jornal vaia edição 01

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jornal vaia

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Como é sabido, muitos colegas deixaram de comer no res-taurante da Câmara Municipal por não gostarem de com-partilhar suas refeições com alguns insetos da casa (mos-quitos, moscas...) que freqüentemente eram encontrado no meio da “bóia” do vivente.Se você é um desses colegas, já pode voltar a almoçar lá. Há poucos dias foi presencia-do o passeio, ou melhor, a patrulha de uma aranha sobre uma alface a fim de que estes insetos não tornem a impor-tunar os que lá almoçam.

O economista Caetano Choco confirmou para o início do 2º semestre o lan-çamento da revista “MERCADO ECUMÊNICO” que promete trazer as melhores informações para aplicações e investimentos neste setor da econo-mia que vem obtendo ótimos índices de crescimento. Segundo Choco, a pu-blicação será voltada tanto para novos investidores, através de análises de custos e projeções de rendimentos para a criação de igrejas, religiões,santos artificiais e outros produtos, quanto para investidores experientes. Neste pri-meiro número, além do interessante caderno de debates abordando “Qual a melhor rentabilidade, fundo fixo de fiéis ou uma carteira de fiéis de renda fixa? “MERCADO ECUMÊNICO” traz também as cotações da Bolsa E-cumênica e os Classificados do Senhor, onde serão negociados desde igre-jas, pastores executivos, até fiéis e milagres.

QUERIAQUERIA chamar-me doroty, com ipsilon e morando em hotel,na companhia de marido bêbado que nem eu.Queria que à minha chegada todos levantassem, cagados de medodas farpas que trago na língua.Queria mudar o mundo em duas sentenças e uma oração.Queria que os fanáticos vomitassem deus à sua semelhança.Queria menos família em qualquer parte.Queria perder o respeito, estribeiras, elegância: cinderela pelo avesso.Queria mentir descaradamente a uma boa mulher honesta.Queria jamais ser mulher boa e honesta.Queria enfiar foguetes no cu dos prepotentes.Queria sair pra comprar cigarros e errar de vez.Queria que entendessem que também sou o que não dou.Queria esquecer dos olvidados e dormir com isso.Queria todos os amantes do mundo e nenhuma vergonha na cara.Queria deitar com um e acordar com tudo.Queria devorar a gênese e não arcar com as conseqüências.Queria cuspir pela janela e acertar na testa dos imbecis.Queria escrever mais e melhor pra enganar menos e mandar todosos superlativos às favas. Contadas.Queria um trouxa pra me carregar no colo e uma trouxa pra partir imediatamente.Queria um adjetivo que prestasse e uma verdade que bastasse.Queria escancarar todas as portas sem parecer traição.Queria rir por último.Queria acreditar que o que me falta é homem.Queria acreditar.Queria olhar um mapa e saber onde estou pra onde vou , por que.Queria aplicar contos e jogar meus valores na bolsa.Queria transgredir todos os mandamentos, sem fundamento.Queria poder olhar pra trás e esculpir meus erros em sal.Queria foder com os pobres de espírito tanto quanto eles comigo.Queria que houvesse uma boa razão pra razão ser tão importante.Queria gostar da terra e dos animais e me contentar com isso.Queria ter 15 anos e um futuro inútil pela frente.Queria não ter um mundo ignóbil pelas costas.Queria não dar bola pra emprego, rasgar dinheiro, fazer escândalopor ninharia, botar pra quebrar.Queria menos avestruzes à minha volta e um passarinho pra soltar.Queria perder os sentidos sem risco de encontra-los novamente.Queria desmaiar de emoção. Morrer de tesão. Viver pelo sempre.Queria um beijo grátis.Queria que a verdade não fosse o que é , eu não fosse o que sou,revogadas todas as disposições em contrário.Queria gostar do que vejo, sem necessidade de quebrar o espelho.Queria ser outra, outro, qualquer coisa que valha, no mínimo, à pena.Queria que dor não fosse substância que se imprime por dentro.Queria ser artista, não cronista.Queria.

Clarice Mullerautora de Veroverbo

Caros leitores:Esta é a 2ª edição do VAIA. Depois de consultarmos uma empresa de marketing e re-engenharia e um livro chamado "Como Fazer Sucesso na Era de Aquário", resolvemos mudar o leiauti do jornal. Implantamos também um programa de Qualidade Total. Esperamos, até o final do ano, atingir a primeira meta: beber menos do que oito engradados de cerveja nas reuniões. A empresa que contratamos (escolhida nas páginas amarelas da Listel, por causa do nome em inglês) realizou uma pesquisa de opinião com nosso público-alvo. Já que pautamos nosso trabalho pela transparência, divulgamos a seguir o resultado da enquete. Os entrevistados responderam à seguinte pergunta:“O que você achou do jornal VAIA?". A seguir, o resultado:1% outros.2% acharam que o jornal tem poucas figuras e é amarelo.3% ~*#!**~IOW,*#*!5% chamaram os criadores do jornal de "caras que não cresceram" ou de "analfabetos funcionais".20% acharam a folha do jornal muito áspera.30% não entenderam a pergunta.39% não sabem ler.Veja, agora, as providências que adotamos:1º Colocamos mais figuras no jornal. Além disto, o jornal passou de amarelo para branco.2º Decidimos elevar nossa idade mental (o analfabetismo funcional não foi, por enquanto, possível de resolver).3º Fizemos uma folha menos áspera.4º Para os que não entenderam a pergunta estamos escrevendo, nesta edição, textos mais idiotas.5º Os que não sabem ler deixaram de ser nosso público-alvo.Vai, por fim, nosso imêil pra ti. Contribua com contos, ensaios, charges, o que quiser. Não tem censura. [email protected]

Os editores

Colaboradores: Adriano Reisdorfer, Ademir Furtado, Carlos Alexandre Mello,Clarisse do Carmo, Clarice Muller, Cristiano H. Bremm, Dinah Lemos, FernandoRamos, Gustavo Zortea, Joca Martins, José Azambuja, Leonardo Torres, MarcosSchmitt, Maribel Tobias, Reginaldo Lühring, Rogério Fleischman,Silvania Vasques

Editorial

Editor: Marco Marques Projeto Gráfico: Gil Pires www.jornalvaia.com

Maldito é o Fruto do Vosso Ventre

Carlos Heitor Cony não publicava nada desde "Pilatos", romance que o próprio escritor conside-ra sua melhor obra, até sair "Quase memória", em 95. Livro que o autor chama de quase-romancece e que evoca a pessoa do pai, o jornalista Ernesto Cony Filho, teve elogio da crítica e vendeu pra caramba. Depois desse vieram "O piano e a orquestra”(96), "A casa do poeta trágico" (97) e "Romance sem palavras"(99). Aproveitando a boa onda das vendas a Cia. das Letras começou a reeditar no ano passado alguns livros do ficcionista carioca, "Antes, o verão”, "Pessach: a traves-sia" e o "O ventre". Cony já foi rotulado de tudo, escritor de romance de costumes, de maldito e alienado e ainda de fazer o estilo roman à clef, tendo sido colocado por alguns críticos na correnteda literatura nauseada a que pertencem J-P Sartre, S. Beckett e A. Moravia. Alguém disse que seus primeiros livros (até Pessach, opinião com a qual ele concordava) são um curso completo de antiteologia antimoral. Na verdade o que importa é o seguinte: a sensaçãoque se tem quando lemos sua ficção é a de que Cony escreve (e muito bem!) Só para nós, seus leitores, particularmente.Qualidade que só os bons escritores possuem (algo como a sensação que experimentamos ao ler um clássico, o direito a primeira noite). Mas não nos enganemos: sua prosaé pouco amena, antes amarga e perturbadora. Em "O ventre" (196 págs., R$ 19,00), que marcou sua estréia há quarenta anos, como o próprio Cony admite, há evidente "atmosfera sartreana" (especialmente se pode notar a influência do Sartre literato de "A náusea") perpassando os encon-tros e desencontros existenciais e amorosos que envolvem os personagens do romance, além dohumor à Swift e à Machado de Assis. Há no início do livro uma enganadora afirmação do personagem-narrador: "Jamais me preo-cupei com problemas do espírito, belo para mim é bife com batata frita ou um par de coxas macias". Logo nas primeiras páginas nota-se que o contrário disso é que é verdadeiro, pois a Cony só importam as coisas do espírito, entendendo-se por espírito tudo que for da condição humana. Sua literatura trata sempre de refletir sobre as angústias maiores da existência do homem. Bicho esse incapaz de compreender o outro e entender a si mesmo, porquanto trágico e, existen-cialmente, falido. Trágico em face da morte, única certeza absoluta e ao mesmo tempo contro-vertida em si mesma. E falido porque solitário, incompetente para comunicar-se com o outro. Pode-se dizer que a obra de Cony possui um tema único - a família. Não aquela família carica-tural das telenovelas da Globo, mas a de Caim e Abel, Esaú e Jacó, com seres que vivem a vida, com maiúscula, como ela é, que não conseguem se arrumar dentro de uma mesma casa, sejam marido e mulher, pais e filhos ou irmãos. (Onde lê-se arrumar entenda-se amar e/ou odiar -"Vontade danada de amar minha mãe. Mas como? Eu estava seco por dentro, espremia a alma e não saía nada", confessa José Severo, o personagem-narrador). No romance, que é dividido em três partes - "O ventre e eu", "Eu e o ventre", "O ventre e o resto" - o que menos interessa é o enredo, que resumido dá isto: o narrador, personagem central, descobre-se filho ilegítimo ao ouvir sua mãe moribunda confessar àquele o qual então era tido como seu pai a adúltera que fora (diz ela ao marido pouco antes de morrer: "Não podia resistir, o Moreira - o comborço - vinha, dizia coisas, suplicava, armava ciladas... Houve um dia... depois vieram outros..."), resultado "de um tremendo equívoco do ventre que me gerara", apaixona-se por Helena, mulher de seu irmão, que também terá um filho ilegítimo (outro ventre errado - "os ventres só existiam para mim na hora dos equívocos (...) repugnante feto, aquela tripinha escura que vai ser gente (...) que incha até não poder mais (...) depois o padre benze, a gente dá mingau, ela balbucia sons imbecis, rasteja pelo chão feito um animalzinho"), e, ao final, depois do suicídiodo irmão e morte de Helena, dá-se conta de que lhe ficou "o resto", que é o filho espúrio de Helena. Obrigado(a), que de fato interessa são as reflexões sobre a morte, o suicídio, o sentido da vida, a busca de compreender o outro, a solidão e o amor essas banalidades vitais. Carlos Heitor Conynão dá importância pra verdades. Não julga nem condena. Não há salvação para ninguém, mas todos nós (filhos da puta ou não) merecemos amor, que é uma maneira de tapear um pouco o sentimento da morte, a consciência que temos de que não há final feliz. Na noite escura da alma -frase de São João da Cruz, lírica e trágica como toda a literatura de Cony - o que nos cabe fazer é adaptarmo-nos à realidade tal qual ela se apresenta sem esperar a remissão de nossas culpas, já que viemos sem que nos consultassem para um lugar que não esco-lhemos, tendo que aceitá-lo sem poder modificá-lo em essência e ainda sabendo que em brevemorreremos contra a nossa própria vontade. E que cada um procure dar o sentido que puder a sua própria vida. Sobre isso é que escreve CHC.

