema é reconhecido, uma nova apreciação é realizada

e, à medida que esse conhecimento é compartilhado por mais organizações ou

pessoas, um novo domínio é identificado.

O processo para identificação de domínios pode utilizar o que Trist chamou

de conferência de busca, que procura reunir indivíduos pertencentes a grupos ou

organizações de forma a promover uma apreciação compartilhada dos meta-

problemas, além de discutirem possíveis estratégias de enfrentamento. (TRIST,

1976)

Outra colocação importante diz respeito à dificuldade de ‘enxergar’ os

domínios. Segundo Trist (1976), isso se deve não somente à ausência de técnicas

adequadas, mas ao fato de que nas sociedades modernas, a estruturação de campos

sociais no nível intermediário é fraca, ou seja, a influência e a visibilidade se

encontram na organização singular, ou seja, na empresa ou nas ações

macroscópicas do Estado e não numa Câmara de Comercio ou Associação

Patronal. Como não há uma instancia intermediária, o campo social no nível

micro é controlado pelo macro.

Our tradition has been to depend for control of organizations on the other side of

the gap, such as national governments and their multitudinous outgrowths, and to a

lesser extent state governments and their also formidable outgrowths in countries

having a federal political structure. This tradition worked reasonably well so long

as disturbed-reactive conditions prevailed and the outgrowths remained within

limits. But with the increasing salience of turbulent conditions, systems of

aggregate control are becoming increasingly insufficient and inefficient, no matter

how large the outgrowths.(TRIST, 1976, p.168-169)

Portanto, é preciso atentar para o nível médio de organização social. Assim,

seria por meio do fortalecimento das organizações sociais e não dos controles

agregados a possível solução para sobreviver em ambientes turbulentos.

O processo de desenvolvimento dos domínios acontece de diferentes

formas. Como se trata de sistemas sociais ilimitados, não hierarquizados, com

canais de comunicação fluidos e rápidos, um dos processos é a constituição de

uma rede. Os domínios atravessam os níveis sociais e também os setores público e

privado, incluindo, portanto, diversos tipos de pessoas. Geralmente, a formação

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dessas redes e de um possível domínio tem início por meio de indivíduos

proativos que se ocupam em contatar e articular outros indivíduos com as mesmas

preocupações: os reticulistas ou agentes reticuladores. O papel dos reticulistas será

apresentado mais à frente de forma mais detalhada.

Trist (1976, p.164), ao desenvolver a análise de domínios, observa o

surgimento de ‘organizações de referência’. Essas organizações possuem como

funções básicas a regulação do domínio, a apreciação (observação contínua das

questões emergentes e tendências) e a mobilização de recursos. Entende-se por

regulação a criação de regras básicas, de critérios para definir membros, a

manutenção dos valores que compõem os objetivos e as direções do domínio bem

como a responsabilidade de resolver conflitos e a sanção de atividades. Outra

responsabilidade dessas organizações está na mobilização de recursos como o

desenvolvimento de redes de relações externas de apoio e difusão de informações

para o domínio.

Segundo o mesmo autor, com relação às organizações de referência,

existem dois tipos de domínio: os centrados nessas organizações e aqueles que

possuem caráter de rede pura, isso é, não centrados. Os domínios não centrados

referem-se a movimentos sociais que articulam valores alternativos e surgem nas

periferias da sociedade. Nesse caso, para poder atuar, uma organização de

referência não pode assumir funções das organizações já constituídas nesse

campo.

Ainda sobre as organizações de referência, Trist (1983) explica que existem

dois tipos básicos: aquelas já constituídas e que estão entre as que compõem o

domínio ou as que são criadas especificamente para levar em frente os objetivos

dos componentes do domínio. Quanto à sua constituição, podem combinar

características como ser representativa, ou seja, composta por membros escolhidos

das várias organizações ou ser constituída, quer dizer, composta de membros

próprios. Os membros, por sua vez, podem ser voluntários e possuírem mandatos.

Para Trist (1983), as organizações de referência que são criadas especificamente

para exercer essa função são as que têm maior chance de sucesso para enfrentar o

ambiente turbulento, uma vez que permitem o cruzamento de diferentes interesses

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e mantém uma conexão em rede com grande parte dos membros chave do

domínio, o que lhe confere uma capacidade de resposta rápida e inovadora.

É importante ressaltar que é fundamental que a organização de referência

mantenha contato com o extenso campo social do domínio, possibilitando sua

sobrevivência e desenvolvimento.

Essa nova forma de agregação requer a presença de um planejador que

possa mediar as relações entre o membros do reticulado, criando vínculo entre

eles e exercendo o julgamento reticulista, ativando o processo decisório baseado

na apreciação do problema e nas relações políticas e organizacionais. No caso do

papel do reticulista ser desempenhado por uma das organizações presentes no

reticulado, essa organização é denominada de agente reticulador. Segundo Burns

(1981), isso se torna mais vantajoso, devido ao caráter permanente de uma

organização, cuja estabilidade permite o aprendizado nos níveis individual e

organizacional, bem como o desenvolvimento de habilidades reticulistas.

Outro aspecto importante discutido por Trist (1983) diz respeito à regulação

desses domínios, cujos princípios devem se aproximar dos da ecologia

organizacional, tornando as organizações flexíveis e auto-reguladas. Para tanto, é

preciso uma ‘revolução organizacional’, ou seja, recentralizar a vida

organizacional, mudando o enfoque da simples organização para a primazia das

redes não limitadas, por meio das quais os domínios organizacionais se

desenvolvem.

Conforme salienta Melo (2002), os mecanismos de regulação normalmente

adotados pelas redes formais, compostas por organizações que compartilham

responsabilidades unidas por um objetivo comum, apresentam uma natureza

hierárquica, sendo que o caráter burocrático e formal de seu processo de formação

pode ser prejudicial ao seu funcionamento.

Ao abordar a questão do planejamento organizacional em ambientes

complexos e em constante mutação, detecta-se a existência de meta-problemas, ou

seja, problemas, de alta complexidade, que envolvem outros problemas e várias

facetas como já mencionado na seção 2.2 (MELO e MELO,1987). Devido à sua

própria natureza, esses problemas impedem que seja explicitada uma tarefa que

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poderia ser realizada por uma organização ou por meio de multiorganizações, ou

seja, arranjos organizacionais nos quais partes das organizações engajam-se na

solução de problemas comuns.

Muito importante, então, é entender como se dá o processo de formação

desses reticulados organizacionais, uma vez que se trata do ponto de partida para

as ações do domínio.

2.2.1.1. O Processo de Reticulação

Especialmente ao lidar com metaproblemas, faz-se necessário estabelecer

canais de comunicação adequados bem como mecanismos apropriados que

permitam a interação concatenada dos múltiplos agentes envolvidos, uma vez que

ao interagirem desordenadamente, acabam por aumentar a complexidade dos

problemas.

Assim, é preciso que haja um processo de reticulação cujo objetivo seja

criar uma rede de integração que envolva todos aqueles que compartilham a

responsabilidade com relação a uma mesma problemática.

De acordo com Melo (2002), o termo reticulado substitui o termo análogo

rede de forma a diferenciar o processo de formação de arranjos organizacionais

que enfatiza a formação espontânea como consequência da necessidade de

colaboração entre os membros.

A formação de redes, ligando organizações que compartilham um mesmo

espaço de ação, foi identificada como fundamental para sobrevivência em um

ambiente turbulento. A ideia central é que, para atuar efetivamente em ambientes

desse tipo, as organizações, tanto públicas como privadas, com responsabilidades

compartilhadas sobre um mesmo espaço de ação, devem formar um reticulado.

(MELO, 1985).

O processo reticulador transforma e consolida um reticulado a partir da

explicitação de valores, identificando e implantando os canais de comunicação

apropriados bem como os mecanismos que promovam a interação entre os

membros do reticulado. Isso só ocorre pela presença de mediadores das relações

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entre cada agente que criam elos entre eles. Tais mediadores são denominados

‘reticulistas’. Um reticulista pode ser um individuo ou uma organização. Burns

(1981) propõe a figura do ’agente reticulador’ que é constituído por uma

organização ou uma unidade organizacional. Isso se torna mais vantajoso, devido

ao caráter permanente de uma organização, cuja estabilidade permite o

aprendizado nos níveis individual e organizacional, bem como o desenvolvimento

de habilidades reticulistas.

Assim, o agente reticulador auxilia no estabelecimento de canais mais

efetivos de comunicação, desempenha o papel de facilitador das interações entre

os membros do reticulado e com o ambiente externo, criando vínculos e propõem

mecanismos e procedimentos que permitam e levem à colaboração entre eles.

Também exercem o ‘julgamento reticulista’ ou seja, a capacidade para decidir

quais ligações devem ser feitas no reticulado e que informações transmitir, de

modo a ativar o processo decisório com base na apreciação do problema e das

relações políticas e organizacionais. (MELO e MELO,1985)

Para Burns (1981), no caso dos reticulados os objetivos dos membros não

são necessariamente comuns, mas complementares, sendo os mecanismos

integradores relações voluntárias e informais que são fortalecidas por meio de um

processo de negociação.

Melo (1985) propõe uma estratégia de ação-aprendizado utilizada para

consolidar um processo de reticulação: no inicio do processo, um membro chave

do domínio organizacional, como um potencial articulador, identifica o conjunto

de decisões que caracterizam o domínio e, a seguir, seleciona as entidades que

compartilham as decisões nesse espaço, delineando e explicitando o domínio

organizacional. A partir daí, procuram-se as organizações desse domínio que

constituirão o núcleo do reticulado. Dentre os requisitos para a escolha de tais

organizações, estão a sua capacidade técnica, seus recursos e seu nível de

interesse nos objetivos do domínio, bem como o impacto de suas ações no

reticulado. Em seguida, uma tarefa articuladora precisa ser identificada para ser

desenvolvida pelos atores chave. Aos poucos, outros componentes são envolvidos

na tarefa articuladora e, para a garantir o grau de articulação atingido e consolidar

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o articulado embrionário, especifica-se um instrumento articulador. Os passos,

então, são repetidos.

Para Melo (2002, p.11), a “tarefa articuladora é introduzida a partir da

constatação de que a formação de uma rede inovadora só acontece por meio de

aprendizado participativo, capaz de transformar ações conflitantes em esforços

colaborativos”.

O processo de reticulação é gradual e os canais de interação vão se

consolidando, à medida que os mecanismos de atuação conjunta vão sendo

identificados e fortalecidos.

A próxima seção abordará o conceito de planejamento adaptativo que se

trata de um processo de planejamento adequado aos princípios socioecológicos e

recomendado quando se pretende atuar em ambientes turbulentos. Esse conceito

também balizará as decisões acerca das ações de atuação conjunta que serão

sugeridas neste trabalho.

2.3. Planejamento Adaptativo

Do ponto de vista da Ecologia Organizacional, faz-se importante encontrar

uma ligação entre o campo do comportamento organizacional e o campo do

planejamento. Um planejamento que leve em conta que as organizações

necessitam se adaptarem a um ambiente turbulento (Emery e Trist, 1965) precisa

vir acompanhado de uma forma ativa de operação, levando a uma mudança

comportamental que permita às organizações cooperarem entre si e ainda serem

flexíveis e ágeis para realizar mudanças. O processo de planejamento precisa ser

continuamente apreciado com vistas à redefinição constante dos objetivos e

permitir a autocorreção das direções das ações planejadas. (MELO, 1981)

As relações de interface exigem negociação, em vez do cumprimento de

uma ordem ou comando, o que constitui uma das diferenças básicas entre o

sistema da Ecologia Organizacional e outro tipo de sistema como já mencionado.

A dimensão da complexidade só pode ser abordada de forma eficaz por meio da

ação concatenada de órgãos ou organizações que lidem com as diferentes facetas

de uma problemática. Assim, inicialmente é necessário explicitar valores e

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perspectivas compartilhadas criando condições para analisar direções comuns.

Isso exige um tipo de planejamento que permita e facilite as relações de interface

dentro do reticulado. O planejamento adaptativo apresenta essas características.

Conforme Trist (1976, p. 226-227)),

The transformed planning theory, which can more effectively replace

comprehensive planning and disjointed incrementalism, emphasizes appreciation

and is becoming known as adaptive planning. It is concerned with the creation of

adaptive social organizations capable of continuous learning. It asserts the primacy

of the normative or value level and of the proactive posture, and of the necessity

for multiple interest group engagement if implementation is to be achieved. It looks

forward to the establishment of a negotiated order (Straus et al, 1964) with repeated

feedback for evaluation and self-correction. It requires that we research the process

as we go.

Essa metodologia de planejamento aplica-se às ações de um reticulado de

organizações que pretende atingir um objetivo comum, em especial dentro de uma

perspectiva de resolução de meta-problemas.

Segundo Melo (2001, p.182 - 183), o planejamento adaptativo é composto

pelas seguintes atribuições:

Extensão do processo de planejamento para abranger o nível normativo,

convertendo a discussão de valores compartilhados em base para o

estabelecimento de direções comuns a serem seguidas pelas diversas partes

que se envolvem nesse processo.

Ênfase na formulação da problemática, focalizando o domínio

interorganizacional e buscando entender as inter-relações entre as

organizações membros e o impacto causado por essas inter-relações em

cada componente do domínio.

Proposição de uma adaptação ativa, adotando a postura proativa, pela qual

se procura influir no ambiente de modo que esse se torne mais favorável

aos propósitos da organização.

Busca de um grau ótimo de envolvimento dos membros, os quais, por uma

participação ativa, tornam-se corresponsáveis pelos resultados das ações

planejadas.

Flexibilidade, com constante apreciação dos objetivos formulados e

contínua avaliação das ações implementadas, permitindo a redefinição de

rumos.

Adoção da metodologia de pesquisa-ação, que possibilita o aprendizado

organizacional por meio da reflexão sobre os efeitos das ações realizadas,

com a consequente identificação de novos conceitos, caminhos e métodos.

Busca de transformação radical do sistema, tentando torná-lo sempre mais

compatível com seu domínio interorganizacional. Isso é buscado por meio

de processos integrados e coordenados.

Para que o processo de planejamento seja, de fato, adaptativo é preciso agir

de forma eficaz, verificando sempre a adequação dos objetivos estabelecidos ao

ambiente, uma vez que ele está em constante mutação. Também, com o desenrolar

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do processo, novas informações que não puderam ser obtidas anteriormente vão

surgindo, trazendo novidades importantes para o planejamento. Outra faceta da

mesma moeda é agir de forma eficiente utilizando mecanismos de

retroalimentação que conduzam à correção dos desvios da trajetória pré-

estabelecida. Para que seja possível avaliar essas duas ações e obter um

aprendizado contínuo, faz-se necessário um sistema que realize tal função. Nesse

caso, é necessária uma metodologia que possibilite tanto a análise das mudanças

ocorridas no ambiente quanto seus efeitos. Assim, o modelo de pesquisa-ação

atende os requisitos supramencionados, uma vez que é caracterizado por um

processo contínuo de experimentação, no qual se estabelece um procedimento,

cujo funcionamento é analisado de forma a permitir as mudanças que se fizerem

necessárias. (MELO, 1981)

Seguindo essa linha de planejamento, Melo (1977) propõe o

incrementalismo articulado como sendo uma estratégia que considera mudanças

incrementais com implicações radicais, dando ênfase ao processo de

planejamento. Como visto anteriormente, essa metodologia de planejamento é

bem assimilada quando se adota a postura de pesquisa-ação, que, por meio de

ciclos repetidos de análise, de descoberta de fatos, planejamento e implementação

da ação, permite entender as mudanças e as maneiras de provocá-las, promovendo

uma adaptação ativa.

2.4. Pesquisa-ação

Kurt Lewin (1946), que cunhou o termo pesquisa-ação, afirma que

essametodologia contém um processo de três fases:

1. Planejamento, onde também é realizado o reconhecimento da situação.

2. Análise e tomada de decisões

3. Encontrar os fatos sobre os resultados das ações.

Os fatos encontrados na etapa final seriam aqueles usados no ciclo

seguinte.

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Figura 1- Simulação do ciclo de pesquisa proposto por Lewin (1965)

Fonte: Gostinski, 2009, p.34

A Figura 1 esquematiza a espiral do processo que consiste em um ciclo

aberto, que tem início na análise que vai ao encontro do fato-achado, conduzindo

a uma concepção que, por meio de planejamento, conduz a execução e mais fato-

achado e análise. O ciclo termina quando se consegue uma resposta satisfatória.

(GOSTINSKI, 2009)

Conforme explica o próprio Lewin (1965, p.177)

[...] análise, evidência e conceitualização sobre problemas; planejamento de

programas de ação, executando - os e então mais evidências e avaliação; e então a

repetição de todo esse círculo de atividades; certamente, uma espiral de tais

círculos. Por meio dessa espiral de círculos, a pesquisa-ação cria condições sobre

as quais comunidades de aprendizagem podem ser estabelecidas, ou seja,

comunidades de investigadores comprometidos com a aprendizagem e

compreensão de problemas e efeitos de sua própria ação estratégica e de fomento

de essa ação estratégica na prática.

Na visão de Lewin (1965), uma investigação que caminha rumo à

transformação da realidade, implica no envolvimento de todos os sujeitos de

forma que eles participem, ativamente, do processo. Dessa forma, o pesquisador

assume, não apenas o papel que lhe cabe enquanto acadêmico, mas o de

participante ativo, o que leva a uma pesquisa de transformação, participativa e que

conduz a processos formativos.

Tripp (2005) entende que a definição de pesquisa-ação não é trivial, uma

vez que se trata de um processo tão natural que acabou por desenvolver-se de

formas distintas, de acordo com suas diferentes aplicações.

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Para o mesmo autor, a pesquisa-ação figura entre os inúmeros tipos de

investigação-ação, que é um termo genérico utilizado par designar os processos

que seguem um ciclo de ações cujo objetivo é aprimorar a prática pela “oscilação

sistemática entre agir no campo da prática e investigar a respeito dela”. (TRIPP,

2005, p.446) A escolha de qual processo utilizar e como será utilizado, depende

dos objetivos e das circunstâncias.

De acordo com Thiollent (2009, p.14)

A pesquisa-ação é um tipo de pesquisa social que é concebida e realizada em

estreita associação com uma ação ou com a resolução de um problema coletivo e

no qual os pesquisadores e os participantes representativos da situação da realidade

a ser investigada estão envolvidos de modo cooperativo e participativo.

Para Melo (1985, p. 129), a metodologia de pesquisa-ação “consiste em

ciclos repetidos de análise, descoberta de fatos, conceituação, planejamento, e

implementação da ação e avaliação.”

Trata-se de um método dinâmico que inclui um processo de avaliação

formativa, experimentação contínua, procedimentos de análise do funcionamento

do sistema e introdução de mudanças caso necessárias. Assim, pode-se utilizar o

método para melhorar e agilizar o processo de aprendizado.

De acordo com Brown e Dowling (2001, p.152) “pesquisa-ação é um

termo que se aplica a projetos em que os práticos buscam efetuar transformações

em suas próprias práticas...”.

Um guia para operacionalizar a pesquisa-ação é proposto por Barbier (2007, p.

143-144):

Identificação da situação problemática;

Planejamento e ação número1;

Avaliação e teorização;

Retroação sobre o problema;

Planejamento e ação número 2;

Avaliação e teorização;

Retroação sobre o problema;

Planejamento e ação número 3;

Avaliação e teorização;

Retroação sobre o problema;

Planejamento e ação número 4;

e assim sucessivamente.

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Koerichet et al (2009, p.718) entendem que:

A pesquisa-ação, em outras palavras, abarca um processo empírico que

compreende a identificação do problema dentro de um contexto social e/ou

institucional, o levantamento de dados relativos ao problema e, a análise e

significação dos dados levantados pelos participantes. Além da identificação da

necessidade de mudança e o levantamento de possíveis soluções, a pesquisa-ação

intervém na prática no sentido de provocar a transformação. Coloca-se então, como

uma importante ferramenta metodológica capaz de aliar teoria e prática por meio

de uma ação que visa à transformação de uma determinada realidade.

Os conceitos da metodologia de pesquisa-ação aqui apresentados enfatizam

a ligação entre a prática e a teoria de forma sistematizada. Não se pode perder de

vista que não se trata de uma metodologia de pesquisa meramente acadêmica,

embora possa ser utilizada em trabalhos para esse fim, mas, antes de tudo, é uma

maneira de obter transformações de processos e estruturas, no caso de sua

aplicação nos estudos organizacionais, que vêm acompanhadas do aprendizado

que gera ações de mudança consensuais e conscientes, cuja operacionalização é

devidamente documentada.

A conceituação da metodologia de pesquisa-ação completa o framework

teórico, apresentado neste capítulo, que balizará a análise realizada neste trabalho

e dará suporte às propostas sugeridas.

Nos itens seguintes, serão apresentados os conceitos de rede de empresas,

governança de rede, racionalidade econômica e desenvolvimento sustentável, que

auxiliarão uma maior compreensão do objeto de estudo, bem como

complementarão a teoria da Ecologia Organizacional que balizou as análises e

decisões da autora.

2.5. Redes de empresas

Conforme Martinho (2003), as abordagens e conceitos de rede variam,

conforme o instrumental analítico e as bases teóricas para as diferentes áreas do

conhecimento. Os estudos sobre rede possuem um caráter fortemente

multidisciplinar, com fulcro em várias correntes do pensamento sistêmico e

teorias da complexidade.

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Conforme apontado na seção 2.2, o ambiente turbulento, em constante

mutação, associado a um alto grau de incerteza levou a um novo comportamento

empresarial que, por sua vez, influencia e realimenta esta textura ambiental.

Emery e Trist (1965) ressaltam a necessidade de as organizações, inseridas

nessa textura ambiental, desenvolverem funções que se encontrem fora dos limites

empresariais, no intuito de se protegeram e alcançarem estabilidade. Os mesmos

autores indicam que um caminho possível para que as organizações sobrevivam

nesse ambiente turbulento pode ser encontrado quando se leva em conta a

existência de relações entre organizações não similares e que estão positivamente

relacionadas. Também devem ser considerados os valores significativos comuns

aos atores do sistema do qual as organizações fazem parte, acompanhados por

uma mudança da visão estratégica que leve em conta, também, o interesse dos

outros atores.

Segundo Miles e Snow (1992), a integração das unidades organizacionais

nas redes não acontece apenas devido à estrutura hierárquica, mas para a

sobrevivência das organizações que exige, atualmente, alto grau de flexibilidade e

capacidade de inovação.

Para Castels (1996), as redes de empresas constituem uma alternativa

importante para a sobrevivência e desenvolvimento de organizações verticalmente

integradas ou das pequenas empresas independentes nesses ambientes mutáveis,

onde a informação se tornou um bem fundamental.

Entre as vantagens da atuação em redes, pode-se destacar a redução de

riscos, a superação de barreiras legais, a facilitação da expansão territorial e da

transferência de tecnologia (BITRAN et al, 2002). Amato Neto e Amato (2009)

entendem que as redes mesclam competências e expertise das organizações

membros e dividem os custos das pesquisas tecnológicas e dasinovações.

Importante observar que não há consenso para o conceito de redes

organizacionais. Autores como Nevada (2000), Grandori (1997) eNohria (1992)

destacam a pouca precisão associada a esse conceito. Ele evoluiu a partir de

estudos iniciais realizados em diferentes disciplinas, como a sociologia e

antropologia. No que diz respeito ao uso desse conceito nos estudos

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organizacionais, representantes da ‘teoria de redes’ como Barnes(1972),

Willianson (1975), Castells (1996) e Nohria (1992) entendem que as organizações

são redes sociais e devem ser analisadas como tais. Uma rede social seria um

grupo de pessoas ou organizações ligadas por um conjunto de relações sociais

específicas. Assim, a estrutura de qualquer organização deve ser entendida em

termos de redes múltiplas de relações internas e externas.

Conforme salientam Carnaúba e Boaventura (2012), embora o conceito de

redes não esteja consolidado, podem-se encontrar dois eixos distintos que são

marcos teóricos para o seu estudo: o enfoque econômico, cuja base se encontra na

teoria dos custos de transação, e o enfoque sociológico, cujo alicerce se encontra

na teoria das redes sociais e da imersão social e estrutural.

Sob o enfoque econômico, a teoria dos custos concentra-se na governança

econômica associada a transações entre organizações e possibilita a compreensão

da forma como as organizações se arranjam, considerando a incerteza, a

frequência e a especificidade de ativos. A unidade básica de analise das redes é a

transação que deve ser considerada a partir de sua posição em um contínuo que

vai da forma mais burocrática, ou seja, a integração vertical, e àquela voltada para

o mercado. Assim, se a organização considera que os custos de transação não são

altos o suficiente, situa-se no primeiro extremo, optando por internalizar suas

operações e pela presença efetiva de mecanismos de controle. Caso contrario,

opta-se pelo mercado. (WILLIAMSON, 1985)

Já a perspectiva sociológica considera que as relações interorganizacionais

são influenciadas, de forma recíproca, por aquelas existentes entre os atores da

rede, caracterizando o fenômeno de imersão social. A frequência no

estabelecimento das transações condiciona o fenômeno da imersão estrutural.

Dessa forma, a análise de uma rede deve levar em conta as posições relativas de

seus atores e ter como objetivo os laços entre eles. (CARNAÚBA e

BOAVENTURA, 2012)

No Quadro 2, são colocadas, resumidamente, algumas definições de redes

de empresas, demonstrando o quanto se tem tentado encontrar uma melhor forma

para conceituar esse fenômeno

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Quadro 2 - Alguns conceitos de redes de empresas

Fonte: Adaptado de Goedert, 2005.

.Para fins desse trabalho, as redes de empresas são consideradas como

estruturas vivas e interconectadas que compartilham interpretações e sentidos,

diferentemente das alianças que constituem um sistema fechado e excludente.

Muitas são as tipologias de rede encontradas na literatura e podem variar

segundo as atividades das relações, os recursos dos nós, o tipo de acordo entre os

agentes e até com relação ao capital social. (HAKANSSON, 1987)

Para Amato Neto e Amato (2002), as redes de cooperação classificam-se

em verticais e horizontais. As verticais são constituídas por organizações que

desenvolvem atividades em elos distintos da cadeia produtiva. Já as horizontais

são formadas por organizações de um mesmo setor.

AUTOR DEFINIÇÃO

Hakanssom (1987) As redes são como um sistema de interações industriais, ou, como

um conjunto de agentes os quais são institucionalmente independentes,

mas, que executam ações e controles interconectados. As redes são

estruturas vivas interconectadas permanentemente no mercado e na

produção e estão em constante troca de atividades erecursos.

Hatch(1997) Forma organizacional em que a comunicação vertical e o controle

dos relacionamentos são, no todo ou em parte, substituídos por relações

laterais, nas quais os laços formais mantidos por unidades diferentes de

uma mesma organização são trocados por parcerias entre diversas

organizações.

Inojosa

(1999)

Rede é uma parceria voluntária para a realização de um propósito

comum. Implica a existência de entes autônomos que, movidos por uma

ideia, abraçada coletivamente, livremente e mantendo sua própria

identidade, articula-se para realizar objetivos comuns. As redes tecem-

sepelo compartilhamento de interpretações e sentidos e das realizações

de ações articuladas pelos parceiros.

Koleva; Thrane;

Mouristsen, (2002).

Implica tipos de relações, conecções e tráfico entre sistemas,

sendo considerado também, como um sistema aberto, com fluxos

contínuos e completos de entidades, direcionados de acordo com as

necessidades dos atores. Em compensação, a aliança é simplesmente um

estado de trabalho, um sistema fechado e excludente.

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Grandori e Soda (1995) entendem que a relação de cooperação entre

organizações pode ter como base o capital social. Conforme Bourdieu (1998, p.

67),capital social é

...o conjunto de recursos atuais ou potenciais que estão ligados à posse de uma rede

durável de relações mais ou menos institucionalizadas de interconhecimento ou,

em outros termos, à vinculação a um grupo, como conjunto de agentes que não

somente são dotados de propriedades comuns [...], mas também são unidos por

ligações permanentes e úteis. Essas ligações são irredutíveis às relações objetivas

de proximidade no espaço físico (geográfico) ou no espaço econômico e social

porque são fundadas emtrocas inseparavelmente materiais e simbólicas cuja

instauração e perpetuação supõem o reconhecimento dessa proximidade. O volume

do capital social que um agente individual possui depende então da extensão da

rede de relações que ele pode efetivamente mobilizar e do volume do capital

(econômico, cultural ou simbólico) que é posse exclusiva de cada um daqueles a

quem está ligado.

Para Miles e Snow (1992), a transação é a unidade básica de análise para o

estudo de redes organizacionais. A transação deve ser vista como que transitando

em um contínuo cujos extremos são as formas mais burocratizada e a mais voltada

para o mercado.

Dessa forma, esses autores destacam três tipos de rede:

Rede interna: caracterizada pelo alto grau de internalização das

organizações (mais burocratizada). Tal arranjo pretende aumentar a vantagem

competitiva por meio do compartilhamento de ativos entre as diferentes unidades

de uma organização. Assim, a rede interna consiste em uma variação da estrutura

matricial das organizações.

Rede estável: está situada no centro do contínuo. Neste tipo de rede, existe

uma organização mãe que mantém o controle sobre sua core competency,

delegando para outras organizações o que ela não faz. Cada parceiro assume áreas

específicas do processo produtivo. Esse tipo de arranjo só se aplica no caso de

ambientes altamente previsíveis, uma vez que os laços externos têm que ser

duradouros e, a capacidade dos parceiros em atenderem à organização central, é

limitada.

Rede dinâmica: a organização central assume uma posição de gestora dos

contratos de operação entre os membros da rede encarregados das operações.

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Pode-se observar que Miles e Snow (1992) enfatizam a questão da

governança, ou seja, o sistema de controle e regulação que precisa existir entre os

membros da rede organizacional, permitindo atuar de forma integrada.

O Quadro 3 apresenta outras tipologias de redes e os autores que as

criaram.

