jornal da ufrn - fevereiro de 2014 - ano xvi nº 70

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ano XVI | nº 70 | fevereiro de 2014 - distribuição gratuita Medicina Cuidados paliativos e amparo a corpo, mente e espírito de pacientes com doenças terminais Página 5 Microcirurgia Reconstrução facial e novas oportunidades de vida no Departamento de Odontologia Página 9 Crianças, brincadeiras e o despertar para a arte em projeto da Escola de Música da UFRN Pré-história No Museu Câmara Cascudo, animais gigantes do Rio Grande do Norte de 50 mil anos atrás Páginas 6 e 7 Página 3 Que nem música

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Que nem música: crianças, brincadeiras e o despertar para a arte em projeto da Escola de Música da UFRN

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Page 1: Jornal da UFRN - Fevereiro de 2014 - Ano XVI nº 70

ano XVI | nº 70 | fevereiro de 2014 - distribuição gratuita

MedicinaCuidados paliativos e amparo

a corpo, mente e espírito de

pacientes com doenças terminais

Página 5

MicrocirurgiaReconstrução facial e novas

oportunidades de vida no

Departamento de Odontologia

Página 9

Crianças, brincadeiras e o despertar para a arte em projeto

da Escola de Música da UFRN

Pré-históriaNo Museu Câmara Cascudo,

animais gigantes do Rio Grande

do Norte de 50 mil anos atrás

Páginas 6 e 7

Página 3

Que nem música

Page 2: Jornal da UFRN - Fevereiro de 2014 - Ano XVI nº 70

Por SíLVia PaULo / MCC

Discutida há pouco mais de um ano, a proposta de criação da Rede Integrada de Museus na Univer-

sidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) deu mais um passo em direção de concretizar-se: uma parceria entre os museus Câmara Cascudo (MCC) e de Ciências Morfológicas (MCM) – ambos da Universidade – resultou em nova ex-posição, “O Eixo da Vida”, em cartaz desde 4 de fevereiro no MCC.

Em sua terceira edição, a mostra apre-senta de forma lúdica o desenrolar da vida de diversas espécies à luz da Evolução. A

abertura reuniu representantes dos mu-seus da UFRN e de setores da sociedade ligados ao assunto que, em tom de conver-sa, refl etiram sobre a interação dos museus da Instituição.

O projeto de criação da Rede tramita na Reitoria e, tem como objetivo, fortal-ecer a cultura museológica dentro e fora dos círculos acadêmicos, ao favorecer a divulgação mais abrangente dos temas.

O diálogo entre os estabelecimentos que abrigam coleções na Universidade abre possibilidades para o entretenimen-to do público e pretende estimular nos cidadãos a simpatia pela ciência e pela cultura. É o que defende o curador de “O Eixo da Vida”, Glaudson Albuquerque, es-tudante de Ciências Biológicas. “Museus

integrados atraem o visitante comum. A divulgação científi ca só tem a ganhar com esse processo”, diz.

Representante da Coordenadoria de Cultura, Memória, Documentação e Mu-seu da UFRN, a professora Carla Cabral esteve presente na abertura da exposição e demonstrou preocupação com o assunto. “Tenho acompanhado de perto o anda-mento do projeto e o considero de extrema importância”, afi rma. “Além de tornar vi-síveis os museus para um número cada vez maior de pessoas, a integração pode tornar mais conhecido o grande acervo que pos-suímos e que precisa ser estudado”, opina a docente.

As diretoras dos museus Câmara Cas-cudo e de Ciências Morfológicas concor-

dam com a professora Carla Cabral. Dire-tora do MCM, Simone Almeida destaca a importância do visitante para o propósito da Instituição. “Além de escolas, que são nosso público mais frequente, precisamos chegar à comunidade em geral. Em Na-tal, as pessoas não têm o hábito de visitar exposições e a criação de uma rede possi-bilita a inclusão dos museus universitários nas rotas de lazer”, analisa.

Sônia Othon, diretora do MCC, pen-sa de maneira semelhante. “Uma rede de museus é pertinente não somente por levar o acervo ao conhecimento do grande público, mas também por contri-buir com a finalidade da Universidade de oferecer ensino, pesquisa e extensão”, considera a professora.

Jornal da UFRN

EXPEDIENTEReitora Ângela Maria Paiva CruzVice-reitora Maria de Fátima Freire de Melo XimenesSuperintendente de Comunicação José Zilmar Alves da CostaDiretor da Agência de Comunicação Francisco de Assis Duarte GuimarãesEditor Luciano Galvão FilhoEditora-adjunta Enoleide FariasJornalistas Antônio Farache, Cledna Bezerra, Enoleide Farias, HellenAlmeida, Juliana Holanda, Luciano Galvão Filho, Marcos Neves Jr., Regina Célia CostaFotógrafos Anastácia Vaz e Wallacy MedeirosRevisoras Regina Célia Costa e Karla Jisanny (bolsista)

Foto de capa Anastácia Vaz Diagramação Setor de Artes/ComunicaBolsistas de Jornalismo Aline Nagy, Ana Clara Dantas, Auristela Oliveira, Catarina Freitas, Ingrid Dantas, João Paulo de Lima, Júnior Marinho, Kalianny Bezerra, Rozana Ferreira, Silvia Paulo, Taís Ramos, � yara DiasBolsista de Letras Karla JisannyArquivo Fotográfi co Saulo Macedo (bolsista)Endereço Campus Universitário - Lagoa Nova, Natal/RN - CEP 59072-970Telefones (84) 3215-3116/3132 - Fax: (84) 3215-3115E-mail [email protected] – Home-page www.ufrn.brImpressão EDUFRN Tiragem 6.000 exemplares

ano XVI | nº 70 | fevereiro de 20132

Rede de Museus Universitários quer estimular interesse por ciência e cultura fora da academia

PROPOSTA

anastácia Vaz

exposição sobre evolução das espécies recebe visitantes no Museu Câmara Cascudo.

Page 3: Jornal da UFRN - Fevereiro de 2014 - Ano XVI nº 70

Por Rozana FeRReiRa

Ludwig van Beethoven, compositor alemão, considerado por muitos o mais influente na música clássica uni-

versal, considerava a liberdade um impor-tante elemento na criação artística. A ele é creditada a frase “os músicos utilizam de to-das as liberdades que podem”. Inspirado na afirmação de Beethoven, o Curso de Inicia-ção Artística (CIART) da Escola de Música da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (EMUFRN) motiva a liberdade e a criatividade infantil por meio de técnicas lúdicas de ensino para auxiliar na formação de crianças.

A iniciativa nasceu junto com a Escola de Música, em 1962, e teve vários coorde-nadores ao longo dos anos. Hoje, ganhou corpo ao tornar-se projeto de extensão. Em seu currículo, o CIART promove a inicia-ção dos alunos em diversas modalidades artísticas como a música, o teatro, as artes plásticas e a literatura.

