jornal outrolhar | edição 13 | outubro de 2007

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pág. 6 Ficção científica auxilia no entendimento da nossa realidade Entenda a sopa de letrinhas da reforma ortográfica JORNAL LABORATÓRIO DO CURSO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL - JORNALISMO DA UNIVERSIDADE FEDERAL DE VIÇOSA VIÇOSA - OUTUBRO DE 2007 - ANO 04 - NÚMERO 13 ( ( esporte )) ( ( lazer )) ( ( entrevista )) ( ( cidadania )) ( ( ciência )) Espírito esportivo anima jovens da zona rural de Viçosa e região Horto Botânico: uma reserva ecológica dentro da cidade O escritor Moacyr Scliar visita a cidade e fala sobre a leitura na juventude Tintas à base de solo dão tom ao projeto Cores da Terra pág. 6 pág. 8 pág. 5 pág. 4 pág. 7 pág. 10 Foto: Fernanda Torquato Manipulação: Tatiana Carvalho e Pato Domingues

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O Jornal-Laboratório OutrOlhar é uma produção de alunos do Curso de Comunicação Social/Jornalismo da Universidade Federal de Viçosa. A edição nº 13 foi produzida sob orientação do professor Joaquim Lannes.

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Page 1: Jornal OutrOlhar | Edição 13 | Outubro de 2007

pág. 6

Ficçãocientíficaauxilia no

entendimento da nossarealidade

Entenda a sopa de letrinhas da reforma ortográfica

JORNAL LABORATÓRIO DO CURSO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL - JORNALISMO DA UNIVERSIDADE FEDERAL DE VIÇOSAVIÇOSA - OUTUBRO DE 2007 - ANO 04 - NÚMERO 13

(( esporte )) (( lazer )) (( entrevista )) (( cidadania )) (( ciência ))

Espírito esportivo

anima jovens da zona ruralde Viçosa e

região

Horto Botânico:

uma reserva ecológica

dentro da cidade

O escritor Moacyr Scliar visita a cidade e fala sobrea leitura na juventude

Tintas à base de solo

dão tomao projeto Cores da

Terrapág. 6pág. 8pág. 5pág. 4pág. 7

pág. 10

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Page 2: Jornal OutrOlhar | Edição 13 | Outubro de 2007

crítica à mídia

(( opinião ))

CAROLINA REIS

As inovações nos brinquedos têm conquistado todo o público infantil, que se tornou mais exigente e passou a ter voz ativa na escolha de suas bonecas e jogos de montar. Porém, ao adquirir diversão, um perigo pode vir interligado: na ânsia de vender, fabricantes desses produtos deixam passar despercebidas peças que, de alguma forma, colocam em risco a saúde das crianças. Nos últimos meses, os fabricantes Mattel e Gulliver tiverem que fazer um recall (recolhimento) de quase 100 mil brinquedos, no total. O fato ocorreu

devido à morte de uma criança nos Estados Unidos e intoxicação de outras 28, em decorrência da ingestão de pequenos ímãs e

c o n t a m i n a ç ã o pelo chumbo

na tinta. As lojas de todo Brasil t a m b é m

estão tendo que devolver

o s lotes dos produtos “Magnetix” e os imantados “Polly”, “Barbie” e “Batman”. Na cidade de Viçosa, alguns desses estabelecimentos receberam a lista de produtos

a serem recolhidos e o fizeram prontamente. Já o Procon local não obteve nenhuma reclamação, tendo em vista que em cidades do interior ainda há um controle da faixa etária adequada dos brinquedos por parte das vendedoras, independente da indicada na caixa. Erros de projeto como esses podem ser fatais. Devemos ter bom senso ao adquirir brinquedos, sabendo distinguir o que pode causar danos, principalmente às crianças, que não têm discernimento do que é perigo quando realizam suas brincadeiras.

Diversão Perigosa SAMIRA CALAIS

Jornal Laboratório produzido pela turma de 2006 do Curso de Comuni-cação Social – Jornalismo da Univer-sidade Federal de Viçosa

Endereço: Vila Giannetti, casa 39, campus universitário CEP 36570-000 – Viçosa MGTel: 3899-2878 – [email protected]

ReitorProf. Carlos Sigueyuki Sediyama

Diretor do Centro de Ciências Huma-nas, Letras e ArtesProf. Walmer Faroni

Chefe do Departamento de Artes e HumanidadesProf. Fábio Faria Mendes

Coordenador do Curso de Comuni-cação SocialProf. Ricardo Duarte

Jornalista-responsávelJoaquim Sucena Lannes – MT/RJ 13173

EditoresAgnaldo Montesso, Debora Antunes, Gabriel Miranda, Maria Antônia Per-digão, Michelle Bastos, Tatiana Duarte, Zana Ferreira

Revisão de textoFelipe Menecucci, Gisele Nishiyama, Sabrina Areias, Talita Aquino

Diagramação, arte e revisão finalFelipe Menicucci, Pato Domingues, Ta-tiana Duarte, Tim Gouveia

RedaçãoAgnaldo Montesso, Ana Maria Perei-

ra, Ana Paula Nunes, Aramis Assis, Bárbara Gegenheimer, Carolina Reis, Débora Antunes, Débora Bravo, Diego Alves, Eloah Monteiro, Felipe Meni-cucci, Felipe Pedroza, Fernanda Couto, Fernanda Mendes, Fernanda Torquato, Gabriel Miranda, Gabriele Maciel, Gi-sele Gonçalves, Gisele Nishiyama, Inês Amorim, José Tarcísio Filho, Joséllio Carvalho, Kirna Nascimento, Lúcio Éri-co, Manuella Rezende, Maria Antônia Perdigão, Mariana Azevedo, Marianna Giarola, Mário Vítor Filho, Maristella Paiva, Michelle Bastos, Mônica Bento,

Pablo Pereira, Pato Domingues, Paula Chaves, Sabrina Areias, Sa-mira Calais, Talita Aquino, Tatiana Duarte, Tim Gouveia, Vagner Ribei-ro, Zana Ferreira.

ImpressãoDivisão de Gráfica Universitária

Tiragem 1500 exemplares

Os textos assinados não refletem a opinião da Instituição ou do Curso e são de inteira responsabilidade de seus autores.

Sam

ira C

ala

is

Ao LeitorO OutrOlhar entra em uma nova fase neste segundo semestre de 2007. Uma nova equipe assume o papel de fazer circular o Jornal La-boratório do Curso, colocando em prática a arte de fazer jornalismo ainda nos bancos acadêmicos. Um jornalismo diferente, é claro. Não temos a menor pretensão em com-petir com os jornais que circulam na cidade. A nossa meta é produ-zir uma informação jornalística de qualidade e com um OutrOlhar. A nova visão editorial é inevitável quando se trabalha com um grupo diferente. Novas idéias, muitos planos. Enfim, começamos um novo trabalho, embora conser-vando os mesmos objetivos e me-tas que devem nortear um veículo laboratorial impresso: ousar dentro das técnicas, da pedagogia e do plausível. Nosso público-alvo conti-nuará o mesmo: alunos e professo-res do segundo grau da rede pública de Viçosa. Eles continuarão rece-bendo em suas instituições infor-mações que poderão ser digeridas como noticiário, sempre angulado em cidadania, cultura e informa-ções gerais. Mas, o ponto forte de nosso informativo impresso é a possibilidade que criamos para que as informações nele contidas possam ser trabalhadas em sala de aula, sob a orientação pedagógica dos professores, estimulando não só o conhecimento, mas a leitura, a interpretação e a reflexão de as-suntos diversos. Assim é o Projeto OutrOlhar que cumpre o seu papel acadêmico de ferramenta impressa do Curso de Jornalismo da UFV, aliado a uma produção dirigida e útil a um público certamente caren-te de material de trabalho prático. É isso, o OutrOlhar está de volta nesta Edição de número 13. Muitas novidades estão a cami-nho porque a equipe que ora produz o jornal não pára de fazer planos e projetos para as edições futuras.