Quadro 3 – Tipologia de Redes

Fonte: Olave e Neto (2001, p.298)

O processo de formação de redes, para França (2001, p.110), ocorre em

quatro passos:

1. Diagnóstico organizacional e interorganizacional: refere-se ao

levantamento interno das características tecnológicas e organizacionais,

e externamente das características das organizações que darão suporte ao

processo de difusão;

2. Mapeamento e conexão dos ‘nós’ à Rede: envolve a estruturação da

própria rede, com a definição dos relacionamentos, das competências e

atribuições dos nós e do estabelecimento dos padrões de comunicação

intra e extra-organizacional. Nesta etapa são definidos, também, os

parâmetros para avaliação e monitoramento;

3. Implantação e Manutenção: refere-se à ação efetiva dos processos

anteriormente definidos. Nesta etapa, as atividades são colocadas em

prática. A rede, oficialmente, está aberta aos usuários e parceiros. O

agente de mudança começa a interagir com o setor produtivo ativando o

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entrelaçamento com os componentes da rede. O entrelaçamento será

positivo se houver o processo de transferência de tecnologia, e negativo

se o processo não ocorrer;

4. Monitoramento e Avaliação dos resultados: a rede é monitorada e

avaliada constantemente pelo agente de mudança para medir o grau de

entrelaçamentos gerados; o grau de satisfação dos usuários, quando do

entrelaçamento positivo; as causas dos entrelaçamentos negativos e

possíveis alternativas para soluções, bem como se a rede está atendendo

aos interesses e às necessidades dos atores envolvidos.

Esse processo, no entanto, pode se dar de diferentes formas.

Grandori e Soda (1995) apresentam uma tipologia de redes

interempresariais (Figura 2) na qual destacam três tipos de redes com base no grau

de formalização e centralização e nos mecanismos de coordenação adotados.

Fonte: Grandore e Soda (1995)

O primeiro tipo são as redes sociais, que não são regidas por contratos

formais e se direcionam no sentido de promover o intercâmbio de mercadorias

sociais. Podem ser simétricas ou assimétricas. As simétricas não possuem poder

centralizado e, portanto, todos os membros têm a mesma capacidade de

influência. Normalmente, tais arranjos são adequados para projetos de caráter

exploratório para os quais a informação possui alto potencial, mas valor

econômico desconhecido. Já as redes assimétricas contam com um agente central

cuja função é coordenar os contratos de fornecimento de produtos e serviços entre

os membros da rede, agora formais. No entanto, esse agente não possui a função

de regular as relações entre os membros da rede.

Redes de Empresas

Redes sociais

Simétricas

Assimétricas

Redes burocráticas

Simétricas

Assimétricas

Redes proprietárias

Simétricas

Assimétricas

Figura 2- Tipologia de redes de empresa

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O segundo tipo são as redes burocráticas, nas quais as relações entre os

nós são regidas por normas e condições que utilizam contratos visando regular a

organização da rede e a relação entre seus membros, bem como as especificações

de fornecimento. Também podem ser simétricas, como associações comerciais, e

assimétricas, como franquias.

O terceiro tipo são as redes proprietárias, em que prevalecem os

instrumentos formais e legais que definem a alocação de recursos e a propriedade

dos nós. As redes proprietárias caracterizam-se pelo fato de formalizarem acordos

relativos ao direito de propriedade dos membros. Também podem ser simétricas

como as joint-venture, ou assimétricas do tipo capital venture, as quais relacionam

o investidor com a empresa parceira.

Martinho (2003), ao estudar o funcionamento de redes sociais, em especial

as de caráter informal e não-institucional, verifica a emergência de fenômenos

organizativos não verticais, ou seja, não hierárquicos. Sob essa perspectiva, a

horizontalidade pode ser considerada como a mais importante característica das

propriedades organizacionais. Portanto, a rede seria um conjunto de linhas e nós

que se organizam de forma não hierárquica. Um diagrama de rede possui pontos

ou nós (pessoas, organizações, locais etc.) e linhas, links ou conexões (canais de

comunicação, dutos, estradas etc.), sendo as linhas mais importantes para o

desenho da rede, pois é o relacionamento entre os nós, por meio das conexões, que

dá a qualidade de rede.

Quanto mais conexões (linhas) existirem em uma rede, mais densa ela é; e

quanto mais nós, maior ela pode ser. Assim, a densidade da rede está relacionada

ao número de conexões que ela possui. Não se pode perder de vista que, de um

mesmo nó, podem sair várias linhas. O limite de conectividade do sistema é

alcançado quando todos os pontos estabelecem ligações uns com os outros.

Assim, mensurar a densidade de uma rede pode indicar sua capacidade produtiva

em um determinado espaço de tempo. Quanto maior a densidade da rede, mais

compacta, integrada, coesa e orgânica ela será.

Outra propriedade da rede, mencionada por Martinho (2003), é a não-

linearidade, que propicia a expansão da rede para todos os lados. A

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descentralização é uma propriedade inerente à definição da rede, pois, como o

princípio da organização em rede baseia-se na conexão e relação entre os nós, a

possibilidade de centralização deixa de existir. Para Flecha et al. (2012), não há

somente um centro, cada nó pode vir a ser central de acordo com o ponto de vista.

Como consequência disso, o poder é difuso. Por meio da característica da

transitividade (um nó da rede é via de passagem para outro nó), os pontos que não

possuem todas as conectividades possíveis podem passar a tê-las e um ponto que

possui grande quantidade de conexões é considerado um hiperconector. A rede

também é multidimensional na medida em que possui muitos níveis, camadas e

círculos.

Ainda conforme Martinho (2003), alguns princípios compõem um modo

de operação típico das redes sociais: a participação voluntária e a

autonomia/diversidade. Na dinâmica da conectividade, as ligaçõesfazem-se de

forma não-linear e imprevisível, ou seja, de acordo com a vontade, interesse ou

decisão de cada nó. No entanto, autonomia não quer dizer inexistência de acordos

e normas que devem resultar de pactos e consensos estabelecidos coletivamente.

Autonomia e diferença são faces de uma mesma moeda, pois ser autônomo

pressupõe ter a liberdade para ser diferente e um dos pressupostos do modo

horizontal de operação é, justamente, o respeito à diferença.

Outro princípio apontado pelo mesmo autor é o da coesão. Quando se

decide participar de uma rede, isso se dá em função de um objetivo comum ou

objetivos complementares. Assim, a razão de existir de uma rede é o conjunto de

propósitos e valores comuns. O que mantém uma rede coesa, então, é o respeito a

esses propósitos e valores que devem ser atualizados e repactuados

permanentemente, permitindo que a ação difusa da multi-liderança ocorra sem

ferir os princípios coletivos definidos.

Conforme Cassaroto e Pires (1998), a cultura da confiança, da

competência essencial e da tecnologia da informação são requisitos essenciais

para o nascimento e sustentação das redes de empresas. A cultura da confiança

diz respeito aos aspectos, ligados à cooperação, que envolvem interesses de

pessoas e empresas. A cultura da competência refere-se às questões ligadas àcore

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competencye envolve aspectos materiais e imateriais como processos. A cultura da

tecnologia da informação aborda o fluxo de informações que deve ser ágil o

suficiente para suportar a implantação e o desenvolvimento de redes flexíveis.

Conforme já apresentado, um aspecto importante na formação de redes

interorganizacionais se refere à forma de governança.

2.5.1. Governança de rede

Segundo Le Galé (2004), a governança pode ser definida como um

processo de coordenação de grupos sociais, atores e instituições que lhes permita

alcançar propósitos próprios, discutidos e definidos de forma coletiva, em

ambientes fragmentados e incertos.

A governança de redes, para Brand (2013), pode ser compreendida como

a estruturação do coletivo ou como as ações conjuntas entre os agentes serão

coordenadas (mecanismos de controle).

De acordo com Cruz (2014, p.166), um regime de governança apresentaos

seguintes elementos:

(i) Os atores das esferas sociais envolvidos na provisão dos serviços de interesse

público, assim como suas características, seus objetivos e valores, suas formas

institucionais, seus recursos, o tipo de incentivo ao qual eles respondem e sua

legitimidade;

(ii) As modalidades de elaboração de políticas no regime, ou seja, as definições

pelas quais os atores são coordenados e pelas quais eles interagem objetivando

elaborar as políticas do regime;

(iii) Os instrumentos políticos utilizados para a implementação das políticas a fim

de alcançar o interesse público e suas combinações. Suas aplicações demandam

esforços organizacionais.

(iv) Os modos de regulação dos atores. Este item completa a definição dos tipos de

governança, agregando as características principais do modo pelo qual os atores

interagem entre si e se auto-regulam.

Cruz (2014) sintetiza, no Quadro 4, quatro tipos ideais de

governança proposta por Bernier, Bouchard e Lévesque (2003). Destaca, no

entanto, que os regimes de governança existentes não precisam se enquadrar

completamente em um determinado tipo ou possuírem todas as características dos

tipos apresentados.

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Quadro 4 - Tipos de governança segundo Bernier

Fonte: Cruz (2014, p. 167)

O Quadro 4 mostra algumas categorias de governança, sua relação com os

princípios de autoridade, oportunismo, confiança e deliberação, bem como o papel

desempenhado por possíveis atores da rede. Pode-se notar que, para a governança

pública, o estado é intervencionista e regulador e a governança é centralizada.

Nesse tipo de governança, a sociedade civil é fraca, a elaboração das

políticas é simplista, informal e sua implementação dá-se diretamente pelos

governos. Já a governança corporativa visa a soma dos interesses individuais,

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sendo a governança do tipo mercantil e corporativa, com políticas simplistas, mas

formais. Sua relação com a sociedade civil acontece sob a forma de caridade,

benevolência e filantropia. Aqui o mercado é auto-regulado, sendo a atuação do

Estado fraca e minimalista.

A governança comunitária baseia-se na confiança entre os membros e tem

com a sociedade civil um comportamento solidário. Esse tipo de governança

baseia-se em comunidades locais cujo interesse coletivo visa o benefício conjunto.

As políticas são elaboradas em redes políticas, sendo pluralistas e informais.

Finalmente, a governança em parceria segue o principio da deliberação, ou seja, a

governança é distribuída entre os parceiros. A sociedade é vista como algo

importante que garante o atendimento dos interesses sociais. As políticas são

elaboradas por uma parceria institucionalizada, portanto coletivamente e com

caráter formal.

Brand (2013) entende que no caso das redes organizacionais, o termo

governança é usado segundo três perspectivas que seguem as já mencionadas para

o conceito de redes: a que se baseia nos custos de transação e se caracteriza como

um modo híbrido entre o mercado e a hierarquia, aquela em que a governança

existe como forma de estrutura e de elemento de coordenação e organização das

redes, conforme apresentado nos trabalhos de Provan e Kenis (2008) e a que

analisa a governança como sendo o resultado da imersão dos agentes em um

ambiente social, no qual os mecanismos de controle resultam das interações e se

baseiam na confiança e reputação.

A Economia de Custos de Transação - ECT (WILLIAMSON, 1975)

apresenta a análise dos custos de transação, dos pressupostos comportamentais, ou

seja, racionalidade limitada e oportunismo, e das características das transações

como incerteza, frequência e tipos de ativos e, a partir daí, define a forma de

coordenação que mais se ajusta às atividades econômicas.

Já a governança relacional surge com base nos valores e acordos oriundos

dos relacionamentos sociais que minimizem os custos de transação de forma mais

vantajosa que nos mecanismos formais. Essa forma de governança, no entanto,

requer tempo e alocação de recursos para que possa se desenvolver e se sustentar.

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As formas de governança, em uma perspectiva interorganizacional, podem se

apresentar como estruturas transitórias que mudam conforme a rede se

desenvolve. Essa perspectiva apresenta três formas distintas de estruturas de

governança: pelos participantes, por um líder e por uma entidade administrativa.

Terminada a apresentação da teoria de rede, destacando os aspectos de

governança, parte-se para uma nova seção do capítulo da Fundamentação Teórica.

Faz-se necessário, aqui, abordar a questão da racionalidade econômica,

uma vez que uma das características importantes do projeto Economia de

Comunhão– EdC está, justamente, ligada a um novo modo de pensar a

racionalidade instrumental e individualista adotada pela sociedade.

2.6. Racionalidade econômica

Conforme afirma Bruni (2002), a economia, dentre todas as ciências

modernas (filosofia, política, física e ciências sociais) foi a que atribuiu maior

expressão à afirmação do indivíduo/pessoa. No entanto, ainda nos dias de hoje, a

premissa de que a ligação entre os vários aspectos da realidade pode ser

desmembrada, permitiu que as ciências, inclusive a economia, dividissem os

fenômenos em partes, apropriando-se, muitas vezes, de apenas uma delas. A

ciência econômica distinguiu e separou o aspecto busca da riqueza e, ainda, os

indivíduos uns dos outros, antes de iniciarem um processo de troca. Assim,

separou o eu (ego) do outro (alter), construindo uma ciência na qual o agente

individual pode ser analisado independentemente de suas relações com o outro.

Nos seus primórdios, a ciência econômica era menos individualista,

mesmo porque era pouco distinta das demais esferas do conhecimento. A base da

economia era a agricultura. A partir do final da idade média, o capitalismo começa

a se configurar. Sobre isso, afirma Santos (2011, p.35):

Portanto, foi na Idade Média, conhecida por era medieval, com prevalência do

sistema feudal (feudalismo), que nasceu o capitalismo. Em sua primeira fase,

tipicamente de natureza agrária, não se avistaram grandes surtos econômicos. A

produção era manufatureira, estando a cargo dos artífices ou artesãos. Pelas

dificuldades de transporte, os agrupamentos sociais exercitavam uma economia de

autossuficiência, não havendo preocupações por riquezas, pois a moral religiosa

continha os excessos de bens e a ostentação.

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O economista do século XVIII e primeira metade do século XIX fazia uma

análise mais voltada para o social, uma vez que tratava de forma abrangente tudo

que se relacionava com o trabalho, população, luta de classes, ética, felicidade, ou

seja, tudo que diz respeito a riqueza. (Bruni, 2002)

Importante levar em conta que a evolução do pensamento econômico está

intimamente ligada aos contextos históricos e filosóficos das épocas nas quais

foram se afirmando. Assim, com o antropocentrismo, o liberalismo, a evolução

tecnológica e o consequente aperfeiçoamento da indústria, o trabalho passa a ser

considerado como mercadoria, sujeito às oscilações do mercado, ou seja, da oferta

e procura. O pensamento, então, era de que o trabalho deveria ter o maior

rendimento possível, independentemente das condições oferecidas, por piores que

fossem, buscando o lucro máximo. “O lema do mutualismo cristão do

corporativismo passava a ser substituído pelo da exploração do homem pelo

próprio homem.” (GASTALDI, 2005, p.52)

Segundo Hunt (2005 p.58), Adam Smith, um importante ícone do

pensamento econômico do século XVIII, argumentava que os salários deviam ser

determinados pela luta econômica, social e política entre trabalhadores e

capitalistas e que os empresários faziam todo o possível para evitar concorrentes e

manter o monopólio. Ao acumular lucros, o empresário estaria contribuindo para a

maior divisão do trabalho e o aumento da produção, o que geraria uma riqueza

maior, impulsionando a melhoria da sociedade. Assim, o indivíduo ao procurar

sua própria vantagem natural, acaba por preferir a aplicação dos bens que levem a

maiores vantagens sociais.

Bruni (2002) explica que, no final do século XVIII, houve um salto

metodológico no estudo da ciência econômica quanto à fatia da realidade

apropriada por ela. Da análise do social, passou a se concentrar no homo

economicus, que tende a considerar apenas o que pode aumentar o seu proveito

próprio. Daí em diante, a ciência econômica passa a explicar os fenômenos a

partir do comportamento individual, inclusive aqueles de cunho social. Assim,

valores não redutíveis a valores individuais não interessam à ciência econômica

convencional.

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Conforme Denis (1978), a visão de que o homem é um indivíduo

totalmente apartado de outros ‘átomos’ e de que a sociedade nada mais seria que a

ação mecânica desses átomos, implica na aceitação de uma filosofia naturalista.

Assim, a ciência econômica destacou o papel do indivíduo enquanto sujeito

econômico. Portanto, para a Economia, o aspecto central estaria na busca

dariqueza individual, uma vez que não existe uma ligação entre os indivíduos

antes de iniciarem uma troca ou quando da busca por maximização de seus

interesses.

Para Blaug(1981), essa situação levou à elaboração de uma ciência

econômica abstrata, cuja base é a lógica do ‘método a priori’, ou seja, que não se

fundamenta na experiência.

Hofmann e Palaez (2008) explicam que o individualismo metodológico –

IM, ou seja, a análise das ações humanas de acordo com a perspectiva dos agentes

individuais, está presente nas ciências econômicas como caráter metodológico

normativo e requer que níveis superiores sejam explicados por níveis inferiores de

análise (microreducionismo). Assim:

A perspectiva reducionista, concebida a partir do IM e inerente ao homem

econômico, leva a uma separação e a uma oposição entre o indivíduo e o seu meio

sócio-institucional, uma oposição entre o individual e o coletivo, o primeiro

enquanto parte e o último enquanto todo. Partindo da ação individual, a explicação

de uma ordem (ou equilíbrio) social fundamenta-se na motivação egoísta dos

agentes. Eventuais desvios são compensados, e, no agregado, desaparecem.

Pressupostos unitários e ações individuais, na distinção que contrapõe o individual

e o coletivo, constituem problema teórico e metodológico na medida em que, uma

vez separados, tenta-se alcançar o todo pela transcendência das partes, reduzindo-

se as “leis” sociais a “leis” psicológicas. A teoria psicológica implícita nessa

abordagem do comportamento econômico dos agentes tem por objetivo adequar-se

à análise do comportamento de um indivíduo em particular: o indivíduo

‘atomístico’ que habita o universo teórico clássico e neoclássico requer uma

psicologia específica, uma psicologia que parte de suposições como o egoísmo, a

racionalidade e a maximização da utilidade. (HOFMANN e PALAEX, 2008, p.5)

Bruni (2002) explica que a abordagem individualista da ciência econômica

fica patente em seus dois pilares: instrumentalidade e egoísmo filosófico. A

racionalidade econômica desempenha um papel fundamental na ciência

econômica uma vez que exprime a idéia de ‘ação ótima’ baseada na concepção de

ação racional como sendo a escolha dos meios que melhor maximizam a

satisfação pessoal. Portanto, a razão é o guia para o homem obter a satisfação dos

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seus desejos, porém, não se interessa pelo conteúdo desses desejos. “É a relação

meio/fins, não o conteúdo dos fins e dos meios em si, que determina a

racionalidade de uma ação.” (BRUNI, 2011, p.46) Essa idéia, presente na

economia nos dias de hoje, é chamada de abordagem instrumental.

Conforme Serva (1997), os elementos que constituem a racionalidade

instrumental são o cálculo, os fins, a maximização de recursos, os resultados

obtidos, o desempenho, a utilidade, a rentabilidade e a estratégia interpessoal.

Essa abordagem busca o sucesso individual desvinculado da ética, baseado tão

somente no cálculo utilitário e no lucro econômico.

Quanto ao egoísmo filosófico, Bruni (2002) explica que constitui um

termo cunhado por Martin Hollis2 por meio do qual a postura individualistada

economia se torna palpável. “Portanto, nessa visão da racionalidade, o ego entra

em relação com o alter apenas instrumentalmente, quando e se houver

necessidade, e assim as relações pessoais têm sentido somente como meio.

Individualismo e instrumentalismo são, pois, duas faces da mesma moeda.”

(BRUNI, 2002, p.47)

Conforme afirmam Hofman e Palaez (2005), para se obter a generalização

nas ciências econômicas é preciso considerar como unidade de análise o

continuumindivíduo-meio, respeitadas as liberdades individuais e ressaltadas a

importância de mecanismos de coordenação do comportamento coletivo. “Na

análise das organizações sociais como a firma, faz-se necessário um conceito de

racionalidade eminentemente relacional, capaz de restituir o caráter social do

objeto de investigação das Ciências Econômicas.” (HOFMANN e PALAEZ,

2005, p.16)

Bruni (2002) aponta duas alternativas para sair ou eliminar certa dose de

individualismo nas ciências econômicas: a teoria dos jogos e a we-racionality.

2 James Martin Hollis (1938-1998), filósofo racionalista inglês que contribuiu para as

ciências econômicas. Segundo ele, a economia é uma ciência que estuda o homem economicus e

não o homem geral. A racionalidade da teoria econômica está baseada no comportamento racional

maximizador.

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No caso da teoria dos jogos, uma linguagem usada para descrever as

interações econômicas na forma de um jogo, o pressuposto é que o

comportamento econômico pode ser concebido não apenas em termos racionais,

mas também em termos estratégicos, ou seja, dadas as ações dos outros jogadores,

como se deve agir de forma a maximizar os ganhos.

O chamado ‘Dilema do Prisioneiro’ é um jogo que foi utilizado para

iluminar as ciladas e os limites da racionalidade individualista e para justificar e

defender os comportamentos altruístas.

O dilema está no tipo de escolha. Agindo racionalmente o jogador se

preocupará apenas com seu próprio interesse, sem se importar com o que

acontecerá com o outro. A estratégia estreitamente dominante para os jogadores é

aquela que maximiza seus ganhos No entanto, se não agirem de forma puramente

racional, mas se levarem em conta o benefício de ambos, o resultado final, embora

não fosse o de máximo ganho, levaria a uma vantagem compartilhada.

Bruni (2002) entende que por trás da Teoria dos Jogos ou do Dilema do

Prisioneiro se esconde mais do que o egoísmo versos altruísmo. O que faz

diferença é que os jogadores são movidos exclusivamente por aquilo que,

individualmente, querem.

”É portanto o individualismo(grifo do autor), o egoísmo filosófico – e, como

veremos, a lógica instrumental - a verdadeira causa do fracasso da ideia da

racionalidade econômica e da teoria econômica construída sobre ela, inclusive a

Teoria dos Jogos.” (BRUNI, 2002, p.50)

O mesmo autor cita uma tentativa de criar uma alternativa para reduzir o

individualismo: a we-racionalityou “racionalidade do nós”. Trata-se de uma

tentativa de superar a racionalidade individualista proposta por autores como

Hollis e Sugdem (1993), Hurley (1989), Gilbert (1989) e Sen (1998), na qual o

indivíduo, ao realizar uma ação, coloca-se como parte de um todo, sendo que sua

ação individual gerará consequências boas para o grupo. Bruni (2002) explica que

essa ideia, cujas raízes encontram-se na economia clássica, consiste em entender a

racionalidade como uma decisão na qual os indivíduos, ao realizarem suas

escolhas, pensem: a atitude que estou tomando é a minha parte em uma ação

coletiva que terá boas consequências para nós.

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O intuito dos diferentes autores que propuseram essa ideia não era o de

levantar uma questão que envolvesse escolher ser racional ou não, mas mostrar

que a noção de socialidade está inserida na própria ideia de racionalidade. Ainda

conforme o mesmo autor, Hollis (1998), em sua teoria da confiança relacional,

propõe que a confiança é uma relação de reciprocidade e complementa que:

Hollis sustenta uma teoria da racionalidade que torna racional restituir a confiança,

mesmo quando um tal comportamento for contrário ao próprio interesse pessoal.

Mas para ele, a confiança é racional somente entre pessoas cujas relações

interpessoais são baseadas na reciprocidade: por conseguinte, a racionalidade da

confiança é diferente de uma obrigação moral do tipo Kant. A expectativa de que a

prática da confiança possa tornar-se generalizada e de que esta prática trará

benefícios para todos é uma pré-condição para a racionalidade dos atos individuais

de confiança. (BRUNI, 2002, p.53)

A proposta de Hollis é uma tentativa de unir os valores da individualidade

com a socialidade, ou seja, o relacionamento do grupo é uma relação construtiva

entre seus membros que permanecem distintos. A ‘racionalidade do nós’ não

significa tratar o indivíduo como membro racional, de uma forma instrumental e

que apenas adota o objetivo do grupo como sendo seu. A pessoa que age de

acordo com uma racionalidade instrumental avalia os resultados com base nos

benefícios produzidos por ele. Aquele que age movido pela ‘racionalidade do nós’

avalia as ações como parte de um todo constituído por cada ação dos membros de

um time, ou seja, é racional se faz parte de um grupo de ações que, como um todo,

levam a bons resultados.

No entanto, comportamentos de confiança e reciprocidade também

acontecem mesmo quando nenhum vínculo existe entre as pessoas. Portanto, nem

mesmo a werationality pode explicar esse comportamento ou ser considerada uma

alternativa completa para a racionalidade instrumental .(BRUNI, 2002)

Esse outro tipo de racionalidade, que se opõem à instrumental, é a chamada

racionalidade substantiva, cujos elementos constitutivos, segundo Serva (1997),

são a auto-realização, o julgamento ético, o entendimento, os valores

emancipatórios e a autonomia.

Para Ramos (2009), racionalidade substantiva é uma abordagem ampla, na

qual a ética é considerada como preponderante como categoria de análise social.

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A racionalidade substantiva permite que o indivíduo busque a auto-realização

levando em conta o direito dos demais indivíduos de também fazê-lo.

Diferentemente dos outros tipos de racionalidade, ela baseia-se em padrões

éticos que permitem o julgamento e mensuração de acontecimentos empíricos, ou

seja, considera que o homem é capaz de agir racionalmente com base em seus

valores. (KALBERG,1980)

Uma vez que o tema racionalidade econômica foi abordado com o objetivo

de tornar a proposta de Economia de Comunhão mais clara, a seção a seguir

apresenta o conceito de desenvolvimento sustentável, que possui estreita relação

com os objetivos da Economia de Comunhão e, portanto, também pode auxiliar na

compreensão do fenômeno e sua importância.

2.7. Desenvolvimento sustentável

O conceito de desenvolvimento, nos tempos atuais, vem sofrendo profundas

transformações, ocasionadas pelas mudanças macroeconômicas, e passou a se

basear nas noções de territorialidade e sustentabilidade.

Segundo Joly (2005), a preocupação com a interação entre

desenvolvimento e ambiente já estava presente nos discursos da ONU no início da

década de setenta. No entanto, apenas em 1987 a Comissão Mundial Sobre Meio

Ambiente e Desenvolvimento da ONU definiu desenvolvimento sustentável

como: “... é um desenvolvimento que responde às necessidades do presente, sem

comprometer as necessidades das gerações futuras de responderem às suas

necessidades (sobretudo as necessidades essenciais dos pobres do mundo).”

(COMISSÃO MUNDIAL SOBRE O MEIO AMBIENTENE

NDESENVOLVIMENTO,1991)

Para definir uma proposta de desenvolvimento ecologicamente orientado,

em 1973, Maurice Strong, Secretário Geral de Estocolmo, utilizou o termo

Ecodesenvolvimento que traduzia uma concepção alternativa de desenvolvimento

economicamente viável, socialmente justo e ecologicamente prudente. A equipe

do Centro Internacional de Pesquisa sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento

(CIRED) em conjunto com estudiosos sobre o assunto formularam os princípios

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básicos dessa concepção, a saber: a satisfação das necessidades básicas; a

solidariedade com as gerações vindouras; a participação da população envolvida;

a preservação dos recursos naturais e do meio ambiente em geral; a elaboração de

um sistema social que garanta a segurança social e o respeito às diferenças

culturais bem como o emprego e programas de educação. (DALLABRIDA, 2007,

p.6)

O conceito de Ecodesenvolvimento propõe um planejamento participativo

de estratégias plurais de intervenção, tratando-se de um planejamento de

desenvolvimento sustentável que considera o desenvolvimento como um processo

de aprendizagem social que acontece pela realimentação contínua da prática à

teoria. Esse conceito destaca a interdependência existente entre as dimensões onde

é preciso redistribuir o poder entre diferentes atores como Estado, empresas e

terceiro setor, que, por sua vez, devem possuir um novo tipo de parceria.

(SACHS, 2000).

Do ponto de vista dos meios de produção o desenvolvimento sustentável

se apoia no conceito da Triple BottomLine, proposto por Elkington3, conhecido

como 3P - People, Planet and Profit (OLIVEIRA et al., 2012), pelo qual o

desenvolvimento sustentável baseia-se no tripé social, ambiental e econômico.

Enquanto o pilar social tem como propósito propiciar o estabelecimento de ações

justas para os stakeholders e a sociedade, e o ambiental preocupa-se com

processos produtivos e de gestão e sua interação harmoniosa com o meio

ambiente, o pilar econômico visa a criação de empreendimentos viáveis e sólidos,

economicamente.

Assim, conforme Vieira (1997), a proposta de desenvolvimento

sustentável é herdeira da noção de ecodesenvolvimento, sendo um conceito

complexo que considera algumas dimensões importantes: sustentabilidade

ecológico-ambiental, sustentabilidade econômica, sustentabilidade demográfica

ou espacial, sustentabilidade social, cultural, política e institucional.

Para Guimarães e Maia (1997), entende-se por sustentabilidade ecológico-

ambiental a base física do processo de desenvolvimento cujo objetivo está na

3 Sociólogo britânico fundador da consultoria SustainAbility, que auxilia empresas a

produzir com responsabilidade socioambiental.

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conservação e uso racional dos recursos naturais incorporados às atividades de

produção, mantendo os ecossistemas, ou seja, suas condições de recuperação às

agressões.

A sustentabilidade econômica pressupõe a capacidade de manter o

crescimento econômico de forma ética, desconstruindo, assim, o modelo

alicerçado no utilitarismo econômico. Já a sustentabilidade demográfica refere-seà

capacidade do crescimento demográfico desenfreado e suas consequências, tais

como ocupação irregular de espaço e migração.

A sustentabilidade social diz respeito a melhoria da qualidade de vida, a

redução da pobreza, da desigualdade, da exclusão social. Já a sustentabilidade

cultural, por sua vez, deve garantir a manutenção da diversidade em seu sentido

amplo, isto é, preservação de valores, costumes, tudo que possa representar a

identidade de um povo, nação ou região.

Finalmente, considera-se a sustentabilidade política que está ligada à

construção da cidadania, ao acesso irrestrito aos direitos e participação dos

indivíduos no processo de desenvolvimento e a sustentabilidade institucional que

pretende projetar, no desenho das organizações que regulam a sociedade e a

economia, as dimensões sociais e políticas da sustentabilidade em um nível

macroscópico.

Segundo Sachs (2000) existe o ‘mau desenvolvimento’, ou seja, o

desenvolvimento que causa prejuízos mais que benesses. Para ele, é preciso que

haja um modelo desenvolvimentista que deve comportar.

[...]um núcleo ético que adota a forma de imperativo de solidariedade sincrônico

com nossos contemporâneos, e diacrônico com as gerações futuras. Estamos, pois,

no oposto da sociedade de dupla velocidade e do economicismo míope que

privilegia o crescimento na e pela desigualdade social. (SACHS, 1993, p.123)

Apresentados os fundamentos teóricos, o capítulo seguinte tratará da

metodologia utilizada na consecução deste trabalho.

