jornal o ponto - outubro de 2007

16
Turismo: Noventa e uma famílias do Vale do Jequitinhonha recebem turistas em suas casas para conseguirem seu sustento econômico; trata-se do turismo solidário, que apresenta vários problemas. [ página 10 e 11 ] Ano 7 | Número 66 | Outubro/Novembro de 2007 | Belo Horizonte/MG DISTRIBUIÇÃO GRATUITA Estudantes e sem-teto se mobilizam nas brigadas populares Documentário aborda a poesia de Manoel de Barros e sua importância para escritores contemporâneos [ página 15 ] JORNAL LABORATÓRIO DO CURSO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL o ponto Torcidas dividem-se entre paixão e crime Perrela aceita o desafio de conquistar o eleitorado atleticano Jornalistas discutem o assédio na redação Incêndio ambiental em MG é criminoso Indústria se opõe à terapia com sangue Condenada em tom unísso- no pela comunidade médica (Conselhos federais de Medici- na e Enfermagem, secretarias de saúde), a auto-hemoerapia se mostra uma prática eficaz no tratamento de doenças relacio- nadas à baixa imunidade. Especialistas explicam que a técnica, criada há quase um século, consiste na retirada de cerca de 15 ml de sangue do pa- ciente e sua aplicação no mús- culo do mesmo. Este procedi- mento, alegam seus defensores, ativa células que ajudam na for- mação do sangue e mecanis- mos de defesa. Os benefícios eli- minariam infecções pós-opera- tórias e dispensariam remédios. Para seus adeptos, a condena- ção se deve a pressões da in- dústria farmacêutica. [ páginas 4 e 5 ] Aprovado em Congresso realizado pela FENAJ (Fede- ração Nacional dos Jornalis- tas), o novo código de ética da categoria avança em temas como o combate aos assédios moral e sexual nas redações e tenta acompanhar as mu- danças estruturais e tecnoló- gicas que modificaram a prá- tica jornalística nas últimas décadas. Mas o documento não é uma unanimidade entre os jornalistas, principalmente pela dificuldade de adoção de certas propostas - como a que proíbe a exposição da intimi- dade de pessoas, por exem- plo. Outra crítica feita ao no- vo documento se deve à falta de alcance jurídico das puni- ções previstas, que se res- tringem à exclusão dos infra- tores dos quadros dos sindi- catos, o que não impede o jor- nalista ‘anti-ético’ de exercer a profissão normalmente. [ página 3] Os incêndios em Minas dobraram em relação ao ano passado. As altas temperatu- ras de outubro ajudaram, mas o grande vilão é o ser huma- no. De acordo com as estatís- ticas do Corpo de Bombeiros, 99% dos incêndios são crimi- nosos. O Brasil já é o terceiro maior emissor mundial de dió- xido de carbono. Para combater as queima- das, Minas conta com o PREV- FOGO, divisão do IBAMA. Or- ganizações não-governamen- tais também atuam na preser- vação do meio ambiente auxi- liando os órgãos responsáveis pela proteção ambiental. O tempo necessário para recuperação dos ambientes destruídos varia quanto à ex- tensão e intensidade das quei- madas. A destruição da biodi- versidade ameaça o planeta. [ página 13 ] [ página 12 ] Tropa , droga e moralismo LUCAS MENDONÇA (...) O filme tenta exempli- ficar os “culpados” via uma crítica moralista e demagoga, como pode ser observado em uma cena em que policiais do BOPE acusam os usuários de drogas pela morte de crian- ças. Afinal de contas, o ver- dadeiro problema está na dro- ga em si ou na irracional polí- tica de narcotráfico? [ página 02 ] Criadas para apoiar os ti- mes de futebol, as torcidas or- ganizadas se tornaram pro- tagonistas da criminalidade nos estádios. Em entrevista a O Ponto, Ferrugem, líder da Galoucura e Popeye, da Má- fia Azul, demonstram a pai- xão que têm pelos times e se defendem das acusações de violência. De acordo com eles, muitos usam uniformes, mas não fazem parte das agre- miações. "Eles usam roupas da Máfia Azul, mas não são integrantes", se defende Po- peye. As organizadas também destacaram o papel social que exercem. "A gente tem uma campanha extrema conta vandalismo em ônibus", co- menta Ferrugem. Em contraponto, a Polícia Militar expõe sua opinião contra estas agremiações, que os membros consideram co- mo bandidos "Em todo jogo diversos ônibus são destruí- dos, muitos trabalhadores são prejudicados, torcedores co- muns machucados e ocorrem até mortes de membros des- sas falanges de bandidos. Se fossem só eles que morres- sem estava de bom tamanho”, argumenta a PM. Há também um parecer da psicóloga Car- la Shffer sobre o comporta- mento de massa adotado pe- las organizadas. [ páginas 8 e 9 ] Zezé Perrela não acredita no Mineirão para sediar jogos da copa de 2014. O vice-presi- dente do Cruzeiro aposta no estádio próprio do clube, que ficará pronto no máximo em dois anos. Entrevistado pelo Ponto e pela rádio Fumec, Jo- sé Perrela de Oliveira Costa faz declarações inéditas e arranca expressões diversas dos re- pórteres. Em se tratando de es- porte, se declara "não muito a favor" das torcidas organiza- das e envergonhado pela ven- da de camisas falsificadas. E mais, diz que Pelé prestou um desserviço ao país. Mineiro de São Gonçalo do Pará, Perrela foi eleito Deputado Estadual pela primeira vez em 2006 pe- lo PSDB. Não descarta despu- tar a prefeitura da capital em 2008 e vê como desafio con- quistar o eleitorado atleticano. [ página 06 e 07 ] Perrela acha Mineirão inviável Paulo Autran deixa vazio SÍLVIA JUNQUEIRA (...) Paulo Autran foi um dos atores mais completos que o Brasil já teve. Fez comédia, fez drama, cinema, televisão. Mas, principalmente, sabia tocar fun- do o coração de quem tivesse a sorte de vê-lo atuando. Na simplicidade, ele atingia gran- des momentos de teatro. [ página 16 ] Fernando Kelysson 2ºG Cristina Barroca 7ºG

Upload: jornal-o-ponto-fumec

Post on 06-Mar-2016

233 views

Category:

Documents


9 download

DESCRIPTION

Jornal laboratório do curso de Jornalismo da Universidade Fumec - Belo Horizonte - MG

TRANSCRIPT

Page 1: Jornal O Ponto -  outubro de 2007

Turismo: Noventa e uma famílias do Vale do Jequitinhonha recebem turistas em suas casas para conseguiremseu sustento econômico; trata-se do turismo solidário, que apresenta vários problemas. [ página 10 e 11 ]

A n o 7 | N ú m e r o 6 6 | O u t u b r o / N o v e m b r o d e 2 0 0 7 | B e l o H o r i z o n t e / M G D I S T R I B U I Ç Ã O G R AT U I TA

Estudantes e sem-teto semobilizam nas brigadas populares

Documentário aborda a poesia de Manoel de Barrose sua importância para escritores contemporâneos

[ página 15 ]

JORNAL LABORATÓRIODO CURSO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL o pontoTorcidas dividem-seentre paixão e crime

Perrela aceita o desafio de conquistar o eleitorado atleticano

Jornalistasdiscutemo assédiona redação

Incêndioambientalem MG écriminoso

Indústria se opõe àterapia com sangue

Condenada em tom unísso-no pela comunidade médica(Conselhos federais de Medici-na e Enfermagem, secretariasde saúde), a auto-hemoerapiase mostra uma prática eficaz notratamento de doenças relacio-nadas à baixa imunidade.

Especialistas explicam quea técnica, criada há quase umséculo, consiste na retirada decerca de 15 ml de sangue do pa-

ciente e sua aplicação no mús-culo do mesmo. Este procedi-mento, alegam seus defensores,ativa células que ajudam na for-mação do sangue e mecanis-mos de defesa. Os benefícios eli-minariam infecções pós-opera-tórias e dispensariam remédios.Para seus adeptos, a condena-ção se deve a pressões da in-dústria farmacêutica.

[ páginas 4 e 5 ]

Aprovado em Congressorealizado pela FENAJ (Fede-ração Nacional dos Jornalis-tas), o novo código de éticada categoria avança em temascomo o combate aos assédiosmoral e sexual nas redaçõese tenta acompanhar as mu-danças estruturais e tecnoló-gicas que modificaram a prá-tica jornalística nas últimasdécadas.

Mas o documento não éuma unanimidade entre osjornalistas, principalmentepela dificuldade de adoção decertas propostas - como a queproíbe a exposição da intimi-dade de pessoas, por exem-plo. Outra crítica feita ao no-vo documento se deve à faltade alcance jurídico das puni-ções previstas, que se res-tringem à exclusão dos infra-tores dos quadros dos sindi-catos, o que não impede o jor-nalista ‘anti-ético’ de exercera profissão normalmente.

[ página 3]

Os incêndios em Minasdobraram em relação ao anopassado. As altas temperatu-ras de outubro ajudaram, maso grande vilão é o ser huma-no. De acordo com as estatís-ticas do Corpo de Bombeiros,99% dos incêndios são crimi-nosos. O Brasil já é o terceiromaior emissor mundial de dió-xido de carbono.

Para combater as queima-das, Minas conta com o PREV-FOGO, divisão do IBAMA. Or-ganizações não-governamen-tais também atuam na preser-vação do meio ambiente auxi-liando os órgãos responsáveispela proteção ambiental.

O tempo necessário pararecuperação dos ambientesdestruídos varia quanto à ex-tensão e intensidade das quei-madas. A destruição da biodi-versidade ameaça o planeta.

[ página 13 ]

[ página 12 ]

Tropa, drogae moralismo

LUCAS MENDONÇA

(...) O filme tenta exempli-ficar os “culpados” via umacrítica moralista e demagoga,como pode ser observado emuma cena em que policiais doBOPE acusam os usuários dedrogas pela morte de crian-ças. Afinal de contas, o ver-dadeiro problema está na dro-ga em si ou na irracional polí-tica de narcotráfico?

[ página 02 ]

Criadas para apoiar os ti-mes de futebol, as torcidas or-ganizadas se tornaram pro-tagonistas da criminalidadenos estádios. Em entrevista aO Ponto, Ferrugem, líder daGaloucura e Popeye, da Má-fia Azul, demonstram a pai-xão que têm pelos times e sedefendem das acusações deviolência. De acordo com eles,muitos usam uniformes, masnão fazem parte das agre-miações. "Eles usam roupasda Máfia Azul, mas não sãointegrantes", se defende Po-peye. As organizadas tambémdestacaram o papel social queexercem. "A gente tem umacampanha extrema contavandalismo em ônibus", co-menta Ferrugem.

Em contraponto, a PolíciaMilitar expõe sua opiniãocontra estas agremiações, queos membros consideram co-mo bandidos "Em todo jogodiversos ônibus são destruí-dos, muitos trabalhadores sãoprejudicados, torcedores co-muns machucados e ocorrematé mortes de membros des-sas falanges de bandidos. Sefossem só eles que morres-sem estava de bom tamanho”,argumenta a PM. Há tambémum parecer da psicóloga Car-la Shffer sobre o comporta-mento de massa adotado pe-las organizadas.

[ páginas 8 e 9 ]

Zezé Perrela não acreditano Mineirão para sediar jogosda copa de 2014. O vice-presi-dente do Cruzeiro aposta noestádio próprio do clube, queficará pronto no máximo emdois anos. Entrevistado peloPonto e pela rádio Fumec, Jo-sé Perrela de Oliveira Costa fazdeclarações inéditas e arrancaexpressões diversas dos re-pórteres. Em se tratando de es-porte, se declara "não muito a

favor" das torcidas organiza-das e envergonhado pela ven-da de camisas falsificadas. Emais, diz que Pelé prestou umdesserviço ao país. Mineiro deSão Gonçalo do Pará, Perrelafoi eleito Deputado Estadualpela primeira vez em 2006 pe-lo PSDB. Não descarta despu-tar a prefeitura da capital em2008 e vê como desafio con-quistar o eleitorado atleticano.

[ página 06 e 07 ]

Perrela acha Mineirão inviável Paulo Autrandeixa vazio

SÍLVIA JUNQUEIRA

(...) Paulo Autran foi um dosatores mais completos que oBrasil já teve. Fez comédia, fezdrama, cinema, televisão. Mas,principalmente, sabia tocar fun-do o coração de quem tivessea sorte de vê-lo atuando. Nasimplicidade, ele atingia gran-des momentos de teatro.

[ página 16 ]

Fernando Kelysson 2ºG

Cristina Barroca 7ºG

01 - capa 21.11.07 11:38 Page 1

Page 2: Jornal O Ponto -  outubro de 2007

O P I N I Ã O02 o pontoBelo Horizonte – Outubro/Novembro/2007

Editor e diagramador da página: Enzo Menezes 6º período

Coordenação EditorialProf Carlos Alexandre Freire (Jornalismo Impresso)

Coordenação da Redação ModeloProf Fabrício Marques

Conselho EditorialProf. José Augusto (Proj. Gráfico), Prof. Paulo Nehmy(Publicidade), Prof. Fabrício Marques (TREPJ e Jornalismo Científico)e Profª. Adriana Xavier (Fotografia e Infografia)

Monitores de Jornalismo ImpressoCristina Barroca, Enzo Menezes e Poliane Bôsco

Monitores da Redação ModeloCarlos Eduardo Marchetti e Leonardo Fernandes

Monitores de Produção GráficaEduardo Pônzio e Rafael Barbosa

Monitores do Laboratório de Publicidade e PropagandaAlisson Masaharu e Marina Valadas

Projeto GráficoProf. José Augusto da Silveira Filho

Tiragem desta edição5000 exemplares

Consultora em pesquisa iconográficaProfª. Zahira Souki

Colaboradora voluntáriaJúlia Mól

Universidade Fumec Rua Cobre, 200 – Cruzeiro Belo Horizonte – Minas Gerais

Professor Emerson Tardieu de AguiarPresidente do Conselho Curador

Profª. Romilda Raquel Soares da SilvaReitora da Universidade Fumec

Profª. Thaís EstevanatoGestora Geral

Prof. Rosemiro Pereira LealGestor de Ensino

Prof. Bruno de Morais RibeiroGestor Administrativo e Financeiro

Prof. Rodrigo Fonseca e RodriguesCoordenador do Curso de Comunicação Social

o pontoOs artigos publicados nesta página não expressam necessariamente a opinião do jornal e visam refletir as diversas tendências do pensamento

Fascínio pelodesvanecido,mas imortal

LEONARDO FERNANDES

8º PERÍODO

A prepotência e total des-conhecimento histórico da re-vista VEJA é de provocar náu-seas no leitor menos atento. Areportagem mal elaborada, edi-torializada e completamenteempobrecida de fontes intitula-da “Che: há quarenta anos mor-ria o homem e nascia a farsa”exprime a campanha fascistaencabeçada pelo mau jornalis-mo que a decadente VEJA re-presenta categoricamente. Odesespero por levar a cabo suaestratégia mesquinha de des-truir com a imagem do revolu-cionário argentino, faz com quea VEJA exalte suas fontes, emsua totalidade mercenários ca-pitalistas, refugiados em Miamie responsáveis por incontáveisataques terroristas que mata-ram diversos civis cubanos des-de o triunfo revolucionário decuba. A eles a VEJA dedica“grande credibilidade”, de-monstrando sua conivênciacom quaisquer que sejam aspráticas contra a liberdade.

A VEJA se veste de prepo-tência e recria a história deacordo com interesses escusosembutidos no seu discurso. Pa-ra a revista, a situação difícil vi-vida pelo povo cubano nadamais é do que um fracasso re-volucionário; que resiste háquase 50 anos a um bloqueioeconômico desumano impostopelos Estados Unidos, sequermencionado pela reportagem.

Os EUA protagonizam a histó-ria contada pela VEJA, mas nacondição de mocinho, justicei-ro.

A VEJA utiliza o próprioPartido Comunista da Bolíviacomo fonte oficial de seu relatoinjurioso, correndo o risco doleitor desapercebido não notarque este não passava de umaaproximação fiel com políticaimperialista e desumana do go-verno Stalinista Soviético, quepor inúmeras vezes fora recha-çado por Che devido ao seu ca-ráter contra-revolucionário.

Hoje, calçada na ignorânciade uma legítima prática jorna-lística, a VEJA não só atentacontra a memória do Che, masataca o espírito de liberdade ehumanismo que Guevara re-presenta historicamente.

A menção realizada por Cheao “um, dois, três, muitos Viet-nãs” faz referência à resistênciado povo vietnamita à intentonadesumana dos capitalistas nor-te-americanos em outros tem-pos, e não ao triunfo capitalis-ta tão deliberadamente pro-posto pela VEJA.

A VEJA atenta contra aimagem daquele que Sartre eBeauvoir definiram, como aprópria VEJA reconhece, co-mo “o mais completo ser hu-mano de nossa era”.

Cabe ao leitor julgar se ahistória de fato ocorre, ou secabe a um veículo, da estirpedeste, recriar a história deacordo com os seus mais me-díocres interesses.

LUCAS MENDONÇA

5º PERÍODO

Polêmicas discorrem diariamente a res-peito do filme “Tropa de Elite”, principal-mente por ter sido visto e difundido no mer-cado informal antes da exibição em cinema.O filme pretende-se numa crítica que de-monstra os problemas da não declaradaguerra civil vivida nas favelas, porém, emsua abordagem pode-se notar o caráter mo-ral de sua “crítica”. A moral é posta acimade elementos históricos, políticos e econô-micos, e, a partir de sua crítica puritana, dizque se vigie e puna aqueles que fogem à le-galidade vigente – que só representa os in-teresses da elite corrupta e corruptora.

Uma crítica conseqüente teria como prio-ridade, necessariamente, resgatar os pro-cessos de nossa formação histórica paracompreender o recorte da realidade postono filme como natural. Ora, a pobreza e aexistência de pessoas vivendo em favelassão naturais, sempre existiram? Definitiva-mente, não. Porém, a abordagem propos-ta pelo filme naturaliza e reifica de formacruel a nossa realidade, e pior, expõe con-flitos vividos nas favelas como se tratassede “outra realidade”.

O imediatismo e o sensacionalismo sãorecursos recorrentes no filme. Ao exibir umpai de família que trabalha como chefe deoperações no BOPE, acaba por criar no es-pectador uma identidade com o policial le-

galista que sofre diariamente em sua funçãosocial: o extermínio de humanos marginali-zados. Além disso, o BOPE é posto comouma polícia não-corruptível e heróica, quecumpre sua ordem legal recorrendo a meiosdesumanos e fascistas, como a tortura e amorte de inocentes. Os meios justificam os fins?

