jornal vaia edição 13

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jornal vaia

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Page 1: Jornal Vaia edição 13
Page 2: Jornal Vaia edição 13

02 IV

V VIV

V V

mistura mistura & manda

* BOSSA NOVA NO CONGRESSO - Os deputados federais dedicaram a tarde de quinta, 26 de agosto, para homenagear a bossa nova numa sessão solene na Câmara dos Deputados (Brasília). Não sei de nenhum fato relativo à BN ocorrido nesse dia, mas mesmo que houvesse algum, a homenagem ficou sem propósito em meio ao "esforço concentrado" que Suas Excelências houveram por bem fazer em plena campanha eleitoral. Após vários dias de "esforço", apenas uma medida provisória foi votada em plenário. Me parece que quem melhor definiu o nada-a-ver da homenagem foi a repórter Juliana Alvim, da Rádio CBN: “Um banquinho, um violão e nenhuma votação”.

* A BEM-HUMORADA KARINE CUNHA - Karine Cunha está gravando seu primeiro CD, baseado no repertório do seu espetáculo Fluida, que já rodou Porto Alegre. É difícil dizer em que Karine é melhor, se compondo ou cantando. Na dúvida, marque um palpite duplo. Fiquem ligados que vêm por aí canções como "Fogueira", que remetem a um Brasil interiorano que ainda existe, e sambas como "Amado", comparando o ser amado com um doce. O bom humor (e a capacidade de improviso) são marcas registradas de Karine. Em show no Santander Cultural no dia 10 de julho, alguém da platéia fez uma brincadeira com "Corcovado" (Tom Jobim), cantando "Um banquinho, um violão...", quando ela pediu, além do violão, o banquinho de Marcos Bonilla para tocar "Batucada". Na hora, Karine acrescentou: "... e o Binho Terra na percussão/ Eu vou ser feliz a vida inteira...".

* FIM DO BEBENDO DO SAMBA – A quinta e última edição do Bebendo do Samba aconteceu no dia 28 de setembro, na Casa de Cultura Mário Quintana. O projeto nasceu para levar ao público novos sambas de autores porto-alegrenses e vinha sendo sucesso de público. A sala Luís Cosme quase sempre lotava, mesmo que não houvesse muita divulgação. Ironicamente, o Bebendo do Samba acabou pela omissão dos compositores, que não vinham levando músicas novas para serem cantadas no projeto.

* SANATÓRIO GERAL - Os 60 anos de Chico Buarque, completados em 19 de junho, continuam sendo comemorados em todo o país, sem previsão de término. Porto Alegre tem promovido vários eventos para celebrar o fato. Tive a satisfação de participar em dois deles: uma palestra sobre a vida e a obra de Chico, dentro da série Mega Eventos , no dia 30 de setembro, além de fazer a fala de abertura do evento Sanatório Geral, em 9 de julho, na Cia. de Arte Café, que contou com o apoio do Jornal Vaia e do Brasileirinho. Foram muito aplaudidas as atuações da cantora Luciana Pauli (da banda Anahata), acompanhada de João Mayer ao violão, e da atriz Daniela de Aquino, que esteve soberba no trecho que apresentou da peça Gota d ’Água, de Chico e Paulo Pontes. Outra atriz, Rosaura Costa, leu dramaticamente as letras de "Cálice" (Gilberto Gil - Chico) e "Milagre Brasileiro" (esta assinada por Chico como Jul inho da Adela ide ) . Também se apresentaram Trio Macambira, Sil, Zé da Terreira, Coca Barbosa, Otávio Santos, Érica Santos, Júlio C. S. Souza, Edu Saffi, Fernanda Lopes, Mozart Dutra, Giovanni Mesquita e Maria Carmen, entre outros. Ao final, o DJ Fred colocou todo mundo pra chacoalhar o esqueleto com uma seleção de Chico, Alcione, Paulinho da Viola, Martinho da Vila, Tim Maia, Jair Rodrigues, Elza Soares, Jorge Ben e outros grandes benfeitores da Humanidade.

* TEA+R MÚSICA BRASILEIRA – O mês do 2º aniversário do Brasileirinho (que entrou no ar em 17 de outubro de 2002) marca o início da parceria do site com a Fundação dos Administradores do Rio Grande do Sul (RS). O acordo consiste em incluir no projeto Tea+R (Tempo Espaço Aplicado + Resultado), da FA.RS, módulos dedicados à Música Brasileira e às Artes Visuais. Para outubro, estão previstos uma Oficina de Cartum (dias 13 e 14), além de encontros de 4 horas de duração, à tarde, abordando vida e obra de Tom Jobim (dia 19) e Elis Regina (dia 21). Encerrando a programação do mês, um encontro sobre os Períodos Ditatoriais do Século XX (dia 28), com a interferência do Estado Novo (1937-45) e da ditadura militar (1964-85) na produção cultural e a reação. A programação segue a partir de novembro, inclusive no verão, contrariando velho hábito porto-alegrense. Acompanhe pela A g e n d a C u l t u r a l B r a s i l e i r i n h o (brasileirinho.mus.br/agenda.htm).

* NOVO CD DO CLUBE DO CHORO - Quem entrou no estúdio é o Clube do Choro de Porto Alegre, selecionado no edital de junho do Fumproarte. Já não era sem tempo: o primeiro CD do Clube saiu há seis anos! O grupo tem ensaiado três músicas, que grava em seguida, para aí escolher mais três e assim por diante. O presidente do Clube, Runi Viegas Corrêa, ressalta que esse método está deixando um clima de "ao vivo" no que é gravado. Quanto ao repertório, por enquanto é segredo. O segundo CD do Clube do Choro, assim como o primeiro, é uma produção de Márcio Gobatto.

* BRASILEIRINHO FINALISTA DE PRÊMIO DO MinC - É com grande alegria que informamos aos nossos leitores que o Brasileirinho foi finalista do Prêmio Rodrigo Melo Franco, promovido pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), vinculado ao Ministério da Cultura. O prêmio se destina a reconhecer ações de proteção, preservação e divulgação do patrimônio cultural brasileiro, levando o nome do fundador do Instituto. Escolhido ainda em julho de 2004 como a melhor ação de divulgação da cultura brasileira entre os inscritos no Rio Grande do Sul (12ª Superintendência Regional), o Brasileirinho disputou em agosto em Brasília com os pré-selecionados das outras 14 regiões em que o IPHAN divide o país. A ação vencedora na Categoria Divulgação na etapa nacional foi Índios na Visão dos Índios proposta por Esperança da Terra e apresentada pela 7ª Superintendência Regional (Bahia).

* CHEGA DE RÓTULOS - A necessidade que algumas pessoas sentem de "rotularem" as outras foi lamentada por Viviane Juguero ao participar do programa Sem Fronteiras, de Glênio Reis (Rádio Gaúcha, Porto Alegre), em 4 de setembro. Ela contou que ouve muitos questionamentos do tipo: "Mas vem cá, tu és atriz, escritora, cantora, compositora...", ditos de uma forma em que fica evidente o desconforto da pessoa com a múltipla abordagem artística de Viviane, que acresentou: “Eu sou uma artista que quer se comunicar com as pessoas. Eu não me considero uma violonista, mas se tocar violão me ajuda a expressar o que quero dizer, é um recurso que eu vou usar.” Não se preocupe, Viviane: só os medíocres rotulam as outras pessoas.

FÁBIO GOMES Editor de Brasileirinho - A Sua Página de Música Brasileira - www.brasileirinho. mus.br

***

or que será que a televisão, vez por outra, mostra, no intervalo de um jogo de futebol que está sendo trans-mitido, um jogador com um livro nas mãos, recomendandoa leitura?

P Por que será que a mídia e o governo vêm enfatizando

Por que será que grandes empresas nacionais vêm in-centivando programas de intercâmbio cultural como, porexemplo, as chamadas Rodas de Leitura, onde o leitor e o escritor se encontram para bater um papo descontraído,

Por que será que as escolas procuram inovar, à cata de leitores entre seus alunos, premiando àqueles que des-

Por quê, então, toda essa celeuma em reação ao livroe a leitura? Será conseqüência da divulgação de relatóriospouco ou nada abonadores, onde são enfatizadas deficiên-cias no desenvolvimento intelectual dos jovens, notada- Ou será resultado das entrevistas e reportagens - jor-nais, revistas e televisão - com pessoas de renome e comcarreiras de sucesso que, sistematicamente, dizem, apon-tam, indicam, sugerem, enfim, são unânimes em dizer

Ou será a propaganda de alguma poderosa editora multinacional interessada no mercado brasileiro de

Simples, a resposta: a leitura continuada, prazerosa, permanente, sem nenhuma discriminação quanto a autore tipo de literatura, é o maior e mais poderoso veículo de inclusão social. Melhor até, diria, que muitos dos progra-mas chamados “sociais” que existem por aí.

Sim, inclusão social, pois é ela - a leitura - que todosreconhecem sem nenhuma dúvida como sendo o melhor emais importante caminho para um sólido desenvolvimen-to intelectual, para o desenvolvimento de habilidades, de competências e para uma completa socialização do leitor.

E ler, eu acredito nisso, não é privilégio de quem temdinheiro “sobrando”. Afinal de contas as bibliotecas exis-tem e estão disseminadas por aí. Já existem até minibi-bliotecas ( Projetos Arca das Letras, Leitor Solidário e tan-tos outros) com público-alvo bem caracterizado!

Livros existem, aos borbotões. Cuidado, portanto, ao abrir um armário em algum lugar desses. Você poderáser, literalmente, soterrado por livros, livros e mais livros.Livretos ou dicionários, para todas as idades e gostos, detodos os gêneros: do romance à ficção, da crônica à poesia, da vanguarda ao arcadismo, da crítica feroz ao

Daí alguém dizer que não lê, porque não tem dinhei-ro, é apenas uma desculpa esfarrapada de quem não sabe usar o tempo que dispõe em busca de um futuro melhor. A pessoa que lê tem discernimento, tem opinião própria, tem futuro. E não tem medo de enfrentá-lo. Afinal de contas, qual é o futuro que nós queremos para nossos netos? Sim, é verdade, nós já estamos cons-truindo o país para os nossos netos. O do nossos filhos é esse que está aí, em que ainda estamos lutando- e muito,muito mais do que seria decente fazê-lo - em razão de premissas erradas, de sonhos destruídos por promessasvãs e de muita conversa fiada pra boi dormir ouvida por muito tempo. A intimidade com a leitura nos pouparia de tudo isso.