Prof. Joaquim Sucena Lannes

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OUTR ((O)) LHAR

Um país com dimensões continentais, um processo colonial intenso e dividido em Estados, como o Brasil, abrange distintos processos culturais. A culinária, o uso de certos instrumentos e objetos e o modo de se vestir ganham particularidades nas cinco regiões do país. Isso também acontece com a linguagem, onde expressões e sotaques determinam as particularidades de cada Estado. A bolacha do paulista, a bergamota do gaúcho, o trem do mineiro, o cara do carioca e o oxente do baiano são expressões que representam as peculiaridades culturais de cada lugar. Seja por uma forma de colonização distinta ou por uma determinada maneira de desenvolvimento, certos valores, crenças e ideologias são criados nas regiões e se refletem

na linguagem. No entanto, esse regionalismo acaba sendo perigosamente estigmatizado, e é disso que a mídia se apropria.

É comum observar nas telenovelas personagens de má índole com um f o r t e sotaque

c a r i o c a que usam

expressões específicas do Rio de Janeiro. Esse fato demonstra uma observação da mídia de que tal sotaque tem uma carga negativa. Outro exemplo é o uso da expressão pô meu do

paulistano, que faz referência aos jovens marginalizados. Da mesma forma, personagens com o falar nordestino e mineiro ganham uma figura de preguiçosos e caipiras.

A televisão acaba por sugerir o modo correto

de se falar ao relacionar palavreados com imagens. Além disso,

faz com que os jargões usados por personagens

em novelas e reality shows tornem-se freqüentes nos diálogos entre os jovens. Esses fenômenos causam uma homogeneização da linguagem e conseqüentemente a perda parcial dos regionalismos. A identidade de um lugar não pode ser displicentemente deturpada. As diferenças devem ser vistas como um fator enriquecedor da cultura brasileira, a qual é tão grande quanto seu território e, como o mesmo, deve ser preservada, nunca destruída.

Pato Dom

ingues

Cara, é bolacha, sô!

Page 3: Jornal OutrOlhar | Edição 13 | Outubro de 2007

A Lei Maria da Penha, sancionada pelo Presidente Lula no ano passado, aumentou o rigor das punições contra a violência doméstica. A meu ver, mais do que punir, essa lei deve ter o objetivo de prevenir esse tipo de violência.

É fato que a violência doméstica é um grave problema no Brasil e cresce a cada dia. Segundo uma pesquisa feita pelo Ibope em 2006, a cada quinze segundos, uma brasileira apanha. Muitas dessas mulheres sofrem caladas e não pedem ajuda, algumas por vergonha de se expor, outras por medo do marido ou p o r q u e dependem dele financeira ou emocionalmente. Elas se tornam

tensas, ansiosas e angustiadas, pois não sabem como e onde procurar ajuda.

Além de prejudicar as vítimas, a violência doméstica

afeta todos os membros da família. A criança que cresce v e n d o sua mãe

apanhar é tomada pelas mais diversas manifestações de medo. A experiência de ter os

pais juntos, que era para ser algo agradável, torna-se um momento tenso. Com isso, surgem vários sintomas como auto-agressões, angústia, choros freqüentes, e, muitas vezes, com medo de que algo aconteça em sua ausência, a criança passa a não ter vontade de ir à escola. Por sorte, não se pode afirmar que filhos de mulheres que apanham se tornarão violentos no futuro. Pode ser que isso aconteça sim, mas tudo depende da qualidade dos outros relacionamentos que essa criança terá fora de casa.

Nós devemos tomar consciência de que a violência,

sendo ela doméstica, sexual, ou qualquer outro tipo tem que ser evitada a qualquer custo. Pois, depois de conhecer tantos danos causados pela violência doméstica, quem ainda acha que ela compensa?

Tim Gouveia

(( opinião ))

Entendendo a dislexiaPAULA CHAVES

A dislexia é a dificuldade de aprendizagem no campo da leitura, escrita e soletração, segundo a definição da Associação Brasileira de Dislexia (ABD). Esse é o transtorno que tem maior incidência nas salas de aula e pode ser detectado já no período de alfabetização, pois é quando essas habilidades começam a ser exigidas. Geralmente a criança inverte letras e sílabas (como prato/parto), confunde letras e palavras semelhantes, na escrita (p, b e q) e no som (f/v, t/d). A síndrome não é causada por baixa inteligência, desatenção ou má alfabetização e sim por um transtorno de origem neurológica que pode ser genética ou adquirida por alguma forma de lesão cerebral. De acordo com a professora do Departamento de Educação da UFV, Rita Souza, o diagnóstico

da dislexia não é rápido, nem simples. É preciso avaliar se o sujeito não possui déficits que não

s e j a m

c a u s a d o s p e l a d i s l e x i a , c o m o p rob lemas

de visão, audição, fala, ou ainda dificuldades advindas da falta de

estímulo, de materiais e atividades adequadas e interessantes. Devem também ser realizados testes por fonoaudiólogo,

psicólogo, neurologista, o f t a lmo log i s t a ,

entre outros, dependendo de cada caso.

Não há dúvidas de que a d i s l e x i a pode trazer

muitos problemas no rendimento escolar, já que as habilidades de leitura e escrita são diariamente exigidas tanto nas atividades de aprendizado quanto fora delas. No entanto, mesmo não existindo cura, ela pode ser amenizada ao longo da vida. Muitos disléxicos conseguem superar suas limitações e apresentar excelentes resultados. É essencial, portanto, o papel do professor. Ele deve oferecer

compreensão, apoio, estímulo à leitura e a escrita, exigir a auto-correção dos erros ortográficos, não rotular, e entender os altos e baixos do desempenho escolar. Dessa forma, ele estará dando um exemplo de como os colegas de sala devem se relacionar com os dislexos.

No Brasil, cerca de 15% da população possui dislexia. Porém, não existem projetos governamentais que ofereçam tratamento especial a crianças com esse tipo de dificuldade. Assim, mesmo sendo um tema novo e pouco compreendido, é necessário integrar a família, a escola e o próprio disléxico a buscarem formas de diagnosticar, avaliar e tratar. Afinal, a dislexia não impede o aluno de aprender, basta receber apoio, ganhando, dessa maneira, auto-estima e deixando de lado qualquer forma de conformismo.

O medo dentro de casa diminui com “Maria da Penha”FERNANDA MENDES

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Tim Gouveia

Page 4: Jornal OutrOlhar | Edição 13 | Outubro de 2007

Comércio, jovens, hippies, cor-dões, panfletos, passos apressa-dos, bolsas, gente se trombando, bicicletas, conversas que se con-fundem, barulhos, gargalhadas, rodinhas de amigos, todos os rostos, todos os gostos e todos os estilos... Essa é a mistura do cal-çadão de Viçosa, que ganha um tempero diferente nas manhãs de sábado e nas noites do final de semana. Assim, o que era para ser apenas um centro comercial tornou-se também um espaço para lazer, e o melhor, qualquer pessoa pode freqüentar, basta gostar de ficar observando os ou-tros, bater papo, se reunir com amigos ou fazer novas amizades. E como encontrar amigos é o que os jovens mais gostam de fazer, o calçadão fica repleto de-les. Entre os grupos, o ambiente é descontraído. Quando um dos adolescentes é perguntado sobre

o motivo de estar ali, a res-posta é curta e imediata “não tem outro lugar para ir”. Essa afirmação pode ser justificada pelo fato do local ser uma forma acessível para se di-vertir, sendo transformado em ponto de referência. Afinal, to-dos passam por lá, seja para

ir à missa, ao shopping ou an-dar à toa. O estudante do Colégio Esedrat, Wagner Vieira, 16 anos, é um dos freqüentadores assíduos do calçadão e diz que ocorre o se-guinte: “às vezes vem um, aí vai encontrando o outro e depois acaba juntando uma turma de amigos”.