O filme tenta exemplificar os “culpados”via uma crítica moralista e demagoga, co-mo pode ser observado em uma cena emque policiais do BOPE acusam os usuáriosde drogas pela morte de crianças. Afinal decontas, o verdadeiro problema está na dro-ga em si ou na irracional política de narco-tráfico? A questão está na produção e naspolíticas adotadas em relação a esta, e nãona demanda.

Sob uma perspectiva humanista, deve-mos compreender que a questão das dro-gas está como está por profundas raízes eco-nômicas e políticas na história, e que o pro-cesso de produção e circulação das drogasfuncionam sob formas capitalistas. A ques-tão das drogas se combate por meios es-sencialmente racionais como a educação eo tratamento de saúde, em que sejam cria-das condições para o usuário emancipar-seda dependência química.

Não será com tropas a serviço da elite -e não do povo – que assassinam a sanguefrio humanos desprovidos de condições dig-nas de vida que iremos resolver nossos pro-blemas comuns na raiz.

PEDRO HENRIQUE VIEIRA

4º PERÍODO

Partidos discutem a fidelidade partidá-ria, que coloca em risco mandatos de can-didatos eleitos que trocaram de legenda. Aprincípio, estavam ameaçados apenas oscargos proporcionais, de deputados esta-duais, federais e vereadores, eleitos peloquociente eleitoral, que considera toda a vo-tação do partido. Porém, o TSE (TribunalSuperior Eleitoral) decidiu que a medida seestende também aos eleitos pelo sistema ma-joritário, ou seja: prefeitos, governadores,senadores e o presidente.

A polêmica começou quando PPS, PSDBe DEM solicitaram ao presidente da Câma-ra, Arlindo Chinaglia (PT), as cadeiras dos23 deputados que deixaram estes partidosentre as eleições de 2006 e maio deste ano,após entendimento do TSE de que os man-datos seriam dos partidos e não dos candi-datos. Negado os pedidos, as legendas en-traram com mandados de segurança no STF(Supremo Tribunal Federal), que decidiu que

os deputados federais, estaduais e vereado-res que trocaram de legenda após 27 de mar-ço de 2007 podem perder seus mandatos.

O TSE resolveu estender a medida aos car-gos majoritários, colocando em risco os man-datos de 156 prefeitos infiéis, que trocaramde paritdo após o dia 27 de março. A PEC(Proposta de Emenda Constitucional) foi en-caminhada ao Senado, que, com agilidade,aprovou, a fidelidade partidária, mas come-çando a vigorar somente a partir das eleiçõesde 2008 (prefeitos e vereadores) e em 2010(presidente, governadores, senadores e de-putados). Agora a proposta vai para a Câ-mara, onde terá dificuldades para ser apro-vada, pois além de não ser prioridade, serávotada pelos próprios envolvidos na questão.

A mente do eleitor dificilmente vai mu-dar caso seja imposta a fidelidade partidá-ria, pois o brasileiro é acostumado a votarno político, não no partido. Dados mostramque o eleitor prefere votar em branco ou nu-lo a votar nas legendas. Mas é importanteque seja definida a fidelidade partidária, pa-ra evitar o oportunismo eleitoral.

Isso é jornalismo?

ANA CECÍLIA FARIA

7º PERÍODO

Atualmente depara-se portodos os lados com o relógioindicando que o tempo se es-gota e é o momento de entre-gar aquele projeto inacabadoou de veicular uma matériacom uma série de lacunas.Es-sa pressão gera uma obsessãono modo das pessoas e orga-nizações lidarem com o tem-po, a qual pode ser nitida-mente observada no jornalis-mo contemporâneo, tendo owebjornalismo como sua me-lhor manifestação.

Mas em que medida a ex-cessiva preocupação com otempo influencia na qualidadeda produção jornalística na in-ternet? Os sites jornalísticossão regidos pela lógica da pro-dução industrial em que a efi-ciência está na maior produ-ção em um menor tempo. Se-guir essa lógica é uma de-monstração do quanto a notí-cia está sendo tratada comoum produto qualquer. E não écompreensível reduzi-la a umproduto que precisa ser taoconsumível quanto um tênis.Afinal, trata-se de um bem quelida com mentes humanas.

Nesse contexto, no qual otempo para a produção de umamatéria é mínimo,a qualidade

dos textos veiculados transmi-te a idéia de que as redações on-line funcionam como uma gran-de brincadeira. Muitas notíciassão produzidas dentro de umestilo textual curto, superficiale fragmentado. Esses fatores re-fletem a pressa excessiva quepermeia a vida dos jornalistas,que não podem "perder" tem-po com a apuração e checagemdos fatos recebidos.

Diante dessa situação,a ve-racidade e a credibilidade cor-rem um risco elevado. Pois aprobabilidade de veicular umainformação equivocada, emum meio onde grandes por-tais publicam em média umanotícia por minuto, é bemmaior do que em outros veí-culos de comunicação.

Na corrida contra o tempo,o valor-notícia constitui umaoutra problemática. O critériode noticiabilidade começou aser determinado pelo fatomais recente e não por suaprópria relevância social. Des-se modo, fatos desprovidos dequalquer importância substi-tuem notícias relevantes emespaços de destaque.

É essencial que o webjor-nalismo se preocupe em vei-cular notícias rapidamente,mas transformar o tempo emum fim em si mesmo já é umpouco demais.

Tempo e fluxo nowebjornalismo

Uma tropa da Elite

A polêmica da fidelidade partidária

CARLOS LAMANA

5º PERÍODO

Há quem diga que o cine-ma moderno nunca chegaráaos pés do clássico. Concor-dando ou não, é deveras im-portante saber verificar a di-ferença entre os dois. Hojeconta-se com muitos efeitosespeciais. As antigas tramaseram preenchidas com ima-ginação e histórias que des-tacavam casais apaixonadosem aventuras e desventurasagravadas com a GuerraMundial como empecilho doamor e da felicidade.

A beleza das histórias deamor vividas com sofreguidãoe elegância por nomes conhe-cidos mundialmente. A delica-deza, porém a voz imponentede Audrey Hepburn, os péságeis de Fred Astaire, a bele-za de Rita Hayworth. Ah, Rita.Morreu 12 dias antes do meunascimento. Razões do fascí-nio... Fascínio por algo já des-vanecido, mas imortal.

Como teria sido bom estarvivo na década de 40. 50. 60.Lançamento do filme Gilda. Éde se imaginar filas de pessoascom trajes de gala. Eventosgrandes e de enorme impor-tância eram as idas ao cinema.Quase como ir à uma ópera eouvir os mais belos libretos,nos dias atuais.

“Put the blame on Mame,boys” canta Gilda com seu vio-lão. Talvez a fala de maior fa-ma de todo o noir, assim comoo vestido branco de Marilynlevantando-se ao vento do me-trô subterrâneo em O pecadomora ao lado. Cenas de poucaduração, mas que na mente ena especulação da imaginaçãoduram toda uma vida.

O conteúdo melodramáti-co e a imagem em preto ebranco (para mim, charme daantiguidade) de Gilda não con-seguem desviar a visão, a au-dição, o tato, o cheiro e o sa-bor (sim, todos os sentidos) danotória sedução da Dama daColumbia nas cenas descolo-radas. Uma sedução condi-zente com a época. Gestos epalavras que despertavam noshomens (e quem sabe aindadespertam) os mais perigosospensamentos.

Tratado de forma trágicae exagerada no cinema clás-sico, o amor não aparecia deforma superficial, porém rea-lista, como vemos hoje em co-médias românticas. Aventu-ras amorosas vividas porgrandes artistas despertavama imaginação e provocavam(se ainda não o fazem) osmais nobres sentimentos. Asmais belas histórias de amoreram contadas e muitas vezescantadas. Tão pouco diferen-te dos outros dramas, Gildavive com Johnny Farrell umamor transcendental basea-do no ódio. Dizem que o ódioé o sentimento mais próximodo amor, pois só se odeia aquem um dia amou-se muito.Talvez seja verdade. Pelo me-nos em filmes.

Jornal Laboratório do curso de Comunicação Socialda Faculdade de Ciências Humanas-Fumec

Tel: 3228-3127 – e-mail: [email protected]

Avalie esta edição: [email protected]

Camila Piovesana 3ºH

02 - Enzo opiniao 21.11.07 12:51 Page 1

Page 3: Jornal O Ponto -  outubro de 2007

M Í D I A 03o pontoBelo Horizonte – Outubro/Novembro/2007 Avalie esta edição: [email protected]

Código de Ética divide

jornalistasDOCUMENTO AVANÇA EM QUESTÕES COMO O ASSÉDIO MORAL,MAS PROFISSIONAIS CRITICAM SUA APLICAÇÃO NA PRÁTICA DIÁRIA

FELIPE CHIMICATTI

E ENZO MENEZES

4º E 6º PERÍODOS

Em congresso extraordinário realiza-do pela FENAJ (Federação Nacional dosJornalistas) na cidade de Vitória (ES), foiaprovado o novo Código de Ética dos Jor-nalistas, para substituir o texto que con-tinuava intacto desde sua criação, em 85.Reconstruído de forma participativa, onovo código contou com a contribuiçãode profissionais da categoria, professo-res e membros da sociedade civil atravésde um sistema de consulta pública aber-to pela FENAJ durante três meses. O tex-to foi encaminhado posteriormente paranovos debates e finalmente para sua ho-mologação em Vitória. Ele se divide emcinco capítulos: o direito à informação, aconduta profissional do jornalista, a res-ponsabilidade profissional, as relações detrabalho e a aplicação do código.

Para Aloísio Moraes Martins, editoradjunto de política do Hoje em Dia e mem-bro da comissão de ética do SJPMG (Sin-dicato dos Jornalistas Profissionais de Mi-nas Gerais), uma das virtudes do códigoé criar parâmetros tanto para as relaçõesjornalistas-jornalistas quanto para jorna-listas-leitores, com destaque para o tra-tamento entre os colegas de redação. Aloí-sio explica que um ponto-chave do novotexto é o artigo que estabelece a denún-cia de práticas de assédio moral dentrodas redações. “Era uma atualização ne-cessária, as relações de mercado e a prá-tica mudaram e o Código de Ética ficoudefasado. Combater práticas de assédionas redações é essencial, e foi inclusiveum ponto que nós mineiros colocamos emdiscusão”, salienta.

Apesar do debate acerca das retifica-ções se estenderem a mais de duas déca-das, a discussão começou realmente noXXXII Congresso Nacional da categoria,em 2004. Dentre as principais mudançasestão a proibição do uso de recursos deedição de imagem ou áudio sem `um avi-so claro; o incentivo a prática de denun-cias de assédio moral e sexual; a discri-minação do papel das assessorias de im-prensa, que não devem ter um código pró-prio por se tratar de uma atividade igual-mente jornalística; a restrição a apuraçõescom o uso de identidade falsa ou câmerasescondidas e forma de julgamento das co-missões de ética, que se vale de duas ins-tâncias, uma regional e outra federal, ten-do sua representação em Minas peloSJPMG e no âmbito nacional pela FENAJ.Aloísio Moraes ainda analisa seu proces-so de discussão: “O código novo avançaem relação ao anterior em diversos pon-tos que estavam defasados. O texto foi am-plamente debatido até mesmo pela socie-dade civil, após nossas discussões em doisCongressos, em Londrina e em Ouro Pre-to. Foi disponibilizado um rascunho no si-te da FENAJ, e o enviamos também paraa OAB, a fim de estimular sugestões. Foium processso colaborativo e democráti-co. É o primeiro código de ética de umacategoria em que houve debate até mes-mo fora dela; e na Comissão de Ética doSJPMG há inclusive membros da OAB eda ANDI”, completa.

Edição de imagem Leonardo Lara, editor de fotografia

do jornal O Tempo, explica que existemdois tipos de edição computadorizadasde imagem: um primeiro que visa ajus-tar a fotografia aos processos de im-

pressão, e um segundo, que demanda aoajuste da imagem a determinações le-gislativas, como por exemplo o estatutoda criança e do adolescente (ECA), queproibe a exposição de menores em fotosque os envolvam em atos infracionais.Nesse caso a imagem que identifica omenor passa por um processo de “em-baçamento” que omite a sua identidade,mesma lógica utilizada para não revelara placa de um veículo, por exemplo.

DivergênciasHá ainda jornalistas que discordam da

criação de códigos de ética. Para PauloMachado, ouvidor da Radiobrás, “a FE-NAJ tenta reinventar a roda com essa ini-ciativa. Como dizia Claudio Abramo, ‘ocódigo de ética do jornalista é o mesmocódigo de ética do marceneiro’, ou seja, éo código de ética da sociedade, da cida-dania. Todos têm a obrigação de ser éti-cos. A FENAJ ao mesmo tempo que falado direito universal à informação quer tor-nar privativo dos jornalistas ‘qualificados’(por eles provavelmente) o direito a pro-duzir informação”, dispara.

Plínio Bortolotti, ombudsman do jor-nal O Povo de Fortaleza, defende umponto de vista igualmente crítico no quediz respeito a artigos dúbios e carrega-dos de subjetividade: “De modo geral, ocódigo trata de alguns assuntos que po-dem ser considerados consenso; outroscausam confusão, como não expor a vi-da íntima das pessoas (art. 6o. - VIII: res-peitar a direitor à intimidade, à privaci-dade, à honra e a imagem do cidadão),de cumprimento quase impossível, se le-vado ao pé da letra -, principalmente sese estiver falando de pessoas públicas”,admite o jornalista.

FELIPE CHIMICATTI

Ao ler os dois códigos, de 1985 e 2007, perce-be-se um cuidado importante de aliar a ética às no-vas tecnologias bem como às relações de trabalhoentre jornalistas. É sem dúvida importante essa preo-cupação, mas acima disso, o debate remete a algomaior: em que medida o presente aparato ético vaimotivar a sua aplicação. É fundamental estabele-cer preceitos praxiológicos à ética jornalística,poissenão o debate se perde no plano das idéias.

O jornalismo é produzido diariamente em rit-mo alucinado e para reger as relações e as impos-turas da profissão existe a demanda por algo queextrapola a legislação vigente. É nessa linha de ra-ciocínio que Eugênio Bucci, em seu livro ‘Sobre a éti-ca e a imprensa`(2002, Companhia das Letras) ,

sai em defesa da ética aplicada tanto aos jornalis-tas quanto às redações (que representam bem maisque as redações da mídia impressa): “A ética jor-nalística não é apenas um atributo intrínseco doprofissional ou da redação, mas é, acima disso, umpacto de confiança entre a instituição do jornalis-mo e o público, num ambiente em que as institui-ções democráticas sejam sólidas”.

É deplorável que persistam abordagens jorna-lísticas que se empenham em cortejar o poder, mes-mo porque a designação (talvez lúdica) do jorna-lismo é contrária a isso. Peguemos o caso ocorridoem 1984, onde milhares de pessoas se reuniramna Praça de Sé, em São Paulo, para reivindicar aseleições diretas. Na ocasião, como narrado no li-vro de Bucci, a Rede Globo tratou o acontecimen-to como à comemoração do aniversário de SãoPaulo, mantendo sua falácia por sucessivos dias.Oras, se o discurso jornalístico não prima pelo res-peito à esfera pública, como uma empresa midiá-tica do porte da Rede Globo produz uma distorçãodessa ordem e continua a ser credível?

Mais recentemente, no ano de 2002, a Ve-nezuela também presenciou uma abordagem mi-diática amplamente distorcida e falaciosa, comose percebe no ótimo documentário A revoluçãonão será televisionada, dos irlandeses Kim Bar-tley e Donnacha O’Briain. O longa metragemmostra a articalução da RCTV(Radio Caracas Te-levisión) com a elite venezuelana e o goveno nor-te americano a fim de depor o presidente HugoChavez através de uma cobertura de discursosdistrocidos e tendenciosos.

Pois bem, é fácil perceber que o novo código deética jornalística tenta remeter a fins práticos, mas,mesmo dessa forma, é preciso aprimorar mais a dis-cussão e, ainda mais do que isso, construir algoalém de um simples aparelho de resguarde; cons-tituir uma profissão com um conselho federal legi-timado nas bases éticas competente para julgar oscortejadores do poder e reger a jornalismo comoaparelho de usufruto público, propondo anterior-mente a isso, um debate sólido que se estenda nãosó a categoria, mas a toda esfera pública.

o ponto

Mesmo encontrando resistência porparte da categoria, o código diz respei-to a problemas que eventualmente ga-nham apelos jurídicos. A diretora da FE-NAJ e do SJPMG, Janaina da Mata, dizque alguns casos de assédio moral e se-xual já motivaram ações, e, apesar de suamaioria ainda não ter um desfecho, elaacredita na importância desse movi-mento de indignação dos jornalistas en-volvidos para coibir práticas abusivasdentro das redações.

Janaína admite a falta de puniçõesmais abrangentes aos profissionais quepraticarem assédio, que, mesmo tratan-do-se de uma prática abusiva, remete aolimitado poder coercitivo do código. Co-mo a categoria não conta com um conse-lho federal ou órgão análogo, a carga depunições se reduz a advertências, exone-ração do sindicato (que ao contrário deoutras profissões não impede o infrator

de continuar exercendo a profissão) e,como colocado no código, “a publicaçãoda decisão da comissão em veículo de am-pla circulação (art. 17)”.

Monica Santos, membra da comissãode ética do SJPMG, afirma que há umacrescente conscientização no que diz res-peito às práticas de denuncia. Para ela,que vivenciou o assédio moral em 2002no impresso Estado de Minas, e na oca-sião não recorreu à justiça por falta detestemunhas, a discussão amadureceubastante nos ultimos anos,e, ao contrá-rio do que acontecia no período em quefoi assediada, os jornalistas passaram arecorrer às instâncias legais.

Na ótica de Aluísio Moraes, o novo có-digo consiste em um inibidor às práticashierárquicas estabelecidas nas redaçoes.Para ele, além de inibidor, o presente ins-trumento ainda é um acessório à justiçanormal. “Normalmente os jornalistas re-

correm as comissões de ética e a Justiçado Trabalho”endossa.

Outro ponto colocado pela diretora daFenaj em relação à renovação do Códigode Ética se refere à discussão dos precei-tos éticos nas academia, seu espaço de ex-celência : “Outro fator importante é pro-vocar o debate nas universidades, que temesse papel da reflexão sobre a prática, quenem sempre é possível dentro de uma re-dação”, exemplifica.