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3 Metodologia

Este trabalho tem por pressupostos a abordagem humanista/qualitativa. A

abordagem humanista faz um contraponto à corrente positivista, rejeitando a

noção de que somente o método científico, adotado pelas ciências naturais, se

aplique ao estudo da vida social humana. "O mundo sócio-histórico é um mundo

simbólico criado pelo espírito humano e não pode ser entendido, simplesmente,

como uma relação entre coisas materiais" (HUGHES, 1983, p.71).

Segundo Minayo (1994), a pesquisa qualitativa considera o universo dos

significados, motivações, crenças e valores, que não podem ser quantificados ou

reduzidos.

A metodologia utilizada foi o estudo de caso. Lüdke e Meda (1986)

destacam o que denominam casos naturalísticos, ou seja, o estudo de caso com

plano aberto, flexível, rico em dados descritivos, com foco complexo e

contextualizado da realidade. Para eles tais estudos priorizam a abordagem

qualitativa em que as características fundamentais são a interpretação dos dados

dentro do contexto, buscando, constantemente, novas respostas e questões, uma

profunda compreensão da realidade, o uso de diferentes fontes de informação, a

revelação de pontos de vista diversos e uma generalização naturalística, ou seja, a

partir da sua própria experiência, o indivíduo torna-se apto a realizar comparações

explícitas entre as situações analisadas e o conhecimento tácito que possui.

Levando-se em conta que o objeto da pesquisa aqui apresentado é pouco

conhecido, especialmente no que tange às relações entre as organizações que

fazem parte do projeto EdC, e que estuda-se um fenômeno atual em seu contexto,

envolvendo pontos de vista diversos, justifica-se a escolha do estudo de caso para

esta pesquisa. Constituíram fases iterativas da pesquisa:

1. Pesquisas bibliográfica e documental

2. Pesquisa de campo

3. Análise dos dados

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4. Proposição de uma forma ótima de atuação conjugada das empresas.

Considerando as peculiaridades inerentes à EdC, foi preciso encontrar, na

literatura, as teorias que se mostravam mais adequadas para embasar o estudo que

conduziu à consecução dos objetivos propostos neste trabalho. A etapa de revisão

da literatura permeou todo o trabalho, pois, devido ao caráter exploratório da

pesquisa, foi necessário um suporte constante para interpretação dos dados e para

a elaboração da proposta de atuação conjunta das empresas.

Dos dados para o estudo de caso, aqueles considerados secundários foram

oriundos de documentos (estatutos, regimentos, protocolos de intenção dentre

outros), relatos de experiência já existentes e publicados, principalmente no site

oficial da EdC, e revistas especializadas no tema. Já os dados primários foram

obtidos pela entrevista semiestruturada, apresentada no Anexo I.

A escolha das unidades de análise foi intencional, englobando dez empresas

das quais três estão inseridas em um polo empresarial ligado ao projeto EdC, o

Polo Spartaco,em Vargem Grande Paulista, no estado de São Paulo, e as outras

sete, também aderentes à EdC, localizadas na grande São Paulo, mais

especificamente em Cotia, Salto, São Paulo capital e em Vargem Grande Paulista.

Também fizeram parte da pesquisa a Associação Nacional de EdC e a Comissão

Central de EdC (Associação Internacional), que representam órgãos cuja função

guarda aspectos de regulação.

Foram sujeitos das pesquisas os membros das diretorias/gestores das

empresas, da Associação, da Comissão Central e do Polo, assim como alguns

colaboradores.

Procurou-se selecionar empresas com atividades produtivas, número de

colaboradores e faturamentos variados. Assim, quanto à atividade produtiva, sete

empresas fazem parte do setor de serviço. Suas atividades são: análises clínicas,

educação básica e fundamental, financiamento (factoring), gestão, contabilidade e

seguros. As demais atuam no ramo de panificação, soluções rotomoldadas para

uso ambiental e na construção civil, fabricação de embalagens plásticas e de

material plástico para usos industriais.

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As tabelas 1 e 2 apresentam os dados percentuais referentes ao faturamento

anual e ao número de colaboradores de nove das dez empresas pesquisadas.

Tabela 1 - Faturamento anual das empresas pesquisadas em euros

Faturamento (em Euros) Percentual de empresas

Menor que 100.000.00 58.1%

Entre 100.000.00 e 250.000.00 17.7%

Entre 250.000.00 e 500.000.00 14.5%

Entre 500.000.00 a 1.000.000.00 6.5%

Maior que 1.000.000.00 3.2%

Fonte: Elaborado pela autora

O faturamento das empresas é variável e demonstra uma predominância por

pequenas e médias empresas. Quanto ao número de colaboradores a empresa com

menos empregados é um escritório de contabilidade com 4 funcionários e a de

maior número, 32 funcionários, é um laboratório de analises clinicas. Dentre as

empresas que não estão no setor de serviços uma possui 19 funcionários e a outra

16.

Tabela 2– Número de colaboradores das empresas pesquisadas

Número de colaboradores Percentual de empresas

Menor que 10 18%

De 13 a 19 64%

Maior que 30 18%

Fonte: Elaborado pela autora

Inicialmente, a partir das entrevistas com a presidente da Associação

Nacional por uma Economia de Comunhão - ANPECOM e dos dados fornecidos

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por essa Associação, foi realizado um mapeamento do conjunto de empresas e

órgãos ligados a EdC, definindo-se os elementos que dele fazem parte, bem como

a natureza de suas conexões.

A partir daí, foram selecionadas as empresas que participariam da pesquisa e

que serviriam para entender como se dá o processo de relação reticular entre elas e

os demais organismos ligados à EdC. Para tanto, optou-se por empresas de

produtos distintos e em diferentes localidades, como já explicitado, embora

próximas.

Esse conjunto foi analisado e os resultados avaliados, de forma a levantar os

pontos positivos das relações entre as empresas e os pontos que precisam ser

melhorados, bem como os impactos da inexistência ou da forma de regulação

existente entre as organizações. Com isso, buscou-se a formulação de uma

proposta de atuação conjunta que possa surtir um efeito irradiador de benefícios

para o conjunto e para cada organização individualmente.

As empresas, objeto da pesquisa, também foram caracterizadas no que diz

respeito a sua adequação aos pressupostos gerenciais da EdC, utilizando-se, para

esse fim, dois questionários, um voltado para o empresário e o outro para os

subordinados. (Anexos IIA e IIB).

As questões dizem respeito aos aspectos centrais de cada um dos sete

princípios de gestão da EdC, descritos seção 4.4 deste trabalho, que tratam dos

seguintes pontos:1 ) Empresários, trabalhadores e empresa; 2) Relacionamento

com clientes, fornecedores, financiadores, sociedade civil e sujeitos externos; 3)

Espiritualidade e ética; 4) Qualidade de vida, felicidade e relações; 5) Harmonia

no ambiente de trabalho; 6) Formação, instrução, sabedoria e 7) Comunicação. Os

questionários foram validados por meio da avaliação especialistas.

O questionário foi aplicado aos gestores, bem como a três colaboradores de

cada empresa. É preciso esclarecer que algumas empresas possuíam poucos

empregados (duas tinham apenas quatro), o que levou à opção de fixar o número

de questionários destinados aos colaboradores a três respondentes por empresa.

Ressalta-se que não se pretendeu uma validação estatística, mas apenas subsídios

para entender como os empresários e seus subordinados percebem a empresa,

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quanto à aplicação dos pressupostos gerenciais ligados à EdC. Os entrevistados

assinaram, também, o termo de Consentimento Livre e Esclarecido (Anexo III),

respaldando a utilização dos dados.

A pesquisa de campo foi realizada no período de novembro de 2015 a

agosto de 2016.

Constituíram limitações para o método aquelas pertinentes ao estudo de

caso,como a subjetividade inerente às interpretações dos sujeitos e do

pesquisador, bem como possíveis problemas quanto à obtenção de dados junto às

empresas. Acrescenta-se a impossibilidade de testar o modelo de forma realística

e a inexistência de uma teoria consolidada sobre a EdC.

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4 Economia de Comunhão na Liberdade – EdC

Neste Capítulo apresenta-se o projeto EdC, salientando-se algumas

implicações no que diz respeito à sua ligação com conceitos relevantes para o

objetivo deste trabalho. Dessa forma, inicia-se com a Doutrina Social da Igreja

Católica, cujos princípios constituem a pedra fundamental para a construção da

EdC. Em seguida, é apresentado o Movimento dos Focolares, fundado por Chiara

Lubich, em cujo seio surgiu aEdC. Ainda, buscando auxiliar na compreensão do

fenômeno da EdC, discorre-se sobre o conceito de Racionalidade de Comunhão,

que pretende explicar um novo tipo de racionalidade econômica mais adequado

aos pressupostos da EdC. Só então, passa-se à apresentação do projeto Economia

de Comunhão, atualizando os dados sobre seu desenvolvimento e atuação,

esclarecendo-se sua relação com outras experiências similares, bem como com o

os conceitos e desenvolvimento sustentável e rede de empresas.

4.1. Encíclicas Sociais da Igreja

Desde o Antigo Testamento, a preocupação com a justiça e o

comportamento social já fazia parte do cotidiano do ‘povo de Deus’. Com o

advento do Novo Testamento, a caridade, ou o amor, passou a balizar a

administração da justiça e a humildade e a pobreza tornam-se elementos

importantes no novo evangelho. A acumulação e uso dos bens afastam o ser

humano do divino, à medida que um maior apego às coisas materiais afasta o

homem do que é espiritual e do amor fraterno.

Já nas primeiras comunidades cristãs, a prática da divisão dos bens de

acordo com a necessidade de cada um fazia-se presente, conforme relatado nos

Atos dos Apóstolos. Os valores vividos por essas comunidades tornaram-se sinais

do amor de Deus e o exemplo delas trouxe para a Igreja nascente cada vez mais

convertidos. (BÍBLIA, 1990, At. 4, 34-35)

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O posicionamento social da Igreja Católica evoluiu ao longo do tempo. As

denominadas encíclicas sociais da Igreja contribuíram para delinear o que hoje

chamamos de doutrina social da Igreja.

De acordo com o Compêndio da Doutrina social da Igreja (2004, p.36):

A locução doutrina social remonta a Pio XI e designa o corpus doutrinal referente à

sociedade que, a partir da Encíclica Rerum Novarum (1891) de Leão XIII, se

desenvolveu na Igreja através do Magistério dos Romanos Pontífices e dos Bispos

em comunhão com eles. A solicitude social certamente não teve início com tal

documento, porque a Igreja jamais deixou de se interessar pela sociedade; não

obstante a Encíclica «Rerum Novarum» dá início a um novo caminho: inserindo-se

numa tradição plurissecular, ela assinala um novo início e um substancial

desenvolvimento do ensinamento em campo social. Na sua contínua atenção ao

homem na sociedade, a Igreja acumulou assim um rico patrimônio doutrinal. Ele

tem as suas raízes na Sagrada Escritura, especialmente no Evangelho e nos escritos

apostólicos, e tomou forma e corpo na doutrina dos Padres da Igreja, dos grandes

Doutores da Idade Média, constituindo uma doutrina na qual, mesmo sem

pronunciamentos magisteriais explícitos e diretos, a Igreja se foi pouco a pouco

reconhecendo. (PONTIFÍCIO CONSELHO JUSTIÇA E PAZ, 2004, p.36)

A primeira encíclica social é a Rerum Novarum, do Papa Leão XIII de

1891, que aborda a questão operária e se opõe à ação socialista. Interessante que,

tanto Marx como o Papa Leão XIII tinham a intenção de denunciar a opressão da

classe operária em consequência do liberalismo econômico. Marx, porém,

propunha que tudo e todos deveriam se curvar à economia de produção e que as

religiões e a espiritualidade eram incompatíveis com essa forma de pensar e agir.

Por desviar o trabalhador, como uma droga que tira dele a capacidade de

reivindicar seus direitos de produção, a religião seria o ‘ópio do povo’. A Igreja,

ao contrário, era contra a concorrência ilimitada e propunha um olhar para o

social, incentivando a colaboração entre empregados e patrões e o entendimento

de que a posse de um bem é legítima desde que todos tenham o suficiente para

atender suas necessidades .

Em comemoração aos quarenta anos da edição da Rerum Novarum, após a

grave crise econômica de 1929, o Papa PIO XI publica, em 1931, a encíclica

Quadragesimo Anno. O Papa faz uma releitura dos problemas sócio-econômicos

da sociedade local e internacional, que se vê envolvida pela industrialização e pela

ascensão de grupos financeiros. “A encíclica adverte acerca da falta de respeito à

liberdade de associação e reafirma os princípios de solidariedade e de colaboração

para superar as antinomias sociais. As relações entre capital e trabalho devem dar-

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se sob o signo da colaboração.” (PONTIFÍCIO CONSELHO JUSTIÇA E PAZ,

3004, p.37)

A Quadragésimo Anno reivindica o direito do homem à propriedade, uma

vez que a terra e seus frutos foram dádivas de Deus indistintamente distribuídas.

Assim:

O Estado, nas relações com o setor privado, deve aplicar o princípio de

subsidiariedade, princípio que se tornará um elemento permanente da doutrina

social. A encíclica refuta o liberalismo entendido como concorrência ilimitada das

forças econômicas, mas reconfirma o direito à propriedade privada, evocando-lhe a

sua função social. (PONTIFÍCIO CONSELHO JUSTIÇA E PAZ, 2004, p.36)

Também menciona que não existe capital sem trabalho e vice-versa,

propondo um agir colaborativo entre patrões e empregados. Faz distinção entre

posse e uso, explicando que posse de determinado bem é justa e seu uso legítimo,

desde que cada um possua o suficiente para satisfazer suas necessidades, sendo o

supérfluo distribuído ao que mais necessitam.

Apresenta, ainda, os benefícios oriundos da Rerum Novarum e discute as

mudanças ocorridas a partir dela. Foram observados benefícios nos campos de

ação da Igreja, das autoridades civis, bem como na relação patrão/empregado.

Cresce o número de sacerdotes e leigos empenhados em tornar mais justas e

melhores as condições dos trabalhadores, em aprofundar os estudos das ciências

sociais e na busca por uma filosofia social católica. Surgem, nessa época,

jurisprudências cujo objetivo era defender os direitos dos trabalhadores,

influenciadas pela postura da igreja de defender a dignidade dos trabalhadores

como homens e filhos de Deus.

No inicio da década de 1960, o Papa João XXIII promulga a Mater et

Magistra, em um contexto marcado pela universalização da questão social. Os

problemas não se resumem à questão operária e à revolução empresarial, mas

envolvem áreas em via de desenvolvimento, crescimento demográfico e

cooperação econômica mundial, assim como as desigualdades que surgem no

âmbito internacional, destacando o drama sofrido pelas nações do terceiro mundo.

Essa encíclica destaca o Princípio da Primazia do Bem Comum, o qual

tem como objetivo garantir o direito do indivíduo, mas também do coletivo. É

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necessário um sistema sócio/político/econômico que permita a oferta de

empregos, salários justos e justiça social. Justiça e equidade não devem apenas

acontecer na relação patrão e empregado mas, também, nas relações entre setores

econômicos, bem como entre áreas economicamente desenvolvidas e outras

menos desenvolvidas. (MACHADO, 2006)

João XXIII, na Encíclica «Mater et Magistra» (1961), «pretende atualizar os

documentos já conhecidos e avançar no sentido de comprometer toda a

comunidade cristã» As palavras chave da encíclica são comunidade e socialização:

a Igreja é chamada, na verdade, na justiça e no amor, a colaborar com todos os

homens para construir uma autêntica comunhão (grifo do autor). Por tal via o

crescimento econômico não se limitará a satisfazer as necessidades dos homens,

mas poderá promover também a sua dignidade. (PONTIFÍCIO CONSELHO

JUSTIÇA E PAZ, 3004, p.38)

Como o próprio nome indica, a encíclica Pacem in Terris, promulgada em

1963 pelo Papa João XXIII, aborda a questão da paz em um contexto de

proliferação nuclear.

Ela prossegue e completa o discurso da «Mater et Magistra» e, na direção indicada

por Leão XIII, sublinha a importância da colaboração entre todos: é a primeira vez

que um documento da Igreja é dirigido também a «todas as pessoas de boa

vontade»(grifo do autor), que são chamados a uma «imensa tarefa de recompor as

relações da convivência na verdade, na justiça, no amor, na liberdade»[169]. A

«Pacem in Terris» se detém sobre os poderes públicos da comunidade mundial

(grifo do autor), chamados a enfrentar «os problemas de conteúdo econômico,

social, político ou cultural, (...) da alçada do bem comum universal».

(PONTIFÍCIO CONSELHO JUSTIÇA E PAZ, 2004, p.38)

A Pacem in Terris contém a primeira reflexão mais aprofundada acerca

dos direitos humanos. Entre os direitos apontados estão: o direito à existência e a

um padrão de vida dignos, o direito a prestar culto a Deus, inclusive em público, o

direito à liberdade de iniciativa e ao trabalho, o direito aos valores morais e

culturais como respeito à dignidade, ao caráter, a liberdade de manifestação, a

instrução básica, técnica e profissional, ao direito de imigração e emigração e o

direito de uma ativa participação na vida pública. Também aponta que é preciso

que haja harmonia entre o avanço científico e tecnológico e a ordem universal.

Vale destacar o papel do Concilio Vaticano II, em 1963, como um marco

para a doutrina católica cristã aproximando, ainda mais, a Igreja da cultura dos

diferentes povos. A Constituição Pastoral Gualdium et Spes, nesse concílio,

observou a vida social e econômica à luz do estado de miséria e

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subdesenvolvimento em que se encontravam milhões de homens, renovando a

consciência de que o evangelho exige uma postura eclesial de serviço ao homem,

de forma a auxiliá-lo na percepção de problemas como a fome, a miséria, as

doenças endêmicas e demais problemas sociais graves. (MACHADO, 2006)

Outro importante documento é a declaração Dignitates Humanaeque proclama o

direito à liberdade religiosa, fundamentado na dignidade humana e que deve ser

reconhecido e sancionado como direito civil.

Em 1967, o Papa Paulo VI promulga a encíclica Populorum Progressio,

que busca o desenvolvimento integral do homem e o desenvolvimento solidário

da humanidade. Segundo sua abordagem, o desenvolvimento não deve resumir-se

ao aspecto econômico ou técnico, mas sim compreender a promoção do homem

como um todo. Essa encíclica pode ser considerada como um aprofundamento da

Gaudium et Spes no tocante ao aspecto econômico-social da vida. A encíclica

apresenta o Principio da Solidariedade, segundo o qual o desenvolvimento integral

do homem e da humanidade só será possível por meio do desenvolvimento

solidário, que se contrapõe à postura individualista e consumista da sociedade

industrial. Tanto para os povos como para os indivíduos, possuir mais não é um

fim último e pode tornar a humanidade prisioneira do ter em detrimento do ser.

Proclama, também, o principio do Destino Universal dos Bens que afirma que a

terra, e tudo que ela contém, deve ser acessível a todos, com equidade, justiça e

caridade.

Paulo VI enfatiza a busca por formas concretas de organização e

cooperação, de forma a colocar em comum os recursos disponíveis, comungando-

os com pessoas e nações. Ele acrescenta que não se trata apenas de combater a

fome e a pobreza, mas de construir um mundo onde todos, sem exceção, possam

viver uma vida plenamente humana. A encíclica advoga a necessidade de os

poderes públicos, as organizações privadas e os organismos intermediários

realizarem um planejamento que auxilie na elaboração de programas que atendam

devidamente ao processo de desenvolvimento local e global.

Nesta perspectiva, Paulo VI instituiu, em 1967, a Pontifícia Comissão «Justitia et

Pax»,realizando um voto dos Padres Conciliares, para os quais é «muito oportuna a

criação de um organismo da Igreja universal, com o fim de despertar a comunidade

dos católicos para que se promovam o progresso das regiões indigentes e a justiça

social entre as nações». Por iniciativa de Paulo VI, a começar de 1968, a Igreja

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celebra no primeiro dia do ano o Dia Mundial da Paz. O mesmo Pontífice dá início

à feliz tradição das Mensagens que se ocupam do tema de cada Dia Mundial da

Paz, acrescendo assim o «corpus» da doutrina social. (PONTIFÍCIO

CONSELHO JUSTIÇA E PAZ, 3004, p.40)

João Paulo II, em 1981, noventa anos depois da Rerum Novarum, dedica, a

encíclica Laborem Exercens, ao trabalho. O trabalho é visto como bem

fundamental da pessoa, fator primário da economia e chave das questões sociais.

A «LaboremExercens» delineia uma espiritualidade e uma ética do trabalho, no

contexto de uma profunda reflexão teológica e filosófica. O trabalho não deve ser

entendido somente em sentido objetivo e material, mas há que se levar em conta a

sua dimensão subjetiva, enquanto atividade que exprime sempre a pessoa. Além de

ser o paradigma decisivo da vida social, o trabalho tem toda a dignidade de um

âmbito no qual deve encontrar realização a vocação natural e sobrenatural da

pessoa. (PONTIFÍCIO CONSELHO JUSTIÇA E PAZ, 3004, p.40)

A encíclica Sollicitude Rei Socialis de 1987, comemora o vigésimo ano da

Populorum Progressio e aborda, novamente, o assunto do desenvolvimento para

enfatizar a situação dramática do mundo contemporâneo e o sentido e as

exigências de um desenvolvimento digno do homem.

Essa encíclica denuncia a existência de mecanismos econômicos e

culturais que tornam mais rígidas as diferenças sociais oriundas da má divisão da

riqueza, enfatizando situações que levam ao desemprego e ao subemprego.

A Encíclica introduz a diferença entre progresso e desenvolvimento, e afirma que

«o verdadeiro desenvolvimento não pode limitar-se à multiplicação dos bens e dos

serviços, isto é, àquilo que se possui, mas deve contribuir para a plenitude do “ser”

do homem”. Deste modo pretende-se delinear com clareza a natureza moral do

verdadeiro desenvolvimento». João Paulo II, evocando o moto do pontificado de

Pio XII, «Opus iustitiaepax», a paz como fruto da justiça, comenta: «Hoje poder-

se-ia dizer, com a mesma justeza e com a mesma força de inspiração bíblica (cf.

Is32, 17; Tg3, 18), Opus solidarietatispax, a paz como fruto da solidariedade».( PONTIFÍCIO CONSELHO JUSTIÇA E PAZ, 2004, p.40)

Comemorando os cem anos da encíclica Rerum Novarum, João Paulo II

lança a Centesimus Annus, em que tece considerações sobre a encíclica

centenária e outras com temas a ela ligados, atualizando a Doutrina Social da

Igreja.

A comemoração, aqui feita, refere-se à Encíclica leonina, mas engloba depois

também as Encíclicas e outros escritos dos meus predecessores, que contribuíram

para a tornar presente e operante ao longo do tempo, constituindo aquela que seria

chamada «doutrina social», «ensino social», ou ainda «Magistério social» da

Igreja.(JOÃO PAULO II, 1991)

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A Encíclica enfatiza e reafirma entendimentos contidos nas anteriores,

como a visão de que o sistema socialista acirra o ódio entre as classes e explica

que o erro desse sistema é de cunho antropológico. O socialismo enxerga o

homem como uma unidade isolada, uma molécula do organismo social, sendo

reduzido a um conjunto de relações sociais, o que resulta em seu desaparecimento

como pessoa, ou seja, como sujeito autônomo, de decisão moral e, portanto,

construtor da ordem social.

Desta errada concepção da pessoa, deriva a distorção do direito, que define o

âmbito do exercício da liberdade, bem como a oposição à propriedade privada. O

homem, de fato, privado de algo que possa «dizer seu» e da possibilidade de

ganhar com que viver por sua iniciativa, acaba por depender da máquina social e

daqueles que a controlam, o que lhe torna muito mais difícil reconhecer a sua

dignidade de pessoa e impede o caminho para a constituição de uma autêntica

comunidade humana. (JOÃO PAULO II, 1991, p.13)

A concepção do homem segundo a doutrina da Igreja leva, necessariamente,

a uma visão justa da sociedade, sendo que a sua sociabilidade se dá na família, ou

em grupos econômicas, sociais, culturais e políticos e não apenas está ligada à

função do Estado.

Nessa encíclica, João Paulo II considera a violação dos direitos humanos

como uma das principais causas da crise mundial, sendo necessário um

movimento no sentido de promover o desenvolvimento econômico e o

crescimento das regiões mais pobres, por meio da adoção de novos valores e

prioridades, que deverão embasar as decisões econômicas e políticas.

Ao se referir aos anos 1989, a Encíclica coloca:

O segundo fator de crise é com certeza a ineficácia do sistema econômico, que não

deve ser considerada apenas como um problema técnico, mas sobretudo como

conseqüência da violação dos direitos humanos à iniciativa, à propriedade e à

liberdade no sector da economia. A este aspecto, está ainda associada a dimensão

cultural e nacional: não é possível compreender o homem, partindo unilateralmente

do sector da economia, nem ele pode ser definido simplesmente com base na sua

inserção de classe. (João Paulo II, 1991, p.24)

A Encíclica também reafirma que os pobres não são um fardo, mas

consequência de um regime excludente que impede alguns de participarem dos

bens materiais, do conhecimento e acesso às ciências e, portanto, de usar sua

capacidade de trabalho em prol da construção de um mundo mais próspero, com

justiça para todos. Se anteriormente, os fatores determinantes para a produção

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eram a terra e o capital, atualmente é o homem, com seu conhecimento e sua

capacidade de organização solidária, quem ocupa esse lugar.

Cabe, especialmente, abordar a forma como a CentesimusAnnus se refere à

questão do lucro. O lucro possui uma função justa quando visto como um

indicador de que a empresa está se saindo bem e está se mantendo saudável

financeiramente, porém, não deve ser o fim último da organização, ou seja, seu

principal objetivo. Aos lucros devem estar associados outros aspectos éticos,

morais e humanos que, juntos, tornam-se essenciais para o sucesso do negócio. A

empresa deve existir como uma comunidade que de diferentes maneiras, busca

satisfazer as necessidades fundamentais do homem, estando a serviço da

sociedade.

O desenvolvimento integral da pessoa humana no trabalho não contradiz, antes

favorece a maior produtividade e eficácia do próprio trabalho, embora isso possa

enfraquecer estruturas consolidadas de poder. A empresa não pode ser considerada

apenas como uma «sociedade de capitais»; é simultaneamente uma «sociedade de

pessoas», da qual fazem parte, de modo diverso e com específicas

responsabilidades, quer aqueles que fornecem o capital necessário para a sua

atividade, quer aqueles que à colaboram com o seu trabalho. Para conseguir este

fim, é ainda necessário um grande movimento associado dos trabalhadores(grifo

do autor), cujo objetivo é a libertação e a promoção integral da pessoa. (JOÃO

PAULO II, 1991, p.43)

A respeito do consumismo, a Encíclica mostra que os consumidores

precisam fazer um uso responsável de seu poder de escolha e, os produtores, por

sua vez, devem possuir um alto sentimento de responsabilidade diante do que

produzem, de forma a não ferir os princípios da qualidade e da sustentabilidade. É

justo desejar uma vida melhor, o problema é adotar um estilo de vida orientado

para o ‘ter’ e não para o ‘ser’. Assim, os estilos de vida precisam buscar opções de

consumo, investimento e poupança que sejam verdadeiros e que levem à busca do

bem e da comunhão fraterna com outros homens, de forma a contribuir para um

crescimento, também comum.

As questões ecológicas também são abordadas na encíclica, reforçando o

perigo de que as ações que privilegiam o ‘ter’ e o prazer conduzam o homem a

explorar indiscriminadamente a natureza, de forma insustentável.

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A CentesimusAnnus, de forma geral, critica o sistema ético-cultural que

reduz o homem à dualidade produtor-consumidor, sem considerá-lo como sujeito

livre, como pessoa humana que produz e consome para viver.

O indivíduo é hoje muitas vezes sufocado entre os dois polos: o Estado e o

mercado. Às vezes dá a impressão de que ele existe apenas como produtor e

consumidor de mercadorias ou então como objeto da administração do Estado,

esquecendo-se que a convivência entre os homens não se reduz ao mercado nem ao

Estado, já que a pessoa possui em si mesma um valor singular, ao qual devem

servir o Estado e o mercado. O homem é, acima de tudo, um ser que procura a

verdade e se esforça por vivê-la e aprofundá-la num diálogo contínuo que envolve

as gerações passadas e as futuras. (JOÃO PAULO II, 1991, p.49)

Posteriores à criação do projeto EdC, as encíclicas Caritas in Veritate e

Laudato Sí consolidam a Doutrina Social da Igreja respaldando, ainda mais, os

ideais de Chiara Lubich.

A Encíclica Caritas in Veritate,do Papa Bento XVI,foi publicada m 29 de

junho de 2009 em homenagem ao quadragésimo aniversário da Encíclica

Populorum Progressio. Nessa encíclica, pela primeira vez, são tratados de modo

sistemático temas como a globalização, o respeito ao meio ambiente e a bioética.

Essa encíclica propõe uma verdadeira ‘conversão’ a uma nova sabedoria social que

pode ser resumida com a expressão “o receber precede o fazer”. Conversão de uma visão

que parte dos próprios homens, considerando-os como os únicos e originais construtores

da sociedade e das normas que devem regular as relações entre os cidadãos, para uma

visão que assume uma postura de atenção a um sentido que vem ao encontro do ser

humano, expressão de um projeto sobre a humanidade que não é controlado pelos

homens.(CREPALDI, DOM G., 2010, p.13)

Seus dois primeiros capítulos propõem atualizações à Populorum

Progressio, defendendo o desenvolvimento humano integral em vez do

desenvolvimento dos povos. Os capítulos 3, 4 e 5 contêm reflexões sobre como a

Igreja deve se portar diante dos grandes problemas atuais, como ética nas

finanças; uso responsável dos recursos energéticos; liberdade religiosa;

colaboração fraterna entre crentes e não crentes; cooperação internacional;

fenômeno das migrações; novas tarefas das organizações sindicais dos

trabalhadores; reforma das Nações Unidas e a necessidade de uma verdadeira

autoridade política mundial.

