jornal - fundinho cultural ed. 29

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DEZEMBRO 2013 - Nº 29 - ANO XI Um Jornal do bairro Fundinho Uberlândia . MG . Brasil A porta do barraco era sem trinco mas a lua, furando o nosso zinco salpicava de estrelas nosso chão Chão de Estrelas - Orestes Barbosa Entrevista Marlene Goulart “Nós somos o que fazemos, mas, somos principalmente o que fazemos para melhorar o que somos.” Eduardo Galeano “A massa mantém a marca, a marca mantém a mídia e a mídia controla a massa” George Orwell

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Fundinho Cultural 29 Dezembro 2013 LEIAM, COLABOREM, DIVULGUEM.

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Page 1: Jornal - Fundinho Cultural  Ed. 29

DEZEMBRO 2013 - Nº 29 - ANO XI

Um Jornal do bairro FundinhoUberlândia . MG . Brasil

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Entrevista

Marlene Goulart“Nós somos o que fazemos, mas, somos principalmenteo que fazemos para melhorar o que somos.” Eduardo Galeano

“A massa mantém a marca, a marca mantém a mídia e a mídia controla a massa” George Orwell

Page 2: Jornal - Fundinho Cultural  Ed. 29

Ano XI – nº 29 - DEZEMBRO 2013 - Editor: Hélvio Lima - Assessoria: Adélia Lima - Diagramação: Niron Fernandes - 3087-4148Impressão: Gráfica Scanner-3212-4342 - Fotos internas: Acervos particulares, Isabela Lima, Léo Figueiredo e Paulo AugustoTiragem: 5.000 exemplares - End. para correspondência: Rua Felisberto Carrejo, 204 – FundinhoFone: (34) 3234-1369 – Cep. 38400-204 – Uberlândia-MG

[email protected] - Facebook fundinhocultural“Os artigos assinados são de inteira responsabilidade

de seus autores e não refletem a opinião do jornal”

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Tenho aquiCarta amanhecida(Foi escrita ontem)Vou depressaAo correioAntesQue fique velhaE estragueO recheio

Zélia Guardiano

CARTA AMANHECIDA

Longa avenida, a João Naves se esparrama em várias direçõesanunciando múltiplos centros da cidade. Vista do alto, Uberlândia se

multifaceta em vários planos que anunciam claro futuro. O Bairro Fundinho,e o seu memorial histórico/sentimental, já ficou lá embaixo, no burburinho

da cidade tradicional, que, segundo os coronéis dos velhos tempos,não podia passar dali: Fundinho/Patrimônio/Rio Uberabinha... A vida,

o progresso, a velocidade das horas sugerem amplidão e as lentesdo fotógrafo Léo Figueiredo registram novos ângulos

da cidade moderna em movimento.

Editorial

DEZEMBRO 2013 - Nº 29 - ANO XI

Ub

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e.

Foto: Leo Figueiredo

CapaO minuto seguinte

Se me perguntassem, há algum tempo, qual o momento mais impor-tante de minha vida, eu diria - aquele que estamos vivendo -.Talvez porque ainda não tivesse passado por mudanças drásticas ou dolo-rosas. Talvez porque vivesse tão em função do presente.Ou porque sempre tenha achado o presente - um “presente de Deus”.Continuo achando, mas aprendi a valorizar o minuto seguinte como um

amigo consolador. Ele é aquele que vem falar que o futuro é esperança e mostra na suaproximidade que nossa capacidade de continuar é latente e renovadora em cada um delesque passa. Somos o resultado de infinitos minutos e cada um faz seu papel na nossatransformação evolutiva. Daí, dessa reflexão , aprendi a apreciar meu proximo minuto.Conto com ele para me lembrar sempre que toda dor vai se acalmando com sua chegada,e que só com ele a vida pode me trazer uma nova oportunidade de ser feliz.

Vera Bernardino

ReflexãoAqui, a torre Eiffel,um clone no alto do

prédio, ilumina acidade. A lua

diferente anunciameras passagens

do tempo queresvala entre os

dedos. Impressões,divagações

persistem enquantoa estrada existee é sempre um

convite a partir. (hl)

Poesi

a

"A lua anda devagar mas atravessa o mundo!" Mia Couto

Foto

: Léo F

igu

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edo

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Marlene Bernardes de Freitas GoulartMarlene Bernardes de Freitas GoulartUma mulher moderna antenada com os novos tempos

O recado especial de uma mulhercontemporânea, Marlene Bernar-des de Freitas Goulart, natural deUberlândia, Minas Gerais. Umacolecionadora e amiga que atra-vés dos anos permanece em nos-sas vidas com sua terna presen-ça. As lembranças da filha amo-rosa, da dedicada esposa, e damãe, avó e bisavó, exemplar. Danova moradia, no 13º andar, elacontempla a paisagem, o Fundi-nho e a cidade que ela ama comzelo. De presente para o FundinhoCultural, a sinceridade, a arte e acultura desta querida amiga.

Hélvio Lima

“Nós somos o que fazemos, massomos principalmente o que faze-mos para melhorar o que somos.”Eduardo Galeano

Uberlândia, a cidade onde nasci

“-Nasci na Rua Alexandre Marquez,no Bairro Martins, mas comemorei meuprimeiro aniversário na rua TenenteVirmondes, entre as avenidas JoãoPinheiro e Afonso Pena. Morei nesteendereço até me casar. Nesta casa,

à rua Tenente Virmondes, hoje se si-tua o Edifício Ubaldina Naves de Frei-tas, que é o nome de minha avó.Quando me casei morei em Araxá,durante 1 ano, depois voltei a Uber-lândia. Em Belo Horizonte permanecidurante 3 anos, acompanhando meumarido Luiz Ricardo Goulart, o Cadi-nho, naquela aventura política,quando ele foi Secretário de Indús-tria e Comércio do Estado de MinasGerais e presidente da Cemig. Cadi-nho era também violinista, compa-nheiro de Nicolau Sulzbeck. Doei parao Conservatório de Música Cora Pa-van Capparelli, 6 pastas de partitu-ras de música e métodos de exercí-cios de Cadinho. Ele era um excelen-te violinista, um artista nato. Guardocomigo o seu violino, uma peça dearte, que é registrada no Lutier, emSão Paulo. Gostaria que algum netomeu tivesse vocação para a música.Tenho 6 filhos, Rita Maria, Maria Inez,Isabela Maria, Maria Cristina, Luiz Ri-cardo Filho e Cirino Alberto. Tenho12 netos e 2 bisnetos, uma famíliamaravilhosa que na hora que nos reu-nimos enche a casa de alegria.Aos 75 anos, eu costumo dizer paraos amigos mais chegados que de ma-

PRIMEIRA PERDA...

PerfilMarília Cunha

Mesmo que a gente não se anime muito como Natal ele vai chegando devagarinho, comseus laços, músicas e desvios, cutucandolembranças que achávamos perdidas na me-mória. Muitos se passaram, desde a minhainfância, alguns difíceis de recordar, porquedolorosos e impróprios para crianças e emdesalinho com as festividades reinantes.Outros até engraçados e despropositados,como despropositada era a minha família.Alguns até felizes, se podemos dizer de feli-cidade o olhar brilhante de uma menina queganhou um presente há muito desejado eesperado. Certa vez pedi uma bicicleta. A esperaansiosa foi detonada por uma sapato e umalata daquelas de doce “4em1” (três erambons, um era horrível)... De outra feita ga-nhamos, eu e meus irmãos, um chicotinhode couro, vindo com a intenção de castigarartes infantis. Que eu me lembre, nunca foiusado. Havia Natal de mesa farta, castanhasvariadas, frutas diferentes, queijos importa-dos, tudo vindo de São Paulo, pois na terri-nha não havia muito o que explorar. De re-pente aparecia um Natal abortado, mesavazia, semblantes tristes, obrigação deacompanhar os pais à casa de pessoas ami-gas, onde a grama estava mais verde... Um Natal dos mais felizes da minha vidaaconteceu quando eu tinha uns oito anos. Eveio em forma de uma boneca, exatamenteaquela que eu vira na vitrine e sonhara terpor dias seguidos. Com emoção abri a cai-xa. Lá estava ela, a Bete (assim mesmo,abrasileirado) como a chamaria. Veio pela-dinha, com duas fraldinhas para troca, umamamadeira, uma chupeta e, maravilha dasmaravilhas, um peniquinho. A Bete mama-va e fazia xixi, uma coisa de louco. Tornou-se o meu encanto, minha paixão. Porquepaixão é assim, seja qual for o seu objeto,nos arrebata, toma de assalto, seduz e es-craviza. Era grande o compromisso que me pren-dia à boneca. Dava banho, fazia roupinhasde retalhos, alimentação de hora marcada,passeios, efusão de beijos e abraços quan-do eu ia para a escola e retornava, morta desaudades... Assim foi a vidinha de Bete, amenina de borracha que um coração mater-nal abrigara como filha. De repente a família resolveu viajar e de-cidiu ser impossível levar a Bete. O taxi erapequeno para tamanha lotação e uma caixade boneca seria demais. Cedi, talvez peloreceio das maldades que os primos levadosda breca poderiam impingir à boneca. Fo-ram férias de saudades, saudades da Bete.E alegria enorme ao voltar para casa, revermeu tesouro. Corri para o quarto, subi emuma cadeira, tirei a caixa de cima do guar-da- roupa. Decepção e dor. Não era mais aBete que estava ali. O sol traiçoeiro que ba-tia direto no móvel destruira a boneca. Mor-reu assim, entre lágrimas quentes e emoci-onadas de uma garota que amava muito eapaixonava-se com coração de gente gran-de. Era minha primeira grande perda. Umsonho esfacelado, sem culpas e desculpas. Lembro-me de Saramago, quando reflitoa força dos meus sentimentos: “Se tens co-ração de ferro, bom proveito. O meu fize-ram-no de carne e sangra todos os dias”.

Marília Alves [email protected]

Page 3: Jornal - Fundinho Cultural  Ed. 29

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nhã eu sou quase 100%, à tarde jádeu uma caidinha, sou uns 45%, e ànoite, se não tenho alguma coisa es-timulante, uma visita, algo que euprecise fazer, não chego nem a10%.(rsrsrs) Aprendi com minha mãe

a deitar-me e levan-tar-me muito cedo.Quando me casei, oCadinho era notívagoe eu custei a adap-tar-me. Depois, vocêtem filhos, passanoites sem dormir ea gente adapta-sede novo. Aos pou-cos, volto ao cos-tume antigo, dor-mindo com os bi-chos e acordandocom os bichos...