O Curso trabalha, especificamente, a formação musical das crianças, tendo na sensibilização à música um meio de enriquecer as experiências vividas pelos pequenos no processo de aprendizagem. A ideia é fazer com que percebam e estejam sensíveis aos sons que os rodeiam diari-amente.

O CIART está estruturado em três módulos anuais, sendo que no primeiro são admitidos estudantes entre seis e sete anos, que concluem o curso com idade média de nove a dez anos. A proposta prepara meni-

nos e meninas para adquirirem consciência artística, o que desenvolve seu gosto esté-tico e seu senso musical, além de propor-cionar uma vivência diversificada da arte e estimular aspectos como independência, criatividade, coletividade e concentração.

A ludicidade é um dos fatores primor-diais utilizados pelos professores para au-mentar o interesse das crianças. Pietra Car-reras, de sete anos, é aluna do projeto desde 2011, e gosta do tempo que passa na Escola de Música. “É muito legal. A gente estuda e se diverte bastante, porque brincamos”, diz.

Carolina Gomes, professora e coorde-nadora-adjunta do Curso, exibe com alegria a produção musical das turmas anteriores.

“São composições feitas pelos próprios alu-nos”, conta, acrescentando que pretende publicar um livro com as produções.

Nos últimos anos, temas têm guiado as atividades pedagógicas do CIART. Em 2010, foram trabalhados os “ritmos do nordeste”. Já a inspiração de 2011 foi “brincando como antigamente”, quando uma pesquisa oral realizada com os pais sobre suas brincadei-ras na infância motivou o planejamento das ações desenvolvidas em sala de aula.

Em 2012, ano em que se comemorou o cinquentenário do CIART, apresentou-se o recital “Cores e Canções” – com a presença da professora Fátima Brito, fundadora do projeto – e fez-se um resgate histórico com

um livro, composto de músicas sobre cores de autoria dos primeiros docentes do curso.

No ano passado, o homenageado foi Vinícius de Morais, compositor que com-pletaria seu centenário em 2013. O recital “Vinícius e seus amigos” finalizou as ativi-dades anuais com músicas da Arca de Noé, livro que se tornou um dos mais populares do Poetinha e que o apresentou a Toquinho, seu parceiro musical pelo restante da vida.

IngressoPara ingressar no CIART, é necessário

aguardar a publicação do edital, que acon-tece anualmente e pode ser conferida na página da EMUFRN na internet. O docu-mento define o período de inscrições e as datas para sorteio das vagas. Os candidatos devem possuir Cadastro de Pessoas Física (CPF) e pagar uma taxa de R$ 250 por se-mestre, acrescida das despesas com materi-ais pedagógicos.

Por ano, são sorteadas doze vagas para cada turno – matutino e vespertino – com mais cinco suplentes. Nas últimas duas seleções, houve aproveitamento de todos os candidatos reservas por ocasião de de-sistências, como explica Catarina Shin, co-ordenadora-geral do projeto: “tem crianças que pensam que somos um curso que en-sina a tocar instrumentos, mas não somos. O CIART promove a musicalização, a sen-sibilização à música”.

Além de Catarina Shin – ex-aluna do Curso – e Carolina Chaves Gomes, compõem a equipe Maristela Mosca, peda-goga do Núcleo de Educação à Infância (NEI), alunos bolsistas e estagiários da graduação em Música da UFRN.

ano XVI | nº 70 | fevereiro de 20133Jornal da UFRN

DESPERTAR

Curso de Iniciação Artística desenvolve gosto estético em crianças por meio da música

Ludicidade aumenta interesse das crianças pelos encontros. “a gente estuda brincando”, diz aluna

Fotos: anastácia Vaz

Vivência dos pequenos com a arte estimula independência, criatividade, e concentração

Page 4: Jornal da UFRN - Fevereiro de 2014 - Ano XVI nº 70

Jornal da UFRN

NOTASNa Bélgicaa reitora Ângela Paiva Cruz esteve em Bruxelas no final de fevereiro, onde participou do Fórum Brasil-União europeia sobre internacionalização da educação Superior. na ocasião, discutiu-se temas como inovação, empreendedorismo e mobilidade estudantil.

RevalidaçãoProfissionais que terminaram cursos de graduação no exterior podem solicitar revalidação de diploma de 10 de março a 23 de maio na Pró-Reitoria de Graduação da UFRn. o processo exclui formados em Medicina, que submetem-se à exame nacional realizado pelo MeC.

Cinemao Cine CCSa exibe filmes baseados em clássicos da literatura durante sua temporada 2014. no último dia 26, os Miseráveis, da obra de Victor Hugo, estreou a série de sessões no auditório do nePSa, prédio vizinho ao Setor V. Também compõem o rol do projeto neste ano obras como Édipo Rei, a Hora da estrela e 1984.

XX CIENTECa Coordenação da CienTeC definiu as datas para sua edição de 2014 – quando o evento comemora 20 anos. a Semana de Ciência, Tecnologia e Cultura acontecerá entre os dias 21 e 24 de outubro, no Campus Central.

ApoioUniversitários que necessitarem de orientação terapêutica podem, a partir de 11 de março, procurar o Serviço de Psicologia aplicada, localizado em frente à Biblioteca Central zila Mamede, entre o CCHLa e o CCSa. o setor oferece apoio psicológico e prioriza alunos residentes ou que recebam auxílio-moradia. o atendimento funciona às terças e quintas-feiras, das 8h às 11h e das 13h às 16h, por ordem de chegada.

Na internetos dois números anteriores do Jornal da UFRn – de dezembro de 2013 e janeiro de 2014 – estão disponíveis na plataforma on-line issuu. as edições não circularam por dificuldades técnicas de impressão. o endereço para conferir é: www.issuu.com/agecomufrn .

Por JúnioR MaRinHo

Desde 2013, o antigo Laboratório de Cimentos da Universidade Federal do Rio Grande do Norte

(UFRN) passou a chamar-se Núcleo Tecnológico de Cimentação de Poços de Petróleo (NTCPP). A mudança, no en-tanto, não restringiu-se ao nome, mas ampliou também a missão acadêmica da unidade: atender a uma demanda cientí-fica, tecnológica e de recursos humanos do setor produtivo de óleo e gás do Brasil.

Fruto de uma coalizão entre os centros de Tecnologia (CT) e de Ciências Exatas e da Terra (CCET) da UFRN, juntamente com o Centro de Pesquisas da Petrobras (CENPES), o NTCPP é reconhecido na-cionalmente por seu trabalho.

Localizada no Instituto de Química, a área de 675m² levou quatro anos para ser construída e foi elaborada com a atu-ação de técnicos da Petrobras que, assim como a Universidade, tinham interesse em implementar um estabelecimento de excelência em pesquisa na área de cimentação de poços de petróleo. O es-paço possui o único laboratório desse porte no Brasil.