A carta encíclica Laudato Sí, do Papa Francisco, lançada em 2015,

expressa a preocupação da Igreja com a ‘casa comum’ da humanidade, versando

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sobre ecologia integral e algumas linhas de orientação e ação,fazendo um apelo à

mudança e à unificação global das ações para combater a degradação ambiental e

as alterações climáticas.

A Laudato Sí inicia-se com uma leitura da situação a partir do estado da arte

no que se refere às pesquisas científicas atuais, confrontando a realidade com a

Bíblia e a tradição judaico-cristã. Segue identificando a raiz dos problemas, ou

seja, a tecnocracia e o excessivo fechamento auto referencial do ser humano.

Propõe,então, uma ecologia integral que possa incluir as dimensões humanas e

sociais de forma clara. Dando continuidade a esse raciocínio, mostra que é preciso

empreender, em todos os níveis sociais, econômicos e políticos, um diálogo

honesto que conduza a processos de decisão transparentes. Conclui observando

que nenhuma ação é eficaz se não for consciente e responsável e sugere ideias que

permitem a promoção dessa mudança de comportamento no nível educacional,

espiritual, político e teológico.

As encíclicas aqui apresentadas destacam a necessidade de um

comportamento ético, responsável e solidário, o direito à liberdade, o respeito à

dignidade humana, o princípio da subsidiariedade, o bem comum e a destinação

universal dos bem, além da primazia do trabalho sobre o capital. Reforça a

necessidade de rever o sistema capitalista tornando as relações econômicas mais

justas e equânimes, conclamando à solidariedade entre os homens e entre as

nações, sendo esses os verdadeiros responsáveis pelo desenvolvimento.

Tais princípios podem ser identificados quando da análise da experiência

de EdC, sendo fonte de inspiração para Chiara ao criar o Projeto.

O item que se segue apresenta o movimento dos Focolares ao qual o

projeto de EdC está ligado e onde encontra suas bases.

4.2. Movimento dos Focolares e seu carisma

O Movimento dos Focolares, ou Obra de Maria, nasceu na Itália, em plena

segunda guerra mundial, da inspiração da jovem católica que adotou o nome de

Chiara Lubich.

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O movimento dos Focolares nasce da experiência de Chiara Lubich e suas

companheiras, que resolveram orientar suas vidas pelo amor expresso por Jesus

no Evangelho, em meio ao caos e destruição advindos da Segunda Guerra

Mundial, em Trento na Itália.

Conforme Cruz (2014, p.28),o ano oficial da fundação do Movimento dos

Focolares foi 1943 e faziam parte dele um pequeno grupo de “12 jovens moças ao

qual, aos poucos, uniram-se alguns rapazes.”

Torno (2011, p.32), ao descrever a vida de Chiara, conta que, em pouco

tempo, uma comunidade se formou em torno do primeiro núcleo e chegou a

contar com quinhentos membros entre homens e mulheres de todas as idades e

diferentes condições sociais, “que compartilhavam o mesmo Ideal e formavam

uma comunidade semelhante à dos primeiros cristãos. O apartamento da Praça

Cappuccini passou a ser chamado de fogolar, focolare(lareira ou lar em

italiano)...”

Terminada a Guerra, o movimento ganhou mais espaço espalhando-se por

toda a Itália. Em 1956 expandiu-se pela Europa e em 1958 chegou à América.

A Obra de Maria chega ao Brasil em 1958, em Recife tendo uma das

primeiras companheiras de Chiara, Ginetta Calliari, como um dos responsáveis.

Em pouco tempo o movimento ganha espaço por várias regiões brasileiras.

Ginetta funda dois centros do movimento em Recife e parte para São Paulo onde é

adquirido um terreno que abrigaria a primeira “cidade” do movimento no Brasil:

A MariápolisAraceli, hoje, MariápolisGinetta. A Mariápolis, localizada em

Vargem Grande Paulista, proporciona um espaço de convivência e formação para

os membros dos Focolares. Foram criadas posteriormente as Mariápolis Gloria em

Benevides no Pará e Santa Maria, em Pernambuco. (GONÇALVES, 2009)

Aqui, cabe esclarecer o que seriam as Mariápolis. Chiara pensou em uma

comunidade que pudesse viver os ideais do movimento. Conforme suas próprias

palavras:

Um dia, estávamos olhando do alto de uma colina, sob um sol luminoso, a

imponente construção da abadia tendo ao centro uma belíssima igreja onde os

monges rezam, o conjunto de casas à direita e à esquerda da igreja onde eles

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moram e estudam, a escola, os terrenos que circundam, onde trabalham e criam

animais. E de fato víamos realizado ali naquele lugar o ideal de São Bento, do “ora

et labora” (“reza e trabalha”). [...] Diante daquele esplêndido panorama,

desabrochou nos nossos corações uma outra imagem que nos parecia mostrar uma

vontade de Deus para o nosso Movimento: Imaginávamos uma cidadezinha

moderna de verdade, com casas, escolas, mas também com indústrias, empresas,

aonde se pudesse dar testemunho de como seria o mundo se todos vivessem o amor

evangélico.(CADERNOS DE HUMANIDADE NOVA, 1992, p. 16)

Assim, as Mariápolis surgem como locais para o desenvolvimento da

cultura evangélica, abrigando as diferentes realidades da vida em uma pequena

cidade com comércio, escolas etc. Posteriormente, com a Economia de

Comunhão, surgem também as atividades produtivas.

A título de esclarecimento, as Mariápolis permanentes surgiram a partir de

uma experiência do movimento de encontros para os primeiros focolarinos e

focolarinas para um momento de repouso. Esses encontros passaram a contar com

a presença de outras pessoas como mães, pais, jovens e crianças, de todas as

camadas sociais além de sacerdotes e religiosos das mais váriadas congregações.

Eles receberam o nome de “cidade”, uma cidade temporária, na qual a única lei

era a caridade evangélica, que provocava entre os participantes uma fraternidade

rica de comunhão material, espiritual e cultural. Após a doação por um focolarino

de um terreno nos arredores de Florença a primeira Mariápolis permanente surgiu.

Não mais um lugar para encontros anuais, mas um lugar moderno, composto por

lojas, centros de arte, ateliers, pequenas empresas, escolas, igrejas, locais de

encontro e lazer. Um centro cosmopolita, onde não há distinções de religião,

cultura e tradição e sim são valorizadas essas diferenças como meios de encontro

com cada próximo, estreitamente unidos pelo zelo em ver realizado o sonho de

Jesus: “Pai, que todos sejam um, como eu e tu”. No Brasil existem duas

Mariápolis permanentes em operação onde se encontram os dois polos indústrias.

(FOCOLARES, 2016)

No coração do movimento encontram-se os focolarinos e focolarinas que

fizeram nascer o movimento. Os homens e mulheres consagrados vivem em

pequenas comunidades chamadas focolares, abrem mão de toda sua vida para

colocarem-se completamente à disposição do Movimento, no mundo inteiro.

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Também fazem parte do movimento, segundo suas próprias possibilidades,

pessoas casadas e que são chamadas a uma doação total a Deus embora

conservando os empenhos e deveres do seu estado civil.

Os Voluntários de Deus são homens e mulheres de todas as profissões e

categorias sociais, que escolhem seguir a Deus de forma radical e livre vivendo,

no cotidiano da sua vida, a espiritualidade evangélica da unidade.(FOCOLARES,

2016)

Conforme Cruz (2014, p.29),

Hoje participam do Movimento, de diversas formas e níveis de adesão, cristãos de

350 Igrejas, além de fiéis de outras religiões como muçulmanos, budistas, judeus,

hindus e sikhs. Em 1970 a Obra de Maria começou o diálogo com pessoas que não

possuem um referencial religioso, que também se sentem parte integrante do MF.

Pertencente à Igreja católica, o MF é inter-religioso, intercultural e internacional.

Como não poderia deixar de ser, existe a participação de jovens e crianças.

Assim, uma parte ativa do Movimento são os chamados Gens onde o ideal de

unidade é apresentado às crianças, jovens e adolescentes.

Conforme salienta Martins (2010, p.52) “o movimento dos focolares

manteve-se sempre fiel ao carisma da unidade tendo como referência última Jesus

crucificado e abandonado.”

O Movimento tem seu objetivo baseado em dois pontos: que os membros

possam alcançar a perfeição da caridade e colaborar para a fraternidade universal,

ou seja, realizar a unidade.

A unidade é construída por meio do diálogo com: o interior da igreja

Católica (fiéis, instituições eclesiásticas, associações, movimentos eclesiais,

ordens e congregações religiosas); cristãos de outras denominações religiosas e

comunidades eclesiais; não cristãos com religião, pessoa sem convicções

religiosas mas que acreditam em valores como a paz, a justiça, a liberdade, a

solidariedade, etc.; e a cultura contemporânea. (OPERA DI MARIA, 2007, p. 13-

15)

A espiritualidade comunitária como se refere o site da obra, articula-se em

doze pontos fundamentais que estão encadeados:

Deus Amor

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A Vontade de Deus

A Palavra

O irmão

O amor recíproco

Jesus Eucaristia

A Unidade

Jesus abandonado

Maria

A Igreja

O Espírito Santo

Jesus no meio

A espiritualidade que surge do carisma da unidade traz à tona um aspecto

importante, mas que se tornou pouco visível através dos tempos: ao lado da

indispensável experiência espiritual individual, deve se fazer presente a dimensão

comunitária da vida cristã. Há como que um resgate da espiritualidade

comunitária dos primeiros cristãos que tinham tudo em comum, onde os bens e os

dons eram compartilhados na alegria e todos que os viam podiam dizer: olhem

como eles se amam. (FOCOLARES, 2016)

Essa espiritualidade, centrada em Jesus abandonado e na unidade, nascida

dos escombros de uma guerra de proporções mundiais mostra-se plenamente

adequada ao mundo atual que sofre a ação de diversas formas de destruição como

a agressão à natureza, o crescimento da pobreza e desigualdades sociais, da

violência, da intolerância e, inclusive, as guerras propriamente ditas.

Sobre a inserção da espiritualidade do Movimento dos Focolares no tecido

mundial, Martins (2013, p.57-58) nos fala de uma forma particular que o

movimento utiliza para simbolizar as formas de imersão do amor no mundo:

A espiritualidade da unidade apresenta-se, constitutivamente, como vocacionada a

mergulhar e interagir concretamente no mundo contemporâneo, com sua

diversidade cultural e sua abertura para a experiência global – ainda que tal

experiência ainda se feche à vivência da espiritualidade. [...] Nessa

imersão/inundação emergem os sete aspectos, os sete modos ou os sete “como” da

imersão/inundação do amor no mundo, identificados às sete cores do arco-íris,

posto que o amor é tudo, abrange todo o espectro do visível e do invisível.

Assim, as sete cores do arco-íris significam:

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Vermelho - o amor é comunhão, leva à comunhão. Jesus em nós, porque é

Amor, teria gerado a comunhão.

Alaranjado- amor não é fechado em si mesmo, difunde-se por si só. Jesus

em nós, o Amor, seria a irradiação do amor.

Amarelo - O amor eleva a alma. Jesus em nós teria elevado a nossa alma a

Deus, e isto é a oração.

Verde - amor cura. Jesus, o Amor no coração, haveria de ser a saúde de

nosso corpo e da nossa alma.

Azul – O amor reúne diversas pessoas em assembleia.

Anil – O amor é fonte de sabedoria. Jesus em nós, haveria de nos iluminar.

Violeta – O amor compõe os muitos em um, é unidade. Jesus em nós

haveria de nos fundir em um. (TORNO, 2011)

Dessa forma, os doze pontos e os sete aspectos compõem a espiritualidade

da unidade, mediante os quais as pessoas encontrariam um caminho de vida que

poderia ser como fermento na massa, transformando o mundo em todos os

aspectos.

O Movimento dos Focolares possui diversas ramificações. Entre

elas,pode-se citar o Movimento Famílias Novas, dedicado à realidade das

famílias, o Movimento Humanidade Nova, que procura levar os ideais focolarinos

a todas as partes do mundo, e a própria EdC, além de diversas iniciativas sociais

desenvolvidas no mundo inteiro.

Outro assunto que auxilia no entendimento da cultura da Comunhão

preconizada pela EdC está em uma nova forma de racionalidade: a racionalidade

de comunhão. O item a seguir, aborda o assunto de forma sucinta.

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4.3 Racionalidade de comunhão

O termo racionalidade de comunhão foi cunhado para representar um tipo

de racionalidade substantiva que possui uma lógica própria, diferente da

cooperação típica da economia de mercado.

Como já mencionado no Capítulo 2 item 2.4, o conceito de racionalidade

concentra o que a ciência econômica assumiu como sendo o comportamento do

homem e sua antropologia. A ideia padrão de racionalidade pode ser representada

pelo dilema do prisioneiro. Assim, para o homo economicus o mundo ideal é

aquele que lhe traz algum benefício sem que ele tenha que pagar pelo seu custo e,

de preferência, no qual outro assuma esse custo. Em muitos casos, o equilíbrio se

dá, justamente, em não se fazer nada esperando que outro faça e, caso o outro não

faça, pelo menos você não foi ingênuo o suficiente para perder seu tempo fazendo.

Então, toda escolha baseia-se no individualismo e na instrumentalidade, ou

seja, uma escolha só é boa se trouxer uma vantagem para o indivíduo e a

generosidade é medida em termos de sua capacidade de atingir um resultado e não

pelo valor intrínseco que possui.

Seguindo esse comportamento, só haverá cooperação no caso de altruísmo

mútuo, ou seja, um tipo de cooperação condicional onde eu coopero na medida em

que você coopera também. Esse é um comportamento que se vê em toda espécie

animal e não só entre humanos.

No entanto, pode-se observar que essa forma de cooperação não é a única

existente. Conforme Bruni (2012, p. 92): “Uma civilização floresce quando sabe

intensificar todas as formas de cooperação, inclusive aquela espontânea [...] típica

da comunhão.”.

O agente econômico, seguindo a lógica da racionalidade de comunhão,

compreende a reciprocidade de forma diferente da empregada atualmente. Assim,

ao respeitar o meio ambiente, pagar seus impostos e gerir seus negócios

eticamente segundo boas práticas ele está agindo de forma cooperativa. Para ele

esses comportamentos representam valores e a recompensa não é só material, mas

intrínseca. Esse agente econômico tem consciência da importância do

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comportamento similar dos outros para que a ação seja eficaz, mas faz a sua parte

sem condicionar seu comportamento ao dos demais. Caso todos sigam a mesma

conduta, baseada nessa cultura de valorizar um comportamento positivo, mesmo

antes de colher resultados advindos de sua adoção, eles satisfarão suas

preferencias ao máximo, sem falar do aumento do bem-estar social gerado.

(BRUNI, 2012)

Bruni (2012), apresenta o dilema do prisioneiro adaptando-o à racionalidade

de comunhão. Ele compara duas tabelas, sendo a primeira utilizando a

racionalidade instrumental e a segunda a racionalidade de comunhão, de forma a

tornar clara a diferença de pay-off (conjunto dos possíveis resultados) entre elas. A

tabela relativa à racionalidade de comunhão parte da estrutura de recompensa

utilizada na tabela da racionalidade instrumental, adicionando ou diminuindo aos

pay-off materiais o valor relativo ao componente de valor intrínseco. Os valores

são ilustrativos e o valor intrínseco é representado por 1,1.

Verifica-se, então, que no caso da racionalidade de comunhão o equilíbrio

estará sempre no ato de dar ou cooperar.

Quadro 5 - Dilema do individualismo

Individuo B coopera Indivíduo B não Coopera

Individuo A coopera

3.3 1.4

Indivíduo A não coopera

4.1 2.2

Fonte: Bruni (2012, p.87) adaptado pela autora.

Quadro 6 - O jogo da comunhão

IndividuoBcoopera Indivíduo B não coopera

Individuo A coopera

4.4 (3.3 + 1.1) 0.3 (1.4 -1.1)

Indivíduo A não coopera

3.2 (4,1 – 1,1) 1.1 (2.2-1.1)

Fonte: Bruni (2012, p.94) adaptado pela autora.

Assim, quando o indivíduo coopera e o outro não, seu pay-off aumenta por

causa da recompensa intrínseca advinda da atitude de agir corretamente de forma

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coerente com seus valores. Mas, se ao invés não coopera, mas a outra parte sim,

então, o payoff é reduzido em função da aplicação da sansão intrínseca.

Conforme afirma Bruni, o componente intrínseco aqui utilizado deriva da

teoria clássica da felicidade.

Brickman e Campbell (1971) concluíram em seus estudos que

melhoramentos devido às circunstancias objetivas da vida como renda e riqueza,

por exemplo, não produzem efeitos duradouros de bem estar. Muitas são as teorias

atuais sobre o que leva à felicidade, mas os estudos empíricos levam a crer que

pessoas altruístas se sentem mais felizes que pessoas egocêntricas.

Conforme aponta Cloninger(2006), existem evidências demonstrando que,

se dinheiro, poder e fama não influenciam as pessoas a serem mais felizes, os

desenvolvimentos do caráter tem importante participação. Assim, altos níveis de

componentes do caráter como autodirecionamento,cooperatividade e

autotranscedênciaestão correlacionados com uma maior frequência de emoções

positivas e menor de emoções negativas.

Bruni (2012, p.98) desenvolve o que chama de paradoxo da comunhão e

sistematiza essa ideia conforme os itens a seguir:

a) uma vida feliz precisa de uma reciprocidade genuína;

b) a reciprocidade genuína não é suscitada se a lógica que nos impele for,

primordialmente, instrumental;

c) a resposta do outro, a reciprocidade, não pode ser pretendida, mas pode ser

esperada, respeitando a liberdade do outro;

d) cooperar conduz a dois resultados diferentes (indicados como dois ou quatro)4,

com base na resposta ou não resposta do outro;

e) consequentemente, a “vida em comum é frágil”, como também nos ensinam os

filósofos – a partir de Aristóteles -, uma vez que depende da livre resposta aos

outros;

f) ao mesmo tempo, para quem possui uma ‘cultura de comunhão’, para quem

atribui valor intrínseco à ação a felicidade não é tão frágil. A força frágil da

comunhão consiste em manter juntas as possibilidades da reciprocidade plena e a

sua fragilidade e vulnerabilidade. (BRUNI, 2012, p.98)

Tendo em mente a doutrina social da igreja, conhecendo um pouco sobre o

Movimento dos Focolares e também sobre o que seria a racionalidade de

4 Refere-se aos valores da tabela do Dilema do Prisioneiro, onde a cooperação leva a

ganhos menores, porém para ambos os indivíduos, enquanto não cooperar produz ganhos apenas

para um jogador em detrimento do outro, ou nenhum ganho para ambos.

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comunhão, torna-se mais fácil a compreensão do projeto EdC e a razão de sua

concepção. A seguir, será realizada asua apresentação.

4.4. Economia de Comunhão: um fenômeno empírico e atual

Conforme explica Chiara Lubich (2000) o termo Economia de Comunhão na

Liberdade constitui um projeto ligado ao Movimento dos Focolares que, como já

mencionado, trata-se deum movimento eclesial, ligado à Igreja Católica, fundado

por Chiara Lubich, cuja essência consiste na “cultura da partilha”, antítese da

cultura do “ter”, favorecendo a construção de bases solidárias por meio de sua

irradiação pelo mundo.

O projeto EdC nasceu na cidade de São Paulo, em maio de 1991, quando

Chiara Lubich ao visualizar o contraste existente entre o centro da cidade e o

cinturão de favelas que o circundava, percebe de forma profunda a desigualdade

social chocante, o que tornou quase que palpável para ela, o poder do capital nas

mãos de poucos ricos a despeito de milhares de miseráveis. Surgiu então a ideia

“de criar empresas, dirigidas por pessoas honestas, competentes, talentosas e

dispostas a colocar em comum, livremente, os lucros. Eis o elemento inovador, eis

o conjunto de ideias que deu vida ao Projeto Economia de Comunhão na

Liberdade.” (LUBICH, 2000, p.21)

Cruz ( 2014, p.35) conclui que

[...] é possível identificar alguns elementos que exerceram uma influência

fundamental para o surgimento da EdC: a desigualdade social que caracteriza a

sociedade brasileira, o desejo dos membros da Obra de Maria de colaborar na

solução deste problema, indo além da atuação no âmbito da assistência social, a

impossibilidade de a comunhão de bens, praticada pelos membros do MF, em nível

pessoal, solucionar o problema da pobreza e a desigualdade no interior do próprio

Movimento.

A visão de lucro, na concepção da EdC, diverge totalmente da capitalista,

tendo em vista práticas interpessoais cujo valor não é contábil. Tais valores não

são considerados pela racionalidade econômica vigente. (BRUNI, 2012)

O lucro apurado seria distribuído segundo três finalidades:

a. Reinvestir na atividade produtiva, incrementando a própria empresa de

modo a mantê-la economicamente viável e gerando postos de trabalho;

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b. Ajudar pessoas em necessidade, em situação de pobreza, enquanto não

ocupam um posto de trabalho;

c. Investir na formação de ‘homens novos’, imbuídos da cultura da partilha.

Importante esclarecer que esse novo homem deve, além de vivenciar o

espírito de comunhão e partilha, poder se tornar agente transformador da

sociedade e disseminador do conceito dessa nova forma de economia. Para tanto,

deve ser economicamente produtivo, ou seja, capaz de se inserir no mercado de

trabalho, com consciência crítica e comportamento ético e cidadão. (BRUNI,

2002)

No que diz respeito ao auxilio aos necessitados, inicialmente, são alvo pessoas

no âmbito do Movimento dos Focolares, envolvidas no projeto. O caráter desse

auxílio não é assistencial, o enfoque não está na filantropia, mas na partilha, onde

cada um dá e recebe com a mesma dignidade. Já a formação de “homens novos”

pretende promover o pleno desenvolvimento do ser humano, a partir do

amadurecimento de suas condições físicas, mentais, afetivas, estéticas e lúdicas,

substituindo a cultura do ter pela cultura da partilha. (EDC, 2016)

Nas empresas EdC, a partilha do lucro dá-se em escala mundial. A sua

distribuição é mediada pelas comissões regionais de EdC e pela Comissão

Central. Atualmente, algumas associações como a brasileira ANPECOM

(Associação Nacional por uma Economia de Comunhão) estão iniciando sua

participação nesse processo.

Constituem Comissões Locais de EdC membros do movimento que

acompanham o desenvolvimento, evolução e concretização da Economia de

Comunhão em determinado território, inclusive verificando as necessidade que

geram os projetos de distribuição das ajudas.

Conforme relatado pela representante da comissão internacional de EdC,

entrevistada nessa pesquisa, as Comissões Regionais ou Locais surgiram desde o

início, com o Projeto. Segundo suas próprias palavras

Elas são, em cada região territorial, as pessoas que vão acompanhar todo o

desenvolvimento, evolução e concretização da Economia de Comunhão naquele

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território, inclusive verificando as pessoas que se encontram em necessidade para a

distribuição das ajudas. Esse seria o papel, hoje, das comissões. (MEMBRO

BRASILEIRO DA COMISSÃO CENTRAL EDC)

Importante esclarecer que o próprio movimento possui uma espécie de

divisão territorial, que nem sempre coincide com a existente em termos

geográficos. Tais regiões são o foco da ação das Comissões de EdC.

A Comissão Central encontra-se localizada na sede do movimento em

Lopiano, na Itália, e é a instancia final tomadora de decisões. Ela é formada

pormembros cuja nacionalidade, na medida do possível, deve contemplar todos os

países ou continentes nos quais a EdC se faz presente.

Outro ponto a esclarecer é que o Movimento dos Focolares possui diversas

ramificações e conta com diversos projetos sociais espalhados pelo mundo. Uma

dessas ramificações, o Movimento Humanidade Nova, constituiu uma ONG, a

AMU - Azione per um MondoUnitoque realiza a gestão dos diversos projetos de

desenvolvimento financiados pelas empresas e contribuições pessoais. Outra é, o

Instituto Universitário Sophia.

Criado a partir de uma intuição de Chiara Lubich em 2009, o Instituto

Universitário Sophia (IUS) é um centro de educação e pesquisa acadêmica, em

que as diferentes culturas e as diferentes disciplinas convivem em um ambiente

com uma dimensão relacional forte. Não é uma universidade estabelecida pelo

conjunto de diferentes faculdades, no sentido hoje prevalecente, mas um

laboratório de experimentação interdisciplinar e intercultural: rico em experiência

de ponta e de fronteira, portanto, um lugar de excelência a serviço do crescimento

humano e cultural. (EDC, 2016)

As Associações ligadas à EdC, inicialmente, nasceram para serem as

entidades jurídicas representativas do projeto junto à sociedade civil. Atualmente

elas se unem às empresas e as Comissões para formarem a estrutura mínima que

da sustentação à EdC. Interessante explicar, que há uma Associação Internacional

por uma Economia de Comunhão que, até então, se confunde com a Comissão

Internacional.

Conforme consta no site da ANPECOM, sua missão é:

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Representar, consolidar e difundir a Economia de Comunhão, apoiando projetos,

iniciativas e ações que objetivem a redução da pobreza através da consolidação de

uma nova cultura econômica, fundamentada na fraternidade

universal. (ANPECOM, 2016)

A Figura 3representa o organograma da ANPECOM:

Fonte site da ANPECOM

Vale ressaltar que os empresários possuem representantes em todas as

instâncias de análise e decisão referentes à EdC. No caso brasileiro, existe um

conselho de empresários, criado recentemente, e que faz parte da ANPECOM.

Assim, as empresas participam da EdC não apenas por meio de seus

processos de gestão e relacionamento com a comunidade em geral mas, também

enquanto financiadores de ideias ou projetos oriundos das necessidades sociais

detectadas. Tais necessidades podem ser levantadas, por qualquer pessoa,

independentemente de fazerem ou não parte da EdC, e apresentadas às comissões

locais. O que acontece, normalmente, é que as próprias comissões são as

responsáveis por levantar essas necessidades e propor projetos de ação. Após

análise preliminar elas submetem os projetos à Comissão Central, para apreciação

e julgamento por especialistas que avaliarão sua pertinência, viabilidade e nível de

urgência identificando quais serão desenvolvidos ou não. Caso um projeto seja

Figura 3 - Organograma da ANPECOM

Fonte

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aprovado, caberá à Comissão Central mobilizar alguma entidade que possa levá-lo

a termo e gerenciá-lo. Na maioria das vezes, quem toma para si esta função de

gestão dos projetos é a organização não governamental parceira do movimento

Azione per um Mondo Unito – AMU, que possui ramificações em vários países.

Atualmente, a Associação no Brasil esta se preparando para atuar, também como

gestora de projetos.

Na EdC, a comunhão dá-se tanto no que se refere aos recursos como às

necessidades. Do ponto de vista mundial, por exemplo, países que doam mais nem

sempre recebem mais, uma vez que a distribuição se dá em função da necessidade

de cada um. Com o passar do tempo, o modo de se conceber os diferentes tipos de

ajuda para os quais são destinados os lucros colocados em comunhão resultou em

três modalidades.

Uma delas é o apoio ao desenvolvimento profissional e ao emprego, que

se dá por meio de projetos de financiamento de pequenas empresas, ou

microcrédito para pessoas em dificuldade financeira e também com o intuito de

gerar postos de trabalho.

Outra modalidade tem sido a assistência em situação de emergência cujo

objetivo é auxiliar pessoas que vivem em uma situação de pobreza devido à

conjuntura como em casos de guerra, calamidades ou qualquer situação que as

impeça de se manterem com o próprio trabalho. O caráter do auxilio não é

permanente. Nesse caso, trata-se de um atenuante social.

Os lucros também são destinados para ajudar na educação e formação

profissional, oferecendo subsídio para estudantes de nível médio e superior,

transporte, material didático e alojamento. (SEGRETARIA INTERNAZIONALE

DELL’ECONOMIA DI COMUNIONE, 2008)

As primeiras experiências empresariais aconteceram na Mariápolis

permanente Ginetta, que, na visão do projeto, deveria abrigar polos produtivos. Os

polos dariam visibilidade ao projeto bem como serviriam como ‘laboratórios’ para

a EdC. Os polos completariam, assim, o perfil das Mariápolis permanentes.

Posteriormente, adeririam ao projeto empresas que se encontravam ou foram

criadas fora dos polos. (CRUZ, 2009, p.56)

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A Carta de Identidade da EdC explica que:

Baseando-se na inspiração originária, a EdC suscita a implantação de polos

produtivos, junto às Mariápolis permanentes – pequenas cidades do Movimento

dos Focolares – das quais são parte integrantes. Os polos, sinal de testemunho e de

atuação do projeto, são um elemento essencial da EdC e tornam o projeto completo

em uma dada região e/ou país. (COMMISSIONE INTERNAZIONALE DI EDC,

2011)

Atualmente, o projeto possui construídos os seguintes polos:

Polo Spartaco (Cotia/São Paulo/Brasil)

Polo Lionello (Loppiano/Florença/Itália)

Polo Solidariedad (O’Higgins/Buenos Aires/Argentina)

Polo Ginetta (Igarassu/Pernambuco/Brasil)

Polo Mariapoli Faro (Krizevci/Croácia)

Polo Bélgica (Bélgica)

Em fase de estudo:

Polo FrancoisNeveux (Bendevides/Pará/Brasil)

Pólo Filipinas (Filipinas)

PóloOttmaring (Alemanha)

Conforme explica Chiara Lubich (2000, p.16):

De fato, como acontece em muitas outras realidades econômicas permeadas por

motivações ideais – aqueles que aderem ao projeto - empresários, dirigentes,

trabalhadores ou outras figuras empresariais – comprometem-se, em primeiro

lugar, em por no centro das atenções, em todos os aspectos de sua atividade as

exigências e aspirações da pessoa humana e os requisitos do bem comum. Em

especial buscam:

instaurar relacionamentos leais e respeitosos, animados por um sincero

espírito de serviço e de colaboração, com os cliente, os fornecedores, o

poder público e os concorrentes;

valorizar os empregados informando-os e envolvendo-os, em variadas

medidas, em sua gestão;

manter uma linha de conduta da empresa inspirada na “cultura da ética”;

reservar grande atenção ao ambiente de trabalho e ao respeito à natureza,

ainda que arcando com investimentos de alto custo;

cooperar com outras realidades empresariais e sociais, presentes no

território, abertos inclusive à comunidade internacional, com quem se

sentem solidários.