A necessidade ou não de um códigopara os jornalistas se configura em opi-niões diversas, mas o debate deve serconstante para o fortalecimento da pro-fissão. No entanto, por mais que se tentelegitimar o jornalismo através de um apa-rato ético, o debate leva necessariamen-te a outra questão: a criação de um Con-selho Federal de Jornalismo (CFJ) maisatuante e representativo que a presenteFederação Nacional.

O novo código e o assédio moral

Cristina Barroca - 7ºG

03 - enzo midia 21.11.07 12:53 Page 1

Page 4: Jornal O Ponto -  outubro de 2007

S A Ú D E04 o pontoBelo Horizonte – Outubro/Novembro/2007

Editores e diagramadores da página: Enzo Menezes e Rafael Barbosa 6º e 8º períodos

Avalie esta edição: [email protected]

A vanguarda da saúde na pontaCARLOS EDUARDO MARCHETTI

5º PERÍODO

Odebate sobre aauto-hemotera-pia recebeu es-paço considerá-vel nos meios de

comunicação no início desteano. Após a divulgação de umDVD com uma entrevista como médico Luiz Moura, o trata-mento passou a ser debatidoprincipalmente na internet.Passado quase um ano, os ar-gumentos que o condenaramcontinuam os mesmos, en-quanto o debate sobre seus be-nefícios, estudos de caso e pes-quisas cientificas começam virà tona.

No vídeo de pouco mais deduas horas e meia, gravado em2004, o médico Luiz Moura fa-la sobre a auto-hemoterapia(AHT), uma técnica comple-mentar de medicina que teriasurgido na França em meadosda década de 1910.

Na entrevista, o médico ex-plica que a AHT é um proce-dimento simples que consistena retirada do sangue do indi-víduo (5ml à 20ml, dependen-do do tratamento) e sua apli-cação no músculo (preferen-cialmente no braço ou náde-ga) do mesmo.

Funcionamento da técnicaSegundo Luiz Moura, após

aplicar o sangue no músculo,uma reação de rejeição é de-sencadeada pelo organismo,que ativa as células que aju-dam na formação do sangue enos mecanismos de defesa. Jánas primeiras horas, a taxa demacrófagos (células que en-globam e digerem elementosestranhos ao corpo) sobe de5% para 22%, e retorna ao ní-vel inicial após sete dias daaplicação. Daí a necessidadede se manter o tratamento se-manalmente, sempre com oacompanhamento médico.

Segundo Dr. Moura, a au-to-hemoterapia teria amplia-do seu campo de estudo a par-tir de uma premiada pesquisado médico brasileiro Jésse Tei-xeira, que constatou em 150pacientes analisados a ausên-cia de infecções pós-operató-rias quando utilizada a técni-ca. A pesquisa recebeu o prê-mio de originalidade pela Re-vista Brasil Cirúrgico em 1940.De acordo com Luiz Moura, oestudo chamou atenção da co-munidade médica, pois os ca-sos de infecção pós-operató-rios eram comuns, graças autilização do éter como subs-tância anestésica, o que afeta-va diretamente os pulmões.

Trinta e seis anos mais tar-de, uma pesquisa do médicoRicardo Veronesi ampliava osestudos da AHT em direção àImunologia. É nessa época queo Dr. Moura passa a utilizar re-gularmente a técnica em di-versos pacientes, o que lheproporcionaria inúmeros es-tudos de casos.

Com a pesquisa de Vero-nesi, o papel do macrófago en-quanto auxiliar de limpeza doorganismo é elucidado. Den-tre suas funções estariam adestruição dos vírus, bactérias,células cancerosas, eliminaçãodo excesso de colesterol, lim-peza de esteróides, regulação

de hormônios, estímulo decomplexos auto-imunes entreoutros.

Condenação uníssonaA reação da “grande im-

prensa” sobre o vídeo não de-morou e recebeu destaque, in-clusive, em famoso programade tevê dominical da Rede Glo-bo. A matéria mostrou a opi-nião de representantes dosconselhos federais de medici-na, enfermagem, secretariasde saúde e usuários da auto-hemoterapia. Entretanto, osporta-vozes dos conselhos eentidades afins desqualifica-ram a técnica por não apre-sentar respaldo científico su-ficiente.

Para o presidente do Con-selho Federal de Medicina, Dr.Edson de Oliveira Andrade adivulgação e a venda do DVDseriam resultado de uma “ar-ticulação de auto-benefício pa-ra auferir lucro em detrimen-to da saúde das pessoas." “...esse tratamento, na realidade,não tem nenhum embasamen-to científico. Trata-se literal-mente de uma picaretagem.Vem um indivíduo desse, maucaráter, e oferece um tipo detratamento que não existe na-da a justificar a sua existência”,argumentou o presidente doCFM, no programa exibido emabril deste ano.

Em carta enviada ao Presi-dente da República e ao mi-nistro da Saúde, os organiza-dores de uma campanha emfavor da AHT solicitaram umamoção específica de desagra-vo ao cidadão e médico, Dr.Luiz Moura, movidos princi-palmente pelas declarações dopresidente do CFM.

Procurada pela reportagemdo jornal O Ponto, a FundaçãoHemominas respondeu pormeio de uma artigo-padrão osquestionamentos sobre a AHT.“Após várias buscas, o corpotécnico da Fundação Hemo-minas não encontrou nenhumtrabalho científico válido quecomprovasse o valor terapêu-tico e a segurança da ‘auto-he-moterapia’. Sendo assim, já nofinal do ano passado, a Funda-ção Hemominas, em orienta-ção a todas as suas unidadesdo estado, contra-indicou eproibiu a realização desse pro-cedimento”.

Também sob o argumentode ausência de respaldo cien-tífico, o Conselho Regional deMedicina de Minas Geraiscondenou a auto-hemoterapia,em concordância com o Con-selho Federal.

Em nota assinada pelo pre-sidente Carlos Chiattone, foi avez da Sociedade Brasileira deHematologia e Hemoterapia -SBHH, afirmar que “não reco-nhece, do ponto de vista cien-tífico, o procedimento auto-he-moterapia, além de desconhe-cer na literatura médica, tantonacional quanto internacional,qualquer estudo com evidên-cias científicas sobre o tema”. Para Ralph Viana, psicólogo eeditor do Jornal Bem Estar, osinteresses contrários à AHTcomeçaram a aparecer aindano final dos anos 70. Em arti-go intitulado “Quando o cor-po cura ... e é interditado”, Via-na destaca uma passagem emque Luiz Moura descreve um

boicote a um de seus traba-lhos, originado de um emble-mático caso de cura de escle-rodermia (doença inflamató-ria da pele).

“Surgiu na ocasião um con-curso patrocinado pelo Labo-ratório Roche e pelo HospitalCentral da Aeronáutica. Redi-gimos então um trabalho mi-nuciosamente documentadocom exames complementarese fotografias em slides da pa-ciente. O concurso cujo temaera originalidade não publicouo trabalho”, relatou o médico.

Apesar da criminalizaçãoda AHT, o CRM do Rio de Ja-neiro já havia absolvido o Dr.Moura por unanimidade so-bre acusações de condutaprofissional ilícita. Além dis-so, a Anvisa – Agência Na-cional de Vigilância Sanitária- e o CFM não registraramaté o momento, nenhum re-lato de danos provocados pe-lo tratamento.

Dr. Moura foi o primeiropresidente médico do extintoInstituto Nacional de Assis-tência Médica da PrevidênciaSocial – Inamps, extinto com acriação do Sistema Único deSaúde (SUS).

Futebol e auto-hemoterapiaA AHT também freqüen-

tou as notícias de esporte. Nodia 31 de maio, a contusão dojogador Marinho do ClubeAtlético Mineiro foi manche-te do programa Globo Es-porte. Com a chamada “Ma-rinho recorre à fé e a um tra-tamento pouco comum parase curar de uma lesão”, a ma-téria contava a história da re-cuperação de uma contusãosofrida pelo jogador. “Há dez dias, Marinho se

submeteu a um método iné-dito no tratamento médico deum atleta no Brasil. Do braçodo jogador foram retirados30 mililitros de sangue e par-te dele foi aplicado na coxadireita para reforçar o pro-cesso de cicatrização do mús-culo lesionado”.

A reportagem descreve otratamento sem, no entanto,citar o nome da técnica. Vin-te dias depois foi a vez da rá-dio Itatiaia noticiar o mesmofato sem ressalvas. Outro ca-so conhecido envolve o joga-dor alemão Franz Beckem-bauer, eterno capitão da se-leção alemã de futebol, quefazia uso regular da AHT an-tes de entrar em campo.

Cidade mineira na vanguardado tratamento

A cidade de Cataguases, naZona da Mata mineira, foi pal-co de um importante ato deapoio à auto-hemoterapia. Omunicípio recebeu o médicoLuiz Moura para o lançamen-to da Campanha Nacional emDefesa da Auto-Hemoterapia,no dia 04 de agosto. O eventocontou com a presença de cer-ca de 800 pessoas, entre pro-fissionais da saúde, usuáriosda AHT e curiosos de algumaspartes do país.A palestra teveo apoio do prefeito de Cata-guases e da Secretaria Muni-cipal de Saúde.

“Muitos enfermeiros-chefee laboratórios locais se colo-caram contra o ato, na época.Entretanto já demonstram in-

teresse em conhecer melhor aAHT”, afirmou Joana D’Arc deOliveira, uma das organizado-ras do ato, ao lado do marido,o advogado Ronaldo Brandão.

Para Brandão, o resultadoda campanha em Cataguasesfoi positivo e pode ser poten-cializado. “Uma rádio local nosforneceu o equipamento desom, várias equipes do Pro-grama Saúde da Família apoia-ram o ato e não sofremos ne-nhuma represália por parte daAnvisa, Conselho Regional deEnfermagem (Coren) e CRM”,argumentou. “Desconfio dapresença de alguns fiscais des-sas entidades, mas devido agrande participação das pes-soas no evento, eles (fiscais)provavelmente acabaram nãose manifestando”, especulou.

Segundo Brandão, um la-boratório da região já realizaa AHT em 430 pessoas e cer-ca de 100 funcionários de ou-tra empresa também fazemuso o tratamento. Para o ad-vogado, o contato com a AHTcomeçou há 50 anos em de-corrência de uma doença, co-nhecida hoje como febre reu-mática. Na época, a auto-transfusão (antigo nome daAHT) o teria salvo da enfer-midade que já comprometiaseu tempo de vida. Ele afirmaque com a divulgação da AHT,a população será a grande be-neficiada, se incentivada porpolíticas de saúde pública afi-nal, “a indústria farmacêuticacontinua enchendo os bolsosdos grandes latifundiários dafarmacologia”, criticou.

De acordo com Brandão, asecretária de saúde de Ubátambém se prontificou a pro-mover uma conversa com o Dr.Moura. A cidade de Juiz de Fo-ra também já recebeu o médi-co para uma palestra similar àde Cataguases, sob os cuida-dos da professora do Curso deEnfermagem da UniversidadeAntônio Carlos (Unipac) deJuiz De Fora, Telma Giovanini.

“O evento aqui em Juiz deFora foi um sucesso e aconte-ceu na semana de enfermagemda Unipac, em maio, e nãohouve represálias” afirmouGiovanini.

No mês de setembro aAHT foi contemplada em pe-lo menos cinco estudos apre-sentados no último Congres-so Brasileiro dos Conselhosde Enfermagem, realizado emCuritiba. Para Giovanini,orientadora de uma série depesquisas que utilizam a téc-nica da hemoterapia, o sim-ples fato de aceitarem seustrabalhos já caracteriza umaabertura do Coren.

Solicitada pela reportagemdo jornal O Ponto, a profes-sora encaminhou dois estudosrecentes produzidos pela mes-ma, em co-autoria com outrospesquisadores, onde a AHT te-ria sido determinante para acura de um caso de psoríase(doença inflamatória da pele esem cura pelos métodos tradi-cionais da medicina) e em umcaso grave de esclerodermia.Os estudos trazem fotos e his-tóricos dos pacientes.

No endereço www.campa-nhaauto-hemoterapia.blogs-pot.com é possível acessar umgrande acervo de notícias, pes-quisas e vídeos sobre a AHT.

Número de empresas

Faturamento em R$

Empregos

Exportações em R$

Investimentos em P&D em R$

27

11,5 bilhões

391 milhões

23 mil diretos

112 milhões

Indústria Farmacêuticade Pesquisa no Brasil

Fonte: INTERFARMA - Identificação e Análise dosGastos com P&D 2002

HIV/ AIDS 11

Mal de Alzheimer 19

Depressão 13

Diabetes 19

Doenças gastrointestinais 9

Osteoartrite 8

Osteoporose 18

Mal de Parkinson 10

Doenças da próstata 4

Problemas respiratórios 18

Artrite Reumatóide 20

Disfunções sexuais 9

Problemas de pele 15

Novos Medicamentosem Desenvolvimento

04 e 05 -Enzo hemoterapia 21.11.07 12:58 Page 1

Page 5: Jornal O Ponto -  outubro de 2007

S A Ú D E 05o pontoBelo Horizonte – Outubro/Novembro/2007

Editores e diagramadores da página: Enzo Menezes e Rafael Barbosa 6º e 8º períodos

Avalie esta edição: [email protected]

daAgulhaEm pesquisa divulgada pe-

la Associação da Indústria Far-macêutica de Pesquisa (Inter-farma), o mercado de testes clí-nicos no Brasil já movimentaUS$ 8,4 bilhões/ano. Apenasem 2006, 1.738 projetos foramenviados às instâncias regula-tórias nacionais e mais de 60mil pessoas estariam envolvi-das em pesquisas. Com rela-ção aos gastos planejados, omontante informado pelas em-presas para o período entre2002 e 2006, foi de pouco maisde R$ 877 milhões, ou cerca deR$ 175 milhões por ano.

Para Marileni do Nasci-mento, socióloga e pesquisa-dora da Fundação OswaldoCruz, a Fiocruz, a proliferaçãodas farmácias no Brasil é umreforço de tudo isso. “De acor-do com a Organização Mun-dial de Saúde há um excessode 30 mil farmácias e droga-rias no país”, citou.

Em visita recente a BeloHorizonte, a socióloga partici-pou do II Seminário Mídia eSaúde Pública, evento organi-zado pela Escola de Saúde Pú-blica de Minas Gerais. Na oca-sião, Marileni divulgou umapesquisa realizada para sua te-se de doutorado intitulada “Acentralidade do medicamentona cultura contemporânea”. Otrabalho contou com a análisede 237 reportagens veiculadasem grandes jornais impressose revistas semanais nas déca-das de 1980 e 1990 .

Para a pesquisadora, o pe-ríodo pós-II Guerra foi o mar-co para a expansão da indus-tria farmacêutica. A pressãodos fabricantes, por sua vez,passaram a influenciar autori-dades de Estado, médicos,usuários e pesquisadores,construindo, em muitos casos,as demandas por medicamen-tos, além promover uma gran-de comercialização, especial-mente em países periféricos.Segundo a pesquisadora, o tra-balho teve como objetivo rela-tar o significado e o sentidoatribuídos aos medicamentosna cultura, e sua justificação en-quanto elemento terapêutico.No estudo, analgésicos (dor),antiinflamatórios, antipiréticos(febre), antibióticos, e vitami-nas foram pesquisados a partirdo enfoque que recebiam nasreportagens - riscos, benefíciose incentivo ao consumo.

Sobre a aspirina e analgé-sicos a autora destaca umapesquisa divulgada na revis-ta New England Journal ofMedicine e publicada em re-portagem do jornal O GLO-BO. O estudo aponta que as

ulceras provocadas pelo usoexcessivo desses medica-mentos são responsáveis pe-la morte de 16.500 pessoasnos EUA por ano, quase omesmo número de mortesprovocadas pelo HIV. Alémdisso, a pesquisa afirma queo uso da aspirina pode inibira coagulação das plaquetas -células presentes no sangue -formadas na medula óssea.

Para Dr. Moura a divulga-ção da AHT tem como vanta-gem a substituição de certosmedicamentos. “É uma coisaque poderia ser divulgada eusada em regiões sem recur-sos em que as pessoas não têmcondições de pagar estímulosimunológicos caríssimos, co-mo por exemplo, aqueles 'fei-tos' de medula óssea”. “... eunão posso dizer o nome domedicamento, porque não es-tou aqui fazendo propaganda,mas é um medicamento carís-simo, que se usa para produziro mesmo efeito da auto-hemo-terapia, que é o lisado de timusde vitela”, explicou no vídeo.

Outro exemplo destacadopelo Dr. Moura é o Estimami-zol, um medicamento utiliza-dos para combater vermes,cuja matéria-prima genéricachama-se Cloridrato de Le-vamisol. Segundo Moura, oEstimamizol teria sido usadoem uma campanha contraverminose na população po-bre da Califórnia, quando foidetectado seu bom resultadonas pessoas que sofriam deleucemia. Tudo isso graças aogrande potencial imunológi-co que o Cloridrato de Leva-misol possuía.

Sua eficácia também foiregistrada em uma série dedoenças como herpes sim-ples, herpes zoster, hansenía-se, artrite reumatóide e comocomplemento da quimiotera-pia e da radioterapia nos ca-sos de câncer.

Entretanto, Moura afirmaesse medicamento teria sidoretirado do mercado sem ex-plicação alguma. Acontece quea fórmula do Estimamizol é se-melhante a do Ascaridil, me-dicamento que combate a as-caridíase e receitado pelo mé-dico nos casos citados acima.

O médico explica quemantém uma cópia da bulados dois medicamentos parafundamentar que o uso doremédio para vermes no com-bate de uma artritre, porexemplo, não é mero deva-neio. “Estou com herpes zos-ter e ele está me dando asca-ridil. Ele deve estar esclero-sado”, brincou o médico.

CLASSIFICADA INFORMALMENTE COMO UMA TÉCNICACOMPLEMENTAR DE SAÚDE, A AUTO-HEMOTERAPIA DESAFIA AINDÚSTRIA FARMACÊUTICA E QUESTIONA SEU MODELOHEGEMÔNICO DE SAÚDE QUE PREGA A CURA AO INVÉS DAPREVENÇÃO

Cultura demedicamentos sob aótica da mídia

Debate em congressoaborda consumoracional de remédios

"No que diz respeito aosmedicamentos, a estratégia dainovação adotada pelos labo-ratórios farmacêuticos decor-re, com maior freqüência, dalucratividade dos novos pro-dutos e não necessariamentede sua essencialidade, carac-terizando-os cada vez maiscomo produtos de consumo.Nesse sentido, as 'novidadesfarmacêuticas' têm sido diri-gidas a grandes massas popu-lacionais, garantidoras da ven-da em larga escala, ou a nichosmuito específicos da popula-ção, situação em que a lucra-tividade advém do elevado va-lor unitário".