Segundo o pesquisador do NTCPP Antônio Eduardo Martinelli, uma das grandes dificuldades do mercado de óleo e Gás na atualidade é encontrar profis-sionais qualificados. “A Petrobras tinha interesse em desenvolver recursos hu-manos e tecnologia em parceria com a academia. Para isso disponibilizou sua experiência, que contribuiu para a imple-mentação do Núcleo”, explica Martinelli.

A equipe de pesquisa é coordenada por quatro professores dos departamentos de Química, de Engenharia Química e de Engenharia de Materiais. A pluralidade de áreas torna o setor interdisciplinar, carac-terística que o faz capaz de atender a di-versas competências associadas à cimen-tação de poços, dando suporte aos cursos de Física, Química, Química do Petróleo e engenharias de Materiais, Química, Mecânica, Civil e do Petróleo.

Há cerca de quatro anos o NTCPP é responsável pelo controle de qualidade de todas as pastas de cimento que são en-viadas para poços de petróleo das regiões Norte e Nordeste. Além disso, a unidade também realiza controle de cimentos pro-duzidos por fábricas para esse fim. O obje-tivo é melhorar a qualidade da cimentação dos poços de toda essa região.

CImentaçãoO processo de cimentação realizado

em um poço de petróleo tem o intuito de preencher o espaço anular entre o revesti-mento, a fim de dar aderência entre a parede externa do revestimento e a formação ro-chosa. A fixação da tubulação evita que haja migração de fluidos entre as diversas zonas atravessadas pelo poço, sendo fundamen-tal para a segurança, além de isolar o poço para um futuro abandono.

O tipo de material utilizado para a ci-mentação deve ser criteriosamente escol-hido e estudado, para que possa atender às necessidades de cada poço. O uso indevido de determinados tipos de cimento, quando submetidos à pressão e altas temperaturas, podem ocasionar o surgimento de trincas colocando em risco toda a operação.

“Cada poço uma pasta de cimento dife-rente, cada pasta uma formulação e aditi-vos”, diz Júlio Cezar de Freitas, pesquisador do Núcleo. “Nossa equipe tem que ter um conhecimento específico de cada aditivo para entender como ele se comporta. São diferentes formações geológicas, profun-didades e temperaturas diferentes” explica. “Os aditivos químicos se comportam de formas diferentes. Por isso a multidiscipli-naridade de áreas, que promove um estudo

constante para desenvolver a pasta adequa-da para cada projeto” completa Júlio Cezar.

O relacionamento com a Petrobras ga-rante ao NTCPP vínculo estreito com o setor produtivo. A proximidade contribui para a transferência de tecnologia entre a academia e a indústria, o que permite que estudos sejam aproveitados por empre-sas da área, interessadas em desenvolver produtos para o mercado.

“Trabalhamos com termos de coopera-ção e patentes. Se uma empesa quer desen-volver um material novo, cuja a ideia saiu da Petrobras, por exemplo, nós desenvolvemos a ideia aqui no laboratório e a empresa pro-duz” relata Antônio Martinelli. Essas parce-rias qualificam tanto alunos quanto empre-sas para atuarem na área.

Recentemente o NTCPP capacitou dezenove engenheiros da Petrobras para at-uar na área de cimentação de poços. Segun-do os pesquisadores da unidade, a estatal tem interesse em implementar para seus profissionais, na Universidade Petrobras, um módulo do curso de formação desen-volvido pela UFRN. Além disso, a equipe do Núcleo deve ser convidada para dar su-porte na construção de um laboratório de porte semelhante no Instituto Federal de Macaé, no Estado do Rio de Janeiro.

Núcleo de Cimentação de Poços de Petróleo é referência nacional no setor de óleo e gás

TECNOLOGIA

anastácia Vaz

núcleo realiza controle de qualidade de cimentos utilizados nas regiões norte e nordeste

ano XVI | nº 70 | fevereiro de 20134Jornal da UFRN

Page 5: Jornal da UFRN - Fevereiro de 2014 - Ano XVI nº 70

Por KaLianny BezeRRa

Cuidados paliativos, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), são uma abordagem que

promove alívio a pacientes que sofrem de doenças que ameaçam a vida. Um dos princípios do paliativismo é reafirmar vida e morte como processos naturais, considerando o paciente não somente do ponto de vista do diagnóstico, mas em sua integralidade.

O tema é pauta da I Jornada Norte Riograndense de Cuidados Paliativos – que acontece em março –, promovida por um grupo de estudantes de Medicina na Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). Os alunos voltaram suas atenções para o assunto depois de uma aula na Liga Contra o Câncer de Natal, onde tiveram seu primeiro contato com a assistência médica humanizada.

Naquela ocasião – no segundo se-mestre de 2012 –, os jovens conheceram a psicóloga Flavia Roberta Alves e a en-fermeira Telma Araújo. As profission-ais, ambas formadas na UFRN, fazem parte da equipe multidisciplinar da Liga e foram responsáveis por despertar nos jovens a consciência da importância do cuidar em todos os aspectos: corpo, men-te, espírito e social.

A prática, de acordo com Flávia Alves, busca a autonomia do paciente à medida que ele toma conhecimento de seu estado de saúde. “Buscamos dar a atenção ao paciente e respeitar suas von-tades, sendo importante também que haja uma comunicação entre a equipe e a família dessas pessoas”, destaca a psicóloga. “É por isso que quando fala-mos desse tipo de amparo falamos do envolvimento de diversos profissionais da saúde, entre eles médicos, enfermei-ros, psicólogos, assistentes sociais e tan-tos outros”, acrescenta.

A I Jornada Norte Riograndense de Cuidados Paliativos ocorre entre os dias 14 e 16 de março, no Hotel Praiamar, e contará com a participação de profis-sionais da Saúde, além de estudantes e pesquisadores da área.

Idealizado por alunos da 97ª turma de Medicina da UFRN, o evento quer discutir e reiterar a importância da prática assistencial. “Ao todo, 44 estu-dantes estão envolvidos na organiza-

ção e ainda contamos com o apoio de professores do nosso departamento”, destaca a estudante de Medicina e orga-nizadora do encontro Amanda Melo de Oliveira Lima.

“Outra razão importante para ter-mos pensado na Jornada foi a neces-sidade de se abordar a morte”, diz a es-tudante. “Alguns profissionais da Saúde enxergam a morte como um fracasso, mas é importante ressaltar que esse é um processo natural e, se já não for possível fazer mais nada pelo paciente, agiremos proporcionando o melhor atendimento e assistência a essa pessoa em estado ter-minal”, declara.

Natália Eufrásio de Lima, também aluna, lembra que a Jornada começou a ser elaborada em 2013. “Lemos vários materiais, fizemos pesquisa em livros que fazem abordagens do tema, entre eles o manual do Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo, o CREMESP”, conta.