De encontros em encon-tros, o calçadão acabou sendo confirmado como point da cidade, de tal forma, que foi até criada uma comunidade no Orkut, “Cal-çadão – Viçosa”, que conta com 1.036 membros. A iniciativa, de criar uma comunidade, partiu do viçosense Renato Moreira. Hoje, o professor de educação física relembra que, desde a sua adoles-cência, o calçadão era o melhor lugar para encontrar os amigos na cidade. Sempre que tinha um tem-po livre, Renato passava lá para ver se encontrava alguém da ga-lera e chegava até a acordar cedo aos sábados de manhã para reunir com o pessoal e ficar horas con-versando. A mesma rotina era rea-lizada aos domingos, após a missa. Como um cenário para as reuniões dos jovens, o calça-dão, parafraseando a música de Dorival Caymmi, é “ um bom lugar para encontrar” em Viçosa.

(( lazer ))

Lazer acessível é atração do calçadão de ViçosaSABRINA AREIAS

Uma visita ao espaço Horto Bo-tânico da Universidade Federal de Viçosa é, sem dúvida, uma das me-lhores opções de lazer para a gale-ra da cidade. O local é uma reser-va ecológica que fica próximo às quatro pilastras, pertinho da Vila Gianetti, e foi criado juntamente com a Universidade, há 81 anos, para servir de fonte de pesquisas acadêmicas e científicas dos cursos de ciências biológicas. Está aberto de segunda a sexta-feira, das 08h às 18h, e o grande lance é que você não paga nada para entrar. Isadora Monteiro de Frei-tas, 15 anos, é estudante do Colu-ni, e estava estudando com outras duas colegas de classe, próximo à lagoa artificial do local. Ela contou que já havia visitado o Horto Bo-tânico antes, por indicação de uma amiga, e que ficou impressionada com a idade de algumas árvores. Disse ainda que o lugar é bom para

estudar, passar o tempo e relaxar. Enquanto eu batia esse papo com as garotas do Coluni, um grupo de 17 crianças, na fai-xa de 5 anos de idade, se divertia entre as raízes salientes de uma ár-vore, sob supervisão de Fernanda Pereira, 20 anos, professora esta-giária da creche e da pré-escola da UFV. Ela disse que visitas desse tipo têm papel fundamental na educação das crianças, pois “sair da escola é uma coisa diferente, e num local como esse, elas tem ple-no contato e aprendem a respeitar a natureza, conhecem sobre as ár-vores, é uma vivência muito boa.” Quem vai até lá confe-rir o Horto Botânico, pode apro-veitar e conhecer os responsáveis pelo local, como o auxiliar em agropecuária, Celso Antônio da Costa, responsável por guiar as turmas de escolas que agendam visita no Horto Botânico. Celso trabalha no Horto desde 1993, e

falou que várias das espécies do local já estavam lá quando o lu-gar foi criado, e várias outras, originárias inclusive, de outros países, foram incorporadas para garantir a diversidade da flora. Já deu para perceber como o lugar é bom, não é mes-mo? Mas nada adianta se a galera não aproveitar a visita com cons-

ciência; não se pode sujar ou levar plantas para casa, afinal, trata-se de uma proposta de lazer saudável. Lá, além das belezas da flora, pode-se encontrar, em de-terminadas épocas, alguns ani-mais da nossa fauna, como bi-chos-preguiça, micos e até sagüis, que fazem visitas esporádicas em busca de abrigo e alimento.

Passeio ecológico acessível e gratuitoTIM GOUVEIA

Diversão e desconcentração acessível a todos na típica manhã de sábado no Calçadão

Sabrina Areias

A lagoa artificial é apenas uma das atrações escondidas no Horto Botânico viçosense

Tim G

ouveia

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Page 5: Jornal OutrOlhar | Edição 13 | Outubro de 2007

As séries “Harry Potter” e “O Se-nhor dos Anéis” juntas venderam mais de 300 milhões de livros. Adaptadas para os cinemas, também levaram milha-res de pessoas às salas de exibição no mundo todo. Do sucesso dessas obras e de tantas outras como “As Crônicas de Nárnia” e “Era-gon” surgiu a pergunta: por que tais livros geram tanto fascínio e conseguem o que parece às vezes ser impossível, despertar o interes-se dos adolescentes pela leitura? Para a estudante Mari-na Freitas, 13 anos, os livros do pequeno bruxo protagonista da série da autora J.K.Rowling prendem a atenção, pois diferen-

temente dos contos de fada tradi-cionais não trazem personagens caricatos, divididos antagonica-

mente entre heróis e vilões. É também o que pensa a estudante Carina Caiado, 18 anos, “toda essa história de magia mistura ente, mundo, bruxo e humano, é fantás-

tica. Existe algo que te prende nos livros, que faz você passar horas a fio lendo e não se cansar”. Mesclar situações do cotidiano com situa-

ções fantásticas parece ser realmente a fórmula do sucesso dessas obras. Não se pode ne-

gar a proeza conquistada pela Rua dos Alfeneiros de “Harry Potter” e a

Terra Média de “O Senhor dos Anéis”, no sentido de levar

muitos adolescentes a devorarem avidamente mais de 500 páginas de texto. Entretanto, a linha limite entre a realidade e a ficção é tênue e saber separar es-ses dois lados é essencial. A pro-fessora Cláudia Lopes, 41 anos,

afirma não ser contra a leitura desse tipo de livro, mas faz res-salvas. “Sou contra quando isso se torna uma obsessão, e o jovem leitor não consegue mais discernir o que é real e o que é fantasioso. Quando o jovem não consegue se-parar o real do imaginário, essa li-teratura pode se tornar perigosa.” Os problemas decorrentes dessa não diferenciação entre re-alidade e ficção como a perda de identidade, podem surgir na leitu-ra de qualquer obra ou até mesmo ao se assistir televisão ou um fil-me. Assim, a professora Cláudia coloca que a família e também os professores devem servir de apoio para evitar que a leitura perca seu papel transformador e acabe se tornando um problema.

(( entrevista ))

Um país chamado leituraFELIPE MENICUCCI

Gaúcho de Porto Alegre, Moacyr Scliar é formado em medicina, mas encontrou na literatura sua forma de se comunicar com o mundo. Tanto que já escreveu mais de 70 livros sobre temas como a tradi-ção judaica, e gêneros que passam pelos ensaios sobre medicina, contos e crônicas infanto-juvenis. Suas obras já fo-ram publicadas em vários idio-mas, em países da Europa e Ásia. Para o OutrOlhar, Mo-acyr falou sobre sua satisfação de estar no reduto da cultura brasileira, que é Minas Gerais, e elogiou a ci-dade e a Universidade Federal de Viçosa.

OutrOlhar: Como é participar de um projeto em que há um contato entre o autor e seu pú-blico?Moacyr Scliar: A literatura e uma ocupação solitária. O escritor não costuma ter muito contato com os

leitores. Então, quando projetos como esse permitem esse encon-tro, fica evidente que a literatura é uma obra humana, e que todos podem lê-la e fazê-la, principal-mente.

OO: A literatura precisa, então, desse contato para se tornar mais popular e acessível?

MS: Com certeza! A Literatura é um obrigação c u r r i c u l a r , e os alunos lêem porque cai no ves-tibular. Mas os escritores lidos, são, em

sua maioria, os clássicos que já es-tão mortos. Ou seja, quanto mais morto o escritor estiver, melhor! Isso fez com que durante tempos os jovens odiassem a literatura.

OO: O que fazer para formar mais jovens leitores?MS: Houve um avanço da litera-tura brasileira com esse contato com escritores contemporâneos. Nós aprendemos a escrever para o

público jovem, pois essa é a idade em que o livro muda a vida das pessoas. Isso não significa, entre-tanto, fazer uma literatura babaca. Significa fazer algo de qualidade, de linguagem acessível e com temáticas e personagens jovens, para criar identificação.