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Como já foi mencionado, o projeto de EdC não apenas pretende propor

uma nova forma de empresa, mas transformar o sistema empresarial, orientando

todas as relações intra e extra empresariais de acordo com o estilo de vida de

comunhão. Não defende uma forma única de organização da atividade produtiva,

mas pretende transformar, internamente, as práticas empresariais, não importando

sua modalidade. As empresas vinculadas à EdC possuem formação jurídica

diversificada, podendo ser sociedades por ações, cooperativas, individuais e por

cotas de responsabilidade limitada.(EDC, 2016)

Existem dois tipos de empresas com relação à sua ligação com o Projeto:

aderentes e simpatizantes. Asempresas aderentes estão, de fato, comprometidas

como parte integrante do projeto, responsáveis por seu desenvolvimento. As

simpatizantes não possuem vínculos tão fortes, mas comungam ideais

semelhantes, participando de alguma maneira da dinâmica do projeto.

O pedido de adesão ao projeto é aceito, desde que:

(a) Haja um sério compromisso da parte do (s) empresário (s) a iniciar um caminho

de comunhão com a comissão local e com todo o movimento EdC local e

internacional, não somente de forma pessoal mas como expressão da comunidade

empresarial;

(b) Seja feita a partilha dos objetivos do projeto e das finalidades do carisma da

Unidade do qual a EdC é expressão;

(c) O empresário esteja aberto para destinar os lucros empresariais, quando esses

existirem, conforme os três objetivos do projeto, que são: 1) ajuda concreta aos

pobres, 2) a formação de “homens novos”, 3) o desenvolvimento da empresa e/ou

distribuídos aos sócios;

(d) Exista um comportamento que inspire a própria governança empresarial à

fraternidade, conforme o documento “linhas para a gestão de uma empresa EdC;

(e) O empresário esteja de acordo em conceber e viver o relacionamento com as

pessoas em situação de pobreza sob um plano de substancial dignidade, respeito,

igualdade, reciprocidade e de comunhão;

(f) O empresário esteja disposto conceber a própria empresa e/ou atividade como

um lugar e um instrumento para reduzir a pobreza , a miséria e a injustiça, seja no

próprio contexto local seja a nível global.( EDC, 2016)

Em documento elaborado em 1997, a EdC estabelece sete princípios de

gestão com base nas experiências em curso. Recentemente houve uma

reformulação nesses princípios, detalhando-os melhor e vinculando-os aos sete

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princípios do Movimento dos Focolares. Por conterem pontos cruciais no

entendimento da forma de gestão de uma empresa vinculada a EdC, esses

princípios foram descritos na íntegra.

1. Vermelho: Empresários, trabalhadores e empresa.

As empresas que aderem à economia de comunhão definem a própria “missão

empresarial” adotando a comunhão como valor fundamental da própria

organização, em todos os níveis.

Para que isso seja atuado, as funções e os papéis na empresa são definidos com

clareza e exercitados com espírito de serviço e de responsabilidade. A forma da

administração é participativa. Os objetivos empresariais são compartilhados e

adequadamente verificados de forma transparente, tendo uma atenção particular

para a qualidade das relações entre todos os sujeitos envolvidos (stakeholders) e,

de modo especial à comunhão com os outros empresários de EdC, com a comissão

regional e com as associações EdC locais e internacionais.

Quando a empresa obtém lucros, os empresários e os sócios se comprometem em

compartilhar esses lucros para destiná-los, respeitando os procedimentos típicos

nas várias formas de empresa e das situações sociais nas quais trabalham,

atribuindo aos três objetivos apresentados − em seguida − igual importância:

(a) à ajuda para pessoas em situação de miséria (pobreza) através de diversas

formas de intervenções voltadas para a inclusão comunitária e produtiva;

(b) ao desenvolvimento da empresa, ou seja, à sua consolidação, à melhora da

qualidade de bens e serviços e, sobretudo em países onde o trabalho é escasso, à

geração de postos de trabalho, e enfim, onde isso é possível, também à

remuneração dos sócios;

(c) à difusão da cultura de comunhão e do “dar”. No caso em que a adesão à EdC

não seja ainda compartilhada com todos os sócios, o empenho em doar os lucros

conforme os objetivos do projeto é limitado às cotas de quem aderiu.

2. Alaranjado: O relacionamento com os clientes, os fornecedores, os

financiadores, a sociedade civil e os sujeitos externos

Os membros da empresa se empenham com profissionalismo para construir e

reforçar relacionamentos sadios e abertos com os clientes, os fornecedores e a

comunidade do território nos quais trabalham, cuja custódia e melhoramento

sentem como parte integrante da própria missão. A empresa se relaciona de forma

leal e civil com os concorrentes, fornecedores, clientes, a sociedade civil e a

administração pública, que sente como parceiros essenciais para alcançar o bem

comum. Além disso, o empresário e os trabalhadores das empresas de EdC

promovem o seu espírito e a sua mensagem, apresentando as suas ideias e

experiências em congressos, seminários e encontros, já que consideram parte da

própria ‘vocação’ difundir essa nova visão econômica. Não se contentam em viver

a EdC, querem torná-la conhecida a muitos, com uma atenção especial aos jovens,

a quem acolhem também em períodos de formação ou de estágio.

3. Amarelo: Espiritualidade e Ética

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O trabalho da EdC é visto como uma oportunidade de crescimento não só

profissional, mas também espiritual e ético. A empresa se empenha no respeito

concreto das leis e trabalha para a mudança e no seu melhoramento. Mantém um

comportamento correto em relação às autoridades fiscais, aos sindicatos e aos

demais órgãos institucionais e tem consciência que a qualidade de vida no trabalho

é dimensão essencial para a realização da pessoa e para o desenvolvimento da sua

vocação como trabalhador e como ser humano. Quem trabalha nas empresas de

EdC aprende a valorizar também as dificuldades e o sofrimento nos lugares de

trabalho, fazendo desses aspectos oportunidades preciosas de crescimento e de

amadurecimento. Na definição da natureza e da qualidade dos próprios produtos, a

empresa se empenha não somente com o respeito das próprias obrigações

contratuais, mas também em avaliar os efeitos dos produtos no bem-estar das

pessoas às quais são destinados e sobre o ambiente.

4. Verde: Qualidade de vida, felicidade e relações

Um dos objetivos fundamentais de uma empresa de EdC é tornar-se uma

verdadeira comunidade. Com essa finalidade são programados encontros

periódicos para verificar a qualidade dos relacionamentos interpessoais e para

ajudar a resolver as situações de conflito, recorrendo regularmente aos, assim

chamados, “instrumentos” de comunhão, entre os quais o colóquio – uma conversa

periódica − dos trabalhadores com os responsáveis − pelo menos uma vez por ano

−, momentos de avaliação comunitária e de ‘correção fraterna’ entre todos os

membros da empresa que experimentam, dessa forma, uma fraternidade e uma

igualdade entre todos, que antecede as necessárias diferenças de função e de

responsabilidade na empresa; de escuta por parte dos gestores de eventuais

protestos e desacordos, bem como de sugestões; a troca de experiências durante

momentos de encontro previstos. A empresa de EdC sabe que sem exercitar esses

instrumentos de comunhão, a vida relacional empresarial empobrece, às custas

também das performances econômicas. É dada uma atenção especial à saúde física,

ao esporte e ao cuidado com o ambiente, já que a comunhão abraça também a

natureza e a corporeidade. Para o cuidado com os relacionamentos, a empresa de

EdC dá importância à festa, também nas atividades empresariais do dia-a-dia

(aniversários, nascimentos, partidas...) em que se reforçam os relacionamentos e a

pertença à comunidade de trabalho, recursos preciosos, principalmente em

momentos de crise.

5. Azul: Harmonia no ambiente de trabalho

A beleza e a harmonia dos lugares de trabalho são o primeiro cartão de visita da

empresa de EdC, já que a comunhão é também beleza, sem a necessidade do luxo,

e com discrição. Os ambientes são expressão da harmonia dos relacionamentos,

bem como, parte das relações empresariais. A higiene, a limpeza, a ordem são parte

da cultura da EdC, de forma que a sua harmonia faça os trabalhadores,

proprietários, clientes, fornecedores e visitantes sentirem-se bem. Por isso, é

garantido o respeito das normas de segurança, a ventilação necessária, níveis

toleráveis de barulho, iluminação adequada e tudo o que facilita a qualidade das

relações dentro e fora da empresa. A dimensão da beleza é tida com máxima

consideração mesmo quando a empresa entra, diretamente ou indiretamente, em

contato com a pobreza, conscientes de que a primeira forma de cuidado com toda

forma de miséria é a atenção ao outro, e a dimensão da beleza apresenta isso da

melhor forma.

6. Anil: Formação, instrução, sabedoria

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A empresa favorece entre os seus membros a instauração de um clima de confiança

recíproco, no qual seja natural colocar livremente à disposição os próprios talentos,

ideias e competências em favor do crescimento profissional dos colegas e para o

progresso da empresa. A primeira escola de formação é sempre a comunidade

empresarial, nos seus diversos relacionamentos. Além disso, a direção adotará

critérios de seleção de pessoal e de programação do desenvolvimento profissional

para os trabalhadores a ponto de facilitar a criação de uma atmosfera de bem-estar.

A empresa dará oportunidades de atualização e de aprendizagem contínua,

favorecendo a formação profissional e para a cultura de comunhão do próprio

pessoal, com uma atenção particular aos jovens de dentro e de fora da empresa.

Finalmente, o empresário e os trabalhadores da EdC cultivam a própria

humanidade e os próprios interesses fora e dentro da empresa, com uma atenção

especial ao desenvolvimento da cultura e do pensamento econômico e, por isso,

participam de escolas e congressos para serem sempre mais capaz de ter

argumentos sobre a própria visão empresarial e cultural.

7 Violeta: Comunicação

Os empresários que aderem à EdC trabalham constantemente para criar um clima

de comunicação aberto e sincero, que ajude na troca de ideias e de informações em

todos os níveis de responsabilidade. Com esta finalidade, adotam os instrumentos

oportunos de prestação de contas periódica, seja dentro da empresa, seja

externamente (ex. “balanço social”), bem como instrumentos que mostrem nos atos

(nas ações) o valor social gerado pelos diversos sujeitos envolvidos nesta atividade

empresarial. Não existe comunhão sem comunicação. As empresas implantadas

conforme a Economia de Comunhão, também no intuito de desenvolver

relacionamentos econômicos reciprocamente úteis e produtivos, utilizam os mais

modernos meios de comunicação para estarem ligadas entre elas em nível local e

internacional. Os empresários que aderem à Economia de Comunhão, conscientes

da validade cultural e política que o sucesso do projeto comum pode comportar,

mantêm sempre vivo entre eles, em nível local e internacional, um espírito de ajuda

recíproca e de solidariedade. E se colocam em rede com todos os homens e as

mulheres de boa vontade que queiram contribuir, sinceramente, para um mundo

mais justo, fraterno e unido. (EDC,2016)

Trata-se de sete itens que procuram identificar a Economia de comunhão.

O primeiro item explica que a EdC é um movimento “que envolve empresários,

empresas, associações, instituições econômicas, mas também trabalhadores,

gestores, consumidores, poupadores, pesquisadores, operadores econômicos,

pobres, cidadãos, famílias.”. Seu objetivo é contribuir para a criação de empresas

fraternas cuja missão é erradicar a miséria e a injustiça social auxiliando a

edificação de um sistema social e econômico de comunhão a exemplo das

comunidades dos primeiros cristãos onde “não havia necessitados entre eles”(

EDC, 20016)

Os demais itens informam que a EdC é uma realidade una e mundial,

coordenadas com base no princípio da subsidiariedade, pelo qual os aderentes,

independentemente do nível da adesão, empenham-se em viver segundo o carisma

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da unidade, dos valores e da comunhão, tanto individualmente quanto em suas

organizações, promovendo o projeto.

Também se comprometem em buscar, por meio de ideias e ações, que a

cultura da comunhão, do dar e da reciprocidade modele as relações econômicas

em todos os níveis. A espinha dorsal da EdC são as organizações produtivas, não

importa a forma jurídica, que decidem por em prática a EdC, ou seja, seus valores

e sua cultura. Essas empresas, então, estão comprometidas com a criação e

distribuição de riqueza, com a geração de empregos, com base na criatividade e

contribuindo para a inovação.

A empresa pode ser considerada a estrutura-base ou célula da EdC, uma vez que a

proposta central da Economia de Comunhão é colaborar na erradicação da

desigualdade social mediante a partilha do lucro de empresas que livremente

aderem a este objetivo. Uma das características fundamentais da EdC está no fato

de que a empresa é concebida enquanto comunidade, espaço de encontro entre

pessoas, inclusive na esfera do trabalho e das relações comerciais e de mercado.

Ideia esta que transcende a concepção do mercado apenas como espaço de relações

instrumentais.(BRUNI, 2012, p. 68).

O documento supracitado afirma que a EdC é um movimento de ideias e

pensamentos que dialoga com a cultura contemporânea, com a economia civil,

solidária e social, cooperando com iniciativas da Igreja e de outras religiões e das

sociedades civil e política.(EDC,2016)

Gonçalves (2004, p.3) confronta, no Quadro 7, alguns pressupostos da

Economia Clássica com os da EdC.

O Quadro 7 é autoexplicativo. Fica clara a distinção das duas formas de

pensar econômico na qual a economia de comunhão dá primazia a uma nova

forma de racionalidade econômica baseada na comunhão.

Importante salientar que as empresas que adotam integralmente o projeto de

EdC, devido a suas raízes éticas profundas, representam um tipo de organização

que poderia ser uma alternativa ao paradigma funcionalista, ou seja: uma

organização substantiva. Conforme o paradigma funcionalista vigente, o

conhecimento científico se baseia em fatores externos ao indivíduo, sendo válido

somente o que pode ser mensurado, for racional e proveniente da experimentação.

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Tal paradigma vê o homem como um ser econômico, detentor de um emprego.

(FERRUCCI, 2005; ALMEIDA E LEITÃO, 2003)

Quadro 7 - Comparação entre Economia Clássica e EDC

Economia Clássica Economia de Comunhão

Modo de Produção Capitalista Modo de produção de Economia de Comunhão

A linha original de continuidade entre a ética e

economia é interrompida

A linha original de continuidade entre a ética e

economia é incluída

O individualismo na base das relações econômicas A solidariedade na base das relações econômicas

Cultura de ter Cultura de dar

A racionalidade consiste na utilidade, na acumulação e

em elevar ao máximo o lucro privado A racionalidade consiste na doação e partilha do

lucro e pressupõe a personalização do

relacionamento e a felicidade humana

Homo Economicus, Homo consumerico: individualista,

hedonista e egoísta

Homo Doador, Solidário, Homoespiritual

Oposição entre bem individual e bem social Não oposição entre bem individual e bem social

O capital tem primazia em relação ao homem O homem tem primazia em relação ao capital

A racionalidade incorpora sempre o elemento de

condicionalidade

A relacionalidade incorpora sempre o elemento de

gratuidade

Prevalência da racionalidade instrumental,

racionalidade do EU

Prevalência da racionalidade substantiva, da

razoabilidade que segundo Aristóteles contém

elementos de sabedoria. Racionalidade do EU com

Todos

Os indivíduos não estão ligados uns aos outros por

nexos indivisíveis antes de iniciar a troca

Os indivíduos estão ligados uns aos outros por

nexos indivisíveis antes de iniciar a troca

A cultura de Ser para SI A cultura de Ser com o Outro

Apropriação privada do excedente Apropriação do excedente privado e partilha com os

atores beneficiários fora do processo produtivo

Foco na avaliação dos resultados econômicos do

mercado

Foco nos atores sociais

Esquecimento da premissa antropológica Afirmação da premissa antropológica

Empresa e Sociedade Empresa na Sociedade

Fonte: Gonçalves (2004)

Almeida e Leitão (2003) explicam que esse paradigma supervaloriza o

indivíduo em detrimento do coletivo, afirmando que o bem comum pode ser

conseguido por meio da busca dos interesses pessoais.

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A racionalidade substantiva, conforme explicam os mesmos autores,

fundamenta-se em valores éticos, na crítica à realidade e na busca do bem comum.

As organizações substantivas são aquelas que conseguem utilizar uma

racionalidade substantiva em seus processos administrativos e organizacionais.

Tais organizações buscam promover o bem estar de todos e procuram eliminar a

insatisfação no trabalho valorizando a auto realização, as boas relações

interpessoais, o julgamento ético, a preocupação com a responsabilidade social e

ambiental e a liberdade de expressão e ação.

Conforme afirma Molteni (2002), as organizações da EdC, desde indústrias

até organizações filantrópicas, estão e desejam estar inseridas na mesma realidade

socioeconômica e institucional das demais organizações e abrangem as mais

diversas atividades, estando presentes tanto em países em desenvolvimento como

nos mais avançados. Além disso, de acordo com Gui (1998), elas não rejeitam as

estruturas econômicas capitalistas, muito menos as empresas comerciais, que são

encaradas como instrumento útil em que a lógica da comunhão pode atuar.

Ha quinze anos Zamagni (2001, p.21) afirmou que a despeito das atuais leis

da economia, o projeto da Economia de Comunhão estava dando certo e grande

parte das empresas vinculadas à EdC tinham conseguido elevar os índices de

produtividade, melhorar a qualidade dos produtos e investir em tecnologia e

capacitação de pessoal, mantendo-se no mercado não obstante as crises. Nos dias

atuais, as empresas têm sofrido com as alterações e crises como qualquer outra, no

entanto, de acordo com os dados apresentados no item seguinte,pode-se constatar

que o número de empresas aderentes ao projeto no mundo continua seguindo uma

progressão ascendente, embora tímida, e também, que boa parte das empresas

nascidas à época do lançamento do projeto ainda estão em pleno funcionamento.

Em 2013, foi proposta uma teoria fundamentada (GroundedTheory) para a

EdC: a Teoria Axiológica de Comunhão (MENEGASSI, 2013). A autora, Cláudia

Herrero Martins Menegassi, propõe uma teoria substantiva cuja base para explicação da

construção de seus pressupostos ou dos recursos que constituem a gestão das empresas de

EdC são: os valores dos empresários e a cultura de comunhão.

Segundo essa teoria, os empresários exercem influência direta na construção social

dos recursos constitutivos da gestão com base na EdC, especialmente por seus valores e

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pela cultura da EdC por eles adotada. É a influência axiológica, ou seja, o papel exercido

pelo empresário que interpreta, age e promove a interação tanto entre os próprios recursos

quanto entre os stakeholders, o elemento determinante da construção social desses

recursos.

As proposições apresentadas e que fundamentam a teoria são:

Proposição 1 – os valores dos empresários influenciam diretamente a adoção e

compreensão da gestão de EdC nas empresas, construindo, caracterizando e

constituindo essa gestão.

Proposição 2 – a cultura de comunhão torna-se cultura por meio da prática, da

interação e comunicação interna e com as demais pessoas e grupos coligados à

EdC, caracterizando e constituindo as empresas da EdC.

Proposição 3 – a caracterização da gestão da EdC se dá por meio da experiência

coletiva, de comunicação e de comunhão dentro da empresa assim como, em certa

medida, com os stakeholders e com os demais empresários da EdC e seus grupos

representativos formais e informais.

Proposição 4 - a construção social dos hábitos e costumes relacionados aos

princípios da Economia de Comunhão é influenciada por esses princípios, pelos

valores dos empresários, pelo exemplo e apoio ao aprendizado que dão aos

funcionários e pelas relações que se estabelecem no ambiente de trabalho. Isso faz

com que esses hábitos e costumes sejam específicos para cada empresa,

caracterizando-a e tornando-se parte dela com o passar do tempo. Ao mesmo

tempo em que são construídos, os hábitos e costumes também fortalecem essa

abordagem de gestão, configurando um processo de retroalimentação entre eles.

Proposição 5 - o recurso ética é construído socialmente na área substantiva por

meio da influência axiológica.

Proposição 6 - a atuação de princípios éticos nas práticas cotidianas das empresas

de EdC está relacionada à sustentabilidade e perenidade do próprio negócio,

influenciando-o positivamente sobretudo no longo prazo.

Proposição 7 - os princípios éticos adotados pelo empresário regem os

relacionamentos e, quando compartilhados, integram o processo de construção

social dos bens relacionais e dos hábitos e costumes que constituem a gestão de

EdC.

Proposição 8 - os valores dos empresários e a experiência relacional entre os

indivíduos influenciam a construção dos bens relacionais e sua manutenção se dá

na medida em que são preservadas as relações de confiança e respeito de modo que

haja a reciprocidade.

Proposição 9 - o clima organizacional condizente com a EdC é resultado da

combinação dos diversos bens relacionais. Quanto mais rápida a recuperação das

relações quando estas apresentam problemas, menores serão os impactos negativos

no clima organizacional.

Proposição 10 - a cultura de comunhão preserva a identidade comum entre as

empresas de EdC não obstante as diferenças sistemáticas entre essas empresas, que

são relativamente estáveis, por serem fruto das escolha dos empresários e dos seus

valores.

Proposição 11 - a percepção de fé do empresário que adere à EdC é construída por

meio da influência axiológica e da interação com o meio da EdC.(MENEGASSI,

2013, p.134-138)

A teoria aqui apresentada diz respeito à gestão baseada na EdC e pode

auxiliar a análise realizada nesta tese na medida em que o estudo reforça a

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existência de algo que vai além do puro interesse comercial e que move as ações

dos empresários unidos por valores comuns.

A seção seguinte apresentará dados mais atuais sobre a EdC, de forma a

fornecer uma visão do que foi e está sendo realizado recentemente.

4.4.1. Vinte e Cinco anos de EdC

Em 2016, a EdC completa 25 anos. De acordo com o Relatório EdC 2014-

2015, o projeto conta com 811 empresas no mundo, sendo 263 operando na Itália,

200 nos demais países da Europa, 220 na América Latina, 84 na África (duas

vezes mais que o senso anterior), 26 na América do Norte e 18 na Ásia.

(COMMISSIONE INTERNAZIONALI DI EDC, 2014/2015)

Conforme relatório apresentado em 2015 no Congresso Nacional da EdC

em Nairóbi, África, o mapa regional da EdC no Brasil em 2014 compunha-se de:

71 empresas na região sudeste, 16 na nordeste, 7 na região centro-oeste, sete na

Região norte e 41 na sul. Do total de 188 empresas, 142 são aderentes ao Projeto e

46 são simpatizantes.

Alguns dados fornecidos pela ANPECOM em 2016 permitem algumas

especulações quanto aos setores aos quais as empresas brasileiras estão ligadas.

Das empresas aderentes cerca de 40% estão no setor de comércio variado de bens,

42% no setor de serviços e 18% de produção industrial. O número de

colaboradores é muito variado indo de dois a mais de duzentos, com

predominância da pequena e média empresa.

O Gráfico 1 mostra a evolução das empresas da EdC ao longo dos anos. A

reta de tendência de previsão linear continua ascendente, embora o número de

empresas tenha caído ligeiramente. Um dado a ser mencionado é que não houve

senso nos anos de 2013 e 2014.

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Gráfico 1 - Evolução do número de empresas de EdC

Nos últimos anos algumas iniciativas têm sido empregadas no intuito de

aglutinar os empresários em torno dos ideais do movimento, bem como trazer

maiores benefícios à rede de comunhão. Empresários americanos criaram um site

(www.eoc-companies.org) cujo propósito é facilitar a comunicação, permitir às

empresas entrarem em contato umas com as outras, poderem confirmar a sua

adesão ao movimento e, ainda, colocar em comum, talentos que poderão ser

utilizados para criar novas empresas. (COMMISSIONE INTERNAZIONALE DI

EDC, 2016)

O Relatório EdC 2014/2015 apresenta o montante e a destinação dos

recursos obtidos nesse período, que somam 1.613.345,00 €, dos quais

1.169.640,00 € destinados à Economia de Comunhão e 443.705,00 € para o que

chamam de “lucros compartilhados em espécie ou utilizados para outros fins”.

Os ‘lucros compartilhados em espécie ou para outros fins’ são

investimentos realizados sob a forma de prestação de auxilio aos pobres e

formação dentro da empresa ou no território de abrangência, por exemplo. São os

lucros utilizados diretamente em ações realizadas pelas empresas em sua

comunidade local e que, atualmente, têm sido computados como forma de

554

703747

754

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754

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20

15

ANO

Evolução do número de empresas EdC por ano

Fonte: Elaborado pela autora

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780.604,00

965.833,00 1.011.436,001.169.640,00

0,00

200.000,00

400.000,00

600.000,00

800.000,00

1.000.000,00

1.200.000,00

1.400.000,00

2011/2012 2012/2013 2013/2014 2014/2015

Va

lore

s em

eu

ros

Anos

Valores totais de lucro compartilhado em euros

comunhão para fins do relatório. No ano de 2015, dois terços desses lucros

corresponderam a despesas assumidas pelas empresas para fins solidários

(estágios para os jovens com vontade de fazer experiência de trabalho nestas

empresas, apoio a pessoas com deficiência, etc.) e um terço para ajuda prestada

pelas empresas em ações solidárias em seu próprio território. No Brasil, o lucro

compartilhado pelas empresas em 2015 foi de 56.342,00 €. Menor que o do ano

anterior que foi de 62.676,00 €, um pouco abaixo da média dos últimos 3 anos que

foi de 78.039,00 €.

Os valores no Gráfico 2 demonstram um crescimento no montante dos

valores oferecidos pelas empresas no nível mundial, mesmo que pequeno. No

entanto, a tendência apresentada é positiva. Tendo em vista a crise econômica dos

últimos anos as contribuições no nível mundial parecem continuar estáveis.

Fonte: Elaborado pela autora

Ainda de acordo com o Relatório 2014/2015 o valor doado pelas empresas,

deduzido o montante advindo dos lucros compartilhados em espécie ou utilizado

para outros fins, totalizou 1.169.640,00 € e foi dividido em duas partes iguais. A

primeira metade, somada às contribuições pessoais (443.705,00 €), ou seja, um

montante de 989.763,00 €,foi destinada ao auxilio aos mais pobres. Esse montante

foi distribuído da seguinte forma: 27% destinados para alimentação, 21% para

despesas de saúde, 13% para custos de habitação, 25% para a formação de

homens novos e 14% para criar postos de trabalho. O valor destinado à formação

Gráfico 2– Lucro compartilhado pelas empresas da EdC (€)

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de postos de trabalho duplicou em relação ao ano anterior e os recursos ainda não

alocados (71.330,00€) foram adicionados a este último item.

Os outros 50% (584.820,00 €) se destinaram a financiar os projetos para

formação de homens novos como: escolas EdC, sustento da estrutura da EdC local

e sustento dos centros de formação.

Os números aqui apresentados não são vultosos quando se pensa em

modificar de forma radical o status quo. Porém, o que importa é o fato de que,

como toda mudança cultural, o movimento que é dinâmico e constante, tem

avançado e permanece em desenvolvimento.

Conforme já comentado anteriormente, o projeto EdC, em seu auxilio aos

mais desfavorecidos, possui um caráter que pode ser entendido como provisório,

ou seja, o auxilio é mantido até que as famílias possam se reerguer e passarem a

subsistir com dignidade. No ano de 2015 o número de famílias beneficiadas foi

reduzido em 30 unidades, um modesto sinal, mas que mostra famílias deixando a

condição de pobreza e conseguindo caminhar e produzir mantendo sua dignidade.

Conforme explica Tortorella,(2016, p.4) este é ”[...] Um objetivo

ambicioso e complexo que, ao contrário da assistência, exige muita competência

humana e profissional para gerenciar os projetos e acompanhar os beneficiários,

mesmo em um caminho de protagonismo e reciprocidade.”

Importante salientar que parte dos recursos destinados à criação de emprego

ficou sob a responsabilidade das comissões locais (em cada país) e associações de

empresários EdC, que identificam a estratégia mais adequada ao seu território, de

forma a projetar, avaliar, financiar e acompanhar projetos empresariais orientados

para os valores da EdC, em particular dos jovens.

Vale relembrar que ha mais de dez anos vem acontecendo uma parceria

entre a EdC e a AMU (Azione per un Mondo Unito), que conforme já relatado é

uma organização não governamental constituída por uma das ramificações do

Movimento dos Focolareso Movimento Humanidade Nova e que presta

consultoria técnica e administrativa aos vários projetos sociais desenvolvidos pela

obra. Tal parceria tem o intuito de combater a pobreza, visando criar empregos, ou

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seja, trabalho digno e estável, fomentando projetos de criação de postos de

trabalho, reforçando a capacidade de projeção de organizações locais inspiradas

na EdC.

Em 2015, teve início o acompanhamento de 11 projetos novos, que criarão

350 postos de trabalho, com um investimento de 500.000,00 €.

Um exemplo é um projeto brasileiro, coordenado pela AMU, que envolve

cerca de 25 famílias que vivem em um antigo latifúndio onde trabalhavam ex-

escravos africanos. O trabalho tem como objetivo cuidar da transformação da

produção agrícola em agricultura biológica familiar por meio da transformação de

frutas em doces e, também da produção de artesanato, a partir de matérias primas

locais.

Outro exemplo de ação foi a criação de um escritório de projetos dentro da

ANPECOM visando o treinamento de pessoal, a elaboração de regulamentos e a

criação de um fundo de reciprocidade local que permitiu lançar o Programa de

Fortalecimento de Empresas Inclusivas e de Comunhão. Esse programa tem como

objetivo ser um novo instrumento para incentivar e reforçar empresas que

participam da inclusão econômica de pessoas desfavorecidas. Cada ano, serão

selecionados os melhores projetos que vão ser acompanhados pela ANPECOM e

parcialmente financiados com os lucros das empresas da EdC.

Com relação a apoiar novos empreendedores, foi criada, recentemente,

EconomyofCommunionInternationalIncubating Network (EoC – IIN), uma rede

internacional cujo objetivo principal é acompanhar uma nova geração de

empresários de EdC, incentivando a criação de novas empresas, unindo a

experiência dos empresários da EdC com o entusiasmo das novas gerações e

relançando, assim, toda a EdC.(COMMISSIONE INTERNAZIONALE DI EDC,

2016)

Conforme colocado por um dos membros organizadores em um artigo

publicado no site da EdC:

EoC-IIN é uma realidade global que se exprime em forma de rede, para a

incubação de novas empresas com o espírito da comunhão, com nós(hub) presentes

em todos os continentes, que deverão oferecer diversos serviços no processo de

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incubação com a marca da gratuidade e reciprocidade. Objetivo fundamental desse

projeto é adquirir novos instrumentos para acompanhar melhor uma nova geração

de empresários e tantos outros que tem a vocação à economia de comunhão, porém

ainda não sabem.( FERUCCI, 2016, p.7)

Dessa forma, a rede, na prática, funciona com iniciativas e recursos locais

que se conectam para formar uma única realidade global. Cada país (nó) fornecerá

diversos serviços aos detentores de projetos de negócio, a partir de pontos fortes

de sua realidade como espaços de co-working, redes de tutoria, supervisão,

oficinas, estágios em empresas para jovens empresários, dentre outros. Por meio

da rede será realizado intercâmbio de recursos, conhecimento e pessoas, sendo os

Polos Empresariais, peças estratégicas.