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lirismo.

que as pessoas precisam ler?

riquíssimo pela troca de experiências?

pontam nesta seara?

mente em fase escolar?

quão importante é o livro e a leitura?

livros?

WELLINGTON [email protected]

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03IV

V VIV

V V

Tendo sido revelado durante o I Festival

Literário de Parati em 2003, seu sucesso valeu o ingresso

na editora Planeta, que lançou seu primeiro livro, o

romance “Corpo presente”. A obra vem merecendo

receptividade unânime da crítica e a leitura das

primeiras páginas dá-nos a sensação de estarmos diante

de um veterano, tal a segurança e o domínio do processo

narrativo. Tal condição coloca esse escritor de 26 anos na

posição confortável e promissora de um dos talentos de

sua geração, alguém que não está preocupado em

recorrer aos artifícios da linguagem palavrosa e

etiquetada para impor a sua arte, mas fazer dela um

espaço de questionamento do seu tempo e do seu lugar

no universo. E o lugar que serve de cenário e matéria à

sua investigação literária é Copacabana, território

mítico e ao mesmo tempo laboratório para a reflexão

sobre a decadência, o vazio existencial e a fugacidade da

vida moderna.

“Corpo presente” chama atenção não só pela

porosidade do tema, mas também pela disposição dos

capítulos, divididos em números primos, uma tática

formal adotada pelo autor não como invencionice ou

qualquer tipo de malabarismo vocabular e irreverência

inócua, muito comum em certa literatura que viceja por

aí e senta praça mais pelo grito do que pela criatividade

e coerência. Aqui, a forma de escrever sem obedecer a

uma linearidade do discurso nem à disposição

numérica ou lógica dos textos ou fragmentos não é

inusitada, mas uma maneira que define a própria

condição dos personagens, “divisíveis por eles mesmos

e por um”, numa clara alusão às muitas vidas e diversos

enquadramentos que uma trama ou a própria vida

podem provocar ou representar.

Os fragmentos que enfeixam o livro são

verdadeiramente histórias que se intercalam e se

interpenetram perpassadas por uma paixão, e podem

ser lidos autonomamente. A paixão enfocada é

representada pelo dilaceramento e pelo vazio de dois

seres, sendo Carmem o objeto desse amor. A situação é

narrada por alguém que "anda pelas ruas procurando o

que pensar", mas obcecado na missão de escrever sobre

as muitas carmens que habitam essa mulher. E nessa

incursão ele vai desnudando a vileza da vida urbana do

Rio, entre noites e dias em que trava uma batalha contra

o anonimato e a solidão, numa cidade cheia de seduções

e propícia aos devaneios. Ao longo do livro, Cuenca se

lança a um desfile de situações, tipos e ocorrências,

explicitando mundos obscuros, na fronteira entre o real

e o imaginário. E no registro desse quotidiano

capturado ou elaborado, há cenários de vileza onde o

“mondo cane” emerge sem solenidade ou pudor - como

aquele trecho que inaugura o livro em que uma mãe se

masturba enquanto amamenta o filho -, mas que o autor,

habilidosamente, os (re)constrói com poesia e

sensibilidade.

No entanto, a geração de Cuenca não

precisou do trampolim do grito político para

deflagrar sua arte e isso é demonstrado na sua

prosa autônoma, não condicionada àquelas

motivações políticas e ideológicas. Nem por

isso deixa de ser questionadora de um outro

“status quo”, traduzido pela sociedade de

consumo em que vivemos, tributária da

globalização, em que a alienação, a

mediocridade e a cultura de massas vão

impondo um veloz escalonamento de valores,

com suas hegemonias culturais e seu

fundamentalismo econômico-financeiro, tão

perniciosos e bestializantes quanto a privação

de liberdade e pensamento pós-64. O tempo

atual tem sim repercussões alienantes e

apassivadoras, que deságuam na perda da

identidade e na instauração de uma sociedade

de “vidiotas e internéscios”, como diria o

saudoso José Paulo Paes. E os personagens de

Cuenca incorporam a desilusão diante de tudo

isso e procuram uma espécie de exorcismo

desse terrível estatuto universal que

disseminou a solidão e a incomunicabilidade.

“Corpo presente” não deixa pedra sobre

pedra, toca nas feridas, é tenso e denso. Só

podemos esperar isso de um autor com a

juventude e a disposição de mergulhar nas

emergências e angústias de seu tempo e fazer a

catarse, dar o salto, olhar à frente: a

sinceridade na reprodução desse universo

social e humano, com seus dramas e suas

delícias, com seus paradoxos e suas

esperanças, doa a quem doer. A literatura de

João Paulo Cuenca, não obstante beber nas

fontes da angústia e da escatologia, é humana

e provocativa. Como Fernando Sabino há

cinqüenta anos marcou presença com “O

encontro marcado” ao fazer um retrato

candente de sua época, com todos os

ingredientes da rebeldia e da busca da

verdade e dos sonhos, Cuenca, noutro tempo

e noutro lugar, disseca com a mesma ênfase os

encontros e desencantos pós-moderno,

mergulha de corpo & alma na realidade, mas

sem deixar escapar, por mínima que seja, a

possibilidade para um trânsito onírico, em

busca da utopia realizável.

Tais ambivalências e confusões que se

instalam tanto na perspectiva do narrador

onisciente e ao mesmo tempo estraçalhado pelas

vistas que se superpõem, quanto na dos

protagonistas, acabam por definir o ritmo da

história, que vai traçando um painel da própria

realidade psicológica e social. Em algumas

passagens, o autor promove uma fusão entre a

prosa e a crítica, perceptível no uso de um

vocabulário que evidencia a preocupação com os

valores estéticos e uma discussão em torno da

função da arte e da vida num mundo coisificado

e vulnerável. Nota-se aí um certo influxo

filosófico, sem resvalar no pedantismo ou

derrapar em pruridos demasiadamente

intelectuais.

“Corpo presente” é um romance que

espelha a geração do autor, ressonância de uma

dicção autêntica, de um período que viveu o

refluxo da ditadura, já sem aqueles referenciais

de resistência e arroubos de indignação que

caracterizaram as décadas anteriores, tempo

fecundo para uma literatura engajada e de

resistência.

A figura de Carmem é o protótipo da

descartabilidade das re(l)ações quotidianas, dos

sentimentos difusos e da vida que poderia ter

sido e não foi, feito o poema de Bandeira, como

elucida um dos trechos do livro: “essa procura

pelo meu reflexo dentro dos seus olhos

representa o caos. Paixões corriqueiras e

semanais - eu estou sempre disposto a largar

tudo e me perder dentro do espelho. Eu estou

sempre abrindo portas e jogando tudo pra

depois, perdido entre lençóis sujos, cabelos

pintados e uma infinidade de cheiros de mulher".

A personagem adquire inúmeras projeções e

contornos, ela existe e interage com seus

múltiplos espectros. Funciona como um ícone,

um totem ou um fetiche alucinatório: encarna

todas as idades, todas as feições e condições

sociais. Travestida de heroína ou perdedora, é o

símbolo dos confrontos individuais e coletivos,

das contradições próprias do homem sempre

dividido e incompleto. Assim como Alberto que

surge na história e ajuda a compor esse mosaico e

se confunde às vezes com o próprio narrador,

simbolizando o caos e a diluição das vidas

abordadas, com seu nomadismo, suas incertezas,

sua falta de perspectivas, de identidade ou de

referenciais.

jovem escritor carioca João Paulo Cuenca

formou-se em Economia e deixou de lado

a profissão para dedicar-se à prosa. Se o

mundo das finanças perdeu um analista, a literatura

ganhou um escritor de mão cheia, interessado mais

em canalizar seu olhar estético sobre o mundo que

o cerca do que conjeturar sobre mercados. Melhor

para a literatura, que se enriquece com um ficcionis-

ta que estréia com o pé direito.

O

RONALDO CAGIANO

Estatuto Solidãoda

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B Z RV V 04 IV

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VAIAFESTA: MÚSICA, POESIA E CERVEJA

O 5º encontro litero-etílico-musical, rolou no dia 08 de agosto no histório Bar Ocidente.O evento cultural organizado pela confraria do Vaia e pelo DJ Tom, teve participação dos compositores Luis Mauro Vianna, Ita Arnold,João Mayer, Felipe Azevedo, das bandas NaVereda e Caixa Preta, além do Sarau Literárioe de projeção de curtas-metragens gaúchosno telão. Ao lado, alguns registros da festa.

“Gato é um poema

de bigodes” Laurene Veras

Hoy me ha llegado la noticia. Lloré de rabia al saberlo y a Dios le pedí justicia, al hombre debo de hacerlo. Pero que han hecho esos niños? Pero que han hecho eses viejas? Pero que esta haciendo el mundo? Que no prohibe las guerras. La gente se mata y mata por un palmo más de tierra. Hoy me llora más que nunca este alma de poeta Llora una rabia impotente y grita la herida abierta. De verdade...hay que unirse los poetas de la tierra.Tenemos que construirnos una barrera de amor, de calor, de besos. Y todos juntos de la mano, cual si fuésemos hermanos invoquemos por la paz. A los que mandan y a los que matan, a los que esconden la mano, que les lleguem nuestros versos en Araba o en Cristiano. Que compredan para siempre, que ya sea Dios, o Ala, si estamos sobre la tierra, que no frenen nuestra carrera. Unámonos los poetas, juntémonos nuestras manos, lancemos nuestra protesta y escribamos nuestro verso. Será la mejor respuesta, para esa horrible agresión, pues tanta es su sin razón que el mudo llora de pena. Unámonos los poetas, gritando nuestro canto de dolor. Nuestra voz será de siembra y nuestro verso Paz y Amor...