OO: Com a popularização da Internet essa formação fica comprometida?MS: Não. A idéia que se tinha era a de que os jovens não queriam mais saber da palavra escrita, e sim da imagem na tela. Hoje, eles continuam sentados em frente às

telas, mas ali se vê a palavra tam-bém! A Internet faz com que os jovens leiam mais, escrevem mais e tenham acesso à informação. E isso é bom.

OO: O que falta no ensino da li-teratura no Brasil atualmente?MS: Eu acho que não falta nada. Nós temos condições de trabalhar com a literatura de uma forma mais eficiente e prazerosa. Mas qual é o papel da literatura? Além de ensinar o domínio da língua, acesso a informação e etc., ela en-sina a viver. É a única matéria do currículo escolar que fala da vida.

Leitores presos entre a Rua dos Alfeneiros e a Terra MédiaMANUELLA REZENDE

Moacyr Scliar falou sobre a proximidade entre leitor e escritor em sua visita à Viçosa

Divulgação

“Literatura é a úni-ca matéria do currí-culo escolar que fala

da vida.”

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Reprodução

Page 6: Jornal OutrOlhar | Edição 13 | Outubro de 2007

A ficção científica é um tema re-corrente há séculos na literatura mundial, sempre causando grande fascínio entre os leitores. Porém, tal gênero firmou-se como um dos mais atrativos para rechear as his-tórias criadas para o entrete-nimento apenas no início do século XX. A partir de então, o cinema e os gibis foram os principais responsáveis pela crescente popularização das tramas que trazem futurísti-cos avanços científicos como pano de fundo para o seu desenrolar. Fundadas ambas na década de 1930, as atuais líderes mundiais da indústria do entrete-nimento, as empresas DC Comics e Marvel Comics, tiveram grande participação nesse cenário, apesar das diferenças temáticas de suas publicações. As histórias em quadri-nhos publicadas pela “Detetive Comics”, a DC, trouxeram prota-gonistas não-humanos, com pode-res divinos ou extraterrestres, ou seres humanos com equipamentos e treinamentos especiais, sempre envolvidos em batalhas titânicas num dualismo bem x mal. Em contrapartida, os títulos da Marvel privilegiaram enredos nos quais

seres humanos comuns, devido a algum acidente ou à evolução da espécie, sofreram alterações biológicas que lhes conferiram capacidades sobre-humanas, en-frentando de vilões a crises exis-tenciais.

Assim, encontrando essa abertura, em 1963 Stan Lee uniu seus argumentos à arte de Steve Dikto para criar o Homem Aranha e a de Jack Kirby para dar vida aos X-Men, ambos para a Marvel. Mal sabiam eles que, ao criarem enredos fantasiosos para a despre-tensiosa diversão dos jovens, aca-bariam por esbarrar na mais fas-cinante contribuição das obras de ficção científica: antever avanços e tendências da humanidade. As histórias de Peter Pa-rker, fotógrafo adolescente picado por uma aranha contaminada com material radioativo, e dos jovens pupilos do Professor Xavier, por-tadores do gene X – mutação que

dá nome ao grupo, sem dúvida fo-ram precursoras tanto em antever temas ligados à genética humana, quanto em trazê-los para fora dos laboratórios, ao conhecimento das pessoas não ligadas à comunidade científica.

No entanto, o pioneirismo atribuído aos quadrinistas Lee, Dikto e Kirby não se deve apenas à abordagem das mutações genéticas, qua-tro décadas antes do assunto começar a ser aprofundado pela ciência. Deve-se tam-bém ao fato de discutirem os dramas mundanos, as ques-

tões éticas, morais e até mesmo sociais referentes à manipulação genética, sua finalidade e suas implicações; questões que mais causam impasses e polêmicas atu-almente. O preconceito sofrido pelos mutantes nas histórias do X-Men, que buscava metaforizar a efervescência de preconceitos ra-ciais e religiosos nos EUA àquela época, é um dos exemplos dessa discussão. A estudante Marina Paula Oliveira, 19, reconhece que antes de começar a cursar bacha-relado e licenciatura em biologia não havia atentado para o fato de que as histórias de ficção podem nos ajudar a compreender melhor

o mundo em que vivemos. De acordo com a estu-dante, a antipatia que os humanos nutrem pelos mutantes na revista é analogamente percebida em nossa sociedade. “Da mesma forma que no gibi os humanos evitam os mu-tantes por não saberem exatamen-te do que eles são capazes, muitas pessoas são contra os transgênicos sem saber quais as implicações do seu uso, já que as pesquisas são muito recentes”, afirma Marina. Segundo ela, tramas de ficção científica aparentemente inocentes, podem servir de incen-tivo para que os leitores reflitam como muitas das questões abor-dadas afetam nosso cotidiano. “Muitas vezes, o comportamento dos personagens dessas histórias se assemelham ao que percebe-mos em nosso dia a dia, como, por exemplo, a criação de mitos por falta de conhecimento”, afirma a futura professora de biologia. A ficção dos gibis, assim como as mais diversas manifesta-ções artísticas, podem nos ajudar a compreendermos melhor a socie-dade. Como essas obras retratam parte da realidade ou a visão que temos dela, podem nos auxiliar a repensar pontos cruciais de nossas vidas, mesmo quando são tratados de forma fantasiosa.

(( ciência ))

Ficção a serviço da realidadePATO DOMINGUES

Pendrives disseminam males pelos computadoresDÉBORA BRAVO

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Tim G

ouveia

Os modelos de memórias por-táteis (memórias flash), um dos muitos nomes para os pendrives, estão cada vez mais populares no mundo inteiro. O dispositivo faci-lita a vida de qualquer pessoa que precisa andar com arquivo e do-cumentos, diariamente, seja para o trabalho ou para a vida pessoal. Com a tecnologia, os pendrives surgiram para substituir os disquetes e é uma ótima forma de carregar dados. Seu formato compacto auxilia no transporte do aparelho que cabe no bolso e tem capacidade de até 8 GB de memó-ria. Porém, como tudo no mundo tecnológico já existe vírus para complicar a vida dos usuários e

um dos principais é a dissemina-ção de pragas virtuais, que provo-ca o roubo de dados. Atualmente, a principal forma de contaminação de vírus tem ocor-rido através da utilização de pen-drives em computadores públicos, que junto a seus arquivos armaze-nados, carregam todas as contami-nações do computador conectado. Um tipo comum de in-fecção nos computadores é o que insere códigos nocivos em pen-drives e que entra em ação auto-maticamente quando o acessório é conectado ao computador. O vírus foi identificado como uma famí-lia de worms. O invasor insere o arquivo, executado sempre que o dispositivo é instalado na por-

ta USB de computadores com Windows. Os PCs infecta-dos passam a contaminar outros drives USB, que são conectados ao compu-tador.

Esses tipos de vírus em pendrives são muito comuns atualmente e para evitar que um deles infec-te seu computador é essencial a utilização de um bom antivírus freqüentemente. Segundo o estu-dante de Ciência da Computação, Gualberto Silva, o ideal é fazer o “scan” pelo menos uma vez

por semana no Pc. Outra forma de prevenir é utilizar um novo modelo de pen-drive que permite carregar consigo uma versão adaptada de programa antivírus, em que o usuário conec-ta o acessório ao computador, e o dispositivo é capaz de identificar se a máquina em questão está in-fectada antes de autorizar a execu-ção ou sincronização de arquivos.

© M

arvel Manipulação Pato D

omingues

Page 7: Jornal OutrOlhar | Edição 13 | Outubro de 2007

(( esporte ))

Esporte tem papel importante nas Zonas RuraisJOSÉ TARCÍSIO

Devido às novas tecnologias, muitas vezes as pessoas preferem passar o dia em frente ao computador ou jogando algum jogo eletrônico do que praticando algum esporte. Porém, existem lugares em que essa realidade ainda não chegou, como em alguns vilarejos da Zona Rural.