A construção da rede teve inicio com duas etapas: a primeira foi a

concepção do projeto François Neveux (ou Operação um por um - 1+1 - na

América Latina), cujo objetivo é ligar jovens empreendedores com empresários da

primeira geração, de forma a dar-lhes apoio verdadeiro e contínuo, infundindo

confiança, mesmo antes de buscarem financiamentos e consultores, para que

possam superar as dificuldades que surgem durante a criação e desenvolvimento

de uma nova empresa.

O segundo elemento foi a organização de “incubadoras temporárias” de 15

dias que, a exemplo dessas estruturas de apoio a ideias empresariais, auxiliariam

alguns jovens na maturação de seus projetos de negócio. Uma “incubadora” no

Polo Lionello (Loppiano/Italia) e uma na África. No entanto, a experiência em

Loppiano e as discussões realizadas na Escola Interamericana que aconteceu no

Brasil, deixaram clara a necessidade de incubadoras reais. Dessa forma, a partir

de muitas discussões, concebeu-se a EoC IIN.

Em resumo, Alberto Ferrucci conclui sua participação no Relatório EdC

2014/2015 com as seguintes palavras:

Com nossas escolas e os novos projetos 1 + 1, a rede de incubadoras, de

associações nacionais e os projetos produtivos já ativos graças aos lucros das

empresas, (que estão crescendo mesmo se depois de 25 anos uma parte das

empresas fecharam seus negócios), queremos superar a emergência e olhar longe,

plantando sementes de comunhão que inevitavelmente crescerão.

Nós queremos fazê-lo através da formação de quem está à procura de um caminho,

e também ao lado daqueles que acreditam já o terem encontrado a fim de tornar

concretas e sustentáveis as atividades de trabalho que eles idealizaram. Podemos

agir de maneira a reforçar a autoestima deles, fazendo crescer a confiança no

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futuro, de modo que nasça neles o desejo de restituir, logo que possível, para os

outros a ajuda que receberam. (FERRUCCI, 2016)

A despeito de todo o otimismo, é preciso atentar ás mudanças ambientais,

descobrindo a melhor forma de agir, caso se queira que a EdC realmente torne-se

um projeto exitoso ao longo do tempo.

Devido à estreita correlação entre a EdC e outras práticas similares como

Economia Solidária e Economia Social, faz-se necessário um breve

esclarecimento quanto à distinção entre elas.

4.4.2. EdC, Economia Social, Economia Solidária e outras propostas similares

Torna-se relevante deixar claro que a EdC não se encontra isolada enquanto

forma alternativa para o sistema socioeconômico vigente. Outras experiências

estão presentes, inclusive assumindo um caráter religioso.

Um ponto importante para se esclarecer é que há uma discussão implícita

nos trabalhos sobre a EdC quanto à sua ligação com os termos economia solidária

e economia social, o que faz com que seja relevante definir a linha seguida por

esse projeto.

Caeiro (2008) entende que os conceitos que envolvem a economia social e a

economia solidária vêm sendo tratados quase como sinônimos. O conceito de

economia social teve sua origem na França no período da Revolução Francesa que

exaltava os ideais de liberdade, fraternidade e igualdade, o que permitiu o

surgimento de um movimento associativo, ligado ao proletariado e às associações

obreiras. Também nessa época, as cooperativas começam a dar os primeiros

passos. Atualmente, entende-se que o conceito de economia social seria o de um

conjunto de empreendimentos, juridicamente diversificados, com funções

diversas, mas que estão ligados por meio de uma ética comum baseada na

solidariedade e na prestação de serviços, sendo as cooperativas sua representação

mais genuína. A economia social ocupa um espaço no qual economia pública e a

privada não conseguem ou não pretendem atuar. (CAEIRO, 2008)

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De acordo com Culti (2004), a economia solidária é um termo cunhado para

designar um tipo de agir econômico que prioriza a solidariedade em contraste com

o individualismo competitivo, sendo uma alternativa econômica para

trabalhadores, em sua grande maioria, excluídos do mercado de trabalho. Dela

fazem parte organizações tanto urbanas como rurais que normalmente contam

com instituições apoiadoras. Esses empreendimentos têm como base a livre

associação, a colaboração e a autogestão. Eles utilizam a cooperativa como sua

forma de organização mais comum e são formados, principalmente, por

trabalhadores de baixa renda, pelos empobrecidos, por trabalhadores

subempregados, desempregados, bem como do mercado informal.

Morais (2008, p.8) apresenta três enfoques para a Economia Social - ES:

podem-se detectar três enfoques teóricos bem definidos: a) enfoque da “ES”, tido

como o mais antigo, mais consolidado e bastante divulgado e utilizado na Europa e

na América Latina; b) enfoque das organizações “NonProfit” e c) enfoque da

“economia solidária”, o mais recente e considerado por muitos autores como uma

derivação do enfoque da ‘ES’.

A experiência da EdC distingue-se da Economia Social uma vez que não

pretende suprir uma lacuna deixada pela iniciativa privada ou pelo estado. As

organizações que aderem à EdC , em sua maioria são empresas privadas, com fins

lucrativos e é o carisma da comunhão que as tornam agentes transformadores das

relações de produção.

Conforme Menegassi e Araújo (2013, p.57), algumas distinções podem ser

feitas entre EdC e Economia Solidária. Para elas enquanto a Economia Solidária é

um movimento de natureza política e trata-se de uma iniciativa dos trabalhadores

contra o capitalismo, a EdC foi concebida por uma proposta aceita por um grupo

de empresários que optaram por gerir suas empresas com base na “cultura da

partilha”. Outro aspecto está no fato de que a posse coletiva dos meios de

produção constitui uma das maiores expressões da Economia Solidária enquanto a

EdC não faz distinção do tipo de organização, tendo sua base em empresas

capitalistas. Outra importante diferença está no fundamento espiritual e

antropológico assumido e declarado pela EdC, o que não se encontra presente na

Economia Solidária.

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É importante enfatizar que a EdC não se encontra isolada enquanto forma

alternativa para o sistema socioeconômico vigente. Também, as práticas

gerenciais sugeridas ao empresário e que constituem a base da gestão de EdC, não

possuem nenhuma novidade quando nos referimos a outras ligadas à gestão de

pessoas, gestão participativa, responsabilidade social corporativas e tantas outras

boas práticas já tão propaladas no meio acadêmico e dos negócios. No entanto, a

maior diferença talvez esteja naquilo que move essas ações. A convicção de que o

homem está em primeiro lugar e o lucro, que vem como consequência, pode e

deve ser compartilhado com os mais necessitados.

Entre as experiências brasileiras de cunho religioso, está a dos Empresários

Cristãos que desde 1993 elaboraram uma proposta baseada no que chamam

deSociedade da Confiança, que alia o ideal cristão a um conceito apreendido por

meio de um artigo escrito pelo professor e empresário paulista Marcelo

VespoliTakaoca5, publicado na Folha de São Paulo em 2003. No referido artigo,

o autor cita um costume japonês milenar no qual uma rede social de informação

existente nas comunidades permite um processo de autoproteção na medida em

que as informações obtidas sobre uma pessoa ou organização são repassadas para

toda a comunidade e, também, para outras comunidades do país. Com isso,

promove-se a redução da criminalidade e de ações danosas à população por meio

de um controle realizado pelos próprios componentes da comunidade. Assim, os

idealizadores do movimento Empresário Cristão viram nessa forma de sociedade a

inspiração para a construção de um projeto que se baseia em:

Um sistema de adesão e participação espontâneas dos membros da comunidade; de

apoio à ação missionária nos lares e empresas; na adoção de práticas sociais,

comerciais e ambientais éticas e sustentáveis; e numa ação concreta para difundir

os meios pacíficos e alternativos de resolução de conflitos na sociedade, sempre em

consonância com os Valores Cristãos e as Leis vigentes no país. (EMPRESARIOS

CRISTÃOS, 2016)

Com o objetivo de contribuir para a adoção de boas práticas para uma

economia solidária e inclusiva, o movimento criou, em 2010, a ABEC -

Associação Brasileira de Empresários Cristãos. A Associação reúne um grupo de

5 Empresário, Engenheiro Civil, Mestre e Doutor em Engenharia Civil. Professor do MBA

de Real Estatedo POLI- Integra (Programa de Cursos de Extensão da Escola Politécnica).

Pesquisador do Núcleo de Real Estate da Escola Politécnica da USP.

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empresários e religiosos propondo a organização de uma Comunidade Cristã de

relacionamento sociocomercial. Assim, pretende reunir, em torno dos mesmos

princípios, profissionais liberais, empresários, moradores de condomínios,

consumidores de comunidades religiosas e qualquer um que comungue dos

mesmos valores, independente de sua crença, dispostos a contribuir para a

promoção de uma economia mais solidária, inclusiva e que promova o ser

humano.

Para exemplificar a atuação dessa comunidade de empresários, pode-se

citar o projeto Comunidades Solidárias, que envolve a organização Caritas e a

Pastoral Mundo do Trabalho e tem como objetivo transmitir os princípios da

sociedade da confiança pela cultura da paz, visando melhores relações

econômicas, éticas e sociais entre empresários e consumidores, em ambientes

suscetíveis a conflitos.

O movimento propõe que, a partir das igrejas existentes na região, sejam

identificadas as comunidades ao redor, como condomínios, organizações não

governamentais, empresas, escolas etc. As pessoas que fazem parte dessas

comunidades seriam os possíveis ‘pacificadores’ que agiriam como mediadores

em conflitos que surgem nas comunidades. A primeira ação do projeto é a

formação e certificação de ‘pacificadores’6 realizada pela PUC de São Paulo. A

segunda fase é a formação de uma rede social solidária que integre empresários e

consumidores estimulando um relacionamento sociocomercial ético e responsável,

a qual, no caso de conflitos, contará com o auxilio de ‘pacificadores’ mediando

uma solução baseada no diálogo.

Outro exemplo que pode ser citado é o movimento denominado

Empreendedores de Cristo. Eles se definem como: “um ministério sem fins

lucrativos, formado por empreendedores cristãos, que se submetem ao senhorio de

Jesus Cristo, reconhecendo que Deus é o verdadeiro dono do nosso negócio”. Sua

missão é: “Treinar e motivar os ‘empreendedores cristãos’ para administrarem

com temor e excelência, empreenderem de todo o coração para agradar ao Senhor

Jesus e não a homens, provendo assim recursos para a expansão do Reino de

6 Curso de Capacitação de Conciliadores e Mediadores Sociais. 1ª turma em 2014, PUC-SP.

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Deus.” A visão: “Alcançar todas as nações da Terra, motivando todos os

empreendedores impactados por esse ministério a se tornarem participantes

e patrocinadores da "Grande Comissão".” (EMPREENDEDORES DE CRISTO,

2016)

Tais iniciativas, apesar de possuírem objetivos finais similares à EdC

agem de forma visivelmente distinta.

Uma vez esclarecidas as diferenças entre os conceitos, o item seguinte irá

trazer algumas considerações relevantes sobre a relação entre a EdC e

Desenvolvimento Sustentável. Importa destacar, assim, o quanto as práticas e

pressupostos da EdC estão em consonância com as preocupações atuais sobre a

influência das organizações nesse processo de desenvolvimento, tão importante

para a sobrevivência em tempos vindouros.

4.4.3. EdC e desenvolvimento sustentável

De acordo com Santos (2011, p.81), a EdC posiciona-se ao lado das

propostas que possuem o desafio de uma visão da realidade em sua complexidade,

interdependência e intercorrelação que, atualmente, é evidenciada pelo conceito

de desenvolvimento sustentável.

O conceito de desenvolvimento, nos tempos atuais, vem sofrendo profundas

transformações, ocasionadas pelas mudanças macroeconômicas, e passou a se

basear nas noções de territorialidade e sustentabilidade.

Um conceito que envolve o desenvolvimento sustentável é o do Triple

BottomLineno qual o desenvolvimento se baseia no tripé social, ambiental e

econômico como mencionado no Capítulo 2.

Esse conceito destaca a interdependência existente entre as dimensões onde

é preciso redistribuir o poder entre diferentes atores como Estado, empresas e

terceiro setor, que por sua vez devem possuir um novo tipo de parceria. (SACHS,

2000).

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Dallabrida (2007, p.24) verifica em sua pesquisa que as empresas vinculadas

à EdC por ele estudadas, respeitadas suas limitações, demonstraram ser possível

ter empreendimentos capazes de tornar plausível a construção de uma sociedade

sustentável, em especial nas dimensões sociais, políticas, ecológico/ambientais e

institucionais.

Burckart (2002, p. 76-77) entende que a “cultura da partilha” do projeto de

EdC bem como o desenvolvimento sustentável, cada qual a sua maneira, são um

novo esforço em concretizar o sonho de construir uma sociedade justa e

igualitária.

Conforme afirma Santos sobre a EdC e a sustentabilidade econômica:

Para tal efeito a Economia de Comunhão com a ajuda de movimentos como os

Focolares poderá auxiliar nesta reconquista da sociedade, [...]A organização

perante a sociedade será vista com outros olhos, pois estará ajudando o

desenvolvimento da comunidade onde esta inserida, neste sentido, mudando

também a visão dos empregados, que por sua vez saberão que seu trabalho esta

contribuindo para o socorro de famílias que necessitam de auxilio.

O controle dessas doações poderá vir via cadastro dos contribuintes com a receita

federal de cada país, onde o Estado poderá saber onde estão sendo aplicados os

recursos por ele cedidos na comunidade.

Outro foco seria a contabilidade social com a governança corporativa, assim

todos (Governo, Empresa, Fornecedores e Contribuintes) poderão observar o fluxo

de capital destinado para as famílias.

Deste modo resgatamos os excluídos da sociedade, damos a ele a

oportunidade de voltar à economia e com tudo isto, criamos novos cidadãos

com um olhar para o próximo. [...] Os bancos por sua vez, poderão emprestar

valores a essas empresas, pois terão a certeza do recebimento, uma vez que

estão sendo realizadas as boas praticas de “Governança Corporativa Social” (se

assim podemos dizer). Com isto diminuímos as diferenças citadas neste

trabalho, a renda aumentará, pois teremos redução nos níveis de preços, e desta

forma aumentando o fluxo de capital circulante na região. (SANTOS, 2011,

p.137-138)

Entre as características do projeto EdC está a liberdade. Conforme ressalta

Zamagni (2011) a liberdade na EdC é a oportunidade concreta da pessoa em

encaminhar o próprio projeto de vida de modo coerente com seus valores,

inclusive no plano econômico.

Wolfe (1991, p.51-52) afirma que o desenvolvimento, nos níveis

econômico, político e social, se refere à possibilidade de escolher, ou seja, o

desenvolvimento humano é um processo de aumento da liberdade de escolha e

essas escolhas legitimariam ou não o desenvolvimento.

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Os princípios da EdC, sob essa perspectiva, vão ao encontro do ideal de

desenvolvimento sustentável uma vez que a ideia da liberdade e de criar

oportunidades para a inclusão social utilizando os meios de produção aumenta as

oportunidades individuais oferecidas às populações para fazerem escolhas e

exercer sua cidadania.(SEM, 2012, p.52)

Sendo um dos pressupostos desta pesquisa considerar que as empresas

aderentes à EdC formam uma rede, tanto no nível local quanto global, a seção a

seguir pretende apresentar algumas considerações oriundas de trabalhos

científicos que a envolvem com estudos sobre redes.

4.4.4. EdC e rede de empresas

Gold (1999) afirma que a EdC não teve repercussão somente nas empresas,

aumentando seu capital social, mas mudou a forma de conceber suas diversas

redes de relacionamentos formadas por fornecedores, clientes, governos e outras

empresas. Para ele, de um grupo de empresas espalhadas e aparentemente sem ter

nada em comum vêm surgindo novas redes em nível local e internacional que se

baseiam nos princípios da EdC. Tais empresas estão coligadas, inclusive com

outras que atuam em diferentes ramos de negócio, pondo em prática os mesmos

princípios e, concomitantemente, fazendo parte de um projeto que vai além de

cada iniciativa individual, “sendo como elos em uma rede global de pequenas,

mas significativas empresas.” (GOLD, 1999, p.92)

Ainda de acordo com o mesmo autor, dois tipos distintos de redes podem

ser identificados: as redes de sustento moral (formais e informais) que se

substanciam em encontros e contatos nos quais existe a possibilidade de se

reforçar as relações pessoais e discutir aspectos relativos à prática da EdC, e as

redes de contatos comerciais, em que as empresas manifestam a confiança

existente criando novos contatos comerciais entre si, não apenas com o objetivo

de aumentar a capacidade mas, também, para contribuir para o sucesso da

empresa, do outro e para o projeto de EdC. No entanto, as redes de contatos

comerciais ainda são incipientes.

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Os polos empresariais, por sua vez, oferecem a oportunidade para que todos

aqueles que tenham algum interesse pelo projeto possam participar ativamente

dele, de maneira prática, no longo prazo, ainda que numa medida

economicamente limitada. Eles são ponto de referência para os empresários do

país e podem promover as relações verticais e horizontais entre as empresas da

EdC ou com outras que não fazem parte do projeto, no âmbito local. Dessa

relação podem surgir novas empresas que apoiam os empreendimentos do próprio

polo, prestando serviços de consultoria e contabilidade, dentre outros. (EDC,

2016)

A dinâmica de inter-relação entre as empresas, tanto no âmbito local quanto

no global, pode produzir resultados duradouros e que exerçam influência sobre o

ambiente, modificando-o a favor das organizações que aderem ao projeto.

Marques, Melo e Nagano (2007, p.123) entendem que a formação de redes

de relacionamento entre as empresas ligadas ao projeto, mesmo que informais, é

fundamental para que ele seja viável, ou seja, para a sobrevivência e

desenvolvimento das empresas em um ambiente que não aceita seus pressupostos.

Assim,

A rede é o espaço no qual os atores (fornecedores, produtores, organizações de

pesquisa e clientes), a partir de suas atividades, competem e cooperam uns com os

outros, de forma a atingir os objetivos individuais e coletivos do projeto de EdC.

(MARQUES , MELO E NAGANO, 2007, p.123)

Os mesmos autores distinguiram as empresas do projeto de outras que

atuam em rede. As diferenças estão em que, além da divisão do lucro, é grande a

cooperação dentro do projeto, extrapolando fronteiras regionais ou nacionais. A

cooperação entre os elementos da rede, como a transferência de conhecimento

tecnológico empresa/empresa, dá-se de diversas formas, na maioria das vezes sem

contratos formais, que só acontecem em transações comerciais e de prestação de

serviço. Essas relações baseiam-se em confiança mútua.

Gonçalves (2009, p.85) entende que o projeto EdC “sugere uma troca ampla

de todo tipo de bens entre as mais variadas esferas, entre diferentes escalas e

diversas partes do mundo” o que justifica a utilização do conceito de redes para

tentar explicitar sua organização. A Figura 4 apresenta a constituição da EdC

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mundial em termo das instituições e instâncias envolvidas, ainda de acordo com

Gonçalves.

Figura 4 - Rede Mundial de EdC, segundo Gonçalves

Fonte: GONÇALVES, 2009, p.86

Para a autora, na rede mundial da EdC,embora aparentemente exista um

centro, a função da Comissão Central é de cunho administrativo e organizador e

está limitada ao aspecto financeiro de recolhimento dos lucros oriundos das

contribuições pessoais e das empresas, vindos de todo o mundo, assumindo uma

capilaridade entre os principais componentes da rede e dialogando constantemente

com eles. O processo de identificação e destinação dos recursos cabe às

Comissões Locais ou aos centros do Movimento dos Focolares, quando o local

ainda não possui Comissões de EdC.

Assim, as contribuições das empresas e as individuais alimentam as ações

formativas, o Instituto Sophia, mencionado no item 4.4, os projetos de

desenvolvimento espalhados pelo mundo, bem como as ações da Azione per um

Mondo Unito - AMU

É preciso levar em conta, no entanto, que a estrutura proposta por Gonçalves

não constitui propriamente uma rede nos moldes das descritas na literatura de

redes de empresas. Trata-se de um fluxo de recursos e, ainda, as entidades

formadoras são de naturezas diferentes, o que descaracteriza a estrutura como

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rede. No entanto, o esquema serve para auxiliar a identificar a dinâmica que

envolve o Movimento.

O Projeto EdC, atualmente, busca sua expansão, por meio da rede EoC IIN

como mencionado na seção 4.4.1. O caráter de rede fica patente quando se

percebe que o mecanismo utilizado para esse ‘relançamento’ do Projeto Economia

de Comunhão surge na forma de uma rede mundial de colaboração, a partir de

redes locais.

No entanto, o caráter reticular conferido à EdC é de uma rede peculiar. As

empresas fazem parte de um arranjo cujos objetivos principais não são meramente

materiais, como alcançar novos mercados, tornar a pesquisa e desenvolvimento

menos onerosos e outras vantagens da estratégia de formação de redes. Não que

tais vantagens não sejam interessantes, mas não constituem o fim último desse

arranjo que é a EdC.

Cabe notar, contudo, que essa estrutura também pode ser entendida a partir

do enfoque sociológico do estudo sobre redes que, de acordo com Carnaúba et al.

(2012), alicerça-se nas teorias de redes sociais e da imersão social e estrutural.

Também pode ser baseado na teoria de redes sociais conforme apresentado por

Martinho (2003). Sob essa perspectiva, a rede de empresas da EdC teria

características de uma rede social cujo modo de operação compreende a

participação voluntária, a autonomia e a diversidade. A dinâmica das ligações dá-

se de acordo com o desejo e interesse de cada componente, sendo, portanto, não

linear e imprevisível. O caráter da coesão é, justamente, o objetivo comum que

une as empresas enquanto aderentes ao Projeto EdC. Outro importante aspecto é a

confiança que brota do próprio ideal dos empresários que assumiram os

pressupostos do projeto.

As análises dos diferentes tipos de rede, em especial nas abordagens

apresentadas no Capítulo 2, levam a entender que a estrutura reticular formada

pelas empresas aderentes ao Projeto possui características que se assemelham em

alguns pontos às proposições teóricas e diferem em outros e, ainda, que a teoria da

Ecologia Organizacional proposta por Trist parece explicar melhor a concepção

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dessa estrutura, bem como contém elementos que a prepararão para enfrentar os

desafios propostos pelo ambiente no qual se insere.

A seção seguinte abordará a questão da EdC sob o foco da teoria da

Ecologia Organizacional, o que constitui um dos objetivos desta pesquisa.

4.4.5. EdC sob a perspectiva da Ecologia Organizacional

Considerando a abordagem socioecológica, acredita-se que o conjunto de

empresas e demais organizações ligadas à EdC guarda correlação com os

conceitos de ecossistema organizacional e domínios organizacionais. Esse

conjunto de organizações está inserido em um campo organizacional, cujas

interações entre os atores que o compõem acontecem em um ambiente com alto

grau de incerteza, e que lhe é antagônico se comparado com as práticas

mercadológicas e de gestão mais comuns. Portanto, se desejam sobreviver nesse

meio, essas organizações necessitam apoiarem-se mutuamente para poderem se

desenvolver, criando uma relação de colaboração.

As empresas de EdC estão inseridas em um campo em que as inter-relações

compõem um sistema que abrange todo seu escopo de atuação. Assim, essas

empresas, juntamente com as Comissões Locais, a Comissão Central

(Internacional), as Associações de EdC e demais empreendimentos, ongs,

organismos governamentais e religiosos, formam o ecossistema organizacional,

no qual compartilham um mesmo conjunto de decisões pertinentes à

responsabilidade social que a todas se impõe.

Assim, o campo de ação dos diferentes atores participantes desse grande

sistema pode ser entendido, no caso da EdC, como sendo o campo que extrapola o

conjunto organizacional, ou seja, o conjunto formado pelas empresas de EdC e as

demais organizações com as quais se relacionam diretamente. Ele incluiria, então,

outras organizações cujas relações com a EdC podem se dar de forma indireta.

Esse seria o que Trist (1983) chama de domínio organizacional desse ecossistema.

Os domínios são sistemas sociais funcionais que possuem algum tipo de

conexão com objetivos societais comuns. No caso da EdC, esses objetivos podem

ser a necessidade de reduzir a pobreza, promovendo a cultura da comunhão, e a

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devolução da dignidade ao ser humano por meio de sua integração na sociedade

produtiva. A preocupação societal que conecta os componentes desse domínio é,

justamente, a consecução desse objetivo e, devido ao seu caráter complexo e

multifacetado, possui as características de um meta-problema.

Também comungam de uma preocupação relativa ao desenvolvimento

sustentável, sem o qual o tecido socioeconômico tende à deterioração. Embora

nem sempre de forma consciente ou prática, esse ideal faz parte do instinto de

sobrevivência dessas organizações, sejam elas produtivas ou não.

Como definido por Trist (1983), os domínios possuem estruturas de

tamanhos variados que nem sempre são apropriadas às áreas do problema, o que

pode ser observado em relação ao domínio organizacional no qual se inserem as

empresas e demais organizações da EdC, quando se leva em conta as diferentes

condições socioeconômicas das diversas regiões de sua atuação.

Outra característica apontada é a existência de fronteiras. No caso da EdC,

tais fronteiras parecem ser bastante amplas, uma vez que o problema que une seus

componentes atinge a sociedade como um todo. Se os domínios, porém, ocupam

uma posição entre a simples organização e a sociedade, então o domínio

organizacional das empresas da EdC pode ser demarcado por preocupações locais

sobre as quais atuam diferentes organismos intermediários entre esses dois

extremos. Assim, o problema não seria observado apenas segundo o olhar da

empresa individualmente, nem do Estado como um todo, mas estaria sob a ótica

de um grupo de organizações intermediário com melhores chances de atuação. Ao

se levar em conta os meta-problemas, cujo foco se concentra na região periférica

da cidade de São Paulo, por exemplo, tem-se um conjunto de organizações que

estão unidas por preocupações comuns afetas à realidade particular em que estão

inseridas. Isso pode delinear um tipo de fronteira. A direção, ou seja, a

possibilidade de um domínio poder aproximar-se de outros domínios ou não, é

uma característica que pode ser detectada ao se considerar ser possível que um

domínio possa se aproximar de outros, ou até mesmo estar contido ou conter

outros domínios, em função do alargamento das situações problema que movem

as organizações.

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Quando se leva em conta as empresas da EdC, então, observa-se que,

embora exista um objetivo comum, cada domínio envolve a preocupação com

problemas societais referentes à realidade na qual estão inseridos. Diferentes

atores unem-se para buscar a solução de um determinado problema transformado

em projeto.

Como os domínios possuem caráter de rede, cada organismo que deles

fazem parte são considerado como um nó. Trata-se de uma rede colaborativa, o

que vem ao encontro da conduta apontada pela EdC.

Embora identificar um domínio não seja fácil e dependa de atos de

apreciação, pode-se depreender da análise apresentada nesta seção, que existe a

possibilidade de definir domínios organizacionais quando se trata do projeto de

EdC.

Pelo menos no caso do Brasil, o que se delineia é um tipo de domínio em

que todos os organismos estariam representados em uma organização de

referência, o que Trist denomina como ‘domínio de segundo tipo’, ou seja, um

domínio centrado em torno de organizações de referência e não com caráter de

‘rede pura’, como visto no item 2.2.1.

Não há, no entanto, uma organização de referência claramente identificada,

mas algo que possivelmente se aproximaria da definição proposta pela abordagem

socioecológica. Essa organização deve possuir as características de uma

organização de referência representativa, voluntária e emergente, que Trist (1976)

considera como a melhor forma de enfrentamento de turbulências, permitindo um

processo adaptativo contínuo e ativo, bem como favorecendo o estabelecimento

de um sistema de aprendizagem.

Segundo o membro da Comissão Central entrevistado, a EdC, como

qualquer movimento jovem, está em processo de formação e, portanto,

construindo, por meio de sua auto compreensão, como deve ser sua estrutura. A

linha até agora seguida é que a estrutura se mantenha a mais fluida e heterogênea

possível.

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Isso vem ao encontro das características necessárias para o desenvolvimento

dos domínios organizacionais, que devem permitir canais de comunicação fluidos,

e não hierarquizados.

Atuar no tecido socioeconômico de forma a modificá-lo com o fim último

de reduzir a pobreza em todos os níveis pode ser considerado um meta-problema,

que devido à sua própria natureza complexa e multifacetada, tem sua solução

dificultada por tarefas realizadas por apenas uma organização ou uma

multiorganização em que partes de cada organização engajam-se na solução dos

problemas, como mencionado anteriormente. Por esse motivo, para lidar com esse

tipo de problema recomenda-se o estabelecimento de um processo de reticulação.

Isso reforça a ideia de que se deve atentar para o reticulado organizacional da

EdC. Importante ressaltar que, no caso dos reticulados, os objetivos

intermediários de seus membros não têm que ser, necessariamente, os mesmos,

podendo ser complementares. Portanto, embora o intuito seja alcançar um

objetivo comum, cada organização pode auxiliar, alcançando um objetivo

específico, no cumprimento do objetivo geral ou até mesmo cada domínio, dentro

de seu escopo de atuação pode exercer esse papel complementar. Os mecanismos

integradores desse reticulado são relações voluntárias e informais fortalecidas por

meio de negociação.

Ora, a EdC baseia-se na liberdade. O empresário tem liberdade de agir

conforme sua consciência e valores, nada é imposto, tudo que se decide é feito por

meio de negociação e discussões e, portanto, privilegia o nível normativo. O

comportamento desse conjunto de organizações tem uma relação bastante estreita

com o reticulado, conforme definido pela teoria.

Pode-se dizer, então, que o reticulado de empresas da EdC é formado por

aquelas que fazem parte do projeto, sejam elas aderentes ou simpatizantes, as

Comissões Locais, a Comissão Central e as Associações Nacionais, em alguns

países.