O bairroFundinhoem meucaminho

Eu estava pro-curando umapartamentopara comprar evim conhecereste aparta-mento ondemoro. Chegueiaqui, achei oapartamento

bom, mas muitoestragado, e fiquei um pouco desa-nimada. Mas, assim que saí na por-taria do prédio, vi o colégio onde es-tudei e estudaram meus filhos e ne-tos, a igreja para a qual ajudei a fa-zer campanhas, a Casa da Cultura, aBiblioteca, a minha irmã Darci quemora aqui perto, a praça... pensei: -“Estou em casa!” Voltei para um pas-sado muito gostoso e aí comprei oapartamento. Meus filhos dizem queeu comprei o ponto e acho que foiisto mesmo!!!E a vida está ótima aqui no Fundi-nho. Já sei que será uma ótima es-tada!

Amo a literatura!

Gosto muito de ler. Sou uma ávidaleitora. Leio tudo, leio autores es-trangeiros e nacionais. Ultimamentemuito me interessam os autores no-vos. A Patrícia Melo escreveu “Elo-gio à mentira”, que já está traduzidoem vinte países. O Ednei Silvestreque escreveu “Se eu fechar os olhosagora” já será traduzido em seis pa-íses. O Graciliano Ramos e o Guima-rães Rosa, para mim, são os melho-res. Vidas Secas é ontológico. O li-vro “São Bernardo”, a história de umafazenda e uma mulher, Teresa, meimpressionou muito. Já li quase to-dos os livros destes dois autores, mas

um livro que eu releio sempre é “OGrande Sertão-Veredas”, cada vezque eu leio descubro coisas novas.Tenho lido escritores estrangeiros,como Ken Follet que escreveu “Mun-do sem Fim” e faz romances históri-cos. Eu acho este autor fantástico,estou lendo-o e descobrindo.

É preciso fé!

Eu acho que tudo vai melhorar, ponhofé nisto! Em todas as épocas tem coi-sas muito difíceis, tem as promessas,mas a gente tem que fazer para istoacontecer, não é só esperar.Tem um pensamento do Eduardo Ga-leano que eu trabalhei para minhavida, que vale para a vida de todasas pessoas e eu gosto demais:

“Nós somos o que fazemos, massomos principalmente o que faze-mos para melhorar o que somos.”

“Seja o que Deus quiser!”, é sem-pre ou quase sempre a melhor deci-são que a gente toma e é uma solu-ção fantástica.

Uma pessoa inesquecível

Eu tenho que ci- tar os meuspais, AlbertoBernardes deAssis e Guiomarde Freitas Ber-nardes. Elessão exemplopara mim por-que são pes-soas que nun-ca ficaram àmargem de sim e s m a s .Pessoas coe-rentes, sim-ples. Eu atéinvejo a sim-plicidade que elesconseguiram na vida. Minha mãeera uma mulher que fazia tudo comas mãos, aprendia e transformavatudo, tinha curiosidade sem fim paradescobrir sempre novas técnicas deartesanato e adorava cantar, nãoposso ouvir até hoje algumas músi-cas que ela cantava, e ela fazia umavozinha de falsete nos agudos. Meupai era um artista nato, tocava to-dos os instrumentos, principalmenteo bandolim, o acordeon, a flauta e agaita. Ele adorava a música e insis-tia para a gente aprender. Dançavao Charleston e sabia sapatear. Imi-tava perfeitamente o Carlitos. O meupai era também um esportista, naminha casa tinha barras paralelas noquintal... São muitos os tipos ines-quecíveis em minha vida mas tenhoque escolher os dois, meu pai e mi-nha mãe, que se foram juntos em1978.“

Este texto de Marlene Bernardes de

Freitas Goulart é um relato doengajamento de Marlene Bernardes deFreitas Goulart e Luiz Ricardo Goulart,nas diversas ações pastorais da IgrejaCatólica, entre 1964 a 1980, no Movi-mento Familiar Cristão, com casais, noi-vos e jovens.

Comunidade de URU

Em 1965, Cadinho e eu, fomos convo-cados por um padre salesiano para ini-ciarmos um trabalho com jovens inte-ressados em aprofundar a fé cristã. Ra-pazes e moças, alguns já universitári-os, a maioria no colegial, com preocu-pações e anseios incomuns para a ida-de, nos motivaram para a tarefa deaprendermos juntos. Foi um tempo ini-gualável de conquistas em todos ossentidos. Nossa casa se tornou umasucursal da diocese. Com o aprofunda-mento dos estudos de textos bíblicos,documentos do Concílio Vaticano II ede uma visão crítica da realidade umgrupo de uns doze jovens se destacou,passando a desejar uma experiência devida mais radical, como dos primeiroscristãos. E então nasceu a Comunida-de de URU, palavra de origem tupi quedesigna uma ave ou um cesto de palhade carnaúba. Por que URU? No final de1970, um amigo doou ao grupo um pe-queno pedaço de terra perto da antigaparada de trem da Mogiana chamadaURU, lá na saída para Uberaba ou Ara-xá e, com a ajuda de outros amigos, foiconstruida uma sede para a comunida-de nascente. Alguns jovens já estavamformados, casados, profissionalmenteestabelecidos e decidiram colocar tudoem comum, impulsionados para um tes-temunho aberto e corajoso da fé emJesus Cristo. A novidade despertou mui-tos conflitos. Talvez por causa da épo-ca da ditadura, que não via com bonsolhos experiências comunitárias. Masaté mesmo dentro da própria igrejacatólica foram observadas reações ad-versas, porque essa vivência coletivachocava contra os princípios sociais vi-gentes. Numa sociedade corroída pelointeresse e egoísmos, qualquer propos-ta alternativa mais fraterna, só podiaprovocar reações e conflitos. Por fim,problemas também econômicos fizeramcom que a experiência chegasse ao fimem 1975. Não paro de louvar a Deuspor ter me permitido participar daque-les riquíssimos momentos. Espero quealguns dos outrora jovens de URU, hojeavós, vivendo aqui em Uberlândia, emGoiás e no Rio de Janeiro, ainda se dis-ponham a relatar a experiência tão inu-sitada e pioneira para a região na épo-ca. Seria um grande exemplo para a ge-ração atual, porque por trás daquelainiciativa havia anseios e sentimentosprofundos e, mais importante, jovens co-rajosos e decididos a mudar o mundo.

Marlene fotografadapela neta Camila

Adolescente Marlene, Cadinho e os pais

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Marília Cunha

Crônica de Natal

Marília Cunha

Ontem fui com uma amiga a uma instituição para idosose idosas, onde estava sendo realizado um lanche promovi-do por pessoas da comunidade. Eles eram por volta de 30internos e internas. O mais idoso, um senhor magrinho decabelos muito brancos, tinha 92 anos e a mais nova, umasenhora bonita e bem falante, tinha 64. Nenhum deles apre-sentava sinais de incapacidade severa. Alguns andavam comcerta dificuldade, apoiados em andadores, ou no braço depessoas que lá estavam para festejar ou para ajudar; unspoucos tinham deficiência visual ou auditiva, outros apre-sentavam leves sinais de demência senil: esquecidos, meioausentes, repetitivos.

Algo porém me chamou a atenção e comecei a conversarcom eles. No início tímidos e reservados, começaram de-pois a contar sua história de vida. Nada de rocambolesco,heróico ou excepcional: o comum para todos os que hojetêm essa idade: muito trabalho, dificuldades de várias or-dens enfrentadas para educar os filhos, ajuda aos filhos efilhas nos momentos difíceis, bela convivência nos “bonstempos”, sempre agradecendo a Deus pela proteção ebênçãos vida afora. Interessante: nenhum deles se autoproclamou “guerreiro” como é moda se dizer hoje. Os filhose netos, em geral bem sucedidos, muitos até com diplomauniversitário, são empresários, funcionários públicos, pro-fissionais liberais, trabalham nos mais diversos setores dasociedade. Alguns moram no exterior, outros em cidadesou estados fora; a maioria, porém, mora por lá mesmo,até pertinho do “abrigo”.

Em todos os idosos uma dor: a do abandono.Durante o longo ano, as visitas são raras, apressadas

ou inexistentes. Um telefonema rápido, talvez. A mais visi-tada, uma senhora de 71 anos, recebe duas vezes porsemana a neta de 20. A grande maioria relatou não podercontar com os filhos e netos para nada, pois todos são mui-to ocupados, têm seus compromissos, ou são muito impor-tantes. Ficam cansados, justificam. “E a senhora sabe, agente nessa idade sempre atrapalha...”

Porém os olhos, mais do que a voz, revelam um profundopesar, mágoa, decepção por se sentirem rejeitados, esque-cidos, privados da convivência com as pessoas que maisamaram e amam na vida.

Então chega dezembro, tempo de Natal e tudo muda:presentes inumeráveis: uma avalanche de chocolates, pa-netones, cremes, perfumes, sabonetes; camisolas, pija-mas... E alguns dias antes do dia de Natal, a festa: quefesta! Todos presentes, nenhuma ausência! Quanta comi-da, música, quantos abraços, beijos, manifestações ensai-adas, estereotipadas, de carinho; cartões, cartazes com pro-testos e juras de amor e gratidão, frases melosas, preces,prantos, justificativas; fotos, fotos e mais fotos para as maisdiversas formas de comunicação social: “olha vozinha, asenhora vai para o Face, que chique!” E a pobre avó, quenem sabe o que é isso, dá um sorriso agradecido de in-compreensão. Desfile de roupas bonitas, exibição, compe-tição mesmo de talentos e habilidades dos netos e bisneti-nhos, cantoria, até em inglês, vejam! E a narrativa de his-tórias, de fatos, festas, viagens maravilhosas de que osavós nem sonharam em participar. Algumas queixas tam-bém: dores, doenças, dificuldades financeiras, mil justifica-tivas; culpas lançadas aos outros pela grande ausência nodia a dia durante o ano inteiro. E o idoso recebe tudo issosorridente, sem cobranças ou queixas, às vezes sem en-tender direito. E a festa continua...

Terminada a comemoração (de quê, mesmo?) todos sevão, empanturrados, satisfeitos do dever cumprido, alivia-dos, com a caridade anual em dia, a consciência apazigua-da, prontos para comemorarem o NATAL.

(Esta história é apenas uma obra de ficção. Qualquer se-melhança com fatos ou pessoas da vida real, terá sido meracoincidência.)

Neuza Gonçalves Travaglia - Dezembro de ... 2010, 2011, 2012 ...?