“As Virgens Suicidas”, de Sofia Coppola.

Um filme sobre cinco irmãs adolescentes que vivem sob o confinamento das ordens de seus pais, em uma pequena ci-dade dos EUA, no final dos anos 60, início dos 70.Uma história simples, mas diferente na forma de ser narrada.Classificada pelos críticos como comédia, melhor seria um drama. Um drama marcante pela forma natural de dizer e mostrar a crueza da vida. Pela emoção transmitida na aparente indiferença com que as personagens contracenam; na sutileza dos olhares e dos silêncios que provocam nos espectadores tensão, compaixão e inconformismo.Um filme bonito... e triste. Feito para se pensar...Um alerta de que, para certas pessoas, a morte pode proporcio-nar o prazer e a liberdade que, em vida, lhes foram negados ou por si próprias renunciados. Maribel Tobias - Distribuição JF

Aos nossos Meninos e Meninas na e de Rua tudo, e aos medíocres a rua!

SILVANIA VASQUES, Educadora de rua

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Aos homens tiranos, comuns ou não, estes que vimos nas ruas, namídia(especialmente os profissionais) estes que se intitularam vanguarda eque fazem a cabeça da juventude, aqueles que convivemos como vizinhos em condomínios, aqueles que cruzamos nas ruas e avenidas em seus carrosassépticos, enfim a toda classe média e burguesa desejo-lhes um dia e umanoite apenas isso, de fome, frio e indiferença. Em seguida sugiro-lhes umaestada na Febem e que sejam jogados nas ruas com completo descaso e que toda rejeição do mundo caiam sobre eles. Que lhes faltem escuta e olhos para serem enxergados...e quando nada mais e nenhuma saída seapresentar...que algum transeunte perfumado e com cara de quem saiu desua melhor trepada o veja, desvie e diga:- Não tem jeito, eles tomam conta das ruas, tem que reduzir a idade penal eaplicar a pena de morte no país!!!

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A pergunta é: como você se sente todo mapeadinho, do calcanhar de Aquiles ao cérebro de minhoca? Gostou de saber que em matéria de quantidade empatamos com as drosófilas e em matéria de qualidade qualquer cálculo é impossível? Disso se deduz que , quando se trata de conferir valor, o juízo é que conta e convenhamos que não somos muito bons nisso, haja vista a quantidade de babacas que domina a cena. Dizem os cientistas que com os genes bem contados poderemos melhorar a cotação da espécie, conferindo-lhe durabilidade maior, já que doenças e envelhecimento poderão ser controlados desde o útero, ou seja, o elixir da eterna juventude está chegando, não é o máxi-mo? Imagine que graças a isso poderemos ter espinhas até os 80, surfar até os 110, ficar até que a festa nos separe, usar minissaia até os 112 e viagra apenas a partir daí, comer big mac até os 120 e ouvir heavy metal até os 125, assistir filmes adolescentes, acampar, mascar chiclete e freqüentar baile funk até o fim da vida! Final esse que, diga-se de passagem, pro-vavelmente será definido com antecedência, para evitar os incômodos com heranças e mal querenças que usualmente se sucedem à passagem definitiva nos dias que correm ou, no caso dos moribundos, nos que se esvaem. Não bastasse as delícias de se usufruir de uma mocidade prolongadérrima, poderemos contar ainda com as incríveis vantagens da clonagem, porque depois que você,de posse dum corpinho admirável e uma cabeça bem tolinha como convém aos tempos pra lá de modernos, concluir que nada como um bom alter pra completar seu ego, poderá providenciar a cópia escarrada da maravilha que diariamente contempla ao espelho, de modo a ter a companhia perfeita, com que sempre sonhou, à disposição para quaisquer eventualidades e a qualquer momento. Embalados por essa extraordinária perspectiva, uma turma de italianos já está providenciando a primeira criancinha, pra daqui a uns dois anos e, se ela sair bonitinha co-mo a Dolly, o negócio estará sacramentado e uma nova humanidade será gestada, totalmente sob controle, nos livrando da terrível imprevisibilidade que envolve nascimentos e mortes, uma vez que antes de nascer já saberemos que bicho vai dar e, na hora de morrer, para que bichos daremos. É provável que as religiões saiam um pouco abaladas desse processo, consi-derando-se que deus vai passar a ter nome e endereço, qual seja o do cara que cuidou de vo-cê quando não passava de um embrião e nem imaginava que um dia poderia ser xuxa, porém novas seitas poderão ser criadas em torno desses gênios, de sorte a não deixar as almas de-sabrigadas por muito tempo. Questão de ajuste, apenas, e nisso elas são mestras, como se sabe, taí a católica que não me deixa mentir e a muçulmana que não me deixa imprecar. O que eu gostaria de saber da comunidade científica, porém, é se já isolaram o gene do mal, que parece ser o mais rejuvenescedor de todos, como se comprova da leitura atenta dos obituários, nos quais se constata que para cada covas à cova, vários acms e sarneys resistemimpávidos, como se a finitude da existência não lhes dissesse respeito, donde concluo que, ou eles fizeram um pacto fáustico com um diabo de primeira grandeza ou nós é que estamos acendendo vela pro santo errado. O que é insofismável, contudo, é que cansei de chorar a perda de gente boa e rarissimamente comemoro a partida dum fdp, portanto espero, do fun-do de meu coração, que eles dêem um bom trato nesse gene sacana, antes que os safados se organizem e rapidinho façam um clone deles mesmos, pra nos chatear até a eternidade. Já pensou que malvadeza seria? Enquanto meu clone não vem, porém, decidi tomar as providências necessárias para que ele seja uma cópia fiel do que não fui mas gostaria de ter sido: pernas de Tina Turner, peitos e lábios de Jolie e cabecinha de Caetano (até os 40) e Saramago (depois dos 60), o recheio correndo por minha conta e risco, que não sou de se jogar fora, especialmente depois que concluir o 90º regime, do qual emergirei linda e loura como uma madonna , pra não dizerem que não falei de sexo, drogas e rock’n roll. E agora vou ficar por aqui, que o enxoval da nova Clarice me espera, nem que seja pra mofar no baú enquanto seu lobo não vem. Tá pronto, seu lobo?

Clarice Müller/12/03/01

Em suma, Porto Alegre, copiando de novo o que vem de fora (porque unir o moderno ao tradicional é copiar a fórmula executada por Chico Science, Chico César e Lenine, por exemplo), vai agora dar de cara com o tradicionalismo gaudério, e vai se perguntar: putz, sou obrigado mesmo a incorporar isto à minha música? Não, brocoió, não é obrigado. Porque tradição é mais do que o MTG. Os Trovadores RS acertaram quando fizeram a música "Peleia" (a música está no último CD da Ultramen), aquela em que devoram e vomitam a música gaudéria em que se fala "Não podêmu si entregá pros ômi de jeito nenhum, amigo e companheiro ...". Acertaram, no entanto, apenas no resultado musical (o que, sob meu ponto de vista, já basta), mas se equivocaram em dois aspectos centrais: num ponto, quando, pensando no tradicional, lembraram apenas do tradicionalismo gaudério, sem considerar ou questionar o monopólio que o MTG detém. no outro ponto, achando que o gaúcho da campanha foi um bravo lutador contra qualquer tipo de poderoso (os "ômi" da música): o gaúcho, em verdade, era vassalo do dono do latifúndio, o estancieiro, e lutava sob seu comando, num regime de servilismo equivalente ao feudal; o gaúcho, na revolução farroupilha por exemplo, lutava contra os poderosos nacionais, mas se curvava pros poderosos regionais.

Bataclã FC, por outro lado, também vem no rastro da união do tradicional com o moderno. E o faz de uma forma interessante: não a partir do tradicionalismo gaudério, mas a partir da tradição negra no Estado. A tentativa não deixa de ser uma cópia, na concepção, daquilo que Chico Science fez (como, aliás, é também uma cópia, no nível do conceito, o que os Trovadores RS fizeram). Some-se a isto o fato de o "sopapo" (tambor utilizado pela banda, inventado em Pelotas) não conseguir, por enquanto, render bons resultados. Afinal, em termos musicais, o que o sopapo acrescenta? Ainda não se vê um trabalho inovador. Veja-se: nos dois exemplos acima, o lado da tradição não está bem encarado. Os Trovadores RS equivocam-se quando de plano direcionam-se para o tradicionalismo gaudério sem questionar o seu sentido, muito embora o resultado musical seja satisfatório, por força, a meu ver, mais da modernidade rap dos caras. No Bataclã FC, ao contrário, o resultado musical, no lado da tradição, ainda não chegou, mas há no nível da idéia já uma sacada legal: tradição não é só o que vem do MTG. Porto Alegre, ao que parece, está prestes a cair no discurso da união entre tradicional e moderno. Isto porque seus artistas adoram se considerar de ponta. Não se pode, no entanto, cair em artificialismos, misturando tradicionalismo gaudério (ou mesmo negro) com modernidade apenas para, copiando tendência exterior, parecermos os modernos dos modernos. Talvez o caminho da viagem pessoal seja o mais curto e necessário para curar qualquer bloqueio conceitual ou institucional (MTG). Porque alguém que vê a tradição através de um conceito ou através de uma instituição não pode sair do nheco-nheco. Tradição é o que somos na carne, não mais. E, em Porto Alegre, ninguém, salvo honrosas exceções, vai trabalhar de bombacha.

Daí o grande problema da música porto alegrense: os “modernos” da capital acham a música gaudéria muito ruim e acabam virando meros executores talentosos de música inventada fora. Porto Alegre tem boas bandas de música country, boas bandas de blues, bons conjuntos de jazz, bons instrumentistas do choro (entre eles, segundo diz a crítica especializada, o segundo maior flautista do Brasil, Plauto Cruz), tem bons grupos até de pagode e de rap, mas não tem aquilo que a globalização cultural tem pedido: música de inovação e que seja particularíssima, própria apenas do lugar. Falta o fator "tradição" para tentar fazer o mix tradição/modernidade. Fazer música eletrônica em Porto Alegre (fato que já está ganhando corpo), neste contexto, soa natural. É copiar a modernidade inventada lá fora. É o mesmo que o punk gaúcho do início da década de 80, mera cópia do punk londrino. Porto Alegre, ultra moderna, contra os "grosso" da campanha. Ocorre que os moderníssimos, hoje, estão falando em união do tradicional com o moderno.