MANUEL GONZÁLEZ ÁLVAREZ Madrid - España

DESPUES DE LA MASACRE- Quem te deu este colar?- Quem me deu calor.- Quem te deu calor?- Quem me escutou.- Quem te escutou?- Foi seu doutor.- Que seu doutor?- Do coração, que é seu não.

P. J. RIBEIRO “Besouros Falantes” Totem Edições- 2004

COLARES

ristalino D’Alma (Tecnicópias, 2003), terceiro livro da porto-alegrense FERNANDA GAUTÉRIO PEDRAZZInos presenteia uma poeta com a capacidade de amar a vida, anatureza e as pessoas. Conforme prefácio de Nilza Ferraro, Fernanda “tem coração e alma puros, em permanente estadode beatitude e sua poesia é leve, etérea, cistalina mesmo, e descomprometida com o dimensional. Ela voa como plumae transcende ao infinito nas asas do vento”. Após a estréia poética em 1997 com Espelho de Estrelas,em Cristalino D’Alma comprovamos a maturidade nos versosde Fernanda, onde ela remove véus de seu interior e nos fala dos anseios mais profundos de seu coração. Cristalino D’ Alma demonstra o instante feliz do encontroda autora com a flama eterna da poesia.

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ALMA E POESIA CRISTALINAS

Entre dunas erodidas e o mar morrente, o casario desarrumado,inóspi to, pouco hospi ta le i ro, sobre a are ia encard ida.

O coro cantava um mantra ao avançar em passo lento do morro até a água rasa daquela praia de veraneio, no limite do Ceará.

A vila rústica de Timbau é uma terra seca, estéril e areenta, entre Salinésia e Macatuba. Os nativos ainda conservam o costumede jogar o resto do copo sobre a poeira, numa libação arcaica ao

Naquela amarelidão de deserto, bando de cabras transumantes vagueiam na praia cinzenta, já um pouco implodida pela especulação

Ariscas e brincalhonas, dão saltos mortais esticando o pescoço; bodejam; correm sobre a areia, fugindo das maretas, jovens machos caprinos indóceis. Cabriteiam na praia coberta de conchas e mica.

Rogério voltava agora ao mar primordial de sua infância, restituídoao elemento primevo por uma fraternidade de mãos que se elevam aci-ma das cabeças, erguendo a urna de pedra que algum dia pertencera a um templo da Birmânia, há séculos invadido pela erva hostil.

Morreu e foi cremado em Nova York. Suas cinzas, enviadas para Macatuba, foram espalhadas sobre o mar de Tibau, naquela estranha

Ao crepúsculo, o sol deixa no céu uma nódoa vermelha.

FRANKLIN JORGE“Ficções Fricções Africções”Ed. Mares do Sul, 1999

Cerimônia do Adeus

JACQUES CANUT “Tierras de promisión” Ed. Cálamo - España, 2004

El hálito de la lámparadorael triángulo morenoconvidando a la creación del mundocomo lo pintó Gustavo Courbet.

Cuchillo mi sexocuchara el tuyocompartiendo las mismas deliciasalcanzaremos lo más generosodel paraíso goce, niño?fruto milagrosoque saldrá de tu cuerpo.

?

A procissão entrou no mar devoluto.

Vestiam maiô e calção de banho coloridos.

frescor.

Sob um sol petulante. Amarelo. Digno de Portinari.

cerimônia.

imobiliária. Vivem soltas nas dunas e tabuleiros de Tibau.

Uma viagem desencadeia tudo. Franklin Jorge, Cascudo em Movimento.

Mar salgado verde aurora, amanhecer Céu violeta dando a luzbrisa dançante espreguiçando início de sonho navegando canção vagando pelo mar...

DESPERTAR...II

Aqui dentro de mim, livro de poesiasda carioca Rosália Milsztajn, poderáser encontrado à venda na LivrariaBamboletras (Fone: (51) -3221-8764).Contatos: rosá[email protected]

O violonista FELIPE AZEVEDOestará fazendo 4 shows de pré-lançamento do seu terceiro cd,PÈRCUSSIVÉ, de 28 a 31/10/04no Teatro de Arena (Av. Borgesde Medeiros, 835 - F:3226-0242)às 20 horas. O CD tem participa-ções especiais da cantora pau-lista MONICA SALMASO e dopercussionista carioca MARCOSSUZANO. Ingressos: R$ 10,00(20% de desconto para Clube doAssinante ZH - R$ 8,00)Antecipados na Bamboletras( Fone: 3221-8764)Estudantes e Idosos: R$ 5,00

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V VIV

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surtos

POÉTICOS

Durante o diaguardo muitas coisas,mas não seionde eu colocoa vontade de amar.Em que gaveta se põe?Logo eu, que aprendia por tudonos lugares certos...Aprendi a lidar com falta de tempoe falta de verba,mas não seicomo acomodaresta fartura de sensações,de sentimentosque transbordam,rolam no chão,saem por baixo das portas,resvalam pelas ruase não se encaixamna triste seriedadede todos os dias.A inquietude desceaté encontrar seu destino e nem sempre esbarrana auto-censuraporque sou humanae quem assim me fez,agora, que me contenha.

Lugares Certos

Magali Vidal Domingues

À vida calma, optou pela guerra: Aquiles.Tétis, tua mãe, matava seus filhos querendo imortalizá-los,mas quando nasceu o sétimo, resolve banhá-lo no Rio Stix,segurando-o pelos calcanhares:seu corpo não é mais vulnerável(fica apenas com um único ponto fraco).

Esta mesma mãe te adverte, antes que partas para Tróia:“Morrerás em breve, mas tua fama será eterna.”(Escolhes a fama e a morte rápida.)E o guerreiro comandará frota de 50 navios.Não indo para a luta, teu destino será a morte por velhice.Aquiles: o oráculo avisou teu pai, Peleu, que morreriasjunto aos muros de Tróia.O pai tenta ludibriar a profecia: disfarça-te como mulher e teesconde.(Outro oráculo disse a Ulisses que Tróia não seriaconquistada, se Aqulies não fosse junto.)

Voluntarioso, não escutaste a ordem de Apolo para nãoseguires adiante.Segues: então, o deus guia uma flecha para o teu calcanhar,guerreiro Aquiles.É a mão de Páris que a envia, e a flecha revela teuponto fraco e tua finitude, que não te permitiu avelhice.Te apaixonas pela filha de Príamo, Polixena,mas o amor não é mais possível:o tempo é de guerra.

Tróia está perdida,como o destino de todas as gerações que“caem como as folhas das árvores”.(Homero na “Ilíada”.)

Então, Ulisses desce ao Hades e encontra os mortos da guerrade Tróia.

Aquiles

Emanuel Medeiros Vieira

para Mathilde Steinbruch

Na madrugada ela escrevecom sua mão pequena eleve.

Não escreve comestrelas,não com elas porsabê-las.

Escreve com asaudade,com dores passadase risosfuturos.

É noite alta na cidade,e o crescente é bom augúrio.Sorriso do céu quandodorme,a lua é um vaga-lumeenorme,pousado no tetoescuro.

Na noite fria deoutono,com a lua ela vemconversar.Trocam mistérios eversos,às vezes, até delugar!

Sobre as idéias aladas,por coisa alguma nouniverso,a ninguém ela diznada.Por isso é boaconfidente:

Por que sabe guardar asmágoase os segredossorridentes.Guarda tudo numa caixada cor da luz dopoente.

Ela é assim, maga danoite.Uma sílfidedisfarçada!À espera da aurora reinventasonhos,de dia fingenão ser fada.

A AURORA DELICADAILUMINA A MELODIA FUTURAE AS ESTRADAS NOS MOSTRAM,COM INCANDESCENTE CREPÚSCULO POÉTICOO ARCO-ÍRIS COM CINCO MIL CORES.GOTAS DE ORVALHO NA NOITE!GRITOS FRATERNOS NA AMÉRICA!CHEGARÁ O COMUNISMO...COMO ARMA IMORTAL DO FUTURO.UM FILHO NO MUNDO!UM NOME NA HISTÓRIA!RETRATA AS GOTAS QUE CHORAMTRASMUTANDO O SER EM ÊXTASE.

CLÁSSICA LOUCURA INCANDESCENTE!O POETA RUSSO, ORQUESTROU-ME...NA SÍNTESE DE GRITAR NAS RUASO FUTURISMODO MEU CÉREBRO ANATÔMICO

Ita Arnold músico

Os meninos mergulharam em frente aos carrosDilatados ao sol de BotafogoManequinho não parava de mijarA água amarela desfraldada caía na cabeçaDos incríveis mergulhadores que morreriamEm alguns dias na Candelária

Buzinas impacientesAnunciavamComo os golfinhosUm assassinato

A mulher na esquina alimentava pombos órfãosQue juntavam-se em grupos a bicar o milhoEla vira muitas vezes os pombos famintos

Abriram-se os semáforosCarros engrenaram a primeiraOs meninos com sorrisos d’águaSaíram da piscina naturalMolhados de inocência

Rosália Milsztajnautora de “Aqui dentro de mim”

Órfãos

Laurene Veras

Qaíqe Qomé [email protected]

Sol e mar da eternidade, o mundonão é minha irrupção de cada ocaso,a ruína que se erige no fragor da agonia,a falência de doar o que silencia. Partoo sumo pingando no sonho, o pingocrescendo no rio: e só perco o fastioporque caio toda vez que principio.

O descenso da atonia

Vou colorir teus poemastuas canções... Vou colorir meu coraçãoVou colorir-mepara te dar mais amor...Vamos voar no céu azul...Quero andar em tua cidadeAladaEncantadaOnde o amor nos uniu...Vou colorir-me de arco-írisSobrevoar as praiasvoar contigopor sobre os montese os horizontesPara semear no mundona vidaeste sublime amor!...