É dessa forma que o IICongresso Brasileiro sobre oUso Racional de Medicamen-tos apresenta o tema "Incor-porando o Uso Racional deMedicamento à Agenda deSaúde do Brasil". Realizado emFlorianópolis entre os dias 15e 18 de outubro, o evento vol-tado para docentes, pesquisa-dores, estudantes e profissio-nais das áreas médica e far-macêutica tratou de questõescomo a orientação no uso me-dicamentos, erros de medica-ção, propaganda de medica-mentos e matérias jornalísti-cas que divulgam informaçõessobre os mesmos.

Para Marileni Nascimen-to, o consumo de medica-mentos não só pode como jáé estimulado. "A propagandaé cada vez mais excessivaalém da promessa de cura es-pontânea e acesso facilitadoaos medicamentos", afirma.Para a pesquisadora, as pes-soas optam pelo uso do re-médio ao invés de procuraruma simples mudança nos há-bitos, que poderiam trazemefeitos mais significativos emseus tratamentos. "O uso ex-cessivo de medicamentos noBrasil já é a primeira causa deintoxicação e corresponde a

30% dos pacientes interna-dos”, declara.

Para os apoiadores e orga-nizadores do Congresso, mi-nimizar o consumo de remé-dios está ligado ao rearranjode políticas públicas e a cria-ção de pesquisas que tratemexclusivamente do uso racio-nal de medicamentos. "O Es-tado, como o grande compra-dor, sofre direta e indireta-mente as pressões do merca-do farmacêutico. Essa indús-tria, em suas estratégias demarketing, explora fortemen-te os componentes simbólicosque associam os medicamen-tos a resultados que ultrapas-sam suas potencialidadesreais. Assim, enquanto objetode consumo, a demanda pormedicamentos não necessa-riamente encontra-se em con-sonância com necessidadesprioritárias da população.Além disso, de seu uso podemresultar intoxicações e doen-ças iatrogênicas (causadas pe-lo uso irregular), realimentan-do o sistema com mais de-mandas ao setor saúde", resu-miu em nota a comissão orga-nizadora do evento.

Segundo o professor Val-dir Castro, o exercicio do con-trole público no Brasil é pre-cário ou pouco desenvolvido.

Para o professor de Comu-nicação da UFMG, presenteno Seminário Mídia e SaúdePública citado nesta matéria,o espaço público midiático do-mina os campos de discussãoe não seria diferente nos temasrelacionados à sáude. Segun-do ele, o processo midiático éum processo que busca re-duzir a complexidade, cons-truir uma agenda e dessacra-lizar o poder.

Entretanto, o controle so-cial continua fortalecido den-tro do SUS, contrarindo osmodelos privatistas de olho noseu quinhão.

04 e 05 -Enzo hemoterapia 21.11.07 12:58 Page 2

Page 6: Jornal O Ponto -  outubro de 2007

E S P O R T E S06 o pontoBelo Horizonte – Outubro/Novembro/2007

Editores e diagramadores da página: Bruno Martins, Lucas Barbosa e Otávio Jorge 6º período e Cristina Barroca 7º G

Avalie esta edição: [email protected]

“O Clube dos 13 comemorou em julho, 20 anosde total dertupação. O clube se tornou um clu-bezinho, onde os dirigentes de Flamengo, Co-rinthians, São Paulo, Vasco e Palmeiras mandame desmandam nos clubes ‘pequenos’. Cruzeiro eAtlético abandonaram a última reunião (16\10)porque não concordamos com as divisões dascotas de TV. Os ‘cinco grandes’ recebem 40%do total da cota que é divida para 20 clubes. Tu-do gira em torno do dinheiro repassado pela TV,conversamos (Cruzeiro e Atlético) com o presi-dente do Clube dos 13 para termos pelo menos4,7% do total das cotas de TV. Porque o total de300 milhões vai passar para 800 milhões reais eaí a diferença para os outros clubes pode passarpara quase R$ 20 milhões . O abandono foi naverdade um protesto, porque sabemos que emtodas as votações vamos perder. Nessa reunião,por exemplo, Grêmio e Internacional votarampor receber R$ 15 milhões de cota ao invés de 17.Perdemos a votação por causa desses dois clu-bes. Isso gera um monte de especulações, seráque eles receberam pagamento de outra forma?Outra reivindicação nossa é que queríamos umademocratização no clube dos 13, um conselhoadministrativo com oito membros que pudessedestituir o presidente da organização se fosse ne-cessário. O Fábio Koff, que é o atual presidente,recebe R$ 80 mil por mês para realizar duas reu-niões durante todo ano”.

“Estamos tão por baixo com a mídia em relaçãoa Rio e São Paulo que se não estivermos unidosfica realmente complicado. Temos que ser com-petitivos mesmo com a receita menor. As gran-des mídias estão em São Paulo e no Rio. É difícilfazer futebol fora do eixo, a sorte é que eles sãomuito incompetentes tirando um ou outro. Nos-sa preocupação é que o financeiro influa nas com-petições. Mais que a diferença na divisão das co-tas de TV é o desequilíbrio técnico que pode acon-tecer. Com uma diferença de dez milhões de reais,os clubes desses estados podem contratar dez jo-gadores de um milhão, por exemplo”.

“Ficou muito caro fazer futebol hoje em dia, clu-bes como América e Vila Nova não têm recur-sos. Cruzeiro e Atlético quiseram fazer uma par-ceria com o América no passado recente e os di-rigentes se julgaram tão importantes que recu-saram ajuda e hoje o time está em situação de in-solvência. Falta dinheiro e não tem receita. Te-mos jogadores emprestados com Vila Nova e Ipa-tinga. Estamos sempre dispostos a ajudar. O for-talecimento do futebol mineiro será o fortaleci-mento de Cruzeiro e Atlético”.

“Cruzeiro e Atlético nunca estiveram tão uni-dos fora das quatro linhas. A rivalidade nãopode extrapolar as raias da razão. Fui em reu-nião no Clube dos 13 autorizado a falar pelo

Atlético assim como o Ziza foi em outras au-torizado a falar pelo Cruzeiro. O que algunschamam de G5 no clube dos 13 eu chamo deG2. Com o Ziza a relação é muito boa, ele sa-be que a briga com o Cruzeiro tem que sernas quatro linhas e fora temos que ser par-ceiros. Os problemas com o Atlético ocorre-ram com diretorias passadas, principalmen-te com o Kalil, aonde eu entendi que não es-tavam respeitando o Cruzeiro”.

“No dia 14 de outubro foi divulgada uma pes-quisa da CNT/Sensus, em que o Santos apa-rece na sétima colocação no número de tor-cedores. Segundo a pesquisa, a torcida san-tista ganhou quatro milhões de torcedores emapenas um ano, é uma pesquisa duvidosa. Secompararmos com as pesquisas anteriores,como a do Ibope, Lance e Datafolha. A torci-da do Santos deixou de ser a décima para as-sumir o sétimo lugar, ultrapassando o Cru-zeiro. Para mim essa pesquisa é coisa de Man-drake, porque o Santos já recebia uma valorintermediário das cotas, R$ 18 milhões, como argumento que está em São Paulo, agoraconseguiu outro. Para mim é uma pesquisamanipulada, com todo respeito ao instituto,que ainda coloca a torcida do Cruzeiro (3,3%)com o dobro da torcida atleticana (1,5%). Élógico que a nossa é maior, mas não chega atanto essa diferença”.

“A concorrência de emissoras é um negóciomuito saudável para os clubes. Recebíamosum valor irrisório de cota de TV para o Cam-peonato Mineiro, eram R$ 2 milhões para serdividido entre doze clubes. Depois que a Re-cord entrou na disputa pelo direito de trans-missão, nós conseguimos fechar um contra-to de quinze milhões de reais com a Globo.Ainda é uma valor baixo, mas dá para cobriras despesas dos quatro meses de campeona-to. Antes a gente pagava para disputá-lo. NoCampeonato Brasileiro o valor aumentou em500 milhões de reais com a disputa entre es-sas emissoras”.

“Muita gente critica e diz que devemos ven-der o espetáculo e não o artista. Essa reali-dade não é do futebol do brasileiro, e sim doeuropeu, em que as rendas cobrem 50% dodepartamento de futebo.No Brasil não che-ga a 10%,no máximo R$ 800 mil por ano se otime estiver bem. O Cruzeiro gasta em mé-dia, 700 mil reais só para colocar o time emcampo. Temos que ser competitivos mesmocom a receita menor. Para competir, temosque ser vendedores. Temos que ser fábricade jogadores e vender pelo menos um joga-dor por ano. No dia em que o cruzeiro pararde vender seus jogadores, os torcedores po-dem ficar preocupados, porque com a receita fixa de R$45 milhões vamos brigar paranão cair”.

BRUNO MARTINS

OTÁVIO COSTA

LUCAS BARBOSA

6º PERÍODO

Vice-presidente do Cruzeiro Esporte Clube, José Perrella de Oli-veira Costa foi presidente do time da raposa durante oito anos. Du-rante sua presidência o time conquistou 14 títulos. Tanto tempo à fren-te do clube lhe renderam experiência de quem conhece o cenário dofutebol no Brasil e no mundo. Atualmente Deputado Estadual, Per-rella foi também deputado federal por Minas Gerais em 1998, fatosque o levaram a ser citado em seu partido a uma pré-candidatura a

prefeitura de BH. No cenário esportivo, ele não poupou criticas aoclube dos 13 que chamou de “clubezinho onde cinco comandam”. Cri-ticou a lei Pelé, que em sua opinião foi feita para transformar seu au-tor em empresário de futebol.Disse que o futebol se tornou um gran-de negócio e que por isso o Cruzeiro continuara vendendo jogadorespara poder brigar por títulos. Afirmou que o estádio do clube ficarápronto em dois anos e acha que este é que sediará os jogos da Copado Mundo de 2014 que forem realizados em Belo Horizonte, já quenão acredita na reforma do Mineirão. Ele falou em entrevista exclu-siva ao jornal O Ponto e a rádio Fumec. Abaixo você confere trechoseditados de sua entrevista.

2014COPA

PARA ZEZÉ PERRELLA, O ESTÁDIO MINEIRO ENCONTRARÁ DIFICULDADES NA BUSCA PORPARCEIROS NA INICIATIVA PRIVADA PARA REALIZAR SUA REFORMA PARA COPA DO MUNDO

Clube dos 13

Rio e São Paulo

Futebol Mineiro

Cruzeiro e Atlético

Pesquisa

Record x Globo

Venda de jogadores

“No caso do Cruzeiro, vamos receber dinhei-ro. São cerca de R$600 mil por mês com a lo-teria Timemania. Enquanto isso, outros clu-bes vão acertar os passivos fiscais e traba-lhistas. Demorou para o governo apoiar os ti-mes de futebol, porque já há incentivos à cul-tura e ao vôlei. O futebol que tem grandeapoio popular não tinha subsídio estatal. Masa loteria não é de graça, na verdade eles es-tarão usando a nossa marca para vender es-se produto.”

“O único problema do Cruzeiro Esporte Clu-be é com os famigerados bingos que surgi-ram como solução e tornaram pesadelo parao clubes. Como não tínhamos nem condições,nem tempo para administrar, eles foram dei-xados nas mãos de terceiros que sonegaramimpostos. Essa é a nossa única dívida, que gi-ra em torno de R$20 milhões que está pac-tuada com o Refis. Hoje pagamos R$15 milpor mês, que é um valor pequeno, por issonem entramos na justiça para recorrer. O Cru-zeiro sempre cumpriu suas obrigações e é oúnico clube do Brasil que paga fundo de ga-rantia para todos os seus jogadores. Até osatletas dos anos 60 estão sendo chamados atéhoje para receber o dinheiro.”

“O Pelé fez a lei com outras intenções, ele que-ria virar empresário de jogador e nem issoconseguiu, já que sua empresa fechou em se-guida. Ele prestou um desserviço ao Brasil.Falei com ele que a inteligência dele está nospés. Os empresários compram os passes dosjogadores e manipulam os jogadores comomercadorias. Os empresários passaram a serdonos dos jogadores. Tem jogador que che-ga à categoria de base com 13 anos já comum empresário e olha que esses nem repas-sam o dinheiro que ganham aos meninos”.

“Não sou muito a favor de torcida organiza-da, muitas vezes elas afastam outros torce-dores dos estádios, principalmente as famí-lias. Exemplos de vandalismo têm aos mon-tes. Não diria para extinguir, mas pelo me-nos regulamentar e ter um patrulhamentomaior, porque há muita gente de bem mastambém muito bandido que se mistura parafazer vandalismo. As torcidas de Minas ain-da são melhores que as do Rio e São Paulo,porque essas na verdade são bandidos dis-farçados, que querem bater nos jogadores emandar no clube”.

Cristina Barroca 7º G

Timemania

Dívidas

Lei Pelé

Torcidas Organizadas

06 e 07 - Bruno Esporte -kika 21.11.07 11:29 Page 1

Page 7: Jornal O Ponto -  outubro de 2007

E S P O R T E S 07o pontoBelo Horizonte – Outubro/Novembro/2007

Editores e diagramadores da página: Bruno Martins, Lucas Barbosa e Otávio Jorge 6º período e Cristina Barroca 7º G

Avalie esta edição: [email protected]

acredito noMineirão

De olho no lance

“(..) Essapesquisa(CNT/Sens

us) para mim écoisa de

Mandrake(...)”Zezé Perrella, vice-presidente do Cruzeiro

Não“ ”

“A pirataria é um negócio vergonhoso, cami-sas falsificadas são vendidas em frente ao es-tádio com vários policiais em volta. Por issonão temos quase nenhum retorno com as ven-das, enquanto são vendidas 150 mil camisaspiratas por semestre, nós negociamos 15 milpor mês. E a concorrência é desigual também,enquanto a oficial custa R$150, a pirata é ven-dida por cinco reais e não recebemos royaltalgum por elas”.

“Nossas principais fontes de renda continuamsendo o patrocinador principal do uniforme eas cotas de TV. Mas para se ter uma idéia, en-quanto o São Paulo recebe R$20 milhões porano do patrocinador, nós recebemos menosda metade. Valor alto, se compararmos comos contratos anteriores. O valor recebido pe-lo Atlético é ainda menor, sem querer zombar,mas o Cruzeiro recebe mais que o dobro”.

“Não entendo porque acabaram com a Super-copa, a média de torcedores cruzeirenses nes-sa competição era de 72 mil por jogo e aindarecebíamos 200 mil dólares por partida. Cria-ram a Copa Sul-Americana, em que os timesjogam com as equipes mistas e recebem 120 mildólares por fase. Com todo respeito, não dá pa-ra disputar um torneio em que entra Criciúma,Figueirense e outras equipes que não tem tra-dição internacional. Na Supercopa enfrentáva-mos Boca Junior, River Plate, hoje dificilmentesaímos do país para disputar uma partida, asequipes de base viajam mais que a profissio-nal”.A Libertadores paga dois milhões de dó-lares se o clube chegar à final, não é um valorsuficiente, porque há gastos com premiação ebichos aos jogadores, então se empatar já é umgrande negócio”.

“A reforma do Mineirão vai custa por voltade R$300 milhões (segundo e emissora ESPNBrasil, em programa apresentado no dia 06de novembro, a reforma pode chegar a R$200milhões). O governo busca parceiros na ini-ciativa privada, mas sinceramente acho quenão vai conseguir. Falei com o governadorAécio Neves, não acredito no Mineirão, está-dios melhores no exterior foram demolidos.O Mineirão hoje é antieconômico, apesar demuito bom para a prática de futebol, um es-tádio não vive só disso. Atualmente é neces-sário ter uma arena multiuso, onde você pos-sa utilizá-la para dar mais rentabilidade. O go-vernador está empenhado com a reforma, masalém da dificuldade em encontrar parceiros,

há um problema jurídico. O terreno é da Uni-versidade Federal e o estádio é do governo.O Aécio disse que passaria a administraçãodo estádio para Cruzeiro e Atlético e nós dis-semos que não temos interesse em adminis-trar o Mineirão”.

“Tenho um sentimento que os jogos da Copado Mundo de 2014 que forem realizados emBelo Horizonte ocorrerão no estádio do Cru-zeiro. Como já falei, vai ser difícil alguém bo-tar dinheiro no Mineirão. No máximo em doisanos o estádio do Cruzeiro fica pronto, é otempo que se gastou para construir a mesmaobra em Portugal. Já temos o grupo de in-vestidores portugueses, um deles o Banif, ban-co que captou outros investidores. O dinhei-ro, cerca de 800 milhões, já está disponibili-zadopara o projeto, só estão faltando algunsdetalhes. Em janeiro ou fevereiro do ano quevem começaremos as obras, só o estádio vaicustar 350 milhões de reais. Os investidoresjá iniciaram as negociações com os proprie-tários de um terreno no Buritis e o outro emNova lima. Eles fazem questão que a obra se-ja na zona sul, pois o objetivo deles é lucrarcom o entorno do estádio,que terá aparta-mentos, shopping e outros comércios. Vamosreceber 30 milhões só com a venda do nomedo estádio e o clube vai ficar com toda a ar-recadação dos jogos será toda nossa, apesarde não gastar nada com a construção”.

“Meu nome foi citado pela votação expressi-va que tenho em Belo Horizonte. É uma coi-sa que eu gostaria e teria o maior prazer emser prefeito da capital. Mas falta combinarcom a torcida do Atlético. Deixei meu nomea disposição para participar de uma compo-sição, mas não estou aficionado por isso. Va-mos deixar as coisas acontecerem. Acho queBH precisa de um gestor, de um gerente e nãode um político. Uma cidade é como uma em-presa, se for bem administrada apresenta re-sultados. É uma coisa que eu tenho certezaque faria bem. Me julgo capaz de gerir BHporque toda minha vida fui administrador.Estamos cansados de políticos só com visãopolítica, ele tem que ter principalmente umavisão administrativa sem esquecer o lado so-cial”.

“Pretendo é cumprir meu mandato e sair dapolítica já que político no Brasil virou sinôni-mo de ladrão. Você tem até vergonha de falarque é deputado. Isso me incomoda muito. Amaioria do povo que chama político de ladrãotem toda razão porque a grande maioria é eessa é”.

“A grande maioria dos meus eleitores são tor-cedores do Cruzeiro. Por isso os resultadosdo time acabam influenciando no resultadodas urnas. É ruim fazer campanha quando otime está em má fase e é difícil separar o Ze-zé político do dirigente de futebol. Em 1998fui o segundo mais bem votado, com mais de185 mil votos, porque o Cruzeiro vinha de umtítulo da Libertadores e fazia uma boa cam-panha no Campeonato brasileiro. Já a últimaeleição para deputado estadual, uma das elei-ções mais difíceis, acredito que foi resultadodas políticas implantadas por mim quando eradeputado federal, nesse período coloquei maisde 150 quadras poliesportivas espalhadas portodo o estado de Minas Gerais”.