O que significa a tentativa de unir o moderno ao tradicional? Muito se fala nisto; pouco se discute. Chico Science é o emblema atual da tendência (digo que é o emblema atual porque não foi ele que inventou isto aqui no Brasil; a Tropicália já o fez, ou tentou fazer). No encarte de seu primeiro CD (“Da lama ao caos”) lê-se a seguinte descrição da cena manguebeat: "Em meados de 91 começou a ser gerado e articulado em vários pontos da cidade um núcleo de pesquisa e produção de idéias pop. O objetivo é engendrar um "circuito energético", capaz de conectar as boas vibrações dos mangues com a rede mundial de circulação de conceitos pop. Imagem símbolo: uma antena parabólica enfiada na lama". Taí: moderno, pro Chico Science, foi sinônimo de pop, que não é outra coisa do que ... moda. Moda é eterna mudança. As ondas vêm e vão embora num piscar. Moderno, por definição, é o que é novo, atual; é, portanto, o que está na onda. Quando se diz "unir o moderno ao tradicional", está-se querendo dizer "unir o que está na moda com o que é tradicional". Toma-se o "rhythm and poetry" (rap), por exemplo, e se o une ao samba. Ou mistura-se o mesmo samba com o funk. Funk e rap: coisas que não são propriamente novas, mas que estão na moda. Tradicional, para Science, foi o maracatu. E no Rio Grande do Sul, o que é tradicional? Aí é que a porca to rce o rabo . O Movimento Tradicionalista Gaúcho (MTG) teve sua origem em iniciativas do Grêmio Estudantil do Julinho (escola Júlio de Castilhos), na capital, em setembro de 1947. Em contraposição à invasão cultural norte-americana, a entidade estudantil fundou o seu Departamento de Tradições Gaúchas, tendo sido seu primeiro presidente Paixão Côrtes. No ano seguinte, em 24.04.48, já era fundado, nos porões de uma casa da Duque de Caxias, o nosso primeiro CTG, chamado CTG 35 em alusão à Revolução Farroupilha (entre os fundadores estavam Paixão Côrtes, Barbosa Lessa e Glaucus Saraiva, primeiro presidente da entidade). O MTG, portanto, não nasceu na campanha rio-grandense, nasceu bem no coração da capital, através de pessoas interessadas na preservação das tradições. Nasceu em resposta às invasões estrangeiras, mas acabou, ele mesmo, por monopolizar o que se chama de tradição aqui no Estado. Pensa-se que tradicional é só aquilo que tem o aval do MTG.

O monopólio da tradição pelo MovimentoTradicionalista Gaúcho (MTG) e osmodismos em Porto Alegre

Rogério Fleischmann

Sim, meus amigos!!! Nada mais natural que façamos neste ano tão significativo uma grande reflexão acerca da TELEVISÃO BRASILEIRA, este meio de comunicação tão instrutivo e importante para a nossa sociedade! Qual de nós já não se maravilhou diante da inteligência sutil de um Jô, da versatilidade natural de um Falabela, a credibilidade espontânea de um William Bonner, e tantos outros? Indubitavelmente, a televisão faz parte de nosso cotidiano, constituindo-se em um permanente referencial ético-moral, assim como um massageador de ego da tão combalida auto-estima do brasileiro, que não tem muito do que se orgulhar, afora...afora...as NOVE-LAS GLOBAIS!! Bingo!!!! É isso!!! Televisão lembra..NOVELA!! Novela lembra...LEMBRA...

TARCÍSIO MEIRA E FRANCISCO CUOCO!!!

Não há como se pensar a teledramaturgia sem se referir a esses dois ícones da cultura de massa, dois astros cuja popularidade perpassou os limites concretos da telinha para residir "ad eternum" no imaginário coletivo brasileiro. A influência desses dois artistas é tão evidente que se pode dividir as escolas de interpretação da teledramaturgia brasileira em duas: - Escola Tarcísio Meira de Interpretação - ETM - Escola Francisco Cuoco de Interpretação - EFC Cada uma segue um padrão, um estilo próprio inspirado no seu guru respectivo. O que mais impressiona é que qualquer ator da televisão brasileira, sem "forçassão de barra". Senão, vejamos:

ESCOLA FRANCISCO CUOCO DE INTERPRETAÇÃO

Tradicionalmente marcada pela canastrice irrestrita. Impossibilidade total de demonstração de sentimentos. Geralmente quando as sensações são exteriorizadas ocorrem em momento inoportuno, com alguma defasagem temporal. Os adeptos desta escola geral-mente tem algum tipo de descoordenação motora no que tange aos músculos faciais. Trata-se da canatrice pela canastrice! A inter-pretação do nada! A impessoalização do pessoal! A brutalização do ser vivo, ou melhor, o ser estado bruto! É importante notar que osatores desta escola, em razão dos parcos recursos cênicos, têm o hábito de fazer caretas enquanto atuam! No caso do nosso ídolo Cuoco, ele pode estar fazendo uma cena em um parque com sua filha, ou melhor, neta, numa tarde ensolarada, absolutamente tranquila, que ele vai parecer estar morrendo, com cara de sofrimento, repirando com mais dificuldade que moribundo em CTI. Recentemente, com o surgimento de Ricardo Macchi, muitos tentaram mudar o nome desta escola, o que não logrou êxito, pois CUOCO É CUOCO! Alguns integrantes desta linha de interpretação: - Felipe Camargo - adaptou-se perfeitamente ao estilo, desde o início da carreira; o estilo careteiro em sua plenitude! - Paulo Gorgulho - o mais impressionante é que chegou a virar símbolo sexual; problemas respiratórios semelhantes ao mestre! - Ricardo Macchi - ÍCONE!!! Marcou uma nova era nesta escola; músculos somados à "acerebração". Em cenas de alegria, demonstra a empolgação de um baiacu. - Reinaldo Gyanecchi, Paulo Zulu, Luciano Zafiz - possuem a desenvoltura do Robocop. Sem comentários. ...e milhares de outros. É só você pensar... ESCOLA TARCÍSIO MEIRA DE INTERPRETAÇÃO

Constitui-se na chamada AUTO-INTERPRETAÇÃO, ou melhor, na capacidade de um ator interpretar-se, representando a si mesmo. Geralmente, o espectador constata estar diante de um ator desta escola ao traçar o seguinte comentário: - Puxa! Olha o fulano fazendo mais uma vez o papel do fulano!". Tarcísio é o paradigma-mor desta linha interpretativa: seus tiques "renatovillarianos". O seu olhar preocupado, os berros repentinos, a risada "rodrigocapitaneana". Independente do personagem, Tarcísio, invariavelmente, interpreta Tarcísio! Outros atores pertencentes a esta tradição: - José Wilker - Grande Zé! Sempre os mesmos trejeitos, é tido pela crítica como um maravilhoso ator. Todavia, desconhecem ser ele um dos principais seguidores do estilotarcisiano! - Reginaldo Faria - Pode ser o Lúcio Flavio, o Kiko Jordão, Jacckes Lecclair, ou a mãe Dinah, que terá sempre o seu típico o- lhar irônico-debochado. - Antonio Fagundes - Ora! É o Antonio!! Há 23 novelas ele faz o mesmo papel!! De vez em quando inventa um sotaque insu- portável pra : “caracterizar" o personagem ( lembram do Mezenga? ). Com a sua autoridade moral, confere uma dignidade singular aos seus personagens. - Tony Ramos - Auto-interpretação é com ele mesmo. O genro que toda a sogra queria ter!!! Pode ser um bandido-marginal- estuprador-gremista que será, sempre, no fundo, uma pessoa honesta, que consegirá a sua redenção final! - Marcos Palmeira - Fez um convênio absolutamente patético com a RBS buscando uma vaga de repórter da DISCOVERY CHANNELL. Tudo, obviamente, visando fugir do estigma de "bom moço" da escola TARCISIANA. Nessa tentativa deses- perada, tentou encarnar o pseudo gaúcho com sotaque carioca que só engana a platéia do Ratinho. - Humberto Martins - O sorriso milimetricamente igual, a inteligência de sempre ter a resposta na ponta da língua para qual- quer provocação, enfim...Será sempre o estereótipo do médico ( ou sujeito "culto", com estudo ), rebelde, surfista e canas- trão, indispensável na novela das 7 ( 19 horas ). Especialista em fazer o papel do HumbertoMartins.

Marcos da Silva Schmitt

500 ANOS DE BRASIL5O ANOS DA TELEVISÃO BRASILEIRA 35 ANOS DA REDE GLOBO

O compadre Abílio, quando moço, passou uma tem-porada em Bagé e de lá voltou com ares mundanos. Certa feita, numa noite de muita chuva e pouca fre-qüência na “Chininha”(que lotava quando corria a no-tícia de uma mulher “nova” na casa) as mesas deser-tas, meu compadre, sentado a beber devagarito a con-sumação, estava de dono do campinho. Moço novo, bem apessoado, além de normalmente não beicear, já havia levado umas quantas cantadas para pouso, ao que respondia:- Só se tu me fizeres o que fazem as mulheres de Bagé. O mulherio ficava meio cabreiro e não topava, mesmo sem saber o que é que faziam em Bagé. A las cançadas, uma delas, vendo que topava ou dor-mia sozinha, disse a ele:- Então vamos, meu bem.Passaram uma noite muito boa, pois meu compadre era bom de cama: deitava e dormia.Ao se preparar para ir embora, já vestido, a mulher não resistiu mais e lhe perguntou:- Meu bem, fizemos tudo papai-mamãe, mas o queafinal fazem as mulheres de Bagé?Meu compadre, já saindo porta afora, esclareceu:- Nunca me cobraram nada.

Estância do Mata Olho, 02 de fevereiro de 2001. Meu neto:

Empeço esperando que vancê receba esta missiva gordo e são de lombo. Solito, arrinconado neste cafundó, ando meio abichornado, como tartaruga de poço, esperando o golpe do balde. Não alarma os gansos, mas se não dou uma caldeada e calço a ponta, inté acabo batendo com a cola na cerca. Meu capataz é sorro manso, ando trocando orelha, porque o acho engazopa-dor, tenho medo que o desgranido me faça alguma cascárria e, por carência de um ponteiro que agüente o repuxo, eu dê com os burros n'água. Ansim, não fica arpista; te proponho vir de meu sota, de jeito que vou te fazer outro tipo de arreglo. Sei que vancê é estrabugela e ma-turrengo, mas não deve pagar depósito, pos não vai arriscar al pedo nem esquentar a água pa-ra os outros chimarrearem. Aunque eu tenha lado de montar, não vou deixar vancê botar a car-reira fora. Despacito vancê vai aprendendo a tirar comoatim sem poncho, guaiaca que tem di-nheiro e o jujo que faz mal. Pra mode de sinuelo, bâmo andá uns tempo encostelado, ao tran-quito, pra vânce não se enredá nas quarta. Despois, quando vancê tirar o pé do barro e tiver o recavém bem assentado no cáalo dá pra ir pensando em entreverar os pelegos. O mondongo é duro de pelar, mas quando vancê tiver arrocinado, tá pelada a coruja, porque sei que não tô gastando pólvora em chimango. Não carece responder de relancina, vá assuntando bem a pro-posta. Te saludo com um abraço bem cinchado.

Assina: Tibúrcio

ODE AO PAYADORÀ Jayme Caetano Braun

ABCDÁRIO GAUCHÊS

ARPISTA, adj. Arisco, desconfiado, prevenido, assus-tadiço. O mesmo que alpista.BAGUALADA, s. Manada de baguais(equinos não domados).II Estupidez, grosseria.CASCARRIA, s. Excremento seco que adere à lã das ovelhas ou ao pêlo de outros animais.DESPACITO, adv. Devagar, pouco a pouco, vagaro-samente, devagarinho. Var.: de espacito.ENGAZOPADOR, adj. Diz-se da pessoa que engana ou ilude a outrem. Trapaceiro, velhaco.FRESCO, adj. Desempenado, ágil, lampeiro, não can-sado. II Pederasta.GAJETA, s. Espécie de bolacha ou biscoito.HERÉU, s. Herdeiro, dono, proprietário.INCHAR, v. Atingir o fruto o estado quase maduro.II Envaidecer-se, ficar lisonjeado, faceiro.JORNA, s. Bebedeira, porre.LAÇADA, s. Astúcia, engodo, armadilha.MEQUETREFE, adj. Diz-se do indivíduo vagabun-do, tratante, capadócio, acanalhado, fanfarrão.NO GRITO, expr. No ato, no momento, em seguida.OSSAMENTA, s. Carcaça, esqueleto. II Em sentido figurado, o corpo da pessoa.PALMEAR PORONGO, expr. Tomar chimarrão.QUENGO, s. Cabeça. Homem sabido, astuto.RECAVÉM, s. Parte superior do leito do carro ou car-reta. II Traseiro, bunda, nádegas.SERINGADOR, s.e adj. Indivíduo inoportuno, pur-gante, xarope, maçante.TREPADA, s. Terreno em aclive, subida. Ato de subir.II Coito, conjunção carnal.URUCUNGO, s. e adj. Cavalo ruim, imprestável. Matungo, sotreta, pilungo.VASQUEIRO, adj. Minguado, raro, escasso.XERENGA, s. Faca velha, ordinária, ruim.ZARRO, adj. Incômodo, maçante, difícil de fazer.