FERNANDA PEDRAZZI “Cristalino D’ Alma” Tecnicópias, 2003

Cidade alada

Lembro-me de ti como quem tem saudade de uma presença azul.Saudade descabida, porque não me faltas:és o dia, tenso feito leque, desenvolto sobre mim.E contigo assim, para além da memória, vou vagando,indefinido, por esse tempo que é, todo ele,um mar aberto de dias tensos, leques espraiados.

A tua presença em mim, saudade deslembrada,é a largura azul de um oceano extinto.

Marcos Bagno “Poetas Mineiros em Brasília” Ed. Varanda, 2002

Orlene

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Nasci em Cataguases, cidade do interior de Minas marcada por tradições culturais e movimentos estéticos e de vanguarda. É lá que surgiram o cinema brasileiro, com Humberto Mauro, no início da década de 1920, e o círculo literário da revista “Verde” (1927-1929), uma vertente do modernismo paulista de 22, tendo como signatários Ascânio Lopes, Enrique de Resende, Francisco Inácio Peixoto, Guilhermino César (que nos anos 30 radicou-se definitivamente em Porto Alegre), Martins Mendes, Oswaldo Abritta e Rosário Fusco. Sou filho de um barbeiro e uma servente de grupo escolar, nascido numa família modesta, mas que desde a mais tenra idade teve profunda ligação com a literatura. Primeiro como leitor, depois, na pré-adolescência, escrevendo os primeiros versos, estimulado pelas leituras de Augusto dos Anjos, cuja poesia despertou-me como um soco no estômago.

Tendo iniciado minhas viagens literárias nos poemas de “Eu e outras poesias”, não demorei a atalhar-me por outras veredas, descobrindo Drummond, Bandeira, Bilac, Alphonsus de Guimarães, Jorge de Lima, Thiago de Mello, Ferreira Gullar, Cecília Meireles, Adélia Prado, Hilda Hilst, chegando a Neruda, Maiakovski, Pessoa, García Lorca, José Martí, Sá Carneiro, John Donne, Walt Withman, E.E. Cummings, T. S. Elliot, Ezra Pound e por aí vai. Na prosa, minha descoberta e meu espanto vieram no mergulho em Clarice Lispector, Samuel Rawet, Rosário Fusco, Lygia Fagundes Telles, Machado de Assis, Graciliano Ramos, Guimarães Rosa, Dyonelio Machado, Cyro dos Anjos e depois Kafka, Camus, Faulkner, Thomas Mann, Dostoievski, Tolstoi, Eça, Vergílio Ferreira, essa irmandade que vou (re)descobrindo nos etcéteras que se multiplicam.

A vida em si aproximou-me da literatura. Ela é a sutil e fiel fornecedora de matéria e circunstância para a confecção literária dessa pátria enigmática composta por poetas, contistas, cronistas, teatrólogos, ensaístas e filósofos. Desde cedo as emanações do espírito e da consciência, as indagações profundas do ser, as inquietações, a inconformidade com o “status quo” foram consubstanciando em mim uma atmosfera bastante singular. Eu me percebia dissociado da realidade, das pessoas medíocres e alienadas, da mentecapticidade efervescente da sociedade consumista e fetichizada pelo deus-mercado.

Preferia passar horas inteiras enfurnado em um bom livro a pagar pedágio num campo de futebol ou envilecer-me diante da televisão, com todo seu espectro de passividade e banalização. A literatura, como toda arte, é a confissão de que a vida não basta, disse Pessoa. E esse tem sido meu evangelho, meu leitmotiv. E minha senha para manter-me vivo no meio de cidades cheias e homens vazios é um velho lema que li em Kafka: “tudo que não é literatura me aborrece”.

Nem a literatura nem o escritor têm uma função social. Acredito, porém, que a palavra serve, basicamente, como instrumento de resistência, de libelo, de arejamento de consciências, de acicate nas feridas. O escritor não veio para explicar, muito menos para mudar, mas, fundamentalmente, para inquietar, gerar inconformismo e, a partir disso, provocar no homem a capacidade de renovação que lhe permita compreender o mundo e torná-lo menos indigesto.

Concordo com o Miguel Sanches Neto, que apregoa a necessidade do bom conto para/como leitura humana do mundo. Ele, que tem sido, inegavelmente, um escritor sintonizado com as angústias de seu tempo e os problemas existenciais, captando, essencialmente, as nuances da alma humana, consegue transplantar para seus contos, poemas e romance, aquele sentimento do mundo de que nos falava o poeta itabirano. E o faz sem nenhum proselitismo nostálgico, sem nenhum recalque sentimentalóide, mas com a responsabilidade estética de comunicar seu mundo, a partir de uma visão aguçada e reflexiva da sua realidade (interiorana, provincial, afetiva, como a minha), numa perspectiva tolstoiana, que, a partir da aldeia, do quintal de casa, enxerga o mundo. Sim, o mundo precisa do conto, a forma mais refinada de ressonância de nossa experiência vital. E precisa não só do bom conto, em nível de um Machado, de um Tchecov, de um Autran Dourado, mas também de romances, densos ou sutis, que tratam do grande mistério que é a solidão, o isolamento e a incomunicabilidade da vida moderna.

Minha produção literária começou pelos poemas, como já disse, influenciado pela leitura de Augusto dos Anjos. Tendo publicado mais poesia, no entanto, produzi prosa durante toda a vida, a qual desovei em publicações esparsas em antologias, revistas e jornais, depois reunindo no volume “Dezembro indigesto”, que ganhou o Prêmio Bolsa Brasília de Produção Literária 2001. Daqui a pouco, publicarei uma reunião de novos contos, inéditos, escritos nos últimos anos, que enfeixo num volume a que dei o título de “Concerto para arranha-céus”. A poesia continua significando para mim o reduto de minhas expansões oníricas e metafísicas. Continuo poeta, sigo ficcionista, a escritura se manifesta em mim nos diversos gêneros e eles se fundem caleidoscopicamente para expressar meus questionamentos e minha maneira de exorcismo, comunicação e espanto diante das coisas. Se sou escritor, só o futuro dirá. Só sei que escrevo para tentar anular as tensões e o sofrimento impostos pela realidade. E para não enlouquecer.

Não há sociedade completamente feliz, nem mesmo nos Estados em que há pleno atendimento das condições sociais e econômicas, em que liberdade e democracia funcionam sem restrições. O homem é um ser em eterna busca. E só sobrevive, porque ainda não perdeu algo essencial, atávico: sua capacidade de indignação. A liberdade está diretamente associada a essa condição, que numa das pontas tem o sonho e noutra a necessidade utópica de afrontar os limites, derrubar barreiras, desatar algemas psicológicas, morais e políticas e a f i r m a r - s e s o c i a l m e n t e p e l a independência de pensamento e pela autonomia de ação. A literatura é uma das formas primordiais de se alcançar, “a priori”, esses objetivos, é o único território, como nos diz Northrop Frye, onde podemos ser verdadeiramente livres. Nem a religião dogmática, nem a política sectária, nem o patrimônio (financeiro e material) podem nos garantir isso, muito pelo contrário, são fatores de opressão, submissão e infelicicade.

Ronaldo, você poderia apresentar-se aos lei-tores do VAIA, falar um pouco sobre a suabiografia pessoal e literária?

Que autores você leu na sua formaçãoliterária? Quais deles causaram maiorimpacto na sua vida?

Que fato ou experiência de vida trouxe a lite-ratura para a sua vida?

O ser humano sempre buscou e buscaessencialmente pão e liberdade. Sa-bemos que no Brasil o pão é escasso erestrito somente a uma parcela da po-pulação. E a liberdade, o sonho da liber-dade do brasileiro? A literatura, que éuma fonte do sonho, atinge em que me-dida a população do país e que valorela possui em nossa sociedade?

Se é que existe, qual é a função social do es-critor brasileiro?

O crítico e escritor paranaense Miguel San-ches Neto disse em um de seus recentes ar-tigos que “o mundo precisa de contos”. O que você, que é um escritor que também es-creve contos, pensa sobre essa afirmação?

Você pode ser considerado mais poeta do que ficcionista, pelo menos publicou mais poesia do que prosa. Que significado tem a poesia para você?

“A palavra serve, basicamente, como instrumento de resistência, de libelo, de arejamento de consciências, de acicate nas feridas.”

onaldo Cagiano, mineiro de Cataguases, vivendo há maisde 20 anos em Brasília, é poeta, prosador e crítico literário. Acre-dita na palavra como instrumento capaz de modificar o homem e omundo. Sua literatura ataca asmazelas e feridas da sociedade contemporânea, seja Brasília, Cataguases, ou qualquer outro lugar. Ainda que reconheça ser tarefa quase quixotesca e utópica,faz uso do verso e do conto paracompreender o mundo e torná-lomenos indigesto. Autor de cincolivros de poesia publicados e da antologia de contos “Dezembro Indigesto” (2002), Cagiano prepa-ra novo volume de contos.

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Fernando Ramos

RONALDO

CAGIANO

ENTREVISTA

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Nesses contos, que foram escritos em épocas diferentes, eu procurei dar voz a esses seres desarticulados, desenraizados geográfica e psicologicamente. Uma espécie de testamen-to de meu tempo, daquilo que vi e vivi desde minha infância, de minha percepção acerca da derrocada política do país e do apartheid social que vivemos em qualquer lugar do mundo. MEUS CONTOS, NA VERDADE, MA-PEIAM O VAZIO EXISTENCIAL, AS CRISES INDIVIDUAIS E POLÍTICAS, O CONFLITO PERMANENTE DO HOMEM CONSIGO MES-MO, A DESILUSÃO COM O PODER, A PAS-SAGEM DO TEMPO, O QUESTIONAMENTODE VALORES. Penso que retratei o reino das impossibilidades, que é fruto da vida margi-nalizada, dos homens vazios, de um tempo de coisificação e etiqueta, em que mais vale o ter ao ser. É MINHA MANEIRA DE DEIXAR PATENTE MINHA INDIGNAÇÃO: TOCANDO

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Quanto à minha produção, sempre escrevi poesia e prosa, no entanto optei por publicar poesia até mesmo pelas condições econômicas, já que minhas obras sempre tiveram uma produção independente, por pequenas editoras, sem distribuição, sem apoios de qualquer espécie. Quando resolvi reunir meus contos escritos ao longo dos anos, coincidiu com a abertura do Concurso "Bolsa Brasília de Produção Literária", da Secretaria de Cultura do DF, tendo a obra vencido o concurso, depois foi publicada com recursos públicos.