Além dessas organizações, fazem parte desse reticulado outras ligadas ao

Movimento dos Focolares e ao próprio projeto da EdC, como as apresentadas no

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item 4.4.1. Estando as empresas localizadas em diversas partes do mundo, o

reticulado pode assumir caráter internacional, nacional, regional ou local.

Outro aspecto que muito interessa para o cumprimento dos objetivos deste

trabalho diz respeito à regulação do domínio. Para que a nova forma de agregação

organizacional possa ser eficaz, ela requer a presença de um planejador, ou seja,

um reticulista no caso de uma pessoa, ou agente reticulador se uma organização.

Esse agente deve poder mediar às relações entre os membros do reticulado,

criando vínculos e ativando o processo decisório, facilitando a apreciação do

problema e as relações políticas e organizacionais, bem como realizar a

observação contínua do ambiente e mobilizar recursos.

No caso do reticulado da EdC, as entidades que poderiam ser consideradas

como agentes reticuladores ainda não estão propriamente em evidência. No caso

da EdC no Brasil, ao que tudo indica, a estrutura tem evoluído para algo que

contemple uma organização de referência conforme descrita seção 2.2.

Quando a maior parte das empresas se concentrava nos polos, as Comissões

Locais de EdC e organizações como a ESPRI que atuam na regulação e gestão da

rede EdC nos polos, realizavam um papel que, pelo menos em parte, poderia ser o

de um agente reticulador (Item 2.2.1.1). No entanto, a expansão do movimento de

empresas fora dos polos e uma visão mais ampla da sua abrangência trouxe a

necessidade de uma nova forma de agir. Portanto, além dos gestores dos Polos,

Comissões de EdC e lideranças do movimento, as Associações também vêm

exercendo um tipo de regulação dessa estrutura ainda em formação. Assim, a

Associação, pelo menos no caso brasileiro, tem exercido o papel de agente

reticulador e regulador, em conjunto com as Comissões de EdC e, quem sabe,

venham a constituir uma futura organização de referência conforme será proposto

neste trabalho.

Uma vez caracterizado o Domínio Organizacional e o reticulado da EdC e

seus componentes à luz da Teoria da Ecologia Organizacional, o capítulo seguinte

irá utilizar os dados e observações colhidos pela pesquisadora para tentar delinear

o reticulado de empresas da EdC de forma mais concreta sugerindo, no decorrer

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da análise, possíveis caminhos de governança que levem a uma estrutura

sustentável, eficaz e eficiente.

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5 Análises e resultados

Esse capítulo apresenta, inicialmente, os resultados da pesquisa que

permitiram a caracterização das empresas pesquisadas quanto aos pressupostos

gerenciais da EdC, lançando uma luz sobre o quanto estão envolvidas com o

Projeto e como absorveram seus valores. Busca, ainda, descrever concretamente o

reticulado formado pelas diferentes organizações que comungam os mesmos

objetivos finais da EdC, pertencentes ao domínio organizacional aqui inicialmente

identificado. O capítulo sugere um modelo de estrutura reticular, bem como

elementos para sua governança, além de sugerir ações imediatas que possam

contribuir para encontrar uma forma ótima de ação conjunta para os membros do

reticulado, com vistas à consecução de seus objetivos.

5.1. As empresas pesquisadas e sua adesão à gestão EdC

Ao apresentar os resultados obtidos a partir do levantamento realizado por

meio dos questionários IIA e IIB anexos a este trabalho, buscou-se fazer uma

caracterização das empresas pesquisadas que levasse a uma melhor compreensão

acerca dos valores empresariais por elas adotados, explicitados na prática de

gestão contidas nos pressupostos gerenciais da EdC, conforme descrito na seção

4.4. Esses valores são bastante relevantes ao se levar em conta o quanto a

abordagem da Ecologia Organizacional privilegia o nível normativo, conforme

apresentado na seção 2.2.

Tais resultados também auxiliaram na análise dos dados, na medida em

que possibilitaram uma visão mais acurada do pensamento dos empresários e dos

trabalhadores, acerca da forma de gestão utilizada e de sua ligação com o Projeto

EdC e, portanto, de sua forma de pensar e agir em relação à questão central da

pesquisa.

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Sua análise leva a crer que, tanto do ponto de vista dos empresários como

dos trabalhadores entrevistados, as empresas, objeto da pesquisa, estão sendo

administradas segundo a maioria dos pressupostos gerenciais do Projeto EdC.

Do total de questionários respondidos, tanto empresários como

colaboradores foram unânimes em concordar plenamente quando a assertiva se

tratava dos pressupostos gerenciais ligados à: relacionamento com clientes,

fornecedores, financiadores, sociedade civil e sujeitos externos, espiritualidade e

ética e harmonia no ambiente de trabalho.

No que diz respeito às respostas dos colaboradores, verifica-se que, no

tocante à gestão participativa, à prática de avaliações interpessoais, divulgação

interna dos princípios da EdC e à prestação de contas aos funcionários e à

sociedade, nota-se que nem todos concordam com sua plena aplicação, no entanto

ninguém discordou. A maior parte concorda plenamente e os demais concordam

em parte.

No caso dos empresários, apenas os itens referentes à destinação dos lucros,

divulgação dos princípios da EdC, preocupação com o ambiente externo,

prestação de contas aos funcionários e a comunidade e colaboração solidária com

outras empresas, obtiveram respostas variadas.

Os resultados apresentados permitem supor que, pelo menos no que se

refere à compreensão da forma de gestão adotada, tanto empresários quanto

trabalhadores percebem uma gestão baseada em um comportamento ético e justo,

preocupado com o ambiente e bem estar dos trabalhadores e comunidade. No

entanto, pode-se depreender que a divulgação da EdC não constitui uma

preocupação para todos os empresários e que questões relativas a uma maior

aproximação com fins comerciais entre as empresas de EdC são pouco

consideradas.

É preciso não perder de vista que as empresas pesquisadas possuem um

número pequeno de colaboradores, o que os aproxima bastante entre sí e dos

gestores, tornando o fluxo de informações menos congestionado e, portanto,

permite uma persepção mais homogênia da situação.

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As entrevistas realizadas com os empresários, conforme roteiro apresentado

no Anexo III, embora tivessem como fim auxiliar na compreensão de como eles

interpretam a estrutura da EdC, as implicações de uma estrutura reticular,

fornecendo subsídios para a construção do modelo de estrutura proposto, possuem

alguns trechos que podem corroborar algumas das respostas apresentadas nos

questionários com relação ao pressuposto Comunicação, no que diz respeito aos

relacionamentos com outras empresas, inclusive as da EdC, e divulgação do

Projeto.

Esta semana etsá acontecendo um congresso de EdC em Lopiano e eles estão

repensando a EdC, então, tem alguns membros daqui que estão lá justamente para

tentar fortalecer esse relacionamento (entre as empresas), inclusive nós estamos

sem comunhão entre nós, então, a gente sentiu essa necessidade.(Empresário A)

Nesse sentido de aliança, cooperação, não, nunca pensei nisso. Não conheço muito

as outras empresas de EdC, é complicado.... a gente fica tão absorvido, eu sei que

não é desculpa, mas não tem como eu falar diferente disso. (Empresário B)

Como assim parceria? Ah! Não. Eu não chamo o que fazemos de parceria....na

realidade temos vínculos, mas o que agente faz, o que talvez agente possa chamar

de parceria, é indicar as empresas pros nosso clientes. Não penso em parcerias no

nível comercial, não consegui parar para pensar nisso. (Empresário C)

Nunca pensei em fazer parcerias com outras empresas (da EdC) e eu acho

importante. (Empresario F)

Eles (os clientes) não têm conhecimento que trabalho com a EdC porque são

negócios estritamente profissionais. Não é uma coisa que eu tenho que por a

camisa e ir lá. Eu vejo assim, se ele continuar a parceria é porque o

relacionamento está dando certo.(Empresario D)

Quanto à distribuição dos lucros, acredita-se que a porcentagem que aceitou

em parte a afirmativa B (pratica a divisão dos lucros conforme a EdC) considerou

o fato de não haver lucro em determinados períodos e, portanto, não ser

compartilhado. Entre os trechos das entrevistas pode-se citar:

[...]se você não tem como fazer a doação por um tempo, vai lá e faz a partilha do

que pode com Jesus no meio....mas de alguma forma tem que ter uma doação, não

sei qual forma, se de experiência, de dons... Eu nunca consegui fazer, ainda, 1/3

mas eu quero chegar lá. (Empresário C)

Eu coloco o que posso no planejamento do mês e tem que entrar ali e tá acabado.

Senão podemos acabar não fazendo. Nem sempre temos lucro, né? (Empresário A)

Cabe salientar que, com relação ao tempo de vida das empresas, a maioria

foi fundada a mais de 20 anos e algumas existem desde a criação do Projeto EdC.

Seis empresas aderiram na década de 1990 e quatro na década de 2000. Nota-se,

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pela idade das empresas, que boa parte possui mais de duas décadas no mercado e,

portanto, está ativa praticamente desde a concepção do projeto. Isso lhes confere

certa estabilidade, principalmente diante da crise econômica atual. Embora

tenham um comportamento distinto das empresas convencionais em alguns

pontos, têm se comportado de maneira similar perante o mercado, sujeitas aos

mesmos sabores e dissabores.

A seção a seguir buscará descrever o reticulado formado pelas empresas e

demais órgãos a elas ligados, do ponto de vista dos dados coletados.

5.2. O reticulado da EdC no Brasil

Conforme visto no item 4.4.5, a estrutura mínima que sustentava a EdC

tinha suas bases nas Comissões e nas empresas. Com o surgimento das

Associações em alguns países, esse arranjo vem sendo alterado. Devido à

peculiaridade da EdC, essas associações nem sempre constituem, propriamente,

entidades de classe ou seja, não representam apenas os interesses de seus

associados. A Associação brasileira, por exemplo, denomina-se Associação

Nacional por uma Economia de Comunhão, e representa todos os empresários da

EdC, e não apenas os associados. Além do mais, também podem ser associadas

organizações civis e pessoas físicas que se interessem em contribuir para o Projeto

EdC. Ora, embora alguns possam considerá-la como uma associação de empresas,

na prática, possui funções bem diversas das associações classistas.

Quando se faz a análise da estrutura da EdC, que, conforme salientou a

representante brasileira da Comissão Internacional de EdC, é fluida e heterogênea,

constata-se que não existe, propriamente, uma rede nos moldes tradicionais. Trata-

se, porém, de uma estrutura reticular na medida em que envolve a participação

difusa, mas interligada, de diferentes organizações buscando um objetivo comum.

Tem-se um reticulado que se encaixa nos moldes da Ecologia Organizacional

discutida na seção 4.4.5. Tal reticulado é composto pelas empresas de EdC, pela

Comissão Central (é preciso não perder de vista que a Comissão Central é de

cunho internacional e se confunde com a Associação Internacional), pelas

Comissões Locais e por todas as organizações que, de uma forma ou de outra, se

ligam a ele para auxiliar no alcance de seus objetivos geral e específicos.

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No que diz respeito à relação da Comissão Central com as Comissões

Locais, a representante brasileira na Comissão Central entende serum processo

‘dialógico’ que procura dar às Comissões Locais o máximo de autonomia para

que possam desenvolver, anunciar e fazer crescer a comunhão. É um tipo de

“autonomia relacional, não de independência”. (REPRESENTANTE

BRASILEIRO DA COMISSÃO CENTRAL DA EDC)

A julgar por essa fala, a relação entre a Comissão Central e as Comissões

Locais dos vários países onde atua a EdC é baseada em negociação,

empoderamento e interdependência, o que a aproxima do tipo necessário para o

desenvolvimento de um reticulado.

No que se refere ao relacionamento interempresarial, esse ainda pode ser

considerado relativamente tímido, calcado tão somente em algumas relações

cliente fornecedor ou enquanto membros de um movimento. Portanto, ele se dá de

forma mais direta quando os empresários se encontram em seminários, congresso

e outros eventos patrocinados pelo movimento, geralmente nas Mariápolis

permanentes, e em relações comerciais em que uma empresa fornece serviços ou

matéria prima para outra. Durante os encontros, pode haver trocas de experiências

e até mesmo surgirem novos negócios, porém, nada é direcionado propositalmente

para isso. Fica claro que as empresas do reticulado precisam de um maior grau de

conexão.

No tocante ao relacionamento das empresas com as Comissões de EdC e

com a Associação, pode-se dizer que as primeiras possuem alguma relação com as

Comissões Locais e uma relação um pouco mais estreita com a Associação

Nacional, porém bem aquém do desejado. Embora o trabalho da Associação esteja

em torno das empresas, os empresários parecem ainda não ter noção da verdadeira

dimensão dessa relação.

Já a relação da Associação com as Comissões Locais é, de acordo com a

Diretora da ANPECOM, antes de tudo, um vínculo moral, uma vez que fazem

parte de uma mesma rede. Atualmente, não existe uma Comissão Nacional, mas

apenas Comissões Locais. Assim, a Associação assume o papel de agente

articulador nacional dessas Comissões. No final de 2015, as Comissões Locais

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elegeram três representantes para formarem um grupo que se responsabilizou pela

gestão das Comissões no nível nacional. Esse grupo está em estreita relação com a

Associação.

A representante brasileira da EdC na Comissão Central (que se confunde

com a Associação Internacional) considera o formato brasileiro de relacionamento

entre as Comissões Locais e a Associação o melhor dos já estabelecidos no âmbito

mundial, considerando que nem todas as Associações agem da mesma forma.

O papel da Associação, no Brasil,não está totalmente claro, tanto no que se

refere à sua atuação perante as empresas, quanto ao movimento como um todo.

Vale a pena ressaltar que, em sua origem, a ANPECOM confundia-se com as

Comissões Locais, uma vez que alguns de seus membros pertenciam às duas

entidades. Na verdade, ainda se confunde, pelo menos na visão de alguns

empresários, o que acaba por não deixar muito clara a relação entre as empresas e

a Comissões Locais, na medida em que há essa confusão de papéis.

Uma importante observação feita pelo membro brasileiro da Comissão

Central quanto à participação das Associações Nacionais no Projeto EdC como

um todo, enfatiza o cuidado que é preciso ter no que se refere ao papel por elas

desempenhado. Assim, segundo suas próprias palavras:

Uma Associação tem por finalidade responder aos associados. Agora, como uma

entidade que tem que responder aos associados e é gerida somente pelos associados

pode coordenar um movimento que contém não apenas os associados? [...] A

Associação deve encontrar um modo de ser útil à EdC em seu complexo, no seu

conjunto de ações, de articulações, mas também deve devolver ao associado algum

tipo de benefício.

Verifica-se, então, que o papel das Associações ainda não está claro e que a

atuação da Associação no Brasil caminha para uma dimensão muito mais

abrangente. De fato, enquanto uma associação de empresas, a ANPECOM teria

um escopo limitado de ação, porém, ficará claro, no decorrer desta seção, que o

que se denomina Associação não é uma associação classista, mas um organismo

cuja estrutura abrange um papel muito mais complexo que o da simples

Associação de empresas como mencionado anteriormente.

Segundo informa a Diretoria atual da Associação, essa gestão assumiu o

compromisso de tornar a distinção entre a Associação e as Comissões mais clara e

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de iniciar um novo processo de construção de uma linguagem que permita a

comunicação com todas as iniciativas similares à EdC. Para tanto, afirma a

Diretora “iniciamos a universalização da linguagem e a institucionalização e

profissionalização da Associação”. (DIRETORA DA ANPECOM)

Analisando as atividades realizadas atualmente pela Associação brasileira,

verifica-se que sua função vem evoluindo com o tempo, de acordo com as

necessidades contingenciais.

Conforme afirma a presidente da Associação:

A atuação da ANPECOM, agora, nesse tempo de aproximadamente onze anos de

sua fundação, está centralizada no sentido de articular os atores e os sujeitos que

participam e estão envolvidos com a Economia de Comunhão no Brasil.

Para ela, essa articulação dá-se em várias frentes: na organização de

eventos, no tratamento das estratégias de desenvolvimento da EdC nas

comunidades locais - uma vez que a EdC acontece nas comunidades locais - e

também, na tentativa de pensar os modos de governança para essa rede de

relacionamentos.

Parece clara a intenção de levar a Associação Nacional para um caminho

que a aproxima, cada vez mais, de uma organização de referência, conforme

descrita no Capítulo 2, em sua seção 2.2.

Embora se entenda que o papel da ANPECOM está em processo de

definição, pôde-se observar durante a pesquisa, que essa Associação encontra-se

vulnerável, justamente no que diz respeito à atividade de promover o

desenvolvimento das empresas já consolidadas de forma mais estruturada.

A visão dos empresários em relação à Associação pode ser entendida com

base em algumas de suas declarações:

A ANPECOM é a representação mais externa das empresas da EdC. Ela é leiga né,

ela representa as empresas e não os empresários. E a ANPECOM também tem esse

motivo aí, auxiliar, inclusive, as comissões locais. Tem representante no conselho

dela. Também como entidade jurídica pode captar recursos etc. Importante é ter

uma organização que mantenha a rede coesa, seguindo os mesmos objetivos e ser

fiel ao carisma. (Empresário A)

Sou associada. A ANPECOM, ela tá caminhando, ela é bastante ativa, está sempre

comunicando a gente os últimos acontecimentos sobre a EdC. Isso ativa na gente

aquele senso que fez o início de tudo. (Empresário B)

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Olha, vejo a ANPECOM hoje..., do ano retrasado pra cá, como base das empresas.

Eu vejo como fonte de informações. É ali que você vai buscar informações que

você precisa. (Empresário C)

Dá pra ver que está nascendo uma rede. Nós temos uma coisa chamada

ANPECOM do qual eu fui um dos fundadores. A ideia era formar um organismo

que ajude as empresas de várias formas, principalmente no âmbito do meio civil.

Agora, você tá no mundo, então é muito claro o toma lá dá cá, o que a ANPECOM

faz pra minha empresa: nada? Então eu não vou ser sócio. Então a gente tem que

ter lá (na Associação) um gerente executivo que visite a gente, que vê o que você tá

precisando. (Empresário D)

Tá tudo muito recente ainda, acho que as coisas vão se ajeitar com o tempo. A

ANPECOM está no caminho. (Empresário F)

Hoje é um dos objetivos da ANPECOM ter um olhar especial para os dois polos

brasileiros. (Empresário J)

Percebe-se que os empresários entrevistados, em sua maioria, não

demonstraram ter uma visão muito clara do que a Associação pode fazer, como

mencionado anteriormente. Todos a entendem como uma forma de aproximar a

EdC da sociedade civil e como fonte de informação, mas poucos enxergam muito

além disso.

É preciso lembrar que também figura entre as organizações que exercem um

cunho regulador, a ESPRI, empresa que gerencia o Polo Spartaco, conforme

apresentado na seção 4.4, e que vem discutindo e repensando sua atuação. Embora

sua abrangência se concentre na gestão do polo, a ESPRI S.A., enquanto empresa,

participa ativamente das discussões que envolvem a EdC, por meio de seu

representante.

Conforme palavras do Diretor Administrativo da ESPRI:

A ESPRI é uma sociedade anônima que nasceu em 1994 para atender uma das

propostas da Chiara Lubich que, em 1991, lançou essa ideia, que nós chamamos de

Projeto da Economia de Comunhão. A ESPRI, então, nasceu como uma Sociedade

Anônima, que hoje deve ter cerca de quatro mil acionistas, pois foi a maneira que

os estudiosos na época encontraram para que as pessoas que quisessem responder

ou dar sua contribuição para a ideia de Chiara pudessem fazê-lo. Nem todos tem

vocação, carisma, dom ou perfil para ser um empreendedor, mas queriam

contribuir. Então a ESPRI nasceu para canalizar essa vontade de milhares de

pessoas em todo o território nacional que queriam fazer comunhão de algum bem

que possuíam.

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A ESPRI é a responsável pela criação e gestão do Polo Spartaco, primeiro

polo empresarial de uma Mariápolis, adquirindo um terreno e construindo galpões

que abrigariam as empresas criadas para levar a termo o projeto EdC.

As empresas inseridas no polo têm o desafio de, não só fazerem a distribuição dos

lucros segundo o projeto, mas de, entre elas, desenvolverem uma experiência de

Comunhão. Comunhão entre os empresários, entre os funcionários das empresas e

com a comunidade ao redor. (DIRETOR DA ESPRI)

De acordo com seu Diretor Administrativo, recentemente a ESPRI vem

passando por um processo de diagnóstico de sua performance, sendo auxiliada por

um grupo de especialistas em diferentes áreas como contabilidade, finanças,

gestão, direito, em parceria com a ANPECOM. Questiona-se se sua identidade

jurídica está apropriada para atender as necessidades desses novos tempos. Nas

palavras do Diretor Administrativo da ESPRI:

[...] nós queremos passar a limpo, com eles (especialistas) e o Conselho da ESPRI,

a nossa visão e os desafios e dificuldade que enfrentamos e aquilo que já

conseguimos realizar, verificando se devemos continuar nesse caminho ou, até

mesmo, repensar a natureza jurídica da empresa.

É relevante notar que a ideia de se criar uma Associação nasceu em um dos

worshops realizados no Polo Spartaco, organizado pela ESPRI.

Nota-se que existe um movimento de auto-avaliação e de contínuo

aprendizado que pode levar a diferentes resultados no que diz respeito à estrutura

reticular da EdC. Esse modo de operar intuitivo, guarda correlação com alguns

aspectos do Planejamento Adaptativo que busca mudanças por meio de avaliações

contínuas que corrijam a trajetória seguida.

Importante ter em mente que, dentro do próprio movimento, existe um

cuidado no sentido de evitar que a EdC perca seu caráter universal de comunhão.

Ou seja, o que deve motivar o empresário a aderir à EdC não é algum tipo de

ganho ou vantagem, mas a necessidade de viver a comunhão por meio de seus

negócios. Isso, no entanto, não pode privar as empresas de certos benefícios

oriundos da própria forma de comportamento gerencial que assumem ao fazer

parte do Projeto como seu capital social e o sentimento de confiança que permeia

o reticulado.

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De fato, investir em novos negócios e fomentar a participação da juventude,

como indicam os projetos EdC IIN e 1+1 mencionados na seção 4.4.1, é

fundamental para a continuidade do projeto, porém, não se deve perder de vista

que os negócios consolidados precisam ser apoiados.

Muitas ações de comunhão já são realizadas, mesmo que de forma não

sistemática, e existe o compartilhamento de expertise, tecnologia e até mesmo de

recursos. Mas isso é feito de forma espontânea, sem intensão deliberada. Esse

comportamento ético, honesto e baseado na comunhão é uma riqueza não

contabilizada que, nos dias atuais, é extremamente importante caso se deseje

formar um reticulado capaz de resolver macroproblemas.

Ora, para que o reticulado da EdC possa existir, as empresas precisam se

fortalecer e sobreviver às dificuldades impostas pelo ambiente. Não adianta criar

novos negócios se a taxa de mortalidade das empresas for grande. O fomentar o

empreendedorismo deve vir acompanhado de uma forma de auxiliar que os

empreendimentos, após consolidados, venham a se desenvolver e progredir.

Neste ponto, algumas ações no sentido de promover um maior número de

relações comerciais entre as empresas de EdC devem ser pensadas e articuladas.

Observa-se que existem alguns canais de comunicação entre as empresas,

mas que estão subutilizados. De acordo com a observação do Diretor da ESPRI,

muitas das empresas de EdC são pequenas, familiares e possuem uma visão do

seu negócio muito limitada. Os polos têm procurado superar isso no que diz

respeito às empresas neles localizadas.

Em seu depoimento, o Diretor da ESPRI comenta que existem muitas

experiências de comunhão entre as empresas, citando como exemplo o que está

acontecendo em Londrina. Alguns empresários de diferentes negócios têm

colocado em comunhão suas experiências.

Independentes de seu tipo de negócio, são empresários, assim, um é de uma

distribuidora de veículos, o outro de uma lavanderia, outro de uma padaria, um tem

uma rede de óticas... então, aparentemente, o que me interessa eu como padeiro ter

um contato com um cara que tem uma rede de óticas? Mas como a EdC se sustenta

em valores, você entendeu né, em um modo novo de procurar se relacionar com

fornecedores, clientes, entendeu, então tem muita coisa a aprender com o outro.

(DIRETOR ADMINISTRATIVO DA ESPRI)

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Mais uma vez, embora de grande importância, essas ações surgem

espontaneamente, apontando para um desejo por parte dos empresários de estarem

mais conectados.

Destaca-se que os empresários, ao pensarem em recorrer a empresas no

mercado, não levam em conta o fato de pertencerem ou não ao movimento. Essa

atitude não significa, propriamente, algo prejudicial, mas pode dificultar as

relações interempresariais, no caso dos ideais e valores não serem semelhantes.

Um dos empresários relatou que, em um dado momento, pensou em ter um sócio

que pudesse investir na empresa e, mais que isso, dividisse a responsabilidade de

gestão, ‘pondo a mão na massa’. Porém, ponderou o fato de como os empresários

iriam entender algumas opções gerenciais adotadas por ele devidas à EdC.

Conforme suas palavras:

[...] No ápice da crise eu cheguei a pensar na possibilidade de um sócio. Sócio

mesmo, em investimentos, mas que não viesse só com dinheiro, mas com trabalho,

participativo, alguém que agregasse valor, volume de trabalho, pra empresa, que

abrisse mercado, que abrisse um canal, mas ai tive medo. [...] porque, eu falei,

como vou explicar pra ele essa retirada (para a EdC), a atuação da EdC, essa

primazia no relacionamento etc., achei difícil. Eu tinha pensado fora, nunca me

passou pela cabeça alguma empresa da EdC.

Em nenhum momento lhe ocorreu que poderia procurar entre os membros

da EdC alguém para esse papel, mesmo que vindo de outra região. Isso pode

parecer estranho, mas em uma análise mais acurada nota-se que o empresário em

questão não possui uma visão colaborativa do ponto de vista do negócio, enquanto

transação, quando pensa na EdC.

No entanto, não se pode perder de vista que as experiências de comunhão

entre as empresas acontecem e trazem ganhos que muitas vezes atingem toda uma

região.

Apenas exemplificando, vale mencionar uma experiência vivenciada entre o

Polo Gineta e o Polo Spartaco, citada pelo Diretor Administrativo da ESPRI.

Quando da sua fundação, o Polo Spartaco localizou-se próximo à Mariápolis

Gineta, onde ainda se encontra atualmente. A região, no entanto, era de economia

eminentemente agrícola e, portanto, possuía uma rede elétrica precária, não havia

serviço de telefonia, ou seja, possuía uma infraestrutura tecnológica mínima que

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não poderia atender, a contento, as empresas. Em especial com relação ao

desenvolvimento dos recursos digitais como a Internet, por exemplo, havia uma

grande deficiência. Há relativamente pouco tempo o Polo Spartaco tinha acesso a

uma internet discada ‘sofrível’. No Polo Gineta, um engenheiro eletricista

desenvolveu um sistema de captação de sinal para Internet e, sabedor da

dificuldade atravessada pelo Polo Spartaco, ofereceu-se para auxiliá-los. Foi

convidado a passar um período em São Paulo e conseguiu uma solução melhor

para o problema, obtendo um sinal mais potente e a um custo bem menor que o

anterior. (DIRETOR ADMISTRATIVO DA ESPRI)

Esta seção pretendeu lançar uma luz sobre a situação na qual se encontra o

reticulado da EdC no Brasil. A seguir, com base neste diagnóstico, nas teorias

apresentadas e na observação da autora, será apresentada uma proposta para o

reticulado, complementada por sugestões que levem a uma melhor atuação

conjunta de seus componentes.

5.3. Elementos para uma proposta de ação conjunta paraas organizações da EdC

Esta tese propõe que, sob a perspectiva da Ecologia Organizacional, pode-se

delinear o esboço de uma proposta de atuação conjunta entre as empresas do

reticulado EdC no Brasil.

Como já mencionado, algumas estruturas pertencentes à EdC exercem

funções que as aproximam daquelas assumidas por um agente reticulador. Vale

destacar que, a partir do momento em que o projeto EdC foi concebido, vários

pessoas iniciaram um processo de formação de redes, reunindo pessoas e

entidades, com o objetivo de tornar realidade a proposta de Chiara. Com a criação

de empresas dentro e fora dos Polos, esse processo atingiu outro patamar,

envolvendo um escopo de atuação mais abrangente. A rede assume uma dimensão

organizacional, ensejando a necessidade de um agente reticulador que possa

articular formalmente a construção desse reticulado de organizações, de forma a

atingir o objetivo comum de seus membros e enfrentar a turbulência do ambiente

na qual está inserida. Não se trata de uma tarefa com princípio meio e fim, mas de

um processo em contínuo desenvolvimento. A Comissão Central, as Comissões

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Locais e, a partir de sua criação, as gestoras dos Polos, exerciam um papel

reticulador, porém houve a necessidade de criar entidades que respondessem

juridicamente pela EdC perante a sociedade. Para tanto foram criadas as

Associações Nacionais por uma Economia de Comunhão, agregando mais um

organismo para realizar essa tarefa, dentre outras.

Observa-se, então, que a evolução do processo de reticulação da EdC levou

a um reticulado constituído pelas empresas de EdC, as Comissões de EdC, a

Associação e demais organizações ligadas a EdC ou não, que compartilham um

objetivo comum como já mencionado no item 4.4.5.

No entanto, é preciso que todo esse processo seja consolidado e entendido,

tornando claro o papel de cada membro na consecução do objetivo comum.

Estudar a melhor forma de agir e qual o papel a ser assumido pela ANPECOM,

pelas Comissões e pelas empresas é um desafio que está posto e que é do

conhecimento de muitos dos envolvidos. O que é preciso, então, é definir papéis

de forma a auxiliar na definição dessa estrutura em formação.

Apresenta-se, aqui, uma proposta inicial de estrutura, delimitando alguns

papeis, como um primeiro passo dessa tarefa.

Trist (1976) afirma que, para poder enfrentar a complexidade, a

interdependência e a incerteza que caracterizam o ambiente do mundo emergente,

é necessário um compromisso de colaboração entre os atores. Dessa forma, o

processo é mais importante que o plano e o aprendizado mais crítico do que os

resultados. Cada novo passo, sempre levando em conta a situação ambiental,

fornece o ponto de partida para o passo seguinte. É preciso um comportamento

proativo que leve à mudança desejada e não apenas reativo, diante do inevitável,

ou ‘preativo’, que procura prever o que acontecerá para poder reagir de acordo.