Uberlândia – CapitalUberlândia – CapitalO coronel Carneiro dizia: “Isto aqui vai ser capital!” – Nãofoi, mas pensaram nisso.Por indicação de Floriano Peixoto, inseriram na primeiraconstituição republicana que a capital do país seriaconstruída no planalto central, ali pelas alturas da cidadede Formoso, Goiás.Se era apenas sonho, em 1911, cogitou-se realmente des-sa transferência para o miolo do sertão. O coronel Carnei-ro gastou pena e tinta de tanto escrever para os correligi-onários sugerindo que a escolha recaísse sobre a suaUberabinha. Não recaiu em lugar nenhum.Depois o senador estadual, Camilo Chaves, pelos fins dosanos 1920, pleiteou a capital federal para o pontal do Tri-ângulo. A constituição do ditador Getúlio Vargas esque-ceu-se disso, mas o sonho voltou com força na restaura-ção da democracia. Aí a coisa pegou fogo. Na Constituinte,o deputado mineiro Artur Bernardes sugeriu que, em vezde no planalto central, a capital ficasse no Brasil central. Oque ele quis foi estender a área de localização da capital.Outro mineiro, o Benedito Valadares, restringiu a área, masdeslocou-a do planalto central para o Triângulo. Vem outromineiro e restringe mais a área: que seja no Triângulo,sim, mas no pontal, como queria o Camilo Chaves.Aqui, e possivelmente em outros municípios triangulinos,os jornais lamentavam não ter nenhuma representação naConstituinte para brigar com unhas e dentes pela localiza-ção da capital no Triângulo.Eleito e empossado, Dutra nomeou uma comissão para es-colher um lugar para a construção da capital. Parecia queele estava com vontade. Diante da nova abertura, os mu-nicípios se expõem, cada um melhor que o outro, anima-dos com a possibilidade de serem escolhidos. Uns apon-tam para cá, outros para lá, o jornal “O Diário”, de BeloHorizonte, em 1946, sugere que a nova capital seja colo-cada em Uberlândia. Faz uma descrição rápida da cidade,indica as vantagens que a mesma já possui e as possibili-dades que ela carrega por sua localização, por sua estru-tura urbana, por suas condições topográficas. Nossos po-líticos, nossos líderes vão atrás. E pedem aqui e justificamali. Nossos jornais dão cobertura ao sonho da nossa gen-te e chegam ao cúmulo da confiança nas nossas qualida-des quando acham bom que outras cidades se candidatempara sofrerem a comparação. Como Uberlândia, não tinhaoutra.No fim das contas, os constituintes repetem a primeira cons-tituição: a capital iria para o planalto central mesmo. E oDutra não construiu a sede do país.Vieram outras eleições. Getúlio, durante a campanha, che-ga a dizer num de seus comícios que construirá a novacapital. Onde? Em Uberlândia! Novamente os sonhos sealvoroçam. Mas o governo do Getúlio foi conturbado e aca-bou do jeito que acabou. Veio o Juscelino com vontademesmo. Alguém soprou-lhe ao ouvido o nome de Uberlândiae isso chegou a mexer com as suas disposições. Mas nãoaconteceu nada. A capital ficou onde queria o Floriano láem 1889.

Jornais da época - Antônio Pereira da Silva

História

Page 4: Jornal - Fundinho Cultural  Ed. 29

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tributo

JEAN-PAUL MESTASCom grande pesar, registro nossa

despedida a um grande amigo pesso-al, um grande amigo da poesia e so-bretudo do Brasil, nosso país que eletanto amou.

Jean-Paul Mestas nasceu em Parisem 15 de novembro de 1925, onde veioa falecer em 24 de novembro de 2013.Viveu em Nancy e Vichy, voltando aParis em 2010. Graduou-se em Letrase em Ciências Políticas. Foi professorde Literatura Romena, na Sorbonne,até aposentar-se. Em 1949 iniciou apublicação de sua poesia na revistaJanus. A partir dos anos cinquenta, pro-curou conhecer a poesia latino-ameri-cana, sobretudo a do Brasil e Uruguai,dos países do Leste europeu e da Ásia,além daquela de Portugal e da Grécia.Publicou ensaios sobre a obra de vári-os autores, franceses como CharlesPéguy , e de outros países, como Yan-nis Ritsos, Nichita Stanescù, Mara Gui-marães, Marguerite Grépon. Em 1977,com a pintora Christiane Mestas, fun-dou os cadernos de poesia “Jalons”,os quais se encerraram em 2009, como número 95, em cuja coleção traduziu

e publicou mais de 50 poetas brasilei-ros. Mestas é autor de quase uma cen-tena de obras publicadas em sete pa-íses, sobretudo de poesia e ensaios,com poemas seus traduzidos em maisde vinte idiomas.

Foi com grande surpresa que rece-bi, em 2004, do grande ensaísta por-tuguês Joaquim de Montezuma de Car-valho uma cópia do ensaio do poetaluso Cristino Cortes, publicado no su-plemento do grande diário “O Primeirode Janeiro”, da cidade do Porto [Povose Poemas, um assombro de informaçãoe gosto ! ... Suplem. Das Artes Das Le-tras, 1º mar. 2004, pp. 16-17] em queo autor dá notícia de seu levantamen-to das antologias (livros e livretos) or-ganizadas por Mestas, em que o poe-ta brasileiro mais incluído e mais tra-duzido é o Aricy Curvello. Não bastas-se isso, Mestas organizou um livro bi-língue (Port./Francês) com meu poemamais longo “O Acampamento”, ensai-os do grande crítico Fábio Lucas e dosescritores Nicodemos Sena e Dilerman-do Rocha, lançado por Les Presses Lit-téraires em 2006.

Serra, 8 de Agosto de 2006

Caro Jean-Paul,Estimo que você e Chris estejam bem de saúde e em paz.Recebi sua carta em que acusa haver chegado a suas mãos os 2 exemplares

do jornal “Vaia”, comemorando o 1º centenário de nascimento do poeta gaú-cho Mário Quintana (1906-2006). Fiquei sabendo que ele e o senhor seu pai,Mestas, nasceram no mesmo ano. Espero que tenha gostado de meu texto so-bre o poeta, “As torturas lentas da expressão”.

Hoje, envio-lhe o recorte da coluna “Diversos Caminhos”, do Zanoto, do diá-rio “Correio do Sul”, da cidade de Varginha (Minas Gerais), de 15 e 16 de julhode 2006, 1º caderno, página 4. Eu havia remetido a ele um exemplar de “UmMundo no Coração/ Um Monde au Coeur” e agora ele publicou uma simpáticanota, mencionando você e incluindo a foto da capa do livro, bem como trans-creveu o meu poema “Fluir”. Para os seus arquivos.

Rosani Abou Adal fez-me uma excelente surpresa. Estampou na capa do “Lin-guagem Viva” um bom artigo do escritor Dilermando Rocha a respeito de “OAcampamento”, com minha foto, na sua edição de Julho deste ano. Aqui segueum exemplar.

Também segue um exemplar da bela revista “O Escritor” nº 112, de SãoPaulo, março de 2006 , da União Brasileira de Escritores, trazendo nas páginas90 e 91 o mesmo artigo do Dilermando Rocha (ex-professor do Centro de Estú-dios Brasileños e da Universidad El Salvador, de Buenos Aires, e residindo noBrasil hoje). A foto da capa do livro editado por Presses Littéraires permiteclaramente ver o seu nome, Jean-Paul.

Como uma lembrança para você e Chris, deste seu amigo, remeto-lhes qua-tro postais que foram agora editados com fotos de telas do artista plásticoHélvio Lima, que compôs toda uma série delas (“O Chão que a gente pisa”), 11ao todo, aplicando sobre cada uma versos de minha autoria. As 3 primeirastelas receberam o 1º lugar (Medalha de Ouro) no Salão Internacional de Brasília,do Proyecto Cultural Sur, em 2001.

Com a estima e a admiração do Aricy Curvello

ViagemAne Walsh

Buyukada uma das ilhas dosPríncipes, no Bósforo, onde pareceque o tempo parou no século XIXporque não transitam carros aí.

Mesquita Azul

Grécia

Grécia

Lupin

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Crônica de dezembroTodo mundo brinca de domingarO dia é azulE pensa que é cinzaFugi atrás do verde.E descobri que é dia primeiro. Éhora de comemorar tudo como se opróximo ano exigisse: só chega, secriarmos um clima, um estado deencerramento de etapas, conquis-tas ou derrotas, de ciclos buscados,mexidos ou caídos em nossa vida.Ainda não fiz minha árvore, nemmeu presépio. Estou atrasada?-Como eleger este estado comemo-rativo dentro de mim?Resolvi, mais um ano, fazer umareflexão. E olha o que veio:- O que foi pensar em grupo?- O que foi agir em grupo?Insisto:- o que é consciência gru-pal?Vi que o outro era outros e que cadaum é um e eu tinha de ser muitaspara minha busca acontecer, cami-nhar e virar um corpo. Aprendermais ainda que tudo pode ter vári-as faces, vários olhares, muitaspossibilidades de ser, e vir a ser...Quantas vezes esperar o tempo dooutro, ceder para o outro, lembrar-me da justiça na hora do discerni-mento, ter firmeza na hora da ati-tude!Reconhecer que o outro oferecetambém-aquilo que tem e percebe.Foram tentativas de um aprendiza-do que me vêm visitando a consci-ência com flores, lágrimas e alegria!E olha o que veio no fim da tardecom uma leitura meditativa no li-vro “A eterna busca do homem deParamahansa Yogananda:“Um pouquinho de tristeza, um pou-quinho de prazer, um pouquinho depaz não podem criar qualquer tu-multo no oceano da bem aventuran-ça, sempre nova que inunda minhaalma”.E veio mais: um sentimento de gra-tidão. É para continuar aprenden-do...O Natal vem no dia 25, trazendo umnascimento de esperança para ou-tros projetos, vida diferente, umaviagem, um filho, um emprego, umamor, um diploma, um sucesso, po-der comprar uma casa, uma apo-sentadoria, uma cirurgia esperada,um outro curso, mais um objeto deconsumo, um desejo qualquer, umasonhada paz, um pouco, talvez, detempo...

Então, Feliz Natal nos nossoscorações,

Feliz Encontro com 2014!

Lourdinha Barbosa - Escritora Poeta

e Terapeuta Floral

LiteraturaFundinho Cultural

traz versos de Manoel de Barrosextraídos dos seus livros:

LIVRO SOBRE O NADAe O LIVRO DAS IGNORÃÇAS

“No Tratado das Grandezas do Infinitoestava escrito:Poesia é quando a tarde está competentepara dáliasÉ quandoAo lado de um pardal o dia dorme antes.Quando o homem faz sua primeiralagartixaÉ quando um trevo assume a noiteE um sapo engole as auroras.”

“Passa um galho de pau movido aborboletasCom elas celebro meu órgão de verInclino a fala para uma oraçãoTem um cheiro de malva esta manhã.”