Na ocasião, acontecerão palestras, mesas-redondas e conferências, todas conduzidas por profissionais envolvidos com o tema. Entre eles está a médica Ana Cláudia Quintana Arantes, espe-cializada no assunto pelo Instituto Pal-

lium, na Argentina, e pela Universidade de Oxford, nos Estados Unidos, além do chefe da equipe de cuidados paliativos do Instituto do Câncer do Estado de São Paulo, Toshio Chiba.

PerCursoAo longo da história, surgiu o pa-

pel do cuidador: pessoa que auxil-iava doentes de forma física e social, abrigando-os em locais denominados hospices – espécie de abrigo que ac-olhia enfermos. O hospice moderno se originou e ganhou força no Reino Unido, após a fundação do Hospice St. Christopher, em 1967, fundado pela en-fermeira Cecily Saunders.

A instituição tornou-se ponto de encontro para pessoas que desejassem discutir melhor a assistência às pessoas necessitadas. Nos hospices, o centro de atenção estendia-se da doença até o pa-ciente, e deste até sua família.

No Brasil, a primeira tentativa de reunir profissionais da área aconte-ceu com a fundação da Associação Brasileira de Cuidados Paliativos (ABCP), em 1997. Já em 2005, foi fun-dada a Academia Nacional de Cuida-dos Paliativos (ANCP).

A enfermeira e integrante da equipe multidisciplinar da Liga, Ivone Facci, destaca que, mesmo com as ações exis-tentes, a implantação do serviço no Bra-sil ainda é lenta. “Para se ter uma ideia, só existem cerca de 340 entidades, no país, vinculadas aos hospitais, que pres-tam esse tipo de serviço”, aponta.

No Rio Grande do Norte, ações rela-cionadas a essa prática também são de-senvolvidas. A enfermeira Telma Araújo explica: “Podemos citar os serviços de controle de dor, atendimento domiciliar oferecido por equipes multiprofissionais de atenção domiciliar. No serviço públi-co, no que se refere a oncologia, conta-mos com estrutura organizacional para atender pacientes no âmbito hospitalar, ambulatorial e de apoio no controle da dor”, expõe.

Ainda assim, são necessários esfor-ços maiores para que o paliativo seja ampliado em território nacional. A cria-ção de uma disciplina dentro das univer-sidades é um exemplo citado por Telma. “A ANCP, que é uma junção de profis-sionais diversos da saúde, vem lutando para que essa área seja trazida como uma disciplina dentro das instituições de ensino superior”, aponta.

ano XVI | nº 70 | fevereiro de 20135Jornal da UFRN

AMPARO

Vida, morte e assistência humanizada são tema em evento de alunos de Medicina

alunos de Medicina inspiram-se em trabalho da Liga Contra o Câncer; psicóloga Flávia alves e enfermeiras Telma araújo e ivone Facci integram equipe da Liga

Wallacy Medeiros

Page 6: Jornal da UFRN - Fevereiro de 2014 - Ano XVI nº 70

Acervo do Câmara Cascudo ajuda cientistas a entenderem animais pré-históricos do RNPor LUCiano GaLVÃo FiLHo

Na parte de trás do prédio, uma escada larga leva até a sala com-prida, com pouca iluminação,

onde armários antigos dividem espaço com longas bancadas – abarrotadas de restos de animais com idades estima-das em dezenas de milhares de anos. O Laboratório de Paleontologia do Mu-seu Câmara Cascudo (MCC), unidade da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), pode passar des-percebido para alguém que visite uma exposição no Museu, mas é onde um grupo de cientistas tem conduzido es-tudos de nível internacional.

Fernando Henrique de Souza Bar-

bosa, paleontólogo, utiliza peças do Laboratório em suas pesquisas desde 2009, quando era aluno de Biologia na UFRN. Hoje, no doutorado em Geo-logia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Fernando inves-tiga indícios de doenças nos fósseis da coleção, com o objetivo de entender a vida de mamíferos pré-históricos que habitavam o Rio Grande do Norte há pelo menos 10 mil anos.

“O que fazemos é uma novidade em termos de ciência”, anuncia, antes de explicar seu objeto de estudo. “A gente pega uma material desses e tenta desco-brir a que tipo de patologias estavam submetidos esses seres, que viveram num passado não tão distante aqui no estado”, esclarece o paleontólogo, com a mão sobre a carapaça de um tatu gi-

gante que, assim como os demais exem-plares da sala, têm entre 50 mil e 10 mil anos de idade.

Paleontologia é a disciplina do con-hecimento humano que se dedica a compreender a vida na Terra em tem-pos passados a partir de vestígios fos-silizados de seres vivos. Não é difícil perceber que a tarefa é bastante com-plexa. “A Paleontologia é um mundo. Analisamos uma infi nidade de coisas”, diz Fernando Barbosa, esticando as sí-labas de “infi nidade”.

Quase sem fazer pausas, o cien-tista enumera exemplos de questões que um pesquisador pode examinar ao deparar-se com um fóssil: “primeiro a anatomia: que bicho é esse? Ele já existe ou é novo? É uma nova espécie? Como esse material foi parar dentro daquele

depósito? Está quebrado ou inteiro? Por quê? Qual a história da morte até a coleta desse animal? Qual a idade? Em qual ambiente ele vivia? Como os animais se relacionavam entre si e com outras espécies? Como interagiam com organismos que causavam doenças? Do que se alimentavam? Eles surgiram aqui ou vieram de outras localidades?”.

Investigar as patologias que aco-metiam os animais, como é feito no trabalho de Fernando, é uma forma de desvendar uma pequena peça do enorme quebra-cabeça. Isso porque as marcas deixadas pelas doenças nos restos mortais dos mamíferos funcio-nam como evidências das condições do ambiente em que existiram, assim como da maneira como suas caracter-ísticas físicas influenciavam o funcio-

ano XVI | nº 70 | fevereiro de 20136Jornal da UFRN

MUSEUWallacy Medeiros

estagiários Jéssica Fernanda e Lucas Henrique ao lado do paleontólogo Fernando Barbosa (dir.): trabalhos produzidos com peças do Museu têm qualidade internacional

Page 7: Jornal da UFRN - Fevereiro de 2014 - Ano XVI nº 70

Acervo do Câmara Cascudo ajuda cientistas a entenderem animais pré-históricos do RN

7Jornal da UFRN ano XVI | nº 70 | fevereiro de 2013

namento de seus organismos.A partir do registro das moléstias

nos fósseis, pode-se deduzir a biologia de mamíferos gigantes, como preguiças que mediam seis metros do focinho à cauda e tatus de 1,5 metro – animais que podiam pesar até três toneladas. “A gente quer entender como esse peso in-fl uenciava nas articulações dos bichos para que eles desenvolvessem artrite. Se encontramos patologias nos dentes, a gente tenta compreender a alimenta-ção, se faltava algo na dieta deles”, ex-emplifi ca o paleontólogo.