Dicionário do Regionalismo do RS, de Zeno C. Nunes e Rui C. Nunes

Patrimônio Cultural da Humanidade, a Redução deSão Miguel Arcanjo foi fundada pelos padres jesuí-tas em 1632, na região do Tape. Em 1638, devidoaos ataques dos bandeirantes em busca de escravos,a população mudou-se para a margem ocidental doRio Uruguai. Em 1687, os jesuítas fundaram nova-mente São Miguel Arcanjo, no local do atual sítio.

RESPOSTA DO NETO:Portinho, 15 de fevereiro de 2001. Xará:

Entrei numas que tu não deve entrar numas de te preocupá, pois tu tá ainda numa boa, cara! Saquei o lance do capataz; não esquenta, corôa; acho que tu vai deixar tudo em cima. Quanto ao trampo, eu achei que é uma boa, but eu queria saber quanto de money vai pintá, pois pintô uma mina aqui na minha baia e agora a genti tá a fim de transar um lance careta. Pô, cara, prática no trampo eu não tenho, mas entrei numas que tô tri afim de curtir a natura pra daruma desopilada. Ontem, até o Beto me emprestou um book sobre a vida em comunidades ru-rais; até já li uma página, achei o maior barato. Bom, velhão, a minha mina pintô na área e agora vou dar um stop nesta escriba e vou cur-tir uma sonzera. Aí. Assina: BaganaAh! Ia me esquecendo, também pintô um bacuri aqui no pedaço.

(Fonte: ENTREVERO DE CAUSOS, de Luiz Odilom P. Rodrigues)

Recanto GaudérioRecanto Gaudério

Eu canto pro payadorQue o patrão velho chamou -Foi trovar noutras querências -E deixou reminiscências...Cantou a lida campeira,A rotina galponeira,

O missioneiro valor,A tenacidade e a flor,O peão e sua tropilha!

Em um mundo imperfeitoQue ao fraco escamoteia,Romanceou uma peleiaCom seu discurso imortal Criticou os seus defeitosAcima do bem ou malOra enaltecendo o pago,Pau na sociedade injusta,Que está de saia justaE ao pobre causa estrago!

Mas como todo o poetaQue amor sabe expressarE faz a emoção brotar - Em bolicho ou cancha reta -O payador, em suas rimas,À mulher fez seu cantar Fosse donzela ou china,Em bochincho ou bailanta,

Muita paixão e estima!

A epopéia farroupilha,

Dispensou para a percanta

Payador de São Luiz

KOLE. ,

Ahhh, Mimosa. Esta maldita aftosa...

PAISAGEM MISSIONEIRA

Há muito seu corpo a ninguém pertencia. Sua alma acompanhava com ironia o decorrer das estações. Poucas pessoas faziam parte de sua vida, um semicírculo talvez. Mantinha reais impressões embaladas e protegidas, sem conexões com imagens criadas. Pelos cantos ainda guardava pequenas caixas vazias, algumas trazidas por anjos, outras esquecidas pelo descaso da passagem do tempo. Fazia-se necessária a solidão. Em alguns momentos, a presença humana vulgarizava for- ças refletoras contidas. Vozes tornando-se um som deformado de máscara sem riso, sem história, sem expressão. Perguntava-se onde estava o outro lado. Uma alma-metade estava faminta e alimentava ilusões. Abriu a janela, após uma escuridão sem limites, para atingir a luz submersa e encantada de sons sem escalas. Tanto era possível um eclipse nascido no silêncio do calor encoberto, quanto um grito agudo pela ânsia do tempo perdido. Da mesma janela, esperava ser levada para bem longe e com a certeza de ser entregue de volta a sua casa. Conservava mistérios a ser desvendados em momentos mágicos.Tinha a certeza de que jamais seria inteiramente conhecida por quem quer que fosse, abandonara o perdão sem respos- ta, uma parte distante e sem passagem que não evocava retorno. Tantas foram as lutas entre pedras e chuvas, que o além-vida encontrava-se amedrontado. Destruída a semente antes de tornar-se fruto. Corpos nus antes da hora. Hora agora de uma longa espera. O homem não se aproximava e necessitava de aviso. Encontrava-se submerso e atingido pelos medos da nova era e da razão mantida em tubos vítreos. Tantas informações e tão poucas re- lações. Trocas adulteradas. Ela estava pronta para juntos plantarem sem previsão de colheita. As luas cumpririam a missão de comunicar as mudanças, o momento de matar a fome ou de calar. De jogar tudo fora ou de ficar. Sua estranheza não era pelo novo outro, mas pela força de sua paixão.Não tinha medo de ter, mas receio de não interpretar a verdade. As rachaduras na terra perdiam-se de vista. Previa um querer abstrato e ondulante, um contato que superasse o imaginário. Não uma fantasia romanesca, mas o próprio despertar com vida única e sem conclusão. Sua espera não trazia utensílio nenhum, a compreensão fazia morada na estação dos ris- cos e desencontros. A viagem já havia começado nos trilhos de uma verdade perdida. O calor que a atirava ao chão ainda possuía esconderijos e transcendia os pontos que re- cusavam tornarem-se linhas retas. Passados alguns anos, um ramo de flores do campo surgiria entre as rachaduras de uma geleira. Clarisse do Carmo (Conto premiado no VI Concurso Internacional Literário de Primavera – 2000)

Há muito seu corpo a ninguém pertencia. Sua alma acompanhava com ironia o decorrer das estações.

CLARISSE DO CARMO

UMA JANELA

Ta certo, dotô. O senhor ta muito certo. O senhor é esperto, já sacou tudo. Pois então eu vou contar como é que foi. Foi nós, sim, quem apagou aquele filho da mãe do Luizão. Eu e o Gabriel. Mas foi tu-do sem querer, ninguém queria matar, só queria dar um susto, porque ele andava muito metido a galo, se achando muito bom, querendo mandar no grupo e trabalhar sozinho. Tava botando nós pra escante-io. Aí eu pensei, eu ninguém joga pra fora do barco, assim, não. Foi eu quem ensinou aquele moleque a fazer tudo. Quando ele chegou no pedaço eu já tinha mais de dez anos de experiência. O primeiro carro que ele ganhou eu tava junto, dando as dica, instruindo tudo. Agora ele todo cheio de razão, que-rendo ser o líder! Ele gostava muito de mandar porque era o maior e o mais forte. Aí eu já tava puto da cara e fomos lá dá um cagaço nele. Mas aí nós chegamos lá, começamos de papo, assim, conversa vai, conversa vem, eu disse, tu gosta muito de mandar, seu babaca, a gente forma um grupo mas nin-guém manda, aí ele ficou nervoso e começou a falar alto, bancando o chefe. Ele queria mesmo era ser o chefe do grupo, mas eu sou o mais velho, o mais experiente. E também o mais esquentado de todos. Eu falei alto também e disse que não tava gostando daquela mania que ele tinha de falar como chefe e ele respondeu que mandar é coisa pra homem, não pra broxa. Eu fiquei louco de raiva e ele continuou gritando e pegou uma arma e daí o Gabriel que tava no lado, de sobre aviso, apagou ele. Deu um tiro bem no meio da cara do infeliz. E depois que ele tava caído, já que tava morto mesmo, eu chutei bem os bagos dele pra ele não querer ser mais homem do que era. E aí eu falei, vamos embora daqui e corri pra rua mas o Gabriel continuou atirando e descarregou o revólver no infeliz que já tava defunto. Daí fomos lá pra casa jantar. Só aí é que fiquei sabendo daquela cadelinha que apareceu lá não sei como. O Gabriel me contou que quando ele tava descarregando o revólver nos cornos do miserável, apare-ceu a guria e ele disse pra ela, fica bem quietinha senão vai acontecer o mesmo contigo, e saiu corren-do porta fora, mas só em casa ele me contou isso. Aí eu disse mas essa idiota vai te reconhecer, ela já deve ter te visto com o Luizão em algum lugar, e ele respondeu que não tinha perigo, que ela era uma transa nova do Luizão e que nunca tinha visto a gente. É que o Gabriel só queria matar mesmo era o Luizão. Eu só queria assustar mas ele queria mesmo era cortar o miserável vivo. E o senhor sabe por-que, doutor? Eu sei que ele disse pro senhor que eu é que queria matar por causa de uma história de dinheiro. Nós fizemos um servicinho num banco e o Luizão é que fez a divisão da grana. Depois saiu no jornal que o dinheiro levado era muito mais do que tinha sido dividido e daí a desconfiança de que o Luizão tinha nos sacaneado. Mas eu não acreditei nessa lorota, não. O senhor sabe como o jornal mente que é pras pessoas ficarem com raiva da gente. Na verdade eles ficam é com inveja da gente ganhar dinheiro assim sem muito trabalho. Eu sempre confiei no Luizão. A verdade é que o Gabriel queria matar por causa dos tempos da Febem. O senhor não sabia? Os dois estiveram um tempo juntos lá e o Luizão gostava de gurizinho e daí pegou o Gabriel pra ele. O senhor sabe como é que o Luizãochamava ele? Gabi. Isso mesmo, Gabi.E o Gabriel, desde que saiu de lá, só pensava nele. Quer dizer, só pensava em matar ele, que é a mesma coisa. A garota? Também foi sem querer, doutor. Depois do jantar eu falei pro Gabi, temos que ir lá dá um jeito nela. Quando chegamos lá ela tava deitada em ci-ma do defunto, chorando. Aí é que eu vi que a putinha era bem gostosinha e me deu uma baita duma tezão. Eu peguei ela e joguei em cima da cama e já ia desabotoando a braguilha quando ela pegou uma garrafa de cerveja vazia que tinha no chão e me fez esse corte aqui na cara. O senhor sabe que eu sou muito esquentado. Puxei ela pelos cabelos até aquele matinho que tem nos fundos do pátio e dis-se, aqui tu podes gritar a vontade que ninguém vai te ouvir. Ela trançou os pés assim um no outro pra eu não poder entrar no meio das pernas dela e enquanto eu tentava abrir as pernas dela ela me deu um arranhão aqui na cara com aquelas unhas de gata no cio. Daí eu dei uma porrada nos cornos dela e ela caiu de perna aberta no chão. Rasguei toda roupa dela até que ela ficou bem nuazinha mas continuava gritando e esperneando até que me acertou um pontapé nos bago que me deixou tonto de dor. Eu já ta-va com muita raiva e fiquei furioso da vida, enfiei o cano do meu revólver na xota dela e meti três ba-las lá dentro pra ela aprender a não se fazer mais de gostosa pra cima de mim. E foi assim que aconte-ceu, doutor. Ninguém queria matar ninguém. Foi tudo sem querer.