Você não acha que há mais pessoas escrevendopoesia do que leitores de poesia hoje em dia?

editoras, o que é alentador.

contemporânea.

contistas?

NAS FERIDAS.

A cidade se des(d)enha em seus próprios labirintos:pelos leitos assimétricos de pedra e asfaltocorre pressuroso um rio de animais metálicos.

Não há mais lugar para os homens.Anônimos, como areia na ampulheta,mergulhamos, atarefados, em buscada outra margem: a utopia.A metrópole, como um ventre, espera o desconhecido,e na solidão geométrica nascem catedrais de ausências.Onde está a saídanesse beco sem saídas - sumidouro da viabilidade humana,território labiríntico onde a morte, Minotauro reciclado,resiste aos fios que uma Ariadne qualquer em vão estica?.

Um mar proceloso de corpos e olharesé o que aguarda na escura projeçãodesses lugares sem nome e sem epiderme.Contemplo os faróis acesos e só me resta esperarum novo fluxo divergente de pessoas silenciosas,que cruzam conosco absortas & macambúzias

(oh, artérias obstruídas pelas mazelas da urbanidade individualista)

e, como se rumassem a um funeral, vão à luta sem nenhuma esperança.

No lugar em que me inscrevo como criatura,tento capturar a primavera, na expectativa de calar os obituárioscom o gesto das novas manhãs, mas seres homiziadosentre girassóis transgênicos e a fúria neolilberal,gente morrendo viva no tédio dos prédios públicos,onde vicejam bancários bovinizados e funcionários infelizes,cadáveres adiados em seus currais de vidros.

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Há pessoas lendo mais e escrevendo mais, independente do gênero. É um fenômeno que podemos notar, o crescimento do hábito da leitura, ainda que não haja qualquer programa governamental de incentivo e considerando que o livro ainda é um produtocaro em nosso país. Quanto à produçãoliterária, há novos autores, tanto produzindopoesia como ficção, por pequenas ou grandes

Você acompanha a produção literária brasileira de hoje? E quanto à poesia bra-sileira contemporânea, o que você tem a dizer? Que poetas brasileiros contemporâ-neos conseguem captar aquele sentimento do mundo a que você se referiu antes?

Ainda que as editoras prefiram publicar prosa, principalmente romance e novela, vindodepois o conto, por razões de mercado, a produ-ções poética não cessa e estamos vendo por aí muita gente nova surgindo, seja em produções independentes, seja em blogs ou páginas nainternet. Há uma safra de bons poetas sinto-nizados com a emergência de seu tempo, captando os desvarios existenciais e fazendoda poesia um território de múltiplas reflexões, com uma dicção própria, sem adesão a mode-los passados ou a vanguardismos requentados.Entre os novos, destaco: Fabrício Carpinejar,Iacyr Anderson de Freitas, Edmilson de Almeida Pereira, Fernando Fábio Fiorese Furtado, Donizete Galvão, André Luiz Pinto da Rocha, Alexandre Pilati, Cristina Bastos, Micheliny Verunschk, Leonardo Almeida Filho. Enfim, temos muitas novas e boasvozes nesse cenário, formando uma geraçãoque sabe a que veio, com uma proposta formal e conceitual bastante definida e com qualidade estética para se firmar no cenário da literatura

Cagiano, você estreou publicando poesia. E desde os anos 80 você vem publicandosua produção poética em livro. Só em 2002 aparece o livro de contos "Dezembro Indigesto", publicado com o apoio da Bolsa Brasília de Produção Literária. É mais difícil publicar livro de contos do que de poesia? Foi uma escolha pessoal ou o mercado editorial não oferece espaçopara publicação de novos autores

Sempre foi difícil publicar livro no Brasil, sobretudo longe dos grandes centros, onde concentra-se o mercado editorial. Principal-mente porque, havendo uma profusão de novos autores, as editoras não podem con-templar os nomes que vão surgindo, preferemoptar pela segurança de autores já consagra-dos, afinal de contas editora é um negóciocomo outro qualquer e por visarem ao lucro, jamais apostarão num escritor para perder. Por isso, é sempre para o novo autor uma tarefa hercúlea sobreviver nesse meio onde impera um certo darwinismo literário.

“Dezembro Indigesto” é uma reunião (ou antologia) de 25 contos em que aparecem, predominantemente, a preocupação com a realidade coti-diana, a situação política, a solidãoe a morte. Os personagens desses contos sofrem com a angústia, o vazio da vida cotidiana, a face ab-surda da realidade e com o abjeto exercício do poder. Queria que você falasse como é que se dá a transpo-sição ou recriação da realidade que você vive e observa para a literatura que você faz - no caso estou falando dos contos. E como isso aparece em “Dezembro Indigesto”?

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Lygia Fagundes Telles, Ronaldo Cagiano e Marcelino Freire

“Dezembro Indigesto”, primeiro livro de contos do mineiro radicado em Brasília Ronaldo Cagiano

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Nascer na Ilhota, um bairro humilde na época, em Porto Alegre, dá à natura-lidade de Lupicínio uma paralelização com as grandes figuras do samba e do jazz. Vários dos nomes mais importantes da notoriedade têm seu berço em lugares socialmente remotos e histórias de vida surpreendentes. O que nos faz ter certeza de que num país como o nosso, muitos nomes importantes surgirão todos os dias das ruas dos subúrbios. Altaneiros ao preconceito. Acima da existLncia das elites. Além da retrógrada indiferença dos governos. Cumprindo, evolutivamente, uma maravilha ética e natural da cidadania. Motivo pelo qual temos de estar sempre social e culturalmente atentos.

Para comemorar noventa anos sem máculas, nós do Vaia, recorremos à história e emitimos notas litero-musicais fiéis à preferência do artista.

Sabemos que a história é definitiva e nada a mudará. Cremos que naquela alma poética de constante e real magnitude morará, decerto eternamente, a felicidade que se possa ter de haver sido, sobretudo, um homem singular, especialmente designado. Um toque de mística, de categoria, de classe e inspiração da vida num dia de chuva da Ilhota para o mundo.

Imortalizado em milhares de interpretações pelos mais diversos nomes do cancioneiro nacional, Lupi era um daqueles sujeitos que se percebe de longe que é de muito boa índole, muito simples e popular. O que se consegue confirmar graças às várias centenas de documentos e depoimentos que existem nos mais diversos lugares e nos mais diversos níveis sociais, bendizendo sua grandeza.

Tentam impor aspectos de uma modernidade inadequada que se traduz forçosa e desgastada. O supervirtuosismo abstrato é indesculpável. O eletronismo careta não se compara à preciosidade do primarismo acústico. Portanto, a originalidade do violão do professor Darcy Alves (nosso ilustre amigo, ex-componente da banda de Lupi), há de ser sempre mais importante que qualquer tentativa inglória de recriar a beleza sublime da MPB. Há de ser documento fidedigno da memória de um tempo, que se aproxima do contemporâneo e percebe que a noite de hoje nem se aproxima do glamour das noites boêmias de Lupicínio.

Enquanto isso, nesta bifurcação intelectual, segue para um lado a tentativa endoidecida de encontrar rumos estéticos e para outro vai Lupi, jazendo e vivendo, imor- tal, com aquele seu jeitinho tímido e frágil, no imaginário saudoso de cada um dos seus fãs e amigos, que jamais o deixarão morrer. Hoje, é possível relembrá-lo com agradecimento, orgulho e carinho, em todo seu talento. Lupicínio dos tempos. Lupicínio dos templos das rodas de samba. Lupicínio do pensamento, que parece uma coisa à toa, mas como é que a gente voa quando começa a pensar?

Uma das coisas que Lupicínio Rodrigues mais gostava, segundo depoi-mento ao Pasquim, era, além de sofrer por mulheres, das interpretações que Jamelão, o grande tenor do samba, sempre deu para as suas músicas. E isso por um motivo muito simples: Jamelno, com muita temperança e ciência, jamais deixou de cantar a obra de Lupicínio exatamente da forma como ele a havia composto, sem mexer na melodia ou na letra original, o que o tornou o intérprete predileto do compositor. E vamos convir que, às vezes, determinadas versões que aparecem cantadas por outros artistas são, realmente, grosso modo, de muito mau gosto.

stamos comemorando noventa anos da vida de Lupicínio Rodrigues, aque- le que em seus depoimentos musicaisautobiográficos trouxe ao cenário bufão damúsica popular brasileira a tradução exatada alma dos descornados: a famosa dor-de-cotovelo.

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90 ANOS DE LUPICÍNIO RODRIGUES

LUIS MAURO VIANNA músico e compositor

Lupicínio Rodrigues nasceu em Porto Alegre, RS, em 19 de setembro de 1914. Foi o inventor do termo "dor-de-cotovelo" que, ao contrário do que se propagou como inveja, - se refere à prática, comum nos bares, do homem ou mulher que senta ao balcão, crava os cotovelos, pede um whisky duplo, faz bolinhas com o fundo do copo e chora o amor que perdeu. Lupi, como era chamado desde pequeno, tinha três grandes paixões em sua vida: a música, o bar e as mulheres. A música poderia ter convivido com tranqüilidade com as outras duas, mas as mulheres em sua vida jamais entenderam ou conviveram com sua paixão pela boemia. Constantemente abandonado, Lupi buscava em sua própria vida a inspiração para suas canções, onde a traição e o amor andavam abraçados, afogando as mágoas na mesa de um bar, onde, finalmente, conseguia unir suas paixões: amor, música e boemia. Com versos profundos, conseguia tocar todos os corações que paravam para ouvi-lo, dando a cada um a sua própria história. Ninguém soube, como ele, cantar a dor e a desilusão de forma tão genial, sem cair em clichês e lugares comuns. Todas as pessoas que um dia choraram um amor ergueram, sem dúvida, um brinde à Lupicínio. Faleceu em Porto Alegre, em 27 de agosto de 1974.