O trabalho é minucioso. Com o auxílio de bolsistas, os 5 mil artigos do acervo são examinados um a um. Quando é identifi cado material com indício de doença, a peça é conduzida até uma clínica particular de radiologia – parceira da pesquisa – onde passa por exame de radiografi a. O resultado da análise é comparado com literaturas da área de Medicina e Paleontologia e, por fi m, é dado o diagnóstico.

Até o momento, o estudo encontrou itens com artrites, infecções, cáries e, mais recentemente, um possível caso de câncer em um dos ossos do braço de uma preguiça gigante, que ainda pre-cisa ser confi rmado. “Queremos que a ciência feita aqui seja de qualidade mundial e nossos resultados mostram que estamos no caminho certo”, diz Fernando Barbosa.

No último mês de fevereiro, o pes-quisador publicou um trabalho na revista internacional Plos One, onde descreve a descoberta de três tipos de artrite em um único exemplar de tatu gigante, algo raro de observar. “Essa revista recebe contribuições de várias áreas, de todo o mundo, e rejeita 90% dos manuscritos submetidos. Mas nós conseguimos”, comemora.

aPrenDIzaDoJéssica Fernanda é aluna do ter-

ceiro período de Biologia na UFRN. Como estagiária do Laboratório de Paleontologia do Museu Câmara Cas-cudo, Jéssica identifica e cataloga itens do acervo – trabalho que ajuda aos estudantes ingressantes na unidade,

a exemplo da jovem, a reconhecer os materiais mais facilmente –, além de colaborar com a pesquisa coordenada por Fernando Barbosa.

“Se as peças não estiverem cataloga-das e guardadas corretamente, seria im-posível trabalhar”, comenta a discente. “A experiência tem sido muito impor-tante para minha formação. É como diz um famoso clichê: estudando o passado a gente consegue entender melhor o presente e planejar melhor o futuro”, lembra Jéssica.

Também estagiário do Museu, Lucas Henrique, do sétimo período de Geolo-gia, afi rma que a prática no Laboratório de Paleontologia lhe rende a oportuni-dade de expandir seus conhecimentos. “Os estudos que fazemos aqui agregam Geologia e Biologia, então você acaba aprendendo os dois. Isso lhe dá um leque de opções para trabalhar e lhe abre

a mente para coisas novas”, acredita.Lucas, que no começo de seu estágio

igualmente se ocupava da catalogação de itens, desde 2012 tem dedicado-se à produção e à publicação de trabalhos em eventos científi cos, onde foram di-vulgadas espécies de animais a partir de exemplares da coleção do Laboratório.

“Há materiais guardados aqui há vinte, trinta, até cinquenta anos e que nunca tinham sido divulgados. Acha-dos de professores que até já falece-ram”, conta Fernando Barbosa. “A gente desenvolveu diversos resumos em congressos que serão ampliados para artigos. É muito trabalho para pouca gente”, afi rma.

O paleontólogo lamenta apenas não ter estrutura mais aparelhada para es-tudos da área na Universidade. “Temos professores que dão todo o suporte, que às vezes tiram dinheiro do próprio

bolso, para que ex-alunos, como eu re-tornem como pesquisadores. Mas pre-cisamos de paleontólogos, doutores, técnicos de nível superior que consi-gam fazer com que a ciência que está sendo divulgada a partir do acervo do Museu não seja de um aluno da UFRJ, mas da UFRN”, defende.

“Hoje a UFRN é a melhor Universi-dade do Norte e do Nordeste, mas em Paleontologia não é. E pode ser. Pode ser a maior do do Brasil e pode ser re-conhecida mundialmente por isso”, afi rma, lembrando que o Rio Grande do Norte, apesar de ter extensão ter-ritorial pequena, é a sexta unidade da Federação em número de cavernas, lo-cais onde normalmente são encontra-dos fósseis de animais pré-históricos. “Nosso estado nos oferece todas as condições. Já que o país cresce tanto, que cresça também em ciência”, opina.

estudo dos fósseis revela características biológicas de animais pré-históricos e fornece indícios sobre ambiente na Terra há 50 mil anos

Fotos: Wallacy Medeiros

Page 8: Jornal da UFRN - Fevereiro de 2014 - Ano XVI nº 70

ano XVI | nº 70 | fevereiro de 20138Jornal da UFRN

CoR Da eSTaÇÃo

Anastácia Vaz registra ipês floridos no Campus Central da UFRn nos idos de novembro. amarelo que toma conta de árvores no entorno da Reitoria marca também a passagem da primavera pela Universidadefo

togr

afia

Page 9: Jornal da UFRN - Fevereiro de 2014 - Ano XVI nº 70

Por aURiSTeLa oLiVeiRa

Quando o assunto é estética facial, pensa-se logo em cirurgias plásti-cas e cosméticos para realçar a

beleza. Contudo, técnicas cirúrgicas, tam-bém, podem restaurar a autoestima e pro-porcionar bem-estar à vítimas de aciden-tes ou pessoas portadoras de problemas congênitos que causam deformidades fa-ciais severas.

É neste último cenário em que atua a equipe do cirurgião-dentista, Adri-ano Rocha Germano, coordenador do Centro Cirúrgico, do Departamento de Odontologia (DOD) e do Programa de Residência em Cirurgia e Traumatologia Buco-Maxilo-Facial, do Hospital Univer-sitário Onofre Lopes (HUOL), ambos da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN).

Experiente nos procedimentos do gênero, o grupo liderado pelo docente tem dado os primeiros passos em uma nova modalidade cirúrgica: a micro-cirurgia. Nessa técnica, ossos e vasos são retirados de uma área distante da face – como a perna do paciente – e enxertados na região em que houve perda com auxí-lio de microscópio.

O procedimento facilita o fluxo san-guíneo imediato e a nutrição do enxerto. “A técnica permite melhor performance do enxerto, diminuindo perdas ósseas, so-bretudo em grandes áreas que devem ser reconstruídas”, conta Adriano Germano.

A equipe – formada por professo-res e residentes vinculados à Residência em Cirurgia Buco-Maxilo-Facial e pro-fissionais médicos do Hospital Onofre Lopes – já realizava todos os tipos de procedimentos existentes no Brasil, com exceção das microcirurgias.

Para adquirir experiência, o DOD assi-nou parcerias com as universidades Com-plutense de Madri (UCM), da Espanha; Estadual de Campinas (UNICAMP) e Federal do Maranhão (UFMA), institu-ições com pesquisadores que dominam a técnica. A UCM, por exemplo, oferece serviço com mais de 600 casos operados e índice de sucesso superior a 93%.