Ademir Furtado

Eva Sopher é conhecida como a grande responsável pela reforma e manuten-ção do Theatro São Pedro. Nesta entrevista , Eva Sopher revela que veio para o Bra-sil fugindo do nazismo, conta as dificuldades que enfrentou para reformar o Theatro São Pedro e os problemas que teve com os políticos e, com muito bom humor, narra fatos pitorescos e engraçadíssimos que vivenciou nos seus muitos anos de trabalho. Em cena, Dna. Eva Sopher:

VAIA - Dna. Eva, a senhora é natural de onde?Eva Sopher - Eu nasci na Alemanha e vim menina para o Brasil. Sou "brasileira" há muitos anos, inclusive cidadã honorífica de Porto Alegre.VAIA - Como é que a senhora veio parar no Brasil?Eva Sopher - Por causa do nazismo ... nós somos judeus, a família é judia e com a ascensão de Hitler ou era ser cremado ou assassinado ou era sair da Alemanha. Meu pai era banqueiro e, naquele tempo, conversando com colegas de outros países, a solução foi esta: São Paulo será o futuro grande-mega-centro econômico. En-tão, por este motivo meu pai optou por São Paulo.VAIA - E Porto Alegre, porque é que a senhora veio morar aqui?Eva Sopher - Eu morei em São Paulo seis anos, me casei, depois moramos no Rio de Janeiro 17 anos onde nasceram nossas filhas. Em 1960 meu marido veio transferido profissionalmente aqui para Porto Alegre. Co-mo pouquinho tempo antes eu tinha assumido um compromisso no Rio com a Proarte ... Tão logo cheguei a Porto Alegre me pus à disposição da Proarte ... Através do trabalho da Proarte eu fiz 23 temporadas comple-tas. Foi aí que eu conheci as casas de espetáculo, as pessoas do ramo e inclusive já naquela época é que eu fui nomeada cidadã honorífica de Porto Alegre. Quando me deram o Theatro São Pedro para coordenar a restau-ração eu já tinha feito este trabalho cultural ao longo de muito tempo.VAIA - Daí é que surgiu o convite para a senhora ficar responsável pela reforma. E quando a senhora olhou o Theatro São Pedro, a senhora aceitou logo a proposta?Eva Sopher - Eu aceitei logo porque eu já tinha trabalhado no Theatro São Pedro e, em 1972, quando tinha uma coreana tocando viola no palco, despencou-se uma peça lá de cima de algum lugar e caiu ao lado da mão dela. No mesmo ano, alguma coisa parecida aconteceu de novo num outro concerto e eu disse: "não, nesta ca-sa não dá para ficar, esta casa está ficando muito perigosa, porque ela está literalmente caindo aos pedaços". Por outro lado, conhecendo a casa e sentindo o que a casa deveria ser e aquilo que ela deveria ter sido no seu passado, quando me deram esta incumbência de coordenar as obras nós não sabíamos que ia ser uma recons-trução total. A gente no início achou que ia ser uma restauração. Na verdade, não foi uma restauração, foi uma reconstrução total que levou 9 anos. Não relutei porque eu nunca tinha trabalhado com homens públicos. Meu marido era empresário, que decidia as coisas e as coisas andavam. Então, só depois é que eu tomei co-nhecimento de como é difícil lidar com as promessas não cumpridas ...VAIA - Mas, quando a senhora assumiu a orientação das obras, a senhora passou por momentos muitos difí-ceis, a senhora teve que procurar empresários para pedir ajuda, etc. Foi uma tarefa muito difícil ...Eva Sopher - Eu não podia usar as ofertas dos empresários porque isto aqui ainda não era uma fundação. Uma das promessas não cumpridas. Eu fui procurada para ser a presidente de uma fundação mas não criaram uma fundação. Então eu dependia única e exclusivamente do governo do estado e do governo federal. Na o-casião o presidente Geisel veio aqui e foi firmado um convênio e este convênio aconteceu, o governo federal comprometeu-se com 50% dos recursos e outros 50% seriam estaduais.VAIA - Mas Dna. Eva, depois de todo este trabalho que a senhora teve, houve um governo que quis lhe tirar daqui. Aí os artistas fizeram uma grande campanha, inclusive abraçaram o teatro. Como a senhora se sen-tiu?Eva Sopher - Acredito que não só os artistas mas a população toda, gente de todas as classes sociais, etárias, etc, se deu as mãos e abraçou o quarteirão comigo aqui dentro gritando "Eva fica!". Vendo depois de passado algum tempo, foi uma coisa inédita, uma coisa linda. O governador mais tarde negou o fato, mas claro que o fato já tinha se tornado conhecido, então aí esta reação popular. Hoje, a minha bandeira, o meu discurso é exa-tamente este: eu não admito esta filosofia, esta idéia errada - a cultura não pode ser misturada com a política partidária, tão pouco no esporte, ninguém lembra de tirar o goleiro ou o técnico por ser de outro partido. Se uma pessoa no seu campo de ação é eficiente, deve permanecer, e se ela é ineficiente ela deve ser substituída,independentemente de eventuais trocas de governo. ... Se uma pessoa de antemão sabe que tem aqui 4 anos e, não importa o que fizer, vai ser trocada,esta pessoa não vai abraçar de alma a causa, esta pessoa vai pensar

EVA SOPHERENTREVISTA:

Foto do Séc. XIX

que vai ganhar nestes quatro anos seu dinheirinho garantido e é isso. Só que isto não interessa e é por isto que praticamente em todo o país eu ouço a mesma coisa: "Ah, inauguraram, es-tava muito bonito, mas agora está completamente abandona-do". Isto me revolta porque isso é culpa deste troca-troca onde as pessoas não têm condições de fazer um trabalho até o fim.VAIA - Aconteceu algum imprevisto em alguma apresentação, alguma coisa pitoresca, engraçada, que não estava prevista?Eva Sopher - Olha, isto também acontece e acontecem inclusive as coisas menos agradáveis. Numa encena-ção de Gabriel Vilela da peça "A vida como ela é", antes mesmo de entrar no palco o ator principal quebrou o pé e fez a peça toda com o pé quebrado. Isto me marcou muito, porque se vê realmente que atores e atrizes se colocam em segundo ou terceiro plano, em primeiro plano é o trabalho deles. A Bibi sempre conta que quan-do o marido dela, Paulo, faleceu, ela foi na mesma noite ... o espetáculo tem que continuar, aconteça o que a-contecer. Por outro lado, teve um momento curioso. Aqui, faltar luz é coisa rara, mas uma noite faltou luz, eu acho que Tônia Carrero estava no palco e um dos técnicos, assustado com ela, foi até o palco para segurá-la, tirá-la do palco. Só que o nosso gerador entrou automaticamente 15 segundos depois e o coitado estava bem no meio do palco quando o gerador acendeu. No dia seguinte nós pusemos um cartazinho em todos os cama-rins: "se houver falta de luz, permaneça onde está, porque 15 segundos depois entrará o nosso gerador". Estas são coisinhas pequenas, pitorescas que acontecem. A mim mesma aconteceu que nós tínhamos providenciado chá - já que durante a atuação o ator deveria tomar o chá - e eu tinha conseguido os torrões de açúcar - que também faziam parte da peça - e caiu a bandeja toda, o chá se foi, os açucares melaram, então na última hora, correndo, eu peguei um café e botei bastante água para que ele se tornasse da cor do chá e tínhamos uns ca-ramelos de hortelã que então substituíram os torrões de açúcar. O caramelo grudou na mão do ator, depois ele conseguiu finalmente botar aquilo no café aguado e ele teve que tomar aquilo tudo. Depois do espetáculo ele me disse: "pelo amor de Deus, nunca mais façam uma coisa dessas, aquilo estava absolutamente insuportável de beber".VAIA - Todos os artistas elogiam o Theatro São Pedro e em especial a senhora. A senhora fez muitos amigos na classe artística?Eva Sopher - Fiz demais, isto foi uma coisa muito gostosa mas também é compreensível porque eles sentem o respeito que a gente tem por eles. Os camarins são impecáveis assim como tá impecável o resto da casa. Mas elesnão estão acostumados a isto. E não é só dos nossos (artistas) que eu ouço (que tudo está impecável); eu ouço a mesma coisa de todos que vêm de fora, de outros países do primeiríssimo mundo, então um a zero para nós.VAIA - Quando a senhora não está no teatro, o que a senhora gosta de fazer nos seus momentos de lazer?Eva Sopher - O maior momento de lazer é estar aqui no teatro. Mas todos domingos minha filha, netos e bisnetos vão lá em casa e eu faço o almoço, eu preparo. Eu gosto de cozinhar para eles. Isso é uma das coisas e, realmen-te ...o resto é o resto.

por JOSÉ AZAMBUJA

ASSOCIAÇÃO DOS AMIGOS DO THEATRO SÃO PEDRO:

Vantagens:

* Recebimento da Programação Mensal do Theatro São Pedro.* Reservas de Ingressos.

* Pagamento de Ingressos com cheque* Cartão de Identificação de Sócio.

* Para Pessoa Jurídica, inclusão do nome da empresa no painellocalizado no saguão do Theatro.

* Desconto de 10% nas compras efetuadas na Chapelaria e noCafé do Theatro.

Contribuições:

Para pessoas físicas, a contribuição é de R$ 15,00 (quinze reais) por mês, em um contrato válido para doze meses. Para pessoas jurídicas, as contribuições mensais variam de R$ 100,00 (cem reais) a R$ 300,00 (trezentos reais).

EVA SOPHER

As L.E.R.(lesões por esforço repetitivo) são um conjunto de doenças começou a ser relatado em 1700 quando Ramazzini(o pai da medicina do trabalho) as descreveu co-mo “doença dos escribas e notórios”. Mais tarde, em 1920, surge como “doença das tecelãs”. Já em 1965 surgiu como “doença das lavadeiras”. Em 1980 o problema co-meçou a se ampliar, tornando-se um fenômeno mundial, devido a grande evolução do trabalho humano e o aumento do ritmo na vida diária. São um conjunto de doenças inflamatórias não infecciosas que podem atingir tendões, músculos e outras estrutu-ras, cuja causa é o trabalho contínuo e repetido realizado com as mãos, braços ou qualquer segmento do corpo. Podem se manifestar de várias maneiras, dependendo dos grupos musculares mais utilizados no trabalho, através de sintomas como desconforto, dor, edema e rubor (si-nais de inflamação), além de formigamentos, crepitações, choques, fisgadas e altera-ções de sensibilidade. A partir disso, iniciam-se as dores em outros locais do corpo-(principalmente coluna vertebral) devido à má postura adotada por este indivíduo, não só para trabalhar, mas também para realizar outras atividades de vida diária, ten-tando minimizar as dores e entrando em um ciclo vicioso de dor, má postura, dimi-nuição de força e movimentos, que prejudica em vários aspectos sua qualidade de vida. Ergonomia é uma palavra formada pelos termos gregos ERGO que significa traba-lho, e NOMOS que significa regras ou leis naturais. Traduzindo isso para o nosso contexto significa o estudo da adaptação do trabalho ao homem visando o conforto e bem estar do trabalhador. Está ligada à posturas, movimentos e ritmos determinados pelas atividades exercidas, além da relação equipamento e ambiente e, particularmen-te, a aplicação dos conhecimentos de anatomia, fisiologia e biomecânica dos movi-mentos para relacionar os problemas que possam vir a surgir do relacionamento ho-mem-máquina, ou melhor, homem-trabalho. Com isso estaremos dando início a um processo de prevenção que é formado principalmente pelo afastamento do agente ca-usal( movimentos repetitivos) orientações de profissionais capacitados sobre posturas adequadas, alongamentos e exercícios que devem ser feitos antes, durante e após a jornada de trabalho. Se em nosso país os empregadores pensarem desta forma, não só estarão evitando que esse grupo de doenças aumente, mas principalmente dando ao trabalhador uma melhor qualidade de vida e, conseqüentemente, uma maior satisfação pelo seu desem-penho profissional. Quando falamos em L.E.R. devemos lembrar que, nos dias de ho-je, está muito relacionada à evolução do trabalho informatizado, representando quase 70% do conjunto das doenças profissionais registradas no Brasil. Já quando se fala em ergonomia e prevenção se trata de combater um grupo de doenças que, no meu ponto de vista, está crescendo junto com a evolução das máquinas.