“A ciência pode classificar e nomear osórgãos de um sabiámas não pode medir seus encantos.A ciência não pode calcular quantoscavalos de força existemnos encantos de um sabiá.

“A lua faz silêncio para os pássaros,_eu escuto este escãndalo!Um perfume vermelho me pensou.(E u contamino a luz do anoitecer?)”

Lourdinha Barbosa, escritora, poeta,terapeuta floral

Gente do Fundinho

Pelo esplendor do sol,

pela suavidade da lua,

pela preciosidade das estrelas,

pelas nuvens, geradoras da chuva,

pela fertilidade da terra,

pelas riquezas dos oceanos e rios,

pela pureza do ar,

pela utilidade do fogo,

pela beleza do reino mineral,

pela existência dos animais,

pelo verde das plantações e florestas,

pela inteligência do ser humano,

pela perfeição do universo,

pelo dom da vida,

obrigada, Senhor!

Terezinha Maria Moreira

Ação de Graças

Ana Luiza Borges 16, aluna do Colégio Estadual

de Uberlândia, filha de Fernando e Zilda, neta do

Badeco e Maria Aparecida Oliveira

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Em setembro assisti a uma palestra do cirurgião buco-maxilar Ricardo F. Murtaque atende no SUS de Betim. Saí impressionado com sua apresentação. Durantequase duas horas o competente dentista de um modesto centro odontológicomostrou os casos tratados por ele recentemente, desde a entrada da vítima nohospital até a cura, dias ou semanas depois. Fotos coloridas da região atingidailustraram a apresentação daqueles traumas chocantes, oriundos de quedas,atropelamentos, doenças ou outras causas. Com paciência e didática, opalestrante explicou os procedimentos adotados em cada caso, nos fez viajarcom ele pelo processo de cura de cada paciente, geralmente crianças que, aindaindefesas, são mais propensas a machucar a boca. E o mais marcante, todo otratamento foi feito à base de extratos de plantas medicinais, nada dos antibió-ticos ou anti-inflamatórios comerciais. Uma verdadeira revolução para os atuaispadrões de tratamento praticados no Brasil. Para não falar da economia feitacom a compra de medicamentos.

Acostumados que estamos com remédios alopáticos, é difícil acreditar que asprateleiras da farmácia do SUS de Betim contenham também frascos bem emba-lados com extratos de quinze plantas medicinais. Tanchagem, romã, calêndula,arnica, barbatimão, cavalinha, melissa, capim limão, maracujá, guaco, alecrim,alho, camomila, espinheira santa e boldo são usados no tratamento de diferentesmales como amidalite, faringite, gengivite, estomatite, aftas, queimaduras, con-tusões, uretrites, crises nervosas, melancolia, histerismo, flatulência, ansiedade,tosse, bronquite, asma, rouquidão, hipertensão, gastrite, cólicas hepáticas, dis-túrbios digestivos, hipercolesterolemia, arterosclerose, etc. No pós-operatóriode cirurgias bucais, barbatimão e calêndula se destacam como excelentes anti-inflamatórios e cicatrizantes da mucosa orofaríngea. De alguns traumas tratadoscom eles nem marcas restaram, um verdadeiro milagre!

Pensando bem, eu não deveria ter ficado tão deslumbrado assim, até certoponto vivi essa realidade da medicina baseada em plantas medicinais quandocriança. Meu pai tinha a bíblia sobre o assunto: A Flora Nacional na MedicinaDoméstica, de Alfons Balbach. Suas receitas eram utilizadas quando necessário.Nos quintais daquela época, ao lado das verduras, havia sempre algumas planti-nhas medicinais. Os vizinhos socorriam uns aos outros na carência de algumadelas. Que me lembre, até minha adolescência só tomei antibiótico uma únicavez, a temida injeção de penicilina, para combater uma febre que não cedia como passar dos dias. No entanto, diuturnamente, era com chás e unguentos à basede plantas medicinais que se tratavam as doenças. Detestava chá de arruda,mas tinha que tomar quando era atacado pelas lombrigas.

O caso de Betim não é único, desde 2010 o SUS tem prestigiado oficialmente amedicina baseada em fitoterápicos do programa Farmácia Viva. Esta é uma boanotícia e mereceria ser divulgada com destaque pela grande mídia, que insiste emtransmitir preferentemente notícias ruins e violentas, as quais, definitivamente,não despertam os valores mais nobres do ser humano. A Farmácia Viva é umprograma completo que vai desde o plantio de plantas medicinais até a distribui-ção do extrato na rede pública credenciada. Cada etapa do processo conta coma supervisão de um especialista da área. O governo federal apoia, vários estadostambém, e, em Minas, cento e trinta e cinco prefeituras já aderiram, Uberlândiainclusive. Adesão significa financiamento e assistência técnica.

A Farmácia Viva não pretende substituir os medicamentos alopáticos, ela seinsere dentro das Práticas Integrativas Complementares do Ministério da Saúde,ao lado da acupuntura e outros tratamentos. Isso é muito saudável, o brasileirotem tomado remédios alopáticos em excesso, sem se preocupar com os nefastosefeitos colaterais, que vão além da saúde, atingem também o bolso.

Não devemos nos desanimar e deixar de lutar por um mundo melhor do queeste que está aí. A indústria farmacêutica é poderosa, movimenta quase cinquentabilhões de reais ao ano no Brasil, certamente seus donos não gostam de ouvirfalar de extratos de plantas medicinais e farão tudo para evitar que se populari-zem como antigamente. Será em vão, um mundo alternativo já está em constru-ção, as pessoas mais conscientes têm atuado em todas as frentes para construiruma sociedade melhor. O trabalho é ciclópico e lento, pois envolve mudançacultural, mas a cada ano que passa novos contingentes da população abraçamas boas causas. O novo já se vislumbra no horizonte.

Evandro Afonso do Nascimento

Grupo de Produtos Naturais - Instituto de Química - UFU

Farmácia VivaÉ tão prático sair do supermercado e largar o carrinho na vaga do carro ao

lado, como se ninguém fosse chegar para estacionar ali. E basta um carrinhoatrapalhando para que os demais clientes imitem, mesmo que a distânciaentre o carro e o lugar onde o carrinho não atrapalhe (de preferência o lugarcerto), seja de cinco passos. Vagas para pessoas com necessidades especi-ais ou idosos são tão respeitadas quanto não falar ao celular dirigindo. Ouseja, adesão zero. E a faixa de pedestre? Quem respeita?

Outro dia meu filho, que está tirando carteira de motorista, comentou quemesmo se o pedestre atravessar fora da faixa ou no sinal vermelho, a priori-dade é dele. Ao que respondi: “claro, pois o contrário disso é o atropelamen-to”. Coisa mais pavorosa do mundo deve ser atropelar um pedestre, umciclista, um motociclista. Pior que isso, só ser atropelado.

Numa tarde de domingo parei antes da faixa de pedestre para esperar umagalera de skate atravessar. Vários garotos, com idades entre 12, 15 anos.Eles pareceram tão surpresos por serem vistos e ganharem a prioridade, quequase todos me agradeceram. Esperei até o último, que ainda estava longe,mas que apressou o passo e passou sorrindo e acenando. Eles, assim comonós, não estão acostumados com o respeito ao pedestre. Mas gostaram. Eutambém não estou acostumada com garotos rebeldes andando em bando ese portando com toda educação. Mas gentileza gera gentileza. Por ser maisvelha que eles, vejo os adolescentes de nossa cidade um pouco como filhos.E acho que a cidade deveria ser como o quintal de todas as casas. Um lugaragradável, seguro, onde cada um cuidasse da limpeza, dos animais, dasplantas e pessoas que nela circulam. Pessoas de boa educação proporcionampaz, segurança, alegria. Uma vez uma velhinha, ao atravessar a faixa depedestre, sorriu e me jogou um beijo. Quase saí do carro pra retribuir ocarinho. Em uma viagem recente, ao passar pelo detector de metais doaeroporto de Belo Horizonte, cumprimentei uma mulher da segurança queestava a postos, porém invisível para 99% dos passageiros: bom dia, querdizer, boa tarde, não sei se já passou do meio dia, disse eu. E ela, num sorrisoimenso, respondeu: tanto faz a hora, o mais importante foi seu gesto deatenção e eu agradeço por isso.

Não sou candidata à miss boas maneiras, sou bem impaciente e fluente empalavrões. Mas fui educada para respeitar e, consequentemente, ser respei-tada.

Mas as relações interpessoais, andam tão mal encaminhadas, que noscolocam em situações de risco, como esta que me vem à lembrança. Depoisde esperar uma brecha para poder trafegar numa avenida da cidade, fuisurpreendida pela buzina de um carro que chegou bem depois de mim, e quetinha espaço de sobra para continuar sua rota. Levei um tremendo susto, etambém buzinei de volta, sem nem imaginar quem era o motorista. O rapaztinha vinte e poucos anos, e passou a me perseguir, buzinando, xingando e,detalhe: arremessando diversas vezes o carro dele sobre o meu. O que maisme impressionou foi ver que aquele garoto tem idade para ser meu filho,portanto também tem uma mãe da minha idade. Estaria ele reproduzindocomigo os (maus) tratos que dá a ela? E se eu fosse um rapaz? Teriaapanhado ou fugido?

Aturdida enquanto ele emparelhava o carro com o meu novamente, paracontinuar os insultos, eu olhei praquele rosto transtornado e falei com firme-za: “foi um prazer te conhecer”. Parece que nessa hora a ficha dele caiu.Que papel horrível estava fazendo para se impor. Então ele parou a persegui-ção e fez o retorno para continuar seu caminho. Só então eu notei que elehavia saído da sua rota apenas para brigar – e com uma mulher. É claro queessa não terá sido a última briga de trânsito da vida dele, nem da minha. Masse a lembrança dele ficou para mim como o auge da falta de respeito, esperoque para ele a minha lembrança traga vergonha. A falta de educação leva aoódio e, com ele, a violência – essa doença brasileira.

Para suavizar esse clima que acabou pesando, termino agradecendo suacompanhia por essas linhas. E vamos passar no teste de respeito aos pedes-tres e às vagas de supermercado!

Stela MassonJornalista, assessora de marketing e imprensa

“Foi um prazer te conhecer”

MomentoO sabor de esperarÀs vezes a gente é surpreendido por pensamentos-borboletas...Esses que pousam na cabeça de vez em quando, depois vão embora.