Um deles, é o Vau Açu da Onça, um pequeno distrito que fica entre Viçosa e Ponte Nova num entroncamento da BR 120. Com menos de mil habitantes, o povoado não possui lan houses, internet banda larga e nem clubes para lazer. Por isso, o esporte ocupa um espaço fundamental na vida dos moradores. Quem sabe bem disso é o motorista Geraldo “Aladin” e a funcionária Maria Efigênia de Moura, que atuam como voluntários no incentivo ao esporte da vila. Eles treinam futebol com crianças e adolescentes do local.

Ao serem indagados sobre a importância do esporte, ambos foram unânimes nas respostas. Afirmaram que através dele, tentam retirar a criançada da rua, visto que eles não têm nada para fazer durante o dia, pois o local não oferece nenhum entretenimento. Maria Efigênia ainda completa: “as crianças estão adorando e felizes demais”.

O local do treino é pouco improvisado em uma quadra cedida pelo Grupo Escolar. Porém, a satisfação das crianças é clara: “Eu acho muito bom. Treinando cria-se uma oportunidade de jogar em times profissionais”, diz Karina de 18 anos, que há sete meses treina com o time feminino.

Há 8 km de Vau Açu encontra-se outro vilarejo, conhecido como Brecha. Esta vila é menor que a anterior, possuindo no máximo duas centenas habitantes.

Nela há uma pequena escola, na qual as atividades vão somente até a quarta série, um posto de saúde, onde o médico realiza consultas apenas uma vez por mês e, enfim, um grande campo de futebol.

É neste espaço que o time formado por trabalhadores rurais da região treina. O nome do time: Grêmio Esportivo Alumínio, cujo técnico é Francisco Vanis

Carvalho, que também é um dos donos do time. Para ele, através do futebol, os jogadores conhecem

muitas cidades, evitam mexer com drogas e bebidas, e além de tudo, o esporte é uma diversão.

A diversão não fica só por conta dos jogadores. Em dias de jogos em cidades próximas, a Vila Brecha fica monótona: as casas se encontram fechadas, não há movimento de bicicletas, carros e nem sequer de pessoas. Isso acontece porque a maioria

das pessoas que ali residem vão para as cidades vizinhas assistirem às partidas. Este fato demonstra que o esporte na Zona Rural não inclui somente os que praticam, mas também o outro lado, ou seja, a própria população da roça. E num local onde não há muitas opções para lazer, o esporte se torna sinônimo de entretenimento, como para o

trabalhador rural Willian, que saiu de seu sítio distante só para assistir um jogo na cidade de Guaraciaba.

“Os meus filhos vão torcer pro Galo”, foi a primeira frase dita por Ciro Costa Souza, 22 anos, estudante de Agronomia. O orgulho ao dizê-la não foi menor do que sua certeza. Apesar de nem estar namorando e muito menos planejar quando será pai, Ciro já tem como certo que será pai de dois atleticanos, ou atleticanas. E ele não está sozinho. A grande maioria das pessoas, principalmente os homens, quer e induz seus filhos a torcerem pelo mesmo time de futebol pelo qual torcem.

A influência dos pais na escolha do time pelo qual se torce é muito fácil de perceber. É comum ao ver álbum de retratos fotos de bebês vestidos com camisa do clube do coração, do pai é claro! Mas há um momento em que isso pode mudar, mas por que não mudar. Na maior parte das

vezes essa tendência se confirma pelo fato de ao chegar aos 11, 12 ou 13 anos já existir uma paixão

ou no mínimo carinho pelo time e certa identidade com a torcida na qual foi introduzido.

Isso aconteceu com Ciro Costa e tantos outros. Com Diego Leão Neves Ramos, de 21 anos,

estudante e torcedor do Palmeiras não foi diferente. Diego deixa claro que torce pelo Palmeiras

devido à influência do seu pai. Segundo Diego, o seu pai também torcedor do “Verdão” seguiu o caminho de seu avô palmeirense.

Torcer pelo mesmo time que o pai não é uma regra. Na casa de Diego Leão são três filhos. Ele e mais duas mulheres. Uma de suas irmãs sempre torceu pelo São Paulo. Ele disse que chegou até a ganhar um boné do São Paulo, mas preferiu continuar vestindo a camisa do “Verdão”.

Tanto o atleticano Ciro quanto o palmeirense Diego não se consideram fanáticos. Possuem camisas de seus times, acompanham os resultados e até já foram ao estádio ver seus clubes jogarem. Torcer por um time de futebol ou de outro esporte é uma prática saudável. “Você pode ou não torcer pelo clube de seu pai ou amigo, mas uma coisa você deve fazer, respeitá-lo” concluiu o atleticano.

Vestido com a camisa do meu paiMÁRIO VITOR FILHO

O esporte mobiliza as Zonas Rurais de Viçosa e região

José Tarcísio

Mário V

itor Filho

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Page 8: Jornal OutrOlhar | Edição 13 | Outubro de 2007

Projeto colore comunidades em ViçosaANA PAULA NUNES

Um saber popular, que foi pego, passou pela Universidade e teve uma adaptação. É assim que Le-tícia Honório, voluntária do Pro-jeto Cores da Terra, define a ini-ciativa. A atividade de extensão, coordenada pelo agrônomo e professor da Universidade Fede-

ral de Viçosa Anôr Fiorini de Car-valho, consiste no ensinamento e divulgação da técnica de pintura com solos. Segundo Letícia, o barreado – processo de fabrica-ção de tinta feita com barro – foi o precursor do Cores da Terra.

A matéria-prima é o solo,

mas também utiliza-se água e cola, além da criatividade para testar diferentes ti-pos de solo e assim adquirir novas tona-lidades. Em Viçosa, de acordo com Pau-lo César, pintor que participa do projeto, já foram catalogadas aproximadamente 20 cores diferentes, distribuídas entre as casas, igrejas e capelas beneficia-das pelo projeto.

Econômica e natural, essas são algumas das vanta-gens que Edmaura

Melo - Vice-Presidente do Lar dos Velhinhos - aponta sobre a técnica do projeto, que está sendo aplicada no asilo. Para ela, o produto tem ainda a vantagem de não ser tóxi-co e acrescenta: “por ser natural, não tem cheiro e também não gera problema para os idosos. Toda vez

que vamos pintar aqui, temos que procurar uma tinta a base de água”.

Paulo César explica o motivo da economia: “uma lata de tinta de primeira linha com 18 litros custa em média R$180 a R$200 reais. Já a nossa tinta vai sair em 26 reais a lata.” Essa economia é uma das principais responsáveis pelo sucesso do pro-jeto e pela difusão da técnica por diversas cidades, inclusive em outros estados. Quando questio-nada a respeito da escolha dos lugares beneficiados pelas ações do projeto, Letícia explica que “a idéia é que o conhecimento se di-funda e não fique restrito ao Co-res da Terra. Que seja como uma ‘receitinha’ - terra, água e cola. As pessoas que tiverem isso em mãos poderão fazer a pintura”.

O Projeto Cores da Terra ganhou esse ano, um certificado em Tecnologia Social pelo Banco do Brasil. Esse certificado confe-re a importância social do proje-to nas comunidades e mostra que a “receitinha” está dando certo.

Quando você precisa de um CD, um caderno ou um porta-lápis em qual lugar você procura primeiro? Uma loja, é claro!, você pode di-zer. Mas saiba que esse processo de compra e venda que hoje é tão ob-vio para nós, nem sempre foi assim.

Durante séculos no Brasil, e em outros países do mundo, o comércio se dava através da troca direta de mercadorias, o chamado escambo. Assim, quem pescasse mais peixe do que o necessário para si e seu grupo, trocava este excesso com o de outra pessoa que, por exemplo, tivesse plantado e colhido mais milho do que fos-se precisar. Esta elementar forma de comércio, que foi dominante no início da civilização, hoje não é tão comum, mas ainda existe.