Confira a entrevista na íntegra no site da Rá-dio Fumec e click no link Perrella.www.pontoeletronico.fumec.br

Zezé Perrella cita nesta entrevista a pesqui-sa CNT/Sensus divulgada no dia 15 de ou-tubro. Segundo a pesquisa, a torcida do San-tos ultrapassou a do Cruzeiro se compara-rarmos com as anteriores, do Ibope de ou-tubro de 2004 e do instituto Datafolha, quefoi divlgada em setembro do ano passado.O Ponto não perdeu nenhum detalhe e re-cuperou essas pesquisas. A torcida do Fla-mengo aparece na primeira colocação emtodas as pesquisas seguida por Corinthians,São Paulo, Palmeiras e Vasco respectiva-mente. O que difere são os sextos e o séti-mos lugares, nessas posições há uma trocaentre Cruzeiro, Santos e Grêmio. Na pes-quisa do Ibope a sexta torcida é do Cruzei-ro com 3,7% seguida pela do Grêmio(3,5%)e do Santos com 2,7%. Já o instituto Data-folha coloca o Grêmio na sexta posição com4% e o Cruzeiro e Santos empatados com3% na sétima posição. Na última, do institu-to CNT/Sensus, o Grêmio permanece na sex-ta posição com 3,9%, seguido pelo Santosque cresceu 0,7% em ano e agora é apon-tado como a sétima torcida do Brasil com3,7%, já o Cruzeiro vem na oitava colocaçãocom 3,3%. Perrella também cita que o Atlé-tico aparece com menos da metade torce-dores do Cruzeiro na pesquisa do CNT/Sen-sus e os números confirmam - 1,5% na 11°posição, diferente das anteriores, em que oGalo é apontado como a 10° torcida com 2%.Acompanhe a variação no gráfico abaixo:

Pirataria

Competições internacionais

Mineirão

Estádio Próprio

Prefeitura deBelo Horizonte

Futuro político

Futebol x Política

Patrocínios

“É difícil fazerfutebol forado eixo Rio-

São Paulo,nossa sorte éque eles são

muito incom-petentes.”

“ No máximoem dois anoso estádio do

Cruzeiro ficarápronto”

“A maioria dopovo que

chamapolítico deladrão temtoda razão

porque amaioria é e

essa é averdade”

Cristina Barroca 7ºG

06 e 07 - Bruno Esporte -kika 21.11.07 11:29 Page 2

Page 8: Jornal O Ponto -  outubro de 2007

E S P O R T E S8 o poBelo Horizonte – Outu

Editora e diagramadora da pág

Avalie esta edição: [email protected]

PEDRO ROCHA

2º PERÍODO

Um novo fenômeno está surgindo nos está-dios brasileiros. Cansados das brigas e confu-sões causadas pelas Torcidas Organizadas, tor-cedores estão se juntando em grupos e forman-do as barras bravas no país. As barras surgiramna Argentina e no Uruguai nas décadas de 30 e40, para utilizar violência no apoio ao time e emresposta aos policiais, na época chamados de bar-ras nos dois países.

Hoje em dia as barras estão presentes em to-da a América Latina e nos Estados Unidos, o mo-delo de torcida está muito próximo aos Ultraseuropeus, que cantam durante todo o jogo, po-rém em vários jogos cometem atos de violência.A maior barra do mundo é a La 12 do Boca Ju-niors da Argentina.

Os materiais utilizados nas barras são os tra-pos, faixas nas cores do clube com mensagensde guerra, apoio ou regionalismos, barras, fai-xas verticais para demonstrar que no setor es-tá presente a barra brava do time, fogos de ar-tifício, sinalizadores, bandeiras do clube, ban-deiras do estado e outros itens que variam detorcida para torcida e a principal ideologia datorcida é o apoio incondicional ao clube.Com as constantes brigas nas organizadas, natorcida do Grêmio surgiu a Alma Castelhana,

por volta de 2001, torcida que se espelhava prin-cipalmente pelo fato de também fazer a “ava-lanche”, comemoração típica da torcida do Bo-ca nos gols da equipe,

Na época surgiram outras como a Setor 2do Juventus de São Paulo, porém eram poucase nenhuma em times de expressão.Com a subida para a série A em 2005, a AlmaCastelhana ganhou muita força no OlímpicoMonumental e cresceu muito e mudou o nomepara Geral do Grêmio. Um dos motivos da mu-dança é o fato de vários torcedores serem con-trários a ideologia “argentinizada” que existiano nome e em vários gritos que eram cantadosem espanhol.Tiago, torcedor do Grêmio que entrou para aGeral diz que o método de torcida das barras émais interessante e atrativo do que o das orga-nizadas, que em vários casos utiliza muito daviolência. Ele entrou na torcida por dissidên-cias com a Super Raça Gremista, maior orga-nizada do clube antes do surgimento da Geral.

Para Fernando, também integrante da Ge-ral, o torcedor entra para a Barra, pois ama mui-to o clube e se identifica com a tradição do clu-be e a barra uma das melhores formas para semostrar isso. “A Barra dá uma sensação de li-berdade e está desconectada de qualquer re-presentação arbitrária” defende Fernando.

Do final de 2006 até a metade de 2007 sur-

Para a Polícia Militar de Mi-nas Gerais as chamadas

torcidas organizadas não de-veriam existir. Segundo um co-ronel da PM que não quis seridentificado Belo Horizontevem sofrendo há muitos anoscom delitos causados por in-tegrantes dessas organizaçõesque considera criminosas. “Emtodo jogo diversos ônibus sãodestruídos, muitos trabalha-dores prejudicados, torcedo-res comuns machucados e atémesmo, algumas mortes demembros dessas falanges debandidos. Se fossem só elesque morressem, estava de bomtamanho” declara.

A PM também utiliza deforça, mas segundo ele quan-do necessário.“Para separarbrigas e tumultos de torcedo-res, que na maioria das vezessão muitos, usamos a força.”Ele explica que não têm comoeles pedirem com educação.“Não podemos pedir assim: __ei vocês, parem de brigar porfavor! Usamos os bastões, pi-menta e em último caso, balasde borracha e bombas de efei-

to moral, aquelas que assus-tam pelo barulho.” Os cavalosdo recat (regimento de Cava-laria Alferes Tiradentes), tam-bém são treinados para ajudarna organização de tumultos ouseparar brigas no Mineirão.

Segundo o coronel a solu-ção para o problema da vio-lência é a educação e a cultura.É um problema que não se re-solve a curto prazo. “A crise éde educação. A Polícia Militartrabalha no efeito e o que pre-cisa ser feito é trabalhar na cau-sa. Por que as pessoas são ouestão violentas? Por que elasbrigam pelo time de futebol enão brigam para ter um em-prego, para ter educação? Sãomuitas coisas envolvidas queestão muito longe do alcancede um policial que trabalhanum estádio e depois ainda temque voltar são e salvo pra casa,pra sua família” explica.

Muitas torcidas desempe-nham atividades sociais comodoação de sangue. Para a Po-lícia Militar esses momentosde solidariedade são poucos.“As doações de sangue ocor-

rem uma vez ou outra assimcomo outros compromissos afavor da sociedade, mas a de-predação e a violência ocor-rem em todos os jogos”.Issoimplica que não compensa serde uma torcida organizada epara a polícia um cidadão quepertence a uma organizaçãodessa, automaticamente já éum suspeito.

Quanto a proibição davenda de cervejas no estádio,a Polícia é totalmente a fa-vor.“Depois da proibição dacerveja, as ocorrências den-tro e nas redondezas do está-dio reduziram em 72%”, ar-gumenta.

A polícia tem os seus moti-vos para ser contra as torcidasorganizadas. De acordo com ocoronel só esse ano forammais de 150 armas de fogoapreendidas com torcedores.Além de bombas de bola de si-nuca que inclusive já deixaramum morto dentro do Mineirãoem 1997, bombas de pregos,bombas de chumbo e foguetesusados para confrontos entreas gangues.

BRUNA NATAL

LUCIANA AVELAR

GUSTAVO GERKEN

PEDRO BETTI

1º PERÍODO

Elas estão presentes em todos os jo-gos, viajavam atrás dos times, dãoapoio, cantam, levantam bandeiras,

vibram e se emocionam. Cobram quandopreciso, xingam jogadores, juízes e dire-tores. Mas também provocam cenas de-ploráveis de violência e vandalismo, rou-bam, batem, quebram ônibus e em algunscasos provocam até a morte. O que seráque move as torcidas organizadas? Amor

Torcidas em estilo arge

PM é contra as organizadasO líder da Galoucura,

torcida organizada do Atlé-tico, William Palumbo, co-nhecido como Ferrugem, de-fende a agremiação. Ele ga-rante que é contra a violên-cia, que a torcida é um apoiopara o time e destaca um la-do positivo da Galoucura.

Segundo Ferrugem a vio-lência nas torcidas organi-zadas é em grande parte umreflexo do que a imprensamostra. A imprensa relatamuitos casos de vandalismosatribuindo-os a Galoucura eassim acaba atraindo pes-soas com esse intuito para astorcidas. Ele acredita que seos meios de comunicaçãomostrassem o lado bom dastorcidas, atrairia pessoascom esta mentalidade. “En-tão eu falo pra imprensa nãomostrar só o lado ruim não,tem que mostrar o lado bomtambém”, argumenta.

Ferrugem garante que ostorcedores violentos são ex-pulsos, mas defende quemuitos dos que são presoscom o uniforme da Galou-cura não fazem parte daagremiação.“Muitas pessoasinfiltram na Galoucura paraassistir ao jogo no Minei-rão”.(sic)

A Galoucura também têmum papel social, “A gente

tem uma campanha extremaconta vandalismo em ôni-bus”. Ele explica que precisada mídia para desempenhareste papel social.“Então agente tem esse compromis-so com a sociedade que ama-nhã o ônibus que você que-brou, pessoas que você amavão precisar dele. A genteprecisa da imprensa”.

Um papel importante queas torcidas organizadas de-sempenham é o de cobrar dotime. A torcida apóia o time,mas precisa ver resultadostambém. “Fizeram um alvo-roço danado, mas o título dasérie B é pequeno. Queremosganhar uma Libertadores,um Campeonato Brasileirode série A” desabafa. A tor-cida quer ver o time dar ra-ça, honrar a camisa e isso se-gundo ele não está aconte-cendo. Ferrugem discordada conduta do presidente, oSr. Ziza Valadares. “Ele falouno início do ano coisas quenão foram cumpridas, que oAtlético iria bem no Cam-peonato Brasileiro, que nocentenário do Atlético a gen-te ia disputar a Libertadores,ia contratar novos reforços enão aconteceu”.

Sobre a diretoria doAtlético ele defende que“falta chegar uma pessoa

de pulso ali e botar as coi-sas para acontecer e nãodeixar pessoas que não fa-zem parte desse cotidianoai tocar essa nação Atléti-co”. Para Ferrugem o Atlé-tico não é transparente, ascontas não vêm a público,a torcida tinha que saberdisso, o que fortalece o clu-be é a torcida”.

De acordo com ele o tor-cedor colaborador não é umbom negócio, pois não prio-riza a maior parte da torci-da. “Não fizeram um bomtrabalho, não estão sabendotrabalhar o marketing datorcida do Atlético da torci-da apaixonada que vai ao es-tádio, que é uma torcida deperiferia”. Ferrugem é con-tra o alto preço do ingressoe reivindica um preço justonas arquibancadas para otorcedor de baixa-renda po-der comparecer.

A Galoucura tem umconselho com dez pessoasque administram a torcidae tem uma eleição de qua-tro em quatro anos. Ela pre-tende ter também uma re-presentação política. “Napróxima eleição vai sair umvereador daqui de dentroda torcida, estamos estu-dando três ou quatro no-mes”, adianta.

“Sou contra brigas,mas gosto de ver

as torcidascantando noMineirão”.

Alex

“Sou contra osbaderneiros.Já ouvi falarque a Galoucura desfaz a

carteirinha dosbaderneiros, mas não

conheço ninguém que atenha perdido”.

Foto cedida por membro da Galoucura

Cenas de violência são recorrentes no entorno do estádio e afastam famílias do campo

A voz da Galoucura

“Nas torcidasorganizadas só têm

marginal”.

Paulo

Movidas por pa

08-09 Poliane Esportes 21.11.07 11:34 Page 1

Page 9: Jornal O Ponto -  outubro de 2007

E S P O R T E S 9Avalie esta edição: [email protected]

ubro/Novembro/2007

gina: Poliane Bôsco 6º período

Oque leva os torcedores,pessoas comuns, com di-

ferentes histórias de vida seunirem e cometerem atos deviolência? São diversos os fa-tores que os levam a isso. Aprofessora de psicologia so-cial e processos grupais daUniversidade Fumec, Car-mem Shffer, explica que o queleva as torcidas a praticaremviolência é se esquecer que éum indivíduo e dentro dessamassa, se sentir menos res-ponsável pelos atos como umindivíduo.

A professora explica a vio-lência das torcidas a partir deuma análise psicológica, utili-zando o conceito de mas-sa.“Quando eles estão na tor-cida, não há uma identificação,não há responsabilidade porque lá, como torcedor, eles sãomassa” explica. A massa temprincipalmente, um objetivoque os une, mas, não existeuma relação estabelecida, oobjetivo é o jogo.

Dentro dessa massa exis-tem grupos, ou seja, as torci-

das organizada., Esses grupospossuem uma relação estabe-lecida e um objetivo que aprincipio é o mesmo da mas-sa, a vitória do time para qualeles torcem.

O que acontece é que ostorcedores vão ao estádio, porexemplo, ao Mineirão, e se jun-tam à massa. Perante uma der-rota, a frustração provocadapor causa dessa derrota do seutime, qualquer pessoa, mesmoque não seja aquela da torcidaorganizada, que tenha um po-der de liderança, pode provo-car a ira daquela facção damassa que o acompanhar e ex-travasar sua raiva em qualquercoisa, pessoas ou objetos. “Emcaso de pessoas, estas são ostorcedores do outro time vito-rioso, torcedores do time quetirou a vitória do seu time e,portanto quem deve pagar porisso”. Assim começa a maiorviolência entre torcedores detimes rivais nos estádios.

Os torcedores geralmenteprocuram as torcidas organi-zadas porque eles se identifi-

cam primeiro pelo time quetorcem, por ter algo em co-mum entre eles e normalmen-te são acolhidos. “Nesse mo-mento está ocorrendo proces-so de socialização, também umprocesso de fortalecimento dogrupo torcida organizada, quese torna massa quando se jun-ta com outros grupos com omesmo objetivo.”

Isso pode ser positivoquando a massa está reunidapara movimentos pacíficos,doações de sangue e campa-nhas que ajudam pessoas de-sabrigadas e outras da mesmanatureza, mas normalmente, amassa faz o que aquele que es-tá na liderança manda comoum tipo de hipnose.

As pessoas ali não são in-divíduos são partes da massa,pensando mais uma vez em ga-nhar ou perder. Isso os leva àsvezes a praticar atos em bene-fício da sociedade como umadoação de sangue em massa.Não é o indivíduo quem estádoando e sim a torcida do timeque ele defende.

pelo futebol ou violência? Elas dividemopiniões, há quem as defenda e quem ascondene.

O Ponto entrevistou os líderes dasmaiores torcidas de Minas Gerais, a Ga-loucura e a Máfia Azul, um representan-te da Polícia Militar e uma psicóloga paraouvir a sua opinião sobre as torcidas. Astorcidas se defendem afirmando que sãocontra a violência e que muitos vândalosse infiltram nas torcidas. A PM condena,os considera como bandidos. A psicólo-ga analisa o comportamento dos torce-dores a partir do conceito de massa. Es-sa matéria traz também um novo concei-to de torcidas que está crescendo no país.

ntino chegam ao Brasil

Comportamento de massaA Máfia Azul torcida or-

ganizada do Cruzeiro ga-rante que não prega a vio-lência. A torcida organizadaé uma forma dos torcedoresse unirem em torno de umapaixão em comum. ParaPaulo Augusto da CunhaFonseca, líder da Máfia Azul,mais conhecido como Pauli-nho Popeye, muitos casos deviolência são ligados a elesinjustamente. “O material datorcida é vendido em todo oBrasil, e algumas pessoasusam o material mesmo nãosendo membros da torcida”garante.

Caso o membro venha acometer um crime, ele é des-vinculado da torcida. Só apolícia pode trazer o nomedos infratores que agem natorcida. “Depois de desvin-culado da torcida, a máfianão garante que o torcedorviolento vá mais ao estádio;isso é papel da polícia” ar-gumenta Paulinho Popeye.Na semana do clássico, emsetembro torcedores forampegos depredando a sede doAtlético. “Eles usavam rou-pas da Máfia Azul, mas nãoeram integrantes”.

A Máfia Azul tem umapreocupação social. “Em ca-da bairro temos um líder, e

cada mês escolhemos um lí-der para fazer uma ação so-cial em sua região”. O traba-lho voluntário inclui: agen-damento de doações de san-gue,ajuda em asilos e doa-ções de agasalhos. Existemuma parceria entre o Sevacde Nova Lima, a partir do si-te da Máfia Azul (www.ma-fiaazul.com.br), e qualquerpessoa pode participar.

Com relação ao time, aagremiação mantém uma re-lação tranqüila Ganha-seuma quantidade mínima deingressos para a bateria epara as pessoas que ajudama colocar as faixas. Mas dis-corda de algumas decisõesda diretoria, como o pro-grama de sócio torcedor. Pa-ra eles o programa é muitofraco. Em relação ao estádiodo Cruzeiro eles concordamcom a criação, mas não que-rem que o Atlético tome oMineirão que será totalmen-te reformado para a copa de2014. “O ideal seria que Cru-zeiro e Atlético pudessemadministrar o Mineirão”.Mas eles reclamam que “adiretoria do Cruzeiro não es-cuta muito o torcedor, só es-cuta o conselho eleito pelossócios do clube” desabafaPaulinho Popeye.

Segundo Paulinho Pope-ye, os Perrelas dominam oconselho do Cruzeiro, sãograndes administradores,mas precisam pensar maisno torcedor. Todo ano é ne-cessário vender jogadores.A diretoria deveria pensarmais em futebol, ganhar tí-tulos. “Desde 2003 a direto-ria não pensa em contratarjogadores de bom nível”.