Estava pensando em como tudo se tornou instantâneo. Você aí, eu aqui, e a gentepode se falar com um simples e-mail que chega numa fração de segundo, não? Um clicno mouse e pronto. O mundo ganhou velocidade... sim, mas acho que perdeu algumacoisa. Lembra do tempo das cartas? Cada pessoa tinha o seu jeito de escrever, umaletra que era só dela, era uma marca, uma identidade. E que delícia era receberaquela carta e reconhecer a letra de quem a gente gosta, com direito a rabisquinhose desenhos. Dobrar o papel, colar o envelope, levar ao correio... eesperar... esperar... esperar... às vezes duas semanas para receber a carta-respos-ta. Perdíamos tempo? acho que não. Ganhávamos expectativa, emoção, imaginação,sonho... e o sabor de esperar. A gente tá vivendo um tempo em que tudo é rápidodemais, instantâneo demais. Então perdemos a capacidade de observar o movimen-to da vida em sua harmonia plena e em sua beleza singular.

E pra tirar fotos com aquelas máquinas analógicas... a gente comprava um filme de12, 24 ou 36 poses (aqueles rolinhos pretos). Tinha de escolher bem o que fotogra-far, clicar com cuidado pra não perder a foto. Quando terminava o filme, era precisorebobinar e levar pra revelar. Buscava só no dia seguinte. Escolhia as melhores fotospra colocar no álbum. E quem faz álbum hoje? Uma máquina digital nos permite tirarmais de mil fotos com um chip. Descarregamos tudo no computador e depois tiramosoutras mil fotos. Fotografamos então qualquer coisa. O que não ficou bom é só dele-tar. Fácil, não? O problema é que ficamos tão encantados com esse novo verbo, quesaímos por aí deletando tudo: as coisas e as pessoas.Certa vez fizemos uma viagem de trem (irmãos, amigos...). Ele, o trem, saiu dasmontanhas de Minas em direção ao mar. Foram 18 horas serpenteando o Vale do RioDoce - janelas abertas para os arvoredos, para o pôr-do-sol e para o revoar dasgarças sobre as várzeas. Não sei se essa linha ainda leva gente; me disseram que sópasseiam coisas: minério de ferro, carvão, combustível, coisas assim. Afinal (devempensar), pra que ficar balançando por 18 horas sobre os trilhos se um avião nos levapara o mesmo lugar em apenas uma hora? A questão é que hoje importa chegar, nãoviajar. Acontece que para nós, mineiros, amantes dos velhos trens, o mar acabaperdendo um pouco do sal quando nele se chega sem viajar, não é verdade?Definitivamente: ganhamos velocidade para tudo, mas perdemos o encanto de veras coisas acontecerem devagar, como o lento abrir de uma rosa, o erguer silenciosoda lua pela noite escura, ou ainda o cuidadoso entrelaçar dos gravetos de um ninho.Não temos mais olhos para nenhuma coisa pequena, nem paciência para o que de-mora. Na hora do almoço, engolimos a comida em 15 minutos com a TV ligada e aindapensando na agenda da tarde. Esquecemos de como se faz uma coisa de cada vez ede estar inteiro em cada coisa que fazemos. Perdemos o paladar, perdemos diaria-mente a chance de apreciar o sabor de cada alimento que nos fortalece o corpo. E...que pena, já estamos perdendo também aquilo que nos ensinaram quando pequeni-ninhos e que nunca deveríamos ter esquecido... nunca: agradecer ao Papai-do-Céupor tudo.Enfim, já não sabemos mais como é o sabor de esperar: esperar a revelação dofilme... a resposta da carta... o encontro com o mar. Ganhamos tempo?... Não, nãocreio. Nós o perdemos. Perdemos o tempo, o trem e a poesia.

(Alexandre Heilbuth)

Foto: Léo FigueiredoFoto: Léo Figueiredo

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Pertinho do Praia Clube

O Pequeno Príncipe e o bairro FundinhoA história estuda a vida do homem ao longo do tempo. Ela

serve para analisar o que os indivíduos fizeram, pensaram ousentiram enquanto sujeitos sociais. Essa prática não busca ape-nas reconhecer a diversidade de olhares possíveis sobre o pas-sado, mas quer entender mais a respeito de tudo em uma deter-minada época.

Um dia desses, enquanto eu e minha filha, Pamella Sophia,passeávamos pelo bairro Fundinho tive a sensação de que, aocontemplar as antigas residências agregadas nesta região, volteiao passado quando era uma menina de dez anos que ia e vinhacirculando por esses lugares com a infindável curiosidade sobreas pessoas e os contextos de cada edificação histórica do lugar,uma indiscrição análoga a de um conhecido personagem do livroescrito por Antoine Saint-Exupéry: “O Pequeno Príncipe”.

Disso, minha querida (e tão mais curiosa que eu) Pamella sor-riu e disse que eu estava “viajando acordada, sonhando com osvelhos tempos”. Mas, na verdade, comecei a relacionar de ma-neira quase metódica o contexto da obra de Saint-Exupéry com ocenário histórico do Fundinho. O que isso significa?

Bom, o principezinho sou eu e todas as pessoas que amam oFundinho ou já tiveram alguma relação de vivência com este lu-gar. Esse espaço é igual ao planetinha do Pequeno Príncipe, algosomente dele, ou seja, subjetivo como o mundo que cada um criapara si. O Fundinho possui essa perspectiva na vida de quemmora lá, trabalha, estuda ou simplesmente passa por ele. Contu-do, a cada casa, edifício ou praça que vai-se percorrendo o sen-timento é único para cada um. Ao longo da história de Uberlân-dia, esse bairro representado através de pessoas e movimentospolíticos, culturais, entre outros, criou uma personalidade autên-tica.

O personagem do livro não é nada mais que a personificaçãoda infância do próprio escritor e que busca mostrar como é im-portante manter um pouco de inocência e curiosidade ao direcio-nar o olhar a lugares tão especiais como os que se localizam noFundinho.

Dessa forma, o garotinho da história faz amizades facilmentecom vários personagens de perfis bastante peculiares durantesua viagem, assim como quem passa pelo Fundinho tem a opor-tunidade de interagir com os protagonistas de diversas persona-lidades, estereótipos e ocupações, peças fundamentais que com-põem o cenário autêntico desse lugar.

Portanto, conforme a sabedoria expressa pelo Pequeno Prínci-pe em um dos trechos do livro: “O essencial é invisível aos olhos”,a produção de histórias do bairro Fundinho semelhantes ou nãoàs da obra de Antoine Saint-Exupéry são construídas constante-mente há mais de cem anos por múltiplas vozes e perspectivas,variados suportes e documentos, e isso contribui com a criaçãodo conhecimento histórico, principalmente, no âmbito da socie-dade de maneira geral e com isso, marca a identidade deste lo-cal. Janaína Naves - Jornalista.

A cena gastronômica, propulsora da boa mesa e boa bebida, tem di-fundido e incentivado a procura pelos cafés de qualidade. São consu-midores atentos e interessados na degustaçãode cafés. A mídia, porsua vez, tem trazido à baila o assunto, explorando o tema.Na última década, ocorreu um período dinâmico para o mercado doscafés no Brasil. Vimos surgir as aconchegantes cafeterias cada vezmais especializadas,bem como algumas novas profissões aliadas aosegmento, tais como os Baristas,“CoffeesHunters”,“Q.Graders”,dentre outras . O crescente interesse do público por cafés finos, espe-ciais, gourmet revela aquecimento do setor. Acompanhando esse novocenário, os Cafeicultores e Produtores brasileiros lutam, dia a dia, pelaaquisição das Certificações de Excelência em busca de práticas corre-tas do solo, de políticas sócio ambientais da ética e do comércio justo.Por fim, a busca por selos que atestem o percurso do café do plantio àxícara passando pelo rigoroso processo de beneficiamento. Em meio a tantos fatores, existe um que, atualmente, é destaque noscenários nacional e internacional: a origem do café. A qualidade ecaracterísticas sensoriais dos cafeeiros (plantações) se baseiam, nota-damente nos seus terroirs, vocábulo hoje muito utilizado nos meios eambientes de cafés, objetivando associação do produto à sua origem.Terroir costuma ser definido pelos especialistas como sendo um terri-tório onde a geografia, a geologia e o clima interagem favoravelmentecom a genética de determinada planta, resultando num produto dequalidade excepcional. Os produtores de vinho, no mundo inteiro, jáusam tal conceito há milênios e, hoje, tomamos emprestada a termi-nologia para atribuir a outros produtos agrícolas, como chá, chocolatee azeite. O que é produzido em um terroir ganha direito de ter umaDenominação de Origem (DO) o que valoriza sua qualidade e preço. Oterroir influencia as características de sabores. Alguns cafés ganhampredominância de acidez alta ou moderada. Outros, de sabores amen-doados, de florais ou, marcadamente frutados, caramelizados, acho-colatados. É, portanto, essa espécie de “carimbo”, de marca que ates-ta sua qualidade e que está vinculada à cultura e a história do local quea detém.Felizmente, o Brasil acordou para a busca e valorização dos cafés dealta qualidade e sabores singulares.Em se tratando do setor cafeeiro, a primeira Indicação de Procedência(IP) obtida no Brasil foi a região do Cerrado Mineiro, conquistada em2005, após dez anos de árduo trabalho. Assim, a conquista tornou-seum marco na história da cafeicultura nacional e referência para asdemais regiões brasileiras que, atualmente, lutam por suas IndicaçõesGeográficas (Igs).O registro ajuda a reconhecer a importância de nossa microrregião e aprotegê-la. Outros benefícios conquistados referem-se à promoção dedesenvolvimento sustentável e transformação conceitual e qualitativada região. A do Cerrado ganhou distinção e notoriedade. Houve aumento dasexportações em 50% de ágio no mercado americano, europeu, japo-nês e australiano. No aspecto social, a obtenção da Indicação de Pro-cedência, do Café do Cerrado Mineiro, promoveu e promove a cadeiaprodutiva do café, estimula a fixação do homem na terra,contribuindocom acrescente e ambiciosa qualidade da bebida. Então? Que talde-gustar a singularidade de nosso café com mais entusiasmo e orgulho?

Caprice Cerchi Borges- Apreciadora de Cafés, Q. Grader pela SpecialtyCoffe-eAssociationofAmerica ( SCAA), Torrefadora.