Um exemplo disso é o Clube de Trocas, que funciona no bairro de Nova Viçosa. O clube funciona como uma feira, na qual os sócios expõem seus produtos e serviços e o público em geral, ou mesmo os outros sócios, “compram” es-

sas mercadorias. Porém ,há uma diferença em relação a uma feira convencional: a moeda usada não é o Real. Os participantes utilizam como moeda o café. Mas não é aquele de beber. Café é como eles chamam o papel utilizado para as trocas dentro do clube, e cuja unidade tem o valor de 1 real. Há também as notas de meio, três, cinco, dez e quinze cafés. O sistema, por mais que fun-cione com uma moeda, tem por base as trocas, pois os sócios não podem con-verter de vol-ta os “cafés” em reais. O que for arrecadado com as vendas só poderá ser uti-

lizado dentro do próprio clube. Segundo José Eufrásio,

um dos organizadores, os itens mais comercializados no clube

são os de artesanato, como pa-nos de prato bordados, e os ali-

mentícios, como bolos, doces e verduras. Entretanto, todo tipo de produto e serviço pode ser ofertado, desde objetos semi-no-vos até mesmo mão-de-obra. As reuniões do Clube acontecem geralmente no último sábado de cada mês, na APOV (Associação da Pastoral da Oração de Viçosa) do bairro de Nova Viçosa, locali-zada na Rua Joaquim Nogueiro.

Qualquer pessoa interes-sada pode participar como com-prador, podendo obter os “cafés” numa espécie de banco montado no local. Para vender é necessário se tornar sócio, bastando para isso fazer um cadastro, que está dispo-nível no próprio local da reunião, e pagar uma taxa equivalente a 5 Reais (R$ 3,00 e 2,00 cafés).

Esta pode ser uma boa oportunidade pra você transformar aquele urso de pelúcia que não lhe interessa mais, num lindo cachecol feito pela sua vizinha, ou, quem sabe, conseguir um delicioso bolo de chocolate com aquelas pulsei-ras que você faz nas horas livres.

Prática milenar, o escambo volta a ganhar espaçoMARIANA AZEVEDO

Desenhos feitos na parede do Museu da Terra, todos com tintas à base de solos do “Cores da Terra”

Pato Dom

ingues

Mariana A

zevedo

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(( cidadania ))

Page 9: Jornal OutrOlhar | Edição 13 | Outubro de 2007

Dinheiro arrecadado com impos-tos é patrimônio público, e tem que servir aos interesses dos cida-dãos. E é para fazer cumprir essa função que existe o Orçamento Participativo. Criado em 1989, em Porto Alegre, e regulamen-tado por lei federal em 2002, a idéia do projeto é permitir que a população, ciente de suas necessi-dades e prioridades, decida onde e com o que será gasta a verba que é repassada às prefeituras.

Lucia Duque Reis, uma das responsáveis por implantar o Orçamento Participativo em Viçosa no ano de 2003, diz que muitos cidadãos acham que o as-faltamento da rua, a iluminação pública, a construção de calçadas, por exemplo, são favores feitos pelos políticos. “Falta à população conciência dos seus direitos, mas isso tem melhorado”, diz Lucia.

Ela explica que, para o Or-çamento Participativo, a cidade é dividida em regiões, agrupando uma média de três bairros, nos

quais ocorrem reuni-ões abertas a toda população.Nelas, são discutidas as necessidades mais u r g e n t e s do bairro (a cons-trução de um muro de contenção por causa das chuvas, a reforma de pontes) e aquilo que a prefeitura já está fa-zendo ou planeja fazer.

Depois, são dis-tribuídos pa-péis onde as pessoas es-crevem o que gostariam e acham que é pre-ciso ser feito na região; as sugestões são divi-didas por setor, como Educação, Infra-Estru-tura, Saneamento, e abertas para votação. O que for mais votado é levado para a Câmara Municipal, e lá os pedidos de cada bairro são

analisados e, caso aprovados, po-dem ser incluídos no orçamento da Prefeitura para o ano seguinte.

Mas não são apenas ne-cessidades na área de Infra-Es-

trutura e Saneamento que podem ser apresentadas nas reuniões

do Orçamento. Melhorias na Saúde e Lazer também po-dem, e devem ser solicita-

das. Por isso, se você acha que seu bairro precisa de mais

opções de esporte e lazer, as reuniões do Orçamento Participativo podem ser

um bom lugar para pedir, por exemplo, uma quadra ou uma

praça. Apesar de ser preciso ter mais de 16 anos para votar, pes-

soas de qualquer idade podem apresentar sugestões nas reuniões. Para o represen-

tante do bairro Laranjal, João Francisco de Miranda, o “Se-nhor Zizinho”, os jovens não se interessam muito pelas reuniões, e perdem a oportunidade de par-ticipar ativamente das decisões.

O Orçamento Participativo é uma oportunidade de deixar cla-ro o que sua comunidade precisa, além de exigir e cobrar soluções.

Maioridade convoca jovens para alistamento militarGABRIELE MACIEL

“Ouviram do Ipiranga as margens plácidas”. Mais do que aprender a cantar corretamente o Hino Na-cional, os jovens que servem ao exército brasileiro cumprem um dever cívico para com a sociedade.

Pelo Art. 143 da Cons-tituição Federal de 1988, todo

homem ao completar 18 anos, é obrigado a se alistar no ser-viço militar. Aqui em Viçosa, desde 1946, o local para se cum-prir com esse dever é o Tiro de Guerra, que recebe anualmente uma média de 600 inscrições.

No Brasil, o serviço militar obrigatório surgiu numa época em

que no país não havia um governo próprio e a ameaça de invasão de inimigos estrangeiros era uma ame-aça real. Hoje, não há mais esses inimigos para se combater. A rea-lidade é outra: servir a comunida-de em que o quartel está instalado.

Os adolescentes que servem ao Tiro de Guerra de Vi-çosa participam de ações comu-nitárias, campanhas de doação de agasalhos, reformas em escolas da rede pública, etc. Além disso, esses jovens recebem treinamento físico-militar, aprendem noções de armamento e primeiros socor-ros, assimilam o patriotismo e o respeito aos símbolos nacionais e às instituições. Para o sargen-to Osmar Ribeiro Junior, um dos responsáveis pelo TG em Viçosa, essa tarefa de prestação de serviço à comunidade desempenha duas funções: desenvolve nos jovens noções de cidadania e colaboração, e aproxima o Tiro de Guerra da população, integrando-o à cidade.

“Depois de um ano de ser-viço militar, muita coisa muda na

vida do jovem”, afirma Guilher-me Resende de 19 anos, que atu-almente serve ao TG em Viçosa. Ele garante que estar no Exército o ajudou em muitas coisas: “Tan-to no âmbito social, pois fiz novas amizades, quanto no lado pesso-al. Lá conseguimos ver que so-mos capazes de fazer muito mais coisas do que pensávamos”, diz

Quem pensa que a famo-sa rigidez dos exercícios físicos e a disciplina exigida no serviço militar são problemas para ser-vir voluntariamente ao exército, Guilherme explica: ”Aprender a ter essa disciplina, saber assumir seus erros, falar a verdade sem-pre, ser companheiro daquele que está ao seu lado, tudo isso são fatores constantemente exigidos lá dentro e que com certeza vão refletir muito no meu futuro”.

População define prioridades para investimento públicoMÔNICA BENTO

Jovens se apresentam para alistamento militar no Tiro de Guerra, no Morro do Pintinho

Gabriele M

aciel

O Tiro de Guerra se localiza na Rua do Pintinho nº 199 - Centro.

Mais informações ligue:(31) 3892-6131

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(( cidadania ))

Pato Dom

ingues

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Como um dos mais importantes meios para promover a participa-ção do indivíduo na sociedade, a leitura é fundamental para a for-mação de cidadãos críticos e cons-cientes. É necessário, portanto, programas efetivos que ofereçam condições para o hábito da leitu-ra, como o PROLER (Programa Nacional de Incentivo à Leitu-ra) que há 15 anos promove ações, visando

despertar o interesse pela leitura junto à população carente de oportunidades.