A Máfia mantém uma re-lação amigável com o res-tante da torcida do Cruzeiro.“Mas a máfia azul é a únicatorcida que de verdade vaiaonde o Cruzeiro for”. O cru-zeirense é um torcedor queexige da diretoria. Ganha tí-tulos, mas cobra do time. Ostítulos do cruzeiro trouxerammuitos torcedores ao clube.As músicas da torcida visamapoiar o time. Há um traba-lho muito grande da torcidapara acabar com as músicasque usam palavrões.

No quesito política, a tor-cida sempre esteve apoiando,mesmo que indiretamente,torcedores do cruzeiro, comoo Perrela. Não há represen-tantes da Máfia Azul. “Mes-mo o Fubá, que será candi-dato ano que vem, não terá oapoio da torcida, só em trocade algum benefício”.

“Soucompletamente

contra as torcidasorganizadas. Tenho

raiva delas”.

José Pedro

“São as torcidas queanimam o estádio, dão

mais vontade de assistir ojogo. Só que uma quer

mostrar para a outra qualé a mais animada, a mais

forte e qual consegueroubar mais agasalhos da

rival”.

Josimar

“Sou a favor das torcidasporque tem que quebrar o

pau mesmo, senão o futebolperde a graça. Só quebramos

o ônibus da Galoucura, nonosso nós só estouramos o

tampão pra surfar”.

giram barras bravas em todas as regiões doBrasil, principalmente por causa do sucesso daGeral. Para tentar ganhar novos adeptos as or-ganizadas do Grêmio se uniram e fundaram osUltras, tentando copiar o método europeu, quetem como um dos maiores exemplos no mun-do a torcida do Panathinaikos da Grécia e o Por-to de Portugal.

Uma das primeiras barras que surgiram noBrasil após o sucesso da Geral foi a Guarda Po-pular do Internacional, que procura se desven-cilhar de ser apenas uma concorrente da Gerale também tem crescido muito nos últimos jo-gos da equipe.

No ano passado, surgiu o Movimento 105 Mi-nutos, a barra brava do Atlético, principalmen-te pelo fato de vários torcedores não concorda-rem com a maioria dos posicionamentos da Ga-loucura e também pela vontade de se fazer oapoio incondicional. Graças às desavenças comas organizadas, a 105 teve que se deslocar de se-tor e a cada dia que passa conquista mais adep-tos e seus cantos são incorporados por boa par-te da torcida atleticana.

Outra barra que está fazendo muito suces-so é a Brava Ilha, do Sport Recife, com posi-cionamentos semelhantes aos das outras bar-ras, mas o diferencial dela é o apoio em outrosesportes, como por exemplo na final do Cam-peonato Brasileiro de Hóquei, realizada no dia

13 de outubro e com a promessa de total apoioà equipe de vôlei feminino do clube que farásua estréia na Superliga de Vôlei 2007/2008.

No Rio de Janeiro, os quatro grandes timestem barras, a Guerreiros do Almirante, do Vas-co da Gama, Loucos pelo Botafogo do Bota-fogo,e a Urubuzada do Flamengo. Com exce-ção da barra do Vasco, que segue traços lati-nos, as barras cariocas são detentoras de umestilo próprio.

O principal questionamento de torcedoresque não fazem parte das barras é a cópia dosmodelos latinos e não a criação de algo maispróximo da realidade das torcidas brasileiras.Torcedores de equipes que não tem barras ouque não pertencem às barras são críticos daforma de torcer e acham que isso é um plágiode argentinos e demais latinos.

Para Tiago, da Geral, o exemplo das barraslatino-americanas(em especial as argentinas)servem de ponto de partida para introduzir oconceito das barras no cotidiano dos estádiosbrasileiros e com o tempo ela ganhará sua iden-tidade e se adequará melhor aos costumes bra-sileiros e as músicas serão mais regionais, doestado de origem do clube e outros detalhesmais regionais que poderão ser incluídos.

* Os entrevistados preferiram não divulgar osobrenome.

A Voz da Máfia Azul

Foto cedida por membro da Máfia Azul

Atos de vandalismo causam danos também ao patrimônio público

Marina

Valad

as 7ºH

ixão e violência

08-09 Poliane Esportes 21.11.07 11:34 Page 2

Page 10: Jornal O Ponto -  outubro de 2007

T U R I S M O10 o pontoBelo Horizonte – Outubro/Novembro/2007

Editora e diagramadora da página: Luana Bastos 6ºperíodo

Avalie esta edição: [email protected]

FERNANDO KELLYSSON

2º PERÍODO

O Vale do Jequitinhonhaque é famosamente conheci-do por sua pobreza econômi-ca, possui grandes riquezasculturais, naturais e humanas.A região é cheia de históriasfortes, cenários marcantes,possui um rico folclore e mui-tas manifestações artísticas,além da culinária e do artesa-nato. Seu povo simples é tam-bém hospitaleiro e solidário.A partir destas características,surgiu um programa de go-verno: o Turismo Solidário,que visa desenvolver as po-tencialidades da região.

A essência do programa éem primeiro lugar promover odesenvolvimento sócio-econô-mico na região. Para isto é ne-cessário despertar no turista ointeresse de ir até as comuni-dades e povoados dos municí-pios contemplados e ter con-tato com sua gente, suas cul-turas e costumes, fazer inter-câmbios, amizades, e permu-tar conhecimentos pessoais,técnicas profissionais, educa-ção, lazer e entretenimento.

Segundo Marina Maga-lhães, gerente do programa,91 famílias já foram treinadase capacitadas pelo Sebrae pa-ra receberem os turistas emsuas casas. Atualmente exis-tem 73 receptivos familiares.Os municípios contempladospelo programa são Diaman-tina, Serro, Minas Novas,Chapada do Norte, Couto deMagalhães de Minas, SãoGonçalo do Rio Preto, Tur-malina e Grão Mogol, abran-gendo 20 comunidades per-tencentes a eles.

Foram investidos pelos go-vernos federal e estadual R$700 mil no programa. A fim de

potencializar os receptivos pa-ra que eles mesmos sejam ges-tores em suas regiões e te-nham contato direto com o tu-rista na negociação. As reser-vas de hospedagem são feitasatravés da central que estádisponível no site www.turis-mosolidario.mg.gov.br.

No Vale do Jequitinhonha,o turismo não se restringe aum mero lazer, ele tem algomais a oferecer. E o que seria?O que motivaria as pessoas aviajarem para uma das regiõesmais pobres do país para fazerturismo? A resposta está nascomunidades, regiões ricas dehumanidade, algo cada diamais difícil de se encontrar nasgrandes cidades.

O Turismo Solidário é umaalternativa importante para oengrandecimento humano, aemancipação e o desenvolvi-mento dessa região tão flage-lada pela pobreza. Este é umturismo para se sentir.

ViagemA reportagem de O Ponto

foi para o Vale a fim de co-nhecer de perto a realidadeda população e como funcio-na o programa. Nossa pri-meira parada foi na cidade doSerro de onde seguimos pa-ra o seu distrito, São Gonça-lo do Rio das Pedras e seu po-voado, Capivari, situados acerca de 37 quilômetros da ci-dade. Procuramos pela casade Genésio e fomos recebidospor sua esposa Maria, umajovem senhora e suas três fi-lhas pequenas.

Na casa pequena, uma sa-la de piso de tábua corrida,nela, uma pequena mesa, umradio velho e uma singela es-tante, no quarto onde ficamoshospedados, duas camas, ochão de cimento batido, sobre

uma mesinha um cântaro deágua e no teto, um forro defios de bambu. Tudo muitosimples, porém de uma lim-peza exemplar.

Na cozinha, o fogão à le-nha, uma pequena geladeira,uma mesinha e o banheiro fo-ra da casa, também bem mo-desto. Sorrisos bailavam nosrostos queimados pelo sol, ros-tos possuidores de olhos en-cantadores. O pessoal é fran-zino, provavelmente a alimen-tação não é compatível com otrabalho que exercem. Gené-sio não estava em casa, masseu pai veio conversar conos-co e nos contou sua história.

Depois de mais de uma ho-ra de conversa, Maria nos cha-mava para o jantar: uma co-mida simples e saborosa. Nojantar, todos ao redor do fo-gão à lenha se aqueciam, poiso local é frio. Em Capivari mo-ram aproximadamente 490pessoas, e é lá que o turismosolidário está mais avançado.Mesmo em condições tão difí-ceis, é impressionante a alegriado povo que por influência doprograma, já organizaram umgrupo de teatro e um conjun-to que apresenta modas deviola e recita poemas, todos deautoria própria.

Ao amanhecer, nos des-pedimos e saímos pelo sertãode solo petrificado e de cas-calho branco, local onde emuma época foi palco da ex-tração do diamante.

Seguimos para Minas No-vas no distrito de Campo Buri-ti, região muito assolada pelapobreza. Minas Novas possui280 anos de existência e foi mar-cada pela exploração do ouro.

Seu distrito, Campo Buriti,surgiu em 1969. Lá as mulhe-res praticam o artesanato emargila e produzem belas obras

de arte. A economia na regiãoé realmente complicada. A ter-ra é árida e imprópria para ocultivo e o garimpo não rendemais. A zona rural é muito po-voada e o acesso à cidade écomplicado, muitos vão a pé,em longas caminhadas.

Essas pessoas que vive-ram muito tempo isoladas,agora recebem visitas, têmcontato com pessoas que po-dem lhes transmitir novos co-nhecimentos e ouvi--las. Pes-soas que também podem aju-dar financeiramente, inves-tindo neles e comprando seusprodutos e serviços. Isto abrenovos horizontes e renova aesperança dessa gente.

DesafiosO desafio é dar autonomia

a esse nova modalidade de sepraticar o turismo, que aindaestá atrelado a outras moda-lidades - principalmente a di-ficuldades econômicas. E tam-bém dar condições aos pró-prios moradores dos locaispara que eles mesmos sejamgestores do programa.

Em alguns lugares do se-mi-árido e baixo Jequitinho-nha, o atrativo é unicamente asua gente e sua rica cultura.Quem for visitar esses lugaresserá movido exclusivamentepelo sentimento de humani-dade e pelo interesse de co-nhecer pessoas imensamentehonestas, verdadeiras e cora-josas para enfrentar a vida.

O interesse será ajudá-las,seja no investimento em infra-estrutura, na criação de opor-tunidades ou na elevação doÍndice de DesenvolvimentoHumano, almejando o desen-volvimento sócio-econômicodessa região. E em troca, a vi-vência de experiências huma-nísticas e duradouras.

JEQUITINHONHA VISA DESENVOLVIMENTO PELO I

Receptivo familiar em Alecrim, distrito de São Gonçalo do Rio Preto, onde o programa Turismo Solidário existe desde setembro

Luana Bastos

Turis

mo av

ança no Vale do

10 e 11 - Luana Turismo 21.11.07 12:58 Page 1

Page 11: Jornal O Ponto -  outubro de 2007

T U R I S M O 11o pontoBelo Horizonte – Outubro/Novembro/2007

Editora e diagramadora da página: Luana Bastos 6º período

Avalie esta edição: [email protected]

Situada ao norte e nor-deste de Minas Gerais, o Va-le do Jequitinhonha ocupauma área de 71.552 km2, on-de vivem cerca de 1 milhão depessoas. O Vale compreende85 municípios subdivididosnas zonas do Alto Jequiti-nhonha, Jequitinhonha Semi-Árido, Médio e Baixo Jequiti-nhonha. A maior parte do seusolo é árido e castigado pelassecas, quando não, por en-chentes. Sua gente, em suamaioria, vive pouco acima dalinha da pobreza.

O IDH (Índice de Desen-volvimento Humano) é muitobaixo, 75% de sua populaçãovive da agricultura de sub-sistência e o PIB na região re-presenta apenas 2,2% do PIBmineiro.

O Vale do Jequitinhonhaque antes era habitado por ín-dios, veio sofrendo degrada-ções desde o final do séculoXVII em virtude da exploraçãodo ouro e do diamante pelosbandeirantes e pela coroa por-tuguesa. Muitas de suas cida-des datam sua origem do sé-culo XVIII como é o caso de

suas duas cidades pólo: Dia-mantina e Serro.

A região do Serro e Dia-mantina possui o solo petrifi-cado e algumas áreas possuemum cascalho branco, local on-de se garimpava o Diamante.A região é dotada de belas ca-choeiras e parques florestais.Diamantina surgiu em 1722 emfunção da corrida ao ouro ediamante que margeava o RioJequitinhonha e se chamavaArraial do Tejuco.

Já a cidade do Serro surgiuantes, em 1702 com a chegadados bandeirantes e foi o pri-meiro município a ser tomba-do pelo Instituto do Patrimô-nio Histórico e Artístico Na-cional, o IPHAN em 1938. OSerro possui um rico acervohistórico-arquitetônico, commonumentos religiosos e so-brados, além do folclore e ma-nifestações artísticas e religio-sas. Segundo Procópio, “a As-sociação de Congados do Ser-ro é a segunda mais antiga dotriunfo eucarístico em Minas,a primeira é de Ouro Preto.”Vila do Príncipe, como erachamada antigamente, era se-

de de uma das quatro primei-ras comarcas da capitania dasMinas Gerais e é lá que nasceo Rio Jequitinhonha que per-corre todo o Vale e deságua nolitoral baiano.

O Semi-Árido e Baixo Je-quitinhonha são as regiõesmais pobres e estão ao Nortee Noroeste do Vale. Parado-xalmente foram regiões ricasem ouro e hoje são pobres.Outra cidade que visitamos,mais ao norte, foi Minas No-vas, um município de 280 anosde existência, que possui 30mil habitantes e também foimarcada pela exploração doouro. José Baiano, um peque-no produtor rural, nos mos-trou um toco que existe noponto alto da cidade que naépoca do Brasil Colônia erauma forca usada pelos portu-gueses para punir os negrosque se rebelavam contra a co-roa. Segundo os moradores dacidade, é lá que está o primei-ro sobrado construído no Bra-sil, cuja data da construção édesconhecida.

Norte de Minas preserva riquezashistóricas em meio à pobreza do povo

Os personagens dessa históriaO Pai de Genésio se chama

José Felix. Ele é um homem de71 anos, com as mãos grossase calejadas dedicadas ao tra-balho de uma vida toda, quenos recebeu para contar suahistória com emoção. Ele nosfalou das aventuras como tro-peiro, do êxodo rural, do re-torno a sua terra, dos mo-mentos de fome e caminhadasà pé pelo cerrado. Disse queagora tudo havia mudado.

Segundo ele, o IEF proibiuo garimpo, a extração da Sem-pre Viva (florzinha linda quenão murcha e é comercializa-da para enfeites e artesanato,muito comum na região) e oplantio em até 30 metros àmargem dos rios da região.“Depois disso ficou muito di-fícil para nós”, afirmou Felix.Ele aprova o projeto de turis-mo solidário desenvolvido naregião, mas assume que a aju-da ainda representa pouco pa-ra seu orçamento.

Próximo dali, em CampoBuriti conversamos com Do-na Dica, uma senhora que criasozinha dois filhos pequenose os dois netos abandonadospela nora. Seu filho foi paraSão Paulo trabalhar na lavou-ra para conseguir algum sus-tento. Mas,, mesmo com tan-ta dificuldade, ela se mostravafeliz e confiante no futuro.

De todos os habitantes lo-cais, quem contou a história

mais comovente foi Dona Apa-recida. Ela é uma senhora ne-gra de mais de oitenta anos deidade, que mora na beira darodovia em Couto de Maga-lhães. Sua casa é feita apenasde terra de formiga e estrumede gado, pintada de cal.

Seu quarto comporta duascamas, um criado velho e rou-pas sujas dependuradas naparede; no meio da sala háum toco, e sobre este um fil-tro d’água e o rádio. Uma ca-sa minúscula, que abriga ain-da no quintal um fogão à le-nha e um pequeno banheiro.Mais nada.

Dona Aparecida diz quevive da ajuda dos vizinhosdesde que perdeu o marido hámuitos anos. Em tom emo-cionado, revela que seus trêsfilhos foram assassinados pe-lo patrão quando trabalhavamem uma carvoeira. “Encostouum carro na minha porta e eupensei que eram meus filhos.Eu ia até preparar algo de co-mer para eles, mas quando fuiver eram os caixões com oscorpos”, conta ela com lágri-mas nos olhos.

Após o choque, tenta darprosseguimento à vida, mes-mo com a tristeza da perdados filhos. Mas, logo depois,voltou a conversar com seutom meio brincalhão, de quemri perante a vida sofrida e nãoquer se entregar.

Fonte: Setur

Mapa do PIB mostra a deficiência doVale do Jequitinhonha

INTERCÂMBIO DE CULTURAS E É PIONEIRO EM HOSPEDAGEM FAMILIAR

Seu Agenor, morador de Capivari, é um dos personagens do Vale do Jequitinhonha e se alegra com o programa na região

Fernando Kelysson

Jequitinhonha

10 e 11 - Luana Turismo 21.11.07 12:59 Page 2

Page 12: Jornal O Ponto -  outubro de 2007

PEDRO HENRIQUE VIEIRA

4º PERÍODO

Atualmente, um dos pro-blemas que mais afetam a po-pulação de baixa renda é aquestão da moradia, o déficitpopulacional na capital minei-ra cresce cada dia mais e osprogramas de habitação ofere-cidos pela prefeitura ainda nãosão suficientes para atender àdemanda. Com salários, apo-sentadorias ou pensões, as ren-das familiares não são suficien-tes para pagar aluguel, muitomenos comprar um imóvel.

Com o objetivo de construiruma organização em outrosmoldes com atuação diretadentro das comunidades, em2004, um pequeno grupo de es-tudantes das principais uni-versidades da capital, se uni-ram para criar o movimentodas brigadas populares. Utili-zando como método de traba-lho a realização de assembléiaspopulares, as brigadas são ummovimento de luta por mora-dia, que busca detectar as prin-cipais dificuldades vivenciadaspelas comunidades e iniciar aconstrução do poder popular.

Uma das formas encontra-das pela organização na efeti-vação dos direitos da popula-ção por moradia foram asocupações urbanas. Trata-sede ocupações de edifícios ouconstruções abandonadas, efe-tivadas pela organização dereuniões e debates dentro dascomunidades para as famíliassem casa e para as pessoas queestão no núcleo de moradia daPrefeitura de Belo Horizonte eque há muitos anos estavamna fila e não viam possibilida-de de serem contemplados. Fa-mílias que vivem em situaçõesprecárias, como nas áreas derisco, aluguel ou na base do“favor”, também são incluídasnas brigadas.