PesquisaCafé de origem:Sabores e Sentidos

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MinicontoDjanira PioMirava-me no espelho com imenso prazer:éramos cúmplices.Ele devolvia a imagem que eu tinha demim, nos respeitávamos.Depois ele foi se estragando. Limpei-o comálcool, tratei-o com desvelo, mas não pen-sei muito nele. Foram muitos os chamadose o tempo foi fazendo sua vez.Um dia suspirei e voltei a ele. Lá estavameu antigo espelhinho, maltratado e qua-se desnecessário, eu trazia na memória aminha imagem.Ao mirar-me nele houve um incidente: oespelho refletiu desdenhosamente umaoutra pessoa. Estranha e inexata. Afastei-me e voltei. A mesma coisa se deu. Lá es-tava aquela estranha usando meu lugar noespelho. Ele trocara o meu afeto de ma-neira silenciosa. Então atirei nele o únicopresente que ganhara em toda a vida: umaescova de cabelos.Ao ser atingida, a estranha fez mil caretasdolorosas e o espelho traidor se estilha-çou.Eu não preciso dele mesmo, já me conhe-ço. Eis-me aqui, sem nenhuma necessida-de de espelhos traidores, aceitando o quefor necessário aceitar.Do livro de minicontos O Tamanho da Vida -

Djanira Pio

O Tamanho das Pessoas...Os Tamanhos variam conforme o grau deenvolvimento... Uma pessoa é enorme parati, quando fala do que leu e viveu, quandote trata com carinho e respeito, quando teolha nos olhos e sorri. É pequena para tiquando só pensa em si mesma, quando secomporta de uma maneira pouco gentil,quando fracassa justamente no momentoem que teria que demonstrar o que há demais importante entre duas pessoas: aamizade, o carinho, o respeito, o zelo eaté mesmo o amor Uma pessoa é gigantepara ti quando se interessa pela tua vida,quando procura alternativas para o seucrescimento, quando sonha junto contigo.E pequena quando se desvia do assunto.Uma pessoa é grande quando perdoa,quando compreende, quando se coloca nolugar do outro, quando age não de acordocom o que esperam dela, mas de acordocom o que espera de si mesma. Uma pes-soa é pequena quando se deixa reger porcomportamentos da moda. Uma mesmapessoa pode aparentar grandeza ou miu-deza dentro de um relacionamento, podecrescer ou decrescer num espaço de pou-cas semanas. Uma decepção pode dimi-nuir o tamanho de um amor que pareciaser grande. Uma ausência pode aumentaro tamanho de um amor que parecia serínfimo. É difícil conviver com esta elastici-dade: as pessoas se agigantam e se enco-lhem aos nossos olhos. O nosso julgamen-to é feito não através de centímetros emetros, mas de acções e reacções, de ex-pectativas e frustrações. Uma pessoa éúnica ao estender a mão, e ao recolhê-lainesperadamente torna-se mais uma. Oegoísmo unifica os insignificantes. Não é aaltura, nem o peso, nem os músculos quetornam uma pessoa grande... é a sua sen-sibilidade, sem tamanho... William Shakes-peare .Suami Portinhal - facebook

Gente do Fundinho

"-O meu marido tinha uma fazendaem Itumbiara, uma loja de secos emolhados, que a gente chamava de“venda” de gêneros alimentícios eoutras mercadorias. Depois vendemostudo lá e nos transferimos para cá.Os meus pais também vieram de mu-dança para cá e moraram nesta mes-ma rua onde viveram muitos anos.

Estudei interna no colégio NossaSenhora das Lágrimas em Araguari,de onde só saí para casar-me. No ci-nema, em Itumbiara, conheci o na-morado que se tornou meu marido, oQuinzote. Em vez de continuar osmeus estudos minha mãe orientou-me a fazer meu enxoval.

Tenho três filhos que são uns amo-res. Elizabeth, que é esposa do Regi-naldo Guimarães, mora em São Pauloe é uma artista plástica. Bernadeteque também é artista plástica, moraaqui em Uberlândia e é esposa do Aride Souza. As minhas filhas são muitohabilidosas em tudo o que fazem. OFrancisco, meu caçula formou-se emengenharia, mora em São Paulo e écasado com a Heloísa. Não podemosmais nos reunirmos aqui em casa por-que a família está muito grande e todomundo tem os seus afazeres. Mas osmeus filhos sempre vêm aqui e sehospedam comigo.

Sempre morei no Bairro Fundinho eamo morar aqui, onde tenho ótimasamizades. Sou vizinha da Valdomiraque é prima do Quinzote, somos óti-mas amigas de gritar prá lá e prá cácontando as novidades. Ela tambémjá não tem mais o Hélio, como eu quejá estou viúva faz algum tempo. Gostomuito da decoradora Moabe, minha

Nisa Morais Macedo

Nisa Morais Macedo é natural de Santa Rita do Paranaíba, hojeItumbiara, no Estado de Goiás. Veio morar em Uberlândia, e no BairroFundinho, na Rua Coronel Manoel Alves construiu sua casa e se insta-lou com o seu esposo Joaquim Custódio Macedo, o Quinzote, que fale-ceu há quinze anos. No Bairro Fundinho criou os seus filhos em felizconvivência com os amigos e vizinhos, estabelecendo uma relação deamor com o Bairro. Alegre e bem humorada, dona Nisa, taurina, de 9de maio, com uma voz notável, adora cantar e dançar. Já fez parte docoral da capela Nossa Senhora, acredita que vale a pena ser otimistasempre, e a felicidade é viver de bem com a vida.

vizinha e amiga.Acho que o Fundinho se desenvol-

veu muito! Quantas coisas não exis-tiam no bairro e que hoje existem!Hoje há um grande movimento poraqui, mas todos os vizinhos sempreforam muito bons conosco. Éramosmuito amigos do senhor Juca Ribeiroe dona Nídia, primos do Quinzote, quemoravam na esquina da Rua Bernar-do Guimarães com a Rua Cel. ManoelAlves. O senhor Juca Ribeiro doou oterreno para a construção do antigoestádio de futebol. A Berenice Car-neiro é uma ótima amiga que eu te-nho e que já não mora mais aqui noFundinho e hoje mora em Caldas No-vas. A Helena Marquez e a donaDuquinha são também queridas ami-gas. Cantei no coral da igreja juntocom a Sônia, a Bernadete e a Tere-zinha.

Graças a Deus tenho sido feliz etudo foi muito bom para mim. As coi-sas sempre correu muito bem em meucaminho. Nunca me faltou nada, tiveaquilo que pude, sou controlada di-ante da vida com os meus ótimosfilhos e inúmeros netos e bisnetos,que fazem a minha vida ser cada diamais feliz.

Gosto muito de ler. Estou termi-nando de ler “Conversando com Nos-tradamus” e o próximo livro é “Emo-ções do divã”, de Eduardo Mascare-nhas. O livro que mais gostei foi “Omelhor de Aghata Christie”. Dos au-tores brasileiros o que mais gosto éMachado de Assis. Adoro poesia edeclamava no colégio. Tenho um ca-derno onde escrevi as poesias quemais gosto."

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Valores universais estão presentesnuma literatura que fala de utopias, de vir-tuosas vidas, dos mais profundos senti-mentos da alma, como a vaidade, e dascontradições da personalidade. Deixandopara as gerações os povos que não mor-rem e as travessias de vidas grandiosascomo modelos do espírito generoso daimaginação e da fantasia. Uma literaturamuito antiga. Feita de lobos, meninas, ga-tos espertos, soldadinhos, sapos, prince-sas...

Escrito a partir de diversas fontes daantiguidade, e tendo como fundo a orali-dade camponesa, em 1023 surgiu na Eu-ropa um conto latino intitulado: Fecunda

Ratis, escrito por um Egbert of Lièges. Quefala de uma menina com um capuz ver-melho, levada por um lobo para alimentaros filhotes.

A menina e o lobo permaneceram

no imaginário das pessoas, em povo-ados e vilarejos através dos tempos. E oconto reaparece em nova versão, de Char-les Perrault, publicada em 1697 numa co-letânea, e em torno de um século depois,pelos Grimm, também modificada em al-guns aspectos. Com os irmãos pesquisa-dores ele ressurge numa das versões maisconhecidas pelas crianças, na qual o estô-mago do lobo é preenchido com pedras,como acontece no mito grego do devora-dor.

Várias versões da Menina do capuz ver-melho nos chegam através dos tempos.No século XX, Guimarães Rosa aparececom “Fita Verde no Cabelo”. Uma jovemcaminha pela floresta e encontra lenhado-res. A poética de Guimarães se expressacom intensa força nesse texto.

Chico Buarque traz uma menina que detanto pronunciar a palavra lobo acaba in-vertendo-a para bolo e assim perde omedo.

O medo é uma das forças desse contomítico que surgiu nos primórdios para ori-entar as meninas. Mas, por que em plenaera tecnológica essas histórias exercemtanto fascínio? Por que uma menina com acapa vermelha sempre encantou as crian-ças? E continua exercendo o mesmo mis-terioso fascínio hoje, ainda quando umaindústria milionária diz que “Deu a Loucana Chapeuzinho”?

Um dos contos clássicos mais ricos é OGato de Botas. No original, distante daversão cinematográfica. O gato estufa aalma do feiticeiro com elogios. São tantosque o mágico não resiste. A força dos elo-gios é medonha. Um descaso para consi-go, um descuido, e o feiticeiro é vencido.O ardiloso gato pede para que ele se trans-forme num rato. Totalmente dominado pelapaixão dos elogios, o feiticeiro é engolidopelo sagaz felino. A lição? A vaidade. Zelepor ela! Não se deixe dominar. Não se per-mita inflar pelo excesso de elogios. Essemesmo tema da vaidade aparece em fá-bulas como a da raposa e o corvo: “O gran-de, o maior cantor da floresta, o da maisbela voz de todos os tempos”.

O sapo príncipe: Um dos mais extraor-dinários contos para crianças. “Se você medeixar dormir na sua caminha, eu pego a

bola pra você! Tem que me prometer quepoderei comer da sua comidinha”. A prin-cesa, no desespero, faz o que o ser huma-no costuma fazer: promete o que não po-derá cumprir. O mesmo acontece com amãe da Rapunzel na noite dos rabanetes.Prometeu, tem que cumprir! A bruxa re-tornará para exigir o cumprimento. O beloconto do sapo ensina esse valor universal.O valor da palavra. Ela tem que ter a forçade um Cartwright (Antigo seriado Bonan-za, no final da década de 50).

O rei é o pai. E o pai diz assim: “Minhafilha, você prometeu. Agora tem que cum-prir. Deixe o sapo entrar. Você deu a suapalavra.” Palavra não é coisa que se podedar em vão. É preciosidade. Inestimáveltesouro.

A princesa aprende.

O soldadinho de chumbo. Que maior emais trágico amor pode haver do que oseu pela bailarina de papel? Nem Tristão eIsolda. Nada se aproxima da grandezadesse amor. E a persistência? É isso quenos ensina esse bravo soldadinho. Com suaética impressionante: ele se nega a pagaro imposto injusto cobrado pelo ratão doesgoto. Dá-lhe!