CRISTIANO HOFFMANN BREMM Fisioterapeuta

L.E.E., ERGONOMIA E PREVENÇÃO

SAÚDE

Ordens de Davos...

O astro de cinema e halterofilista Arnold Schwarzenegger (foto), ao passar o carnaval no Rio, foi preterido pela imprensa nos cama-rotes do Sambódromo. O motivo de seu esquecimento foi a presença da top model internacional Gisele Bündchen no mesmo local. Ma-goado, Mr. Arnold não se confor-mou e, antes de sumir da Sapucaí, desabafou: ”O que será que ela tem que eu não tenho”?

Enquanto a exportação de carne bo-vina brasileira era suspensa pelos EUA e Canadá devido ao “mal da vaca-louca”, em alguns países euro-peus como a Inglaterra, a já tradicio-nal “Olimpíada da Vaca-Louca” cresce a cada ano. Na foto acima, o vence-dor deste ano,o veterano Charles P. Baker posa ao lado de uma das 30 “locas” que capturou. São os ventos da babalização....

PECADORA

Ó pecadora de olhos langorosos,quero pecar contigo alguns momentos,beijar teus rubros lábios saborososcomo a polpa dos frutos sumarentos!

Sentir nos meus braços luxuriosos,alvos braços que são os meus tormentos;beijar teus olhos úmidos de gozos,úmidos de volúpias, sonolentos...

A mim pouco me importa o teu futuro;o teu corpo é que quero, puro ou impuro,na súbita explosão dos meus desejos...

Nossas horas de amor serão bem poucas;depois vai à procura de outras bocasque irei também em busca de outros beijos!

Salomão Jorge

Após passar alguns anos entrevistando pessoas em busca de confissões verdadeiras, a america-na Berenice Kanner descobriu, entre muitos ou-tros achados, surpreendentes hábitos na terra doTio Sam, provando que no primeiro(?) mundo também não se tem constrangimento em fazer coisas muito estranhas. Vejamos: 28% admitem fazer xixi na piscina;23,5% nunca dão descarga;28% deixaram de declarar imposto de renda al-guma vez;10% trocam etiquetas de preços, para pagar me-nos;29% já furtaram em lojas;54% reembrulham presentes recebidos e dão pa-ra outra pessoa;60% dos homens cospem em público;10% já viram fantasmas.

Novela, Sílvio Santos, Faustão,Gugu, Fantástico, Seleção...Só tem lixo na TV. Tenho queassinar a Néti...PQP!!!

E AGORA, O PROGRAMA

CUCU LIBERADO!!

UH! TIAZINHA!AH!FEITICEIRA!CARLA PEEREZ...

É óbvio que o seu veículonão poderia dar ignição...Encontrei um defeito grave

na rebimboca digital daparafuseta eletrônica !

PREÇOS E SERVIÇOS

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NOVA ORDEM MUNDIAL MÁGOA DE CARNAVALVACA GLOBALIZADORA

Alexandre Mello

PINÓQUIO, GO HOME!

Ao fazer parte de uma instituição que tem como objetivo prestar um serviço publico, sabemos de antemão que o chefe a quem devemos prestar contas da qualidade do serviço é o cidadão co-mum que, cotidianamente, bate às nossas portas. O dinheiro empregado na construção de prédios,de estacionamentos, de restaurantes, elevadores, placas indicativas, etc., é público, no sentido abs-oluto do termo, isto é, não pertence a nenhuma categoria específica da sociedade. Falando de mo-do mais claro, me incomoda que o estacionamento do prédio das varas, tenha seu uso limitado a uma certa categoria de pessoas, em função do cargo que ocupam. Se há um estacionamento, cons-truído com dinheiro público, não podemos imaginar que dele se faça outro uso, senão um uso pú-blico. Estamos habituados a não pensar sobre essas questões. Agimos de forma a aceitar que ma-gistrados, advogados e chefes tenham direitos exclusivos. De repente, parece ser justo o privilégio de algumas categorias. Todos que trabalham no Tribunal Regional do Trabalho, se diferenciam pelas atribuições do cargo que ocupam. As diferenças terminam aqui. Desempenhar a função de magistrado não faz dessa pessoa alguém que deva ter privilégios em relação ao que é público. Por isso, quando vejo da minha janela o uso exclusivista que é feito do estacionamento, me sinto testemunha de um es-petáculo ridículo. Colegas na função pública lançam-se uns contra os outros. Vemos agentes de segurança desempenhando a função de flanelinhas. "Por favor, o senhor queira retirar seu auto-móvel deste local, esta vaga é do Dr. Fulano". Está na hora de alguém perguntar: "Como pode ser do Dr. Fulano? Este prédio não é público? Por acaso este espaço ocupa alguma função admi-nistrativa?" O estacionamento é apenas um caso. Poderíamos falar do restaurante dos juízes(a famosa casa de chá). Dos elevadores que têm horários de uso exclusivo para juízes(e não adianta ter apitado futebol na várzea). Enfim, todos esses fatos representam privilégios mantidos com o dinheiro pú-blico. Essa administração atual declara que, ao exigir o aumento da carga horária dos servidores, está se pautando pela legalidade estrita de seus atos. Vale lembrar que os atos administrativos se sustentam pelos princípios da eficiência, da legalidade, da moralidade, da impessoalidade e da publicidade. A questão que envolve o aumento da carga horária acarreta uma queda da eficiência do serviço.Esses usos privilegiados do espaço público do tribunal deveriam ser avaliados sob o aspecto da sua moralidade. E quanto à legalidade da jornada de seis horas, também não restam dúvidas. Por essas e outras razões, é hora de todo democrata, que convive diariamente com tal situação, rebe-lar-se e se posicionar. O silêncio é conivente, não é neutro. Se o que queremos é uma maior eficiência no serviço que prestamos ao público, então devemos todos conhecer os limites do espaço público.

Leonardo Torres

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JOÃO CARLOS DA SILVA

ERRATA

Sebastião Arlípio Guimarães, este era o nome do homem. Era um sujeito alto, pele cor de cuia, cabelo estilo black-power ajeitado por seu pente de cinco dentes, ares de mestre-sala, sempre cumprimentando com reverência e sorrisos a vizinhança da rua. Veio de São Borja ou São Gabriel, já não lembro mais qual o santo da sua cidade, mas lembro que deu muito trabalho pro seu santo. Lá por 73 ele beirava os 40 anos, pelo menos é o que se desconfiava porque ao certo tambémnunca se soube a sua idade. Apareceu como mais um operário daquela obra que mais tarde viria a ser o primeiro edifício da rua, no tempo em que os vizinhos ainda tinham nome. Certo dia a obra teve de parar, faltara dinheiro. Pregaram tapumes nas entradas, os que ainda tra-balhavam pegaram suas ferramentas e se foram, obra fechada por tempo indeterminado. Bastião fi-cou, não por gostar da rua, mas por não ter mais obra nem pra onde ir. À noite, como que pedindo au-torização para a vizinhança, comunicou que dormiria na obra, o que lhe rendeu além de consentimen-tos, alguns pedaços de frango para o jantar. E por ali foi ficando, vivendo de “biscates”. Um Conserto na casa de Seu Hilário, uma ajuda pro Seu Osório, ir ao armazém pra Dona Nena e até varrer a calça-da da Dona Clélia ia lhe garantindo a sobrevivência. Bastião quebrando o galho de todos e a rua ado-tando Bastião. Foi assim que fraturou um braço e ficou dois dias desacordado ao despencar de uma escada enquanto consertava o telhado do Seu Bitaca. A notícia correu a rua e a recuperação do Basti-ão era o assunto da ocasião. Outra vez foi quando, no meio da tarde, um caminhão carregado de tábuas tombou, ao descer de ré lomba abaixo, após ter ficado sem freios. Tudo foi muito rápido e logo já estava o caminhão virado e as pranchas de madeira deslizando pela rua. Havia uma turma próxima de onde o caminhão tombou que conseguiu escapar pulando para o pátio da casa ao lado (os muros ainda não eram gradeados), mas Bastião pulou para o lado errado. Foi retirado entre madeiras, pedaços de muro, olhares curiosos e frases: é o Bastião! Sobreviveu, afinal ele aprendera a sobreviver. Quando de outra feita num desentendimento entre os irmãos Padilha, que seguidamente brigavam entre si, se meteu para apartar, acabou sendo a única vítima da briga, atingido por uma facada que lhe “abriu o bucho”, como dizia. Desta vez ninguém mais tinha dúvida que ele se recuperaria, e claro, se recuperou. Se recuperou pra continuar cuidando da casa e dos cachorros do Seu Arsenhut quando es-te ía para a praia com a família. Se recuperou pra continuar indo no posto de gasolina comprar gás ou cigarro, dependendo de qual fosse o vizinho e ,principalmente, se recuperou para aquilo que já estava transformando em tradição durante o carnaval: descer a rua Pedro Chaves fantasiado de mulher. Junto ía a gurizada gritando e a cachorrada latindo, numa barulhenta festa que nos últimos carnavais passou a contar com o acompanhamento de uma bateria improvisada. Em uma manhã de um sábado do ano de 1978, um crime bárbaro chocou a todos. Dona Zefa, uma viúva já bem velhinha que morava acompanhada somente de seu gato e de suas plantas, ao lado da o-bra de Bastião, foi encontrada morta. Casa revirada, algumas coisas roubadas, nenhum sinal de arrom-bamento e muitas suspeitas de que o autor do crime fosse alguém conhecido da velha. A polícia, com sua larga experiência, após algumas perguntas aos vizinhos entrou decididamente na obra-casa de Bastião. Minutos depois, três estampidos de tiros interromperam as diversas versões do ocorrido que circulavam junto a multidão de curiosos que se formara ao lado de fora. Bastião não tinha o nome, a pele, o cabelo, as roupas ou a expressão que os policiais costumavam respeitar e foi sumariamente executado sob a alegação de ter reagido a prisão. Junto as suas coisas não se encontrou qualquer pertence de Dona Zefa e tão pouco foi mostrada alguma evidência de sua participação no crime. Assim mesmo foi dado como autor e nesta condição os jornais publicaram a sua “criminosa” biografia que, mesmo após a identificação do verdadeiro autor uma semana depois, não foi retificada. Bastião não deixou herdeiros, até porque não tinha patrimônio além de suas históri-as e de seu pente de cinco dentes que ficaram com a antiga rua Pedro Chaves.