No final do último mês de janeiro, foram realizadas as duas primeiras mi-crocirurgias de reconstrução facial do Programa de Residência. As operações aconteceram durante o curso “Uso dos retalhos livres microvascularizados para

reconstrução facial”, que teve o objetivo de discutir a utilização da microcirurgia. O evento foi organizado pelo Departamento de Odontologia e pelo Onofre Lopes, em parceria com o Hospital Doze de Outubro, da UCM.

Os escolhidos para o procedimento cirúrgico pioneiro foram os pacientes Ros-inaldo de Oliveira, 37 e Francisco Kleiton Ralph, 27, ambos vítimas de acidente causado por arma de fogo.

Rosinaldo de Oliveira conta que so-freu o acidente em 1997, e que passou por cirurgias para a colocação de placas para reconstruir a mandíbula dilacerada, mas que as peças sempre apresentavam de-feitos. Em 2012, em uma de suas idas ao Hospital Walfredo Gurgel – estabeleci-mento da rede pública estadual em Natal – conheceu os serviços do DOD por meio de um médico da UFRN que prestava ser-viços no local.

“Ao chegar aqui fui muito bem recebi-do pela equipe do professor Adriano Ger-mano. Os médicos me deram esperança de recuperação depois da cirurgia, pois a placa sempre quebrava e doía muito”, lem-bra Rosinaldo. “O atendimento do Depar-tamento superou as expectativas”, afirma.

No caso de Francisco Kleiton Ralph, que perdeu nove dentes e teve a mandíbu-

la esfacelada, o tratamento foi conseguido através de um e-mail enviado ao professor Adriano, que ao tomar conhecimento da gravidade do caso pediu que o paciente viesse com urgência a Natal. “Cheguei ao Setor de Triagem do Centro Cirúrgico e após seis meses de tratamento consegui a cirurgia”, conta Francisco.

O jovem ressalta o trabalho do Depar-tamento de Odontologia. “O trabalho de-senvolvido pela equipe do professor é de excelência. Os profissionais são qualifica-dos e estão empenhados em ajudar”, diz.

Rosinaldo e Francisco serão acompan-hados durante seis meses após a cirurgia, para monitorar a evolução dos casos. Gleysson Matias, residente do Programa, adianta que já se percebe uma melhora no quadro clínico, visto que os rapazes têm conseguido comer normalmente – o que antes era algo difícil. “Eles estão evoluindo bem. Nosso objetivo maior é promover reabilitação com acompanha-mento regular”, ressalta.

abrangênCIaA Cirurgia e Traumatologia Buco-

Maxilo-Facial (CTBMF) é disciplina da Odontologia com ampla área de atuação, que trata de doenças, fraturas e deformi-dades do aparelho mastigatório e das es-

truturas da face. Além destas, realiza tam-bém pequenas cirurgias de remoção de cistos e tumores, de reconstrução facial e de implantes faciais e dentários.

De acordo com Adriano Germano, a área de reconstrução facial desenvolveu-se consideravelmente nos últimos vinte anos, devido à evolução de tecnologias como a tomografia, os softwares de simulação, as técnicas cirúrgicas, em que se tem imagens ao mesmo tempo em que se está operando, e o auxílio de microscópio em reconstitu-ições microvascularizadas.

Cirurgias reparadoras têm como missão “reconstruir” pacientes – tanto do ponto de vista físico, quanto psicológico. Passam pelo procedimento pessoas com deformidades causadas por fatores exter-nos, como traumas, tumores e infecções.

Adriano Germano antecipa que, quan-do em pleno funcionamento, o Serviço de Cirurgia Buco-Maxilo-Facial do HUOL deve realizar ao menos uma microcirurgia por mês. O Serviço atende regularmente pacientes encaminhados pelas redes mu-nicipal e estadual de saúde, por meio da Central de Agendamento de Consultas e Atendimentos de Enfermarias e outros ambulatórios, ou ainda pelo Setor de Tria-gem do Centro Cirúrgico do Departamen-to de Odontologia.

Cirurgia pioneira de reconstrução facial devolve autoestima a vítimas de acidentes

ODONTOLOGIA

ano XVI | nº 70 | fevereiro de 20139Jornal da UFRN

Rosinaldo de oliveira e Francisco Ralph são primeiros a passar por microcirurgia de reconstrução facial no Departamento de odontologia

anastácia Vaz

Page 10: Jornal da UFRN - Fevereiro de 2014 - Ano XVI nº 70

ano XVI | nº 70 | fevereiro de 201310Jornal da UFRN

Por CeCíLia oLiVeiRa / aSCoM eaJ

Localizado a 100 km de Natal, o dis-trito de Cajueiro, no município de Touros, recebeu em janeiro, a

primeira edição do PRONATEC na Co-munidade, projeto desenvolvido pela Es-cola Agrícola de Jundiaí (EAJ), unidade da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). Criado para integrar o Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego (PRONATEC) com a comunidade por meio da oferta de ser-viços gratuitos, o evento atendeu na oca-sião mais de 500 cidadãos.

“A iniciativa surgiu da necessidade de unir a teoria ministrada em sala de aula a uma prática voltada para a comunidade”, comenta Tobias Augusto Gomes, supervi-sor do Programa Nacional em Cajueiro. “Além da integração com a sociedade”, continua, “procuramos apresentar os alu-nos ao mercado de trabalho local. Com o apoio da Escola Agrícola da Prefeitura de Touros desenvolvemos este projeto piloto para atender à comunidade de forma gra-tuita e cidadã”.

Com 200 alunos e professores, o PRO-NATEC na Comunidade ofereceu atendi-mento médico e ao turista, criou um ban-co de currículos e realizou a limpeza da praia. Os jovens atuaram de acordo com o conhecimento adquirido em sala de aula e com sua área de formação.

De acordo com o diretor da EAJ, Júlio César Neto, a proposta ajuda a ampliar o acesso à cidadania e permite aos alunos fomentar o crescimento das comunidades.

“A Escola Agrícola tem aberto as portas da instituição e ampliado a sua área de atua-ção por meio do PRONATEC, não só para capacitar os jovens a ajudá-los a entrar no mercado, mas, para transformar as áreas mais humildes do RN”, considera.

Durante a ação, alunos do curso de Agente de Informações Turísticas aplicaram questionários com turistas, a fim de traçar um perfil dos visitantes durante as comem-orações em homenagem ao padroeiro do lugar, São Sebastião. O grupo também dis-tribuiu panfletos em que eram destacados pontos turísticos do distrito e a importância da preservação do meio ambiente.

Segundo a estudante Joana Maria, 48, participar do PRONATEC na Comu-nidade é uma importante oportunidade para treinar as técnicas de atendimento ao turista apresentadas em sala de aula. “Cajueiro está crescendo e faltava um atendimento especializado ao turista. Hoje colocamos em prática o que aprendemos ao longo do curso e atendemos os visitan-tes que vieram veranear ou homenagear nosso padroeiro”, diz a aluna do técnico em Agente de Informações Turísticas.