Um inesgotável manancial de valoresuniversais. Assim é a Literatura Infantil. Enão poderia faltar o príncipe. Ele é neces-sário sim. Trata-se de utopia. A literaturainfantil em sua trajetória nos fala de utopi-as. E uma delas nos traz o príncipe e aprincesa.

O príncipe é sempre virtuoso. Nãoimporta que na vida real não o seja. E quasenunca o é. Mas nos contos ele é virtuoso,pois é o referencial para a criança, é maisdo que isso. É a utopia de povos que so-frem. O príncipe nos resgatará. Por isso seapresenta em virtude, na vida em retidão.Isso é o príncipe. E a princesa é tambémisso, uma utopia.

Quem não quer ter a sua princesa? Cadaqual com a sua. A princesa é necessáriacomo um norte, um símbolo, e ao se lutarpor ela, estamos diante de um sonho, umideal, que é então algo diferente de uto-pia. Ela pode ser, por exemplo, a Literatu-ra, na vida de alguém. O sonho de se tor-nar poeta. O sonho da Poesia.

Disse uma professora: Quem não querter o seu príncipe? Sim, isso não significaficar esperando passivamente pela suachegada. Mas ter a crença de que ele virá.Alguém virtuoso. Só a vida em virtude valea pena. Esse é o referencial principal, eprincipal vem de príncipe. Nossas contem-porâneas crianças, às vezes, por contadas circunstâncias, se apegam com refe-renciais nada elegantes nem promissores.Referenciais da truculência, da força bru-ta, até.

A utopia está presente num conto ale-mão, recolhido da oralidade dos vilarejospelos irmãos Grimm. O clássico João eMaria. Sim, crianças eram abandonadas nafloresta por seus pais que não podiam sus-tentá-las. É assim com os dois irmãos. Eonde entra a utopia? Eles encontram nafloresta a casa coberta de doces e cara-melos. É a mesma utopia que surge nosmomentos de grandes aflições e sofrimen-

tos, como na terra prometida onde jorracoentro, ou nos caudalosos rios de vinhoou nas salsichas que caem das árvores.Alemanha, e tantos outros países e épo-cas. Quantas vezes a utopia se fez neces-sária, para a própria sobrevivência!

Princesas loiras! Reclamam intelectu-ais e acadêmicos. Sim, pois são europei-as. Só por isso. Se fossem africanas ouasiáticas, não seriam loiras. Mas são prin-cesas. E esse ideal maravilhoso da utopiana Literatura Infantil nada tem a ver coma vida real. Não são princesas de um mun-do real. São símbolos de um mundo en-cantado. E dizem: as princesas ficam sem-pre esperando pelo príncipe. Ocorre quepela princesa o príncipe atravessa os con-tinentes. A literatura de todos os temposestá repleta de exemplos nos quais prínci-pes enfrentam mundos, como no caso deTristão e Isolda. Por causa da dona de umfio de cabelo, Tristão travou gigantescasbatalhas. É sempre assim. Essa é a vidaque nos chama, e que a literatura, todaselas, e principalmente a infantil, nos ace-na, nos pisca, nos indica de forma tão gentile caudalosa.

O “Foram felizes para sempre”. Algo quenada tem a ver com o sentido ocidentalcristão de “Para sempre”. Não é dessa eter-nidade que falam os contos clássicos. Esse“para sempre” seria o momento vivido, eesse momento que passa e que se vive éeterno. De forma simplificada podemosentender que esse “Para sempre” seráeterno no momento da felicidade. A eter-nidade tal como costuma ser entendida,seria tão enfadonha quanto o paraíso.

Por isso os contos clássicos nos falamde travessias. A jornada do príncipe paraencontrar a sua princesa é sempre umatravessia. Ele atravessará por todas as di-ficuldades até romper a cerca de espinhosque protege a sua bela adormecida, talcomo os espinhos protegem como solda-dos a formosura da rosa, chamada de ra-inha das flores, que necessita de um exér-cito para a preservação da beleza.

É a Literatura Infantil clássica necessá-ria para as crianças em nossos dias? Maisdo que nunca. Tão necessária como ascantigas, também por muitos, acusadas depoliticamente incorretas. Ora, tem muitaviolência nos contos clássicos infantis, di-riam. Onde já se viu abrir a barriga do loboou uma bruxa dançar descalça na brasaaté morrer? Ou as duas crianças assarema bruxa viva no forno?

Esses contos sofreram suas transforma-ções através dos tempos. Muitos original-mente foram escritos para adultos. Hojesão infantis.

São ainda a melhor opção para a crian-ça, vítima da insensatez que atinge seuuniverso, através de letras musicais imbe-cis, e outras tantas desfaçatezes. Uma dasmelhores formas de proteger a criança damediocridade é entregar em suas mãos umlivro clássico de Literatura Infantil.

Marciano Vasques - É autor de “O Voode Pégaso” e outros livros.Formado em Filosofia, Pedagogia e com Pósem Literatura Infantil.

Destaque - Marciano Vasques

Valores da Literatura Infantil são Universais

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TeatroAzul-poesia

Uberlândia vive um novo e interes-sante capítulo de sua história cultural.Não que todas as dificuldades históri-cas de se fazer cultura tenham desa-parecido de uma hora para outra, de-finitivamente não. Entretanto, o plenofuncionamento do Teatro Municipal nosmostra que um capítulo iluminado estásendo escrito a todo vapor e sua am-bição maior é deixar marcado de umavez por todas, o nome de nossa cida-de no circuito nacional das artes cêni-cas.

A última emoção deste capítulo ain-da em construção refere-se ao espe-táculo “Azul Resplendor”, texto do dra-maturgo peruano Eduardo Adrianzén,direção de Renato Borghi, grandenome do teatro brasileiro, e Elcio No-gueira Seixas. O palco do Teatro Muni-cipal recebeu Eva Wilma, Pedro PauloRangel, Dalton Vigh, Luciana Borghi,Luciana Brites e Felipe Guerra para umanoite de homenagem aos 80 anos devida e 60 de carreira de Eva Wilma.

A escolha do texto partiu da pesqui-sa sobre o teatro latino-americano re-alizada pelos diretores, que visitaramnossos vizinhos e colheram um riquís-simo material sobre a dramaturgia dospaíses e suas peculiaridades, o quevem se desdobrando em projetos,como a montagem de “Azul Resplen-dor”, e outros que ainda serão lança-dos.

Homenagear Eva Wilma e sua car-reira brilhante é acima de tudo tam-bém reverenciar o teatro, essa propos-ta norteia toda a encenação, se de-senvolve como uma metalinguagemsofisticada, pois encontra nos atores,principalmente nos mais experientes,a sustentação necessária para a ve-rossimilhança dos acontecimentos queenvolvem os personagens e a realida-de nua e crua dos profissionais de te-atro e da cultura em geral.

A metalinguagem é ainda mais po-derosa quando se torna uma metáfo-ra da vida em si, a chama de um fósfo-ro que começa com a mágica da luz,

avança para o fogo intenso, potente,até que, aos poucos, o calor se desva-nece, e quando menos se espera, sur-ge um azul semelhante ao usado paraanoitecer os palcos, para assim che-gar ao fim inevitável, seja do espetá-culo ou de uma existência. Esta ima-gem poética é impactante pela simpli-cidade, está colocada no início e no fimdo espetáculo. O ofício do teatro é aprópria metalinguagem da vida, istoporque, fazer teatro, estudar teatro,ver teatro nos liga diretamente com aefemeridade da vida e somos convida-dos a buscar em nós a melhor maneirade lidarmos com isso.

O conflito de gerações entre os per-sonagens Blanca Estela Ramirez (EvaWilma), Tito Tápia (Pedro Paulo Ran-gel) e os demais jovens atores, tam-bém é um tema bem exposto pela en-cenação, nos faz refletir como esseembate acontece no dia a dia em to-dos os setores da vida humana. O ve-lho que é facilmente descartado paradar lugar ao novo, ao dito revolucioná-rio, e muitas vezes sem nenhum em-basamento que o qualifique, apenas afalsa pretensão da jovialidade de tudoquerer modificar sem a sábia visão doamanhã.

Acredito ser importante deixar regis-trados momentos como este vivido portodos que estiveram presentes nasapresentações de “Azul Resplendor”,pois vai além de apenas ter a oportu-nidade de conhecer pessoalmente otrabalho de atores consagrados e quecostumamos ver pela televisão. É umaexperiência mais profunda quando te-mos a real noção de que aquele mo-mento da encenação não volta, massuscitou em nós espectadores, ques-tionamentos, dúvidas, lembranças, vi-tórias, fracassos e como o tempo vainos auxiliando a colocar tudo em seudevido lugar.

Eduardo Humberto Ferreira Ator,graduado em Teatro (UFU)[email protected]

Pense

ÁRIES: Favorece viagens,expansões emtodos setores, exageros, busca daverdade.....cor: azul celeste nº sorte: 3 apoio: leão, libra, parcerias

TOURO: Favorece sucesso, prestígio,transformações, perdas necessárias,cor: verde nº sorte: 1 apoio: virgem,capricórnio, parentes

GÊMEOS: Favorece convivência social,comunicação,intermediações,solidariedade, cor: azul anil nº sorte: 7apoio: libra, leão, família

CÂNCER: Favorece equilíbrio entre sonhoe praticidade, empatia,artes,trabalho, cor: grená nº sorte: 5 apoio: escorpião, virgem,parentes

LEÃO: Favorece trabalho, iniciativas, de-cisões, perfeccionismo, liderança,cor: vermelho rubi n sorte: 9 apoio: tou-ro, gêmeos, parentes

VIRGEM: Favorece finanças, bens mate-riais, heranças, assuntos de familia,cor: branco nº sorte: 2 apoio:virgem,touro, escorpião,familiares

LIBRA: Favorece intermediações, comu-nicação, agilidade mental e física,cor: amarelo nº sorte: 5 apoio: aquá-rio, áries, amigos

ESCORPIÃO: Favorece vida caseira, fi-nanças, heranças, emotividade,prudência, cor: verde nº sorte: 6 apoio: virgem, capricórnio,parentes

SAGITÁRIO: Favorece brilho social, po-der, liderança, iniciativas, renovação deenergias, cor: laranja nº sorte: 1 apoio: gêmeos, llibra, amigos

CAPRICÓRNIO: Favorece equilíbrio en-tre praticidade e fantasia, detalhes evisão ampla, cor: grená nº sorte: 7 apoio: capricórnio, virgem, parentes

AQUÁRIO: Favorece convíviosocial,parcerias,solidariedade, originali-dade, cor: rosa nº sorte: 4 apoio: gê-meos, sagitário, parentes