“O tio Lupi gostava muito de mim. Chamo ele de tio por que quando eu era uma menininha, a minha mãe me botava na frente de casa, toda arrumadinha, com vestidinho engomadinho, todo bonitinho, e o Lupi vinha e me pegava junto com o meu tio e me levava para o armazém pra me ensinar samba. E a minha mãe ficava uma fera e dizia que aquilo era samba de vagabundo. Mas eu voltava para casa cantando samba. Quando a minha mãe me procurava, ele já tinha me levado. Ele gostava muito de mim. Até os últimos dias dele. Lupi foi um exemplo pra mim. Ele ficou ali, resistindo, na música, e eu só sei que ele sofreu bastante para vencer, assim como eu. Para mim, até hoje ele não morreu. Lupi sobrevive por tudo que era. Ele sabia amenizar a gente. Eu ficava braba e ele vinha me dizia: “Não filhinha, vai devagar (não queriam que eu cantasse, porque eu não era profissional, né?) que tu ainda vais ser uma grande cantora!” Mas foi ele quem disse quando eu cheguei do hospital, recém-nascida, que seria uma cantora, porque eu estava chorando afinada. Minha mãe até hoje diz: “Foi ele quem deu teu destino”. Se dependesse da minha mãe eu teria sido professora. Eu só consegui mesmo foi dar o canudo de cantora para ela. O que é quase a mesma coisa (risos).

O Lupi é muito importante para mim até hoje. Ele ia me ouvir depois de crescida e adorava dizer: ”Ninguém canta Volta como a Zazinha!” - Ele adorava me ouvir. Dia desses, eu fiquei irritada porque eu queria cantar Volta e não me deixaram. São essas coisas da modernidade. Eu tenho uma música que é minha, que eu fiz, pedi para ele arrumar, e ele mudou umas coisinhas, que é aquela: uma mesa num canto/ um cigarro apagado/ uma porta que bate/ foi alguém que saiu/ que me abandonou/ que não acreditou que tudo se renova/ mas quando tudo acontece/ a gente se perde, nem pode falar/ não tem esperança que um dia de novo/ possa amar outra vez...Ai, como eu sofri em perder este amor/ e lamentei por um tempo perdido/ que um dia em teus braços/ feliz me entreguei/ Ai, como eu sofri em perder este amor/ e lamentei por um tempo perdido/ que um dia em teus braços/ feliz me entreguei.” (Zilah Machado & Lupicínio Rodrigues)

“O que eu me lembro é que a gente sempretrabalhava juntos, ali no antigo restauranteTop Top, no Cine Marabá, na Cidade Baixa. Aío Lupi chegava assim, quando alguém pedia para ele cantar uma música: “Ainda não afinei. Esperaum pouquinho que eu ainda não afinei.” Daí eleia lá, tomava uma coisinha e voltava: “Pronto, já estou afinado. Faz um sol maior, aí!” Uma daspassagens mais lindas dele eram essas daí. E aí ele cantava: "VocL sabe o que é ter um amor meu senhor..." O Lupi era um cara sensacional. Ele tinha um coração aberto com todo mundo. A gente sempre falava nele, assim, com uma esperança de vê-lo de novo, de se encontrar com ele denovo. Era uma maravilha o Lupi. Gente fina!”

ZILAH MACHADOcantora e compositora

PLAUTO CRUZ músico

DOIS DEPOIMENTOSSOBRE LUPICÍNIO:

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VAIA - O choro ainda é música de gueto, com es-paço restrito e com pouca visibilidade na mídia?

Moysés - Tá melhorando, bem melhor do que quan-

Anderson - A gente esteve em Santa Catarina ago-ra e falou com o Rogério Piva, neto do Túlio. Ele sese surpreendeu e perguntou se tinham outros grupos aqui em Porto Alegre. Pô, claro, tem muita gente nova e boa aparecendo, o Bem Brasil é bom pra caramba. E o Rogério viveu outra época do choro aqui. Ele deixou o choro de lado e passou a tocar jazz porque tava diminuindo o espaço pro choro.

VAIA - Então, da geração do Rogério não houve uma ponte, uma continuidade com a geração deagora. E pra fazer um festival de choro hoje aqui em Porto Alegre, o que falta, grana, estrutura?

Moysés - O que falta é vergonha na cara dos mú-sicos. Algumas iniciativas que tem por aí acabammorrendo na casca, por falta de interesse de muitagente. A Oficina do Choro começou legal, quando era novidade tava indo bem, agora tá enfraquecen-do, já ouvi o Luis Machado, que é o coordenador, se queixando que tem ido pouca gente. Então, po-de botar festival, dinheiro, que vai continuar ruim.Porque falta também uma base. É um problema de organização e formação dos músicos. E o projeto que a gente faz na Casa de Cultura, chamado Ro-da de Choro, que era semanal, agora está sendo me nsal, porque está dimu indo a procura.

VAIA - Qual é a formação musical de vocês?

Mallmith - A minha formação é informal. Comecei com cavaquinho, gostava de samba, mais tarde que fui me interessar pelo choro, meu pai me deu de pre-sente um disco de choro, era uma coletânea, Cho-rinhos de Ouro, aquela coisa né... Aí fui atrás de outros discos. Nessa época tocava cavaquinho. O

Anderson - Minha formação era do samba. Tocava tantan, tamborim, surdo. Sempre estudei samba. Noinício não curtia muito o choro, tinha um pouco de preconceito com o choro, por causa daquela coisade a música não ter letra e tal. Entrei no Camerata poucos dias depois de ter comprado meu primeiro pandeiro. Comecei a escutar o básico, Jacob, Wal-dir Azevedo... Só que não entendia nada, nem sa-bia a diferença da primeira pra segunda parte.

VAIA - E teve algum disco ou músico que tu ouviste que causou impacto, modificou o teu

Anderson - Teve. O Serginho, do Tira Poeira. Vi como poderia se usar o pandeiro. Não precisava só fazer o acompanhamento, dar o pulso pra músi-ca, podia solar, brincar, acentuar os tempos de ma-

Moysés - O jeito de tocar é diferente, não existe a

Anderson - E o Serginho tirou essa linguagem dapercussão ouvindo jazz, criando outras coisas, sen-do livre. E hoje ouço muito jazz. Acho que é por aí.Moysés - Comecei a estudar violão aos 12 anos,por influência de meu pai. Não sei bem porque masjá comecei estudando violão erudito. Depois, na faculdade descobri os compositores modernos e devanguarda e dali caí nos modernos brasileiros: Ca-margo Guarnieri, Radamés Gnatalli, Villa-Lobos, Guerra Peixe. Depois abandonei a música por 8anos. E no meu retorno, me voltei pra música

Luis - Cresci ouvindo muito samba. Meu pai gosta-va muito de samba e queria que eu tocasse violão.Fiquei uns 2 anos só tirando música e tocando ca-vaquinho e violão, sem maiores pretensões. Quemme apresentou o choro foi o Luis Machado. Me en-sinou a ler partitura, a parte teórica. Ouvia Jacob, Pixinguinha, mas não me entusiasmava muito, nãoera aquela coisa: “ Bah! É isso.” Até que um dia ouvi uma fita do Hamilton de Holanda e aí bateu.Pô, gostei pra caramba, falei: “É isso!” Comecei aouvir a origem daquilo que ele fazia, ouvir todos os

VAIA - Vocês pensam no público quando estão compondo ou ensaiando

Moysés - A Elizeth Cardoso falou numa entrevista uma coisa que aClara Nunes também falava: “faço um público pra minha música e não mú-sica para um público”. Acho que é isso. E não tem como agradar a todo mun-do. Quando a gente se encontra, ensaia, compõe, arranja, pensamos que quem tem que ficar contente com o resultado somos nós cinco, o resto é só Anderson - E o bom disso é que a gente faz música pra gente mesmo, nãotem que fazer pra agradar o pessoal da velha guarda ou pra agradar o pes-

VAIA - Pra terminar nosso bate-papo, queria

Moysés - É uma maneira de ver o mundo, é um modo de vida. É viver para a confraternização, porque o choro, acima de tudo, é uma música de

Luis - E o choro começou assim: os chorões sereun indo p ra toca r, comer e beber.Moysés - É uma forma de celebrar a vida.

VAIA - O que significa o cd “Deixa assi m...” pra vocês?

Luis - Acho que é um registro do nosso momento atual. E também marcapara cada um a nossa relação de amizade nesse momento. A última faixa,Diário, música do Kim Ribeiro, mostra exatamente o retrato do nosso traba-lho e amizade, a gente ensaiando, viajando pros shows, é a cara da gente

Mallmith - Concordo com o Luisinho, é um registro daquele momento que a gente viveu. Pra mim representa a persistência de seguir tocando, insistir

Ferrari - Lembro que lá pelos meus 5/6 anos ficava ouvindo junto com meupai os discos da Bethânia, da Gal, do Djavan e decorava e cantava todas asmúsicas. E isso foi muito importante pra mim. De uma forma indireta, esses momentos com meu pai foram uma influência. É isso que me atrai na músi-ca, é o prazer, a tranqüilidade de ouvir e tocar coisas boas. E quando pegueio CD para ouvir pela primeira vez, olhei o encarte e fiquei emocionado, comos olhos cheios de água. Esse CD traduz, além do trabalho, a nossa amiza-

Anderson - Pra mim, no CD aparece a identidade de cada um, é um pouco de cada um de nós. Se tu pegares cada música, tu vais ver a formação e acontribuição de cada um. O Moysés aparece com toda a bagagem de infor-mação na Suíte Retratos. No Czardas aparece toda a nossa vontade e garra de tocar, coisa de guri misturando funk e frevo. Em Carinhoso tem asuavidade do Ferrari. Mallmith trouxe seu bom gosto nos arranjos que fez.Moysés - É um marco pra mim. Ele representa muita coisa que quis fazer desde que era criança. Fiquei encarregado do planejamento e produção doCD. Foi uma vitória pessoal grande. E uma conquista nossa. Também achoque é um momento que ficou documentado aí. Hoje a gente já toca bem diferente. E a gente amadureceu muito rápido como grupo. Eu sei disso porque tenho 38 anos, a minha história conto em anos, não em meses. Jávi muita coisa acontecer. O grupo andou rápido demais, e amadurecer tãorápido assim é difícil. Cada um traz as suas influências. E o que permite a confluência de influências para dentro do grupo é a amizade, é falar a mes-ma língua, cada um permite isso aos outros. E isso não é assim tão fácil.Luis - Outra coisa é que a gente começou juntos. Todos, exceto o Moysés.