João Carlos da Silva foi integrante do extinto bloco carnavalesco“BASTIÃO RUMO À BASTILHA”.

JOSÉ CARLOS DA SILVA

ERRATA

1. Tenho 32 anos e sou considerada uma mulher atraente pelos meus conhecidos eamigos. Fui noiva em uma relação que durou 8 anos. Fiz o curso de Direito, souindependente e tenho um apartamento financiado e um carro seminovo. Apesar detudo, estou a quase dois anos sozinha e não vejo perspectivas de encontrar umnamorado. Minhas amigas mais velhas dizem que os homens casados sãomentirosos e os solteiros são gays ou deprimidos ou alcoólatras. Estou ficandoassustada, com medo da solidão.

Você não está sozinha nesse seu medo. Quando uma sociedade tem valores e estruturas que lhe dão sentido, a maioria de seus membros encontra maneiras de integrar-se em comunidades. Os que não conseguem participar de alguma forma de associação são minoritários e, em geral, isolados em grupos marginais: são considerados doentes, anti-sociais. Muitos seres humanos sofreram, no passa-do, a solidão do isolamento social. Pessoas consideradas loucas, bruxas, mendigos, deficientes físicos foram trancafiados, enjaulados. Séculos depois, entre estes isolados alguns viriam a ser considerados grandes artistas. A solidão de que você tem medo é aquele sentimento de ausência de um coletivo, de ausência de relação, de estar só, um “eu” só perante o mundo cego e mudo. Antigamente, já de pe-quena uma mulher sabia o que o destino lhe reservava. Havia o grupo das que iriam casar, o das que seriam solteironas e ficariam para ser as “tias” e o das que seriam prostitutas ou amantes escondidas. As mulheres tinham papéis pré-determinados desde a mais tenra infância e todas acabariam por a-margar a mesma e coletiva apatia, quando mais velhas. A mulher velha tinha por destino cuidar dosvelhos, dos doentes e da infância. E para ser velha, bastava ter mais de trinta anos. Sexo bom era privilégio de poucas amantes e amadas em fugazes momentos de sorte dentro da imensidão de suas vidas. Sexo ruim e obrigatório era função das prostitutas e das esposas em tempo de reprodução. Como a gravidez foi sempre um risco e destino, até o advento do anticoncepcional seguro, a ausên-cia de prática sexual para as solteironas e para as mais velhas poderia ser sentida como um alívio. Enfim todas as posições tinham alguma identidade coletiva. O casamento era único e definitivo o que equivalia à necessária existência da prostituição e do não muito escondido adultério. Todas as mulheres viviam modestamente encolhidas nas suas parcas expectativas. Os mesmos homens cir-culavam de uma maneira ordenada em diferentes lugares de ser mulher. Homens e mulheres ga-nhavam uma certa validade social dentro de um ordenamento rígido, protegido pela religião. Hoje somos todos sobreviventes de uma grande revolução tecnológica e cultural. A maior parte dos seres humanos vive debaixo da guerra civil e da miséria. Uma minoria vive bem, mas não sabe exatamente a validade de seu viver. Os que têm acesso aos recursos modernos usam algum tipo de drogadição: ou bebem, ou fumam, ou usam uma droga popular e proibida, ou vêem compulsiva-mente televisão. As mulheres se tornaram ameaçadoras para os homens, por terem adquirido um in-definido potencial de deslocamento dentro dos papéis tornados mitos, na história humana. Os homens são, por sua vez, aos olhos das mulheres, tristes e incoerentes ou impotentes realidades. Ao des-montar o domínio falocrático, o ser feminino retirou do ser masculino boa parte da força inconscien-te fundante de sua virilidade. Uma tão gigantesca revolução da relação entre os sexos, no mundo ocidental, acompanhada do fim da importância da força bruta em favor da hegemonia da inteligência cognitiva e emocional, só poderia transbordar em um certo caos. Você não está sozinha nesta encruzilhada. Estamos todos juntos. No íntimo tememos a extin-ção do poder transcendente da paixão amorosa. Esqueça o paraíso prometido pela mídia. Esqueça a prepotência de querer resolver sua vida sozinha. Converse com os outros seres humanos ao seu lado. Comece do nada. Dê e receba fraternidade. Estamos em uma nova inauguração. Cada troca sentimental, hoje, é tão importante, a cada momento, como foram os pequenos inventos, quando a humanidade era frágil perante o Planeta. Te-nha coragem e lealdade para consigo mesma. E, sobretudo amiga, tenha compaixão para com os ho-mens. Eles estão tendo uma conversa com Deus.

(*) Dr. PORFÍRIO MADALENA é especialista em Medicina Interna e Astrólogo.

“Não temos armas. Nem mesmo revólveres. Nós levamos as foices pras manifestações como símbolos do trabalho. A foice é um símbolo histórico dos camponeses”. É natural, dentro da atual banalização dos meios de comunicação, que essas palavras de um dos líderes do MST não têm vez na grande imprensa brasileira, que está nos impondo, através de uma quadrilha chefiada pelo Roberto Marinho, uma autêntica lavagem cerebral. Temos hoje no Brasil apenas um movimento nacionalista que luta pela dignidade do nosso país, que luta pela não entrega do nosso patrimônio público a meia dúzia de ladrões, um movimento que tenta de todas as formas possíveis e impossíveis convencer esse governo federal de merda que a única saída para o desenvolvimento do nosso país é uma justa distribuição de renda e de terra, pois o Brasil é o que mais concentra renda no mundo, porra! E ainda dizem (e quem diz, hein?) que o MST está exagerando nas suas investidas de invasões a propriedades particulares. Ora, quanta hipocrisia, me diga outra forma que teriam de pressionar o governo a realizar a reforma agrária que não seja invadir terras ou qualquer repartição pública. Aliás, nesse último caso, a imprensa paga deita e rola com suas notícias pré-fabricadas, chamando o pessoal do MST, dentre outras coisas, de marginais e baderneiros. Fica fácil de a imprensa manipular a população nesses casos, pois o nosso direito de pensar e opinar livremente foram eliminados pelos meios de comunicação, que em síntese nos tentam passar que o Movimento dos Sem Terra são um bando de filhos da puta. Dias atrás liguei a televisão e vi um babaca dizer que o grande objetivo do MST é a tomada do poder. Então é isso aí. Muita gente que assistiu a esse comentário pode estar dizendo nesse momento “pô, os caras querem tomar o poder...”. É isso o que está fazendo a atual imprensa brasileira, com raríssimas exceções. A TV noticia apenas os combates armados entre a polícia e os sem terras, mas não analisa a causa disso tudo, o porquê dessa situação. Por que e o quê os agricultores estão reivindicando. Serão marginais só porque querem um pedaço de terra para plantar e poderem sustentar suas famílias. Estarão ferindo a ordem jurídica quando invadem imóveis improdutivos? A própria Constituição diz que o imóvel que não estiver cumprindo com sua função social deve ser desapropriado. Então, não estarão eles apenas reivindicando um direito natural, que é o direito à dignidade, à moradia, à alimentação, à honra?

Esses dias eu estava conversando com um amigo meu e ele me disse que a causa do MST é uma causa perdida, mas vale a luta. No momento em que os sem-terra começarem a morder os calcanhares dos boludos lá de cima, alguma coisa pode acontecer. Até acho que já estão mordendo. Quem não viu pela televisão a invasão (ou pelo menos uma tentativa de invasão) da fazenda dos filhinhos do presidente, lá em Buritis, no interior de Minas. E também a presença na fazenda da Federal e do Exército, tudo numa vergonhosa inconstitucionalidade. Pra quem não sabe o nosso presidente não distingue uma melancia de um abacate, mas é dono de uma fazenda com mais de 1.200 hectares. Então, um agricultor que se criou e suou na terra plantando e colhendo e, por alguma circunstância alheia à sua vontade teve de desfazer-se de todo o seu patrimônio, deve sujeitar-se a essa palhaçada? Deve aceitar essa humilhante situação de distribuição de terras? E foi justamente disso que se originou o MST. Surgiu da concentração de terras nas mãos de poucos, que compravam maquinários e veículos e mais e mais imóveis enquanto o pequeno agricultor não tinha para sustentar sua família, dar, pelo menos, uma vida digna a seus filhos. A saída então era a venda (a entrega) da propriedade e a migração para os grandes centros, aumentando ainda mais o desemprego, a prostituição e a marginalidade nas cidades. Além da concentração de terras nas mãos de poucos, também a construção de hidrelétricas no Paraná contribuiu para o surgimento dos agricultores sem terras. A reforma agrária é sem dúvida a única solução para o nosso país, devido à imensidão de terras, de reservas, de recursos naturais que existem. Posso citar um exemplo de distribuição de terras no Brasil que deu certo: no interior de São Paulo, na localidade de Pontal do Paranapanema, onde pequenos agricultores receberam o imóvel e condições para fazê-lo produzir, nesse lugar, o índice de produtividade e desenvolvimento da terra é excelente. Lá existe uma cooperativa. Todos trabalham juntos. Todos produzem. Existem escolas para ensinar e educar os filhos dos pequenos agricultores, enquanto estes trabalham. Por que a imprensa não vai até lá e mostra essa realidade de desenvolvimento, de reforma agrária que deu certo? Por que só noticia os combates físicos entre sem terras e polícia e as invasões a propriedades particulares? Por que não analisa o problema da concentração de terra e renda desde o seu início para então se chegar a uma conclusão do porquê disso tudo, dessa luta? É claro que o interesse da grande imprensa paga não é mostrar a realidade.

Que interesses teriam essas pessoas em educar o povo, pois caso isso ocorresse seriam eles imediatamente sacados do poder. Quem afirma que o MST está ferindo o ordenamento jurídico pátrio mostra que realmente não entende nada de reforma agrária, esta a grande bandeira do movimento. Os sem-terra querem o que a Constituição manda, que o imóvel cumpra sua função social, caso contrário, deve ser desapropriado por interesse social para fins de reforma agrária. O MST almeja tão somente os latifúndios (a maioria improdutivos) para tirar suas famílias da mais pura miséria e, dessa forma, contribuir para o verdadeiro desenvolvimento econômico e social do nosso País.

ADRIANO REISDORFER

Roberto Castro

(...) De Domingão a Domingão, segue a aculturação Processo de alienação através da televisão(e aí, Faustão!) Quem sabe, faz ao vivo...Motivo pra eu dar um rolê na área com a rapaziada Não vou perder o domingo vendo Videocassetada... Não tô andando nas nuvens, mantenho meus pés no chão. Na minha opinião, Fantástico é ver a luta do MST Sol a sol, dia a dia em prol da cidadania... É o lado bom que elanão mostra. Agora tem outra novela. Com nome deTerra Nostra. Mais uma bosta!