PEIXES: Favorece transformações, per-das necessárias, prestígio, paixão,cor: castanho nº sorte: 9 apoio: touro,virgem, escorpião, parentes

O milho, sem transgênicos, é bomalimento, de proteína....repleto;diminui o sofrimentode seu corpo e aura, por completo

IVONE VEBBERhttp://vone333.no.comunidades.net

Horóscopo 2014

Pedro Paulo Rangel e Eva Wilma em Azul Resplendor

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Memória Saúde familiarTerapia de ponto de origemTerapia de ponto de origemTerapia de ponto de origemTerapia de ponto de origemTerapia de ponto de origem

Para curar doençase aliviar dores

SACO DE FEIJÃO QUENTE

O feijão, além de não deixar o brasilei-ro passar fome, ainda pode curar doençase aliviar as dores no corpo. Simplesmen-te, ensacar qualquer tipo de feijão cru eesquentar no micro-ondas. Para 1 quilo defeijão precisamos de 3 minutos para es-quentar, 1 quilo e meio, quatro minutos.Costurar o feijão em várias divisões paradistribuir por uma área maior. Pode-se fa-zer vários tamanhos com maior quantida-de de feijão para se usar em diferentesáreas do corpo e em diversas situações.Para 1 quilo e meio de feijão ensacar em20 divisões de duas fileiras de 25 por 45centímetros. Este formato pode cobrir opescoço, os ombros, a vértebra e os qua-dris. Quem utiliza esta técnica do “saco defeijão quente”, que é muito reconfortante,utiliza-a frequentemente, e vai quererutilizá-la sempre. A função do feijão é pas-sar o calor de micro-ondas para o nossocorpo. Todos precisam do calor extra, es-pecialmente, os idosos, as pessoas comcâncer, os bebês e os prematuros.

Quando chega o inverno acontecemmais infartos, derrames, e morrem maispessoas idosas pela ausência da energiacorporal. Colocar um saco de feijão quen-te na região lombar e nos quadris podealiviar e curar as cólicas menstruais, asdores na barriga, a diarreia, a dor nos jo-elhos, nas pernas e em outros locais docorpo. Colocar o saco de feijão quente naregião torácica pode aliviar asma, a dorno peito e na panturrilha. Dormir, aplican-do o saco de feijão quente no corpo tira ainsônia e reduz a frequência de idas ao ba-nheiro, de quem precisa levantar-se vári-as vezes para urinar durante a noite.

O secador de cabelos pode também ser-vir como fonte de calor. Qualquer coisa quepode fornecer calor de imediato pode serutilizada. Dr. Wang Min Hsiung

Mandela e o mundo Helena Ortiz

Pelo tempo que existo, é natural que tenha hoje guar-dados em mim mais mortos do que vivos. E dos ídolos,foi-se agora o penúltimo. Nelson Mandela, última re-presentação da esperança de paz e de entendimentoentre os homens.

É possível que muitos tenham o mesmo desejo oucrença, mas não um como Mandela, que veio com pa-pel definido, como nascem os grandes. Chegam com aforça de espírito que tudo suporta e consola, e aindaoferece à causa 27 anos da própria existência.

Ainda ontem, quando soube de sua morte, quandoouvi na televisão as palavras de conciliação que a mídia editou, também ouvi os gritosem Soweto, perseguidos pelas armas e ódio brancos.

Mandela, no entanto existia. Preso, incomunicável, era também um silêncio de cora-gem. E essa coragem lhe era retribuída pela resistência do povo segregado. Há tem-pos ele vinha sendo o líder na busca da liberdade. Já havia mostrado que sua luta eraum destino assinalado.

A trajetória se assemelha à de Gandhi, no que se refere à busca do entendimento.Os inimigos - os mesmos. Sempre os brancos, com sua sede de dominação e superio-ridade.

Há pouco tempo os índios tentaram entrar no Palácio em Brasília e foram rechaçados.Por que esse descaso com os índios? Significa dizer com a natureza, com a ciência,com a saúde, com a cultura. Os índios hoje são tão poucos que tudo se resolveria acontento se alguém quisesse corrigir o erro, alguém que pensasse sinceramente nobem desses brasileiros que, afinal, já estavam aqui quando Cabral chegou. Foi a pri-meira mentira inventada para a nossa história. Quem pode descobrir o que já estápovoado?

Cada país vive as suas mentiras. A nossa é dizer que o País não é racista, mesmotendo à frente a crueldade com os índios e as estatísticas do sistema prisional quantoà escandalosa maioria negra.

O que não temos mesmo é alguém que se faça ídolo, tão grande e justo que nãopairem jamais dúvidas sobre seus objetivos. Alguém que honre a própria história e ahistória do mundo.

Não temos.O que temos é muitas montanhas a escalar.

Oportuna Crônica da notável escritora Helena Ortiz poeta (Blog Integrada e Maginal)para lembrar Nelson Mandela este grande home recém desaparecido.

Sobressalto

Agora podemos irao encontro do amanhecercom os farrapos das nossas noites.Os prazeres esperam-nostão jovens como no começoquando lhes oferecíamos um rostopoupado pelas rugas. E o amanhã vestiu jáo seu fato de primavera. Poema do silêncio prolongado

Foi isto que aconteceu:Antes precisamente de morreros homens partiram. E a terra permaneceucansada indiferente.

Seleção dos poemas:Selmo Vasconcelos

Gente do bem

Florestas As florestas são de vidro.Ouvimo-las tocarquando a tarde solicita as folhasconduzindo a noite aos lobos.Acontece que vindo de outrostemposum enforcado estica um pée espreguiça-se como um outonoainda na defensiva.Então as fontes animam-se.

“De minha parte, eu não sei nadacom certeza, mas a visão das estrelasme faz sonhar!” Vincent Van Gogh

Ana Luiza, Maria Teresinha e Maria Luiza

Maria Teresinha de Jesus Lima,natural de Uberlândia-MG, bairro Mar-tins, é Assistente Social, aposentada desua função no INSS, foi brilhante alunado Colégio Estadual de Uberlândia (Mu-sel). Efetiva colaboradora e incentiva-dora do Jornal Fundinho Cultural, Ma-ria Teresinha é pianista, divulgadora dacultura, e sempre fez parte deste pro-jeto com sua credibilidade e palavrasde incentivo à preservação da memó-ria da cidade.

Ligada ao Movimento Espírita deUberlândia exercita diariamente a fra-ternidade e o amor ao próximo.

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MemóriaJEAN-PAUL MESTAS EM TRÊS POEMAS

Christiane Mestas, Selmo Vasconcelos e Jean-Paul Mestas

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Livro

Rua Santos Dumont, 387 - Fone: 3234-2779 - Uberlândia - MG

Em 2014 o X Festival de Cordas Nathan Schwartzman,

A realização musical de Uberlândia

Concertos Inesquecíveis

Realmente esse Armazém Lisboa ficava na esquina da Rua Benjamin Constant com a Av.Cesário Alvim. Atrás do armazém, ficava a máquina de arroz do Sr. Rafael Felice (meu tio). Obambuzal que se vê à frente era onde hoje se situa a Delta Imóveis, onde também foi achoperia Chopão. A linha de trem é hoje uma das pistas da João Naves, sendo que a outrapista era anteriormente a Rua Buenos Aires. César Augusto Campos

A rua à direita era a antiga Uberaba e a da esquerda, esquina da Cesário Alvim e BenjamimConstant. João Naves de Ávila foi construida depois da retirada dos trilhos da E.F. Mogiana. Durval Teixeira

Fundinho 2013 Paulo AugustoFoto Arte

Velhos temposVelhos tempos

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Crônica

Por praças e caminhos da minha cidade...

Gosto de caminhar pela cidade. É minha atividade prefe-rida do domingo.

É quando não há tantos carros, tanta pressa, tantapreocupação perambulando por calçadas e mentes. Háum pouco sossego e um pedido para percorrer quarteirõesdo centro e de bairros distantes.

Começo pelos cantos do bairro Fundinho. Ruas estrei-tas, casas antigas que resistem outras nem tanto. Vejoárvores que me acompanham desde a infância, outras de-sapareceram. Sem explicação foram arrancadas de ondehaviam criado raízes.

Nessa mistura de nostalgia e observação aguçada che-go às praças. A Clarimundo Carneiro com seus bancos quevão além do descanso, convidam para a prosa, namoro ousimplesmente para a contemplação. Do coreto à impo-nência do museu ao ipê que sempre surpreende quem vaipassa por ali.

Desço até a Coronel Carneiro com gente caminhandocom seus bichinhos de estimação, crianças em suas bici-cletas ou jogando bola com o pai, a banca de revistas tão

necessária ao cenário assim como a Casa da Cultura e ocolégio, arquitetura presente independentemente dos anosque avançam.

Volto e subindo um pouco mais atravesso a praça da Mu-seu, Escola Estadual de Uberlândia, onde estive menina eadolescente. Local de encontro dos colegas que vinham deoutras escolas para ver amigos, paquerar. Era bom. Tinhacerta inocência. Mais à frente ela se revela. A praça TubalVilela. Transformada em alguns pontos, intacta em outros.Praça da fonte, da concha, dos taxistas e de um senhor quemarcou minha infância. Ele ficava na rua Olegário Macielcom seu carrinho de pipoca e algodão doce. Me lembro doaroma, das cores e dele, homem trabalhador, de bochechasrosadas, cabelos brancos. Para mim, um encantador de cri-anças. Encanto que carrego quando ainda observo a genteda cidade. Que para lá e para cá, mesmo no domingo, temtanto a contar. Conto em outra oportunidade!

Mônica Cunha . Escritora . Apresentadora do programa

de TV Bem Viver Uberlândia MG . Radialista na Rádio Cultura HD

Mudei para a Praça Adolfo Fonseca aos oito anos de idade e só saí de láquando me casei, em 1968. Tenho saudades! Já era linda, mas passou por mui-tas reformas: até seu nome foi mudado; era antes D. Pedro II. Me lembro bemda vizinhança: Sr. Aparecido do Grande Hotel Central (local do atual Bretas),familia Koss, Sr Vadico, diretor do Museu (Colégio Estadual de Uberlândia), famí-lia Jorge Labeca, Família Naves, Oscar Miranda (sua loja, entre a praça e a RuaGoiás) e outros mais. Uma grande marca da praça é a Sibipiruna, frondosa árvo-re que deu nome ao restaurante-bar atual. Lá passei grande parte de minhainfância: meus irmãos e amigos vizinhos, todas as manhãs de domingo nelabrincávamos até a hora do almoço. Lindos tempos, doces dias, saudosa etapatão feliz de nossas vidas. Terezinha Guerreiro

Minha praça tão querida - Praça Adolfo Fonseca