VAIA - E como é que foi a escolha de reper-

Moysés - A gente começou a gravar só coma metade do repertório que tá aí. Semanas an-tes de entrarmos em estúdio, fazíamos um cro-nograma do que cada um ia fazer de arranjo.Ferrari - O que tinha de certo era que ia teruma do Jacob, outra do Waldir e também eracerto que ia ter uma do Pixinguinha. Depoisconhecemos o Kim Ribeiro, a gente gostou, e o Moysés pegou pra fazer o arranjo. Quería-mos colocar um gaúcho, aí escolhemos uma do Henry Lentino. Já tínhamos um esboço de arranjo pra Czardas, que depois o Luisinhoterminou. Pedi pra fazer o Pixinguinha e acabei escolhendo o Carinhoso. Outra coisa que a gen-te acha legal é tocar músicas de compositoresque estão vivos. Aí abre espaço pra outroscompositores, inéditos, pra torná-los conheci-dos, e também pra mostrar as nossas músicas.Outra preocupação era mostrar, digamos, a ca-ra camerística do grupo, escolhendo algunsclássicos. E misturando músicas inéditas comclássicas, quem ouve vai discernir o que é com-posição do que é arranjo. Se a gente tem coi-sa nova pra apresentar em termos de arranjo,quem ouve saca o que a gente criou ali, inter-

Anderson - Todo mundo contribuiu pros arran-jos e gravação, mas quem deu condições e foi fundamental pro CD acontecer foi o Moysés. Moysés - O que acontece é que eu já passeipor muita coisa, tudo isso que vocês viverame estão vivendo eu já experimentei. Só quena minha época não aconteceu. Eu tocavamuito, mas simplesmente não acontecia. Is-so me frustrou muito, tanto que fiquei 8 anosafastado da música. E, de uma hora para ou-tra, a vida me deu a possibilidade de as coi-sas acontecerem. E aí, pensei, agora sei comofazer. É um problema de formação e experiên-cia cultural. Acontece com todo mundo, músico,advogado, engenheiro, o pessoal sai da facul-dade sem saber pra onde ir. Me esborrachavaestudando, eram 10/12 horas de estudo. Fui solista de orquestra no Uruguai, Argentina, e nãoaconteceu nada. Hoje, sei que pra ter sucesso relativo na carreira precisa tocar bem, mas tocarbem é só uma pequena parte, o resto são as condições... tocar bem é detalhe. Então, fico feliz,porque se consegui passar essa experiência praeles, quem sabe, agora, eles possam passar issopra outras pessoas. E talvez daqui a alguns anosi s s o s e j a u m e f e i t o m u l t i p l i c a d o r .Luis - E, é claro, a gente continua fazendo músi-ca por amor à música. Isso é fundamental, mas

Moysés - E é engraçado, porque às vezes tu tensamor à música mas não consegue viver para amúsica, aí tem que fazer outra coisa. Só que oque te faz realizado numa profissão é o amor quetu tens por ela. Aí pinta um conflito violento.

VAIA - Falem da música-título, “Deixa assim...”

Moysés - Nós já tocávamos um choro do Luisi-nho e outro do Ferrari. E aí pedimos uma músicapro Mallmith. Pegamos pra fazer o arranjo, ficou legal. Aí perguntamos pra ele qual era o nome da música e ele falou: “pois é, não sei... Deixa

Luis - Isso mostra um pouco o nosso lado des-pretensioso mesmo. Uma coisa meio largada...

CAMERATA BRASILEIRA

do a gente começou.

violão de sete veio há pouco tempo.

aprendizado?

neira diferente.

idéia de cozinha.

brasileira, pro choro.

andando por aí.

de, o respeito que cada um tem pelo outro.

em tocar choro, é a resistência de ir até o final.

tório e arranjos pro CD?

pretando um clássico.

tu vais viver disso?

confraternização.

saber o que é o choro pra vocês?

assim...qualquer coisa assim...”

Da esquerda para a direita: Moysés Lopes e Anderson Balbueno (em pé); Rafael Ferrari, Rafael Mallmith e Luis Barcelos (sentados), chorões do Camerata. Essa rapaziada gente boa e que faz uma bela música está lan-çando seu primeiro cd, “Deixa assim...”, que tem no repertório Pixinguinha, Jacob do Bandolim, Radamés Gnatalli, Kim Ribeiro, Henry Lentino, além de composições próprias. Neste bate-papo eles falam sobre a amizade, a formação musical de cada um e, claro, a alegria de tocar choro.

Fernando Ramos

e

Fr

dy

Vie

ira

para um show?

Ferrari- ... nova guarda (risos)...

soal da...

conseqüência.

tradicionais e a curtir mesmo.

ENTREVISTA:

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A casa é pequenaE sujaMas a hospitalidade,É amplaPara os amigos que chegam.

Para os amigos que vão,É tantaQue sempre deixoA TV ligadapara distrairmeus fantasmas.

Hoje, fui até o bar que não freqüentamosAcho que ninguém perguntou por ti,Nem perguntou aonde eu andava, e eu ali,Tentando lembrar da bebida que nunca tomamos.

Respondi-lhe que continuava não lhe vendo,Como tem sido ao longo destes anos,E lembrei-me dos beijos que teriam sido insanos.Do amor seu que nunca fui, e continuarei sendo.

No caminho até o bar, passei na casaQue nunca vivemos, e ali, parado, estavaUm grupo de amigos que nunca tivemos.

E junto com esses que jamais compartilhamos,Saí-me ébrio para beber-te mundo afora.Ao filho que nunca tivemos, dei uma esmola.

Lembrança

Singeleza

Luto Real

Digitais

Esse que te humilha, te é bem conhecido;Olhe bem que é tua mãe e teu pai,Em um tempo que te chamavam de filho.

Esse que te humilha, te é bem lembrado;Conhece-o de um tempo imemorável que vai,E já considerou-o como teu ser amado.

Esse que te humilha, era amigo;A traição dele é a ficha que agora cai,Percebendo que o ódio era antigo.

Esse que te humilha, era amigo;Foi-se junto com a sorte que se esvai,Quando percebeu que eras um vencido.

Esse que te humilha, é um desvalido;Cuidou dele sem dizer nem um ai,E hoje foge de ti por seres um falido.

Esse que te humilha com o desprezo,Afiou a faca para que outros pulhasCortassem tuas esperanças mais puras,Enquanto a vida te lançava ao degredo.

Esse que te humilha, já foi sustentadoPela força, pela tua essência,E ao perceber em ti a decênciaViu um animal fácil de ser roubado.

Esse que te humilha, estava no chão;Vivia torpe em uma vida trevosa,Quanto tu ofereceste tua aura luminosa,Sem saber que se tratava de um ladrão.

Esse que te humilha, é um bastardo;Só teve um nome por tua piedade,Por conta de tua autenticidade,Que não reconheceu o valor de ser adotado.

Esse que humilha, bebe e dá risada;Gargalha de ti, essa grande piada,Que não viu a maldade nem por um instante,Por compaixão de ver alguém agonizante.

Esse que te humilha, agora goza em gemidosDe prazer, a perversão em sodomia pura,Enquanto pratica sua indiferença surda,Ao teu choro desesperado em ganidos.

Esse que te humilha, não é nenhum profano;Foi teu melhor amigo, teu progenitor,Teu protegido, tua mãe, teu amor.Assim como todos, é apenas mais um ser humano.

Irmanação

sou feliz como os insetosescrevo na asa dos pássarosno inverno me tornei lajedoas cabras freqüentam-no como destinoúnico destino lúcido dos poetaso de procurar talvez ovelhasno rebanho de tardes azuisou na chuva das floressilvestres no fundo dos rios

o trem não existe maisna estação se esperaoutra fantasia de ferro

cadê o trem do meninotá chegando tá chegandotá chegando no fim da tardee os olhos fixos no trem

as flores do rio os olhos no trem

não sei como sou não seinome tirado na rotina da bíbliacoração de fruto e de pedrano corpo de cajaranaos rios nos pés sempre limposas tardes nos olhos inexpressivosnão sei como sou não seio azul soberano na pele das coresa estação ferroviária sozinhadói tanto dentro de mimum velho muito alegreembrutece-me toda a tristezaum menino com aspecto tristedispensa rápido a alegrianão sei como sou não seisó sei que invejo o pássaroque se não paga imposto de rendasabe encher de salmos o verde da terra

o pássaro

autolirismo

sou poetanão escrevonas nuvens

palavras mantenhocheias de rios

versos secos de rima

poesia tocao hímem da terrano aviso dos pássaros

a vaca estrelacativa meu olhar

uma bicicletacom asas andano meu outono

Enganei a todos em meu velório,Pois compareci bêbado de verdade,Caindo como chuva sem necessidade,Rogando pragas sem salmo responsório.

Por que me choram em autêntica condolência?Nada sou além desse substancial abstrato,Dessa emotiva desfragmentação de meu extrato,Nesse imenso monturo, inerte em ambivalência.

Em minha bebedeira, saúdo o porre que é viver.Os que me choram, choram-me para esquecerDo abandono do sonho em mim projetado,

Não de minha imprestável elegia ao degredo,Escrita nas paredes, pelos dias de tão bêbado.Choram por que ninguém merece ser chorado.