As ocupações organizadaspelas Brigadas Populares es-tabelecem algumas regras pa-ra as famílias que participamda luta por moradia em pré-dios abandonados, como a di-visão dos quartos a partir danecessidade de cada um, ob-servando o tamanho de cadafamília e se tem alguém porta-

dor de deficiência. Aos poucosos ocupantes, na base da im-provisação, vão colocandoportas, janelas, e buscandomeios de instalarem rede elé-trica, água e esgoto.

Nas ocupações espontâ-neas não existe muita organi-zação, quem chega primeirovai se abrigando nos melhorese maiores quartos.

Para o advogado Fábio Al-ves dos Santos, 53, professorda Puc minas, é necessário quese repense a função social dapropriedade, pois se ela não forcumprida com essa função, énociva à coletividade e, por-tanto, não merece uma prote-ção jurídica: “Um proprietárioque mantém sua propriedadeabandonada deverá ser puni-do com institutos jurídicos quepermitam ao poder judiciárioexpropriá-lo dando-lhe umafunção social. A desapropria-ção tal como concebida na le-gislação vigente, premia o pro-prietário absenteísta e por con-seguinte onera a coletividade”.

Programas oferecidos pelaprefeitura

A Secretaria Municipal deHabitação tem programas ha-bitacionais em Belo Horizon-te voltados para pessoas ca-rentes de moradia. Criado em1996, o Orçamento Participa-tivo da Habitação (OPH) foi de-senvolvido com o objetivo deconstruir moradias para as mi-lhares de pessoas sem casa.Segundo a Secretaria, o pro-grama atende o movimento deluta por moradia, que é orga-nizado em núcleo, abrangen-do 152 associações.

Utilizando da verba doFundo de Garantia por Tempode Serviço (FGTS) para cons-truir unidades habitacionaisvisando oportunidades parapessoas com baixo poder aqui-tivo terem suas moradias, aPrefeitura de Belo Horizonte,em parceria com a Caixa Eco-nômica Federal, conta com oPrograma de ArrendamentoResidencial (PAR) que ofereceaos cidadão condições de con-seguir uma moradia.

Com taxas mensais deR$152,00 ou R$252,00 pagasdurante 15 anos, o programa

funciona como se fosse umaluguel, com opção de comprado imóvel. Entre os quesitospara participar do PAR, os ci-dadãos precisam ter uma ren-da familiar entre R$700,00 eR$1.800,00, não ter o nomecomprometido no SPC e Sera-sa e estar com a situação re-gular do CPF. Segundo dadosdo programa, 5.728 moradiasforam entregues até outubrodesse ano.

De acordo com a Secreta-ria Municipal de Habitação, oOPH já entregou 3.155 unida-des habitacionais, com 1.468em construção e 736 em fasede planejamento. Segundo da-dos da Secretaria, os progra-mas Orçamento Participativode Habitação (OPH), o Pro-grama de Arrendamento Re-sidencial (PAR) e o Programade Subsídios Habitacionais(PSH), em parceria com a Cai-xa Econômica Federal, mais de17 mil novas moradias já fo-ram entregues.

Mas segundo a coordena-dora da frente de moradia dasBrigadas Populares, SarahOtoni, os programas da Pre-feitura de Belo Horizonte nãoajudam como deveriam as mi-lhares de famílias de baixa ren-da que não têm onde morar:“Há uma fila com mais de13.000 pessoas inscritas, e oOPH vai construir 300 casasdevido a pressão que o movi-mento faz na prefeitura. Elatrata as ocupações em espaçosprivados como se fosse algojurídico, cabendo as famílias eos donos dos imóveis resolve-rem o problema, e não comouma questão social que cabeao poder público resolver”.

A esperaSegundo a Secretaria Mu-

nicipal de Habitação, existeuma fila pelo movimento de lu-ta por moradia, onde cerca de10 mil famílias estão na espe-ra. Por isso não tem comoabrigar as pessoas que foramdespejadas das ocupações ir-regulares em prédios particu-lares abandonados. A reco-mendação da Secretaria é queas pessoas sem moradia sealistem nos programas da Pre-feitura de Belo Horizonte e

aguardarem a sua chance deadquirirem uma residência.

Aposentada como empre-gada doméstica, Tereza de Je-sus, 71, confirma que os pro-gramas da Prefeitura de BeloHorizonte não são eficientes.Sem condições de participardo PAR, pois ganha apenas umsalário mínimo, ela está ins-crita no Orçamento Participa-tivo de Habitação (OPH), masespera na fila há mais de seisanos, e como não tem para on-de ir, resolveu fazerparte dasocupações.

As brigadas contam comalguns apoios, como o dogrupo de estudantes de várioscursos de Saúde da UFMG,que ajudam de diversos mo-dos o movimento de luta pormoradia. Representados porRamon Vieira, Isabela Regi-na, Pedro Henrique Macha-do, Leonardo Zambelli e Pao-la Figueiredo, o grupo parti-cipa há mais de seis mesesdas manifestações em prol domovimento.

Em Belo Horizonte exis-tem, atualmente, duas Briga-das Populares consolidadas: aBrigada da Serra e a Brigadado Lajedo, e três em processode construção na Vila Acaba-mundo, no bairro Novo BoaVista e na regional noroeste,além dos fóruns de moradia.

Na atual ocupação, a Joãode Barro 2, localizada na Ave-nida Antônio Carlos, na regiãoda Pampulha, é exposta na sa-la de reuniões e debates a ban-deira em verde e amarelo, comuma faixa central em verme-lho, e o nome das Brigadas Po-pulares com o slogan “PátriaLivre / Poder Popular”.

Ao término das reuniões,vem em coro os dois gritos deguerra das brigadas: “PátriaLivre! Venceremos!” e “Comluta, com garra, a casa sai namarra!”.

Alexandre Moura, 36, queé um dos ocupantes da João deBarro 2, participa ativamentedas brigadas, ajudando na lu-ta por moradia. Para ele, asBrigadas Populares mostrampara as famílias que partici-pam das ocupações que comorganização elas não serãovencidos pelas elites.

Trabalhando como autô-nomo, Moura é mais um quecritica os programas da pre-feitura, pois existem regula-mentos com exigências quevárias pessoas não têm condi-ções de cumpri-las.

De acordo com Sarah Oto-ni, se não houvesse interessespolíticos e a justiça se baseas-se no estatuto da cidade levan-doum instrumento de lei cha-mado IPTU progressivo, ela de-sapropriaria os imóveis aban-donados. Mas quando os pro-prietários dos terrenos ou pré-dios entram com ação reque-rendo a reintegração de posse,na maioria das vezes a justiçada ganho de causa e ordena adesocupação imediata do es-paço ocupado. É nessa hora

que entra a polícia, que cumprea decisão judicial retirando aspessoas. Segundo a coordena-dora da frente de moradia dasBrigadas Populares, a políciatenta passar a idéia de neutra-lidade, mas o movimento de lu-ta por moradia não confia ne-la: “Geralmente os ocupantessaem pacificamente, sem vio-lência, mas quando há resis-tência, a polícia usa da força pa-ra retirar as pessoas, os con-duzindo à delegacia, e em al-guns casos, são até fichados”.

Muitos terrenos e imóveisabandonados em Belo Hori-zonte, e milhares de pessoasdesabrigadas. A prefeituraconta com programas de ha-bitação, mas não ajuda de for-ma eficaz.

C I D A D E S 12o pontoBelo Horizonte – Outubro/Novembro/2007

Editora e Diagramadora da página:Tereza Lobato 6º Período

Avalie esta edição: [email protected]

MORADIA NNNNAAAAMARRAUM DOS PRINCIPAIS

PROBLEMAS ENFRENTADOSPELA POPULACÃO DE BAIXA

RENDA LEVA GRUPO DEESTUDANTES A CRIAR AS

BRIGADAS POPULARES, UMMOVIMENTO DE LUTA POR

MORADIA

Tereza Lobato 6ºG

Fachada de um prédio ocupado pelas brigadas populares no começo deste ano, localizado em região nobre da capital

É longa a história dasocupações populares em ter-renos ou imóveis abandona-dos em Belo Horizonte. Naconstante luta por um lar, omovimento de luta por mo-radia não descansa quandoo objetivo é abrigar famíliasque não têm pra onde ir.

Nos últimos anos ocor-reram várias ocupações nacapital mineira. A Caracol ea João de Barro 1, que esta-vam situadas no bairro Ser-ra, duraram três e cinco me-ses, respectivamente. NoBarreiro também houve umaocupação, mas durou ape-nas um mês.

Não há caso de ocupa-ções espontâneas ou orga-nizadas pelo movimentoconseguirem o prédio outerreno abandonado, mas aocupação nas Torres Gê-meas no bairro Santa Tere-za, que é apoiada pela pas-toral da rua e que já duraanos, parece que será dife-rente, pois há indícios que asfamílias irão sair com um lu-gar para morar.

De acordo com a coorde-nadora da frente de moradiadas Brigadas Populares, Sa-rah Otoni, as ocupações quemais duram são as espontâ-

neas, pois as organizadas sãoreprimidas como tentativa deenfraquecer o movimento deluta por moradia. Ela afirmaainda que o movimento estáatuando também na Vila daLuz e no Novo Boa Vista, on-de abrigam comunidades àsmargens da BR 040 e que es-tão para serem desocupadaspelo DNIT. Um exemplo pa-recido foi a retirada das ca-sas para a obra da Linha Ver-de, onde houve um grandeembate com os moradores:“Se o pessoal não se organi-za, não recebem nada oumuito pouco, pois o governoavisa que as pessoas têm quesair e pronto. Como muitospermanecem, acontece a ne-gociação, e quando o gover-no chega e oferece cerca de5.000 reais para que as famí-lias saem, se elas aceitam, émenos um problema para opoder público”.

As ocupações popularesse estendem há anos, e en-quanto o governo e a socie-dade não atuarem de formaeficiente para abrigar as mi-lhares de famílias sem casa,elas continuarão na ferrenhaluta com quem quer que se-ja para conseguirem algo tãopreciso como ter um lar.

Terrenos ocupados

12 tereza ocupacoes 21.11.07 11:32 Page 1

Page 13: Jornal O Ponto -  outubro de 2007

E C O L O G I A 13o pontoBelo Horizonte – Outubro/Novembro/2007

Editor e diagramador da página: Matheus Meira - 6º período

Avalie esta edição: [email protected]

A água tratada é cara e preciosa.Não desperdice.

Você economiza e ainda colaboracom a natureza.

ESTATÍSTICASAPONTAM QUE 99%DOS INCÊNDIOS SÃOPROVOCADOS PELOHOMEM

CLARISSA DAMAS E

FRANCISCO MACHADO

6º E 2ºPERÍODOS

No ano de 2006 foram re-gistrados 6.293 focos de calorem Minas Gerais. Até outubrodesse ano, esse valor superou15 mil focos, sendo que, so-mente no mês de setembro, fo-ram registrados 6.607. Existe in-fluência das altas temperaturas,que estão 5,8 ºC maiores do queos valores registrados no anoanterior. Porém, o fator climaperde força quando as estatís-ticas apontam que 99% dos in-cêndios são provocados pelohomem, e tem cunho crimino-so. De acordo com o Código Pe-nal Brasileiro, essa terminolo-gia abrange tanto incêndios cul-posos (sem intenção de provo-car) quanto dolosos (com in-tenção).

As vegetações predomi-nantes em Minas Gerais são ocerrado e os campos rupestres,caracterizados por árvores depequeno e médio porte, cascasgrossas e galhos retorcidos, re-sistentes à seca e ao fogo. As fo-lhas têm uma grossa camada decutícula, que evita a perda ex-cessiva de água, e raízes pro-fundas, que a absorvem do sub-solo. “A queimada ocasional écaracterística do cerrado e asplantas nativas possuem adap-tações que lhes conferem resis-tência, porém a freqüência es-tá aumentando em um ritmoque a natureza não consegueacompanhar, e as árvores quesobreviveriam a uma queima-da passam a definhar e morrer”afirma o biólogo AlexandreMotta.

A fauna local também sofreimpactos com as queimadas.Animais como o lobo-guará ha-bitam esses ecossistemas e es-tão ameaçados de extinção de-vido à crescente redução dasáreas preservadas. O fogo acar-reta a degradação do solo, per-da da biodiversidade e acabaatuando como agente seletor deespécies. Os animais percebemo fogo, tentam se deslocar pa-ra longe e ficam sem opção desaída, uma vez que as áreas pre-servadas estão circundadas porcidades e estradas. O Brasil é o3º maior emissor mundial dedióxido de carbono CO2, gásque, em grande parte, provémdas queimadas. Essa posição sóé superada por nações desen-volvidas que não assinaram oProtocolo de Kyoto. Atualmen-te 1,5% das reservas de Minas

são protegidas. No país, a mé-dia é de 3%, muito abaixo do re-comendado pela ONU, que é10%. Em um país de dimensõescontinentais, composto por ri-quezas minerais e naturais di-versificadas,é necessário fazercom que a legislação de prote-ção ambiental se faça valer.

FiscalizaçãoO órgão responsável pela fis-

calização dos parques estaduais,áreas de proteção ambientais,florestas e estações ecológicasé o Instituto Estadual de Flores-tas (IEF). Compete ao institutonão só o combate aos incêndios,mas também o monitoramento24h por dia dos parques. Sãorealizados trabalhos de cons-cientização junto à população,por meio de palestras.

O IEF mantém um projetochamado Previncêndio, emparceria com o Corpo de Bom-beiros, Polícia Civil e Militar eDefesa Civil, nas operações decombate ao fogo. Segundo re-latório encomendado pelo ins-tituto à Universidade Federal deLavras (UFLA), existe 34% decobertura vegetal nativa no es-tado. Esse relatório é baseadoem fotos de satélite e não podeser levado à risca, pois as fotosnão diferenciam áreas de tran-sição, em estágio inicial de re-cuperação e plantações de eu-calipto, das áreas florestais.

Organizações Não Gover-namentais, como a AMDA (As-sociação Mineira de Defesa doMeio Ambiente), buscam pro-teger a natureza e acabam mui-

tas vezes exercendo o papel dogoverno na defesa ambiental.

A AMDA atua em trabalhosde convencimento de empresase sociedade, palestras e abrin-do e acompanhando processoscontra incendiários criminosos.Possui uma brigada voluntáriade combate ao incêndio queatua no Parque Estadual do Ro-la Moça, situado entre os muni-cípios de Belo Horionte e bru-madinho. Conta também com a“Brigada 1”, que atua na mes-ma região. Atua efetivamentena política ambiental do estado,fazendo críticas, cobranças e de-núncias de corrupção. Segun-do o biólogo e fundador daONG, Franscisco Mourão, exis-te cooperação e atritos com osórgãos competentes, principal-mente com o IEF. Denunciaramum funcionário do instituto quealterava os laudos e permitiaqueimadas de áreas de conser-vação, mas a apuração do pro-cesso administrativo pelo IEFalegou que não haviam irregu-laridades. Ainda segundo Mou-rão, a pecuária é a atividademais danosa ao meio ambiente,pois atrapalha a evolução dosecossistemas, a cadeia alimen-tar (relação de alimentação en-tre organismos de um mesmoecossistema) e a biodiversidadenatural ( variedade de vida noplaneta - flora e fauna). “Os pe-cuaristas utilizam fogo na pre-paração do solo para forçar arebrota do capim, diminuindo ocusto na alimentação do gado,e na abertura de áreas de pas-tagem. Com isso, eles destroem

grande parte de mata nativa pa-ra compor pastos’, diz. Ele acre-dita que ainda há muito por fa-zer na área de controle de in-cêndios, apesar das melhoriasalcançadas” Faltam prevençõese estruturas de contenção ao fo-go nos parques, uma rede efi-ciente de proteção que funcio-ne também nas áreas ao redor.É necessário implantar uma re-de de unidades de conservaçãorepresentativas ( áreas de pro-teção ambiental), que funcionecomo uma barreira e impeça ofogo ateado pelos pecuaristasde atingir as reservas florestais”,conclui.

O tempo necessário para arecuperação dos ambientesdestruídos varia quanto à ex-tensão e intensidade da quei-mada. A destruição da biodi-versidade leva à escassez demata nativa preservada, pois asregiões de cerrado são extre-mamente alteradas pelo ho-mem. Como resta apenas umapequena parcela ainda preser-vada, sua destruição pode serirreversível e exterminar espé-cies animais e vegetais que sóexistem nesse ambiente. Quan-do ocorre alguma alteração noecossistema, espécies exóticas(invasoras) trazidas pelo ho-mem podem competir com asnativas, dificultando ou até mes-mo inviabilizando a recupera-ção do local destruído.

É inegável que há muito a sefazer, mas o caminho aponta pa-ra o ensinamento de práticas deconservação e trabalho na cons-cientização da sociedade.

Na luta contra o fogoO estado de Minas Ge-

rais conta com duas gran-des frentes de combate aoincêndio, o Corpo deBombeiros Militar e oPREVFOGO, divisão doIBAMA. Aparelhados comaviões e helicópteros e ins-truídos com treinamentoespecial de combate,bombeiros e brigadistasvoluntários, em maior par-te moradores locais, en-tram nas matas na luta pe-la preservação da biodi-versidade.

A atuação dessas fren-tes vai além do combatedireto ao fogo e consistena fiscalização das áreasde preservação e em cam-panhas de conscientizaçãoda população vizinha. “Osparques nacionais são deresponsabilidade do IBA-MA, e, em Minas Gerais,estão localizados nove sobnossa jurisdição. Conta-mos com o trabalho de184 brigadistas, que rece-bem um salário mínimo eseguro de vida, mas vêemna recuperação das matasa maior recompensa”, dizJoelma Corrêa, Coorde-nadora Estadual do PREV-FOGO no estado.

Uma medida preventi-va adotada para evitar quefocos se transformem em

queimadas de grande pro-porção é chamada de“aceiro”, que funciona co-mo barreira, obstáculo, impedindo que as chamasultrapassem a área con-trolada. O aceiro deve serpreparado em volta dasáreas de risco. São faixasde terra de 3 a 15 m de lar-gura, limpas e sem vege-tação, que não permitemque o fogo se alastre.

Segundo o SargentoBrito, da Divisão do Co-mando Operacional dosBombeiros do Parque doRola Moça, as conseqüên-cias das queimadas ultra-passam a degradação dosecossistemas, afetando di-retamente os seres huma-nos, “durante o combateaos incêndios é normalencontrar animais comocobras, gambás e taman-duás mortos. Além disso,vários incêndios alcançammananciais, e acabam pre-judicando a coleta de águapara as cidades,”diz .