(...) Tenha um Domingo Legal, um programinha banal Só tá faltando aparecer cena de sexo anal Meninas de cinco anos, ralando a theca, normal... Dá audiência, aquela porra toda. O povão tá gostando, então se foda!Mas chega segunda-feira e você cai na real Mete a mão no bolso e vê que não tem R$ 1... Procura emprego e não acha. Alguns se entregam à cachaça. Outros, não. Então a maioria se acomoda E não se incomoda com a situação. Escravos da televisão... E é desse jeito que eles querem o povo: na maresia. E segue a dominação da minoria sobre a maioria. O mundo gira e gira o mundo e só a gente leva bucha Mas logo é domingo, dia de Planeta Xuxa...

(...) "Dotor" Roberto Marinho tem a receita perfeita: Um anal-gésico fatal, audiovisual. Uma dose diária de Jornal Nacional. A impressão que se tem é que o mundo inteiro vai mal mas o Brasil tá normal Sob controle remoto nas mãos do FMI. Gente que nunca veio aqui Pra saber o que é sofrer, não imaginam o que é isso... Mas é razão e motivo de eu ver criança abandonada querendo sobreviver De pé no chão, garimpando no lixão que é pra não morrer de fome... Quando acha um Danone, olha pro céu azul e agradece a Deus... Disputa com urubu pelo estoque vencido do Carrefour. (Trechos da música "TELEVISÃO", do grupo rap Face da Morte)

Somos a favor.Desde que nãosejamos inves- tigados...

Somos contra.Contanto queganhemos al-guns cargos...

Somos contra.Não há corrup-ção no governoou Congresso!

PMDB PFL PSDB

Baba-ovo, s. Funcionário útil - muitas vezes,um editor de jornal. Em sua atividade, o edi-tor se parece muito com o chantagista, pelaidentidade ocasional. Na verdade, o baba-ovo não é outra coisa senão uma variante dochantagista, embora este último pertença auma categoria separada. O baba-ovo é maisdetestável do que o chantagista, justamenteporque o ofício de um escroque é mais de-testável do que o de um ladrão de estrada; ea comparação segue sendo a mesma em to-do lugar, porque enquanto ladrões desejamapenas enganar, o rastejador busca saqueartudo quanto possa. Ambrose Bierce

EM CARTAZ...

Sai gene al, vem Fernan o, o B a il vai

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seu partido.

-ESTOU BOLANDO UMA NOVA MEDIDA PROVISÓRIA. NOSSO REPRESENTANTE NO BRASIL VAI ADORAR...

BRASÍLIA - O Palácio do Planalto, através do porta-voz da Presidência da República, em cadeia de rádio e televisão, declarou que as diferenças do FGTS decorrentes dos Planos Collor e Verão, tungadas da conta dos trabalhadores, não serão pagas com o dinheiro da União. O porta-voz, entretanto, afirmou que o presidente Fernando Henrique Cardoso propôs uma fór-mula para se resolver o problema: que a dívida da União seja paga com o dinheiro do próprio trabalhador e dos empresários, em parcelas a combinar. De qualquer forma, garantiu que a intenção do governo, é tentar depositar todas as diferenças devidas a partir de 2002, e até o final do terceiro mandato de FHC.(Sucursal O BOBO)

Alexandre Mello

O VAIADOEle abafou o escândalo da compra de votos para a reelei-

ção, as roubalheiras no BNDES e DNER, os desvios do PROER para os cofres de banqueiros(ex-ministros) “fali-

dos”e a CPI do Eduardo Jorge. Tenta abafar os escândalos da SUDAM e SUDENE e a criação da CPI da Corrupção.

Tenta enganar a opinião pública afirmando que o governo está fazendo tudo para punir os corruptos, quando

na verdade apenas demite seus aliados envolvidos nas falcatruas protegendo-os da lei e extingue os órgãos federais sob investigação. Por tudo isso e muito mais, o vaiado desta edição é o digníssimo

FHC. A coisa tá fedendo em Brasília, heim, Presidente?

DICIONÁRIO DO DIABOALIADOS x CPI DA CORRUPÇÃO

CURTA

S

O HOMEM EM SOMBRA

VERTICAIS

1- Beira, margem - Ferida dolorida na boca -2- Doença da Vaca(...), contágio em bovinos-Atmosfera - 3- Iguaria feita a partir da cana-de-açúcar - 4- (...) Carrero, Rei dos ParquesTemáticos - Inocêncio Oliveira, político corrup-to - 5- Rei (...), figura de "peso" no Carnaval -Mister (...), ex-pega-ratão da Globo - Curva(...)do Senna, Interlagos - 6- Instututo Univer-sal Brasileiro(sigla) - Organização Mundial daSaúde - 7- Cinquenta, em alg. romanos - Uni-ted States of America - Internacional Socialis-ta - 8- Um dos artistas do circo - 9- Novo ído-lo do esporte nacional - Pede(...), aplaude en-tusiasticamente - 10- O ângulo de 90 graus -Personagem da mitologia grega.

HORIZONTAIS

1- O seu líder é Yasser Arafat - (...) Econômico, empulhação dos governos militares nos anos 70, hoje vigorando - 2 (...), afanou(o governo em relação ao FGTS) - Central Sindical - 3- Ex- técnico da Seleção, envolvido em falcatruas - 4 Obedeço, concordo - (...) o gongo, no fim do round - 5- Associação Portuguesa dos Onanistas(sigla) - Ordem dos Advo-gados do Brasil - Um, em algarismos romanos - 6- Art. def. fem. singular - 20a letra do alfabeto - Malu Mader, atriz - Região do(...), onde surgiu o movimento sindical no final da década de 70 - 7- "(...) Driver", filme de Martin Scorcese, com Robert de Niro - Cerca, impede a saída - 8- Antiga divindade egípcia(pl)- As (...) não falam", samba do mestre Cartola.

No final de janeiro, durante o Fórum Econômico de Davos, Suíça, após exaustivas plenárias regadas a caviar e champagne francês, onde discutiam o futuro dos abonados do planeta, os líderes conferencistas foram repreendidos, em teleconfe-rência, pelos imundos pobretões terceiro-mundistas que exigiam, direto do Fórum Social Mundial, em Porto Alegre, ao menos as sobras do banquete dos ricaços.

Além dos vexames diante das superpotências futebolísticas Bolívia e Equador, e jogando fora de casa, o atual técnico da Seleção Bra-sileira, Émerson Leão (foto) terá ainda duas façanhas para realizar este ano: tentar classi-ficar o Brasil para a Copa de 2002 e selar a paz entre dois desafetos antigos: o "pitbull" Romário e o “cavalo” Roberto Carlos, briga-dos desde o final da Copa da França. Segun-do o dublê de técnico e galã, as duas “feras” deverão esquecer as suas desavenças quando vestirem a amarelinha simultaneamente, cor-rendo o risco de todos dançarem. “Eles até podem brigar à vontade fora de campo, porém, na seleção deverá prevalecer o espírito patri-ótico, sem divergências. Afinal, se os dois são os animais, o rei sou eu", avisou.

Depois do desastroso início de tem-porada, quando cometeu barbeira-gens nos três primeiros GPs de F-1 do ano, o piloto brasileiro Rubinho Barrichinelo recuperou-se no GP de San Marino, na Itália, de onde ar-rancou (além de alguns aerofólios) um honroso terceiro lugar. Entre-tanto, no GP da Espanha, a Ferrari quebrou e ele ficou mais uma vez fora do pódium. Para completar, ainda foi notificado (acima) pelas suas ú l t imas “mane teadas” .

CRUZADAS MANJADAS

VELOCIDADE MÁXIMAO REI E OS ANIMAISCONFRONTO INTERNACIONAL

uma noite dessas de insônia, pus-me a assistir a TV Senado (excelente sonífero, embora contra- indicado para estômagos fracos): reprisavam a Sessão na qual fora eleito o novo Presidente do Senado Nacional, o Digníssimo Senador da República Jáder Barbalho. Já havia assistido antes, com um certo prazer mórbido, a vários telejornais da imprensa oficial , digo, das TVs abertas e a cabo. Vira a expressão furibunda do Digníssimo Senador da República Antônio Carlos Magalhães anunciando o nome de seu rival durante a contagem dos votos, trechos de seu discurso de despedida. Escutara as análises dos especialistas de plantão sobre a nova gestão, as especulações sobre um possível racha na base governista, as hipóteses sobre uma possível mudança nos Ministérios confiados ao PFL (alguém, além da Velhinha de Taubaté acredita que o PFL abandonaria o poder espontaneamente?), enfim, para usar uma expressão cara ao Presidente FHC, puro “blá blá blá”. Assisti o anúncio da vitória do Senador Jáder Barbalho, o número de votos que ele e seus adversários haviam obtido, e o início de uma longa fila de parlamentares e acólitos a cumprimentá-lo, cena que, pela sua lentidão, começou a provocar o sono almejado. Porém, aquela cena, e as que se sucederam me pareceram bastante familiares. Aquele desfilar de senhores, alguns muito gordos e macilentos, em ternos bem cortados, lentamente c u m p r i m e n t a n d o e maquinalmente abraçando, às vezes sussurrando algo no ouvido do recém-eleito, e, ipsis literis, o mesmo cortejo a cumprimentar, abraçar e sussurrar no ouvido do Senador ACM, cada vez mais assemelhava-se ao enterro de D. Vito Corleone, no filme “O Poderoso Chefão”, onde Jáder Barbalho era um alegre, embora circunspecto, Barzini, e ACM, após retirar-se para o plenário, e enquanto assistia com uma expressão de ódio o discurso de seu rival, um Michael Corlenoe a tramar sua vingança. Lembrei-me da recente troca de dossiês, matérias em revistas, acusações diversas trocadas entre ambos a respeito do enriquecimento, dito a plenos pulmões, ilícito de cada um dos referidos Senadore s . Lembrei-me, ainda, que tanto ACM quanto Jáder Barbalho foram Ministros durante o Governo Sarney ( o primeiro Ministro das Comunicações, o segundo Ministro da Reforma Agrária). Ambas as gestões notabilizaram-se por freqüentes escândalos, começando com a farta distribuição de concessões para rádios AM e FM e r e t r ansmis so ra s de t e l ev i são ,utilizadas como moeda de troca com parlamentares para que Sarney obtivesse mais alguns anos de governo (a semelhança com a construção da maioria no Congresso com que FHC governa e os objetivos almejados não é mera coincidência) chegando a desapropriação ( e pagamento) pelo então Ministério da Reforma Agrária de fazendas que se formaram a partir da grilagem de terras. Isso tudo para não falar nas recentes denúncias de verbas desviadas da SUDAM e BNDES, com o beneplácito de apadrinhados de Jáder Barbalho. Ou ainda, nas palavras de ambos os personagens, na fortuna não explicada de 30 milhões do recém eleito Presidente do Senado e na fortuna de 60 milhões do ex-Presidente do Senado ( a moeda não importa, dado o tamanho das cifras). Talvez devido a sonolência, tive a impressão que as redes de empresas que ambos possuem deveriam possuir um único nome, a saber, “Genco Oil Company” ou algo assemelhado, uma vez que, no dizer de cada um a respeito do outro, ambas as fortunas tiveram a mesma origem. Acordei com Jáder Barbalho anunciando que novos tempos se iniciam no Senado, ou algo parecido, o que soou como a frase de “O Leopardo”, de Tomaso di Lampedusa: “É preciso mudar para que t udo con t inue do mesmo modo” .PS: relendo este texto, lembrei-me de outra frase, esta de Bertold Brecht: “Não há diferença entre roubar ou fundar um banco”.

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Reginaldo Lühring

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