Com as linhas da palma de minha mão,Cerzi minha veste última e fúnebre,E no recôndito mais frio e lúgubreDa alma, enterrei meu coração.

Um dia despertei, desesperado e fracassado,Sentido a inutilidade da força de meu braço.Minha boca apenas sibilava uma canção,Que como o desprezo, pesava-me feito condenação.

Sentindo o cheiro do cadáver apodrecendo,Com meus próprios vermes vou convivendo.Tentando entender o que fizeram à minha sorte,

Com minhas esperanças ou algo que me valha.Com os traços de minha originalidade fiz a mortalha.Depois lavei-me, e me resignei para a morte.

Charles Abegg ([email protected])mora em Porto Alegre. Autor de “Mortalha e outros poemas”, 2004 - ed. do autor.

Barros Pinho, poeta piauiense, nascido na ribeira do Parnaíba.

Autor de “Carta do pássaro”, 2004 - Ed. Escrituras.

chego aos sessenta sonhos ouvindo as águasquerendo cantar como os pássaros(àqueles que se espantam com as gaiolas)procurando espaço no que se perde nas distânciascontando estrelas no céu sem noitefazendo poema com a flor da estrada

olhos nas fêmeas que pisam em lodo recatadasfalando baixo para não ouvir o ruído da sombracarregando vento na tempestade a tiracoloesses sessenta sonhos não são salmos bíblicossão pedras e trajetórias que se esperam do meninona pele da palavra com os pés no rio

ode aos sessenta sonho

tenho uma profeciafeita no desertoa beleza é a pedrano rígido espaço azul

profecia

dói em mima palavrados que falamsem nuncaserem ouvidosfica no orvalhoapenas um gestode silêncio

dor da palavra

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CRUZADAS MANJADAS1 3 4 5 6 7 8 9 102

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CRUZADAS MANJADASHORIZONTAIS - 1- Composição poética de 14 versos - Marcade sabão em pó - 2- A primeira mulher (bíbl.) - 17a. consoante -Vantajoso - 3- Recíprocos - Também - 4- Brazilian Larápio’s Organization(Congresso) - País do leste europeu arrasado por guerras - 5- Naquele lugar - Páraco de aldeia - Graciliano Ra-mos, escritor - 6- Vogal - Relembra - 7- Provável futuro marido -Latido - “Ponto (...)”, programa sobre sexo na tv aberta - 8- Proeminência - Persuadir - 9- Divisão do tempo geológico emperíodos - Tremores - 10- Pessoa muito parecida com outra - Garganta (pop.) - VERTICAIS - 1- Rostos - 2- Célula sexual feminina - Elemento químico metálico, precioso - 3- Nascido - Sorteio feito por meio de bilhetes numerados (pl.) - 4- Vogal - 20a. Letra do alfabeto - Sacio - Iodo (símb.) - 5- Arma de fogo artesanal - Alcaides Anônimos - 6- Consoante - Solução orgâ-nica ou mineral usada como medicamento - Ingrid Bergman, atriz- 7- Unânio (símb.) - José (...), escritor - 8- OrdemTru-culenta da America do Norte- Substitui o ator em cenas peri-gosas - 9- Alivia - Provedor - 10- Lubrificar com óleo - Surra.

ma nave de extraterrestres em visita ao nosso planeta, a fim de conhecer algo sobre as leisque nos regem, pousa na Praça dos Três Poderes numa tarde de quinta-feira, cidade quase vazia. Pedem lpara ser levados ao nosso líder . Maso presidente Lula encontra-se em maisuma de suas viagens ao exterior e osnobres congressistas estão em “visita às bases”, o líder dos Ets é recebido pelo Advogado-Geral daUnião. Após ouvir longa explanaçãoa respeito da estrutura dos poderese de como são feitas as nossas leis, o extraterrestre, intrigado, questiona o Advogado-Geral:ET- Então, quando o Congresso apro-va uma lei ela vai direto ao STF para que se esclareça se é constitucional?AGU- Oh, não! A lei não precisa daaprovação do STF. Às vezes, passam-se anos até que alguém a conteste aseu favor. Se o Presidente aprova,entra em vigor no ato.ET- Ah, o poder executivo é parte dolegislativo. E o policial também deveaprovar as leis que se devem cumprir?AGU- Ainda não - ao menos em seucaráter de policial. Em geral, toda leiprecisa da aprovação dos restringidos.ET- Entendo. A sentença de morte nãoé válida enquanto não for confirmadapelo assassino.AGU- Que exagero, meu amigo, não somos tão coerentes...ET- Mas este sistema de manter one-rosa máquina para julgar sobre a validade de leis depois de elas teremsido longamente executadas, e só nocaso do cidadão submetê-la à Corte, não provoca uma grande confusão?AGU- Provoca.ET- Então, por que as leis, antes deserem cumpridas, não são aprovadasnão pela assinatura do Presidente, mas pelo Supremo Tribunal Federal?AGU- Porque não há precedentes paraesse sistema.ET- Precedente? O que é isso?AGU- É algo que foi definido por cente-nas de juristas, em três volumes cada. Como poderíamos saber!?

LEIS DO OUTRO MUNDO

(Adaptação de verbete do Dicionário do Diabo, de Ambrose Bierce)

EMPREITEIRA IL PARNASO CONFECÇÃO E REFORMA DE SONETOS, ÉCLOGAS, BALADAS E TERCETOS

Contamos com uma grande equipe deTécnicos em Poesia* para criar (ou recriar)na hora o seu Soneto, Écloga, Balada ouTerceto. Basta trazer o tema! Promoção do Mês:Sonetos com o tema AMOR a R$ 1,00.Sonetos com o tema ROSAS a R$ 2,50.E ATENÇÃO: Grande Saldão de Trovas a R$ 0,01 (isso mesmo: um centavo!).Temas variados (dentro daquela variaçãode SEMPRE): Amor, Saudade, Esperança, Natal, Cristo, Amizade, Deus. Aviso: Não trabalhamos com temas pornográficos e neologismos. Grato. www.ilparnaso.com.br

* Com registro na ABL

O Labirinto só existe para que nossas Fugas venham a se cruzar. Sammis Reachers

...e se cada pitbull assassinasse

seu dono, o mundo estaria livre

da metade de seus idiotas!

E a outra metade

“resolveríamos”

pondo chumbinho

nos Big Mac’s!

Criação e manipulação clipártica:

SAMMIS REACHERS

(De) Liberação

ois pedaços, apenas isso: dois pedaços, pontos de partida. Lembra A Vida, Modo de Usar, do Perec: se percebes ter em tuas mãos um pedaci-nho mínimo de um quebra-cabeça, e te atentas para a ossatura da sua forma, o capricho de seuscontornos e aquela convicção de fazer parte de um todo que tão bem cai em peças de quebra-cabeças, então, quando aquilo te convence deque só existe porque pertence a um universo que depende daquela insignificância para ser comple-to, então, aí então, percebes que não sabes merda

No entanto, se por um desses raros acasos quepouquíssimos mortais têm a sorte de presenciar ereconhecer, se por um mísero acaso percebes nãosó a existência de duas peças de um mesmo que-bra-cabeça, mas, abismado, entendes também que ambas se unem perfeitamente (ossatura, con-torno, tema, capricho, imagem e semelhança), aí,então, abismado, percebes que não sabes merdanenhuma sobre o quebra-cabeça. E nesse instanteo romantismo não é mais do que pares de olhos úmidos mirando uma triste pá e um pobre saco de cal a se transformar lentamente em jazigo, olhos que afundam na nuca para acatar os vermes da memória, que apesar de tudo sentem saudadesdo que pretendiam ver. E por si mesmo movem-se, dois pedaços, apenas isso. Entretanto é o que somos,mais do que nada, relações, pontos de partida unspara os outros, mesmo que a paixão ou o apaixona-do mais dia ou menos dia terminem por desencaixar

Cláudio Santana

D

ou se perder.

nenhuma sobre o quebra-cabeça.

Desaforismosde Franklin Jorge*

- Escrever: Escrever é transgredir os códigos. Escrever paralisa os hipócritas. Escrever é a vingança do mais fraco. Escrever equivale a um lento suicídio. É o ato mais próximo do suicídio. Quero disciplinar-me a escrever com uma raivafria.

- Morrer: Antes morrer de Aids do que de tédio.

- Mulheres: As mulheres seriam os melhores amigos do homem, se soubessem distinguirsexo de amizade.

* Poeta e jornalista de Ceará Mirim/RN.

U

O Pinto Lu z us a o Insektoi G t v

Editor: Marco Marques Redator: Serpílio Atrabílis Projeto Gráfico: Gil Pires Jornalista: Victor Silva Capa: Andrea Fricke Duarte

o a o a n s a e i ã : B o i h , a e b g Clá io P e aC l b r m e t d ç o arr s P n o Ch rl s A be , ud ort ll , C á d o S n a , ma u M e o a F b o G e F r a d d zl u i a t na E n el ed ir s Vieir , á i om s, e n n a Pe raz i,F r a d m , r n l o g , ta Arn , c u s C u ö e L ree n n o Ra os F a k in J r e I old Ja q e an t, K l , au ne

r s L a a Vi n a u s o n e , Ma a i d l m n u ,Ve a , uis M uro d a n , L iz Gu tav I s kto g l Vi a Do i g esn e o z Á v r z Ma s g o J Rib o Qa Qo , n l oMa u l G nzále l a e , rco Ba n , P. . eir , íqe mé Ro a d

a i n , R s l ta n Sa mi R c e s W ll gto a re .C g a o o á ia Milsz j , m s ea h r , e in n L va da

O EOS ARTIGOS ASSINADOS SÃ DE INT IRA B LIRESPONSA I DADE DOS SEUS AUTORES

c?Rua Demétrio Ribeiro, 706/601- entro-90010-312e S e ( Porto Al gre - RS - BRA IL - Fon : 51)-9649-5087

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V VIV

V V

QUE CAGADA, CIDADÃO!!!

VOTE

NULO

JUSTIÇAELEITORAL

CABINA DE VOTAÇÃO

VOTA

ILBRAS

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