A EdC propõe uma mudança de comportamento, de valores e, portanto,

requer um comportamento proativo, que conduza a essa mudança. Ao mesmo

tempo, pretende agir em um ambiente turbulento e resistente a mudanças. Para

tanto, necessita de uma estrutura que permita uma contínua evolução, que só pode

se dar por meio de um aprendizado contínuo, de uma ordem negociada e do

envolvimento nos níveis individual, organizacional e social.

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A Figura 5 mostra os elementos propostos como componentes do reticulado

EdC no Brasil e suas inter-relações.

Compõem a estrutura as empresas, representadas por círculos, as

Comissões, que são hexágonos, as organizações não empresariais pertencentes à

EdC, representadas por um trapézio e as organizações não pertencentes à EdC,

como losangos. Duas estruturas maiores delimitadas por linhas pontilhadas

representam os Polos e a Organização de Referência.

Embora haja apenas um polo representado, esta estrutura não é única, ao

contrário da Organização de Referência. Outros polos podem surgir como parte do

reticulado, mas sugere-se apenas uma Organização de Referência, evitando

polarizações indesejadas que podem gerar conflitos, bem como distúrbios

oriundos de diferentes linhas de ação e direção.

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Figura 5 - Proposta de estrutura para o reticulado EdC no Brasil

Fonte: Elaborado pela autora

Observa-se que a Organização de Referência é formada por uma

organização gestora em conjunto com as Comissões Locais. Essa organização

gestora deve conter representantes de todos os membros do reticulado. Os

símbolos que representam as Comissões Locais estão pontilhados, quando

apresentados como integrantes da Organização de Referência, uma vez que não

são meras seções ou representantes da Organização Gestora no tecido do domínio,

E

E

E

E

E

E E

POLO

EE

ORGANIZAÇÃO

GESTORA

CL

EdC

CL

EdC

CL

EdC

CL

EdC

ORGANIZAÇÃO DE REFERÊNCIA

CL EdC

EORG

NÃO LIGADA À EDC

CL EdC

COMISSÃO CENTRAL

ORG

NÃO LIGADA À EDC

ORG

NÃO LIGADA À EDC

LEGENDAEmpresas

Gestora do Polo

Comissõesde EdC

Organizações não ligadasà EdC

Organizações não empresariais pertencentes à EdC

Relações fundamentais

Relaçõesnecessárias

RelaçõesConvenientes

Relações coma ComissãoCentral

Relações com org. não empresariais ligadas à EdC

ORGLIGADA À

EDC

ORGLIGADA À

EDC

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e sim, exercem suas atividades, com determinada autonomia, dispersa no interior

do domínio. Portanto, é lá que possuem uma representação sólida. Essa proposta

manteve o modus operandi atual de prospecção de necessidades locais e sugestão

de projetos, no que se refere à atuação das Comissões Locais.

Os polos possuem uma estrutura de gestão específica, muito embora exista a

estrutura gestora da Organização de Referência. Optou-se por essa estratégia

tendo em vista as características de um polo produtivo que requer uma atenção

mais específica. No entanto, a gestora do Polo deve agir em consonância com a

Organização de Referência.

Todas as setas representam relações de mão dupla, ou seja, de reciprocidade.

As setas tracejadas representam as relações entre as empresas e a Organização de

Referência e são consideradas fundamentais para o funcionamento do reticulado.

As setas mais espessas e com ponta mais grossa mostram as relações entre as

empresas da EdC e são consideradas como sendo necessárias, devido à sua

importância. As empresas necessitam, pelo menos, conhecer umas às outras de

forma a poderem cogitar estratégias de colaboração e negócios conjuntos.

As setas de pontas abertas indicam a comunicação entre as Comissões

Locais e a Comissão Central. No caso da relação entre as empresas e a Comissão

Central a seta é pontilhada indicando uma prática ocasional, mas, possível de

acontecer. Já as relações entre as empresas e as Comissões Locais são

consideradas desejáveis. As setas com pontas circulares indicam relações com

organizações que não fazem parte da EdC e que existem devido à conveniência,

tanto para a empresa individualmente quanto para o reticulado. Já as pontilhadas

traço, ponto e ponto, indicam trocas com as organizações pertencentes à EdC de

naturezas diversas.

Complementando o esquema da Figura 5, são propostas, no Quadro 8,

algumas funções fundamentais para cada membro do reticulado.

As funções elencadas no Quadro 8 são básicas e podem ser alteradas tendo

em vista o caráter dinâmico que é necessário para estruturas flexíveis. Não se deve

perder de vista, no entanto, o princípio da subsidiariedade de forma a evitar

interferências advindas de organismos de ordem superior.

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Quadro 8 - Atribuições básicas dos membros do reticulado

Organizações Funções

Organização de

Referência

Regulação – Nesse caso, trata-se de uma forma mínimaque

permita a maior flexibilidade possível. Porém deve conter:

o Estabelecimento de regras básicas

o Estabelecimento de critérios para delimitação de

fronteiras

o Manutenção dos valores dos quais derivam os

objetivo comuns e que serão a base para as decisões

consensuais do domínio

o Definir as direções do domínio

o Atuar na resolução de conflitos

o Auxiliar nas transações de cooperação e alianças

Apreciação – Essa função requer a observação contínua do

ambiente e a avaliação de todos os resultados obtidos

detectando a necessidade de mudanças.

o Promover um Planejamento Adaptativo

Mobilização de recursos

o Infraestrutura básica

o Informação

o Desenvolvimento de redes externas de apoio

o Representação legal

Promover a integração entre os membros do reticulado

Fortalecer os canais de comunicação interempresariais,

facilitando os fluxos de negócio dentro do reticulado.

Executar ações que auxiliem as empresas na gestão do

negócio

Prospectar e incentivar novos empreendimentos

Auxiliar na difusão do ideal da EdC

Apoiar projetos e iniciativas e ações com objetivo de reduzir

a pobreza e criar uma nova cultura mais fraterna e equânime

Estar sempre em consonância com a Comissão Central de

EdC

Gestoras dos Polos Realizar as atividades de gestão afetasao Polo como:

Administrar, coordenar, avaliar e controlar as atividades

internas do Polo

Prospectar novos entrantes

Participar, em conjunto com a Organização de Referência

das decisões ligadas ao Domínio

Atuar em ações para a melhoria dos processos de gestão das

empresas dos polos

Empresas Estarem abertas às ações promovidas pela Organização de

Referência e Gestora dos Polos

Participar ativamente das decisões sobre o alcance dos

objetivos do Domínio

Buscarsempre informações que levem o reticulado a atingir

seus objetivos

Divulgar a cultura da gestão adotada pela EdC

Fornecer informações importantes para o desenvolvimento

dos objetivos do domínio.

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Organizações Funções

Comissões Locais Atuar no tecido do domínio e fora dele na prospecção de

necessidades ede projetos que visem a melhoria das

condições de vida dentro do Domínio

Agir em comunhão com organização Gestora de forma a

compor a Organização de Referência, em especial dividindo

com ela a função de delimitação de fronteiras.

Acompanhar o desenvolvimento, evolução e concretização

da EdC nos locais onde atuam.

Comissão Central Instância final da tomada de decisões

Gerir a EdC no nível mundial

Organizações não

empresariais que fazem

parte da EdC

Atuar como membros provisórios ou permanentes do

reticulado sempre que houver necessidade de se atingir

determinado objetivo conjunto

Atuar como consultorias

Organizações não

pertencentes à EdC

Atuar como membros provisórios ou permanentes do

reticulado sempre que houver necessidade de se atingir

determinado objetivo conjunto

Atuar como parceiras

Atuar como consultoria

Fonte: Elaborado pela autora

Importante ressaltar que está sendo proposto um estilo de planejamento para

o domínio nos moldes do Planejamento Adaptativo. É necessário assumir um

papel ativo e isso significa intervir no ambiente. Para isso, é preciso que haja um

tipo de planejamento cujos efeitos dos planos de execução sejam continuamente

descobertos e avaliados permitindo a mudança apropriada. O Planejamento

Adaptativo, aliado ao método de pesquisa-ação, conforme visto no Capítulo 2,é

proposto por Trist (1976) e faz parte da concepção de atuação conjunta sugerida

por este trabalho.

É preciso enfatizar que é no nível normativo que se concentra a origem das

decisões. Manter vivos os valores defendidos pela EdC é fundamental, bem como

a capacidade de estar continuamente em processo de avaliação e abertos a

mudanças, aprendendo com a prática cotidiana.

Dentre as metodologias de Planejamento Adaptativo, sugere-se o

Incrementalismo Articulado, proposto por Melo (1977), visto na Seção 2.3, que

considera mudanças incrementais com implicações radicais e que se utiliza da

pesquisa-ação para entender as mudanças e as maneiras de provocá-las,

promovendo uma adaptação ativa.

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O reticulado aqui apresentado possui uma estrutura dinâmica. À medida que

se fizer necessário, componentes podem ser acrescentados ou desvinculados.

Assim, sempre que houver um novo objetivo intermediário a ser alcançado, é

preciso buscar entre os componentes do Domínio Organizacional aqueles que

poderão vir a complementar o reticulado, mesmo que de forma momentânea, até

que se atinja o resultado almejado, o que significa envolver organizações não

ligadas à EdC, mas que comungam dos mesmos objetivos, tais como ongs,

organizações governamentais, religiosas e outras empresas. A função de aglutinar

e gerenciar essas relações caberia à Organização de Referência.

Embora de extrema importância, o processo de consolidação de uma

estrutura, flexível e em constante processo de avaliação e autocorreção, demanda

tempo. No entanto, é preciso não perder de vista a necessidade de agir de maneira

mais imediata, de forma incremental, inserindo pequenas mudanças ou melhorias

que possam auxiliar o desenvolvimento do reticulado e, consequentemente, a

consecução de seus objetivos. Alguns pontos importantes e sugestões precisam ser

destacados, para que possam ser trabalhados em concomitância com as discussões

sobre a estrutura.

Inicialmente, faz-se necessário despertar os empresários para os benefícios

oriundos de alianças colaborativas entre eles. O dia a dia muitas vezes não permite

que o empresário se interesse ou acesse informações que o levem a pensar nesse

tipo estratégia. Dos empresários entrevistados, apenas dois mencionaram já ter

pensado e recorrido a algum tipo de aliança com outra empresa.

Uma sugestão que possibilitaria uma maior integração comercial entre os

empresários seria a organização de feiras de negócios que possam envolver

empresas de diferentes localidades, podendo ter abrangência regional, nacional e

internacional. Nesses eventos, além dos stantds contendo os produtos e serviços

de cada empresa, haveria uma agenda de palestras e mini cursos voltados para a

melhoria dos processos de gestão e dos benefícios oriundos das alianças e redes.

Cabe observar, que no início da criação da EdC, existiam feiras que apresentavam

as empresas e todo o universo da EdC, para a sociedade. Atualmente, essas feiras

não estão sendo realizadas, porém alguns empresários entrevistados mencionaram

esses eventos, dizendo que seria interessante resgatá-los.

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Ações desse tipo mostram o quanto é importante que haja um fluxo de

comunicação entre os membros do reticulado. Fundamental, então, seria promover

condições para que os membros do reticulado conheçam as necessidades uns dos

outros, auxiliando, inclusive, na transação que envolve a partilha realizada entre a

empresa que necessita algum tipo de auxilio e a organização ou profissional que

poderá lhe ser útil.

Da mesma forma que o Movimento dos Focolares promove um auxílio

momentâneo a pessoas necessitadas até que consigam se colocar novamente no

setor produtivo, algo semelhante pode ser realizado com relação às empresas.

Assim, será preciso elaborar e implantar um sistema que permita levar às

empresas o auxilio em tempos difíceis, por meio de ações de comunhão.

Sugerem-se alguns procedimentos que poderiam ser adotados de forma mais

imediata, tais como:

Promover seminários, ou escolas onde os participantes serão

empresários ou representantes das empresas cujos negócios já estão

consolidados, com o objetivo de levantar expectativas sobre as ações

de apoio que poderiam ser realizadas com o auxilio da Associação e

das gestoras dos Polos, de forma a auxiliá-los no desenvolvimento

de seus negócios. Outro propósito seria levar informações acerca de

possibilidades da realização de alianças e ações cooperativas entre

eles que possam trazer benefícios mútuos.

Estabelecer um organismo, juntamente com os gestores dos Polos

com a função de monitorar e levantar, continuamente, as

necessidades dos empresários da EdC bem como de detectar

possibilidades de ações de comunhão que possam auxiliar no

atendimento dessas necessidades. Esse organismo deverá ser para o

empresário o ponto de referência inicial a queele possa recorrer ao

precisar de algum tipo de ajuda, como consultorias.

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Assim, esse organismo, dentro da Associação, teria como função principal

fortalecer os canais de comunicação interempresariais, facilitando os fluxos de

negócio dentro do reticulado.

Vale ressaltar que as ações sugeridas pretendem criar efeitos positivos

para todo o reticulado e não apenas para as empresas individualmente, o que

significa aumentar as chances de sucesso no alcance do objetivo comum que une

todos os componentes desse arranjo.

Com relação à formalidade ou não das ações de cooperação, isso dependerá

do tipo de estratégia e do discernimento dos empresários, sem perder de vista o

caráter fluido e flexível, baseado na confiança mútua, que caracteriza o reticulado

da EdC.

Conforme o que se apresentou até o momento, não se pode pretender chegar

a uma proposta definitiva, mesmo porque se trata de uma visão que, por mais que

esteja baseada em dados e em teorias científicas, não possui o mesmo alcance que

qualquer outro método que envolva a participação ativa de todos os membros do

reticulado. Sugere-se a utilização do modelo aqui apresentado como ponto de

partida para um processo de aprimoramento que envolva a metodologia de

pesquisa-ação, descrita no Capítulo 2, proporcionando condições para a adoção de

um Planejamento Adaptativo que possa permitir a contínua avaliação e

reestruturação do reticulado face às mudanças ambientais.

O método de pesquisa-ação guarda uma estreita correlação com a forma de

operação da EdC, pois o próprio projeto já possui um caráter de experimentação.

Sendo a EdC uma experiência prática que, como já apresentado, está em contínuo

aperfeiçoamento, utilizar a metodologia de pesquisa-ação para auxiliar na

compreensão e no aprimoramento da estrutura proposta de forma a permitir a

consecução de seus objetivos faz sentido. Outro ponto importante é a existência

do Centro Filadélfia, conforme descrito na seção 4.4, que atua como ponte entre a

EdC e a Academia, e que pode auxiliar enquanto colaborador, no nível acadêmico,

com a aplicação da metodologia.

Após essa reflexão, espera-se que as propostas aqui apresentadas possam ser

úteis como subsídios para futuras discussões sobre o tema.

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6 Conclusão

O objetivo do presente trabalho foi de propor uma forma de atuação

conjunta que possibilitasse uma sinergia maior e melhores resultados para as

organizações ligadas à Economia de Comunhão. Para tanto, buscou descrever e

entender como se dá a relação entre as empresas da EdC, por meio de um estudo

do caso que envolveu as empresas aderentes ao Projeto de Economia de

Comunhão na região da grande São Paulo e as Associações por uma Economia de

Comunhão brasileira e mundial (representada pela Comissão Central de EdC).

Analisando o fenômeno EdC, entendeu-se que abordagem socioecológica

seria a mais adequada para embasar os estudos sobre as relações interempresariais

nesse contexto. A teoria da Ecologia organizacional propõe um tipo de estrutura

reticular flexível, onde o foco não se encontra em uma única organização, mas em

um campo mais extenso que extrapola as relações transacionais. Tal estrutura é a

mais adequada para lidar com situações altamente complexas, em que existe uma

grande interdependência entre as partes envolvidas. Essa abordagem tem como

base a auto-regulação das partes e a constante negociação.

Constatou-se que, embora façam parte de um reticulado, as empresas

aderentes ao Projeto ainda se relacionam de forma precária, baseada em eventos

pontuais, não sistemáticos, e que nem sempre estão conscientes dos benefícios que

poderiam advir dessa relação.

Percebeu-se que, para que as empresas ligadas à Economia de Comunhão

pudessem tirar proveito das vantagens oriundas dos princípios por elas seguidos,

tais como um comportamento que leva à confiabilidade e os próprios canais de

informação existentes no Projeto EdC e no Movimento dos Focolares e, ainda, ser

mais eficiente e eficaz na busca por seus objetivos, seria benéfico entender o

fenômeno dentro de uma perspectiva da Ecologia Organizacional.

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Tal abordagem implica a existência de um elemento articulador, uma

Organização de Referência. Entendeu-se que uma organização formada por uma

organização gestora e as Comissões Locais de EdC poderia realizar o papel

destinado às organizações de referência, auxiliando no processo de auto-

regulação, por meio de um planejamento adaptativo. A organização gestora, aqui

proposta, pode ser considerada como uma evolução do que atualmente se entende

por Associação.

Portanto, trata-se de um reticulado composto pelas organizações ligadas à

EdC, ou seja, os Polos Produtivos e as empresas de EdC fora deles, as Comissões

de EdC e a Comissão Central, bem como organizações ligadas ao Movimento dos

Focolares. Tal reticulado conta com uma organização de referência formada por

uma unidade Gestora em estreita correlação com as Comissões Locais de EdC,

que será responsável, dentre outras funções, por sua regulação. O caráter dinâmico

do reticulado permite a inclusão de organizações que não fazem parte do Projeto

EdC como ONGs, organizações governamentais, organizações religiosas, ou

qualquer outra que possa auxiliar o alcance dos objetivos primários ou

secundários do reticulado.

A estrutura proposta é sustentada pela visão socioecológica, sem a qual não

passaria de uma rede de empresas nos moldes tradicionais. Trata-se de uma

proposta que alia os fundamentos da EdC com uma concepção de estrutura e

planejamento pouco convencionais, mas que podem constituir um amalgama

poderoso capaz de provocar mudanças sólidas e duradouras no tecido

socioeconômico.

Sugere-se a utilização da metodologia de pesquisa-ação, cuja dinâmica

guarda estreita correlação com a experiência de EdC até então vivenciada. O

caráter dinâmico da EdC requer uma contínua revisão dos resultados alcançados,

como preconiza o Planejamento Adaptativo, caracterizado neste trabalho. Ao unir

teoria a prática, além de conferir ao esforço de alcançar os objetivos do reticulado

uma característica de aprendizagem e gestão do conhecimento, essa metodologia

auxilia na consolidação de uma teoria para embasar o fenômeno EdC em todos os

seus aspectos.

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Para consolidar essa proposta tornam-se necessários mecanismos para

provocar o interesse dos empresários por inter-relações que gerem alianças e

cooperações, levando ao desenvolvimento empresarial. Para dar inicio a esse

processo, sugere-se a criação de um organismo ligado à Associação Nacional,

responsável por fomentar tais relações, instruindo e conscientizando os

empresários acerca das diferentes possibilidades existentes e dos benefícios

trazidos por elas.

A EdC surgiu como alternativa aos efeitos negativos oriundos do modo

capitalista de produção e da racionalidade instrumental. Enquanto uma

experiência atual, vem mostrando que é possível que empresas sobrevivam e se

desenvolvam, não obstante as adversidades do atual ambiente turbulento, em pé

de igualdade com as demais empresas que agem de forma diversa, constituindo-se

em um projeto que leva a negócios socialmente responsáveis e economicamente

sustentáveis.

A Economia de Comunhão é um fenômeno recente. Acaba de completar

vinte e cinco anos e, portanto, pode ser considerado um processo em formação.

Para que possa se desenvolver, atingindo um número cada vez maior de adeptos,

precisa investir na criação de novos empreendimentos, mas, também, envidar

esforços no sentido de apoiar os já existentes.

Seria interessante que pesquisas futuras pudessem avaliar o índice de

mortalidade das empresas da EdC, buscando identificar e compreender as causas

mais prováveis para o insucesso, de forma a traçar estratégias que possam reduzir

essa taxa. De igual importância, seria o levantamento do número de novos

empreendimentos aderentes à EdC visando acompanhar sua evolução ao longo do

tempo.

As pesquisas realizadas, até o momento, mostram que aderir ao projeto é

uma escolha que independe dos resultados financeiros obtidos. Os empresários da

EdC acreditam que, por meio de seus negócios, estão contribuindo para um

mundo onde ‘todos sejam um’ e, assim, seguem em frente a despeito das

dificuldades que surgem, como em qualquer outro tipo de empreendimento.

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Acredita-se, então, que o mesmo ideal que os fez optar por aderir ao projeto possa

ser a chave para o sucesso do reticulado de empresas da Economia de Comunhão.

Ao utilizar a perspectiva da Ecologia Organizacional, torna-se possível

encontrar uma estrutura que permita uma ação conjunta dos membros da EdC,

que leve ao desenvolvimento do projeto e a sua continuidade. A proposta aqui

apresentada auxilia a consecução do objetivo primordial da EdC de reduzir a

pobreza e as desigualdades sociais, com base em uma nova forma de agir

econômico, e de contribuir para uma transformação profunda da sociedade,

levando a um novo modelo de desenvolvimento.

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153

ANEXO I

Perguntas elaboradas para as entrevistas

ROTEIRO DE ENTREVISTA PARA OS EMPRESÁRIOS

1) Sua empresa surgiu dentro da EdC ou aderiu depois de já ter sido criada?

2) Porque aderiram à EdC?

3) O que é a EdC para você?

4) O que o Sr.(a) acha que uma empresa que aderiu à EdC tem de diferente das outras?

5) Sua empresa possui relações de parceria com algum órgão ou empresa? Quais?

6) E com as empresas e órgãos ligados à EdC? Quais? Que tipo de relação?

7) Já pensou nas empresas aderentes à EdC como se fossem uma rede de cooperação?

8) O Sr. entende ser possível fazer algum tipo de parceria com as empresas ou qualquer

outro organismo ligados à EdC? Que tipo de parceria? Com quais finalidades?

9) O Sr.(a) acha importante a visão do conjunto de empresas como uma rede de cooperação?

Porque?

ROTEIRO DE ENTREVISTA PARA A ASSOCIAÇÃO NACIONAL

1) Emborao site da Associação contenha missão ,visão e valores oSr.(a) poderia definir

como entende o propósito da ANPECOM?

2) Até que ponto a Associação vem cumprindo seus propósitos? Se ainda falta algo, o que

seria?

3) Como se dá a relação da Associação com as Comissões Central e as Comissões Locais?

4) Existe alguma inter-relação com outras associações?

5) Por que as empresas deveriam se associa à ANPECOM?

6) O que tem sido feito para incentivar as empresas a se associarem?

7) Existe algum tipo de ação que envolva a busca por maiores e melhores relações entre as

empresas associadas?

8) O Sr.(a) entende o conjunto de empresas de EdC como uma rede? Se sim, o que seria

isso?

9) O Sr.(a) acha importante a visão do conjunto de empresas como uma rede de cooperação?

É relevante para o objetivo de difundir o projeto EdC?

ROTEIRO DE ENTREVISTA PARA A COMISSÃO CENTRAL-CC

1) O que são as comissões de EdC? Qual o papel da ComissãoCentral?

2) Quantas pessoas compõe a Comissão Central deEdC e qual o papel de cada uma delas?

3) Qual a relação da CC de EdC com as comissões setoriais?

4) Qual a relação da Comissão central com as Associações?

5) Existe uma relação direta entre a Comissão Central e as empresas da EdC. Qual?

6) Você entende ser necessário uma maior atenção para com o fomento das inter-relações

entre as empresas de EdC?

7) Que tipo de relações você entende que deveria haver entre as empresas?

DBD
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154

ANEXO IIA

Questionário de identificação e caracterização das empresas

Data: Nome da Empresa:

Número de funcionários: Ramo de atividade:

Faturamento anual: Formação dos fundadores/diretores:

Considerando que sua empresa aderiu ao projeto EdC, indique com um X o nível (de 1

a 5) que melhor expressa a sua opinião para cada um dos aspectos listados abaixo. Utilize como

referência a seguinte escala: 1 2 3 4 5

Concordo

plenamente

Concordo em parte Não concordo nem

discordo

Discordo em parte Discordo

1

1

2

2

2

3

4

4

5

5

A. Sua empresa pratica uma gestão participativa onde a tomada de decisão alcança todos

os níveis.

B. Sua empresa destina uma parte de seus lucros para as obras sociais conforme

pretende a EdC.

C. Em sua empresa os princípios da EdC são amplamente divulgados

D. Sua empresa busca constante melhoria do ambiente interno (dentro da empresa)

E. Sua empresa busca o diálogo e a correção fraterna diante de problemas e erros.

F. Sua empresa se preocupa com a melhoria do ambiente externo (comunidade).

G. Sua empresa pratica um relacionamento leal, aberto e sadio com fornecedores.

H. Sua empresa pratica um relacionamento leal, aberto e sadio com clientes.

I. Sua empresa pratica um relacionamento leal, aberto e sadio com concorrentes.

J. Sua empresa pratica uma gestão que permite contribuir para fomentar um

comportamento ético nos negócios.

K. Sua empresa pratica uma gestão que permite contribuir para fomentar um comportamento ético na fabricação e qualidade do produto (serviço).

L. Sua empresa pratica a avaliação das relações interpessoais entre os trabalhadores.

M. Nesta empresa existe uma clara preocupação com a qualidade de vida do trabalhador.

N. Esta empresa pratica um relacionamento leal, aberto e sadio com financiadores.

O. Sua empresa pratica uma prestação de contas periódica para os funcionários.

P. Esta empresa realiza algum tipo de prestação de contas à sociedade.

Q. Nesta empresa a comunicação é realizada por todos os meios possíveis (verbais, escritos, virtuais etc.)

R. Em sua empresa todos têm liberdade para opinar de forma livre.

S. Em sua empresa existe possibilidade de participar de algumas decisões.

T. Sua empresa incentiva a formação (capacitação para o trabalho e para a vida) dos

empregados.

U. Sua empresa busca colaboração recíproca e solidária com outros empresários de EdC.

V. Sua empresa se relaciona com fornecedores que também são empresas aderentes à

EdC.

W. Sua empresa se preocupa em cumprir sempre os ditames legais.

X. As práticas de sua empresa visam sempre a preservação ambiental.

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155

ANEXO IIB

Questionário a ser aplicado aos funcionários

Indique com um X o nível (de 1 a 5) que melhor expressa a sua opinião

para cada um dos aspectos listados abaixo. Utilize como referência a seguinte

escala:

1 2 3 4 5

Concordo plenamente Concordo em parte Não concordo nem discordo Discordo em

parte

Discordo

1

1

2

2

3

3

4

4

5

5

A. A empresa na qual trabalha realiza uma gestão participativa, onde

todos tomam parte das decisões.

B. Você entende o que é Economia de Comunhão.

C. A empresa na qual trabalha divulga internamente os princípios da

EdC.

D. É norma da empresa na qual trabalha procurar melhorar o ambiente

interno (dentro da empresa).

E. Você tem consciência de que a empresa em que trabalha faz parte do

Projeto Economia de Comunhão - EdC.

F. Essa empresa pratica um relacionamento leal, aberto e sadio com

fornecedores.

G. A empresapara a qual trabalha pratica um relacionamento leal, aberto

e sadio com clientes.

H. A empresapara a qual trabalha pratica um relacionamento leal, aberto

e sadio com concorrentes.

I. A empresa para a qual trabalha pratica uma gestão que permite

contribuir para fomentar um comportamento ético nos negócios.

J. Essa empresa pratica uma gestão que permite contribuir para fomentar

um comportamento ético na fabricação e qualidade do produto

(serviço).

K. A empresa para a qual trabalha pratica a avaliação das relações

interpessoais entre os trabalhadores.

L. Nessa empresa existe uma clara preocupação com a qualidade de vida

do trabalhador.

M. A empresa para a qual trabalha pratica uma prestação de contas

periódica para os funcionários.

N. A empresapara a qual trabalha realiza uma prestação de contas à

sociedade.

O. Nessa empresa a comunicação é realizada por todos os meios

possíveis (verbais, escritos, virtuais etc.).

P. A empresa para a qual trabalha se preocupa com o ambiente externo

(comunidade).

Q. Na empresa para a qual trabalha existe possibilidade de participar de

algumas decisões.

R. A empresa para a qual trabalha incentiva a formação (capacitação

para o trabalho e para a vida) dos empregados.

S. A empresa para a qual trabalha se preocupa em estar sempre

cumprindo a lei.

T. As práticas da empresa para a qual trabalha visam sempre a

preservação ambiental.

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156

ANEXO III

Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

Eu,_______________________________________________________________

(Nome completo)

convidado por Josane Gomes Weber Oliveira para participar da pesquisa

“Empresas ligadas à Economia de Comunhão: uma proposta de governança” e

informado quanto à importância e quanto aos objetivos dessa pesquisa, aceitei participar

livre, gratuita e espontaneamente concedendo-lhe uma entrevista. Declaro que eu não

estou recebendo pela minha participação, como também não estou tendo despesas com a

mesma, mas se houver gastos comprovados de minha parte, eu serei reembolsado por

eles. Estou ciente que a entrevista constará de perguntas sobre a minha experiência e

conhecimento sobre a Economia de Comunhão e sobre a empresa na qual atuo e que será

gravada por meio de um aparelho gravador portátil. Também estou ciente de que esta

pesquisa não trará nenhum risco ou prejuízo à minha saúde.

Todas as informações obtidas não poderão ser usadas para nenhum outro fim

além dos objetivos da pesquisa. Da mesma forma, estou ciente que os resultados dessa

pesquisa poderão ser divulgados através dos diversos meios de divulgação científica, bem

como, que poderão ser utilizados para fins de gestão, planejamento ou elaboração de

políticas para o setor e que a minha privacidade será garantida, nesses processos de

divulgação, através da preservação de minha identidade.

Foi me dada a liberdade de recusar a participar ou retirar o meu consentimento,

em qualquer fase da pesquisa, sem nenhum tipo de prejuízo para mim.

Eu assino esse Termo em duas vias e declaro estar recebendo a primeira via, com

indicação de local e telefone onde eu posso encontrar o responsável pela pesquisa.

Local:_________________________Data:________/___________/___________

___________________________________________________________________

(Assinatura)

Pesquisador responsável: Josane Gomes Weber Oliveira

Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro

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