Elisa Cristina Lopes, pro-fessora da UFV, que participou do início do PROLER em Viço-sa, afirma que ele é uma política pública que possui, como prin-cípio, descentralizar a leitura e levá-la para as pessoas de regiões com pouca difusão de cultura, já

que o problema da leitura

está mais atrelado às ques-tões políticas educacionais do que fatores econômicos.

A média de leitura do brasileiro é de 1,8

livros por ano, segundo a Câmara Brasileira do Livro, enquanto na França é de sete livros. Na Biblio-teca Municipal de Viçosa há mais de cinco mil volumes catalogados, um número reduzido para uma ci-dade com mais de 65.000 habitan-tes. O acesso aos livros também se dá nas bibliotecas das escolas e das instituições de ensino supe-

rior, nos sebos e livrarias da cidade. Os uni-

versitários são a

maioria dos clientes desses locais.As livrarias populares, ou

sebos, são uma boa alternativa para adquirir livros por um preço acessível, já que o preço médio no Brasil varia entre 30 e 40 re-ais; um valor alto se comparado aos R$ 380,00 do salário mínimo. Graduandos de Letras da UFV, através da pesquisa “Leitura: entre a teoria e prática” concluíram que os best-sellers e auto-ajuda são as leituras preferidas do viçosense.

A partir do incentivo da família, de um bom sistema edu-cacional de governo e de projetos que facilitem o acesso das pessoas aos livros, está dado o primeiro passo para a formação de leitores.

Entretanto, é necessário o incentivo à boa leitura para torná-los críticos, pois os livros

devem ser suportes para a for-mação intelectual dos in-divíduos perante a socieda-de, e não manuais de como

ser feliz ou como ficar rico.

(( cultura ))

Como se escreve: pára ou para?TALITA AQUINO

“Luiza dizia sempre que sentia enjoo ao andar na montanha rus-sa”. É, exatamente assim, palavras terminadas em “oo” não vão ter mais acento circunflexo. A partir de 2008 o Brasil vai começar a implantar a Reforma Ortográfica, que, além de cortar muitos “cha-peuzinhos”, vai mexer com o tre-ma, o hífen, o acento agudo e até com o número de letras do alfabeto.

A intenção básica, dis-cutida desde 1990, é unificar os países que falam o português, fa-cilitando, por exemplo, a difusão bibliográfica e de novas tecnolo-gias. A proposta pode ser válida, uma vez que o português é a quar-ta língua mais falada no mundo.

O Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa foi assinado na década de 90 por Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Mo-çambique, Portugal e São Tomé e Príncipe, e entrará em vigor agora que três países da Comu-

nidade Lusófana (que fala portu-guês) ratificaram-no: Brasil, Cabo Verde e São Tomé e Príncipe.

Porém, o que preocupa mesmo é saber como a população vai se adaptar às novas regras.

A estimativa é de que em dois anos todas as mudanças já estejam plenamente incorporadas No Brasil, essa transição será fei-ta aos poucos, com a substituição dos materiais didáticos e dicioná-rios à medida que for necessária sua reposição nas escolas. Segun-do Monalisa da Cruz Silveira, ge-rente de Marketing e Vendas, de 23 anos, “O primeiro impacto será negativo, pois as pessoas vão con-tinuar escrevendo como aprende-ram a vida toda, e agora têm pa-lavras que elas não sabem mais. As pessoas serão corrigidas.”

A gramática portuguesa sempre teve fama de ser comple-xa, chata e extensa. É prematu-ro dizer se a reforma facilitará o aprendizado, ou se o tornará mais

difícil. O estudante do 3° ano do Ensino Médio, Moisés Sena, acre-dita que pouca coisa vai mudar e a língua falada vai continuar a mesma. “A maioria das pessoas da minha turma gostaram, embora muitas ainda não entendam. Vai ser fácil se adaptar. Tem muito tempo para a implantação das regras”.

O português vem se modifican-do, ao longo dos anos, lenta e progressiva-mente. É natu-ral e até vital que ele perma-neça flexível. Assim foi com o “vosmecê”, o você, o “vc”.

Talvez as mudanças formais ou na-turais da língua possam assegurar uma identidade perante o mundo. Seria como dizer, em bom portu-guês: “Estamos aqui e mais de 200 milhões pessoas escrevem ‘voo’”.

Alternativas facilitam o acesso à leitura em Viçosa

Pato Domingues

HÍFENNão se usará quando o segundo elemento começar com s ou r , devendo essas consoantes ser duplicadas; nem quan-do o prefixo termina em vogal e o segundo elemento começa com uma vogal diferente. Exemplos: “antirreligioso” e “antis-semita”; “extraescolar” e “aeroespacial”.

TREMADeixará de existir, a não ser em nomes próprios e seus de-rivados

ACENTO DIFERENCIALNão se usará mais para diferenciar “pára” (flexão do verbo parar) de “para” (preposição); “pólo” (substantivo) de “polo” (combinação antiga e popular de “por” e “lo”); “pélo” (flexão do verbo pelar), “pêlo” (substantivo) e “pelo” (combinação da preposição com o artigo)

ACENTO CIRCUNFLEXOSerá suprimido nas flexões verbais “crêem”, “dêem”, “lêem” e “vêem”; nas palavras como “enjôo” ou “vôo”, que se tornam “enjoo” e “voo”

ACENTO AGUDONos ditongos abertos “ei” e “oi” de palavras como “assem-bléia” e “heróica”, não serão mais utilizados.

ARAMIS ASSIS

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Page 11: Jornal OutrOlhar | Edição 13 | Outubro de 2007

Viçosa busca controlar crescimento desordenadoFELIPE PEDROZA

Notadamente, Viçosa tem se ex-pandido em área e também em população ao longo dos últimos anos. A cidade possui problemas estruturais sérios: muitas ruas estreitas de grande movimento, excesso de veículos circulando na área urbana municipal e uma grande preocupação de falha no abastecimento de água, tratamen-to de esgoto e outros serviços bá-sicos para a população. Segundo o arquiteto ur-banista e diretor de planejamento do IPLAM (Instituto de Planeja-mento Municipal), José Luís de Freitas, a cidade cresce acima da média de Minas Gerais, tanto na questão populacional quanto na questão da construção civil. Isso sem contar a população flutuante, formada em sua maioria pelos es-tudantes, que vem aumentando a cada ano devido à ampliação do número de cursos na UFV e o sur-

gimento de novas universidades na cidade. Freitas afirma que o re-passe de verbas para o município é menor do que o necessário, pois

o dinheiro vem de acordo com a população municipal, e a popula-ção flutuante não entra nessa con-ta. Assim, a cidade precisaria de uma infra-estrutura maior do que

o repasse de verba permite cons-truir. Responsável direto por este assunto, Freitas garante, po-rém, que a situação não é tão grave

como parece, pois o município está agindo para ordenar o crescimento populacional e urbano. “Até o ano 2000, Viçosa não possuía um Pla-no Diretor – projeto que organiza

o desenvolvimento das cidades e é obrigatório para município com mais de 20 mil habitantes ou ci-dades turísticas menores. A cidade crescia desordenadamente, não havendo qualquer tipo de plane-jamento urbano” diz o arquiteto. Com a criação do Plano Diretor e o surgimento do próprio IPLAM (órgão municipal responsável pela organização urbana da cidade) em 2005, a situação começou a me-lhorar. O município agora possui uma estratégia para tentar evitar o crescimento desordenado, que po-deria gerar mais caos no trânsito e uma urbanização caótica. Ainda segundo Freitas, existe o risco de Viçosa ter pro-blemas no abastecimento de água e tratamento de esgoto no futuro, mas esta possibilidade é pequena, já que o Plano Diretor prevê estra-tégias para evitar tais incômodos. Com certeza, é o que a população viçosense espera.

A maioria das pessoas que procu-ram por auxílio e orientação no Procon de Viçosa, ao contrário do que muitos pensam, são ado-lescentes e jovens. Os problemas com telefonia móvel e fixa são os mais recorrentes. A dor de cabeça gerada pela telefonia só se equipa-ra com a provocada pelas compras via internet, como a do jovem que comprou um notebook, mas aca-bou recebendo um tijolo.