Na praça da localidade, participantes do curso de Auxiliar de Recursos Huma-nos criaram um banco de currículos por meio do preenchimento de fichas cadas-trais, que coletavam dados pessoais e ex-periências profissionais dos moradores.

No Posto de Saúde da Família de Cajueiro, foram realizadas palestras sobre educação bucal, medições de pressão e tes-tes de glicemia. Na Escola Municipal Ma-ria do Carmo, foram desenvolvidas ações com alunos de 5 a 9 anos, em que as crian-ças aprenderam palavras em inglês.

Outra atividade voltou-se ao esclareci-mento da população com relação à educa-ção e à preservação ambiental: um passeio percorreu 10 km de orla da praia e recol-heu mais de 40 sacos de lixo.

Para o morador Francisco Lauro, 75, é muito bom ver jovens trabalhando em prol de um dos principais símbolos do distrito. “A praia de Cajueiro é muito bela, mas faltam ações como essa para melhorar nosso distrito. Os alunos estão de parabé-ns. Espero que ações como essa aconteçam mais vezes”, comenta.

Também participaram da atividade estudantes dos cursos de Inglês Básico, Condutor Ambiental Local, Agente de De-senvolvimento Socioambiental e Recep-cionista em Serviços de Saúde.

HIstórICoO Programa Nacional de Acesso ao

Ensino Técnico e Emprego foi criado pelo Governo Federal em 2011, com o objetivo de ampliar a oferta de educação profis-sional e tecnológica. Por meio das escolas Agrícola de Jundiaí, de Enfermagem e de Música, além do Instituto Metrópole Digi-tal, a UFRN qualifica pelo PRONATEC mais de 30 mil pessoas em 54 municípios.

Dede 2012, a EAJ oferta cursos do Programa à comunidade de Touros – com 38 mil habitantes –, onde formou mais de dois mil profissionais. Hoje, além de cur-sos de formação inicial e continuada, o Programa também dispõe de cursos téc-nicos em Agronegócio, Agropecuária e Guia de Turismo.

Iniciativa da Escola Agrícola de Jundiaí atende mais de 500 pessoas em comunidade de Touros

PRONATEC

alunos de Recursos Humanos coletaram dados de moradores para banco de currículos

Fotos: Cecília oliveira

educação ambiental: passeio pela orla de Cajueiro recolheu mais de quarenta sacos de lixo

Page 11: Jornal da UFRN - Fevereiro de 2014 - Ano XVI nº 70

Por LUCiano GaLVÃo FiLHo

O senhor abor-da em sua palestra estratégias para dar visibilidade internacional a programas de pós-graduação. Quais ações a Universi-dade de La Frontera tem adotado?

Entre as estraté-gias que temos uti-lizado está o convite

a professores visitantes, pesquisadores de outras universidades, para dar au-las em nossos programas. Convênios entre universidades – o que estamos propondo à UFRN – para a mobilidade de docentes e estudantes são outra ini-ciativa para melhorar a internacional-ização, porque a instituição passa a ser conhecida tanto por professores quanto por alunos. Também o uso de material impresso, mostrando indicadores de produtividade do programa e a utiliza-ção das redes sociais, como o Facebook.

Outra ação são acordos de colabo-ração acadêmica, de cooperação in-ternacional, como o convênio de du-pla titulação que nós da UFRO temos com a Universidade de São Paulo. Essa espécie de documento permite que estudantes de pós-graduação possam obter grau de doutor, simul-taneamente, pela minha universidade e pela USP. Isso tem dado muito cer-to. Para os alunos, ficar em outro país por um período de seis meses a um ano e meio é uma experiência muito enriquecedora, tanto do ponto de vis-ta acadêmico quanto cultural, porque lhes dá a chance aprender uma nova língua, uma outra cultura.

Quando começou o convênio entre UFRO e USP e quais têm sido os resultados?

Começamos em 2010 e já temos êxitos desse acordo: cinco alunos com dupla titulação de doutor, mais dez estudantes que no momento cursam o programa em São Paulo. Há ainda

uma estudante brasileira que foi para o Chile e, também, obteve o duplo di-ploma. Além disso, temos organizado eventos científicos conjuntos com pes-quisadores de Farmácia da UFRO e da USP, e essa é outra possibilidade do convênio: realizar eventos acadêmicos

em colaboração e aproveitar melhor os recursos financeiros de que dispõem os programas.

Em qual estágio encontram-se as con-versas com a UFRN para firmar acordo?

Bastante adiantadas. Já temos um modelo de convênio, oferecido pela Secretaria de Relações Internaciona-is da UFRN, que estamos analisando. Como é um modelo da UFRN, se não forem necessárias grandes alte-rações, muito provavelmente o pro-cesso será rápido.

Quais serão os termos do acordo UFRN-UFRO?

Será para mobilidade de professo-res e para cooperação científica entre as universidades. Como a UFRN ainda não tem programa de doutorado, no momento não é possível fazer a dupla titulação, mas esse pode ser um próxi-mo passo.

Devemos primeiro avaliar se o con-vênio dará frutos, porque não adianta ter algo no papel que não seja efetivo. Queremos fazer acordos que as duas instituições possam aproveitar e que dêem retorno para ambas as partes. Inicialmente estabelecemos confian-ça entre os professores, vemos como funciona e tentamos publicar em con-junto – para tentar revistas com maior índice de impacto. Se esse primeiro passo funcionar, por que não tentar a dupla titulação?

Qual a importância da cooperação entre as instituições?

Tanto para UFRN quanto para a UFRO, o interessante da internaciona-lização dos programas de pós-gradua-ção é permitir a colaboração entre as instituições, a preparação de projetos conjuntos para serem apresentados a agências de fomento e a mobilidade dos estudantes.

Para os alunos, a importância de participar de projetos internacionais por meio de convênios é que ele se vê amparado pelos termos estabelecidos no acordo. Quando o estudante vai por conta própria a outro país, às vezes não consegue manter-se financeira-

mente. Se ele vai através de convênio, há responsabilidade da instituição com o aluno.

Outro ponto relevante é que, se houver, por exemplo, propriedade in-telectual envolvida nos projetos, há um documento assinado previamente que define que a propriedade é compartil-hada entre as instituições. É uma ótima chance para as universidades.

Temos focado nosso interesse no Brasil, especificamente, por dois moti-vos: o Brasil tem universidades muito boas – reconhecidas nos rankings – e também porque é muito mais fácil eco-nomicamente enviar alunos para o Bra-sil do que levá-los para a Europa ou para os EUA. Estamos olhando para nossos vizinhos e um dos países que está mui-to desenvolvido na área de pesquisa é o Brasil. Temos hoje convênios assinados com a USP, com a UNIFESP [Federal de São Paulo], com a UFRJ [Federal do Rio de Janeiro], com a UNESP [Estadu-al Paulista], com a UNICAMP [Estadu-al de Campinas] e estamos expandindo nossos diálogos, porque nossa ideia é que o convênio seja útil para diferentes áreas, não somente para Farmácia, mas também para Engenharia, Ciências So-ciais e Educação.