O papel desempenha-do pelos bombeiros e bri-gadistas é fundamental,uma verdadeira corridacontra o relógio, onde ca-da momento é decisivopara garantir que os pul-mões do mundo conti-nuem respirando.

Meio AmbienteCarolina Miyuki - 5ºH

A foto tirada no ParqueEstadual do Rola Moça,após incêndio, mostracomo a vegetaçao foidestruída pelas chamas

13 - ecologia matheus 21.11.07 11:32 Page 1

Page 14: Jornal O Ponto -  outubro de 2007

F U M E C14 o pontoBelo Horizonte – Outubro/Novembro/2007

Editora e diagramadora da página: Cristina Barroca - 7ºPeríodo

Avalie esta edição: [email protected]

M stra JÚLIA MÓL

2ºG

A MOSTRA FUMEC, EVENTO REALIZADOENTRE OS DIAS 22 E 27 DE OUTUBRO, TEMCOMO ABJETIVO O CONTATO DIRETO DOSFUTUROS ALUNOS COM A UNIVERSIDADEEM SEU UNIVERSO ACADÊMICO. ALÉM DE

CONHECER A UNIVERSIDADE, OS VISITANTESTAMBÉM TEM A OPORTUNIDADE DE VISITAROS ESTANTES DOS CURSOS E REALIZARTESTE VOCACIONAL. ESTE ANO, A MOSTRATEVE A SUSTENTABILIDADE COMO TEMA,TRAZENDO APRESENTAÇÕES DE GRUPOS DEDANÇA, MÚSICA E TEATRO.

Fotos: Pedro Queiroz, Elizabeth Freitas e Gabriela Campolina - 7ºG, 7ºH e 2ºG

14 - fumec - kika 21.11.07 11:31 Page 1

Page 15: Jornal O Ponto -  outubro de 2007

C U L T U R A 15o pontoBelo Horizonte – Outubro/Novembro/2007

Editor e diagramador da página: Enzo Menezes - 6º período

Avalie esta edição: [email protected]

1.400 quilômetros,o barro e a

ENZO MENEZES

E MARCELA BOECHAT

6º PERÍODO

A garota lê trechos de umacarta. Escorada em uma pon-te sobre um rio, lê trechos quesua mãe escreveu para o poe-ta. Tem a companhia do irmão,do primo, do namorado. Via-jaram 1.400 Km de Belo Hori-zonte a Campo Grande, MatoGrosso do Sul, para entrega-la. Durante a viagem, a desco-berta da poesia e a expectati-va de ser ou não recebida pe-lo destinatário: Manoel de Bar-ros, poeta das pequenas coi-sas, da desconstrução das pa-lavras e significantes.

“Língua de Brincar”, filmede Lúcia Castelo Branco e Ga-briel Sanna, caminha no uni-verso da poesia de Manoel deBarros a partir de uma visitainesperada: o grupo vai a Cam-po Grande e faz da travessiauma experimentação com a lin-guagem do senhor que em 19de dezembro deste ano chegaaos 91 anos, mas que não per-deu a pureza de brincar com aspalavras como uma criançaprestes a descobri-las.

O filme se sustenta pela im-previsibilidade, nas palavrasde Gabriel: “O grande baratoda viagem foi que ela não ti-nha um planejamento dese-nhado; novos caminhos foramse abrindo à medida que fo-mos conhecendo o lugar. Che-gamos em Campo Grande desurpresa sem nem mesmo sa-ber se o Manoel nos recebe-ria”, explica Gabriel. Mas eleos acolhe e os conduz por suapaisagem. O poeta não envia-rá outra carta: o filme que sesegue é a sua resposta.

O autor os conduz em umaviagem pelo seu mundo, dasinfluências pantaneiras da in-fância aos estudos em NovaYork, mas sempre com o pé noseu ‘lugar de ser inútil’: um cô-

modo de sua casa em que Ma-noel se refugia todas as ma-nhãs, onde guarda seus livros– mais filosofia que literatura– fabrica os caderninhos derascunhos em que escreve e dáluz à poesia.

O contato com o poeta co-meçou há mais de 25 anos,quando Lúcia era estudante deLetras, e em seu primeiro en-saio para o Suplemento Lite-rário, chamado “Palavra, es-tado de larva” abordou a poe-sia de Manoel. O ensaio che-gou ao autor e ele fez o pri-meiro contato. “ Eu respondi,e começamos uma correspon-dência, hoje tenho mais de 50cartas dele.”De uma conversaentre os dois, no Rio de Janei-ro, surgiu a idéia de realizarum documentário fiel ao tra-balho do escritor.

Imagem regionalista“Tem imagens aqui que vo-

cê não reconhece como ima-gens do pantanal. A gente ti-rou um pouco desse lugar. Es-se foi um desafio”, justifica Lú-ci, doutora em literatura e es-tudiosa da obra de Manoel deBarros. Ela explora um eixo daprodução que é combater aclassificação de Barros porparte dos críticos como poetaregionalista. “A luta dele comopoeta é recortar essa exube-rância do pantanal. Me desa-grada, e a ele também, o que éfeito à sua poesia, essa místicado poeta pantaneiro. Ele é co-locado num lugar muito regio-nalista, meio Globo Rural, equero com o filme romper comisso, mostrar que ele trabalhacom ‘o lápis na península’, apaisagem da escrita”.

Entremeando a entrevistana casa do poeta, o filme trazdepoimentos de diversos lei-tores ilustres da obra de Bar-ros, que demonstram sua ad-miração pelo trato da palavradado pelo poeta sem, contudo,

cair num lugar comum de ras-gos elogiosos. Gente como Jo-sé Mindlin, Fausto Wolf e Ma-ria Bethânia, que faz uma lei-tura emocionada - tanto o au-tor quanto a diretora rejeitama idéia da poesia declamada.

Característica marcante dofilme, a contextualização faz-se essencial para a total com-preensão dos depoimentoscaptados. O modelo conven-cional de documentário é des-cartado para que seja feitauma utilização do ambientecorrente do autor.

A poesia rompe o Atlânti-co: também estão presentes es-critores como o portuguêsJoão Barrento, o moçambica-no Mia Couto e o angolanoOndjaki. Da lista de convida-dos inicial feita pela diretora,apenas uma ausência: MillôrFernandes, que se recuperavade problemas de saúde e pre-feriu não aparecer diante dacâmera. “Depoimento só pres-to na delegacia”, teria dito Mil-lôr a Lúcia por telefone, ao re-cusar o convite.

“Língua de Brincar” não éunanimidade: “Tem gente quecritica a leitura da carta du-rante o filme, ou os cortes quefizemos. Mas buscamos cortaro filme não no sentido de tor-nar curto, porque o filme é lon-go, a gente reconhece. Mas nosentido de tornar enxuto, oque é diferente”, explica a di-retora. Para muitos, irônica, nofilme, a primeira declaração doautor é “Escrever é cortar”.

O filme lembra-nos de queestamos falando do poeta daspequenezas e da reinvençãodas palavras. Da repetição aexaustão até questionarmoso sentido e o significado da-quela palavra.

A reação do poeta após as-sistir ao filme desbanca as crí-ticas: “Ele escreveu o seguintedepois de assisti-lo: ‘tenhopensando muito na carta de

amor’- Manoel chama o filmede carta de amor. ‘Não sei sevocês já mostraram para ou-tras pessoas, e se elas vão en-tender que aquilo é cinema,mas é muito mais puxado pa-ra a espessura de amor’, foramas palavras do poeta.

Poeminha Lucia conta que o nome

‘Língua de Brincar’ surgiu nodia em que ela e o autor se en-contraram para discutir o fil-me e ele argumentou que po-dia não ter inventado nada,mas essa coisa da língua debrincar ele havia inventado.“Fui pra casa, escrevi o argu-mento e o roteiro, com essenome, Língua de Brincar, eleme mandou um poema que ti-nha acabado de escrever, cha-mado Poeminha em Língua deBrincar. Esse poema já saiu,em um livro infantil”, conta.

Língua na academiaMestre em literatura e pro-

fessor da FCH, Luiz HenriqueBarbosa defendeu em 1995 suatese de mestrado na UFMG so-bre a linguagem em Manoel deBarros. Foi a primeira tese so-bre o poeta orientada por Lu-cia Castelo Branco. Luís fala so-bre as construções do poeta: “Équase como se a palavra em-pobrecesse o objeto”, analisa.

Para ele, o que chama aatenção no texto de Barros é ouso de elementos inusitados,que não têm muita importân-cia para a sociedade: o lixo, ocaracol, a parede, e fazer dis-so uma busca pelo significadoda palavra. “Barros busca usaruma palavra que vai ser utili-zada pela primeira vez, sem aroupagem gasta; trazer umacerta virgindade para as pala-vras. Fazer uma aproximaçãocom a linguagem das crianças,o primeiro contato com a lín-gua. Fazer verbo com um ad-jetivo”, destaca.

Os limites da poesia deManoel de Barros ultrapas-sam territórios. Uma amos-tra disso é admiração que nu-trem por ele diversos escri-tores africanos, que tambémfazem do gosto pela palavrae da construção de sentidosmatéria-prima para suasobras. O angolano Ondjaki,30 anos e nove livros publi-cados, foi uma das gratas re-velações da FLIP (Feira Lite-rária Internacional de Para-ti) em 2006. Ele não escondea admiração por Barros, comquem trava um diálogo poé-tico em seu livro “Há prendi-sajens com o xão”, de 2002:“Apetece-me des-ser-me,reatribuir-me a átomo; assimesculpir-me a barro e res-serchão. muito chão”.

Em depoimento gravadopara o “Língua de Brincar”,o poeta assume o fascíniopela poesia de Barros. Emconversa por e-mail com areportagem do Ponto, Ond-jaki caracteriza sua aproxi-mação com a temática dobrasileiro: “A temática deManoel é muito próxima daterra, da natureza e da in-fância. Esses universos di-zem-me muito, levam-melonge, num lugar que só apoesia pode explicar”. E co-mo alcançar este lugar Ond-jaki? “Há que brincar com alíngua como as crianças ma-nejam uma tarde, como o ja-caré maneja um rio, como ovento freqüenta as árvores.Brincar com a linguagem écelebrar a maleabilidade e asinúmeras variantes da nos-sa língua”, nos responde.

A poesia de Ondjaki nãocontém grandes objetivosou uma reflexão prévia. Opoema deve convidá-lo apercorrer o trajeto, com adescoberta do caminho du-rante a própria caminhada,o que aproxima sua poesiada própria inexistência deum roteiro prévio em “Lín-gua de Brincar”. “Um poe-ma é uma brisa que vem dedentro, e devemos mais serfrequentados pelo poema doque tentarmos dominá-lo. Opoema vem chegando, nemsempre chega completa-mente. É uma errância, umadescoberta, e um des-cami-nho. Depois há que aceitaro poema, as suas vestes, oseu trajecto. É sempre umsonho subjectivo”, defendeOndjaki.

Para Luís Henrique, essetraço de subjetividade é ca-racterístico de Barros. Suapoesia se apropria das coisas,e, não só as representa, paraencurtar o distanciamento en-tre palavra e seu significado.

Ainda segundo o profes-sor, uma outra característicaé a busca pela humanizaçãodas coisas. É uma expressãode difícil transposição que seapresenta até mesmo no pró-prio documentário: “O ho-mem em contato com a ár-vore se transforma na pró-pria árvore, um entrando nooutro, sem haver uma dis-tinção. Barros faz isso nosentido de voltar ao sentidodo grau zero da palavra, re-novar a linguagem para queela não seja morta pelo usodos clichês”.

O FILME “LÍNGUA DE BRINCAR” REVELA A EXUBERÂNCIA DA POESIA DE MANOEL DE BARROS

Diálogo poético naobra de Ondjaki

“A mãe reparouque o menino

gostava mais dovazio do que do

cheio. Falava queos vazios são

maiores e atéinfinitos”

“Exercícios de ser criança”, Manoel de Barros

“ Se a criançamuda o sentido doverbo, ele delira.Em voz de poesia,que é a voz defazer nascimentos,o verbo tem quepegar delírio”Do “Livro das Ignorãças”, de Manoel de Barros

palavraIlustração: Cristina Barroca 7º G

15 -Enzo cultura 21.11.07 11:30 Page 1

Page 16: Jornal O Ponto -  outubro de 2007

SÍLVIA JUNQUEIRA

6ºPERÍODO

E despediu-se dos palcos para cair nos bra-ços de Melpômene e viver eternamente

na glória do Olimpo. Paulo Paquet Autran, co-nhecido como o “Senhor dos Palcos”, faleceudia 12 de outubro aos 85 anos, no Rio de Ja-neiro. O país perdeu um grande ícone teatral,um ator superlativo que engrandeceu a cultu-ra brasileira de forma heterogênea.

De Tartufo a Henry Higgins, passando pe-la Mancha e pela Grécia de Sófocles, a genia-lidade inspiradíssima pela musa da tragédiapaira agora na atmosfera etérea, garantindosua imortalidade. Às margens de uma cente-na de textos encenados, Paulo Autran jamaisse engajou politicamente, muito embora des-se o devido compromisso às dezenas de per-sonagens em contextos sociais. Nunca foi poe-ta, mas era um fingidor. Sabia fingir tão com-pletamente que poderíamos chegar a duvidarda veracidade do nome Paulo Autran. “Sou umhomem de teatro. Sempre fui e sempre sereium homem que dedica a vida à paixão e à hu-manidade resistentes neste metro de tablado.”Estas foram as primeiras palavras ouvidas pe-la voz de Autran na abertura de “Liberdade, li-berdade.” Alheio à posição política incorpo-rada às personagens de Millôr Fernandes eFlávio Rangel, Autran encarnava, junto a Na-ra Leão, Tereza Rachel e Oduvaldo Vianna Fi-lho, trechos que oscilavam de Sócrates a Drum-mond, perpassando Jesus Cristo e Moreira da

Silva. O mais ambicioso dos espetáculos deprotesto se esquivava, com genialidade, da cen-sura do regime vigente, sob a égide ditatorialde Costa e Silva.

O diretor e produtor Paulo César Bicalhoassistiu à peça, e com entusiasmo, lembrou:“Eu assisti “Liberdade, liberdade”. Para mimfoi uma surpresa! A censura estava violenta, eo Estado de Sao Paulo só podia publicar tre-chos da peça em que falava da Bíblia, de Pla-tão. Mesmo Autran sendo contra as idéias deMarx e apático em relação à política da épo-ca, encarou o personagem com vigor. PauloAutran era um Burguês. Mas um burguês ilu-minado. Fez quase 100 peças teatrais, cinema,novela.”

Helio Zolini, diretor, ator e produtor de tea-tro, ainda ressaltou: “ apesar de não ser enga-jado politicamente, Paulo Autran não se im-portou com as vaias que a peça recebeu da pla-téia de direita que foi assistir “Liberdade, li-berdade””.

É sabido que movia astros e estrelas, comose fosse também inspirado por Urânia (ou Tô-nia Carrero?), e por Erato, em “Quadrante”,quando incitou todo o público para, em unís-sono, declamar com a voz dos palcos. “PauloAutran foi um dos atores mais completos queo Brasil já teve. Fez comédia, fez drama, cine-ma, televisão. Mas, principalmente, sabia to-car fundo o coração de quem tivesse a sortede vê-lo atuando. Lembro especialmente deespetáculos como "Quadrante", em que ele da-va corpo e alma a textos curtos, contos, crôni-

cas, poesia e a platéia ia acompanhando-o, di-zendo junto com ele longos trechos de poe-mas. Na simplicidade, ele atingia grandes mo-mentos de teatro” depõe a professora do de-partamento de Artes Cênicas da UFRJ, Ânge-la Leite Lopes.

A carreira teatral de Autran teve início nosanos 50, logo após largar a advocacia e mer-gulhar de olhos fechados em águas totalmen-te diferentes e incertas. Mas era certo que asua história de vida estaria relacionada com acarreira de ator, pois, enquanto estudava, ti-nha como hobby a atuação teatral, tendo es-crito e interpretado algumas peças na época,passando pelo drama psicológico e pelo mu-sical.

Shakespeare, Pirandello, Osman Lins. Qualum Proteu das artes, fosse campo da tragédiaou da comédia, esse homem encarnava comuma seriedade e um profissionalismo ímpares,figuras como um simples mafioso Baldaraccide “Pai Heroi” , a um “Tartufo” de Molière defiguração completamente diversa. Mesmo na vida real, o notável artista era mo-desto e, às vezes, até irreverentemente since-ro, ao ponto de, em entrevista, quando lhe per-guntaram a pronuncia correta de seu nome(Autram ou Ôtran), respondeu : “O meu nomeé francês, mas estamos no Brasil, e não seriaidiota de exigir a pronuncia correta de meu no-me”. Em outra entrevista com Boris Casoy, sol-tou, quando o jornalista perguntou se a RedeGlobo não estava exagerando nas cenas de nu-dez: “ Eu nunca vi ninguém fazer sexo vestido,

Casoy! Então não condeno. Sexo e nudez sãoinerentes um ao outro.”

Sim! Um homem de arte como ele deviaamar, de fato, o mundo. Como Schiller, queimortalizou sua “An die Freude” (ode a alegria)através dos altissonantes acordes da “NonaSinfonia” de Beethoven, Autran, que se trans-figurava com a devida seriedade como no“Homem de la Mancha”, em “Édipo, rei” ou“Coriolano”, dentre vários outros, foi nosso in-térprete maior. E agora, o que restou da ence-nação de Pirandello, são milhões de expecta-dores à procura de outro grande ator.

C U L T U R A 16o pontoBelo Horizonte – Outubro/Novembro/2007

Editora e diagramadora da página: Poliane Bôsco

Avalie esta edição: [email protected]

Autran faz lembrar Schiller em Diesen küss der ganzen welt (Mandem este beijo a todo mundo)

“Paulo Autran eraum burguês.Mas

um burguêsiluminado.”

Paulo César Bicalho, diretor e produtor

“Na simplicidade,ele atingia grandes

momentos deteatro.”

Ângela Leite Lopes, professora da UFRJ

Principais peças do ator Paulo Autran:

"Otelo" - 1956"My Fair Lady" - 1962/1963"Édipo Rei" - 1967"A Vida de Galileu" - 1989"Rei Lear" - 1996"Visitando o Sr. Green " - 2000"Adivinhe Quem Vem para Rezar" -2005"O Avarento" - 2006/2007

Ilustração sobre foto: Gabriela Silva

A MORTE DE PAULO AUTRAN AOS 85 DEIXA VAZIO O PRIMEIRO PLANO DO TEATRO BRASILEIRO

16-Página P.A. 21.11.07 11:29 Page 1