A diretora do Procon de Vi-çosa, Lindsay Teixeira Sant’Anna, afirma que essa incidência de transtornos ocorre principalmente devido à desatenção dos consu-midores. Segundo Lindsay, os jo-vens são as principais vítimas de crimes pela internet, pois usam a web com grande freqüência, po-rém sem se atentar ao risco que correm ao comprar em sites de empresas que não possuem ende-reço físico.

Outra situação que é corri-queiramente levada ao Procon são as reclamações de cancelamentos de shows e propagandas engano-sas de festas. “Se você compra ingresso de uma determinada apresentação e ela não acontece

ou não ocorre da forma prevista, você tem o direito ao reembolso da quantia paga pela entrada” sa-lienta Lindsay.

De acordo com a diretora do órgão de defesa do consumidor, a maioria dos eventos na cidade

infringem a lei, pois os ingressos vêm com a frase “meia-entrada” e são vendidos pelo mesmo preço, sem diferenciação para quem é es-tudante. Caso ocorram problemas em relação à venda de ingressos ou realização de eventos e haja re-

gistro de denúncia, os responsáveis po-dem ser obrigados a paralisar o evento e pagar multa refe-rente a cada consu-midor reclamante.

Nos últimos anos, o registro de reclamações por parte dos consumi-dores tem aumenta-

do significativamente. “A nossa demanda tem crescido não em razão de uma elevação da viola-ção dos direitos dos consumido-res, mas, principalmente, de uma maior conscientização dos mes-mos, que têm buscado mais os

seus direitos”, ressalta a responsá-vel pela Fundação.

Atualmente o Procon de Viçosa atende cerca de 20 a 30 pessoas por dia, sendo que o tem-po de espera para resolução de problemas é, em média, de 15 a 20 dias. O número de consumido-res que conseguem resolver suas pendências de forma satisfatória é muito grande, e só não é maior devido à falta de conhecimento sobre a legislação.

Tentando suprir tal carên-cia, o órgão distribui gratuitamen-te cópias do Código de Defesa do Consumidor em sua sede, além de facilitar o acesso ao público atra-vés da disponibilização de telefo-ne e e-mail para consultas.

Extra! Extra! Extra! Mais uma pessoa enganada!VAGNER RIBEIRO

O Código de Defesa pode esclarecer dúvidas do consumidor

Pato Dom

ingues

PROCON ViçosaRua Benjamin Araújo, nº 56 sala 115 – Tel: 3892-5222 [email protected]: de segunda à sexta-feira, das 13:00 às 18:00h.

Ruas estreitas é apenas um dos problemas estruturais enfrentados em Viçosa

Felipe Pedroza

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(( cidade ))

Page 12: Jornal OutrOlhar | Edição 13 | Outubro de 2007

Imagine um lugar onde você pos-sa ter contato direto com várias disciplinas escolares de um modo prático, além de ajudar na preser-vação do meio ambiente, e, em especial, do rio São Bartolomeu, principal manancial de abasteci-mento de água de Viçosa. Esse lugar se chama Jardim da Ciên-cia. Instalado na cidade de Viçosa há dois anos, o projeto sediado e desenvolvido pelo Colégio Nossa Senhora do Carmo visa interligar os conhecimentos teóricos, as prá-ticas pedagógicas e a conscienti-zação ecológica da comunidade. O espaço é compos-to por uma grande área externa, onde são desenvolvidas ativida-des ligadas à ecologia e três ane-xos internos: dois laboratórios de Ciências da Natureza e a Oficina de Ciências e Artes (OCA), nos quais já foram criados mais de 100 recursos didáticos obtidos a

partir de materiais de baixo custo. De acordo com Gilton Natan So-ares de Almeida, coordenador do projeto e diretor pedagógico do Colégio Carmo, é importante que os jovens tenham conhe-cimento de como ocorrem os ciclos da natureza atra-vés desse tipo de aprendi-zado. “Costumo chamar isso de ‘ecologia de fun-do de quintal’, ou seja, a ciência do dia-a-dia, que é aquilo que realmente interessa para o aluno”, afirma Gilton Natan. Por meio destas atividades, estudantes de Viçosa e região têm a experiência de conhecer de perto os problemas da cidade e praticar no cotidiano aquilo que aprendem no Jardim da Ciência. Um exem-plo disso é a revitalização das margens do rio São Bartolomeu, que conta com o apoio da comu-

nidade. Segundo Gilton Natan, no início do projeto foram retiradas 18 caçambas de lixo das beiradas do rio e, atualmente, os morado-res colaboram plantando hortas

e jardins ciliares para recom-por a vegetação que ali existia. A aluna Mariana de San-tis, do 2º ano do Ensino Médio do Colégio Carmo, acha necessário que se tomem esses cuidados que lhe ensinam, principalmente so-

bre a utilização da água. “Se o au-mento da destruição da natureza não parar, viveremos sem as fon-tes necessárias para nossa sobre-vivência e de outros seres vivos”,

salienta Mariana. O projeto, segun-

do o coordenador, pode ser um mo-delo para outras escolas. As visitas são abertas; para agendar uma ida de sua escola ou de-senvolver uma ati-vidade em conjun-to com o Jardim da Ciência, basta que um professor res-

ponsável entre em contato com o Colégio Carmo através do telefo-ne (31) 3891-2925, planeje e pro-ponha as atividades desejadas, que serão desenvolvidas juntamente com a coordenação do projeto.

“Causos” de cemitério ocupam imaginário popular

(( cidade ))

Recursos didáticos ajudam a compreender a naturezaJOSÉLLIO CARVALHO

PABLO PEREIRA

Na área externa os estudantes também desenvolvem atividades didáticas

Joséllio Carvalho

Cemitério Dom Viçoso: para uns, um lugar agradável; para outros, um local sombrio, origem de muitas histórias misteriosas12

Por todo canto é comum ouvir-mos histórias misteriosas presen-ciadas nas redondezas de cemité-rios. Cada um com suas crenças, os casos vão sendo recontados e com o passar dos anos vão for-mando alguns mitos. Visões e cenas imortalizadas na ficção se tornam realidade e até mesmo vi-ram tradição na crendice popular. Visitar e falar de cemi-tério e túmulos sempre foi um tabu para muita gente. Porém, o que poucos sabem é que nem to-dos sentem medo ao estar nesse local. Pelo contrário: enxergam no cemitério um lugar calmo para passear ou até mesmo estu-dar. Em alguns lugares do Bra-sil, grupos de jovens costumam passar as tardes pelos gramados do cemitério em meio aos tú-mulos, buscando a tranqüilidade e o silêncio necessário para se concentrar ou até mesmo relaxar.

João Batista Rosa, co-veiro e administrador do Cemité-rio Dom Viçoso, situado no cen-tro de Viçosa, cuida de mais de 1200 túmulos no local e jura que nunca viu nada de es-tranho ou que o tenha causado espanto.

C o m o todo cemitério, porém, o Dom Viçoso tam-bém apresenta

seus “causos”. Dona Conceição, conhecida vizinha do local, afir-ma que, em seus 32 anos mo-rando ao lado do cemitério, já presenciou muitos fatos curiosos. Um deles foi a vez em que ela estava em casa e escutou

alguns senhores conver-sando. “Já era de noitinha

e quando eu saí de casa para olhar por cima do

muro, que faz divisa com o cemitério, vi seis velhi-

nhos vestidos com

ternos brancos. Eram todos muito baixinhos e parecidos. Conversa-vam enquanto caminhavam pelos túmulos do cemitério. Aos poucos, eles foram andando em fileira e de-saparecendo um por um na minha frente”, conta Dona Conceição. Esse é só mais um dos casos que fazem parte da história do cemitério. Quem tiver a curio-sidade de visitar o local, é só ir até a Praça Duque de Caxias, próxima ao Morro do Pintinho e conferir.

Pablo Pereira