Para a UFRN seria importantíssimo. A integração com a América do Sul é fundamental, não só pela experiência científica, mas para o desenvolvimento de pesquisa e de novos produtos. É fun-damental para o reconhecimento e para a visibilidade dos programas da UFRN. O programa da Farmácia tem apenas o mestrado, mas se tiver mais inter-nacionalização, mais produção, conta mais pontos para atender às exigên-cias da Capes [Coordenação de Aper-feiçoamento de Pessoal de Nível Supe-rior, financiadora das pós-graduações] e manter-se viável.

Para a UFRO, é a mesma coisa: a internacionalização dos programas é considerada na avaliação que é feita pela Comissão Nacional de Acredita-ção, órgão chileno similar à Capes no Brasil. Mas não se trata apenas de ter convênios assinados no papel. Insisto que o acordo tem que ser efetivo, que a colaboração realmente exista.

“A cooperação internacional é fundamental para dar visibilidade aos programas de pós-graduação”

entrevista

ano XVI | nº 70 | fevereiro de 201311Jornal da UFRN

Luis Salazar, doutor em Farmácia

anastácia Vaz

Luis Salazar é doutor em Farmácia. Em fevereiro, o professor da Universidade de La Frontera (UFRO), do Chile, apresentou duas palestras no Centro de Ciências da Saúde (CCS) da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). Na ocasião, a convite da professora Ivanise Rebecchi, do Departamento de Análises Clínicas e Toxi-cológicas, Salazar falou – entre outros temas – sobre as estratégias de internacionaliza-ção que têm sido postas em prática no Programa de Doutorado em Biologia Molecular da UFRO, onde ocupa a função de vice-coordenador.

Ao Jornal da UFRN, o cientista chileno contou sobre a intenção de firmar um con-vênio de cooperação científica entre UFRO e UFRN e enumerou os resultados obtidos até o momento em acordos semelhantes com outras instituições. Para o professor, a co-laboração entre as universidades é enriquecedora tanto para os estudantes, que crescem academicamente e entram em contato com outras culturas, quanto para os programas de pós-graduação, que ganham em produtividade e acrescentam pontos a seus indica-dores junto a agências de fomento.

Page 12: Jornal da UFRN - Fevereiro de 2014 - Ano XVI nº 70

Por JULiana HoLanDa

Todos os anos, cerca de 800 alunos recém-ingressos na Universidade Federal do Rio Grande do Norte

(UFRN) participam de uma atividade que trabalha cidadania e saúde em comuni-dades da cidade de Natal.

Criada em 2000, a disciplina Saúde e Cidadania inclui estudantes do primeiro período de todas as graduações da Saúde, além de estudantes de Biomedicina e de Serviço Social. “A ideia é aproximar os uni-versitários da sociedade desde o início do curso”, explica a coordenadora e fundadora do programa Nilma Dias Leão Costa.

Professora do Departamento de Saúde Coletiva, Nilma acredita que os discentes passam a ver o mundo de uma forma dife-rente. “O contato com outras realidades muda a atitude dos alunos perante a socie-dade”, relata.

O programa atende às necessidades es-pecíficas de cada localidade. Para isso, são formados grupos interdisciplinares que fi-cam responsáveis por diferentes bairros. A partir daí, são realizadas visitas aos lugares para identificar problemas e preparar ativi-dades que trabalhem as questões apontadas pela própria comunidade.

Mãe Luiza, Panatis, Vale Dourado, Santarém, Felipe Camarão, Cidade Nova, Monte Líbano e Planalto são exemplos de locais que já receberam equipes da Uni-versidade. As atividades são realizadas

com pessoas de todas as faixas etárias e focam a melhoria da qualidade de vida por meio da promoção à saúde.

mãe LuIzaMorador de Mãe Luiza desde que

nasceu, o estudante de Nutrição na UFRN, Airton Cássio Teixeira Bezerra participou da última turma de Saúde e Cidadania e trabalhou noções de alimentação, saúde física e odontológica com crianças do bairro onde vive. “Nossa equipe preparou uma manhã com programação intensa para que a garotada reflita e melhore seus hábitos”, conta.

Airton lembra que muitas das pessoas próximas a ele foram afetadas pela violência e pelas drogas, principalmente na fase da adolescência, e deseja que a situação mude para as próximas gerações. “Tenho a honra de dizer que moro em Mãe Luiza e acredi-to que projetos que influenciem os jovens daqui a pensarem de modo construtivo só podem ajudar nosso bairro a crescer”, diz.

Pároco da comunidade há cinco anos, Rubênio Camilo da Silva, concorda que o principal problema de Mãe Luiza é a violência causada pela cultura da droga e da impunidade. O padre acompanha as atividades da UFRN desde que chegou ao

bairro e nota os benefícios que as ações produzem na juventude. “A Universidade está nos ajudando a formar cidadãos con-scientes”, enfatiza.

Tilany de Oliveira, de 11 anos, e Fran-cisco Rodrigues, 12, participaram das ofi-cinas preparadas pela Universidade e re-solveram mudar seus hábitos alimentares. “Agora sei como ter uma alimentação mais saudável”, conta Tilany. “Vou comer mais frutas”, garante Francisco.

Os colegas Riquelme Oliveira, 12, e Pe-dro Ferreira, 10, destacaram ter aprendido a importância da escovação dos dentes. “Vou cuidar melhor dos meus dentes para não ter cáries”, diz Riquelme. “Eu escovava muito rápido. Hoje aprendi a forma cor-reta”, fala Pedro.

A enfermeira da unidade de saúde da comunidade, Marliete Duarte apóia a ini-ciativa. “São atividades diferentes no cotidi-ano desses garotos. Eles sempre querem que a equipe retorne com novidades”, comenta.

Estudante de Medicina, Pedro Almeida, acredita que a ação beneficia a sociedade como um todo. “Não só essas crianças vão se tornar adultos mais conscientes como também podem influenciar suas famílias a melhorarem seus hábitos”, analisa.

Feliz com os resultados das ações, a coordenadora Nilma Costa gostaria de ex-pandir o programa, aumentando o número de pessoas beneficiadas e a quantidade de intervenções nos bairros. “Não temos apoio financeiro: são os professores e alunos que investem nos projetos. Isso nos impede de ajudar mais pessoas”, reflete.

Disciplina dos cursos da Saúde leva universitários a comunidades de Natal

CIDADANIA

ano XVI | nº 70 | fevereiro de 201312Jornal da UFRN

nilma Costa, fundadora do projeto: “contato com outras realidades muda atitude dos alunos“

Fotos: anastácia Vaz

Bairro de Mãe Luiza, na zona Leste, é um dos que recebe ações do Sáude e Cidadania